ENS - Carta Mensal 364 - Junho e Julho/2001

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EQUlPES DE NOSSA SENHORA Ca rta Mensal • n° 364 • Junho-Julho

EDITORIAL Da Carta Mensal ... ...... ... .. .. .... .... O1 SUPER-R GIÃO Namorad os ......... .. ........... ..... ..... 02 Palavra do Provinc ial .. ... ........ .. .... 03 VIDA NO MOVIMENTO Parábola Equipista ..... .. ........ .. .. .. . 06 Podemos Exig ir Participa ção dos Cas is Equipi sta s? ................ 07 Reflexõe .. ....... ... ... .... ... ..... ......... 08 PENTEC <D STES A Presen<Ja do Espírito Santo .. ..... 1 O SANTÍSSI A TRINDADE A Palavr e a Vida .... .... ...... .. .. .... 1 1 A Comu idade Trin itá ria .. ........... 1 2

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2001

SER PESSOA Cha mados a um Pro jeto de Vida : Ser Pessoa .. .. .... .. .. ..... ........ 24 Ser Pessoa ...................... .. .. .. ...... 2 6 ATUALIDADE Velh ice Sexuada .......................... 28 O nde está o Rosto de Cristo ........ 30 NOSSA BIBLIOTECA ................... 31 PALAVRA DO LEITOR ...... .. .......... . 32 REFLEXÃO M eu N ome É Felicidad e ........ .. .... 33 Conto .............. ... ........ .... .. ..... ..... 34 ORAÇÃO O ração do 14° Co ngresso Euca rísti co Naciona l .. ................ .. 35

MARIA

PARTILHA E PCE Retiro: P ntecostes É Aqu i ....... ..... 1 7 A Oraçã0 Conjugal ... .... .. .. ..... ... .. 19 Dever de Sentar-se: o Ab raço ... .. . 20 NOTÍCIAS E INFORMAÇÕES ....... 22

Carta Men sal é WJILl publicaçlio mensal das Equipes de Nossa Senhora

Janere e Nélio Pe. Emani J. Angelini ( cons. espirirual)

Edição: Equipe da Carta Men sal

Jornalista Respous6vel: Catherine E. Nadas (mtb 19835)

Cec ília e José Ca rlos

Editoração Eletrônica, Fotolitos e Ilustrações: Nova Bandeira Produções Ediroriais Lida. R. Venc1ncio Ayres, 931 . SP Fone: (Oxx l I) 3873. 1956

(responsáveis)

Wilma e Orlando Soely e /..ui: A ugusro Lucinda e Marco

Encarte Especial: Temas de Formação

''A Fé" Pe . Flávio Cavalca de Castro

Projeto Gr6fico: Alessandra Carignani Impressão: Edições Loyola R. 1822, 347 Fone: (OJJ) 6914.1922

Tiragem desta edição: 15.300 exemplares

Canas, colaborações, notícias, testemunhos e imagens devem ser enviadas para:

Carta Mensal R. /..uis Coelho, 308 5° andar . conj. 53 O/309-000 • São Paulo - SP Fone: (Oxx/1) 256. 1212 Fax: (Oxx 1/ ) 257.3599 cartamensal @ens.org.br A/C Cecília e José Carlos


Queridos equipistas: Após a grande caminhada da Páscoa, tudo foi coroado com a missão do Espírito Santo. É Ele a quem a Trindade Santa confiou a tarefa de confirmar a missão de Jesus. E a liturgia nos convida a celebrar a unidade de Deus na festa da Santíssima Trindade. Estamos diante do Mistério augusto de nossa fé: Deus uno e trino. À sua imagem fomos criados. É neste modelo que nos encontramos. Sejamos santos como é santo o nosso Deus, insiste Jesus. Sejamos misericordiosos como Ele. Amemo-nos uns aos outros como Ele. Trindade Santa, fonte de inspiração e vida para o casal comprometido na fé e no amor. Nossa Carta Mensal tem testemunhado o quanto este mistério tem tocado o coração dos equipistas. O Encontro Internacional de Santiago de Compostela reafirmou esta fonte de vida para todos nós. Temos alguns artigos que certamente nos ajudarão a meditar sobre a importância da presença do Espírito Santo em nossa vida, bem como sobre a Santíssima Trindade e Pentecostes. Vocês também encontrarão na seção Vida do Movimento artigos elaborados para nos ajudar a questionar sobre a nossa participação na equipe. Mês de junho, mês dos namorados, momento bom para contemplar nosso companheiro ou companheira com um olhar mais jovem e procurar viver com alegria a grandeza do nosso amor. Neste número da Carta Mensal vocês encontrarão dois momentos muito fortes para uma reflexão sobre o assunto. Com muito carinho, incluímos sob a forma de encarte, nesta edição, um momento de formação muito especial. Trata-se da palestra sobre a FÉ, que o nosso querido Conselheiro Espiritual da Super-Região, padre Flávio Cavalca de Castro, proferiu numa das reuniões da Super-Região, e que acreditamos, será de muito valor para todos os equipistas. Um documento para ser lido e estudado devagar, com atenção, que pode contribuir para que entendamos melhor a nossa própria fé e elucidemos muitas dúvidas que, às vezes, nos atormentam. Gostaríamos de receber comentários a respeito do conteúdo deste encarte, que nos ajudariam nas futuras publicações, inclusive, sugerindo temas para serem trabalhados e posteriormente divulgados. Desejamos uma boa leitura a todos. Com muito carinho

Equipe da Carta Mensal.


NAMORADOS Prezados Casais Equipistas e Conselheiros Espirituais Na véspera da festa do santo casamenteiro, temos o dia dos namorados. Gostaria de saber o que Santo Antônio haveria de escrever se vivesse hoje e lhe pedissem um texto sobre o dia. Imagino que, mesmo sendo celibatário por opção, haveria de começar escrevendo que o namoro é uma grande graça de Deus. Mas, como não o posso garantir, vou escrever assumindo a responsabilidade. O namoro é uma grande graça de Deus. Será? Pois então, vamos pensar um pouco. Sempre que uma pessoa ama outra, está sendo levada pelo poder, pela graça de Deus, pois que sem ela não temos possibilidade de amar, mas apenas de assumir nos relacionamentos uma atitude nascida do egoísmo, da vontade de posse, da procura de uso e abuso. Quando um homem e uma mulher, principalmente quando dois jovens se encontram e percebem que nasce entre eles simpatia inicial, estão recebendo os prelúdios da bênção dada a Adão e Eva, que os predispõe para a ação transformadora de Cristo. Ação de Cristo que os irá ajudando na descoberta das exigências do amor, e dando-lhes coragem para assumi-las com alegria ainda um tanto medrosa. Desabroche ou não no amor conjugal, esse amor de namoro, de aproximação, de descoberta e de desafio, pelo menos, os fará amadurecer e aprender a distinguir entre amor e Amor. Será descoberta de quanto dependemos do outro e dos outros, e de quanto eles dependem de nós para termos a felicidade que o Senhor quer para nós. Será primavera que os prepare para outonos e invernos. Se o amor conjugal é Sacramento, podemos dizer que o namoro, dom de Deus, é a caminhada de Cristo entre um homem e uma mulher para lhes abrir o coração aos planos de Deus, até que em Emaús a eles se manifeste, quando o convidarem a ficar em sua casa. Aos casais não digo que sejam eternos namorados, porque não vale sonho que não se faça vida. Que feita aquela caminhada por entre flores, asperezas esquecidas, estejam sempre à mesa com Cristo. Que o reconheçam em cada partilha do pão partido, de todos os pães partidos, na calma da tarde que se prolonga, sem pressa de ser noite. Apenas, peço, não se esqueçam de comunicar a Jerusalém o quanto é bom ter o Senhor à mesa todo os dias ...

Pe. Flávio Cavalca de Castro, cssr SCE da Super-Região 2


E OS 0015 fORMARÃO UMASOCARNE PALAVRA DO PROV1NC1Al "O livro sagrado deseja, desse modo, colocar em evidência que estamos diante de um tipo de aliança que, por ser totalizante (FC 11), dá origem à mais íntima e vinculante comunhão que pode existir no mundo dos homens, o casal". Esther e Marcelo Azevedo, 'Matrimônio, para que serve este sacramento?'

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ostaríamos de falar com vocês sobre algo que todos nós gostamos, mas pouco nos lembramos de fazer, ao longo de nossa vida de casados: namorar. Com vinte e dois anos de matrimônio, temos três filhas, e gostamos de comemorar os aniversários de namoro, a cada dia 6 de abril. E já vão vinte e oito anos que iniciamos a dar os primeiros passos juntos. Pedro e Therezinha (pais do Eduardo) estavam fora de casa, porque participavam de um EACRE - já eram equipistas- e nós, na casa deles em Porto Alegre, com os avós e a irmã Beatriz, resolvemos assumir formalmente que estávamos namorando. A conversa, na sala de jantar, foi mais ou menos assim: Ele: Podemos dizer que estamos namorando? Ela: Não sei... Por mim... Acho que sim... (muito sem jeito). Demos as mãos e as apertamos

Falamos de renovar o exercício de busca do desconhecido, que habita no mais profundo do ser amado, pois o mistério de cada um é inesgotável.

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com bastante força, como que para sentir um do outro a segurança daquela decisão. Naquele dia, as cabeças daqueles dois adolescentes certamente não podiam perceber o alcance do gesto que acabavam de realizar. As mãos dos quase-meninos estavam, na verdade, selando um ajuste de proporções muito maiores do que era possível prever. A emoção daquele instante passava para o aperto de mãos dos recém-namorados uma energia que os manteria unidos por décadas. Essa mãos continuam juntas, ainda hoje, agarradas, depois de tantos anos, nos quais provaram períodos de crises, de angústias, de conquistas, de tristezas, de alegrias, de trabalhos, de ternura ... e a elas foram-se juntando outras pequeninas mãos, que também cresceram juntas. Não se trata de comparar a fase do namoro com a fase do casamento. Há diferenças importantes e necessárias, é claro. Mas, na passagem do dia dos namorados, movenos a intenção festiva de provocar uma reflexão sobre o prazer de enamorar-se um do outro, com renovado ardor. O propósito é auxiliar a reabrir a janela dos sonhos. · Estamos falando da aventura que é descobrir na companheira (e companheiro), de tantos anos, aquela guria (ou guri) que nos deixava com a respiração suspensa ao simples toque de suas ·mãos. Enxergar, nas feições já tão familiares do outro, aqueles traços inconfundíveis, que o tempo não consegue apagar, e que identificamos à distância, mesmo no meio da multidão,

porque formam para nós uma fisionomia especial, a figura de alguém que amamos, que queremos esteja sempre perto de nós. Falamos de renovar o exercício de busca do desconhecido, que habita no mais profundo do ser amado, e escapa do previsível por mais que convivamos lado a lado, pois o mistério de cada um é inesgotável, à semelhança do que Deus é para nós. Aceitar o desafio de ver e escutar as mínimas novidades que vêm do outro, por mais tênues que sejam - às vezes imperceptíveis para o observador desatento- e acolhê-las com satisfação, saboreando cada uma das deliciosas descobertas. Falamos de dar um tempo para "explorar" o outro, com faro do "novo" que há nele. Casamento não é namoro, é muito mais. Entretanto, há algumas atitudes de namorados que precisamos resgatar. Uma delas é a capacidade de sonhar e de fazer sonhar. Outra, igualmente cativante, é a de traçar planos para os dois. Ter um projeto pessoal é algo que o próprio Cristo suscitou nos primeiros discípulos que manifestaram a intenção de segui-lo, e que um deles - o evangelista João - fez questão de registrar no início do seu Evangelho (Jo 1,38). Alertados pelo Batista, quando ele e André saíram ao encalço de Jesus, o Mestre os questionou com uma pergunta inquietante: "Que procurais?" É a mesma pergunta que coloca para nós, ainda hoje. Quer uma definição sobre o que queremos na vida, onde pretendemos chegar; enfim, um sentido para a vida.

