Trivela 25 (mar/08)

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DINAMITE “Só vou ter noção exata da realidade do Vasco quando entrar lá”

MERCADO Saiba quem são os brasileiros que pouca gente conhece, mas que valem milhões

E MAIS... ...Os cem anos do Galo ...África do Sul: o inferno de Parreira ...Schuster, craque no campo e fora dele ...Montevidéu: primeira capital do futebol sul-americano

nº 25 | mar/08 | R$ 8,90

nº 25 | mar/08 | R$ 8,90

O limite do

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antijogo “Não quero ver o lance de jeito nenhum”, diz Eduardo da Silva com exclusividade para a Trivela. Contusão reabre discussão sobre violência no futebol 2/29/08 12:08:56 AM


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ÍNDICE ATLÉTICO-MG

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Galo comemora centenário com os pés no chão VIOLÊNCIA

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Contusão de Eduardo da Silva choca e reacende debate sobre antijogo MERCADO

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Ninguém os conhece no Brasil, mas eles nasceram aqui e valem muito BERND SCHUSTER

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De craque encrenqueiro do Barcelona a treinador de sucesso do Real Madrid ENTREVISTA » ROBERTO DINAMITE

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Às vésperas de novo embate contra Eurico, o craque conta seus planos para o Vasco

Ide Gomes/Futura Press

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eu fiscalizo a

Copa 2014

JOGO DO MÊS

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CURTAS

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Edição Caio Maia Editor assistente Tomaz R. Alves Reportagem Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Ubiratan Leal Consultoria editorial Martinez Bariani Mauro Cezar Pereira Colaboradores Dassler Marques João Tiago Picoli Juan Saavedra Luiz Fernando Bindi Marcio Kohara Mauro Beting Rafael Martins

PENEIRA

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OPINIÃO

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TÁTICA Egito

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HISTÓRIA O Vasco de 1948

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COLÔMBIA Narcofútbol vive

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Agradecimentos Bruno Hofman Netto

CAPITAIS Montevidéu

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Foto da capa Lee Mills/Action Images

EUROCOPA Áustria em apuros

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Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold

TURQUIA País ganha destaque

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ÁFRICA DO SUL Parreira sua frio

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ESCUDOS O que diz cada um

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NEGÓCIOS Shows nos estádios

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CULTURA Dieguito

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CADEIRA CATIVA

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A VÁRZEA

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Evento da Timemania foi perfeito para interesses obscuros de clubes, federações e governo se encontrarem

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EDITORIAL É ruim, não maldoso A seríssima contusão de Eduardo da Silva em partida da Premier League do Arsenal contra o Birmingham reacendeu um velho debate sobre os critérios utilizados pela arbitragem ao redor do mundo. Muitos dos que entraram no papo não viram o lance, apenas as fotos, muito mais impressionantes do que a jogada em si. No momento da pancada, os outros jogadores nem param o que estão fazendo, situação que muda radicalmente depois que percebem o acontecido. Ou seja: o resultado da tentativa desastrada – e violenta – de desarme é chocante, mas a jogada em si não. Não se trata de defender o agressor, nem sua agressão, mas sim de colocar as coisas em perspectiva. Antes desse lance fatídico, Martin Taylor não tinha fama de violento, até porque nunca o fora. Sua jogada, muito mais do que resultado de uma vontade de quebrar o adversário – como Roy Keane, por exemplo, já exibiu pelos gramados das ilhas britânicas –, foi fruto de sua baixíssima qualidade como futebolista. É triste, não é justo, mas é do futebol. Taylor poderia ser punido com rigor, mas, nesse caso, não há nada que se possa fazer para impedir que volte a acontecer no futuro. É impossível proibir os grossos de praticar futebol.

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Diagramação e tratamento de imagem Bia Gomes

Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 3528-8610 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3528-8612 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Vanessa Marchetti vanessa@trivela.com (11) 3528-8612 Circulação DPA Cons. Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br (11) 3935-5524 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Araguaia Tiragem 30.000 exemplares

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Getty Images/AFP

JOGO DO MÊS por Ubiratan Leal

Dia da redenção Copa da Liga Inglesa dá nova alegria a um grande clube em crise de identidade e a um zagueiro marcado por contusões Tottenham sempre foi visto como o segundo clube de Londres, em termos de tradição e popularidade. No entanto, o crescimento recente do Chelsea abalou o status dos Spurs, que se consolidaram como time que costuma ficar aquém de seu potencial, perdendo terreno na capital inglesa. A situação do clube tem paralelo com a do zagueiro Woodgate, contratado pelo Tottenham em janeiro. O jogador teve início de carreira brilhante, mas ficou marcado pelas contusões crônicas que o deixavam mais tempo no departamento médico do que em campo. Em 24 de fevereiro, os Spurs, com Woodgate, entraram no gramado do estádio de Wembley para disputar a final da Copa da Liga Inglesa contra o Chelsea. Era uma boa oportunidade para espantar os fantasmas. Os Spurs precisavam acabar com os quase nove anos de estiagem de títulos. O zagueiro precisava de uma atuação convincente contra uma dupla de

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ataque perigosa como Anelka-Drogba. Apesar do favoritismo dos Blues, o Tottenham jogou com confiança desde o início. Impondo um ritmo de jogo intenso, os Spurs tomaram a iniciativa e acuaram o adversário. Chimbonda acertou uma cabeçada na trave, e Berbatov também desperdiçou boa oportunidade de abrir o marcador. Assim que terminou o ímpeto inicial do Tottenham, o Chelsea se colocou em vantagem. Drogba cobrou falta no canto esquerdo de Robinson, que nem tentou a defesa.

Típico dos Spurs sofrer um gol em um momento decisivo, quando jogava melhor... No entanto, aquela tarde foi diferente. O time de Juande Ramos – que jamais perdeu uma final de copa – manteve a postura ofensiva e organizada. Depois de muita pressão, Berbatov empatou, cobrando um pênalti infantilmente cometido por Bridge. A igualdade foi justa e levou o duelo para a prorrogação. Logo no quarto minuto do primeiro tempo extra, Jenas cruzou na área azul. Cech falhou feio. O goleiro dos Blues calculou mal o tempo da bola e a socou desajeitadamente contra a cabeça de Woodgate, fazendo com que a bola rebatesse e entrasse calmamente no gol do Chelsea: 2 a 1, resultado que permaneceu até o fim. Nada mais justo, tanto para a história do Tottenham quanto para a de Woodgate.

TOTTENHAM 2x1 CHELSEA Data: 24/fevereiro/2008 Local: Wembley (Londres) Árbitro: Mark Halsey Gols: Drogba (39min), Berbatov (70min) e Woodgate (94min) Cartões amarelos: Obi Mikel e Ricardo Carvalho (Chelsea)

TOTTENHAM Robinson; Hutton, Woodgate, King e Chimbonda (Huddlestone); Lennon, Jenas, Zokora e Malbranque (Tainio); Berbatov e Keane (Kaboul). Técnico: Juande Ramos

CHELSEA Cech; Belletti, Ricardo Carvalho, Terry e Bridge; Wright-Phillips (Kalou), Essien (Ballack), Lampard e Obi Mikel (Joe Cole); Anelka e Drogba. Técnico: Avram Grant

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CURTAS

“Meu coração pede para continuar a jogar, mas meu corpo dá sinais de que está muito cansado”

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Partidas oficiais disputadas por Paolo Maldini até 16 de fevereiro. O italiano disputou 861 jogos pelo Milan, 126 pela Azzurra e 13 pelas seleções de base da Itália.

“Estou no Botafogo há seis anos, e a gente cansa. Hoje é o meu último dia como presidente” Bebeto de Freitas abandona a presidência do Botafogo nos vestiários do Maracanã, logo após seu time perder a final da Taça Guanabara, num jogo que o cartola considera que o Fogão foi prejudicado pela arbitragem.

“A entrada foi horrível, ele não deveria nunca mais jogar futebol” Arsène Wenger mostra sua revolta com o carrinho de Martin Taylor em Eduardo da Silva, que tirou o atacante dos gramados por nove meses. O técnico depois pediu desculpas pela frase, admitindo que foi dita “no calor do momento”

Divulgação

Após ser operado, Ronaldo admite a dificuldade que terá para superar mais uma grave contusão em sua carreira.

O DINHEIRO ESTÁ AQUI O Real Madrid permanece como o clube o Manchester pode diminuir significativamais rico do mundo, segundo o relatório mente a diferença para o Real”, afirma Dan anual Football Money League, elaborado Jones, sócio da área de negócios do esporte pela empresa de consultoria Deloitte. A clas- da Deloitte. Esse crescimento também deve sificação leva em conta a receita obtida pelos fazer com que clubes como West Ham e clubes na temporada 2006/7, desconside- Manchester City entrem na lista. rando a arrecadação com transferências de Campeão espanhol na última temporada, o jogadores e ganhos com Real Madrid viu suas reaplicações financeiras. ceitas chegarem a € 351 OS 10 CLUBES Embora o primeiro milhões, registrando um MAIS RICOS DO MUNDO colocado seja espacrescimento de 20% em Receita nhol, são os ingleses relação ao período anteClube (em € milhões) que dominam a lista. rior. Como comparação, Real Madrid 351,0 Há três clubes do país o São Paulo faturou em Manchester United 315,2 – Manchester United, 2006 aproximadamenChelsea e Arsenal – ente € 40 milhões, e o Barcelona 290,1 tre os cinco primeiros e Flamengo € 26 milhões Chelsea 283,0 outros três (Liverpool, (aplicando o mesmo criArsenal 263,9 Tottenham e Newcastério da Deloitte ao batle) entre os 15 mais lanço divulgado pelos Milan 227,2 ricos. E as equipes da dois clubes). Somando Bayern de Munique 223,3 Inglaterra devem cresos 20 primeiros colocaLiverpool 198,9 cer ainda mais. “Com dos na lista européia, a os novos contratos de receita total é de € 3,7 Internazionale 195,0 televisão da Premier bilhões, 11% a mais que Roma 157,6 League para 2007/8, na temporada anterior.

Confira no site Dia 5 e 12 Guia do Campeonato Russo Para o Dunga poder convocar a Seleção, a Trivela mostra quem são os destaques do Russão-2008

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Dia 15 LC: quartas-de-final The Chaaaaaaaaaampions... mais oito caíram fora. Quem está bem? Quem está mal? Um guia das quartas sem enrolação

, em março Dia 19 Como estão as copas nacionais na Europa? Ganhar uma copa nacional dá moral e vaga na Copa Uefa. Quem ainda está no páreo?

Dia 25 Centenário do Galo

Dia 28 10 em Forma: Romênia

Puxa... já são 100 anos! Parabéns a um dos clubes mais importantes do país, o Clube Atlético Mineiro... Galo forte, vingadooooor!

Um mês bem Leste Europeu na Trivela. Além do Russão, também listamos quem são os dez caras que mais estão batendo bola na Romênia.

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CLÁSSICO RETRÔ

MEDIDAS ÚNICAS A International Board, entidade responsável pelas regras do futebol, discutirá a possibilidade de padronizar o tamanho dos gramados para jogos de seleções. A proposta foi feita pela federação do País de Gales, que questiona o fato de algumas equipes usarem as medidas do gramado a seu favor. Os galeses sugerem um padrão de 105x68 m. Atualmente, a regra permite que os campos tenham de 100 a 110 metros de comprimento e de 64 a 75 metros de largura.

Diário do Nordeste

No primeiro encontro entre Fortaleza e Ceará em 2008, as duas equipes decidiram voltar às origens. Os clubes usaram uniformes de Stella e Rio Branco, times da década de 1910 que deram origem às equipes atuais. O Ceará deixou o uniforme preto-e-branco e usou um lilás. Já o Fortaleza substituiu a camisa listrada por uma branca com uma estrela vermelha no peito. No estádio Castelão, o confronto terminou empatado por 1 a 1.

MORTE EM CAMPO Um jogador do Gabão morreu durante uma partida do campeonato local. Guy Tchingoma, da seleção nacional, faleceu no jogo contra o O’Mbila Nziami. O meia, de 21 anos, defendia o Canon 105 de Libreville. Após desmaiar em campo, Tchingoma chegou a ser atendido por médicos, que não conseguiram reanimá-lo. No ano passado, em fevereiro, outro jogador da seleção de Gabão faleceu: Cédric Nono não resistiu a um ataque cardíaco durante um treino de sua equipe, o Mangasport.

O CAÇADOR VIROU CAÇA A Juventus divulgou uma carta aberta à federação italiana protestando contra as arbitragens nos jogos da equipe na atual temporada da Série A. O manifesto saiu no dia seguinte à derrota por 2 a 1 para a Reggina, na qual os Bianconeri se consideraram prejudicados. “Neste campeonato e no anterior, a Juventus sempre procurou aliviar as tensões do mundo arbitral, evitando polêmicas e aceitando com ‘fair play’ até as decisões controversas. Depois dos fatos de Reggio Calabria, teremos que reconsiderar esse comportamento. O clube não pode continuar a pagar penas que já cumpriu”, diz a nota.

Embora a independência do Kosovo em relação à Sérvia ainda não tenha sido reconhecida por grande parte das nações, o “país” já pensa em criar sua própria seleção. “Fadil Vokrri foi eleito presidente da federação e acertamos que eu seria o técnico da equipe principal. Se nada mudar radicalmente, acho que terei a honra”, afirmou o ex-meia Kujtim Shala. Na estréia, os kosovares pensam em convidar a Croácia para um duelo na capital Pristina. “Seria o início ideal. Tenho excelentes relações com o presidente da federação croata. Acho que será possível”, disse Shala. Bongarts/Getty Images

Stringer/Reuters

INDEPENDENTE

“Só de ter trazido estes jogadores para treinar com atletas consagrados que disputam campeonatos como o Inglês e o Espanhol, já serviu como jogo” Dunga responde às críticas por não ter dado mais espaço aos jogadores com idade para disputar a Olimpíada no amistoso contra a Irlanda.

99 milhões

Prejuízo do Chelsea na temporada 2006/7. Por incrível que pareça, foi um bom resultado, já que a perda é menor que a dos dois anos anteriores.

“Continuarei saindo. Todos têm o direito a uma festinha” Em sua apresentação no Palmeiras, Denílson mostra que sua contratação foi uma aposta realmente arriscada.

R$

50 mil

Multa que as torcidas organizadas de Atlético-MG e Cruzeiro pagarão caso façam coros ofensivos em jogos de futebol. A medida é parte de um pacote contra a violência nos estádios mineiros.

“Não foi o Edmundo que saiu. Eu é que o mandei para fora” Alfredo Sampaio, técnico do Vasco, tenta mostrar que tem autoridade no clube, após discussão com o astro Edmundo.

“Foi só um dentinho, que ele põe de volta e tudo fica bem” Denis, lateral do Santos, brinca com o fato de o atacante Kléber Pereira ter perdido um dente ao se chocar com o zagueiro Domingos em um treino da equipe.

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Philippe Wojazer/Reuters

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COPA-2018

heróis improváveis de finais

A Fifa anunciou a primeira candidatura oficial para a organização da Copa do Mundo de 2018. Holanda e Bélgica, de forma conjunta, entregaram à entidade a documentação necessária para receber o evento. Esse Mundial será o primeiro após o fim do “rodízio” de continentes. Estados Unidos, México, Japão, China, Rússia, Portugal/Espanha, Inglaterra e Austrália já demonstraram interesse em receber a Copa em 2018. O anúncio oficial do escolhido será feito em 2011, após reunião do comitê executivo da Fifa.

1 Belletti (Barcelona – LC 2005/6) Ronaldinho? Messi? Deco? Que nada: o gol do segundo título europeu da história do Barça foi do lateral brasileiro, considerado meia-boca pela quase totalidade de seus compatriotas.

2 Woogdate (Tottenham – League Cup 2008) Considerado um “quebrado” por natureza, o exzagueiro do Real Madrid fazia apenas sua quarta partida pelos Spurs quando uma bola rebatida resvalou em sua cabeça e acabou rendendo o primeiro título do clube em nove anos.

3 Materazzi (Itália – Copa do Mundo 2006) O defensor interista sempre foi conhecido como carniceiro e grosso, mas fez o gol que levou a decisão da Copa da Alemanha para os pênaltis, além de ter levado à decisiva expulsão de Zidane.

4 Adriano Gabiru (Inter – Mundial de Clubes 2006) Hostilizado pela torcida desde que chegou ao clube, nem o gol do título mais importante da história do Inter rendeu sossego a Gabiru, que acabou despachado pouco depois para o Figueirense.

TERRORISMO Os jogadores do Al Quwa al Jawiya, um dos principais clubes do Iraque, pensarão duas vezes antes de voltar a comer bolos. Atletas, familiares e membros da comissão técnica foram intoxicados após comerem um bolo oferecido por supostos torcedores da equipe. Um garoto morreu no incidente, que está sendo tratado como um ato terrorista. Em setembro de 2006, Ghanin Khodair, jogador da equipe, foi seqüestrado por um grupo armado. Desde então, não se tem conhecimento de seu paradeiro.

Considerado “talismã” do Timão, o meia nunca chegou a ser de fato titular incontestável da equipe, o que não impediu que fizesse o gol da vitória de 1 a 0 sobre um São Paulo claramente superior, dando ao Corinthians seu primeiro título brasileiro.

6 Henao (Once Caldas – Libertadores 2004) O próprio título do Once Caldas era bastante improvável e certamente não teria acontecido sem que seu goleiro parasse os ataques adversários, como fez com os do Boca Juniors na final.

Valdir Friolin/Agência RBS

5 Tupãzinho (Corinthians – Brasileirão 1990)

7 Charisteas (Grécia – Eurocopa 2004) Outro título improvável, contra os anfitriões portugueses. O autor do gol da vitória nada mais era que a quarta opção do Werder Bremen para o ataque – e mesmo assim acabou herói nacional.

8 Diego Tardelli (Flamengo – Taça Guanabara 2008) Fracasso em três países de dois continentes, o ex-atacante são-paulino marcou o gol da vitória sobre o Botafogo em um de seus primeiros jogos pelo rubro-negro.

9 Dudek (Liverpool – LC 2004/5) Dudek era considerado tão importante pelos Reds que, mesmo depois de garantir o título da LC pegando dois pênaltis na final, passou um ano na reserva antes de ser negociado pelo clube – e acabar encostado no Real Madrid.

10 Ducadan (Steaua Bucareste – LC 1985/6) O goleiro da equipe romena defendeu quatro pênaltis na decisão da então Copa dos Campeões da Europa, na qual sua equipe bateu o poderoso Barcelona – de Bernd Schuster – em plena Espanha (Sevilla).

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NO VERMELHO A Ulbra passa por uma situação financeira complicada. A equipe de Canoas terá penhorada toda a renda obtida em suas partidas oficiais para o pagamento de dívidas com a União e o INSS. A decisão foi tomada pelo juiz Guilherme Pinto Machado, da Vara Federal Cível da cidade. Taxas destinadas à Federação Gaúcha e impostos não serão depositados na conta da Justiça.

Março de 2008

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Getty Images/AFP

AS CONTUSÕES DE RONALDO Três minutos depois de entrar em campo na partida contra o Livorno, pelo Campeonato Italiano, Ronaldo contundiu o joelho esquerdo. O “Fenômeno” foi levado ao hospital Pitié-Salpétrière, em Paris, onde foi operado pela mesma equipe que cuidou dele há oito anos. Contratado pelo Milan por US$ 9,7 milhões, o atacante teve pouco tempo para mostrar seu valor. Marcou nove gols em 19 partidas oficiais – ou seja, “custou” aos Rossoneri US$ 510 mil por jogo, fora o que recebeu em salários.

CURIOSIDADES DA BOLA • Keven Keegan. Esse é o nome de um dos reforços do Sampaio Correa. O meia, de 25 anos, foi batizado em homenagem ao ex-jogador inglês homônimo, atual treinador do Newcastle – apesar da diferença na grafia do primeiro nome. • Mauro Camoranesi terá que pagar uma indenização de € 45 mil a Javier Pizzo, por causa de uma falta cometida em... 1994! O lance aconteceu quando os dois jogavam na Argentina e causou o fim da carreira de Pizzo.

Veja abaixo o histórico de lesões nos joelhos de Ronaldo

• Seção lesões esdrúxulas: Michael Rensing, goleiro do Bayern de Munique, machucou as costas quando amarrava o cadarço de sua chuteira. “Em caso de emergência, encontraremos alguém para amarrar seus cadarços”, brincou o técnico Ottmar Hitzfeld. Giampiero Sposito/Reuters

1996 Passa pela primeira cirurgia no joelho direito, para uma raspagem da cartilagem 1998 Sente uma tendinite no mesmo joelho 1999 Segunda cirurgia no joelho direito. O atacante teve uma ruptura parcial no tendão, o que provocou um esgarçamento das fibras 2000 Sofreu uma ruptura total do tendão patelar do joelho direito, logo em seu primeiro jogo depois da cirurgia anterior. Com a contusão, a rótula subiu, em imagem chocante 2008 Ronaldo sofre lesão semelhante, desta vez no joelho esquerdo. Novamente, houve ruptura total do tendão. O jogador deverá ficar parado por oito ou nove meses, antes de poder voltar a treinar

• O Amoeiro, pequeno clube espanhol, fez uma rifa curiosa. Cada participante “comprou” um pedaço do gramado do estádio da equipe. Para determinar o vencedor, foi trazida uma vaca. O “dono” do local onde o animal defecasse ganharia o prêmio. Março de 2008

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PENEIRA

Balotelli:

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o atacante brilhou, sendo decisivo em todas as partidas em que atuou e dando o título para a Internazionale. Constantemente comparado a Obafemi Martins, hoje no Newcastle, Balotelli tem algumas diferenças em relação ao nigeriano. Não é tão rápido, mas conta com uma pontaria melhor e um faro de gol bem mais apurado, como já mostrou na Série A e na Copa da Itália desta temporada. Chamado para jogar por Gana, o garoto recusou e disse querer a malha da Azzurra. Diante do que ele vem fazendo desde que pisou em solo italiano, quem será capaz de duvidar? [DM]

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ara quem é filho de imigrantes pobres e foi entregue pelos pais para adoção, Balotelli já pode ser considerado um vencedor por integrar o elenco da Internazionale. Com cidadania ganense e criado em Palermo, ele fez os primeiros gols como profissional com a camisa do modesto Lumezzane. Para poder jogar, precisou de uma autorização especial da Federação Italiana, pois só tinha 15 anos. A despeito de sua precocidade, já no fim da temporada de estréia, foi levado a Milão. Hoje, com 17 anos e alguns gols para mostrar no time de cima, Balotelli é tratado como um diamante a ser lapidado, mas com brilho próprio e intenso. No último Torneo di Viareggio, uma das principais competições de base da Europa,

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topando desafios

Nome: Mario Balotelli Barwuah Nascimento: 12/agosto/1990, em Palermo (ITA) Altura: 1,89 m Peso: 88 kg Carreira: Lumezzane (2005), Internazionale (desde 2006)

Paulo Henrique: iago Luís, Alemão, Carleto, Anderson Salles, Alex e Filipi. No início de 2008, Emerson Leão voltou à Vila Belmiro disposto a aproveitar ao máximo a safra responsável pelo título paulista sub-20 do último ano. O técnico, porém, vem se esquecendo de um dos jogadores mais promissores dessa geração: Paulo Henrique. O meia-esquerda tem o famoso “estilo clássico” que sempre se diz não existir mais. Joga devagar, prevê cada movimento e, de cabeça em pé, executa a jogada. Além de passes açucarados, dribles curtos e passadas largas, surpreende pela agilidade nas bolas aéreas, em que tem bom aproveitamento. A origem paraense, o estilo cadenciado de jogo e o número 10 que levava às costas na base santista geraram

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comparações freqüentes com Giovanni, ídolo na Vila Belmiro. Curiosamente, foi justamente o craque que trouxe Paulo Henrique do Pará para a cidade de Santos. Apesar de ter sido um dos maiores destaques da última Copa São Paulo, o jovem tem sido pouco aproveitado no time do Santos, em 2008. Conseguir mais espaço no atual elenco é seu primeiro desafio. Molina, Rodrigo Tabata, Luiz Henrique e o também jovem Alex, todos de sua posição, já receberam algumas oportunidades do técnico Leão. Em meio a tanta concorrência, Paulo Henrique só não quer ser esquecido. [DM]

Zanone Fraissat/Futura Press

não esqueçam de mim

Nome: Paulo Henrique Chagas de Lima Nascimento: 12/outubro/1989, em Ananindeua-PA Altura: 1,84 m Peso: 73 kg Carreira: Santos (desde 2005)

Março de 2008

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MARACANAZO por Mauro Cezar Pereira

Coragem para priorizar o que importa ARSÈNE WENGER colocou o jovem time B do Arsenal para disputar a Copa da Liga Inglesa 2006/7 e foi à final, quando perdeu para o Chelsea. Nesta temporada, repetiu a receita e em janeiro caiu nas semifinais ante o maior rival, o Tottenham: 5 a 1. Pior, os Spurs não venciam os Gunners há mais de oito anos, 21 jogos de tabu. Nem por isso o técnico francês foi colocado na berlinda. Os motivos? O time liderava o Campeonato Inglês e pensava no duelo contra o campeão europeu, Milan, pela Liga dos Campeões, ou seja, tinha objetivos maiores. Também na Copa da Liga Inglesa, o Manchester United, caiu precocemente – e em pleno Old Trafford! Seu algoz foi o Coventry, cujo modesto objetivo é permanecer na segunda divisão. Na derrota presenciada por incríveis 74.055 fãs, os Red Devils foram a campo com os reservas. Não houve passeata pedindo a cabeça de “Sir” Alex Ferguson. Não me parece exagero comparar a “Carling Cup” da Inglaterra aos Estaduais que se desenrolam no Brasil. E está mais do que na hora de cartolas, técnicos e jogadores definirem isso de forma clara. Se, nos anos 50, times daqui tinham como única meta ganhar o campeonato do Estado, hoje estão em jogo títulos de âmbito nacional, além da Libertadores, para os que dela participam. Diante dos interesses comerciais, porém, raros são os que se atrevem a colocar os campeonatos locais em seu devido lugar. É verdade que ainda se alimentam das eternas rivalidades regionais, que não devem ser colocadas de lado, mas os Estaduais não bastam para que clubes que se consideram grandes façam jus a tal rótulo. Os torneios regionais até mobilizam a torcida em suas fases decisivas, mas não balizam trabalhos em andamento. Se os reservas do Fluminense, reforçados por Thiago Neves e Arouca, goleiam os suplentes do Flamengo três dias antes da estréia

rubro-negra na Libertadores, o resultado doméstico não pode interferir na caminhada internacional. Em Londres, o 5 a 1 do Tottenham não atrapalhou a caminhada do Arsenal. Nas três semanas subseqüentes à histórica goleada, a equipe de Wenger venceu quatro jogos seguidos, marcou 11 gols, sofreu um e abriu cinco pontos de vantagem sobre o Manchester United no Campeonato Inglês.

