Trivela 30 (ago/08)

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FLAMENGO Os perigos que rondam a boa fase do Rubro-Negro

COPA’14 O que a CBF e Daniel Dantas têm em comum

De volta para o E MAIS... ...Entrevista: Roque Jr. ... Joanesburgo é logo ali ...Holanda em três gerações nº 30 | ago/08 | R$ 8,90

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FUTURO Com ambiente favorável e menos pressão, Ronaldinho tem oportunidade de provar que ainda está entre os melhores do mundo 7/25/08 4:44:49 AM


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ÍNDICE ENTREVISTA » ROQUE JÚNIOR

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Zagueiro fala sobre Seleção, sistema defensivo dos italianos e de projeto social

www.trivela.com Editor Caio Maia

RONALDINHO

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Milan tem ambiente propício para gaúcho voltar a mostrar seu grande futebol BARCELONA

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Clube catalão tem tradição em fazer craques saírem pelas portas dos fundos CAPITAIS » JOANESBURGO

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A cidade que concentrará as atenções do mundo durante a Copa 2010 FLAMENGO

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Rubro-Negro volta ao topo, mas precisa tomar cuidado com vícios do passado 3x1

JOGO DO MÊS

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CURTAS

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Editor assistente Ubiratan Leal Reportagem Cassiano Ricardo Gobbet Dassler Marques Gustavo Hofman Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Tomaz R. Alves Consultoria editorial Martinez Bariani Mauro Cezar Pereira Colaboradores Antonio Vicente Serpa Augusto Amaral Eduardo Camilli Eduardo Zobaran Fernando Martins João Tiago Picoli José Carlos Pedrosa Luciana Zambuzi Marcelo SIlva Marcus Alves Mauro Beting Nair Horta Renato Andreão

PENEIRA

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OPINIÃO

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TÁTICA Holanda

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TÉCNICOS A nova geração

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CARREIRA Aposentadoria

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CRUZEIRO Parceria estranha

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ENTREVISTA Júnior

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Revisão Luciana Zambuzi

SANTOS Crise não é de hoje

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HISTÓRIA Guarani

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Projeto gráfico / Direção de arte Luciano Arnold

EUROPA Intertoto

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ARGENTINA Brasileiros por lá

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NUMERAÇÃO

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OCEANIA Além da Austrália

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NEGÓCIOS Direitos de TV

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CULTURA Hattrick

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CADEIRA CATIVA

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A VÁRZEA

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Design / Tratamento de imagem Bia Gomes Capa Giuseppe Cacace/AFP Agradecimentos Daniele Merli Gaino João Gomes Filho Leonardo Castagna Luiz Fernando Bindi (in memorian)

Jorge R. Jorge

Assinaturas

eu fiscalizo a

Copa 2014

Conheça Francisco Müssnich, responsável pela parte jurîdica da Copa 2014 e cunhado de Daniel Dantas

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EDITORIAL O perigo do dinheiro “mágico” Ronaldinho Gaúcho, duas vezes melhor do mundo há um ano e meio, é do Milan por € 21 milhões. Apenas € 3 mi a mais que o Shakhtar pagou ao Corinthians por William. Um quinto do valor que supostamente o Chelsea pagaria por Kaká, e muito menos do que o Real Madrid se disporia a tirar do cofre por Cristiano Ronaldo. Não é difícil de entender. Por mais que Silvio Berlusconi pertença à pior categoria de político, o dinheiro de seu clube não tem origem “mágica”. O do Real Madrid, assim como o do Chelsea, o do Manchester City e a maior parte do capital russo, tem. É bom que os clubes possam gastar dinheiro para montar esquadrões? Claro. O problema é quando o dinheiro de alguns tem caminhos mais fáceis do que o de outros. Regular esta questão é um desafio do qual o futebol não pode fugir, sob pena de alienar de sua elite qualquer um que não tenha sacos sem fundo de dólares suspeitos.

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www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Comercial Marlene Torres marlene@trivela.com (11) 3474-0178 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3474-0186 Coordenadora de Circulação Vanessa Marchetti vanessa@trivela.com (11) 3474-0186 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Ibep Gráfica Tiragem 30.000 exemplares

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Deu blanco Libertadores caminhava para uma ffesta t carioca, i mas faltou o passo final do que seria uma histórica virada cena de Urrutia levantando a taça da Libertadores não estava no script. O Maracanã, pintado com as cores do Fluminense, estava lindo e repleto. Ainda que, no jogo de ida, a LDU Quito tivesse vencido por 4 a 2, a crença em título tricolor era quase total. A aposta baseava-se na superioridade técnica e na vantagem de decidir em casa, coisa que já havia funcionado contra São Paulo e Boca Juniors. De fato, o Flu conseguiu reverter o placar negativo de Quito: venceu por 3 a 1. Mas essa vantagem só era suficiente para levar a partida para a prorrogação e, depois, para os pênaltis. Aí, o destino foi cruel com os tricolores. Os Albos fizeram 3 a 1 e o Maracanã via uma festa equatoriana. A história tricolor poderia terminar diferente. Há quem veja desarrumação tática e desatenção no gol sofrido pelo Flu-

A

minense aos 5 minutos de jogo. Guerrón n não teve marcação adequada e foi para a linha de fundo cruzar para a finalização de Bolaños. Um revés tão prematuro poderia desmotivar os cariocas. Mas o Fluminense se encheu de valentia. A confiança dos jogadores e de Renato Gaúcho às vésperas da final não se confundiu com arrogância. Entre os 11 minutos do primeiro tempo e os 11 do segundo, Thiago Neves fez três gols. E a tal certeza do título ficou ainda mais clara na mente dos torcedores. Dali até o fim da prorrogação foi mais de uma hora de partida para se evitar os

pênaltis. Mas o time de Renato Gaúcho, inexplicavelmente, pôs o pé no freio e não buscou com afinco o quarto gol, que daria o título sem prorrogação. A LDU também fez sua parte. Mesmo perdendo por 3 a 1, não abdicou completamente do ataque. Nos pênaltis, o Fluminense estava fora de sintonia. Conca, Thiago Neves e Washington, alguns dos principais jogadores tricolores na Libertadores, pararam diante do limitado e lesionado Cevallos. Passou muito perto, mas o título sul-americano não tem três cores. Ele é todo branco.

FLUMINENSE 3x1 LDU QUITO (1x3 nos pênaltis) Data: 2/julho/2008 Local: estádio do Maracanã (Rio de Janeiro) Público: 78.918 pagantes Gols: Bolaños (5min) e Thiago Neves (11, 27 e 56min) Pênaltis: Urrutia (G), Conca (D), Campos (D), Thiago Neves (D), Salas (G), Cícero (G), Guerrón (G) e Washington (D) Cartões amarelos: Luiz Alberto, Cícero, Thiago Silva, Bieler, Vera e Cevallos Cartão vermelho: Luiz Alberto

FLUMINENSE Fernando Henrique, Gabriel (Maurício), Thiago Silva, Luiz Alberto e Júnior César; Ygor (Dodô), Arouca (Roger) e Cícero; Thiago Neves e Conca; Washington. Técnico: Renato Gaúcho. LDU QUITO Cevallos, Campos, Calle, Norberto Araujo e Ambrossi; Vera e Urrutia; Guerrón, Manso (William Araujo) e Bolaños (Salas); Bieler. Técnico: Edgardo Bauza.

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JOGO DO MÊS por Dassler Marques

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Jamil Bittar/Reuters

CURTAS por Ricardo Espina

“Se a gente for analisar alguns lances, ele está no esporte errado. Eu acho que deveria sim lutar boxe, jiu-jitsu. Futebol é o que ele não está jogando” André Dias, zagueiro do São Paulo, sobre as cotoveladas de Kléber, do Palmeiras.

9s

Tempo que Dinei, do Vitória, levou para abrir o marcador no triunfo de seu time sobre a Portuguesa por 2 a 1 no Canindé. Foi o segundo gol mais rápido da história do Brasileirão.

“O Alex Silva abriu minha boca e não vou reclamar. Se tudo que acontecer em campo ele for chorar e ficar mostrando para todo mundo, então vai dançar balé” Kléber, atacante do Palmeiras

R$

3,6 milhões

Valor que o Corinthians pagará, em 20 parcelas a partir de janeiro de 2009, a Nilmar por dívidas trabalhistas. O jogador pedia R$ 7,2 milhões, mas aceitou reduzir a cobrança pela metade.

“Ele não deu ao Grêmio o tratamento que o Grêmio deu a ele. Assim ele fecha todas as portas” Paulo Odone, presidente do Tricolor gaúcho, sobre o modo como o meia Roger trocou o Olímpico pelo Qatar SC.

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BAHIA NA OPERAÇÃO SATIAGRAHA A investigação da Polícia Federal em cima do Banco Opportunity pode respingar no Bahia. O principal alvo da operação, batizada Satiagraha, é Daniel Dantas, controlador do banco, suspeito de participar em esquema de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, gestão fraudulenta e evasão de divisas. No entanto, suas atividades também incluíram o Tricolor baiano. Torcedor do Bahia, Dantas amarrou uma parceria entre Opportunity e o clube em 1998. Supostamente, o banco investiria no Tricolor na esperança de ter retorno com o crescimento do futebol como indústria. Dentro e fora do campo os resultados foram péssimos: o clube despencou para a Série C nacional e acumulou dívidas. O acordo foi desfeito em 2006, mas deixou um rastro de suspeitas, algumas delas levantadas em julho, pela Operação Satiagraha. A PF identificou repasses de US$ 32 mi-

lhões do Opportunity à empresa Parcom, ligada ao banco e que controlaria o Bahia. A diretoria do clube se negou a dar entrevista sobre o assunto. Limitou-se a divulgar notas oficiais, nas quais nega ter recebido tal quantia e afirma não ter ligação com a Parcom. Sua relação seria com a Liga Futebol S/A, outra empresa do Opportunity, e o único aporte de capital vindo da parceria teria sido de R$ 12 milhões em 1998. No entanto, de acordo com registros da Comissão de Valores Imobiliários, a Parcom tinha 4 mil das 15 mil ações preferenciais tipo B do Bahia. Jorge Pires, conselheiro tricolor, entrou com um processo para exigir mais explicações sobre este caso. Apesar de a parceria ter sido encerrada em 2006, o Opportunity ainda possui o controle acionário do Bahia S/A. Além disso, o clube ficou devendo R$ 15 milhões ao banco na época do rompimento. [UL]

COM TORCIDA Nada mais de jogos sem a presença de torcedores em estádios. O STJD acabou com este tipo de punição a quem perder o mando de campo. Os times, agora, devem atuar em estádios no mínimo 100 km distantes de onde ocorreu o problema que gerou a pena. Com a adoção do Código Disciplinar da Fifa, o Regulamento Geral de Competições da CBF tornou-se ilegal, daí a mudança na regra.

ERRO DO JUIZ Por conta de uma falha do árbitro João Alberto Gomes Duarte, Júnior Baiano foi suspenso de forma injusta para a partida do Brasiliense contra o Paraná pela Série B. O juiz se enganou na hora de preencher a súmula da partida do clube de Taguatinga contra o CRB. Ele registrou o cartão amarelo dado a Fábio Braz para Júnior Baiano, que estava pendurado.

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NO VERMELHO

Jorge R. Jorge

A maioria dos principais clubes brasileiros fechou 2007 com um balanço financeiro negativo. De acordo com análise feita pela empresa de auditoria Casual, dos 21 clubes estudados, apenas seis fecharam suas contas no azul: São Paulo, Internacional, Grêmio, Juventude, Atlético-PR e Barueri. O Fluminense foi o clube com o maior déficit no ano: R$ 139.457.000. O Colorado registrou um saldo positivo de R$ 18.928.000, o maior de todos. Já o São Paulo apresentou a maior despesa (R$ 186.233.000), mas teve a maior receita (R$ 190.081.000). No total, os 21 clubes analisados receberam R$ 1,34 bilhão em seus cofres, valor 36% superior ao de 2006. O estudo também levantou o tamanho das dívidas destas equipes. O Flamengo lidera a lista, com saldo devedor de R$ 242.401.000, seguido por Atlético Mineiro (R$ 214.377.00) e Botafogo (R$ 209.698.000).

Um texto publicado no site oficial do Atlético-PR provocou a revolta do Fluminense. O texto, assinado por Juliano Ribas, foi escrito antes do confronto entre as duas equipes pelo Brasileiro e classificava o Tricolor como “os palhaços do futebol brasileiro” e criticou o treinador Renato Gaúcho, que teria afirmado “brincar” no campeonato nacional caso seu time fosse campeão da Libertadores. “Profissionais remunerados para brincar se chamam palhaços, Renato”, escreveu Ribas. Diante da reação dos tricolores, Roberto Fernandes, treinador do Furacão, tentou controlar os ânimos. “Queria pedir desculpas ao Renato e a todos no Fluminense. Este não é o sentimento da comissão técnica e nem dos atletas do Atlético. Quem deveria responder por essa irresponsabilidade é o encarregado do site ou quem a escreveu”, disse.

O MAIS QUERIDO Segundo pesquisa realizada pela TNS Sport, Ronaldinho é o jogador mais querido pelos brasileiros. O novo reforço do Milan ultrapassou Kaká, líder em fevereiro, quando a última consulta havia sido realizada. Ronaldinho teve 19,17% dos votos, contra 17,6% de Kaká. Foram ouvidos 7.001 torcedores, em 14 capitais e seis cidades do interior. No total, 255 jogadores foram citados. Veja os 20 primeiros colocados: 1. Ronaldinho (Milan); 2. Kaká (Milan); 3. Robinho (Real Madrid); 4. Ronaldo (sem clube); 5. Alexandre Pato (Milan); 6. Cristiano Ronaldo (Manchester United); 7. Romário (ex-Vasco); 8. Rogério Ceni (São Paulo); 9. Valdívia (Palmeiras); 10. Adriano (Internazionale); 11. Edmundo (Vasco); 12. Pelé (ex-Santos); 13. Roberto Carlos (Fenerbahçe); 14. Felipe (Corinthians); 15. Léo Moura (Flamengo); 16. Fernandão (Al Gharafa-CAT); 17. Obina (Flamengo); 18. Marcos (Palmeiras); 19. Zico (ex-Flamengo); 20. Zidane (ex-Real Madrid).

Eduardo Martins/A Tarde/Futura Press

TIME DO QUÊ?

O CSA vive uma péssima situação no momento. O clube alagoano, que já foi vice-campeão da Copa Conmebol, corre o risco de ser extinto, conforme alertou o presidente Rafael Tenório. “Todos os bens do clube estão penhorados. Quando assumi, não havia sequer um botijão de gás no Mutange. E há tempos que o CSA não pode abrir conta bancária, não pode fazer convênio nem parceria com ninguém”, afirmou. O time de Maceió foi eliminado na primeira fase da Série C.

Jorge R. Jorge

CRISE NO MUTANGE

Vágner Mancini

Ir bem com o Vitória é especial por Dassler Marques

O Vitória usa dois meias abertos. O sistema é comum na Europa, mas por que é raro no Brasil? O treinador fica amarrado por não sentir-se seguro em mudar ou por não ter os jogadores que precisa. Mas esse foi o esquema usado pela França na Copa, com muita velocidade. O time joga em velocidade, mas o meia de armação é o Ramon, um cara que pára a bola. Qual a importância dele para essa equipe? A partir do momento em que se tem muita velocidade, perde-se precisão. Não dá para exigir de um cara rápido que dite o ritmo, que pare a bola. Daí a idéia de usar o Ramón nessa função. Ele enxerga o jogo e pára um pouco quando precisa. Afinal, ninguém agüenta jogar o tempo todo no mesmo ritmo. Do meio para a frente, o time tem opções à altura dos titulares? Para o lugar do Willians, eu tenho o Jackson. Do lado esquerdo, com o Marquinhos, é mais difícil. Só tenho o Ricardinho, mas ele é mais lento. Tentamos contratar o Nádson, mas não houve acerto. Temos tentado adaptar o Héverton e o Muriqui nessa função. Tem um sabor especial ficar nas primeiras posições logo após ser demitido invicto no Grêmio? Claro, porque aquilo foi muito chato para minha carreira. O Grêmio me tirou dos Emirados Árabes, onde eu vinha bem, e me demitiu sem justificativas após 60 dias.

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A paciência da Fifa com os organizadores da Copa de 2010 está se esgotando. Em julho, Joseph Blatter, presidente da entidade, disse que tem um “plano B” caso a África do Sul não tenha condições de abrigar o Mundial. Foi a primeira vez desde 2004 – quando o país ganhou o direito de abrigar o Mundial – que o cartola fala em tirar o evento dos sul-africanos. Desde então, seu discurso era sempre o mesmo: “A África do Sul é o plano A, o plano B e o plano C”. Na verdade, Blatter afirmou que “a opção de levar a Copa para outro lugar só será exercida em caso de tragédia da natureza”. No entanto, o estrago já estava feito. Os sul-africanos se esforçam para mostrar que vai tudo bem. Em cada aparição pú-

blica, o presidente do comitê organizador, Danny Jordaan, rebate os “mitos” segundo os quais o país não tem condições de ser sede do Mundial. “Nossa maior preocupação é que as grandes potências não se classifiquem e seus torcedores não venham para cá”, desconversa. Em relação a estádios, a situação não é crítica. O único que enfrenta problemas é o Nelson Mandela Bay, em Port Elizabeth. Por causa do atraso nas obras, a cidade saiu do programa da Copa das Confederações de 2009. “Com a complexidade na construção da cobertura do estádio, seria um risco grande mantê-lo no torneio”, argumenta Irvin Khoza, presidente do comitê organizador de Port Elizabeth. As demais arenas estão com obras adiantadas, ainda

A Austrália acusa a Croácia de aliciar australianos descendentes de croatas para defender a seleção eslava. A federação australiana se irritou com a presença de um observador croata em Sydney, à procura de promessas locais. “É inaceitável que um clube daqui crie jogadores para a seleção deles”, afirmou Ben Buckley, diretor-executivo da entidade. O goleiro Kolak, de 16 anos, e o atacante Vidosic, de 21 anos, seriam os alvos dos croatas. O lateral-esquerdo Seric, nascido em Sydney, e o zagueiro Simunic, de Canberra, já defenderam a Croácia. A Argentina sofre problema parecido, ainda que em menor grau. Em julho, a federação croata convenceu o atacante Cvitanich, do Ajax, a defender o país europeu, terra de seus avós.

que os custos já tenham superado as previsões. A desculpa na África do Sul é que o “boom” da construção civil e o cartel das construtoras inflacionaram os preços. Outro problema é a infra-estrutura. O país sofreu recentes “apagões” e nada indica que o abastecimento de energia elétrica melhorará até 2010 – por isso, está previsto o uso de geradores nos estádios e centros de imprensa. O fato de não existir transporte público de nenhum tipo seria compensado com vans e ônibus particulares ligando hotéis a estádios. Por fim, a tensão racial e a violência estão longe de serem superadas. Mas os sul-africanos confiam em sua histórica capacidade de receber turistas para driblar esses problemas. Isso se a Fifa não usar o tal plano B. [FM]

NOVO NOME? A Copa Uefa pode ser rebatizada na próxima temporada. A Uefa votará a mudança de nome da segunda competição do continente para “Uefa Europa League”. “A esperança é de que uma reformulação do nome e da marca tire a impressão que a Copa Uefa é um torneio de segunda classe”, comentou Karl-Heinz Rummenigge, dirigente do Bayern de Munique, que teria visto os planos da Uefa. A idéia é juntar o novo nome à mudança de formato do torneio, que ficará mais parecido com a Liga dos Campeões. Outra novidade é a negociação dos direitos de TV, que seguirá o modelo da LC.

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ASSÉDIO CROATA

Getty Images/AFP

ÁFRICA DO SUL 2010 A PERIGO

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Nicolas Asfouri/AFP

PORTO GARANTIDO O Tribunal Arbitral do Esporte (TAS) rejeitou os apelos feitos por Benfica e Vitória de Guimarães contra a presença do Porto na Liga dos Campeões, por seu envolvimento no escândalo de manipulação de resultados conhecido como Apito Dourado. Com a determinação do órgão, fica mantida a decisão tomada pelo comitê de apelação da Uefa – e a conseqüente admissão do Porto na LC. Se fosse mantida a exclusão dos Dragões, o Benfica (quarto colocado na Superliga) teria o direito de disputar a competição, entrando na terceira fase preliminar. Assim, Porto, Sporting e Vitória de Guimarães representarão Portugal na próxima LC.

Trezeguet, insinuando que desistiria da aposentadoria da seleção francesa se o técnico Raymond Domenech deixasse o comando dos Bleus

3 mil Número de “abbonamenti” (carnês para a temporada) vendidos pelo Milan menos de uma hora depois do anúncio da contratação de Ronaldinho.

ESTACA ZERO

6+5? NÃO! Os clubes europeus se posicionaram contra o plano da Fifa de limitar o número de jogadores estrangeiros em campo. Em comunicado, a Associação Européia de Clubes (ECA) afirma que a proposta do “6+5”, que obrigaria os clubes a escalar pelo menos seis jogadores do próprio país, é desnecessária. A proposta da Fifa vai de encontro às leis da União Européia sobre o livre movimento dos trabalhadores, que impedem discriminação por nacionalidade.

Confira no site

PRONTA PARA ASSUMIR Os poloneses não estão dispostos a depender dos ucranianos para sediar a Eurocopa de 2012. Miroslaw Drzerwiecki, ministro dos esportes da Polônia, disse que o país está construindo seis novos estádios, o que deixaria o país com sobras para o caso de a Ucrânia não arcar com sua parte na organização do evento. O projeto inicial prevê que Polônia e Ucrânia tenham quatro cidades-sede cada. No entanto, os dois países apresentaram duas localidades como “reservas”. As cidades polonesas que estariam em condições de receber a Euro seriam Varsóvia, Poznan, Wroclaw, Gdansk, Cracóvia e Chorzow.

“Gostaria de introduzir estímulos novos” Felix Magath, técnico do Wolfsburg, justificando por que resolveu levar o time para treinar em uma praia de nudismo.

158 milhões

Valor que a Setanta Sports pagará para transmitir o Campeonato Escocês por quatro temporadas. O acordo valerá a partir da temporada 2010/1.

“Acho que no futebol há uma escravatura moderna na transferência de jogadores”

Janek Skarzynski/AFP

Fracassou a venda do Bologna para empresários norte-americanos. Em junho, a TAG Partners LLC acertou a aquisição de 80% do Bologna por € 18 milhões. O grupo pediu um prazo de 20 dias além do estabelecido para firmar o acordo. A atitude irritou Alfredo Cazzola, presidente do clube, que anunciou o fim das negociações. O Bologna, um dos três promovidos nesta temporada para a primeira divisão italiana, seria o único da Série A a pertencer a estrangeiros.

“Se as coisas mudarem, as portas estarão abertas de novo, pois a seleção francesa é o máximo para todo jogador de alto nível”

Joseph Blatter, presidente da Fifa, comenta as dificuldades que o Manchester United impõe para ceder Cristiano Ronaldo – que está sob contrato – ao Real Madrid.

, em agosto

Dia 2 Futebol no Canadá

Dia 7 Terceira fase da LC

Dia 13 Futebol Olímpico

Tem futebol no Canadá? Tem sim!

Análise dos confrontos que definem a tabela do torneio interclubes mais legal do planeta

Quem foram os medalhistas de ouro no futebol masculino?

Dia 21 Regra de Cambridge – 160 anos

Dia 29 Guia LC – Fase de Grupos

Como nasceram as regras que deram base ao futebol atual

Todos os grupos e clubes analisados para a Liga dos Campeões

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maiores decepções do Maracanã por Dassler Marques

1 Brasil 1 x 2 Acervo/Gazeta Press

Uruguai (1950) Na decisão da Copa de 1950, o Brasil tinha um grande time, só precisava de um empate e a festa já estava pronta. Friaça ainda abriu o placar, mas Schiaffino e Ghiggia selaram a virada uruguaia, no jogo que originou o termo “Maracanazo”.

2 Flamengo 0 x 2 Santo André (2004) O Flamengo não era uma maravilha, mas um empate sem gols em casa contra um time da Série B já dava o título da Copa do Brasil. Cerca de 70 mil rubro-negros foram ao Maracanã para comemorar, mas viram Elvis e Sandro Gaúcho levarem o título ao ABC.

3 Flamengo 0 x 3 América (2008) Campeão estadual dias antes e com a vantagem de quem venceu por 4 a 2 fora de casa no jogo de ida, o Flamengo só pensou em dar uma despedida digna para Joel Santana. Caiu do cavalo. Cabañas fez dois e o Rubro-Negro caiu nas oitavas da Libertadores.

4 Botafogo 0 x 0 Juventude (1999) Após eliminar São Paulo e Palmeiras, o Botafogo perdeu o jogo de ida por 2 a 1 para o Juventude. Sinal de que uma vitória por 1 a 0 no Maracanã daria a Copa do Brasil ao Alvinegro. Cerca de 100 mil botafoguenses foram ao estádio — e viram um angustiante 0 a 0.

DA CONCENTRAÇÃO À CLAUSURA Chase Hilgenbrinck, do New England Revolution, decidiu mudar sua vida de forma radical. O zagueiro de 26 anos trocou o futebol pela batina. Ele passará seis anos de estudos para se tornar um padre católico. Hilgenbrinck foi aceito no seminário de Mount St. Mary, em Emmitsburg, Maryland, e sonha em ser pároco em Bloomington, Illinois, sua cidade-natal. “Continuo muito apaixonado pelo esporte, e não o deixaria por nenhum outro emprego, mas estou trocando o futebol pelo Senhor”, afirmou. O defensor atuou pela Universidade Clemson e se transferiu para o Chile, onde atuou por Huachipato, Naval e Ñublense. De volta aos EUA, ele foi contratado pelo Colorado Rapids, mas acabou dispensado pouco depois e acertou com o New England Revolution.

