Copa'06 - #3

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EDMÍLSON NONONONO ‘ENGOLIDO’ NONONON E NOVE ONONONON HISTÓRIAS ONONONON DE CAMISAS

COLUNA: RAIO X: COPA MAURO DE 1990 BETING

ALEMANHA ANFITRIÕES SABEM COMO DERRUBAR GRANDES TIMES

www.trivela.com

EMERSON “A SELEÇÃO SABE LIDAR COM O FAVORITISMO”

NONON

NONONONO NONONONO

ARGENTINA SE FAZ DE

Nonono nononon ononnonon onononono nonononono

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ANO3 01 | Nº 02 || R$ R$ 7,90 Nº | ABR/06

COPA‘06 ANO Nº 301ABR/06 ED. 02

SE FAZ DE

P O O L

MORTA

NONON

NONONO NONONO NONONONONO

Mascherano: “Não estamos no nível do Brasil” de Pekerman O papel de Tevez no timeNONONONO NONONO NONONON Como eles se preparam para não repetir 2002 ONONO

editora

PERFIS DE ARGENTINA, ALEMANHA, COSTA RICA,NONONONONO EQUADOR, POLÔNIA, SUÉCIA E ONONONO AUSTRÁLIA NONONONONO NONONONON ONONONONO NONONONON capa.indd 2

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Até quem mais entende

Trivela.com é um site de futebol internacional que conta com uma ao redor do mundo e serve de fonte de informações para profissionais, entrevistas exclusivas com jogadores, resenhas, crônicas e uma

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do assunto acompanha

equipe de colunistas especializados nos principais campeonatos apaixonados por futebol e curiosos. Além disso, publica notícias, divertida newsletter diária. Visite já. www.trivela.com

Futebol para quem gosta de futebol

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ÍNDICE www.trivela.com Editores Caio Maia Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Paulo César Martin Tomaz Rodrigo Alves Reportagem Ricardo Espina Ubiratan Leal Colaboradores Guilherme Jotapê Rodrigues (www.verborragiagrafica.blogspot.com)

Mauro Beting Revisão Assertiva Comunicação

TOP 10 TRIVELA PÁG. 5 Nosso ranking

HISTÓRIA PÁG. 38 Destruidora de sonhos

10 curiosidades com camisas

Como alemães derrubaram Puskas e Cruyff PERFIL

COLUNA PÁG. 6 Mauro Beting

PÁG. 40 Costa Rica

A importância dos capitães

Ticos querem repetir 1990

GADGETS PÁG. 8 Futebol no videogame

PÁG. 44 Porras

Sua chance de disputar a Copa

Muito mais que um nome engraçado

ENFERMARIA PÁG. 8 Os contundidos

PÁG. 46 Equador

Deisler (de novo) vai ficar de fora

Complicado, mesmo longe da altitude

ENTREVISTA

PERFIL

ENTREVISTA

ENTREVISTA

PÁG. 10 Mascherano

PÁG. 50 Delgado

Volante argentino quer evitar o Brasil

“Escassez de astros nos ajuda”

ANÁLISE PÁG. 16 Argentinos do Corinthians

PÁG. 52 Polônia

Na seleção, Tevez ainda é coadjuvante

Chegou a hora de atacar

PERFIL

PERFIL

PERFIL Foto da capa Marcos Brindicci/Reuters Direção de arte Luciano Arnold (looks@uol.com.br) Diagramação e tratamento de imagem s.t.a.r.t. (start.design@gmail.com) Projeto gráfico Ds2 Editora Agradecimentos André Lacerda Dimas Maia Comercial comercial@trivela.com (11) 4208-8006

PÁG. 18 Argentina

PÁG. 56 Suécia

Discurso humilde de nossos vizinhos

Forte candidata a derrubar grandes PERFIL

RAIO X PÁG. 22 Copa de 1990

PÁG. 60 Austrália

A culpa não foi da água batizada

Guus Hiddink não é a única estrela ENTREVISTA

ENTREVISTA PÁG. 26 Emerson

PÁG. 64 Aloisi

Volante assume favoritismo do Brasil

Australiano diz como vai parar o Brasil

SEDES DA COPA PÁG. 30 Berlim e Hamburgo

CHARGE PÁG. 66 Guilherme Jotapê Rodrigues

Capital não tem tradição de futebol

O pesadelo dos “novos Maradonas”

PERFIL

TABELA

PÁG. 34 Alemanha

PÁG. 67 Alemanha 2006

Em baixa, mas ainda perigosa

Todos os 64 jogos do Mundial

Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 4208-8205 COPA’06 - Trivela é uma publicação mensal especial da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Pool Editora pooleditora@lmx.com.br (11) 3865-4949 Circulação LM&X - Alessandra Machado (Lelê) lele@lmx.com.br (11) 3865-4949 Números atrasados www.trivela.com/copa06 contato@trivela.com (11) 4208-8181

Distribuição nacional Dinap

EDITORIAL INIMIGO ÍNTIMO Quando os argentinos começam a nos elogiar, sobretudo no quesito futebol, é sinal de que alguma coisa está errada. O ex-jogador Diego Simeone, símbolo da catimba de nossos vizinhos, disse recentemente que “A Argentina tem bons jogadores, o Brasil tem craques”. Em conversa com a Trivela, Javier Mascherano, volante do Corinthians, concordou – embora tenha feito questão de afirmar que sua seleção é forte e exige respeito dos adversários. Das duas uma: ou estão só se fingindo de mortos, como sugere o título na capa, ou adotaram essa postura depois de aprenderem a lição em 2002. Nesta terceira edição de sua revista, a Trivela traz um dossiê completo sobre a situação atual do vizinho que mais amamos odiar – sobretudo agora, que dois de seus jogadores estão aqui no Brasil. Por falar em favoritismo, trazemos uma reportagem sobre a “especialidade” da Alemanha em derrubar gigantes. Os alemães bateram a Hungria de Puskas, em 1954, e a Holanda de Cruyff, em 1974, seleções que encantaram o mundo. Isso não é nada, no entanto, que preocupe Emerson, volante do Brasil, que diz que nosso time já está acostumado a essa conversa. “Quem nos aponta como únicos candidatos está tirando de si a responsabilidade”, diz, em entrevista exclusiva. Com a Copa cada vez mais perto, a gente espera que ele tenha razão.

Impressão Prol Editora Gráfica Ltda. Publicação mensal (6 edições)

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Equipe Trivela

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5 TOP 10 TRIVELA

10 HISTÓRIAS DE 11 CAMISAS Mais que mero instrumento para diferenciar dois times, as camisas das seleções são hoje um ponto importante da estratégia de marketing das empresas de material esportivo. Ao longo da história das Copas, não faltaram fatos interessantes envolvendo as camisas dos participantes. Abaixo, separamos os 10 casos mais curiosos

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Divulgação/fedefutbol.com

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Cruzeiro de Porto Alegre no Mundial (1950) O pequeno Cruzeiro de Porto Alegre pode se gabar de ter sido o primeiro clube a ver sua camisa usada em uma partida de Copa do Mundo. O fato aconteceu no jogo entre México e Suíça, na primeira fase. Como as duas seleções jogavam de vermelho, os mexicanos tiveram que pegar emprestado camisas do clube local.

Kimberley no Mundial (1978) História parecida aconteceria 28 anos mais tarde, na partida entre França e Hungria. Para evitar confusão entre os uniformes azuis e vermelhos nas TVs preto-e-branco, a organização pediu a uma das equipes que usasse o uniforme reserva. Por uma confusão, ambos os times entraram com trajes brancos. Para que a partida pudesse ser disputada, a França usou camisas de um time local, o Kimberley.

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Nos dias de hoje, não é raro ver jogadores usando números incomuns nas camisas. Mas, em 1978, foi um choque ver a Argentina entrar em campo com o goleiro Fillol vestindo a 5, o meia Ardiles com a 2, e o capitão Passarella com a 19. Isso aconteceu porque os donos da casa decidiram a numeração por ordem alfabética.

Preto-e-branco x Preto-e-branco (1934)

Costa Rica de preto-e-branco (1990) Tradicionalmente, a Costa Rica usa como uniforme reserva camisas azuis ou brancas. Por que, então, eles entraram de preto-e-branco contra o Brasil, na primeira fase? Simples: para ganhar a simpatia da torcida local, já que o jogo foi em Turim, casa da Juventus.

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Numeração da Argentina (1978)

Nas quartas-de-final, a Itália enfrentou a França. Como ambas as equipes têm uniforme azul, a Itália, por ser visitante, teve que jogar com uniforme reserva. Viu-se, então, uma cena marcante no futebol: pela única vez na história das Copas, a Azzurra jogou de preto, cor do partido fascista italiano.

Branco x Branco (1930) Em sua segunda partida em Mundiais, o Brasil enfrentou a Bolívia. Aos 10 minutos, do nada, o árbitro interrompeu a ação. Motivo: ele percebeu que os dois times jogavam inteiros de branco. Os bolivianos tiveram de vestir azul para o jogo seguir.

Camarões sem mangas (2002) Nos últimos anos, a seleção de Camarões usou alguns uniformes inovadores. Ou melhor, tentou usar. Para o Mundial de 2002, os Leões Indomáveis apresentaram algo inédito no futebol: uma camisa sem mangas. No entanto, a Fifa vetou a novidade, e os africanos tiveram que adicionar mangas pretas ao uniforme.

Na decisão do terceiro lugar, Alemanha e Áustria enfrentaramse num momento conturbado para a história dos dois países – pouco antes de o III Reich anexar o país vizinho. Os times entraram em campo com camisas brancas e calções pretos. Ninguém aceitou trocar o uniforme, e o árbitro Albino Carraro deu início ao jogo. Logo no primeiro minuto, Lehner abriu o placar para os alemães, e os austríacos comemoraram por engano. Só aí é que o juiz fez com que os germânicos trocassem as camisas brancas por vermelhas.

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Cruyff com uma listra a menos (1974) Quase que o Carrossel Holandês fica sem seu principal jogador às vésperas da Copa de 1974. Johan Cruyff era patrocinado pela Puma e a Holanda pela Adidas. O meia avisou que se tivesse de vestir a camisa da concorrente, não jogaria. Resultado: ele era o único no time cuja camisa tinha apenas duas listras, em vez de três.

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Edmilson “engolido” (2002) Em 2002, o Brasil usou uma camisa inovadora, com duas camadas, para proteger os jogadores do calor. Mas a novidade rendeu uma cena engraçada: no segundo tempo da final com a Alemanha, Edmilson teve que trocar de camisa e acabou se atrapalhando com o forro. A cena durou menos de um minuto, mas fez o jogador pagar um mico frente a bilhões de telespectadores.

Ian Waldie/Reuters

Itália de preto (1938)

Você acha que faltou alguma história? Escreva para top10@trivela.com

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Daniel Augusto Jr.

Mauro Beting

Levantar a voz e a taça

T

odo time tem um capitão. Poucos têm um líder. O Brasil de Parreira em 2006 é do capitão pentacampeão Cafu. Ele só tomou a braçadeira e pôde gritar o amor pela Regina do Jardim Irene com a contusão de Émerson, na véspera da estréia contra a Turquia, em 2002. Cafu é dos que berram pouco. Para falar sério, mais sorri que qualquer coisa. Gente ótima, é um capitão quieto em um time calado. Fala Parreira a respeito do pouco falante timaço que tem para dirigir em 2006: “O Cafu faz bem o que o Dunga fazia em 1994: aquele jogador que orienta, que conversa com o time dentro de campo. Mas ele tem um perfil distinto. Quando Cafu não pode jogar, a equipe fica realmente muito quieta. Ninguém grita. Alguém como o Dunga faz falta”. E depois dizem que este Brasil canta vitória e conta papo... Como, se ninguém grita? É um problema em campo que não é da competência do treinador. Parreira, no máximo, pode escolher um capitão. Mas é da própria competência do homem (mais que do atleta) ser aclamado e entendido como líder. Como Didi, craque da Copa de 58, que pegou no fundo da rede o primeiro gol da Suécia na decisão. Num gesto silencioso, ele calou fundo na equipe o sentimento da virada. Quem levantou a taça na Suécia foi o capitão Bellini. Mas quem levantou o time foi o líder Didi.

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Carlos Alberto Torres foi um dos poucos capitães e líderes de um bando de feras. Com Gérson (o técnico de campo) e Pelé (o mais técnico nos campos) formou a trinca que palpitava e cornetava na escalação e na tática de Zagallo, em 1970. Rivellino, Tostão e Piazza também davam os seus pitacos. Mas os pitos e apitos eram todos do trio do tricampeonato. Zagallo, com inteligência e esperteza, e até por ter jogado com alguns deles, deu o campo e o espaço aos comandados e colegas. Dunga foi líder e capitão do tetra (depois da queda de Raí). Mas perdeu a cabeça em Bebeto, no vice de 1998. Confundiu uma posição firme com uma imposição rígida, trocou as bolas do líder pelas do patrão da pátria. Deu com os lazaronis n’água. Não fossem líderes naturais como Nilton Santos, Didi e Bellini, e talvez o Brasil de 1958 não tivesse Pelé e Garrincha entre os titulares, a partir da terceira partida, contra os soviéticos. O compadre Nilton pediu o afilhado Garrincha na ponta direita, no lugar do correto Joel. Didi avalizou, e ainda sugeriu o falante Zito na cabeça de área, na vaga de Dino Sani, ao lado dele próprio. Bellini insistiu por Vavá (companheiro de Vasco) como centroavante no lugar de Mazola, por ele sacudido contra a Inglaterra, na segunda partida do Mundial. Os três, claro, pediram o ex-machucado Pelé a Vicente Feola, o treinador bom de papo e melhor ainda de ouvido.

E o técnico, como bom líder que não se mete como chefe, ouviu os líderes. Não comprou brigas, acatou sugestões e acertou uma equipe maravilhosa. Um time que se acertou de dentro para fora, como as grandes equipes de futebol. Algo que nem sempre ocorre. Que o diga o mesmo Zagallo, tão atento aos craques de 1970, tão distante dos jogadores de 1974. O treinador ouviu menos os seus jogadores na Copa da Alemanha. Talvez por isso tenha ouvido tantas vaias ao voltar ao Brasil com o quarto lugar no Mundial. O próprio Parreira mudou. Mas, no caso, para melhor. Em 1994, aferrou-se ao dogma da organização defensiva, do contra-ataque e do jogo centrado em Romário. Tolerância zero, erro zero, futebol taticamente tacanho para um time que sabia jogar melhor, que podia jogar mais bonito. Mas que ficou preso a uma camisa-de-força tática imposta pelo treinador que, à época, pouco ouviu os seus jogadores. Como Zinho, que pedia maior liberdade tática para rodar pelo meio-campo e ataque (como brilhava no Palmeiras), e não para rodar em torno de si, como mal jogou o Mundial. Mas Parreira não queria conversa. Não ouvia as lideranças. Ou, se ouvia, não acatava. Deu certo. Mas daí é preciso perguntar a Romário. E ao gandula que conseguiu achar a bola que Roberto Baggio mandou aos céus.

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Lerby

Nielsen

Elkjaer

Laudrup

Berggreen

Jesper Olsen

Arnesen

Bertelsen

Busk

Morten Olsen

Hogh

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Micos e reis de Copas Campeã do mundo na Espanha, em julho de 1982, a Itália só foi ganhar um jogo novamente em outubro de 1983, contra a Grécia, em casa. Mais de um ano sem vitória, em seis jogos. Antes de vencer Argentina, Brasil, Polônia e Alemanha naquele julho de 1982, os italianos ficaram outros seis jogos sem vitória, incluindo medíocres três empates na fase inicial da Copa da Espanha (em junho). Resumo da ópera: a Itália foi o melhor time do mundo em julho de 1982. De dezembro de 1981 até junho de 1982, e de agosto de 1982 até outubro de 1983, a Itália foi medíocre. Mas campeã do mundo. A Copa é isso. O campeão é apenas o melhor do mês – ou nem isso. Pode ser apenas o melhor time da decisão da Copa, como o Uruguai-50 ou a Alemanha-54. Mas fica o melhor daquele mundo para sempre. Como se o funcionário do mês de uma lanchonete de fast-food virasse o dono da empresa em 30 dias. Time por time, a Itália de 1978 era melhor que a de 1982. Jogava mais fácil, mais fluente, mais bonito. Ganhou da Argentina, em Buenos Aires, na primeira fase. Só não foi à final de 1978 por duas varadas holandesas de fora da área, bombas indefensáveis para o maravilhoso Zoff. O veterano goleiro não pegaria outros chutes incríveis de Dirceu e Nelinho, na disputa pelo terceiro lugar de 1978. Quatro anos depois, com 11 jogadores quarto colocados na Copa da Argentina, a Itália jogou “pior”. Mas foi a melhor. Até pelo Zoff, 40 anos (!), ter defendido todas aquelas bolas impossíveis que não pegou em 1978.

Babic

Tomas Modric

Niko Kovac

Prso

Kranjcar

Klasnic

Srna

Simic

Tudor

Butina

Papel Passado O treinador alemão Sepp Piontek fez as contas: se quase todos jogavam com dois atacantes no início dos anos 80, para que defender com quatro zagueiros? Bastariam três. Adiantando os laterais, que viraram alas, criou-se o 3-5-2. A chamada “Dinamáquina” encantou em 1986 também pelo esquema inovador, que virou mania quatro anos depois. Na Itália, em 1990, 17 das 24 seleções atuaram com três na zaga (até a campeã Alemanha). Em 1994, a moda mudou, mas deixou marcas: nove equipes atuaram assim – sete com até cinco zagueiros e duas num esquema parecido. Inclusive o Brasil, nos dois jogos finais. Em 1998, foram 12 e, em 2002, 11. Os dois finalistas, por exemplo.

Papel Presente A Croácia foi terceira em 1998 com três zagueiros. A que fez pálida figura em 2002 também. Em 2006, não será diferente. Não jogam mais Boban, Suker, Jarni, Prosinecki, Vlaovic, o creme croata em 1998. Mas o filho do técnico, o jovem Nico Kranjcar, pode alimentar um ataque com boas opções, como Klasnic (ou Olic) e Prso. Os alas Srna e Babic são meias que atuam pelos lados – embora entrem em diagonal para afunilar um ataque que pouco abre o jogo. A zaga é experiente, mas pesada e mal coberta pela esquerda. Com a bola no pé, a Croácia – filha da escola iugoslava – sabe jogar. Mas a ligação é lenta, assim como a defesa.

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8 GADGETS

ENFERMARIA

Dispute você a Copa do Mundo

Divulgação

Olivier Berg/EFE

Não é todo mundo que nasceu com talento suficiente para jogar futebol, chegar a uma seleção decente e conseguir um lugar na Copa do Mundo. Porém, é possível você fingir que faz isso no videogame. E a vantagem é que você pode escolher o papel (jogador ou técnico) e o país que defende, sem as regras de naturalização da Fifa.

Deisler fora da Copa... de novo Uma das principais promessas do futebol alemão, Sebastian Deisler parece destinado a não jogar Copas do Mundo. Depois de ficar de fora em 2002, com uma contusão no joelho, o meia entrou em depressão, tratou-se, voltou, recuperou a forma e era dado como uma das principais figuras na seleção alemã para o Mundial. Até se contundir no joelho... de novo. Veja quem também se machucou às vésperas da Copa.

COPA DO MUNDO FIFA 2006 Desenvolvimento: Electronic Arts Lançamento: abril de 2006 Versão Copa do Mundo do Fifa Football. Por ser um jogo oficial da entidade, tem os patrocinadores, estádios e nomes do mundo real, entre eliminatórias e o Mundial propriamente dito. Além disso, o jogador pode utilizar equipes históricas e uniformes exclusivos.

WINNING ELEVEN 10 Desenvolvimento: Konami Lançamento: 24 de abril de 2006 (no Japão) Última versão de um dos simuladores mais populares de futebol. O game não tem os nomes oficiais, mas o usuário pode alterá-los. As exceções são Holanda, Espanha, Itália, Argentina e Inglaterra, com quem a Konami fechou acordos. Há uma opção em que o sistema monta aleatoriamente os times antes das partidas. FOOTBALL MANAGER 2006 Desenvolvimento: Sega Lançamento: novembro de 2005 Nesse game, o jogador não atua como um atleta em campo, mas como técnico e gerente de futebol de equipes. Assim, pode escalar, mexer no sistema tático, contratar e vender atletas. Dá também para ser o técnico da seleção e sentir o drama que é seu principal jogador se machucar na véspera da competição. CHAMPIONSHIP MANAGER 2006 Desenvolvimento: Eidos Lançamento: 7 de abril de 2006 Jogo de princípio idêntico ao do Football Manager, contendo ferramentas como acompanhamento de outras ligas, partidas simuladas em 3D e preparação física. A graça do jogo é administrar a situação de cada jogador, e não apenas arrebentar os dedos nos botões do joystick para tentar cruzar uma bola na medida.

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ALEMANHA Sebastian Deisler (Bayern de Munique) Contusão: joelho Previsão de volta: setembro ANGOLA Gilberto (Al-Ahly/EGI) Contusão: ruptura do tendão de Aquiles Previsão de volta: julho ARGENTINA Lucho Figueroa (River Plate) Contusão: ruptura do ligamento do joelho Previsão de volta: agosto BRASIL Ricardo Oliveira (Betis/ESP) Contusão: joelho Previsão de volta: maio ESPANHA Juan Carlos Valerón (La Coruña) Contusão: joelho Previsão de volta: agosto HOLANDA Boudewijn Zenden (Liverpool/ING) Contusão: joelho Previsão de volta: maio

INGLATERRA Alan Smith (Manchester United) Contusão: fratura na perna e tornozelo deslocado Previsão de volta: novembro Chris Kirkland (West Brom) Contusão: lesão no dedo indicador Previsão de volta: maio ITÁLIA Francesco Totti (Roma) Contusão: fratura no perônio e ligamentos do tornozelo Previsão de volta: maio PORTUGAL Jorge Andrade (La Coruña/ESP) Contusão: rompimento do tendão patelar do joelho Previsão de volta: agosto REPÚBLICA TCHECA Jan Koller (Borussia Dortmund/ALE) Contusão: lesão nos ligamentos do joelho Previsão de volta: maio

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10 ENTREVISTA

QUALQUER TIME,

MENOS O

Grupo da morte? Que nada! Para o volante Javier Mascherano, tudo o que a Argentina quer evitar, na Copa do Mundo, é o Brasil. Nesta entrevista exclusiva à Trivela, o jogador do Corinthians também fala do fracasso de 2002 e da influência negativa das comparações de jovens argentinos com Maradona

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por Carlos Eduardo Freitas

epois de quase uma hora de conversa com Javier Mascherano, é difícil acreditar que o volante do Corinthians e da seleção argentina tem apenas 21 anos. O “Jefecito” (chefinho), como é conhecido em seu país, não foge de nenhuma pergunta e tem argumentos e pontos de vista que chamam a atenção para alguém tão jovem. Com a experiência de quem acompanhou de perto o fracasso argentino na Copa de 2002 – ao lado de outros três jogadores juvenis, ele foi levado para a Ásia, por Marcelo Bielsa, como sparring para os titulares –, ele comenta, aliviado, a diferença de chegar a um Mundial sem o status de favorito, que repassa para os brasileiros. “Desta vez, vamos sem tanta pressão e, apesar de termos caído num grupo difícil, acho que temos de ser respeitados pelo nosso retrospecto”. Nesta entrevista exclusiva, concedida à Trivela, em Águas de Lindóia (interior paulista), na concentração do Corinthians, o volante diz que sua seleção está pronta para qualquer adversário, mas revela que não será má idéia se o time evitar a Seleção Brasileira no caminho. “Muitos falam que, para ganhar uma Copa, é preciso vencer todas as equipes, e isso não é verdade. Se o Brasil cai logo na primeira fase, por exemplo, você já fica mais tranqüilo”. Mascherano concordou com a frase do ex-jogador Diego Simeone (hoje técnico do Racing), que recentemente declarou: “A Argentina tem bons jogadores, enquanto o Brasil tem craques”. “Basta ver a lista dos melhores do mundo nos últimos dez anos: cinco foram brasileiros”, disse o corintiano. Para ele, entre seus compatriotas, quem está mais próximo de chegar a um nível tão alto é Lionel Messi, do Barcelona. Mas espera que as comparações com Maradona diminuam, para não prejudicar outro talento de seu país. “A Argentina não terá outro Maradona, e nós, argentinos, temos de esquecer que haverá outro igual”.

