ENS - Equipes Novas 1977-10

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EQUIPES NOVAS

CARTA No

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EQUIPES DE NOSSA SENHORA SÃO PAULO- 1977


"De três coisas se compraz o meu espírito, as quais têm a aprovação de Deus e dos homens : a concórdia entre os irmãos e o amor do próximo, e um marido e uma mulher que se dão bem entre si". (ECLESIASTICO 25, ll


EDITORIAL

"ENTRAR NO JOGO"

"Tocamos a flauta e não dançasts>.s" <Mt. 11. 17). ll:: esta a lei para qualquer grupo humano: quando alguém se aborrece ou faz trapaça, acaba a festa ou ela não é completa. Procuremos pois "entrar no jogo", o jogo da equipe e do Movimento, o jogo da Igreja em marcha e do mundo de nosso tempo. -oOO-

Entrar no jogo da equipe, é integrar-se nela o mais natural e inteiramente possível. A equipe não é alguma coisa artificial à qual eu terei decidido consagrar uma parte de mim mesmo. das minhas capacidades e do meu tempo. Pode-se admitir que a sua constituição, a sua origem seja artificial, e seu quadro também, de certa maneira, mas não o seu conteúdo. não o seu exercido: é pelo contrário uma unidade orgânica, que deve viver organicamente . ll:: necessário, é natural que cada um leve para a equipe tudo de sf próprio, sem cálculo e sem reticências. Sem cálculo, porque seria fazer trapaça ir para ela como simples consumidor e só para tirar lucro como parasita da equipe, preocupado antes de mais nada com o próprio enriquecimento . Sem reticências, porque seria empobrecer a equipe manter reservados em relação a ela, tantos dominios pessoais ou um dominio tão Importante, que os outros já não tivessem na sua frente um homem como ele é, mas apenas a sua imagem. -1-


A vida de equipe implica o serviço mútuo. Tenho que servir os outros tais como eles são: não estaria fazendo jogo franco se "inventasse" o meu interlocutor. Tal qual é, o meu companheiro de equipe tem direito à minha atenção e, quaisquer que sejam as .suas misérias, à minha estima. Deixamos de entrar no jogo quando, de fora, criticamos ou os indivíduos ou a equipe: isso quer dizer que "recuamos" de tal modo que deixamos verdadeiramente de fazer parte dela. -oOO-

Entrar no jogo do Movimento. Parece que este terá de correr paralelo ao jogo de equipe. Sim e não. :S: claro que uma equipe que vive e se desenvolve contribui por isso mesmo, para o bem estar do Movimento. Mas, assim como um individuo pode viver como parasita da equipe, uma equipe pode viver como parasita do Movimento. Seria este o caso se, absorvida pelos seus problemas locais e as suas preocupações temporais, uma equipe permanecesse cega ou inativa em relação aos grandes objetivos que o Movimento procura atingir. O Movimento não pretende apenas ajudar os seus membros a viver sa.ntamente a sua vida como casal; quer também que eles, pelo seu estilo de vida e sua forma de busca, dêem ao mundo um testemunho e prestem ao mundo um serviço. l!: portanto bem evidente que a fidelidade ao Movimento não consiste exclusivamente, nem mesmo principalmente, em seguir instruções e em aplicar métodos, mas antes, em contribuir para que se atinjam estes fins de âmbito universal. Quem se recusar a encarar tal amplitude de desígnios, não entra no jogo. -oOO-

De resto, o Movimento pretende levar-nos a fazer o jogo da Igreja. Sentimos confusamente que não nos podemos con-

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tentar apenas em ler os decretos do Vaticano II, tal comt> tantos pós-tridentinos estudaram os decretos do Concilio de Trento. Sentimos que aquilo que nos é oferecido não é ·algo já atingido mas sim, embrião. Sentimos· que isto nos diz respeito e que para isto somos solicitados, ao nível da oração. da reflexão e da ação. · Não nos limitamos, portanto, em registrar resultados; participamos de uma pesquisa. Não empregamos a nossa . virtude em submetermo-nos a mudanças Impostas, mas sim em entrar no espírito de renovação que anima toda a Igreja . Mais ainda. a nossa situação familiar capacita-nos a entrada no jogo da Igreja nas melhores condições possíveis: os nossos filhos são a Igreja de amanhã. Neles, convém prepará-la certamente (e sem recorrer demasiadamente aos esquemas preconcebidos) ; neles convém também (e esquecemo-nos multas vezes disso) senti-la com antecedência e corresponder às suas necessidades. -oOo-

A Igreja quer estar Inserida neste mundo e não apenas em face dele . Relativamente ao nosso tempo, não façamos o papel de críticos mal-humorados. Jt muito fác.il realçar os defeitos de uma época, as falhas de uma civiliZação, as insuficiências de uma mentalidade; muito fácil catalogar e examinar os motivos de inquietação, mas nada se fez enquanto não se procurou descobrir e acionar as po.ssibilid!ldes que se escondem por trás destas falhas, as possibilidades que Deus concede a cada geração, mesmo que ela seja mil vezes mais negligente ou mais extraviada do que a nossa!... Ou então já não se acredita mais em Deus. Em contrapartida não devemos canonizar o Instante que passa. Este presente que vivemos não deve ser idolatrado como foram por vezes Idolatrados os séculos passados. Temos de reencontrar a humildade dos pesquisadores. Reencontrar

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o sentido da · complexidade da realidade humana, não para ficarmo.s desorientados, mas para respeitá-la e admirá-la. Reencontrar em cada homem este sentido fraterno de que Jesus Cristo nos deu testemunho. Entrar no jogo do tempo presente é viver a vida nas suas perspectivas de futuro . sem querer negar os problemas a pretexto que nos incomodam, sem pretender resolvê-los antes de estarem maduros.