A LUTA CONTINUA Um dos amistosos mais inusitados da pré-temporada reuniu o St. Pauli, da segunda divisão alemã, e Cuba. Pode parecer incrível, mas o encontro do time marrom e branco com a seleção caribenha não é completamente despropositado. O clube de Hamburgo tem forte relação com movimentos de esquerda – e também com punks, boêmios e outros personagens da vida noturna hamburguesa. Assim, 16.816 torcedores foram ao estádio Millerntor e viram a goleada do St. Pauli por 7 a 0.

5 Fluminense 3 (1) x 1 (3) LDU Quito (2008) Os tricolores tinham a certeza de que reverteriam o 2 a 4 do jogo de ida para levar a Libertadores. No dia mais importante de sua história, o Fluminense ainda saiu perdendo, mas conseguiu os dois gols de vantagem. Mas a decepção veio nos pênaltis.

6 Flamengo 1 x 3 Santa Cruz (1975) Com o timaço de Júnior e Zico se formando, mas já em grande fase, o Flamengo só precisava empatar com o Santa Cruz para se classificar às semifinais do Brasileiro. Zico até fez seu gol, mas Ramón marcou dois e Volnei, um, na vitória pernambucana.

Uma vitória sobre o Deportivo Italia praticamente classificaria o Tricolor para a segunda fase da Libertadores. Em Caracas, o Flu fez 6 a 0. No Rio, vitória venezuelana. Os cariocas foram eliminados no jogo seguinte, contra o Palmeiras, também no Maracanã.

8 Vasco 1 x 2 Guarani (1978) Mesmo tendo perdido por 2 a 0 em Campinas, o Vasco tinha Dirceu, Roberto Dinamite e o artilheiro Paulinho – além de 101 mil torcedores – para reverter a vantagem no Maracanã. Zenon fez duas vezes e abriu caminho para o título brasileiro do Bugre.

9 Bangu 1 (5) x 1 (6) Coritiba (1985) Com o dinheiro do bicheiro Castor de Andrade, o Bangu era a sensação do Brasileirão de 1985. Mais de 90 mil torcedores dos grandes cariocas foram ao estádio, mas o Alvirrubro parou, nos pênaltis, no Coritiba de Ênio Andrade.

10 Fluminense 1 (1) x 4 (4) Corinthians (1976) Ainda que a torcida corintiana tenha ocupado boa parte do Maracanã, o jogo foi marcante para o Fluminense. Foi a despedida da Máquina Tricolor, timaço de Rivellino, Carlos Alberto e Dirceu, que perdeu a possibilidade de conquistar um torneio nacional.

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Getty Images/AFP

7 Fluminense 0 x 1 Deportivo Italia (1971)

ERRAMOS Na nota “Glórias ainda raras” (jun/08, pág. 9), está escrito que o Bahia disputou a Libertadores de 1990, quando o correto é 1989. Na reportagem “Quem se habilita” (jun/08, pág. 28), está escrito que Paulo Autuori conquistou a Libertadores em 1995. O certo é 1997.

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Chico Guedes/Gazeta ES/Futura Press

Sávio na Desportiva: uma rara estrela no futebol capixaba

PATINHO FEIO DO SUDESTE Mesmo estando em uma região rica e com imensa tradição futebolística, o Espírito Santo é um dos estados mais inexpressivos no futebol brasileiro. A média de público no Campeonato Capixaba está em torno de 1 mil pagantes. O estado é um dos piores em torneios nacionais, vários clubes desistiram da disputa da Copa Espírito Santo e o Rio Bananal, vicecampeão estadual, renunciou à sua vaga na Série C nacional. Para mudar o cenário, a federação local (FES) lançou o “Projeto de Revitalização do Futebol Capixaba 2009-2014”. A meta é colocar um clube do estado na 1ª divisão em 2013 e buscar parcerias para reformar e construir cerca de 20 estádios. A situação é grave. O Serra é o campeão estadual de 2008 com o menor estádio do país. No caso, o Roberto Siqueira Costa, com capacidade para 3 mil pessoas. Outro aspecto negativo é a falta de referências em campo. Aldair defendeu o Rio Branco em 2005, mas foi por apenas duas partidas. Houve a expectativa de essa situação realmente mudar com o retorno de Sávio à Desportiva para o Capixabão 2008. Mas, com o fim de seu contrato em maio, o meia cuidará apenas das categorias de base grenás. Sávio nasceu em Vila Velha (cidade da Grande Vitória) e tem ligação pessoal com o Espírito Santo. Mas, sem esses vínculos, é difícil encarar a desorganização. Um atleta que não quis se identificar se diz horrorizado: “Vi dirigentes conversando que

não iriam pagar ‘fulano’, que iriam enrolar ‘beltrano’. Fiquei chocado, não tenho motivação de jogar aqui”. A dificuldade em atrair talentos também está na própria decadência institucional do futebol capixaba. “Quando meu empresário disse que o Rio Branco estava interessado em mim, perguntei se era o de Americana ou o do Acre. Nunca tinha ouvido falar do Rio Branco daqui”, admite um jogador do Brancão, 35 vezes campeão capixaba e 20º colocado no Brasileirão de 1986. Com estádios antiquados, clubes decadentes e sem atratividade para os jogadores, a perspectiva para o futebol capixaba não é das melhores — com ou sem projeto de revitalização. [RA]

APROVEITAMENTO NA SÉRIE C* 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Estado Tocantins Acre Maranhão Sergipe Mato Grosso Amazonas Piauí Mato Grosso do Sul Espírito Santo Amapá Rondônia Roraima

Aprov. 51,3% 49,1% 47,7% 46,6% 46,3% 42,2% 41,9% 39,3% 37,9% 28,8% 24,2% 22,7%

*Entre estados com clubes apenas na Série C (desde 2004)

ESTADO NOVO O Saad, conhecido por seu sucesso no futebol feminino, pretende reativar a equipe masculina. Romeu de Castro, presidente do clube, incluiu o time na segunda divisão sul-mato-grossense, com início previsto para setembro. A relação do Saad, fundado em São Caetano do Sul, com o Mato Grosso do Sul começou na Copa do Brasil feminina de 2007, em que o time foi campeão representando o estado. A equipe masculina manterá o nome de MS/ Saad. O clube disputou a primeira divisão do paulista em 1974 e 1975.

FENG SHUI Em busca de títulos, o Manchester City resolveu apostar no feng shui. Alguns cristais foram espalhados sob o gramado do estádio City of Manchester, com maior concentração no círculo central e nas bandeiras de escanteio, para energizar o local. Thaksin Shinawatra, ex-primeiro ministro tailandês e atual dono da equipe, e outros dois dirigentes são adeptos da prática oriental de harmonização de ambientes.

CURIOSIDADES DA BOLA • O governo de Durban, cidade sul-africana que receberá a Copa de 2010, pretende legalizar a prostituição durante o evento. A proposta não foi muito bem aceita. Os opositores lembram os riscos de transmissão da Aids. A África do Sul é um dos países mais afetados pela doença. • Bacabal e Palmas empatavam por 1 a 1 pela Série C quando Mardony derrubou Tico Mineiro na área: pênalti para o Bacabal. O próprio Tico Mineiro converteu, mas o árbitro Antônio Fernando de Sousa anulou o lance. O juiz viu uma falta do Bacabal antes da batida e marcou a infração a favor do time do Tocantins. Ainda assim, o Bacabal ganhou por 3 a 1. • O humorista inglês Derek Williams, muito parecido com Sven-Goran Eriksson, treinador da seleção mexicana, foi ao estádio dos Pumas para fazer uma “pegadinha”. Ele conversou com o técnico Ricardo Ferreti e deu entrevistas a jornalistas. A federação mexicana comunicou que o comediante “usa sua semelhança com Eriksson de maneira irresponsável”. Agosto de 2008

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PENEIRA

MORIMOTO: do Japão para a Sicília Nome: Takayuki Morimoto Nascimento: 7/maio/1988, em Kawasaki (Japão) Altura: 1,80 m Peso: 70 kg Carreira: Tokyo Verdy (2004 a 2006) / Re

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e Catania-ITA (desde 2006)

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moto por empréstimo. A idéia era testá-lo nas categorias de base, mas o japonês ganhou espaço rapidamente. Fez um gol em sua estréia, contra a Atalanta, e foi contratado em definitivo. Na temporada passada, o atacante marcou o gol que classificou o Catania para as semifinais da Copa da Itália, feito inédito para o clube siciliano. Ainda à espera da primeira convocação para a seleção principal, Morimoto destaca-se nas categorias de base. Em maio, no Torneio de Toulon, ele marcou um dos gols da vitória por 2 a 1 sobre a anfitriã França, ajudando o Japão a alcançar as semifinais. [LB]

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akata e Nakamura mostraram que é possível um japonês alcançar o sucesso no futebol italiano. Takayuki Morimoto, atacante do Catania, é o maior candidato a seguir os passos dos compatriotas. Convocado para defender o Japão nos Jogos Olímpicos, ele terá uma grande oportunidade de mostrar ao mundo seu potencial. A precocidade marcou o início da carreira de Morimoto. Ele estreou pelo Tokyo Verdy em 2004, aos 15 anos, 10 meses e 6 dias, tornando-se o jogador mais jovem a atuar na J-League. No mesmo ano, marcou seu primeiro gol. Os mais empolgados comparavam o atacante a Ronaldo, por seu estilo de jogo e uma certa semelhança física. Em 2006, o Catania contratou Mori-

DJAKPA: tendência ofensiva

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Nome: Constant Djakpa Nascimento: 17/outubro/1986, em Abidjan (Costa do Marfim) Altura: 1,77 m Peso: 73 kg Carreira: Stella Club (2005) , Sogndal (2006 e 2007) , Pandurii (2007 e 2008) e Bayer Leverkusen (desde 2008)

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perdeu a disputa para o Bayer Leverkusen. Bastante rápido, Djakpa se notabiliza pelo apoio ao ataque e os fortes chutes de média distância, comparados ao do brasileiro Roberto Carlos. Em contrapartida, sua presença mais à frente deixa a defesa constantemente aberta para investidas dos adversários. Isso pode ser um problema razoável para os marfinenses, já que não há grandes defensores no time olímpico. Desse modo, Djakpa talvez não fique tão à vontade para avançar e fazer, contra seleções como Argentina e Sérvia, o que mais sabe: atacar. [MA]

Philippe Lauren

m sua primeira participação nos Jogos Olímpicos, a Costa do Marfim chega disposta a repetir o feito de Nigéria e Camarões, ouros em 1996 e 2000. Os recentes fracassos nas categorias de base foram deixados de lado após a campanha na fase classificatória africana. O treinador Gérard Gili construiu um grupo equilibrado, com base que atua na Europa. Nesse time, um dos destaques foi o lateralesquerdo Constant Djakpa. Até a temporada 2007/8, a revelação marfinense ainda defendia o obscuro Pandurii, da Romênia. Seu desempenho no último Torneio de Toulon o deixou em evidência, despertando o interesse de diversos clubes de centros mais tradicionais. O Olympique de Marselha esteve perto de fechar acordo, mas Agosto de 2008

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MARACANAZO por Mauro Cezar Pereira

HAT TRICK Josef Blatter é “bom” mesmo em proferir impropérios. Na Copa de 2006, depois que a Itália eliminou os australianos graças a um pênalti discutível, o presidente da Fifa tratou o lance capital do confronto como se fosse um erro incontestável do árbitro. E disparou: “Houve muitas burlas por parte dos jogadores (no Mundial). Eu reconheço e gostaria de pedir desculpas aos nossos torcedores na Austrália”. Blatter tentou nos convencer de que os critérios de escolha da sede da Copa 2014 seriam técnicos, não políticos. “O Brasil não atende aos padrões da Fifa. A Copa só será no país se essas exigências forem cumpridas”. Alguém acredita? Pior foi quando defendeu duras punições para lances violentos, com jogadores “suspensos pela vida toda”. Terá ele esquecido que preside a federação que comanda o futebol? As mulheres formam capítulo à parte. Ele já encheu a bola das moças: “O futuro do futebol é feminino”. “Elas não trapaceiam, não agarram a camisa, não simulam faltas e não fazem como os homens, que fingem contusão pra sair de campo e voltam correndo mais rápido que nunca”, disse. Depois, num machismo dos mais cretinos, recomendou que jogassem com roupas mais “reveladoras”. Shut up, Mister Blatter!

Shut up, Mister Blatter! JOSEPH BLATTER APAVOROU O PLANETA quando afirmou que o Manchester United deveria autorizar a transferência de Cristiano Ronaldo ao Real Madrid, se esta for a vontade do jogador. Tal sandice é de tamanha gravidade que o presidente da Fifa deveria ser submetido a um teste de senilidade — ou de honestidade. Para apresentar argumento tão estapafúrdio com tanta cara de pau, o suíço só pode estar gagá ou trabalhando extra-oficialmente para os merengues. Ao contrário do que disse o mega cartola, um cidadão que embolsa algo em torno de R$ 500 mil por semana não pode ser definido como “escravo”. Até Pelé, conhecido por disparar tolices em nove de cada dez declarações, acertou ao discordar dele: “Quando Ronaldo acabar o seu contrato, então deve ser livre para ir onde quiser”. O contrato do português com o campeão europeu e bi inglês vai até o final da temporada 2011/2. São mais quatro anos de compromisso assinado e muito bem remunerado. Nem mesmo Cannavaro, que joga pelo time espanhol, defendeu a tese “blatteriana”. “Quem assina um contrato deve cumpri-lo”, disparou o italiano à “Gazzetta dello Sport”. Até o “glorioso” jornal inglês “The Sun” acertou “na mosca”, ao pedir o afastamento do dirigente da presidência da Fifa, sob a alegação de que o próprio “há muito tempo ultraja o mundo do futebol com seus comentários ridículos”.

A cretinice de cartolas do Real Madrid já é conhecida de todos os que acompanham o futebol internacional, até pela repercussão dos jornais que vivem de manchetes sobre o time. Publicação de calibre próximo ao “The Sun” e capaz de defender até um pacto com o capeta se isso parecer bom para o Real Madrid, o espanhol “As” publicou uma “declaração” sem autor, atribuída a uma “fonte autorizada” no clube merengue. O elemento teria dito que “até a Fifa dá razão (ao time madrileno) no caso envolvendo Cristiano Ronaldo”. Nesse cenário, lamentável, também, é a postura do “escravo”, aliás, do atleta, que deveria deixar claro que irá respeitar o papel por ele assinado. E se conformar com os perto de R$ 2 milhões mensais que o Manchester United lhe paga. Isso sem falar no aspecto técnico. Detentor dos mais importantes títulos que um clube pode alcançar na Europa, Cristiano Ronaldo é jovem, talentosíssimo e vive momento espetacular. Deve ser eleito o melhor do ano. Protagonista em espetáculos vistos por uma média superior a 75 mil pessoas no estádio de Old Trafford e acompanhado por milhões em todo o mundo pela televisão, o “gajo” pode alcançar marcas até então inimagináveis. Isso se resistir à tentação de uma aventura precoce no Real Madrid, onde muitos jogadores querem estar e poucos conseguem brilhar. Agosto de 2008

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ENCHENDO O PÉ por Caio Maia

Encantador de serpentes O BRASIL É UM PAÍS ENGRAÇADO, isso não é novidade para ninguém. Por aqui, de vez em quando aparecem umas “verdades” que, de tão repetidas, acabam sendo aceitas por todo mundo, e quem contesta-las é um idiota. Exemplos não faltam, em todas as áreas. No futebol, entretanto, por causa do baixo nível do jornalismo e da paixão que cega os torcedores, isso costuma acontecer com maior freqüência. E uma das maiores mentiras de todos os tempos torna-se cada vez mais difícil de engolir, mas, nem por isso, as pessoas pararam de dizer que Vanderlei Luxemburgo é o melhor técnico do Brasil. Queria eu entender por que. É incontestável o sucesso que o ex-reserva do Flamengo obteve em alguns dos clubes pelos quais passou, mais especificamente no Palmeiras, em mais de uma oportunidade, e no Cruzeiro, em 2003. Da mesma forma, seus fracassos deveriam falar alto: o Flamengo do “melhor ataque do mundo”, o Palmeiras de 2002, que destruiu antes de abandonar, e o maior deles, o Real Madrid, onde tornou-se objeto de piada para todos, menos para a mídia que sustenta, e que o sustenta. Mais recentemente, porém, até os fracassos de Vanderlei Luxemburgo são encarados como vitórias. O melhor exemplo é o Santos de 2007. “O elenco era fraco”, dizem. Mas quem montou o time foi justamente Luxemburgo! E que elenco era fraco? Em comparação com que outro grupo o que tinha Zé Roberto e Kléber pode ser considerado fraco? Do outro lado do espectro “torcedor” do nosso jornalismo está Muricy Ramalho. Não está, ao contrário do que também diz nossa entusiasmada imprensa, isento de críticas. Para começar, seu “espontâneo” mau humor é, muitas vezes, estudado, assim como sua humildade. Trabalhando, deixou de ganhar duas Libertadores pelo mesmo motivo: preparou o São Paulo para atingir o auge depois do principal mo-

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mento de sua temporada, a competição continental. Seus méritos recentes, contudo, gritam: bicampeão brasileiro pelo São Paulo, foi também o principal artífice do Inter que o derrubou na final da Libertadores de 2006.

Até aí, pode-se argumentar que Luxemburgo passa por uma fase de baixa, e Muricy por uma de alta. E que o técnico do São Paulo colhe os frutos por um trabalho de longo prazo. Fato. Assim como é fato que Luxemburgo não colhe os frutos de um trabalho de longo prazo porque não quer realizá-lo. Porque onde esteve sempre se preocupou em ganhar rapidamente alguma coisa e, conseguindo ou não, sair logo para a próxima boa proposta. O mais importante, porém, passa por uma outra questão: as motivações de cada um. Se Muricy Ramalho pede a contratação de um jogador, pode-se imaginar que o quer por dois motivos: ou o cara é bom, mesmo, ou já foi importante em algum momento da carreira do treinador, que confia nele – caso, por exemplo, de Fábio Santos. Se Muricy Ramalho elogia alguém, acredita-se que goste da pessoa. Se reclama do elenco que tem nas mãos, o que faz pouco, constata-se, em geral, que tem razão. Enfim: Muricy é o que é, ainda que às vezes faça questão de enfatizar demais seu lado “simples” e mal-humorado. Com Luxemburgo, isso não acontece. Quando diz algo, a primeira coisa a se fazer é ver que tipo de interesse está por trás. Se o que ele queria dizer era aquilo mesmo. Se não vai dizer dali a cinco minutos que não tinha dito bem aquilo, e que o cara que quis derrubar na verdade é excelente, e tem todo seu apoio. Vanderlei Luxemburgo já disse se chamar Wanderley, e não se sabe bem que idade tem. Abandonou o Palmeiras à própria sorte em 2002, e mesmo assim foi acolhido de volta pelo clube. Quando Luxemburgo contrata um jogador, especula-se que pode ter interesse financeiro no negócio. Só isso deveria bastar para que não conseguisse emprego em nenhum clube sério. Mas não é assim que acontece. Por algum motivo, parece que no futebol as pessoas acham que a ética pode ficar do lado de fora da porta.

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PONTO DE BOLA por Mauro Beting

Legado desligado A ÓTIMA EURO-08 deixou de lição para o planeta bola que as lições não duram 90 minutos. Ou, vá lá, uns 120. Dependendo da prorrogação, podem ser tiradas algumas coisas dos tiros livres da marca de pênalti. Nada, porém, que perdure se o vencedor das quartas-de-final for eliminado nas semifinais. Aperte o rewind. Nas duas rodadas iniciais, time era a Holanda! A “velha” Holanda, de fato, era novíssima. Dois volantes-volantes, uma linha de três meias e Van Nistelrooy na frente: um 4-2-3-1 inédito por lá. Novidade pedida pelas velhas lideranças do vestiário laranja. Superado o histórico 4-3-3, esse time venceu como quis italianos e os irritantes franceses. E com doses de saudável sadismo; nas segundas etapas, os wingers Van Persie e Robben, a partir do meio-campo, partiam como pontas para esgarçar zagas indefesas e exaustas. A Holanda era um furacão que varria rivais e espargia cores e odores de 1974. Até as quartas-de-final, quando um vento do Leste devastou a armada holandesa. Assim como o time de Van Basten, o do holandês Guus Hiddink mudou nomes e números na estréia. Perdeu feio para a ótima Espanha, por 4 a 1. Venceu suado a fraca campeã Grécia (desastre antológico de 2004), e tinha de ganhar da Suécia, no terceiro jogo – o primeiro do meia-atacante Arshavin. Com inegável equilíbrio e consistência, a Rússia fez bonito e mereceu se classificar. Apenas para ser mera coadjuvante da Holanda, a estrela da hora... Pois é: levou duas horas, mas quem levou o lugar foi o time russo. Contra uma estranhamente extenuada Holanda, uma prorrogação coletiva irrepreensível dos camaradas de Arshavin desbancou a Holanda do posto de darling da mídia e de queridinha das arquibancadas. “The Next Big Team” era a Rússia. Era. Nas semifinais, um olé espanhol, sobretudo “no melhor se-

AMARCORD A derrota do Brasil em 1982 infestou os gramados brasileiros com a praga pragmática que murchou nossa bola e jogou pra trás nossos times por anos. Desde então, poucas competições mudaram mentalidades ou ditaram modas que ultrapassassem o outono-inverno. Vários são os motivos. Mas, talvez, seja mesmo a noção que os torneios de seleções, por mais inesquecíveis que sejam, não passam de festivais sazonais de futebol. Fotografam para a eternidade um time para guardar nos olhos e na galeria. Não no campo.

gundo tempo que vi em 10 anos de uma equipe de futebol” (definição de Franz Beckenbauer) mandou a Rússia para o lar dos cosmonautas. Arshavin? A persistirem os sintomas, um médico deve ser consultado. O remédio russo virou placebo. Acontece com os melhores times. Imagine com aqueles que duraram dois jogos, como Portugal. Como a Alemanha que mudou tudo para o matamata para voltar a ser Alemanha na final. Menos contra a Espanha. Ótima do primeiro ao último jogo. Campeoníssima vencendo tabus e desconfianças, vendo seu jogo fluir do 4-1-3-2 ao 4-1-4-1, passando pelo 4-2-3-1, variando pelo 4-1-3-1-1, e mais alguns números que deram aos espanhóis todos os melhores números da Euro. Uma competição que sepultou clichês e chavões. Mas não o belo jogo que nem sempre depende de craques. A Espanha foi excelente sem ter um. Para a Uefa, o craque foi Xavi. Para a torcida, Marcos Senna. Para mim, Villa foi mais decisivo. Mas, para a bola, toda a Espanha a tratou muito bem. O legado da Euro é a forma ofensiva, coletiva, solidária e rápida de jogar. Sem craques de bola. Mas com um futebol de craques. Agosto de 2008

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TÁTICA por Cassiano Ricardo Gobbet

Dinâmica por

vocação uando saiu a escalação da estréia da Holanda na Euro 2008, quem prestasse atenção à linha defensiva da Oranje notaria que os quatro escolhidos pelo técnico Marco van Basten eram laterais de origem. No meio-campo, só um marcador (Engelaar), um coringa defensivo (De Jong), dois armadores (Sneijder e Van der Vaart) e um atacante (Kuyt) davam apoio ao único jogador de linha constantemente escalado na sua posição: o centroavante Van Nistelrooy. E olhe que esta Holanda estava entre as mais conservadoras, no que diz respeito a atletas improvisados. A filosofia de jogo criada pelo técnico Rinus Michels e por Johan Cruyff no Ajax e na Holanda no final dos anos 1960 não mudou muito. Na “Laranja Mecânica”, uma das principais armas era a capacidade dos jogadores de atuarem em posições diferentes para ganhar tempo e economizar fôlego. “Por que um lateral-esquerdo deve correr 50 m para retomar sua posição quando o time perde a bola se outro jogador pode ocupar aquele espaço correndo dez metros?”, perguntava Michels. Era o “Futebol Total”: uma concepção nova do jogo que combinava a troca de posições e a ocupação de espaços e que mudaria o futebol – não só o holandês – para sempre. Nenhuma escola futebolística cultiva tanto esse dinamismo quanto a holandesa. Além da obsessão com o futebol ofensivo (mais até

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do que o Brasil), os jogadores e a seleção laranja se caracterizam por uma fluidez que, não raro, deixa a equipe desguarnecida na defesa. Nesta Euro 2008, Itália e França viram como é difícil parar o ataque holandês e a Rússia sacou como a mobilidade da Oranje pode se transformar em fragilidade.

