ENS - Carta Mensal 384 - Setembro/2003

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Equ pes de Nossa Senhora


EQUlPES DE NOSSA SENHORA Carta Mensal • n° 384 • Setembro/

EDITORIAL

2003

Flash - Testemunho da Influência

Da Carta Mensal .. .... ..... ..... .. ... ... ... . O1

ANTES DO ENCONTRO Os Bastidores da Organização do Encontro .. .. ... ...... .. ... .... ......... .... 02

1° DIA · 17 DE JULHO DE 2003

do Pe. Caffarel em sua Vida Pessoal e Conjugal - D. Nancy ... .. .. .... ...... .. 43 Homilia .. ... .......... .... ...... ...... .... .... ... 48 Uma Reunião no Monte Tabor ... .. . 52 Uma Grande Festa para um Grande Encontro ... ..... .. ... .... .... 54

Cerimônia de Abertura ...... ............ 05 Encontro e Comunhão ....... ... .... ... . 09 Mensagem do Papa João Paulo 11 ... 12

4° DIA · 20 DE JULHO DE 2003 Palestra - Casal Cristão, Testemunha do Amor e Sinal de Esperança ... ... 56

2° DIA - 18 DE JULHO DE 2003

Mensagem de Envio ......... .. ........ .. . 69

Palestra - O Matrimônio Sacramental :

Uma Lembrança Inesquecível .... ... 73

Resposta de Deus a Anseios de Homens e Mulheres ... ... ..... .. ..... ... .. 13 Flash - Testemunho do Casal Equipista Missionário ..... .... ....... .... 22 O Pipoqueiro de Brasília ..... ....... .... 28

TESTEMUNHOS Um Novo Impulso .. ...... ..... .. .... ...... . 75 Um Livro de Receitas para Animar ......... .. ...... ..... ... ....... ... 75

Uma Experiência Inesquecível .. ..... 30

3° DIA · 19 DE JULHO DE 2003 Palestra - A Boa Nova

ENCARTE: Momento s do Encontro

do Casamento ... ... .. .. ...................... 32

Carta Mmsal é uma publicação mensal das Equipes de Nossa Senhora

Wilma e Orlando Soely e Luiz Augusto Lucinda e Marco

Registro "Lei de Imprensa" Janere e Né/io n• 219.336 livro B de Pe. Ernani J. Angelini 09. 10.2002 (Conselheiro Espiriwal) Edição: Equipe da Carta M ensal

J omalista Responsável: Carherine E. Nadas (mrb 198351

Cecflia e José Carlos (responsáveis)

Projeto Gráfico: Alessandra Ca rignani

Editoração Eletrônica, Fotolitos e Ilustrações: Nova Bandeira Produções Editóriais Lida. R. Turiassu, 390- 11" andw; cj. 115 - Perdizes - Seio Paulo Fone: (Oxx /1 ) 3873. 1956 Foto de Capa: JC Sales Impressão : Bangraf Tiragem desta edição: 16.100 exemplares

Canas, colaborações, notícias, testemunhos e imagens devem ser enviadas para:

Carta Mensal

R. Luis Coelho, 308 5" andar · conj. 53 01309-000 • São Paulo - SP Fone: (Oxx/1) 3256. 1212 Fax: (Oxx ll) 3257.3599 cartamensal@ens.org.br

A/C Cecília e José Carlos


Queridos irmãos: Mês de setembro. No ar, as promessas de uma nova primavera; no nosso coração, a lembrança ainda muito viva do Encontro Nacional de Brasília. Por isso, esta Carta é especial. Ela faz acontecer entre nós um momento raro que às vezes, acontece em nossas vidas. Através dela, estaremos reunidos de novo, com se reúnem as famílias, após um acontecimento feliz, para recordar cada momento da festa, saborear cada abraço recebido, cada gesto de perdão e alegria que acontece quando estamos com o coração aberto e sensível à bondade de Deus. As equipes de Brasília puseram, a serviço do evento, toda a sua sensibilidade e capacidade de trabalho, com coragem e entusiasmo. Assim, tudo estava pronto quando os equipistas do Brasil todo começaram a chegar, no dia 17 de julho, alegres e dispostos a partilhar a beleza de sua caminhada e os esforços que fizeram para chegar até ali. Viagens difíceis, feitas com entusiasmo e desapego; longas distâncias vencidas, cheias de momentos inesquecíveis, frutos da camaradagem e da esperança. Contavam, ainda, com as preces dos irmãos que não tinham podido vir, para dar o melhor de si nessa festa maravilhosa. E, pensando em toda essa gente que fez com que o Encontro acontecesse, gente que orou, cantou, riu e chorou, passa pelo nosso coração, a idéia dos milagres que Deus pôde realizar, durante esses dias, nesse ambiente tão propício. Nesta Carta, vocês encontrarão (além das informações interessantes dos bastidores do Encontro), as palestras, as homilias e alguns testemunhos que fizeram a beleza de cada dia, enfim, tudo aquilo que foi ouvido, em extraordinário e fecundo silêncio, por um auditório de mais de 4.000 pessoas. Assim, queremos convidar a todos os nossos irmãos para uma leitura tranqüila desta Carta cheia de cores e de alegria. Vamos percorrer juntos cada parte do Encontro, vamos ler com atenção cada colocação que foi feita, descobrindo a riqueza de cada uma delas, refletindo sobre cada tema, à luz de nossa experiência e de nossa esperança cristã. Trata-se de uma Carta Mensal maior do que as outras e, mesmo assim, não tivemos o espaço necessário para colocar todas as coisas boas geradas por esse tempo de fraterna convivência. Mas, nas próximas edições, publicaremos os artigos enviados que falam desse tempo extraordinário em que o Senhor fez em nós maravilhas. Boa leitura para todos e um grande abraço da

Equipe da Carta Mensal


• • • Antes do Encontro • • •

OS BASTIDORES DA ORGANIZAÇÃO DO ENCONTRO Em meados de 2001 , a SuperRegião Brasil, decidia pela realização do 1° Encontro Nacional das Equipes de Nossa Senhora. Lourdes e Sobral, residentes em Brasília, juntamente com os casais Wilma e Orlando e Regina e Cleber, passaram a compor a comissão organizadora nacional. A partir daí, foi composta a comissão de organização local que, em princípio de 2002, foi passada para Mariola e Elizeu, em função das múltiplas atividades profissionais que Lourdes e Sobral passaram a ter. A expectativa de participação, na ocasião, era de 4 a 7 mil pessoas. Em tomo destes números, giravam as primeiras reflexões e providências da comissão organizadora. Foi escolhido e reservado um ginásio de esportes como local do Encontro. A grande mobilização para a inscrição dos equipistas ocorreu nos EACREs de 2002. Parecia tudo muito distante ainda! Mas, o Brasil começava a viver um momento político importante, em função das eleições para Presidente da República, governadores, senadores e deputados. Em conseqüência disto, a economia apresentava muitas oscilações, com variações cambiais ascendestes, razão pela qual não se tinha certeza se a taxa de inscrição fixada seria suficiente para cobrir as despesas que um evento deste porte 2

demanda, pois diversos fornecedores cotavam seus serviços em dólares. Tudo iria depender do comportamento das taxas de inflação e, como se dizia na época, do candidato escolhido para Presidente. Em meados de 2002, as comissões responsáveis pelos diversos serviços foram formadas: Recepção e hospedagem; Transportes; Alimentação; Comunicação; Animação; Liturgia e canto; Secretaria; Saúde e Infra-estrutura do ginásio. Neste momento, foi lançado um concurso nacional para escolha da logomarca e do hino do Encontro Nacional, como forma de envolvimento dos equipistas nos preparativos que estavam sendo feitos. Tivemos 8 composições inscritas e 31 contribuições para a logomarca. Os preparativos avançavam e as dificuldades eram crescentes, uma vez que os hotéis, os forneceCM 384


dores da alimentação e as empre- • foram servidas mais de 25 mil refeições (almoço e jantar); sas de transportes, por exemplo, não queriam fechar contratos an- • foram registrados 460 atendimentos no posto médico e mais tes dos resultados eleitorais. Além de 100 outras pequenas ocorrêndo mais, os hotéis não possuíam cias, como também 120 pedidos espaços para a realização de reupara compra de medicamentos niões de equipe, como acontece em (uma vez que a Vigilância Sanialguns Encontros Internacionais. O tária não permitiu a instalação de ginásio de esportes também não uma Farmácia no local); comportava muitos grupos de ca• contratação de 120 ônibus e sais e Conselheiros Espirituais. micro-ônibus para os traslados; Pensamos em utilizar escolas e, em novembro de 2002, ocorreu a deci- • palco utilizado para as celebrações e palestras media 230 m2 são de mudança de local, com a aproximadamente. Haviam mais necessidade de reiniciar o planejadois outros palcos secundários mento dos trabalhos de algumas para outras atividades; comissões. O Pavilhão de Feiras e Exposições, onde se realizou o En- • 33 boxes fixos, com 86m2 cada, foram utilizados para a prestacontro, possui 51 mil m2 de área ção de diversos serviços; com estrutura coberta. Até abril de 2003, com o traba- • fixação de 25 out doors nos principais acessos à Brasília anunlho minucioso de Vera e Renato, que ciando a realização do Enconestavam recebendo e controlando tro Nacional; as inscrições, a estimativa de parti• 6 seguranças e 6 brigadistas cipantes era de 4300 pessoas. Nos contra incêndio, todos profissidois meses que antecederam o onais, se revezaram 24 horas Encontro Nacional, houve uma redurante o Encontro; dução de mais de 250 pessoas em • foram devolvidos 1.832 formuláfunção de dificuldades financeiras as avaliações feitas. 1 rios contendo e problemas de saúde. Começamos o Encontro N acioAlguns números são dignos de nai sem o Alvará Provisório de registro: Funcionamento, documento obriga• Participação efetiva de 4.027 tório, exigido pela administração pessoas, sendo 1.861 casais, 124 pública local, sem o qual não se cônjuges isoladamente e 181 poderia realizar o evento, uma vez Conselheiros Espirituais; que o Corpo de Bombeiros não ti• 2.976 pessoas ficaram hospedadas num dos 12 hotéis con- nha feito sua vistoria prévia. O Alvará somente foi obtido na sextratados; • foram formadas 314 equipes ta-feira às 14 horas. Nesta mesma tarde, ocorreria mistas; I . No próximo número da Carta Mensal publi caremos os resultados desta avaliação.

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o Ato Público na Esplanada dos Ministérios. O carro de som utilizado, um trio elétrico dos grandes, provocou um acidente perto do local, derrubando um poste de iluminação pública, o que quase criou um grande incidente com a polícia local. Mas, como dizíamos numa Carta Mensal antes do Encontro, Nossa Senhora estava presente como nas Bodas de Caná, intercedendo por tudo junto a seu Filho Jesus. E tudo deu certo! Quando estávamos finalizando este breve relato, recebemos uma cartinha muito amável de D. Nancy, em que dizia: "Deus foi amado e louvado por niilhares de pessoas neste Encontro, que já está dando muitos frutos". E concluía: "Quando fizerem o

próximo Encontro, estarei

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com 100 anos. Mas, se estiver viva e puder andar, já estou inscrita". Então, que a próxima comissão organizadora arregace as mangas e comece a pensar o 2° Encontro Nacional. Nós, da comissão organizadora local, sentimo-nos muito agradecidos pela oportunidade de sediar e contribuir com a realização do 1o Encontro Nacional, e pedimos desculpas por aquilo que deixamos de fazer melhor. De todo modo, apesar dos muitos agradecimentos e elogios recebidos, queremos dizer, muito humildemente, que não fizemos nada mais do que nossa obrigação. Deus seja louvado por tudo!

Mariola e Elizeu Pela comissão organizadora local

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CERlMÔNlA DE ABERTURA Olá, gente amiga do Movimento das ENS. Queremos, ao início desta nossa fala, registrar nossos agradecimentos a todas as autoridades, cujas presenças muito nos honram e enchem de brilho esta solenidade. Há pouco mais de dois anos, uma sementinha foi lançada no terreno sempre aberto do Movimento das ENS no Brasil. Essa sementinha chegou não sabemos exatamente como, nem por quem. Só sabemos que após a Peregrinação a Aparecida, ao ensejo do Jubileu de Ouro da Fundação das Equipes no Brasil, onde estivemos reunidos aproximadamente 3.000 equipistas das Províncias mais próximas SUL I, SUL li e Leste, mas com o impressionante testemunho da comitiva de perto de 40 equipistas de Belém do Pará, que afrontou doi dias de viagem de ônibus para trazer o entusiasmo e a força da Província Norte, começou a soar mais forte, no coração da Equipe da Super-Região Brasil, o apelo, a vontade, e mais do que isso, a necessidade de se realizar um Encontro Nacional aberto a todos os equipistas de base. Sabíamos que os equipistas do Brasil, este país com dimensões e distâncias continentais, com suas diferentes culturas, diferentes sotaques, enfim, com as características e riquezas próprias de cada região, sonhavam reunir-se numa grande celebração de amizade e de alegria, de louvor e ação de graças. Sabíamos que um grande CM 384

evento nacional seria fundamental para reforçar os laços da nossa identidade, para vivificar o sentido da pertença ao Movimento, e poderia levar-nos a cerrar fileiras ao redor do ideal de anunciar o amor conjugal e o sacramento do matrimônio como instrumento de evangelização da cultura do amor. Sabíamos que imaginar um encontro desta natureza, o primeiro deste gênero e desta magnitude, implicaria desafios desconhecidos, sobrecarga de tarefas, montanhas de preocupações. Fazemos questão de aqui testemunhar publicamente que, desde o nascedouro da idéia deste Encontro,jamais ouvimos dos membros da Equipe da Super-Região, seja dos atuais, seja daqueles que foram substituídos, uma única palavra discordante ou desanimadora. Sofremos juntos, é verdade, pelo medo do desconhecido; vivenciamos jun5


tos cada preocupação e ansiedade desta iniciativa, cada expectativa dos preparativos, mas de mãos e corações entrelaçados assumimos juntos o compromisso de ir adiante. Mas uma obra deste gênero não poderia ser construída apenas pelas mãos humanas. Desde os primeiros momentos entregamos este Encontro à proteção de Nossa Senhora, para que ela nos obtivesse as graças de seu Filho. E, pela sua intercessão, o Senhor já fez e continuará fazendo maravilhas. Maravilhas nos acontecimentos que envolveram todos os trabalhos preparatórios, nas coisas surpreendentes que catalogamos como coincidências, mas que a fé nos leva a celebrar como intervenção da graça de Deus. Maravilhas no acolhimento deste projeto pelas Regiões CentroOeste I e Centro-Oeste II, nossos queridos anfitriões brasilienses, os quais deram alma e vida ao corpo ainda inerte das nossas primeiras aspirações. Maravilhas na presença de todos vocês, casais, sacerdotes e

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conselheiros que representam equipes de todas as nossas 41 Regiões, distribuídos em 21 Estados do nosso querido Brasil mais o Distrito Federal, onde o Movimento está instalado. Maravilhas de poder ter em nosso convívio o Casal Responsável da ERI, Marie Christine e Gerard, que juntamente com o Mons. François Fleischmann, SCE da ERI, acolheram o nosso convite para conhecer mais de perto a nossa realidade, conviver com nossa gente, celebrar conosco esta grande festa do Movimento das ENS . Maravilhas de poder estabelecer laços mais fortes de contato com os irmãos equipistas de toda a América Espanhola, uma SuperRegião composta de países, desde o México até a Argentina, na pessoa do seu casal responsável Silvia e Andrés Merizalde. E, enfim, assim chegamos todos até Brasília. Sejam todos muito bem-vindos. Trazendo na alma a alegria de nos encontrar com irmãos, cada um colocando à disposição do outro o melhor de si, poderemos, juntos celebrar a maravilha do mistério de Deus no amor conjugal. A partir desta capital federal, no coração . , ' . .... _.-... ...... ·_ .· ·· .. ,, no centro dos do Brasil, .. poderes maiores da República, as Equipes ... , ....;; de Nossa Senhora reúnem-se num grande .. abraço, e neste abra.. ço querem enlaçar to-

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dos os casais brasileiros, perante os quais querem assumir um compromisso, testemunhar publicamente as razões da nossa esperança cristã, a fim de que, na força dos nossos ideais, possamos ajudar na construção de uma farru1ia sólida e de uma sociedade mais feliz. Casal Cristão: Sacramento do Amanhã foi o lema escolhido para este evento, que se insere no contexto das comemorações do Centenário do Pe. Caffarel que, juntamente com 4 casais, legaram-nos este Movimento e todo o seu conseqüente discernimento sobre o sacramento do matrimônio e a espiritualidade conjugal. Aonde nos quer levar este lema? Segundo Santo Tomás, todos os sacramentos fazem referência ao passado (ação salvífica na pessoa de Cristo), ao presente (a realidade de salvação vivida) e ao futuro (a realização plena que se espera). Nesse sentido, o matrimônio, a vida do casal cristão, é "sacramento do amanhã" porque aponta para uma manifestação ainda mais plena e mais visível da união Cristo-Igreja; porque acena para o amanhã da CM384

plena comunhão final. O matrimônio, sendo sacramento do amor a serviço da vida está sempre projetado para o amanhã: marido e mulher, ambos procurando ser mais; ambos aceitando a fecundidade que não se esgota na geração, mas está grávida do futuro; ambos colocando-se plenamente a serviço de uma descendência que vai além dos anos que podem viver. A vida conjugal é um hoje, vivido no amor, que prepara o amanhã. Hoje, o casal cristão tem de ser sacramento, isto é, fator atuante de transformação que leve a avanços e prepare o futuro. Um amanhã em que o casamento seja ponto de partida e concretização de uma "civilização do amor", baseada nos valores divino-humanos da pessoa e da comunidade. A nossa Igreja, com a qual o Movimento fez e faz questão de estar sempre comprometido e engajado, ofereceu-nos a reflexão do Ano Vocacional, mostrando que cada cristão, em razão do seu BATISMO é um vocacionado e, como tal, convidado a ir para águas mais profundas. O casal cristão também 7


é um vocacionado, com o privilégio e a qualificante de agregar ao Batismo um outro sacramento, o do Matrimônio. Esta convocação da nossa Igreja haverá de ser um fator a mais para nos impulsionar no empenho evangelizador e missionário, a fim de que cada casal equipista, chamado a viver intensamente sua vocação conjugal, manifeste ao mundo, por sua vida e por seu testemunho, o amor de Deus para com toda a humanidade. Nosso Movimento no Brasil e no mundo, já há três anos caminha sob o impulso da grande prioridade de reflexão "Ser Casal Cristão hoje na Igreja e no Mundo" e por isso este I Encontro Nacional pretende enfatizar na temática das palestras, dos testemunhos, dos grupos e das grandes celebrações o aprofundamento da vivência desta nossa vocação, para que, compreendendo e aprofundando este mistério, avancemos na missão como casais comprometidos com a construção da civilização do amor sonhada por Deus. 8

Enfim, queridos amigos, Deus ofereceu-nos todas as oportunidades: a semente caiu em terra acolhedora, Deus não deixou de enviar a chuva benfazeja que fecunda a terra e faz acontecer a germinação. Coube a cada um de nós apenas cultivar a terra. Este Encontro é o resultado do trabalho de todos que cuidaram da terra. A semente morreu de amor, mas o amor, que não morre, fez do sonho da semente uma realidade de vida que estamos agora, juntos, começando a celebrar. Nós os convidamos a fazer parte ativa desta grande celebração da vida do Movimento. Põe-se a nós apenas um pequeno grande desafio: reencontrar a inocência do olhar, como é inocente e despretensioso o olhar de uma criança. É preciso reencontrar essa inocência do olhar, para recuperar a capacidade de nos surpreender, para enxergar além das aparências, para tudo desculpar, para nos deixar tocar, e assim poder maravilhar-nos com aquilo que cada irmão tem de melhor, vibrar com os sinais, que são manifestações de Deus, em cada gesto, em cada momento, em cada pessoa que iremos encontrar. A beleza maior deste encontro, só o nosso olhar poderá enxergar. Que o Senhor ponha seus olhos dentro de nosso coração. Tenham todos um feliz Encontro!

Silvia e Chico CR Super-Região Brasil CM 384


ENCONTRO E COMUNHÃO 17 de julho de 2003. Noite memorável! Em nome de Cristo e do amor conjugal, mais de 4 mil almas, vindas de vários pontos do nosso país e movidas pelo mesmo ideal, se reúnem, no vasto auditório da Expo-Brasília, atentas ao "Ser Casal Missionário" na perspectiva do "Casal Cristão: Sacramento do Amanhã". No olhar de cada um, a expectativa. No semblante, um misto de alegria, ansiedade e emoção. Eis senão quando, a multidão prorrompe em ovações. A vibração domina o ambiente. É D. Nancy Moncau que chega. É muita emoção! Elza Maria e Renato Botaro, casal apresentador do Encontro, saúdam a todos com um caloroso "Boa Noite"! Os aplausos se sucedem cada vez mais fortes. É nesse clima de intensa vibração e forte entusiasmo, contrastando com a fria noite brasiliense, que se inicieM 384

am as atividades do 1o Encontro Nacional das Equipes de Nossa Senhora. Sonho acalentado com muito amor, realidade esplêndida! Somente a graça do Senhor, por intercessão de Maria, pode realizar em nós maravilhas como esta. Compondo a mesa, o CR da ERI, Marie-Christine e Gerard de Roberty, e o SCE Mons. François Fleischmann. Ao som da "Aquarela do Brasil", executada pela Banda do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, começa o desfile das bandeiras dos estados onde há Equipes de Nossa Senhora, seguidas dos estandartes das respectivas províncias. Nos telões, simultaneamente ao desfile, a projeção do mapa do Brasil, cujas divisões territoriais vão recebendo a cor símbolo da sua província, à proporção que o nome de cada estado é pronunciado. Antes do desfile, imaginávamos a 9


tristeza que seria a ausência de alguns estados onde o nosso Movimento ainda não chegou e a hipótese de o Brasil não estar ali representado por inteiro. Pois bem, aqueles longínquos rincões da nossa pátria não foram esquecidos e lá estavam suas bandeiras a desfilar também: Acre,

Silvia e Andrés Merizalde

Amapá, Rondônia, Roraima e Tocantins e nos telões os seus respectivos mapas, a pulsarem como numa súplica e num alerta. Súplica para receberem este dom de Deus que são as ENS. Alerta para todos nós, casais equipistas, sobretudo nos dias atuais quando estamos a refletir o tema "Ser Casal Missionário". O desfile prossegue com a bandeira do Movimento e, finalmente, o pavilhão nacional, ao som do Hino à Bandeira, entoado pelo Coral do 1o Encontro, com a participação do Coral Divino Espírito Santo, da Paróquia Guará II e pelos presentes, sob a regência do equipista Prof. Fernando. Em seguida, o Hino Nacional, enquanto nos telões se projetavam cenas brasileiras: fauna e flora, sítios históricos e manifestações culturais. Por fim, o Hino a Brasília, com projeção de imagens da cidade.

