Trivela 09 (nov/06)

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nº 9 | nov/06 | R$ 7,90

FLAMENGO Exclusivo: Zico relembra o Mundial de 1981

AMOROSO “Garotada não ouve os mais velhos no Corinthians”

• Copa do Mundo “B” • O brasileiro do Chelsea • Taddei • Istambul • Mauro Beting

editora

P O O L

nº 9 | nov/06 | R$ 7,90

E MAIS...

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Por que não temos

outros Felipões Dirigentes e técnicos assumem sua parte da culpa pela falta de treinadores de ponta no Brasil

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índice

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Entrevista: Amoroso fala à Trivela sobre São Paulo, Milan e crise corintiana Técnicos brasileiros: Tentamos explicar porque não há técnicos “top” no país Barras brasileiras: Torcedores encontram uma nova maneira de torcer História: Há 25 anos, o Flamengo de Zico conquistava o mundo no Japão Entrevista: Baltemar de Brito, a sombra brasileira de José Mourinho Viva World Cup: Equipes não filiadas à Fifa disputam seu próprio Mundial

Andy Rain/EFE

Entrevista: Apenas mais um no Palmeiras, Taddei vira destaque na Roma Jogo do mês Curtas Opinião Peneira Tática Montenegro Libéria x Ruanda Capitais do futebol Embaixadas Arsenal de Sabará Negócios Cadeira cativa E se...

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Cultura A Várzea

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editorial Enxergar para consertar Quando era técnico do Brasil, Parreira viajou à Europa para assistir a algumas partidas. Na volta, vaticinou: “Nossos treinadores estão no mesmo nível dos de lá”. Poucos meses depois, Vanderlei Luxemburgo virou técnico do Real Madrid, só para fracassar redondamente. Passados mais alguns meses, com a demissão de Parreira, a CBF se viu obrigada a indicar um novato para dirigir a Seleção. Mesmo assim, poucos se fazem a necessária pergunta: por que não temos técnicos de ponta no Brasil? Assume-se que há uma meia-dúzia de bons nomes, que mudam a cada campeonato, mas os critérios para entrar no grupo não são claros. Disfarça-se, assim, um problema sério, que precisa ser enfrentado. O Brasil tem pouquíssimos técnicos de bom nível por causa da instabilidade dos clubes e da falta de preparo dos profissionais. Jogada uma luz sobre o assunto, cabe aos envolvidos tomar uma atitude. Ou indicar outro novato para a Seleção em 2010.

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Editor Caio Maia Reportagem Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Ricardo Espina Tomaz Rodrigo Alves Ubiratan Leal Colaboradores Gustavo Hofman João Tiago Picoli Juan Saavedra Marcio Kohara Mauro Beting Zeca Marques Agradecimentos Bruno Neves Thomas Hennecke Zico Foto da capa Jerry Lampen/Reuters Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold (looks@uol.com.br) Diagramação e tratamento de imagem s.t.a.r.t. (start.design@gmail.com) Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 4208-8213 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 4208-8205 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Pool Editora pooleditora@lmx.com.br (11) 3865-4949 Circulação LM&X - Alessandra Machado (Lelê) lele@lmx.com.br (11) 3865-4949 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Plural Editora e Gráfica Tiragem 30.000 exemplares

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Albert Olivé/EFE

Jogo do mês, por Ubiratan Leal

Proibido para madrilenos Catalunha e País Basco se enfrentam pela primeira vez em 25 anos e política predomina sobre futebol

A

mo, para o mundo compreender. O duelo, que não ocorria desde 1971, foi organizado pelas federações de futebol das duas regiões, com o apoio oficial de seus parlamentos. O lema foi “Uma nação, uma seleção”, forma de pleitear mais independência esportiva para ambos lados. A lógica é que, se Catalunha e País Basco já têm idioma e parlamentos próprios, não haveria motivo para estarem subordinados à Espanha no futebol. Tecnicamente, a partida não foi das mais interessantes, embora tenha sido agitada. Mesmo jogando fora de casa, os bascos, com menos desfalques, começaram melhor e foram para o vestiário com 1 a 0 no placar. Aos 20 do segundo tempo, chegaram ao 2 a 0, mas, quatro minutos depois, a Catalunha diminuiu e, a cinco minutos do fim, conseguiu o empate. No dia seguinte à partida, a imprensa de Barcelona tratou o encontro como um momento glorioso da causa catalã, enfoque semelhante ao dado pelos bascos. O público de 56.354 pagantes foi o terceiro maior da Europa no fim de semana, evidência do apoio popular à independência das duas seleções. Enquanto isso, os madrilenos procuraram tratar o jogo como “traição à pátria” e acusar os espectadores de promover a xenofobia e de defender o ETA (grupo terrorista basco). Sobre o futebol jogado, pouco se comentou.

CATALUNHA 2 PAÍS BASCO 2 Data: 8/outubro/2006 Local: Camp Nou (Barcelona) Público: 56.354 pagantes Árbitro: Lizondo Cortés (ESP) Gols: Aduriz (20min), Llorente (64min), Verdù (68min) e Luque (84min) Cartão amarelo: López Rekarte CATALUNHA Valdés (Jorquera); Curro Torres, Oleguer, Lopo (Berenguer) e Navarro (Dani Fernández); Roger, Gerard (Jordi López), Sergio (Verdú) e Soriano (Serrano); Corominas (Pinilla) e Luque. Técnico: Pere Gratacós

ficha

Espanha raramente joga na Catalunha. Desde 1982, quando se consolidou a democracia pós-Franco, o time principal da “Fúria” só atuou em Barcelona quatro vezes – as três últimas no estádio Olímpico de Montjuic. Ou seja, mais raro ainda é a Espanha jogar no Camp Nou: desde 1987, quando empatou com a Holanda por 1 a 1, a equipe não atua no campo do Barça. Já em Bilbao, no País Basco, simplesmente não há jogos da Espanha desde 1967. Em comum entre as duas comunidades autônomas, além da distância da seleção, há o fato de que são as duas únicas do país em que os partidos políticos regionais sempre têm mais votos do que os nacionais. O Camp Nou com mais de 50 mil pessoas para uma partida entre as “seleções nacionais” da Catalunha e do País Basco, como aconteceu no início de outubro, é, portanto, algo que tem mais a ver com política do que com futebol – até porque os dois times estavam desfalcados de jogadores que, no dia anterior, haviam defendido a Espanha nas eliminatórias da Euro-2008, como os catalães Puyol e Xavi e o basco Xabi Alonso. Os times entraram em campo com mensagens em favor dos direitos nacionais do adversário, e os torcedores estenderam uma enorme faixa que dizia: “Catalonia is not Spain” – em inglês mes-

PAÍS BASCO Riesgo (Lafuente); López Rekarte (Murillo), Ocio (Cruchaga), Labaka e Casas; Orbaiz (Garitano), Mendieta, Muñoz (Aramburu) e Aduriz (Llorente), Uranga (Mikel Alonso) e Gabilondo (Tiko (Doñabeitia)). Técnicos: José Angel Iribar e Mikel Etxarri

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Divulgação

Curtas

NADA DE CHEIRAR O SAPATO José Róbson do Nascimento, o Robgol, foi eleito deputado estadual pelo PTB-PA com 33,4 mil votos. O apoio que o atacante – atualmente sem clube – recebeu foi tão grande que, quando a reportagem da Trivela o procurou para realizar uma entrevista, ele não podia atender. Estava em reunião com o governador Almir Gabriel e com Duciomar Costa, prefeito de Belém, que queriam o apoio do jogador para a disputa entre Gabriel e a petista Ana Júlia no segundo turno. Aliança acertada, Robgol finalmente conversou com a revista sobre seus projetos na nova carreira. Quais são seus planos como deputado estadual? Vou levantar a bandeira do esporte. Pretendo incorporar o esporte nas escolas como meio de tirar as crianças da rua. Vou trabalhar por isso, sem pensar em favorecer Paysandu, Remo, Tuna Luso ou outros clubes. E qual será sua orientação básica nos projetos que não estão ligados ao esporte? Aí, é questão de conversar com o partido, para avaliar o que é melhor em cada situação. O que é mais difícil: desmarcar-se dos zagueiros adversários ou fazer corpo-a-corpo com o eleitor? Certamente, ir ao corpo-a-corpo com o eleitor. Você precisa acordar cedo e dormir tarde, o dia fica muito mais longo e cansativo. Você tinha o costume de repetir cueca e cheirar a chuteira em dia de jogo. Pretende fazer isso antes de votações importantes na Assembléia Legislativa? [risos] Não, não. Agora tem de encarar as coisas com seriedade. Não é preciso repetir a cueca, mas sim, arregaçar as mangas e trabalhar bastante.

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RENOVAÇÃO MODERADA Em setembro, a Trivela mostrou em reportagem o poder da chamada “bancada da bola”. Veja na relação abaixo o que aconteceu nas eleições com os parlamentares que tiveram algum envolvimento com questões ligadas ao futebol – tanto os que foram contra quanto os que foram a favor de CBF e clubes – ou receberam doações da CBF em eleições passadas. ELEITOS*

NÃO ELEITOS

Senador Álvaro Dias (PSDB-PR) Deputado federal Aldo Rebelo (PCdoB-SP), Alex Canziani (PTB-PR), Carlos Santana (PT-RJ), Ciro Nogueira (PP-PI), Darcísio Perondi (PMDB-RS), Deley (PSC-RJ), Dr. Rosinha (PT-PR), Gilmar Machado (PT-MG), José Rocha (PFL-BA), Jurandil Juarez (PMDB-AP), Rodrigo Maia (PFL-RJ), Sílvio Torres (PSDB-SP)

Presidente Luciano Bivar (PSL-PE) Governador Antero Paes de Barros (PSDB-MT), Delcídio Amaral (PT-MS), Leomar Quintanilha (PFL-TO) Senador Agnelo Queiroz (PCdoB-DF), Gilberto Mestrinho (PMDB-AM), Hugo Napoleão (PFL-PI) Deputado federal Delfim Netto (PMDB-SP), Eurico Miranda (PP-RJ), Fernando Gonçalves (PTB-RJ)**, Geraldo Althoff (PFL-SC), Marcus Vicente (PTB-ES), Paulo de Almeida (PDT-RJ), Pedro Canedo (PP-GO), Vicente Cascione (PTB-SP)

* Maguito Vilela disputaria o segundo turno da eleição após o fechamento desta edição ** Teve candidatura indeferida pelo TRE-RJ

LIGAÇÃO PERIGOSA

COMEMORAÇÃO INDEVIDA

Antes do clássico local contra o Rapid, um torcedor do Dínamo Bucareste, da Romênia, decidiu entrar na fila da torcida adversária para obter um bilhete – que não conseguira na fila reservada a torcedores de seu time. Estava tudo tranqüilo até alguém ligar para ele: a torcida do Rapid ficou bastante irritada ao ouvir o toque de um celular com o hino do Dínamo, e a polícia teve que agir rapidamente para evitar um problema grave.

O Estudiantes conseguia uma importante vitória fora de casa sobre o Lanús, por 2 a 0, quando a marcação do terceiro gol gerou um fato inusitado: um policial que estava em serviço no estádio comemorou o lance sem pudores. A torcida do time da casa se revoltou e passou a atirar objetos em sua direção, mas sem atingi-lo. Como punição, o policial-torcedor recebeu uma suspensão de dez dias.

frases “Você não joga mais comigo” “Quero ver você explicar isso para o homem lá em cima” Leão e Carlos Alberto discutiram feio durante o jogo contra o Lanús, na Argentina, pela Copa Sul-Americana, em mais um capítulo da interminável crise corintiana.

“O conselho que eu dou para o Tite é ele calar a boca e parar de criticar a arbitragem” Salvador Hugo Palaia, diretor de futebol do Palmeiras, mostra todo seu equilíbrio emocional antes de demitir o treinador.

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Rashad Sadygov (foto), um dos jogadores mais famosos do Azerbaijão, negociava com o Neftchi para retornar a seu país-natal, mas acabou impedido de atuar depois que a federação local estabeleceu a data de 20 de agosto como limite para a inscrição de atletas. Como fazia questão de voltar para casa e não queria defender a equipe de aspirantes, Sadygov resolveu jogar basquete. Em seu primeiro jogo pelo BK NTD, marcou 14 pontos.

ATÉ DE CARRO IREMOS Três torcedores do Zenit St. Petersburg dirigiram cerca de 15 mil quilômetros para acompanhar a equipe jogar contra o Luch-Energiya, em Vladivostok, no outro extremo da Rússia. Após a vitória do Zenit por 2 a 0, eles tiveram que voltar para São Petersburgo de trem, já que o carro, fabricado em 1986, não agüentou a longa viagem. Ao saber do sacrifício feito pelo grupo, os dirigentes do clube resolveram dar um carro novinho aos três. O presente vai ganhar as cores do clube – e participar de outras longas viagens.

erramos Na edição passada, na matéria “O lado B da Liga dos Campeões”, publicamos o escudo errado do Kobenhavn, que está no grupo F da competição. O correto é o que está ao lado.

cartas dos leitores Mande seus elogios, críticas, sugestões, dúvidas e opiniões sobre futebol para contato@trivela.com. A partir do próximo número, publicaremos na revista as mensagens mais interessantes

Aberdeen campeão da Recopa (1982/3)

2

Porto campeão, Monaco vice da LC (2003/4)

3

Göteborg e Dundee United finalistas da Copa Uefa (1986/7)

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Nottingham Forest bicampeão da LC (1978/9 e 1979/80)

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Steaua Bucareste campeão da LC (1985/6)

6

Dínamo Tblisi e Carl Zeiss Jena na final da Recopa (1980/1)

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Videoton vice-campeão da Copa Uefa (1984/5)

8

Dynamo Kiev semifinalista da LC (1998/9)

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Mechelen campeão da Recopa (1987/8)

10 zebras nas copas européias

Peter Andrews/Reuters

TROCANDO OS PÉS PELAS MÃOS

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Um time que não é nem um dos três maiores da Escócia ser campeão de uma competição internacional, por si só, já é incrível. Some-se a isso o fato de o Aberdeen ter derrotado o Bayern de Munique nas quartas e o Real Madrid na decisão, e temos a maior zebra da Europa. Quem era o técnico? Ninguém menos que Alex Ferguson.

Manchester United, Chelsea, Arsenal, Bayern, Real Madrid, Milan e Juventus desfilavam esquadrões milionários no mata-mata da Liga dos Campeões. Mas a decisão do torneio trouxe dois times de menor expressão: o Porto, de Deco e José Mourinho, e o Monaco.

É verdade que, à época, a Copa Uefa era apenas a terceira competição da Europa. Mesmo assim, o torneio dessa temporada contava com times como Barcelona, Inter e Torino. Por isso, ninguém esperava que a decisão contasse com um time da Suécia e um da Escócia.

O Forest tinha um técnico lendário, Brian Clough, e um grande goleiro, Peter Shilton. Daí a vencer duas vezes a maior competição européia vai um longo caminho. Para infelicidade de sua torcida, em 2005, o Forest atingiu outro recorde: é o único campeão europeu da história a jogar na terceira divisão de seu país.

Final da Liga dos Campeões. Em Sevilha, o Barcelona, de Schuster e Alesanco, enfrenta o Steaua Bucareste. E quem venceu? O time romeno, claro! Depois de um 0 a 0 no tempo regulamentar, os romenos ganharam a disputa de pênaltis por 2 a 0.

No papel, um duelo entre União Soviética e Alemanha daria uma grande final. Mas, na prática, estavam em campo um time da Geórgia e um da Alemanha Oriental - dois países que, somados, só têm dois títulos europeus.

Só quem é muito fanático por futebol europeu vai saber quem é esse time que perdeu para o Real Madrid na decisão da Copa Uefa, em 1985. Trata-se de um clube húngaro que, hoje, se chama Féhérvar – e que nunca foi campeão nacional.

O time ucraniano foi o último do leste europeu a ficar entre os quatro melhores da Liga dos Campeões. Para alcançar esse feito, a equipe, que contava com Andriy Shevchenko, eliminou o Arsenal na primeira fase e o Real Madrid nas quartas.

No final da década de 80, o Mechelen vivia seu apogeu. Mesmo assim, não se esperava que o time chegasse ao título da segunda competição de clubes da Europa – ainda mais enfrentando o Ajax na final. Hoje, o clube joga na Segundona belga.

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Widzew Lodz semifinalista da LC (1982/3)

Como se não bastasse ser apenas o oitavo maior campeão da Polônia, depois de 1983 a equipe só chegou ao topo da tabela nacional novamente uma vez. Ainda assim, o Widzew deixou o Liverpool, que seria campeão no ano seguinte, pelo caminho para chegar às semis da Copa dos Campeões.