AFP

Marca do futebol holandês desde a geração de Cruyff, versatilidade dos jogadores proporciona um jogo fluido e com muita movimentação

Meia na zaga, lateral no ataque Quando a Holanda chegou à Copa de 1974, o mundo já estava encantado com o futebol do Ajax, tricampeão europeu e base da seleção. “Aquele time jogava de um modo que ninguém conseguia nem imaginar, quanto mais entender”, diz o atacante Rensenbrink, uma das estrelas daquela seleção. “Além de um preparo físico muito superior, era um grupo com um talento único”, afirma. No papel, a Holanda jogava num 4-3-3, mas era muito mais ofensiva que isso. Na final contra a Alemanha de Beckenbauer, Michels escalou Haan – um meia ofensivo – na zaga. Neeskens (teoricamente o jogador com mais incumbências defensivas no time) fez 17 gols nos 49 jogos pela seleção. Enquanto os outros times tinham posições fixas, não era impossível ver o ponta-esquerdo Rep marcando na direita da defesa ou o lateral Krol chegando no ataque. Os marcadores ficavam completamente sem referência. Segundo o autor holandês Auke Kok, Neeskens era o jogador mais

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Copa de 1974 Linha de impedimento, time “curto”, troca de posições e marcação asfixiante

A A

A

Cruyff

Rep

Rensenbrink

M

M

Van Va V an Hanegem

Jansen

M Neeskens

LE

LD

Krol

Z

Z

Haan

Rijsbergen R

Suurbier

G Jongbloed

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Euro 1988 Com só um zagueiro legítimo (R. Koeman), Michels fez de Rijkaard o pêndulo entre defesa e meio-campo

A Van Basten

MA Gullit

M Muhren

M

M M

Erwin Koeman

Vanenburg

Wouters

LE

Z

LD

Van Tigelen

Rijkaard

Van Aerle

Z

No início da década de 1970, a Holanda de Cruyff estabeleceu a mentalidade do futebol do país

Legado preservado Na geração bem-sucedida seguinte, a Holanda – novamente treinada por Rinus Michels – conquistou a Eurocopa 1988 com craques como Rijkaard, Gullit e Van Basten. Ainda que não repetisse o frenesi tático da “Laranja Mecânica” de 14 anos antes, Michels não mudou de filosofia: ataque e dinamismo. Rijkaard, o eixo central do Milan de Arrigo Sacchi, atuava praticamente como zagueiro e ocupava o meio-campo quando o time tinha a bola. O meia Gullit virava atacante e encostava em Van Basten, sempre com um avanço coletivo da equipe. No lendário gol da final contra a União Soviética, o lateral-esquerdo Van Tigelen recupera a bola no meio

e abre para Muhren na esquerda, que cruza na área para a conclusão magnífica do centroavante. Na última Eurocopa, a Holanda não era tão radicalmente rebelde, mas não negou seu DNA. Com a linha defensiva mais leve (Boulahrouz, Mathijsen, Ooijer e Van Bronckhorst), composta só por laterais, a Oranje conseguia dar cerca de 500 passes por jogo, graças à maior técnica e velocidade dos jogadores. Exceção feita ao marcador Engelaar, ao goleiro Van der Sar e ao atacante Van Nistelrooy, todos os outros podiam atuar em mais de uma posição. A maior crítica que se faz à Holanda é quanto à vulnerabilidade que as freqüentes trocas de posição causam. O problema só pode ser resolvido com muito treinamento (uma das obsessões de Rinus Michels), algo quase impossível para as seleções de hoje. Contudo, se a Holanda não abandonou seus princípios nas últimas quatro décadas, é pouco provável que mude agora. A gente torce para isso.

Van Breukelen

3

Euro 2008 Van Basten montou uma Holanda sem nenhum zagueiro central “de verdade” na Euro 2008

A Van Nistelrooy

M

M

Sneijder

Kuyt

M Van der Vaart

V

V

Engelaar

De Jong

LE Van Bronckhorst

LD Z

Z

Mat Mathijsen

Ooijer

G Van der Sar

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Boulahrouz

G: goleiro / LD: lateral-direito -direito / LE: lateral-esquerdo / Z: zagueiro / V: volante nte / M: m meia / MA: meia-atacante / A: atacante

importante do time para o técnico – depois de Cruyff, claro. “Michels gostava de Neeskens porque ele corria demais, fechando todos os espaços, mas ainda assim era um jogador muito hábil se precisasse iniciar um ataque”, diz Kok.

G

Ronald Koeman

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Fadi Al-Assaad/Reuters

Jogador

dirig

uando encerrar a carreira, Roque Júnior dificilmente será lembrado como um dos grandes craques de defesa que o futebol brasileiro já teve. Criticado por ser tecnicamente limitado, teve várias oscilações durante sua carreira. No entanto, poucos jogadores têm tantos títulos importantes. Aliás, nenhum outro conseguiu disputar e ganhar finais de Copa do Mundo, Libertadores e Liga dos Campeões. Além disso, o zagueiro ainda tem a experiência de ter atuado em três dos principais campeonatos da Europa. Com esse currículo na mão, o defensor mostra segurança para falar sobre o modo de trabalho de Luiz Felipe Scolari, a organização (e, eventualmente, a falta dela) do futebol europeu, o sistema defensivo adotado no futebol italiano e o modo de a imprensa tratar os jogadores. Ele diz aceitar críticas, mas admite que se irrita quando considera que houve exageros. “O papel do

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jornalista é falar do que acontece no jogo. O que não tem cabimento é falar que ‘o fulano não tem condições de usar a camisa da seleção’. Tem de respeitar a história de quem chegou a um time importante”, argumenta. Roque reconhece que esse tipo de crítica provocou um atrito entre ele e o narrador Galvão Bueno. Nos últimos anos, o zagueiro tem usado sua experiência no Primeira Camisa, clube criado por ele em São José dos Campos como misto de projeto social e trabalho em categorias de base. A equipe está na chamada Segunda Divisão (equivalente à quarta) de São Paulo, mas faz boas campanhas nas divisões inferiores — o que não significa que o zagueiro esteja pensando em abandonar a carreira. “Ainda nem pensei quando vou parar. Tenho 32 anos e ainda recebo propostas”, diz. Até o fechamento da edição, ele estava sem contrato, mas confirmou sondagem do Vasco e contato de Portuguesa, Coritiba e clubes mexicanos.

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ENTREVISTA RR ROQUE JÚNIOR por Ubiratan Leal

experiente,

ente

novato Acumulando o trabalho de zagueiro com a nova carreira de cartola, Roque Júnior fala sobre Seleção, futebol europeu e até o modo de a imprensa criticar os atletas Você trabalhou com o Felipão no Palmeiras e na Seleção Brasileira. Por onde ele passa, se fala em “família” Scolari. Ele faz alguma coisa diferente dos outros técnicos? Ele sabe fazer todos os atletas, mesmo os reservas, se sentirem importantes. Ele sabe mostrar que qualquer jogador tem uma função no grupo e por que ele toma cada decisão. Além disso, ouve as dicas e sugestões dos outros. Um exemplo: na Copa de 2002, quando perdíamos para a Turquia no intervalo, ele estava pronto para dar uma grande bronca em todo mundo. Demos um toque para ele

pegar leve, porque todos estavam realmente fazendo o máximo. Ele entendeu e, ao invés da bronca, deu força para a gente. No segundo tempo, nós viramos. Com esse tipo de atitude, não há brigas internas ou gente descontente. As pessoas acabam confiando nele. Naquela Copa, as críticas se acumulavam. Depois, os favoritos foram caindo e o Brasil foi passando até ficar com o título. Quando vocês viram que dava para conquistar o título? Na verdade, ficamos com essa convicção quando passamos pelas eliminatórias. Foi um período tão conturbado que a gente não conseguia parar para imaginar o que viria pela frente. Depois que passamos por isso, percebemos que tínhamos um grupo que passara pelo sofrimento e que, por isso, estava bastante sólido e confiante. Mas os jogadores acharam que o Brasil podia não se classificar para a Copa? Não, porque não tinha como ficar de fora. Apesar dos tropeços, era só avaliar os adversários, a tabela e a classificação para ver que a gente conseguiria a vaga. Mas demorava para chegarem os jogos, então a gente não conseguia a classificação matemática e ficava aquela ansiedade para acabar logo, só que a gente sabia que daria certo. Por isso o jogo decisivo contra a Venezuela foi relativamente fácil de ganhar? (risos) Fácil para você, que não estava lá. O Brasil resolveu a partida no primeiro tempo e você mesmo disse que todos estavam convictos da classificação. Sim, é verdade, mas tinha o lado da pressão. Ficamos uma semana inteira treinando, só pensando naquela partida. O dia do jogo não chegava e a pressão vinha. A gente tinha confiança total na classificação, mas só um grupo muito unido suporta aquilo tudo.

Você é o único jogador a ganhar Copa do Mundo, Liga dos Campeões e Libertadores jogando as decisões. Ainda assim, é tratado com desdém pela imprensa. Pegam muito no seu pé? Olha, acho que não. A imprensa faz o que acha que deve fazer, do modo que considera adequado. O tratamento em geral é parecido com o que muita gente já recebe, então não é algo pessoal contra mim. Até porque criticar é algo perfeitamente aceitável. Só que eu também dou minha opinião sobre o que falam. E, quando passam do limite, eu tenho o direito de me manifestar. O que é passar do limite? O papel do jornalista é falar do que acontece no jogo. Por exemplo, se o cara foi muito mal, o comentarista vai lá, aponta o erro, diz onde o cara falhou, o que poderia ter feito. Se o jogador acertar na partida seguinte, ele também elogia. Mas nem todos os jornalistas entendem isso. Não tem cabimento ficar falando que “o fulano não tem condições de usar a camisa da seleção” ou “o beltrano é enganador”. O cara que está no Palmeiras, no São Paulo, no Flamengo ou em qualquer time grande tem alguma história, fez algo para chegar até lá. Isso precisa ser respeitado, coisa que raramente se faz no Brasil. Lá fora, isso não existe. Eles entendem melhor que ser jogador de futebol é difícil. Que o cara sai de casa cedo para tentar a sorte, fica treinando todos os dias, sofre pressão... Foi por esse motivo que houve aquela discussão com o Galvão Bueno (antes da final da Copa das Confederações de 2005, Roque Júnior reclamou dos comentários do narrador na transmissão do jogo anterior, contra a Alemanha)? Foi isso mesmo. Ele tinha passado dos limites e eu fui deixar claro que ele devia tomar mais cuidado com o que falava. Agosto de 2008

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Juergen Schwarz/AFP

Na Alemanha, o jogo é tático, mas não como na Itália. O futebol corre um pouco mais, como na Inglaterra. Acho que, por isso, foi onde me adaptei melhor

Você jogou em três das ligas mais importantes do mundo. Qual a diferença entre elas? A Itália é muito tática, muito mesmo. Tudo funciona de acordo com a tática, o modo de atuar de cada equipe é muito estudado e tudo é pensado previamente. Na Inglaterra, não dá para parar, porque a bola está toda hora atravessando o campo e chegando em você. Mas tem um problema lá que é muita bola aérea. Os grandes times têm dinheiro para trazer quem quiser e contam com craques em todas as posições. Mas,

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os médios e pequenos ainda usam muito o jogo de cruzamentos. De qualquer modo, é um estilo em que se joga — simplesmente se joga sem parar. A Alemanha é o meio-termo. Tem muito sentido tático, mas não é como na Itália. Há um pouco mais de espaço. Acho que, por isso, foi o país em que me adaptei melhor, me senti melhor jogando. Que tipo de dificuldade você teve na Itália? Cheguei meio cru lá. Não do ponto de maturidade pessoal, mas de conhecimento tático. Lá, os conceitos

são muito diferentes do que se usa aqui, principalmente na ocupação de espaços. A idéia deles é que qualquer espaço que o adversário tiver aumenta as chances de ele construir algo. Por isso, o jogo é extremamente compactado. Todos jogam muito próximos e com uma movimentação conjunta. Até porque não adianta nada eu fechar o espaço de um atacante se meu colega de zaga não fizer o mesmo com o outro homem de frente. Como acontece essa compactação do time? Quando a defesa sabe que o meia vai fazer o lançamento ou partir para o ataque, ela se adianta para dar menos possibilidade de ação a ele. Para o brasileiro, parece linha de impedimento, mas não é. Claro, talvez aquela movimentação resulte em impedimento, mas é só a defesa se adiantando para apertar a marcação nos atacantes adversários. Esse tipo de coisa é muito treinado até se tornar automático. A gente nem fica pensando no que está fazendo. Sai naturalmente. Ajuda ter defensores experiente, como Maldini, Costacurta e Nesta, ao seu lado? É muito bom, porque eles são excepcionais, sobretudo o Costacurta. É um cara que lidera a defesa, orienta e ajuda muito. Mas, para se defender bem, não adianta ter apenas zagueiros bons individualmente. É preciso que todos, inclusive os craques, trabalhem muito bem em conjunto. E isso o Milan fazia. O futebol italiano era o mais importante do mundo, mas teve problemas internos e perdeu espaço. Isso era perceptível para quem estava jogando lá?

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José Vítor Roque Júnior Nascimento: 31/agosto/1976, em Santa Rita do Sapucaí-MG Altura: 1,86 m Peso: 76 kg Carreira: São José-SP (1994 a 1995), Palmeiras (1995 a 1999), Milan (2000 a 2003), Leeds United (2003), Siena (2004), Bayer Leverkusen (2004 a 2007), Duisburg (2007) e Al Rayyan-CAT (2008) Títulos: Copa do Mundo (2002), Copa das Confederações (2005), Liga dos Campeões (2003), Libertadores (1999), Copa Mercosul (1998), Copa da Itália (2003), Copa do Brasil (1998), Rio-São Paulo (2000) e Campeonato Paulista (1996)

Philippe Huguen/AFP

Dava para sentir, sim. Quando se compara com Alemanha ou Inglaterra, se vê que a organização na Itália não é tão boa. Os grandes clubes são muito organizados e ricos, conseguem contratar grandes jogadores e montam times entre os melhores da Europa. Mas os pequenos estão muito abaixo. Até têm alguns bons tecnicamente, mas muitos deles são bastante desorganizados. O público não comparece tanto aos estádios, as instalações não são tão boas. Na Inglaterra, eu cheguei a um clube que começava a viver uma crise administrativa e, mesmo assim, era tudo direitinho. Na Alemanha, onde passei mais tempo, deu para ver isso ainda melhor. Tem o Bayern de Munique, que é muito mais rico que qualquer outro, mas mesmo os médios e pequenos são muito organizados, com tudo funcionando. Falando em crise no Leeds, na Inglaterra, sua contratação foi considerada uma das mais equivocadas daquela temporada. O que aconteceu? Realmente não fui muito bem lá. Mas foi um momento ruim, porque cheguei no meio da temporada em um clube que já vinha em má fase e em crise interna. Fica mais difícil se adaptar assim. Acabei tendo poucas oportunidades. Essa experiência no exterior ajuda nessa carreira de dirigente? Bastante, porque deu para pegar algumas idéias, como ter profissionais especializados em cada departamento. Um cara bom de marketing no marketing, um advogado experiente no departamento jurídico, um diretor de planejamento que saiba analisar o que gastar, quanto, onde e quando. Parece óbvio, mas isso não tem aqui. Muita gente que trabalha em clubes das divisões menores de São Paulo reclama da dificuldade de fazer um trabalho de longo prazo diante da concorrência de clubes de empresários ou mantidos pela prefeitura. De fato, é uma coisa difícil, mas é preciso ver os dois lados. O clube de empresário não é legal por-

Pela seleção: 48 J / 2 G

que nem sempre tem ligação com a comunidade. No entanto, a diretoria permitiu a entrada do empresário lá. Na hora que faz a parceria, é porque está com dificuldades e acha que essa é uma salvação. Com clube de prefeitura é parecido. Se a população deixa, não tem muito que fazer. O clube imagina vender seus jogadores? Claro. Não faria sentido ter postura diferente. O clube foi feito como projeto para desenvolver o talento da região. Se a gente ficar segurando o garoto, qual o sentido? A

As eliminatórias para 2002 foram tão conturbadas que não pensávamos no que viria pela frente. Depois que classificamos, vimos que tínhamos um grupo sólido e confiante idéia de formar um jogador jovem é justamente poder levá-lo a clubes maiores e explodir no futebol. Com isso, ele abre espaço para outros jovens no Primeira Camisa e, claro, não dá para negar, sua venda ajuda a manter o clube. Agosto de 2008

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FLAMENGO por Eduardo Zobaran

DESTA VEZ É P A Reestruturação fora de campo recoloca o Flamengo entre os times mais fortes uinta-feira, 10 de julho de 2008. Diante de lentes e microfones atentos, Kléber Leite anuncia detalhes da venda do mei Renato Augusto, de 20 anos. Ex-radialista, o vice-presidente de futebol sabe que todos querem ouvir um comentário sobre a briga do atacante Marcinho com prostitutas, no sítio do goleiro Bruno, em Ribeirão das Neves, região metropolitana de Belo Horizonte, após o time empatar com o Atlético-MG e manter a liderança do Brasileiro. O vice de futebol, no entanto, não vai falar sobre as notícias que já pipocavam nos sites e programas de TV. Ele prefere exaltar o reerguimento institucional do Flamengo. Fazendo questão de não mencionar Edmundo Santos Silva, ex-presidente que sofreu impeachment em 2002, Leite lembra que durante a gestão

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de Hélio Ferraz, o Flamengo flertou com o rebaixamento. Hoje, “caminhamos bem, tivemos participação nas duas últimas Libertadores e passamos a ter patrimônio dentro das quatro linhas”. O dirigente ressalta o sucesso da “política de austeridade do presidente Márcio Braga”, mas, para ele, é do agora ex-jogador rubro-negro a verdadeira cara do novo Flamengo: “Graças ao Renato Augusto, conseguimos contratar o Kléberson; graças ao Renato Augusto, o Flamengo contratou o Bruno; graças ao Renato Augusto, mantivemos o Cristian; graças ao Renato Augusto, o Flamengo manteve o Léo Moura por mais três anos; graças ao Renato Augusto, mantivemos o Ibson; graças ao Renato Augusto, o Flamengo vai trazer um jogador a altura dele e graças ao Renato

por Nonnonono nononoonno

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P ARA VALER

do Brasil, mas clube ainda terá de lidar com alguns erros do passado Augusto o Flamengo vai conseguir peças com perspectivas de nos dar alegrias no futuro”. No discurso rubro-negro, a mensagem é simples: a habilidade na negociação de uma revelação foi capaz de sustentar a base do atual elenco. Na prática, a antiga política de contratações estelares foi abandonada. Se a chegada de Romário em 1995, com Kleber Leite na presidência, surpreendeu, dessa vez, a base do time campeão da Copa do Brasil de 2006 é o trunfo. Léo Moura e Juan, os dois festejados alas, Toró e Jônatas faziam parte daquele meio-campo e são peças importantes para o bom momento rubro-negro. O Flamengo tem outro mérito. Apesar de sofrer constrangimentos no campo, o time mostrou não se abater a ponto de desmanchar o trabalho iniciado por Ney

Franco. Foi o caso das melancólicas eliminações nas oitavas-de-final das duas últimas Libertadores e o pífio desempenho na primeira metade do Brasileiro do ano passado. Joel Santana conseguiu uma ascensão meteórica antes de voar para a África do Sul eliminado em casa pelo América do México. Caio Júnior chegou ainda desacreditado e com uma declaração infeliz: antes da partida contra os mexicanos, afirmou que “corria sério risco” de ser campeão mundial. Foi perdoado e o ótimo início de campanha em 2008 fomenta um velho sonho do hexacampeonato rubro-negro. A possibilidade do título não sai da cabeça de ninguém na Gávea. Muito menos do torcedor, que já na terceira rodada estendeu uma imensa faixa no Maracanã com o lema: “Brasileirão é obrigação”. A

Flamengo decepcionou na Libertadores e agora a torcida cobra o título do Brasileiro

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A MARCA DE CAIO JÚNIOR

O Flamengo não escondeu o susto que levou. A proposta de um clube do Catar para contar com o técnico Caio Júnior foi recebida como o início do fim do bom momento rubro-negro. Sinal da importância que os dirigentes e a torcida dão ao técnico paranaense. Em campo, o crescimento rubro-negro começou em 2006, quando o técnico ainda era Waldemar Lemos. Foi na disputa da Copa do Brasil daquele ano que a estrutura tática atual começou a tomar forma. Ney Franco deu continuidade a um trabalho que, depois de algum desgaste, teve novo fôlego com Joel Santana. Ainda assim, Caio Júnior tem sua participação no time atual. Uma de suas atitudes foi montar um meiocampo mais recheado em losango, com quatro jogadores na defesa. Kléberson e Jônatas, esquecidos por Joel, ganharam mais espaço. Assim, a equipe recuperou-se do fracasso na Libertadores e começou o Brasileirão já nas primeiras posições. Em pouco tempo, porém, Caio percebeu que o melhor, de fato, era voltar ao formato anterior, com o volante Jaílton voltando para formar uma linha de três zagueiros. Assim, o técnico deu mais liberdade para Léo Moura e Juan, que cresceu de produção. Além disso, o treinador foi hábil ao contornar os problemas de Bruno e Marcinho em Minas Gerais. [DM]

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rima parecia apenas um puxão de orelha dos torcedores, mas o sucesso da equipe reforçou a exigência. Jogadores, comissão técnica e diretoria também apostam na conquista, o que ficou evidenciado após a vitória por 3 a 1 contra o Vasco, no Maracanã. Ao mesmo tempo em que denota um otimismo, essa “obrigatoriedade” do título nacional pode criar uma cobrança exagerada e motivar uma crise em qualquer oscilação que, em outras circunstâncias, seria vista como natural.

“Mudança de característica” Minutos depois de vencer o clássico contra o Vasco, o Flamengo já tinha uma nova história: dessa vez, uma possível saída de Caio Júnior para o Catar. No dia seguinte, Kléber Leite enche a boca para falar: “a notícia não é boa, a notícia é ótima”, antes de anunciar a permanência do treinador até o fim de 2009. De quinta para a segunda da semana seguinte, o discurso do dirigente se transformou. Se, antes, o Flamengo ainda não tinha cacife para bancar a permanência de Renato Augusto, agora rivalizava e batia uma robusta proposta dos petrodólares. O vice de futebol definiu a manobra como uma “mudança de característica”. Mudança essa que não foi suficientemente forte para manter o meia-atacante Marcinho. Emprestado ao Flamengo pelo Atlético-MG, ele trocou a Gávea pelos Emirados Árabes. As saídas de Renato Augusto e Marcinho aumentaram a carência de talentos ofensivos. Além disso, mostram como o Rubro-Negro ainda está suscetível às investidas de clubes estrangeiros e nem sempre repõe essas perdas. Em uma competição longa como o Brasileirão, pode faltar fôlego no final do ano. Fora do campo, o clube precisa lidar com as precipitações nas tentativas de valorizar o departamento de marketing. Na idéia de alavancar a exploração da marca “Flamengo”, o Rubro-Negro entrou em choque com a Nike. Os flamenguistas denunciam a empresa por quebra de contrato e deficiência no fornecimento de uniformes e no abastecimento das lojas de artigos esportivos. O clube fechou com a Olympikus e recebeu um adiantamento de R$ 10 milhões. A Justiça, porém, determinou a volta do uso dos materiais fornecidos pela empresa norte-americana. “Os clubes são acusados de amadorismo, mas foi a Nike que não conseguiu cumprir o contrato. Se tivesse tudo correndo bem, não teríamos problema em esperar o fim do contrato (julho de 2009) para acertar com outra empresa”, defende-se Ricardo Hinrichsen, vicepresidente de marketing rubro-negro. “O Flamengo tem um contrato de 24 anos com a Petrobrás, o que é uma prova de que é um clube confiável”. Outro problema envolvendo as ações extracampo foi a Fla TV, canal online disponibilizado somente para assinantes. Na época em que entrou no ar, a TV rubro-negra foi anunciada como a fonte de renda para a compra de Ibson. O tiro foi pela culatra. Com 6 mil assinantes, o clube teve de recorrer a um novo empréstimo com o Porto para permanecer com o meia.

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Fotos Jorge R. Jorge

Juan e Íbson são titulares, enquanto Obina segue como amuleto dos torcedores

“Eu nunca disse que pagaríamos o Ibson. A Fla TV é um sucesso, temos 6 mil assinantes e isso na internet é muita gente”, argumenta Hinrichsen. O discurso atual soa otimista, mas, no lançamento da TV, o clube falava em 500 mil assinantes “na primeira fase”, sem deixar claro quando começaria a segunda.

Política rubro-negra A busca incessante por recursos evidencia um fantasma que acompanha o Flamengo mesmo nos bons momentos: as dívidas de mais de R$ 200 milhões. Para equacionar esse passivo, o marketing seria, para a diretoria rubro-negra, um dos caminhos. Ricardo Hinrichsen aponta três fatores para o futuro financeiro do Flamengo: a gestão de um estádio, um programa de sócio-torcedor e a ampliação do número de patrocínios. Para o primeiro, o clube ainda espera a liberação do edital de licitação. CBF, Fluminense e a IMG, multinacional de marketing esportivo, são parceiros certos para uma investida ao Maracanã. No entanto, a real aposta dos rubro-negros está em uma mudança estrutural, com a separação entre clube social e futebol, proposta que já tramita no Conselho Deliberativo “Só assim o Flamengo alcançará equilíbrio permanente em sua administração e em suas finanças, o que é crucial para o esporte moderno”, comenta Márcio Número de assinantes Braga, presidente do clube. O problema, porém, é saber quem esperados pelo paga a conta: social ou futebol. Flamengo da Fla TV. Vice-presidente de esportes olímApesar de todo alarde, picos e candidata à presidência nas apenas 6 mil assinaram próximas eleições, em 2009, Patrícia

500 mil

Amorim se autodenomina uma força emergente na política do clube. Apesar de defender a mudança no estatuto para tornar o departamento de futebol em sociedade anônima, a ex-nadadora questiona a teoria de que o social é responsável pela grande dívida do clube. O pensamento faz algum sentido. Boa parte das dívidas rubro-negras surgiram em atitudes precipitadas ou de interesses duvidosos ligados ao futebol. Por exemplo, a contratação de jogadores fora da realidade brasileira na década de 1990. Em parte desse período, o vice Kleber Leite era o presidente flamenguista. Para Amorim, o Flamengo é um clube privilegiado pela quantidade de modalidades olímpicas e não pode perder esta característica. O problema, então, seria o caixa único e a política que mistura interesses internos e externos, o que criaria um descompasso político no clube: “No Flamengo, o presidente é eleito pelo associado e governa para o torcedor. As pessoas que votam não são exatamente as que vão ao Maracanã”. Apesar de já ter levado mais de um milhão de pessoas ao Maracanã no primeiro semestre de 2008, apenas 1.688 sócios votaram na última reeleição de Márcio Braga, um total insuficiente para lotar a pequena arquibancada do estádio da Gávea. Assim, a briga pela separação entre departamentos pode acabar com a paz política que tomou conta do clube com os bons resultados em campo e a relativa estabilidade administrativa. Por ora, o veredicto do campo dá motivos de otimismo aos rubro-negros. Ainda que tenha mudado o objetivo para 2008, trocando o sonho do bi-mundial pelo hexa nacional, o Flamengo dá sinais de evolução. Só precisará ser cuidadoso para não se deter em alguns obstáculos, muitos deles criados pelo próprio clube em seu passado recente. Agosto de 2008

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Vanderlei Almeida/AFP

TÉCNICOS por Augusto Amaral e José Carlos Pedrosa

O passo

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Renato Gaúcho (Renato Portaluppi)

enato Gaúcho não achou que precisava se conter após a conquista do título da Copa do Brasil de 2007 com o Fluminense: “É o primeiro de muitos, tenho certeza. Modéstia à parte, é para isso que trabalho muito. Não foi qualquer título que consegui, não”, afirmou. Pouco menos de um ano depois, batia o poderoso Boca Juniors e classificava o Flu para a final da Libertadores. A derrota para a LDU foi usada por seus críticos para mostrar que seu lado “falastrão” o impede de ser um técnico “de ponta”. Mesmo assim, Renato Portaluppi puxa a fila de um grupo de técnicos que recebeu a missão de substituir uma geração vencedora de homens da prancheta, mas que ainda não conseguiu galgar o degrau mais alto da profissão: Renato, Caio Júnior, Cuca e Mano Menezes têm em co-

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Nascimento: 09/setembro/1962 Principais trabalhos: Fluminense (1996, 2002 a 2003 e desde 2007) e Vasco (2005 a 2007) Fotos Jorge R. Jorge

Nova geração de técnicos brasileiros tem nomes talentosos, mas que ainda precisam de tempo para se consolidarem como “top” mum o fato de terem feito bons trabalhos, comandarem alguns dos principais clubes brasileiros. A meta de estar no mesmo nível de Felipão, Autuori, Muricy e Carlos Alberto Parreira, entretanto, parece ainda distante.

