Trivela 28 (jun/08)

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O lado B do 1º título do Brasil

MANCHESTER Giggs e Scholes novamente no topo

TRAFFIC Parceira de muitos, noiva de um só

EUROCOPA: Ballack, Toni, Ribéry, Cristiano Ronaldo, Fàbregas, Ibrahimovic... A Trivela apresenta o melhor (e o pior) da competição mais importante do ano capa final.indd 1

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desfile de craques

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ÍNDICE GUIA GRUPO A ..... 44

Suíça Rep. Tcheca Portugal Turquia

...............................................................................................

GRUPO B ..... 46

Áustria Croácia Alemanha Polônia

GRUPO C ..... 48

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GRUPO D ..... 50

Holanda Itália Romênia França

Grécia Suécia Espanha Rússia

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PARCERIAS

Traffic amplia seus negócios, e interesses de parceiros começam a conflitar

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HISTÓRIA

Conheça os 22 homens que viram o título de 1958 bater na trave

Getty Images

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eu fiscalizo a

Copa 2014

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JOGO DO MÊS

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CURTAS

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Reportagem Cassiano Ricardo Gobbet Dassler Marques Gustavo Hofman Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Tomaz R. Alves Consultoria editorial Martinez Bariani Mauro Cezar Pereira Colaboradores Alexandre Haubrich Douglas Skrotzky Eduardo Zobaran João Tiago Picoli Luciana Zambuzi Marcio Kohara Marcus Alves Mauro Beting Rafael Martins

PENEIRA

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OPINIÃO

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TÁTICA Joel Santana

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TÉCNICOS TImes pequenos

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Revisão Luciana Zambuzi

TORCIDAS Rio Grande do Sul

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LIGA DOS CAMPEÕES Man Utd

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Projeto gráfico / Direção de arte Luciano Arnold

INGLATERRA Chelsea

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Design / Tratamento de imagem Bia Gomes

CAPITAIS Viena

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Capa Getty Images/AFP

ARGENTINA Boca x River

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Agradecimento Marcio Bariviera

NEGÓCIOS Red Bull

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CULTURA Torcida à estrangeira

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CADEIRA CATIVA

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A VÁRZEA

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Governo e Congresso não se mobilizam para acompanhar os gastos da organização da Copa do Mundo

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EDITORIAL LC no boteco Que a final da Liga dos Campeões movimente os pubs do mundo afora, incluídos os brasileiros, é normal, ainda mais em um ano em que os dois finalistas são ingleses. Que encha botecos paulistanos às 4 horas da tarde com pessoas comuns loucas para assistir a um bom jogo de futebol, isso sim é uma novidade. Advogados, carteiros e balconistas torcendo para Chelsea ou Manchester, conhecendo os jogadores e, quase sempre, sabendo muito mais sobre eles do que os risíveis apresentadores da TV aberta, tomaram os bares na véspera do feriado de uma maneira que não se vê, por exemplo, em amistosos da Seleção. Tudo bem, amistoso da Seleção não vale nada, e esta partida valia um título importante. Porém, não dá para negar que, hoje em dia, o brasileiro prefere ver as boas jogadas de Cristiano Ronaldo ou Ballack do que as estéreis tentativas dos Gilbertos da vida de justificar as convocações de Dunga. Ninguém espera que, da noite para o dia, o brasileiro abandone sua equipe de preferência para torcer pelos “grandes” europeus. Por outro lado, o contato cotidiano com a qualidade do jogo estrangeiro está tornando o torcedor mais exigente — e mais competente na avaliação. Os clubes brasileiros que se cuidem.

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Editor Caio Maia Editor assistente Ubiratan Leal

ENTREVISTA » WASHINGTON

O artilheiro fala sobre Fluminense, Renato Gaúcho e Seleção Brasileira

www.trivela.com

Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Comercial Marlene Torres marlene@trivela.com (11) 3474-0178 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3528-8612 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Vanessa Marchetti vanessa@trivela.com (11) 3474-0186 Circulação DPA Cons. Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br (11) 3935-5524 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Ibep Gráfica Tiragem 30.000 exemplares

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JOGO DO MÊS por Ubiratan Leal

Inferno RUBRONa despedida de Joel Santana, Flamengo exagera nos festejos e sofre uma das derrotas mais inesperadas de sua história ilêncio profundo. Cerca de 50 mil pessoas estavam no Maracanã, quase todas caladas. E quase todas boquiabertas, incrédulas diante do que viam. O Flamengo conseguia o inimaginável — perder por três gols de diferença para o América, último colocado no Clausura mexicano, no Maracanã e ser eliminado da Copa Libertadores. Mais que isso: em 90 minutos, o Rubro-Negro jogou o mundo pela janela, pelo menos no olhar da torcida. Essa história começou em 23 de abril. Nesse dia, Joel Santana foi anunciado oficialmente como substituto de Carlos Alberto Parreira na seleção da África do Sul. Ainda assim, o técnico se comprometeu a ficar na Gávea até o final do Estadual do Rio e das oitavas-de-final da Libertadores. Era a oportunidade de “Papai Joel” encerrar gloriosamente sua passagem pelo Flamengo, em um trabalho que recuperara os rubro-negros e a própria reputação do técnico. Entre o anúncio da saída de Joel e o jogo contra o América, se passaram duas semanas, nas quais tudo deu certo. Na Libertadores, o Flamengo venceu os mexicanos por 4 a 2 no jogo de ida, mesmo na altitude da Cidade do México. Além disso, os rubro-negros bateram duas vezes o Botafogo e conquistaram o Estadual. O clima era de euforia. Caio Júnior foi anunciado como téc-

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Jorge R. Jorge

NEGRO

FLAMENGO 0x3 AMÉRICA-MEX Data: 7/maio/2008 Local: Estádio do Maracanã (Rio de Janeiro) Público: 47.615 pagantes Árbitro: Alfredo Intriago (Equador) Gols: Cabañas (20min), Esqueda (38min) e Cabañas (77min) Cartões amarelos: Leonardo, Marcinho, Rojas, Esqueda, Rodríguez e Villa Cartão vermelho: Juan

FLAMENGO Bruno; Leonardo Moura, Leonardo, Ronaldo Angelim e Juan; Jaílton (Renato Augusto), Kléberson (Obina), Ibson e Toró; Marcinho e Souza (Diego Tardelli). Técnico: Joel Santana

nico e, na véspera do segundo duelo com o América, declarou que “corria o risco” de ser campeão do mundo. A torcida e, pior, a imprensa – mesmo a séria – entraram no oba-oba e tratavam o jogo de volta da Libertadores como a grande despedida de Joel Santana. Antes de a bola rolar, o técnico recebeu homenagens da torcida e placa da diretoria do clube. Com o início da partida, o Flamengo seguiu em ritmo de amistoso. Tomou a iniciativa preguiçosamente, como se o gol fosse surgir naturalmente. Só que, do outro lado, estava uma equipe disposta a tratar o encontro como jogo oficial – e como o mais importante do ano. O América não foi brilhante, mas estava concentrado e tinha uma estratégia para enfrentar um adversário exageradamente relaxado. Ainda aos 20 minutos do primeiro tempo, em um chute de

AMÉRICA-MEX Ochoa; José Castro, Sebá Domínguez e Ismael Rodríguez; Carlos Alberto Sánchez, Villa, Argüello (Mosqueda), Juan Carlos Silva e Óscar Rojas; Esqueda (Iñigo) e Cabañas (Higuaín). Técnico: Juan Antonio Luna

fora da área, Cabañas abriu o marcador para os mexicanos. O Flamengo continuou deixando a tática de lado e se expôs ainda mais atrás de um empate – afinal, ninguém quer perder em jogo de festa. Minutos mais tarde, em um contra-golpe veloz, Esqueda ampliou a vantagem americanista. Os cariocas ainda tinham a classificação na mão, mas não estavam preparados para jogar “para valer”. O time se desesperou, e seus ataques se tornaram ainda mais estéreis. A 13 minutos do fim do jogo, Cabañas cobrou falta, a bola desviou na barreira e enganou Bruno. América 3 a 0, e Flamengo eliminado. O Mundial ao qual se referiu Caio Júnior virou fumaça. A festa da despedida de Joel Santana transformou-se em tragédia. E o jogo que supostamente confirmaria a classificação rubro-negra entra para a história como o “segundo Maracanazo”.

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PREFEITURA FC

Diário da Manhã

CURTAS por Ricardo Espina

O sucesso do Itumbiara é mais uma prova de como a política romana do “pão e circo” ainda vive. O Tricolor da Fronteira foi um dos clubes que mais se reforçou para o Campeonato Goiano, contratando nomes como o goleiro Sérgio (ex-Palmeiras), o atacante Basílio (exSantos) e o técnico Paulo César Gusmão. Com esse investimento, o time desbancou o favorito Goiás e ficou com o título estadual de 2008. Por trás desse crescimento está José Gomes da Rocha, ex-presidente do clube e atual prefeito de Itumbiara, cidade de 90 mil habitantes localizada 206 quilômetros ao sul de Goiânia. Ele não teve pudor em criar mecanismos legais para injetar dinheiro público no time. Assim, a prefeitura custeia o elenco, e a verba de publicidade no estádio municipal é automaticamente revertida para o clube. Além disso, os itumbiarenses com IPTU e ISS em dia recebem ingressos gratuitos. Para os jogos decisivos do Goiano, a prefeitura disponibilizou ônibus para os torcedores irem a Goiânia. Segundo fontes consultadas pela Trivela, quem foi de carro tinha combustível gratuito. Bastava reabastecer em um posto de gasolina que já estaria avisado de tal privilégio. Não é de hoje, porém, que José Gomes da Rocha mistura política e futebol. Em abril deste ano, o prefeito (filiado ao PP) foi condenado por contratar, em 1996, seis jogadores para o Itumbiara com verba que deveria ser destinada para seu gabinete. Rocha é pré-candidato à reeleição em Itumbiara, mas tem planos ainda mais ambiciosos. No meio político goiano, ele é visto como possível candidato ao governo estadual em 2010. Procurado pela reportagem da Trivela por meio de seu assessor e sua secretária, o prefeito não se pronunciou a respeito. [DM]

“Eu gostaria de contratar qualquer um, mas a torcida não gosta de negros” Dick Advocaat comenta sobre a postura racista dos torcedores do Zenit St. Petersburg.

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milhões

Prejuízo do novo estádio de Wembley em seu primeiro ano de operação. Mesmo com o saldo negativo, a Federação Inglesa considerou o resultado “previsível”.

“Ele não é velho e muito menos gordo. O Cabañas é forte e experiente. Bobo é aquele que pensa o contrário” Emerson Leão alerta para o perigoso atacante do América-MEX.

“Eu me formei na mesma universidade do Mister Parreira: dentro de campo, trabalhando. É ali que se aprende” Joel Santana gasta seu latim na apresentação à seleção sul-africana.

R$ 81.666 Renda da partida Vitória 5x1 Itabuna, que deu o título baiano ao Leão. Desse total, o clube rubro-negro ficou com zero. Isso mesmo, não recebeu nada. A Justiça Federal confiscou o montante como forma de pagamento de dívidas tributárias do clube.

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LIVRE O STJD anulou a punição imposta pelo TJD-PR ao Real Brasil. O clube havia sido suspenso por um ano por irregularidades na documentação de um de seus atletas, escalado em dois jogos do Paranaense deste ano. No entanto, o STJD manteve a perda de 12 pontos da equipe, rebaixada para a segunda divisão. O jogador Erinaldo da Silva Santos usou documentos do irmão Émerson, quatro anos mais novo. O Iguaçu, clube no qual Erinaldo jogou como Émerson, descobriu a farsa e fez uma denúncia. O TJD-PR suspendeu Erinaldo por 900 dias.

O NOVO ÍBIS? O GAS, de Boa Vista, começou a temporada como candidato forte ao título de pior time do Brasil. Pelo Campeonato Roraimense, o GAS perdeu por um humilhante 14 a 1 para o Baré. Jogando em casa! Jorginho (quatro gols), Garrincha e Carlos Alberto (três cada um), Deivid, Filho, Marquinhos e até o goleiro Carlinhos, de pênalti, marcaram para o Baré. O GAS terminou o duelo com oito jogadores em campo, mas isso não serve de justificativa. Em sua estréia, a equipe também havia dado vexame: tomou de 5 a 1 para o São Raimundo.

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Andy Lyons/AFP

PROTESTO

Mesmo tendo disputado a segunda divisão do mineiro, o América-MG participará da Série C do Brasileiro. A presença do Coelho se deve a uma brecha nos critérios estabelecidos pela Federação Mineira (FMF) para indicar seus três representantes no torneio. A primeira vaga foi do Ituiutaba, campeão da Taça Minas Gerais 2007. O Estadual definiu as duas restantes, que foram para Tupi e, de novo, Ituiutaba. No impasse de quem ficaria com uma das vagas do clube do Triângulo Mineiro, a FMF decidiu indicar o América, terceiro colocado da Taça Minas Gerais (o vice foi o Tupi). O Guarani, quinto colocado no Estadual, pleiteava a classificação e se revoltou com a decisão da FMF.

Os jogadores do Levante foram criativos no modo de protestar contra o atraso de salários. No jogo contra o Deportivo La Coruña, em 7 de maio, os atletas vestiram camisetas com frases de protesto e ficaram imóveis após a saída de bola. O Deportivo, solidário, mandou a bola pela linha de fundo. O jogo só começou de forma efetiva com a cobrança do tiro de meta. Rebaixado para a segunda divisão, o Levante perdeu por 1 a 0.

6 + 5 = FURO N’ÁGUA

Alexandre Guzanshe/O Tempo/Futura Press

O Parlamento Europeu votou contra os planos de Joseph Blatter, presidente da Fifa, de limitar estrangeiros nos clubes de futebol. Por 518 votos contra 49, a União Européia rejeitou a regra “6+5”, que obrigaria os clubes a escalarem um mínimo de seis jogadores “nativos”. Para a UE, a regra discrimina com base na nacionalidade, indo contra o livre trânsito de trabalhadores. Blatter cogita colocar o plano em prática por meio de um “acordo de cavalheiros” com clubes e federações, mas a proposta é de difícil aplicação.

CURIOSIDADES DA BOLA • A partida Litoral 4x1 Municipal, pela segunda divisão da Bolívia, teve uma estréia marcante: Evo Morales. O presidente boliviano, de 48 anos, ficou 40 minutos em campo e até deu dois passes para os atacantes. Em março, Morales se inscreveu no Litoral, pertencente à polícia, para defender a prática do futebol em grandes altitudes.

• Lee Thorpe, atacante do Rochdale, da quarta divisão inglesa, entrou para a galeria de lesões mais bizarras do futebol. A equipe viajava de ônibus para enfrentar o Darlington. Thorpe, então, desafiou um colega para um braço-de-ferro. Na disputa, Thorpe fraturou seu braço em três lugares e foi obrigado a fazer uma cirurgia.

Para jogadores e treinadores de países não-pertencentes à União Européia, ficará um pouco mais difícil atuar na Inglaterra. O Reino Unido aprovou uma lei sobre um novo sistema de imigração, pelo qual os estrangeiros deverão ter um bom nível do idioma inglês para ficar no país. A medida tem como objetivo dificultar a entrada de trabalhadores de fora da UE.

Miro Kuzmanovic/Reuters

Uma camisa usada por David Beckham em um amistoso do Los Angeles Galaxy virou motivo de uma disputa judicial. Após a partida contra o Gamba Osaka, em Honolulu (Havaí), o meia inglês jogou sua camisa para a torcida. Dois garotos lutaram pelo uniforme, com o perdedor prometendo ir à Justiça para resolver a questão. Para evitar novos incidentes, a diretoria do LA Galaxy proibiu seus atletas de repetirem o gesto.

VAGA POLÊMICA

• O russo Roman Abramovich, proprietário do Chelsea, virou nome de bebida. Um lituano registrou “Abramovich” como marca de vodca no Reino Unido. O dono dos Blues “estampa” outra marca de vodca russa, chamada “Oligarch”, que já contou com as imagens dos ex-presidentes Mikhail Gorbatchev e Vladimir Putin em seus rótulos.

THE BALL IS ON THE PITCH

CAMISA DA DISCÓRDIA

LIECHTENSTEIN EM FESTA O Vaduz, clube mais tradicional de Liechtenstein, disputará a primeira divisão suíça na próxima temporada. A equipe participa de ligas suíças desde 1932 e assegurou a inédita promoção ao ficar com o título da segunda divisão. Pelo acordo firmado entre o Vaduz e a federação suíça, mesmo se terminar a Superleague em primeiro lugar, o time não será campeão suíço, tampouco terá vaga em competições européias. A equipe só disputa a Copa Uefa se vencer a Copa de Liechtenstein, o que ocorreu nos últimos 11 anos.

ERRAMOS Na reportagem “O dilema da camisa 10” (abr/08, pág 38), está escrito que o gol de voleio de Zidane empatou a final da Liga dos Campeões 2001/2 entre Real Madrid e Bayer Leverkusen. Na verdade, o jogo estava 1 a 1 e o gol do francês recolocou os Merengues na frente. Na reportagem “Reformular, mudar ou mudar de vez?” (mai/08, pág 37), está escrito que Fagner estreou no Corinthians em jogo contra o Fortaleza em 2005. Ele estreou, de fato, contra o time cearense. Mas a partida foi em 2006.

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zebras em Eurocopas por Tomaz R. Alves

Antes do torneio, a expectativa era que a Grécia se contentaria em não ficar com o último lugar no grupo A. Mas os gregos não só passaram de fase como ainda derrotaram França, República Tcheca e os anfitriões portugueses para ganhar o título.

2 Dinamarca campeã (1992) Os dinamarqueses só disputaram a Euro-1992 porque a Iugoslávia, que ficou na sua frente nas eliminatórias, estava em guerra civil e foi suspensa da competição. Para surpresa geral, a Dinamarca superou França, Inglaterra, Holanda e Alemanha e foi campeã.

3 Luxemburgo elimina a Holanda (1964)

EUROCOPA 2012 O comitê de organização da Euro-2012 escolheu a Archasia, escritório de projetos de Taiwan, para modernizar o Estádio Olímpico de Kiev, o mais importante da Ucrânia, no torneio que será organizado em conjunto com a Polônia. Não foram divulgados valores oficiais, mas a imprensa internacional estima que as obras custem em torno de US$ 300 milhões. A empresa asiática construiu o Estádio Olímpico de Sochi, na Rússia, para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2014.

A Holanda esperava golear os luxemburgueses. Mas isso não aconteceu. Jogando as duas partidas em solo holandês, Luxemburgo arrancou um empate e uma vitória e passou às quartas-de-final – onde deu trabalho à Dinamarca.

4 Itália em quarto nas eliminatórias (1984) Campeã mundial em 1982, a Itália caiu num grupo complicado nas eliminatórias para a Euro seguinte, junto com Romênia, Suécia e Tchecoslováquia. E deu vexame: ficou atrás dos três principais adversários, ganhando só um de seus oito jogos.

5 Bélgica vice-campeã (1980) Num grupo que tinha a anfitriã Itália e as tradicionais Inglaterra e Espanha, a Bélgica não teria chance, certo? Errado. Os belgas ficaram em primeiro lugar na chave, o que lhes valeu um lugar na final, onde perderam para a Alemanha Ocidental.

6 Alemanha eliminada pela Albânia (1968) A Euro-1968 foi a última competição importante que a Alemanha não disputou. E foi um vexame: nas eliminatórias, bastava vencer a Albânia na rodada final para avançar. A equipe, porém, não saiu do 0 a 0 e viu a Iugoslávia seguir em frente.

7 Letônia na Eurocopa (2004) Quando começaram as eliminatórias, a Letônia ocupava o 40º lugar entre os europeus no ranking da Fifa. Daí a surpresa quando superou Polônia, Hungria e Turquia para chegar à Euro, onde ainda conseguiu empatar com a Alemanha.

Divulgação

Soriano/Fife/AFP

1 Grécia campeã (2004)

PULGA ATRÁS DA ORELHA A seleção espanhola está preocupada com o risco de contrair doenças na disputa da Euro. A comissão técnica da Fúria alertou para o perigo da encefalite centro-européia, transmitida por uma pulga e que afeta o sistema nervoso. A doença tem sintomas semelhantes aos da gripe, mas o paciente pode sofrer paralisia e até mesmo morrer se não for tratado a tempo.

MOTIVAÇÃO MUSICAL O técnico Slaven Bilic encontrou outra forma para incentivar seus jogadores e a torcida da Croácia na Eurocopa. Guitarrista da banda de rock Rawbau nas horas vagas, o treinador gravará uma espécie de hino para os croatas. A música, intitulada “Alegria Ardente”, foi composta pelo próprio Bilic e terá um clipe financiado pela Zagrebacka Pivovara, fabricante de cerveja local.

8 Vexame da França (1988) Campeã européia em 1984 e semifinalista da Copa de 1986, a França nem se classificou para a Eurocopa seguinte: com uma vitória em oito jogos, ficou em terceiro lugar no grupo das eliminatórias, atrás de União Soviética e Alemanha Oriental.

9 Ilhas Faroe vencem a Áustria (1992) No primeiro jogo oficial de sua história, as Ilhas Faroe receberam a tradicional Áustria. E, por incrível que pareça, venceram por 1 a 0! Na mesma campanha, os faroenses ainda arrancaram um empate com a Irlanda do Norte.

Com um time que não foi nem para a Copa de 1974 nem para a de 1978, os tchecoslovacos ganharam a Eurocopa em 1976. E fizeram isso derrotando a Holanda de Cruyff na semifinal e batendo a Alemanha Ocidental na decisão.

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Stringer/AFP

10 Tchecoslováquia campeã (1976)

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DESFALQUES

“So um dos técnicos “Sou mais democratas mai que já passaram pela Federação Portuguesa. São eles Por quem dizem isso” que

Alguns jogadores terão que se contentar em assistir à Eurocopa opa pela televisão. Devido a problemas físicos, eles não terão condições de entrar em campo e defender suas seleções no torneio continental. Veja algumas das principais baixas: Lesão

A M D D M A M

Croácia Romênia Itália República Tcheca República Tcheca Itália Suíça

dupla fratura raa na n perna joelho joelho joelho joelho coxa joelho

NUDEZ NÃO CASTIGADA Palco da final da Euro-2008, o estádio Ernst Happel, em Viena, recebeu um artista diferente. O fotógrafo norte-americano Spencer Tunick reuniu 2.008 pessoas, em referência ao ano de realização do torneio continental, para uma sessão de fotos. Detalhe: todos os presentes estavam nus. Tunick realizou um trabalho parecido em São Paulo, em 2002. As fotografias serão expostas a partir de 23 de junho, na fachada do Museu Kunsthalle, na capital austríaca.

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Eduardo da Silva Ovidiu Petre Massimo Oddo Radek Sirl Tomas Rosicky Vincenzo Iaquinta Xavier Margairaz

Luiz FFelipe Scolari, sobre sua reputação diante dos chefes. reputa

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França Alemanha Suíça República Tcheca Suíça

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Abou Diaby Bernd Schneider Blaise Nkufo Daniel Pudil Fabio Coltorti

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Jogador

milhões

Prêmio total reservado às 16 seleções Prê participantes da Euro-2008. Por Po entrar em campo, cada federação le leva € 7,5 milhões, mesmo valor que gan ganha o campeão. O resto do dinheiro será distribuído por vitórias e passagens de fase.

DEDO-DURO -DURO A Uefa usará sará imagens ens de TV para ara ppunir jogadores por violência ou reclamação. “Os jogadores que protestarem devem saber que os principais envolvidos, incluindo quem se unir à ação, receberão cartão amarelo”, informou a entidade, que orientou os árbitros a expulsar quem fizer uso excessivo da força ou usar braços e cotovelos para levar vantagem na disputa de bola.

DICIONÁRIO DE BOLA A Uefa lançou um dicionário com as expressões mais comuns do futebol. A obra contém cerca de 2 mil expressões em três idiomas (inglês, francês e alemão), referentes ao jogo em si, estádios, segurança, equipamento, termos médicos, imprensa, gestão e administração. A editora alemã Langenscheidt foi a responsável pela publicação.

Em junho na • Transmissão ao vivo dos 31 jogos

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“Se o desempenho na Eurocopa não estiver à altura, sairei imediatamente” Roberto Donadoni, deixando claro que nem ele leva muito a sério a renovação de contrato com a seleção italiana até 2010.

3 mil Número de soldados destacados pelo Ministério de Defesa da Áustria para realizar a segurança da Eurocopa. Eles ajudarão a polícia e terão equipamentos até para enfrentar ataques com armas químicas.