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Opinião

Churrasco de treinador NA EDIÇÃO DE SETEMBRO da revista Trivela, PC

Mauro Beting

Gusmão foi um dos entrevistados. Como treinador do Cruzeiro, falava das chances de correr atrás do São Paulo e do Inter no BR-06. Não deu. Antes mesmo de você ler a reportagem, ele já estava no São Caetano. Enquanto escrevo, PC tenta juntar os cacos pela péssima campanha. Não mais a do Azulão. O mau desempenho agora é o do Fluminense – que afundou no segundo turno, junto com o São Caetano, que vive processo inexorável de “bragantinização” (de Bragantino, fera dos campos no início dos anos 90, celeiro de grandes treinadores iniciantes – Vanderlei Luxemburgo –, iniciados – Carlos Alberto Parreira –, e de boleiros como Mauro Silva, Alberto, Mazinho e boa companhia). Pelo desempenho do Fluminense neste momento, não sei mais onde estará PC enquanto você ler estas linhas. Temo ainda mais pelo lugar do Tricolor carioca por esta altura (baixura?) do Brasileirão. Isso não é novidade, pela celerada condução (sic) dos negócios do futebol do Fluminense – mais negócios que futebol, como muito mal sabemos. O problema não é só das Laranjeiras, até a grã-fina do não menos tricolor Nelson Rodrigues sabe. É de todas as cores. A única garantia que um treinador tem é a total falta de garantia. Seja ele presepeiro ou churrasqueiro, seja ele prático ou teórico, seja ele competente e rodado como o próprio PC, seja extremamente promissor como Mano Menezes ou Caio Júnior, ele vai sofrer da completa e complexa falta de identidade com o clube e o elenco. Um dos nossos maiores problemas em um futebol cada vez mais debilitado tecnicamente pela sanha do mercado internacional é o total desapreço em relação a nossos técnicos. Justamente quando os clubes mais deveriam apoiá-los, mais as costas e os bilhetes azuis são dados. Se não há jogadores de boa técnica, por que não privilegiar os profissionais bons técnicos? Mesmo que não sejam aquelas coisas (e muitos são ainda menos), com tempo (que não é dinheiro no futebol) eles podem ajeitar as equipes. O sucesso de Mano Menezes não se deve apenas à qualidade como técnico. Desde março de 2005 ele trabalha no Grêmio. E com elencos bem modestos para placares de cinema, que até filme rendem, e

A ÚNICA

GARANTIA QUE UM TREINADOR TEM É

A TOTAL FALTA DE

GARANTIA, SEJA ELE PRESEPEIRO OU

CHURRASQUEIRO, PRÁTICO OU TEÓRICO 8

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ótimos pontos também renderam. Um treinador mediano com um elenco do mesmo nível, desde que mantido, pode conseguir resultados acima da média. É só tentar. É só teimar. É só dar uma banana para as pressões iniciais pelos resultados. É só tentar catequizar a selvagem cobrança por placares da mídia imponderada e da média nada ponderada das arquibancadas. Só não é tão fácil como mandar o treinador embora a cada derrota “inexplicável”.

AMARCORD BR-00, a tal da Copa João Havelange. Semifinal, jogo de ida, o Vasco abre 2 a 0 no favorito Cruzeiro de Felipão, mas deixa empatar no final. No vestiário, o técnico Osvaldo de Oliveira discute com Eurico Miranda, que alterara a programação de treinos. Horas depois, Joel Santana assume o Vasco, três dias antes da finalíssima da Copa Mercosul, contra o Palmeiras, no Palestra Itália. Ele não muda muito o time, tecnicamente superior ao rival paulista. Mas, no intervalo, se pudesse, mudaria os 11. O Palmeiras fez 3 a 0 no primeiro tempo. Dois gols em apenas 43 segundos. Na saída para o intervalo, Joel responsabilizou os jogadores, numa entrevista que derrubaria quatro em três treinadores. No vestiário, não falou muito. Quem berrou foi Eurico, que degolara Osvaldo, quase melara o BR-00 e quase mandou o elenco para aquele lugar. A orientação de Joel para o time foi ajustar a defesa e, se possível, com sorte, evitar tomar mais gols. Administrar a derrota, enfim. Quarenta e oito minutos depois, com um jogador a menos, o Vasco de Romário, Juninho Paulista e Viola virou para 4 a 3. Eu nunca vira. Você também não. Talvez alguém veja virada parecida. Mas só num roteiro de ficção: numa final de campeonato, o vencedor saiu de um 0 a 3 para um 4 a 3 na casa do rival. Nunca use o termo “nunca” para uma partida de futebol. O Vasco, entregue, cansado, desarrumado, sem comando, voltou para o segundo tempo mais disposto e aguerrido. E ainda bagunçado, nervoso. Ainda assim ganhador da Mercosul, e de um lugar na história. Digno do time da virada. Menos de 72 horas depois, o Vasco teria de vencer o Cruzeiro, no Mineirão. Os jogadores nem se concentraram. Do aeroporto de Belo Horizonte foram direto para o estádio. Dele, para a história: 3 a 1 no Cruzeiro, e a decisão depois vencida contra o São Caetano. O treinador foi um detalhe. Eurico fez de tudo para o Vasco perder tudo e acabou ganhando tudo. Um manual de auto-atrapalha.

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Por trás da candidatura à Copa EM RELAÇÃO À POLÍTICA DO ESPORTE, Brasília tem

Ubiratan Leal

sua agenda ocupada para 2007. A nova legislatura e os novos governos (estaduais e federal) terão muito trabalho na definição dos detalhes da candidatura brasileira a sede da Copa do Mundo de 2014. Trata-se de um processo que a imprensa e a sociedade brasileiras têm de observar atentamente, sob o risco de ver o evento ser utilizado para aumentar o poder da cartolagem a níveis assustadores – isso sem falar no dinheiro que gira desde o processo de candidatura. Em teoria, o projeto Brasil-2014 ficará a cargo de um comitê, que pode ter Pelé como chefe, mas que será comandado, na prática, pela CBF. Assim, estará a cargo dos dirigentes esportivos definir as cidades e estádios que receberão a competição, ou seja, escolher para onde se destinarão turistas, atenção da mídia e, sobretudo, investimentos pesados em obras. Até a decisão de construir estádios novos ou reformar os atuais está ligada a essa relação de poder. Reformas agradariam aos proprietários dos atuais estádios – em geral, os governos estaduais. Erguer

novas arenas abre outras possibilidades, como negociar com prefeituras ou clubes. Os interesses da CBF estarão bem defendidos em Brasília. A “bancada da bola” tem grande capacidade de articulação, e boa parte de seus integrantes foi reeleita em 1º de outubro. Além disso, outras figuras importantes na sustentação parlamentar da cartolagem, como Renan Calheiros e Tasso Jereissati, têm mais quatro anos de mandato. O Executivo tem obrigação de gerenciar e fiscalizar esse processo, mas ele também tem seus interesses políticos. Basta dizer que os candidatos Lula e Geraldo Alckmin tinham claro em seus planos de governo o apoio à organização da Copa de 2014. A questão, a partir de agora, é saber até que ponto se permitirá que a CBF se utilize desse apoio em proveito não do futebol brasileiro ou da Copa em si, mas de interesses inconfessáveis da entidade e de seus dirigentes. Cabe ao governo, que destinará bilhões de reais em dinheiro público ao evento, impedir que isso aconteça. E à sociedade, pressioná-lo nesse sentido.

“Não deixam o Timão cair”

Caio Maia

“AH, NÃO ME PREOCUPO. Os caras não vão deixar o Timão cair”. Tenho ouvido essas frases em todo lugar, de corintianos de todos os tipos – do garçom do boteco ao diretor de empresa. “Os caras” é uma categoria meio difusa, que parece incluir personagens tão diferentes quanto a Globo, os patrocinadores, a CBF e os juízes. Nunca, entretanto, inclui os únicos caras que não deveriam deixar o Corinthians cair, ou seja, o técnico e os jogadores. Esse parece ser o tom geral adotado por pessoas que, em outros momentos, paradoxalmente, se identificam como “corintiano, maloqueiro e sofredor” – ou seja, como a parcela da população que, em geral, sofre as injustiças, e não como a que as comete. Vamos deixar de lado a crise moral por que passa o país, em que muitos parlamentares corruptos, em vez dede serem presos, são reeleitos pela população. É claro que a frase revela uma grande desconfiança nas instituições, que, em vez de agirem de acordo com a regra, tendem a obedecer interesses econômicos. Ela mostra também que o corintiano, que se iludiu com Excel, HMTF e, agora,

MSI, não sabe mais no que se agarrar. Em anos anteriores, quando a equipe chegava perto das últimas colocações, o discurso era, majoritariamente, outro – embora, é claro, sempre se falasse sobre as possíveis viradas de mesa. Valorizava-se a garra, a luta e tudo aquilo com que o torcedor do Timão mais se identificou historicamente. Sempre esperava-se por um “salvador da pátria”, mas, em geral, esse salvador era alguém que estivesse dentro de campo – mesmo quando atuava por outro clube, como o são-paulino Grafite, no Paulista de 2004. Em 2006, pelo menos, não se fala em virada de mesa, do tipo que beneficiou duas vezes o Fluminense – em 1996, pra não cair e, em 2000, para subir direto da Terceirona para a elite. Agora, prefere-se apostar em algum tipo de “jeitinho” anterior à queda – do tipo que beneficiou o Botafogo, em 1999. É triste, entretanto, ver que, por mais que o futebol brasileiro avance, ainda há quem aposte na bagunça e na avacalhação para manter as coisas no estado em que estão. Novembro de 2006

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Peneira

Gourcuff:

o novo “novo Zidane”

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2001, quando Christian trocou a equipe pelo Rennes, levou o filho junto. As boas atuações pelos Rouge et Noir renderam ao jogador propostas de Lyon, Paris Saint-Germain e Milan, para onde acabou se transferindo, em uma negociação de € 4 milhões. Com o rodízio promovido pelo treinador Carlo Ancelotti, o francês vem tendo boas oportunidades para desenvolver seu potencial. [RE]

João Abreu Miranda/EFE

a estréia do Milan na fase de grupos da Liga dos Campeões, contra o AEK, Yoann Gourcuff ganhou uma chance entre os titulares da equipe e não a desperdiçou. O bom desempenho – marcou um dos gols na vitória por 3 a 0 – rendeu-lhe até elogios de Silvio Berlusconi, capo di tutti capi do clube de Milanello. Inevitavelmente, pela posição e pelo estilo de jogo, logo surgiram comparações entre o jovem meia e Zinedine Zidane. Alto, Gourcuff tem bom domínio de bola, facilidade para driblar em espaços curtos e ótima visão de jogo. Com bom poder de marcação, também é dono de passe e lançamentos precisos, além de dificilmente desistir de uma jogada quando não tem a bola – o que o torna um ótimo iniciador de contra-ataques. Gourcuff começou a carreira no Lorient, levado por seu pai, Christian, treinador da equipe. Em

Nome: Yoann Gourcuff Nascimento: 11/julho/1986, em Ploemeur (França) Altura: 1,85m Peso: 79kg Carreira: Rennes (2003 a 2006), Milan (desde 2006)

Ottl:

a nova cria do Bayern

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1 com o Kaiserslautern, resultado que garantiu o troféu. Nesta temporada, tem sido um dos poucos destaques de um time que ainda sofre para se remodelar após as saídas de Ballack e Zé Roberto. Em sua estréia na Liga dos Campeões, na vitória por 2 a 0 sobre a Internazionale, em Milão, foi eleito o melhor em campo e recebeu elogios rasgados de Franz Beckenbauer. Nome freqüente em convocações da seleção sub-21, não será surpresa alguma se Joachim Löw em breve resolver testá-lo na equipe principal. [CEF]

Daniel Dal Zennaro/EFE

epois de Phillip Lahm e Bastian Schweinsteiger, destaques na última Copa do Mundo, o novo queridinho da Baviera se chama Andreas Ottl. Volante de origem, Ottl teve como professor o veterano Thorsten Fink, com quem jogou no time B do Bayern. Com ele, aprendeu a marcar de maneira implacável. Freqüentemente, é o responsável não apenas por roubar a bola, mas também por fazê-la chegar aos atacantes – coisa rara em volantes alemães nos últimos tempos. Formado pelas categorias de base do Bayern, onde joga desde 1996, teve sua primeira oportunidade pelo time principal na temporada 2005/6 e foi essencial na 20ª conquista do título da Bundesliga. Ottl marcou o gol no empate por 1 a

Nome: Andreas Ottl Nascimento: 1º/março/1985, em Munique (Alemanha) Altura: 1,85m Peso: 77kg Carreira: Bayern de Munique (desde 2005)

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Tática, por Ubiratan Leal

Chelsea

antes e depois

1. Chelsea 2005/6

de Ballack e Shevchenko A Drogba

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MD

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Robben

Joe Cole

Lampard

V V

Essien

Makélélé

LE

Z

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Gallas

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Ricardo Carvalho

Paulo Ferreira

G Cech

2. Chelsea 2006/7

A

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Drogba

Shevchenko

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Ballack

Lampard

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Essien

Makélélé

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Ashley Cole

Terry

Ricardo Carvalho

G Cech

Novembro de 2006

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LD Boulahrouz

G: goleiro / LE: lateral-esquerdo / LD: lateral-direito / Z: zagueiro / V: volante / ME: meia-esquerdo / MD: meia-direito / M: meia / A: atacante

esde que comprou o Chelsea, Roman Abramovich gastou mais de R$ 1 bilhão em contratações e levou o clube londrino ao bicampeonato inglês. Ainda assim, o máximo que fez na Liga dos Campeões foi chegar a duas semifinais. Havia um relativo consenso de que o problema estava na falta de um grande craque ao time. O russo, então, comprou Shevchenko e Ballack. Agora, a questão é: como acomodar os dois reforços na equipe? Em 2005/6, o Chelsea trabalhava com uma linha de quatro jogadores na defesa, Makélélé e Essien como dupla de volantes e um trio na armação – Lampard era o ponto de referência, e as outras duas vagas eram disputadas por Robben (pela esquerda), Duff (direita) e Joe Cole (os dois lados). Drogba era o único atacante fixo. Com a chegada de Shevchenko, o treinador se viu obrigado a mudar o sistema para ter uma dupla de ataque. Para acomodar Ballack sem sacrificar Lampard, um dos maiores ídolos da equipe, teve que abrir uma vaga no meio. Com isso, foi obrigado a deixar de lado o esquema com dois meias abertos. Neste início de temporada, o português tem usado um 42-2-2, no modelo tradicionalmente adotado no Brasil – quatro zagueiros, dois volantes, dois meias e dois atacantes. A maior dificuldade para os Blues é evitar que Lampard e Ballack se anulem. Quando atuaram juntos, ambos ocuparam espaços semelhantes no campo e, em má fase, o inglês foi peça quase nula no time. Como um todo, o setor de armação cresceu quando entrou Robben, rebaixado a reserva de luxo. No ataque também há problemas. Drogba vem jogando bem e, com isso, tem ocupado o centro da área, posição que era sua anteriormente. Assim, o papel que ficou para Shevchenko, pelo menos por enquanto, é o de segundo atacante, se movimentando mais – inclusive pelos flancos – e buscando o jogo. Essa, entretanto, não é sua maior qualidade, e seu desempenho tem decepcionado. Apesar disso, o novo esquema de jogo da equipe, testado neste início de temporada, não mostra vulnerabilidades evidentes. A defesa continua bem guarnecida, e o ataque ainda produz gols suficientes para que a equipe esteja entre os primeiros tanto no Inglês quanto na Liga dos Campeões. Os problemas devem se resolver naturalmente, quando os reforços estiverem em forma e entrosados. É razoável supor que Shevchenko não esqueceu o futebol na Itália e que crescerá à medida que tiver mais intimidade com a nova função, ou que – e essa é a hipótese mais forte – consiga se impor diante do colega de ataque. O Chelsea, que já era muito forte, agora não só tem força, como também um enorme potencial de crescimento.

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Entrevista, por Carlos Eduardo Freitas

Só Sassá

Mutema

salva Amoroso rejeita o rótulo de salvador da pátria no Timão e também fala à Trivela sobre São Paulo, Milan, Borussia Dortmund e Seleção. Sobrou até para Felipão á menos de um ano, Amoroso ganhava o Mundial Interclubes pelo São Paulo e, pouco tempo depois, era anunciado pelo Milan como reforço para a segunda metade da temporada européia. No final de agosto, o atacante de 32 anos voltou ao Brasil para jogar no Corinthians, que luta contra seus problemas internos enquanto tenta fugir do rebaixamento. São mudanças grandes para um período tão curto. Além de trocar de país e de clube, o jogador passou também de coadjuvante pouco lembrado na Itália a principal esperança de gols de uma equipe que está precisando deles. Ele rejeita, no entanto, o papel de “salvador da pátria”: “O único que existiu foi o Sassá Mutema”, brinca. Não parece ser, no entanto, por humildade. Amoroso fala grosso quando se compara aos atuais atacantes da equipe que deixou: “Se eu tivesse continuado no Milan, o ataque do time seria eu e o Ricardo Oliveira”, diz. A Trivela conversou com o atual camisa 10 do Timão para entender o que está acontecendo com jogador e clube. O atacante falou também das circunstâncias que levaram a sua saída do São Paulo, de sua passagem pelo Milan e da briga judicial com o Borussia Dortmund, que o acusa de ter abandonado o clube. E, claro, aproveitou para jogar para a torcida: “Voltei ao Brasil para ajudar o Corinthians”.

