ENS - Equipes Novas 1978-5

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EQUIPES

NOVAS

CARTA No

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EQUIPES DE NOSSA SENHORA SÃO PAULO -

1978


Eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à reunião fraterna, à fração do pão e às orações. Todos os crentes viviam unidos e possuíam tudo em comum ... E o Senhor t!niham entrado A multidão roração e uma.

aumentaw, todos os dias, o número dos que no caminho da salvação ... dos que haviam abraçado a fé tinha um só só alma.

Ninguém chamava seu ao que lhe pertencia, mas entre eles tudo era comum. Atos dos Apóstolos (2 - 42, 44, 47 e 4, 32)


EDITORIAL

ESPIRITUALIDADE INTERESSEIRA Alguns meses de vida em comum. . . decepção. Ninguém se admira, a não ser os próprios Interessados: casaram-se para RECEBER e não para DAR. Após alguns anos de entusiasmo, este militante abandona o seu grupo de Ação católica : "já não encontro mais nada nele". Ainda um preocupado em receber, ma:s do que em dar. Um jovem casal parte para os Estados Unidos. Eis as suas palavras ao despedir-se: "Não é mais possível levar uma vida mais folgada em nossa terra". Aquele governo decide lançar um novo imposto, tomar medidas de austeridade para o reerguimento do pais. Surgem de todos os lados reivindicações. Não se Indaga se os interesses da ação o exigem. "Isto me prejudica; eu reclamo". A lista seria Interminável. Até mesmo com Deus: vamos procurá-Lo para receber e não para dar: "Que me adianta continuar a comungar e a me confessar? Não me traz mais benefício algum ... " E a mulher se desinteressa de seu lar, o militante de seu Movimento o paroquiano de sua paróquia, o cidadão de seu pais, o homem de seu Criador. Raça de aproveitadores. A sua dedicação tem por medida o seu Interesse. Nem sequer têm a franqueza. de o reconhecer; criticam e acusam os outros. Não é minha Intenção, aqui, propor-lhes um minucioso exame de consciência: no meu lar, na minha paróquia, na minha profissão, no meu pais, na Igreja, sou o parasita ou o -1-


bom operário? Nem seria sensato tratar, neste curto bilhete, problema de tão grande relevância. Mais modestamente, quero convidar cada casal a indagar de si por que entramos nas Equipes? Para receber ou para dar? Em seguida, dirigindo-me a cada equipe: por que aderiram ao Movimento? Foi unicamente para nele encontrar temas de estudo já feitos, receber um boletim, valer-se das experiências dos outros? Neste caso vocês não estão no seu lugar. Meditem nesta página de Sa!nt-Exupery em "Piloto de guerra": "Não era mais como arquiteto que eu habitava nesta comunidade dos homens. Eu me beneficiava de sua paz, de sua tolerância, de seu bem-estar. Nada sabia dela, a não ser que nela mo ava como sacristão, ou com objetivo !nteresseiio. Portanto, como um parasita, como um venc.do. Assim acontece com os passageiros de um navio; utilizam o naViO sem nada lhe dar. Ao abrigo dos salões, que consideram como ambiente normal, passam o tempo em divertimentos. Ignoram o trabalho doo homens da tripulação, sob o peso eterno do mar. Com que direito se irão queixar, se a tempestade vier a desmantelar o nav.o?" Mas se me re2.ponderem: "Queremos participar da grande tarefa empreendida pelas Equipes de No~sa Senhora, instaurar o reino de Cristo nos lares, fazer com que a santidade não seja privilégio de monges, mas se enraíze profundamente em pleno mundo moderno; queremos formar bons operários da Cidade e robustos apósto:os de Cristo", então siin: vocês estão no caminho certo. A sua equipe será útil a todas as demais. Receberá também de todas. Pois é precl..so relembrar sempre esta verdade : quem vem para receber volta de mãos vazias, quem vem para dar, encontra. -2-


Tendo compreendido o espirito das Equipes, não lhes será. difícil aceitar a sua dlscipliria. A reação que irão ter, não será: "tal obrigação é incômoda, opomo-nos a ela"; mas: "esta obrigação é útil ao bom andamento do Movimento por· tanto aceitá.mo-la ". E agora, caros amigos, compreendem por que não podemos admitir que as equipes escolham o que quiserem nos Estatutos? Não é porque, em si mesma, esta ou aquela infração <não responder por escrito ao tema de estudos, descuidar-se em adotar uma regra de vida, deixar de se inscrever num retiro, esquecer-se de dar a contril:>uição . .. ) seja uma catástrofe. Mas porque é um sintoma : a equipe entrou no jogo, não para dar, mas para receber. E isto é grave. E é por causa disto que pensamos que a equipe não está no seu lugar. HENRI CAFFAREL

Em espiritualidade, sede firmes convencendo-vos que não existem condições ideais para a vida espiritual. Há gente que passa ó tempo a dizer: "Quando estiver numa situação normal. .. " Nunca estamos em situação normal. A vida, por definição, é anormal, pelo menos desde o pecado original. Temos é de encontrar Deus em tudo e, ao rezar, dirigimo-nos a Ele como a um Pai simultaneamente com respeito infinito e total simplicidade. Padre LYONNET -

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"Escritos espirituais"


OS ESTATUTOS, ECO DA PALAVRA DE DEUS

"Reconhecem-No como Chefe e Senhor do seu lar. Fazem do Evangelho o fundamento da própria família".