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Ao tomar a decisão de formarmos um casal, descortina-se uma nova dimensão ao projeto pessoal. Não se trata somente da "minha vida", mas nos propomos a construir a "nossa vida". Significa que começamos a buscar, a dois, as respostas para algumas dessas inquietações: o que queremos conseguir juntos? Onde pretendemos chegar? Vamos tomando consciência do nosso querer, das nossas necessidades e limites, dos nossos sonhos, da nossa vocação. Esses projetas, muito saudáveis e úteis no namoro, são os primeiros passos de um aprendizado, que deve ser ampliado no matrimónio. Quando temos um projeto, vamos estabelecendo um fio condutor para a nossa vida conjugal: os valores em que acreditamos, as atitudes que consideramos necessárias para desenvolvê-los, os critérios que nos ajudarão a decidir, etc. Passamos a ter a nossa "constituição". Nela está o horizonte da nossa esperança, o que nos enche de sonhos, o que nos vincula e faz comunhão, o que anima a nossa existência. No projeto de casal deve estar a fonte de nossas regras de vida. Como seria bom se pudéssemos ter, neste ano de abertura do rnilênio, um projeto do casal, elaborado pelos dois e para ambos. Uma bússola para a nossa vida, uma ferramenta de amor, para darmos vigor ao nosso casamento e liberdade de sermos nós mesmos, uma unidade distinta e autónoma, que não se entrega ao "caos organizado", que encontra forças para remar contra

a correnteza se necessário. Um projeto duradouro, que nos traga segurança, que seja atraente o bastante para nos seduzir, ao ponto de não termos a idéia de aposentá-lo. Com o cuidado de não confundi-lo com uma camisa de força que nos asfixia, nós o criamos não para sermos prisioneiros da culpa e das obrigações, mas para que nos ajude acrescer a dois, instrumento que nos leve a viver o amor de verdade. Não tenhamos medo de traçar os rumos de uma "navegação" a dois, se queremos de fato alcançar um porto seguro. Não nos desanime a idade do nosso casamento: sempre é tempo de recolher a âncora e singrar pelo mar da vida, qual dois audaciosos namorados. As ondas desse mar de amor são os sonhos que nos embalam. Navegar é preciso, não podemos jamais desistir de sonhar. No dia dos namorados, façamos algo diferente. Ao invés de correr atrás de presentes para ela ou para ele, façamos de nós o seu presente. Tenhamos a coragem de doar, ao menos nesta data, um ao outro, um dia da nossa existência. Isto significa deixar-se envolver, deixar-selevar, deixar-se embalar pelos sonhos. Também nós, de nossa parte, vamos retomar aquele aperto de mãos de namorados, que já passou por muitas provas, e nos colocaremos a dançar agarradinhos, ao ritmo de acordes novos que provêm dos velhos corações. Graça e Eduardo CR Província Sul III 5


PARÁBOlA EQU1P1STA

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equipe até que esteve bastante bem. Vinha cumprindo, na medida do possível, todas as suas obrigações e compromissos: pelo menos na reunião, naco-participação, na partilha, fazia o padrão médio do Movimento. Apenas um casal destoava. Sempre tinha uma crítica, uma justificativa, uma observação. Uma noite a coisa estourou. Houve polêmica no estudo do tema que abordava a seca no nordeste, dos padres que apoiam os saques. O conselheiro não conseguiu segurar as pontas. Conseqüência, criou-se um clima de mal estar e todos saíram da reunião incomodados, com a situação não resolvida. No dia seguinte, começaram os telefonemas: • Olha, acho que chegou o momento. Esse casal não pode continuar na Equipe. Já devia ter saído há muito tempo ... Reparou como não assumem nada? Temos que pressionar o casal responsável e o conselheiro ... • Não vamos esquentar a cabeça! Eles são assim mesmo. Isso passa. Vocês vão ver, na próxima reunião volta tudo ao normal... Não falei na hora, mas até que eles têm muita razão. Vamos por uma pedra sobre isso .. . • Acho que tudo isso foi para aparecer... Reparou como queriam chamar a atenção e não deixavam ninguém falar? Vamos pedir que o casal responsável controle mais

situações como essa, fazendo melhor a reunião preparatória... • Estou preocupada. Deu para perceber que as coisas não andam bem entre eles. Será que estão comalgumproblemaconjugal?Ela deu a entender isso ... Seria bom pedir ao conselheiro espiritual para os chamar e dar orientação ... • Por que ficamos todos chateados com o que aconteceu e não soubemos terminar bem a reunião? Será que alguma coisa não está errada entre nós, em nossa abertura e confiança uns nos outros? Não seria melhor a gente rever a nossa atitude e a forma de nos relacionarmos na copartici pação? Qual a sua atitude?

Padre Paulo D'Elboux, S.]. SCE de 3 Equipes no Rio de Janeiro e 1 de São Paulo 6


PODEMOS EXlGlR PARTIClPAÇAO DOS CASAIS EQUlPlSTAS?

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os encontros de Setores e de Região sempre me perguntam: "Podemos exigir mais dos casais que não participam direito das 'coisas' do Movimento e nem os Pontos Concretos de Esforço vivenciam?" Eu sempre respondo que, é preciso uma exigência, com amor, e nesta Campanha da Fraternidade 2001, aprendi que o amor é Respeitar a pessoa humana é exigente. Nas equipes há caamá-la sempre. Amar é compreender sais que vivem desanimados, sem confiança, e aceitar o outro, mas não tratá-lo achando que nunca poderão melhorar, nunca conseguirão vivencomo criança mimada. ciar os Pontos Concretos de Esforço e até mesmo, nunca chegarão a ser sanUm e outro extremos são prejutos. Há também os cínicos, aqueles diciais: o desânimo impede o cresque pensam que nunca precisam cimento, que sempre é possível; a cuidar de seu comportamento, por- confiança cínica na impunidade, na que estão acima da lei, das obriga- não cobrança, impede a conversão ções. Para eles, só o fato de irem à de quem precisa tomar-se uma pesreunião mensal já está bom demais. soa nova, casal cristão e santo. "Nosso casamento melhorou muito A dúvida persiste: é melhor ser depois da nossa entrada na equipe; exigente para estimular o outro a nada de obrigações e esforços; já crescer? Ou é melhor ter infinita estamos bem", é o que dizem ... paciência como sinal de acolhimen7


Assim, não se educa para ser casal cristão, não se chega a ser santo fazendo a vontade de Deus, sem educar para o autodomínio, sem o responsável exercício da disciplina (a exemplo do esforço na vivência dos nossos seis Pontos Concretos de Esforço). É preciso paciência com firmeza. O casal equipista não é um "eterno coitadinho" que não deve ser cobrado, e de quem nada se deve exigir, mas também não deve ser rejeitado, só porque não participa das coisas do Movimento e nem os PCE vi vencia. Tudo vai dar resultado, se houver um grande e paciente "amor-exigente".

to? Depende, cada situação exige um discernimento específico. Refletindo sobre a Campanha da Fraternidade 2001, vemos que quem lida com dependentes químicos aprende a fazer as duas coisas, temperando paciência com firmeza. O dependente não é um "eterno coitadinho" que tem licença para tudo, mas também não é uma pessoa a ser rejeitada porque "só cria problemas". Respeitar a pessoa humana é amá-la sempre. Amar é compreender e aceitar o outro, mas não tratá-lo como criança mimada. Os programas de recuperação de dependentes têm esquemas bastante exigentes: não se educa para o autodomínio sem o responsável exercício da disciplina.

Pe. José Roberto de Araújo SCE - Região São Paulo Sul II

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REFLEXOES

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caminho que se descortina a nossa frente. Mas a graça de Deus, aliada a nossa fé, vem em nosso socorro proporcionando o refrigério da alma que irá alimentar nosso vigor, tenacidade e persistência para continuar a caminhada. No nosso serviço nas Equipes de Nossa Senhora, muito nos alegra encontrarmos casais nos quais a motivação, o entusiasmo e a disponibilidade para servir se fazem presentes. No outro extremo, nos en-

longo de nossa caminhada e cristãos, enfrentamos suidas íngremes, difíceis, pedras na estrada, sol inclemente, cansaço; em outras ocasiões, planícies, brisa suave, árvores acolhendo nosso corpo fatigado em suas sombras, ao lado de regatos borbulhantes e alegres. Nas ocasiões difíceis, no limiar de nossas energias, advém o desânimo e a falta de motivação a minar a nossa determinação para seguir o 8


no mesmo barco e, no entanto, remando em sentido inverso aos demais companheiros de viagem ou somos como âncoras que se deixam prender às pedras do imobilismo, da indiferença, da falta de comprometimento. Não somam, pelo contrário, contribuem para que as reuniões não sejam celebrações, mas meras reuniões de grupo, sem a unção do Espírito de Deus. Reuniões sem alegria, sem entusiasmo, insípidas, sem vida. Recebem do Movimento e escondem o talento sob a terra. Precisamos, diante de Deus, avaliar nosso "ser equipista". Aproveitando o ardor que o Espírito Santo nos proporciona ao participarmos das atividades do Movimento, procuremos -casais responsáveis nos diversos serviços- animar-nos mutuamente, incentivarmos nossos companheiros para fazermos das equipes comunidades irradiantes de fé e de vida, onde, confrontando nossas limitações, somando os talentos que Deus nos deu, iremos manter viva a chama que se concretiza ao servir o próximo. Nosso serviço tem como pedra angular nossa fé em Cristo Jesus, na intercessão de Maria e nossa contribuição para um sacramento do matrimônio vivido na espiritualidade conjugal que, como disse o padre Mário, "passa pela união dos corpos, chega à união dos corações e transcende o plano físico na comunhão da almas que se amam".

Procuremos animar-nos mutuamente, incentivarmos nossos companheiros para fazermos das equipes comunidades irradiantes de fé e de vida.

tristece conhecer casais apáticos, estéreis, acomodados, casais que não obstante a evangelização, ainda não foram convertidos efetivamente ou não abraçam nossa fé embebida na metodologia eq uipista, com amor, convicção e entregas devidos. Cristo disse: "Ide e pregai o Evangelho a todas as criaturas". Temos diversas parábolas a iluminar o caminho que devemos percorrer para evangelizar testemunhando, e, entre elas citamos a dos talentos, da figueira estéril, de Lázaro e do rico e de muitas outras. Nosso Evangelizar se centra no casal, em ajudá-lo a viver a espiritualidade conjugal. Muitos de nós, às vezes, estamos

Hélio (da E lisa) CR - Pré-Região Bahia/ Sergipe 9


A P~ESENÇA DO ESP1R1TO SANTO

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xperimente não respirar du- em vez de respirar fundo, nós, nos rante alguns segundos. Senti- abrigamos como se fosse uma brimos, em pouco tempo, uma sa indesejável? Não será por que grande angústia, indo até ao deses- nosso pulmão assemelha-se ao do pero. Nosso sangue, de rubro, tor- asmático, em que o ar penetra na-se vermelho escuro, com facilidade, mas nossas células padenele fica retido e tem cem a fome de oxigêdificuldade de ser renio, nosso organismo novado? agoniza. Ou será que o ar Respiremos agora que respiramos é aqueA diferença profunda e conscientele poluído da cidade mente. Com que alívio grande, repleto de gás entre um sentimos o ar penetrancarbônico e por mais do em nosso peito. Soque o inspiremos conpasso e uma mos capazes até de tinuamos sempre com seguir sua trajetória. imensa falta de ar? caminhada é Este gás maravilhoso O que nos impede, inunda nosso pulmão, como Cristo tantas apenas a oxigena o sangue e os vezes fez, de subir ao tecidos. Sentimos volpequeno monte para medida do tar a vida. sentir melhor a brisa Dizem que os atleda graça, fugindo da tas que disputam 100 nosso amor força que nos atrai metros rasos respiram para o centro da teruma única vez no iníra, e tentar alcançar o ao próximo cio da disparada e percéu com nossas mãos correm a distância em estendidas e o cora1Oa 11 segundos, num ção aberto? só fôlego . Não precisamos, Ao Espírito Santo como os atletas, fazer nós podemos oferecer apenas al- isso num só fôlego. Vamos respirar guns alvéolos e viver nossa vida muitas e muitas vezes, pois a difesem compromissos, como também rença entre um passo e uma camipodemos entregar nossos pulmões nhada é apenas a medida do nosso e sermos invadidos pelo entusias- amor ao próximo. mo da graça. O que nos impede? Não será Bernardete e Gabriel porque o ar passa ao nosso lado e, Eq. 9 - N. Senhora de Lourdes 1o


A PAlAVRA E A VlDA

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tido de sermos objeto de todo esse amor; Esperança de que fomos criados para a felicidade eterna; Caridade, para nos envolvermos fraternalmente- criaturas do mesmo Deus - com nossos semelhantes, no propósito de nos auxiliarmos no caminho de Deus. Você, caro equipista, como se sente dentro desse grande mistério? Por que ele existe? Não será porque nós, limitados, temos que reconhecer que o universo pede um ser sobrenatural, que cria e estabelece a ordem e que, ao mesmo tempo, quer nos guiar (Espírito Santo) e nos salvar (Jesus)? Tudo que existe e da forma que existe, numa harmonia incrível, pede também de nós uma busca dessa harmonia. Isto será através do convívio com nossos irmãos e, no nosso caso especial, entre os cônjuges. A própria diversidade entre os homens - e entre o casal - é que lhes dá individualidade e se completa, imitando de uma forma maravilhosa a unidade da Santíssima Trindade. As grandes discrepâncias entre opulentos e miseráveis - e casais divergentes - que existem no mundo, nos mostra a negação dessa Trindade; tudo perde sua harmonia. O texto do Evangelho da Santíssima Trindade merece uma meditação especial para nós equipistas. Como posicionamos nossas vidas diante disto?

o domingo, dia 10 de junho, celebramos a festa da Santíssima Trindade, que tem a ver muito com a do casal cristão. Sobre essa semelhança lembramos bem da palestra que os casais responsáveis tiveram oportunidade de assistir no EACRE- Região São Paulo - Capital, sob o tema "Casal Imagem da Trindade". Nesta festa, reportamo-nos ao Evangelho de São João 16, 12-15, que poderíamos intitular: Santíssima Trindade, Comunidade Perfeita. • PAI: Criador e ordenador do universo, que delegou ao homem o poder de gerir sua obra. • FILHO: o Deus encarnado, que se pôs na condição de homem para valorizar o próprio homem, e assumir, pela sua morte, os pecados do mundo, conduzindo-nos à salvação e a felicidade eterna. • ESPÍRITO SANTO: Deus enviado para iluminar o homem no difícil caminho para chegar ao Pai. Três pessoas distintas, mas unas, porque perfeitas que são, não poderiam ser divisíveis, eis que, nesse caso as três perderiam algumas de suas perfeições. Um grande mistério para nossa compreensão humana. Difícil para o modesto e humilde, e difícil também para o mais sábio dos homens. Um mistério que nos torna participantes de um grande plano divino. Através deste mistério, somos envolvidos por três elos magníficos: Fé, Esperança e Caridade. Fé, no sen-

José Maria (da Zélia) Equipe IE - São Paulo 11


A COMUNIDADE TR1N1TÁRlA COMO AlTERNAT1VA À SOC1EDADE ATUAl

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tentativa destas palavras é elacionar as semelhanças ntre a vida de comunidade Eclesial e a Comunidade da Santíssima Trindade num completo contexto de globalização neoliberal (onde percebemos a gradativa desumanização) e a tomada de consciência que a comunidade eclesial apresenta, tendo como modelo a Trinitária. Para falarmos de Trindade, não podemos deixar de falar do amor de Deus que é caridade pura, que ama concretamente, num eterno ato de doação e acolhimento. Deus é amor em si mesmo e nos ama infinitamente. Deus não pode deixar de nos amar. E como não nos sentirmos amados também por Jesus Cristo, uma vez que o amor que Ele tem por nós é análogo àquele que o Pai temporEle? Para entendermos a união Trinitária, temos que entrar em comunhão com esta "sociedade perfeita", onde cada uma das três pessoa está dinamicamente na outra, sendo um só Deus, num dinamismo de amor por meio do qual as pessoas divinas são uma, embora três. Na Trindade, cada pessoa é interpretada com as outras duas, numa verdadeira reciprocidade das ações que são eternas. Há uma perfeita familiaridade; a união é dinâmica e recíproca. Ao mesmo tempo que dialogam, amam-se e se relacionam com intimidade.