Marie Christine e Gerard Roberty e Mons. Fleischmann

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Mariola e Eliseu, Casal Coordenador do Encontro, sobem ao palco. Entoa-se o Hino Oficial do Encontro. São premiadas as três equipistas classificadas no concurso para a escolha do hino. O 1o lugar coube a Olga Z. Batista, do Setor E, Cascavel, PR. A mensagem do Santo Padre João Paulo li foi lida pelo casal Maria Regina e Carlos Eduardo. D. Geraldo do Espírito Santo Á vila, ArElza Maria e Renato Botaro cebispo Ordinário Militar do Brasil, saudou os Conselheiros Espirituais. todo o elenco da peça teatral. Já O Cardeal, D. José Freire Falcão, entronizada, recebe o incenso e deu as boas-vindas pela Arquidio- toda a assembléia entoa o hino: cese local, salientando que falava "Caminhando com Maria". A bênção sacerdotal e a reza aos casais não como o sacramento do Magnificat encerram esta noido amanhã, mas como o sacramende raro esplendor, verdadeiro te to de hoje, de sempre, acrescentanespetáculo de fé a revelar a pujando serem as equipes um dom de ça do nosso Movimento, prenúncio Deus. Por fim o pronunciamento do das maravilhas que haveriam de suCR da Super-Região Brasil, Sílvia e ceder-se durante todo o Encontro. Chico, que começou narrando a hisQue essa pujança não nos traga tória do próprio Encontro. a sensação de missão cumprida. Ao A cerimônia litúrgica se inicia contrário, que nos transmita inquieapós projetar-se nos telões a histótação diante do mundo que aí está, ria da aparição da imagem de N. extremamente hostil Sra. da Conceição ao casamento cristão Aparecida, padroeira e à farm1ia, e nos leve do Brasil. História que a assumir, com renovavai ser encenada por do ardor, a nossa misjovens artistas que a são de batizados. Que todos encantam. Após esse Encontro nos ena bela encenação, a vie a lançar nossas repequenina imagem des em águas ma1s chega, ao som da canprofundas. ção "A Padroeira". Na procissão, a Cruz, Lourdinha casais levando em e Manoel oferenda arranjos floCR Região rais, o celebrante e a Bahia/Sergipe D. Nancy imagem seguida de CM 384

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MENS~GEMDO

PAPA JOAO PAUlO 11 Secretaria de Estado Primeira Secção - Assuntos Gerais Vaticano, 28 de junho N. 517.022 A Secretaria de Estado cumprimenta e vem a significar que: O Sumo Pontífice, papa João Paulo II, ao tomar conhecimento da próxima realização do I Encontro Nacional das Equipes de Nossa Senhora, dia 17 de Julho do c. a., deseja certificar o Seu apreço pela iniciativa e invoca do Todo-Poderoso abundantes graças celestiais que reforcem sempre mais a convicção, entre os membros do Movimento, dos valores da farru1ia e do lar cristão. Ao assegurar que abençoa e reza pelas intenções que lhe faziam presentes, Sua Santidade envia às Equipes de Casais dos diversos Estados do Brasil, sinceros votos de que o Encontro sirva de renovado fermento cristão na sociedade, a fim de incrementar e mesmo devolver ao Sacramento do Matrimônio seu nobre e original sentido, ao convertê-lo em instrumento de paz e de santificação do lar. Com estes auspícios, o Santo Padre envia Sua propiciadora Bênção Apostólica que, de bom grado, estende aos colaboradores e familiares das Equipes de Nossa Senhora.

+ Leonardo Sandri Substituto da Secretaria de Estado

A mensagem do Papa foi lida pelo casal Maria Reg ina e Carlos Eduardo

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O MATR1MÔN10 SACRAMENTAL: Resposta de Deus a Anseios de Homens e Mulheres Introdução Neste momento falo para casais das Equipes de Nossa Senhora, para pessoas que procuram a perfeição cristã como casadas, como casais, através do sacramento do matrimônio numa comunidade de casais. A qualidade do auditório impõe-me limites, de tal modo que muitos aspectos não precisam ser tt:atados, e muitas coisas não precisam de maiores explicações. Mas, ao mesmo tempo, o auditório tem exigências que não sei se poderei atender na apresentação do tema que me foi proposto: O matrimônio sacramen-

tal como resposta de Deus a anseios de homens e mulheres. Nossa reflexão vai constar de três partes: 1) quais os anseios que levam ao casamento; 2) como esses anseios encontram respostas no casamento; 3) como essas respostas são intensificadas no matrimônio sacramental.

Anseios de Homens e Mulheres Inicialmente, para compreendermos as respostas de Deus, será preciso perceber quais são os anseios, os desejos que existem no coração de homens e mulheres quando procuram o casamento. É claro que, ao fazer isso, estamos a CM 384

nos mover na situação concreta da civilização ocidental e da nossa civilização cristã. Sei perfeitamente que o que irei apresentar não corresponde pura e simplesmente à visão de toda humanidade no tempo e no espaço. Por outro lado, ao fazer essa análise dos anseios, levaremos em conta só ·os anseios que nos parecem válidos como motivação para o casamento. Será preciso também levar em conta que estamos falando não de qualquer união entre homem e mulher. Estamos falando apenas de união estável e exclusiva de um homem e de uma mulher. A única que pode corresponder aos legítimos e profundos anseios de homens e mulheres.

A procura da felicidade (ainda que se saiba que será relativa) Podemos dizer sem sombra de dúvida que quem procura o casamento está à procura da felicidade, ainda que todos saibam que, nesta terra, toda e qualquer felicidade é limitada e relativa. Não existe felicidade perfeita, mas quem se casa quer ser feliz. E quer encontrar a felicidade em quê? Em primeiro lugar, na certeza do amor de uma outra pessoa; não de qualquer pessoa, mas deste homem ou desta mulher. Espera encontrar a felicidade sendo amado e podendo amar de maneira forte, exclusiva e total. 13


Quem se casa quer ser feliz, porque espera que outra pessoa, dando-se-lhe, traga-lhe uma riqueza nova, traga-lhe uma complementação, de tal maneira que pelo casamento possa ser mais . Quer ser feliz, realizando esse anseio que toda e qualquer pessoa traz no mais íntimo de si, que é o de se doar, de não se fechar em si mesma, mas de se abrir para outras pessoas e principalmente para uma pessoa especial. Anseio não apenas de procurar a felicidade em outra pessoa, mas de fazer a felicidade dessa outra pessoa, e nisso encontrar sua própria realização. Esse anseio fundamental pela felicidade na convivência com outra pessoa já aparece claramente no Cântico dos Cânticos: "O meu amado é todo meu e eu sou dele" (4,1); e mais adiante a condição para essa felicidade: "Ponha-me como um selo sobre o seu coração (para que ninguém mais entre); como um selo sobre seu braço (para que todos vejam que você está comprometido, comprometida comigo)" (8,6). Procura a felicidade quem se casa procurando paz e harmonia, procurando encontrar uma pessoa com quem possa conviver na tranqüilidade e na harmonia, na harmonia que é justamente o encontro de duas diferenças que se unem para formar um só acorde de vida tranqüila na paz e na felicidade. Quem se casa está procurando ser feliz através da convivência com esta pessoa. Note-se: não com qualquer pessoa; está procurando 14

a felicidade através da convivência com este homem em especial, com esta mulher em especial. Está a procurar a felicidade através da estabilidade de um lar; quer ser feliz tendo um ponto de referência. Não quer viver ao léu, quer objetivos. Quer ter sua própria fann1ia, moldada conforme seus conceitos, que não seja simples continuação da fann1ia paterna, que conserve seus valores, mas supere suas limitações. Quer ser feliz criando uma família, e não apenas ser recebido em uma família. E quer fazer fann1ia com essa pessoa em particular, que esteja sempre a seu lado, enquanto Deus o permitir. Quem se casa procura felicidade através da sua realização enquanto homem e enquanto mulher. Mas quer ser feliz e realizar-se enquanto homem esposo-pai. Quer ser feliz e realizar-se enquanto mulher esposa-mãe. Ou seja, vê que no matrimônio, na união com outra pessoa e na paternidade/maternidade haverá de encontrar um tipo de realização única e a possibilidade de chegar à felicidade, sendo ao mesmo tempo fonte de vida e felicidade para outros. Nessa altura, bem que podemos lembrar mais uma passagem do Cântico dos Cânticos: "Agora já sou uma muralha, e meus seios são como torres. E assim tomeime a seus olhos a mulher que encontra a paz" (8,10). Agora já sou muralha: tomei-me firme, cheguei à estabilidade. Já não estou à procura, sou muralha e meus seios são como torres. Já não preciso esconder-me, posso assumir-me como CM 384


mulher. Assim tornei-me, aos olhos de meu amor, a mulher que encontrou a paz ...

Anseio de união que vença a solidão Quem se casa quer união, união que vença a solidão. Toda e qualquer pessoa humana consciente percebe-se solitária. Uma solidão inerente ao jeito de ser humano, solidão fundamental, da qual não se pode escapar, solidão do ter em mãos seu próprio destino, sem o poder confiar a ninguém. Como não é possível anular completam~te essa solidão, pelo menos procuramos atenuá-la. Quem se casa procura atenuar essa solidão mediante a íntima convivência com um homem ou com uma mulher. Não que o casamento possa afinal trazer plena e total satisfação e anular a solidão. Mas a convivência amorosa com um homem ou com uma mulher poderá ser o início da conquista da comunhão, com a qual todo ser humano sonha, como se alguma vez já a tivesse experimentado.

Realização dos anseios da sexualidade Quem e casa procura, na união estável com esse homem ou com essa mulher, a realização dos anseios da sexualidade. E aqui seria preciso lembrar a busca contínua, o desesperado anseio que esconde o ritmo de todo o poema do Cântico dos Cânticos. Ali está o drama pungente e alegre de homens e mulheres que buscam encontrar em alguém o "auxílio", a CM 384

"graça" prometida por Deus nas páginas originais e poéticas do Gênesis (2, 18). O anseio da sexualidade, que marca homens e mulheres, não é apenas anseio pelo encontro conjugal na cópula e no orgasmo. É também o anseio pela convivência íntima com esse homem ou com essa mulher, convivência que envolva todos os aspectos da vida. É o estar lado a lado, partilhando tudo e sempre, é o ser espelho um para o outro , palavra de revelação mútua sempre nova e fascinante. É o anseio por ser intimamente conhecido por alguém como "homem" ou como "mulher" "E o Homem conheceu Eva, sua mulher" (Gn 4,1).

Procura da paternidade-maternidade Quem se casa procura felicidade através da paternidade e da maternidade. E também aqui não se trata apenas do ato físico de gerar, mas daquela força de amor que une duas pessoas e as torna 15


capazes de construir e de criar, é Maria, porque eles são, pelo que construir e criar em todos os as- eles são, e porque, por isso, são dipectos, também gerando filhos e ferentes , únicos. filhas, vivendo essa fecundidade No meio de milhões, no meio da mais como grande privilégio do que humanidade toda "como és formocomo obrigação. Quem se casa sa, minha amada, como és forquer a oportunidade de ser o ho- mosa, com teus olhos de pomba mem e a mulher que estão no iní- a brilhar através da transparêncio de uma nova existência, de um cia do véu! ... És toda formosa, novo ser cujo destino é eterno, com minha amada, e em ti não se enpossibilidades imensas de realiza- contra defeito algum ... arrebação e de repercussão. taste meu coração, minha irmã e Pela paternidade-maternidade, minha noiva, arrebataste meu pela fecundidade, esse amor que coração com um só de teus olhaune duas pessoas irá de certa ma- res ... " (Ct 4, 1;7;9). Esse homem neira tomar-se eterno, mesmo para é igual aos outros, mas é diferente aqueles que não geram filhos da de todos os outros: "que distingue carne, pelo dom de um amor que dos outros o teu amado? ... A h! difunde felicidade e bênção a seu meu amado é branco e corado, redor. Pelo seu amor, terão resso- inconfundível entre milhares .... nância por anos e anos, séculos e (Ct 5, 9-10). séculos, até o fun da humanidade. É o encantamento que leva a E podemos dizer que até mesmo no procurar o casamento, e se é encéu esse amor que agora vivem será cantamento é inútil tentar explicar motivo e causa da felicidade para e compreender racionalmente. tantos e tantos, mais numerosos que Estamos diante de uma realidade, as estrelas do céu (Gn 15,5). de uma realidade que vocês casais experimentaram, que marcou a sua Encantamento por alguém vida e ainda os enfeitiça. Quem se casa é levado por um encantamento. Não por projetos, planos e planejamentos frios, mas conquistado por um encantamento. Quer casarse com esse homem e com essa mulher, quer viver com esse homem e com essa mulher, pura e simplesmente porque quer. Porque ele é João, porque ela 16

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Amor que vem de Deus, da carne e da alma Mas esse encantamento é algo de mais profundo que simples sedução. Em última análise, o que os arrasta um para o outro é o amor que vem de Deus. É o amor, aventura sempre nova, dom sempre novo dado a cada par, atração nova, impulso novo que vem ao mesmo tempo da alma e da carne. Amor que se encarna na atração sexual que leva um homem em direção a uma mulher, tomando-o e tornando-a totalmente diferente de todos e de todas, e, portanto, desejável e atraente, inconfundível. Atração mútua que é para ambos manifestação, revelação pessoal do amor de Deus. Com essa atração, desde o começo da humanidade, Deus lança no coração de homens e de mulheres uma semente de potencial terrível.

Uma saudade de eternidade Através do encontro no corpo, eles irão, aos poucos, descobrir e aprofundar a possibilidade de um encontro entre almas, corações e projetos de vida. E esse amor, que vem de Deus e que os atrai um para o outro, é ao mesmo tempo como que uma saudade da eternidade. Unem-se para procurar a felicidade, e dela sentem falta, como se alguma vez já a tivessem experimentado na plenitude. Sonham com uma felicidade que seja eterna, e vêem no casamento o começo de um caminho que talvez leve até lá. É verdade que nem sempre percebem que, no amor que os arrasta, CM 384

estão as marcas da fome e da sede que só Deus poderá saciar. São esses, parece-me, os anseios que levam homens e mulheres ao casamento.

A Resposta do Matrimônio No plano de Deus, o matrimônio é a resposta para esses anseios de homens e mulheres. É o segundo passo de nossa reflexão. A união estável entre homem e mulher, a comunhão de toda a vida por toda a vida, na visão bíblica e cristã, é uma bênção dada já no começo da humanidade. No livro do Gênesis (2, 18) afirma-se que não é bom para o ser humano ser só, apenas homem, ou apenas mulher; precisa viver em comunhão com outro, que não seja apenas seu reflexo igual. E por isso Deus quis dar-lhe alguém que lhe seja auxílio adequado, igual e diferente, complementar e receptivo. E essa palavra "auxílio" que indica o outro, a mulher para o homem e o homem para a mulher, é a mesma que, no texto hebraico, muitas e muitas vezes serve para indicar a ajuda, a manifestação do poder de Deus que vem para salvar e trazer felicidade. Podemos, pois, ler o Gênesis compreendendo que Deus dá ao homem sua ajuda encarnada na mulher, e dá à mulher sua ajuda encarnada no homem. Essa convivência de homens e mulheres é indispensável para a realização do ser humano. E ganha um sentido mais forte ainda de graça e de bênção quando, entre um homem e 17


uma mulher, nasce o amor conjugal, que os leva a uma aliança de toda a vida por toda a vida. Pelo amor conjugal, esse homem passa a ser realização e bênção de Deus para essa mulher e vice-versa. Essa idéia está claramente expressa num dos ritos do casamento, onde podemos ler esta oração: "Ó Deus, que unis a mulher ao marido e dais a essa união, estabelecida desde o início, a única bênção que não foi abolida nem pelo castigo do pecado original, nem pela condenação do dilúvio, olhai agora para esta vossa filha ... " Portanto, a união entre homem e mulher, pela convivência conjugal, é uma bênção de Deus, é uma oferta de felicidade e salvação. Faz parte do projeto de Deus para a humanidade, para a humanidade desde o começo até o fim, independentemente de raças, de credos e de culturas. O casamento foi, é e continua sendo, no plano de Deus, projeto de salvação e de felicidade. Não só em vista da "outra vida", mas também para agora, também para esses anos tão curtos para tanta esperança e tanto sonho. Quanto a isso é interessante lembrar que em toda humanidade, mesmo fora do ambiente da revelação bíblica, pela quase totalidade de homens e mulheres, o casamento foi sempre considerado como alguma coisa de algum modo ligado a Deus. Tanto que quase sempre se celebrou num contexto sagrado e com ritos religiosos. Diz o Vaticano li que "O Pai eterno criou o mundo ... e decre18

tou elevar os homens à participação da vida divina. E tendo eles caído pelo pecado de Adão, não os abandonou: deu-lhes sempre sua ajuda por causa de Cristo Redentor. .. " (L. G. 2). Se assim é, podemos dizer que, da mesma maneira como o poder salvador de Deus se manifesta através da humanidade de Cristo, assim também esse poder que salva sempre se manifestou e continua a se manifestar através dessa realidade humana que é o amor conjugal. Nessa atração entre homem e mulher, nessa vontade de partilhar vida, desde o primeiro instante da humanidade, já se manifesta a força salvadora do Verbo, do Filho de Deus, que desde o começo está fazendo a salvação de homens e mulheres. É por isso que, de certo modo, podemos dizer que o matrimônio é o primeiro dos sacramentos. É a primeira das manifestações desse poder de Deus que salva, mesmo fora do cristianismo, em qualquer cultura ou qualqu'er religião. O amor que une um homem e uma mulher é, para todos, sinal visível, concreto, manifestação clara da bondade, do amor de Deus que quer fazer de homens e mulheres, filhos e filhas unidos na partilha da mesma felicidade.

A Resposta cfo Matrimônio Cristão Podemos dar um passo adiante e dizer que todos os anseios de homens e mulheres, toda essa proposta de salvação que Deus colocou no casamento, tudo concretiza-se de forCM 384


ma mais clara, mais completa e mais perfeita no casamento sacramental. Nele, temos não apenas a realidade primária da união entre um homem e uma mulher, não temos apenas a bênção original, bênção que de certa forma era apenas uma promessa do que haveria de ser no futuro. No casamento sacramental, no casamento entre dois batizados, temos uma manifestação da presença do Cristo, que veio realizar de forma definitiva as promessas de Deus. Cristo reúne em si e em tomo de si a Igreja, que é seu Corpo, sua Esposa. Igreja que ele sustenta e mantém, e que continua sendo maneira de ele intervir na vida das pessoas. É através da própria vida da Igreja que Cristo continua salvando pelo seu divino poder transformador. Essas intervenções salvíficas de Cristo, na Igreja e através dela, são os sacramentos. Pois bem, a vida matrimonial dos batizados, o conjunto de toda a sua vida, o conjunto de todas as suas realidades espirituais, materiais, afetivas e carnais, todo esse conjunto, é assumido pelo Cristo presente entre eles, pelo Cristo que salva, cura e perdoa, apoia e impulsiona, alegra e consola, dá for2.

ças para o amar presente e projeta para o amar futuro. Pela presença de Cristo que os une, a vida conjugal dos batizados é vivência continuada da caridade conjugal, e por isso mesmo é sacramento, princípio e fator de salvação. Simplesmente pelo que é, por ser amor conjugal entre um batizado e uma batizada, o casamento é, pois, manifestação do poder de Cristo que salva. O sacramento do matrimônio, a vida conjugal dos batizados é uma resposta mais plena de Deus a anseios de homens e mulheres. Em primeiro lugar, o casamento cristão sacramental aprofunda a ligação, a incorporação de ambos a Cristo. E é na medida em que a pessoa se incorpora e se une a Cristo, que ela chega à felicidade e à salvação. Pelo casamento sacramental, ele e ela, unindo-se mais a Cristo, tornam-se pessoas mais realizadas, mais abertas para o amor, mais abertas para Deus, mais capazes de fazer salvação dos que estão ao seu redor. Pelo casamento sacramental, marido e mulher assumem um exercício mais intenso e mais amplo do sacerdócio que receberam no batismo (L. G. 11)2 Pela sua vida

Lumem Gentium, 11 : " Finalmente os esposos cristãos, pela virtude do sacramento do matrimônio, que faz com que eles sejam símbolos do mistério de unidade e de amor fecundo entre Cristo e a Igreja, e que do mesmo mistério participem (cf. Ef 5,32), ajudam-se mutuamente a conseguir a santidade na vida conjugal e na aceitação e educação dos filhos, e gozam, para isso, no estado e na função que lhes são próprios, de um dom característico dentro do povo de Deus (cf. !Cor 7,7). (7) É realmente desta união que procede a família , na qual para a sociedade humana nascem os novos cidadãos, os quais - pela graça do Espírito Santo e para perpetuarem através dos séculos o povo de Deus - pelo batismo se tornam filhos de Deus. É necessário que nesta, que bem pode chamar-se Igreja doméstica , os pais sejam para os filhos , através da palavra e do exemplo, os primeiros arautos da fé, e fomentem a vocação própria de cada um, com especial cuidado a vocação sagrada."