-oOoSe procurarmos determinar o motivo que mais freqüs:!ntemente, no.s Impede de entrar no jogo, encontraremos certamente na primeira linha a pusilanimidade e a falta de atenção. Temos medo de enfrentar o outro, de ser levados longe demais, de abandonar a nossa segurança, de nos arriscarmo-s na grande aventura da salvação da humanidade . :E: preciso exorcisar esse temor. Estamos desatentos aos apelos do próximo, às grandes orientações do Movimento, da Igreja e do mundo, às intervenções de Deus na nossa vida pessoal ou comunitária. :E: preciso restaurar e manter esta vigilância indispensável. . . . E não conviria talvez. antes de mais nada, entrar com mais lealdade e mais a fundo no jogo da "comunicação" conjugal? ROGER TANDONNET s.j.

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REUNIÃO DE EQUIPE,

ASSEMBL~IA

CRISTÃ

"Outra vez vos digo em verdade que, se dois de vós sobre a !erra concordarem em pedir alguma coisa, ser·lbes-á concedida por meu Pai que está nos céus . Porque, Mde estão dois reunidos em meu nome, aí estou Eu no meio deles". (MI. 18, 19-29) .

Chegam-nos Inúmeros testemunhos de equipes onde algo mudou desde que tomaram consciência da presença de Cristo no melo de nós . Mas é preciso preencher determinadas condições; é evidente que, além da abertura a esta verdade, é preciso também se submeter às condições que transformam uma reunião de cri&tãos nessa "assembléia cristã", nessa "ecclesla", em que Cristo está presente. Todos os momentos da reunião devem ser revistos a essa luz: oração, refeição, "partilha", discussão do tema ...

CONDIÇOES A PREENCHER O Cônego Caffarel aponta-nos sete condições que vai ao mesmo tempo comentando . Citamo-Ias rapidamente, desenvolvendo apenas a segunda e a terceira. - Acreditar: "Será feito à medida da vossa fé". Fé na promessa de Cristo, que nos é transmitida pelo Evangelho; -5-


- Ruptura: Afastar cuidados e preocupações; - Reunir-se "em nome de Cristo"; -Amar-se com amor fraterno; - Escutar a Palavra de Deus (leitura da Sagrada Escritura); - Responder à Palavra de Deus (oração pessoal e litúrgica); -'- Estar unido à Igreja: se a pequena assembléia se se. para· da Igreja, não passa de seita, está separada de Cristo.

"Segundo esforço, segunda condição: ruptura . Quem diz "ecclesia" (assembléia) diz "convocação"; é a própria raiz da palavra grega clesis =convocação. Convocação de Deus, chamando os seus . Se vamos à reunião de equipe, é porque Deus, porque Cristo, convoca; e quem diz convocação, chamamento, diz também partida, ruptura com aquilo a que estamos ligados. Acho que o nosso hábito da "partilha" nas Equipes é uma excelente purificação. É um gesto de sinceridade, de verdade, que faz com que já não se iludam uns aos outros . Quando estamos diante de Cristo, somos apenas pobres pecadores, temo.> de tirar a máscara e deixar de tentar ser espertos: a nossa "partilha" tem uma virtude muito benéfica, a de nos colocar nesta disposição de pureza e de humildade. Note-se que seria necessário que cada um dos membros das equipes tivesse essa preocupação de levar para a reunião uma alma disponível. Fé e ruptura, disse eu. .em nome de Cristo.

Vejamos a terceira condição: reu-

ni~o

Reparem bem que o Senhor não diz : "Quando dois ou três estiverem reunidos, estarei no meio deles" - mas esclarece: "Quando dois ou três estiverem reunidos em Meu nome", e isso é que é importante. Convocados por Ele, respondem ao Seti apelo, estão ali em "Seu nome". Por conseqüência, se vamos à reunião da equipe pelas amizades e pelas simpatias, -6-


não é vir em nome de Cristo. E é por esta razão que, às vezes, equipes formadas por casais que não se conheciam, começaram muito bem. Porque o que os reunia era apenas a vontade de encontrar Cristo. E eis que, passado um, dois, três anos, se conhecem muito bem, prestaram-se muitos serviços; a amizade cresceu e isso é bom; mas por outro lado esta amizade pode eliminar a intenção principal, pode fazer que só se reunam agora porque são bons amigos, e deixam então de estar reunidos "em nome de Cristo". Verüica-se nessas equipes o que chamei: a tentação da amizade. Cristo não pode agir plenamente senão quando estão reunidos em primeiro lugar para Ele, para O encontrar. Dai, a necessidade de purificar a intenção de fortificar esta verdadeira intenção. ll: em nome de Jesus Cristo que vimos e é preciso tomarmos consciência disso antes de qualquer reunião". (1)

-oOoCri&to não se entrega a nós apenas no sentido vertical, ou seja, através da IDerarquia, dos sacerdotes e dos sacramentos, mas também, horizontalmente através dos nossos irmãos. Um dia dizia-me alguém : "Para receber vou a Cristo, para dar volto-me para o meu próximo". Não tinha ele compreendido ainda que Cristo quer dar-se a nós através dos outros, que eles são para nós sacramentos de Cristo. Certo assistente de um agrupamento de estudantes revelava uma visão mais perfeita ao dizer: "Eles vêm de manhã para que eu lhes dê Cristo; durante o dia sou eu que vou ter com eles para que por sua vez m'O dêem através da sua alegria, do seu amor fraterno, das suas reflexões durante as trocas de impressões. O Cristo que lhes entreguei de manhã volta para mim de mil maneiras, durante todo o dia". (1) Encontrarão na pág. 29 o !eslemunho de um Conselheiro Espiritual

que exemplilica as observações que acabam de ler .

