Trivela 08 (out/06)

Page 1

www.trivela.com

nº 8 | out/06 | R$ 7,90

AZARÕES Quem são os coadjuvantes da Liga dos Campeões

INTER Da porta do inferno ao topo da América

• Crise da Portuguesa • Mano Menezes • Estádios de Curitiba • Rio de Janeiro • Futebol de Lego • A Várzea

editora

P O O L

nº 8 | out/06 | R$ 7,90

E MAIS...

capa.indd 1

10 para

2010

Nova geração brasileira ganha espaço na Europa. Conheça as principais apostas para o futuro da Seleção Entrevistas com Diego, Daniel Alves e outras promessas 9/22/06 7:19:31 AM


#HEGOU 3ONORA -UITO MAIS M{SICA COM QUALIDADE DE #$ ORIGINAL !SSINANDO O 3ONORA /NLINE VOCo ESCUTA TODAS AS M{SICAS NA qNTEGRA DIRETO DO SEU COMPUTADOR OU DE UM APARELHO DE SOM LIGADO NELE !PROVEITE A OFERTA DE LANlAMENTO !LmM DISSO VOCo TAMBmM PODE COMPRAR AS M{SICAS DE QUE MAIS GOSTA PARA BAIXAR NO SEU MP PLAYER OU GRAVAR #$S COM A SUA CARA #OMECE Jf A FAZER SEUS DOWNLOADS 3ONORA &AlA SUA TRILHA

/ 3ONORA m VENDIDO SEPARADAMENTE DO ACESSO g INTERNET 0ARA MAIS DETALHES ACESSE WWW TERRA COM BR SONORA #OMPATqVEL COM A TECNOLOGIA DE $2- DA -ICROSOFT

anuncios.indd 2

9/22/06 3:02:12 AM


- { S I C A m A S U A

DM9 É DDB

! SUA m O 3ONORA

WWW TERRA COM BR SONORA

anuncios.indd 3

9/22/06 3:03:22 AM


índice

www.trivela.com

Entrevista: Diego fala de Seleção, Werder Bremen e da saída do Porto

14

Seleção Brasileira: 10 jogadores para reforçar o Brasil na próxima Copa

20

Liga dos Campeões: os oito times menos famosos da competição

34

Internacional: o planejamento que levou o Colorado ao triunfo na Libertadores

42

Estádios de Curitiba: os três grandes paranaenses investem em reformas

52 56

Orestis Panagiotou/EFE

Portuguesa em crise: problemas financeiros ameaçam a Lusa Jogo do mês Curtas Opinião Peneira Tática Capitais do futebol Entrevista: Morais Entrevista: Xavier História Entrevista: Mano Menezes Negócios Cadeira cativa E se...

34

Cultura A Várzea

5 6 8 10 11 30 32 38 40 50 60 62 63 64 66

editorial Errado por linhas retas O aperto de mãos entre o presidente Lula e Fernando Carvalho, presidente do Internacional, é a ligação que nós gostaríamos que não houvesse entre nossa edição anterior e esta. De um lado, o homem que reergueu um dos clubes mais tradicionais do país. De outro, um presidente que assinou a Lei de Moralização do Esporte e o Estatuto do Torcedor, mas pouco depois, aproximou-se da CBF e acabou sancionando um monstrengo chamado Timemania. Não se trata, aqui, de ser contra o estabelecimento de fontes alternativas de recursos para nossos clubes. O problema é não ter criado, junto, maneiras de garantir que esses recursos adicionais serão bem usados e que não tenham o mesmo fim do dinheiro da ISL ou do Nations Bank. E não haver formas de responsabilizar legalmente os que usarem mal tais recursos. Em nossa reportagem de capa, trazemos dez jovens jogadores que têm potencial cavar um lugar na Copa de 2010. Se não conseguimos segurar nossos nomes de maior destaque, poderíamos, pelo menos, manter esses jovens valores, que deveriam estar brilhando nos grandes clubes do futebol brasileiro, e não escondidos em times estrangeiros. É isso que a Timemania deveria tentar materializar. Do jeito que foi aprovada, no entanto, nada indica que isso acontecerá.

índice.indd 2

Editores Caio Maia Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Tomaz Rodrigo Alves Reportagem Ricardo Espina Ubiratan Leal Colaboradores João Tiago Picoli Juan Saavedra Mauro Beting Paulo César Martin Agradecimento André Pasi Fabrício Falkowski Foto da capa Carmen Jaspersen/EFE Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold (looks@uol.com.br) Diagramação e tratamento de imagem s.t.a.r.t. (start.design@gmail.com) Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 4208-8213 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 4208-8205 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Pool Editora pooleditora@lmx.com.br (11) 3865-4949 Circulação LM&X - Alessandra Machado (Lelê) lele@lmx.com.br (11) 3865-4949 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Impressão Plural Editora e Gráfica Tiragem 30.000 exemplares

9/22/06 5:18:01 AM


Christophe Karaba/EFE

Jogo do mês, por Cassiano Ricardo Gobbet

Resgate do orgulho S de Zidane, a França tirou vantagem de sua solidez defensiva e de um gol prematuro – uma falha de cobertura do lateral-esquerdo no atacante. Qualquer comparação com o Brasil é opcional. O domínio francês ficava escancarado com a onipotência de Patrick Vieira no meio-campo. O volante da Inter foi um gigante na revanche da França, vencendo um duro duelo com Gattuso e permitindo a Henry jogar na sua condição ideal: sem a obrigação de decidir. Tranqüilo, foi assim que o atacante do Arsenal fez o segundo gol. Tendo somente Gilardino e Cannavaro à altura da conquista na Alemanha, a derrota italiana se agrega a outras tantas reprises de finais importantes que ficaram esquecidas nos anuários, mas pode se tornar célebre como o início de uma campanha fracassada da Itália para conseguir uma vaga na Euro-2008. Se for assim, a vingança francesa não será assim tão inócua.

Data: 6/setembro/2006 Local: Stade de France (Paris) Público: 78.000 espectadores Árbitro: Herbert Fandel (ALE) Gols: Govou (2min), Henry (16min), Gilardino (20min) e Govou (55min) Cartões amarelos: Henry (França), Cannavaro, Perrotta e Gilardino (Itália) FRANÇA Coupet; Sagnol, Thuram, Gallas e Abidal; Malouda, Vieira, Makélélé e Ribéry (Saha); Govou (Wiltord) e Henry. Técnico: Raymond Domenech

ficha

e alguém desembarcasse na Terra na semana que antecedeu o jogo entre França e Itália pelas eliminatórias da Eurocopa, poderia achar que os italianos tinham colocado o título mundial em jogo. Poucas vezes uma “revanche” causou tamanha celeuma. E, neste caso, muito pouco estava, de fato, valendo, exceção feita à sede de vingança francesa. Mas essa não era pequena. Com a derrota de Berlim atravessada na garganta, a França, em seu primeiro torneio sem Zidane, queria mostrar que não havia deixado de ser grande. Do outro lado, a Itália de Roberto Donadoni necessitava igualmente de um bom resultado, após um melancólico empate com a Lituânia em casa, no primeiro jogo do grupo. No campo, o técnico francês, Raymond Domenech, fez alterações que surtiram efeito nos Bleus. Com um atacante (Govou) a mais no lugar

FRANÇA 3 ITÁLIA 1

ITÁLIA Buffon; Zambrotta, Cannavaro, Barzagli e Grosso; Semioli (Di Michele), Gattuso, Pirlo e Perrotta; Cassano (Inzaghi) e Gilardino (De Rossi). Técnico: Roberto Donadoni

Outubro de 2006

jogo do mês.indd 3

5

9/21/06 11:38:46 PM


Michael Dalder/Reuters

Curtas

JOGADORES-ROUPEIROS Os jogadores da seleção alemã conquistaram uma importante vitória fora de campo. Eles conseguiram derrubar a obrigatoriedade de calçar chuteiras da Adidas nos jogos do Nationalelf, uma vez que diversos atletas têm vínculo com outras marcas esportivas. Por contrato, todos os atletas que atuam na seleção eram obrigados a vestir a marca no período em que estavam com a equipe. O triunfo, porém, não foi total: o roupeiro da seleção só está autorizado a cuidar do material de quem usar as chuteiras com as três listras. Os outros, como o goleiro Jens Lehmann e o atacante Miroslav Klose, terão que se virar sozinhos.

TÁXI!

AUSTRÁLIA-2010?

Mal chegou à Catalunha, Gianluca Zambrotta sentiu de perto o nível da rivalidade entre Espanyol e seu novo clube, o Barcelona. Tão logo retornou à cidade após a excursão pela América do Norte, o defensor chamou um táxi no aeroporto. Para surpresa do italiano, o motorista recusou-se a levar o jogador para casa. O motivo? “Torço para o Espanyol”, justificou o taxista, antes de sair em arrancada. De malas na mão, Zambrotta foi obrigado a pegar outro carro. Antes de pensar em entrar, não pestanejou e perguntou para qual time o condutor torcia.

Até segunda ordem, a próxima Copa do Mundo será na África do Sul, como planejado. Mesmo sabendo disso, o presidente da Federação Australiana de Futebol, John O’Neill, colocou o país à disposição da Fifa para qualquer emergência de última hora. De acordo com o cartola, enquanto os sul-africanos ainda têm muito o que fazer para deixar tudo nos trinques para a competição, os Aussies já teriam toda a infraestrutura em ordem para um evento da magnitude do Mundial.

frases “Foi uma decisão minha, mas você entende o que ele fala? Eu também não. Então, não tem mais o que falar” Leão tenta justificar por que tirou a braçadeira de capitão de Tevez, com base em critérios científicos.

“Agora sou da Sociedade Esportiva Corinthians” “Eu sei que aqui será preciso matar um leão por domingo” Em sua apresentação no Corinthians, Amoroso demonstra em poucos minutos como se deve cativar o coração da torcida e do treinador.

“Estava lá atrás do gol, peguei a bola, caminhei e toquei de lado, sutil. Comemorei quando ela saiu dando o gol. Foi gol legal. Falei para ela [a juíza Sílvia Regina] que tinha passado pelo buraco” José Carlos Vieira, o “Canhoto”, conta como foi seu gol, o único na história feito por um gandula, na partida entre Santacruzense e Atlético Sorocaba, pela Copa Federação Paulista de Futebol.

6

curtas.indd 2

FIM DA FESTA? A Federação Paulista de Futebol decidiu tentar acabar com a festa dos empresários que infestam a Copa São Paulo de juniores com seus times de aluguel. A entidade mudou o regulamento do torneio, para dificultar a vida de quem está mais interessado em montar um balcão de negócios. Na próxima edição, em janeiro de 2007, só poderão participar atletas com idade entre 16 e 19 anos. Antes, quem tinha entre 18 e 21 anos podia jogar. Além disso, os jogadores devem estar inscritos em suas respectivas federações estaduais até 3 de outubro. Para a última Copinha, a inscrição poderia ser feita até 5 de dezembro, um mês antes do início do torneio. Por fim, para um clube poder disputar a competição, deve estar filiado a sua federação estadual há pelo menos dois anos e ter disputado o campeonato estadual no ano anterior. Nem todas as notícias, porém, são tão boas: a FPF continuará fazendo convites, o que pode ser a brecha para colocar tudo por água abaixo.

Outubro de 2006

9/19/06 9:36:27 PM


As dimensões continentais da Rússia promoveram uma situação no mínimo curiosa. Para apitar a partida em casa, contra o Spartak Moscou, o Luch-Energiya decidiu trazer do Japão Toru Kamikawa, que trabalhou em três jogos da Copa do Mundo e se tornou o primeiro asiático a apitar uma partida na Rússia. A explicação é simples: o time é da cidade de Vladivostok (lembram-se de War?), a mais de 15 mil quilômetros de Moscou. Como a cidade fica muito mais perto do Japão que da capital russa, o LuchEnergiya achou melhor conter os gastos com passagens aéreas e “importar” Kamikawa.

VOCÊ NÃO É O... Dunga assumiu há pouco tempo o comando da Seleção, mas já teve que enfrentar um protesto. Antes de embarcar em Cumbica para Londres, para os amistosos contra Argentina e País de Gales, o treinador foi hostilizado por um grupo de 50 pessoas. Mas tudo não passou de um grande mal-entendido. Dunga foi confundido com um executivo da Varig, e os manifestantes eram passageiros da empresa aérea revoltados com os problemas em seus vôos. Chamado de “mercenário” e “mau-caráter”, o técnico se irritou com a infeliz coincidência e discutiu com alguns deles.

MALDIÇÃO DA QUARTA ESTRELA? A Federazione Italiana Gioco Calcio estreou em 2 de setembro seu novo distintivo, agora com uma referência à conquista do título Mundial, na Alemanha. O novo desenho, agora com uma estrela a mais na faixa branca, parece não ter dado sorte à Azzurra. Desde que estreou o novo modelo, a Itália só tropeçou. Empatou com a Lituânia em Roma por 1 a 1 e perdeu para a França por 3 a 1 – sem falar na derrota em casa para a Croácia, por 2 a 0, na estréia de Donadoni como técnico da equipe. Será uma maldição?

10 lorotas do mercado de transferências

JUIZ IMPORTADO

Todo ano é a mesma coisa, e não é só no Brasil: basta abrir a janela de transferências na Europa para as especulações esdrúxulas começarem a bombar. Aí vão as mais comentadas na temporada 2006/7:

1

Kaká no Real Madrid

2

Tevez no...

3

Troca de Adriano por Ronaldo

4

Jogadores do Real Madrid no Milan

5

Ribéry no Arsenal, Lyon, Real Madrid...

6

Cristiano Ronaldo de malas prontas

7

Buffon no Milan

8

Luca Toni fora da Fiorentina

9

Fernando Torres na mira dos grandes

Ramón Calderón elegeu-se presidente do Real Madrid com a promessa de levar Kaká para os Merengues. Em nenhum momento o Milan deu sinais de que venderia o jogador, o que não impediu que o boato torrasse nossa paciência por dois meses.

Arsenal, Rennes, Lyon, Real Madrid, Boca Juniors, Manchester United, Milan. Esses são apenas alguns times para os quais se disse, a sério, que Tevez iria. Mesmo com tanto chute, ninguém levantou a hipótese de uma transferência para o West Ham.

Fazia sentido: dois atacantes de inegável qualidade, mas que atravessam má fase. Quem sabe uma troca de ares não faria bem a ambos? Tudo muito bom, fora o fato de que nem Real Madrid nem Internazionale queriam fazer essa troca.

Irritado pelo assédio do Real sobre Kaká, o Milan começou a plantar notícias de que estaria interessado em jogadores dos Merengues. Robinho, Ronaldo e Beckham foram alguns dos nomes que apareceram nos jornais.

Os boatos sobre o destino do meia do Olympique de Marselha certamente foram alimentados pelo pobre desempenho do clube nos últimos anos. Ribéry, no entanto, ficou, e a equipe ganhou quatro de seus cinco primeiros jogos na Ligue 1.

Depois que Cristiano Ronaldo cavou a expulsão de Wayne Rooney na Copa do Mundo, todos estavam certos de que o português deixaria o Manchester United. Mas as coisas se acertaram dentro do clube, e Ronaldo permaneceu na Inglaterra.

Com o rebaixamento da Juventus, parecia certo que Buffon, o melhor goleiro do mundo, deixaria a equipe. Do outro lado, estava um Milan carente nessa posição. Tudo parecia perfeito, mas a transferência, simplesmente, não aconteceu.

Tudo bem que este boato poderia ter virado verdade se a Viola tivesse sido rebaixada para a Série B. Depois do suposto interesse de Inter e Lyon, o atacante de 31 anos da Azzurra acabou ficando por Florença, mesmo.

Dizia-se que o (sobre)valorizado atacante do Atlético era pretendido por Real Madrid e Chelsea. O curioso é que os boatos não pararam nem depois que o Real comprou Van Nistelrooy e o Chelsea trouxe Shevchenko.

10

Edu Dracena disputado por Milan e Roma

Provavelmente, na Itália, ninguém nunca ouviu falar no jogador, mas sabe como é: surgiu um zagueiro razoável no Brasil, e alguém já quer ganhar algum dinheiro em cima. Dracena saiu do Cruzeiro, mas para jogar no Fenerbahçe, da Turquia. Outubro de 2006

curtas.indd 3

7

9/19/06 9:36:38 PM


Opinião

Calendário de borracheiro PARA OS DONOS DA BOLA e das boladas, calendário

Mauro Beting

no futebol é como aquela folhinha na parede de borracheiro ou no quarto de adolescente: um negócio onde são mostradas as vergonhas das pessoas que estão bem na foto. Esses mesmos homens de bravatas e gravatas não dão a menor bola à nossa pelota. E dão as costas à realidade e ao mercado mundial. Quase todo o planeta pára o jogo em julho para Copas, Olimpíadas, férias - menos uma grande aldeia sul-americana. O Brasileirão segue o jogo sem muito futebol para mostrar. O campeonato invade as férias planetárias. Por tabela, os nossos já debilitados times perdem craques e bagres com o mercado aberto lá fora. Não só eldorados espanhóis e italianos sangram nossas paixões. “Elprateados” e “elbronceados” compram por preço de banana nossa penca de boleiros. Se ainda fossem às compras durante as férias dos clubes, vá lá; os treinadores brasileiros poderiam armar e rearrumar as equipes com um incerto tempo para tanto. Mas, desde 2003, quando o Brasileirão – corretamente – passou a ocupar o grosso do calendário – e bota grosso nisso! –, os técnicos precisam se virar sem ter com quem se virar. De um jogo a outro perdem os poucos titulares de nota por qualquer nota de fora. Já houve uma melhora sensível até para os mais insensíveis cartolas. Com um Brasileirão com 20 clubes, é possível racionalizar e racionar o campeonato. Antes, eram mais de 20 equipes no torneio nacional e menos de seis meses para disputá-lo. O maior campeonato nacional de clubes do planeta era disputado no menor espaço de tempo do mundo. Não havia como sonhar com menos jogos e mais futebol. Melhorou. Mas ainda está longe do ideal que seria um Brasileirão começando em agosto e terminando em março, com abril e maio para torneios estaduais ou mesmo regionais. Se a temporada começasse em agosto, como em quase todo o mundo, seria possível dar mais tempo ao que mais importa (o Brasileirão) e menos bola aos tantos torneios eliminatórios bolados - ou eliminados - do calendário. O nível técnico do Brasileirão seria melhor. Daria até para criar datas para dois torneios continentais concomitantes, como a Libertadores e a Copa Sul-Americana, disputa-

O CALENDÁRIO MELHOROU. MAS ESTÁ

LONGE DO IDEAL

QUE SERIA UM BRASILEIRÃO COMEÇANDO EM

AGOSTO

8

opinião.indd 2

dos no mesmo tempo e nos mesmos moldes da Liga dos Campeões da Europa e da Copa Uefa. Um ótimo campo para dar cancha a nossos times e atletas, globalizando a nossa bola. Na melhor acepção do termo. Dentro dessa “nova” ordem (com o perdão da expressão), os campeonatos estaduais poderiam perfeitamente ser disputados. Mas não mais inchados. Que dá, dá. Mas quem é que vai querer dar sem receber?

AMARCORD Em 1994, para encaixar todos os compromissos da agenda cheia de Brasileirão, Copa do Brasil, Supercopa da Libertadores e o que mais pintasse, o Grêmio de Felipão fez uma rodada tripla, no Olímpico, válida pelo RS-94. No primeiro jogo, vitória gremista sobre o Brasil de Pelotas por 1 a 0 . Na partida do meio (?), 4 a 3 contra o Santa Cruz. E, no jogo de fundo, empate sem gols com o Aimoré. No ano seguinte, o calendário não exigiu nenhum jogo na mesma data, “apenas” sete partidas em oito dias. E ainda assim o Tricolor ganhou o Gaúcho, a Libertadores e foi vice da Copa do Brasil. O São Paulo é outro que pagou pela própria competência. Em 29 de julho de 1994, o chamado “Expressinho” de Muricy Ramalho, o terceiro time são-paulino, goleou por 4 a 0 o Araçatuba pela tal da Copa Bandeirante. Não mais que 30 pagantes assistiram ao primeiro tempo. No segundo, em Santiago do Chile, com televisão ao vivo, o São Paulo de Telê empatou com o Unión Spagnola por 1 a 1. Aqui no Brasil, mais da metade das testemunhas deixou o estádio para ver o outro jogo, que começou ainda no segundo tempo da partida contra o Araçatuba. Outro recorde tipicamente tupiniquim: uma equipe não só jogou duas partidas em um mesmo dia. Jogou 45 minutos em dois países diferentes. Ao mesmo tempo. São Paulo e Grêmio fechariam com chave de chumbo o absurdo em 16 de novembro de 1994. No Morumbi, na preliminar, pela Copa Conmebol, o “Expressinho” de Rogério Ceni, Denílson e Juninho Paulista venceu o Sporting Cristal peruano por 3 a 1. Na partida de fundo, nova vitória são-paulina, desta vez pelo BR-94: outro 3 a 1, contra o Grêmio. Outra vez com Juninho em campo. O meia-atacante entrou duas vezes em dois jogos diferentes em um mesmo dia. O humorista Marco Bianchi não deixou pedra sobre bola. “A diferença entre o calendário do futebol brasileiro e o de uma borracharia é que, no do borracheiro, a pelada é melhor”.

Outubro de 2006

9/19/06 9:34:02 PM


Laterais em aberto POUCAS POSIÇÕES na atual Seleção Brasileira têm um

Caio Maia

dono. O treinador é novo, começou o trabalho agora e deu mostras de que pretende testar todo mundo que tenha as mínimas condições necessárias para vestir a camisa do Brasil. É nas laterais, no entanto, que essa situação é mais verdadeira. Mesmo que Roberto Carlos e Cafu tivessem arrebentado na Alemanha, havia um certo consenso de que esta seria a última Copa de ambos. E se, na lateral esquerda, muitos desconfiavam de Gilberto, o sucessor de Cafu estava previamente ungido: seria, sem dúvida, Cicinho. Surpreendentemente para muitos, o que está prestes a acontecer é justamente o contrário. Gilberto foi titular nas primeiras partidas sob o comando de Dunga, e o treinador não demonstrou ainda nenhuma insatisfação com suas atuações. Cicinho, por outro lado, foi seu alvo predileto. Acontece que nossos dois laterais atuais não são laterais. Gilberto, além de não ter idade para jogar a próxima Copa, atua, há muito tempo, no meio-campo. Isso, aliás, acaba acontecendo com a quase totalidade dos laterais brasileiros que vão jogar na Europa. Cicinho, desde a

época de São Paulo, é muito bom no apoio, chuta bem de fora da área, mas é fraco, muito fraco, na defesa. Durante muito tempo, o brasileiro tem ignorado o fato de que o lateral é um defensor, e boa parte da “culpa” por isso deve ser atribuída a Cafu, ótimo no apoio, mas deficiente na marcação. Em 2002, como jogamos com três zagueiros, isso não se fez sentir, e as boas chegadas do capitão ao ataque empolgaram muito. O fracasso na Alemanha e o próprio estilo da Copa do Mundo, na qual as defesas quase sempre prevaleceram sobre os ataques, jogam uma nova luz sobre a questão, e a irritação de Dunga com Cicinho mostra que o treinador está atento à questão. O problema é que o longo “mandarinato” de Cafu e Roberto Carlos fez com que poucos jogadores fossem testados em suas posições, nos últimos anos. Alternativas, como se pode ver na reportagem de capa desta edição, há. Mas, como nenhuma delas teve chances de se provar com a camisa do Brasil, a briga começa praticamente do zero. Para quem sofreu tanto com os “medalhões” da última Copa, aí está uma boa notícia.