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matrimonial, podem tomar toda a realidade do amor, toda a realidade da fecundidade, toda a realidade da vida familiar e apresentar tudo isso diante de Deus como hóstia e sacrifício de louvor. Como sacerdotes, pelo batismo, e consagrados por sua vida conjugal, pela sua imersão tão profunda nessas realidades humanas, eles podem transformá-las, de tal maneira que já não sejam apenas exigências da carne e do sangue, mas se tornem prenúncio de felicidade, que vai além de tudo quanto se poderia esperar, e que se pode esperar só da bondade e da grandeza de Deus. Pelo casamento sacramental, vivendo intensamente essa realidade humana da conjugalidade, da paternidade e da maternidade, homem e mulher poderão ser sinal claro, manifestação clara, presença clara, " mistério" do poder de Deus que salva e plenifica. Pela sua vida, poderão mostrar para todos quanto Deus ama a humanidade, e quanto ele faz para que todos sejam felizes. Finalmente, pelo sacramento do matrimônio os batizados recebem uma missão, ou melhor, uma procuração: estão qualificados para, vivendo seu amor conjugal, maternal, paternal, fazer acontecer no mundo a possibilidade nova trazida por Cristo, de união no amor, de união na tranqüilidade, de crescimento na concórdia. A missão que receberam no batismo torna-se mais premente e ao mesmo tempo mais eficaz para fazer florir a felicidade ao seu redor. Não apenas 20

anunciando, não apenas falando, não apenas dando exemplo, mas fazendo acontecer a felicidade de salvação que Deus quer para todos, sendo sacramento do amor de Cristo e da Igreja. Qualquer casamento legítimo, mesmo fora do cristianismo, é bênção de Deus e caminho de felicidade e salvação. Mas, por sua união vital com Cristo, os batizados unidos pelo matrimônio sacramental, através da vida conjugal fortificada e aprofundada pelo poder e pela graça de Cristo, poderão realizar de forma mais completa todos aqueles anseios que os levaram ao casamento. A vida de casal dos batizados realiza todas as promessas contidas no casamento "do princípio", para usar a expressão do próprio Jesus. Tudo o que lá era apenas idéia, esboço e começo, tudo aquilo, trabalhado por séculos de crescimento, poderá agora chegar à plena realização no matrimônio cristão. Já não estamos vivendo da promessa; estamos agora na realização, enquanto ela é possível, aqui e agora. E, se podemos dizer que existe uma sacramentalidade plena no casamento sacramental cristão, não podemos esquecer que existe também uma espécie de sacramentalidade a caminho na união estável, mas não legal, de muitos batizados. Quem sabe seja melhor olhar para essas uniões como estágios iniciais de um caminho de salvação. O casamento a sim considerado abre perspectivas muito amplas, mas é bom lembrar: nenhum casamento, por mais sacramental e CM 384


perfeito que seja, será capaz de satisfazer plenamente todos os anseios de homens e mulheres por amor, por união, por fecundidade, por realização. O anseio, o desejo de amor que trazem no coração, o anseio, o desejo, a fome de felicidade que os atormentam, jamais poderão ser plenamente satisfeitos, nem mesmo pelo casamento mais feliz. Seu anseio poderá encontrar satisfação apenas quando, afinal, Deus for tudo em todos, quando afinal forem passadas todas as limitações da nossa realidade presente e formos, afinal, transparentes uns para os outros. Somente serão plenamente felizes e realizados quando marido e mulher, afinal, puderem ser um para o outro tudo quanto sonharam. Mesmo o sacramento do matrimônio, manifestação do mistério de Cristo e da Igreja, é apenas sombra da promessa de uma realidade definitiva com a qual continuaremos a sonhar.

Conclusão O matrimônio continua sendo para todos - batizados e não batizados- uma bênção divina jamais revogada. Cabe aos casais, não só aos casais cristãos, viver essa bênção de salvação e mostrar como Deus é bom. Os casais cristãos, consagrados por sua união em Cristo, podem e devem viver plenamente seu sacerCM 384

dócio batismal, consagrado pelo amor conjugal, e ser fator de transformação e salvação para a Igreja e o Mundo. Os casais das Equipes de Nossa Senhora estão marcados por uma vocação e por um carisma. Por sua vida matrimonial, assumida como caminho de perfeição cristã, devem ser fatores de transformação e de salvação para todos os casais. São enviados para fazer acontecer a felicidade trazida por Cristo. Podem e devem manifestar em sua vida o amor de Deus, seu rosto paterno e materno. O casamento não pode dar nesta vida resposta total a todos os anseios de homens e mulheres. Essa resposta é somente Deus. Mas, o casamento é caminho para essa fonte que apaga todas as sedes. É por isso que o casamento sacramental é a resposta de Deus para anseios de homens e mulheres. Amém.

Pe. Flávio Cavalca, cssr SCE da Super-Região Brasil 21


STEMUNHO DO CASAl EQUlPlSTA MlSSlONÁRlO 1. Vida de Movimento das ENS Neste ano completamos dezoito anos como equipistas. Ao longo deste período, tivemos a felicidade de exercer ativamente, com muito entusiasmo, quase todas as funções de responsabilidades que o Movimento costuma nos oferecer. Tivemos o privilégio, inclusive, de integrar a extinta ECIR (Equipe de Coordenação Inter-Regional) e sua substituta, a Equipe da Super-Região, o que nos levou ao foco de importantes reflexões e deliberações sobre a caminhada das ENS no Brasil. O mais gratificante de tudo isto, entretanto, foi que, por força das funções de responsabilidades que assumimos, tivemos a oportunidade de participar de vários Encontros com equipistas de todo o Brasil, desfrutando da sua atenção, carinho e ensinamentos. Convivemos com equipistas do Rio de Janeiro, Manaus, Porto Alegre, interior gaúcho, diversas cidades do Estado de São Paulo, além de mais de 90% das localidades do Nordeste, onde o Movimento se faz presente. Sem contar o Encontro Internacional de Fátima. Cada Encontro, uma festa, um Pentecostes renovado, um presente de Deus em nossas vidas. Não resta dúvida de que suamos a camisa do Movimento, e isto declaramos com a satisfação do dever cumprido. Mas, não resta nenhuma dúvida, também, que recebemos muito mais do que possa22

mos ter dado, o que não nos toma mais privilegiados ou melhores, mas mais devedores do que todos. Todos esses momentos estão salvos, guardados com muito carin ho e sempre recordados na memória dos nossos corações . Por tudo isto seja Deus louvado e glorificado!

2. Cinqüenta anos de vida Ano passado, o Luiz Carlos completou cinqüenta anos de vida. Seu aniversário, praticamente, coincidiu com o término da nossa função de Casal Responsável da Província Nordeste. Num "Dever de Sentarse", antes do seu aniversário, ele me propôs o segui nte: "Márcia, já estamos na casa dos cinqüenta; penso que agora podemos nos dar o direito de relaxar um pouco mais, sem assumir tantos compromissos eclesiais ... só aqueles mais "light". Achei CM 384


justa a proposta. Assim, ao entrarmos na casa dos cinqüenta, cogitamos de nos aposentar do serviço na seara do Senhor. Os cinqüenta anos do Luiz Carlos foram comemorados com uma missa de Ação de Graças, celebrada na intimidade da nossa Equipe de base, juntamente com nossos filhos. Nesta celebração, a exemplo de Saulo de Tarso, nós nos vimos derrubados do cavalo na nossa pretensão de aposentadoria. O Evangelho do dia falava do Reino de Deus, comparandoo ao fermento e à semente de mostarda. Nosso Conselheiro, refletindo sobre este Evangelho e, como que penetrando no santuário das nossas intenções, disse: "O Reino de Deus deve crescer dentro de nós, na surdina, a exemplo do fermento que ninguém percebe, quando misturado na massa. Mas o Reino de Deus deve desabrochar em nós, também, como a pequena semente de mostarda que cresce, transforma-se numa árvore, onde as aves do céu vêem fazer ninhos nos seus ramos". E concluiu: "Não esqueçam de cultivar o Reino de Deus na intimidade, humildade e silêncio dos seus corações, sem descuidar, igualmente, de testemunhá-lo e construí-lo de maneira que cresça e apareça e acolha outras ovelhas que estão fora do aprisco". Que puxão de orelha! É como dizia Francis Bacon - filósofo inglês do século XVI- "Os homens deveriam saber que, no teatro da vida humana, só Deus e os anjos devem ser espectadores". Um mês depois, Luiz e eu fomos CM 384

escolhidos para Casal Responsável de Equipe. O projeto de aposentadoria começava a se esfumaçar!

3. "Quo Vadis" Um romance muito conhecido, "Quo Vadis", conta-nos que o apóstolo Pedro procurava fugir de Roma, com medo da perseguição do Imperador Nero, que estava assassinando os cristãos. De madrugada, percorrendo a Via Ápia, abandonando Roma e seus filhos ali martirizados, Pedro foi ofuscado por um clarão. Passado um instante, flxando o olhar adiante, percebeu um homem transportado pelos primeiros raios do sol. Com a boca entreaberta e refletindo no rosto o júbilo e o êxtase, Pedro ajoelhou-se e disse: "Cristo! Cristo!" Prostrou-se na atitude de quem beijava invisíveis pés, e, durante muito tempo reinou completo silêncio. Por flm, Pedro exclamou: "Quo vadis, Domine?!" ("Para onde vais, Senhor?!"). Ao ouvido do velho pescador chegou uma voz triste e suave: "Abandonas o meu povo. Por isso, vou a Roma, a flm de ser crucificado outra vez". Pedro permaneceu deitado no caminho, com o rosto no pó; ergueuse, tomou nas mãos o seu cajado de peregrino e, silencioso, retomou a Roma. Lá chegando, a todos que o rodeavam com mil indagações, ele se contentava em dizer, com o semblante sereno, mesmo sabendo que o aguardava o sofrimento do martírio: "Eu vi o Senhor!" Após aquela homilia da missa dos meus cinqüenta anos, tive a sensação de que o Senhor nos interpe23


lava: "Para onde vão, agora?

Vão lá para onde o meu povo precisa da sua solidariedade, ou os abandonam em troca do projeto de uma aposentadoria egoísta, fa zendo com que Eu volte para ser crucificado outra vez?"

4. Meditação Um dos tesouros mais preciosos com que o Movimento nos tem agraciado, a mim e a Márcia, é o Ponto Concreto de Esforço da Meditação, entendida como o compromisso de um encontro diário e pessoal com o Senhor, no silêncio e na presença. Por muitos anos temos nos mantido fiéis a este compromisso, sendo que, nos últimos três anos, fixei o propósito de me colocar na presença de Deus, de manhã bem cedo, por volta das 5 :30 horas. Com a graça divina, até agora, não faltei a um encontro sequer. Amanheço, pedindo ao Senhor que me abrace com sua ternura e não me deixe de envolver em sua proteção e bênção. Como iniciar o dia sendo abraçado e inundado pela ternura do Pai e ao mesmo tempo pensar em pedir férias ou aposentadoria da missão que me compete? Como estabelecer um encontro diário, pessoal e profundo com o Senhor, sem ser invadido pelo desejo de levá-lo a quem ainda não o conhece? Como, diante de tudo que a vida nos deu, principalmente através do Movimento (a graça de pertencer a uma comunidade de fé; a felicidade de desfrutar do auxílio mútuo, da correção fraterna; o privilégio de contar com 24

um verdadeiro programa de vida através dos PCEs), como esquecer tudo isto, abdicando da nossa condição de ser missionário?

S. Refrão do Canto (0 Profeta) A este respeito, existe um canto chamado "O Profeta", muito significativo, que exorta o seguinte: "Tenho de gritar, tenho de anunciar, ai de mim se não o faço. Como escapar de Ti, como calar, se Tua voz arde em meu peito?"

6. Cursilho de Cristandade, ECC e ENS Há vinte anos, Márcia e eu, já cultivávamos uma certa intimidade com Deus, mas de maneira muito intimista, nos limitando a nossas orações pessoais e à participação da missa dominical. Aí fomos chamados a fazer o Cursilho e o ECC (Encontro de Casais com Cristo), um atrás do outro. E nos deixamos inundar pelo ânimo que o Cursilho e o ECC costumam insuflar, despertando para a solidariedade com o próximo. Mergulhamos de cabeça nas propostas que nos apresentavam: pastorais, assistência à orfanatos, creches, asilos, visitas ao Hospital do Câncer e outros hospitais; trabalhos em favelas. Num ritmo alucinante procurávamos contemplar Deus através dos irmãos mais necessitados. Quando ingressamos nas ENS, abraçamos, também, com muito entusiasmo e dedicação a sua pedagogia, sua mística, seu carisma; passamos a nos envolver e nos ocupar muito com o Movimento. Deixamos CM 384


de ter aquelas atividades constantes junto aos carentes da sociedade. Isto nos preocupava e questionava: "Será que é isto mesmo o

que Deus quer de nós?" Um dia soubemos do suicídio de um pai de uma amiga de nossa filha, devido a problemas financeiros pelos quais passava. Alguns dias depois, o pai de um colega do nosso filho, devido a desavenças conjugais, assassinou a esposa e se suicidou. Cometeram tais desatinos, traumatizaram e destruíram suas famílias. Nesta ocasião conhecíamos alguns casais das ENS, que atravessavam problemas semelhantes de dificuldades financeiras e desavenças conjugais, mas nem por isso entraram em desespero. Sugaram da vivência da espiritualidade conjugal, do auxílio mútuo fraternal em suas Equipes, as forças necessárias para aguardarem a Providência Divina, aninhando-se nas mãos de Deus. E o auxílio do Pai não lhes faltou. E na fraqueza sentiram a manifestação da força de Deus, deram a volta por cima. 3.

A partir de então, temos a mais absoluta convicção de que nossa missão de casal equipista é a de levar, cada vez mais, a um número cada vez maior de casais, a certeza de que casamento é lugar de amor, felicidade e santidade; morada de Deus! E que "uma famí-

lia sadia e unida é a melhor receita para a paz" 3 • A nossa missão por excelência, é de levar a outros casais a oportunidade de eles, também, viverem uma vida de comunidade, fraternidade, vida de Equipe, na presença do Cristo comunitário. Tenho a certeza de que, contribuindo para isto, estaremos zelando pela saúde da família e da sociedade, saúde que se encontra tão fragilizada, haja vista tantas tragédias que insistem em macular o nosso cotidiano; "tragédias em

cujo âmago está a deteriorização da instituição matrimonial e o enfraquecimento do sistema familiar" (José Nalini). Filhos matam pais. Pais assassinam filhos. Filhas abusadas sexualmente e prostituídas pelos pais. Jovens, escravos

José Renato Nalini -A família brasileira do século XX- Bem Comum, publicação da FIDES , Fundação Instituto do Desenvolvimento Empresarial e Social

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das drogas. Violência, insensibilidade, perda de valores. E diante deste quad~o, escutamos algumas vezes: "E ausência de Deus!" ... Não! Eu me nego a crer nisto. Deus nunca se ausenta. O que acontece é que as vozes dos seus profetas, mensageiros, rillssionários, que deveriam anunciá-lo e revelar a sua presença invisível, porém real, essas vozes não se fazem ouvir, essas vozes têm se calado. Tenho de gritar, tenho de anunciar, ai de mim se não o faço. Como escapar de Ti, como calar, se Tua voz arde em meu peito? Temos de gritar à família brasileira que: "O modelo a ser seguido é o da Sagrada Família e não os paradigmas fornecidos pelos ícones da mídia, empenhados em fazer consumir e em criar necessidades artificiais". (José Nalini). Temos de denunciar que "não haverá solução para a família brasileira, enquanto não se voltar ao tempo em que mães ensinavam aos filhos as primeiras orações e em que a família rezava antes da refeição comum, todos em torno da mesma mesa" (José Nalini).

adequada; tenho vergonha. " Nada disso deve se constituir em desculpa para deixannos de ser missionários, pois o único pré-requisito para a missão está ao alcance de todo nós. Jesus, quando vocacionou Pedro, não perguntou: "Pedro, você tem boa oratória, conhece de fi losofia/teologia, sabe liderar?" Jesus apenas perguntou: "Simão, filho de João, tu me amas?" E Pedro: "Senhor, sabes tudo, Tu sabes que Te amo. " Pedro, apesar de suas limitações e fraquezas, amava verdadeiramente a Jesus e este lhe confiou a grande rillssão: "Apascenta as minhas ovelhas." Esta mesma pergunta, Jesus faz a cada um de nós: "Tu me amas? Então cuida das minhas ovelhas; teus irmãos, tuas irmãs ". É o amor, e tão somente ele, a condição indispensável para a rillssão. É ele que será o parâmetro de avaliação para a nossa aprovação no vestibular de acesso à morada de Deus. Como dizia o grande místico carmelita, São João da Cruz: "No entardecer do nosso mortal vive1: seremos julgados pelo amor!"

7. "Pedro, tu me amas?!" Eu penso que, às vezes, diante da realidade que nos cerca, temos até as melhores intenções em fazer alguma coisa, mas não sabemos o que fazer, não nos sentimos capazes, pensamos não ter nenhum tipo de talento. "Ah! Até que gostaria de ajudar, mas não sei falar em público, fico nervoso; não sei cantar; não sei liderar; não tenho formação

8. História: O homem desatento às portas do Paraíso Era uma vez, um homem que, como a maioria de nós, sabia no fundo do coração qual o caminho para o céu: Escutar a Palavra de Deus, observar e praticar seus mandamentos, ser missionário, colaborar na construção de um mundo melhor. E ele até tinha boas intenções quanto a tudo isto e até mesmo praticava, uma vez ou ou-

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tra. Ás vezes dava alguma esmola, ajudava algum amigo e quando julgava conveniente fazia uma oração. Na verdade, a maior parte do tempo, ele se ocupava mesmo era com seus próprios negócios. Anos atrás, tinha sido equipista das ENS, desfrutando de todos os seus beneficios, mas, devido aos seus negócios, nunca tinha tido tempo para coordenar uma Experiência Comunitária, pilotar uma equipe ou assumir alguma atividade que o Setor lhe pedia. Ele era um profissional muito ocupado e precisava, também, de momentos de descanso e lazer. Realmente, não tinha tempo. Seus hábitos impregnaram-se em sua alma e ele acabou desenvolvendo o defeito da desatenção. As oportunidades e convites para assumir um comportamento mais cristão, mais solidário, menos intimista, vinham e iam; em certas ocasiões ele percebia essas oportunidades, mas ... não tinha tempo! Da próxima vez, quem sabe? Era muito desatento às convocações de Deus! Um dia, ele morreu. Enquanto subia o caminho do Paraíso, lembrou-se das vezes em que procurou ajudar alguém na terra, das reuniões das ENS que participou, das orações feitas em momentos de sufoco e julgou que isto seria suficiente para carimbar seu passaporte de entrada no Paraíso. Quando chegou diante dos imponentes portões do céu, viu que estavam trancados. Ouviu, então, a voz de São Pedro que dizia: " Vigiem atentamente, os portões só se abrem apenas uma vez a cada dez mil anos!" CM384

Com os olhos arregalados, ele ficou trêmulo com a expectativa e decidiu ficar em alerta máxima. Esperou, esperou ... porém, desacostumado a praticar a virtude da atenção, ficou pensando em outras coisas menos importantes, foi ficando sonolento, ... cochilou. Neste mesmo instante os portões do céu se abriram lenta e suavemente e, antes que ele acordasse, fecharam-se estrondosamente, com um trovão que derrubou todos os desatentos para fora do paraíso.

9. Encerramento Queridos irmãos! Todos nós, nas ENS, somos chamados por Deus e agraciados com o carisma da Espiritualidade Conjugal, dom concedido não apenas para usufruto particular, mas para ser revertido, também, em beneficio de outros casais . Não devemos ficar com este tesouro só para nós. A toda vocação corresponde uma missão. Tenho a certeza de que, neste ano, no qual o Movimento nos chama a atenção, de maneira especial, para a nossa missão de fertilizadores do amor conjugal, do amor filial , do amor fraterno, não ficaremos desatentos a esta convocação, não seremos surpreendidos pelo estrondo do fechamento dos portões do céu, desperdiçando nossa oportunidade de acesso à morada de Deus. Se isto acontecer, só daqui a mais dez mil anos!

