ENS - Equipes Novas 1978-4

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EQUIPES

NOVAS

CARTA No

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EQUIPES DE NOSSA SENHORA SÃO PAULO -

1978


No princípio Deus criou o homem e entregou-o ao seu próprio Deus deu-lhe ainda os mandamentos e os preceitos: Se quiseres observar os mandamentos, e praticar sempre fielmente tudo o que lhe é agradável, eles te defenderão. juízo.

(Eclesiástico XV, 14-16)


EDITORIAL

BAILE DE MASCARAS

A mentira está em toda parte. A nossa volta. Em nós.

A Senhora X detesta a Senhora z mas estende-lhe a mão com impecável sorriso. O Doutor A passa a vida a criticar o seu colega B mas se o encontra, felicita-o com entusiasmo pelo seu sucesso. Reparem para essas pessoas que, na igreja, desfilam perante a família do falecido; ficarão edificados com a sua sinceridade .. . Mentira das palavras e dos gestos. Mentira da vida. Cada um representa o seu papel : a mulher perfeita, o pai de famflia numerosa, o braçO direito do Senhor Vigário, o patrão, o cristão de idéias largas. Aplicar bem a máscara, compor bem o disfarce, é o grande golpe. E os partidos políticos. E a imprensa . .. quer se trate das últimas greves, ou dum grande processo em andamento : lindas palavras por toda a parte a camuflar muitas vezes coisinhas bem mesquinhas. Ah, estamos tão habituados que já nem damos importância. Tão habituados, quer dizer tão contaminados. Acham-me pessimista? Então façamos este teste : durante um único dia, esforcemo-nos por identificar todas as men·· tiras que se insinuam nas nossas atitudes, nas nossas palavras, nas nossas cartas, nos nossos gestos, nos nossos silêncios, nos nossos pensamentos, nas nossas orações, para com a mulher, os filhos, os companheiros de trabalho, as pessoas que encontramos, para conosco próprios (porque se mente a si próprio, e não menos que aos outros), para com Deus. se -2-


não ficarem assustados à noite, é porque são santos, a menos que sejam cegos. Tornar-se verdadeiro deveria ser a nossa obsessão quotidiana ... Serão auxiliados eficazmente se seguirem lealmente as regras das Equipes. Se na troca de idéias cada um exprimir com toda a simplicidade o que pensa, confessar o que ignora, pedir resposta a um problema que lhe surge, refletir com todos os outros sobre a maneira de traduzir na sua vida a verdade melhor compreendida, não tardará a tornar-se verda-deiro, Se a nossa oração na reunião mensal for mais do que uma boa dissertação, se traduzir em algumas palavras despidas de eloqüência, de literatura, como se estivéssemos sozinhos perante Deus, um pensamento, um desejo, um sentimento profundo da alma, tornar-nos-emos verdadeiros. Se cada um fizer lealmente aquilo a que chamamos partilha (lembrem-se do texto dos Estatutos: "Cada casal diz, com toda a franqueza, se durante o mês decorrido observou as obrigações que lhes competiam"), os membros da equipe não tardarão a tornarem-se verdadeiros. Parece tão natural que os casais, que, juntos, se submeteram livremente a uma regra num espirito de ajuda fraterna, se mantenham a par dos seus esforços e dificuldades. Por que será que tantos casais sentem, pois, repugnãncia por essa partilha? Não será na medida em que ainda estão habituados a driblar, a representar o seu papel, a cultivar a sua reputação? li: precisamente porque vemos na partilha, entre outras coisas, um melo infalível de fazer cair a máscara e lutar contra o "blefe" mundano, que lhe damos tanta irnportãnc!a. Quando os casais de uma equipe se esforçam por eliminar todas as mentiras, por se manterem numa sinceridade total, então, como me escrevia um de vós: "A comunhão dos santos entre cristãos que se tornaram transparentes uns aos outros não é apenas um dogma em que se acredita mas uma experiência que se vive". HENRI CAFFAREL

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ESPIRITUALIDADE

EUCARISTIA, PENITtNCIA ...

Visto que numeroros membros das Equipes, homens e mulheres, têm como "Regra de Vida" a freqüência mais regular aos Sacramentos, eis alguns textos que nos recordam o que ~ão e o que deveriam rer, para os bat..zados, a Eucaristia e a Confissão.

O AMOR NAO ·CONHECE DISTANCIAS

"Não b1sta dizer que a Eucaridia é o sacramento do amor de Deus porque nos recorda tudo o que Deus fez por nós. Se fosse apenas Isto, talvez nos bastasse meditar intensamente diante de um bocado de pão vulgar. A Eucaristia contém Cristo vivo, e no-lo entrega para que O tomemos. De:te modo não representa somente o amor de Deus mas de certo modo injeta-o n1queles que a recebem. ll: por &se motivo que não nos é pedido apenas que olhemos, veneremos e adoremos a Eucaristia mas que a tomemos. Deus está ali e nós nos aprox'mamos d'Ele o mais possível, aocorvemo-lo, unimo-nos a Ele e o assímilamos. Estes gestos, este proceder, exigem amor e alimentam o amor, porque o amor não conhece distâncias; ele pede a união mais intima e a assímilação mais profunda. O p_imeiro efeito da Eucaristia é aumentar em nós o amor de Deus". A.M.ROGUET

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REUNIDOS NA MESMA SANTA MESA

"Não há rel:gião no lar que, através da comunhão de todos, não se relacione com a Mesa eucarística". Como nos.!:o p··opósito é tratar do asmnto em função do lar, é preci: o sublinhar que a ligação à Mesa eucarística deve ser a do lar como tal. Tudo o que dissemos sobre a conservação das tradições cristãs na família e da inserção em comur: dades e movimentos, seria inútil para o crescimento espiritual : e toda a familia não se reunisse, de tempos a tempos, à volta da mesma Santa Mesa. A Eucaristia possui e transmite uma g:aça de unidade que nada pode substituir com a mesma inten"idade. Faltaria qualquer co!sa à familia se os seus memblos --6 re reunissem à volta da mesa familiar (se é que assim fazem) e nunca à da Santa Mesa. Há, pelo menos "festas de família" Natal, Páscoa, festa dos pais, dos filhos, Assunção . . . - que é necessário celebrar em família, em volta do altar. Fara que este princípio seja aplicado sem rigidez, a vida da família deve, de várias maneiras, preparar e dispor pa1a tal. Não só pela educação que dá, pelos movimentos a que cada uma dos membros pertença, mas através de uma vida cristã que seja vi vida em conjunto, sem falsas vergonhas ou respeito humano. A comunhão à mesma missa em determinadas festas, fa&e mesmo o Natal, poderia ser apenas rito forrr.a:ista e me::mo in: uportável, se nunca se rezasse em família ou não se falasse de Deus e das coisas religiosas com toda a simplicidade. Neste aspecto, nada mais louvável do que a prática da oração da noite em famUia. Mas cada família tem de en:ontrar as formas de sua vida cristã interior. Há formas livres e há "invenções" magníficas; há também outras necessárias. Quanto às primeiras, posso permitir-

