Trivela 07 (set/06)

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www.trivela.com

nº 7 | set/06 | R$ 7,90

DUNGA Passado explica o novo técnico da Seleção

EUROPA Apresentação completa da temporada 2006/7

• Série C • Camisas retrô • Entrevista: Leonardo • Mauro Beting • José Geraldo Couto • A Várzea

editora

P O O L

nº 7 | set/06 | R$ 7,90

E MAIS...

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Futebol e o poder

Como cartolas usam a política para atrasar o desenvolvimento do esporte no Brasil 8/23/06 5:46:50 AM


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índice

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Entrevista: Leonardo revela que deixa o Milan para voltar ao Brasil Bancada da bola: As relações da cartolagem com os políticos Temporada 2006/7: Apresentação completa dos campeonatos europeus Perfil: O que esperar de Dunga, o novo técnico da Seleção Brasileira

Antonio Lacerda/EFE

Terceira divisão: O Brasileirão que a TV não vê Jogo do mês Curtas Opinião Peneira Tática Capitais do futebol Eleições na Uefa História Entrevista: Edu Entrevista: PC Gusmão Negócios Cadeira cativa E se...

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Cultura A Várzea

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editorial Nos subterrâneos do futebol Nos últimos tempos, o Brasil vinha se convencendo não só de que éramos uma espécie de “Dream Team” do futebol, como também de que o esporte no país era minimamente bem organizado. Após a derrota precoce na Copa, voltamos à realidade: o torcedor brasileiro está condenado a ver em seu clube jovens que ainda podem arrebentar ao lado de medalhões decaídos. Só que, para cada Sóbis, há 20 que não dão em nada; para cada Júnior que volta, há três que chegam só com o nome. Com isso, temos cada vez menos boas partidas e equipes. Se não é possível apontar um só culpado para que as coisas sejam assim, também não se pode negar que existe um movimento de bastidores para impedir mudanças. A estrutura dos clubes e federações, a maneira como a CBF canaliza o dinheiro da Seleção, a forma como as eleições funcionam, cada um desses fatores é um pedaço dessa história, na qual o torcedor tem pouca influência. Só que, para que isso subsista, não basta um esquema azeitado de distribuição de recursos. É necessária também a boa vontade do poder público. Nesta primeira edição com o nome de revista Trivela, mergulhamos nesse obscuro mundo em que futebol e política se juntam. Lá, todos dizem lutar pelo bem do nosso esporte. Cabe a você decidir quem fala a verdade e dar a resposta nas urnas.

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Editores Caio Maia Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Tomaz Rodrigo Alves Reportagem Ricardo Espina Ubiratan Leal Colaboradores João Tiago Picoli José Geraldo Couto Mauro Beting Foto da capa Ricardo Stuckert/ABr Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold (looks@uol.com.br) Diagramação e tratamento de imagem s.t.a.r.t. (start.design@gmail.com) Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 4208-8213 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 4208-8205 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Pool Editora pooleditora@lmx.com.br (11) 3865-4949 Circulação LM&X - Alessandra Machado (Lelê) lele@lmx.com.br (11) 3865-4949 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Dinap Impressão Prol Editora Gráfica Ltda.

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Jefferson Bernardes/VIPCOMM

Jogo do mês, por Caio Maia

Coroação

colorada O belo roteiro escrito para a final da Libertadores coroou a recuperação de um dos grandes clubes brasileiros

U

Braga, do Colorado, que fracassara na Copa do Brasil de 2004 e 2005; do outro, estava o tabu do São Paulo, que não vencia o Inter desde o Brasileiro de 2004, numa série de quatro derrotas e um empate. A sensação de que o São Paulo seria “um pouco superior” foi claramente desmentida pelo Internacional, que venceu o primeiro jogo, no Morumbi, com facilidade. O 2 a 1, no entanto, deixou a decisão aberta. Um gol são-paulino no início da partida de volta, por exemplo, poderia mudar tudo. No início do confronto, a bola passou pelos pés de Lugano duas vezes e de Fabão, uma, mas nenhum dos dois zagueiros tricolores marcou. Do outro lado, uma falha de Rogério Ceni colocou o Colorado na frente: o ídolo são-paulino “bateu roupa”, confundiu-se com Lugano, e Fernandão não vacilou. O empate tricolor, o segundo do Inter, de Tinga, expulso em seguida, e o novo empate tricolor foram o desenrolar natural do belo roteiro escrito para a partida. Com uma defesa bem armada, o time gaúcho segurou o resultado e ficou com o título, coroando um “ressurgimento” que só pode ser benéfico ao futebol brasileiro. Ao contrário do que se tornou moda quando Dunga comemorou o título da Copa de 1994 “jogando na cara” dos críticos a conquista, o Inter soube celebrar sua vitória, e não a derrota dos outros. Saudado pelos perdedores, foi gentil ao reconhecer os méritos de Muricy na montagem da equipe. Coisa de primeiro mundo. Coisa que a gente não via por aqui há muito tempo.

INTERNACIONAL 2 SÃO PAULO 2 Data: 16/agosto/2006 Local: Beira-Rio (Porto Alegre) Público: 57.554 espectadores Árbitro: Horacio Elizondo (ARG) Gols: Fernandão (29min), Fabão (51min), Tinga (65min) e Lenílson (85min) Cartões amarelos: Fernandão, Jorge Wagner, Tinga, Bolívar, Alex, Edinho (Internacional) e Aloísio (São Paulo) Cartão vermelho: Tinga (Internacional) INTERNACIONAL Clemer; Índio, Fabiano Eller e Bolívar; Ceará, Edinho, Tinga, Alex (Michel) e Jorge Wagner; Fernandão e Rafael Sobis (Ediglê). Técnico: Abel Braga

ficha

m jogo envolvendo dois tricampeões brasileiros. Uma partida em que, graças ao resultado do primeiro encontro, um enfadonho empate por 0 a 0 era praticamente impossível. Muito se podia esperar da final da Libertadores, entre Internacional e São Paulo, e ela mais que correspondeu às expectativas: foram quatro gols, emoção até o último segundo, falhas das maiores estrelas de cada time e um título inédito para uma das equipes mais tradicionais do Brasil. Nos anos 70 e 80, poucos foram os momentos em que ou São Paulo ou Inter não estiveram entre os ponteiros do torneio nacional. O primeiro “mata-mata” entre os dois só aconteceu em 1981, nas quartas-definal do Brasileiro: o São Paulo venceu o Inter duas vezes e chegou à final. Entre 1986 e 19991, sempre houve um dos dois na final do Brasileiro: São Paulo campeão em 1986, Inter vice em 1987 e 1988, São Paulo vice em 1989 e 1990 e campeão em 1991. O encontro decisivo seguinte só aconteceu em 2005, ano que marca a “volta por cima” da dupla: depois de 12 anos, o Tricolor conseguiu conquistar mais uma vez o Mundial; o Internacional, por sua vez, passou muito perto de chegar ao título brasileiro. Na fase “nacional” da Sul-Americana, os dois se encontraram, e, contra um desinteressado São Paulo, o Inter prevaleceu. Quando os dois chegaram à final da Libertadores de 2006, havia duas escritas a serem quebradas: de um lado, a sina de vice-campeão do técnico Abel

SÃO PAULO Rogério Ceni; Fabão, Lugano e Edcarlos (Alex Dias); Souza, Mineiro, Richarlyson (Thiago), Danilo (Lenílson) e Júnior; Leandro e Aloísio. Técnico: Muricy Ramalho

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Divulgação

Curtas

ZIDANIX, O GAULÊS Apesar de ter anunciado sua aposentadoria, Zidane terá a chance de, finalmente, se vingar dos italianos. Para isso, ele contará com a ajuda de Asterix e Obelix. O meia foi convidado para participar do filme “Asterix e os Jogos Olímpicos”, o terceiro da série cujo protagonista é o baixinho que vive em uma irredutível aldeia gaulesa resistente ao domínio do Império Romano. O herói dos quadrinhos terá a ajuda do ex-jogador para se consagrar como herói olímpico. Entre as provas, porém, não estão previstas disputas de cabeçadas. A produção, orçada em € 94 milhões, será a mais cara da história do cinema europeu. Quem também fará uma ponta é David Beckham. Ah, se Zizou tivesse tomado a poção mágica do druida Panoramix antes daquela final...

CAMISA DO AVESSO

É CAMPEÃ!

No Chipre, uma camisa de futebol serviu para impedir uma fraude. Um senegalês tentou passar da parte turca da ilha para a grega. Até aí, nenhum problema. Só que o malandrão se esqueceu de um pequeno detalhe: ele usava uma camisa da seleção inglesa e apresentou um passaporte francês às autoridades, ignorando a tradicional rivalidade entre os dois países. O fato não passou despercebido e, após uma análise do documento, os policiais cipriotas verificaram que o visto era falso. O africano, de 22 anos, foi obrigado a se explicar – e aprender um pouco mais sobre futebol.

Ver a seleção espanhola conquistar qualquer título é algo incomum. Ainda mais bizarro é a Fúria conquistar o troféu em cima da Escócia. Sim, isso realmente aconteceu. Os espanhóis foram campeões europeus sub-19 com um triunfo por 2 a 1 em cima dos escoceses na final do torneio, disputado na Polônia. É a terceira vez em cinco anos (!) que a Espanha leva o troféu para casa.

MAIS ESTADUAIS Os campeonatos estaduais terão espaço maior em 2007. No calendário divulgado pela CBF para o próximo ano, os torneios regionais ganharam mais quatro datas – agora terão 23 à disposição, em vez das 19 de 2006. As federações paulista e carioca já planejam como farão para preencher o espaço. Em São Paulo, a idéia é resgatar a disputa de semifinais e finais. No Rio, o plano é mais simples: aumentar o número de clubes na primeira divisão. Veja como foram distribuídas as datas:

Estaduais 17 de janeiro a 6 de maio Copa do Brasil 14 de fevereiro a 6 de junho Campeonato Brasileiro 13 de maio a 2 de dezembro Campeonato Brasileiro (Série B) 13 de maio a 25 de novembro Campeonato Brasileiro (Série C) 8 de julho a 25 de novembro Amistosos da Seleção 7/2, 24/3, 28/3, 3/6, 6/6, 22/8, 17/11 e 21/11

Copa América 27 de junho a 15 de julho Eliminatórias da Copa 9/9, 12/9, 14/10 e 17/10

frases “Não entenderia por que vender o melhor lateral-esquerdo do mundo” Fabio Capello garante que não vai se desfazer de Roberto Carlos, dono da melhor ajeitada de meias do planeta

“Ele [Javier Mascherano] deve estar passando por algum problema” Marcelinho fala sobre o desentendimento com o argentino em um treino do Corinthians. Poucos dias antes, Mascherano esteve na Argentina para acompanhar a recuperação da filha recém-nascida, internada com problemas de saúde

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“Foi uma grande surpresa, a maior da minha carreira. Pelo que me foi passado, saio por pressão do patrocinador” Oswaldo de Oliveira cria polêmica ao afirmar que a grande responsável por sua saída do Fluminense foi a Unimed

“Acho que se eu tivesse escolhido Jesus Cristo para ser técnico, também receberia críticas” Ricardo Teixeira tenta encontrar uma maneira para se esquivar das reclamações por ter escolhido Dunga como o novo técnico do Brasil

“Ouvi gente [Renato Gaúcho] falar que quem ri por último ri melhor. Quem ri por último, para mim, é retardado, porque não entendeu a piada. Eles ganharam bolinha de tênis [do Renato Gaúcho]. Eu recebi a bola de futebol, e a gente engoliu a bola deles” Rodrigo Arroz devolve as provocações feitas pelo Vasco antes da final da Copa do Brasil

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De um lado, Henry, Kanu, Vieira, Seaman, Pires e Ian Wright; do outro, Van Basten, Rijkaard, Frank e Ronald de Boer, Van der Sar e Johan Cruyff (foto). Uma seleção de todos os tempos? Na verdade, esses foram convidados de honra para a despedida de Dennis Bergkamp e a inauguração do Emirates Stadium, novo estádio do Arsenal, em 22 de julho. No amistoso entre os Gunners e o Ajax, a honra de marcar o primeiro gol do campo foi de Huntelaar, mas o time da casa virou para 2 a 1. O resultado nem foi o mais importante. O verdadeiro presente foi ver Cruyff, de 59 anos, dar alguns bons piques e gritar com os companheiros como fazia quando ainda jogava.

ALÔ, OBINA? Nada como marcar um gol em uma decisão e deixar seu time perto do título, certo? Para Obina, a história foi mais complicada. Logo depois de deixar sua marca nas redes do Vasco na primeira partida da final da Copa do Brasil, o atacante do Flamengo perdeu seu celular. Um gaiato encontrou o aparelho e se aproveitou para ter seus 15 minutos de fama. Um dia depois do jogo, o falso Obina atendeu várias ligações e concedeu diversas entrevistas – em uma delas, disse até que sentiu vontade de rir para Eurico Miranda na hora em que fez o gol.

10 maiores escândalos

Olaf Kraak/EFE

FESTA DE ARROMBA

A atual crise no futebol italiano pode ser a pior da história, mas está longe de ser a primeira. A Trivela lembra dez grandes mutretas, recentes e antigas, que mancharam o esporte.

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Calciocaos (Itália, 2006)

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Máfia da loteria esportiva (Brasil, 1982)

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Totonero (Itália, 1980)

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Suborno do Olympique de Marselha (França, 1993)

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Máfia do apito (Brasil, 2005)

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Caso Hoyzer (Alemanha, 2004)

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“Empréstimo” do Anderlecht (Copa Uefa, 1984)

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Escândalo das apostas (Inglaterra, 1964)

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Ye Zheyun (Finlândia e Bélgica, 2005)

Há décadas, se diz na Itália que a Juventus é beneficiada pela arbitragem. Neste ano, ficou provado que isso é verdade, mas a lama não parou em Luciano Moggi. Além da Juve, que perdeu dois títulos e foi rebaixada, foram punidos Milan, Lazio e Fiorentina.

O escândalo explodiu no início da década de 80, envolvendo mais de 100 pessoas, num esquema para produzir zebras em jogos da Loteria Esportiva. As punições aos envolvidos foram brandas, mas a Loteca nunca mais recuperou o prestígio.

No fim da década de 70, uma rede de apostas clandestina subornava jogadores para forjar resultados. Foram envolvidos 27 atletas, de sete clubes.

Bernard Tapie, presidente do Olympique, subornou jogadores do Valenciennes para poupar jogadores para a decisão da Copa dos Campeões. A mutreta foi descoberta, o clube perdeu o título francês e foi rebaixado para a segunda divisão.

Edilson Pereira de Carvalho, junto com um grupo de empresários, apostava altas somas em jogos do Brasileirão, e o árbitro garantia que o favorito de fato vencesse a partida. Edilson foi banido do futebol e 11 jogos do torneio foram anulados.

Um esquema envolvendo uma máfia croata, o árbitro Robert Hoyzer e jogadores de divisões inferiores da Alemanha manipulou o resultado de 23 partidas em diferentes competições do futebol alemão. O jogo mais famoso foi a vitória do Paderborn, da terceira divisão, sobre o Hamburg, na Copa da Alemanha.

Na semifinal da Copa Uefa de 1984, o Nottingham Forest venceu o jogo de ida contra o Anderlecht por 2 a 0, mas perdeu por 3 a 0 na volta. A explicação: o presidente do clube belga havia “emprestado” US$ 38 mil ao árbitro da partida.

Durante vários anos, o jogador Jimmy Gauld comandou um esquema em que, junto com outros atletas, armava resultados de partidas, nas quais ele apostava. A trapaça foi descoberta em 1964, quando o próprio Gauld vendeu a história para um jornal. Como conseqüência, ele e mais seis jogadores foram presos e banidos do futebol.

Pouco depois de o chinês Ye Zheyun comprar o Allianssi, o clube foi goleado por 8 a 0 pelo Haka. Alguns meses depois, outro time do empresário, o Lierse, também se envolveu em jogos suspeitos. Zheyun acabou preso.

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Marmelada na Segundona (Índia, 2004)

Wilfred Leisure e Curtorim Gymkhana jogavam sabendo que o título da segunda divisão indiana seria decidido no saldo de gols. Os times venceram seus jogos por 55 a 1 e 61 a 1. Não precisou de investigação para concluir que houve marmelada. Setembro de 2006

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Colunistas

Professor Dunga DUNGA CHEGOU À CASA DOS PAIS, no Rio Grande

Mauro Beting

do Sul, em julho de 1990. Só por lá poderia descansar e não ouvir todo tipo de impropérios, cobranças, cornetadas, tudo de ruim pelo mau time que tentou organizar defensivamente – o Brasil lazarento da Copa-90. Um time que tinha 11 Dungas, quando bastava só o original. Ele não merecia pagar por tudo de péssimo como o único bagre expiatório pela overdunga da equipe. Tanto quanto o treinador, Dunga virou o símbolo de um time para se esquecer. Mas como ser “esquecido” pela mídia colérica e pela arquibancada enfurecida? Só se enterrando na gleba gaúcha. Foi o que fez Carlos Caetano ao lado do pai Edelceu. Os dois abriram uma garrafa. Duas. Muitas. Era noite quando as mágoas foram afogadas do lado de fora da casa. Era manhã quando acabou a sessão. Mas não foi só copo virado. Dunga e o pai reviraram tudo que o filho viu, ouviu, falou, calou e chorou na Itália-90. Tudo aquilo que ele prometeu mudar em 1994. – Só quero uma chance. Foi o que ele disse ao pai naquela longa noite. Foi o que disse a si mesmo desde então. Se treinava dez, passou a treinar 100. Principalmente quando voltou à Seleção Brasileira, em 1993, com Parreira. Primeiro, voltou para ser reserva do meia Luís Henrique. Depois, para fechar um meio-campo que estava aberto. Então, para calar as críticas severas sobre o discutido técnico e a técnica discutível da Seleção nos Estados Unidos. Por último, para fazer o Brasil tanto gritar com o tetra quanto se calar pelas cornetas críticas. Dunga venceu. Virou um jogo que parecia impossível naquela noite de julho de 1990. Foi a maior virada da história do nosso futebol. Superior à superação de Gerson, execrado em 1966, mi-tri-ficado em 1970. Será que ele vira de novo? Será que ele vai virar o treinador que a CBF quer? Ou vai ser apenas o cara que berra para a galera ouvir? Não sei. Não só eu. Nem ele sabe.

DUNGA SABE

DE CBF,

DE SELEÇÃO E

DE BOLA, MAS AINDA NÃO SABE O QUE É SER TREINADOR 8

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★ Treinador gaúcho merece todo o respeito. Felipão, Brandão, Coutinho, Ênio Andrade, Pirilo, Saldanha... Mas Dunga é um novato de casamata (o banco de reservas, pa-

ra os gaúchos). Dunga (ou um tipo que esbraveja e se zanga) fez falta em campo para a Seleção de 2006. Já admitia Parreira um ano antes da Copa a respeito do “silencioso” Brasil que jogaria o Mundial na Alemanha: “Alguém como o Dunga faz falta”. O ex-treinador queria alguém que gritasse em campo. O ex-companheiro de tetra Branco disse que faltou na Alemanha alguém que esmurrasse a mesa. Alguém que botasse ordem na casa. Alguém que assumisse a bronca num mau momento. Alguém que organizasse o time em campo e no vestiário. Alguém que tivesse voz para gritar. Um Dunga. Desde 1994, já se imaginava que ele pudesse assumir a Seleção. Amigo de Ricardo Teixeira, bom de meio-campo com cartolas e parte dos jogadores, Dunga joga pesado com divisões de grupo. Já participou de muitos elencos rachados. Já chegou junto. Já rachou. E já perdeu a cabeça por isso. Até em Bebeto, em jogo da Copa-98. Dunga sabe de CBF, de Seleção e de bola. Ainda não sabe o que é ser treinador. Por isso, deveria ter um treinador de campo ao lado. Alguém com experiência de banco. Alguém como Jorginho, que mostrou jeito para a coisa no América do Rio – mas por muito pouco tempo.

AMACORD Velloso; Gil Baiano, Paulão, Márcio Santos e Nelsinho; Donizete Oliveira, Cafu (Paulo Egídio) e Moacir; Neto; Charles (Jorginho) e Nilson. Esse foi o time escalado por Paulo Roberto Falcão em sua estréia como treinador da Seleção, em agosto de 1990, na derrota para a Espanha, por 3 a 0, em Gijón. Estréia não só na CBF, mas estréia de banco, também – embora tenha passado o tempo todo em pé, ao lado dos reservas. E de terno, à la Beckenbauer (modelo que o inspirou, e à própria direção da CBF, para que fosse convidado, sem experiência de técnico). Dos 13 que entraram em campo, nove também estreavam pelo Brasil. Alguns, como o corintiano Neto, jogavam apenas a segunda partida oficial pela Seleção. Era muita gente nova e desentrosada. Não por acaso, levamos um coco de um time não mais que comum da Espanha. Não por acaso, Falcão cairia um ano depois, pelo excesso de renovação, abrindo pé exageradamente da base de 1990 – incluindo dez jogadores que ganhariam o tetra, em 1994. Gente que teria ajudado Falcão a ter vida mais longa na CBF. Falcão foi demitido, ainda que tenha revelado campeões como Cafu, Mauro Silva e Márcio Santos. Esse erro Dunga não cometeu na estréia como técnico. Renovar não é necessariamente revolucionar, sobretudo com uma base qualificada como a brasileira.

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Desta vez, o Real acertou DE PRESIDENTE NOVO, técnico comprovadamente vencedor no futebol europeu e dois reforços de peso para o setor defensivo, o Real Madrid não tem mais desculpas. Não se pode falar em montagem de elenco pensando apenas no marketing ou em excesso de vaidades. A maneira como o clube atuou no mercado de verão foi mais do que correta e, agora, há a obrigação de, no mínimo, mostrar competitividade e padrão de jogo. A contratação de Fabio Capello simboliza isso. Finalmente o clube entendeu que é preciso ter um comando muito claro, uma figura que Ubiratan Leal torcedores e jogadores reconheçam e respeitem. O técnico italiano não Futebol espanhol foi ao bairro de Chamartín para se tornar mais um mediador no duelo de vaidades, como ocorrera com Vicente del Bosque, José Camacho, Mariano García Remón, Vanderlei Luxemburgo e Juan Ramón López Caro. Junto com Capello, a diretoria “merengue” trouxe ainda Cannavaro e Emerson, que devem ajudar a transmitir uma segurança defensiva que o time não tinha há tempos. Com a dupla, o Real Madrid se torna mais homogêneo. Van Nistelrooy pode ser uma opção para o time, que dá sinais de desgaste com o grupo de “galácticos” – sobretudo com Ronaldo. Não é possível cravar que o Real Madrid será campeão europeu ou espanhol, até porque seu rivalíssimo Barcelona também tem talento e conta com um conjunto consolidado em três temporadas. Porém, os madridistas têm as ferramentas para concorrer com os catalães – pelo menos nesta temporada (vale lembrar que os investimentos foram em veteranos, e que, em breve, o Real precisará de outra reformulação). Não se pode falar que a política de contratações foi equivocada. Mas pode-se, isso sim, esperar que o clube se recoloque entre os principais da Europa.

Férias? Que férias? EM 15 DE JULHO, menos de uma semana depois da final da Copa do Mundo, o Manchester United entrava em campo para jogar um amistoso contra o Orlando Pirates, na África do Sul. No mesmo dia, o Arsenal enfrentou o Barnet, e o Liverpool jogou contra o Wrexham. Antes do Mundial, muitos ingleses se gabaram do fato de o campeonato do país ser o que teve mais jogadores na Alemanha. Ao todo, mais de 100 atletas “ingleses” estiveram na Copa. Esse dado mostra a força do Campeonato Inglês. Mas tem um outro lado Tomaz R. Alves que os torcedores do país estão esquecendo: o cansaço. Mesmo que passem Futebol inglês por uma preparação física especial, jogadores que estiveram no Mundial não alcançam seu melhor rendimento na temporada seguinte. É exemplar o caso do Bayer Leverkusen, que, depois de uma boa temporada em 2001/2, viu seu time afundar em 2002/3. O motivo? O clube tinha muitos representantes nas seleções da Turquia, Alemanha e Brasil. Já dá para prever que, nesta temporada, vai ser mais comum do que nunca ver jogadores “poupados” pelos técnicos em partidas secundárias. Isso sem falar no aumento do número de contusões. Quem perde é o torcedor, que vê jogos mais pobres e com menos astros. A pergunta é: por que a Premier League não atrasou um pouco o início do campeonato? A temporada 2006/7 começou em 19 de agosto, praticamente a mesma data que no ano anterior. O calendário inglês é o mais pesado da Europa, e os clubes vão sentir o baque. É uma pena.

Falcões depenados QUEM PODERIA IMAGINAR que a Juventus fecharia a janela de transferências tendo sido depenada e que o Milan teria sido forçado a ficar só olhando? Bem, essas Cassiano são coisas que só LuRicardo Gobbet ciano Moggi pode faFutebol italiano zer por você. O escândalo do “Calciocaos” deu uma paulada no alicerce do futebol italiano. Pela primeira vez em décadas, a Itália assistiu ao mercado de transferências não só calada, mas também vendo seus craques irem embora. Até o meio de agosto, somente Crespo tinha sido repatriador. No sentido contrário, nomes como Zambrotta, Cannavaro, Thuram, Emerson, Corradi e Shevchenko deixaram o calcio para jogar no exterior. O choque é o maior sintoma de como o futebol italiano passava pelas mãos do ex-dirigente da Juventus. Sem o seu principal agente, os clubes não tiveram dinheiro nem autoridade para pressionar por contratações de peso, especialmente depois que a GEA – companhia de “management” de atletas que pertencia ao filho de Moggi – foi desmontada. Talvez esse seja o ponto que vai bater mais fundo na punição juventina. O rebaixamento, teoricamente, dura um ano, mas para voltar a ser a meta dos maiores jogadores do mundo, o clube do Piemonte precisará de algumas temporadas – caso nada dê errado. Mas a Juve não paga sozinha: se ela não contratou, os clubes menores também perderam suas fontes de receita. O esquema de controle de resultados capitaneado por Moggi contava com o silêncio de dezenas de “inocentes úteis”, que agora pagam a conta indiretamente. Setembro de 2006

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A ridícula dança das cadeiras FICO IMAGINANDO o que aconteceria na Espanha se, antes da metade desta temporada, Fabio Capello trocasse o Real Madrid pelo Barcelona. No Brasil, a gente nem Caio Maia percebe mais casos Futebol brasileiro como esse. Com sorte, entre o momento em que escrevo esta coluna e o momento em que você a lê, Leão ainda não terá deixado o Corinthians. O mesmo Leão que, no começo do torneio, treinava o arqui-rival Palmeiras. Depois de deixar o Verdão às portas da Série B, o treinador chega ao Corinthians para... livrá-lo da mesma Série B. Do início do Brasileiro à 17ª rodada, só seis equipes não trocaram de treinador – entre elas, as quatro primeiras na tabela. Algumas, como o Corinthians, já trocaram mais de uma vez. E isso porque nem acabou o primeiro turno! Até em casamento as duas partes têm direito de desistir quando as coisas não estão dando certo, mas, no futebol brasileiro, essa solução é adotada sem nenhum pensamento mais profundo. Em geral, demitir o treinador é uma forma de “dar satisfação” à torcida, que se deixa enganar acreditando que o demitido era o culpado pelos problemas. Compreende-se que o dirigente disfarce a má qualidade de sua administração usando esse expediente. O que não dá para entender é que a torcida embarque nessa. Quer dizer, não daria para entender, se a gente não soubesse que tem muito churrasco de torcida pago com cheque de dirigentes – e de jogadores. Que, é claro, adoram a situação. Afinal, se você fosse jogador, não ia gostar de poder detonar o técnico a hora que quisesse?