Alguns textos nos ajudam nesta reflexão: (Mt 11, 25-27); (Mt 12, 28); (Me 14, 36); (Jo 14, 9-11); (Jo 10,30); (Jo 10,38): (Jo 14, 9 s); (Jo 17,21). O relacionamento se dá não para si mesmas, mas para as outras, nas outras, com as outras. O Filho tem uma ação libertadora, anunciando o projeto do Reino de vida plena (e não para alguns) e o Espírito leva as pessoas a perceber a presença do Pai e a seguir a do Filho. A Trindade é uma comunidade onde não há maiores, menores ou piores; são simultâneos, atemporais, possuem a mesma eternidade e dignidade, apesar de que, lingüisticamente dizemos que o Pai é a "causa". Se o Pai é amor (lJo 4, 8.16), também o Filho e o Espírito são amor, como fonte que sempre se renova: jamais se esgota. Então nos perguntamos: Qual o significado da comunidade modelo Trinitário no sentido de ser alternati va para a nossa sociedade atual? Hoje, mais do que nunca, nossos shoppings centers se tornam verdadeiras catedrais, onde encontro de "tudo" para satisfazer minhas necessidades pessoais. Outros "navegam ajoelhados" na internet, ou prestam o seu "culto" em bolsas de valores, interpretando sua "fé" pela "cartilha esverdeada" do mercado internacional... Talvez pudéssemos dizer que ocorre uma verdadeira idolatria. 12


"empecilho" social. O mercado não é pensado para o pobre, ele não dá lucro. Este deus ouve só aos consumidores. A morte do pobre é garantia de que a harmonia e a abundância daqueles que lêem a cartilha do mercado será respeitada. A comunidade do Pai, do Filho e do Espírito Santo é a realização da realidade humana sonhada por aqueles que querem melhorar a sociedade, construindo-a em conformidade com a vontade do Pai. Ser imagem e semelhança da Trindade implica se relacionar de forma aberta para com as outras pessoas, deixando que elas coexistam conosco, na dignidade, na liberdade e no amor! Em nossas sociedades, existem gritantes desigualdades; os seres humanos são levados a viver o individualismo, pela própria forma de ser do sistema em que vivemos, sistema este, que nós, jovens, nem sempre sabemos o que é, de fato. A comunidade divina toma-se alternativa da sociedade, no sentido de que se permite- apesar de ser uma unidade trina- classes sociais, dominações, exclusões, injustiças sociais ... A sociedade que se inspira no modelo trinitário deve ser fraterna, igualitária, que respeita o "ser" e a diferença dos outros, como irmãos, onde "tudo é de todos", trabalhando juntos para o bem comum. Nacomunidade eclesial, com certeza, a mais perfeita comunhão é a partilha daquilo que temos, não querendo aqui entender como somente bens materiais, mas ideais, projetas, alegrias, tristezas. "Daí, e vos será dado" (Lc 6,38). Estas palavras nos

No sistema neoliberal se procura superar a pobreza e o subdesenvolvimento através da industrialização, da abertura do comércio internacional e da liberdade de mercado, da super-valorização da economia, mas isso infelizmente, produz alguns ricos e uma infinidade de pobres, desempregados, excluídos, além das conseqüências que isto acarreta. O ser humano é um elemento importante para esse desenvolvimento. Ele é valorizado como uma máquina pensante (às vezes, nem isso), enquanto produz, e que se torna descartável a partir do momento em que sua produção começa a ser inferior. Apesar de ter contribuído para a "ordem e progresso", toma-se um

A comunidade, então, procura viver a experiência trinitária, questionar profeticamente as dores aluais e fazer propostas, mesmo que desafiadoras, que contribuam para a humanização do amanhã.

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convidam à partilha. Na comunidade, cada um partilha aquilo que tem, cada um entra com aquilo que tem, ou deixa de ter (as dívidas, e por que não?). Os relacionamentos trinitárias não devem ser vividos apenas na reciprocidade entre algumas pessoas, talvez aquelas do nosso convívio diário, mas deve ser ampliado para todas as expressões da vida social. A comunidade, então, procura viver a experiência trinitária, questionar profeticamente as dores atuais e fazer propostas, mesmo que desafiadoras, que contribuam para a humanização do amanhã. Se observamos a comunidade (entendido no sentido de família), descobriremos valores muito preciosos que, projetados e aplicados à humanidade, poderão transformá-la também em uma grande fanu1ia. O fundamento da família é o amor que cresce continuamente, de modo sempre mais criativo, trabalhando autoridade e funções específicas, a partir do amor. Neste espaço é espontâneo colocar tudo em comum, compartilhar todos os bens, sem medo de "caixa comum". É necessário atender às necessidades de quem ainda não é produtivo, bem como daquele que já deixou de ser. É natural viver pelo outro, amarse reciprocamente. A vida do outro às vezes é mais preciosa do que a nossa própria vida, por isso, quando alguém não está berri, todos se preocupam com ele. É neste ambiente que a vida se acende e apaga, onde o deficiente, o idoso e o doente terminal encontram acolhida, afeto e cuidados.

Todos participam com criatividade; ensina-se e aprende-se: tudo contribui para o amadurecimento de todos. Todos temos valores e concepções diferentes, mas a diversidade se torna riqueza para todos , em busca da unidade. Cada um participa de tudo e compartilha tudo. A missão de cada comunidade é viver tão perfeitamente sua própria vocação, a ponto de poder tornarse modelo para toda a humanidade, transferindo-lhe todos os seus valores, através da sua forma de ser. Muitas vezes nos preocupamos com os animais em extinção, o que não deixa de ser algo importante, mas é preciso que invistamos no ser humano, ressaltando e difundindo o que há de positivo, vivendo um para o outro, lutando para que não seja extinto o amor. É preciso humanizar as estruturas existentes, de maneira que o espirita de serviço possa atingir uma gratuidade e uma disposição de amar as pessoas como aquela que se tem na Trindade. Que, por buscarmos Deus em nossa vida, também busquemos viver a dinâmica trinitária nos diversos aspectos da vida e a nossa convivência nos leve a conhecer melhor a Deus e a aprofundar a nossa união com e como a comunidade Trinitária.

Pe. Claudenil Moraes da Silva SCE da Equipe Nossa Senhora de Fátima - Santos, SP (Extraído do Boletim Informativo das ENS - Se to r Santos) 14


O ESPlRlTO SANTO E MARlA

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editando sobre o Espírito Santo, tomamos consciência de que sua maior obra foi a encarnação do Filho de Deus. Para que ela acontecesse, foi necessária - necessária por vontade do Senhor - a colaboração de uma criatura: Maria. Jesus teve a plenitude do Espírito Santo desde que assumiu nossa natureza humana. Foi ungido por Ele em momentos especiais: por ocasião do batismo, no Rio Jordão (Lc 3,22); ao ir para o deserto, a fim de rezar e jejuar (Lc 4,1); ao voltar para a Galiléia, dando início à sua pregação (Lc 4,14-15,21 ); quando, cheio de alegria deu graças ao Pai que reservava seus segredos aos pequeninos (Lc 10,21); e finalmente, ao ser exaltado à direita de Deus: tendo recebido do Pai o Espírito Santo prometido, o derramou sobre nós (At 2,33). Se Jesus teve necessidade dessas unções do Espírito Santo, o que dizer daquela que a Santíssima Trindade escolheu para a mais nobre missão que poderia ser proposta a uma criatura? O Espírito Santo, que aperfeiçoa a fé mediante seus dons, inspirou

e sustentou Maria em seu sim por ocasião da Anunciação. Ela descobriu que não pode haver presença visível do Verbo sem a prévia descida e a atividade do Espírito Santo. Por ocasião da visita a Isabel, inspirada por ele, cantou as maravilhas


do Senhor e interpretou a história da salvação do ponto de vista de Deus. Na gruta em Belém, foi Ele que ajudou a ver que em Jesus se cumpriam as promessas feitas ao povo escolhido. Jesus crescia sob o olhar de Maria, e o Espirita Santo fazia com que ela guardasse em seu coração o que não entendia. Somente assim, interiorizando tudo, poderia penetrar sempre mais nos mistérios de Deus (Lc 2,19.49-51). Aos pés da cruz, segundo o testemunho do apóstolo e evangelista São João, ela estava de pé (Jo 19,25). Quem lhe dava condições de estar ali, participando com seu silêncio e amor do momento máximo da redenção? "O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra" (Lc 1 ,35), dissera-lhe o anjo Gabriel. Somente quando o Espírito Santo envolve uma pessoa com sua força é que ela tem condições de- mesmo nos momentos mais difíceis - resistir de pé. A Igreja estava recolhida no cenáculo de Jerusalém. Obedecia a Jesus: "Eu vos mandarei o prometido de meu Pai; entretanto, permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto" (Lc 24,49). Os apóstolos e discípulos perseveravam na oração. Lucas, autor dos Atos dos Apóstolos, ressalta: perseveravam "com Maria, a mãe de Jesus" (At 1,14). Quem como ela, podia dizer aos apóstolos do que é capaz o Espírito Santo quando

encontra um coração aberto à sua ação? Em sua própria vida, a experiência de Pentecostes começara, de certa forma, na Anunciação. Se, durante a permanência no cenáculo, algum apóstolo lhe perguntasse: "Por que a senhora? Por que Deus a escolheu para ser mãe de nosso Salvador?", certamente a ouvia a repetir: "O Senhor viu a pequenez de sua serva" (Lc 1,48). Dias depois, repletos doEspírito Santo, eles compreenderiam que em nenhum momento da história houve um tal envolvimento entre uma criatura e o Espírito Santo como aconteceu com Maria. Criatura alguma lhe foi tão disponível como ela. Jesus nos garantiu que o Espírito Santo permaneceria conosco (Jo 14, 17). Ele, nosso advogado e consolador, intercede incessantemente por nós (Rm 8,15-16). Maria, repleta do Espírito Santo, participa dessa prece. Como a Igreja continua no cenáculo, sua presença entre os irmãos de Jesus é necessária. Em sua oração, pede que o Pai envie o Espírito Santo a fim de que Cristo seja formado em nós e, então, possamos dizer: "Eu vivo; mas não sou eu que vivo: é Cristo que vive em mim" (Gl 2,20). Sabe que essa é a obra mais importante do Espírito Santo. Sabe porque aprendeu isso de Jesus. Sabe por experiência própria.