Empresário FC POUCA GENTE NO BRASIL conhece Pini Zahavi, apesar

Cassiano Ricardo Gobbet

de o agente de jogadores israelense gozar de uma fama singular na Inglaterra. Para fazer um paralelo grosseiro, trata-se de uma espécie de Juan Figer do futebol inglês, com uma rede de contatos com jogadores e clubes que anaboliza a importância de seus planos. O histórico de transações de Zahavi tem um rastro de controvérsias, embora pouco tenha se provado contra ele. Semanas atrás, a imprensa britânica revelou um plano de Zahavi para criar um fundo de investimentos para adquirir parcelas dos passes de jogadores com potencial. “O projeto ainda não está terminado, mas queremos levantar cerca de € 150 milhões para a operação”, disse Zahavi. “É um plano completamente legal”, afirmou o empresário. O curioso é notar qual foi a inspiração de Zahavi para o “Fundo Herói” (o nome do projeto). “Cerca de 80% dos jogadores na América do Sul pertencem a empresários e aos clubes onde eles jogam”, disse o agente israelense, para se justificar. Apesar da mídia no Brasil ter banalizado o assunto, a propriedade de jogadores por parte de em-

presários é proibida por lei, ainda que a mesma lei tenha buracos suficientes para permitir a prática. O significado concreto da tendência é que os clubes estão deixando de ser os atores principais do esporte, com a lacuna sendo ocupada pelos agentes, que passam a decidir para onde e quando os jogadores mudarão de camisa. Você não achou estranha aquela contratação do seu clube, que anunciou um jogador esquecido como super-reforço? Pois é... A ordem dos papéis está sendo subvertida. O legítimo direito dos atletas de ter quem defenda seus interesses precisa ser respeitado, sim, mas o aumento desproporcional do poder dos agentes é péssimo para todos – inclusive para os próprios. A curto prazo, isso talvez gere lucros astronômicos para alguns, mas envenena o sistema, porque mina o alicerce do clube, que é o sustentáculo de todo o negócio. Ninguém é ingênuo de acreditar que os interesses da torcida sejam as prioridades, mas ninguém também deve ser burro para imaginar a arquibancada vá vibrar com o time de um empresário. Quem vai com muita sede ao pote acaba quebrando-o. Aí, não tem mais jeito. Outubro de 2006

opinião.indd 3

9

9/19/06 9:34:09 PM


Peneira

Rodallega:

é só controlar a cabeça

A

campeão mexicano, para a temporada. No entanto, seus problemas disciplinares voltaram a se manifestar. Em 2005, já havia chegado a ser temporariamente afastado da seleção sub-20 por falta de empenho nos treinamentos. Em Monterrey, o motivo do afastamento foi a assiduidade com que freqüentava a vida noturna da cidade. Assim, os Rayados empresataram o atacante ao Atlas como forma de punição. No clube de Guadalajara, Rodallega estreou fazendo um gol... e recebendo um cartão vermelho. “Rodagol” não é um atacante leve, mas também não é um trator como o são-paulino Aloísio. Uma comparação plausível seria com Ricardo Oliveira. Tem um porte físico razoável, mas tem velocidade e joga mais com os pés do que com o corpo. Sua posição é centroavante, referência para as jogadas ofensivas. [UL]

Toni Albir/EFE

Colômbia procura, nos últimos dez anos, uma geração de jogadores que possa recolocar sua seleção entre as forças emergentes no cenário internacional. Pois, no momento, as esperanças dos torcedores “cafeteros” estão em Hugo Rodallega, atacante do Atlas, do México. O centroavante começou sua carreira no pequeno Quindío e, aos 19 anos, acertou com o Deportivo Cali. O motivo de tamanho interesse foi o desempenho do atacante no Sul-Americano sub-20 de 2005, em que Rodallega foi o artilheiro com 12 gols e, ao lado de Rentería (hoje no Internacional), ajudou a levar a Colômbia ao título. O investimento do Deportivo Cali deu resultado em apenas um semestre. No Torneo Finalización (disputado no segundo semestre) de 2005, Rodallega foi o goleador e ainda fez o tento da vitória por 1 a 0 na final contra o Cartagena. Valorizado, o atacante logo foi procurado por clubes de centros mais ricos – no caso, o México. Assim, no início de 2006, Rodallega foi a grande contratação do Monterrey, então vice-

Nome: Hugo Rodallega Martínez Nascimento: 25/julho/1985, em El Carmelo (Colômbia) Altura: 1,81 m Peso: 72 kg Carreira: Quindío (2004 a 2005), Deportivo Cali (2005), Monterrey (2006) e Atlas (desde 2006)

Aquilani:

à sombra de Totti

C

10

peneira.indd 2

obrigações defensivas e liberdade para chegar à área quando quisesse. Na Roma, no entanto, esse posto tem dono, e ele sabe disso. Por isso, já jogou como externo de meio-campo, pelo meio mais recuado e até como mediano, um papel que muitos acreditam ser o que ele deveria apostar para poder jogar ao lado do capitão. Há espaço para Aquilani como protagonista? Sem dúvida. Com 22 anos, ele tem tudo para herdar a camisa 10 de Totti na Roma e uma vaga no meio-campo da Azzurra. Para tanto, precisa se acostumar a fazer gols e melhorar sua capacidade de marcação. Se não, vira um jogador comum. [CRG]

Nome: Alberto Aquilani Nascimento: 7/julho/1984, em Roma (Itália) Altura: 1,84 m Peso: 70 kg Carreira: Roma (2001 a 2003), Triestina (2003 a 2004) e Roma (desde 2004)

Sergey Dolzhenko/EPA

omo crescer à sombra do maior jogador de todos os tempos em um grande clube? Se quiser respostas, pergunte para Alberto Aquilani, da Roma. Ainda que indiscutivelmente talentoso, o meio-campista sofre para assegurar sua vaga num grupo que tem Francesco Totti vestindo a camisa 10. Essa camisa é exatamente a que deveria ser de Aquilani – ou pelo menos a de sua posição ideal, de armador ofensivo. Formado nas categorias de base dos romanos, Aquilani estreou cedo, aos 19 anos, mas teve de ser emprestado para poder jogar. Na Triestina, com 41 partidas, colocou-se finalmente em vista, atraindo a atenção de equipes que queriam surrupiá-lo da Roma, incluindo a Juventus. A diretoria se mexeu e prolongou seu contrato até 2010. Na Itália sub-21, sagrou-se campeão europeu em sua posição natural: armando a jogada, com menos Outubro de 2006

9/22/06 5:20:50 AM


Tática, por Cassiano Ricardo Gobbet e Ubiratan Leal

3-6-1

or várias razões, o Brasil é vitimado por modismos táticos de tempos em tempos, como se fosse atacado por uma gripe. O fenômeno tem uma explicação razoavelmente simples: uma vez que a maioria esmagadora dos atletas joga basicamente confiando em seus próprios instintos e técnica, raramente procura-se entender qual é o objetivo de cada formação tática. Como esses mesmos jogadores, quando param de jogar, passam a ser técnicos, a lacuna se eterniza. Recentemente, uma nova “gripe tática” ganhou espaço na mídia. É o 3-6-1. Pouca gente parou para pensar que seis jogadores em linha no meio-campo quase que formariam uma muralha, e que futebol não é rúgbi. O mais correto seria dividir o “6” em duas linhas. Entre as versões chamadas de 3-6-1, a mais convencional é, na verdade, um 3-5-1-1. Esse esquema é, basicamente, um 3-5-2, em que um dos atacantes recua e se transforma em um meia-atacante de armação (figura 1). O São Paulo muitas vezes joga assim, com Leandro como segundo atacante que recua para buscar o jogo ou, como na partida de volta da Recopa Sul-Americana, com Lenílson fazendo essa função. O Palmeiras é um exemplo ainda mais claro, depois da chegada de Tite, que posicionou Edmundo como meia avançado. A segunda variação, o 3-4-2-1 (figura 2), causa mais polêmica. O espírito do esquema depende do posicionamento e orientação da dupla de meias. Se eles ficarem para trás, o sistema se torna basicamente dedicado ao contra-ataque, com tentativas de gol limitadas a cruzamentos dos meias abertos e a jogadas de bola parada. Mesmo deixando espaços, os alas ainda têm a cobertura de volantes estacionados na defesa. Bem utilizado, pode ser um ferrolho difícil de ser batido, mas se limita a marcar gols nas falhas dos rivais. Outra possibilidade é usar dois meias ofensivos, que armem e se aproximem do atacante fixo. Dependendo do caso, pode se aproximar de um 3-4-3. É o caso do Cruzeiro, em que Wagner e Giovanni fazem esse papel e constantemente aparecem como atacantes para finalizar. Outros exemplos são o Paraná, com Maicossuel e Sandro na armação, e o Corinthians de Leão, antes da saída de Tevez. A popularidade do esquema no Brasil tem três motivos. Primeiro, a vocação ofensiva dos laterais – que raramente marcam, porque sabem que o que dá ibope é ajudar o ataque – exige um terceiro zagueiro para fazer a sobra da marcação individual nos atacantes, e um volante a mais ajuda a tapar os corredores nas costas dos alas. A segunda razão é a deficiência técnica dos zagueiros, que não podem ser deixados no mano a mano com atacantes rápidos e habilidosos – que o Campeonato Brasileiro tem de sobra. Terceiro, há a incapacidade crônica dos times brasileiros de defender em jogadas de bola parada, reflexo da falta de treino específico e da carência de fundamentos defensivos, como cabeceio e posicionamento, desde as divisões de base.

1. O 3-5-1-1

P

A MA

M

ME

V

V

Z

MD

Z

Z

G

2. O 3-4-2-1 ofensivo

A

M

M

V

V

MD

ME

Z

Z Z G

Outubro de 2006

tática.indd 3

G: goleiro / Z: zagueiro / V: volante / ME: meia-esquerdo / MD: meia-direito / M: meia / MA: meia-atacante / A: atacante

O mito do

11

9/22/06 3:11:00 AM


Futebol todo brasileiro já sabe jogar. Os fundamentos que a gente ensina são outros.

Sim, eu quero ajudar a Fundação Gol de Letra a A Fundação Gol de Letra é uma escola de vida. Aqui, centenas de crianças garantem seus direitos à educação e à cultura por meio de atividades de arte, dança, música, informática, leitura e esporte. Uma maneira de garantir

anuncios.indd 4

9/22/06 12:13:15 PM


DM9 É DDB

tornar melhor o futuro de centenas de crianças. um futuro melhor e de mostrar o caminho da cidadania. Associe-se pelo site www.goldeletra.org.br ou ligue 55 11 6262-2009, ramal 212. Com a sua ajuda nós conseguiremos construir um Brasil campeão, não só no futebol.

anuncios.indd 5

9/22/06 12:13:31 PM


Entrevista, por Carlos Eduardo Freitas

É hora de

recomeçar Em dois anos no Porto, Diego desapareceu do “radar” da imprensa brasileira – e também da Seleção. Agora, em boa fase no Werder Bremen, o meia vê a grande chance de voltar a se destacar e entrar nos planos de Dunga epois de dois anos no Porto, Diego parece querer esquecer sua passagem por Portugal. Quando chegou, foi recebido como “o novo Deco”. Saiu em baixa, depois de ser colocado na reserva pelo técnico Co Adriaanse. Essa atitude, na opinião do meia, foi decisiva para não ter sido lembrado por Carlos Alberto Parreira na convocação para a Copa do Mundo. “A passagem por lá prejudicou minha carreira”, admite Diego, no começo da conversa exclusiva com a Trivela. Ele dá sua versão para os fatos e explica os motivos de sua saída do atual campeão português. Em bom momento no Werder Bremen, Diego retomou o rumo da carreira e planeja voltar à Seleção. Com apenas 21 anos, disputar a Olimpíada de Pequim está em seus planos, que também incluem o retorno ao time principal. “Estou muito motivado”, confirma.

D

14

entrevista diego.indd 2

Você chegou ao Werder Bremen sem grande alarde. Logo de cara, ganhou a Copa da Liga e foi o grande destaque nas rodadas iniciais do Campeonato Alemão. Você esperava um sucesso tão rápido? Com certeza, as coisas têm acontecido rápido. Não esperava, mas estou muito feliz com o que está acontecendo. Tenho trabalhado bastante para manter esse nível. Por que o sucesso veio dessa forma? Tive uma recepção muito boa aqui,

por parte dos jogadores, dos torcedores e da comissão técnica. A maneira como fui abordado pelos dirigentes do Werder Bremen e a negociação foram bacanas. Foi tudo muito transparente, e eles me visitaram na minha casa, o que me deu muita confiança. O Werder Bremen mantinha contato comigo havia três anos. Antes mesmo de ir para o Porto, eles já estavam interessados e tinham feito uma proposta para eu vir para cá. O fato de terem me recebido tão bem me deixou à

Outubro de 2006

9/22/06 2:51:17 AM


Achim Scheidemann/EFE

vontade e permitiu que eu trabalhasse muito para poder retribuir isso dentro de campo. É lógico que a qualidade da equipe, dos jogadores com quem tenho jogado, ajuda bastante. Por conta desse bom desempenho na Alemanha, seu nome está começando a voltar ao noticiário brasileiro, mas você não foi chamado por Dunga, ao contrário de outros jogadores daquele time pré-olímpico, como o Dudu Cearense e o Daniel Carvalho. Tem espaço para você na Seleção?

entrevista diego.indd 3

Espaço para bons jogadores e para quem está bem, sempre tem. Eu sei da concorrência que há na Seleção Brasileira e das múltiplas opções que o Dunga tem. Cada um tem o seu momento. Fui convocado 14 vezes para a Seleção e tive momentos maravilhosos, como a conquista da Copa América, em 2004. Minha convivência lá sempre foi muito boa. Essas passagens me mostraram o quanto é bom e importante estar lá. Isso não me deixa parar de pensar em estar na Seleção Brasileira, por tudo o que

vivi. Sempre trabalho com esse objetivo, buscando uma oportunidade. Não desanimo. Pelo contrário: me motivo ainda mais. Trabalho muito em cada treinamento, em cada jogo, para que eu possa ter uma oportunidade, pois é algo que está entre meus grandes objetivos. Você está com 21 anos. Ainda tem idade para jogar uma Olimpíada. Disputar os Jogos em Pequim faz parte dos seus planos? Faz sim. Se eu tiver essa oportunidade, ficarei muito feliz e satisfeito.

9/22/06 2:51:23 AM


Quero apenas voltar à Seleção Brasileira

16

entrevista diego.indd 4

Em qual posição você gostaria de jogar, na Seleção? Não dá para eu ir para a Seleção e jogar numa posição diferente da que atuo normalmente. É lógico que todos os jogadores podem fazer uma ou outra coisa diferente, mas não devem mudar sua característica principal. Eu sou meia ofensivo, sem preferência por lado. Aqui na Alemanha, na fase de preparação, atuamos com dois meias – um pela direita e um pela esquerda. Joguei nos dois lados e agora atuo como único homem de ataque no meio-campo. Sendo meia ofensivo, me sinto à vontade em qualquer lugar. Isso significa que você tem Ronaldinho e Kaká como seus concorrentes por uma vaga na Seleção. É... O Ronaldinho tem atuado mais adiantado, mas o Kaká e o Juninho Pernambucano jogam mais pelo meio. Seria mais ou menos nessa posição. E como você encara a concorrência desses jogadores? Se eu estivesse na Seleção, seria diferente, mas, no momento em que eu estou, vejo da seguinte maneira: primeiro, busco meu lugar entre os convocados; depois, buscaria um lugar entre os titulares. É gradativo. De qualquer forma, a concorrência é sempre muito grande na Seleção Brasileira. O Kaká e o Ronaldinho têm, por mérito, um respeito muito grande. No momento, quero apenas voltar à Seleção. Antes de ir para Portugal, você era chamado para a Seleção. Você acha que se tivesse ficado no Brasil mais tempo, como fez o Robinho, teria ido à Copa na Alemanha? Não, acho que não foi isso que fez a diferença. Se tivesse ficado no Santos e não jogasse bem, ficaria de fora da mesma forma. Sabia que havia um caminho muito longo a ser percorrido, de dois anos, até a Copa do Mundo, e que muita coisa ia acontecer. Já pensava em vir para a Europa e, na Copa América, estava com a cabeça focada para que isso acontecesse. Mesmo depois, ainda tive algumas convocações. Acho que a saída do Brasil não foi o fator decisivo. Mesmo assim, você não acha que a passagem pelo Porto prejudicou sua situação? No final, com certeza prejudicou. Depois que o treinador me tirou do time, sem dúvida, vi as coisas ficarem mais distantes. Outubro de 2006

9/22/06 2:51:28 AM


Ivan Alvarado/EFE

Você tem sempre que estar no seu melhor nível. Apesar de o Parreira conhecer o meu potencial, do jeito que estava, eu não interessava para a Seleção Brasileira. Você falou bem da recepção que teve em Bremen. Quando chegou ao Porto, você foi acolhido da mesma forma? Procuro falar o mínimo possível a respeito do Porto, porque é um capítulo que já está encerrado. Posso dizer que a recepção que tive no Werder me deixou bem à vontade e foi diferente da que tive no Porto. Isso não quer dizer que lá foi melhor ou pior. Minha passagem por Portugal foi legal, fiz grandes amizades, o grupo sempre me tratou muito bem. Até mesmo os torcedores me tratavam de maneira fantástica. Antes de ir para a Alemanha, o que você conhecia do Werder Bremen? Desde o primeiro contato que eles tiveram comigo, eu procurei, sempre que possível, acompanhar o clube. Sempre me informei sobre a liga alemã nos jornais e nos websites. A equipe também tem disputado a Liga dos Campeões, sempre foi bastante organizada e marca muitos gols. O que te atraiu no clube para te fazer trocar a vida em Portugal por um país onde muitos brasileiros enfrentam problemas de adaptação? Primeiro, o clube e o contato que tínhamos. Isso me deu confiança na decisão. Outras coisas também favoreceram, como o campeonato e a boa organização, que pude confirmar durante a Copa do Mundo. Estar numa grande equipe da Europa sempre foi minha vontade. Aqui, no Werder Bremen, encontrei tudo aquilo que eu procurava e por isso decidi vir para cá. As pessoas que estão ao meu redor ajudam muito, para não deixar que me se sinta incomodado. O pessoal tem me tratado de uma maneira bem legal. Colocam um tradutor 24 horas à minha disposição. Isso me deixa seguro. Como está sua adaptação? Já deu pra sentir as diferenças entre Portugal e Alemanha? Por enquanto, estou morando sozinho, e minha família sempre que pode vem me visitar. A língua é difícil, principalmente para um brasileiro. Pretendo aprender alemão o mais rápido possível. De resto, está

tudo bem. Consigo comer tudo o que quero, a cidade é pequena, tranqüila, como estou acostumado a viver. Por isso, não tenho sofrido problemas de adaptação. Como você faz para entender as instruções do técnico e para se comunicar com seus colegas? Nas instruções do Thomas Schaaf, o tradutor está sempre lá. Até no banco de reservas, durante os jogos, ele fica. Com os jogadores, consigo me virar em inglês. Alguns falam espanhol, que dá para entender bem. Você já conhecia o Naldo, que agora é seu colega de clube? Não, só conheci aqui. Ele está muito bem adaptado, adora viver na Alemanha. Está muito feliz aqui. Você chegou a conversar com ele antes de ir para o Werder Bremen? Conversei pouco, mas meu pai, quando veio para cá, falou com ele e ouviu algumas opiniões. Para você, é mais fácil jogar com o Klose, que é um matador, ou com um jogador mais habilidoso, como o Robinho? Cada um tem suas características. Para mim, influencia de maneiras diferentes. Por exemplo: o Robinho é mais habilidoso, costuma driblar um pouco mais, mas da mesma forma jogava comigo e tocava a bola. O Klose e o Klasnic costumam resolver a jogada um pouco mais rápido. Independentemente de quem seja meu parceiro, sempre temos o mesmo objetivo, que é o gol. São maneiras diferentes de jogar, mas com um mesmo ideal. Muitos consideram o Werder favorito ao título alemão. Há pressão de dirigentes e torcedores por isso? Os jogadores e o próprio técnico têm deixado muito claro que brigamos pelo título. Tem que ser assim, depois das campanhas que o Werder Bremen tem feito e pelos jogadores que a equipe possui. Todos colocamos o título como objetivo, e a pressão surge naturalmente, como é normal em todos os clubes que brigam pelo primeiro lugar. Parece que neste momento você retoma o nível de futebol que tinha quando ganhou o Brasileiro, em 2002. Por que só no Werder Bremen seu jogo floresceu de novo? Sempre trabalhei da mesma forma e com Outubro de 2006

entrevista diego.indd 5

17

9/22/06 2:51:33 AM


18

entrevista diego.indd 6

acaba confundindo um pouco. Sem dúvida, a adaptação fica toda atrapalhada. Não estou aqui para ficar arranjando desculpa, mas sim para contar o que aconteceu. Eu me dediquei, mas as coisas não deram certo. Assumo minha parcela de responsabilidade, mas são coisas que aconteceram e que não são normais. O fato de ter chegado logo após a conquista da Liga dos Campeões, em uma fase de transição, quando saíram muitos jogadores e o próprio técnico (José Mourinho), prejudicou? Realmente, o momento era de transição, e o objetivo de todos era o formar uma equipe parecida com aquela que tinha acabado de chegar ao título europeu. Saiu, na minha opinião, o mais importante e maior responsável por tudo aquilo, que foi o Mourinho, e também foram embora os principais jogadores. Sabíamos que era um período de mudanças, que teríamos de começar tudo do zero. Formar uma grande equipe requer tempo, que é o que mais precisávamos. A cobrança e a responsabilidade eram muito grandes. Nossa obrigação era sempre a de vencer. Nem os empates serviam. Terminamos a temporada em segundo lugar e chegamos ao título do Mundial Interclubes. A cobrança era alta, por estarem acostumados a grandes conquistas. Não termos ganho o título português foi o que, talvez, mais decepcionou a todos. Isso atrapalhou bastante. Chegar como substituto do Deco, um jogador que estava com a bola toda em 2004, pesou para você? Não. Acho normal. Já me acostumei com essa responsabilidade grande e com a cobrança. Aqui mesmo, no Werder Bremen, cheguei como a maior contratação do time, pois vim para substituir o Johan Micoud, que foi para o Bordeaux. A gente sabe que na cabeça do jogador se passa uma coisa e na da imprensa e da torcida, outra. Eu sei que sou diferente desses jogadores, tenho características diferentes, idades diferentes. Sempre busco esquecer esse tipo de comparação. Procuro ficar à vontade, já que o clube sabe quem contratou. Isso aconteceu no Porto, onde sentiam a falta de um grande ídolo, mas sempre me co-

braram da melhor forma possível. Você teve algum tipo de problema pessoal ou de convivência que gerasse um atrito com o Adriaanse, a ponto de ele te tirar do time? Em momento algum. Não tive problemas de disciplina nem com ele nem com mais ninguém do clube. Tanto que comecei a temporada jogando, terminei o primeiro turno sendo bastante aproveitado e, de repente, fui sacado do time. Foi depois de um jogo em que atuei os 90 minutos (derrota para o Estrela da Amadora, fora de casa, por 2 a 1). Ele me chamou um dia antes do jogo seguinte, na concentração, e me disse: “Você vai achar estranho o que vou te falar, porque você tem jogado muito bem e os jornais sempre te apontam como o melhor em campo. Infelizmente, vou fazer uma mudança no sistema tático, vou jogar no 3-3-4, com três volantes defensivos, e vai deixar de existir a sua posição. A partir de hoje, você vai ser menos aproveitado”. Fiquei muito surpreso. Isso foi em janeiro deste ano. Disse para ele que, se era para ficar daquele jeito, melhor que eu fosse embora. Eu tinha o objetivo de ir para a Seleção Brasileira e ainda tinha chances. Aquilo me deixou um pouco desnorteado. Tirou toda a minha motivação e minha confiança durante os jogos. Ninguém entendeu aquilo, eu não entendi. Quando um jogador está bem, sempre há espaço para ele no sistema. Sua saída do time não teve relação com uma entrevista que seu pai deu, criticando a diretoria e o Adriaanse? Algumas pessoas disseram que foi por isso, mas ele só deu essa entrevista depois que tudo tinha acontecido. Já havia comunicado ao meu pai sobre a situação e avisei que queria ir embora pelo que o treinador havia dito. A partir daí, procuramos passar isso para os torcedores, porque o Porto ficou quatro meses sem dar entrevistas, e o assunto ficava abafado. Foi nessa época que surgiu a especulação de que você viria para o São Paulo? Exatamente. O São Paulo tornou isso público por meio de um diretor, mas não era meu objetivo. Sempre tive outras propostas da Europa, sabia do interesse do Werder Bremen e queria ficar por aqui mesmo.

Miguel Vidal/Reuters

a mesma dedicação. Sempre fui o mesmo jogador. Inclusive no Porto. Tive bons momentos por lá, mas, infelizmente, na minha segunda temporada, que geralmente é a melhor para quem acaba de chegar na Europa, aconteceram alguns problemas. O treinador fez mudanças bruscas na equipe, que tiraram a minha posição do esquema tático, e eu deixei de ser aproveitado. Aconteceu uma coisa muito estranha, que até hoje ninguém entende. Sempre fui titular e, de uma hora para a outra, deixei de ser relacionado para os jogos. Minha passagem por lá prejudicou um pouco minha carreira. Houve alguns problemas, mas sempre procurei melhorar, tirar tudo de bom em cada momento. Encontrei aqui na Alemanha um clube que me deu todas as condições que eu preciso. Estou à vontade para jogar e procuro corresponder da melhor maneira. Você se arrepende de ter ido para o Porto? Não, não me arrependo. Saí do Santos em um momento muito bom da minha carreira, quando tinha acabado de chegar da Copa América, em que fomos campeões. Achei que era o momento ideal para eu ir para a Europa. O Porto tinha acabado de ser campeão europeu, tinha feito uma boa proposta. É lógico que não dá para prever o futuro, saber o que vai acontecer. Acabei encontrando algumas coisas que eu não esperava, mas, como disse, me dediquei da mesma forma, de cabeça erguida. Nos dois anos em que esteve no Porto, você teve três técnicos, sendo que o Luigi del Neri, que te contratou, foi embora antes mesmo de sua chegada. Depois, vieram José Couceiro, Victor Fernandez e, finalmente, o Co Adriaanse. Essa rotatividade te prejudicou? O que aconteceu lá não é normal no futebol europeu. Acredito que houve uma falta de planejamento grande por parte dos dirigentes, o que atrapalhou muito o grupo. Fui contratado por um técnico (Luigi del Neri), e, quando cheguei, ele foi mandado embora. Assumiu um outro (José Couceiro), e, na metade da temporada, já tínhamos um técnico diferente (Victor Fernandez). Na verdade, nenhum conseguiu impor sua filosofia. Cada um tem sua maneira de trabalhar e quer uma coisa diferente do jogador. Isso Outubro de 2006

9/22/06 2:51:39 AM


A passagem pelo Porto prejudicou minha carreira

Outubro de 2006

entrevista diego.indd 7

19

9/22/06 2:51:45 AM


Seleção Brasileira

10 novidades do Brasil para

2010.indd 2

2010

9/22/06 7:27:53 AM


Os jovens talentos que deverão renovar a Seleção são nomes que, em geral, passaram pelas categorias de base do Brasil e hoje estão na Europa. Conheça dez atletas que têm potencial para vestir a camisa amarela na próxima Copa do Mundo

uando Dunga incluiu jogadores que atuam no Brasil em suas primeiras convocações, a imprensa se agitou. Houve quem pedisse que o técnico lembrasse de um garoto qualquer, recém-promovido das categorias de base de seu time de coração e responsável por meia dúzia de gols em algum campeonato estadual ou por um ou outro lance espetacular no Brasileirão. Calma lá! Ainda que a decepção com o desempenho dos “medalhões” na última Copa do Mundo permaneça viva, boa parte dos 23 jogadores que estiveram na Alemanha deverá ser convocada para o próximo Mundial. Mesmo assim, há espaço para novidades no time. Se houve surpresas nas primeiras convocações, outras estão por vir. Num momento em que os jogadores brasileiros deixam o país cada vez mais cedo, muitas vezes sem sequer se destacar em clubes nacionais, é preciso olhar com mais atenção para o que acontece no exterior. A maioria de nossos melhores e mais promissores jogadores já foi negociada com equipes estrangeiras. Muitos deles são até destaque nos mais variados países da Europa. Como estão longe, muitas vezes acabam esquecidos do grande público e, em alguns casos, até trocam de nacionalidade para terem chance de disputar uma Copa do Mundo. Desde que substituiu Parreira, Dunga deixou claro que abriria as portas da Seleção para jogadores que jamais vestiram a camisa amarela ou que há tempos não eram lembrados. Logo de cara, deu chances a Elano, Dudu Cearense, Daniel Carvalho e Vágner Love. São jogadores como esses que devem mais se beneficiar da “renovação” da Seleção. Estamos falando de atletas com passagem pelas equipes de base do Brasil e que andavam esquecidos em times e campeonatos menos badalados – e não nomes que hoje estão no Flamengo, no São Paulo ou no Internacional. De olho nessa tendência, a Trivela selecionou dez nomes com pleno potencial para ajudar o Brasil a se classificar para a próxima Copa do Mundo e, por que não, para estar entre os 23 que tentarão o hexa na África do Sul.