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Tá tudo dominado AINDA NEM BAIXOU A POEIRA do escândalo Hoyzer (o árbitro que manipulava resultados na Alemanha em benefício de casas de apostas clandestinas) para o país já se ver envolto em um novo episódio envolvendo a jogatina. Desta vez, porém, todos estão do lado das casas de apostas. Clubes, federações e a própria mídia está revoltada com a proibição da bwin.com (antiga BetandWin) de funcionar no país. A Liga Alemã (DFL) recebe anualmente cerca de € 18 milhões da empresa. O futebol amador do país é muito ajudado pela empresa (20 mil Carlos dos 170 mil clubes recebem uma ajuda financeira). Os principais clubes Eduardo Freitas alemães – leia-se primeira e segunda divisões – negociam os direitos Futebol alemão de uso dos nomes nas apostas. Duas equipes (Werder Bremen e 1860 Munique) são patrocinadas pela empresa. E pior: os principais veículos de comunicação da Alemanha têm na bwin.com um de seus maiores patrocinadores. Em linhas gerais, isso significa que todos os lados unirão suas forças para tentar derrubar o veto do Estado da Saxônia, onde a empresa austríaca tinha licença de funcionamento. A saída de cena da bwin.com deve significar uma perda de cerca de € 150 milhões em receita em todos os setores do futebol alemão. É muito dinheiro, claro, mas soa no mínimo estranho ninguém questionar a lisura de um negócio sempre cercado de suspeitas, como o ramo das apostas. Quer dizer, agora que vem à tona que todos os lados dependem de alguma maneira da bwin.com, dá para entender por que ninguém nunca falou sobre o risco de manipulação de resultados.

A vida sem Zidane PASSADA A EUFORIA causada pela ótima campanha na Copa, a França se depara com um grande problema. As eliminatórias para a Eurocopa estão aí, às portas dos Bleus, mas a equipe ainda não tem a noção de como se virar sem Zinedine Zidane. A renovação do elenco tornou-se um compromisso inadiável para o treinador Raymond Domenech, mas a vida sem seu maior astro já prega peças traiçoeiras. O pensamento natural seria elevar Franck Ribéry à mesma categoria de “Zizou”. Nada mais equivocado. O jovem meia-atacante tem caracteRicardo Espina rísticas diferentes, pois prefere partir com a bola dominada em direção Futebol francês ao gol, aberto por um dos lados do campo. Atuar mais pelo meio, como um autêntico armador, não é a praia dele. A comparação aqui não é com a qualidade técnica, mas sim com o desempenho tático em campo. No 4-2-1-3 utilizado por Domenech, “Zizou” atuava como a ponta mais recuada de um losango. Por conta de suas qualidades, o meia conseguia tanto organizar as jogadas ofensivas como ditar o ritmo do time. Sem contar com a habilidade de Zidane, Domenech será obrigado até a mudar seu esquema tático, voltando para um 4-4-2 clássico. Dois meias dividiriam as funções executadas pelo camisa 10, para que nenhum deles fique sobrecarregado. O próprio Ribéry seria um deles; para a outra vaga, há alguns nomes interessantes, como Yohan Gourcuff e David Hellebuyck. Domenech foi escolhido para comandar os Bleus justamente por conta de sua experiência à frente das categorias de base. Em uma chave complicada, ao lado de Itália e Ucrânia, está na hora de o treinador deixar um pouco de lado sua teimosia.

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Peneira

Klaas-Jan Huntelaar:

o caçador

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segundo atacante ou aberto pelo flanco. Apesar dessa facilidade, Huntelaar não esconde como gosta de jogar: com dois pontas abertos e um armador nas costas. O próprio Ajax, quando o contratou por € 9 milhões, mudou o esquema para um 4-3-3, para tirar o melhor do atacante. Deu certo. Huntelaar foi o artilheiro do Holandês, com 34 gols, e esteve perto de ir para a Copa. Van Basten preferiu não levá-lo, acreditando que seria melhor para ele disputar o Europeu sub-21, de onde voltou com o título e o prêmio de melhor do torneio. Seu apelido, “O Caçador”, se explica pelo estilo: o atacante não está preocupado em embelezar a jogada, mas sim em buscar a rede o quanto antes. [Cassiano Ricardo Gobbet]

Marcel Antonisse/EFE

uando o centroavante Mateja Kezman estava no PSV, dizia-se que o clube não precisaria suar a camisa para substituí-lo. Um jovem de 16 anos chamado Huntelaar era apontado como o nome ideal para cobrir o espaço que o ídolo deixaria. Só que, quando Kezman saiu, a vaga ficou para Jan Venegoor of Hesselink, outro centroavante do time. Sem perspectivas, Klass-Jan Huntelaar teve de sair do PSV. Após uma passagem tosca pelo De Graafschap, o atacante acabou no Apeldoorn, da segunda divisão holandesa, no qual, depois de fazer 26 gols, garantiu sua ida para o Heerenveen. No Abe Lenstra Stadion, desencantou e anotou 34 vezes. Ali, o jogador trabalhou um de seus pontos fracos: a parte física. Huntelaar ganhou musculatura, para enfrentar os zagueiros de igual para igual. Combinando força física com velocidade, Huntelaar foi chamando a atenção pela dinâmica que dava ao jogo, podendo jogar como centroavante,

Nome: Klaas-Jan Huntelaar Nascimento: 12/8/1983, em Drempt (HOL) Nacionalidade: holandesa Altura: 1m86 Peso: 80kg Clube: Ajax Carreira: PSV, De Graafschap, Apeldoorn, Heerenveen e Ajax

João Moutinho:

capitão aos 20 anos?

[Ubiratan Leal]

Antonio Simões/EFE

A

Uma das principais virtudes do jogador é a versatilidade. Moutinho é volante, mas com a vantagem de saber sair jogando e não apenas destruir as jogadas. Pode atuar igualmente bem como meia, fazendo a ligação entre a defesa e o setor de armação do time. O potencial de Moutinho não passou despercebido por Luiz Felipe Scolari, que o convocou para algumas partidas das eliminatórias para a Copa do Mundo. Não foi o suficiente para garantir um lugar na Alemanha, mas não muda o fato que o algarvio está entre as principais promessas para os próximos anos em Portugal.

fichas

partir desta temporada, o Sporting não terá mais o atacante Sá Pinto, uma espécie de símbolo dos Leões, que se aposentou no final do campeonato passado. Assim, houve mudanças na listagem de capitães do clube de Alvalade. E João Moutinho, de apenas 20 anos, aparece como terceiro na hierarquia sportinguista – mostra de como o jovem meia consolidou seu espaço no clube. Tamanho destaque se deve à precocidade do jogador. Moutinho foi alçado ao time principal aos 18 anos, em janeiro de 2005. Antes disso, havia feito duas temporadas na equipe B dos Leões e conquistado o Europeu sub-17 de 2003, pela seleção portuguesa. Logo em sua primeira temporada profissional, o meia foi eleito revelação da Superliga. Na temporada 2005/6, Moutinho foi titular do time de Alvalade em todos os jogos do Campeonato Português.

Nome: João Filipe Iria Santos Moutinho Nascimento: 8/9/1986, em Portimão (POR) Nacionalidade: portuguesa Altura: 1m65 Peso: 64kg Clube: Sporting Carreira: Sporting

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Entrevista, por Carlos Eduardo Freitas

Flamengo tem de ser o piloto de uma mudança”

Em entrevista exclusiva à Trivela, Leonardo abre a cortina e joga luz no ressurgimento rubro-negro. “Nenhum time no Brasil tem a penetração do Flamengo. Eu me vejo lá, mas não trabalhando num modelo tradicional” futebol italiano está perdendo um nome para o brasileiro. Logo depois do maior escândalo de todos os tempos no “calcio”, Leonardo está arrumando seu armário no Milan para voltar ao Brasil “aos poucos”, como ele mesmo diz. Defendendo os Rossoneri com veemência, o ex-jogador de Flamengo, São Paulo, Valencia, Kashima Antlers, PSG e do próprio Milan revelou à Trivela que retornará ao Brasil em breve. Menos do que o embaraço por causa do escândalo (“o Milan não está nem esteve envolvido”), a vontade de trabalhar no Flamengo, com sua responsabilidade no papel de mudar o futebol brasileiro, apparece como razão para deixar o cargo de dirigente do clube italiano. Leonardo também fala sobre sua suposta rusga com Dunga em 1998 (“não existiu”) e sobre a escolha do capitão do tetra para comandar o Brasil: “Ele simboliza uma geração disciplinada e vencedora. Vai depender dele passar tudo isso para o time”. O Milan precisa aprender a conviver com o espaço deixado por Shevchenko (“ele acabou satisfazendo uma vontade pessoal, depois de sete anos no clube, e vai fazer falta“) e também precisa rejuvenescer a defesa, justamente quando foi penalizado pelos respingos de lama do “Calciocaos”. Durante a Copa do Mundo, Leonardo foi um dos comentaristas da BBC na Inglaterra. O que era uma aposta despretensiosa da emissora acabou virando um projeto. Com fluência em várias línguas e perfil oposto ao do boleiro tradicional, recebeu até mesmo um elogio rasgado do atual técnico do Aston Villa, Martin O’Neill, que se disse “impressionado” com o colega de transmissão. Ao que tudo indica, em breve o futebol brasileiro causará, pela primeira vez, um desfalque na Série A italiana.

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Aqui no Brasil, você é citado por muita gente como exemplo pelo fato de, depois de jogar em um grande clube europeu, ter se tornado seu dirigente destacado. Quais são, exatamente, suas atribuições no Milan? Eu fui, durante quatro anos, assessor do vice-presidente, o Adriano Galliani. Era um cargo de confiança, em que eu atuava em todas as áreas do clube. O presidente é o Berlusconi, que voltou agora, mas no tempo em que esteve afastado era o Galliani que cuidava do operacional. Mas estou num momento em que estou mudando tudo. Meu contrato acabou dia 30 de julho. Quer dizer... Sinceramente, pedi que fosse interrompido. Tinha mais dois anos, mas acabei pedindo que interrompesse. Tenho alguns planos de voltar para o Brasil e já estava acertando várias coisas que precisaria assumir a longo prazo. Estou buscando uma nova posição, mas vou continuar ligado ao clube, porque tem muita coisa aberta. Vou seguir como uma espécie de embaixador do Milan em várias iniciativas nossas no Brasil. “Nossas” Leonardo ou Milan? Milan, Milan. Falo “nosso” porque ainda estou com a cabeça muito dentro do clube. Ainda vou continuar ligado, até por uma relação de amizade que continua intacta e por tantas coisas que estávamos fazendo juntos. Quer dizer que você pensa em deixar um dos maiores clubes do mundo para vir trabalhar no Brasil? Penso muito. Vejo como um sonho e ainda estou nessa fase do sonho, sem uma coisa mais concreta. Não devo voltar para o Brasil imediatamente. Ainda fico mais um ano na Europa porque assumi alguns compromissos. Serei comentarista pela Sky Itália, o que é uma coisa que me tira muito tempo, mais por conta da Liga dos Campeões. Também estou assinando com a BBC, para fazer um programa por mês na Inglaterra sobre a Premier League. Estou assumindo alguns compromissos que não me permitem vol-

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Christophe Kahn/Reuters

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Vou seguir como uma espĂŠcie de embaixador do Milan no Brasil

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Stefano Rellandini/Reuters

Punição do Milan foi uma questão moral

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tar hoje. Retornarei aos poucos. Estou há muito tempo fora e gostaria de me reinserir. O Brasil precisa de um processo de mudança, de uma nova política para o futebol. Não vou ser eu que vou definir isso, mas gostaria de participar desse movimento. E isso significa ser presidente do Flamengo, uma vontade que você já expressou antes? Não se trata de ser presidente. Não almejo cargos. Gostaria de trabalhar no Flamengo. Tem toda uma questão sentimental, porque eu nasci lá, mas acho que o Flamengo pode ser o piloto de um processo de mudança. É um clube que tem um poder de penetração que nenhum outro tem. Está muito ligado à minha história, e eu me vejo lá. Não

como presidente num modelo como o que existe hoje. Não acredito que esse modelo de associação esportiva possa realmente alavancar um clube. Acho muito complicado. Precisa de um novo formato, uma coisa mais centralizada, que abra a possibilidade de novos investimentos. É nisso que eu penso. No modelo atual, eu não me vejo. Pode-se criar fora disso. Chegar com uma proposta de gestão no clube, que o conselho aprove. Ou então que o clube mesmo se manifeste na intenção de criar. Aí, gostaria de participar. Na Itália, os clubes têm muito mais força política que os brasileiros. O que as equipes brasileiras precisariam fazer para se fortalecer como as italianas? O próprio sistema é diferente. Não há uma liga independente. A CBF nunca deu espaço, porque nunca houve uma que pudesse levar a coisa numa melhor direção. Todas as ligas que surgira nasceram quase mortas. Nasceram e morreram, nasceram e morreram. Fica difícil enquanto não houver uma união dos clubes e eles não entenderem que, se não houver um projeto global, dificilmente eles vão crescer. Precisam entender que não temos uma política na gestão do campeonato, uma coisa que ainda não nasceu. Tivemos a Copa União em 1987. Foi um sucesso temporário, que deu certo como modelo de campeonato, em que os clubes um dia se uniram.

MILAN E “CALCIOCAOS” Você disse que pediu que seu contrato com o Milan fosse interrompido. Sua saída tem alguma coisa a ver com o escândalo do “Calciocaos”? Diretamente, não. Até porque o Milan não está envolvido, como tentaram envolver. Tentaram dar ênfase a uma ligação telefônica, criar uma conspiração pró-Milan que nunca aconteceu. Em dez anos, o Milan ganhou só dois “scudetti”. Não imagino uma conspiração que não nos beneficiaria. Então qual foi, de fato, a participação

do Milan? Afinal, se o clube foi punido, alguma coisa deve ter acontecido. Foi punido por uma questão conceitual, como se fosse um comitê de ética. Não existe uma legislação que punisse clube nenhum. Na verdade, o que está sendo punido é uma cultura. Uma cultura errada, que eu sou completamente contra. É aquela coisa que todo mundo vai se acostumando e vai virando uma normalidade. O favorecimento de amigos, de pessoas... Aí entram árbitros, empresários, clubes, federações, imprensa... Você entra num círculo vicioso. Foi isso o que aconteceu. Alguém sugere que uma notícia seja dada para favorecer alguma coisa, aí pede [à federação] para que o árbitro que vai apitar seja o seu amigo e você indica ele não sei para onde. Isso que foi acontecendo. É uma cultura que precisa ser extirpada. É isso que estão tentando. Algumas pessoas foram punidas, e estão tentando que outras sejam banidas do futebol italiano. Houve penalizações, como essas sanções que todos acompanharam. O Milan entrou numa questão conceitual. Existia uma ligação, em que há uma pergunta: “O que aconteceu?” Por isso é que está sendo punido. Em linhas gerais, o Milan acabou injustiçado nessa história? Acho que a coisa foi muito maior. Foi divulgada de uma forma muito maior, mas acho que precisava haver uma mudança nisso tudo. Foi uma questão moral mesmo. Isso está sendo importante, mas precisa do pós. O que eu não vejo é o projeto seguinte. Essa decisão foi tomada por um projeto do Estado, por uma força política importante – como eu acho que precisa ser, com uma política forte, e não só do futebol. Houve a criação de um comitê de ética e de justiça esportiva, e acabaram tomando essa decisão.

RENOVAÇÃO NO MILAN Muito se comentou na última temporada sobre a necessidade de uma renovação da equipe, sobretudo dos

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Faith Saribas/Reuters

Felipão era o nome natural, mas Dunga vem como símbolo de 1994

defensores. De que maneira a crise afeta esse processo? É claro que vivemos um verão muito complicado, em que o Milan esteve a ponto de ser penalizado na Itália e na Europa. Ficou mais difícil pensar em renovação agora. Tem que acontecer e vai acontecer naturalmente, como já ocorreu outras vezes. Isso deve se concretizar nos próximos dois anos. O Shevchenko é um ídolo para a torcida. Dá para dimensionar a falta que ele fará ao time? Fará uma grande falta, porque ele virou uma grande referência, como segundo maior artilheiro da história do clube. Mexe muito. Foi uma questão inesperada, apesar do respeito pela decisão pessoal e familiar dele. Ele acabou satisfazendo uma vontade dele, depois de sete anos no clube, e vai fazer falta. O pior é que, sinceramente, olhando no mercado, não será fácil substituí-lo. Houve, de fato, algum tipo de con-

versa entre o Real Madrid e o Kaká? Com o Milan, isso nunca foi oficial. Não houve uma situação direta de contratação. Houve uma declaração do presidente do Real Madrid durante a eleição, em que ele citou alguns nomes, e um deles foi o do Kaká. O Capello foi para lá, e acho que pode ter sido ventilado na imprensa, mas nunca houve nada. Sem falar que o Milan não tem nenhuma intenção de negociá-lo.

COMENTARISTA ESPORTIVO Você disse que, antes de voltar ao Brasil, vai trabalhar como comentarista na Itália e na Inglaterra. Durante a Copa do Mundo, você estreou nessa carreira na BBC e foi muito elogiado. Essa é uma carreira que você gostaria de seguir? Não. Para mim, hoje, não considero um trabalho. Na BBC, eu não esperava que fosse dar tão certo como deu. Foi uma coisa muito forte, no relacionamento com as pessoas, e eles mesmos não querem acabar com isso. Vou ficar na Itália porque ainda tenho coisas com o Milan em aberto e vou tentar nesse período manter o que já foi criado, mas não me vejo fazendo isso como trabalho. Algo como um hobby? É, um segundo trabalho, algo que completa. É uma coisa que me satisfaz, porque eu curto isso. Só não me vejo vivendo só disso. Isso não. Como comentarista, o que você achou da escolha do Dunga como técnico da Seleção? Eu acho que existem dois fatores. Existe hoje uma falta de opção. Ou melhor, não acho que ele tenha sido escolhido só por falta de opção. Quando se pergunta hoje “Quem seria o treinador da Seleção?”, imediatamente vem o nome do Felipão. Foi campeão em 2002 e um grande sucesso com Portugal. Ele assinou um novo compromisso e, se formos analisar todos os outros treinadores, não se vê outro nome claro. Acho que o Dunga vem como um símbolo de uma geração vencedora. Símbolo de

uma visão, de disciplina, de empenho, sacrifício e entusiasmo. Isso leva ele a ter essa oportunidade. Vai depender dele transmitir tudo isso.

COPA DE 1998 Por falar no Dunga, hoje em dia, quando se lembra da Copa de 1998 e do problema com o Ronaldo na final, comenta-se que o grupo estava rachado. Dizem que tinha a panelinha do Dunga e a do Leonardo. O que houve para o grupo ter rachado? Primeiro que o grupo não estava rachado. Segundo que se disse muita coisa depois daquela Copa do Mundo, do problema do Ronaldo. Falou-se de tudo, mas não disso. Isso nunca existiu. Primeiro que não havia dois grupos; segundo porque não seria eu de um lado e o Dunga do outro. Nunca tive problema nenhum com o Dunga. Já briguei com ele, discuti com ele de tudo o que é jeito em campo, mas meia hora depois estava tudo bem. Então nunca houve isso que sempre disseram? Não. Dois grupos, nunca houve. Nem um grupo rachado. Existiu o problema do Ronaldo, que todo mundo sabe e não tem nada mais o que se contar. Foi nesse momento que vocês se posicionaram cada um de um lado. Não, nem ali. Estávamos do mesmo lado. Não tinha outro lado, não. O lado era muito evidente. Foi uma decisão de que o Ronaldo iria jogar, ele jogou e nós perdemos de 3 a 0. O que se comenta, porém, é que Dunga queria que o Ronaldo jogasse e que você achava melhor que ele não jogasse. Eu achava que ele não devia jogar mesmo, mas isso é fácil dizer hoje. Foi tudo muito confuso. Ele foi para um hospital, e deram um laudo positivo para ele. Depois disso, não se discute mais nada. Fez todos os exames, e o médico disse que estava tudo bem. Ele pegou um táxi e foi para o estádio jogar. Queria jogar de qualquer maneira, sendo o melhor do mundo. Setembro de 2006

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CBFNews

Bancada da bola, por Caio Maia e Ubiratan Leal

A tropa de choque da

cartolagem Para se perpetuarem no poder, os dirigentes brasileiros contam com o apoio de um grupo de parlamentares cujo objetivo é barrar qualquer proposta de evolução nas leis que regem o esporte

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Doações da CBF nas últimas eleições federais 1998 Candidato Agripino Maia Antônio Aquino Lopes Antônio Carlos Amorim Antônio Delfim Netto Arthur Henrique Ferreira Carlos Augusto Santana Darcísio Perondi Eurico Miranda Hugo Napoleão Maurício Magalhães Paulo de Almeida Ravena Napoleão

Partido PFL-RN PFL-AC PFL-RJ PPB-SP PTB-RJ PT-RJ PMDB-RS PPB-RJ PFL-PI PFL-SC PDT-RJ PFL-PI

Cargo Valor (R$) Senador 50 mil Senador 37,5 mil* Deputado federal 50 mil Deputado federal 5 mil Deputado federal 50 mil Deputado federal 50 mil Deputado federal 100 mil* Deputado federal 50 mil Senador 50 mil Deputado federal 50 mil* Deputado federal 50 mil Deputado federal 50 mil

TOTAL

592,5 mil * Soma de duas doações

Encontro entre Ricardo Teixeira e Lula no Haiti marcou aproximação da CBF com o atual governo

relação da política brasileira com o futebol vai muito além das folclóricas peladas presidenciais, um compromisso que o presidente Lula faz questão de cumprir desde o início de seu mandato. O Congresso convive há anos com uma sólida rede de influências ligada ao esporte mais popular do país, um esquema que tem força suficiente para passar por cima de divisões partidárias e ideológicas. Trata-se de um fenômeno que nem sempre recebe a devida atenção, mas que ganha importância em período de campanha eleitoral. Como agora. Da mesma maneira que em outros setores da economia, os dirigentes do futebol montaram um lobby entre deputados e senadores com o objetivo de defender seus interesses - no caso, consolidar ainda mais o poder da cartolagem, com medidas que impeçam a profissionalização do esporte brasileiro, processo que afastaria vários dirigentes que ainda sobrevivem da estrutura arcaica existente há décadas. Nesse sistema, o jogo de interesses e influências tem mais força que qualquer projeto de evolução administrativa e esportiva.

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2002 Candidato Bispo Rodrigues Ciro Nogueira Darcísio Perondi Delcídio Amaral Eurico Miranda Fernando Gonçalves Gilvam Borges José Rocha Leomar Quintanilha Marcus Vicente Paulo de Almeida Pedro Canedo Renan Calheiros Renato Rolim de Moura Weber Magalhães

TOTAL

Partido PL-RJ PFL-PI PMDB-RS PT-MS PPB-RJ PTB-RJ PMDB-AP PFL-BA PFL-TO PPB-ES PFL-RJ PSDB-GO PMDB-AL PSD-PR PFL-DF

Cargo Valor (R$) Deputado federal 100 mil Deputado federal 50 mil Deputado federal 100 mil Senador 100 mil Deputado federal 100 mil Deputado federal 50 mil Senador 100 mil Deputado federal 100 mil Senador 50 mil Deputado federal 50 mil Deputado federal 30 mil Deputado federal 150 mil Senador 100 mil Deputado federal 50 mil Deputado federal 50 mil

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Campo de batalha Cada projeto de lei e cada investigação parlamentar que envolva o futebol brasileiro é imediatamente cercado pela “bancada da bola”. E tem início a batalha de influências, em que a cartolagem tenta proteger seus interesses. Veja como foram os confrontos mais importantes. Lei Pelé Depois da Lei Zico, foi a primeira grande tentativa de induzir o futebol brasileiro à profissionalização. Houve relativo sucesso, sobretudo com a extinção da Lei do Passe. Porém, o texto original, de 1998, sofreu diversas modificações nos anos seguintes, algumas atendendo a pedidos de clubes.

CPIs do Futebol O Senado e a Câmara criaram comissões para investigar o futebol em 2000. A pressão da opinião pública e o mau momento da Seleção enfraqueceram muito a cúpula da CBF e os clubes, o que permitiu que as duas CPIs atuassem com independência. Na votação do relatório final da CPI da Câmara, a “bancada da bola” conseguiu ameaçar a aprovação do texto integral. Aldo Rebelo (presidente da CPI) e Sílvio Torres (relator) deram a comissão por encerrada para evitar uma virada. O relatório do Senado foi aprovado. Estatuto do Torcedor Foi elaborado por um grupo de 16 pessoas de diversas áreas, entre ex-atletas, técnicos, dirigentes e políticos. Como as discussões foram feitas de maneira ágil e a cartolagem ainda estava enfraquecida pelas CPIs, o estatuto ficou pronto rapidamente. Ricardo Teixeira – que fez parte das discussões – não assinou o texto final. Foi a primeira lei sancionada pelo presidente Lula.

Lei de Moralização do Futebol O nome foi consagrado pela imprensa, mas o próprio autor da lei, José Luiz Portella, prefere chamar de Lei de Responsabilidade Fiscal do Futebol. Essa regulamentação prevê que os dirigentes esportivos são responsáveis pelas dívidas contraídas pelos clubes durante sua administração. Como o Estatuto do Torcedor, a lei aproveitou o enfraquecimento da “bancada da bola” para ser aprovada. Timemania É uma loteria que usa os distintivos de times de futebol. Assim, os clubes cederiam suas marcas e, em troca, pagariam suas dívidas com o governo (INSS, FGTS e Receita Federal) mais rapidamente. O projeto original previa que os clubes que aderissem à loteria se transformariam em empresa como contrapartida ao governo. Porém, a pressão da renascida “bancada da bola” colocou esse item como opcional. O projeto foi aprovado na Câmara e pode ser votado ainda neste ano no Senado. Estatuto do Desporto É uma alteração da Lei Pelé, que complementaria o Estatuto do Torcedor e unificaria as legislações. A influência da “bancada da bola” também se faz presente, sobretudo na supressão do item que previa a limitação no número de reeleições de dirigentes esportivos.

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Nesta reportagem, a Trivela destrincha o suporte político do “status quo” do futebol brasileiro, a muito falada mas pouco enxergada “bancada da bola”. Mostramos os parlamentares ligados ao futebol, que tipo de ligação têm, como atuam pelo bem do esporte – ou como se aproveitam da paixão do torcedor para perpetuar um modelo que está matando o futebol brasileiro aos poucos.