ESPECIAL EURO-2008 • Vídeos e entrevistas direto da Suíça e Áustria

• Ficha de todos os estádios e árbitros • O craque de cada uma das edições do torneio

• Nova área de áudio e vídeo

• O futebol de cada país: 16 matérias especiais para você saber um pouco mais sobre como está o esporte em cada um dos participantes

• Entrevistas exclusivas

• Newsletter “A Várzea” diária

• Perfis das 16 seleções

• História: Vinte anos da Holanda de Van Basten e Gullit

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PENEIRA

DEFOUR: perigo para o Brasil

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na distribuição de jogo e preciso nos arremates de pé direito, ele logo conquistou seu espaço na equipe dirigida pelo exgoleiro Michel Preud’homme. Apesar da pouca idade, Defour mostrou liderança e foi nomeado capitão no início da temporada 2007/8, substituindo o português Sérgio Conceição, um símbolo do clube. Estabelecido como maestro do Standard, ajudou o time a levantar seu primeiro título nacional em 25 anos. Antes do jogo que confirmou a conquista – vitória por 2 a 0 sobre o Anderlecht –, o meia foi premiado com a Chuteira de Ouro por Zinedine Zidane. Nada mal. [LB]

Nome: Steven Defour Nascimento: 15/abril/1988, em Mechelen (Bélgica) Altura: 1,73 m Peso: 64 kg Carreira: Genk (2004 a 2006) e Standard Liége (desde 2006) Eric Lalmand/AFP

Bélgica sabe que terá uma missão difícil em sua estréia no torneio olímpico de 2008, contra o Brasil. No entanto, a seleção canarinho também tem um motivo para se preocupar: Steven Defour. O meia do Standard Liège é uma das prováveis apostas dos Diablotins na competição e chega com a credencial de quem foi coroado melhor jogador da Bélgica aos 20 anos de idade. Defour começou a carreira nas categorias de base do Mechelen, em sua cidade natal, mas se profissionalizou pelo Racing Genk. Aos 17 anos, já era titular da equipe e começava a despertar o interesse de clubes maiores. Em 2006, depois de uma negociação frustrada com o Ajax, foi para o Standard. Criativo

GARAY: xerife de Santander

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Nome: Ezequiel Marcelo Garay Nascimento: 10/outubro/1986, em Rosário (Argentina) Altura: 1,89 m Peso: 83 kg Carreira: Newell’s Old Boys (2004 e 2005) e Racing de Santander (desde 2005)

bero /AFP

O

de atuar como líbero e até como lateral-direito. Apesar da pouca idade, tem versatilidade, boa colocação e espírito de liderança. Além disso, já ganhou o status de cobrador principal de pênaltis e faltas da equipe. Ainda falta velocidade e constância ao defensor, o que não o impediu de receber chances na seleção argentina e ter seu nome incluído na lista de compras de clubes como Real Madrid, Barcelona, Liverpool, Manchester United e Juventus. Méritos para os olheiros do Racing, que descobriram o rosarino antes mesmo dos argentinos. [UL]

Nacho Cu

Racing de Santander foi a grande surpresa do Campeonato Espanhol 2007/8. Os cântabros, tradicionais ocupantes da parte de baixo da tabela, disputaram uma vaga na Liga dos Campeões até a antepenúltima rodada. Muito disso se deve a uma sólida defesa, que tinha como principal pilar o jovem argentino Ezequiel Garay. A explosão do zagueiro surpreende até seus conterrâneos. O jogador foi revelado pelo Newell’s Old Boys, mas fez apenas 13 partidas profissionais antes de ir para a Espanha, em julho de 2005. Boa parte da Argentina só o descobriu depois que se tornou titular absoluto em Santander, na temporada 2006/7. O modo como Garay tomou conta da defesa racinguista impressiona. O argentino joga no miolo de zaga, mas poJunho de 2008

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PONTO DE BOLA por Mauro Beting

O alívio do povo - NÃO SINTO ALEGRIA por um gol de meu time. Sinto alívio. A frase é para debate em simpósio de psicologia. Mas é um desabafo alegre (a contradição não é paradoxo no futebol) do treinador Muricy Ramalho. Ótimo meia nos anos 1970, só não foi ainda mais longe na carreira pelas contusões nos joelhos. Treinador dos mais competentes e vitoriosos desde 1994, ele é daqueles tarados por futebol. A bola rola na TV, Muricy dá audiência. Vê tudo quanto é jogo. Por prazer, até quando o jogo arria as meias e irrita os olhos de quem vê. Também por dever de treinador que gosta de aprender e conhecer rivais e/ou possíveis comandados. Muricy, como tantos, também sabe que tem muita gente que sabe pouco e manda muito. Cartolas que mandam técnicos embora no primeiro tropeço. Por isso, o alívio em vez da alegria de um gol. Por isso, saber que não basta saber e traba-

lhar – é preciso que seus atletas ganhem os jogos para que ele continue ganhando seu salário, que é proporcional à cobrança nem sempre equilibrada e justa. Eduardo Galeano, escritor uruguaio que conhece os caminhos não escritos da bola, disse que “a história do futebol é uma triste viagem do prazer ao dever”. Antecipou o que sente Muricy. E o que, por tabela, infelizmente sentimos nós, torcedores, quando vemos técnicos e times sofrendo em vez de celebrando. Na primeira rodada do BR-08, o técnico Alexandre Gallo deixava o Canindé bufando. O time dele empatara uma derrota por 5 a 2 para a Portuguesa, com dois gols nos últimos quatro minutos. Motivo de glória para o torcedor, de desespero para o treinador: - Nós não podemos tomar cinco gols em uma partida. Não que não tenha razão o técnico. Mas o gosto do jogo parece passar cada vez

AMARCORD Taticamente, foi um dos melhores times que vi no Brasil neste século. Marcava lá em cima, no alto, e não deixava o rival respirar. O Grêmio de Mauro Galvão, Zinho, Marcelinho Paraíba. Campeão gaúcho e da Copa do Brasil-01. O time que ganhou a final contra o Corinthians de Luxemburgo, no Morumbi. Embalado pela frase do treinador Tite, no momento em que a equipe subia ao gramado: - Divirtam-se.

mais longe dos assoberbados treinadores. Tão cobrados são, tanto cobram dos seus, tanto exigem de tudo, que parecem não ter mais gosto pelo jogo. Parecem até aqueles críticos de cinema que odeiam cinema, aqueles críticos musicais que detestam música (e você está me entendendo e não preciso ir além na autocrítica). Um futebol tão compromissado, tão burocrático, tão exigente, dá nisso. Jogase. E poucos jogadores se divertem. Por tabela, pouco divertem. A observação de Johan Cruyff, em 1999, para o volante Albertini, do Milan, vale para muitos atletas/modelos/empresários de hoje: - Albertini era um menino no time de Arrigo Sacchi que jogava sorrindo. Hoje, dez anos depois, parece que ele vai chorar em cada bola dividida. O futebol está muito triste. Ou seriam os futebolistas e seus agentes, de dentro e de fora do campo? Talvez um pouco de tudo. Até porque, se você tem a sorte de trabalhar em algo que realmente gosta, nem assim consegue escapar das pressões de chefes e mercados. É próprio de nosso mundo. Mas quando o próprio divertimento vira um suplício, quando o prazer é só dever, poderíamos tentar parar a bola para pensar, como um meia-armador que organiza o time e o jogo... Enfim, como alguém que não existe mais. E, agora, a gente entende um pouco mais do nosso dever. Junho de 2008

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ENCHENDO O PÉ por Caio Maia

Pelo boicote a Pequim EM 4 DE JUNHO DE 1989, o governo chinês reprimiu, com dureza, manifestações pró-democracia no país, no incidente que entrou para a história como o Massacre da Praça da Paz Celestial. Naquele momento, a China começava a despontar como a força econômica que seria em breve, mas, talvez porque suas relações econômicas e políticas com o chamado “mundo ocidental” ainda estivessem aquecendo, a violência recebeu destaque no mundo inteiro, e o governo chinês foi duramente criticado por quase todos. Isso, entretanto, faz 20 anos. De lá para cá, a China tornou-se “o” parceiro comercial que todos querem. Seus produtos, independentemente da qualidade muitas vezes duvidosa, recebem as etiquetas das maiores marcas do planeta. Sua economia “bomba” a economia mundial, a ajuda a sustentar um ciclo de super-consumo, principalmente nos Estados Unidos, mas também no restante do mundo ocidental. Esse quadro tornou bem mais modestos os protestos depois que manifestações por independência e maior liberdade no Tibet foram mais uma vez reprimidas. Não dá para imaginar que qualquer outro país do mundo seria perdoado por atitudes como as chinesas. Por menos que isso, Cuba é mantida em isolamento do mundo. Sim, Fidel Castro era um ditador sanguinário, e nenhum ditador pode ser perdoado com base em suas supostas “boas intenções”. Mas o que é que o diferenciava dos chineses a não ser a barba? Pelo jeito, a “comunidade olímpica” não se preocupa muito com isso. A selvageria praticada contra o povo tibetano durante a passagem da tocha olímpica por diversos locais do mundo só não foi mais chocante porque, além de torturar, o governo chinês censura, ou seja, não é possível saber a extensão do que foi feito a quem ousou atrapalhar a imagem da China “moderna” que os descendentes de Mao querem mostrar ao mundo. E é aí que esporte e política se misturam. Não é de hoje que os Jogos Olímpicos são um instrumento de propaganda de regimes e governos. Por conta disso, o doping corria solto, por exemplo, na Alemanha Oriental – e parece correr solto nos EUA, embora isso só se prove anos depois. Por conta disso, Fidel sempre fez questão de gastar um dinheiro que Cuba não tinha para bancar delegações esportivas. E é só por conta disso que o governo chinês fará o impossível para que suas equipes conquistem mais medalhas que qualquer outra nação nos jogos deste ano. A imprensa não deveria participar disso. Não deveria contribuir para construir uma imagem mistificada de um regime que tortura, mata e censura. Isso

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não é uma questão de política, mas de respeito ao ser humano. E a Trivela não participará. Cabe à imprensa, porém, informar, e cabe à Trivela informar sobre o que acontece no futebol mundial. Foi o que disseram nossos leitores, quando consultados em enquete. Nossa opção, portanto, é a de noticiar o esporte, mas não o evento. Não haverá na Trivela nenhuma menção a “Pequim-2008”, ou a nada que não se refira estritamente aos jogos de futebol. Imaginamos, dessa maneira, cumprir nossos dois compromissos como meio de comunicação: informar e não se furtar de protestar contra qualquer abuso contra a humanidade.

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MARACANAZO por Mauro Cezar Pereira

Um bom jogo não depende de muitos gols O QUE SERIA o tal futebol espetáculo? Uma partida recheada de Denílsons, Kerlons, Valdívias e outros jogadores hábeis no manejo da pelota? Um cotejo no qual tais astros ais variadas forequilibram a redonda das mais beça, calmas, com os pés, ombros, cabeça, al canhar? Seria um comercial da Nike gravado num aeroporto? Talvez seja um jogo cheio de gols. Como o 5 a 5 entre Portuguesa e Figueirense no começo do Brasileiro deste ano. Para mim, futebol espee. táculo é um negócio diferente. Um jogo no qual duas equipess duerigam lam durante os 90 minutos. Brigam por cada centímetro, travam uma disputa acirrada pela bola. Um confronto equilibrado, com lancess disputados, divididas, pouco espaço e alguns homens em ação que, mesmo em meio a todas essas adversidades, escravizam a pelota, como o diria Moraes Moreira. E não nsfazem isso apenas para demonstrar habilidade ou esnobar o inimigo, mas para derrotá-lo. Jogos cheios de gols são di-vertidos, legais, sem dúvida emocionantes, gosto de vêlos, claro. Podem até ser tecnicamente bons, embora, naa m maioria das vezes, confirmem fesas. apenas a mediocridade das defesas. gnifiMas “chuvas de gols” não signifipetácam obrigatoriamente bons espetáculos. Futebol não é basquete, vôlei ou handebol, em que o ponto acontece a toda hora. No ludopédio o gol ma ser tem maior valor porque costuma sofrido, arrancado na força, naa técnica, na habilidade, como for.

Você duvida? Brasil x Inglaterra foi o jogaço da Copa de 1970. Um embate inesquecível entre os campeões de 1966 e os que levantariam a taça dias depois. Em 1958, a vitória brasileira mais suada produziu um dos mais belos gols entre os mais de 1,2 mil assinados pelo “Rei” Pelé. Foi o único grande momento das Copas em que o País de Gales apareceu. Como coadjuvante, naturalmente. Os palmeirenses não esquecem o tento de Ronaldo que adiou o sonho do título corintiano em 1974. Adiou por três anos, até que Basílio chutou para as redes da Ponte Preta e a “Fiel” voltou a festejar após 23 duras temporadas. A cabeçada de Rondinelli na decisão com o Vasco no carioca de 1978 ficou gravada na memória dos torcedores do Flamengo. Dez anos depois, Cocada se transformou em herói cruzmaltino ao marcar, também em final estadual, contra o odiado ri rival, antes batido em dois FlaFlus decisivos seguidos pelo “ca “carrasco” Assis. O Botafogo encerro encerrou o jejum de títulos ao superar os mesmos fla flamenguistas em 1989, graças a M Maurício. Quase duas décadas antes, o Atlético Mineiro ganhou o primeiro Brasileiro justamente em cima dos alvinegros cariocas, em 1971. O Inter também entrou no grupo dos campeões nacionais ao bater o Cruzeiro, qua quatro anos depois. O time Celeste, por sua vez, cravou o maior público do Mineirão na Libertadores — 95.472 — quando foi campeão pela segunda vez, em 1997, diante do Sporting Cristal. Outro brasileiro com dois títulos sul-americanos, o Grêmio desperta mais orgulho nos torcedores pela “Batalha dos Aflitos” em 2 2005. Exatos 22 dias depois, out outro tricolor, o paulista, triunfar faria diante do Liverpool. Era seu terceiro Mundial. T Todos esses jogos terminaram com o placar de 1 a 0. E vamos escr escrever mais e mais textos sobre eles eles, homenagens se repetirão, lem lembranças jamais irão se apagar, reco recordações continuarão passando como filmes. E não nos cansam samos de ver. Quanto ao tal 5 a 5, ffica no folclore. O futebol é tão bom bom, tão legal, que sequer depende d de muitos gols para criar jogos fan fantásticos, inesquecíveis. Junho de 2008

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TÁTICA por Dassler Marques

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A PRANCHETA F R I C A N A

Joel Santana construiu a carreira com base em esquemas conservadores, um estilo que terá de mudar na seleção sul-africana montada pelo pragmático Carlos Alberto Parreira

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Fluminense 95 Movimentação de Aílton e Leonardo foi a principal diferença do 4-2-2-2 de Joel no Flu

Joel foi para Gávea e repetiu a fórmula padrão do futebol brasileiro nos anos 90

A

A

A

A

Leonardo

Renato Gaúcho

Sávio

Romário

ME

MD

Rogerinho

Aílton

ME

MD

Nélio

Marques

V

V

V

V

Márcio Costa

Djair

Mancuso

Márcio Costa M

LE Lira

2

Flamengo 96

Z

Z

Sorlei

Lima

LD

LE

Ronald

Gilberto

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Ronaldão

Jorge Luís

G

G

Wellerson

Roger

LD Zé Maria

G: goleiro / LD: late lateral-direito / LE: lateral-esquerdo / Z: zagueiro / V: volante / M: meia / -direito / ME: meia-esquerdo / A: atacante MD: meia-direito

oel Natalino Santana sempre foi de topar desafios. Foi assim com equipes em crise ou de baixo potencial, como o Corinthians em 1997, o Vitória em 2003, o Brasiliense em 2005 e até o Flamengo em 2007. Assim, substituir Carlos Alberto Parreira na seleção sulafricana não deveria ser tão complicado. Uma série de fatores, porém, pode dificultar a adaptação de Joel. Nos 16 meses em que ficou na África do Sul, Parreira foi além da montagem de uma equipe. O treinador tornou-se figura constante nos estádios do país, acompanhou os clubes locais e estabeleceu como prioridade a construção de um grupo de trabalho, testando mais de 60 atletas. Além disso, percebeu que os jogadores sul-africanos só amadurecem perto dos 25 anos, por deficiência na formação. Por isso, incentivou o investimento dos clubes locais nas categorias de base. Joel se diz ciente do desafio. “O Parreira tem me ajudado muito. Ainda estou me organizando, mas sei que vou dar seqüência ao trabalho”, disse o treinador, com seu entusiasmo característico, um dia após a eliminação do Flamengo na Libertadores. Para facilitar a transição, o técnico terá o mesmo auxiliar de Parreira, Jairo Leal, e diz que manterá a linha do antecessor — o que também significa uma mudança no estilo do ex-técnico do Flamengo. O responsável por comandar a seleção anfitriã da próxima Copa nunca se vendeu como um especialista em estudos táticos, justamente o ponto forte de Parreira. Pelo histórico, Joel se revela conservador na montagem das equipes. Basta ver como jogavam os times em que teve mais sucesso. Em 1995, o técnico levou um discreto Fluminense ao título estadual em cima de um milionário Flamengo. Para isso, usou um 4-2-2-2 convencional. O meiocampo tinha um volante mais defensivo, Márcio Costa, e um mais técnico, Djair, que tinha liberdade para avançar. Um pouco à frente, Aílton, caindo mais pela ponta, e Rogerinho, fechando pelo meio, organizavam o jogo. No ataque, Leonardo abria para a esquerda, enquanto Renato Gaúcho ficava mais enfiado no meio. Um ano depois, Joel teve outro trabalho bem sucedido, dessa vez, no Flamengo. E, Junho de 2008

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Rudy Trindade/Futura Press

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Flamengo 2008 Jaílton não é bem zagueiro, mas libera Léo Moura. Ibson, recuado, é quase um volante

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África do Sul 2008 O legado de Parreira é um time que, muitas vezes, atua no 4-4-1-1 com laterais ofensivos

A

A

Souza

McCarthy

A Marcinho

M

A

Ibson

Moriri

V LE Juan

LD

Cristian Zé Maria

V

ME

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V

MD

Tshabala

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Mooise Mo

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Ronaldo Angelim

Fábio Luciano

Jaílton

LE Masilela

Z

Z

Mokoena

Morris

G

G

Bruno

Khuné

LD Moon

novamente, usou o 4-2-2-2. Na Gávea, Joel tinha bons nomes na defesa, especialmente com os laterais Zé Maria e Gilberto. O argentino Mancuso e Márcio Costa, exFlu, não poupavam esforços na marcação para permitir que os quatro homens de frente – Marques e Nélio nas meias, Sávio e Romário no ataque – jogassem soltos. O quarteto foi fundamental para dar ao Rubro-Negro o título estadual invicto. No Campeonato Brasileiro, porém, a campanha foi bastante discreta: 13º lugar. Apesar desse histórico no 4-2-2-2, Joel Santana usou um sistema de jogo diferente em seu último trabalho marcante. No ano passado, o treinador ajudou o Flamengo a sair da zona de rebaixamento do Brasileirão e, com uma recuperação empolgante, terminar em terceiro lugar. Ainda venceu o Estadual do Rio de 2007, feito que serve de atenuante para a despedida melancólica da Gávea, com derrota e eliminação contundente para o América do México, na Libertadores. Nessa equipe, Joel soube aproveitar o potencial ofensivo dos laterais Léo Moura e Juan. Para isso, teve de montar um meio-campo com força de marcação. Ibson, Toró e Cristian marcavam e saíam para o jogo com a mesma naturalidade. Jaílton ficava um pouco atrás para garantir cobertura para os laterais. Na prática, o time jogava num 3-4-1-2. Na África do Sul, nenhum desses sistemas de jogo se encaixa no que Parreira vinha fazendo. Joel comentou que a tendência é manter a formação utilizada pelos sul-africanos na vitória por 3 a 0 sobre o Paraguai, em março deste ano. Nessa partida, os Bafana Bafana jogaram no 4-4-1-1. Nesse esquema, o meia-atacante Moriri fica à frente da linha de meiocampo e McCarthy é a melhor opção para único atacante. Para Joel, há uma situação familiar: os dois laterais, Moon e Masilela, têm liberdade para atacar como Léo Moura e Juan no Flamengo de 2007 e 2008. Se souber usar as dicas de Parreira e Jairo Leal, a adaptação de Joel será mais rápida. Daí, ele terá mais condições de usar sua principal virtude: a capacidade de construir um bom ambiente no elenco. O desafio é grande, mas o ex-técnico do Flamengo não perde o otimismo. “Até com categoria de base nos Emirados Árabes eu já trabalhei. Nada me assusta, vamos em frente”. Então, boa sorte. Colaborou Marcus Alves

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ENFIM

Jorge R. Jorge

ESTR

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ENTREVISTA RR WASHINGTON por Gustavo Hofman Fluminense começou o ano na expectativa de ter um trio de ataque irresistível. Aos poucos, a esperança se desmanchou. Leandro Amaral voltou ao Vasco após batalha judicial. Dodô ficou muito tempo contundido. Restou Washington. E o brasiliense não decepcionou: fez nove gols no Estadual do Rio – foi vice-artilheiro da competição – e cinco na Libertadores, até aas quartas-de-final. agra aos Tricolor, que só conta com o artilheiro do último Mundial de Clubes O desempenho agrada porque o time foi rápi rápido ao procurá-lo. “Tive várias propostas, inclusive de outros grandes clubes brasileiros. Mas já tinh tinha compromisso com o Fluminense, que foi o primeiro a chegar”, conta. d Laranjeiras, que conta com um atacante com histórico confiável de Bom para o clube das gols, que pode ajudar Renato Gaúcho, segundo o próprio atacante, um bom técnico que está melhorando. “O pesso pessoal acha que ele é marrento, mas não é verdade. Ele tem um bom coração”, comenta. “Ele ainda va vai aprender muita coisa, mas o começo de carreira tem sido muito bom”. mome Além de seu momento no Fluminense, Washington falou, em entrevista à Trivela, sobre o início da carreira e como lidou com os problemas no coração que quase encerraram sua carreira carreira. E ainda diz qque teria mais chances na Seleção se não tivesse feito parte do grupo que ficou apenas com a quarta posição na Copa das Confederações de 2001.

O

R ELA Washington admite que demorou, mas finalmente se vê como destaque em um grande clube brasileiro. E acha que merecia ter recebido mais chances na Seleção

Você estava meio esquecido no Brasil depois de três anos no Japão, até que veio o Mundial de Clubes de 2007. Aquele torneio foi importante para você? Foi muito bom, até porque foi meu primeiro Mundial e fui artilheiro, à frente de jogadores como Inzaghi, Palermo e Kaká. Além disso, mostrou o bom nível técnico do Urawa e do futebol japonês. Ficamos em terceiro, mas, se não pegássemos o Milan na semifinal, teríamos ido para a decisão. O Boca Juniors não jogou bem e tínhamos chance de ganhar deles. Na época, já se falava que o Fluminense o traria de volta ao Brasil. Mas, depois do Mundial, você recebeu muitas propostas? Tive várias. Uma dos Emirados Árabes era muito boa. O Urawa também queria que eu continuasse no Japão. De times brasileiros, São Paulo, Palmeiras e Cruzeiro demonstraram interesse. O Corinthians também, mas depois parou. Mas priorizei o Fluminense, que tinha feito uma proposta bem antes e contava com um patrocinador disposto a ajudar a montar um time forte para a Libertadores. Havia uma grande expectativa no Fluminense com relação ao trio Washington, Dodô e Leandro Amaral. Até falou-se em “três tenores”. Esse clima não atrapalhou um pouco? Não acho. Na verdade, o time engrenou e, com nós três, estava indo bem no Carioca. Na Libertadores, não houve a oportunidade de jogarmos os três juntos. Daí, o time deu uma pequena caída,

mas continuou indo bem. O único problema real que tivemos foram as duas derrotas para o Botafogo no Estadual, nas semifinais da Taça Guanabara e na final da Taça Rio. Ou seja, o time caiu mesmo de produção quando o Dodô saiu por contusão e o Leandro deixou o time pela disputa judicial com o Vasco. Os jogadores do Fluminense ficavam apreensivos com a situação indefinida do Leandro Amaral? A gente conversava com ele sempre, perguntava como ia ser. E nem ele tinha idéia de qual seria seu destino. Às vezes a decisão era a favor dele, às vezes contra. Foi complicado. Como é trabalhar com um técnico como o Renato Gaúcho? É bom. O pessoal acha que ele é meio marrento, mas não é verdade. Ele tem um bom coração, sabe ouvir, sabe lidar com os jogadores, tem uma liderança forte. Ele ainda tem muito a crescer como treinador, vai aprender muita coisa, mas o começo de carreira tem sido muito bom. E ele quer continuar crescendo, até porque almeja, no futuro, treinar a Seleção. Há algum ressentimento entre você e ele, após aquele episódio do pênalti na final da Taça Rio? [Washington desperdiçou um pênalti. Na entrevista coletiva após o jogo, Renato disse que os cobradores mais preparados eram Gabriel ou Thiago Neves]

Não, não tem problema. No final das contas, o Fluminense teve dificuldades nos clássicos do Estadual Junho de 2008

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Kazuhiro Nogi/AFP

do Rio. Que expectativa isso deixa para o time no Campeonato Brasileiro? Na verdade, fomos mal só contra o Botafogo. Por isso, a expectativa é a melhor possível para o Brasileirão. Somos uma das equipes favoritas, junto com São Paulo, Cruzeiro e Internacional. Claro que, no começo, jogamos com o time reserva por causa da Libertadores. Mas temos condições de fazer um grande campeonato. Você chegou ao Fluminense aos 33 anos, já com uma carreira consolidada. Por que demorou tanto para se destacar em um grande centro? É bem curioso, se bem que eu considero Ponte, pela torcida, e Atlético-PR, pela estrutura, times grandes. De qualquer forma, acho que fiquei muito tempo no Caxias e ainda tive uma lesão grave. Eu era emprestado e voltava, até o dia em que o Caxias decidiu me vender. Foi quando comecei a me destacar. Depois disso, todas as vezes que eu tive oportunidade de ir para um time grande de Rio e São Paulo, eu acabei saindo do país. Da Ponte eu fui para o Fenerbahçe e, depois do Atlético-PR eu fui para o Japão. Mas você teve oportunidades em Inter e Grêmio. Por que não deu certo? Foram algumas coincidências infelizes. Eu estava prestes a assinar um contrato

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É sempre bom estar na Seleção, mas, naquela situação, especificamente na Copa das Confederações de 2001, atrapalhou com o Grêmio quando o time foi campeão brasileiro, em 1996. Eles precisavam de um centroavante para substituir o Jardel, que tinha sido vendido, e iam me contratar. Estava quase tudo acertado, mas rompi os ligamentos do tornozelo em um jogo da Série C pelo Caxias, e o Grêmio desistiu. Na época, o treinador do Caxias era o Celso Roth. No ano seguinte, ele foi para o Inter e me levou junto. O problema é que eu não estava totalmente recuperado. Só fiz a cirurgia e saí de férias, sem fisioterapia. Daí, cheguei ao Inter sem condições de jogo. Fiquei seis meses e voltei para o Caxias. Depois, fui finalmente para o Grêmio. Na época, eu já estava em boa forma, mas o Lazaroni era o técnico e preferia outros atacantes no elenco. Acabei não jogando tanto. Só tive continuidade no Paraná e na Ponte Preta. Mesmo jogando em um clube do interior, você foi chamado para a Seleção.