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MartĂ­n Zabala/EFE

BRASIL

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12 “No Brasil, é fácil ser atacante. É só driblar o zagueiro e entrar no gol. Já o defensor não pode errar”

César De Luca/EFE

Você já está no Brasil há mais de seis meses. Quais as diferenças mais notáveis entre o futebol daqui e o da Argentina? A diferença é que o futebol argentino é muito mais tático que o brasileiro. Aqui, a prioridade é atacar sempre. Lá, quando um time pequeno enfrenta um grande fora de casa, adota um esquema defensivo. Algo como um 4-4-1-1. No Brasil, qualquer time escala dois atacantes, dois meias e dois volantes, seja pequeno ou grande. Outra diferença importante que notei nesse período é que, aqui, o jogo se faz mais no mano-a-mano. Os dois zagueiros sempre estão com os dois atacantes adversários, os laterais com os laterais, dois volantes com os meias. Ganha o jogo quem levar vantagem no duelo individual. Isso explica porque saem tantos gols a mais, aqui. Nunca tem ninguém na sobra. Talvez por não ser um futebol tão tático assim é que se desenvolve tanto a técnica dos brasileiros. O argentino aprende desde cedo a ver o lado tático do jogo? Tem um processo para acostumar. Principalmente no meu caso, que atuo numa posição em que você precisa estar mais atento a essas questões. Ser atacante é muito mais fácil do que ser zagueiro ou volante de marcação, principalmente aqui no Brasil. Como disse, o atacante só precisa driblar o zagueiro e entrar no gol. Como um jogador de marcação, não posso errar. Se eu erro ou um defensor erra, é muito provável que saia um gol. Simeone disse recentemente que “A Argentina tem bons jogadores, enquanto o Brasil tem craques”. Você concorda com essa afirmação? O Brasil tem grandes jogadores. É só olhar a lista dos melhores do mundo nos últimos dez anos. Cinco foram brasileiros: Ronaldo, Ronaldinho e Rivaldo.

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O Brasil tem 180 milhões de habitantes, enquanto a Argentina tem apenas 30, menos gente até do que tem no Estado de São Paulo. Isso possibilita que surjam muito mais jogadores de alto nível. Talvez a diferença é que ainda não tenha aparecido algum que chame tanto a atenção quanto a maioria dos brasileiros. Agora tem o Messi, que tem tudo para estar entre os melhores em alguns anos, mas ainda não está no mesmo nível dos brasileiros. O goleiro Johnny Herrera comentou que tem sentido preconceito por parte da imprensa e da torcida por ser chileno. Você, que é argentino, sentiu algo parecido por conta da rivalidade entre os dois países? Exatamente o contrário. Os brasileiros têm nos tratado muito bem. Posso falar pela minha experiência: apesar dos seis meses sem jogar, o carinho da torcida foi excepcional. Agora, sei que terei de retribuir dentro de campo por tudo isso. O Johnny ainda é novo no Corinthians. Ainda não conheceu o brasileiro, que é um povo muito bom. O que você achou do grupo em que a Argentina caiu, mais uma vez considerado o “grupo da morte”? Difícil. Costumo dizer que temos de respeitar as outras seleções, mas acho que eles também devem estar muito preocupados por ter de enfrentar a Argentina. Temos de confiar no nosso time, e acho que temos muitas chances de passar para a segunda fase. Temos bons jogadores, um bom time e precisamos estar conscientes disso. O que você conhece dos adversários da primeira fase? A Holanda é um time com tradição e está numa fase de renovação. Quase todos são jogadores jovens, que fizeram uma boa campanha nas eliminatórias. Sérvia e Montenegro não é tão tradicional assim, mas foi a primeira de seu grupo, deixou para trás a Espanha e tomou apenas um gol na classificação, o que mostra a boa defesa que tem. A Costa do Marfim está entre as melhores da África, chegou à final da Copa Africana de Nações, está com diversos jogadores em bons clubes da Europa. Precisamos ter cuidado. Por outro lado, temos de falar também da Argentina. Passamos por uma renovação, estamos com jogadores importantes triunfando na Europa, fizemos uma boa campanha nas eliminatórias, fomos bem na Copa das Confederações, fomos campeões olímpicos. Por isso, digo que nossos adversários têm de estar muito preocupados por nos enfrentar. Dá para apontar qual dos três será o mais difícil? Acho que os três. O primeiro jogo tem tudo para ser o mais complicado pela ansiedade de enfrentar um time africano, o que não costuma ser fácil, além da necessidade de obter os três pontos. Ganhar o primeiro jogo do Mundial é muito importante para dar tranqüilidade no resto da primeira fase. Essa é a segunda Copa consecutiva em que a Argentina cai no grupo considerado o mais difícil. De alguma maneira, o fracasso de 2002 preocupa vocês? O time, não. Acho que a imprensa argentina é que está mais preocupada com isso e trata nosso grupo como “da morte”. Desta vez, nossa seleção chega de outra maneira. Em 2002, fomos à Ásia como favoritos ao título. Ganhamos as eliminatórias muito

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Marcos Brindicci/Reuters

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bem, conseguimos a classificação com cinco rodadas de antecedência. Agora, vamos sem tanta pressão. Para você, é melhor pegar três times fortes logo de cara ou seria melhor pegar adversários mais fáceis no início? Muitos falam que, para ganhar uma Copa do Mundo, é preciso vencer todas as equipes, mas isso não é verdade. Se o Brasil cai logo na primeira fase, por exemplo, você já fica mais tranqüilo, pois não tem de enfrentá-lo. Não que tenhamos medo de jogar contra os brasileiros, mas é sempre melhor se conseguimos evitar. Por um lado, pode até ser uma boa (estar num grupo mais difícil), mas isso não significa nada. Nas oitavas-de-final, nossos possíveis rivais são Portugal ou México, que não são nada fáceis. De que maneira o fracasso de 2002 te marcou? A mim, marcou bastante. Eu estava no Japão, com o time. O Bielsa levou alguns juniores para acompanhar a equipe, e eu era um deles. Foi uma experiência muito boa para mim, do ponto de vista de saber o que é um Mundial, mesmo sem jogar. Ficar com os jogadores, ir ao estádio... Também tive a possibilidade de ver de perto o quão difícil é ser eliminado na primeira fase, principalmente para o povo argentino. Naquele ano, o país estava muito mal economicamente, e ver-nos campeões era a única alegria que poderia ter. Foi muito frustrante para todo mundo. Muita gente culpa Bielsa pela eliminação precoce. Você concorda? Os jogadores respeitavam muito Bielsa e suas decisões. Ele as tomava para o bem do time, por achar que era o melhor a fazer. Lembro-me da última noite no Japão, depois de nossa eliminação. Da maneira como todos os jogadores estavam tristes e iam cum-

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primentá-lo, mesmo sem saber se ele seguiria ou não no cargo. Me chamou a atenção o respeito que todos tinham por ele. O apelido dele é “El Loco”. De alguma maneira, as decisões que ele tomou naquela Copa justificam o apelido? Não, ele é uma pessoa fantástica. Ele é louco por futebol, não de fazer qualquer coisa. Ele vive pelo futebol. Conheço poucos técnicos como ele. É um cara que fala da mesma maneira com jogadores como Batistuta, Crespo ou Mascherano. Não faz distinção. Sem dúvida, foi o melhor treinador que já tive, alguém com quem sempre se aprende algo novo. Quais os pontos fracos da seleção argentina, hoje? Os jogadores machucados. Lamentavelmente, seis ou sete jogadores estão lesionados gravemente. Agora, mais dois ou três se machucaram – caso do Carlitos Tevez e do Messi. A grande preocupação é a maneira como eles estarão, quando começar a Copa. Por outro lado, há jogadores que chegarão mais descansados. Na última revista de vocês, há uma matéria que diz que, em 2002, Ronaldo e Rivaldo chegaram com poucos jogos, depois de estarem contundidos. Tomara que isso faça alguma diferença a nosso favor. E os pontos fortes? O time está muito bem, e temos jogadores que são importantes em seus times e estão passando por bons momentos, como Messi, Riquelme, Crespo e Carlitos. Em 2002, havia dúvidas sobre qual seria o melhor ataque para a Argentina. Hoje, a questão é quem deve ser o parceiro de Crespo. Quem é o melhor companheiro para ele? Isso você tem de perguntar para o Pekerman, mas ainda não dá para dizer quem. Não sabemos qual será nosso esquema tático: com dois ou com três atacantes, com um meia apenas... O importante é que temos bons jogadores e alternativas. Muita gente aponta o goleiro como o ponto fraco da Argentina. Você concorda? Nossos goleiros são criticados sem muita razão. Abbondanzieri ganhou tudo com o Boca Juniors e tem realizado boas atuações. Foi só ele jogar mal uma partida para todo mundo começar a falar mal. Temos também o Lux, um garoto de 23 anos. Ou então Léo Franco [do Atlético de Madrid], que está na mira do Barcelona. Outro é o Urtari [do Independiente], de apenas 20 anos, que é muito bom. Nos últimos cinco anos, a Argentina revelou bons jogadores, como Aimar, Riquelme e Tevez. Desde a saída do Carlitos, porém, ninguém mais chamou tanto a atenção. Por quê? Temos bons jogadores para estourar, como Agüero [do Independiente], Palácios, do Boca, e o próprio Messi. São jogadores que ainda têm muito o que aprender e são desconhecidos, mas vão ficar famosos em pouco tempo. Por falar no Messi, dá para considerá-lo o maior astro argentino na atualidade? Ele é um craque. Ainda tem muito para melhorar, mas, pela idade que tem e por já ser um dos destaques do Barcelona – para mim, o melhor time do mundo –, deve ser tratado assim. Ele é o jogador que mais agrada aos argentinos. Esperamos que tenha uma boa Copa do Mundo para provar que não é mais um moleque.

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14 “Temos que entender que nunca vai aparecer um jogador igual a Maradona”

Já virou tradição, na Argentina, comparar jogadores com essas características – meio-campista, rápido, ágil – ao Maradona. Isso prejudica de alguma maneira um jogador em início de carreira? Não dá para comparar. A Argentina não terá outro Maradona. É quase impossível alguém repetir o que ele fez. Teremos sempre bons jogadores e, logicamente, a imprensa sempre vai fazer esse tipo de comparação, mas nós, argentinos, temos de esquecer que haverá outro igual. Isso nunca vai acontecer. E essas comparações podem, sim, prejudicar. A todo momento, vão esperar que esses jogadores repitam o que fez Maradona – e ninguém vai fazer, pois Maradona só houve um. Muita gente aponta o Messi como a grande esperança da Argentina para a Copa. Você pensa igual? Sim. O Messi, o Carlitos Tevez e o Riquelme são jogadores de quem esperamos muito. Não é muita responsabilidade um jogador de apenas 18 anos chegar com tanta expectativa? É, mas não é muita responsabilidade jogar no Barcelona, numa Liga dos Campeões, contra o Chelsea, e fazer o que ele faz? Acho que ele já perdeu o peso dessa responsabilidade. Já o vi atuar duas ou três vezes pela seleção, e ele jogou como se estivesse no time há 50 partidas. Quando um jogador é muito bom e explode, como ele, tem de ir para o campo fazer o que quiser. Ele mesmo já demonstrou que pode fazer. O que mudou na seleção argentina com a troca de treinador, do Bielsa para o Pekerman? Sobretudo o sistema tático. Com Bielsa, jogávamos num 3-3-1-3, com três atacantes, um meia e três volantes de contenção. Com Pekerman, jogamos com quatro zagueiros, dois atacantes, três volantes e um meia. A forma de jogar também é um pouco diferente. Com Bielsa, o jogo era

É PRECISO SEPARAR A IMAGEM DE MARADONA DA SELEÇÃO ARGENTINA “Durante muito tempo, achou-se que vincular a figura de Maradona à da seleção ajudaria a dar confiança aos jogadores. Chegaram até a colocá-lo na comissão técnica há alguns anos, mas a idéia teve o efeito contrário: os jogadores se sentiram mais pressionados e acabaram fracassando. Por isso, hoje já se tem a consciência de que é preciso separar a figura dele da imagem da seleção argentina. Ele é o nosso maior craque, e sua imagem não será esquecida, mas já se procura distanciar o desempenho da seleção com esse passado recente” Depoimento de Alejandro Fabbri, comentarista do canal de TV por assinatura argentino TyC Sports, em entrevista ao repórter Ubiratan Leal

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mais rápido, parecido com o estilo europeu. Agora, priorizamos a posse de bola. Qual estilo lhe agrada mais? São duas formas diferentes de ver futebol, mas minha movimentação e meu jeito de jogar são quase os mesmos. A exemplo do que aconteceu com você, muitos jogadores que chegaram à seleção nos últimos anos trabalharam com Pekerman nas categorias de base. Por que com ele vocês conquistaram todos os títulos possíveis, mas isso não se repetiu nas últimas duas Copas do Mundo? Essa é uma coisa muito difícil de ser explicada. Há muitos jogadores de 18 anos que estão num bom nível para jogar uma competição nas categorias de base, mas não continuam se desenvolvendo. Isso faz com que não cheguem à seleção principal. A Argentina tem bons jogadores, mas parece que, desde que o Maradona parou, custou muito para voltarmos a ser um time competitivo. A mesma coisa aconteceu com o Brasil depois do Pelé. Demorou 24 anos para vocês voltarem a ser campeões, sendo que se trata de um time acostumado a chegar a decisões. Com a Argentina está acontecendo a mesma coisa. Não é fácil. Você teme que a Argentina continue sem título por tanto tempo? Espero que não! [risos] Doze anos já será demais, pois o último Mundial do Maradona foi em 94. Já faz 20 anos que não somos campeões. Espero que esta seja a nossa vez. Até onde você acha que o time chega, desta vez? Acho que temos time para chegar à final. Tudo vai depender de como estarão os jogadores. Nos dois últimos amistosos, contra Inglaterra e Croácia, a Argentina saiu na frente e tomou a virada nos instantes finais. Como você avalia essas duas derrotas em circunstâncias tão semelhantes? Contra a Inglaterra, a gente jogou melhor e merecia a vitória. Em cinco minutos, eles viraram o jogo com duas bolas cruzadas. Vi o jogo contra a Croácia pela TV e, no primeiro tempo, fomos muito melhor. Depois o time cansou, caiu o rendimento, e a Croácia virou. Por um lado, não preocupa muito, pois a Argentina mostrou bom nível de jogo. Por outro, preocupa essa história de, nos dois jogos, perdermos quando faltam cinco minutos. Temos de começar a ficar atentos para que isso não se repita. Há alguma explicação para essa situação ocorrer duas vezes seguidas? O time relaxa no final, está confiante demais? Não posso falar porque não estava em campo e não sei o que aconteceu, mas a maior preocupação é que não comecemos a temer que isso se repita com freqüência. A imprensa e a torcida argentina estão apreensivas com relação a sua recuperação. No noticiário, há muitas reportagens a respeito de sua volta. Parece uma demonstração de sua importância para o time. Dizem até que, se estiver 100%, você é titular absoluto. Você se vê assim? Titular, não. Meu último jogo foi naquela vitória por 3 a 1 sobre o Brasil, na Argentina. Até lá, era titular e sempre fui convocado.

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Jorge Ferrari/EPA

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Depois da lesão, perdi um pouco de espaço. Tudo dependerá do que eu fizer no Corinthians. Se tiver um bom rendimento, serei chamado para a Copa e, se estiver na lista, o técnico verá quem está melhor para jogar. Minha principal meta, no momento, é estar entre os 23 que vão à Alemanha. Aqui no Brasil, todo mundo aponta o Tevez como grande destaque da seleção de seu país, enquanto na Argentina, entre vocês dois, você é apontado como titular absoluto e ele como uma espécie de 12º jogador. Pelo fato de estarmos no Brasil, e – como você mesmo disse – valorizarmos mais os atacantes, damos destaque demais para ele? Não, não. Tevez convenceu dentro de campo. Ele veio para o Corinthians e fez algo que ninguém acreditava que ele poderia fazer. Todo mundo – a imprensa argentina e a européia – dizia que ele estava louco de vir para o Brasil, jogar no futebol brasileiro, quando ele tinha tudo para ir para a Europa. No fim do ano, quando foi campeão, todos diziam que era o melhor jogador do Brasil e o maior destaque argentino no exterior. Todos os elogios que ele tem recebido são merecidos. Eles os conseguiu correndo em campo, e não falando.

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Qual o papel dele na seleção argentina? O Tevez é muito importante. O time titular ainda não está definido, e ele tem lugar. Obviamente, ainda temos mais de dois meses para treinar e para o técnico definir quem estará no time. Você e Tevez têm conversado sobre a Copa do Mundo? Sempre conversamos a respeito. Todo o tempo. Está muito perto, e é um sonho comum para nós dois. Tomara que nós dois sejamos chamados, que possamos jogar juntos como titulares e que a Argentina possa fazer uma boa campanha. E com o Gustavo Nery e o Ricardinho? Falamos, mas não muito. Geralmente, é alguma brincadeira, mas não muito. Obviamente, não vou ficar contando como está o time. Também não me interessa saber como está o Brasil. Isso é problema deles. Quer dizer, de vocês! [risos] Por jogar num time que tem uma das maiores torcidas do Brasil, você espera que algum corintiano torça pela Argentina? Tomara, mas sei que cada um ama seu país. Não dá para misturar as coisas. Por mais que gostem tanto do Carlitos aqui, ele é argentino. Numa Copa do Mundo, pela tradição, tenho certeza de que todos os corintianos torcerão pelo Brasil.

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Daniel Augusto Jr./EFE

16 ANÁLISE

MASCHERANO E TEVEZ

AINDA SÃO

COADJUVANTES Argentinos do Corinthians são respeitados em seu país e estão entre os principais nomes da equipe de José Pekerman, mas não são estrelas da seleção

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D

por Caio Maia e Ubiratan Leal

esde que chegaram ao Parque São Jorge, Tevez e Mascherano transformaram-se em atração. Primeiro, porque o torcedor se desacostumou a ver figuras importantes em seleções estrangeiras atuando no futebol brasileiro. Segundo, porque a rápida identificação de ambos com a torcida corintiana fez boa parte da mídia elevá-los à condição de estrelas no cenário internacional. E, apesar do valor incontestável de ambos, isso é algo que deve ser relativizado. O que deve ficar claro é que Tevez e Mascherano não são as estrelas da Argentina. Esse papel fica, em primeira instância, com Juan Roman Riquelme, homem para o qual o técnico José

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Pekerman “desenhou” o time. O ex-jogador do Boca Juniors, que pouco apareceu durante o período em que Marcelo Bielsa treinou a seleção platina, foi titular absoluto em seis e entrou em outras duas partidas das dez realizadas sob o comando de Pekerman nas eliminatórias. Hoje, é ele quem dá o ritmo mais cadenciado da equipe, centralizando a organização das jogadas. Além de terem menos importância tática que Riquelme, os argentinos do Corinthians também ficam em segundo plano no papel de principal promessa do time. Afinal, o momento é de Lionel Messi, do Barcelona, melhor jogador do Mundial Sub-20 do ano passado e visto na Argentina como candidato a “novo Maradona”. É verdade que o companheiro de Ronaldinho só jogou três vezes nas eliminatórias, mas foram justamente os três últimos jogos. Depois se tornou figura constante nos amistosos de preparação – tanto que já há na Argentina quase um consenso de que será titular na Alemanha. Esse cenário é particularmente hostil a Tevez, pois ele teria de encontrar lugar em um setor em que estão os dois principais jogadores da Argentina. Pelo carisma que tem diante da torcida de seu país, o atacante do Corinthians seria o preferido para fazer dupla ofensiva com Messi. No entanto, não é favorito à vaga. “O Tevez é muito querido pela torcida, mas o time precisa de um atacante alto e forte como homem de referência na frente, e o jogador que mais se aproxima disso é Crespo”, explica Alejandro Fabbri, comentarista do canal argentino TyC Sports. Uma mostra dessa preferência pelo atacante do Chelsea é o fato de que ele atuou em 11 partidas durante as eliminatórias. Assim, a entrada de Carlitos no onze titular da Argentina depende de uma adaptação tática. Nos últimos amistosos, contra Inglaterra e Croácia, o corintiano teve espaço como terceiro atacante. Ele ficou mais aberto pela esquerda, com Messi pela direita e Crespo fixo no meio, em uma formação parecida com o trio Messi-Eto’oRonaldinho, no Barcelona. “Ele não é um atacante tão fixo na seleção argentina como é no Corinthians, por isso entraria em uma posição um pouco mais atrás”, analisa Leo Farinella, editor do popular diário Olé. “Ainda assim, acho muito difícil que o Pekerman adote esse esquema. O mais provável é que Tevez fique no banco”. Os próprios argentinos admitem que Pekerman está, ou dá a sensação de estar, em dúvida a respeito do esquema que será utilizado na Copa do Mundo. Mas o pessimismo em relação à titularidade de Carlitos tem fundamento. A Argentina perdeu as duas partidas em que testou o esquema com três atacantes, e o histórico do corintiano na seleção principal já não era muito bom antes disso. Tevez pouco jogou nas oito primeiras rodadas das eliminatórias, quando Bielsa comandava. Foi titular em apenas duas partidas, e em outra entrou no meio-tempo. Com a chegada de Pekerman, ao contrário do que se poderia imaginar, a vida do atacante corintiano não melhorou muito: nos dez jogos que se seguiram nas eliminatórias, Tevez só jogou um inteiro, justamente contra o Uruguai, em Montevidéu, quando a Argentina já estava classificada. Nas outras quatro partidas em que esteve em campo, só em uma ele atuou mais de 45 minutos, justamente contra o Equador, em Quito, quando Pekerman poupou os titulares da altitude.

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O atacante do Corinthians só teve certa continuidade na Copa das Confederações – quando a Argentina levou um time misto – e nos amistosos contra Inglaterra, Qatar e Croácia. Ele foi titular e ficou quase até o fim das derrotas diante de ingleses e croatas, jogos mais importantes da preparação para o Mundial. Isso mostra que Pekerman ao menos considera Tevez uma peça importante em seu esquema. Se tiver apenas dois atacantes, a Argentina ficaria com dois meias de armação. Ainda assim, Tevez teria chances, mas seriam pequenas. “Os principais candidatos à vaga de segundo meia seriam Aimar, Lucho González e Maxi Rodríguez”, comenta Fabbri. Pelas estatísticas, González sairia na frente nessa corrida por um lugar entre os titulares. O jogador entrou em campo dez vezes desde que Pekerman assumiu, isso porque ele não esteve no grupo que disputou a Copa das Confederações. Aimar, apesar da grande fase que atravessa no Valencia, foi prejudicado por contusões e jogou apenas sete partidas na atual gestão argentina, mesmo número de Rodríguez.

Mascherano Se Tevez sofre com o excesso de concorrência em seu setor e, por isso, deve ficar no banco, o contrário ocorre com Mascherano. O volante nem chama tanto a atenção, no Brasil, por seu perfil mais discreto e por ter ficado meses longe dos gramados devido a uma contusão, mas é visto como um jogador fundamental no esquema de Pekerman. Ele seria o principal responsável por proteger a defesa, atuando ao lado de Cambiasso, da Internazionale. A principal virtude do jogador é unir boa marcação, visão de jogo e capacidade de levar a bola com categoria para o setor de criação – características pouco comuns entre os selecionáveis do técnico argentino. “Se estiver em condições de jogo, Mascherano é titular com certeza, não há nem discussão”, diz, de maneira enfática, Alejandro Fabbri, do TyC Sports. Os argentinos reconhecem a importância de Mascherano na equipe que vai à Alemanha. Tanto que a imprensa argentina seguiu com muita atenção a recuperação do volante corintiano, mais até do que a mídia brasileira. “Acho que vi entre 10 e 12 reportagens sobre o Mascherano nos últimos três dias. O acompanhamento é diário e bastante intenso em todos os meios de comunicação”, conta Farinella, do Olé, para quem o volante também é titular indiscutível. E o “Jefecito”, como é chamado Mascherano, ganhou essa projeção mesmo sem ter atuado tanto na equipe de Pekerman. O corintiano fez cinco partidas nas eliminatórias, com Bielsa, e apenas duas – nenhuma completa – com o atual treinador. A última, curiosamente, foi a vitória de 3 a 1 sobre o Brasil, em Buenos Aires, no jogo que assegurou a classificação dos argentinos ao Mundial. Depois, Mascherano se contundiu. Apesar de ter sua titularidade considerada segura, vale uma constatação: nos dois últimos amistosos, Pekerman usou Demichelis ao lado de Cambiasso. Podem ser os primeiros sinais de que, por mais que o corintiano seja a primeira opção, o treinador da Argentina já encontrou uma alternativa.