A “bancada da bola” A alcunha “bancada da bola” é usada para se referir a um grupo de parlamentares ligados, de alguma maneira, ao esquema de poder que congrega hoje a Confederação Brasileira de Futebol, federações estaduais e a maior parte dos clubes profissionais do país. Seus membros são, na maior parte, dirigentes ou ex-dirigentes de federações ou clubes, parentes deles ou pessoas que se colocaram a sua disposição. Vindos de diversos Estados e com diferentes matizes ideológicos, uma coisa os une: “Todos votam de acordo com a orientação de Ricardo Teixeira”, diz o deputado federal Silvio Torres, do PSDB paulista. Ele foi o relator da CPI do Futebol da Câmara, que durou de 2000 a 2001, momento em que a bancada apareceu como tal pela primeira vez. Para o deputado, a experiência na comissão mostrou que a força da CBF é mais forte que a legenda à qual os deputados da “bancada da bola” pertencem. “A bancada não tem partido. Houve momentos da CPI em que, dos cinco tucanos da comissão, só um votou comigo”, conta. O poder da cartolagem está espalhado pelos principais partidos no Congresso, e não apenas no “baixo clero” (como é conhecido em Brasília o numeroso grupo de deputados sem muita força política). “As lideranças dos partidos têm que participar de alguma maneira, porque são eles que devem, por exemplo, indicar os membros das CPIs”, diz Torres. À época da CPI do Futebol, o líder do PSDB era o atual governador de Minas Gerais, Aécio Neves, político que tem grande proximidade com a CBF. Não à toa, o jogo das eliminatórias para a Copa de 2006 contra a Argentina foi disputado em Belo Horizonte. Nem sempre o parlamentar pertence ao grupo desde a eleição. Muitos se juntam a ele depois. É o caso de congressistas que não são, teoricamente, envolvidos com o esporte, mas vêem na aproximação com a cartolagem uma oportunidade de capitalizar politicamente. “Há deputados em Brasília que não têm posição definida em muitos assuntos e apenas procuram se unir aos grupos que lhe fizerem uma boa oferta”, explica Sílvio Torres. Outra forma de atuação do lobby da cartolagem é a aliança com outros lobbies. Como todos os grupos organizados do Congresso, a atuação da “bancada da bola” transcende as questões ligadas ao futebol e sua organização. Pelo próprio modo de funcionamento da política brasileira, é comum a “troca de interesses” entre os diversos grupos. Como os partidos são fracos, as bancadas de cada setor tendem a possuir mais força que as legendas. E alianças entre

LOBBIES SE UNEM PARA GANHAR FORÇA NO CONGRESSO

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O esquema da bancada Não é difícil entender como funciona o esquema de manutenção de poder da CBF, federações estaduais e clubes. O topo da pirâmide é o dinheiro da confederação, que vem principalmente da venda da Seleção Brasileira e de sua imagem. A maneira como ele é distribuído é que garante não só a permanência da estrutura, mas também das pessoas no poder

O dinheiro da CBF é distribuído a federações estaduais, clubes e políticos aliados, muitas vezes de maneira indireta. O dinheiro enviado às federações pode servir para a própria entidade ou para que ela apóie algum político em sua área de atuação. Pode também ter destinos “estranhos”: a CPI da Câmara, mostrou que, em dezembro de 1998, o então presidente da Federação Amazonense de Futebol, Francisco da Chagas Dissica, comprou uma Blazer em uma concessionária de Manaus e ofereceu como pagamento um cheque da CBF destinado a sua federação

FEDERAÇÕES ESTADUAIS

O esquema funciona da mesma maneira na relação da CBF com os clubes, mas com um elemento adicional: principalmente no caso dos times mais ricos, interessa mais o poder político junto à confederação para, por exemplo, determinar arbitragens e marcar datas e horários de jogos

Dinheiro Votos

Apoio político Apoio legislativo Apoio eleitoral

SELEÇÃO

Não se pode dizer que há uma relação direta entre uma coisa e outra, mas é fato que as federações e clubes que recebem recursos da CBF têm apoiado as reeleições de Ricardo Teixeira - o presidente da CBF é eleito pelas federações estaduais e pelos clubes da primeira divisão.

Além do dinheiro que oferecem a algumas campanhas, CBF e clubes têm algo mais valioso para políticos com pretensões eleitorais: o próprio futebol. Há abundantes exemplos de clubes que disputam amistosos para promover cartolas e políticos junto a suas bases eleitorais

A contrapartida deste apoio eleitoral é o apoio legislativo às causas defendidas pela confederação e pelos clubes, que, quase sempre, acabam sendo as mesmas.

CONGRESSO

CLUBES O apoio conquistado no Congresso beneficia os dirigentes de clubes ao impedir a aprovação de leis que proíbam, por exemplo, que um cartola se reeleja sucessivas vezes Setembro de 2006

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CBFNews

tais grupos são tão comuns quanto acordos entre partidos para compor a bancada governista ou oposicionista no Congresso. Bons exemplos disso foram as votações dos pedidos de cassação dos deputados envolvidos no escândalo do “mensalão”. A Folha de S.Paulo publicou, em 27 de dezembro de 2005, na seção Painel, um caso: “Petistas bateram à porta de Ricardo Teixeira, presidente da CBF, em busca de ajuda a Professor Luizinho. Pedro Canedo (PP-GO), relator do processo de cassação do mensaleiro, é um dos fiéis escudeiros do cartola”. Canedo foi o maior beneficiário de doações da CBF em 2002: recebeu da entidade R$ 150 mil para sua campanha à Câmara. Ele também é relator do projeto de lei que cria a Timemania, loteria que visa reduzir a dívida dos clubes com o governo. “É claro que há ‘trocas’ entre os esquemas, mas é muito difícil de saber quais são”, diz Torres. Professor Luizinho foi absolvido pela Câmara.

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A Seleção como instrumento político Por aí já se começa a perceber como o futebol (leia-se clubes e CBF), mesmo com menos recursos financeiros que setores como o ruralista, de telefonia, ou até o evangélico, consegue ter força para negociar nos corredores de Brasília. O caso de alianças com outras bancadas nas votações do Congresso é apenas um aspecto desse cenário. Há situações muito mais evidentes, em que o uso do futebol é direto, sobretudo pela força que o esporte tem em áreas populares, base eleitoral de quase todos os congressistas. “Houve uma época em que o Eurico Miranda levava o Vasco para fazer amistosos fora do Rio de Janeiro, sobretudo no Nordeste, contra clubes ligados a deputados”, exemplifica Rodrigo Maia, deputado federal pelo PFL-RJ. Filho

Amistoso com o Haiti ajudou o Brasil a reforçar sua condição de líder nas forças de paz da ONU

JOGOS DA SELEÇÃO SÃO USADOS COMO FORMA DE AGRADAR POLÍTICOS

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“Quando vi aquele jogo contra o Haiti, percebi que tinha dançado” O momento de maior evolução na legislação brasileira ligada ao futebol foi entre 2002 e 2003. As investigações da CPI haviam enfraquecido a cartolagem, e foi mais fácil negociar mudanças no Congresso. Hoje, o lobby do futebol está forte novamente. Boa parte desse processo se deve ao uso político do pentacampeonato e do esperado hexa. Essa é a opinião de José Luiz Portella, secretário de esportes do último ano do governo de Fernando Henrique Cardoso. O momento que ratificou o renascimento da bancada teria sido um jogo do Brasil. “O amistoso com o Haiti mudou tudo, pois foi um pedido pessoal de Lula a Ricardo Teixeira”, comenta. Veja a seguir os principais trechos da entrevista concedida pelo ex-secretário de esportes à Trivela. A CPI criou um momento político favorável para que se implementassem o Estatuto do Torcedor e a Lei de Moralização? Qual foi o efeito que ganhar a Copa em 2002 teve nisso? No final da CPI, o Ricardo Teixeira até disse que ia sair da CBF. A “bancada da bola” estava fraca, vinha tomando pau em cima de pau. Quem não deixou ele sair foi o Caixa d’Água [Eduardo Viana, falecido presidente da Federação Estadual do Rio de Janeiro]. Ele ficou. Daí, veio a Copa, o Brasil ganhou e mudou a maré. Quando o Ricardo Teixeira se fortaleceu, seu lobby ganhou um poder brutal. Até então, havia uma união de interesses entre situação e oposição? Exatamente. O PSDB, o PFL e o PT tinham assumido a briga. Foi um acordo avassalador. E essa é a minha maior mágoa com o próprio Lula, porque depois ele ficou com o Ricardo Teixeira. Até então, nós conseguíamos fazer qualquer coisa. Por que houve essa mudança de rumos? Algumas pessoas aproximaram o Lula do Ricardo Teixeira. O Duda Mendonça foi a primeira, porque fazia trabalhos na CBF. Pessoas importantes no Congresso, como José Sarney e Renan Calheiros, também ajudaram. Depois, houve aquele amistoso contra o Haiti, em que o presidente fez um pedido ao Ricardo Teixeira. Ali, mudou tudo. O Lula vinha bem na política de esporte, mas o país recuou 50 anos. Quando vi aquele jogo, percebi que tinha dançado.

Em 2002, boa parte da “bancada da bola” não foi reeleita. Mesmo assim, ela se reorganizou. Como é a capacidade de renovação dos quadros da bancada? Ela passa pelo interesse dos governos estaduais de levarem a Seleção para suas capitais. E, claro, a perspectiva de estar perto de quem seria hexa. Se o Brasil ganhasse na Alemanha, o Ricardo Teixeira seria o cara mais poderoso do Brasil. A CBF argumenta que, como entidade privada, defende seus interesses. Por isso, suas doações de campanha seriam legais. Você concorda? O problema é que a CBF não é uma entidade realmente privada, pois ela não compete no mercado. Se houvesse a Seleção do Ricardo Teixeira e a minha, ligada à CBF do B, tudo bem. Mas não pode, por causa da Fifa e da estrutura de federações do futebol mundial. Assim, a CBF tem o monopólio de uma coisa que representa o país. É uma entidade privada com uma face pública. A fragilidade do governo Lula, que enfrentava escândalos como o do “mensalão”, ajudou a “bancada da bola” a ganhar força? Quando o governo se enfraqueceu no Congresso, as bancadas organizadas ganharam peso. Mais importante do que isso, foi o prestígio do Ricardo Teixeira. O Lula é amigo dele, o Zé Dirceu é amigo, o Duda Mendonça é amigo. Era ele que decidia onde seria o “show dos deuses”, e vários políticos começaram a disputar a tapa cada amistoso da Seleção.

do prefeito carioca César Maia, Rodrigo foi um dos maiores defensores da obrigatoriedade de os clubes se transformarem em empresa para aderir à Timemania. Há vários outros casos em que clubes ou a Seleção jogaram atendendo a interesses políticos. Em 2001, quando Roseana Sarney, ex-governadora do Maranhão e irmã do vice-presidente da CBF, Fernando Sarney, era pré-candidata à presidência pelo PFL, o Brasil fez o jogo decisivo das eliminatórias contra a Venezuela em São Luís. No ano seguinte, sem motivo aparente, a CBF deu seis vagas ao Maranhão na Série C. É um número desproporcional, se considerada a força do futebol do Estado no cenário nacional. Um ano depois, com a senadora maranhense já fora da corrida eleitoral, a CBF mudou de foco. Em 2002, o último amistoso do Brasil antes de embarcar para a Copa do Mundo foi disputado em Fortaleza, contra a Iugoslávia. Depois da competição, o desembarque da Seleção no Brasil foi usado pela CBF para externar seu descontentamento com as discussões sobre o Estatuto do Torcedor e a Lei de Moralização do Futebol, bancados pelo governo federal. O time acabou indo a Brasília, onde Fernando Henrique evitou tirar fotos cumprimentando Ricardo Teixeira, mas a primeira cidade brasileira a receber a Seleção pentacampeã foi Fortaleza. O governador do Ceará, na época, era o hoje senador Tasso Jereissati, cujas relações com Ricardo Teixeira são consideradas muito boas. Em 21 de agosto de 2002, com a cartolagem ainda enfraquecida pelas denúncias levantadas pelas CPIs do Futebol na Câmara e no Senado e precisando aproveitar a euforia do pentacampeonato para capitalizar politicamente, o primeiro amistoso da Seleção após o título foi marcado para Fortaleza. Antes do jogo, Kaká entregou a Ciro Gomes uma camisa com o número 23, o mesmo número do então candidato do PPS à presidência da República.

“Defendo a política da CBF na Câmara” Um problema de usar um time como chamariz é que há uma limitação evidente, imposta pelo calendário do futebol brasileiro e internacional. Assim, o “pacote” de instrumentos de CBF e clubes é completado com dinheiro, sobretudo em doações de campanha. E, aí, o uso é pontual, para aproximar alguns parlamentares ou para colocar lideranças importantes do Congresso na órbita da CBF e dos clubes (veja tabela na pág. 17). Muitos parlamentares da “bancada da bola” não vêem nada de errado na presença da CBF ou de clubes em sua lista de doadores. “Como eu gosto de futebol, acho normal a CBF me ajudar. Até porque eu acredito que a gestão do Ricardo Teixeira é uma das melhores do futebol braSetembro de 2006

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Quem é quem Veja quais são os personagens das discussões de futebol no Congresso. Alguns estão do lado contrário dos dirigentes, outros estão a favor. E há os que são pessoas ligadas diretamente ao futebol que, por causa do esporte, conseguiram chegar a Brasília.

Nome

Agnelo Queiroz

Aldo Rebelo

Alex Canziani

Álvaro Dias

Antero Paes de Barros Bispo Rodrigues

Carlos A. Santana

Partido

PC do B-DF

PC do B-SP

PPTB-PR

PSDB-PR

PSDB-MT

PL-RJ

PT-RJ

No Congresso desde

1995

1991

1999

1999

1999

1999 (renunciou em 2006) 1991

Ligação com o futebol

É mais ligado ao COI, mas tem bom trânsito com a CBF

-

-

-

Filho e irmão de ex-presidentes do Mixto

Recebeu doação da CBF em 2002

Recebeu doação da CBF em 1998

Presidente da CPI do Futebol na Câmara

Integrante da CPI do Futebol na Câmara

Presidente da CPI do Senado

Integrante da CPI do Futebol no Senado

Membro da comissão de discussão do Estatuto do Desporto

Membro da comissão de discussão da Lei Pelé

Candidato a deputado federal

Candidato a deputado federal

Candidato a senador

Candidato a governador

Não é candidato

Candidato a deputado federal

Atividade Ex-ministro dos parlamentar ligada Esportes ao futebol Eleições 2006

Candidato a senador

Nome

Ciro Nogueira

Darcísio Perondi

Eurico Miranda

Fernando Gonçalves

Geraldo Althoff

Gilmar Machado

Gilvam Borges

Partido

PP-PI

PMDB-RS

PP-RJ

PTB-RJ

PFL-SC

PT-MG

PMDB-AP

No Congresso desde

1995

1995

1995 (até 2003)

Ligação com o futebol

Presidente do Ríver-PI. Irmão do presidente da Presidente do Vasco. Recebeu doação da FGF. Recebeu doação Recebeu doação da CBF em 2002 da CBF em 1998 e 2002 CBF em 1998 e 2002

Atividade Membro da parlamentar ligada comissão de discussão ao futebol da Lei Pelé Eleições 2006

Candidato a deputado federal

1995

1998 (até 2003)

1995

2003 (até agosto)

Recebeu doação da CBF em 2002

-

-

Recebeu doação da CBF em 2002

Integrante da CPI do Futebol na Câmara

Terceiro vicepresidente da CPI do Futebol na Câmara

Integrante da CPI do Futebol na Câmara

Relator da CPI do Futebol no Senado

Relator do Estatuto do Votou contra o Desporto relatório de Geraldo Althoff na CPI

Candidato a deputado federal

Candidato a deputado federal

Candidato a deputado federal

Candidato a deputado federal

Candidato a deputado federal

Não é candidato

Nome

José Rocha

Leomar Quintanilha

Luciano Bivar

Maguito Vilela

Marcus Vicente

Pedro Canedo

Renan Calheiros

Partido

PFL-BA

PFL-TO

PSL-PE

PMDB-GO

PTB-ES

PP-GO

PMDB-AL 2003

No Congresso desde

1999

2003

1999 (até 2003)

1999

1995

1995

Ligação com o futebol

Recebeu doação da CBF em 2002

Presidente da FTF. Recebeu doação da CBF em 2002

Ex-presidente do Sport

Ex-jogador do Atlético-GO e exdirigente da Jataiense

Presidente da FES. Recebeu doação da CBF em 2002

Vice da federação Recebeu doação da goiana. Recebeu CBF em 2002 doação da CBF em 2002

Integrante da CPI do Futebol no Senado

Membro da CPI do Futebol na Câmara

Fez alterações favoráveis aos clubes na Lei Pelé

Membro de Relator do projeto diversas comissões de lei que cria relacionadas ao futebol a Timemania

Participou da CPI do Futebol no Senado

Tem mandato no Senado até 2010

Candidato a presidente Candidato a da República governador

Candidato a deputado federal

Candidato a deputado federal

Tem mandato no Senado até 2010

Atividade Foi um dos principais parlamentar ligada defensores de Ricardo ao futebol Teixeira na CPI Eleições 2006

Candidato a deputado federal

Nome

Rodrigo Maia

Rubens Furlan

Sílvio Torres

Tasso Jereissati

Vicente Cascione

Weber Magalhães

Zezé Perrella

Partido

PFL-RJ

PPS-SP

PSDB-SP

PSDB-CE

PTB-SP

PFL-DF

PSDB-MG

No Congresso desde

1999

1999 (até 2003)

1995

2003

2003

Não foi eleito

Ligação com o futebol

-

Prefeito de Barueri, é um dos incentivadores do Grêmio Barueri

Atividade Tentou mudar a Integrante da CPI do parlamentar ligada Timemania para fazer os Futebol na Câmara ao futebol clubes virarem empresas Eleições 2006

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Candidato a deputado federal

Não é candidato

1999 (até 2003)

Próximo de Ricardo Conselheiro do Santos. Foi chefe da Teixeira, levou a Seleção Recebeu doação de delegação brasileira a Fortaleza em 2002 Marcelo Teixeira em 2002 na Copa de 2002

Ex-presidente do Cruzeiro

Relator da CPI do Futebol na Câmara

-

Representou o Santos na discussão da Timemania

-

Membro da comissão de educação, cultura e desporto

Candidato a deputado federal

Tem mandato no Senado até 2010

Candidato a deputado federal

Candidato a deputado federal

Candidato a deputado estadual

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História de altos e baixos Embora a CBF se articulasse em Brasília antes da implantação das CPIs do Futebol, a “bancada da bola” propriamente dita passou a existir nesse momento. “A bancada existia de maneira velada, apenas na expectativa de ser utilizada. No momento em que as duas CPIs foram instaladas, ela aflorou tanto na Câmara quanto no Senado”, diz o ex-senador Geraldo Althoff, hoje candidato a uma vaga de deputado federal. Na época (2000), a união dos parlamentares ligados ao futebol era de importância estratégica, tanto que se formou principalmente nos partidos que faziam parte da base aliada do governo. O mau momento da Seleção Brasileira e as descobertas feitas pelas duas comissões fizeram a opinião pública e parte da imprensa se posicionarem contra a cartolagem. No caso da CPI da Câmara, a “bancada da bola” conseguiu boicotar a votação final, e não houve relatório oficial aprovado (veja box na pág. 44). O confronto entre os dois lados – a “bancada da bola” e seus opositores – provocou rejeição da população, que fugiu da maioria dos candidatos ligados ao futebol nas eleições de 2002 - tanto que muitos não foram reeleitos. Isso não significa que a “bancada da bola” tenha acabado. Ao contrário do que ocorre com outros lobbies em Brasília, os

CBFNews

sileiro e, por isso, eu defendo a política da entidade dentro da Câmara dos Deputados”, admite Darcísio Perondi (PMDB-RS), irmão de Emídio Perondi, ex-presidente da Federação Gaúcha de Futebol e padrinho de Dunga. Leomar Quintanilha (PC do B-TO), presidente da federação tocantinense, é menos direto, mas não esconde sua relação com a CBF. “Meu empenho pessoal pelo crescimento do futebol no Tocantins dá muitos motivos para a CBF contribuir com minha campanha”. Em situações mais delicadas, como nas CPIs do Futebol no Congresso, há indícios de que o dinheiro pode ter sido usado como forma de convencer parlamentares a mudarem o rumo de seus trabalhos. Relator da CPI do Futebol no Senado, Geraldo Althoff (PFL-SC) conta que foi assediado. “No final de 2001, quando estávamos na iminência de entregar o relatório final da CPI, fui alvo de uma tentativa de suborno. Foi na minha cidade, Tubarão. Na época, eu chamei a Polícia Federal, e o Ministério Público Federal indiciou e condenou a pessoa envolvida”. Questionado sobre se essa pessoa teria vínculos com a CBF, Althoff é direto: “Basta ver que, quando ele estava aqui em Tubarão, o primeiro telefonema que deu do hotel foi diretamente para o departamento jurídico da CBF”. Um dos deputados entrevistados pela Trivela diz ter ouvido de um colega de bancada, então membro da CPI do Futebol, que este teria recebido uma oferta de R$ 100 mil para votar contra a quebra de um sigilo bancário na comissão. Vale a pena frisar que os R$ 100 mil seriam pagos por apenas uma votação.

CBF relutou, mas levou a Seleção a Brasília após a conquista do penta

CONGRESSO NÃO TEM GRUPO QUE CONTRAPONHA A BANCADA DA BOLA

parlamentares envolvidos com a cartolagem não vêem surgir uma espécie de “anti-lobby” ou um grupo que se articule para combater os interesses dos dirigentes. “Há um pequeno grupo que trabalha com esse objetivo, mas é uma minoria e acaba perdendo as votações”, comenta Rodrigo Maia. “O futebol não é visto como assunto prioritário no Congresso, e mesmo os que abraçam uma causa ligada ao esporte acabam deixando as discussões em segundo plano depois de um tempo”, explica José Luiz Portella, secretário de esportes do governo Fernando Henrique Cardoso. Além disso, a atuação dúbia do governo Lula permitiu que a bancada se reestruturasse. Assim que assumiu, o presidente da República prometeu seguir com os projetos de profissionalização do esporte brasileiro. Não por acaso, a primeira lei que sancionou foi o Estatuto do Torcedor. No entanto, o governo foi se aproximando gradativamente de Ricardo Teixeira e dos clubes. “Com Agnelo Queiroz (ex-ministro dos esportes) como principal interlocutor, Lula abriu as portas para a ‘bancada da bola’ e permitiu que ela se reestruturasse”, afirma Sílvio Torres. Isso, segundo Portella, foi surpreendente e desnecessário. “O tema das mudanças no esporte era uma das poucas áreas em que os dois lados concordavam. A CBF estava isolada”. Do outro lado da história, o ex-ministro e atual deputado do PC do B-DF rejeita as críticas e diz que manteve apenas “relacionamentos institucionais” com os cartolas (veja entrevista com Agnelo Queiroz na pág. 24). Setembro de 2006

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Ricardo Stuckert/ABr

“A ‘bancada da bola’ praticamente acabou” Ministro dos esportes durante três anos do governo Lula, Agnelo Queiroz é apontado por muitos como responsável pela reestruturação da “bancada da bola”. Ele teria se aproximado de dirigentes e permitido que houvesse influência nas discussões da Timemania e do Estatuto do Desporto. Fora do governo desde março, Queiroz nega as acusações e afirma desconhecer os expedientes da “bancada da bola”. Os clubes influenciaram a discussão da Timemania para tirar a obrigatoriedade de quem aderir à loteria se transformar em empresas? Quem fala isso é porque não lê o projeto. Ouvimos todos os segmentos, como atletas, imprensa e técnicos, não só os clubes. E o projeto tem contrapartida dos clubes, sim. O clube que aceita participar não pode mais dever para frente para a previdência, receita e fundo de garantia. Além disso, ele tem de publicar os balanços, com a participação do Conselho de Contabilidade. A publicação de balanços já não é obrigatória pelo Estatuto do Torcedor? Sim, mas não é possível fazer uma comparação. Cada clube coloca os itens que quiser, do jeito que quiser. Coloca passivo quando é ativo, bota dinheiro a receber como ativo... Agora está definido cada item, cada espaço. Como o senhor vê a atuação da “bancada da bola”? Nos últimos quatro anos, isso praticamente acabou, e não dá para identificar esse grupo. Nós aprovamos por unanimidade o Estatuto do Torcedor e a Lei de Moralização do Futebol, estamos aprovando a Timemania e vamos aprovar a mudança da Lei Pelé, para retomar a valorização do esporte brasileiro, da formação de atletas. Pelo que o senhor disse, a bancada não existe hoje, mas existia antes. O senhor é deputado federal desde 1994, então conviveu com esse grupo. Como ela atuava na época? Tem de perguntar a algum membro da bancada. Como eu vou saber? Mas o senhor, como membro titular da comissão de educação, cultura

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e desporto, deve ter visto como eles entravam em contato com os demais parlamentares para negociar antes das votações. Aí tem de perguntar a alguém dessa bancada. Como eu não participava disso, não tenho como dar informações. Como o senhor reage às acusações de que você, como ministro, teria se aproximado demais de dirigentes como o Carlos Arthur Nuzman (presidente do COB), a ponto de ir aos Jogos Olímpicos de Atenas como convidado da entidade? Isso não é uma acusação. Eu, institucionalmente, tenho de me relacionar com todos os dirigentes esportivos. Isso é despeito de gente frustrada com o bom desempenho do Ministério dos Esportes. Essa pasta praticamente não existia no Brasil, hoje tem força. Os frustrados que nunca fizeram nada pelo esporte no Brasil tentam fazer críticas, mas são desmoralizados. Não há uma área do esporte no Brasil a quem o ministério não respondeu. Qual seria o seu projeto ideal para o esporte brasileiro? Como o esporte no Brasil deveria se estruturar para ser o que os torcedores gostariam que fosse? As medidas já estão no Congresso. Se qualquer um quiser saber como o futebol brasileiro ficará, basta ler os artigos. Aí é possível compreender como os clubes se fortalecerão, como receberão pelos atletas que formarem, dívidas entre clube e atleta... Não estou falando de intenção ou como seria. A minha opinião está expressa em ações concretas para resolver problemas do futebol brasileiro.

O marco desse processo foi o amistoso entre Brasil e Haiti, em Porto Príncipe. Naquele momento, a CBF recuperava o expediente de usar a Seleção como ferramenta política. No caso, o governo teve reforçada sua condição de líder das forças de paz da ONU no país caribenho. Em troca, os cartolas viram as discussões da Timemania e do Estatuto do Desporto tomarem rumos mais simpáticos a sua causa. Talvez o maior símbolo dessa “virada de jogo” durante o governo Lula seja o deputado Aldo Rebelo, do PC do B. Quando presidia a CPI do Futebol, Rebelo levou ao delírio os desafetos de Eurico Miranda ao dizer ao presidente do Vasco que “difícil é ter que conviver com canalhas como o senhor”. Alguns anos depois, já ministro, Rebelo viu um assessor seu ser envolvido no escândalo dos Bingos e precisou de todo tipo de apoio para se tornar presidente da Câmara. Alguns meses mais tarde, Rebelo era homenageado pelo Vasco da Gama – e por seu presidente, Eurico Miranda. “Cheguei a doar R$ 2 mil para a campanha do Aldo como consideração por seu trabalho na CPI”, conta o jornalista Juca Kfouri, que não esconde sua decepção. “Aí você vê o poder de persuasão que têm esses caras”, completa.

