Trivela 16 (jun/07)

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COPA 2014 Ricardo Teixeira já lançou seus tentáculos

nº 16 | jun/07 | R$ 8,90

O Brasil de

Dunga Seleção chega à Copa América sem dar a impressão de que encontrou o rumo para o futuro

FINAL DA LC Milan se vinga da derrota de Istambul

nº 16 | jun/07 | R$ 8,90

E MAIS... • Entrevista: Platini • Copa América • Euro 2012 • Leeds em desgraça • Cairo • Futebol em Cuba

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índice Entrevista: Michel Platini fala sobre Uefa, G-14 e Liga dos Campeões Era Dunga: Como o Brasil chega a seu primeiro teste pós-Copa Copa América: Na Venezuela, a festa será de Hugo Chávez Futebol em Cuba: Na ilha de Fidel, o esporte do povo é o beisebol Getty Images/AFP

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Jogo do mês Curtas Peneira Opinião Tática LC africana Capitais do futebol Inglaterra História Euro-2012 Liga dos Campeões Negócios Cultura Cadeira cativa

56 COPA’14

E se... A Várzea

A primeira de cinco reportagens sobre a competição que pode ser no Brasil. Saiba quem comanda o projeto e como fiscalizá-lo

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editorial Os errados não são eles Foi triste a cena que vimos na entrevista de Dunga, após a convocação para os amistosos pré-Copa América. Em vez de questioná-lo sobre os motivos da convocação de jogadores evidentemente limitados, como Alex Silva e Jô, os repórteres presentes pareciam mais preocupados em levantar a bola para que o treinador pudesse descer o pau em Kaká e Ronaldinho. Ambos são profissionais exemplares. Nunca foram notícia por fazer corpo mole ou por demorarem para voltar a seus clubes após o carnaval. São, além disso, os dois melhores jogadores do mundo na atualidade. Ainda assim, uma grande parte de nossa imprensa prefere agradar a quem tem o poder de permitir o acesso a concentrações e treinos, entregar informações privilegiadas e, claro, garantir algumas boquinhas. Não é toda a imprensa e talvez não seja nem a maior parte dela. É, porém, a parte que faz mais barulho. Nossa voz pode até não ter o mesmo alcance amplificado dos veículos chapa-branca, mas, sempre que for necessário, vai se levantar para dizer em alto e bom som: Viva Kaká! Viva Ronaldinho! Os errados não são eles.

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www.trivela.com Editor executivo Caio Maia Editor Cassiano Ricardo Gobbet Reportagem Carlos Eduardo Freitas Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Tomaz R. Alves Ubiratan Leal Colaboradores Daniel Lisboa Gustavo Hofman João Tiago Picoli Luis Augusto Bacci Manfred Münchrath Marcus Alves Mauro Beting Mauro Cezar Pereira Rainer Franzke Agradecimentos Alessandro Jannuzzi André Tilkian Vivian Whiteman Foto da capa Sergio Moraes/Reuters Destaque: Reuters Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold (looks@uol.com.br) Diagramação e tratamento de imagem s.t.a.r.t. (start.design@gmail.com)

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2x1 Jogo do mês, por Cassiano Ricardo Gobbet

A vingança de Atenas

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ão se podia esperar um jogo menos tenso na final da LC 2006/7. Em 2005, tudo havia sido contra o Liverpool. O time tinha poucos destaques individuais, seu principal nome, Gerrard, estava louquinho para jogar em Stamford Bridge, e o trabalho da Rafa Benítez mal começara e já sofria pesadas críticas. A própria chegada dos Reds à final foi uma espécie de “acidente”: uma inesperada vitória em casa diante da Juve, seguida de um 0 a 0 em Turim, nas quartas, foi o combustível para que a maior tradição européia prevalecesse diante do milionário Chelsea. O espetacular empate por 3 a 3, depois de estar perdendo do poderoso Milan por 3 a 0, e a vitória nos pênaltis só aumentaram o conteúdo mítico do quinto título da equipe de Anfield. O elenco milanista aguardava a revanche contra o Liverpool havia dois anos, e ela talvez nunca viesse – nunca dois times tinham repetido uma final no atual formato da Liga dos Campeões. Mas veio. E a sede de “vendetta” dos italianos estava fadada a dar o clima. Desta vez, o “patinho feio” era o Milan, embora o Liverpool não gozasse, de maneira alguma, do status de favorito. Rafa Benítez, técnico do Liverpool, jurou que não marcaria Kaká por zona. Mentiu. Ou melhor, escondeu o jogo. Depois de ver o brasileiro destruir o Manchester United, seria burrice fazer qualquer outra coisa. O espanhol, que, em 2005, por sorte ou extrema competência, mudou a partida depois da contusão de

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Kewell, desta vez cometeu um erro capital, quando sacou o ex-corintiano Mascherano para mandar Crouch a campo. O argentino realizava uma partida soberba, impedindo Kaká de fazer qualquer coisa. Tivesse se lembrado de 2005, o treinador espanhol poderia ter tirado Finnan da lateral-direita (Jankulovski estava sumido em campo) para a entrada do centroavante inglês. Não se lembrou, e Kaká deixou Pippo Inzaghi na cara do gol para selar o título que deveria ter ido para Milão há dois anos. Falando em Inzaghi, ele, cuja presença foi incerta até o último minuto, é que foi o nome do jogo. Não espere dele um gol com a habilidade de Kaká ou um lampejo de Ronaldo antes da conclusão. Mas o jogador de 33 anos não é o italiano com mais gols em copas européias na história à toa. No primeiro gol, a um minuto do intervalo, Pippo tirou a bola de onde estaria o arqueiro Reina e, no segundo, foi mais Inzaghi do que nunca, ao sair da linha de impedimento no último momento. O segundo sucesso do Milan em Atenas encerrou um pesadelo que assombrava a todos no clube. A sétima consagração européia não enche só a sala de troféus de Milanello, mas garante que o núcleo do time seja mantido por mais tempo. Uma derrota certamente causaria uma debandada – astros inclusos. Na Milão rubro-negra, a temporada que começou com a lama do “Calciocaos” terminou da melhor maneira que se poderia imaginar.

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Getty Images/AFP

Dois anos depois do pesadelo de Istambul, o Milan de Inzaghi ajustou as contas com o Liverpool

MILAN 2 LIVERPOOL 1 Data: 23/maio/2007 Local: Estádio Spyros Louis (Atenas) Público: 74.000 pagantes Gols: Inzaghi (45min e 82min) e Kuyt (89min) Cartões amarelos: Gattuso, Jankulovski (Milan), Mascherano e Carragher (Liverpool) MILAN Dida; Oddo, Nesta, Maldini e Jankulovski (Kaladze); Gattuso, Pirlo, Seedorf (Favalli), Ambrosini e Kaká; Inzaghi (Gilardino). Técnico: Carlo Ancelotti LIVERPOOL Reina; Finnan (Arbeloa), Carragher, Agger e Riise; Pennant, Mascherano (Crouch), Xabi Alonso, Zenden (Kewell) e Gerrard; Kuyt. Técnico: Rafa Benítez

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Curtas DUELO MINEIRO EM NOVA YORK

Stringer/Reuters

Os árbitros espanhóis encontraram uma forma inusitada de fazer um protesto. Incomodados com a anulação de um cartão amarelo recebido por David Beckham contra o Athletic de Bilbao, que o suspenderia da partida contra o Sevilla, os juízes resolveram dar o troco. Nos jogos da 34ª rodada do campeonato espanhol, os árbitros não detalharam, em seus relatórios, as razões para os cartões amarelos exibidos para os jogadores. Todos tiveram a mesma descrição: “comportamento antidesportivo”. Por esse motivo, todos os cartões foram invalidados.

Michaela Rehle/Reuters

PROTESTO DE JUÍZES

ARRIVEDERCI! AUF WIEDERSEHEN! Ao final da temporada 2006/7, Alemanha e Itália viram três grandes jogadores de suas seleções se aposentarem. Alessandro Costacurta (41 anos), Mehmet Scholl (36) e Angelo Peruzzi (37) penduraram suas chuteiras – e luvas, no caso do último. O zagueiro do Milan, que jogava no clube desde 1985, parou depois da derrota para a Udinese por 3 a 2, em que fez um dos gols, de pênalti. Peruzzi deixa o futebol depois de levar sua Lazio à Liga dos Campeões. Já Scholl, o jogador que mais títulos alemães conquistou com a camisa do Bayern de Munique (oito, no total), pára sem nunca ter ido a uma Copa do Mundo.

Alessandro Garofalo/Reuters

Victor Fraile/Reuters

Eternos rivais em Belo Horizonte, Atlético-MG e Cruzeiro aceitaram um convite feito por um empresário português, para fazer um amistoso em Nova York. Cada um dos clubes receberá US$ 250 mil pela partida, que pela primeira vez será disputada fora das fronteiras de Minas Gerais. Falta apenas definir a data, que provavelmente será uma das quartas-feiras livres durante o Brasileirão. A única dúvida que persiste é se o Democrata, de Governador Valadares, não levaria mais público ao Giants Stadium.

frases “O que aconteceu aqui é caso de Polícia Federal, de FMI; voltar pênalti porque torcida está gritando é brincadeira” Dimba acha que o pênalti cobrado duas vezes por Carlos Alberto, do Fluminense, contra o Brasiliense, na Copa do Brasil, foi o principal responsável pela queda do dólar.

“Chego com a intenção de conseguir algo melhor mais para a frente”

“Nunca mais jogo no Nantes”

Makelele comete gafe logo em sua apresentação oficial como reforço do Palmeiras.

O goleiro Sessa, do Vélez Sársfield, tenta encaixar uma desculpa à la Chaves para justificar a voadora no rosto de Rodrigo Palacio, do Boca, nas oitavas-de-final da Libertadores.

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A torcida dos Canários agradece a consideração do goleiro Fabien Barthez, um dos responsáveis pelo rebaixamento do time para a segunda divisão francesa.

‘’Minha perna escapou’’

“Esse é o time do São Paulo. Não é o time do presidente, nem do treinador. E é ruim eu aceitar interferência!” Muricy Ramalho joga para a torcida um dia depois de mudar metade do time do São Paulo por “sugestão” de Juvenal Juvêncio, presidente do Tricolor.

“O que aconteceu está ligado ao interesse do Boca. Não tenho dúvida dos interesses desse árbitro quando veio para cá” Kleber Leite, presidente do Flamengo, joga a culpa no juiz pela eliminação da Libertadores contra o Defensor. Obviamente, os Xeneizes estavam preocupadíssimos em pegar o Mengo no torneio.

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A Fifa definiu os grupos do Mundial sub-17, que será disputado entre os dias 18 de agosto e 9 de setembro na Coréia do Sul. O Brasil, vice do último Mundial e atual campeão sul-americano, está no grupo B, ao lado da Inglaterra, vice-campeã européia. O número de participantes foi ampliado de 16 para 24. Agora, classificam-se para as oitavas as duas primeiras equipes de cada grupo, além das quatro melhores terceiras colocadas. Veja a composição das chaves: Grupo A Coréia do Sul Peru Costa Rica Togo

Grupo B Coréia do Norte Inglaterra Brasil Nova Zelândia

Grupo C Honduras Espanha Argentina Síria

Grupo D Nigéria França Japão Haiti

Grupo E Bélgica Tunísia Tadjiquistão Estados Unidos

Grupo F Colômbia Alemanha Trinidad e Tobago Gana

Henry Romero/Reuters

MUNDIAL SUB-17

BANIDO Salvador Carmona, defensor do Cruz Azul, foi banido do futebol por doping. A decisão, tomada pelo Tribunal Arbitral do Esporte, baseou-se nos exames feitos pelo atleta durante a disputa da Copa das Confederações de 2005, e que apontaram a presença de nandrolona, um tipo de esteróide, na urina do jogador. Devido a um mal-entendido, a equipe mexicana o escalou para a partida de ida das semifinais do torneio Clausura contra o Pachuca, após ser notificada da punição. Resultado: por mandar a campo um jogador em condição irregular, o clube foi eliminado da competição.

100% ROMENO

DE SIR A SANTO

Incomodado pela perda do título romeno para o rival Dinamo Bucareste, Gigi Becali, presidente do Steaua Bucareste, radicalizou. O dirigente iniciou uma faxina no elenco e começou um processo de “nacionalização” da equipe, ao colocar dois jogadores estrangeiros à venda: o meia Élton, ex-Corinthians, e o atacante francês Cyril Thereau. “Paguei muito dinheiro por jogadores estrangeiros, e eles não mereceram esse investimento. Agora, quero que o Steaua seja um time inteiramente romeno”, disse Becali.

Depois de receber o título de “Sir”, Alex Ferguson é agora candidato a virar... santo. É isso mesmo. O pedido veio de Gary “Mani” Mountfield, baixista da banda escocesa Primal Scream. Mani enviou uma carta endereçada ao papa Bento XVI, pedindo que o técnico fosse santificado. Segundo o baixista, só um milagre explicaria o Manchester United, seu time de coração, ter conseguido superar o multimilionário Chelsea, no título inglês conquistado nesta temporada. A dúvida é saber se o papa, que já se declarou um fã de futebol, considerará a possibilidade, sabendo que Ferguson treina um time que tem como apelido “Diabos Vermelhos”.

Especial Dunga

“A Seleção tem uma forma de jogar. Não colocamos em dúvida a qualidade do Ronaldinho. Se em algum momento estiver melhor, ganhará a oportunidade” (Novembro/2006) Explicando a necessidade de que os jogadores se adaptem à Seleção, e não o contrário.

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“Muito se criticou o Parreira por não ter colocado ele [Ronaldinho] na posição em que joga no Barcelona. Agora, tentarei fazer isso” (Março/2007) Mudando de idéia, resolve abrir exceção para Ronaldinho.

“Afonso, do time lá da Holanda” (Maio/2007) Antenado com o futebol holandês, o técnico esclarece que Afonso Alves é o que joga no Heerenveen, da Holanda.

“Tem que jogar demais para estar na Seleção” (Novembro/2006) Explicação que deixou felizes Jônatas, Carlinhos e Cássio, convocados por Dunga para a Seleção.

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O que você faria se descobrisse que uma empresa que fabrica vibradores lançou uma peça com seu nome? A firma alemã Beate Uhs, especializada na produção de artigos eróticos, foi condenada a indenizar Oliver Kahn e Michael Ballack em € 50 mil. Tudo isso porque, às vésperas da Copa, lançou dois vibradores batizados de “Michael B” e “Olli K”.

ANIMAIS PELO MUNDO A violência entre torcidas segue firme e forte entre selvagens disfarçados de torcedores nos quatro cantos do mundo. No final de maio, um homem foi apedrejado até a morte em Moçambique depois de ter celebrado efusivamente o gol de seu time, o Ferroviário de Nampula, contra o Lichinga, no estádio de mesmo nome. De acordo com testemunhas, o homem teria invadido a parte do estádio reservada a torcedores do Ferroviário para comemorar o gol de sua equipe, quando foi atacado. A polícia não teria conseguido socorrer o torcedor a tempo de evitar sua morte. O Campeonato Moçambicano, que é disputado por 14 clubes, dura até o final de novembro.

erramos Ao contrário do que informamos na última edição, o Joinville não foi rebaixado para a Segundona estadual pela má campanha no torneio em 2007. Isso porque, pelo brilhante regulamento, os rebaixamentos só ocorrem na série A2, disputada no segundo semestre. Erramos também ao dizer que o Fluminense havia sido eliminado da Copa do Brasil. Até o fechamento desta edição, o Tricolor já havia pelo menos garantido vaga na final da competição

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10 piores regulamentos dos Brasileirões

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PENA

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Imagine um campeonato nacional disputado por 116 clubes, em que o Malutrom chegou às 16as-de-finais. Eis a Copa João Havelange, o aborto criado em função do escândalo Sandro Hiroshi, em 1999. Sem ou rebaixamento, as equipes foram separadas em módulos azul (1ª), amarelo (2ª), verde e branco (3ª). O que dizer de um campeonato que, 20 anos depois, ainda se discute quem é o campeão? A Copa União foi criada pelo Clube dos 13, com 16 times, com aval da CBF, que depois interveio e quis um torneio com mais 16 equipes que haviam ficado de fora. A decisão, que nunca aconteceu, seria disputada entre os finalistas dos dois módulos. Prenda a respiração: 24 clubes divididos em quatro grupos de seis. Os quatro primeiros passavam para a segunda fase e os dois últimos iam para a repescagem. Na segunda fase, os 16 times se dividiam em dois grupos de oito e jogam em dois turnos (o primeiro dentro das chaves, o segundo, fora). O campeão de cada grupo em cada turno se classificava, além dos dois melhores por índice técnico e os dois primeiros da repescagem (os dois últimos desta chave eram rebaixados). Aí, tínhamos os oito para as quartas-de-final, onde começava o mata-mata convencional. Ufa! Dá para levar a sério um campeonato que classifica um time pela melhor média de renda? Foi assim que Nacional-AM e Fluminense passaram para a segunda fase, mesmo como 17º e 16º, respectivamente. E só avançavam os 10 primeiros! Na primeira fase, 40 times se dividiam em dois grupos de 20. Depois, eram novamente divididos em quatro de dez, por critérios... geográficos! Após 28 rodadas, eram selecionados os 20 classificados. Para que raios serviu a tal primeira fase? Campeonato com 94 (!) clubes. Em seis grupos, quatro se classificavam; em dois grupos, passavam oito. Doze times entravam direto na segunda fase e dois, direto na terceira. Tudo isso sem Corinthians, São Paulo, Santos e Portuguesa, que queriam a mordomia de Palmeiras e Guarani para entrar na terceira fase. Final entre Bangu e Coritiba, com Coxa campeão com saldo de gols negativo. Na primeira fase, os grupos A e B tinham 10 equipes, os C e D (uma espécie de segunda divisão) 12 em cada. No primeiro turno, os times enfrentavam-se dentro de seus próprios grupos. No segundo turno, havia um cruzamento entre A e B e entre C e D. Quatro de cada grupo avançavam e eram formados quatro novos grupos, de quatro. Com esse atalho para os pequenos, Brasil-RS e Bangu fizeram uma das semifinais. Os vencedores de cada chave na primeira fase da Taça de Prata (a Segundona) entravam direto na segunda fase da Taça de Ouro (primeira divisão), no mesmo ano. Isso salvou o campeonato de Corinthians – que foi semifinalista – e Atlético-PR. O formato foi semelhante aos Brasileirões de 1980 e 1981, aliás. Nessa edição, inventaram uma moda que seria repetida nos três anos seguintes, com pequenas variações. Vitórias por dois gols de diferença valiam três pontos, em vez de dois. Em 1976, passou a ser por três gols. Em 1977, voltou a ser dois e, em 1978, novamente por três.

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Como o Santos não conseguiu uma vaga pelo Paulistão, a CBF convidou o clube por seu “melhor índice histórico”. O Peixe acabou vice-campeão. Em 1984, o mesmo se repetiu com Grêmio e Vasco, com os cariocas como vice.

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Peneira

Djaló:

da estirpe de Leões dos Leões, para 2006/7. O passaporte para firmarse no time foi a atuação em um jogo de preparação contra o Benfica, quando marcou duas vezes na vitória por 3 a 0. Dali em diante, passou a ser apontado pela torcida como o parceiro de ataque ideal para Liedson. Djaló sente-se mais à vontade dentro da área, mas, em função de sua velocidade, também se dá bem caindo pelos lados do campo ou penetrando em diagonal. Bom driblador, é forte em situações de um contra um. Entretanto, precisa, como muitos jovens talentos, aprender o melhor momento de usar esse recurso com objetividade. [LB]

(Guiné-Bissau)

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Altura: 1,71m Peso: 60kg Carreira: Casa Pia (2005 a 2006), Sporting (desde 2006)

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igo, Quaresma, Simão, Cristiano Ronaldo. Não por acaso, o Sporting é reconhecido como um dos maiores formadores de jogadores da Europa. Yannick Djaló, de 21 anos, pode ser o próximo na lista. O atacante precisou de apenas alguns jogos na última pré-temporada para mostrar que estava em condições de ser aproveitado na equipe principal dos Leões. Nascido em Bissau, mas radicado em Portugal, Djaló foi descoberto nas categorias de base da A.D. Estação, de Covilhã, e levado ao Sporting com apenas 14 anos de idade, pela módica quantia de € 2.550. Percebendo nele uma promessa para o futuro, o clube o mandou por empréstimo para o Casa Pia, da terceira divisão, na temporada 2005/6. Marcou 16 gols. As boas atuações pela seleção sub-20 de Portugal no Torneio de Toulon, ano passado, colocaram Djaló nos planos de Paulo Bento, treinador

Nome: Yannick dos Santos Djaló Nascimento: 5/maio/1986, em Bissau

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mantendo a tradição

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Nome: Riccardo Montolivo Nascimento: 18/janeiro/1985, em Caravaggio (Itália) Altura: 1,81m Peso: 74kg Carreira: Atalanta (2003 a 2005), Fiorentina si/R

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formou-se em uma lenda. Já o segundo pode ser companheiro de Montolivo no Milan, que julga o armador fiorentino o jovem ideal para suceder Pirlo na incumbência de reger o meio-campo “rossonero”, em alguns anos. Se não tem físico para ser um volante “pegador”, Montolivo tem todo o necessário para ditar o ritmo do jogo nos moldes de Pirlo: grande visão de campo, precisão no passe e uma habilidade ímpar para desmarcar os atacantes com lançamentos. Com a camisa “viola”, ele já é titular. Em breve, tem boas chances de sê-lo também na Azzurra. [CRG]

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obre a Itália campeã mundial devem pairar as maiores expectativas e a pressão para defender o título, em 2010. Não à toa, nomes da atual seleção sub-21 como Giuseppe Rossi e Giampaolo Pazzini já estão nos blocos de notas dos olheiros dos maiores clubes europeus. Mas preste atenção também em Riccardo Montolivo. O italiano de 22 anos, nascido na cidade de Caravaggio, é o meia de quem se espera mais na geração que estará na boca do túnel na África do Sul. Com 1,81m e somente 74 quilos, o físico frágil do armador da Fiorentina o remete a dois gigantes do “calcio”, os campeões mundiais Giancarlo Antognoni e Andrea Pirlo, que honram a tradição dos grandes meias italianos. O primeiro vê em Montolivo todas as qualidades para ser seu herdeiro com a camisa da Fiorentina – clube no qual o próprio Antognoni transJunho de 2007

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Opinião

Saudades do que nunca existiu

hat-trick

Mauro Cezar Pereira

AH, O FUTEBOL DE ANTIGAMENTE! Bons tempos. Os zagueiros daquela época romântica eram todos clássicos, tinham como modelo o incomparável Domingos da Guia. E os meias? Invariavelmente bem dotados de incomum habilidade, como Zizinho e Didi. E os atacantes?! Eles eram, todos talentosos, do naipe de Leônidas, Garrincha e Pelé. Era um futebol de verdade mesmo! Pernas-de-pau nem passavam perto da cancha. Era como se existisse um detector de cabeças-de-bagre que instintivamente os identificava e os mantinha longe dali. E os craques em campo, que espetáculo! Os jogos eram sempre magníficos, com chuvas de gols. E gols bonitos, claro. Gols feios, sem graça, não aconteciam. Não, a bola só era ia às redes adversárias com classe, categoria, arte e beleza. Violência? Não existia. Ninguém dava pontapé. Naquela época, atingido por alguém do time adversário, o jogador jamais se contundia, tamanha a classe e o espírito esportivo. Continuasse assim, nem seria preciso a Fifa criar essa história de “Fair Play”, pois os jogadores tinham tal conceito embutido em suas mentes e em seus corações. Pois é. Ainda bem que não inventaram uma máquina do tempo. Para aqueles que de fato acreditam nesse futebol de fantasia, seria um choque retroceder algumas décadas e notar que craques e pernas-de-pau sempre conviveram. No Brasil, na Europa, no mundo. Sempre houve jogos bons e ruins. Mas não espalhe, isso pode deixar os românticos chocados. Cá entre nós, esse “futebol de antigamente”, na verdade, nunca existiu.