Q

Outubro de 2006

2010.indd 3

21

9/22/06 7:28:55 AM


Quando Diego chegou à Alemanha, pouco antes da Copa do Mundo, a pergunta que boa parte da mídia local fazia em relação ao jogador era: teria o meia, que já vestiu a camisa 10 de Pelé, o mesmo sucesso no país que teve nos tempos de Santos ou seria a mesma decepção da passagem pelo Porto? A resposta veio rápido. Bastaram duas partidas magistrais para ele receber o título de Jogador do Mês de agosto da Bundesliga. “Nós sabíamos do que ele era capaz”, afirmou Klaus Allofs, diretor esportivo do clube alemão. Os dribles curtos, chapéus e – principalmente – passes precisos de Diego encantaram o país. A depressão no campeonato nacional pelas saídas de Ballack e

Rosicky parece ter sido superada com a chegada do brasileiro. Por ter o mesmo primeiro nome de Maradona, não são poucos os que fazem alusão ao argentino ao referir-se ao brasileiro. O que mais chama a atenção no excolega de Robinho é a objetividade e maturidade dentro de campo. Aos 21 anos, Diego passa a impressão de ser um veterano, tal é sua capacidade de ler uma partida e a calma com que encara as sarrafadas diferidas pelos adversários – algo que carrega desde os tempos de Santos. Os problemas de Diego geralmente acontecem fora de campo, com treinadores. O jogador chiava com Leão quando era substituído e teve proble-

Achim Scheidemann/EFE

Diego

Rafinha Nome: Marcio Rafael Ferreira de Souza Nascimento: 7/setembro/1985, em Londrina-PR Posição: lateral-direito Carreira: Coritiba (2002 a 2005) e Schalke 04 (desde 2005) Títulos: nenhum

CBFNew

s

Pela Seleção principal: 0J / 0G

Diego

Cunha ibas da R o g Preto-SP ie leto: D Ribeirão p m m e o , c 5 8 o/19 Nome /fevereir ento: 22 im c s a N 2006) e pista o (2004 a eio-cam rt m o : P o , ) ã 4 200 Posiç (2001 a : Santos de 2006) a ir e r r a C (des ), Bremen 7 (2001), ca (2004 Werder o sub-1 n a c ri e a Améri p m o A C l, ) u 2 S 00 Títulos: sileiro (2 ), Mundial de nato Bra 04 (2006), Campeo de Portugal (20 rtuguês lemã (2006) o a P p o to a rc Supe mpeon Liga A 004), Ca Copa da Clubes (2 rtugal (2006) e Po 2J / 1G Copa de cipal: 1 in r p o ã ç Pela Sele

2010.indd 4

mas com Co Adriaanse no Porto. Esse retrospecto às vezes pesa contra o meia, mas, pelas declarações recentes, parece que ele tem medido mais as palavras. Na Seleção, Diego concorre diretamente com Kaká por uma vaga. Os dois, porém, já jogaram juntos e, agora que estão mais maduros, têm condições de formar uma dupla de meio-campo infernal. [CEF]

Rafinha Rafinha foi considerado o destaque da Seleção Brasileira sub-20 que disputou o Mundial da categoria em 2005, na Holanda. Numa campanha sem brilho, que terminou com a terceira colocação, o lateral-direito foi o único a chamar a atenção. Ele marcou dois gols em sete partidas, entre os quais um na

9/22/06 7:29:49 AM


Abad/EF Eduardo

Ter ido tão cedo para a Europa, com apenas 18 anos, não pode ter diminuído suas chances na Seleção? Acho que vim no momento certo. Tinha acabado de fazer um bom Mundial sub20, e o Coritiba recebeu uma proposta irrecusável (€ 5 milhões), a maior da história do clube. Sabia que aquele era o meu momento e que aquela oportunidade poderia não se repetir tão cedo. Não acho que minhas chances tenham diminuído por ter vindo tão jovem. Se o Dunga tem dado chance para jogadores que estão em países como Rússia e Ucrânia, não vejo por que não ser lembrado. Para você, a Seleção Brasileira ainda é um sonho distante? Se for chamado, estou pronto. Desde que cheguei aqui na Alemanha, só não disputei três ou quatro partidas da Bundesliga. Joguei também a última Liga dos Campeões, o que dá mais experiência. Sem falar que já tenho uma história nas categorias de base. Acho que isso tudo ajuda muito. É lógico que a decisão é do treinador, mas me sinto preparado para a Seleção. Se você pudesse escolher, como preferiria jogar na Seleção? Como lateral, é claro. Meu ponto forte são as subidas ao ataque. É natural do lateral brasileiro, e foi assim que me destaquei. Gosto de ter liberdade para subir ao ataque, mas isso só pode acontecer se alguém der cobertura. Você acha que sua passagem pelo Schalke é temporária ou é aí que você quer ficar para o resto de sua carreira? Gosto muito do Schalke, que tem uma estrutura impressionante. Pretendo continuar aqui por muito tempo, mas não posso esconder que sonho, um dia, jogar na Espanha. Se isso não acontecer, fico satisfeito em continuar aqui no Schalke. Estou muito adaptado ao clube e à cidade. Tenho muito a agradecer ao Bordon, ao Lincoln e ao Kuranyi, que me ajudaram no início e fizeram com que eu me sentisse muito à vontade aqui no país. [CEF]

E

Rafinha: Força no apoio ao ataque

Adriano Nome:

Adriano

Correia Claro 6/outub Posição ro/1984 : lateral, em Curi esquerd tiba-PR Carreira o o u meio-ca : Coritib m a p ista (2 002 a 20 Títulos: 05) e Se Campeo v il la nato Para (desde 2 Mundia 005) l su naense (2003 e Uefa (20 b-20 (2003), Co 2004), pa Améri 06) e Su percopa ca (2004 Pela Sele da Euro pa (2006 ), Copa ção prin ) cipal: 6 J / 0G Nascim

ento: 2

prorrogação da vitória por 2 a 1 sobre a Alemanha. Não à toa, foi o único brasileiro incluído no “time dos sonhos” da competição. Impressionados com o camisa 2, diversos veículos estrangeiros rasgaram elogios a seu futebol, chegando a apontá-lo como um “novo Cafu”. “Não duvido que ele, muito em breve, assuma a vaga de Cafu na Seleção Brasileira”, afirmou Andreas Müller, “manager” do Schalke 04, dias depois do final do torneio na Holanda, quando foi concretizada a transferência do lateral para Gelsenkirchen. Aqui no Brasil, muita gente debochou dos alemães, que desembolsaram € 5 milhões por um jogador ainda desconhecido do grande público. Hoje, o Schalke tem motivos para rir à toa. Rafinha chegou com a perspectiva de

ser titular apenas em sua segunda temporada. Em poucos dias, porém, roubou a vaga de Halil Altintop, contratado para ser titular. Desde então, raramente ficou no banco. Tanto no Mundial sub-20 quanto nos tempos de Coritiba, o lateral chamou a atenção por seu potencial ofensivo e pela habilidade e velocidade com que vai à linha de fundo. Desde que chegou à Alemanha, aperfeiçoou bastante seu senso defensivo – ponto fraco da maioria dos laterais brasileiros. [CEF]

Adriano O currículo de Adriano é bom, para um jogador prestes a completar 22 anos. O paranaense tem dois títulos estaduais, Outubro de 2006

2010.indd 5

23

9/22/06 7:30:01 AM


24

2010.indd 6

de 2005, o jogador acabou negociado com o Sevilla. Adriano é titular do atual campeão da Copa Uefa desde que chegou, condição conquistada por sua capacidade de criar jogadas de perigo pela ponta esquerda. Essa característica fez que o paranaense passasse a atuar em uma nova posição, no futebol espanhol. Atualmente, como acontece com diversos laterais que foram para a Europa, Adriano é considerado meia, com menos responsabilidades defensivas. Esse pode ser seu principal problema em um eventual retorno à Seleção. A concorrência no meio-campo é muito mais acirrada do que na lateral, onde ainda não há um herdeiro definido para a camisa de Roberto Carlos. [UL]

cato/EFE

A Seleção ainda é uma coisa distante de sua realidade? A atual temporada é minha terceira como titular da Udinese. Ainda estou começando, mas é bom saber que o Dunga está dando oportunidade para os jovens. Sei que ainda devo melhorar algumas coisas, mas espero um dia ter uma chance. O que você precisaria melhorar? A constância dentro dos jogos. Aqui na Itália, como as partidas são muito parelhas, um erro é suficiente para se perder o jogo. Na temporada passada, o time inteiro não foi bem, inclusive eu. Qual é a sua posição ideal na defesa? Zagueiro central, mais na sobra – mais ou menos como o Edmílson, quando atua na defesa. Mas me espelho mais no Lúcio. Gosto da vontade dele, da determinação, da atenção, concentração, velocidade e capacidade de recuperação. Você joga em um país que revela grandes zagueiros. O que se aprende de diferente na Itália? Aqui, o futebol é muito tático e cuida-se muito do posicionamento dos defensores. Como o jogo é rápido, o zagueiro tem de estar na posição certa e muito concentrado o tempo todo. Por isso, também trabalha-se muito a cabeça do jogador. Incomoda o fato de ser pouco conhecido no Brasil? Não, porque sei que, para aparecer e me destacar no Brasil, tenho de ir para um time grande. É uma coisa normal. A Seleção Brasileira é muito rica e, enquanto estiver em um time médio, não terei muito espaço. A imprensa italiana chegou a dizer que você lembra o Baresi quando ele tinha sua idade. Isso não cria pressão? Dei risada quando li essas comparações. É um exagero pensar no Baresi, que ganhou tanto na carreira. É claro que eu fiquei contente, mas sou bastante frio e estou preparado para lidar com esse tipo de manifestação. Você acha que ter saído cedo do Brasil prejudicou suas chances na Seleção? Não me arrependo, porque a proposta foi muito boa para mim. Já faz sete anos que estou aqui, e isso me ajudou a chegar à Seleção sub-17. [UL]

dois continentais (um pelo Sevilla e outro pela Seleção) e um mundial. O jogador, porém, raramente é lembrado como opção para a Seleção Brasileira, seja para a lateral ou o meio-campo. Lateral-esquerdo de origem, Adriano se destacou pela primeira vez em 2003. Com apenas 18 anos, foi titular do Coritiba na campanha vitoriosa no Campeonato Paranaense e, no mesmo ano, ainda foi uma das principais figuras do time que chegou em quinto lugar no Brasileirão e conquistou uma vaga na Copa Libertadores. Também teve oportunidade no Mundial sub-20, em que foi titular na campanha do título conquistado pelo Brasil. Esse histórico lhe valeu uma vaga na Seleção, na Copa América de 2004 (foi reserva de Gustavo Nery). No início

ri Dario Ca

Felipe: “Ri quando me compararam a Baresi”

Felipe

ias P albelo D guetá-S a Silva D d e p li Guaratin e F m : e e , 4 m 8 o 9 N /julho/1 ento: 31 Nascim o : zagueir 000) Posição (desde 2 e s e in d :U Carreira nenhum : J / 0G Títulos cipal: 0 in r p o ã ç Pela Sele

Outubro de 2006

9/22/06 7:30:13 AM


gueiro nunca defendeu a Seleção principal e, em 2006, com toda a Itália cansada de se entusiasmar com seu futebol, Parreira e Zagallo ainda não tinham ouvido falar dele. Pior para a torcida brasileira. [CRG]

efferson

Bernarde s/

Vipcom m

Rafael Sobis

Rafael Nome:

Rafael A

Sobis

ugusto Sobis 7/junho /1985, e Posição : atacan m Erech te im-RS Carreira : Interna c io nal (2004 Títulos: a 2006) Ca e Betis (d Copa Lib mpeonato Gaú esde 200 cho (200 ertadore 6) 4 s e (2006) 2005) e Pela Sele ção prin cipal: 2 J / 0G Nascim

ento: 1

Felipe Apesar de quase desconhecido no Brasil, Felipe da Silva Dalbelo Dias tem história na Itália. Aliás, uma história considerável. O jogador, natural de Guaratinguetá, jamais foi chamado para a Seleção Brasileira, mesmo com a escassez de bons zagueiros. No Campeonato Italiano, porém, soma quase 90 jogos, com pouco mais de 22 anos de idade. É um número alto de partidas, próximo ao de Kaká, astro incontestável do futebol mundial. Felipe foi recrutado pela Udinese no Brasil quando ainda era amador, aos 16 anos. Talvez por isso tenha desenvolvido qualidades técnicas raras em um zagueiro brasileiro. Além de saber jogar tanto numa defesa a três quanto numa linha de quatro defensores (onde pode jogar de

2010.indd 7

central, lateral ou quarto-zagueiro), Felipe vem lapidando uma visão de jogo que o colocou na lista de compras do Milan – a contratação não saiu neste ano por causa do alto preço pedido pela Udinese, onde é titular absoluto há três temporadas. “Ele pode vir a ser o novo Sensini”, disse o atual treinador da Roma, Luciano Spaletti, que o comandou em Údine. O tradicional diário italiano Gazzetta Dello Sport foi ainda mais longe e arriscou até traçar paralelos com Franco Baresi, mito milanista que, como Felipe, era muito versátil na retaguarda. A evolução velocíssima de Felipe na Itália não encontra eco nas convocações da Seleção – o jogador teve passagens pelo sub-17 do Brasil, mas ficou só nisso. O za-

Rafael Sobis saiu do Brasil no auge de sua carreira, embora não tenha sido o principal jogador do Internacional na conquista da Libertadores. Marcou duas vezes na vitória por 2 a 1 sobre o São Paulo, no Morumbi, gols que foram fundamentais para o título. Entretanto, depois de ter sua transferência cogitada para alguns grandes clubes europeus, acabou no Betis, um time de menor expressão que, nesta temporada, não disputa nenhuma competição internacional. O ex-atacante do Colorado destacou-se desde o início da carreira pela velocidade e habilidade. Foi titular da Seleção no último Mundial sub-20, no qual o Brasil acabou em terceiro. Embora ainda precise se aperfeiçoar mais, tem evoluído nas finalizações. Como muitos jogadores jovens, ainda inexperiente, Sobis de vez em quando “desaparece” das partidas. Além disso, precisa ser mais objetivo e melhorar a qualidade dos arremates. Na Libertadores deste ano, por exemplo, o atacante teve alto número de finalizações, mas índice de acertos inferior, por exemplo, ao de Rentería, seu ex-companheiro no Inter. Além disso, como dribla muito – e bem –, acaba perdendo bolas demais. Imaginando que Dunga decida ter um atacante rápido na equipe, Sobis briga por uma vaga na reserva de Robinho com outro ex-colorado, Nilmar. Mesmo que mude para uma equipe grande, Sobis dificilmente será titular em 2010, mas tem potencial para estar no elenco. A mídia espanhola, que adora encher a bola de jogadores recém-contratados, já trata de valorizar o novo reforço do Betis. O As, jornal esportivo de Madri, disse, em tom de brincadeira, que o nome dele é Rafael Sobis “do Nascimento”, numa referência a Pelé – e isso foi antes de ele marcar dois gols no clássico contra o Sevilla, em sua segunda partida na Espanha. [CM]

9/22/06 7:30:30 AM


CBFNews

Denílson

lhões. Com mais de 50 convocações para a Seleção Brasileira sub-17, o meia foi o capitão do time no Mundial da categoria, no Peru, em 2005. Além de ser derrrotado na final pelo México, o Brasil perdeu também ali o jogador, que entrou na mira do Arsenal. Contrariando a escola de volantes que escavam uma trincheira na frente da área, Denílson é o clássico mediano que sabe ditar o jogo, graças a uma técnica apurada e uma grande inteligência. O treinador do Arsenal, Arsène Wenger, vê no ex-são-paulino o potencial de se tornar um novo Patrick Vieira: excelente para defender, excelente para atacar. Para corresponder às expectativas, Denílson precisa ganhar força física e

Nome: Denílson Pereira Neves

também se acostumar mais à receita “européia” de volante, na qual atacar é uma obrigação a ser cumprida somente depois de a defesa estar segura. Além disso, é claro, precisa de jogo, muito jogo. Se ficar no banco do Arsenal, porá sua carreira em risco. [CRG]

Nilmar Nilmar está contundido e dificilmente voltará a jogar a jogar ainda em 2006. Antes de se machucar, no entanto, era um dos principais atacantes em atividade no Brasil – foi até artilheiro do Campeonato Paulista, com 18 gols – e chegou a ter seu nome citado por Zagallo antes da Copa do Mundo. Antes do Mundial, era

Nascimento: 16/fevereiro/1988, em São Paulo-SP Posição: volante Carreira: São Paulo (2005 a 2006) e Arsenal (desde 2006) Títulos: Copa Libertadores (2005), Mundial de Clubes (2005) e Sul-Americano sub-17 (2005)

Em 2004, quando o São Paulo procurava um reforço para seu ataque, pensou em França, então no Bayer Leverkusen. Abordado pelo clube do Morumbi, o time alemão surpreendentemente concordou em liberar o atacante, mas com uma condição: queria envolver na negociação o meia Denílson. Não, não o jogador que passou pelo Betis. Outro Denílson. O atleta em questão é Denílson Pereira Neves, que tem só 18 anos. “Ficamos impressionados com o tanto que eles sabiam sobre o jogador”, disse, à época, o então diretor de futebol do São Paulo, Juvenal Juvêncio. Na ocasião, o Tricolor ofereceu um contrato para segurar o volante. Só que ele não ficou por muito tempo no Morumbi. No final de agosto, Denílson tornou-se jogador do Arsenal, por cerca de € 5 mi-

2010.indd 8

Maurilio

Denílson

Cheli/EFE

Pela Seleção principal: 0J / 0G

Nilmar Nome: Nilmar H onorato Nascim da Silva ento: 1 4/julho/1 Posição 984, em : atacan Bandeir te antes-P Carreira R : Interna c ional (20 e Corinth 02 a 200 ians (des 4), Lyon de 2005 (2004 a Títulos: ) 2005) Mundia l sub-20 Francês (2003), (2005), Camp Cam e Campe onato G peonato Brasile eonato a iro (2005 ú c ho (2003 Pela Sele ) e 2004) ção prin cipal: 5 J / 1G

9/22/06 7:30:41 AM


da/EFE eu Miran João Abr

Anderson: A sub-20 vem antes

on

Anders

a u Oliveir de Abre is u gre-RS L n o Porto Ale Anders m : e e , m 8 8 o 9 N 3/abril/1 ento: 1 Nascim 2006) ampista o (desde : meio-c ) e Port 6 0 0 2 a Posição (2004 5), : Grêmio -17 (200 ), Carreira ano sub c 005 ri e (2 m B A Sulgal a Série d o ir e de Portu Títulos: il ), Copa to Bras 6 a 0 n 0 o (2 e p s Cam rtuguê l (2006) nato Po Portuga e d Campeo a p o Superc J / 0G (2006) e cipal: 0 in r p o ã ç Pela Sele

festejado por todos e chegou a ter sua convocação pedida pela ala mais “torcedora” da mídia. O ex-atacante colorado, assim como seu sucessor no Inter, Rafael Sobis, é rápido e habilidoso, e soma a isso inteligência e eficiência nas finalizações. Nas partidas em que atuou pelo Brasileiro deste ano, registrou uma das melhores médias de acerto nesse fundamento, entre todos os atacantes da competição. Para atingir um nível mais alto, entretanto, precisa ganhar força física, de modo a conseguir passar por marcadores mais pesados do que os que costuma encontrar no Brasil. Não chega a ser um exagero, aliás, dizer que esse foi um dos motivos pelos quais não se

deu bem no futebol francês. Em 2003, foi um dos artilheiros da Seleção sub-20 que conquistou o título mundial, quando jogou sete vezes e marcou três gols. Embora esteja em desvantagem com relação a Robinho na função de “atacante rápido e habilidoso”, é provável que – se não estivesse contundido – Nilmar ocupasse hoje o segundo lugar na preferência do treinador da Seleção para o posto. [CM]

Anderson Quando a reportagem da Trivela foi entrevistar Anderson, o jogador não hesitou em pedir que esperássemos meia hora, porque estava “fazendo um troço no cabelo”. Essa é a sinceridade e a

Você já pensa na Seleção ou ela ainda é um objetivo distante? De uma forma ou outra, a Seleção sempre esteve perto de mim. Minha primeira presença nas categorias de base foi aos 15 anos. Por isso, sempre considerei todos os níveis muito importantes, para subir passo a passo. Foi assim com a sub-17, a sub-18, e agora tem a sub20. Um dia vai ser a vez da equipe principal, e trabalho para que isso aconteça já em 2010. Mas, antes, há o Mundial sub-20, em 2007. As comparações entre você e o Ronaldinho criam alguma pressão? Procuro tirar isso da minha cabeça. Ele é o melhor do mundo, e eu só estou começando. Claro que procuro ter uma trajetória vitoriosa como a dele, mas é do mesmo jeito que também olho para outros jogadores consagrados, como Deco e Cristiano Ronaldo. Ainda preciso melhorar muito. O que você acha que precisa melhorar? Muita coisa, nem dá para ficar falando. Desde que cheguei à Europa, aprendi muito sobre tática, marcação, passe... Coisas muito importantes para um jogador. Você saiu do Brasil com 17 anos, sem nem disputar uma temporada inteira do Brasileirão. Não foi muito cedo? Joguei só umas sete ou oito partidas, mas tive tempo de aparecer bastante, pois o Grêmio é um grande clube. Sempre sonhei em jogar na Europa e não poderia deixar passar a oportunidade. A imprensa portuguesa chegou a falar que “o futebol do Anderson é grande demais para ficar em Portugal” e que o Barcelona estaria de olho em você. Até que ponto isso atrapalha seu trabalho? Procuro pensar em onde estou no momento e o que eu devo fazer naquela hora. Só pensar no dia-a-dia. Se ficar pensando no futuro, não vou saber o que fazer agora e vou prejudicar meu trabalho. [UL] Outubro de 2006

2010.indd 9

27

9/22/06 7:30:52 AM


Chema

Moya/EF

E

Daniel Alves: Equilíbrio entre defesa e ataque

lves A l e i n Da ilva

-BA lves da S Juazeiro Daniel A Nome: 983, em /1 io a /m ento: 6 3) Nascim direito esde 200 ra : late lSevilla (d e ) 3 0 0 b-20 Posição 2 u 002 a ndial s Bahia (2 02), Mu : 0 a 006) (2 ir (2 o e r n ia r Ca uropé to Baia E a a n p o o e p rc Cam Supe Títulos: a Uefa (2006) e p o G C , ) 3 (200 l: 0J / 0 principa o ã ç le e Pela S

inocência de um garoto que nem parece o mesmo que, com apenas oito meses de Porto, é considerado “bom demais para Portugal” pela própria imprensa lusitana. Seu desempenho já gerou boatos sobre um suposto interesse do Barcelona. As opiniões européias mostram que Anderson não é mais visto somente como o “cover do Ronaldinho”. As comparações são naturais, pois ambos surgiram no Grêmio, estouraram muito jovens, são habilidosos, jogam na mesma posição (meia-atacante que cai pela esquerda) e têm penteado cuidadosamente produzido em estilo semelhante. Até o momento, a trajetória de Anderson é bem sucedida - tanto que ele não precisa estar atrelado ao sósia mais famoso para merecer destaque. O meia portista foi eleito o

28

2010.indd 10

melhor jogador do Mundial sub-17 de 2005, mesmo com o Brasil perdendo a final para o México, e fez o gol do título do Grêmio na Série B daquele ano. Além disso, ganhou seu espaço no time titular e na preferência da torcida logo que chegou a Portugal – coisa que Diego, por exemplo, não conseguiu. Pela juventude, Anderson ainda não é um jogador pronto. O meia precisa ganhar experiência e apurar seu sentido tático. Mas, por enquanto, as perspectivas são as mais positivas. [UL]

Daniel Alves Assim que chegou ao Real Madrid, o técnico Fabio Capello mandou Cicinho para a reserva e ainda colocou o brasileiro à venda por € 8 milhões. A diretoria merengue bus-

Você considera que tem espaço na Seleção? Já joguei nas categorias de base e sei da importância de estar lá. Meu momento ainda não chegou, mas, com a mudança de comando, pode ser que chegue. Depois dos jogos na Inglaterra, o Dunga foi ao estádio te ver jogar. Você se sentiu pressionado? Sempre dá um pouco de ansiedade, mas quando começa o jogo você esquece quem está no estádio. Se você pudesse escolher, como preferiria jogar na Seleção? Quero atuar como no Sevilla: primeiro me preocupando em defender e, se possível, ajudar no ataque. Se você defende bem, ataca melhor. As pessoas têm que entender que a primeira obrigação do lateral é defender. A Seleção, com a qualidade que tem, não precisa de mais atacantes. A responsabilidade de quem ataca é sempre menor. Defensivamente, você tem a obrigação de não sobrecarregar os centrais. Sofri um pouco, mas agora aprendi a conciliar as obrigações ofensivas e defensivas. Por isso, tenho me destacado. Você ficou decepcionado por não ter se transferido para o Real Madrid? Todos querem uma oportunidade como essa, mas não houve tempo para negociar, já que faltava só um dia para fechar a janela de transferências. Não fui porque não chegou meu momento. Quando isso acontecer, estarei preparado. Espero que seja no ano que vem. Se não for no próximo, pode ser no seguinte. A coisas, quando têm de acontecer, acontecem. [CEF]