Dom Murilo S. R. Krieger, SCJ Arcebispo de Maringá, PR (Extraído da revista "Mensageiro do Coração de Jesus") 16


RETIRO: PENTECOSTES É AQUl

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vivência e experiências, eram muito díspares. Há alguns meses, a equipe a qual pertenço foi participar de um retiro das Equipes de Nossa Senhora, no município de Paranaguá, PR. Lá estávamos em um grupo de 70 pessoas aproximadamente. De Curitiba éramos 14 pessoas de três diferentes equipes. Tínhamos pouco conhecimento, uns dos outros, e diferenças sociais e culturais; "entre nós há pardos, medos e elamitas, gente da Mesopotâmia, da .Judéia e da Capadócia ... outros são judeus ou pagãos convertidos; também há cretences e árabes. E cada um de

á cerca de um ano e meio, eu e mais dois colegas, a pedido da Congregação Redentorista, Província de Campo Grande, com sede em Curitiba, procuramos reunir num encontro exseminaristas redentoristas. Na época, conseguimos reunir, entre colegas e esposas , umas 40 pessoas. Muito embora nos conhecêssemos, a partir do fato de termos procurado uma vocação religiosa e vivido por algum tempo juntos, o nosso encontro deixou muito a desejar, porque a linguagem entre nós era diferente, heterogênea, isto é, o conhecimento da fé cristã com sua 17


nós em sua própria língua os ouve anunciar as maravilhas de Deus!" (A tos 2, 9-11) Enquanto no primeiro encontro, No encontro das muito embora já existisse um conhecimento prévio dos participantes, não Equipes havia uma existiu uma mesma linguagem, e não nos entendíamos, no encontro das linguagem comum. Equipes, onde pela primeira vez nos encontrávamos, havia uma linguaApesar das gem comum. Apesar das dificuldades de nos expressarmos em públidificuldades, nós co, nós nos entendíamos, sabíamos do que estava sendo falado, sentíanos entendíamos, mos nosso coração arder... "Não estava o nosso coração ardendo quando ele nos falava pelo camisabíamos do que nho, e nos explicava as Escrituras?" (Lc 24,32ss) . estava sendo falado, O que fez a diferença? Qual é este caminho que inebria, com o sentíamos nosso Espírito e nos leva a concretizar o Reino que é de Deus entre nós? Pois coração arder. .. acho que este caminho, ou parte dele, trilhamos nos Pontos Concretos: "Eram perseverantes em ouvir os ensinamentos dos apóstolos, na comunhão fraterna , no São Paulo, pede insistentemente partir do pão e nas orações." em suas cartas, que os cristãos não (Atos 2,41ss) extingam o Espírito, "sejam alegres Sobre um núcleo forte e sadio, na esperança, pacientes na tribuque é o amor que uniu e une os côn- lação e perseverantes na oração. juges, as Equipes de Nossa Senho- Sejam solidários com os cristãos ra, utilizando os Pontos Concretos em suas necessidades e se aperde Esforço como ferramenta, feiçoem na prática da hospitaliaprofundam esse amor, e.... como dade. " (Rm 12, 12-13) aquele que procura um tesouro e, "Ninguém procure satisfazer encontrando-o, vai, vende tudo que aos seus próprios interesses, mas tem e compra o campo. Assim é o os do próximo" (lCor 10,23-25). encantamento exercido pelo Reino de Deus para aquele que o busca Maria Sônia e Luiz de coração sincero, e rios de água Eq. 6C - N. Senhora Aparecida viva jorrarão de seu interior. Curitiba, PR 18


Temas de Formação

,

AFE Pe. Aávio Cavalca de Castro

h.mho

2001


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sse é um tema bastante vasto. Haveria vários aspectos que deveriam ser encarados. Vamos examinar apenas um aspecto. Poderíamos começar lembrando algumas frases que todos temos na cabeça quando alguém nos fala de fé. Podemos começar por aquela de Paulo: "Ninguém pode dizer 'Senhor Jesus' a não ser no Espírito Santo". Mais aquelas outras frases de Cristo: "Porque vocês duvidaram, homens de pouca fé?". Será que, se eles tivessem fé, o barco não iria virar? "Se vocês tiverem fé do tamanho de um grão de mostarda, vão dizer para esse monte: 'jogue-se ao mar e ele vai se lançar ao mar' ". Será que Jesus estava querendo dizer que se você tiver fé, basta mandar e a doença irá embora, e a casa mudará de lugar e nunca pegará fogo? Quando falamos de fé, podemos logo lembrar alguns conceitos análogos que nos vêm à cabeça. Fé para nós significa aceitação, crença, confiança; tem alguma coisa também a haver com conhecimento. Nós confiamos ou não confiamos nas pessoas, conforme o julgamento que temos dessas pessoas, baseados no conhecimento, na simpatia ou na antipatia. Nossa confiança, nossa aceitação da palavra de outras pessoas depende também de hábitos cultivados e de posições assumidas anteriormente.

1.A FÉ EM NOSSA UNGUAGEM Nós "damos fé a alguém", "prestamos fé a alguém", "temos fé em alguém, no que a pessoa nos diz", dizemos de alguém que "é uma pessoa de boa fé", que "agimos em boa fé". "Acreditamos" em alguém ou em alguma coisa. "Ter fé" é aceitar alguma coisa como certa. Mas também, em nossa maneira de falar, "acreditar" e "crer" indicam uma gama bastante grande de incerteza; eu acredito que ele vai chegar na hora, eu creio que as coisas se passaram assim ou assim. Mas não tenho certeza. Para nós, fé também pode indicar uma crença religiosa, não demonstrável racionalmente. Por isso dizemos: isso é questão de fé, isso é questão de crença. 2. TERMOS E CONCEITOS BÍBUCOS

Vamos olhar para a Sagrada Escritura. aproveitando-nos um pouco do que diz Xavier León-Dufour no seu "Vocabulário de Teologia Bíblica" (Vozes). Diz ele que no hebraico temos duas palavras usadas para indicar esse conceito de fé: a primeira é amam (pistis, fé) de onde vem o nosso amém. Essa palavra amam traz consigo a idéia de solidez, de alguma coisa que não muda, de alguma coisa na qual a gente possa agarrar-se; portanto, idéia de certeza. A outra palavra é batah (na tra-


dução grega: elpis, esperança), que também traz a idéia de segurança, confiança mas falando de pessoas: é uma pessoa confiável, em quem a gente pode ter batah. Se olharmos para a tradução desses termos hebraicos para o grego, vamos encontrar a palavra elpis, que corresponde a nossa esperança, e a palavrapepoitha, que significa "eu confio", alétheia que é a verdade. No Novo Testamento predominaram os termos elpis, esperança, e pistis, fé. Mas, entre as duas idéias do Antigo Testamento, esperança e confiança, predominou no Novo Testamento a idéia do acreditar, do aceitar alguma coisa como verdade. E, em nossa maneira geral de falar, acreditar traz logo esse conceito de aceitar alguma coisa como verdadeira. Aquele outro aspecto de confiar em Deus, esperar a realização e sua promessa, isso nós deixamos mais para o conceito de esperança. Mas se queremos ser fiéis à Escritura, o conceito de fé se prende, em primeiro lugar, à confiança que temos em alguma pessoa. Porque Deus merece confiança, Abraão acredita nas promessas de Javé. Porque Deus merece confiança: Essa é, aliás. a idéia que vai aparecer também no capitulo onze da Carta aos Hebreus. Ali, há uma série toda de pessoas do Antigo Testamento, lembradas porque confiaram em Deus, e por isso continuaram esperando, apesar de todas as dificuldades. Vejam bem, pois, ter fé não é em

primeiro lugar aceitar alguma afirmação como verdadeira ou não, aceitar uma afirmação abstrata. mas aceitar como verdadeira uma promessa, a promessa feita por Deus ao povo e a cada pessoa individualmente. Aqui, para ver o exemplo dessa fé em Abraão, poderíamos ler o livro do Gênesis, capítulos 12, 15 e 22. Podemos lembrar também, Carta aos Romanos, capítulo 4 e 19, além desse capítulo 11 da Carta aos Hebreus. A fé deveria, então, ser a atitude do povo diante da aliança que Deus oferece. O povo deve crer, deve confiar, deve continuar agarrado à aliança, apesar de todas as dificuldades que vão aparecendo. Vejam bem que o conceito de verdade fica colocado num segundo plano. É importante sim, mas a fé na Escritura preocupa-se principalmente com a credibilidade que Deus merece.

3· TROPEÇOS Diante disso nós poderíamos dar um passo a mais e encontrar no Novo Testamento alguns pontos, algumas passagens que nos podem obrigar a pensar. Uma primeira observação: todos ouviram Jesus falando; muitos se deixaram conquistar, ficaram admirados com o que Jesus dizia, mas outros não aceitaram suas palavras. Por que essa diferença? Muitos viram coisas extraordinárias que Jesus fazia. Alguns confiaram nele. outros não confiaram. Como se explica isso? Por que nem todos acreditaram em Jesus? Só porque não


queriam, pura e simplesmente? E passando agora para a nossa situação atual: há tantos argumentos que se podem apresentar em favor da fé; por que existe ainda tanta gente que não acredita no Evangelho? Por que há tanta gente que não aceita ou, pelo menos, diz não aceitar nem a existência de Deus? Finalmente, lemos em Marcos 16,17-18: "aqueles que acreditarem serão acompanhados por estes prodígios: em meu nome, vão expulsar os demónios, vão falar em novas línguas, vão agarrar serpentes e se por acaso beberem algum veneno não lhes fará mal, se impuserem suas mãos sobre os doentes esses serão curados" ... Será que nós temos de dizer: se acredito, se tenho fé, se tenho confiança em Deus, vou poder fazer tudo isso? E podemos apresentar a frase também ao contrário: se você não tiver coragem de pegar cobras com as mãos, se você não tiver coragem de tomar um cálice de veneno, se você impondo as mãos sobre os doentes não os curar, você não tem fé? Isso é o que muitos dizem. Há muito cristão católico por aí apelando para esse texto dizendo: se você tem fé não precisa ir atrás de médico porque Jesus cura.

interiormente transformados; não é só nossa maneira de pensar, não é só nossa maneira de querer, não é só o nosso procedimento que é transformado; é nossa própria maneira de ser que é modificada, a partir de uma ação do poder divino. Fomos feitos participantes da vida da Trindade. Recebemos um novo modo de ser; um novo modo de ser que não é exigido pela nossa maneira humana de existir; uma nova maneira de ser que escapa ao nosso alcance. Por mais que quiséssemos, nunca poderíamos ser participantes da vida da Trindade. Nunca poderíamos merecer essa participação. Por mais que fizéssemos. É alguma coisa que está sempre fora do nosso alcance. É só pelo poder de Deus, é só pela misericórdia de Deus, é só por uma doação gratuita de Deus que podemos participar nessa vida da Trindade. E só por uma doação gratuita e onipotente de Deus que podemos ser filhos ado ti vos de Deus, divinizados, tendo em nós alguma coisa do próprio Deus. Essa é a visão católica de justificação, de vida nova. Pois bem, a essa maneira nova de ser e de existir, correspondem também novas possibilidade de conhecer, de amar, de procurar, de pretender. Com outras palavras: se estamos unidos a Deus pela graça que Deus nos concede e nos transforma, podemos conhecer mais ou menos como Deus conhece, podemos amar mais ou menos como Deus ama, podemos orientar a nossa vida, organizar os nossos objeti-

4· TEOLOGlA DA FÉ Vamos tentar caminhar um pouco mais. Em primeiro lugar, vamos relembrar o conceito de justificação, de graça, de vida sobrenatural. Conforme a visão católica, pela força, pelo poder de Deus somos

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vos a partir da maneira de pensar do próprio Deus. Essa é uma capacidade que antecede nossa vontade de fazer ou não fazer essas escolhas. Amar ou não amar, compete a mim decidir. Agora, ter a capacidade de amar como Deus ama, isso não depende de mim, recebo essa capacidade, essa possibilidade que vou usar ou não, conforme minha decisão. Eu estou insistindo muito nisso porque me parece fundamental. Geralmente, trabalhamos demais com a idéia de decidir querer ou não querer. Há uma realidade anterior, é o poder de Deus que me dá essa faculdade, essa possibilidade de conhecer como Deus conhece, de amar como Deus ama. Tenho em mim, a partir de uma ação divina, a possibilidade de organizar minha vida de acordo com as propostas de Deus. É uma capacidade que recebo gratuitamente. A essas capacidades, normalmente, em teologia, chamamos de virtudes. Virtude é simplesmente a transcrição da palavra latina que significa força. No texto grego e na teologia grega, aparece a palavra dinamis que também é força. Tenho, pois, em mim forças, potencialidades que me permitem fazer o bem, conhecer a verdade, amar a verdade, querer a verdade. Conhecer, amar, querer a união com Deus. Mas, quando dizemos que essas potencialidades para conhecer, amar são virtudes, temos de tomar cuidado. Não são virtudes no mesmo sentido em que falamos das vir-

tudes humanas. Já em Aristóteles, encontramos a teoria das virtudes. Virtudes são forças interiores que possibilitam e facilitam a prática do bem e a procura da verdade. Essas virtudes éticas estão ao alcance da pessoa, basta que ela as desenvolva pelo exercício, pela repetição de bons atos, e assim vai tomar-se cada vez mais virtuosa. Quanto mais vocês se dominarem e forem pacientes diante das adversidades, quanto mais vocês repetirem isso, mais serão pacientes e tolerantes. Nesse sentido a virtude é uma qualidade desenvolvida a partir da repetição. É um hábito adquirido pela repetição dos atos bons, da mesma forma que o vício é o hábito mau adquirido a partir da repetição de atos maus. Pois bem, quando dizemos que Deus infunde em nós essas capacidades que chamamos de virtudes, estamos falando de virtudes que não dependem do exercício para crescer. Quando dizemos: "Deus me dá a capacidade de conhecer ou de amar", estamos dizendo "recebo de Deus alguma coisa que antes não estava no meu alcance", e se quero desenvolver essa capacidade de amar que recebo de Deus, não basta repetir atos de amor. É somente Deus que me pode fazer crescer nessa capacidade. É só Deus que pode fazer crescer em mim, aumentar em mim a caridade, ou a esperança, ou a fé. Repetindo, porque é importante: as virtudes sobrenaturais, essas capacidades novas que Deus nos dá, pela sua