Quando você estiver lendo este texto, é praticamente certo que outros clubes estarão engrossando a lista a seguir. Mas, às vésperas da primeira rodada do Campeonato Brasileiro, entre os 20 da Série A, chegava a 12 o número de times que trocaram de técnico desde janeiro: AméricaRN, Atlético-MG, Corinthians, Cruzeiro, Figueirense, Fluminense, Goiás, Internacional, Juventude, Náutico, Sport e Vasco.

Clubes grandes, com história, trajetória de títulos e muita torcida nem sempre conseguem formar times “à altura”. Isso não é novidade. Mesmo antes da debandada dos principais jogadores para o mercado internacional, as principais camisas do futebol brasileiro foram vestidas por nomes comuns, medianos e autênticos cabeças-de-bagre. É impossível citar uma equipe importante que não tenha tido pernas-de-pau. Com os melhores atletas no exterior, o nível caiu, e o espaço para os menos talentosos ampliou-se. O jogo também mudou. Preparo físico superior, novas táticas e a própria modernização deixaram o futebol diferente, mais disputado, como no basquete, no vôlei, no atletismo. Por isso, pode até ser maior a quantidade de jogadores com limitações ocupando espaço em elencos de agremiações consideradas “tradicionais”. É que já não basta ter bom controle de bola: a habilidade é, cada vez mais, só um dos itens que compõem o grande jogador. Ele precisa de técnica, preparo físico, jogar com intensidade... Quando as pessoas recorrem às lendas do passado para esculachar os times de hoje, fica parecendo que “antigamente” o futebol brasileiro só tinha gênios da bola. Eles estavam lá, mas seus opostos também. Os argumentos para defender essa tese são de que os times de hoje não estão no nível desses clubes, e que tal treinador não entende a grandeza daquela agremiação. Pode ser verdade, mas qual a saída? De onde tirar dinheiro para contratar os tais jogadores que “podem” vestir tais camisas? Por onde andarão esses talentos? Qual a receita, afinal? Ela também não existe.

Em 1995, o Flamengo de Kleber Leite ficou entre o craque Romário e o técnico Vanderlei Luxemburgo – preferiu Romário. Doze anos depois, o cartola, como vice-presidente de futebol do rubro-negro, viu-se entre outro jogador que foi de Seleção, Juninho Paulista, e mais um treinador, Ney Franco. Desta vez, ficou com o segundo. Pelo menos, essa lição Kleber Leite parece ter aprendido.

Quem é melhor, Kaká ou Cristiano Ronaldo? A pergunta nos martelou durante as semanas dos duelos entre Manchester United e Milan. No campo, levaram a melhor o time italiano e seu craque. Três anos mais velho, Kaká demonstrou maior maturidade. O português pode se igualar, superar, ou não, o genial jogador brasileiro. Mas qual a necessidade de, hoje, elegermos o melhor?

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Namoro de verão

Mauro Beting

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dor de torneio de pré-temporada pode subir nas tamancas, calçar chuteiras de travas altas e sair jogando por aí, catando pontos e cantando vitória no Brasileirão? Para não ir aos tempos da bola de capotão (quando se amarrava a camisa-de-força em quem dizia que era fácil jogar pelota nos dias em que se amarrava cachorro com lingüiça), fiquemos no tempo em que a MTV exibia clipes – não tanto tempo assim: apenas o Cruzeiro de 2003 foi multicampeão nacional. Fez o que quis no Estadual daquele ano, ganhou bonito a Copa do Brasil e venceu lindo o Brasileirão – o primeiro disputado por pontos corridos. No mais, e como já havia sido desde 1989 (ano da primeira Copa do Brasil), não há como ganhar tudo. Primeiro, porque é difícil pacas. Segundo, porque não há um senhor time nestes campos. O Inter campeão do mundo de 2006 que o chore: nem às semifinais do RS-07 chegou e foi morto antes do mata-mata na Libertadores. O São Paulo que quase tudo papou que o lamente: nem das finais paulistas participou e, no campeonato que conhece mais que qualquer outro, empatou com o Audax no Morumbi, ficou atrás do Necaxa no grupo e caiu para o não menos copeiro Grêmio. Mas esses são campeões de quase tudo. Duro é falar dos campeões de quase nada, como vão se transformando os Estaduais – ainda que legais, ainda que históricos, ainda que emocionantes, ainda que importantes. Mas ainda muito longos para tão poucas datas. Torneios que ainda inflam campeões murchos, de torneios que não podem atrapalhar calendários e competições mais importantes. Inter, Atlético-PR, Flamengo, Santos, São Paulo e Grêmio foram algumas das equipes que tiraram de campo as principais formações nos Estaduais. Com ou sem razão, não deram a bola devida aos torneios locais. Grêmio, Santos e Flamengo ainda fizeram bonito. Mas não podem balizar 2007 pelos canecos conquistados. Como menos ainda podem se imaginar senhores dos campos Atlético-MG, Sport e Vitória, para ficar apenas em três campeões estaduais importantes. Conquistas que não podem tapar olhos e calar bocas pelas simples conquistas. Cada vez mais simples, cada vez menos conquistas.

amarcord

CAMPEÃO DE VERÃO SOBE A SERRA? Vence-

Só o Cruzeiro-03 ganhou tudo que podia no Brasil. Mas duro, mesmo, é faturar tudo no país e lá fora, dois títulos nacionais e um internacional. O chamado “treble”: Liga dos Campeões, campeonato nacional e copa nacional. O Manchester United foi o último que chegou lá: em 1999, ganhou a Copa da Inglaterra, o Inglês e a Liga dos Campeões. Antes dele, só aconteceu mais três vezes na Europa, desde a primeira disputa continental, em 1956: o escocês Celtic (1967) e os holandeses Ajax (1972) e PSV (1988). O Manchester quase bisou a façanha, em 2007. Mas, justamente por não ter elenco tão rico como o futebol dos titulares de Ferguson, faltaram pernas e gás contra o Milan – outro que, em 2005, tentou abraçar o planeta com elenco envelhecido e ficou pelo caminho. Exatamente por tentar ganhar tudo, perdeu o principal. Mas, pelo menos, não se iludiu com o acessório.

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Quem precisa desses três? COM O PEDIDO DE DISPENSA de Kaká e Ronaldinho

Cassiano Ricardo Gobbet

Gaúcho da Copa América – pedido não só justo como absolutamente lógico –, os poderes constituídos do nosso futebol aproveitam para completar a marginalização do trio de jogadores mais talentosos do Brasil. Ronaldo, que completa o grupo, já sofre no ostracismo maquiado pela CBF desde julho passado, fazendo o papel de “bode expiatório” de uma derrota que certamente tem responsáveis bem mais diretos. Há tempos não faltam vozes a dizer no Brasil que o terceiro time da Seleção Brasileira seria mais do que capaz de vencer a Copa do Mundo, com um pé nas costas. Muito provavelmente, o técnico da Seleção Brasileira já teve colegas que concordaram com isso, quando foi comentarista de TV, durante a Copa de 2006. Hoje, parece não ser mais o caso, exatamente quando poderia ser comprovada essa “onipotência” do futebol brasileiro. Acreditasse ainda nisso, Dunga não teria ficado irritado com a solicitação do milanista e do barcelonista. Ficou porque sabe que na Copa América seu pescoço estará em jogo, sim. Um resultado adverso até pode ser admitido, mas um fracasso retumbante reafirmaria sua condição de técnico-tampão, a mesma que era atribuída ao ex-capitão brasileiro quando da sua indicação, em 2006. Diante disso, preocupa-se em, de antemão, arrumar culpados – que serão, é claro, os apatriotas, que não

têm orgulho de vestir a “Amarelinha”. A preocupação do técnico é absolutamente compreensível – óbvia, até –, mas incoerente com alguns fatos igualmente irrefutáveis. Kaká é o melhor jogador do mundo hoje e provavelmente ganhará os prêmios da Fifa e da revista France Football em dezembro; Ronaldinho Gaúcho foi eleito, recentemente, duas vezes como o melhor do mundo; Ronaldo, o “Gordo”, tem números na reta final da temporada do Milan que competem até com as estatísticas do Ronaldo da Inter. Então por que cargas d’água os três estão sendo expostos assim? Com relação aos dois primeiros, a situação poderia ser facilmente evitada se o selecionador brasileiro viesse a público e anunciasse que não os chamaria para poupálos fisicamente. Verdade: sua responsabilidade diante da Copa América aumentaria, porque, afinal, a escolha de deixá-los em casa teria sido dele. Só que grandes responsabilidades vêm grudadas com o cargo mais cobrado do país – e Dunga sabe disso. Em relação ao centroavante, a CBF poderia tê-lo protegido das críticas exacerbadas depois da Copa do Mundo. Poderia, mas não o fez. Não o fez porque assumiria sua culpa na derrota da Alemanha, mas, acima de tudo, porque a comissão técnica estava certa de que a “nova safra” daria conta do recado e que, antes de dezembro, seu Brasil estaria imerso em glória e convites do mundo todo. Mas a situação não é essa. É bem diferente, e os únicos três jogadores em condição de fazer o Brasil se transformar no esquadrão espetacular que existe no imaginário da torcida são os que agora andam no fio da navalha, como se tivessem cometido algum delito. Atacantes como Fred, Jô, Vágner Love, Afonso Alves, Rafael Sóbis e Ricardo Oliveira não são exatamente os nomes que se imagina para esse “esquadrão”. Adriano, o sucessor natural de Ronaldo, até pode vir a ser um dia, mas certamente não agora, quando atravessa uma fase ruim técnica e psicologicamente. Dunga precisa mais do que nunca daqueles que são – de longe – seus três melhores jogadores no ápice de sua forma, para poder vislumbrar um horizonte mais brilhante para sua gestão. Só que, pelo contrário, tenta jogar no colo deles a culpa por uma transição mal planejada. Pressionado pelas circunstâncias e por superiores que têm diretrizes bem diferentes das que deveriam ter, o técnico não está exatamente fazendo o máximo para conquistar a confiança de seus craques. Dificilmente poderia estar fazendo mais para criar problemas para si – e, conseqüentemente, para a Seleção. Junho de 2007

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Franck Fife/AFP

Tática, por Ricardo Espina

Mudança de hábito

Chegada de Paul Le Guen trouxe mais equilíbrio ao Paris Saint-Germain, que se livrou da ameaça de ser rebaixado

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torcida do Paris Saint-Germain viveu momentos de grande tensão nesta temporada. A equipe passou boa parte da Ligue 1 na luta para escapar da zona de rebaixamento e ocupou uma das três últimas posições do Campeonato Francês com uma perigosa freqüência. Apesar dos problemas vividos tanto dentro como fora de campo, o PSG conseguiu se salvar, ao dar uma arrancada na parte final do torneio. O sprint foi conquistado graças às modificações feitas pelo treinador Paul Le Guen, o grande responsável por aliviar o sofrimento dos fãs do clube da capital francesa. Le Guen chegou ao clube em janeiro e encontrou um problema deixado por seu antecessor. Guy Lacombe baseava seu time num esquema 4-5-1, no qual deixava claro estar mais preocupado com a defesa do que em municiar seu ataque.

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No meio-campo, dois volantes (Édouard Cissé e Cristian Rodriguez) protegiam uma zaga pouco confiável. Cabia apenas a Jérôme Rôthen a tarefa de armar as jogadas da equipe. Pauleta, Pierre-Alain Frau e Bonaventure Kalou ficavam à espera de algum passe interessante. Havia vários problemas no esquema. Na parte ofensiva, Rôthen ficava sobrecarregado, e bastava ao adversário escalar um marcador para anulá-lo. Como tanto Frau como Kalou dificilmente voltavam para buscar jogo, extinguia-se qualquer chance de criar um lance de perigo. Além disso, os dois volantes passavam por fase técnica ruim. A reviravolta na vida do PSG aconteceu ainda em janeiro, com a ajuda do mercado de transferências. Disposto a dar uma cara nova ao time, Le Guen tratou de tornar a equipe mais equilibrada e com maior poder de fogo. Era necessária

a mudança para um estilo mais agressivo, para fugir o quanto antes da zona de rebaixamento. Daí a troca do 4-5-1 para um 4-4-2, com mudanças em algumas posições-chave. Dois dos reforços trazidos para o elenco ajustaram-se com perfeição ao esquema montado pelo treinador. Para diminuir a fragilidade de seu sistema defensivo, Le Guen trouxe consigo Jérémy Clément, do Rangers. O volante tornou-se uma espécie de “anjo da guarda” da zaga da equipe da capital, ao atuar como uma espécie de terceiro zagueiro. Com sua qualidade no desarme, ele logo passou a ser uma referência e ofereceu uma segurança maior ao setor. No ataque, Peguy Luyindula finalmente conseguiu convencer a torcida de suas qualidades. Como segundo atacante, entrou no lugar do burocrático Kalou e não mais deixou a equipe titular.

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Frau (à dir.) perdeu espaço com Le Guen

2. O PSG de Paul Le Guen

1. O PSG de Guy Lacombe

A

A

A

Luyindula

Pauleta (Diané)

Pauleta

M

M

Kalou

M

Frau

Rôthen

V Rodriguez

LE Dramé

M

M

Gallardo (Frau)

Rôthen

V

V

Cissé

Cissé

Z

Z

Armand

Rozehnal

V Clément

LD

LE

Mendy

Dramé

Z

Z

LD

Mendy Rozehnal (Mulumbu)

Armand

G

G

Landreau

Landreau

G: goleiro / LE: lateral-esquerdo / LD: lateral-direito / Z: zagueiro / V: volante / ME: meia-esquerdo / MD: meia-direito / M: meia / A: atacante

Com boa capacidade para prender a bola e preparar jogadas para Pauleta ou Amara Diané, ganhou o status de intocável na equipe. Pode-se considerar que o Paris SaintGermain ainda teve um terceiro grande reforço para a metade final da Ligue 1. Jérôme Rôthen passou a ser mais bem aproveitado no meio-campo, sem tanta sobrecarga de trabalho na armação. Antes, com Lacombe, ele se via cercado por volantes; com Le Guen, agora tem a companhia de Marcelo Gallardo ou mesmo de Luyindula, que dividem as tarefas de pensar as jogadas ofensivas. Outro mérito de Le Guen foi a adoção de uma “política de choque” em seu elenco. De nada bastaria trocar o esquema tático se o moral dos atletas permanecesse o mesmo. Para mexer com os jogadores, o técnico logo de cara deu seu recado: Pauleta, um dos queridinhos de Lacombe e considerado titular absoluto, esquentou o banco de reservas com grande freqüência, o que deixou espaço para a (boa) entrada de Diané no ataque. Na defesa, o técnico também testou outro jogador jovem com algum sucesso. Youssouf Mulumbu, um volante de origem, foi improvisado no setor, no lugar de Bernard Mendy. Apesar das oscilações comuns a atletas de pouca idade – ajudadas pelo fato de atuar fora de sua posição natural –, Mulumbu conseguiu se dar tão bem como o antigo titular. Édouard Cissé ainda fez as vezes de camisa 2, em algumas ocasiões. Com o maior equilíbrio estabelecido entre o meio-campo e o ataque, o Paris Saint-Germain logo deixou a zona de rebaixamento e livrou-se da ameaça da queda para a Ligue 2. Contudo, para a próxima temporada, a equipe precisará ter um clima melhor fora de campo, para encontrar a paz nos gramados. A instabilidade no comando do clube e a pressão da torcida tiveram decisiva influência negativa para o pífio desempenho da equipe em 2006/7. Junho de 2007

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Entrevista, por Rainer Franzke e Manfred Münchrath

Pondo a mão na M

ichel Platini foi o primeiro “Zidane” do Brasil, em menor escala. Foi nos pés do baixinho francês que o Brasil acabou eliminado, ainda que nos pênaltis, na Copa de 1986. Os Bleus da época não chegaram ao título mundial, vítimas, tanto em 1986 quanto quatro anos antes, da Alemanha – vice-campeã nas duas ocasiões. Ganharam, porém, o primeiro título de relevo da história francesa, a Eurocopa de 1984. Até que aparecesse Zidane, Platini era sem dúvida o maior nome da história do futebol francês. É irônico que seu sucessor tenha se consolidado justamente em 1998, ano em que o ex-craque da Juventus (assim como Zidane seria) completou a primeira fase de sua transição para a carreira de dirigente, como co-presidente do comitê organizador da competição. O sucesso de Zidane foi, dessa forma, também o sucesso de Platini, que comemorou um torneio bem organizado e, ainda por cima, vencido por seu país. Na outra Copa do Mundo disputada na Europa, oito anos depois, a transição tornou-se completa. Poucos dias depois de encerrada a competição, Platini confirmou que enfrentaria Lennart Johansson, então presidente da Uefa, na eleição seguinte da entidade – com o apoio mais ou menos declarado de Joseph Blatter, presidente da Fifa e inimigo histórico do sueco. Apesar de já ter 77 anos, Johansson era respeitado na Europa, e sua candidatura era considerada forte – por exemplo, Franz Beckenbauer, do alto da popularidade a que foi alçado pelo sucesso da Copa de 2006, desistiu de sua candidatura para apoiá-lo. Da mesma maneira como fora

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massa derrotado por Blatter em 1998, quando era favorito a vencer a eleição para a presidência da Fifa, o sueco sucumbiu diante do afilhado do suíço: o voto dos “pequenos”, mais uma vez, derrubou o gigante Johansson. E inaugurou uma nova era para o futebol europeu. A grande promessa do francês foi bastante simples: os campeões de todos os países teriam lugar na Liga dos Campeões. Para isso, os países que contam com mais representantes na competição precisariam ceder vagas. A acreditar que na eleição européia a lógica do dinheiro, sempre presente nas eleições da Fifa, não funcionou, a mensagem atingiu seu objetivo. A questão é saber: e agora? Da boca para fora, é fácil justificar que a Inglaterra não terá quatro vagas na LC para que a Armênia tenha uma. O problema é que simplesmente tirar os quartos colocados das maiores ligas não garantirá os lugares que Platini prometeu aos pequenos. A Uefa tem 53 países-membros, ou seja, mesmo que cada um tivesse apenas uma vaga no torneio, não seria possível organizá-lo no formato atual e dar vagas na fase de grupos a todos. Além disso, há o fato, não pouco importante, de que mesmo os clubes mais ricos de países como a citada Armênia ou, para ficar só na letra A, Andorra, Azerbaijão e Albânia, notoriamente não podem concorrer financeiramente nem com os piores times das ligas mais ricas. Platini seria suficientemente “macho” – ou burro – para organizar um torneio entre Tirana, Ranger’s (de Andorra), Pyunik Yerevan e Baku e deixar de fora vice-campeões como Chelsea e Barcelona ou Real Madrid,

ou mesmo terceiros colocados importantes, como Milan e Liverpool? Terminada a campanha, começa o governo, e Platini já percebeu que muito do que prometeu talvez não possa cumprir. Em algumas declarações, dá sinais de que pode recuar de sua intenção original. Além disso, ao contrário do que aconteceu com Blatter na Fifa, o francês já percebeu que não vai ter vida fácil no comando do futebol europeu. Uma hora depois de sua eleição para a presidência da Uefa, a entidade escolheu Franz Beckenbauer para ocupar uma das vagas que detém no Comitê Executivo da Fifa. Depois de ter aberto mão de sua candidatura em nome de Johansson, o “Kaiser” tem tudo para ser o principal candidato da oposição ao francês, caso seus planos não dêem certo, e o respaldo que obteve, mesmo com a derrota do sueco, deve ser suficiente para deixar Platini com a pulga atrás da orelha. Em entrevista concedida à revista alemã Kicker – e cedida com exclusividade à Trivela –, Michel Platini fala de tudo isso: política, Blatter, relação com os grandes clubes e com Beckenbauer. E, apesar do mau humor evidente, não foge das perguntas.

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Loic Venance/AFP

Os resultados no futebol sempre dependeram do dinheiro

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Jean Ayissi/AFP

Na eleição da Uefa, você e Franz Beckenbauer estiveram em lados opostos. Agora que ele foi eleito para o Comitê Executivo da Fifa, como será trabalhar com ele? Franz vem para a Fifa a partir de junho. Nós nos enfrentamos em 1977, e participei como ex-presidente do comitê organizador da Copa do Mundo de 1998, na França, na preparação do Mundial da Alemanha, em 2006. Ele trará seu conhecimento e sua competência para a Fifa. É bom que outro ex-jogador esteja comigo no Comitê Executivo da entidade. Foi difícil adaptar-se a esse mundo da política esportiva? Não. É mais uma questão de filosofia. Para mim, interessa mais a política esportiva que a “política política”. Na minha opinião, o futuro do futebol está no coração. Ao se posicionar contra os grandes clubes, você se considera ainda mais alinhado com Sepp Blatter? Até mais agressivo do que ele. Até mesmo contra o Rummenigge, (contemporâneo de Platini como jogador, hoje dirigente do Bayern de Munique e presidente do Fórum de Clubes da Uefa)? Tenho um grande apreço por ele. Desde quando ele jogava na Internazionale e eu na Juventus, até mesmo quando ele me eliminou na semifinal da Copa do Mundo de 1982. Se quando jogávamos estávamos sempre de lados opostos, hoje, na política do futebol, estamos do mesmo lado. Ele sabe que teríamos muitos problemas se não estivéssemos juntos nessa. Como está seu plano de reforma para a Liga dos Campeões? O novo formato, que passará a ser usado a partir de 2009, será apresentado em Istambul, dia 27 de setembro, na próxima reunião do Comitê Executivo. Como você espera encontrar uma forma equilibrada de disputa? Os mais ricos sempre venceram. Valeria a pena tentar mudar, mas falar é mais fácil do que fazer. Os resulta-

dos no futebol sempre dependeram do dinheiro. Nos anos 50, o Real Madrid sempre tinha mais dinheiro porque conseguia levar mais torcedores a seu estádio – e essa era a principal forma de arrecadação dos clubes naquela época. Nos anos 80 e 90, começou a era do mecenato, com os Agnelli na Juventus, Berlusconi no Milan e o Bayern de Munique com a Adidas por trás. Agora, é a vez dos direitos de TV, em que os alemães recebem menos que os outros. É por isso que os principais jogadores acabam na Inglaterra, como o Ballack. Mas como o Bayern ganhou três títulos da Copa dos Campeões, entre 1973 e 1975, ninguém fala nada. Como disse, as vitórias estão onde há dinheiro. Se limitássemos o número de estrangeiros para apenas dois por equipe, todos teriam alguma chance. Qual será o formato apresentado? Esse é um projeto delicado.