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Eis algumas passagens de S. Paulo que nos revela as grandes leis da vida de equipe. Vocês encontrarão aqui preciosos conselhos para as reuniões mensais e também para a sua familia: Que a palavra de Deus habite em vós abundantemente: com toda a sabedoria ensinai-vos e admoestai-vos uns aos outros... (Col. 3,16). Bendito seja o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Pai das misericórdias e Deus de toda a consolação, o qual nos consola em todas as nossas tribulações para. que nós, pela consolação de recebermos de Deus, possamos confortar os outros em qualquer tribulação (2 Cor . 1, 1-4). Atendamos uns aos outros para. nos estimularmos na. caridade e nas boas obras; não abandonemos a. nossa. assembléia, como é costume de alguns, mas encoragemo-nos mutuamente (Heb. 10, 24-25). Irmãos. ainda que um homem seja surpreendido em alguma falta vós, os espirituais, deveis em espirito de mansidão ajudá-lo a levantar-se... Levai os fardos uns dos outros e cumpri desse modo a Lei de Cristo (Ga. 6, 1-2)

o

Vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Somente não façais da liberdade um incentivo para a carne, antes, pela caridade, tornai-vos servos uns dos outros ... (Ga. 5,13) . E, por fim, deixemos S. Pedro concluir: Cada qual, segundo o dom recebido, use-o a. serviço dos outros, como bons administradores da multiforme graça de Deus (Pe. 4, 10).

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SUPRANACIONALIDADE . ..

A Fraternidade do Padre de Foucauld (que reúne aqueles a quem vulgarmente chamamos os Irmãozinhos e as Irmãzinhas do Padre de Foucauld), surgida no Saara e fundada por um francês, espalhou-se por lodo o mU!;do . O seu superior e os primeiros irmãos eram franceses. Numa das suas "Cartas às fraternidades", o Padre Voillaume reflelia acerca de um falo habilual em todas as ordens religiosas que se difundiram para além do seu país de origem; são universais e, ao mesmo tempo, marcadas necessariamente por esse país natal, sobretudo nos primeiros anos. O Padre Voillaume não se contenta em pedir aos Irmãozinhas de lodos os países que aceilem o falo em ~i mesmo, mas estuda-o à luz da Bíblia e da história da Igreja para daí extrair todas as lições que contém. Estas páginas nos chamaram lanlo mais a atenção, pois as Equipes, la! como as Fraternidades, se espalharam cada vez mais através do mundo e são, como aquelas, de origem francesa. Pensamos que franceses e não franceses leriam grandes vantagens em medilá-las. Não somos religiosos, como os Irmãozinhos, mas a verdade é que há mui! as aproximações a fazer .

"Mas por que se hão-de assim acumular as dificuldades, dispersando as Fraternidades por tantos pafses e nelas reu-9-


nindo irmãos de nacionalidades tão diferentes? Não seria mais simples deixar que, em cada pais, a Igreja criasse Congregações religiosas locais que, por isso mesmo, estariam muito mais aptas a conduzir os seus religiosos para a perfeição, através de uma espiritualidade melhor adaptada e compreendida? Na verdade, uma congregação religiosa fica necessariamente marcada no seu espírito, regras e estilo de vida pela mentalidade e hábitos de vida do pais em que foi fundada ... A história da Revelação e da Igreja ensina-nos que o próprio Deus teve necessidade da diversidade das culturas, e, portanto, das pátrias e linguas, para exprimir plenamente a sua eterna mensagem aos homens da terra. Deus não teria podido traduzir a riqueza das verdades divinas em linguagem humana sem certa variedade de expressão . . . Cada profeta, cada mensageiro enviado por Deus é um homem profundamente marcado pelo seu "torrão" de origem e pela sua cultura. O seu próprio Filho feito homem tem também a sua pátria terrestre, a sua aldeia, a sua família, o seu sotaque de galileu. Não é acaso, é fato pois era preciso que Deus escolhesse para Jesus um lugar de nascimento. Neste aspecto Jesus não é um homem universal, e sem pátria terrestre, mas sim um israelita . A Igreja. no momento do seu nascimento e durante o seu desenvolvimento, não irá furtar-se a esta lei constante. Nasceu na Palestina, e formou-se na bacia mediterrânica; falou primeiro o grego e depois o latim; as suas liturgias tiveram a marca do gênio grego, romano, sírio e egípcio; o seu centro eterno estará doravante geograficamente ligado à cidade de Roma, e a sua legislação sofreu a influência do direito romano, ao mesmo tempo que o seu pensamento teológico se exprime na linguagem da filosofia grega . Ora é certo que a Igreja não seria humana. adaptada e compreensível para os homens, sem estar enraizada em pátrias terrestres. Não foi indiferente a Deus que Simão Pedro fosse pescador da Galiléia, -10-


Agostinho, Berbere da Afrlca, João da Cruz e Inácio de Loyola, espanhóis, Francisco de A!'Sis, italiano, S. Vicente de Paula, camponês das Landes e Santa Teresa do Menino Jesus jovem francesa da provlncia. Era preciso serem assim mesmo para poderem exprimir, na Igreja, a sua mensagem providencial da maneira como Deus previra. A Igreja viva, no seu esforço de continua renovação, sabe escolher e utilizar sucessivamente e nos diferentes paises, os valores humanos mais adaptados para pôr em relevo determinado aspecto da sua mensagem. Isto é particularmente válido quando se trata dessa expressão ligada à vida que é uma nova forma de santidade, de caridade ou de apostolado, ou o nascimento de uma congregação religiosa. Qualquer fundação da Igreja é, portanto. marcada por esta dupla característica: no começo está enraizada numa pátria terrestre e depois, em virtude da lei Interna do Corpo místico estende-se a todos os membros desse Corpo universal sem ter que contar com fronteiras. Colaborar nesta hora é mais dificil do que compreender-se no plano das relações individuais entre homens de nacionalidade~ diferentes, porque se trata de universalizar uma espiritualidade e uma fundação que foram concebidas em primeiro lugar para certo país e pensadas na llngua deste pais. Mas é preciso que uma congregação nasça em algum lugar! Os fundadores das ordens não escapam a esta lei. Sobretudo no princípio da sua obra, exprimiram-se conforme o gênio próprio e na língua materna. A linguagem da autêntica santidade é sempre compreendida universalmente. mas esta passagem da Individualidade do fundador à universalidade da sua obra ou da sua mensagem espiritual não se fez sem dificuldades, sem etapas intermediárias, sem o espírito de renúncia e a colaboração generosa de grande número de homens. Ao verificarmos as características universais, verdadeiramente supra-nacionais das grandes ordens, como os Beneditinos, os Franciscanos, os Dominicanos os Jesuítas, esquecemos o que devem ter sido as etapas Intermediárias. -11-