Se o Senhor não edificar a casa, é em vão que trabalham os que a edificam. (Sal. 126) O homem deixará pai e mãe, ligar-se-á à mulher e passarão os dois a ser uma só carne: é grande este mistério. (Ef. 5, 31-32)

Não separe, pois, o homem o que Deus uniu. (Mt. 19, 6) Maridos amai as vossas mulheres como Cristo amou a Igreja e se entregou a Si mesmo por ela. (E!. 5, 25) Do mesmo modo vós, 6 maridos, comportai-vos sabiamente no convívio com as vossas mulheres, como seres mais fracos e como herdeiros convosco da graça que dá a vida. Assim nada se oporá às vossas orações. t1 Pedro, 3, 7) E Deus abençoou-os dizendo: Sede fecundos, multiplicai-vos, enchei a face da terra e sujeitai-a. (Gen. 1, 28) E vós, os pais, não exaspereis os vossos fllhos mas educai-O-\ com disciplina e advertências que se inspiram no Senhor. (Ef. 6, 4)

Deixai vir a Mim as criancinhas; não os estorveis, porque dos que são como elas é o Reino de Deus. (Marcos, 10, 14) Quem ama o filho ou a filha mais do que a Mim, não é digno de Mim. (Mt. 10, 37) lt por isso que todos saberão que sois Meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros. (J. 13, 35)


ESPIRI'IUALIDADE

OLHOS FEITOS PARA VER -

Muitos cristãos negligenciam abrir a alma à Palavra de Deus que lhes ensina, pouco 11. pouco, tudo o que Deus nos diz de Si mesmo, de nós e do seu Plano, sobre o mundo. Muitos cristãos desinteressam-se da Revelação que o Senhor confiou à sua Igreja e que, no entanto, detém os segredos da vida e da morte. Para eles só importa o que toca o coração; alegam que a vontade só se mantém firme sob esta pressão constante. De fato, quando o fervor sensível baixa, a vontade enfraquece. O que falta. então? 'Convicção mais forte e mais duradoura do que o fervor: não é no coração que se enraízam as convicções. Outro perigo: esses cristãos são vulneráveis. Arriscam-se a "navegar com todos os ventos de doutrina.", como diz o Apóstolo. Se lhe apresentarem com calor um pensamento incerto ou francamente errado, quando não herético, a sua sensibilidade a ele adere. Vivendo uma fé de superfície ou, pelo menos, de nível passional, sofrem as influências da ideologia nociva sem a julgarem por falta de critérios válidos. Deus fala, a Igreja fala. O que importa é acolher esta verdade, aprendê-la, apreciar tudo em relação a ela e saboreá-la, não porque aqueça o coração, mas porque é a verdade e só isso conta. "Já não vos chamo servos, mas amigos, porque vos disse tudo o que aprendi de meu Pai. .. " Na origem de certas crises nos arrefecimentos do apostolado até no desinteresse grave relativo aos sacramentos, está o estado de ignorância em que alguns casais deixam a sua fé. Como permanecer fiel às exigências do diálogo com o

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Senhor, como dar verdadeiro testemunho, se nos contentamos com a tão célebre "fé do carvoeiro"? Porque a fé não é adesão de princípio a verdades cujo Inventário seria sem interesse; não é, também, obediência passiva à Palavra de Deus e às diretrizes da Igreja; nem apenas o amparo de um amor que não se preocupa em conhecer melhor aquele que ama. ll: virtude da inteligência que se abre, com um apetite apaixonado e insaciável, à revelação dos segredos divinos. Se a deixarmos sem curiosidade, arrisca-se a estiolar. Até uma opinião filosófica, uma opção política sofreriam com tal tratamento. A vida tem as suas exigências sagradas - transgredi-las corresponde, muitas vezes, a um decreto de morte. Não acusei, em princípio, o ambiente atual e, ainda menos a vo.ssa fé como se fosse ela a culpada que vos "abandonasse ". Sois vós que não respeitais as suas leis. Sois vós que a al:landonais impedindo a visão, a compreensão cada vez mais profunda dos mistérios de Deus e de Cristo, dos .olhos feitos para ver. A. M . CARRE

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A REUNIAO DE EQUIPE

A CO-PARTICIPAÇÃO

"Nas reuniões mensais, um momento deve ser reservado (pode ser a própria refeição) para que sejam postos em comum as preocupações familiares, profissionais, cívicas, os suceEsos ou fracassos, as descobertas, tristezas e alegrias" (Nos Estatutos).

:e: a t ;to que chamamos a "co-participação" ou "o pôr em comum". Não se aplica, como acontece com a "partilha", a alguns pontos determinados, mas a toda a nossa vida e, por isso, ultrapassa fatalmente o tempo que lhe reservamos. :e: antes de tudo, um estado de espírito, uma vontade de se abrir aos outros - nos dois sentidos: dar e receber, falar e escutar, oferecer e pedir. O "momento" que lhe atribuímos em cada reunião, nos exercitará à sua prática em todas as ocasiões. Nós o p.aticaremos na "partilha", na participação de cada um à troca de idéias, como também irá inspirar as intenções pessoais formuladas no decorrer da oração. A "00-PARTICIPAÇAO" NUMA EQUIPE NOVA

A tendência espontânea da amizade leva a procurar conhecer e a dar-se a conhecer. Por outro lado o conhecimento mútuo aprofunda e fortifica a amizade. Se isto é verdade no plano simplesmente humano, deve sê-lo muito mais nas equipes, onde a amizade não é simples afinidade natural, mas quer ·- 7 -


ser amor fraterno, enraizado no amor de Deus, e onde a descoberta das deficiências, longe de arrefecer a amizade, como acontece no plano simplesmente humano, a torna mais quente e mais viva, pois irá despertar em nós a necessidade de ajudar. Assim penetrados desse desejo de união, desse desejo de dar e receber, não nos deixaremos mais embaraçar pelos sentimentos de timidez, de respeito humano, de orgulho, ou pelos nossos hábitos de excessiva reserva ... Na prática, será Indispensável, desde o Início, que nos apresentemos uns aos outros, Indicando a.s grandes linhas de nossa vida pessoal, da vida do lar, da profissão do marido, dos atrativos particulares que delineiam a vocação de cada um. Esta primeira apresentação será o ponto de pattlda para novos "pôr em comum" sobre as a ~lvidades externas de cada um, suas diferentes responsabilidades, suas oportunidades diárias de contatos humanos, etc ... COM QUE ESPíRITO DEVE SER FEITA? l!: normal que os amigos confiem mutuamente as suas alegrias, seu.s desgostos por vezes mesmo seus problemas; eles se fe!lcitam, procuram confortar-se, aconselham por vezes .Eoluções.