Quase lá Até o fechamento desta edição, Cuca ainda dirigia o Santos. Considerado um dos mais talentosos treinadores da nova safra, ele ostenta como bom trabalho ter iniciado a formação do São Paulo campeão mundial em 2005. Também recebeu elogios por ter feito o Botafogo jogar um futebol competitivo e vistoso no ano passado e neste ano. Títulos, porém, não existem em seu currículo. O jejum o faz carregar a fama de “azarado”, “pé-frio”. Ao ser eliminado pelo Corinthians na semifinal da Copa do Brasil, disse que queria

Cuca (Alexi Stival) Nascimento: 07/junho/1963 Principais trabalhos: Paraná (2003), Goiás (2003), São Paulo (2004), Botafogo (2006 a 2008) e Santos (desde 2008)

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Adriano Vizoni/Futura Press

Mano Menezes (Luiz Antônio Venker Menezes) Nascimento: 11/junho/1962 Principais trabalhos: XV de Novembro-RS (2003 e 2004), Caxias (2004 a 2005), Grêmio (2005 a 2007) e Corinthians (desde 2008)

Caio Júnior (Luiz Carlos Saroli) Nascimento: 08/março/1965 Principais trabalhos: Paraná (2002 a 2003 e 2006), Palmeiras (2007) e Flamengo (desde 2008)

“sumir”. No dia seguinte, pediu demissão do clube carioca. “Todas as equipes que eu dirigi chegaram. Levei o Botafogo a duas Copas Sul-Americanas, fui com o São Paulo até a semifinal da Taça Libertadores. São trabalhos fortes e de consistência. Então, não me incomodo com esse rótulo”, afirmou ele, após desembarcar em Santos. Outro fantasma, porém, o ronda. Cartolas de São Paulo e Flamengo sempre se queixaram de que Cuca sofria de complexo de perseguição por julgá-lo, em muitos momentos, inseguro em relação a seu emprego. O suposto pedido de demissão após a derrota do Santos diante do Figueirense não ajudou ninguém a mudar de opinião. O problema de Cuca também é vivido por Caio Júnior, técnico do Flamengo, e por Mano Menezes, que desde o início do ano comanda o Corinthians. O primeiro ganhou notoriedade dirigindo o Paraná e, de forma surpreendente, levou a equipe à Libertadores em 2006. Na temporada seguinte, desembarcou no Palmeiras como uma das principais revelações da prancheta. No entanto teve problemas para lidar com um elenco com atletas conhecidos num clube grande. Um episódio que marcou foi seu entrevero com o atacante Edmundo. Em um clássico contra o São Paulo pelo Brasileiro, Caio substituiu Edmundo e, quando o jogador deixava o gramado, o técnico estendeu sua mão para cumprimentá-lo. Edmundo o ignorou. A diretoria do Palmeiras viu a cena e detectou que teria problemas se deixasse ambos no clube. Nos vestiários, o diretor Savério Orlandi telefonou para o vice-presidente Gilberto Cipullo, que estava na Europa. O cartola, ao saber da confusão, deu carta branca a Caio Jr. para resolver a situação, inclusive dispensar o ídolo palmeirense. O treinador pôs panos quentes e manteve o “Animal” no elenco. Perdeu crédito com parte dos atletas e também dos dirigentes. Ficou até o fim da temporada, mas fracassou nos objetivos que estipulara. Há algumas semanas, já

no Flamengo, não afastou do time os “baladeiros” Marcinho, Diego Tardelli e Bruno. Houve quem enxergasse aí sinais da suposta “falta de pulso” pela qual era criticado no Palmeiras.

Estilo “Cada treinador tem seu estilo. Alguns tem semelhanças e até filosofias de trabalho parecidas. Mas nem sempre são iguais”, diz ele, ressaltando que sua geração de técnicos já atingiu o respeito, mesmo sem terem conquistado títulos de expressão. “Alguns já conseguiram [títulos], o Mano e o Adilson [Batista] já foram campeões. Mas as carreiras também ainda são curtas. E para ser campeão Brasileiro só dá pra ser um por vez”, afirma Caio Jr. Mano Menezes já ganhou o campeonato gaúcho, mas bateu na trave na Libertadores com o Grêmio ao ser derrotado pelo Boca Juniors na decisão. Neste ano, voltou a ser vice, desta vez da Copa do Brasil, com o time alvinegro. Com a boa campanha corintiana na Série B, Mano vai se firmando como um dos técnicos mais importantes e bem pagos do país, mas ainda sem a mesma badalação de Muricy, Felipão ou Luxemburgo. “O que falta [para esta geração] é tempo e seqüência de trabalho. Só conta com muitas conquistas quem já tem muito trabalho feito”, analisa o treinador, que também defende a renovação de sua profissão. “Acho bom. Isso acontece em várias profissões. Mas o que estava antes não pode ser descartado. Não se pode contratar treinador por moda.” Do alto de um dos maiores salários do país, e em um ano em que dificilmente deixará de conquistar os objetivos de seu clube, Mano fala com tranqüilidade diferente da de seus colegas de geração. A todos, entretanto, persiste o mesmo desafio: para sair do grupo dos que apenas fizeram bons trabalhos e entrar no dos que podem aspirar a dirigir a Seleção Brasileira, lhes falta o mesmo: ganhar campeonatos. Nem todos chegarão lá. Agosto de 2008

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CARREIRA por Gustavo Hofman

Excesso de “amigos” e empresários deixam jogadores em uma “bolha”, “bolha” e nem os atletas imaginam a dificuldade de viver fora dela após o final da carreira

ntônio José chegou ao aeroporto. O ambiente não era nada estranho. Nos anos anteriores, ele perdera a conta de quantos vôos pegara para ir a diversos cantos do Brasil. Ainda assim, naquele dia, a situação era diferente. “Não sabia o que fazer. Não sabia com quem falar, onde comprar a passagem, onde despachar a bagagem. Nunca tinha precisado fazer isso, sempre tinha alguém para resolver os problemas. Eu só pegava o bilhete e entrava no avião”. Para ele, era mais natural ser o “Deus da Raça” do

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clube mais popular do país. Só que ele era apenas Antônio José, não era mais Rondinelli, zagueiro do Flamengo. A situação do ex-defensor é exemplar. Muitos jogadores têm várias regalias enquanto são conhecidos. Amigos não faltam. Assessores de qualquer coisa, também não. Todos querem estar por perto. Esse mimo começa na adolescência e só termina com o final da carreira do atleta. Nesse período, o processo de amadurecimento pessoal fica suspenso. E, aos 40 anos, o indivíduo ainda é uma grande

criança, que não sabe gerenciar sua vida, identificar amigos de aproveitadores e comprar uma passagem de avião. Isso fica mais evidente nos jogadores que defendem algum clube estrangeiro. Nesses casos, o atleta carrega uma comitiva para ajudá-lo na adaptação. Nela, estão empresário, assessor, amigo de infância, família e qualquer pessoa que possa fazer com que o atleta se sinta “em casa”. O trabalho, em geral, é coordenado pelo clube, com participação do empresário. Eles regularizam a documentação do

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Daniele La Monaca/Reuters

Abandono

jogador, tratam de arrumar uma casa no novo país, encontram um professor para aulas no idioma local e, eventualmente, administram o pagamento das contas. De acordo com os empresários, esse cuidado é quase obrigatório para um jogador que vai a um país culturalmente muito diferente do Brasil, como os do Leste Europeu ou do Oriente Médio. “Antigamente, muitos atletas brasileiros achavam que podiam assinar um contrato com um time ucraniano, ficar alguns meses lá, pegar o dinheiro e ir em-

Os mimos em torno do jogador estão diretamente ligados aos benefícios de o acompanhar. Quando o atleta abandona a carreira, não é mais interessante ficar perto dele. “Glamour é igual uma gameleira, uma árvore que abraça as outras plantas até matar. No auge, os amigos te sufocam. Quando você sai de cena, eles somem. Se, de 20 amigos que eu fiz no futebol, salvou meio, já foi demais”, comenta Rondinelli. “Teve um dia, quando estava no Cruzeiro, que peguei meu celular após um treino e havia 37 chamadas perdidas. Hoje, só minha esposa me liga e olhe lá. Meu personagem já foi embora, ninguém mais se lembra que eu joguei no Cruzeiro, Grêmio e tantos outros clubes”, concorda Marcus Vinícius, hoje técnico desempregado. O sumiço dos “amigos” tem grande impacto para o jogador. O primeiro é a falta de alguém para fazer as coisas por ele, o que cria situações como a de Rondinelli sem saber como comprar uma passagem de avião. Outros problemas são a quebra de rotina, o golpe na vaidade e a sensação de solidão. “A pessoa que está acostu-

SEM NOSTALGIA Jorge Mendonça nunca recebeu fortunas para jogar na Europa, ou ganhou milhões com percentuais de transferências. Ainda assim, foi um jogador de destaque nas décadas de 1970 e 1980, defendendo a Seleção em uma Copa do Mundo e atuando por grandes clubes como Palmeiras e Vasco. No entanto, o ex-atacante perdeu quase tudo o que possuía depois de problemas com mulheres e empresários. Ainda tinha de conviver com problemas de saúde como hipertensão e depressão. Não fosse a história que construíra no Guarani, talvez morresse esquecido e pobre. Em 2003, o Bugre – time que Jorge Mendonça defendeu entre 1980 e 1982 – o contratou como professor do Projeto Bugrinho, a escolinha de futebol para os sócios do clube. Além disso, o ex-atacante teve a oportunidade de montar um time de veteranos com Ezequiel, ex-volante de Corinthians e Ponte Preta que também radicou-se em Campinas. Mesmo trabalhando com o futebol, Jorge Mendonça não escondia as marcas deixadas pelos problemas pósaposentadoria. “Eu tenho saudade da época de jogador, mas não posso ser nostálgico. Aprendi que preciso seguir a vida”, disse em janeiro de 2006. Em 17 de fevereiro daquele ano, Jorge Mendonça faleceu em decorrência de um infarte. [GH e UL]

Jornal dos Sports/Futura Press

bora. Isso não é mais assim, se assinou um contrato, terá que respeitá-lo”, comenta Giuseppe Dioguardi, ex-jogador das categorias de base do São Paulo e empresário que tem contrato com muitos atletas no Leste Europeu. Nesses casos, a vida do jogador fica na mão do agente, que nem sempre merece tanta confiança. “A maioria dos empresários é oportunista. Eles não vão atrás de quem está mal, estes eles descartam”, afirma Sérgio Guedes, ex-técnico da Ponte Preta. “O atleta tem que tomar a decisão, porque o procurador corre atrás da melhor proposta, mas quem vai para o fim do mundo é o jogador”, afirma Caio, ex-atacante e atual comentarista nas transmissões da TV Globo. Não são poucos os casos de jogadores largados por seus empresários. E nem sempre a vítima é um atleta desconhecido. “Quando fui contratado pelo Dynamo de Kiev, meu agente na época nem sequer viajou comigo. Me largou no avião e me mandou para lá”, conta o atacante Kléber, hoje no Palmeiras. “Foi muito complicado viver lá. O clima é muito ruim, o tratamento das pessoas é totalmente diferente. Ajuda muito ter alguém para assessorar no dia-a-dia”.

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“No auge, os amigos te sufocam. Quando você sai de cena, eles somem”

mada a treinar em dois períodos, de repente, fica sem nada para fazer. Até mesmo o corpo precisa se preparar”, afirma Kátia Rubio, presidente da Associação Brasileira de Psicologia do Esporte. “Do ponto de vista emocional, os jogadores não se preparam para exercer um novo papel social quando param. O jogador morre no papel de atleta profissional”. Essa depressão é real e provoca reações opostas. Alguns jogadores mantém algum vínculo com o futebol – em geral, como técnico ou empresário – para prolongar indiretamente sua carreira. Outros preferem o rompimento. Foi o caso de Rondinelli: “Quando eu parei, tive certa depressão, nem queria saber de futebol”. Hoje, o ex-zagueiro é proprietário de um posto de gasolina em São José do Rio Pardo-SP, sua terra natal, e seu filho tem um bar temático de esportes na mesma cidade. O “Deus da Raça” reconhece que cometeu muitos equívocos em sua época de jogador. De qualquer modo, ainda teve fôlego financeiro para lançar seu próprio negócio. Mas sobram casos de atletas que precisam de apoio de ex-colegas para se sustentar. Um exemplo é o ex-atacante Jorge Mendonça (veja box). Quando morreu, em 2006, Jorge Mendonça era funcionário do Guarani, clube que defendeu no auge de sua carreira. O Bugre o contratou, de certa forma, para ajudar um ex-atleta que passava por um momento difícil. Trata-se de algo raro. “Muitos ex-jogadores têm vergonha de ir ao estádio porque não têm dinheiro para o ingresso. Os clubes têm muita culpa nisso. Eles têm a obrigação de orientar os jogadores sobre como investir seu dinheiro”, comenta Neto, ex-meia e comentarista da TV Bandeirantes e da rádio Transamérica. A omissão dos clubes é tamanha que já há quem pense em aproveitá-la para lucrar. É o caso de Leandro Martins, diretor da Educ Invest, empresa que realiza cursos para quem quer investir na bolsa de

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Leonardo Castagna

Rondinelli, o “Deus da Raça” do Flamengo e dono de posto de gasolina em Santa Cruz do Rio Pardo (SP)

valores, e da assessoria de investimentos FX. Seus principais clientes são executivos, mas o economista desenvolve um curso voltado a jogadores de futebol. Segundo Martins, o atleta não precisaria depender tanto de um terceiro para gerenciar sua vida financeira. “O jogador precisa fazer uma reserva para uma aposentadoria curta. Um atleta que ganha um bom salário pode aplicar uma parte pequena num fundo com rendimento de 1,5% ao mês. Depois de dez anos, ele já reuniu condições de ter uma

vida tranqüila”, comenta. Pela frieza dos números, parece algo simples. Mas, quando todo glamour em torno do mundo do futebol acaba, a falta de estrutura de pessoas com 40 anos que nunca precisaram fazer nada além de jogar futebol para ganhar a vida se faz presente. Os ex-jogadores se tornam órfãos, muitas vezes de si mesmos, pois viraram apenas mais um entre tantos outros. Esse é o momento que a vida lhe cobra o preço das suas escolhas. E muitos não têm como pagar essa dívida.

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FUNCHAL Cruzeiro mantém parceria com o Nacional da Ilha da Madeira há cinco anos, mas não viu nenhum jogador explodir no futebol português conquista do título estadual e a boa campanha no início do Campeonato Brasileiro não têm impedido o Cruzeiro de negociar jogadores no meio da temporada. Vários atletas já deixaram a Toca da Raposa. A maior parte tinha pouco destaque, mas chama a atenção o fato de três dos negociados – Maicon, Rafael Bastos e Nenê, sendo que Eliézio e Luis Alberto estiveram muito perto do acerto – terem o mesmo destino: o Nacional da Ilha da Madeira. A rota Belo Horizonte-Funchal foi escancarada em 2003, quan-

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do os celestes firmaram um acordo com o clube português. A meta era dar chance na Europa a atletas sem tanto espaço no Cruzeiro. Nos últimos cinco anos, 13 jogadores tomaram o rumo da Ilha da Madeira. Em maio deste ano, a Raposa fez uma excursão a Portugal com atletas que retornavam de empréstimos e que eram “negociáveis”. No entanto, nenhum jogador aproveitou a oportunidade para estourar (veja tabela). O único atleta que se consolidou na Europa foi Wendel. Ainda assim, o meia do Bordeaux precisou voltar ao Brasil (defenden-

do o Santos) para ter seu futebol reconhecido. Um histórico que deixa dúvidas a respeito do valor técnico e financeiro desse acordo. O diretor internacional de futebol do Cruzeiro, Valdir Barbosa, avalia que os negócios com os portugueses têm sido bem-sucedidos. “É uma boa parceria, que nos proporcionou, inclusive, a abertura de mercado para atletas que estavam encostados em nosso clube”, diz, sem se importar com o fato de apenas dois jogadores ainda não terem voltado ao Brasil. O dirigente ainda afirma que pretende seguir investindo na relação com os nacionalistas. O otimismo se deve às perspectivas do Nacional na próxima temporada. O clube português considera possível uma classificação para a Copa Uefa e isso anima o Cruzeiro pelo potencial de exposição dos jogadores. Nas temporadas 2004/5 e 2006/7, os madeirenses disputaram a competição continental e não chamaram a atenção. Será que a coisa muda na terceira oportunidade?

Luis Acosta/AFP

VIA

CRUZEIRO por Marcus Alves

BATE-VOLTA Confira abaixo a relação dos jogadores negociados pelo Cruzeiro com o Nacional nos últimos cinco anos e o que ocorreu com eles depois de deixarem Belo Horizonte Jogador

Transferência Por onde esteve

Cléber Monteiro

2003

Ainda está no Nacional-POR

Émerson

2003

Nacional-POR, Cruzeiro e Ipatinga

Diego

2004

Nacional-POR, Paulista, Cabofriense e Cruzeiro

Wendel

2005

Nacional-POR, Santos e Bordeaux

Luizinho

2005

Nacional-POR, Ipatinga, Cruzeiro e Flamengo

Leandro Salino

2005

Nacional-POR, Camacha-POR, Flamengo e Ipatinga

Adriano

2006

Nacional-POR e Boavista-POR

Diego

2007

Nacional-POR, Ipatinga e Cruzeiro

Fellype Gabriel*

2007

Nacional-POR e Flamengo

Maicon

2008

Acabou de chegar ao Nacional-POR

Nenê

2008

Acabou de chegar ao Nacional-POR

Rafael Bastos

2008

Acabou de chegar ao Nacional-POR

Legenda noonno nonono nonononono

* Fellype Gabriel tinha vínculo com o Flamengo e estava no Cruzeiro por empréstimo de um ano. Após um semestre, o clube mineiro repassou o atacante ao Nacional, onde ele jogou os seis meses seguintes. Já foi devolvido ao Flamengo.

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Nelson Antoine /Futura Press

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ATRITOS Alheio a polêmicas, Júnior diz ter compreendido a ida à reserva do São Paulo e não guardar mágoas das divergências com Leão, Edílson e Marcelinho ois títulos mundiais, duas Libertadores, dois Brasileiros e uma Copa da Itália. Nem esse currículo faz de Júnior um titular do São Paulo. Uma situação que ele parece compreender. O lateral-esquerdo diz ter consciência de seu espaço no futebol atual, em que a capacidade de correr o campo todo por 90 minutos diminui suas chances. Aos 35 anos, o jogador parece fugir de atritos. Júnior conta como recuperou a posição de titular em 2004, quando Leão treinava o São Paulo, mas diz estar em paz com o técnico. Em entrevista à Trivela, ele afirma que também já superou as brigas com ex-adversários como Edílson e Marcelinho Carioca - em suas palavras, “passou” – e conta como foi a vivência de um futebol mais organizado e tático como o italiano.

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Nos últimos anos, você tem sido mais reserva do que titular. É uma situação desconfortável para quem já foi da Seleção? É estranho, mas, com o passar do tempo, eu comecei a analisar melhor a situação. Mudaram várias coisas no futebol e, hoje em dia, a técnica deu lugar à força física. Então, até pela idade, não é fácil ter um lugar para mim. A média etária aqui no São Paulo é baixa, não dá para acompanhar o ritmo do pessoal. Mas fico tranqüilo, estou aqui para ajudar no que for possível. Você teve propostas para sair nos últimos anos. Por que quis ficar? Minha família está aqui, esposa na faculdade, crianças no colégio, todos adaptados. Pensei bem nesse aspecto e resolvi ficar em São Paulo. Também considerei a grandeza do clube. Eu falei para a diretoria: “se vocês quiserem, eu faço outro contrato e fico”. E eles fizeram. Se, na época, o São Paulo tivesse dito “não, não queremos mais você”, aí, sim, eu sairia. Mas disseram que queriam ficar comigo mais um ano. O Muricy é um técnico que gosta de trabalhar bastante taticamente a equipe e explorar os jogadores em várias funções. Em qual papel você se sente mais confortável? É difícil falar. Quando nós ganhamos o Paulista, Libertadores e o Mundial pelo São Paulo, eu jogava de ala ou lateralesquerdo. Estava muito bem, mas, para jogar nessas posições, é preciso ir e voltar constantemente. Não estou mais com idade para isso, não tenho meus 20 anos. Então, ficar como meia acho que é uma posição legal para mim. Já joguei assim no Palmeiras. Dá para fazer a função do Jorge Wagner? Acho que dá. Treinando, aperfeiçoando nessa posição, acho que dá. No final de 2004, quando foi barrado pelo Leão, você pensou em sair? Meu pensamento era de ir embora, porque foi uma discussão realmente desagradável. Tinha até falado com o Milton Cruz que não ia ficar. O Juvenal Juvêncio me ligou e falou “não, pode ficar no clube porque aqui quem manda sou eu”. Então não saí. Acho que faltavam três jogos pa-

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ENTREVISTA RR JÚNIOR por Gustavo Hofman

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A minha maior felicidade foi encontrar uma pessoa maravilhosa, que foi o Amoroso, que estava no Parma e me acolheu muito bem. Seu melhor momento foi a Copa da Itália de 2002? Lógico, fiz o gol do título contra a Juventus. Foi uma cobrança de escanteio, eu estava no rebote e a bola sobrou pra mim. Eu chutei meio escorregando e a bola foi quicando, bem fraquinha. Foi maravilhoso fazer um gol contra a Juventus. A maioria do pessoal lá em Parma odeia eles. Os problemas financeiros da Parmalat definiram sua saída do clube? Foi uma bomba aquilo. Ficamos mais de cinco, seis meses sem receber pagamento. Foi quando eu fui para o Siena, onde fiquei seis meses e também não recebi um salário. Acabei recebendo bem depois, porque na Europa não tem jeito, o

Foi maravilhoso fazer um gol contra a Juventus. A maioria do pessoal lá em Parma odeia eles

clube tem que pagar. É muito diferente atuar aqui no Brasil e na Europa? É muito diferente. Dá gosto ver o pessoal jogando, porque taticamente eles são perfeitos. Cada um faz aquilo que é treinado. O jogador brasileiro fica melhor quando vai para lá. Se ele ficar no ritmo europeu, na pegada que o treinador pede, quando chega aqui no Brasil fica bem melhor. Dava para ter ido à Copa de 2006? Você vivia um bom momento. (silêncio) Não sei falar... Tem outros jogadores, era outra comissão, outro pensamento de grupo, de jogador. Então prefiro nem comentar. Eu estava bem, mas a comissão técnica daquela época achou por bem convocar outro jogador. Já pensa na sua aposentadoria? Ainda não. É duro saber que está tão próximo, mas ainda não quero nem pensar. Nem imagino o que vou fazer depois ou quantos anos vou jogar ainda. Mas você sonha em encerrar a carreira em algum clube específico? Quero encerrar no Vitória. Sempre gostei do clube, desde criança, é o time que me revelou. É um projeto pessoal que tenho para o futuro.

Stefano Rellandini/Reuters

ra o término do Campeonato Brasileiro e não joguei essas três partidas. Saímos de férias e quando eu voltei já era titular. E o técnico era o Leão ainda. Eu joguei para caramba e ficou tudo bem. O presidente pressionou o Leão? Deve ter falado que gostaria que eu ficasse. Depois você e o Leão chegaram a conversar? Conversamos, e foi tranqüilo. Discussão que há em toda equipe. Depois encontrei com ele em alguns lugares e nos falamos sem nenhum problema. Você ganhou vários títulos pelo São Paulo, mas seu grande momento no Brasil foi pelo Palmeiras. Você tem boa relação com o clube? Substituí o Roberto Carlos, o que não era fácil. Mesmo assim, fui muito feliz lá e tenho muito carinho pelo clube e os torcedores. Até hoje saio na rua e pedem para eu voltar. Na sua época de Palmeiras, a rivalidade com o Corinthians passava por um momento extremamente hostil. Para os jogadores também era algo forte? Era absurda, grande mesmo. Provocação o tempo todo. No Palmeiras tinha o Paulo Nunes, o Edílson do outro lado, um provocava o outro. Já era esperado que aquilo terminasse em briga. Você mesmo chegou a ter um papel importante naquela briga da final do Paulista de 1999. Pois é. O Edílson colocou a bola na nuca e eu cheguei e chutei a bola nele. O Paulo Nunes foi atrás e a briga começou. Eu achei que, naquele momento, foi falta de respeito dele com a nossa equipe. Mas eu só cheguei mais forte, não foi para machucá-lo. Hoje ele é meu amigo e até damos risada desse caso. Havia uma rivalidade com o Marcelinho Carioca também. O maior problema com o Marcelinho foi em uma partida em Ribeirão Preto. Ele deu uma entrada criminosa em mim, um carrinho... Um carrinho não, uma voadora, e ali começou. Depois, nos encontramos uma vez. Ele estava na TV Bandeirantes e fizemos um programa juntos. Ele pediu desculpas e ficou tudo resolvido. Foi fácil se adaptar ao futebol italiano? Foi mais rápido do que eu pensava.

