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Ceci n’est pas une grippe
Pela primeira vez, acompanhamos uma pandemia na era da informação, em tempo real, num mundo globalizado e de fronteiras entre nações, até há muito pouco tempo, esbatidas. Foi assim que, no início de janeiro, ao arrepio dos tempos próprios de reação dos organismos oficiais, começaram a surgir online os primeiros preocupantes relatos. Sites como o reddit, uma rede usualmente pouco dada a temas sérios, tornaram-se locais de partilha e acesso à informação entre cidadãos de distintas origens e diversos ofícios. Poderá a “epidemiological intelligence”, doravante, alhear-se destes novos canais informais no processo de avaliação e gestão do risco?
Em fevereiro fizemos carnavais e, entrados em março, sem robustas reservas estratégicas de EPI e ventiladores, o país dividia-se em “negacionistas” e “alarmistas”. Dum lado pesavam argumentos económicos e comparações a ondas gripais e, do outro, aludia-se aos testemunhos chegados doutras paragens. Todos tivemos, por essa altura, uma opinião mais ou menos fundamentada e uma discussão mais ou menos inflamada com amigos, família ou colegas e, pelo nosso próprio exemplo, entendemos a dificuldade do processo de decisão à escala nacional.
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Por fim, chegados ao estado de emergência, o SNS deu provas duma plasticidade que poucos adivinhariam possível. Novos circuitos de doentes, criação de ADC, horários de maior flexibilidade e uma resposta verdadeiramente sistémica em que um dos fatores críticos do sucesso terá sido a vigilância de grande parte dos doentes em contexto de CSP. Como consequência, sucedem-se os emails em catadupa. Surgem o trace-covid e novas orientações da DGS.
Perante um contexto tão dinâmico, cria-se o sitio acesespinhogaiacovid19.net, procurando agregar a informação, esperando que facilite a adaptação das unidades mas também dos profissionais a um cenário em permanente mudança. Surgem novas formas de contacto e o telefone e email ganham particular relevo. O teams torna-se uma ferramenta de trabalho em equipa. Vencida a primeira onda, retomamos parte da atividade. Limitados pelo número de doentes a observar de forma presencial, pressionados pelos indicadores que ficaram por cumprir, com novos circuitos internos e atentos a qualquer sinal de mudança epidemiológica que anunciem uma nova onda… “a gente vai continuar”!
Tiago Vilarinho
USF S.Félix tmrvilarinho@arsnorte.minsaude.pt