Na equipe deve Eer bem diferente O Interesse que temos pelos outros a disposição de "carregar os fardos uns dos outr03" situa-se num plano todo diverso. Trata-se de encarar as alegrias, a.s dificuldades, antes de tudo do pon o-de-vf.:>ta cristão, sem meno.sp:ezar o aspecto humano dos problemas. "Ajudar a encontrar a ressonância cristã de tal aconte~' mento familiar. adivinhar a fonte de graças que pode brotar de uma provação aceita, descobrir a a ção divina por trás de um acontecimento alegre, para nos unirmos numa ação de graças". Um casal responsável anotava o seguinte no seu relatório: -8-


"Na última reunião, um membro da equipe disse: "Náo queremos aborrecer a equipe com a.s nossas preocupações". Todos protestaram vigorosamente; no entanto, no fundo, o mesmo acontece com todos nós ; o respeito humano nos paralisa. Para reagir, decidimos abandona r tudo naquela noite e dedicar toda a reunião a uma "partilha" profunda sobre a.s obrigações dos Estatutos, e, em seguida, a uma "co-participação" sobre aquilo que marcou a nossa vida e sobre nossas responsabilidades". BREVES TESTEMUNHOS

- Imaginem a nossa emoção, quando um casal de nossa equipe, que sofre a cruz de um filho doente, escolheu o momento da oração para anunciar a vinda próxima de outro filho, e pedir a todos que rezássemos com ele a Deus, pela saúde da criança esperada. - Durante a "co-participação", X interroga a si próprio se teria o direito de consagrar a uma deõ,p esa semi-necessária, o que não teria t :do a coragem de g~tar em favor de pessoas desprovidas do necessário. - Um dos membros de nossa equipe alertado pela reflexão de uma jovem empregada, compreende que o seu comportamento profissional wtá em contradição com o seu estado cristão. Ele nos expõe com muita simplicidade este caso de consciência no começo da reunião. - Convidado a apresentar-me como candidato nas e:e'ções municipais, só aceitei a eventualidade deste encargo, com plena consciência das dificuldades que me esperavam, depois de ter falado a respeito na equipe, sabendo que podia contar com todos para me apoiarem nas dificuldades. SE HA FALTA DE TEMPO lt bem difícil fazer tudo numa reunião! Por isso é conveniente realizar, de tempos a tempos, uma reunião sup!emen-

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tar, ou reunião de amizade. li: muito importante para as equinovas, pois permite aos casais um progresso rápido no conhecimento mútuo. Será por vezes indispensável uma noite destinada a um "pôr em comum" mais profundo das atividades de cada um, ou a um problema que interessa todos os casais. Num ambiente mais à vontade, depois da oração abordar-se-ão os assuntos propostos por um ou outro c~al, trocar-se-ão impressões sobre as leituras recentes, ou procurar-se-á o ponto-de-vista cristão sobre determinado acontecimento ... Não hesitem em ter reuniões suplementares, pelo menos uma por trimestre, ou melhor ainda, uma por mês. Não será perda de tempo, mas tempo ganho para o conhecimento mútuo e a caridade. pes

COMO SE DEVE FAZER?

Um pouco de organização não prejudica em nada. Escutemos, pois, os conselhos de casais que têm mais experiência: - Os que têm um assunto para a "co-participação" proponham-no com antecedência ao casal responsável, - Os que têm um problema urgente a expor, ou uma comunicação urgente a fazer à equipe, aproveitem o momento. - Pode-se aproveitar a refeição para uma certa "co-participação", sob a condição de que o número de pessoas não seja muito grande e que sejam disciplinados. Entretanto, o ambiente da refeição não se presta ao debate de assuntos pessoais e importantes. li: preferível que sejam tratados depois da refeição, quando estão todos ainda sentados à mesa - se as instalações são suficientes -, ou então em seguida à "par-

tilha".

- O casal resporuável tem um papel importante durante a "co-participação". Deve ter cuidado em que se observe o espírito de auxflio mútuo e de caridade que as EqUipes querem suscitar em nós, em que não se perca tempo em coisas sem -10-


importância, em ajudar os casais que têm dificuldade em expor as suas preocupações. O QUE NAO SE DEVE POR EM OOMUM :1!: evidente que não devemos pôr em comum as preocupações de caráter mais intimo, os fatos que poderiam constituir uma acusação ao cônjuge, as confidências de um fiLho que seriam de certo modo uma traição à sua confiança, ou as que comprometeriam a reputação de outra pessoa, etc.

Não se põem em comum os "micróbios"; é bem melhor comunicar os bons remédios! Recordemos também a indispensável discrição: o fiamos uns aos outros, sob o olhar de Deus, não direito de divulgar fora da equipe, nem mesmo de a menor alusão. se procedêssemos de outra forma, mais ousaria dizer coisa alguma na equipe.

que contemos o lhe fazer n :nguém

DO QUE CONSTA A "CO-PARTICIPAÇAO" De um número especial da Carta Mensal, dedicado à "co-participação", destacamos as linhas que seguem:

A co-participação comporta seis aspectos principais: conhecimento mútuo; 2) pôr em comum as próprias riquezas; 3) expor as próprias necessidades; 4) examinar o problema apresentado por um casal da equipe; 5) descobrir, juntos, as exigências evangélicas; 6) procurar, juntos, as verdadeiras responsabilidades de cada um. 1)

Enquanto não pusermos em prática, de uma forma ou de outra, estes vários pontos, não podemos pretender que tenhamos atingido o que caracteriza a co-participação. -11-


De que se trata, afinal? Trata-se de ajudar cada um cada casal, com base naquilo que tiver dado a conhecer de si mesmo, a descobrir suas próprias responsabilidades em todos os dominios: familiar, profissional, civico, apostólico, paroquial. .. Cada um destes domínios devendo ser encarado sob o quádruplo aspecto da competência da preocupação de adorar um modo cristão de agir, da preocupação apostólica, da o:ação. Numa reunião, o membro da equipe passa em revista todos os dominios de sua vida. Os outros ajudam-no a descobrir, sem indiscrição nem autoritarismo, aquilo que ele eventualmente não consegue discernir das suas respomabilidades, e, para cada uma delas, ajudam-no, se necessário (qual de nós não precisa deste auxilio), a verificar se conserva a sua competência, se tem a preocupação de assumi-la como cristão, se a oração e a preocupação apostólica estão bem presentes. A "·0 0-PARTICIPAÇAO" NA BíBLIA

Vinde, escutai, vós que teme1s a Deus, e eu vos contarei quão grandes coisas fez à minha alma! (81. 66) Alegrai-vos com os que se alegram, chorai com os que choram. (Rom. 12, 15) .