No ano passado, em Buenos Aires, entrei em um táxi e notei que o motorista tinha um escudo do River Plate pendurado no retrovisor e ouvia um programa esportivo. Puxei conversa, e, ao perceber um brasileiro em seu carro, ele arriscou meu time: “San Pablo? Palmeiras? Corinthians? Santos?” Trata-se de um óbvio reflexo da freqüente presença paulista na Libertadores — levaram 10 das 18 vagas disponíveis entre 2003 e 2007. Expliquei que sou do Rio de Janeiro, embora more em São Paulo há muito tempo. Só então ele falou de Vasco (“Eles têm uma camisa parecida com a do River e nos venceram aqui, em Núñez, em 1998, com aquele gol do Juninho”, lembrou), Flamengo, Cruzeiro, Grêmio, Internacional. Fluminense e Botafogo nem sequer citou, embora demonstrasse conhecimento da geografia futebolística brasileira e boa memória para fatos históricos, especialmente duelos pela Libertadores. Imagine quais as referências de clubes do Brasil para torcedores não tão atentos, fanáticos... Participar de competições internacionais é imperativo no futebol de hoje. Quem não entender isso vai ficar para trás. Será grande apenas pela história e menos conhecido no exterior do que LDU, Audax Italiano e Libertad. E se o preço disso for perder um ou outro Estadual, paciência. É preciso coragem para priorizar o que realmente importa.

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ENCHENDO O PÉ por Caio Maia

Não é tão sério É DA ATUAL GERAÇÃO de jornalistas esportivos querer ser o tempo todo o mais fiel possível à realidade. E é muito bom que seja assim. Foi-se o tempo em que um Nelson Rodrigues descrevia um jogo de futebol mesmo sem tê-lo enxergado. O fanático tricolor pode até ter sido um grande escritor – não acho, mas aí é questão de opinião –, mas não fazia jornalismo. O novo jornalista esportivo se leva a sério, diferentemente do que se fazia em muitas redações há pouco tempo. Entende que jornalismo esportivo é, antes de tudo, jornalismo e precisa ser exercido com a mesma seriedade do jornalismo político ou econômico. E vem buscando os instrumentos para tornar isso possível. Um dos resultados dessa mudança de mentalidade é uma obsessão pela tática. Se, no passado, o brasileiro considerava que a tática era só um

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recurso pelo qual os europeus tentavam diminuir a diferença técnica que existia entre seus jogadores e os nossos, hoje parece que tudo pode ser explicado pelos 4-4-2 ou 3-5-2. O problema é que não pode. E, da mesma maneira como a ignorância tática fazia mal a nosso jornalismo, a obsessão por ela também faz. Para ficar no básico: qualquer pessoa que converse com Joel Santana percebe que o treinador do Flamengo não enxerga mais que dois ou três desenhos para uma equipe. Porém, o próprio Joel vem sendo constrangido a fingir que é um José Mourinho. É evidente que não foi por causa dos recursos táticos que Joel levantou o Flamengo. Assim como é evidente que Joel levantou o Flamengo, e que tem muitos méritos por isso. Não se trata de comparar Joel com Mourinho, por mais que, para os fãs mais novos, o paralelo possa parecer injusto com o brasileiro. É provável que o Chelsea na mão de Joel fosse rebaixado; da mesma forma, porém, é de se imaginar que Mourinho – ou Capello – teria dificuldades para impor seu estilo a um time brasileiro. E que, no Brasileirão, provavelmente seria superado por um Joel ou um

Muricy – outro que tem muitos méritos, mas às vezes busca méritos táticos que não necessariamente tem. O jogador brasileiro não é o jogador inglês. Tem muitas vantagens sobre o europeu do ponto de vista da habilidade e desvantagens no que se refere a tática, trabalho de equipe e disciplina. Não é que um seja necessariamente melhor que o outro, apenas são diferentes. Não é por outro motivo que os estilos de técnico que funcionam em um ou em outro lugar tendem a ser diferentes. É por isso que, queiram ou não os europeístas, Abel Braga pode muito bem superar Frank Rijkaard, e Paulo Autuori pode ganhar de Rafa Benítez. O segredo está em saber trabalhar bem o material que se tem nas mãos. De que maneira isso acontece, não tem a menor importância.

CAMPEÃO DESDE 1907 Patético. Podem dizer o que quiserem, mas é a única maneira de classificar a reação do Botafogo à derrota na final do primeiro turno do Cariocão. Pra começar, pelo valor do que foi perdido: metade de nada. No período em que os cariocas andavam em baixa no cenário nacional, até dava para entender que se desse alguma importância ao Carioca, mas, em pleno 2008, com o Flamengo voltando a ser um dos principais times do país e Fluminense e Botafogo levados a sério de novo, perder tempo com Estadual só pode ser uma maneira de enganar a torcida. Isso, claro, quando se ganha. Comemorase o nada. Se isso por si só já é ridículo, o que dizer do luto pela perda do mesmo nada? Jogadores profissionais chorando no vestiário por causa de um erro de arbitragem que não aconteceu, renúncia de presidente, não faltou quase nada. Depois o Botafogo reclama de não ser levado a sério. E seu presidente diz que a torcida não comparece por saber que vai ser roubada. Errado: não comparece porque acreditou no conto dele, de que a equipe não passa de uma coitadinha. Pode ser que seja com a melhor das intenções, mas Bebeto de Freitas está fazendo o Botafogo ser encarado cada vez mais como um time pequeno.

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PONTO DE BOLA por Mauro Beting

A corte dos Bobôs

AMARCORD Para não ir longe, desde o tetra, em 1994, vejamos uma seleção, ops, uma exclusão de convocações pra lá de discutíveis de nossos treinadores. Partindo de Zagallo, que ainda em 1994 começou a preparar o time que levaria bronze em Atlanta-96: os laterais Zé Carlos, Alcir e Jefferson, o zagueiro Alexandre Lopes, os meias Darci e Fábio Baiano, e o atacante Reinaldo Rosa. Também preparando o time que levou chumbo na Olimpíada em Sidney, Luxemburgo levou os goleiros Renato e Émerson, e os zagueiros Jean, Flávio e Fábio Bilica. Leão pegou o Brasil falido em 2000. Não ajudou muito convocando o “nota 7” (numa escala de 100?) Leomar, volante do Sport. E ainda o atacante Magno Alves, entre outros mais votados. Felipão trouxe o penta. E também convocou o zagueiro Daniel e os volantes Fernando Menegazzo e Esquerdinha. Parreira não precisou se preocupar com a Seleção olímpica (que nem para Atenas viajou). Só chamou gente discutível na despedida de Romário, quando convocou os zagueiros (reservas) de Santos e Palmeiras, Leonardo e Gláuber. Além de Ilan. Dunga já lembrou de Afonso Alves, artilheiro na Holanda. Mas também passará para a história como o treinador que apostou em Bobô. Que não tem a elegância sutil do xará baiano cantado em verso e bola por Caetano Veloso.

BOBÔ FOI O PIOR CENTROAVANTE que vi atuando pelo Corinthians. Em 61 jogos, de 2003 até 2006, foram cinco gols marcados e 7.934 perdidos. Na base, porém, foi campeoníssimo e artilheiro. Mas, no Parque São Jorge, ele mesmo admite que “o que pegava era a finalização”. De fato, é algo preocupante para um centroavante. Lugano era um que defendia o jogador: “No Brasil, vocês só dão bola ao atacante que dá pedalada, que é técnico. Eu posso dizer que o Bobô é muito chato de ser marcado”. Pode ser. Ele é forte, alto. Mas muito mais chato deve ser torcer por um time que ele defende. Deve ser ainda mais complicado torcer por uma Seleção Brasileira com Bobô no comando de ataque. Sim, ele tem idade olímpica. Sim, ele é o maior artilheiro estrangeiro da história do Besiktas. Sim, ele tem uma média de gols considerável. Sim, todo mundo pode prosperar, pode melhorar. Sim, ele é gente boa e esforçado. Mas não, Bobô não pode jogar pela Seleção Brasileira pentacampeã mundial. Sei que é questão de gosto – e de desgosto. Sei que Dunga não tinha outra opção contra a Irlanda, com a contusão de Pato. Sei que é cruel dizer que alguém não merece estar onde está. Não gostaria que o simpático e educado Bobô dissesse que eu também não mereço trabalhar onde trabalho. Como o escolhido de Dunga, também sei de minhas muitas limitações. Mas, com todo o respeito (o que sempre denota uma falta de respeito), a Seleção é demais para Bobô. Só Afonso Alves deve ter ficado realmente feliz. O artilheiro do Boro vai deixar de ser a bola da vez. Vai deixar de ser referência de convocação estranha. Bobô chegou para tomar o lugar. Uma coisa, porém: Bobô não tem o direito de ter melhorado? Será que ele é tão ruim como eu e a torcida corintiana achamos? Ele não pode realmente ter aprendido, se aprimorado? Para ficar num exemplo histórico alvinegro: Mirandinha, quando chegou ao Parque São Jorge, em 1971, era grosso de doer para muita gente. Perdia gols como o Corinthians perdia campeonatos no jejum. Foi para o São Paulo em 1973. No ano seguinte, estava no Brasil de Zagallo, na Copa. Era um ex-grosso. Ou jamais havia sido. Melhorou. E muito. Por que não Bobô? Porque não. Ainda existem Bobôs no futebol. Março de 2008

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TÁTICA por Cassiano Ricardo Gobbet

Faraós disciplinados Com uma tática cautelosa e rígida, Egito levou a melhor sobre equipes mais talentosas na Copa Africana de Nações

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Egípcios não tinham craques, mas contavam com boa tática e disciplina

Egito Meio-campo e ataque “operários” deram aos Faraós poder de marcação sem perder ofensividade

e uma maneira geral, os admiradores mais convictos do futebol africano ficam fascinados com a vocação que os atletas do continente têm para tentar o drible em vez do passe, mesmo que isso custe o sucesso da jogada. A característica – que não difere muito da natureza do futebol brasileiro – criou um estigma que não deixa de ser verdadeiro: equipes africanas não jogam como times, e sim dependendo de lances individuais. Os resultados não desmentem a afirmação. Em competições mundiais, as seleções africanas ganham a simpatia do público, mas invariavelmente perdem por causa desse misto de ingenuidade e irresponsabilidade. Olhando por esse ponto de vista, a conquista egípcia em Gana, na Copa Africana de Nações, pode ter sido um marco no desenvolvimento do futebol no continente. Sem con-

G: goleiro / LD: lateral-direito / LE: lateral-esquerdo / Z: zagueiro / V: volante / M: meia / A: atacante

D

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tática.indd 2

A

A

A. Zaky

Moteab

(Shawky)

(Zidan)

M Aboutrika (Dawoud)

M

M

Hasan

Moawad

V V

Fathy

Hosny

Z Z

Said

Gomaa

Z Shady

G El Hadary

tar com a vantagem da torcida, o Egito ganhou com um técnico africano no comando (12 dos 16 eram de outros continentes), bateu seleções consideradas bem mais fortes (como Camarões, Costa do Marfim e a anfitriã Gana) e tirou sua força de um conjunto coeso, até por causa da ausência de seus dois principais jogadores: Mido (Middlesbrough) e Ghaly (Tottenham). Um dos grandes méritos do técnico Hasan Shehata, campeão da CAN de 2006, quando jogou em casa, foi acreditar no próprio taco. Remando contra a maré, o Egito “desnaturou” o estilo africano ao montar um time com três defensores – uma medida cautelosa, de um técnico que sabe que não tem uma superdefesa. Enquanto os técnicos dos outros países procuravam acomodar seus esquemas para receber suas estrelas, Shehata fez questão de manter a

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Getty Images/AFP

mais rigorosa disciplina, enquadrando quem se opusesse. Se, em 2006, o astro Mido foi tirado da final, em 2008, o jogador que deu o passe do gol decisivo, Mohamed Zidan, levou broncas homéricas de Shehata. Sem Mido nem Ghaly, Shehata não teve dúvidas em entregar a regência do time ao perspicaz Aboutrika, responsável por ditar o ritmo do jogo. Quase um atacante, o armador do Al Ahly recuava ou avançava dependendo das necessidades do time, garantindo um meio-campo compacto sem a bola e superioridade numérica nos contragolpes. Num deles, recebeu a bola roubada por Zidan e definiu uma final que foi muito equilibrada. Com o gol da vantagem, Shehata mandou mais um marcador a campo (Shawky) e liquidou a partida.

do técnico Otto Pfister. Camarões dependia muito do duo Song-Mbia, que compensavam o ímpeto ofensivo dos outros meias e os avanços pela esquerda do lateral Atouba. A anfitriã Gana, que contava com o título, só caiu nas semifinais por um lance de sorte de Nkong, que deu a vantagem necessária para Camarões vencer a partida. Gana usou um 4-5-1 com somente um atacante, mas quase todos os meias eram capazes de atacar: Essien, Muntari, Agogo e Ayew. Pelo volume de jogo, não é exagero dizer que Gana mostrou mais para estar na final. Seleções atrapalhadas por chiliques de primas-donas, falta de empenho em campo ou técnicos sem força fizeram feio. Nigéria (mesmo passando da primeira fase) e Senegal deixaram as piores impressões, com times desarrumados e vivendo de lances individuais de seus melhores jogadores. El-Hadji Diouf, senegalês que brilhou na Copa de 2002, foi a epítome da frustração de sua seleção. Na África do Sul, do brasileiro Carlos Alberto Parreira, a situação também não é rósea: até há alguma organização, mas os nomes à disposição são bem pouco animadores – mesmo para quem vai jogar em casa.

Quedas e decepções O lance que definiu a final também foi influenciado por uma questão de ordem tática. A saída do meia camaronês Alexandre Song, aos 16 minutos, deu a vantagem definitiva no meio-campo ao Egito – que já estava bem no setor. Song, um passador ágil e forte, garantia mais pressão sobre Aboutrika e era fundamental na contenção, no esquema

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Camarões Mbia e Song eram a chave para a liberdade de Eto’o nos Leões Indomáveis

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Gana Donos da casa compensavam o atacante único com vários meias habilidosos

A

A

A. Nkong

Quincy

A

A

M

Epalle

A. Emana

(Mbami)

(Idrissou)

V

V

S. Mbia

A. Song

Z Tchato

R. Song

M

Muntari

Essien

Agogo

Drogba

LD Geremi

Draman

Annan

Z

Z

Addo

Pantsil

A. Koné

M

M

Ayew

Romaric

V LE

A

(B. Koné)

(Sanogo)

(Barusso)

(Binya)

Z

M

Keita

A M

Eto’o

T. Atouba

Entre os semifinalistas, Elefantes eram o time mais ofensivo no papel

(Baffour)

M

LE

4

Costa do Marfim

LD

LE

Sarpei

Tiene

V

V

Fae

Yaya Touré

LD Z

Z

Zokora

Zoro

G

G

G

Kameni

Kingson

Barry

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Eboué

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“Vasco, hoje, é uma

DITADURA” entrevista dinamite.indd 2

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ENTREVISTA RR ROBERTO DINAMITE por Carlos Eduardo Freitas omo não poderia deixar de ser, o gabinete número 310 da Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro é inteiramente decorado com recortes de jornal e fotos de partidas de futebol. Lá está a famosa primeira página do “Jornal dos Sports” de 28 de novembro de 1971 com a manchete, em letras garrafais, “Garoto Dinamite explodiu”, que conta a história do primeiro gol como profissional daquele que, até então, respondia por outro apelido. “Eu era chamado de Zé Roberto. Isso mudou depois desse jogo contra o Internacional, no Maracanã”, lembra-se o maior artilheiro da história dos Campeonatos Brasileiros, com 190 gols. Sua sala, um cubículo de, no máximo, 15 metros quadrados, com um banheiro privativo, é decorada com quadros dele vestindo a camisa vascaína, além de uma série de fotos que retratam sua carreira – do juvenil do Vasco, em 1970, à despedida no Maracanã, em 1991 – e mais de uma dúzia de troféus e diplomas, distribuídos por estantes e pelas paredes. Em sua mesa, adereços alusivos ao clube e porta-retratos dos filhos, entre algumas pilhas de papel. A conversa, de quase duas horas, é interrompida com freqüência por algum assessor – ou pelo telefone – com pedidos, quase todos de camisas do Vasco autografadas. “Olha aqui essa lista”, diz, mostrando um papel com mais de cem nomes. “E essa, e essa”. Em poucos instantes, o antigo goleador acha algo próximo de mil pedidos. “Se tenho cem camisas, vão as cem. Se tenho mil, vão mil. É impressionante”, conta Roberto, mostrando certo desconforto com o abuso da boa vontade de muita gente. Entretanto, a quantidade de “ok” ao lado dos pedidos mostra que ele sabe bem como agradar e conquistar seus eleitores.

Ricardo Costa/Agência O Globo/Gazeta Press

C

Após quatro anos de brigas, Roberto Dinamite deverá ter a chance de enfrentar Eurico Miranda em pé de igualdade nas eleições do Vasco. Em conversa com a Trivela, ele apresenta suas propostas e relembra como foi do Barcelona para o Vasco depois de receber uma oferta do Flamengo

E pensar que, quando voltou do Barcelona, em 1980, você esteve muito próximo de ir parar naquele Flamengo do Zico... Na realidade, eu só voltei para o Brasil em razão do Flamengo. Cheguei ao Barcelona para fazer gols, mas o grande problema lá não foi apenas de adaptação. O time não vivia um grande momento e não era tão forte [o clube ficou 11 anos sem ganhar troféus, entre 1974 e 1985]. Naquela época, existia também aquele limite de apenas dois estrangeiros por equipe: era eu e um dinamarquês, o Allan Simonsen. No primeiro jogo, fiz dois gols. Alguns jogos depois, fiz mais um. Aí, o treinador que me levou, o (Joaquin) Rife, caiu três rodadas depois de eu chegar. Foi contratado o Helenio Herrera (argentino), que participou de algumas daquelas decisões contra o Santos na década de 60. Com ele, perdi espaço no time. Os caras queriam que eu marcasse gol em todos os jogos, mas a bola não chegava. Só

lamento não ter tido sorte. É complicado, porque potencial e qualidade eu tinha. O problema é a coisa acontecer, dar certo. Fui conversar com o presidente do clube para resolvermos a situação, porque uma coisa é você estar começando a carreira, buscando seu espaço, mas eu já tinha um nome. Quando eu voltei, meu primeiro jogo foi contra o Corinthians, aqui no Maracanã [na realidade, Roberto jogou pelo Vasco contra o Náutico antes disso]. Foi 5 a 2 [com os cinco gols marcados por Dinamite]. Veio um cara de Barcelona para cá acompanhar, e saiu no jornal de lá: “Este, sim, é o verdadeiro Dinamita”. Como entrou o Flamengo nessa história? Depois dessa situação lá na Espanha, surgiu o interesse do Flamengo. Foi o Márcio Braga para lá, mais dois outros dirigentes. Conversaram comigo e eu disse que conversassem com o Barcelona. Eu sei que, num primeiro momento, foi feito um contato com o Vasco, que não se interessou. Março de 2008

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Nesse meio-tempo, começou a haver uma pressão da torcida em cima da diretoria, que soube da possibilidade de eu ir para o Flamengo. Lembro que, na época, o Olavo (Monteiro de Carvalho, empresário, então assessor da presidência do clube) me ligou e disse: “Não assina nada com outro clube que eu estou mandando o Eurico aí para conversar contigo”. Ele foi lá, conversamos e acertei meu retorno para o Vasco. Dá para se imaginar tendo jogado pelo Flamengo naquele timaço que eles tinham na década de 1980? Acho que não. Tenho consciência daquilo que eu representei e, acho, continuo representando para a torcida do Vasco. Foi a decisão certa. Prefiro deixar esse “e se” para a imaginação dos outros. Acho que não dá para pensar nisso. Era um grande time – e até brinco que não teria graça se eu tivesse ido para lá. Preferi o desafio de voltar ao meu Vasco, que, em 1980 e 1981, tinha como adversário um Flamengo que era mais forte e tinha sua melhor equipe. Entre jogar naquele timaço e fortalecer a minha imagem com o clube, eu optei pelo Vasco. Mesmo sabendo que você poderia ter jogado ao lado do Zico? Não ia dar para ficar dois jogadores como eu e o Zico juntos. Acho que ele estava acima de mim em termos de qualidade e técnica, mas, em termos de representatividade, estávamos no mesmo nível – ele no Flamengo, eu no Vasco. Nossa situação é diferente da de outros jogadores porque crescemos dentro de um clube. Naquela época, era bem diferente do que é hoje, em que você não tem um jogador que permaneça tanto tempo no mesmo clube. Antes, não era só o jogador, mas também o dirigente e o torcedor que não aceitavam essa história de você jogar no Vasco, depois ir para o Flamengo, e depois jogar pelo Vasco de novo. Hoje, a coisa está diferente. Mesmo com o time do Fla sendo mais forte, vocês ainda ganhavam deles... Vira e mexe, ganhávamos mesmo. Em 1981, perdemos o título na melhor de três. Precisávamos ganhar três vezes do Flamengo. Ganhamos duas e eles levaram a última. Mas, em 1982, a gente ganhou deles, com um gol do Pedrinho, de cabeça. É por isso que não me arrependo de ter voltado para São Januário, por ter fortalecido muito essa imagem de que era o Zico lá e eu no Vasco.