Em sua campanha para a presidência da Uefa, você defendia que cada país deveria ter no máximo três equipes na competição. Você mudou de idéia? Não. Sempre disse que quero promover o equilíbrio na Liga dos Campeões. Isso será possível com esse limite de três clubes por país? Antes eram até menos, com apenas dois. Como disse, quero equilibrar a competição, mas ainda acho delicado dar um veredicto. Ainda preciso discutir esse assunto com minha comissão estratégica, com os executivos, com os clubes e com muito mais gente. Minha filosofia é de que o campeão de um país, por menor que seja, tenha vantagens sobre o quarto de outra liga de um país mais importante. O que você quer é distribuir melhor o dinheiro, para que os clubes desses países menores possam participar com mais força. Como fazer isso?

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Beckenbauer e Platini com os dirigentes franceses Escalettes (à esq.) e Thiriez: novo ambiente para os ex-craques

A Copa Uefa terá um novo formato a partir de 2009

Simplesmente fazendo uma nova divisão, o que seria um grande problema. Afinal, os grandes querem ganhar dinheiro, os médios querem ganhar dinheiro, e os pequenos também. Todos querem faturar. Não é fácil promover uma reconciliação ou aliar o interesse de todos, mas isso é possível por meio das competições. Uma mudança na Copa Uefa também está nos planos? Sim, na direção que os próprios clubes já apontam, com 12 grupos de quatro equipes, a partir de 2009. Os terceiros colocados da fase de grupos da Liga dos Campeões continuarão com vaga garantida na Copa Uefa? Essa é uma pergunta que nós mesmos nos fazemos. Ideologicamente, não é tão legal, mas é importante para a atratividade da Copa Uefa. Você foi eleito presidente da Uefa claramente por levantar a voz em prol

do Leste Europeu. Você acha que a Eurocopa de 2012 teria ido para Polônia e Ucrânia se Lennart Johansson fosse reeleito? Sim, tenho certeza disso. O que conta a favor desses dois países, que têm distâncias enormes, como 2 mil quilômetros entre cidades como Gdansk e Donetsk? Todos sabem que será mais difícil de organizar do que se a Eurocopa fosse realizada em um único país. Por outro lado, é interessante que os dois países se abram para o futebol, para a democracia, para as federações. Talvez, mais empregos sejam criados do que se o torneio fosse disputado na Itália ou na Alemanha. Isso é muito excitante. São nações que se abrem para a Europa, que se fortalecem e ganham em infra-estrutura. Além disso, são 85 milhões de pessoas nos dois países, como na Alemanha. Nesse contexto, como vê o chamado “Relatório Arnaut” (estudo realizado para analisar o desenvolvimento do futebol na Europa)? A Uefa inclusive financiou esse estudo. Eu diria que 80% dele é muito bom. Acredito que a comissão tem a orientação correta sobre a política esportiva, sobretudo em questões de formação, solidariedade, transferência de jogadores e a independência do futebol. Inclusive no caso de algumas reivindicações concretas, como a de Sepp Blatter e Franz Beckenbauer, de que os clubes deveriam ter seis jogadores “nativos” e apenas cinco estrangeiros, que não parecem tão realizáveis? Como presidente, não posso apoiar esse ponto de vista. Você, então, é contra essa proposta? Não foi o que eu disse. O que foi, então? Há interesses importantes em jogo nessa discussão, que será difícil de vencer e até mesmo de discutir, porque na Europa está regulamentada a livre escolha de trabalho entre os países-membros da Comunidade Européia. Acredito que se trabalhar-

mos em conjunto com a associação dos clubes, poderemos auxiliá-los a se adaptar a essa realidade. Pensando adiante, pode-se chegar ao ponto de um jogador não poder atuar em um clube de seu próprio país sem que esse regulamento seja quebrado. Quero que a identidade nacional seja protegida. Como presidente, porém, prefiro lutar na comissão por outras causas, que têm mais chances de aceitação. Como o quê? Sobretudo, questões envolvendo a formação de jogadores. Um clube inglês desenvolver um talento alemão de 14 anos, por exemplo, é um caminho errado. Todos são afetados. E olha que no estatuto da Fifa está escrito: nada de transferências antes dos 18 anos. Você quer dizer que o estatuto da Fifa não é claro? Nada impede que seu filho jogue na Inglaterra, se você for para lá. No futebol, sempre buscam maneiras de burlar as leis e regulamentos. Precisamos de melhores formas de controle. Problemas semelhantes existem com as regras para empresários... Sou a favor dos empresários. É normal que um garoto de 20 anos, que não tem a mínima idéia de como funcionam as coisas, precise de um agente. Mas acho que quem deve pagar seu salário é o jogador. Fifa, Uefa e os clubes querem que os jogadores paguem seus empresários. Por que isso não vinga? Os clubes não querem! Na Alemanha, sim... Então os alemães estão sozinhos nessa. O que surpreende é que até a associação de jogadores, a FIFpro, também quer que os atletas os paguem, pois sabem que isso significa independência. Afinal, quem paga dá as cartas. Ainda há muito o que regulamentar. Por isso, formamos uma comissão da qual participam representantes do Fórum de Clubes, das ligas européias (a EPFL) e da FIFpro. Sem o G-14? Sim. Junho de 2007

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Era Dunga, por Cassiano Ricardo Gobbet

Um ano depois, Brasil ainda é canteiro de obras

Sven Nackstrand/AFP

Diante de seu primeiro desafio oficial, Dunga ainda exibiu pouco além da “dedicação à Amarelinha”. E a pressão só vai aumentar

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uando a CBF indicou Dunga para a sucessão de Carlos Alberto Parreira, em julho de 2006, estava sinalizando com uma ampla “renovação”. O veredicto era claramente uma condenação do treinador demissionário e de uma geração supostamente “acomodada”, que não tinha mais o estímulo para usar a “Amarelinha”. Quase um ano depois de sua indicação, o ex-capitão da Seleção enfrentará seu primeiro teste importante. Não que a Copa América vá parar o trânsito de lugar algum fora da Venezuela, mas Dunga sabe que um vexame como o estrelado por Leão na Copa das Confederações, em 2001, pode custar sua cabeça – ainda que não imediatamente. Ou seja: o capitão do tetra precisa que sua Seleção entregue o futebol vibrante que ele prometeu depois da Copa de 2006. Mas como é a Seleção de Dunga? Ela tem um esquema tático? Quais são os principais jogadores? Já é um time com líderes? Existe um “xodó” do treinador? Quem caiu em desgraça na “era Dunga”? A se observar pelas convocações e jogos, a impressão que se tem é a de que nem o próprio técnico saberia responder a essas perguntas.

Discurso Enquanto Parreira ainda era criticado pela mídia e xingado pela torcida pelo fracasso brasileiro em Frankfurt, a nomeação de Dunga trazia uma clara mensagem implícita da CBF: a Seleção precisa de mais vibração e doação. Não coincidentemente, nos primeiros treinos do “novo” Brasil, contra a Noruega, jogadores revelaram que o treinador encarnava uma reedição de Zagallo: “Ele pediu que a gente jogasse com garra e determinação”, afirmou o zagueiro Alex, antes do jogo em Oslo, também contando que Dunga queria um time com “atitude”. O recado era endereçado a todos os jogadores que tinham participado da Copa do Mundo recém-encerrada, mas especialmente a Kaká, Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho, três dos quatro astros do malfadado “Quadrado Mágico”, ignorados para a primeira partida. O Brasil não flexibilizaria seu esquema tático para encaixar ninguém no time – nem os medalhões –, uma determinação expressa de Ricardo Teixeira, o mentor da “Revolução da Garra” que Dunga deveria representar. ‘’As portas estão abertas para todos os que queiram jogar. Não para os que queiram ficar na Seleção. Querer jogar quer dizer sacrifício. Deixar muitas vezes o ego de lado para o bem do grupo’’, afirmou o técnico à imprensa, no anúncio do grupo que enfrentaria a Suíça. Os murros na mesa do pós-Copa, no entanto, tiveram de se dobrar diante de algumas verdades inequívocas. Por exemplo, por mais que se queira pensar o contrário, não é possível abrir mão de Kaká ou Ronaldinho Gaúcho nem deixar de reconhecer a condição diferenciada dos dois. Tanto isso é verdade que a partida de Oslo foi a primeira e única na qual nenhum deles esteve nem no banco de reservas. Dunga mudou tanto de idéia que, oito meses depois de assumir a Seleção, ele já admitia que mudaria sim seu esquema para acomodar o camisa 10 do Barcelona – contrariando o que dissera antes.

Convocações Se mudou de idéia quanto a adaptar o esquema aos melhores jogadores – e não o contrário – Dunga, por outro lado, mantevese fiel à proposta de “dar chances” a jogadores que pudessem re-

novar a Seleção, especialmente àqueles com idade para disputar a Olimpíada de Pequim, em 2008. Como é de praxe na Seleção, a lista de novidades causou polêmicas. Nomes como os do lateral Carlinhos, do Santos, do goleiro Cássio, do Grêmio, ou do zagueiro são-paulino Alex Silva foram questionados, dados seus currículos. Nesses casos, a preparação para a disputa de Pequim sempre serviu como argumento, e passagens pelas seleções juvenis ganharam peso inédito. Entre os convocados beneficiados pela combinação de critérios obscuros está o zagueiro cruzeirense Gladstone, cujo desempenho recente não empolga nem a torcida cruzeirense. Até aqui, as sete listas de Dunga tiveram cinco presenças fixas, comuns a todas elas: os zagueiros Alex e Juan, os meias Gilberto Silva e Elano e o atacante Robinho. Mas entrar em campo, que é bom, só mesmo o ex-santista Elano, o jogador de confiança do técnico. “O Elano conquistou a vaga dele dentro do campo”, avisou Dunga em setembro passado, antes de enfrentar o Equador. Hoje no futebol ucraniano, Elano não tem a mesma importância nem em seu clube, o Shakhtar Donetsk. Na temporada 2006/7, o meia não é titular absoluto e fez menos da metade dos jogos que Kaká fez no Milan, por exemplo. Apesar de ter chamado quase 50 jogadores para 11 jogos, o time de Dunga tem áreas de instabilidade nas laterais e no ataque. Nas laterais, o técnico testou nove jogadores, e o único que teve algum destaque foi Daniel Alves, do Sevilla. No ataque, Fred, Rafael Sóbis, Ricardo Oliveira e Vágner Love ainda não convenceram que podem herdar o espaço deixado por Ronaldo (ainda responsabilizado pelo fracasso na Alemanha) e pelo interista Adriano, que paga por uma temporada muito ruim. “Ele precisa entrar em forma e começar a fazer gols. Aqui, eu só posso ajudar alguém que queira ser ajudado”, espetou Dunga, ao se referir a Adriano, no ano passado.

Jogadores-chave Em relação a Ronaldo, o desconforto de Dunga é ainda maior: mesmo negando, é evidente que a CBF não quer um retorno do atacante milanista por sua “responsabilidade” na derrota da Seleção de Parreira. Recebê-lo de volta, afinal, seria admitir o inadmissível: não foram os jogadores “milionários” e “acomodados” os responsáveis pelo vexame na Alemanha. Por outro lado, não há nenhum jogador que faça a menor sombra para o futebol que ele mostrou no Milan de janeiro para cá, quando fez sete gols e seis assistências, em 13 jogos. Nesse caso, a contusão do jogador poupou o técnico de ter de deixá-lo de fora mais uma vez. Os números de Ronaldo ficam ainda mais irrefutáveis diante dos de seus concorrentes. Se Robinho vai se afirmando no Real Madrid, todos os centroavantes do Brasil estão em baixa. Ricardo Oliveira é reserva do reserva em Milão. Rafael Sóbis começou bem no Betis, mas faz algum tempo que não se destaca. Vágner Love é reserva de Jô – o que levanta dúvidas sobre as convocações de ambos. E Fred afundou junto com a moral do Lyon, dono absoluto da França, mas incapaz de vencer na Liga dos Campeões. Um ponto curioso a se notar é que as listas de Dunga não têm encontrado problemas na zaga. Com Alex (PSV), Juan (Bayer Junho de 2007

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Foi convocado

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Roma (ITA) Cruzeiro PSV (HOL) Porto (POR) Internazionale (ITA) PSV (HOL) São Paulo Fenerbahçe (TUR) Cruzeiro Bayer Leverkusen (ALE) Bayern de Munique (ALE) Benfica (POR) Werder Bremen (ALE) Sevilla (ESP) Santos Real Madrid (ESP) Sevilla (ESP) Hertha Berlim (ALE) São Paulo Santos Internazionale (ITA) Real Madrid (ESP) CSKA Moscou (RUS) Arsenal (ING) Werder Bremen (ALE) CSKA Moscou (RUS) Barcelona (ESP) Shakhtar Donetsk (UCR) Bordeaux (FRA) Arsenal (ING) Espanyol (ESP) São Paulo Arsenal (ING) Milan (ITA) Liverpool (ING) Hertha Berlim (ALE) Vasco da Gama Barcelona (ESP) Borussia Dortmund (ALE) Al Ittihad (ARA) Internazionale (ITA) Heerenveen (HOL) Lyon (FRA) CSKA Moscou (RUS) Betis (ESP) Milan (ITA) Real Madrid (ESP) CSKA Moscou (RUS)

Foi convocado e jogou

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0 44 20 49 41 40 43 25 21 20 45 42 29 48 39 11 9 53 39 20 24 50 6 4 19 44 10 29 30 41 55 23 25 35 55 21 10 17 44 35 14 31 42 30 10 34 38 43 13

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7/10 10/10 15/11 6/2

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Como está em seu clube

Grêmio

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Inglaterra e Turquia**

20 27 26 26 29 27 24 22 26 22 28 29 26 24 21 20 26 24 31 21 27 25 19 24 19 22 24 30 25 26 30 24 27 25 25 20 31 22 27 29 22 25 26 23 20 21 26 23 22

Presenças na temporada*

Clube

Cássio Doni Fábio Gomes Helton Júlio César Alex Alex Silva Edu Dracena Gladstone Juan Lúcio Luisão Naldo Adriano Carlinhos Cicinho Daniel Alves Gilberto Ilsinho Kléber Maicon Marcelo Daniel Carvalho Denilson Diego Dudu Cearense Edmílson Elano Fernando Gilberto Silva Jônatas Josué Júlio Baptista Kaká Lucas Mineiro Morais Ronaldinho Gaúcho Tinga Wagner Adriano Afonso Alves Fred Jô Rafael Sóbis Ricardo Oliveira Robinho Vágner Love

Idade

atacantes

meias

laterais

zagueiros

goleiros

O Brasil de Dunga jogo a jogo

Reserva Titular Lesionado Titular Titular Titular Indispensável Titular Joga com freqüência Titular Indispensável Indispensável Titular Titular Titular Reserva Reserva Indispensável Titular Titular Titular Titular Reserva Joga com freqüência Reserva Indispensável Joga com freqüência Joga com freqüência Joga com freqüência Titular Indispensável Joga com freqüência Indispensável Joga com freqüência Indispensável Acabou de chegar Joga com freqüência Titular Indispensável Titular Joga com freqüência Titular Indispensável Titular Titular Joga com freqüência Reserva Titular Titular Jogou e fez gol

* até o fechamento desta edição ** só convocação

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Alessia Pierdomenico/Reuters

Excesso de jogos sacrificou Ronaldinho (à dir.); Elano (abaixo) sofre pressão menor

Fabrice Coffrini/AFP

Luisão (Benfica) e Lúcio (Bayern) – que chegou a ser capitão do time –, o setor historicamente mais carente da Seleção só precisa de treinamento para melhorar, dada a abundância de boas opções. Mesmo que Dunga tente bater o pé e dizer que “todos são iguais” na Seleção, ele terá trabalho para não dar tratamento VIP a alguns. Kaká, no olho do furacão por causa de seu pedido de dispensa para a Copa América, é o principal. O Brasil de Dunga ainda não teve nenhuma atuação realmente convincente – à parte a vitória sobre a Argentina –, mas os poucos lampejos de inspiração vieram do novo camisa 10. Além de ser o criador do time, Kaká é o artilheiro, com, cinco dos 19 gols da “era Dunga”. Elano pode ter a simpatia do técnico, mas é sem Kaká que o time não anda. E Ronaldinho Gaúcho? Bom, é difícil imaginar que um jogador do calibre do barcelonista não tenha um espaço garantido no Brasil de Dunga ou de qualquer técnico. Até aqui, no entanto, ele ainda não teve uma apresentação de gala que o colocasse na lista dos indispensáveis – um pouco como sua temporada no clube catalão. Exausto por três anos sem as férias adequadas, um fracasso na Copa do Mundo e um péssimo ambiente em seu clube, o atleta esteve sempre aquém de suas possibilidades – mas continua sendo o jogador que, em um lance, pode decidir uma Copa do Mundo, como fez em 2002. Ou seja, é “craque demais” para ser ignorado.

Tática Treinador debutante, Dunga deixava dúvidas sobre como sua Seleção se postaria em campo. Poucos apostariam qualquer coisa em alguma característica que não viesse dos clichês “pegada”, “doação”, “dedicação” e afins. Nos nove primeiros jogos, o

Brasil de Dunga não mostrou nada que aumentasse a confiança na capacidade do ex-capitão de surpreender pela parte tática. Sob o novo comando, contra a Noruega, a Seleção começou exatamente onde havia parado Parreira, com um 4-4-2 no qual dois volantes e dois armadores cuidavam do meio-campo, enquanto as jogadas pelos flancos ficavam a cargo dos laterais. Mas, no jogo contra a Argentina, quando Kaká entrou em campo e mudou a cara do time, o técnico compreendeu que não era vantajoso tentar adaptar o meia do Milan ao esquema da Seleção, quanto mais ficar sem ele voluntariamente. Assim, da partida contra o País de Gales em diante, Dunga não admitiu, mas deixou Kaká à vontade atrás dos atacantes, exatamente como faz no Milan, pois dificulta a marcação adversária e praticamente age como um terceiro atacante quando é preciso. Com uma aceleração impressionante, os avanços de Kaká com a bola dominada fizeram dele o jogador mais perigoso do ataque brasileiro – fato sustentado por seus cinco gols em oito jogos. A primeira idéia de Dunga foi, ao avançar Kaká, recuar Elano para a posição que ele tinha no Santos de 2003. Sua primeira tarefa é auxiliar os volantes, formando uma linha de três marcadores – que o técnico nega, argumentando que Elano é um meia. As escalações das partidas do Brasil após o jogo contra a Argentina têm, quase sempre, uma dupla de volantes (Dudu Cearense e mais um entre Mineiro, Gilberto Silva e Fernando), na qual Elano encosta para fechar os espaços. O esquema tem críticos, como o ex-jogador Tostão, por exemplo. Em sua coluna de jornal, o comentarista defende que o uso de somente dois volantes é suficiente e que o Brasil, quando joga também com Elano, que não é nem um volante puro nem um meia ofensivo, acaba ficando muito burocrático. A última experiência de Dunga foi pedir a Robinho que auxilie na marcação, recuando até à altura dos dois meias e formando um exótico 4-2-3-1, como no jogo contra Gana, por exemplo. Kaká atuou pelo meio e Ronaldinho pela esquerda, enquanto Robinho partia da intermédiaria direita para auxiliar Vágner no ataque. Contra os ganenses, funcionou, mas limitou a velocidade ofensiva. Contra um time mais forte, no entanto, ainda não se sabe. Junho de 2007

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Dunga na prancheta

4-4-2 Fred

R. Gaúcho

Robinho

Daniel Carvalho

Lúcio

Vagner Love

Cicinho

Marcelo

Luisão

Kaká

R. Gaúcho

Júlio Baptista Dudu Cearense Edmílson

Edmílson

Juan

4-2-3-1

Vagner Love

Kaká

Elano

Gilberto Silva Gilberto

4-3-1-2

Gilberto Silva

Maicon

Alex

Kléber

Juan

Robinho

Mineiro

Lúcio

Ilsinho

Gomes

Gomes

Júlio César

Dunga começou com um esquema idêntico ao de Parreira. Com Elano de meia, a armação ficava mesmo a cargo de Daniel Carvalho, mas o time ressentiuse demais da ausência de Kaká e de um centroavante de peso na área adversária.

Com a convocação de Kaká, Dunga logo viu que não tinha como não armar o time para o milanista atuar como prefere, ligando meio-campo e ataque. A tática, no entanto, pede que o segundo meia encoste mais nos volantes sem a posse de bola.

A versão mais recente do Brasil de Dunga antes dos amistosos de junho viu um Brasil só com um atacante e com Robinho recuando para apoiar o meio-campo. A carência continuou sendo a falta de um goleador como Ronaldo.

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Ainda aguardando uma chamada de Dunga

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Bruno

Rafinha

Pepe

Miranda

Amauri

(Goleiro, Flamengo)

(Lateral, Schalke 04)

(Zagueiro, Porto)

(Zagueiro, São Paulo)

(Atacante, Palermo)

Ainda é inexperiente e instável emocionalmente, mas tem agilidade e elasticidade. Além disso, cresce em momentos decisivos, o que ficou evidente na reta final do Brasileirão de 2005 pelo Atlético-MG e na decisão do Estadual do Rio pelo Flamengo. Também se notabiliza por defender pênaltis.

Muita gente achou que o Schalke 04 tinha cometido uma loucura, em 2005, ao contratar o inexperiente lateral-direito Rafinha, do Coritiba. Apesar de o time alemão ter amarelado na Bundesliga, o defensor foi eleito um dos destaques da temporada, a ponto de a imprensa alemã não entender como Dunga não o chama.

Pretendido pelos maiores clubes europeus, Pepe foi protagonista no bi português do Porto, com atuações marcantes pela solidez defensiva e pela eficiência nos lances de bola parada no ataque. O zagueiro parece cansado de esperar por Dunga e já se insinua para a seleção portuguesa de Felipão.

O torcedor são-paulino certamente sente muito mais confiança em Miranda do que no espalhafatoso Alex Silva, recém-convocado por Dunga. Contratado para substituir Lugano, o ex-defensor do Sochaux não decepcionou e é o ponto fixo da defesa do Morumbi.

Com um começo de temporada arrasador, o centroavante levou o Palermo até a ponta da Série A, surpreendendo a quem não o acompanhava no Chievo. Uma lesão no joelho encerrou sua temporada, mas há na Itália quem defenda sua convocação... para a Azzurra!