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18 PERFIL

HUMILDADE À MODA ARGENTINA

Seleção dirigida por José Pekerman assume a posição de segunda força para espantar o estigma do fracasso

D

por Cassiano Ricardo Gobbet

epois de chegar a uma Copa apontada como “a” favorita, a seleção argentina se apresentará na Alemanha como “uma” das favoritas, na melhor das hipóteses. E talvez isso não seja tão ruim. Deixando o posto de vidraça para os vizinhos brasileiros, o time de José Pekerman parece estar bem mais habituado às “sandálias da humildade” do que nas Copas anteriores. Houve diminuição na qualidade dos jogadores argentinos? Não. O que aconteceu é que, desta vez, a Argentina não está envolta por uma frenética apologia da imprensa – que sempre precisa de um time para exaltar com fervor. Além disso, a supremacia brasileira nas últimas competições (como Copa América e Copa das Confederações) impede os argentinos de olharem para si próprios como favoritos. Mas cabe lembrar: a Argentina, atual campeã olímpica, é a única seleção que sempre enfrenta o Brasil sem medo – e esta não deve nada às anteriores. O treinador José Pekerman tem um currículo de sucesso nas categorias de base da seleção e conhece a maioria do elenco desde então. “Low-profile”, Pekerman sabe mais do que ninguém que gente como Verón, Sorín, Crespo, Zanetti e Ayala precisa vencer, porque é agora ou nunca. O modo discreto como a Argentina abordou as eliminatórias é um bom exemplo de como Pekerman gerencia o grupo. Mesmo liderando praticamente de ponta a ponta, o treinador mudou seu time em quase todos os jogos, escalou jogadores diferentes, poupou titulares e sempre colocou o favoritismo na geladeira. O exemplo de seu antecessor, Marcelo Bielsa, e de sua multidecantada esquadra que caiu fora na primeira fase serviram como lição.

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Argentina Asociación del Fútbol Argentino www.afa.org.ar Participações em Copas: 13 (1930, 1934, 1958, 1962, 1966, 1974, 1978, 1982, 1986, 1990, 1994, 1998 e 2002) Momento memorável: o segundo gol de Diego Maradona contra a Inglaterra, na Copa de 1986 Uniforme: camisa com listras verticais em azul-celeste e branco, calção preto e meias brancas Na Copa 2006: grupo C, com Holanda, Costa do Marfim e Sérvia e Montenegro CAMPANHA NAS ELIMINATÓRIAS PARA 2006 06/09/03 - ARG 09/09/03 - VEN 15/11/03 - ARG 19/11/03 - COL 30/03/04 - ARG 02/06/04 - BRA 06/06/04 - ARG 04/09/04 - PER 09/10/04 - ARG

2x2 0x3 3x0 1x1 1x0 3x1 0x0 1x3 4x2

CHI ARG BOL ARG EQU ARG PAR ARG URU

13/10/04 - CHI 17/11/04 - ARG 26/03/05 - BOL 30/03/05 - ARG 04/06/05 - EQU 08/06/05 - ARG 03/09/05 - PAR 09/10/05 - ARG 12/10/05 - URU

0x0 3x2 1x2 1x0 2x0 3x1 1x0 2x0 1x0

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Michael Dalder/Reuters

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Tendo tanto talento disponível, Pekerman varia levemente seu esquema tático, com três ou quatro defensores, mas escalando Javier Zanetti e Sorín nas laterais, sempre com uma vocação ofensiva (quando não dispõe de um dos dois, os substitutos são muito mais armadores do que defensores, como “Kily” Gonzalez, por exemplo). O emprego dos dois sobrecarrega a zaga, onde mesmo jogadores eficientes como Samuel, Heinze e Coloccini acabam freqüentemente sacrificados. As variações táticas de Pekerman giram em torno de dois titulares fixos: Crespo e Riquelme, que só não jogam se estiverem machucados. O resto da escalação depende do adversário. E a lista à disposição do treinador é invejável: Cambiasso, Verón, Mascherano, Aimar, Tevez, só para citar alguns. Qualquer que seja o time, Crespo é o centroavante que serve de referência na área. Pekerman usa muito as jogadas na linha de fundo e a aproximação dos meio-campistas. Em linhas gerais, sem a bola, a pressão argentina é feita no campo do adversário; com a bola, os armadores se aproveitam do passe para manter o rival acuado. E esse time tem fraquezas? Claro! Como o Brasil, a Argentina perde o rebolado quando é atacada, especialmente no contra-golpe. Uma vez que o mote é jogar no campo do adversário, quando o rival é esperto e usa pontas velozes para atacar, os zagueiros argentinos sem cobertura entregam o ouro. Um outro problema que Pekerman certamente tem é no gol. Abbodanzieri e Leo Franco não são ruins, mas também não inspiram a confiança que uma pretendente ao título precisa ter. Além disso, mesmo com um grupo fabuloso, o elenco argentino não tem um Ronaldo ou um Kaká. Tem Messi, potencialmente lendário, mas que completará só 19 anos durante o Mundial, caso a Argentina chegue às oitavas-de-final. O grupo da Argentina, mais uma vez, é o mais encarniçado do Mundial. A dificuldade dos jogos varia entre “difícil” e “dificílimo”, e uma vitória contra a Costa do Marfim, na estréia, é indispensável. Só que a Costa do Marfim, vale lembrar, é a vice-campeã africana, tendo perdido nos pênaltis para os egípcios donos da casa. Não é moleza, não.

A mídia vai cansar seus ouvidos ao dizer que... Argentina se parece com... Al Bundy (do seriado “Um Amor de Família”)

Se acha o maior do mundo, mas na realidade é um simples vendedor de sapatos que não se cansa de relembrar suas glórias de um passado distante

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...a maior arma do futebol argentino é a catimba de seus jogadores ...depois da época de Fillol, a Argentina nunca mais revelou um bom goleiro ...Pelé é o algoz argentino porque sempre coloca o time no “grupo da morte”, no sorteio ...Tevez e Mascherano terão o apoio da torcida corintiana

Michael Kooren/Reuters

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Segundo Mascherano, Messi é o jogador que mais encanta os argentinos

O ASTRO: RIQUELME Quem é o melhor jogador da Argentina? É difícil dizer. O nível entre os prováveis candidatos é altíssimo, mas não há um destaque absoluto. Vários jogadores poderiam assumir o papel de ‘craque do time’. A menos que você seja torcedor argentino. Nesse caso, o nome sublinhado é o de Juan Román Riquelme. O jogador de San Fernando é o ídolo da torcida argentina, não só pelo seu talento, mas também pelo temperamento arredio e pela dedicação à camisa. Na gestão de Pekerman, Riquelme ganhou status de titular absoluto, e todo o jogo argentino passa em seus pés. Riquelme é um armador clássico e tem uma visão de jogo raríssima. Seu jogo é um pouco lento para o futebol europeu, fato que dificultou sua adaptação no Barcelona, mas é compensado com passe e controle de bola. Depois do ‘flop’ na Catalunha, tornou-se o principal jogador da ótima campanha do Villareal na Liga dos Campeões. O armador argentino é capaz de decidir um jogo num lance individual, a exemplo de astros como Zidane e Ronaldinho. No entanto, ainda não se mostrou tão capaz quanto os rivais para se livrar de uma marcação individual – fato que foi determinante para seu insucesso no Nou Camp. E, se Riquelme é anulado, a Argentina sente o baque.

A PROMESSA: MESSI Um jogador que já é nome constante nas escalações do Barcelona não é exatamente uma promessa. Lionel Messi é a grande esperança argentina para a próxima década. Ele tem tudo o que um jogador precisa para se consagrar: visão, técnica, criatividade, empenho. Misto de meio-campista e atacante, as comparações com Maradona já vêm de tempos. Levando-se em conta que Aimar, D’Alessandro e Riquelme (só para citar alguns) também tiveram de conviver com o peso de reencarnar o “Pibe”, talvez seja melhor esquecer o rótulo. Aparentemente, Messi tem talento para tanto. Resta esperar ele amadurecer.

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A SELEÇÃO GOLEIROS Roberto Abbondanzieri 19/8/1972 Clube: Boca Juniors Copas: Eliminatórias: 11J / 8GS Leo Franco 20/5/1977 Clube: Atlético de Madrid (ESP) Copas: Eliminatórias: 1J / 2GS

Walter Samuel 23/3/1978 Clube: Internazionale (ITA) Copas: 2002 Eliminatórias: 9J / 0G Javier Zanetti 10/8/1973 Clube: Internazionale (ITA) Copas: 1998 e 2002 Eliminatórias: 12J / 1G

Germán Lux 7/6/1980 Clube: River Plate Copas: Eliminatórias: 0J / 0GS

MEIO-CAMPISTAS Pablo Aimar 3/11/1979 Clube: Valencia (ESP) Copas: 2002 Eliminatórias: 8J / 3G

Oscar Alfredo Ustari 3/7/1986 Clube: Independiente Copas: Eliminatórias: 0J / 0GS

Sebastián Battaglia 8/11/1980 Clube: Boca Juniors Copas: Eliminatórias: 2J / 0G

DEFENSORES Roberto Ayala 12/4/1973 Clube: Valencia (ESP) Copas: 1998 e 2002 Eliminatórias: 11J / 0G

Nicolas Andrés Burdisso 12/4/1981 Clube: Internazionale (ITA) Copas: Eliminatórias: 2J / 0G

Juán Román Riquelme 24/6/1978 Clube: Villarreal (ESP) Copas: Eliminatórias: 9J / 2G

Andrés D’Alessandro 15/4/1981 Clube: Portsmouth (ING) Copas: Eliminatórias: 9J / 1G

Juán Pablo Sorín 5/5/1976 Clube: Villarreal (ESP) Copas: 2002 Eliminatórias: 13J / 2G

Cristian “Kily” Gonzalez 4/8/1974 Clube: Internazionale (ITA) Copas: 2002 Eliminatórias: 11J / 1G

Juan Sebastián Verón 9/3/1975 Clube: Internazionale (ITA) Copas: 1998 e 2002 Eliminatórias: 3J / 0G

Luis “Lucho” Gonzalez 19/1/1981 Clube: Porto (POR) Copas: Eliminatórias: 12J / 1G

ATACANTES Hernán Crespo 5/7/1975 Clube: Chelsea (ING) Copas: 1998 e 2002 Eliminatórias: 11J / 7G

Javier Mascherano 8/6/1984 Clube: Corinthians (BRA) Copas: Eliminatórias: 7J / 0G Robert Ghement/EFE

Fabrício Coloccini 22/1/1982 Clube: Dep. La Coruña (ESP) Copas: Eliminatórias: 7J / 1G

Lionel Messi 24/6/1987 Clube: Barcelona (ESP) Copas: Eliminatórias: 3J / 0G

Estebán Cambiasso 18/8/1980 Clube: Internazionale (ITA) Copas: Eliminatórias: 8J / 0G

César Delgado 18/8/1981 Clube: Cruz Azul (MEX) Copas: Eliminatórias: 10J / 1G

Martin Demichelis 20/12/1980 Clube: Bayern de Munique (ALE) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Julio Ricardo Cruz 10/10/1974 Clube: Internazionale (ITA) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Gabriel Heinze 19/4/1978 Clube: Manchester United (ING) Copas: Eliminatórias: 10J / 0G

Diego Milito 12/6/1979 Clube: Zaragoza (ESP) Copas: Eliminatórias: 1J / 0G

Gabriel Milito 7/9/1980 Clube: Zaragoza (ESP) Copas: Eliminatórias: 5J / 0G

Maximiliano “Maxi” Rodriguez 2/1/1981 Clube: Atlético de Madrid (ESP) Copas: Eliminatórias: 3J / 0G

Diego Placente 24/4/1977 Clube: Celta (ESP) Copas: 2002 Eliminatórias: 4J / 0G Facundo Quiroga 10/1/1978 Clube: Wolfsburg (ALE) Copas: Eliminatórias: 3J / 0G

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O TÉCNICO José Pekerman fez seu nome na Argentina com as seleções menores. Conquistou três títulos mundiais sub-20 – 1995, 1997 e 2001 –, além de dois Sul-Americanos da categoria (1997 e 1999). Nessa época, revelou boa parte dos jogadores que hoje comanda no time principal. Pekerman nunca foi o favorito da opinião pública, mas chegou a ser convidado para o cargo em 1998, quando saiu Daniel Passarella – e rejeitou a proposta. Na época, preferiu indicar Marcelo Bielsa e assumir um cargo administrativo.

Javier Saviola 11/12/1981 Clube: Sevilla (ESP) Copas: Eliminatórias: 10J / 1G Carlos Tevez 5/2/1984 Clube: Corinthians (BRA) Copas: Eliminatórias: 8J / 0G

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22 RAIO X

A CULPA NÃO FOI DA

ÁGUA

Custódio Coimbra/Agência O Globo

Em poucos Mundiais o Brasil teve tantos problemas técnicos, de organização e no relacionamento interno como em 1990, na Itália. Nesse ambiente pesado, a suposta água “batizada” que Branco tomou contra a Argentina teve peso mínimo na derrota

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OS 22 CONVOCADOS POR LAZARONI

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por Ubiratan Leal

uando Maradona driblou três jogadores brasileiros e lançou Caniggia, que passou por Taffarel e fez o gol da vitória argentina, estava sacramentado o destino da Seleção na Copa de 1990. Eram apenas as oitavas-de-final, e aquela derrota por 1 a 0, em Turim, deixou o Brasil na nona posição, a pior do país desde o fiasco de 1966, na Inglaterra. Porém, os principais motivos da queda prematura estavam longe do gramado do estádio Delle Alpi. Claro, a reação inicial foi justamente levantar questões envolvendo o clássico sul-americano daquele 24 de junho. Na época, falou-se que o volante Alemão não teria feito falta em Maradona, no lance que iniciou o gol argentino, porque ambos eram companheiros de equipe, no Napoli. E até hoje se fala do fato de o lateral Branco ter bebido água – dada pelos adversários –, que supostamente continha tranqüilizante, durante o jogo. Porém, isso tudo é secundário perto de todo o clima negativo que envolvia a Seleção. Era um time que erodiu lentamente até o ponto de o fracasso ser uma conseqüência natural. Hoje, o Brasil comandado por Sebastião Lazaroni é lembrado como uma das equipes mais fracas a vestir a camisa verde-amarela nos últimos 20 anos. Porém, não era bem essa a imagem da Seleção antes da Copa da 1990. Devido à ausência de uma hegemonia clara no futebol internacional, no final da década de 80, várias seleções chegaram à Itália com status de candidatas ao título. Para se ter uma idéia, a Argentina vinha em má fase, mas era campeã mundial e tinha Maradona. A Itália jogava em casa e, com um título, seria a maior vencedora das Copas. A Holanda conquistara a Eurocopa dois anos antes, a Alemanha Ocidental aparecia com uma geração ainda melhor que a vice-campeã dos dois Mundiais anteriores, e até o Uruguai era respeitado pelos talentos que tinha em seu elenco e foi apontado como favorito por muitos analistas. Por mais que apresentasse um futebol inconsistente, com menos talento que o normal e baseado em um esquema raro no país (o 3-5-2), o Brasil havia superado quase todas essas seleções nos meses que antecederam o Mundial (veja quadro da pág. 25). A única exceção era a Alemanha Ocidental, com quem a Seleção não jogava desde 1986. Assim, o Brasil também estava na lista de candidatos ao título.

Problemas antes mesmo da estréia Os sintomas de que havia falhas de gerenciamento foram expostos antes mesmo de a Seleção ir à Itália. Na foto oficial da delegação, feita na Granja Comary, todos os jogadores colocaram a mão no peito cobrindo a logomarca da Pepsi, patrocinadora oficial da CBF na época. O grupo tentava pressionar a direção da entidade a aumentar a premiação, em caso de título. Apesar de demonstrar desconforto com o assunto, o próprio técnico Sebastião Lazaroni admite a existência de tais problemas, em en-

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1 – Taffarel (Internacional) 2 – Jorginho (Bayer Leverkusen-ALE) 3 – Ricardo Gomes (Benfica-POR) 4 – Dunga (Fiorentina-ITA) 5 – Alemão (Napoli-ITA) 6 – Branco (Porto-POR) 7 – Bismarck (Vasco) 8 – Valdo (Benfica-POR) 9 – Careca (Napoli-ITA) 10 – Silas (Sporting-POR) 11 – Romário (PSV-HOL) 12 – Acácio (Vasco) 13 – Mozer (Olympique de Marselha-FRA) 14 – Aldair (Benfica-POR) 15 – Müller (Torino-ITA) 16 – Bebeto (Vasco) 17 – Renato Gaúcho (Flamengo) 18 – Mazinho (Vasco) 19 – Ricardo Rocha (São Paulo) 20 – Tita (Vasco) 21 – Mauro Galvão (Botafogo) 22 – Zé Carlos (Flamengo)

trevista à Trivela. “É preciso entender que, na época, o futebol não girava tanto dinheiro e não dava tantas condições aos jogadores quanto hoje”, afirma. Mas o treinador confirma que essa discussão teria tirado o foco dos atletas na Copa. A partir daí, as rusgas no elenco foram se intensificando, sem que a comissão técnica conseguisse controlar o problema. O processo ficou ainda mais grave depois que a Seleção chegou à Itália para um período de preparação inicial em Gubbio e a concentração definitiva em Asti. Isso ficou evidenciado com a derrota para um combinado da Úmbria (região onde está a cidade de Gubbio), em um jogo-treino. “A falta de concentração de todo o elenco na semana que antecedeu nossa estréia foi impressionante. Vi coisas inadmissíveis”, disse Mozer, zagueiro do Brasil em 1990, à Trivela. Um dos motivos seria o fato de a Fiat ter cedido vários veículos ao elenco brasileiro, como forma de promover sua marca. Vale lembrar que a empresa italiana tem sede em Turim – onde o Brasil jogou a primeira fase – e investira pesado em marketing relacionado ao Mundial, inclusive com filme publicitário estrelado por Lazaroni (veja box na pág. 24). Cada grupo de quatro jogadores tinha de dividir um carro. “Alguns ficaram deslumbrados e pensavam mais em combinar que passeio fariam pela região, com o carro novo, assim que tivessem tempo livre, do que em treinar”, conta Mozer, hoje morando em Portugal. Esse foi apenas um aspecto de um ambiente em que os objetivos pessoais e as pressões de grupos dentro do elenco cresciam. Com tanta turbulência e problemas aparecendo por vários lados, a comissão técnica perdeu o controle do elenco. “Administrar um grupo com 22 jogadores, com 22 vaidades, é muito difícil”, constata o ex-atacante Müller.

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Aníbal Philot/Agência O Globo

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Lazaroni: “Só havia um craque em campo e estava no outro time”. E foi Maradona que deixou Caniggia na cara do gol

Reflexos da crise em campo Não demorou muito para problemas como esses influenciarem discussões ligadas à forma como a equipe atuaria. Segundo alguns integrantes do elenco de 1990, entrevistados pela reportagem da Trivela, a desunião fez com que o time perdesse o sentido coletivo. “O Lazaroni deu uma abertura para os jogadores opinarem no esquema de jogo, mas cada um começou a forçar por mudanças que lhes conviessem, e acabaram desfigurando a equipe, até contestando o comando do técnico”, comenta Mozer. Para o ex-defensor, vendo o resultado final, seria melhor se a comissão técnica nunca tivesse aberto essa discussão. Para piorar, a Seleção sofria forte pressão da imprensa. Lazaroni transformara-se em alvo preferencial de críticas desde que anunciara que o Brasil jogaria com líbero, o que foi visto como passo final à adoção da retranca no futebol brasileiro. O técnico se

defende: “Jogaríamos na Itália, e as Copas realizadas na Europa seguem uma lógica diferente, em que todos acabam atuando mais atrás. A Seleção tem de jogar de acordo com as circunstâncias que a cercam. Além disso, já ficou provado que o 3-5-2 não é ruim, pois foi o sistema que o Brasil usou quando ganhou em 2002, com a melhor campanha da história das Copas”. Em campo, o rendimento da Seleção estava muito aquém das expectativas. Com futebol econômico, a equipe venceu a Suécia por 2 a 1 e a Costa Rica por 1 a 0, em uma partida em que o Brasil mostrou grande capacidade de perder gols. A crise quase estourou às vésperas do jogo contra a Escócia. Romário, que voltava após fratura na fíbula, se dizia em condições de entrar em campo e dava declarações como “O técnico não me trouxe para cá, apostando em minha recuperação, para me

“PIACERE, IO SONO IL PAPA” Um dos fatos mais folclóricos que giraram em torno da Seleção, na Copa de 1990, foi a propaganda da Fiat estrelada por Sebastião Lazaroni. O filme recebeu prêmios na área de propaganda, mas ficou realmente famoso por expor o técnico da Seleção a uma situação inusitada, que se transformou em piada, na época. O comercial apresentava o seguinte diálogo de um guarda italiano com o técnico: – Hmm, Lazaroni? – Sim, eu sou brasileiro. – Lazaroni brasileiro? – Eu sou o técnico da Seleção Brasileira. – Ah, e agora vai me dizer que este Uno também é brasileiro. – Sim, é fabricado no Brasil e exportado à Itália. – Lazaroni brasileiro, técnico da Seleção Brasileira, dirigindo um Uno brasileiro... Prazer, eu sou o Papa.

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Guilherme Bastos/Agência O Globo

deixar no banco”. O atacante do PSV já havia perdido a titularidade antes da contusão, mas era um novo foco de tensão no grupo. Outras mudanças também eram pedidas, e até se brincou com a possibilidade de o Brasil “entregar” o jogo contra a Escócia para evitar um encontro com a Argentina nas oitavas-de-final. Lazaroni decidiu, como resposta às pressões, usar o time reserva no último jogo-treino antes da partida contra os escoceses. De qualquer forma, o Brasil entrou em campo com a base que vencera os jogos anteriores, mas com Romário titular. O atacante não jogou bem e foi substituído por Müller, que fez o gol da vitória por 1 a 0. Apesar de conviver com crise técnica e dificuldade em soltar seu futebol, a Argentina não era o melhor adversário para um Brasil desestabilizado como esse. Nas oitavas, a Seleção jogou sua melhor partida na Copa e pressionou os rivais por quase todo o encontro. Porém, o time desperdiçou muitas oportunidades, a ponto de acertar a trave argentina quatro vezes. Isso não se deve apenas ao acaso. “A falta de concentração nos momentos decisivos fazia parte do ‘pacote’ de problemas causados pela desunião e pela falta de foco do elenco desde que começou a preparação”, avalia Alemão, volante da Seleção na época. A desatenção teria se manifestado também no lance do gol. Além disso, o Brasil padeceu por ter um time formado por bons jogadores, mas nenhum destaque individual que assumisse a responsabilidade e decidisse. Isso foi determinante em um time que vinha em crise, desorientado e enfrentava seu principal rival. “A gente estava com 100% de aproveitamento, e fizemos uma ótima partida contra a Argentina, mas não podemos esquecer que só havia um craque que realmente desequilibrasse em campo. E esse craque estava no outro time”, analisa Lazaroni. O técnico não deixou de reclamar do caso do lateral-esquerdo Branco, que bebeu uma água que supostamente tinha tranqüilizantes oferecida pelos argentinos e ficou sonolento durante os últimos minutos da partida. Mas, diante de uma cadeia de equívocos que se estenderam por semanas e envolveram toda a delegação brasileira que foi à Itália, esse foi um problema menor.