Era algo que você esperava na época? Foi um dos melhores momentos da minha vida. Eu me lembro de tudo, não dá para esquecer. Havia uma expectativa, tanto que o Nelsinho Baptista era o técnico da Ponte e ficava dizendo “será que você vai?”. Eu dizia que estava torcendo. No dia da convocação, eu estava tão nervoso que o Nelsinho me tirou do coletivo. Fiquei sentado em um canto, até que os repórteres que cobriam a Ponte ouviram pelo rádio que eu tinha sido convocado e vieram até mim gritando. A Seleção ainda passa na sua cabeça? Não é aquele pensamento forte que eu tinha com 27 anos, quando estava na Ponte ou no Atlético-PR. Até porque sei que a prioridade do Dunga é colocar jovens para ganhar experiência. Mas é claro que não é algo fora da minha cabeça. Se o técnico precisar, estou sempre à disposição. Seu retrospecto pelo Brasil não foi ruim, com três gols em sete jogos, mas você logo foi esquecido. De alguma forma, ter participado do fracasso da Copa das Confederações de 2001 atrapalhou? É sempre bom estar na Seleção, mas, naquela situação, especificamente naquela competição, atrapalhou. A Seleção não estava bem. Muitos jogadores tinham terminado a temporada por seus clubes europeus e estavam sem motivação para ir ao Japão disputar uma competição. Isso atrapalhou bastante, e o Brasil acabou decepcionando. Até tive outras oportunidades, com o Felipão, mas já tinha perdido espaço. Você acha que podia ter recebido mais oportunidades? Naquela época, sim. Eu era o jogador que mais marcava gols no Brasil. Fui artilheiro do Paulista, Copa do Brasil, vice do Brasileiro, lutei pela artilharia do Rio-São Paulo, estava sempre entre os artilheiros nessa época. Quando o Felipão assumiu a Seleção, tentou remontar o grupo. Se eu tivesse sido convocado no final das eliminatórias, com certeza iria bem e seria levado para a Copa do Mundo. Mas, logo depois, você foi para o Fenerbahçe e teve problemas. Fui para lá depois da Copa. O time tinha investido muito para disputar a Liga dos Campeões — tanto que, além de mim, foi contratado o Ortega. Vocês eram amigos? Como o intérprete só ia ao clube em dia de jogo, nós ficávamos muito juntos. Ele era muito gente boa e estava bem, até estra-

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comigo. Fiz todos os exames novamente. Ele disse que, naquelas condições, eu não podia jogar, mas que havia uma esperança. Fiz uma nova angioplastia, coloquei um stent mais moderno, iniciei todos os tratamentos e fui liberado para jogar. Nesse tempo, fiquei morando na concentração do Atlético, aproveitei toda estrutura deles. Depois, ainda tive um grande ano lá: fui o artilheiro do Brasileirão e perdemos o título por um detalhe. Nas duas últimas rodadas, o Vasco jogou contra nós e o Santos. Contra nós, em São Januário, deram ingressos para a torcida, lotaram o estádio, criaram um clima de guerra. E no jogo contra o Santos, deram férias para os jogadores. Na época, os santistas se sentiram ofendidos por uma declaração do Levir Culpi [técnico do Atlético-PR em 2004] de

que o Atlético só precisava “ligar o piloto automático” para ser campeão. De maneira alguma o Levir — e quem conhece ele sabe disso — quis menosprezar o adversário. Ele quis dizer que era para o time manter o ritmo. No futebol não se pode dizer nada diferente, que o pessoal já fala essas coisas. Mesmo liberado para jogar, causa alguma preocupação quando aparecem casos como do Antonio Puerta, do Sevilla, que sofreu ataque cardíaco em campo? Isso não me assusta, sabe por quê? Porque eu faço meus exames a cada seis meses, tomo meus remédios e tenho um médico que me acompanha em tudo. Então, estou controlado. É muito pior o caso de uma pessoa que acha que está bem, mas, na verdade, está com algum problema. É aí que podem acontecer as fatalidades.

Djalma Vassao/Gazeta Press

nhei aquele negócio de ele ser viciado em álcool. Ele bebia normalmente. O maior problema dele era não se dar muito bem com o Werner Lorant, o treinador. A bem da verdade, eu também não me dava. Ele priorizava os turcos? Não, mas não se dava muito bem com o estilo dos sul-americanos, talvez por ser alemão. Ainda assim, eu até comecei bem a temporada. Era o artilheiro do Campeonato Turco quando veio o problema com o coração. Como foi que você descobriu? Eu senti alguns sintomas nos treinos: uma queimadura no peito, como uma azia. Fiquei uns três ou quatro dias com aquela queimação. Falei com o médico e ele me levou para fazer exames. Aí, ficou constatado que havia uma alteração, e eu fui fazer um cateterismo, para ver o que era. Foi então que mostrou que 90% da minha artéria estava obstruída, e fui fazer a angioplastia. Você pensou que ia parar de jogar? Foi tudo muito rápido, nem deu para pensar nisso. Quando eu comecei a entender o problema, percebi que não era tão simples assim. Mas em nenhum momento eu pensei que pararia de jogar. O Fenerbahçe lhe deu algum apoio? Não. Eles já estavam com o salário atrasado e começaram a atrasar mais ainda. Fui reclamar, e eles disseram “vamos ver se você vai voltar a jogar. Depois vemos a questão do salário”. Diziam para eu ficar no Brasil e ver o que eu tinha. Naquela época, eu estava muito mais preocupado em voltar a jogar do que em acertar os salários atrasados e não aceitei. Coloquei o caso na Fifa, que me deu a liberação e impôs uma multa para eles que era bem menos do que eles deveriam me pagar. Como foi o período de tratamento? Fiquei parado em 2003. Ainda bem que, em maio, eu fui para o Atlético-PR. O Vadão era treinador e me indicou. Lá eu conheci meu cardiologista, que está até hoje

Washington Stecanela Cerqueira Nascimento: 1º/abril/1975, em Brasília Carreira: Caxias (1993 a 1997 e 1999), Internacional (1997), Grêmio (1998), Ponte Preta (1998 e 2000 a 2002), Paraná (2000), Fenerbahçe (2002), Atlético-PR (2004), Tokyo Verdy (2005), Urawa Red Diamonds (2006 a 2007) e Fluminense (2008) Títulos: Liga dos Campeões da Ásia (2007), Campeonato Japonês (2006), Copa do Imperador (2006) e Supercopa do Japão (2005 e 2006) Na seleção: 7J / 3G

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Junior Lago/Futura Press

PARCERIAS por Gustavo Hofman

Dinheiro da Traffic permitiu que Palmeiras vencesse S達o Paulo na corrida por Diego Souza

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Questão de

PRIORIDADE Palmeiras cresce com investimentos da Traffic, mas os resultados do clube estão longe de serem a prioridade da empresa á tempos o torcedor palmeirense não se empolgava tanto com seu time. Do fracasso na luta por uma vaga na Libertadores no final de 2007, o Alviverde pulou para favorito a tudo o que disputa em 2008. Isso foi resultado de investimentos pesados em reforços no elenco e na comissão técnica. É uma mudança radical que tem o traço da Traffic, a empresa que resolveu usar o clube do Parque Antarctica para entrar no mercado de compra e venda de jogadores. Os resultados iniciais da parceria – derrota na Copa do Brasil à parte – animaram os palmeirenses. Mas não apagam o fato de que se trata de uma situação de risco. A questão não é o quanto o clube receberá em reforços, até porque a Traffic não foi nada discreta nos primeiros meses de acordo com o Palmeiras. Foram ao Parque Antarctica vários jogadores — de conhecidos como Diego Souza e Léo Lima, a promessas como Henrique, Sandro Silva e Jumar. No entanto, a lógica da empresa nem sempre é a mesma do clube. E resultado financeiro nem sempre está ligado a necessidade esportiva. A Traffic chama cada vez mais a atenção pelo modo como ampliou seu leque de negócios. A empresa atua no mercado de marketing esportivo há 25 anos, com a comercialização de eventos como Copa América, eliminatórias para a Copa do Mundo, Libertadores e Copa Sul-Americana. Além disso, mantinha empresas no setor de comunicação, como uma rede de jornais e afiliadas da Rede Globo, no interior de São Paulo. Nos últimos anos, a empresa dirigida por J. Hawilla, como é conhecido o exjornalista José Hawilla, entrou definitivamente no futebol. A Traffic criou um fundo de investimentos para cotistas, em

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um valor total previsto em R$ 40 milhões na aquisição de jogadores. Estes serão repassados para diversos clubes do país, com um objetivo bem definido: valorização para uma futura transferência. A escolha desses jogadores passa pela avaliação de um “serviço de informação”, com olheiros e analistas comandados pelo exzagueiro uruguaio Darío Pereyra. Além disso, a empresa associou-se a agentes credenciados pela Fifa, entre eles Wagner Ribeiro, para administrar a carreira de cerca de 90 jogadores brasileiros. Para viabilizar esses novos negócios, Hawilla criou o Deportivo Brasil, clube de Barueri que não disputa competições oficiais, mas permite que a Traffic registre jogadores. Além disso, fez parcerias com vários clubes, que servirão de vitrine para os atletas. O Palmeiras é o exemplo mais ilustre, mas está junto com Avaí e Ituano.

Sintomas Esse novo cenário já começou a provocar certos ressentimentos entre os clientes da Traffic. O primeiro caso claro dessa instabilidade ocorreu na negociação com Keirrison, atacante do Coritiba. O jogador era pretendido pelo Palmeiras, que acionou sua parceira. A Traffic acertou com

R$ 40 milhões Valor que a Traffic pretende investir na compra de jogadores para os clubes parceiros

o clube paranaense, que pediu, em troca, vários jogadores, como Vandinho, atacante do Avaí que já era vinculado à empresa, e Sandro Silva, meia do Mirassol. No final das contas, ficou evidente o esforço da Traffic em reforçar o Palmeiras, sem se preocupar demais com seus outros parceiros. Sandro Silva foi contratado, mas se apresentou ao clube paulista. Vandinho ficou no Avaí. O resultado foi o cancelamento da negociação e a permanência de Keirrison no Alto da Glória. O Avaí também ficou descontente com o favorecimento ao Palmeiras. Oficialmente, a diretoria se recusa a falar no assunto, mas uma pessoa ligada ao clube disse que os dirigentes avaianos pensam em modos legais para encerrar a parceria. Hawilla considera esses atritos normais. “Nós administramos um fundo e temos que dar satisfações a quem aplica seu dinheiro nele. Nossa base é o Palmeiras, e hoje temos mais de 30 jogadores, sendo que nove ou dez estão no Palmeiras”, argumenta o empresário. “Vamos investir em outros clubes também. Nossos investidores querem que variemos nossos alvos”, acrescenta. Independentemente de um clube ser beneficiado em detrimento de outros, há uma preocupante possibilidade de uma empresa remanejar jogadores entre times que disputam o mesmo torneio. Tanto que, na primeira rodada do Brasileirão, houve dúvidas se Keirrison estrearia pelo Coritiba contra o Palmeiras ou o contrário. Para a Traffic, é tudo normal. “Não vejo conflito de interesses nas nossas relações. Quando um clube empresta um atleta para outro, ninguém vê problemas”, compara J. Hawilla, diretor da empresa. O Palmeiras também não acha ruim ter parceria com uma empresa que pode reforJunho de 2008

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Mexsport

Traffic negocia direitos de transmissão e placas de publicidade de vários torneios latino-americanos

çar seus adversários. “A nossa relação é como outra qualquer. Eles compram jogadores, cedem para o Palmeiras e nós pagamos os salários. Não há problema algum no fato de a Traffic ter jogadores em outros clubes”, comenta Afonso Della Monica, presidente do clube paulista. Enquanto a negociação por Keirrison estava em andamento, o Coritiba era só elogios à possível parceira. “Tenho uma relação muito boa com a Traffic, principalmente com o Felipe Faro, diretor da empresa, com quem mantenho um relacionamento pessoal. É uma empresa séria, que age com transparência”, comentou Jamelli, diretor de futebol do Coxa. Dias depois da entrevista, o clube encerrou as conversações com a empresa. Dentro do código de ética da Traffic está a não-negociação de parceria com os rivais do Palmeiras. Hawilla, palmeirense assumido, diz que tem relacionamento pessoal com Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, mas não faria acordo para a colocação de jogadores com o clube do Parque São Jorge ou o São Paulo. Mas não é bem assim. Sua empresa está tão grande que, de um modo ou outro, se envolve com os rivais de seu principal parceiro. Ao estar associada a empresários, acaba trabalhando com vários clubes. Por exemplo, a Traffic tem 8% dos direitos do volante são-paulino Hernanes. Outra questão delicada são os negócios de marketing esportivo da empresa. Hawilla senta-se à mesma mesa de CBF, Con-

Não é só na fornecedora de reforços que o Palmeiras tem colaboradores com interesses conflitantes. Vanderlei Luxemburgo, técnico alviverde, também expandiu seus negócios e criou algumas relações preocupantes. Isso ficou mais sensível com a criação do Instituto Wanderley Luxemburgo (IWL), uma espécie de escola para a formação de profissionais para trabalhar em diversas áreas ligadas ao futebol (como arbitragem, jornalismo, medicina e treino de equipes).

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São contratados da instituição jornalistas e um árbitro de futebol. Além disso, Petkovic, meia do Atlético-MG, é dono de uma franquia do IWL. Luxemburgo também é dono da WL Sports, que mantinha uma parceria com o Joinville. A empresa ajudava a gerenciar o futebol do clube catarinense e tinha como meta obter vaga na Série C em 2008 e acesso para a Série B de 2009. Os resultados não foram os esperados. O time fez má campanha no Estadual, foi

eliminado precocemente, e o acordo foi rompido. Fora do campo, o técnico mantém relação com torcidas organizadas de clubes rivais do Palmeiras. No início deste ano, quando já estava no Parque Antarctica, o próprio Luxemburgo admitiu que ajudou financeiramente a Torcida Jovem do Santos, a Sangue Santista e a Gaviões da Fiel, ligada ao Corinthians. De acordo com ele, foram colaborações no passado, para as escolas de samba mantidas pelos torcedores.

Ricardo Saibun/Gazeta Press

LUXEMBURGO S/A

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CÍRCULOS DE INTERESSE

TV7

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MAR K

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9 RN A L I S M O

TENTÁCULOS DA TRAFFIC

TV TEM

Patrocínios

A Traffic comercializa o patrocínio de Copa América, Eliminatórias Sul-Americanas, Eliminatórias da Concacaf, Libertadores e Copa Sul-Americana

mebol e Concacaf para acertar a comercialização de competições. Nada indica que ela use esse acesso privilegiado para fazer que a organização das competições favoreça seus jogadores ou os clubes que eles defendem. O empresário faz questão de negar o uso de influência nas entidades. De qualquer modo, esse canal pode motivar reclamações ou desconfiança.

Depois da bonança Conflitos de interesse à parte, os clubes que trabalham com a Traffic vivem um momento de fartura, principalmente o Palmeiras. Reforços aparecem com facilidade, e é relativamente fácil montar equipes competitivas. Mas o que acontece quando não se pode contar com essa ajuda? O próprio Palmeiras já passou por isso. Em 1992, a Parmalat surgiu como a solu-

A Traffic é uma empresa em dez. O grupo tem atuação em várias áreas e o interesse de um constantemente conflita com o de outro

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8

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Parceria com clubes

Mantém ou mantinha parcerias com diversos clubes, como Palmeiras, Ituano e Avaí. Também conversou com o Coritiba

ção para o clube acabar com o jejum de títulos que durava 17 anos. Com a empresa italiana de laticínios ao lado, o Alviverde conquistou uma Libertadores, dois Brasileirões e três Paulistas. Quando a patrocinadora saiu, em 2000, o clube não sabia andar com as próprias pernas. Dois anos depois, caiu para Série B. A síntese que foi tirada dessa história é que o Palmeiras, enquanto se tornou rico com o dinheiro da Parmalat, se esqueceu de investir no clube, principalmente nas categorias de base. E isso é um aviso que a própria Traffic dá hoje em dia. “Temos um projeto de três anos com o Palmeiras, não vejo possibilidade de sair antes disso. E o clube não vai ficar sem jogadores. Em todas as reuniões que fazemos com eles, dizemos que estamos ajudando o Palmeiras, mas eles têm que cuidar das

Participação em jogadores

Organiza e administra grupo de cotistas para investir na aquisição dos direitos econômicos de jogadores de futebol. O objetivo é valorizar o atleta e lucrar numa futura transferência

Direitos de transmissão

A Traffic comercializa para todo o mundo os direitos de TV das principais competições latino-americanas, Copa América, jogos do Brasil pelas eliminatórias, eliminatórias da Concacaf, Libertadores e Copa Sul-Americana. Na América Latina, tem os direitos exclusivos, até 2012, dos jogos da seleção da Inglaterra e da FA Cup

Administração de carreiras

Em associação com agentes credenciados pela Fifa, a empresa administra a carreira de cerca de 90 jogadores brasileiros

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Rede Bom Dia

Um dos principais jornais do interior de São Paulo. Tem quatro edições regionais: Bauru, Jundiaí, São José do Rio Preto e Sorocaba

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Rede de quatro emissoras afiliadas da Rede Globo que alcançam 318 cidades no interior de São Paulo

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FU TE

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Traffic Sports USA

Comercializa a Copa América nas Américas do Norte e Central e no Caribe. É parceira comercial da UNCAF (União Centro-Americana de Futebol) e da CFU (União de Futebol do Caribe)

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ING ET

L BO

Cria, produz e edita programas, comerciais, filmes, vídeos institucionais e documentários. Atua em esporte, jornalismo, variedades, reality shows, publicidade e campanhas políticas. Além disso, presta serviços para agências de notícias e redes internacionais de TV

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Clubes de futebol

Possui dois clubes de futebol: Desportivo Brasil, de Porto Feliz, não disputa competições profissionais, e Miami FC, da USL, segunda liga profissional dos Estados Unidos

categorias de base. Nisso podemos ajudar muito também”, afirma J. Hawilla. O empresário faz questão de afirmar que sempre manterá o Palmeiras forte. É um modo de diminuir as especulações de que poderá desfalcar o clube a qualquer momento — até porque a Traffic já deixou claro que se precisar vender algum jogador que estiver valorizado, o fará. “Não há um tempo mínimo para o jogador ficar no clube”, afirma Hawilla. Ou seja, uma boa proposta dificilmente será recusada. Considerando o cenário atual e o próprio passado recente do Palmeiras, o clube precisa ficar atento a sua parceria. Que saiba aproveitar o reforço de investimento, mas sem esquecer de usar o momento para se reestruturar. Caso contrário, perderá a oportunidade de criar um modelo sustentável. E voltará a ficar atrás dos rivais. Junho de 2008

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TÉCNICOS por Leonardo Bertozzi

Rodrigo Rod R Ro oddrri rigo rig iigo ggoo Lima/Futura Lima/Fu a//Fu Futur Fu ttura tu ura raa Pre PPress Pr ss ss

GRIFE, ainda que entre os

PEQUENOS Estádios acanhados, pouca atenção da mídia nacional e objetivos modestos. Para alguns técnicos, isso soa como música

eu nome é respeitado. Os títulos conquistados e os trabalhos bem-feitos transmitem credibilidade para os clubes por que passo. Sou uma referência”. A frase não é de Vanderlei Luxemburgo, Emerson Leão ou Muricy Ramalho, mas de Luiz Carlos Ferreira, técnico que ficou conhecido como “Rei do Acesso” por seus feitos no interior de São Paulo. Proporcionalmente, Ferreira significa para os times que disputam divisões inferiores o que técnicos como Luxemburgo representam entre os grandes da Série A. Sua contratação tem valor simbólico importante porque transmite confiança à torcida e até aos jogadores. Em poucas palavras, é um técnico de grife. Em uma época de tantos empresários e prefeituras investindo alto no interior, fazer uma carreira de sucesso nesse meio é garantia de uma vida, ao menos, tranqüila para esses profissionais. Marcelo Veiga, do Bragantino, é um bom exemplo. Ex-jogador de Santos e Portuguesa, ele ganhou projeção ao levar o time de Bragança Paulista às semifinais do Paulistão de 2007. Veiga já havia rodado bastante, com passagens por clubes como Lemense, Guaçuano, Matonense, Taquaritinga e Francana, mas, naquele momento, seu nome chegou à “elite” do interior.

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“Você faz parte do dia-a-dia da cidade. O torcedor é mais seu amigo” Marcelo Veiga

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Denny Cesare/Futura Press

Logo em seguida, Veiga trocou o Braga pelo Paulista de Jundiaí, que disputaria a Série B do Brasileiro. O início não foi fácil – apenas duas vitórias em nove jogos – e, quando o América-RN o chamou para trabalhar na Série A, o convite foi aceito de imediato. Como era de se esperar pelo nível do time, as derrotas se acumularam, e logo ele estava de volta ao Bragantino, onde se sagrou campeão da Série C. A má experiência no Nordeste convenceu Veiga a abraçar um projeto de longo prazo em Bragança, assinando um contrato de dois anos. O que também pesou foi a necessidade de ficar com os familiares. “Normalmente, você vai para onde te querem, mas a família sofre”, admite. “Moro com minha mãe e com minha filha de 13 anos. Preciso estar por perto”. Ficar em um clube por muito tempo, no entanto, é exceção entre essa categoria de técnicos. “Devido a minha fama com os acessos, já apaguei muito incêndio, nunca fiz contratos longos”, justifica Luiz Carlos Ferreira, que estava na Ferroviária-SP, quando falou à Trivela, mas logo já tinha acertado com o AméricaRN — de onde foi demitido após apenas duas partidas na Série B. Para o treinador, compensa fazer contratos por objetivos. Há sempre um clube disposto a gratificar bem o técnico que leve o time à promoção ou o salve do rebaixamento.