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-me trazer aqui uma recordação pessoal, Nos dias em que, por acaso - visto que no colégio, e as moças em outro lugar juntos à S anta Mesa da missa dominical, ao regressarmos à casa, nos beijás>:emos e irmãs".

ou melhor familiar. os rapazes estavam - estávamos todos meu pai queria que, todos, pais, irmãos A.M.HENRY

UM ENCONTRO ENTRE DUAS PESSOAS

"A Penitência é, sem dúvida, o sacramento em que o nosso encontro de pessoa a pessoa, com o Cristo, é acentuado. É o único sacramento em que não há outro sinal além do ato humano. Não precisa de nada exterior, pois o sinal, suporte do sacramento, é o próprio ato da confissão e do reconhecimento do pecado. Por outro lado, Cristo quis que esta confi<são se fizesse perante um rosto humano - "aqueles a quem perdoais os pecados" - para nos assegurar que, se o pecado atinge o próprio Deus, em pessoa, é também pessoalmente que somos amados e perdoados.

Só no rosto Daquele que ferimos podemos descobrir a profundidade do nosso pecado. O pecador vem refugiar-se na chaga que abriu com o seu pecado. Lava-a no sangue que fez correr. Deus não só perdoa, faz muito mais vindo chorar com o pecador, tomar sobre Si o peso do mal, alinhar com os culpados. O cura d'Ars gostava de repetir, com propriedade: " Acabais de crucificar Jesus Cristo, de vender a vossa alma, mas quando vos ides confessar é preciw compreender o que ides fazer ; pode dizer-se que ides tirar os pregos da Cruz de !~.oss o Senhor". P. BRO

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VIDA DE EQUIPE

A "PARTILHA" NA REUNIÃO

Depois do editorial que acabaram de ler, compreendem melhor a razão da "partilha". A partilha faz-nos ser verdadeiros diante dos outros, as máscaras caem, a atmosfera purifica-se; ficamos mais aptos a participar da presença de Cristo, prometida aos que se reunissem em seu nome. Mas precisamos nos ajudar a fazer a partilha. Realmente, pode-se estar convencido que o bolo para o jantar deve ser bem feito, ou a planta de uma casa bem desenhada e, no entanto, não saber fazê-lo! lt necessário saber como se há-de proceder. Muitas equipes, a princípio, tropeçam em dificuldades; equipes mais antigas encontram outros obstáculos; é preciso ajudá-las a evitar rotina e monotonia. A Carta Mensal das Equipes de Nossa Senhora existe para isso. NAO EXISTE UMA FóRMULA úNICA

Notemos desde já que não existe uma fórmula. Diremos mesmo, com um sorriso para que não se aborreçam, que é preciso às vezes desconfiar de alguns casais das Equipes. Entusiasmados com a sua equipe, que julgam perfeita, terão tendência para impor o que lá se faz. Um dirá com segu ança: "A partilha faz-se na oração: põem-se todos de joelhos e acusam-se das suas faltas às obrigações". Um outro: "A partilha faz-se assim: uns a seguir aos outros, cada um diz se cumpriu ou não as suas obrigações e ninguém intervém".

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Um terceiro: "A partilha é um pôr em comum dos nossos êxitos e das nossas dificuldades, é preciso consagrar-lhe pelo menos três quartos de hora". Estas três formas de partilha, multo esquematizadas aqui, podem ter certo interesse: podem convir a uma determinada equipe, a uma época da vida de outra, a uma determinada reunião, para voltar a dar vigor e "sentido" a uma "partilha" que se tornava rotineira. Mas fixem bem isto: cada equipe deve inventar-se a si própria, e não moldar-se por um molde único. Dão-~e-lhe algumas normas nos Estatutos e nas orientações que lhe vêm da Equipe Responsável; dão-se-lhe também muitos con~elhos, sugestões expe .iências de outras equipes para que ela aproveite o que lhe convier. Recomendamos aos Casais Responsáveis que tenham imagina;ão. Tenham-na vocês também. Que aqui~o que se diz aqui os ajude a refletir sobre o sentido da partilha na sua equipe, nestes primeiros meses da sua existência. Depois, hão-de fazer juntos esta pergunta: "A nossa partilha é o que deve ser para corresponder à sua verdadeira finalidade, temos alguma coisa a modificar, a judar-nos a ser verdadeiros"? Se é preciso inventar a sua própria vida de equipe, não é preciso inventá-la duma vez para sempre, mas reinventá-la "nas vá rias idades". SENTIDO DA "PARTILHA", O QUE ELA DEVE ABRANGER "A pó.~ a oracão. um mninPnto é COtl8ao-ra<io à "partilha" so11rP. n.o. we!os de auerfeiço'lmento. Cada ca.~ql d'z. com toda a fr~ T'Qlle7a li'e ohservou durante o mês decorrido as obr''l'ar.õo.« qne lhe C'lbiam .. . Como .oe in.•ere nA. linha d<t vernade!r<t cA.rldade ev n!!é 1ira a n "átirq, ne Intercâmbio P. tqmh.Sm a ri<> "'"'P.lar com toda a simplicidade para o auxflio mú tuo fraternal".

Ne~ .fl oaráo-r<>i'n. os e•tatuto.s 1nd1carn ..~em fn.sistlr, do!.s aspectos da partilha: o controle e o auxfllo mútuo.