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Só voltei do Barcelona para o Brasil porque o Flamengo tentou me contratar. A torcida do Vasco pressionou e o clube acabou indo me buscar

LUZ APAGADA Depois de quase uma hora recordando sua carreira como jogador, o deputado Roberto Dinamite pede licença. Em vez de mais um pedido de camisa autografada, chega a hora de fazer um pouco de política e se reunir com alguns colegas. Enquanto ele não volta, seus assessores contam situações vividas pelo ídolo vascaíno em sua briga para tentar, nas urnas, tirar Eurico Miranda da presidência do clube. Depois de perder a primeira eleição, em 2003, o ex-jogador tentou novamente em 2006. Foi mais um pleito marcado por muita confusão, novamente incluindo com eleitores com idades acima dos 100 anos e até mesmo dirigentes do Flamengo. Antes do final da contagem da última urna, as luzes do ginásio se apagaram. A exemplo do que havia acontecido três anos antes, Dinamite e seus assessores

temeram pela integridade física do candidato. “Até que a luz voltasse, tive que ficar dentro de uma roda de umas vinte pessoas, para que nada acontecesse comigo”, lembra-se. Apesar disso, Roberto não tem seguranças particulares em seu dia-a-dia de parlamentar. Chega e vai embora da ALERJ todos os dias sozinho, dirigindo o próprio carro. O curioso é pensar que Dinamite e Eurico já dividiram pôsteres eleitorais. Isso aconteceu nas eleições de 1994, quando o atual cartola vascaíno concorria a seu segundo mandato de deputado federal – dessa vez pelo PPB (o primeiro foi pelo PL) –, enquanto Dinamite, então vereador, concorria ao cargo de deputado estadual, pelo PSDB. A mensagem nos cartazes e outdoors era simples e direta: “Eurico para Federal e Dinamite Estadual”. Os dois acabaram eleitos.

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Eurico Dantas/Agência O Globo

O rompimento aconteceu em 2001, numa partida disputada em São Januário. Dinamite entrava na tribuna de honra, acompanhado por seu filho, quando foi expulso por seguranças do então vice-presidente. O ídolo vascaíno deixou o estádio humilhado, tornando-se, assim, inimigo de Eurico e “persona non grata” no clube. Tudo isso por conta de uma entrevista do ex-jogador: “O repórter me perguntou sobre a renovação do contrato do Romário, que tinha cláusulas em que ele era colocado como o jogador mais importante do clube, pois apoiava o Vasco dentro e fora de campo. Disse apenas que, pelo que fazia dentro de campo, Romário estava ajudando o clube. Citei até a vitória na Mercosul, sobre o Palmeiras. Minha outra colocação foi a seguinte: se ele ajuda o clube fora de campo, não é a função dele.” Eurico não gostou e, segundo Dinamite, foi então que

terminou o relacionamento entre os dois. O ex-jogador diz que nunca fez nada que justificasse o comportamento do cartola, mas evita até mesmo pronunciar seu nome, referindo-se ao adversário como “todo-poderoso”, “presidente em exercício”, “aquele cara”, entre outros. “E eu nunca chamei o Eurico de Eurico. Sempre de ‘doutor’ Eurico, em todos os momentos. Sempre tratei bem. Até o incidente em São Januário”. O que realmente tira o ídolo vascaíno do sério é ter sido arrancado da história oficial do Vasco. “Hoje, se você pega um livro com a história do Vasco, meu nome não está lá. Sou o jogador que mais vezes vestiu a camisa do clube em todos os tempos, o maior artilheiro do Vasco, maior goleador da história do Campeonato Brasileiro. Uma coisa é ser adversário, mas a história do clube, de quem passou por ali, tem de ser respeitada”.

Se você for eleito, como o Eurico será citado quando você reparar isso? O presidente interino – e ele não gosta de ser chamado assim – foi bom para o Vasco num período, mas chegou a uma situação em que se acha o dono do clube. Você não pode apagar as coisas boas que ele fez. Tem de lembrar dos jogadores, dos dirigentes que ajudaram o clube. Com certeza, o nome dele estará lá como um bom diretor de futebol durante um período. Depois, a coisa passou do limite. Joguei por 20 anos lá, tenho essa trajetória; está aí o Romário; está lá o Expresso da Vitória. Todas essas pessoas são importantes para a história do Vasco, porque o clube está acima da gente. A instituição, o Clube de Regatas Vasco da Gama, tem uma história muito bonita, de um clube fundado por portugueses, que quebrou uma série de tabus, principalmente com relação ao negro. Aí, hoje, você tem uma ditadura, num clube que sempre foi tido como o mais democrático. Você tem ido a São Januário? Tenho evitado. Posso entrar, mas não vou. Sei que, se for, vai haver uma pessoa me observando aqui atrás. Infelizmente, nas duas vezes que participei da eleição do Vasco, houve truculência. Na primeira, tive de sair escoltado antes de apurar a última urna. Fui forçado a ir embora, porque a segurança do clube não garantia minha integridade física dentro do Vasco. Imagina: você está no clube que te projetou e não há como garantir sua segurança. Eles não sabiam qual poderia ser a reação das pessoas que estavam ali, ligadas ao Eurico. E como você pretende mudar isso? É difícil. Hoje, a administração é fechada. O torcedor não agüenta mais jogar contra o Flamengo e toda vez ouvir que é vice de novo. Acham que é normal? Essa atual administração praticamente não ganhou nada. Se ganhou, foi uma competição. Vem perdendo para quem, antes, diziam: “Ganhar do Flamengo é como ganhar um título”. Estamos, então, perdendo títulos fora da competição para caramba. Aí, o sujeito me cobra na rua, diz que tem que mudar, que eu tenho que ser o presidente, Março de 2008

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Arquivo/Agência O Globo

Carlos Roberto de Oliveira Nascimento: 13/abril/1954, em Duque de Caxias (RJ) Carreira: Vasco (1970 a 1979, 1980 a 1989, 1990 e 1992 a 1993), Barcelona (1980), Portuguesa (1989 a 1990) e Campo Grande (1991) Títulos: Campeonato Brasileiro (1974), Estadual do Rio (1977, 1982, 1987, 1988 e 1992)

Na Seleção: 47J / 25G Como político: Vereador da cidade do Rio de Janeiro (1992 - PSDB), deputado estadual pelo Rio de Janeiro (1994 e 1998 - PSDB, 2002 e 2006 - PMDB)

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Nina Lima/Jornal dos Sports/Futura Press

que tenho que tirar aquele cara. Aí eu pergunto: “Você é sócio?”, e dizem que não. Eu sugiro que entrem de sócio para que ele possa ter o direito de ir lá e escolher. Só que, se você chega lá e tenta se associar, eles não deixam. O fato de ser um grande jogador da história do Vasco é suficiente para qualificá-lo como o presidente ideal para o clube? Isso é o que eles colocam como obstáculo. Dizem: “Ah, o Roberto nunca administrou, foi jogador”. E o Eurico, administrou o que antes do Vasco? A Besouro Veículos – e teve de sair de lá. Eu não vou administrar sozinho. Vou ter departamento financeiro, advogado, administrativo, vice-presidente. Uma pessoa dentro de cada setor que, claro, vai ter de me dar satisfação com relação àquilo que está sendo feito para buscar as coisas que são de interesse coletivo do clube, dentro da realidade. Como vai ser o Vasco presidido por Roberto Dinamite? Digo que Dinamite eu era quando jogava; agora estou mais calminho. Comigo, o clube vai voltar a suas origens, sobretudo no tratamento e no relacionamento com as pessoas, independentemente de quem seja: torcedor, imprensa, dirigente, jogador. Temos de nos respeitar. Os dois pontos importantes que vemos para nossa administração são: ter pessoas preparadas e com qualificação dentro de todos os setores, além de planejamento. A situação faz um discurso de que é vascaína, mas tem pessoas por perto que nem isso são – torcem para outros clubes. Hoje, existem, em diversas áreas, grandes empresários que são vascaínos, querem estar dentro desse processo e estão esperando. São pessoas que desejam – e podem – dar sua contribuição de forma espontânea. A palavra do presidente é decisiva? É, mas ele vai sentar com as pessoas para conversar e dialogar. E o planejamento? O clube precisa ter uma linha. Uma administração não pode se projetar para um ano. Se está ali três, tem de se projetar para três anos. Não dá para projetar alguma coisa para o ano que vem ou, como aconteceu no

Hoje, se você pega um livro com a história do Vasco, meu nome não está lá. Sou o jogador que mais vezes atuou pelo clube, mas o Eurico me apagou da história do clube Campeonato Carioca, quando o clube fez uma viagem para o exterior totalmente fora época. “Ah, mas o clube precisa arrecadar”. Faça, então, um planejamento para arrecadar US$ 150 mil e que se prepare uma equipe à altura da tradição do clube. Outro exemplo: precisa manter os jogadores que chegaram aqui em momentos que não eram estrelas, mas que mos-

traram, ao longo do Campeonato Brasileiro, que poderiam ser úteis ao clube. Caso do Leandro Amaral e do Conca. Manter esses jogadores deveria ser prioridade. Aí, eles vão embora, porque não há planejamento. Precisavam manter esses jogadores ali e trazer outros. Mas só vamos ter uma noção da realidade quando entrarmos lá. Março de 2008

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HISTÓRIA por Rafael Martins

Nos trilhos da

LIBERTADORES Arquivo/Agência O Globo

Há 60 anos, o “Expresso da Vitória” do Vasco conquistou o mais importante título do futebol brasileiro até então

façanha do Vasco foi a maior jamais realizada por clube brasileiro”. Com essa frase, Mário Filho iniciou sua coluna no “Jornal dos Sports” de 16 de março de 1948. Dois dias antes, o time cruzmaltino saíra do Estádio Nacional de Santiago com um enorme condor de bronze, que representava a conquista do Campeonato Sul-Americano de Campeões. A ave escolhida para dar forma ao troféu simboliza a liberdade do continente americano, mais tarde lembrada, também, no nome da competição que retomaria a idéia desse torneio do final dos anos 40. Em 1996, a Conmebol reconheceu a importância do título do Vasco no Campeonato Sul-Americano, permitindo ao clube, no ano seguinte, disputar a Supercopa. Admitir a equivalência entre o certame do Chile e a Libertadores não foi um exagero da entidade. Descontados os limites que a época impunha – em alguns países, ainda não havia campeonatos de abrangência nacional –, a seleção dos participantes foi criteriosa, mais até do que na Europa, cuja primeira Copa dos Campeões definiu seus participantes sem levar em conta o desempenho no ano anterior. A presença de representantes de sete países foi importante para diferenciar o campeonato de Santiago dos muitos desafios, quadrangulares e torneios que, à época, fervilhavam na América do Sul. Fazia muitos anos, por exemplo, que os campeões do Uruguai e da Argentina duelavam pelo título “rioplatense”. Em 1947, a Copa do Atlântico reunira times brasileiros, argentinos e uruguaios.

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OS PARTICIPANTES Campeão

Vasco (BRA)

O goleiro Barbosa foi um dos destaques da conquista do Vasco

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Como chegou à competição Campeão carioca de 1947 Time-base Barbosa, Augusto e Wilson; Eli, Danilo e Jorge; Djalma, Maneca, Friaça, Ismael e Chico Características Individualmente muito forte, o time crescia diante de desafios mais difíceis. Não por acaso, suas melhores atuações foram contra o segundo, o terceiro e o quarto colocados Situação atual Sem títulos há cinco anos e fora da Libertadores desde 2001

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Poucos dias antes de o Vasco chegar ao Chile, o Flamengo esteve lá disputando amistosos. No mesmo período, o River Plate visitou a capital paulista, onde perdeu para o Corinthians, empatou com o São Paulo e venceu o Palmeiras. Apesar da campanha irregular nesse tour, “La Máquina” de Moreno, Labruna e Di Stéfano manteve sua aura quase intacta e chegou ao Campeonato Sul-Americano ostentando a insígnia de favorito. Atribuiu-se o medíocre desempenho em solo paulistano às fortes chuvas que haviam enlameado a grama e prejudicado o fino toque de bola argentino.

OS ARTILHEIROS 7 Gols Caparelli (Litoral)

6 Gols Atílio García (Nacional)

5 Gols Mosquera (Municipal)

4 Gols Di Stéfano (River) Friaça (Vasco) Gómez (Nacional) López (Colo-Colo) Loustau (River)

De azarão a favorito O Vasco decolou rumo a Santiago no dia 7 de fevereiro. O time não ia curtir a folia carioca, embora merecesse: no ano anterior, havia conquistado o título local de forma invicta – e sem Ademir de Menezes, que estava no Fluminense. Mas, naquele sábado de carnaval, o jogador já tinha retornado ao clube. Ele e mais 17 integrantes do “Expresso da Vitória” partiam para o Chile na condição de figurantes. Afinal, nenhum time brasileiro, nem mesmo a Seleção, havia vencido um campeonato em território estrangeiro. Robinson Alvarez, presidente do ColoColo e idealizador do Campeonato SulAmericano de Campeões, pensava assim. Por isso, a tabela agendou, inicialmente, os cruzamentos entre River, Colo-Colo e Nacional para as últimas rodadas. Esperava-se, desse jeito, garantir o interesse do público até o final. No entanto, em

Vice-campeão

River Plate (ARG) Como chegou à competição Campeão argentino de 1947 Time-base Grisetti, Vaghi e Rodríguez; Yácono, Rossi e Ramos; Reyes, Moreno, Di Stéfano, Labruna e Loustau Características Quase todos os jogadores vinham das categorias de base do River. Sua escola era a do jogo coletivo, baseado na posse de bola e em triangulações envolventes Situação atual Não consegue ter o mesmo sucesso internacional do rival Boca

seu segundo jogo, o Vasco bateu o representante uruguaio por 4 a 1, obrigando Alvarez a rever seus conceitos. Após certa resistência a alterações no cronograma, o Vasco acabou cedendo. Seu último compromisso passou a ser contra o River Plate, no dia 14 de março. A goleada sobre o campeão uruguaio foi a única partida de Ademir no certame. Um chute do beque Rodolfo Pini provocou uma fratura no pé direito do “Queixada”, que regressou ao Rio para iniciar sua recuperação. Embora o desfalque fosse preocupante, o time continuou rendendo bem. “Havia ótimos reservas”, lembra o jornalista Luiz Mendes, que acompanhou a competição. “Desde 1944, o Vasco era o melhor time do Brasil”. Pouco a pouco, Flavio Costa foi encontrando a formação ideal. O zagueiro

3º colocado

Nacional (URU) Como chegou à competição Campeão uruguaio de 1947 Time-base Paz, Raúl Pini e Tejera; Santamaría, Rodolfo Pini e Cajiga; Castro, Gómez, Atilio García, Gambetta e Orlandi Características A dupla Gómez/ García mostrava muita eficiência, porém a zaga, segundo os críticos da época, era lenta e pesada. Tejera e Gambetta enfrentariam o Brasil em 1950 Situação atual Tricampeão da Libertadores, perdeu espaço no cenário continental

4º colocado

Municipal (PER) Como chegou à competição Vice-campeão peruano de 1947 (o campeão, Atlético Chalaco, recusou o convite) Time-base Suárez, Cavadas e Perales; Colunga, Castillo e Celi; Hurtado, Mosquera, Drago, Guzmán e Torres Características Baixinhos e habilidosos, os “Tres Gatitos” Mosquera, Drago e Guzmán formavam o melhor núcleo da equipe, que tocava bem a bola, mas pecava pela falta de objetividade Situação atual Caiu para a segunda divisão do futebol peruano Março de 2008

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Wilson, que, em janeiro, ainda defendia os juvenis, surpreendeu com atuações muito seguras. O mesmo não sucedeu com o jovem Dimas, artilheiro do Carioca de 1947, que parecia meio preso. O técnico, então, decidiu deslocar Friaça da ponta direita para o centro do ataque, onde teve atuações destacadas. “Eu tinha um chute muito forte”, conta o ex-jogador, morando hoje em Porciúncula-RJ, sua cidade natal. Um dos quatro gols de Friaça no campeonato foi marcado no empate com o Colo-Colo, que alinhou alguns jogadores de outros times chilenos, burlando o regulamento. Esse não foi o único caso de armação do certame. A arbitragem da batalha entre Vasco e River, a cargo do uruguaio Nobel Valentini, foi muito contestada pelos vascaínos e pela imprensa, principalmente por conta do gol anulado de Chico, em suposto impedimento. Nessa partida decisiva, o River necessitava da vitória. Foi o time brasileiro, porém, que tomou as rédeas do confronto: “O Vasco da Gama, que merecia ser o vencedor, não mostrou pontos fracos em suas diferentes linhas e realizou ontem sua melhor partida no campeonato”, apontou o jornal argentino “La Nación”. Di Stéfano, eficazmente marcado por Wilson, só veio a tocar na bola aos 26 minutos. Barbosa pegou um pênalti cobrado por Labruna, segurando o 0 a 0 e coroando sua bela passagem por Santiago. No Rio de Janeiro, uma multidão foi recepcionar o Vasco. Desfilando em carros abertos, rumo a São Januário, os heróis fi-

5º colocado

Colo-Colo (CHI) Como chegou à competição Campeão chileno de 1947 Time-base Sabaj, Machuca e Pino; Urroz, Miranda e Muñoz; Aranda, Farias, Dominguez, Peñaloza e López Características O time montado pelo ex-atacante Enrique Sorrel sentiu a pressão de jogar em casa e sofreu com a ausência do goleiro Misael Escuti, contundido Situação atual Vive boa fase e sonha em ganhar a Libertadores outra vez (já o fez em 1991)

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Acima, Friaça sobe mais que o goleiro para marcar contra o Colo-Colo; abaixo, Barbosa defende pênalti do River Plate

zeram, finalmente, seu carnaval. Na verdade, apenas alguns deles, porque outros tiveram de ir diretamente para Montevidéu, onde a Seleção jogaria a Copa Rio Branco. O Vasco era a base do escrete nacional e o campeão dos campeões sul-americanos. Por isso, como diz o cântico mais ouvido em São Januário atualmente, uma das grandes glórias do Gigante da Colina “é relembrar o Expresso da Vitória”.

Descontinuidade Além de espetáculo esportivo, o Campeonato Sul-Americano de Campeões foi um movimentado evento social. O anfitrião Colo-Colo não mediu esforços para

6º colocado Litoral (BOL) Como chegou à competição Campeão de La Paz em 1947 Time-base Gafuri, Araoz e Bustamante; Ibañez, Valencia e Vargas; Sandoval, Rodríguez, Caparelli, Gutierrez e Orgaz Características Lutador e persistente, o limitado time do Litoral corria bastante. Muitos de seus jogadores defenderam a Bolívia na Copa do Mundo de 1950 Situação atual Depois dos anos 40, perambulou por divisões inferiores até abandonar o futebol profissional, em 2003

dar ares de festa à competição, promovendo homenagens e confraternizações. Antes de a bola rolar, houve concurso de cartazes e sorteio de viagens para quem comprasse ingresso de tribuna especial. Na cerimônia de abertura, as delegações desfilaram pelo campo do Estádio Nacional, entoaram os hinos de seus países e fizeram o juramento de “aceitar as derrotas com esportividade”. A promessa, contudo, não foi cumprida à risca. O jogo Colo-Colo 3x2 Nacional ilustra bem isso. Enquanto perdia por 2 a 1, a equipe chilena atormentou o árbitro brasileiro Alberto da Gama Malcher, obrigando-o a interromper a partida e descer para o vestiário. Malcher só retomou seu serviço depois do bizarro apelo do organizador Robinson Alvarez, de microfone em punho: “Peço ao público que faça o sacrifício de ver atuando novamente este juiz”. Dias depois, Alvarez se retratou e até deu uma medalha a Malcher, mas o mal já estava feito. Antes do episódio, o Nacional ainda brigava pela taça. Seu descontentamento com o campeonato só não foi maior que o do River Plate, que se sujeitou a um arranhão na lataria da “Máquina”. O próprio Vasco, embora campeão, não engolira os cambalachos do Colo-Colo na inscrição de jogadores. Essa soma de insatisfações atrapalhou os planos de Robinson Alvarez, que não concretizou o desejo de organizar outra edição do torneio. Mas a semente da frondosa árvore que viria a ser a Libertadores já estava plantada. Hoje, em seu galho mais antigo, um condor move as asas.

7º colocado Emelec (EQU) Como chegou à competição Por convite Time-base Arias, Henríquez e Zurita; Riveros, Alvarez e Ortiz; Albornoz, Jiménez, Alcívar, Yepez e Mendoza Características Contava com jogadores rápidos, mas não ia muito além disso. Os destaques eram Henríquez e Alvarez, que chegaram a atuar no “El Dorado” colombiano Situação atual Ainda é um dos clubes mais importantes do Equador

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Quem quer ficar por dentro da mais importante competição de clubes das Américas já sabe: está nas bancas o Guia Trivela 8, da Copa Libertadores 2008, com o melhor e o pior do torneio mais cobiçado do ano

O que ui em q A ? o cho eu faç a o ã n ires A s o n opa C a Bue d vela i r T a i ... s o Gu e r o d a Libert

Apresentação (com elencos oficiais) dos 32 clubes Entrevistas: Adílson Batista, Joel Santana, Kléber Pereira, Richarlyson e Washington Tabela completa libertadores.indd 1

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ATLÉTICO-MG por Leonardo Bertozzi

CENTENÁRIO pés no chão No ano de seu 100º aniversário, Atlético-MG sonha com conquistas, mas evita loucuras para não comprometer o futuro estejar cem anos de existência do clube e ainda comemorar títulos. O torcedor atleticano se permite sonhar com um 2008 coberto das glórias que lhe faltaram nos últimos tempos. Uma breve excursão à realidade, no entanto, é suficiente para fazer entender que, dentro de campo, este ano deve ser apenas mais um no caminho da recuperação do respeito e do prestígio que as más administrações desta e da última década colocaram em xeque. Em 2007, o processo de reconquista da auto-estima do atleticano começou bem, graças à histórica goleada de 4 a 0 sobre o Cruzeiro no primeiro jogo da final do Campeonato Mineiro. Apesar da queda nas quartas-definal da Copa do Brasil – creditada à arbi-

F

tragem, não ao time –, os torcedores acreditavam que o Atlético estava pronto para repetir o que havia feito o Grêmio em 2006 e se classificar para a Libertadores. A diretoria comprou a idéia, apesar da saída do técnico Levir Culpi e da necessidade de vender jogadores para equilibrar o caixa. Não demorou para ficar claro que o objetivo não era factível. O time não rendeu sob o comando de Zetti, fixou-se na parte baixa da tabela do Brasileiro e trouxe de volta os traumas do rebaixamento de 2005. Zetti caiu em julho, Emerson Leão assumiu, e a equipe acabou em oitavo lugar, classificando-se para a Copa Sul-Americana. Apesar da boa posição final, o rebaixamento só foi evitado de fato a poucas rodadas do fim.