Márcia e Luiz Carlos Eq. 4d - N. Sra. da Conceição Recife, PE 27


"Seu" Francisco saiu mais cedo, naquele dia, da sua casa de Tabatinga, cidade satélite de Brasília, levando todo o material que costuma usar no seu trabalho de pipoqueiro (um meio de engordar um pouco o magro salário que recebe como vigia noturno). O dia parecia ser promissor. Alguém falara que naquela tarde haveria uma grande reunião na Esplanada dos Ministérios. Não sabia bem do que se tratava, mas já estava acostumado com esses eventos. Tinha esperança de ganhar um bom dinheirinho, que o ajudaria na compra de um casaquinho para Maria de Jesus, sua mulher. Faz frio nas manhãs de inverno ! Quando chegou ao local, arrumou tudo direitinho e ficou esperando os fregueses. Daí a pouco, começou a chegar uma grande quantidade de ônibus. "Nossa! A turma deve ser gran28

de", pensou. Em pouco tempo, o gramado parecia muito diferente. As pessoas, com suas camisetas confortáveis, vestiram de branco a esplanada. Na verdade, olhando bem, parecia que a maioria era formada de casais. Tinham um jeito simples e sorriam muito ; abraçavam-se quando se encontravam. Mas uma outra coisa chamou a sua atenção: os casais, de todas as idades, ficavamjuntinhos, conversando baixinho e se olhavam de um modo diferente. Pareciam muito felizes ... E, de uma coisa ele tinha certeza: não eram casais em lua de mel. Do alto-falante partiam vozes alegres que falavam com entusiasmo de Deus, do casamento, da família. Os fregueses começaram a chegar. Pessoas com ar amigo, cumprimentavam, elogiavam a limpeza e o cheirinho da pipoca ... Sentavam-se em banquinhos simples de CM384


papelão que eles mesmos armavam e que pareciam bastante seguros. De repente, a primeira surpresa. O locutor anunciou: -Gente, vamos soltar os balões! No mesmo instante, uma quantidade enorme de balões, de todas as cores, subiu para o céu e o coração de Seu Francisco, emocionado, virou coração de menino e foi subindo junto, até lá em cima ... O locutor com voz forte, dizia: - Lá vão eles, os nossos balões, levando as mensagens de esperança que escrevemos para nossos irmãos. Que elas caiam aonde Deus quiser. "Seu" Francisco, olhos sonhadores, contemplava os balões tão embevecido, que não reparou no casal sorridente que estava aguardando para comprar pipoca. Quando o viu, se desculpou, mas a moça respondeu: -Desculpar, o quê? É uma coisa tão linda que vale a pena mesmo ficar olhando. Mas a festa continuava. Agora, eram vozes alegres que cantavam, com entusiasmo, músicas em louvor ao Senhor e a Maria, nossa mãe. Então, um helicóptero começou a dar voltas sobre aquele grande espaço. Sem querer, "Seu" Francisco se lembrou da notícia tão triste que vira na TV: "Helicóptero lança bombas sobre a cidade de ... " Mas logo afastou esse pensamento, pois o que o "nosso" helicóptero começou a derramar sobre todos eram (imaginem só!) pétalas de rosas coloridas e perfumadas. Ele devia estar sonhando, sem dúvida. CM 384

O sol, por sua vez, aproveitou a ocasião para mostrar aquilo de que é capaz, com os recursos de luz, sombra e cores que possui. Primeiro, esgueirou-se pelos prédios do Congresso e se instalou bem no meio deles, exibindo sua luz de maneira privilegiada, para a delícia dos fotógrafos. Depois, pintou um horizonte muito lindo, celebrando a glória do dia que terminava. A chama vacilante das velas que os casais seguravam e que pouco apareciam no início, começaram a iluminar a quase noite. "Seu" Francisco sentiu então uma sensação tão boa, parecida com aquela que o dominava quando seu pai, depois de um dia duro de trabalho, pacientemente, sentava-se para contar histórias para os filhos ... Só lamentava que a sua Maria de Jesus não estivesse ali, ao seu lado. Achou que até poderiam conversar de mãos dadas, naquele lugar encantado ... O último freguês conversou um pouco, deu-lhe de presente um chaveiro e falou: "É das Equipes de Nossa Senhora". Quando chegou em casa, cansado, mas feliz, contou tudo para a esposa e comentou: "De onde será que veio toda essa gente? Que história é essa de Equipes de Nossa Senhora?" Então, Maria de Jesus respondeu, com aquele ar de tranqüila sabedoria, que era o que ele mais amava nela: "Também não sei, mas se Nossa Senhora está com eles, só pode ser coisa muito boa!"

Wilma (do Orlando) Eq. 2A - Jundiaí, SP 29


UMA EXPERIÊNCIA INESQUECÍVEL Há dois ou três anos atrás, poucos seriam capazes de imaginar que um dia fosse possível a reunião de 1861 casais, 181 Conselheiros Espirituais e 124 equipistas (viúvas, viúvos e cônjuges separadamente), para um ato público em tomo do Dever de Sentar-se. Pois foi o que aconteceu, numa tarde do mês de julho (2003), de sol brilhante e brisa suave: os equipistas foram chegan-

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do e preenchendo, dois a dois, os espaços do grandioso gramado central da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Apesar de que, para muitos, a graça da vivência da espiritualidade conjugal não tenha aflorado, ali estávamos nós, casais cristãos equipistas, escolhidos do Pai, com o coração radiante de alegria, para um testemunho de valorização do Sacramento do Matrimônio: "Vocês também darão testemunho de mim" (Jo 15, 27). Pétalas de flores coloridas, que desciam levem nte do límpido azul, nos acolhiam. Pura manifestação do imenso amor de Deus Pai para conosco. Inebriados, quase flutuávamos. Sentados nos banquinhos de papelão, entoamos cânticos e oramos compenetrados, em preparação à inesquecível experiência que viveríamos a seguir: o exercício público do Dever de Sentar-se. Nesse momento, de forte interiorização pessoal e de aproximação dos corações, cada casal se sentiu como se estivesse a sós, atendenCM 384


do ao generoso convite do Senhor: "Vinde à parte, para um lugar deserto, e descansai um pouco , (Me 6, 31 ). Não parecia que estávamos entre milhares de equipistas. Em paz, sem pressa, sob o sopro do Espírito Santo, todos fizemos o Dever de ., Sentar-se. Junto de cada casal estava o Cristo, sinal da unidade visível entre todos. Cristo no meio de nós. Prenúncio da unidade sonhada. Um só pastor, um só rebanho. Olhando para os balões que subiam em todas as direções de Brasília, lembramonos das palavras proféticas do Pe. Caffarel: "Eu vos canelamo a empreender, a levar avante, uma ação sistemática, organizada: fundar uma equipe em todos os pontos principais do Brasil, lançar sobre vossa Pátria uma imensa rede de que as equipes sejam os nós ". Quando os sinos da Catedral anunciaram a décima oitava hora do dia, acendemos as velas e cantamos, com a voz embargada e o coração contrito, a Ave Maria, Ilumina ... Ilumina e o Magnificat, de mãos dadas com os que estavam próximos e recebemos de todos os sacerdotes presentes CM384

uma bênção especial, extensiva às nossas famílias e a todas as famílias brasileiras. Ao fim do dia, mirando o sol que resistia em se despedir no horizonte, aos poucos e em silêncio, dois a dois, retomamos, fortalecidos na esperança, a caminhada em direção à Missão que Jesus reservou aos casais cristãos, a de lançar as nossas redes em águas mais profundas. Silvia e Glauco Região Se I Florianópolis, Se

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• • • 3° Dia -

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de Julho de

2003 • • •

A BOA NOVA DO CASAMENTO Caros amigos Equipistas, Antes de entrar no cerne daquilo que seus responsáveis, Chico e Sílvia Assis Pontes e toda a equipe nacional do Brasil nos pediram, queremos agradecer o convite que vocês nos fizeram e saudá-los em nome de todos os equipistas do mundo inteiro. Esses equipistas têm hoje o olhar voltado para vocês, que representam o maior número de equipes e o maior número de equipistas num mesmo país. Graças a vocês, nosso Movimento soube, no Brasil, mostrar sua capacidade de ser missionário e Não bastava, entretanto, enevangelizador do casal e de levar tender a intuição de que a missão a Boa Nova do casamento, a tem- do casal se alicerça sobre o sapo e contratempo, aos mais ricos cramento do matrimônio e a sacomo aos mais pobres. c~amentalidade do matrimônio Vocês são a prova viva de que sobre o mistério da união de Crisas Equipes de Nossa Senhora são to e da Igreja. um Movimento profético para o Era necessário mostrar aos casal no século XXI. cônjuges que não precisavam fuObrigado. gir de sua condição de leigos caMas entremos no âmago do sados para tender à santidade, mas tema que nos foi pedido. que, ao contrário, eles deviam caMal sabiaMadeleineDeilly, quan- minhar juntos no e pelo matrimôdo foi procurar o Padre Caffarel, num nio como por uma autêntica estradia de janeiro de 1939, que ela ia per- da de santidade . mitir ao pároco da paróquia de Santo Lendo os sinais dos tempos, fiAgostinho, de Paris, e aos casais que cou evidente para o Padre Henri em tomo dele se reuniram pela pri- Caffarel e para os casais que o meira vez no dia 25 de fevereiro de acompanharam, que o casamento 1939, que fosse evidenciada "a in- cristão segue três eixos distintos, tuição que ela tinha do casamen- porém complementares que decorto cristão, caminho de santidade rem: do mistério, da mística e da e de felicidade ". missão do matrimônio cristão. 32

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O Mistério do Matrimônio Cristão O Mistério O Padre Caffarel, no "L' Anneau d'Or"4 no 51/52, define o "mistério" como "uma realidade divina que nem a própria razão iluminada pela fé consegue penetrar inteiramente". Na linguagem cristã, a palavra "mistério" é reservada à vida e à ação de Deus: há o mistério da Trindade, o da Encarnação, o mistério da Redenção. O mistério evocado pelo matrimônio é o de Cristo e da Igreja, do qual São Paulo, em sua Carta aos Efésios, fez a fonte, o modelo e o fim de todo casamento cristão. O Padre Caffarel certamente não foi o primeiro a falar do casamento cristão como um mistério, mas ele retomou essa noção e a desenvolveu, ligando-a aos demais mistérios cristãos da Revelação e da Redenção. Desde a criação do homem à imagem de Deus, o casal humano já prefigurava a união do Filho encarnado com a Igreja e as leis do casamento cristão são as mesmas que as que caracterizam aquela união maior. Quando Deus criou o primeiro homem, ele tinha, se assim podemos dizer, os olhos fixados naquele de quem todo homem deve ser imagem: seu Filho Jesus, encarnado. Mas é a união de Cristo com a Igreja que ele via despontar no horizonte quando uniu Adão e Eva. 4.

O Padre Caffarel nos lembra que: "o jovem amor de Eva e Adão e sua união eram o esboço radiante, a imagem profética do grande desígnio que iria realizarse mais tarde. As leis que impunham a seu casamento: unidade, indissolubilidade, hierarquia, fecundidade, longe de serem arbitrárias, eram ditadas pela união por vir de Cristo e da Igreja". Os profetas recorrem muitas vezes à comparação com o matrimônio para fazer compreender em profundidade a aliança de Iahweh e seu povo. Cristo leva o casamento a uma nova fase, ao apresentar-se como o esposo que vem desposar a humanidade: "No homem Jesus, divindade e humanidade estão inseparavelmente unidas; entre Jesus e sua Igreja, é muito mais do que uma proximidade, é uma comunhão que se realiza". A união de amor do homem e da mulher é a única capaz de dar uma imagem aproximada dessa união de Cristo e sua Igreja. Estamos no cerne do mistério da união dos esposos e no cerne do mistério da união de Cristo e da Igreja. Matrimônio humano e mistério cristão Vejamos agora de que forma o matrimônio humano evoca esse mistério. O matrimônio hum ano é a evocação de um mistério de in-

Revista cujo nome significa "Aliança de Ouro", que era dirigida pelo Padre Caffarel e que circulou durante muitos anos no início do Movimento

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timidade, imagem da união corporal de Cristo que se dá a nós na Eucaristia. Ela pede o mesmo esforço, ela traz a mesma alegria que a união carnal, a mais humana de todas e evoca a de nosso corpo com o corpo de Cristo. O matrimônio é a evocação de um mistério de sofrimento, imagem do mistério da Cruz. Os esposos dispõem de toda a vida para descobrir que é possível sofrer não somente um junto ao outro, não somente um pelo outro, mas também um por causa do outro. Amor e dor, amor e sacrifício, amor e redenção são palavras vinculadas para sempre. O matrimônio é a evocação de um mistério de fecundidade. O amor humano fecundo é a imagem terrestre da imensa fecundidade de Cristo e da Igreja, cuja caridade não tem limites e que oferece sem cessar sua oração pela salvação do mundo . Finalmente, a união do homem e da mulher é a evocação de um mistério de glória. Os esposos se defrontam com muitos problemas, muüas dificuldades, mas sabem que o sofrimento se oferece a eles como a esperança e o caminho para uma alegria mais pura e mais total e, para além das fadigas terrestres uma eternidade de amor os espera, quando então comungarão um ao outro como jamais comungaram na terra. Essa realidade se expressa e se toma clara por meio do casamento, imagem da união do Cristo e da Igreja e do lar cristão, célula de Igreja. 34

Por fim , o mistério do matrimônio não será totalmente cumprido se não se considerar o casal humano como sendo portador da marca da Trindade. Ao fazer do matrimônio um sacramento da Nova Aliança e uma imagem de sua união com a Igreja, uma célula de seu corpo, Cristo confere a essa realidade humana uma dimensão mais profunda e mais essencial: já não é apenas urna remota imagem da Trindade, é vida de sua vida.

A Mística do Matrimônio Cristão Se o "mistério" do matrimônio cristão consiste na união de Cristo e da Igreja, sua "mística" é a vivência do mistério. A comunhão voluntária dos esposos com o amor de Cristo e da Igreja, do qual passam a participar através de seu sacramento, só se torna realidade para eles na medida de sua tomada de consciência das riquezas do mistério em que o casamento os vai mergulhar. "Uma história santa começa para eles como para todos aqueles que Deus escolhe e consagra, mas que não sabem para onde essa história os levará. A única certeza que podem ter é que Cristo é 'o fiel'". (Padre Ca:ffarel: O matrimônio, esse grande sacramento) Durante toda a sua caminhada com as Equipes de Nossa Senhora, o Padre Caffarel insistiu nessa história santa do casal contida na mística do matrimônio cristão. Ri cos das graças recebidas CM 384


ao entrarem no sacramento , os esposos põem o pé na estrada, a exemplo do povo eleito. Eles vão vivenciar a companhia daquele que os guia: Cristo . É claro que o caminho nem sempre será fácil. Os obstáculos estão aí , a semear a discórdia entre os esposos e entre os esposos e Deus . A comunidade, a equipe, fará então a experiência do pecado e, se souber converter-se, beneficiarse-á da graça do perdão. Comunidade submetida à provação, comunidade purificada e transfigurada: a partir daí, a célula conjugal se assemelhará ao "pequeno resto" eleito, preparado e consagrado, ela será enviada para ficar a serviço de todos os irmãos e para anunciarlhes as maravilhas

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que o Senhor fez nela. Este é o sentido da missão dos casais das ENS na Igreja e no mundo. O Cristo se apoderou da realidade humana do matrimônio e santificou-a, transformou-a numa realidade santificante, fonte de graças abundantes.

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A graça da cura, oferecida em primeiro lugar à união conjugal, que pode ser ferida em seu amor pelo pecado de egoísmo e de cobiça. A graça da transfiguração, que outra coisa não é senão a vida de amor de Cristo e da Igreja que vem transfigurar a realidade cotidiana do lar. A graça do perdão e da abnegação , que não apenas cura o amor ferido, mas o alimenta e o aperfeiçoa pela total renúncia a si mesmo e pelo sacrificio em prol do outro. As graças da Páscoa, mistério de morte e ressurreição, são sua forma transcendente. A graça da fecundidade , que encontra a sua fonte no amor fecundo de Cristo vertido de seu coração e de seu corpo traspassado na cruz. Não é necessário dizer que os esposos vão sentir na própria carne essa graça da fecundidade do amor no casamento, ao se tomarem pro-criadores de seus filhos, como também ao se tomarem fecundos na sua vida de cada dia: intimidade conjugal, educação dos filhos, atividades profissionais, engajamentos eclesiais e sociais. A graça da duração, que permite aos esposos participar do crescimento e do desenvolvimento da Igreja.

Todavia, essa mística do matrimônio nada será se não for encarnada numa vivência concreta que 36

encontra sua fonte no lar cristão, comunidade de fé, de esperança, de amor. É para viver essa mística que o Movimento das Equipes de Nossa Senhora compromete os casais que nele confiam com a oração conjugal, com a oração familiar, com o exercício do perdão, com a prática freqüente da Eucaristia, como meios que constituem, que fazem um lar cristão.

A Missão do Casal Cristão "Eu lhes dei a glória que me deste para que sejam um, como nós somos um: eu neles e tu em mim, para que sejam perfeitos na unidade e para que o mundo reconheça que me enviaste e o amaste como amaste a mim" (Jo 17, 22-23). Essas palavras pronunciadas pelo Cristo na véspera de sua paixão deixam entrever o que deve ser a missão de um casal cristão. Ao elevar o matrimônio à dignidade de sacramento, Cristo faz dele uma célula de seu corpo. Nele, Ele se revela e se manifesta. Comunica-lhe seu amor, seu er mais profundo, tudo o que recebeu do Pai. Este é o coração do "mistério" do casamento. O Cristo comunica-se com os homens por meio de sua palavra, de seus sacramentos e o casal cristão que põe em prática essa proximidade espiritual tornar-se-á cada vez mais consciente de seu papel, de sua missão específica na Igreja e no mundo. CM384


A procriação Já falamos indiretamente dessa missão específica do casal cristão, que é a procriação e também a educação. Elas constituem uma das características da missão do casal. Numa de suas conferências, o Padre Caffarel nos diz que "por amor do Amor, Deus atou-se as mãos: a única posteridade que terá é a que lhe será dada pela união do homem e da mulher". E nos interpela: "Esposos, reconhecei, neste ardente desejo de ter um filho, no mais íntimo do vosso amor, uma pulsação do coração de Deus". A hospitalidade Se, por um lado, a missão do casal cristão exprime-se no mais íntimo de seu amor, por outro lado, ela também se reflete para fora no acolhimento do outro. A hospitalidade é a segunda missão do casal cristão, muitas vezes negligenciada porque sua natureza de missão de Igreja quase nunca é destacada; no entanto, é uma ordem clara dos apóstolos e São Paulo escrevia aos Romanos: "Praticai a hospitalidade com diligência". O Padre Caffarel dá grande importância à hospitalidade, que ele define como a breve acolhida, prolongada por e na comunidade familiar. E para que se aprecie o valor da hospitalidade cristã e seu simbolismo, ele fala em primeiro lugar da realidade humana da hospitalidade, convidando-nos a descobrir a filosofia da casa, que deCM384

sempenha um importante papel na irradiação da comunidade conjugal e familiar. "Quando estiverem dois ou três reunidos em meu nome, estou no meio de vós". Acolher o outro não é, pois, algo sem significado: é uma revelação das riquezas da presença de Cristo.

Testemunho A missão do casal cristão é exercida a serviço da Igreja pelo apostolado do testemunho. Os casais cristãos não vivem aconchegados num casulo, mas irradiam a alegria da Ressurreição. "A civilização familiar", diz o Padre Caffarel, "que cresce no lar, sob a ação da graça, deve aos poucos contaminar os casais amigos e os que rodeiam esse lar". Serviço A esse apostolado do testemunho acrescenta-se aquele que o casal cristão das Equipes de Nossa Senhora vai levar a efeito fora de seu perímetro doméstico. O serviço do casal e da família não é somente testemunho e irradiação, é também tarefa e atividades que exigem que maridos e mulheres a elas se dediquem juntos: a formação dos noivos, a ajuda aos casais em dificuldade, a atenção dada aos divorciados e aos recasados, e toda a ação desenvolvida pelos casais cristãos junto às famílias abrem ao divino a possibilidade de irradiação e de graça. A vida em Igreja Ao apostolado junto aos casais 37


e às famílias, vem se so mar o apostolado"missionário do casal cristão que colabora diretamente com o da Igreja, colocando-se a serviço de uma tarefa de Igreja: catequese, ações de caridade, cuidado de pobres e doentes, pessoas isoladas etc. Assim, o casal tendo mostrado sua solidez conjugal, familiar e apostólica, por que não caminharia para a ordenação diaconal do esposo, como fruto do sacramento do matrimônio? Hoje, muitos di áconos permanentes saí ram dos casais das Equipes de Nossa Senhora, pelo mundo. Esse apelo deve repercutir com uma força nova em nossos lares, para que mai s casais se coloquem mais completamente a serviço da comunidade eclesial. O casamento será então vivido ainda mais totalmente em sua dimensão eclesial.

A abnegação Disse o Padre Caffarel: "Diante de jovens casais ricos em amor, eu pensava que o amor seria o maior fator para a perfeição e que era preciso dizer-lhes: 'Sede fiéis ao amor'. Não me havia lembrado que Cristo dá dois meios aos que querem tender à perfeição: o amor e a abnegação". Ele nos faz descobrir que o casal humano que quer progredir no caminho da santidade não pode faze- lo apenas com o amor, mas que deve obedecer, como Cristo, à regra do dom de si e do esquecimento de si. O amor e a abnegação são as duas faces da medalha, não há amor sem desprendimento nem abnegação sem amor. Com um só dos dois, é como convidar os casais a pular num pé só para chegar ao fim do caminho. E para caminhar mais rapidamente e sem desgaste, é preciso pôr um pé diante do outro.

As Equipes de

Nossa Senhora: uma profecia inacabada Por ocasião de um encontro dos Casais Re spo ns áve is Regionais da Europa em Chantilly, no dia 3 de maio de 1987, o Padre Caffarel recapitulou aquilo que, aparentemente, hav ia sido bem percebido e bem compreendido, bem assimilado, do carisma fundador das Equipes; depois, num segundo momento , aquilo que não havia sido visto de forma suficientemente clara ou que ainda permanece inacabado , aberto à descoberta. 38

A sexualidade no casamento É um campo mal conhecido, mesmo hoje, quando a mídia nos propõe uma profusão de modelos de vivência sexual de toda espécie, freqüentemente, catastróficos. O Padre Caffarel lembra que é absolutamente necessário orientar os casais para a perfeição humana e cristã da relação sexual e recuperar o ensinamento da Igreja sobre o pecado original. De lá para cá, urna série de trabalhos das Equipes permitiram realizar a pesquisa sobre a sexualidade, tais como o documento "EvanCM 384


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ยบ Encontro Nacional das

Equipes de Nossa Senhora no Brasil




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gelizar a sexualidade" e o tema de estudos "Homem e mulher ele os criou". Mas ainda há muito a fazer neste campo e não seremos nós os melhores posicionados para liderar essa pesquisa?