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Darei o máximo enquanto vestir esta camisa, seja na primeira ou na segunda divisão

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Daniel Augusto Jr./EFE

Por que você deixou o Milan, que disputa títulos internacionais, para vir ao Corinthians, que luta para não ser rebaixado no Brasileiro? Tomei a decisão de trocar de clube justamente para ajudar o Corinthians a sair dessa situação. Nunca fui de chegar nos clubes apenas nos momentos importantes, pois também pautei minha carreira por desafios – nesse caso, chegar a um clube como o Corinthians, que precisava se manter entre os grandes do futebol brasileiro e tinha acabado de perder o Tevez, um jogador que tinha se identificado com a torcida. Outro fator que também influenciou foi o fato de que o Milan me proporcionou poucas oportunidades para jogar. Mas você realmente esperava jogar quando foi para lá? Eu sabia que seria complicado nos primeiros seis meses. Cheguei em janeiro, e o campeonato terminava em maio, antes da Copa do Mundo. O Inzaghi e o Gilardino estavam brigando por uma vaga na seleção italiana, e o Shevchenko precisava estar em ritmo de jogo para ser uma das estrelas da Ucrânia no Mundial. Mas eu sabia que poderia abrir espaço para a temporada seguinte, até porque o Shevchenko sairia. Com os acontecimentos do Campeonato Italiano, principalmente o envolvimento do Milan no escândalo de manipulação de resultados, a situação até teria melhorado. O time acabou permanecendo na primeira divisão e mantendo a vaga na Liga dos Campeões e precisaria de um outro atacante. Mas para mim foi complicado aparecer sem ter o espaço e as oportunidades que esperava. O Ricardo Oliveira chegou ao Milan e está jogando. Se você ficasse, poderia ter oportunidades como ele? É diferente, porque o Ricardo Oliveira é uma peça importante para o Milan no mercado. A diretoria milanista tem interesse no Ronaldinho Gaúcho, e o Ricardo Oliveira sempre interessou ao Barcelona. Então, ter o Ricardo seria uma moeda de troca interessante para uma eventual negociação pelo Novembro de 2006

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Bernd Thissen/EPA

outro lado

Dortmund acusa empresário de Amoroso Amoroso foi jogador do Borussia Dortmund entre 2001 e 2003. Em sua primeira temporada, foi artilheiro da Bundesliga com 18 gols e um dos heróis do título nacional. Os problemas começaram em sua segunda temporada, de acordo com Thomas Hennecke, que cobre o Borussia Dortmund para a revista alemã Kicker. O atacante trocou de empresário – de Giovanni Branchini para Nivaldo Baldo – e se contundiu gravemente. Baldo, que também é fisioterapeuta e foi responsável pela recuperação de Amoroso, é acusado por dirigentes de colocar o jogador em rota de colisão com o Borussia Dortmund. “Ele está sendo mal assessorado”, afirmou Michael Zorc, diretor de futebol do clube, à época. No período em que se tratava da contusão no Brasil, o BVB acusa Amoroso de ter ignorado as indicações do técnico Matthias Sammer e até do presidente Gerd Niebaum. O jogador nunca mais voltou a vestir a camisa amarela. Torcedores do Dortmund ainda se dividem ao falar sobre Amoroso: parte o tem como herói, parte como traidor.

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Ronaldinho. Mesmo assim, acredito que, se eu tivesse continuado no Milan, o ataque do time seria eu e o Ricardo Oliveira. Sem desmerecer a qualidade do Inzaghi e do Gilardino, eles são dois jogadores de referência, que têm dificuldade de sair da área. Eu e o Ricardo Oliveira somos mais técnicos e temos mais facilidade para voltar e fazer jogadas com Kaká, Seedorf e Pirlo. Desde sua contusão no Borussia Dortmund, você passou por Málaga, São Paulo e Milan e não se consolidou em nenhum deles. O que acontece? É a inatividade. Entre minha contusão no joelho e a briga na Justiça com o Borussia Dortmund, fiquei oito meses parado. Quando voltei a jogar, fui contratado pelo Málaga uma semana antes do início do Campeonato Espanhol e acabei perdendo a prétemporada. Fiquei lá um ano e vim para o São Paulo, onde tive seis meses maravilhosos e fui para o Milan. Hoje, sua imagem não é boa com a torcida do São Paulo, pela maneira como você saiu do clube. Por que você deixou o Tricolor? Todos já sabiam dos problemas que acontecem com o jogador na hora de renovar o contrato no São Paulo. Não foi só comigo, pois está acontecendo também com o Fabão, o Mineiro e o Danilo. Eu pedi três anos de contrato para não sair mais do Brasil, devido à experiência que já passei no futebol europeu. Estava me sentindo bem, morava em Campinas, a 50 minutos do clube. Mas eles não deram valor ao meu pedido, e a diretoria não me atendeu. Aí veio o Milan, com uma proposta por um ano e meio, e aceitei. Por que, então, você assinou com o Corinthians por um ano, e não por três? Porque o Corinthians não me fez uma proposta de três anos. Se ele fizer, eu não teria por que não pensar na situação e continuar. O fato de você ter 31 anos, na época, e ter sofrido uma contusão grave não prejudicou a negociação? Realmente, o São Paulo achava que

um contrato de três anos era muito longo para um jogador de 31 e por isso não renovou. Mas isso não é verdade: o Romário está com 40 anos, o Costacurta também, o Maldini tem 38, o Cafu, 36, e o Serginho, 35. Alguns dirigentes que eram contra minha contratação também atrapalharam. O Juvenal Juvêncio [atual presidente do São Paulo e diretor de futebol do clube na época] e o Milton Cruz [auxiliar técnico], por exemplo, queriam minha permanência. Mas o Juvenal estava em campanha eleitoral e precisava agradar a todos. Além disso, quem decidia na época era o Marcelo Portugal Gouveia [presidente do São Paulo em 2005]. O Portugal Gouveia era contra sua permanência? Era. E, desde a minha saída, ainda não me pagaram fundo de garantia, direito de arena, prêmio pelo título mundial... É um direito meu, como foi de todos os jogadores que passaram pelo São Paulo na época. Você voltaria a jogar lá? Sem nenhum problema. Hoje, não se pode falar em amor à camisa. Se o jogador trabalha em um clube e está feliz nele, tem de dar o máximo. Depois, se vier uma proposta mais interessante, pode ir. Como sou profissional, sempre estou aberto. Os são-paulinos argumentam que você não quis continuar clube e até teria forçado a não-renovação. É verdade? Não. Muitos falam que eu assinei um documento abrindo mão de direitos financeiros, de imagens e prêmios só para sair do São Paulo. Eu não assinei nenhum papel para sair, porque meu contrato com o São Paulo havia acabado e eu não tinha mais nenhum vínculo com o clube. Não precisava forçar a saída. É como meu vínculo com o Corinthians. Ele vai até 31 de agosto de 2007. Se eu sair em 25 de agosto, tenho de assinar rescisão. Se eu sair em 1º de setembro, estou livre, porque meu contrato com o clube terminou. É mais difícil se estabelecer dessa maneira em um time que está em crise,

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Franck Robichon/EFE

Jogaria de novo no São Paulo sem problema. Hoje não tem essa de amor à camisa

como é o caso do Corinthians? No Corinthians é mais difícil, porque o jogador tem de correr dobrado, tem de medir as palavras quando dá entrevista, essas coisas. Além disso, acreditam que eu possa ser o salvador da pátria e isso só teve um: o Sassá Mutema. Sou um jogador importante, como outros que fazem parte do elenco. O que você esperava encontrar? Eu sabia que era um grupo de jogadores de grande qualidade em um momento difícil do clube, que tem uma parceria que ninguém acha que dará certo. Mas essa parceria veio para cá e conseguiu um título brasileiro. No momento, o importante é jogadores e diretoria resolverem os problemas da melhor maneira possível, em benefício do clube. Sou jogador do Corinthians e darei o máximo enquanto estiver com essa camisa, seja na primeira, na segunda ou na terceira divisão.

A MSI trouxe jogadores conhecidos com salários altos, que se juntaram a jovens das categorias de base corintianas. Há algum conflito entre esses dois grupos no elenco? Hoje, não só no Corinthians, os mais novos não respeitam os mais velhos. Eles não procuram escutar o que os mais experientes têm a dizer, para proporcionar o que têm de melhor em um clube grande. Mesmo os jogadores pratas-da-casa, de menor expressão internacional ou nacional, não respeitam. Depois de um tempo, os mais velhos acabam deixando para lá, porque tentam falar e ninguém escuta. Quando comecei a jogar no Guarani, era juvenil e treinava com os profissionais. Ganhava menos que Djalminha, Luizão e Edu Lima, mas nunca houve elenco rachado. Eu sempre escutei mais do que falei e posso dizer que, no mesmo nível que eu comecei, estão começando os garotos hoje. Mas não há o mesmo respeito. Como cria do Guarani, como você vê a situação atual do clube? É complicado, parece até que vai fechar. Eu e outros ex-jogadores estamos tentando ajudar, fazendo algumas coisas para resgatar a confiança do torcedor e levar mais bugrinos ao estádio. Você foi artilheiro no Brasil, na Itália e na Alemanha, mas nunca disputou uma Copa do Mundo. É um buraco em seu currículo? Sem dúvida, disputar uma Copa do Mundo é interessante para qualquer jogador. Infelizmente, não tive oportunidade de participar de uma, mas estive nas eliminatórias, pude fazer meus golzinhos pela Seleção e ganhei uma competição internacional [Copa América de 1999]. Quando teria sido seu melhor momento para disputar uma Copa? Eu deveria ter sido chamado em 2002. Era artilheiro e campeão na Alemanha, mas o Felipão preferiu convocar jogadores que não estavam melhor que eu. Foi uma opção dele. Se o Luxemburgo fosse o treinador, eu teria ido para o

Mundial, já que ele me conhecia da Copa América e das eliminatórias. Bem, acho que fui mais feliz nos clubes do que na Seleção, que hoje faz parte do passado. Um de seus melhores momentos foi no Borussia Dortmund, mas você saiu de lá depois de entrar na Justiça. O que aconteceu? Na Alemanha, se você fica mais de seis semanas sem jogar, cai no INSS do país. Eu contundi o joelho e fiquei oito meses parado. Com isso, deveria ter recebido um seguro. O problema é que, depois de minha lesão, o valor não foi repassado para minha família. Descobri que isso ocorreu porque o seguro foi feito para o clube, o que me deixou muito chateado. Quando eu cheguei lá, em 2001, o Borussia não ganhava nada desde 1997. Daí, foi campeão alemão, eu fui o melhor jogador e chegamos à final da Copa Uefa. Tudo já foi solucionado na Fifa, e tenho um advogado que está resolvendo minhas questões contratuais na Alemanha, mas até hoje eu não recebi o dinheiro. O pessoal na Alemanha alega que você abandonou o clube, veio se tratar no Brasil e não deu satisfações. É verdade? Não abandonei ninguém. O Michael Zorc [diretor do Borussia Dortmund na época] me liberou para fazer o tratamento no joelho com o Nivaldo Baldo, como havia acontecido quando fui a Campinas me recuperar de uma lesão no tendão de Aquiles. Eles me liberaram e até pagaram a operação no joelho nos Estados Unidos. Se eu tivesse abandonado o clube, o Borussia nunca teria bancado minha cirurgia. Eles sabem que pisaram na bola comigo, e acho que não haverá outro jogador que fará tanto sucesso lá. O Tinga acabou de ir para lá. Se vier outro jogador pedir recomendação a você a respeito do Dortmund, o que você diria? Acho que não tem nenhum problema. Fui feliz lá, a torcida sempre me respeitou e comprou milhares de camisas com meu nome nas costas. Novembro de 2006

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Técnicos brasileiros, por Carlos Eduardo Freitas

Por que o Brasil mais Felipões? O maior exportador de jogadores de futebol do planeta ainda engatinha no desenvolvimento de técnicos de ponta. A Trivela analisa os motivos que levam a essa situação e aponta o que pode ser feito para alterá-la uando o Brasil foi eliminado da Copa do Mundo e ficou claro que Carlos Alberto Parreira não continuaria como técnico da Seleção, o torcedor prendeu a respiração. Com Felipão, preferido de nove entre dez brasileiros, atado a um contrato e vivendo bem em Portugal, nenhum dos nomes disponíveis para o cargo empolgava a todos. Essa situação é semelhante à dos torcedores de times que demitem técnicos. Apesar de, via de regra, haver sempre três ou quatro nomes que gozam da preferência da maioria, nenhum consegue a aprovação geral. Ainda assim, questionar a capacidade dos técnicos de futebol no Brasil é considerado tabu. Se temos os melhores jogadores do planeta, não haveria por que não acreditarmos que quem comanda nossos craques não esteja no mesmo nível. Ou haveria? Afinal, se temos técnicos tão bons assim, por que a CBF indicou Dunga para treinar a equipe nacional? A despeito do bom início no comando da Seleção – e de ainda ser cedo para questionar sua capacidade e seu talento –, não dá para esquecer que o ex-volante nunca havia trabalhado como técnico antes de chegar ao cargo. Será o que o Brasil não tinha nenhum treinador preparado para assumir o posto? A decisão da CBF deixa poucas dúvidas. Se temos poucos, ou nenhum, outro técnico no nível de Scolari, de quem é a culpa? Para responder a essas perguntas e entender os motivos, a Trivela conversou com treinadores, dirigentes de clubes que disputam a Série A do Campeonato Brasileiro e jogadores com experiência internacional, que trabalharam com alguns dos melhores técnicos do planeta. As respostas passam pela estrutura dos clubes, pela formação de nossos treinadores e pela própria característica de nossos jogadores. Elas ajudam a explicar

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Michaela Rehle/Reuters

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por que, além de não haver nenhum nome que tivesse a aprovação geral para assumir a Seleção, não há mais brasileiros no comando de clubes europeus.