100 ANOS DE ÍDOLOS

Mário á i de Castro (1926-1931) Era o integrande mais letal do “Trio Maldito”, que formava ao lado dos também atacantes Jairo e Said. Apesar de ter jogado em apenas cinco temporadas, foi o maior artilheiro do Atlético-MG até os anos 1970

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Guará G á

Kafunga

(1935-1941) O “Perigo Louro” marcou 168 gols pelo Galo, tornando-se o quarto maior artilheiro da história do clube. Hoje, dá nome a um dos prêmios mais importantes do futebol mineiro: o Troféu Guará, concedido pela Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte

(1935-1954) Considerado o maior goleiro da história do Galo, Kafunga esteve presente em 11 dos 39 títulos estaduais do clube. Depois de deixar os gramados, o irreverente niteroiense teve uma bemsucedida carreira como comentarista esportivo

Ubaldo Miranda (1950-1961) Entrou para a história como o atacante dos “gols espíritas”, por marcar de posições improváveis do campo. Foi carregado nos braços da torcida do Estádio Independência até o centro de Belo Horizonte após o título estadual de 1958

Dario (1968-1972; 1974; 1978-1979) Superado apenas por Reinaldo na classificação de artilheiros, Dadá fez o gol mais importante da história do Atlético-MG: o do título brasileiro de 1971. Foi o primeiro atleticano campeão mundial com a Seleção, em 1970

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Carlos Rhienck/Hoje em Dia/Gazeta Press

O Atlético-MG terminou 2007 em alta, mas perdeu o técnico Leão

Toninho i h Cerezo (1972; 19741983; 1996) Volante que esbanjava elegância, Cerezo marcou época no time hexacampeão mineiro. Torcedor confesso, saiu em 1983 para jogar na Itália, mas cumpriu a promessa de retornar para encerrar a carreira, em 1996

Reinaldo (1973-1985) “Rei, rei, rei, o Reinaldo é nosso rei”. Esse grito ecoou no Mineirão por mais de uma década. Reconhecido como um dos grandes atacantes do futebol brasileiro, Reinaldo é o maior artilheiro da história do Galo, com 255 gols marcados

Éder Aleixo

Pensamento de longo prazo Leão encerrou 2007 em alta no AtléticoMG, não só pela boa campanha como por ter promovido jovens como o zagueiro Leandro Almeida, que herdou a posição de Lima e terminou o ano na Seleção olímpica, e o atacante Éder Luís, que se tornou um jogador mais objetivo e começou a despertar o interesse de clubes do Brasil e do exterior. O passo mais lógico seria, portanto, a manutenção de Leão à frente da equipe. Para que isso fosse viável, a direção tentou convencer o técnico a aceitar uma redução de seu alto salário pela metade. Leão, no entanto, recusou a oferta e acertou com o Santos. A saída expôs um problema grave de continuidade no Galo – o último técnico a ficar por mais de um ano no cargo foi Jair Pereira, entre janeiro de 1991 e março de 1992 –, mas a mensagem transmitida pelo clube, nesse caso, era clara: nada de loucuras financeiras para o ano do centenário. “O Atlético aprendeu muito com os investimentos malsucedidos das diretorias passadas”, afirma o diretor de futebol Beto Arantes, campeão brasileiro em 1971 como jogador. “Hoje, nossa administração é composta por gente experiente em setores empresariais, políticos e esportivos. Gente que sabe a importância de trabalhar com os pés no chão e fazer o possível para não causar transtornos para as administrações futuras”. A história recente mostra o perigo de depositar esperanças excessivas no ano do centenário do clube. Basta lembrar o que aconteceu com o Flamengo de 1995, que

Marques

(1980-1985; 1989(1997-2002; 20051990; 1994-1995) 2006; 2008) O veloz atacante passou O “Bomba de Vespasiano”, por Corinthians, São Paulo apelido dado por causa de e Flamengo, mas foi no seu chute potente, foi um dos integrantes do clube na Atlético-MG que virou ídolo. memorável Seleção de 1982. Com seus passes decisivos, Marques consagrou Em sua última passagem artilheiros como Valdir pelo Galo, liderou um time e Guilherme. É o décimo fraco até as semifinais do maior artilheiro do clube Brasileiro de 1994

Telê Santana a (1970-1972; 19751976; 1987-1988) Fez do Galo o primeiro campeão brasileiro e é o técnico que dirigiu o clube em mais partidas: 434. Além do time de 1971, comandou outro grupo forte, o de 1987, eliminado nas semifinais do Brasileiro após ficar invicto na primeira fase Março de 2008

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A volta do ídolo Marques animou a torcida atleticana para o centenário

GLÓRIAS 1937 Numa época em que competições interestaduais eram novidade, o Galo superou os campeões estaduais Fluminense, Portuguesa e Rio Branco-ES para se consagrar “campeão dos campeões” no torneio organizado pela Federação Brasileira de Futebol

1950 Em uma excursão pela Europa, o Atlético-MG enfrentou temperaturas abaixo de zero e conquistou resultados expressivos contra times de Alemanha, Áustria, Bélgica e França. Na volta, foi aclamado como “campeão do gelo”, feito que ficaria registrado no hino do clube

1978-1983 Com um dos times mais fortes de sua história, o Atlético sagrou-se hexacampeão mineiro. Ao longo desse período, vestiram a camisa alvinegra nomes como Reinaldo, Éder, Cerezo, Luizinho, Marcelo, Paulo Isidoro e João Leite

1992 Em busca de seu primeiro titulo internacional oficial, o Galo levou a sério a edição de estréia da Copa Conmebol. A equipe foi campeã, batendo na final o Olimpia, e repetiu o feito em 1997, diante do Lanús, da Argentina

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Fotos Acervo/Gazeta Press

1971 Dario, aos 16 minutos do segundo tempo, marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Botafogo, no Maracanã, e fez do Atlético-MG o primeiro campeão brasileiro. Era o último jogo do triangular que também contava com o São Paulo, derrotado no Mineirão

virou motivo de piada com o “pior ataque do mundo”, ou com o Grêmio de 2004, que quase foi rebaixado para a Série B. Isso não significa que não seja grande a pressão por troféus, especialmente em um clube como o Atlético-MG, que perdeu várias oportunidades de colecioná-los na época em que tinha um dos times mais temidos do Brasil. Assim, quase por obrigação, Arantes afirma que o Galo vai disputar todas as competições “para vencer”, ainda que isso não seja coerente com o elenco montado – algo comprovado com o início de temporada irregular, com derrotas para times como Democrata de Sete Lagoas e Social. O clube não fez muito além de manter a base do ano passado e ainda perdeu uma das peças de sua espinha dorsal: o meia Marcinho, hoje no Flamengo. Encontrar um dono para a camisa 10 foi prioridade, e nem assim a missão foi cumprida. O Atlético chegou a negociações avançadas com meias como Gallardo (Paris Saint-Germain) e Ricardinho (ex-Corinthians, hoje no Besiktas), mas não conseguiu fechar negócio e teve de se contentar com Souza, que parecia caminhar para o fim da carreira no América-RN. O principal empecilho na negociação

com Gallardo foi o desejo do jogador de assinar por dois anos. O gasto para contar com o argentino apenas para 2008 seria de US$ 1,5 milhão, entre salários e comissões. “Precisamos pensar a médio e longo prazo, e isso inclui não assumir compromissos arriscados”, justifica Arantes.

Ídolo de volta O projeto do Atlético-MG para 2008 envolveu decisões impopulares, como a contratação do técnico Geninho, malvisto pela torcida desde que deixou o clube em plena pré-temporada de 2003 para assumir o Corinthians. Por outro lado, o Galo buscou um dos maiores ídolos de sua história: o atacante Marques, que passou os dois últimos anos no Yokohama Marinos, do Japão. Marques mantém seu prestígio com a torcida em alta, mas, aos 35 anos, dificilmente terá um papel tão importante como o de sua primeira passagem pelo clube, cujo ponto alto foi o vice-campeonato brasileiro de 1999. De qualquer forma, sua presença no elenco tem grande importância simbólica. Mais do que isso, é um interessante instrumento de marketing. “A vinda do Marques serviu para acender

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Renato Cobucci/Hoje em Dia/Gazeta Press

o fogo da torcida para o O Atlético-MG vê ações ao longo de todo o dia, espalhadas por locais centenário”, argumenta o o centenário do específicos para os difediretor de marketing atleticano, Álvaro Cotta. “Isso clube como boa rentes públicos”. O coreto do Parque vai garantir a presença do oportunidade de Municipal de BH, onde o torcedor no estádio desde clube foi fundado por um o início do ano. Além disgerar dinheiro grupo de estudantes, será so, ele será usado em propalco de uma dessas ações. O encontro da dutos e ações promocionais para os fãs”. Considerado o setor que melhor funciona no torcida com o time, no entanto, deve ficar Atlético-MG, o departamento de marketing vê para o dia seguinte, 26 de março. Nessa dao centenário como uma grande oportunidade ta, o Atlético disputará um amistoso contra para gerar dinheiro. O Galo assinou contratos o Peñarol, do Uruguai, no Mineirão. Pensando na visibilidade do clube no de patrocínio com a Fiat e com a subsidiária FPT (Fiat Powertrain Technologies), num va- exterior, a participação na Copa Sul-Amelor que, segundo especulações, supera a ca- ricana é planejada com expectativa. É a sa dos R$ 8 milhões. No ano passado, entre possibilidade de o Atlético disputar um jogo MRV Engenharia e Muriel, o time arrecadou oficial fora do Brasil pela primeira vez desde 2000, quando participou da Copa Mercosul. pouco mais de R$ 5 milhões. Para outras fontes de renda, Cotta tem “É fundamental que o time supere a fase naprevisões otimistas: “A expectativa é de cional. Não podemos deixar de aparecer lá um aumento de 100% nas receitas obti- fora”, argumenta o diretor. As prioridades estabelecidas pelo Atléticodas com licenciamento e um crescimento considerável na bilheteria, apesar de isso MG no centenário mostram que o clube depender dos resultados em campo”. O di- aposta no amor incondicional do torcedor, nheiro serviria para aliviar um déficit que, no orgulho de ser atleticano independentepelos orçamentos elaborados pela diretoria, mente do que se passe em campo. Afinal, poderia chegar a R$ 25 milhões durante o não é possível fechar os olhos para o fato de o alvinegro ser, entre os 12 clubes reano do centenário. Para a data do centenário, 25 de março, conhecidos como grandes no Brasil, aquele instituído Dia do Atleticano pela prefeitura que não ganha o Brasileirão há mais tempo. de Belo Horizonte e pelo governo de Minas E que provavelmente o fim do jejum não Gerais, o Atlético prevê uma série de even- coincidirá com o aniversário de cem anos tos espalhados pela cidade. “A idéia é que do Galo. Reconhecer isso, dando um passo todo mundo perceba que é o centenário de cada vez, pode ser o segredo para um do Galo”, afirma o diretor Cotta. “Faremos segundo século de vida mais glorioso.

DECEPÇÕES 1967 O Cruzeiro reinava no início da era Mineirão, mas o Galo teve a chance de acabar com o domínio, precisando apenas vencer o rival para ganhar o título por antecipação. O Atlético abriu 3 a 0, mas cedeu o empate, manteve a Raposa viva e acabou perdendo a final

1977 A perda do título brasileiro para o São Paulo, nos pênaltis, é relatada por torcedores da época como a maior decepção da história do clube. Invicto e com dez pontos a mais que o Tricolor, o Atlético-MG perdeu nos pênaltis após empatar o jogo por 0 a 0

1981 Depois de perder o título brasileiro de 1980, o Atlético-MG tinha a chance de ir à forra contra o Flamengo na Libertadores. Só que a partida não chegou a terminar, depois de José Roberto Wright expulsar quatro atleticanos no primeiro tempo, classificando os cariocas

1987 O Flamengo voltou a ser algoz do Galo na Copa União. Classificado apenas porque o Atlético-MG havia vencido os dois turnos, o time carioca venceu os dois jogos da semifinal, tirando o time de Telê Santana da decisão

1995 O bi da Copa Conmebol era considerado certo depois de o Atlético-MG bater o Rosario Central por 4 a 0, no primeiro jogo da final. Mas, na Argentina, o time permitiu que o adversário devolvesse o placar. Nos pênaltis, deu Central

Ziza Valadares, presidente do Galo, e Cledorvino Belini, da Fiat: patrocinío vital para o Atlético Março de 2008

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“Não me lembro muito do lance, mas não quero ver de jeito nenhum – nem por vídeo, nem por foto, nem por nada. Na hora, fiquei desesperado quando vi meu pé virado, sem se mexer. Não senti dor nenhuma, só desespero por ver aquilo” Eduardo da Silva, exclusivo para a Trivela

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CONTUSÕES

REFLEXÃO

PÓSTRAUMA Contusão chocante de Eduardo da Silva reacende polêmica a respeito da violência no futebol. Jogadores e árbitros consideram que muitos machucados são conseqüência de acidentes e é difícil evitar que ocorram, mas pode-se diminuir sua incidência por Carlos Eduardo Freitas e Ubiratan Leal

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É

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Eduardo da Silva foi descoberto por olheiros do Dínamo Zagreb em 1999, durante um torneio de favelas, e trocou Nova Kennedy, no subúrbio carioca, pela capital croata. Chegou à Europa com 16 anos e, em 2002, naturalizou-se para defender a Croácia sub-21 no Europeu da categoria, em 2004. Eduardo chamou a atenção da imprensa brasileira perto de 2006, quando seu nome era presença constante nas convocações do técnico Zlatko Kranjcar durante as eliminatórias e amistosos preparatórios. Na última hora, entretanto, ficou fora da lista final de convocados. Em 2007, aos 24 anos, foi contratado pelo Arsenal por € 11,1 milhões. Até o dia de sua contusão, havia jogado 31 vezes, marcado 12 gols e feito oito assistências com a camisa dos Gunners. “Acabo de perder uma Copa do Mundo e agora, por uma fatalidade, perco a Eurocopa”, lamenta o atacante. [CEF]

Taylor. Se ele vier me visitar, vou recebê-lo normalmente. Aliás, disseram que ele veio, mas, se fez isso, foi quando eu estava sedado e não vi”, disse. O caso de Eduardo não foi o primeiro no futebol inglês. E, provavelmente, não será o último. “Nenhum jogador, acredito eu, vai entrar num lance com essa intenção, mas, aqui na Inglaterra dão carrinho demais, por isso é que acontecem

Djibril Cissé

Jean-Paul Pelissier/Reuters

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Da favela para o Arsenal

Nikola Solic/Reuters

difícil ficar impassível à cena. O atacante Eduardo da Silva, do Arsenal, cai no chão com a perna quebrada por um carrinho de Martin Taylor, do Birmingham City. O brasileiro naturalizado croata fica imóvel de dor, enquanto os demais jogadores e até o árbitro se assustam com a gravidade da lesão. A TV inglesa nem mostrou a entrada de Taylor com detalhes por considerar a cena muito forte. A tentação imediata é procurar culpados, clamar por Justiça. As primeiras vozes nesse sentido foram ouvidas ainda no estádio Saint Andrews, em Birmingham. Logo após a partida, Arsène Wenger, técnico de Eduardo, disse que Taylor não deveria nunca mais jogar futebol. Uma opinião forte, algo raro no normalmente sóbrio futebol britânico. No Brasil, o tom geral era de indignação pela suposta deslealdade do zagueiro inglês. No entanto, à medida que a cabeça esfria, a poeira baixa e se torna possível avaliar a contusão de Eduardo com mais calma, a conclusão muda um pouco. Wenger retirou o que disse sobre Taylor ainda no dia da partida. O técnico voltou atrás e admitiu que a contusão de seu comandado foi conseqüência de azar ou imprudência, e não de um ato maldoso do defensor. No final, a federação inglesa suspendeu Taylor por três partidas – pena máxima para conduta violenta. Quatro dias depois da fratura, a pedido da reportagem da Trivela, o próprio Eduardo reconheceu em declaração dada por meio de seu primo e procurador Narley da Silva, que sua contusão foi decorrência de uma fatalidade: “Não guardo mágoas do

Na preparação para a Copa de 2006, o então jogador do Liverpool disputava um amistoso contra a China e certamente se arrependeu: num lance de Zheng Zhi, perdeu o equilíbrio e fraturou a perna, ficando de fora do Mundial

Eduardo da Silva Contra o Birmingham, pela Premier League, o croata-brasileiro tentou tirar uma bola do zagueiro Martin Taylor e recebeu uma foiçada na perna esquerda. “Esse cara não podia estar num campo de futebol!”, vociferou Arséne Wenger, treinador de Eduardo no Arsenal. O jogador está fora da Euro-2008

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causada ao colega de trabalho. Foi o caso de Souza, do Flamengo, responsável por fraturar o antebraço de João Vítor, do Paraná, quando tentava chutar a gol. “Cheguei ao hotel e fui ver a reprise do jogo. Depois que revi o lance, não consegui pensar em outra coisa”, afirma o atacante do Flamengo. Muitas vezes, o principal temor do jogador é ficar com a pecha de violento – o que pode ocorrer com Martin Taylor – por um lance involuntário. O exemplo mais famoso no Brasil é o de Márcio Nunes, zagueiro do Bangu responsável pela gravíssima contusão sofrida por Zico após uma

entrada maldosa em 1985. Atualmente, Márcio Nunes vive no bairro de Bangu e procura fugir do assunto. Até hoje, seu nome desperta reações exacerbadas no Rio de Janeiro. “Antes, ninguém falava que o Márcio era um assassino, que era violento. Todos me davam apoio, falavam bem de mim. Depois de ter acontecido esse lance com o Zico, todo mundo acha que sou um jogador violento, que vai nos outros com maldade. Nada disso. Por que antes não falavam isso?”, disse em 1987, pouco antes do primeiro jogo contra Zico após a contusão.

Getty Images

lances como esse”, comenta Lucas, volante do Liverpool. “O atacante é sempre mais rápido e o defensor chega atrasado”. O excesso de jogadas ríspidas não significa que o jogo em si seja violento, mas aumenta a chance de casos assim ocorrerem. Dudu Cearense, outro jogador de marcação, reconhece que é difícil um marcador evitar que algumas divididas se transformem em choques mais violentos. “No futebol de hoje, a gente precisa dar duro, não tem como evitar. Na hora de dar o bote, a gente olha a bola e vai nela, mas, às vezes, acidentes acontecem”, conta o volante do CSKA Moscou, ele próprio vítima de uma lesão após uma dividida em 2007. No Brasil, uma situação semelhante à de Eduardo foi vivida por Luciano Almeida, do Botafogo. O lateral-esquerdo quebrou a perna em uma jogada casual com Dutra, do Sport, em outubro do ano passado. Ao tentar tirar a bola do adversário, o pé direito do alvinegro prendeu no gramado e provocou fratura de tíbia e fíbula. O jogador está em fase final de recuperação, com retorno previsto para abril. Ainda assim, não se sente tranqüilo em relação ao lance que o lesionou. “Não tive coragem de ver as imagens por um bom tempo. Até hoje, quando sei de casos como o do Eduardo, fico chocado e evito ver pela TV”, conta. Coincidentemente, Luciano Almeida se envolvera em um caso parecido dois meses antes, mas como agressor. Em agosto, o botafoguense quebrou a tíbia de Reasco, do São Paulo, após cometer uma falta. Segundo Luciano, o equatoriano o perdoou. Em casos de contusões acidentais, muitos “agressores” afirmam que sofrem pela lesão

Zico A galera rubro-negra fazia festa com o retorno do Galinho da Udinese. Mas contra o Bangu, uma entrada criminosa de Márcio Nunes arrebntou seu joelho direito. “Tive de aprender a andar novamente”, contava Zico, que jamais voltou a ser o mesmo jogador

Ronaldo Em disparada para cima da defesa da Lazio numa final de Copa Itália, Ronaldo cai e começa a gritar. Seus marcadores esquecem a bola e vão em sua direção para ajudá-lo. “Fiquei assustado com o estouro que ouvi e vi que era sério”, contou o zagueiro Fernando Couto, então na Lazio

Dave Busst Torcedor do Manchester United, Busst enfrentava o time do coração jogando pelo Coventry. Um choque com Denis Irwin e Brian McClair, dos Red Devils, quebrou sua perna de modo tão violento que a partida teve de ser suspensa por 15min para se limpar o sangue do gramado. O goleiro Schmeichel teria vomitado ao ver a lesão e precisado se consultar com um analista para esquecer o trauma. Busst quase teve a perna amputada, mas, depois de 26 operações, pôde voltar a andar Março de 2008

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Rigor nas punições Pelo fato de poderem ocorrer por acidente ou por maldade, é difícil impedir que contusões graves como estas continuem acontecendo no futebol. Ainda assim, há modos de, pelo menos, reduzir a incidência de divididas tão fortes. A primeira providência que se imagina é a arbitragem mais rigorosa. Se as jogadas ríspidas – ainda que sem intenção de machucar – forem punidas com cartões, os jogadores poderiam ser mais prudentes antes de dar carrinhos. É o que pensa Lucas, do Liverpool: “Os árbitros, aqui, deixam o jogo correr muito, o que é diferente do Brasil, onde os juízes param toda hora. Talvez, por isso não aconteçam mais lances assim”. Entre os árbitros, porém, esse não é um

consenso. Como muitas faltas são acidentais, uma atitude mais rigorosa não mudaria o comportamento dos atletas. Até porque nem sempre o rigor dos juízes é proporcional à maldade das jogadas. Para Márcio Resende de Freitas, ex-árbitro da Fifa e comentarista da Globo Minas, a comparação entre futebol inglês e brasileiro é pertinente, embora sua opinião seja diametralmente oposta à de Lucas. “Lá na Europa há muito menos rigor dos juízes, mas os carrinhos são, em média, muito mais ‘limpos’ e ‘leais’ que no Brasil.” Por isso, ele considera que o problema é a imprudência e sugere que os jogadores deveriam se respeitar mais para evitar carrinhos e outras jogadas de risco desnecessário. A medida mais sugerida em mesas redon-

“Esperei quase 180 minutos pelo Alfie. Esperei muito, mas dei a porrada sem dó. A bola estava lá (eu acho). Tome essa, seu babaca, e nunca mais fi nja estar machucado. Mesmo depois, no vestiário, não senti pena. Minha atitude era: ele que se foda. Aqui se fez, aqui se paga. Ele teve o

das e de bar é que o agressor fique suspenso enquanto o agredido estiver em tratamento. O que poucos sabem é que essa forma de punição está prevista no Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD). O Artigo 253, “Praticar agressão física contra o árbitro ou seus auxiliares, ou contra qualquer outro participante do evento desportivo”, diz, em seu parágrafo segundo: “Na hipótese do agredido permanecer impossibilitado da prática da atividade por força da agressão sofrida, continuará o agressor suspenso até total recuperação do agredido, respeitado o prazo máximo de 720 dias”. O texto, aliás, foi alterado recentemente. Antes, não havia limite para a pena, o que poderia levar à suspensão perpétua do agressor caso o agredido não retornasse aos gramados. Apesar da previsão em lei, esse tipo de punição nunca foi aplicado. “Sempre partimos do pressuposto de que os jogadores usam de boa-fé. Geralmente, são enquadrados no 254, ‘Praticar jogada violenta’, em que o atleta é suspenso de duas a seis partidas”, explica Paulo Schmidt, procurador-geral do Supremo Tribunal de Justiça Desportiva (STJD). Já que acabar com esse tipo de contusão é difícil, pode-se, ao menos, buscar uma prevenção. Uma boa medida seria garantir que o jogador esteja usando os equipamentos de proteção adequados, como caneleira e ataduras elásticas que protejam o tornozelo, e tenha fortalecido sua musculatura. “Isso diminui a chance de contusões ou evita que elas sejam tão sérias. Mas, no caso do Eduardo, foi um trauma direto. É difícil que não haja fratura num caso desses”, avalia Fábio Novi, médico do Santos.