A missão das Equipes de Nossa Senhora Esse terceiro aspecto insuficientemente conhecido do carisma fundador refere-se à vocação das Equipes de Nossa Senhora, que consiste em ajudar os casais a se santificarem. A este respeito, o Padre Caffarellembra três aspectos: • A antropologia e seu conceito de casal, sobre os quais o Movimento deveria levar a Igreja a rever seu raciocínio: o casal que coroa a pirâmide da criação. "Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou e serão uma só carne". • A perfeição cristã encontrase no seio do matrimônio e é possível santificar-se por meio do estado de casado. • A santidade não é um assunto individual e o Padre Caffarel lembra que "ninguém vai se santificar por você!" As Equipes de Nossa Senhora dizem na Igreja: "O auxílio mútuo é coisa querida por Deus para caminhar para a santidade, ninguém se salva sozinho. O auxílio mútuo entre cônjuges, o auxílio mútuo entre casais é um processo sempre novo CM 384

que deve se fortalecer". • A eclesialidade do lar cristão evidencia o ministério conjugal. É uma expressão recente, mas seu conteúdo não é novo. Pela graça do sacramento, os esposos são consagrados para uma missão a serviço do corpo do qual são membros. Essa missão específica compromete inicialmente o casal e depois toda a família cristã, na qualidade de célula de Igreja, Igreja doméstica.

As Equipes de Nossa Senhora, uma realidade de hoje Em Santiago de Compostela, dissemos que "as Equipes de Nossa Senhora são uma graça que devemos vivenciar e acolher". Neste sentido, percebemos que o Cristo convida cada um de nós a sair de sua equipe, a olhar e abrir seu coração para realidades diferentes e mais amplas que as que temos diante de nós no cotidiano de nosso país e passar assim a viver numa escala de mundo. Eis um verdadeiro desafio, que nos compromete a: • Viver a graça da unidade Urna Equipe de Nossa Senhora não pode viver no isolamento. Se, por um lado, ela funciona graças ao comprometimento de seus membros, por outro lado, ela é ajudada e alimentada pelo Movimento, com o qual comunga na vivência dos Estatutos e de tudo o que daí decorre. É isso que permite às 9.006 39


equipes distribuídas por 62 países no mundo, aos 102.000 equipistas do planeta, viver a unidade na diversidade. Viver no dinamismo pastoral da Igreja - As Equipes de Nossa Senhora ajudam os casados a viverem plenamente em conformidade com o Evangelho e assim formar "pequenas Igrejas domésticas ". É com esse sentido que as Equipes de Nossa Senhora se desenvolvem pelo mundo. Já vêm se desenvolvendo nos países do Leste Europeu: Lituânia, Hungria, Romênia. Acabam de nascer na Polônia: em um ano já são 26 equipes. Elas têm uma presença insuficiente na Ás ia: nas Filipinas, 3 equipes entre 66 milhões de católicos; na Índia, 55 equipes, na China, I equipe só de expatriados; no Vietnam, entre 6 e 1O milhões de cristãos, nenhuma equipe. Seu desenvolvimento é galopante na África, mais de 160 equipes: 38 no Togo, mais de 50 na República Democrática do Congo, 32 em Angola e 37 em Moçambique (estes dois últimos acabam de sair de guerras). A América do Norte continua seu desenvolvimento, e o continente de vocês permanece terra de missão, onde as possibilidades de evangelização são grandes. Viver a oportunidade da diferença e da complementaridade - O Cristo nos reúne, permitindo que ultrapassemos 40

as barreiras das línguas e das distâncias e dando-nos a riqueza de nossas diferenças e de nossas complementaridades culturais. Que alegria ver nossos irmãos dos grandes lagos do Congo, em plena guerra, vivenciar os Estatutos como única âncora de esperança, não hesitando em desprender das paredes de suas casas metralhadas pela guerra seus bens mais preciosos, para oferecê-los como presentes ao seu Casal Regional que os vem visitar! Que mensagem nos dão nossos irmãos de Ruanda, dizimados por lutas étnicas, mesmo no seio das próprias equipes, ao trabalharem pelo perdão para reviver nas suas equipes a mistura entre Hutus e Tutsis! • Viver as exigências da laicidade - O decreto canônico que reconhece definitivamente as Equipes de Nossa Senhora, feito na festa de Sant' Ana e São Joaquim, pais de Maria, é oreconhecimento concreto do Magistério para com a ação conduzida por nossos casais leigos, ajudados por seus conselheiros espirituais, para desenvolver na Igreja uma verdadeira espiritualidade do matrimônio. • Viver a radicalidade do anúncio do Evangelho - Os Estatutos nos dizem: "Os equipistas de Nossa Senhora querem ser por toda parte missionários de Cristo". João Paulo li reiterou em Roma, em janeiro pasCM384


sado, o quanto a sociedade contemporânea tem particular necessidade do testemunho de casais que perseverem em seu casamento. Devemos, em toda parte, inventar novos meios para nos colocarmos a serviço de nossos irmãos, cristãos ou não, que vivem no mundo. Ficamos felizes quando um dos nossos toma-se ministro de um governo, como na França atualmente, ou ocupa um posto de responsabilidade nas empresas, nos sindicatos ou nas esferas culturais e religiosas. Viver a esperança dos homens e dos casais hoje - "Ser casal cristão na Igreja e no mundo" é sair de nossa tranqüilidade, de nossa indiferença, para combater o único combaCM 384

te possível: o combate espiritual a serviço do amor, com as armas do amor, para que a civilização do amor se tome enfim realidade na terra. Viver a aposta da caridade Em sua carta "Novo Millennio Ineunte ", o Papa João Paulo li nos lembra o que está em jogo, em termos de caridade, em nossa época. Não podemos ficar insensíveis às necessidades de nossos irmãos, muitos dos quais vivem com menos do que o mínimo vital e são excluídos dos progressos econômicos, culturais, tecnológicos, humanos. Vamos dar, aos casais que não podem possuí-los, os meios para criar as equipes em seus países e para se formarem, para que as graças que recebemos possam também tocá-los. África, 41


América do Sul ou Central, Ásia, amor que os une à sua Igreja. Índia, como também os meios Esse caminho de santificação é populares de nossos países. um itinerário que vem de Deus e Vamos ajudar os casais sub- leva a Deus, por meio do compromersos no materialismo dos pa- misso cristão de duas pessoas que íses ricos do Norte do planeta a se dão totalmente, uma a outra, por reencontrar o caminho do es- amor e por abnegação. sencial. A obra de transfiguração do • Viver a proximidade espiri- amor conjugal em caridade dá ao tual - Para nós, casais casa- casal uma vitalidade que lhe perdos das Equipes de Nossa Se- mite testemunhar e ser apóstolo da nhora, a caridade consiste tam- Boa Nova do matrimônio em seu bém na ajuda que damos àque- lar, em sua família, em sua comules que não podem viver o sa- nidade, mas também fora dela, junto cramento do matrimônio ou que àqueles que não vivem o mesmo sofrem a sua ruptura. carisma. Estamos com eles em proximiEssa mútua doação dos espodade espiritual, como dizia João sos é o meio que Cristo utiliza para Paulo II aos Casais Responsá- outorgar-lhes sua graça e sua forveis Regionais em janeiro. Na- ça, para que sejam portadores de turalmente, é bom lembrar, o um mistério verdadeiro, de um micarisma de nosso Movimento nistério conjugal e familiar ordenaalicerça-se na espiritualidade do no sentido da criação. dos homens e das mulheres uniAssim se esclarece e se justifidos pelo sacramento do matri- ca a grande intuição que conduziu mônio, mas podemos trabalhar todo o Movimento das Equipes de e ajudá-los a viverem entre si Nossa Senhora no desenvolvimenas graças de seu batismo. to da espiritualidade conjugal: "Os esposos cristãos são chamados Conclusão à santidade, não a despeito, mas Ao final deste périplo que nos no e pelo matrimônio. A grande conduziu à descoberta do mistério ambição desses companheiros do matrimônio cristão por meio da de caminhada de Cristo, que são intuição profética do Padre Caffa- os esposos, não é de instalaremrel e dos casais que o acompanha- se na terra, mas de caminharem ram, constatamos que existe um fio com Ele para a casa do Pai, o condutor que vai ao infinito. único Santuário onde eles se reuO matrimônio vem de Deus, é o nirão como companheiros para dom de seu amor e a prefiguração a eternidade ". da união do Filho-esposo com a Igreja-esposa. Ao transformá-lo num dos Gerard e Marie-Christine sacramentos de sua nova aliança, Ele de Roberty faz de nossos casais uma imagem do Casal Responsável ERI 42

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TESTEMUNHO DA lNFLUÊNClA DOPE. CAFFAREL EM SUA VlDA PESSOAL E CONJUGAL D. Nancy Minha saudação inicial ao Pe. François Fleischmann e ao casal Gérard e Marie Christine de Roberty, membros da Equipe Responsável Internacional que hoje nos visitam e a vocês, meus irmãos brasileiros, amigos de todos os tempos e de todas as horas. Coube-me dar-lhes testemunho do que foi a influência doPe. Henri Caffarel em nossa vida pessoal e conjugal. Tarefa difícil porque a nossa vida e a vida das Equipes, no Brasil, entrelaçam-se tão vigorosamente que é impossível separálas nos primeiros tempos. Quando o Espírito Santo deixou ao nosso alcance aquela sementinha de uma Espiritualidade Conjugal há 14 anos inutilmente procurada, um misto de alegria, de surpresa e de gratidão colocou-nos humildemente de joelhos diante de Deus, numa intensa e sincera ação de graças. E, a partir daí, consagramo-nos a vivê-la e a difundi-la numa doação total que persistiu durante os 32 anos de casados que ainda tivemos e os meus 21 anos de viuvez. De 3 maneiras o Pe. Caffarel influenciou a nossa vida; pelas suas cartas, os seus escritos e os nossos encontros pessoais. Creio que isso também acontece a todos os equipistas que pautam a sua vida pelos mesmos ensinamentos. CM 384

Pe. Caffarel tinha o dom de infundir coragem, entusiasmo e confiança na providência divina. Suas cartas despertavam em nós o desejo de crescer cada vez mais na vivência dessa Espiritualidade Conjugal, uma novidade que nos empolgava. Parece-me que o Espírito Santo, sem o percebermos, já havia preparado o terreno para os nossos contatos, porque, desconhecendo a existência dos grupos de casais na França e nada sabendo sobre o Pe. Caffarel,já tínhamos em casa o seu endereço. Uma senhora, recémchegada da França, emprestou-nos uma revista que estava fazendo muito sucesso nos meios religiosos: o "L' Anneau d'Or" fundada e dirigida por aquele sacerdote. Nossa correspondência iniciou43


se em novembro de 1949, quando Pedro solicitou ao Pe. Caffarel informações sobre os grupos de casais. Podemos imaginar a surpresa que nossa carta lhe causou, vinda do outro lado do mundo! Até então as Equipes só haviam atingido a França e a Bélgica. Como vocês sabem, o Brasil foi o primeiro país de língua não francesa a recebê-las. Na sua resposta, Pe. Caffarel nos fala de sua alegria e de sua emoção ao receber nossa carta. Mas, ao lado disso, foi muito firme. Não teve receio de nos assustar apresentandonos um ideal elevado. A frase que há 53 anos define o nosso Movimento consta dessa primeira carta. " Os

lhe prometo rezar e fazer rezar para que o Senhor os ajude na tarefa de responsáveis. Ela é importante e não é só de uma equipe que se tornaram responsáveis, mas do desenvolvimento, em seu pais, da fórmula das Equipes de Nossa Senhora". E mais adiante: "Permita-me, entretanto, que o aconselhe a não iniciar senão com casais muito desejosos de compreender as exigências de sua fé e de vivê-las melhor". E acrescenta a

grupos, hoje diríamos, as Equipes de Nossa Senhora, querem ajudar os casais a tender para a santidade". E, para evitar qualquer dúvida, acrescenta "nem mais, nem menos"5. Entre a primeira carta de

Vocês podem imaginar o impacto que em nós produziu a responsabilidade que o Pe. Caffarel acabava de lançar sobre nossos ombros. Nossa equipe tinha apenas um mês de existência. Tateávamos inseguros e o Pe. Caffarel nos acenava com um futuro que só hoje se realizou graças à colaboração de milhares de casais. Essa perspectiva de irradiação e de progresso protegianos da mediocridade e nos impulsionava para o esforço e a oração. Em suas cartas, além dos conselhos e orientações, havia quase sempre uma referência à nossa vida pessoal. Em carta de 1o de outubro de 1957, logo após o seu retomo da primeira visita feita às Equipes do Brasil, Pe. Caffarel diz, referindo-se aos nossos 14 anos de procura: "Fiquei muito

Pedro e o lançamento de nossa primeira equipe em 13 de maio de 1950, seis meses se passaram. Foram meses de preparação pelas cartas do Pe. Caffarel, do nosso dedicado Casal de Ligação na França e pelo estudo dos documentos e das Cartas Mensais francesas que nos chegavam às mãos. Nossa equipe tinha um mês de vida quando, em junho, fomos eleitos Casal Responsável. Respondendo à carta em que lhe comunicávamos nossa eleição, Pe. Caffarel nos surpreende alargando nossos horizontes à dimensão nacional. Dizia ele "Eu 5. 6.

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frase tantas vezes repetidas nos seus conselhos: "Vale mais ter menos

Equipes em uma região, mas que elas sejam portadoras de uma imagem muito pura "6.

impressionado, como já tive oca-

Do livro "O Sentido de uma Vida", Nancy Cajado Mon cau - pg. /13 idem pg. 118

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sião de lhes dizer, diante dos casais de suas equipes, pela conduta providencial dos acontecimentos no Brasil, no que se refere às Equipes; impressionado em ver que durante anos o Senhor o faz desejar, procurar em vão aquilo que um dia, depois de 14 anos de espera, de orações da parte de vocês, devia serlhes oferecido pelas Equipes de Nossa Senhora. É bem esta a pedagogia do Senhor. Não só Ele dá, mas faz desejar, amadurece o desejo a fim de poder fazer um dom maior, para que o dom seja melhor recebido. É quase inacreditável que através dos oceanos e sem contato com o Centro, vocês apreenderam tão perfeitamente o espírito das Equipes e tenham realizado equipes tão autenticamente Equipes de Nossa Senhora. Quantas vezes ( ..) bendisse o Senhor por isto! O seu lar, suas aspirações, seu desejo de santidade e de uma intimidade espiritual entre os dois, está presente na minha missa e na minha oração "7 Já estávamos na direção do Movimento há nove anos. Sentíamos que nossos filhos adolescentes precisavam mais da nossa pre7.

sença junto deles. Por outro lado, as Equipes haviam se desenvolvido e possuíam casais a elas devotados que poderiam substituir-nos. Pedro escreveu ao Pe. Caffarel e à Equipe Dirigente solicitando nossa substituição. Respondendo-nos, Pe. Caffarel escreve: "É uma questão bem importante essa de sua substituição. Eu sempre tive, de modo preciso, o sentimento de que vocês dois, como casal, haviam sido colocados providencialmente no posto que tão bem ocuparam nestes últimos anos. Rezo de todo coração pelo seu lar. Peço ao Senhor que lhe revele sempre seu amor, que os associe mais estrei-

idem pg. 121

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lamente à sua redenção, que se sirva de vocês para fazer numerosos casais descobrirem as riquezas das graças que o sacramento do matrimônio lhes reserva" (4 de janeiro de 1960). 8 Em 23 do mesmo mês, acrescenta: "creio, com efeito, que o desenvolvimento do Movimento no Brasil só é explicável por uma ação do Senhor. Mas, ao mesmo tempo, não posso deixar de pensar que ele encontrou em vocês um instrumento particularmente dócil e preparado por sua graça "9. Fez-se um longo silêncio arespeito de nossa substituição que só nos foi concedida seis anos depois. Glória e João Payão Luz assumiram a responsabilidade da .ECIR em 1965 e nós passamos a ser conselheiros. Comentando esta solução, Pe. Caffarel diz-se feliz em pensar que nós ainda ficamos como conselheiros e acrescenta: "Vocês têm uma missão insubstituível manter o espírito". Não eram só as suas cartas que nos guiavam. Havia toda uma vasta literatura por meio da qual ele continuava a comunicar aos seus leitores sua fé, seu entusiasmo, a abrir-lhes novos horizontes, a incentivá-los na sua caminhada para Cristo. Seus editoriais nos eram enviados com antecedência, a tempo de serem traduzidos e publicados em nossa Carta Mensal. Alguns de seus livros foram publicados aqui no Brasil. As palestras mais importantes 8.

idem pg. 151

9.

idem pg. 152

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realizadas nos encontros, na França, também eram traduzidas, comentadas e estudadas entre nós. Tudo isso contribuía para manter vivo o nosso entusiasmo e a fidelidade às nossas raízes. E quando digo nossas, não me refiro só ao Movimento em geral. Refiro -me também à nossa vida conjugal. Sempre fomos e continuamos a ser discípulos fiéis do Pe. Caffarel. Nas visitas feitas às Equipes, sempre estivemos ao lado do Pe. Caffarel, acompanhando-o por toda a parte. Em 1972, por ocasião da sua última visita, tivemos a oportunidade de hospedá-lo. Alguns de nossos filhos já se haviam casado e, assim, pudemos preparar para ele um quarto e, ao lado, um escritório. Ali, usando uma antiga escrivaninha como altar, ele celebrava suas missas. Quem teve a oportunidade de participar de uma missa por ele celebrada, sabe que suas missas eram inesquecíveis. Sua atitude profundamente recolhida davanos a certeza de que ele se sentia verdadeiramente na presença de Deus, a quem se dirigia. Como não queríamos participar sozinhos dessa riqueza espiritual, todos os dias, convidávamos um casal equipista que morasse na redondeza, para acompanhar-nos. De todos os encontros que tivemos, guardo uma lembrança inesquecível de dois: Uma tarde o Pe. Caffarel me disse: "Para amanhã, não convide ninguém". No

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dia seguinte, estávamos os três reunidos no escritório. Nós, um pouco apreensivos, pois não podíamos imaginar a razão daquele pedido. Pe. Caffarel entrou paramentado e, como sempre, recolhido. Foi então que soubemos que aquela missa era em nossa intenção. Ele rezou-a toda agradecendo as graças que nos tinham sido dadas, pediu por nós, nossos filhos, nossos trabalhos e no final com as duas mãos erguidas sobre nossas cabeças deunos uma benção. Muito comovidos, saímos em silêncio. Há horas em que o silêncio é mais eloqüente que as palavras. Não encontramos palavras para dizer o que sentíamos. O outro encontro foi 16 anos mais tarde. Eu já estava viúva há seis anos quando fui à peregrinação a Lourdes, em 1988. Havia pedido com antecedência um encontro com o Pe. Caffarel. Terminada a peregrinação, o casal que me hospedara, em Paris, levou-me à Casa de Oração do Pe. Caffarel, em Troussures, para esse encontro com dia e hora marcada. Muito emocionada, enquanto percorríamos os 80 k.m, fui pensando na última vez que ali estive. Pedro ainda era vivo e com grande proveito fizéramos a "Semana de Oração" que fortaleceu ainda mais nossa fé e nossa união conjugal. Agora estava só, com as minhas preocupações e a minha saudade. Chegamos antes da missa e acomodamo-nos nas cadeiras que circundam as paredes da sala transformada em capela. Ali, recolhidos, em silêncio, aguardamos o início da celebração. Pe. Caffarel entrou já paramentado, olhou para mim CM384

e disse: "Esta missa é por intenção de Nancy, Pedro e seus filhos". Foi a conta. Eu já estava emocionada e a custo contive as lágrimas. A missa decorreu como sempre são as missas do Pe. Caffarel. Rezei, comunguei e depois de uma ação de graças, dirigimo-nos para a sala de almoço. No caminho, uma das moças que trabalham na Casa de Oração tomou o meu braço e conduziume para uma pequena sala onde a mesa estava posta para duas pessoas. Pe. Caffarel entrou, almoçamos juntos e conversamos longamente. Foi a última vez que o vi. Hoje, aqui reunidos, o que eu tenho a pedir a vocês é que orem por mim, ajudem-me a agradecer a Deus por tudo o que Pedro e eu recebemos, por tudo o que os casais brasileiros e de todo o mundo receberam de Deus, graças à vida, aos ensinamentos e às orações do Pe. Caffarel. Obrigada.