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OS MEIOS DE APERFEIÇOAMENTO

A RESPOSTA AO TEMA DE ESTUDO "Estudar em conjunto, o tema de estudo mensal e enviar, por escrito, as suas reflexões antes da reunião (dos Estatutos das E.N. S.)."

Uma obrigação só. . . mas que na realidade nos obriga a bastantes coisas: reflexão pessoal, trabalho do casal, redação de uma resposta. DOIS TESTEMUNHOS "Notamos, nos primeiros tempos do nosso casamento, uma baixa espiritual e desejávamos encontrar um modelo. uma regra de vida espiritual. Por outro lado a vida espiritual de cada um (a. do meu marido de fórmula beneditina. e tendência individual, a. minha mais comunitária. e inspirada no estotismo) não se fundiam facilmente e este era o maior problema da nossa vida conjugal. As obrigações dos Estatutos, especialmente o "Dever de sentar-fe" e o estudo em comum do tema, foram um enorme auxilio para nós". "Conseguimos a unidade espiritual graças ao estudo profundo dos temas. Do ponto-de-vista espiritual, ele nos salvou da mediocridade, fez-nos sentir que o lugar que dávamos a Deus não era suficiente. Do ponto-de-vista conjugal, o nosso amor tornou-se ainda maior e a nossa intimidade mais profunda".

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TRABALHAR JUNTOS, OU MELHOR, "COMUNICAR"

Um dos fins da preparação do tema pelo casal é habituar-nos à troca de impressões, o que não é assim tão fâcil, porque esta comunicação profunda nos faz, por vezes, tocar no mais intimo de nós próprios, no que não sabemos ou não gostamos de revelar. Um casal falava da grande dificuldade que sentia tanto na preparação, a dois, do tema, como no Dever de Sentar-se. "Desde que se queira ir um pouco mais longe na oração, na reflexão, no trabalho, dâ-se o que hâ de mais pessoal, aquilo a que mais nos agarramos. Não é de admirar que, nesses momentos, as personalidades se choquem. Tivemos esta dificuldade durante anos, mas estamos convencidos que foi assim que a nossa união se firmou e conservou. Jl: preciso não desanimarmos e renunciarmos, mas sabermos que isso é natural". Jl: necessârio, pois, termos a preocupação de manter esta troca de impressões e de a tomarmos suficientemente longa, o que não impede que seja preciso aconselhar cada um a refletir e meditar individualmente sobre o tema, todos os dias ou todas as semanas. Mas que não se esqueçam de tomar apontamentos e de trocar impressões sobre o que tiverem descoberto, o que tiverem vontade de começar a viver, de procurar o que diz respeito ao casal e não só a cada um, neste tema de estudo. Perde-se com tanta facilidade o hâbito de falar. A RESPOSTA ESCRITA Jl: preciso não levar· longe demais o trabalho em comum: poderia ser uma ilusão dos casais muito novos: "Lembro-me do erro que cometemos. Antigamente queríamos redigir, em comum, uma resposta que fosse verdadeiramente a expressão de um pensamento comum; é praticamente impossível".

Se a troca de impressões foi profunda e verdadeira, se algumas reflexões foram anotadas por um ou por outro, então torna,-se fâcil para qualquer dos cônjuges a resposta do casal. -14-


Muitas vezes vêem-se, no entanto, ao analisar as respostas, algumas anotações do outro cônjuge, no fim ou à margem do texto. É preciso, além de mencionar os princípios, alcançar as realidades concretas do lar. As respostas, com Isto, serão mais sugestivas. Por outro lado, comunicar algumas experiências pessoais, especialmente os êxitos e por vezes os fracassos, sem com isso revelar um dominio demasiado intimo, é outra forma de praticar a "co-participação". A DISCUSSAO DO TEMA

A finalidade das respostas por escrito é também dar ao casal que há-de dirigir a discussão, elementos para a preparar, para escolher os pontos a explicar, os esclarecimentos doutrinais que devem ser feitos 1=elo Conselheiro Espiritual, as experiências interessantes que um ou outro podem trazer. Assim a discussão sem perder espontaneidade, ganha em precisão e eficácia. Responder ao questionário é, não só respeitar leal· mente o compromisso tomado, como praticar a caridade fraterna num determinado aspecto.

NOTAS Por que existe a obrigação do tema? Para a inteligência da Fé e evangelização da vida. Devemos rever sem cessar a nossa atitude perante as obrigações dos Estatutos. Estaremos apenas preocupados na sua realização concreta? Então é inevitável que ~õe multipliquem as dificuldades: elas nos parecem ine·r entes à obrigação, quando a sua origem está em nós próprios. Teremos sempre a preocupação de procurar atingir, cada vez mais, o seu verdadeiro espfrlto? As dificuldades não desaparecerão automaticamente mas ir-se-ão desvanecendo pouco a pouco ou, pelo menos, nunca abalarão o principio da obrigação, mesmo se pusermos em causa esta ou aquela forma de a realizar. Trata-se, -15-


portanto, de compreender sempre cada vez melhor o espírito de uma obrigação. Certas obrigações limitam-se a formular o que surge como necessidade cristã. O tema de estudo é uma delas. "Exorto a tua fé a amar a inteligência", escrevia Santo Agostinho a um amigo, demasiado inclinado a contentar-se com a "fé de carvoeiro". Refletir sobre o conteúdo da nossa fé é exigência da própria fé, se for fé viva. Através de toda a Blblia perpassa o chamamento para se conhecer Deus, procurá-lo, alimentar-se de sua Palavra ... , condiçúo indispensável para O amar, O encontrar e O inserir na nossa vida. Teremos nós dado ouvidos a esse convite do Senhor? l!: ele a callf.'a essencial da obrigação mensal do tema de estudo: inclinar-nos sobre as afirmações da n~sa fé para descobrir o pensamento de Deus sobre Si mesmo, sobre nós e sobre o universo. Uma vez reconhecida esta necessidade, ajuda a transpor muitos obstáculos, a começar por aquele, tão vulgar e tão diário, da falta de tempo. Claudel fala da necessidade sentida de...de muito cedo de "evangelizar todo o seu ser". Todos nós temos de evangelizar a nossa inteligência, tal como o resto do nos:.:(.• ser, cu seja pô-la de acordo mesmo até as reações mais espon âneas, com a nossa fé. Perguntemos a nós mesmos: os nossos ju.zos sobre os seles, as coisas e os acontecimentos são evan.:;élicos? ... ""' rstudo mensal do tema pretende ajudar esta retlficacão d • olhar interior. - l!: importante que, na partilha, cada um comunique a "" a·· eira como preparou o tema, o tempo que lhe foi consagrado a preparação entre os espo.sos. Isto corresponde às duas fin alidades da partilha: o controle fraterno que mantêm o impulso, a troca de idé'as e de experiências que nos ajudam a co:J.hecer e a viver melhor as obrigações.