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TRAJETÓRIA DO BRASIL ENTRE JULHO DE 1989 E JUNHO DE 1990 1/julho/1989 3/julho/1989 7/julho/1989 9/julho/1989 12/julho/1989 14/julho/1989 16/julho/1989 23/julho/1989 30/julho/1989 13/agosto/1989 20/agosto/1989 3/setembro/1989 14/outubro/1989 14/novembro/1989 20/dezembro/1989 28/março/1990 5/maio/1990 13/maio/1990 19/maio/1990 28/maio/1990

– Brasil 3x1 Venezuela (Salvador)* – Brasil 0x0 Peru (Salvador)* – Brasil 0x0 Colômbia (Salvador)* – Brasil 2x0 Paraguai (Recife)* – Brasil 2x0 Argentina (Rio de Janeiro)* – Brasil 3x0 Paraguai (Rio de Janeiro)* – Brasil 1x0 Uruguai (Rio de Janeiro)* – Brasil 1x0 Japão (Rio de Janeiro) – Venezuela 0x4 Brasil (Caracas)** – Chile 1x1 Brasil (Santiago)** – Brasil 6x0 Venezuela (São Paulo)** – Brasil 2x0 Chile (Rio de Janeiro)** – Itália 0x1 Brasil (Bolonha) – Brasil 0x0 Iugoslávia (João Pessoa) – Holanda 0x1 Brasil (Roterdã) – Inglaterra 1x0 Brasil (Londres) – Brasil 1x1 Bulgária (Campinas) – Brasil 3x3 Alemanha Oriental (Rio de Janeiro) – Combinado de Madri 0x1 Brasil (Madri) – Combinado da Úmbria 1x0 Brasil (Terni)***

* Copa América ** Eliminatórias da Copa *** Jogo-treino em que a Seleção não entrou com uniforme oficial. Porém, a partida teve status de amistoso, inclusive com transmissão ao vivo pela TV

Para Mozer, mão no peito é sinal de patriotismo

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26 ENTREVISTA

“NOSSO FAVORITISMO VIROU

DESCULPA PARA OS OUTROS”

Sandro Pereyra/EFE

Em entrevista à Trivela, Emerson diz que adversários usam a Seleção como escudo e relembra seu corte em 2002

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por Carlos Eduardo Freitas

oucos jogadores na Seleção Brasileira estão com tanta vontade de disputar a Copa do Mundo na Alemanha como Emerson. É difícil esquecer a imagem do então capitão do time deixando o último rachão antes da estréia contra a Turquia, em 2002, com uma grave lesão no ombro. “Aconteceu o que era para acontecer. Foi uma das piores coisas da minha vida, mas já consegui esquecer legal”, comentou o volante da Juventus e da Seleção nesta entrevista exclusiva à Trivela. Na conversa, realizada na véspera da derrota por 2 a 0 de seu clube para o Arsenal, na Liga dos Campeões, ele defendeu o time de Parreira das críticas ao setor defensivo – “Jogamos tão ofensivamente pela qualidade dos jogadores de frente” – e também das críticas que recebe: “Sempre joguei na Seleção em uma posição diferente da que atuo nos clubes”. Segundo o volante, tanto na Itália quanto nos tempos em que jogava no Grêmio, sua função tática lhe permite atacar. Emerson aproveitou a oportunidade para comentar o fato de como os principais favoritos ao título têm se escondido atrás da Seleção Brasileira. Para ele, isso é desculpa esfarrapada. “A maioria das pessoas diz que o Brasil é favorito só para tirar de si a responsabilidade”. O volante, porém não foge de raia e diz que o time de Parreira tem totais condições para se tornar o maior de todos os tempos – “Mas precisa ganhar”.

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Você viveu situações opostas nas últimas duas Copas. Em 1998, chegou à França de última hora, para substituir o Romário; em 2002, era o capitão do time e foi cortado na véspera da estréia. Como você se sentiu quando o Brasil conquistou o título, sabendo que poderia ser você quem levantaria a taça? Acho que nada acontece por acaso. Em 1998, eu estava de férias, em Fortaleza. Jamais esperava ser chamado. Foi bastante complicado chegar justo para o lugar do principal jogador do time naquele momento. Em 2002, foi o contrário, mas acho que aconteceu o que era para acontecer. Obviamente, fiquei muito feliz pelo fato de termos ganhado o título. Sei o quanto todos batalharam para chegar até aquele momento. Era uma equipe que não tinha confiança e chegou à final. Uma situação diferente da atual, em que todos dizem que somos os favoritos. Como você se sentiu quando soube da gravidade da lesão, ainda mais na véspera da Copa de 2002? Foi horrível para mim, uma das piores coisas que já aconteceram na minha vida, mas já consegui esquecer legal. Naquele momento, fiquei chateado pela situação, principalmente por tudo o que passamos nas eliminatórias. Eu era o capitão do time, nos classificamos no último jogo. Participei intensamente daquilo tudo. Quando chegou a hora do bem-bom, fiquei de fora. Foi muito difícil ver os jogos, principalmente no início, mas, depois que voltei para casa, eu era mais um torcedor. E como será a chance de disputar outra Copa? Terá um gosto especial. Desde então, meu objetivo foi tentar recuperar o espaço que eu deixei quando fui cortado. Muita coisa mudou na minha vida e são poucos os que sabem a esse respeito. Passei um bom tempo fora da Seleção, mas trabalhei duro e consegui a possibilidade de disputar mais uma Copa. Você comentou sobre o favoritismo que cerca o Brasil, desta vez. Tanto oba-oba em cima da Seleção te preocupa? As pessoas respeitam nosso trabalho, mas isso é muito perigoso. Muitas seleções usam isso como desculpa. Quando alguém diz “O Brasil é favorito, vamos jogar apenas pelo segundo lugar”, está tirando de si a responsabilidade. Um empate com o Brasil é considerado vitória; uma derrota, “Ah, o Brasil não fez mais do que a obrigação”. Todos sabem que o futebol não é assim. Não se ganha jogo antes de entrar em campo. Temos uma grande equipe, talvez até a melhor que já tivemos – e isso aumenta nossa responsabilidade –, mas ainda não ganhamos nada. Precisamos ganhar. O Felipão usou isso a favor do Brasil, em 2002? Ele é um motivador. Sempre pega essas coisas para motivar suas equipes. O que você espera deste Mundial? Sei da responsabilidade que temos e sempre soube administrar bem isso. A expectativa é sempre de vencer. Em qualquer competição em que a Seleção Brasileira entra, essa é a obrigação. Só precisamos ver como os jogadores estarão daqui a um mês, na parte física. Minha equipe, por exemplo, está jogando duas com-

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Stringer/Reuters

“Temos uma grande equipe. Talvez a melhor que já tivemos, mas precisamos ganhar”

petições importantes – assim como a do Kaká e a do Ronaldinho. Cada vez que avançamos nesses torneios, aumenta o cansaço. Eu procuro me cuidar ao máximo, para chegar muito bem, mesmo jogando pelo meu clube e sabendo que tenho uma Copa do Mundo em menos de dois meses. Você mencionou a questão do cansaço. Em nossa última edição, fizemos uma matéria em que os preparadores da Seleção e o próprio Parreira falam sobre os temores do cansaço. Os três disseram que essa é a maior preocupação. Você concorda? Não só deles como dos próprios jogadores. É uma questão muito delicada. No início do ano, trouxe um fisioterapeuta do Brasil para me dar uma força. Sei que tenho que jogar pelo meu time e que não posso me poupar porque vou jogar uma Copa. Trouxe essa pessoa para qualquer emergência. Minha idéia era exatamente chegar na Copa nas melhores condições possíveis, e acho que é sempre bom os jogadores tomarem esse tipo de cuidado. São muitos jogos numa temporada. Quem será o grande adversário do Brasil na Copa do Mundo? Minha preocupação é com a nossa chave, que é estranha. Tem uma equipe – a Croácia – que possui jogadores bons e que vão complicar. O Japão, um time que melhorou muito de uns anos para cá e chega sem grandes responsabilidades. Jogar desse jeito, sem pressão, até facilita para eles. Também tem a Austrália, que vai querer mostrar alguma coisa. É claro que temos de nos classificar de qualquer maneira, mas acredito que essa será a fase mais difícil. Estréias são sempre mais complicadas. Depois você acostuma com a competição – e o Brasil, após os primeiros jogos, fica mais solto. Passada a primeira fase, tanto faz quem vier. O capitão da Croácia, Robert Kovac, é seu colega de clube. Vocês já conversaram a respeito do jogo na primeira fase? Ah, um pouquinho. A gente até brinca um pouco, mas nada de mais. Ele me respeita muito, respeita muito a Seleção Brasileira.

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Sabemos que não será fácil vencê-los, pois a Croácia tem um time experiente. Praticamente todos os seus colegas na Juventus estarão na Copa. Qual deles você acha que tem mais chances de se destacar? Acredito que o Ibrahimovic. É um ótimo jogador, é jovem e cresceu bastante nos últimos anos. Tenho certeza de que será um dos destaques. Um dos grandes temores da torcida brasileira é o setor defensivo da Seleção. A Trivela conversou com alguns dos zagueiros brasileiros que estarão na Copa, e eles falaram que a defesa joga muito exposta. O Juan chegou até a dizer que o Brasil joga com apenas três na defesa –os dois zagueiros e o goleiro– e que não há margem para erro. Você concorda com isso? A defesa fica exposta pela qualidade ofensiva dos jogadores, e não dá para pedir para o Ronaldinho marcar. Ele pode até dar uma mão, mas será mais útil lá na frente. O Brasil sempre adotou esquemas ofensivos pela qualidade e as características dos jogadores. Esse tipo de problema, porém, nunca aparece em Copas do Mundo. Antes, dizem que a defesa não está legal, tomou muitos gols e foi mal nas eliminatórias. No Mundial é diferente: a maioria das equipes joga apenas com um atacante e todo o resto atrás da linha da bola, defendendo. Tenho certeza de que, quando chegarmos à Copa, conseguiremos consertar essas coisas. E você, por ter o papel de único volante de ofício, se sente sobrecarregado? Eu tenho que correr mais. A verdade é essa. Preciso ter muita atenção. Aqui na Juventus tenho mais liberdade para ir à frente porque temos dois laterais que ficam mais e jogamos com dois volantes – no caso, eu e o Vieira. E o Brasil tem uma virtude que nenhuma outra seleção possui: nossos jogadores de frente conseguem ficar mais tempo com a bola. Isso dá tempo para a gente respirar.

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Thomas Bohlen/Reuters

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Se você tivesse na Seleção um volante ao seu lado, como na Juventus, ficaria menos sobrecarregado? Em teoria sim, mas isso depende do que o Parreira vai querer. Mas acho que o Zé Roberto tem feito bem esse papel. Ele tem um condicionamento físico muito bom, corre bastante, vai à frente e volta para marcar. O Mascherano disse à Trivela que, no futebol brasileiro, não há a mesma preocupação com relação à tática que há na Argentina. Como resultado, os zagueiros e os volantes jogam sob constante pressão, sem possibilidade de errar. Você, como volante, concorda? Não concordo quando ele diz que o brasileiro não se preocupa com a parte tática. Muito pelo contrário. Para atuar com tantos jogadores de ataque, você tem de ser perfeito taticamente. Não tem essa história de “Vamos atacar com todo mundo”. Aqui na Europa, por exemplo, os times jogam no erro do adversário.

Na Itália, é só um na frente e todo mundo atrás. A equipe nunca fica exposta. O Brasil não: arrisca. Ficamos mais expostos, mas são mais chances de gol. Aqui no Brasil você sempre foi tratado como um brucutu, um perna de pau. Já na Europa, o técnico Fabio Capello levou você para a Roma, fez o mesmo quando foi para a Juventus e deu a entender que repetirá a atitude se for para outro clube. O que acontece para você ter um status aí e outro aqui no Brasil? Eu ter jogado pouco tempo no Brasil talvez seja um ponto negativo na minha carreira. Por algum tempo, até me deixou chateado a história de ser mais reconhecido fora do país do que no Brasil. Mas esse tipo de comentário não incomoda mais. Faz muito tempo que estou na Seleção e já estou há anos na Europa. Não preciso provar mais nada para ninguém. Se um dos melhores treinadores do mundo, o Capello, me leva para tudo o que é canto, acho que não é à toa. Ele não faz isso porque sou simpático. Tenho essa moral com ele pelo que faço e fiz enquanto trabalhamos juntos. Por outro lado, na Seleção eu sempre joguei em funções diferentes das que atuo nos clubes. No Grêmio, eu jogava na frente. No Bayer Leverkusen, fui para a Seleção como meia-direita. Depois disso, o Vanderlei Luxemburgo me colocou para jogar como volante – e isso talvez tenha me atrapalhado um pouco. Você se sente um pouco como o Dunga desta geração? No Brasil, os jogadores de ataque chamam mais a atenção. Os de defesa, por terem de dar essa proteção para os atacantes, acabam aparecendo menos. O pessoal de defesa, para falar a verdade, só aparece quando erra. Podemos até fazer um ótimo jogo, mas os zagueiros e volantes acabam ofuscados. Isso é diferente na Europa. Aqui, valorizam todas as posições. Isso é uma coisa com a qual temos de nos acostumar, pois no Brasil é assim mesmo.

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30 SEDES

TAMANHO X

TRADIÇÃO Andreas Meichsner/Reuters

Berlim é a capital, mas Hamburgo tem muito mais poder no futebol alemão

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por Carlos Eduardo Freitas

uando se desembarca na capital de um país europeu com tradição futebolística, você pode ir até o estádio local e comprar uma camisa do time da casa seguro de que se trata de uma potência nacional, certo? Certo, se você não estiver na Alemanha. Ao contrário de Londres, Roma, Amsterdã e Madri, Berlim não faz parte da elite do futebol alemão. Sim, Berlim é a maior cidade da Alemanha em população (3,4 milhões de habitantes). É também a cidade alemã que tem o maior número de clubes no país. Ainda assim, em termos de prestígio e poder no futebol, Berlim se curva à força de Munique e Hamburgo, cujas populações, somadas, são menores do que a da capital. O cenário do futebol, em Berlim, é peculiar. Das oito agremiações da cidade, só o Hertha Berlim aparece nas divisões superiores. O Hertha joga pela Bundesliga (a divisão máxima) e tem um time “B” amador no equivalente à terceira divisão. Os outros sete jogam na Oberliga Nordeste-Norte, um dos nove setores da quarta divisão alemã. Para entender a situação incomum de Berlim, é preciso voltar aos primórdios do século XX. Berlim era, como em outros países da Europa, o centro do futebol alemão. Mas a divisão política da cidade entre as potências européias, depois da Segunda Guerra, golpeou a hegemonia berlinense. Torcedores de um lado da cidade não podiam acompanhar seu time por não poder cruzar a fronteira e, posteriormente, o “muro da vergonha” que rasgava a cidade ao meio. Os times da parte comunista de Berlim geralmente disputavam o campeonato na Alemanha Oriental, a “Verbandsliga”, e os de Berlim Ocidental – caso do Hertha – tinham de se restringir às ligas locais, o que acabou atrofiando o futebol berlinense.

43 anos de Bundesliga Não existe parâmetro de comparação entre Berlim e Hamburgo. Há mais ou menos um século, as duas cidades até nutriam rivalidade. Mas a decadência esportiva de Berlim no pós-guerra criou outro cenário, em que o Hamburg levantou seis títulos alemães (três deles já na Bundesliga, criada em 1964). Além disso, venceu também uma Liga dos Campeões, em 1983, perdendo a final do Mundial Interclubes para o Grêmio. Enquanto isso, o Hertha vivia na obscuridade. A glória esportiva do Hamburgo teve participações de dois dos maiores nomes do futebol alemão: Uwe Seeler, maior nome da história do clube como jogador – além de treinador e presidente – e Franz Beckenbauer. Sim, o “Kaiser“ jogou lá. Depois de passar pelo Cosmos, ele retornou à Alemanha e, por duas temporadas, vestiu os calções vermelhos e camisas brancas do Hamburg, com a esperança de disputar a Copa do Mundo de 1982. Sem sucesso, Beckenbauer pendurou as chuteiras no fim daquela temporada. O HSV é também o único time que esteve presente em todas as 43 edições da Bundesliga. Tanto que em seu site oficial (www.hsv.de) há um contador que registra desde quando o time está na primeira divisão. Isso não significa, porém, que seja o único a nunca ter sido rebaixado – algo que também não aconteceu com o Bayern, por exemplo.

Nanico e famoso Hamburgo também é a casa do St. Pauli, time sem grande tradição dentro de campo, mas bastante famoso fora dele. O maior feito de sua história foi chegar à Bundesliga em quatro oportunidades e – pasme – vencer o Bayern numa partida beneficente que salvou o time da falência, em 2001, logo depois que os bávaros conquistaram o título intercontinental. Atualmente na terceira divisão, o St. Pauli é mais famoso por sua localização – o bairro boêmio de mesmo nome, onde fica a maior zona de prostituição da Europa. Seus torcedores são, em sua maioria, artistas, músicos e pessoas ligadas a causas humanitárias – não exatamente fãs habituais de futebol. Tanto que a torcida é famosa por fazer protestos anti-racistas, anti-sexistas e a favor de minorias antes, durante e depois dos jogos no Millerntor-Stadion. Não bastasse o símbolo do time ser uma caveira no melhor estilo navio pirata, o presidente Corny Littman, eleito em 2003, é um famoso transformista da região.

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Fabrizio Bensch/Reuters

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Olympiastadion Capacidade: 74.440 (66.021 na Copa)

O estádio Olímpico foi construído por Adolf Hitler para receber os Jogos de 1936. Foi lá que o Führer viveu o desgosto de assistir a Jesse Owens conquistar a medalha de ouro nos 100 m rasos. Pouco atingida durante a II Guerra, a construção até hoje mantém a fachada no estilo neoclássico, uma marca

Jogos na Copa: 11/junho 15/junho 20/junho 23/junho 30/junho 9/julho

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Brasil x Croácia Suécia x Paraguai Equador x Alemanha Ucrânia x Tunísia quartas-de-final final

do período nazista. Após anos como QG do exército britânico, voltou a abrigar jogos de futebol e, após algumas reformas, recebeu três partidas da Copa de 1974. Um grupo defendia sua demolição, mas, entre 1998 e 2001, o Olympiastadion foi recauchutado e receberá a final da Copa de 2006.

Hertha Berlin SC Principais títulos 2 Campeonatos Alemães 2 Copas da Liga da Alemanha Jogadores na Copa Arne Friedrich (ALE) Josip Simunic (CRO) Niko Kovac (CRO) Marko Pantelic (SMO) Vaclav Sverkos (TCH)

Dicas para quem vai... ...para Berlim Durante a Copa, será construída, no grande gramado localizado à frente do Reichstag (o parlamento alemão), uma réplica do Olympiastadion com capacidade para 4 mil pessoas. O mini-estádio abrigará um telão gigantesco e será uma excelente alternativa para quem não tiver ingresso assistir aos jogos junto de torcedores de todos os cantos.

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Christian Charisius/Reuters

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AOL-Arena Capacidade: 55.000 (45.442 na Copa)

Em seus quase 50 anos de existência, o Volksparkstadion – palco do histórico duelo entre as Alemanhas Ocidental e Oriental, em 1974 – nunca agradou a torcida do Hamburg. Arquibancadas distantes do gramado e descobertas eram alguns dos principais motivos de reclamação. O “Estádio do

Povo” foi demolido em 1998 e, dois anos depois, estava erguida a AOL-Arena, nova casa do HSV, um dos mais modernos estádios do planeta. Totalmente coberto e com visão privilegiada de qualquer um de seus mais de 45 mil assentos, devolveu aos hamburgueses a vontade de ir ao estádio.

Jogos na Copa: 10/junho 15/junho 19/junho 22/junho 30/junho

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Argentina x Costa do Marfim Equador x Costa Rica Arábia Saudita x Ucrânia República Tcheca x Itália quartas-de-final

Hamburg Sport Verein Principais títulos 6 Campeonatos Alemães 3 Copas da Alemanha 2 Copas da Liga da Alemanha 1 Liga dos Campeões 1 Recopa Jogadores na Copa Khalid Boulahrouz (HOL) Nigel de Jong (HOL) Rafael van der Vaart (HOL) Reto Ziegler (SUI) Raphael Wicky (SUI) Guy Demel (CMF) David Jarolim (TCH) Mehdi Mahdavikia (IRA) Naohiro Takahara (JAP)

Fussball Club St. Pauli Principais títulos 1 Campeonato da 2ª Divisão Alemã Jogadores na Copa Nenhum

Dicas para quem vai... ...para Hamburgo Se você gosta mesmo de futebol e curte programas insólitos, não deixe de conhecer o Millerntorstadion, campo do St. Pauli, na praça Auf dem Heiligengeistfeld. Fica na mesma região onde está o Kaiser Keller, bar onde os Beatles começaram a carreira, na área boêmia da cidade. Na lojinha, há até como ajudar o time a não falir.

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Thomas Bohlen/Reuters

PERFIL

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COMO NUMA PANELA DE

PRESSÃO Até a própria Alemanha duvida de sua seleção, mas a história mostra que bater uma equipe tradicional que joga em casa não é fácil

A

por Carlos Eduardo Freitas

ntes de fazer qualquer chacota com a seleção alemã, pegue uma lista dos campeões mundiais e observe quantas vezes os donos da casa ficaram com o troféu numa Copa do Mundo. Em seis dos 17 Mundiais, o país-sede venceu. Depois procure quantas vezes uma seleção importante jogou a Copa em casa (leia “importante” como “campeão mundial alguma vez”). Oito. Sim, na elite do futebol, só Brasil e Itália perderam Mundiais jogando em casa. “Ah, então quer dizer que a Alemanha também vai ganhar?” Isso não dá para afirmar. Contudo, dá para assegurar que, ao menos de acordo com a história, deve ser muito difícil tirar os alemães do torneio. Quando Jürgen Klinsmann assumiu o comando da Alemanha, em 2004, depois de uma Eurocopa opaca, o técnico não ficou em cima do muro. Torcida e imprensa olharam com desconfiança para o treinador – que estava debutando – mas “Klinsi” não pestanejou: “Título”, respondeu Klinsmann, quando perguntado sobre as ambições alemãs na Copa. Para tanto, o ex-atacante campeão do mundo em 1990 fez uma varredura no grupo de selecionáveis: tirou a braçadeira e a condição de “intocável” de Oliver Kahn e criou um rodízio de goleiros (“para dar oportunidades aos concorrentes”). Até mudar a cor da segunda camisa – para vermelho – ele mudou, baseado numa pesquisa que mostra que times que vestem vermelho têm mais chances de vencer. Em seu primeiro ano, Klinsmann deu sinais animadores. Resolveu o problema do ataque – um dos mais incômodos que a “Nationalmannschaft”

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Alemanha Deutscher Fussball-Bund www.dfb.de Participações em Copas: 15 (1934, 1938, 1954, 1958, 1962, 1966, 1970, 1974, 1978, 1982, 1986, 1990, 1994, 1998 e 2002) Momento memorável: o primeiro dos três títulos mundiais, em 1954, ao bater a Hungria de Puskas na final por 3 a 1 e levar a alegria a um país destruído pela II Guerra Uniforme: camisa branca, calção preto e meias brancas Na Copa 2006: grupo A, com Costa Rica, Polônia e Equador CAMPANHA NAS ELIMINATÓRIAS PARA 2006 Classificado automaticamente por ser o país-sede

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36 tinha até então – e registrou marcas melhores que as de Beckenbauer. Até a Copa das Confederações, a harmonia reinava. A Alemanha estava certa de que Klinsmann tinha sido uma cartada correta e que, depois da competição (vencida pelo Brasil, em 2005), o treinador pararia as experiências e definiria um time. Mas o técnico manteve os seus rodízios, e os resultados positivos ficaram mais raros. A frigideira alemã chegou próxima ao ponto de ebulição com a vexaminosa goleada sofrida frente à Itália, em Florença, por 4 a 1. Aí, a exatos 100 dias da Copa do Mundo, a popularidade de Klinsmann tocou o fundo do poço, chegando a 3%, segundo algumas pesquisas. Nem mesmo a camisa vermelha foi capaz de ajudar em tamanha crise. Até Franz Beckenbauer, maior aliado do técnico, deu suas castanhadas. Apesar de Lothar Matthäus ser um crítico suspeito – porque ele mesmo quer ardentemente o posto de Klinsmann –, sua análise da Alemanha é correta, como ficou claro na entrevista à Trivela. “Há muitos jogadores inexperientes, sobretudo na defesa – o que diminui nossas chances de título”, disse o ex-treinador do Atlético-PR. A defesa tem nomes excelentes, de grande potencial. O provável quarteto titular para a competição – Friedrich, Mertesacker, Metzelder e Lahm –, no entanto, tem idade média de somente 21 anos. O líder dessa defesa poderia ser Christian Wörns, do Dortmund, tido como o melhor zagueiro para a função. Contudo, Wörns e Klinsmann se desentenderam e, salvo golpes de cena, a Alemanha deixará seu defensor mais confiável assistindo à Copa das tribunas. Como miséria pouca é bobagem, Klinsmann também perdeu um nome importante no meio-campo: Sebastian Deisler. Com Michael Ballack, ele fazia a armação das jogadas. Num déjà vu do que aconteceu em 2002, quando perdeu a Copa por uma lesão, Deisler machucou seriamente o ligamento do joelho e, mais uma vez, não jogará o Mundial.