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Expliquemos um pouco: Controle de si próprio: a partilha lembra-nos as nossas obrigações e obriga-nos a verificar as nossas falhas ou os nossos progressos. Controle mútuo na equipe: não é só diante de Deus e de nós próprios que nos examinamos, mas diante dos outros e os outros diante de nós. Isto porque aceitamos ajudar-nos a sermos fiéis aos Estatutos. Controle do Movimento: visto que o resultado da partilha é comunicado pelo responsável da equipe ao Casal de Ligação e aos Responsáveis de Setor. Ajuda em equipe: pela troca de experiências e o assumir a responsabilidade uns dos outros. Ajuda entre equipes: visto que as experiências comunicadas podem ser úteis a todos através da Carta Mensal, e também porque podemos conhecer todos os anos qual a percentagem do cumprimento das obrigações dentro do Movimento, e chamar a atenção para as falhas que se notarem. ~ graças a isto que por vezes são lançados inquéritos mais explicitas, quando se verifica pelos anexos que há falhas freqüentes em determinado ponto, de maneira a podermos ajudar os casais, quer por intermédio da Carta Mensal, quer em sessões ou reuniões diversas.

COMO FAZER ESTA "PARTILHA"?

Mas como deve fazer-se a partilha? Para que haja controle e ajuda é necessário. . . que haja possibilidade de controle e de ajuda : Isso leva-nos imediatamente a fixar dois pontos: - Cada um deve dizer explicitamente se cumpriu o não cada obrigação (a partilha deve fazer-se todos os meses sobre -9-


todos os pontos (1), com exceção das obrigações anuais de retiro e cotização). Este relato simples e sincero tem já valor em si mesmo. - Cada um faz a partilha sobre as obrigações que lhe cabem em virtude dos Estatutos. Deste modo os Responsáveis de equipe e os outros "Quadros" devem fazer a partilha na sua equipe sobre as obrigações da missa semanal. - Não basta uma enumeração seca de sim ou não mas deve haver troca de detalhes : se n ão for sobre todos os pontos de cada vez, pelo menos sobre um ponto ou dois, normalment-e escolhidos pelo Casal Responsável, com quem os membros da equipe podem combinar previamente.

UMA "PARTILHA" 1\'IAIS PROFUNDA

Ao lerem, logo adiante, a carta que um Casal de Ligação nos enviou, poderão ver como pode ser o desenrolar de uma autêntica partilha. Essa comunicação profunda sobre todos 03 pontos, tinha caráter excepcional, mas podem compreender o interesse da verdadeira comunicação que provocou, levando ao maior conhecimento mútuo e à maior abertura de alma: "Ultimamente tomamos parte na reunião de uma equipe de boa vontade preocupada em aplicar as obrigações dos Estatutos, mas da qual sabíamos que ainda não conseguira realizar bem a "partilha".

OJ Consideramos aqui o caso das equipes que já assumiram todas as obrigações. Evidentemente que, nas equipes ainda recentes, s6 farão a parlilha sobre aquelas obri11ações já estudadas e que decidiram cumprir. Contudo não há vantagem em esperar muito tempo antes de tentarem todas as obrigações. -10-


Chegamos cedo êm casa do Casal Responsável, para nos Inteirarmos com ele da ordem do dia : "ll: claro que, dissemos· -lhe, abordaremos a partilha depois da oração". "Com certeza, respondeu-nos com certa re:-erva, mas os casais da nossa equipe sentem ainda muitas dificuldades. São de idades e maturidade muito diferentes; de um nível e meio social onde existe o máximo cuidado de não mostrar aos outros senão o que se julga ser o a~ pecto mais apresentável de si próprios". Por fim decidimos juntos fazer a partilha imediatamente depois da oração, como se não houvesse qualquer problema a prior!. Entretanto, perguntávamos a nós mesmos como se iriam passar as coisas. O acolhimento que recebemos à nossa chegada, a atmosfera da refeição em comum, depressa acalmaram as nossas apreensões. O ca.sal responsável, com simplicidade, tinha sabido colocar o ambiente da equipe num tal clima de franqueza que tudo podia ser livremente evocado. Imediatamente depois da oração, o responsável começou prudentemente a partilha pelos pontos em que não havia dificuldades. Aproveitando a euforia surgida deste testemunho favorável, experimentamos abordar a oração familiar. Receávamos encontrarmo-nos em face de sérias dificuldades; alguns casais têm filhos de 18 e 20 anos, o que faz sem dúvida levantar problemas quanto à oração familiar! E eis que o primeiro testemunho dá o melhor efeito. Mas é melhor verem: "Ainda não tlnhamos tido coragem para abordar com os nossos rapazes o problema de uma oração de família em comum, à noite. Incitados pelos Estatutos, resolvemos fazê-lo &em termru preparado de forma alguma o terreno. Logo que o prob.ema foi posto, em lugar das objeções que esperávamos, o nos..o filho mais velho (dezoito anos) respondeu: "Mas, papai, &6 me admira não terem pensado nisso há mais tempo, pois parece-me perfeitamente natural que uma família cristã faça junto a sua oração da noite". Depois disto os problemas -11-


de método foram resolvidos rapidamente. Um outro nota como aprofundou a vida Interior através do que lhe trouxe a parte espontânea da oração familiar e o bem que sente ao ver a seriedade com que os filhos enunciam as suas intenções pessoais. Um terceiro reconhece que não se trata de deixar o filho "fazer a sua oração" diante dos pais, mas que cabe a estes e de maneira especial ao pai, di rigir a oração familiar". Depois o famoso "dever de sentar-se" permitiu relatos interessantes. Eliminando como não satisfatórias as conversas de dez minutos em que, sonolentos ou a limpar a louça, os esporos comunicam um ao outro as decisões que tomaram durante o dia e verificam que não têm nenhuma queixa um do outro, soubemos das dificuldades que um casal tem em abo rdar seriamente os seus problemas (este casal vive com o.s sogros), as vantagens tiradas de uma separação de vários meses por um casal que realizou por correspondência o que não conseguia fazer de viva voz, etc .. . Saímos desta reunião com a sensação de que esta partilha tinha sido para os casais desta equipe, um alivio até mesmo uma espécie de libertação. Pelo nosso lado, tiramos grande proveito dela". Ajudada pela boa vontade e a fraternidade e seguramente pela graça do senhor, esta partilha foi muito proveitosa, não só para a equipe, que encontrou depois o seu verdadeiro clima, mas para os visitantes que não &queceram a confiança dada espontaneamente às suas bem fracas luzes.