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co Vip

AF

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Antonio Scorza/AFP

Em termos de resultados, não dá para reclamar do que o Brasil fez depois da Copa do Mundo. Entre as grandes seleções do futebol mundial, poucas perderam somente uma partida em 12 meses. Mesmo levando em conta que alguns dos adversários tenham sido de qualidade inferior (como o combinado do Kuwait, no jogo caça-níqueis de outubro), sete vitórias em nove jogos é um desempenho bastante razoável. O preocupante até aqui é o rendimento da Seleção durante as partidas – mais uma vez, exceção feita ao jogo contra a Argentina. Mesmo quando venceu, o Brasil sempre mostrou um jogo previsível, lento e que não ia a lugar nenhum sem as jogadas individuais dos maiores astros. A favor de Dunga, pode-se argumentar que, fazendo a rotação de quase 50 jogadores, é bem difícil dar padrão de jogo a qualquer time. Só que também isso – o numero excessivo de testes – é responsabilidade de Dunga e do resto da comissão técnica. Em termos de evolução, o Brasil de Dunga ainda tem um longo caminho. O técnico ainda não encontrou os nomes ideais para várias posições, como o gol, a lateralesquerda e o ataque – cujo buraco deixado por Ronaldo ainda não tem solução. Falta também um melhor entrosamento entre os zagueiros, as definições de um esquema tático e de um time base. Será que essa indefinição pode ameaçar o cargo do técnico? A CBF argumenta que os resultados de amistosos e Copa América não importam e que Dunga será o treinador na Copa de 2010, mas, considerando-se

quem está dizendo, é bom duvidar. Os amistosos até aqui não causaram a queda de Dunga, mas também não serviram para fazer com que a confiança no treinador aumentasse. Daí a importância – ao menos para o técnico – de um bom desempenho na Copa América, o que fica bem mais difícil com as ausências de Kaká e Ronaldinho Gaúcho (alem de Lúcio, contundido, e Ronaldo, ainda na “geladeira”). Em condições ideais, a Copa América, de fato, seria um excelente laboratório para Dunga montar um time de verdade, escalando sempre uma mesma equipe e fazendo treinamentos específicos. Só que é impossível exigir que jogadores submetidos a uma carga de trabalho de cerca de 60 jogos por ano possam ceder parte de suas férias para torneios pouco relevantes – como foi a Copa das Confederações de 2005. A partir de setembro, a agenda do Brasil deixa de ter amistosos contra Kuwait e Gana para voltar ao que realmente vale: a Copa do Mundo. Ter os craques tinindo para a estréia nas eliminatórias contra a Colômbia é o que realmente deveria preocupar Dunga e a CBF – para não assistirmos ao filme de 2006 mais uma vez.

Mesmo clube, situações distintas: Ronaldo (acima) segue vetado, mas Kaká (ao lado) é fundamental

Bob Strong/Reuters

Resultados

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Pedro Rey/AFP

Copa América, por Ubiratan Leal Hugo Chávez inspeciona o troféu que pode lhe trazer ganhos políticos

De olho no

futuro

Na Venezuela, a Copa América é vista como oportunidade de popularizar o futebol e capitalizar politicamente; para os outros países, é a chance de consolidar suas renovadas equipes

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A

imprensa foi convocada para a entrevista coletiva. Na bancada, estavam personalidades importantes do futebol venezuelano, como Rafael Esquivel, presidente da federação local, Jesús García Regalado, vice-presidente da mesma entidade, Mikel Pérez, diretor da empresa Line Up, José Luis Dolgetta, ex-jogador da seleção venezuelana, e vários integrantes da equipe “vinotinto”. O motivo de tanta pompa? O lançamento do álbum de figurinhas oficial da Copa América. Ou melhor, de um dos álbuns, pois outros dois sobre a competição continental também foram publicados na Venezuela. A importância que esse pequeno evento recebeu dá uma noção do que representa a Copa América 2007 para a Venezuela. Federação, clubes e imprensa vêem no torneio a oportunidade de finalmente colocar o futebol na lista de esportes mais populares do país, aproximando-se de beisebol e basquete, e não poupam esforços para divulgar a competição. Esse processo conta com o apoio de vários setores e despertou a atenção de empresas em busca de um novo nicho de mercado. Para falar apenas de figurinhas, por exemplo, a italiana Panini é a responsável pelo lançamento de um dos álbuns. A Line Up, empresa consolidada na Venezuela por publicar cards de beisebol, publicará os outros dois (um sobre a seleção “vinotinto” e outro com todas as equipes). Ou seja, uma multinacional e uma empresa que tradicionalmente trabalha com o esporte mais popular do país apostam no potencial da Copa América e do futebol para o torcedor venezuelano. Para que tamanha ousadia não resulte em fracasso e o futebol seja visto como esporte de massa pelos venezuelanos, é preciso que haja infra-estrutura compatível com quem espera grandes públicos. Por isso, o tratamento para receber a Copa América foi desproporcional. O governo local gastou cerca de US$ 900 milhões na reforma de seis estádios e na construção de outros três (veja tabela). É até aceitável o argumento que o país não tinha um estádio de nível internacional para o futebol pelo fato de o beisebol usar arenas em formatos muito específicos e de difícil adaptação (tanto que, na Venezuela, o futebol sempre aproveitou estádios de atletismo ou

velódromos). No entanto, o uso de nove sedes aproxima-se mais das exigências de uma Copa do Mundo ou Eurocopa do que de Copa América. Além disso, o futebol venezuelano terá, agora, estádios maiores que os usados na liga de beisebol profissional do país – esporte muitíssimo mais popular na Venezuela. Os gastos estão claramente superdimensionados, o que não significa que o governo esteja muito preocupado com isso. O presidente venezuelano Hugo Chávez sabe que a competição pode servir de propaganda de seu país, para o mundo, e de sua administração, para a população local. Além disso, também permite que ele faça o papel de anfitrião para presidentes de outros países e apareça como amigo de personalidades como Maradona. Se havia alguma dúvida dos interesses políticos em torno do evento, essa foi apagada com o anúncio do presidente venezuelano de que o contrato para a formação do Banco do Sul – instituição de fomento idealizada por Chávez para diminuir a dependência de outros organismos multilaterais – seria assinado no dia da abertura da Copa América. “A competição unificará a todos os povos da América do Sul e, por isso, convidamos seus governos

para virem assinar a ata constitutiva do projeto”, declarou Rodrigo Cabezas, ministro das finanças da Venezuela. Além do país-sede do torneio, devem assinar o acordo Brasil, Argentina, Equador, Paraguai e Bolívia. Ampliando o enfoque, é possível ver que a Copa América é o item mais relevante de um enorme projeto de construção da imagem da Venezuela por meio do esporte. Em 2006, o governo Chávez destinou cerca de US$ 500 milhões (não inclui os gastos com a Copa América) ao desenvolvimento esportivo, valor maior que o orçamento do Ministério dos Esportes no Brasil, país maior e mais rico que a Venezuela. A aposta no esporte, sobretudo o futebol, como plataforma política é tão grande que a Venezuela pretende usar a infra-estrutura recém-construída para candidatar-se a sede do Mundial sub-17 de 2011.

Momento de experiências Se, fora do campo, a Copa América fica com ares de competição de primeiro nível, devido às pretensões políticas e econômicas venezuelanas, dentro de campo deve ficar evidente que o torneio servirá apenas de plataforma de testes para muita gente. Das

os estádios

* estádios novos

Cidade

Estádio

Capacidade

Clube

Barinas

La Carolina

30.000

Zamora

Barquisimeto

Metropolitano*

40.312

Guaros

Caracas

Olímpico de la UCV

30.000

Caracas

Maracaibo

José “Pachencho” Romero

46.000

Unión Maracaibo

Maturín

Monumental*

52.000

Monagas

Mérida

Metropolitano*

42.200

Estudiantes

Puerto La Cruz

Olímpico Luis Ramos

37.485

Deportivo Anzoátegui

Puerto Ordaz

Polideportivo Cachamay

41.300

Mineros

San Cristóbal

Pueblo Nuevo

42.500

Deportivo Táchira

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de jogar a próxima Copa do Mundo. O cenário só não é mais desolador porque Argentina e México aparecerão com seleções fortes – pelo menos no papel. Os platinos destacam-se por contarem com jogadores de larga experiência internacional, como Crespo, Zanetti, Heinze e Ayala. Mesmo os mais jovens, como Mascherano, Tevez e Messi, já são bem conhecidos internacionalmente. O problema é a mudança no estilo de jogo, até porque Riquelme, maestro do meio-campo durante o comando de José Pekerman, aposentou-se da Albiceleste. Entre os mexicanos, a participação na Copa América estará ligada à Copa Ouro. Semanas antes da competição sul-americana, El Tri disputará o torneio de seleções da Concacaf. Com isso, o time comandado por Hugo Sánchez chegará à Venezuela com mais preparação que os adversários, mas também pode estar mais cansado. De qualquer maneira, o ex-atacante do Real Madrid convocou estrelas como Cuauhtémoc Blanco, Rafa Márquez, Borgetti, Osorio e Salcido. Desse modo, Argentina e México despontam como principais adversários do Brasil na competição. A Venezuela aparece como pos-

Rafa Márquez e Messi, na Copa de 2006: estrelas deverão estar na Venezuela

Daniel Garcia/AFP

12 seleções que participarão da competição, nove mudaram de técnico nos últimos 12 meses. Apenas Venezuela, Equador e Chile mantiveram o comando – sinal inequívoco de que não é apenas o Brasil de Dunga que começa um trabalho após o Mundial de 2006 e está buscando novos rumos para as eliminatórias para a África do Sul-2010. A tendência é que as equipes entrem em campo com vários nomes em ascensão que precisam de uma experiência internacional como a da Copa América para se consolidarem em suas seleções. O conceito é mais amplo do que parece, pois pode incluir desde o desconhecido lateral peruano De la Haza, do Cienciano, até o astro argentino Gago, do Real Madrid. Essa realidade deve esvaziar tecnicamente a competição. A expectativa é que muitos times mostrem problemas de entrosamento e, falta de padrão tático. Individualmente, também haverá problemas. No Brasil, Ronaldinho e Kaká, os dois principais jogadores da Seleção, pediram dispensa da Copa América. Outros nomes importantes podem ficar de fora pela idade, já que muitos técnicos têm planos de longo prazo e preferem atletas em condições

as seleções Argentina

Bolívia

Chile

Colômbia

Equador

Títulos: 2 Copas do Mundo 14 Copas América Técnico: Alfio Basile Destaques: Crespo, Messi, Mascherano e Tevez Nomes em ascensão: Gago e Jonás

Títulos: 1 Copa América Técnico: Erwin Sánchez Destaques: Peña, Lorgio Alvarez, Arce e Jaime Moreno Nomes em ascensão: Limberg Gutiérrez e Joselito Vaca

Títulos: nenhum Técnico: Nelson Acosta Destaques: Maldonado, Mark González e Claudio Bravo Nomes em ascensão: Matías Fernández, Valdivia e Suazo

Títulos: 1 Copa América Técnico: Jorge Luis Pinto Destaques: Ivan Córdoba, Mosquera e Viáfara Nomes em ascensão: Rodallega

Títulos: nenhum Técnico: Luis Fernando Suárez (COL) Destaques: Valencia e Edison Méndez Nomes em ascensão: Felipe Caicedo, Aragón e Saritama

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Estados Unidos Títulos: 3 Copas Ouro Técnico: Bob Bradley Destaques: Donovan, Beasley e Howard Nomes em ascensão: Spector, Michael Bradley e Eddie Johnson

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sível surpresa, pois antecipou o fim do campeonato nacional para dar mais tempo para Richard Páez preparar a equipe. Além disso, tem um regulamento feito sob medida, que coloca Argentina e Brasil como adversários só na final, se ninguém tropeçar. Nas demais seleções, as que apresentam mais solidez no início de trabalho são Colômbia e Estados Unidos. Nos dois casos, as experiências feitas pelos técnicos – por exemplo, o colombiano Jorge Luis Pinto testou o zagueiro Ivan Córdoba na lateral – tiveram bons resultados nos amistosos preparatórios. O Chile também mostra potencial, mas a nova base é muito jovem e instável. Ainda assim, a maior parte das previsões é mera conjectura. Com seleções frágeis coletivamente, mas cheias de jogadores promissores dispostos a aparecer internacionalmente, a Copa América abre espaço para muitas surpresas. Até porque ela nada mais é que uma etapa importante de projetos futuros: dentro de campo, para 11 países; dentro e fora, para a anfitriã Venezuela. Saiba mais sobre Copa América e futebol latinoamericano em www.trivela.com/americalatina

O rodízio acabou. E agora? Em 1986, a Conmebol decidiu recuperar a credibilidade da Copa América. Depois de duas décadas incertas, em que o torneio de seleções mais antigo do mundo ainda em disputa quase fechou, a entidade decidiu que a competição seria realizada a cada dois anos. Para organizá-la, seria feito um rodízio entre os dez países sul-americanos. Assim foi em 1987 (Argentina), 1989 (Brasil), 1991 (Chile), 1993 (Equador), 1995 (Uruguai), 1997 (Bolívia), 1999 (Paraguai), 2001 (Colômbia), 2004 (Peru) e 2007 (Venezuela). Com o encerramento do rodízio, é aberta a possibilidade de a competição tomar novos rumos. Em princípio, a Conmebol pretende mudar para quatro anos o intervalo entre cada edição e recomeçar o revezamento com a Argentina. No entanto, o México apresentou um projeto para organizar o torneio, o que representaria uma mudança nas dimensões da competição, que sairia da América do Sul pela primeira vez e atingiria novos mercados.

México

Paraguai

Peru

Uruguai

Venezuela

Títulos: 3 Copas da Concacaf 4 Copas Ouro Técnico: Hugo Sánchez Destaques: Omar Bravo, Rafa Márquez, Blanco, Salcido e Osorio Nomes em ascensão: Ochoa, Alberto Medina e Nery Castillo

Títulos: 2 Copas América Técnico: Gerardo Martino (ARG) Destaques: Cabañas, Paulo da Silva e Villar Nomes em ascensão: Montiel e Morel Rodríguez

Títulos: 2 Copas América Técnico: Julio César Uribe Destaques: Farfán, Solano e Vargas Nomes em ascensão: Guerrero e De la Haza

Títulos: 2 Copas do Mundo 14 Copas América Técnico: Óscar Tabárez Destaques: Forlán, Chevantón, Lugano e Estoyanoff Nomes em ascensão: Vigneri, Ríos e Fucile

Títulos: nenhum Técnico: Richard Páez Destaques: Arango, Toyo e Rey Nomes em ascensão: Vizcarrondo, Miku Fedor e Vallenilla

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Orlando Kissner/AFP

especialCOPA Copa 2014

PARTE 1: Organização

A Copa de 2014 nem foi confirmada para o Brasil, mas o obaoba já começou. A mídia, que, normalmente, já gosta de estar de bem com os donos do poder, parece ainda mais inclinada a dizer amém a tudo o que venha da CBF. O torcedor/eleitor, assim, só recebe boas notícias sobre o evento. Ninguém questiona, por exemplo, por que Ricardo Teixeira se coloca como “dono” da candidatura. Ou por que o governo se apressa tanto em atestar que qualquer garantia que a Fifa pedir para a realização do evento será dada. O Brasil precisa mesmo construir vários estádios? Que critérios estão sendo utilizados para decidir que cidades hospedarão o evento? E, principalmente, o que poderá

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trazer de positivo para o Brasil uma Copa do Mundo? Desde sua primeira edição, a Trivela dedica-se a analisar o futebol além do campo de jogo e, neste momento, não poderia ser diferente. Iniciamos, nesta edição, uma série de reportagens destinadas a responder as perguntas acima. Nas próximas páginas, mostramos quem manda no projeto 2014 e como o torcedor pode ficar de olho neles. Nos próximos meses, abordaremos a questão dos estádios, a infra-estrutura e o legado que a Copa pode deixar ao futebol brasileiro – e ao Brasil – com independência, seriedade e profundidade. Como você já está se acostumando a encontrar na Trivela.

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Organização

Na mão de

poucos Uma eventual Copa do Mundo no Brasil exigirá articulação de diversos setores da sociedade, mas tudo indica que a organização deve ficar centralizada em um número reduzido de pessoas por Ubiratan Leal

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icardo Terra Teixeira é apenas presidente de uma confederação esportiva brasileira, mas não estaria muito errado quem o chamasse de rei, comandante-em-chefe ou qualquer título que denote poder absolutista. Hoje, no Brasil, poucas pessoas aproximam-se tanto de um monarca como o dirigente máximo da CBF. Ele tem espaço na mídia quando e como quer, gera ansiedade a cada declaração e é recebido por governadores, ministros e até o presidente da República. Todos querem estar perto dele. Todos querem agradá-lo. É fácil entender de onde vem tanta força de atração. O Brasil é candidato a organizar a Copa do Mundo de 2014, evento que mobilizaria o país, despertaria o imaginário da população e geraria de bilhões de reais. São fatores extremamente apetitosos para qualquer um. No momento, Ricardo Teixeira comanda esse projeto. Mais que isso: ele é o projeto.

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Tudo que envolve a competição passa por seu crivo. Isso fica evidente no modo natural como tomou para si o controle da candidatura. “A CBF não existe para a Copa. A CBF é a entidade filiada à Fifa que cria um comitê organizador da Copa, mas é esse comitê que cuida do torneio perante a Fifa. Obviamente, como a entidade ligada à Fifa é a CBF, ela terá a presidência do comitê organizador”, afirma. Será que é realmente “óbvio” que a federação de futebol do país-sede comande o comitê de organização? Nos Estados Unidos-1994, isso, de fato, ocorreu. Mas foi um torneio organizado apenas com investimentos da iniciativa privada, e Alan Rothenberg, presidente da federação e do comitê, foi escolhido pela experiência na organização de eventos, e não como cartola de carreira política. O caso norte-americano, porém, é de exceção. Na França-1998, Coréia do Sul/Japão-2002 e Alemanha-2006, a organização tinha co-

mando diferente da federação. No caso do Brasil-2014, Teixeira não fala sobre comitê de organização: “Não falo do futuro. Depois que o Brasil tiver direito de organizar a Copa, trato disso”. O comitê de candidatura, porém, já está constituído, ainda que se divulguem poucas informações sobre isso. Carlos Geraldo Langoni é o responsável pela área financeira, e Francisco Müssnich, pela jurídica. São profissionais reconhecidos em suas áreas, mas têm papel secundário diante de Rui Rodrigues. Vice-presidente da agência MPM, o publicitário é o braço-direito de Teixeira, pela experiência em coordenação de grandes projetos. Enquanto o presidente da CBF conversa com autoridades de alto escalão, é Rodrigues quem faz o corpo-a-corpo com os técnicos que levantarão as informações apresentadas à Fifa no caderno de encargos. Em tese, o publicitário é quem realmente preencherá o questionário enviado pela entidade.

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Organização

Cezar Loureiro/Agência O Globo

Ricardo Teixeira, entre Luís Fernando Lima, da Globo, e Jim Brown, da Fifa: caras fechadas que mandarão na Copa

“Congresso não foi feito para fiscalizar” José Rocha, deputado federal do PR-BA que propôs a criação de uma subcomissão na Câmara para tratar da Copa de 2014, diz que papel do Congresso é facilitar o trabalho da organização, sem fiscalizar o processo. Rocha recebeu R$ 50 mil em doações da CBF, na sua campanha em 2006.

Já temos uma comissão especializada na área de esportes, na Câmara. Não faria sentido criar outra, pois elas poderiam virar concorrentes. Por isso, era melhor criar uma subcomissão dentro da comissão já existente.

O governo pretende apoiar incondicionalmente a Copa no Brasil? Certamente, pois um evento desses é ímpar, na possibilidade de gerar desenvolvimento ao país.

O senhor, pessoalmente, acha que o governo deveria apoiar o Mundial sem impor condições? Não vejo o porquê de impor condições a um evento como a Copa do Mundo. É procurar chifre na cabeça de cavalo.

Como o Congresso pode participar na candidatura e na eventual organização da Copa do Mundo de 2014?

O Congresso é uma fábrica de leis. Por isso, deve ser acionado para criar leis necessárias para operacionalizar a Copa. São medidas como, por exemplo, aprovar linhas de crédito especiais para a construção da infra-estrutura exigida pela Fifa. Além disso, essa subcomissão receberia as demandas da organização e orientaria o governo na elaboração das leis necessárias.

O papel do Congresso não seria também o de fiscalizar a organização, uma vez que se trata de um evento que mobiliza todo o país e exige enormes gastos públicos? O Congresso não foi feito para fiscalizar. O Congresso tem de fazer o possível, dentro de sua alçada, para ajudar a organização da Copa: ou seja, ajudando na elaboração de leis. A fiscalização deve ficar a cargo do Tribunal de Contas da União. Junho de 2007

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Por que o senhor propôs a criação de uma subcomissão, e não de uma comissão?

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Pelo histórico que o Brasil tem na organização de eventos esportivos, é preocupante decisões tão importantes ficarem na mão de poucas pessoas. O paralelo imediato é com o Jogos Pan-Americanos, realizados em julho no Rio de Janeiro. “É um aprendizado. Para uma cidade, a operação do Pan é muito mais complexa que a do Mundial”, comenta Eduardo Paes, secretário de esportes do Estado do Rio. Essa comparação só é possível porque o Pan, competição de porte médio no cenário internacional, foi alçado à categoria de megaevento por marketing. A operação e as obras foram superdimensionadas. No final das contas, a competição custará dez vezes mais que o estimado. A principal razão da discrepância foi a falta de detalhamento do projeto apresentado à Organização Desportiva PanAmericana. O Co-Rio (comitê de organização do Pan) prometeu instalações dignas de Jogos Olímpicos, com construção de novos estádios, ginásios e linha de metrô, implantação de linha de barca e duplicação de vias expressas. Para piorar, licitações foram feitas em cima do prazo e obras foram deixadas para a última hora. “É uma artimanha para fazer uma contratação de emergência, sem licitação, que costuma ter valores mais altos”, explica Cláudio Weber Abramo, diretor da Transparência Brasil, ONG que levanta informações so-

Berg Silva/Agência O Globo/Gazeta Press

Organização

O exemplo do Pan

Estádio João Havelange: herança do Pan que não deve ser usada na Copa

bre o combate à corrupção. Assim, salvo as instalações esportivas, nada do que foi prometido foi feito, por falta de dinheiro. O Pan ainda não foi realizado, mas sua organização já é vista como fracasso. Assim, Ricardo Teixeira quer se distanciar do evento. “Quer saber sobre o Pan? Pergunte para o Nuzman”, diz o presidente da CBF, referindo-se a Carlos Arthur Nuzman, presidente do Comitê Olímpico Brasileiro. “A única coisa que sei do Pan é que a seleção de futebol será sub-17. Nada mais”, esquiva-se.