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A ORGANIZAÇÃO DAS EQUIPES DE NOSSA SENHORA

Tanto os grupos de casais já constituidos como casais individualmente, sentiram necessidade de estarem apoiados num Movimento. O apoio espiritual de qualquer Movimento não pode existir sem uma certa organização. o que implica na existência de quadros administrativos, de relações de pessoa a pessoa. Assim também nas E.N.S . A organização de nosso Movimento e os diversos aspectos a.dm1nlstrativos nlio devem constituir um peso. mas sim, servir para transmitir a corrente de esplritualldade que deve circular no conjunto. A serviço desta animação há portanto responsáveis em vários escalões (c! . O papel do Casal de Ligação . C . Mensal n9 3).

I!

Tais escalões são constftufdos pr!nclnalmente pelos Setores, Regiões, Equipe Responsável Internacional. Um setor é formado por certo número de equipes (de 6 a 20) cuja marcha, viva e progressiva, é confiada ao casal "Responsável de Setor". ajudado por alguns outros casais. Esta "Equipe de Setor" tem um Conselheiro Espiritual. Os casais e o padre pertencem, cada um por sua parte, a uma equipe base (acontece o mesmo com todos os quadros do Movimento) . Os Satores são aerupadf'S em "Regiões" . Na Região exi~te como órgão de l!l:!"açáo o "Responsável Regional". Os limites de uma região não são forco.<"amente as fronteiras ge~râfi­ cas (acentua-se assim o caráter internacional do Movimento>. -17-


O casal Supra-Regional dará o seu apoio a vários Responsáveis Regionais e levará as noticias e os problemas das Regiões, Setores e Equipes, perante a Equipe Responsável pelo Movimento. (Em 1972 existiam 230 Setores divididos por 50 Regiões, cobrindo 36 nações e 5 continentes). O desenvolvimento do Movimento provocou a multipllcação dos Responsáveis. Qual o seu papel?

Existe, na verdade, toda uma escala de Responsáveis: Responsáveis de equipe, Casais de ligação, Responsáveis de Setor, de Região, de Supra-Região e a Equipe Responsável pelo Movimento assistida pelo Conselho Internacional. Poder-se-ia supor que estes Responsáveis seriam, essencialmente, peças administrativas. :S: evidente que realizam certa função administrativa, o que é indispensável. Funcionam, sobretudo, como órgãos de transmissão nos dois sentidos, entre a Equipe Respons'ável do Movimento e os casais. Terão a preocupação de transmitir a estes as orientações dadas pela Equipe Responsável mas não terão menor empenho em mostrar à Equipe Responsável as necessidades e os desejos dos casais. No entanto o seu papel vai muito além desta função de intermediários, porque estão ao serviço do crescimento da caridade no Movimento. Compete-lhes animar espiritualmente uma parte, grande ou pequena, deste Movimento. Para tal é necessário que os escalões de responsabilidade sejam ·bastante numerosos. Como todos já. experimentamos, a animação espiritual não é bem transmitida através da forma escrita. Os contactos pessoais são insub.stituiveis. Estes responsáveis consideram-se, no seu trabalho, como "cooperadores de Deus" (2 Co. 6, 1), como "servos de Cristo" (1 Co. 4, 1). Como o poderiam ser verdadeiramente se não se esforçassem por viver na docilidade ao Espírito de Cristo? :S: por isso que se reserva uma parte importante para a oração nas reuniões de Responsáveis, em todos os níveis . :S: por isso que lhes foi pedido, desde o início, que vivam em contacto com

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Cristo através da meditação cotidiana e participem, uma vez por semana, da Eucaristia. Mas, para falar com exatidão, a responsabilidade do Movimento cabe a todos os casos. Não existem duas espécies de membros, uns que estariam encarregados da animação e da vivificação do Movimento e outros que apenas se beneficiariam das suas riquezas. Um Movimento declina rapidamente quando os seus membros não têm o sentido e o amor pelo Movimento e não se sentem responsáveis pela sua vitalidade.

QUAL

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O PAPEL DA EQUIPE RESPONSAVEL?

Nada progride nem se desenvolve sem que haja uma direção que oriente a pesquisa e o trabalho. ~ fato indiscutível ao nível das empresas humanas, quer se trate de pesquisa científica, de casas comerciais, ou dessas gigantescas organizações que lançam engenhos à conquista do espaço. Será diferente para a pesquisa e o progresso espiritual? A Equipe Responsável centraliza enorme quantidade de informações, de experiências, de testemunhos que lhe chegam pelo correio, das visitas, dos inquéritos, das estatisticas, de encontros internacionais e de viagens. Esta abundante informação é elemento de valor inapreciável para a sua tarefa de direção. Mas não basta estar informada das necessidades espirituall!, é preciso ainda procurar soluções para estas necessidades. 1!: este o motivo pelo qual ela deve estar sempre a par das pesquisas em matéria de teologia do matrimônio e de espiritualldade laical, conhecer os ensinamentos do Papa e dos bispos, estar em contacto com os teólogos e os padres encarregados da pastoral. Quantas informações, reflexões e opções exigem as decisões tomadas pela Equi:çe Responsável! Foi assim em 1947 quando se tratou do estabelecimento dos Estatutos, correndo o risco, que afinal não foi ilusória, de perder parte dos membros das -19

~


Equipes, Foi novamente verdade quando em 1970, em Roma, se deram as orientações que devem permit.ir ao Movimento uma melhor resposta ao que Cristo dele espera. Mesmo com esta preocupação de informação e reflexão, a Equipe Responsável sentir-se-ia ultrapassada se não contasse com a ajuda do Senhor, que é solicitada diariamente pela oração de todos os membros das equipes e pela intercessão da Virgem Maria a quem, desde a origem, o Movimento, através da sua denominação, afirmava a vontade de confiar o seu destino . No Brasil, o desenvolvimento das Equipes tornou necessária a organização de um escalão intermediário entre a Equipe Responsável e as Regiões. ll: a Equipe de Coordenação Inter-Regional (ECffi), que é como um prolongamento da Equipe Responsável.

