nº 26 | abr/08 | R$ 8,90
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FRANÇA Nova geração pode manter Bleus no topo
MARKETING
E MAIS...
Clubes descobrem como fazer a sua paixão virar dinheiro
...Como Adílson montou o Cruzeiro ...A crise dos grandes na Argentina ...Atlético-PR: faltam resultados em campo
nº 26 | abr/08 | R$ 8,90
...Cassano: a Itália tem seu Edmundo
Zico No banco, Galinho conquista a Europa capa final.indd 1
A
morte do camisa 10 Futebol moderno tira espaço do meia armador tradicional e abala a mística do número de Pelé
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ÍNDICE ATLÉTICO-PR
Infra-estrutura moderna, mas resultados estão demorando a aparecer
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CAMISA 10
O meia clássico está sumindo, conseqüência da modernização do futebol
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FRANÇA
Conheça a molecada que tentará manter os Bleus na elite mundial
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NEGÓCIOS
Clubes investem em gente do mercado para aumentar faturamento em marketing
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ZICO
Galinho abraçou carreira de técnico por acaso, mas agora não quer largar
Fatih Saribas /Reuters
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eu fiscalizo a
Copa 2014
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JOGO DO MÊS
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CURTAS
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Edição Caio Maia Editores assistentes Tomaz R. Alves Ubiratan Leal Reportagem Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Dassler Marques Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Consultoria editorial Martinez Bariani Mauro Cezar Pereira Colaboradores Augusto Amaral Gustavo Hofman João Tiago Picoli José Carlos Pedrosa Márcio Leonardo Rodrigues Matthew Smith Mauro Beting
PENEIRA
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OPINIÃO
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TÁTICA Cruzeiro
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AUXILIARES TÉCNICOS
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ENTREVISTA Tite
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ARGENTINA Grandes em crise
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CAPITAIS Praga
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Design / Tratamento de imagem Bia Gomes
ITÁLIA Cassano
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Foto da capa Jorge R. Jorge Detalhe Wael Hmedan/Reuters
EUROCOPA Alemães da Turquia
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Agradecimento Luciano André Koslowski
HISTÓRIA Kosovo
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CULTURA Jogos em pubs
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CADEIRA CATIVA
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A VÁRZEA
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Pelé é o novo embaixador do comitê de organização, mas admite que nem sabe com quem vai trabalhar
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EDITORIAL Ícones desperdiçados O Flamengo tem mais de 100 anos. Já tinha a maior torcida do Brasil antes da grande fase dos anos 80, mas não erra muito quem disser que uma boa parte do legado rubro-negro – tanto no que se refere à enorme torcida atual como aos maiores títulos da história do clube – deve muito a Arthur Antunes Coimbra, ou simplesmente Zico, um dos maiores camisas 10 do nosso futebol. O Galinho de Quintino não é só ícone do clube de maior torcida do país, mas do Brasil como um todo, ainda que a história lhe tenha negado a glória de triunfar com a camisa amarela. Zico, porém, mora e trabalha fora do país. É técnico de futebol hoje porque não agüentou ser dirigente – os interesses estabelecidos foram mais fortes do que a vontade de ajudar o esporte que o tornou famoso. Zico, infelizmente, não é o único flamenguista célebre que se mantém afastado do clube. Leonardo, por exemplo, é dirigente de futebol. Na Itália. Não há de ser porque prefere Milão ao Rio de Janeiro. Enquanto isso, nossos homens de cartola passeiam por Genebra na utilíssima tarefa de convencer a Fifa de que não dá pra jogar futebol em Cuzco. Como se alguém não soubesse. Como se fizesse diferença para alguém que tem o poder de decidir.
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Revisão Fernanda Figueiredo Projeto gráfico / Direção de arte Luciano Arnold
Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Comercial Marlene Torres marlene@trivela.com (11) 3528-8611 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3528-8612 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Juliana Camacho juliana@trivela.com (11) 3528-8608 Circulação DPA Cons. Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br (11) 3935-5524 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Prol Gráfica e Editora Tiragem 30.000 exemplares
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JOGO DO MÊS por Gustavo Hofman
Acima
de tudo, a
honra Desfalcada pela deserção, Cuba junta os cacos e, com 10 homens em campo e ninguém no banco de reservas, segura Honduras por quase 70 minutos
“
idel Castro pode ter saído do poder, mas algumas coisas nunca mudam”. “Mais uma conseqüência do roubo de talentos esportivos que Cuba sofre mais do que qualquer outra nação do Terceiro Mundo”. As duas frases referem-se ao mesmo tema, mas sob perspectivas totalmente opostas. A primeira foi retirada da Fox News, principal veículo de comunicação de apoio ao governo de George W. Bush nos Estados Unidos. A segunda foi escrita pelo Granma, jornal oficial do governo cubano. Em 13 de março, a seleção sub-23 de Cuba entrou no estádio Raymond James, em Tampa, Estados Unidos, pela segunda rodada da fase final das eliminatórias olímpicas da Concacaf, para enfrentar Honduras. Perfilados para ouvir o hino cubano, somente dez jogadores. Um dia antes, ainda no rescaldo do inesperado empate em 1 a 1 com a forte seleção norte-americana, sete atletas da delegação cubana desertaram: o goleiro José Manuel Miranda, os defensores Erlys García, Loanni Cartaya, Yenier Bermúdez e Yendry Díaz, e os meias Yordany Alvarez e Eder Roldán. Foram seduzidos por um convite para fazerem testes no Miami, da
Esparadrapo no braço e dez em campo: o importante para os cubanos era jogar
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HONDURAS 2x0 CUBA Data: 13/março/2008 Local: estádio Raymond James (Tampa) Árbitro: Roberto García (México) Gols: Marvin Sánchez (68min) e Thomas (76min)
HONDURAS Hernández; Arzú, Molina, Norales (Daniel Álvarez) e Padilla; Mario Martinez (Ruiz), Marvin Sánchez, Thomas e Óscar Morales; Bernárdez (Luis Alfredo López) e Guity. Técnico: Alexis Mendoza
USL (segunda liga mais importante dos Estados Unidos, abaixo da MLS). Também se aproveitaram da Lei de Ajuste Cubano, que permite a permanência nos EUA de cubanos que pisem em seu território. Sobraram 11 jogadores sob o comando do técnico Raúl González. No entanto, como Roberto Linares, autor do histórico gol contra os estadunidenses, estava suspenso, apenas dez atletas podiam enfrentar os hondurenhos. Como a maioria dos desertores eram defensores, Cuba jogou totalmente improvisada, em um exótico 2-5-2. Mesmo desfalca-
CUBA Arguelles; Pozo, Juan Carlos Martínez e Urgelles; Vasconcelos, Carrazana, Villaurrutia; Coroneaux, Duarte e Rosales. Técnico: Raúl González
dos, bagunçados taticamente e com o moral abalado, suportaram a pressão de Honduras sem apelar, cometendo apenas três faltas em toda a partida. Ainda assim, seguraram o assédio até os 23 minutos do segundo tempo. Cuba acabou perdendo por 2 a 0, resultado que virtualmente a eliminou. Apesar da derrota, a decepção deu lugar à honra, em um esforço tão cativante como qualquer outro que envolve, tragicamente, esporte e política. São aqueles momentos em que o homem coloca seu nome e sua pátria acima de tudo, deixando de lado as dificuldades impostas pela vida.
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CURTAS por Ricardo Espina
“Espero enfrentá-los na próxima LC. E se eu enfrentar, eu quero ir lá e acabar com eles. Tenho o Chelsea no meu coração, mas adoraria eliminá-lo” José Mourinho mostra seu lado vingativo ao falar sobre seus planos para o futuro.
Presença de público nas duas primeiras divisões do futebol alemão na temporada passada. Todos esses torcedores geraram faturamento de € 1,6 bilhão, 15% a mais que em 2005/6.
“Futebol é para macho. Não chutei a cabeça do Castillo. Se não quiser contato, tem que jogar tênis” Só faltou Toró dizer que o videoteipe é burro e que foi o goleiro do Botafogo quem deu uma cabeçada em seu pé.
“Todo mundo pode me quebrar e os árbitros não fazem nada. Se quebrarem o meu braço, ninguém pega gancho” Marcos, revoltado após ser expulso no jogo contra o Bragantino.
Getty Images/AFP
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Behrami, de branco: sem seleção do Kosovo, naturalizou-se suíço
KOSOVO E A DIÁSPORA Com a declaração de independência po- Behrami, meia da Lazio e da Suíça, e Kuqi, lítica (veja também matéria na página 56), o atacante do Ipswich Town e da Finlândia. Kosovo começa a pensar em montar uma O atual técnico da seleção kosovar, seleção de futebol. O problema é trazer de Edmond Rugova, ex-jogador do Pristina nos volta os jogadores que já defendem outras anos 80 e do New York Cosmos, conta com seleções. Na falta de uma seleção de sua ter- esses jogadores para o futuro próximo. Ele ra natal, os jogadores kosovares têm duas vê em Lorik Cana, por exemplo, “o capitão escolhas: defender a Sérvia (oficialmente, o do Kosovo”. Ainda não se sabe se uma evenpaís onde nasceram) ou emigrar. Em geral, tual seleção kosovar poderia repatriar esses a preferência é pela segunda opção. atletas. Por enquanto, o Kosovo joga contra Por isso, não são poucos os casos de jo- a “irmã” Albânia ou seleções que também gadores nascidos no Kosovo se naturalizan- carecem de reconhecimento da Fifa. [GH] do. A seleção que mais se beneficia com isso é a Albânia, Partidas da seleção kosovar em casos como Dallku, Cana, Data Jogo Local Hasi, Berisha e Beqaj. No 15/6/2007 Turquia Kosovo 1x0 Arábia Saudita entanto, o talento kosovar também reforçou seleções – 28/11/2006 Kosovo Kosovo 4x1 Albanian All Stars sobretudo em categorias de 22/4/2006 França Kosovo 7x1 Monaco base – sem ligação cultu3/11/2005 Chipre do Norte Kosovo 4x1 Lapônia ral com o Kosovo, casos de 2/11/2005 Chipre do Norte Kosovo 0x1 Chipre do Norte Finlândia, Alemanha, Suécia, Noruega, Dinamarca e Suíça. 6/9/2002 Kosovo Kosovo 0x1 Albânia Os dois exemplos mais no14/2/1993 Albânia Kosovo 1x3 Albânia tórios desse fenômeno são
Confira no site
, em abril
Dia 5 Alemanha, 100 anos
Dia 10 La Liga – 80 anos
Dia 12 Os Camisas 10
O centenário de uma das seleções mais tradicionais do mundo
Saiba mais sobre as oito décadas de um dos campeonatos mais importantes da Europa
Uma complementação online da matéria de capa da Revista Trivela
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Dia 24 O título da Ambrosiana
Dia 30 10 em forma: Holanda
Há 70 anos, a Ambrosiana era campeã italiana. Quem?
Quem são os jogadores em melhor forma na Eredivisie no momento
Abril de 2008
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Emirados Árabes, Japão e Austrália (filiada à Confederação Asiática) são os países candidatos a sediar as edições de 2009 e 2010 do Mundial de Clubes da Fifa. A competição se tornará itinerante a partir do ano que vem, acabando com a condição de sede fixa atualmente concedida ao Japão. Portugal também havia manifestado interesse em receber o Mundial, mas retirou sua candidatura. Os três países candidatos têm até 15 de maio deste ano para apresentar a documentação à Fifa. O comitê executivo decidirá as duas sedes 12 dias depois.
CRISE ESCOCESA Após a meteórica ascensão à primeira divisão escocesa, o Gretna mergulhou em uma grave crise financeira. A situação do clube se tornou ruim em razão de um problema de saúde de Brooks Mileson, seu dono. Sem o dinheiro do empresário, o Gretna acumulou cerca de € 5,2 milhões em dívidas e pediu para sofrer intervenção. David Elliot passou a gerir o clube, mas o regulamento da liga escocesa prevê que o time que entrar em administração perde dez pontos – o Gretna já estava na lanterna e praticamente selou o rebaixamento. Sem ter como pagar seus jogadores e as despesas de viagens, o clube quase fechou. Embora tenha conseguido recursos para chegar ao final do campeonato, o Gretna ainda passou por uma ameaça de greve de seus atletas.
NA
NÃO SAI DA ÁSIA
CAMARADAGEM No volante, Juan Román Riquelme não revela a mesma categoria com a qual encanta os torcedores do Boca Juniors. O meia colecionou algumas infrações graves, como dirigir sem cinto de segurança ou falando ao celular, ultrapassar o farol vermelho, exceder a velocidade... Apesar de tantas infrações, o jogador não desembolsou um centavo para pagar as multas. Segundo reportagem da revista “Ventitrés”, Mauricio Macri, governador de Buenos Aires e ex-presidente do Boca, perdoou todas as barbeiragens do jogador, cometidas desde março de 2007. Se fosse punido, o camisa dez teria que pagar cerca de US$ 1.250.
ANTIDOPING RIGOROSO Pela primeira vez, a Eurocopa terá testes sangüíneos no controle antidoping. Eles serão realizados durante os períodos de treinamento das 16 seleções e depois das partidas da competição. Os exames de urina também serão feitos. As 16 federações assinaram um acordo em Viena. Com os testes sangüíneos, será possível determinar o uso de substâncias como hormônio do crescimento e eritropoietina (EPO). “Faremos exames de surpresa antes e durante a competição. Nos testes pré-torneio, coletaremos amostras de sangue e urina de dez jogadores por time. Depois dos jogos, analisaremos dois atletas de cada equipe”, afirmou Marc Vouillamoz, chefe do Comitê Antidoping da Uefa.
Notimex
PECADO Até mesmo a disputa da Clericus Cup, torneio disputado no Vaticano entre religiosos, não está livre de casos de indisciplina. Silvain Ouongo, sacerdote de Burkina Fasso, revoltou-se contra a decisão do árbitro de marcar uma falta cometida por ele. Irritado, o padre reclamou e, em um gesto de fúria, atirou sua camiseta na direção do apitador. Ouongo recebeu o cartão vermelho, viu sua equipe, o Collegio San Paolo Apostolo, ser eliminada da competição e agora precisará rezar alguns pais-nossos e aves-marias como penitência por sua atitude explosiva.
“Não aceitamos liberá-lo neste momento porque se trata de um craque. O Saci tem o estilo do Júnior, do São Paulo, mas é mais alto, rápido e esperto” Paulo Sérgio Pelegrine, terceiro vice-presidente do Itumbiara, sobre o lateral-esquerdo Wellington Saci, reforço do Corinthians para a Série B.
2%
Multa imposta pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro sobre a receita arrecadada no Brasileiro de 1996 por CBF, Bragantino e Fluminense pela virada de mesa ocorrida no campeonato. Cabe recurso.
“Os próximos dois meses e meio serão meus últimos à frente da Inter” Roberto Mancini, após a eliminação dos nerazzurri da LC pelo Liverpool.
“Tive um bate-papo com Mancini, que me reiterou que deseja continuar na Inter para o ano que vem e por toda a duração do contrato, e que na próxima temporada quer vencer a Liga dos Campeões” Massimo Moratti, presidente da Inter, no dia seguinte, depois de uma conversa com o técnico.
US$ 17,6 mi Valor que a Fifa distribuirá entre os participantes da Copa das Confederações 2009, na África do Sul. O campeão receberá US$ 3,75 milhões.
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Bruno Domingos/Reuters
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Caras mais marrentos (ou quase) que o Cristiano Ronaldo
1 Romário Tinha de encabeçar a lista. Trata-se de um craque indiscutível, mas o Baixinho se acha um gênio do mesmo nível de Leonardo da Vinci ou Michelangelo. Ou melhor, provavelmente se acha mais. “E esse Miguel Ângelo fez mil gols? Jogou onde?”, perguntaria.
CAMPEÃO DE FORA A CBF mudou os critérios para definir os representantes brasileiros na Copa Sul-Americana. A partir de 2009, o campeão nacional não disputará mais a competição continental. Desta forma, somente as equipes classificadas entre o 5º e o 12º lugares (desde que não estejam classificadas para a Libertadores) do Brasileirão participarão do torneio. Em 2008, o São Paulo, campeão nacional do ano anterior, está entre os concorrentes ao título da Sul-Americana.
2 Ibrahimovic O sueco tem um medidor de marra instalado na cara, onde muitos imaginam que fica o seu nariz. O imensíssimo aparelho mostra o quanto ele se acha o rei da cocada preta. É craque, sem dúvida, mas na sua opinião, é um Van Basten melhorado.
3 Craig Bellamy Pouco se fala de Bellamy no Brasil, porque nem sua seleção (País de Gales) nem seu clube (West Ham) são a glória suprema. Mas, quando estava no Newcastle, se achou no direito de entupir a caixa postal do celular de Shearer, mito do clube.
4 Raúl
CIDADE DO AMOR FRATERNO... E DO FUTEBOL Na edição nº 24, a Trivela contou a história dos “Sons of Ben”, torcida organizada que não tinha time, mas ia aos jogos exigir a criação de um em sua cidade, a Filadélfia. Pois os “filhos de Benjamin Franklin” já terão para quem torcer. A MLS anunciou que, em 2010, a cidade da Pensilvânia terá uma franquia. O time ainda não estreou e nem tem nome, mas já sabe que contará com uma torcida fiel.
Só o Real Madrid teria uma legião de nomes para a lista. Como não dá, o atual capitão blanco serve para ilustrar a fauna merengue. Na sua cabeça, ele é o novo Di Stefano. No mundo de verdade, se não jogasse no Real, ia ralar para ser titular no Betis.
5 Felipe Muito promissor quando apareceu no Vasco, o lateral viu seu ego crescer em velocidade bem maior do que seu futebol. Quem o criticava era inimigo. Hoje, está no Qatar. Lá pagam bem e ninguém fala português para sacar a sua marra.
Apelidado pela Casseta e Planeta de “Homem da Máscara de Ferro”, esteve, entre 1998 e 2002, em níveis cristiano-ronáldicos. Na Copa de 2002, se conteve, mas jamais voltou a ter a simpatia da torcida. Mesmo assim, jogava muito.
7 D’Alessandro O torcedor corintiano há de se lembrar bem do 8527º meia que se acha o “novo Maradona”. Depois de sair do River com o maior cartaz, passou por Wolfsburg, Portsmouth, Zaragoza e San Lorenzo. Carreira de vento em popa.
8 Valderrama Um dos jogadores mais lindos da história, o colombiano Valderrama era a máscara encarnada. Seu futebol era inversamente proporcional. O “craque” jogou em potências como Montpellier, Colorado Rapids e Tampa Bay Mutiny.
9 Anelka “Não gosto de jogar com a torcida vaiando. Por mim, eu jogaria com o estádio vazio sempre”. A frase do francês Anelka reflete o modo como ele encara o futebol. Sua cara de ar ‘blasé’ chega a ser irritante.
10 Mido Mido era uma promessa no Ajax, mas sucumbiu sempre à sua empáfia. Nem no Egito agüentam ele. Passou por vários clubes grandes até chegar ao Middlesbrough. Na verdade, o clube combina com ele tanto pelo futebol quanto pelo seu nome.
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Stringer/AFP
6 Roberto Carlos MINUTO DE SILÊNCIO
Pela primeira vez, respeitou-se um minuto de silêncio no estádio San Mamés, em Bilbao, devido a uma vítima do ETA. Seguindo instrução da Liga Espanhola, o Athletic Bilbao promoveu a homenagem a Isaías Carrasco, deputado assassinado pelos separatistas bascos, antes dos 2 a 0 sobre o Valladolid em 9 de março. Parte da torcida vaiou. Até então, o Athletic mantinha como regra fazer um minuto de silêncio apenas em falecimento de pessoas vinculadas ao clube.
ERRAMOS Na matéria “Muro abaixo” (página 44 da edição de fevereiro), está escrito que Toni Kroos nasceu pouco antes de o Muro de Berlim cair. Na verdade, ele nasceu pouco antes da reunificação alemã. Na matéria “Vexame à vista” (página 44 da edição de março), o correto seria afirmar que a Áustria não joga uma competição internacional desde 1998, e não 1990.
Abril de 2008
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José Doval/Grêmio Teresa Maia/Diário de Pernambuco/Futura Press
CRUZ CREDO Nada de Náutico e Sport. Os principais adversários do Santa Cruz no Campeonato Pernambucano de 2008 são Porto, Petrolina, Centro Limoeirense, Vera Cruz e Sete de Setembro. Reflexos de uma das piores crises da história da Cobra Coral. Meses depois de amargar a queda para a Série C nacional, a torcida tricolor vê seu time passar pelo vexame de disputar o hexagonal de rebaixamento no estadual. A crise se arrasta há vários meses. No final de 2006, na esteira do rebaixamento no Brasileirão, Édson Nogueira, ex-delegado e ex-supervisor de Náutico e Sport, foi eleito para a presidência do Santa Cruz. Muitos encararam o resultado da eleição como um sinal de mudança, mas o comportamento centralizador de Nogueira afastou os colaboradores. Dos 23 diretores do início de 2007, apenas quatro permanecem no clube. Com dívida estimada em R$ 30 milhões,
o Tricolor começou a passar o chapéu. Em 2008, a diretoria anunciou acordo com a RT Sport, empresa dos ex-zagueiros Ricardo Rocha e Alexandre Torres. Vieram vários jogadores, mas o desempenho em campo só piorou. “Era uma farsa. O Ricardo Rocha era um diretor remunerado que tinha participação na venda de algum jogador”, conta Fred Arruda, vice-presidente licenciado do clube. Após cair para o grupo do rebaixamento no Pernambucano, a “parceria” foi desfeita. Enquanto aposta em jogadores indicados, o clube perde suas revelações. Como Romarinho, uma das principais promessas do Tricolor. O meia deixou o Arruda por não acertar o salário com a diretoria. O jogador pediu apenas R$ 500, mas Nogueira bateu o pé e ofereceu R$ 400. Romarinho foi tentar a sorte no Vasco. E o Santa Cruz fica cada vez mais abandonado. [UL]
CURIOSIDADES DA BOLA • Depois da derrota por 2 a 1 para o SIAD Most, lanterna do Campeonato Tcheco, a diretoria do Mladá Boleslav resolveu multar o elenco em 35% do salário. A torcida se deu bem: quem viu a derrota no estádio ganhou um ingresso para o jogo contra o Sparta Praga. Mais: nas duas partidas seguintes fora de casa, os torcedores tiveram transporte e ingressos custeados pela multas dos atletas.
• O Sousa enfrentava a Desportiva pelo Campeonato Paraibano. Aos 39 minutos do segundo tempo, quando o Sousa vencia por 4 a 0, o jogo foi interrompido pelo árbitro por um motivo inusitado: a Desportiva havia perdido vários atletas afetados por uma diarréia. O técnico Moacir Fernandes acusou a torcida adversária de “sabotar” a comida de sua equipe.
• A seleção sub-17 da Indonésia estreou com vitória na Liga Uruguaia da categoria. Não, você não leu errado: a equipe asiática foi convidada pela federação uruguaia a participar do torneio e, em seu primeiro jogo, venceu o Rampla Juniors por 1 a 0. Os indonésios ficarão um ano no país para ganhar experiência.
Eduardo Costa:
Nos sentimos culpados por Dassler Marques
Fora do Rio Grande do Sul, você tinha fama de violento quando começou a carreira. No ano passado, você retornou e mudou a opinião de muita gente. Seu futebol está diferente? Essas críticas me prejudicaram na época, especialmente porque as pessoas se basearam nos jogos da Seleção, que vinha mal há muito tempo. O Felipão me conhecia e colheu informações sobre minhas passagens pelas seleções de base. Muita gente também me conhecia, mas preferiu ir na onda dos demais. A verdade é que o Brasil não estava bem e, pela ansiedade, eu cometia erros infantis. Hoje, estou pronto para voltar. Em 2008, o Grêmio perdeu o técnico e vários jogadores importantes, mas embalou rápido. O que fez o Celso Roth para ter resultados tão rápido? Ele é experiente e conseguiu impor algumas idéias novas, mas sabendo dar continuidade ao que vinha fazendo o Vágner Mancini. Como o elenco encarou a demissão do Vágner? Ele é um treinador com quem nos dávamos muito bem. Ficamos tristes porque nos sentimos um pouco culpados. Oscilávamos muito e a direção achou que precisava de mudança. Nós, jogadores, infelizmente, ainda não somos consultados. Acho que deveríamos participar mais. Na Europa, o elenco tem mais influência dentro do clube. Leia a entrevista completa em www.trivela.com/entrevista
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PENEIRA
Inler:
surgimento tardio
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Nome: Gökhan Inler Nascimento: 27/junho/1984, em Olten (Suíça) Altura: 1,82 m Peso: 77 kg Carreira: Basel (2004), Aarau (2005), Zürich (2006) e Udinese (desde 2007)
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Quando sua carreira parecia decair, Inler cresceu. Depois de uma boa temporada, foi contratado pelo Zürich, onde conquistou o bicampeonato nacional logo de cara. Versátil e ambidestro, mostrou capacidade de marcar com eficiência e ainda ajudar na armação. O bom futebol chamou a atenção da Udinese, que, em 2007, pagou € 1 milhão pelo suíço. Na Itália, Inler tomou as rédeas do meio-campo dos zebrados, pois equilibrou a marcação de uma equipe ofensiva por vocação. Desse modo, é forte candidato a defender a Suíça na Eurocopa e a se transferir para um grande da Europa. Ótima perspectiva para quem foi dispensado tantas vezes no início da carreira. [DM]
Getty
em sempre a trajetória nas categorias de base é suficiente para atestar a qualidade (ou a falta dela) de um jogador. Um exemplo é o suíço Gökhan Inler. O volante teve um início de carreira pouco promissor, mas, hoje, é considerado uma das revelações da Serie A e se tornou nome constante na seleção de seu país. Inler teve algumas oportunidades no time sub-21 do Basel, mas não foi efetivado na equipe principal. Aproveitando que o Fenerbahçe realizava pré-temporada na Alemanha, o filho de turcos fez um teste. Foi aprovado, mas, ao chegar a Istambul, o técnico Christoph Daum pediu sua dispensa. Não o achou bom o suficiente. O volante ainda tentou a sorte no Schaffhausen, da Alemanha, antes de conseguir um lugar no Aarau, da Suíça.