que merecia. Ele me fodeu e comigo é olho por olho”

Getty Images

[trecho da autobiografia de Roy Keane, à esq. na foto]

Alf-Inge Haaland Na tensão que sempre envolve um clássico, os capitães de Manchester United e Manchester City, Roy Keane e Alf-Inge Haaland, trocavam pontapés e xingamentos. Mas, em 2001, Keane decidiu que iria acabar com a briga – por mal. Sua entrada em cima do norueguês ficou famosa como uma das mais desleais entradas de todos os tempos na Inglaterra. Curiosamente, não foi a entrada de Keane que contundiu Haaland e encerrou sua carreira, mas sim o modo como ele caiu sobre o próprio joelho

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Luc Nilis O então principal jogador belga fazia sua quarta aparição com a camisa do novo clube, o Aston Villa, contra o Ipswich Town. Uma entrada do goleiro Wright virou a perna de Nilis ao contrário, na altura do joelho. Resultado: todos os ligamentos do joelho rompidos e carreira encerrada instantaneamente

Mirandinha Atacante raçudo do São Paulo, Mirandinha foi a São José do Rio Preto pegar o América. Numa entrada do beque Baldini, quebrou a perna — o momento foi imortalizado numa foto do célebre Domício Pinheiro. O são-paulino ficou dois anos no estaleiro

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Carreira medíocre, mas não violenta Seis cartões amarelos e um vermelho em 203 jogos, durante nove anos de carreira. Não são, claramente, estatísticas de um zagueiro violento. Para se ter uma idéia, é o exato mesmo número de cartões que Rio Ferdinand, do Manchester United, levou só do início de 2007 até o final de fevereiro de 2008 — e uma pequena fração dos 28 amarelos e quatro vermelhos atribuídos a Lucio desde que chegou à Alemanha, em 2000. Essas são as estatísticas de Martin Taylor, 28, zagueiro do Birmingham que contundiu Eduardo da Silva. Taylor começou sua carreira aos 17 anos, no Blackburn. Em 2004, foi vendido ao Birmingham por € 1,6 milhão. Nunca, porém, adquiriu a condição de titular incontestável dos Blues, entrando e saindo do time ao sabor das oportunidades – leia-se, contusões dos donos da posição. É bastante provável que entre para a história apenas como “o cara que quebrou o Eduardo da Silva”, por mais que a pecha pareça injusta. [CM]

Robert Pratta/Reuters

Darren Staples/Reuters

Enquanto a polêmica ressurge, especialistas debatem possíveis soluções e jogadores torcem para que os acidentes não aconteçam, Eduardo continua em tratamento. Depois do baque inicial, ele mesmo parece mais sereno para encarar os nove meses previstos de tratamento. E prefere pensar no que tem pela frente do que imaginar o que ocorreu naquela tarde de 23 de fevereiro. “Estou feliz, principalmente por ter tido alta antes do previsto e por estar com a minha família. Os médicos me garantiram que vou voltar a ser o que era antes, a fazer tudo o que fazia antes. Estou otimista”.

Henrik Larsson Já um herói em Glasgow, o atacante sueco dividiu uma bola com o lateral Serge Blanc, do Lyon, pela Copa Uefa e sua perna esquerda se quebrou. As imagens da TV mostram a fratura por um ângulo que arrepia até um urso polar. Larsson ficou fora quase um ano, mas quando voltou, no final do Escocês seguinte, fez oito gols em nove jogos e manteve a veia goleadora

Brian Clough Em 1962, contra o Bury, Clough trombou com o goleiro, rompendo todos os ligamentos do joelho. “Quando vi seu joelho, soube que sua carreira tinha acabado, mas disse: ‘não tirem a chuteira dele porque ele tem de voltar ao jogo”, contou o então técnico do Sunderland, Alan Brown, que tentava deixar Clough menos nervoso. O jogador, na época com 27 anos, tinha marcado 251 gols em 273 jogos e teve de encerrar a carreira Março de 2008

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“Narcofútbol”

Rodrigo Arangua/AFP

COLÔMBIA por Ubiratan Leal

Depois da prisão do prefeito da cidade, o Cúcuta deixou de ser um adversário perigoso

ainda vive

Nas aparências, futebol colombiano está livre da influência do tráfico. Mas, no fundo, os reflexos das drogas até hoje atingem importantes clubes do país

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uando conheceu seu grupo na Libertadores, com Cúcuta e Chivas, o Santos se viu com problemas. Teria pela frente duas equipes bastante fortes, que chegaram às semifinais da competição sul-americana em suas últimas participações. Mas o monstro não é tão feio assim, pelo menos no caso do time colombiano. Mesmo em péssima fase, o Peixe arrancou fora de casa um 0 a 0 dos Motilones. Trata-se de uma evidência de como o Cúcuta sente, no campo, os refle-

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xos de um fenômeno ainda presente no futebol da Colômbia: a influência do tráfico de drogas. Do time cucutano que surpreendeu a América em 2007 ao chegar às semifinais da Libertadores, quando bateu o Boca Juniors de Riquelme no jogo de ida, só restaram três jogadores. Aliás, nem isso pode ser dito, pois o principal dos remanescentes, Macnelly Torres, já foi vendido ao Colo-Colo e só ficará na Colômbia até junho. A base do ano passado – uma lista de bons

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Cai o cartel, cai o clube A expectativa na Colômbia é que o Cúcuta seja mais um clube a entrar em forte decadência por causa da ligação com o narcotráfico. Essa realidade é comum a várias equipes, algumas muito maiores e mais tradicionais que os Motilones. O caso mais emblemático é o do América de Cali. O clube não era uma potência no país até a década de 1980. Nesse período, os Escarlatas tiveram grande aporte financeiro e se tornaram a força hegemônica na Colômbia. O time ainda chegou a quatro finais de Copa Libertadores (perdeu todas), entre 1985 e 1996. O crescimento era bancado por Gilberto Rodríguez Orejuela, líder do Cartel de Cáli que usava o clube para lavagem de dinheiro. Com a intensificação do combate ao tráfico na década de 1990, Rodríguez foi preso, nos Estados Unidos. Pior para a tor-

cida do América. O clube foi incluído na “Lista Clinton”, nome informal da resolução que prevê que empresas e entidades ligadas ao narcotráfico tenham seus bens em território norteamericano congelados. Desde então, sanear a gestão para retirar o nome da lista é a prioridade da diretoria do América (que ainda conta com membros da família Orejuela). O objetivo é recuperar o US$ 1,2 milhão – valor que inclui o prêmio pela conquista da Copa Merconorte de 1999 – que o clube tem bloqueado em bancos norte-americanos. Até o momento, não houve sucesso, e o time se vê obrigado a apostar em jogadores jovens e baratos. O Independiente Santa Fe vive situação parecida. Seu presidente, Eduardo Méndez, foi preso em 2006 por receber dinheiro para ajudar traficantes a fugir da Justiça. O dirigente deixou a direção do clube, mas não se sabe quem está, de fato, controlando as ações. Armando Farfán, o atual presidente, é só um intermediário entre o time e os desconhecidos acionistas. Esse tipo de história repete-se em várias equipes, que se arrastam desde que o dinheiro do tráfico escasseou (veja box ao lado). Uma rara exceção é o Atlético Nacional. O Grupo Ardilla Lülle – que possui empresas nos setores alimentício, financeiro, têxtil e de comunicações, entre outros – comprou o clube em 1995 e bancou a reestruturação. Não à toa, os Verdolagas são bicampeões nacionais. O fato de o Atlético Nacional aparecer mais pelos títulos do que por envolvimento em casos de assassinatos de árbitros, como no passado, significa uma evolução. O mesmo vale para a crise dos demais clubes. Afinal, muitos estão mal porque líderes do tráfico foram presos. No entanto, escândalos como o do dirigente do Cúcuta e a dificuldade de recuperação do América de Cali mostram que, até hoje, o crime organizado ainda tem tentáculos no futebol colombiano. Saiba mais sobre futebol colombiano em www.trivela.com/americalatina

Stringer/Reuters

nomes, como Bustos, Zapata, Blas Pérez e até o técnico Jorge Luis Bernal – já se foi. O grande marco desse desmanche no clube foi 7 de setembro de 2007. Nesse dia, Ramiro Suárez Corzo, prefeito de Cúcuta, foi preso sob acusação de mandar assassinar, em 2003, Alfredo Enrique Florez, ex-assessor da prefeitura. Além disso, Corzo é acusado de participação no assassinato de José Uribe, assessor do governo da região de Norte de Santander, e de financiar a Autodefensas Unidas de Colombia, grupo de milícias de extrema direita que usa o tráfico de drogas para financiar a luta contra as Farc, de esquerda. Corzo era o principal financiador do crescimento do Cúcuta. Ele sabia como usar o futebol para melhorar sua imagem pública. Assim, pagou a ampliação do Estádio General Santander — de 25 mil para 45 mil torcedores — e trabalhou para que o clube da cidade se reforçasse. Com sua prisão, o Cúcuta viu a torneira ser fechada. No final do ano, a diretoria não conseguia nem arcar com a folha salarial, motivando a saída de quase todos os jogadores ao final da temporada.

O traficante Gilberto Orejuela mandava no América de Cali

PROBLEMAS COM A LEI Veja os principais clubes que têm ou tiveram ligações com o crime organizado na Colômbia

América de Cali Parceiro: Cartel de Cáli Situação atual: relacionado pelo governo norte-americano como empresa que se beneficiou do tráfico, tem recursos bloqueados nos Estados Unidos

Atlético Nacional Parceiro: Cartel de Medellín Situação atual: foi vendido a um grupo empresarial em 1995 e é o atual campeão colombiano

Cortuluá Parceiro: Cartel de Norte do Vale Situação atual: clube da segunda divisão, também foi incluído na Lista Clinton, viu seu presidente renunciar e perdeu o apoio de empresários, iniciando séria crise

Cúcuta Parceiro: Autodefensas Unidas de Colombia Situação atual: com seu mecenas preso, o clube vive crise financeira e teve de desfazer o melhor time de sua história

Independiente Santa Fe Parceiro: desconhecido Situação atual: o ex-presidente Eduardo Méndez está preso nos Estados Unidos, e não se sabe oficialmente quem são os proprietários do clube

Millonarios Parceiro: Cartel de Bogotá Situação atual: com a prisão do presidente José Gonzalo Rodríguez Gacha, o governo colombiano ficou com 28% das ações do clube e as vendeu para um empresário

Unión Magdalena Parceiro: Família Dávila Armenta Situação atual: o presidente Eduardo Dávila Armenta está preso por tráfico e lavagem de dinheiro, e a Justiça confiscou ações do clube, que está em sua terceira temporada na segunda divisão

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CAPITAIS DO FUTEBOL por Ubiratan Leal

O passado

é hoje Orgulhosos de suas raízes, os uruguaios fazem questão de lembrar de sua importância na história do futebol ndar pelo centro de Montevidéu tem um efeito anestésico. Em um primeiro momento, o turista se vê nos anos 50 do século passado. Há prédios antigos relativamente bem conservados, carros antigos (até Romi Isetta) passam como se fosse a coisa mais natural do mundo eles estarem na ativa em 2008, um tango (tão uruguaio quanto argentino – pelo menos de acordo com os uruguaios) discreto sai de algumas lojas, e pessoas caminham sem a pressa neurótica da atualidade. Tudo é tão tranqüilo, acolhedor e familiar como visitar um parente próximo. Depois que se entra no clima, fica fácil entender a relação do Uruguai com o futebol. Em um lugar em que o ritmo é saudavelmente mais cadenciado, 1950 não parece ter sido há tanto tempo. Assim, é natural que o país do lado oriental do Rio da Prata permaneça com ares de potência futebolística, com uma seleção capaz de igualar sua pequena e despovoada terra aos gigantes Brasil e Argentina. Tal lembrança é fundamental para formar a noção de nacionalidade dos uruguaios. Isso é compreensível, pois trata-se de um feito único um país com pouco mais de 3 milhões de habitantes – sendo metade na capital – atingir a excelência num esporte praticado em todo o planeta como o futebol. Montevidéu é o centro desse universo. O modo de manifestar a relação com o futebol não é escandaloso como na vizinha Buenos Aires. As lojas de esportes são mais discretas, e artigos lembrando clubes ou seleções locais estão presentes em menor quantidade. Aos poucos, percebe-se que a paixão pode até estar reprimida pela decadência dos clubes uruguaios nas últimas décadas, mas ela continua viva e forte. Poucas cidades do mundo tratam suas referências futebolísticas com tanto destaque turístico. O Estádio Centenario é o símbolo de tudo o que Montevidéu (a única cidade que recebeu todos os jogos de uma Copa)

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Miguel Rojo/AFP

CLUBES DA CIDADE Primeira divisão

Club Atlético Peñarol 3 Mundiais de Clubes 5 Copas Libertadores 47 Campeonatos Uruguaios

Peñarol (aurinegro) e Nacional (branco) brigam até para saber qual clube é mais antigo

Club Nacional de Football 3 Mundiais de Clubes 3 Copas Libertadores 41 Campeonatos Uruguaios

Montevideo Wanderers Fútbol Club 4 Campeonatos Uruguaios

Defensor Sporting Club 3 Campeonatos Uruguaios

Danubio Fútbol Club 3 Campeonatos Uruguaios

Rampla Juniors Fútbol Club 1 Campeonato Uruguaio

Club Atlético Bella Vista 1 Campeonato Uruguaio

Central Español Fútbol Club 1 Campeonato Uruguaio

Club Atlético Progreso 1 Campeonato Uruguaio

Club Atlético River Plate Nenhum título

Club Atlético Cerro Nenhum título

Centro Atlético Fénix Nenhum título

Liverpool Fútbol Club Nenhum título

Club Sportivo Miramar Misiones Nenhum título

Segunda divisão

Liga Metropolitana (terceira divisão)

Basáñez, Boston River, Cerrito, El Tanque Sisley, Huracán Buceo, La Luz, Platense, Racing, Rentistas, Sud América, Uruguay Montevideo e Villa Española

Albion, Alto Peru, Mar de Fondo e Villa Teresa Março de 2008

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ESTÁDIOS

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Centenario

Divulgação

Fotos Ubiratan Leal/Trivela

Grande referência do futebol uruguaio, o Centenario é um dos pontos turísticos mais importantes de Montevidéu, mesmo quando não há jogos. Além de visitar o estádio em si, o turista pode, com R$ 5, ver o interessante Museu do Futebol. Entre os artigos expostos, estão a camisa usada por Obdulio Varela na final da Copa de 1950 e itens originais das Copas de 1930 e 1950, incluindo réplicas oficiais da taça Jules Rimet e medalhas conquistadas pelos jogadores uruguaios campeões. Diante dessas relíquias, camisas usadas por Pelé e Maradona tornam-se artigos secundários. Os guias falam português.

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Parque Central

Principal estádio particular do Uruguai, a casa do Nacional recebeu a Copa de 1930 e foi reformada recentemente para receber partidas importantes, como as da Libertadores. Tem capacidade para 20 mil torcedores, mas há planos de ampliá-la nos próximos anos.

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Luis Franzini

É a casa do Defensor Sporting. Estádio acanhado, não recebeu as partidas dos Violetas contra Flamengo e Grêmio na Libertadores 2007, mas é um dos mais acessíveis da cidade por estar dentro do Parque Rodo.

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4 Parque Alfredo Viera, Parque Federico Saroldi e Parque José Nasazzi São três estádios em uma visita. Nas redondezas do Parque El Prado e do Jardim Botânico, é possível ver os estádios de Montevideo Wanderers, River Plate e Bella Vista.

Jardines del Hipódromo

A principal referência do estádio do Danubio é o Hipódromo de Maroñas, localizado a três quarteirões de distância e inspiração do nome. O estádio fica dentro de uma rotatória.

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Charrúa

Segundo maior estádio de Montevidéu, foi construído pela prefeitura na década de 1980 e nunca caiu no gosto de clubes e torcedores, por estar longe do centro. Após reformas para sanar problemas estruturais, tem sido usado como segunda opção para as equipes.

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Parque Luis Méndez Piana e Parque Palermo 5

Outro caso de três estádios vizinhos. Depois de visitar o Centenario, basta andar alguns metros ao sul para ver o Luis Méndez Piana (casa do Miramar Misiones) e o Parque Palermo (estádio do Central Español). Todos ficam dentro de um mesmo parque.

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Olímpico

O peculiar estádio do Rampla Juniors está localizado em um morro à beira do Rio da Prata. Garotos em botes ficam nas águas para pegar as bolas que caem no rio, fazendo o papel de, digamos, “gandulas aquáticos”.

Outros estádios Quase todos os clubes possuem seu próprio campo. Desse modo, há estádios de futebol espalhados por toda Montevidéu. Entre os pequenos, os principais são Luís Tróccoli (do Cerro), Parque Capurro (Fénix), Belvedere (Liverpool), Obdulio Varela (Villa Española) e Parque Huracán (Huracán Buceo).

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representa na história do futebol. O tempo desgastou a pintura, mas o simbolismo ainda está firme. A presença marcante de turistas brasileiros evidencia o respeito que o Centenário merece. Se não há jogo, dá para ir ao Museu do Futebol, onde estão expostas orgulhosamente peças como duas Taças Jules Rimet. Lá está toda a história da Celeste. E, acredite, não é pouca coisa.

Montevidéu 1,3 milhão de habitantes

Peñarol x Nacional Para os menos íntimos do futebol charrúa, Montevidéu limita-se a Peñarol e Nacional, clubes mais vitoriosos do país e adversários tradicionais em batalhas na Copa Libertadores. A rivalidade de ambos é fundamental no imaginário do torcedor uruguaio. Quando a seleção local começou a perder espaço no cenário internacional, Peñarol e Nacional, com seus seis títulos mundiais e oito de Libertadores, mantiveram Montevidéu como um dos grandes centros futebolísticos da América do Sul. Considerando que quase todos os uruguaios torcem para um dos dois clubes, o país inteiro se viu na elite internacional até a década de 1980. Por isso, Carboneros (ou Manyas, como são conhecidos os peñarolistas) e Bolsos (ou Tricolores) entram em atrito em tudo o que puderem. O caso mais curioso é sobre a data de fundação do Peñarol. O clube se diz herdeiro do CURCC (Central Uruguayan Railway Cricket Club, criado por funcionários da empresa ferroviária), fundado em 1891. Em 1913, a empresa tirou o apoio da equipe, e os dirigentes mantiveram o departamento de futebol com o nome Peñarol. Para os torcedores aurinegros e a imprensa em geral, Peñarol e CURCC são a mesma equipe. O Nacional não aceita essa versão. Fundado em 1899, o Trico afirma que o CURCC fechou as portas, e alguns torcedores e dirigentes fundaram um clube novo em 1913. Assim, o Nacional seria mais velho e teria mais títulos uruguaios que o rival. Para reforçar sua tese, os Bolsos criaram a Comissão do Decanato, em 1937. O objetivo: recolher evidências de que o CURCC foi extinto. A questão é tão importante que a comissão existe até hoje, e o Nacional se diz o “decano do futebol uruguaio”. A entrada do Estádio Parque Central tem essa inscrição, e o endereço do clube na Internet é www.decano.com. Nos últimos anos, os dois clubes perderam muito de sua força. Desde a década passada, o empresário Paco Casal toma conta do futebol uruguaio. Dono do vínculo dos principais jogadores do país e da televisão que paga pela transmissão do campeonato nacional, o agente nascido em São Paulo e criado em Montevidéu passou a ter os clubes em suas mãos. E isso é ruim para os grandes, que não têm autonomia suficiente para atender às exigências de torcedores e imprensa e vivem em constantes crises. No Apertura 2007, o Nacional foi o quinto colocado e o Peñarol, o 11º.

A vez dos pequenos Esse fenômeno abriu espaço para pequenos clubes que, sem tanta responsabilidade com resultados imediatos, estruturam suas categorias de base e revelam seus pró-

Uruguai

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2 51

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prios jogadores. Apesar de terem pouca torcida, Defensor Sporting e Danubio já brigam pelo posto de terceira força do país. Juntos, Violetas e Franjeados conquistaram os últimos três turnos e revelaram jogadores como Sorondo, Maxi Pereira, Sebastián Abreu, Recoba, Carini, Cavani e Chevantón. Não à toa, o duelo entre ambos ganhou o apelido de “clásico chico” (algo como “miniclássico”). Dois dérbis seriam suficientes para muitas cidades, mas é pouco para uma capital que leva o futebol tão a sério como Montevidéu. Desse modo, surgem rivalidades entre times da mesma região da cidade. Em Cerro, Rampla Juniors e Cerro vivem às turras, e há problemas de segurança quando se enfrentam. Em El Prado, a disputa é entre três equipes com estádios separados por duas quadras: Bella Vista, Montevideo Wanderers e River Plate. Cada pedaço da capital uruguaia tem sua equipe de futebol, como se cada bairro precisasse criar uma para afirmar sua existência. No total, 26 clubes montevideanos disputam as duas primeiras divisões do futebol Março de 2008

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Fotos Ubiratan Leal/Trivela

O QUE VISITAR ENTRE UM JOGO E OUTRO

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Ciudad Vieja

Durante o dia, vale a pena comer uma “parrilla” no Mercado del Puerto, passear pelas ruas bem conservadas e visitar os museus Torres García e Gurvich. À noite, pubs, bares, restaurantes e outras casas noturnas fazem da Ciudad Vieja o ponto mais agitado da noite montevideana.

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Punta del Este

Basta uma viagem de 1h30 de ônibus para ir de Montevidéu a Punta del Este. Vale a pena reservar um tempo para curtir um dos balneários mais badalados da América do Sul, com lojas sofisticadas, mansões e arquitetura de bom gosto.

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Avenida 18 de Julio

Principal avenida da cidade, começa na Ciudad Vieja e corta o centro de Montevidéu. Com praças, galerias e livrarias, é referência para o turista. Vale a visita à JM Coleccionables na Galeria Central. A loja reúne antiguidades como camisas usadas em jogos, revistas, jornais e troféus.

E

Parque Rodó

Nâo é um parque muito grande, mas reúne várias opções de lazer: áreas verdes, feira, teatro e biblioteca infantil, parque de diversão, praia, cassino, campo de golfe e estádio de futebol. Ao lado do Rodó está a sede do Mercosul.

uruguaio, e outros quatro estão na liga amadora que equivale à terceira divisão. Desconsiderando as cidades vizinhas da região metropolitana, nem Buenos Aires, Londres e Rio de Janeiro têm tantos times. A média de clubes por habitantes assombra: há uma equipe de futebol a cada 50 mil montevideanos. Números como esse mostram que a paixão do torcedor mantém o futebol vivo no país, por pior que seja a decadência das últimas décadas. Em Montevidéu, o orgulho vem de conquistas do passado, mas os torcedores fazem com que a paixão se mantenha igualmente viva no presente.