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Rodrigo Coca/Futura Press

SANTOS por Dassler Marques

Em situação financeira cada vez mais crítica, Santos vive crise de resultados e se distancia dos clubes fortes do país

CAVANDO O PRÓPRIO Maikon Leite, uma das apostas baratas do Santos em 2008

desespero bateu. Depois de quinze rodadas do Campeonato Brasileiro, o Santos não conseguia sair da zona de rebaixamento. Um desempenho decepcionante para o time que é o atual vice-campeão nacional. No entanto, o fato é compreensível pela falta de investimento e planejamento na montagem do elenco para 2008. Algo natural para quem passa por uma situação financeira tão delicada. Os problemas de caixa do Santos foram expostos nesse ano. Ciente de que teria uma temporada difícil pela frente, a diretoria não tinha como prometer investimentos para lutar por títulos e perdeu Vanderlei Luxemburgo para o Palmeiras. Leão assumiu a equipe e, na base da garra, a levou às quartas-de-final da Libertadores, mas também reclamou da falta de reforços antes de sair, em maio. Cuca chegou sabendo que teria

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BURACO de trabalhar com um elenco reduzido. Apesar de a crise só se manifestar com força agora, não dá para dizer que essa história começou em janeiro. De acordo com seu balanço oficial, o Santos teve um déficit de R$ 36,6 milhões em 2007, R$ 14,8 milhões a mais que o registrado no ano anterior. Nessas duas temporadas, o clube investiu em grandes jogadores e em uma comissão técnica cara. O

R$ 36,6 milhões Déficit do Santos em 2007 segundo o balanço oficial do clube

retorno foi baixo: dois títulos estaduais e nenhuma venda milionária. “Sempre tem o Juan Figer ou o Wagner Ribeiro metido no meio e o clube acaba perdendo jogador de graça”, comenta Celso Leite, ex-conselheiro do Santos e um dos líderes da oposição ao presidente Marcelo Teixeira, se referindo às saídas de Cléber Santana e Zé Roberto em 2007. O desequilíbrio nas contas criou um monstro. Em 2008, o Peixe tem um passivo circulante (obrigações a serem pagas neste ano) de R$ 64,6 milhões. Já o ativo circulante é de apenas R$ 21,7 milhões. A diretoria santista reconhece que o clube tem dívidas pesadas. No entanto, não admite que o Santos passe por grande dificuldade. “Temos jogadores em nosso elenco que podem ser negociados a qualquer momento, equacionando as dívidas”, afirma Teixeira. “Ainda pretendemos investir no time”.

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Gastos desbalanceados Gas

Alexandre Guzanshe/Futura Press

Esse panorama não parece compatível com o de um clube que faturou mais de R$ 120 milhões com a venda de jogado-

A TRIVELA JÁ HAVIA AVISADO www.trivela.com

nº 14 | abr/07 | R$ 7,90

RACISMO Brasil ainda ignora o tema, dois anos após caso Grafite

Torraram o dinheiro do

Robinho

CULINÁRIA O que o torcedor brasileiro come nos estádios

E MAIS... • Entrevista: Alex • Vida dura no exterior • Forró patrocinador • Tanzânia no Rio • Carrossel Caipira

Como o Santos transformou os R$ 70 milhões da venda do craque em Luizão, Cláudio Pitbull, Eder Ceccon e um monte de cimento

editora

P O O L

De fato, o clube trouxe 15 jogadores desde o início do ano, quando os comentários sobre crise financeira ganharam força na Vila Belmiro. A maior parte deles, porém, chegou pelas mãos de investidores. Uma política que não deu resultados. Vários dos “reforços” deixaram o Peixe em menos de seis meses, casos do chileno Sebastián Pinto e do argentino Tripodi. O colombiano Molina, que teve boas atuações na Libertadores, caiu de rendimento e foi para o banco de reservas. O equatoriano Quiñonez mal jogou. Os quatro foram contratados pelo Grupo Sonda. A Traffic – que tem parceria com vários clubes, sem esconder que dá preferência ao Palmeiras – também apareceu para ajudar o Santos. Questionado se a necessidade de investidores para melhorar o elenco não seria um sintoma da queda do poder aquisitivo santista, Marcelo Teixeira se esquivou. “A aproximação da Traffic é salutar. A empresa tem apoiado os clubes e, além disso, o Santos já tem uma equipe competitiva”.

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Veja a matéria completa em www.trivela.com/revista

Um início de temporada praticamente perfeito na primeira fase da Libertadores e no Campeonato Paulista. No primeiro semestre de 2007, o Santos fazia sucesso com Vanderlei Luxemburgo e Zé Roberto, mas a edição de abril daquele ano da revista Trivela dava o alerta: o Peixe teria problemas financeiros em um futuro próximo. A reportagem mostra como os milhões arrecadados com a venda do time campeão brasileiro de 2002 foram desperdiçados com a compra de jogadores – alguns deles bastante caros, como Luizão, Giovanni e Cláudio Pitbull – que não renderam bem. A diretoria se defendia, argumentando que o clube também ganhara em patrimônio com a construção de um centro de treinamento moderno.

res como Robinho, Diego, Alex e Elano em 2004 e 2005. Mas uma avaliação sobre a política financeira santista levanta focos de desperdício. Contratações emergenciais e renovações de contrato em situações inadequadas trazem prejuízos para os cofres santistas. Segundo apurado pela reportagem da Trivela, o Santos gasta mais de R$ 1 milhão de salário só com quatro titulares da equipe de Cuca. Os garotos Jean Chera, do infantil, e Neymar, do juvenil, também trazem grande custo. Em sua

Leão deixou o Santos após goleada contra o Cruzeiro, reclamando, entre outras coisas, da falta de reforços

última renovação, Neymar recebeu 40% de seu vínculo como luvas e sua rescisão está estipulada em R$ 81 milhões. Embora Teixeira diga que o Santos possa extrair recursos ao negociar jogadores, nenhum bom negócio foi feito nos últimos tempos. “A capacidade de recuperação do Santos é menor em relação a outras equipes, pois os patrocínios são inferiores, as cotas da televisão são do segundo grupo, a torcida é a sexta ou sétima do país e a bilheteria não dá dinheiro nenhum”, afirma Fábio Gonzalez, presidente da Associação Resgate Santista, movimento de torcedores que faz oposição à atual diretoria. A esperança para ter um bom desempenho em campo mesmo sem dinheiro estava na promoção de jovens das categorias de base. No entanto, o clube entrou em atrito com alguns desses jogadores. O atacante Alemão, por exemplo, acusou o Peixe de forçá-lo a assinar um “contrato de gaveta” (o clube faz dois contratos com um jogador, sendo que o segundo, o “de gaveta”, passaria a valer a partir do vencimento do primeiro), uma prática ilegal. Em cima dessa acusação, o Santos perdeu atletas como o lateral Denis e o atacante Renatinho. Se o Santos perdeu boas oportunidades ao gastar as fortunas conseguidas com a geração de Diego e Robinho, hoje caminha na direção inversa, cortando gastos, colhendo resultados ruins e, assim, novamente longe dos principais clubes do país. Sinais claros de que, no futebol, é possível ir do topo ao fundo em pouco tempo. Basta cavar seu próprio buraco. Agosto de 2008

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HISTÓRIA por Gustavo Hofman

Outros tempos Em meio a uma das maiores crises de sua história, o Guarani relembra os 30 anos da conquista do Campeonato Brasileiro de 1978

desgastada fachada do Brinco de Ouro da Princesa traduz bem a atual situação do Guarani. Afundado em dívidas – entre R$ 80 milhões e 90 milhões, de acordo com o próprio clube – e há anos em uma crise que parece não ter fim, o time passa pelo pior momento de sua história. Em campo, briga na Série C para ter o direito de seguir jogando até o final do ano e manter, ao menos, um lugar na terceira divisão em 2009. Nem parece o mesmo clube que, há exatos 30 anos, se tornou o primeiro campeão brasileiro do interior. Em 13 de agosto de 1978, após vencer o Palmeiras no primeiro jogo em São Paulo por 1 a 0, o Bugre entrou no gramado do Brinco de Ouro precisando apenas de um empate para sagrar-se campeão nacional pela primeira vez. Até hoje, o único outro clube que não é de uma capital a conquistar a Série A foi o Santos, que tem enorme base de torcedores na cidade de São Paulo.

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Na decisão alviverde, o Guarani precisou vestir branco no dia de sua maior glória

A dificuldade em bisar o feito dá uma noção da importância do que os bugrinos fizeram naquele ano. Antes de a competição começar, ninguém apostava no Guarani. Apesar das boas participações nos Campeonatos Paulistas dos anos anteriores, o Bugre era apenas mais um entre os 74 participantes. O jeito foi montar uma equipe que usasse jogadores baratos. No final de 1977, chegou Zé Carlos. Neneca, que estava contundido, foi comprado do Náutico. Zenon, meia do Avaí, foi uma aposta. Para completar o elenco, o clube buscou jogadores nas categorias de base. “Antes de o Brasileiro começar, o Carlos Alberto disse que precisava de um atacante e eu falei para ele ver lá nas categorias de base, porque tinha um garoto excelente”, conta Leonel Martins de Oliveira, presidente do clube entre 1970 e 1977 e presidente do conselho em 1978 (o mandatário era Ricardo Chuffi, já falecido), se referindo ao mo-

do como o técnico Carlos Alberto Silva descobriu o artilheiro Careca. Outras revelações foram Mauro, Miranda e Renato “Pé Murcho”.

Do interior para o Brasil A campanha começou com uma derrota para o Vasco, em pleno Brinco de Ouro. Na segunda fase, chegou a perder por 5 a 1 para o Remo. Aos poucos, porém, a equipe foi se encontrando e conquistou vitórias sobre os grandes. Um marco importante aconteceu em 2 de julho, na partida contra o Internacional. “Quando chegamos ao Rio Grande do Sul, a imprensa gaúcha estava nos zoando, dizendo que tínhamos um ataque de riso, com Capitão, Careca e Bozó”, conta Careca. O resultado de 3 a 0 para os campineiros embalou o time daí em diante. O Bugre empatou com o Goiás e, depois, iniciou uma seqüência de 11 vitórias, que culminou com os dois triunfos na final diante do Palmeiras. “Encaramos

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do Leão. O Escurinho (atacante) foi para o gol e parecia que ele ia adivinhar onde eu ia bater, mas eu era o cobrador oficial e não tinha como mudar”, conta Zenon. A vitória por 1 a 0 deu enorme tranqüilidade ao Bugre, que, em Campinas, apenas confirmou sua superioridade. Zenon ficou fora do segundo jogo, suspenso por ter levado o terceiro cartão amarelo. Mas o time tinha Careca. O centroavante marcou único gol do jogo de volta, aos 36 minutos do primeiro tempo.

Acervo CEDOC/AAN

Presente muito diferente

aquela vitória em Porto Alegre como um estímulo, 3 a 0 ficou barato para eles”, completa Zenon, hoje comentarista de TV em Campinas. O primeiro jogo da final, em 10 de agosto, aconteceu no Morumbi com mais de 100 mil pessoas nas arquibancadas, incluindo 20 mil bugrinos, que esgotaram os ônibus disponíveis em Campinas. Um lance que entrou para a história do futebol brasileiro selou aquele título. Aos 26 minutos do segundo tempo, o experiente Emerson Leão caiu na provocação do novato Careca. “Já conhecia o Leão, sabia que ele fazia uma feira em todo lance. Fui lá catimbar, dei uma provocada e ele caiu. Deu com o cotovelo na minha cabeça e eu caí no chão”, conta o atacante. O resultado disso foi um pênalti marcado pelo árbitro Arnaldo Cezar Coelho. Ainda era preciso converter a penalidade. “Tremi na hora da cobrança. Minha responsabilidade aumentou muito com a expulsão

PALMEIRAS 0x1 GUARANI Data: 10/ago/1978 Local: estádio do Morumbi (São Paulo) Público: 104.526 pessoas Árbitro: Arnaldo David Cezar Coelho (RJ) Gol: Zenon (76 min) Cartão Vermelho: Leão Leão; Rosemiro, Marinho Peres (Zé Mário), Alfredo e Pedrinho; Jair Gonçalves, Toninho Vanusa e Jorge Mendonça; Sílvio (Escurinho), Toninho e Nei. Técnico: Jorge Vieira. Neneca; Mauro, Gomes, Edson e Miranda; Zé Carlos, Renato (Manguinha) e Zenon; Capitão, Careca e Bozó (Adriano). Técnico: Carlos Alberto Silva

GUARANI 1x0 PALMEIRAS Data: 13/ago/1978 Local: estádio Brinco de Ouro da Princesa (Campinas) Público: 28.287 pessoas Árbitro: José Roberto Wright (RJ) Gol: Careca (36 min) Neneca; Mauro, Gomes, Edson e Miranda; Zé Carlos, Renato e Manguinha; Capitão, Careca e Bozó. Técnico: Carlos Alberto Silva. Gilmar; Rosemiro, Beto Fuscão (Jair Gonçalves), Alfredo e Pedrinho; Ivo, Toninho Vanusa e Jorge Mendonça; Sílvio, Escurinho e Nei. Técnico: Jorge Vieira.

Passados 30 anos, o Guarani tenta se reerguer em campo. Com a direção de José Luiz Lourencetti, presidente bugrino entre 1999 e 2006, o time teve quatro rebaixamentos em três competições diferentes: Campeonato Paulista, RioSão Paulo e Brasileirão. Famosa por revelar dezenas de craques, mesmo a base bugrina já não é mais a mesma. “Nossa infra-estrutura parou no tempo”, reconhece Leonel Martins de Oliveira, atual presidente bugrino. Nos últimos anos, o Bugre se recuperou de um dos rebaixamentos (voltou à Série A1 paulista), mas ainda não voltou ao topo do futebol nacional. Pelo menos, os torcedores têm apoiado o time, levando mais de 5 mil pessoas em média nas partidas da primeira fase da Série C. Outro aspecto positivo é que, a despeito dos problemas estruturais, o Guarani não parou de revelar jogadores. Nos últimos anos saíram do Brinco de Ouro: Elano (hoje no Manchester City), Renato (Sevilla), Edu Dracena (Fenerbahçe), Alex (Internacional) e Martinez (Palmeiras). Ainda é pouco para um clube que está na terceira divisão nacional e tem dívidas pesadíssimas. Mas pode ser um ponto de partida para o Guarani voltar a ser protagonista. Se isso ocorrer, a campanha de 30 anos atrás pode servir de incentivo, deixando de ser apenas uma lembrança de um passado que vai ficando mais distante. Agosto de 2008

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MELHOR QUE NO ESTÁDIO Nos Bares Trivela, torcedor vai poder assistir às partidas do seu time – e se o jogo estiver ruim tem com o que se distrair

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Quem já assistiu a uma partida de futebol em qualquer estádio sabe que nada se compara à sensação de ver uma partida “no campo”. A visão do jogo inteiro, o contato com as torcidas e a sensação de participar do espetáculo são, de fato, inigualáveis. Entretanto, em uma época de estádios cada vez menores, torcidas maltratadas e jogos dos quais nunca se sabe o que esperar, o “estádio” de muita gente está mudando de nome: o bar, a exemplo do que acontece em muitos países do mundo, começa a tomar o espaço do estádio como o lugar preferido do torcedor para assistir às partidas de sua equipe. Para começar, no bar, se o jogo estiver chato, dá para fazer outra coisa. Além disso, é possível estar acompanhado de pessoas que não necessariamente iriam a um estádio. Sem contar que a atmosfera de um lugar menor do que uma arquibancada pode ser até mais gostosa do que a da “coisa real”.

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Anhanguera V. Romana - São Paulo

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Barthô Perdizes - São Paulo

Boleiros V. Madalena - São Paulo

OS SÓCIOS-FUNDADORES

Foi pensando nisso que criamos os “Bares Trivela”, projeto que habita nossos cérebros desde a criação de nossas edições impressas e que finalmente tornarmos real. Nossa equipe escolheu, entre as centenas de bares que hoje exibem partidas de futebol, os que se encaixam no espírito da torcida. No primeiro momento, o bar estará “vestido” de Trivela. Na próxima fase, a equipe da revista estará semanalmente em um dos bares do programa, acompanhada de personalidades do esporte, que serão entrevistadas para esta seção, que inauguramos neste mês. Não é qualquer estabelecimento, porém, que pode entrar para o nosso time. Boteco apertado com uma TV no canto que mal dá pra enxergar, não entra. Bar metidinho, em que as pessoas vão para ver e serem vistas, também não. Para ser um Bar Trivela tem que ter o “DNA” do futebol. Tem que se respirar a atmosfera dos jogos e da história do esporte. Tem que ser inspirado, decorado, “vestido” de futebol. Como são os oito bares que estréiam o programa. Os oito são em São Paulo, pelo simples fato de que aqui podemos controlar e melhorar a idéia com mais facilidade. Até o final de agosto, entretanto, estaremos em Porto Alegre e Fortaleza. E, até o final do ano, chegaremos à maior parte dos estados onde a Trivela chega. Os “Bares Trivela” foram feitos pensando em você, portanto, esperamos suas sugestões e pitacos. Você pode sugerir cidades, bares ou até mesmo palpitar na ambientação dos lugares. Tudo para que nossos bares tenham também a cara dos nossos leitores.

Bar do Juarez Moema - São Paulo

Magnólia Villa Bar V. Romana - São Paulo

Memorial Campo Belo - São Paulo

Parada Boa Vista Alto da Boa Vista - São Paulo

São Cristóvão V. Madalena - São Paulo

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por Cassiano Ricardo Gobbet

RONALDINHO

Ronaldinho troca de clube, mas ma mantém o st statuss e teráá o ambiente mais adequado para reencontrar a serenidade e seu futebol enos de dois anos atrás, Ronaldinho naldinho Gaúcho Gaúcho viajou à Suíça para receber o seu segundo prêmio consecutivo de Melhor Jogador do Mundo, dado pela Fifa. Um ano antes, tinha levado também o prêmio da revista France Football ao melhor jogador da Europa. Semanas atrás, o atacante transferiu-se para o Milan onde foi recebido por 40 mil pessoas no estádio San Siro. Então por que tanta gente ainda olha torto quanto a seu futuro como jogador? É verdade que a vocação brasileira de malhar os seus ídolos influencia. “A imagem vitoriosa de Pelé parece que agride essa gente que não gosta de vitórias. Os brasileiros preferem Garrincha, porque ele morreu pobre”, dizia Tom Jobim. Mas não é só isso: Ronaldinho foi enredado em tramas políticas e contratuais nos dois últimos anos de Barcelona. Ainda assim, não apostar em seu sucesso na Itália é no mínimo, precipitado — especialmente indo para o Milan. Muito se fala dos recentes fracassos de Ronaldo e Rivaldo no clube, mas não é bem assim. Ronaldo, em seu primeiro semestre na equipe, teve uma média de

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Giuseppe Cacace/AFP

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quase um gol por jogo e depois sofreu a lesão no joelho. Mesmo longe de sua melhor forma, Rivaldo foi campeão europeu com a camisa “rossonera”. Além disso, na parte rubro-negra de Milão, Ronaldinho terá tudo a seu favor: ambiente, técnico, adoração da torcida (e do dono do clube), colegas brasileiros e um calendário favorável. Terá pressão? Sem dúvida. Só que o Milan é um clube razoavelmente diferente dos demais nesse aspecto. “A diferença entre a Juventus e o Milan é que a Juventus funciona como uma empresa e o Milan como uma família”. Esse foi o modo encontrado por Fabio Capello, que treinou os dois times e hoje comanda a seleção inglesa, para contrastar o frio e eficiente ambiente de Turim com o clima amistoso em Milanello. As confusões com que Ronaldinho tinha de conviver em Barcelona deve dar espaço a um clube sem divisões políticas e onde os dirigentes defendem os jogadores quas sempre. Além disso, os outros brasileiros do elenco e o dirigente Leonardo não poupam esforços para facilitar a inserção de compatriotas no time.

O Milan de Ronaldinho Gaúcho Técnica e taticamente, o cenário também dá motivos para otimismo. Por mais que se repitam os clichês sobre o defensivismo do futebol italiano, Ronaldinho deve ter em Carlo Ancelotti alguém determinado a ajudá-lo. O técnico estuda há tempos como utilizar o gaúcho ao lado de Kaká e Pato sem desequilibrar o time. “O esquema não é fundamental. O importante é ter os grandes jogadores e obter deles a disposição necessária”, disse Ancelotti, sobre a dificuldade de encaixar Ronaldinho. “Prometo muita dedicação e não só minha habilidade”, respondeu o craque.

€ 21 mi

Valor pago pelo Milan para tirar Ronaldinho do Barcelona. Caso o clube italiano se classifique para a Liga dos Campeões nos próximos anos, terá de pagar mais € 4 milhões aos catalães

Na verdade, o Milan de Ancelotti será feito para acomodar suas duas grandes estrelas: Ronaldinho e Kaká. O treinador confirma que seu time atuará num 4-32-1 (veja na próxima página), chamado na Itália de “Árvore de Natal” e mesmo o homem mais avançado não atua fixo. O desenho é o ideal tanto para Ronaldinho quanto para Kaká, dois jogadores que preferem avançar com a bola no pé ou recebendo-a em velocidade. O ex-craque do Barcelona teria uma liberdade similar à que tinha na Catalunha. Para não confiar na sorte, a comissão técnica milanista trabalha com mais possibilidades para facilitar o encaixe do brasileiro recém-chegado. Uma delas é o uso de dois volantes fortes (como Gattuso e Ambrosini, por exemplo) atrás de um trio de armadores (Seedorf, Kaká e Ronaldinho) apoiando um atacante. Outra opção (ideal para eventuais ausências de Kaká) é um trio de meio-campo

robusto, onde o francês Flamini poderia ser muito útil para que Ronaldinho pudesse ficar livre na direita e Pato ou Seedorf caindo pelo flanco oposto, com só um centroavante. O esquema seria muito parecido com o do Barcelona campeão europeu, onde Xavi, Iniesta e Deco agiam no meio e Giuly, Ronaldinho e Eto’o ocupavam o ataque. A disposição de Ancelotti com Ronaldinho, Kaká ou Rui Costa, no entanto, não é só por causa da admiração do treinador pelo futebol-arte. O técnico conhece bem o dono do Milan, o premiê italiano Silvio Berlusconi, assim como a sua predileção escancarada por um futebol mais fluido e ofensivo. O dirigente e político é um fã confesso de Ronaldinho desde sempre. A ida do brasileiro para Milão foi um projeto particular de Berlusconi e se o craque não tinha alguém para protegê-lo no Barça, definitivamente tem em Milão.

O paternalismo de Berlusconi é sempre apreciado pelos jogadores do clube. Quando o pai do atacante Shevchenko, hoje no Chelsea, precisou de uma internação de emergência por causa de um problema cardíaco, o político mandou seu jato particular à Ucrânia buscar os pais do atleta. Depois do seqüestro de Levan Kaladze, irmão do defensor georgiano Kakhaber, Berlusconi colocou a diplomacia da Itália para pressionar o governo Shevarnadze por resultados. “Berlusconi fez mais pelo meu filho do que todo o governo do meu pais”, declarou, semanas depois, transtornado, o pai de Kaladze. Dificilmente as críticas à conduta política de Berlusconi causam danos à estima que os atletas do Milan costumam ter por ele. Agosto de 2008

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O estilo do dirigente ajuda a formar um ambiente no qual, mesmo com a pressão por resultados, os jogadores do Milan nunca fiquem expostos e jogados aos leões de torcida e mídia quando os resultados pioram. Essa é outra vantagem com a qual contará o gaúcho em Milão. Se ele será obrigado a se adaptar a um ambiente mais regrado e menos festivo, terá suporte quando as coisas forem mal.

“Favorito ao titulo italiano? Digo Milan”. A opinião não vem de qualquer um nem de nenhum milanista mais animado. Gianluigi Buffon, goleiro campeão do mundo da Juventus, argumentou: “Não é só a chegada de um craque como Ronaldinho. Eles não terão de disputar a Liga dos Campeões e isso faz diferença”. E em Milanello, a pressão para ganhar a LC é máxima. E essa pressão só deve pesar na camisa 80 no ano que vem. Jogar menos na temporada clubística também deve significar benefícios para a Seleção Brasileira e não só para Ronaldinho. A cada vez que for chamado pelo técnico Dunga (ou um sucessor), tanto o neomilanista quanto Kaká e Pato estarão com mais fôlego. Naturalmente, supondo que o treinador entenda, como a grande maioria das pessoas, que os três têm vaga no grupo verde-amarelo.