Nancy Cajado Moncau Super-Região Brasil


HOMILIA Caros amigos, É uma grande alegria para mim orar hoje com vocês no Brasil, com vocês que representam uma das Regiões mais importantes e mais dinâmicas das Equipes de Nossa Senhora no mundo. Marie-Christine e Gerard de Roberty, assim como eu mesmo, agradecemos calorosamente seu convite para sermos testemunhas desse grande e belo encontro. E peço desculpas por não falar a sua língua. Quando recebi de Chico e Sílvia o tema e a escolha das leituras da Palavra de Deus para esta liturgia eucarística, surpreendi-me inicialmente com a aproximação que se fez entre o Evangelho da Visitação e a narrativa de Pentecostes. Mas bastou-me meditaressas leituras, para compreender que vocês haviam sido inspirados pelo Espírito Santo. O nosso olhar sobre a figura de Maria e a dos Apóstolos nos leva a perceber que, em ambos os casos, o Espírito Santo está ativamente presente. E isso toma mais clara a missão dos casais cristãos e das Equipes. No Evangelho da Visitação, vemos Maria no dia seguinte à Anunciação. Recebeu e aceitou a missão de ser Mãe do Cristo. O Espírito Santo veio a ela; ela está intensamente unida a ele, portando em seu seio a criança que é o Filho de Deus. Eis que, apressada, ela se põe a caminho. Ela age como Serva do Senhor: vai correndo até Isabel , 48

para partilhar a alegria da concepção da criança, que será o Salvador, como também a alegria do nascimento do último profeta, que será o precursor de Cristo. O Espírito Santo anima o encontro das duas : Isabel ficou repleta do Espírito Santo. O seu filho estremeceu de alegria. A maternidade divina de Maria é reconhecida: a Mãe do meu Senhor. Maria é exaltada com uma "beatitude": bem-aventurada aquela que teve fé, feliz a que confiou plenamente na Palavra de Deus. E sabemos que Maria exprime sua fé pela alegria do Magnificat. É assim que este Evangelho nos lembra a oração das Equipes. Casais cristãos, o Espírito Santo habita em vocês desde o batismo e a confirmação, aquele Espírito do amor de Deus que une o amor de vocês ao amor criador e salvador do Deus vivo; a beatitude de Maria reflete-se em vocês. Felizes são, esposos e esposas, por serem, por sua vez, servidores do Senhor! Um para com o outro, ambos para com seus filhos, vocês têm a missão de partilhar a alegria da fé - a fé em Deus, a fé nos compromissos do sacramento do matrimônio, a fé no mistério da união de Cristo com a humanidade, mistério que vocês fazem ecoar nas suas vidas. Vocês recebem a Palavra de Deus, vocês a meditam, acolhendo-a no mais profundo do coração e da inteligência. Pelo dom mútuo CM 384


de suas pessoas, pelo dom da vida a seus filhos, vocês são participantes da obra do Redentor que, sem cessar, por seu Espírito, purifica e renova a natureza humana. À imagem de Maria, com passadas diligentes, vocês vão, partilhando a alegria e a beleza de seu amor, enriquecido pelos dons do Espírito. Pela intercessão materna de Maria, vocês sabem que a graça do sacramento do matrimônio permanecerá v1va mesmo nos momentos difíceis, nos tempos de provação. Humildes e confiantes, vocês crêem no ideal do casamento cristão, assim como diz o Guia das Equipes: "vocês desejam basear sua vida conjugal e familiar no Evangelho, testemunhar, pela sua vida, o amor de Deus, dar testemunho dos valores cristãos na sua vida social e profissional". Vocês buscam a santidade, a união a Deus pelo Cristo, no Espírito Santo, com simplicidade, na vida cotidiana. Vocês podem testemunhar isso ainda melhor, pois sabem que a santidade é um dom de Deus, sem nenhuma relação comnossosméritos. "O Senhor olhou para a humildade de sua serva... O Poderoso fez CM384

em mim maravilhas". Os Estatutos exprimem bem a aspiração dos esposos cristãos: "Querem que seu amor, santificado pelo Sacramento do Matrimônio, seja um louvor a Deus, um testemunho aos homens, demonstrando-lhes com toda evidência que Cristo salvou o amor". Os Atos dos Apóstolos nos mostram os discípulos, após a Ressurreição e a Ascensão de Jesus, fiéis à

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oração, com Maria, Mãe de Jesus. as, casadas ou não, jovens ou vePermaneciam num grupo fechado, lhos, pobres ou ricos, simples ou numa pequena equipe um tanto te- sábios, fracos ou fortes. merosa. Foi quando o Espírito Santo Esses homens, que agora faos apanhou. O vento tempestuoso e lam com vigor, são todos galileus. o fogo lembram as manifestações de Não são dos mais brilhantes, não Deus no Sinai, a Aliança e o dom da têm nenhum prestígio. Não estão Lei da vida. E eis que os discípulos aí para proclamar suas próprias são empurrados para fora, transfor- descobertas, mas as maravilhas mados em intrépidas testemunhas da de Deus. Um belo encorajamento grande notícia de que, por meio do para a Igreja nascente tanto quanCristo vivo para sempre, a Aliança é to para as Equipes de hoje. nova e eterna. Pois a missão de vocês, casais O Espírito Santo, "Senhor que das Equipes, vocês a carregam jundá a vida" (c f. Símbolo Niceno ), tos, graças a seu auxílio mútuo. inaugura uma vida nova, uma as- Auxílio espiritual para se sustentasembléia que vai se espalhar até as rem na fé, na oração e, com fredimensões do mundo. Cada um qüência, auxílio material. Vocês carouve a mensagem em sua própria regam a sua missão, porque o Crislíngua (para mim, preciso da ajuda to está presente em toda realidade de tradutores!). Pela efusão do da Igreja. Vocês bem sabem que a Espírito de Pentecostes, inaugura- família já é uma pequena Ecclesia. se uma nova unidade, na diversi- Assim também a Equipe, que está dade das culturas, mas também na estreitamente ligada a toda a Igrediversidade de situação das pesso- j a. O Padre Caffarel havia desen-

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volvido esse tema (aqui no Brasil) em São Paulo; só citarei uma frase: "É preciso que, na pequena Ecclesia, a alma da grande Igreja esteja plenamente vibrante." O auxílio mútuo dos equipistas, longe de afastá-los de sua paróquia ou diocese, anima os casais alimentados pela Palavra de Deus e que vivem intensamente a graça do sacramento do matrimônio, a trabalhar a serviço de toda a Igreja, e toda vez que for possível, em casal. Os Estatutos registram esse sentido de Igreja entre os motivos que justificam a própria existência das Equipes: os casais "devotados à Igreja, querem estar sempre prontos a responder aos apelos de seu bispo e de seus sacerdotes". Vocês têm uma responsabilidade especial para testemunhar a grandeza do sacramento do matrimônio. A experiência que vocês têm de colaboração com seus conselheiros espirituais, qualifica vocês a intensificar a solidariedade ativa entre leigos e padres, cada um segundo sua vocação e seu ministério próprios. Minha presença, juntamente com Gerard e Marie-Christine de Roberty, me leva ainda a sublinhar uma outra dimensão eclesial das Equipes de Nossa Senhora, a do caráter internacional do Movimento. O próprio Concílio Vaticano II declarou que é benéfico para a Igreja, no mundo atual, que os leigos se associem em movimentos internacionais (v. Decreto sobre Apostolado dos Leigos, no 19). O Espírito de Pentecostes não pára nas fronteiras, mas atravessa os oceanos! CM 384

Por fim, gostaria de dizer numa palavra, que a experiência forte da espiritualidade conjugal toma vocês ainda mais abertos a todo o mundo contemporâneo. Vocês poderão meditar as palavras do Papa João XXIII: "Cada fiel, em nosso mundo, deve ser uma centelha de luz, um centro de amor, um fermento vivificante na massa: quanto mais o for, mais viverá, em seu íntimo, em comunhão com Deus. Com efeito, a paz não pode reinar entre os homens, se ela não estiver em cada um deles." Sejam testemunhas e defensores do bem comum, sejam um sustento para os casais e para as famílias, contribuam para a qualidade da educação, sejam construtores da paz na justiça, que caminha de mãos dadas com a solidariedade para com os mais despojados e com a autêntica caridade, que dá toda a sua qual idade à vida da sociedade. Para concluir, gostaria de dar graças, juntamente com vocês, pela vitalidade das Equipes na Igreja do Brasil. Confiamos nossa ação de graças e nossa esperança a Maria, que vela pelas Equipes assim como por toda a Igreja, ela que é cheia de graça e intimamente unida ao Espírito Santo. O Padre Caffarel escreveu: "O que é a Igreja, senão a descendência de Maria, indissoluvelmente unida a Maria (..) A Igreja é a família da qual Maria é mãe... " Nossa Senhora das Famílias, velai sobre as Equipes e a Igreja no Brasil!

Mons. Fleischmann SCE da ERI 51


- NO UMA REUNJAO MONTETABOR O 1o Encontro Nacional das ENS do Brasil foi um turbilhão de acontecimentos, reflexões, emoções e graças que ainda levaremos algum tempo para apreender completamente, pois a nossa inteligência é limitada e o nosso coração lento para acreditar nas coisas que o Senhor nos revela (Lucas 24,25). Será importante dedicarmos ainda um bom tempo a reler e meditar as palestras e os testemunhos. Será que conseguimos já assimilar em toda a sua extensão o sentido do: "Casal cristão: sacramento do amanhã"? Captamos sua ligação indispensável com o desafio de "Ser Casal Missionário" e o convite sempre atual de Jesus: "Lançai a rede em águas mais profundas"? Seja como for, o Espírito Santo não cessa de trabalhar e agir em nossos corações, se os tivermos bem abertos, para que cada um de nós venha a ser aquele instrumento - particular e único - para o papel que o Senhor deseja nos confiar. As Reuniões Mistas que tivemos durante o Encontro foram, sem dúvida, instrumentos do Espírito Santo! Ali estávamos nós, seis casais antes desconhecidos, nos reunimos na mesa 126. Por que quis Deus que cada um de nós em particular estivesse exatamente ali, entre tantas outras milhares de possibilidades de se encontrarem seis casais em 320 mesas? Não sabemos, mas 52

certamente cada um trouxe de volta para casa aquela mensagem, aquele pensamento, aquela intuição, que Deus quis ali nos transmitir. Em nosso grupo éramos casais de Manaus, Brasília, Santa Rosa do Viterbo, Teresópolis, Curitiba e Pouso Alegre. Já na 2" reunião um casal testemunhava que, após a 1• reunião estava ansioso que chegasse essa oportunidade de novamente nos encontrarmos. Já éramos amigos que anseiam por rever-se! Um milagre que só se encontra talvez nas ENS, pela profunda identificação de todos com um mesmo sonho, um mesmo ideal, um mesmo jeito de caminhar! Nessa segunda Reunião Mista, a Escuta da Palavra (Mt 9, 35-38) mostra Jesus compadecido das multidões, como ovelhas sem pastor, a nos dizer, a cada um, que precisa de operários para a messe. E vão brotando, espontaneamente, as nossas orações pessoais, pedindo ao Senhor que nos conserve o entusiasmo, para que não seja um "fogo de palha", que nos dê força e coragem para assumirmos a missão a que somos chamados. Viemos de equipes diferentes, temos de 2 a 17 anos no Movimento, mas parecemos uma equipe já de muitos anos de convivência, pela maneira espontânea e simples com que abrimos os nossos corações. Testemunho claro da nossa unidade em um país tão grande e de tanta diCM 384


versidade cultural! Seguimos com o Estudo do Tema, no qual, em perfeita sintonia com o texto do Evangelho e com as palestras da manhã, o Pe. Caffarel nos incentiva para a missão de propagadores da boa nova do amor conjugal: "Paulo VI acaba de escolher as Equipes de Nossa Senhora para eretos aparecem nessa Partilha. levar aos quatro cantos do mun- Para um casal, a resposta é a Esdo ... uma mensagem de extraor- cuta da Palavra e Meditação; para dinária riqueza doutrinai e es- outro, a Regra de Vida; para outro, piritual" (1970). Ao comentar o a Oração Conjugal; e o Dever de tema, somos unânimes em concluir Sentar-se também é destacado sobre a importância do testemu- como o PCE que mais tem ajudanho de vida e da palavra oportu- do a tomar consciência da missão. É pena, mas a nossa 2" e última na, que em cada condição partireunião do Encontro N acionai vai cular, cada um deve estar pronto se aproximando do final. Trocamos a oferecer. Um professor univercartões postais e endereços, ofesitário em nosso grupo testemurecemos nossas casas e partilhanha, que aproveita as suas provas mos como refeição os doces típipara transcrever orações e mencos de nossa terra que trouxemos sagens bíblicas, que levam os joOs alto-falanpara esse momento. vens a refletir e muitas vezes se tes anunciam que temos de ir para aproximarem dele para comentáos ônibus e, meio a contra gosto, las. Também concluímos sobre a vamos nos separando. Acabou o importância de estarmos engajados Monte Tabor, que foi tempo de em trabalhos concretos, que nos ofereçam a oportunidade de aten- aquele encontro das Reuniões Misder ao chamado de Jesus, como tas. Amanhã voltaremos para casa, os cursos de batismo, os cursos de ainda com a deliciosa sensação de euforia do Encontro Nacional. Que noivos, os grupos jovens, etc. Na Partilha dirigida, cada um Nossa Senhora Aparecida nos relata qual o PCE que mais o tem acompanhe e ajude a manter aceajudado a tomar consciência do seu sa a chama! papel missionário. Foi muito inteFátima e Jerson ressante verificar que, com exceEq. 4 Teresópolis, RJ ção do Retiro, todos os Pontos ConCM 384

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UMA GRANDE FESTA PARA UM GRANDE ENCONTRO E lá estávamos nós, delirando ao ritmo dos momentos marcantes do Encontro de Brasília. Era chegada a hora da grande confraternização. Diante do palco, milhares de irmãos equipistas, casais e conselheiros,

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apreciavam e se deliciavam com a criatividade e entusiasmo das apresentações. Entre um churrasquinho, um caldo quente, um refrigerante, lá estávamos nós, pulando, dançando, extravasando alegria. Primeiro veio o "Boi de Parintins" tão bem coreografado pelos equipistas da Província N arte que, de cara, contagiou a todos. Belém do Pará trouxe a dança do Carimbá. A grande roda popular equipista, que dançava no espaço frente ao palco ou nas suas mesas, não segurou mais e levantou de vez, quando as Regiões Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte, entoaram o "Forró do Equipista" ("Sou equipista com certeza não me engano ... "), que ficou conhecido em todo o Brasil. Um contagiante samba, lembrando as belezas da Paraíba, foi também saboreado pelos presentes e levou às lágrimas alguns nordestinos que hoje vivem no Sul do País. Exemplo de tradição e cultura popular foi a apresentação do "BoiCM 384


bumbá", desta vez o da Região Piauí/Maranhão. De lá do extremo Sul do país, vieram nossos irmãos gaúchos com suas danças típicas entre elas a "Rancheira". Que belo testemunho de amor pelas nossas raízes! A equipe de organização do Encontro, num lindo exemplo de amor, apresentou um Grupo Folclórico de danças formado por jovens adolescentes oriundos das ruas e dos meios das drogas. Eles mostraram que a arte pode vencer o caminho do mal, e hoje são verdadeiros dançarinos, coreógrafos e artistas. Um momento marcante foi quando eles cantaram o Hino Nacional Brasileiro, dividido em partes e para cada uma delas havia um ritmo, uma coreografia diferente (Axé, frevo, samba etc). CM 384

Abrilhantou também a nossa grande festa, o coral formado para as liturgias do evento, apresentando vários números do cancioneiro popular. Ao final, todos foram convocados a dançar uma quadrilha junina mista, isto é, com a participação de todos os presentes. Realmente, foram momentos inesquecíveis do Encontro Nacional, quando todos tiveram a oportunidade de aumentar ainda mais os laços fraternos que já haviam sidos formados durante o evento. A alegria geral realmente mostrou o quanto ca.sais e conselheiros das Equipes de Nossa Senhora se amam de verdade.

]ussara e Daniel CR Região Paraíba 55


4° Dia -

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de Julho de

2003 • • •

CASAl CRlSTÃO, TESTEMUNHA DO AMOR E SlNAl DE ESPERANÇA lntrodução Há um tempo atrás, o Ziraldo, sendo entrevistado pelo Jô Soares, a respeito de poluição e do excesso de lixo nas ruas, dizia que era preciso plantar flores em todo o lugar, em todas as ruas e bairros do Rio de Janeiro, em todas as favelas, porque, segundo ele: "Onde houver flores, não haverá lixo!" Este despretensioso slogan tem um fundo de verdade e de beleza que podemos aproveitar. De fato, se as flores ocuparem os espaços vagos, os terrenos baldios, ali não haverá lugar para o lixo. Algo parecido acontece com as pessoas. Se conseguirmos espalhar as sementes que Cristo deixou nos celeiros da Igreja (e estão à nossa disposição), plantando-as no canteiro de nossos corações, nos "terrenos baldios" de tantas pessoas que vagam perdidas por aí, aos poucos encheremos o mundo de belas flores , e Jogo os frutos do amor, da esperança, da fé, do auxílio-mútuo, da solidariedade, passarão a ocupar o lugar onde hoje está sendo depositado o lixo da guerra, da fome, da violência, do terrorismo, da prostituição infantil, das drogas ... Vejamos um buquê dessas "flores" da Palavra de Deus. Aqui, temos doze para partilharmos com vocês: 56

1. "Quem dizem que eu sou?" (Me 8,27) Jesus tinha um modo divertido de ensinar. Certa vez, caminhando com seus discípulos mais chegados pelo território de Cesaréia de Filipe, logo depois de uma breve consulta sobre a opinião do povo a seu respeito, olhou direto para os que o seguiam e disparou: "E vós, quem dizeis que eu sou?" (Mt 16,15). Eis uma pergunta instigante, defmitiva, sem rodeios e inevitável, que um dia teremos (também nós) que responder, não só a Jesus- pois Ele conhece muito bem a resposta -mas a todos aqueles que Ele põe ao nosso lado, nossos irmãos, que, igualmente instigados, têm buscado esta resposta por toda a vida. CM 384


Iniciaremos, refletindo sobre esta inquietante indagação do Senhor, pois ela se renova a cada geração e a sua resposta é a chave do que nos propomos a refletir com vocês. Não é uma resposta fácil, porque deve ser dada não apenas com palavras. Então, resta saber como o Senhor espera que respondamos? Seja como for, será de forma pessoal (e, para nós das ENS, enquanto casal) e vai determinar a síntese de nossa fé e vida e a autenticidade de nosso trabalho missionário.

2. "Descerá sobre vós o Espírito Santo e vos dará força" (At 1,8) Outra vez, Jesus já ressuscitado, durante uma refeição, depois de várias aparições aos discípulos nas quais teve que "provar" que estava vivo após sua paixão - dava-lhes instruções para que não se afastassem de Jerusalém, onde deveriam aguardar a realização da promessa do Pai, que lhes enviaria o Espírito Santo. Então, os que estavam reunidos perguntaram-lhe: "Senhor, é agora que vais restaurar o Reino em Israel?" (At 1,6). Com isso, demonstravam que estavam, naquela altura, absolutamente perdidos, sem condições ainda de dar uma resposta para aquela anterior indagação de Cesaréia. Jesus, então, ao responder, não apenas descarta as suas especulações de um reino político, mas põe-lhes um "abacaxi com casca" nas mãos: "sereis minhas testemunhas em

Jerusalém, em toda a Judéia e na Samaria (território inimigo), e até os confins da terra". Quando os discípulos pensavam que teriam um reino instalado, todinho para eles, para ocuparem o "primeiro escalão", Jesus puxalhes o tapete, e arruma-lhes uma grande encrenca: serem suas testemunhas. Ser cristão não é viver "encastelado" no primeiro escalão, mas é anunciar e testemunhar uma pessoa: Jesus Cristo. Temos, agora, uma primeira solução para a questão anterior: é como testemunhas que devemos responder ao mundo "quem é Jesus". E não há como escapar: "quei-

ramos ou não queiramos nós somos testemunhas de Jesus - testemunhas fiéis ou falsas testemunhas, mas, de qualquer forma testemunharemos", como nos assegura Dom Chevrot 10 •

3. "Pai justo, o mundo não te conheceu" (J o 17 ,25) O conhecimento de Deus é inatingível pela pessoa humana, sua criatura, uma vez que a idéia do Todo Poderoso é inesgotável. No entanto, São João evangelista nos dá uma definição de Deus com apenas uma palavra: "Deus Charitas est". Deus é amor. O amor é Deus. Tal definição nos retira da frente de uma incógnita, mas nos coloca diante de duas incógnitas: Deus e o amor. Quando decifrarmos uma, teremos desvendada a outra. Teo-

I O. "Reunidos em Nome de Cristo", Equipes Novas , ENS , 1985, p.4.

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ricamente são dois mistérios. Por isso, se é tão difícil definir o que é o "amor", em termos teóricos, só temos um meio de transmitir a sua idéia, que é por atitudes de vida, ou seja, pelo testemunho. É impossível conceituar o amor sem imaginar uma pessoa, alguém que ame e que se deixe amar. O amor para nós tem sempre uma fisionomia, é sempre uma pessoa, é alguém que nos permite sentir essa força misteriosa. A melhor forma de desvendar a noção de amor é experimentá-lo na própria vida. É uma inebriante aventura, que nos aproxima da compreensão de Deus, que é Amor. Assim, acabamos por solucionar toda a equação: Cristo, o Filho de Deus vivo, é Amor. E a única forma de anunciarmos isto ao mundo é pelo testemunho. Daí a necessidade de sermos testemunhas do Amor. Ora, se Jesus comprometeu seus discípulos a serem suas testemunhas, Ele está direcionando este mandato também a nós, que somos seus discípulos hoje. Dizemos mais, que Ele confere esta missão principalmente a nós, casais, porque nos capacitou de modo pecu liar para sermos agentes do Amor. "O matrimônio é a celebração do amor que o Espírito Santo faz nascer entre os cônjuges. É o pentecostes do casal. O primeiro presente que um dá ao outro, imediatamente depois de celebrado o matrimônio, é o presente do pró-

prio Deus. O consentimento matrimonial produz a presença de Deus." (Pe. Darío Betancourt) 11 Ninguém melhor para testemunhar do que um semelhante. Mas, até que ponto a nossa vida de casal se assemelha a Cristo, Filho de Deus?