Di Santo:
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trabalho de pivô ou usar a velocidade para abrir a jogada pelas pontas, permitindo que algum companheiro chegue pelo meio para finalizar. Por isso, sua parceria com Carlos Villanueva foi tão prolífica para o Audax em 2007. Esse bom desempenho chamou a atenção no cenário internacional. No final de 2007, o Chelsea pagou € 4 milhões para ter seu futebol. Por enquanto, o atacante faz parte do time B dos Blues. Ainda assim, é um crescimento considerável para um jogador de 19 anos que começou em um pequeno clube de Mendoza e atravessou os Andes para se profissionalizar por uma equipe não muito maior do Chile. [UL]
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m São Paulo em baixa não passou de um suado empate em 2 a 2 com o surpreendente Audax Italiano em partida decisiva da Libertadores 2007. O jogo serviu para mostrar ao público brasileiro o futebol de Franco di Santo, autor de um gol e responsável pela jogada do outro do time chileno. Di Santo é um atacante de presença marcante em campo. Notadamente alto e magro (até recebeu o apelido de “Señor Lápiz”), parece um típico centroavante atrapalhado que fica plantado na área adversária para marcar gols nas bolas que pintarem na sua frente. Mas não é bem esse o estilo do argentino. O atacante gosta de se movimentar bastante, com velocidade e técnica mais apurada do que seu biótipo pode sugerir. Assim aproveita o porte físico para fazer o
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nada de estereótipo
Nome: Franco Matías di Santo Nascimento: 7/abril/1989, em Mendoza (Argentina) Altura: 1,94 m Peso: 78 kg Carreira: Godoy Cruz (2004 e 2005), Audax Italiano (2006 e 2007) e Chelsea (desde 2008)
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PONTO DE BOLA por Mauro Beting
Exemplos exportados QUANDO OS CLUBES do Brasil negociam talentos precoces ou craques semiprontos, quem perde não são apenas os torcedores depauperados e os treinadores dependentes. São os aspirantes a uma vida melhor e a jogos melhores. Chuteiras carentes que perdem o rumo, o espelho e o norte. No máximo, vão aprender alguma coisa nos clipes do Youtube. Explica Cláudio Adão, único artilheiro por três clubes diferentes no Rio, centroavante jamais convocado para a Seleção Brasileira principal (mesmo tendo a melhor média de gols pela seleção pré-olímpica – coisas de um futebol em que os talentos por aqui jogavam, e a Seleção atuava bem menos): - Quando comecei a atuar como profissional, em 1972, no Santos, treinava e jogava com Pelé. Quando amadureci como atacante, em 1977, treinava e jogava com Zico, no Flamengo. Com exemplos de craques e homens como eles, eu só poderia aprender e me aperfeiçoar. Adão era meia-atacante e virou centroavante para poder fazer dupla com Pelé. Aprendeu a sair da área e cair pela esquerda com Zico. Aprendeu a se comportar como profissional dentro e fora de campo com os dois. Para não ir longe, exemplo recente italiano, já contado no nosso site: Paloschi,
esperança milanista de 18 anos, inspira-se em Inzaghi. Sim, você pode e deve discutir o exemplo adotado pelo promissor atacante do Milan. Mas, inegavelmente, além de gols, Pippo sabe fazer amigos. E Paloschi tem tentado aprender. De amarrar a chuteira a se colocar na tênue linha de impedimento, o bambino quer sugar a capacidade de gols de um dos grossos mais talentosos do futebol europeu. Para sorte de Paloschi, não haverá um Milan para roubar o Inzaghi do clube – como o Milan fez migrar Pato ainda infante, do Inter. Se quiser, se puder, Paloschi pode aprender, crescer e amadurecer em rosso e nero como o mito Maldini. Há dinheiro que
garanta o sustento e a vida dele em Milão. No Brasil, sem referências técnicas, de caráter e de história, os jovens se perdem. Ou não ganham o que poderiam aprender em canchas brasileiras. Para piorar, alguns começam a se perder ao nem olhar para os mais velhos. Mal saíram das fraldas e viram “pernas”, na expressão boleira do jogador que se acha. Logo, mais propícios a se perder. Mesmo se tivessem exemplos para observar, admirar e aprender, muitos jovens parecem não querer nada com nada. Só o tutu com tudo que podem ganhar na Europa. Parecem só querer ganhar tudo no menor tempo possível.
AMARCORD Aprender e jogar com um mito. Quem não gostaria de receber um passe de Pelé ou jogar num time com o maior do século? Mas vá fazer tabelinha com Ele! Vá acompanhar a genialidade, a rapidez do raciocínio, a agilidade... Coutinho, o maior parceiro Dele, pode dizer de cátedra. A dupla Pelé-Coutinho (sinônimo de parceria profissional) atuou por 12 anos, na Vila Belmiro. Juntos, de 1958 a 1970, eles fizeram 1.461 (!!!) gols pelo Santos. Só o centroavante marcou 370 em 457 partidas santistas. As incontáveis assis-
tências nem entram nas contas astronômicas. Pelé fez Coutinho e talvez fizesse o nome até de Borriello. Mas se algo desse errado, Coutinho explica o outro lado da moeda dourada: - Fácil era jogar contra o Pelé. Não tinha muito o que fazer para tentar parar as jogadas que ele fazia. Duro mesmo era jogar junto com ele. Se o Pelé errasse um passe, a torcida achava que a culpa era do companheiro, que não entendera a jogada dele.
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MARACANAZO por Mauro Cezar Pereira
Barajas e baratas ASTROS INTERNACIONAIS, os principais nomes do futebol vivem, cada vez mais, encastelados em suas mansões européias. E, entre os brasileiros, impera a postura cordata e omissa. Apolíticos por natureza, não tomam posição, parecem preocupados apenas com eles mesmos ou com pessoas próximas, sejam parentes, “aspones”, líderes religiosos... Se há manifestações na Estrada do M’Boi Mirim por um transporte coletivo minimamente decente na periferia de São Paulo ou brasileiros são barrados em Madri, eles nada falam. Ninguém toma posição, apesar da força que a simples declaração de um ídolo tem. Os episódios de intolerância espanhola com brasileiros no aeroporto de Barajas foram o mais recente exemplo dessa postura convenientemente resignada dos “craques” brasucas que orbitam a “Liga das Estrelas”. Se o imbróglio era manchete dos jornais tupiniquins, a mídia da Espanha praticamente ignorava a humilhação à qual eram submetidos cidadãos brasileiros. Uma declaração de repúdio que partisse da boca de um craque verde-amarelo bastaria. Chamaria a atenção dos espanhóis para o que ocorria na principal porta de entrada do país. Contudo, as raras reações de atletas exportados daqui para lá foram de preocupação... com os próprios parentes. Para ultrapassar a barreira montada na migração, a noiva de Robinho teria mostrado uma foto dela com o atacante do Real Madrid. O próprio jogador contou que, com tal “prova”, ela fez que os agentes autorizassem sua entrada na capital espanhola. Já um primo de Edu, do Real Betis, chegou a ser detido no aeroporto. Luís Fabiano, por sua vez, disse se preocupar com a crise entre Brasil e Espanha. Afinal, a rotina de turistas barrados poderia afetar algum parente do artilheiro do Sevilla. É evidente que os astros da pelota não têm a obrigação de se manifestar em situações assim. Mas causa espécie constatar que, mesmo sendo tantos, não se ouviu uma só voz indignada, eloqüente, de repúdio à política segregadora dos espanhóis às vésperas de suas eleições parlamentares. Sob o pretexto de que latino-americanos ilegais inundam o país, pessoas que lá chegaram em situação absolutamente regular foram humilhadas e transformadas em “material de campanha” na luta pelos votos. Nem quem só estava de passagem pela Espanha, pois tinha outro país como destino final, escapava do rebaixamento moral. E ainda assim os astros da bola não se manifestaram. Bastaria que um ou dois deles aproveitassem o contato com a mídia, nas entrevistas coletivas de rotina ou na comemoração de um gol, para demonstrar revolta. Indignação com o tratamento que levou pessoas comuns a verdadeiros ultrajes públicos, autênticos vexames. Nem mesmo a detenção do parente de um desses jogadores “tipo exportação” os revoltou. Há quem diga que o brasileiro é um povo bovino, passivo, que tudo acata. Em momentos assim, nos quais até ricos e famosos agem como baratas, não é fácil reunir argumentos consistentes o bastante para rebater tal tese.
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HAT TRICK Quando a crise Brasil-Espanha começou a ser contornada, Luís Fabiano já era líder destacado da tabela de goleadores da Liga, com média superior a um gol por jogo. Durante o imbróglio, o goleiro Diego, ex-AtléticoMG, superou a invencibilidade de Iker Casillas, do Real Madrid. Foram 678 minutos sem sofrer gol na meta do Almería. No dia em que Patrícia Camargo Magalhães, de 23 anos, foi barrada em Barajas, Robinho, Júlio Baptista e Marcelo saborearam os 7 a 0 do Real Madrid sobre o Valladolid. Ela seguia para um congresso de física em Lisboa. E não tinha foto com nenhum deles para mostrar.
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ENCHENDO O PÉ por Ubiratan Leal
Causa pessoal, não questão de saúde “FAZEMOS UM TRABALHO para simular a experiência de ficar na altitude. Nas primeiras vezes, fiquei tonto e com pressão forte no olho e na cabeça.” O meia Renato Augusto deu essa declaração à Trivela no início de 2007, quando perguntado sobre os preparativos do Flamengo para subir os Andes e enfrentar o Real Potosí e os 3.967 m de altitude pela Libertadores. O jogador foi à Bolívia, entrou em campo normalmente e proporcionou uma das cenas mais impressionantes do ano ao ir à lateral do campo para respirar em um tanque de oxigênio. Considerando o que o próprio Renato Augusto relatara, não é de todo surpreendente. Mesmo um leigo perceberia que o meia tinha uma sensibilidade maior aos efeitos da altitude. Depois disso, o Flamengo iniciou uma cruzada contra os jogos na altitude. O clube até teve avanços notáveis: pressionou a CBF, que pressionou a Fifa, que estabeleceu restrições para jogos acima de 2,5 mil m. No entanto, isso não tem retorno para o RubroNegro, pois a regra só vale para jogos de seleções. O clube tenta estender a norma para os clubes na Justiça internacional antes do jogo contra o Cienciano, programado para depois do fechamento desta coluna.
Se o Flamengo estava tão preocupado com a saúde de seus jogadores, não era o caso de deixar os mais suscetíveis ao “mal de altura”, como Renato Augusto, em casa? Ainda que seja injusto desfalcar-se por questão extracampo, essa medida preservaria alguns dos atletas rubro-negros e serviria de protesto contra os jogos na montanha. Um passo para lutar pelo veto no futuro. O problema é que o Flamengo parece se preocupar com a altitude por influir no resultado em campo (aquele jogo em Potosi terminou em 2 a 2), não com a saúde do elenco. Em janeiro deste ano, o diário “Lance” consultou vários clubes brasileiros a respeito da possibilidade de alguns jogos do Brasileirão 2008 serem disputados às 11h da manhã de domingo, horário de pico do calor. Todos, inclusive o Rubro-Negro, admitiram que é um risco à saúde dos atletas, mas aceitariam se fosse exigência da TV. Se a diretoria flamenguista está tão preocupada com a integridade física de seus atletas, deveria ser coerente e lutar contra os jogos matinais. Afinal, há mais casos registrados de atletas – não contando apenas o futebol – que tiveram problemas sérios de saúde por causa de calor excessivo do que por altitude.
O clube, porém, prefere fechar os olhos para o calor e concentrar as forças na altitude. Algo que nem o Cruzeiro, que irá a Potosi em 2008, tem feito. A insistência com que se fala em altitude na Gávea cheira a populismo – dar satisfação à torcida por uma promessa feita em 2007 – e a antecipação da desculpa por um eventual tropeço nos Andes. A obsessão virou problema: os rubro-negros tratam a altitude com um respeito excessivo, a torcida adversária se torna especialmente hostil (para os andinos, o direito de jogar na altitude é questão de soberania nacional) e os oponentes encaram essas reclamações como demonstração de medo. E não há nada pior na Libertadores do que um time reticente contra um adversário confiante e apoiado por uma torcida hostil. Seria muito mais produtivo se a diretoria flamenguista deixasse o caso de lado. Poderia até articular ou propor soluções nos bastidores, mas sem estardalhaço. Do jeito que tem sido, só atrapalha a preparação do time e permite que se vejam contradições nas atitudes do clube – que parece misturar a defesa da saúde dos atletas com populismo. Obs.: Já estive na altitude e realizei esforço físico razoável para uma pessoa sedentária. Senti de perto seus efeitos e não discuto se a reclamação do Flamengo é justa, apenas o modo como é feita.
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TÁTICA por Dassler Marques
Efeito
Adílson
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do Cruzeiro, Adílson indicou reforços com funções mais defensivas, como Fabrício, Marquinhos Paraná e Henrique, e estabeleceu uma formação mais equilibrada como uma de suas prioridades. “Observando alguns jogos e conhecendo boa parte do grupo, além dos jogadores que a gente trouxe, eu optei por começar com essa formação, com três volantes e o Wagner”, comenta o treinador. No desenho idealizado por Adílson Batista e que apresentou bons resultados no começo da Libertadores, houve aumento de dois para três volantes. Uma diferença fundamental. Fabrício, que havia sido desprezado no Corinthians e já conhecia Adílson da época de Jubilo Iwata, do Japão, atua como primeiro meio-campista, centralizado à frente dos defensores. Em razão de uma cirurgia, o ex-corintiano teve de parar por cerca de 30 dias, cedendo a função temporariamente para Marquinhos Paraná. Pelos lados do campo, Charles, pela direita, cadencia mais o jogo e chuta bem de fora da área. À esquerda, aparece o maior destaque do time em 2008: Ramires. Com liberdade, vai à frente em deslocamentos rápidos e inteligentes, chega à área adversária sem marcação e acaba ficando livre para concluir as jogadas. Em cinco jogos pela Libertadores, incluindo a fase pre-
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Cruzeiro 2008 Com três volantes técnicos, ainda é possível ver combatividade
A
A
Marcelo Moreno
Guilherme
M Wagner
V
V
Ramires
Charles
V Fabrício (Marquinhos Paraná)
LE Jadílson
LD Z
Z
Espinoza
Thiago Heleno
G Fábio
Marquinhos Paraná (Jonathan)
G: goleiro / LD: lateral-direito / LE: lateral-esquerdo / Z: zagueiro / V: volante / M: meia / A: atacante
uando o Cruzeiro contratou o técnico Adílson Batista, estava pensando em sua experiência internacional. Com apenas 40 anos e sem nenhum grandioso trabalho a apresentar, o ex-zagueiro do Grêmio – e do próprio Cruzeiro – tinha no currículo participações na Libertadores e na Supercopa. Um diferencial, para a diretoria celeste, em relação a seu antecessor, Dorival Júnior. O bom início de temporada da Raposa indica que a escolha foi acertada. No entanto, a principal melhoria não foi nas “manhas” para um torneio sul-americano, mas na tática. Em 2007, Dorival Júnior não tinha em mãos uma equipe com consistência na defesa. Com dois meias e dois atacantes ofensivos, o Cruzeiro da temporada passada expunha absurdamente os jogadores da primeira linha da defesa. Ramires e Charles, titulares absolutos, não são grandes cães-de-guarda e, também, recebiam liberdade por parte de Dorival Júnior. Diante desse cenário, não chega a ser surpreendente que a equipe tenha sofrido 58 gols em 38 jogos do Brasileiro de 2007 – pior marca, ao lado do Botafogo, entre os dez primeiros colocados. O que sustentou a boa campanha foi o ataque, o melhor da competição, com 73 gols. Por isso, ao receber o comando
Washington Alves/Reuters
Com o novo treinador, Cruzeiro se tornou seguro na defesa sem perder a ofensividade de 2007
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Volante Ramires (esq.) se transformou em elemento-surpresa no Cruzeiro em 2008
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Cruzeiro 2007 Com a defesa exposta, o time de Dorival Júnior não era 100% seguro
A
A
Roni
Alecsandro
(Guilherme)
(Marcelo Moreno)
M
M
Wagner
Leandro Domingues
V
V
Ramires
Charles
LE
LD
Fernandinho
Jonathan
Z
Z
Thiago Heleno
(Thiago Martinelli)
Emerson
G Fábio
liminar diante do Cerro Porteño, o jogador revelado pelo Joinville foi às redes cinco vezes. Fechando o losango do meiocampo, aparece o canhoto Wagner, responsável pela imaginação ofensiva do time. Rápidos e bons, inclusive na bola aérea, Marcelo Moreno e Guilherme são do tipo de atacantes que constantemente dão opções e incomodam sistematicamente a saída de bola rival. Em razão da técnica abundante no meio-campo, Adílson conseguiu manter a qualidade e a força ofensiva do time, principal marca de 2007. Contudo, a presença de mais um volante, além de um meia a menos, fez que os zagueiros crescessem. Recémchegado, o equatoriano Giovanny Espinoza já arranca elogios, enquanto Thiago Heleno deixou as más impressões para trás e se firmou como um dos líderes da equipe. Segundo o próprio Adílson, a montagem deste Cruzeiro tem inspiração na equipe de 2003, campeão do Campeonato Mineiro, da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro
com Vanderlei Luxemburgo no comando. Teoricamente, os dois esquemas são bastante parecidos, ambos 4-3-1-2. As diferenças, porém, estão no papel dos volantes e laterais. No time de Vanderlei Luxemburgo, Maurinho e Leandro tinham participação mais decisiva na armação de jogadas. Augusto Recife e Wendel eram responsáveis por soltar os laterais e auxiliar Maldonado, que tinha mais obrigações defensivas. A diferença, porém, estava em Alex, responsável mais que direto pelo sucesso absoluto do clube em 2003. Com mais equilíbrio na defesa e muita produção ofensiva, Adílson Batista rapidamente mostrou seu dedo na Toca da Raposa. Ainda que não tenha um Alex em mãos – e quase ninguém tem hoje no Brasil –, as perspectivas para a temporada de 2008 parecem muito positivas. Em pouco tempo, o time absorveu a mudança de treinador e encontrou um equilíbrio. Melhor ainda será se ele tiver o sucesso de Vanderlei Luxemburgo há cinco anos.
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Cruzeiro 2003 O desenho tático privilegiava Maurinho, Leandro e, sobretudo, Alex
A
A Deivid
Aristizabal
(Marcio Nobre)
M Alex
M
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Wendel
Augusto Recife
V Maldonado
LE Leandro
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Edu Dracena
Luisão
Maurinho
G Gomes
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UM NOVO
Cristina Quicler/AFP
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PERFIL RR ZICO
Zico deixa laços com o Japão pra trás, se fi firrma como treinador na Europa e conquista a Turquia com ótimo trabalho no Fenerbahçe por Dassler Marques
ode ainda não soar completamente natural, mas o mundo do futebol vai se acostumando ao Zico treinador. Ver um Galinho gesticulador no banco de reservas, orientando os atletas, não é tão normal quanto vê-lo fazendo gols no Maracanã com a camisa do Flamengo, mas já não causa estranheza. Não apenas pelo tempo em que tem comandado equipes, mas pelos próprios resultados que conquistou nesse início de nova carreira. A torcida do clube turco não tem razões para pensar diferente. O Fener está em voga pela Europa, apresentando um jogo agradável que já chegou às quartas-de-final da Liga dos Campeões. Mesmo em um país tão nacionalista e fechado para estrangeiros, a legião internacional, sobretudo brasileira, é aceita de bom grado. Jamais os Canários – e o próprio Zico, é verdade – voaram tão alto em uma competição européia. Assim, a contestação inicial em torno de seu nome se dilui. Ídolo supremo no Flamengo e no Kashima Antlers, quiçá em todo o Japão, ele vai estendendo seu carisma e sua competência para mais uma praça, em uma diferente e definitiva função: técnico de futebol. “Pretendo continuar treinador”, afirma, enfático, o Galinho. Para qualquer jogador de futebol profissional, do nível que for, engrenar uma segunda carreira com sucesso é um desafio muito grande. Mesmo sendo um craque dentro de campo e articulado fora dele, Zico não foi exceção à regra. Só agora, cerca de 15 anos após pendurar as chuteiras, o carioca criado no bairro de Quintino Bocaiúva tem convicção e reputação suficientes para determinar a solidez de sua carreira como treinador, após cargos políticos e diretivos. “Hoje ele tomou gosto pela coisa e colocou as vestes de treinador. A mentalidade dele agora é diferente, é de quem vive essa profissão. Enquanto ele puder, fica na Europa. Por tudo o que representa, o Zico traz benefícios sendo treinador de uma
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equipe”, avalia Júnior, companheiro do Galinho nos tempos de Flamengo e Seleção Brasileira.
Mudança de rumo A consolidação de Zico como treinador destoa de seus primeiros passos após encerrar a carreira de jogador. Razoavelmente contestador, ele mostrou mais propensão a ser dirigente. Não necessariamente um cartola, mas exercendo uma função gerencial dentro do mundo do futebol. De Secretário Nacional de Esportes a diretor técnico do Kashima, passando por presidente e fundador de clube do CFZ, a prancheta não parecia o destino do Galinho. “Ele nunca mostrou vontade pra isso, ainda que tivesse características claras de comando e visão tática. Aconteceu por acaso, como ele diz. No Japão, vi como ele cresceu e amadureceu”, avalia Júnior, que também foi olheiro dos Samurais na última Copa do Mundo. Então diretor técnico do Kashima Antlers em 1999, Zico assumiu o comando do time no lugar de Zé Mário em caráter emergencial, em razão da situação delicada na tabela da J-League. Surpreendentemente, a figura do ex-meia fez a equipe crescer e terminar a temporada nas primeiras posições. O sucesso não foi esquecido. Masaru Suzuki, ex-presidente do Kashima, assumiu a presidência da Federação Japonesa e não hesitou em convidar Zico mais uma vez. O
64,5% Aproveitamento de pontos de Zico na soma de suas passagens por Japão e Fenerbahçe. Na seleção oriental, foi 59,3%, e, no Fener, era de 68,4% até 23 de março
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Outubro/1994 Sucesso absoluto, Zico entra para a história como o maior jogador do Kashima Antlers e de todo o futebol japonês. Despede-se aos 41 anos, com 54 gols em 88 jogos no clube
Diante de uma seleção mundial, Zico se despede oficialmente do Flamengo, do Maracanã e do futebol brasileiro
Chai Hin Goh/AFP
Fevereiro/1991
Maio/1991
Aceita convite de Fernando Collor e assume a Secretaria Nacional de Esportes (não havia ministério para a área na época)
Zico deixa Brasília e volta de maneira efetiva aos gramados. Vai para o Sumitomo Metals, precursor do Kashima Antlers, para popularizar e desenvolver o futebol no Japão
desafio foi aceito e a carreira como treinador, de fato, começava ali. A reputação com os japoneses aumentaria ainda mais a partir disso. Zico assumiu o lugar do francês Philippe Troussier, que havia levado o Japão às oitavas-de-final na Copa do Mundo que o país co-organizou em 2002. Ainda que os resultados atingidos na Alemanha tenham sido decepcionantes (não passaram da primeira fase), os Samurais venceram a Copa da Ásia e tiveram bons momentos na Copa das Confederações ao vencerem a Grécia, campeã européia, e empatarem com o Brasil. Mesmo sem atingir resultados melhores que os de seu antecessor, Zico trouxe uma forma mais técnica e consciente para o Japão se portar dentro de campo. Resultado de um trabalho psicológico intenso do técnico, que tentou dar mais confiança e capacidade de improvisação para os jogadores nipônicos. Assim, amadureceu a idéia de permanecer como treinador, ampliou seu carisma com os japoneses e gravou, de vez, sua importância no esporte local. A transferência para o Fenerbahçe foi costurada durante a Copa de 2006, mas não desfaria os laços criados em quase uma década no país. “O Zico participou da formação do Kashima ainda no início, quando o clube era amador. O conceito dele é fabuloso e até hoje a torcida leva uma faixa
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Vincenzo Pinto/AFP
Março/1991
Janeiro/1995 Zico cria o Rio de Janeiro Futebol Clube, logo rebatizado Centro de Futebol Zico, formando jovens atletas. Ainda assim, segue vinculado ao Kashima Antlers, como consultor
Stringer/AFP
LINHA DO TEMPO
para ele em todos os jogos. O Antlers ia ser um clube de fábrica, e o Zico o fez virar grande, lhe deu história e tradição”, relata Oswaldo de Oliveira, atual treinador do clube. Algumas pessoas próximas do Galinho, além dele próprio, percebem que seu momento atual é o melhor desde que abandonou a carreira de jogador. O sucesso, especialmente em sua segunda temporada nos Canários, aliás, tem caráter de volta por cima para Zico.