Assim, quem jogar contra a Alemanha já está avisado: se grudar um bom marcador no camisa 13, meio caminho está andado. Pelo menos no ataque Klinsmann não está desesperado. Ele confirmou como titular a dupla Klose-Podolski, que cria preocupações nos adversários. Além de serem bons jogadores, os dois estão motivados e não fogem da raia quando se trata de garantir os gols alemães no Mundial – sobretudo Klose, vice-artilheiro do Mundial na Ásia. Se você já quer rasgar a aposta que fez na Alemanha, pense melhor. Trata-se de uma seleção tradicionalíssima, que está encarando o Mundial como uma questão de vida ou morte. Tem uma primeira fase fácil (Costa Rica, Equador e Polônia) e joga em casa. Quase ninguém acredita na Alemanha – nem mesmo a Alemanha. Um jogador importante brigou com o técnico e foi cortado? O técnico está sob pressão? Se Klinsmann telefonar para Scolari, em Lisboa, vai descobrir que isso não é impedimento nenhum para levar uma seleção ao título.

O ASTRO: BALLACK Klinsmann pode ainda ter dúvidas para todas as posições do time. Pode até ter dúvidas se ele mesmo estará no banco da seleção quando a Copa começar. Mas uma coisa é certa: o time terá Ballack e mais dez. Unanimidade na Alemanha – e bem conceituado fora dela –, o meia está fazendo um leilão para decidir onde vai jogar a próxima temporada, e os lances vêm de clubes como Chelsea, Internazionale, Manchester United e Real Madrid. Ballack não tem um futebol vistoso como o de Ronaldinho, mas sua eficiência é similar. Ele dita o ritmo do jogo com muita inteligência, grande visão e passes muito precisos. Até mesmo na marcação costuma ajudar, mas, por não ser sua principal característica, Ballack costuma levar cartões amarelos demais – como o que o tirou da final da Copa de 2002.

A PROMESSA: MERTESACKER

Per Mertesacker foi uma das apostas acertadas de Klinsmann

Grande revelação do Hannover 96 na temporada, o zagueiro Per Mertesacker foi um dos novos jogadores levados à seleção alemã que justificaram a aposta de Klinsmann. Bom pelo alto e eficiente no desarme por baixo, ele foi um dos destaques no primeiro turno da edição 2005/6 da Bundesliga ao passar mais de dez partidas sem cometer uma falta – e isso na Alemanha!

A mídia vai cansar seus ouvidos ao dizer que...

Oliver Berg/EPA

...a Alemanha joga algo muito parecido com futebol, mas que dá resultado ...os alemães fizeram de tudo para deixar o caminho livre para fazer a revanche com o Brasil na final ...a Alemanha é favorita por jogar em casa ...nunca se pode menosprezar um país que chegou a sete finais de Copa

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Alemanha se parece com... Jason Quando todo o mundo acha que está morto, ele volta para aterrorizar e eliminar mais um candidato a mocinho

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A SELEÇÃO GOLEIROS Timo Hildebrand 5/4/1979 Clube: Stuttgart Copas: -

Andreas Hinkel 26/3/1982 Clube: Stuttgart Copas: -

Christoph Metzelder 5/11/1980 Clube: Borussia Dortmund Copas: 2002

Patrick Owomoyela 5/11/1979 Clube: Werder Bremen Copas: -

Thomas Hitzlsperger 5/4/1982 Clube: Stuttgart Copas: -

Jens Nowotny 11/1/1974 Clube: Bayer Leverkusen Copas: -

Bernd Schneider 17/11/1973 Clube: Bayer Leverkusen Copas: 2002

Robert Huth 18/8/1984 Clube: Chelsea (ING) Copas: -

Christian Schulz 1/4/1983 Clube: Werder Bremen Copas: -

Bastian Schweinsteiger 1/8/1984 Clube: Bayern de Munique Copas: -

Tim Wiese 17/12/1981 Clube: Werder Bremen Copas: -

Marcell Jansen 4/11/1985 Clube: Borussia Mönchengladbach Copas: -

Christian Wörns 10/5/1972 Clube: Borussia Dortmund Copas: 1998

DEFENSORES Frank Fahrenhorst 24/9/1977 Clube: Werder Bremen Copas: -

Philipp Lahm 11/11/1983 Clube: Bayern de Munique Copas: -

MEIO-CAMPISTAS Michael Ballack 26/9/1976 Clube: Bayern de Munique Copas: 2002

Thomas Brdaric 23/1/1975 Clube: Hannover 96 Copas: -

Arne Friedrich 29/5/1979 Clube: Hertha Berlim Copas: -

Per Mertesacker 29/9/1984 Clube: Hannover 96 Copas: -

Frank Baumann 29/10/1975 Clube: Werder Bremen Copas: 2002

Mike Hanke 5/11/1983 Clube: Wolfsburg Copas: -

Tim Borowski 2/5/1980 Clube: Werder Bremen Copas: -

Miroslav Klose 9/6/1978 Clube: Werder Bremen Copas: 2002

Fabian Ernst 30/5/1979 Clube: Schalke 04 Copas: -

Kevin Kuranyi 2/3/1982 Clube: Schalke 04 Copas: -

Torsten Frings 22/11/1976 Clube: Werder Bremen Copas: 2002

Oliver Neuville 1/5/1973 Clube: Borussia M’Gladbach Copas: 2002

Dietmar Hamann 27/8/1973 Clube: Liverpool (ING) Copas: 1998 e 2002

Lukas Podolski 4/6/1985 Clube: Colônia Copas: -

Oliver Kahn 15/6/1969 Clube: Bayern de Munique Copas: 1994, 1998 e 2002

Achim Scheidemann/EPA

Jens Lehmann 10/11/1969 Clube: Arsenal (ING) Copas: 1998 e 2002

ATACANTES Gerald Asamoah 3/10/1978 Clube: Schalke 04 Copas: 2002

O TÉCNICO Jürgen Klinsmann assumiu a seleção alemã após as recusas de Ottmar Hitzfeld e Otto Rehhagel, no pós-Euro-2004, e gerou muito ciúme em Lothar Matthäus, que queria o cargo de qualquer maneira. Esse foi o primeiro emprego do ex-atacante alemão como treinador – e o resultado na Copa do Mundo será definitivo para definir sua continuidade na profissão.

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Fotos D PA/Picture Alliance

HISTÓRIA

Beckenbauer: “Cruyff foi melhor do que eu, mas eu ganhei a Copa”

ALEMANHA, DESTRUIDORA DE

SONHOS

DPA/Picture Alliance

Criticada, a dona da casa é a seleção que todos gostam de malhar, mas não foram poucas as vezes em que os alemães surpreenderam e exterminaram maravilhosos favoritos

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Fritz Walter, em 1954, com a taça na mão; ao fundo, os húngaros resignados

Final amargo para a Laranja Mecânica de Cruyff, em 1974

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Q

por Cassiano Ricardo Gobbet

uando começou a planejar sua candidatura a sede da Copa do Mundo, a Alemanha certamente não imaginava chegar às vésperas do Mundial com medo de um possível vexame dentro de campo. Sem craques que encham os olhos do resto do planeta, o país teme que o desempenho de seu time seja tão ruim que entre para a história como a pior seleção anfitriã de todos os tempos entre as potências do futebol. É verdade que, além do meia Michael Ballack, há poucos jogadores alemães na elite do esporte. Um observador venenoso poderia opinar que o melhor jogador alemão é o piloto Michael Schumacher, que gosta de bater uma bola quando está de folga de seus afazeres na pista. E é exatamente essa suposta pobreza que tem de meter medo nos rivais mais badalados. Historicamente, quando começa sob chacota, a Alemanha adora levantar o título – e se possível, estraçalhar um adversário mais talentoso pelo caminho. Exagero? Pense de novo. A lista de vítimas do futebol alemão, em seu roteiro de extermínio de talentos, remonta à década de 30, quando uma Alemanha sob a égide da suástica nazista deglutiu o “Wunderteam” de Mathias Sindelar (ver box). E, dentro do campo, logo depois da guerra, a vítima seria ainda mais magistral e famosa: os “Magiares Mágicos” de Puskas e companhia. A Hungria chegou à Suíça, em 1954, como franca favorita. Campeão olímpico dois anos antes, o time de Puskas e Hidekguti massacrara a Inglaterra, em Wembley, em novembro do ano anterior, por 6 a 3. “Observamos, 100 mil de nós, o despertar dos deuses”, reverenciou o jornal londrino The Times após o jogo, que, para infelicidade britânica, teve uma revanche

FORA DE CAMPO, HITLER ACABOU COM O “WUNDERTEAM” Pouca gente conhece, mas a Áustria teve aquele que é considerado o melhor time europeu anterior à II Guerra. O “Wunderteam” era comandado por Mathias Sindelar, conhecido como “O Homem de Papel”, pela sua leveza, e “O Mozart do Futebol”. O time, treinado por Hugo Meisl – criador da Copa Mitropa, a precursora da Copa dos Campeões da Europa – ficou 15 jogos invicto, vencendo seleções como Escócia, Alemanha (duas vezes), Suíça e Hungria por mais de cinco gols. Semifinalista da Copa de 1934 e da Olimpíada de 1936, o time austríaco deixou de existir com a anexação da Áustria pela Alemanha nazista. Sindelar não aceitou jogar sob a bandeira nazista e se suicidou em 1939. Cerca de 20 mil pessoas foram ao seu enterro, mesmo na tensa atmosfera daquele ano.

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ainda mais humilhante em Budapeste: 7 a 1 para a Hungria. Diante dos deuses húngaros, na final, estava uma Alemanha Ocidental ainda de joelhos por causa da guerra e que tinha ela mesma sido massacrada por 8 a 3 na segunda partida da competição. Nada deteria os húngaros. Nada, se não fosse o cérebro do técnico Sepp Herberger, que estudara a Hungria como se fosse uma guerra, escalando um time reserva na primeira partida. Herberger sufocou Hidekguti e, com Puskas lesionado em campo – não havia substituições –, os alemães fizeram o impossível: 3 a 2, de virada.

Vinte anos depois Na Copa do Mundo de 1974, a Hungria da vez se chamava Holanda, Puskas se chamava Cruyff e os “Magiares Mágicos” atendiam pelo nome de “Laranja Mecânica”. Dessa vez, a Alemanha Ocidental era a dona da casa e tinha uma grande seleção, finalista e semi-finalista nas duas Copas anteriores, além de campeã européia dois anos antes. Ainda assim, todo mundo torcia e se encantava com um time que atacava defendendo. Na final, mais uma vez a Alemanha entrou como azarona. Confirmando as expectativas, a Holanda abriu o placar com dois minutos de jogo, sem que o time comandado por Beckenbauer tocasse na bola. Assim como em Berna, duas décadas antes, a Alemanha jogou com uma determinação robótica e, tendo estudado a Holanda a fundo – também como em 1954 –, virou o jogo ainda no primeiro tempo, diante de uma Holanda nitidamente melhor. “Cruyff foi um jogador melhor do que eu, mas eu fui campeão do mundo”, disse Franz Beckenbauer sobre o gênio holandês. A lista de grandes seleções exterminadas pela Alemanha não pára nas tragédias húngara e holandesa. Em 1982, a Alemanha Ocidental negou a Michel Platini a chance de disputar uma final de Copa do Mundo. Tido como o time que jogava o melhor futebol da competição – depois do Brasil, que perdera para a Itália –, a França sucumbiu à Alemanha na semifinal. Oito anos depois, seria a vez de Maradona provar da cínica precisão alemã. Novamente, Beckenbauer – desta vez, técnico – negou a um craque – desta vez, Diego Maradona – um título mundial. Quatro anos antes, Maradona tinha vencido a final contra os mesmos adversários. Desta vez, em Roma, a Alemanha venceu com uma maquiavélica precisão: 1 a 0, gol de pênalti a cinco minutos do final. E Maradona foi quem deixou o gramado chorando. Na Euro-96, disputada na Inglaterra, o sadismo alemão vitimou o English Team de Gascoigne e Shearer nas semifinais – nos pênaltis – e chegou à final contra a República Tcheca, então a surpresa do torneio, depois de eliminar Itália, Portugal e França. A excelente geração de Nedved, que fazia sua primeira competição internacional de porte, foi derrotada por um “gol de ouro” de Oliver Bierhoff. Então, o que será da Alemanha na próxima Copa? Futurologia é uma “ciência” que não combina com futebol. É claro que os resultados recentes da seleção de Jürgen Klinsmann – capitão da seleção campeã européia em 1996 – não convencem, mas o histórico alemão de enterrar sonhos e fantasias em um campo de futebol é vasto. Se o jogo for contra a destruidora de sonhos, convém não arriscar. Mesmo que ela esteja aparentemente seca e arranhada.

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PERFIL

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Jeffrey Arguedas/EFE

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O FUTURO ESTÁ NO

PASSADO O técnico Alexandre Guimarães, em sua terceira Copa do Mundo, tenta repetir o feito alcançado pela Costa Rica em 1990

F

por Ricardo Espina

altou pouco para a Costa Rica passar para a segunda fase da Copa de 2002. Apesar de terminar com o mesmo número de pontos da Turquia, a equipe foi eliminada no saldo de gols. Para a Alemanha, os Ticos se prepararam contra as fatalidades ocorridas na Ásia e buscam pelo menos repetir o desempenho de 1990, quando se destacaram nos campos italianos ao chegar às oitavas. Para tanto, a equipe usa o passado como o modelo a ser seguido. No entanto, o desempenho nas eliminatórias foi ruim. Na primeira fase, contra a fraca Cuba, os Ticos amargaram dois empates e só prosseguiram graças ao maior número de gols marcados fora de casa. O resultado custou o cargo do treinador Steve Sampson. Jorge Luís Pinto assumiu em junho de 2004, mas não melhorou o desempenho do time. A Costa Rica voltou a sofrer na segunda fase, perdendo seus dois primeiros jogos, e por pouco não foi eliminada. No hexagonal decisivo, o desempenho foi semelhante. Depois de três jogos, Pinto acabou demitido. Entrava em cena Alexandre Guimarães, comandante da equipe no Mundial de 2002 e membro do elenco da Copa de 1990. A equipe demorou um pouco para sentir a mudança. Apesar de perder para México, Estados Unidos e Guatemala, a Costa Rica venceu três partidas e se garantiu na Copa sem empolgar.

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Costa Rica Federación Costarricense de Fútbol www.fedefutbol.com Participações em Copas: 2 (1990 e 2002) Momento memorável: passar para a segunda fase logo na primeira Copa, mesmo tendo caído no grupo do Brasil Uniforme: camisa vermelha, calção azul e meias brancas Na Copa 2006: grupo A, com Alemanha, Polônia e Equador CAMPANHA NAS ELIMINATÓRIAS PARA 2006 12/06/04 – CUB 2x2 20/06/04 – CRC 1x1 18/08/04 – CRC 2x5 05/09/04 – GUA 2x1 08/09/04 – CRC 1x0 09/10/04 – CRC 5x0 13/10/04 – CAN 1x3 17/11/04 – HON 0x0 09/02/05 – CRC 1x2

CRC CUB HON CRC CAN GUA CRC CRC MEX

26/03/05 – CRC 2x1 30/03/05 – TRI 0x0 04/06/05 – EUA 3x0 08/06/05 – CRC 3x2 17/08/05 – MEX 2x0 03/09/05 – PAN 1x3 07/09/05 – CRC 2x0 08/10/05 – CRC 3x0 12/10/05 – GUA 3x1

PAN CRC CRC GUA CRC CRC TRI EUA CRC

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42 O país precisou ainda superar um trauma fora dos campos. A morte de Whayne Wilson durante a disputa das eliminatórias foi um baque para o grupo. O atacante sofreu um acidente em 14 maio de 2005, quando dirigia seu carro em uma estrada que liga San José ao litoral do país. O veículo se chocou com um caminhão. Wilson chegou a ser levado para um hospital, mas não resistiu e morreu quatro dias depois.

Wanchope é mais conhecido, mas Saborío é quem resolve

A principal virtude da equipe está no cumprimento à risca do esquema tático montado por Guimarães. Com a adoção do 3-5-2, o time tenta amenizar a fragilidade da zaga. Destaques para o meia Walter Centeno, responsável pela armação das principais jogadas ofensivas, e Paulo Wanchope, atacante com boa presença de área. Outro ponto forte da equipe está no entrosamento. Três clubes costarriquenhos são a base da seleção. Da lista de convocáveis apresentada nesta edição, dez são do Saprissa, sete do Alajuelense e cinco do Herediano. No entanto, o time ainda apresenta problemas na defesa. Os alas avançam bastante ao ataque, o que deixa a retaguarda vulnerável pelos lados. Mesmo aplicados taticamente, os costarriquenhos enfrentam dificuldades para não levar gols, pois não têm bons marcadores. Guimarães assegura ter aprendido algumas lições tiradas da participação em 2002. Naquela Copa, a equipe chegou a ter boas apresentações, mas acabou eliminada. Para evitar que isso se repita, o treinador contará com um grupo mais experiente na Alemanha, com poucas modificações em relação àquele do torneio na Ásia. Os jovens que foram incorporados ao elenco já mostraram talento em competições de nível. No Mundial de Clubes da Fifa, Cristian Bolaños chamou a atenção pelas qualidades tanto na armação de jogadas, com inteligência nos passes, como nas finalizações. O meia foi eleito o terceiro melhor jogador do torneio. Já Álvaro Saborío terminou como um dos artilheiros da competição, e foi o principal responsável pela boa campanha do Saprissa, terceiro colocado. A Costa Rica chega à Alemanha disposta a lutar por uma vaga na segunda fase. Porém, mesmo com uma geração de bons jogadores, a irregularidade da equipe, principalmente na defesa, trará dificuldades em um grupo forte. Será preciso muito mais do que um único gol para sonhar com uma nova campanha de destaque na Copa.

Alejandro Ernesto/EFE

Defesa fraca

A mídia vai cansar seus ouvidos ao dizer que... ...Alexandre Guimarães será mais um brasileiro na Copa ...pela primeira vez a Costa Rica não terá que enfrentar o Brasil na primeira fase ...o goleiro Porras tem um sobrenome no mínimo “curioso”

Costa Rica se parece com... Kevin Arnold

Vive relembrando o passado, lamenta-se por ter cometido algumas bobagens e ainda acredita que terá uma chance de conquistar a Winnie Cooper de novo

O ASTRO: WANCHOPE

A PROMESSA: SABORÍO

Quando era jovem, Paulo Wanchope recusou por duas vezes as investidas de um clube de basquete e optou pela carreira no futebol. Foi uma ótima decisão para os Ticos. Maior artilheiro da seleção costarriquenha, o atacante foi um dos poucos jogadores do país a se aventurar – com algum êxito – no exterior. Como esta será sua última Copa, Wanchope pretende fazer melhor que em 2002, quando uma lesão no joelho comprometeu a participação dele no torneio. Driblador e de boa presença na área, é a referência da equipe no ataque, apesar de ser um pouco individualista.

No Mundial de Clubes da Fifa, ninguém dava muita bola para o Saprissa. Porém, Álvaro Saborío mostrou por que o time merecia um pouco mais de atenção. O atacante marcou dois gols na campanha do clube e mostrou suas principais qualidades. É um bom finalizador e também se destaca nos cabeceios (ele tem 1,83 m). Enquanto Wanchope prefere jogar mais preso na área, Saborío exerce o papel do pivô, atuando um pouco mais fora da área. Participou das Olimpíadas de 2004 e, nas eliminatórias para a Copa, marcou três gols.

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A SELEÇÃO

Álvaro Mesén Murillo 24/12/1972 Clube: Herediano Copas: 2002 Eliminatórias: 8J / 12GS José Francisco Porras Hidalgo 8/11/1970 Clube: Saprissa Copas: Eliminatórias: 7J / 5GS DEFENSORES Carlos Eduardo Castro Mora 10/9/1978 Clube: Alajuelense Copas: 2002 Eliminatórias: 3J / 0G Pablo Chinchilla Vega 21/12/1978 Clube: Alajuelense Copas: 2002 Eliminatórias: 6J / 0G Victor Cordero Flores 9/11/1973 Clube: Saprissa Copas: Eliminatórias: 3J / 0G Jervis Drummond Johnson 8/9/1976 Clube: Saprissa Copas: Eliminatórias: 6J / 0G Leonardo González Arce 21/11/1980 Clube: Herediano Copas: Eliminatórias: 12J / 0G

Roy Mirie Medrano 21/8/1982 Clube: Alajuelense Copas: Eliminatórias: 2J / 2G

Alonso Solis Calderón 14/10/1978 Clube: Saprissa Copas: Eliminatórias: 13J / 1G

Andy Herron Aguilar 3/2/1978 Clube: Chicago Fire (EUA) Copas: Eliminatórias: 6J / 2G

Harold Wallace McDonald 7/9/1975 Clube: Alajuelense Copas: 2002 Eliminatórias: 6J / 0G

Mauricio Solis Mora 13/12/1972 Clube: Comunicaciones (HON) Copas: 2002 Eliminatórias: 7J / 0G

Winston Parks Tifet 12/10/1981 Clube: Lokomotiv Moscou (RUS) Copas: 2002 Eliminatórias: 3J / 0G

MEIO-CAMPISTAS Randall Azofeifa 30/12/1984 Clube: Saprissa Copas: Eliminatórias: 1J / 0G

Jafet Soto Molina 1/4/1976 Clube: Herediano Copas: Eliminatórias: 7J / 0G

Cristian Badilla Zamora 11/7/1978 Clube: Herediano Copas: Eliminatórias: 6J / 0G

ATACANTES Rolando Fonseca Jiménez 6/6/1974 Clube: Alajuelense Copas: 2002 Eliminatórias: 2J / 1G

William Sunsing Hidalgo 12/5/1977 Clube: Brujas Copas: 2002 Eliminatórias: 2J / 1G

Cristian Bolaños Navarro 17/5/1984 Clube: Saprissa Copas: Eliminatórias: 4J / 0G

Ronald Gómez Gómez 24/1/1975 Clube: Saprissa Copas: 2002 Eliminatórias: 10J / 3G

Paulo Cesar Wanchope Watson 31/7/1976 Clube: Herediano Copas: 2002 Eliminatórias: 14J / 8G

Steven Bryce Valerio 16/8/1977 Clube: OFI Creta (GRE) Copas: 2002 Eliminatórias: 9J / 0G Walter Centeno Corea 6/10/1974 Clube: Saprissa Copas: 2002 Eliminatórias: 15J / 2G Danny Fonseca Bravo 7/11/1979 Clube: Cartaginés Copas: Eliminatórias: 4J / 0G

Luis Antonio Marin Murillo 10/8/1974 Clube: Alajuelense Copas: 2002 Eliminatórias: 16J / 0G

Carlos Hernández Valverde 9/4/1982 Clube: Alajuelense Copas: Eliminatórias: 9J / 5G

Gilberto Martinez Vidal 1/10/1979 Clube: Brescia (ITA) Copas: 2002 Eliminatórias: 16J / 0G

José Luiz López Ramirez 31/3/1981 Clube: Saprissa Copas: Eliminatórias: 7J / 0G

Roy Miller Hernández 24/11/1984 Clube: Bodo Glimt (NOR) Copas: Eliminatórias: 2J / 0G

Douglas Sequeira Solano 23/8/1977 Clube: Chivas USA (EUA) Copas: Eliminatórias: 7J / 1G

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Álvaro Saborío Chacón 25/3/1982 Clube: Saprissa Copas: Eliminatórias: 7J / 3G

O TÉCNICO Uma das figuras mais conhecidas do futebol costarriquenho, Alexandre Guimarães privilegia a obediência tática e é um bom estrategista. Em sua terceira Copa, a segunda como técnico, ele procura ao menos repetir a campanha de 1990, quando a Costa Rica alcançou as oitavas-de-final. Assumiu o comando da seleção no meio das eliminatórias, depois de a equipe apresentar campanha instável.