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OS "MEIOS DE APERFEIÇOAMENTO"

O MOVIMENTO NÃO INVENTOU NADA DE NOVO ...

Na origem das melhores regras, das que convêm mais ao ser humano e à sociedade, daquelas que, por conseqüência, são as mais válidas e, por i&o. as mais duráveis, encontram-se as próprias necessidades vitais, p&soais ou comunitárias. Foi este o caminho das primeiras equipes, que as levou a adotarem esta ou aquela obrigação. O ideal seria que cada nova equipe vivesse este mesmo percurso que leva ao reconhecimento da validade de cada uma das obrigações. Um Conselheiro Espiritual, convidado a participar de uma reunião de equipe, escreveu e enviou a seguinte carta ao seu Casal Responsável: "Em primeiro lugar quero dizer-lhes que tive grande alegria em assistir, na semana passada, à reunião de balanço da equipe de que são Respon~áveis. Achei que a reunião foi muito boa. Embora achássemos que a apresentação das intenções foi demasiado longa, foi muito útil para mim e revelou-me mais sobre a equipe do que todos os relatos orais ou escritos. Permitiu-me verificar que os casais da equipe carregam realmente os fardos uns dos outros no plano espiritual. Além disso, têm um Consel:heiro Espiritual de grande valor. Parece-me, portanto, que há aspectos muito positivos na vida da equipe e, digo-o muito sinceramente, é uma verdadeira equipe de Noosa Senhora. Há duas obrigações muito importantes sobre as quais, durante o próximo ano, a equipe deveria concentrar os seus -13-


esforços, ajudada freqüente e exigentemente pelo Casal Responsável e com o auxílio do Conselheiro Espiritual. São o dever de sentar-se e a regra de vida. Tanto uma como a outra são instrumentos indispensáveíi> para o crescimento espiritual do casal e da pessoa. O Movimento, ao tornar obrigatórias estas práticas, não inventou nada de novo. Aplicou apenas, aos cri.s.tãos casados as práticas de vida espiritual desde sempre experimentadas na Igreja. O dever de sentar-se, é aquele momento privilegiado do mês em que os dois esposos se retemperam na fonte do amor que selaram no dia do matrimônio. ll: preciso que ao longo dos anos voltem a encontrar a juventude de coração, a do seu amor, mas com uma maior profundidade que no tempo de noivado. ll: perante o Senhor que se deve fazer esse encontro, o Senhor que é a juventude eterna. ll: desta prática que decorre, em grande parte, a santificação do amor conjugal, a do lar e a de toda a equipe. Parece-me que a entreajuda espiritual deve começar por af, esse esforço para se reconfortarem como cônjuges, na presença de Deus. Quando se tem 15 ou mais anos de casamento, é preciso conservar uma extraordinária juventude de espírito ou voltar a descobri-la na fonte de todo o amor (Deus), pa:a dialogar entre marido e mulher sobre as falhas de um e de outro, para situar as suas reações à luz da Palavra de Deus, para tomar juntos qualquer resolução e confiar a vida do lar ao Senhor. Creio que os membros da equipe devem fazer esforço neste sentido. As mesmas ob-servações poderiam ser feitas quanto à regra de vida mas situando-as no plano individual. Toda a equipe deveria aceitar o controle, v1gilante e muito exigente, sobre estes dois pontos". Quando nos amamos no Senhor como deve acontecer numa equipe, pode-se então falar de tudo e exigir muito, porque a exigência provém do amor.

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A REGRA DE VIDA

Os Estatutos pedem aos membros das Equipes para escolherem eles próprios uma regra de vida e acentua que a grande diversidade de membros das Equipes não permite propor a mesma para todos. A seguir define o que se entende por regra de vida nas Equipes de Nossa Senhora: "Sem regra. de vida a fantasia preside muitas vezes à vida religiosa dos casais e torna-a caótica. Esta regra de vida (inútil dizer que cada cônjuge deve ter a sua) nada mais é do que a determinação dos esforços que cada um resolve impor-se para corresponder melhor à vontade de Deus sobre si. Não Ee trata de multiplicar as obrigações, mas de as definir, a fim de escudar a vontade e evitar desvios. O conselho e o controle de um padre são desejáveis para evitar a sobrecarga ou a facilidade. Não existe obrigação de dar a conhecer à equipe a regra de vida adotada nem a maneira como é observada. Notemos no entanto que muitos levam até aí o espírito de auxílio mútuo". O principio da regra de vida está, pois, nitidamente formulado; a sua necessidade, como remédio para fantasia e como meio de assegurar maior método e perseverança. O papel do sacerdote está ai indicado, bem como o da equipe. O essencial está dito. Há no entanto muitos pontos a esclarecer. Houve inquéritos que permitiram que isso se fizes~:e , ao mesmo tempo que levantavam novos problemas. Foi consagrado um número especial da Carta Mensal à Regra de Vida. Daremos a seguir alguns primeiros e breves conselhos para ajudar a escolher a regra de vida. COMO ESCOLHER A REGRA DE VIDA

A regra de vida tem por finalidade fazer-nos progredir na vida cristã. Para o conseguir é preciso fazer esforço numa tríplice direção: -15-


libertar-se - alimentar-se - exercitar-se Estes três verbos ajudarão as nossas primeiras tentativas, mas podiam-se encher várias páginas com a indicação daquilo de que nos devemos desembaraçar, de que nos devemos alimentar, a que nos devemos exercitar. Assim, dizemos desde já que a reg1a de vida se1á o ou oo pontos bem determinados sobre os quais, por um período limitado, faremos incidir o nosso esforço (1) , Destaquemos que a regra de vida será: curta - precisa - escrita Mas para que a nossa regra de vida seja verdadeiramente a que nos convém é preciso conhecermo-nos a nós próprios. Devemos, portanto, refletir e rezar. POde ser vantajoso consagrar-lhe bastante tempo, por exemplo durante um recoLhimento. Deveremos, também, interrogar aqueles que nos conhecem bem - e i&o leva-nos a ser humildes - para que eles nos ajudem a orientar-nos bem: o cônjuge, em primeiro lugar, o confessor ou conselheiro espiritual, a equipe ou um dos seus membros que seja mais intimo, o Conselheiro Espiritual da equipe. Não perguntar: "Que regra de vida devo ter?", mas : "quais são as minhas tendências a combater, as minhas fraquezas, as minhas falhas, quais são os dons que recebi, aqueles que Deus quer ver frutificar, como desenvolvê-los?"