A culpa dos clubes A primeira explicação para o fato de não termos mais treinadores de alto nível passa pela falta de vínculos e comprometimento do técnico com a instituição onde trabalha. Em geral, os clubes não consideram o treinador um “patrimônio” seu, ao contrário do que fazem com os jogadores. Se o time vai mal dentro de campo, raramente o dirigente assume a culpa ou faz com que ela recaia sobre os atletas. “O clube prefere demitir o treinador. O jogador é seu patrimônio”, reconhece Genivaldo Leal, diretor de futebol do São Caetano, equipe que mais vezes trocou de técnico no Campeonato Brasileiro até a 30ª rodada. O curioso é que o dirigente do time do ABC deveria saber bem as vantagens de manter um treinador por um período longo. Na melhor fase do time, quando chegou a dois vice-campeonatos nacionais (2000 e 2001) e ao vice da Libertadores, o técnico era o mesmo: Jair Picerni. No Brasileirão-2006, apenas seis clubes mantêm os mesmos treinadores desde o início da competição: São Paulo, Internacional, Grêmio, Santos, Paraná e Vasco. Há quem alegue que esses times só chegaram às primeiras posições da tabela porque mantiveram os mesmos técnicos. Pode-se argumentar, no entanto, que foi o contrário: os bons resultados desses profissionais é que garantiram sua permanência. Quem tem o que falar sobre o assunto é o Fluminense, que, em 2005, fez uma boa temporada, toda ela com Abel Braga. Em 2006, com uma campanha instável, trocou de técnico nada menos do que sete vezes. “Não queríamos isso. Nós erramos. Nos deixamos levar pelas pressões”, reflete Gustavo Mendes, gerente de futebol do tricolor carioca. Essas pressões, no caso, vêm de torcedores, dirigentes e até do patrocinador. A recente demissão de Tite é o melhor exemplo de como essa necessidade de resultados imediatos prejudica o trabalho do treinador e coloca em xeque a capacidade dos clubes. O gaúcho chegou ao Palmeiras com o time na zona de rebaixamento, foi responsável por uma impressionante reação após a Copa do Mundo e acabou demitido após uma série de três derrotas em quatro jogos – mesmo depois de passar 11 partidas sem ser derrotado. “Pode até ter perdido alguns jogos, mas o trabalho era reconhecidamente bom. Sair num carro de polícia? É a prova de que chegamos ao fundo do poço”, critica Ricardo Gomes, hoje técnico do Bordeaux, na França (veja box na pág. 25). Para a maior parte dos treinadores ouvidos pela Trivela, o erro está na falta de planejamento dos clubes. Quando começam um trabalho, muitas vezes os dirigentes não sabem o que querem para seu departamento de futebol, e não sabem contratar. Quando discutem nomes, raramente têm em mente o perfil de treinador que procuram. Não avaliam o elenco que

CLUBE NÃO TRATA O TÉCNICO COMO “PATRIMÔNIO”, COMO FAZ COM O JOGADOR

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O campeonato do troca-troca* Veja abaixo o ranking dos clubes que mais treinadores tiveram ao longo do Campeonato Brasileiro. Repare que, se você virar a lista de cabeça para baixo, terá, salvo pequenas diferenças, a classificação da 30ª rodada. Será coincidência? Clube

Posição*

19° 20° 18° 16° 17° 15° 14° 12° 13° 11° 10° 9° 8° 7° 6° 5° 4° 3° 2° 1°

Técnicos que teve no Brasileirão

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Nelsinho Baptista, Dino Camargo, Leão, PC Gusmão, Hélio dos Anjos, Dorival Júnior Giba, Valdir Espinosa, Maurício Simões, Ernesto Guedes, Fito Neves Toninho Cecílio, Márcio Bittencourt, Hélio dos Anjos, Roberval Davino Oswaldo de Oliveira, Josué Teixeira, Antônio Lopes, PC Gusmão Oswaldo Alvarez, Marco Aurélio, Wanderley Paiva Ademar Braga, Geninho, Leão Leão, Tite, Marcelo Vilar Givanildo Oliveira, Valdemar Privati, Oswaldo Alvarez Hélio dos Anjos, Ivo Wortmann Geninho**, Antônio Lopes PC Gusmão, Oswaldo de Oliveira Waldemar Lemos, Ney Franco Adílson Baptista, Waldemar Lemos Carlos Robeto, Cuca Renato Gaúcho Caio Júnior Mano Menezes Vanderlei Luxemburgo Abel Braga Muricy Ramalho

* Até a 30ª rodada do Campeonato Brasileiro ** Geninho teve duas passagens pelo Goiás – antes e depois de ir para o Corinthians

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Jamil Bittar/Reuters

Com tempo, o que nテ」o teve no Corinthians, Geninho vem conseguindo resultados no Goiテ。s

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Carlos Eduardo Freitas/Trivela

têm em mãos e, por isso, têm dificuldade para definir o nome que comandará a equipe. “Fazem uma verdadeira salada de frutas. É aí que começa a zona toda”, avalia Paulo Autuori. A diferença no perfil dos treinadores contratados pelo Fluminense no campeonato ilustra bem essa situação. Ou alguém imagina que Antônio Lopes e Oswaldo de Oliveira são técnicos com um estilo semelhante? Pior que isso, entretanto, é o fato de que os clubes não sabem quais objetivos têm dentro do campeonato. Mais uma vez, as pressões externas obrigam praticamente todos a prometer o título para a torcida – título que, evidentemente, a maioria não tem a menor condição de disputar. Cuca, atualmente no Botafogo, relembra uma situação vivida no início do ano, quando estava desempregado, para comentar a falta de bom-senso de muitos clubes brasileiros. “Recebi ofertas de Fortaleza e Santa Cruz. Chegaram até mim e disseram que queriam brigar pelo título. ‘Nosso elenco é bom, muito forte’, disse um deles. Quando vêm com isso, fica difícil aceitar um compromisso”, comenta o treinador. Só para lembrar: até a 30ª rodada, as duas equipes estavam na zona de rebaixamento. Genivaldo Leal, do São Caetano, explica o que acontece com alguns dirigentes: “Às vezes, a gente sai com aquela ansiedade e acha que o time pode ser campeão, mas, no fundo, sabemos que não temos a menor condição”. Essa é uma diferença crucial quando se compara a situação de quem trabalha em clubes europeus e asiáticos com a de quem atua no Brasil. “Trabalhei em clubes portugueses em que o grande objetivo era se classificar para uma copa européia. Quando se consegue, isso é comemorado como um título”, afirma Autuori, que continua: “Você precisa de metas de acordo com o nível de seu clube”. Abel Braga, do Inter, concorda com o atual técnico do Kashima Antlers: “Quando eu trabalhei no Olympique de Marselha, o presidente me disse que se eu chegasse em oitavo colocaria um busto meu no Velodrome. Você imagina um presidente de clube no Brasil pedindo para o treinador chegar em oitavo?” Autuori é otimista e acredita que a mudança do Campeonato Brasileiro para o sistema de pontos corridos, além da existência de mais recompensas aos clubes que não apenas o título – como mais vagas na Copa Libertadores e na Copa Sul-Americana –, traz benefícios para os clubes, que podem se planejar melhor. “Isso valoriza os treinadores que atingem objetivos, como na Europa – e não apenas quem é campeão”, aposta.

Falta de preparo Se, por um lado, fica fácil acusar os clubes de serem os grandes responsáveis pela situação dos treinadores, por outro, é preciso reconhecer que a formação média dos técnicos de futebol no Brasil – e, conseqüentemente, o nível dos profissionais que estão no mercado – está abaixo das exigências da profissão. “Na verdade, a formação do treinador brasileiro não existe”, afirma Péricles Chamusca, campeão da Copa do Brasil com o Santo André em 2004 e finalista com o Brasiliense em 2002. “Temos alguns técnicos muito bem preparados, mas a grande maioria não tem preparo”, avalia João Paulo de Jesus Lopes,

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Quando Parreira saiu, o Brasil recorreu ao novato Dunga

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diretor de futebol do São Paulo, clube que montou seu departamento de futebol de maneira a superar quaisquer deficiências que seus treinadores possam ter. O São Paulo, por exemplo, não permite que seus contratados levem sua própria comissão técnica quando chegam ao Morumbi. O clube tem em seu quadro de contratados fixos preparador físico, fisiologista, fisioterapeuta e nutricionista, entre outros profissionais. Segundo Lopes, essa ligação da comissão técnica com o clube impede que a linha de trabalho seja interrompida a cada troca de comando. Essa é a situação de Dunga na Seleção Brasileira. Quando assumiu, levou apenas Jorginho como auxiliar e manteve a mesma comissão técnica de Carlos Alberto Parreira. Embora a maioria dos entrevistados pela Trivela concorde que a experiência dentro de campo pode ser muito importante na formação de um treinador, apenas ter jogado futebol não qualifica ninguém a se tornar técnico – ainda mais de qualidade. “O cenário ideal é você ter sido jogador e se preparar para ser técnico”, sugere Paulo Autuori. Pelo menos em tese, e é assim que funciona nos grandes clubes da Europa. Lá, a figura do técnico, dentro do departamento de futebol, funciona como a de um diretor em uma empresa. Os diversos setores ligados ao futebol têm de se reportar a ele, que toma a decisão final. O profissional deveria, portanto, ser capaz de avaliar questões como preparação física, fisiologia, medicina

e nutrição – isso sem falar nas questões do relacionamento no dia-a-dia e em quesitos mais específicos, como o conhecimento tático e a visão de jogo. “Quando a gente joga, não tem noção de tudo isso”, reconhece Cuca, que passou por essa transição dos gramados para o banco recentemente. Para atender às exigências da categoria e poder exercer a profissão, os profissionais brasileiros (assim como os europeus) precisam freqüentar cursos promovidos por sindicatos e outros organismos (ver box nesta página). Em geral, entretanto, os próprios técnicos reconhecem que as aulas são fracas e estão aquém das necessidades da profissão. Parreira, que não chegou a jogar profissionalmente, avalia: “É preciso mais do que algumas aulas para se formar um grande treinador”. Alguns dos técnicos entrevistados indicam os cursos de educação física como essenciais para a formação de um profissional de alto nível. Felipão, por exemplo, tem esse curso em seu currículo. “A formação acadêmica é importantíssima. Como você vai saber se a preparação física está sendo bem feita se você não tiver noção do assunto?”, questiona o brasileiro Baltemar de Brito, assistente de José Mourinho no Chelsea, que confirma que o português, hoje considerado um dos melhores do mundo, também estudou educação física. Lopes, do São Paulo, acha que os técnicos brasileiros deveriam preocupar-se mais com seu desenvolvimento, ganhar experiência

Brasil não tem um curso sério de treinadores A formação dos treinadores na maior parte do mundo se baseia só em empirismo – ou seja, no que os “professores” aprenderam enquanto estavam atuando como jogadores profissionais. Isso não é exatamente o ideal, como diz Paulo Autuori. “Se você aprende algo errado, acaba perpetuando isso”, explica. Na maioria dos países da Europa, o sistema de licenças das federações faz com que, antes de poder treinar um time da primeira divisão, o técnico tenha de passar por diversos cursos para se aperfeiçoar. Como o sistema de licenças permite que o profissional treine em ligas inferiores antes de atingir o final da formação teórica, muitos começam a carreira em equipes das divisões de baixo. Não é o ideal, mas ao menos garante que o técnico ganhe experiência antes de entrar no futebol profissional.

Um dos cursos mais famosos é o da escola de Coverciano, da federação italiana, por onde já passaram brasileiros como Toninho Cerezo. No curso de 16 semanas, os alunos estudam em turmas de 20 pessoas e têm fundamentos de disciplinas como tática, preparação física e liderança. Existem limites mínimo e máximo de idade, e também é preciso ter algum tipo de experiência como jogador – ainda que em ligas amadoras. No final, além de uma prova, os candidatos precisam apresentar uma tese de conclusão, na qual não se pode empregar expressões como “marcar forte no meiocampo”, ou “jogar com alegria”. Para dar um exemplo, o esquema de jogo utilizado no Milan por Carlo Ancelotti há mais de cinco anos é o que ele apresentou na sua tese – o de um 4-4-2 com um losango, em que um dos meias encosta nos atacantes, mas precisa do suporte da marcação dos outros

jogadores do setor. No Brasil, um dos cursos mais conhecidos é o promovido pelo Sitrepesp, o sindicato dos treinadores do Estado de São Paulo, que forma a maioria dos técnicos do Brasil. Contudo, o curso é de uma pobreza franciscana. Em cinco dias de aulas e palestras, promove-se uma pantomima acadêmica que é condenada fervorosamente pelos próprios treinadores. “Fala-se muito, mas aprende-se muito pouca coisa que é usada na prática”, comenta Geninho. A deficiência de formação dos treinadores não é exclusiva do Brasil. Na Inglaterra e em outros países europeus, o curso da federação é bastante criticado e basicamente conta com ex-jogadores, o que acaba perpetuando os erros mencionados por Autuori. O que se pode dizer é que, pelo menos, a federação de lá dá algumas aulas. Curso da CBF? Até o presente momento, não se sabe de um. [CRG]

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Por que a Europa importa poucos brasileiros? A falta de preparo é explicação também para o baixo índice de “exportação” de treinadores para a Europa, o principal centro do futebol mundial. Se tantos jogadores vão para lá, por que os treinadores não seguem o mesmo caminho? O discurso dos europeus é simples: o jogador brasileiro chega ao continente bruto, para ser lapidado por lá. E ninguém vai contratar um treinador que precisa ser lapidado. “Eles acham que o brasileiro não se prepara direito e faz as coisas muito calcadas no improviso”, comenta Autuori. Ou seja: os atletas não foram bem formados no Brasil. Moldar a cabeça de um jovem jogador – isto é, ensiná-lo a ver futebol de outra maneira – é tarefa fácil. Fazer com que um técnico na casa dos 40, 50 anos se adapte a uma nova realidade é um desafios complicado – e raros são os que se propõem a enfrentá-lo. “O treinador precisa entender as diferenças para ser bem sucedido. Cada país tem sua cultura, seus conceitos”, aponta Carlos Alberto Parreira, que teve passagem por clubes como Valencia e Fenerbahçe. “Você precisa ter flexibilidade e sensibilidade para perceber isso e se adaptar a essas características”, completa Paulo Autuori, que em Portugal treinou Nacional, Vitória Guimarães, Marítimo e Benfica. Mais uma vez, Felipão se destaca do grupo. Em Portugal, o gaúcho soube se adaptar às diferenças e respeitá-las. Em vez de levar uma comissão técnica inteira formada por brasileiros, somou apenas um preparador físico e seu auxiliar ao grupo que já trabalhava na seleção portuguesa. Com isso, ficou mais fácil conquistar os jogadores – tarefa considerada pelos treinadores como decisiva para a obtenção de sucesso em uma equipe. “Você tem de formar um grupo com as pessoas que trabalham lá, para

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depois mostrar a sua cara”, comentou Scolari à Trivela, em entrevista publicada na edição de fevereiro da revista Copa’06. Isso é justamente o oposto do que fez o celebrado Vanderlei Luxemburgo, quando foi para o Real Madrid, em janeiro de 2005. Lá, montou uma comissão técnica formada quase que totalmente por brasileiros. Isso, dizem em Madri, foi o primeiro grande erro naquela que parecia ser a melhor oportunidade que alguém teve de escancarar as portas do futebol europeu para os técnicos brasileiros. Recordista de títulos do Campeonato Brasileiro e respeitadíssimo no país, o atual treinador do Santos pecou em seu processo de adaptação à cultura local – e não saber falar espanhol esteve longe de ser um problema grave. Emerson não chegou a ser comandado por Luxemburgo em Madri, mas o volante, que acabou de chegar ao clube, ouviu de seus colegas brasileiros e estrangeiros comentários sobre os problemas que o atual treinador do Santos teve. “O europeu não está acostumado a fazer coletivo. Se o time de baixo ganha, vira notícia e atrapalha o ambiente. Por isso, evitam esse tipo de treino por aqui”, comenta o volante. Não é preciso lembrar que o tal “ambiente” estava para lá de conturbado quando a direção dos Merengues resolveu acabar com o sonho europeu de Vanderlei. Baltemar de Brito, do Chelsea, confirma o que diz Emerson: “Coletivo? Damos uma vez por ano e olhe lá. Trabalhamos a parte tática em lugares diferentes, com menos espaços, jogadas ensaiadas, movimentação. Coletivo, mesmo, é raro”. O assistente de Mourinho, que deixou o país há mais de 30 anos para atuar em Portugal (veja matéria na pág. 34), evita criticar os compatriotas, mas comenta: “Vejo muito treinador brasileiro que diz: ‘Tem que ter a posse de bola para atacar’. Isso qualquer um sabe, mas bem poucos dizem como fazê-lo”. A tão propalada “qualidade” do jogador brasileiro também acaba funcionando como barreira ao trabalho dos treinadores do país. “Por ter um grande talento individual, o brasileiro acha que pode ganhar tudo quando quiser e deixa o resto do jogo para lá”, comenta Baltemar. Essa mentalidade, que atinge treinadores e jogadores, acaba fazendo com que se negligencie o trabalho tático. O atleta não se preocupa com ele porque acha que, em um “lance individual”, pode decidir a partida. O técnico, quando tenta, não consegue impor à equipe um padrão tático. Assim, acaba-se relegando a tática a segundo plano. A principal diferença dos técnicos brasileiros para os estrangeiros, dizem treinadores e jogadores que atuaram por tempo longo em outros países, diz respeito ao conhecimento de tática e a como trabalham isso junto a seus jogadores. Essa foi justamente a principal diferença sentida por Javier Mascherano no período em que esteve no Corinthians. Para comentar a falta de cultura tática dos técnicos com quem trabalhou no Brasil – e não foram poucos –, o argentino dá um exemplo: “Aqui se joga no mano-amano. Nunca tem ninguém na sobra.

Antonio Lacerda/EFE

no exterior, estudar e fazer mais estágios. “Temos técnicos no Brasil com talento, mas eles precisam ser trabalhados”, afirma o cartola. “É necessário estar atualizado sobre novos métodos e planejamentos de treinamentos”, concorda Carlos Alberto Parreira. Um exemplo prático de técnico que se preocupou com a própria formação é Péricles Chamusca. Além de ser graduado em Educação Física, o atual técnico do Oita Trinita, do Japão, teve experiências nas categorias de base de Vitória e Bahia e, por iniciativa própria, foi para a Espanha fazer um estágio. “Passei 20 dias com o Cruyff no Barcelona. Foi um momento importante da minha formação, da criação de meus métodos”, diz. O fato de não ter recebido mais oportunidades no Brasil, por outro lado, mostra o quanto os clubes não se preocupam com isso. Na única oportunidade que teve em um “grande” do país, em 2005, Chamusca acabou demitido do Botafogo depois de dirigir o time em apenas 12 partidas. Na Europa, ao contrário, a prática de fazer estágios em clubes grandes é freqüente e valorizada. “Aqui, eles se interessam muito por isso. Vira e mexe tem algum técnico fazendo estágio em grandes equipes”, diz o volante Emerson, do Real Madrid, que atuou também em clubes como Juventus, Roma e Bayer Leverkusen, onde viu de perto a situação. “Sempre procuram aprender mais”, completa.