Outubro de 2006

9/22/06 7:31:03 AM


boa capacidade de marcação – algo raro em laterais brasileiros –, além de apoiar com eficiência. Seu potencial pôde ser visto na final da Supercopa entre Sevilla e Barcelona. Daniel Alves anulou Ronaldinho Gaúcho e foi eleito pela Uefa o melhor jogador em campo, após a vitória sevillista por 3 a 0. Por isso, seu nome aparece com força no mercado de transferências, e a própria diretoria rojiblanca admite vendê-lo para um grande clube europeu em breve. Na Espanha, o baiano é considerado um dos melhores laterais-direitos da Europa, que deveria ser o titular da Seleção Brasileira. Ainda assim, é preciso ver como o jogador se comportaria em uma equipe em que há mais pressão por resultados. [UL]

Carmen

Jasperse

n/EFE

cou uma solução alternativa e ofereceu o reserva de Cafu na Copa ao Sevilla, em troca de Daniel Alves, também lateral-direito. Os madridistas ainda se dispunham a pagar mais € 8 milhões. Ou seja: o jogador revelado pelo Bahia vale € 16 milhões, o dobro do ex-são-paulino. Apesar de Daniel Alves ser pouco conhecido no Brasil, a avaliação do Real Madrid não é despropositada. O lateral surgiu no Bahia e foi titular na Seleção Brasileira campeã mundial sub-20 em 2003. Seu desempenho chamou a atenção do Sevilla, que o contratou antes mesmo de se destacar no cenário doméstico. Na temporada 2005/6, foi considerado o melhor jogador da Copa Uefa. A principal virtude do baiano é ter

Naldo Nome: Ronaldo Aparecid Nascim o Rodrig ento: 2 ues 8/julho/1 Posição 982, em : zagueir L o ndrina-P o R Carreira : RS Fute bol (2001 a 2005) e Werde a 2004) r Breme Títulos: n (desde , Juventude (200 2005) 4 Copa da Liga Ale Pela Sele m ã (2006) ção prin cipal: 0 J / 0G

2010.indd 11

Naldo Naldo chegou ao Werder Bremen com o status de “um dos melhores zagueiros do futebol brasileiro”, nas palavras do técnico Thomas Schaaf. Rescindiu seu contrato com o Juventude e com o RS Futebol, que o havia emprestado à equipe de Caxias, em 2005, para realizar o sonho de jogar na Europa. Sua missão inicial era substituir Valerién Ismaël, que acabara de se transferir para o Bayern de Munique. Não só ocupou o lugar do francês, como se colocou entre os jogadores mais queridos pela torcida. Aqui no Brasil, pouca gente sabe da existência do zagueiro, que chamou a atenção do clube alemão sem nunca ter defendido a Seleção Brasileira nas categorias de base. À época, a transferência pareceu uma jogada de empresários, sobretudo por Naldo ter iniciado a carreira no RS Futebol, uma equipe “vendedora de talentos”. Independentemente disso, a aposta do Bremen se mostrou acertada. Em sua primeira temporada na Alemanha, ele foi o jogador que mais vezes vestiu a camisa do clube e teve desempenho razoável, de acordo com a revista Kicker: ganhou nota 3,32 (Lúcio, eleito o melhor zagueiro da temporada, teve 2,92 – sendo que 1 é a melhor nota e 5 a pior). Naldo chegou até a marcar dois gols e, em algumas partidas, vestiu a tarja de capitão – tudo isso com apenas 23 anos, recémchegado do Brasil, num time com jogadores do quilate de Frings e Klose. Entre suas principais virtudes estão a força física e a velocidade. “Tem também um chute temível”, elogia Schaaf, seu técnico. Sem falar no 1,98m de altura, que lhe dá vantagem considerável no jogo aéreo, tanto defensiva quanto ofensivamente. O que Naldo talvez tenha a melhorar – sobretudo por destacar-se pela velocidade – é seu senso de posicionamento. Na política de Dunga de dar chances a todos, parece apenas questão de tempo até Naldo ser lembrado. O leitor que não se surpreenda se o defensor, de repente, virar nome freqüente nas convocações. [CEF]

9/22/06 7:31:11 AM


Divulgação

Capitais do futebol, por Ubiratan Leal

Maracanã: ícone maior do futebol carioca

Mais do que apenas O

charme

Em nenhuma grande cidade brasileira o futebol está tão próximo do torcedor como no Rio de Janeiro

s cariocas não torcem por um time de futebol. Eles são o time de futebol. Simplesmente isso. Um carioca não se diz “botafoguense” ou “vascaíno”, mas sim “eu sou Botafogo” ou “eu sou Vasco”. O que já denota uma diferença na relação entre torcedor e clube. A ligação é tão intrínseca que a pessoa assume a identidade de seu time sem se esconder em adjetivos. Dizer que isso é sinal de um eventual fanatismo maior dos cariocas seria um desrespeito ao amor de outras cidades brasileiras pelo futebol. Não se pode negar, porém, que esse detalhe semântico reflete a proximidade entre a cidade do Rio de Janeiro e suas equipes de futebol profissional. Trata-se de uma condição rara no Brasil, algo que é muito mais profundo do que o clichê de que “o Rio de Janeiro tem o campeonato estadual mais charmoso do país”.

clubes da cidade 1 Clube de Regatas do Flamengo

1 Mundial Interclubes 1 Copa Libertadores 1 Copa Mercosul 5 Campeonatos Brasileiros* 2 Copas do Brasil 1 Rio-São Paulo 28 Estaduais do Rio

30

capitais.indd 2

2 Clube de Regatas Vasco da Gama

1 Copa Libertadores 1 Sul-Americano de Clubes 1 Copa Mercosul 4 Campeonatos Brasileiros 3 Rio-São Paulo 22 Estaduais do Rio

3 Fluminense Football Club

1 Campeonato Brasileiro 1 Robertão 2 Rio-São Paulo 30 Estaduais do Rio

Outubro de 2006

9/19/06 8:30:45 PM


Os pequenos têm vez Não é apenas nos grandes clubes que a proximidade do carioca com o futebol se manifesta com força. Pelo contrário. Os peque-

4 Botafogo de Futebol e Regatas

1 Campeonato Brasileiro 1 Taça Brasil 4 Rio-São Paulo 18 Estaduais do Rio

nos é que mostram isso com perfeição. Afinal, em nenhuma outra cidade brasileira é possível encontrar tantas equipes profissionais. No total, 22 times do Rio de Janeiro disputaram alguma competição oficial em 2006 (veja quadro abaixo). Essa relação não considera clubes que estão licenciados. A origem dessa proliferação de clubes profissionais é o fato de, até 1975, a cidade do Rio de Janeiro ter sido um estado independente. Até 1964 era Distrito Federal e, depois, Guanabara. Nesse período, havia um estadual forte e de baixo custo de transporte, permitindo que clubes do subúrbio pudessem se sustentar. A geografia da cidade, que isola vários bairros, ajudou a reforçar o sentido de comunidade dessas regiões, que acabaram criando suas equipes. No entanto, o futebol do subúrbio carioca está em decadência. A identificação de suas comunidades diminui, e os resultados vão desaparecendo. O Madureira foi vice-campeão estadual em 2006, mas outros clubes tradicionais, como Bangu, Olaria, Bonsucesso, Portuguesa, São Cristóvão e Campo Grande, perdem espaço para os times do interior. Ainda assim, não se pode desvalorizar a importância desse grupo de clubes. Foi no subúrbio que surgiram grandes jogadores como Leônidas da Silva (Bonsucesso), Domingos e Ademir da Guia (Bangu), Evaristo e Jair Rosa Pinto (Madureira), Dadá Maravilha (Campo Grande), Romário (Olaria) e Ronaldo (São Cristóvão). A fase negativa dos pequenos é apenas um sintoma da crise técnica pela qual passa todo o futebol do Rio de Janeiro. Erros administrativos dos grandes clubes transformaram a cidade em um centro secundário na tabela do Brasileirão. Nos últimos anos, foi comum ver Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo nas últimas posições, lutando contra o rebaixamento. É uma situação que não combina com a importância que a cidade tem no futebol brasileiro.

5 América Football Club 7 Estaduais do Rio 6 Bangu Atlético Clube 2 Estaduais do Rio 7 Madureira Esporte Clube (nenhum título) 8 Associação Atlética Portuguesa (nenhum título)

CIDADE BUSCA UM SEGUNDO ESTÁDIO O Maracanã é um símbolo do futebol carioca, e a cidade não está preparada para viver sem ele. Quando o “maior do mundo” (apelido que hoje não faz mais sentido, mas que ainda é utilizado) está fechado para reformas, os grandes clubes do Rio de Janeiro ficam desabrigados pela ausência de opções de médio porte – o Vasco é o único time com estádio próprio em boas condições. Assim, Flamengo, Botafogo e Fluminense são obrigados a improvisar, utilizando o estádio do América, o estádio da PortuguesaRJ ou, na solução preferida, mandando jogos em Volta Redonda. No momento, a possibilidade mais concreta é o uso do Estádio JoãoHavelange – que receberá o Pan-Americano –, mas os clubes reclamam da pista de atletismo, que tirará o “calor” da torcida.

localização

A antiga capital federal é mais que isso. É, por exemplo, a cidade que abriga o maior estádio do país, que já foi o maior do mundo e que recebeu a maior tragédia da história do esporte brasileiro. A despeito de ser abandonado em alguns momentos e das intermináveis reformas a que é submetido, o Maracanã é referência mundial. O Estádio Mário Filho tem a rara capacidade de ser enorme e acolhedor ao mesmo tempo. Lá, rubro-negros, cruzmaltinos, tricolores e alvinegros têm a capacidade de transformar os gigantescos anéis da arquibancada no mais apertado e caloroso alçapão. Apenas em um lugar que o torcedor se sentisse em casa seria possível existir um setor como a finada geral do Maracanã, em que todos externavam suas emoções e excentricidades como se estivessem sozinhos em seus quartos. É assim que o carioca trata o futebol. A referência local é tão forte e intensa que, mesmo quando conquistou a Copa Libertadores em 1998, o Vasco fez questão de fazer a comemoração do título passar em frente à sede do Flamengo – atitude que os rubro-negros revidaram posteriormente. Por isso, o Campeonato Estadual do Rio de Janeiro consegue ainda atrair tanta atenção. Não importa que hoje o torneio tenha pouco valor esportivo: é nele que o torcedor carioca se sente em casa. Ele fornece elementos para transformar a vida do rival perdedor em um inferno por alguns dias, e isso é o suficiente. Ainda mais depois de um Flamengo x Vasco – clássico de maior rivalidade do futebol carioca – ou de um Fla-Flu – que marca pelo duelo elite x povo e pela sonoridade do nome.

RJ

8 7

2

4 1 3

Rio de Janeiro 6.094.000 habitantes

Segunda divisão estadual (em 2006): Barcelona, Barra da Tijuca, Bonsucesso, Ceres, CFZ do Rio, Olaria, São Cristóvão, Universidade Estácio de Sá e Villa Rio Terceira divisão estadual (em 2006): Campo Grande, Everest, Rio São Paulo, União Central e União de Marechal Hermes * Contando a Copa União de 1987

Outubro de 2006

capitais.indd 3

5 6

31

9/19/06 8:31:02 PM


Entrevista, por Ubiratan Leal

Libertadores na mira Maurício Val/Vipcomm

Segundo Morais, o Vasco não tinha grandes espectativas para o Brasileirão, mas, depois de chegar às primeiras colocações, participar da Libertadores virou objetivo no clube

boa campanha após a Copa do Mundo e o vice-campeonato da Copa do Brasil foram suficientes para resgatar as ambições vascaínas. Por mais que o elenco não possua estrelas e o time tenha feito uma campanha fraca no Estadual do Rio, a conquista de um lugar na próxima Copa Libertadores tornouse a meta cruzmaltina para a temporada. Para Morais, recentemente convocado para a Seleção, isso é uma questão de postura. “O Vasco tem de se acostumar a pensar em ficar entre os primeiros nas competições que disputa”, comenta. De acordo com o meio-campista, a perda dessa vaga pode ser considerada um fracasso. Nesta entrevista à Trivela, o meia também explica os motivos para o time de São Januário ter crescido tanto nos últimos meses e a importância de Renato Gaúcho nesse trabalho de recuperação. Além disso, fala sobre sua conturbada passagem pelo Atlético-PR e sobre seu futuro na Seleção e no Vasco.

A

32

entrevista morais.indd 2

Outubro de 2006

9/21/06 11:34:46 PM


Na época da Copa do Brasil, Vasco e Flamengo estavam em situação parecida no Brasileirão. Depois da decisão, o Flamengo começou a cair e o Vasco a subir. Por que os times tomaram rumos diferentes? A cabeça dos jogadores influencia muito nesses momentos. O Vasco teve cabeça para não ficar abalado com a derrota. Assim, não entramos em crise e começamos a ganhar alguns jogos. O próprio Eurico Miranda e o Renato reconheceram que o time tinha qualidade e bancaram a manutenção do projeto. Mas não temos de pensar no passado. Como as coisas estão melhorando, dá para pensar no que ainda vem. Qual era a expectativa do Vasco antes do campeonato? Em torneios de pontos corridos, não se deve fazer muitos planos no começo. Tem de pensar em pontuar o máximo possível para fazer planos só depois, quando o campeonato começa a se definir melhor. Foi o que aconteceu. A gente conseguiu alguns bons resultados fora de casa, foi subindo na tabela e chegou à zona de classificação para a Libertadores. Agora, essa se transformou em nossa expectativa. Vocês encararão uma eventual não classificação à Libertadores como um fracasso ou, diante das expectativas iniciais, será bom estar na Sul-Americana? Se a gente não chegar à Libertadores, será um fracasso. O Vasco é time grande e tem de se acostumar a pensar em ficar entre os primeiros nas competições que disputa. Nossa obrigação é fazer que isso aconteça. O time de 1998 ficou consagrado justamente porque disputou e ganhou a competição. Você acredita que os clubes cariocas se desacostumaram a lutar pelas primeiras posições no Brasil? Não é bem isso. Realmente, os resultados não vinham aparecendo, e até a torcida não esperava mais ver seu clube lutando pelo título. Mas as coisas estão melhorando aqui. O Fluminense ficou entre os líderes durante quase todo o campeonato, o Flamengo ganhou a Copa do Brasil, a gente está crescendo, e o Botafogo é campeão estadual. O Vasco veio de uma temporada muito ruim no ano passado, fez um estadual ruim, mas o time se encontrou, fez a final da Copa do Brasil e faz uma boa campanha no Brasileirão. O que aconteceu de diferente? Foram pequenas coisas, mas fundamentais. O clube manteve a base do ano passado e o técnico. A torcida também ajudou, porque teve paciência e apoiou o time nas horas difíceis. Assim, os jogadores puderam trabalhar com mais tranqüilidade e desenvolver melhor o potencial do grupo. Por que a torcida foi mais paciente neste ano que antes? Ela percebeu que todo mundo estava querendo melhorar, que o grupo estava unido, sem vaidades, sem individualismo. Você se refere à saída do Romário? Não, absolutamente. O Vasco chegou à Copa Sul-Americana com ele no ataque em 2005. O Romário é artilheiro, fez gol para caramba ano passado e ajudou muito. O crescimento da equipe neste ano é questão de um momento positivo,

em que o time se encaixou e acabou evoluindo. Mas não dá para negar a importância de um cara de 40 anos que faz mais de 20 gols no Campeonato Brasileiro. Qual o papel do Renato nessa recuperação? O legal do Renato é que ele já jogou e sabe do que jogador gosta. Teve uma fase em que eu estava mal, e ele veio conversar comigo. Sempre que tem um jogador meio afastado ele procura trazer de volta, para não perder ninguém. As críticas públicas que às vezes ele faz aos jogadores não atrapalham esse relacionamento? Nunca o vi dando essas entrevistas, não. Ele sempre está tomando a frente, fazendo barulho, dando moral ao grupo. Na final da Copa do Brasil, ele chegou a empurrar o Valdir Papel depois que o jogador foi expulso. Aquilo não foi tão sério quanto muita gente achou. O Valdir Papel tinha sido expulso em uma final e queria dar entrevista quando estava saindo de campo. O Renato estava estressado, claro, e empurrou para ele sair logo e não falar besteira de cabeça quente para os repórteres. Mas o pessoal compreendeu a atitude do técnico? Não teve problema nenhum. O relacionamento é muito bom, e a gente sabe que ele está do nosso lado nesse trabalho. O Renato pegou o time no buraco, com todo mundo para baixo. A imprensa dizia que era o pior elenco da história do Vasco. O time evoluiu, está se posicionando bem dentro de campo, foi até a final da Copa do Brasil, chegaram bons jogadores, como o Valdiram... A gente só tem a agradecer ao Renato. Você foi convocado para a Seleção Brasileira, algo cada vez mais raro para jogadores que ainda estão no Brasil. Você se imagina indo para o exterior? Por enquanto, penso em ficar no Vasco. Tenho de valorizar o time em que passo meu melhor momento, que me levou à Seleção. É claro que eu quero ir para a Europa, mas vejo isso como algo para o futuro, não para hoje. Então por que você deixou o Vasco em 2004? Não foi uma decisão que eu tomei sozinho, mas sim em conjunto com a minha família. Naquele momento, o Vasco não queria me valorizar como achei que deveria. Então, preferi ir para outro lugar, onde me dessem moral. O Atlético-PR deu. Mas seu futebol não apareceu no Atlético. Quando eu fui para o Atlético, o Levir Culpi estava lá e pediu minha contratação. Mas eu cheguei e tive de ficar parado por dois meses por causa da briga na Justiça. Aí, a temporada acabou, o Levir foi embora e assumiu o Casemiro Mior, que não gostava de mim. Ele me afastou do elenco após uma partida, disse que eu não ia mais jogar com ele. A Seleção é algo dentro da sua realidade. Você se vê nas eliminatórias, ou até mesmo na Copa do Mundo? Meu sonho é voltar à Seleção. Todo jogador quer ter uma chance lá, e comigo não é diferente. Eu penso primeiro em poder atuar pelo Brasil, para mostrar que tenho condições de continuar na equipe e, aí sim, jogar em eliminatórias.

As coisas estão melhorando aqui no Rio de Janeiro

Outubro de 2006

entrevista morais.indd 3

33

9/21/06 11:35:35 PM


Liga dos Campeões

O dalado B Liga dos Campeões Michael Kooren/Reuters

Para cada Barcelona ou Milan, a primeira fase da LC traz um Levski ou um AEK. Vejamos quem são esses coadjuvantes da competição

O Kobenhavn causou a maior surpresa das preliminares, ao derrubar o Ajax

nanicos LC.indd 2

9/21/06 11:40:00 PM


Liga dos Campeões é, sem dúvida, o torneio de clubes mais importante do planeta. Confrontos como Chelsea x Barcelona, Arsenal x Real Madrid ou Bayern x Milan não devem em nada, em termos de qualidade técnica, a nenhuma partida da Copa do Mundo.Com todo o glamour em torno da LC, porém, é fácil de esquecer que, para cada Manchester United ou Internazionale, há um Levski Sófia ou um AEK disputando a fase de grupos da competição. Se confrontos como Real Madrid x Lyon atraem a atenção da mídia do mundo inteiro, jogos como Steaua Bucareste x Dynamo Kiev raramente passam de notas de rodapé no noticiário internacional. A primeira rodada da Liga dos Campeões desta temporada deixou claro que há uma diferença técnica grande entre os protagonistas e os coadjuvantes da competição. Das 11 equipes que estrearam com vitória, apenas uma é do grupo dos “pequenos” – o Steaua Bucareste. Houve nada menos que cinco goleadas, todas sofridas por equipes pouco badaladas: Shakhtar Donetsk, Spartak Moscou, Levski Sófia, AEK e Dynamo Kiev. Na temporada passada, a primeira fase da Liga dos Campeões chamou a atenção pela quantidade de times pequenos de países tradicionais presentes - Udinese, Villarreal e Betis eram os principais exemplos. Neste ano, essas equipes foram substituídas por times grandes de países menos expressivos, como Steaua Bucareste, Dynamo Kiev e Galatasaray. A seguir, contaremos um pouco sobre os oito times menos conhecidos do torneio, aqueles para os quais os outros veículos geralmente não dão tanta atenção. Vale lembrar que você também pode ler mais detalhes sobre cada uma das 32 equipes que disputam a LC em 2006/7 no site www.trivela.com, na apresentação completa que a Trivela fez da competição.

A

AEK O AEK estreou nesta edição da Liga dos Campeões com uma derrota por 3 a 0 para o Milan, na Itália. Nada demais: o clube, apesar de ter sido vice-campeão grego na temporada passada, é apenas a terceira força do futebol do país e não disputava a competição desde a temporada 2001/2. Não tem, evidentemente, como se comparar aos gigantes italianos ou mesmo a concorrentes mais modestos. Para muitos dos clubes que disputam a LC, chegar à primeira fase já está ótimo, mas, para o AEK, a “conquista” tem um valor especial: há dois anos, o clube foi comprado por um grupo de investidores comandado pelo ex-atacante do próprio AEK e da seleção grega, Demis Nikolaidis. A aquisição salvou o clube da ameaça de falência e, embora não tenha ainda colocado o time em igualdade de condições com o Olympiacos, pelo menos permitiu aos auri-negros roubar do Panathinaikos, rival ateniense, a segunda vaga grega na Liga dos Campeões. Se já tinha potencial reduzido, o AEK sofre ainda com a perda do técnico (Fernando Santos) e do principal jogador (Kostas Katsouranis) para o Benfica. Nas três primeiras rodadas do Campeonato Grego, a equipe só empatou, o que faz prever uma temporada cheia de dificuldades. Mesmo em um grupo que conta com o limitado Anderlecht e com o pouco ofensivo Lille, o AEK tem tudo para ficar em quarto. [CM]

Dynamo Kiev A equipe ucraniana tenta aproveitar a participação na fase de grupos da Liga dos Campeões para resgatar seu orgulho. Maior campeão ucraniano (11 títulos) e também da antiga União Soviética (13 taças), o clube perdeu terreno com o crescimento do Shakhtar Donetsk. No cenário europeu, o Dynamo foi semifinalista da LC três vezes (1977, 1987 e 1999) e conquistou duas Recopas (1975 e 1986). Porém, na temporada 1995/6, ficou marcado por tentar corromper um

juiz e acabou excluído da competição daquele ano. Nesta temporada, o Dynamo pelo menos mostrou força ao passar pelo Fenerbahçe, que reforçara bastante a equipe no ano de seu centenário, na fase preliminar. Porém, não teve sorte na definição dos grupos, quando caiu junto com Lyon e Real Madrid, favoritos absolutos à classificação. As esperanças do time, que já revelou nomes como Oleg Blokhin e Andriy Shevchenko, se concentram no atacante Serhiy Rebrov e no goleiro Oleksandr Shovkovsky, além de outros jogadores que participaram da boa campanha da Ucrânia na Copa do Mundo. [RE]

Galatasaray Graças à conquista da Copa Uefa em 1999/2000, os Leões de Istambul podem se considerar o clube turco mais vitorioso internacionalmente. Na verdade, o Galatasaray é a única equipe do país que conseguiu algum feito continental e é a que mais longe chegou em uma Liga dos Campeões, sendo eliminada pelo Real Madrid nas quartas-de-final, em 2001. Esse troféu da Copa Uefa, aliás, é o fiel da balança na comparação com o rival Fenerbahçe, que tem os mesmos 16 títulos nacionais. Atual campeão da Süper Lig, o Galatasaray tem em seu elenco alguns dos maiores astros da história do país, como Hasan Sas, destaque na Copa de 2002, e Hakan Sükür, o maior jogador turco em todos os tempos. É bem verdade que o elenco está envelhecido, com média de idade acima dos 30 anos, mas essa experiência ajuda mais do que atrapalha a equipe – sobretudo nas partidas em casa, quando tem a favor sua fanática torcida. Por ter caído num grupo sem grandes bichos-papões, o Gala até sonha com uma eventual classificação para a fase seguinte. Contra equipes mais tradicionais, como de costume, deve sucumbir – mas não sem antes suar muito sangue. [CEF] Outubro de 2006

nanicos LC.indd 3

35

9/21/06 11:40:07 PM


Kobenhavn O Kobenhavn é um estreante na fase de grupos da Liga dos Campeões, mas não se pode dizer que o clube não tenha tradição. Os Loverne (“leões”, em dinamarquês) surgiram em 1992, como fusão do KB – fundado em 1876, sendo o clube mais antigo da Europa continental – e do 1903. Por isso, já nasceram grandes e com torcida. Em campo, o time tem jogadores relativamente conhecidos do público brasileiro, o que diminui um pouco a surpresa da vitória sobre o Ajax, em Amsterdã, na fase preliminar. O técnico é Stale Solbakken, que, como jogador, defendeu a Noruega na Copa de 1998. No meio-campo, destacam-se Linderoth, da seleção sueca, e, principalmente, Gronkjaer, que passou pelo Chelsea recentemente. No ataque, a referência é o sueco Allback, autor do 2000º gol da história das Copas no empate por 2 a 2 entre Suécia e Inglaterra, em 2006. Apesar da experiência de seus jogadores, o Kobenhavn entra na competição como figurante. Nem o fato de ter um grupo relativamente acessível (em teoria, Celtic e Benfica brigam com os dinamarqueses pela segunda vaga, já que o Manchester United deve ficar com uma) melhora as expectativas sobre o clube de Copenhague. [UL]

Levski Sófia O clube sabe que sua vida na Liga dos Campeões será curta. Mesmo assim, o Levski não reclama de sua sorte. Depois de ter passado por uma equipe italiana (Chievo) na fase preliminar, o clube caiu em uma chave dificílima na fase de grupos. Com Barcelona, Chelsea e Werder Bremen na luta pelas duas vagas, a equipe terá que se contentar em ser um simples coadjuvante, tentando, quando muito, evitar goleadas – algo que não foi possível na estréia, no 5 a 0 contra o Barça.