Teixeira e Nuzman podem até ter atritos, mas há inegáveis semelhanças no modus operandi de ambos. A origem da disputa é o desejo de ser a figura central de um megaevento esportivo no Brasil. O presidente da CBF quer a Copa em 2014; o do COB já tentou levar para o Rio os Jogos Olímpicos 2004 e 2012 e tenta os de 2016. Nuzman acreditava que o Pan alavancaria seu sonho olímpico e transformou o Co-Rio em feudo. Por meio de sua assessoria de imprensa, o comitê se diz autôno-

quem é quem

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COMITÊ DE CANDIDATURA

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Ricardo Teixeira

Rui Rodrigues

(presidente)

(coordenação de operações)

O presidente da CBF tem tomado para si toda a responsabilidade de organizar a Copa. Visita governantes como se as decisões partissem dele e pretende estender seu mandato até 2014, para ter o controle do processo de organização do evento até o fim. Pode ganhar muito poder na Fifa se a Copa de 2014 for bem sucedida.

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Vice-presidente de planejamento da MPM, Rodrigues é o coordenador do projeto Brasil-2014. Já teve um escritório de marketing político e trabalhou nas campanhas eleitorais de Fernando Henrique Cardoso, Tasso Jereissati e José Serra, entre outros.

Francisco Müssnich

Carlos Geraldo Langoni

(jurídico)

(financeiro)

É sócio do escritório Barbosa, Müssnich & Aragão Associados, com especialização em direito societário e litígios empresariais. Escreveu vários livros nessa área e prestou consultoria jurídica ao Flamengo, na negociação do malfadado acordo com a ISL.

Projetou-se nacionalmente no início dos anos 80, como o mais jovem presidente da história do Banco Central. Hoje, é sócio de um escritório de consultoria econômica e diretor do Centro de Economia Mundial, da Fundação Getúlio Vargas.

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Governo é só um coadjuvante O Pan evidenciou o perigo de deixar um pequeno grupo comandar grandes projetos sem controle externo – até porque a conta acaba estourando no poder público (ou seja, no contribuinte). Em competições como Copa do Mundo e Jogos Olímpicos, o governo do país tem de se comprometer a bancar o evento, caso seja necessário. Se não, nada de torneio. Foi o que ocorreu no Pan: quando acabou a verba de Co-Rio, prefeitura e governo do Estado, a União teve de abrir seus cofres para evitar uma vexatória mudança de sede.

Qualquer estudante de administração sabe que não se pode dar carta branca a quem controlará seus milhões de reais. No mínimo, esse investidor deve ter como fiscalizar o que fazem com seu dinheiro. O governo britânico sabe disso e só apoiará a federação inglesa na candidatura à Copa de 2018 se participar das decisões. Não é o que faz o Brasil. Quando o assunto é Copa-2014, o ministro dos esportes Orlando Silva Júnior é claro: “O presidente Lula assinará o mais rápido possível uma carta oferecendo as garantias governamentais exigidas pela Fifa, somando-se ao esforço da CBF para conquistar a Copa de 2014”. O apoio demonstrado a Ricardo Teixeira é total, sem esboçar qualquer controle nas ações do projeto. Além do dinheiro gasto em infra-estrutura e instalações esportivas, o governo é responsável por criar leis que facilitem o trânsito de delegados da Fifa e atletas, agilizem a emissão de vistos para quem trabalhar no Mundial e renunciem a impostos de importação e exportação de equipamentos, entre outras medidas. Colocado no papel, tudo isso representa milhões de dólares dos quais a União abre mão. Para tornar o cenário ainda menos otimista para o torcedor/contribuinte, o Congresso está do lado de Teixeira. A Câmara rechaçou a proposta de criação de uma comissão para a Copa-2014, preferindo instalar apenas uma subcomissão dentro da

comissão de esportes. Essa mudança tem resultado significativo, pois a comissão de esportes conta com vários representantes da “Bancada da Bola”, grupo de parlamentares que dão suporte à CBF em Brasília (veja a revista Trivela nº 7). A criação da subcomissão da Copa-2014 já foi aprovada, e sua criação depende apenas da deputada Lídice da Mata (PSB-BA), presidente da comissão de esportes. Resta torcer. “Os líderes de partidos indicam os representantes, e temos de esperar que eles tenham responsabilidade, mas não há como evitar que a Bancada da Bola seja maioria”, comenta o deputado Sílvio Torres (PSDBSP), considerado opositor à CBF. No que depender do responsável pela idéia da subcomissão, José Rocha (PR-BA), as perspectivas são de mais apoio à CBF (veja entrevista). Desse modo, a população conta apenas com as audiências que a Câmara realizará com os envolvidos no Mundial. Ali, é possível – e nada garantido – que se levantem questões de interesse público. É pouco, diante do tamanho do evento. O cenário parece definido. A coordenação do evento está centralizada em Ricardo Teixeira e seus assessores. O governo apóia a CBF, deixando claro que dará qualquer garantia que a Fifa exigir. O Congresso não está disposto a fiscalizar o processo, apenas facilitar a operação dos organizadores. Não é nada surpreendente, mas bastante preocupante.

Organização

mo quando consultado pela reportagem: “O Co-Rio é uma entidade não-governamental, sem fins lucrativos, formada por COB e confederações olímpicas, com a participação da prefeitura, do governo do Estado do Rio de Janeiro e do governo federal. Estruturado nos moldes de uma associação sem fins lucrativos, o Co-Rio é uma organização independente”. Essa independência não é tão real. Carlos Arthur Nuzman acumula as funções de presidente do COB e do Co-Rio. Além disso, o dirigente contratou parentes ou empresas de amigos para prestar serviços ao comitê organizador. Por exemplo, a cunhada de Nuzman é responsável pelo design dos uniformes da delegação brasileira, e o chefe da delegação nos Jogos de 2004 é diretor da seguradora do COB.

OUTROS PERSONAGENS

O ministro dos esportes tem se aproximado bastante da CBF, nos últimos meses. Conseguiu atrair para sua pasta a articulação do projeto, vencendo a concorrência com os ministérios do turismo e das cidades.

Darcísio Perondi

Silvio Torres

Pelé

Deputado federal pelo PMDB-RS, é irmão de Emídio Perondi, ex-presidente da federação gaúcha e padrinho de Dunga. Ele próprio reconhece que defende os interesses da CBF no Congresso e é cotado para presidir a subcomissão da Copa de 2014 na Câmara.

Deputado federal pelo PSDB-SP, foi o relator da CPI da CBF, em 1999, e defende que o Estado tenha participação mais ativa na organização da Copa, para controlar os gastos com o evento. Tenta formar um grupo mais sólido de oposição a Ricardo Teixeira.

O ex-craque e exministro dos esportes é cotado para ter um papel importante no comitê de organização da Copa, caso o Brasil seja escolhido. Sua figura daria mais legitimidade à causa brasileira no exterior e atrairia investidores.

Carlos Arthur Nuzman Presidente do COB, quer aproveitar o Pan para lançar a candidatura do Rio aos Jogos Olímpicos de 2016. Por isso, acha que uma eventual escolha brasileira para o Mundial atrapalharia seus planos.

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COPA’14

Orlando Silva Júnior

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Fethi Belaid/AFP

LC africana, por Marcus Alves e Cassiano Ricardo Gobbet

Liga dos Campeões da África atrai cada vez mais interesse fora do continente, mas ainda tem sérios problemas para se tornar uma competição rentável

A “prima pobre” da

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Amine Ltaief, do Espérance, depois de jogo contra o Étoile, em 2005

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A

competição mais importante de um continente que tem o futebol mais “alegre” do mundo é espetacular, certo? Bom, não exatamente. A fase de grupos da Liga dos Campeões da África tem uma importância imensa para o futebol de clubes do continente, mas, mesmo tendo cada vez mais atenção do mundo, ainda reflete muitos estereótipos sobre a África. Em junho, a competição deste ano entra em sua fase decisiva quando oito equipes se enfrentam em dois grupos de quatro times. A fase “seleta” do torneio, contudo, não transforma a competição em uma versão equatorial de sua prima rica européia. A grande quantidade de problemas, que vão de estrutura a alterações de datas de jogos, ainda dá o tom. Resultados anulados por causa do registro ilegal de jogadores, clubes sendo excluídos por corrupção, ataques a árbitros e jogos cancelados por problemas de infra-estrutura são comuns. Os primórdios da competição ocorreram nos anos 60, quando as dificuldades para um torneio do tipo eram quase intransponíveis. Além da pobreza, grande parte dos países envolvidos estavam envolvidos em algum tipo de guerra. Observando-se as listas de campeões, dá para traçar um perfil dos países com mais títulos: estabilidade política e desenvolvimento econômico de um modo geral são características das nações com mais sucessos. De 1997 para cá, por exemplo, seis dos dez vencedores saíram de Egito ou Marrocos, países do norte da África que seguem essa receita. Países que contam com muitos jogadores importantes na Europa, como Camarões e Senegal, não têm um grande histórico no atual formato da competição. Nesse caso, o que atrapalha é o intenso êxodo de jogadores para as maiores ligas do mundo. Coincidência ou não, até o país aparecer em uma Copa do Mundo pela primeira vez, em 1982, as equipes de Camarões estavam entre as grandes favoritas, na antiga versão do torneio. Depois, nunca mais levantaram a taça.

Al Ahly Nome completo: Al Nady Al Ahly Lel Tarbeya Albadaneya Cidade: Cairo (Egito) Fundação: 1907 Técnico: Manuel José (POR) Estádio: Mokhtar el Tetch

No ano em que comemora seu centenário, o Al Ahly desponta, mais uma vez, como favorito à conquista da Liga dos Campeões. Embora não se encontrem fisicamente bem, depois de duas temporadas consecutivas sem descanso, os Vermelhos contam com a maestria de Mohamed Aboutrika e com o retorno de Barakat aos campos para superar os adversários. O treinador Manuel José precisará, também, administrar seu envelhecido elenco corretamente, para não perder nomes importantes por contusão, como aconteceu no ano passado.

Al Hilal Nome completo: Al Hilal Al Sudany Club for Physical Education Cidade: Omdurman (Sudão) Fundação: 1930 Técnico: Ricardo Ferreira Heron (BRA) Estádio: Al Hilal Stadium

Em 2004 e em 2006, o Al Hilal quase se classificou para a fase de grupos da Liga dos Campeões. Neste ano, ainda ninguém foi capaz de acabar com o sonho do técnico brasileiro Heron Ferreira de conquistar um título internacional. Para que ele se sustente, Ferreira conta com uma equipe entrosada, que tem no atacante nigeriano Kelechi Osunwa seu caminho para o sucesso. Com o clube ainda se ressentindo de maior experiência no cenário africano, a pressão adversária pode fazer ruir as chances do Al Hilal.

Al Ittihad Nome completo: Al Ittihad Cidade: Tripoli (Líbia) Fundação: 1944 Técnico: Branko Smiljanic (SER) Estádio: 11 de Junho

O Al Ittihad não encontra adversário à altura na Líbia hoje. O cenário, no entanto, mostra-se diferente para a equipe fora do país. Apesar disso, ela superou as fases iniciais da Liga dos Campeões sem problemas – em virtude, também, de não ter encontrado nenhum oponente forte no caminho. Exerceram papéis importantes nessa estrada o líbio Younes al Shibani e o camaronês Enam Alexis. O Al Ittihad ainda conta com representantes do Brasil e de Burkina Fasso no elenco, na tentativa de conceder ao time uma experiência que, provavelmente, não será suficiente para chegar ao título.

ASEC Mimosas Nome completo: Amicale Sportive des Employés de Commerce Mimosas Cidade: Abidjan (Costa do Marfim) Fundação: 1948 Técnico: Patrick Liewig (FRA) Estádio: Stade Félix Houphouët-Boigny

Didier Ya Konan e Bakary Soro foram os destaques do ASEC Mimosas na última temporada. Abdul Nafiu Iddrisu, emprestado pelo Feyernoord, e John Mutiu são as apostas para este ano. Apoiados por um meio-campo talentoso, onde se destaca Emmanuel “Zidane” Koné, remanescente da equipe semifinalista de 2006, eles estiveram em destaque nas primeiras fases da Liga dos Campeões. Soberano internamente, resta ao Mimosas repetir a campanha de 1998 e, assim, dominar o continente africano mais uma vez.

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Espérance O Espérance não encontrou dificuldades nas fases anteriores da Liga dos Campeões. O meio-campo liderado por Ahmed Hammi e pelo marroquino Hicham Aboucherouane, ex-Lille e Raja Casablanca, esteve muito bem, ao passo que Amine Ltifi não desapontou como referência ofensiva. A defesa, no entanto, é um setor com que o técnico Jacky Duguépéroux precisa se preocupar. Alvo constante de boatos acerca de sua demissão, Duguépéroux buscará em nomes como Bilel Yakin encerrar as falhas constantes da retaguarda do EST.

Nome completo: Espérance Sportive de Tunis Cidade: Tunis (Tunísia) Fundação: 1919 Técnico: Jacky Duguépéroux (FRA) Estádio: El Menzah

Étoile du Sahel Após perder o experiente Kais Ghodbane, que deixou o clube depois de se desentender com o treinador, o Étoile du Sahel apostará em suas diversas promessas. É uma estratégia arriscada, mas que se mostrou correta no primeiro semestre. O meio-campo, composto por nomes como Mohamed Ali Nafkha e Yassine Chikhaoui, auxiliou perfeitamente o artilheiro do ESS, Amine Chermiti. Caso Benzarti acerte a defesa, que ainda carece de maiores cuidados, o Étoile pode repetir as excelentes campanhas de 2004 e 2005, quando chegou à final.

Nome completo: Étoile Sportive du Sahel Cidade: Sousse (Tunísia) Fundação: 1925 Técnico: Faouzi Benzarti Estádio: Stade Olympique de Sousse

Os triunfos sobre o Mazembe, do artilheiro Tresor Mputu, e o Ashanti Gold, de Gana, credenciam o FAR como um dos favoritos ao título. A equipe teve certo sucesso continental nos últimos dois anos, quando conquistou o título e o vice da Copa da CAF (segunda competição do continente). O FAR conta com o goleiro Tarik Jarmouni e o atacante Jaouad Ouaddouch como principais destaques para se sair bem na Liga dos Campeões. O clube militar, contudo, notabiliza-se por sua postura tática – fruto do trabalho do treinador Jawad Milani.

Nome completo: Association des Forces Armées Royales Rabat Cidade: Rabat (Marrocos) Fundação: 1958 Técnico: Jawad Milani Estádio: Stade Moulay Abdellah

FAR Rabat

Kabylie O habilidoso Hamza Yacef e o oportunista Cheikh Omar Dabo são as duas principais armas do JSK. Eles são assistidos por um inconstante Wassiou Oladipupou. O armador de Benin não raramente se esconde durante as partidas, provocando, assim, o isolamento da dupla de ataque. Essa deficiência do meio-campo por pouco não custou a classificação dos Canários para a fase de grupos da Liga dos Campeões. O técnico Aït Djoudi convive, ainda, com a possibilidade de perder nomes importantes, como Rabie Meftah, quando o mercado europeu for aberto.

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Nome completo: Jeunesse Sportive de Kabylie Cidade: Tizi-Ouzou (Argélia) Fundação: 1946 Técnico: Azzedine Aït Djoudi Estádio: 5 de Julho (para jogos da LC) ou 1° de Novembro

Força do norte da África Al Ahly, do Egito, Espérance e Étoile du Sahel, ambos da Tunísia, Kabylie, da Argélia, FAR Rabat, do Marrocos, e Al Ittihad, da Líbia, classificaram-se para a fase de grupos da LC, ao lado do ASEC Mimosas, da Costa do Marfim, e do Al Hilal, do Sudão. Os seis primeiros são do norte do continente, enquanto Al Hilal e ASEC representam o restante da África. Vale dizer também que a região do ASEC – o oeste africano – é de onde vieram todos os três campeões “não-norte-africanos”, no formato atual da competição: Nigéria (Enyimba), Gana (Hearts of Oak) e o próprio time da capital marfinense. Uma explicação plausível para o fenômeno é que, além da relativa tranqüilidade política, há um bom desenvolvimento de jovens atletas, tanto por clubes locais quanto por centros que visam a “exportação”. Também existem os casos de clubes que vivem de um magnata que banque o time. O Enyimba, da Nigéria, por duas vezes desafiou com sucesso as forças do norte do continente. Os títulos da Liga dos Campeões de 2003 e 2004, entretanto, foram conquistados principalmente por causa dos investimentos do empreendedor Orji Uzor Kalu, atual governador do estado de Abia, onde o clube se localiza. O time nigeriano, hoje, mesmo sem ter passado à fase seguinte, tem uma estrutura excelente, para os padrões continentais. Entre os oito finalistas, o Al Hilal é a presença mais surpreendente. O Sudão, seu país de origem, é uma nação cuja economia é pouco desenvolvida e abriga uma das maiores crises humanitárias do mundo, na região de Darfur, onde cerca de 200 mil pessoas morreram e 2 milhões tiveram de abandonar suas casas desde o início da crise. De um modo ou outro, o clube entra na fase final confiante em um bom papel. O favoritismo para vencer a competição divide-se entre o Al Ahly e o Ètoile du Sahel. O time egípcio, pentacampeão africano, manteve a mesma base campeã dos últimos anos. Já o clube tunisiano chegou à fase decisiva com uma equipe montada basicamente em cima das revelações de sua ótima divisão de base.

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Pius Utomi Ekpei/AFP

As ausências de clubes da África do Sul, da Nigéria e de Gana na disputa pelo título são a verdadeira surpresa. Os sulafricanos preparam-se para receber uma Copa do Mundo e têm uma primeira divisão bem organizada, para os padrões africanos. Nigerianos e ganenses também têm sido regulares em suas participações no torneio, e jogadores dos dois países atuam nos principais clubes europeus. Nesse ponto está uma outra característica da LC. Os jogadores africanos famosos na Europa não chegam a atuar na compe-

tição porque deixam a África muito cedo. Estrelas como Kolo Touré, Emanuel Eboué e Didier Drogba, por exemplo, praticamente iniciaram suas carreiras profissionais em clubes europeus, que investem pesado em olheiros e centros de treinamento no continente. Mesmo assim, alguns conseguem bons contratos tardiamente, como Hossam Ghaly (atualmente no Tottenham) ou Mamadou Diallo (do Nantes). Ainda assim, a LC tem recebido mais atenção do mundo e da própria África nos últimos anos. As premiações aumentaram

consideravelmente, e, em 2007, cerca de US$ 3,6 milhões serão distribuídos entre os clubes. Os dirigentes de ligas mais ricas, como Egito e África do Sul, pressionam para ter mais espaço, para aumentar o potencial financeiro da competição – uma briga que aconteceu há alguns anos na Europa. O potencial da competição é enorme, mas está atrelado ao difícil desenvolvimento do continente como um todo.

O ASEC pegou o Enyimba, em Abidjã: confronto entre times do oeste africano

Saiba mais sobre futebol africano em www.trivela.com/africa

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Impulsionados

Capitais do futebol, por Marcus Alves e Ubiratan Leal

pela r i No Cairo, a disputa entre dois clubes nacionalistas ultrapassou as fronteiras egípcias para conquistar o futebol africano

N

ão se deixe enganar pelo discreto retrospecto em Copas do Mundo – duas participações, sempre na Itália e com eliminação na primeira fase. O Egito é, sim, uma potência africana. Se a história dos Mundiais não mostra isso, as competições continentais o fazem. Com cinco títulos da Copa Africana de Nações e 11 da Liga dos Campeões, os egípcios são hegemônicos no futebol do continente. E o centro nervoso dessa força é sua capital, Cairo. Colônia britânica entre 1882 e 1922, o Egito foi palco de diversas partidas amistosas entre militares e trabalhadores ingleses, antes mesmo de o futebol se consolidar internacionalmente. Por mais que os primeiros clubes egípcios fossem compostos por ingleses, outros surgiram em seguida, mesclando europeus e nativos. Desse fenômeno, surgiu a grande rivalidade do Cairo, considerada por muitos a maior do futebol africano. Em 1907, foi fundado o Al Ahly. O clube tinha ingleses na direção, mas era uma instituição basicamente nacionalista (o nome, em árabe, significa “Nacional”), composta por estudantes que resistiam à colonização. Quatro anos depois, o Al Mokhtalat surgiu entre egípcios e belgas que

Amro Maraghi/AFP

Al Ahly x Zamalek: grande clássico da capital egípcia

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Primeira divisão

clubes da cidade 1 Al Nady Al Ahly

Lel Tarbeya Albadaneya 5 Ligas dos Campeões da África 4 Recopas Africanas 1 Liga dos Campeões Árabes 32 Campeonatos Egípcios 34 Copas do Egito

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À SOMBRA DOS GRANDES

r ivalidade

5 Ligas dos Campeões da África 1 Recopa Africana 1 Liga dos Campeões Árabes 11 Campeonatos Egípcios 20 Copas do Egito

3 Al Moqaouloun

Al Arab (Arab Contractors) 3 Recopas Africanas 1 Campeonato Egípcio 3 Copas do Egito

2 1

3

Egito

Cairo 7,5 milhões de habitantes

Tersana Sporting Club 1 Campeonato Egípcio 6 Copas do Egito Engineering for the Petrolium & Process Industries 1 Copa do Egito Tala’ea Al Jaish

Segunda divisão

2 Zamalek Sporting Club

dor do Al Ahly. Ele estava no estádio quando os Vermelhos perderam de 6 a 0 do Al Mokhtalat, em 1944, maior goleada da história do dérbi do Cairo. Em reconhecimento ao futebol apresentado pelo time vencedor, o rei determinou que o clube se chamasse Farouk e passou a apoiá-lo. Oito anos depois, uma revolução derrubou o rei, e a tendência governista mudou – a ponto de o novo presidente egípcio, Gamal Abdel Nasser, ícone do nacionalismo árabe, ter recebido o cargo de presidente honorário do Al Ahly. Enquanto isso, os Cavaleiros Brancos tiveram de mudar novamente de nome, adotando o Zamalek que dura até hoje. Esse vaivém serviu para colocar questões políticas e sociais em uma rixa que já era grande. Para evitar conflitos, os clássicos do Cairo tiveram de ter arbitragem internacional durante alguns anos. Nem isso impediu que, em 1966, cerca de 300 torcedores saíssem do estádio feridos após uma briga generalizada que envolveu ainda a polícia, durante uma edição do dérbi. Cinco anos depois, mais problemas: por causa de um pênalti marcado para o Zamalek, teve início um atrito político que levou ao cancelamento do Campeonato Egípcio daquela temporada. Essa disputa é ferrenha até hoje. Com cinco títulos cada, Zamalek e Al Ahly dividem a liderança no ranking de vencedores da Liga dos Campeões da África. Os Vermelhos foram eleitos clube africano do século XX pela Fifa, enquanto que os Cavaleiros Brancos são vistos como modelo no continente por sua infra-estrutura e organização. São coisas de uma rivalidade com origem no Cairo, mas que tem o tamanho de toda a África.

localização

queriam criar um contraponto ao Al Ahly. Desde então, essas duas equipes se projetaram como as principais representantes do nacionalismo egípcio diante dos britânicos. A rivalidade crescia naturalmente, mas teve um grande impulso em 1913. Naquele ano, Hussein Hegazy voltou ao Cairo de uma temporada de estudos em Cambridge e montou um time 100% egípcio. O combinado de Hegazy venceu dois amistosos contra uma seleção de militares britânicos, aumentando ainda mais o uso do futebol como meio de propagação de ideais nacionalistas. Al Ahly e Al Mokhtalat não perderam tempo e logo tentaram recrutar jogadores do time de Hegazy. O Al Ahly ficou com o ex-estudante, mas o Al Mokhtalat levou o resto da equipe. A rivalidade ajudou a popularizar o esporte no Cairo e em todo o país, motivando a criação da federação egípcia em 1921, dois anos antes da independência oficial do Egito. Nessa época, a África do Sul era o único país africano com federação constituída, mas era isolada devido à política racial do governo sul-africano. Assim, o surgimento da entidade egípcia incentivou a criação de similares em outros países, em processo que levou à formação da Confederação Africana de Futebol (CAF), não à toa, com sede no Cairo. Nem com a nova fase, mais nacionalizada, o futebol egípcio deixou de girar em torno dos dois grandes do Cairo. O Al Ahly cresceu como o clube das classes mais baixas, enquanto que o Al Mokhtalat ficou vinculado à elite e à intelectualidade. O governo acabou participando dessa disputa. O rei Farouk era fanático por futebol e torce-

A maior cidade da África tem espaço para mais que dois clubes. À margem da disputa entre Al Ahly e Zamalek, cresceram pequenas equipes que tentam ser mais que figurantes. O caso principal é o do Al Moqaouloun (também chamado de Arab Contractors). Fundado por uma empresa de construção civil, o clube teve rápido crescimento, a ponto de conquistar a Recopa Africana em 1982, 1983 e 1996. No entanto, não resistiu à redução dos investimentos da empresa que o mantém e tornou-se apenas um coadjuvante. Outra equipe de projeção é o Tersana, que conquistou três títulos na década de 1960 e formou um grupo de torcedores fiéis. Hoje, o clube conta com Hossan Hassan, maior jogador do Egito, mas tem perdido força e vê o envelhecimento de seus simpatizantes. Nos últimos anos, os dois novos representantes do Cairo são o Enppi, mantido por uma companhia petrolífera, e o Al Jaish, ligado ao exército. Resta saber se poderão resistir à força da polarização entre Al Ahly e Zamalek.