E eles definitivamente têm. Não há nenhuma equipe no mundo – seleção ou clube – que conte com dois talentos da estatura de Kaká e Ronaldinho Gaúcho. Jogando juntos durante toda a temporada, os dois aprenderão no diaa-dia quais são os mecanismos necessários para que se completem, ao invés de disputar espaço dentro de campo. “Não há o menor problema em fazer os dois jogarem juntos”, opina Osvaldo Alvarez, o Vadão, técnico que lançou Kaká no São Paulo. “Na Europa, mesmo os grandes craques estão acostumados a ajudar na marcação”, explica Vadão, que acha que Kaká e Ronaldinho ocupam espaços diferentes no campo. E será que finalmente será possível ver o gaúcho tão bem no Brasil quanto no clube? “Aí eu diria que depende do esquema adotado pela Seleção”. Alguns comentários sobre a “barriga” de Ronaldinho e até um certo tom de achaque sobre a sua saída do Barcelona podem sugerir o início de sua decadência, mas pouca gente se dá conta que Maradona foi para o Napoli aos 24 anos, Luis Figo deixou o Barcelona com 27 e Zidane tinha quase 30 quando se transferiu ao Real Madrid e nenhum deles deixou de fazer história. Na Itália, o gaúcho tem tudo para ampliar seu espaço histórico e ser um dos maiores do mundo. De novo.

Milan (4-2-3-1)

Milan (4-3-2-1)

Milan (4-3-3)

Ronaldinho ganha a liberdade de variar pela esquerda com meio-campo mais robusto

Com Kaká e Ronaldinho atrás do atacante, ambos têm liberdade para chegar ao gol

Variação sem Pirlo nem Kaká aposta em jogadas pelas laterais e tabelas com atacante

Patrick Hertzog/AFP

Menos jogos, mais futebol

Gattuso, Maldini e Pirlo formam uma retaguarda segura para sustentar a dupla brasileira

Borriello (Inzaghi)

Pato (Inzaghi)

Pato (Inzaghi)

Ronaldinho

Ronaldinho

Seedorf

Seedorf Kaká

Ronaldinho

Kaká K Ka Flamini Ambrosini

Pirlo Pirlo (Flamini)

Gattuso Ga

Jankulovski Kaladze

Nesta

Abbiati

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Ambrosini (Flamini) Zambrotta (Oddo (Oddo)

Jankulovski Kaladze

Nesta

Abbiati

Gattuso

Gattuso

Zambrotta (Oddo) (Oddo

Jankulovski Kaladze

Nesta

Zambrotta (Oddo (Oddo)

Abbiati

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Amigo do inimigo Problema de Ronaldinho no Barcelona não foi técnico, mas o fato de ser ligado ao principal opositor de Laporta

Adriano (Luis Fabiano)

Ronaldinho

Diego Kaká

Lucas

Hernanes Her

Juan (Flamengo)

Alex

Juan (Roma)

Júlio César

Daniel Alves Alve

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Kalis/R eu

Com volantes técnicos, Brasil teria marcação forte e deixaria Kaká e Ronaldinho livres

Heino

Brasil (4-2-3-1)

O Barcelona teve férias bastante conturbadas. Em 6 de julho, Joan Laporta teve de enfrentar uma moção de confiança para ver se conseguia – e conseguiu – terminar o mandato. Nove dias depois, Ronaldinho, o maior jogador do clube nas últimas décadas, deixou oficialmente a equipe, que aceitou proposta do Milan. Os dois acontecimentos pautarão o futuro próximo do clube — e têm relação direta entre si. Ronaldinho teve uma temporada melancólica. Apesar de alguns bons momentos, como o golaço de bicicleta contra o Atlético de Madrid, seu futebol foi pálido. Sem brilho e com clara desmotivação, ele se entregou às contusões, perdeu lugar na Seleção Brasileira e se arrastou até chegarem as férias e a possibilidade de transferência. Os mais precipitados já falam em decadência. Não é bem assim. O brasileiro esteve no meio de uma acirrada disputa política no Barcelona, a mes-ma crise que ameaçou encerrar prematuramente o mandato de Laporta. O pivô da briga é Sandro Rosell, principal pré-candidato da oposição. Ambos foram grandes amigos até 2005. Dois anos antes, conquistaram o comando do Barcelona, com Laporta encabeçando a chapa que tinha Rosell como vice. No entanto, divergências no modo de gerir o clube os afastaram até a renúncia do vice. A briga teve reflexo entre conselheiros e sócios, que ficaram divididos. O presidente passou a tirar força dos focos de influência de seu ex-amigo e aliado. O problema é que isso atingia a maior estrela do elenco. Rosell havia sido diretor da Nike no Brasil e se tornou amigo pessoal de Ronaldinho. Sua presença na diretoria blaugrana foi fundamental para a ida do brasileiro ao Camp Nou em 2003. O craque continuou fiel a Rosell, o que também levou a um racha no elenco. Eto’o acusou Ronaldinho de trabalhar pela oposição. Laporta ficou do lado do camaronês, o que expôs o isolamento interno do brasileiro –no final, ambos foram colocados à venda. Sem clima no clube, o futebol do gaúcho murchou. A esperança é que, em um ambiente menos conturbado, o talento reapareça.

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por Ubiratan Leal

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BARCELONA por Eduardo Camilli

Nome: Ronaldo Luís Nazário de Lima

AFP

No Barcelona: de 1996 a 1997 (37 J / 34 G) Clube seguinte: Internazionale

Pela porta dos

FUNDOS Ronaldinho não foi o primeiro astro do Barcelona a deixar o clube sob fogo cruzado com a diretoria onaldinho arrastou 40 mil torcedores a San Siro para vê-lo vestir, pela primeira vez, a camisa do Milan. Tudo isso para receber um jogador que, por cinco anos, encantou o mundo com um futebol vistoso, cheio de lances de efeito e, o principal: sempre buscando o gol. Mesmo com tantos predicados, dono de dois títulos de melhor do mundo e responsável por recolocar o Barcelona entre os grandes clubes da Europa e faturar uma fortuna em cima de seu nome, o gaúcho deixou o Camp Nou pela porta dos fundos. O fim da história de Ronaldinho com o Barcelona não é diferente do que viveram outros craques que vestiram a camisa azul-grená nas últimas décadas. Figo, Schuster, Rivaldo, Romário, Ronaldo e até Maradona deixaram Les Corts em baixa. Ou seja, dá para dizer que casos como o do gaúcho não são exceções. Assim, fica difícil não dar uma olhada no elenco e se perguntar quem será o próximo a sair pela porta dos fundos: Messi ou Bojan?

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Maradona: “presidente invejoso” Pouco antes da Copa do Mundo de 1982, o Barcelona anunciou a contratação do que, segundo o clube, seria o maior jogador do planeta: Diego Maradona. A previsão não era equivocada, mas os catalães não puderam desfrutar de todo o potencial de “El Pibe” nas duas temporadas em que o argentino ficou no Camp Nou. Seus problemas com a cúpula barcelonista estouraram no final da temporada 1983/4. Na decisão da Copa do Rei, Maradona agrediu um jogador do Athletic de Bilbao após a partida (os bascos venceram por 1 a 0). O argentino foi suspenso por três meses de competições realizadas na Espanha. Assim, o clube liberou Maradona quando surgiu uma proposta do Napoli. “El Pibe” sentiu-se desgostoso, achando que o Barça não fez força para defendê-lo no julgamento da briga. “O presidente tinha inveja da minha popularidade”, escreveu Maradona em “Yo Soy El Diego”, sua autobiografia.

Schuster: uso político Schuster foi o principal nome do Barcelona na década de 1980. No entanto, trocou o azul-grená pela camisa branca do Real Madrid em 1988, tão logo terminou seu contrato com os catalães. O motivo? Perdeu a confiança no presidente Josep Lluis Núñez, que usou o alemão em sua campanha de reeleição e, logo que foi confirmado no cargo, jogou o “Anjo Loiro” para escanteio, sem cumprir a promessa de aumentar seu salário.

Nome: Bernard Schuster No Barcelona: de 1980 a 1988 (170 J / 63 G) Clube seguinte: Real Madrid

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Ronaldo jogou apenas uma temporada (1996/7) no Barcelona. Foi artilheiro do Campeonato Espanhol, ganhou o título de melhor do mundo pela Fifa e virou ídolo instantâneo da torcida. Um desempenho que merecia um aumento salarial, pelo menos na opinião do brasileiro. Não foi o que pensou o presidente Josep Lluís Núñez, que manteve firme sua política de controle de custos e preferiu vender o Fenômeno para a Internazionale (pelo mesmo motivo, Stoitchkov deixou o Camp Nou em 1995). Em sua chegada à Itália, Ronaldo fechou as portas para um retorno ao Barça. “Pelo menos enquanto Núñez for o presidente”, disse na época. Para fúria dos torcedores, o retorno à Espanha aconteceu em 2002, mas para o rival Real Madrid.

Dylan Martinez/Reuters

Ronaldo: sem aumento

Figo: na surdina O português era o jogador mais popular da equipe no final da década de 1990. Seus dribles e sua capacidade de conduzir o time o levaram ao posto de capitão blaugrana. Considerando que, em cinco anos no Camp Nou, Figo conquistou dois Campeonatos Espanhóis, duas Copas do Rei e uma Recopa européia, sua condição de símbolo da equipe surgiu com naturalidade. Mas isso foi demolido em um dia. Florentino Pérez se candidatou à presidência do Real Madrid e prometeu contratar Figo se fosse eleito. Na Catalunha, poucos levaram a sério, mas Figo apareceu com a camisa merengue no dia em que Pérez foi empossado. Desde então, se tornou persona non grata no Camp Nou e até cabeça de porco já foi atirado em sua direção quando voltou ao estádio, com a camisa do Real.

Nome: Luis Filipe Madeira Caeiro No Barcelona: de 1995 a 2000 (172 J / 30 G) Clube seguinte: Real Madrid

Rivaldo: atrito com o técnico Eleito melhor do mundo, campeão da Copa em 2002, mas renegado pelo Barcelona, foi parar no Milan. Rivaldo tem trajetória relativamente semelhante à de Ronaldinho. Nas cinco temporadas em que esteve na Catalunha, Rivaldo tornouse um dos principais jogadores da equipe, sendo figura importante na conquista de dois Campeonatos Espanhóis e uma Copa do Rei. No entanto, o brasileiro teve divergências com o técnico Louis van Gaal. Depois de uma temporada 2001/2 bastante fraca, com período na reserva e grave contusão, Rivaldo conquistou o Mundial pelo Brasil. Como o holandês ficou no clube, o meia-atacante pediu para sair.

Nome: Diego Armando Maradona No Barcelona: de 1982 a 1984 (58 J / 38 G) Clube seguinte: Napoli

Nome: Rivaldo Vítor Borba Ferreira No Barcelona: de 1997 a 2002 (159 J / 86 G) Clube seguinte: Milan

Romário: volta ao Brasil Romário era o artilheiro do Barcelona que foi apelidado de “Dream Team”. Ofensiva e insinuante, a equipe comandada por Johan Cruyff foi tetracampeã espanhola e campeã européia. Parecia que tudo ia bem, inclusive para o atacante. No entanto, suas idas constantes ao Brasil incomodavam o técnico holandês. Depois de alguns atritos entre o treinador e o Baixinho, o clube decidiu aceitar a proposta do Flamengo e nem esperou o final da temporada para ceder o melhor jogador do mundo na época (de acordo com a Fifa).

Joel Robine/AFP

Nome: Romário de Souza Faria No Barcelona: de 1993 a 1995 (46 J / 34 G) Clube seguinte: Flamengo

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Criada na década de 1960 pela loteca austríaca, a Copa Intertoto vive seus últimos momentos em 2008

Da loteria para o

ostracismo

EUROPA por Luciana Zambuzi

Cazaquistão é um país asiático, pelo menos para efeitos geográficos e culturais. O vínculo com a Ásia é tamanho que muitos ignoram que, futebolisticamente, os cazaques são europeus. Com base no fato que 13,63% do território do país fica no extremo leste da Europa, a Uefa aceitou o Cazaquistão como filiado em 2002. Cinco anos depois, um time cazaque comemorou uma conquista européia: o Tobol, um dos vencedores da Copa Intertoto. Oficialmente, o clube de Kostanay não foi campeão, porque o torneio servia apenas para dar 11 vagas na Copa Uefa. O campeão de fato seria a equipe que, dentre essas 11, fosse mais longe no segundo torneio de clubes mais importante da Europa. De qualquer modo, o fato de um time do frágil Cazaquistão ter avançado dá uma noção de como a Intertoto é fraca e sem propósito. Por esse motivo, ela vive, em 2008, sua última edição. Disputada desde o início da década de 1960, tradicionalmente no mês de junho, a Intertoto foi criada para manter aquecido o mercado de apostas durante o verão europeu, período em que as principais ligas da Europa estão em férias. Karl Rappan, idealizador da competição, ex-jogador e famoso técnico austríaco, encontrou apoio para sua idéia no amigo Ernst Thommem, na época responsável pela loteria esporti-

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va de seu país. No início, tudo seria financiado pelas próprias casas de apostas, o que não garantia prestígio ao torneio — tanto que países como Inglaterra, Espanha e Itália nem mesmo tinham representantes. A fórmula proposta para a disputa era o mais simples possível: vários grupos com campeões definidos a partir de mata-mata. Mas, a partir de 1966, o aumento de clubes nas principais ligas européias diminuiu o número de datas para que as finais fossem realizadas. Desse modo, os vencedores das chaves da primeira fase já eram considerados campeões. Depois de três décadas como torneio amistoso com interesse para casas de apostas, a Intertoto foi absorvida pela Uefa. Em 1995, a entidade percebeu que a competição poderia ser uma oportunidade interessante para que clubes que não alcançassem a classificação para as principais competições continentais tivessem uma segunda chance. Mas era, desde o início, um torneio sui generis. Os clubes teriam de se inscrever na temporada anterior para estarem aptos a disputarem a competição. Afinal, com jogos no período de pré-temporada e pouco valor financeiro e esportivo, muitas equipes renunciavam às vagas conquistadas em campo em nome de uma preparação mais cuidadosa. Além disso, como o

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objetivo principal era apenas ocupar o calendário e classificar três equipes para a Copa Uefa, a competição não tinha um campeão. Os três qualificados eram considerados vencedores.

Confrontos inusitados Nessa fase “oficializada”, a Intertoto foi abrigo de equipes bastante fracas e duelos para lá de inusitados, como Lazio x Tampere United (FIN) e Celta x Pelister (MAC), nos quais craques históricos e ilustres desconhecidos jogaram de igual para igual. Na temporada 1998/9, a Juventus foi campeã do torneio com Van der Sar, Zambrotta, Del Piero, Inzaghi e o técnico Carlo Ancelotti. Esse time enfrentou equipes como Ceahlaul, na Romênia, Rostov, na Rússia, e Rennes, na França. Na partida contra os Rouges et Noir, a Juve contou ainda com Zidane. Era o retorno de “Zizou” ao torneio que o lançou ao cenário internacional. Na primeira edição da Intertoto oficial, o destaque foi o Bordeaux. Os Girondinos tinham Zidane, Lizarazu e Dugarry e conquistaram uma vaga na Copa Uefa. A equipe continuou firme, deixou o Milan pelo caminho e chegou à final do torneio, vencida pelo Bayern de Munique. Ao final da temporada, os milanistas contrataram Dugarry, e a Juventus levou “Zizou” para Turim.

2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 1996 1995

Lars K Mikkelsen/AFP

Aston Villa x Odense BK: tradicionais e “pequenos” despedem-se da Intertoto

LISTA DE CAMPEÕES* Bordeaux (FRA)

Strasbourg (FRA)

Guingamp (FRA)

Karlsruhe (ALE)

Silkeborg (DIN)

Auxerre (FRA)

Bastia (FRA)

Lyon (FRA)

Bologna (ITA)

Valencia (ESP)

Werder Bremen (ALE)

Juventus (ITA)

Montpellier (FRA)

West Ham (ING)

Celta (ESP)

Stuttgart (ALE)

Udinese (ITA)

Aston Villa (ING)

Paris SaintGermain (FRA)

Troyes (FRA)

Fulham (ING)

Málaga (ESP)

Stuttgart (ALE)

Perugia (ITA)

Schalke 04 (ALE)

Villarreal (ESP)

Lille (FRA)

Schalke 04 (ALE)

Villarreal (ESP)

Hamburg (ALE)

Lens (FRA)

Olympique de Marselha (FRA)

Newcastle (ING) Hamburg (ALE) Ainda não definido

* Considera apenas a era oficial. Entre 1995 e 2005, os “campeões” eram as três equipes classificadas para a Copa Uefa. A partir de 2006, o campeão é o time vindo da Intertoto que chegar mais longe na Copa Uefa

Assim como o Bordeaux, outros times aproveitaram a Intertoto e se destacaram no restante do ano. Bologna e Villarreal foram às semifinais da Copa Uefa após passarem pelo torneio de pré-temporada. Mesmo assim, eram casos raros. O mais comum eram equipes se sentirem prejudicadas fisicamente por antecipar o retorno das férias. A Intertoto se transformou em um peso. Para contornar o problema, a Uefa reduziu o número de fases da competição em 2006, classificando 11 equipes para a Copa Uefa e dando o título para a que fosse mais longe. Não funcionou, porque o torneio passou a premiar times sem tradição – como o Tobol, do Cazaquistão – e continuou sem despertar o interesse do público e dos clubes. Em dezembro de 2007, a entidade anunciou que expandiria a fase preliminar da Copa Uefa a partir da temporada 2009/10. Sem espaço nem função, a Intertoto será extinta. A edição de 2008 será a última do torneio que surgiu para manter as loterias ativas nas férias, mas foi engolido pelo calendário. Assim, entre times estranhos, estádios pouco freqüentados e alguns craques, em um ano a Intertoto será apenas lembrança. Saiba mais sobre copas européias em www.trivela.com/copaseuropeias

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ARGENTINA por Antonio Vicente Serpa

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HOMENS

e um destino

A Argentina ainda é território estranho para os brasileiros. Conheça a história de jogadores que atravessaram a fronteira e tentam a sorte no vizinho ejas, Ramos Delgado, Andrada, Doval, Fillol, Galván, Sorín e Tevez. Considerando a velha e a nova geração, nunca foi difícil para os argentinos atravessarem a fronteira brasileira para ter sucesso nos gramados. No caminho inverso, a história é diferente. Paulo Valentim, Delém, Domingos da Guia, Silva, Silas e Iarley são alguns dos poucos exemplos de brasileiros que tiveram sucesso na Argentina. Essa história continua sendo contada hoje. Enquanto grandes clubes brasileiros têm ídolos argentinos, como Guiñazu, Conca e Herrera, o contrário não ocorre — ou não com o mesmo glamour. Nos mais de 30 clubes da região metropolitana de Buenos Aires, apenas quatro brasileiros atuam. Esse reduzido grupo de brasileiros que defendem clubes argentinos é formado por operários da bola que, longe das luzes, não miram os euros de Milão ou a magia de Madri, mas sim, procuram apenas... trabalhar.

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Saiba mais sobre futebol argentino em www.trivela.com/argentina

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O SONHO E A REALIDADE Edilio Cardoso é atacante como Paulo Valentim, brasileiro que deixou todos os torcedores do Boca Juniors afônicos na década de 1960, quando se transformou no carrasco implacável do River Plate. Assim como Paulo, Edilio jogou no Boca, mas mal teve a sorte de estrear no time principal. Sua única partida com a camisa azul e ouro aconteceu em circunstâncias estranhas e transformou o que deveria ser um sonho em uma lembrança dolorosa. O Boca havia sido campeão da Libertadores de 2003 e decidiu fazer a festa em seu estádio com a presença dos jogadores. Para cumprir tabela pela última rodada do Clausura, o clube enviou garotos sem experiência para enfrentar o Rosario Central na casa do adversário. Enquanto o Boca comemorava, o “Boquinha” perdia por 7 a 2. Foi a primeira e a última vez de Edílio. Foi o auge da trajetória argentina do atacante gaúcho. Ele foi descoberto enquanto defendia o Flamengo de Alegrete, sua cidade. Antes disso já tinha feito testes em Vasco e Cruzeiro, ambos sem sucesso. Chegou às categorias de base do Boca Juniors em 2001,

aos 18 anos. “O mais difícil foram os primeiros seis meses. Tive dificuldades para me adaptar porque estava sozinho. Em alguns momentos, até pensei em voltar, mas a necessidade fez com que ficasse. Minha família é muito pobre”. Seu pai é eletricista, a mãe trabalha como segurança em um orfanato de meninas. No início de 2003, Edílio foi chamado por Carlos Bianchi – fervoroso admirador dos jogadores brasileiros – para participar da prétemporada. O garoto não rendeu, foi se perdendo, chegou a defender as categorias de base do San Lorenzo e hoje passa seus dias no Almirante Brown, clube da terceira divisão. Apesar de falar bem o espanhol, ele mantém a pronúncia brasileira, o sotaque e alguma palavrinha que sempre escapa, apesar de já estar há quase sete anos na Argentina. Seu melhor momento foi em 28 de outubro de 2006. Edílio marcou o gol que quase valeu ao Almirante Brown o acesso da terceira para a segunda divisão. Ainda que a trajetória não seja das mais otimistas, ele continua sonhando com um retorno vitorioso ao Brasil. “Todos sonhamos com triunfar em nossa terra”.

Edilio Cardoso Posição: atacante Nascimento: 16/5/1983, em Alegrete-RS Clube: Almirante Brown (terceira divisão)

OUTRO HORIZONTE Se não acabasse com os joelhos vermelhos por causa da terra, terminava com as mãos parecendo uma palheta de pintor. Em Belo Horizonte, onde nasceu há 25 anos, Hugo Alves dividia seus dias entre o futebol com amigos e o trabalho com seu pais, dono de uma oficina de chapa e pintura. Nunca lhe faltou nada. Jogou nas categorias de base do Cruzeiro, time do qual é torcedor, mas não teve muito sucesso. E como via que não progredia, foi jogar em um combinado de Bauru no Torneio de Viareggio, Itália, em 2001. A tradicional competição mudou sua vida. Hugo Castiñeira, um empresário, viu Hugo e lhe prometeu as capas dos jornais argentinos. A realidade foi diferente e lhe apresentou alguns capítulos antes de chegar

ao Defensores de Belgrano, onde hoje passa seus dias tentando fazer gols. Como quem? “Admiro o Ronaldo e o Tevez, apesar de me identificar com o Palermo, pela minha forma de jogar”, confessa, em perfeito espanhol. E em seguida, ele mesmo conta o caminho que o levou até aqui: “Quando cheguei na Argentina, assinei com El Porvenir e depois fui passando por vários clubes, a pedido do meu agente. Fui para o Unión de Santa Fe, Sporting Cristal do Peru, Talleres de Remedios de Escalada e voltei para o El Porvenir, onde rompi os ligamentos cruzados do joelho direito. Daí, depois de uma longa recuperação, fui para o San Telmo. E agora estou no Defensores de Belgrano”. À exceção do clube peruano, todos os demais são pouco expressivos, variando entre

a segunda e a terceira divisão. Como, na Argentina, não há competições que misturem clubes de várias divisões (como os estaduais e a Copa do Brasil), é mais difícil subir de nível. Hugo não conseguiu, de fato. Mas não se rende. Já casado, com dois filhos (um de 4 anos, outro de 16 meses) e um nome feito nos níveis secundários do futebol argentino, persegue um objetivo: “Voltar ao Brasil para que minha família e meus amigos me vejam ao vivo”. Hugo Alves Posição: atacante Nascimento: 15/1/1983, em Belo Horizonte Clube: Defensores de Belgrano (terceira divisão)

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Dos quatro brasileiros na Grande Buenos Aires, Jadson Viera é quem pode realmente contar vantagem como um vencedor. É o único que continua jogando na primeira divisão e ganhou nove títulos nacionais: oito no Uruguai, com o Danubio, e um na Argentina, com o Lanús, no Apertura do ano passado. Com exceção de alguns deslizes em seu sotaque, Jadson não parece brasileiro. E mais: tanto tempo morando no Uruguai tingiu seu coração de azul, ao ponto de hoje torcer pela Celeste, mesmo quando joga contra a seleção de sua terra natal: “Tenho muita gente querida no Uruguai. Além disso, o Brasil já tem muita torcida, não precisa de mais”, diz, sorrindo. Nascido em Santana do Livramento, grudado à cidade gêmea de Rivera, Jadson viveu no Uruguai

quando pequeno durante quatro anos e, depois, desde os 15, quando se instalou definitivamente. No meio, teve tempo de ir à escola no Brasil. O brasileiro é zagueiro central de formação, mas só se tornou titular no Danubio, aos 19 anos, como lateral, substituindo um companheiro lesionado. Saiu-se tão bem que continuou na posição e, em 2005, até foi sondado pela seleção uruguaia para se naturalizar. “Bem naquela época surgiu a chance de ir para o Atlas, do México, e o plano foi cancelado”, conta.

Fotos Divulgação

EU, O CAMPEÃO

Jadson Vieira Posição: defensor Nascimento: 4/8/1981, em Santana do Livramento-RS Clube: Lanús (primeira divisão)

ESTILO ARGENTINO

Homero Sartori Posição: defensor Nascimento: 28/3/1983, em Jales-SP Clube: Comunicaciones (terceira divisão)

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A preferência era pelo Santos, time para o qual torce até hoje (“tento segui-lo sempre pela Internet”), mas Homero Sartori fez um salto. Saiu de Jales, cidade a 600 km a oeste de São Paulo, para desembarcar na Argentina, onde um empresário havia conseguido uma proposta do Almagro. O clube argentino precisava reforçar o elenco para a disputa da primeira divisão e queria contar com o futebol duro do defensor brasileiro. Aquele ano entre os grandes da Argentina (disputou seis partidas) foi o mais alto a que chegou a carreira de Homero, um garoto realmente tímido que contradiz a imagem de defensor aguerrido que mostra no Comunicaciones, o clube da terceira divisão onde passa seus dias atualmente. Filho de uma família de classe média, com pai aposentado e mãe dona-de-casa, não foi à Argentina por necessidades econômicas. Isso não impediu que entrasse em campo disposto a se adaptar às exigências de sua nova casa. “Para ter um lugar nos difíceis gramados das divisões de acesso é preciso ter um estilo mais argentino que brasileiro. Corro muito e bato muito”, reconhece. Quando pede-se para que se compare com alguém, a timidez desaparece totalmente: “O Dunga também tinha esse estilo aguerrido”, diz, sem ficar vermelho. Só quando percebe o tamanho da comparação, procura corrigir: “Guardadas as devidas proporções”. Foi com esse espírito que Sartori sobreviveu à pressão de jogar no Unión de Santa Fe (clube do interior com grande torcida) e os desafios de defender o CAI. O time tem sede em Comodoro Rivadavia, cidade petroleira em plena Patagônia, com ventos que cortam o rosto e frio que se mede em graus abaixo de zero. Agora, já em Buenos Aires, Homero tem objetivos modestos. Jogar no Brasil seria o ideal, mas a Argentina pode lhe bastar. “Seria um sonho voltar a jogar na primeira divisão daqui”.