O que é preciso encontrar primeiro que tudo é a grande orientação da própria regra de vida, que depois será pormenorizada nos seus "pontos práticos". ORIENTAÇOES E PONTOS PRATICOS

Muitos casais acharam útil, para se lembrarem bem da orientação escolhida, formulá-la em breves palavras: "Deus (I) "Exercitar-se".

Teremos lodo o interesse em reler 1 Cor. IX, 24/ 27, onde o Apóstolo Paulo compara a corrida do cristão à do alleta. Este "priva-se de tudo", "domina o seu corpo". Esta passagem está na origem duma forma cristã de viver a que se chama "ascese". Voltaremos a referir-nos a ela dentro de meses. -16-


servido em primeiro lugar", "Com boa vontade", "Por amor de Deus" ... Daremo.s a .seguir alguns exemplo.s de regra de vida. l!: evidente que se trata de assumir um ponto prático e não vários ao mesmo tempo ; o ponto prático apenas existe para concretizar o esforço que que. emos fazer dentro da linha de orientação escolhida. "Deus servido em primeiro lugar" "Levantar-me e oferecer o meu dia a Deus logo que o despertador tocar. Ir à mtssa durante a semana (uma, duas, três vezes). Não ler o jornal antes de fazer a meditação. "Por amor de Deus" Não fazer mais do que faço mas fazer as coi.sas melhor e por amor. Marcar uma hora limite quando começo a ler, porque a paixão da leitura aniquila momentaneamente em mim toda a vontade. Atender o cliente da última hora com um sorriso, vendo nele o Senhor que me vem bater à porta. "Di.sciplina" Responder às cartas dentro de oito dias. Prever o emprego do meu dia na véspera e cumpri-lo (tenho tendência para perder tempo). Preparar todos os dias a oração famll1ar. Chegar do emprego na hora. "Caridade para com o próximo" Ouvir o meu marido e prestar atenção às suas preocupações quando chega, antes de lhe falar das minhas. Sair com a minha mulher uma vez por semana. Tentar ver em cada ser que encontro, um filho de Deus. -17-


Acrescentamos que para muitos é útil - e quantas vezes o temos ouvido - marcar na regra de vida a freqüência das confissões, obrigar-~e a certo ritmo de leituras espirituais e do estudo da fé, sem sequer falar da leitura do Evangelho, que deve ser o nosso alimento diário. Falava-se acima de "libertar-~:e, alimentar-se, exercitar-se"; ora, a prática dos sacramentos e da leitura é fundamental; é o alimento do cristão e ~em alimento não há vida. Antes mesmo de ter uma regra de vida, é preciso viver. REGRA DE VIDA PESSOAL E REALIDADE CONJUGAL

A regra de vida é pessoal, dizem os Estatuto.s. Muitos casais têm um ponto de regra de vida em comum, o que está bem. Marca-se assim o esforço do casal: trabalho ou leitura em comum, aberta aos outros, etc. Mas convém acrescentar duas observações. Para certos pontos da regra de vida é preciso a concordância do cônjuge <se eu decido ler a Bíblia todas as noites entre as 11 horas e a meia-noite, tenho de saber se a minha mulher, a quem não tenho outro momento para dedicar durante o dia, concordará com isso. Antes de a consultar devia mesmo perguntar se isto está de acordo com a caridade conjugal!). Os esposos podem ajudar-se um ao outro no cumprimento da regra de vida. Muitos aproveitam o "dever de sentar-se" para se interrogarem ~obre a maneira como cumprem a sua própria regra de vida e para se entreajudarem nesse ~pecto. Mas é perfeitamente legitimo guardar em segredo este ou aquele ponto da regra se, por exemplo, o outro puder perturbar-se com isso. E importante que a doutrina, tão sólida, tão clara e tão rica, seja de certo modo exemplilicada e posta ao alcance de lodos através da vida dos católicos convictos que se esforçam, no seu lugar de esposos, de pais e mães de família, por serem tolalmenle fiéis ao ideal traçado pelo próprio Senhor! ... JOÃO XXIII -18-


A REUNIAO DE EQUIPE

O CONSELHEIRO ESPIRITUAL

Atualmente, um padre está quase sempre presente em todas as reuniões de equipe. O .\'e u lugar e a sua missão na equipe e o seu papel no decorrer da reunião devem ser bem definidos. Ao fazê-lo, iremos traçar mais claramente a fisionomia do nosso Movimento. Os padres que, pela primeira vez, tomam contacto com as Equipes de Nossa Senhora, vão descobrir uma maneLa de exercer o .seu papel sacerdotal, sem dúvida diferente das contribuições que dão ou exercem noutros lados (Paróquia, Associações, Apostolado .. . ) A nossa exposição I, para se tornar mais clara, vai ser feita através de perguntas e respostas. - Por que é que falam de conselheiros espirituais e não de assistentes? 1!: costume chamar Assistente (1) ao sacerdote a quem o Biõpo delegou, em seu nome, o serviço num movimento que recebe da hierarquia a sua linha de ação. As Equipes de Nossa Senhora são um movimento de leigos onde estes têm inteira responsabilidade pela marcha do Movimento. Desejosas de desenvolver a vida cristã dos casais, (l)