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graça, são fundamentalmente dons de Deus. Humanamente, são inacessíveis para nós. Quando recebemos essas virtudes, podemos amar, conhecer, agir como Cristo ama, conhece, planeja. Mas, só podemos fazer isso enquanto continuarmos unidos a Cristo, porque elas são potencialidades que nos vêm da vida nova. Se rompermos nossa união com Cristo, também já não podemos manter essa capacidade de crescer, essa capacidade de amar. Chamamos de fé essa capacidade que recebemos de Deus para pensar como Deus pensa, para conhecer as coisas como Deus quer. Portanto, fé não significa em primeiro lugar "eu acredito". Em primeiro lugar significa "posso saber que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo". Isso passa a ter um sentido especial para mim, porque Deus colocou em mim essa capacidade da fé. Quando digo "Deus é bom, Deus me ama", essas minhas afirmações não são como as afirmações de qualquer outra pessoa, baseadas apenas no conhecimento ou no raciocínio humano. Quando digo "Deus me ama", eu estou sendo iluminado a partir de um dom superior, sobrenatural que me possibilita uma maneira de conhecer isso, diferente do que eu podia fazer antes, simplesmente com minha razão. Pela fé, podemos então resumir, participamos do conhecimento de Cristo. Pela fé, por esse dom que Deus nos concede, por essa capacidade de conhecimento novo que Deus nos dá, podemos participar da

experiência que o Cristo tinha do Pai e do Espírito. Podemos participar de alguma maneira da própria autoconsciência que o Cristo tinha sobre si mesmo. Não se trata apenas de pensarmos a mesma coisa que o Cristo. Se tenho um aluno aplicado, depois de algum tempo, ele pensa como eu penso, porque ele assumiu o meu pensamento. Na fé, não se trata apenas disso. Pela fé, em nós e no Cristo, existe um princípio de conhecimento superior que nos possibilita ver e conhecer as coisas como o próprio Cristo as vê e conhece. Temos, pois, na fé um conhecimento que é causado pelo Cristo. Cada vez que nos voltamos para Deus e vemos a Deus e suas promessas sob esse ponto de vista da fé, em cada um desses atos, estamos sendo mantidos e sustentados pelo Cristo de tal maneira, que poderemos dizer que quando acreditamos é o Cristo que está acreditando em nós. Não vamos então colocar a força da fé em nossa convicção, em nossa certeza. Não, a força da fé está em nossa participação no conhecimento, na experiência que o Cristo tinha do Pai, do Espírito e de si mesmo. Dessa capacidade participamos pela fé. Poderíamos, pois, dizer que acreditamos porque o Cristo nos dá a possibilidade de acreditar. Acreditamos porque fomos transformados interiormente pelo Cristo. O Cristo passa a ser o centro da nossa maneira de ser. Podemos acreditar porque, pelo poder de Deus, fomos feitos à imagem de Jesus Cristo. VI


Essa fé, esse ato, é, em primeiro lugar, iniciativa de Deus e, em segundo lugar, é decisão nossa, porque o mesmo Deus que nos está dando essa possibilidade de crer deixa-nos a liberdade de crer ou não. Cada vez que cremos, estamos participando do conhecimento de Cristo. De tal maneira que, no dizer de São Paulo, quando cremos estamos sendo uma só pessoa com Cristo que crê; quando confiamos nas promessas de Deus estamos sendo uma só pessoa, um só organismo, com o Cristo que espera, confia e acredita em nós. Lembremos aqui novamente aquela passagem do Evangelho de João capítulo 15, "eu sou a videira e vocês são os ramos". A nossa fé é participação nessa vida de Cristo. Nós podemos acreditar, ter fé, enquanto estamos unidos com Ele. Nós conhecemos as coisas de Deus iluminados por Cristo, à maneira de Cristo. Só unidos a ele podemos obedecer livremente ao Pai. Por detrás dessa palavra obedecer está a palavra latina que significa escutar. Só unidos com Cristo, podemos escutar, ou seja, perceber o sentido das palavras de Deus, aceitá-la e ligar-nos a ele pela aceitação. Usando uma comparação, sem essa união com Cristo, é como se Deus nos falasse em língua estrangeira. Só pela união com Cristo, podemos compreender sua linguagem. Só pela união com Cristo, podemos curvar-nos. Se não levarmos isso em conta. vamos sempre ver essa palavra de Deus como uma imposição externa, à qual não nos que-

remos curvar. Podemos até ouvir "seja paciente", ou "ame", mas essa palavra não nos convence. É só a partir da união com Cristo que podemos ouvir, obedecer, escutar, entender a palavra do Senhor. Ele é que nos possibilita "compreender" a Trindade. Ele é que nos possibilita conhecer, não apenas intelectualmente, mas através de uma experiência religiosa. É claro que não se trata de uma experiência clara, transparente, conforme nos diz São Paulo. Será sempre um conhecimento, uma experiência" como que por entre nuvens". Como se Deus estivesse dando-nos apenas um antegosto, avançando, adiantando alguma coisa de um conhecimento e de uma experiência mais plenos. É o Cristo, que pelo seu poder, pela sua força, pela transformação operada em nós possibilita que a nossa inteligência se abra à mensagem de Deus que se revela. Porque a revelação de Deus é, em primeiro lugar, manifestação de amor. E só essa união com Cristo torna a nossa vontade aberta para a sedução que vem de Deus. Aqui, faço uma observação que não podemos esquecer: se a iniciativa é de Deus, se a capacidade de crer nos é dada por Deus, continua sendo verdade que, a cada instante podemos nos fechar a esse dom, a cada momento, podemos rejeitar essa capacidade, a cada momento, podemos nos negar a viver esse relacionamento com Deus. Esta nossa liberdade continua sempre intacta. Pelo menos o "não" continua sempre ao nosso alcance. Não

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precisamos da ajuda divina para dizer não. Precisamos da ajuda divina para dizer sim. Podemos, para tentar compreender um pouco mais isso, apelar para o que Concilio Tridentino nos diz sobre o processo da conversão e da justificação, o processo da transformação do homem. Já a própria palavra "processo" está a indicar que normalmente a conversão não acontece de uma vez, nem de repente. A justificação, a conversão, o encontro do homem com Deus, normalmente acontece lentamente, através de diversas etapas. O Tridentino lembra-nos essas etapas. Em primeiro lugar temos uma iniciativa de Deus. É Deus que, gratuitamente, se dirige a cada pessoa individualmente e a convida. Como convida? Muitas vezes fazendo a pessoa perceber uma insatisfação, uma inquietação, de tal maneira que esteja colocada diante de uma grande interrogação: qual o sentido da minha vida? Que é que eu vou fazer? Que é que pode satisfazer os meus anseios de felicidade? Tendo a pessoa recebido essa primeira graça, pode continuar cultivando, investigando essa sua insatisfação, ou pode simplesmente ligar a televisão, ou abrir uma garrafa de cerveja e esquecer suas angústias. Mas, se a pessoa acolhe essa primeira inquietação, Deus vai continuar agindo, e essa pessoa vai começar a ter sede e fome de verdade, e vai começar a procurar. E, nessa procura, vai dirigir-se a alguém de confiança, ou vai abrir um livro, ou vai, de repente, passar em

frente de uma igreja e vai entrar, ou, de repente, vai ouvir até um pregador evangélico na praça da Sé. Para essa inquietação, Deus não vai mandar uma mensagem direta. Deus vai dizer para essa pessoa, o que disse para Paulo em Damasco: "vá à casa de fulano de tal, na rua Direita, lá vai ser dito a você o que é que deve fazer". A pessoa ouve, de uma maneira ou de outra, conforme está lá em Rm 1O, 17. O primeiro anuncio vem ex auditu, quer dizer, pelo ouvido, isto é, através de outra pessoa ou de uma comunidade. Deus, normalmente, usa intermediários. Claro que, em determinadas circunstâncias, a pessoa não tem ninguém a quem procurar. Nesse caso, mesmo sem transmitir necessariamente idéias claras e precisas que pudessem ser formuladas, Deus irá continuar trabalhando no coração dessa pessoa, de maneira que ela se abra para uma atitude de confiança e de amor. Dito isso, temos um segundo passo. Depois que a pessoa ouviu de alguém a resposta, que poderíamos chamar de revelação, a pessoa terá de, livremente, tomar sua decisão. Iluminada por Deus, poderá perceber sua situação de incapacidade, de fraqueza, de miséria e o convite para mudar de vida. A graça de Deus irá despertar nela a esperança, com a qual começa o que o Tridentino chama de amor inicial. Começa a amar a Deus, não apenas com sua força humana, não apenas com sua decisão humana, mas

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ajudada, impulsionada pela graça divina. Isto é: começa a colocar Deus em primeiro lugar na sua vida. Começa a fazer suas opções levando-o em conta. Começa a querer agradar-lhe. É um processo que se inicia, por isso o Tridentino o chama de "amor inicial". O passo seguinte será o que chamamos de arrependimento, ou seja, decisão de abandonar a vida anterior. É conversão e mudança. Atraída pela graça de Deus, de agora em diante, a pessoa quer viver de maneira nova. Quando esse processo chega a seu ponto mais alto, dá-se o encontro definitivo com Deus que a transforma interiormente. E, de agora em diante, essa pessoa não será apenas atraída e empurrada por Deus. Começará a caminhar levada por um princípio interior de vida recebido de Deus. Esse princípio interior de vida é o que chamamos de graça santificante. Podemos dizer que essa pessoa nasceu de novo, foi novamente criada, recebeu agora um princípio vital que a vai levar para frente. É claro que esse princípio vital deverá ser continuamente sustentado pelo poder de Deus. Esse processo de conversão pode variar imensamente de pessoa para pessoa. Mas, aqui, seria bom salientar que ele pode chegar à sua plena conclusão mesmo antes de a pessoa encontrar-se com o cristianismo ou com a Igreja católica. A conversão é uma transformação interior operada pelo poder de Deus. Esse agir de Deus, a graça e a fé, como conhecimento e experi-

ência de Deus, são realidades sobrenaturais que escapam à nossa experiência direta. Quando sentimos no coração um fervor, quando nos sentimos interiormente animados, alegres, não estamos sentindo, percebendo a graça de Deus. Estamos apenas percebendo a intensificação das pulsações do coração, o aumento da adrenalina. É isso que podemos sentir. Não apresença da graça. Por isso, temos de tomar cuidado com certas experiências religiosas entusiastas. Poderíamos pensar que estamos sentindo a graça, o amor, a força de Deus. Não; estamos apenas sentindo em nós a repercussão de um ambiente de entusiasmo contagiante. Estamos sendo levados por emoções religiosas, como, num campo de futebol, podemos ser levados pelas emoções futebolísticas. A fé, a caridade, a graça, a união com Deus, essas são realidades que transcendem nossa percepção. Por isso mesmo é que os antigos mestres espirituais insistiam tanto em dizer: "não procurem as emoções religiosas". Se você se sente religiosamente emocionado, e é capaz até de chorar, aceite isso, mas saiba que isso não é a graça. Pode ser reflexo da ação divina, como pode também ser apenas emoção, criada pela sugestão. Iluminado por Deus, tendo em mim esse conhecimento que me vem dessa capacidade infundida, derramada dentro de mim pelo poder de Deus, participo do conhecimento de Deus e sou levado pelas coisas de Deus. Mas, aqui e agora,

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isso tudo não é nem claro, nem evidente para mim; é como se eu estivesse caminhando no meio de névoa. Não tendo visão clara, eu não tenho percepção distinta. Caminho sempre como que no escuro, procurando orientar-me pelas vozes que ouço deste ou daquele lado, como quem, no meio de névoa, vai tateando. Essa é a nossa situação atual. Nesta nossa situação atual, a certeza, a plena confiança, é possível somente na medida em que nos deixamos levar pelo impulso interior de Deus. Para acreditar, para confiar, eu sempre preciso querer. Nunca terei plena visão, plena certeza que afaste toda a dúvida ou hesitação. No fundo, todo e qualquer ato de fé e de confiança é um ato de amor. Não sei se já perceberam que o amor é sempre um crédito de confiança dado a alguém. Nunca sabemos o que a outra pessoa vai ser ou fazer. Cada ato de fé também é um crédito de confiança que damos a Deus. Não é resultado de uma argumentação, nem de uma certeza constatável. Essa é a nossa situação atual. Na vida futura a situação vai ser ao mesmo tempo diferente e ao mesmo tempo igual. Quando todas as promessas se realizarem, veremos claramente todas essas realidades. Nossa participação na visão divina será plena. O que acreditamos aqui, lá, iremos ver. O que esperamos aqui, lá, iremos ter. A vida que agora recebemos de Deus é a mesma vida que iremos viver pela eternidade. Há,

pois, continuidade. Mas haverá também total mudança, total diferença: passaremos das trevas para a luz ; da visão entre névoas, para a visão clara face a face; da visão "como que através de um espelho mais ou menos deformante" (como diz São Paulo) para a visão frente a frente, cara a cara, como o conhecimento que podemos ter de nós mesmos. Agora, esse conhecimento da fé cria em nós uma tensão que poderíamos chamar de fome, sede, inquietude. É alguma coisa que nos arrasta, que nos desafia, que nos provoca. Lá teremos a plena saciedade. A sede apagada para sempre. O pleno gozo. A plena tranqüilidade. A realização final da união que vem depois da tensão, que vem depois da atração. E, é claro, essa plena realização, se, por um lado, é apagamento de sede e saciedade, é, por outro lado, eterna busca e eterna renovação. Não podemos imaginar a outra vida como se fosse um "Ah! É isso"! "Ah! Está bom, já vi tudo". Não. Lá, esse desafio que existe aqui vai continuar para toda a eternidade. Vai ser contínuo descobrimento, vai ser contínuo aprofundamento, vai ser satisfação sempre renovada.