Não nos podemos admirar ao encontrar dificuldades! Essas dificuldades devem ser con&ideradas lealmente e é preciso aceitar o esforço necessário para as ultrapassar, convictos de prestar, deste modo, colaboração providencial à vida da Igreja e a seu apostolado. Qualquer instituição da Igreja deve ser fiel às suas origens, embora adaptando-se e tornando-se universal, obra que exige muito desapego, humildade e amor pela verdade da parte dos que são chamados a colaborar nela! Quantas vezes sofri por não pode exprimir com facilidade o fundo do meu pensamento senão na l!ngua francesa, com o meu temperamento e nos moldes do espírito francês! Sinto-me totalmente consciente das penosas conseqüências dessas limitações para os outros, mas não tenho outra possibilidade! De nada serviria desesperar-me e, aliás essa atitude não só seria perfeitamente vã, mas também falsa, contrária à ordem restabelecida pela Providência. 1!: evidente que, em nome da nos:;a missão universal da Igreja e em nome da caridade devemos fazer tudo o que depende de nós para corrigir os nossos defeitos e alargar o nosso espírito e o nosso coração às dimensões da Igreja. Mas continuaremos sempre maiS ou menos marcados pelo nosso pais natal. O esforço que cada um de nós terá. de fornecer nessa tarefa de tornar a Fraternidade cada vez mais universal. revela-se desde já necessário, embora mais difícil de provocar ou manter do que o esforço de adaptação individual a um pais em que se viva. esforço constantemente solicitado pelos contatos e exigências da vida diária. Ponhamo-nos todos à obra, agrupados à volta de Jesus, na Sua Igreja, decididos a ser uns para os outros Irmãos e amigos, a pôr tudo em comum, esforços, alegrias, tristezas, perseveranças na oração e caridade, para realizar passo a pas-12-


so, através das diferentes fundações, a fraternidade efetivamente universal, de espirito e de Eentimentos. Há portanto, um duplo esforço a ser feito: o dos irmãos franceses que devem despojar-se de tudo o que possa impedir que a mensagem da Fraternidade seja universalmente ouvida e compreendida e, por outro lado, o esforço dos irmãos vindos de outros paises e aos quais incumbe a tarefa, talvez mais ingrata, de assimilar generosamente um ideal de vida religiosa, sem que este tenha ainda sido vivido por homens do seu país. Quando Jesus faz surgir no coração de um jovem o desejo de ser Irmãozinho, quando não haja ainda nenhuma fraternidade no seu pais, destina-o por esse mesmo fato a trabalhar no nascimento da Fraternidade no seu país, o que pressupõe muita humildade, renúncia e a paciência de saber esperar o momento em que, depois de ter assimilado plenamente os valores universais do ideal dos Irmãozinhos se torna capaz de viver esse ideal conforme o espírito próprio da sua pátria e de o transmitir aos seus compatriotas, sem diminuir nenhuma das suas exigências. A tentação mais sutil e, em certo sentido, a mais grave seria, sem dúvida, a de recusar a submissão completa do e.spirito e de faltar à obediência confiante sob pretexto de se reservar o direito de realizar por si mesmo, desde o início, a escolha entre as maneiras de atuar ou pensar, aceitando umas porque se consideram universais ou adaptadas ao espírito nacional e rejeitando as outras ou, pelo menos, criticando-as, sob pretexto de serem demasiado vinculadas ao temperamento francês. Tudo pode ser posto em causa a pretexto de adaptação a um país ou a um meio. Alegar-se-á que é necessário assim -13-


fazer ao princípio para ter aceitação ; que não se deve ir depressa demais ; que é preciso não chocar inutilmente com uma forma de vida religiosa demas1ado inovadora. Devemos ir, corajosamente, até às últimas conseqüências do nosso ideal de Irmãozinhos.. . Será pouco a pouco e como que espontaneamente que se fará a assimilação, unicamente pelo fato de certo número de Irmãozlnhos pertencentes a esse país, terem sido generosamente fiéis à sua regra, numa atitude de completo abandono, sem se quererem proclamar julze.s demasiado razoáveis do que lhes foi ensinado" .

• "Aclamai o Senhor, Povos de toda a Terra! Alegrai-vos, gozai e cantai!" (Salmo 97, 4)

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UMA VOCAÇÃO VERDADEIRAMENTE ESPIRITUAL

Sendo o matrimônio um sacramento, a vida conjugal é santificada pela graça sacramental que, colocando o amor entre marido e mulher em plano espiritual, não poderia levantar obstáculo à união a Cristo. Se for encarado em espírito de fé, torna-se ocasião para crescer em santidade através do dom de si mesmo. Por conseqüência, não julguemos que estar casado é viver segundo a carne e ser religioso é viver segundo o espírito. A vida conjugal é vocação verdadeiramente espiritual, embora muitas vezes se torne mais difícil porque os espooos não sabem discernir as possibilidades espirituais que têm à disposição e porque nem sempre encontram alguém que os guie no bom caminho. ll:, certamente, trágico que cristãos casados imaginem que uma vida santa e perfeita lhes está interdita só porque acham penoso ou impossível poder imitar as austeridades, as devoções e os exercícios espirituais dos religiosos . Deveriam, pelo contrário alegrar-se visto a Igreja lhes ter dado a lib~rdade de escolherem aquilo que corresponde melhor às suas neces5idades. Que leiam o Novo Testamento e sigam o exemplo dos primeiros cristãos que "partiam o pão, tomando o seu alimento com alegria e simplicidade de coração" (Atos 2, 46) . Que mergulhem na vida litúrgica da Igreja, e vão buscar na Eucaristia toda a força de que necessitam para viverem na caridade e para se esquecerem de si próprios. -15-