Apesar da vocação para ser o saco de pancadas da chave, o Levski tem motivos de sobra para comemorar: foi o primeiro clube búlgaro a chegar tão longe no torneio. É um feito de fazer inveja aos rivais domésticos CSKA, Slavia e Lokomotiv. Atual campeão nacional, o Levski aposta suas fichas na experiência de Daniel Borimirov, que disputou a Copa de 1994, para comandar o meio-campo e pelo menos tentar não fazer feio. No ataque, o destaque vai para Emil Angelov. Antes de marcar gols decisivos (fez cinco na última Copa Uefa e ajudou o time a chegar às quartas-de-final), ele chegou a treinar para ser lutador. [RE]

Shakhtar Donetsk O Shakhtar costuma ser tratado como inferior ao Dynamo Kiev, mas, queira ou não, o time de Donetsk é o atual bicampeão ucraniano. O último título foi conquistado de maneira dramática: as duas equipes acabaram o campeonato empatadas e, no jogo extra, o Shakhtar derrotou o Dynamo por 2 a 1, na prorrogação. A equipe é no mínimo tão boa quanto a de seu rival mais famoso. O Shakhtar tem cinco jogadores da seleção ucraniana que chegou às quartas-de-final da Copa do Mundo, com destaque para o meio-campo, que conta com Elano, Tymoschuk (destaque da Ucrânia no Mundial) e o croata Srna. Outros nomes famosos são o goleiro Pletikosa e o atacante Aghahowa. O sucesso recente do time de Donetsk se deve em grande parte ao dono Rinat Akhmetov, que é o homem mais rico da Ucrânia, com uma fortuna estimada em US$ 11,8 bilhões. Foi ele que bancou as contratações dos principais nomes do elenco, além de construir o centro de treinamento do clube, que é considerado um dos melhores da Europa. Apesar da estréia muito ruim, o Shakhtar tem força para, pelo menos, brigar com o Olympiacos pelo terceiro lugar do grupo D. [TRA]

AEK

DYNAMO KIEV

GALATASARAY

KOBENHAVN

Estádio: Spyros Louis (74.450 lugares) Técnico: Lorenzo Serra Ferrer Principais títulos: 11 Campeonatos Gregos 13 Copas da Grécia

Estádio: Valery Lobanovskiy (16.900 lugares) Técnico: Anatoly Demyanenko Principais títulos: 2 Recopas 13 Campeonatos Soviéticos 11 Campeonatos Ucranianos 9 Copas da União Soviética 8 Copas da Ucrânia

Estádio: Olímpico Ataturk (81.000 lugares) Técnico: Eric Gerets Principais títulos: 1 Copa Uefa 16 Campeonatos Turcos 14 Copas da Turquia

Estádio: Parken Stadion (41.750 lugares) Técnico: Stale Solbakken Principais títulos: 5 Campeonatos Dinamarqueses 3 Copas da Dinamarca

Grupo H, junto com Milan, Lille e Anderlecht

Grupo C, com Liverpool, Bordeaux e PSV

Grupo F, junto com Manchester United, Benfica e Celtic

Grupo E, com Real Madrid, Lyon e Steaua Bucareste

36

nanicos LC.indd 4

Outubro de 2006

9/21/06 11:40:13 PM


Depois da queda da União Soviética, o Spartak Moscou tornou-se o time mais bem sucedido da Rússia. A equipe ganhou nove dos dez primeiros Campeonatos Russos, mas passou a enfrentar problemas a partir de 2000, quando o empresário Andrei Chevichenko comprou o clube. Ele começou a ter atritos com o técnico Oleg Romantsev, uma lenda no Spartak, e a qualidade do time caiu. Em pouco tempo, a equipe perdeu a hegemonia nacional para o CSKA e o Lokomotiv, ambos de Moscou. Em 2005, já sem Chervichenko no comando, a situação melhorou, com a chegada do técnico letão Aleksanders Strakovs. Foi ele o responsável por uma impressionante reação no campeonato nacional, que levou a equipe ao segundo lugar – e à Liga dos Campeões. Em 2006, porém, o caldo desandou de novo. Starkovs brigou com jogadores e acabou substituído por Vladimir Fedotov. A instabilidade interna atrapalha um pouco a equipe, que tem alguns bons nomes. O ataque, que conta com o argentino Cavenaghi e o russo Pavlyuchenko, é o melhor setor do time. Por outro lado, a defesa é fraca e não figura entre as melhores nem no Campeonato Russo. O Spartak não chega a ser ruim, mas, num grupo que tem três equipes tradicionais, dificilmente conseguirá mais que a lanterna. [TRA]

Steaua Bucareste Para quem acompanha futebol desde a década de 1980, não é uma completa novidade ver o Steaua Bucareste entre os grandes da Europa. Naquela época, favorecidos pelo apoio do governo comunista, os Ros-albastrii dominaram o cenário doméstico e fizeram boas campanhas na Copa dos Campeões, incluindo o título de 1986 e o vice-campeonato de 1989.

Divulgação/Galatasaray Magazine

Spartak Moscou

A receita para o reaparecimento do Steaua (“estrela”, em romeno) não é muito diferente. Em vez do exército da Romênia, o financiador é George Becali, empresário do setor imobiliário que decidiu investir no clube para ganhar projeção política. “Gigi” conseguiu diminuir o êxodo de jogadores e deu nova vida ao time mais popular do país. A estrela da equipe atual é Nicolae Dica, meia ofensivo que pode também jogar como atacante e que só não tem mais destaque na seleção romena pela concorrência com Mutu. Na estréia, contra o Dynamo Kiev, o jogador fez dois gols na vitória por 4 a 1. Outros destaques são o volante Petre e os defensores Ghionea e Marin, também integrantes da Tricolorii. [UL]

Galatasaray: elenco envelhecido, mas com qualidade

LEVSKI SÓFIA

SHAKHTAR DONETSK

SPARTAK MOSCOU

STEAUA BUCARESTE

Estádio: Georgi Asparuhov Técnico: Stanimir Stoilov Principais títulos: 24 Campeonatos Búlgaros 25 Copas da Bulgária

Estádio: Olympiysky (25.500 lugares) Técnico: Mircea Lucescu Principais títulos: 3 Campeonatos Ucranianos 4 Copas da União Soviética 5 Copas da Ucrânia

Estádio: Steaua (27.050 lugares) Técnico: Aurelian Cosmin Olaroiu Principais títulos: 1 Liga dos Campeões 23 Campeonatos Romenos 21 Copas da Romênia

Grupo A, com Barcelona, Chelsea e Werder Bremen

Grupo D, com Valencia, Roma e Olympiacos

Estádio: Luzhniki (84.750 lugares) Técnico: Vladimir Fedotov Principais títulos: 11 Campeonatos Soviéticos 9 Campeonatos Russos 9 Copas da União Soviética 3 Copas da Rússia

(29.200 lugares)

Grupo B, com Internazionale, Bayern de Munique e Sporting

Grupo E, com Real Madrid, Lyon e Dynamo Kiev

Outubro de 2006

nanicos LC.indd 5

37

9/21/06 11:40:18 PM


Entrevista, por Ricardo Espina

“Foi uma situação

horrível”

Agora em Israel, Xavier relembra o clima no vestiário após a eliminação do Corinthians na Libertadores, para o River Plate, e relata a experiência de viver em um país em guerra

momento mais próximo de uma guerra que o volante Anderson Conceição Xavier viveu em sua carreira até julho deste ano foi a tentativa de invasão do gramado do Pacaembu pelos enfurecidos torcedores corintianos após a derrota para o River Plate, na Libertadores deste ano. Logo após aquela partida, na qual foi substituído no segundo tempo, o jogador deixou o Parque São Jorge para atuar em Israel e se aproximou de uma guerra bem real. Hoje, Xavier se preocupa com o desempenho do Maccabi Haifa, atual tricampeão do país, mas não deixa de pensar nos recentes conflitos com o Hizbollah, que deixaram dezenas de mortos em Israel. Nesta entrevista concedida à revista Trivela, o jogador conta como foi sua reação ao saber que um míssil havia caído perto do centro de treinamento da equipe. Revela também como foi o clima no vestiário do Corinthians após aquela derrota para o River: “Acho que até hoje esse episódio respinga e se reflete na vida da maioria dos jogadores”, diz.

O

38

entrevista xavier.indd 2

O que houve exatamente naquele jogo contra o River Plate? Os jogadores, principalmente os mais novos, estavam com uma responsabilidade muito grande, por conta da cobrança exagerada, como se tivéssemos a obrigação de ganhar a competição. Quando o time tomou o gol de empate, senti que alguns jogadores estavam com receio, já pensando no que poderia acontecer do lado de fora. Antes do jogo, eu havia pensado: “vou deixar minha mulher em casa porque, se não ganharmos, como vou sair do estádio com minha família?”. A torcida do Corinthians é maravilhosa e vibrante, mas tem um pouco esse lado de ficar sem controle, de querer as coisas e achar que a maneira correta é cobrar de forma agressiva. Esse lado tem que deixar de existir no futebol. Essas coisas atrapalham o Corinthians e o futebol brasileiro. Como foi o clima no vestiário depois da reação da torcida no Pacaembu? Foi uma situação horrível, a pior possível. Sabíamos que a torcida estava tentando entrar no gramado, e é óbvio que, naquela situação, não iria entrar só para conversar conosco. Ficamos umas duas, três horas no vestiário e nos preocupamos com nossas famílias, com a nossa própria integridade física. São situações pelas quais ninguém merece passar, independentemente de ter jogado uma grande ou uma péssima partida. Entramos para dar o melhor, mas no futebol o resultado nunca está garantido. Isso foi uma coisa que incomodou e chocou a todos durante muito tempo. Acho que até hoje respinga e se reflete na vida da maioria dos jogadores. Também havia algum tipo de pressão interna no clube? Sinceramente, não havia pressão dessa maneira, tão forte. São coisas distintas. Quando se contrata um jogador, paga-se um salário acertado com o atleta e tem-se o direito de cobrar. É uma coisa que a gente aceita. A cobrança que vinha era algo que estávamos preparados para receber. Havia uma pressão verbal, de demonstrar para nós a importância do título, mas acho que não aconteceu de uma maneira que nos pudesse fazer mal. O problema foi que, em alguns momentos, a gente precisava ter pessoas de dentro do clube mais próximas de nós. O Kia estava muito próximo, tentando ajudar e passar muitas coisas. Só que, às vezes, nós sentíamos que estávamos sós. Tive pouco contato com outras pessoas de dentro do Corinthians. Não víamos esse apoio vindo do lado de fora do campo. O relacionamento de Kia com alguns dos jogadores e os supostos privilégios concedidos a eles não geravam ciúmes dentro do elenco? Kia era igual com todos. Ele procurava dar seu apoio a todos os jogadores. Quando cheguei ao Corinthians, também achei que poderia haver isso. Porém, fiquei feliz quando vi a maneira como ele se dirigia a todos os atletas. Cobrava de forma igual, tentava passar confiança... Lógico que todo mundo se apega mais a um ou a outro, isso é normal do ser humano. Mas ele se mostrava presente com todos os jogadores. Não

Outubro de 2006

9/21/06 11:36:34 PM


Darren Staples/Reuters

Xavier (à frente) desarma Gerrard nas preliminares da Liga dos Campeões

tenho como falar se houve privilégio ou não, porque não me preocupava em saber se alguém tinha algo a mais ou a menos do que eu. Fiz meu contrato, concordei com o que estava escrito nele e, se alguém tem algo a mais do que eu, não há problema. Se aquilo que estiver no meu contrato for cumprido de maneira profissional, para mim está tudo bem. Você saiu do clube após aquela eliminação e foi para Israel. Como tem sido essa experiência de viver em um país em guerra? Os conflitos começaram uns dez dias depois que cheguei aqui. No início, não haviam chegado mísseis a Haifa e o conflito estava mais na região da fronteira. Um dia, porém, estávamos treinando e ouvimos três mísseis caindo na cidade. Não deu para ver porque era distante – estávamos na parte baixa da cidade, que tem muitos morros. Os mísseis caíram atrás de um monte, a uns oito quilômetros de distância. O que me surpreendeu foi a preocupação do

clube. Uns dez minutos depois que caíram os mísseis, um diretor nos avisou que havia reservado um hotel cinco estrelas para nós e para nossas famílias em Tel Aviv, que fica a uns 100 quilômetros de Haifa. Isso foi feito tanto para os estrangeiros como para o pessoal daqui. Mas, depois do cessar-fogo, o pessoal vive normalmente. O comércio está aberto e a população realmente deixou as preocupações à parte e vive uma vida normal. Você disputou a Libertadores e a fase preliminar da Liga dos Campeões. Quais as diferenças entre essas competições? A projeção da Liga dos Campeões é muito maior. Embora não tenhamos entrado na fase de grupos, deu para ver que repercutiu bem para o Maccabi Haifa ter participado da competição. A Libertadores é bem vista por todos aí na América, mas todos os jogadores sonham em disputar a LC. Por isso ela é mágica, por essa possibilidade de fazer bons jogos e ter uma projeção maior. Outubro de 2006

entrevista xavier.indd 3

39

9/21/06 11:36:39 PM


História, por Tomaz R. Alves

quando o torcedor ganhou respeito

40

história.indd 2

Divulgação

Relatório Taylor: oda vez que estoura um caso de violência ligada a futebol no Brasil, alguém se encarrega de lembrar que a Inglaterra tinha um problema muito grave com as gangues de torcidas, os chamados “hooligans”, e que os resolveu “após a tragédia de Heysel” com uma série de medidas de segurança. O que algumas pessoas não sabem é que a maioria das mudanças que modernizaram a maneira de assistir a partidas de futebol em estádios ingleses pouco teve a ver com aquela final da Copa dos Campeões de 1985, entre Liverpool e Juventus, em Bruxelas, na qual a confusão envolvendo os torcedores levou à morte de 39 pessoas. O evento que mudou o futebol inglês também envolveu o Liverpool, mas aconteceu no estádio de Hillsborough, em Sheffield. A partida era válida pela semifinal da Copa da Inglaterra de 1989, quando os Reds enfrentariam o Nottingham Forest. Desse incidente, resultaram 96 mortes – a pior tragédia em um evento esportivo na história do país. A partir daí, o governo inglês abriu um inquérito público, presidido por Lord Justice Taylor (veja box). Já era tempo, aliás. Na década de 80,

T

assistir a um jogo num estádio de futebol na Inglaterra era um suplício. Havia o medo dos “hooligans”, as instalações eram desconfortáveis, e a polícia tratava todos os torcedores – violentos ou não – com truculência. Não à toa, o público nos estádios diminuía a cada ano. Apesar disso, foi essa tragédia, sem relação com as brigas entre torcedores, que fez com que o país finalmente acordasse e entrasse no caminho para a modernização de seu futebol. O trabalho de Lord Taylor foi dividido em duas partes: um primeiro relatório, publicado ainda em 1989, sobre as causas do desastre de Hillsborough, e o relatório final, divulgado no início de 1990, que trazia recomendações sobre reformas nos estádios ingleses. A primeira parte do relatório foi importante para a mudança de mentalidade na Inglaterra. Os “hooligans” eram, sim, um problema grave, mas o trabalho deixava claro que mais mortes aconteciam pela maneira como as autoridades tratavam as pessoas nos estádios do que pela violência dos torcedores. As 96 mortes de Hillsborough aconteceram por esmagamento e sufocamento, em uma área que estava superlotada por-

Outubro de 2006

9/22/06 2:56:04 AM


David Cannon/Allsport

as arquibancadas dos gramados – cercas que, em Hillsborough, impediram a fuga dos torcedores. O relatório também incluía recomendações sobre sinalização, catracas, funcionários e modernização dos estádios. Com base no Relatório Taylor, o futebol inglês começou a mudar. Dirigentes e autoridades perceberam que os torcedores não podiam ser tratados como bandidos. Os estádios, que eram planejados com a preocupação de evitar brigas, passaram a priorizar a segurança e o conforto dos fãs. Junto a essas medidas, houve um trabalho inteligente da polícia para combater os “hooligans”, que fez com que esses grupos de baderneiros perdessem força, atraindo de volta aos estádios os torcedores mais preocupados em ver futebol do que em brigar com os adversários. As conseqüências do Relatório Taylor, entretanto, não são unanimemente positivas. Para parte dos torcedores, sem as áreas para assistir às partidas em pé, o “clima” nos estádios não é mais o mesmo (mais ou menos o que se diz sobre o Maracanã sem a geral). Além disso, devido às reformas, o preço dos ingressos disparou, tornando o hábito de ir aos estádios um luxo para poucos.

Na página ao lado, o memorial em Hillsborough, em homenagem às vítimas que morreram devido à superlotação de parte do estádio (acima)

quem foi

que a polícia abriu os portões do estádio, temendo incidentes com a grande quantidade de torcedores que chegaram em cima da hora. Com o afluxo de pessoas, os que estavam mais à frente foram espremidos contra as grades de proteção. Enquanto isso acontecia e centenas de pessoas imploravam por ajuda, a polícia assistia aos fatos passivamente. Os policiais, mal treinados, só se preocupavam em evitar invasões de campo e brigas entre torcedores rivais. Quando finalmente perceberam o que estava acontecendo, era tarde demais. Essa foi a principal conclusão do relatório. O texto final não trata de medidas para conter torcedores violentos. Ele fala de segurança. Sua recomendação mais importante é de que todos os estádios de times da primeira divisão deveriam ter exclusivamente acentos numerados (recomendação que depois virou lei, abrangendo também os times da segunda divisão). Ou seja, não haveria mais lugares para os torcedores assistirem aos jogos em pé. Com isso, ficava mais fácil controlar a venda de ingressos e evitava-se a possibilidade de superlotação. Outra medida importante foi a remoção de todas as cercas que separavam

Peter Murray Taylor tinha 69 anos quando recebeu a incumbência de chefiar a elaboração do documento sobre a segurança nos estádios ingleses que acabou ficando conhecido como “Relatório Taylor”. Naquela altura, era um “Lord Justice”, um juiz da corte de apelações, segunda instância mais importante do judiciário inglês. Em 1992, assumiu o cargo de Lord Chief Justice, o topo do sistema judicial criminal britânico. Teve de se afastar em 1996, por causa dos problemas de saúde que acabaram levando a sua morte, um ano depois. Outubro de 2006

história.indd 3

41

9/22/06 2:56:14 AM


Internacional, por Caio Maia

Da porta do inferno

inter.indd 2

9/22/06 9:25:01 PM


Paulo Whitaker/Reuters

ao topo da América Em 2002, o Internacional esteve perto de cair para a Segundona. Em 2006, passou por todo mundo para conquistar o inédito título continental. A Trivela revela a história dessa virada espetacular na vida de um dos mais tradicionais clubes brasileiros

Outubro de 2006

inter.indd 3

43

9/22/06 2:58:57 AM


o final de 2002, o advogado Fernando Carvalho deve ter passado por um momento de dúvida sobre sua decisão de, alguns anos antes, concorrer à presidência do Internacional. No começo daquele ano, ele assumira um clube que, embora passasse longe dos títulos desde 1997, se mantinha, quase sempre, a uma distância segura da segunda divisão. A equipe ganhou o estadual, mas foi mal nas duas principais competições do ano. Na última edição da Copa Sul-Minas, mais uma vez não se classificou para as finais. No Brasileiro, o Inter “suou frio”. Só na última rodada, quando ganhou do Paysandu, em Belém, e contou com a ajuda de uma improvável combinação de resultados, o Colorado conseguiu se manter na Série A. “Assumi em um momento de transição do futebol brasileiro, causado pela criação da Lei Pelé. Quando cheguei, o clube não tinha nem elenco. Tivemos que contratar nada menos que 25 jogadores para disputar as competições que tínhamos pela frente”, afirma o presidente colorado. No segundo semestre, a política de fazer contratos curtos mostrou sua ineficiência. “A maioria jogava pensando no que ia fazer no próximo ano, e isso desmobilizou a equipe”. A transição acontecia também no orçamento, e o Internacional chegou a atrasar salários. “Estávamos trabalhando com o orçamento da gestão anterior”, justifica. Pouco menos de quatro anos depois, Carvalho pode olhar para trás aliviado e orgulhoso. Conseguiu a maior parte do que se propôs a fazer, colocou na sala de troféus do clube a tão cobiçada Copa Libertadores e, em dezembro, terá a oportunidade de brigar com o poderoso Barcelona pelo título do Mundial de Clubes, no Japão. A reportagem da revista Trivela foi a Porto Alegre, visitou o clube, conversou com os colorados e com quem acompanha a vida do Inter, para revelar ao leitor como o time saiu da porta do inferno para chegar a um degrau de distância do paraíso.

N

Projeto “Aqui tem uma coisa que não existe em outros clubes, que é projeto”, diz o técnico Abel Braga, que, no início deste ano,

44

inter.indd 4

chegou pela quarta vez em sua carreira ao Beira-Rio. “A grande diferença está em acreditar no que você se propõe a fazer, no projeto, que aqui tem início, meio e fim”, diz o carioca Abel, com a experiência de quem passou por grandes clubes do Brasil e do mundo. Outro que passou por muitos times, o zagueiro Fabiano Eller ressalta o mesmo ponto: “A principal diferença do Inter para os outros clubes do Brasil é o planejamento, para tudo que vai se fazer”. Abel compara sua atual temporada no Internacional com a de seu clube anterior, o Fluminense: “A derrota não alegra ninguém, mas ela aqui não muda as coisas de forma radical, como acontece em outros centros, outros clubes. Veja o Fluminense, que está no quinto treinador em oito meses. Aqui, o Inter teve o Muricy durante dois anos. Estou aqui agora e, mesmo não tendo ganho o Campeonato Gaúcho, as coisas não mudaram”, diz. O projeto do Internacional, que culminou na conquista da Libertadores, começou antes da atual gestão ser eleita. “O Fernando Carvalho tem essa idéia da Libertadores na cabeça há dez anos”, diz Fabricio Kichalowsky, diretor de arte da E21, agência de publicidade que hoje atende o clube. “Havia, desde sempre, uma compreensão de que, por mais que trabalhássemos a marca Internacional e a auto-estima do torcedor, isso só se consolidaria com títulos importantes. E a Libertadores era importante para o colorado desde que o Grêmio ganhou o Mundial, em 1983”, diz. A construção de uma equipe vencedora começa um ano depois da desastrada temporada de estréia. Em 2003, Muricy Ramalho chegou ao Beira-Rio para o que seria um período de três anos no clube, com um intervalo de alguns meses do início ao meio de 2004. No ano anterior, o clube investira sem sucesso em jogadores como Júnior Baiano, Cris e Fernando Baiano. “Em 2002, o Inter gastou muito dinheiro, mas o time não era bom. Era um grupo sem nenhum tipo de compromisso com o clube, indisciplinado. Depois do susto que tomaram, os dirigentes entenderam que aquilo não era futebol, que aquele trabalho estava errado. Quando eu cheguei,

Clemer e Fernandão: os poderosos chefões Todos no Internacional dizem a mesma coisa: parte importante do ambiente de seriedade e profissionalismo que o clube vive hoje se deve ao exemplo de dois jogadores emblemáticos do elenco. Eles são o rodado – e muitas vezes criticado – goleiro Clemer e o festejado Fernandão. O goleiro chegou ao clube em 2002, quando já tinha 33 anos, vindo do Flamengo. Havia aparecido para o futebol no Goiás, em 1995, mas, àquela altura, já passara por sete times, entre eles o Moto Clube e o Maranhão, de seu estado natal. “O Clemer é uma pessoa de um caráter incrível, um jogador de muita personalidade. Mesmo com toda a experiência que tem, trabalha muito. O líder é aquele que dá o bom exemplo, e o Clemer, assim como o Fernandão, está sempre disposto a trabalhar duro e a ajudar os companheiros”, afirma Muricy Ramalho, que teve os dois sob seu comando em 2004 e 2005. “A liderança é algo que nasce com você. Em todo lugar por onde eu passei, tive uma relação de respeito. Isso é o mais importante na carreira: respeitar as pessoas e fazer com que elas te respeitem. Daí a ser considerado exemplo é uma conseqüência natural”, diz Clemer, que completa 38 anos em outubro. Fernandão vai na mesma linha: “Liderança não se impõe, se conquista. Tenho a minha maneira de me comportar, e é muito importante, quando entro em um grupo com muitos jovens, saber que é necessário que eles tenham um espelho. O futebol proporciona vários caminhos, vários atalhos, e de repente você pega um atalho diferente e acaba se dando mal”. Revelado pelo Goiás, de sua cidade natal, Fernandão estreou como profissional aos 17 anos. Seis anos depois, e sem nunca ter trocado de clube no Brasil, desembarcou no Olympique de Marselha. Em 2004, com 26 anos, depois de uma rápida passagem pelo Toulouse, recebeu propostas de diversos clubes, inclusive do Flamengo, mas assinou com o Inter. Na primeira partida, um Gre-Nal, marcou o gol número mil da história do clássico. “Não podia começar de uma maneira melhor”, comenta.