s.ALGUMAS CONCLUSÕES PARAAVIDA Depois disso, poderíamos tirar algumas conclusões finais. Em primeiro lugar, temos de ter urna atitude de atenção contínua à voz da Trindade. Recebemos de Deus essa

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capacidade de ouvir. Vamos então, de fato, ouvir, vamos estar, de fato, sempre atentos, não vamos permitir que ruídos interfiram em nossa comunicação com a Trindade. Mas, por outro lado, não vamos esquecer que, para continuar ouvindo, para continuar entendendo a Trindade, precisamos continuamente da graça de Deus. Não podemos merecer que Deus continue dando-nos a graça. Essa é doutrina da Igreja: não podemos merecer a perseverança na fé, na caridade, na graça. Podemos apenas pedir que Deus, por favor e por misericórdia, nos dê essa fidelidade renovada, nos dê sempre esta continuidade na escuta, nos dê sempre essa fidelidade a cada dia, a cada momento, sempre de novo. Temos de pedir continuamente. E quando digo pedir, não estou pensando no ato de repetir palavras ou de dizer orações. Estou dizendo: continuamente, sempre que estivermos conscientes de nós mesmos, temos de estar conscientes dessa nossa dependência. A oração, a atitude de oração, consiste fundamentalmente nessa atitude de dependência diante do Senhor. Segundo: não podemos aumentar nossa própria fé. Se você faz exercícios, aumenta os seus músculos; se você repete bons atos de paciência e cordialidade, você vai criando bons hábitos. Mas você não tem a capacidade de aumentar a sua fé através do exercício. Sua fé, sua esperança, sua caridade, sua graça santificante podem crescer apenas por dom de Deus.

Só Deus pode aumentar isso em você. Então, o que você tem de pedir? Que você não resista e que Deus lhe dê, de fato, uma participação cada vez maior na sua vida. Aí está a oração mais necessária. Terceira consideração: em nossa vida nosso conhecimento é condicionado pelo nosso amor. Como amamos, assim conhecemos. Quanto mais amamos uma pessoa, mais percebemos como essa pessoa é. Quanto mais amamos uma pessoa, mais a aceitamos e mais estamos dispostos a confiar nela. Quanto mais nos abrirmos ao amor de Deus por nós e quanto mais nos abrirmos ao amor pelos outros, ao qual ele nos impele, tanto mais iremos sendo capazes de intuir nas coisas de Deus. Usei de propósito essa palavra intuir, ver. Compreender, geralmente, tem para nós uma conotação racional. Intuir indica uma percepção imediata, que não conseguimos explicar, que não fica apenas na superfície, mas vai ao íntimo das coisas. Quanto mais, pois, nos abrirmos ao amor de Deus e à ação divina, tanto mais nos tornamos capazes dessa intuição, desse conhecimento sem palavras e sem conceitos, tendo em nós alguma coisa de Deus. Isso é, digamos assim, conhecer a Deus por dentro. A certeza e a clareza da nossa fé não dependem de nosso conhecimento racional. A fé não nos infunde idéias claras. Acredito no amor de Deus e tenho uma primeira percepção desse amor, mas preciso de um continuado esforço e de um

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contínuo ouvir o anúncio do Evangelho, se quiser aprofundar essa percepção. Como vimos, a conversão é um processo. O aprofundamento da fé também é um processo gradual. Temos que dar o nosso esforço pessoal para aprofundar, interiorizar o que ouvimos. Tudo vem de Deus, mas Deus vai nos levando, guiando, iluminando, na medida em que estamos interessados. Temos de aprofundar, temos de procurar entender o sentido do que cremos. Esse é um esforço indispensável. À medida que vamos desenvolvendo nossa capacidade de compreensão em outros campos, temos de ir procurando que nossa percepção, nossa compreensão da fé cresça na mesma proporção, isto é, que seja sempre capaz de responder às nossas necessidades intelectuais do momento. Temos que fazer um esforço para ir relacionando entre si os diversos elementos dessa manifestação de Deus. Acredito que Deus é misericordioso e acredito que Deus é justo; como consigo combinar esses dois aspectos? Esse esforço não é para aprofundar ou aumentar a fé, mas para desenvolver nossa capacidade de pensamento religioso, para que não se crie um desnível perigoso entre nossa fé e nossa razão. Vamos distinguir claramente entre o que faz parte da revelação de Deus e o que não passa de doutrinas secundárias, piedosas tradições ou opiniões teológicas. Nenhum raciocínio pode levar

alguém à fé. Eu acredito, porque sou iluminado pela graça de Deus. Isso é verdade. Mas, também é verdade que tenho de ir atendendo as exigências da minha razão. Nunca posso deixar minha razão sem resposta; caso contrário, vou ter conflito interior. Tenho de ir encontrando resposta para as minhas perguntas, tenho de ir percebendo o verdadeiro sentido dessas palavras, através das quais manifesto minha convicção. Tenho de saber afastar as pretensas contradições. Tenho que poder dizer: como pessoa razoável, não percebo nenhuma contradição entre minhas convicções a respeito de Deus e as realidades e as verdades que percebo pela razão. Como cristãos, no dizer de São Pedro (1 Pd 3, 15), temos de estar sempre prontos a explicar para os outros o verdadeiro sentido da nossa fé. Quem nos questionar, se quiser poderá acreditar; mas que jamais possa dizer que não acreditou, porque não lhe apresentamos bem a mensagem de Deus. Ultima consideração: se a fé é isso, vamos aceitar a pobreza da fé, que é plena confiança, plena entrega. Deus nos disse o estritamente necessário. Não vamos ficar correndo, com uma curiosidade infantil, atrás de mensagens que não fazem parte dessa revelação de Deus. Não vamos colocar nossa confiança e nossa esperança em maneiras humanas de vivenciar o sentimento religioso. Pe. Flávio Cavalca de Castro, cssr SCE da Super-Região Brasil


AORAÇAO CONJUGAl

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emoramos muito tempo para começar a fazer a Oração Conjugal. Diríamos melhor, perdemos muito tempo até darmos início à Oração Conjugal. E por que perdemos tempo? Porque o nosso amor estava adormecido e com a nossa Oração Conjugal precisávamos despertá-lo. E despertou.

Com o crescimento do nosso amor, enchemos nossa casa de felicidade, juntamente com nossos filhos. Esse amor e essa felicidade não se adquirem comprando ou estudando, isto é, procurando fora de nós. Ele tem de brotar, tem de crescer dentro de nós, através do companheirismo e igualdade, com muita compreensão e respeito. Assim, através da Oração Conjugal, que para nós é sempre seguida de uma oração pessoal, nosso amor cresceu, e nosso casamento com base no respeito mútuo, nos dá a consciência de sermos, além de pais, educadores e evangelizadores de nossos filhos. Concluímos ainda que é necessário construir o amor todos os dias e encarar a felicidade como algo que não deve ser desperdiçado, nesta vida que Deus nos deu e que não tem volta.

Anda e Omar - Equipe 4B Bauru, SP (Extraído de "O Caminho", Bauru)

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DEVER DE SENTAR-SE: O ABRAÇO

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o estudo do comportamento humano, o abraço é definido como instinto, ciência e arte, demonstração de apoio, de alegria e de afeição. Abraçar é rodear com os braços, estreitar entre os braços, em sinal de carinho. A essência do abraço é contato físico pleno de afeto. O abraço é agradável e funciona como um estimulante do bem estar físico e emocional. Abraçar é uma forma de dizer que amamos alguém; que nos sentimos felizes de estarmos ao seu lado; que temos uma consideração especial por esse alguém; que o compreendemos e o queremos muito. Um abraço, na verdade, é o maior reforço que podemos adicionar às nossas palavras. Abraçar é uma manifestação instintiva e se torna necessário ao longo da vida. Na imagem dos filhotes de alguns animais mamíferos (ursos, tigres, gatos, leões, macacos, etc.) em contato com suas respectivas mães, percebe-se que é o mesmo instinto que se expressa entre uma mãe humana e seu filho. O contato físico é natural, instintivo e solidário. Através do abraço, desenvolvese a capacidade de repartir alegrias, tristezas, confiança, afeto, segurança, solidariedade e tantas outras riquezas interiores que afloram nas relações humanas. Abraçar é uma arte que se aperfeiçoa com a prática. O sentido comum, e prudência

nos ajudam a perceber quando um abraço é bem recebido ou não. Existem diferentes formas de abraçar: com intensidade, com suavidade, rodeando com os braços ou simplesmente colocando um braço sobre o ombro do nosso próximo. Um abraço dado com sinceridade e no momento oportuno, será sempre bemvindo e fortalecerá o espírito das pessoas que desfrutam dele. O abraço não exige um espaço ou local definido. É tão oportuno em um saguão, como em um palco, em um parque, como em uma igreja, em um quarto, como numa parada de ônibus. E quando necessitamos dele, é sempre bem-vindo. Conserva em bom estado os músculos dos braços e dos ombros, favorecendo, além disso, o bem-estar emocional de quem desfruta dele. O direito de abraçar e ser abraçado, é um direito universal, da mais pura democracia, pois somos todos candidatos a ele.

EM CASAl Abraçados, em silêncio, imaginemos Jesus e Maria aproximando-se de nós e juntando-se ao nosso abraço. Na nossa imaginação, sintamos esse abraço de paz e amor de Jesus e Maria. Desfrutemos desse momento e deixemos sua paz e seu amor inundar nossos corações, até nos sentirmos tranqüilos, serenos e fortalecidos. Nesse clima da presença e amor de Jesus, vamos relembrar e 20


confidenciar um ao outro, com a ajuda de Maria, nossos sentimentos e nossas emoções sobre os abraços que marcaram nossas vidas: 1. Dos abraços recebidos de nossos pais, quando crianças, jovens e adultos; 2. Das lembranças e recordações do primeiro abraço quando namorados, noivos ou já esposos. Revivam esses abraços agora. Vamos nos abraçar com ternura e sentir nesse abraço como o outro é importante para nós. Falemos para nosso cônjuge dessa importância. 3. Na nossa convivência hoje, no dia a dia, abraçamo-nos com freqüência? Com certeza o abraço é eficiente para comunicar e transmitir nosso amor. Seria bom ou não, abraçarmo-nos mais? 4. Os abraços dados aos filhos, sempre foram instrumentos de manifestação do nosso sentimento de amor e carinho por eles. Será que o fizemos sempre? Hoje ainda o fazemos? 5. No convívio com os demais familiares/parentes, temos o costume de nos abraçarmos? Caso negativo, a iniciativa do abraço seria bem-vinda e bem vista? 6. Nossos abraços como equipistas ajudam a consolidar nossa hospitalidade e nossa fraternidade? O abraço é "dom" de Deus para podemos manifestar um ao outro, a própria ternura de Deus. Pensemos nisso e nos abracemos.

Do EACRE de São José do Rio Preto, SP 21


SETOR MACEJÓ Graças ao bom Deus e a intercessão de nossa amada Mãe junto a Jesus Cristo, cada dia crescemos mais e mais. Temos apenas 05 anos de ENS em nosso Estado. No dia 20 de agosto de 2000, passamos a Coordenação e em 18 de Março de 200 I, fomos transformados em Setor. Vejam nossa alegria e disposição para lutar pelo amor do Pai, em favor do Filho, com a força do Espírito Santo e, como sabem, com a ajuda de Maria Santíssima! Em dezembro de 2000, Alagoas contava com I Oequipes, em Maceió. Neste início de ano, após o término de seis Experiências Comunitárias, fizemos a Informação, resultando em mais duas Equipes aqui de Maceió e três Equipes de Viçosa, AL. Um agradecimento especial aos nossos amados amigos de Recife, PE, por todo seu empenho, disposição, como também aos nossos queridos Pe. Pascal Prósper e Frei Paulo Amâncio. Que Deus nos dê força e cada vez mais coragem de lutar pelo seu Reino. Tagliane e José dos Santos, CR Setor Maceió, AL

VOTOS PERPÉTUOS

ORDENAÇÃO DlACONAL

Aconteceu no dia 2 de fevereiro de 2001, na Capela do Convento da Sagrada Família, em Recife, PE, a celebração dos Votos Perpétuos dos Freis Sóstenes e Irmael. O evento foi presidido pelo padre Vicente Serrér, Superior Provincial da Congregação dos Missionários da Sagrada FamHia. Tudo foi num clima de bastante alegria e motivado na esperança de acolher-se mais dois jovens que aceitaram viver para sempre os votos de pobreza, castidade e obediência.