Ídolo na Turquia Ao chegar ao clube logo após a Copa do Mundo, e já em fase de pré-temporada, Zico enfrentou muitas dificuldades e foi severamente contestado. Seu contrato de dois anos, inclusive, dava aos dirigentes a possibilidade de rescisão no caso de não vencer o título nacional. Diante de toda essa pressão, a eliminação precoce na fase preliminar da Liga dos Campeões diante do Dínamo de Kiev não soou muito bem.
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Janeiro/2000
Indignado com a Federação Carioca, que estaria boicotando o CFZ na Segundona, funda a filial do CFZ em Brasília (onde foi campeão em 2002). Assume como técnico interino do Kashima por alguns meses
Zico se incorpora à tentativa de trazer a Copa de 2006 para o Brasil
Junho/1998
Julho/2002
Evoluindo, o CFZ assume oficialmente o caráter de clube de futebol, mas jamais consegue subir para a primeira divisão do Rio de Janeiro. Paralelamente, assume a direção técnica do Kashima
Zico integra a comissão técnica brasileira na Copa do Mundo de 1998. Coordenador técnico, fica marcado por participar da decisão de cortar Romário dias antes da estréia
Phillipe Troussier deixa o comando da seleção japonesa após fazer boa campanha na Copa de 2002. Zico assume os Samurais com o desafio de fazer um trabalho ainda melhor
Eliminação precoce na Copa não apagou idolatria dos japoneses por Zico
Passo a passo e com tranqüilidade, Zico consolidou seu trabalho, deu outra cara ao Fenerbahçe e transformou os jogadores, muitas vezes inseguros, em atletas determinados. Mesmo com uma carreira relativamente curta, ele já tem a transformação psicológica de seus comandados como uma característica central de seu modo de trabalhar. A personalidade da seleção japonesa durante vários momentos com o Galinho no banco é prova disso. “Ele sofreu muito, sobretudo por ter chegado depois e não conhecer o futebol turco e os jogadores. A imprensa sempre pegou no pé dele e o questionou, mesmo quando ganhava e o time jogava de uma maneira bonita. Por incrível que pareça, ele esteve tranqüilo e convicto das coisas que estava fazendo, mantendo o discurso de que seríamos campeões”, disse Alex, principal jogador do Fenerbahçe, em entrevista concedida à edição 14 da Trivela. Outra especialidade, e até mesmo prazer, de Zico está na atenção aos fundamentos, algo que lhe empolga nas entrevistas. Desde que ensinava Nakamura a cobrar faltas e aconselhava o centroavante Nakayama a chutar em gol de cabeça erguida, o Galinho personifica a alcunha de professor, tantas vezes concedida aos técnicos de forma inapropriada. No Fenerbahçe, não deixou pra trás essa característica que, segundo ele, é um
Antonio Scorza/AFP
Julho/1996
diferencial no seu dia-a-dia. Para dar credibilidade a seus ensinamentos, ajuda o fato de Zico ter sido, como jogador, acima da média. Algo que seus comandados reconhecem. “Aonde ele vai, é conhecido por tudo que representa mundialmente pro futebol. Sou até suspeito porque eu o admiro demais”, confessa Edu Dracena, zagueiro titular do Fenerbahçe desde a temporada passada. “No início, era meio confuso, mas já me acostumei. Especificamente pra mim, essa experiência tem sido bastante interessante, porque ele jogou na minha função e aprendo bastante com ele”, completa Alex. Embora pregue um jogo ofensi-
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Títulos oficiais conquistados por Zico como técnico: a Copa da Ásia de 2004 e o Campeonato Turco 2006/7
Reuters
Agosto/1999
Julho/2006 Chega ao fim o trabalho de Zico como treinador do Japão. Com duas derrotas e um empate na Copa do Mundo e o título da Copa da Ásia, é contratado pelo Fenerbahçe.
vo no Fenerbahçe, o treinador sabe distinguir bem as funções dentro de campo e diz sempre buscar um equilíbrio maior de seus times. Taticamente, Zico vem se mostrando desprendido dos desenhos mais usuais dos brasileiros. Assunto tabu para muitos treinadores de futebol, a formação tática com duas linhas definidas com quatro jogadores é uma das mais trabalhadas pelo Galinho. No Fenerbahçe, os brasileiros Wederson (naturalizado turco), Alex e até mesmo o atacante Deivid estão treinados para realizar a difícil função de meia externo, algo que já fora feito pelo japonês Nakamura na Copa de 2006. Ao contrário de muitas equipes que fazem uso dessa formação, o Fenerbahçe não tem se mostrado preso a apenas uma maneira de atuar. O time pode transformar o 4-4-2 padrão em um 4-2-3-1, por exemplo. Para alguns, como o comentarista Paulo Vinícius Coelho, da ESPN Brasil, há semelhanças táticas entre o atual Fener e o Flamengo de 1981. A junção de todos esses fatores explicita os méritos de Zico. Contestado no início, o Galinho venceu desconfianças e harmonizou um ambiente frio imposto pelo alemão Christoph Daum. Não há razões para tentar a sorte em outra função. Por merecimento e competência, Zico deve continuar no banco, como treinador. Melhor para o futebol. Abril de 2008
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ENTREVISTA RR ZICO por Dassler Marques
tingir o melhor momento da história internacional do Fenerbahçe já seria um bom cartão de visitas para descrever o sucesso de Zico como treinador. A forma com que a equipe turca se desenvolve em campo, porém, qualifica ainda mais o trabalho do Galinho. Vibrantes, determinados e técnicos, os Canários de Istambul também vêm colhendo grandes resultados e conseguido muito espaço, inclusive na mídia brasileira. Se muitos treinadores brasileiros vivem anos tentando cavar uma carreira européia razoavelmente estável, ou ao menos buscando uma oportunidade, Zico já pode se dizer diferenciado nesse sentido. Com o moral alto e o contrato próximo de vencer, o Galinho está naturalmente valorizado. E nem mesmo uma seleção que jogue a Copa do Mundo ou a presidência do Flamengo seriam capazes de lhe tirar do Velho Continente no momento. Nas próximas páginas, Zico explica como fez do Fenerbahçe uma equipe determinada e o que trouxe de lição do trabalho à frente do Japão. Fala ainda da fundamental importância de Alex para o clube turco e por que abriu mão de uma carreira mais focada em ser dirigente para virar treinador de futebol.
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TÉCNICO, SIM SENHOR Apesar de desconfiança e críticas iniciais, Zico afirma que pretende seguir na carreira de técnico e que suportar a pressão é obrigação de quem trabalha em um grande clube
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você se afastasse de assuntos que envolvessem política? Em nenhum momento fui bom para lidar com política, mas sim com esporte. Mesmo quando estive em Brasília. Não tinha nenhuma pretensão de me candidatar. Fazia um trabalho pro esporte e quando vi ele sendo cerceado, fui embora. Seu contrato com o Fenerbahçe termina no fim da temporada. Você pensa em ir para um campeonato com mais projeção? Primeiro, eu quero escutar o Fenerbahçe. Eles me deram essa oportunidade e, naturalmente, sou muito grato por isso. Acredito que eles estejam satisfeitos comigo, pois, há um tempo, o presidente disse que ia conversar com os outros dirigentes e conselheiros sobre minha renovação. Quero ver o que eles imaginam para mim antes de tomar qualquer decisão. Na última temporada, especialmente por ser no ano do centenário, houve muita pressão no clube. Foi difícil lidar com isso logo de cara? Quem jogou no Flamengo e na Seleção Brasileira não pode estar preocupado com pressão na Turquia, com todo o respeito. Meu contrato permitia que me demitissem se eu não fosse campeão, mas sou um cara otimista, acredito no meu trabalho e, pelo que conhecia do Fenerbahçe, achei que dava para fazer um contrato de risco. Além disso, a cobrança é normal de qualquer grande clube. Todo mundo ganha bons salários e tem grande estrutura para trabalhar, então tem de saber suportar a pressão também. Seus trabalhos no Japão e no Fenerbahçe demoraram um pouco para atingir resultados e foram contestados. Por quê? É normal dentro de qualquer atividade. Você precisa conhecer bem e ver quando há uma mudança de filosofia. Este ano, eu pude trabalhar e formar o elenco. Na temporada passada, quando os quatro estrangeiros do elenco chegaram, já estávamos na quinta rodada do campeonato. Jogamos a fase eliminatória da Liga dos Campeões com desfalques e com o Anelka querendo ir embora. A preparação também tinha sido iniciada e eu fui conhecendo os jogadores no meio disso tudo. Fui criticado, chamado de estagiário. Agora,
logo após o jogo contra o Sevilla, o jornal principal de Istambul pôs minha foto na capa pedindo desculpas. O que representa essa campanha na Liga dos Campeões? A Liga dos Campeões é uma competição diferente. As cidades e as torcidas param, é uma grande festa por onde nós passamos. Desde a chegada ao aeroporto, passando também pelos hotéis, o clima é outro. E é aí que a gente vê por que os clubes investem tanto e querem participar dessa competição. Conseguir um grande resultado é melhor ainda, porque dá projeção para o clube e os profissionais que nele estão. No Japão, uma das prioridades de seu trabalho foi transmitir confiança aos jogadores. Houve algo semelhante no Fenerbahçe? Houve e, aqui, foi até maior. Em razão da qualidade e da experiência dos jogadores, formavam grandes times. E não chegavam longe. Por isso, havia muito receio sobre a Liga dos Campeões. Achavam que alguns jogadores que atuavam bem na Turquia não iam
No Fenerbahçe, foi importante passar confiança ao time. Um clube como esse tem que ir atrás dos resultados, não pode se contentar com pouco
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Já dá pra dizer que o Zico será técnico de futebol por muitos anos? Meu desejo é continuar, principalmente porque tive bons momentos aqui na Turquia e no Japão. Como os resultados apareceram, claro, a gente se motiva, se atualiza e toma gostinho pela coisa. Pretendo continuar e, de preferência, aqui na Europa. Você não trocaria de idéia nem para ser presidente do Flamengo? Não, não. Curioso que sua trajetória após abandonar os gramados, especialmente no Japão, passava a idéia de que você tentaria ser um dirigente. Era isso mesmo! E por que mudou de idéia? Não é que eu mudei de idéia... Foi uma questão de retribuição pelo que o Kashima e todo o Japão fizeram por mim. Eu não queria de maneira nenhuma seguir como treinador, mas, em um momento difícil, eu assumi. Obtivemos ótimos resultados nesse período e saímos do rebaixamento para o quinto lugar. Entreguei o time ao Toninho Cerezo, continuei como diretor, e, quando o presidente do Kashima Antlers assumiu a federação, me fez um pedido bem especial. Acho que faltavam algumas coisas para o futebol japonês dar uma guinada e eu tinha que estar lá dentro para isso. Aí peguei o gostinho e continuei. Deu certo. Outro exemplo de seu namoro com uma carreira diretiva era o CFZ. Como você ainda participa na vida do clube? Ainda sou o preside presidente do clube, mas meu filho e a empre empresa dele cuidam do futebol. E até que estamos es bem. Quase subimos para disputar dispu o Estadual do Rio desse ano. Se be bem que não adiantaria nada, porque não iríamos jogar em casa, uma coisa que não tem senso nenhum [o regulam regulamento do Estadual do Rio prevê que Flamengo, Vasco, Botafogo e Fluminense n joguem todas as suas partidas no Maracanã, no Engenhão ou em São S Januário]. Este ffoii um campeonato feito pros grandes. Em agosto, começa a segunda divisão, vamos ver se a gente faz um trabalho diferente. Você já reclamou bastante do modo de trabalhar da Ferj. Isso, somado à experiência como secretário de esportes do governo federal, fez que
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bem nas competições européias. Assim, foi importante dar objetivos e mostrar que o time é capaz, tem potencial. Um clube como o Fenerbahçe tem que ir atrás dos resultados, não pode se contentar com pouco. De que modo o tradutor ajuda nesse trabalho de orientação e motivação? Encontrei outro cara especial, chamo ele de meu quarto filho. É um garoto que nem era tradutor, mas é um tremendo torcedor do Fenerbahçe e fala muito bem português. Logo que cheguei, conversava muito, levava ele pra jantar, explicava o que era futebol, meu pensamento sobre modificar coisas. Tem horas que ele precisa ser mais equilibrado no banco, não se exaltar e agir de forma profissional. Quando acabou a Supercopa da Turquia, todos me esperavam para a entrevista e ele estava em campo comemorando com os jogadores. E agora, na Champions League, aconteceu a mesma coisa. Hoje, ele aparece bastante na mídia turca e dá autógrafos como se fosse jogador. Existe o mito de que ex-craque não vira técnico bom. Você sofre algum preconceito com isso? O ruim é que o atleta sempre desconfia, quer saber se eu sou bom mesmo ou fui um jogador comum. Outro cuidado é me policiar para não pedir algo que para mim era simples e para outro pode ser bem difícil. Procuro analisar o limite de cada um e exijo que ele vá até ali. No Japão, houve um caso do Nakayama, um atacante veterano que,
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Nosso tradutor é um cara especial. Ele aparece bastante na mídia e dá autógrafos como se fosse jogador quando chegava na cara do gol, abaixava a cabeça e “dava porrada”. Ele fazia muitos gols, mas perdia muitos também. Um dia, mostrei vídeos e falei para ele dar uma olhadinha antes. No jogo seguinte, já deu resultados. Você treina muito fundamentos? Gosto de trabalhar muito em cima da correção dos fundamentos. Ver se o pé de apoio está na posição certa, se o corpo está equilibrado pra chutar. Se o jogador evoluir individualmente, vai ajudar muito no conjunto. E o atleta que evolui ao corrigir fundamento confia mais no técnico. Quando você era jogador, quem mais o ensinou?
Joubert foi um dos mais importantes, porque foi o primeiro e me dava muito fundamento. Mas tive outros técnicos importantes. O Freitas Solich era muito paizão, o Cláudio Coutinho e o [Paulo César} Carpegiani ensinaram a parte tática, o Telê [Santana] tinha alegria e satisfação no trabalho contagiantes e o [Oswaldo] Brandão era muito profissional. Eles me ajudaram bastante no passado e, hoje, uso disso tudo. Como você gosta de montar seus times taticamente? Procuro adaptar o time com a melhor característica de cada jogador. A gente observa, sabe em que setor cada um pode render melhor e experimenta isso nos treinamentos para o cara não tomar um susto na hora do jogo. Contra o Sevilla, por exemplo, recuei o Alex quase como segundo meia e deixei o Deivid para ajudar na marcação pelo lado direito, porque ele é muito bom fisicamente. Assim, eu poupei os volantes. Meus times se expõem mais e procuro criar uma situação pra isso não acontecer tanto. Como o futebol turco é ofensivo, combina com meu estilo. Qual a importância do Alex? É o jogador brasileiro mais inteligente em atividade. Ele enxerga tudo, simplifica demais e é um cara fácil de trabalhar. Ele faz o mais simples possível com genialidade. Aqui na Turquia, é o único jogador com marcação individual, porque ele faz a diferença mesmo. E como eu sei que ele resolve, sobretudo nas bolas paradas, dou mais liberdade. O técnico só precisa fazer que a bola passe sempre pelo pé dele. Se amanhã você fosse para a Seleção Brasileira, o chamaria? Claro! Se eu não o levasse, estaria me contradizendo. Respeito todo mundo, não estou fazendo lobby, até porque
Arthur Antunes Coimbra (Zico) Nascimento 3/março/1953, no Rio de Janeiro Carreira como jogador Flamengo (1971 a 1983 e 1985 até 1989), Udinese-ITA (1983 a 1985) e Kashima Antlers-JAP (1991 a 1994) Títulos como jogador Mundial Interclubes (1981), Copa Libertadores da América (1981), Campeonato Brasileiro (1980, 1982, 1983 e 1987) e Campeonato Estadual do Rio (1972, 1974, 1978, 1979, 1981 e 1986) Carreira como treinador Kashima Antlers (1999), Japão (2002 a 2006) e Fenerbahçe-TUR (desde 2006) Títulos como treinador Copa da Ásia (2004), Campeonato Turco (2006/7)
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ele não precisa. Hoje, acho que nem ele tem muita motivação para a Seleção, em razão de tudo que já aconteceu antes. Acho que só vão chamá-lo se fizer três gols na final da Liga dos Campeões. Aí vira obrigação [risos]. O Edu Dracena falhou em momentos importantes nesta temporada, inclusive marcando gol contra. Como a comissão técnica tem trabalhado a cabeça dele? A gente tem que dar tranqüilidade, não deixar que um lance comprometa a atuação dele. Até porque o Edu tem feito jogos maravilhosos. Ele até brinca com isso. Diz que a bola bate no pé de todo mundo e vai pra fora, mas, quando bate no dele, entra. Futebol é isso, só acontece com quem joga. Pelo que você tem visto, quais as chances da seleção turca na Euro? Acredito que dependerá do primeiro jogo contra Portugal. A Turquia caiu em uma chave com dois favoritos: suíços e portugueses. É uma seleção que tem bons jogadores no exterior e vai ter um período bom para preparação porque o campeonato turco acaba cedo. O Fatih Terim [técnico da Turquia] precisou mudar muito o time para se classificar, fez uma renovação e deu certo. Mas o resultado depende muito também da forma dos jogadores quando terminar a temporada. Por que o futebol turco melhorou tanto, especialmente nessa década? Pelo investimento e porque o futebol turco é tecnicamente bom. Eles não gostam da parte tática e de treinamento, acabam se perdendo um pouco dentro de campo, mas têm muitos bons jogadores. O povo turco é conhecido por ser bastante nacionalista. Você teve algum problema por aí em relação a isso? Não, eles nos tratam muito bem. Quando perderam para a Grécia nas eliminatórias da Euro, o Marco Aurélio [Mehmet Aurélio, brasileiro naturalizado turco] saiu aclamado pela torcida turca. Eles adoram o futebol brasileiro e somos bem tratados. A imprensa faz suas críticas, mas somos respeitados. Falam muito do Parreira [o técnico trabalhou no Fenerbahçe em 1995/6 e foi campeão turco] por aí? O Parreira foi importante, tanto que era a primeira opção para técnico, antes de mim. O Didi é ainda mais reverenciado, porque foi o primeiro brasileiro a treinar aqui, foi bicampeão e nunca perdeu para o Galatasaray. Abril de 2008
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Daniel Augusto Jr/Gazeta Press
AUXILIARES TÉCNICOS S porr Ol po Olav Olavo avoo So Soares e
Dois Leões: o técnico Emerson e a eterna sombra Fernando
Fiéis escudeiros Eles compõem a equipe de técnicos renomados – onde o treinador vai, lá estão eles também. Mas vale a pena depender de outra pessoa para ter seu emprego?
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ime em má fase, pressão da torcida e críticas da imprensa. A conseqüência é natural: a diretoria demite o técnico para ver se consegue mudar o rumo da equipe. O treinador começa a procurar outro clube, mas ele não é o único desempregado no processo. Junto com ele, parte da comissão técnica também fica sem trabalho. Para esses profissionais, o elo com o mercado passa decisivamente pela figura do treinador.
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No caso, a rotina é arrumar as malas e esperar a próxima oportunidade. Para muitos, pode parecer uma “mamata”. Afinal, o profissional nem precisa correr atrás de emprego. É só seu “chefe” encontrar um clube – o que não é muito difícil na movimentada dança das cadeiras do futebol brasileiro – para trabalhar que seu cargo está garantido. No entanto, também é verdade que esses “escudeiros” ficam dependentes da
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capacidade de inserção no mercado dos treinadores ao qual acompanham e ainda são obrigados a aceitar o clube que contratar seu “patrão”. Esse tipo de relação existe em quase todas as comissões técnicas do Brasil e em várias no exterior. Sinal de que o lado positivo é mais forte que o negativo. Ridênio Borges é um exemplo. Atual preparador físico do Atlético-MG, ele integra a comissão de Geninho por onde quer que o técnico vá. Uma parceria que já dura 21 anos e só foi interrompida em 2001 e 2002. Ridênio define sua relação com Geninho como algo baseado na “confiança mútua”. Essa confiança, diz, é o que o faz acreditar na fidelidade do treinador, e a garantia que não será obrigado a aceitar um emprego a contragosto. “Nós sempre temos muito diálogo sobre tudo. Quando ele recebe uma proposta, conversamos quase de imediato a respeito. Analisamos em conjunto se vale ou não a pena aceitar”, justifica o preparador. Ridênio também destaca que mantém com Geninho uma amizade das mais sólidas, que possibilita uma convivência “praticamente familiar”. Se, para Ridênio, falar em “família” é uma alegoria para citar uma grande parceria, para Fernando Leão, a expressão é utilizada em seu sentido literal. O preparador físico do Santos está sempre junto de Emerson Leão, seu tio. Uma relação mais antiga que a carreira de Fernando em sua atual função. Afinal, antes de trabalhar em comissões técnicas, ele foi goleiro do Santos, não por coincidência, na época em que o tio era o treinador. Fernando pendurou as luvas em 2003 e iniciou seu trabalho como preparador físico. A partir dali, esteve com Leão em todos os clubes por onde o tio passou – inclusive pelo São Paulo, clube que só permite que um membro da comissão técnica seja indicado pelo treinador. O preparador físico não esconde essa dependência do técnico. “Para onde ele for, eu vou”, diz, enfático. “Não costumo nem perguntar qual o salário.” Parte dessa segurança dos “escudeiros” se deve ao fato de os treinadores fazerem questão de ter sempre os mesmos acompanhantes. “Gosto de trabalhar com quem estou habituado. São profissionais com os quais tenho uma relação de sintonia, lealdade e mesmo amizade”, comenta Ney Franco, que le-
ESCUDEIRO, NÃO. APRENDIZ Ainda que sejam minoria, alguns “escudeiros” aproveitam o rompimento momentâneo com o técnico que acompanham para se lançarem na carreira de treinador. No Brasil, os exemplos mais famosos são ligados a Vanderlei Luxemburgo. Em 1997 e 1998, o técnico teve Oswaldo de Oliveira como auxiliar. Quando o treinador deixou o Corinthians para assumir a Seleção Brasileira, seu assistente foi efetivado. Curiosamente, Oswaldo também ajudou a lançar um técnico após perder um emprego: Waldemar Lemos, seu irmão, ganhou sua primeira oportunidade quando o ex-chefe saiu do Flamengo. Um caminho parecido ao de Oswaldo foi seguido por Paulo César Gusmão, assistente de Luxemburgo até 2004, quando o atual técnico do Palmeiras se demitiu do Cruzeiro e abriu espaço para a promoção do amigo. No mesmo ano, Luxemburgo também ajudou a impulsionar a carreira de Alexandre Gallo. Outros casos conhecidos são os de Carlos Alberto Parreira, Cláudio Coutinho e José Mourinho. Parreira e Coutinho eram preparadores físicos do Brasil na Copa de 1970 e acabaram se tornando treinadores principais da Seleção em outros Mundiais. Coutinho em 1978 e Parreira em 1994 e 2006. Mourinho foi intérprete de Bobby Robson em Sporting, Porto e Barcelona entre 1993 e 1997. Quando o inglês deixou o clube catalão, o português seguiu como auxiliar, sob as ordens de Louis van Gaal. O ex-técnico do Chelsea considerou esse tempo na Catalunha fundamental para consolidar sua preparação antes de se tornar treinador.
vou seu auxiliar Moacir Pereira quando acertou com o Atlético-PR. Abel Braga faz coro ao se referir aos assistentes Leomir e Robertinho: “Eu não trabalharia em nenhum lugar que não me desse o direito de levá-los”. Os próprios clubes também aceitam essa realidade. “Se nós confiamos em um profissional para ser o nosso técnico, devemos confiar na equipe por ele indicada”, defende Valdir Barbosa, diretor de futebol do Cruzeiro. Ainda que dirigentes e treinadores assegurem a empregabilidade dos escudeiros, o risco continua sendo grande. Alguns clubes, como São Paulo e Atlético-PR, limitam a quantidade de indicados do técnico na comissão. Além disso, o que acontece com o assistente se o “chefe” encerra sua carreira? Essa é uma possibilidade real para Fernando Leão, já que Emerson afirmou diversas vezes que não continuará como técnico por muito tempo. “Ele pára, mas eu continuo. Estou apenas começando minha carreira”, afirma o preparador físico. Para mostrar segurança, Fernando diz que já estabelece relações com outros clubes e profissionais. Ele até se vê, no futuro, como escudeiro de outro treinador. Um sinal de que esse tipo de relação não deve ser tão ruim. Do ponto de vista profissional e pessoal. Abril de 2008
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ATLÉTICO-PR por Márcio Leonardo Rodrigues
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exagerada Atlético-PR construiu uma infra-estrutura de ponta para os padrões brasileiros, mas dá tanta importância a isso que tem dificuldade em montar equipes competitivas
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Furacão começou o ano com 12 vitórias seguidas no Campeonato Paranaense, superando um recorde histórico de 1949. Ney Franco colhia os frutos do trabalho iniciado no final do ano passado, mas, em pouco tempo, essa equipe não existia mais. No meio do carnaval, o colombiano Ferreira, craque do time, foi emprestado ao Al-Shabab, dos Emirados Árabes, por quatro meses – exatamente o período de disputa da Copa do Brasil, prioridade do clube para a temporada. Algumas semanas depois, o volante Claiton, capitão e líder da equipe, foi seduzido por uma propos-
SUCESSOS ESPORÁDICOS Mesmo com toda a estrutura disponível e a boa arrecadação com venda de jogadores, o Atlético-PR está longe de ter consistência no Campeonato Brasileiro. Neste século, duas boas campanhas (2001 e 2004) e uma série de participações discretas.