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C

Pocitos

No cruzamento das ruas Charrúa e Coronel Alegre ficava o antigo estádio de Pocitos, que recebeu a Copa de 1930. O estádio foi demolido, mas no local há uma placa que marca o ponto em que foi feito o primeiro gol da história das Copas. Algumas quadras ao sul, dá para pegar uma praia.

F

Palermo e Barrio Sur

São bairros vizinhos entre si e próximos ao centro. Neles estão as raízes dos ritmos musicais mais importantes do Uruguai: candombe e tango. Há casas com música ao vivo, e alguns imóveis têm fachada pintada com temas ligados à música.

Quem leva Diversas companhias aéreas oferecem vôos regulares até Montevidéu. A Gol (0300 115 2121) tem vôos a partir de São Paulo com escala em Porto Alegre. A TAM (4002-5700) parte de São Paulo, e a uruguaia Pluna (0800 772 3003) tem vôos de São Paulo e Rio de Janeiro. Há poucos pacotes específicos para Montevidéu, mas alguns podem ser encontrados na Agaxtur (www.agaxtur.com.br) e na Americanas Viagens (www.viagens.americanas.com.br). É possível procurar vôos e pacotes para Punta del Este ou Buenos Aires e ir à capital uruguaia por terra ou barco.

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EUROCOPA por Carlos Eduardo Freitas

Vexame

à vista Áustria recebe a Eurocopa com a perspectiva de se tornar o pior anfitrião da história da competição o ano passado, um grupo de austríacos virou notícia ao lançar uma campanha sugerindo que a seleção de seu país, uma das sedes da próxima Eurocopa, desistisse de disputar a competição. O motivo? Evitar que a equipe dê vexame dentro de casa e se torne a pior anfitriã da história das competições continentais européias, atrás até mesmo da Bélgica, que em 2000 caiu na primeira fase, com apenas três pontos. “É uma proposta polêmica, que parece loucura, mas a idéia principal é responder à pergunta: Por que a Áustria joga um futebol tão feio?”, explica Michael Kriess, um dos organizadores do abaixo-assinado “Österreich zeigt Rückgrat” (ao pé da letra, “Áustria mostra sua coluna vertebral”), à Trivela. “Nosso país sempre foi famoso por seu senso de estética, a ponto de a frase ‘um povo presenteado com a beleza’ estar em nosso hino nacional”, continua.

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DESEMPENHO DOS ANFITRIÕES NA HISTÓRIA 1960*

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A anfitriã Áustria (na foto, de vermelho) tem motivos de sobra para temer um vexame na Euro-2008

*Até 1976, só as semifinais e a decisão da Eurocopa eram disputadas no país-sede

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Robert Zolles/Reuters

Entressafra

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Atualmente, a Áustria ocupa apenas a 84ª colocação no ranking da Fifa, imediatamente atrás de Geórgia, Armênia, Moçambique e Bahrein. A posição reflete o futebol de um país que desde 1990 não se classifica uma competição internacional e não revela mais jogadores de qualidade. A base montada por Hickersberger é muito jovem, e a maioria dos jogadores atua na Bundesliga austríaca, cujo nível técnico está muito aquém das principais ligas européias. Dos que jogam no exterior, a maior parte é coadjuvante de times médios e pequenos, em geral de países de pouca tradição. Entre os mais “promissores” estão Andreas Ivanschitz, do Panathinaikos, e György Garics, do Napoli, ambos meias, de 25 e 24 anos, respectivamente. O próprio técnico critica a falta de talento dos jogadores de seu país. “Estamos numa fase ruim, e chegou a hora de mudarmos”, afirmou recentemente Hickersberger, que reconhece a complexidade de sua tarefa na Euro. “Chegar às quartas-de-final não seria apenas um bom resultado, mas sim um fenômeno”. No primeiro amistoso de 2008, a equipe recebeu em Viena a Alemanha, uma de suas adversárias no grupo A, ao lado de Polônia e Croácia. A Áustria perdeu por 3 a 0, numa partida em que os alemães jogaram mal. Depois da derrota para um adversário direto, Hickersberger assumiu que sua seleção será apenas coadjuvante: “Se jogarmos como hoje, não passaremos de fase”. E não há indícios de que algo mudará nos próximos meses.

Siggi Bucher/Reuters

A iniciativa de Kriess, filho de um ex-jogador que vestiu a camisa da seleção austríaca 15 vezes, recebeu cerca de 10 mil assinaturas, dez vezes menos do que seu objetivo. Mesmo assim, fez barulho – a ponto de chamar a atenção de Andreas Herzog, último grande astro do futebol austríaco, e até de Michel Platini: “Trata-se da idéia mais absurda que já ouvi”, disse o francês. Herzog seguiu na mesma linha: “É a prova de que existem 10 mil idiotas na Áustria”. Os dois podem até ter razão. A campanha de Kriess, entretanto, quer mais é alertar o mundo para a crise do futebol austríaco – e conseguiu. Se, num passado longínquo, a Áustria podia se orgulhar de seu “Wunderteam”, que tinha como astro Mathias Sindelar, a memória mais recente do país em torneios internacionais é a vexaminosa eliminação na primeira fase da Copa do Mundo de 1990. Oito anos antes, protagonizou a famosa derrota para a Alemanha Ocidental, por 1 a 0, único resultado que classificava as duas equipes para a fase seguinte do Mundial da Espanha. O retrospecto recente da seleção austríaca mostra que, de fato, as chances da equipe na próxima Eurocopa são pequenas. Desde que Josef Hickersberger, técnico que levou a Áustria à Copa de 1990, voltou ao comando, em janeiro de 2006, a equipe disputou 21 partidas. Venceu apenas quatro vezes, empatou sete e perdeu dez. Entre novembro de 2006 e outubro de 2007, registrou uma série de nove jogos sem vitórias.

Suíça chega confiante Se, na Áustria, o tom do discurso beira o de um velório, a Suíça, co-sede da Euro-2008, fala até em título. A base da equipe que caiu nas oitavas-de-final da última Copa do Mundo, sem sofrer um gol sequer, foi mantida, e a equipe parece estar mais forte e confiante. O time titular conta com bom jogadores, como Philippe Senderos, Johan Djourou, Ludovic Magnin, Tranquillo Barnetta e Alexander Frei (foto), recentemente recuperado de contusão. Sem disputar partidas competitivas desde a eliminação diante da Ucrânia, na Copa de 2006, a “Nati”, como é conhecida a seleção suíça, tem jogado apenas amistosos. “A federação foi esperta e escolheu só adversários fortes, para simular a competitividade da Eurocopa”, explica Peter Birrer, editor de esportes do diário suíço “NZZ”, de Zurique. Entre os oponentes escolhidos estão Alemanha, Brasil, Argentina, Holanda e Inglaterra.

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Getty Images/AFP

MERCADO por Ricardo Espina e Leonardo Bertozzi

Jogadores brasileiros anônimos por aqui protagonizam grandes transferências na Europa, repetindo casos como os de Deco e Eduardo da Silva

Ilustres – E CAROS –

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or acaso, você saberia dizer quando Túlio de Melo vestiu o uniforme do AtléticoMG? Ou então lembra do desempenho de Ederson no Juventude? Recorda-se dos gols marcados por Rafael Araújo no Juventus? Tratase de três jogadores praticamente desconhecidos aqui, no Brasil, mas que hoje fazem sucesso na Europa, a ponto de movimentarem quase € 20 milhões na janela de transferências de janeiro. A negociação que mais impressiona, pelo menos do ponto de vista financeiro, é, sem dúvida, a de Ederson, que trocará o Nice pelo Lyon no meio do ano. O time de Juninho Pernambucano pagou nada menos do que € 14 milhões pelo meia. Até por isso, a expectativa de que venha para substituir o compatriota, ídolo da torcida, é grande. Se os cerca de € 5 mi pagos pelo Hertha Berlim por Rafael não impressionam tanto, vale lembrar que o valor é mais do que duas vezes o recebido pelo Botafogo dos alemães por André Lima, então artilheiro do Brasileirão. No caso de Túlio, a transferência se dará após o fim de seu contrato, portanto, sem custo para o Palermo. O clube siciliano, entretanto, teve que permitir que o Parma ficasse com parte dos direitos sobre o jogador, por conta da disputa pela assinatura do atacante. Os três atletas têm idade para defender a Seleção na Olimpíada de Pequim. Com a exposição trazida por suas transferências, eles tentam chamar a atenção de Dunga para conseguir um lugar na equipe que irá à China. Não são raros, porém, casos de jogadores que vão embora cedo e só aparecem para o público daqui quando já estão naturalizados, defendendo ou em vias de defender outro país. Um caso clássico é o do maranhense Luís Oliveira, que representou a seleção belga nos anos 90 e disputou a Copa do Mundo de 1998. Como tantos outros que viriam a seguir, Oliveira (ou “Oliverrá”, como passou a ser chamado) foi descoberto por um olheiro e levado à Europa ainda adolescente. Iniciou a carreira no Anderlecht, time que

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defendeu de 1987 a 1992. Já com o passaporte belga, transferiu-se para o Cagliari e iniciou uma longa carreira no futebol italiano – que dura até hoje. Próximo de completar 39 anos, ele joga pela Nuorese, da Série C2, quarta divisão do país. Neste intervalo, vestiu as camisas de Fiorentina, Bologna, Como, Catania, Foggia, Venezia e Lucchese. O caminho da profissionalização pela Bélgica foi repetido na década passada por outro brasileiro, o meia-atacante Wamberto. Ele não chegou a defender os Diabos Vermelhos, como é conhecida a seleção do país, mas se destacou pelo Standard Liège e conseguiu uma transferência para o Ajax, onde ficou entre 1998 e 2004. Depois de uma segunda

passagem pela Bélgica, hoje defende o Omniworld, da segundona holandesa. No Ajax, Wamberto é lembrado com admiração. Seu filho, Danilo, teve as portas abertas para jogar nas categorias de base do clube de Amsterdã e já tem um contrato profissional até 2010.

Século XXI O “Oliveira” do século XXI atende pelo nome de Eduardo da Silva. Antes de ganhar as manchetes por sua chocante fratura na perna, em fevereiro, o atacante do Arsenal teve uma curiosa trajetória. Nascido no Rio de Janeiro, ele surgiu para o futebol em um campeonato de favelas organizado pela CBF. Em 1999, aos 16 anos, já estava no Dinamo Zagreb, onde fez sua fama de arti-

FUTEBOL EM FAMÍLIA O Hertha Berlim ampliou a legião brasileira em seu elenco com um atacante que se deu bem no futebol suíço. Os gols de Rafael Araújo, de 22 anos, chamaram a atenção da equipe alemã, que já contava com Mineiro, Lúcio e André Lima. Rafael estava desde 2005 no Zürich, pelo qual disputou 77 partidas, balançou as redes 39 vezes e foi um dos destaques da conquista do bicampeonato suíço nas últimas duas temporadas. Ele já havia causado boa impressão ao atuar pelo Chiasso, da segunda divisão do país, quando também manteve uma média próxima a um gol a cada duas partidas. Esse desempenho justifica os cerca de € 5 milhões investidos pelo Hertha em sua contratação. Nascido em Fortaleza, o atacante tem o futebol no sangue. Ronny, seu irmão, defendeu o Corinthians e hoje está no Sporting, de Lisboa. O pai deles, Faísca, foi lateral-direito de Ceará e Fortaleza. Rafael começou a carreira no futebol de salão, passou sete meses nos juvenis do Vitória e foi para o Juventus em 2001. No clube paulistano, estreou entre os profissionais, antes de ir para a Suíça, em 2003. No Hertha Berlim, o brasileiro segue com o faro de gol apurado. Em suas três primeiras partidas pela Bundesliga, o camisa 10 foi às redes duas vezes.

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Rafael Caetano de Araújo Nascimento: 28/março/1985 Altura: 1,74 m Peso: 69 kg Carreira: Juventus (2001 a 2003), Chiasso (2003 a 2005), Zürich (2005 a 2007) Para onde vai: Hertha Berlim (jan/2008)

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lheiro. Três anos depois, Eduardo tinha nas mãos o passaporte croata, que lhe abriu o caminho para a seleção do país – e para o ataque da equipe de Arsène Wenger. Nos últimos anos, Portugal tomou para si dois jogadores que tinham potencial para atuar pelo Brasil. Deco, que teve uma passagem esquecível pelo Corinthians, chegou ao Porto em 1999, depois de se destacar por Alverca e Salgueiros. O salto de qualidade veio

sob o comando de José Mourinho, que fez do meia um líder do time campeão da Copa Uefa e da Liga dos Campeões. Desde sua estréia pela seleção portuguesa, em 2003, com direito a gol contra o Brasil, Deco tem sido fundamental para os Tugas e para o Barcelona, para onde se transferiu em 2004. O zagueiro Pepe teve uma trajetória bastante semelhante à de Deco. A exemplo do compatriota, ele chegou a Portugal via Corinthians de Alagoas e precisou roer o osso antes de alcançar a fama. No Marítimo, passou uma temporada

SUCESSOR DE JUNINHO PERNAMBUCANO

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A contratação do meia Ederson pelo Lyon causou surpresa por causa do alto valor. O brasileiro, destaque do Nice nas três últimas temporadas da Ligue 1, tornou-se um dos jogadores mais caros da história do OL, que gastou € 14 milhões para contar com o atleta a partir de junho. Para contratá-lo, teve que vencer a concorrência de Manchester United e Real Madrid, entre outros. Ederson começou a carreira no RS Futebol, clube gaúcho pertencente ao treinador Paulo César Carpegiani. Seu desempenho nas categorias de base lhe rendeu a convocação para defender o Brasil no Mundial sub-17 da Finlândia, em 2003. Com o título da competição, ele chamou a atenção de um olheiro do Internacional, que o levou para o Beira-Rio em 2004. No entanto, Ederson teve pouco espaço no Colorado e, no mesmo ano, foi para o Juventude. Suas atuações chamaram a atenção de Gernot Rohr, técnico que dirigia o Nice em 2005. Emprestado à equipe francesa, o brasileiro logo conquistou a torcida ao marcar um belo gol contra o Monaco. Frédéric Antonetti, novo treinador do OGC, convenceu os dirigentes a contratá-lo em definitivo no ano seguinte e o escalou como titular. Desde então, foram 80 partidas pelo clube da Côte d’Azur na Ligue 1, até o final de fevereiro. O alto valor da negociação, claro, valoriza Ederson. Cria, porém, uma grande expectativa em torno do jogador, ainda mais quando se fala que ele será o sucessor de Juninho Pernambucano, maior astro da história dos lioneses.

Ederson Honorato Campos Nascimento: 13/janeiro/1986, em Parapuã-SP Altura: 1,81 m Peso: 84 kg Carreira: RS Futebol (2003 a 2004), Internacional (2004), Juventude (2004), Nice (2005 a 2008) Para onde vai: Lyon (jun/2008)

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inteira no time B e foi promovido à equipe principal em 2002. Dois anos depois, já estava no Porto. Reserva a princípio, aproveitou a oportunidade quando lhe foi dada e se tornou titular indiscutível a partir da temporada 2005/6. No ano passado, Pepe foi vendido por € 30 milhões para o Real Madrid. O início irregular levou a contestações sobre o alto valor desembolsado, mas as críticas cessaram quando ele se firmou na equipe. A estréia pela seleção portuguesa, adiada em setembro por uma lesão, aconteceu em novembro, no jogo contra a Finlândia que garantiu à equipe das Quinas a vaga na Euro-2008.

Nariz torcido O fato de haver brasileiros se destacando na Europa sem terem brilhado em um grande clube do país faz com que eles sejam vistos pelo público nacional com certa desconfiança. Basta lembrar a torcida de nariz generalizada depois da convocação de Afonso Alves, artilheiro na Suécia e na Holanda, para a Seleção Brasileira. O atacante, que não deixou saudades na torcida do Atlético-MG, foi vendido pelo Heerenveen para o Middlesbrough por cerca de € 16 milhões, tornando-se o jogador mais caro da história do clube inglês. Afonso não deu certo na Seleção, mas seu veredicto já estava assinado pela opinião pública antes de ele pegar pela primeira vez na bola com a camisa amarela. A dúvida entre a desconfiança do Brasil e os apelos do novo país deve pairar em breve sobre dois candidatos a transferências milionárias no próximo verão europeu: o atacante Amauri, do Palermo, e o zagueiro Felipe, da Udinese. Na Itália, uma convocação de Amauri para a seleção local teria muitos defensores. Desde a temporada 2005/6, quando brilhou pelo Chievo, e a subseqüente transferência para o Palermo, o jogador de Carapicuíba vem mantendo o alto nível em suas atuações. Sua chegada a um clube maior é considerada inevitável, e o Palermo sabe

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Jean Francois Monier/AFP

disso – já colocou uma etiqueta de preço de € 25 milhões para os possíveis interessados. Felipe, de 23 anos, está no elenco profissional da Udinese desde 2002, e amadureceu a olhos vistos até alcançar a titularidade indiscutível no time bianconero. O interesse do Milan em seu futebol é antigo, e deve se renovar com a aposentadoria de Paolo Maldini em junho. Capaz de atuar na zaga ou na lateral-esquerda, Felipe é visto como um possível sucessor para o capitão rossonero. Bisneto de italianos, só depende do aval do técnico da Azzurra para estrear. Se, na zaga, hoje, o Brasil parece estar bem servido, o mesmo não se pode dizer do ataque, setor no qual não há um sucessor natural para Ronaldo. A situação, entretanto, já foi inversa — motivo pelo qual a Seleção talvez fizesse bem em testar quem se dá bem nos cantos em que não estão os holofotes. Ou os empresários amigos.

Túlio Vinícius Froes de Melo Nascimento: 31/janeiro/1985, em Montes Claros-MG Altura: 1,93 m Peso: 83 kg Carreira: Atlético-MG (2003 a 2004), Aalborg (2004 a 2005), Le Mans (2005 a 2008) Para onde vai: Palermo (jun/2008)

ARTILHEIRO POLÊMICO Túlio de Melo teve seu nome envolvido numa polêmica em janeiro. O atacante do Le Mans causou um bate-boca entre Palermo e Parma, já que os dois clubes alegavam ter assinado pré-contratos com o brasileiro. Após muita discussão, os times chegaram a um acordo: ele jogará no Palermo a partir de junho, quando se encerra seu compromisso com o Le Mans, mas o Parma terá a co-propriedade de seu contrato, ou seja, 50% dos direitos em caso de transferência para outro clube. “Houve interesse das duas equipes, e, na época, fui mal instruído. No final, escolhi

o Palermo, pois será o melhor para minha carreira”, explica. Seu novo time gravita pelo meio da tabela, enquanto o Parma luta para não cair. Tanta briga pelo jogador, de 23 anos, justifica-se por seu desempenho nas últimas temporadas. Apesar de uma grave lesão no joelho, ele levou o modesto Le Mans a sonhar com uma vaga na Liga dos Campeões. Nascido em Montes Claros, Túlio começou a carreira no Atlético-MG, onde jogou até os 19 anos. “Não tive oportunidade de atuar nos profissionais, até que surgiu a chance de fazer teste no Aalborg”, conta. Em 2004, foi emprestado ao time dinamarquês. Em busca de reforços de baixo custo para seu elenco, o Le Mans acertou a contratação de Túlio por três temporadas, no ano seguinte. O brasileiro não teve sorte no início. Em fevereiro de 2006, rompeu os ligamentos do joelho direito e passou por

uma cirurgia, o que fez com que ficasse afastado por vários meses. Em setembro, voltou a sofrer uma lesão no mesmo local e só voltou aos campos em janeiro de 2007. “Perdi quase uma temporada inteira, mas pelo menos pude me preparar bem. O Le Mans é um clube novo, cresceu rápido. É uma equipe que valoriza os jovens e lhes dá oportunidades”, observa. De volta ao time, o atacante pôde provar seu valor: em três temporadas, disputou 61 partidas e marcou 20 gols (11 deles nas 26 primeiras rodadas do atual Campeonato Francês). Com o bom desempenho, Túlio espera chamar a atenção de Dunga e sonha em conseguir uma vaga na equipe que irá a Pequim. “Ele testa muitos jogadores. Estou fazendo um bom trabalho e me encaixo no perfil desejado, por isso tenho esperança de ir para os Jogos Olímpicos”, comenta.

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Getty Images/AFP

TURQUIA por Marcio K Kohara ohar oh arra

A final da Supercopa da Turquia de 2007, entre Fenerbahçe e Besiktas, foi transmitida para o Brasil

INVASÃO N

turca Futebol de clubes da Turquia repete o crescimento da seleção do país e ganha destaque na Europa – e no Brasil 50

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o dia 5 de agosto de 2007, o Fenerbahçe venceu o Besiktas por 2 a 1 e ganhou a Supercopa da Turquia pela primeira vez. O encontro teve uma particularidade: foi o primeiro jogo de um torneio turco a ser transmitido no Brasil. A partida foi exibida pela ESPN, que mostrou interesse em transmitir também o Campeonato Turco. Isso acabou não acontecendo, mas o episódio deixou claro como o futebol do país está se aproximando dos campeonatos mais importantes da Europa. Há motivos para esse interesse? Sim. O futebol turco tornouse uma alternativa atraente para jogadores com destaque no futebol europeu. Nomes como Ribéry, Carew, Kezman e Appiah passaram pela Turquia nos últimos anos. Hoje, o Fenerbahçe, comandado por Zico, chama a atenção dos brasileiros com jogadores como Roberto Carlos, Alex, Deivid e Edu Dracena – além do uruguaio Lugano. Os outros grandes de Istambul não ficam atrás: Galatasaray e Besiktas têm atrações como

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Piontek, o pioneiro

Bongarts/Getty Images

Linderoth (ex-Everton), Nonda (ex-Roma) e os brasileiros Lincoln (ex-Schalke), Bobô e Ricardinho (ambos ex-Corinthians). O desenvolvimento da Süper Lig também se reflete na quantidade de bons jogadores turcos que vêm sendo revelados nos últimos anos. Emre Belozoglu (Newcastle), Tuncay Sanli (Middlesbrough), Nihat Kahveci (Villarreal) e os gêmeos Halil e Hamit Altintop (Schalke e Bayern de Munique, respectivamente) são exemplos de atletas que encontraram espaço em ligas importantes da Europa. O número de turcos espalhados pelo continente só não é maior porque a integração do país com o resto da Europa ainda é pequena. Como a Turquia não faz parte da União Européia, seus jogadores são considerados “estrangeiros” nas principais ligas – coisa que não acontece, por exemplo, com gregos, búlgaros e romenos. Por outro lado, essa questão da nacionalidade restringe a entrada de jogadores estrangeiros de menor qualidade na Turquia, deixando mais espaço para os atletas do país se desenvolverem.