Menos pressão Trabalhar no interior é sinônimo de uma rotina diferente. O contato com o torcedor faz parte do dia-a-dia. “Em uma cidade menor, o funcionário da padaria te conhece, até o padre te conhece – e pede resultados. Outro dia, o rapaz do pedágio me cobrou por uma derrota que havíamos sofrido”, brinca Luiz Carlos Ferreira. “Essa cobrança no interior, porém, é mais carinhosa. Em um time grande é algo profissional, tem interesses financeiros”. Mais difícil é quando se trabalha em um time de pouca expressão, mas com grandes exigências. O mineiro Aderbal Lana, respeitado no Amazonas por fazer do São Raimundo uma potência regional

“Sorte de quem tem a mídia por trás para ficar no circuito dos grandes. Eu não troco o certo pelo duvidoso” Luiz Carlos Ferreira

no final dos anos 90, sentiu isso na pele à frente do Nacional-AM. Lana conta que houve quem reclamasse após a goleada de 4 a 1 sofrida para o Atlético-MG, na Copa do Brasil. “Por ser uma equipe tradicional na região, a imprensa e o torcedor esperam que você tenha resultados de clube grande”, ressalta. “Não importa que estejamos anos-luz atrás em termos de estrutura. O futebol amazonense está no fundo do poço, a federação só aparece nas horas de festa”. Apesar das dificuldades, Lana, hoje no Mixto-MT, não se desmotiva. “Treinar São Paulo, Palmeiras, é fácil. Se o Luxemburgo precisa de um lateral-esquerdo, ele manda comprar. Aqui, eu tenho que fazer um lateral. Jogadores, nós temos aqui como eles têm lá. A diferença é a estrutura e a capacidade de investimento”. A distância dos dois universos fica

evidente quando um técnico tenta mudar de “status”. Há casos em que dá certo, como os Tite e Mano Menezes. No entanto, quando há insucesso na transição, a conseqüência pode ser cruel, como pôde comprovar José Luís Plein, outro ex-comandante do Grêmio. Plein foi promovido a técnico no Juventude, em 2003, e ganhou moral ao salvar o time do rebaixamento no Brasileirão. No ano seguinte, foi chamado pelo Tricolor, em dificuldades na Série A, mas durou apenas três meses no cargo. Desde então, teve outras experiências no interior gaúcho – esteve à frente do Glória, de Vacaria –, mas hoje está afastado do futebol. É secretário de esportes de Caxias do Sul. O técnico admite que não era o momento certo de tentar a sorte entre os grandes. “Na hora do convite, é difícil dizer não. Quando o Grêmio me chamou, não poderia recusar”, diz Plein. “Hoje, talvez, tivesse feito as coisas de maneira diferente”. Ele não descarta um retorno ao futebol, mas não vê como positivo o fato de ter projeção limitada a um Estado. Essa posição não é compartilhada por outros técnicos. Pelo contrário, ser uma referência e lutar por títulos, ainda que na segunda divisão, também pode ser gratificante. Aderbal Lana resume esse sentimento. “Somos felizes coadjuvantes”. Junho de 2008

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Marcelo Campos/Preview.Com/Gazeta Press

TORCIDAS por Alexandre Haubrich e Douglas Skrotzky

Vibração, poder e

VIOLÊNCIA Fim de apoio oficial tirou força das torcidas organizadas de Grêmio e Internacional, mas os grupos se adaptam para continuarem vivos 31 de julho de 2006. Domingo de sol em Porto Alegre. Cerca de 5 mil gremistas vão ao Beira-Rio para ver o 366° Gre-Nal da história. Eles são escoltados pela cavalaria da Brigada Militar e chegam sob intensa chuva de garrafas e pedras. Já dentro do estádio, um banheiro químico é carregado e arremessado por torcedores visitantes para fora da arquibancada. E mais um. E mais outro. Quando a polícia chega, já há banheiros em chamas e uma fumaça negra espalha-se pelo estádio. Torcedores do Inter tentam correr em direção ao tumulto, mas não conseguem chegar. A tensão

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toma conta dos presentes, mas, por sorte, nada mais sério acontece. O caso dos banheiros incendiados foi um marco na vida das torcidas organizadas do Rio Grande do Sul. Elas já estavam em um mau momento devido ao crescimento das “barras”, grupos sem filiação oficial que, teoricamente, têm por diretriz jamais vaiar o time — filosofia que agrada muito mais aos dirigentes. Assim, o incidente foi a deixa para minar ainda mais a influência das organizadas. No dia seguinte ao Gre-Nal 366, o presidente em exercício do Grêmio, Túlio Macedo, suspendeu por tempo indetermi-

nado os privilégios concedidos às três torcidas organizadas do clube que existiam na época – Torcida Jovem, Garra Tricolor e Super Raça. Não houve mais distribuição de ingressos subsidiados, acabou a ajuda nas viagens, e os instrumentos musicais foram vetados. “Algumas lideranças pediram indenizações para o caso de a gente terminar com as organizadas. Aí, aproveitamos os 11 jogos de suspensão para chamar um soldador para fechar as portas das sedes”, conta Mauro Rosito, diretor financeiro do clube da Azenha. A Geral do Grêmio, independente em relação ao clube, não sofreu nenhuma pu-

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A reportagem foi conversar com a Máfia Tricolor, considerada a mais violenta organizada do Grêmio. O local do encontro foi a estação central de trem em Canoas, Grande Porto Alegre. Um rapaz, com uma jaqueta que tem desenhado o mascote da torcida, chamado “Notredame”, indica uma casa abandonada, logo em frente. O local, com paredes rabiscadas com símbolos e assinaturas, recebe reuniões diárias. Sentado em um degrau e cercado por uns dez jovens e três garotas, está Moreno Silva, principal líder da torcida mais impiedosa do Grêmio. A Máfia Tricolor foi fundada no final de 1995 com 250 membros, juntando os “maus elementos de todas as outras torcidas”, segundo o próprio Moreno. No ano seguinte, a Máfia mostrava a que veio. Em um jogo no Olímpico contra o AtléticoPR, torcedores visitantes foram esfaqueados. Nos meses seguintes, houve assaltos à sede da Torcida Jovem e à loja do Grêmio, e o banimento da organizada. Mesmo assim, ela conta hoje com cerca de 300 participantes, a maioria de Canoas, e leva, em média, 70 pessoas às partidas. Moreno não esconde a filosofia da Máfia. “Tem gente da Máfia que nunca entrou no Olímpico, que não sabe nem o nome do goleiro do Grêmio. Só vai lá pra arrumar uma grana mesmo”, conta. Por isso, roubos no caminho entre o Mercado Público – onde descem do trem – e o Olímpico são comuns. Porém, o foco principal não é esse. A maioria anda armado, principalmente com facas e socos ingleses. “A ideologia da Máfia é briga. A gente apóia o Grêmio, mas tem que ter porrada também”, diz, sorrindo, um jovem de 17 anos. A faixa de idade vai de 12 a 30 anos, e a escolaridade é muito baixa. “Quase ninguém aqui estuda ou trabalha. Quinta série já é lucro”, explica Latino, 18 anos. Gadê, também de 18 anos, conta que já levou uma facada e um tiro. “A gente não tem medo. Quando um dos nossos aparece quebrado, a gente vai atrás de quem que-

Inicialmente vistas como grupos de torcedores que apenas incentivavam, as “barras” ganharam força com rapidez no Rio Grande do Sul — e já são acusadas de terem os mesmos vícios das torcidas organizadas tradicionais. O caso mais evidente disso foi o dos banheiros incendiados no Beira-Rio. Membros de organizadas tricolores acusam a Geral do Grêmio e a Máfia Tricolor – torcida independente do clube – de terem causado a confusão. “Muita gente da Geral estava com essa idéia já na entrada do estádio” comenta Folha, presidente da Torcida Jovem do Grêmio. Thiago Fernandes, o Telo, relações públicas da Garra Tricolor, diz que o clube usou isso como pretexto para minar as organizadas. “Tinha muito filho de diretor e de conselheiro no meio, então nos

pegaram como bodes expiatórios. Um diretor do Grêmio nos disse: ‘Se eu não punir vocês, vou punir quem?’” Até os líderes dos grupos acusados concordam com essa versão. “Foi a Máfia e a Geral que fizeram. Os caras das organizadas estavam lá quietos”, reconhece Moreno Silva, diretor da Máfia Tricolor, assumindo a participação de sua torcida no evento. A reportagem entrou em contato com líderes da Geral, mas eles preferiram não se pronunciar. De acordo com o Grêmio, a punição às organizadas foi um modo de mostrar serviço. “Se foram as organizadas ou não, a gente não sabe. Os responsáveis não foram identificados, mas tínhamos que mostrar atitude ao setor público”, reconhece o Mauro Rosito, diretor financeiro do Tricolor.

Divulgação

Ideologia de briga

BARRA DO GRÊMIO TAMBÉM CAUSA PROBLEMA

nição. Inclusive, a “barra” assumiu definitivamente o status de principal torcida do tricolor gaúcho, e há acusações – por parte das organizadas – de que o clube dá dinheiro para comidas e bebidas nas viagens do grupo. Não significa que as organizadas tenham morrido. Elas estão menores, mas continuam cultivando seu estilo particular de demonstrar apreço ao clube.

brou”. Moreno já apanhou, segundo ele, de 40 integrantes da Geral porque membros da Máfia haviam assaltado “geraldinos”. A rivalidade com o Internacional beira uma situação de guerra. Amigos “colorados”, só se for de infância. Depois que entra para a torcida, nada de novas amizades entre rivais. Todo “colorado” é inimigo. “Não precisa nem ser de torcida. Se é ‘colorado’ e olhou meio torto, já tá apanhando”, afirma Gadê. Ainda assim, há um grupo de torcedores com o qual a relação é pior: a Nação Independente Comando Vermelho.

Nação (nem tão) Independente A NICV nasceu em 1992 com a proposta de ser a primeira organizada independente no Rio Grande do Sul. Com 15 anos de vida, a torcida manteve o nome, mas não segue a idéia original à risca. Com uma sala no Beira-Rio para guardar materiais e ingressos subsidiados pela diretoria, a Nação Independente conta hoje com cerca de 300 componentes, metade dos 600 integrantes de sua fase áurea. Esse enxu-

Grupos independentes são acusados de provocarem confusão com banheiros do Beira-Rio

gamento tem relação direta com a vinculação ao clube, que desagradou a muitos. A diretoria da organizada diz que a relação com o clube não afeta o modo de torcer. “Se tem que cobrar da diretoria melhorias para o time, cobramos!”, afirma Eduardo Capitinga, vice-presidente da NICV. Eduardo Araújo, diretor de torcidas organizadas do Internacional, dá a entender uma posição um pouco diferente. “No momento em que a torcida tem subsídio e protesta, o clube tem o direito de tirar o subsídio”. A política é parecida com as demais organizadas “coloradas”. São 500 cadastrados da Camisa 12, 350 da Super Fico e 200 da Nação Independente. O Internacional ainda dispõe alguns ingressos para cada uma dessas torcidas e permite que entrem no estádio com faixas e instrumentos. A Camisa 12 (integrante da União do Punho Cruzado, aliança que envolve ainda a Máfia Azul, do Cruzeiro, a Independente, do São Paulo, a Jovem Fla, do Flamengo, e a Jovem do Sport) possui ainda uma sala própria no Ginásio Gigantinho. Junho de 2008

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Alexandre Haubrich

Cadastramento de torcedores fez organizadas do Inter perderem espaço para “barra”

Porém, por trás da aparente calmaria, ocorrem disputas internas. Um dos principais problemas é o crescimento da Guarda Popular, “barra” colorada, com aval da direção do clube. Sem cadastramento e sem intenção de fazê-lo, a Popular desperta sentimentos opostos entre dirigentes e outros torcedores. O presidente da Camisa 12, Miguel Dagnino, reclama: “Muitos que eram cadastrados antes não se recadastraram porque tinham ficha na polícia. Aí foram torcer atrás do gol, que era mais barato, e formaram a Guarda”. De acordo com Dagnino, seria um sinal da mudança de posição do clube. “O Fernando Carvalho [presidente do Inter entre 2002 e 2006] nos traiu. Antes da eleição, nos pedia apoio, prometia ajudar. Depois que foi eleito, a gente teve que invadir o gabinete dele para fazer reunião”. Eduardo Araújo desqualifica a crítica ao dizer que a rixa entre os dois grupos é motivada por ciúme – já houve três confrontos entre a Popular e a Camisa 12. Além disso, aproveita para cutucar Marcelo Kripka, presidente da Super Fico, mais antiga organizada do Inter. “O Marcelo vive da Super Fico. O ingresso serviria para fazer bandeiras, viagens. Era para sustentar a torcida, não o presidente, mas foi distorcido. É uma forma de desviar dinheiro do clube”. Kripka se defende, dizendo que está no cargo porque

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há consenso em torno de sua liderança e que a organizada que dirige tem a fama de ser a mais “família” do Estado.

Os braços da lei Se o clube não ajuda mais, a estratégia das organizadas tem sido a parceria com as autoridades. “Do Grêmio, a gente não espera mais nada. Estamos entrando em uma parceria com a Brigada Militar, para aos poucos entrar com material, desde que tenha bom comportamento”, diz o presidente da Torcida Jovem, o promotor de eventos André, mais conhecido como “Folha”. A principal ferramenta é o cadastramento dos torcedores. As torcidas do Internacional, por exemplo, têm uma pequena sala para guardar seus materiais, ganha uma cota de ingressos do clube e permissão de entrar nos jogos com faixas

1.050 Número de torcedores que o Internacional tem cadastrados somando Super Fico, Nação Independente e Camisa 12

e instrumentos — desde que os dados de todos os componentes tenham sido enviados ao BOE (Batalhão de Operações Especiais) e aprovados pela Brigada Militar. De qualquer modo, essa relação com as autoridades não exime os clubes de alguma responsabilidade pelas atitudes das organizadas, nem o fato de nem todas serem reconhecidas oficialmente. “Assumindo ou não a existência das organizadas, o clube tem que ser responsabilizado, porque um jogo de futebol é um evento privado”, explica Renoir Cunha, promotor de justiça e direitos humanos do Ministério Público do Rio Grande do Sul. Por isso, criou-se um mecanismo para reduzir o risco de problemas nas arquibancadas. Um termo de ajustamento, assinado entre MP, Grêmio e Internacional, também tem ajudado na solução de problemas pontuais, como divisões entre torcidas e lugares individualizados nos estádios. Em caso de não cumprimento do termo, há multa diária. Mas há flexibilidade. “Trabalhamos com bom senso”, diz Renoir. Fica evidente que, independentemente da gravidade do caso dos banheiros incendiados ou das medidas tomadas pelos clubes, as organizadas de Grêmio e Internacional continuam existindo, com suas ideologias, perfis e ações particulares — e se articulam para voltar a ganhar força no futebol gaúcho.

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HISTÓRIA

QUASE HERÓIS Conheça a história de quem esteve perto de conquistar o mundo em 1958, mas acabou de fora de festa brasileira na Suécia

ilmar e Castilho; De Sordi, Djalma Santos, Bellini, Orlando, Nilton Santos, Zózimo, Mauro e Oreco; Didi, Zito, Dino Sani e Moacir; Garrincha, Pelé, Vavá, Zagallo, Dida, Mazzola, Joel e Pepe. Esses jogadores – ou pelo menos a maior parte deles - ainda são lembrados e homenageados. Nada mais justo. Eles foram, direta ou indiretamente, os responsáveis por levar o Brasil a seu primeiro título em Copa do Mundo — uma conquista que completa 50 anos, em 29 de junho deste ano. À margem de todos os festejos, nem sempre com o reconhecimento que mereciam, ficam outros 22 jogadores. São 11 suecos que perderam a final daquele Mundial e 11 brasileiros que foram cortados pouco antes do embarque para a Suécia. No cinqüentenário do primeiro título mundial da Seleção, a Trivela conversou com alguns desses 22 “quase heróis”, personagens que, meio século depois, revêem seus papéis nesse capítulo da história do futebol. E, como naquele dia, os suecos jogam de amarelo e o Brasil, de azul.

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Hulton Archive/Getty Images

Suécia abre o marcador: o título de 58 esteve próximo por alguns instantes

O melhor venceu Para suecos, a Copa de 1958 é motivo de orgulho pelo sucesso de organização e por ter apresentado uma das maiores equipes de todos os tempos por Luciana Zambuzi ra junho e fazia um bonito dia em Estocolmo. No entanto, uma chuva fina começou a cair no Estádio Rasunda, em Solna, região metropolitana da capital sueca. Foi um motivo de apreensão para a seleção sueca, que enfrentaria o Brasil horas mais tarde, pela final da Copa do Mundo de 1958. “Naquela hora, pensamos: ‘como enfrentar um time tão rápido com o gramado molhado?’” Assim, Sigge Parling, meia da Suécia, descreve o estado de espírito dos escandinavos pouco antes da decisão. Havia uma real preocupação entre os suecos sobre como vencer a equipe que, nas semifinais, superara a fortíssima França por 5 a 2. Nem parecia que o time da casa era o europeu, não o sul-americano.

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O temor não era injustificado. A Suécia tinha a maior média de idade do torneio. Seria muito difícil acompanhar o ritmo e a volúpia dos comandados de Vicente Feola. Isso se confirmou quando a bola começou a rolar. Liedholm abriu o marcador e deu alguma esperança para a torcida sueca, mas a virada veio com naturalidade. Garrincha deixava Gustavsson, Parling e Axbom atônitos. Pelé e Vavá infernizavam a meta do goleiro Svensson. E os gols saíam. Placar final: Brasil 5 a 2. Ao contrário do que poderia se pensar, frustração não foi o sentimento dos que saíram de campo derrotados. Os torcedores pareciam cientes de que viviam um marco na história do futebol. As cerca de 50 mil pessoas que lotaram as arquibancadas do

Rasunda aplaudiam a equipe campeã, reconhecendo a superioridade brasileira. A reação do time derrotado não foi tão diferente. Chegar a uma final de Copa do Mundo em casa foi o melhor resultado da história futebolística do país. Já era uma grande conquista. “O Brasil tinha um time homogêneo. Pelé e Garrincha eram bons, mas a equipe contava com jogadores excepcionais em todas as posições. Para nós, chegar até lá já era uma grande surpresa”, comenta Parling. Hoje, aos 80 anos, ele vive na pequena cidade de Hedesunda Gävle e se dedica à criação de cavalos. O meia vice-campeão de 1958 diz que as lembranças positivas daquele torneio são muito mais fortes que a decepção pela derrota. E ele não é o único. Agne Simonsson, autor do segundo gol sueco na final, concorda: “Claro que, por um momento, ficamos chateados, principalmente por estarmos à frente de nossa torcida. No entanto, começamos a entender que chegar à final da Copa do Mundo já era um sonho para um país tão pequeno. Antes de a competição começar, apenas nosso treinador acreditava que chegaríamos àquela final”.

Vitória fora do campo Há motivos para os suecos verem a derrota como algo natural. No contexto

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Corte na alma

Ressentimento, decepção, comprreensão. Sentimentos diferentes vivem em quem fez partee da Seleção de 1958, mas foi dispensado pouco antes do embarque para a Suécia por Dassler Marques ada contra o Orlando, mas eu seria titular na Copa. No entanto, estava lesionado e não conseguia me recuperar. Aquela situação me incomodava muito, pois não queria dar trabalho para ninguém. Chamei o doutor Hilton Gosling e pedi para ir embora. Fiz essa grande burrice. Me arrependo muitíssimo. Seria uma glória muito grande ser campeão do mundo com a Seleção”. É assim que Chico Formiga fala de seu envolvimento com a Seleção de 1958. Ex-zagueiro de Santos e Palmeiras, conquistou a Libertadores em 1962. Ainda assim, não se perdoa por não ter feito parte do grupo que levou o Brasil a seu primeiro título mundial. Ele foi um dos 11 cortados pelo técnico Vicente Feola, poucas semanas antes do embarque para a Suécia. Um grupo de “quase heróis” que estiveram perto da glória e, hoje, tem apenas quatro representantes vivos, cada um alimentando sentimentos distintos diante do destino. A história desses personagens começou em maio de 1958. Ainda sem ter convicção sobre os 22 que deveriam ir ao Mundial, Feola convocou 33 jogadores para um período de concentração e amistosos. A Seleção jogou cinco vezes: duas com o Paraguai (5 a 0 e 0 a 0), duas contra a Bulgária (4 a 0 e 3 a 1) e uma contra o Corinthians (5 a 0). Os primeiros cortes vieram logo após o primeiro amistoso frente aos paraguaios. Nessa lista estava Almir Pernambuquinho, talvez o jogador mais talentoso entre os que não foram à Suécia. O problema do atacante não era segredo já na época: o comportamento rebelde. A primeira lista de dispensa de Feola tinha ainda os nomes de Pampolini e Formiga, titular que

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não conseguia se recuperar de uma contusão no joelho. Carlos Alberto Cavalheiro foi outro que deixou o grupo naquele momento. O ex-goleiro do Vasco não guarda mágoas. “O Castilho e o Gilmar eram melhores que eu. Só me apresentei porque existia a possibilidade de irem três goleiros”, comenta, consciente. Ainda assim, ele se orgulha de ter feito parte daquela equipe, ainda que por pouco tempo.

Reprodução

“Participei de um período importante na história do futebol. Sou feliz por isso”. Nem todos, porém, têm só boas lembranças desse período e da comissão que gerenciou o trabalho de Vicente Feola. Cacá, ex-lateral-direito de Fluminense, Botafogo e Portuguesa, ainda guarda as cicatrizes daquele corte. Nem tanto pela dispensa em si, mas por uma situação externa que, segundo ele, lhe privou de brigar pelo título mundial. O lateral se considera vítima de um boicote. “Quando fui treinar com a Seleção, já sabia do rojão que tinha pela frente. Pouco tempo antes da preparação, eu havia trocado o Fluminense pelo Botafogo. Daí, é só ver quem estava na CBD: João Havelange, Carlos Nascimento, Adolpho Marques e José de Almeida, todos ligados ao Fluminense. O Paulo Machado de Carvalho e o Feola eram do São Paulo, parceiro deles. As cartas já estavam marcadas”, conta. Cacá lembra que, nos treinamentos, foi quase sempre utilizado como alternativa para a lateral-esquer-

Formiga: “Seria uma glória muito grande ser campeão do mundo com a Seleção”

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na época, cerca de 800 mil coroas suecas para transmitir os jogos ao vivo. Era uma quantia inimaginável para a época e que fez com que até mesmo membros da Fifa discutissem se era correto receber pela transmissão das partidas. A Suécia viveu uma onda de futebol. Várias famílias compraram seus primeiros televisores – um luxo na época – para poderem ver o Mundial. O sentimento cresceu à medida que a seleção local avançava na competição. A Suécia, embalada pelo apoio de sua torcida, passou fácil pela primeira fase ao vencer México e Hungria e empatar com o País de Gales. Nas quartas-de-final, bateu a forte União Soviética por 2 a 0. Na seqüência, fez uma partida memorável contra a Alemanha Ocidental, derrotando os campeões mundiais por 3 a 1. Ainda que o título não tenha vindo, a campanha já era vitoriosa. Foi o momento em que o futebol conquistou definitivamente espaço na sociedade sueca. Por isso, não houve razão para lamentar a derrota. No fundo, perder para um time brilhante e quase artístico como o Brasil até ajudou a consolidar esse processo. “Perdemos, mas aqueles jogadores brasileiros nos fascinavam”, admite Parling. Se essas são as palavras de quem estava em campo e saiu derrotado, quem ousaria duvidar?

Popperfoto/Getty Images

da época, a Suécia saiu vitoriosa do Mundial. Não pelo resultado em campo, mas por conseguir mudar o rumo do futebol do país. Na década de 1950, o esporte já era popular na Suécia, mas ainda vivia no amadorismo. Vários jogadores, incluindo alguns craques da seleção, dividiam a bola com atividades das mais diversas. Em 1954, a disputa entre profissionais e amadores custou caro ao país. A equipe tinha uma grande geração, mas não passou pela fraca Bélgica nas eliminatórias da Copa da Suíça porque se negara a usar jogadores que atuassem no exterior (leia-se profissionais). Era o caso de algumas lendas do futebol local, como Gunnar Gren, Lennart Skoglund, Ture Hamrin e Niels Liedholm. O vexame convenceu as autoridades e buscarem a conciliação com os profissionais quatro anos depois. Além da recuperação em campo, a Suécia orgulhava-se da capacidade de organização. O torneio foi um sucesso esportivo, com grandes equipes participando e alta média de gols (a segunda maior da história da competição). Além disso, o país iniciava a exploração comercial do evento. Pela primeira vez, os direitos de transmissão de uma Copa do Mundo haviam sido vendidos. A Sveriges Television, TV estatal do país, pagou,

Eles quase chegaram lá Karl-Oskar ”Kalle” Svensson Posição Goleiro Principal clube Helsingborg Pela seleção 73 J / 124 GS

Orvar Bergmark Posição Zagueiro Principais clubes Örebro e Roma Pela seleção 94 J / 0 G

Sven Axbom Posição Zagueiro Principal clube Norrköping Pela seleção 31 J / 0 G

Lennart Skoglund Posição Lateral Principais clubes Hammarby, AIK, Internazionale e Sampdoria Pela seleção 11 J / 1 G

Sigvard Parling Posição Volante Principal clube Djurgårdens Pela seleção 39 J / 0 G

Reino Börjesson Posição Meia Principal clube Göteborg Pela seleção 10 J / 2 G

Bengt Gustavsson Posição Meia Principais clubes Norrköping e Atalanta Pela seleção 57 J / 0 G

Nils Liedholm Posição Meia Principais clubes Norrköping e Milan Pela seleção 21 J / 12 G

Kurt Hamrin Posição Atacante Principais clubes AIK, Juventus, Milan e Napoli Pela seleção 31 J / 17 G

Gunnar Gren Posição Atacante Principais clubes Göteborg, Milan, Fiorentina e Genoa Pela seleção 57 J / 32 G

Agne Simonsson Derrota na final não impediu que Liedholm ficasse marcado como um dos maiores craques da Suécia

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Posição Atacante Principais clubes Örgryte, Real Madrid e Real Sociedad Pela seleção 51 J / 27 G

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Eles quase chegaram lá

Canhoteiro não teve na Seleção um histórico compatível com seu talento

Carlos Alberto Cavalheiro Posição Goleiro Principais clubes Vasco e Portuguesa Pela Seleção 0 J / 0 GS

Ernâni Posição Goleiro Principais clubes Vasco, Bangu e Botafogo Pela Seleção 1 J / 1 GS

Cacá Posição Lateral-direito Principais clubes América, Fluminense, Botafogo e Portuguesa Pela Seleção 0 J / 0 G Posição Zagueiro Principais clubes Cruzeiro, Santos e Palmeiras Pela Seleção 19 J / 0 G

Reprodução

Formiga

Jadir Posição Zagueiro Principais clubes Flamengo, Cruzeiro e Botafogo Pela Seleção 6 J / 0 G

Altair Posição Lateral-esquerdo Principal clube Fluminense Pela Seleção 22 J / 0 G

Pampolini Posição Volante Principais clubes Flamengo, Cruzeiro e Botafogo Pela Seleção 0 J / 0 G

Roberto Belangero Posição Volante Principal clube Corinthians Pela Seleção 17 J / 0 G

Almir Pernambuquinho Posição Atacante Principais clubes Sport, Vasco, Santos, Flamengo e Boca Juniors Pela Seleção 8 J / 2 G

Gino Posição Atacante Principais clubes São Paulo, Palmeiras e Portuguesa Pela Seleção 9 J / 3 G

Canhoteiro Posição Ponta-esquerda Principal clube São Paulo Pela Seleção 16 J / 1 G

da. “O Feola chamou o De Sordi, o Djalma Santos e eu para conversar, pois o Altair e o Oreco, canhotos, estavam machucados. Disse que íamos revezar do outro lado nos treinamentos. Mas só eu que fiquei ali”, conta. “Falei pro Feola que eu não era palhaço, queria oportunidades de jogar na minha posição. Estava no último ano da faculdade e perdi mais de um mês de aula. Que me mandasse embora, então”. Apesar das críticas contundentes, Cacá diz não guardar ressentimentos. E, com frieza, não se vê como campeão do mundo.