Anthony P. Bolante/Reuters

GOLEIROS Ricardo González Fonseca 6/3/1974 Clube: Comunicaciones (HON) Copas: Eliminatórias: 4J / 8GS

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44 ENTREVISTA

“MEU NOME É

PORRAS,

MAS PODEM ME CHAMAR

DE FRANCISCO”

Em entrevista exclusiva à Trivela, José Francisco Porras dá uma dica a narradores brasileiros, fala da preparação da Costa Rica para o Mundial e reclama de falta de intercâmbio internacional dos países da Concacaf

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por Ubiratan Leal

órras, Porrás, José, Hidalgo... Durante a Copa, o goleiro da Costa Rica será chamado de diversas maneiras diferentes pelos brasileiros. Simplesmente porque seu nome é... Porras. E, se o sobrenome lhe dará alguma notoriedade no Brasil, também poderá ofuscar a importância que tem para os costarriquenhos. Capitão da equipe, ele é um dos jogadores mais experientes da seleção centro-americana que irá à Alemanha. E foi por esse papel em campo que a Trivela conversou com José Francisco Porras Hidalgo. O Mundial será o maior momento da carreira do goleiro de 35 anos, que demorou a se consolidar como um dos principais nomes na posição em seu país – sua chance só apareceu depois dos 30 anos, após a aposentadoria de Erick Lonnis. Nos últimos três anos, Porras consolidou-se como titular de seu clube, o Saprissa, conquistou um lugar na seleção e já usa a braçadeira de capitão nas duas equipes. O goleiro falou de diversos assuntos, como a preparação da Costa Rica para a Copa do Mundo, os problemas de enfrentar a anfitriã Alemanha e as dificuldades dos jogadores de seu país adquirirem experiência internacional disputando competições pela Concacaf.

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E ainda teve bom humor para encarar a confusão que seu sobrenome causa no Brasil, a ponto de dizer como prefere ser chamado, caso algum narrador se sinta constrangido com seu nome. Você sabia que seu sobrenome, em português do Brasil, tem um significado constrangedor? [Rindo] Sim, eu sei. Já tive colegas brasileiros em alguns clubes da Costa Rica, e eles me explicaram o que meu nome significa no Brasil. E eles lhe contaram que, por isso, os narradores de televisão mudam a pronúncia de seu nome? [Rindo ainda mais] Não, isso eu não sabia. Então, já que os narradores não falarão “Porras”, como preferiria ser chamado? Porras é meu sobrenome e, aqui na Costa Rica, sou bastante conhecido assim. Sinceramente, não sei como seria. Talvez Francisco. Mas falemos de futebol. Você levou muitos anos para ser o goleiro titular do Saprissa e da seleção. Por que demorou tanto tempo para se consolidar? O Saprissa teve, durante muito tempo, Erick Lonnis, goleiro titular da seleção. Assim, fiquei na reserva dele, mas isso é parte de minha história, e foi algo que simplesmente aconteceu.

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E como ocorreu a ascensão de goleiro reserva do Saprissa para titular e capitão da seleção? Foi necessário muito trabalho, sacrifício e paciência. Até porque os anos dão a experiência para amadurecer e entender melhor a situação, a ponto de ficar mais fácil determinar quais as virtudes e defeitos de cada um e saber o que fazer para melhorar. A Costa Rica estréia na Copa contra a Alemanha. Se, até para quem acompanha de perto, há muitas interrogações sobre os donos da casa, que time vocês têm se preparado para enfrentar? É uma situação difícil, mas esses detalhes nem são tão importantes. Até porque, sendo realista, a Alemanha sempre mostra outra face quando o jogo vale pontos ou classificação, ainda mais em casa. Por isso, nos preparamos apenas para enfrentar jogadores que atuam em um futebol muito profissional, com muita experiência internacional, bom preparo físico e capacidade técnica. Já lhe passaram alguma informação de Equador e Polônia? Conhecemos mais o Equador. É uma equipe com estilo muito parecido com Colômbia e, a bem da verdade, com o da própria Costa Rica. Não conheço tanto a Polônia. Sei que é um futebol que se renovou muito nos últimos anos, que foi uma potência, decaiu, mas está se levantando. Por isso, a Costa Rica tem de estar muito concentrada e tirar

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proveito de nossas virtudes, como utilizar diferentes formações dependendo do objetivo que temos na partida. A equipe tem capacidade para trabalhar com linha de quatro ou de três na defesa, por exemplo. A troca de técnico foi importante para a Costa Rica reagir nas eliminatórias (Alexandre Guimarães, técnico na Copa de 2002, voltou ao comando dos Ticos apenas no hexagonal final, quando o time estava mal)? Foi importante porque Guimarães já conhecia bem o grupo e conseguiu dar um sentido ao que nós, jogadores, queríamos, sem menosprezar quem esteve antes. O Steve Sampson era norte-americano e estava acostumado a um estilo de gerenciamento muito diferente de futebol. Faltou conhecimento da realidade costarriquenha a ele. O Jorge Luís Pinto teve azar, pois esteve na seleção em um momento em que estávamos em má fase. Você acredita que a Costa Rica leva alguma vantagem por ter jogadores já entrosados por atuarem em um mesmo clube, algo raro no futebol atual? Em teoria, sim, mas acho que não fará diferença, já que todas as seleções terão um bom tempo para trabalhar. Em um mês, um mês e meio, é possível um jogador assimilar as idéias e o estilo dos companheiros, ainda mais em um círculo tão fechado como os elencos que treinam para uma Copa do Mundo. A defesa é considerada um dos pontos fracos da Costa Rica. O que tem sido feito para acertar esse setor? Ainda não pudemos nos preparar adequadamente, mas teremos um bom tempo para acertar eventuais deficiências. Confio na comissão técnica da seleção e tenho certeza de que eles já identificaram as fragilidades de nossa equipe e sabem como maximizar nossas virtudes. No entanto, por mais que existam costarriquenhos com espaço na Europa, ainda há poucos, em comparação com outros países latino-americanos. Por que acontece isso? Realmente, tem sido difícil evoluir em direção a um futebol efetivamente profissional, com exigência máxima. Mas é questão de tempo, e sinto que há mais gente prestando atenção em nosso país. Isso deixa as portas abertas para que haja novos jogadores que fiquem bastante tempo lá, como Paulo Wanchope. Hoje, ainda não há tanto intercâmbio da América Central e do Norte com centros mais desenvolvidos, como América do Sul e Europa. Isso atrapalha a vida de vocês? É um fator negativo, pois o ritmo de jogo na Europa é muito mais intenso que o da Costa Rica. O México tem um pouco mais de condições de realizar esse intercâmbio, e a liga deles acaba sendo muito mais competitiva do que a nossa. Na Costa Rica, ainda temos de começar a assimilar a dinâmica do futebol moderno, mas é difícil quando se tem tão poucos jogos internacionais competitivos por ano. Muitos jogadores da seleção costarriquenha estão no Saprissa. Até que ponto a disputa do Mundial de Clubes de 2005 deu experiência internacional ao grupo? Foi um momento importante para todos nós. Não é fácil passar por um Mundial, e esse nível de exigência deixou muitas lições para cada um dos jogadores do Saprissa. E, certamente, esses seis ou sete jogadores que forem para a Copa levarão isso para a Alemanha.

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ALTITUDE

NÃO É TUDO Jogar em Quito foi fundamental para a classificação do Equador, mas a equipe já mostrou que pode ser um adversário difícil longe de casa

E

por Ubiratan Leal

m uma análise superficial, os números das eliminatórias são cruéis com o Equador. Dos 28 pontos da Tricolor, 23 foram conquistados na altitude de Quito. Fora de casa, conseguiram apenas uma vitória – contra a Bolívia, na altitude de La Paz –, empates com Chile e Peru e sete derrotas. É um retrospecto que permite imaginar uma seleção fraca, que só consegue ir em frente porque sabe tirar proveito dos 2.800 m de altitude de Quito. E é com esse rótulo que o Equador chegará à Alemanha. Embora não se possa dizer que o rótulo é falso, uma análise mais profunda mostra que, mesmo sem ser brilhante em momento algum, a Tricolor, como é chamada por seus torcedores, é muito mais que um time que sabe jogar apenas com a ajuda do ar rarefeito de sua capital. A principal virtude do Equador é o conjunto. Nas eliminatórias para 2002, o técnico colombiano Hernán Darío Gómez criou um sistema de jogo que foi mantido por Luis Fernando Suárez, quando este o sucedeu. Os laterais não têm a mesma volúpia dos brasileiros, mas avançam e ajudam a criar perigo em jogadas aéreas. Um atacante (geralmente Delgado) fica como referência, abrindo espaço na base da força física. O sistema de marcação é forte, com zagueiros e volantes fixos que, com os laterais, ajudam a congestionar o campo desde a intermediária. A grande virtude desse esquema é ser adaptável à necessidade de cada jogo. Quando a seleção equatoriana atua em casa, os laterais avançam mais, os meias de armação se aproximam dos atacantes, e o time consegue os gols de que precisa. Nas partidas em que a intenção é apenas

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Equador Federación Ecuatoriana de Fútbol www.ecuafutbol.org Participações em Copas: 1 (2002) Momento memorável: a vitória sobre a Croácia na despedida da Copa de 2002 Uniforme: camisa amarela com detalhes azuis, calção azul e meias vermelhas Na Copa 2006: grupo A, com Alemanha, Costa Rica e Polônia CAMPANHA NAS ELIMINATÓRIAS PARA 2006 06/06/03 – EQU 2x0 10/09/03 – BRA 1x0 15/11/03 – PAR 2x1 19/11/03 – EQU 0x0 30/03/04 – ARG 1x0 02/06/04 – EQU 2x1 05/06/04 – EQU 3x2 05/09/04 – URU 1x0 10/10/04 – EQU 2x0

VEN EQU EQU PER EQU COL BOL EQU CHI

14/10/04 – VEN 17/11/04 – EQU 27/03/05 – EQU 30/03/05 – PER 04/06/05 – EQU 08/06/05 – COL 03/09/05 – BOL 08/10/05 – EQU 12/10/05 – CHI

3x1 1x0 5x2 2x2 2x0 3x0 1x2 0x0 0x0

EQU BRA PAR EQU ARG EQU EQU URU EQU

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A mídia vai cansar seus ouvidos ao dizer que... ...o Equador só se classificou porque ganhou os jogos na altitude de Quito ...se passar da primeira fase, já será lucro ...o Equador é um caso raro de seleção com base de jogadores que atuam no próprio país ...foi o único time que bateu Argentina e Brasil nas eliminatórias

Equador se parece com... os Ewoks São pequenos e parecem inofensivos, mas em seu território são capazes de derrotar até os adversários mais fortes

evitar o assédio adversário, o Equador consegue se retrair e montar uma defesa difícil de ser penetrada. Tanto que, em casa, brasileiros e argentinos conseguiram vencer a Tricolor por apenas 1 a 0 nas eliminatórias. Só esses resultados seriam suficientes para mostrar como os equatorianos podem complicar os oponentes na Alemanha.

Delgado: “Não termos grandes nomes nos ajuda”

Renovação tranqüila O mérito de Suárez foi a forma suave como renovou o time. Dos 32 principais candidatos a um lugar na Alemanha, apenas nove estiveram no Japão há quatro anos. Assim que assumiu, o técnico se apressou em dizer que sua missão era apenas continuar o trabalho do antecessor Gómez, que ainda goza de grande prestígio entre os torcedores equatorianos, apesar do desgaste que levou a sua saída do comando da Tricolor, depois da péssima campanha do time na Copa América de 2004. E foi o que fez, pelo menos no que se refere ao esquema de jogo. Além de manter a estrutura tática, Suárez aos poucos foi promovendo um grande processo de renovação. Jogadores como Chalá, Ibarra, Edwin Tenorio, Walter Ayoví e Guerrón foram perdendo espaço e, em seus lugares, surgiram nomes como Villafuerte, Guagua, Reasco, Luis Antonio Valencia e Mina. Em relação à geração anterior, a única posição ainda carente é a de homem de referência na armação. O Equador ainda não encontrou um jogador com técnica e capacidade de liderança e de ditar o ritmo do meio-campo como Alex Aguinaga. A aposta atual é em Franklin Salas, mas o meia da LDU se recupera de contusão e não se sabe em que condições chegará à Alemanha. O lado negativo dessa renovação é que a seleção equatoriana que vai à Alemanha pode sentir falta de experiência internacional. Ainda é raro ver jogadores tricolores atuarem em clubes europeus. Além de a dolarizada economia do país tornar os equatorianos relativamente “caros”, se comparados aos vizinhos sul-americanos mais afamados, o Equador não é o maior produtor de talentos no continente. No todo, os pontos negativos são mais fortes que os positivos, e é difícil imaginar uma grande campanha equatoriana. Porém, em 2002, a Tricolor venceu a Croácia. Prova de que o sistema com base em força, conjunto e muita marcação pode dar alguns resultados, mesmo quando sobra oxigênio também para o adversário.

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O ASTRO: DELGADO Com a aposentadoria de Alex Aguinaga, Agustín Delgado se transformou no maior símbolo da seleção equatoriana que vai à Alemanha. O atacante de 31 anos não está em sua melhor forma física e técnica, mas, ainda assim, é uma referência no time. Com 1,89 m de altura, sabe encontrar espaço nas defesas mais fechadas e é muito perigoso em jogadas aéreas. Foi aproveitando essas características que “Tín” Delgado se tornou o maior artilheiro da história da seleção do Equador, com 26 gols. É um feito de razoável valor para um jogador que peca pela inconstância e técnica limitada. No início deste ano, um imbróglio jurídico quase o tirou do Mundial. Depois de ser afastado do Barcelona de Guaiaquil, Delgado acertou com a LDU. Porém, seu antigo clube não o liberou, exigindo o pagamento da multa rescisória. A Justiça trabalhista deu razão ao jogador, mas a federação equatoriana ficou do lado do Barcelona. Só depois de Delgado ameaçar publicamente não ir à Copa é que as partes aceitaram negociar até chegar a um acordo – o jogador acabou liberado, mas a LDU teve que pôr a mão no bolso.

A PROMESSA: MINA No Equador, é raro um jogador de 21 anos ter tanta experiência internacional como Roberto Mina. O atacante, que defendeu a Tricolor nas categorias de base, atuou em dois dos clubes mais tradicionais do país (Emelec e El Nacional) e na Argentina – no Huracán de Buenos Aires. Porém, o que o credenciou como possível revelação do país na Copa foi o desempenho no FC Dallas, da MLS americana. Em 2005, fez 15 gols em 21 jogos. Tem tudo para ser titular, apesar de ter aparecido pouco na equipe durante as eliminatórias.

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A SELEÇÃO

Damián Lanza 10/4/1982 Clube: Aucas Copas: Eliminatórias: 0J / 0GS Cristian Mora 26/8/1979 Clube: LDU Quito Copas: Eliminatórias: 2J / 1GS Edwin Villafuerte 13/3/1979 Clube: Deportivo Quito Copas: Eliminatórias: 9J / 11GS

Iván Hurtado Data 16/8/1974 Clube: Al Arabi (QAT) Copas: Eliminatórias: 17J / 0G

Luis Saritama 20/10/1983 Clube: Deportivo Quito Copas: Eliminatórias: 1J / 0G

Roberto Mina 7/11/1984 Clube: FC Dallas (EUA) Copas: Eliminatórias: 2J / 0G

Neicer Reasco 23/7/1977 Clube: LDU Quito Copas: Eliminatórias: 12J / 0G

Leonardo Soledispa 15/1/1983 Clube: Barcelona de Guaiaquil Copas: Eliminatórias: 1J / 0G

Carlos Tenorio 14/5/1979 Clube: Al Sadd (QAT) Copas: 2002 Eliminatórias: 7J / 1G

José Luis Valencia 19/3/1982 Clube: Willem II (HOL) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Patrício Urrutia 15/10/1977 Clube: LDU Quito Copas: Eliminatórias: 1J / 0G

MEIO-CAMPISTAS Marlon Ayoví 27/9/1971 Clube: Deportivo Quito Copas: 2002 Eliminatórias: 16J / 2G

Luis Antonio Valencia 4/8/1985 Clube: Recreativo Huelva (ESP) Copas: Eliminatórias: 7J / 3G

DEFENSORES Paul Ambrossi 14/10/1980 Clube: LDU Quito Copas: Eliminatórias: 13J / 0G

Segundo Castillo 15/5/1982 Clube: El Nacional Copas: Eliminatórias: 2J / 0G

José Luis Cortez 21/11/1979 Clube: Aucas Copas: Eliminatórias: 1J / 0G

Christian Lara 7/4/1980 Clube: El Nacional Copas: Eliminatórias: 5J / 1G

Erick de Jesús 8/11/1982 Clube: El Nacional Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Édison Méndez 16/3/1979 Clube: LDU Quito Copas: 2002 Eliminatórias: 15J / 5G

Ulises de la Cruz 8/2/1974 Clube: Aston Villa (ING) Copas: 2002 Eliminatórias: 17J / 2G

Alfonso Obregón 15/5/1972 Clube: LDU Quito Copas: 2002 Eliminatórias: 5J / 0G

Giovanny Espinoza 12/4/1977 Clube: LDU Quito Copas: 2002 Eliminatórias: 18J / 1G

Mario David Quiroz 8/9/1982 Clube: El Nacional Copas: Eliminatórias: 2J / 0G

Jorge Guagua 28/9/1981 Clube: El Nacional Copas: Eliminatórias: 1J / 0G

Franklin Salas 30/8/1981 Clube: LDU Quito Copas: Eliminatórias: 11J / 1G

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ATACANTES Cristian Benítez 1/5/1986 Clube: El Nacional Copas: Eliminatórias: 0J / 0G Félix Borja 2/4/1983 Clube: El Nacional Copas: Eliminatórias: 2J / 0G Felipe Caicedo 5/9/1988 Clube: Basel (SUI) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G Walter Calderón 17/10/1977 Clube: Deportivo Cuenca Copas: Eliminatórias: 0J / 0G Agustín Delgado 23/12/1974 Clube: LDU Quito Copas: 2002 Eliminatórias: 11J / 5G Iván Kaviedes 24/10/1977 Clube: Argentinos Juniors (ARG) Copas: 2002 Eliminatórias: 5J / 1G

José Jacome/EFE

GOLEIROS José Cevallos 14/4/1971 Clube: Barcelona de Guaiaquil Copas: 2002 Eliminatórias: 5J / 4GS

O TÉCNICO O principal mérito do colombiano Luis Fernando Suárez foi substituir Hernán Darío Gómez sem que houvesse uma grande queda de rendimento no futebol da equipe. Discreto, Suárez assumiu depois da Copa América de 2004, em que o Equador caiu na primeira fase. Essa campanha serviu de pretexto para a federação local demitir Gómez, que era visto como herói nacional após levar o país à Copa de 2002, mas se desgastara com os dirigentes equatorianos. Como jogador, Suárez defendeu o Atlético Nacional, onde foi campeão da Libertadores de 1989, e o Deportivo Pereira. Encerrou a carreira aos 29 anos para ser técnico de Atlético Nacional, Pereira, Millonarios, Deportivo Cali (todos da Colômbia) e Aucas, do Equador.

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50 ENTREVISTA

“PODEMOS JOGAR BEM

LONGE DE QUITO”

A

Maior artilheiro da história da seleção do Equador, Agustín Delgado diz que o time não depende de altitude e considera a constância do trabalho responsável pela classificação à segunda Copa seguida por Ubiratan Leal

relação entre a seleção do Equador e a altitude é praticamente imediata, sobretudo depois que a federação local determinou que todos os jogos nas eliminatórias seriam realizados em Quito. Porém, os jogadores e a comissão técnica procuram não pensar mais nisso. Afinal, os jogos na Alemanha serão disputados longe das montanhas, e pensar nesse assunto pode desconcentrar a delegação meses antes do Mundial. Essa, pelo menos, é a posição de Agustín Delgado, atacante e uma das principais referências da seleção equatoriana na Copa de 2006. Em entrevista exclusiva à Trivela, o centroavante foi taxativo: “Temos de esquecer a altitude, não podemos ficar pensando em algo que não ajudará em nada durante a Copa”. Até porque, para “Tín”, a Tricolor tem condições de fazer uma boa campanha mesmo sem a altitude. Sua confiança está no que considera um bom trabalho de renovação liderado pelo técnico Luis Fernando Suárez e no conjunto da equipe, que, acredita, não tem grandes vaidades. Ele avalia que essas seriam as principais razões para os equatorianos representarem a América do Sul pelo segundo Mundial seguido, mesmo sem ter jogadores conhecidos, como alguns vizinhos de continente. Delgado ainda analisou as diferenças entre Suárez e Hernán Darío Gómez, técnico do Equador em 2002, e contou porque, apesar de ter defendido seu país na última Copa, o torneio da Alemanha tem um significado especial. O Equador é constantemente acusado de só ganhar quando joga com a vantagem da altitude de Quito. Que diferença faz para vocês atuar em casa? Olha, agora nosso único objetivo é tratar de fazer o melhor possível no Mundial e, na Alemanha, não vamos jogar na altitude. Por isso, o Equador tem de esquecer a altitude, não pode ficar pensando em algo que não ajudará em nada durante a Copa. Até porque já provamos que podemos jogar em bom nível longe de Quito. Basta ver que fizemos uma campanha digna em 2002, quando terminamos nossa estréia em Mundiais com uma vitória sobre a Croácia, semifinalista do torneio anterior.

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Por que, mesmo sem ter destaques internacionais como outras seleções da América do Sul, o Equador conseguiu se classificar pela segunda vez consecutiva para a Copa? O que leva o Equador a ter bons resultados é justamente essa ausência de jogadores famosos demais. Com isso, foi mais fácil montar um time que joga junto há muito tempo, com um conjunto homogêneo e sem uma grande figura, sem um goleador. É um time sem vaidades. Esse seria o motivo de o time manter a constância mesmo tendo mudado de técnico no meio das eliminatórias (Hernán Darío Gómez foi substituído por Luís Fernando Suárez após a sétima rodada do torneio)? Nesse caso, o importante é que só mudou a pessoa que comandava os jogadores, pois a filosofia de trabalho é a mesma, sem nenhuma alteração significativa no esquema de jogo. Bolillo [Gómez] e Suárez são muito diferentes como pessoas. Bolillo é um grande amigo: alegre, piadista, deixa o jogador à vontade o tempo todo. O Suárez é um sujeito mais discreto e calado. Profissionalmente, porém, eles têm as mesmas idéias e princípios, o que é ótimo para os jogadores. Mas, em campo, mudou alguma coisa. Desde que chegou, Suárez acelerou o processo de renovação na seleção, promovendo jovens e deixando de lado muitos jogadores que defenderam o Equador na Copa de 2002. É verdade, mas essa renovação foi muito bem feita. A comissão técnica soube ir com calma, devagar, tapando aos poucos os problemas que surgiam na equipe. Isso foi tão discreto que ninguém via que o processo estava em andamento, que jovens de talento ganhavam cada vez mais chances na seleção. Em 2002, você foi ao Japão e atuou em todas as partidas, mas estava claramente sem as melhores condições de jogo (Delgado jogou no sacrifício, pois ainda se recuperava de contusão). Isso faz o torneio da Alemanha ser diferente? Ah, será muito melhor, será especial. Dá para dizer que, na Alemanha, é como se fosse para valer, porque só agora vou realmente jogar o que posso. Ainda assim, o Mundial da Ásia é algo que sempre levarei dentro de mim, pois lá eu me tornei o primeiro jogador a fazer um gol em Copas pelo Equador, algo que ninguém poderá tirar de mim.