Seka Hadid, Al Mareekh, Ittihad El Shorta, Al Mostabal, Al Dakhlia, Shams, Itisalat e Al Entag El Harby

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Inglaterra, por Tomaz R. Alves

O desespero de Cresswell, jogador do Leeds, que caiu para a terceira divisão

O sonho

acabou Dívidas levaram o Leeds do quarto lugar da Liga dos Campeões à terceira divisão inglesa em apenas seis anos

D

ia 8 de maio de 2001: o Leeds entra em campo contra o Valencia, precisando de um empate com gols para chegar à final da Liga dos Campeões. Dia 6 de maio de 2007: o Leeds, já rebaixado para a Terceirona, disputa a última rodada da segunda divisão, tendo pedido concordata poucos dias antes. O que pode ter acontecido entre essas duas datas para explicar uma queda tão grande? Como um time que foi três vezes campeão inglês – a última há apenas 15 anos – e tem uma torcida grande pode se ver às voltas com a falência? Essa é a história da derrocada do Leeds United, que deve causar um frio na espinha de todos os torcedores de clubes que são mal administrados.

Vivendo o sonho O maior responsável por esse desastre é Peter Ridsdale, presidente do Leeds entre 1997 e 2003. Foi ele que criou a estratégia que levou o clube até a semifinal da Liga dos Campeões – e que, pouco depois, causou a derrocada da equipe. No final da década de 90, o Leeds contava com uma talentosa geração de jovens

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jogadores e vinha conseguindo resultados bons no Campeonato Inglês. Para colocar o time na briga por títulos, Ridsdale bolou o seguinte plano: tomaria grandes empréstimos, de longo prazo, e usaria o dinheiro para contratar jogadores. Com o elenco melhor, o time se classificaria para a Liga dos Campeões, aumentando seu faturamento. Com isso, o Leeds pagaria os empréstimos e se firmaria entre os grandes no país. No começo, deu certo. Em 1999/2000, a equipe ficou em terceiro no Inglês e classificou-se para a Liga dos Campeões seguinte, na qual foi semifinalista. Nessa época, Ridsdale disse que seu clube estava “vivendo o sonho”. Mal sabia ele que em pouco tempo começaria o pesadelo. Na temporada seguinte, o Leeds ficou em quarto lugar no Inglês, perdendo a vaga na LC por apenas um ponto. Ridsdale torrou mais € 44 milhões em contratações, levando o total de gastos com reforços para € 133 milhões. Só que, mais uma vez, o Leeds não voltou à Liga dos Campeões. Com isso, o clube fechou a temporada 2002/3 com um prejuízo de € 72,4 milhões, o maior já registrado por um clube britânico.

Principais compras e vendas (em € milhões) comprado

vendido

2,6 4,0 7,3 10,5 6,6 26,3 16,0 5,9 10,2 17,6 6,9 5,9 8,8 4,4 -

zero zero zero 5,1 zero 44,0 8,8 4,4 zero 10,2 7,3 zero zero 2,2 10,2 6,6 zero 13,2

133,0

112,0

Eirik Bakke Nick Barmby Michael Bridges Olivier Dacourt Michael Duberry Rio Ferdinand Robbie Fowler Darren Huckerby Seth Johnson Robbie Keane Harry Kewell Dominic Matteo Danny Mills Paul Robinson Alan Smith Mark Viduka Jason Wilcox Jonathan Woodgate

TOTAL

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Com os credores batendo à porta, o clube se desfez de praticamente todo seu time titular, mas, mesmo assim, nem chegou perto de sanear suas finanças. Com o elenco dilacerado, o Leeds caiu para a segunda divisão, em 2004. A essa altura, Peter Ridsdale já havia deixado o clube, que corria sério risco de falir. Em março, o Leeds foi comprado pelo empresário Gerald Krasner. Em janeiro de 2005, Ken Bates, que vendera o Chelsea para Roman Abramovich, adquiriu 50% do clube. Os novos investidores evitaram a falência, mas as dívidas ainda atrapalhavam o time.

Pouca grana e nova queda

Fotos Getty Images/AFP

Século XXI trouxe muita choradeira para Elland Road

Embora o Leeds tenha conseguido fazer acordos para livrar-se das dívidas de curto prazo, ainda havia juros pesados a pagar. Para levantar fundos, o clube teve que

vender o estádio de Ellan Road e o centro de treinamento de Thorp Arch. Não havia grana para reforçar o time, pagar salários altos nem prover uma infra-estrutura de ponta para os atletas. Para comandar o time na Segundona, foi chamado Kevin Blackwell, que até então nunca havia dirigido nenhuma equipe. Em sua primeira temporada, o Leeds ficou em 14º lugar. No campeonato seguinte, Blackwell fez milagres, ficou em quinto e descolou uma vaga nos playoffs. Só não subiu de volta à Premier League porque perdeu para o Watford, na final, por 3 a 0. O bom resultado foi só uma miragem. A torcida começou a temporada 2006/7 acreditando que seu time brigaria para subir – ambição distante das reais possibilidades do elenco. O time acabou perdendo nove de seus 13 primeiros jogos. Blackwell foi demitido, e substituído por Dennis Wise, mas a situação não melhorou. Faltando uma rodada para o fim do campeonato, só uma combinação de resultados milagrosa salvaria a equipe do rebaixamento. Aí, a diretoria jogou a toalha. Com dívidas na ordem de € 51 milhões e correndo risco de ter a falência decretada pelo fisco britânico, o Leeds pediu concordata. Pelas regras da Football League, isso significou a perda de dez pontos e a confirmação da queda para a terceira divisão.

Quem vai assumir? Ao pedir concordata, o Leeds ganhou tempo para negociar o pagamento de suas dívidas ou encontrar um comprador. É aí que entra, de novo, Ken Bates. O milionário criou uma nova empresa, que já fez uma oferta para comprar o clube. Para o negócio ir adiante, a maioria dos credores tem que aceitar a proposta, que, na prática, significa um calote geral. Acontece que o próprio Bates é um dos maiores credores do Leeds. Assim, ele tem poder para forçar que todos aceitem suas condições. Se esse cenário se confirmar, os grandes prejudicados serão os bancos que emprestaram dinheiro para o Leeds e o governo britânico, que vai morrer com uma dívida de € 7,3 milhões. Bates também perderá

O time do Leeds que chegou à semifinal da LC

Viduka

Smith

Kewell

Bakke (Bowyer)

Dacourt

Batty

Harte Ferdinand

Mills Matteo (Woodgate)

Martyn (Robinson)

* todos os jogadores acima têm passagem por suas respectivas seleções nacionais (8 Inglaterra, 2 Austrália, 1 Irlanda, 1 Escócia, 1 França, 1 Noruega)

dinheiro, mas retomará o controle do clube, que estará em situação financeira melhor. Só uma coisa, hoje, pode furar o plano de Ken Bates: o possível interesse de outros compradores. Simon Morris, um jovem milionário de Leeds, teria oferecido € 14,6 milhões pelo clube e mais € 37 milhões para investir na reconstrução do time. Melhor ainda para os fãs é a oferta de Duncan Revie, filho do lendário Don Revie (treinador que dirigiu o clube por 13 anos e o levou a dois títulos ingleses), que compraria o Leeds com a ajuda de investidores do Oriente Médio. Nessas duas opções, os credores receberiam uma parte do dinheiro que lhes é devido, além de haver mais fundos para fortalecer o time e tirá-lo da Terceirona. Resta aos fãs torcer pelo melhor desfecho possível e sonhar para que o futuro do clube se assemelhe mais ao do Manchester City – que voltou à Premier League apenas dois anos depois de cair para a Terceirona – do que ao do Nottingham Forest – bicampeão da Liga dos Campeões que permanece na terceira divisão há duas temporadas. Saiba mais sobre futebol inglês em www.trivela.com/inglaterra

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Acervo Gazeta Press

História, por Carlos Eduardo Freitas

A escolinha

do professor Muricy Telê ainda era o chefão do Morumbi quando o atual treinador do São Paulo dava seus primeiros passos no comando do “Expressinho” tricolor

Q

uando entra em questão o trabalho das categorias de base dos clubes brasileiros, faz tempo que o São Paulo é citado como exemplo a ser seguido no país. A fama, porém, esconde uma realidade recente diferente: hoje, no elenco profissional do clube, apenas quatro jogadores foram formados pelo clube do Morumbi: Rogério Ceni (que ainda era amador quando chegou do Sinop, em 1990), o goleiro Bruno e os zagueiros Breno e Edcarlos. Trata-se de algo estranho, para um clube que formou jogadores como Müller, Silas, Cafu, Ronaldão, Antônio Carlos e, mais recentemente, Kaká. Na primeira fase de ouro do Tricolor paulista, entre 1990 e 1996, revelar jogadores era uma das alegrias de Telê Santana. Nessa época, a mais vitoriosa da história do time da capital paulista, o clube chegou a disputar cerca de 100 partidas em uma temporada. Em 1994, um ano após a conquista do bicampeonato mundial, o time chegou à final da Libertadores, quando perdeu para o Vélez Sársfield, e terminou o Brasileirão na sexta colocação. Com o calendário recheado de competições – e que levaria o time a disputar 92 partidas na temporada –, Telê teve a idéia de repetir o que o clube havia feito com sucesso em 1985 e dar chance a jogadores pouco utilizados pelo time principal para disputar a Copa Conmebol, enquanto os titulares jogavam a Supercopa dos Campeões da Libertadores. Mal sabia ele que a equipe, batizada de “Expressinho”, em homenagem ao time de 1985 que a inspirara, daria ao Tricolor seu único título na temporada. Entre a molecada, que na época tinha entre 18 e 22 anos, estavam os veteranos Ronaldo Luís e Vítor, que haviam perdido suas

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vagas no time principal para André Luiz e Cafu, respectivamente. “Como estava entre os reservas, foi uma honra ser chamado para ser o capitão daquele time e jogar a Conmebol”, relembra Ronaldo, famoso entre os são-paulinos por ter salvo bolas na linha do gol nos dois primeiros Mundiais vencidos pelo São Paulo, em 1992 e 1993.

Estilo copeiro A campanha do time não foi grande coisa, mas era um reflexo do que fazia a equipe principal, à época acostumada a competições no estilo mata-mata. Nas oitavas-de-final, o Expressinho, comandado por Muricy Ramalho, então assistente de Telê, só eliminou o Grêmio, no Olímpico, nos pênaltis, depois de dois empates sem gols. Depois, contra o Sporting Cristal, do Peru, classificou-se com uma vitória em casa, por 3 a 1 – que ficou famosa porque Juninho jogou no mesmo dia pelo Expressinho e pelo time principal. No jogo de volta, ficou no 0 a 0, em Lima. Nas semifinais, foi a vez do clássico contra o Corinthians, também vencido nos pênaltis, após duas partidas com um total de 12 gols. A eliminação do rival deu fôlego para o time entrar na decisão contra o Peñarol, a ponto de praticamente garantir o título no jogo de ida, no Morumbi, com uma retumbante goleada por 6 a 1. Na partida de volta, a equipe se deu ao luxo de perder por 3 a 0 e, ainda assim, sagrar-se campeã.

Começo promissor Os grandes destaques eram Juninho e Catê, artilheiros do time, com quatro gols cada. Ambos eram usados esporadicamente por

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Rogério Ceni O único que continua no São Paulo, onde é ídolo Pavão Aposentou-se e hoje trabalha numa loja de carros do lateral André Luiz Nélson Não joga desde que deixou o Independente, de Limeira, em 2004

Bordon Capitão do Schalke 04, vice-campeão alemão em 2007 Ronaldo Luís É pastor de uma igreja batista em Belo Horizonte, além de administrar um projeto social do governo da capital mineira

Mona Cursou educação física e hoje é dono de uma franquia de escolinha do São Caetano em Sorocaba Vítor Aposentou-se depois de uma breve passagem pelo Juventus, em 2005 Pereira Sem jogar desde 2006, quando deixou o Unión Española, do Chile.

Juninho Paulista Campeão do mundo

Telê na equipe principal, a exemplo do que acontecia com Caio, autor de outros três gols na competição e pouco depois negociado com a Internazionale. O Expressinho versão 1994 revelou também outros jogadores conhecidos internacionalmente, como Rogério Ceni, hoje grande ídolo do São Paulo e único a continuar no clube desde então. Outro jovem promissor que saiu dali foi Denílson, que, em 1998, renderia US$ 30 milhões para os cofres do clube, em sua venda para o Betis – até hoje a mais cara transferência da história do futebol brasileiro. Juninho, Denílson e Rogério, aliás, participaram, como reservas, da campanha do pentacampeonato mundial da Seleção Brasileira, na Copa de 2002. Outro que ainda está em evidência – pelo menos no exterior – é o zagueiro Bordon, capitão do Schalke 04. Entre os outros membros do grupo, só Catê e Pereira tiveram chances fora do país em times de destaque – Napoli e Colo-Colo, respectivamente. Os outros fizeram suas carreiras em clubes pequenos do Brasil, onde o máximo que conseguiram foi serem lembrados por terem feito parte daquele time. Muitos, porém, acabaram esquecidos até mesmo pelo São Paulo, que costuma chamar seus ex-jogadores para confraternizações todos os anos. Se para muitos torcedores são-paulinos e para muitos desses jogadores hoje em destaque o título tem uma importância menor, para outros, foi o ponto alto de suas carreiras. “Ouso dizer que foi até mais importante que os poucos jogos que fiz na Libertadores em 1992”, conta, emocionado, o ex-volante Mona, hoje aposentado, após passagens por clubes como Comercial, Prudentópolis e Operário-SC.

onde estão os campeões hoje

em 2002, foi recentemente dispensado do Flamengo, após desentendimento com o técnico Ney Franco

Denílson Campeão do mundo em 2002, teve passagem apagada por Betis e Bordeaux. Hoje, está no Al Nasr, da Arábia Saudita Caio Abandonou o futebol e hoje estuda administração numa faculdade em São Paulo

Murilo Depois de uma passagem pelo Mamoré, em 2006, espera algum convite para voltar a jogar

Danilo Deixou o futebol depois de defender o Campinense, da Paraíba, em 2006. Estuda abrir um pet shop em São Paulo Thiago Chegou à final da Copa do Brasil com o Brasiliense e foi à Libertadores pelo Paulista. Parou em função de uma contusão no joelho Vaguinho Mora em Campinas, onde agencia jogadores da região Toninho Tem uma escolinha de futebol em Grão Pará, Santa Catarina, desde que deixou o CRB, em 2005 Nem Campeão brasileiro pelo Atlético-PR, está prestes a deixar o Braga, de Portugal

Catê Diz esperar por algum convite do exterior. Enquanto isso, administra uma escolinha em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul

Muricy Em 2006, voltou ao São Paulo em 2006, onde conquistou o título do Campeonato Brasileiro Junho de 2007

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Futebol em Cuba, por Luis Augusto Bacci / fotos Daniel Kfouri

Um esporte de

laboratório Num país pressionado pelo embargo dos Estados Unidos e pelas incertezas sobre a saúde de Fidel Castro, as ruas de Cuba mostram que o futebol pode não ser profissional, mas existe

U

ma imensidão de cubanos – a imprensa da ilha fala em 2 milhões – está na Praça da Revolução comemorando o Primeiro de Maio. Vestem camisetas com os nomes de Fidel Castro, Che Guevara, Camilo Cienfuegos, Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Kaká... É lógico que as homenagens aos que tiveram sucesso em depor a ditadura de Fulgêncio Batista, em 1959, são muito maiores do que as feitas àqueles que fracassaram na batalha de Frankfurt, contra a França, no ano passado. Mas isso não diminui o imenso amor que os cubanos têm pelo futebol brasileiro. Não há paralelo com nenhuma outra seleção. A Argentina vem bem atrás – e as novelas bem à frente. Só Lima Duarte é páreo para Ronaldinho Gaúcho. Cubano adora uma discussão. E é muito bem informado. Por isso, a invariável pergunta mais parece uma acusação. “Por que vocês perderam a Copa do Mundo?”, é o que escuto a cada início de conversa, querendo saber do futebol cubano.

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Garoto joga futebol nas ruas da capital Havana: “Por que vocês perderam a Copa do Mundo?”

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“Não sei”, respondo sinceramente, antes de ouvir sugestões para explicar o fracasso. “Por que não levaram o Rivaldo, por que o Roberto Carlos foi ajeitar a meia?” E a mais comum: “Futebol é esporte de conjunto. Não pode servir para o brilho individual de cada um. Nesse aspecto, a Argentina é melhor do que vocês”. Tá bom, eu aceito as teorias. Mas o que eu quero mesmo é saber como está o futebol cubano. “Esse é um esporte de laboratório para nós. Houve a chegada de uma ajuda da Fifa, mas a concorrência da pelota (como eles chamam o beisebol) é muito grande. Esse é o esporte nacional, e fica difícil o futebol ganhar o coração das pessoas”, explica José Luiz Lopes, do Juventude Rebelde, jornal da União dos Jovens Comunistas. A voz das ruas dá a mesma explicação do especialista. “Para cada garoto que aparece querendo jogar futebol, surgem 50 querendo jogar pelota e outros 30 para o boxe”, conta o garçom Yunier Herrera, entre um lance e outro da partida de xadrez que disputa no Paseo do Prado (um agradável calçadão) com Ricardo Sequera. O xadrez está em várias partes da cidade, rivalizando com o dominó. O jogo entre ambos fica em segundo plano quando o nome de Miguel Company é citado. Peruano, ele comandou a seleção cubana de 2002 a 2005 e levou o futebol a um nível mais competitivo. “Antes do Company, a seleção cubana tinha 11 jogadores correndo atrás de uma bola. Não havia organização, e todo mundo ia na mesma jogada. Ele fez o máximo que podia”, diz Herrera. “Você é um asno, não entende nada. Qual título o Company tem na carreira? Se você quer um bom técnico, busque um brasileiro ou um argentino, que são campeões. Peruano é ruim como nós”, diz Sequera. A razão, porém, está com Herrera. Company levou Cuba a conseguir bons resultados internacionais – para os padrões de Cuba, evidentemente. Nas eliminatórias para o Mundial de 2006, conseguiu dois empates com a Costa Rica, 2 a 2 em Havana e 1 a 1 em San José. Como fez mais gols fora de casa, a Costa Rica classificou-se para a fase semifinal da Concacaf. Posteriormente, chegou ao hexagonal decisivo e conseguiu classificar-se para o Mundial, ao lado de Estados Unidos, México e Trinidad e Tobago. Foi com Miguel Company que Cuba chegou à Copa Ouro de 2005, depois de eliminar Martinica, Haiti, Barbados e Trinidad e Tobago. Na fase final, foram três derrotas, contra Canadá (2 a 1), Costa Rica (3 a 1) e Estados Unidos (4 a 1). A seleção revelou ao mundo o atacante Maykel Galindo, primeiro futebolista cubano a desertar, coisa comum entre boxeadores e jogadores de beisebol. Hoje, joga no Chivas USA, da Major League Soccer.

Não tão longe O atual treinador é o cubano Raúl Gonzalez Triana, que foi auxiliar de Company. Ele terá seu grande momento internacional na Copa Ouro, que será disputada no México, a partir de 8 de junho. Cuba está no grupo C, ao lado de México, Honduras e Panamá. “Podemos empatar com Honduras e vencer o Panamá. Contra o México, nem pensar”, diz José Luiz Lopes.