Com quatro anos de atraso Os seis últimos dispensados foram anunciados após o quinto jogo da preparação, contra o Corinthians. Foi a vez de Ernâni, Gino, Jadir, Roberto Belangero, Canhoteiro e Altair deixarem a Seleção. Desse grupo, apenas o último ainda está vivo. E há, em sua história, pontos parecidos com a de Formiga. O ex-lateral do Fluminense tinha uma lesão no joelho, ocorrida em um inexpressivo amistoso no Espírito Santo. Altair não demonstra grandes traumas por ter perdido a Copa da Suécia. Até porque foi o único dos 11 cortados

de 1958 a ter uma nova chance. Ele defendeu o Brasil nas Copas de 1962 e 1966, o que lhe deu a possibilidade de comemorar um título mundial com quatro anos de atraso. “Hoje, não sofro tanto pelo corte. Como era a primeira Copa que o Brasil conquistou, senti falta na hora, mas fui recompensado depois”, conta. Dessa lista final de cortes, o nome que mais surpreendeu a torcida foi o de Canhoteiro. O ponta do São Paulo era tido pela imprensa paulista como a versão canhota de Garrincha. No entanto, seu histórico na Seleção não condiz com a trajetória no Tricolor. “Ele nunca jogou o mesmo na Seleção. Era muito desligado, brincalhão. Tanto fazia para ele ir ou não”, comenta Pepe, concorrente direto pelas duas vagas da posição. Se ele imaginasse o que viria pela frente, talvez não demonstrasse tanto desprendimento. Em 2008, seria homenageado pelo cinqüentenário do primeiro título mundial do Brasil. Não estaria, como outros dez companheiros, em um grupo de grandes jogadores que, por detalhes, ficaram de fora, sem receber o reconhecimento que talvez merecessem — azares e desgostos que a vida proporciona. Junho de 2008

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LIGA DOS CAMPEÕES por Tomaz R. Alves

Casamento duradouro Final da Liga dos Campeões teve motivos a mais para ser especial para Scholes e Giggs m dos maiores talentos de Alex Ferguson, que lhe permitiu ficar incríveis 22 anos no comando do Manchester United, é saber realizar a transição entre diferentes gerações de jogadores. Para conquistar sua segunda Liga dos Campeões, nove anos depois da histórica “Tríplice Coroa” de 1998/9, Ferguson teve que construir um time-base completamente diferente. Bom, na verdade, não totalmente diferente. De 1999 a 2008, dois jogadores conseguiram a proeza de permanecer entre os titulares: os meias Ryan Giggs e Paul Scholes. Para ambos, esta segunda final de Liga dos Campeões foi mais que especial. O importantíssimo título confirmou que a

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Ryan Giggs 34 anos No time principal do Manchester United desde 1990/1 759 jogos disputados; 144 gols marcados 19 títulos conquistados* Jogador com mais partidas disputadas na história da equipe

dupla está entre os maiores nomes da história do clube. Para se ter uma idéia, na final da LC contra o Chelsea, Giggs completou 759 jogos pelo Manchester United. Com isso, tornou-se o jogador que mais vezes defendeu os Red Devils, superando o recorde de Bobby Charlton, que já durava 35 anos. Se causa assombro o fato de Alex Ferguson estar há 22 anos no United, o que dizer então de Giggs? O galês começou a treinar no clube aos 14 anos, 20 temporadas atrás. Muito rápido e excelente driblador, chamava a atenção desde muito jovem. Ferguson negociou pessoalmente com Giggs para convencê-lo a ir para os Red Devils e sempre fez questão de proteger o jogador do assédio da imprensa, até que fizesse 20 anos. Na temporada da “Tríplice Coroa”, Giggs foi um dos homenschave das conquistas, com grandes lances e gols importantes – o mais marcante aconteceu na semifinal da FA Cup, contra o Arsenal, quando marcou um golaço na prorrogação. Foi também eleito Paul Scholes melhor jogador em campo, na fi33 anos nal do Mundial de Clubes contra o No time principal do Manchester United Palmeiras, tendo feito a assistência desde 1994/5 para o gol de Keane. Nesta tempo569 jogos disputados; 139 gols marcados rada, já sem a velocidade de antiga15 títulos conquistados* mente, deixou de ser protagonista, 4º jogador com mais partidas disputadas mas seguiu titular, com mais de 40 na história da equipe jogos disputados.

*Os títulos incluem Liga dos Campeões, Copa Intercontinental, Recopa Européia, Campeonato Inglês, Copa da Inglaterra e Copa da Liga Inglesa

Fotos Getty Images/AFP

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Neville (irmão de Gary), Beckham e Butt – além, claro, de Giggs e Scholes. 33 anos Na temporada 1998/9, Gary Neville foi tiNo time principal do Manchester tular absoluto, disputando mais de 50 partiUnited desde 1992/3 das, inclusive a final da LC. Sua importância 541 jogos disputados; no time era tamanha que virou capitão em 7 gols marcados 2005, após a saída de Keane. Ele é também 18 títulos conquistados* o lateral-direito que mais vezes defendeu a 5º jogador com mais partidas seleção inglesa. No entanto, Neville contundisputadas na história da equipe diu-se seriamente em março de 2007, o que fez com que participasse de apenas um jogo nesta temporada (contra a Roma nas quartas-de-final da LC). Já a história de Wes Brown traça o caminho inverso. Um pouco mais jovem que os “Fledglings”, está no clube desde os 12 anos de idade, mas ainda era reserva em 1998/9. Ao longo do tempo, enfrentou diversos problemas com contusões, mas hoje é titular absoluto na zaga. Neste ano, renovou seu contrato, que deverá mantê-lo no clube até 2013. Pela longevidade, pelo bom futebol e pelo feito de terem defendido um só clube durante toda a carreira, Brown e Neville têm lugar de destaque na história do Manchester United. Mas não tanto quanto Giggs e Scholes, que chegam ao status de lendas-vivas do clube. Embora não sejam tão badalados aqui no Brasil, são mais importantes para a história dos Red Devils do que nomes como David Beckham e Cristiano Ronaldo. Trata-se de um raro casamento que durou a vida toda – e caminha para um final feliz.

Gary Neville

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Scholes é outro que já não colhe tantos elogios quanto antigamente, mas segue titular – e letal. Na semifinal da LC contra o Barcelona, marcou o gol que decidiu o confronto, com um belo chute de longa distância. A exemplo de Giggs, está no Manchester United desde os 14 anos e é o quarto jogador com mais partidas disputadas na história da equipe. Aposentou-se da seleção inglesa, da qual ainda era titular, com apenas 29 anos, para poder se dedicar mais a seu clube. Para o ruivo, a final desta Liga dos Campeões foi um prêmio especial. Em 1999, ele era titular absoluto (jogou mais de 50 partidas), mas não pôde disputar a lendária partida contra o Bayern de Munique porque estava suspenso. Teve que esperar nove anos por outra chance. Não à toa, Alex Ferguson já dizia que na decisão colocaria em campo “Scholes e mais dez”.

Os outros Pela importância quase perene no time, Giggs e Scholes são símbolos da transição entre as gerações campeãs da LC. No entanto, outros dois discretos personagens estavam na “Tríplice Coroa” e se mantêm no elenco até hoje: Gary Neville e Wes Brown. Neville foi um dos “Fergie’s Fledglings”, grupo de jovens jogadores lançados por Alex Ferguson na primeira metade dos anos 1990 para substituir a “velha guarda” (Mark Hughes, Paul Ince e Andrei Kanchelskis, entre outros), que já não rendia como antes. Nessa nova geração, também estavam Phil

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Wes Brown 28 anos No time principal do Manchester United desde 1997/8 305 jogos disputados; 3 gols marcados 12 títulos conquistados*

5/22/08 4:01:39 AM


INGLATERRA por Leonardo Bertozzi

Amigo do chefe Avram Grant chegou ao comando do Chelsea pela amizade com Abramovich, mas surpreendeu e teve resultados consistentes. Afinal, qual o papel do israelense na campanha dos Blues? osé Mourinho, José Mourinho”. O canto ecoava no estádio de Stamford Bridge, na tarde de 23 de março de 2008, seis meses após o português ter deixado o Chelsea. Naquele momento, os Blues perdiam por 1 a 0 para o Arsenal, resultado que derrubava uma invencibilidade caseira de mais de quatro anos no Campeonato Inglês e praticamente tirava o time da briga pelo título. Foi um momento crítico para Grant. A partida, porém, acabou de maneira diferente: Drogba fez dois gols, o Chelsea venceu, manteve o tabu, assumiu a vice-liderança da Premier League e levou a briga pelo título até a última rodada. Nesse mesmo período, os Blues chegaram à final da Liga dos Campeões pela primeira vez na história – o que não aconteceu nos três anos de Mourinho no clube.

J

De onde veio?

Cronologia de Avram Grant

Grant construiu um currículo sólido no futebol israelense, passando por alguns dos principais clubes do país antes de chegar à seleção. Ainda assim, brilhar em Israel não é um cartão de visitas particularmente atraente para uma liga exigente como a inglesa. Ninguém disfarça que Grant só chegou onde está porque seu caminho cruzou com o de Roman Abramovich, com intermediação do mega-empresário israelense Pini Zahavi. No início da temporada 2007/8, o israelense tornouse diretor de futebol do Chelsea, o que colocou fogo na tumultuada relação entre Abramovich e Mourinho. Com a saída do português, Grant assumiu o coman-

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do do time — aparentemente, a intenção de Roman Abramovich desde o início. Mourinho era respeitado entre os jogadores, o que levou a manifestações públicas de descontentamento. Drogba, um dos insatisfeitos, declarou não se sentir à vontade no clube sem o português, no que parecia ser – mas acabou não sendo – a primeira de uma série de declarações. Por isso, havia muito ceticismo sobre como Grant “ganharia” o vestiário. “Ele será tão bem-vindo quanto Camilla Parker Bowles no funeral da Princesa Diana”, afirmou, na época da demissão de Mourinho, o ex-jogador do Chelsea Pat Nevin, comparando o caso com o da amante e a ex-mulher do Príncipe Charles. Em entrevista à Trivela de maio, o lateral Belletti, levado ao Chelsea por Mourinho, admitiu que os jogadores questionavam o israelense e faziam comparações entre os técnicos. “Grant era desconhecido por grande parte dos jogadores, até porque nem era técnico. Quer dizer, era no país dele. O Mourinho é muito melhor em todos os fundamentos que dizem respeito à função de treinador”, disse o brasileiro. Kevin McCarra, redator-chefe de futebol do jornal The Guardian, considera natural que os jogadores sintam a falta de Mourinho. “Era inevitável que o elenco suspeitasse de Grant, já que ele não tem reputação que se compare à de Mourinho. Ninguém acredita que Grant teria esse emprego se não fosse amigo de Abramovich”. O jornalista considera que Grant, em diversos momentos, foi apenas um espectador. Após as declarações

1986

1991

1995

1997

2000

Depois de 14 anos trabalhando nas categorias de base do Hapoel Petach-Tikva, assume o time principal. Faz boas campanhas e conquista duas Toto Cup, a segunda copa do país, em cinco anos

Assume o Maccabi Tel-Aviv. Em quatro anos no cargo, conquista dois Campeonatos Israelenses, uma Copa de Israel e uma Toto Cup

Contratado pelo Hapoel Haifa, faz um campeonato apenas discreto e termina em quarto lugar

Retorna ao Maccabi Tel-Aviv, mas não tem bons resultados em quatro anos. A Toto Cup, em 1999, é o único título

No Maccabi Haifa, conquista o Campeonato Israelense duas vezes seguidas e uma Toto Cup

2002 Grant é anunciado como treinador da seleção israelense. Destaca-se por terminar invicto as eliminatórias da Copa de 2006

Jack Guez/AFP

Junho de 2008

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Carl De Souza/AFP

de Drogba em favor do português, o israelense poderia afastar o jogador. Mas Grant precisa mais do marfinense do que o oposto. “Quando está em forma, Drogba é um dos melhores do mundo e decide uma partida. Então, Grant não pode barrá-lo”, comenta McCarra.

Quem manda?

No Chelsea, Grant é o técnico, mas os jogadores mandam

2006

2007

2008

Vai para a Inglaterra como diretor-técnico do Portsmouth, time de Alexandre Gaydamak, filho de Arcady Gaydamak, dono do Beitar Jerusalém

Em julho, deixa o Portsmouth para assumir o cargo de diretor de futebol do Chelsea. Em setembro, é confirmado como novo técnico do Chelsea. Em dezembro, assina um contrato de quatro anos com os Blues

Em fevereiro, o Chelsea perde a final da Copa da Liga Inglesa para o Tottenham, mas reage nos meses seguintes. É vice-campeão inglês e chega a uma inédita final da Liga dos Campeões

Em outubro de 2007, o Chelsea foi buscar o holandês Henk ten Cate, que era técnico do Ajax e havia sido assistente de Frank Rijkaard no Barcelona, para auxiliar Grant. Ten Cate passou a dividir com Steve Clarke, remanescente da comissão técnica de Mourinho, a missão de dirigir os treinos da equipe. Avram “só” define os titulares, dá a preleção e comanda o time nos jogos. Essa estrutura é comum na Inglaterra, onde os técnicos são “managers” (“gerentes”, em tradução literal). As exigências dessa função não podem ser menosprezadas. Os “managers” são responsáveis por administrar os elencos de clubes milionários, profissionais vaidosos que nem sempre estão dispostos a receber ordens. No caso de Grant, o modo de fazer isso foi não interferir. Uma opinião constante entre os analistas ingleses é a de que o elenco do Chelsea decidiu, após a derrota para o Tottenham na final da Copa da Liga Inglesa, assumir a responsabilidade dentro de campo. Isso se deveria também aos questionamentos a respeito do conhecimento tático do israelense. Até em sua terra natal ele é contestado. Na época da boa campanha de Israel nas eliminatórias da Copa de 2006, uma expressão comum no país era “hatachat shel Avram”, (“o traseiro de Avram”), em referência à sorte do treinador. Um exemplo de favorecimento do acaso seria o crescimento de Ballack. Sob o comando de Grant, o alemão viveu seu melhor momento em Stamford Bridge. Para muitos, é um mérito do israelense. McCarra, do Guardian, discorda: “Com Mourinho, Ballack estava sempre machucado e até fez uma cirurgia. As pessoas tinham até esquecido dele, que ficou em paz e se recuperou. Grant não fez nada especial para Ballack melhorar”. P Por mais que se possa comparar os resultados do israe raelense aos de Mourinho, é inegável também que o ex ex-técnico do Porto fez o “trabalho sujo” para Grant. De Deixou em Stamford Bridge um time montado, com pro profundidade de elenco e autoconfiança – que sumiu po por algumas rodadas, mas acabou retornando. Além d disso, nunca é demais lembrar que Mourinho ganhou dois títulos ingleses com relativa facilidade, enquanto Grant termina a temporada sem nenhum troféu. Os depoimentos vindos de Londres são quase unânimes ao dizer que a grande campanha do Chelsea se deve principalmente à “autogestão” dos jogadores. Ainda assim, Grant mereceria menção por, no mínimo, não obstruir esse processo. Com isso, esteve perto de atingir o ápice sem nem ao menos ter treinado o time por uma temporada inteira. Ele entrará para a história como o primeiro treinador a levar os Blues a uma final de Liga dos Campeões. Seja isso justo ou não. Saiba mais sobre futebol inglês em www.trivela.com/inglaterra

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FESTA

à européia No Velho Continente, a Eurocopa recebe atenção comparável a uma Copa do Mundo por Tomaz R. Alves

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GRUPO A

GRUPO B

GRUPO C

GRUPO D

8/6 - 13h - Viena

9/6 - 13h - Zurique

10/6 - 13h - Innsbruck

x

Rep. Tcheca

7/6 - 15h45 - Genebra

Portugal

x

Turquia

11/6 - 13h - Genebra

Rep. Tcheca

x

Portugal

11/6 - 15h45 - Basiléia

Suíça

x

Turquia

15/6 - 15h45 - Basiléia

Suíça

x

Portugal

15/6 - 15h45 - Genebra

Turquia

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para a fase inicial). Em relação à Copa América, a diferença é ainda maior: em 2007, pagava-se de € 3 a € 27 para assistir a um jogo na Venezuela. Mesmo com esses valores, a demanda é muito maior que a oferta de ingressos, o que deverá resultar em muitos torcedores de fora dos estádios. Para atendê-los, Áustria e Suíça planejam repetir a fórmula das bem-sucedidas “fan fests” da Copa de 2006. Assim, telões cercados de barraquinhas de comida e bebidas serão espalhados em grandes praças das cidadessede, transformando as exibições das partidas em grandes festas. Nas próximas páginas, apresentamos todas as 16 seleções que disputarão a Euro-2008. Você ficará por dentro dos pontos fortes e fracos dos participantes, além de conhecer os oito estádios que receberão o torneio. Para os europeus, a Eurocopa trará muita diversão. Esperamos que para você também.

7/6 - 13h - Basiléia

Suíça

42

ças), mas também para criar uma nova imagem. Austríacos e suíços esperam que a exposição sirva para quebrar alguns estereótipos negativos – como, por exemplo, que são frios e pouco receptivos. Com isso, procuram aumentar seus ganhos com turismo, inclusive para pessoas que não se interessam por futebol. Portugal, por exemplo, viu sua renda turística crescer quase 8% em 2004. Nos anos seguintes, esse valor continuou aumentando, graças à “propaganda” feita pela Eurocopa. A Euro-2008 tem a particularidade de ser disputada em estádios relativamente pequenos, com capacidade média de 34,6 mil lugares. É o menor índice desde a Euro-92, quando o torneio ainda contava com oito participantes. Não à toa, o preço dos ingressos está salgado. Ver uma partida da primeira fase custa entre € 45 e € 110, preço superior ao cobrado na última Copa do Mundo (entre € 35 e € 100,

x

Rep. Tcheca

Áustria

x

Croácia

8/6 - 15h45 - Klagenfurt

Alemanha

x

Polônia

12/6 - 13h - Klagenfurt

Croácia

x

Alemanha

12/6 - 15h45 - Viena

Áustria

x

Polônia

16/6 - 15h45 - Klagenfurt

Polônia

x

Croácia

16/6 - 15h45 - Viena

Áustria

x

Alemanha

Romênia

x

França

9/6 - 15h45 - Berna

Holanda

x

Itália

13/6 - 13h - Zurique

Itália

x

Romênia

13/6 - 15h45 - Berna

Holanda

x

França

17/6 - 15h45 - Berna

Holanda

x

Romênia

17/6 - 15h45 - Zurique

França

x

Itália

Espanha

x

Rússia

10/6 - 15h45 - Salzburgo

Grécia

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Suécia

14/6 - 13h - Innsbruck

Suécia

x

Espanha

14/6 - 15h45 - Salzburgo

Grécia

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Rússia

18/6 - 15h45 - Salzburgo

Grécia

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Espanha

18/6 - 15h45 - Innsbruck

Rússia

x

Suécia

* horários de Brasília

este mês de junho, a Áustria e a Suíça recebem o segundo maior evento do mundo do futebol. Os Jogos Olímpicos são mais importantes como um todo, e a Copa América pode ter mais tradição, mas é indiscutível que, em relevância futebolística, a Eurocopa só perde para a Copa do Mundo. E a diferença de importância entre a Euro e o Mundial, para os europeus, não é grande. A última Copa do Mundo, aliás, referendou a máxima de que o torneio nada mais é do que “a Eurocopa com Brasil e Argentina”. Afinal, os únicos dois times de fora do Velho Continente que chegaram às quartasde-final do Mundial foram justamente os gigantes sul-americanos. A importância da Eurocopa dentro do continente é tal que os anfitriões esperam usar o evento não só para ganhar dinheiro (movimentando quase € 1 bilhão, com a chegada de 5,4 milhões de turistas, segundo estimativas suí-

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5/22/08 3:46:12 AM


Fabrice Coffrini/AFP

Ausência de peso

QUARTAS-DE-FINAL

Pela primeira vez desde que a Eurocopa passou a receber 16 participantes, o torneio não contará com uma das potências do continente. A Inglaterra deu vexame nas eliminatórias e não conseguiu se classificar para a Euro. Os ingleses caíram num grupo de média dificuldade, no qual Rússia e Croácia eram os principais adversários. Com resultados irregulares, a Inglaterra chegou à última rodada precisando de um empate em casa contra os já classificados croatas. Mas o English Team perdeu por 3 a 2, ficando de fora de um grande torneio pela primeira vez desde 1994. Para frustração da BBC, que pagou um valor recorde para adquirir os direitos de transmissão da Euro, os outros britânicos também não se classificaram para o torneio. Mas Escócia e Irlanda do Norte merecem menções honrosas. Os escoceses fizeram campanha memorável num grupo que tinha França, Itália e Ucrânia e brigaram pela vaga até a última rodada. A Irlanda do Norte ganhou em casa de Espanha, Suécia e Dinamarca e só não foi para a Euro porque perdeu pontos para Islândia e Letônia.

FINAL

QUARTAS-DE-FINAL

X

1º A

1º C

29/6 - 15h45 - Viena 2º B

SEMIFINAL

SEMIFINAL

20/6 - 15h45 - Viena

2º D

21/6 - 15h45 - Basiléia

19/6 - 15h45 - Basiléia

25/6 - 15h45 - Basiléia

26/6 - 15h45 - Viena

22/6 - 15h45 - Viena

1º B 2º A

Fichas das seleções

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Principais títulos

Melhor colocação na Euro

Ranking da Fifa

Time-base nos últimos jogos

Legenda noonno 1º D nonono 2º C nonononono

Técnico

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SUÍÇA

Nos últimos anos, a Suíça se destacou com jogadores jovens como Senderos, Barnetta e Frei. Essa geração, surgida em 2002, encontrou no técnico Köbi Kuhn o respaldo para firmar seu espaço e estar no auge na Eurocopa, que o país organiza com a Áustria. Não será fácil, pois o sorteio não ajudou. A estréia acontece contra a perigosa República

Tcheca. Na partida seguinte, os helvéticos pegam a Turquia. Depois dos incidentes nas eliminatórias para o Mundial2006, espera-se um clima pouco amistoso. A última partida é contra Portgual, atual vicecampeão europeu. O clima é de pessimimo. Os suíços enfrentaram equipes fortes como Alemanha, Argentina e Inglaterra na preparação e tiveram

REP. TCHECA

A República Tcheca não é mais a mesma que chegou às semifinais da Euro em 2004. Sem Nedved e Poborsky, aposentados, nem Rosicky, contundido, a seleção perdeu boa parte de sua força e dificilmente repetirá o futebol ofensivo que a notabilizou. Até por isso, deve apostar na defesa. O setor vem em boa fase. Nas eliminatórias, sofreu apenas cinco gols em 12 partidas. No entan-

to, é válido considerar que os zagueiros tchecos só tiveram dois testes de verdade, nas partidas contra a Alemanha. Isso pode ter encoberto a forma oscilante que Rozehnal e Jankulovski apresentaram nesta temporada. Não bastasse isso, o treinador Karel Brückner está de saída. A decepção na Copa do Mundo de 2006 gerou um desgaste que se agravou com um escândalo en-

PORTUGAL P

Muitas opções em alguns setores, escassez em outros. Esse é o dilema que acompanha Portugal e seu técnico, Luiz Felipe Scolari, na Eurocopa. Por exemplo, para atacar pelos lados, a equipe das Quinas tem jogadores como Cristiano Ronaldo, Simão, Quaresma e Nani. Na hora de escolher o homem de área, porém, a situação é crítica. Nuno Gomes herdou de Pauleta a con-

dição de titular e, como o antecessor, não é o centroavante dos sonhos. Só joga porque Hélder Postiga e Hugo Almeida são menos confiáveis ainda. Esse problema é comum em outros setores da seleção portuguesa. Na lateral-direita, Felipão pode escolher entre Miguel, Paulo Ferreira e Bosingwa. Na esquerda, o único convocado é Jorge Ribeiro, irmão de Maniche.