4. "Para que o amor com que me amaste esteja neles" (Jo 17,26) A obra da criação é fruto do amor. Tudo que Deus criou é sinal de seu amor. Deus viu que tudo era bom. Mas, ao criar o homem e a mulher, Deus quis que esta sua obra identificasse, ao máximo, a marca de sua autoria: "Deus criou o homem à sua imagem; criou-o à imagem de Deus, criou o homem e a mulher" (Gn 1,27). Na criação do casal humano, Deus expõe a exuberância do seu amor e complacência, como que moldando o seu auto-retrato. Isto levou o Cardeal Jean-Margéot a afirmar: "É maravilhoso descobrir como, ao longo da história da salvação, Deus se revela a si mesmo como fonte do amor humano. Criou o homem e a mulher à sua imagem. Não é, porém, o homem e a mulher separadamente que são a sua imagem, mas sim, enquanto casal. É a fusão íntima e pessoal de um homem com uma mulher, que, neste mundo, reflete mais de perto a vida íntima de Deus" 12• Aí temos bem

I I. "A Cura pelos Sacramentos", p. I 05, Edições Loyola. 12. "Formação Matrimonial" , p. 31 , 1991 , Fundação Edições Familiaris Consortio, Porto Alegre-RS

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a idéia da dignidade com que Deus dotou o amor humano. Por isso, o matrimônio é o sacramento mais "humano" de todos. Sendo o Criador de todas as coisas, Fonte do amor supremo e Senhor do universo, Deus chamou o homem e a mulher para, juntos, como casal, serem também senhores, na terra, sobre todas as coisas e animais, e, ainda, fonte de ternura, compaixão e afeto, como testemunhas do Seu Amor, culminando por tomá-los co-criadores, não apenas por meio das ciências e das artes, mas, acima de tudo, pelo espetacular encontro de dois seres, unidos em uma só carne, no processo de doação-geração de outro ser humano, como fruto do amor. O casal é fonte: fonte geradora, fonte educadora, fonte missionária, fonte de outras vocações. "Nenhum cristão pode pensar no matrimônio como uma coisa 'sua', em que os outros não entram. Lamenta-se que faltam vocações para o sacerdócio; deveremos lamentar-nos porque faltam vocações ao matrimônio. " (Battista Borsato) 13 A dinâmica do amor implica uma pluralidade de pessoas, ao menos duas. O próprio Deus se apresenta não como uma solitária onipotência. Em sua unidade, é uma comunidade em três Pessoas. Três Pessoas que se amam intensamente. As Divinas Pessoas vivem a mais

plena doação recíproca - uma com a outra, uma pela outra e uma na outra. Se nosso modelo é a Trindade, a nós, enquanto casal, é pedido viver um com o outro, um pelo outro e um no outro. Assim como Jesus nos pede para sermos santos - "Sede perfeitos, como o vosso Pai do céu é perfeito" (Mt 5,48) -, ele dá a fórmula: "Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo" (Jo 15,12). Amar com toda a inteligência, com todas as forças, de todo o coração e sem limites, é a medida da perfeição, a medida do santo. O homem e a mulher se medem pela sua capacidade de amar. O valor supremo da liberdade é poder amar como Deus ama. Diz o Cardeal Van Thuan: "Onde o amor é recíproco, lá se vê Cristo" 14 • E, assim, afirma o Instrumentum Laboris 15 : "Se a Eucaristia é a maior presença do Senhor Ressuscitado, o amor recíproco vivido com radicalismo evangélico é a presença mais transparente, a que mais interpela e leva a crer" (n. 45). A proposta do Movimento das Equipes de Nossa Senhora é justamente trilharmos o caminho da santificação - "tender à santidade", como casal, nem mais nem menos. Logo, se para atingirmos a santidade precisamos ser um casal que testemunha o Amor, as Equipes se propõem ser a escola (e o

13. "Vida de Casal", p. 138, 1998, Paulinas. 14. "Testemunhos da Esperança", p. 147, Cidade Nova, 2002. 15. Da Segunda Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos da Europa.

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laboratório) do mandamento novo. Uma escola de amor. " O que é ca racterístico de uma Equipe de Nossa Senhora, em relação a outros grupos e, da mesma maneira, em relação ao amor dos esposos ou ao amor dos pais e dos filhos, é que a prática do 'mandamento novo' é a sua razão de ser. Ela foi fundada para isso. Tudo - organização, métodos, obrigações, atividades -foi ordenado para este fim". (Pe. Caffarel) 16

adquirem vigorosa energia nos misteriosos passos percorridos por Jesus na Semana Santa de sua paixão, morte e gloriosa ressurreição. As pessoas precisam de ritos para celebrar a vida, para realçar momentos e fatos especiais, para festejar o encontro e a comum-união, para dar vida aos tesouros da memória. Em cada comunhão Eucarística, os casais têm a oportunidade de revitalizar a celebração do seu amor conjugal, no rito da consagração, em que o sacerdote repete as palavras de Cristo: "Fazei isso em 5. "A minha carne para a vida memória de mim". Ele não se lido mundo" (Jo 6,5 1) mita a fazer presente o sacrifício Neste empenho de testemunhar de Cristo, mas através dele, Cristo o amor, os casais (e suas famílias) chama os que se dizem seus discívi vem tempos gozosos e lumino- pulos para que façam o que este sos - de intensa alegria, prazer e rito significa, até a entrega total de realizações; assim corno passam sua vida. E São Paulo diz que este por períodos dolorosos - tristes e é o "culto autêntico", o núcleo prorealmente dramáticos ; e experi- fundo da espiritualidade cristã. mentam, também, momentos gloCorno já disseram, com outras riosos - marcados por inúmeras palavras, Mercedes e Álvaro vitórias. Goméz-Ferrer 17 , cada um de nós É o mistério da vida fazendo eco pode associar-se ao sacrifício de aos mistérios meditados no Santo Cristo, naquele momento da MisRosário. sa, dizendo em nosso interior, enNesta perspectiva, sentimos quanto o celebrante apresenta as necessidade de fortalecer o teste- espécies consagradas: "Meu Semunho e alimentar o amor na pró- nhor e meu Deus, nós vos oferepria fonte, que é o Cristo, tomando cemos o corpo e o sangue do seu Corpo e Sangue na Eucaristia, vosso Filho, nosso Senhor Jesus que, instituída na Quinta-Feira San- Cristo, como oferta de nós mesta, adquire seu sentido maior na mos. Tornai-nos , bendizei-nos, festa vitoriosa do Domingo de Pás- parti-nos e entregai-nos, para coa. Os componentes de nossa fé, que possamos vos servir, nutrique se renovam a cada Páscoa, dos pela vossa graça". 16. "A Missão do Casa l Cristão" , Pe. Henri Caffarel, p. 75, Edições Loyola, 1990. 17. "A Espiritual idade da Família", Cadernos das E S, edição 1996.

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Podemos refletir, em casal, em fanu1ia, e em equipe o que significa sermos tomados, abençoados, partidos e entregues, e, assim, iremos descobrindo e aprendendo, aos poucos, a viver cada passo desse "culto autêntico" , que celebra e renova o amor. Aqui o fazemos diante do espelho da Semana Santa, na perspectiva dos momentos marcantes que instituíram o Banquete Eucarístico e o coroaram de pleno sentido.

6. "Tomados" Passa-nos a idéia de escolhidos, eleitos desde toda a eternidade, por sermos amados. Como se aplica este gesto na vida do casal e da fanu1ia? Através de um olhar, de um sorriso, por carícias e beijos ... É o que faz com que cada pessoa seja tratada de maneira única, conforme as necessidades que lhe são peculiares. É o que nos faz festejar os aniversários e bodas, passear juntos; CM 384

deixar de lado as coisas para dedicar tempo a quem chega; interromper o trabalho para escutar; utilizar tempo em quantidade e qualidade para "estar com" o cônjuge, os filhos, para organizar um momento de oração em farm1ia ... Facilmente, associamos estas situações aos períodos gozosos da vida do casal. Ao nos sentirmos tomados, percebemos que todo casamento vive o gozo alegre do Domingo de Ramos. Os noivos entram e saem da Capela ao som de belos hinos ('hosanas'), sob uma chuva de bons presságios, grãos de arroz, ramos e pétalas de flores. São tomados e carregados nos braços dos amigos. O noivo toma a noiva que o pai conduz ao altar. Ambos elegem projetos e prioridades da vida a dois. O legítimo ato de "fazer amor", onde o homem e a mulher tomam-se mutuamente e acolhem-se sobre o altar do leito conjugal, na excelência do rito matrimonial; a geração 61


dos filhos e sua criação; a seleção e o convívio dos amigos; as adaptações e renúncias, tudo isso acompanha o gozo da vida conjugal.

7. "Benditos" Pode significar ser animados pelas Palavras do Senhor, que nos dizem o bem, que nos abençoam. Também nós devemos estar sempre prontos para dizer o bem com palavras e gestos. Dizer o bem é confiar. Confiar é uma longa vitória do amor sobre muitos fracassos e erros. Confiar é dar sempre outra oportunidade, como Deus faz conosco. Talvez, nada nos faça mudar tanto como voltarem a acreditar em nós sem que o mereçamos. Dizer o bem é realçar os momentos luminosos da vida do casal. Ligadas a estas idéias estão as luminosas lições que tiramos da Quinta-Feira Santa. A preparação das ceias e refeições do dia-adia; a oração e a bênção dos alimentos na mesa do lar. A luta abençoada e confiante para adquirir o pão de cada dia, como fruto do trabalho diário e da Providência divina. A arrumação diária da casa; os trabalhos domésticos e profissionais; o partilhar da vida com vizinhos e colegas ; a celebração do encontro, nas comunidades, com trocas de experiências fraternas; os serviços prestados às pessoas da casa e às de fora dela, no abençoado lava-pés cotidiano das relações interpessoais. Dizer o bem é sussurrar palavras doces e e timulantes ao ouvido da pessoa amada, rezando-lhe o "credo" da relação 62

esponsal: "eu creio que tu me amas e que eu também te amo, para sempre e cada vez mais". O Batismo e a Primeira Eucaristia dos filhos ; a vida na equipe e no Movimento; os engajamentos na Igreja e nas pastorais ... tudo isso é o bendizer das realizações luminosas na vida dos esposos e pais.

8. "Partidos" Certamente, indica que a vida nos quebra, cedo ou tarde nos parte o orgulho. Somos feridos pelas grandes e pequenas contrariedades, pelo desamor, pelo sofrimento: a enfermidade, as separações, a morte, a solidão, os vícios, a incompreensão, a depressão, o medo. São várias as circunstâncias nas quais nos sentimos divididos. A dificuldade de ser pai e de ser mãe, em uma sociedade onde reina o medo de dar a vida; as renúncias, que acompanham a arte de bem envelhecer. Os desafios da sexualidade e da convivência com as diferenças, que nos distinguem e fazem parte do mistério de cada um, levando-nos a percorrer o "êxodo" dessas distâncias, até nos convertermos verdadeiramente ao mistério do outro, que é a "terra prometida". Por mais que nos queiram e por mais que queiramos bem, em algum momento da vida, ficamos feridos de amor e ferimos também aos outros. E ainda que tentemos ocultar, lá dentro fica a ferida, que precisa ser curada. Quantos casamentos feridos e agonizantes encontramos bem perto de nós! Isto implica em viver a verdade, como CM 384


um primeiro passo para chegar à capazes de alimentar e fecundar. cura. Se nos revelamos mutuamen- Todo o sofrimento tem um sentido te e tiramos as máscaras, permiti- muito maior do que podemos imamos o conhecimento mais profun- ginar: importa que o ofereçamos. do sobre nós e nos abrimos para os A vida nos é dada para ser doada: exercícios do perdão e da compai- morrer para fazer viver. Assim, nos xão, que são bálsamo altamente associamos à obra da Redenção. curativo. A presença de Jesus Cris- Somos entregues para viver em to, em cada um dos esposos, faz grande escala a doação e a genefluir a cura para o outro. É uma rosidade, até o ponto de dar-nos a nós mesmos. Não fomos chamacura diária, permanente. Como vemos, também os casais dos à perfeição da moral, mas à passam pelas dores da Sexta-Fei- perfeição do amor. A entrega é o ra Santa. Na união do homem e prelúdio do envio para a missão. da mulher há muitas vezes sofri- É o desprendimento glorioso, que mentos, que devem ser enfrenta- leva o casal a dar de si, apesar de dos com dignidade, respeito e sen- todas as dificuldades, para viver, tido de oferecimento penitenciai. A como vitória, sua vocação. Os cônjuges vivem a entrega necessidade de um amor misericormútua e o desprendimento de vida dioso, que exercite o perdão, ultracom olhos postos no Domingo de passando as barreiras do orgulho, Páscoa, no qual celebramos a vipara tratar feridas de infidelidades, tória da Ressurreição. A explosão ofensas e mal-entendidos. Os temde vida na ressurreição do Senhor, pos dolorosos e de crises não são de intensa luz e calor, deixa claro o fim, mas o começo de vida nova. que há inúmeros sinais de vida viSomos divididos em muitos pedatoriosa na vivência do amor conjuços, mas ao mesmo tempo somos unidos pelo laço do amor conjugal, gal. Nosso coração, tal como o formando um lindo mosaico da re- Santo Sepulcro, que abrigou o que parecia ser restos mortaís de uma lação familiar. relação sucumbida, é o lugar onde acontece a ressurreição e a vida, 9. "Entregues" Quer dar a idéia de que, se nos de onde sai um amor novo e fepartiram, ou fizemo-nos em peda- cundo, transformador pelo dom do ços, não foi para ficarmos atirados, Espírito. Descobrimos inusitadas inutilmente, como um pano rasga- razões para sonhar de novo. Inteido que se deteriora e não serve ramente entregues, um ao outro, para mais nada, mas sim para nos marido e mulher tornam sempre doarmos aos outros, para fazê-los deslumbrante a apaixonada doação viver com a nossa entrega. Parti- de si mesmos, cúmplices no excimo-nos para poder aproximar-nos tante ritual de receber a eterna de mais pessoas. Quanto mais re- novidade do outro, surpreendendopartidos, mais seremos úteis, mais se nos mínimos detalhes, capazes CM 384

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de ser o Fogo Novo do Círio Pascal, luz do Cristo Ressuscitado. Atenção: nunca nos acostumemos com nosso casamento! Vivamo-lo de modo sempre novo. Surpreendamos nosso cônjuge a cada manhã! Não aconteça que a rotina nos acomode e deixemos de perceber e de nos maravilharmos com o sabor do novo que há em cada gesto, em todo o olhar, em cada palavra, que diz que o casamento é um lugar de amor, um projeto de felicidade e um caminho de santidade. Então, uma vez conhecidas as razões pelas quais somos chamados a ser testemunhas do Amor, e tendo refletido sobre a oportunidade e necessidade de alimentarmos este testemunho através da Eucaristia, revitalizando, assim, a própria celebração do amor, passemos à última parte desta reflexão, tomando as três flores destinadas ao canteiro da missão.

10. "Desceu com eles a Nazaré e era-lhes submisso" (Lc 2,51) Nos versículos 51 e 52 do segundo capítulo de Lucas, temos, nas entrelinhas, o grande Evangelho da Sagrada Farru1ia para os casais, pais e filhos de todos os tempos. Dos trinta e três anos da vida de Jesus até a morte na cruz, trinta, foram passados no recolhimento do lar nazareno. Apenas os três últimos anos da vida de Cristo foram resumidos nos quatro Evangelhos conhecidos, apresentando seu ministério público. Veja-se que, pelo fato de este Evangelho estar oculto, não quer 64

dizer que ele não seja real, ou que não tenha relevância. Ao contrário, ele verdadeiramente existe, apesar de não estar explícito, e contém uma mensagem de rico conteúdo para a orientação da farru1ia cristã. Por isso, ele está escrito no Coração Imaculado de Maria: "Ela guardava todas es-

sas coisas em seu coração". Por acaso, pode existir algum serviço, trabalho e missão mais importantes, mais fundamentais, do que redimir o pecado do mundo e obter para a humanidade a salvação? Evidente que não. No entanto, o Enviado de Deus, para cumprir esta missão, quedou-se em um impassível compasso de espera durante a maior parte de sua passagem neste mundo. Dedicou nada menos do que 90% de seu tempo ao convívio estritamente familiar. E nada é por acaso. Há aí uma lição que precisamos aprender. O Evangelho a ser vivido pelo casal e pela farru1ia também deve ser marcado pelo recolhimento e interioridade, pela discrição. O casal cumpre sua missão primordial e insubstituível na vivência do amor partilhado, na geração, criação e educação dos filhos na fé. Nenhuma outra tarefa se iguala em importância.

"Tendes um carisma próprio. Aliás, para serdes as testemunhas que o mundo espera, não se faz necessário afastar-vos de vossas tarefas familiares e profissionais; não se trata de partir para uma longínqua cruzada. Explico-me: é do vosso amor conjugal, é do vosso lar que o mundo ateu, sem CM 384


o suspeitar, espera um testemunho essencial. " (Pe. Caffarel) 18 Aí é o palco, é o cenário, é o lugar onde, por primeiro, Deus quer que o casal dê o seu "SIM" concreto. "Nenhum sucesso profissional compensa o fracasso na família ". (Pára-choque de caminhão) A caridade é ordenada e os únicos postos nos quais somos verdadeiramente insubstituíveis são o de mãe e de pai e de esposos. Esta é a prioridade que nós temos, não por gosto, mas como resposta ao chamado que Deus nos fez. A primeira missão do casal é a de ser cônjuges e pais. É por aí que começamos o anúncio e o testemunho de Cristo, Filho de Deus vivo! Também Ele começou a construir o seu Reino, a proclamar seu Evangelho e a desempenhar sua missão salvadora a partir do núcleo familiar. Para testemunhá-lo, não podemos esquecer este princípio.

11. "Enchei as talhas de água" (Jo 2,7) Maria está presente, ao lado de Jesus, em todas as realidades da vida humana. Assim, esteve presente em Caná, em uma festa de casamento, e suscitou um dos momentos mais luminosos (o primeiro milagre) no ministério público de Jesus. Como agióamos nós, ante a falta de algo fundamental para a festa da vida? E quando surgem as carências em nosso próprio casamento e no de nossos familiares e

amigos? Lembramos de Cristo? Na eventualidade de nos socorrermos em Jesus, como recorremos a Ele? É difícil imaginar todas as hipóteses, mas certamente sugerióamos algumas alternativas que nos parecessem mais viáveis à solução do impasse. Como procedeu Maria? Nossa Senhora, atenta e solícita em ajudar os outros, logo percebeu o problema que estava ocorrendo nas bodas. Então, imediatamente dirigiu-se a Jesus para obter a solução. Não perdeu tempo com "soluções alternativas". E, apesar de ser a Mãe de Jesus, ela se absteve de indicar o que Ele podia fazer. Apenas apresentou-lhe a necessidade - "Eles já não têm vinho" (Jo 2,3) - e deixou o resto por conta do Filho, na confiança de que a solução que Ele desse ao problema, seja em que sentido fosse, seria a melhor, a mais conveniente. Recomendou, apenas, aos serventes: "Fazei tudo o que ele vos disser". É assim que nós costumamos proceder? "Caná da Galiléia é um exemplo de cura permanente. Deus cura. Sua presença é curadora. Um casal que vive diariamente a presença de Jesus Cristo tem a força divina para amar-se, respeitar-se, compreender-se, entregar-se e perdoar-se." (Pe. Betancourt) 19 Peçamos a ajuda de Nossa Senhora, quando percebermos que o "vinho" de nosso casamento está terminando. Confiemos que Nossa

18 . Pe. Henri Caffa rel, ob. cit., p. 11 3. 19 . Pe. Darío Betancourt , ob. cit. , p. I 06.

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Senhora, melhor do que ninguém, saberá levar o problema ao seu Filho Jesus e restituir-nos a alegria da festa das bodas. Ele jamais lhe recusa um pedido. A nós, como ministros do nosso próprio matrimônio, cabe-nos encher as talhas de água, atualizando a cada dia o consentimento, fonte do sacramento, para que o Senhor transforme esta água e lhe dê o sabor do melhor vinho.

12. ''Enviou-os dois a dois'' (Me 6, 7) A exemplo de Maria, que teceu o corpo do Filho de Deus e veio a ser seu primeiro sacrário, tendo experimentado durante nove meses, fisicamente, Jesus em seu ventre, toda a Igreja é chamada a ser ventre, que conserva no seu interior e oferece o corpo e o sangue de Cristo ao mundo, como nos convida a fazer a Carta Encíclica "Ecclesia de Eucharistia" 20 . O primeiro anúncio da Salvação foi dado por Deus a um casal, Maria e José. É importante observar e entender por que não se encarregou a_própria Virgem Maria de transmitir ao noivo José o acontecimento da anunciação. Ela também sofreu a demora de Deus, à espera de que José tomasse conhecimento do segredo da concepção virginal de forma pessoal, diretamente da parte do Senhor. Assim, o casal estava sendo enviado como portador da mensagem divina e do próprio Redentor. Temos, aí, reservada uma importante missão, na vida da Igreja,

para os casais cristãos: viver de tal modo a sua coerência com a fé que mostrem ao mundo que estão "prenhes" de Cristo. Na tarefa de evangelização dos batizados, que se distanciaram dos sacramentos e da Igreja, e de casais jovens não engajados, podemos convir que o único Evangelho que é lido por esses irmãos chamados "distantes" é a vida dos cristãos. E nós, casais equipistas, com o apoio da comunidade da equipe, temos condições de ir ainda mais adiante, na vivência do amor recíproco, e tomarmo-nos "Eucaristia", da qual possam se nutrir os não-cristãos e os cristãos em situações difíceis. Há outra reserva de mercado para o nosso ministério conjugal, que é dentro da comunidade da equipe e, com a ajuda dela, no âmbito social, na relação com a escola, o traba-

20. Carta Encíclica "Ecclesia de Eucharistia ", Papa João Paulo li, 17.04.2003.

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lho, a política, as funções públicas, na posição de fronteira entre a Igreja e o mundo. Quando nos deparamos com injustiças, discriminações, a pobreza e suas chagas (prostituição, tráfico de drogas, violência e criminal idade, desemprego), sabendo (por dados aterradores do Banco Mundial) que, a cada ano, treze milhões de irmãos nossos estão condenados a morrer de fome (dentre os quais grande parte são crianças), diante destas feridas sociais, que põem Jesus outra vez na cruz a clamar "Tenho sede!" (Jo 17 ,32), nos damos conta de que precisamos desempenhar nosso papel peculiar, que sublinha o amor como comunhão, como partilha e auxílio-mútuo, como acolhimento, como "estar com". O nosso ministério, nesta sociedade sofredora, é levar à prática do diálogo, cujo exercício é próprio de nossa condição e essencial à nossa sobrevivência, para criar pontes que sirvam de caminho e sustentação à solidariedade. Dialogar é criar condições para que o outro possa ser dentro de mim. É saudar a revelação do outro em meu interior e acolher as suas diferenças e necessidades. É diminuir as distâncias e derrubar os muros de separação entre as pessoas e as classes sociais. Talvez esta seja a maior sede da pessoa humana do Século XXI. Por isso, o diálogo apresenta-se como a mais potente arma para garantir a paz verdadeira no mundo. A Igreja e as comunidades cri tãs atuais aprenderam que vivemos novas CM 384

"cruzadas" de aproximação dos povos, onde muros como o de Berlim vão sendo derrubados, em efeito dominó, até que não haja mais barreiras entre povos, entre raças, entre religiões, entre jovens e velhos, entre operários e patrões, entre pecadores e justos. Sem anular as diferenças, ensiná-las a entrelaçarem as mãos, como nós (casais) fazemos, porque temos entre as nossas a mão firme e aberta do Cristo.