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*Em 2005, o Atlético foi vice-campeão na Libertadores
aquela época, se treinasse pela manhã, não tinha treino à tarde porque não dava tempo de secar o uniforme. Hoje, o jogador entra no refeitório, passa um cartão e vê todas as informações sobre o que ele deve comer. No Brasil, o Atlético é um milagre.” Maior artilheiro da história do Atlético-PR, com 154 gols, Barcímio Sicupira Júnior vai a extremos para explicar a diferença entre o clube do seu tempo de jogador, de 1968 a 1976, e o atual, em que a moderna Arena e o estruturado CT do Caju transformaram o Furacão em exceção no futebol brasileiro. Há três décadas, o clube sofria para vencer um campeonato estadual, o máximo que podia alcançar. Hoje, isso já está bem resolvido. Contudo, uma incômoda coincidência aproxima o Atlético de Sicupira do que sonha ser o maior time da América: a dificuldade em se tornar uma potência nacional. Parecia que 2001 marcaria o início desse processo. Graças a um time sólido montado por Mário Sérgio e aperfeiçoado por Geninho, e à seqüência mágica de oito gols de Alex Mineiro em quatro jogos, o Atlético conquistou o Campeonato Brasileiro. Esse time se tornou uma referência daquilo que as equipes formadas na Baixada deveriam ser nos sete anos seguintes, mas não foram: vencedoras. Desde então, ocorreram diversas patinadas, apostas equivocadas, contratações de qualidade duvidosa e fracassos retumbantes dentro de casa, como as inacreditáveis eliminações na Copa do Brasil para Volta Redonda (2006) e Corinthians-AL (neste ano). Histórico capaz de colocar em xeque a eficiência da suntuosa estrutura do Atlético para ganhar títulos, o verdadeiro propósito do clube. A eliminação em casa para o Alvinegro alagoano foi um marco negativo de como o clube conseguiu desmontar uma equipe que pintava como promissora. O
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ta do Consadole Sapporo, do Japão. O time imbatível tornou-se comum. A Copa do Brasil acabou melancolicamente, a perspectiva para o Brasileirão tornou-se mais modesta e o título estadual acabou se transformando na única chance real de título para 2008. “O Claiton ganhava R$ 80 mil no Flamengo e veio ganhando R$ 28 mil. Recebeu uma proposta de US$ 1,3 milhão por dois anos. O Ferreira teve uma proposta de 120 dias para ganhar um apartamento na cidade dele. Não temos condições de sustentar salário”, afirma o presidente do Conselho Deliberativo do clube, Mário Celso Petraglia, na tentativa de explicar por que o Atlético é o único clube da Série A a ter perdido três titulares nos dois primeiros meses do ano – o terceiro foi Jancarlos, que partiu em litígio do clube.
Desmanches A saída precipitada de jogadores não é inédita. Sempre que surge um time promissor, o clube prefere faturar com a venda a fazer um esforço financeiro e manter a base por tempo suficiente para conquistar algo em médio prazo.
Só deu certo uma vez. No início de 2005, o clube se desfez de quase toda a base vice-campeã brasileira no ano anterior. Renovado, o Rubro-Negro quase foi eliminado na primeira fase da Libertadores, mas sobreviveu e se ajeitou até chegar à decisão. Foi um caso de exceção. Em outras temporadas, ficou evidente como o planejamento de longo prazo que o clube tem fora do campo não é repetido dentro dele. A rotatividade de jogadores é elevada até mesmo para o padrão brasileiro. Segundo registros da CBF, o AtléticoPR vendeu 87 atletas para o exterior entre 2002 e 2007. Neste período, o Cruzeiro foi o único dos 40 clubes das Séries A e B que exportou mais, com 89 transações. Na lista de negociações rubro-negra, um perfil eclético. Desde ídolos, como Jádson e Fernandinho, negociados com o Shakhtar Donetsk em 2005, a atletas que jamais vestiram a camisa rubro-negra como profissionais, como o goleiro Andrey, destaque do Brasileiro 2006 pelo Figueirense vendido ao Steaua Bucaresti no ano passado. O reflexo no caixa é evidente. Segundo o balanço patrimonial do clube, em 2005, o Atlético arrecadou R$ 20,9
Nem recorde no estadual compensou vexame rubro-negro de cair em casa diante do Corinthians-AL
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Pelo organograma do Atlético-PR, o cargo máximo deveria ser o de presidente do Conselho Gestor, ocupado pelo advogado João Augusto Fleury. Mas, dentro e fora do clube, ninguém tem dúvida de que o poder está nas mãos de Mário Celso Petraglia, presidente do Conselho Deliberativo. Responsável por liderar o projeto rubro-negro iniciado há 13 anos, Petraglia coleciona polêmicas. Atualmente, ele deixou Coritiba e Paraná de lado para se concentrar em novas rivalidades. “Nossos rivais hoje são os bambis e os bacalhaus”, afirmou no ano passado. A rixa com o Vasco nasceu após divergências em uma reunião do Clube dos 13 e cresceu quando os cruzmaltinos ganharam do Furacão na penúltima rodada do Brasileirão 2004, praticamente tirando o título de Curitiba. A briga com o São Paulo é fruto de uma mágoa mais profunda. Os atleticanos atribuem a uma manobra são-paulina o fato de a Conmebol não ter aceitado que a Arena da Baixada, por ter menos de 40 mil lugares, recebesse a final da Libertadores 2005. No mesmo ano, Petraglia chamou de “assassino” o são-paulino Alex após entrada violenta no meia Fabrício. Dias depois, o dirigente disse se arrependido ao assistir a “Dois Filhos de Francisco”.
Luis Prates/Mafalda Press/Futura Press
PETRAGLIA E OS NOVOS RIVAIS
milhões com transferências de jogadores. Em 2006, a receita subiu para R$ 29,5 milhões e foi base do lucro recorde de R$ 15,6 milhões. Como comparação, há dois anos, o São Paulo teve superávit de apenas R$ 2,5 milhões. A saúde financeira, porém, não foi revertida para dentro de campo. A diretoria preferiu investir em estrutura a reforçar o time. Em 2006, o Atlético gastou R$ 7,1 milhões para concluir a reforma do CT do Caju. Outros R$ 2 milhões foram injetados no estádio e na sede administrativa. Investimentos bancados com o dinheiro do futebol, mais especificamente com a venda de jogadores, principal receita do clube. Outras fontes de renda importantes são os direitos de transmissão do Brasileirão (cerca de R$ 11,5 milhões anuais) e patrocínios. De 2005 a março de 2008, a Arena teve o prenome Kyocera, empresa que adquiriu os “naming rights” do estádio. Recentemente, a diretoria anunciou que uma empresa norte-americana está negociando uma parceria para o centro de treinamento. Em breve, o CT do Caju (apelido de Alfredo Gottardi, ex-goleiro do clube) deve ser rebatizado. Motivo de irritação para os puristas, mas um respiro para o futebol. Até lá, o clube continuará se sujeitando a situações como a do goleiro Guilherme. Com pouco mais de dez jogos como titular, ele foi vendido para o Lokomotiv Moscou no meio do ano passado por € 3 milhões. Metade do valor foi para os cofres Investimento patrimonial atleticanos e teve de ser usada para do Atlético em 2006, livrar parte do terreno da Arena de considerando CT, estádio uma penhora, o que impediria o início das obras do estádio. e sede administrativa A outra metade foi para o PSTC,
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Petraglia, entre projetos internacionais efêmeros (na foto, com Matthäus) e polêmicas interestaduais
clube de Londrina parceiro do Atlético e verdadeiro responsável pelas últimas grandes revelações do Furacão. Kléberson, Jádson, Fernandinho e Dagoberto foram formados lá. Em Curitiba, passaram apenas pelo processo final de lapidação. Ainda falta surgir um craque 100% formado no CT do Caju. O zagueiro Rhodolfo, de 21 anos, pode mudar essa história. Revelado pelo Atlético, tornou-se titular no final de 2007. Ele arrumou uma defesa que, de 2005 a 2007, apostou em Danilo, Paulo André, João Leonardo e Rogério Corrêa, entre outros, sem ser confiável. Hoje, essa zaga é o que restou do time que venceu 12 partidas seguidas no Campeonato Paranaense.
Brigas fora do campo Se já não bastassem os jogadores que saem por vontade da diretoria, o Atlético ainda convive com os que saem via tribunal – resultado da atuação de empresários, negociações mal-feitas e brigas com jogadores. Uma situação que irrita os dirigentes rubro-negros e mancha a imagem de clube-modelo construída na Baixada. O caso mais longo e polêmico envolveu Dagoberto, hoje no São Paulo. Destaque do Brasileiro 2004, o atacante teve sua trajetória interrompida por uma ruptura do ligamento cruzado do joelho direito e lesões musculares sucessivas, que o deixaram 348 dias sem atuar. Foi por esse período que o Atlético requereu na Justiça a prorrogação do contrato do atleta. A Justiça concedeu a extensão do acordo por 250 dias – dando uma sobrevida à multa de R$ 16,2 milhões para transferências nacionais –, azedando de vez a relação entre o atacante e o Atlético. A diretoria chegou a mandar o jogador para o time B, enquanto Dagoberto manifestava publicamente o interesse de se transferir para o
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qüência, o preço dos pacotes rubro-negros foi reduzido em 2008 e o lançamento, precedido de propaganda agressiva. Um problema no sistema suspendeu as novas associações quando o time construía a série invicta. O programa foi reaberto justamente um dia depois do fracasso na Copa do Brasil. Mesmo assim, o quadro já conta com quase 8 mil associados. O clube quer mais. “Precisamos de, no mínimo, 20 mil sócios pagantes, caso contrário, não faremos futebol com essa verba. Nossos cálculos são de R$ 800 mil por mês, o que já podemos investir na folha e aumentar. Nosso orçamento anual é de R$ 40 milhões. Como vamos competir com os R$ 130 milhões do Inter ou os R$ 150 milhões do São Paulo?”, questiona Petraglia, que ano passado chamou a torcida atleticana de “falácia” por causa do baixo interesse pelo programa de associados. Pelo ritmo das adesões, o torcedor parece disposto a dar mais um voto de confiança no audacioso projeto. Mas os protestos constantes pela saída de Claiton e Ferreira demonstram que a tolerância com o erro é cada vez menor. Afinal, fracassar quando não se tem uniforme para treinar em dois períodos é perdoável. Patinar com uma estrutura de primeiro mundo, não.
COPA 2014 É PRIORIDADE Divulgação
São Paulo. A arrastada pendência acabou em março de 2007, quando o contrato de Dagoberto entrou no último ano e ele acertou sua transferência para o Tricolor paulista por R$ 5,4 milhões. No Morumbi, Dagoberto reencontrou Aloísio, outro jogador que deixou a Baixada em meio a uma briga judicial. O Atlético alegava ainda ter vínculo com o atacante quando o São Paulo renovou seu empréstimo com o Rubin Kazan, da Rússia, em 2006. Como prova, o Rubro-Negro apresentou um documento falso, que continha erros grosseiros, como certificar uma transferência internacional entre dois clubes do mesmo país. Foi nos tribunais, também, que o Atlético perdeu Marcos Aurélio, destaque do time no Brasileiro 2006. O Furacão alegava ter a preferência na aquisição do atacante. A cláusula foi ignorada por jogador e Bragantino, seu clube anterior, que o negociou com o Santos. O caso mais recente de desfalque via judicial envolveu o lateral-direito Jancarlos. O jogador abandonou o clube no dia 14 de fevereiro, quando venceu o seu contrato de três anos. O Atlético, contudo, se baseou em uma cláusula do acordo assinado em 2005 para estender o compromisso unilateralmente por mais dois anos. Em primeira instância, a Justiça do Trabalho negou o pedido do Rubro-Negro para que o atleta se reapresentasse. Jancarlos juntou-se a Dagoberto e Aloísio no São Paulo. Em meados de março, o presidente do Conselho Deliberativo do Atlético, Mário Celso Petraglia, acusou os três jogadores, Muricy Ramalho e Marco Aurélio Cunha, técnico e superintendente do São Paulo, respectivamente, de orientar o zagueiro Danilo a “arrumar uma briga e sair do Atlético”. O jogador admitiu ter conversado com Aloísio, mas negou qualquer recomendação para que ele forçasse sua saída da Baixada.
Aposta no marketing Para dizer que a saída de jogadores diminuirá, a diretoria recorre à torcida. O marketing é agressivo, com investimento em novos produtos e até iniciativas de retorno duvidoso, como a trapalhada contratação do técnico Lothar Matthäus em 2006. O alemão deveria projetar o Atlético no mercado internacional, mas ficou apenas um mês e meio na Baixada. Tempo suficiente para conhecer o Carnaval carioca, ir à Hungria para resolver problemas particulares, discutir com o intérprete porque não queria fazer compras em Ciudad del Este e levar um soco de um fotógrafo. Foi embora em meio a suspeitas de envolvimento amoroso com uma jornalista curitibana. Pressionado pela esposa, teve de partir do Brasil às pressas. Deixou um Atlético sem técnico e sem rumo numa temporada que só não foi um fracasso total por causa da ida à semifinal da Copa Sul-Americana. Ultimamente, a cúpula atleticana tem preferido atrelar o sucesso futuro no futebol ao aumento no número de sócios. Mas isso não tem dado tão certo. No ano passado, o Atlético teve apenas 3 mil adesões. Na Segunda Divisão e com uma campanha de marketing bem mais modesta, o Coritiba conseguiu o dobro. Como conse-
Receber jogos da Copa do Mundo é obsessão no Atlético-PR. No início do ano, o presidente do Conselho Deliberativo do clube, Mário Celso Petraglia, integrou uma comitiva do governo estadual que participou de reunião com Ricardo Teixeira, presidente da CBF, no Rio de Janeiro. Saiu de lá otimista, mas mantendo o discurso de que o futuro do estádio depende da indicação de Curitiba e da Baixada. “Temos projeto pronto, com ou sem a Copa. Precisamos da decisão da vinda da Copa. Se não vier, não precisaremos de toda a sofisticação”, afirma o dirigente. A versão sofisticada custará cerca de US$ 30 milhões.
A mais modesta ainda não tem valor conhecido. Para captar investidores, o clube escalou um ídolo recente, cuja venda ajudou a bancar a primeira fase do estádio. O ex-atacante Paulo Rink é, hoje, diretor de relações internacionais do Furacão. Seu trânsito fácil na Alemanha o tornou intermediário de uma negociação com um grupo alemão que comercializará o estádio. Mesmo Rink admite que o futebol teve de esperar por causa do Mundial. “A diretoria concentrou forças na Copa. Depois, vai se concentrar na formação de um time vencedor. Estamos em uma fase de transição.” Abril de 2008
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BONÉ E Nelson Antoine/Futura Press
TCH ra para ser um pós-jogo ameno, apesar da derrota por 3 a 2. Afinal, o Palmeiras vinha de uma recuperação louvável, até surpreendente, naquele Campeonato Brasileiro de 2006 e nem o tropeço para um Santa Cruz praticamente rebaixado justificaria uma crise. Pois ela aconteceu. Tudo desencadeado por um cala-boca em público do então diretor de futebol palmeirense, o folclórico Salvador Hugo Palaia, para o treinador, que se demitiu. Era o fim da passagem de Adenor Bachi, o Tite, pelo futebol paulista, onde ele colecionou mais rusgas com dirigentes do que sucesso dentro de campo. Como na não menos turbulenta estada no outro Parque, o São Jorge, com brigas e discussões com Kia Joorabchian, representante da MSI e então todo-poderoso do futebol corintiano. Mas, aos seus 46 anos, Tite vê até nesses momentos chance de tirar lições positivas e ter boas recordações, como as que diz ter proporcionado a palmeirenses e corintianos. O gaúcho afirma ter sido o mentor da contratação de Valdivia. Diz ter participado da montagem do Corinthians tetracampeão brasileiro. Uma tendência a ver o lado positivo de suas experiências, algo normal no técnico que é capaz de enxergar aprendizado tático ao trabalhar no Al-Ain dos Emirados Árabes, seu último paradeiro profissional. Mas Tite sabe que, quando as coisas não andam bem com quem comanda, é “boné e tchau”.
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Você esteve próximo de ir para o Corinthians no ano passado. Era um “abacaxi”? Um grande clube como o Corinthians nunca é um “abacaxi”. Antes do Carpegiani ser contratado, houve uma sondagem, mas a MSI se mantinha no comando. E meus problemas com a MSI inviabilizaram uma negociação. Depois fizeram um convite, antes de o Nelsinho assumir, mas eu estava com o Al-Ain na pré-temporada e não dava para sair. Se esse convite viesse antes, eu aceitaria. No Corinthians e no Palmeiras sua saída foi traumática. Você se ressente de não ter tido o mesmo sucesso em São Paulo que teve no Sul com o Grêmio?
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ENTREVISTA RR TITE por José Carlos Pedrosa e Augusto Amaral
Tite diz não se arrepender das passagens por Co Corinthians e Palmeiras, mas continua sem ace aceitar o modo como foi tratado por alguns dirig dirigentes dos dois clubes
AU Claro que a busca de título dá, digamos, um carimbo de qualidade. Mas quem é do futebol tem que analisar o trabalho. No Corinthians, eu não me arrependo absolutamente de nada. Foi uma escolha minha permanecer mesmo não sendo pessoa da MSI. Como foi sua participação na montagem daquele time? Foi um planejamento conjunto entre mim, o Paulo Angioni [ex-dirigente da MSI], o Kia [Joorabchian] e a direção do clube. Até havia discordância. O time tinha o Marcelo Mattos e queriam trazer o Mascherano. Os dois são primeiros volantes. Eu sugeri o Lucho González. Indiquei o Gilberto para a lateral esquerda, mas veio o Gustavo
Nery, que era opção. Sobre o Tevez, falei que era o principal jogador sul-americano na época. Indiquei a vinda do Roger e do Carlos Alberto, e também do Marcelinho Paraíba e do Daniel Carvalho. Dava para imaginar que o Corinthians iria ao fundo do poço? Os clubes não podem ter uma parceria em que abram mão da autonomia do futebol. Quando eu fui conversar com o Kia, ele disse: “Agora somos nós que mandamos. Você é nosso”. Eu não conseguia conceber ser de um ou de outro. Ideologicamente, eu deveria ter saído, mas fiz essa escolha consciente. Como houve a possibilidade de vislumbrar um campeonato, eu apostei nisso. Mas você não se preocupou com o fato de a origem do dinheiro ser suspeita? Essa dimensão dos fatos eu não tive. E, por vias tortas, acabou sendo benéfica minha saída antecipada do Corinthians. Jogadores que trabalharam no Corinthians e no Palmeiras dizem gostar de você, mas as diretorias nem tanto. Por quê? Não tive p problema com os dirigentes do Corinthians. Tive e vou conti continuar tendo com o Kia por sua forma de ccomandar e pelo desrespeito que teve comi comigo e com o clube. Em relação ao Palaia, ele é intempestivo. Errou e faltou com o respe respeito comigo. Você acha que foi precipitado ao se demitir do Palmeiras? Não. Era inevitável, é preciso ter respeito com o meu trabalho. Mas acho que, antes de chegar a esse ponto, poderi poderia ter havido uma comunicação mais di direta com o Palaia, feito mais reuniões pa para esclarecer pensamentos diferentes. Is Isso eu levei como lição do Palmeiras. Houve pressão para escalar o Valdivia, contratado pela diretoria? Quem recomendou o Valdivia fui eu. Tínhamos a necessidade de um meia e eu fui atrás. Consegui três DVDs com lances do Valdivia, do Conca e do Pinga. Do Valdivia, também busquei referências com o Figueroa porque ele é chileno. Falei ainda com o próprio Valdivia e o procurador dele, o Christian, que eu conhecia da época do Grêmio. Conversei com o Maldonado porque era companheiro na seleção. Com essas informações, disse à diretoria que o jogador que precisávamos era o Valdivia.
Então não foi uma aposta do Palaia, conforme ele costuma dizer? Ele recebeu a minha indicação. Quando o filho é bonito, todos falam. Mas eu falo que apostei em outros. Apostei no Alceu, no Diego Cavalieri, que estava a ponto de sair da equipe. Assim como no Wendel, no Michael, no Dininho. Não estou colocando só o filho bonito. Mas assim como todos esses, a indicação do Valdivia quem fez fui eu. Se outras pessoas falaram dele para o Palaia, eu não sei. Mas o Palaia teve o mérito de abraçar o jogador. Mas o Valdivia não jogou muito com você. O que houve? Ele veio num período de adaptação, intercalava com jogos da seleção e estávamos bem, nos recuperando no Brasileiro. Aos poucos, ele teria oportunidade de entrar nos jogos. E vinha entrando, até se machucar. Quando eu saí, ele estava machucado. Em outro clube, houve pressão para usar jogadores queridos pela direção? Algumas conversas são normais e naturais. Quando estava no Atlético-MG, o Arsène Wenger veio ver se levava o Ramón ao Arsenal. O presidente me disse: “Se possível, seria interessante o Ramón jogar”. Eu queria o bem do clube e o Ramón jogou porque não ia interferir no desempenho da equipe. Pressão mesmo eu tive no Al-Ain. Isso tem a ver com sua saída? O que determinou minha saída foram algumas derrotas. Mas a isso se somou o fato de eles acharem que, por bancarem o time, podem dizer ao treinador quem tem que jogar. O xeque quis que eu escalasse o Helal Said, volante da seleção dos Emirados. Mas ele tinha tido vários problemas de indisciplina, como se negar a jogar e simular contusão. Isso, associado à derrota, foi boné e tchau. O que você tem feito neste período em que está sem trabalhar? Fui para a Argentina observar jogadores. Veja atualmente no Brasil: o Inter tem o Guiñazu, no Santos, há o Molina, o Grêmio tem o Perea. Há ainda o Marcelo Moreno, o boliviano. Na América do Sul, há muitos bons jogadores com potencial para o futebol brasileiro. Pretendo ainda ver jogos no Uruguai, Paraguai e Chile. É minha obrigação observar os mercados de outros países. Abril de 2008
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CAPA
Meias de armação, que cadenciaam o joggo com técnica e distribueem o jogo coom precisão, por Cassiano Ricardo Gobbet, Dassler Marques e Leonardo Bertozzi
estão rareando.
hábito de numerar as camisas na partida de futebol se estabeleceu em cima de uma formação tática. No começo da década de 1920, o lendário técnico inglês Herbert Chapman talhou definitivamente o esquema que seria usado até o meio dos anos 50 – o 2-3-5. Quando os números foram criados, o goleiro ficou com a número 1, as outras eram distribuídas pela ordem. As camisas 2 e 3 ficavam com os defensores, 4, 5, e 6 com a linha média e as restantes com o ataque. Só que o tempo tratou de dar peso aos números. Recentemente, um fabricante de material esportivo fez uma campanha que martelava que “ninguém briga para jogar com a 2”. Certamente, Cafu, Maicon
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Seria o final de umaa das fun nções mais clássicaas do futebol ou a evolução do jogo é que fez esse jogaddor mudarr de esttilo?
e outros então colegas de posição não ficaram felizes com o slogan, mas devem ter entendido a idéia. No futebol, a camisa da estrela é a número 10. Na maioria dos times, os jogadores de maior talento – os que apoiavam o centroavante – eram o 8 e o 10. Mas isso não explica o porquê de o 8 não ter tanto valor. Então, quem consagrou a 10 como um ícone tão universal? Bem, não precisa ser um gênio para imaginar que tenha sido um outro ícone igualmente universal. Quando, em 1958, as camisas da Seleção Brasileira foram distribuídas ao acaso pela Fifa, ao goleiro Gilmar coube a 3; ao meia Didi a 6; ao ponta-direita Garrincha a 11. E a 10 foi para Pelé. O resto é história.
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Sergio Morais/Reuters
Rรกpido e ofensivo, o camisa 10 de hoje estรก longe de ser aquele jogador que tomava conta do meio-campo como se fosse dele
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Depois disso, o número 10 passou a indicar quem era o craque do time, aquele que resolve quando tudo parece perdido, o que inventa espaços em meio palmo de grama. A mitificação foi universal, como com o próprio Pelé, mas nas escolas latinas, casos de Brasil, Argentina e Itália, por exemplo, vestir a 10 significava ter de decidir. Ou então, ser achincalhado. Nem a camisa 10 mais famosa do mundo – a da Seleção Brasileira – está livre da polêmica e seu dono muda de acordo com o humor de Dunga. O treinador designa o camisa com quem está “de bem” com ele: Robinho, Diego, Kaká e Ronaldinho já a carregaram desde 2006. Assim, 50 anos depois que Pelé transformou a 10 na camisa mais importante do futebol, ela está em xeque. Afinal, o “camisa 10”, o armador que arremata, o gênio que faz pinturas em campo, comanda o time, levanta a torcida e humilha adversários com graça e elegância, está morto? O futebol perdeu o talento? O tempo em que tínhamos jogadores talentosos em profusão se acabou? Ou será que hoje é mais difícil jogar, que o jogo mudou e que o “novo” camisa 10 precisa ser ainda melhor que o de meio século atrás?