NO JAPÃO E NO ORIENTE MÉDIO, BONS TRABALHOS ABRIRAM O CAMINHO

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Para Autuori, identifica-se o profissional antiético por suas atitudes

Ética: da boca para fora É difícil ouvir uma entrevista de um treinador sem que a palavra “ética” acabe citada. Por mais que falem nela, poucos profissionais da área sabem que a diferença entre discurso e prática é muito grande. Comentar o trabalho de um colega? É “antiético”. Falar sobre um jogador que não é do seu time? É “antiético”. Comentar os motivos de um atleta não ter sido convocado? Idem. Em todos esses casos, fica claro que falar em ética, quase sempre, nada mais é do que uma desculpa para não responder a determinadas perguntas. Para os treinadores, o maior exemplo de falta de ética na profissão acontece quando um técnico se oferece para um clube no momento em que um colega ainda ocupa o cargo. “Isso é falta de lealdade”, comenta Geninho. A maior parte dos profissionais brasileiros passou por isso e sabe o quão desagradável é a situação. “Meu nome foi cogitado para o Corinthians quando o Geninho estava no comando do time. Fiz questão que minha assessoria de imprensa negasse”, diz Parreira. Identificar quem é ético ou não, diz Paulo Autuori, é fácil. “É só você ver a coerência: o sujeito fala uma coisa para a mídia e faz outra no dia-a-dia. Isso é o que mais arranha a nossa imagem”.

Acho que por isso o brasileiro desenvolve tanto a técnica”, disse em entrevista à Trivela o agora volante do West Ham. Na Europa e na Argentina, os principais treinadores costumam dar ênfase especial a essa questão, sobretudo na análise dos adversários e na busca de alternativas para neutralizar os sistemas montados pelo outro treinador. “Antes dos jogos, o Capello sempre treina de acordo com nosso adversário”, comenta Emerson, que trabalha com o italiano há quase sete anos. Quando jogou no Boca Juniors e era comandado por Carlos Bianchi, o atacante Iarley notou a mesma coisa. “Se o time que iríamos enfrentar jogava com três zagueiros, treinávamos especificamente para anular esse tipo de situação”, comenta.

Como melhorar? Com tudo o que foi dito anteriormente, responder a pergunta do título da matéria fica menos difícil. A culpa por não termos mais Felipões é de todos os fatores expostos: falta de preparo, de continuidade e até de interesse. Para melhorar essa situação, os clubes brasileiros precisam profissionalizar suas estruturas e oferecer melhores condições a seus treinadores, além de agir mais racionalmente. Somado a isso, os técnicos precisam melhorar suas Novembro de 2006

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Fernando Pilatos/Gazeta Press

“Quem tem mercado fora do Brasil não volta” Em sua primeira experiência no exterior, Péricles Chamusca vivencia as diferenças entre trabalhar no Japão e em clubes brasileiros. Conversamos com o técnico sobre essa experiência Em setembro, Péricles Chamusca completou um ano no comando do Oita Trinita, da primeira divisão japonesa. Depois de dez anos de carreira no Brasil, ele avaliou, nesta entrevista à Trivela, as diferenças entre o trabalho em clubes de nível médio em países distintos. Qual a diferença entre assumir um clube japonês e um brasileiro? No Japão, eles qualificam seu trabalho: se for bom, te dão credibilidade. Eles têm uma paciência maior e sabem até onde podem chegar. Te dão uma condição mais humana de trabalhar. Não há aquela cultura que existe no Brasil de, num domingo, você ser bom treinador e, no outro, você ser ruim porque trocou mal e o time perdeu. É por isso que os profissionais de qualidade, que têm mercado fora, não voltam ao Brasil. Em 2004, mesmo tendo uma proposta do Flamengo, você aceitou um convite para

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trabalhar no São Caetano. Por que isso aconteceu? Vários fatores foram determinantes para minha escolha. Eu trabalhava no Santo André, e minha família já estava adaptada à região. Não haveria mudança alguma. Além disso, a proposta do São Caetano foi melhor, de um ano e oito meses, enquanto no Flamengo eu não teria nem contrato. Tinha também a perspectiva: quando cheguei ao São Caetano, o time era 11º e eu via perspectiva de crescimento – o que aconteceu depois. É possível realizar trabalho de longo prazo no Brasil? Dá para fazer o planejamento, mas precisa ter respaldo da diretoria, para que o clube saiba passar pelos momentos de maior dificuldade e fazer com que o projeto ande. Li recentemente uma matéria a respeito da formação da atual equipe do Barcelona, na

qual se mostrava que, em um momento em que o clube não conseguia ganhar, vieram as pressões. Só que eles seguraram a barra durante alguns anos, até que começassem a surgir os bons resultados. Trabalhar num clube menor é mais fácil do que em um de maior destaque? Quando você trabalha num clube grande, recebe maiores investimentos e jogadores de alto nível. É mais difícil trabalhar num time intermediário. Você tem de passar dos limites para buscar os resultados. O papel do treinador é sempre tirar o máximo que a equipe pode dar. Quando se consegue isso, as possibilidades são maiores. A diferença é que, numa equipe grande, onde se tem mais dinheiro, suas chances de conquista são maiores. A pressão pode ser usada de forma positiva. Se a cobrança for feita de maneira dosada, pode-se levar a uma maior produtividade.

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Tolga Bozoglu/EFE

Ricardo Gomes: sucesso e esquecimento

Ricardo Gomes vai bem no Bordeaux, mas não obtém espaço na mídia brasileira

formações – o que engloba conhecimento específico da profissão e também o lado cultural. Isto é, devem buscar um melhor preparo acadêmico e também prático, com estágios com profissionais de alto nível. O sucesso de algum brasileiro em um país também é visto como a chave capaz de abrir o mercado para outros profissionais. A passagem de Zico pelo Japão e a de Telê Santana, Parreira e do próprio Felipão pelo Oriente Médio explicam o sem-número de brasileiros que passaram pelas duas regiões. “A imagem do profissional brasileiro aqui é boa”, relata Autuori, há quase um ano no Japão. Embora o próprio Autuori, além de Abel Braga e Ricardo Gomes, tenha passagens de relativo sucesso pelo futebol europeu, a reputação que conquistaram ainda está longe de garantir espaço a seus compatriotas. Por mais que seja difícil acreditar que isso vá acontecer de uma hora para outra, bons exemplos – como o de Felipão – podem servir de incentivo para que outros profissionais sigam o mesmo caminho. Se o jogador brasileiro é bem visto internacionalmente, não há motivos para acreditar que nossos treinadores não tenham esse potencial. Fala Paulo Autuori, atual campeão do Mundial Interclubes contra o Liverpool, do badalado Rafael Benítez: “Temos de saber aliar nossa criatividade ao que é oferecido em termos de meios tecnológicos avançados e boa organização. Se isso acontecer, o técnico brasileiro vai fazer a diferença”.

TRANSIÇÃO DE JOGADOR PARA TÉCNICO EXIGE PREPARAÇÃO QUE POUCOS FAZEM

Enquanto Vanderlei Luxemburgo estava no Real Madrid, em 2005, Ricardo Gomes foi contratado pelo Bordeaux, clube que, na temporada anterior, só escapou do rebaixamento nas últimas rodadas do Campeonato Francês. Em seu primeiro ano no clube, o técnico, que havia deixado o Brasil sob a sombra de não ter classificado a Seleção para a Olimpíada de 2004, foi vice-campeão nacional, atrás apenas do Lyon, e classificou o time para a Liga dos Campeões. “Cheguei numa hora boa”, justifica. Para Gomes, a diferença entre os resultados de seu trabalho e os do de Luxemburgo reside no fato de ter jogado na Europa, e de haver atuado como treinador na França antes. “Entender a mentalidade do francês me ajuda”, explica o treinador, cuja carreira começou no Paris Saint-Germain, em 1996, quando trocou os gramados pelo cargo de técnico. Pelo clube da capital, Gomes conquistou a Copa da França e a Copa da Liga, em 1998. Os ótimos resultados, entretanto, não renderam ao ex-zagueiro do Fluminense nem uma pequena fração do espaço dedicado pela mídia brasileira ao atual técnico do Santos no período em que esteve em Madri. Sinal de que, nem sempre, só competência é suficiente para obter reconhecimento no Brasil. Novembro de 2006

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Barras brasileiras, por Ubiratan Leal

Na alegria e na tristeza Inspirados nos argentinos, torcedores de vários clubes brasileiros criam grupos para apoiar seus clubes incondicionalmente, sem vaias ou apologia à violência

A “Loucos pelo Botafogo” em ação na partida contra o Santos no Maracanã

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ábado, 14 de outubro de 2006, Maracanã, Rio. Aos 34 minutos do segundo tempo, o Santos acabou de virar o jogo em cima do Botafogo. O resultado poderia recolocar os cariocas perto da zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro e, por isso, quase todo o estádio silenciou depois do gol de Reinaldo. Além dos santistas, só algumas dezenas de abnegados botafoguenses vestindo a camisa do clube continuam gritando e incentivando seus jogadores. O esforço foi recompensado minutos depois, quando Zé Roberto e Juca fizeram os gols da virada do clube de General Severiano e despertaram o resto do estádio. Depois da partida, o técnico Cuca elogiou o apoio incessante dos torcedores. Populismos à parte, o episódio revela um novo tipo de torcida que tem crescido no Brasil: as chamadas “barras”, que se identificam como não-organizadas e dizem se inspirar nas torcidas argentinas – embora tenham diferenças fundamentais com relação a elas. A barra botafoguense, conhecida como Loucos pelo Botafogo, é nova e conta com poucos adeptos, mas o movimento já tem membros que ganham projeção nacional, tamanha sua influência e participação durante as partidas. Os casos mais conhecidos vêm do Rio Grande do Sul, como a Geral do Grêmio e a Alma Castelhana, ambas do Grêmio, e a Popular do Inter, do Internacional. As características das barras podem ser resumidas em sua “carta de princípios” informal. Sem nenhum vínculo institucional, são formadas por torcedores que se unem no estádio apenas para apoiar o time, sem vaias ou minutos de silêncio. Além disso, vetam o uso e a apologia à violência, qualquer forma de louvar a própria torcida e ligações com diretoria ou jogadores do clube. As barras pioneiras, todos são unânimes em declarar, são as do Grêmio. Esse pioneirismo, aliás, é reivindicado de maneira incisiva por Rodrigo Rombaldi Rodrigues, um dos fundadores da Alma Castelhana. “Nós não trocamos experiências com os movimentos de outros times, pois somos pioneiros nessa forma de torcer e fomos vítimas de cópias. Como nós mesmos criamos coisas inéditas no Brasil, não haveria porque trocar informações”, diz. Não à toa, a Alma não é muito querida entre suas congêneres, que acusam seus membros de arrogância. “Eles têm a mania de achar que inventaram tudo e que só eles são bons”, reclama o fundador de outra torcida do tipo.

Ubiratan Leal/Trivela

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Alternativa às organizadas Não se pode afirmar categoricamente que a criação das barras serve de reação à “profissionalização” das torcidas organizadas tradicionais. É inegável, porém, que seu surgimento forma um contraponto nas arquibancadas. “Muitas torcidas organizadas estão desgastadas, porque se transformaram em empresas de vender material, e o amor a si próprias é maior que o amor aos clubes”, comenta Bernardo Teixeira, membro da barra vascaína Guerreiros do Almirante. “Algumas começaram a rivalizar com torcidas do mesmo clube e a direcionarem seus elogios e vaias por causa de ‘acertos’ com jogadores”, acrescenta. Como as torcidas dos times argentinos que as inspiram, as barras brasileiras adotam cantos com os mesmos ritmos entoados

Os princípios das barras Há pequenas diferenças no modo de agir cada barra. No entanto, os princípios básicos são os mesmos para quase todas. Veja um resumo: Incentive seu time durante toda a partida, independentemente do resultado em campo Não vaie o time e não peça a entrada de alguém que esteja no banco Os cantos devem apenas louvar o clube, jamais incitar a violência contra torcedores rivais ou fazer auto-referência Não há vínculos oficiais entre os membros, como carteirinha de sócio e sede do grupo Não crie artigos com a marca da torcida, como bonés, camisas e bandeiras. Use camisas do clube, de preferência oficiais Faixas (chamados “trapos”) devem ser feitas de maneira simples e sempre com mensagens de apoio e incentivo ao time, sem identificar a própria barra Nunca aceite presentes do clube, como ingressos ou viagens. A barra tem por princípio ajudar, e não se tornar uma despesa a mais Não aceite doações e incentivos financeiros de jogadores, dirigentes ou membros da comissão técnica. O financiamento das barras é feito por seus integrantes, de forma voluntária Se possível, torne-se sócio do clube e use o voto como forma de pedir melhorias nos rumos da gestão do time Novembro de 2006

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nos estádios platinos, algumas até com letras em espanhol. Essa ligação com os vizinhos provocou reclamações de torcidas organizadas, mas as barras se defendem, alegando que cantam músicas criadas por torcedores de outros países, como Grécia, Portugal, Itália e México. A diretriz de torcer até nas derrotas é algo intrínseco às barras, até porque esses grupos de torcedores ganharam força justamente nos maus momentos dos clubes que apóiam. “A reação da torcida atleticana no final de 2005, quando todos aplaudiram um time rebaixado em consideração pelo esforço nas últimas rodadas, aumentou muito o orgulho pelo Galo e motivou a criação de uma barra neste ano”, afirma Rafael Relo, um dos criadores do Movimento 105 Minutos, do Atlético-MG. Diego Guedes, um dos fundadores da Alma Alvirrubra, conta uma história parecida: “A idéia de criar um grupo que apoiasse o Náutico em todos os momentos surgiu naquela derrota traumática contra o Grêmio, na última rodada da Série B de 2005, quando a torcida ficou apática com a demora de o gol sair”. Uma marca da atuação dessas torcidas é a informalidade em sua organização. Não há sede ou corpo de associados, tampouco hierarquia. Por mais que alguns membros sejam

TORCEDORES SE JUNTAM E TORCEM: NÃO HÁ SEDE, SÓCIOS OU HIERARQUIA

mais influentes, não há vínculos oficiais. Assim, basta se juntar ao grupo na arquibancada com uma camisa do clube e torcer – cada barra fica sempre em um mesmo setor do estádio em todos os jogos. Mesmo para faixas e bandeiras não há muitas regras: cada um leva a sua, desde que não tenha mensagens de violência ou de exaltação a torcidas organizadas. Sem faixas, camisas, músicas ou algo que as identifiquem, as torcidas contam com o boca-a-boca para ficarem conhecidas. Até por isso, o crescimento de algumas é lento. Os principais meios de divulgação são websites, blogs e sites de relacionamento. Esse desprendimento facilita a entrada de membros, o que pode levar à concorrência com as torcidas organizadas tradicionais. A relação entre organizadas e barras é diplomática. Nenhum dos membros de barras entrevistados pela reportagem da Trivela reclamou de atos hostis por parte das torcidas mais tradicionais. “No nosso caso, a Torcida Jovem só pediu para a gente ficar um pouco mais no canto da Vila Belmiro, para não atravessarmos os cantos deles, mas chegaram a se oferecer para dividir o ônibus nas viagens”, diz Felipe Nazário, membro da A 10 Brigada Santista. Isso não muda o fato de que o novo estilo de torcer pode levar a melhor sobre o das organizadas, na preferência de novos adeptos – o que pode irritar a “velha guarda”. “Tenho um amigo que está implementando uma barra no Palmeiras, mas a dificuldade

Veja algumas das principais barras brasileiras Clube

Barra

Clube

Barra

Atlético-MG Botafogo Criciúma Figueirense Flamengo Goiás Grêmio

Movimento 105 Minutos Loucos pelo Botafogo Los Borrachos Arquibancada Alvinegra Setor 40 Onda Verde Geral do Grêmio Alma Castelhana

Guarani Internacional Juventus Náutico Palmeiras Santos São Paulo Vasco

Taba Bugrina Popular do Inter Setor 2 Alma Alvirrubra Núcleo 1914 A10 Brigada Santista São-Paulinos na Geral Guerreiros do Almirante

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Da esquerda para a direita, as barras de Juventus, Goiás, Vasco e Grêmio

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No Brasil, a imagem imediata que se faz da torcida argentina e sul-americana em geral é de um grupo fanático e apaixonado incondicionalmente por seu clube, com cantos incessantes e “avalanches humanas” para comemorar os gols. Porém, essa é apenas a face mais bonita dos chamados “barra bravas”, como são conhecidos os torcedores organizados argentinos. Lá, como cá, há problemas de violência e relação pouco transparente com jogadores e diretorias dos clubes. Os primeiros casos graves de violência entre torcidas argentinas ocorreram na década de 1930. Em 1939, as torcidas de Lanús e Boca Juniors entraram em conflito e, na tentativa desastrada de acalmar a situação, a polícia atirou contra a “hinchada” boquense. Dois torcedores foram atingidos e morreram. Naquela época, ainda não se falava em “barra bravas”. Isso só se tornou realidade em 1958, quando Alberto Mario Linker, torcedor do River Plate, foi morto por um grupo organizado de simpatizantes do Vélez Sársfield. Foi aí que se percebeu que os torcedores se uniam para planejar ações conjuntas, de cantos inofensivos a ataques sobre o adversário. Com o tempo, os ataques se tornaram uma maneira de conquistar status e mostrar força. Para ter os “barra bravas” do seu lado, dirigentes passaram a fornecer ingressos gratuitos e a bancar viagens dos torcedores organizados. Com isso, têm um grupo para pressionar opositores políticos e até jogadores. Outros meios que as torcidas argentinas usam para se financiar são a venda de drogas e a revenda de ingressos – que recebem de graça dos clubes. Para fugir da comparação imediata com os “barra bravas” argentinos, algumas barras brasileiras evitam o uso do termo “brava”. “’Barra’ é como ‘bloco’, que mesmo na América Latina significa um grupo de torcedores fanáticos e pacíficos. Procuramos não usar ‘brava’, para saberem que somos diferentes deles em relação ao comportamento violento”, explica Felipe Nazário, da A10 Brigada Santista. Membros de outros grupos brasileiros dizem não se importar com a expressão “barra brava” e que o importante é mostrar a diferença entre os dois tipos de torcida no dia-a-dia.