NO INTERIOR, MAIS DOIS FIGURANTES O cenário não é dos mais empolgantes para os brasileiros que atuam na Grande Buenos Aires, mas a situação não é muito melhor no resto da Argentina. Nos pequenos clubes do interior, há outros dois brasileiros tentando a sorte na segunda divisão. E, por enquanto, não a estão encontrando. O volante Taborda chegou ao Belgrano no início do ano. A equipe de Córdoba fez uma boa campanha na segunda divisão, mas perdeu a repescagem de promoção para o Racing. No entanto, o gaúcho não entrou em campo na temporada. Em Rosário, o representante brasileiro é Silvonei. O goleiro chegou a defender o gol do Tiro Federal por 12 partidas na temporada, mas não se consolidou como titular absoluto de uma equipe que não saiu do pelotão intermediário da Segundona.

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NUMERAÇÃO por Leonardo Bertozzi

Muito além do

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Vote em mim O meia Michel, destaque do Fast-AM, usava a camisa 15 para promover o presidente do clube, um deputado filiado ao PMDB. Depois que o presidente mudou para o PR, também mudou a numeração do craque do time: 22. E se fosse do PT do B, seria 70?

Número da controvérsia Na temporada 2000/1, o goleiro Gianluigi Buffon causou polêmica ao escolher a camisa 88 do Parma. O número é usado pelos neonazistas para representar a saudação “Heil Hitler”, – H é a oitava letra do alfabeto. Buffon já tinha aparecido com uma camiseta que exibia um slogan de extrema direita, mas a justificativa para a escolha do número foi outra: “Escolhi o 88 porque lembra quatro bolas. E ter bolas, na Itália, significa ter atitude e determinação”.

Alma do negócio Túlio Maravilha fez marketing para dois patrocinadores pela numeração de suas camisas. No Botafogo campeão brasileiro de 1995, ele vestia a 7, alusão ao refrigerante SevenUp, que patrocinava o clube. Em 1997, no Corinthians, Túlio usou a 12, referência ao banco Excel Econômico, parceiro do clube, que fazia campanha para divulgar os 12 dias sem juros no cheque especial. No mesmo ano, Bebeto jogou com a camisa 12 no Vitória, também parceiro do Excel.

Recruta Zero O marroquino Hicham Zerouali era conhecido como “Zero” quando atuava pelo Aberdeen. O apelido ficou tão popular que levou o jogador a atuar com a camisa 0 em algumas partidas, em 2000. Ele já havia deixado o clube escocês quando morreu em um acidente automobilístico, em dezembro de 2004, mas o clube aposentou o número 0 em sua homenagem.

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Mente poluída? Muita gente deve ter pensado que o francês Bixente Lizarazu estava cheio de malícia quando escolheu o número 69 em seu retorno ao Bayern de Munique, em 2005. A explicação é outra: Lizarazu nasceu em 1969, tinha 1,69 m de altura e pesava 69 kg.

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Foi-se o tempo em que os números nas camisas apenas representavam as posições em campo, como era no final da década de 1920, quando foram introduzidos. Em tempos de marketing e numeração fixa, a escolha do número pode ter por trás interesses comerciais ou políticos, e até dizer muito sobre a personalidade do jogador. Casos curiosos do passado e do presente não faltam.

Quando o 1 não é goleiro... É estranho, mas há jogadores de linha que gostam de usar a camisa 1. O grego Kafes foi o 1 do Olympiacos e mantém o número no AEK. O meia mexicano Bautista joga com a 1 no Jaguares de Chiapas. No início dos anos 1990, quando a numeração fixa foi adotada na Inglaterra, o Charlton decidiu numerar o time por ordem alfabética, dando o 1 ao defensor escocês Balmer. Pelo mesmo motivo, os meias Alonso, em 1978, e Ardiles, em 1982, vestiram a camisa 1 da Argentina em Copas. Atualmente, a Fifa exige que um dos goleiros seja inscrito com a 1 no Mundial.

...e quando o goleiro não é 1 Gilmar, goleiro titular do Brasil na Copa de 1958, era o camisa 3 porque a lista de inscritos foi entregue sem numeração – os números foram estabelecidos aleatoriamente. Jongbloed jogou com a 8 da Holanda nos Mundiais de 1974 e 1978: no primeiro por ordem alfabética e no segundo porque os remanescentes da Copa anterior tinham direito a manter os números. Hoje em dia, há goleiros com camisas “de linha” nos clubes. Bucci veste a 5 no Parma, Villasanti, do Audax Italiano, joga com a 3, e Lupatelli foi o 10 do Chievo entre 2001 e 2003.

Homenagens No ano do centenário do Flamengo, em 1995, o recém-contratado Romário disputou amistosos com a camisa 100. O exemplo foi imitado em 1999 por Rubén Sosa, nos 100 anos do Nacional-URU. Em 1997, em sua despedida do futebol, Toninho Cerezo vestiu a 100 do Atlético-MG contra o Milan, em homenagem ao centenário de Belo Horizonte. Em alguns casos, o número serve para registrar uma marca pessoal. No amistoso entre Turquia e Brasil, em junho do ano passado, Tugay fez sua despedida da seleção turca com a camisa 94, número de jogos que havia feito pela equipe nacional. O goleiro Harlei vestiu a camisa 400 quando alcançou este número de partidas pelo Goiás.

Já tem dono O que fazer se você chega a um clube e sua camisa favorita já está ocupada? Ronaldinho, quando chegou ao Milan e soube que a 10 já era de Seedorf, optou pela 80, ano de seu nascimento. Há quem prefira fazer contas. Zamorano, ao perder a 9 da Inter para Ronaldo, passou a vestir a 18, com um sinal “+” entre os dois algarismos. No Brasil, o colombiano Rincón, fã da camisa 8, gostou da idéia. Ele usou a 17 no Cruzeiro e a 35 no Santos. Agosto de 2008

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CAPITAIS DO FUTEBOL por Fernando Martins

À ESPERA POR

2010 África do Sul tem quatro capitais: em Pretoria fica o poder executivo, Bloemfontein concentra o poder judiciário, e na Cidade do Cabo está o legislativo. Mas, hoje, nenhuma delas tem a importância de Joanesburgo. Não apenas por ser a maior cidade e a mais rica do país, mas porque é a capital do futebol. Ou melhor, é o local onde estarão os principais estádios, a sede da Fifa, centro de imprensa e outras coisas que se relacionam à Copa do Mundo de 2010, maior projeto dos sul-africanos nos últimos anos. O fato de Joanesburgo centralizar a organização do Mundial é justificável. Da capital da província de Gauteng são Kaizer Chiefs e Orlando Pirates. Essas duas equipes concentram as atenções de torcedores de várias regiões do país, sobretudo porque foram as que conseguiram atravessar da melhor forma as diversas fases da conturbada história do esporte sul-africano. Como uma manifestação da sociedade da África do Sul, o futebol também sofreu os efeitos do Apartheid. O aspecto mais evidente disso é que a Fifa só reintegrou a África do Sul às competições internacionais em 1992, depois que o regime de segregação racial caiu. Mas a maneira mais rápida de entender o lugar do futebol no país que vai ser sede da próxima Copa do Mundo talvez seja simplesmente en-

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trar numa loja de esportes em qualquer cidade sul-africana. Logo na entrada, estão expostas camisas da seleção nacional de rúgbi, campeã do mundo em 2007. Há camisas oficiais usadas nos jogos, réplicas autorizadas, camisas de treino, de torcida, o uniforme número 1 (verde), o alternativo (branco), está tudo lá, escancarado. Em volta, bolas, bonés, adesivos, chaveiros, todo tipo de souvenir da seleção sul-africana de rúgbi. Depois aparecem as camisas (e os souvenires) dos times da liga nacional de rúgbi. Com um pouco menos de destaque, aparecem tacos de críquete, luvas, bolas e o uniforme da seleção nacional do esquisito esporte, amplamente praticado na África do Sul por causa da massiva presença de ingleses e indianos no país. E, finalmente, num canto da loja vão aparecer uns poucos artigos relacionados a futebol.

Dois grandes A camisa número 1 dos Bafana Bafana é fácil de achar. A número 2 é praticamente impossível. Quem quiser comprar o uniforme de algum time sul-africano, vai procurar muito e só encontrar duas opções: a preto e ouro do Kaizer Chiefs e a alvinegra do Orlando Pirates. Os grandes clubes ingleses têm mais espaço e vendem mais na África do Sul do que as

Alexander Joe/AFP

Joanesburgo sempre foi a capital do futebol sul-africano. Agora prepara-se para ser, ainda que por um tempo limitado, o centro do futebol mundial

agremiações nativas. “Elas vendem muito pouco”, explica o vendedor de uma loja em Joanesburgo. “Os brancos preferem o rúgbi e, como eles têm mais dinheiro...” Mais: “A seleção de futebol não dá para este país o mesmo orgulho que a de rúgbi. Por isso, não é o esporte mais popular”. Os dois grandes times sul-africanos de futebol são de Soweto, o bairro negro encravado em Joanesburgo onde teve origem o movimento que culminou no fim do Apartheid. Mal comparando, é como se Flamengo e Corinthians fossem da mesma cidade, do mesmo bairro, e dividissem a torcida do país inteiro. “O estádio aqui só enche quando os Chiefs ou os Pirates vêm jogar aqui, é impressionante”, conta o zagueiro Eduardo da Silva, que há um ano trocou a Anapolina pelo Ajax Cape Town, vice-campeão do último Campeonato SulAfricano. “Nossos jogos na Cidade do Cabo tem média de 5 mil torcedores. Quando os grandes vêm aqui, chegam a 30 mil”. Os Pirates surgiram primeiro, em 1937,

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Quando Chiefs (de laranja) e Pirates se enfrentam, toda a África do Sul pára

ainda com o nome de Orlando Boys Club. Com o tempo, o time fundado por trabalhadores que tinham trocado as áreas rurais por empregos nas minas de ouro de Joanesburgo ganhou notoriedade e títulos. Dominou o futebol local até 1968, quando uma excursão para a Suazilândia criou um racha no clube. Alguns dirigentes e jogadores se revoltaram com a divisão dos prêmios e resolveram criar outro time. A revolta foi encabeçada por Kaizer Moutang, um dos principais jogadores do país à época – e até hoje dirigente do clube que ele ajudou a criar. Moutang resolveu homenagear a si próprio e ao Atlanta Chiefs, antigo time dos Estados Unidos. Daí veio o nome Kaizer Chiefs, fundado em 7 de janeiro de 1970. A nova equipe conseguiu roubar muitos torcedores dos Pirates e também atraiu novos fãs para o esporte, muito por causa do carisma de Kaizer Moutang (cujo filho, Junior, hoje com 27 anos, defende os Chiefs). Os dois times dividiram títulos e glórias na NPSL (liga profissional para clube de negros) durante os anos 70 e 80. Como a NPSL era a liga mais popular da Áfric do Sul, Orlando e Kaizer tinham África muito mais popularidade quando surgiu Pre a Premier Soccer League, campeonato

CLUBES DE JOANESBURGO Premier Soccer League (primeira divisão)

Orlando Pirates Football Club 1 Copa dos Campeões da África 3 Campeonatos Sul-Africanos* 4 títulos da NPSL** 6 Copas da África do Sul

Kaizer Chiefs Football Club 5 Campeonatos Sul-Africanos* 6 títulos da NPSL** 12 Copas da África do Sul 6 Copas da Liga

National First Division (segunda divisão)

Moroka Swallows Football Club 4 Copas da África do Sul

Bidvest Wits University Football Club 1 Copa da África do Sul 1 Copa da Liga

Vodacom League (terceira divisão) Alexandra United Galatasaray Meadowlands

Jomo Cosmos Football Club 1 Campeonato Sul-Africano 1 Copa da África do Sul 2 Copas da Liga

Football Club Azziz Kara (AK)

** National Professional Soccer League, liga formada apenas por times negros na época do Apartheid

Pimville Young Tigers Soweto Panthers Yebo Yes

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* Somando National Soccer League (de 1985 a 1995) e Premier Soccer League (desde 1996), ligas do país

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profissional com times de todas as etnias, em 1996. Apesar do apoio da torcida, os dois grandes têm sofrido desde a criação da PSL. Das 12 ligas disputadas até hoje, cada um ganhou duas vezes. Os maiores vencedores desta era moderna são os Mamelodi Sundowns, de Pretoria. No retrospecto recente (pós-1996) do Soweto Derby”, os Chiefs levam a melhor: em 32 jogos, venceram 12, perderam 8 e fizeram 31 gols. Houve 12 empates e os Pirates marcaram 26 vezes. A banda inglesa Kaiser Chiefs (com S mesmo) tem esse nome em homenagem ao time sul-africano. Todos os integrantes da banda são torcedores do Leeds United e têm como ídolo Lucas Radebe. Nascido no Soweto, o meio-campista defendeu os Chiefs antes de transferir-se para Leeds, onde jogou de 1994 a 2005. A atenção despertada por Orlando e Kaizer é tão grande que os demais clubes

da cidade são deixados em segundo plano. O Moroka Swallows ainda tem algum peso, pelo fato de ser um dos pioneiros da profissionalização do futebol sul-africano. O Bidvest Wits é o antigo Wits University, clube fundado dentro de uma universidade que mudou de nome após ser comprado pelo banco Bidvest. Entre os pequenos, o mais conhecido é o Jomo Cosmos, criado por Jomo Sono, um dos maiores jogadores da história da África do Sul.

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6 C4 3 1 B 2

É logo ali Além de concentrar os dois grandes clubes, a cidade será a única a ter dois estádios na Copa de 2010 – apesar de todo o barulho que cidades turísticas como Durban e Cidade do Cabo fazem. Mas Joanesburgo tem força política, pois lá fica a sede da Safa (Federação Sul-Africana), onde há um pequeno e interessante museu. Há fotos, por exemplo, de jogos em

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Joanesburgo 1,5 milhão de habitantes

África do Sul

Fotos Divulgação

ESTÁDIOS

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Soccer City

Ellis Park

O mais famoso dos estádios sulafricanos. Construído na década de 1920 e reformado várias vezes desde então, foi sede da final da Copa do Mundo de Rúgbi, em 1995. A CocaCola comprou os “naming rights” da arena por cerca de R$ 15 milhões. Receberá sete jogos da Copa 2010.

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Johannesburg

Foi construído em 1992, originalmente para ser um estádio de atletismo. Tem capacidade para 37.500 pessoas e freqüentemente hospeda jogos dos três principais times de Joanesburgo. Já abrigou grandes eventos, como shows de U2, Michael Jackson e o aniversário de 80 anos de Nelson Mandela.

Também chamado de FNB – um banco privado adquiriu os “naming rights” ao pagar parte dos custos da reconstrução. Fica ao lado do escritório da Fifa no país e da sede da Safa e tem previsão de receber a abertura e final da Copa do Mundo de 2010. Terá capacidade para 94.700 pessoas e, ao contrário da maioria das arenas sul-africanas, será um local exclusivo para futebol, sem dividir espaço com o rúgbi.

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Rand

É o mais antigo dos grandes estádios da cidade. Foi inaugurado em 1951 e já recebeu times importantes da Europa, como Real Madrid, Ajax e Arsenal. Com o tempo, a capacidade (inicialmente para 15 mil, depois ampliada para 28 mil) deixou de ser suficiente. O estádio foi demolido em 2006 e está sendo reconstruído para ser usado em treinos das seleções durante a Copa de 2010.

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Orlando

Fica em Soweto e terá capacidade ampliada de 24 mil para 45 mil torcedores. Deve servir de campo de treinamentos no Mundial.

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Bidvest

Casa do Bidvest Wits, era conhecido como Milpark até a chegada do banco Bidvest. Tem capacidade para 5 mil pessoas.

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Fotos Divulgação

O QUE VISITAR ENTRE UM JOGO E OUTRO

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Museu do Apartheid

Na entrada, o visitante recebe um cartão que o define de acordo com sua raça. Depois, cada um só pode entrar nos locais determinados. Dentro, pode-se assistir a programas de TV da época do Apartheid. Há fotos do massacre de 16 de junho de 1976, que deixou 600 mortos, inclusive Hector Pieterson, de 12 anos, que virou símbolo da época e dá nome a um museu no Soweto.

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Soweto

O nome vem da contração de South-Western Townships. O local, que era afastado e hoje foi engolido pela cidade, foi criado em 1904 pelo governo de Joanesburgo para afastar trabalhadores indianos e africanos de outros países. Com o tempo, ficou cercado de favelas (as townships) e virou centro da resistência contra o Apartheid. Há visitas guiadas, nas quais é possível conhecer mais da cultura, da história e da culinária do local, que hoje abriga quase 3 milhões de habitantes. É possível visitar a casa onde morou Nelson Mandela.

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Constitution Hill

O local abrigava a prisão Old Fort, onde já estiveram presos Nelson Mandela e Mahatma Ghandi. É um símbolo dos direitos humanos e conta a história do país rumo à democracia.

1897 entre a seleção local e o Corinthians inglês, o mesmo que inspirou os fundadores do homônimo brasileiro. Considerando que a capital de Gauteng deve receber a abertura e final da Copa em dois anos, ainda há muito o que melhorar. Assistir um jogo de futebol em Joanesburgo não é tarefa simples – como tudo o que se pode fazer na cidade, uma das mais violentas do mundo. Todos os cuidados que um torcedor comum toma no Brasil com as torcidas organizadas devem ser redobrados no país do próximo Mundial. Sobretudo com transporte: não há ônibus, metrô ou trem, então os hotéis oferecem serviços privados de traslados. Também ajuda se houver algum nativo que possa ir ao jogo e ensinar os macetes de cada estádio. O maior deles é o Soccer City, que está sendo (re)construído ao lado da sede da Fifa, numa área afastada do centro da cidade. Com capacidade para 94.700 espectadores, vai ser sede da abertura e do encerramento do Mundial. É lá que Chiefs e Pirates vão disputar, após 11 de julho de 2010, o maior clássico da África do Sul. Foi um duelo entre os dois gigantes, em dezembro de 2006, a última partida antes da demolição do velho Soccer City. A obra vai custar quase R$ 1 bilhão e envolve 3 mil trabalhadores. Tudo pago com dinheiro do governo. O outro grande estádio de Joanesburgo para 2010 é o Ellis Park, onde 61 mil espectadores poderão ver sete jogos do Mundial. Construído em 1928, o local passa por reformas para ser uma das sedes da Copa das Confederações, em 2009. Toda essa história futebolística explica o porquê de Joanesburgo se tornar o centro nevrálgico da Copa, ainda que não seja nenhuma das capitais sul-africanas. E se a África do Sul não perder o direito de sediar o evento, daqui dois anos a cidade será – ainda que por um mês – a capital do futebol mundial.

Quem leva

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Pretória

A capital executiva do país fica a apenas 58 km de Joanesburgo. O problema é que não há transporte público para conhecer a cidade. O melhor é pagar um táxi ou alugar um carro e se arriscar a dirigir pelo lado esquerdo da rua. Além do palácio presidencial, das ruas arborizadas e dos estádios, lá está o Voortrekker Monument, museu que conta a história dos africâneres (descendentes de holandeses).

A South African Airlines (www.flysaa.com) é a única companhia áerea a fazer vôos diretos entre o Brasil (São Paulo) e a África do Sul (Joanesburgo). Quem preferir um pacote, há várias opções, como Queensberry (www.queensberry.com.br), Taks Tour (www.takstour.com.br), Flot (www.flot.com.br), Beeline (www.beeline.com.br) e Riviera (www.rivieraoperadora.com.br).

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OCEANIA por Marcelo Silva

Nova Zelândia e

mais dez Com a ida da Austrália para a Confederação Asiática, os neozelandeses sobram como a única força da Oceania vitória por 5 a 0 do Waitakere sobre o Kossa no jogo de volta da final da O-League deixou evidente qual é a nova potência do futebol da Oceania. O resultado deu ao time da Nova Zelândia o esperado título da principal competição de clubes do continente e a vaga no Mundial de Clubes. No entanto, o placar do jogo de ida mostrou como o cenário é de grande fragilidade geral. A equipe das Ilhas Salomão havia vencido por 3 a 1 e criou a expectativa de que haveria uma zebra histórica. É isso o que sobrou do futebol oceânico depois da saída da Austrália, futebolisticamente uma nação asiática desde 2006. A falta de tradição dos vizinhos, aliás, explica a decisão dos australianos, que buscam adversários de melhor nível técnico e que representem mercados mais interessantes economicamente. Sem os Socceroos, a Nova Zelândia ficou com o caminho livre. Agora, o “bicho-papão” da Oceania são os All Whites – como a seleção neozelandesa de futebol é conhecida,

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em contraste com o forte time de rúgbi do país, os All Blacks. Surpreendentemente, o nível de disputa nas eliminatórias da Oceania parece ter aumentado sem a Austrália. As Ilhas Salomão, atuais vice-campeãs do continente, foram eliminadas na fase preliminar, junto com o Taiti. As duas equipes eram apontadas como favoritas. Esses resultados mostram que, sem a concorrência da Austrália, as pequenas seleções têm um estímulo a mais para seguir sonhando com a Copa – ou, pelo menos, com o desenvolvimento do futebol em seus países. Enquanto isso, a Nova Zelândia tem a pressão de fazer bonito para apagar o fiasco das últimas eliminatórias. O país começou tranqüilo o torneio, com três vitórias em três jogos disputados – mas sem nenhuma grande goleada, diferentemente do que acontecia nos tempos da Austrália.

Santa Fifa Antes da mudança australiana, a Oceania foi incluída no programa Goal, projeto da

Fifa que procura fomentar o desenvolvimento do futebol em países menos privilegiados – categoria na qual se encontram todas as seleções do continente. Seu principal objetivo é a construção da chamada “Casa do Futebol” nas associações participantes. Ela inclui campos de jogo, centros de treinamento e educacionais. O projeto tem contribuído bastante para o futebol da região. Austrália e Nova Zelândia são bons exemplos. As duas nações fizeram parte do programa Goal, em 2004 e 2003, respectivamente, e, pouco depois, criaram a A-League (liga australiana profissional) e o New Zealand Football Championship (semiprofissional). O programa da Fifa é um dos poucos alentos para a região superar suas dificuldades, entre elas, a falta de interesse no futebol. Na Oceania, o esporte que domina é o rúgbi, no qual Nova Zelândia, Austrália e Fiji estão entre as dez melhores seleções do mundo. Atualmente, só Vanuatu tem o futebol como o esporte mais popular. A distância entre os países é outro problema. Em princípio, nem parece tão grave. O maior percurso que uma seleção tem de percorrer para disputar uma partida dentro do continente é de 8 mil quilômetros, distância entre Taiti e Papua Nova Guiné. Isso é menos que os 12 mil quilômetros que a Austrália terá de viajar para enfrentar o Iraque, pelas eliminatórias asiáticas. No entanto, a situação da Oceania é agravada pela falta de força econômica dos países (com exceção da Nova Zelândia), o que dificulta a viabilização até de viagens mais curtas. Num continente de um país só, fica a pergunta: a Nova Zelândia vai se-

PRINCIPAIS CLUBES E JOGADORES DA OCEANIA Fiji

Ilhas Cook

Ilhas Salomão

Jogadores Esala Masi (Navua), Salesh Kumar (Auckland City-NZL), Osea Vakatalesau

Jogadores Joseph Chambers (Tupapa), Teariki Mateariki (Nikao), Tony Jamieson (Nikao) Clubes Nikao, Titikaveka, Tupapa

Jogadores Benjamin Totori (Waitakere-NZL), Commins Menapi (Waitakere-NZL), Henry Fa’arodo

Jogadores Michel Hmae (Magenta), Benjamin Longue (Bastia-FRA), Ramon Djamali

(Auckland City-NZL)

(Manu Ura-TAT)

Clubes Koloale, Kossa, Marist

Clubes Baco, Magenta e Mont-Dore.

(Manawatu-NZL)

Clubes Ba, Nadi, Lautoka

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Nova Caledônia

Nova Zelândia Jogadores Chris Killen (Celtic-ESC), Ivan Vicelich (RKC Waalwijk-HOL), Ryan Nelsen (Blackburn-ING) Clubes Wellington Phoenix (disputa a A-League), Auckland City, Waitakere United

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Getty Images/AFP

O neozelandês Ryan Nelsen, do Blackburn, é o principal jogador da Confederação da Oceania

ALL WHITES SOBERANOS guir o caminho da Austrália e juntar-se à Confederação Asiática? Improvável. Os All Whites ainda estão longe do nível técnico e de organização alcançado pelos australianos e, se tal mudança acontecer, praticamente selará o fim da Confederação da Oceania – afinal, é difícil imaginar um continente em que Nova Caledônia e Fiji são as principais equipes. Para os próximos anos, não tem jeito: a OFC é a Nova Zelândia e mais dez. Saiba mais sobre o futebol da Oceania em www.trivela.com/oceania

Papua Nova Guiné Jogadores Kema Jack (Hekari United), Nathaniel Lepani (Brisbane CityAUS), Reginald Davani (Kossa-SAL) Clubes Sobou, Hekari United, University Port Moresby

O futebol da Nova Zelândia agora é, de longe, o principal da Oceania. As seleções mais próximas a ela são as que estão na fase final das eliminatórias – Nova Caledônia, Fiji e Vanuatu. Ainda assim, há espaço para surpresas. As Ilhas Salomão protagonizaram duas em cima dos neozelandeses. Nas eliminatórias para a Copa 2006, os salomônicos bateram os All Whites e o Kossa quase superou o Waitakere na final da O-League. Ainda que a Nova Zelândia seja o país mais forte, sua liga de futebol ainda é semiprofissional. As dos outros países não são nem isso. Dentre os nanicos, os campeonatos mais interessantes são os de Ilhas Salomão e Nova Caledônia, seguida pelos de Fiji e Taiti, que mostram um mínimo de competitividade. Atualmente, o jogador da região com maior prestígio internacional é o neozelandês Nelsen, zagueiro e capitão do Blackburn. Brilham também o caledônio (mas que defende a França) Piquionne, do Monaco, o taitiano naturalizado francês Vahirua, atacante do Lorient, e Chris Cahill, samoano mais conhecido por ser irmão do australiano Tim Cahill, do Everton. Para o futuro, as maiores promessas são da Nova Zelândia: Chris James, meia do Tampere, da Finlândia, e Barbarouses, atacante do Wellington Phoenix. O fijiano Roy Krishna também chama a atenção no continente.