Tempo de reação Em quase todo o mundo, a discussão se dá em algum nível, mas, no Brasil, ela é quase uma obssessão. “Hoje em dia, como não existe mais qualidade, o garoto só faz o que é pedido, para não errar”, diz Rivellino, um dos mais consagrados
Preparo físico e raciocínio Nos últimos 50 anos, a evolução atlética tornou o jogo muito mais rápido. Se, antes, o armador podia pensar alguns segundos, hoje recebe o combate assim que pega na bola. A soma de velocidade e força também aumentou o número de lesões sofridas pelos jogadores
jogadores que o Brasil teve na posição. “A qualidade de antigamente você avalia pela infância, pelo que ficou na sua memória. A culpa do futebol de hoje é diferente. Menos espaço exige mais habilidade e mais rapidez de raciocínio”, rebate o jornalista Paulo Vinícius Coelho, da “ESPN Brasil” e do “Lance”, um expoente da nova geração de jornalistas. Afinal, quem tem razão? A tarefa de levar todos os lados a um consenso é impossível. Quem acha que o futebol de talento “acabou”, não se deixa convencer do contrário. Só que determinadas coisas não são contestáveis. Por exemplo: o desenvolvimento físico dos atletas. Nos anos 50, um jogador chegava a ficar dez segundos com a bola no pé antes de um marcador se aproximar (veja quadros abaixo). O Ajax e a Holanda de
Rinus Michels levaram a preparação física e a marcação a um outro patamar, adiantando o primeiro combate além da linha intermediária, diminuindo esse tempo para menos da metade. Hoje, no campo de ataque, um jogador não fica meio segundo com a bola no pé até ter um marcador tentando o desarme. De 1950 para cá, o tempo que o armador passa com a bola no pé antes de chegar um marcador caiu uma média de um segundo por década. Na final da Liga dos Campeões de 1960, entre Real Madrid e Eintracht Frankfurt, Di Stéfano carregou a bola por 10 segundos no campo de ataque antes de passá-la, sem receber um combate. Dessa jogada saiu o primeiro gol do Real. Em 2002, também na final da LC, quando o Real Madrid bateu o Bayer Leverkusen, o francês Zidane, um dos raros “camisas 10” do futebol recente, empatou a partida num bate-pronto depois do cruzamento de Roberto Carlos. Se levasse meio segundo a mais, poderia ser desarmado por Ballack. Só que se tratava de Zidane e ele não precisou de meio segundo a mais. Essa rapidez de pensamento não é apenas instinto dos jogadores modernos. É um tipo de talento que se desenvolveu. “Antes de ser processada, a informação passa pelo sistema nervoso central. Só aí o jogador reage. O atleta não faz isso por reflexo”, explica Katia Rubio, psicóloga e professora da Escola de Educação Física da USP. “A diminuição do tempo para to-
JOGADAS AO LONGO DA HISTÓRIA
Real Mad Madrid drid id 7 7x3 x3 3 Ei Eint Eintracht ntra rach chtt F Frankfurt rankfurt
Brasil Bras asil il 4x1 4x1 Itália Itá táli lia
Liga dos Campeões 1960
Copa do Mundo 1970
Copa do Mundo 1974
Antes de marcar o gol do empate, Di Stéfano fica com a bola nos pés durante 10 segundos. A marcação é feita à distância e sem cobertura para o caso de um drible
Num dos gols mais famosos de todos os tempos, o Brasil de Pelé atravessa o campo italiano sem combate e toca a bola com calma até a conclusão de Carlos Alberto Torres
O juiz apita e quase um minuto de posse de bola holandesa se passa sem que haja assédio dos alemães-ocidentais. Quando se tenta o desarme, falta, pênalti e Holanda na frente
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Alemanha Ocidental 2x1 Holanda Alemanh ha O cide ci dent ntal al 2 x1 1H olanda
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mar a decisão torna a tarefa mais difícil e ignorar isso é bobagem”.
Falta espaço Em geral, ex-craques tendem a refutar a tese do aumento da dificuldade do futebol. “Perguntam se eu jogaria hoje. Eu jogaria muito mais hoje do que no meu tempo. Eu enfrentava Luís Pereira, Djalma Dias... balançava na frente deles e não conseguia nada”, afirma Rivellino, um dos grandes defensores da tese do “fim do talento”. O inglês Jonathan Wilson estuda o assunto. Ele está lançando um livro sobre a evolução dos sistemas táticos no mundo e viajou a dezenas de países – incluindo o Brasil – pesquisando as evoluções táticas das diferentes escolas. O jornalista se opõe radicalmente à tese de que os talentos es-
ados
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Pressã
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eiro ais dinh a vez m d ria a o c g m te o a C sde a c e d , o g rtida é em jo toda pa , e s a b e d cnicos al e os té nça uma fin ura isso. Seg sabem d rtante que o po é mais im esmo com um M . lo espetácu l espetacular, o b fute i muito 1982 fo e d il s o Bra após a criticado exemplo ão, por eliminaç
tão sumindo. “Se jogasse hoje, certamente o Rivellino atuaria de outra maneira. Ele teria condições de ser um grande jogador, mas, para isso, teria de se adaptar, correr muito mais e tomar decisões em frações de segundo, muito diferente do que se fazia nos anos 1970”, afirma Wilson. Para o inglês, uma evolução tática ajudou a alterar o papel do camisa 10. “Antigamente, o jogo se decidia em embates individuais, por causa da marcação homem-a-homem. Se o armador era melhor do que o marcador, tinha sucesso. Hoje, com a marcação por zona, as coisas mudaram”, explica. “Além disso, com jogadores mais resistentes fisicamente, diminuem as ocasiões onde marcadores cansados acabam dando espaços para os atacantes aproveitarem. Contudo, a questão é mais tática do que física.” Segundo Wilson, a intensificação da marcação por zona, que teve no brasileiro Zezé Moreira um de seus criadores, fez que o esporte se tornasse um enfrentamento de times ao invés de uma série de duelos individuais por uma razão simples: anular um jogador é muito mais fácil do que um time todo. “Ainda há alguns anacronismos, como Riquelme, por exemplo, que é um grande jogador. Mas sua experiência na Europa mostrou que ele precisa ter o time jogando em função dele para ir bem”, argumenta. O problema é convencer um elenco de que todos têm de se sacrificar em favor de um jogador. A não ser que o resto do time seja formado por jogadores mais
Calazans: “Técnicos copiam o que vem da Europa” Por que os camisas 10 estão em falta? É uma mania dos técnicos. Só sabem copiar o que vem da Europa. O futebol europeu não usava pontas e acabaram com o ponta aqui. Com o camisa 10 é a mesma coisa. Todo time tinha um. Hoje, temos um ou outro: Valdivia, Renato Augusto, que não são tão bons. O Alex é um pouco melhor, talvez o último dos moicanos. O Kaká não seria um caso também? Um pouco, mas ele carrega a bola até chegar à área adversária. É um camisa 10, mas tem estilo diferente dos outros. Nem na Europa há esse jogador? Havia vários, como Puskas, Kopa, Bergkamp. O último foi o Zidane. Lá existem volantes que armam o jogo, uma coisa mais européia. A marcação mais forte não dificulta o jogo desse camisa 10 na Europa? Não, porque o futebol daqui é igual. O sujeito pega a bola e já está sendo marcado. [UL]
3x0 Flamengo go 3 x0 LLiverpool iverpool
Alemanha Alemanh ha O Ocidental cide ci dent ntal al 2 2x1 x1 1H Holanda olanda
Fluminense Flumiinen nse 2x1 2x1 Botafogo Bottafogo f
Copa do Mundo 1974
Campeonato Carioca 1975
Mundial Interclubes 1981
Rinus Michels e a Holanda de Cruyff se adiantam em 20 anos e passam a tentar roubar a bola na intermediária oposta. Beckenbauer avança livre até o meio-campo, mas fica sem alternativas dali para frente
Rivellino, ídolo imediato no Fluminense, conduz a bola por quase 5 segundos até passá-la para o tricolor Gil no lance do gol da vitória sobre o Botafogo, pela Taça Guanabara
O toque de bola do time brasileiro não tem dificuldade para superar os ingleses, que só pressionam a partir da própria intermediária. Aí já é tarde. Zico lança Nunes, e “um abraço” Abril de 2008
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obscuros, o que provoca outra dificuldade. É o que pensa Arrigo Sacchi, que elege Maradona como o maior jogador que enfrentou como técnico, mas que, se o argentino jogasse em função do time – e não o contrário –, deveria, pelo seu talento, ter vencido muito mais títulos do que dois “scudetti” e uma Copa Uefa com o Napoli e o Mundial de 1986.
PVC: “Para ter espaço, jogador precisa recuar” O ritmo do futebol de hoje sufoca o meia mais lento e cerebral? Ele não precisa ser mais lento. O Zidane é um camisa 10 e jogou até 2006, mas ele tinha qualidade técnica e era escalado como atacante em muitos momentos. Existe menos talento hoje? Difícil medir, o jogo era diferente. A qualidade de “antigamente” você avalia pelo que ficou na memória. A culpa do futebol de hoje na falta do camisa 10 é outra. Há menos espaço, o que exige habilidade e rapidez de raciocínio. E para dar mais espaço a um jogador, você o recua. Os mais talentosos hoje são escalados no ataque. Qual a influência do trabalho de base? Há pecados pela falta de atenção individual. Se você percebe o que um garoto precisa, vai desenvolvê-lo melhor. A preparação física prejudica alguns, mas também forma grandes zagueiros. Não acompanhamos diariamente o trabalho de base para confirmar nossa tese. [DM]
Trabalho na base não ajuda Treinadores como Oswaldo de Oliveira e Muricy Ramalho também apontam a mudança do papel do camisa 10 ao invés de seu desaparecimento. “O jogador virtuoso hoje certamente ainda tem vantagens, mas precisa se adaptar, tem de participar mais da partida, marcando e correndo. Senão, não joga”, afirma Oswaldo, hoje trabalhando no Japão. “Esse tipo de jogador tem de ter um preparo físico excepcional para cobrir uma faixa grande de campo, indo da intermediária até o arremate”, diz Muricy. “Talento certamente existe, mas a velocidade do jogo inibe muito as jogadas de efeito”. Um dos nomes clássicos “O meia mais lento, pouco participativo, vai ter mais dificuldade, vai até se destacar porque é habilidoso, mas é importante desenvolver as funções ofensivas e defensivas”, completa o volante Hernanes. Um dos nomes clássicos da posição, Zico segue o raciocínio: “Hoje o futebol é bem mais rápido, com menos espaços, há mais choque, mais preparação física
forte”. O maior camisa 10 da história do Flamengo aponta também a má formação dos atletas como um dos fatores para a diminuição da quantidade de craques. “As escolhas na base estão voltadas para o jogador alto, forte e tático. O objetivo é ganhar campeonatos nas categorias de base, não formar jogador”, acusa o Galinho. O técnico do Fenerbahçe não está sozinho em sua tese. “O trabalho de base se faz de forma errada e volta e meia os técnicos são pressionados por resultados, como, por exemplo, vencer a Copa São Paulo”, concorda o jornalista Cláudio Carsughi, da Sportv. Fernando Calazans, do jornal “O Globo”, assina embaixo: “Veja o Zico. Ele foi preparado pra jogar no time de cima. Viram que tinha um talento extraordinário e desenvolveram o físico de forma que pudesse usar melhor
nto da e m i c are em Desap a hom o ã ç a marc o surgimento e o
Com marcaçã ação da dissemin graças a Zezé a, por zon Maslov, , Viktor a Moreir Valeri ichels e tros, Rinus M e ou ski, entr Lobanov 10 não tinha a o camis r de seu e se livra ém de d ó s is a m tamb r – mas marcado e mais outro outro,
...
Grêmio Grê êmio io 2 2x1 x1 H Hamburgo amb am burgo
França F ança Fr ça 3x0 3x0 Hungria Hungriia
Mundial Interclubes 1983
Copa do Mundo 1986
Copa dos Campeões 1988
Sem pressão até a área alemã, o Grêmio articula como quer até que a bola chegue aos pés de Renato, que fez os dois gols – um deles em ação individual inapelável
Já é possível observar como a marcação passa a ser mais justa. Tigana, em jogada com Platini e Rocheteau, conduz a bola por cerca de 3 segundos, passa e recebe de volta para concluir
O time multiplatinado de Arrigo Sacchi já utiliza a marcação por zona com pressão. No segundo gol, de Van Basten, o time recupera a bola graças à marcação na saída de jogo do Steaua
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Milan Mila l n 4x0 4x0 0 Steaua Stea St eaua ua Bucaresti Bucaresti
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Para dim in não é m uir os espaços, ais poss ível isen ninguém tar – das obri nem os astros – gações d efensiva Kaká, M s. essi, A e Seedo güero, Totti rf são to dos craques , ajudar o mas precisam time na marc ou se to rnam um ação peso
o talento. Se fosse hoje, o Zico seria mandado para casa depois da peneira”. O próprio uso do termo “camisa 10” complica a discussão. Não raro, sua utilização não se refere à posição onde o atleta joga (“o segundo atacante, o Pelé no Brasil de 70”, como sublinha Paulo Vinícius Coelho), mas sim à condição de “jogador criativo”. “Jogadores criativos nunca sairão de moda”, diz Jonathan Wilson. “Basta ver o 4-2-3-1 que está tão em moda na Europa: a linha de três é toda ela composta por jogadores criativos”, explica. “A diferença é que esses armadores/atacantes como Kaká, Messi, Seedorf e Tévez têm de cumprir tarefas defensivas e isso exige muito mais, não só fisicamente, mas também em rapidez de raciocínio”, ilustra o inglês. Entre todos os entrevistados ouvidos
Hoje, a técnica não é mais tão importante. O que interessa é a preparação física do jogador. São muitas competições e há jogos a cada três dias. Por isso, vê-se cada vez menos jogadores criativos e talentosos. O camisa 10 clássico está em extinção. Quando eu era torcedor, o Francescoli estava no Olympique e eu o vi jogar muitas vezes. Dizem que temos a mesma movimentação e, observando as imagens, reconheço semelhanças entre nossos estilos. Zinedine Zidane, durante passagem pelo Brasil em março/2008
Carlos Eduardo Freitas/Trivela
Evoluç ão do conce ito de jogo
pela reportagem, houve uma unanimidade em relação a quem simbolizava o novo – e raro – camisa 10: Kaká. O brasileiro é um talento indiscutível e mesmo os saudosistas admitem que o meia do Milan é digno da estirpe dos antigos “camisas 10”. O fato de ele ter sido escolhido o melhor atacante da Liga dos Campeões 2006/7 indica uma das características do “novo” camisa 10. “O camisa 10 está cada vez mais sendo usado como atacante”, observa Oswaldo de Oliveira, com a concordância de vários outros entrevistados. Encontrar alguém que jogue como um misto de meio-campista e atacante ficou mais difícil. O talento necessário é o mesmo de antes, mas a aplicação tática, a preparação física e a rapidez de raciocínio têm de ser muito maiores. “Países como a Argentina ainda enxergam a função do camisa 10 clássico com uma reverência maior, mas isso tende a se alterar”, conta Jonathan Wilson. Ninguém vai deixar de apreciar grandes jogadores nem eles deixarão de existir. Os grandes jogadores é que terão de enfrentar desafios cada vez maiores, como manter a tradição de que o camisa 10 é referência de talento e criatividade – mesmo que jogando de um modo um pouco diferente de décadas atrás.
Alemanha Alemanh ha O Ocidental cide ci dent ntal al 1 1x0 x0 0A Argentina rgentina
Milan Barcelona Mi Mil lan 4x 4x0 0 Ba Barc rcel elona
Copa do Mundo 1990
Copa dos Campeões 1994
Real Madrid Mad drid id 2x1 2x1 1 Bayer Baye Ba yerr Leverkusen Leverkusen Liga dos Campeões 2002
A jogada que originou o pênalti para a Alemanha sai da velocidade imposta à jogada por Matthäus, que avança e serve Völler. Sensini marca de perto, mas comete a falta
A pressão em cima dos armadores é cada vez mais alta. A partir da própria intermediária, os toques freqüentemente são de primeira. Senão, o marcador chega
O cruzamento de Roberto Carlos da esquerda é perfeito e Zidane bate de primeira para abrir o placar da final da LC. Se esperasse mais meio segundo, Ballack (13) poderia tê-lo desarmado Veja os links para esses vídeos em www.trivela.com/revista
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ARGENTINA por Ubiratan Leal
CEMITÉRIO de elefantes Racing, Independiente, River Plate e San Lorenzo. Tirando o Boca Juniors, os grandes do futebol argentino vivem época de vacas magras oje, o Racing deixou de existir.” Frase técnica, seca, sem anestesia, sem emoção. Foi assim que Liliana Ripoll, promotora designada pela Justiça para administrar o Racing (foto acima), anunciou a falência de um dos maiores clubes da Argentina. Uma sentença tão chocante que se tornou símbolo da decadência do time de Avellaneda, ainda que a torcida racinguista tenha, em dois dias, convencido o Congresso a revertê-la. Esse evento ocorreu em 1999, mas, de lá para cá, o cenário não se tornou muito melhor. Não apenas para os celestes, mas para os demais grandes da Argentina. Racing, San Lorenzo, Independiente e River Plate estão em crise técnica. Nos últimos sete Campeonatos Argentinos, apenas uma vez um desses clubes ficou nas duas primeiras posições: no Clausura 2007, conquistado pelo San Lorenzo. Em bom momento, o Boca Juniors é a exceção. Não é obra do acaso, e sim de más administrações. O
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exemplo mais claro é o do Racing. Os celestes se salvaram da falência ao virar empresa, a Blanquiceleste S/A. O governo determinou que os bens do clube passariam para os credores e, desse modo, La Academia teria tempo para se reorganizar. A salvação, porém, foi artificial. Fernando Marín, sócio majoritário da empresa, não tinha experiência alguma no futebol. Um “boom” inicial deu ao Racing ao título do Apertura 2001, mas a crise financeira voltou. Salários atrasaram, as revelações foram vendidas prematuramente e nem assim a dívida de US$ 62 milhões diminuiu muito. A transformação em clube-empresa foi apenas formal, porque o Racing continuou a ser gerido do modo tradicional e antiquado. Situação um pouco melhor vive o outro time de Avellaneda, o Independiente. Os rivais do Racing também sofreram com crise, sobretudo por carregar a herança de exageros financeiros da década passada. No entanto, ver a falência do vizinho despertou os Rojos para a necessidade de sanear as contas. Nos últimos anos, o Independiente adotou uma postura discreta, mesclando pratas-da-casa com atletas encostados. Para a sorte dos Diablos, suas “inferiores” foram generosas. Com os € 31 milhões das vendas de Agüero e Ustari, o clube equacionou as dívidas e bancou a reconstrução de seu estádio. Como a prioridade é reformar a casa, o time continua de lado por um tempo.
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de profissionalismo, ter conquistado todos os títulos argentinos. Além disso, Independiente, San Lorenzo e Racing têm façanhas que orgulhariam qualquer xeneize ou millonario. O Rojo é o maior campeão da Libertadores, com sete títulos. O Racing é o único heptacampeão do país e foi o primeiro clube local a conquistar o Mundial, em 1967. O San Lorenzo tem a maior seqüência de vitórias na história do Campeonato Argentino: 13, em 2001. O trio ainda se reveza entre terceira e quinta posições nas pesquisas de maiores torcidas, na média histórica de público e na quantidade de títulos argentinos.
Tinellización Sem craques para vender, o San Lorenzo sente as conseqüências de ter apostado em uma parceria. Como Flamengo e Grêmio, o Ciclón firmou acordo com a ISL, que faliu e deixou o clube com contas muito altas a serem pagas. A partir daí, os Azulgranas só montaram times modestos, o que inclui a equipe campeã do Clausura 2007. No desespero para sair da crise, os Cuervos voltam a buscar parceiros. Em 2008, o clube trouxe D’Alessandro, Placente, Bilos e Bergessio. Por trás desses investimentos está Marcelo Tinelli. Apresentador de TV, promotor de eventos e empresário de comunicação, ele é uma
LONGE DO TOPO Veja a colocação de River Plate, San Lorenzo, Racing e Independiente nos últimos sete campeonatos argentinos 1
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Fotos NA
SIM, ELES SÃO GRANDES
A discussão é antiga: o que torna uma equipe grande ou não? Na Argentina, há um marco histórico para conduzir as opiniões. Em 1937, a AFA definiu que os maiores clubes do país teriam mais peso nas votações da entidade. Para isso, fez uma conta entre títulos, número de sócios e participações na primeira divisão. Cinco atenderam aos requisitos: Boca Juniors, Independiente, Racing, River Plate e San Lorenzo. No Brasil, imagina-se que só Boca e River tenham o status de grande, até porque o duelo entre ambos é o “superclásico”, o quinteto, porém, se consolidou. Nos primeiros 36 anos
mistura de Sílvio Santos com Ratinho – o termo “tinellización” foi criado na Argentina para descrever como programas de baixa qualidade ganham espaço nos meios de comunicação. Desde o início deste ano, Tinelli lidera um grupo de empresários que decidiu entrar no futebol. Como Traffic e Sonda no Brasil, eles contratam jogadores e, para lucrar com a revenda, os colocam em um grande clube desesperado por reforços. Dos grandes em crise, o que vive situação menos crítica é o River Plate, até porque o clube de Núñez tem mais força de mercado. De qualquer modo, é notável como os Millonarios não conseguem mais montar equipes competitivas. O River sustentou seus projetos com um trabalho de base invejável, que rendia alguns milhões com a venda de jogadores. Foi assim de 1997 a 2001, com valores crescentes: Ortega (US$ 3 milhões), Crespo (US$ 4 milhões), Gallardo (US$ 8 milhões), Marcelo Salas (US$ 17,5 milhões), Juan Pablo Ángel (US$ 14,4 milhões), Aimar (US$ 21,25 milhões) e Saviola (US$ 35,9 milhões). Desses, apenas Salas e Ángel não foram revelados em Núñez. Esse trabalho foi interrompido. Em 2001, o presidente riverplatense José María Aguilar demitiu a comissão técnica das “inferiores”, liderada pelo brasileiro Delém. O resultado se vê no longo prazo. Os valores pagos pelos talentos do River caiu a partir de 2003: D’Alessandro (US$ 9 milhões), Cavenaghi (US$ 8,6 milhões), Maxi López (US$ 6,5 milhões), Lucho González (US$ 10,25 milhões), Mascherano (US$ 11,8 milhões) e Gonzalo Higuaín (US$ 12 milhões). Números altos, mas menores que os da década passada. Um problema grave para quem tem a tradição de contratar jogadores de projeção. Em um universo onde os grandes não suportam seu próprio tamanho, os menores se beneficiam. Mais ágeis administrativamente, Estudiantes, Vélez e Lanús elaboraram projetos de longo prazo e cresceram. Bom também para a torcida do Boca, que tem mais motivos para tirar sarro dos principais rivais. Saiba mais sobre futebol argentino em www.trivela.com/argentina
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CAPITAIS DO FUTEBOL por Luciana Zambuzi
BELEZA e
ÓDIO
conteceu em Praga. O meia Tomás Sivok já afirmara que jamais em sua vida jogaria no Slavia. Mas não era o bastante. Para demonstrar publicamente o ódio pelo inimigo, ele resolveu cobrir as mãos com luvas cirúrgicas, pegar com as pontas dos dedos uma camisa vermelha e branca e, com expressão de nojo, posou para fotógrafos e cinegrafistas. O outro lado da moeda? Pavel Rehak, técnico assistente e ex-jogador do Slavia, repete a mesma atitude todas as vezes que passa pelo AXA Arena, estádio do Sparta. No território “deles”, sim-
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plesmente cospe no chão. Nesses tempos em que jogadores se preocupam em não provocar os adversários e temem que suas declarações sejam mal interpretadas, o Derbie S é uma exceção. Nenhuma demonstração de desprezo ao oponente é considerada exagero e os jogadores ganham um prêmio especial em caso de vitória sobre o rival. Um sinal de como Praga não dá espaço para amenidades quando o assunto é o clássico local. A capital tcheca foi fundada no século 9º e se desenvolveu ao redor do castelo construído na coli-
Stanislav Zbynek/AFP
Praga é famosa por seu charme, mas o mundo do futebol sabe que as belas ruas medievais escondem uma das maiores rivalidades da Europa
CLUBES DA CIDADE Gambrinus Liga
Athletic Club Sparta Praha Fotbal 10 Campeonatos Tchecos 24 Campeonatos Tchecoslovacos 4 Copas da República Tcheca 12 Copas da Tchecoslováquia
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Sportovní klub Slavia Praha 11 Campeonatos Tchecos 10 Campeonatos Tchecoslovacos 7 Copas da República Tcheca
Fotbalovy klub Viktoria Zizkov 1 Campeonato Tchecoslovaco 2 Copas da República Tcheca
Bohemians 1905 1 Campeonato Tchecoslovaco 1 Copa da República Tcheca
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Não há sutilezas quando Slavia e Sparta se enfrentam
Druhá Liga
Fotbalovy klub Dukla Praha 11 Campeonatos Tchecoslovacos 9 Copas da Tchecoslováquia
Sportovní klub Sparta Krc
Football Club Bohemians Praha* *Antigo Strízkov Praha, comprou o nome do atual Bohemians 1905
na de Hradcany, às margens do rio Vltava. Durante seus mais de mil anos de vida, a “Cidade das 100 Cúpulas” foi capital de um reino, de um império e de dois Estados distintos, sobreviveu a duas guerras e passou pelo domínio do regime comunista, mas viu apenas sete vezes um jogador de futebol se transferir de um rival a outro. Esse ódio se confunde com a história recente de Praga. O Slavia foi fundado em 1892 e surgiu da idéia de intelectuais e estudantes. Assim como ocorreu com Viena e Budapeste, o início do século 20 foi importante para o futebol de Praga e, principalmente, para o Slavia. Sob o comando do técnico Johnny Madden, o time venceu 134 dos 169 jogos disputados entre 1905 e 1930, tornando-se sensação na Europa e compondo a base da seleção da Tchecoslováquia vice-campeã mundial em 1934. O Sparta nasceu em 1893 e carrega no nome a inspiração da cidade grega de Esparta, famosa por sua ética guerreira. Hoje, essa agressividade é canalizada de modo menos nobre. Seus torcedores protagonizam cenas de anti-semitismo e quase prejudicaram o clube, ameaçado de sofrer boicotes da TV. Pior: no ano passado, o meia Horváth foi suspenso e multado por fazer saudações nazistas na partida contra o Viktoria Zizkov. O primeiro Derbie S aconteceu em 29 de março de 1896, um 0 a 0 diante de apenas 121 espectadores. Antes mesmo de Praga tornar-se capital da Tchecoslováquia – fato que só aconteceu em 1918, com o fim da Primeira Guerra Mundial –, as equipes já haviam se enfrentado 20 vezes. E com impressionante equilíbrio: nove vitórias para o time vermelho e branco, oito para o grená e três empates. A bipolaridade era tamanha que times pequenos da cidade não tinham espaço. Nem o Viktoria Zizkov, clube mais antigo de Praga, conseguia se destacar.