Outubro de 2006

9/22/06 9:25:13 PM


Neco Varella/EFE

Herói da decisão da Libertadores, Fernandão é líder no Colorado

a idéia era trabalhar com a base e com jogadores baratos, mas com um plano a médio prazo de ir melhorando as instalações do clube”, afirma o atual técnico do São Paulo. Em 2003, o Inter repetiu o título estadual, mas, no primeiro brasileiro disputado pelo sistema de pontos corridos, viu uma história muito diferente do ano anterior: em vez de brigar para permanecer na primeira divisão, lutou por um lugar na Libertadores, perdido apenas na última rodada, depois de derrota para o São Caetano, adversário direto na disputa pela vaga. “Ali, nós já tínhamos passado a trabalhar com um orçamento feito por nossa gestão. A televisão passou a pagar mensalmente, nós partimos do valor recebido para fazer nossos compromissos, e aí a coisa começou a dar certo. Contratamos o Muricy, que ficou o ano inteiro, e estabelecemos uma maneira de enfrentar essa questão

LIBERTADORES ERA PRIORIDADE DESDE QUE O GRÊMIO A CONQUISTOU EM 83

contratual pós-Lei Pelé, com contratos mais longos, pagando por produtividade. O Internacional provavelmente foi um dos primeiros clubes brasileiros a pagar dessa forma: para ganhar mais, tinha que jogar, para jogar tinha que estar bem”, relembra Fernando Carvalho. A equipe de 2003 mostrava a semente do modelo que seria vitorioso três anos depois. Ao lado de jogadores experientes, mas pouco badalados, como o zagueiro André Cruz, Muricy alinhava jovens como Nilmar e Daniel Carvalho, formados nas categorias de base. Além dos resultados dentro de campo, as finanças também começam a melhorar. Alegando saudades da família, que ficara em São Paulo, Muricy deixou a equipe, mas voltou em setembro de 2004. O Inter, que ganhara o tricampeonato estadual, ia mal das pernas no Brasileiro de novo e havia trocado de treinador várias vezes. “Só que a estrutura era outra. Estádio, vestiário, concentração: tudo tinha sido reformado. Isso facilitou muito”, diz Muricy. Com o dinheiro arrecadado com a ven-

da de jogadores como Daniel e Nilmar, o Internacional, em vez de contratar jogadores para – como diz Carvalho – “encher o aeroporto”, investiu na estrutura. Depois de passear pelas posições de baixo da tabela, o clube acabou o torneio em oitavo e se classificou para a Sul-Americana. Mais importante para o torcedor colorado: depois de terminar o Brasileiro em último, o arqui-rival Grêmio foi rebaixado para a Série B.

2005, o ano da virada “No Rio Grande do Sul, houve, no decorrer da história, um ‘efeito gangorra’: quando o Inter estava bem, o Grêmio ia mal. Quando o Grêmio estava ganhando, o Inter começava a perder”, conta Kichalowsky. Começar o ano com o quarto título estadual consecutivo e ver, também pela quarta vez seguida, o arquirival Grêmio fora das finais não poderia ser melhor presságio. O clube manteve Muricy e a maior parte do grupo, ao qual adicionou nomes importantes – mas naquele momento pouco comentados –, como Fernandão e Outubro de 2006

inter.indd 5

45

9/22/06 2:59:10 AM


Marcelo Sayao/EFE

Libertadores acabou com a agonia da torcida, cansada das provocações do rival

Inter volta a se sentir grande

46

inter.indd 6

Parte importante do trabalho de recuperação da auto-estima do torcedor colorado foi a campanha publicitária idealizada pela agência E21, a mesma que cuidou da eleição de Fernando Carvalho. “Quando começamos o trabalho com o Inter, a torcida tinha uma espécie de ‘coitadismo’. As gerações mais jovens não viram o time de 1970, e existia uma sensação de que o clube só vencia quando levava a campo ‘máquinas’ como o ‘Rolo Compressor’ dos anos 40, ou o time tricampeão brasileiro”, explica Fabricio Kichalowsky, diretor de arte da agência. Para mudar essa imagem, a campanha

publicou anúncios nos jornais do Rio Grande do Sul chamando o torcedor para cada jogo. O lema adotado foi o da “Alma Colorada”, uma clara contraposição à “alma castelhana” invocada pelo rival Grêmio. “A gente começou fazendo brincadeiras com os adversários, aquela coisa do tipo ‘Aberta a temporada de caça à raposa’ para o jogo contra o Cruzeiro”, conta Kichalowsky. De acordo com o publicitário, no começo do trabalho, o próprio clube hesitava em “forçar o tom”. “Sempre tinha aquela coisa de não querer prometer a vitória”, afirma. Isso mudou, no entanto, nos anúncios

da Libertadores. No primeiro deles, o título resumia o tom: “Colorado, você vai ganhar a Libertadores”. Em forma de carta do presidente Fernando Carvalho à torcida, o anúncio conclamava o fã a comparecer ao estádio e a “torcer incondicionalmente”. O do dia da final, além da clara preocupação em não dar nada por vencido, dizia: “Hoje não existe compromisso, clima ou religião capaz de nos separar”. No do título, havia espaço para a mão do torcedor e a mensagem: “Ponha as mãos na taça, levante e grite bem alto: eu sou campeão da Libertadores”.

Outubro de 2006

9/22/06 2:59:16 AM


Tinga. “Desde o começo, a palavra-chave para a virada foi ‘continuidade’. Houve muita pressão em alguns momentos para trocar treinador, para contratarmos grandes nomes, mas gastamos com parcimônia, com critério”, afirma o presidente. O Inter brigou pelo título até o fim, mas, prejudicado pela decisão da Justiça Desportiva de anular os jogos apitados por Edílson Pereira de Carvalho, acabou na segunda posição, a três pontos do campeão Corinthians. Embora o ex-árbitro, que confessou ter manipulado resultados, leve uma boa parte da culpa, faltou pegada à equipe na hora H: no último jogo, diante do rebaixado Coritiba, o time ainda tinha chances matemáticas de ser campeão, mas o Inter não passou pelo Coxa. Em 2006, chegaram Abel e Fabiano Eller, que se juntaram à base criada no Beira-Rio e aos jogadores que tinham chegado nos dois anos anteriores. O Internacional ficou muito à frente do Grêmio na primeira fase do Gaúcho. Mas, quando enfrentou o rival na primeira final entre os dois desde 1999, perdeu o título, depois de dois empates, pelo critério dos gols marcados na casa do adversário. Menos de 20 dias depois, em partida com direito a bomba explodindo em campo e duas expulsões, a equipe venceu o Nacional, em Montevidéu, no primeiro jogo eliminatório da Libertadores. Com o empate em casa, passou de fase, o

que repetiu depois contra LDU e Libertad, nas quartas e nas semifinais. No meio do caminho, conseguiu segurar uma boa colocação no Brasileiro e aproveitou para vencer o São Paulo por 3 a 1, em casa, na quarta vitória em cinco partidas contra aquele que seria seu rival na final do torneio continental. Em 9 de agosto, o Internacional atropelou o São Paulo – “ligeiramente superior”, como dizia a imprensa em São Paulo –, deixando tudo pronto para a consagração, uma semana depois. O título veio com sofrimento até o fim, jogo brigado, emocionante. Tudo do jeito que a torcida gaúcha gosta.

“Se você acreditar...” “Erga a Taça. Você é o maior da América”, dizia o anúncio que o clube publicou na imprensa gaúcha, no dia seguinte à conquista. O que diversos times haviam feito antes – homenagear a torcida com um anúncio depois de ganhar um título importante –, neste caso, era apenas a seqüência natural de algo que começara muito antes. Na conquista do Inter, o primeiro anúncio veio antes da estréia, com o lema: “Se você acreditar, nós vamos ganhar”. O bem-sucedido trabalho publicitário foi parte fundamental da “reconquista” do torcedor colorado. O clube, que, no início da gestão de Fernando Carvalho,

Acolhida especial para os novos jogadores O Internacional não é o único clube do Brasil que ajuda seus atletas novos a se ambientarem à cidade e à nova vida. É, no entanto, o único a ter uma pessoa contratada especificamente para fazer essa recepção. A assistente social Patrícia Galdino Lague, especialista em terapia familiar, é funcionária do clube desde o início da atual gestão, em um trabalho de acolhida aos novos que inclui atividades bastante diversificadas. No caso de um estrangeiro, como o recémcontratado Hidalgo (peruano), isso pode significar encontrar uma escola para seus filhos que tenha a mesma linha que adotava sua escola anterior. No caso de Fernandão, significou cuidar de um de seus filhos que, pouco tempo após sua chegada ao clube, precisou ser internado quando o pai estava viajando. Embora não trabalhe com os atletas das categorias de base, Patrícia também os atende quando são promovidos. “Tento ajudá-los com relação a uma série de coisas: por exemplo, uso responsável do dinheiro ou como se comportar agora que viraram figuras públicas. Conversamos até sobre assuntos como o uso de preservativos, já que, muitas vezes, são jovens de origem pobre que logo que assinam o primeiro contrato se vêem cercados por mulheres com os mais diversos interesses”, diz.

Outubro de 2006

inter.indd 7

47

9/22/06 2:59:21 AM


Daniel Boucinha/Vipcomm

Fernando Carvalho: “Chave é a continuidade” Presidente do Internacional dá sua visão sobre o processo que conduziu e revela: “Tentei comprar o Fernandão quando ele era júnior do Goiás”. Quando o senhor assumiu, o Inter não ganhava nada havia cinco anos. Desde então, cresceu e chegou ao título da Libertadores. Como foi essa trajetória? O ressurgimento do Inter não é obra só minha, é de uma porção de gente que se preparou para isso desde a eleição, pessoas que estão todas aí até hoje, o que é um dos orgulhos que eu tenho. Acima de tudo, foi uma questão de continuidade diretiva, principalmente no departamento de futebol, que é a atividade-fim do clube. A questão de trabalhar a auto-estima dos colorados foi muito importante também, principalmente fazendo obras e tornando o clube visível em todos os setores. Uma porção de coisas foram importantes para que nós chegássemos onde estamos chegando. O que mudou desde então? Depois de uma primeira temporada complicada, percebemos que a melhor estratégia para o clube seria preencher nosso grupo com jogadores que fossem eficazes, competitivos e que, acima de tudo, viessem compor

inter.indd 8

uma família, em que houvesse uma cobrança permanente de profissionalismo. Qualquer tipo de descuido fora de campo era punido com rigor, inclusive com rescisão contratual. Isso vai fazendo com que todo mundo pense no mesmo sentido, e a liderança de nomes como Fernandão, Clemer e Iarley, jogadores experientes e que sempre tiveram uma postura correta, reforça isso no contato com os companheiros. Hoje, o jogador que chega ou se adapta a esses procedimentos ou sai. Durante sua gestão, o número de sócios pagantes foi multiplicado por cinco. Isso aconteceu de acordo com o planejamento ou superou as expectativas? O planejamento estratégico começou antes, para ganhar a eleição. Segundo o que tinha acontecido em eleições anteriores, calculamos que precisaríamos de 3 mil votos, o que de fato ocorreu. Quando assumimos, começamos a campanha com uma primeira meta de chegar a 20 mil sócios – tínhamos 14 mil, mas só 8 mil em dia. Para alcançar esse número, a estratégia foi desvincular do

resultado de campo, que a gente sabe que, muitas vezes, faz com que a pessoa se afaste do clube. Conseguir um sócio em uma campanha, às vezes, até é fácil. Difícil é fazer com que ele permaneça. Começamos a incentivar o sócio para que ele trouxesse outros associados, dando oportunidade para que ele participe da vida do clube. Dois dos principais jogadores na conquista da Libertadores, Tinga e Fernandão, estavam “esquecidos” na Europa quando o Inter os resgatou. Quem indica esses atletas? Tenho pessoas com quem me relaciono no Brasil inteiro e até na Europa, para as quais eu estou constantemente pedindo informações. Eu comecei no Internacional nas categorias de base, em 1997, e foi lá que eu desenvolvi essa rede de amizades e de olheiros. Tentei a contratação do Fernandão desde essa época, quando ele era júnior do Goiás. Desde então, eu o acompanho. Quando soube que ele tinha sido emprestado pelo Olympique de Marselha para o Toulouse, comecei a ver que talvez ele pudesse voltar ao Brasil. No final da temporada, pedi a um empresário conhecido para que tentasse contratá-lo, e ele teve êxito. Já o Tinga, todos nós conhecíamos havia muito tempo. Sabíamos que, embora estivesse na reserva, seria uma grande contratação. O Jorge Wagner também: desde o tempo em que era júnior do Bahia eu conhecia o jogador. Quando soube que ele não estava sendo aproveitado na Rússia, tive certeza de que ele seria muito útil aqui e que não seria caro. São coisas assim que a gente costuma fazer, como fizemos agora para trazer o Hidalgo, o Vargas e o Pinga. Como concilia a tentativa de estabelecer uma administração moderna com a convivência com a estrutura arcaica que governa nosso futebol? Eu sou daqueles que acha que as oportunidades surgem na crise. Nós vivemos uma crise permanente, desde a Lei Pelé, que ainda não está bem assimilada. O Internacional está crescendo porque está sabendo enxergar o lado bom que existe em toda legislação. Não adianta ficar chorando porque a Lei Pelé tirou o principal ativo dos clubes. Não, a partir disso, é preciso criar artifícios, estratégias, para enfrentar esses momentos e superá-los.

9/22/06 2:59:27 AM


Vipcomm

tinha 8 mil sócios com a mensalidade em dia, chegou ao segundo semestre de 2006 com nada menos do que 44 mil pessoas contribuindo mensalmente, com um valor médio de R$ 20. Diferentemente do que acontece em São Paulo ou no Rio de Janeiro, os grandes de Porto Alegre não têm, além do time de futebol, um clube social que atraia associados. Se, por exemplo, o São Paulo tem sócios corintianos, que vão ao clube por causa de suas piscinas, o sócio do Internacional está interessado exclusivamente em uma coisa: o time de futebol. Por seus R$ 20, o associado tem dois direitos: entrar em todos os jogos da equipe no Beira-Rio, e votar para eleger seu presidente. Há ainda uma série de promoções e vantagens, incluindo sorteio de visitas ao estádio, que acabam com uma reunião com o presidente do clube. O que mobiliza mais de 40 mil pessoas, porém, é o time de futebol e seu sucesso. Quem confirma é o goiano Fernandão: “O gaúcho tem uma paixão muito grande por sua equipe, o que senti logo que cheguei. O vínculo com o clube é muito forte. Além disso, em qualquer lugar do Brasil que você vai, tem um colorado apaixonado, o que também é uma diferença”.

Jogadas políticas É claro que nem tudo são flores no Internacional. Afinal, estamos falando de futebol brasileiro. Não foi possível ao time segurar seu elenco até o Mundial e menos ainda reforçá-lo. Apesar da evolução na estruturação do clube e de suas finanças, o presidente Fernando Carvalho entende que a venda dos principais jogadores é necessária estrategicamente. “Há um planejamento para que isso ocorra, é uma estratégia de gestão. Nós não queremos ficar com o jogador por mais de dois ou três anos, senão ele acaba indo embora livre”, afirma. De acordo com Carvalho, a equipe não se prejudica porque há um planejamento para que os que saíram sejam substituídos por outros – que, mais tarde, também serão vendidos. “Nossa estratégia é projetar um ou dois jogadores por ano e ven-

Abel Braga: “Principal diferença do Inter é o planejamento”

der, mas ter outro vindo da base. Atrás do Diogo Rincón veio o Daniel Carvalho, depois dele o Nilmar e, em seguida, o Sóbis. Agora, vêm aí o Luís Adriano, o Ricardo de Jesus e o Alexandre Pato. É uma estratégia de gestão que nós não queremos mudar”. O lado político também não pode ser esquecido, como mostrou a imagem televisionada e fotografada de Fernando Carvalho cumprimentando o presidente Lula em Brasília, por causa da aprovação da Timemania – sem nenhuma obrigação de contrapartida dos clubes. Carvalho implantou um modelo de administração que permitiu ao Inter se diferenciar da esmagadora maioria do que acontece no futebol brasileiro, mas isso não transformou o clube em uma ilha. Não é por outro motivo que, depois de ver sua equipe prejudicada pelo STJD no Brasileiro do ano passado, o presidente colorado pediu pessoalmente ao torcedor Leandro Konrad Konflanz que retirasse a ação que movia na Justiça comum em que pedia a “desanulação” dos jogos anulados pelo STJD, o que daria ao Inter o título Brasileiro de 2005. A CBF ameaçou o Colorado de exclusão da Libertadores, caso a ação fosse mantida.

INTER ESPERA NÃO DEPENDER MAIS DA VENDA DE JOGADORES

Carvalho também “se entrega” quando se desdobra em elogios ao Clube dos 13 e a seus dirigentes: “O Clube dos 13 atinge plenamente seus objetivos. Acho que o presidente Fábio Koff é um excelente dirigente, um modelo, e certamente seu trabalho dá estabilidade aos clubes”, diz. Vale lembrar que esse é o mesmo Fábio Koff que vem realizando negociações para aumentar o número de clubes no Brasileiro de 20 para 22 ou 24. E que o Clube dos 13, longe de ser o que se propôs quando apareceu – uma contraposição à bagunça e à politicagem da CBF – tem se comportado quase que exclusivamente como um sindicato dos grandes clubes, defendendo-os mesmo quando seus interesses estão em frontal desacordo com o que é melhor para o futebol brasileiro. Não convém, também, esquecer que, apesar de sua gestão modernizadora e transparente no Inter, Fernando Carvalho compõe a diretoria do Clube dos 13, ao lado de Fábio Koff, Mustafá Contursi e Eurico Miranda. Talvez pudesse chocar o torcedor colorado saber que, no site dessa mesma entidade, há artigos com títulos como “Arbitragem: Clube dos 13 Apóia CBF”. O fato é que o Internacional pode estar perto de uma gestão moderna e profissional, um exemplo para clubes brasileiros, mas ainda tem que sujar as mão na política do futebol nacional. Outubro de 2006

inter.indd 9

49

9/22/06 2:59:32 AM


Entrevista, por Ubiratan Leal

Crédito recuperado com a torcida Mano Menezes conta como o Grêmio teve de reconquistar a confiança da própria torcida para se recuperar e avisa que, com a atual fase do Internacional, o Tricolor não pode ficar de fora da Libertadores m abril de 2005, o Grêmio caiu na segunda fase do Campeonato Gaúcho e entrava na Série B sem perspectivas de uma grande campanha. Um ano e meio depois, o clube da Azenha é o atual campeão estadual e transformou a presença na Libertadores-2007 em um sonho possível. Em paralelo, o time ainda perdeu seu principal nome e teve de vencer um jogo decisivo com sete jogadores e um pênalti contra. Segundo o técnico Luis Antônio Venker Menezes, mais conhecido como Mano Menezes, o ponto de partida da recuperação tricolor foi a busca de sua própria credibilidade. “O torcedor não sentia confiança na equipe para dar o apoio necessário”, afirma. Para isso, o treinador admite que foi obrigado até a conter a empolgação em torno do meia Anderson, atualmente no Porto. “Não acredito que um jogador, por melhor que seja, possa resolver tudo sozinho, como a imprensa gaúcha dizia sobre o Anderson”, comenta. “Deixar ele no banco ajudou a mostrar aos outros jogadores que o tratamento era igual a todos”. A nova realidade gremista, de acordo com Menezes, é pensar na Libertadores – até porque o título do Internacional na competição criou uma nova pressão no Tricolor. Em entrevista à Trivela, além de comentar a atual situação do Grêmio, o técnico ainda fala sobre como o clube tem aproveitado as possibilidades de seu elenco e admite que ele próprio achou que a promoção à Série A estava perdida depois de ter quatro jogadores expulsos no jogo decisivo contra o Náutico.

50

entrevista mano.indd 2

Divulgação

E

Outubro de 2006

9/22/06 2:52:22 AM


O fato de o Internacional ter conquistado a Libertadores cria uma pressão extra sobre o Grêmio? Quando a rivalidade é grande, um bom resultado de um dos times se torna referência para o outro. Ganhar a Libertadores passou a ser a maior preocupação do Internacional depois que o Grêmio ganhou duas. Como a gente não vai para a Libertadores há um tempo, o título do Inter força o clube a buscar uma vaga no torneio. Você chegou a torcer contra o Inter na Libertadores? Todos os profissionais que trabalham no Grêmio torcem contra o Internacional e todos os profissionais que trabalham no Internacional torcem contra o Grêmio. É a rivalidade. Até os torcedores gremistas têm se surpreendido com a campanha do time em 2006. A chegada de reforços durante o campeonato ajudou no crescimento da equipe? A base que tínhamos era boa, apesar de poucos perceberem isso. Todo mundo falou que o título gaúcho foi uma surpresa porque o Inter era melhor. Realmente, o Inter era melhor e perdeu só uma partida no campeonato inteiro, mas nós também só tínhamos uma derrota. Esse título nos deu confiança para começar o Brasileiro sabendo que estávamos no nível da maioria dos clubes. A partir daí, reforçamos o elenco com Hugo, Rafinha, Rômulo, Léo Lima... Esses jogadores se encaixaram no trabalho e melhoraram setores carentes. Alguns dos principais jogadores do Grêmio têm sido o Léo Lima e o Tcheco, que não deram certo em outros clubes recentemente. Foi feito algum trabalho diferente no Grêmio? É questão de posicionamento e de equilíbrio de equipe. No Santos, o Tcheco jogou junto com o Ricardinho. Para mim, os dois exercem a mesma função, embora um jogue na esquerda e o outro na direita. São pequenos detalhes que precisam ser observados na montagem de uma equipe. O Grêmio joga com só um atacante fixo. Em teoria, o time parece defensivo, mas a equipe tem um dos melhores ataques do campeonato. Como ter boa produtividade ofensiva com só um atacante? É uma realidade do futebol de hoje: é preciso ter uma composição forte de meio-campo para não correr riscos, mas sabendo o que fazer depois de retomar a bola. O Santos, quando foi campeão brasileiro com o Leão, jogava de uma forma parecida, com o Alberto sozinho na frente e Elano, Diego e Robinho vindo de trás. As equipes na Europa jogam muitas vezes assim, o que foi comprovado na Copa do Mundo. Acho que é uma tendência do futebol do momento, mas é preciso escolher bem os jogadores para saber tirar proveito da posse de bola e não ficar só na defesa. Quando você assumiu, o Grêmio vinha de um rebaixamento e uma reformulação mal-sucedida no começo de 2005. Como era o clima no clube? Havia um descrédito muito grande. O torcedor não sentia confiança na equipe para dar o apoio necessário. Por isso, fomos buscar jogadores que realmente se empenhassem

muito, mesmo que alguns deles não fossem unanimidade em questões técnicas. Assim, colocamos o torcedor ao nosso lado. Foi difícil, porque houve uma reformulação geral na equipe e praticamente mudamos todos os jogadores titulares durante a Série B. Até que ponto conhecer a realidade da segunda divisão com o Caxias ajudou a saber o que era necessário para disputar a competição? Ajudou muito. O Grêmio tinha uma idéia de que a Série B exigia mais força e montou uma equipe com essa característica. O que eu tinha visto em 2004 não batia com essa idéia. Para as equipes menores, é possível jogar um futebol mais de marcação. Porém, o grande que caiu precisaria ter qualidade para se impor em casa e encontrar espaço contra equipes muito fechadas. Isso vale para o Grêmio no Olímpico, o Atlético-MG no Mineirão ou o Palmeiras no Parque Antarctica. Se não, nivela-se o jogo muito por baixo. Durante a Série B, o Grêmio perdeu o Anderson temporariamente, com a quase ida dele ao Porto e, depois, com o Mundial sub-17. Quando ele retornou, ficou no banco. Foi uma forma de evitar que ele se deslumbrasse? Na verdade, eu não acredito que um jogador, por melhor que seja, possa resolver tudo sozinho, como a imprensa gaúcha dizia sobre o Anderson. Não é assim, e ele nem pode ficar com toda essa responsabilidade, pois era só um menino de 17 anos. Além disso, nós poderíamos ficar sem ele na reta final e, se não organizássemos o trabalho, na hora decisiva poderíamos não encontrar as soluções. Quando ele retornou da Seleção, não estava bem condicionado e não começou um ou dois jogos. Isso ajudou a mostrar aos outros jogadores que o tratamento era igual a todos e que eles tinham a mesma responsabilidade que o Anderson. Como foi ficar no banco, naquele jogo contra o Náutico, em que o time sofreu quatro expulsões? Realmente, foi um momento muito difícil, uma situação que não vamos vivenciar nunca mais. A pressão começou muito antes do jogo, com o ambiente criado, vestiário pintado, barulho, sirene tocando na hora do intervalo... Isso criou um ambiente de nervosismo acima do normal. Quando aconteceu o segundo pênalti, esse clima chegou ao ponto mais alto de descontrole. A equipe se enervou mais do que deveria e corremos o risco de perder o acesso. Você chegou a achar que não tinha mais jeito? Claro! Quando o árbitro começou a levantar o cartão vermelho e a expulsar nossos jogadores, eu achei que não teríamos condições de suportar uma inferioridade numérica tão grande, mesmo que eles perdessem o pênalti. Acredito que a força da camisa pesou nessa hora. Hoje, não existe tanta diferença entre as equipes maiores e menores em um jogo, mas, quando o time menor se depara com a oportunidade de ganhar, ela sente a pressão. O Náutico sentiu, e nós nos aproveitamos disso.