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“Esporte do povo” em Havana é o beisebol

Ao contrário dos outros países latinos, futebol de Cuba é marginal

Triana não fala sobre as possibilidades de Cuba na Copa Ouro. Prefere dizer que seu trabalho é de longo prazo. “Queremos chegar ao hexagonal final que decidirá os países classificados para o Mundial de 2010”, afirmou ao jornal Trabajadores, da Central de Trabalhadores Cubanos. Isso quer dizer chegar aonde Company não chegou. Mas Triana sonha com ainda mais. Na mesma entrevista, garante não ver Cuba tão longe do nível apresentado no último Mundial. “Presenciei a Copa da Alemanha e não acho que estejamos tão longe assim. O que atrapalha o jogador cubano é a mente. Ele se choca quando enfrenta equipes como México, Estados Unidos e Costa Rica e perde a concentração. Trabalhamos para acabar com esses problemas e, se conseguirmos, estou certo de que poderemos chegar ao Mundial”. Ele lamenta, na entrevista, o mau estado dos gramados cubanos e a impossibilidade de os jogadores atuarem em outros países. “Se isso fosse possível, o nível de nosso futebol aumentaria muito. Nosso sonho de Mundial ficaria mais perto”. Triana aposta na mescla entre veteranos e jovens. Para a Copa Ouro, convocou novamente o goleiro Molina (37 anos) e o atacante Lester More (29 anos). Procurou substitutos para eles, mas não encontrou. Entre os jovens, uma esperança é o meia-atacante Alain Cervantes. O jornalista Roddy Romo Seguí exagera na análise de seu futebol. “Move-se com incrível agilidade sobre o

campo. Nem o ilusionista David Copperfield poderia competir com ele, em um campo de futebol”, escreveu, ao traçar um perfil de Cervantes, que tem como metas no futebol levar o prêmio de melhor jogador cubano, ganhar um título com a seleção e disputar algum dia um Mundial. Há muito que fazer para que os sonhos de Triana e Cervantes se concretizem. Atualmente, Cuba está em 71º lugar no ranking da Fifa, à frente de países como China, Áustria e Venezuela, mas a falta de estrutura pode fazer o nível cair. Em março, Cuba era o 59º. O Campeonato Cubano é disputado por 16 equipes, cada uma representando um estado. São divididas em quatro grupos. As duas melhores de cada chave classificam-se para a segunda fase, juntamente com os dois melhores terceiros colocados. Os dez times jogam todos contra todos, em dois turnos. No ano passado, houve uma tentativa de formar uma nova liga, com campeões e vice-campeões de cada província. Foi um vexame. A dificuldade de transporte é grande, e 14% dos jogos terminaram com W.O. Houve partidas que não terminaram porque equipes deixaram o campo indignadas com o que consideraram más atuações da arbitragem. Enfim, nada parecido com a liga de beisebol, que teve sua 46ª edição terminada em 24 de abril, com a vitória de Santiago de Cuba. Mas isso é beisebol – o esporte do povo, e não o esporte do laboratório. Junho de 2007

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Euro-2012, por Gustavo Hofman

Do outro lado da

Cortina de Ferro Katarina Stolz/Reuters

Com a Euro-2012 sediada na Polônia e Ucrânia, os dois países mostram força política com o atual comando da Uefa, enquanto seus governantes sonham com investimentos em estrutura

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A

pós o anúncio de Michel Platini, presidente da Uefa, de que Polônia e Ucrânia receberão a Eurocopa em 2012, milhões de pessoas comemoraram nas ruas das principais cidades dos dois países. Desde 1976, quando a fase final do torneio foi disputada na Iugoslávia, a Eurocopa não acontecia em um país do Leste Europeu. Para bater na decisão final as candidaturas de Itália e Croácia/Hungria, a chapa polonesa/ucraniana contou com a política a seu favor. Platini elegeu-se presidente da Uefa com enorme apoio de nações periféricas e assumiu com um discurso pró-menores. A Euro-2012 pode ser o primeiro passo para uma “igualdade social” na Uefa. Os problemas, porém, não serão pequenos. Entre os críticos da candidatura vitoriosa, os maiores problemas apontados referem-se à infra-estrutura dos países. Na prática, a maior parte dos investimentos nessa área virá de verbas cedidas pela

União Européia. Na iniciativa privada, os dois países contam com pelo menos um forte aliado: a mineradora Arcelor Mittal Steel, maior conglomerado de aço do planeta, patrocina ambas as federações. A empresa tem operações importantes nos dois países e é a maior patrocinadora privada da candidatura. Entre as oito cidades escolhidas, somente duas não são destinos turísticos comuns – Dnipropetrovsk e Donetsk –, o que facilita, em termos de estrutura, a acomodação e recepção de milhares de torcedores. Outra crítica que surgiu com a vitória da candidatura Polônia/Ucrânia refere-se à enorme distância entre algumas sedes. Cerca de 2 mil quilômetros separam, por exemplo, Gdansk, no nordeste polonês, e Donetsk, no sudeste ucraniano. Considerando que as duas cidades receberão jogos da primeira fase e quartasde-final, não é improvável que uma equipe tenha que percorrer essa distância.

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Neil Munns/AFP

Em campo Falando de futebol, Polônia e Ucrânia vivem momentos distintos. Enquanto o Campeonato Ucraniano tem melhorado seu nível ano a ano, o Campeonato Polonês afundase em problemas de corrupção (veja box). O mesmo ocorre nas participações de suas equipes nas competições européias. Para o público brasileiro, o Campeonato Ucraniano (Vyscha Liha), que conta com 16 clubes na primeira divisão, é menos desconhecido que o polonês. Dynamo Kiev e Shakhtar Donetsk, os dois maiores clubes do país, têm entre seus jogadores, além de Elano, os ex-são-paulinos Rodrigo e Kleber e o ex-palmeirense Corrêa. Desde que foi criado o torneio, em 1992, após o fim da União Soviética, os dois times só não venceram a primeira edição. Fora os dois gigantes, equipes com menos poderio financeiro, mas não menos tradicionais, como o Dnipro Dnipropetrovsk, também têm investido em muitos jogadores estrangeiros.

Como também ocorreu em outras partes da ex-URSS, os clubes ucranianos têm, entre seus mecenas, donos de fortunas surgidas repentinamente após o fim do regime soviético. É o caso, por exemplo, de Rinat Akhmetov, número 451 na lista dos homens mais ricos do mundo da revista Forbes e presidente do Shakhtar. Detentor de uma fortuna estimada em quase US$ 12 bilhões e acusado por muitos em seu país de ser líder do crime organizado ucraniano, Akhmetov foi um dos principais patrocinadores da campanha de Viktor Yanukovych, atual primeiro-ministro, à presidência do país em 2004. Na reta final, Yanukovych, tido como “pró-Rússia”, acabou perdendo a eleição para Viktor Yuschenko, considerado “pró-Ocidente”, em eleição que ficou marcada pela suspeita de envenenamento do vencedor semanas antes do pleito, e por uma suposta tentativa de fraude. Apesar do episódio, os três atualmente fazem parte do comitê ucraniano

para a Euro-2012, que é chefiado pelo próprio primeiro-ministro. Com a Euro, o país deve ganhar novas e modernas instalações para o futebol. Três das quatro cidades escolhidas como sedes no país levantarão estádios totalmente novos. Kiev inaugurará o Olympic Stadium, com capacidade para mais de 83 mil pessoas. No futuro, será a nova sede do Dynamo, mas também deve receber jogos dos outros times da cidade, como os rivais Arsenal e CSKA. Para não ficar atrás, o Shakhtar aproveita a Euro para construir o Shakhtar Stadium, para 50 mil pessoas e dentro dos padrões da Uefa para ser considerado um estádio cinco estrelas. Para completar, Dnipropetrovsk está construindo o National Stadium, para 34 mil pessoas, que deve ficar pronto ainda neste ano. A única cidade que preferiu reformar um estádio foi Lvov, que irá ampliar e modernizar o Ukraina Stadium, para receber até 40 mil torcedores. Junho de 2007

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Surkis (dir.) e Listkiewicz, presidentes das federações ucraniana e polonesa

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Wroclaw

Poznan

População: 633.300 (2005)

População: 572.341 (2005)

Estádio: Olympic Stadium (reinauguração em 2010)

Estádio: Municipal Stadium (reinauguração em 2008)

Capacidade: 45.000

Capacidade: 46.500

Partidas programadas: 1ª fase

Partidas programadas: 1ª fase

Times: Slask e Polar Wroclaw

Times: Lech, Warta, TPS Winogrady e Polonia Poznan

Gdansk

Varsóvia

População: 458.053 (2006)

População: 1.700.536 (2006)

Estádio: Baltic Arena (inauguração em 2010)

Estádio: National Stadium (inauguração em 2009)

Capacidade: 44.000

Capacidade: 70.000

Partidas: 1ª fase e quartas-de-final

Partidas programadas: jogo de abertura, 1ª fase, quartas-de-final e semifinal

Times: Lechia

Times: Legia, Gwardia e Polonia Varsóvia

Polônia Ucrânia

População: 988.00 (2007)

População: 2.611.037 (2005) População: 1.039.000 (2007)

Estádio: Olympic Stadium (inauguração em 2010)

População: 732.818 (2005)

Capacidade: 83.300

Estádio: Ukraina Stadium (reinauguração em 2009)

Partidas programadas: 1ª fase, quartas-de-final e final

Capacidade: 40.000

Times: Dynamo, Arsenal, CSKA e Obolon

Partidas programadas: 1ª fase

Kiev

Lvov

Times: Karpaty e Lviv

Estádio: National Stadium (inauguração em 2007) Capacidade: 34.000

Estádio: Shakhtar Stadium (inauguração em 2009) Capacidade: 55.000

Partidas programadas: 1ª fase

Partidas programadas: 1ª fase, quartas-de-final e semifinal

Times: Dnipro e Stal Dniprodzerzhynsk

Times: Shakhtar, Metalurh e Olympique

Dnipropetrovsk

Donetsk

Corrupção quase derrubou candidatura polonesa A principal diferença entre os casos de corrupção que atingiram a Itália – e praticamente tiraram suas chances de receber a Euro-2012 – e a Polônia é a visibilidade que a mídia internacional deu aos escândalos. Também conta o fato de um rebaixamento da Juventus ser muito mais importante, em termos futebolísticos, do que do Arka Gdynia. Os problemas, porém, foram até mais graves no Campeonato Polonês. Em 2006, um enorme esquema de manipulação de resultados foi descoberto pela polícia local. Mais de 70 pessoas foram

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presas, entre árbitros, dirigentes da federação e apostadores. O Ministério dos Esportes resolveu agir, interferindo na Federação Polonesa de Futebol e destituindo seu comando. A decisão causou grandes problemas junto à Fifa, que ameaçou a federação com suspensões. O caso só foi contornado com uma reunião entre o presidente da Polônia, Lech Kaczynski, e Joseph Blatter, no começo deste ano, e com a restituição da antiga diretoria. Após o encontro, Blatter afirmou que a federação polonesa “tinha ganho novamente a total confiança da família

Fifa”. Um comitê independente, com membros da própria Fifa, Uefa e do governo polonês, foi formado e atualmente é o responsável por monitorar os campeonatos nacionais. Passada a tempestade, esperava-se que a situação estivesse controlada. Em abril deste ano, porém, dois clubes poloneses da primeira divisão foram rebaixados e multados por corrupção. O Arka Gdynia será mandado para a segunda divisão polonesa e recebeu uma multa de US$ 70 mil, enquanto o Gornik Leczna cairá pelo menos para a terceira e foi multado em US$ 80 mil. Se fosse na Itália...

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Alexander Khudoteply/Reuters

Diferentemente da Ucrânia, onde o comitê é formado em sua maioria por esportistas (como Oleg Blokhin, Andriy Shevchenko e Sergey Bubka), no caso polonês a maior parte dos membros vem da política. Entre os 20 integrantes, 15 são ministros do governo de Lech Kaczynski – o presidente é Maciej Grzeskowiak, jornalista e ex-diretor da televisão estatal do país.

Seleções

Katarina Stoltz/Reuters

Shakhtar Stadium (acima) e a arena de Varsóvia: empuxo no futebol dos dois países

Situação polonesa Na Polônia, entretanto, a situação do futebol não parece tão animadora (veja box). O Campeonato Polonês (Orange Ekstraklasa), assim como o ucraniano, conta com 16 equipes na primeira divisão. Entre os mais tradicionais, estão os times de Varsóvia e Cracóvia. Disputado desde 1921 – com interrupção entre 1939 e 1945 por causa da II Guerra Mundial –, o Campeonato Polonês viu, nos últimos seis anos, o predomínio de duas equipes: Wisła Cracóvia e Legia Varsóvia. No ano passado, o Pogon Szczecin foi comentado no Brasil, depois de contratar o

técnico José Carlos Serrão e mais de uma dezena de jogadores brasileiros, entre eles o experiente volante Amaral. A tática foi desastrosa, e atualmente o time ocupa as últimas colocações do Campeonato Polonês. A Euro trará dois novos estádios para o país. Varsóvia e Gdansk levantarão o National Stadium e a Baltic Arena, respectivamente, com capacidade para 70 mil e 40 mil torcedores. Poznan e Wroclaw irão reformar estádios existentes. A primeira deixará o Municipal Stadium com capacidade para 46 mil pessoas, enquanto Wroclaw aumentará o Olympic Stadium para 45 mil. Chorzow e Cracóvia ficaram como reservas.

As duas seleções nacionais vivem bons momentos. Na Copa de 2006, Ucrânia e Polônia estiveram presentes na Alemanha – a primeira só caiu diante da Itália, nas quartas, enquanto a segunda deu vexame e foi eliminada na primeira fase, em um grupo que tinha Costa Rica e Equador, além dos anfitriões. Historicamente, a Polônia, semifinalista em 1974 e 1982, tem mais tradição, até mesmo pela breve história da Ucrânia como nação independente. Apesar disso, muitos jogadores ucranianos, como o próprio treinador, Oleg Blohkin, fizeram história defendendo a União Soviética. Atualmente, Polônia e Ucrânia têm boas chances de ir para a Eurocopa do ano que vem, na Áustria e na Suíça, e contam com uma safra de talentosos jogadores – como os poloneses Kuszczak (Manchester United), Smolarek (Borussia Dortmund) e Zurawski (Celtic) e os ucranianos Nesmachniy (Dynamo Kiev), Tymoschuk (Zenit St. Petersburg) e Voronin (Bayer Leverkusen). Todos, porém, chegarão a 2012 acima dos 30 anos, ou seja, as atenções já começam a se voltar aos mais jovens. Na Polônia, o maior nome da nova geração é o atacante Dawid Janczyk, do Legia Varsóvia. Do lado ucraniano, há mais nomes, como o goleiro Bohdan Shust, de 21 anos, do Shakhtar Donetsk, e os zagueiros Dmytro Chigrinsky (20 anos), também do Shakhtar, e Oleksandr Yatsenko (21 anos), do Dnipro Dnipropetrovsk. O maior nome da nova geração ucraniana, porém, é o atacante Artem Milevskiy, do Dynamo Kiev. Aos 22 anos, é sempre presença certa nas convocações de Blokhin e participou da última Copa do Mundo. Com 1,90m e muita facilidade em fazer gols, espera-se que em 2012, aos 27 anos, esteja no auge de sua forma. Junho de 2007

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Liga dos Campeões, por Cassiano Ricardo Gobbet

Getty Images/AFP

Conquista da LC alivia a pressão sobre Carlo Ancelotti para a próxima temporada

Europa

à milanesa copas européias.indd 2

Gol de Alex tirou o Arsenal da competição; depois, contusão do brasileiro foi letal para seu clube

Paul Ellis/AFP

Evert-Jan Daniels/AFP

Olimpo europeu fica nas mãos de um “azarão”, e Liga dos Campeões deixa cada vez mais claro que só pode ser conquistada se for a prioridade do clube no decorrer da temporada

Joe Cole (Chelsea) e Jamie Carragher (Liverpool) disputam bola em uma semifinal muito truncada

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Formação dos grids

Pizarro, do Bayern, consola Robinho, depois que os alemães eliminaram o time espanhol

Getty Images/AFP

Kai Pfaffenbach/Reuters

O

terremoto que mudou a geografia do futebol italiano em maio de 2006 também foi determinante para o cenário europeu na temporada que está acabando. Sem a Juventus e com um Milan em baixa, os titãs da Europa que arrancaram craques do “calcio” respiraram aliviados. A Liga dos Campeões iria, muito provavelmente, para Inglaterra, Espanha, Alemanha ou até mesmo França, onde um atrevido Lyon dava sinais de insatisfação em vencer só o campeonato local. A surpresa não poderia ser mais completa. O Milan, tendo entrado na competição com uma advertência da Uefa (que declarou abertamente que, se tivesse meios legais, não daria a vaga aos Rossoneri), um elenco remendado às pressas e um ambiente com muita pressão, conquistou o título com uma arrancada no final e com uma qualidade indiscutível, tendo batido Bayern de Munique, Manchester United e Liverpool – três dos candidatos ao troféu. Além do Milan, Valencia, Ajax – que caiu diante do Kobenhavn – e Arsenal também precisaram enfrentar uma eliminatória para chegar à fase de grupos da competição. Nessa fase, os sorteios não criaram nenhum “grupo da morte”. O Milan, depois de um rápido bom momento em agosto – resultado de uma preparação física às pressas para assegurar a classificação à fase de grupos – mergulhou em um futebol opaco. Até o final de 2006, os italianos viveriam em constante ebulição e dariam adeus às chances de título na Itália, mas mesmo assim classificaram-se para as oitavas-definal – assim como todos os “favoritos”.

Chivu, da Roma (dir.) rouba a bola de Fred, do Lyon; pouco depois, o brasileiro seria expulso por uma cotovelada no romeno

Na primeira fase, alguns times deram mostras de poder vencer o torneio, especialmente o Lyon, que acabou em primeiro em seu grupo, à frente do Real Madrid. A ambição dos franceses ganhou corpo, e boa parte da imprensa apostou no time de Juninho Pernambucano. Na virada de ano, o Milan viajou para Malta, onde pôde finalmente fazer sua pré-temporada. O técnico Carlo Ancelotti disse ao grupo: “Façam o que eu digo, e eu os levo à final. Daí eu fico quieto, e vocês Junho de 2007

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Tony Gentile/Reuters

Max Rossi/Reuters Robert Atanasovski/AFP

Pesadelo romanista: o Manchester devasta a equipe “giallorossa” sem dó nem piedade em Old Trafford

Ronaldinho desloca o goleiro Petkov, do Levski Sófia, o saco de pancadas da LC desta temporada

me dão a taça. Combinado?” O pacto soava puro gerenciamento de grupo, mas, de fato, foi a virada da temporada dos italianos. Na volta do torneio, em fevereiro, as primeiras surpresas viriam. O Arsenal caiu diante do PSV de Alex. “Ele praticamente ganhou o jogo sozinho”, lamentou Arsène Wenger, técnico dos Gunners, após o jogo. A Inter, entretida com a conquista de seu primeiro “scudetto” ganho dentro de campo, desde 1989, cairia frente ao Valencia, e a Roma derrubaria o Lyon e as previsões da mídia – entre elas, a da Trivela. Nas quartas-de-final, a Roma que tinha despachado o Lyon descobriu-se atrevida. E foi punida pelo Manchester United, com a pior goleada da história desta Liga dos Campeões: 7 a 1. Também nas quartas, o Milan daria sua primeira demonstração de

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Cristiano Ronaldo x Kaká: no duelo entre os dois, o brasileiro sobrou, rumo à final

força na competição. Depois de um empate em Milão, Kaká e Seedorf comandariam o time numa brilhante vitória sobre o Bayern em Munique. Filippo Inzaghi selaria o triunfo depois do qual, pela primeira vez, levantou a cabeça do elenco milanista como verdadeiro candidato ao título. Mas quem jogava o melhor futebol na Europa eram os “Diabos” – mas os de Manchester.

God save the queen Numa semifinal quase toda inglesa – Chelsea, Liverpool, Manchester United e Milan –, não havia quem não apontasse no adversário dos italianos o melhor time. “O Manchester é o melhor time da Europa”, afirmou o vice-presidente do Milan, Adriano Galliani, antes do confronto com os ingleses. Kaká e Cristiano Ronaldo fariam o

duelo que apontaria quem era o melhor do mundo. O brasileiro não deixou barato. Nos dois melhores jogos da temporada, Manchester e Milan maravilharam suas torcidas. Em Old Trafford, Kaká fez dois gols, mas o United conseguiu uma virada heróica – mesmo com um Cristiano Ronaldo opaco. Na partida de volta, o português também ficou sumido, mas o Milan se impôs com um dos melhores jogos de sua história, no qual Kaká e Seedorf sepultaram os sonho de “Tríplice Coroa” dos ingleses com um 3 a 0. “Depois do jogo, ganhei uma esplêndida garrafa de vinho de Carlo Ancelotti”, disse o técnico do Manchester, Alex Ferguson. “Mas disse a ele que só a beberei depois que o Milan ganhar a final”. Na outra semifinal, Liverpool e Chelsea – que se enfrentaram 15 vezes nos últimos

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Aris Messinis/AFP

Invasão inglesa em Atenas acaba em confraternização por Daniel Lisboa, de Atenas, exclusivo para a Trivela

Celtic, do defensor Lee Naylor, foi o adversário mais tinhoso do Milan na competição

três anos – disputaram uma partida de xadrez, sem a beleza do outro confronto, mas que dava uma idéia de quão dura seria a final. Mais uma vez, como em 2005 e 2006, Benítez e o Liverpool venceram – nos pênaltis. Pela primeira vez no atual formato do torneio, uma final se repetiria. E daria a chance de o Milan exorcizar os fantasmas da derrota para o Liverpool, em 2005. Esta edição da LC veio como uma redenção para o futebol italiano, depois de uma temporada imersa em vergonha. Mesmo as imprensas de França e da Espanha, normalmente avessas a elogios ao “calcio”, desmancharam-se em elogios ao ver a imagem de Paolo Maldini levantando sua quinta taça européia, aos 38 anos. Depois da conquista da Copa do Mundo em Berlim, a LC resgata a credibilidade do esporte na

Península. “E diziam que o futebol italiano estava em crise”, ironizou Adriano Galliani. Se estava, parece que não está mais. A conquista do Milan reforçou a tese de como combinar ambições domésticas e européias é difícil numa mesma temporada. Os dois finalistas da LC estavam fora da luta pelo título nacional há tempos; Inter, Barça e Real nunca demonstraram ter bala na agulha para as duas competições. Potências domésticas como Lyon e Porto deixaram nítida a diferença que há entre vencer na França, por exemplo, e na LC. Somente Manchester United e Chelsea se aproximaram da final com o campeonato em vista. E falharam. Não é coincidência. Saiba mais sobre a Liga dos Campeões em www.trivela.com/copaseuropeias

Paco Serinelli/AFP

“Sai que essa taça é minha”: Seedorf levou a LC pela quarta vez

Se, por alguma razão que não é deste mundo, o filosofo grego Sócrates ressuscitasse e decidisse retomar suas explanações públicas sobre a essência da alma humana, com certeza não o poderia fazer nas praças de Atenas, como gostava. Pelo menos não nos dias que antecederam a final da Liga dos Campeões, entre Milan e Liverpool. Neles, Sócrates provavelmente deixaria de esquentar a cabeça com os grandes temas da humanidade para tomar algumas dúzias de cervejas e cantar histericamente com os fãs dos Reds. Invadida por cerca de 30 mil torcedores ingleses, a capital da Grécia poderia muito bem ter trocado seu nome provisoriamente para “Livertenas” ou “Atenpool”. A maré vermelha que cobriu a cidade nos dias anteriores ao jogo comprovou aquilo que todo o mundo sabe, mas que não deixa de surpreender a quem viu ao vivo: os ingleses amam futebol e parecem capazes de viajar até Júpiter se um dia um time deles vier a disputar algum torneio intergaláctico. Em número infinitamente menor nas ruas, os torcedores do Milan pareciam em alguns momentos tão assustados quanto um “gatinho”, como Gerrard zombou certa vez ao falar de Gattuso. A torcida milanista só apareceu pouco antes da partida, talvez atrasada por uma greve da Alitalia – e se fez ouvir dentro do estádio. Depois da partida, com a vitória italiana, vieram mais surpresas, pelo menos para quem esperava uma festa apenas italiana ou um quebra-quebra dos frustrados ingleses. O clima entre as torcidas era de uma improvável união, com torcedores do Liverpool cumprimentando os do Milan, tirando fotos com os italianos e cantando junto com eles nas ruas, bares e estações de metrô. Se, 22 anos atrás, ingleses e italianos foram protagonistas da trágica final em Heysel, na Bélgica, onde 39 pessoas morreram antes do jogo entre Liverpool e Juventus, desta vez é possível chamar até de exemplar a postura em geral das duas torcidas. Afinal, bagunça, felicidade e celebração são uma coisa, fanatismo e violência são outra. Junho de 2007

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Marcelo Ferrelli/Gazeta Press

Negócios, por Carlos Eduardo Freitas Valdivia: jogador mais valorizado na cesta palmeirense

Torcedor-investidor V

ender jogadores para o exterior é, há algum tempo, a principal saída dos clubes brasileiros para sanarem suas finanças. Quem vende fecha o ano no azul, quem não vende, fecha no vermelho. Esse é o caso do Palmeiras, que fechou seu último balanço com cerca de R$ 17 milhões em dívidas e chegou ao final ano passado atrasando salários de seus jogadores e tendo de pedir adiantamentos para seus patrocinadores. Poucas semanas antes do início do Brasileirão, o discurso da necessidade de vender atletas já estava sendo usado. Em maio, porém, o Palmeiras lançou um programa inovador, que, se der certo, transformará seus jogadores em “produtos”, em busca de investimento externo. A idéia da “Cesta de Atletas” é oferecer a investidores participação

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na venda dos principais jogadores do clube – mas não imediatamente, enquanto, em sua maioria, ainda são jovens e estão pouco valorizados. É como se o clube, em vez de pedir um adiantamento a seus patrocinadores, o pedisse aos compradores de seus craques. No total, o clube colocou na primeira cesta (veja nomes na tabela ao lado) 15 jogadores, cujos valores estimados chegam perto de R$ 32 milhões. De acordo com a apresentação do programa, a estimativa de lucro médio na venda de atletas chega a 300%. Isso, é claro, “associado ao desempenho técnico alcançado pelo clube nas diferentes competições a serem disputadas”, como diz o documento. “Esperamos manter o jogador no clube mais tempo e, com isso, oferecer ao investidor uma

Jogadores incluídos na cesta % do Palmeiras Valdivia (foto) Michael William Diego Cavalieri David Amaral Wendell Francis Alemão Marcelo Costa Martinez Valmir Cláudio Daniel Samuel TOTAL

100% 100% 90% 100% 60% 50% 60% 70% 20% 100% 25% 60% 60% 100% 70%

Valor estimado

(em R$)*

12 milhões 4 milhões 3,6 milhões 3 milhões 3 milhões 1,5 milhão 1,2 milhão 1,05 milhão 800 mil 600 mil 500 mil 480 mil sem valor definido sem valor definido sem valor definido 31.730.000

* Referente apenas à parte que o Palmeiras detém do jogador

Palmeiras atrai parceiros para fundo que promete participação na venda de jogadores

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jogadores

Palestra Investimentos dinheiro

alternativa de rentabilidade bastante provável”, afirma um dos idealizadores da cesta, o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, diretor de planejamento do Palmeiras.