Marcas da guerra O término da Segunda Guerra Mundial e o início da era comunista marcou o fim dos bons tempos para o Slavia. Em razão de suas raízes Abril de 2008
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proletárias, o Sparta foi apoiado pelo regime, enquanto os “intelectuais” do Sesívaní ficaram sob suspeita — uma possível conquista do time seria algo “inoportuno” para o novo comando do país. Foi então que, no outono de 1948, os principais jogadores do Slavia foram “obrigados” a vestir a camisa de um terceiro elemento: o Dukla. Apesar de sua ligação com as classes trabalhadoras, o Sparta nunca demonstrou total identificação com o regime, e a solução encontrada pelo Partido Comunista foi a formação de um time das forças armadas. Inicialmente chamado de ATK, o Dukla assumiria a condição de nova força nas décadas de 1950 e 1960. O time dominou o cenário doméstico e se tornou, no exterior, um símbolo do estilo técnico do futebol tchecoslovaco. A mão do governo teve refle-
xos profundos nos demais times de Praga. O Slavia tinha muitas dificuldades por ser uma espécie de inimigo do regime e amargaria idas e vindas na segunda divisão. Desse modo, o pequeno Bohemians ganhou um pouco de espaço. O time alviverde foi campeão tcheco somente uma vez, em 1983 (mesmo ano em que foi até as semifinais da Copa Uefa), mas virou a escolha de dissidentes políticos, que viam em Sparta e Dukla a opressão soviética. Até hoje, o Bohemians 1905 carrega consigo poucos e fiéis torcedores. A ruptura após 41 anos de sistema comunista redesenhou o futebol de Praga. Sem o apoio do governo, o Dukla entrou em decadência e quase fechou as portas. O time se fundiu com o Pribram, mas desapareceu ao mudar de nome para Marila Pribram. Em 2005, o nome e as cores do Dukla foram adotados
República Tcheca
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Praga 1,2 milhão de habitantes
ESTÁDIOS
Fotos Divulgação
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Létna
Já foi palco dos dois rivais, mas o regime comunista obrigou o Slavia a deixar o estádio. É considerado o exemplo da paixão dos tchecos pelo futebol. Localiza-se no alto de uma colina ao norte da cidade. Já se chamou Toyota Arena, mas hoje recebe o nome de AXA. O caminho mais fácil para chegar a ele é pegar o Metrô na linha verde A em direção a Dejuika para Hradcany. De lá, é preciso pegar um ônibus em direção ao oeste. Um táxi do centro da cidade até o estádio demora menos de 10 minutos.
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Éden
Inaugurado em março de 2008, conta com escritórios, hotel e shopping. A moderna construção será a nova casa do Slavia e da seleção nacional. Terá arquibancadas cobertas e suas estruturas terão isolamento térmico e de som. Está localizado bem próximo do centro da cidade e abrigará 20 mil visitantes.
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Evzena Rosickeho (Strahov)
Com capacidade para 19 mil espectadores, foi fundado em 1935 e fica na arborizada parte alta de Hradcany. É uma arena que está com os dias contados. Ainda este ano, o estádio do Slavia será aposentado com a inauguração do Éden.
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Dolicek
Sede do Bohemians 1905, conta com uma das melhores médias de público da cidade. No ano passado, teve de passar por reformas para se adequar às exigências da Gambrinus Liga. Fica no bairro de Vrovice. Para chegar a ele, pegue um trem de IP Pavlova ou Namesti Miru.
Viktoria
Estádio modesto, com pouco mais de 5 mil lugares. Zizkov, onde fica o estádio, era uma cidade independente até ser incorporada a Praga, em 1922. Menos mal que, hoje, essa é uma região central de Praga, próxima à estação principal de trem da capital tcheca.
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Na Julisce
Inaugurado em 1965, é a casa do “novo” Dukla. Sua capacidade é de 28,8 mil espectadores, mas só 12 mil ficam sentados.
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Fotos Divulgação
Carlos Eduardo Freitas/Trivela
O QUE VISITAR ENTRE UM JOGO E OUTRO
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Ponte Carlos V
É a ponte mais antiga da cidade e uma das mais belas do mundo. Possui uma torre na extremidade que fica no lado da Cidade Velha e duas na outra ponta, a do Bairro Pequeno. É decorada com trinta estátuas em estilo barroco.
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Catedral e Castelo de Praga
A imponente Catedral de São Vito, São Venceslau e São Adalberto foi construída entre 1344 e 1929. Fica ao lado do castelo, erguido pelo príncipe Borivoj da Boêmia por volta de 870.
por um clube amador que se profissionalizou e comprou uma vaga na Segundona tcheca. O insucesso do Dukla contrasta com o ressurgimento do Slavia como potência. Sem a sabotagem do governo, os alvirrubros reassumiram o posto de grande. No entanto, têm dificuldade de encarar a força que o Sparta consolidou. Enquanto os grenás se tornaram os maiores vencedores da República Tcheca, o Slavia ganhou a fama de sempre ser vice. Só em 1996, três anos após a Revolução de Veludo (separação pacífica de República Tcheca e
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Relógio Astronômico
Fica na parede sul da prefeitura, na Cidade Velha. Inaugurado em 1410, inspirou muitas lendas, como a de que os vereadores ordenaram que os olhos de seu construtor fossem furados para que ele não pudesse copiá-lo. No Orloj, imagens de apóstolos, signos do zodíaco, uma caveira, um galo e anjos se movimentam e fazem uma espécie de “show” a cada hora.
Bairro e cemitério judeu
O gueto onde nasceu o escritor Franz Kafka abriga várias sinagogas e o mais antigo cemitério judaico do mundo. Possui 12 mil lápides que vão do gótico ao rococó.
Eslováquia), o Slavia pôs fim a um jejum de 49 anos e levou seu 14º título nacional. A rivalidade se restabeleceu forte como no início do século. Antes de cada edição do Derbie S, as torcidas rejeitam o favoritismo, respeitando a superstição de que vence quem está em pior fase. No dia da partida, o momento é de mais apreensão, pois não são raros os confrontos entre torcedores organizados de Slavia e Sparta. Quando não há clássico, Praga volta a ser bonita e tranqüila. A beleza continuará eternizada em suas
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Porta da Pólvora
Já foi um armazém de pólvora, mas hoje é a entrada da Cidade Velha. Possui 65 m de altura, mas, para apreciar a bela vista do local, é preciso subir uma escada em caracol de 186 degraus.
edificações, mas a calma serve apenas como um momento para recarregar as energias. Afinal, começa a contagem regressiva para um novo encontro entre os times que dividem a cidade em duas.
Quem leva Não há vôos diretos do Brasil para Praga. A saída é fazer conexão em algum país europeu. As principais opções são via Amsterdã (KLM, 4003 1888 ou 0800 888 1888), Paris (Air France, 4003 9955 ou 0800 888 9955), Londres (British Airways, 11 4004 4440) e Milão (Alitalia, 11 2171-7610). Entre as agências de turismo, há vários pacotes para a capital tcheca. Algumas opções são a Sato (www.satotours.at), a TGK (www.tgkturismo.com.br) e a Designer (www.designertours.com.br).
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ITÁLIA por por Cassiano Ricardo Gobbet
L’Edmundo d’Italia Apesar do talento incontestável, Cassano não controla seu temperamento irascível e Itália corre o risco de desperdiçar um craque o início de março, Antonio Cassano era um jogador renascido. Na Sampdoria, que o resgatou de uma temporada desastrosa em Madri, o atacante havia entrado em forma, deixado de criar problemas e caído nas graças da torcida ao marcar 7 gols em 15 jogos. Contra o Torino, já tinha dado uma assistência e feito um gol quando o árbitro Nicola Pierpaoli anotou uma falta sua – erradamente. O craque bestial voltou a ser uma besta, falando o diabo. Conclusão: cartão amarelo por reclamação (o segundo) e vermelho. Ensandecido, Cassano foi para cima de Pierpaoli e só não deu na cara do juiz porque foi contido pelo torinese Barone. Mesmo assim, xingou o árbitro sem nenhuma cerimônia e jogou sua camisa nele, chamando-o para a briga. Torcida e comissão técnica da Samp se irritaram, mas a Itália inteira suspirou, perguntando: “Será que Cassano tem jeito?” A resposta veio rápida – e de Gênova mesmo: “Não tem jeito. Cassano tem mesmo uma falha séria de caráter que ele precisa corrigir”. A frase forte não vem de um crítico mordaz ou de um inimigo. É a opinião de Giuseppe Marotta, diretor de futebol da Sampdoria e um dos artífices da “importação” do atacante. “Trata-se de um excelente jogador, mas ainda não é um craque”, disse Marotta à uma rádio italiana, ainda furibundo com a expulsão. Em defesa do temperamental jogador, que tem um histórico grande de presepadas (veja
A tranqüilidade da Sampdoria não foi suficiente para acabarem as “cassanadas”
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o preço de ter levantado uma expectativa gigante quando apareceu em 1999. Nascido num bairro barra-pesada de Bari, Cassano foi avistado por olheiros do clube local depois de testes fracassados na Internazionale e no Parma. Ainda com 17 anos, Antonio foi promovido ao time principal pelo então técnico do Bari, Eugenio Fascetti. Num dérbi contra o Lecce, fez a primeira partida. No jogo seguinte, contra a Inter, Cassano fez um golaço, decidindo o 2 a 1, e correu chorando para abraçar Fascetti. Depois disso, a pressão só aumentou. Quando chegou a temporada 2000/1, o mercado italiano estava quente – provavelmente no seu auge. Com a entrada de Lazio e Roma na Bolsa de Valores nos anos anteriores, a luta por jogadores promissores tinha saído do eixo Turim-Milão. Cassano tinha 19 anos e empolgava como nenhum outro italiano desde Roberto Baggio. Por € 35 milhões – maior valor pago por um jogador pela Roma na história, – o clube da capital assegurou o ‘talentino di Bari Vecchia’. “Fizemos um grande negócio. Cassano será o herdeiro de Totti”, afirmou o então presidente da Roma, Franco Sensi.
DE CONFUSÃO EM CONFUSÃO Maio de 2003 Na final da Copa Itália, informa o árbitro Rosetti que a sua senhora tem uma longa série de namorados e é expulso. A Roma perde a final para o Milan e Cassano perde € 5 mil e mais quatro jogos
Alessandro Bianchi/Reuters
o quadro ao lado), há de se dizer que ele paga
Fevereiro de 2004 O barese destrói a Juventus (dois gols no 4 a 0) e dá uma bica na bandeirinha, estraçalhando-a. O careca Collina lhe dá um cartão amarelo e ele responde com um amistoso abraço
Dezembro de 2005 Num treino da Roma, desobedece o técnico Luciano Spaletti, que tinha chegado em junho. “Esse aí mal chegou e acha que já pode mandar”. É vendido semanas depois
Outubro de 2006 Cassano briga com Capello na frente de todo o elenco do Real Madrid por não ter entrado em uma partida depois de se aquecer. O jogador é afastado.
Dezembro de 2006 Uma emissora de TV flagra um diálogo em que Cassano e Diarra acusam Capello de persegui-los. Novo afastamento
Outubro de 2007 Apogeu... e queda Em Roma, Cassano explodiu – em todos os aspectos. Ao lado de Totti, um de seus ídolos, sentia-se acolhido. As mães dos dois ficaram amigas e o capitão da Roma o tratava como irmão. Seu futebol cresceu, mas as confusões também. Na seleção sub-21, brigou com o técnico Claudio Gentile. “Ele contamina o ambiente”, teria confidenciado o treinador a amigos à época do polêmico corte. O atacante não tentou se reconciliar: “O que eu quero é a seleção principal”. E ela veio. Mesmo com anos conturbados – e sem troféus – na Roma, Cassano chegou à Azzurra principal e foi o melhor jogador italiano na Euro-2004, onde marcou gols contra Suécia e Bulgária. Depois disso, deixou de ser chamado por Marcello Lippi um ano antes da Copa de 2006, perdendo o bonde do título. Mesmo criando caso e sem vencer nada, Cassano se recusou a renovar com a Roma, que se viu forçada a vendê-lo para o Real Madrid. Cassano tinha custado ao clube romano cerca de € 30 milhões mais os salários (cerca de 30% disso), rendido zero título, arrumado confusões aos borbotões e já contava com a fama de enfant terrible que hoje faz dele um paradoxo: é o craque que torcedor nenhum quer no seu time.
Já pela Sampdoria, Cassano é derrubado pelo adverário. Inconformado com a não marcação da falta, o barese deixa o campo no meio da partida
Dezembro de 2007 Tem um de seus acessos de fúria e recebe um amarelo bobo, sendo suspenso de Roma-Sampdoria
Março de 2008 Discute com o árbitro Pierpaoli, manda-o àquele lugar, é expulso e chama o juiz para o pau. Cinco jogos de gancho
Em Madri, Cassano estreou bem, marcando o gol da vitória na Copa do Rei sobre o Betis. Depois disso, degringolou. Engordou quase 10 kg, ganhou o apelido de “El Gordito” (o brasileiro Ronaldo era “El Gordo”) e não jogou bem nem com a chegada de Fabio Capello, seu mentor em Roma. Foi encostado e salvo do ostracismo pela Sampdoria, que o pegou por empréstimo. Provavelmente, o descontrole emocional de Cassano contra o Torino não lhe custou só as cinco rodadas de suspensão. “Ele jogou fora a sua chance de ir para a Eurocopa”, declarou um frustrado Fascetti, diante da presepada do pupilo. “Se eu fosse o treinador, estaria furioso. É o tipo de atitude que arruína o trabalho de todo o clube que acreditou nele”, disse.
Agora, o jogador está numa situação delicada. Seu contrato com o Real Madrid – onde sua chance de jogar é nula – vai até 2010. O clube espanhol quer € 5 milhões para liberá-lo (o mesmo valor que pagou à Roma), só que a “Cassanada” (expressão criada por Fabio Capello para os destemperos do jogador) recente fez a Sampdoria ficar com um pé atrás. O Cassano de Genova é o mesmo de Bari, o de Roma ou o de Madri? “Perdê-lo para a seleção seria uma pena. Como ele, não há muitos por aí”, lamentou Eugenio Fascetti. Como o Cassano craque, certamente não há. Saiba mais sobre futebol italiano em www.trivela.com/italia
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Franck Fife/AFP
FRANÇA por Ricardo Espina
A nova
geração
azul Benzema, Ben Arfa, Sagna, Flamini... França monta equipe repleta de jovens promissores para substituir a turma de Zidane e companhia aymond Domenech nunca despertou grandes paixões. O técnico da seleção francesa tem facilidade para criar polêmicas, como a de ignorar a boa fase vivida por David Trezeguet. O atacante está esmerilhando na Juventus, mas nem seus seguidos gols na Série A convencem o teimoso treinador a incluílo em suas listas de convocados. O aquariano prefere dedicar seu tempo com a adaptação de Karim Benzema e Hatem Ben Arfa aos Bleus. Desprezo? Nem tanto. Ele apenas cuida da montagem da nova cara da equipe. Embora seja conhecido por suas extravagâncias, entrevistas temperadas por ironia e seu apego à astrologia, Domenech cercou-se de cuidados para não queimar toda uma safra de jovens talentosos. Seria muito simples apostar em uma grande revolução nos Bleus, mas ele preferiu agir
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Oportunismo: Benzema fez um gol logo na estréia pelos Bleus
QUEM É QUEM... Abou Diaby
Bakary Sagna
François Clerc
Gaël Clichy
Nascimento: 11/5/1986 Posição: volante Clube: Arsenal (ING) Pela seleção francesa: 2J/0G
Nascimento: 14/2/1983 Posição: lateral-direito Clube: Arsenal (ING) Pela seleção francesa: 2J/0G
Nascimento: 18/4/1983 Posição: lateral-direito Clube: Lyon Pela seleção francesa: 10 J / 0 G
Nascimento: 28/7/1985 Posição: lateral-esquerdo Clube: Arsenal (ING) Pela seleção francesa: ainda não estreou
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com cautela, sem pressa para obter resultados. “Trezeguet estar fora da seleção é inquietante e preocupante. Só quem não acha é o Domenech, porque tem outras opções em mente”, comenta Zinedine Zidane, maior símbolo da geração campeã mundial de 1998 e européia em 2000, justamente a que vai perdendo espaço. Ciente da inevitável renovação da equipe a médio prazo, Domenech precisava de homens de confiança em campo para ajudar neste trabalho. Era necessária a presença de um líder experiente no qual os mais jovens se espelhassem e aprendessem. Por isso, o técnico procurou Zinedine Zidane, então aposentado da seleção, e o convenceu a voltar. Claude Makélélé e Lilian Thuram seguiram o mesmo caminho. Com eles, os Bleus ganharam consistência e chegaram ao vice-campeonato na Copa do Mundo de 2006. O Mundial da Alemanha marcou a despedida dos últimos expoentes da mais vitoriosa geração do futebol francês em toda a história. No entanto, se o público acompanhou os últimos passos de Zizou, Barthez e Vieira, ao mesmo tempo viu surgir um dos primeiros grandes talentos dessa nova leva: Franck Ribéry. O meia, então no Olympique de Marselha, foi um dos principais destaques do torneio e logo sua presença se tornou obrigatória em qualquer lista de convocados. Além de seu próprio talento, Ribéry contou com a experiência de Domenech para repetir nos Bleus o mesmo desempenho apresentado no OM. De 1993 a 2004, o treinador comandou a seleção francesa sub-21 e, por isso, lida bem com jovens promissores. Duas vezes campeão do torneio de Toulon e segundo colocado do Europeu da categoria em 2002,
“As coisas melhoraram para o Zidane quando ele entendeu que não deveria se comparar ao Platini” Nasri, rechaçando comparações entre ele e Zidane
ele já sabia em quem depositar suas fichas na equipe principal. Ainda mais porque contava com uma geração que conquistou o europeu sub-17 em 2004 e que manteve o bom futebol depois de se profissionalizar. Aos poucos, Domenech chamou os novatos em um trabalho lento de adaptação. Nada de lançá-los na fogueira de uma vez: cada um teve sua chance, sem ser jogado de cara aos leões. Primeiro, era preciso fazê-los se sentirem integrados ao grupo e ficarem à vontade ao lado de nomes já consagrados. Depois, vieram os primeiros minutos em campo, geralmente como substitutos na parte final do segundo tempo. Com o gradativo maior tempo de jogo a cada atleta, logo o processo de aclimatação estaria completo. “Temos uma equipe em amadurecimento, em processo de construção, mutação e renovação. Ainda não há uma geração completamente desenvolvida para que sejamos considerados favoritos”, disse o treinador.
Norte-africanos Excetuando Ribéry, os dois principais nomes dessa nova geração francesa são Benzema, do Lyon, e Samir Nasri, do Olympique de Marselha. Curiosamente, os dois são filhos de argelinos e, por isso, acabam carregando naturais comparações com Zidane. Mas não
se engane: eles não recebem atenção de mídia apenas pela origem norte-africana – tanto que entraram na lista de compras de várias potências européias. O nome mais apetitoso para os grandes centros é Benzema, que explodiu no Lyon nesta temporada e se tornou presença inquestionável nos Bleus. Com apenas 20 anos, o atacante deixou o banco de reservas para ganhar a posição de Fred, envolvido em polêmicas com a diretoria lionesa. Benzema entrou na equipe para não mais sair dela. Artilheiro da Ligue 1 e decisivo na classificação do OL para as oitavas-de-final da Liga dos Campeões, ele tem mostrado versatilidade na segunda metade da temporada. Com a permanência de Fred no clube, o técnico Alain Pérrin voltou a dar chances ao brasileiro e pediu a Benzema para deixar a posição de centroavante para atuar mais aberto pelas pontas. O francês não perdeu seu faro de gol e, ainda por cima, deu algumas assistências para seus companheiros. Atento, Domenech o chamou pela primeira vez em novembro de 2006. Em março do ano seguinte, em um amistoso contra a Áustria no Stade de France, o atacante enfim estreou com a camisa azul. Benzema logo mostrou seu cartão de visitas: marcou um gol apenas oito minutos depois de entrar em campo. “Ele faz gols mais com o uso de sua inteligência do que com suas qualidades físicas e eu gosto disso. As pessoas o comparam a Ronaldo, mas Benzema tem um estilo mais parecido com o dos antigos centroavantes”, comentou Michel Platini, presidente da Uefa e um dos maiores ídolos do futebol francês. Nasri ainda não tem tanta projeção na seleção francesa. No entanto, sua perspectiva para o futuro não é muito pior. Com a pressão de substituir Ribéry, vendido ao Bayern de Munique no último verão europeu, o meia foi obrigado a
Hugo Lloris
Jérémy Menez
Jérémy Toulalan
Nascimento: 7/3/1987 Posição: meia-atacante Clube: Lyon Pela seleção francesa: 5J/1G
Nascimento: 26/12/1986 Posição: goleiro Clube: Nice Pela seleção francesa: ainda não estreou
Nascimento: 7/5/1987 Posição: atacante Clube: Monaco Pela seleção francesa: ainda não estreou
Nascimento: 10/9/1983 Posição: meia Clube: Lyon Pela seleção francesa: 11 J / 0 G
Daniel Janin/AFP
Hatem Ben Arfa
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A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CRAQUES A grande capacidade da França em revelar talentos não é sorte. É trabalho e planejamento. A 50 km a sudoeste de Paris, localiza-se a principal “usina” de jogadores franceses. O Instituto Nacional de Futebol (INF), em Clairefontaine-en-Yvelines, reúne a infra-estrutura necessária para a formação de jovens atletas. Administrado pela federação francesa, o centro, criado em 1988, ocupa uma área aproximada de 56 hectares e conta com sete campos oficiais com grama natural – há ainda outros dois campos de piso sintético. Cerca de 60 profissionais cuidam tanto das condições do INF como do relacionamento com as futuras gerações de craques. Por lá, já passaram nomes que alcançaram grande prestígio, como Henry, Anelka, Christanval e Gallas. Os jovens são observados de perto pelos principais clubes do país. Em Clairefontaine, portanto, há a chance de se aprender a jogar com qualidade e, com um pouco de sorte e talento, ganhar destaque na vitrine dos olheiros.
assumir a árdua responsabilidade de carregar o Olympique de Marselha, clube mais popular da França, nas costas. Ele cumpriu a tarefa de forma digna, embora algumas contusões o tenham atrapalhado nos últimos meses. Na temporada passada, Nasri foi considerado a revelação da Ligue 1 pelo sindicato dos jogadores. Em março de 2007, veio a primeira convocação por Domenech. Suas atuações logo fizeram a torcida considerá-lo mais um sucessor de Zidane, comparação que o jovem de 20 anos rejeita: “É colocar muita pressão em cima de um jogador jovem. Quando ele chegou à Juventus, todo mundo o comparava a Platini. As coisas começaram a melhorar quando ele entendeu que não deveria se comparar. Zidane é único, como Platini, e cada um tem seu lugar”, desabafou o meia do OM. A trinca de talentos com um pé no norte da África se completa com Hatem Ben Arfa. Filho de Kamel Ben Arfa, ex-jogador da seleção tunisiana, o atacante do Lyon nasceu na França, mas tem dupla nacionalidade e chegou a ser sondado por Roger Lemerre para defender as Águias de Cartago. Hatem preferiu tentar a sorte nos Bleus. A confiança para encarar a concorrên-
cia mais forte na França se dá pelo histórico nas categorias de base. Incentivado pela família, Ben Arfa entrou para o centro de Clairefontaine com 12 anos. Aos 15, foi procurado pelo Saint-Etienne, mas preferiu seguir para o Lyon. Após algumas dificuldades para se adaptar ao rigor do principal clube do país, o jogador conseguiu um espaço. Sua velocidade e habilidade o colocam como um eficiente segundo atacante, combinando com os estilos de Benzema e Fred.