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Tática, por Ubiratan Leal

4-5-1: A formação que

eses antes da Copa do Mundo, Carlos Alberto Parreira fez uma excursão pela Europa, para observar como atuavam as principais equipes do continente. Voltou dizendo-se satisfeito pelo fato de quase todas as formações táticas serem variações do 4-4-2 que ele tanto defende. Pois o Mundial mostrou que o técnico brasileiro não estava tão certo em sua observação, já que na competição se destacaram equipes que usaram esquemas que poderiam ser definidos como 4-5-1. Dos quatro semifinalistas, três – Itália, França e Portugal – jogaram com formações desse tipo. Cada seleção a adotou por motivos diferentes e, por isso, houve variações. França e Portugal tinham organização semelhante, com uma linha defensiva de quatro relativamente fixa, com menos avanços dos laterais do que se tornou comum no Brasil. Dois volantes fazem a proteção, com um mais livre para avançar. Um pouco à frente, há três meias de armação, sendo que dois podem fechar pelo meio, aproximando-se do único atacante fixo, ou partir para as pontas (veja ilustração 1). Raymond Domenech montou a equipe dessa maneira para não precisar colocar em campo, ao mesmo tempo, Trezeguet e Zidane, supostamente desafetos. No caso de Portugal, o 4-5-1 surgiu pela falta de opções de ataque – tanto que Pauleta só não foi titular contra o México, quando Luiz Felipe Scolari poupou seus principais jogadores. Na realidade, o sistema de franceses e portugueses não é uma novidade no futebol europeu. Desde que chegou a Stamford Bridge, José Mourinho monta o Chelsea dessa maneira. O Barcelona de Rijkaard tem formação semelhante, mas os jogadores abertos – Ronaldinho e Messi – ficam mais adiantados e, na prática, se transformam em atacantes no 4-3-3 dos catalães. O sistema que ajudou a Itália a conquistar o tetracampeonato em gramados alemães foi um pouco diferente. Nos jogos decisivos, Marcello Lippi posicionou seus meias abertos – Camoranesi e Perrotta – um pouco mais recuados e aproximou Totti de Toni, trabalhando como segundo atacante em alguns momentos (ilustração 2). Na realidade, o técnico tentou montar um 4-4-2 tradicional, com Totti de segundo atacante, mas o romanista se adaptou melhor quando recuou e se transformou em meia ofensivo. Outra seleção que atuou com o 4-5-1 na Copa foi a Inglaterra. No caso, foi uma tentativa de Sven-Goran Eriksson compensar a falta de dois atacantes (o sistema foi adotado após a contusão de Owen) e aproveitar o potencial ofensivo o quarteto de meias formado por Beckham, Gerrard, Lampard e Joe Cole. Para eles terem relativa liberdade para avançar, o treinador sueco deixou os quatro em linha e colocou um volante fixo (Carrick ou Hargreaves) atrás, para proteger a defesa.

M

A

M

ME

LE

MD

V

V

Z

Z

G

2. O 4-5-1 da Itália na Copa

A M

ME

MD V V

LE

Z

Z

LD

G

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LD

G: goleiro / LE: lateral-esquerdo / LD: lateral-direito / Z: zagueiro / V: volante / ME: meia-esquerdo / MD: meia-direito / M: meia / A: atacante

deu certo na Copa

1. O 4-5-1 de França e Portugal

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Capitais do futebol, por Cassiano Ricardo Gobbet

Londres

um clube por esquina mbora a origem do futebol não seja totalmente precisa, supõe-se que não tenha sido criado em Londres, e sim em Eton, a oeste da capital. Contudo, o envolvimento londrino com o esporte é tão intenso que a cidade poderia perfeitamente ter sido seu berço. A “cidade de Londres” não é o que quase todo mundo conhece por “Londres” – até por isso, ao contrário do que acontece nas outras cidades grandes da Inglaterra, como Liverpool, Manchester, Newcastle e Birmingham, não existe um “London FC”. A “City of London” é uma

E

pequena área do centro da cidade, com somente 9 mil moradores e nenhum time profissional. O estádio mais próximo da “City” é o Boleyn Ground, mas conhecido como Upton Park, do West Ham. Mas isso é mera formalidade, já que o que todo mundo conhece como Londres, que é a Grande Londres – região onde fica a capital e mais 32 “boroughs” (algo parecido com as subprefeituras de São Paulo) – tem futebol, sim. E como. Não há cidade no mundo mais envolvida com o futebol do que Londres. São 21 clubes na Football League – a liga

profissional de futebol (22, se contarmos também o MK Dons, que recentemente se mudou para a cidade de Milton Keynes) – e mais dezenas de outros amadores. Dezenas? Talvez sejam centenas. Essa incerteza é porque a noção de clube na Inglaterra está intimamente ligada à comunidade. Os grandes clubes ingleses, como o Manchester United e o Arsenal, começaram como grupos de trabalhadores de fábricas. Ainda hoje, pequenas associações comunitárias e mesmo os amigos que tomam cerveja juntos no “pub” agrupam-se ao redor de times amadores.

clubes da cidade 1 Arsenal Football Club

1 Recopa 13 Campeonatos Ingleses 10 Copas da Inglaterra 2 Copas da Liga Inglesa

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2 Tottenham Hotspur

Football Club 1 Recopa 2 Copas Uefa 2 Campeonatos Ingleses 8 Copas da Inglaterra 3 Copas da Liga Inglesa

3 Chelsea Football Club

2 Recopas 3 Campeonatos Ingleses 3 Copas da Inglaterra 3 Copas da Liga Inglesa

4 West Ham United

Football Club 1 Recopa 3 Copas da Inglaterra

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até vergonha comparar com as médias do Campeonato Brasileiro. Os campos de Hackney – ou “Hackney marshes” – são o lugar onde era jogado o entulho deixado pelos ataques nazistas durante a II Guerra Mundial. O local, hoje, dá uma idéia da afeição do londrino por futebol. São 88 campos oficiais que servem de palco para dezenas de ligas amadoras da Inglaterra. Num domingo típico, todos os campos ficam ocupados ao mesmo tempo.

ESTÁDIOS TÊM MAIS DE 100 ANOS Um outro aspecto interessante do futebol londrino é a idade de seus estádios mais importantes. Dos sete clubes da cidade que disputam a Premier League, quatro jogam em estádios com mais de 100 anos. Stamford Bridge, do Chelsea, e Upton Park, do West Ham, são, respectivamente, de 1904 e 1903. No caso de Tottenham e Fulham, a data de inauguração é do século XIX: White Hart Lane é de 1897, enquanto Craven Cottage recebe jogos do Fulham desde 1895. É claro que todos estes estádios já receberam reformas significativas, o que não impede que o aspecto exterior de muitos deles permaneça próximo ao original. O campo do Fulham, por exemplo, é todo de tijolinhos e mal parece um estádio de futebol para quem olha de fora.

Então tem um clube em cada esquina? É quase assim. A estrutura do futebol inglês estimula isso, pois o esporte no país se sustenta em dezenas e dezenas de ligas amadoras. Centenas de times disputam a Copa da Inglaterra, na qual tentam arrancar sua casquinha dos grandes e dos não tão grandes. O londrino comum não vai ao jogo porque está na moda. Vai porque gosta de futebol, seja ele em que nível for. O Crystal Palace, da segunda divisão, levou a seu estádio quase 20 mil pessoas por jogo na última temporada. O Leyton Orient, duas divisões abaixo, perto de 5 mil em cada partida. Dá

5 Charlton Athletic

Football Club 1 Copa da Inglaterra

A grande rivalidade londrina, ao contrário do que possa parecer para quem começou a acompanhar o futebol inglês recentemente, é entre Arsenal e Tottenham, o “clássico da zona norte”. As canções que as duas torcidas cantam quando os times se enfrentam estão longe de ser esportivas e relembram quanto os dois lados se odeiam. Recentemente, o Chelsea se tornou o todo-poderoso de Londres, graças à conta bancária infinita de seu dono russo, Roman Abramovich. Embora o clube de Stamford Bridge não tenha um rival tão mortal quanto os vizinhos da zona norte, jogos contra o Fulham e o West Ham são tradicionalmente acirrados para a torcida. Nos dias de jogos, os bolsões de torcedores são claramente identificáveis, com os “pubs” próximos aos estádios sendo ponto de encontro para os fanáticos que não podem pagar os ingressos (em Stamford Bridge, o ingresso mais barato, sem ágio, custa cerca de R$ 200). Mas, em geral, pela cidade, torcedores menos exaltados de todas as cores assistem às partidas juntos, civilizadamente. Até porque torcedor encrenqueiro, na Inglaterra, tem vida dura, especialmente dentro dos estádios, onde a segurança é reforçada.

6 Fulham

Football Club (nenhum título)

7 Watford

Football Club (nenhum título)

Escócia

Inglaterra

localização

Toby Mellville/Reuters

E a elite?

País de Gales

7 6 3

2 1

1

4 2

Londres 7.500.000 habitantes

Championship (segunda divisão): Crystal Palace, Queen’s Park Rangers League One (terceira divisão): Millwall, Leyton Orient League Two (quarta divisão): Barnet Conference (quinta divisão): Dagenham & Redbridge, Grays Athletic, Gravesend & Northfleet Conference South (sexta divisão): Fisher Athletic, Hayes, Sutton United, Thurrock, Welling United, Yeading

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Toby Mellville/Reuters

Temporada 2006/7

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A luta contra as

hegemonias Pela primeira vez na história, os mesmos clubes conquistaram bicampeonatos nas principais ligas européias. Será que ganharão o tri? arcelona, Chelsea, Lyon, Juventus (Internazionale) e Bayern de Munique. Nos cinco principais campeonatos europeus, os campeões de 2006 foram os mesmos que levantaram a taça no ano anterior. Tal fato nunca havia acontecido antes. Força financeira, bom planejamento e contratações inteligentes – em constraste com freqüentes erros dos principais rivais – explicam essa repetição no topo das tabelas. Na temporada 2006/7, com exceção da Itália, que teve as estruturas de seu futebol abaladas pelo escândalo “Calciocaos”, o atual campeão mais uma vez começa como favorito para repetir o feito. Mas isso não quer dizer que não houve mudanças importantes no futebol europeu. Neste verão, ouvimos falar de grandes transferências: Ballack, Shevchenko, Vieira, Van Nistelrooy, Cannavaro, Ibrahimovic. Faltou alguma coisa? Sim: não há nenhum brasileiro envolvido nas maiores transações. Será que a Europa não confia mais nos nossos jogadores? Fazer uma afirmação dessas seria exagero, claro. Até porque nomes como o de Kaká e Zé Roberto estiveram muito presentes nas especulações, e Emerson foi contratado pelo Real Madrid. Não dá para negar, porém, que o mau desempenho na Copa do Mundo fez com que os brasileiros deixassem de ser o centro das atenções, ao contrário do que aconteceu nos últimos quatro anos. Em vez dos brasileiros, os nomes mais falados foram de jogadores italianos – ou melhor, que jogam na Itália. Não bastasse o título mundial ter levado o foco do futebol de volta para a Bota, o rebaixamento da Juventus para a segunda divisão esquentou o mercado. Não por acaso, metade das grandes transferências da pré-temporada envolveu jogadores que deixaram a Vecchia Signora. Nas páginas a seguir, a Trivela mostra o que você pode esperar dos sete principais campeonatos nacionais do continente. Quem tem chances de derrubar os favoritos, como cada um dos candidatos ao título se reforçou e quais as principais transferências. Além disso, falamos também das eliminatórias para a Euro-2008, que começam em setembro.

B

Acostumado a gastar fortunas em contratações, o Chelsea não desembolsou nada para tirar Michael Ballack do Bayern

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29

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Campeonato espanhol, por Ubiratan Leal

Corrida a

Mahamadou Diarra Lyon Real Madrid € 26 milhões

C

dois

Sergio Agüero Independiente € 23 milhões

C Atlético de Madrid

Ruud van Nistelrooy Manchester United € 15 milhões

Times médios se reforçaram bem, mas Barcelona e Real Madrid estão muito acima dos adversários

C Real Madrid

Gianluca Zambrota Juventus Barcelona € 14 milhões

C

Eidur Gudjohnsen

O

30

proteger a defesa e em um zagueiro experiente e técnico para orientar o talentoso – e ainda estabanado – Sergio Ramos. Outra medida importante foi recolocar os “galácticos” na Terra. Capello não trombou com ninguém, mas fez o suficiente para deixar claro que a era de exaltação desmedida acabou. Se o Real Madrid reencontrar o caminho da competitividade, tem condições de disputar o título espanhol e a Liga dos Campeões.

Chelsea Barcelona € 12 milhões

Pouco espaço para os coadjuvantes

Valencia Zaragoza € 11 milhões

Para o Campeonato Espanhol, ter os dois grandes em bom momento é interessante, mas também diminui as chances de outras equipes. O caso mais evidente é o Valencia, que se consolidou como a “terceira via” espanhola na última década. Os Ches levaram para Mestalla os promissores Gavilán e Estoyanoff, além de ter em Del Horno um bom substituto para Fábio Aurélio (de saída para o Liverpool). Com Cañizares, Marchena e Villa, o time do competente técnico Quique Flores reúne condições de ser uma sombra para os grandes – mesmo com os resultados preocupantes na pré-temporada. Uma visão mais realista coloca o Valencia na briga com Villarreal, Atlético de Madrid e Sevilla por dois lugares na Liga dos Campeões. Desses, a maior incógnita é o Atleti, que contratou o técnico mexicano Javier Aguirre (responsável por levar o Osasuna à Liga dos Campeões), o jovem meia-atacante Kun Agüero (novo “queridinho” da torcida argentina) e o lateral/ala Pernía. Se Fernando Torres ficar, os Colchoneros têm qualidade para lutar pelas primeiras posições.

C

Fabio Cannavaro Juventus Real Madrid € 11,5 milhões

C

Émerson Juventus Real Madrid € 11,5 milhões

C

Pablo Aimar

C

Ernesto Chevantón Monaco Sevilla € 8,9 milhões

C

Asier del Horno Chelsea Valencia € 7,5 milhões

C

transações-chave

s títulos espanhol e europeu, somados ao futebol ofensivo apresentado na temporada passada, alimentaram a vaidade do Barcelona. Com o tradicional discurso de não mexer em time que está ganhando, a diretoria blaugrana, mais preocupada com problemas da política interna do clube, investiu pouco em reforços. Isso abriu o apetite de alguns clubes que se consideram concorrentes ao título. Mas, mesmo assim, a perspectiva é de ver a disputa pelo primeiro lugar mais uma vez limitada a Barça e Real Madrid. É evidente que, com a manutenção da base, o Barcelona inicia a temporada como favorito. Até porque, entre os poucos contratados, estão Thuram e Zambrotta, que devem dar mais consistência à defesa e ao lado direito da equipe. Mas a ausência de mudanças significativas também ajuda os adversários, pois sabe-se bem o que esperar dos catalães. E é aí que o Real Madrid pretende ganhar terreno. Os Merengues estão de fôlego novo na temporada 2006/7. Em junho, o advogado Ramón Calderón foi eleito presidente, prometendo nomes como Kaká, Messi, Fabio Capello, Fábregas, Robben e Cristiano Ronaldo. Algumas eram claramente promessas vazias, como Kaká e Messi. Mas Capello veio e, com ele, o Real Madrid ganhou um interlocutor para negociar com a Juventus pelos espólios do rebaixamento dos Bianconeri. O técnico italiano trouxe o volante Emerson e o zagueiro Cannavaro. Isso mostra que o treinador sabe que, mais do que estrelas, o Real precisa de um grupo homogêneo. Assim, logo pensou em uma maneira eficiente de

Georgios Seitaridis Dínamo de Moscou € 6 milhões

Atlético

C de Madrid

Lilian Thuram Juventus Barcelona € 5 milhões

C

Fernando Morientes Liverpool Valencia € 5 milhões

C

Robert Pires Arsenal

C Villarreal

Veja na coluna Olé!, no site www.trivela.com, todas as transferências do Campeonato Espanhol

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Gustav Nacarino/Reuters

Nesta temporada, o Real Madrid será uma parada mais dura para o Barcelona de Ronaldinho

Disputam o título atenção, mas dá motivos para cuidados, é o Sevilla. O atual campeão da Copa Uefa foi discreto na campanha de contratações, mas apostou certo no alemão Hinkel e no atacante uruguaio Chevantón, que deve fazer uma boa dupla com o ascendente Luís Fabiano. Também merecem atenção os laterais/alas brasileiros Daniel Alves (direita) e Adriano (esquerda), dois nomes que podem aparecer nos planos de Dunga. Com bons coadjuvanes, como Zaragoza, La Coruña e Athletic Bilbao, a temporada promete ser interessante, mesmo com a disputa do título limitada a dois times – os mais óbvios possíveis.

Barcelona

Real Madrid

Querem vaga nas copas européias Atlético de Madrid Betis Celta Deportivo La Coruña

Sevilla Valencia Villarreal Zaragoza

Meio de tabela

clubes

É justamente a ausência de cobranças uma das principais virtudes do Villarreal. No pequeno clube valenciano, a receita de apostar em sul-americanos e jovens segue em alta, até porque Sorín, Forlan e Riquelme continuam em El Madrigal, e o argentino Somoza (ex-Vélez) chegou. Só que há o risco de o modelo se esgotar, e existem dúvidas se Nihat e Pires se enquadrarão na filosofia de jogo de Manuel Pellegrini. Nesse contexto, até pode ser saudada a eliminação na Copa Intertoto. Ao menos, o Submarino Amarillo poderá se dedicar somente às competições domésticas. Um concorrente que chama pouco a

Athletic Bilbao Espanyol

Osasuna Real Sociedad

Brigam para não cair Getafe Gimnàstic Levante

Mallorca Racing Santander Recreativo Huelva Setembro de 2006

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Campeonato italiano, por Cassiano Ricardo Gobbet

Favoritos na

rabeira Juventus e Milan deixam de ser favoritos na Itália, mas o clima geral é melancólico oderia ser o ensejo de um início de campeonato fantástico: os dois maiores clubes do país têm suas chances limadas, e os outros pretendentes surgem como maiores candidatos. Contudo, a Série A 2006/7 começa com uma sombra negra sobre si, causada pelo escândalo do “Calciocaos”. Não tem sido simples buscar entusiasmo para quando a bola rolar. Pela primeira vez desde 1897, o Italiano começará sem a Juventus. O que deveria ser um estímulo, especialmente para os rivais diretos, tem um sabor acre de frustração. Por mais justa que seja a punição dada ao clube piemontês, não há como negar que o torneio perde parte de seu brilho – e certamente de seu valor econômico –, além de servir para tirar entusiasmo dos rivais. A punição de oito pontos para o Milan deixa a Internazionale como favorita ao título. Atual campeã no tapetão, a equipe do brasileiro Adriano finge que comemorou o título, mas sente a pressão por uma campanha impecável mais viva do que nunca. Uma Série A sem a Juventus e com o Milan punido é a chance dourada para o clube sair da fila de verdade, 17 anos depois da última conquista do scudetto em campo. Como sempre, o time gastou muito em reforços e certamente levou bons jogadores para Appiano Gentile. O francês Patrick Vieira é o nome de maior significância, e a chegada dos laterais brasileiros Maicon e Maxwell também aumenta o poder do time do técnico Roberto Mancini. Vários interistas estão em débito com a torcida e têm de render bem. É o caso de Adriano, que teve, em 2005/6, uma temporada sofrível, e do uruguaio Recoba, que nunca justificou em campo seu salário milionário. Se eles não jogarem bem desta vez, vão jogar quando? No papel, a adversária da Inter é a Roma. Capitaneada por Francesco Totti, já uma lenda viva no clube, e treinada pelo excelente Luciano Spaletti, a Roma não fez contratações de peso, mas tem um grupo uniforme e bons jogadores jovens. O zagueiro francês Phillippe Méxès disse, no final de julho, que vê a Roma no mesmo patamar da Inter. Ele tem razão. Se os Nerazzurri têm mais craques, a Roma possui um grupo mais

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Emmevi/EFE

P

Inter aproveitou o rebaixamento da Juventus para trazer Vieira (foto), e Ibrahimovic

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transações-chave

fechado e mais tranqüilidade do que a rival de Milão, que tem de ganhar o campeonato a qualquer custo. O Milan? Bem, o Milan está na confortável posição de franco-atirador. Se não vencer o título, ninguém condenará, porque teve uma dedução de oito pontos em decorrência do escândalo Moggi. Mas, time por time, é hoje o melhor da Itália. O elenco milanista não assimilou bem a punição e considera-se injustiçado. Muito provavelmente o grupo entrará na competição com um entusiasmo extra. “Mas e a diferença de oito pontos?” Certamente, ela pesará. Nas ultimas três temporadas, o Milan terminou, em média, seis pontos à frente do rival mais próximo na tabela. A evolução do clube na Liga dos Campeões é fundamental para o Italiano. Se o Milan luta pela Europa, relaxa no âmbito doméstico. Está aí a chave para Roma e Inter. Fiorentina e Palermo têm elenco para uma possível luta pelo título, mas enfrentam dois obstáculos. O clube de Florença precisa compensar a punição de 11 pontos, enquanto o time siciliano precisa “amadurecer” como clube para se candidatar ao título. Considerados esses problemas, pode-se dizer que estão na briga. As contratações finais dos clubes, perto do fim da janela de transferências (último dia de agosto), terão grande peso na balança para decidir quem é mais ou menos favorito. Mas este Italiano se decidirá principalmente pelo controle dos nervos. A Inter tem a faca e o queijo na mão, mas é o time sob maior pressão e com menor instabilidade emocional. Roma e Milan têm todas as chances e ainda há os “neo-pequenos”, como Lazio, Parma e Sampdoria, que não têm esquadrões, mas servem de campo minado para os gigantes. Pena para a Juve, que, enquanto isso acontecer, estará reaprendendo os valores do esporte enfrentando o Spezia ou o Frosinone na Série B.

Andriy Shevchenko Milan Chelsea € 44,5 milhões

C

Zlatan Ibrahimovic Juventus Internazionale € 24,8 milhões

C

Gianluca Zambrota Juventus Barcelona € 14 milhões

C

Fabio Cannavaro Juventus Real Madrid € 11,5 milhões

C

Emerson Juventus Real Madrid € 11,5 milhões

C

Patrick Vieira Juventus Internazionale € 9,5 milhões

C

Sebastien Frey Parma Fiorentina € 5,75 milhões

C

Fabio Grosso Palermo Internazionale € 5,5 milhões

C

Lilian Thuram Juventus Barcelona € 5 milhões

C

Yoann Gourcuff Rennes Milan € 4,5 milhões

C

Internazionale Milan

Roma

Querem vaga nas copas européias Chievo Fiorentina

Lazio Palermo

Sampdoria

Parma Torino Catania Messina Reggina

Palermo Lazio € 3,3 milhões

C

Daniele Bonera Parma Milan € 2,5 milhões

C

Monaco Udinese

C Internazionale

Adrian Mutu Juventus

Brigam para não cair Ascoli Atalanta Cagliari

Stephen Makinwa

Maicon

Meio de tabela Empoli Livorno

clubes

Disputam o título

C Fiorentina

Valery Bojinov Siena

Fiorentina

C Juventus

Veja na coluna Fuoriclasse, no site www.trivela.com, todas as transferências do Campeonato Italiano Setembro de 2006

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8/23/06 2:44:02 AM


Campeonato inglês, por Tomaz R. Alves

Competição

desleal

Na hora em que Manchester United, Liverpool e Arsenal achavam que estavam encostando no Chelsea, o time de Roman Abramovich volta a disparar omo competir contra um clube que tem dinheiro infinito? Essa é a pergunta, até agora sem resposta, que fazem Manchester United, Liverpool e Arsenal. A fortuna que Roman Abramovich gasta a cada ano para reforçar o Chelsea torna impossível para outros clubes – mesmo os mais ricos – competir em pé de igualdade. Na temporada passada, Manchester United e Liverpool, conseguiram, a duras penas, manter um desempenho igual ao do Chelsea na segunda metade do Campeonato Inglês. Como os Blues haviam aberto uma larga vantagem no primeiro turno, a conquista do título não chegou a ser ameaçada. Mas, pelo menos, havia a esperança de um torneio equilibrado na temporada 2006/7. Só que a esperança logo foi para o ralo. Ainda antes da Copa do Mundo, o Chelsea anunciou a contratação de Michael Ballack e Andriy Shevchenko. Ou seja, Abramovich pegou um time que era o melhor da Inglaterra e adicionou um craque no meio-campo e um atacante que pode ser considerado o melhor do mundo. Enquanto isso, Manchester United, Arsenal e Liverpool patinavam, com campanhas de contratações que, se não são ruins, também não chegam nem perto de lhes proporcionar o salto de qualidade necessário para derrubar o atual bicampeão. O time de Alex Ferguson foi a maior decepção. Sim, o Manchester fez uma contratação bombástica. Mas o destaque se dá pelo valor envolvido, não pela qualidade do contratado. Ou alguém acha que Michael Carrick, titular do Tottenham e reserva da seleção inglesa, valha € 27,6 milhões? Além disso, o clube vendeu Van Nistelrooy,

clubes

C

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Disputam o título Arsenal Chelsea Liverpool Manchester United

Querem vaga nas copas européias Blackburn Bolton Everton

Middlesbrough Newcastle Tottenham

atacante que, embora não tenha feito uma grande temporada, era um nome importante da equipe. Falou-se que o United poderia aproveitar o rebaixamento da Juventus para se fortalecer, mas isso não aconteceu. De resto, só se falou em nomes de segunda linha, como o brasileiro Marcos Senna ou o goleiro Tomasz Kuszczak. O Arsenal praticamente não mudou. Fez uma ótima contratação – o tcheco Tomas Rosicky – e ficou nisso. Apesar do vice na última Liga dos Campeões, poucos acreditam que o time de Arsène Wenger possa brigar seriamente pelo título inglês. Na Inglaterra, os adversários aprenderam a anular o Arsenal e, a não ser que Wenger tire um coelho da cartola, o clube deve ficar atrás não só do Chelsea, mas também de Manchester United e Liverpool. Por falar em Liverpool, Rafa Benítez é um excelente técnico, mas ainda não percebeu que, para brigar pelo título, precisa de craques. O clube foi um dos mais ativos no mercado de transferências, mas só negociou jogadores de segunda linha, que serviriam, no máximo, para reforçar o banco de reservas do Chelsea. Nomes como Jermaine Pennant, Fábio Aurélio e Gabriel Paletta não têm qualidade para fazer o Liverpool dar um salto de qualidade. Dirk Kuyt tem potencial, mas ainda é uma incógnita. Fora desse trio, não há como pensar em desafiar o Chelsea. Tottenham, Blackburn e Bolton têm times arrumadinhos, mas estão muito abaixo dos quatro “grandes”. O máximo a que clubes como esses podem aspirar é o quarto lugar, que vale uma vaga na Liga dos Campeões.

Sem esperança Não bastasse sua infinita capacidade de gastar dinheiro, o Chelsea é bem administrado pelo chefe-executivo Peter Kenyon. No banco de reservas está José Mourinho, um dos melhores técnicos do mundo. O clube promove “limpezas” freqüentes no elenco, vendendo jogadores que não renderam o esperado ou que não aceitariam o banco de reservas (casos de Duff, Del Horno e Gudjhonsen, entre outros). Ou seja, não dá nem para contar com problemas fora de campo para derrubar os Blues. O desafio do Chelsea em 2006/7 é ganhar a Liga dos Campeões, torneio no qual o time teve desempenho decepcionante nas últimas duas temporadas. O título inglês é dado como certo, e só não irá para Stamford Bridge pela terceira vez seguida se acontecer algo dramático, como Abramovich ser preso. Sem reviravoltas hollywoodianas, estamos prestes a assistir a mais um passeio azul na Premier League.