Samoa Jogadores Chris Cahill (St. George SaintsAUS), Richmond Faaisuaso (Tuanaimoto Breeze), Tama Fasavalu (Central United-NZL) Clubes Lepea, Titavi, Tuanaimoto Breeze

Samoa Americana Jogadores Natia Natia, Nicky Salapu, Ramin Ott (Konica)

Clubes Konica, Pago Eagles, Pansa

Taiti

Tonga

Vanuatu

Jogadores Billy Mataitai (Manu Ura), Felix Tagawa (Dragon), Marama Vahirua (Lorient-FRA) Clubes Pirae, Central Sport, Manu Ura

Jogadores Kavakava Manumua (Lotoha’apai), Pio Palu, Unaloto-KiAtenoa Feao Clubes Kolofo’ou, Lotoha’apai, Ma’ufanga

Jogadores Etienne Mermer (Manu Ura-TAT), Jean Maleb (Yatel), Richard Iwai (Tafea) Clubes Port Vila Sharks, Tafea, Tupuji Imere

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NEGÓCIOS por Nair Horta

A quem é

DE DIREITO squeça a época em que as transferências milionárias eram a tábua de salvação para a precária situação financeira do futebol nacional. Atualmente, esse papel é desempenhado pela televisão, que proporciona um dinheiro vultoso e, principalmente, seguro e previsível. Para o triênio 2009-2011, a Rede Globo pagará R$ 660 milhões pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro. Mas há quem coloque em xeque os valores e, principalmente, a divisão dessa verba, sobretudo devido à questão de quem detém os direitos de transmissão do futebol. O debate foi reaberto por Flamengo, Corinthians e São Paulo durante a renovação com o canal carioca. Em um primeiro momento, o trio negou-se a assinar um novo contrato, contestando o monopólio do Clube dos 13 nas negociações. A idéia era que, negociando individualmente suas partidas, os três clubes mais populares do Brasil teriam condições de receber muito mais. A questão é complicada. O artigo 42

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da Lei Pelé estabelece que “às entidades de prática desportiva pertence o direito de negociar, autorizar e proibir a fixação, a transmissão ou retransmissão de imagem dos eventos desportivos que participem”. O plural no início da frase deixa subentendida a titularidade dupla dos direitos de TV em cada partida. Ou seja, atuando em seu estádio ou fora dele, os dois times têm que receber para liberar o sinal dos jogos para a televisão. Ambíguo? Inconsistente? “A redação da Lei Pelé não dá margem para erro. Se apenas o clube mandante fosse dono desses direitos, como acontece em alguns países da Europa, a legislação diria expressamente”, explica Luiz Felipe Santoro, presidente do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo (IBDD). Para Santoro, isso significaria que a letra “s” nesse trecho da lei comanda o modelo vigente de negociação da transmissão do futebol no país, já que, comercialmente, os clubes ficam obrigados a vender suas cotas coletivamente à emissora que irá exibir determinada

BRIGA TAMBÉM NO RÁDIO Se a Lei Pelé dá margem para interpretações no tocante à transmissão dos jogos na televisão, a situação é ainda mais nebulosa quando o assunto é rádio. No texto da lei, não há nenhuma referência a direitos de transmissão por emissoras de radiofusão. Aproveitando-se dessa lacuna, o Atlético-PR anunciou, em abril deste ano, que cobraria R$ 456 mil pelo pacote completo de seus jogos no Brasileirão 2008, às rádios. Os jogos avulsos custariam R$ 15 mil. “Como a Lei Pelé deixa essa questão vaga, buscamos apoio no conceito do direito do espetáculo, previsto na Constituição. Se o Roberto Carlos pode cobrar para fazer um show, podemos fazer o mesmo com o futebol”, destaca Luciana Pombo, diretora de comunicação do clube. Uma liminar suspendeu a medida polêmica antes mesmo do início da Série A.

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Daniel Kfouri

Clubes colocam em discussão quem é dono dos direitos de transmissão de jogos de futebol, o que pode mudar todo o modelo de negociação entre clubes e TV

competição. Na esfera jurídica, porém, não há qualquer empecilho para que alguma concorrente faça uma oferta a um bloco dissidente. Em 1997, a ESPN Brasil desembolsou R$ 2,7 milhões para transmitir os jogos entre integrantes do grupo denominado informalmente de “Clube dos 11”, composto pelas equipes da Série A que não eram filiados aos C13 (que tinha acordo com a Sportv), no Brasileiro. O problema é que mutilar o campeonato diminui o poder de barganha dos clubes pequenos. Isso cria distorções. Hoje, o Guarani, que sequer participa da primeira divisão, é tão decisivo quanto o São Paulo, atual bicampeão. Por isso, há quem conteste a interpretação da lei que favorece o atual modelo. “A lei é vaga, não estabelece quem é o titular dos direitos. Não há nenhuma evidência de que ela fala dos dois clubes, e não dos mandantes”, afirma Michel Assef, advogado do Flamengo. O precedente foi aberto pelo Corinthians na Série B. Antes de assinar com a Globo, o clube pediu que a audi-

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R$ 660

NOTAS

milhões

Ingresso feminino

Valor que a Rede Globo pagará pelos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro no triênio 2009-2011

O Goiás criou uma promoção para atrair o público feminino aos jogos do clube. A equipe alviverde lançou o ingresso “Só para mulheres”, com preço menor do que os bilhetes oferecidos aos homens e que permite o acesso tanto às arquibancadas quanto às cadeiras do estádio Serra Dourada. A novidade estreou no duelo contra o Palmeiras, pela 13ª rodada do Campeonato Brasileiro. [RE]

Preços populares

ência de seus jogos tivesse peso no faturamento e virou inspiração para os colegas. “É cômodo para alguns deixar como está. Com a negativa de São Paulo, Corinthians e Flamengo, iniciou-se uma nova fase nessa área”, afirma Marcelo Portugal Gouvêa, diretor de planejamento do clube do Morumbi. A reivindicação do trio de ferro surtiu efeito na venda dos direitos de transmissão para a TV fechada. A partir de 2009, o bolo destinado aos clubes será rateado de acordo com os índices de participação de cada torcida na compra de pacotes de pay-per-view. A aferição será feita pela Globo.

Modelo importado Principal mercado do futebol mundial, a Inglaterra é outro exemplo a ser seguido. Lá, tal como cá, os direitos de TV são negociados coletivamente. Contudo, além das cotas fixas, há um bônus para as equipes que têm mais jogos transmitidos durante a temporada. O oposto ocorre na Itália e na Espanha,

em contrapartida, os direitos de cada partida pertencem ao clube mandante. Foi por isso, que, nos últimos anos, algumas partidas disputadas nos estádios de Napoli e Sevilla não foram transmitidas. Os clubes discordaram do rateio e endureceram nas negociações, negando-se a assinar o contrato com a televisão. No Brasil, casos como esses ainda são poucos prováveis. “Não dá para quebrar o sistema que vigora aqui há 20 anos de uma hora para outra, isso terá de ser feito paulatinamente, mas já demos os primeiros passos nesse caminho. Dentro de dez anos, já devemos observar aqui uma situação semelhante à que acontece na Europa. Será uma evolução muito grande”, prevê o dirigente são-paulino. De fato, qualquer mudança será lenta, e a discussão iniciada este ano foi adiada. O Corinthians, em dificuldades financeiras, acabou aceitando a oferta da Globo até 2011, quebrando o pacto com São Paulo e Flamengo. Mas isso não significa que, na próxima negociação, ela não possa ser retomada.

A Nike anunciou um plano para lançar, em 2009, uma camisa oficial do Corinthians a preços reduzidos. A peça custaria R$ 50 e não teria a marca da empresa norte-americana. A Nike informa que pretende auxiliar o Corinthians na escolha do fabricante alternativo e acompanhará toda produção. Em julho, o clube lançou os novos modelos para a atual temporada, com preço médio de R$ 159,90. O objetivo de lançar versões econômicas, e de qualidade inferior, é combater a pirataria. [GH]

Blatter na liga italiana A Lega Nazionale Professionisti, associação que controla o futebol profissional da Itália, anunciou que a empresa suíça Infront Sports & Media será a responsável por comercializar os direitos de mídia dos torneios no país a partir de 2010/11, ao longo de seis temporadas. A empresa tem como presidente Philippe Blatter, sobrinho de Joseph Blatter, presidente da Fifa. Nenhum valor foi divulgado. [GH]

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CULTURA pporr Luc po Lu uciana Zambuzi Zamb mb buz uzii Luciana

Haattrick crescce entre internauttas por permittir que crriem seu próprio clube, monttem o sistemaa tático e até ten nham de lidar coom in nstabilidade macrooeconômica inflação ocorrida no mercado supervalorizava os jogadores, e algo precisaria ser feito para que isso não provocasse a falência de muitos clubes. Dirigentes se revoltavam e valores precisavam ser reajustados rapidamente antes de um colapso. Por isso, o Banco Central anunciou as mudanças. A situação de instabilidade econômica pode parecer muito real, porém, tudo isso aconteceu no Hattrick, jogo online em que o usuário gerencia uma equipe de futebol. No sistema, o jogador cadastrado cria seu clube e passa a administrá-lo. Os times e atletas são criados pelo jogo, sem ter vínculo com o mundo real (ao contrário dos “fantasys” ou do Football Manager). Cada jogador recebe uma verba inicial, e ela aumenta ou diminui de acordo com a diferença entre arrecadação em prêmios, venda de atletas, bilheteria, marketing e patrocínio e as despesas em manutenção do

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estádio, salários de jogadores e funcionários, investimento na categoria de base e compra de reforços. Além disso, o “manager virtual” deve lidar com o estado psicológico dos jogadores, a satisfação ou não dos patrocinadores, o humor dos torcedores, comandar treinos e escolher o esquema tático. Nesse universo, crise e ajustes surgiram naturalmente, sem que o sistema as tivesse provocado. Foi uma conseqüência automática de um universo em que clubes de futebol montam equipes, disputam campeonatos e negociam jogadores — como ocorre de tempos em tempos no futebol de verdade. Essa relação com a realidade torna o jogo criado na Suécia em 1997 um dos mais populares da Internet. Já são cerca de 957 mil usuários ativos no mundo, sendo 20,9 mil no Brasil. Para quem decide entrar no HT, o desafio começa na sétima ou oitava divisão (no Brasil; em outros países, com menos participantes, pode ser um nível mais elevado), na qual o acesso é disputado por mais de mil equipes. Os melhores sobem até alcançar a elite, com um campeonato com apenas oito times. Apesar do longo caminho, para muitos usuários do game, um dos grandes atrativos é a liberdade. Pode-

De cima para baixo, telas de abertura, da Seleção Brasileira, do time em campo e do perfil de um usuário

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LANÇAMENTOS Cocada eterno

ENTENDA A INFLAÇÃO NO HT O motivo dos ajustes econômicos no Hattrick foi a inflação no preço dos atletas que tomou conta do jogo. Com isso, os custos de cada time se concentraram na folha salarial do elenco, desvirtuando a idéia de administrar todas as áreas de um clube de futebol. O aumento de preços dos atletas ocorreu como conseqüência da injeção de dinheiro ocorrido no sistema há dois anos, quando havia tendência de deflação (o que desmotiva os participantes, causando muitos abandonos no jogo). Para diminuir o dinheiro em circulação, os clubes passaram a receber 3% a menos da renda dos patrocinadores, o salário dos jogadores não terá em conta o item “resistência” e os funcionários dos clubes terão aumento salarial, recebendo 3,6 mil por semana. As alterações na economia do jogo causaram apreensão entre jogadores, mas têm algum sentido. O economista Marcos Gomes explica que, como os salário dos jogadores e a renda dos patrocinadores têm peso parecido, haverá um desaquecimento suave, em acordo com a política econômica da nova temporada. “Além disso, os clubes tiveram aumento de custo, pois houve elevação na folha salarial, que, aliada à queda na receita de patrocinadores, levou a uma redução da lucratividade”, analisa.

A Reebok lançou duas camisas comemorativas do clube. A primeira relembra a conquista do título carioca de 1988, o da consagração de Cocada. O uniforme tem o número 13, usado pelo lateral-direito que entrou aos 43 minutos do segundo tempo da decisão contra o Flamengo, fez o gol do título no minuto seguinte e foi expulso por comemorar o gol sem a camisa. A peça descreve exatamente como ocorreu o lance decisivo. A outra camisa festeja os 110 anos do clube, comemorados em agosto. [RE] Ca Camisa comemorativa do co título de 1988 tí Fa Fabricante: Reebok Preço sugerido: Pr R$ 165

se entrar no site em qualquer horário e ficar quando tempo quiser. “O Hattrick é mesmo uma distração. Eu jogo há mais de três anos, mas fico online pouco tempo por dia”, conta o estudante de medicina Danilo Padovez. Apesar de ser gratuito, há opção de pagamento mensal (o que ajuda a bancar o jogo, que também tem apoio oficial de uma empresa de tecnologia). O sistema abre a possibilidade aos mais “profissionais” personalizarem suas equipes, com recursos como desenhar o uniforme e a própria arena, criar escudos, numerar as camisas de seus jogadores e ter acesso às estatísticas do clube e dos rivais. Também para quem não se contenta só com a disputa dentro de campo, muitos desafios “extras” são propostos, como colecionar bandeiras, recebidas toda vez que um amistoso é realizado. Para muita gente, o jogo é coisa séria. Em busca do cobiçado cargo de treinador da Seleção Brasileira, o analista de sistemas Rômulo Eduardo Diniz, “viciado” confesso desde que fundou o GRET, seu time, em 2004, realizou sua campanha no fórum de conferência do HT. Os debates para eleição, que acontece a cada oito meses, começam sempre um mês antes

da votação, que neste ano ocorreu em maio. O resultado foi anunciado às 4 horas da manhã de uma segunda-feira. “Na primeira vez que me candidatei, mesmo sabendo que não teria chance, passei a madrugada acordado esperando o resultado. Eu sempre fui bem atuante, mas ainda precisava que meu time se destacasse. Quando venci a primeira divisão, que era minha meta, acabei realmente reconhecido”, festeja Rômulo. Passar noites inteiras em claro somente para conseguir a compra de um jogador, fazer amizades, aprender mais sobre economia ou mesmo apenas entrar e curtir o jogo alguns minutinhos por dia para relaxar. O Hattrick é um jogo de estratégia, administração e táticas, mas que tem muito de pessoal.

Camisa dos 110 anos do Vasco Fabricante: Reebok Preço sugerido: R$ 99,90

Selo alvinegro No jogo contra o Flamengo pelo Brasileirão, o Atlético-MG e os Correios apresentaram um selo em comemoração ao centenário do clube. O artigo terá produção limitada a mil unidades, todas vendidas exclusivamente nas Lojas do Galo por R$ 29,90 cada. Para evitar especulação, cada torcedor pode adquirir, no máximo, dois selos, que vêm acompanhados de um carimbo oficial alusivo à data comemorativa. [RE]

Selo comemorativo dos 100 anos do Atlético-MG Produção: Correios Preço sugerido: R$ 29,90 Onde encontrar: unidades da Loja do Galo

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eu fiscalizo a

Cop pa 20 014

por Gustavo Hofman

LU PA

Divulgação

Müssnich é namorado de Verônica Dantas

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Daniel Dantas, Celso Pitta e Naji Nahas foram as figuras mais midiáticas da Operação Satiagraha, em que a Polícia Federal investiga esquema de lavagem de dinheiro e corrupção ligando o Banco Opportunity e várias esferas do governo. Mas outra personagem da história é Verônica Dantas, irmã e parceira comercial de Daniel e namorada de Francisco Müssnich, responsável pela área jurídica do Comitê de Organização da Copa de 2014. O advogado é sócio do escritório Barbosa, Müssnich e Aragão, que atende o Banco Opportunity e é um dos dez maiores do país. Foi também o escolhido pela CBF para prestar assessoria jurídica em todas as questões envolvendo a organização e planejamento do Mundial. Müssnich está acostumado a circular nos bastidores do futebol. Ele participou das negociações do Flamengo com a ISL e esteve ao lado da CBF na época da briga com o desembargador e ex-presidente do STJD, Luiz Zveiter. Neste ano, foi relator no processo que diminuiu a pena do Náutico devido aos incidentes do jogo contra o Botafogo pelo Brasileirão. No meio jurídico, seu prestígio é alto. Uma hora de trabalho do botafoguense – que chegou a ser chamado de “popstar” pela revista Exame – custa R$ 850. Procurado pela reportagem, o advogado rechaçou qualquer possibilidade de influência de Daniel Dantas em seu trabalho. “Os clientes do escritório sabem que a minha vida pessoal não interfere, de modo algum, na minha atuação profissional”, afirma. Segundo ele, o fato de as atividades ligadas à Copa estarem sob supervisão da CBF e da Fifa servem como garantia. “A Fifa em conjunto com a CBF e o Comitê Organizador não admitem a influência de qualquer pessoa em suas atividades. Repudio, portanto, qualquer suposição sobre a influência de qualquer pessoa no meu trabalho”, afirmou Müssnich.

Fonte Nova ainda sonha

Missão externa

Direitos de TV em pregão

Seis empresas entraram na disputa para a reestruturação da Fonte Nova, tendo em vista a Copa de 2014. As propostas de KPMG, Tecnosolo, Ponto Z, Setepla, Urplan e Ernst & Young serão analisadas pelo Grupo de Trabalho da Copa 2014. O estádio está interditado desde novembro do ano passado.

O deputado Valadares Filho (PSB-SE), 3º vicepresidente da subcomissão permanente para acompanhar os trabalhos da Copa de 2014, apresentou um requerimento à Comissão de Turismo e Desporto para que a subcomissão acompanhe os preparativos do Mundial ao lado dos representantes de Fifa e CBF.

Projeto de lei do deputado Vinícius Carvalho (PTdoB-RJ) propõe que todos os jogos das seleções brasileiras de qualquer modalidade esportiva sejam transmitidos por pelo menos uma emissora de TV aberta. O PL prevê a realização obrigatória de pregão eletrônico para a comercialização dos direitos de transmissão dessas partidas.

Movimentação política em Manaus A deputada Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) solicitou ao Ministério do Turismo a inclusão de Manaus no Plano de Mobilidade Urbana para a Copa 2014. O plano prevê investimentos de R$ 38,5 bilhões na infra-estrutura de transportes de Niterói, Belo Horizonte, Porto Alegre, Fortaleza, Recife, Olinda, Natal, Maceió, Brasília e, especialmente, São Paulo e Rio de Janeiro.

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CADEIRA CATIVA por João Gomes Filho

Muita gente,

POUCO

Maior público

FUTEBOL

para a Copa, mas

ra hora do café da manhã, lá pelas 10h30 ou 11h, quando as rádios começavam a informar: muita gente já chegava ao Maracanã. Para aquela tarde de 31 de agosto de 1969, estava marcado o Brasil x Paraguai que definiria a participação brasileira na Copa do Mundo de 1970 e a notícia deixou claro que o estádio lotaria. Quem queria ter um ingresso não podia perder tempo. Para ir do hotel na Lapa, centro do Rio, ao Maracanã, um ônibus bastou. Algum trânsito, mas nada muito grave. Até fazer o traslado, encarar uma pe-

Arquivo/Agência O Globo

E

do Maracanã viu Brasil classificar-se só com sofrimento

quena fila na bilheteria e entrar no estádio, já eram 12h. Tudo parecia tranqüilo, apesar da momentânea correria. O sofrimento começou aí. Como o dia estava bonito, o carioca foi em massa ao Maracanã. Não parava de chegar gente. Até a hora do jogo, pagaram ingresso 183.341 pessoas, no que é o maior público oficial da história do futebol. Para quem chegou ao meio-dia, foram quatro horas de espera na geral, no meio dessa multidão. Não era o lugar mais desconfortável do mundo e ver o Maracanã lotando daquele jeito é bonito, mas não

dava para sair, sob o risco de perder o lugar. Foi um suplício. Tudo bem. Não é sempre que se pode ver um time com tantos craques em campo. É só ler a escalação do Brasil naquele dia: Félix; Carlos Alberto, Djalma Dias, Joel e Rildo; Piazza, Gérson e Jairzinho; Tostão, Pelé e Edu. Eram as “Feras do Saldanha”, o time que fizera 22 gols – sofreu apenas dois – nos cinco jogos das eliminatórias até aquele momento. Mas esse retrospecto não representou nada naquele dia. O Brasil fez uma partida terrível, em que não conseguia se soltar diante da marcação paraguaia. Pelé estava sumido em campo. Nem parecia que aquela era a base do time campeão de 1970, considerado o maior de todos os tempos. É verdade que o Paraguai também não ameaçava, o que ao menos passava uma convicção de que a classificação para a Copa chegaria (o Paraguai precisava vencer para forçar um jogo extra). De qualquer forma, a torcida fazia festa. A Seleção realmente tinha o carinho do público, mesmo com um futebol fraco. O esforço da torcida foi recompensado aos 23 minutos do segundo tempo, quando Pelé pegou um rebote da defesa paraguaia e fez o único gol da partida. O panorama do jogo não mudou, mas garantiu a alegria dos presentes. Fim de jogo, hora de retornar ao hotel. Outra odisséia. As quase 200 mil pessoas deixaram o estádio ao mesmo tempo. A região ficou intransitável e a melhor opção era voltar à pé. Pensando friamente, foi muito sacrifício para ver um jogo que nem foi tão bacana. Ainda assim, aquele era um capítulo importante da história do futebol brasileiro. João Gomes Filho, 66 anos, é coordenador dos cursos de Design e Editoração da FMU

BRASIL PARAGUAI

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Competição: eliminatórias para a Copa de 1970 Data: 31/agosto/1969 Local: estádio do Maracanã (Rio de Janeiro)

Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

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A VÁRZEA

Peixe europeu O Santos mais uma vez provou estar à frente de seus rivais. Não poderia ser diferente, afinal o time da Vila Belmiro sempre se mostrou o mais europeu dos clubes brasileiros. Os tempos de fartura abundam nos lados da Vila Belmiro, como bem pode comprovar sua torcida nas primeiras rodadas do Brasileiraço. De nada importa olhar a tabela do campeonato e ver que o Peixe está lá, nadando do jeito que pode para não ser fisgado pela rede do rebaixamento. Estabilidade, apoio ao treinador e planejamento em longo prazo sinalizam que o time está na corrente marinha certa. Como exemplo de sua capacidade de gerenciamento, o Santos mandou Leão embora, pois de nada adiantava colocar um felino para tomar conta de um aquário. Sempre agindo de acordo com princípios básicos de lógica, o Peixe foi buscar um técnico com perfil vencedor, repleto de títulos em seu currículo e fama de nunca colocar a culpa por uma derrota na maré alta, na lua cheia ou na unha encravada de sua avó. Cuca estava dando sopa no Botafogo, que estranhamente nem chorou quando viu seu professor lhe virar as costas e trocar de alvinegro. Com uma incrível campanha de zero vitórias em oito partidas, Cuca sentiu-se ainda mais prestigiado quando soube que o time da Vila reforçaria seu elenco. Ele mal pôde conter a euforia quando viu Apodi, Fabiano, Fabiano Eller, Michael, Maykon Leite e Roberto Brum vestirem a camisa da equipe. Mas o golpe perfeito de marketing estava guardado na manga: quem mais teria condições de contratar Robinho? O Santos, claro! E por uma verdadeira bagatela, muito menos do que os milhões da venda do jogador para o Real Madrid. Para não causar tanto alarde e evitar os riscos de tomar um chapéu de seus possíveis concorrentes (como Chelsea e Manchester United), o

A charge do mês Peixe o escondeu em Mogi Mirim por uns tempos para despistar todo mundo. Foi uma operação de verdadeiro sucesso. Enquanto as finanças do clube seguem no azul do mar, o Santos nada de braçada nas águas límpidas no Brasileiraço. Todo mundo sabe que a presença do clube na zona de rebaixamento é passageira, pois neste começo de torneio há 19 cavalos-marinhos paraguaios, e nenhum deles é páreo para este Peixe tão acostumado com os mares europeus.

A lorota do mês “Eu fiquei 45 minutos lá. Vi que não era ambiente para mim e fui embora” Mesmo se for verdade, Diego Tardelli terá dificuldades para provar sua inocência na “festa” de Marcinho.

A manchete do mês “Al Sadd talks with Limão on progress” (site oficial do Al Sadd)

Em alta Ronaldinho Livrou-se do Barcelona e do mico de jogar contra o Don Pernil, de Andorra, na LC. O que ele não pensou é que vai pegar o Streymur, de Ilhas Faroe, na Copa Uefa

Festas no Flamengo Com a saída de Marcinho, o clube não terá mais a animação de outros tempos nas concentrações e após os jogos

O clube do Catar mostrou conhecer a fundo a personalidade azeda de Emerson Leão.

Em baixa Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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