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EDUCAÇAO

AS CRIANÇAS PERANTE DEUS

Vamos transcrever, a seguir, alguns trechos da conferência do Pe . Xavier Lefebvre num Encontro de Responsáveis de Equipe, sobre "A educação do sentido de Deus na criança pequena" .

- Permitam-me que insista em dois pontos importantes da educação do sentido da grandeza de Deus: o silêncio e a atitude. Nunca comecem uma oração com uma criança sem estar, num momento. silencioso com ela. Já é ato religioso, porque é, a homenagem a alguém, a uma presença que se vai encontrar. Então acaba-se o barulho e ficamos em silêncio na presença do Senhor. Estando na Holanda, fui convidado por um professor da universidade, protestante, a tomar uma refeição com a sua família. Sentei-me e não fiz qualquer gesto de oração para não chamar a atenção das crianças. Mas vi o pai pôr as mãos juntas na beira da mesa e inclinar a cabeça em silêncio. A mãe fez a mesma coisa, bem como todos os filhos. E, claro, eu também. Todas as pálpebras estavam, cc.lmamente, abaixadas. Depois, o pai levantou a cabeça e começou a comer ... Deus passara. A atitude correta é também homenagem. A imobilidade voluntária já é difícil para a criança. l!: preciso que o espírito aprenda, "para o Senhor", a obrigar o corpo a estar quieto. Que magnífica homenagem! Que adoração em ato! Quando -21-


a criança vê os pais - sobretudo o pai - ficar em silêncio, a estar em atitude respeitosa perante Deus, diz a si própria: "0 Senhor deve ser muito grande para que o papai fique tão respeitosamente, tao calmamente, com tanta obediencia, diante dele!'' Jl: assim que pode germinar o sentido da grandeza de Deus dentro de uma familia. Quando Deus é grande para uma criança, a sua fé é sólida. Quando vê Deus como todo poderoso, poderemos então construir e a sua fé de adulto nada terá que renegar da sua fé de cliança . Todas as descobertas que poderá fazer, toda a vaga das paixões humanas não abalarão o rochedo da sua fé, porque está apoiada na onipotência de Deus ... Na Revelação cristã a última palavra afirma-nos que Deus é amor. Portanto é necessário que a primeira evocação, que todas as evocações do Nome de Deus sejam acompanhadas de amor, de um amor reservado mas fervoroso de nossa parte. Tudo o que a criança faz de religioso, deve ser marcado pelo amor. Não pensem que a grandeza de Deus vai perturbar o amor da criança por Ele. Pelo contrário, quanto maior é alguém a seus olhos, mais a criança é tocada, sensibilizada pelo seu amor. Será por respeitar e admirar o pai e a mãe que a criança sentirá menos amor por eles? ll: esta a condição para que o seu amor por Deus seja religioso. Este amor por Deus pede, evidentemente, que a criança já tenha feito a experiência do amor humano na famflia, que se sinta amada pelos pais, que tenha aprendido a amar junto deles. Jl: a primeira condição indispensável. 1t preciso, depois, que tenha descoberto que Deus é fonte de amor para os pais, de amor e de alegria. lt preciso, também, que o amor de Deus a conduza ao amor do próximo. Deus é perdão concedido à criança, à noite. Deus é a paz restabeleclda entre irmãos e irmãs no fim do dia. Deus é amor. Então, para a criança, será fácil amar.

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O CASAL TESTEMUNHA DO DEUS VIVO

O Padre Caffarel, grinos em Roma, em apresentar o quadro Eis as conclusões que

dirigindo-se aos casais peremaio de 19'70, oomeçou por do ateísmo contemporâneo. propôs às E. N. S.

"Penso que estarão de acordo comigo ao reconhecer que este desafio lançado aos cristãos pelo ateísmo exige uma resposta urgente, a do nosso testemunho. Por pouco que se conheça e se ame a Deus, não podemos deixar de achar intolerável que a sua verdadeira face seja assim desfigurada e insultada. Por pouco que amemos os nossos irmãos, como permitir que, pelo desconhecimento do verdadeiro Deus, fiquem mergulhados na angústia, na inquietação, no absurdo? Por pouco que tenhamos o sentido da solidariedade humana como não nos sentirmos co-responsáveis da traição de Deus pelos Cristãos? Compete a toda a Igreja revelar à nossa época a verdadeira face de Deus. Em certo sentido, é muito especialmente tarefa. dos casais. Advindo a v~a reação: "A missão é grande. demasiado grande; não temos nem temt:o nem competência". Mas eu vos respondo: estais especialmen •e aptos a realizar esta missão precisamente porque sois casais. Tendes um carisma próprio. De resto, para serdes essas testemunhas que o mundo espera, não tendes nece~idade de abandonar os vossos deveres familiares e profissionais; não se trata. de partir para uma cruzada distante. -23-


Vou explicar-me : é do lar que o mundo ateu, sem munho essencial. Deixai-me sobre o casal, à maneira de esquecido.

vosso amor conjugal, do vosso dar por isso, espera um testeexprimir o pensamento de Deus Péguy, escritor francês hoje tão