Arsenal na defesa Não é apenas no setor ofensivo que a França tem bons nomes para o futuro. O parâmetro disso é o Arsenal. O time de Arsène Wenger tem feito uma grande temporada ao apostar em cinco jovens franceses de talento, todos no sistema defensivo: Flamini, Sagna, Diaby, Clichy e Armand Traoré. Os três últimos ainda não se consolidaram como titulares absolutos, mas os dois primeiros são figuras importantes na campanha dos Gunners. Nesta temporada, o mais destacado tem sido Mathieu
Flamini. Formado no Olympique de Marselha, o volante foi para o Arsenal pouco antes de assinar seu primeiro contrato profissional pelo OM. Por isso, até hoje o jogador é considerado um “traidor” na Riviera Francesa. Polêmicas à parte, Flamini teve dificuldades para se firmar no time londrino. O francês chegou até a atuar improvisado na lateral-esquerda e ameaçou deixar os Gunners, mas Wenger o deslocou para atuar como volante. Na nova função, o jogador de 23 anos cresceu a ponto de tirar de Gilberto Silva a condição de titular. “A parceria entre Fàbregas e Flamini é a melhor do Arsenal em onze anos. Eles são tecnicamente muito bons e se movimentam bem em direção ao ataque. Mathieu é mentalmente forte e um vencedor. Jogadores que nunca desistem sempre evoluem”, elogiou Arsène Wenger, treinador dos Gunners, que comparou o estilo de jogo do francês ao de Gennaro Gattuso, do Milan. Sagna também ganhou espaço nesta temporada. Revelado nas categorias de base do Auxerre, o jogador surgiu como atacante. Em uma partida contra o Boulogne-sur-Mer, ele teve de ser improvisado na lateral direita e seu futebol cresceu. A velocidade e a habilidade de um atacante de origem dão profundidade a seus avanços pela ponta, mas o filho de senegaleses – seu pai chegou a pedir para Bruno Metsu convocá-lo para defender Senegal na Copa de 2002, mas não foi atendido – mostrou ter boa capacidade de marcação para as funções defensivas. Seu bom desempenho lhe valeu convocações para a seleção francesa de base. Dali para a equipe principal dos Bleus foi uma questão de tempo. Em maio de 2007, ele foi chamado por Domenech para os jogos contra Ucrânia e Geórgia, pelas eliminatórias da Eurocopa. Sagna também foi eleito o melhor lateral-direito da Ligue 1 na temporada 2006/7.
... Karim Benzema
Lassana Diarra
Mathieu Flamini
Nascimento: 19/12/1987 Posição: atacante Clube: Lyon Pela seleção francesa: 9J/3G
Nascimento: 10/3/1985 Posição: lateral-direito e volante Clube: Portsmouth (ING) Pela seleção francesa: 10 J / 0 G
Nascimento: 7/3/1984 Posição: volante Clube: Arsenal (ING) Pela seleção francesa: 1J/0G
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Jimmy Briand Nascimento: 2/8/1985 Posição: atacante Clube: Rennes Pela seleção francesa: ainda não estreou
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Franck Fife/AFP
Passagem de bastão: geração de Henry dá espaço a novas estrelas, como Ribéry
Sempre atento a novos talentos, o Arsenal tirou o jogador do Auxerre. Para isso, desembolsou € 9 milhões, mas pode ter de pagar mais € 2 milhões dependendo do desempenho do lateral. A chegada de Sagna obrigou Wenger a usar Eboué como
meia-direita, já que não haveria espaço para o marfinense na lateral. Com talentos em várias posições, alguns deles já brilhando em competições importantes como a Liga dos Campeões, a Premier League e a Ligue 1, dá para apostar que a França tem uma nova geração com capacidade de substituir a anterior. Às vésperas do início da Eurocopa, essa nova leva de talentos tem o desafio de repetir as
conquistas da turma de Zidane, ainda que demore mais um ou dois anos para se consolidar como titular. Apesar das esquisitices de Domenech, não dá para deixar de reconhecer a importância de seu trabalho na montagem de um novo time sem perda de qualidade do elenco. A molecada que surge serve como prova. Saiba mais sobre futebol francês em www.trivela.com/franca
Samir Nasri
Steve Mandanda
Yoann Gourcuff
Nascimento: 8/3/1984 Posição: meia Clube: Lille Pela seleção francesa: 6J/0G
Nascimento: 26/6/1987 Posição: meia Clube: Olympique de Marselha Pela seleção francesa: 7J/2G
Nascimento: 28/3/1985 Posição: goleiro Clube: Olympique de Marselha Pela seleção francesa: ainda não estreou
Nascimento: 11/7/1986 Posição: meia Clube: Milan (ITA) Pela seleção francesa: ainda não estreou
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Rio Antonio Mavuba
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EUROCOPA por Carlos Eduardo Freitas
Cabeça de
turco
Turquia levará à Eurocopa uma seleção repleta de jogadores nascidos na Alemanha, conseqüência da complicada relação entre imigrantes turcos e os países que os abrigaram
Fatih Saribas/Reuters
Nuri Sahin comemora o gol que marcou contra a Alemanha em sua estréia pela Turquia
amit e Halil Altintop, Nuri Sahin, Serhat Akin, Yildiray Bastürk, Ali Bilgin, Zafer Yelen, Ümit Karan. Alguns são nomes certos na lista de convocados de Fatih Terim para a próxima Eurocopa, outros foram, ao menos, testados com freqüência desde 2005, quando o técnico reassumiu a seleção da Turquia. Os oito defendem as cores turcas desde as categorias de base, mas todos nasceram na Alemanha. Filhos ou netos de turcos, como os nomes e sobrenomes indicam, que preferiram honrar a tradição familiar a defender o país onde realmente nasceram. Desde o início da década de 1960, quan-
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do a Alemanha abriu suas portas para trabalhadores estrangeiros ajudarem na reconstrução do país, centenas de milhares de turcos migraram para cidades mais atingidas pela Segunda Guerra Mundial ou para centros industriais. De acordo com pesquisas de 2004, há cerca de 2,6 milhões de cidadãos turcos ou descendentes em solo alemão, dos quais 730 mil são de filhos e netos da primeira leva de imigrantes. Por ser a maior comunidade estrangeira no país (26% entre todas as nacionalidades registradas), há grande incidência de conflitos entre turcos e extremistas alemães. Isso, claro, se reflete no futebol.
“Uma das razões para que esses jogadores optem por defender a seleção turca é a discriminação que eles sofrem de seus companheiros alemães nas categorias de base de clubes alemães”, explica Andreas Merx, coordenador de um projeto de integração por meio do futebol da Fundação Heinrich Böll, organização não-governamental que visa promover ativismo sociopolítico, envolvimento democrático e intercâmbio cultural dentro e fora da Alemanha. Esse preconceito, somado ao fato de esses filhos de turcos nascidos na Alemanha não serem reconhecidos como cidadãos alemães pelo governo, aumenta
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ALEMÃES DA TURQUIA, OU TURCOS DA ALEMANHA Ina Fassbender/Reuters
Defendem a Alemanha
Malik Fathi
Getty Images/AFP
Clube Spartak Moscou Cidade de nascimento Berlim
Serdar Tasçi
Getty Images/AFP
Clube Stuttgart Cidade de nascimento Esslingen
ainda mais a tendência de esses jovens optarem por defender as cores da Turquia. Se há motivos do lado dos jogadores, a Federação Turca também faz sua parte no trabalho: ciente da quantidade de descendentes de turcos espalhados pelos principais campeonatos europeus, a entidade fica de olho sempre que um jovem talento começa a despontar. O objetivo é convencê-lo a optar pela camisa vermelha e branca em vez da seleção de seu país natal. Para os jogadores, essa situação não é tão simples de encarar. “Foi um grande dilema”, contou Halil Altintop, irmão de Hamit, em recente entrevista à revista “Kicker”. “Tinha bons motivos para escolher qualquer um dos lados, mas, como fez meu irmão, optei pelo país de nossos pais.” Os dois Altintop fizeram o mesmo que tantos outros, como alguns jogadores da geração que, em 2002, levou a Turquia à Copa do Mundo pela segunda vez em sua história. Naquela ocasião, os “turcos alemães” eram Tayfur Havutçu, Ilhan Mansiz e Ümit Davala. O curioso é que, muitas vezes, os turcos nascidos na Alemanha têm problemas para se adaptar aos costumes na seleção da Turquia. “Quando Hamit e eu fomos convocados pela primeira vez para a seleção turca sub-17, ficou claro que havíamos sido criados em uma cultura diferente. Na Turquia, a educação é muito mais autoritária”, lembrou o atacante do Schalke 04. “Hoje, não há problema algum. É tudo uma questão de rendimento: quem acrescenta é sempre bem-aceito e integrado. Com o [brasileiro naturalizado turco] Marco Aurélio, [que agora se chama Mehmet Aurélio], foi a mesma coisa. No início, houve alguma discussão, mas isso já é passado”.
Contra-ataque Recentemente, a Alemanha resolveu dar o troco. Num momento em que buscam mostrar-se abertos à diversidade étnica e cultural (não à toa, Klose, Podolski,
Asamoah e Neuville, não nascidos na Alemanha, defenderam o Nationalelf na última Copa), os alemães entraram na briga com os turcos pelos jovens talentos. Em 2005, as duas federações travaram uma batalha que durou semanas pelo volante Nuri Sahin, revelado pelas categorias de base do Borussia Dortmund. No final das contas, os turcos levaram a melhor. Por ironia do destino, o garoto fez sua estréia justamente contra a seleção alemã, em Istambul – e marcou o gol da vitória por 2 a 1, no final da partida. Mais irônico ainda foi o fato de os dois jogadores que marcaram a favor dos turcos (o outro gol foi de Halil Altintop) terem nascido na Alemanha, enquanto o gol alemão ter sido feito por Oliver Neuville, que nasceu na Suíça. Apesar do fracasso no caso de Sahin, a Federação Alemã teve algumas vitórias na luta pelos “turcos alemães”. Foi o caso de Mesut Özil, que, como os Altintop, nasceu em Gelsenkirchen. “A Federação Turca se enrolou muito e demorou a decidir se, de fato, ia me querer. Eu nasci na Alemanha e me sinto em casa com a camisa alemã desde a seleção sub-21, quando fiz muitos amigos”, afirmou o agora jogador do Werder Bremen à “Kicker”. Malik Fatih (Spartak Moscou) e Serdar Tasçi (Stuttgart) também optaram pelo Nationalelf, seguindo o caminho iniciado na década de 1990 por Mehmet Scholl, filho de pai turco e mãe alemã que fez carreira na seleção de seu país natal. Apesar da opção pelas cores da bandeira alemã, muitos desses jogadores não escondem que se sentem mais turcos. “Minha família tem grande influência. Em casa, falamos apenas turco”, explica Özil, que, nunca escondeu, é torcedor fanático do Fenerbahçe. E se um dia jogar contra a Turquia? “Como jogador alemão, não poderei cantar o hino turco, apesar de sabê-lo de cor.” Saiba mais sobre futebol turco em www.trivela.com/turquia
Defendem a Turquia Jogador
Mesut Özil Clube Werder Bremen Cidade de nascimento Gelsenkirchen
Ali Bilgin Halil Altintop Hamit Altintop Nuri Sahin Serhat Akin Ümit Karan Yildiray Bastürk Zafer Yelen
Clube Fenerbahçe (TUR) Schalke 04 Bayern de Munique Feyenoord (HOL) Colônia Galatasaray (TUR) Stuttgart Hansa Rostock
Cidade de nascimento Essen Gelsenkirchen Gelsenkirchen Lüdenscheid Karlsruhe Berlim Hesse Berlim
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Hannibal Hanschke/Reuters
HISTÓRIA por Gustavo Hofman
Independência e Kosovo declarou independência da Sérvia, mas, no futebol, a autonomia foi conquistada há muito tempo, na base da coragem e com o custo de algumas vidas uitas pessoas se sacrificaram para que a independência se tornasse realidade e esperamos por este dia durante muito tempo. Kosovo é independente, soberano e livre.” Foi assim que Hassim Thaçi, primeiro-ministro kosovar, anunciou que o Parlamento da região aprovara o pedido de independência do domínio sérvio. A partir daquele momento, o território de população predominantemente albanesa dava mais um passo para se tornar um país soberano. A declaração foi um marco do ponto de vista simbólico, pois o Kosovo já agia com relativa liberdade. Politicamente, a
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MORTE
região tinha administração da ONU e segurança assegurada por tropas de paz da Otan desde 1999. No entanto, um exemplo maior de autonomia vem do futebol, área em que os kosovares têm um torneio próprio há décadas. O primeiro Campeonato Kosovar foi disputado em 1945. No ano seguinte, foi criada a Federação Kosovar de Futebol, como um braço da então Federação Iugoslava. Com isso, estabeleceu-se o papel do Kosovo na hierarquia do futebol iugoslavo. A competição se tornou uma espécie de divisão regional – normalmente equivalente à terceira divisão – na
Iugoslávia e depois na Sérvia. Ainda que a região tivesse seu campeão e vice na Segundona iugoslava, raras vezes ela foi representada na primeira divisão. O Trepça foi o primeiro a ter sucesso. Em 1977/8, o time disputou a Prva Liga. Foi rebaixado logo na primeira temporada, mas, naquele mesmo ano, chegou à final da Copa da Iugoslávia, na qual foi derrotado pelo Rijeka (hoje um clube croata). A segunda aparição dos kosovares na elite iugoslava foi mais bem-sucedida. O Pristina chegou à primeira divisão em 1983 e só caiu cinco anos depois. Nesse período, consolidou-se como o clube mais
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SAIBA MAIS O Parlamento do Kosovo declarou a independência do território em relação à Sérvia em fevereiro deste ano. Na prática, porém, a região ainda não foi reconhecida oficialmente pelas autoridades internacionais como uma nova nação. Vários países, a maioria aliados dos Estados Unidos, aceitaram a declaração, mas a Sérvia e os governos alinhados com a Rússia resistem. Os sérvios alegam que o território do Kosovo é o berço cultural e histórico de seu país. Os russos temem que a independência kosovar desencadeie uma série de similares pela região – o que realmente aconteceu, mas sem grande cobertura da mídia: Abecázia e Ossétia do Sul se declararam independentes da Geórgia. Como a Rússia faz parte do Conselho de Segurança com poder de veto, a aceitação de Kosovo ainda está muito distante.
assim, era normal os encontros serem interrompidos após a chegada da polícia. Esse torneio secreto não impediu que o Campeonato Kosovar, como terceira divisão do Campeonato Iugoslavo, fosse mantido. No entanto, a repressão sérvia continuou forte. Um processo que ficou crítico no final da década de 1990, quando a Iugoslávia já havia se desmantelado e o governo de Slobodan Milosevic transformou o controle da região em guerra, com medo de perder mais território. O Campeonato Kosovar foi interrompido em 1998. No mesmo ano, teve início uma onda de assassinato de jogadores. Driton Ahmeti, do Korriku, foi morto em casa, com sua família. O clube aposentou a camisa Fotos Divulgação
popular do Kosovo, algo que incomodou as autoridades sérvias. Em 1989, jogadores do Pristina reclamavam com o árbitro após um empate em casa por 2 a 2 com o Proleter Zrenjanin. A polícia, comandada pelos sérvios, invadiu o gramado para agredir os jogadores kosovares. A confusão se espalhou para as arquibancadas e muitos torcedores foram presos. A partir daí, o estádio do Pristina e de outras cidades kosovares foram fechados para não-sérvios. Como apenas 5% da população local tem origem sérvia, as competições mais importantes da região ficaram esvaziadas, com poucos atletas e poucos torcedores disponíveis. Enquanto isso, a maior parte da população, os 90% de etnia albanesa, criavam um mundo à parte, longe das vistas do governo iugoslavo. Jogos secretos Os mais de 130 clubes – muitos mantidos por empresários ligados à causa kosovar – e 10 mil jogadores do Kosovo albanês criaram uma liga pirata. Os jogos tinham até 10 mil torcedores, mesmo com as dificuldades de organização. Por exemplo, o anúncio de local e hora das partidas era feito em cima da hora, para evitar que as autoridades atrapalhassem a realização dos jogos. Ainda
7, usada pelo jogador. Perparim Thaqi, do Liria, foi encontrado morto. Em homenagem, o estádio de Prizren recebeu seu nome. Rexhep Rexhepi, capitão do Ferronikeli, foi assassinado pelas forças sérvias. Em 1999, com a ação da Otan, a situação se regularizou no esporte da região. Com uma diferença: o Campeonato Kosovar deixou de fazer parte da pirâmide do futebol sérvio. Desde então, o Kosovo pôde estruturar seus torneios com autonomia e os clubes albanizaram seus nomes (o Pristina virou Prishtina). Foram formadas a Superliga, primeira divisão com 16 clubes, e a Liga e Pare, Segundona com 14 equipes. Há ainda terceira e quarta divisões, ambas amadoras e divididas em grupos regionais. Nessa nova realidade, houve um novo surto de desenvolvimento do futebol kosovar. O maior exemplo disso é o Besa, atual tricampeão. O clube contou com generoso apoio financeiro de Ekrem Lluka, empresário com negócios em áreas das mais diversas, como telefonia, comunicação, restaurantes, hotelaria, basquete, cigarros e cervejaria. Por mais consolidada que esteja a Superliga, ainda não há como os times tentarem um lugar em competições européias. Isso dependeria do reconhecimento da Federação Kosovar. Para a Fifa aceitar sua filiação, é preciso que a federação faça parte da Uefa. Isso só ocorrerá após o Kosovo ser aceito como nação soberana pela ONU, o que exige aprovação de seus países membros e de seu Conselho de Segurança. Um processo que deve ser bastante trabalhoso do ponto de vista diplomático (veja box acima). Ainda que o reconhecimento internacional demore, o Kosovo já tem meio caminho andado para ser, futebolisticamente, independente. Afinal, ter um campeonato nacional com mais de 60 anos de tradição e uma liberdade conquistada com muita coragem e sangue é algo que merece respeito.
MAIORES CAMPEÕES DO KOSOVO
Besa (verde) e Prishtina, as duas forças atuais
Nome
Títulos kosovares
Copa do Kosovo
Prishtina
9
2
Vëllaznimi
9
0
Trepça
7
1
Liria
5
2
Buduqnosti
4
0
Besa
3
1
KEK
3
1
Vëllaznimi: fila de quase 20 anos não desanima torcida (acima)
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NEGÓCIOS por Carlos Eduardo Freitas
O
torcedor
tem sempre razão A receita dos clubes brasileiros cresceu graças ao desenvolvimento de seus departamentos de marketing, uma tendência que deve se manter nos próximos anos o final do ano passado, Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esportes, apresentou uma palestra durante o Footecon (Fórum Internacional de Futebol). Diante de dirigentes de vários clubes brasileiros, o executivo mostrou que, a cada jogo, um torcedor inglês gastava no estádio uma média de £ 50, o espanhol deixava € 30 e o italiano € 20. No Brasil, esse número cai para míseros R$ 5. Por que um executivo do canal de TV que detém o monopólio das transmissões de futebol no Brasil mostrava esses dados? Simples: deixar claro aos cartolas que as receitas dos clubes não precisam vir apenas da venda de direitos de transmissão dos campeonatos. É evidente que Campos Pinto tem seu interesse. Com menos dependência do dinheiro da TV, os clubes se tornariam menos exigentes nas negociações com a Globo. De qualquer modo, ele não está errado. Os europeus ainda têm na televisão uma boa parcela de seu faturamento, mas há fontes de renda que fogem do binômio cotas de TV-vendas de jogadores. E parece que os brasileiros entenderam isso. Nos últimos anos, profissionais respeitados no mercado ganharam espaço na estrutura dos clubes, antes dominada por indicações políticas. “Os clubes precisam de um cara que já foi diretor de marketing em algum lugar. Ele entende essa linguagem, não importa se foi para vender sabonete ou serviço de banco”, comenta Licínio Motta, coordenador do Núcleo de Estudos em Negócios do Esporte, da Escola
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Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo. O resultado dessa nova postura já salta aos olhos. De acordo com um levantamento feito pela empresa de auditoria Casual, os 21 principais times do País tiveram, entre 2004 e 2006, um crescimento de 40% ao ano nas receitas de patrocínios e publicidade. A participação desse setor no faturamento global saltou de 10,4% para 19,33%. Um dos primeiros a atentar para essa necessidade foi o São Paulo. Em 2004, o então presidente Marcelo Portugal Gouvêa nomeou Júlio Casares, executivo da TV Record para a diretoria de marketing do clube. De lá para cá, o Tricolor paulista teve um “boom” em produtos e serviços com sua marca. Casares tem a seu lado colaboradores ativos no mercado publicitário (“todos voluntários”), mas realizou um programa de treinamento e capacitação para quem já estava no clube. O sucesso são-paulino tem sido replicado em outros clubes brasileiros. O Grêmio, por exemplo, trouxe para seu quadro de diretores Flávio Paiva, que atuava no mercado publicitário, o que gerou o mesmo tipo de reação do Internacional, que contratou uma agência para divulgar suas ações. O caminho foi seguido, recentemente, pelo Corinthians, que anunciou Luís Paulo Rosenberg para comandar o marketing do clube. O economista é conhecido no mercado financeiro e foi um dos criadores do projeto que elegeu o presidente Andrés Sanchez. “Quando o Andrés assumiu, o
É isso aí pessoal: parceria São PauloWarner é tida como o melhor acordo de licenciamento do futebol brasileiro
O QUE ESTÁ POR VIR Veja as principais iniciativas de marketing previstas pelos 20 clubes da Série A para este ano
Obs.: a relação inclui apenas as iniciativas mais importantes de cada clube. Muitos, aliás, deixaram claro que ainda não podem divulgar as ações que estão em fase de planejamento ou negociação Fonte: Departamento de marketing dos clubes
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COMO É LÁ FORA O aumento anual de 40% no faturamento em patrocínio e publicidade mostra o bom momento do investimento em marketing dos clubes brasileiros. Mas, na comparação com os números do exterior, fica evidente como ainda há muito a crescer. No Brasil, o marketing representa cerca de 14% das receitas dos clubes. Entre as principais ligas européias, o valor já estava entre 25 e 48% em 2005. No México, país com realidade econômica semelhante à brasileira, o número é 37%. Com a valorização do marketing, clubes europeus têm menos dependência da venda de jogadores, algo marcante nas ligas latinoamericanas, e acabam melhorando a arrecadação com bilheteria: 9% no Brasil, 25 a 33% na Europa (nesse caso, a Itália é exceção por conta da crise institucional e da violência de torcidas e tem apenas 13% de faturamento com venda de ingressos). Participação do marketing no faturamento dos clubes
10% 29% 14% 37% 25% Gaspar Nóbrega/Vipcomm
25%
Ações ligadas ao Centenário: homenagens a jogadores históricos, livro, concursos para a torcida e ações ligadas à Copa Sul-Americana
Aumento de sóciostorcedores, busca de novos parceiros para a Arena e aumento da interatividade do site
Camisas com ídolos do passado, campanha para venda de camisas, TV online, revitalização de mascote (Biriba) e restauração da sede e do memorial
Nova campanha de sócios, novo fornecedor de material esportivo, nova loja temática, novo site e início de ações do centenário (em 2009)
Novo site oficial, cartão de fidelidade, ingressos por internet e celular com desconto, nova coleção de camisas, cobrança de pênalti no intervalo dos jogos e bar temático
48% 39% Obs.: apenas clubes da primeira divisão em 2005 Fonte: Deloitte Sports Business Group
Campanha para ter votos na Timemania, carnê de ingressos, prêmios para torcedores que tiverem produtos oficiais em casa, programa de fidelidade e ações de assistência social
FlaTV, sóciotorcedor, Superliga Fórmula, revista oficial, franquia de lojas e serviços de telefonia como notícias, vídeos e ringtones
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DO LIMÃO, A LIMONADA
FONTE DE RENDA DOS CLUBES 2004
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34,86 12,78
9,09
Cotas de TV
Patrocínio e Publicidade
Transferências de jogadores
Bilheteria Obs.: Levantamento feito nos principais clubes brasileiros Fonte: Casual Auditores Independentes
Departamento Social e Amador
descrédito era tanto que era preciso alguém com o mínimo de credibilidade no mercado para fazer a ponte entre os parceiros e o clube”, conta. “Aí, ele me disse: ‘Vai lá e faz’.” Desde então, o Corinthians ganhou mais espaço na mídia, devido a uma série de iniciativas como a criação de um plano de saúde para os corintianos e a TV Timão. Foi graças à garantia de tanta exposição que o clube conseguiu um contrato de R$ 16,5 milhões anuais com a Medial Saúde, contra os R$ 8 milhões oferecidos pela Samsung, que queria diminuir o valor pago até 2007 em função do rebaixamento.
Entender e atender Segundo Licínio Motta, um dos méritos da atual filosofia de marketing corintiana é entender a cabeça do torcedor. “Essa é uma das melhores definições de marketing: entender o mercado e atendê-lo.” Um exemplo seria a camiseta lançada logo após o rebaixamento para a segunda divisão, com
Octávio Sarmento, diretor de marketing: “O clube não pode divulgar nada antes que o novo vice-presidente de marketing seja homologado”
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Para o torcedor, ver seu time cair para a Série B pode ser comparado a uma visita ao inferno. Mas, para o clube, pode ser a oportunidade de faturar. Palmeiras, Grêmio e Atlético-MG, que recentemente estiveram na Segundona, souberam aproveitar bem e colheram frutos financeiros satisfatórios. Principalmente o clube mineiro, que lançou diversas iniciativas para atrair a atenção do torcedor, como camisas comemorativas e DVD. Quem segue o mesmo caminho é o Corinthians. “Estamos em um momento mágico, mas nunca vamos saber o quanto do que está acontecendo é resultado do rebaixamento e quanto é da renovação do modo de gestão”, diz Luís Paulo Rosenberg, vice-presidente de marketing do Timão. De acordo com ele, as expectativas de arrecadação para este ano são de R$ 90 milhões em marketing, R$ 30 milhões a mais que no ano passado.