Conclusão "Não tenhais medo!" (Mt 14,27) Acreditamos na ressurreição de Jesus Cristo, depois de morto na Cruz? Claro que sim. Pois esta fé, que nos é transmitida pela Igreja, atravessou os séculos e chegou até nós, pela palavra e testemunho de apenas doze homens e algumas mulheres, de pobre cultura, parcos recursos, inseguros, sem nenhum destaque social e perseguidos. Donde lhes veio esta força de propor aos séculos e aos povos dos quatro cantos da terra uma verdade tão difícil de ser aceita? Por certo, não foi uma força puramente humana, mas o poder do Espírito, que neles habitava, e a graça do Ressuscitado, que faziam deles um sinal indestrutível. Acreditamos que Jesus, um dia, no cume de uma montanha, se transfigurou, diante de Moisés e Elias e escutou palavras complacentes do Pai? Claro que sim. Pois este fato - acontecido quase na clandestinidade - foi passado aos séculos pelo testemunho de apenas três discípulos (Tiago, Pedro e 67


João). Pela palavra destes três homens incultos, a Igreja universal crê e ensina esta verdade. E, assim, toda a humanidade cristã. O que eles tinham de especial? Os mesmos trunfos, idênticos poderes: a força do Espírito e a luz da graça, fazendo deles um sinal daquilo que viram, ouviram e viveram. Um sinal que a tudo resistiu. Acreditamos que o Verbo de Deus foi encarnado no ventre de Maria, nasceu, por obra do Altíssimo, e veio à luz em uma humilde gruta, que servia de estrebaria aos animais? Acreditamos que Maria, grávida do Filho de Deus, visitou sua parenta Isabel, que tinha no ventre um filho gerado em avançada idade e, ao recebê-la, sentiu o menino estremecer de alegria e ambas exclamaram hinos de louvor a Deus? Claro que todos acreditamos (e até somos capazes de repetir esses hinos, como o Magnificat). Pois todos estes fatos, acontecidos na mais absoluta discrição, atravessaram os tempos e passaram de geração em geração a partir do testemunho de um casal Maria e José - que proclamaram estas verdades, revestidos da mesma força do Alto, como sinal do Amor de Deus ao mundo. E agora, há algo que o mundo possa esperar dos casais cristãos? O que a Igreja espera dos casais das Equipes de Nossa Senhora? Que utilizem a mesma força e graça do Sacramento do Matrimônio - o Sacramento do Amanhã - e se tomem casais e equipes de depois de Pentecostes , capazes de ser 68

sinais de amor transformador pela obra do Espírito. "Solamente una cosa converte en imposible un suefío: el medo dei fracas o". - Só uma coisa torna um sonho impossível: o medo do fracasso. (Pára-choque de caminhão uruguaio) Não tenhamos medo! O Espírito de Deus, que nos é infundido pelas graças do matrimônio, c<mtinua possuindo a mesma força. A mão de Deus não encolheu! Homens e mulheres que vivem mistérios gozosos, luminosos e dolorosos, precisam também encarnar, na festa das bodas, a gloriosa ressurreição de Cristo. É urgente que plantemos flores em abundância, pelas ruas, nos lares, nas escolas, nos meios de comunicação, onde não queremos que depositem "lixo". E esta é uma tarefa própria para nós, casais. Afinal, somos animados a namorar pela vida toda; e ninguém entende mais de flores do que os namorados. Casais das Equipes de Nossa Senhora, vivamos a vida sem vergonha de ser felizes! Sejamos a vidraça da Esperança para a humanidade do Século XXI, como testemunhas fiéi s do Cristo, Filho de Deus vivo, que é Amor. Por isso, convidamos: Ide, com alegria, de dois em dois, e surpreendei o mundo com a ressurreição de Cristo!

Maria da Graça e Eduardo Barbosa Eq. N. Sra. do Bom Conselho Porto Alegre, RS CM 384


MENSAGEM DE ENVlO Queridos irmãos das Equipes de Nossa Senhora, Possa o Senhor dar-nos a sabedoria necessária para cumprir a tarefa desta mensagem no encerramento deste nosso I Encontro Nacional. Temos de iniciar pelos agradecimentos. O primeiro deles cabe a vocês casais, viúvas e viúvos, sacerdotes e conselheiros e conselheiras, que acolheram o convite e vieram dos mais distantes rincões deste Brasil, não para participar do Encontro, mas para se tomar os protagonistas desta página da nossa história. Vocês foram a razão de ser deste I Encontro Nacional das ENS. Agradecemos o Casal Responsável pela ERI, Marie Christine e Gerard, que, conjuntamente com Pe. Fleischmann e nosso Casal Ligação Internacional, Maria Regina e Carlos Eduardo, muito mais que uma presença sumamente honrosa, foram o selo da nossa unidade internacional e permitiram-nos experimentar nossa pertença a um Movimento muito maior, congregando casais em mais de 60 países do mundo, todos a lutar pelo mesmo ideal de viver a verdade do sacramento do matrimônio. Levem para os nossos irmãos equipistas dos 5 continentes a nossa mensagem de entusiasmo e amizade. Nosso muito obrigado ao casal Sylvia e Andrés, que tem o grave encargo de responder por toda a CM 384

América Espanhola. Levem para os países latinos que vocês coordenam a certeza de que não somos apenas vizinhos, mas somos, sobretudo, irmãos. Que de mãos e corações unidos possamos ajudar-nos e confortar-nos mutuamente. Aos equipistas de Brasília, brava gente brasileira, cujo exemplo de doação e disponibilidade ao serviço deixou sua marca registrada neste evento, nosso profundo "Deus lhes pague". Na pessoa de Mariola e Elizeu, Coordenadores locais, saudamos calorosamente todas as Equipes de Trabalho com suas centenas de colaboradores, que não mediram esforços para o pleno êxito do nosso Encontro. Vocês transformaram em vida o que em nossas mãos não passava de uma idéia. Uma palavra que não poderá ser escutada deixamos para Wilma e Orlando, casal Coordenador Geral deste I Encontro. Orlando teve de 69


se submeter à cirurgia há poucos dias e ficou impossibilitado de aqui comparecer. Sua palavra de ordem, porém, continua a soar em nossos ouvidos: "Vamos em frente". É o que ele dizia com otimismo e não havia problema, tempo quente ou obstáculo que pudesse afrontar sua determinação. Ao dizer este obrigado, juntamos nele o casal Vera e José Renato, que fez um primoroso trabalho na administração das inscrições e de toda a coordenação financeira necessária. Uma palavra de gratidão aos nossos queridos filhos da equipe da Super-Região Brasil. É assim que costumeiramente os chamamos: nossos ftlhos. E a dona Nancy, nossa mãe. E ao nosso pai espiritual, amigo e conselheiro, Pe. Flávio. Foi na intimidade fraterna desta Equipe, no ninho caloroso de corações entrelaçados, que este Encontro foi maturado. Foram como a terra fértil que acolhe e fecunda a semente. Somos imensamente agradecidos a Deus por tê-los ao nosso lado. Finalmente, pedimos a licença de vocês para um privilégio muito particular, mas fundamental, pois na trajetória específica desses dois últimos anos foi para nós sustento, incentivo e oração: nossa querida equipe de base, Nossa Senhora de Fátima, aqui presente com quase todos os seus membros. Ultrapassado o momento destes breves, mas indispensáveis agradecimentos, eis agora nossa mensagem já no encerramento deste Encontro. Nossa liturgia já se encarregou 70

de nos abrir os horizontes: há um barco que nos espera para nos lançarmos em águas mais profundas. Na verdade o encontro não acaba. Não foi previsto que ele acabasse, não foi pedido nada disso à .Comissão Organizadora. A partir de agora, justamente, é que o Encontro continua. Realmente continua. Vão e sejam minha presença: é o desejo do Senhor para nós. Por isso o palco deste Encontro simplesmente muda de lugar: Terá de chegar a cada Equipe, a cada Setor, a cada Região, a cada Província, para continuar nos mares da vida, Já onde Deus espera pelo nosso testemunho. Lá onde casais esperam de nós sinais de esperança, palavras de conforto, gestos de solidariedade. Lá onde as cobranças são maiores, onde os desafios nos consomem, onde há escuro a ser iluminado. Se olharmos nossos documentos fundadores, vamos coincidentemente perceber que a palavra equipe é derivada do vocábulo francês "esquife", que corresponde à idéia de um pequeno barco, pequeno e frágil, como pequeno e frágil é o amor humano dos casais que o constituem. Pequeno e frágil como é pequena e frágil a nossa capacidade de vencer as águas revoltas ou as ondas violentas que sacodem a instituição do matrimônio. Pequenos e frágeis! Como então avançar para águas mais profundas, como ousar perder a segurança da beira da praia, como arriscar-se em rotas desconhecidas, como confiar que vale a pena jogar novamente as redes após uma CM 384


cASAL CRISTAO: sACRAMENTO

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noite inteira de lançamentos que voltaram sempre vazios? Toda a reflexão, a dinâmica e os trabalhos deste Encontro buscaram motivar-nos para o papel missionário e evangelizador do casal cristão. O Senhor convida-nos a ir avante, chama-nos pelo nome, escolhe-nos e envia-nos como seus representantes. O Papa João Paulo li, no ensejo do 50° aniversário dos nossos Estatutos, dizia "Os casais cristãos têm também um dever missionário e um dever de ajuda em relação aos outros casais, aos quais desejam transmitir sua experiência e manifestar que Cristo é a fonte de toda a vida conjugal". E onde está o segredo do impulso que nos lançará adiante? Quem nos indica a chave é uma jovenzinha, que sem sair do claustro tornou-se doutora da Igreja e padroeira das missões: Santa Teresinha do Menino Jesus. Ela nos deixou uma pista ao dizer: "Compreendi que a Igreja tinha um coração, e que este coração arCM 384

dia de amor. Compreendi que só o amor fazia os membros da Igreja agirem e que se o amor viesse a se apagar, os apóstolos não anunciariam mais o Evangelho, os Mártires não mais derramariam seu sangue. Compreendi que o amor encerrava todas as vocações, que o amor era tudo, que ele abraçava todos os tempos e todos os lugares". Mas voltando à figura da barca, das redes, de homens pescando, quem· sabe possamos começar a compreender por que Jesus, sem maiores delongas perante a figura do seu pescador profissional, homem afeito à arte de lançar as redes ao navegar pelo mar da Galiléia, insistiu por três vezes em lhe perguntar: "Pedro, tu me amas?" A insistência, talvez, era porque Jesus queria que Pedro fizesse a passagem do amor humano para o amorcaridade, para o amor que não sai do coração do homem, mas brota do coração de Deus, do amor que vence os medos, do amor que cura e que liberta, do amor que faz gerar a vida. 71


O destinatário da pergunta agora é outro: Casal cristão, você me ama? Então vá, seja a minha presença. Mas não seremos capazes de ir a lugar algum, se não compreendermos que o segredo está no coração, mas só no coração que arde de amor. Que este I Encontro Nacional possa ter avivado em todos os corações a chama do amor. Vamos propagar esta chama. Há uma numerosa multidão a esperar o anúncio da novidade sempre antiga do amor conjugal. Há tantos casais à beira do caminho esmolando um pouco de esperança, sequiosos por encontrar um sinal, uma luz, um caminho, que nós lhes poderemos indicar. Vamos apontar aos jovens as imensas possibilidades de serem felizes no casamento. Vamos acompanhá-los com nossas experiências vividas, partilhar com eles as descobertas conquistadas. Um coração que arde de amor descobre a arte de inventar, de encontrar saídas, de descobrir meios. Pe. Caffarel insistia freqüentemente na vitalidade indispensável aos membros do nosso Movimento. Vitalidade é a capacidade de gerar a vida, é a força criativa que só pode sair de um coração ardente de amor, tocado por Deus, habitado por Deus. Não percamos a fé no amor. Mas Jesus prossegue seu desafio: "Casal cristão equipista, você realmente me ama?" Então acredite no amor que rompe barreiras, no amor que supera os medos, no amor que avança para águas profundas. 72

Acredite no amor que tem saudades de Deus, e que por isso encontra Deus nos rostos marcados pela desilusão. Acredite no amor que traz preciosas sementes de vida, que ilumina o presente com a utopia do futuro. Acredite no amor solidário, que se põe ao lado dos casais que sofrem o peso das misérias humanas, que se faz consolo no sofrimento, amigo na adversidade, que se recusa a guardar só para si. Acredite no amor botão de esperança, prenúncio da flor que virá no amanhã que iremos juntos construir. Casal cristão: vá e diga ao mundo que Deus não se enganou ao colocar o seu amor no coração do homem e da mulher, e que cada casal é enviado a ser testemunha do amor de Deus. Volte para sua casa, mas leve o compromisso de ser anunciador do matrimônio como resposta de Deus aos anseios mais íntimos do casal. Seja construtor da civilização do amor. Seja, casal equipista, a cativante ousadia de ser feliz. Então, agradeçamos a Deus por es te Encontro lançar-nos para águas mais profundas. E assim, poderemos partir e dizer:

Vem, Jesus, leva-me pela mão.

Já, na praia o meu barco não encontrarão. Meu Senhor: nos mares do mundo, eu hoje Contigo navego e às Tuas redes me entrego, tornei-me Teu pescador. Silvia e Chico Casal Responsável pela Super-Região Brasil CM 384


UMA LEMBRANÇA 1NESQUEC1VEL O Envio deste Encontro Nacional será para nós uma lembrança inesquecível. Ao recebermos a responsabilidade para convidar 10 Casais em nossa Província, para participar do Envio, ficamos surpresos e preocupados em quem deveríamos convidar. Sabíamos que esta missão nos foi delegada devido a problemas de saúde de nosso casal Provincial Altirnira e Paulo. Em nossa oração conjugal, pedimos as luzes do Espírito Santo para nosso discernimento. Casualmente, fomos informados dos nomes dos novos Casais Regionais em nossa Província e percebemos que tínhamos 10 nomes, os 7 CRR atuais e os 3 novos. Sugerimos a escolha desses casais para participarem

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dessa cerimônia e o casal Provincial aprovou. Todos aceitaram. Em Brasília, na sexta-feira do Encontro, o casal coordenador da Liturgia, Leila e Antonio, convocaram os casais para uma reunião e lá tivemos o conhecimento de uma veste com um sinal característico da nossa Província - a cor azul royal. Mas nada nos foi informado sobre o que iríamos fazer. Apenas que, no Envio, deveríamos seguir um caminho planejado pelos coordenadores e acender as velas de alguns Equipistas presentes na Assembléia. No domingo, na hora do Envio, fomos colocar as vestes e encontramos com os demais casais das Províncias - em torno de 80. Foi um momento forte que vivemos de unidade, fraternidade e co-

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munhão. Ao sermos chamados para a Assembléia, caçla Província foi organizada em um corredor. Nós nos surpreendemos, no corredor central, com um Barco com uma Cruz dentro dele de pé e várias pessoas segurando uma grande rede de pesca. Sentimos que os casais das Províncias estavam surpresos, com o que estava acontecendo e a Assembléia muito emocionada e encantada. A encenação do Envio começou com a entrada lenta do barco com a cruz e chegando a frente do altar; foi acendido o fogo, dentro do barco, simbolizando o Espírito Santo nos iluminando para uma missão. Estávamos emocionados, comovidos e extasiados com os momentos que estávamos vivendo. Recebemos o sinal. As Províncias deveriam entrar no seu caminho planejado, acender as nossas velas na chama do barco e levar a lu z aos casais. Sentimos impulsionados na nossa tarefa e ficamos todos na frente do altar ao lado da Cruz. Neste período do Envio, as leituras da celebração vieram em nossa mente, e com certeza em nosso coração, pois sentimos que estávamos vivenciando e meditando a correlação que estava acontecendo no Envio: "Ai dos pastores que deixam perder-se e dispersar-se o rebanho de minha pastagem" (Jr 23, 1). É a 74

nossa responsabilidade na missão de casal cristão e também como Casal Responsável Regional. "Ao desembarcar, Jesus viu uma numerosa multidão e teve compaixão, porque eram como ovelhas sem pastor" (Me 6, 34). É o final do Encontro. Vamos todos voltar para as nossas regiões, nossas equipes, prontos para agir, com as velas acesas, dentro do barco com a cruz (superação dos obstáculos) e a rede de pesca (serviço). Ficou marcante que Jesus Ressuscitado estava presente, e nos enviava para nossa missão de "Casal Cristão, Sacramento do Amanhã" e para sermos sua presença no mundo. É Ele que nos convoca para jogar a nossa rede, sem medo, pois estará conosco e nossa rede ficará cada vez mais cheia, se dermos para o mundo, testemunho da nossa felicidade como casais cristãos e si nal visível do amor de Deus.

Sheila e Francisco CR Região São Paulo Centro I CM 384


• • • Testemunhos • • •

UM NOVO lMPUlSO Quero me congratular, de todo coração, com os organizadores e os participantes do 1o Encontro Nacional das Equipes de Nossa Senhora do Brasil, muitos dos quais vieram, corajosamente, de regiões muito distantes; todos eles não mediram esforços para que se conseguisse chegar à organização perfeita, à concepção equilibrada, enfim, ao sucesso dessa magnífica manifestação. Foi uma bela celebração do casamento cristão, no entusiasmo e na fidelidade, na alegria e na oração tanto dos equipistas jovens como dos mais maduros. Tocou-me fortemente a presença atenta de Dona Nancy Moncau, à qual peço que transmitam minha respeitosa afeição. Fiquei também sensibilizado, da parte de Dona Nancy e dos outros conferencistas, com a maneira pela qual mostram sua fidelidade ao nosso fundador, o Pe. Henri Caffarel, que era muito ligado ao Brasil. Um novo impulso foi dado à barca das Equipes de Nossa Senhora, comandada pela Cruz do Cristo, Cruz do sofrimento dado

como oferta, Cruz também do amor salvador que conduz à alegria da Ressurreição. Unido a vocês, estou rezando para que o Espírito Santo, Espírito de amor e de verdade, sustente a missão dos casais nos seus lares, nas suas equipes e nas suas comunidades da Igreja do Brasil. O Encontro de Brasília constitui um grande encorajamento para que sejamos, cada vez mais, no mundo atual, testemunhas dos dons que a graça de Deus concede aos esposos pelo sacramento do Matrimônio, testemunhas do amor que Deus dá aos casais e que os toma capazes de viver e de partilhar, em nome do Cristo, Esposo da Igreja, no Espírito Santo. Que a bênção de Deus guarde as Equipes de Nossa Senhora no Brasil!

François Fleisclunann Conselheiro Espiritual da Equipe Responsável Internacional (ERI) (extratos da correspondência enviada ao Casal Responsável pela Super-Região Brasil)

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UM llVRO DE RECElTAS PARAANlMAR Quando fomos convidados para coordenar a equipe de animação do I Encontro Nacional das ENS vimos que o nosso trabalho deveria CM 384

ser ANTES e DURANTE o evento. Com nossos 29 anos de equipe lembramos que às vezes uns casais viajam centenas de quilôme75


tros para participar de um evento, enquanto outros casais vizinhos ao local não se animam a participar. Deveríamos então começar por animar os equipistas de Brasília e nos ocorreu "agarrar o pessoal pelo estômago", lembrando o Casal Piloto de nossa equipe que ensinava que a refeição é tão importante quanto as demais partes da reunião formal , como o demonstra o trecho dos Estatutos que trata do assunto. A tradição de trocar receitas entre as "nossas senhoras equipistas" nos inspirou a recolher as "receitas nota 10" de todas as que quisessem colaborar para fazermos um Livro de Receitas das ENS, comemorativo do I Encontro Nacional, que seria algo que os equipistas de Brasília partilhariam com os irmãos de todo o Brasil. Assim foi que enviamos uma cartinha a todos os casais responsáveis de equipe de Brasília, pedindo que nos fossem enviadas as receitas preferidas. A iniciativa foi bem acolhida e em poucos dias a comunicação circulou e começamos a receber as receitas para "o li vro d o

Encontro". São 226 receitas de salgados, doces e molhos, algumas delas verdadeiros tesouros familiares. Na reunião de junho de nossa Equipe os pratos foram feitos para serem fotografados antes de serem servidos e as fotos mais bonitas entraram para o livro. A capa é uma bela inspiração que representa uma farrulia através de colheres e garfos. Modéstia à parte o livro ficou lindo e suas primeiras páginas apresentam algumas pérolas de agradável sabor espiritual. Como coroamento resolveu-se dar um caráter filantrópico ao livro e assim o valor que se arrecada com ele é destinado ao Programa Providência, uma obra dirigida por equipistas de Brasília, que oferece microcrédito a trabalhadores carentes. Além de ajudar a animar o "antes" e o "durante" o livro conti nuará a animar o pós-encontro, cada vez que for aberto na cozinha de um lar equipista.

Eisa Maria e Renato Eq. 6E - Brast1ia, DF

Para adquirir este livro : 1) Deposite o valor do seu pedido (R$18,00 por livro, incluído o frete) no Banco do Brasil - Agência 3602-1 - Conta 400160-5 - Programa Providência. 2) Coloque o comprovante de depósito (original ou cópia) num envelope, junto com uma cartinha fazendo sua solicitação (com seu nome e endereço) e envie para: PROGRAMA PROVIDÊNCIA - Caixa Postal 2325 - CEP 70349-970 Brasília- DF (fone Oxx61 322-691 O) 76

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CASAL CRISTÃO: SACRAMENTO

DO AMANHA

o

SER CASAL MISSIONÁRIO


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