Meio de tabela

Brigam para não cair

Aston Villa Charlton Manchester City West Ham

Fulham Portsmouth Reading Sheffield United

Watford Wigan

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C

Eddie Keugh/Reuters

transações-chave

Andriy Shevchenko Milan Chelsea € 44,5 milhões

Contratação mais cara do ano, Shevchenko é a peça que faltava para o Chelsea

Michael Carrick Tottenham Manchester United € 27,6 milhões

C

John Obi Mikel Lyn Chelsea € 23,7 milhões

C

Dimitar Berbatov Bayer Leverkusen € 16 milhões

C Tottenham

Ruud van Nistelrooy Manchester United € 15 milhões

C Real Madrid

Khalid Boulahrouz Hamburg Chelsea € 15 milhões

C

Dirk Kuyt Feyenoord Liverpool € 15 milhões

C

Andrew Johnson Crystal Palace € 12,8 milhões

C Everton

Didier Zokora St. Etienne Tottenham € 12,2 milhões

C

Eidur Gudjohnsen Chelsea Barcelona € 12 milhões

C

Tomas Rosicky Borussia Dortmund € 10 milhões

C Arsenal

Jermaine Pennant Birmingham € 10 milhões

C Liverpool

Craig Bellamy Blackburn € 9 milhões

C Liverpool

Emile Heskey Birmingham € 8,2 milhões

C Wigan

Damien Duff Chelsea Newcastle € 7,4 milhões

C

Michael Ballack Bayern de Munique

C Chelsea

Veja na coluna London Calling, no site www.trivela.com, todas as transferências do Campeonato Inglês

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Campeonato alemão, por Carlos Eduardo Freitas

Christian Charisius/Reuters

Diego é a principal aposta do Werder Bremen na luta contra o Bayern de Munique

Enfim, concorrência Werder Bremen e Hamburg tentam se aproveitar de um momento de fraqueza do bicampeão Bayern, que perdeu Ballack e Zé Roberto m Bayern desfalcado de Ballack e Zé Roberto mais um Werder Bremen reforçado por Diego e Per Mertesacker são as maiores esperanças de que o Campeonato Alemão deixe de ser uma corrida de um cavalo só, como nas últimas duas temporadas. A 44ª edição da Bundesliga começa ainda com um pouco de saudades da Copa do Mundo. Apesar do clima de fim de feira que ficou no país depois de 9 de julho, não há por que não esperar que o Campeonato

U 36

Alemão não empolgue o país. Se, por um lado, a competição perdeu bastante com a ida de seu maior jogador, Michael Ballack, para o Chelsea e não viu a chegada de nenhum monstro, a luta contra o quarto tricampeonato do Bayern promete ser intensa. Por mais que os bávaros tenham investido mais do que qualquer clube alemão nas contratações de Lukas Podolski e Daniel van Buyten (€ 10 milhões cada),

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Sensação em 2005/6, quando surpreendeu ao tirar Rafael van der Vaart e Nigel de Jong do Ajax, o Hamburg mais uma vez iniciou a temporada atravessando gigantes europeus. No mesmo dia em que anunciou a saída de Van Buyten para o Bayern, o HSV apresentou o belga Vincent Kompany, ex-Anderlecht, desejado por potências como Milan e Real Madrid, entre outros. Se por um lado os hanseáticos têm nomes fortes para a defesa e o meio-campo, o poderio ofensivo deixa a desejar. Não dá para esperar muito de um time que depende de José Paolo Guerrero, saído do Bayern, e de Benjamin Lauth.

Correndo por fora Além desse trio, Schalke 04, Bayer Leverkusen e Borussia Dortmund correm por fora. Dentre eles, o Schalke leva vantagem por não ter mudado muito sua base e ter trazido dois bons reforços para o ataque, setor mais débil em 2005/6. Chegaram Peter Lovenkrands e Halil Altintop, terceiro maior goleador da última Bundesliga, com 20 gols. Se, por um lado, a equipe de Gelsenkirchen não recebeu o dinheiro da LC, por outro, o fato de não ter de se dividir entre as duas competições – a Copa Uefa exige menos – deve ajudar a conquistar algum destaque. Dortmund e Leverkusen foram as equipes que mais perderam individualmente. Enquanto o Borussia perdeu os tchecos Tomas Rosicky e Jan Koller, o Leverkusen vendeu Dimitar Berbatov, vice-artilheiro da última temporada. Não dá para dizer que repuseram as saídas à altura, mas permanecem acima da média da concorrência que teriam pela metade superior da tabela. Até segunda ordem, o domínio deve continuar do Bayern, mas, ao contrário das últimas duas temporadas, dá para ver rivais em boa situação.

transações-chave

Werder Bremen e Hamburg mudaram pouco suas bases e fizeram contratações certeiras. A principal dificuldade de Felix Magath frente ao Bayern será encontrar o esquema ideal para o time após as saídas de Ballack e Zé Roberto, os principais armadores do time. Sem os dois nem nenhum nome de peso para o setor, muito provavelmente os bávaros jogarão com três zagueiros, uma formação que nunca agradou o atual treinador. Outro ponto de interrogação diz respeito ao ataque, que não marcou nenhuma vez na pré-temporada. Roy Makaay há tempos não é mais o mesmo. Podolski ainda é uma incógnita, apesar do status de ídolo nacional após a Copa do Mundo. Enquanto o Bayern corre contra o tempo para acertar o time, os principais rivais têm a seu favor o entrosamento, já que seus elencos pouco mudaram. Quem mais leva vantagem no confronto direto contra o atual campeão é o Werder Bremen, clube que encantou o país em 2005/6 com um futebol ofensivo e de toques rápidos. A defesa, que era o calcanhar de Aquiles, ganhou um reforço de peso com a chegada de Per Mertesacker, destaque no Hannover 96 e também na seleção durante a Copa. A grande incógnita no time do Weserstadion diz respeito à chegada de Diego para o lugar de Johan Micoud, maestro do time nas últimas temporadas, que volta à França. Há quem duvide que o ex-santista, depois de uma passagem apagada pelo Porto, consiga se adaptar à vida na Alemanha. Sua participação na Copa da Liga Alemã, porém, recebeu elogios e afastou, pelo menos de início, a desconfiança. Diego será o motor da equipe e terá como tarefa principal servir Miroslav Klose e Ivan Klasnic, a mais letal dupla de ataque do país.

Dimitar Berbatov B. Leverkusen € 16 milhões

C Tottenham

Khalid Boulahrouz Hamburg Chelsea € 15 milhões

C

Daniel van Buyten Hamburg Bayern € 10 milhões

C

Lukas Podolski Colônia Bayern € 10 milhões

C

Tomas Rosicky B. Dortmund € 10 milhões

C Arsenal

Vincent Kompany Anderlecht € 8 milhões

C Hamburg

Diego Porto Werder Bremen € 6 milhões

C

Stefan Kiessling Nuremberg € 5 milhões

C B. Leverkusen

Per Mertesacker Hannover 96 W. Bremen € 5 milhões (+ Frank Fahrenhorst)

C

Nelson Valdez W. Bremen B. Dortmund € 4,5 milhões

C

Alexander Frei Rennes B. Dortmund € 4 milhões

C

Andreas Hinkel Stuttgart Sevilla € 4 milhões

C

Michael Ballack

clubes

Bayern

Disputam o título

Querem vaga nas copas Bayern de Munique européias Hamburg Werder Bremen

Bayer Leverkusen Borussia Dortmund Schalke 04

Meio da tabela Borussia Mönchengladbach Eintracht Frankfurt Hannover 96 Hertha Berlim Stuttgart Mainz 05 Wolfsburg Nuremberg

Brigam para não cair Alemannia Aachen Arminia Bielefeld Bochum Energie Cottbus

C Chelsea Jan Koller B. Dortmund C Monaco Halil Altintop Kaiserslautern C Schalke 04 Veja na coluna Tor!, no site www.trivela.com, todas as transferências do Campeonato Alemão

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inseguro Benfica e Sporting têm boas chances de impedir o bicampeonato do rival Porto

epois do quarto lugar conquistado na Copa do Mundo, a torcida deveria estar empolgada para o início do Campeonato Português. Mas, ao voltar os olhos para o torneio nacional, ela se depara com uma competição sem grandes nomes, com a mesma briga de sempre para saber quem será campeão. Sem dúvida, o panorama deixa um sabor de frustração. Ao menos, os problemas vividos pelo Porto, atual campeão, no início de agosto, deixam em aberto a briga pelo título. O Benfica aposta suas fichas no retorno de Rui Costa à terra natal. O meia, sem espaço no Milan, chega ao clube encarnado com o status de grande estrela do elenco. Por outro lado, Geovanni e Robert deixaram o time. Os Águias tentam se recuperar da frustração na última temporada no campeonato nacional, quando terminaram em terceiro lugar. A esperança é de se espelhar na boa campanha na última Liga dos Campeões. O Sporting tenta acabar com o jejum de quatro temporadas sem o título da liga

clubes

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Disputam o título Benfica Porto Sporting

Querem vaga nas copas européias Boavista Braga Nacional

portuguesa. Para isso, manteve seus principais jogadores e aposta nas chegadas de Carlos Bueno e Pontus Farnerud, de passagens apagadas pelo futebol francês. Porém, o sucesso da equipe depende mesmo de Liédson, vice-artilheiro do último campeonato com 15 gols. As chances dos dois desafiantes aumentam com os recentes problemas vividos pelo Porto. Co Adriaanse e a comissão técnica pediram demissão por desentendimentos com a diretoria do clube. Sem dúvida, é um golpe que atrapalhará a preparação dos Dragões. O time aiinda perdeu Diego e Benny McCarthy, entre outros nomes, e não fez nenhuma contratação para compensar essas saídas. Diferentemente da maioria dos grandes campeonatos da Europa, o Português começará sem ter um favorito destacado. O que não quer dizer que a disputa será totalmente aberta, já que se limitará aos três grandes de sempre. Entre os favoritos, há um certo nivelamento. Pena que seja por baixo.

Meio de tabela

Brigam para não cair

Estrela Amadora Marítimo Paços de Ferreira União Leiria Vitória de Setúbal

Acadêmica Aves Beira-Mar Belenenses Naval

Diego Porto Werder Bremen € 6 milhões

C

Benny McCarthy Porto Blackburn € 3,7 milhões

C

Diogo Valente Boavista

C Porto Pontus Farnerud Strasbourg C Sporting Carlos Bueno PSG C Sporting Rui Costa Milan C Benfica Kikín Fonseca Cruz Azul C Benfica Veja na coluna É Golo!, no site www.trivela.com, todas as transferências do Campeonato Português

As chances do Sporting passam pelos pés de Liédson

Marcos Borga/Reuters

Porto

transações-chave

Campeonato português, por Ricardo Espina

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Campeonato francês, por Ricardo Espina Novo reforço do Olympique, Djibril Cissé é um dos nomes mais famosos do Campeonato Francês

Jean-Paul Pelissier/Reuters

Mais do mesmo Rivais dificilmente interromperão a supremacia do Lyon na Ligue 1

clubes

N

ões, os Girondinos praticamente não mexeram na equipe. Para compensar a saída de Bruno Cheyrou, que voltou ao Liverpool, o time contratou Johan Micoud, um dos destaques do Werder Bremen. A chegada dá ao elenco um pouco mais de experiência para a disputa da Liga dos Campeões. E aí está um problema para o Bordeaux: com um grupo reduzido, terá dificuldades para manter o nível em dois torneios simultâneos. O Lille chega, como nos outros anos, sem fazer barulho. Com um time sem grandes nomes, o LOSC aposta na força do elenco. Com um bom conjunto em mãos, o técnico Claude Puel desbancou times de maior tradição e levou o Lille ao bloco de cima da Ligue 1. Enquanto isso, o Lyon se preparou para ampliar seus horizontes. Com a supremacia consolidada na França, o clube pensa em vencer a Liga dos Campeões. Para a defesa, chegou Sébastien Squillaci, destaque do Monaco. Kim Källström, da seleção sueca, deixou o Rennes para disputar um lugar no meio-campo. Jérémy Toulalan, uma das revelações do Nantes, vem para reforçar a marcação. Com um grupo forte, os lioneses se sentem à vontade para se dividirem em duas frentes sem deixar o nível cair – uma péssima notícia para seus concorrentes.

Disputam o título

Querem vaga nas copas européias

Lyon Bordeaux Lille

Auxerre Lens Monaco

Olympique de Marselha PSG Rennes

Mahamadou Diarra Lyon Real Madrid € 26 milhões

C

Didier Zokora St. Etienne Tottenham € 12,2 milhões

C

Ernesto Chevantón Monaco Sevilla € 8,9 milhões

C

Sébastien Squillaci

transações-chave

os últimos cinco anos, o Lyon não deu espaço para ninguém na França. A equipe de Juninho Pernambucano, a cada ano, amplia o abismo que a separa de seus demais concorrentes. Como os rivais se mexeram pouco para 2006/7, a Ligue 1 deve mais uma vez assistir à mesma cena. Bordeaux, Lille, Olympique de Marselha e PSG tentam deixar de ser coadjuvantes da festa lionesa, mas a forma como se prepararam não inspira otimismo. O Olympique de Marselha passou por uma grande renovação. Diversos jogadores deixaram o clube (casos de Barthez, Déhu, Delfim, Meité e Demetrius). Por outro lado, o OM foi o responsável pela maior novidade até aqui: repatriou Djibril Cissé. A vinda do atacante é um atrativo para um clube que busca retomar o respeito de épocas anteriores. O PSG seguiu o mesmo caminho do rival. Desta vez, o time fez um planejamento mais inteligente e trouxe apenas as peças realmente necessárias para o time. O setor defensivo, uma das principais fragilidades da última temporada, ganhou a experiência de Mickaël Landreau e Sammy Traoré. No meio-campo, o PSG tirou David Hellebuyck do St. Etienne para municiar o atacante Pauleta. Por outro lado, Bordeaux e Lille preferiram apostar na manutenção do elenco. Vice-campe-

Monaco Lyon € 7,9 milhões

C

Jérémy Toulalan Nantes Lyon € 7 milhões

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Johan Micoud Werder Bremen € 3 milhões

C Bordeaux

Djibril Cissé Liverpool

C Olympique de Marselha

Jan Koller Borussia Dortmund

Veja na coluna Tout le Foot, no site www.trivela.com, todas as transferências do Campeonato Francês

Meio de tabela

Brigam para não cair

Le Mans Nancy Nantes Nice

Lorient Sedan Sochaux Troyes

St. Etienne Toulouse

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C Monaco

Valenciennes

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Os favoritos

Divulgação

Campeonato holandês, por Cassiano Ricardo Gobbet

não estão mais sozinhos Avanço do AZ é a principal novidade na briga pelo título temporada 2005/6 continuou a ver a Holanda como uma “Mickey Mouse League”, ou seja, um campeonato que dificilmente tem novidades fora do trio Ajax-Feyenoord-PSV. Mas, mesmo com o PSV levando a taça com certa tranqüilidade, os indícios de competitividade foram animadores, principalmente os que vieram de Alkmaar. É de lá o clube que tem conseguido o maior avanço, o AZ. Comandada por Louis van Gaal, a equipe montou uma estrutura de porte e, neste ano, estreou no DSB Stadion, que tem o dobro de capacidade do antigo Alkmaarderhout (no primeiro jogo, contra o

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Koen van Weel/Reuters

PSV e Ajax poderão ter companhia na briga pelo título

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Arsenal, quem fez o primeiro gol foi o brasileiro Gilberto Silva). Em campo, o time perdeu o capitão Landzaat, mas fez excelentes contratações, como o atacante Dembelé e o zagueiro David Mendes da Silva, conhecidíssimo de quem joga “Football Manager”. O PSV manteve praticamente o mesmo time. As saídas de Theo Lucius e Johan Vonlanthen não abalam o grupo, e o mexicano Salcido pode se revelar muito útil para o novo técnico, Ronald Koeman, que substitui Guus Hiddink. Koeman tende a montar o time mais ofensivamente que seu antecessor, mas dá muita importância ao mecanismo defensivo. A maior briga, claro, será com o Ajax, que vem com muitas mudanças e potencial imenso. O novo técnico, Henk ten Cate, tem excelente reputação e era o homem de confiança de Frank Rijkaard no Barcelona. Jaap Stam, ex-Milan e Manchester United, chegou com a responsabilidade de comandar uma defesa ótima tecnicamente, mas muito jovem. Contra esse Ajax, no qual o atacante KlassJan Huntelaar é o maior destaque, Feyenoord e AZ jogam em igualdade de condições. O Feyenoord se manteve durante todo o campeonato passado no bloco dos líderes. Para este ano, contratou Henk Timmer, do AZ (o melhor goleiro da última temporada holandesa), mas perdeu Salomon Kalou para o Chelsea. Com o dinheiro, deve ter condições de manter o resto de um elenco bastante equilibrado. Dá para ter um campeão fora do duo AjaxPSV? Sim, dá. Com os dois titãs na Liga dos Campeões e de técnicos novos, AZ e Feyenoord podem aproveitar seu entrosamento. Isso, somado aos playoffs que decidem vagas em copas européias (exceto a do campeão), deve fazer da Eredivisie um campeonato muito interessante nesta temporada.

Na Bélgica, nada de apostas Vai apostar seu dinheiro em quem ganhará o Campeonato Belga? Bom, no ano passado, descobriu-se que isso não é uma boa. O escândalo de uma máfia de apostas no país comandada por um empresário chinês foi um furacão no futebol local, e, nesta temporada, o grande trabalho é justamente recobrar a confiança da torcida. O campeonato, que lapida craques para as ligas maiores (como Zokora, do Tottenham, Aruna, do Lens e Simons, do PSV), quer ser notícia só pelo futebol. Para isso, o campeão Anderlecht demitiu os jogadores envolvidos na maracutaia e, forte depois de sua 28ª conquista nacional, se mantém como favorito. Mesmo sem Vincent Kompany (que deve estrelar na Bundesliga pelo Hamburgo), o clube do Constant Vanden Stock tem um grupo sólido, no qual a maior promessa é o congolês Memé Tchité, que o treinador Frank Vercauteren espera que se consolide.

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Euro-2008, por Tomaz R. Alves Itália caiu no grupo mais difícil das eliminatórias

Eliminatórias da

renovação Menos de 60 dias após a final da Copa, equipes européias começam a briga por vagas na Eurocopa período pós-Copa é uma época de renovação nas seleções. A maioria troca de técnico, os jogadores mais velhos se aposentam, e novatos ganham “chances”. É nesse clima de mudanças que começam as eliminatórias para a Euro-2008, com uma rodada dupla no início de setembro. O grupo B é o mais interessante, com os dois finalistas do último Mundial: Itália e França. Ambos apresentam grandes mudanças em relação aos times que decidiram a Copa em Berlim. Na França, Domenech tem que mudar o núcleo de sua seleção, já que Zidane e Makélélé (entre outros) se aposentaram. Na Itália, as saídas têm menos peso, mas há mudanças no banco – no lugar de Marcello Lippi, quem agora dirige a Azzurra é Roberto Donadoni. E não é só: o grupo B tem um terceiro time que chegou às quartas-de-final do Mundial – a Ucrânia. Como se classificam para a Euro só os dois primeiros, é certo que um dos oito melhores times da Copa ficará de fora. O grupo A encontra a mesma situação, já que também conta com três equipes que estiveram na Alemanha: Polônia, Portugal e Sérvia. Embora tenha perdido jogadores importantes (como o atacante Pauleta), o time de Felipão começa as eliminatórias como favorito, cabendo aos outros dois que estiveram na Copa, junto com a Bélgica, brigar pela segunda vaga. Enquanto os grupos A e B contam com três seleções que estiveram na Alemanha, o grupo C não tem nenhuma equipe do último Mundial. Isso acontece devido ao critério usado para a divisão dos times em níveis, no sorteio dos grupos. Em vez de usar o ranking

seleções

Giampiero Sposito/Reuters

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da Fifa, a Uefa criou um índice baseado em torneios recentes. Por isso, a Grécia, campeã da Euro-2004, acabou como cabeça-dechave, tendo Turquia e Noruega como principais adversários. Em grupos de média dificuldade estão Inglaterra, Alemanha e Espanha. Sem dúvida, os três são favoritos à classificação, mas enfrentarão adversários perigosos. Os ingleses, de técnico novo, jogarão contra a sempre difícil Croácia e a seleção da Rússia, agora sob o comando de Guus Hiddink. A Alemanha encontrará a República Tcheca, equipe que a derrotou na primeira fase da Euro2004, e ainda tem que superar a perigosa Irlanda. Já a Espanha enfrentará Suécia e Dinamarca, os dois times que eliminaram a Itália na primeira fase da última Eurocopa. A tarefa mais fácil é a da Holanda. A Oranje terá como adversários mais difíceis Romênia, Bulgária e Eslovênia. É um grupo perfeito para Van Basten ajustar seu elenco jovem e promissor.

grupo A

grupo B

grupo C

grupo D

grupo E

grupo F

grupo G

Armênia Azerbaijão Bélgica Cazaquistão Finlândia Polônia Portugal Sérvia

Escócia França Geórgia Ilhas Faroe Itália Lituânia Ucrânia

Bósnia Grécia Hungria Malta Moldova Noruega Turquia

Alemanha Chipre Eslováquia Irlanda País de Gales Rep. Tcheca San Marino

Andorra Croácia Estônia Inglaterra Israel Macedônia Rússia

Dinamarca Espanha Irlanda do Norte Islândia Letônia Liechtenstein Suécia

Albânia Bielorrússia Bulgária Eslovênia Holanda Luxemburgo Romênia

*classificam-se os dois primeiros de cada chave

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Eleições na Uefa, por Caio Maia

Martial Trezzini/EFE

Falsa renovação Platini anuncia candidatura à presidência da Uefa. Mas uma vitória do francês não representaria renovação entre os dirigentes do futebol europeu

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Srdjan Suri/EFE

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uma equipe da Ásia ou da África se classificar para a Copa do Mundo – o que levou, por exemplo, ao boicote dos africanos ao torneio em 1966. Havelange aproveitou-se do sentimento, é verdade, mas, segundo o livro de Yallop, dificilmente teria ganho a eleição de 1974 se não tivesse pago pessoalmente as passagens e hospedagens de delegados africanos. “Muitos nunca haviam estado em uma reunião da Fifa porque não tinham dinheiro para a viagem”, diz o jornalista. Por trás do “romantismo” de Platini parece se desenhar uma estratégia parecida. O francês chegou a propor, há alguns anos, que a Liga dos Campeões fosse substituída por uma competição em com nada menos que 256 clubes, sob o argumento de que “o Bayern de Munique também tem que jogar em Malta, ou na Geórgia, de vez em quando”. Tudo muito bonito, desde que, do outro lado, não houvesse uma organização chamada G-14, que reúne 18 dos clubes mais importantes e ricos da Europa. Clubes que, certamente, não têm intenção de jogar em Malta ou na Geórgia. O adversário de Platini na eleição será o sueco Lennart Johansson, há 16 anos presidente da Uefa. O sueco foi justamente o homem derrotado pelos “padrinhos” de Platini na eleição para a presidência da Fifa, em 1998. Naquele ano, o sueco era o favorito até semanas antes do pleito, que foi vencido por Joseph Blatter. Fala David Yallop: “Em 1998, centenas de milhares de dólares da Fifa foram gastos para garantir a eleição de Blatter”. Apesar da oposição, Johansson mostra-se confiante para a eleição da Uefa. “Platini terá dificuldades para conseguir os votos. Nas duas últimas vezes, fui eleito por unanimidade”, diz.

3 51 anos 3 Foi co-presidente do comitê organizador da Copa de 1998 3 Como jogador, ganhou a Bola de Ouro em 1983, 1984 e 1985 3 Técnico da França de 1988 a 1992 3 Membro do Comitê Executivo da Fifa

os candidatos

uas semanas depois do final da Copa da Alemanha, o ex-craque francês Michel Platini anunciou que enfrentará Lennart Johansson na eleição para a presidência da Uefa. Para quem não acompanha de perto a política da bola, pode parecer que a candidatura de um ex-craque a um cargo desta importância significaria uma mudança no enfoque excessivamente comercial que toma conta da administração do futebol hoje. Um olhar mais atento, no entanto, recomenda cautela na conclusão. “Platini não vai mudar nada. É mais uma cria de João Havelange. Ele vem sendo preparado desde 1998”. Essa foi a resposta do veterano jornalista inglês David Yallop à Trivela quando perguntado sobre a candidatura do francês. “Não podemos confundir seu talento em campo com o que vem fazendo desde que se aposentou. É um homem ambicioso. Ele segue o dólar”, acrescentou. Yallop é o autor de “Como Eles Roubaram o Jogo”, livro de 1998 que foi um dos primeiros a expor o esquema de favorecimentos e pagamentos que levou João Havelange a ganhar a eleição para a presidência da Fifa, em 1974. Não faltam semelhanças entre o movimento que levou Havelange ao comando da Fifa e o que pretende levar Platini ao mesmo cargo, com uma escala na presidência da Uefa. “Sou um romântico do futebol e quero diminuir a influência econômica no esporte”, disse Platini em Paris, no dia em que anunciou sua candidatura. O “romantismo”, na verdade, é o pretexto para cortejar os “pequenos” da Europa - federações que não conseguem emplacar seus clubes nas milionárias competições da Uefa. Foi assim que Havelange chegou ao poder, explorando o fato de que, até 1974, era muito difícil

Michel Platini

Lennart Johansson 3 76 anos 3 Presidente da Uefa desde 1990 3 Foi derrotado por Blatter em 1998, quando era franco favorito à presidência da Fifa 3 Entrou em atrito diversas vezes com o G-14 3 Eleito por unanimidade na eleição anterior da Uefa

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História, por Cassiano Ricardo Gobbet e Ubiratan Leal

Fototeca Comercial D. Lavin

Totonero: o maior escândalo, antes do “Calciocaos” uando Fabio Cannavaro levantou a Copa do Mundo em Berlim, não houve italiano que não estivesse histericamente feliz. Uma conquista de tal magnitude supera todo e qualquer problema que possa atrapalhar a celebração. Mas a maioria, mesmo entre os que estavam no Estádio Olímpico, ainda engolia amargo por causa da vergonha pelo “Calciocaos”. Ninguém tinha dúvida de que a vitória estaria impregnada pelo caso. A mácula que ficou grudada na conquista da Azzurra, em grande parte, lembra o que aconteceu antes da vitória italiana na Copa de 1982, no episódio conhecido como “Totonero”. Similaridades à parte – uma conquista de Copa precedida por um escândalo de manipulação de resultados –, os dois incidentes têm diferenças consideráveis. O “Totonero” veio à tona com uma investigação feita por um jornal comunista italiano, o “Paese Sera”. A publicação denunciava uma rede de apostas ilegal que gerava lucros imensos. O batismo de “Totonero” foi uma mistura do Totocalcio, que é a loteria esportiva italiana, com a palavra “nero” (“negro”, em italiano, numa alusão à clandestinidade). Em cada rodada, os organizadores dessa rede abriam apostas para um jogo só e, com poucos envolvidos, manipular os resultados não era uma tarefa difícil. A vaca começou a ir para o brejo quando os jogadores corrompidos resolveram fazer suas próprias apostas. Assim, rapidamente, as investigações comprovaram não só a existência da loteria paralela, mas também a maneira como ela forjava resultados que fraudavam o próprio Totocalcio. O estarrecimento foi aumentando conforme os nomes dos envolvidos vinham à tona. Entre os mais famosos estavam Albertosi, Paolo Rossi, Bruno Giordano e Manfredonia. Quando a lista fechou, 27 atletas de sete clubes – Milan (que tinha sido campeão na temporada sob suspeita, a de 1978/9), Napoli, Lazio, Avellino, Bologna, Vicenza e Perugia – estavam na berlinda.