Lançamento de terceiro uniforme, programa de sócio-torcedor, prêmios para torcedores em dias de jogos e loja temática
a frase “Nunca vou te abandonar”, cantada pela torcida alvinegra diante da iminente queda do time. Na verdade, a idéia não foi do Corinthians. No dia seguinte ao rebaixamento, lojas populares no centro de São Paulo já vendiam camisas brancas com essa inscrição. O clube teve o mérito de ser ágil na criação de uma versão oficial. “Fizemos 5 mil achando que, ao longo do ano, venderíamos todas. Estamos em março e já vendemos mais de 140 mil”, conta Rosenberg, orgulhoso do próprio erro de cálculo. O primeiro lote de camisas esgotou em poucos dias. Para saber o que o torcedor quer, é preciso ouvi-lo, e não simplesmente lançar produtos impulsivamente. Há alguns anos, o Grêmio lançou uma camiseta para homenagear sua torcida mais famosa, a “barra”, que sempre faz uma avalanche humana quando o Tricolor gaúcho marca um gol. “Depois do lançamento, um membro dessa torcida veio nos dizer que não agradou
Nova programação da GrêmioTV e da rádio online e produtos alusivos aos 25 anos do título mundial e da Libertadores
Campanha de sócios, camisas históricas, sorteios em dias de jogos, programa “Passe um Dia com o Craque” e Batismo Colorado
Camisa especial do 10º aniversário, ações para investidores, sócio-torcedor, promoções em dias de jogos e doação de livros
Lançamento da camisa 3 foi pretexto para Palmeiras aproximar jogadores e torcedores
Reestruturação da sede, bar temático, nova loja, novidades de uniforme no máximo até o ano que vem, TimbuTV e novo site
Carnê para área VIP do estádio, remodelação do site e lançamento de novos produtos e serviços com a marca do clube
Rádio online, aumento do número de produtos licenciados, loja na internet, melhorias no Canindé e ações para atrair famílias em jogos de fim de semana
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Eduardo Viana/Divulgação
muito”, lembra-se Flávio Paiva, diretor de marketing do clube na época. De acordo com Júlio Casares, o segredo para o marketing de um clube de futebol dar certo é, em primeiro lugar, tratar o torcedor como um cliente. Em seguida, definir os públicos-alvo (“mulheres, crianças, o torcedor mais clássico, o que pode gastar R$ 500 por mês, o que só pode se comprometer com ingressos para dois ou três jogos...”) e lançar iniciativas que atendam a todos eles. Essa estratégia são-paulina pôde ser vista no lançamento da primeira linha de produtos da parceria do clube com a Warner, tido por especialistas como o mais importante contrato de licenciamento firmado no futebol brasileiro. Em vez de lançar apenas itens ligados ao futebol, o Tricolor lançou
Expansão da franquia Meninos da Vila, lançamento de personagens infantis, camisa três e retrô, produtos femininos, venda por catálogo, revista oficial e nova ala de camarotes
Lojas oficiais em shopping centers, livrarias do clube, bar temático e linha de produtos licenciados pela Warner no Brasil e no Japão
também linhas de produtos para a casa, como panelas e roupas de cama. Essa busca pela necessidade do torcedor/ consumidor pode levar o marketing esportivo a novos níveis. Uma iniciativa discreta, mas que pode crescer nos próximos anos, é o licenciamento de serviços. Não se trata de vender um produto com a marca do clube, mas de criar serviços, como planos de saúde e seguros, que tenham o futebol como fator de aproximação entre consumidor e empresa. Um universo pouco explorado no Brasil. Ainda que o licenciamento esteja se incrementando, os dirigentes têm de cuidar do local em que o futebol se torna realidade: os estádios. E nada é melhor do que ter uma torcida motivada a gastar dinheiro vendo jogos ao vivo. Pela situação deplorável em que se encontram os estádios brasileiros, fica fácil entender por que o torcedor vê o jogo na TV ou, quando sai de casa, não gasta mais do que os R$ 5 citados por Marcelo Campos Pinto. Os especialistas consultados pela reportagem foram unânimes: é difícil animar o torcedor a gastar dinheiro no estádio quando se vê banheiros sujos, falta de estacionamento, bebida quente e outros serviços mal prestados. A melhoria das condições aumenta a média de público, e induz os torcedores a consumir mais. “Os clubes precisam agir como empresas e dar o primeiro passo. Se fizerem um investimento, terão consumidores”, sugere Licínio Motta, da ESPM. É por isso que, na análise de Motta, a valorização do marketing nos clubes de futebol deve ser vista como “uma onda se formando, e não ainda como um ‘boom’”. Quanto falta para chegarmos a um patamar que dê para ser comparado ao padrão internacional? “Quando um torcedor for a um estádio, mas não para ver um time que não é o dele jogando, para ver o espetáculo”.
Rádio online, TV Sport, sóciotorcedor, revista, bar e loja oficiais, modernização do estádio e inauguração de mastro de 61 m de altura
Lançamento Novos uniformes, de programa promoções de sócios, em dias programas de de jogos e televisão, DVD ampliação do do acesso para cadastro de a Série A e loja torcedores oficial dentro do pelo site Barradão
NOTAS
Red Bull no futebol brasileiro Após lançar franquias nos Estados Unidos e na Áustria, além de ter especulada uma parceria com o Juventude em 2007, a Red Bull resolveu entrar de vez no mercado esportivo nacional com a fundação do Red Bull Brasil, filiado à Federação Paulista e que disputará, já em 2008, a quarta divisão do futebol de São Paulo. A idéia é mandar em Campinas os jogos do clube, cujo presidente é Paulo Sérgio, ex-jogador de Corinthians e Bayern de Munique. As atividades esportivas serão oficialmente inauguradas em 20 de abril, contra o Sumaré, com o início do torneio estadual.
Arena da Ponte A Ponte Preta analisa a possibilidade de erguer um novo estádio. A construtora Odebrecht apresentou ao conselho deliberativo do clube de Campinas o projeto de construção de uma arena com 30 mil lugares, todos cobertos. A obra, com custo estimado de R$ 112 milhões, ocuparia uma área de 86 mil m² no Jardim Eulina, onde se localiza o centro de treinamento da Macaca. O valor inclui a construção de um novo CT para a equipe. A direção da Ponte admite que o clube poderia ceder o estádio Moisés Lucarelli como forma de pagamento. A casa alvinegra está em bairro valorizado de Campinas e seu terreno seria utilizado para empreendimento imobiliário.
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CULTURA por Matthew Smith
Estádio Nada de poltrona: se não dá para ir ao estádio, lugar de inglês ver futebol é o pub
r a pub depois do almoço para assistir um jogo (ou até mesmo almoçar lá, especialmente com os horários impostos pela TV) é um programa tipicamente inglês. Talvez em lugares como Itália ou Alemanha haja qualquer coisa que lembre isso levemente, mas na Inglaterra é diferente. É um hábito tão enraizado que faz parte da paisagem. Muitos não-britânicos não entendem o que faz alguém sair de casa para ir ver um jogo no bar. Mas além da questão social – o pub é o local natural de confraternização do britânico –, há algumas razões bem concretas. Bom, primeiro, é uma questão de custo. Uma assinatura da Sky não sai por menos de £ 30 (cerca de R$ 100). Contratar o serviço da Setanta, £ 10 (R$ 34) – mais ou menos o preço de um ingresso simples para uma partida em casa do Fulham. Muitos torcedores fanáticos foram deixados de fora dos estádios e não têm alternativa além de ver os jogos na TV. Pagar £ 40 por mês não é tão fácil, ao passo que ir tomar umas cervejas e ver o jogo só
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Cem TurkeL/AFP
com cerveja custa o preço da bebida. Faz sentido para qualquer um – exceto os mais radicais “torcedores de poltrona”. Até outro dia, se você visse um jogo por semana, já estava no lucro. Hoje, com as coberturas de Sky e Setanta (as duas redes que detém os direitos de transmissão na Grã-Bretanha), é possível ver quase tudo. Em Chippenham, cidade em que moro, não há nenhum time jogando a Liga dos Campeões, mas assim mesmo os pubs ficam abarrotados nas noites de quarta. Para os bares, onde agora é proibido fumar, o faturamento proporcionado pelo futebol é ainda mais fundamental. E a Sky sabe disso. Tanto que cobra a assinatura dos bares com base na freqüência média – mais gente, mais caro. Bem, o bolso é sempre um motivo forte para as pessoas fazerem algo. Mas ir ao pub é mais que economizar algumas libras. É uma convivência social. Assistir a futebol em lugares públicos é uma tradição bem antiga na Inglaterra. Segundo relatos, há mais de um século, já havia torcedores que
se juntavam num bar em Edimburgo para saber os resultados por telefone. Dada a simbiose entre futebol, pubs e torcida, os clubes não tardaram em fazer parcerias com os lugares onde se vendia bebida alcóolica – e outros negócios também. A massa de trabalhadores se juntava aos seus chefes e iam todos para o bar. O clube de futebol e o pub eram parte integral da comunidade. O torcedor do século 21 mudou sua forma de se relacionar com o clube, mas o “pub football” continua fundamental. Tudo por causa do ambiente. Como muitos adeptos do bar eram freqüentadores de estádios, eles fazem questão de transportar a atmosfera das arquibancadas para as mesas e balcão. Se você quer ver jogos de um dos “Quatro Grandes” (Manchester United, Arsenal, Chelsea e Liverpool), é melhor não chegar em cima da hora: não vai rolar um lugar sentado. E quando você tem mais de um clássico no mesmo dia, chegar cinco minutos antes de começar o jogo significa ficar naquele canto perto do banheiro – e ainda apertado.
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Na Inglaterra, ver futebol no bar virou tradição, mas o Brasil também oferece opções para o torcedor. Veja alguns lugares em que se pode ver um jogo e tomar uma cerveja com amigos São Paulo São Cristóvão Rua Aspicuelta, 533 Vila Madalena Fone: (11) 3097-9904 Rio de Janeiro Clipper Rua Carlos Góes, 263A Leblon Fone: (21) 2259-0148 Belo Horizonte Bar do Salomão (para atleticanos) R. do Ouro, 895 Serra Fone: (31) 3221-5677 Cruzeiro Sport Bar (para cruzeirenses) Av. do Contorno, 6605 Savassi Fone: (31) 3225-5188 Porto Alegre Cavanha’s Rua General Lima e Silva, 274 e 373 Cidade Baixa Fone: (51) 3227-8163 A lista completa com mais bares e opções de outras cidades está em www.trivela.com
Matthew Smith é jornalista inglês e, sempre que pode, vai a um pub para ver jogos da 4ª divisão inglesa e torcer por seu Lincoln City
LANÇAMENTOS São Paulo e Tec Toy lançam jogo para celular Uma parceria entre a Warner Bros e a Tectoy Mobile fará com que o torcedor são-paulino tenha acesso a um jogo para telefone celular. Trata-se do 5-3-3, em que o jogador cobra faltas e pênaltis com Adriano, Richarlyson e Jorge Wagner. Ao avançar de fases e atingir um nível superior de resultados, é possível também realizar as batidas com Rogério Ceni. O lançamento estará disponível para todas as operadoras do Brasil. 5-3-3 Divulgação
Fabricante: Tec Toy Data de lançamento: março/2008
Série B 2007 e Dubai Cup A conquista do Coritiba na Série B em 2007 será retratada em um filme produzido para o torcedor coxa-branca. O DVD é o principal atrativo de um kit, cujo lançamento é previsto para o mês de maio e traz, ainda, uma flâmula, uma camisa e uma embalagem especial. Por sua vez, o Internacional valorizará a conquista do Torneio de Dubai, em janeiro, com lançamento também de um DVD. A idéia é que o torcedor colorado possa ter detalhes de cada uma das conquistas do clube. O encerramento das filmagens está previsto para abril. Produções: Coritiba – Não divulgado / Inter – G7 Cinema Preços sugeridos: Não divulgado Onde encontrar: Livrarias e lojas oficiais dos clubes
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Vipcomm
NO BRASIL
Para um cara como eu, que não torce para um time grande, a experiência é diferente. Tenho de esperar meses para ver um joguinho do meu time na TV, e é sempre uma novela. Não é difícil acontecer de eu ver o jogo numa TV lateral – às vezes, sozinho. Saber lidar diplomaticamente com o barman para que ele tire a música ambiente e coloque a narração do jogo é uma arte. Contudo, faz-se o que for preciso. Outro fator importante é que o pub se transformou na rara oportunidade que muitos torcedores têm de acompanhar seu time junto de iguais. É o caso dos torcedores dos “Quatro Grandes”, já que a maioria esmagadora deles não mora perto dos estádios dessas equipes. Assim, muitos só verão seu próprio time se ele vier à sua cidade, ou então, escolherão um jogo especial da temporada para viajar e assistir. Ir ao bar mais próximo é a única opção para poder ver o jogo em meio a um grupo de pessoas que estão lá para torcer e vibrar juntas. Até por isso, os bares não carregam o clima de violência que era comum nos estádios ingleses. Já vi algumas centenas de jogos de várias divisões, e raramente sai uma briga. O episódio mais sério foi num bar em Macclesfield, quando ia ver Liverpool x Manchester United. Em jogos desse tipo, a polícia pede que começe mais cedo para diminuir o risco de confusão. Mas, nesse caso, o problema é que muita gente acaba bebendo cedo – sem comer nada – e depois de algumas cervejas já está bem “alegre”. A relativa paz ajudou a trazer um novo público aos pubs. Um estudo mostrou que jovens de classe média tem se juntado aos trabalhadores comuns nas jornadas regadas a futebol e cerveja. Aí voltamos à questão financeira: quando os adolescentes fazem 16 anos, perdem o desconto na bilheteria e passam a pagar preço de ingresso adulto – então, o dinheiro não dá. Particularmente nos pubs em cidades grandes, o ambiente nos jogos é cada vez mais parecido com um estádio em si. Ir ao bar, pedir uma cerveja com os amigos e ver o jogo é viável mesmo para quem tem pouco dinheiro – e mais de 18 anos. Num jogo de futebol no pub, três gerações se encontram para torcer pelo seu time, sem se sujeitar a brigas ou aos caros ingressos cobrados nos estádios ingleses.
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por Ubiratan Leal eu fiscalizo a
Arnd Wiegmann/Reuters
Copa 2014
LU PA
Pelé empresta sua imagem, mas não decide como ela será usada
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Pouca gente importante poria seu nome em algo com potencial de se tornar comprometedor. Aparentemente, Pelé é uma dessas pessoas. Em encontro realizado em 6 de março, o Rei e Ricardo Teixeira, presidente da CBF e do Comitê Organizador da Copa de 2014, anunciaram um acordo que coloca o ex-jogador como embaixador do torneio. Pelé terá papel diplomático, sem poder na organização do Mundial em si. Ou seja, o Rei empresta seu nome, mas não define no que ele será usado. O risco é conhecido do ex-jogador. O próprio Teixeira afirmou que não tem como impedir que se use a Copa para desviar dinheiro. Além disso, Pelé admite que já se envolveu em empreitadas suspeitas que acabaram sujando seu nome. Nem esse histórico o fez ter mais precauções. Questionado pela reportagem da Trivela se tinha pedido alguma garantia quanto à lisura da organização da Copa, o Rei foi evasivo. “É difícil saber como será o processo, pois o grupo de trabalho ainda não foi formado”. Oficialmente, é verdade, mas os nomes mais fortes do futuro comitê da Copa 2014 são bem conhecidos. Ricardo Teixeira, o presidente já definido da organização, tem trabalhado com Rui Rodrigues (coordenador de operações), Francisco Müssnich (questões jurídicas)
e Carlos Geraldo Langoni (planejamento financeiro). Pelé diz ignorar isso. “Terei novas reuniões com o pessoal da organização da Copa e, aí, ficarei conhecendo quem faz parte do comitê”, alega. A postura do embaixador do Mundial 2014 destoa com o discurso de pouco mais de dois anos atrás. Em novembro de 2005, quando a Prime Licenciamentos acertou com o ex-jogador o gerenciamento da marca “Pelé”, os objetivos eram outros. “O Pelé fez um pedido pessoal para cuidarmos que o nome dele não fosse envolvido em novos casos embaraçosos”, comentou na época Marco Antônio Parizotto, diretor da empresa, com quem o excraque ainda tem contrato. As negociações entre Pelé e Ricardo Teixeira foram demoradas e difíceis, a ponto de Pelé não ter acompanhado a delegação brasileira em Zurique na escolha do país como sede do Mundial. Oficialmente, a Fifa ainda precisa aprovar a presença do Rei no comitê de organização da Copa 2014. Não é raro um ex-craque emprestar sua imagem a um Mundial. Foi assim com Michel Platini em 1998 e Franz Beckenbauer em 2006. A diferença é que, nos dois casos, os ex-jogadores tinham funções diretivas – e poder para evitar se meter em confusão.
Inflação
Um craque por ano?
Poluição ambiental
Quando apresentou sua candidatura para a Copa do Mundo, a África do Sul informou que o torneio custaria US$ 295 milhões ao país. Infeliz de quem acreditou. Em 18 de março, o ministério dos esportes do país reconheceu que o valor já subiu para US$ 3,7 bilhões. Um dos motivos seria o aumento no custo de materiais básicos de construção. O Brasil nem ousou estimar os custos para 2014, mas teve esse tipo de “inflação” na organização do Pan e passou por escassez de cimento no final do ano passado.
Zidane esteve em São Paulo em 16 de março. Objetivo oficial: inaugurar uma quadra na favela Heliópolis (considerada a maior da capital paulista) e fazer um jogo beneficente. Mas há mais coisa por trás. A viagem foi bancada pela Adidas, que patrocina Zidane, e, com a vinda do francês ao Brasil, iniciou a campanha para vincular sua marca à Copa do Mundo. A empresa alemã é parceira da Fifa na organização do torneio e cogita inaugurar uma quadra por ano até 2014, sempre trazendo uma estrela internacional.
O Morumbi é candidato a receber jogos de Copa do Mundo, mas tem muito a melhorar. Não é apenas cobertura, assentos ou infra-estrutura de imprensa. Após uma denúncia de vizinhos, o Ministério Público paulista iniciou investigação sobre supostos crimes ambientais cometidos no estádio. O local não está totalmente conectado à rede de água (parte do abastecimento é feita por caminhões-pipa) e esgoto. O MP investiga se o clube não estaria jogando dejetos em um córrego.
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CADEIRA CATIVA por Luciano André Koslowski
Cecílio, Embu e
Ronaldinho Gaúcho
Fotos Arquivo Pessoal
cover ‘ ’ Mico? Nada disso. Ver a Segundona de Santa Catarina é a rara chance de ter acesso ao campo e tirar foto com jogadores
ma tarde de domingo fria e sonolenta em Joinville, com pelo menos um bom motivo para sair de casa para quem gosta de futebol: assistir a Joinville x Villa Nova mineiro pela Série C do Brasileiro. No entanto, surge uma proposta muito mais alternativa e, conseqüentemente, tentadora. Ir a São Francisco do Sul, a 40 km de distância, para ver o Santa Cruz receber o Grêmio Pinheiros, de Lages, pela última rodada da Divisão de Acesso catarinense. A coisa não andava bem no time da terceira cidade mais antiga do Brasil. A equipe era última colocada, com derrotas em todas as partidas. O técnico era Roberto Tim, ex-jogador do
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SANTA CRUZ-SC GRÊMIO PINHEIROS-SC Competição: Divisão de Acesso de Santa Catarina de 2007 Data: 19/agosto/2007 Local: Otto Selink (São Francisco do Sul-SC)
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São Paulo, que colocou sua mulher para vender os ingressos. Comentava-se que o empresário que bancava o clube não estava honrando os compromissos financeiros, e alguns poucos abnegados estavam ajudando o clube a não desistir do campeonato. A equipe continuou na ativa, mas chegou à última rodada sem nenhuma vitória. Em campo, o nome mais famoso do Santa Cruz era Embu, volante que começou no Corinthians no começo da década passada e fez carreira no Japão. O curioso é que a despedida do Santa Cruz contrariou tudo o que o time havia feito na Segundona de Santa Catarina. Erlon abriu o marcador para o Pinheiros, mas, depois disso, a equipe francisquense reagiu. Cecílio empatou a partida e a torcida local se animou. O destaque era Embu, que fazia marcação cerrada e sem trégua ao adversário, a ponto de ter seu nome cantado pelos 43 torcedores que foram ao estádio Otto Selink. Ainda no primeiro tempo, Gilberto virou o placar. Na volta do intervalo, o Santa Cruz veio com tudo para cima do Pinheiros. Cecílio, mais uma vez, faz grande jogada sobre Rafael Marques – uma cópia física do Ronaldinho Gaúcho, semelhança que não se reflete na qualidade técnica – e Eudes emplaca 3 a 1. A torcida ensaia o “olé”, o que deixa os jogadores do Pinheiros nervosos. No final, Cecílio sacramenta o 4 a 1 a favor do Santa Cruz de “São Chico”. O resultado foi animador, mas o que valeu o programa inusitado foi a informalidade da partida. No intervalo, foi possível negociar uma camisa do Grêmio Pinheiros diretamente com o presidente do clube. Depois do jogo, deu para entrar no campo e nos vestiários para conversar com os jogadores dos dois clubes. E claro, tirar uma foto com Embu, bastante atencioso. Chegando em casa, soube que o Joinville não tinha passado de um empate sem gols com o Villa Nova. No final das contas, nem Santa Cruz nem Pinheiros conseguiram a classificação para a Divisão Principal. De qualquer forma, deu para ficar com as recordações da primeira vitória do Santa Cruz em competições oficiais.
Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!
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A Várzea
Nota dez Tolete não quis acreditar quando lhe disseram que o camisa 10 estava morto. Primeiro, ele não viu qualquer reportagem sobre o assunto nesses programas vespertinos seguidores da mais fina escola do espreme-que-saisangue. Além disso, nosso intrépido repórter estava mais do que convencido do contrário. Afinal, basta olhar para cada grande clube do País para ver como seus históricos recentes mantêm a tradição daqueles grandes craques, sinônimos de qualidade e expoentes máximos do Futebol Alegre. Não, ninguém poderia decretar assim o fim da “escola Denílson” de jogar bola. Para começar, o Corinthians tem o orgulho de ver sua camisa 10 cair como uma luva em um astro da TV. Ninguém mais pode se orgulhar de ver Lula Molusco batendo uma bolinha de vez em quando. Vai ver, os tempos nas categorias de base do time da Fenda do Biquíni deram a ele um controle especial sobre a bola. A adaptação aos gramados veio numa braçada só. O Náutico, como o próprio nome já diz, foi a melhor escola no caminho entre o mar e a terra. Só esqueceram de falar para o Acosta que, embora fique do lado de um rio, ficaria meio difícil para ele sair do Parque São Jorge para se refrescar nas águas límpidas do Tietê. E na célebre campanha de 2007, todo corintiano se lembra com muito carinho de seu principal jogador. Obviamente, Aílton ficou marcado nos corações da Fiel, sobretudo por sua habilidade nas artes marciais, como demonstrou no jogo contra o Náutico. Isso sem falar em Roger, o craque de jogadas maravilhosas mesmo quando está de chinelos. No São Paulo, a 10 tem sido usada por um Imperador, mas, na verdade, esse que aí está não passa de um impostor. Todo mundo sabe que a magia do manto sagrado se esvaiu quando Souza deixou de vesti-lo. A torcida tricolor sente saudades de seu grande mestre quando vê seu meio-campo (?) contar com Joílson, Hugo, um cone de trânsito... Mas quem destoa completamente de todos
A charge do mês é o Santos. O Peixe decidiu largar mão do Futebol Alegre e resolveu contratar uns gringos aí. Primeiro, veio um japonês que hoje mal está no banco de reservas; agora, conta com um colombiano desconhecido por todos, mas que até quebra um galho por ali. Tolete sabe que a mística da camisa 10 não acabou. Isso é teoria de quem não aprecia o verdadeiro futebol e se vende para esse bando de europeus meia-boca. Zidane? Deco? Owen? Bom mesmo é o Léo Lima.
Em alta Souza Foi para o PSG, que tenta não cair na França. Mas o futebol do São Paulo está tão mixuruca que já tem gente achando que ele era bom.
México Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto
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A lorota do mês “Se marcar um gol no Real Madrid, fico um ano sem fazer sexo” Para felicidade da namorada, De Guzmán não foi autor do gol da vitória do Deportivo La Coruña sobre o Real Madrid por 1 a 0.
A manchete do mês “Gravidez tira Xabi Alonso de jogo decisivo pela Liga” (Lancenet)
Foi eliminado no préolímpico por Guatemala e Canadá. Pelo menos, não teremos de ouvir que os mexicanos “jogaram como nunca e perderam como sempre”.
Em baixa
Ainda bem que o Liverpool concedeu licença-maternidade ao meia e ofereceu toda a assistência para o pré-natal.
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Todas as camisas,
Brasil
Argentina
México
Peru
Colômbia
Chile
Equador
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R$ 159,90
R$ 169,90
R$ 269,90
R$ 299,90
R$ 269,90
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América-RN
Atlético-MG
Botafogo
Cruzeiro
Goiás
Grêmio
Juventude
Palmeiras
R$ 119,90
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Hannover I
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R$ 169,90
R$ 169,90
R$ 169,90
R$ 169,90
R$ 169,90
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Parma
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Lorient
Modena
Guiné
Islândia
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Derby County
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R$ 229,90
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