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JosĂŠ Jacome/EFE

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Peter Andrews/Reuters

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É HORA DE

ATACAR Polônia aposta em um ataque poderoso para repetir o desempenho das Copas de 1974 e 1982

A

por Ricardo Espina

Polônia vive uma relação de amor e ódio com a Alemanha. Quando entrarem em campo, no dia 14 de junho, em Dortmund, os dois países colocarão em disputa mais do que uma rivalidade esportiva. Em 1939, as tropas de Hitler invadiram a Polônia, no início da II Guerra Mundial. O horror do Holocausto mostrou sua face no campo de concentração de Auschwitz, localizado a oeste da cidade de Cracóvia. Quando o assunto é futebol, os poloneses têm motivos para se animar. Na Alemanha, a seleção conheceu duas de suas maiores glórias. Em 1972, a Polônia ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Munique. Dois anos depois, na Copa, o time obteve o melhor desempenho no torneio ao terminar em terceiro lugar, deixando para trás Argentina, Itália, Suécia, Iugoslávia e Brasil. O feito foi repetido em 1982. Nas eliminatórias, a Polônia cumpriu excelente campanha. A seleção obteve a vaga para o Mundial de forma antecipada, graças às oito vitórias conseguidas no torneio. A equipe perdeu apenas duas vezes, ambas contra a Inglaterra, e terminou como uma das melhores segundas colocadas da Europa. Pawel Janas montou a Polônia num 4-4-2 clássico, mas o esquema pode variar. O treinador prefere escalar Ebi Smolarek no meio-campo, mas pode deslocá-lo para o ataque e fazê-lo atuar em uma das

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Polônia Polski Zwiazek Pilki Noznej www.pzpn.pl Participações em Copas: 6 (1938, 1974, 1978, 1982, 1986 e 2002) Momento memorável: o terceiro lugar conseguido em 1974, com uma vitória sobre o Brasil Uniforme: camisa branca, calção vermelho e meias brancas Na Copa 2006: grupo A, com Alemanha, Costa Rica e Equador

CAMPANHA NAS ELIMINATÓRIAS PARA 2006 04/09/04 – IRN 08/09/04 – POL 09/10/04 – AUT 13/10/04 – GAL 26/03/05 – POL

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POL ING POL POL AZE

30/03/05 – POL 04/06/05 – AZE 03/09/05 – POL 07/09/05 – POL 12/10/05 – ING

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Franz-Peter Tschauner/EFE

A mídia vai cansar seus pontas, o que deixa a Polônia com poder Ao menos no gol, a situação é melhor. Jerzy ouvidos ao dizer que... ofensivo ainda maior. Maciej Zurawski Dudek, criticado por sua inconstância no e Tomas Frankowski formam uma dupla Liverpool, tem um desempenho razoável na se...alguns nomes dos jogadores afinada, tendo marcado 14 gols nas elileção. Em todo o caso, Janas tem a opção de poloneses são impronunciáveis minatórias. No total, a Polônia foi às reescolher Artur Boruc, que faz uma boa tempo...a Polônia enfrentará dois de seus des 27 vezes, como a Holanda. rada no Celtic. Mas de nada adianta ter um bom “compatriotas”: Podolski e Klose O ataque polonês é beneficiado goleiro, se a defesa comete erros bobos, como ...bons mesmo eram Lato e Boniek pelo entrosamento de Frankowski e aconteceu algumas vezes nas eliminatórias. ...o futebol da Zurawski, que já se conhecem de longa Em 2002, a Polônia decepcioPolônia caiu junto data. Os dois atuaram juntos no Wisla nou. Considerada favorita com o comunismo Polônia Cracóvia, ao lado dos meio-campistas para passar para a segunda se parece com... Miroslav Szymkoviak e Kamil Kosowski. fase, acabou como lanterna Jacek Krzynowek, um dos destaques do do grupo D, atrás de Coréia Seu Madruga Bayer Leverkusen, completa o hábil meio-campo. do Sul, Estados Unidos e É boa gente, tem a simpatia Se na parte ofensiva os poloneses estão tranqüilos, a parte dePortugal. Desta vez, em uma de todo mundo, mas vive fensiva precisa de alguns ajustes. O principal problema está no chave com Alemanha, Costa apanhando miolo da zaga. Jacek Bak e Tomasz Klos, ambos com 33 anos, Rica e Equador, os poloneses da vizinha ocupam o posto de titulares. Porém, os dois atravessam fase despontam novamente como ruim. Lentos, geralmente levam a pior no combate a atacantes candidatos para o segundo velozes ou equipes que fazem a bola rolar rapidamente. O problelugar. Porém, a seleção prema se repete na lateral-esquerda. Tomasz Rzasa, outro jogador de cisa deixar as lembranças 33 anos, já não tem o mesmo fôlego para apoiar bem o ataque. negativas de lado para volAlém disso, não consegue marcar com tanta eficiência. tar a brilhar.

“Ebi”: goleador no Dortmund, armador na seleção

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O ASTRO: FRANKOWSKI

A PROMESSA: SMOLAREK

Conhecido como “Franek” ou “Caçador de Gols”, Frankowski chama a atenção pelo oportunismo. Ele joga mais fixo na área adversária e tem facilidade para chutar tanto de direita como de esquerda. Frankowski compensa a baixa estatura (1,72 m) com agilidade para se livrar dos zagueiros quando está com a bola nos pés. Forma, ao lado de Maciej Zurawski, uma dupla de ataque de respeito, responsável por 14 gols da equipe (mais da metade do total) nas eliminatórias européias. Para dar uma idéia, a França marcou os mesmos 14 gols em toda a competição. Nas temporadas 1998/9, 2000/1 e 2004/5, foi o artilheiro do Campeonato Polonês. No início de 2006, o atacante transferiu-se do espanhol Elche para o Wolverhampton, da Inglaterra.

O jogador do Borussia Dortmund tem o futebol no sangue. Filho de Wlodzimierz Smolarek, craque da seleção polonesa na década de 80, Eusebiusz começou a carreira na Holanda. Em 1997, chegou a receber uma oferta para defender a seleção holandesa sub-17, mas a proposta foi rejeitada. “Ebi” teve a chance de disputar a Copa de 2002, mas ficou de fora por ter sido flagrado em exame antidoping. Suspenso por três meses, o meio-campista viu de longe o fracasso da seleção em campos asiáticos. Na Alemanha, Smolarek terá a missão de conduzir a equipe, seja na armação das jogadas, seja como o terceiro homem de ataque, funções que exerce com habilidade. Dono de boa visão de jogo, é o responsável por assistências precisas para Frankowski e Zurawski.

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A SELEÇÃO GOLEIROS Artur Boruc 20/2/1980 Clube: Celtic (ESC) Copas: Eliminatórias: 3J / 4GS

Arkadiusz Radomski 27/6/1977 Clube: Austria Viena (AUT) Copas: Eliminatórias: 6J / 0G

Radoslaw Kaluzny 2/2/1974 Clube: Ahlen (ALE) Copas: 2002 Eliminatórias: 3J / 1G

Jerzy Dudek 23/3/1973 Clube: Liverpool (ING) Copas: 2002 Eliminatórias: 7J / 5GS

MEIO-CAMPISTAS Piotr Giza 28/2/1980 Clube: MKS Cracóvia Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Maciej Scherfchen 24/2/1979 Clube: Lech Poznan Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Andrzej Niedzielan 27/2/1979 Clube: NEC (HOL) Copas: Eliminatórias: 3J / 0G

Wojciech Kowalewski 11/5/1977 Clube: Spartak Moscou (RUS) Copas: Eliminatórias: 0J / 0GS

Damian Gorawski 4/1/1979 Clube: FC Moscou (RUS) Copas: Eliminatórias: 2J / 0G

Euzebiusz “Ebi” Smolarek 9/1/1981 Clube: Borussia Dortmund (ALE) Copas: Eliminatórias: 4J / 1G

Grzegorz Rasiak 12/1/1979 Clube: Southampton (ING) Copas: Eliminatórias: 6J / 0G

DEFENSORES Marcin Adamski 20/8/1975 Clube: Rapid Viena (AUT) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Kamil Kosowski 30/8/1977 Clube: Southampton (ING) Copas: Eliminatórias: 8J / 2G

Radoslaw Sobolewski 13/12/1976 Clube: Wisla Cracóvia Copas: Eliminatórias: 5J / 0G

Jacek Krzynowek 15/5/1976 Clube: Bayer Leverkusen (ALE) Copas: 2002 Eliminatórias: 7J / 4G

Miroslav Szymkowiak 12/11/1976 Clube: Trabzonspor (TUR) Copas: Eliminatórias: 6J / 0G

Marcin Baszczynski 7/6/1977 Clube: Wisla Cracóvia Copas: Eliminatórias: 8J / 0G

Mariusz Lewandowski 18/5/1979 Clube: Shakhtar Donetsk (UCR) Copas: Eliminatórias: 3J / 0G

Marcin Zajac 19/5/1975 Clube: Groclin Grodzisk Copas: Eliminatórias: 1J / 0G

Bartosz Bosacki 20/12/1975 Clube: Lech Poznan Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Sebastian Mila 10/7/1982 Clube: Austria Viena (AUT) Copas: Eliminatórias: 7J / 0G

Jacek Bak 24/3/1973 Clube: Al Rayyan (QAT) Copas: 2002 Eliminatórias: 10J / 0G

Mariusz Jop 3/8/1978 Clube: FC Moscou (RUS) Copas: Eliminatórias: 2J / 0G Tomasz Klos 7/3/1973 Clube: Wisla Cracóvia Copas: 2002 Eliminatórias: 5J / 1G Marcin Kus 2/9/1981 Clube: Queen’s Park Rangers (ING) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G Tomasz Rzasa 11/3/1973 Clube: Den Haag (HOL) Copas: 2002 Eliminatórias: 9J / 0G

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Przemek Wierzchowski/EFE

Michal Zewlakow 22/4/1976 Clube: Anderlecht (BEL) Copas: 2002 Eliminatórias: 5J / 0G

ATACANTES Tomas Frankowski 16/8/1974 Clube: Wolverhampton (ING) Copas: Eliminatórias: 7J / 7G

Marek Saganowski 31/10/1978 Clube: Vitória Guimarães (POR) Copas: Eliminatórias: 1J / 2G Lukasz Sosin 7/5/1977 Clube: Apollon Limassol (CHP) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G Piotr Wlodarczyk 4/5/1977 Clube: Legia Varsóvia Copas: Eliminatórias: 2J / 1G Maciej Zurawski 12/9/1976 Clube: Celtic (ESC) Copas: 2002 Eliminatórias: 10J / 7G

O TÉCNICO Pawel Janas assumiu o comando da seleção polonesa no final de 2002. Zagueiro da equipe na Copa de 1982, Janas tem no currículo a conquista da medalha de ouro com a Polônia, nas Olimpíadas de 1972. Além disso, o treinador levou o Legia Varsóvia às oitavas-definal da Liga dos Campeões, em 1996. Apesar de não contar com a simpatia da imprensa local, Janas, formado em economia e educação física, terá a missão de apagar o mau resultado de 2002.

4/2/06 12:44:36 PM


PERFIL

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Giampiero Sposito/Reuters

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NÃO DIGA QUE SOU

SEM SAL Ótimo desempenho em 2002 e solidez fazem do time sueco um perigoso franco-atirador na Alemanha

M

por Cassiano Ricardo Gobbet

esmo tendo no mesmo grupo Paraguai e Trinidad e Tobago, candidatos ao papel de “sparrings” na primeira fase da Copa, a Inglaterra não celebrou o fato de ficar no mesmo grupo da Suécia, que já fora sua companheira de “grupo da morte”, em 2002. Ninguém mais, aliás, vê a Suécia com desdém. Na Copa passada, pouca gente olhava para o “grupo da morte” (com Nigéria, Argentina, Inglaterra e Suécia) e colocava os escandinavos nas oitavas-de-final. Já sabemos no que deu. Desde então, o time do técnico Lars Lagerback apresenta um dos desempenhos mais sólidos da Europa, em torneios internacionais, nos últimos anos. E na Alemanha deve manter o ritmo. Na Copa passada, a Suécia era comandada por uma dupla de técnicos – fato bastante incomum para uma função tão individualista. Tommy Soderberg saiu e Lagerback continuou, fazendo poucas alterações na lista de nomes e no modo de jogar. E aí está um dos trunfos da seleção sueca: os jogadores têm certo entrosamento, responsável pelo bom funcionamento da dinâmica do time. Outro indício da força do coletivo é o fato de Lagerback só ter utilizado 22 jogadores nas suas convocações das eliminatórias – a menor lista entre os classificados. Só para comparação: entre as seleções européias, que fizeram mais ou menos o mesmo número de jogos durante o mesmo período, só a Croácia chegou perto, com 23. A Itália, por exemplo, usou 36 jogadores. A vaga para o Mundial veio sem a repescagem, mas no sufoco.

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Suécia Svenska Fotbollförbundet www.svenskfotboll.se Participações em Copas: 10 (1934, 1938, 1950, 1958, 1970, 1974, 1978, 1990, 1994 e 2002) Momento memorável: chegar à final da Copa de 1958, organizada pelos próprios suecos e vencida pelos brasileiros Uniforme: camisa amarela, calção azul e meias amarelas Na Copa 2006: grupo B, com Inglaterra, Paraguai e Trinidad e Tobago

CAMPANHA NAS ELIMINATÓRIAS PARA 2006 04/09/04 – MLT* 0x7 08/09/04 – SUE 0x1 09/10/04 – SUE 3x0 13/10/04 – ISL 1x4 26/03/05 – BUL 0x3 04/06/05 – SUE 6x0

SUE CRO HUN SUE SUE MLT

03/09/05 – SUE 3x0 07/09/05 – HUN 0x1 08/10/05 – CRO 1x0 12/10/05 – SUE 3x1

BUL SUE SUE ISL

*Malta

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Laurent Gillieron/EPA

58 Duas derrotas para a Croácia fizeram com que os suecos só conseguissem a classificação como uma das duas melhores segundas colocadas, atrás exatamente dos croatas. Esse time enterra os mitos geralmente associados ao futebol escandinavo – disciplina tática, futebol de força e muita bola erguida na área. A seleção sueca tem se destacado por jogar com a bola no chão, com bom passe e técnica, e sempre buscando o gol. O esquema usado é o 4-4-2 tradicional (com uma variação para um 4-1-3-2), com laterais mais fixos na defesa e um meio-campo em que são os externos que buscam a linha de fundo. Contudo, os centrais do setor não são volantes típicos e tocam bem a bola. A vocação ofensiva da Suécia custa caro a sua defesa. Os zagueiros são freqüentemente expostos ao mano a mano com os atacantes rivais e obrigam o goleiro Isaksson a realizar milagres. Para sorte do time, o goleiro do Rennes tem cometido poucas falhas e certamente foi o destaque sueco nas eliminatórias. Os torcedores de seu clube, aliás, não têm sentido saudades do antecessor, Petr Cech. A linha de ataque da Suécia é o ponto forte do time. Se Henrik Larsson não é mais o artilheiro de outrora (apesar de ter anotado cinco vezes em oito partidas), Zlatan Ibrahimovic não foge da incumbência de fazer os gols e teve uma média de um por jogo no caminho para a Copa. Os dois formaram a dupla de ataque mais freqüente, mas Lagerback tem uma lista de opções considerável. Além deles, pelo menos três jovens podem ir ao Mundial com excelentes credenciais: Markus Rosenberg, Alexander Farnerud e Marcus Berg não têm estilos similares a “Ibra”, mas são todos dotados de muito boa técnica e excelente posicionamento. O futebol sueco – e o da seleção – parece estar no limiar de um ótimo período. “Há um grande otimismo na Suécia porque temos novos jogadores cada vez melhores”, diz Lasse Sandlin, jornalista do Aftonbladet. Dentre os 25 jogadores que foram chamados para as eliminatórias, 17 jogam na Escandinávia (nove deles na própria Suécia), o que facilita o trabalho do técnico, que pode acompanhá-los mais de perto. Não, a Suécia não está entre as favoritas para vencer o título. Mas, certamente, é a maior candidata a dar uma rasteira em um dos gigantes que subirem no salto.

A mídia vai cansar seus ouvidos ao dizer que... ...o atacante Ibrahimovic é o grande nome da Suécia ...Henrik Larsson disputou a Copa de 1994, em que o Brasil foi campeão ...a Suécia foi adversária do Brasil na primeira conquista brasileira, em 1958 ...a Suécia também enfrentou a Inglaterra em 2002 ...na Copa passada, os suecos eram comandados por dois técnicos

Suécia se parece com... Pac Man Consegue comer alguns fantasmas, mas depois acaba morrendo

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Copa do Mundo será despedida de gala para Larsson

O ASTRO: IBRAHIMOVIC Se na Copa passada a Suécia não tinha um jogador fora-de-série que pudesse desequilibrar a qualquer momento, agora tem. Zlatan Ibrahimovic é, hoje, um dos melhores atacantes do mundo. Que o digam os próprios italianos, eliminados por uma bicicleta do sueco na Euro-2004. Embora seu porte físico, 1,92 m e muito forte, sugira um goleador bom no jogo aéreo, mas sem muita agilidade, Ibrahimovic consegue aliar força e técnica, sendo capaz de fazer gols sob violência dos zagueiros, mas também de fazer jogadas antológicas, como seu último gol pelo Ajax, no qual driblou os adversários oito vezes (goleiro incluso) antes de estufar as redes do NAC Breda. Mesmo com todo o seu talento, o jogador não é uma unanimidade na Suécia, onde é considerado arrogante e egocêntrico. Desde que chegou à Itália, porém, “Ibra” sentiu a mão pesada de “Don” Fabio Capello (seu treinador na Juventus) e tem trabalhado para controlar suas explosões. Com a concorrência de tantos astros como Ronaldinho, Rooney e Henry, é difícil cravar o juventino como o provável craque da Copa. Se acontecer, no entanto, não será surpresa nenhuma.

A PROMESSA: KÄLLSTRÖM Há pelo menos cinco anos, os grandes clubes da Europa acompanham com atenção o desenvolvimento de Kim Källström, que completa 24 anos depois da Copa. O jogador começou a sua carreira como segundo volante, mas foi avançando e, hoje, alterna partidas como armador e como meia-atacante. Titular absoluto do Rennes, Källström ainda não foi para um grande clube da Europa porque é um jogador caro – conseqüência de toda a expectativa colocada em cima dele. Se Linderoth ou Svensson saírem do time por alguma razão, a vaga deve ser sua. E uma boa Copa significa uma negociação certa para um clube da Liga dos Campeões.

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A SELEÇÃO GOLEIROS John Alvbage 10/8/1982 Copas: Clube: Viborg (DIN) Eliminatórias: 0J / 0GS

Alexander Östlund 2/11/1978 Clube: Southampton (ING) Copas: Eliminatórias: 9J / 0G

Johan Elmander 27/5/1981 Clube: Brondby (DIN) Copas: Eliminatórias: 2J / 1G

Christian Wilhelmsson 8/12/1978 Clube: Anderlecht (BEL) Copas: Eliminatórias: 10J / 2G

Eddie Gustafsson 31/1/1977 Clube: Lyn (NOR) Copas: Eliminatórias: 0J / 0GS

Fredrik Risp 15/12/1980 Clube: Gençlerbirligi (TUR) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Kim Källström 24/8/1982 Clube: Rennes (FRA) Copas: Eliminatórias: 5J / 1G

ATACANTES Marcus Allbäck 5/7/1973 Clube: Copenhague (DIN) Copas: 2002 Eliminatórias: 7J / 1G

Andreas Isaksson 3/10/1981 Clube: Rennes (FRA) Copas: 2002 Eliminatórias: 10J / 4GS

Karl Svensson 21/3/1984 Clube: Goteborg Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Jonas Sandkvist 6/5/1981 Clube: Malmö Copas: Eliminatórias: 0J, 0GS

MEIO-CAMPISTAS Anders Andersson 15/3/1974 Clube: Malmö Copas: 2002 Eliminatórias: 0J / 0G

Tobias Linderoth 21/4/1979 Clube: Copenhague (DIN) Copas: 2002 Eliminatórias: 10J / 0G

Marcus Berg 17/8/1986 Clube: Goteborg Copas: Eliminatórias: 0J / 0G Alexander Farnerud 1/5/1984 Clube: Strasbourg (FRA) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

DEFENSORES Cristoffer Anderson 22/10/1978 Clube: Lillestrom (NOR) Copas: Eliminatórias: 1J / 0G

Niclas Alexandersson 29/12/1971 Clube: Goteborg Copas: 2002 Eliminatórias: 8J / 0G

Mikael Dorsin 6/10/1981 Clube: Rosenborg (NOR) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Daniel Andersson 28/8/1977 Clube: Malmö Copas: 2002 Eliminatórias: 1J / 0G

Mikael Nilsson 24/6/1978 Clube: Panathinaikos (GRE) Copas: Eliminatórias: 3J / 0G

Henrik Larsson 20/9/1971 Clube: Barcelona (ESP) Copas: 1994 e 2002 Eliminatórias: 8J / 5G

Erik Edman 11/11/1978 Clube: Rennes (FRA) Copas: 2002 Eliminatórias: 7J / 1G

Dusan Djuric 16/9/1984 Clube: Halmstads Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Anders Svensson 17/7/1976 Clube: Elfsborg Copas: Eliminatórias: 8J / 2G

Markus Rosenberg 27/9/1982 Clube: Ajax (HOL) Copas: Eliminatórias: 0J / 0G

Teddy Lucic 15/4/1973 Clube: Hacken Copas: 2002 Eliminatórias: 10J / 0G Olof Mellberg 3/9/1977 Clube: Aston Villa (ING) Copas: 2002 Eliminatórias: 10J / 1G Johan Mjallby 9/2/1971 Clube: Celtic (ESC) Copas: 2002 Eliminatórias: 1J / 0G

Frederik Ljungberg 16/4/1977 Clube: Arsenal (ING) Copas: 2002 Eliminatórias: 10J / 7G

Zlatan Ibrahimovic 3/10/1981 Clube: Juventus (ITA) Copas: 2002 Eliminatórias: 8J / 8G

Lavandeira Jr./EFE

Peter Hansson 14/12/1976 Clube: Heerenveen (HOL) Copas: Eliminatórias: 1J / 0G

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Mattias Jonson 16/1/1974 Clube: Djurgarden Copas: 2002 Eliminatórias: 6J / 1G

O TÉCNICO Lars Lagerback, 62 anos, começou a carreira em 1977. Praticamente toda ela foi dentro da federação, passando por diversos times da seleção sueca. Em 1995, tornou-se assistente do técnico Tommy Svensson. Depois da Copa de 1998, dividiu o cargo com Tommy Soderberg, até a Eurocopa passada. Esteve nas comissões técnicas da Suécia em todos os Mundiais desde 1990. “Low-profile”, não tem grande contato com a mídia.