Contra o Náutico, achei que não teríamos condições de suportar inferioridade numérica tão grande

Outubro de 2006

entrevista mano.indd 3

51

9/22/06 2:52:32 AM


casa própria

Estádios de Curitiba, por Juan Saavedra

O valor da

Clubes de Curitiba investem em seus estádios para conquistar torcedores e empresas, de olho em resultados dentro e fora dos gramados

estádios curitiba.indd 2

ivais nos gramados, Atlético-PR, Coritiba e Paraná Clube têm ao menos uma coisa em comum: o orgulho de ter um estádio particular. E não é só isso. O “Trio de Ferro” curitibano está investindo na estrutura de suas “casas” para aumentar as receitas, agradar a torcida e ampliar as condições de competitividade dentro dos campos. A bola da vez é o Paraná Clube. O Tricolor acaba de inaugurar o reformado Durival de Britto, depois de dois anos e meio afastado da Vila Capanema. “Estamos de volta para

R

nossa casa”, vibra Emerson Serpeloni, ex-presidente da organizada Paranautas. “É como se os palestinos conquistassem seu próprio território, sendo que, no caso, o território já era nosso”, exagera o presidente José Carlos de Miranda, numa referência ao problema jurídico com a Rede Ferroviária Federal, que alegava ser a dona do terreno do estádio. A capacidade da Vila foi ampliada, de 12 mil para 16.660 lugares, graças a uma nova arquibancada, atrás de um dos gols, e à construção de 72 camarotes. Traz ainda novidades como fraldários, vestiários exclu-

9/22/06 2:53:46 AM


Rogério Machado/Gazeta do Povo

EM CIMA DO TREM PARA VER A COPA O Durival de Brito está na história das Copas do Mundo. No Mundial de 1950, realizado no Brasil, o estádio recebeu duas partidas: Espanha 3x1 Estados Unidos e Suécia 2x2 Paraguai. José Maria Barboza, 83 anos, funcionário do Paraná Clube e ex-jogador do Ferroviário, assistiu às partidas. “Foi inusitado Curitiba receber jogos da Copa do Mundo. Lembro-me que o pátio da Rede Ferroviária ficava no fundo, e muita gente ficou em cima dos trens para assistir aos jogos”.

Vila Capanema

sivos para árbitros do sexo feminino e estacionamento com 620 vagas. Para pagar a reforma, o clube fez uma permuta com a construtora responsável pela obra e arrecadou recursos com a comercialização de pacotes de jogos, kits com brindes alusivos à inauguração, contribuições espontâneas, cadeiras e, principalmente, com a venda de camarotes - um deles adquirido pelo meia Ricardinho, revelado no Paraná. Segundo a diretoria, o investimento, de aproximadamente R$ 2,5 milhões, praticamente já se pagou.

Divulgação

Reforma deu à Vila Capanema 4.660 novos lugares e 72 novos camarotes

Nome oficial: Estádio Durival de Britto e Silva Proprietário: Paraná Clube Endereço: Rua Engenheiro Rebouças, s/nº Capacidade atual: 16.660 Inauguração: 23/janeiro/1947 Primeiro jogo: Ferroviário-PR 1x5 Fluminense Primeiro gol: Careca (Fluminense) Recorde de público: 24.303 (Atlético-PR 3x2 Santos - 8/setembro/1968) Dimensões do gramado: 110 m x 75 m Banheiros: 13 Lanchonetes: 6 Estacionamento: 620 vagas

O vice-presidente de marketing do clube, Waldomiro Gayer Neto, comemora. “A Vila será um grande gerador de receitas para o Paraná Clube. Nossa expectativa é aumentar a média de público. Além disso, temos a exploração das placas publicitárias e deixamos de pagar a taxa de 10% que a Federação Paranaense de Futebol cobrava pelo uso do Pinheirão”, explica. São esperados resultados também dentro de campo. Caio Junior, treinador do clube, acredita que o rendimento da equipe possa melhorar em função da qualidade do gramado. “Os jogos no Pinheirão foram tecnicamente ruins, e aqui na Vila os coletivos são outra coisa”.

Conforto Não muito longe da Vila Capanema, no Alto da Glória, o Coritiba também se mexe. O clube aproveitou as exigências do Estatuto do Torcedor para promover uma série de melhorias no Couto Pereira, que completa 70 anos em 2007. A capacidade do estádio encolheu para 37.182 espectadores. Ainda sem recursos para concretizar o sonho de concluir o terceiro anel do setor Mauá, que fica de frente para as tribunas, o alviverde investiu na reforma do gramado, na colocação de cadeiras em setores das arquibancadas, na construção de novos camarotes e em reformas nos banheiros, nas áreas de alimentação e na sala de imprensa. Entre as razões apontadas pelos clubes da cidade para oferecer melhores condições em seus estádios, está o perfil do cidadão curitibano, conhecido no mercado publicitário como um consumidor exigente e detalhista. Um exemplo desse nível de exigência é o agente de seguros José Luiz Braga Araújo, proprietário de duas cadeiras cativas no Couto Pereira. “Ainda falta aqui um bar executivo, com um ambiente mais requintado, onde se possa beber um uísque”, comentou Araújo, durante o intervalo da vitória do Coritiba sobre o Remo, pela segunda divisão do Campeonato Brasileiro. O coordenador de comunicação e marketing do Coritiba, Hudson José, explica que é preciso criatividade para atrair o público. “Nosso concorrente é o conforto da casa dos torcedores. Eu disputo com o pay per view. Para tirar o torcedor de casa, Outubro de 2006

estádios curitiba.indd 3

53

9/22/06 2:53:52 AM


Divulgação

Couto Pereira Nome oficial: Estádio Major Antonio Couto Pereira Proprietário: Coritiba Foot Ball Club Endereço: Rua Ubaldino do Amaral, 37, Alto da Glória Capacidade atual: 37.182 Inauguração: 15/novembro/1932 Primeiro jogo: Coritiba 4x2 América-RJ Primeiro gol: Gildo (Coritiba) Recorde de público: 65.943 (Atlético-PR 2x0 Flamengo - 15/maio/1983) Dimensões do gramado: 109 m x 72 m Banheiros: 25 (13 femininos e 12 masculinos) Lanchonetes: 16 Estacionamento: 400 vagas

RECORDE É DO PAPA O recorde de público do Couto Pereira, em jogos de futebol, foi registrado em 15 de maio de 1983, quando o Atlético-PR derrotou o Flamengo por 2 a 0, pelas semifinais do Campeonato Brasileiro. Mas o Coritiba, arqui-rival do Atlético, prefere dar a marca à visita do Papa João Paulo II, em 1980, que teve público estimado em 70 mil pessoas.

54

estádios curitiba.indd 4

ele tem que sentir prazer em vir ao estádio”. Recentemente, o Coxa lançou um plano de fidelidade, pelo qual sorteia produtos oficiais e ingressos para quem assistir a três partidas consecutivas em casa. Outra iniciativa é o atendimento ao torcedor por meio de equipes de apoio, que registram queixas e anotam sugestões e reclamações. Uma das táticas para atrair o público e aumentar a presença das famílias é o cuidado com as instalações sanitárias. “Antes, os banheiros não tinham condições de uso. Agora, só falta o espelho”, elogia a contadora Luciana Alcouver. De acordo com o economista José Eduardo Nasser, mestre em Ciências da Informação pela Unesp e professor do MBA de Marketing da Unifae, os clubes de Curitiba estão fazendo a coisa certa, ao tentar mudar a percepção do torcedor. “Clubes e empresas que se preocupam com a fidelização de seus clientes crescem. A atitude dos times é boa para todo mundo, porque está profissionalizando o negócio futebol. Lógico que o benefício esperado pelos torcedores são títulos”.

Pioneirismo Seis títulos, incluindo o do Campeonato Brasileiro de 2001, e a participação em três Libertadores. Esses são os resultados do Atlético-PR desde 1999, quando inaugurou a Arena da Baixada - agora chamada de Kyocera Arena. Com arquitetura inspirada em estádios europeus, o lugar impressiona, principalmente pela estrutura fora das quatro linhas. Os banheiros apresentam padrão de acabamento raro em outros estádios no Brasil, com pias de granito. A praça de alimentação lembra a de muitos shopping centers, pela diversidade de opções. Na parte frontal, há uma fachada em cerâmica, toda rubro-negra. Lá, funcionam um bar e uma loja de material esportivo. Um elevador panorâmico dá acesso a uma churrascaria e a uma academia de ginástica. “É o melhor estádio do hemisfério sul no mundo”, pontifica a estudante de veterinária Luciana Vargas. A Arena ajudou a elevar a auto-estima dos rubro-negros. O micro-empresário Danilo Rocha conserva até hoje na parede de sua casa um quadro com o ingresso da partida de inauguração, em 24 de junho de 1999. Desde então, coleciona ingressos – têm mais de 200. Mas ele lembra que nem tudo é per-

feito. “Gostaria de levar meu filho mais vezes, mas o ingresso é muito caro, sem falar das despesas com gasolina, alimentação, etc. Não tenho condições de gastar R$ 80 num jogo de futebol toda semana”. O preço dos ingressos é a maior queixa dos rubro-negros. Em abril de 2004, o Atlético subiu o valor da entrada – a mais barata passou, então, para R$ 30. A medida rendeu um protesto dos integrantes da organizada Os Fanáticos, que ficaram do lado de fora do estádio durante uma partida contra o Figueirense. Após uma série de negociações envolvendo diretoria e torcedores, inclusive com a participação do Procon, o valor caiu para R$ 25. Para Juliano Rodrigues, vice-presidente da Os Fanáticos, poderia haver preços diferenciados de acordo com a competição e o nível do adversário. “Em jogos do Campeonato Paranaense, o valor poderia ser mais baixo. É muito melhor um estádio com 20 mil pessoas do que com apenas 2 mil”, defende. O diretor de marketing do clube, Mauro Holzmann, tem outra visão. Segundo ele, o preço fixo tem a finalidade de premiar quem compra pacotes de ingressos para toda a temporada. “Queremos mudar essa cultura e incutir na cabeça do torcedor a idéia de que a atração principal é o próprio Atlético, não importa se o adversário é o Corinthians ou um time do interior do estado”, afirma. Para Holzmann, o modelo no Brasil é invertido. “Ao contrário do que se vê nos Estados Unidos ou na Europa, o espetáculo ao vivo no Brasil é barato. Deveria ser o contrário”.

Copa de 2014 Apesar da badalação, a Arena tem deficiências. A mais evidente está na área reservada para torcedores visitantes, onde a visão do gramado é parcialmente encoberta por um muro de um colégio instalado nas imediações. “A área de visitantes é péssima, não dá para ver totalmente o campo”, reclama o botafoguense e administrador João Cláudio Garrido. “Tem um poste de iluminação que atrapalha. Não é porque somos adversários que temos menos direito”, completa outro alvinegro, o metalúrgico Rafael Pereira. Não por acaso, os atleticanos se acostumaram a ouvir uma piada, a de que a Arena é o melhor “meio-estádio” do Brasil. A brincadeira

Outubro de 2006

9/22/06 2:53:57 AM


Juan Saavedra

QUEM É JOAQUIM AMÉRICO? Se estiver de carro em Curitiba, um turista talvez fique desorientado se procurar a Kyocera Arena pelas placas de trânsito. Estas ainda mantêm o nome anterior do estádio do Atlético-PR, Joaquim Américo, homem que fundou o Internacional – clube que fez fusão com o América para originar o rubro-negro.

Kyocera Arena

cicletas e motocicletas, a empresa patrocina um setor do estádio e divulga suas marcas em 40 painéis instalados nas áreas interna e externa. Outra ambição do Atlético é preparar a Arena para o Mundial de 2014 – se o Brasil for o escolhido pela Fifa como país-sede. “O estádio estará prontinho para a Copa”, garante Mauro Holzmann. Trata-se de um sonho que não parece impossível. Em entrevista no início do ano, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, afirmou que a Arena da Baixada era, então, o único estádio brasileiro que talvez se enquadre nos padrões exigidos pela Fifa. Albari Rosa, fotógrafo do principal jornal local, a Gazeta do Povo, acredita que a Arena não está muito aquém do que observou na última Copa do Mundo. “O maior problema é que ela está no centro de Curitiba, e isso pode inviabilizá-la por questões de segurança”. O jornalista Carneiro Neto, colunista da Gazeta e comentarista esportivo da Rádio CBN, não vê o Brasil em condições de receber o Mundial. “Dizem que o Atlético precisa de R$ 50 milhões para concluir a Arena. Enquanto isso, o novo estádio do Arsenal custou 390 milhões. De libras!”.

O empresário Danilo Rocha mostra quadro com ingresso do primeiro jogo da Arena da Baixada

Divulgação

tem prazo de validade: o ano de 2008, de acordo com os planos do Atlético. A área oposta às sociais e cabines de TV, hoje ocupada por um colégio, deverá ser liberada até 31 de dezembro deste ano. O projeto pretende usar o local para ampliar a capacidade para 40 mil espectadores – o objetivo é evitar a frustração da final da Copa Libertadores de 2005, quando o Furacão foi obrigado a exercer seu mando de campo no Beira-Rio, em Porto Alegre, por força do regulamento da Conmebol. As obras prevêem a ampliação do número de camarotes e de áreas VIP. Hoje, parte dos 76 camarotes da Kyocera Arena pertence a multinacionais como TIM e Clear Channel, que utilizam o espaço para ações de marketing de relacionamento. “Convidamos clientes corporativos e consumidores, para fortalecer a nossa marca. Eles se sentem diferenciados”, explica Sheyla de Lara, analista de marketing da companhia de telefonia celular. A meta é tornar a Arena auto-sustentável, buscando diversas fontes de receitas, como as obtidas pelo patrocínio com a Brasil & Movimento. Dona das marcas Sundown de bi-

Nome oficial: Kyocera Arena (ex-Joaquim Américo Guimarães) Proprietário: Clube Atlético Paranaense Endereço: Rua Buenos Aires, 1260, Água Verde Capacidade atual: 23.000 Inauguração: 24/junho/1999 Primeiro jogo: Atlético-PR 2x1 Cerro Porteño Primeiro gol: Lucas (Atlético-PR) Recorde de público: 31.700 (Atlético-PR 4x2 São Caetano - 16/dezembro/2001) Dimensões do gramado: 105 m x 78 m Banheiros: 21 (11 masculinos e 10 femininos) Lanchonetes: 68 Estacionamento: 500 vagas

Outubro de 2006

estádios curitiba.indd 5

55

9/22/06 2:54:02 AM


Portuguesa em crise, por Ubiratan Leal

Mudança de estação

Os recursos financeiros vão, em sua maioria, para o pagamento de dívidas. O público sumiu das arquibancadas, e a imprensa dá pouco espaço ao time. Tudo é mais frio e nublado na vida da Portuguesa depois de rebaixamentos no Paulista e no Brasileiro

á dez anos, a Portuguesa estava na moda. O time surpreendentemente chegou à final do Campeonato Brasileiro e ensaiava o salto que o colocaria definitivamente entre os grandes de São Paulo. Na gaveta, estavam um plano de co-gestão com uma multinacional italiana e um projeto de ampliação do Canindé. Era um clima de otimismo que nem parece ser do mesmo clube que, agora, padece em duas segundas divisões: a Série B do Brasileiro, desde 2003, e a Série A-2 do Paulista, a partir de 2007. A Lusa tem problemas com os resultados em campo, com a infra-estrutura de seu estádio, com a Justiça, com a falta de apoio e com o clube social. Para resumir tudo, basta dizer que a dívida rubro-verde – a maior parte trabalhista – é de mais de R$ 200 milhões, um valor que parece inatingível para um clube que está longe de ser o mais popular do país. O primeiro passo do processo de recuperação é descobrir qual a real situação das finanças e criar um plano para equacionar essa dívida. De acordo com o presidente do clube, Manuel da Conceição Ferreira, mais conhecido como Manuel da Lupa, a situação quando ele assumiu era pior do que ele mesmo imaginava. “Era uma massa falida, sem água nas torneiras, luz, pneu

H

56

lusa.indd 2

para o ônibus”, comenta. “A Portuguesa foi tratada como brinquedo, sem que ninguém se responsabilizasse pelo que acontecia com as finanças do clube”. Entre as atitudes que ajudaram a Lusa a ficar no vermelho estão a contratação de jogadores por salários muito altos, o não depósito de dinheiro no fundo de garantia de funcionários e até a dispensa em massa de jogadores, que elevaram as dívidas trabalhistas. A saída de Ricardo Oliveira com liberação na Justiça também atrapalhou, pois o clube contava com o dinheiro da venda do atacante para melhorar sua situação. “Os problemas vêm desde a época do Oswaldo Teixeira Duarte (presidente do clube nas décadas de 70 e 80), mas o time tinha bons resultados e não se falava tanto em crise”, diz Da Lupa. O problema é que, além de se reorganizar e negociar seus débitos, a Portuguesa tem de continuar na ativa, o que gera custos de transporte, folha salarial e organização dos jogos. As fontes de renda da Portuguesa são reduzidas. O clube social tem cerca de 6 mil sócios com mensalidades em dia, menos de 10% dos 80 mil que havia no auge. Além disso, a média de público caiu para apenas 679 pagantes no primeiro turno da Série B, e parte da renda dos jogos está penhorada para o pagamento de pendências trabalhistas.

Resultados em campo não ajudam Em campo, a situação também é desanimadora. O clube cumpre sua quarta temporada na Série B do Brasileirão. Para piorar, a equipe luta contra o rebaixamento para a Série C e caiu para a segunda divisão do Campeonato Paulista no primeiro semestre deste ano. O baque da campanha da atual temporada é maior devido ao bom momento que a Portuguesa teve em 2005. A equipe chegou ao quadrangular final da Série B e teve chances de subir até a última rodada. Além disso, manteve a base do elenco para o Paulista, cedendo apenas o meia-atacante Celsinho, vendido por € 7 milhões para o Lokomotiv Moscou. Com Corinthians, São Paulo e Palmeiras disputando a Libertadores, falou-se no Canindé até da possibilidade de brigar pelo título estadual. No clube, não há boas explicações para o fracasso dentro de campo, em 2006. No papel, o elenco – que tem como destaques Alex Alves (ex-Botafogo), Cléber e Cleisson (ex-Atlético-MG) – reuniria condições de, pelo menos, ficar no pelotão intermediário da Segundona, sem ter de se preocupar com as últimas posições. A justificativa mais comum é algo entre “desânimo”, “azar”, “má fase” e “conseqüência de ter ficado sem o Canindé no Paulistão”. Os maus resultados dificultam a realização de parcerias que poderiam facilitar o processo de recuperação. “Para ter patrocínio, dependemos de resultados em campo, que não têm vindo como gostaríamos”, afirma Da Lupa. Nas últimas temporadas, a Portuguesa apostou em modelos distintos. Em 2004, o clube terceirizou o departamento de futebol para a Ability, empresa que pretendia usar a Lusa para expor jogadores e ganhar dinheiro com eventuais negociações. Não houve atraso no salário do elenco, mas o contrato foi rescindi-

Outubro de 2006

9/22/06 5:24:10 AM


Djalma Vass達o/Gazeta Press

lusa.indd 3

9/22/06 5:24:25 AM


Djalma Vassão/Gazeta Press

do. “Eles cumpriram tudo o que foi previsto, mas o contrato não era bom para a Portuguesa”, conta. “A Ability pôs dinheiro, mas queria tudo em troca, sem compartilhar a administração, algo que não podemos aceitar”. No ano seguinte, o clube acertou patrocínios com Droga Verde, Anaconda e Café Rincón, casa noturna do ex-jogador colombiano. Nenhum contrato foi renovado, por diferentes motivos, incluindo mudança na estratégia de marketing da empresa (Droga Verde) e até não pagamento de algumas parcelas (Café Rincón). Por enquanto, a Portuguesa não tem nenhum grande acordo para 2006. Assim, aposta na criatividade. A boa localização da sede – perto da estação Portuguesa-Tietê do metrô – é importante nesse processo, pois é uma vantagem estratégica para uma eventual parceira. Neste ano, a parte do terreno diante da Marginal Tietê foi alugada para a realização de uma exposição de automóveis. O que poderia ter mais força no Canindé é a busca por recursos na comunidade portuguesa de São Paulo. “Sou português de nacionalidade e posso dizer que esse negócio de comunidade é muito bonito no falatório, mas, na vida real, a Portuguesa nunca é ajudada por ninguém”, brada Da Lupa. Segundo o dirigente, o clube teria se reunido com várias empresas de origem portuguesa ou com sócios de origem portuguesa, como Vivo, Grupo Pão de Açúcar e Bandeirantes Energia, mas um acordo nunca passou das intenções. “Há muita gente com boa vontade, mas, hoje, a Portuguesa é um clube brasileiro de ascendência portuguesa e não pode ficar pensando apenas na comunidade”. Em relação às dívidas trabalhistas, o clube tenta reunir os processos em uma única vara para facilitar a renegociação. A expectativa é de acertar um valor fixo a ser pago todo mês, estipulado com base no faturamento do clube, para acabar com a penhora de rendas. Essa medida é considerada fundamental para 2007, quando o clube não receberá os direitos de transmissão da primeira divisão do Campeonato Paulista. Só assim poderá manter a chance de se reerguer e reivindicar o posto de quinto grande do futebol de São Paulo.

Técnico símbolo da Lusa É difícil dissociar a imagem de Candinho com a da Portuguesa. Por isso, sua escolha para comandar a recuperação da Lusa na Série B não é apenas técnica, mas também simbólica. A Trivela conversou com o treinador para conferir as diferenças entre o time que tinha Zé Roberto, Evair, César e Rodrigo Fabri e o atual, que precisa, antes de tudo, sobreviver.

58

lusa.indd 4

Portuguesa nos últimos anos 1º 4º 8º 12º 16º

Posição

Você esteve no Canindé no momento mais alto e no mais baixo do clube nas últimas décadas. Como é comparar as duas Portuguesas? A Portuguesa de antes era mais fácil de trabalhar, porque o técnico montava o time. No começo do ano, era possível definir o elenco com cuidado, escolhendo quem você queria ou não. Agora, o técnico tem de usar o que tem à disposição, e não há quase nenhum jornalista cobrindo treinos e jogos [no dia da entrevista, a reportagem da Trivela era a única no treino]. É um pepino muito maior. O nível de cobrança também mudou? É difícil dizer. Para mim, é mais fácil lidar com isso do que para um colega que nunca trabalhou na Portuguesa. Sou amigo de muita gente e tenho mais trânsito com dirigentes, conselheiros e torcedores. Comigo, eles são mais pacientes e escutam mais o que eu peço. Qual a primeira imagem que vem à sua cabeça quando compara o clima na década passada e o atual? A presença da torcida. Antes, o Canindé ficava sempre cheio em jogos contra Corinthians, São Paulo ou Palmeiras. Mesmo em partidas de quarta-feira, não era raro termos público de 8 mil pagantes. Na Série B, com todo respeito aos adversários, não há o mesmo apelo.

20º 24º

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002a 2003 2004 2005 2006b

Anos a

Paulista

Não disputou o Campeonato Paulista; classificação se refere ao Rio-São Paulo

Brasileiro

Série B

b

Até o final do primeiro turno

Outubro de 2006

9/22/06 5:24:39 AM


Sérgio Assis/Gazeta Press

Caminho

estreito Vítima de estelionato e com dívidas que levaram o time até a perder pontos na Série B, Guarani aposta em ações voluntárias e doações na porta do estádio para se reerguer

A

crise da Portuguesa está longe de ser um caso único no futebol paulista. A cerca de 100 quilômetros do Canindé, o Guarani é outro clube que vê sua tradição ser ofuscada pelo momento atual, que também registra rebaixamento para a Série A-2 estadual, uma campanha anônima na Segundona nacional e necessidade de reestruturação financeira e institucional. A última estimativa das dívidas do Guarani chegou a R$ 200 milhões, mas os dirigentes imaginam que possam reduzir drasticamente o valor após negociação de alguns litígios trabalhistas. De qualquer maneira, a Justiça penhorou 70% das rendas e bloqueou a conta bancária do clube. Como a diretoria anterior havia pedido adiantamento de suas cotas no Clube dos 13, o Bugre também não tem essa fonte de renda. Isso tudo com uma folha salarial em torno de R$ 600 mil. O presidente atual, Leonel Martins de Oliveira, o mesmo que dirigia o Bugre na época do título nacional de 1978, assumiu em junho. A herança deixada por seus antecessores era das piores. Além das dívidas e da decadência

Guarani nos últimos anos 1º 4º 8º 12º

Posição

16º 20º 24º

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002a 2003 2004 2005 2006b

Anos a

Paulista

Não disputou o Campeonato Paulista; classificação se refere ao Rio-São Paulo

Brasileiro b

Série B

Até o final do primeiro turno

técnica do time, o Guarani chegou a ponto de ter depósitos do esquema PC Farias em suas contas. São resquícios dos 11 anos (1988 a 1999) de administração de Beto Zini, indiciado pela CPI do Narcotráfico por lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e receptação de carga roubada. Algumas das confusões chegam a ser caricatas. No final de 2005, o presidente José Luiz Lourencetti acertou uma parceria com o italiano Nino Nicoletti, suposto representante da empresa Turbo System, que investiria US$ 48 milhões no Guarani. O clube sonhou com um rápido renascimento. Contratou o técnico Toninho Cerezo e Zé Elias para a disputa do Campeonato Paulista. Porém, descobriu-se depois que o tal investidor, na verdade, era o brasileiro José Loria Nicoletti, que responde processo por estelionato. Os cheques emitidos pelo “empresário” não tinham fundos. É inegável que todos esses problemas tiveram reflexo em campo. O time chegou a perder pontos na Série B por dívida. Em 2004, o Samsunspor, da Turquia, tentou contratar o lateral Gílson. A transação não se concretizou, e o Guarani deveria ressarcir a equipe turca num valor equivalente a R$ 9 mil, pelas despesas com a negociação. O valor não foi pago, e a Fifa determinou a retirada de três pontos dos campineiros. O Guarani já quitou a dívida e agora tenta recuperar os pontos. Para obter recursos sem esbarrar nas determinações judiciais, a diretoria decidiu instalar urnas em volta do Brinco de Ouro, para o torcedor depositar uma doação em dinheiro. No primeiro jogo, contra o Vila Nova, foram arrecadados R$ 3 mil. O valor cresceu para R$ 8,8 mil, contra o Coritiba, e R$ 11,5 mil, contra o São Raimundo. As urnas não são os únicos meios pelos quais a torcida tem ajudado. Em agosto de 2006, foi criada a Amigos Desportistas de Campinas Associados, uma espécie de ONG voltada a ajudar o Guarani a se reerguer. O projeto não pretende colaborar financeiramente o clube, mas sim doar serviços ou produtos de que o Bugre precise para se manter. Outubro de 2006

lusa.indd 5

59

9/22/06 9:25:59 PM


Negócios, por Carlos Eduardo Freitas cada vez mais freqüente a imagem de jogadores que atuam no exterior – algumas vezes até estrangeiros, como o caso do português Abel Xavier – se tratando de contusões aqui no Brasil. O destino de todos eles é um só: o Reffis (abreviação para Reabilitação Esportiva, Fisioterápica e Fisiológica), do São Paulo Futebol Clube. Entre os que passaram por lá recentemente estão Luizão, Amoroso, Ricardo Oliveira, Cafu, Zé Roberto e Roque Júnior. Dessa lista, os três primeiros acabaram jogando no São Paulo depois de terminado o tratamento. Em geral, o discurso é o mesmo: gostaram do que viram, da maneira como foram tratados e permaneceram no clube por terem uma “dívida de gratidão” com o Tricolor. A política de manter as portas abertas para jogadores que queiram se tratar lá, a custo zero, tem ajudado bastante. No entanto, o objetivo principal do Reffis não é possibilitar a contratação de jogadores pelo São Paulo, mas sim ajudar no trabalho de prevenção, avaliação e recuperação de lesões de atletas do próprio clube. Quando voltou a trabalhar no Tricolor, em 2003, o fisioterapeuta Luiz Alberto Rosan, o mesmo da Seleção Brasileira, constatou que a estrutura à disposição no centro de treinamento não condizia com as necessidades de uma equipe de vanguarda no futebol brasileiro. Rosan apresentou o projeto à diretoria, que achou o valor inviável. Depois de conversar com empresas como a Life Fitness, especializada na produção de equipamentos de alto nível para a preparação física e diagnóstico de lesões, o fisioterapeuta conseguiu que o projeto saísse de graça para o São Paulo. “Com jogadores que valem milhões de euros, você precisa ter recursos condizentes para que, quando estiverem lesionados, possamos recuperá-los o mais rápido possível”, explica Rosan. Antes de cada temporada, o elenco do São Paulo passa por avaliações detalhadas pela equipe de fisiologistas, médicos e fisioterapeutas, que determina o que cada um tem de aperfeiçoar ao longo do ano para que lesões mais graves sejam evitadas. “Em 2005, quando conquistamos praticamente todos os títulos que disputamos, tivemos um número de lesões acima da média, mas, com nosso trabalho, conseguimos diminuir a quantidade de problemas mais graves”, diz o fisioterapeuta.