O caminho da santidade é um caminho de confiança e de amor. O verdadeiro cristão vive "no Espírito" e vai beber constantemente às fontes escondidas da graça divina, sem se sentir obcecado pelo desejo de .se entregar a práticas supérfluas e complicadas. Interessa-se, acima de tudo, pelo essencial: reservar numerosos momentos para a meditação simples e o recolhimento; estar atento à presença de Deus; submeter-se em tudo, com amor, à vontade divina, principalmente em tudo aquilo que diz respeito aos deveres de estado e, sobretudo, amar o próximo, que é seu irmão em Cri&to . No entanto, a abnegação nunca está ausente da .sua vida! O cristão tem de suportar freqüentemente uma vida de amargos sacrifícios. O esforço continuo que terá de fazer para controlar as suas reações apaixonadas e egoístas, para obedecer às exigências da caridade, exige renúncia contínua e ininterrupta.

(THOMAS MERTON, "Vida e .santidade")

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A REGRA DE VIDA

Tradução concreta, na nossa vida, das ex1gencJas do Evangelho, a regra de vida deve ter em conta todo o nosso ser e, portanto, o nosso temperamento; senão, querendo fazer figura de anjo, podemos fazer a Jigura de urso (1) . LUTAR CONTRA OS OBSTACULOS

Começamos por apresentar o resumo da expossçao sobre a regra de vida, apresentada num Encontro de Bes· ponsá-.eis, que nos recorda a maneira como se deve es· colher a regra de vida e estabelecer as suas diversas modalidades. Os autores do Iraba lho dão a palavra a nm marido e à sua mulher mas misturam os seus próprios comentários a este diálogo .

"Como estabelecer a minha regra de vida? Sou orgulhoso e Impaciente . E, no entanto, no Evangelho sinto-me atraído para as seguintes frases: "Bem-aventurados os mansos porque possuirão a terra." "Aquilo que fizerdes ao mais pequenino

(1)

Já falamos muilo sobre ela na Carta n.0 4. Vollamos a referi-la alravés de testemunhos . -17-


dos meus, é a mim que o fareis. " O Senhor, ao fazer com que tenham eco em mim estas palavras, mostra-me o caminho da perfeição e do amor que Deus quer que eu tome, apesar das minhas impaciências, do meu mau gênio, do meu orgulho balofo. lt nesse caminho que o Senhor me quer e onde me espera. Agora que a minha regra de vida encontrou o seu alvo, o seu farol, o aspecto do amor que Deus me chama a viver, quero tentar lutar contra obstâculos que obstruem o meu caminho (além de que é preferível contorná-los do que despedaçar-me contra eles). Se dissesse a mim próprio "vou tentar ser menos orgulhoso e não ser tão impaciente com as crianças" kso seria uma utopia; morreria com o meu orgulho e o meu mau gênio. Ponho na minha regra de vida para lutar contra as impaciências e o orgulho o seguinte: 19 - Quando me encolerizar, pedirei desculpa ou perdão conforme se trate de um dos meus filhos, de um colega ou da minha mulher Cestas desculpas ajudar-me-ão a combater o meu orgulho) . Se me encolerizar com um subordinado, pedirei desculpa e para marcar ainda melhor o fato, recorrerei ao "Sacramento da penitência, sem esperar o sábado mensal previsto. 29 -

Para ajudar e alimentar o meu esforço, lerei de novo

à noite, quando tiver caído em flagrante delito de orgulho,

o capítulo de S . Ma teus sobre os fariseus, onde Cristo se mostra tão violento contra "os sepulcros caiados". E quando tiver tido um bom ataque de mau gênio, lerei de novo o capítulo 3 da primeira Epistola de São João : "Não amemos de palavra e com a língua mas por obra e em verdade" (3,18). Mas atenção: será bom, para conseguirmos traduzir concretamente o Evangelho na nossa vida, procurar um padre que nos controle e pedir também ao nosso cônjuge para nos controlar, visto ele conhecer tão bem os nossos pontos fracos e ter o grande desejo de nos ajudar.

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Quando este amigo orgulhoso, que ainda agora vimos tentar estabelecer a sua regra de vida, participou à sua mulher estes projetos, ela disse-lhe: "De acordo no que diz respeito ao orgulho, mas de modo algum no que diz respeito à cólera e à impaciência: São João, não basta. Você sabe muito bem que quando faz ginástica (neste caso yoga) regularmente, em vez de ter um surto de cólera por dia, você tem apenas dois por mês: respiramos todos melhor, a vida da casa fica transformada. Tenta portanto pôr também uns exercícios de yoga na regra de vida."

Sozinho ele não tinha pensado nisso.

REGRA DE VIDA E DEVER DE SENTAR-SE

"A obrigação da regra de vida, que nos foi proposta pelos Estatutos, pareceu-me tanto mais necessária quanto é certo que já. tinha vários anos de "vida de equipe". Os Estatutos nada mais fizeram do que concretizar e tomar obrigatório o que a nossa experiência já. tinha mostrado ser indispensável. Sempre tive tendência natural para "organizar" a minha vida, eliminar dela a fantasia, submetê-la a regras, tanto pela preocupação de me poupar como para a tomar o mais eficaz possível. A minha regra de vida elaborou-se pouco a pouco. após reflexão, tentativas, hesitações, com a ajuda e o controle do meu diretor espiritual e de minha mulher. Tal como a de minha mulher, inclui quatro partes: pessoal, conjugal, famlllar, social; quer dizer, algumas obrigações são pessoais e outras comuns aos dois. As nossas regras de vida incluem sobretudo obrigações morais e espirituais e nada no plano estritamente intelectual e saúde, o que é uma falha. Repatcmos, no entanto, no pla-

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no social no aspecto do acolhimento são precisos pontos muito concretos se seja eficaz . Como se poderia avaliar rosos", "mais humildes"? Jl: tão fácil

dos outros. Acho que quisermos que a regra se somos "mais geneiludirmo-nos!