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PERFIL

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Mick Tsikas/EFE

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O PULO DO

CANGURU Austrália ganhou respeito ao contratar o técnico que levou a Coréia à semifinal da Copa de 2002. Mas o holandês só assumiu os Socceroos porque o país conta com bons jogadores

Q

por Tomaz R. Alves

uando a Austrália contratou o técnico Guus Hiddink, em 2005, muita gente se surpreendeu. O país vinha de um desempenho ruim na Copa das Confederações (três derrotas em três jogos), e poucos acreditavam que o time tivesse condições de vencer o representante sul-americano na repescagem e chegar à Copa do Mundo. Por que o holandês, que chegou às semifinais dos dois últimos Mundiais (em 1998, com a Holanda, e em 2002, com a Coréia do Sul) teria aceitado treinar uma equipe tão pouco expressiva? A explicação não é difícil. Hiddink notou que, apesar dos riscos, o caminho dos Socceroos até a Copa não era tão complicado assim. Mais importante: percebeu que o time australiano tem bons jogadores e pode fazer na Alemanha um papel muito melhor do que se espera dele. Todo o time titular da Austrália joga na Europa. A maioria não só está lá, como é titular de clubes das principais ligas do continente. Kewell atua no Liverpool, atual campeão europeu. Viduka e Schwarzer são dois dos principais jogadores do Middlesbrough, que joga a Copa Uefa. Cahill foi apontado como grande responsável pelo Everton ter ficado em quarto lugar no último Campeonato Inglês. Aloisi é uma peça importante para o Alavés, na Espanha. Bresciano e Grella são titulares absolutos do Parma – o último chegou até a ser sondado pelo Milan. Dá para dizer que, no papel, o time australiano é melhor que o do Japão e não deve nada para o da Croácia. Apesar da pouca tradição em Mundiais,

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Austrália Football Federation Australia www.footballaustralia.com.au Participações em Copas: 1 (1974) Momento memorável: o pênalti convertido por John Aloisi, que confirmou a volta da Austrália a uma Copa depois de 32 anos Uniforme: camisa amarela, calção verde, meias amarelas Na Copa 2006: grupo F, com Brasil, Croácia e Japão

CAMPANHA NAS ELIMINATÓRIAS PARA 2006 29/05/04 – AUS 31/05/04 – AUS 02/06/04 – AUS 04/06/04 – AUS 06/06/04 – AUS 03/09/05 – AUS 06/09/05 – SAL

1x0 9x0 6x1 3x0 2x2 7x0 1x2

NZE TAT* FIJ VAN** SAL*** SAL AUS

12/11/05 – URU 1x0 AUS 16/11/05 – AUS 1x0 URU**** * Taiti ** Vanuatu *** Ilhas Salomão **** Austrália venceu por 4 a 2 nos pênaltis

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62 o elenco da Austrália tem bastante experiência em competições de alto nível – Liga dos Campeões, os principais campeonatos europeus ou a Copa das Confederações. Some-se a isso um excelente técnico e chega-se à conclusão de que a Austrália não é uma galinha morta.

Pontos fracos

Gordon Jack/Reuters

O principal defeito dos Socceroos está na defesa, que é velha e não tem velocidade. Não por acaso, sofreu 10 gols nos três jogos que disputou na Copa das Confederações. É por isso que Guus Hiddink declarou que a Austrália não vai armar uma retranca no Mundial. A decisão é lógica: é melhor armar um esquema mais ofensivo, que evite que o jogo se passe todo no campo australiano. Hiddink costuma variar as formações, mas tem usado mais o 3-5-2, que dá ênfase para o meiocampo, setor no qual a Austrália tem seus melhores jogadores.

Outro ponto negativo é a idade. Todos os 11 prováveis titulares têm mais de 25 anos, e seis já passaram dos 30. A Austrália tende a cansar no final das partidas e pode perder pontos preciosos por isso. Também prejudicam o time os constantes rumores que cercam o técnico Hiddink. O holandês, que também treina o PSV, é candidato a assumir a Inglaterra depois do Mundial. Além disso, surgiram notícias de que ele já teria acertado com a seleção russa. É normal que um treinador troque de seleção depois da Copa, mas tratar abertamente disso ainda antes da competição passa a impressão de falta de comprometimento, o que pode minar a autoridade do técnico.

A Copa e o futuro Até onde a Austrália pode ir na Alemanha? Embora o país sonhe com as oitavas-de-final, três pontos na primeira fase já estarão de bom tamanho. A verdade é que a seleção australiana é uma das maiores incógnitas da Copa. Isolada na fraquíssima Confederação da Oceania até 2005 (em 2006, passou para a Ásia), a equipe teve raríssimas oportunidades de testar sua verdadeira força. Por isso, o 44º lugar que o país ocupa no ranking da Fifa, em março, não significa nada. O que é certo é que a participação na Copa de 2006 promete ser o primeiro passo no crescimento do futebol australiano. A classificação para o Mundial fez crescer no país a popularidade do futebol, que hoje é apenas o quinto esporte mais popular na Austrália (perde para dois tipos de rúgbi, para o críquete e para o futebol australiano). Também contribuirá muito a mudança para a zona asiática, que permitirá aos Socceroos enfrentar seleções de nível técnico melhor com maior freqüência. Em gramados alemães, a Austrália jogará sem maiores ambições. Em 2010, no entanto, a história pode ser bem diferente.

O ASTRO: KEWELL

McDonald (7), um dos mais jovens do elenco australiano

A mídia vai cansar seus ouvidos ao dizer que... ...Guus Hiddink é freguês do Brasil em Copas (e ele só perdeu para a Seleção em 1998, dirigindo a Holanda) ...a seleção australiana não tem tradição no futebol ...a única outra Copa que a Austrália disputou também foi na Alemanha, em 1974 ...o único time decente que a Austrália teve que derrotar nas eliminatórias foi o Uruguai

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Austrália se parece com... Crocodilo Dundee Sempre viveu isolado do mundo, num canto distante do planeta. Agora vai para a “cidade grande”, onde pode armar confusões para o lado dos figurões

Embora não esteja em seu melhor momento, Harry Kewell ainda é o principal astro da seleção australiana. Rápido, habilidoso e com faro para o gol, ele pode tanto jogar na meia-esquerda quanto mais à frente, no ataque. Kewell foi para o futebol inglês em 1994 e começou a se destacar no Leeds em 1997. Em 2003, o Leeds passava por problemas financeiros, e ele foi vendido para o Liverpool. Nos Reds, Kewell caiu de produção e fez uma temporada opaca em 2003/4, seguida de um ano horrível em 2004/5. Na temporada atual, o australiano voltou a jogar bem – mas ainda sem o brilho dos melhores tempos de Leeds. Na seleção australiana, ele é peça-chave no esquema de Guus Hiddink. Embora sofra com essa irregularidade, é quem tem mais habilidade para criar jogadas e desarmar as defesas adversárias.

A PROMESSA: MCDONALD O atacante australiano Scott McDonald entrou para a história do futebol da Escócia ao marcar os dois gols do Motherwell no empate por 2 a 2 contra o Celtic, na temporada 2004/5, resultado que deixou o título escocês com o Rangers. Filho de pais escoceses, ele goza de razoável status no país: é um dos principais jogadores de seu clube, com 27 gols marcados nas últimas duas temporadas. O atacante foi também capitão da seleção sub-20 da Austrália no Mundial da categoria, em 2003. Num elenco com média de idade alta, é só questão de tempo até que ele se firme como um dos principais nomes dos Socceroos.

4/2/06 12:35:50 PM


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GOLEIROS Ante Covic 13/6/1975 Clube: Hammarby (SUE) Eliminatórias: 0J / 0GS

*Nenhum dos jogadores jogou em outra Copa

Stanley Lazaridis 16/8/1972 Clube: Birmingham (ING) Eliminatórias: 4J / 0G

Zeljko Kalac 16/12/1972 Clube: Milan (ITA) Eliminatórias: 6J / 4GS

Jonathan McKain 21/9/1982 Clube: Politehnica Timisoara (ROM) Eliminatórias: 1J / 0G

Michael Petkovic 16/7/1976 Clube: Sivasspor (TUR) Eliminatórias: 0J / 0GS

Ljubo Milicevic 13/2/1981 Clube: Thun (SUI) Eliminatórias: 0J / 0G

Mark Schwarzer 6/10/1972 Clube: Middlesbrough (ING) Eliminatórias: 3J / 1GS

Craig Moore 12/12/1975 Clube: Newcastle (ING) Eliminatórias: 0J / 0G

DEFENSORES Michael Beauchamp 8/3/1981 Clube: Central Coast Mariners Eliminatórias: 0J / 0G

Lucas Neill 9/3/1978 Clube: Blackburn (ING) Eliminatórias: 4J / 0G

Scott Chipperfield 30/12/1975 Clube: Basel (SUI) Eliminatórias: 6J / 2G Patrick Kisnorbo 24/3/1981 Clube: Leicester (ING) Eliminatórias: 3J / 0G

O TÉCNICO O primeiro grande sucesso de Guus Hiddink como técnico foi com o PSV, time que levou ao título da Liga dos Campeões, em 1988. Depois de uma longa passagem pelo futebol espanhol, assumiu a seleção da Holanda, que levou às semifinais da Copa de 1998. No Mundial seguinte, surpreendeu o mundo ao chegar até as semis com a Coréia do Sul. Assumiu a Austrália na metade de 2005 e foi um dos principais responsáveis pela classificação dos Socceroos a sua segunda Copa do Mundo.

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Jade North 7/1/1982 Clube: Newcastle Jets Eliminatórias: 5J / 0G Tony Popovic 4/7/1973 Clube: Crystal Palace (ING) Eliminatórias: 3J / 0G

Michael Errol Thwaite 2/4/1983 Clube: National Bucareste (ROM) Eliminatórias: 0J / 0G

Brett Emerton 22/2/1979 Clube: Blackburn (ING) Eliminatórias: 8J / 4G Vincenzo Grella 5/10/1979 Clube: Parma (ITA) Eliminatórias: 8J / 0G

Tony Vidmar 4/7/1970 Clube: NAC Breda (HOL) Eliminatórias: 7J / 0G

Brett Holman 27/3/1984 Clube: Excelsior Rotterdam (HOL) Eliminatórias: 0J / 0G

MEIO-CAMPISTAS Marco Bresciano 11/2/1980 Clube: Parma (ITA) Eliminatórias: 5J / 2G

Harold Kewell 22/9/1978 Clube: Liverpool (ING) Eliminatórias: 2J / 0G

Tim Cahill 6/12/1979 Clube: Everton (ING) Eliminatórias: 6J / 7G

Josip Skoko 10/12/1975 Clube: Stoke (ING) Eliminatórias: 6J / 1G

Alvin Ceccoli 5/8/1974 Clube: Sydney FC Eliminatórias: 0J / 0G

Luke Wilkshire 2/10/1981 Clube: Bristol City (ING) Eliminatórias: 1J / 0G

Jason Culina 5/8/1980 Clube: PSV (HOL) Eliminatórias: 4J / 1G

ATACANTES John Aloisi 5/2/1976 Clube: Alavés (ESP) Eliminatórias: 7J / 2G

Ahmad Elrich 30/5/1981 Clube: Fulham (ING) Eliminatórias: 5J / 1G Leo La Valle/EFE

A SELEÇÃO

Joshua Kennedy 20/8/1982 Clube: Nuremberg (ALE) Eliminatórias: 0J / 0G Scott McDonald 21/8/1983 Clube: Motherwell (ESC) Eliminatórias: 0J / 0G Archie Gerald Thompson 23/10/1978 Clube: PSV (HOL) Eliminatórias: 3J / 2G Mark Viduka 9/10/1975 Clube: Middlesbrough (ING) Eliminatórias: 4J / 2G

4/3/06 2:05:49 PM


64 ENTREVISTA

“FORÇA FÍSICA

É NOSSA ARMA CONTRA O

Marcos Brindicci/Reuters

BRASIL”

John Aloisi, atacante que converteu o pênalti que garantiu a Austrália em seu segundo Mundial, sonha surpreender a Seleção

J

por Carlos Eduardo Freitas

ohn Aloisi já entrou para a história do futebol na Austrália. Foi dele o último pênalti convertido na série de cobranças que definiu a segunda classificação de seu país para Copas do Mundo, contra o Uruguai, na repescagem. Seu objetivo pessoal, agora? Surpreender o Brasil, segundo adversário dos Socceroos no grupo F. “Para um país que não vai a uma Copa há tanto tempo, por que não sonhar causar uma decepção no melhor time do mundo?”, ri o atacante do Alavés, em entrevista à Trivela, por telefone, direto da Espanha. Como fazer isso? Aloisi – com passagens por Portsmouth, Coventry e Osasuna – faz sua aposta: “Somos fortes fisicamente, e isso nos ajudou a segurar o Uruguai”. Essa mesma defesa foi um dos setores mais fracos do time na última Copa das Confederações. Tanto que Frank Farina, então

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treinador dos australianos, foi demitido logo após a competição. Quem reverteu o panorama foi Guus Hiddink, novo técnico da equipe. “Ele mudou nosso esquema tático e deu atenção especial à zaga”. Aloisi também faz um balanço das chances da Austrália na Alemanha, analisa os benefícios da mudança para a Confederação Asiática e relembra o clima no vestiário antes de “emocionantes” partidas contra adversários como Vanuatu e Taiti. Ele só fugiu da raia quando questionado sobre os pontos fortes e fracos de sua seleção: “Acho melhor não comentar a respeito, sobretudo com um brasileiro”, respondeu o australiano, aos risos. Qual foi sua reação ao descobrir que a Austrália caiu no grupo do Brasil? No começo, foi um choque. Antes do sorteio, o time que mais queríamos evitar era o Brasil. Quando soube que caímos no mesmo

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grupo, pensei: “Oh, não! Teremos pela frente o melhor time do mundo!” Depois, cheguei à seguinte conclusão: “Não vamos a uma Copa do Mundo há 32 anos. Agora, que finalmente conseguimos, por que não enfrentar os melhores e tentar surpreendê-los?” Quem sabe consigamos entrar para a história do futebol australiano... De alguma maneira, ter pela frente o Brasil assustou os australianos? No início, sim, mas agora, não. Sou da opinião de que nenhum time deve nos assustar. Respeitamos demais a Seleção Brasileira: é o melhor time do mundo, o atual campeão e tem os melhores jogadores. Mas por que não sonhar causar uma grande decepção na melhor seleção? Somos um adversário difícil, muito forte fisicamente. E de Japão e Croácia, o que você conhece? Os japoneses conhecemos relativamente bem pela proximidade. Guus Hiddink também treinou a Coréia do Sul e conhece o futebol asiático como poucos. O Japão tem o melhor time da Ásia e, por ser nosso primeiro jogo, terá de ser encarado como uma final. Sobre a Croácia, temos diversos jogadores cujos parentes são de lá. Eles conhecem a seleção muito bem, com detalhes sobre cada um dos jogadores. Isso nos ajudará bastante na espionagem. Até onde a Austrália pode chegar na Copa? A primeira coisa com que temos de nos preocupar é passar da primeira fase. Todo mundo sabe que o Brasil é o favorito e, tomara, conseguiremos a segunda vaga nas oitavas. Esse é nosso principal objetivo. Seria estúpido dizer que chegaremos às quartas ou à semifinal. Dá para apontar quais os pontos fortes e fracos da seleção australiana? É difícil dizer. Acho que o fato de sermos fortes fisicamente é uma vantagem. Isso ajudou a nos defendermos bem contra os uruguaios, tanto que eles só marcaram um gol nas duas partidas. Temos bons atacantes também, acostumados a fazer gols. Mas acho melhor não ficar comentando a respeito de nossos pontos fortes e fracos, sobretudo para um brasileiro [risos]. A média de idade dos jogadores que irão à Copa estará na casa dos 30 anos. Isso pode ser prejudicial para a Austrália? Ao contrário. Acho que será uma vantagem para a gente. Muitos dos jogadores são experientes e estão na Europa há bastante tempo, o que nos deixa num nível razoável. Apesar de nunca termos jogado uma Copa do Mundo, essa vivência nos ajudará a não ficar nervosos. Além disso, essa idade avançada indica que muitos de nós não jogarão outro Mundial, o que pode servir de incentivo para aproveitar ainda melhor essa oportunidade. O que mudou no time, desde a chegada de Guus Hiddink? Mudamos bastante o esquema tático, sobretudo o setor defensivo. Na Copa das Confederações, marcamos muitos gols, mas sofremos outros tantos. No pouco tempo que teve para trabalhar conosco, Hiddink deu atenção especial a nossa defesa – e o resultado foi visto nos dois jogos contra o Uruguai. Agora que teremos mais tempo com ele, deveremos nos preocupar também com o ataque, pois marcamos só uma vez contra os uruguaios. Hiddink conseguiu um bom trabalho com a Coréia do Sul porque teve tempo para preparar o time, situação comple-

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tamente diferente da atual. Esse pouco tempo de preparação e a divisão entre a Austrália e o PSV podem prejudicar o desempenho na Copa? Realmente, não é fácil. Procuramos trabalhar duro nos períodos em que nos reunimos. Além disso, nossos jogadores estão espalhados por todo o planeta, enquanto na Coréia a maioria jogava em casa, o que facilitava a vida dele. Lá, ele ainda teve dois anos inteiros para trabalhar. Por outro lado, o Hiddink sabe do que somos capazes e já deixou claro que as três semanas que teremos juntos serão suficientes para fazermos um bom trabalho. Para você, pessoalmente, o que significará a presença de Hiddink? Não há pessoa melhor para nos ajudar a fazer bonito na Alemanha. Ele sabe o que é estar num Mundial e conhece toda a pressão que envolve a competição. Espero que esteja confiante e que sua experiência de ter disputado as duas últimas Copas e chegado às semifinais nos ajude. A partir deste ano, a Austrália faz parte da Confederação Asiática (AFC). Jogar na Oceania prejudicou o desenvolvimento do futebol em seu país? Sem dúvida. Em geral, jogávamos apenas duas partidas importantes a cada quatro anos, e isso não é o suficiente para uma seleção. Estávamos acostumados a jogar contra os times da Oceania, e – com todo o respeito – eles não estão no mesmo nível que a gente. Ainda tínhamos de jogar contra um sul-americano, em partidas de ida-evolta, para chegar a uma Copa. Disputar as eliminatórias asiáticas ajudará a melhorar nossa seleção, além do Campeonato Australiano. Tenho certeza de que nosso futebol ficará muito mais forte. Você achava justo a Austrália ter de enfrentar uma seleção sul-americana na repescagem da Copa do Mundo? Nem um pouco. Talvez enfrentar o quinto colocado da Ásia tivesse mais a ver. Talvez até o quarto da Concacaf. Sinceramente, estamos tão longe da América do Sul. É injusto! Infelizmente, sempre foi assim, mas, desta vez, fomos bons o suficiente para conseguir a vaga. Provamos a todos que não somos ruins e que temos condições de vencer um time tão tradicional como o Uruguai. Dá para imaginar que, agora, o caminho ficará mais fácil para a Austrália se classificar com mais freqüência para Mundiais? Fácil eu não digo, mas agora teremos mais chances de errar – o que não acontecia antes. Em jogos de ida-e-volta, uma falha pode significar o fracasso. Na zona asiática, mesmo perdendo um jogo você ainda pode se classificar. São mais partidas, o que, de certo modo, até parece mais fácil. Entretanto, as seleções asiáticas estão num bom nível, o que pode complicar. Qual era o ambiente, no vestiário, antes de partidas contra seleções inexpressivas como Vanuatu e Taiti? Era difícil encontrar motivação. Você sabe que o adversário não está no seu nível e que dificilmente haverá alguém no estádio para assistir a um jogo que tem tudo para não ter a menor graça. Mas, por sermos profissionais, sabemos que temos de jogar essas partidas para chegar à Copa do Mundo. Aí, tudo o que você tem de fazer é dar o máximo de si, garantir que não aconteça nenhuma surpresa e vencer com folga.

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66 CHARGE As comparações com Maradona ainda causam pesadelos nas promessas argentinas por Guilherme Jotapê Rodrigues

Não perca na próxima edição! - Perfis de Itália, Holanda, Paraguai, Irã, Croácia, Arábia Saudita e Estados Unidos - Esmiuçamos os detalhes do “Carrossel Holandês” que encantou o mundo em 1974 - Histórias e peculiaridades do futebol em Frankfurt, Stuttgart e Hannover

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TABELA PRIMEIRA FASE

GRUPO A

GRUPO B

GRUPO C

GRUPO D

ALEMANHA

INGLATERRA

ARGENTINA

MÉXICO

COSTA RICA

PARAGUAI

COSTA DO MARFIM

IRÃ

POLÔNIA

TRINIDAD E TOBAGO

SÉRVIA E MONTENEGRO

ANGOLA

EQUADOR

SUÉCIA

HOLANDA

PORTUGAL

10/junho - Frankfurt 10h: Inglaterra x Paraguai 10/junho - Dortmund 13h: Trinidad e Tobago x Suécia 15/junho - Nuremberg 13h: Inglaterra x T. e Tobago 15/junho - Berlim 16h: Suécia x Paraguai 20/junho - Kaiserslautern 16h: Paraguai x Trinidad e Tobago 20/junho - Colônia 16h: Suécia x Inglaterra

10/junho - Hamburgo 16h: Argentina x Costa do Marfim 11/junho - Leipzig 10h: S. Montenegro x Holanda 16/junho - Gelsenkirchen 10h: Argentina x S. Montenegro 16/junho - Stuttgart 13h: Holanda x Costa do Marfim 21/junho - Munique 16h: C. Marfim x S. Montenegro 21/junho - Frankfurt 16h: Holanda x Argentina

9/junho - Munique 13h: Alemanha x Costa Rica 9/junho - Gelsenkirchen 16h: Polônia x Equador 14/junho - Dortmund 16h: Alemanha x Polônia 15/junho - Hamburgo 10h: Equador x Costa Rica 20/junho - Hanover 11h: Costa Rica x Polônia 20/junho - Berlim 11h: Equador x Alemanha

GRUPO E

GRUPO F

GRUPO G

11/junho - Nuremberg 13h: México x Irã 11/junho - Colônia 16h: Angola x Portugal 16/junho - Hanover 16h: México x Angola 17/junho - Frankfurt 10h: Portugal x Irã 21/junho - Leipzig 11h: Irã x Angola 21/junho - Gelsenkirchen 11h: Portugal x México

GRUPO H

ITÁLIA

BRASIL

FRANÇA

ESPANHA

GANA

CROÁCIA

SUÍÇA

UCRÂNIA

ESTADOS UNIDOS

AUSTRÁLIA

CORÉIA DO SUL

TUNÍSIA

REPÚBLICA TCHECA

JAPÃO

TOGO

ARÁBIA SAUDITA

12/junho - Gelsenkirchen 13h: EUA x República Tcheca 12/junho - Hanover 16h: Itália x Gana 17/junho - Colônia 13h: República Tcheca x Gana 17/junho - Kaiserslautern 16h: Itália x Estados Unidos 22/junho - Nuremberg 11h: Gana x EUA 22/junho - Hamburgo 11h: República Tcheca x Itália

12/junho - Kaiserslautern 10h: Austrália x Japão 13/junho - Berlim 16h: Brasil x Croácia 18/junho - Nuremberg 10h: Japão x Croácia 18/junho - Munique 13h: Brasil x Austrália 22/junho - Stuttgart 16h: Croácia x Austrália 22/junho - Dortmund 16h: Japão x Brasil

13/junho - Frankfurt 10h: Coréia do Sul x Togo 13/junho - Stuttgart 13h: França x Suíça 18/junho - Leipzig 16h: França x Coréia do Sul 19/junho - Dortmund 10h: Togo x Suíça 23/junho - Hanover 16h: Suíça x Coréia do Sul 23/junho - Colônia 16h: Togo x França

14/junho - Leipzig 10h - Espanha x Ucrânia 14/junho - Munique 13h: Tunísia x Arábia Saudita 19/junho - Hamburgo 13h: Arábia Saudita x Ucrânia 19/junho - Stuttgart 16h: Espanha x Tunísia 23/junho - Berlim 11h: Ucrânia x Tunísia 23/junho - Kaiserslautern 11h: Arábia Saudita x Espanha * horário de Brasília

FASE FINAL OITAVAS 24/junho - Munique 12h: 1º A x 2º B

OITAVAS

QUARTAS

QUARTAS

30/junho 12h - Berlim

SEMI

24/junho - Leipzig 16h: 1º C x 2º D

FINAL 9/julho 15h - Berlim

4/julho 16h - Dortmund

SEMI

25/junho - Stuttgart 12h: 1º B x 2º A

1º/julho 12h - Gelsenkirchen 25/junho - Nuremberg 16h: 1º D x 2º C

5/julho 16h - Munique 27/junho - Dortmund 12h: 1º F x 2º E

26/junho - Kaiserslautern 12h: 1º E x 2º F 30/junho 16h - Hamburgo

3º LUGAR 8/julho 16h - Stuttgart

1º/julho 16h - Frankfurt

26/junho - Colônia 16h: 1º G x 2º H

27/junho - Hanover 16h: 1º H x 2º G A melhor cobertura da Copa do Mundo você encontra em www.trivela.com

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