Fotos Divulgação

Na Argentina, violência e confusões

A barra do Náutico surgiu depois da derrota para o Grêmio na decisão da Serie B de 2005

é muito grande, devido à força das torcidas organizadas em São Paulo”, diz Teixeira, da vascaína Guerreiros do Almirante. No Rio Grande do Sul, onde a Popular do Inter e a Geral do Grêmio se consolidaram e contam com milhares de integrantes, houve uma diminuição na influência das organizadas. As diretorias dos clubes ajudaram, incentivando os novos grupos. Um dos riscos das barras ao crescerem é absorverem alguns vícios das organizadas. Cantos de hostilidade ao rival já foram ouvidos entre gremistas e colorados, tanto que a Geral do Grêmio e a Alma Castelhana – barras gremistas que, na verdade, não têm uma divisão muito clara entre si – foram acusadas de organizar a queima de banheiros químicos no Gre-Nal em julho deste ano. A polícia chegou a investigar a comunidade dos dois grupos no Orkut em busca de evidências. Rodrigues, da Alma Castelhana, nega participação: “Não seria possível o pessoal que freqüenta o Orkut organizar as ‘queimas’, se nem sabiam que haveria banheiros químicos no Beira-Rio”, alega. Outras torcidas demonstram preocupação com o problema. “Pensamos em, a partir do ano que vem, fazer um panfleto simples, apenas para orientar os novos membros, deixando claro quais são nossos princípios e evitando que caia muita gente de pára-quedas”, conta Diego Guedes, da Alma Alvirrubra. “Na Loucos pelo Botafogo, fazemos as reuniões abertas a todos, com todo mundo votando e tendo possibilidade de absorver a filosofia do grupo”, conta o botafoguense João Henrique Dias Braga. Novembro de 2006

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História, por Juan Saavedra

25 anos atrás,

hoje Primeiro clube brasileiro a vencer no Japão, Flamengo comemora os 25 anos da conquista da América e do mundo – e a volta à Libertadores uando o apito final do mexicano Mario Rubio Vazquez soou no Estádio Nacional de Tóquio, na gelada tarde de dezembro de 1981, o Flamengo tornou-se o primeiro clube do Brasil a conquistar o status de melhor do planeta depois do Santos de Pelé – e o primeiro a ganhá-lo na fase “japonesa” do Mundial de Clubes. O placar de 3 a 0 para os rubro-negros pode dar a sensação de que o time batido não era grande coisa, mas o Liverpool, adversário do Flamengo, ostentava credenciais respeitáveis. Os Reds haviam vencido o Real Madrid para faturar a Copa dos Campeões da Europa, repetindo as conquistas de 1977 e 1978. Na época, o futebol inglês dominava o Velho Continente: foram seis títulos consecutivos, entre 1977 e 1982 – Aston Villa, uma vez, e Nottingham Forest, duas, foram os outros ingleses campeões. O Liverpool do técnico Bob Paisley não era mais a máquina que havia sido na década de 70, mas ainda contava com jogadores que marcaram época na história do mais vitorioso clube inglês, como Kenny Dalglish, Phil Thompson e Alan Hansen. Por isso, chegou a surpreender a facilidade com que o clube carioca construiu o placar de 3 a 0 ainda no primeiro tempo – até hoje, o maior

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revés sofrido por um campeão europeu nas 26 edições em que a disputa ocorreu em campo neutro. “Foi a decisão mais fácil e tranqüila da minha vida”, relembra Raul Plassmann, então goleiro do Rubro-Negro. É verdade, também, que o Liverpool enfrentou um time que marcou época no futebol brasileiro. Para começar, o Flamengo contava com Zico no auge da carreira – naquele ano, o craque fora apontado como o melhor jogador do mundo pelas revistas Guerin Sportivo (Itália) e Don Balón (Espanha). Os laterais, Leandro e Junior, seriam os titulares da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982. A equipe contava ainda com o goleiro Raul, já consagrado com um dos melhores do país no Cruzeiro, o jovem zagueiro Mozer, e um miolo de meio-campo formado pelos habilidosos Andrade e Adílio. No ataque, o “trombador” Nunes quase sempre fazia seu gol – nem sempre muito bonito. Na partida contra o Liverpool, o Flamengo começou a botar a mão na taça aos 13 minutos da etapa inicial, quando um passe de Zico deixou Nunes cara a cara com o goleiro Grobbelaar para fazer 1 a 0. Aos 34 minutos, Tita sofreu falta um pouco antes da meia-lua. Zico bateu forte, Grobbelaar soltou e, depois de uma dividida, Adílio

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Fotos Sebastião Marinho/Agência O Globo

Libertadores O Flamengo jogou 14 vezes pela Libertadores de 1981, com oito vitórias, cinco empates e uma derrota. Zico foi o artilheiro da competição, com 11 gols. Primeira fase Atlético-MG 2x2 Flamengo Flamengo 5x2 Cerro Porteño Flamengo 1x1 Olimpia Flamengo 2x2 Atlético-MG Cerro Porteño 2x4 Flamengo Olimpia 0x0 Flamengo Flamengo 0x0 Atlético-MG* (Serra Dourada, Goiânia)

Segunda fase Deportivo Cali 0x1 Flamengo Jorge Wilstermann 1x2 Flamengo Flamengo 3x0 Deportivo Cali Flamengo 4x1 Jorge Wilstermann Finais Flamengo 2x1 Cobreloa Data: 13/novembro/1981 Estádio: Maracanã - Rio de Janeiro Gols: Zico (2) e Merello

Cobreloa 1x0 Flamengo Data: 20/novembro/1981 Estádio: Nacional - Santiago (Chile) Gol: Merello

Flamengo 2x0 Cobreloa

Guerra na Libertadores Para chegar a Tóquio, no entanto, o Flamengo teve que passar por uma duríssima Copa Libertadores – e quase ficou no caminho na primeira fase. Na época, as duas equipes de cada país disputavam o mesmo grupo e só o primeiro se classificava. O grupo do Flamengo tinha os paraguaios Olimpia e Cerro Porteño e o Atlético-MG, rival da final do Brasileirão de 1980. Não houve vencedor nos dois confrontos diretos, e os brasileiros terminaram empatados em primeiro com oito pontos em seis jogos. Isto provocou um tira-teima em campo neutro, no Serra Dourada, em Goiânia, numa das mais polêmicas partidas da história do futebol brasileiro: o árbitro José Roberto Wright expulsou Reinaldo e, logo em seguida, Éder, Chicão e Palhinha. O goleiro João Leite caiu e, logo de-

Zico, Andrade, Leandro e Júnior integravam o fortíssimo Flamengo de 1981

Data: 23/novembro/1981 Estádio: Centenario - Montevidéu (Uruguai) Gols: Zico (2)

Mundial

a campanha

marcou o segundo. Ainda no primeiro tempo, aos 41 minutos, Nunes foi lançado novamente por Zico e chutou cruzado para marcar o terceiro gol. No segundo tempo, os brasileiros tiveram apenas que administrar o placar.

Flamengo 3x0 Liverpool Data: 13/dezembro/1981 Estádio: Nacional - Tóquio (Japão) Gols: Nunes (2) e Adílio. FLAMENGO Raul, Leandro, Marinho, Mozer, Júnior, Adílio, Andrade, Zico, Tita, Nunes e Lico. Técnico: Paulo César Carpegiani LIVERPOOL Grobbelaar, Neal, Thompson, Hansen, Lawrenson, R. Kennedy, Lee, McDermott (D. Johnson), Souness, C. Johnson e Dalglish. Técnico: Bob Paisley * Partida interrompida após o Atlético-MG ficar sem o número mínimo de jogadores. A confederação confirmou a classificação do Flamengo

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Anselmo: “Aquele soco me prejudicou muito” Autor do lance mais polêmico da Libertadores de 1981, o famoso soco em Mario Soto, o ex-jogador Anselmo trabalha hoje na contabilidade de uma escola na cidade de Quarteira, em Portugal, onde vive com a família. A Trivela conversou por telefone com Anselmo, que defendeu o Flamengo de 1977 a 1982 e depois teve passagens por clubes como Coritiba e Sport. Inicialmente, você não estava relacionado para jogar a partida decisiva contra o Cobreloa, em Montevidéu. Por que foi chamado? Eu estava em Nova Friburgo, e meu pai recebeu uma ligação para ir ao Rio e embarcar para o Uruguai, porque o Lico estava machucado e não podia jogar. Como foi o episódio da agressão ao Mario Soto? No finalzinho do jogo, o Soto deu um soco no Tita. Eu estava no banco, e o Paulo [César Carpegiani] me chamou e disse: “Vai lá e faz isso”. Logo depois que dei o soco, ninguém sabia o que tinha acontecido. O Adílio me puxou, e aí os chilenos concluíram que tinha sido o autor da agressão e vieram pra cima de mim. Mas a polícia chegou e me protegeu. O episódio foi um caso impensado, porque nós estávamos ganhando. Se pensasse nas conseqüências que poderia ter, não sei se faria tudo de novo. Tudo isso me prejudicou muito. Por quê? No princípio, tudo foi festa, dentro do Flamengo, dentro de restaurante, eu era cumprimentado na praia. Mas depois tive uma negociação com outro clube que foi prejudicada por isso. Até saiu uma reportagem sobre mim com o título “De herói a marginal”, e a transferência não aconteceu. Muitos jogadores que atuavam contra mim achavam que eu era maluco e violento. Tinham medo, perguntavam se eu estava calmo. Ainda o abordam nas ruas por esse episodio? Mesmo aqui em Portugal, os brasileiros sempre recordam. Os flamenguistas gostam daquilo. Você guarda algum ressentimento com os ex-companheiros do Flamengo? Não. Só poderia aprender coisas boas num lugar que só tinha gente de qualidade.

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pois, Osmar recebeu cartão vermelho. Assim, o jogo foi encerrado aos 37 minutos do primeiro tempo, já que o time de Minas Gerais não tinha o número mínimo de atletas para prosseguir a partida. O Galo entrou com um recurso, pedindo a anulação do jogo, mas a Confederação Sul-Americana de Futebol indeferiu e decidiu oficializar o Flamengo como vencedor do grupo 3. Até hoje, a torcida atleticana reclama. Na fase seguinte, o Flamengo não teve problemas para eliminar o colombiano Deportivo Cali e o boliviano Jorge Wilstermann, com triunfos dentro e fora de casa. A final seria contra o Cobreloa, do Chile, um clube novo e sem tradição no cenário sul-americano, mas que tivera uma ascensão meteórica financiado pela indústria do cobre – tanto que em 1982 novamente faria a final da Libertadores. O primeiro jogo aconteceu no Maracanã, que recebeu mais de 90 mil pessoas, e foi vencido pelo Flamengo por 2 a 1. Uma semana depois, no Estádio Nacional de Santiago, os brasileiros só precisavam do empate, mas sucumbiram ao ambiente hostil, marcado pela presença em campo dos carabineros, e ao jogo violento do time chileno e acabaram derrotados por 1 a 0. Os flamenguistas deixaram o campo revoltados com a atuação do zagueiro chileno Mario Soto. “Saí machucado porque ele me atingiu com um soco. Depois, fiquei sabendo que ele jogava com um anel de pedra na mão. Quase perdi a vista – tanto que não tive condições de atuar no jogo seguinte”, recorda o atacante Lico. Segundo Junior, esse era o clima da competição na época: “Era guerra mesmo”. O jogo extra foi marcado para o Estádio Centenario, em Montevidéu, no dia 23 de novembro, uma segunda-feira. Zico abriu o placar logo aos 17 minutos do primeiro tempo. Aos 25, o uruguaio Roque Cerullo expulsou o chileno Alarcón, mas, logo depois, Andrade perdeu a cabeça e fez falta violenta em Jiménez e também foi expulso. A tranqüilidade rubro-negra só veio aos 33 minutos do segundo tempo, quando Zico marcou o segundo, cobrando falta. Nos minutos finais, o flamenguista Anselmo, então reserva de Nunes, acabou protagonizando o lance que marcou a disputa, ao agredir com um soco o zagueiro Mario Soto. Os envolvidos contam que o episódio foi planejado depois do jogo de Santiago, em que o Flamengo ficou revoltado com a violência do chileno. “O Carpegiani tinha combinado com o Nunes de ele dar uma porrada no Mario Soto quando o jogo estivesse resolvido. Como o Nunes não fazia o que foi combinado, o Anselmo entrou”, lembra Paulo Dantas, diretor de futebol do Flamengo na época. Carpegiani confirma. “Quando o Mario Soto deu uma entrada violenta no Tita, em frente ao nosso banco de reservas, eu chamei o Anselmo e não deixei nem ele aquecer. Disse: ‘Espera a bola ir pro outro lado e vai lá e dá no meio dele’. Assumo a responsabilidade”, diz o treinador. “A gente não ia dormir sossegado só com a vitória”, diz Raul Plassmann. Vinte e cinco anos depois, o Flamengo prepara uma grande festa para lembrar as duas conquistas. No ano que vem, o clube disputa novamente a Libertadores. Por mais que, hoje, isso pareça coisa de um passado distante, tudo que a torcida quer é um time em condições de fazê-la reviver as emoções de 1981.

