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O ACeSEG, da contenção à mitigação

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Mundo dos ecrãs

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Tinha começado o ano de 2020. O ACeS-EG apresentava uma melhoria de uns magros 4% nos indicadores de execução de 2018 para 2019 (IDG de 71,9 em Dezembro de 2018 e de 74,4 em Dezembro de 2019) e o Conselho Clínico centrava o seu principal cuidado na elaboração do plano de governação clínica e de saúde para 2020.

De repente, nos meios de Janeiro, sem a menor suspeita de que uma avalanche se iria abater sobre o mundo, e antes fosse uma avalanche, surge um comunicado da DGS sobre um surto de doença respiratória grave na cidade de Wuhan –China. Uns dias mais tarde, e admitindo-se já a possibilidade da transmissão pessoa-a-pessoa, a mesma DGS emitia uma Orientação com procedimentos a ter perante a suspeita de um caso de infecção, de acordo com a fase de contenção da propagação do vírus. Foram criadas salas de isolamento nas unidades de saúde e a Unidade de Saúde Pública edita o Plano de Contingência Local para a infecção pelo novo coronavírus, então denominado 2019-nCov.

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Em Março de 2020, com a transmissão comunitária na Europa já por demais comprovada, e iniciada em Portugal a fase de contenção alargada, o ACeSEG emite igualmente o seu plano de contingência para as unidades de saúde, integrando as medidas preventivas transversais a todas as unidades, desde a gestão das instalações, materiais e equipamentos de proteção, até aos recursos humanos.

O vírus tinha sido rebaptizado de SARS-Cov-2, e a doença por ele provocada como Covid-19. Por essa altura já assistíamos com preocupação extrema à evolução descontrolada da epidemia em Itália e Espanha, com muitas centenas de mortes diariamente.

Decretada a fase de mitigação pela DGS, e entre Orientações e Normas e directrizes nacionais e regionais, o ACeS reage com a implementação de 3 níveis de operações fundamentais:

1. Em primeiro lugar um nível de informação, esclarecimento e orientação inicial de utentes, face a inúmeras dúvidas, receios, e alterações de comportamento nas pessoas e comunidades. Neste nível surge a linha telefónica Covid ACes, com o seu fluxograma de actuação. O stress físico-psíquico causado pelo confinamento e distanciamento, pelos novos hábitos de comportamento social, pelo medo da nova e desconhecida doença, pelas notícias de ruptura dos sistemas de saúde na Itália e Espanha, pelos milhares de mortes diárias, pelos funerais simples, anónimos e com valas comuns, resulta em sintomatologia variada, que perante as limitações de deslocação das pessoas e as limitações no atendimento nas unidades de saúde, leva à procura de outros recursos pelos cidadãos. Com a linha SNS24 saturada, os ACeS poderiam ter um papel importante neste primeiro contacto com os cidadãos. Era este o objectivo das linhas telefónicas CovidACeS. De início muito usada pelos munícipes, rapidamente esta

Manuel Mário Sousa

Presidente do Conselho Clínico mmfsousa@arsnorte.minsaude.pt

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linha quebrou na sua utilização. As dúvidas dos utentes sobre a doença eram cada vez menos, e por outro lado as unidades de saúde (e muito bem) também puseram em funcionamento as suas linhas de telefone, permitindo aos seus utentes um contacto bastante mais próximo com as suas equipas de saúde. Neste momento, pela sua baixa utilização, está a funcionar agregada à ADC de Canelas. Uma segunda frente de operações era a do diagnóstico da doença

na comunidade e o corte das cadeias de transmissão do vírus.

Neste nível encontravam-se as equipas de saúde, que nos seus locais de trabalho procuravam esclarecer pelo telefone os sintomas dos doentes, identificar os casos suspeitos, procurar confirmar a doença pela prescrição dos testes e aconselhar as medidas de confinamento e terapêuticas adequadas. Ainda neste nível de identificação de casos suspeitos e dos contactos, a Autoridade de Saúde teve um papel decisivo, através da busca de cadeias epidemiológicas que pudessem ser responsáveis pela transmissão invisível da infecção na comunidade. Destruir tão cedo quanto possível estas cadeias de transmissão era a base do controle da pandemia. Num contexto de atendimento presencial, os doentes com sintomatologia suspeita eram atendidos nas novas Áreas Dedicadas à Covid (ADC-Comunidade) de Paramos, Canelas e Olival, construídas na base das orientações da DGS (Normas 001 e 004). A evolução da pandemia em Portugal foi tendo, felizmente, contornos que permitiram a diminuição do número de casos sintomáticos e, por isso, o acesso às ADC’s foi diminuindo. Actualmente, apenas a ADC de Canelas permanece a funcionar Um terceiro e último nível de operações é o do acompanhamento e vigilância pós-diagnóstico. Os doentes, permanecendo em casa, necessitam do contacto diário com os seus médicos, nomeadamente para seguimento da evolução dos sintomas, tratamento sintomático, envio à ADC-SU em caso de agravamento dos sintomas e, quando a altura chegar, considerar os doentes como curados. Aqui entra a plataforma Trace Covid-19, tão contestada de início devido ao seu formato pouco amigável, mas cujo papel é exactamente permitir o registo de todas estas intervenções sobre os doentes. Não apenas no pós-diagnóstico, como nos casos suspeitos e em investigação pela Autoridade de Saúde. Porque esta vigilância deve ser contínua e diária, não se compadecendo com feriados e fins de semana, o ACeS organizou as chamadas equipas Trace Covid, que mantiveram este seguimento fora dos dias normais de trabalho.

Um website, sob administração de um colega médico de uma das nossas unidades (https://acesespinhogaiacovid19.net), permitiu ainda uma visão mais centrada na nossa área geográfica, com elementos estatísticos carregados diariamente, e onde se podia consultar entre uma variada gama

de informação, os novos doentes por unidade funcional, a prevalência diária e a variação diária do número de novos casos.

Estávamos na onda pandémica, em plena mitigação, que resultados teríamos?

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