Realmente parece-me absolutamente indispensável fazer um controle regular e rever a regra de vida . Reservamos para isso parte do Dever de Sentar-se. A nossa regra de vida é escrita e tomamos nota por escrito do resultado do controle bem como das modificações introduzidas . Fazemos isso há vários anos e assim vemos mais facilmente os progressos ou retrocessos. Devemos à nossa regra de vida um certo progresso espiritual quanto mais não seja pela vontade renovada todos os meses de não "relaxar" . Acrescentemos ainda que é preciso que: - seja o mais concreta possível; - que as obrigações nela incluídas sejam maduramente refletidas e experimentadas; -seja controlada com regularidade; - seja viva, revista, adaptada às circunstâncias" .

SUSTENTAREM-SE NO ESFORÇO

"Depois de alguns meses de experiências concluímos os dois que a nossa regra de vida devia incluir: 1) pontos concretos e fáceis de controlar; 2) uma orientação geral; 3) ser símples e precisa para nos podermos ajudar facilmente. Os pontos concretos da regra de vida pessoal serão entre outros: assistência à missa durante a semana, confissão em data fixa. A orientação geral é comum aos dois : caridade. Concretamente é ter sempre um ar sorridente <são 5 filhos, poucas ajudas, fins de mês difíceis ... ) . -20-


Quanto a mim (marido), visto que ando muito, não passaria diante de uma Igreja sem fazer uma saudação ao Senhor. Durante o dia, três orações em horas determinadas; o Angelus. Finalmente esforçar-me por ver com olhar cristão os operários da empresa em que trabalho. A nosEa regra de vida cilmente o nosso próximo. se alguma vez um de nós gado de o chamar à ordem com duas simples letras: não ser nós.

comum é simples. Criticamos faFazemos &forços para o evitar e "escorrega", o outro está encarremesmo diante dos filhos ou amigos "R. V."! Ninguém compreende a

Examinamo-nos com cuidado antes de cada reunião, para T'odermos responder à partilha com a maior exatidão poss!vel. Por outro lado quando nos confessamos, pensamos também nesta re.,.ra dP. vida que faz parte dos nossos esforços. embora sem conta bllidade. Estamos de acordo em reconhecer que é um meio extraordinário de manter vivo o esforço e também um barômetro que nos mostra se estamos em períodos de esforços ou se, pelo contrário, nos deixamos ir ao sabor da corrente".

NA PARTILHA ...

Na partilha devemo-nos contentar em dizer que temos regra de vida consciente, que ela foi relida durante o mês? Seria pouco e não se alcançaria um dos fins da partilha - a entreajuda. Eis o texto dos Estatutos: "Não existe obrigação de dar a conhecer à equipe a regra de vida adotada, nem a maneira como é observada. Notemos, no entanto, que alguns casais .te deram muito bem com o fato de levar a ajuda mútua até esse ponto ." -21-


Nem sempre é possível, nem mesmo desejável, revelar aos outros toda a regra de vida mas é muito natural que a partilha nos conduza a revelar um ou outro ponto. "Há um ano que tinha posto na minha regra confessar-me todos os meses. Cumpri com bastante regularidade este ponto e queria dizer-lhes o quanto me beneficiei. " Este tipo de partilha está perfeitamente na linha da caridade fraterna.

-xA verdade é que, se atualmente o cristianismo deixou de ser atraente, não é de forma alguma por ser dem1siado difícil ou elevado, mas pelo contrário, por o seu ideal não parecer suficientemente puro e elevado. Sob a sua atual apresentação corrente, a religião cristã surge ao nosso espírito como façanha e o nosso coração abafa dentro dela.

TEILHARD DE CHARDIN -22-


"NAO SERA NATURAL . . . " Não será natural que cristãos, casais cristãos, se reunam todas as noites para orarem. mantenham uma decisão livremente assumida (regra de vida) , reflitam antecipadamente, de caneta em punho, sobre o tema que vai ser discutido na reunião. que leiam uma carta que lhes é dirigida (Carta das Equipes) , que façam todos os meses o balanço para progredirem, que reservem dois ou três dias por ano para um retiro? Se estas obrigações são pesadas é porque ainda não se compreendeu a sua ligação com o progresso da caridade ou já n ão se deseja, realmente , esse progresso. 11: este o problema : continuar a querer avançar quando há a tentação de parar. Trata-se, portanto, de conservar ativa essa vontade de progredir. Para tal proponho-lhes o meio que, pessoalmente, considero melhor : a leitura diária da Palavra de Deus. Refiro-me à leitura que seja autêntica audição dessa Palavra . Abrir a Bíblia, pensando: "Deus tem alguma coisa para me dizer ." 11: simples mas essencial consagrar-lhe regularmente pelo menos dez minutos diários. A regularidade, aqui como noutros aspectos, é indispensável para o sucesso. Não é apenas a fé "que nasce da Palavra de Deus" mas o Amor . Ora, "quando se ama, não há mais sofrimento e se ainda se sofre o sofrimento é amado" (Sto. Agostinho) . A todas as equipes a marcarem passo não possu aconselhar nada melhor do que isto : que cada membro decida consagrar todos os dias, dez minutos à audição (leitura) da Palavra de Deus, fazendo- se "partilha" sobre ·este aspecto, todos os meses. Padre VAN WYNSBERGHE -23-


OS ESTATUTOS, ECO DA PALAVRA DE DEUS

Os casais das E. N.S.: querem ser, por toda a parte, os missionários de Cristo. Devotados à Igreja, querem estar sempre prontos a responder aos apelos do seu Bispo e dos seus Padres. Dizia-lhes Ele. A roesse é grande mas os trabalhadores são poucos. Pedi, portanto, ao dono da roesse que mande trabalhadores para a sua messe . (Lc. 10, 2) Depois disto, designou o Senhor outros setenta e dois e mandou-os dois a dois à Sua frente, a todas as cidades e lugares aonde Ele havia de ir. (Lc. 10, 1) Prega a Palavra, insiste oportuna e inoportunamente, repreende, ameaça, exorta com toda a paciência e dou·lrina·, pois tempo virá em que não suportarão a sã doutrina. (2 Tim. 4, 2-3)