"Deus diz: casal cristão, tu és o meu orgulho e a minha esperança. Quando criei o céu e a terra, e no céu as grandes luminárias, reconheci nas minhas criaturas vestfgios das minhas perfeições e achei que era bom. Quando cobri a terra com o seu grande manto de campos e florestas, vi que era bom . Quando criei os inumeráveis animais, conforme a sua espécie, observei nesses seres vivos um reflexo da minha vida transbordante e achei que era bom. De toda a minha criação elevava-se um hino solene e alegre, celebrando a minha glória e as minhas perfeições. E mesmo assim, em parte alguma encontrava a imagem do que é a minha vida mais secreta,

mais ardente. Então despertou em mim a necessidade de revelar o melhor de mim mesmo; e foi a minha mais bela invenção. Foi assim que te criei, casal humano, "à minha imagem e semelhança" e, desta vez, ·eu vi, eu achei que era muito bom. No meio deste universo, onde cada criatura canta a minha glória, celebra as minhas perfeições, surgia por fim o amor, para revelar o meu Amor. -24-


Ca.sal humano, minha criatura bem-amada, minha testemunha privilegiada, compreendes agora porque me és querido entre toda.s as criaturas, compreendes a enorme esperança que ponho em ti? l!:s o portador da minha reputação, da minha glória, és para o universo a grande razão de esperança.. . porque tu és o amor". Ma.s observemos de mais perto a vossa missão de testemunha.s de Deus. A primeira maneira de a desempenhar é viver sempre com mais perfeição o vosso amor, fazer com que ele manifeste toda.s as suas virtualidades que se mostre fiel, feliz e fecu do . l!: verdade que isto está acima da.s vossas própria.s possibilidades. Cedo o homem e a mulher verificam que o mal ronda o seu lar ; é preciso necessariamente recorrer à graça de Cristo salvador do casal. Ma.s, com isto, a vossa união se torna testemunho não somente de Deus criador, mas também de Deus salvador. O vosso lar dará testemunho de Deus, de maneira ainda mais explicita se ele representar a união de dois "buscadores de Deus", segundo a admirável expressão dos salmos. Dois buscadores cuja inteligência e coração estão ávidos de conhecer e encontrar a Deus. Apaixonados de Deus, impacientes de se unirem a ele . Para quem Deus é a grande realidade, a quem Deus interessa acima de tudo. Num lar a.ssim, tudo é visto e conceb1do em função de Deus. Não falo teoricamente. Quantos conheço, entre vós, verdadeiros buscadores de Deus, nos quais vibra uma corda secreta, quando, perante eles o nome de Deus é evocado . Um lar assim é um lugar de culto : marido e mulher são aí "adoradores em espirito e em verdade", "tal como Deus os quer" (Jo 4, 23), e os filhos serão af formados para serem também adoradores . E este impulso de adoração orienta toda.s a.s tarefas ao longo do dia. O lar cristão é esta "Igreja em miniatura" de que falava S. João Crisóstomo, esta "célula da Igreja" de que nos falava Paulo VI ainda ontem. Mesmo que -25-


todos os outros lugares de culto estivessem fechados, impedidos, destruidos, como em certas regiões do mundo, a fam!lia cristã permaneceria a morada de Deus entre os homens. E porque Deus habita a!, é o lugar onde Ele atua, onde continua a operar "mirabilia", essas grandes coisas de que nos fala a B1blia. A existência de um casal cristão é uma "história santa", porque é uma história conduzida por Deus. E aqueles que lhe forem pedir hospitalidade, tenham ou não consciência disso, encontram Aquele que lá reside (Ubi caritas et amor Deus ibi est . Onde existe amor e caridade, ai se encontra Deus) . São múltiplos os sinais que revelam ao visitante este Deus que opera no lar: uma preocupação de simplicidade, de caridade, uma maneira habitual de salien ar o lado bom das pessoas e das coisas, um juízo espontaneamente evangélico sobre os acontecimentos.. . uma independência em relação ao mundo, às modas, intelectuais ou outras. Não há perigo de que um lar assim seja uma espécie de "gueto", que f.e feche às mü:éria.s do mundo : nele se refazem as forças no amor mútuo, na oração e no repouso, mas para em seguida partir com impulso novo para as grandes tarefas humanas, como servidor de "Deus amigo dos homens" . E assim não nos surpreende que no meio dos homens os espo.ws cristãos sejam testemunhas do Deus vivo como o prova esta reflexão de uma cientista atéia a uma amiga católica: "Para ti, Deus é tão vivo como o teu marido ou os teus filhos. Os meus argumentos contra Deus para ti são ridículos ... é como se eu tentasse demonstrar-te que o teu marido não existe"! Poder-me-eis d!zer: esse retrato do casal crL•tão supõe o problema resolvido, ou seja, que somos santos. De maneira nenhuma! Não falei de santidade. mas de procura de Deus, de homenagem prestada a Deus, de recurso a C1isto salvador para sobrepujar as tentações e obstáculos cotidianos da vida conjugal e familiar. A penitência no sentido que lhe dou de humilde reconhecimento do próprio pecado e da tão freqüente -2tí-


infidelidade a Deus, já dá testemunho de Deus, já revela a sua santidade. Recordo-me desta reflexão de um diplomata da América Latina, depois de uma estada num lar das Equipes. Marido e mulher não eram perfeitos, mas era precisamente esse ti}:o de casal penitente em busca de Deus. "Sei agora que re o meu pafs, a exemplo desta pequena comunidade familiar, reconhecesse as suas transgressões e fizesse penitência, encontraria a paz que reina neste lar onde acabo de passar uns dias". Gostaria de saber transmitir-vos a minha convicção de que um casal de "buscadores de Deus" no nosso mundo que já não crê em Deus, que já não acredita no amor, é uma "teofonia", uma manifestação de Deus, como o foi para Moisés, no deserto, aquela sarça que ardia e não re consumia. Se a vossa vida de casal, se o vosso amor der testemunho do Deus de amor, então e só então, podereis dar testemunho da palavra, pois terá a caução de vossa vida" .