TURQUIA

O terceiro lugar na Copa de 2002 indicava um futuro promissor para a seleção turca. No entanto, a Milli Takim não passou mais das eliminatórias desde então — um sinal de que as coisas não iam tão bem na Turquia. Para a Euro-2008, os turcos voltaram a assustar sua torcida. Depois de vencer nas quatro primeiras rodadas, incluindo uma goleada por 4 a 1 sobre a

Grécia, em Atenas, os comandados de Fatih Terim despencaram. A equipe teve resultados preocupantes, como empates com Malta e Moldova. No final, reencontrou seu futebol, superou a Noruega no confronto direto e classificou-se na última rodada. O time não é brilhante, mas conta com alguns jogadores em boa fase e pode dar trabalho. A principal figura é Nihat.

Getty Images/AFP

GRUPO A

Cristiano Ronaldo tenta levar o título que escapou em 2004

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man são inexperientes. A situação só não é mais preocupante porque, do meio para a frente, o time é bom. Os volantes Fernandes e Inler vêm dando conta do recado na marcação. Mais à frente, Behrami, Hakan Yakin e Barnetta armam as jogadas para Frei. Com um ataque inspirado, a Suíça pode fazer o que se espera: não decepcionar em casa. [MA]

Association Suisse de Football / Schweizerischer Fussballverband

volvendo atletas e prostitutas. A partir daí, começou-se a questionar a autoridade do técnico, que anunciou que deixa o cargo ao final da Eurocopa. Na despedida, ele terá pela frente um grupo acessível. A maior ameaça é Portugal. A Suíça, mesmo diante de seus torcedores, não surge como um empecilho pelo que se viu nos amistosos de preparação, enquanto

a Turquia não se firmou após o Mundial de 2002. Para evitar surpresas, será fundamental contar com os gols de um ataque que não passa confiança. Na última temporada, Baros e Koller não se firmaram em Portsmouth e Nuremberg, e Fenin precisa amadurecer. Pior para a torcida tcheca, que tem menos motivos para esperar uma boa campanha em 2008. [MA]

Ceskomoravsky Fotbalovy Svaz

A solução deve ser utilizar Paulo Ferreira como lateral-esquerdo, com Miguel se mantendo como titular na direita. Fazendo jus a sua idéia de “família”, Scolari – que deve deixar os Tugas ao final da Euro – mantém a confiança em nomes que tiveram uma temporada ruim, como Deco, Petit e o goleiro Ricardo. O fato de esses jogadores, especialmente Deco, terem

atuado pouco em seus clubes pode se transformar em algo favorável do ponto de vista físico. Apesar de algumas deficiências notáveis no elenco, Portugal aposta em suas chances de pelo menos repetir o desempenho de 2004, quando chegou à final. A julgar pela tabela, é um objetivo possível. O maior obstáculo seria um cruzamento com a Alemanha nas quartas ou nas semifinais. [LB]

Federação Portuguesa de Futebol

Depois de um início titubeante no Villarreal, o atacante voltou a mostrar oportunismo. Seu companheiro de ataque na seleção turca é Tuncay, que pode atuar também como meia ofensivo. Na defesa, os nomes não são dos mais empolgantes. Nos últimos meses, quem ganhou espaço foi o volante Mehmet Aurélio, brasileiro naturalizado turco, e o goleiro Volkan Demirel.

Com essa base, os turcos terão difícil tarefa na Eurocopa. O jogo mais aguardado é o duelo contra a Suíça. No encontro das duas seleções nas eliminatórias para a última Copa, o jogo foi tenso e acabou com briga campal e a Suíça classificada. Desde então, há uma rivalidade entre as equipes. A Turquia só espera que, desta vez, os suíços é que saiam de campo derrotados. [MK]

Türkiye Futbol Federasyonu

Fotos Divulgação

maus resultados. Conseqüência: desconfiança da torcida. Kuhn tem de lidar com a contusão de diversos jogadores e com os problemas da defesa. O setor não tem mais a confiabilidade da Copa do Mundo, quando voltou para casa sem sofrer gols. Senderos vem de um inferno astral no Arsenal, Djourou e Müller praticamente não jogaram nesta temporada, e Grichting e Eggi-

Nenhum Primeira fase em 1996 e 2004 48º Benaglio; Philipp Degen, Djourou, Senderos e Magnin; Fernandes, Inler, Vonlanthen, Margairaz e Barnetta; Frei

Basiléia

Köbi Kuhn

Estádio St. Jakob-Park Capacidade 42.500 Clube Basel

Nenhum Campeã em 1976* e vice-campeã em 1996 Cech; Ujfalusi, Rozehnal, Jiranek, Jankulovski; Rosicky, Galasek, Polak, Plasil; Baros e Koller Karel Brückner

* como Tchecoslováquia

O St. Jakob-Park, maior estádio da Suíça, receberá as partidas da seleção local, além de duas quartas-definal e uma semifinal. Em 2006, foi palco de uma batalha campal envolvendo torcedores e jogadores, após um jogo entre Basel e Zürich que decidiu o campeonato. Tem a classificação quatro estrelas da Uefa.

Nenhum Vice-campeã em 2004 9º Ricardo; Miguel, Fernando Meira, Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira; Petit, Miguel Veloso, Simão, Deco e Cristiano Ronaldo; Nuno Gomes. Luiz Felipe Scolari (BRA)

Nenhum Quartas-de-final em 2000 25º Rustu; Servet Çetin, Zan, Sabri Sabrioglu e Uzumlez; Mehmet Aurélio, Hamit Altintop, Karadeniz e Arda; Tuncay e Nihat Fatih Terim

Genebra Estádio Stade de Genève Capacidade 32.000 Clube Servette Portugal fará seus dois primeiros jogos no estádio, inaugurado em 2003. O local recebe as partidas do Servette, clube tradicional que enfrentou dificuldades financeiras e atualmente joga a segunda divisão suíça. Foi palco de um dos grandes jogos de seleções dos últimos anos: Argentina 2x3 Inglaterra, em 2005.

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ÁUSTRIA

Indagado a respeito da qualidade da seleção de seu país, o ex-atacante Toni Polster fuzilou: “Este é o pior time austríaco de todos os tempos”. Nos últimos dois anos, a Áustria jogou um futebol lento e opaco, que a levou a derrotas para equipes sem tradição como Canadá e Venezuela. O time não impõe respeito a ninguém, nem a seus próprios torcedores – cerca de 10 mil deles

sugeriram a desistência da Euro para evitar um vexame. Para contrariar o pessimismo, o técnico Josef Hickersberger aposta em caras novas para conquistar o público de casa e ter um bom desempenho. O problema é que o nível de descrédito é muito grande. O jogador de maior destaque é Ivanschitz. A entressafra é preocupante e afeta todos os setores do time.

CROÁCIA

Slaven Bilic era um dos principais zagueiros da Croácia na década de 1990, naquela que foi a primeira geração do país após a separação da Iugoslávia. Hoje técnico, ele tem boa noção de qual o potencial do futebol croata. E o treinador diz que a atual seleção tem a classe e o espírito de sua época. Bem, sua opinião é suspeita. Ele é o comandante da Croácia,

e o futebol mostrado pelos quadriculados na Copa do Mundo de 2006 foi opaco. De qualquer modo, é inegável que houve progresso desde então. Eliminar a Inglaterra nas eliminatórias é uma prova disso. Desde que assumiu a Croácia, logo após o Mundial, Bilic trocou o tradicional esquema 3-5-2 pelo 4-1-3-2, com Niko Kovac no papel de meia de-

ALEMANHA A

Tradição e, para muitos, a melhor seleção da Europa. Após uma boa campanha nas eliminatórias, a Alemanha chega à Euro-2008 com a possibilidade de deixar para trás as decepcionantes campanhas de 2000 e 2004 – quando a Nationalelf sequer passou pela fase de grupos – e conquistar seu quarto título europeu. Há motivos para acreditar nisso. Joachim Löw era o auxiliar

de Jürgen Klinsmann na Copa de 2006 e sua escolha como técnico principal foi polêmica. No entanto, ele manteve o bom trabalho feito pelo ex-atacante. Além disso, as duas principais figuras no meio-campo, Frings e Ballack, estão de volta e podem dar estrutura ao time. O problema está nos outros setores, em que os homens mais importantes vivem mau momen-

POLÔNIA

A Polônia saiu da Copa de 2006 com o ânimo devastado. Nem a vitória sobre a Costa Rica na despedida atenuou a decepção de perder para Alemanha e, principalmente, Equador. Para dar um novo ânimo à seleção, a Federação Polonesa chamou o técnico Leo Beenhakker. Os resultados vieram rapidamente. Nas eliminatórias da Euro, a Polônia conquistou o

primeiro lugar de um grupo que tinha equipes tão ou mais tradicionais, como Portugal, Sérvia e Bélgica. Isso foi conseqüência direta do bom trabalho do treinador holandês. Ele deu nova confiança aos jogadores e ainda fez o time melhorar sua troca de passes, que se tornou mais rápida e objetiva. Com esse incremento do lado coletivo, a Polônia pôde compensar a falta

Frings: segurança no meiocampo alemão

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John Macdougall/AFP

GRUPO B

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Parece estranho um insucesso gerar alguma satisfação, mas a Áustria jogou bem até metade do segundo tempo. O fenômeno repetiu-se contra a Holanda. Depois de fazer 3 a 0, a equipe tomou a virada: 4 a 3. Ficou evidente que sua limitação se estende à parte física. Sem moral, técnica ou fôlego, a Áustria entra na Euro com a vantagem de não ter nada a perder. [RM]

Österreichischer Fussballbund

fensivo. No trio a sua frente, sobressai o ambidestro e promissor Modric, que defenderá o Tottenham depois da Euro. Outra inclusão promovida por Bilic foi a de Corluka, lateral de 1,92m que cumpriu boa temporada de estréia na Premier League, pelo Manchester City. O time estaria ainda mais forte se, diante desse meio-campo criativo, estivesse o brasileiro

naturalizado croata Eduardo da Silva. O atacante do Arsenal, vice-artilheiro das eliminatórias da Eurocopa (marcou 10 gols em 12 jogos), não poderá participar da competição, por conta da terrível fratura sofrida em fevereiro. O desfalque do ágil homem-gol abalou o otimismo da Croácia, mas o discurso ambicioso de Bilic continuou afiado. [RM]

Hrvatski Nogometni Savez

to. No gol, Lehmann tem bom retrospecto pela seleção, mas é visto com desconfiança por ter perdido a titularidade do Arsenal para o nada brilhante Almunia. Na defesa, Christoph Metzelder ficou boa parte da última temporada contundido e atuou pouco pelo Real Madrid. O ataque tem muitas opções. Kuranyi e Mario Gómez vivem boa fase em seus clubes. No en-

tanto, a dupla titular do Mundial, Klose e Podolski, vem de temporada apagada — tanto que o veterano Neuville ainda tem espaço na Nationalelf. Se Löw deixar os problemas de lado e fizer a seleção explodir na hora certa, a Alemanha é favorita ao título. Para isso, o técnico só precisa se espelhar no que ocorreu com os alemães na Copa do Mundo. [LZ]

Deutscher Fussball-Bund

de talentos no elenco. Alguns integrantes da equipe polonesa, como Krzynówek, não são titulares em seus clubes. Outros, como Bak e Zurawski, estão longe de seus melhores momentos. O promissor atacante Smolarek decepcionou no Racing de Santander. Um sinal da ausência de talentos é a naturalização do lateral-esquerdo Roger, ex-Corinthians

e Flamengo, para ter condições de ser convocado. O posto de estrela do time, portanto, está vago. O goleiro Boruc está à espreita, mas a realidade é que o destaque tem sido Beenhakker. Para um técnico que levou Trinidad e Tobago a uma campanha digna na última Copa, classificar os poloneses às quartas-de-final da Euro nem parece tão impossível. [RM]

Polski Zwiazek Pilki Noznej

Fotos Divulgacão

Talvez seja a defesa o menos prejudicado. À frente do goleiro Manninger, os austríacos contam com os experientes Pogatetz e Stranzl e com Prödl, bom nome do Mundial sub-20 de 2007. Se Hickersberger optar pelo 3-5-2, será essa a retaguarda titular. Há uma boa chance de isso ocorrer, pois foi o esquema usado na derrota diante da Alemanha, por 3 a 0, em fevereiro.

Nenhum Quartas-de-final em 1960 101º Manninger; Prödl, Stranzl e Pogatetz; Garics, Aufhauser, Säumel, Fuchs e Ivanschitz; Harnik e Linz Josef Hickersberger

Klagenfurt Estádio Hypo-Arena Capacidade 32.000 Clube Austria Kärnten Com custos de construção na casa de € 66 milhões, o Estádio Wörthersee, que receberá dois jogos da Alemanha, foi inaugurado há menos de um ano e pertence à prefeitura local. Após a competição, o campo receberá as partidas do Austria Kärnten, da primeira divisão austríaca.

Nenhum Quartas-de-final, em 1996 13º Pletikosa; Corluka, Simic, Robert Kovac e Simunic; Niko Kovac, Srna, Modric e Kranjcar; Olic e Petric Slaven Bilic

3 Copas do Mundo, 3 Eurocopas

5º Lehmann; Friedrich, Metzelder, Mertesacker e Lahm; Frings, Borowski, Hitzlsperger e Ballack; Klose e Gómez Joachim Löw

1 Ouro olímpico Oitavas-de-final (primeira fase) em 1960 27º Boruc; Wasilewski, Bak, Zewlakow e Bronowicki; Dudka, Lewandowski, Blaszczykowski e Krzynówek; Zurawski e Smolarek Leo Beenhakker (HOL)

* como Alemanha Ocidental

Campeã em 1972*, 1980* e 1996

Viena Estádio Ernst Happel Capacidade 32.000 Clube Seleção austríaca Reformado para receber 53 mil espectadores, o palco da decisão da Eurocopa já viu quatro finais da Liga dos Campeões. O estádio leva o nome de um dos maiores técnicos austríacos de todos os tempos e receberá três jogos na fase de grupos, mais duas quartas-de-final e uma das semifinais. Tem a classificação cinco estrelas da Uefa.

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HOLANDA

Em 1988, Marco van Basten ajudou a Holanda a se sagrar campeã européia. Vinte anos depois, ele tenta repetir a façanha como técnico da Oranje, justamente em sua última oportunidade no comando da equipe. Após a participação decepcionante no Mundial de 2006, o ex-atacante recebeu nova chance, mas decidiu permanecer apenas até o final da Euro-2008.

Na despedida do treinador, a Holanda terá uma missão difícil. Na primeira fase, os holandeses enfrentarão as tradicionais Itália e França e a Romênia, que superou os “laranjas” nas eliminatórias. Além disso, o time não tem convencido a torcida. Um dos problemas são os atritos internos. A “Batalha de Nuremberg”, como ficou conhecida a derrota para Portugal na Copa

ITÁLIA

Um fardo. É assim que o título mundial que a Itália conquistou em 2006 cai nas costas de Roberto Donadoni. O atual técnico da Azzurra tem, desde que assumiu o cargo, a responsabilidade de manter a equipe no topo. Qualquer coisa a menos será vista como um fracasso. Tanto isso é verdade que Donadoni corre risco de demissão, mesmo tendo renovado seu con-

trato. Para manter o emprego, ele precisa voltar com uma boa participação na Euro. Nesse ambiente, o treinador necessitará de muita dedicação de seus jogadores. Elenco, há. Buffon, um dos melhores goleiros do mundo, é o líder de uma boa defesa, mesmo com Nesta aposentado da seleção. O setor, que ainda conta com Zambrotta e Barzagli, é uma base sólida para o time.

R ROMÊNIA Ê

Victor Piturca foi o responsável por conduzir a Romênia a seu último torneio internacional – a Euro-2000 –, mas não pôde comandá-la no torneio. Antes da competição, discutiu com os veteranos Hagi e Popescu e foi demitido. Agora, ele está de volta à seleção balcânica. E com potencial para ir longe. Para isso, será preciso uma boa dose de surpresa. O sorteio

não foi generoso com os romenos, que terão pela frente França, Itália e Holanda. Para superar essas potências, Piturca contará com cinco jogadores que atuam juntos desde o início da década: Lobont, Contra, Chivu, Mutu e Florentin Petre. O goleiro Lobont é o principal nome de uma retaguarda que, mesmo tendo sofrido apenas sete gols nas eliminatórias, não é

FRANÇA

Esqueçam o vice-campeonato mundial em 2006. O técnico Raymond Domenech terá pela frente um teste de fogo em seu processo de renovação da França. Em seu primeiro grande torneio após a despedida definitiva de Zidane, os Bleus apostam em uma nova geração para novamente voltar ao caminho dos títulos. As maiores dúvidas estão no ataque. Embora Trezeguet pas-

se por excelente fase, Domenech preferiu deixar o jogador da Juventus de fora da lista de convocados. O treinador prefere Benzema, destaque do Lyon na temporada e artilheiro da Ligue 1. O problema é que a explosão do lionês não resolve as dúvidas da França no setor ofensivo. Henry sucumbiu com a campanha discreta do Barcelona, Anelka é reserva de luxo no Chelsea,

Getty

Images /AFP

GRUPO C

Itália confia nos gols de Toni

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Oranje venceu por 3 a 0, em uma de suas melhores atuações sob o comando do treinador. Em relação a nomes, a Holanda que vai à Euro não muda muito em relação à da Copa de 2006. Entre os pré-convocados para o Europeu, 19 estiveram no Mundial — sinal de que pode ser a última oportunidade pela seleção não apenas para Van Basten, mas para muitos jogadores. [LB]

Koninklijke Nederlandse Voetbalbond

No meio-campo, Donadoni tem mais dúvidas. Sem Totti (de fora da seleção depois de polêmica com o treinador), o técnico pode montar o time no 4-2-3-1 ou 4-1-4-1. A base é a mesma nos dois casos: Pirlo e Gattuso. Na frente, já se sabe: a vaga é de Toni, atacante do Bayern de Munique. O centroavante está numa fase fantástica. Assim, o posto de “vice-Toni” deve ficar

com Borriello, artilheiro do último Italiano, já que o veterano Filippo Inzaghi não foi convocado. A tensão à qual a Itália está submetida é muito menor do que a sentida antes da Copa de 2006, então enlameada pelo “Calciocaos”. É um sinal de que lidar com pressão é uma especialidade dos italianos, que, por isso, não devem ser descartados da lista de candidatos ao título. [CRG]

Federazione Italiana Giuoco Calcio

confiável. Os zagueiros Goian e Tamas são lentos, e os laterais Contra e Rat avançam demais. A Tricolorii tenta contornar o problema com o uso de dois volantes dedicados exclusivamente à marcação. Outra possibilidade é mudar a formação. Em um confronto decisivo contra a Holanda, pelas eliminatórias, ele anulou o adversário com a escalação de três volantes.

Ofensivamente, a responsabilidade de decidir fica com Mutu, que cresce de rendimento ano após ano. O atacante vem de uma excelente temporada com a Fiorentina e foi fundamental na classificação dos Viola à Liga dos Campeões. Talvez não seja suficiente para passar por franceses, italianos e holandeses, mas justifica a (pequena) esperança dos torcedores romenos. [MA]

Federatia Romana de Fotbal

e Cissé demonstra irregularidade no Olympique de Marselha. Na defesa, o cenário não é dos melhores. O miolo de zaga está longe de ser hermético — tanto que os laterais se atêm mais à marcação, deixando um pouco de lado os avanços pelas pontas. Assim, a seleção francesa depende muito da inspiração de seu meio-campo. Para isso, conta com o talento de Ribéry e do

jovem Nasri, instável na seleção. O setor ainda conta com outra cara nova: Toulalan, volante seguro na marcação. Considerando que está em fase de transição e pega as fortes Itália, Holanda e Romênia, a França precisa de bons resultados na primeira fase para ganhar confiança e ir longe no torneio. Assim, uma eliminação prematura não seria surpreendente. [RE]

Fédération Française de Football

Fotos Divulgacão

de 2006, expôs feridas nas relações entre Van Basten e jogadores como Van Bommel e Seedorf. Ambos abandonaram a seleção. Para tornar o time mais eficiente, Van Basten chegou a abrir mão do 4-3-3. No amistoso realizado em fevereiro contra a Croácia, a equipe jogou no 4-2-3-1, o que permitiu a utilização de Sneijder e Van der Vaart, sem desequilibrar a marcação. A

1 Eurocopa Campeã em 1988 10º Van der Sar; Heitinga, Ooijer, Mathijsen e Bouma; De Zeeuw, Van Bronckhorst, Van der Vaart, Sneijder e Van Persie; Van Nistelrooy Marco van Basten

4 Copas do Mundo, 1 Eurocopa, 1 Ouro olímpico Campeã em 1968 3º Buffon; Oddo, Cannavaro, Barzagli e Grosso (Zambrotta); Gattuso, Pirlo, Camoranesi, Perrotta e Di Natale; Toni Roberto Donadoni

Berna Estádio Stade de Suisse Wankdorf Capacidade 32.000 Clube Young Boys Construído no lugar do estádio da final da Copa do Mundo de 1954, quando a Hungria sucumbiu diante da Alemanha Ocidental, o novo Wankdorf foi inaugurado em 2005. O tradicional Young Boys manda seus jogos no campo, que receberá os três jogos da Holanda.

Nenhum Quartas-de-final em 2000 12º Lobont; Contra, Goian, Tamas e Rat; Codrea, Chivu, Florentin Petre, Dica e Mutu; Marica Victor Piturca

Zurique Estádio Letzigrund Capacidade 30.000 Clube Zürich e Grasshopper

1 Copa do Mundo, 2 Eurocopas Campeã em 1984 e 2000 7º Coupet; Sagnol, Thuram, Gallas e Abidal; Makélélé, Vieira e Ribéry; Anelka, Malouda e Henry Raymond Domenech

O estádio que receberá o tira-teima entre Itália e França foi totalmente reconstruído para a Eurocopa. É a casa do Zürich, mas será temporariamente sede do Grasshoppers até a inauguração do novo estádio do clube, prevista para 2010. Também recebe competições de atletismo.

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GRÉCIA

Em 2004, a seleção grega fez história e conquistou a Euro em Portugal. Com o título, nomes como Otto Rehhagel, Zagorakis – eleito melhor jogador da competição –, Katsouranis, Karagounis e Charisteas ganharam projeção internacional. A água no chope lusitano rendeu aos helênicos o curioso apelido de “Navio Pirata”. Quatro anos depois, os gregos têm pela frente um cenário mui-

to parecido com o de quatro anos atrás. O grupo D da Euro-2008 é quase uma reedição do grupo A de 2004. Grécia, Rússia e Espanha estiveram juntos nos dois casos. A única mudança é a saída de Portugal e a entrada da Suécia. O que também mudou pouco foi o time helênico. Rehhagel arma a equipe num versátil 4-5-1, que pode mudar para 4-4-2. O objetivo inicial é buscar os con-

SUÉCIA

O técnico Lars Lagerback chocou a Suécia ao chamar o veterano Henrik Larsson para a Eurocopa. Aos 36 anos, o atacante chegou a anunciar a aposentadoria da seleção, mas mostrou bom futebol no Helsingborgs e decidiu continuar mais um ano. Ainda assim, em uma análise superficial, é difícil entender essa convocação. No entanto, avaliando um

pouco o cenário diante do treinador, faz sentido. Lagerback pretende lançar algumas promessas, como Sebastian Larsson, Fredrik Stoor e Mikael Dorsin. Por isso, é importante ter jogadores experientes e confiáveis onde for possível. Henrik Larsson também ganhou espaço devido às dúvidas a respeito da forma física de Zlatan Ibrahimovic, que se recupe-

A Espanha não vai à Áustria como candidata ao título. Tem, entretanto, talentos razoáveis para, no mínimo, merecer respeito. O símbolo da transformação por que passou a equipe é a ausência de Raúl na convocação e a presença de Fernando Torres. Enquanto o primeiro nunca passou de ídolo local para um “grande” do futebol mundial, “Nino” firmou-se como um dos melhores

atacantes da Europa, após ótima temporada pelo Liverpool. A grande força da “Fúria” está no meio-campo. O técnico Luis Aragonés gosta do 4-4-2, mas usou, nas últimas partidas, o 4-1-4-1. Nesse esquema, um volante mais fixo dá liberdade para um quarteto bastante talentoso: Xavi, Fàbregas, Iniesta e David Silva. Na frente, Fernando Torres (ou Villa) é a referência.