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A prisão de dois dos organizadores do esquema fez a casa cair de vez. Cheques dos atletas envolvidos vieram à tona, e listas de quais partidas tinham sido armadas não deixaram dúvida sobre a existência de um sistema que atingia o futebol. Foram presas 48 pessoas, entre elas 36 jogadores e os presidentes de Milan, Lazio, Juventus e Bologna. A prisão em si foi cinematográfica, com a polícia indo aos estádios para deter atletas. Dá para imaginar a repercussão que isso causou. A investigação pediu penas pesadas para a maioria dos envolvidos, mas somente Lazio e Milan foram rebaixados. Três jogadores foram banidos do futebol (Colombo, Albertosi e Cacciatori) e outros suspensos (como Paolo Rossi, que teria sua pena de três anos diminuída para dois para poder jogar a Copa de 1982). A principal diferença entre o “Totonero” e o “Calciocaos” foi a participação dos atletas. Nos anos 70, o escândalo funcionou com a conivência de jogadores, ao passo que, no “esquema Moggi”, as manipulações eram mais sutis. Os pagamentos não eram em dinheiro, mas em favores – a chave de Luciano Moggi para todo seu poder. Não é só isso. O esquema Moggi era muito maior e abrangente. O ex-dirigente da Juventus decidia o destino de jogadores, árbitros, clubes e dirigentes. Moggi era auxiliado por seus parceiros na federação, pelos designadores de árbitros e pela GEA, empresa gerenciada por seu filho Alessandro, que empresariava a carreira de 200 dos jogadores mais famosos e ricos da Itália. A comparação do “Totonero” com “Moggiopoli/Calciocaos” não se dá pela sua extensão. Pode-se dizer que o primeiro escândalo era amador, em que um grupo de pessoas se achou esperto e tropeçou nos próprios pés. “Moggiopoli” era profissional. Quando despencou, Luciano Moggi era o dirigente mais poderoso da Europa e tinha poder sobre grande parte do futebol europeu. O futebol se profissionalizou? Pois é. A mutreta também ficou jet-set. Setembro de 2006

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Paolo Rossi é o nome mais famoso envolvido no escândalo Totonero

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Entrevista, por Carlos Eduardo Freitas

2010 está aí

Juan Carlos Gárdenas/EFE

Edu vira a página de um ano que quer esquecer, depois de não ir à Copa, mas avisa: o Mundial na África do Sul está em seus planos

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ogador que deixa de ir à Copa tem, normalmente, dois discursos: ou o da amargura por ter perdido a chance ou o de malhar o treinador que não o chamou. Edu, volante do Valencia, não segue a receita e se diz agradecido pelo que tem. “Tanto jogador, após uma contusão séria, pena para conseguir um clube”. Eduardo Daudt Gaspar, pelo contrário, tem contrato até 2010. E não vê nenhum problema na idade para disputar uma vaga para a África do Sul. “Com 31, 32 anos, você é mais importante para o time”.

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A história do passaporte falso foi horrível. Fiquei preso com traficantes e falsificadores

Você deixou de ir à Copa por causa da contusão que sofreu, já que vinha sendo convocado até então. Esse foi o pior momento da sua carreira? Não, não foi tão sério. Claro que fiquei chateado, mas essas são coisas que acontecem com todo mundo. Tem jogadores que, após uma contusão séria, ficam sem contrato e depois penam para conseguir um clube. Não tenho como reclamar. Estou num time como o Valencia, com um contrato longo [até 2010] e a diretoria ao meu lado. Tenho muita esperança de estar na próxima Copa. Vamos ver o que acontece até lá. Com 32 anos, você acha que ainda estará no páreo? Para um meio-campista, essa idade não é um problema. Na própria Seleção que foi à Copa, vários jogadores tinham, 29, 30, 31 anos. É exatamente o inverso. Nessa idade, você tem experiência, e o time depende mais ainda de você. Estando bem fisicamente, se cuidando, não tem problema algum. E Valencia? Já está bem na cidade e no novo clube? Aqui está tudo ótimo. O clima é sensacional, tem praia. É uma cidade cheia de vida. As pessoas são simpáticas. O Viola reclamou de Valencia dizendo que a comida era ruim e que chegou a ter de se alimentar de bolachas. Bom, acho que o Viola não conheceu a culinária espanhola (risos). É uma das melhores do mundo. Preciso até tomar cuidado para não comer demais. Não sei se ele [Viola] não gostava de frutos do mar, mas cada um tem a sua maneira. Me dei bem em Londres, que é bastante diferente do Brasil. Aqui, então, está sendo fácil. Sua passagem na Inglaterra derrubou um pouco o mito de que brasileiro não consegue se dar bem no futebol britânico. Você, Gilberto Silva (Arsenal) e Doriva (Middlesbrough) são exceções. Qual é o problema? O futebol na Inglaterra é muito restrito. Se você não tem um passaporte europeu, precisa ter estado em 75% das últimas convocações, e isso limita muito qualquer contratação. A liga inglesa certamente é especial. Não é tão técnica, mas exige muita força física. Para mim, a questão é vestir a camisa – não só do clube, como a do estilo do futebol. Se precisa entrar forte, vamos aí. Eu procurei me acostumar ao máximo ao país e acho que isso deu certo. Falando em passaporte europeu, você tem uma história difícil com isso. Qual foi o problema?

Meu avô é português. É vivo e mora no Brasil. Dei todos os meus documentos para o meu empresário na época, o Juan Figer. Depois de um tempo, ele me entregou o passaporte. Na minha inocência, achei que estava tudo certo. Chegando na Inglaterra, descobri que o passaporte era falso. Fiquei dez horas preso na imigração do aeroporto. E, além disso, voltando ao Brasil, foi aquela confusão da imprensa. Essas dez horas preso deixaram marcas? Foram complicadas. Chegou uma hora em que entrei numa cela e me vi, realmente, preso. Aí eu chorei. Eu não falava a língua, não tinha como me comunicar com o pessoal. Veio uma intérprete, e expliquei para ela o que aconteceu. O pessoal viu que eu não tinha maldade. Eu até estava com meu passaporte brasileiro no bolso. Me perguntaram: “Mas por que você não entrou como brasileiro, e sim como europeu, com o documento português?” Respondi que não sabia. Fui no guichê que tinha menos fila. Eles viram, com a história que eu contei, que eu era inocente. Tive a sorte de um policial ficar do meu lado, porque eu estava no meio de traficantes, falsificadores, com todo tipo de gente. Foi bastante complicado. Voltando a falar de futebol, o Fábio Aurélio estava no Valencia e seguiu para o Liverpool. Ele te perguntou detalhes da vida na Inglaterra? Nos falamos muito nos últimos meses, desde que começou o comentário sobre a saída dele. Sempre falei positivamente sobre o Liverpool e sobre a vida inglesa. É tudo o oposto da vida valenciana, mas em compensação é uma liga bonita, charmosa e a mais transmitida. O Valencia não poderia ter aproveitado o desmanche da Juventus para se reforçar, como fizeram Real Madrid e Barcelona? Podia, mas tem um lado que pega: os salários dos jogadores da Juventus são muito altos, e isso torna o negócio menos atrativo para o clube. Acho que o problema foi esse. E neste ano? O que você espera da temporada? Estou muito animado. Fiz a pré-temporada com o grupo, o que não aconteceu no ano passado e faz muita diferença. Estamos de olho no título, tanto no Campeonato Espanhol quanto na Liga dos Campeões. Entusiasmo, aqui, não falta. Setembro de 2006

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Perfil, por Carlos Eduardo Freitas

A incógnita

Dunga

Sergio Moraes/Reuters

A Trivela juntou as pistas do passado de Dunga, como capitão da Seleção em 1994 e 1998 e como comentarista de TV em 2006, para entender quem é o substituto de Parreira e quais os desafios de sua primeira experiência como treinador

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oucas semanas depois da eliminação do Brasil pela França na Copa do Mundo da Alemanha, Carlos Alberto Parreira anunciou que deixaria a Seleção. A notícia já era dada como certa, embora houvesse a especulação de que ele permaneceria como coordenador. A partir daí, a grande dúvida da torcida brasileira passou a ser: quem será o novo técnico da Seleção? Depois que o favorito de todos, Luiz Felipe Scolari, renovou seu contrato com Portugal até 2008, outros candidatos surgiram. Paulo Autuori, campeão mundial pelo São Paulo, que teve seu nome ventilado nos dias seguintes à derrota para a França, teria perdido força com a saída definitiva de Parreira. A bola da vez para a maior parte da imprensa e da torcida parecia ser Vanderlei Luxemburgo – houve, inclusive, quem noticiasse sua escolha. A grande surpresa veio no dia 24 de julho. Em vez de Luxemburgo ou Autuori, Dunga foi o escolhido. Sim, Dunga. Sem nenhuma experiência como treinador, o capitão da Seleção em 1994 e símbolo do fracasso em 1990 foi anunciado por Ricardo Teixeira com o objetivo de, nas palavras do cartola, “atingir em cheio o anseio dos torcedores brasileiros, que querem na Seleção um treinador vibrante”. Em outras palavras, como não conseguimos Felipão, vamos de Dunga mesmo. Não são poucas as dúvidas que pairam sobre o novo treinador. Quais seus paradigmas, preferências e desafios? Para ter uma idéia do que esperar da nova era Dunga, a Trivela ouviu alguns ex-jogadores com quem ele atuou, além de pessoas com quem trabalhou durante a Copa de 2006, em que foi comentarista de TV. Pelo menos em teoria, o ex-volante dá mostras de que sabe ver e analisar uma partida de futebol. Resta saber se, na hora de fazer as convocações e de tomar decisões, ele manterá sua filosofia, calcada na vibração e no discurso sincero, ou se terá uma postura de submissão aos cabeças da CBF. É aí que reside o maior risco.

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Teoria e prática Ainda que venha à memória a passagem de Paulo Roberto Falcão, que, no segundo semestre de 1990, chegou à Seleção em circunstâncias bastante semelhantes – fracasso numa Copa regado a displicência de jogadores de clubes europeus –, o fato de Dunga nunca ter comandado uma equipe antes não chega a ser a maior preocupação. De acordo com ex-jogadores que se tornaram treinadores, diferentemente do trabalho que se faz num clube, em que é necessário formar jogadores, na Seleção eles já estão prontos, sem a necessidade de aprender conceitos básicos. “O importante é ter um padrão de jogo, saber escolher os atletas e como o time pode render melhor, independentemente de o jogador ter nome ou não”, diz Zetti, companheiro de Dunga na Copa de 1994. Marco van Basten, ex-jogador do Milan e da Holanda, tam-

bém assumiu a seleção de seu país em 2004 sem nunca ter treinado um time e pensa da mesma maneira. “A vantagem é que sempre temos o luxo de poder chamar outros jogadores, enquanto no clube você trabalha com aqueles 25 que tem à disposição”, comentou o holandês, pouco antes do Mundial da Alemanha. Na avaliação de seus ex-companheiros da época em que era jogador, Dunga tem, pelo menos, um bom conhecimento teórico sobre o esporte. “Como cabeça-de-área, ele tinha uma visão de jogo muito boa”, avalia Leonardo, com quem jogou em 1994 e 1998. Sua recente passagem como comentarista do canal por assinatura BandSports durante a Copa do Mundo confirma a avaliação. Dunga alertou desde o princípio da partida contra a França para a jogada que, mais tarde, originaria o gol da vitória de nossos algozes. “O Brasil tem de tomar cuidado com uma jogada que a França está tentando, com alguém entrando em diagonal nas costas do Juan e do Roberto Carlos. Estão colocando a bola toda vez em cima do Cafu e depois tentam cruzar em diagonal atrás da defesa do Brasil”, analisou, logo aos 12 minutos do primeiro tempo. O gol francês, para quem não se lembra, nasceu de uma cobrança de falta de Zidane pela direita, em que Henry passou entre Juan e Roberto Carlos antes de entrar sozinho na área. O difícil é avaliar como Dunga vai transmitir sua filosofia e aquilo o que espera do time para os jogadores. “Às vezes, o cara tem um conhecimento muito grande, mas falta didática”, alerta Mauro Silva. Surge aí outra dúvida: qual será o estilo de cobrança de Dunga? Afinal, o que se espera é aquele jeito vibrante de gritar e não parar de reclamar por um instante sequer, tal qual nos tempos de jogador. Esse estilo do novo treinador, bastante valorizado pelo presidente da CBF e por todos aqueles que aprovaram sua contratação, porém, sempre teve restrições entre seus colegas. “Ele costuma falar o que tem que ser dito para as pessoas”, diz Zetti. “Pelo jeito de agir, acabava não sendo o amigão de todos, mas ele nunca pareceu se importar com isso”, completa César Sampaio, seu companheiro na Copa de 1998. O problema é que quem não o conhece pode se assustar com a primeira impressão e, às vezes, interpretar errado o que o Dunga pretendia transmitir. Aí está a grande diferença de Felipão para o novato Dunga. Conta a favor de Scolari a vivência e o discernimento de saber a hora de gritar, cobrar, e o momento de passar a mão na cabeça de um jogador. “Isso ele sempre teve de bom: saber quando ser exigente e quando ser um paizão”, avalia Mauro Silva, que conviveu com o antigo e com o atual técnico da Seleção Brasileira. Na teoria, mais uma vez, Dunga também enxerga o proSetembro de 2006

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Empate para tirar a ansiedade

blema. Nas primeiras declarações que deu como técnico da Seleção, demonstrou preocupação com esse ponto: “A sensibilidade é fundamental. É preciso conhecer bem cada jogador, para saber quando fazer cobranças ou elogios”. Essa sensibilidade já era demonstrada nos tempos de jogador, como durante a Copa dos Estados Unidos, quando dividia o quarto da concentração com Romário. Conhecedor dos hábitos do colega – e de sua importância para a equipe –, vez por outra o capitão passava algumas horas sentado no saguão do hotel, enquanto o “Baixinho” recebia visitas na suíte da dupla.

“Esta primeira partida serviu para quebrar o gelo”. Foi assim que Dunga resumiu sua estréia no comando da Seleção Brasileira, no empate por 1 a 1 com a Noruega. O técnico começou com seis dos jogadores que foram titulares na vitória por 4 a 1 sobre o Japão na Copa, a partida mais elogiada por Dunga como comentarista. O esquema tático lembrou o de Carlos Alberto Parreira em 1994, com dois zagueiros, dois laterais, dois volantes, dois meias ofensivos e dois atacantes – um mais fixo (Fred) e outro com mais movimentação (Robinho). Em geral, a partida não proporcionou grandes avaliações. Ela serviu mais para observar jogadores que há tempos andavam esquecidos do público brasileiro – casos de Elano, Daniel Carvalho, Dudu Cearense e Vagner Love – do que para tirar conclusões. Agora, Dunga espera o início da pressão e se diz ciente dos riscos de demissão caso bons resultados não surjam. “O tempo que vou ficar no cargo vai depender do trabalho”.

Dedicação total Para compensar a falta de experiência no cargo, Dunga revelou ter conversado com diversos treinadores, entre os quais alguns com passagem pela própria Seleção. Num de seus primeiros encontros, procurou Falcão, para aprender com alguém que viveu a mesma situação quais os erros que podem ser evitados a médio e longo prazo. A conversa parece ter surtido efeito. Depois de anunciar que chamaria uma base brasileira para o amistoso contra a Noruega, ele de fato convocou alguns jogadores em atividade no Brasil, mas mesclou na lista jogadores que estavam na Copa e outros que andavam esquecidos na Europa. A experiência de Falcão, que fracassou com a recomendação de esquecer os brasileiros que atuavam no exterior – à época tachados de mercenários –, certamente pesou na decisão final do treinador. Funcionários da Bandsports que trabalharam diretamente com Dunga durante a cobertura da Copa de 2006 se disseram impressionados com o profissionalismo do colega. Ele nunca se atrasou e compensou a falta de traquejo diante das câmeras e do microfone com muita informação e análise. Ficaram impressionados com sua familiaridade com jogadores pouco conhecidos do público em geral e com o quanto sabia a respeito deles – uma clara indicação de que preparou-se bem para desempenhar o papel para o qual foi contratado. Isso é algo que, aliás, tinha por hábito fazer desde os tempos de jogador. “Nas horas de folga, ele sempre procurava conhecer

NORUEGA 1x1 BRASIL Data: 16/agosto/2006 Local: Estádio Ulvaal, em Oslo (Noruega) Árbitro: Stuart Dougal (Escócia) Gols: Pedersen (51min) e Daniel Carvalho (62min) NORUEGA Myhre; Rambekk, Hagen (Waehler), Hangeland e Riise; Stromstad (Grindheim), Haestad, Andresen e Pedersen (Arst); Solskjaer (Iversen) e Carew (Braaten). Técnico: Age Hareide. BRASIL Gomes; Cicinho (Maicon), Lúcio, Juan (Alex) e Gilberto; Edmílson (Dudu Cearense), Gilberto Silva, Elano (Júlio Baptista) e Daniel Carvalho (Vagner Love); Robinho e Fred. Técnico: Dunga.

EX-COLEGAS APONTAM FALTA DE SENSIBILIDADE COMO PONTO NEGATIVO

Como estrearam os últimos cinco técnicos da Seleção

Mario Jorge Lobo Zagallo

Vanderlei Luxemburgo

Emerson Leão

Luiz Felipe Scolari

Carlos Alberto Parreira

23/dezembro/1994 Brasil 2x0 Iugoslávia

23/setembro/1998 Brasil 1x1 Iugoslávia

15/novembro/2000 Brasil 1x0 Colômbia

1º/julho/2001 Uruguai 1x0 Brasil

12/fevereiro/2003 China 0x0 Brasil

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Bob Strong/Reuters

Estreantes, mas situações bem diferentes

os adversários, ver videoteipes”, relembra César Sampaio, para quem a dedicação de Dunga servia para compensar suas limitações. Não à toa, sua experiência como comentarista, apesar de pouco acompanhada, foi bastante elogiada por quem viu e ouviu.

“Amor à amarelinha” Enquanto estava na BandSports, o discurso de Dunga sempre teve um tom ponderado. Suas intervenções, invariavelmente, caíam mais para o lado tático – “Ele sempre gostou e entendeu muito disso”, diz Sampaio. Em geral, mais explicava decisões do técnico do que dava sugestões. Certamente fazia isso por respeito e admiração a Parreira,

Juan foi um dos poucos titulares de Parreira mantidos por Dunga em sua estréia

Quando não se tem referências sobre um técnico sem experiência, nada mais natural do que compará-lo a outros que viveram situações semelhantes. O caso de Dunga, porém, pouco tem de parecido com os de Jürgen Klinsmann, Marco van Basten, Franz Beckenbauer e Paulo Roberto Falcão. Chamar Dunga de “Klinsmann brasileiro” é um exagero, principalmente pelas circunstâncias em que cada um dos dois chegou ao posto em suas respectivas seleções. Também sem nunca ter treinado uma equipe antes, o alemão só aceitou o cargo após a recusa de pelo menos três técnicos de alto nível, e só depois que a Federação Alemã aceitou não interferir em suas decisões. Outros dois bastante lembrados são Franz Beckenbauer e Marco van Basten. O “Kaiser”, quando assumiu a Alemanha em 1984, ficou no lugar de Jupp Derwall, de quem era assistente desde 1983 e que perdeu o emprego após a Eurocopa. Apesar de um início insatisfatório, sua imagem como maior jogador da história do país lhe ajudava em momentos de dificuldade. Em sua primeira Copa, em 1986, levou a Alemanha à final. Quatro anos depois, veio o título. Van Basten foi auxiliar de John van’t Schip, seu ex-colega nos tempos de jogador, no segundo time do Ajax, entre 2003 e 2004. Chegou à seleção da Holanda em 2004 e deu início a um processo de renovação no time. Abriu mão de medalhões como Seedorf, Kluivert, Davids e Makaay e realizou a melhor campanha nas eliminatórias européias – oito vitórias e dois empates. Apesar da eliminação nas oitavas-de-final no Mundial da Alemanha, foi mantido no cargo. Falcão estreou em junho de 1990 com o status de “Beckenbauer brasileiro”. Era igualmente elegante na beira do gramado, mas a imposição da CBF de convocar apenas atletas em atividade no Brasil minou seu trabalho. Sua primeira vitória saiu apenas sete meses após a estréia – uma derrrota por 3 a 0 para a Espanha –, na maior série sem triunfos da história da Seleção. Falcão deixou a equipe após o vice-campeonato da Copa América de 1991 – um resultado até satisfatório, em uma época em que vencer o torneio no exterior era um tabu para os brasileiros. Setembro de 2006

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técnico que acreditou nele quando estava por baixo. Tanto que Dunga defendeu o treinador com unhas e dentes em entrevista ao Jornal da Tarde publicada em 15 de junho, quando chegou a criticar Telê Santana para elogiar a “coerência” de seu ex-treinador. “Ele não vai repetir o mesmo erro de gente que é endeusada e perdeu uma Copa do Mundo por incoerência”, disse. Na TV, Dunga raramente fez críticas pessoais ou apontou erros individuais. Via de regra, procurava explicações generalizadas para problemas visíveis de um jogador específico. Um exemplo, novamente no jogo contra a França: aos 24 minutos do primeiro tempo, o narrador Luciano do Valle critica Cafu. Diz que o lateral está muito mal no jogo, que merece ser substituído. O comentarista, por sua vez, afirma que o problema são os colegas, que não se aproximam do camisa 2: “Todo mundo fica parado esperando que ele resolva”. Dunga tinha razão em sua análise, pois ninguém se aproximava do jogador que tinha a bola – o que não isenta Cafu de ter atuado mal. Exceção feita a Ronaldinho, cujas atuações invariavelmente sem brilho foram sempre alvo de suas opiniões, seus comentários, apesar de precisos, raramente tinham endereço claro. O problema era sempre o conjunto. Desde que assumiu a Seleção, porém, seu discurso mudou em relação ao dos dias de comentarista e tem parecido muito mais com o do “amor à amarelinha” de Zagallo que com o mais ponderado de Parreira, hoje execrado dentro da CBF. “É preciso transpirar, vibrar pelo Brasil”, disse em sua primeira entrevista. Por outro lado, Dunga parece sofrer com a ditadura do discurso pronto. Lembrado sempre como alguém au-

DISCURSO MUDOU DO RACIONAL PARA O DO “AMOR À AMARELINHA”

Diagnósticos precisos como comentarista (mas Parreira e Ronaldo foram poupados)

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Como nem todo mundo acompanhou o Mundial da Alemanha pelo canal pago Bandsports, a Trivela reviu todas as partidas do Brasil para extrair as observações do novo técnico da Seleção a respeito do time de Parreira. Ponderado em suas observações, ele poupou seu ex-técnico de críticas e elogiou a participação de Ronaldo na Copa. Os únicos que receberam alfinetadas foram Ronaldinho e Roberto Carlos, que “renderam abaixo do que podem”. Na partida contra a França, Dunga alertou logo de cara para a jogada que originaria o gol, e era possível ouvi-lo gritando de desespero com as falhas dos brasileiros, tal qual estivesse à beira do gramado. Veja a seguir o que disse o agora técnico da Seleção após cada uma das partidas do Brasil na Copa.

Brasil 1x0 Croácia “O Parreira tem de corrigir o posicionamento, dar maior equilíbrio, não deixar tanto espaço no meio-campo. Até para dar tempo para os zagueiros respirarem, já que jogamos só com dois marcadores, o Emerson e o Zé Roberto, e precisamos ter uma saída para chegar com mais velocidade. O Brasil está muito previsível. Não tem um jogador que dê suporte, que faça uma tabela. Aí fica muito fácil para o adversário. O importante é vencer o jogo de estréia. Criouse uma expectativa muito grande na Seleção, que ia dar espetáculo. No final do jogo, vimos alguns jogadores desconcentrados ao segurar a bola em situações fáceis para eles. Esperamos que no próximo jogo o Brasil venha solto, para jogar mais alegre e o Ronaldinho sorrir mais”

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Sergio Moraes/Reuters

têntico, sem papas na língua, tenta se acostumar a trabalhar com uma assessoria de imprensa, algo que até então nunca havia feito, já que sempre atendia a imprensa sem intermediários. Em sua primeira entrevista coletiva, pareceu bastante desconfortável em algumas situações, em que olhava para o assessor de imprensa da CBF antes de responder perguntas. Ao se alinhar tanto com o discurso de Ricardo Teixeira, sempre ficará no ar a desconfiança com relação ao poder de decisão que Dunga realmente terá. O técnico diz que tem carta branca, mas a vontade do cartola de “estar mais próximo” do treinador sugere o contrário. O melhor exemplo dessa situação é Ronaldo, poupado por Dunga enquanto era comentarista – ele chegou a elogiar sua recuperação durante a Copa. Assim que assumiu a Seleção, parece ter recebido instruções superiores de que o atacante é “persona non-grata” por seu comportamento na Alemanha e só voltará a vestir a camisa amarela se mudar de conduta. Aí reside o maior receio quanto a sua inexperiência. Ao seguir as orientações e sugestões do presidente da CBF – alguém que, diga-se de passagem, também nunca foi treinador de futebol –, Dunga corre o risco de reforçar a impressão de ser despreparado e alimentar ainda mais os boatos de que só está “esquentando a cadeira” para Felipão. É por isso que seus ex-colegas, mesmo que discordem de seus métodos e estilo dos tempos de jogador, adotam um discurso semelhante ao comentar os riscos de más influências sobre seu trabalho. Com a palavra, César Sampaio: “Não há nada pior do que errar com a cabeça dos outros”. Se essa preocupação, de fato, se confirmar, Dunga abre a brecha para ter um fim semelhante ao de Falcão e só chegar à Copa de 2010 da mesma maneira que em 2006: como comentarista.