A passagem do alemão Sepp Piontek (foto) pela seleção turca, na década de 1980, é considerada um marco na evolução do futebol do país

A base para o atual crescimento do futebol turco foi criada na década de 1980. Após 30 anos de isolamento, que fizeram a Turquia ficar para trás no cenário do futebol europeu depois de cumprir papel digno na Copa do Mundo de 1954, surgiu no país uma boa geração de jogadores. Para que eles ganhassem experiência e competitividade internacional, a Federação Turca decidiu apostar num técnico estrangeiro: o alemão Sepp Piontek, que fizera ótima campanha com a Dinamarca na Copa de 1986. A passagem do técnico não trouxe resultados imediatos, mas é considerada um marco para a evolução turca. “Seu trabalho provocou uma mudança de postura e mentalidade no futebol do país”, diz Ahmet Turgut, jornalista esportivo turco. Os frutos do trabalho de Piontek apareceram na primeira gestão de Fatih Terim, quando a Turquia conseguiu uma inédita classificação para a Euro-96. Quatro anos depois, fez ainda melhor, chegando até as quartas-de-final da Euro-2000. Em 2002, o país finalmente voltou a uma Copa do Mundo e surpreendeu ao ficar em terceiro lugar. Atualmente, tem conseguido se colocar entre os postulantes a uma vaga nas principais competições de seleções. A passagem de Piontek também mudou as estruturas dos clubes. “Com a evolução da seleção, os times viram que estavam

atrasados e passaram a apostar em técnicos estrangeiros”, relata Turgut. Assim, iniciou-se uma maior integração com o futebol internacional. Treinadores como Christoph Daum, Mircea Lucescu e Carlos Alberto Parreira tiveram papel importante no crescimento do futebol da Turquia. Esse intercâmbio ajudou no desenvolvimento dos clubes locais. Se antes não ofereciam resistência em competições internacionais, começaram a dar dores de cabeça para os grandes times do Ocidente. Em 2000, o Galatasaray alcançou o maior feito de um clube turco até hoje: ganhou a Copa Uefa. Na temporada seguinte, a equipe chegou até as quartas-de-final da Liga dos Campeões. Hoje, no entanto, o time turco que brilha no exterior é o Fenerbahçe, de Zico. Graças a altos investimentos, à força da torcida e a um plano de marketing bem executado – a rede de lojas do clube, chamada Fenerium, tem mais de 50 filiais e faturou em torno de US$ 20 milhões no último ano –, a equipe ganhou com folga o último Campeonato Turco e classificou-se para as oitavas-de-final da atual Liga dos Campeões. Esse desenvolvimento ainda não é suficiente para colocar o futebol da Turquia no nível dos grandes campeonatos do continente, tanto que os clubes turcos aparecem apenas em 13º lugar no ranking da Uefa. Mas, sem dúvida, a Süper Lig está entre as ligas “emergentes” do futebol mundial, ao lado de países como Rússia, Romênia e Ucrânia, deixando para trás a vizinha – e rival – Grécia. Com a possível entrada do país na União Européia, o futebol turco deverá crescer ainda mais. Por isso, não se espante se, daqui a alguns anos, nomes como Gençlerbirligi, Ankaragücü e Gaziantepspor (sem falar de Besiktas, Fenerbahçe e Galatasaray) forem comuns nos noticiários esportivos do Brasil. Saiba mais sobre futebol turco em www.trivela.com/turquia

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PERFIL por Ubiratan Leal

Questão de

gênio Ex-jogador rebelde, Bernd Schuster continua sendo uma figura surpreendente e de estilo marcante imprensa queria a cabeça de Robinho. O brasileiro se atrasara na reapresentação ao Real Madrid após defender o Brasil contra Peru e Equador pelas eliminatórias da Copa porque ficou até tarde na balada. Como o crédito do ex-santista não era dos maiores na Espanha, era a oportunidade para uma punição rigorosa. O técnico Bernd Schuster tomou caminho inverso. Deu um jogo de geladeira ao meia-atacante, mas, em seguida, o colocou como titular em uma importante partida pela Liga dos Campeões. Contra o Olympiacos, Robinho fez dois gols, deu assistência para outro, sofreu um pênalti e começou a viver sua melhor fase desde que deixou a Vila Belmiro. A solução, inusitada para os padrões europeus, mostra como Schuster tem um modo de pensar diferente do da média. O treinador não tem medo de confiar em seus instintos, em vez de apostar na lógica do planejamento. Foi assim que ele resolveu deixar de lado Robben e Drenthe, duas das principais contratações do clube na temporada, para dar chance a jogadores que estavam encostados em Chamartín, como Júlio Baptista e Marcelo. O comportamento imprevisível faz parte do currículo do técnico alemão desde a época de jogador. Revelado no final da década de 1970 como

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prodígio no meio-campo, o “Anjo Loiro” rapidamente ganhou espaço no cenário internacional. Em 1980, foi eleito o segundo melhor jogador da Eurocopa, mesmo tendo disputado apenas dois jogos, as vitórias sobre Holanda e Bélgica – esta última, a final da competição, conquistada, em casa, pela Alemanha Ocidental. Schuster tinha apenas 20 anos, mas já era tratado como um craque em potencial. Habilidoso e elegante, sabia como ocupar espaços no meio-campo, realizar lançamentos com precisão e chegar ao ataque como elemento surpresa. Características que atraíram alguns dos principais clubes da Europa. O sucesso lhe valeu uma transferência para o Barcelona, que investia pesado para acabar com o domínio do Real Madrid. Depois de um início de temporada ruim, os Blaugranas embalaram e en-

10 número de vitórias seguidas do Shakhtar sob o comando de Schuster, um recorde no Campeonato Ucraniano

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traram na disputa pelo título. A trajetória só mudou no início de 1981, quando o atacante Quini – melhor amigo de Schuster na época – foi seqüestrado. Nos 25 dias que o jogador ficou no cativeiro, o time conquistou apenas um ponto em seis jogos e saiu da luta pelas primeiras posições. A temporada seguinte seria a da consolidação de Schuster na Espanha, mas o meia teve o joelho esquerdo quebrado por uma entrada de Andoni Goikoetxea numa partida contra o Athletic Bilbao. A contusão o tirou de campo até o final da temporada – e o afastou da Copa do Mundo de 1982, na qual certamente teria sido titular. A partir da temporada 1982/3, o temperamento irascível do meia apareceu com mais força. Schuster mostrava especial apreço em ter o status de estrela da equipe e reagia rispidamente quando suas idéias eram contestadas. Gabi, sua esposa e empresária, ajudou. Não tinha pudor em dar declarações polêmicas à imprensa, muitas vezes criticando colegas de clube do marido. Assim, o comportamento – dentro e fora do campo – do jogador variou de acordo com o ambiente. Em 1984, brigou com o técnico Udo Lattek e ainda se aposentou da seleção alemã-ocidental (pela qual fez apenas 21 partidas) por desentendimentos com Rummenigge, Breitner e Jupp Derwall. No ano seguinte, virou mito barcelonista ao conduzir o time ao título espanhol depois de 11 anos. Em 1986 e 1987, viveu às turras com o presidente do clube, Josep Lluís Núñez, e deixou a equipe em polêmica transferência para o rival Real Madrid. Apesar dos momentos conturbados em Les Corts, Schuster é considerado um dos símbolos do Barcelona da década de 1980. Tanto que, até hoje, o alemão mantém o título de sócio blaugrana.

Felix Ausin Ordonez/Reuters

Primeira passagem pelo Real A vocação para colecionar desafetos não cessou em Madri. Teve três temporadas bastante tranqüilas, com um time vencedor. Ainda que a dupla de ataque ButragueñoMarço de 2008

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1976 Inicia a carreira no Augsburg

1978 É contratado pelo Colônia

1980 É a grande revelação da Eurocopa, conquistando o título com a Alemanha Ocidental e sendo eleito o segundo melhor jogador da competição. Em seguida, é vendido ao Barcelona

1983 Com apenas 24 anos, renuncia à seleção alemã por desentendimentos com o técnico Jupp Derwall e jogadores como Paul Breitner

1987 Perde praticamente toda a temporada após brigar com Josep Lluís Núñez, presidente do Barcelona. No ano seguinte, causa polêmica ao trocar o Barça pelo Real Madrid

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1990 Desentende-se com Ramón Mendoza, presidente do Real e, de novo, resolve a questão indo para um rival. Dessa vez, o Atlético de Madrid

1993 Acerta com o Bayer Leverkusen. Apresenta um grande futebol, e a imprensa cogita sua convocação para a Copa de 1994 — mas a federação e os jogadores da seleção vetam seu nome, pelo comportamento irascível

Hugo Sánchez chamasse a atenção, ninguém contestava o papel de estrela da equipe que Schuster exercia no meio-campo (e, depois, como líbero). O alemão era o responsável por dar equilíbrio ao time e tinha apoio da torcida. O cenário mudou drasticamente em junho de 1990. O clube decidiu realizar uma excursão por México e Estados Unidos durante a Copa do Mundo. Como a maior parte do time titular estava defendendo alguma seleção na Itália, Hugo Sánchez e Schuster seriam os grandes atrativos merengues. No entanto, o alemão tentou fugir do embarque. Ramón Mendoza, presidente do clube, convenceu o jogador a viajar com o time, mas o dispensou no retorno à Europa. A relação Schuster x Real Madrid ficou tão desconfortável que a contratação do alemão como técnico em 2007 foi vista como uma reconciliação. Atendendo a um desejo da família de permanecer na capital espanhola, o jogador assinou um contrato com o Atlético de Madrid. Nas duas primeiras temporadas, Schuster foi o grande responsável pelas boas campanhas dos Colchoneros, sobretudo criando jogadas para o artilheiro Manolo concluir. Na terceira, o alemão se contundiu e, durante a fase de recuperação, não aceitou uma crítica do presidente Jesús Gil. Ao final do campeonato, deixou o Vicente Calderón. Aos 33 anos, “Don Bernardo” voltou a seu país para defender o Bayer Leverkusen. Já veterano, usava a experiência para orientar o meiocampo da equipe. O impacto de suas atuações foi tão rápido que se cogitou a possibilidade de Schuster recuar da decisão de nunca mais defender a Alemanha e poder jogar a Copa do Mundo dos Estados Unidos – embora jogadores e a comissão técnica da seleção tenham se posicionado contra seu retorno.

Andrea Comas/Reuters

CRONOLOGIA DE TALENTO E CONFUSÕES

Vida de técnico

1997 Depois de um período de testes no San Jose Clash e uma temporada no Pumas, do México, encerra a carreira aos 37 anos

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Depois de encerrar a carreira com uma passagem rápida pelo Pumas, do México, Schuster iniciou a carreira de treinador. A mudança de função não mudou seu comporta-

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Schuster fez Robinho jogar seu melhor futebol na Europa

mento falastrão e autoconfiante. Também permaneceu intacto seu modo de ver o futebol: um jogo que deve ser praticado ofensivamente. Mesmo quando comandou equipes pequenas, “Don Bernardo” não teve pudor em colocar laterais que avançam sem medo, meias de armação que jogam abertos e volantes de alguma habilidade. O sistema de jogo levou times como Xerez, Levante e Getafe a campanhas surpreendentes. Também permitiu que o Shakhtar Donetsk estabelecesse um recorde ao vencer as dez primeiras partidas do Campeonato Ucraniano. Foi por esse currículo de futebol ofensivo que o alemão foi contratado pelos Merengues. A torcida não achou ruim ter sido campeã espanhola em 2006/7 sob o comando de Fabio Capello, mas era inegável que queria um time que jogasse mais bonito. Schuster deu mais importância a Robinho, Marcelo, Sergio Ramos, Guti e Júlio Baptista e teve a base pa-

ra um time parecido com o da temporada passada, mas que atacasse de forma mais insinuante e natural. Ao mesmo tempo em que dá esperança de um futebol bonito, o histórico do alemão como técnico cria a expectativa de apreensão nos próximos meses. Pelo ritmo de jogo intenso que pratica, os times de “Don Bernardo” costumam cair fisicamente na reta final da temporada. Isso leva a uma curiosa constatação: apesar de sempre montar times competitivos e ter um desempenho final acima do esperado, Schuster nunca conquistou um título como treinador. Resta ao técnico surpreender mais uma vez. Ele precisa demonstrar que as experiências anteriores o ensinaram a dosar melhor as energias por toda a temporada e fazer que o Real Madrid consiga algo que não tem desde o Campeonato Espanhol 2002/3: um time campeão que jogou bonito.

NO BANCO: ALGUMAS FAÇANHAS, NENHUM TÍTULO Clube

Período Observação Fortuna Colônia (ALE)

1997 a 1998

Único clube em que perdeu mais jogos do que ganhou

Colônia (ALE)

1998 a 1999

Fez campanha discreta na segunda divisão. Na temporada seguinte a sua saída, o time foi campeão

Xerez (ESP)

2001 a 2003

Em duas temporadas, o clube brigou para subir à primeira divisão, mas perdeu a vaga nas últimas rodadas

Shakhtar Donetsk (UCR)

2003 a 2004

Bateu o recorde do clube de vitórias consecutivas, mas saiu após perder o campeonato. Uma semana depois, o time conquistou a Copa da Ucrânia

Levante (ESP)

2004 a 2005

O time teve um grande começo, mas caiu no returno e, depois da saída de Schuster, foi rebaixado

Getafe (ESP)

2005 a 2007

Foi vice-campeão da Copa da Espanha, maior glória da história getafista

Real Madrid (ESP)

desde 2007

Campeão simbólico do primeiro turno do Campeonato Espanhol

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ÁFRICA DO SUL por Tomaz R. Alves

Reconstrução

semfim unca um anfitrião de Copa do Mundo foi eliminado na primeira fase do Mundial que organizou. Essa “invencibilidade” pesa sobre a cabeça de Carlos Alberto Parreira. Afinal, cabe ao brasileiro a tarefa de evitar que a África do Sul seja a primeira equipe a quebrar essa escrita, em 2010. E, pelo que se viu na última Copa Africana de Nações, o trabalho não vai ser fácil. O sucesso dos sul-africanos nos anos 1990 deixou a sensação de que o país era uma das potências do continente. Mas já faz vários anos que isso não é verdade. Nas últimas três CANs, por exemplo, os Bafana Bafana não conseguiram nem passar da primeira fase. A equipe ficou de fora da Copa de 2006, depois de ficar cinco pontos atrás de Gana e empatada com a frágil República Democrática do Congo.

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Hoje, a África do Sul ocupa apenas a 13ª colocação entre os africanos no ranking da Fifa, atrás de seleções fracas como Zâmbia e Guiné – posição que reflete bem o atual status do país no futebol do continente. Assim que assumiu a África do Sul, Parreira percebeu que o time não era bom. Então, começou a fazer a única coisa que poderia: uma renovação, chamando jogadores jovens que ainda atuam no futebol sul-africano e descartando os veteranos que não tivessem algo a acrescentar à seleção. Sabendo que remontar a base da seleção leva tempo, o técnico brasileiro sempre tomou o cuidado de deixar claro que a CAN não era uma de suas prioridades e que o título estava longe de ser uma possibilidade realista. Os resultados nas eliminatórias para o torneio comprovavam isso: a equipe ficou atrás da Zâmbia em seu grupo e se

Bruno Domingos/Reuters

Copa Africana não era uma das prioridades da África do Sul. Mesmo assim, eliminação precoce aumenta temores de um vexame em 2010

classificou na bacia das almas, como um dos três melhores segundos colocados. Como esperado, o desempenho da África do Sul na Copa Africana foi muito fraco. No grupo mais equilibrado do torneio, o time conseguiu dois empates (contra Angola e Senegal) e uma derrota (para a Tunísia). Trata-se de uma campanha obviamente ruim, mas que, mesmo assim, constitui um avanço: na CAN anterior, em 2006, os Bafana Bafana foram eliminados com três derrotas, sem marcar um gol sequer. “Como somos um time jovem, acho que podemos voltar para casa com algumas coisas positivas. Os jogadores aprenderam muito sobre futebol de alto nível, e o processo de aprendizado segue em frente”, afirmou Parreira. O time que o brasileiro levou para o torneio era realmente muito jovem. Dos 23

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O time que a África do Sul levou para a CAN tem visível potencial. Jogadores talentosos, como os defensores Bryce Moon e Tsepo Masilela, ou o meia Elrio van Heerden, em breve devem ir para times de maior destaque, na Europa. Sob o comando de Parreira, os Bafana Bafana ganharam mais conjunto, o que foi possível notar no jogo de passes mais fluído e na organização tática que começava a se firmar. No entanto, o time ainda mostrou uma irregularidade tremenda. A defesa, que em geral estava bem postada, sofria lapsos de concentração gritantes, responsáveis pela maioria dos cinco gols sofridos pela equipe. Além disso, falta presença física e experiência ao setor. O ataque também teve desempenho preocupante, desperdiçando grande número de chances fáceis. O próprio Parreira reconheceu os problemas, após a eliminação: “Precisamos melhorar para 2010. Há muito trabalho a ser feito, especialmente na defesa, e nosso ataque também tem que melhorar”. Um dos jogadores mais criticados na CAN foi o capitão Aaron Mokoena, justamente um dos nomes mais importantes do time. O atleta do Blackburn, da Premier League inglesa, foi escalado por Parreira como volante, em vez de sua posição habitual na zaga – uma das decisões mais polêmicas do treinador – e acabou cometendo muitos erros. Mokoena é importante por ser um dos poucos sul-africanos com experiência internacional em alto nível. Outros nomes com rodagem na Europa são o atacante Sibusiso Zuma, do Arminia Bielefeld, e o meia Steven Pienaar, do Everton. O craque da África do Sul, no entanto, não é nenhum deles. É Benny McCarthy. Só que o atacante, companheiro de Mokoena no Blackburn, em vez de ser uma solução, virou mais um problema. Após um desen-

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Campanha da África do Sul com Parreira*

7 vitórias 6 empates 6 derrotas

disputará a Copa das Confederações, a Copa Africana de 2010 (supondo que se classificará) e até as eliminatórias para a Copa do Mundo – embora esteja classificada como anfitriã, a equipe participa do torneio porque ele vale vaga na próxima CAN. Assim, Parreira deverá ter pelo menos 18 jogos oficiais para montar sua equipe. No entanto, com as oportunidades vêm as cobranças. Parreira tem que fechar um time-base, corrigir vários problemas, dar experiência a seus jogadores e ainda aliviar a pressão (sobre si e sobre os atletas) com uma campanha segura nas eliminatórias — e, pelo menos, classificar-se para as quartas-de-final da próxima CAN. Senão, vai precisar de muita ajuda do sorteio e da torcida para não ser eliminado na primeira fase da Copa do Mundo. Isso se conseguir se manter no cargo até lá. Saiba mais sobre futebol africano em www.trivela.com/africa

Getty Images/AFP

Potencial e dúvidas

tendimento com a federação sul-africana, o jogador de 30 anos anunciou que não defenderia mais a seleção. Parreira conseguiu convencê-lo a voltar, mas mesmo assim o deixou de fora da CAN. Para que os Bafana Bafana possam competir em alto nível, a presença de McCarthy em boa forma é imprescindível. Para acertar o time, Parreira tem a seu favor o calendário dos próximos dois anos, que prevê muitos jogos. A África do Sul

*até o fim da CAN

convocados, apenas dois tinham mais que 27 anos (e um deles, o goleiro Rowen Fernandez, não jogou, por causa de uma contusão). Só oito dos convocados já haviam atuado pela seleção mais de dez vezes. A reestruturação da equipe pode explicar os maus resultados, mas isso não significa que não haja cobranças sobre o time. Afinal, a África do Sul está “em reestruturação” desde a eliminação da Copa de 2002. Com mais de um ano e 19 partidas no comando da equipe, Parreira já teria que mostrar alguns resultados, para justificar seu alto salário.

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ESCUDOS por Luiz Fernando Bindi

O espírito do clube,

em uma frase Corinthians pensa em adicionar a palavra “Fiel” a seu escudo. Não faltam casos ao redor do mundo de clubes que fizeram algo parecido urante o mês de fevereiro, causou bastante discussão entre os corintianos uma proposta de mudança no distintivo do clube apresentada ao conselho deliberativo. As cinco estrelas seriam substituídas por uma coroa e, embaixo do escudo, seria adicionada a palavra “Fiel”. Essa homenagem à torcida do time chama a atenção para uma prática pouco comum aqui, no Brasil: adicionar lemas aos distintivos dos clubes. Na Europa, isso é mais freqüente. Na Inglaterra, sete dos 20 times da Premier League têm lemas nos escudos. No Brasil, o Corinthians seria o único clube das Séries A e B a ter algo escrito além de suas iniciais ou do nome da cidade. As origens dos lemas são variadas. Muitas vezes, os fundadores decidem incluir no escudo uma frase que sintetize aquilo que se espera que seja o “espírito” do clube. Outras são homenagens, à torcida ou a conquistas famosas. Há frases em latim, sentenças curiosas e até algumas que parecem não fazer sentido. A Trivela traz dez exemplos de lemas interessantes, variando de casos famosos como o “You’ll never walk alone” do Liverpool até frases engraçadas, como o “Por favor, Deus me ajude” do Forças do Bem-RJ.

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Liverpool O escudo do Liverpool tem ao centro o “liver bird”, símbolo da cidade. Acima do brasão, há uma reprodução do “Shankly Gates”, portão do estádio de Anfield que tem a inscrição “You’ll never walk alone” (“Vocês nunca caminharão sozinhos”). A frase é originalmente o título de um dos números do musical da Broadway “Carrossel”, que foi encenado pela primeira vez em 1945. Em 1963, o grupo Gerry and The Pacemakers regravou a música, que virou uma espécie de hino para os torcedores do Liverpool.

Aston Villa

Blackburn

Everton

Em 2007, o Aston Villa modificou o desenho de seu emblema. Mesmo com a alteração, segue o lema que estava presente desde o primeiro símbolo: “Prepared” (“Preparado”, “Disposto”). A idéia é demonstrar que os Villans sempre observam o futuro e estão alertas para o que vier como adversário. Lema parecido tem o Rangers, da Escócia, que ostenta “Ready” (“Pronto”, “Preparado”) no escudo.

O lema “Arte et labore” (“Pela arte e pelo trabalho”, em latim) figura no símbolo do Blackburn. A frase existe no brasão da cidade desde 1852. Como ela cresceu com vocação industrial, acredita-se que a frase foi grafada de forma errada, pois os idealizadores do brasão queriam dizer “Pela habilidade e pelo trabalho duro” – tanto que até hoje muitos torcedores dos Rovers assim traduzem o lema do time.

“Nada além do melhor é bom o bastante”. A frase, que está em latim (“Nil satis nisi optimum”) no escudo do Everton, é um dos símbolos do pensamento franciscano. Colocado em uma faixa na parte de baixo do distintivo dos Toffees, no qual se destaca a Prince Rupert’s Tower (um dos símbolos do distrito de Everton), o lema foi incluído pelo dirigente Theo Kelly, no começo da temporada 1938/9.

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Michael Kooren/Reuters

Anderlecht O clube belga ostenta o lema “Mens sana in corpore sano”, que significa “mente saudável em um corpo saudável”. Ela foi cunhada pelo poeta romano Juvenal e ficou famosa graças ao filósofo grego Tales de Mileto. Curiosamente, o antigo escudo do Club Brugge também tinha esse lema.

Olympique de Marselha No começo da existência do Olympique, o rúgbi era o esporte mais praticado pelos marselheses. E foi do rúgbi que surgiu a expressão “Droit au but”. Ela significa “direto para o gol” e foi mantida pelo clube mesmo depois que o futebol tomou o lugar de esporte mais popular.

Nancy “Qui s’y frotte s’y pique” é o lema no escudo do clube. Muito popular na França, a frase é um provérbio cuja tradução literal seria “quem se esfrega se machuca” – equivalente a nosso “brincou com fogo, acabou queimado”.

Glentoran

Black Leopards

Forças do Bem

Um dos mais tradicionais times da Irlanda do Norte, o Glentoran tem no escudo, além do lema “Le jeu avant tout” (“O jogo acima de tudo”), em francês, um galo, símbolo da França. Os fundadores do time admiravam os franceses e também usaram esses símbolos para marcar a separação dos ideais norteirlandeses frente ao pensamento inglês, já que França e Inglaterra são rivais históricos.

Localizado na cidade sul-africana de Thohoyandou, o Black Leopards tem no escudo a frase “Liqoda quvha”, que significa “O dia chegará” em tshivenda, um idioma bantu falado em parte do norte do país. A frase é usada na região como incentivo e sinal de bons presságios, mas também é comumente empregada em rituais de passagem pós-morte, nos quais se refere ao Dia do Juízo Final.