Querem ser competentes na sua profissão. Querem fazer de todas as suas atividades uma colaboração à obra de Deus e um serviço prestado aos homens. -24-


Tomou, pois, o Senhor-Deus a Adão e colocou-o no jardim do tden para o cultivar e cuidar dele. (Gen . 2, 15) Em ansiosa expeclaliva a criação aguarda a revelação dos filhos de Deus . De falo, a criação ficou submelida à vaidade - não voluntariamente mas por causa de quem a submeteu -, na esperança, porém, de que a própria criação seria igualmente libertada da escravatura da corrupção, para participar da liberdade gloriosa dos filhos de Deus . Sabemos, com efeito, que lo da a criação !em gemido e sofrido até ao presente as dores do parto. CRom. 8, 19-22) Há, pois, diversidade de dons espirituais, mas o Espírito Santo é o mesmo; há diversidade de ministérios mas um só Senhor; e há distribuição de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em lodos . A cada qual, porém, se concede a manifestação do Espírito em ordem ao bem comum. (I Cor. 12, 4-7) Não são coisa alguma nem aquele que planta nem aquele que rega, mas Aquele que faz crescer: Deus! ... t que nós somos cohboradores de Deus; vós sois campos de Deus, edifícios de Deus. (I Cor. 3, 7-9) -X-

Não caminho, estrada . ras, mas

faltam pessoas que sigam Nosso Senhor até meio mas que nunca farão com Ele a outra metade da Renunciam aos seus bens, aos seus amigos, às honcustar-lhes-ia demasiado renunciar a si mesmos. Mestre Ekhart -25-


OS COMPROMISSOS NA IGREJA E NO MUNDO

Insi~ tindo na "espiritualidade" as Equipes de Nossa Senhora não correm o risco de cultivar cristãos de estufa, unicamente preocupados com a sua perfeição pessoal, que não se comprometem nem na Igreja nem no Mundo?

t: uma objeção freqüentemente endereçada às Equipes. Todo Movimento de espiritualidade dá o flanco a esta critica. Propondo um quadro de vida, uma regra, uma ajuda, atrai inevitavelmente as pessoas que precisam, antes de tudo, de apoio e de segurança... Mas, em compensação, quantos casais das Equipes se devotam inteiramente a várias obras . Em todo o caso o fim do Movimento não é fabricar cristãos tímidos e friorentos que se apertam uns contra os outros para se aquecerem e se abrigarem dos ventos do largo. Reunir-se para rezar é preparar-se para um Pentecostes, é abrir-Ee ao Esplrito de Cristo de que não se sabe "nem de onde vem nem para onde vai" mas que desde que surja, abre com fragor as portas do Cenáculo para projetar os Apóstolos pelos quatro cantos do mundo. Procurar tornar-se verdadeiramente um apaixonado de Cristo, um ente entregue ao Espírito de Cristo, como as Equipes convidam, é empenhar-se na mais magnlfica e também imprevislvel aventura. Por vezes é certo . causa medo. Paul Claudel escrevia: "Esp!rito de Deus, não entres, temo as correntes de ar". t: melhor não entrar nas Equipes se se temerem as correntes de ar.

-26-


~-lhes possível preci~tar melhor o pensamento das Equipes a respeito dos compromissos na Igreja e no mundo?

O Movimento tem por fim a formação espiritual dos casais cristãos no e através do matrimônio. Julga trabalhar assim diretamente na formação de testemunhas para um mundo que o ateísmo conquista . Há cristãos, felizes na sua fé ao Deus vivo, que testemunham o seu amor. Há casais cristãos que amam e acolhem generosamente os outros, dão testemunho do Deus Cristão que é uma comunidade de três Pessoas que se amam. Um casal onde reine verdadeiramente o amor de Cristo não pode desinteressar-se dos outros; é-lhe impossível deixar de concretizar, dentre vários compromissos o "compromisso" fundamen tal do batismo e também do matrimônio . Mas é preciso compreender bem. Para uma mãe de família, consagrar todas as suas forças na educação humana e cristã dos seus numerosos filhos. representa um compromisso tão válido e exigente como o do Sindicalista; não fique ela desolada se, por uns tempos, lhe for Impossível ocupar-se de outras tarefas apostólicas . Para este homem político ou este médico, o compromisso apostólico será dar-se a fundo. por amor de Cristo, à sua profissão cujo alcance é tão grande. Para um casal será encarregar-se dos desprotegidos do bairro. Para outro será o receber regularmente em sua casa os alunos mais adiantados de um colégio vizinho, desejosos de discutir, à luz do Evangelho os assuntos que os apaixonam . Outros militarão na Ação Católica, nas preparações para o casamento, na animação dos Movimentos de Jovens, etc . .. As possibilidades e os apelos são inúmeros. E qual é o casal que não pode realizar aquilo que Paulo VI nos dizia ser "uma forma eminente da missão apostólica do casal" : a hospitalidade? Não é às Equipes que compete propor estes compromissos. Cada um toma aqueles que lhe convenham, aqueles para onde o Espírito os impulsiona. As equipes também não podem -27-


dar uma formação técnica a estes compromissos. Todos, mais ou menos, exigem uma preparação que não se improvisa ; todos supõem uma deontologia. ll: preciso seguir cursos . Como em qualquer profissão, os amadores fazem fraca figura . Para tal formação é preciso recorrer àqueles que estão empenhados na mesma ação. Se as Equipes não propõem os compromissos a assumir, quando e onde se trata deles? . As Equipes encorajam fortemente um pôr em comum, na reunião mensal incidindo sobre as diversas responsabilidades e os compromissos dos seus membros . Entendamo-nos bem. Não se trata então de discussões teóricas sobre as opiniões políticas, sociais, apostólicas, etc. .. de uns e outros; pouco proveito se tiraria.