Há tempos a seleção russa não era tão respeitada. Com uma classificação obtida diante da Inglaterra e o holandês Guus Hiddink no banco de reservas, a Rússia chega à Eurocopa com status de potencial surpresa. Se o título é um sonho distante, a classificação para as quartas-definal é um objetivo concreto. Desde a chegada de Hiddink, há dois anos, a Rússia cresceu

muito de produção e, com uma base definida (normalmente escalada no 4-4-2), tem no entrosamento um de seus pontos fortes. Além disso, aproveita-se de uma boa safra de jogadores, casos do goleiro Akinfeev, do volante Bilyaletdinov e dos atacantes Arshavin e Pogrebnyak. O potencial é bom, mas falta experiência internacional. Desde a separação da União Soviética,

GRUPO D

Torres fez Espanha esquecer Raúl

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ES ESPANHA

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RÚSSIA

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A manutenção da base ajuda a dar sentido coletivo ao time, mas também expõe o envelhecimento do time. A média de idade dos titulares é de mais de 30 anos, e alguns jogadores podem se despedir da seleção grega após a competição. Ou seja, para os gregos, muita coisa da Eurocopa de 2008 lembra a de 2004. Mas o resultado final dificilmente será o mesmo. [MK]

Ellinikí Podosferikí Omospondia

ra de lesão no joelho esquerdo. Outro veterano importante é Ljungberg, que retomou seu bom futebol e encaixa-se bem no 4-4-2 da seleção sueca. No ataque, o técnico pôde buscar um veterano para tapar um buraco. O mesmo ele não tem conseguido fazer na defesa. O setor sofre com a contusão do zagueiro Edman e a falta de ritmo de jogo do goleiro Isaksson,

reserva do Manchester City. Por isso, há muita apreensão na torcida a respeito da segurança da retaguarda escandinava. De qualquer modo, o sorteio deu uma mãozinha para os suecos. Ainda que o time tenha problemas, passar por Espanha, Grécia e Rússia é um objetivo factível. Não importa se com Ibrahimovic ou o quase esquecido Henrik Larsson. [LZ]

Svenska Fotbollförbundet

Com esse sistema, há mais variações nas jogadas. No entanto, cria uma dependência do único volante. O mais experimentado na posição foi Albelda, que ficou meses afastado do Valencia e, portanto, sem jogar. O meiocampista só foi reintegrado nas últimas quatro rodadas do Campeonato Espanhol. Na defesa, Casillas passa a segurança de um dos melhores

goleiros do mundo. Sergio Ramos cresce quando atua na lateral direita, mas é estabanado como o colega Puyol. No geral, a Espanha tem uma equipe com potencial melhor que as dos últimos anos. Ainda sofre com a inexperiência, mas tem condições de dificultar a vida dos favoritos. E, mesmo que perca, não deixar a má impressão de sempre. [UL]

Real Federación Española de Fútbol

a Rússia disputou apenas duas competições de alto nível: as Copas de 1994 e 2002. O próprio Hiddink admite que o time precisa de mais intercâmbio, até porque o futebol russo possui dinheiro para manter seus principais jogadores, tirando dos atletas a possibilidade de atuar nos principais centros do continente como Inglaterra, Itália e Espanha. Isso causa alguns problemas

quando o time tem responsabilidade de construir o resultado. Nas eliminatórias, a Rússia foi bem diante de Croácia e Inglaterra, mas perdeu pontos contra Israel. Se os russos estiverem concentrados, podem passar por Espanha, Grécia e Suécia. Seria um sinal de que o passado glorioso da era soviética, quando chegaram a três finais da Eurocopa, pode voltar. [GH]

Rossiiski Futbolnyi Soyuz

Fotos Divulgacão

tra-ataques, o que normalmente resulta num jogo tático e pouco vistoso. Foi assim em Portugal, e isso não deve mudar na Áustria. O elenco também é praticamente o mesmo. Zagorakis aposentou-se, mas quase todos os titulares que venceram a Euro há quatro anos reaparecerão agora. Entre as poucas novidades está o atacante Gekas, do Bayer Leverkusen.

1 Eurocopa Campeã em 2004 8º Nikopolidis; Seitaridis, Kyrgiakos, Dellas e Torosidis; Basinas, Katsouranis, Karagounis e Giannakopoulos; Gekas e Charisteas

Innsbruck

Otto Rehhagel (ALE)

Estádio Tivoli-Neu Capacidade 30.000 Clube Wacker Innsbruck Localizado no coração das montanhas do Tirol, o Tivoli Neu foi inaugurado no início da década e posteriormente remodelado para receber 30 mil pessoas. Espanha, Suécia e Rússia jogarão no estádio, que não receberá jogos de primeira divisão na próxima temporada, por causa do rebaixamento do Wacker Innsbruck.

Nenhum Semifinal em 1992 23º Isaksson; Nilsson, Mellberg e Hansson; Wilhelmsson, Alexandersson, Kallstrom, Allback e Ljungberg; Ibrahimovic e Elmander Lars Lagerback

1 Eurocopa, 1 Ouro olímpico Campeã em 1964 4º Casillas; Sergio Ramos, Puyol, Marchena e Capdevila; Xavi, Fàbregas, Albelda e Iniesta; Fernando Torres e Villa

Salzburgo

Luis Aragonés

Estádio Wals-Siezenheim Capacidade 30.000 Clube Red Bull Salzburg

1 Eurocopa*, 2 Ouros olímpicos* Campeã em 1960* Akinfeev; Anyukov, V. Berezutski, Ignashevich e A. Berezutski; Bilyaletdinov, Zyryanov, Semshov e Zhirkov; Arshavin e Pogrebnyak Guus Hiddink (HOL)

* como União Soviética

25º

O estádio está localizado em um subúrbio de Salzburgo e será sede da Grécia na primeira fase. Inaugurado em 2003, é o palco dos jogos do Red Bull Salzburg no Campeonato Austríaco. A capacidade anterior era de 18,2 mil torcedores, mas subiu para 30 mil com a reformulação feita para a Eurocopa.

Junho de 2008

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Divulgação

CAPITAIS DO FUTEBOL por Gustavo Hofman

Rapid e Austria lutam para recuperar hegemonia dos clubes do interior

Uma cidade que joga por

MÚSICA Nem a má fase da Áustria nas últimas décadas é capaz de acabar com o charme imperial de Viena e sua importância na história do futebol europeu

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e a música clássica pudesse se materializar em uma cidade, há grandes chances de o resultado ser algo parecido com Viena. Há referências óbvias, como o rio Danúbio que passa pela cidade, a Ópera de Viena (uma das mais importantes do mundo) e as inúmeras imagens de Beethoven vendidas em lojas de souvenirs. Mas quem conhece a capital austríaca percebe a relação entre esses ícones musicais com a simplicidade e o charme de uma cidade com mais de 1,7 milhão de habitantes que preserva uma população simpática, arquitetura do período imperial e até a tradição de fazer doces artesanais. Tudo bem, isso é legal e leva milhões de pessoas a escolherem a capital austríaca como destino de férias. Mas o que nem sempre se lembra é que Viena também tem espaço para o bom futebol. E um motivo é bastante claro para qualquer torce-

S

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dor se interessar em conhecer a cidade: a final da Euro-2008, em 29 de junho, será realizada no estádio Ernst Happel. A competição continental recolocará a capital austríaca como protagonista no cenário internacional — uma situação com a qual o Prater (nome original do Ernst Happel) está acostumado. Inaugurado em 1931, o estádio é um dos mais importantes e modernos da Europa. Mas, mais que isso, ele é testemunha viva da época de ouro do futebol austríaco. Entre as décadas de 1930 e 1950, a Europa Central teve um surto de crescimento do futebol. Austríacos, tchecoslovacos e húngaros tinham algumas das melhores equipes do mundo e colocaram em dúvida o domínio britânico no esporte. Viena foi um dos centros desse processo. Afinal, a cidade viu o surgimento do Wunderteam (“time maravilha”), apelido da excelente seleção austríaca da década de 1930. Essa equipe apresentou um futebol inovador pelo modo como envolvia o adversário com trocas rápidas de passes. A Áustria foi semifinalista da Copa do Mundo de 1934 e medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1936. O time poderia ter feito mais se não tivesse a trajetória interrompida pela política. Em 1938, a Alemanha nazista anexou a Áustria e o Wunderteam foi desfeito. Alguns de seus jogadores foram obrigados a defender a Alemanha na Copa do Mundo daquele ano.

Pós-guerra A expansão geográfica alemã, a anexação da Áustria e a Segunda Guerra Mundial levaram o futebol austríaco a profundas mudanças. O primeiro trauma foi a morte de Matthias Sindelar, um dos maiores jogadores da história do país. Apelidado de “Homem de Papel” por seu porte físico e “Mozart do Futebol” pela técnica apurada, o meia do Austria Viena se negou a defender a Alemanha no Mundial de 1938. No ano seguinte, foi encontrado morto em seu apartamento, ao lado da namorada. Mais de 15 mil pessoas acompanharam o funeral do jogador, que recebeu honras de Estado. O craque austríaco descansa no Zentralfriedhof (Cemitério Central) de Viena, onde também estão figuras como Ludwig van Beethoven, Franz Schubert, Johannes Brahms e a família Strauss (Johann, Josef, Eduard e Johann II).

No entanto, nem a perda de seu maior ícone foi suficiente para enfraquecer o futebol austríaco. Com a anexação pelos nazistas, o país se tornou uma região da Alemanha, e seus clubes passaram a atuar nas competições alemãs. E não fizeram feio. O Rapid conquistou um Campeonato Alemão e uma Copa da Alemanha, o First Vienna levou uma Copa, e o Admira chegou a ficar em segundo lugar no Alemão. Nessa época, o Rapid já se consolidava como equipe mais popular de Viena. Os alviverdes ganharam fama de sempre se superarem nos momentos de dificuldade, sobretudo após a vitória por 4 a 3 (depois de estar perdendo por 3 a 0) sobre o Schalke 04, na final do Campeonato Alemão de 1940/1. Até hoje, o clube de Hütteldorf é o de maior projeção internacional, algo reforçado pelos dois vices da Recopa (em 1985 e 1996, me-

lhores participações de clubes austríacos em competições européias). O clube vienense que enfrentou mais dificuldades durante o período nazista foi o Austria Viena. Fundado em 1911 como “Amateure” (o nome atual foi adotado em 1926, com a implantação do profissionalismo), o clube violeta dividia o posto de principal time do país com o Rapid. No entanto, muitos de seus dirigentes e jogadores eram judeus. Alguns conseguiram fugir dos nazistas, mas outros foram mortos pelas tropas alemãs. Para piorar a situação institucional, o Austria ainda lutava para manter o nome, que poderia simbolizar um nacionalismo austríaco contra a anexação por parte do Reich. O clube só se recuperou após a Segunda Guerra Mundial. Nas décadas de 1970 e 1980, o Austria apostou em uma política de fortalecimento das

CLUBES DE VIENA Bundesliga

Sportklub Rapid Wien 32 Campeonatos Austríacos 14 Copas da Áustria 1 Campeonato Alemão 1 Copa da Alemanha

Erste Liga

Fussballklub Austria Magna 23 Campeonatos Austríacos 26 Copas da Áustria

Austria Magna Amateure

Wiener Sportklub 3 Campeonatos Austríacos 1 Copa da Áustria

Sport Verein Magna Wienerberg

Regionalligen

Fernwärme First Vienna Football Club 1894 6 Campeonatos Austríacos 3 Copas da Áustria 1 Copa da Alemanha

Floridsdorfer Athletiksport-Club Team für Viena

Rapid Wien Amateure

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categorias de base e dominou o cenário doméstico. Nos últimos 20 anos, os violetas tiveram problemas financeiros e só se recuperaram com a chegada do empresário Frank Stronach, dono da Magna, fabricante de autopeças que teve seu nome incorporado ao do clube. Esse investimento – somado à recuperação do Rapid – ajudou a recolocar os vienenses no topo do futebol austríaco, depois de um período com domínio de times de Salzburgo, Innsbruck e Graz. Juntos, Austria e Rapid conquistaram três das últimas quatro edições da Bundesliga austríaca. A força de Rapid e Austria ofuscou um pouco as equipes médias de Viena. O First Vienna, clube mais antigo da cidade, está na terceira divisão, junto com o Wiener. O Admira, que chegou a se chamar Admira Wacker, mudou-se para

Áustria

6 2 F

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A

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1

4 C

Viena 1,7 milhão de habitantes

Mladen Antonov/AFP

ESTÁDIOS

Ernst Happel

Maior estádio da Áustria, com capacidade para 53 mil pessoas, o Ernst Happel será palco da final da Eurocopa. Foi inaugurado em 1931 com o nome de Prater, mas, depois de uma de suas várias modernizações, passou a homenagear um dos mais importantes jogadores e técnicos da história da Áustria. O estádio localiza-se longe do centro e a melhor forma de se chegar lá é de ônibus. Recebe jogos da seleção austríaca, do Rapid e do Austria Viena em competições européias. Foi palco da final da Liga dos Campeões de 1995.

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2

Hohe Warte

3

Localizado em Heiligenstadt, pertence ao First Vienna. Construído num vale, chegou a receber 80 mil pessoas em 1923. Hoje, o estádio não comporta mais do que 5,5 mil torcedores.

Gerhard Hanappi

Casa do Rapid, tem capacidade para 18,5 mil pessoas. Garhard Hanappi foi um dos maiores jogadores dos alviverdes e, depois de pendurar as chuteiras, tornou-se arquiteto. O estádio foi um de seus projetos.

4

Franz Horr

Construído em 1925, o Franz Horr é um estádio modesto. Casa do Austria Viena desde 1973, comporta 11,8 mil espectadores. Sua capacidade será reduzida para 11 mil pessoas, todas sentadas.

Fotos Divulgação

1

Wiener Sportklub-Platz

FAC-Platz

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6

Erguido em 1984, é um estádio moderno, com capacidade para 8,7 mil pessoas. Pertence ao Wiener.

Pequeno estádio para 3 mil pessoas, pertencente ao Floridsdorfer. Sua construção data de 1933.

Sportplatz Wienerberg 7

Campo minúsculo, quase sem arquibancadas, onde manda seus jogos o SV Magna Wienerberg.

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Gustavo Hofman/Trivela

Fotos Divulgação

O QUE VISITAR ENTRE UM JOGO E OUTRO

A

Schloss Schönbrunn (foto) e

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Belvedere

C

Enorme cemitério central de Viena. Nele estão enterradas personalidades como Beethoven, Schubert e Sindelar. Um funcionário ajuda o turista a se localizar entre as alamedas.

Gustavo Hofman/Trivela

O primeiro é a antiga residência de verão da família imperial, com grandiosidade comparável ao Palácio de Versalhes, na França. O segundo é um complexo barroco com três museus em seus dois palácios. Foi também a residência de Francisco Ferdinando, arquiduque austríaco cujo assassinato desencadeou a Primeira Guerra Mundial.

Zentralfriedhof

D

Staatsoper

E

Museums Quartier

F

Riesenrad

A Ópera de Viena é um culto à música clássica. Quem não quiser assistir a uma apresentação pode se contentar com visitas guiadas. Do lado de fora, há esculturas que representam fantasia, comédia, amor, tragédia e heroísmo.

Reúne alguns dos diversos museus espalhados por Viena: Mumok (Museu de Arte Moderna), Leopoldo (onde destacam-se obras impressionistas) e Naturhistorisches (História Natural), entre outros.

Roda gigante de 61 metros de altura erguida em 1897. Dela, tem-se uma boa visão de Viena em dias claros. Foi seriamente danificada durante a Segunda Guerra Mundial – as fotos em exposição no térreo são um atrativo à parte.

Mödling, pequena cidade a 14 quilômetros da capital austríaca. A falta de espaço para os médios e pequenos não significa que a rivalidade entre alviverdes e violetas esteja entre as mais acirradas da Europa. Apesar de os jogos dos grandes receberem bons públicos, há poucos relatos de brigas e confusões entre os torcedores. As principais ocorrências estão ligadas a manifestações xenófobas e racistas, algo que destoa do clima geral da cidade. Menos mal que esses problemas devem ficar de lado durante a Eurocopa. E Viena

terá oportunidade de mostrar sua face futebolística de outra forma: recebendo torcedores de vários países, abrigando grandes duelos e sendo vista por todo o

mundo. Mas sem deixar de lado a beleza e a sutileza de suas edificações, do rio Danúbio e, claro, das dezenas de obrasprimas musicais compostas na cidade.

Quem leva Não há vôos diretos do Brasil para Viena. No entanto, praticamente todas companhias que voam para a Europa fazem conexão em alguma capital com destino a Viena. Algumas opções são Air France (0800-888-9955), TAP (0300-2106060), KLM (4003-1888 ou 0800-888-1888), British Airways (11 40044440), Alitalia (888-9955) e Iberia (11 3218-7130). Com as agências de turismo ocorre uma situação semelhante, já que muitas das que trabalham com destinos europeus oferecem pacotes para Viena – normalmente como parte de uma excursão pelo Leste Europeu. Entre as opções estão Flot (www.flot. com.br), CVC (www.cvc.com.br) e Intravel (www.intravel.com.br).

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ARGENTINA por Eduardo Zobaran

Mais que um

clássico...

um superclássico Atritos entre torcedores, clima de nostalgia, polêmica de arbitragem, jornalistas perdendo controle e, acima de tudo, muita rivalidade. Assim é um Boca x River cena é intrigante e envolvente. Uma massa de pessoas vestidas de azul e amarelo faz uma festa que desafia as leis da física. Elas parecem ocupar o mesmo espaço, ao mesmo tempo. Quando se move um, se movem todos. Parece uma onda no mar. Alguns se apóiam em grades, corrimãos ou em um pano que cruza a arquibancada. São os surfistas de La Bombonera. Eles estão lá sempre, mas hoje não é um dia como outro qualquer. É domingo de Boca x River. O jogo começa muito antes do pontapé inicial. São meses de preparação para um clássico que oficialmente é disputado duas vezes por ano, salvo os anos em que os dois mais populares clubes da Argentina se encontram em torneios internacionais. Regularmente, os embates acontecem durante os torneios Apertura e Clausura, como se divide o Campeonato Argentino. Em 2008, o primeiro encontro foi em 4 de maio, na casa boquense. Para os torcedores é um momento de tensão. Não apenas pela expectativa do resultado, mas pelo risco de brigas. Um fato que tirou um pouco do charme que muitos portenhos viam no duelo. O taxista riverplatense Juan Rivadeneira é um exemplo. Ele diz já ter ido a mais de 30 Superclásicos. Hoje, nem trabalha mais em dias de jogos. “Há muitos arruaceiros, alguns se aproveitam para não pagar as corridas ou até mesmo roubar a féria do dia”, comenta. Para ele, no passado era mais tranqüilo ir aos estádios torcer.

A

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O saudosismo é compartilhado com outros torcedores, entre eles, Eduardo Hurlingham, outro fanático pelo River Plate. Ele esteve presente em todos os Superclásicos desde 1987 e nunca considerou a violência um problema. No entanto, se mostra desconfortável com uma das medidas das autoridades para reduzir a violência: a limitação de “hinchas” visitantes. “Vinham 10 mil, 12 mil torcedores do River aqui e fazíamos uma grande festa”, relembra. “Hoje, temos apenas um pedaço do terceiro anel. Não é a mesma coisa”. Dos 50 mil ingressos vendidos no dérbi de 2008, apenas 2.863 foram destinados a torcedores do River Plate. Essa diferença cria uma situação curiosa para o torcedor brasileiro. Quando o jogo é em La Bombonera, a pressão e cobertura da imprensa em cima do Boca Juniors é muito maior, como se o River fosse um coadjuvante. Nos clássicos no Monumental de Núñez, os papéis se invertem.

Fogo amigo Para manter a paz em níveis aceitáveis, a polícia convocou 1,1 mil homens apenas para a operação do jogo. No dia da partida, foram realizadas 253 detenções, número considerado normal pela imprensa argentina. Nenhuma delas, no entanto, ocorreu por agressões ou morte. Os incidentes mais comuns foram pequenos roubos. Torcedores do Boca Juniors utilizam as vielas do humilde bairro de La Boca como vantagem geográfica para acuar “hin-

PUERTA 12 A rivalidade entre Boca e River já transformou o esporte em tragédia. A maior ocorreu em 23 de junho de 1968. As duas equipes empataram em 0 a 0 no Monumental de Núñez. Ao final da partida, torcedores “xeneizes” se retiravam pela porta 12, mas a saída estava obstruída por roletas e com os portões fechados. Algumas pessoas ainda acusaram a polícia de ter feito barreira. Na confusão, 71 boquenses, adolescentes na maioria, morreram esmagados e asfixiados. O incidente foi esquecido durante a ditadura militar e passou despercebido por gerações. No estádio, que mudou o nome do local da tragédia para “Porta L”, não havia nenhuma referência às vítimas até bem pouco tempo atrás. Para relembrar o caso, o cineasta Pablo Tesoriere, sobrinho-neto de um ex-goleiro do Boca, dirigiu o documentário “Porta 12”. O filme foi exibido em festivais como o “É Tudo Verdade”, realizado no Brasil em março

Junho de 2008

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Divulgação

Enrique Marcarian/Reuters

Liderado por Riquelme, Boca entra em campo: mais de 90% da torcida está do seu lado

e abril deste ano. A boa repercussão levou o River Plate a fazer uma homenagens às 71 vítimas daquele Superclásico. Engajado no tema, Pablo Tesoriere finaliza seu próximo documentário, “Fútbol Violência SA”, que trata dos torcedores de hoje.

chas” do River que moram no bairro para lhes tomar camisas e faixas. No passado, esses objetos eram mostrados como “prêmios” nas arquibancadas, mas as autoridades proibiram a prática para reduzir o nível de animosidade entre as torcidas. Apesar da disputa entre torcedores pelos objetos dos rivais preocupar, um dos maiores receios das autoridades era com uma eventual briga entre as partes em que se dividiu a Los Borrachos del Tablón, maior barra brava do River Plate. Um dos grupos é chamado de La Banda del Oeste, ligada à oposição do clube e responsável por 69 dos detidos no clássico de 4 de maio. A outra facção é La Banda de Gonzalo, em referência ao líder Martín Gonzalo Acro, assassinado em 2007, aliada de José María Aguilar, presidente do River. Em março, os dois grupos brigaram nas arquibancadas durante uma partida dos Millos contra o Vélez Sársfield.

Essa divisão dos riverplatenses facilitou ainda mais La 12, barra brava do Boca Juniors, na tentativa de dominar os cantos em La Bombonera. Pouco antes de começar a partida, os Bosteros tripudiaram das Gallinas: “Um minuto de silêncio para o River que está morto” e “As Gallinas são assim / São as amargas da Argentina / Quando não são campeãs / Essas tribunas estão vazias”. Apesar das gozações boquenses, o momento era mais favorável ao River. Os Millonarios compartilhavam a liderança do Clausura com o Estudiantes de La Plata, 27 pontos para cada um. No entanto, os laplatenses já haviam perdido na rodada. O Boca era quarto colocado, com 23 pontos. Assim, o Superclásico podia isolar os riverplatenses na ponta ou embolar ainda mais a classificação. A importância era tanta que os Millonarios estavam preocupados com a Junho de 2008

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Enrique Marcarian/Reuters

Polícia deteve 253 torcedores por confusões antes do clássico

arbitragem de Gustavo Bassi. Torcedores do River em Chivilcoy, cidade a 164 quilômetros de Buenos Aires, onde Bassi nasceu, acusaram o apitador de ter o azul e ouro no coração. O árbitro convocou uma curiosa reunião com “hinchas” riverplatenses. Ele não negou – nem confirmou – ser torcedor do Boca, mas prometeu uma atuação imparcial.

1, 2, 3... o “Súper” é burguês! A torcida canta incessantemente, a arbitragem causa polêmica e o jogo tem relevância para o campeonato. Ainda assim, há quem reclame do ambiente. Torcedor do Boca e morador do bairro de La Boca, Eduardo Amendodara acredita que o alto preço dos ingressos e a constante presença de turistas mudos piorou a atmosfera da “cancha”. “La Bombonera se aburguesou”, alfineta, enquanto organiza milhares de produtos relacionados à história do futebol argentino, como edições históricas da revista esportiva “El Gráfico” em sua pequena loja. “Antes, o Boca não ganhava tanto, mas éramos mais verdadeiros. Ainda assim, continuamos sendo a mais forte referência nos demais países da América Latina. Todos copiam nossos cantos”. O comerciante reclama, mas também se aproveita dessa nova cara do clássico. Amendodara abriu um albergue perto do estádio para atrair turistas que querem viver o Boca mais intensamente. Entre um cumprimento a mais, um morador do

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bairro e uma tentativa de vender a um turista inglês por 80 pesos uma “El Gráfico” de 1986, com detalhes da conquista argentina na Copa do Mundo, ele conta que pretende levar os visitantes a passeios como o bairro em que nasceu Maradona e, claro, o Museo de la Pasión Boquense. Outro ponto turístico, ainda que de gosto duvidoso, é o Museu de Quique. Trata-se de um santuário para os boquenses prestarem homenagens a Francisco Ocampo, líder de La 12 entre 1973 e 1981, época em que a barra brava consolidou sua imagem de violência. Pelo modo de comandar a torcida, Ocampo recebeu o nada simpático apelido de “Quique, el Carnicero”. O local foi criado e é mantido por Luisa Crotto de Ocampo, viúva de Quique desde 2004. Mulher de poucas palavras, ela divide seu tempo entre o museu e as duas lojas que têm nos arredores do estádio. A região lhe é familiar. Durante décadas, o casal Ocampo mantinha o restaurante “La Glorieta de Quique”, ponto de encontro de La 12 antes e depois das partidas. Hoje, ela diz não ter mais vontade de ir aos jogos. “Mudou muito. Já não é mais como antigamente”, limita-se a dizer, sem esconder a emoção ao falar do marido.