1. Foi ordenado Diácono, no dia 08 de dezembro de 2000, na Igreja de Santo Afonso, Arquidiocese de Manaus, AM, o seminarista Flávio G. dos Santos, sendo Conselheiro Espiritual da Equipe 3 e, após a ordenação diaconal, passou a ser Conselheiro Espiritual do Setor A de Manaus. 2. Foi ordenado Diácono Permanente, no dia 26 de dezembro de 2000, Pedro Paulo Brandão de Lima, pelas mãos de Dom JovinianodeLimaJúnior, bispo da Diocese de São Carlos. O diácono Pedro é filho do casal Jane e Pedro Gilberto,daEq. 1-N. Sra. da Consolação - Dois Córregos, SP.

Frei Sóstenes é Conselheiro da Equipe 21D e 30A Frei Irmael, da Equipe 12A de Recife, PE

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)UBllEU DE PRATA EPISCOPAl Dom Emílio Pignoli Em 24/06/2001, Dom Emílio Pignoli, Bispo da Diocese de Campo Limpo em São Paulo, Capital, completará 25 anos de Bispado, com o lema "Consolidai Vossa Vocação". Dom Emílio foi ordenado Bispo, pela imposição das mãos do então Núncio Apostólico Dom Cárrnine Rocco, em 24/06/1976 em Orlândia, SP. A sagração aconteceu na matriz da Paróquia São José, na qual evangelizou por 11 anos, desde 1965. Este trabalho lhe valeu a nomeação como Bispo de Mogi das Cruzes onde ficou até 1989, quando então assumiu a recém criada Diocese de Campo Limpo e está até hoje. Grande incentivador da Pastoral Familiar, Dom Emílio tem apoiado e acolheu com alegria há 5 anos as Equipes de Nossa Senhora em sua Diocese. Com este apoio, o Movimento vem se expandindo bem e já conta com 5 equipes prontas e mais 4 em formação.

lvani e Milton - Equipe 8G - N. Sra. de Fátima, São Paulo

FAlECIMENTOS João Delarco (da Espéria), ocorrido no dia 21.12.2000- Equipe 10Nossa Senhora de Lourdes - Catanduva, SP Válquio Ferreira dos Santos (da Lenir), ocorrido no dia 21.01.2001 -Equipe 1 - Nossa Senhora dos Navegantes - Valença, RJ Geraldo Servo (da Hélia), ocorrido no dia 23.01.2001 -Equipe 16ABrasília, DF Maria de Lourdes Carneiro Martins Aquino (do José Aquino), ocorrido no dia 01.02.2001- Equipe 10- Nossa Senhora das Graças Padre Antonio Luiz Pavanelli, ocorrido no dia 29.03.2001. Foi SCE das equipes 31 e 36 de São José do Rio Preto, SP Denise Crespo Fonseca (do Fernando Gay da Fonseca), ocorrido no dia 08.04.2001 -Equipe 1 -Porto Alegre, RS. O casal levou o Movimento para Porto Alegre em 1954.

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CHAMADOS A UM PROJETO DE VlDA: SER PESSOA gênese da nova orientação para s ·Equipes de Nossa Senhora, nos mostra que somos uma comunidade de casais que querem viver todos os aspectos de sua vida sob o olhar de Deus: vida pessoal, vida de casal, vida familiar, com o engajamento na Igreja e na sociedade. Este projeto de vida não pode ser assumido sozinho. Fazer parte de uma equipe é ousar sair de si mesmo, abrir-se, pôr de lado nossas opiniões prontas, partilhar, escutar nosso irmão, levar a "Boa Nova". De alguns anos para cá, o mundo não é mais o mesmo. Tudo que era maneira de viver está se decompondo e, ao mesmo tempo, se recompondo. Há um atropelamento dos assuntos referentes à religião, economia, ética, politica. Economia com mudanças cada vez mais rápidas, por isso a escala de valores muda continuamente e ficamos atordoados pela grande quantidade de novas descobertas. Cada um é convidado a elaborar seu próprio projeto de vida e somos influenciados por múltiplas correntes de idéias tornadas acessíveis

graças a globalização e o avanço da informática. Estamos também em plena contradição, pois, o progresso da ciência e da modernidade prometem ajudar a conquistar a felicidade, mas sentimos que a humanidade não é feliz. O TER nos tirou o SER. Nós TEMOS MAIS e SOMOS MENOS. Para alguns cristãos, a individualização criou muito pessimismo, traduzido assim por uma grande saudade do passado e com grande medo diante do futuro; outros se fecham numa bolha, são os cristãos para "eles próprios", o que se passa fora de seu círculo não os interessa, evitam comprometer-se e engajar-se. 24


Para nós cristãos que queremos reagir como membros das Equipes de Nossa Senhora, os acontecimentos de hoje são os apelos dos sinais dos tempos. Um apelo que se abre à interrogação, à reflexão, à busca, ao diálogo, ao discernimento sobre a dignidade da pessoa e sobre a vocação atual do casal cristão. A pedagogia do nosso Movimento, sempre nos ensinou que, para progredir, temos necessidade de ajuda mútua. O quadro geral em que vivemos hoje, é o de uma profunda crise de civilização, de uma cultura racional que rejeita toda e qualquer relação entre Deus e os homens. Entramos numa era de autonomia das pessoas, mas nós não fomos preparados para isso. Muitos estão desorientados, não sabendo mais a quem ligar para restabelecer o equilíbrio. A tendência, se não buscarmos o equilíbrio em Deus, é crescermos, favorecendo a afirmação egocêntrica e a indiferença pelo bem comum. Haverá um fechamento sobre nós mesmos. A nossa preocupação é de pertencer a um mundo onde possuímos um valor baseado nas aparências, procurando viver no rebanho. Vivemos hoje, também, uma nova relação a respeito do tempo: tudo é "prájá". Com tudo isto a dignidade humana é esquecida e o homem procura ser feliz se realizando materialmente, mas, muitas vezes, esquece do essencial que é o espiritual. Nós somos cada vez mais engolidos pela tecnologia, e com isso nos tornamos máquinas superadas 25

e ultrapassadas. No turbilhão da vida moderna, homem e mulher não têm mais tempo juntos para dialogar, para ler, para refletir, para se encontrar, para rezar. O homem moderno, tenta criar para si uma plenitude de vida, livrando-se de tudo, até de Deus. Por isso há tantos homens "perdidos", a pessoa humana não é mais respeitada, é agredida desde a infância, passando pela adolescência, até a velhice. Com tudo isso, nós casais cristãos vemos uma luz muito forte em nosso caminho que é a tomada de consciência de que não somos donos da vida e da morte e isto permite derrubar certos tabus. A missão nossa de casal cristão e membros das Equipes de Nossa Senhora, é levar a Boa Nova da vida a todos, com nosso testemunho de vida conjugal e familiar, mostrando a todos, que com Deus e com coerência entre fé e vida é possível melhorar o mundo tão conturbado dos dias de hoje. Concluindo, as luzes nos descortinam uma realidade cada vez mais intrigante: a necessidade de olhar sobre nós mesmos, buscando discernimento, descobrindo na Palavra o modo de agir do Cristo, para que, transformando o próprio coração, sejamos capazes de testemunhar a vida. E que esta vida vivida possa suscitar interrogações nas outras pessoas. Assim estaremos agregando nosso próximo no caminho da esperança e da alegria do amor fraterno. Vera e Messias CRR - Região Minas III


SER PESSOA MÚSICA

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urante o EACRE realizado pela Região Santa Catarina I (equipes de Florianópolis e Criciúma), o SCE da Região Ney Brasil, que é músico e compositor, apresentou a música "Ser Pessoa", inspirada no Tema de Estudo proposto pelo Movimento para este ano.

CANTO Refrão:

Ser pessoa, ser irmão Ser pessoa, rei da criação Ser pessoa, a imagem de Deus Ser pessoa, filhos seus. A imagem de Deus ele os criou Criou-os homem e mulher À imagem da Santíssima Trindade À imagem daquele que é Amor. Seus filhos, porque irmãos do Filho, Herdeiros de todos os seus bens Irmãos também e do mundo senhores É para servir que ao mundo vens.

Letra e Música de Ney Brasil Pereira

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VElHlCE SEXUADA

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m nossa cultura, existe o mito de que, ao envelhecer, a pessoa perde o apetite, a função e a capacidade sexuais. Não é verdade. Pessoas de mais idade sentem a necessidade de abraçar, beijar, expressar seus sentimentos e ter relações sexuais. "É sadio que sintam esses desejos, pois os sonhos e os prazeres da vida não se destinam apenas aos jovens, e as pessoas têm o envelhecimento mais saudável quando continuam com as atividades sexuais."- observa a psicóloga e gerontóloga Maria José Hilk:ner. Porém e infelizmente, boa parte da população idosa deixa-se influenciar por rótulos e preconceitos, pensando que uma vida sexualmente ativa nessa idade é, de alguma forma, anormal. Cabe aos próprios idosos vencer os preconceitos e lutar contra os estereótipos. A sexualidade amadurece com o tempo, e a experiência e a prática têm suas vantagens. Mas é importante manter a motivação e procurar novas e diferentes maneiras de ter e dar prazer. "O que muda com a idade é a qualidade das relações sexuais, que passam a ser mais delicadas e demoradas e sem o mesmo ímpeto da juventude" -esclarece Maria José. Mudanças - Algumas mulheres sentem vergonha do corpo e não querem que seus maridos o vejam nem o toquem . Não se sentem mais atraentes, mas acham que são eles que não mais as desejam. O corpo do homem também começa a decli-

nar, e muitos, ao verem que já não têm o vigor de antes, se desinteressam pelo sexo ou acham que precisam de outra mulher. Por isso, nessa idade, marido e mulher necessitam conversar sobre as alterações pelas quais estão passando, dizer um

Pode existir sexo sem amor, e amor sem sexo. Mas, em qualquer idade, a combinação dos dois elementos produz a experiência mais plena do ser humano.

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ao outro como gostaria de ser estimulado e manifestar mutuamente mais ternura. Em alguns casos, recomenda-se o acompanhamento psicológico ou médico. "É importante que a mulher e o homem conheçam as mudanças que acontecem, fisicamente, com cada um deles na terceira idade. Assim, os dois poderão se compreender mutuamente e encontrar, juntos o caminho para o entendimento sexual." No climatério (fase que antecede a menopausa), há uma queda na produção de hormônios femininos (estrogênio e progesterona). Surgem, então, alguns sintomas desagradáveis: melancolia, mudanças de humor, ondas de suor e calor e o ressecamento da vagina. Por causa deles, a mulher pode se afastar do marido e rejeitar as relações sexuais. Ela precisa de ajuda médica para, se for o caso, repor as taxas hormonais. No homem, a oscilação da taxa de testosterona não interfere na libido. A ereção, agora, demora um pouco mais e exige mais estímulo, porém sua capacidade sexual permanece até o fim da vida. As dificuldades que, por ventura, existirem são mais

de origem mental do que física. "A mente colabora muito para que as pessoas possam ter uma vida sexual saudável na terceira idade. Essa nova fase pode ser até mais gostosa, se o casal souber entendê-la e aproveitá-la" - conclui Maria José, lembrando que: "Pode existir sexo sem amor, e amor sem sexo. Mas, em qualquer idade, a combinação dos dois elementos produz a experiência mais plena do ser humano".

Extraído da "Famaia Cristã" ]aneiro/2001 29


ONDE ESTÁ O ROSTO DE CRlSTO guns ~ias ~trás, os meios de omumcaçao retomaram um uestionamento sobre como teria sido realmente o rosto de Jesus Cristo, de modo que esse aspecto pudesse se sobrepor aos seus conhecimentos, aos quais infelizmente tantos insistem em permanecer indiferentes. É o velho hábito de enfatizar o secundário para não se aprofundar no essencial, sobretudo nestes tempos em que tantos pregam o cristianismo, mas ficam apenas no discurso, esquecendo, no dia a dia, a comunhão com o próximo, a prática da caridade, da fraternidade, enfim, daquelas virtudes indispensáveis para quem pretende ser verdadeiramente cristão. Se quisermos observar a face de Cristo, não precisamos consultar pesquisas de cientistas, nem tratados, nem outras fontes, iremos encontrá-lo nos semblantes das criancinhas que vivem nas esquinas da vida, nos lixões e em outros locais, buscando desesperadamente a sobrevivência que o modelo econômico, concentrador, egoísta, desumano, procura negarlhes de todas as formas. Poderemos percebê-lo também, na fisionomia angustiada dos idosos desamparados, dos que não possuem teto, dos que se encontram sem 30

emprego. Nessas e em muitas outras criaturas maltratadas de mil maneiras pelas elites, dominadas pela ganância, poderemos, de fato, ver o semblante do Nazareno, lembrando sua missão, a proclamação para que, na prática, buscássemos aquilo que realmente pudesse ser qualificado de justiça social. Esta sim é que é a forma de encarar o rosto de Jesus, num procedimento humano, solidário, fraterno, efetivamente moldados às lições dos Evangelhos. É cômodo, simplesmente, ir à missa ou a qualquer celebração da Igreja, cantar alegremente, exibir enormes crucifixos; procurar demonstrar, enfim, que é um praticante fervoroso da religião. Mas, no cotidiano, na convivência com os irmãos, que reflexos tem, na prática, todo esse exibicionismo, em algumas oportunidades, tão exacerbados que levam a que alguns sejam mesmo chamados de santos? De nada adianta tudo isso se essa gente não perceber, não conseguir distinguir no próximo que sofre, o mais representativo rosto de Cristo

Maiza e Ernando Equipe 16A N. Sra. Mãe de Deus Fortaleza, CE


TABEBUlAS ou Histórias reais daqueles que se livraram das drogas na Fazenda da Esperança

Christiane Suplicy Teixeira Editora Cidade Nova

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TABEBUIAS "Isolamento, tratamento psicológico e meditação: reais daqueles que este é o senso comum no que diz respeito à recupe- H~tónas se livraram das drogas na Fazenda da Esperança ração de toxicodependentes. No entanto, basta conhecer um pouco sobre as Fazendas da Esperança para que todas essas idéias caiam por terra. Mais do que clínicas desintoxicação, as fazendas são comunidades onde centenas de pessoas, há vinte anos, redescobrem a dignidade, a fé e o amor ao próximo. Assim, encontram uma nova maneira de viver e, como conseqüência, um caminho para se livrarem da droga. Escrito na forma de um romance, baseado em depoimentos reais de voluntários e recuperados, Tabebuias é a história de pessoas que conseguiram se livrar das drogas por meio desse novo estilo de vida". Tabebuia é uma árvore que nasce na lama, mas dá belas flores. Como ela, os dependentes podem superar o lodo da droga e florescer para a vida.