Referimo-nos aqui aos lermos habilualmenle usados na França. Noutros países, os costumes são diferentes. -19-


pedem ao padre todo o apoio e a contribuição do seu sacerdócio, dos seus conhecimentos doutrinais da sua própria. vida inte:ior e de suas experiências pastorais; daí esse nome de Con.selheiro espiritual, que geralmente se usa nos movimentos de espiritualidade. - O Coru:elheiro espiritual faz ou não parte da equipe? Visto que as Equipes de Nossa Senhora são um movimento de espiritualida.de conjugal e que tudo nelas \finalidade, métodos, organização) é concebido com vista à vida espiritual do casal, o conselheiro espiritual (designa.-lo-emos por: C.E.) não faz parte da equipe como tal. Mas é chamado de tal modo n partici:~;:ar na vida da equipe, que esta distinção não é muito marcante. A grande quantidade de te!temunhos do C.E. sobre o que receberam nas Equipes de Nossa Senhora prova que, existencialmente, se sentem plenamente solidários na aventura espiritual da sua equipe. A sua vida espiritual pessoal e a dos casais estão profundamente unidas. Um deles, usando palavras de Santo Agostinho, dizia: "sou cristão convosco; .sou padre para vós". - Desculpe a minha insistência I Então qual é o papel do padre na equipe? A Igreja, no Concílio Vaticano II, redescobriu os batizados como povo sacerdotal. Os casais, portanto, sabem que são responsáveis pela aventura espiritual que empreenderam e para a qual se apoiam uns nos outros, formando uma equipe. Um deles, rotativamente, tem mais particularmente o encargo desta tarefa. Se apelam para um sacerdote, não é para ser o responsável. Mas a presença deste C.E. e a ajuda do seu sacerdócio ministerial permitem a sensibilização mais perfeita e mais assídua dos dados da fé e aos ensinamentos da Igreja. - Esta maneira de ver as coisas não reduz a missão do padre a intervenções episódicas nas reuniões, nos momentos da oração e no estudo do tema? Evidentemente que são esses os momentos em que esperamos mais da intervenção do mesmo C.E. Mas como seria -20-


possível não pedirmos a sua ajuda em todas as fases da nossa reunião? Naquilo a que chamamos co-participação, que de fato envolve toda a reunião, para onde todos trazem os acontecimentos, as alegrias, as preocupações, as experiências da vida, o padre tem muitas ocasiões de intervir. Está "presente por direito" nos diálogos que surgem entre nós. A maior parte das vezes é o mais apto a ver os acontecimentos pelo prisma da fé. Quanto ao seu contributo na partilha, é desejável que exista verdadeiramente. Poderá reco: dar como é séria a nossa fidelida:ie aos fins essenciais, renovará o significado profundo das obrigações, ajudar-nos-á a evitar o farisaísmo ... Na prática o C.E. realizará mara7ilhosamente o seu papel se incitar os casais a mostrarem-se coletivamente exigentes uns para os outros em nome de Cristo, a ajudarem-se mutuamente com maior generosidade, a combater o desencorajamento, não com desculpas que soam falso, mas por exortações lúcidas e cheias de caridade benévola.

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JOÃO XXIII FALA AS E.N .S.

" Continuai, em confiança e humildade, os vosso.s esforços com vistas à perfeição cristã dentro da vida conjugal e familiar. Se é verdade que o estado de virgindade é, por natureza própria. superior ao estado do matrimônio, esta afirmação, como sabeis, não se opõe em nada ao convite dirigido a todos os fiéis de serem "perfeitos como o Pai celeste é perfeito". O próprio valor que a Igreja concede à virgindade cristã, é precioso para os esposos, pois a castidade perfeita das almas corua.gradas é um constante apelo ao ideal do amor de Deus que deve, também no matrimônio, animar e sustentar a prática da castidade própria deste estado. Que riqueza e que esperança vem para a Igreja desta multiplicação de casais cristãos, em que os esposos querem - conforme os termos da vo!sa carta de vida - que o .seu amor mútuo santificado pela graça, purificado pelo sacrifício, seja louvor a Deus, testemunho prestado aos homens da santidade do matrimônio e reparação dos pecados que se cometem cont ~ a ele! Já há multo tempo que vós, queridos filhos e filhas, tornastes esta resolução. Quereis fazer dessa sociedade única e privilegiada que é a família, uma verdadeira célula da Igreja, onde Deus seja venerado, especialmente através da oração em comum, onde a .sua santa lei seja o~ervada , mesmo que por vezes seja difícil, onde se desenvolvem JJarmonicamente na caridade esses frutos tão preciosos do coração humano que são o amor conjugal, o amor de pai e de mãe, o amor filial e o amor fraternal!. . . -22-


A vos:.a miSSao de esposos e pais cristãos ultrapassa o quadro restrito da família. Proteger a intimidade do lar não é fechá-lo, esterilmente, sobre si mesmo. A caridade aperfeiçoa-se no dom de si próprio e é consagrando-se às tarefas que lhe competem n a I greja e na sociedade que o vosso lar encontrará o seu verdadeiro desenyolvimento cristão. Sendo acolhedor, fra ternal, aberto às necessidades dos outros, um casal já faz verdadeiro apostolado, pelo seu exemplo e pela irradiação da caridade. Mas nós gostamos de saber que, além di~o. o.; membros das Equipes de Nossa Senhora, animados pelo espírito missionário, participam em grande número na vida da Ação Católica e nas diferentes obras aprovadas pela hierarquia". JOAO XXIII

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O FUTURO DA CIVILIZAÇÃO

Julgo que é absolutamente necessário que os cristãos de hoje se persuadam da sua responsabilidade, isto é, do fato de que trazem sob.e os ombros o pezo do que será o mundo em que vamos penetrar. Sentimos que o futuro da fé e da civillza.ção - por mim não dissocio o futuro da civilização do futuro da sua dimensão religiosa - está hoje ameaçado; as coisas não andam, a ponto de até vermos cristãos aceitarem a idéia de que estamos numa época em que o declínio da religião é irremediável, em que se teria de aceitar que a grande massa dos homens se afastasse de Deus, que entraríamos num universo que êeria o do ateísmo e no qual apenas sobreviveriam algumas pequenas ilhas de cristandade, alguns pequenos grupos de "espirituais" ou de "militantes". Hoje sentimos perfe'tamente o perigo e, em presença de situação como esta, a omissão já. não é possível; é absolutamente necessária a mobilização de todas as forças da Igreja. Isto aliás corresponde profund'lmente a uma das aspirações fundamentais dos homens do nosso tempo: pensar que o mundo não é algo que se faz sem nós, mas que é feito por nós. Tenho hoje um medo trágico deste gênero de demissão quase coletiva dos cristãos, Isto é, de uma espécie de aceitação da derrota antes do combate. A quantos cristãos ouvimos dizer hoje: "li: preciso aceitar isto, é preciso conformar-se; hoje não se trata mais de apresentar a fé cristã em toda a sua -24-