Palestra Investimentos A Cesta de Atletas funcionará como um fundo de investimentos. Para isso, será criada a Palestra Investimentos Ltda. (PI), que receberá o aporte de capital do Palmeiras – no caso, parte dos direitos econômicos sobre os 15 jogadores –, enquanto os interessados poderão comprar quantas cotas quiserem, com valores que variam entre R$ 50 mil e R$ 300 mil. As cotas podem ser adquiridas tanto por pessoas físicas quanto jurídicas. O Palmeiras terá autonomia para negociar os jogadores e ficará com cerca de 75% do valor da transação. Os 25% restantes ficam na PI, que repassa o eventual lucro aos investidores. Para convencer os interessados, o Palmeiras usa números da época da parceria com a Parmalat. Nesse período, em média, seus jogadores foram valorizados em 300% - em alguns casos, como o de Roque Júnior, em mais de 5.000% (chegou por US$ 150 mil e foi embora por US$ 8 milhões). O mais valioso entre os jogadores desta primeira cesta é Valdivia, que custaria hoje R$ 12 milhões. Desse montante, R$ 3 milhões correspondem à parte do investidor. Se fosse vendido por R$ 24 milhões, como se espera, R$ 18 milhões são do Palmeiras, enquanto os investidores, após os impostos, teriam por volta de R$ 2,5 milhões de lucro para dividir entre si. Isso, porém, só ocorrerá se o jogador se valorizar.

dinheiro

Clube X

Comparando o valor de Valdivia a negociações recentes de atletas brasileiros, é preciso torcer muito para que o Palmeiras vá bem dentro de campo, para que o chileno seja negociado por mais que os R$ 12 milhões que o clube avalia que ele vale hoje. Para citar um exemplo, Lucas, em evidência no Grêmio há pelo menos três temporadas, foi para o Liverpool por € 12 milhões (R$ 32 milhões). Quando se fala de jogadores chilenos, Matías Fernandez, principal promessa do país, foi vendido pelo Colo-Colo por €11 milhões, e Alexis Sanchez, que goza de status parecido na seleção, saiu do Cobreloa por € 3 milhões. Outro problema, sobre o qual a direção palestrina não se manifesta, é que a “aposta” financeira vinculará a aposta esportiva. Para ficar no mesmo exemplo, se o mesmo Valdivia entrar em decadência, começar a freqüentar o banco e depois for repassado ao Noroeste por R$ 300 mil, o investidor terá perdido quase tudo o que investiu. Antes que isso aconteça, entretanto, o treinador do clube terá liberdade para colocá-lo no banco ou estará obrigado a tentar valorizá-lo, por causa da cesta, em detrimento do desempenho esportivo do clube? O Palmeiras, por enquanto, não se preocupa com isso. Na primeira reunião com interessados, realizada no começo de maio, o clube conseguiu levantar R$ 2,1 milhões, um pouco abaixo do esperado (pelo menos duas vezes e meia esse valor), mas satisfatório, de acordo com Belluzzo. “Pretendemos avançar aos poucos, pois é uma experiência nova no Brasil”, conta, otimista com as possibilidades que a cesta pode trazer para o clube. A ordem no Palmeiras, agora, é investir e torcer.

TENHA SEU PRÓPRIO CLUBE Quer comprar um clube de futebol e pagar baratinho por ele? Esse é o propósito do site myfootballclub.co.uk. Nele, os interessados preenchem um cadastro e, quando houver 50 mil usuários, cada um deles pagará € 50, dos quais € 40 serão reservados para a compra de uma equipe. Os outros € 10 serão a anuidade como membro do grupo. A proposta é ambiciosa: os “donos” virtuais escolheriam direção, escalação, contratação de jogadores e técnicos... Para quem gosta de Football Manager, eis a chance de ver o jogo se transformar em realidade.

MUDANÇA DE DATA

notas

direitos

Palmeiras

Ação que há dois anos tem enchido estádios pelo Brasil, a promoção “Torcer faz bem”, da Nestlé, está de volta. Com a proposta de levar famílias ao estádio, a empresa distribuirá ingressos de 80 partidas válidas pelo Campeonato Brasileiro. Os jogos que participarão dessa promoção ainda não estão definidos, mas acontecerão em fins de semana ou feriados. Para conseguir os ingressos, o torcedor troca embalagens fechadas de produtos Nestlé e paga apenas 25% do valor do bilhete. Tudo o que for arrecadado será doado a entidades assistenciais.

retorno

O Palmeiras cede 25% dos direitos econômicos dos jogadores à Palestra. Quando o clube vendê-los, os investidores da Palestra terão retorno

“TORCER FAZ BEM” ESTÁ DE VOLTA

Investidores investimento

Como funciona Palmeiras

O seminário “Lei de Incentivo ao Esporte”, que seria realizado no dia 14 de maio, pela Cultcorp e com apoio da Trivela, teve sua data alterada. O evento acontecerá em 15 de junho, na Fecomercio, em São Paulo. Para maiores informações, ligue: (11) 3817-8700. Junho de 2007

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Cultura, por Leonardo Bertozzi

Questão de A convite da Trivela, especialistas em moda dão sugestões de uniformes a times da Série A. Você aprova?

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Vivian

D

esde a década passada, quando os clubes adotaram o hábito de mudar de uniforme a cada ano, o lançamento da nova camisa é um momento de expectativa. Nos mais fanáticos – e consumistas –, chega a provocar ansiedade semelhante à vivida antes de uma decisão de título. Bom, pelo menos nos torcedores de times que não disputam muitos títulos. A necessidade de mexer no desenho tem fácil explicação mercadológica, mas esbarra na velha questão das tradições e dos estatutos, que dão pouca margem a alterações ou ao aproveitamento de tendências de moda. “Elementos ou cores que sejam tendências de moda podem ser usados, desde que respeitado o estatuto”, afirma o gerente de produtos da Nike, Hugo Ribeiro. Fornecedora de Flamengo e Corinthians, a empresa cuida de dois mercados gigantescos. Em alguns casos, como em times com camisas listradas, as opções são restritas na hora de adotar novidades no design. A solução mais freqüente é mudar detalhes como o formato da gola ou o tipo do número – ou mesmo não mudar nada. “No caso do Fluminense, a aprovação da camisa tricolor de 2006 foi tamanha que decidimos em comum acordo mantê-la também para 2007”, conta Bruno Abilel, gerente de produtos da Adidas, que, além do Tricolor carioca, ainda fornece material esportivo para o Palmeiras. Se fosse possível mexer livremente na camisa dos clubes, como você gostaria de vê-las? A Trivela fez a pergunta a dois especialistas – Alessandro Jannuzzi, gerente de produtos da grife Billabong, e Vivian Whiteman, da Folha de S. Paulo. Se eles pudessem, veja o que fariam com os uniformes de alguns clubes da Série A.

‘’Na camisa do Corinthians, o foco é a revalorização do escudo do time, em tamanho maior, como costumava ser há algumas décadas. O uniforme atual tem detalhes que não dizem nada, parecem soltos, curvas que se perdem. Prefiro as linhas retas. O Paraná permanece com a tradição do vermelho-azul dividido. O branco acrescenta estilo e, ao mesmo tempo, ajuda a destacar o escudo, que é muito bonito. Ambas têm uma inspiração retrô anos 60.’’

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5/26/07 6:17:34 AM


estilo

PARA ACERTAR O PÉ Fique de olho nos pés dos jogadores do seu time. Se estiverem com uma chuteira amarela, com detalhes em preto no peito do pé, eles estarão calçando uma Total 90 Laser, lançamento da Nike. A nova chuteira foi desenvolvida a partir de uma pesquisa que chegou à conclusão que 69% dos gols são feitos com o peito do pé, parte do modelo que foi privilegiada pelos idealizadores. Com a consultoria de Wayne Rooney e Fabio Cannavaro, o designer Tetsuya Minami criou uma chuteira que se propõe a ajudar a diminuir a variação de um chute forte e a aumentar a precisão em cada passe. Hoje, a Total 90 Laser pode ser vista nos pés de Gattuso, Diego e Frings, além de jogadores como Valdivia, Leandro, Renato Augusto e William.

Total 90 Laser

FATURANDO COM A DESGRAÇA ALHEIA

lançamentos

‘’As faixas em horizontal são pensadas para efeito de transmissão televisiva - faixas na vertical lembram interferência na TV. Em seu último uniforme, o Grêmio apostou em mangas de cores diferentes, mas não foi feliz. Tanto na do Grêmio quanto na do Flamengo, o maior intuito foi diferenciar a parte estética, proporcionando um maior equilíbrio de cores e menor poluição visual. Em ambas, o escudo do clube fica centralizado na parte frontal, na altura do peito.’’

Alessandro

Fornecedor: Nike Preço sugerido: R$ 599,90

Tem coisa pior que perder um título por causa de uma derrota para seu maior inimigo? A rivalidade entre Borussia Dortmund e Schalke 04 ganhou um novo patamar no dia seguinte à vitória por 2 a 0 do BVB. Isso porque Christoph Metzelder lançou, em seu site oficial, camisetas provocativas aludindo ao resultado. Pretas, com detalhes em amarelo, vinham com os dizeres: “Meisterderherzensbrecher” (campeão de arrasar corações) ou então “Zweizunull” (Dois a zero). Fica a idéia!

Camisetas Metzelder anti-Schalke Onde: www.metzelder.de (inglês/alemão) Quanto: € 17,90 (+ frete) Junho de 2007

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Dia de

Cadeira cativa, por André Tilkian

Fotos Divulgação

Getty Images/AFP

Robinho

O

turista brasileiro em Madri que gosta de futebol chega à cidade com duas palavras na cabeça: “Santiago Bernabéu”, campo do Real Madrid. Mesmo quando o time não é exatamente o melhor do mundo, tem capacidade de sobra para atrair fãs do futebol, seja em função de seu belíssimo estádio, seja em função de alguns de seus “galácticos”. Em março de 2007, somava-se a isso o fato de que os jornais madrilenos anunciavam que o jogo contra o Gimnàstic era a primeira das 12 “finais” que o Real Madrid teria que jogar para ser campeão espanhol. A imponência e beleza do Bernabéu, um estádio muito grande, bonito, de fácil acesso, impressionam de cara. A fila, porém, por incrível que pareça, lembra a dos estádios brasileiros: falta de pessoas da organização, poucas bilheterias abertas, quase nenhuma informação sobre preços e locais disponíveis. Com o ingresso na mão, não demorou nem 5 minutos para entrar por um dos 50 portões e encontrar - vazio – o lugar marcado no ingresso. Quando o time entrou em campo, surpresa: nenhum brasileiro havia sido escalado, contrariando as informações dos jornais, que apontavam Robinho e Emerson entre os titulares. O jogo começou com a expulsão de um jogador do Gimnàstic. Jogando em casa, com o estádio cheio, contra um dos piores times do campeonato e ainda por cima com um jogador a mais, era obrigação do Real vencer, se quisesse continuar sonhando com o título. Apesar disso, o primeiro tempo foi decepcionante. O anfitrião não conseguia realizar jogadas ofensivas, enquanto o time

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do Gimnàstic tampouco ofereceu perigo, o que deixou a partida monótona. Antes mesmo de a primeira etapa acabar, começaram a ecoar os primeiros gritos pedindo Robinho. E o segundo tempo começou com ele em campo. Logo de cara, o ex-santista deu um belo chute de fora da área, acertando a trave. Aos 10 minutos, após um bate-rebate na meia lua, a bola sobrou na esquerda para o jogador brasileiro, que chutou certeiro no canto. Com 1 a 0 no placar, o time da casa passou a criar mais chances e mostrar um futebol mais bonito e ofensivo, sempre pelos pés de Robinho. Para os brasileiros, acostumados a ver Robinho jogando de segundo atacante no Santos, foi uma ótima surpresa constatar sua versatilidade. Correu, driblou, distribuiu jogadas, organizou a parte ofensiva do time e chutou de fora da área, como um legítimo camisa 10. O segundo gol saiu também de uma jogada sua. Após um cruzamento, Raúl esbarrou, mas quem colocou para dentro foi David Garcia, zagueiro do Gimnàstic. Ao final da partida, aplausos e aplausos para Robinho, por parte dos 60 mil madridistas que encheram o estádio. Por mais que o futebol apresentado pelo Real não tenha sido espetacular, os três pontos conseguidos mantiveram vivo o sonho do título espanhol – que a equipe não conquista desde 2003.

Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

ficha

Ainda não foi a temporada da consagração, mas Robinho já tem dias de protagonista em Madri

REAL MADRID 2 GIMNÀSTIC 0 Competição: Campeonato Espanhol Data: 18/março/2007 Local: Santiago Bernabéu (Madrid)

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E se..., por Carlos Eduardo Freitas

E se Maradona

não tivesse sido pego no antidoping, na Copa de 94? cena ficou famosa na história dos Mundiais. Primeiro, Maradona deixa o campo acompanhado por uma enfermeira, após a espetacular virada da Argentina sobre a Nigéria, no segundo jogo da Copa de 1994. Depois surgiram as especulações de que ele teria sido flagrado no antidoping e que sua polêmica, mas brilhante, carreira estaria terminada ali. Dois dias depois, foi a vez de Joseph Blatter, então secretário-geral da Fifa, vir a público, de maneira envergonhada, para pedir desculpas pelo erro cometido por sua comissão antidopagem. Na verdade, a urina “aditivada” era de Caniggia. Maradona, sentindo-se perseguido por ser um crítico voraz da entidade, prometeu vingar-se dentro de campo: “Ganharemos essa Copa por Claudio”. Diego não participou do empate por 1 a 1 com a Bulgária, que garantiu à Argentina o primeiro lugar no grupo D e fez com que nossos “hermanos” en-

A

A cada edição, um convidado imagina como seria o mundo do futebol, se alguma coisa fosse diferente. Você tem sugestões de temas para esta seção? Mande um e-mail para contato@trivela.com

frentassem a Itália nas oitavas. De volta aos gramados, parecia possuído contra a Azzurra. Fez os três gols do 3 a 0. Nas quartas, a Espanha deu mais trabalho, mas o jogo ficou fácil depois que Ruggeri arrebentou o nariz de Luís Henrique, num lance que o árbitro não viu. A Argentina venceu por 2 a 1, para reencontrar a Bulgária na semifinal. Maradona fez um gol memorável, de trás do meio do campo, que inflamou a imprensa argentina no dia seguinte: “Esse nem Pelé fez”. Ainda mais porque, depois do 4 a 0, a decisão seria justamente contra o Brasil, na final de Mundial mais esperada de todos os tempos. A partida se encarregou de confirmar a expectativa. No primeiro tempo, “El Diez” fez dois gols, deu o passe para Basualdo marcar o terceiro, e o time foi para o intervalo triunfante. No segundo tempo, porém, só deu Brasil. Romário fez o primeiro logo aos 5 minutos, e Cafu, que entrou no lugar de Branco, marcou o segundo. Perto do fim, Romário

passou por dois zagueiros e, cara a cara com Islas, foi atropelado por Simeone. Romário caiu no chão, chorando, sem poder se levantar: fratura na perna esquerda, cartão vermelho para o argentino. Infelizmente para o Brasil, o lance encerrou não só a participação na Copa como também a gloriosa história do camisa 11 na Seleção – ele abandonaria a carreira alguns anos depois, numa apagada passagem pelo América-RJ, de seu pai. Na cobrança do pênalti, Bebeto converteu e levou o jogo para a prorrogação, em que as duas seleções, mortas sob o sol da Califórnia, apenas empurraram a partida para os pênaltis. Ronaldo e Márcio Santos perderam suas cobranças, enquanto Sensini desperdiçou a segunda dos argentinos. Na quarta penalidade, o capitão Dunga colocou a bola com segurança na marca, mas mandou o chute para o espaço. Bastava que Maradona convertesse o seu para a Argentina sagrar-se tricampeã do mundo. Diego esperou Taffarel movimentar-se para apenas empurrar a bola, rasteira, para o fundo das redes. A cena de Mario Kempes gritando “É tri! É tri!” num canal de TV ficou famosa. Terminada a Copa, Maradona deixou o Newell’s e voltou triunfante para o Barcelona, onde foi rei por mais cinco anos. A tentativa de passada de perna da no craque pegou mal para Blatter e Havelange, que foram vencidos por Lennart Johansson, na eleição de 1998. Na Copa daquele ano, com Diego, a Argentina chegou à quarta final seguida, mas foi vencida pela França de Zidane. No ano 2000, quando todos esperavam que o astro argentino se aposentasse, Maradona mudou-se para Cuba, a convite de seu amigo Fidel Castro, que levou o craque para promover o futebol no país. Ainda hoje, aos 47 anos, Diego joga profissionalmente por lá – e diz que só pendura as chuteiras quando marcar seu 1000º gol. Oficial, é claro – afinal, um jogador desse quilate não poderia incluir na conta gols em amistosos e partidas comemorativas. Junho de 2007

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A Várzea

Sambadrome Arena

A lorota do mês “Não foi o Paraná que perdeu, mas que deixou de vencer” Zetti, então técnico do Paraná, deve ter feito um estágio na Escola de Comunicações e Artes da USP.

A manchete do mês

A charge do mês

O Editor d’A Várzea voltou de seu curso de marketing empolgado. “Tolete”, gritou em direção ao intrépido repórter: “Temos que expandir os negócios, pensar de forma macro, atuar em vários mercados”. Antes que o patrão começasse a parte do “downsizing”, o intrépido jornalista resolveu se coçar e logo teve um estalo: “Temos que entrar na boquinha da Copa do Mundo do Brasil”. Afinal, se até Barueri diz que é candidata a sede do torneio, o que impediria o quartinho de vassouras do Sambódromo, onde fica a redação d’A Várzea, de receber uns joguinhos? Primeiro, Tolete chamou Tolétte, sua irmã que faz faculdade de arquitetura, para desenhar um estádio super-ultra-mega-supimpa-hiper-moderno, com cobertura em policarbonato sobre estruturas treliçadas metálicas. Seguindo conselhos de Toletarget, seu primo publicitário, o repórter sabia que precisava dar um nome em inglês para o projeto ter mais impacto. Nada melhor que Sambadrome Arena. Para completar, chamou o filho do vizinho para usar seus legos para fazer um planejamento urbano em torno do estádio poli-tetra-multi-uso. O repórter ficou todo feliz. Ele tinha um projeto completo para o Sambadrome Arena, do estádio à infra-estrutura urbana. Certo de que conseguiria sua promoção n’A Várzea Corporation, Tolete foi apresentá-lo ao comitê de candidatura do Brasil. Na sala de espera, todos ficaram assustados com o nível de detalhamento, muito maior que o imaginado por qualquer concorrente – a maquete em Legos fez cair queixos. Surpreendentemente, o projeto não foi nem apresentado. Disseram ao Tolete que ele não previu a bola que seria necessária para a aprovação. Que bola? “Uma verdinha”, disseram. Intrépido como sempre, nosso repórter já está a caminho de uma loja de esportes que venda bolinhas de tênis.

Em alta

Regulamento da LC

Por causa de um buraco no regulamento da Liga dos Campeões, a Uefa não encontrou base legal para tirar o Milan da competição, mesmo com a participação no escândalo de manipulação de resultados. Deu nisso: Milan campeão.

“Árbitro revela felicidade ao participar do gol mil” (Lancenet) A onda de oba-oba foi tão grande que só faltou uma manchete: “Repórter acha supimpa ver o gol mil”.

Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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Édson Borges Fez três gols no Santos na Vila Belmiro, mas só falaram do tal gol 899 do Romário. Pior, o Dunga chamou até o Alex Silva, mas o artilheiro do Mecão vai ver o jogo em Natal, pela televisão.

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