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ESPffiiTUALIDADE CONJUGAL

COOPERADORES DO AMOR DE DEUS

"0 matrimônio e o amor conjugal estão de si mesmos ordenados para a procriação e a educação dos filhos . Sem dúvida os filhos são o mais excelente dom do matrimônio e contribuem grandemente para o bem dos pais . .. No dever de transmitir a vida e de ser educadores (o que deve ser considerado como a sua missão especifica), os esposos sabem que são os cooperadores do amor de Deus Criador e como seus intérpretes. Por isso, devem cumprir a sua missão com plena responsabilldade humana e cristã, e com um respeito cheio de docilldade para com Deus; em mútuo acordo e em mútuo esforço formarão um juízo reto, atendendo quer ao bem próprio, quer ao dos filhos, tanto os já nascidos como a nascer; analisarão as condições tanto materiais como espirituais da sua época e da sua situação; por fim terão em conta o bem da comunidade famillar, das necessidades da sociedade temporal e da própria Igreja . Os esposos devem formar este juízo, em última análise. diante de Deus. No seu modo de proceder, os espo...«os cristãos tenham presente que não podem proceder arbitrariamente mas têm a obrigação de se guiar sempre pela consciência, a qual deve conformar-se com a lei divina; que devem ser dóceis ao Magistério da Igreja que interpreta autenticamente aquela lei à luz do Evangelho. Essa lei divina mostra o significado pleno do amor conjugal, protege-o e o conduz à sua perfeição verdadeiramente humana". (Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo - § 50 excertos) .

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TESTEMUNHO Um Casal de Ligação escreve a uma equipe, aler· ta.ndo os casais contra o respeito humano . "Atenção! O relacionamento entre vocês deve ter por base a verdade, a simplicidade. lt muito difícil. Todos nós temos no fundo de nosso ser o respeito humano, este medo instintivo da opinião dos outros que nos leva a querer ocultar o que somos na realidade . Medo que nos achem ridiculos, diferentes dos outros . .. Dai a importância fundamental dos primeiros contatos numa equipe. Dai a necessidade de abolir tudo o que é mundano . lt aborrecido empregar esta palavra "mundano" que se presta a várias interpretações. Muitos a empregam para de· signar certos meios em que as relações sociais têm prioridade sobre tantas coisas. Mas como qualificar de outro modo os relacionamentos humanos um tanto superficiais onde só se mostra o exterior, onde se evita deixar transparecer o seu interior? Temos ouvido, por vezes, comentários sobre uma ou outra equipe que atravessa dificuldades: "Não quiseram nunca desfazer-se do lado mundano de seus relacionamentos", ou "a dificuldade é que este grupo é um tanto mundano". lt preciso muito cuidado neste ponto . Todo o desdobrar da vida de equipe pode ajudar os casais a se tomarem simples, autênticos, mostrando-se uns aos outros tal qual são ... Mas é preciso que se prestem a isto com toda a boa vontade . Façam neste sentido o esforço necessário. Assim, por exemplo, durante a oração - se não o fizeram já de uma vez por todas - é preciso passar da simples intenção um tanto vaga, à. intenção verdadeiramente pessoal, e desta, à. oração espontânea, na qual deixamos de ver um pouco do que somos diante de Deus". E equipes onde a. amizade não se situa ao nível profundo dos seres, não duram muito ou não progridem .

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ORAÇÃO PARA A REUNIÃO TEXTO DE MEDITAÇAO

Como tema de meditação, voltem a ler as passagens dos Atos dos Apó.stolos, citadas na abertura, que fazem incidir a luz de Deus sobre o pôr em comum, o estudo do tema e o testemunho perante os não-crentes. ORAÇÃO LITúRGICA

Deus, no: so Pai, ama-nos e espera o nosso amor. Mas nós não sabemos amar, e é com dificuldade que o nosso coração se eleva para o Senhor. Recusamos continuamente o amor do próximo. A vida do casal está cheia dessas faltas de amor: ciúmes, ~ilêncios, negligências em agradar, medo de dizer a verdade .. . lt um nunca acabar. Apesar dos remorsos e da boa vontade, continuamos dt·brados sobre nós próprios, envolvidos no nosso egoísmo . Quem nos elevará, quem nos amparará, quem nos libertará de nós próprios e nos tornará ca~ pazes de amar? Deus . Aquilo que nós não conseguimos, porque somos demasiado negligentes ·ou porque não vemos suficientemente claro em nós, Deus pode fazer, pois conhece-nos a fundo e o Seu amor é imensamente forte e exigente. Peçamo-lo, recitando 51 - Miserere.

e~ te

belo salmo, o Salmo

Piedade, Senhor! Na tua clemência e na tua misericórdia, apaga o meu pecado . ..,....,_ 3Q

=


Lava-me inteiramente de minha culpa e purifica-me do meu pecado. Reconheço a minha maldade e perante mim está sempre o meu pecado. Só contra ti pequei, Senhor, e o que é mau aos teus olhos, eu o fiz. PIEDADE, SENHOR, PORQUE PECAMOS! És justo na tua sentença e irrepreensível quando julgas. Eis que nasci na iniqüidade e pecador a minha mãe me concebeu. Na sinceridade do coração te comprazes e no mais intimo me ensinas a sabedoria. Purifica-me com o hissope e serei limpo; lava-me e ficarei alvo como a neve. PIEDADE, SENHOR, PORQUE PECAMOS! Faze-me sentir gozo e alegria exultem os ossos que quebrantaste. Aparta a tua face de meus pecados e apaga em mim todas as culpas. Cria em mim, 6 Deus, um coração puro e renova em mim um espírito firme. Não me rejeites de sua presença e não retires de mim o teu Santo Espírito. PIEDADE, SENHOR, PORQUE PECAMOS!


IN O ICE

Editorial

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Os Estatutos, Eco da Palavra de Deus . . . . .. .. .. . . . . . .. . .. . . ..

4

Espirilualidade

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5

A Reunião de Equipe .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .

7

Os Meios de Aperfeiçoamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

13

A Organização das Equipes de Nossa Senhora . . . . . . . . . . . . . . . . . .

17

Educação

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21

O Casal Testemunho de Deus Vivo .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..

23

Espirilualidade Conjugal

28

.......... .... ... .. ............... ....... ..... .. .... ..

29

Orsção para a próxima Reunião .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..

30

Testemunho

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EQUIPES DE );OSSA SENHORA Movimento de casais por uma espiritualidade conjugal e familiar

Revisão, Publicação e Distribuição pela Secretaria das EQUIPES DE NOSSA SENHORA .01050 - Rua João Adolfo, 118 - 99 - conj, 901 - Tel. : 34-8833 SAO PAULO, SP

-

l!Omente para distribuição interna -


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