CARPEGIANI CONFIRMA: “CHAMEI O ANSELMO E DISSE: ‘VAI LÁ E DÁ NO MEIO DO MARIO SOTO”

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Um dia especial Arthur Antunes Coimbra, o Zico, descreve o Mundial de 1981, neste texto exclusivo para a Trivela ra um domingo bem diferente dos calorosos domingos no Maracanã. Fazia um baita frio no Estádio Nacional de Tóquio, no Japão, e o Flamengo se preparava para o jogo mais importante de sua história. Uma vitória era o ponto final perfeito depois de tanto sofrimento na Libertadores, que terminou com a batalha contra o Cobreloa. Mas do outro lado estavam os súditos da rainha, o Liverpool, campeão inglês de 1979 e 1980, campeão da Copa da Inglaterra e da Copa dos Campeões da Europa. Era um time que tinha passado por Bayern de Munique e Real Madrid para chegar ali. Certamente, teríamos

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pela frente uma equipe muito forte. Apesar de toda a qualidade dos adversários e do frio, muito mais parecido com o clima europeu, fizemos daquele jogo contra o Liverpool uma partida fácil. Perto do que havíamos passado contra os chilenos do Cobreloa, os ingleses pareciam inocentes gatinhos. Estávamos escaldados! Tanto que costumo dizer que o gol que fiz de falta na vitória contra o Cobreloa foi o que mais comemorei na minha vida. Voltando ao Mundial, a bola rolou, e marcamos o primeiro gol aos 13 minutos, com o Nunes. Aos 34 minutos, cobrei uma falta que o Grobbelaar rebateu, e o Adílio fez o segundo. Mais sete minutos, e mais

uma vez o Nunes marcou: 3 a 0. Fomos para o intervalo confiantes e meio atônitos. Era delicioso e difícil admitir, mas tudo indicava que havíamos matado o jogo. E foi o que aconteceu. No segundo tempo, o Liverpool não conseguiu reagir, e conquistamos o título pelo qual tanto lutamos, buscamos e merecemos. Chegamos ao ponto mais alto da história do Flamengo: campeão mundial interclubes. Fizemos festa no campo, Nunes ganhou aquela chave enorme do carro Toyota como artilheiro, e eu ganhei outra, por ter sido eleito melhor jogador. Até hoje tenho este Toyota preservado e guardado como um legítimo troféu! Fomos para o vestiário comemorando e até chegarmos ao hotel foi aquela festa. Aos poucos, no entanto, nós começamos a nos entreolhar. Havia um silêncio no ar. Eu olhava para a cidade de Tóquio e não via nada, meus companheiros certamente sentiam essa sensação de vazio. Naquela época, não havia Internet nem TV a cabo para que pudéssemos acompanhar o resto do mundo. Queríamos gritar “é campeão” para o planeta inteiro ouvir. Havia, claro, alguns heróis torcedores rubro-negros no estádio Nacional, mas, naquele momento, eu sentia falta daquela força que sempre foi a marca do Flamengo, a torcida vibrando e gritando. Era um silêncio. Não posso afirmar que todos, mas imagino que muitos de meus companheiros estavam com aquela mesma sensação. Como será que está o Rio de Janeiro agora? O buzinaço nas ruas, as bandeiras nas janelas, o chope da vitória, uma madrugada que não ia ter fim... A verdade é que, quando o árbitro mexicano Rubio Vazquez apitou o fim do jogo, o que eu mais queria era estar no Brasil, de preferência no meio da galera fazendo a festa. É curioso isso, mas é pura verdade: quando alcancei um dos momentos mais importantes da minha carreira como jogador, o que mais queria sentir era o grito de campeão da torcida do Flamengo! Fiquei imaginando essa cena. E acredito que quase todos nós dormimos pensando no Brasil. Aquela vitória mudou nossas vidas e pudemos sentir isso na volta. Inesquecível! Novembro de 2006

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Entrevista, por Cassiano Ricardo Gobbet

Baltemar, o

brasileiro do Chelsea O time de Roman Abramovich tem um brasileiro, embora na Inglaterra todos pensem que Baltemar de Brito é português e, no Brasil, ninguém o conheça. Trivela conversou com o homem de confiança de José Mourinho uase todos os dias, perto das 7:30 da manhã, uma imponente Mercedes pára em frente ao número 1 da Hans Crescent, no bairro chique de Knightsbridge, em Londres, para que um pernambucano de Recife embarque. Ao volante, um dos homens mais controversos do futebol mundial, o técnico do Chelsea, José Mourinho, faz as vezes de motorista para Baltemar de Brito. O recifense conhece bem o “motorista”, que, afinal, é seu chefe, e evita atrasos. Juntos, e tendo a companhia do treinador de goleiros da equipe, Silvino Louro, seguem para o centro de treinamentos do clube em Cobham, onde o elenco mais caro do planeta se prepara para chegar onde seu dono, o milionário russo Roman Abramovich, quer vê-lo: o topo do mundo. Baltemar de Brito, praticamente desconhecido no Brasil, é o homem de confiança, a “sombra” de José Mourinho. Sério e com um olhar que ainda lembra o zagueiro Brito, cuja carreira em Portugal durou 14 anos, o recifense se diz surpreso com a entrevista. “Nem aqui, nem no Brasil, as pessoas sabem que eu sou brasileiro. Todo mundo acha que eu sou português”, explica, na sala de seu confortável apartamento, quase vizinho de parede da famosa loja de departamentos Harrod’s.

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A principal explicação para o fato de ser desconhecido em seu próprio país está no fato de que sua carreira de jogador por aqui teve vida curta. Aos 21 anos, Baltemar já tinha jogado por Sport, Náutico e Santa Cruz. “Estava sem receber e pensei: ‘se volto para um clube pequeno, não saio mais’. Daí, decidi: Pronto. Em Recife não jogo mais”. E não jogou mesmo. Seguiu para Portugal, onde atuaria por 14 temporadas e seria treinado por Félix Mourinho, no Rio Ave. “Foi o melhor treinador que tive na minha vida”, diz Baltemar. Sob a batuta de Mourinho pai, participou da melhor campanha da história do Rio Ave, em 1981/2, e acabou conhecendo o filho do treinador, José, que jogava pelo time de aspirantes. “Tive uma relação excelente com ‘seu’ Félix. Tanto que freqüentava a casa dele e era amigo da família”, explica. “É daí que veio a idéia de José me chamar para trabalhar com ele. A Tami [esposa de José Mourinho] foi quem sugeriu de ele me chamar”, conta. Tami, esposa que Mourinho conheceu ainda garoto, sabia o que o marido procurava. Queria um soldado, um guardião em quem pudesse confiar sem reservas. Baltemar, que treinava na terceira divisão portuguesa, tinha parado de jogar quase uma década antes,

Baltemar, à direita, está há tanto tempo com Mourinho que até seus gestos se parecem

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Mike Finn-Kelcey/Reuters

ficha

Nome: Baltemar de Brito Nascimento: 9/janeiro/1953 Carreira como jogador: América-PE, Náutico, Sport e Santa Cruz (Brasil); Vitória Guimarães, Paços de Ferreira, Feirense, Rio Ave, Varzim e Vitória Setúbal (Portugal) Carreira como técnico: Varzim (assistente e depois técnico); Macedo de Cavaleiros (técnico); União de Leiria, Porto e Chelsea (como assistente de Mourinho)

Melhor jogador do mundo hoje: “Kaká” Melhor time: “Não há um que se destaque muito, mas depois de termos batido o Barcelona, digo Chelsea” Melhor treinador: “Nem preciso responder... os números dizem” [claramente referindo-se ao Mourinho] Pior problema do futebol: “A pressão da mídia” Possível surpresa na Euro-2008: “Croácia” Time do coração: “Quando menino, eu era Náutico, mas, depois, quando descobri que era um time elitista, onde só jogavam brancos, passei a ter simpatia pelo Sport”

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mas não se firmava na nova carreira. Assim como tinha feito seu pai, Mourinho recorreu ao brasileiro em busca de segurança, e os dois foram juntos para o União de Leiria. Desde então, o português sabe o quanto vale sua comissão técnica. O brasileiro o acompanhou quando foi para o Porto e, quando foi negociar com Roman Abramovich, já campeão europeu e laureado como um dos maiorais do continente, o treinador colocou sua primeira condição: “Meus assistentes vão todos comigo”. Nada a que o russo fosse objetar. A lealdade de Baltemar a Mourinho não é menor e fica nítida quando pergunto a ele se

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a postura do português não é arrogante. “Não concordo com isso. José é muito justo, mas jogador é como seu filho: você ama, mas às vezes precisa chamar à razão”, defende. Quando jogava, Baltemar era conhecido como o “xerife” da defesa, ou o “cão de guarda”. Como assistente, tanto no Chelsea como no Porto e no União de Leiria, ele segue a mesma tendência. Na partida de volta das semifinais da Copa Uefa de 2002/3, Mourinho tinha sido suspenso pela Uefa e acompanharia a partida da tribuna. Com mais de duas dezenas de torpedos telefônicos, Mourinho determinou o que Baltemar tinha de fazer. E o pernambucano se-

guiu tudo à risca, inclusive xingando quando tinha de xingar e mandando Deco parar de inventar. O Porto se classificou e, com Mourinho de volta ao banco, bateu o Celtic na final. O roteiro se repetiu na Liga dos Campeões de 2005, contra o Bayern de Munique – Mourinho estava suspenso por ofender o árbitro da partida contra o Barcelona, Anders Frisk, e o time foi dirigido pelo brasileiro. E chegou à semifinal.

Futebol Segundo Baltemar, no Leiria é que se formatou a parceria e o modo de José Mourinho trabalhar. “Tínhamos a mesma filosofia que te-

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Stuart Franklin/Getty Images

No jogo contra o Bayern, pela LC de 2004/5, foi Baltemar (centro) que dirigiu o Chelsea – sempre recebendo as instruções de Mourinho pelo celular

mos hoje: não adianta você treinar o time por partes. Tudo é feito em conjunto”, explica. Pergunto como treina o Chelsea, com tantas estrelas para gerenciar. “Isso é um problema de José, é ele quem gerencia”, conta. “Não damos treinos específicos, e até a preparação atlética é feita com exercícios com bola”. Apesar de Baltemar aparecer no site do Chelsea como o encarregado de acompanhar os próximos adversários, ele diz que a tarefa é de outro assistente. “Meu trabalho é basicamente no campo”. Uma das funções do brasileiro – não confirmada por ele – é a de atuar como uma válvula de escape para a pressão do autoritário Mourinho, aproximando-se bastante dos atletas. “Tem duas coisas que são vitais no desempenho do jogador: autoconfiança e motivação. Se ele se sente importante e confia em si próprio, joga mais do que poderia”. “É o forte de Mourinho?”, pergunto. Novamente, o escudeiro responde: “Não dá para dividir o trabalho dele em setores. É um treinador completo”. De acordo com o pernambucano, apesar de não ter feito um começo de temporada muito feliz, o ucraniano Andriy Shevchenko tem treinado muito bem, e é daí que vem o aval da “família Mourinho” ao craque. “Ele veio de um campeonato diferente e teve menos férias por causa da Copa. Digo a ele todos os dias que, mais cedo ou mais tarde, os gols vão voltar a sair, porque a aplicação dele vai se fazer sentir”, conta. Trocamos o apartamento por um café vizinho e encontramos o zagueiro Ricardo Carvalho, outra peça do “Porto Mágico” que Mourinho importou para Londres. Aproveito e pergunto qual o jogador que mais o impressionou no diaa-dia. Lampard? Shevchenko? Ballack? Deco? “Não, o Derlei”, surpreende Baltemar. Por que o atacante brasileiro – que nem tem tanta reputação? “O Derlei é um jogador fantástico. No Leiria, fez 21 gols em 33 jogos e, apesar de ser atacante, defendia no campo inteiro. Uma vez, jogando pelo Porto contra o Alverca, ele sofreu uma lesão séria no joelho quando estava marcando um jogador na lateral-direita”, elogia. “Ele tem muito menos nome do que merecia”, diz Baltemar. A lógica de Baltemar é moldada à imagem da do chefe. Então, essa necessidade de aplicação tática é que faz com que o Chelsea raramente seja ligado a rumores de transferências envolvendo brasileiros? Ou melhor,

por que raios não tem brasileiros no Chelsea? “Isso é uma coisa mais simples do que as pessoas imaginam. Para jogar no Chelsea, tem de ser um brasileiro de Seleção e, ainda, o melhor da Seleção. Seja quem for esse jogador, ele já está sob um daqueles contratos que inviabiliza a contratação”. Então o Mourinho não tem nada contra brasileiros? Baltemar até dá risada. Além dele mesmo, os defensores da tese de que o técnico é antibrasileiro deveriam lembrar de que no Porto campeão estavam Deco, Derlei, Carlos Alberto e Esquerdinha – todos nossos compatriotas. Com essa mentalidade de valorização dos que “comem a grama”, qual a opinião de Baltemar sobre Dunga e a nova era da Seleção? “Dunga pode vir a ser um bom técnico, mas eu não sei da formação dele. Sei de uma coisa, isso sim: não é porque o jogador foi um grande líder em campo que ele será um bom treinador. Já vi grandes jogadores que viram um zero ao lado do campo, provavelmente porque não sentem como técnicos a mesma confiança que tinham como atletas. Agora, se ele sabe de futebol, se sabe gerenciar, isso não sei dizer – mas isso não é uma crítica. Tomara que ele saiba e vá muito bem”. E quem é o grande técnico da Inglaterra ou da Europa – Mourinho à parte? “Você tem de ir atrás de quem ganha os títulos para responder essa pergunta”. Rafa Benítez, do Liverpool? “Olha, ele ganhou a Liga dos Campeões, mas um time que ficou quase 40 pontos atrás do Chelsea no Inglês, a meu ver, não pode ser considerado o melhor”, alfineta. Entre os brasileiros, sugiro Luiz Felipe Scolari, mas Baltemar se esquiva. “Vanderlei Luxemburgo é um técnico, por exemplo, que vence e convence. O treinador que ganha sempre deve ter alguma coisa de bom. Outro excelente é o Paulo Autuori, pessoa de fino trato, direto. Grande profissional, mas não conheço pessoalmente a fundo”. Termino perguntando sobre os técnicos no Brasil. “Há uma grande rejeição no Brasil, por parte dos treinadores, de que se estude mais a fundo o futebol. Dizem que já está tudo inventado, mas, a meu ver, ainda é um dos esportes que menos evoluiu”, afirma. “Fui ao Brasil há pouco tempo e vi gente dando treino como eu tinha em Recife, em 1970, há 36 anos.

O Chelsea não tem brasileiros porque os que poderiam jogar aqui têm contratos que inviabilizam a contratação

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Ivan Milutinovic/Reuters

Montenegro, por Ubiratan Leal

O filho mais

novo da Iugoslávia Após separar-se da Sérvia, Montenegro tem de construir seu futebol do zero, desde a montagem das seleções de base à organização campeonato nacional ma das pérolas proferidas por comentaristas de televisão na Copa do Mundo aconteceu, na verdade, antes do torneio. Escalado para comentar as perspectivas para o sorteio da competição, o atual técnico da Seleção Brasileira, Dunga, não hesitou ao analisar a composição do “pote extra” – que tinha apenas a seleção de Sérvia e Montenegro: “são duas seleções tradicionais da Europa, e tanto faz pegar uma ou outra”. Foi uma bobeada do comentarista iniciante. Pode-se dizer, entretanto, que, sem saber, Dunga estava só alguns meses adiantado. Em 21 de maio, a população montenegrina decidiu, por meio de um referendo, separar-se da Sérvia. A cisão foi oficializada em 3 de junho, seis dias antes

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do início do Mundial da Alemanha. No torneio, sérvios e montenegrinos permaneceram unidos, no que foi um dos últimos suspiros da antiga Iugoslávia. Agora, Montenegro é um país completamente autônomo, com governo próprio, bandeira nova e, claro, um futebol independente. A Federação Montenegrina de Futebol já existe. Foi fundada em 1931 e funcionava como parte da finada federação iugoslava, organizando os grupos montenegrinos da segunda e da terceira divisão. Apesar disso, a construção de uma estrutura futebolística própria não é simples. É preciso organizar um campeonato nacional com várias divisões e mobilizar jogadores para montar sele-

ções em todas as categorias. Além disso, há o desafio de obter o reconhecimento internacional, para ter permissão de participar de competições oficiais. As questões burocráticas estão bem encaminhadas. Em 5 de outubro, a federação montenegrina foi aceita como membro provisório da Uefa, e a inclusão definitiva na entidade pode vir em janeiro. A partir daí, a filiação à Fifa deve sair em pouco tempo. Por causa desses prazos, Montenegro ficou de fora das eliminatórias da Euro-2008. Assim, por enquanto, o objetivo é realizar amistosos, para ter uma seleção pronta para a disputa das eliminatórias da Copa de 2010. No âmbito doméstico, o campeonato local já está em disputa, com duas

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Montenegro aposta em jovens como Vucinic (deitado) e Vukcevic

divisões nacionais (com 12 clubes cada) e mais três níveis regionalizados. Um grande desafio será montar o elenco da seleção. Na Copa do Mundo, a equipe de Sérvia e Montenegro tinha apenas um jogador montenegrino: o goleiro Jevric. Historicamente, entretanto, nunca faltou talento aos montenegrinos. A federação local, por exemplo, é presidida desde antes da independência por Dejan Savicevic, que, como jogador, ajudou o Estrela Vermelha a conquistar o Mundial Interclubes e depois brilhou no Milan (veja entrevista no box). Para a seleção independente, as principais apostas de Montenegro recaem sobre os atacantes Vucinic (da Roma, que foi convocado para o Mundial da Alemanha, mas foi cortado depois de se contundir

em um amistoso de preparação) e Purovic (Estrela Vermelha, da Sérvia) e sobre os meias Burzanovic (Buducnost) e Vukcevic (Saturn, da Rússia). Além desses, há muita esperança em dois jovens atacantes: Jovetic, de 17 anos, que atua no Partizan Belgrado, e Banda, de 16 anos, que está no Lecce, da Itália. Para ajudar no surgimento de novos jogadores, a federação montenegrina já organizava clínicas de futebol para os principais nomes das categorias de base dos clubes do país antes mesmo da independência. A intenção, agora, é intensificar esse programa – até porque Montenegro também tem de montar seleções em categorias de base, que também ainda não existem.