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O CAMlNHO DA SALVAÇÃO Pastoral de Casais em 2a União

Diocese de Jundiaí A leitura atenta dos títulos e dos capítulos da presente obra que, somada às duas outras precedentes ("Uma experiência pioneira" e "Questões e Critérios sobre a Pastoral") se constituem em um substancioso roteiro de evangelização, atestam a fidelidade e o zelo dos seus autores para com a Doutrina da Igreja e demonstram, juntamente com os inúmeros encontros de casais e de formação realizados na Diocese de Jundiaí e em todo o Brasil, e, além dele, a providencial eficácia dessa Pastoral. Reencontrando o Caminho de Jesus, retomando o Caminho da Igreja, colocando-se no Caminho de Maria, os casais em 2a união encontrarão o próprio Caminho que os levará à Salvação! Os pedidos ou contatos podem ser feito com Aparecida e João Bosco pelo Fone/Fax (Oxxll) 4521 8440- Jundiaí, SP 31


ENDEREÇO ELETRÔNJCO

O "SJM" VERDADEIRO AO CHAMADO

É com grande alegria, que estamos nos comunicando pela primeira vez com vocês. Sempre lemos a Carta Mensal, por isso, conhecemos e ouvimos vocês todos os meses através deste importante meio de comunicação que é a nossa Carta. Resolvemos escrever para vocês para dar uma sugestão. Lendo a Carta n° 362, do mês de Abril, sentimos uma grande vontade de nos comunicarmos com as pessoas que escreveram alguns artigos publicados na mesma. Foi então que surgiu a idéia, de que no final dos artigos junto com os nomes das pessoas que os escreveram e de suas respectivas equipes, constasse também o endereço eletrônico para o envio de mensagens. Poderíamos assim nos comunicar com eles, dar a nossa opinião, nosso apoio e, quem sabe, até nasceriam daí boas amizades. Beto e Eligia Eq. N. Senhora do Rosário Porto Alegre, RS

Viver o ministério das Equipes de Nossa Senhora é um dom de Deus que chamamos de vocacionados. A nossa fé é testada diariamente com o testemunho de cada membro que pertence ao Movimento. Ser equipista não é pertencer a uma equipe e sim, viver, os estatutos, os carismas e a mística. É sentir a grandeza e a euforia que vêm de dentro da alma para todo mundo. É regar o nosso viver com o evangelho de Jesus Cristo através dos PCE. Pertencemos a uma grande família, temos a responsabilidade de nos resguardar de comentários negativos que venham atrapalhar a estrutura do trabalho a que somos convidados a participar. O nosso Movimento é Cristocêntrico com a proteção de Maria, onde falamos de amor, amor este que é: ajuda mútua, caridade, exemplo, liberdade e espiritualidade transparente. Somos preparados para sermos evangelizadores na missão transformadora do sacramento matrimonial, resgatando o seu valor e santidade. Devemos perseverar buscando sempre as oportunidades, explorando o máximo de cada evento .... Aparecida e Maurino Barbacena, MG

Nota da Carta Mensal: O equipista que permitir que seu email, seja divulgado junto com o artigo publicado, deve dar autorização para a Carta Mensal, no próprio artigo remetido.

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MEU NOME É FEllClDADE

F

aço parte da vida daqueles que têm amigos, pois ter amigos é ser feliz. Faço parte da vida daqueles que vivem cercados por pessoas como você, pois viver assim é ser feliz! Faço parte da vida daqueles que acreditam que ontem é passado, amanhã é futuro e hoje é uma dádiva, por isso chamado presente. Faço parte da vida daqueles que acreditam na força do amor, que acreditam que para uma história bonita não há ponto final. Eu sou casada sabiam? Sou casada com o Tempo. Ah! O meu marido é lindo! Ele é responsável pela resolução de todos os problemas. Ele reconstrói corações, ele cura machucados, ele vence a Tristeza ... Juntos, eu e o Tempo tivemos três filhos: a Amizade, a Sabedoria, e o Amor. A Amizade é a filha mais velha. Uma menina linda, sincera, alegre. Ela brilha como o sol, une pessoas, pretende nunca ferir, sempre consolar. A do meio é a Sabedoria, culta, íntegra, sempre foi mais apegada ao pai, o Tempo. A Sabedoria e o Tempo andam sempre juntos! O caçula é o Amor. Ah! como esse me dá trabalho! É teimoso, às vezes só quer morar em um lugar... Eu vivo dizendo: Amor, você foi feito para morar em dois corações, não em apenas um. O Amor é complexo, mas é lindo, muito lindo! Quando ele começa a fazer estragos eu chamo logo o pai dele, o Tempo, e aí o Tempo sai fechando todas as feridas que o Amor abriu! Uma pessoa muito importante me ensinou uma coisa: tudo no final sempre dá certo. Se ainda não deu, é porque não chegou o final. Por isso, acredito sempre na minha família. Acredito no Tempo, na Amizade, na Sabedoria e, principalmente no Amor. Aí, com certeza um dia, eu, a Felicidade, baterei à sua porta! Tenha tempo para os sonhos. Eles conduzem sua carruagem para as estrelas.

Claudia e ]andir Equipe N. Sra. do Rosário Setor E - Porto Alegre - RS 33


CONTO o~ ta, uma, l~nda popular .do onente proxrmo, que um JOvem chegou a beira de um oásis, junto a um povoado e, aproximando-se de um velho perguntou-lhe: -Que tipo de pessoas vive neste lugar? - Que tipo de pessoas vive no lugar de onde você veio? perguntou por sua vez o ancião. -Um grupo de egoístas e malvados replicou o rapaz. Estou satisfeito de ter saído de lá. A isto o velho replicou: - O mesmo você haverá de encontrar aqui. No mesmo dia um outro jovem acercou-se do oásis para beber água e vendo o ancião, perguntou-lhe: -Que pessoas vivem por aqui? O velho respondeu com a mesma pergunta: - Que tipo de pessoas vive no lugar de onde você veio? O rapaz respondeu: -Um magnífico grupo de pessoas, honestas e hospitaleiras. Fiquei muito triste por deixá-las. -O mesmo encontrará por aqui, respondeu o ancião. Um homem que havia escutado as duas conversas perguntou ao velho: -Como é possível dar respostas tão diferentes à mesma pergunta? O velho respondeu: - Cada um carrega no seu coração o meio ambiente em que vive. Aquele que nada encontrou de bom nos lugares por onde pas-

C

sou não poderá encontrar outra coisa por aqui. Aquele que encontrou amigos ali, também encontrará aqui.

••• Ouvindo este conto percebemos que na nossa vida conjugal, familiar e equipista também ocorre o mesmo: a nossa disposição em ver nos outros o melhor que eles possuem, abre-nos para relacionamentos afetuosos e amorosos, mas se, pelo contrário queremos sempre ver o lado pior das pessoas, ficamos freqüentemente ressentidos e magoados, achando que a mudança deve vir do outro e não de nós mesmos. O evangelho nos propõe a fórmula: "amai-vos uns aos outros como eu vos amei". Se Cristo, que era a perfeição em homem e em Deus, nos amou total e incondicionalmente, nós, que somos imperfeitos, devemos, pelo menos, tentar amar os nossos irmãos, levando em conta aquilo de melhor que eles têm. Perceberemo que uma parte muito grande de JESUS vive em cada um de nós e poderemos assim dizer que vivemos em uma magnífica comunidade de amor e ajuda mútua. Mas isso se realizará, se cada um der o primeiro passo em direção ao outro.

Luciane e Marcelo Setor B - Poá, RS 34


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ORAÇAO po 14° CONGRESSO EUCARlSTICO NACIONAL Pai Santo, criador do Universo e fonte da vida, com Jesus e por Jesus, Te rendemos graças. Na Festa da Eucaristia, tornamos presente a nova e eterna aliança, realizada na Missão de teu Filho, Jesus. Nele, toda a criatura foi reconciliada e salva. Senhor Jesus, hóstia viva do Pai, nós cremos na Tua divina presença e, em cada Eucaristia, acolhemos o teu ardente convite: "Venham para a Ceia do Senhor!", e formemos a Tua Igreja! Como outrora, revela-nos as Escrituras e partes o Pão para nós. Ó Jesus, na Eucaristia, nós Te adoramos e aprendemos que o sonho de Deus é que todos comam do mesmo Pão e bebam do mesmo Cálice, partilhando o pão da vida com nossos irmãos e irmãs. Sobre qualquer forma de vida e esperança que germina, recordamos tua divina palavra: "Isto é meu Corpo!", e sobre qualquer forma de morte que fere a fraternidade, nós nos lembramos: "Isto é o meu Sangue"!

35


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Assim, com todas as pessoas de boa vontade e no empenho por uma vida mais solidária, Teu Mistério Pascal se cumpra em nós: "Fazei isto em memória de mim!" Espírito Santo, memória do Pai e do Filho, infunde-nos a coragem de recriar a prática de Jesus. Anima Tua Igreja a dar bom testemunho do Teu nome e a servir o mundo com mais zelo na prática da justiça. Toca os nossos corações para sermos sensíveis aos sofrimentos de nossos irmãos e irmãs . Que a mesa da Eucaristia seja, sempre mais, fonte de nossa Missão e vida solidária. Neste Congre so Eucarístico, congreganos na tua comunhão, e envia-nos para construir uma sociedade justa e fraterna. Ó Maria, mãe Aparecida, protege o povo brasileiro. Conserva-nos fiéis na Missão de teu Filho, o Divino Salvador!

Amém 36


Meditando em Equipe - Junho Na Ouinta-feira santa, a comunidade cristã se reúne para agradecer e render graças ao Senhor pelo dom da Eucaristia. Lava-pés. Adoração ao Santíssimo. Ação de graças pela oferta do Cordeiro pascal. Na festa de Corpus Christi, a liturgia da Igreja nos convida a sair para fora e testemunhar a Eucaristia, como exemplo e estímulo à vida de partilha. Como Jesus, precisamos aprender a partilhar, com o mundo, nossos bens, nossos dons, nosso Movimento.

Meditemos Leia Lucas 9, 1 1 -1 7

Sugestões para a Meditação

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Com a comunidade, nós nos reunimos todas as semanas para celebrar a doação de Jesus, na Palavra e no Pão . Podemos cair no formalismo, no rito, simplesmente . Sem partilha, sem doação, o que é Eucaristia? A nossa semana deve ser a extensão da Mesa do Senhor: "Façam isso em memória de mim" .

Oração Litúrgica Oração do 1 4 ° Congresso Eucarístico Nacional (ver pg. 3 5)

Meditando em Equipe- Julho Estamos vivendo um momento especial da vida da Igreja no Brasil. Em Campinas, SP, de 1 9 a 2 2 de julho, acontece o 1 4° Congresso Eucarístico Nacional. É um momento de reciclagem e de um testemunho mais explícito de nossa fé na Eucaristia .

Meditemos Leia 1 Reis 1 9, 4-8

Sugestões para a Meditação

Vivemos momentos difíceis que desafiam nossa fé . Muitos desanimam, preferem ficar parados, como Elias . E você? A falta de esperança não será por confiarmos somente em nossas forças? De que maneira recorremos à Eucaristia para nos fortalecer e continuar a caminhada?

Oração Litúrgica Oração do 14° Congresso Eucarístico Nacional (ver pg . 35)


EQUIPES DE NOSSA SENHORA Movimento de Casais por uma Espiritualidade Conjugal R. Luis Coelho, 308 • 5° andar • cj 53 cep 01309-000 São Paulo - SP Fone: (Oxx11) 256.1212 • Fax: (Oxx11) 257.3599 E-mail: secretariado@ens.org.br • cartamensal@ens.org .br Home page: www.ens.org.br


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