Raro exemplo de time brasileiro com frase no escudo, o Atlético Forças do Bem, que hoje se chama Atlético Rio e joga na terceira divisão fluminense, surgiu em Duque de Caxias, de uma ONG que fazia trabalhos sociais com crianças carentes em toda a Baixada Fluminense. O clube tinha orientação religiosa e por isso, no escudo, um anjo protege uma criança, acompanhado da frase “Por favor, Deus me ajude”. Março de 2008

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NEGÓCIOS por Juan Saavedra

Aluguel para espetáculos é alternativa de renda extra para os donos de estádios – mesmo que, às vezes, atrapalhe o futebol onstruir um estádio é um investimento alto. Trata-se de um grande volume de capital – na casa das centenas de milhões de reais – que fica imobilizado. Para valer a pena, é preciso que o imóvel esteja constantemente gerando receita para seu proprietário. Por isso, os clubes de futebol têm buscado maneiras de ganhar dinheiro com seus estádios além dos eventos esportivos. E têm encontrado. Com o dólar em baixa e estabilidade econômica, o Brasil vem recebendo várias estrelas da música internacional, criando um atraente

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mercado para os donos de estádios. O Palmeiras é um dos que vêm ganhando dinheiro com isso. Para ceder o Palestra Itália para o show do Iron Maiden, realizado no dia 2 de março, o clube ganhou R$ 250 mil, de acordo com o diretor do departamento de administração, José Cyrillo Junior. “Só com jogos que lotam o estádio conseguimos esse volume de recursos. Queremos fazer uma parceria para transformar o local numa arena multiuso e oferecer melhor estrutura para esses eventos”. O São Paulo é o clube que mais fatura com o aluguel de seu estádio no Brasil. Entre 2006 e 2007, foram vários megaeventos: U2, Aerosmith, Roger Waters, RBD e High School Musical, entre outros. “Antigamente, cobrávamos R$ 200 mil pelo espaço. Hoje, temos uma meta de, pelo menos, R$ 1 milhão líquido. Ganhamos até percentual sobre os ingressos e sobre a transmissão para a TV”, afirma o diretor de

marketing do Tricolor, Julio Casares. No Rio de Janeiro, o Maracanã já abrigou shows históricos e, hoje, voltou a ser palco de grandes eventos, após várias reformas. Para utilizar o local no show do The Police, os produtores pagaram cerca de R$ 400 mil. “Isso representou cerca de 3% da receita do estádio em 2007”, diz o presidente da Superintendência de Desportos do Estado do Rio de Janeiro (Suderj), Eduardo Paes. Na cidade, o Botafogo também quer aproveitar seu novo estádio para faturar com shows. “Estamos elaborando o projeto para trazer eventos ao Engenhão”, informa o diretor de marketing, Jefferson Mello. O Mineirão é outro estádio público que tem tradição em eventos não futebolísticos. “A receita gerada por um show é equivalente a 20 partidas de futebol”, compara Dirceu Pereira, diretor de eventos da Ademg, autarquia que administra os estádios de Minas Gerais.

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Risco para os gramados Financeiramente, não há dúvidas de que o aluguel dos estádios para shows é um bom negócio. Do ponto de vista esportivo, no entanto, há restrições à prática. O Cruzeiro, por exemplo, não poderá jogar no Mineirão contra o San Lorenzo, no dia 3 de abril, por conta de um show de axé marcado para o dia seguinte. Mesmo quando não impedem a realização de partidas, os eventos podem prejudicar bastante o futebol. No fim de outubro, por exemplo, uma seqüência de três concertos do Soda Stereo deixou o gramado do estádio do River Plate, o Monumental de Núñez, em péssimo estado, gerando protestos do meia Ariel Ortega. “Não se pode jogar neste campo. Não sei quem tem a culpa disso, mas sei que os prejudicados somos nós, jogadores”. Em 2005, depois de um show do U2, o Barcelona teve que replantar 4 mil m² de grama. No Grêmio, o Olímpico não rece-

R$ 400 mil Valor recebido pela Suderj com o show do The Police no Estádio do Maracanã (foto) , em dezembro de 2007

Europeus vão além dos shows

Além do aluguel para shows e grandes eventos, os principais estádios europeus geram renda com a locação de seus espaços internos. Em Munique, a Allianz Arena conta com 106 salas decoradas para conferências, eventos privados e reuniões. O Porto também utiliza o Estádio do Dragão como um centro de convenções. A estrutura conta com salões, serviço de bufê, bar, sala de jantar e salas de convivência. Já o Manchester United investe até no filão das cerimônias de casamento. Old Trafford conta com espaços para recepções sofisticadas, para até 1,2 mil convidados.

R$ 1 milhão Valor que o São Paulo recebeu com o show do High School Musical no Morumbi, segundo o diretor de marketing do clube, Julio Casares

be shows desde março de 2005, em parte por medo de danos e também por uma questão de superstição, de acordo com a assessoria de imprensa do clube. O rival Internacional prefere alugar o ginásio Gigantinho, a menos que a ocasião exija o Beira-Rio, como um show de Roberto Carlos e Pavarotti, em 1998. Para diminuir os danos, existe um piso de polipropileno, especial para proteção de gramados, que é uma opção aos tablados convencionais. Criado nos Estados Unidos, o EasyFloor conta com ranhuras que permitem a ventilação e a troca de umidade com o ambiente. O Atlético-PR é um dos clubes que exigem a utilização dessas placas para alugar a Kyocera Arena. “Isso torna o custo do aluguel elevado, o que em alguns casos inviabiliza o evento”, explica o diretor de marketing Mauro Holzmann. Isso talvez explique o fato de o moderno estádio haver abrigado apenas nove grandes eventos desde sua inauguração, em 1999. Clubes como Palmeiras e São Paulo, embora faturem bem com o aluguel de seus estádios, não deixam de priorizar o futebol. “Não abrimos mão de nosso ‘core business’ por causa de um show”, explica Julio Casares, do Tricolor. No Maracanã, a postura da Suderj é diferente. Embora a entidade exija que o gramado seja mantido em boas condições, nem sempre o futebol vem em primeiro lugar. “Não considero razoável deixar de receber grandes atrações internacionais, como o The Police, por causa do futebol”, afirma o presidente Eduardo Paes. Apesar dos transtornos, parece haver um consenso entre os dirigentes de que os benefícios dos aluguéis superam em muito os inconvenientes. A tendência de ver shows, missas e grandes eventos corporativos em estádios veio para ficar. Para o torcedor, não deixa de ser um bom negócio: além de assistir a um espetáculo na casa de seu clube, ainda vê seu time ganhar dinheiro com isso.

NOTAS Marketing a todo vapor Nos últimos meses, o Corinthians tem lançado diversos produtos para estreitar os laços com seu torcedor. Depois da camisa “Eu nunca vou te abandonar”, do uniforme roxo e diversos produtos licenciados, o clube lançou uma espécie de “cartão fidelidade”. Quem o adquirir terá direito a um conjunto de benefícios, incluindo compra antecipada de ingressos com 20% de desconto, preços reduzidos na loja oficial do clube e conta de e-mail especial. O plano básico, “Corinthians minha vida”, custa R$ 180 por ano e vale para ingressos nas arquibancadas. O plano “Corinthians minha história” tem valor de R$ 480, vale para a arquibancada especial e dá direito a uma camisa oficial do clube. Já o “Corinthians meu amor” custa R$ 900, dá direito a desconto na numerada e garante um kit de produtos e acesso gratuito à Timão TV, além de todos os benefícios dos outros planos.

Roupa nova e valiosa A seleção da França passou a ter o mais caro contrato com um fornecedor de material esportivo. A partir de 2011, os Bleus terão seu uniforme fornecido pela Nike. A empresa norte-americana substituirá a Adidas, ligada aos Bleus desde 1972. De acordo com o acerto, válido por sete temporadas e meia, a Nike pagará € 42,7 milhões por ano à federação. No atual contrato com a Adidas, assinado em 2004, a FFF recebe € 10 milhões por ano. “A escolha da futura fornecedora dos Bleus não fará a federação esquecer da aventura dividida com a Adidas e da parceria estreita e frutífera nutrida ao longo dos anos”, afirmou a entidade, por meio de um comunicado oficial. O novo contrato da França supera o acordo da Inglaterra com a Umbro, que vale € 30 milhões anuais. A Nike tem contratos de € 16 milhões e € 10 milhões anuais com Itália e Brasil, respectivamente.

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© Mauricio de Souza Produções

CULTURA por Carlos Eduardo Freitas

Craque na

gaveta Conheça a história de Dieguito, personagem inspirado em Maradona e criado por Mauricio de Souza, mas que nunca chegou às bancas m 2006, Mauricio de Sousa lançou no Brasil a revista “Ronaldinho Gaúcho”, versão para os quadrinhos do craque do Barcelona e da Seleção Brasileira. O projeto, inspirado no gibi de Pelezinho, sucesso entre 1977 e 1986, é hoje publicado em mais de 20 países e deve chegar a outros em 2008. Há 26 anos, o criador da Turma da Mônica esteve muito perto de lançar mais um personagem inspirado em um grande jogador: Dieguito, a versão de Maradona para os quadrinhos. A idéia e a iniciativa foram do próprio camisa 10 argentino, que começava a ganhar em seu país o status de craque. Em 1982, poucos dias antes de a seleção argentina embarcar para a disputa da Copa do Mundo da Espanha, Jorge Fisben, que depois

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viria a ser representante da Mauricio de Sousa Produções na Argentina, ficou sabendo do desejo do jogador do Boca Juniors e conseguiu marcar um encontro entre o atleta e o criador da Turma da Mônica. “Isso aconteceu em pleno regime militar argentino. Cheguei a Buenos Aires e fomos direto para a concentração, que estava cercada de soldados”, recorda-se Mauricio, sobre

a primeira vez que conversou com Maradona. Depois do treino, os dois iniciaram um bate-papo que durou horas, no qual o jogador chegou até mesmo a fazer um desenho daquilo que imaginava ser o personagem inspirado nele. “Infelizmente, não sei onde foi parar”, lamenta Mauricio. Maradona contou passagens de sua infância e até a escolheu o nome de seu personagem: “Ele pediu

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que fosse Dieguito, e não Maradoninha”, diz o pai da Mônica, que conta também que a idéia do argentino era claramente inspirada no sucesso de Pelezinho. Daquela reunião, o desenhista saiu com as idéias para a criação da turminha, que seria composta por outros 11 personagens. Havia, ainda, o plano para o lançamento de um desenho animado, cuja trilha sonora, segundo Maurício, “é fantástica” e, apesar dos quase 30 anos desde sua criação, permanece “bastante atual”.

Desencontros Depois da Copa do Mundo, Maradona trocou o Boca Juniors pelo Barcelona. A transferência obrigou Mauricio a fazer algumas mudanças no plano original, já que o jogador não estava mais na Argentina, mercado onde os gibis e o desenho de Dieguito seriam lançados. A idéia inicial era que a revistinha chegasse aos “quioscos” em meados de 1984. Naquele ano, porém, o camisa 10 foi negociado com o Napoli e, mais uma vez, o lançamento de Dieguito foi atrasado. Pela série de adiamentos, Mauricio passou a temer pelo produto que criara. “Comecei a achar que o personagem, que nos custou muito dinheiro, corria risco”, conta. Para complicar ainda mais a situação de Mauricio, começaram a pipocar as histórias do envolvimento do jogador com drogas, que chegaram, inclusive, a levar Maradona para a cadeia. O desenhista nem sequer menciona as palavras “droga” e “cocaína” na entrevista e é polido ao

comentar a situação. “Pela natureza dos problemas de Diego, resolvemos congelar o projeto. Coloquei tudo dentro de uma gaveta e nunca mais abri”. Alguns anos depois, Dieguito foi abandonado em definitivo: “Entreguei tudo para a mulher dele”. Mauricio lamenta que o personagem não tenha sido lançado oficialmente. Não pelo dinheiro e pelo tempo que investiu num personagem que nunca saiu de sua produtora – “Isso faz parte do risco que qualquer negócio tem” –, mas, nas palavras do criador da Turma da Mônica, pela relação que o personagem poderia ter com o público infantil. “Dieguito poderia, quem sabe, ter dado um rumo diferente à vida de Maradona”, diz. Desde que o projeto foi abandonado, os dois nunca voltaram a se encontrar. Até hoje, séries inteiras de tirinhas desenhadas para ser publicadas em jornais, revistinhas e desenhos animados estão no arquivo da Mauricio de Sousa Produções e com a família de Maradona. Em 2005, quando Diego recebeu Pelé no programa “La Noche del Diez”, num canal de TV argentino, Pelezinho e Dieguito bateram bola, na única vez que o personagem inspirado no argentino apareceu em animação. Ficou a promessa de que voltaria, para campanhas de responsabilidade social. Por enquanto, porém, isso está no campo do “talvez”. Para os fãs de quadrinhos e do astro argentino, fica o sonho de, algum dia, esse material se tornar público. Se isso não acontecer, as inéditas tirinhas publicadas nestas duas páginas se tornarão material de colecionador.

LANÇAMENTOS Mini Allianz Arena no Brasil Na onda das turnês de símbolos do futebol europeu pelo Brasil, iniciada com a taça da Liga dos Campeões, chega ao país uma réplica da Allianz Arena. A miniatura do estádio começa a ser exibida em 29 de fevereiro, no shopping Market Place, em São Paulo, e passará, mês a mês, por outros shoppings da rede Iguatemi pelo Brasil. Depois da capital paulista, o estádio vai para Campinas, Florianópolis e Porto Alegre. Dentro da miniatura, é possível ver vídeos de como foi o processo de construção da arena, tida como uma das mais modernas do mundo, além de conhecer um pouco mais sobre a casa do Bayern de Munique e do 1860 Munique. Quando: a partir de 29/fevereiro, em São Paulo (depois em Campinas, Florianópolis e Porto Alegre) Preço: entrada gratuita

TV para Corinthians e Flamengo Os dois clubes de maior torcida do Brasil lançaram canais de televisão na Internet. O Flamengo colocou no ar a Fla TV, enquanto o Corinthians criou a Timão TV. O “timing” dos lançamentos não é coincidência. “Esta é a primeira de várias ações conjuntas dos dois clubes”, anunciou Luiz Paulo Rosenberg, vice-presidente de marketing do time paulista. Os dois sites, que são parecidos, foram desenvolvidos pela DB4, produtora de Diogo Boni, irmão de Boninho, diretor do “Big Brother Brasil”. O canal do Corinthians terá mensalidade de R$ 10. Já a Fla TV custará R$ 12 por mês. Os dois canais exibirão treinos das equipes, bastidores, coletivas, mesas redondas e entrevistas exclusivas. No entanto, não está prevista a transmissão de jogos ao vivo. Fla TV www.flatv.com.br Preço: R$ 12 por mês Timão TV www.timaotv.com.br Preço: R$ 10 por mês

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Fabio Rodrigues Pozzebom/ABr

eu fiscalizo a

Copa 2014

Adversários políticos, Eurico Miranda e Juvenal Juvêncio estiveram juntos para adular o governo

por Ubiratan Leal Clubes e CBF oferecem ao governo a possibilidade de capitalizar politicamente com uma Copa do Mundo no Brasil. O governo pode dar uma mão para os clubes saldarem suas dívidas com a Receita sem fazerem muita força. Uma simbiose tão evidente quanto eticamente contestável que se consolidou em 18 de fevereiro, no lançamento oficial da Timemania. A cerimônia que marcou o início das operações da loteria criada para ajudar os clubes foi uma grande oportunidade para selar as alianças, e também para um lado inflar o ego do outro. Cartolas aproveitaram para melhorar seu trânsito em Brasília, enquanto o Ministério do Esporte ficava com a imagem de indutor da recuperação do futebol brasileiro. Um dos participantes mais enfáticos do miseen-scène foi o presidente do São Paulo, Juvenal Juvêncio, que discursou em nome dos clubes: “Quem não fizer uma reverência ao governo Lula ficará em débito com a história”, afirmou. O Tricolor deve R$ 43,2 milhões à União e é apenas o nono da lista encabeçada pelo Flamengo, com débito de R$ 180 milhões. Além do são-paulino, também estiveram no evento dirigentes como Ricardo Teixeira, presidente da CBF e do Comitê de Organização da Copa 2014; Fábio Koff, presidente do Clube dos 13; Pelé e presidentes de vários clubes brasileiros. O encontro ainda serviu para melhorar as relações entre Pelé e Teixeira, já pensando em uma participação do ex-jogador como garoto-propaganda do Mundial 2014.

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LU PA Cuidando da casa Depois da tragédia na Fonte Nova (sete torcedores morreram quando parte da arquibancada cedeu em um jogo da Série C), a CBF decidiu ser mais rigorosa com os estádios brasileiros. Ao cumprir a lei que exige a apresentação de laudos técnicos, a entidade vetou 14 estádios, dos 66 inicialmente previstos, para a primeira fase da Copa do Brasil. Em 2007, não houve tal cuidado.

Beckham O jogador inglês David Beckham esteve em Natal no final de janeiro para lançar a filial brasileira de sua escola de futebol, que fará parte de um resort. O governo do Rio Grande do Norte aproveitou a oportunidade para tentar fazer que o meia do LA Galaxy se transformasse em embaixador da candidatura da capital potiguar para receber jogos da Copa 2014. Não obteve sucesso.

Copa América em 2011? O Brasil poderia trocar a vez com a Argentina e organizar a Copa América de 2011, deixando para os platinos a edição de 2015. Foi o que afirmou um dirigente do Palmeiras à reportagem de “O Estado de São Paulo”. O torneio continental serviria de preparativo para a Copa de 2014 e contentaria quem ficasse de fora do Mundial, caso do Palmeiras com o Parque Antarctica, cuja remodelação já estaria concluída. A CBF nega.

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CADEIRA CATIVA por Bruno Hofman Netto

Atração nas

arquibancadas uzco é uma cidade pequena, onde é fácil ir a todos os lugares. Assim, para um grupo de brasileiros que estava há 20 dias viajando pela América do Sul, parecia boa idéia assistir a uma partida de futebol entre uma seleção local, formada pelo Garcilaso de Cuzco (time das divisões menores peruanas) e mais alguns “veteranos”, contra o Cienciano. No Estádio Garcilaso de la Vega, não havia nenhum problema para comprar o ingresso: custava míseros 2 soles, mais ou menos R$ 1. Lá dentro, veio a primeira decepção para o grupo de brasileiros. Os peruanos têm o hábito de beber cerveja à temperatura ambiente, ou seja, comprar a bebida dos ambulantes não era nada animador. Na porta do estádio, havia um típico boteco, onde vendiam

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cerveja gelada. E o melhor de tudo: 1 litro da bebida custava só R$ 2. Bastou isso para os brasileiros ficarem amigos de todos no bar e saírem de lá com a escalação completa das equipes. E com a “certeza” de que o Cienciano é o melhor time da América do Sul e do mundo, discurso exclamado por todos os torcedores do boteco em alto e bom som. Não era uma noite fria, mas os torcedores presentes ao estádio pareciam mais um grupo de telespectadores no sofá de casa do que uma torcida propriamente dita. A exceção era a “Fúria Roja”, torcida organizada do Cienciano. Isso criava uma situação estranha, já que os brasileiros torciam mais que os próprios fãs peruanos em geral. Ao final, os gandulas e o goleiro do

Fotos Arquivo Pessoal

No amistoso entre Cienciano e uma seleção local de Cuzco, o destaque do jogo foi um grupo de torcedores brasileiros

Cienciano (que prestou mais atenção na torcida do que no jogo) quiseram trocar camisas com os brasileiros, que usavam uniformes do Corinthians e da Seleção. Os fotógrafos também se divertiram com os estrangeiros, que talvez tenham sido alvo de mais fotos do que a própria partida, que terminou 4 a 0 para o Cienciano, em ritmo de treino. O saldo do jogo, para os visitantes brasileiros, foi uma camisa do Cienciano – trocada com um torcedor peruano por uma pirata do Brasil na entrada do estádio – e uma experiência de vida bem diferente. Para fechar a noitada, uma visita à lanchonete Bembo`s – segundo os locais, a melhor da América do Sul e do mundo. Como o Cienciano, é claro.

CIENCIANO 4 SELEÇÃO DE CUZCO 0 Competição: Amistoso Data: 20/janeiro/2008 Local: Estadio Garcilaso de la Vega (Cuzco)

Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

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A Várzea

Buáááá, buááááá!!! A economia brasileira deu um salto em fevereiro. Após meses de estagnação, o país finalmente alcançou níveis estratosféricos de crescimento, de dar inveja a qualquer chinês, indiano ou ao pessoal dos Emirados Árabes. Lula nem consegue esconder tanta alegria com a geração de milhares de empregos, o aumento da renda do trabalhador e o conseqüente aquecimento do mercado, companheiro. E ele nem precisou recorrer ao PAC, BID ou a seu estimado cofre-porquinho (até porque seria um paradoxo para um corintiano) para obrar tamanho milagre. O presidente e a nação devem agradecer ao Botafogo, que estimulou de forma incrível a fabricação de lencinhos de papel para secar suas lágrimas depois de perder o prestimoso título da Taça Guanabara para o Flamengo. Bebeto de Freitas foi o primeiro a requisitar uma encomenda extra para General Severiano, ao dizer que deixaria o cargo. Pouco depois, ele voltou atrás e decidiu apenas tirar uma licença, mas não esqueceu de usar mais algumas caixinhas. Depois, vieram os jogadores botafoguenses, criadores de um tsunami por causa da atuação do juiz. Na verdade, eles se lamentavam mesmo por conseguirem a façanha de levar um gol de Diego Tardelli nos acréscimos. Seria mesmo muito duro conviver com tamanha humilhação. Cuca também fez sua parte ao choramingar contra o homem de preto, que deve estar com as orelhas vermelhas [opa! Taí a prova de que ele estava mal-intencionado – o editor]. Com a descoberta desse grande nicho de mercado, novas ações para o estímulo ao crescimento foram tomadas. Souza fez sua parte e, ao comemorar o gol contra o Cienciano na Libertadores, tornou-se o garoto-propaganda da campanha do “Chora, chora”.

A charge do mês No Paulixão, os técnicos dos clubes grandes também aderiram e reclamam sem pudor dos juízes, adversários, do El Niño e da influência das drosófilas no ecossistema das Ilhas Cook. A indústria do chororô agora procura diversificar seus produtos, com linhas exclusivas de lenços desenhadas por estilistas famosos, colírios para todas as ocasiões e babadores personalizados. Felizmente, há coisas que só acontecem com o Botafogo.

A lorota do mês Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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“Nem o Santos de Pelé fez campanha tão boa” Claiton, o Mengálvio do Atlético-PR, só esqueceu de mencionar que o histórico esquadrão do Peixe nunca teve a chance de jogar contra babas como Cianorte e Engenheiro Beltrão em 12 partidas seguidas.

A manchete do mês “Ronaldo dribla o ócio votando no paredão do BBB” (Globo Esporte.com)

Em alta Cruzeiro e Flamengo Os dois serão obrigados a enfrentar Real Potosi e Cienciano lá no alto do morro pela Libertadores. Quer mais alto do que isso?

Chelsea O todo-poderoso clube de Roman Abramovich perdeu o título da Copa da Liga Inglesa (!) para o Tottenham (!!), com um gol de Woodgate (!!!) na prorrogação

Em baixa

Difícil saber o que é pior: a completa inutilidade da matéria ou o uso da contusão de um craque para fazer propaganda de um programa de TV.

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