Brasil 2x0 Austrália

Brasil 4x1 Japão

Brasil 3x0 Gana

Brasil 0x1 França

“Foi uma ótima vitória. As mudanças no Brasil deram mais velocidade, mais movimentação, mas tem alguns jogadores de quem a gente espera mais para a próxima partida. A defesa se comportou muito bem. Muito seguro o Lúcio, o Juan e o Zé Roberto, que fez outra grande partida, e as mudanças deram certo. No Brasil, a gente não está acostumado a substituições, mesmo que seja um atacante pelo outro. Quem entra tem mais vigor físico, maior movimentação, maior dinâmica e aí faz a diferença. Hoje fez. O Brasil tem que usar mais o seu banco”

“Essa era a apresentação que o Brasil precisava. Os jornalistas estrangeiros já estão com outro olhar para o time. Imagina quando entrosar esse time com o outro. Foi só mudar a postura tática que todos os jogadores apareceram com naturalidade. Jogaram um futebol fantástico. O Ronaldo merece mesmo o título de homem da partida. A Seleção hoje está hoje de parabéns. Mostrou um futebol excelente tecnicamente, principalmente em qualidade e eficiência”

“O Brasil mereceu a vitória pela eficiência, mas a gente ainda não viu o jogo coletivo. Estamos ganhando na individualidade. Deixamos a desejar quando temos a bola, que é nossa maior qualidade. Até agora, o que nos deixa esperançosos é que o Ronaldo Nazário voltou a ser o Ronaldo. Zé Roberto e Dida foram bem, mas alguns jogadores podem dar muito mais. Não estão jogando mal, mas só o razoável. São foras-de-série, como Roberto Carlos e Ronaldinho, que podem fazer a diferença. Tomara que no próximo jogo isso aconteça, para o Brasil conseguir outra vitória”

“O Brasil foi hoje um time desorganizado. A gente via que ficava sempre um brasileiro no meio e três franceses em volta. O Brasil deixava a França jogar como queria e deixou o Zidane tomar conta do jogo. Aí, quando o coletivo não vai bem, nem a individualidade vai. Nas outras partidas, o Brasil conseguiu se superar pelo lado individual. Hoje, nada foi possível. A França deu uma aula de futebol. O Zidane principalmente, com os problemas que a França tinha. Ele reuniu os jogadores. Foi hoje o grande maestro aqui e mereceu a vitória”

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Carlos Durán Araújo/EFE

Entrevista, por Ubiratan Leal

“Cruzeiro pode

encarar Inter e São Paulo”

Mesmo fora da Raposa, Paulo César Gusmão considera que o time mineiro é um dos candidatos ao título brasileiro, enquanto reconhece as dificuldades de iniciar o trabalho no São Caetano com o campeonato em andamento o início do ano, o clima na Toca da Raposa era de otimismo. O Cruzeiro contratou jogadores com passagem pela Seleção Brasileira, mantinha o mesmo técnico da temporada anterior e contava com uma geração de jovens que se consolidava. Em agosto, tudo já estava diferente: o time passava por uma seqüência de maus resultados, e o técnico Paulo César Gusmão foi para o São Caetano. Mesmo com essa mudança de rumos, o treinador continua otimista para o Brasileirão, tanto em relação a seu atual clube quanto ao anterior. Em entrevista exclusiva à Trivela, Gusmão explica como pretende iniciar seu trabalho no ABC, para realizar uma transição tranqüila entre o trabalho de Leão e o seu. Além disso, aproveita para elogiar o elenco cruzeirense, cujo desempenho inconstante seria natural, devido à inexperiência e aos desfalques. “Com todo o elenco à disposição, eu coloco o Cruzeiro entre os favoritos. O time tem condição de encarar Internacional e São Paulo”, comenta. Além de falar sobre a campanha cruzeirense no Campeonato Brasileiro e de seu início de trabalho no São Caetano, o treinador explica por que nem o próprio Cruzeiro consegue repetir o trabalho vitorioso de 2003, considerado referência em torneios de pontos corridos, e fala sobre a conturbada saída do Botafogo em 2005.

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O que causou sua saída do Cruzeiro? Ah, é resultado, né? O time deu uma oscilada normal, porque é muito jovem. Mas o Cruzeiro ainda está em boa posição, com a Libertadores ao alcance. Futebol é assim mesmo, vive de resultado. Como é assumir o São Caetano no meio do campeonato? Por mais que você acompanhasse o Brasileirão, não é possível conhecer a fundo as possibilidades do elenco. É verdade, mas eu vou ter um tempo para adaptação. Eu acredito em um bom trabalho. No começo, vai ser mais na base da conversa, para saber o que o outro treinador estava fazendo. Não tem como implementar uma filosofia de trabalho em um grupo sem saber o que se fazia anteriormente, pois pode até piorar. O importante é conhecer o grupo, ver que linha o Leão seguia e encaixar meu trabalho em cima disso. Você chegou a procurar ou Leão ou pretende fazer isso? Não, não. Isso aí não acontece. Goiás, Corinthians, São Caetano, Fluminense e Cruzeiro perderam técnicos na mesma época e quase todos aproveitaram os que saíam dos outros. Por que o treinador que não serve para um time serve para o outro? Não é questão de servir, é momento. Às vezes, a necessidade de troca é evidente, porque a filosofia de trabalho de um estimula mais do que a de outro. Eu já estava há um ano e um mês no Cruzeiro e, de repente, chega alguém diferente que pode motivar mais o grupo. Da mesma forma, eu posso chegar aqui no São Caetano e dar uma motivada ainda maior, porque o time já vem em uma seqüência boa. No início do campeonato, você deu entrevistas em que tirava o Cruzeiro da lista de favoritos ao título. Realmente você não vê o time como um dos candidatos? Na época, eu me referia ao volume de investimento. Por esse aspecto, o Cruzeiro está muito abaixo de outras equipes. Por exemplo, ninguém investiu mais que o Santos, que comprou mais de um time porque tinha dinheiro à mão. Mas, mesmo investindo menos que o Santos, o Cruzeiro tem jogadores como Fábio, Edu Dracena, Wagner e Élber. Nem com tudo isso o Cruzeiro está entre os favoritos? Na hora em que todo esse pessoal estiver jogando ao mesmo tempo, eu realmente coloco o Cruzeiro entre os favoritos. Daria para lutar contra Internacional e São Paulo, que são considerados os melhores times do Brasil na atualidade? Com certeza. O time tem condições de crescer e disputar o título contra qualquer equipe. Pelas características do Wagner, o que ele pode oferecer ao técnico da Seleção? Ele é o melhor jogador do campeonato. É um meia completo, pois é bom no passe, no drible, tem visão de jogo e sabe concluir. Tanto que é um dos artilheiros do Brasileirão. Você foi auxiliar de Vanderlei Luxemburgo no Cruzeiro de 2003, time que é considerado modelo de como um clube brasileiro pode se preparar para uma competição de

pontos corridos. Por que nem o próprio Cruzeiro consegue repetir aquele desempenho? Naquele ano, o Cruzeiro foi beneficiado por muitos fatores especiais. O Campeonato Mineiro também foi em pontos corridos e permitiu que treinássemos o time para esse tipo de competição, acostumando os jogadores a tratarem cada partida como fundamental. Enquanto isso, os outros clubes continuavam sem experiência nesse tipo de torneio. Quando pegaram o ritmo, já estávamos passos à frente. Além disso, as peças que chegaram naquela temporada se encaixaram muito bem, com base experiente e jovens de talento completando o elenco. O que ocorreu em 2004 para o Cruzeiro se desmanchar? Como perdemos peças importantes e as novas não se encaixaram, o rendimento caiu. Quando eu assumi o comando [Luxemburgo se demitiu em fevereiro e Gusmão foi promovido para técnico principal], o time estava na zona de rebaixamento do Campeonato Mineiro e em dificuldades na Libertadores. Voltei ao método de trabalho de 2003, e o time reagiu um pouco. Conquistamos o Estadual e caímos na Libertadores só nas oitavas, contra o Deportivo Cali. Comentou-se, na época, que o Luxemburgo teria ficado chateado pelo fato de você não ter saído junto com ele. Houve algum atrito entre vocês? Não aconteceu nada, foi tudo coisa da imprensa. Até hoje o Vanderlei é meu amigo. Seus primeiros trabalhos como técnico foram como interino ou assumindo um time no meio da competição. Você só pegou um time desde a pré-temporada com a Cabofriense, em 2005. Qual foi a importância dessa passagem? Aquele trabalho mexeu comigo. Era um projeto da prefeitura de Cabo Frio. Foi muito bom, porque eu precisava provar para mim mesmo que tinha capacidade de comandar uma equipe em um trabalho estruturado desde o início, planificando tudo, da pré-temporada aos jogos em si. Eu me surpreendi com a rapidez com que os resultados apareceram, com o time disputando a semifinal da Taça Guanabara. Por que você não concluiu o trabalho no Botafogo, em 2005? Comparando com o Cruzeiro, o Botafogo é um clube em outra realidade. As condições de trabalho lá eram muito mais modestas, com contratações apenas de jogadores baratos. A gente pensava em fazer uma boa campanha e tentar uma vaga na Copa Sul-Americana, mas a meta da diretoria era só escapar do rebaixamento. Eu saí de lá porque o clube não estava no mesmo nível de profissionalismo que eu espero para trabalhar e, depois de algumas situações em que a diretoria não atendeu ao que foi combinado, eu não tinha como ficar. Mas a torcida reclamou muito, dizendo que você abandonou o time no meio do caminho. É normal, mas é porque a torcida não vive o dia-a-dia dentro do clube para entender bem por que as coisas acontecem do jeito que acontecem.

Às vezes, a necessidade de troca é evidente, porque um técnico estimula mais do que o outro

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Terceira divisão, por Ubiratan Leal

C, de carente Antônio Ronaldo/Ag. A Tarde

Na terceira divisão, o futebol brasileiro desconhece calendário racional, interesse da mídia e ajuda de patrocinadores oficiais. Os times da base da pirâmide futebolística nacional vivem de abnegação, da paixão de torcedores e da esperança de um dia serem – ou voltarem a ser – grandes

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A torcida lotou o estádio do Treze na vitória sobre o Bahia, na segunda fase da Série C

á eram 48 minutos do segundo tempo no Estádio Rei Pelé, em Maceió. O CSA vencia o Bahia por 3 a 2, em um jogo que os alagoanos poderiam ter definido antes. Mas, no último lance do encontro, Gil cobrou falta com perfeição e determinou o empate. O resultado, sofrido, garantiu a passagem baiana à segunda fase da Série C e deu uma sobrevida ao campeão brasileiro de 1988, que hoje tem de se virar no buraco que representa a terceira divisão nacional. O depoimento de Newton Motta, diretor de futebol do Tricolor baiano, dá um bom retrato de como o clube encara a Série C. “Quando alguém fala na hipótese de não subirmos neste ano, imediatamente mudamos de assunto ou

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fazemos algo para pararmos com esse pensamento”, conta. “Seria o caos, teríamos seriíssimos problemas. Não tenho nem idéia de como faríamos para tocar o time em 2007”. A preocupação do Bahia é conseqüência do modelo que é adotado para o terceiro escalão do futebol brasileiro: dezenas de participantes, grupos eliminatórios que podem limitar o segundo semestre de um clube a seis partidas e exposição na mídia quase nula. Conviver no limite da sobrevivência acaba sendo um bom exercício para a administração de crises e uso de criatividade - além de pôr à prova o apoio da torcida ou comunidade ao clube. É na parte financeira que mora o grande temor do Tricolor em relação à terceira divisão. Basta

fazer as contas: de acordo com a diretoria do clube, o Clube dos 13 repassa apenas R$ 160 mil anuais. Se estivesse na Série B, o valor seria de R$ 500 mil e, na elite, R$ 1 milhão. E nem esses valores entraram no caixa do Bahia, que já havia pedido adiantamento de cotas do Clube dos 13 e não recebeu nada no primeiro semestre. Além disso, apenas metade das 32 placas de publicidade da Fonte Nova estava alugada nos jogos que o clube realizou em casa na primeira fase da Terceirona. Cada uma gera R$ 1.000 por partida. Tudo isso com dívidas em torno de R$ 50 milhões, segundo a diretoria do clube (metade seria para o governo; o resto se divide entre passivo trabalhista e valores devidos ao Banco Opportunity, ex-parceiro do Bahia).

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Entenda a Série C 2006 A terceira divisão do Campeonato Brasileiro de 2006 é composta por 63 clubes, divididos em 16 grupos de quatro equipes (apenas o grupo 1 tinha três, devido à desistência do Rio Branco-AC). Os participantes foram definidos pela classificação nos campeonatos estaduais de 2006 (com exceção dos Estados que promoveram torneios seletivos), além dos seis clubes que caíram da Série B de 2005. A CBF se comprometeu a bancar os custos de viagem e hospedagem para os clubes que vieram da segunda divisão e para o representante de cada Estado com melhor campanha no Estadual de 2006. Passam para a segunda fase os dois primeiros colocados de cada grupo, formando oito quadrangulares. Novamente, avançam os dois melhores de cada chave para a terceira fase, composta por quatro grupos de igual número de times. Os dois primeiros colocados de cada chave se classificam para o octogonal final, do qual os quatro primeiros sobem para a Série B. Em todo o torneio, as equipes jogam em dois turnos dentro de seus grupos.

Participantes Adap-PR, Adesg-AC, Amapá-AP, América-MG, América-RJ, América-SP, Americano-RJ, Ananindeua-PA, Anapolina-GO, Araguaína-TO, Atlético-GO, Bahia-BA, Baraúnas-RN, Botafogo-PB, Brasil de Pelotas-RS, Cabofriense-RJ, Caxias-RS, Ceilândia-DF, Chapadão-MS, Colo Colo-BA, Confiança-SE, Coruripe-AL, Coxim-MS, Criciúma-SC, CSA-AL, Estrela do Norte-ES, Fast-AM, Ferroviário-CE, Flamengo-PI, Grêmio Barueri-SP, Icasa-CE, Imperatriz-MA, Ipatinga-MG, Ipitanga-BA, Ituiutaba-MG, J. Malucelli-PR, Jataiense-GO, Ji-Paraná-RO, Joinville-SC, Juventus-SP, Luziânia-DF, Madureira-RJ, Maranhão-MA, Marcílio Dias-SC, Mixto-MT, Novo Hamburgo-RS, Noroeste-SP, Operário-MT, Pirambu-SE, Porto-PE, Potiguar-RN, Rio Branco-PR, Rio Branco-SP, Rio Negro-AM, Ríver-PI, São Raimundo-RR, Treze-PB, Tuna Luso-PA, Ulbra-RS, União Barbarense-SP, Vitória-BA, Vitória-ES e Ypiranga-PE.

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Para sobreviver com esse cenário, o clube teve de se redimensionar. A folha de pagamento caiu para R$ 160 mil mensais (era de R$ 600 mil em 2005), e até a mudança de técnico foi cautelosa. “Quando perdemos o Mauro Fernandes, ficamos com medo de investir em outro treinador de nome e cair fora da competição logo depois. Por isso, preferimos efetivar o Charles Fabian”, admite Newton Motta. Outra medida que ajudou o Bahia a equilibrar o caixa foi a criação da “Turma Tricolor”, programa independente em que torcedores ajudam financeiramente o clube. Nos primeiros 45 dias, foram arrecadados cerca de R$ 200 mil. “Tivemos sorte de a torcida ir bastante ao estádio, com média de 14 mil nos jogos em casa, e de o Vitória também ter caído, o que permitiu esticar o campeonato estadual até junho”, comenta Motta. “Se o Vitória ficasse na Série B, teríamos de nos acostumar a um calendário vazio ou com jogos contra clubes do interior. E será esse o cenário se eles subirem e nós não”.

Uma vaca a cada 15 dias De qualquer maneira, o Bahia é um gigante para os padrões da terceira divisão. Ainda mais porque a competição prima pela heterogeneidade de seus participantes. A realidade do pequeno Coxim, da cidade homônima no interior do Mato Grosso do Sul famosa pela pesca esportiva, é um exemplo. O clube tem apenas quatro anos e conquistou, em 2006, seu primeiro título estadual. Com isso, ganhou uma vaga na Série C, com direito a subsídio da CBF para viagens e hospedagem. Trata-se de um benefício fundamental para a participação do clube na competição. “Duas idas a Goiânia para a primeira fase sairiam por R$ 50 mil, mais R$ 10 mil de alimentação e hospedagem. Sem a ajuda da CBF, seria inviável arcar com isso e desistiríamos do torneio”, admite Carlos Zanin de Almeida, presidente do clube. Segundo o dirigente, o orçamento mensal do Coxim é de R$ 33 mil. Para conseguir esses recursos, o clube conta com ajuda da prefeitura e da secretaria estadual de esportes, além do apoio de amigos e empresários locais. “Como no Mato Grosso do Sul não há indústrias, o pessoal auxilia com o que tem à mão. Por exemplo, ganhamos uma vaca a cada 15 dias para abater e alimentar o elenco”, conta Almeida. Com uma estrutura mais modesta, os obje-

tivos do Coxim na competição não eram muito otimistas. O time nem poderia jogar em sua cidade, caso avançasse no torneio. Na primeira fase, a equipe mandou suas partidas no Estádio André Borges, com capacidade para 3 mil torcedores. Se fosse à fase final, o clube jogaria no Morenão, em Campo Grande, a 250 km. O CAC foi eliminado na primeira fase, em um grupo com Anapolina, Jataiense e Luziânia.

Dependência Em uma competição deficitária e de difícil planejamento, a dependência do poder público é quase uma regra, sobretudo para as equipes que não contam com a ajuda de custo da CBF para as viagens. Isso se torna ainda mais delicado para clubes das regiões Norte e CentroOeste, que estão em Estados de maior extensão territorial e, portanto, raramente podem fazer suas viagens de ônibus. No Rio Negro, de Manaus, o governo estadual e a prefeitura bancam 50% do orçamento anual de R$ 1 milhão. A renda é completada com

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Edmar Melo/Ag. A Tarde

“Calendário favorece os grandes” Poucos times retratam tão bem o buraco que pode ser a terceira divisão como o América carioca. Desde que saiu da elite nacional, no final da década de 1980, o Diabo nunca mais conseguiu montar equipes competitivas. Nem o fôlego extra que o clube teve no início de 2006, com a terceira colocação no Estadual do Rio, mudou isso. Para o gerente de futebol do clube, Zé Carlos, o calendário do futebol nacional e o formato da Série C são causas diretas desse fenômeno. “O calendário atual é muito favorável aos clubes de primeira linha”, comenta. O ex-goleiro do Flamengo assumiu o cargo no início do ano, com a chegada da empresa Intersports ao futebol rubro. E já teve tempo de sentir a dificuldade de remontar a equipe para a Terceirona. “Depois do Estadual, emprestamos vários jogadores, e eles voltaram em cima da hora”. Leia abaixo os principais trechos da entrevista que Zé Carlos concedeu à Trivela.

Torcida do Vitória é o retrato do sofrimento do time na Terceirona

Ano 1981 19872 1988 1990 1992 1994 1995 1996 1997 1998 1999 20003 2001 2002 2003 2004 2005 1 3

Campeão Olaria-RJ Operário-MS/Americano-RJ União São João-SP Atlético-GO Tuna Luso-PA Novorizontino-SP XV de Piracicaba-SP Vila Nova-GO Sampaio Corrêa-MA Avaí-SC Fluminense-RJ Malutrom-PR4 Etti Jundiaí-SP5 Brasiliense-DF Ituano-SP União Barbarense-SP Remo-PA

Vice Santo Amaro-PE1 Paysandu-PA/Uberlândia-MG Marcílio Dias-SC América-MG Fluminense-BA Ferroviária-SP Volta Redonda-RJ Botafogo-SP Juventus-SP São Caetano-SP São Raimundo-AM Uberlândia-MG Mogi Mirim-SP Marília-SP Santo André-SP Gama-DF América-RN

Atual Manchete do Recife 2 Módulos Branco (norte) e Azul (sul) Playoff entre Módulos Verde e Branco da Copa João Havelange 4 Atual J. Malucelli

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Atual Paulista

entrevista

Todos os campeões da terceira divisão

Até que ponto a Série C, do jeito que é, dificulta o crescimento dos clubes? Bastante. É inviável manter uma terceira divisão com 63 ou 64 clubes como é hoje. Tem de trabalhar para ficar em 20 ou 24, ou, então, dividir em duas regiões com 18 em cada. Na fórmula atual, equipes aventureiras surgem toda hora e barram o caminho das mais tradicionais. O América até hoje sente a virada de mesa de 1987, quando foi excluído da Copa União mesmo sendo semifinalista do Brasileirão anterior. Eu até fui campeão em 1987, como goleiro do Flamengo, mas, para o América, foi péssimo. O time nunca mais se recuperou. O América fez a melhor campanha do Estadual do Rio de Janeiro, mas parou na primeira fase da Série C. Por que houve tamanha queda de desempenho? Depois do Estadual, emprestamos vários jogadores para outras equipes, e eles voltaram em cima da hora. Com isso, começamos tarde nossa preparação. Além disso, alguns jogadores se valorizaram com a boa campanha e acabaram saindo em definitivo. Seria melhor se o calendário emendasse a disputa dos estaduais com a Série C? O calendário atual é muito favorável aos clubes de primeira linha. Quem está nas Séries A e B pode contratar jogadores para o ano todo. Estados que não têm time nenhum também se favorecem, porque podem esticar seus torneios locais até agosto. Os clubes pequenos de Estados fortes são os mais prejudicados. Como fazer um contrato com jogadores sabendo que o clube poderia ser eliminado prematuramente e ficar sem atividade até o fim do ano? No América, há um projeto de longo prazo, que envolve uma boa campanha no Estadual de 2007 e na Copa do Brasil. Por isso, a equipe vai ser mantida. Procuraremos emprestar os jogadores para clubes que disputarão a seletiva do Estadual do Rio no segundo semestre. Setembro de 2006

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patrocínios de empresas locais e ajuda da área social do clube. Para reduzir custos, os Barrigas Pretas apostaram em atletas do Amazonas para montar o elenco. Dos 32 jogadores, 18 foram formados no clube. Outro grupo significativo foi contratado do Grêmio Coariense, equipe de Coari – terceira maior cidade do Estado –, que não conquistou uma vaga na Série C de 2006. O nome mais conhecido está no banco: o técnico Luis Carlos Winck. A diretoria do clube considera que a situação não seria tão delicada se a CBF ajudasse todas as equipes do Norte e Centro-Oeste no custeio de viagens. “A entidade deveria rever o critério de só bancar um time de cada Estado, pois isso inviabiliza o torneio para os clubes da região”, reclama Wladir Landim, gerente geral do Rio

Negro. “Tivemos de pagar R$ 21 mil para ir jogar em Belém. É por causa desse tipo de coisa que o Rio Branco, do Acre, desistiu da competição”.

Mudanças descartadas Apesar das reclamações, há consenso de que a Série C de 2006 está melhor que a do ano passado, quando havia mata-mata desde a segunda fase até o quadrangular final. Agora, são grupos de quatro equipes até o octogonal decisivo, uma mudança que tem relação direta com o fato de times como Bahia e Vitória estarem na terceira divisão. Ainda assim, os clubes acham que poderia ser melhor. Bastaria a CBF reduzir o número de participantes e criar uma competição mais longa e planejada, deixando as equipes menores para uma eventual Série D.

É uma idéia apoiada por vários times que sofrem com a imprevisibilidade da Terceirona nacional. “Neste ano, o regulamento permite que o time perca um jogo e se recupere. Dá para trabalhar com calma, mas um modelo como o da Série B seria muito melhor para atrair patrocinadores”, comenta Everton Vanoni, supervisor de futebol da Ulbra, equipe de futebol ligada a uma universidade gaúcha. O formato da competição não prejudica os clubes apenas por inibir a chegada de patrocinadores, mas também por dificultar a manutenção do elenco. “Todos os jogadores querem aparecer, e a Série C é muito desvalorizada. É muito fácil um time da primeira ou segunda divisão levar o atleta que quiser”, lamenta Celso Teixeira, técnico do Treze.

Como é lá fora Nas principais ligas do futebol mundial, há a compreensão de que as divisões mais baixas servem de base para manter a atividade de centenas de clubes. Mas em cada país adota-se uma solução diferente, de acordo com as necessidades e particularidades locais. Veja como é a terceira divisão em alguns países.

Alemanha

Argentina

Espanha

França

Inglaterra

Itália

As Regionalligen são dois campeonatos independentes, com 18 (Sul) e 19 (Norte) clubes. Os dois melhores de cada chave sobem para a segunda divisão. A terceira divisão, que é o estágio máximo em que podem avançar as equipes B dos grandes da Alemanha, conta com clubes relativamente tradicionais como St. Pauli, Dynamo Dresden, Magdeburg, Fortuna Dusseldorf e Union Berlim.

O terceiro escalão argentino é dividido em dois. A Primera B é uma competição da região metropolitana de Buenos Aires. Dos 22 clubes, o mais tradicional é o Atlanta. O primeiro colocado sobe para a segunda divisão, enquanto, de segundo a nono, os clubes disputam uma repescagem. O Torneo Argentino A é dividido em grupos regionais. O campeão tem vaga direta na B Nacional, e o vice vai para a repescagem. As equipes mais tradicionais são Racing de Córdoba e San Martín de Mendoza.

A Segunda División B conta com 80 clubes, divididos em quatro grupos regionais. O campeão de cada chave vai para a segunda divisão, sem haver uma final nacional. Os integrantes mais conhecidos dessa competição, hoje, são Rayo Vallecano, Oviedo, Granada e Mérida.

A National é um caso de terceira divisão em grupo único para o país inteiro. Os 20 clubes se enfrentam em dois turnos, e os três melhores sobem para a Ligue 2. Nesse torneio estão o Paris FC (dissidência do Paris SaintGermain) e o Cannes.

O nome até engana, mas a League One é o terceiro escalão do futebol inglês. Como na França, o torneio é nacionalizado, com 24 clubes que jogam em pontos corridos. Sobem três equipes para o Football League Championship. A terceira divisão inglesa é a única a contar com um ex-campeão da Copa dos Campeões: o Nottingham Forest. Outras equipes tradicionais do torneio são Huddersfield, Bradford e Blackpool.

Na temporada passada, a Serie C1 estava valorizada com as presenças de Napoli e Genoa. A competição é composta por dois grupos (norte e sul), com 18 clubes cada. Duas equipes de cada chave sobem para a segunda divisão. Em 2006/7, os clubes mais conhecidos da Terceirona italiana são Salernitana, Perugia, Avellino, Venezia, Foggia e Pisa. Isso se não houver mudança na composição por problemas financeiros com os times.