integridade, é preciso eliminar isto, é forçoso eliminar aquilo". E acaba-se por eliminar tanta coisa que acabamos por perguntar o que fica finalmente do conteúdo autêntico da fé em certas apresentações que dela se fazem. O que se r:assa em relação à fé passa-se também em relação à ação e ouve-~e dizer: "Temos de aceitar que a sociedade, a civilização, a comunidade moderna estejam inteiramente secularizados, devemos nos conformar que o cristianismo deixe de se mostrar nelas, temos de aceitar que se volte de novo à Igreja da,s catQ.cumbas ... ". Sim, mas nas catacumbas apenas poderão entrar algumas p&soas e não as multidões imensas que esperam que lhes anunciemos Jesus Cristo! Não temos o direito de aceitar de antemão, quando nada sabemos sobre o futuro, que a sociedade de amanhã seja descristianizada, e de o aceitar precisamente r:o momento em que vemos entre os jovens uma certa redescoberta do Ab.:oluto. Há nesta juventude de agora tesou.o3 de generosidade, de coragem e de vitalidade. Não temos razão para desesperar, pe:o contrário, mas esta juventude será aquilo que soubermos ajudá-la a ser; não digo o que soubermos fazer dela, porque ela não tem de nenhum modo a intenção de consentir em tal, mas aqui:o que soubermos ajudá-la a ~er e a fazer. E, neste aspecto, com freqüência espera de nós muito mais do que confessa; quer dizer, procura apesar de tudo os pontos de apoio que Lhe podemos fornecer. JEAN DAN!ll:LOU

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EDU CAÇAO

MISSÃO DO PAI A educação é criação continua. Depois de ter engendrado o corpo, o pai deve fazer despertar para a vida a inteligência, a sensibilidade e a consciência, o que é obra de grande fôlego. Todos os dias terá de se interrogar : "Sou verdadeiramente pai? Os meus exemplos, as minhas palavras, as minhas repreensões, os meus perdões, as minhas exigências, os meus conselhos são criadores? O que no fundo significa perguntar a si mesmo se continua vivo, porque só a vida é criadora de vida. Só se dá a vida dando a própria vida. Mas tantos pais parecem que não o sabem! Contentam-se, tal como o escultor, de cinzel na mão, em modelar, de fora, uma ser a quem chamam o seu filho. Isto não é a educação porque não é assim que se dá a vida. Mas n ão é só o pai que realiza e leva a bom fim esta obra de educação. A mãe está a seu lado. Para fazer crescer, tal como para fazer nascer, é preciso serem dois, unidos no amor. ll: este o grande segredo da educação: a colaboração íntima do pai e da mãe é condição absoluta do sucesso. Autoridade e amor são a mesma coisa. O pai só é autor porque ama, a autoridade não é mais que o amor em ato. Noutras circunstâncias isto nem sempre é visível mas na família é evidente. ll: preciso não esquecer, no entanto, que separado de Deus, o homem está separado da fonte do amor. A sua autoridade não sendo já o sacramento da autoridade divina, abdica ou pelo contrário, degenera em autoritarismo, a sua degenerescência mortal. Não basta que o pai exerça a autoridade. ll: preciso que a criança esteja "aberta"; não podia recusar o apelo para a existência, primeiro dom do Pai, mas pode fechar-se aos outros dons do amor paterno. :a: preciso, portanto, que o pai ensine ao filho a verdadeira submissão. Não é a resignação -26-


de escravo mas amor e abertura de coração. Submissão é um do.s nomes próprio.s do amor filial, tal como autoridade é um dos nomes próprio.s do amor paternal. Esta submissão é a condição indispensável para que o impulso criador de Deus através do pai nunca deixe de formar a criança, em quem. progressivamente, irá surgindo o homem. Quando Cristo se refere aos pais da Terra, toma um ar de ternura: "Se vós, os maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filho.s . .. " e depois : um "pai tinha dois filho.s." Esta ternura é o reflexo daquela que ele tem pelo Pai de quem vai encontrar a Imagem, pobre mas autêntica, nos homens da Palestina. Foram pais para que Cristo, quando quis revelar o Seu Pai nô-lo pudesse mostrar sem nos induzir em erro. 1!: isto, agora e sempre, que Jesus Cristo pede aos pais da terra : pede-lhes que a imagem de Deus neles não seja desfeita. Mais do que i.!'SO, é a eles que diz: "Sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito". Não é, portanto, só para servir os filhos que um pai se esforça, dia a dia, para ser mais perfeitamente pai. 1!: para se assemelhar cada vez mais a esse outro Pai, e deste modo revelá-lo melhor aos que o rodeiam. Deste modo, "através do simples exercício de sua paternidade, o pai predispõe os filhos, pouco a pouco para uma atitude de espirito verdadeiramente filial para com Deus" e prepara neles "o clima propicio para o desenvolvimento das virtudes teologais. Se excluir das suas palavras a minima suspeita de mentira e de suas ações a menor suspeita de cabotinagem ", o crédito 1Ilmitado que os filhos lhe concedem espontaneamente, se tornará na imagem e na preparação da Fé teologal. Se o pai souber responder sempre com total generosidade, com toda a eficácia de que for capaz, aos pedidos de auxílio e se souber pedi-los eventualmente, a confiança co':npleta, supremo recurw na terra. que os filhos terão nele, tornar-lõe-á na imagem e na preparação da Esperança teologal. E quanto à Caridade .. . se o pai ama os filhos com o próprio coração de Deus, haverá nesse amor muito mais do que uma imagem e uma preparação. HENRI 'CAFFAREL