Trata-se, antes, de uma troca de idéias onde cada um diz o que pensa dos seus compromissos, porque os tomou,

as experiências que fez, as dificuldades que encontrou . Qual a atitude cristã que pode assumir neste ou naquele caso concreto? Se está sindicalizado pode aderir à greve? Se é deputado, pode votar tal lei? Se se ocupa nas preparações para o matrimônio, poderá preconizar algum método de regulação de nascimentos? etc ... A equipe não trará forçosamente, uma resposta e, de qualquer forma, não vai substituir-se ao interessado para tomar decisões. Mas pode ajudar a ver claro, a encorajar pelo seu cuidado, compreensão, simpatia. . . E que enriquecimento para a própria equipe! De resto é indispensável que em cada equipe se ajude, suave mas firmemente, cada membro a repensar os seus compromissos em função das contingências do momento: uns se sobrecarregam e correm o risco de ativismo, enquanto outros se contentam com muito pouco. Uma equipe que trata dos compromissos de cada um, que ajuda a -sustentá-los, tem muitas probabilidades de ser uma equipe viva. -28 -


A ALMA DO MOVIMENTO

Seremos sulicienlemenle sensíveis à riqueza dessa vida que nos une a lodos ao nível da lei e da caridade e que circula sob as nossas deficiências exteriores? Um Conselheiro espiritual recorda-o aos casais da sua equipe . Talvez a sua carta nos leve a tomar disso consciência.

"Nos dias 18 e 19 últimos pouco proveito tirei do Encontro de Responsáveis. Tendo estado retido por urgências paroquiais, só pude chegar no domingo de manhã . Apesar do interesse com que ouvi as conferências não me senti à vontade durante todo o dia. Não estava dentro do assunto, um pouco perdido no meio de todos aqueles casais e conselheiros espirituais que já tinham vivido 24 horas em conjunto, criado entre si laços, dialogado. Procurando a causa do meu mal-estar, depressa compreendi que era devido ao fato de ter faltado à reunião de equipe de sábado à noite (1). Retomei, por isso, muito concretamente, consciência da riqueza de comunhão que existe entre os (I)

Dur"nle os Encontros anuais organizados pelo Movimento, a noite de sábado é geralmente consagrada a encontros em pequenas equipes de 5 a 7 casais, nos quais também tomam parte os Conselheiros Espirituais presentes. -29-


membros das Equipes de Nossa Senhora devido à qualidade dos diálogos em reunião. Comunhão profunda, este laço indefinível, esta riqueza comum a todas as equipes e a todos os casais, este ideal comum a ser realizado. Pensei então que os problemas por vezes reais que levantamos sobre o Movimento acabariam depressa se fossem vistos sob esta ótica. Se observássemos a "alma do Movimento" passaríamos mais facilmente sobre o que nele pode haver de imperfeito ou desagradável, e trabalharíamos mais calmamente para fazer do nosso lar, um lar mais cristão, mais evangélico. Ao ler um jornal deparei com um artigo onde se dizia que um dos grandes êxitos do Sinodo dos Bispos foi o fato de viverem entre si e com Paulo VI uma comunhão multo rica . Subjacente às discussões jurídicas e teológicas, houve c.: sta comunhão de pensamento, de coração e de oração entre todos . Trabalhemos, nós também, para permanecer em "estado de comunhão" no seio da equipe, com o Setor e com o Movimento . Então os problemas esclarecer-se-ão . "

• Jesus, filho de Maria, encontrou na montanha um velho que vivia ao ar livre sem abrigo contra o calor e o frio. "Por que não constróis uma casa?" perguntou-lhe . "ó Espírito de Deus respondeu o velho, os profetas antes de ti predisseram-me que só viveria 700 anos; portanto não vale a pena instalar-me. " ÇAFOURI

-30-


ORAÇÃO PARA A PRóXIMA REUNIÃO

TEXTO DE MEDITAÇAO

Retomem os textos citados nas páginas 26 e 27 a propósito da Carla . Peçam pela vossa vida, a vossa profissão, a vossa irradiação . ORAÇAO LITúRGICA

Um pequeno texto, que nos vem de um dos primeiros papas, São Clemente, ajudar-nos-á a alargar a nossa oração e a !orná-la aberta a todas as misérias: Tu que multiplicas as nações da terra

E que escolhes nos teus povos os que Te adoram Por Jesus Cristo, Teu Filho muito amado, Que através d'Ele nos instrufstes, santificastes e honrastes, Nós Te suplicamos, 6 Pai: Sê o nosso socorro e o nosso auxílio; Salva os que se acham aflitos, Tem piedade dos humildes, Levanta os que caíram, Revela-Te aos que passam necessidades, Cura os enfermos, Reconduz os que se afastaram do Teu povo, Sacia os que têm fome, -31-


Liberta os prisioneiros, Restaura os que não têm forças, Consola os desanimados . Que "todos os povos reconheçam Que só Tu és Deus, que Jesus Cristo é Teu filho e que nós somos o Teu povo". AM1:M .

-32-


í NDICE

EDITORIAL -

Entrar no jogo . . . . .. .. .. . .. .. .. .. . .. .. .

1

Reunião de Equipe, Assembléia Cristã . . . . . . . . . . . . . . . . . .

5

Supranacionalidade

9

Uma vocação verdadeiramente espiritual . . . . . . . . . . . . . . .

15

A regra de vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

17

Não será natural . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

23

Os estatutos, eco da Palavra de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . .

24

Os compromissos na Igreja e no mundo . . . . . . . . . . . . . . .

26

A alma do Movimento

29

Oração para a próxima reunião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

31


EQUIPES DE NOSSA SENHORA Movimento de casais por uma espiritualidade conjugal e familiar

Revisão, Publicação e Distribuição pela Secretari~ das EQUIPES DE NOSSA SENHORA 0~538 -

Avenida Horácio Lafer, 384 -

Tel.: 210-1340

SAO PAULO, SP

-

somente para distribuição Interna -


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