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Falta lugar para todos

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Aproveitamento (em %)

8 10 6 9 22 33 24 17 20 10 12 28 41 18 11 33 30 10 47 12 48 13 8 25 103 22 11 631

1 3 1 3 4 4 4 2 5 2 2 2 5 4 2 6 5 2 8 3 7 1 1 5 18 2 1 103

12,5 30 16,7 33,3 18,2 12,1 16,6 11,8 25 20 16,7 7,1 12,2 22,2 18,2 18,2 16,6 20 17 25 14,6 7,7 12,5 20 17,5 9,1 9,1 16,3

Clubes que disputaram campeonatos estaduais, de primeira a quarta divisão, considerando equipes B. Não contam clubes licenciados ou que só jogam copas estaduais, seletivas, torneios de categorias de base ou ligas amadoras. 2 Séries A, B e C

O Ulbra (esq.) sobrevive graças aos recursos repassados pela universidade de mesmo nome

O clube de Campina Grande sentiu na pele esse problema. O time bicampeão estadual foi desmanchado, e até o treinador Maurício Simões saiu. O fato pode aumentar a pressão da torcida, que viu o time ser eliminado nas quartas-de-final da Terceirona em 2004 e 2005. Com um regulamento um pouco menos cruel, os paraibanos espperam lutar por uma das quatro vagas na Série B de 2007. Apesar dos pedidos, é improvável que aconteçam alterações no formato de disputa da Série C. A competição é organizada inteiramente pela CBF, que elabora o regulamento, ajuda financeiramente algumas equipes e cuida da parte comercial da competição. Em 2005, houve a idéia de a FBA (Futebol Brasil Associados, entidade que cuida da comercialização da Série B) assumir a Terceirona. Mas nada aconteceu até o momento. “Dependemos de a CBF se dispor a entregar a comercialização da Série C para nós”, afirma José Neves Filho, presidente da FBA. “Não fizemos um estudo aprofundado, mas a terceira divisão tem um potencial interessante. Com equipes tradicionais, como Vitória, Bahia, Treze, Joinville e Criciúma, é certo que há mer-

Gabriel de Mello

No Brasileirão2

AC AL AP AM BA CE DF ES GO MA MT MS MG PA PB PR PE PI RJ RN RS RO RR SC SP SE TO Total

Total de Clubes1

Estado

Como os Estaduais são classificatórios para a Série C, em teoria, todos os clubes brasileiros podem disputar o campeonato nacional. Só que há vagas para poucos, e seis de cada sete clubes são obrigados a fechar as portas ou disputar esvaziadas copas estaduais no segundo semestre.

cado para a competição”. No entanto, a CBF tem versão diferente. “Se eles se apresentarem para comercializar a Série C, receberão nossa aprovação imediata. Economizaríamos um bom dinheiro”, comenta Virgílio Elísio, diretor técnico da entidade. No modelo atual, a confederação investe cerca de R$ 4 milhões com o custeio de viagens e hospedagem para 33 clubes. De acordo com Elísio, é improvável que o torneio passe por alterações nos próximos anos. “Estamos sempre em contato com o mercado e temos convicção de que, se a Série C fosse com grupo único nacional, todos os clubes quebrariam pelos altos custos de deslocamento”. O diretor técnico da CBF usa como exemplo a Série B, que apenas neste ano conseguiu organizar uma competição em pontos corridos. Para ele, a terceira divisão só poderia mudar de formato se tivesse patrocínio forte. Por enquanto, a Série C deve continuar como é hoje: heterogênea, perigosa, imprevisível e temida, sem atender à necessidade de colocar em atividade dezenas de clubes brasileiros durante o ano todo. Setembro de 2006

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Negócios, por Carlos Eduardo Freitas

Reprodução

Imagem de campanha do Santander

Tirando o time de campo Fracasso do Brasil no Mundial manda os astros para o banco de reservas e muda o foco do investimento para a paixão pelos clubes

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epois de seis meses de um bombardeio de entusiasmo em cima da Seleção e das suas maiores estrelas, a derrota para a França marcou uma guinada na orientação das campanhas publicitárias, nas quais os craques deixaram o palco para que o holofote fosse para outros protagonistas: os clubes. No domingo, 2 de julho, a sensação de quem assistia TV ou andava pelas ruas de muitas cidades do Brasil era de que a Copa do Mundo, que ainda tinha uma semana pela frente, sequer havia acontecido. Menos de 24 horas depois da eliminação brasileira para a França, não era mais possível ver peças publicitárias com os rostos de Ronaldo, Ronaldinho, Roberto Carlos, Cafu, Kaká e Robinho, embora R$ 3,5 bilhões tenham sido investidos em campanhas ligadas ao torneio ou aos astros. Principal exemplo dessa situação é o banco Santander e sua campanha “O melhor banco do mundo”, que tinha como garotos-propaganda todos os jogadores citados. Logo após a derrota, o Santander retirou prontamente toda a decoração que associava a marca aos atletas de lojas e ruas. Algo semelhante aconteceu com a campanha da cerveja Brahma, que até o intervalo de Brasil x França exibia peças com jogadores da

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PEDIU CERVEJA, AJUDOU O FLAMENGO

Marcas mais lembradas por telespectadores brasileiros após o final da Copa do Mundo Patrocinadores oficiais

Nova parceira do clube da Gávea, a cerveja Nova Schin lançou em junho, somente no Rio de Janeiro, a campanha “Pediu Nova Schin, ajudou o Flamengo”. No filme promocional, Zico narra o que é ser flamenguista. “A escolha do clube foi estratégica”, explica Reinaldo João, diretor de mídia da agência Famiglia. A cervejaria escolheu o rubro-negro por ter cerca de 33 milhões de torcedores em todo o país e para melhorar sua participação no mercado carioca. Nas latinhas, em vez de exibir a marca da cervejaria, está o escudo do Fla, que, além de receber mensalmente durante os dois anos da parceria, ganha também uma porcentagem das vendas da bebida. Para quem não vive na capital fluminense e não viu a propaganda, vale procurar no site YouTube. É emocionante.

Patrocinadores da Seleção 14%

23%

14%

22%

5%

14%

3%

Todos

28% Fonte: Ibope/DPZ

QUEM PATROCINA?

A vez do Brasileirão Essa ressaca pós-Copa não significa, porém, que o mercado publicitário deixará de usar o futebol em suas campanhas até o final do ano. “Futebol, em geral, continua em voga”, conta Casarotti, que aponta Dunga

e o futebol nacional como bons temas a serem abordados por campanhas. O novo técnico da Seleção, aliás, já é garoto propaganda de uma caminhonete da Chevrolet. O anúncio estava gravado desde antes da Copa e não chegou a ir ao ar. Como o capitão do tetra foi escolhido para o lugar de Parreira, a montadora resolveu aproveitar o momento. Visa e Mastercard são outras empresas que, depois do Mundial, têm usado o futebol brasileiro como chamariz de suas marcas. O mesmo faz a Nestlé, com a campanha “Torcer faz bem”. Como disse Casarotti, para o mercado seria muito melhor que o Brasil tivesse ganho a Copa. “Teríamos muito mais dinheiro, porque todo mundo gostaria de aproveitar o momento de euforia”. Mesmo assim, independentemente do resultado da Seleção, sempre tem gente investindo em futebol. Afinal, diz o publicitário, “Futebol, no Brasil, é um produto que não sai de voga”. Enquanto isso, o Santander espera o momento mais conveniente para lançar uma campanha com Ronaldo, com quem o banco ainda tem contrato, mas é um dos alvos principais da torcida pelo fracasso no Mundial.

Já faz algum tempo que algumas marcas compram o direito de juntar seu nome ao de competições ao redor do mundo. Você sabe qual o ramo de atuação de cada uma das marcas? Eis alguns exemplos.

notas

Seleção como Ronaldo e Cicinho e, após o jogo, entrou com uma peça protagonizada por Zeca Pagodinho. No mercado publicitário, a opinião geral é de que a campanha do Santander, que teve investimento estimado de R$ 300 milhões, foi um sucesso no primeiro semestre. Segundo a McCann Erickson responsável pelos anúncios, o objetivo, que era o de fixar a nova marca, foi plenamente atingido, e havia estratégias pensadas para a eliminação do Brasil em qualquer das fases da Copa. O banco, entretanto, prefere não comentar o assunto, segundo sua assessoria de imprensa. Mesma atitude adotou a Ambev, que também não quis falar. “Em alguns casos, faltou um plano B”, explica Flávio Casarotti, diretor de mídia da agência Fischer América. “Essa ligação tão visceral da marca com um personagem exige cuidado. Agora, futebol centralizado em ídolos fica um pouco na geladeira”.

Alemanha T-Com Liga – telefonia (a partir de 2007/8) Première Cup – canal por assinatura Argentina Torneio Apertura/Clausura Gillette Prestobarba Excel – aparelhos de barbear Áustria T-Mobile Bundesliga – telefonia celular Bélgica Jupiler League – cerveja Escócia Bank of Scotland PremierLeague – banco Holanda Amstel Cup – cerveja Hungria Borsodi Liga – cerveja Inglaterra Barclays Premiership – banco Carling Cup – cerveja Itália TIM Cup – telefonia celular Portugal Bwin Liga – casa de apostas República Tcheca Gambrinus Liga – cerveja América do Sul Copa Toyota Libertadores – montadora Copa Nissan Sul-Americana – montadora

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Fotos: Carlos Eduardo Freitas/Trivela

Cadeira cativa, por Carlos Eduardo Freitas

Tensão no Olímpico Roma x Internazionale, no Estádio Olímpico, com o time da casa envolvido na briga pelo título italiano. Parece uma proposta irresistível, para qualquer torcedor de futebol. Para um turista que está na capital italiana, é difícil não ir

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vanta os cachecóis e canta “Roma, Roma, Roma...” A partida começa debaixo de uma fumaceira absurda. Em meio aos “ultras”, fica difícil para o torcedor comum prestar atenção no que acontece em campo. Afinal, escapar da artilharia aérea nem sempre é fácil. O resto do estádio, aliás, parece nem ligar para o que acontece na “Curva Nord”. Quando a situação dava mostras de que não poderia ficar pior, os fãs da Roma quebram o vidro de proteção que separa as duas torcidas. A polícia age rápido e, em menos de um minuto, em torno de 200 soldados vestidos com algo parecido com uma armadura aparecem para evitar uma tragédia. Mesmo assim, os xingamentos – e palavrão em italiano soa mais engraçado – e provocações não param um minuto. Instantes após toda a confusão, já quase no intervalo, Cassano abre o placar. No segundo tempo, o assunto enfim foi futebol. A Roma ataca para o gol do lado da “Curva Nord”, o que permite ver de perto o show do ala brasileiro Mancini, que marca um golaço, driblando uma série de jogadores da Inter pela direita. Vieri diminui para os milaneses e deixa o jogo tenso, até que Córdoba faz pênalti aos 44 do segundo tempo. Totti converte. Quando o jogo já parecia terminado, outra pintura, a poucos metros da ala norte. Cassano dá um drible magistral num zagueiro da Inter e cruza para Mancini marcar seu segundo. O 4 a 1 no placar redime o sofrimento do início da partida. Para quem viveu a experiência desse Roma x Inter, não surpreendeu o incidente que ocorreu duas semanas depois: no derby contra a Lazio, circulou pelo estádio o boato de que um torcedor teria morrido nas arquibancadas, o que revoltou a torcida e forçou a interrupção do jogo.

Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

ROMA 4 INTERNAZIONALE 1 Data: 17/março/2004 Estádio: Olímpico (Roma, Itália) Gols: Cassano (45min), Mancini (63min e 93min), Vieri (73min) e Totti (pênalti, 89min)

ficha

or se tratar de uma partida importante, as entradas para Roma x Internazionale já estavam esgotadas com antecedência. Ou seja: não há alternativa que não recorrer a cambistas. Ingressos que nas bilheterias custavam € 15 são vendidos nas ruas por € 60. Com choro, cai para € 40. Não bastasse o ágio, ainda há o medo de o ingresso ser falso. E não espere ajuda dos funcionários do estádio. “Se não comprou na bilheteria, não é legítimo” é o máximo que chegam a responder. Para o torcedor não habituado às cercanias do Olímpico, andar em meio à massa “giallorossa” enquanto se tenta encontrar o lugar por onde entrar no estádio não é das tarefas mais simples. O tal ingresso era para a “Curva Nord”, atrás de um dos gols – e onde se aglomeram os “ultras” da Roma. Sem sinalização clara, só depois de uma volta inteira se chega ao local. Próximo à entrada, uma cena típica de estádios brasileiros: confusão entre torcedores e policiais. Os “carabinieri” usam bombas de gás lacrimogêneo para conter a fúria dos torcedores da Roma, o que dá início a um corre-corre. Pelo menos, o tumulto acaba sem feridos. Assistir a uma partida na “Curva Nord” é uma experiência bem diferente daquela que se costuma ouvir nos relatos de partidas na Europa, em que se exalta a organização e a segurança. Pior ainda porque, logo ao lado dos “ultras”, estava a torcida visitante – no caso, um pequeno, mas barulhento, grupo de fãs da Inter. Pouco antes do início do jogo, as duas torcidas se entretêm atirando objetos umas nas outras. Em meio aos “ultras”, chama a atenção a quantidade de mulheres. Ainda mais ver que elas se comportam igual ou pior do que os homens. Não demora para começar a chover sinalizadores, o que provoca novo corre-corre. A confusão só pára durante a execução do “hino” da Roma. O estádio inteiro le-

ROMA Pelizzoli; Panucci, Zebina, Samuel e Candela; Mancini, Dacourt (Tommasi), Emerson, Lima e Totti; Cassano. Técnico: Fabio Capello INTER Toldo; Córdoba, Adani e Cannavaro; Helveg, Farinos (Van der Meyde), C. Zanetti, J. Zanetti e Kily González (Karagounis); Adriano (Martins) e Vieri. Técnico: Alberto Zaccheroni

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E se..., por José Geraldo Couto

...Pelé não tivesse jogado mais Copas após 1966? odo mundo conhece a história. Desgostoso com o desempenho da Seleção Brasileira na Copa de 1966, revoltado contra a violência de que foi vítima nos gramados ingleses, Pelé declarou que nunca mais disputaria uma Copa do Mundo. E, como diz o clichê, palavra de Rei não volta atrás. Foi assim que o escrete nacional chegou à Copa de 1970, cercado de desconfianças. Com a ausência do maior jogador do mundo, o técnico Zagallo foi convencido pelo então presidente da República, o general Emílio Castro Vargas, a convocar para o ataque o desengonçado e folclórico (mas eficiente) artilheiro Dedé Maravilha, que atuava no clube de predileção do supremo mandatário. Fazia sentido: Tostão, que muitos chamavam de “Pelé branco”, faria o papel do Rei e teria a seu lado um centroavante nato, daqueles que ficam na área trombando com os zagueiros e esperando uma chance de enfiar a bola para dentro não importa como: de cabeça, de barriga, de canela. Estava provado, depois da Copa de 1966, que

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A cada edição, um grande escritor imagina como seria o mundo do futebol se, no passado, alguma coisa tivesse acontecido diferente. Você tem sugestões de temas para esta seção? Mande e-mail para contato@trivela.com

futebol-arte não ganha jogo. A maior concentração de craques de duas gerações tinha levado a nossa Seleção a sua pior performance em Mundiais. E foi assim que Dedé despontou para o estrelato internacional, ajudando o Brasil a conquistar a Jules Rimet. As retrospectivas televisivas não cansaram de exibir os lances mais curiosos de Dedé naquela Copa. Mas nunca é demais lembrar alguns deles. Logo na estréia, contra a Tchecoslováquia, o atacante mostrou que não era um jogador comum. O Brasil começou perdendo, a equipe estava intranqüila, e Zagallo mandou o seguinte recado aos jogadores: “Segura mais a bola, sem afobação. Se for preciso, atrasa pro Félix”. Na época, como se sabe, o goleiro podia pegar com as mãos as bolas recuadas. Dedé captou a mensagem. Poucos minutos depois, recebeu uma bola no meio de campo. O time estava recuado, não havia ninguém para ser lançado. Não teve dúvida: resolveu atrasar para Félix. Mas pegou embaixo demais da bola, e esta encobriu o goleiro do

Fluminense, passando a poucos palmos da trave. A imagem de Félix desesperado, correndo de volta para a meta e chocando-se com uma das traves para evitar o possível gol contra, é uma das mais repetidas daquele Mundial. Na semifinal, contra o Uruguai, Dedé voltaria a deixar sua marca inconfundível. O Brasil começou perdendo, mas virou o jogo. Quando já estava 2 a 1 para nós, Tostão deu um passe vertical açucarado para o artilheiro, que de repente se viu diante de Mazurkiewicz. O goleirão uruguaio saiu do gol até a meia-lua da área. Dedé poderia driblálo tocando a bola para o lado, mas resolveu improvisar dando um drible de corpo. Deixou a bola passar e pensou em retomá-la dando a volta no arqueiro, mas na hora se atrapalhou e trombou de frente com o adversário (foi aí que ganhou o apelido de “Peito de Aço”). Ambos ficaram desacordados por alguns minutos. Na final, contra a Itália, o craque fechou sua participação com chave de ouro. O jogo estava difícil, indefinido. O Brasil vencia por 2 a 1. Gerson dominou a bola no meio de campo, levantou a cabeça e fez um daqueles seus lançamentos espetaculares em direção à área. A bola viajou nas alturas por 40 metros, enquanto Dedé procurava se desvencilhar da dura marcação italiana. Quando a bola chegou, nosso craque estava de costas para ela. O resto todo mundo sabe: a bola bateu na sua nuca e sobrou para Jairzinho na entrada da pequena área. O Furacão só teve o trabalho de colocá-la para dentro. Só quando viu os companheiros comemorando e a torcida vibrando, o atordoado Dedé percebeu o que havia acontecido. E festejou junto. Há quem especule sobre o que teria acontecido à Seleção se Pelé tivesse jogado aquela Copa. Talvez tivesse dado tudo errado. O que prova mais uma vez que Deus, além de brasileiro, escreve certo com pernas tortas. José Geraldo Couto é colunista da Folha de S.Paulo e participou da cobertura da Copa de 1998

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Cultura, por Carlos Eduardo Freitas

À moda

Carlos Eduardo Freitas/Trivela

antiga (e sem cheiro de naftalina)

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guir essas camisetas antigas, alguém teve a brilhante idéia de refazer os modelos clássicos, tal qual eles eram no passado. O “alguém” em questão foi o inglês Allan Finch, fundador da marca Toffs, acrônimo de “The Old Fashioned Football Shirt” (em português, “a camisa de futebol à moda antiga”). Em 1990, ele pegou fotografias antigas do Arsenal, seu time de coração, produziu alguns modelos de camisas com base nas imagens e os ofereceu a dirigentes dos Gunners, perguntando se teriam interesse em comercializá-las na loja oficial do clube. “Eles não só gostaram, como compraram todas e pediram que se tornasse fornecedor oficial para esse tipo de produto”, relembra Ben Fell, executivo de marketing da

Liga Retrô (BRA) www.ligaretro.com.br

onde encontrar

olecionar camisas de clubes e seleções está entre os hábitos mais comuns para quem gosta futebol. Sejam do time de coração, de outros do país ou de equipes do exterior, tê-las no guarda-roupas virou moda em meados dos anos 90. Ter os últimos modelos do Brasil e da Europa sempre foi o máximo. Mas, nesta época em que o futebol é um negócio, muitos torcedores sentem saudades das camisas do passado, em que os uniformes eram mais simples e não tinham patrocínio. No entanto, essas camisas eram para poucos, limitadas a pessoas cujos irmãos mais velhos ou pais as haviam conservado por anos e anos. Como nem sempre é fácil e barato conse-

Ponto Verde (BRA)* www.pontoverde.com.br

Só Futebol Brasil (BRA) www.sofutebolbrasil.com

Subside Sports (ING) www.subsidesports.co.uk

Toffs (ING) www.toffs.co.uk *só do Palmeiras

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empresa, hoje referência no setor. Aos poucos, o negócio se expandiu, outros clubes de toda a Europa aderiram à idéia e, hoje, para deleite dos apreciadores, o catálogo conta com 220 clubes e seleções, alguns com mais de cinco modelos diferentes. “Todas devidamente aprovadas pelos clubes”, diz Fell. Entre as mais vendidas estão as do Brasil de 1970, a da Alemanha Oriental, com o “DDR” no lado esquerdo do peito, e as vermelhas da União Soviética, com o “CCCP” estampado. Essa moda de camisas retrô atingiu em cheio três públicos. Primeiro, obviamente, os mais ligados à cultura do futebol, que colecionam camisas. Depois, aqueles que gostam dos uniformes, mas têm rejeição ao material em que são produzidas as camisetas hoje em dia. Por último, pessoas mais ligadas à moda, que nem sempre têm relação com o esporte, mas acham legal o estilo. Essa onda foi tão forte que impulsionou, por exemplo, o surgimento da linha “Originals”, da Adidas. Além disso, a moda inspirou as principais fornecedoras de materiais esportivos do planeta. Em 2000, a Nike lançou sua coleção de uniformes para seleções como Brasil, Portugal e Holanda inspirada em desenhos clássicos. A Adidas seguiu a mesma linha na Copa de 2002, quando produziu uniformes com traços mais tradicionais, como a camisa da Alemanha, bastante parecida com a de 1974. Para a Copa do Mundo de 2006, a Nike, além de voltar a usar desenhos tradicionais em seus uniformes, lançou uma linha de produtos retrô, com camisas comemorativas. Já a Adidas

relançou camisetas clássicas de Argentina, Alemanha e Japão.

VOLTA DO GRÊMIO À PRIMEIRA DIVISÃO VIRA FILME

Brasil começa a aderir à moda Desde dezembro de 2005, ficou mais fácil para os brasileiros conseguirem camisas retrô. A loja online Só Futebol Brasil tornou-se representante oficial da Toffs no país. Trouxe, primeiramente, camisas dos campeões mundiais de 1930 até 1986, como promoção para a Copa do Mundo. “As vendas superaram nossas expectativas, e tivemos de fazer pedidos extra durante o Mundial”, comemora Flavio Beretta, diretor comercial da Só Futebol. Beretta conta que, de início, sua empresa temia que as camisas retrô fossem uma moda passageira, mas a experiência provou o contrário. “Hoje em dia, temos diversos clientes fazendo sugestões com pedidos de novos modelos”, conta. Hoje, na Só Futebol, o preço das camisas da Toffs varia de R$ 179 a R$ 259. A aceitação do público é tamanha que motivou o carioca Leonardo Klarnet a fundar sua própria grife de camisetas antigas, a Liga Retrô. A loja virtual começou a funcionar durante a Copa do Mundo. Klarnet diz que a proposta tem sido bem recebida. “Nosso próximo passo é lançar as camisas de clubes brasileiros, com os quais estamos em negociação”, anuncia. Parece ser questão de tempo tornar-se mais fácil conseguir camisas de períodos vitoriosos dos principais clubes brasileiros, como o Santos de Pelé e o Flamengo de Zico, entre outros. E o melhor: sem os buracos de traça e o cheiro de naftalina das camisas da época.

Difícil encontrar outra palavra que traduza a maneira como o Grêmio se classificou para a primeira divisão, em 2005, que não “Inacreditável”. Esse é o nome do documentário lançado pela G7 Cinema e pela TGD Filmes sobre a trajetória da equipe gaúcha na Segundona, na última temporada. O ápice, claro, é a dramática vitória sobre o Náutico, no Estádio dos Aflitos, quando, com quatro expulsos, teve um pênalti contra e conseguiu vencer por 1 a 0. Dirigido por Beto Souza, o filme traz depoimentos de jogadores e de gremistas famosos, como Luiz Felipe Scolari. É uma boa iniciativa para um mercado ainda pouco explorado no Brasil: o de fitas temáticas sobre clubes. “Inacreditável – A Batalha dos Aflitos” Dir.: Beto Souza Preço sugerido: R$ 29,90 Onde encontrar: www.filmeinacreditavel.com.br

FIFA FOOTBALL MAIS BRASILEIRO

O crescente interesse em camisetas retrô fez com que clubes brasileiros e fornecedores de material esportivo começassem a atentar para esse mercado. “Esses modelos eram muito solicitados por torcedores, clubes e lojistas”, conta Fernando Costa, diretor de produtos da Reebok. A empresa acaba de lançar uma coleção com camisas de São Paulo, Internacional e Vasco inspirada em grandes momentos dessas três equipes. A primeira iniciativa desse tipo aconteceu em 1995, quando o Flamengo completou 100 anos e lançou dois modelos comemorativos, alusivos aos primórdios do clube: um quadriculado em vermelho e preto e outro listrado, com faixas em azul e amarelo, como a camisa era em 1895. Em 2000, o Corinthians, em seu aniversário de 90 anos, lançou uma edição limitada de uma camisa semelhante a sua primeira. Além do brasão da época e de um tom bege claro, a Pepsi estampou sua marca com o desenho do início do século. Outros clubes com iniciativas semelhantes foram Grêmio e Fluminense, que nos anos de seus centenários lançaram camisas comemorativas. Em dezembro de 2005, às vésperas do Mundial de Clubes, foi a vez de o São Paulo lançar uma réplica da camisa dos títulos de 1992 e 1993.

lançamentos

Clubes despertam para esse mercado

A edição 2007 do jogo FIFA Football terá um atrativo a mais para os fãs brasileiros. Pela primeira vez em 14 edições, estarão presentes todos os clubes que disputam a Série A do campeonato nacional. “No total, são 22 times do Brasil disponíveis aos jogadores”, explica Gulherme Franco, diretor de marketing e vendas da Electronic Arts no Brasil. Além do Brasileirão, o jogo traz outras 26 competições, de 20 países diferentes. O lançamento mundial do FIFA 07 será em 29 de setembro. FIFA 07 Fabricante: EA Sports Plataformas: PC, Xbox, PlayStation e Gamecube Preço sugerido: R$ 99,90 Lançamento: 29/setembro

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A Várzea

Em alta

A frase do mês “Quem não quer pressão que vá trabalhar em banco” O que Marcelinho Carioca não entende é que trabalhar em bancos é muito mais estressante do que trabalhar no banco de reservas, como ele faz.

A manchete do mês “Ingleses fazem vaquinha para ter Ronaldo ou tortas”

(Terra)

Afinal, se o Ronaldo estiver na cidade, não vai sobrar uma torta para o resto dos moradores!

Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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A charge do mês

É com muita emoção que A Várzea chega a este momento histórico. Escrever numa revista de futebol! O espírito varzeano é o mesmo da newsletter que a gente manda todo dia por e-mail. Mas a responsa é maior. Afinal de contas, escrever aqui é outro nível, não é? Até porque, se publicarmos alguma bobagem [o que acontece toda hora – o Editor], só dá para corrigir mês que vem. Mas vamos deixar de lado essas introduções chatas, porque, ao contrário do que muita gente pensa, o leitor quer saber de futebol, não quer saber o que a gente pensa. Confuso, né? Mas não mais confuso do que a cabeça d’A Várzea quando ficou sabendo que os principais assuntos desta revista são Dunga e a influência da CBF em Brasília. Será que, no afã de agradar os políticos e manter seu poder, Darth Sidious (também conhecido como Ricardo Teixeira) indicou um dos Anões do Orçamento para dirigir a Seleção? Sem experiência profissional, Dunga foi beber na fonte dos maiores mestres do futebol mundial: seus predecessores na Seleção. “Jogador do Brasil tem que ter amor à camisa”, zagallizou na primeira entrevista coletiva. “Não posso usar um esquema tão ofensivo. É preciso ter a posse de bola para depois jogar com ela”, parreirizou alguns dias depois. E não nos esqueçamos da “grande renovação” pela qual a Seleção tem que passar. Agora que descobrimos que Ronaldinho Gaúcho e companhia não passam de um bando de enganadores, é urgente substitui-los pelos craques Danilo, Francismar e Obina. Nem precisa disputar a Copa em 2010. Com Dunga e Branco de Neve no banco e esses craques em campo, nem a Bruxa Malvada (também conhecida como França) tira o Hexa da gente.

Internacional

Ganhou a Libertadoores com méritos, derrubando, na final, o “favoritíssimo” São Paulo. E, finalmente, pode dizer para os gremistas que também tem um título continental.

Técnicos brasileiros A CBF indica para dirigir a Seleção um cara que nunca treinou um time e cuja maior qualificação é gritar bastante. A maior parte da imprensa aprova a escolha. E a moral dos outros técnicos (com exceção de Felipão) vai para o ralo.

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Coleção

Pênalti do Ronaldinho

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Super Futebol Ronaldinho Gaúcho Super Futebol é um jogo de botão completo, em uma embalagem digna de um campeão. Acompanha 2 times, 2 gols, palhetas e bolas.

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