É

Propaganda nada enganosa

Investimento em centros de fisioterapia traz retorno dentro e fora de campo para o São Paulo

Reffis: utilizado no tratamento dos jogadores do São Paulo (à esq.) e na recuperação de outros que nunca vestiram a camisa do clube, como Roque Júnior (acima)

Brasil na vanguarda Mas por que jogadores vêm da Europa para se tratar no São Paulo? Segundo Rosan, a fisioterapia esportiva brasileira está muito à frente da praticada nos

60

negócios.indd 2

Outubro de 2006

9/22/06 2:56:56 AM


€ 135 MILHÕES DE LUCRO COM A COPA Se alguém duvidava que, depois de tantos bilhões em investimentos, a Copa do Mundo de 2006 pudesse gerar lucro, os números divulgados pelo comitê organizador mostram que os pessimistas se enganaram. Segundo Theo Zwanziger, presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB), a competição rendeu € 135 milhões, antes da dedução dos impostos. No final, € 40,8 milhões ficarão com a Fifa e outros € 56,6 milhões serão divididos entre a DFB e a Liga Alemã.

Fotos Carlos Eduardo Freitas/Trivela

ATÉ A MORTE

“É por isso que não cobramos. Nós acabamos tendo vantagem no contato com o atleta – sem falar que serve também como marketing para o São Paulo”, afirma Rosan. “E não é propaganda enganosa”, atesta Roque. Após três anos de Reffis, o fisioterapeuta do clube do Morumbi se diz satisfeito com o resultado de seu projeto. Ele enche a boca para dizer que sua cria é hoje o segundo melhor produto do clube, depois do time de futebol – mais ainda por saber que outras equipes, entre elas Palmeiras e Santos, seguem o mesmo caminho. “Fico contente porque, de alguma maneira, contribuí para isso”, diz. Quem comemora mais ainda é Augusto Anzelotti, diretor geral no Brasil da Life Fitness, empresa que cedeu os aparelhos da sala do Reffis para o São Paulo a custo zero. Com a exposição que sua marca teve na mídia, vendeu equipamentos para os centros de fisioterapia de diversos clubes em todo o país. “Além do São Paulo, Vasco, Santos e Grêmio, entre outros, têm nossos aparelhos. Não acho que seja coincidência que os quatro estejam nas primeiras colocações do Campeonato Brasileiro”.

FLY EMIRATES OU DUBAI?

notas

principais centros europeus. “Por lá, eles usam mais massagem. O atleta se lesiona, fica afastado um tempão e fica tudo numa boa, só com 15 minutos de massagem”, afirma o fisioterapeuta. Roque Júnior, ex-jogador do Palmeiras, atualmente no Bayer Leverkusen, confirma a versão de Rosan. O zagueiro fala com conhecimento de causa, pois já defendeu o Milan, clube que tem aquele que é considerado o mais moderno centro de preparação física e prevenção de contusões da Europa, e esteve no Reffis entre julho e setembro deste ano para se recuperar de uma lesão no tendão de Aquiles. “Alguns clubes, como o Milan, estão no primeiro escalão, mas aqui no São Paulo o diagnóstico é mais rápido e o tratamento também. Como o que o atleta quer é voltar a jogar, acaba vindo para cá”, afirma. Além de elogiar a estrutura e a forma como foi recebido, o zagueiro diz se sentir em casa no centro de treinamento do São Paulo, clube que nunca defendeu. Roque afirma que isso pesa bastante na hora em que um jogador que se tratou lá tem à frente a possibilidade de vestir a camisa tricolor. ”Se um dia houver uma proposta, entre outras, o São Paulo leva vantagem”.

Torcedores de Hamburg e Boca Juniors podem dar novo sentido para a frase “sigo meu time até morrer”. Os dois clubes decidiram investir em cemitérios exclusivos para seus fãs. O time argentino já inaugurou o seu, em um espaço dentro de um cemitério nos arredores de Buenos Aires, com capacidade para 3,5 mil túmulos. Os planos do clube alemão são mais modestos: construir, perto da AOL Arena, um local destinado a cerca de 200 pessoas.

Quem acompanhou a vitória do Arsenal sobre o Hamburg, na primeira fase da Liga dos Campeões, deve ter estranhado o fato de o clube inglês ter jogado sem o slogan “Fly Emirates” estampado em sua camisa. No lugar, estava escrito apenas “Dubai”. O motivo é simples. A companhia aérea é também a patrocinadora do clube alemão, que, nessa partida, ostentou o logo da empresa. Como a Uefa proíbe que duas equipes tenham o mesmo patrocinador em torneios continentais, os dois clubes combinaram uma troca. Na partida em Londres, será a vez de os alemães jogarem com o nome da cidade em sua camisa. Outubro de 2006

negócios.indd 3

61

9/22/06 2:57:04 AM


Cadeira cativa, por Paulo César Martin

A descoberta do

sentimento boêmio Dezembro de 1989. Férias em Buenos Aires. Uma olhada no jornal de domingo para se inteirar. Os grandes argentinos estão descansando. Não ver um jogo lá seria a humilhação. Restava a definição do Torneo Primera B Metropolitana. Traduzindo: segunda divisão. Jogo: Atlanta x Almagro. É esse mesmo!

O

62

cativa.indd 2

quecível da torcida azul e amarela do Atlanta: “Vamos, vamos, vamos, los bohe... Vamos los bohemios, vamos a ganar! Que esta hinchada loca, la vuelta quiere dar”. Torcedores chorando, gente pulando abraçada... Boêmios? De onde vem o apelido? Mais uma pergunta para o senhor grisalho: o Atlanta foi fundado em 1904 e, no seu começo, não tinha um campo próprio para jogar. Por isso, mandava partidas em vários estádios diferentes. Essa peregrinação gerou o apelido “boêmios”. Hora do jogo. “A jogar pela vida”, como dizem os argentinos. A torcida empurra o Atlanta de maneira apaixonada. Não existe intervalo entre os cantos. Foram 90 minutos sem parar. Nem no meio-tempo teve refresco... No final, vitória do Atlanta por 3 a 0. Um massacre. E muita festa em Villa Crespo. Mas dos radinhos chegavam informações ruins: o Laferrere e o Estudiantes também tinham ganho seus jogos e superaram o Atlanta no saldo de gols. Tristeza? Nada. A força que o argentino tira na derrota é um exemplo para as exigentes torcidas brasileiras, que costumam vaiar e até gritar olé contra o próprio clube, para “protestar” (como se isso resolvesse alguma coisa). A saída do estádio foi comovente: cantos de amor ao clube e ao bairro. O time ainda teria uma chance num decagonal (isso mesmo!) que classificaria um clube à fase final do campeonato. Depois, essa oportunidade também foi desperdiçada. Não importa. O recomeço nunca é difícil para um clube argentino. A prova do Club Atlético Atlanta serviu para toda a vida. Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

ATLANTA 3 ALMAGRO 0

ficha

jogo seria no estádio do Atlanta, em Villa Crespo, pertinho do cemitério de Chacarita (onde Carlos Gardel e Juan Perón estão enterrados). Uma informação aqui, outra ali. O ônibus que leva à cancha é “aquele lá”. Com a cultura adquirida em São Paulo, onde campeonatos de segunda divisão são esvaziados pelo desinteresse de grande parte da mídia e os estádios estão invariavelmente às moscas, o esperado era chegar no campo do Atlanta e encontrar um cenário parecido. Já próximo do estádio começa a surpresa: a relação do argentino com seu clube de coração vai muito além do ato de torcer. Existe, acima da veneração aos jogadores, o amor pela instituição, pelo bairro, pelas cores do clube. O lugar estava abarrotado, com gente indo em direção ao estádio e cantando sem parar. Havia um clima de tensão com a chegada da torcida do Almagro. Restam apenas ingressos para as “populares”, atrás do gol, sem opção de escolha. O estádio de Villa Crespo (que hoje se chama Don Leon Kolbovsky) tem capacidade para 34 mil pessoas, mas as arquibancadas de madeira atrás de uma das metas estavam interditadas, devido a um incêndio num jogo anterior. Como descobrir a importância daquele jogo? O que se disputava ali? O faro não falha: peça informação para um senhor grisalho. Veio o boletim completo: o Atlanta disputava uma vaga num octogonal final. Fazia uma campanha estranha nos últimos jogos. Tinha perdido quatro partidas de goleada como local, mas havia vencido cinco seguidas como visitante. E, naquele domingo, precisava derrotar o Almagro por uma boa diferença de gols para buscar a sonhada vaga. A 15 minutos do jogo, começou uma festa ines-

Competição: Torneo 1ª B Metropolitana (segunda divisão) Data: 17/dezembro/1989 Estádio: Villa Crespo (Buenos Aires, Argentina)

Outubro de 2006

9/22/06 2:46:46 AM


E se..., por Ubiratan Leal

...a Alemanha Oriental não tivesse acabado? história oficial registra que 3 de outubro de 1990 marca o fim da Alemanha Oriental e a unificação com a Ocidental. Mas todos sabem que a comemoração é apenas simbólica, por significar a permissão para que as populações dos dois países visitem o país vizinho. A Alemanha Oriental não deixou de existir, apenas se democratizou, adotou o capitalismo e remodelou seu futebol. O novo capitalismo do país tinha fortes traços de nacionalismo e produziu uma geração de milionários com fortunas de origem nebulosa. Os principais eram Ulf Thom, dono de um site de apostas, e Olaf Wosz, empresário da construção que se beneficiou de contratos com o governo e que tinha conexões com um empresário anglo-iraquiano que investia em um grande clube de São Paulo. Com seus mecenas, os clubes da Alemanha Oriental começaram a se reforçar. Cumprindo uma promessa, Thom levou para o Union Berlin os jogadores mais cobiçados no mercado, como Vagner Passion e Luis Flaviano. Wosz não ficou atrás e comprou Maullack e Tchevtchenko para o Dynamo Dresden. Em menor grau, o mesmo processo ocorrera com Magdeburg, Hansa Rostock, Lokomotive Leipzig e RotWeiss Erfurt. A Verbandsliga logo ganhou projeção como o campeonato nacional mais rico da Europa. O Union Berlin conquistou duas Ligas dos Campeões, sendo que bateu o Dynamo Dresden na final de uma, deixando para trás os decadentes espanhóis, italianos e ingleses. Era um novo Eldorado, com

A

A cada edição, imaginamos como seria o mundo do futebol se, no passado, alguma coisa tivesse acontecido diferente. Você tem sugestões de temas para esta seção? Mande um e-mail para contato@trivela.com

sotaque alemão e jeito de máfia russa. O passo seguinte era conquistar a Copa do Mundo. E nada mais delicioso para os alemães-orientais do que tirá-la dos vizinhos. Thom e Wosz assinaram, em Varsóvia, um acordo de milionários do Leste Europeu para combater o G-14. Os alemães-ocidentais, que já haviam apresentado candidatura, consideraram a criação do chamado “Pacto de Varsóvia” uma provocação e romperam com seus membros. O favoritismo era dos ocidentais, até que o lado oriental apresentou uma cartada decisiva dias antes da votação: convenceu Beckenfrauer, maior ídolo da Alemanha Ocidental, a apoiar a candidatura da rival. Foi o suficiente para levar à escolha, por um voto, do lado oriental como sede da Copa de 2006.

O lema da competição era “O futebol vai para o oriente”. O “Pacto de Varsóvia” controlou todo o evento. Os favoritos Brasil, Inglaterra e Alemanha Ocidental foram prejudicados pela arbitragem e não passaram das quartas-de-final. Em entrevista polêmica, o russo Renan Avrabomich, líder do grupo de empresários, disse que era apenas compensação pelo que a União Soviética fora roubada no passado. Rússia e Alemanha Oriental se encontraram na final, em Berlim. Avrabomich fez questão de conversar com o árbitro argentino Xavier Gastrilli, antes da partida. Thom também. Com medo de represálias, Gastrilli fugiu do estádio sem que ninguém percebesse, e o título teve de ser dividido. Foi a glória definitiva da Alemanha Oriental, país que indicava a nova ordem do futebol mundial. Outubro de 2006

e se.indd 3

63

9/22/06 7:35:14 AM


Cultura, por Carlos Eduardo Freitas

Lego

Fotos Divulgação

O Milagre de Como comprar Como nenhum dos dois filmes foi lançado no mercado brasileiro, quem quiser uma cópia tem de recorrer à Internet. Os DVDs de “Die Helden von Bern” (nesta página) e “Helden’06” (à dir.) podem ser pedidos direto pelo website da distribuidora KurtsFilme (www.kurtsfilme.de) ou pela versão alemã da Amazon (www.amazon.de). Cada um custa entre € 6,99 e € 9,99, mais taxa de envio.

enhum evento fascina tanto o imaginário esportivo dos alemães quanto a final da Copa do Mundo de 1954, quando o time de Sepp Herberger bateu a temida Hungria de Puskas por 3 a 2, em Berna. Obras relacionadas ao “Milagre de Berna” são presença comum nas seções de livros ou filmes sobre futebol das lojas alemãs. Engana-se, porém, quem pensa que o assunto já foi explorado de todas as maneiras possíveis e imagináveis. A prova disso é o curta-metragem “Die Helden von Bern” (Os Heróis de Berna), de Florian Plag, Martin Seibert e Ingo Steidl. O filme, de 2002, é o trabalho de conclusão do curso de Cinema dos três, na Universidade de Offenburg. Nos quase 11 minutos de duração do curta, os três reproduzem, com a animação de pecinhas de Lego, os melhores momentos do jogo entre alemães e húngaros. Tudo isso com a narração original de Herbert Zimmermann, o mais famoso narrador de futebol da história da Alemanha, retratado no filme “O Milagre de Berna”. Foi a partir de uma fita com essa narração

N

64

cultura.indd 2

que surgiu a idéia de fazer o filme. “Alguém largou uma cópia no ônibus em que Florian Plag ia para a escola e, quando ouvimos o que tinha nela, começamos a desenvolver a idéia”, conta Martin Seibert, um dos diretores, à Trivela. No total, o que se vê nos 11 minutos levou cerca de 10 semanas para ser feito, entre filmagem e pós-produção. “O mais difícil foi fazer as cenas que envolviam muitos bonequinhos. Demora um tempão para dar movimento a todos os braços e pernas”, relembra Ingo Steidl, que aponta a cena que retrata a “ola” nas arquibancadas como a mais trabalhosa. O que mais chama a atenção no filme é como os três diretores conseguiram reproduzir com fidelidade as cenas do jogo. Impressiona ainda mais ao se tomar conhecimento que nenhum deles jamais havia assistido à partida. “Tudo o que tínhamos para reconstruir as cenas eram as descrições verbais de Zimmermann e algumas fotos que encontramos na Internet”, afirma Steidl. Ver o filme de Lego logo após assistir às imagens originais da partida mostra como foi bem feito o trabalho do trio. Outro cuidado que os três diretores to-

Os filmes

Die Helden von Bern Alemanha, 2002 Direção: Florian Plag, Martin Seibert e Ingo Steidl

Helden’06 Alemanha, 2006 Direção: Florian Plag, Martin Seibert, Ingo Steidl e Daniel Müller

Outubro de 2006

9/22/06 2:49:49 AM


Nonononon onononono/NOONNO

PARA OS FIÉIS ESCUDEIROS Os amantes de distintivos de clubes já têm sua obra de referência. “Escudos dos Times do Mundo Inteiro”, de Rodolfo Rodrigues, foi elaborado justamente com esse propósito. Para isso, reuniu 2,5 mil escudinhos de todo mundo, incluindo federações nacionais e estaduais, clubes na ativa e extintos. Há até distintivos antigos, já substituídos por versões mais modernas. As imagens têm boa qualidade de impressão e estão bem organizadas, o que facilita a consulta ou uma folheada despretensiosa em busca de desenhos inusitados ou curiosos. A edição só poderia deixar mais claro alguns critérios, para explicar por que tem, por exemplo, mais equipes do Canadá do que de Croácia e Dinamarca.

“Escudos dos Times do Mundo Inteiro” Autor: Rodolfo Rodrigues Editora: Panda Books Preço sugerido: R$ 35,90

Sucesso inesperado Apesar da primeira reação um pouco fria por parte da banca examinadora, o trabalho recebeu nota máxima e iniciou um caminho muito além do mundo acadêmico. “Die Helden von Bern” participou de festivais de curtas por toda a Alemanha e chegou a ser exibido no circuito comercial. Maravilhada com o resultado, a Lego entrou em contato com os diretores para produzir “Helden’06”. A companhia ofereceu 40 quilos de pecinhas aos diretores, e uma empresa de tecnologia cedeu um galpão para que as filmagens fossem realizadas. “É a nossa versão para a final da Copa do Mundo de 2006. Como não sabíamos quem poderia enfrentar a Alemanha na decisão, resolvemos montar uma seleção de astros com a elite do futebol mundial”, explica Florian Plag.

Comparado com o filme da final de 1954, “Helden’06” é uma superprodução. As tomadas de câmera são mais ousadas, a fotografia é melhor e há um cuidado muito maior com pequenos detalhes – sem falar na melhor caracterização dos personagens, que permite a identificação de cada um dos jogadores, graças à variedade de cabelos e uniformes das pecinhas. As filmagens duraram as mesmas dez semanas do primeiro filme, mas desta vez a fase de pós-produção rendeu pouco mais de cinco meses à frente dos computadores. “Nunca pensamos que os detalhes fossem nos dar tanto trabalho”, conta Seibert. Para ajudar na criação, os diretores ganharam o reforço de Daniel Müller, descrito por eles como “um especialista em tática”. O curta estreou no circuito comercial pouco antes da Copa de 2006 e foi um sucesso de público e crítica. A história do filme, com a Alemanha campeã, ficou só na fantasia dos diretores. Mas isso não tira a graça de ver a versão Lego de Podolski marcar um gol de bicicleta, com direito a efeito no estilo “Matrix”.

ESCOLHA DOS TORCEDORES

lançamentos

maram foi com a aparência dos personagens. Usando os recursos que o Lego oferece – cabelos diferentes, barba, bigode, etc. –, conseguiram fazer com que alguns dos jogadores sejam reconhecidos em sua versão de cara amarela.

O Palmeiras estreou, na vitória contra o São Caetano, seu uniforme nº 3, com predominância da cor prata. A escolha não segue as tradições palmeirenses, mas foi definida pelos próprios torcedores, que deixaram mais de 45 mil votos no site oficial do clube (as outras opções eram em branco ou azul). A iniciativa segue uma tendência internacional de marketing, com a criação de novos produtos para os clubes aumentarem seu faturamento com a venda de artigos licenciados. Ainda não foi definido em que partidas a nova camisa será usada, mas a diretoria diz que, nos clássicos, o time vestirá o uniforme tradicional.

Camisa nº 3 do Palmeiras Fabricante: Adidas Preço sugerido: R$ 139,90

Outubro de 2006

cultura.indd 3

65

9/22/06 2:50:02 AM


A Várzea

Nossos 10 para 2010

A frase do mês “Miroslav Klose tem uma arrancada muito boa, mas hoje ele teve Bordon pela frente” Parece que a intenção de Fabian Ernst era elogiar o artilheiro da Copa. Mas não deu certo. Campeonato Alemão é isso aí...

A manchete do mês

A charge do mês

Muita gente pensa que A Várzea tem amplas e ótimas relações com esse pessoalzinho da revista Trivela e do site Trivela.com, mas isso não pode estar mais longe da verdade. Quer dizer, a gente até gostava dos caras, mas não dá para levar a sério uma revista que faz uma lista de dez qualquer coisa sem consultar A Várzea. Ainda mais sabendo que estamos logo ali, no quartinho das vassouras do subsolo da imponente torre de vidro onde funciona a redação deles. Ainda mais se estamos falando de dez talentos para o futuro, nossa especialidade desde que revelamos para o mundo craques como Altuir, Cornélio e Valadares, na década de 80. Vai falar que você não lembra desses caras? Como não somos de nos sentir inferiorizados e não gostamos de levar desaforo para casa, aproveitamos que a última palavra, ou melhor, página, é nossa, e vamos apresentar a nossa relação de 10 novidades para 2010. E, se necessário, para 2014, também. Tudo começa, é claro, com o grande Felipe Adão, craque e filho de craque. Leandro Amaral, um injustiçado, e Rafael Moura podem compor o setor ultra-ofensivo a seu lado. Para o meio, não há muitas dúvidas: o combativo Cléber Santana tem vaga, assim como o habilidoso Marcinho Guerreiro. O toque de categoria seria dado pelo estável Tcheco, que arrebentou em todos os clubes por onde passou. Ah, e, é claro, completado por Fffffellyyyiippyyy Camily Victoria G@briel. No setor mais defensivo, A Várzea faz como mestre Telê e põe os melhores em campo, mesmo que eles joguem todos na mesma posição: Gabriel – outro craque e filho de craque – e Souza. Sim, um que deixou saudades por onde passou, e um que dá saudades até do Gabriel. Faltaria um, mas A Várzea, preguiç... ou melhor, democrática que é, vai deixar o leitor escolher o seu camisa 10. Você não achou que nós íamos sugerir de naturalizar o Pet, né? Não, isso nem A Várzea proporia.

Em alta Dunga

Muita gente detonou quando o “capitão do tetra” assumiu o comando da Seleção. Foi só ganhar por 3 a 0 da Argentina para virar queridinho.

“Técnico Cuca coloca atacante no Fogão” (Pelé.Net) Uma pena que o atacante em questão não era Jefferson Feijão – e que o jogo não seria contra o Flamengo, de Rodrigo Arroz.

Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

66

várzea.indd 2

Fenerbahçe Gastou uma fortuna em reforços para comemorar seu centenário na Liga dos Campeões e caiu na fase preliminar, eliminado pelo Dynamo Kiev.

Outubro de 2006

9/21/06 11:41:30 PM


4195.0138

Coleção

Pênalti do Ronaldinho

Produtos Oficiais do Ronaldinho Gaúcho ® Licenciados por Fama Marketing & Licensing Ltda

lp3design

O Pênalti do Ronaldinho é um jogo de futebol virtual, com sensor de movimentos infra-vermelho. É só plugar na TV e marcar muitos gols!

Boneco do Ronaldinho O jogador eleito duas vezes como o melhor do mundo pela FIFA, agora em uma versão colecionável! *Boneco não pára em pé sozinho.

Super Futebol Ronaldinho Gaúcho Super Futebol é um jogo de botão completo, em uma embalagem digna de um campeão. Acompanha 2 times, 2 gols, palhetas e bolas.

Jogo Feras da Copa Mostre que você sabe tudo sobre as Copas! Você sabia que 17 jogadores saíram machucados do jogo conhecido como "Batalha de Bordeaux", na Copa de 1938? Responda as perguntas e conquiste as taças.

Conheça outros produtos no nosso site: www.estrela.com.br

anuncios.indd 1

9/22/06 3:01:18 AM


A CADA MINUTO A USS FAZ 3 ASSISTÊNCIAS Já pensou se o seu time tivesse a mesma média? Esta é a USS Com 13 anos de mercado, 1.400 funcionários e 36.000 prestadores de serviço cadastrados, a USS tem 14 milhões de usuários em sua base de dados. Conta com produtos e serviços diferenciados, alinhados às estratégias e necessidades de seus clientes Ao todo são mais de 1 milhão e trezentas mil assistências prestadas anualmente em todo o mundo ou 109.000 assistências todo mês Saiba mais em www.uss.com.br

USS-assistência.indd 1

9/22/06 5:14:33 AM


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.