Paixão x trabalho A dicotomia que gira em torno de um Boca x River é tão grande que nem os jornalistas, que deveriam permanecer neutros, conseguem esconder suas prefe-

rências. O Superclásico de 2008 foi o primeiro que Patrício Orellana viu de perto. O jornalista escreve uma reportagem sobre os torcedores argentinos para a imprensa norte-americana e se credenciou para ver o dérbi em La Bombonera. Na dúvida entre torcer ou trabalhar, o jornalista fez os dois. A cada nova música cantada pela torcida boquense, Orellana seguia a batida na mesa da sala de imprensa e balbuciava a letra. “Juro que tentei me comportar com seriedade, mas foi absolutamente impossível manter minha postura profissional. O estádio faz com que sintamos a tensão do ambiente”, reconhece. Para evitar que o dilema torcedor x jornalista atrapalhasse seu trabalho, Diego López se entregou de vez ao Boca. O jornalista arrumou o emprego que pediu a Maradona, como ele chama Deus. Ele é o guia do museu oficial do clube, visitado todos os dias por pelo menos 300 turistas. “Atualmente estou estudando turismo. Esse é o trabalho ideal para mim”, comenta. Orellana e López saíram satisfeitos da mais recente edição do Superclásico. Precisando da vitória e tendo o apoio da torcida, o Boca apresentou um futebol mais ofensivo até Battaglia abrir o marcador, aos 14 minutos de jogo. Nos 76 minutos que se seguiram, o River buscou o empate, mas não esteve em uma tarde particularmente inspirada, e as chances de gol eram poucas — até porque as estrelas da partida, Riquelme e Ortega, também estiveram apagadas. Quem estava bem era Gustavo Bassi, que afastava as suspeitas de que favoreceria o time da casa. A falta de boas jogadas não reduzia o entusiasmo dos torcedores. O jogo chegou a ser interrompido duas vezes para a retirada de papel do gramado. Nos minutos finais, a torcida local contagiava freqüentadores assíduos e de ocasião, todos hipnotizados com as ondas e os cantos, muitas vezes acompanhados por homens pendurados nos alambrados como se tivessem sido projetados para serem escalados. O placar ficou no 1 a 0, magro como a qualidade técnica da partida. Era o fim de três anos sem vitória boquense no Superclásico. Com a vitória assegurada, os Bosteros tiravam sarro dos rivais. E já iniciavam as provocações para o próximo encontro: “Outra vez será! Outra vez será, ‘gallina’! Outra vez será!” Saiba mais sobre futebol argentino em www.trivela.com/argentina

Junho de 2008

5/22/08 2:21:00 AM


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NEGÓCIOS por Gustavo Hofman

Asas para ir

longe Após comprar times na Áustria e nos Estados Unidos, Red Bull aporta no futebol brasileiro na quase esquecida quarta divisão paulista Red Bull sempre teve seu nome fortemente ligado ao esporte. A fabricante austríaca de energéticos patrocina eventos, equipes e atletas de modalidades como hóquei sobre o gelo, Fórmula 1 e surfe. No futebol, o investimento começou em 2005, na Áustria. Agora, o Brasil também se tornou parte dos negócios da empresa. Neste ano, começou a disputar competições oficiais o Red Bull Brasil Futebol e Entretenimento, nova equipe da Segunda Divisão (equivalente à quarta) do Campeonato Paulista. O objetivo é ambicioso: atingir o nível

A

mais alto do futebol nacional em poucos anos. E não falta dinheiro para isso, o que pode ser visto pela previsão de investimentos a curto prazo. Por enquanto, boa parte da infra-estrutura projetada ainda não está pronta. O Red Bull firmou um acordo com a Ponte Preta para mandar seus jogos no Moisés Lucarelli por um ano, com cláusula de renovação por mais um. Os treinos também acontecem no estádio pontepretano e em um condomínio fechado em Vinhedo. No entanto, a Red Bull já negocia a compra de um terreno na região de

TOUROS VERMELHOS PELO MUNDO

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Campinas para a construção de um centro de treinamento. O CT também servirá de alojamento para os atletas – hoje, o time ocupa seis chalés em um hotel de Vinhedo. Além de dar mais condições ao time principal, o clube pretende montar equipes de base. Em 2008, entraria em atividade o time sub-20. Para 2009, a idéia é ter o sub-15 e o sub-17. O potencial do time se vê pelo patrocínio já acertado. “Poucos clubes têm uniforme da Adidas no Brasil: só nós, Palmeiras e Fluminense”, afirma o técnico Paulo Sérgio, ex-jogador de Corinthians, Roma, Bayern de Munique e da Seleção Brasileira. Ter o comando de um ex-campeão mundial, aliás, é um dos luxos que não condizem com a realidade da quarta divisão estadual. Contratar um consultor como José Carlos Brunoro para elaborar o projeto do clube é outro desses luxos. Uma das poucas áreas em que não há tantas extravagâncias é o elenco. O único jogador conhecido é Gilmar “Fubá”, volante de 32 anos que surgiu no Corinthians no final da década passada. O resto do

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Cláudio Coradini/Divulgação

grupo é formado por atletas jovens (o regulamento permite a inscrição de apenas três com mais de 23 anos) selecionados após uma série de testes. O coordenador da avaliação foi o assistente técnico Odair Patriarca, lateral do Palmeiras no início da década passada e companheiro de Paulo Sérgio no Novorizontino vicecampeão paulista de 1990.

Começar do zero

ENERGÉTICO PARA A TORCIDA Em um domingo frio de dia das mães, acordar cedo para ir ao Estádio Moisés Lucarelli acompanhar Red Bull x Capivariano (foto), pela quarta rodada da Segunda Divisão paulista, às 10h, não era um programa dos mais atraentes. Não causou estranheza o fato de o público pagante ser de apenas 55 pessoas, ainda que o número real de presentes – inflado pelos convites que os jogadores recebem para distribuir a conhecidos – tenha sido perto do dobro. Entrevistados pela reportagem, quase todos os espectadores admitiram estarem lá por serem parentes ou amigos de algum jogador. Isso inclui também quem estava nas arquibancadas para torcer pelo Capivariano, equipe um pouco mais tradicional de Capivari, cidade próxima a Campinas. O jogo foi bem movimentado. Tecnicamente, o Red Bull foi muito superior. Ainda assim, o primeiro tempo acabou 0 a 0, e os mandantes ainda perderam seu capitão, Gilmar Fubá, com uma lesão na coxa. Depois do intervalo, o Red Bull abriu o marcador aos 13 minutos, com gol do lateral Thiago Henrique. No final, Fernandão ainda ampliou a vantagem. Enquanto o jogo rolava, torcedores foram presenteados com latas de Red Bull. Em campo, os jogadores tiveram que esperar o final do jogo — mas também encerraram a jornada com energéticos.

A Red Bull evita falar em valores. Tanto que nenhum diretor da empresa dá entrevistas. Tudo é passado via assessoria de comunicação: “No primeiro momento, o investimento maior será na estrutura, com a construção de um CT. A empresa espera que o futebol tenha o mesmo sucesso que as outras modalidades e eventos apoiados. Esse é o retorno de imagem desejado”. O modo de encarar o projeto deixa evidente como o futebol é um negócio a mais. Tanto que o presidente do clube é Stefan Kosak, o mesmo da subsidiária brasileira da Red Bull, e a sede, oficialmente, é a mesma da empresa em São Paulo. A iniciativa de montar um time de futebol não é inédita para a companhia. A diferença é que, no Brasil, a Red Bull criou um clube. No exterior, a preferência foi por adquirir um. Na Europa, o fabricante de energéticos comprou o Austria Salzburg, atual Red Bull Salzburg, tradicional clube austríaco. Nos Estados Unidos, o alvo foi o Metrostars, da MLS, que mudou o nome para New York Red Bulls. A empresa não explica o motivo de ter mudado o modelo de investimento no Brasil. Apenas informa, via assessoria, que “concluiu que seria mais interessante montar seu próprio time, mesmo tendo de começar da Segunda Divisão do Campeonato Paulista”. Apesar de não admitir de maneira oficial, a Red Bull nos últimos meses chegou a negociar com o Juventude para estabelecer uma espécie de parceria. O acordo, porém, não avançou. A escolha por começar do zero exigirá mais paciência e tempo para o investimento dar retorno — e também para o clube se consolidar. “O primeiro ano será de experiência. A partir da próxima temporada, temos obrigação de subir”, diz Paulo Sérgio. A cautela se justifica pelos resultados. Logo na terceira rodada, o time havia sofrido a primeira derrota, contra o Roma de Itapetininga da Serra. Antes de voar, o Red Bull ainda precisará ralar muito.

NOTAS Brasileirão, marca registrada O Campeonato Brasileiro segue, com alguns anos de atraso, a tendência mundial de criar uma marca em torno de si. Neste ano, a CBF registrou o nome “Brasileirão” e criou logotipos para as Séries A (imagem acima), B e C. As marcas serão vistas nos estádios em jogos das competições e podem ser colocadas nas camisas dos times que as disputarem. De acordo com a entidade, as emissoras de TV que comprarem os direitos de transmissão do Brasileirão não são obrigadas a usar o logotipo em sua programação. [UL]

Direitos de transmissão A Globo entrou em acordo com o Clube dos 13 para a compra dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro de 2009, 2010 e 2011. A emissora fechou o pacote com o pagamento de R$ 220 milhões por temporada. Segundo o C13, abriu-se uma concorrência pública em novembro do ano passado, mas apenas a emissora carioca manifestou interesse. No entanto, Globo e Clube dos 13 terão de resolver outros problemas. A Secretaria de Direito Econômico (SDE) do Ministério da Justiça recebeu uma denúncia contra ambos por “infração à ordem econômica, ao vender os direitos com cláusulas anticoncorrenciais”. Os problemas seriam relativos aos direitos de transmissão para televisão aberta, fechada, Internet e telefonia móvel para os torneios de 1997 a 1999. Caso sejam condenadas, a TV Globo e a Globo Comunicações podem pagar multas que variam de 1% a 30% de seu faturamento bruto no ano anterior à instauração do processo. [RE]

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CULTURA por Dassler Marques

Paixão

sem fronteiras Entre fanáticos e simpatizantes de ocasião, deixou de ser raro encontrar brasileiros que torcem por algum time estrangeiro anchester United e Chelsea se enfrentaram pela final da Liga dos Campeões. No Brasil, o jogo foi realizado numa tarde de quarta-feira, véspera de feriado prolongado. Ainda assim, muita gente parava em frente a televisores para ver o que acontecia. Alguns acompanhavam cada lance da decisão. Outros eram pedestres que tiravam uma casquinha antes de seguirem com suas tarefas. Ainda que muitos sejam curiosos, é um sinal de que o futebol europeu já entrou no dia-a-dia do torcedor brasileiro. E é inevitável que alguns acabem se afeiçoando por equipes do Velho Continente. Esse processo já pode ser percebido no mercado. “Atualmente, os times estrangeiros representam 15% das nossas vendas de camisas. Há cinco anos, eram só 7%”, comenta Eduardo Rosemberg, diretor da Roxos & Doentes, rede de lojas de materiais esportivos. De acordo com ele, Barcelona e Manchester United estão entre os dez clubes mais procurados nas unidades da empresa, incluindo aí os times brasileiros. De acordo com os brasileiros que torcem para clubes estrangeiros, esse fenômeno deve-se ao êxodo de jogadores das equipes nacionais e ao aumento da exposição dos campeonatos europeus no Brasil. “Temos alguns membros que simplesmente não se identificam com nenhum clube nacional. O baixo nível técnico atual colabora muito para isso”, explica Daniel Martins Lobo, torcedor do Manchester United.

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A relação de Lobo com o clube inglês é tão grande que, em 2005, ele criou com amigos o Manchester United Brasil, grupo de torcedores brasileiros do Red Devils. Hoje, o fã-clube já tem 11 mil usuários cadastrados em seu site e pleiteia o reconhecimento oficial por parte do clube inglês. Outro exemplo de uso da Internet para reforçar a relação de brasileiros com seus clubes é o Portale Romanista, fórum de discussão e espaço de notícias dedicado à Roma. A página tem versões em italiano, espanhol e português. Desde 2006, os cerca de 2 mil membros da comunidade em língua portuguesa organizam confraternizações ou campanhas beneficentes.

Nível de fanatismo Claro que nem sempre a relação entre o brasileiro e o clube estrangeiro para o qual ele diz torcer é tão grande. Há muitos que se apegam a um time após uma boa fase, mas não criam uma relação realmente forte. “Depois do título na Liga dos Campeões de 2004, apareceu portistas de todos os lados”, aponta Paulo Afonso, 20 anos, torcedor do Porto. “Hoje, é difícil encontrar algum”. Para realizar uma avaliação simples, sem valor científico, do nível de fanatismo de alguns brasileiros que dizem gostar de clubes europeus, a Trivela pediu para dez torcedores citarem cinco jogadores importantes do time antes da década de 1990. Sem consultar alguma fonte de referência, apenas cinco souberam responder. O índice mostra pouco

Manchester United Brasil: 11 mil usuários e pedido de oficialização

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LANÇAMENTOS 50 anos em 85 minutos Tem lançamento previsto para 13 de junho o documentário “1958 – O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil”, de José Carlos Asbeg. O filme chega como parte das homenagens ao cinqüentenário do primeiro título mundial da Seleção Brasileira. O documentário levou, de acordo com a produtora, seis anos para ser finalizado e reúne cenas raras das partidas do Brasil na Copa de 1958. Foram entrevistados personagens de todos os paises que enfrentaram os brasileiros na trajetória até o título, desde as eliminatórias contra o Peru até a decisão contra a Suécia. [UL]

1958 – O Ano em que o Mundo Descobriu o Brasil Diretor: José Carlos Asbeg Produção: Palmares Duração: 85 minutos

Ligação com a Alemanha fez Maurício Aires escolher o Bayern de Munique

conhecimento da história do clube, apesar de todos terem acertado a lista de títulos importantes de suas equipes. Para alguns brasileiros, escolher um clube estrangeiro é um modo de reforçar os vínculos com a terra de sua família. Paulo Afonso, por exemplo, escolheu o Porto por causa dos ascendentes portugueses. Caso parecido viveu Christian Avgoustopoulos, que torce pelo Panathinaikos, time de seu avô materno. No Brasil, ele se tornou palmeirense por causa da cor verde do time grego. Para os brasileiros sem ascendência estrangeira, a torcida por um clube estrangeiro pode representar uma manifestação de intimidade com algum país. É o caso de Maurício Aires, que não tem familiares germânicos, mas gosta da Alemanha a ponto de fazer curso de alemão, buscar informações sobre o cotidiano do país e

de torcer pelo Bayern de Munique. Diogo Terra envolveu-se tanto com a vida argentina e do Boca Juniors que até dá pitaco na administração “xeneize”. “Torço pelo Boca e fico feliz com a série de títulos, mas não apóio o modo como o grupo de Mauricio Macri gerencia o clube”, comenta. Segundo ele, o empresário e atual chefe de governo da cidade de Buenos Aires usa o clube para seu benefício político. O conhecimento profundo da vida do clube argentino não é um caso isolado. Comunidades de brasileiros que acompanham o futebol internacional crescem e têm conversas acaloradas. Mesmo os que continuam fiéis aos clubes nacionais já mostram alguma preferência ou simpatia por um time inglês, italiano, espanhol ou argentino. Trata-se de um processo que ganha corpo. Resta saber até onde vai.

Surgimento da paixão A Panda Books lançou mais quatro livros da série “O Dia em que Me Tornei”. As publicações, voltadas ao público infantil, contam como pessoas conhecidas passaram a torcer por seus times. A primeira parte tratou dos quatro grandes clubes paulistas. Agora, é a vez de torcedores de Atlético-MG (o jornalista Fred Melo Paiva), Cruzeiro (Samuel Rosa, músico da banda Skank), Grêmio (o jornalista Sérgio Xavier Filho) e Internacional (o publicitário Ricardo Freire) contarem como surgiram suas paixões. Cada livro ainda tem um resumo estatístico e histórico dos clubes.

O Dia em que Me Tornei... Autores: Fred Melo Paiva (atleticano), Samuel Rosa (cruzeirense), Sérgio Xavier Filho (gremista) e Ricardo Freire (colorado) Editora: Panda Books Páginas: 100

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Mike Hutchings

Brasil precisa ficar atento: África do Sul 2010 estourou orçamento e governo paga a conta

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Copa 2014 4

por Ubiratan Leal Em mais de meio ano, pouca coisa saiu do lugar. Em junho, completou-se sete meses da escolha do Brasil como sede da Copa de 2014, e o Comitê Organizador ainda não está formado. É uma lentidão preocupante, mas compatível com o modo como o governo e o Congresso têm encarado suas participações no processo de organização do torneio. Estava prevista para o final de abril a formação de uma nova subcomissão para a Copa do Mundo de 2014 na Câmara dos Deputados. No entanto, a definição foi adiada para junho. Esse grupo dará seqüência ao que foi formado em 2007 e teve papel discreto. Aliás, a postura não deve mudar. “Em 2007, acompanhamos o processo que levou à escolha do Brasil. Neste ano, devemos fazer encontros regionais e acompanhar as demandas do Comitê Organizador para fazer as leis que ele achar necessário”, comenta José Rocha (PR-BA), presidente da subcomissão do ano passado. Para o deputado, que recebeu dinheiro da CBF em sua campanha eleitoral, não é papel do Congresso fiscalizar e investigar eventuais irregularidades no uso de recursos públicos. O governo já recebeu a lista de exigências da Fifa e pretende encaminhar um projeto de lei para adequar a legislação a elas. Em relação aos gastos, a tática é incluir os projetos da Copa no PAC (Programa de Aceleração do Crescimento). Nesse caso, haveria gerenciamento dos gastos. Mas isso não vale para os estádios. A esperança é que todos sejam privados e saiam da área de ação do Estado. “Quem cuida e fiscaliza é quem paga. No caso, a iniciativa privada”, afirma Orlando Silva Júnior, ministro do Esporte. Os Poderes Executivo e Legislativo dizem esperar a constituição do Comitê Organizador para ter mais clareza do cenário. De acordo com Ricardo Teixeira, presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa, falta apenas a estrutura burocrática para a entidade estar definitivamente formada. A conferir.

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LU PA É logo ali Orlando Silva Júnior, ministro do Esporte, tem viagem à África do Sul marcada para julho. Lá, ele visitará as obras para a Copa de 2010 e terá reunião com Danny Jordaan, presidente do comitê organizador do torneio. Apesar do cuidado em conhecer o trabalho dos sul-africanos, Silva Júnior considera que o modelo adotado para 2010 não se aplica ao Brasil. “Lá há muito mais participação pública no financiamento das obras do que esperamos no Brasil”.

Só em 2009 Ricardo Teixeira afirmou que as cidades que receberão os jogos da Copa de 2014 serão anunciadas até março de 2009. Durante a fase de candidatura, o discurso era de definir as sedes até o final de 2008.

Vitrine mineira O jogo Brasil x Argentina, marcado para 18 de junho deste ano, no Mineirão, é mais que um duelo pelas eliminatórias da Copa de 2010. Para o governo mineiro, é a chance de mostrar força na luta por espaço em 2014. “Demonstraremos nossa disposição para ser uma das principais sedes para a Copa do Mundo de 2014”, diz o governador Aécio Neves. Belo Horizonte é candidata a receber a abertura do torneio e os jogos da Seleção Brasileira na primeira fase.

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Arquivo Pessoal

CADEIRA CATIVA por Marcio Bariviera

do Capitão No dia 7 de março de 1999, Ijuí parou para ver a volta de um de seus filhos mais ilustres ra um dia especial. Após rodar o mundo, Dunga voltava para casa. O “Capitão do Tetra” jogaria novamente em Ijuí, sua terra natal. No entanto, ele era o rival. Na primeira rodada do Gauchão de 1999, o Internacional estreava seu reforço, Dunga, justamente contra o São Luiz, o que criou uma grande expectativa na cidade. A partida começaria às 16h, mas quem quisesse um bom lugar no estádio 19 de Outubro teve de chegar bem cedo. Todos queriam ver Dunga, mesmo que tivessem de torrar nos 37ºC daquela tarde. O jeito era se refrescar com água e contar com a ajuda providencial de boné e óculos de sol. A ansiedade pela chegada da delegação “colorada” era intensa. Quando o ônibus estacionou, foi um corre-corre impressionante — reação diferente do momento em que o time visitante fez seu

E

SÃO LUIZ INTERNACIONAL

aquecimento no gramado. Aí, não havia espaço para ovacionar qualquer um. Os aplausos estavam reservados a Dunga. Nada parecia mais importante naquela tarde calorenta do que Dunga. Nem mesmo o próprio jogo. Pouco antes da partida, o ex-capitão da Seleção foi homenageado pelo São Luiz, pela Prefeitura e por sabe Deus mais quantas entidades de Ijuí.

Zero Hora/RBS

O retorno

Mas vamos à partidas. O Inter dominou a primeira etapa. E Dunga encantava a todos com passes e lançamentos sempre precisos. Com menos de dois minutos de jogo, o zagueiro Gonçalves já havia cabeceado uma bola no travessão. Era nítida a superioridade “colorada”. Com maior posse de bola, troca de passes e chegadas fortes à meta do São Luiz, o gol “colorado” era apenas questão de tempo. Com 12 minutos de jogo, Alencar, goleiro do São Luiz, cobrou mal um tiro de meta e a bola sobrou nos pés de Fabiano, que, em um passe perfeito, deixou Christian na cara do gol para, de pé esquerdo, abrir o placar. O time da capital seguiu administrando a partida com autoridade e tranqüilidade. Aos 22 do segundo tempo, o árbitro Carlos Simon anulou – corretamente – o segundo gol “colorado”, marcado pelo zagueiro Régis. Antes do final, Elivélton cruzou para Enciso, que, de peixinho, mandou a bola no travessão. Ficou mesmo no 1 a 0 para o Inter. Aquele 7 de março de 1999 tornouse inesquecível para os presentes. Numa tarde de calor insuportável, todos saíram ganhando: Ijuí, que reviu seu filho, e o Inter, que estreou com vitória no Gauchão daquele ano.

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Competição: Campeonato Gaúcho de 1999 Data: 7/março/1999 Local: Estádio 19 de Outubro (Ijuí-RS)

Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

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A VÁRZEA

Guia A Várzea da Eurocopa Esses europeus não têm mais o que inventar mesmo. Como eles temem o Futebol Alegre, resolveram criar um torneiozinho aí para que algumas das seleções deles tivessem condições de levantar uma taça de vez em quando. Essa tal de Eurocopa nem se compara à Copa América, mas há quem diga que ela é a segunda competição mais importante do mundo. Bom, também falaram que a Liga dos Campeões é muito melhor que a Libertadores, mas eles têm inveja por não saberem como é jogar na altitude de La Paz. Desde já, A Várzea crava seus favoritos para ficar com o título. Portugal, Alemanha, Espanha e Polônia largam na frente dos demais. Os Tugas merecem todo o respeito, pois só eles contam com três representantes legítimos da Alegria infiltrados. Felipão, Deco e Pepe são o Brasil na Euro! Só que os alemães têm a malemolência de Kuranyi, a Fúria conta com a malandragem de Marcos Senna e os poloneses apostam no gingado de Roger Guerreiro. A Croácia estaria neste seleto grupo, mas, sem Eduardo da Silva, o time perdeu completamente a graça. De resto, haverá poucas chances de as zebras darem as caras. A Suíça, uma das donas da casa, acredita que consegue dar um chocolate nos rivais. Os austríacos, os outros anfitriões, só não querem cruzar com os alemães, pois temem uma possível anexação caso ganhem. No “grupo da morte”, a Romênia anda meio ressabiada com os pitacos do Piturca. França, Itália e Holanda ainda não se entenderam como uma mistura de queijo, vinho, macarrão e suco de laranja pode ser colocada em campo sem dar indigestão. Enquanto isso, a Suécia toma umas aulas de diplomacia e política de boa vizinhança com a

A charge do mês Turquia. Só não convidaram a Rússia, ainda saudosa de seus tempos de garotinha (ah, União Soviética! Gorbatchev! Perestroika! Leningrado!). Apenas a República Tcheca notou a ausência da Inglaterra, mas os ingleses acharam melhor acompanhar um torneio amistoso de críquete com o Paquistão. O que ninguém deseja mesmo é participar da típica brincadeira da “batata-quente”. Há quatro anos, Felipão participou da ingênua rodinha e, para seu azar, ganhou um belo presente de grego.

A lorota do mês “Eu corro o sério risco de me sagrar campeão mundial com o Flamengo” Caio Júnior mostra ser um ótimo vidente. No dia seguinte, o time carioca foi eliminado da Libertadores.

A manchete do mês “Até o quero-quero está triste com a despedida do ‘Papai Joel’” (Jornal dos Sports) Realmente Joeldi partiu os corações de todo mundo ao trocar a Gávea pela África do Sul.

Em alta Real Madrid Conquistou o Espanhol e, no jogo seguinte, recebeu os aplausos do Barcelona. Para coroar a conquista, os Merengues golearam os Blaugranas por 4 a 1.

Caio Júnior Precisa de um banho de sal grosso: perdeu o Goiano para o Itumbiara, saiu da Copa do Brasil e viu o vexame do Flamengo. Tudo em uma semana.

Em baixa

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