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PARA A PRóXIMA REUNIAO

TEMA E TROCA DE IMPRESSõES

Avançamos no conhecimento do espírito das Equipes quando falamos na "regra". Não existem agrupamentoo., associações, mo rimentos que não tenham as sua.s regras ou o seu regu'amento, mas muitas vezes são tão pouco explícitas que não se dá por elas. Não se "impõem" à a~n ção. Pelo contrário, a regra das Equipes é, segundo os Estatutos, "suficientemente suave para não entravar a personalidade e a missão de cada casal, e sufic:entemente severa para os prese1var da moleza". A regra impõe, assim, certa pressão e é através des: a própria pressão que atua na vida de cada um. Ningu:m pode p.escind r duma regra. O pecado inttO:iuziu em nós certo de3equilibrio. Para voltar a encontrar a nossa unidade, é preciso adotarmos as discipLnas que permitem ao espíiito impor-se e dominar a carne. Se a regra é essencial às Equipe-,, o controle é também e-sencial. É muito provave'mente um dos pontos mais importantes dos Estatutos a arma mais útil no combate espiritual que os casa's travam para ir até Deus. A palavra controle, evidentemente, choca muita g·ente. Contudo, pensamos que não será pre:iso empregar outra, porque significa bem o que se quer dizer. Cada um conhece a sua f:aqueza e sabe que as resoluções serão em breve le t.ra morta se não forem controlados regularmente. Não se trata de se "confessar" nem de se submeter ao julgamento dos outros, trata-se simplesmente de apresentar -28-


com toda a sinceridade a maneira como se cumpriram as obrigações dos Estatutos no mês que passou. ll: a "partilha". Todo o interesse deste controle reside em ser regular e é por isso que deve ter lugar em cada reunião. Exige, evidentemente, da parte de cada um esforço de renúncia e de simplicidade, grande humildade, mas tem a considerável vantagem de fazer a equipe viver em clima de verdade, porque cada um se mostra tal qual é (cfr. Editorial). Mas todo o esforço feito para dar à equipe a sua plena eficácia, não deve levar ao espírito de capel:nha nem a equipe a fechar-se sobre si mesma. Aprofundar a amizade, aumentar a abertura de uns para os outros, tomarem-se a cargo de maneira mais completa, etc ... , tudo isto não é um fim, mas um meio para ajudar cada um a atingir maior caridade para com Deus e maior doação de si mesmo para com o próximo. A toda intensificação da vida de equipe deve corresponder para cada casal, maior cuidado apostólico. Cada um de~ co­ brirá a maneira como atuará. Não há uma fórmula única para todos, nem uma direção única a dar. O que importa é que cada um ,<e saiba dar cada vez com mais generosidade, solidamente apoiado na equipe. Finalmente, ao lado da Regra do Movimento, existe para caja um, a "regra de vida" sobre a qual devem refletir neste mês. <PERGUNTAS) 1) - Que pen~am da "partilha" sobre as obrigações dos Estatutos e. de maneira geral, sobre a n~cessidade de certa forma de controle? 2') cu: d ;~. des

Já procuraram organizar a regra de vida? encontraram?

Que difi-

3) - Estão comprometidos em ação exterior à equipe (em plano cívico, eclesial, profissional ... ) ? Esperam da equipe um apoio para essa ação? -29-


ORAÇÃO PARA A REUNIÃO

TEXTO DE MEDITAÇAO (Luc. 1, 26-31) Foi o Anjo Gabriel enviado, da parte de Deus, a uma cidade da Galiléia chamada Nazaré, a uma virgem que era noiva de um homem da casa de David, chamado José, e o nome da virgem era Maria. Ao entrar para junto dela, disse o Anjo : - Salve, 6 cheia de graça, o Senhor está contigo. A estas palavras, ela perturbou-se e ficou a pensar que saudação seria aquela. Disse-lhe o Anjo: - Não tenhas receio, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Hás-de conceber e dar à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. ORAÇAO LITúRGICA

No salmo 84, os deportados que voltavam à Palestina, depois do decreto de Ciro, imploram a liberdade. Este salmo exprimia também a. expectativa de libertação ainda mais plena, expectativa. que só ~erá satisfeita. pela. vinda de Cristo. R . Também o Senhor dará o bem, e a nossa terra produzirá o seu fruto. V. Foste propício, Senhor, à tua terra; Mudaste em bem a wrte de Jaco!>. Perdoaste a culpa do teu povo ; cobriste todos os seus pecados. Reprimiste toda a sua ira; desististe do furor da tua indignação. R. Também o Senhor dará o bem ... -30-


V. Restaura-nos, ó Deus, salvador no.s.so, e depõe a tua Indignação contra nós. Porventura P.starás sempre irado contra nós, ou estenderás a tua ira a todas as gerações? R. Também o Senhor dará o bem .. . V. Porventura não nos tornarás a dar a vida, e o teu povo não se alegrará em ti? Mostra-nos, Senhor, a tua misericórdia, e dá-nos a t ua salvação. R. Também o Senhor dará o bem ... V. Ouvireis o que o Senhor diz; sem dúvida fala de paz ao seu povo e aos seus santos, e àqueles que de coração se converteram. Sim, a sua salvação está perto dos que O temem, A fim de que a Glória habite a nossa terra. R. Também o Senhor dará o bem ... V . A misericórdia e a fidelidade se encontraram juntas, a justiça e a paz se oscularam. A fidelidade germinará da terra, A justiça olhará do alto do céu. R.

Também o Senhor dará o bem .. .

V. Também o Senhor dará o bem,

e a nossa terra produzirá o seu fruto. justiça irá adiante dele, e a salvação (irá) pelo caminho dos seus passos. R. Também o Senhor dará o bem . . . Faz, ó Deus todo poderoso, que penetrados pela luz do teu Verbo encarnado, vejamos resplandescer na nossa vida aqUilo que, pela fé, ilumina o nosso espírito. Pelo mesmo Nosso Senhor Jesus Cristo, Teu Filho, que vive e reina pelos séculos dos séculos. Amém. A

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IN DI C E

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2

Espirilualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

4

Vida de Equipe . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

7

Os "Meios de Aperfeiçoamento" . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

13

A Reunião de Equipe .. .. .. .. . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..

19

João XXIII fala às E.N.S.

22

O Futuro d1 Civilização .. .. . .. .. .. .. . .. . .. . .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..

24

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26

Para a Próxima Reunião .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. . .. .. .. .. .. .. .. .. ..

28

Oração para a Reunião . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

30

Editorial

Educação

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EQUIPES DE XOSSA SENHORA Movimento de casais por uma espiritualidade conjugal e familiar

RevU;ão, Publicação e DU;tribulção pela Secretaria das EQUIPES DE NOSSA SENHORA .01050 - Rua João Adolfo, 118 - 99 - conj, 901 - Tel.: 34-8833 SAO PAULO, SP

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somente para distribuição Interna -


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