“Teremos mais espaço” Savicevic, ex-craque do Milan e atual presidente da federação de Montenegro, diz que independência dará mais oportunidades a clubes e jogadores do país. Quais foram os primeiros passos para organizar o futebol montenegrino? A primeira medida foi criar departamentos que não existiam, como o de seleções nacionais e o de inscrição de clubes. Depois do reconhecimento provisório pela Uefa, vamos formar seleções em todas as categorias, do sub-15 ao adulto, e trabalhar para a filiação definitiva na Uefa e na Fifa. Em quase todos os países que surgiram com a dissolução de União Soviética e Iugoslávia, houve hegemonia de um ou dois clubes. Você imagina que isso possa ocorrer em Montenegro? Estou satisfeito com a qualidade da nossa liga nacional. Dos 12 clubes na elite, sete – Zeta, Buducnost, Jedinstvo, Sutjeska, Mogren, Rudar e Kom – disputaram a primeira divisão da Sérvia e Montenegro. Claro que nem todos são iguais. Os clubes mais populares são Buducnost e Zeta, os grandes rivais da região metropolitana de Podgorica [capital do país]. O Buducnost é o mais tradicional, pois quase todo montenegrino que fez sucesso na antiga Iugoslávia defendeu o clube, casos de Mijatovic, Brnovic, Lekovic, Mirocevic, Zeljko Petrovic, Drobnjak, Savelijc, Sabanadzovic... e eu. Você foi um ativista importante no movimento de independência de Montenegro. Que vantagem ela trará aos montenegrinos no futebol? Acho que, agora, nossos jogadores e clubes têm mais chances de disputar competições internacionais. Na época da união com a Sérvia, tínhamos 15 atletas nas quatro seleções de base, e só uns seis ou sete eram titulares. Com a separação, teremos quatro seleções próprias, ou seja, cerca de 80 jovens terão oportunidade de jogar competições internacionais – isso sem contar a seleção principal. Novembro de 2006

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Viva World Cup, por Carlos Eduardo Freitas

A Copa dos

NF-Board, federação mundial alternativa de futebol, organiza em novembro a primeira Copa do Mundo de seleções não filiadas à Fifa. A entidade, porém, sofre com uso político por parte de seus membros

Fotos Divulgação

excluídos ara países como Brasil, Alemanha e Itália, disputar uma Copa do Mundo faz parte do cotidiano quadrienal. Seleções de países menos tradicionais, como Venezuela, Suazilândia e Samoa Americana sentem ao menos o gostinho de disputar as eliminatórias. Algumas pessoas, porém, não se sentem representadas por alguma seleção nem na briga por uma vaga para o Mundial. Para esses torcedores, eis que surge uma luz. Entre os dias 19 e 25 de novembro, acontece a primeira edição da Viva World Cup, uma espécie de Copa do Mundo alternativa que reúne equipes de territórios não filiados à Fifa. A competição será disputada em Hyères Les Palmiers, cidade localizada próxima a Toulon, na Occitânia, região ao sul da França. Os seis participantes estão divididos em dois grupos. No A, estão as seleções de Mônaco (não confundir com o Monaco, clube que disputa a primeira divisão do Campeonato Francês), Lapônia e Camarões Meridional. No B, está a anfitriã Occitânia, além de Rom e Papua Ocidental.

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Os participantes Grupo A Mônaco Pequeno país ao sul da França, famoso por suas instituições bancárias e por receber o GP de Fórmula 1.

Lapônia Região no norte da Escandinávia, entre Noruega, Suécia, Finlândia e Rússia. Mais conhecida por ser a “terra do papai Noel”.

Camarões Meridional Corresponde à região hoje ocupada pelas províncias Noroeste e Sudoeste de Camarões. É a parte do país que fala inglês.

Grupo B Occitânia Região que compreende áreas do sul da França, noroeste da Itália e norte da Espanha onde se fala a língua occitana.

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A competição é organizada pela Nouvelle Fédération-Board – ou apenas NF-Board. A entidade foi criada em 2003, na Bélgica, com o objetivo de dar oportunidade a “países”, territórios e nações não reconhecidas pela Fifa, mas que têm interesse em jogar futebol internacionalmente. Para disputar uma partida internacional, seleções de territórios não filiados à Fifa precisam pedir uma autorização especial, que muito raramente é concedida. “A última vez que isso aconteceu foi no começo da década de 90, num jogo entre as Ilhas Salomão e Nauru”, relembra Jean Luc Kit, vice-presidente e membro fundador da NF-Board, que completa: “É uma discriminação grave, uma injustiça”. A entidade tem hoje 13 membros oficiais, seis provisórios e outros três em processo de associação. Para se ter uma idéia da importância que ganha a nova entidade, a renomada revista inglesa World Soccer dedica há pouco mais de um ano ao menos uma página por mês ao noticiário de equipes de seleções não filiadas à Fifa.

Jogadores da seleção do Chipre do Norte comemoram o título da Fifi Wild Cup

Pessoas nômades originárias do norte da Índia e que falam o idioma romanês. Hoje, estão espalhadas por todo o mundo.

Papua Ocidental Povo da província indonésia localizada na ilha da Nova Guiné.

Forma de disputa Todos jogam contra todos em seus respectivos grupos. O primeiro colocado de cada chave classifica-se para a final. Os dois segundos se enfrentam pelo terceiro lugar, enquanto os dois piores classificados definem o quinto melhor time – isto é, todas as equipes disputam três partidas. Novembro de 2006

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Legenda noonno nonono nonononono

Bandeira levantada na Alemanha Em junho, pouco antes da Copa do Mundo, a entidade participou da organização da Fifi Wild Cup, em Hamburgo, da qual participaram Zanzibar, Gibraltar, Groenlândia, Tibet, Chipre do Norte e a “República de St. Pauli” – na verdade uma equipe das divisões inferiores da Alemanha, que emprestou o estádio Millerntor para a competição. Por seu caráter exótico, a Wild Cup foi um sucesso de mídia e patrocínio, mas a própria NF-Board tem algumas ressalvas à maneira como foi organizada. O problema não foi a presença do St. Pauli, mas sim a participação de artistas e comediantes jogando pelas cinco seleções convidadas. “Não aceitamos essas partidas para as estatísticas, já que perdem o caráter de seriedade”, diz Kit, que antes de formar a entidade trabalhava como estatístico para o Observatório Mundial do Futebol, um grupo de estudiosos que registra a história do esporte. Segundo o dirigente, ao contrário do que se pode pensar, o nível das partidas não é ruim: “Eu diria que são equivalentes a jogos de segunda divisão, mas a diferença qualitativa entre os jogadores é grande”, afirma o dirigente da entidade. Raramente, porém, os atletas são profissionais. Os que são, dificilmente se convencem a abrir mão de defender as seleções oficiais de seus

Quem pode se filiar à NF-Board?

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países para jogar por uma dessas “nações’” Um caso famoso é o de Jesper Gronkjaer, destaque da seleção dinamarquesa na Copa de 2002. O jogador do Kobenhavn nasceu na Groenlândia, mas jamais cogitou a possibilidade de defender a seleção do território. “Infelizmente, é difícil convencer os jogadores nascidos na nossa região a acreditar na nossa causa”, explica Dabney Yerima, presidente da Associação de Futebol de Camarões Meridional, um dos participantes da Viva World Cup.

ELF Cup A Viva World Cup aconteceria originalmente no Chipre do Norte, vencedor da Fifi Wild Cup e atual líder do ranking da NF-Board. O uso da competição por políticos do território, localizado ao norte do Chipre e controlado pela Turquia, fez com que a NF-Board tirasse o torneio da ilha do Mediterrâneo. “Lá seria o lugar ideal, por estar próximo à África, à Europa e à Ásia”, lamenta Kit. Ouro fator importante seria a ajuda do governo local no transporte de seleções que, sem auxílio, não teriam condições de participar. Inicialmente, a competição conta-

Para se tornar membro da Nouvelle Fédération-Board, uma das primeiras exigências é a ausência de motivação econômica, política e religiosa daqueles que querem ter suas seleções representadas. “Não estamos interessados em fronteiras ou questões políticas, mas sim nos valores culturais ou

USO POLÍTICO ACABOU LEVANDO À REALIZAÇÃO DE DOIS TORNEIOS

de territórios isolados”, explica Jean Luc Kit. Isso explica a presença de membros como Rom e Masai, grupos étnicos que estão espalhados em regiões da Europa e da África, respectivamente, sem território definido. “Nossa vocação é fazer com que equipes de povos e nações possam jogar”, diz Jean Luc,

que revela ter recebido uma proposta de filiação de uma federação de futebol do Brasil do Sul. Segundo o dirigente, após investigada a validade da filiação, os “sul-brasileiros” serão aceitos como membros em 2007. “Seria uma honra também se tribos de índios da região da Amazônia montassem suas seleções”.

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Fotos Divulgação

ria com 16 seleções. Por conta desse incidente, a entidade tirou o torneio da ilha e acertou a disputa na Occitânia. Como conseqüência, a NF-Board perdeu o apoio financeiro que receberia dos norte-cipriotas, além da possibilidade de arrecadar dinheiro com a venda dos direitos de transmissão para canais de televisão como a BBC e a Al-Jazeera. Para piorar, a Federação do Chipre do Norte organizou uma competição própria, a ELF Cup (ELF é uma abreviação para “Egalité, Liberté, Fraternité” – igualdade, libertade, fraternidade), que acontece no mesmo período da Viva World Cup. Além do “país-sede”, participará também Zanzibar – esses, os dois primeiros colocados do ranking da NF-Board –, Groenlândia, Tibet e Kosovo, seleções capazes de atrair mais atenção da mídia do que Lapônia e Papua Ocidental. Tudo isso é possível graças à ajuda dos cipriotas nas despesas com viagem.

Uso político A NF-Board ficou profundamente irritada com esse racha e chega a acusar os norte-cipriotas de pirataria. Em seu estatuto, a entidade diz não aceitar o uso político e religioso de suas competições. Fica difícil imaginar, porém, que territórios separatistas como Tchetchênia e Tibet não usem essas competições

como forma de chamar a atenção para suas causas. “Não dá para desprezar o que podemos conseguir em termos de visibilidade com essa competição”, afirma Dabney Yerima, presidente da Associação de Futebol de Camarões Meridional, que completa: “As pessoas conhecem Camarões por ser um país tradicional no futebol, mas não sabem qual é a nossa situação política”. Não por acaso, Yerima é também dirigente de um movimento separatista do país. A própria criação da NF-Board esbarra em questões políticas: o não reconhecimento pela Fifa de grupos étnicos que não se sentem representados pelos países a que pertencem oficialmente. “Nossa entidade é uma reação à Fifa, que é a federação internacional. Eu a respeito muito, mas acho profundamente injusto que ela fale em seu estatuto sobre partidas não autorizadas”, afirma Kit. O caso de Gibraltar, potencial membro da NF-Board e pleiteante a uma vaga na Fifa, é o mais emblemático. A federação de futebol do território inglês tenta se filiar à Uefa para, em seguida, ser reconhecida mundialmente. “A Fifa não quer que ele se filie”, acusa o vice-presidente. Segundo Jean Luc, se Gibraltar for aceito, a federação não lamentará a perda de um aliado: “Faremos uma festa. É uma vitória para um novo território que poderá desenvolver seu futebol”.

Federações filiadas à NF-Board* Membros

Membros provisórios

África Ilhas Chagos, Somaliland,

África Masai, Saara Ocidental, Zanzibar América do Sul Ilha de Páscoa Ásia Tchetchênia Oceania Kiribati

Camarões Meridional Ásia Tibet Europa Groelândia, Occitânia, Chipre do Norte, Lapônia, Mônaco, Rijeka e Rom Oceania Molucas do Sul, Papua Ocidental

Membros em associação Europa Baixa Saxônia do Sul, Saugeais, Sealand

Ranking mundial da NF-Board**

1 Chipre do Norte 1.047 2 Zanzibar 1.038 3 Lapônia 895 4 Mônaco 807 5 Occitânia 776 6 Groenlândia 707 7 Molucas do Sul 613 Ilha de Páscoa 613 9 Tibet 566 10 Tchetchênia 564 11 Kiribati 356

*A entidade contabiliza outros 106 membros em potencial

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Na página ao lado, as partidas da Wild Cup entre Kosovo e Lapônia e entre Occitânia e Mônaco; nesta, as seleções de Papua Ocidental e Tibet (acima)

** Até outubro de 2006

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Libéria x Ruanda, por Cassiano Ricardo Gobbet

O jogo do milhão de

mortos

Se as vítimas das guerras civis de Libéria e Ruanda fossem à partida entre as duas seleções, no dia 9 de outubro, o estádio precisaria de 1 milhão de lugares. Para essas nações, o futebol é um dos poucos alívios que restam

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Christopher Herwig/Reuters

No estádio, populações dos países se unem em torno das equipes nacionais

ma partida de futebol entre Libéria e Ruanda, pelas eliminatórias da Copa Africana de Nações, não é o tipo de disputa que costuma aparecer nas manchetes da mídia esportiva ao redor do mundo. O jogo, entretanto, merece atenção por um motivo que vai além da importância futebolística. Os dois países se enfrentaram no campo pela primeira vez desde que saíram de suas sangrentas e traumáticas guerras civis, ocorridas nos anos 90. Nos dois conflitos, cerca de 1 milhão de pessoas morreram, de acordo com as estimativas mais conservadoras. As duas populações ainda são divididas por fortes diferenças raciais – especialmente em Ruanda, onde 800 mil tutsis foram

U

mortos pela maioria hutu em somente 100 dias, diminuindo a população do país em cerca de 10%. Esse é considerado o maior massacre de uma só população depois da II Guerra Mundial. Contudo, quando se trata dos Amavubi (“Vespas”, apelido do time de Ruanda) e da Estrela Solitária (a seleção liberiana), os povos deixam as marcas da guerra do lado de fora do estádio, unidos pelas cores da mesma camisa nacional. “Nem durante a guerra o futebol parou na Libéria”, conta Sebe Giddings, jornalista de uma rádio de Monróvia, capital liberiana, que esteve no estádio Antoinette Tubman, onde ocorreu a partida. “Só quando havia um ataque”, adiciona. “O futebol é, provavelmente, a grande fonte de alegria e união do povo”, diz Giddings. A Libéria mandou muitos de seus jogos em Gana durante o conflito, que foi de 1989 a 1996; Ruanda chegou a abdicar da disputa de alguns torneios devido ao caos causado pela guerra. Em 2003, depois de uma histórica vitória contra Gana, que classificou a equipe para a CAN-2004, Ruanda parou, e hutus comemoraram a vitória ao lado de tutsis, grupo que estavam chacinando nove anos antes. O então treinador da seleção ruandesa, Ratomir Dujkovic (técnico de Gana na última Copa do Mundo), disse ao jornal inglês The Observer: “É uma grande honra poder dar uma alegria assim a um país tão pobre como Ruanda”. Apesar disso, a estrutura futebolística local é extremamente pobre – outra decorrência da guerra. Além da destruição das estruturas locais, mortes de jogadores e desmantelamento de organizações esportivas, os países sofreram com o êxodo de refugiados – cerca de 3 milhões de pessoas deixaram as duas nações, fugindo da guerra, em populações que, somadas, não chegavam a 11 milhões. Libéria e Ruanda não contam com ligas profissionais, tendo dificuldades até mesmo para comprar uniformes e pagar transporte para os atletas. Os campeonatos são semiprofissionais e sofrem forte interferência política. Por exemplo, o presidente da federação ruandesa, Brigadeiro Jean Bosco Kazura, venceu a eleição para o cargo, em fevereiro, pelo democrático placar de 92 a 0. O presidente

do país, Paul Kagame, é quem banca a seleção nacional com sua fortuna pessoal, o que faz com que, de vez em quando, dê declarações como se fosse o “dono” do time.

“Ato cívico” O jogo foi aguardado com ansiedade pelos torcedores da Estrela Solitária, especialmente por causa de uma má estréia contra a Guiné Equatorial. “Achávamos que a partida fosse ser bem fácil, porque os Amavubi não têm uma grande reputação”, conta Giddings. A Libéria de hoje não tem mais o craque George Weah – nem em campo, nem na política. Weah concorreu à presidência em 2005, mas foi batido pela oposicionista Ellen Johnson-Sirleaf – que também foi ao estádio, transformando o evento num “ato cívico” ainda mais importante. Os 25 mil lugares do Antoinette Tubman estavam tomados. Estimativas dão conta de que havia pelo menos mais 10 mil pessoas dentro do estádio e outras tantas na parte externa, sem conseguir entrar. Na hora da execução dos hinos, a organização do jogo trocou o hino de Ruanda, que protestou e ameaçou não jogar se não ouvisse a música correta. Graças a um CD providenciado pelos ruandeses, a questão foi contornada. A Libéria venceu, mas não sem dificuldade, segundo Giddings. “Foi um jogo muito emocionante. Vínhamos perdendo partidas em seqüência, porque temos uma defesa que falha muito, assim como o goleiro. Mas, contra Ruanda, o desempenho foi esplêndido”. Depois de abrir 2 a 0 no placar e de chegar a 3 a 1, a Libéria levou o segundo gol, e Ruanda quase cehgou ao terceiro. “Mais cinco minutos de jogo e eles teriam empatado”, diz o jornalista. O resultado não fez imensa diferença no grupo 5 das eliminatórias da CAN, no qual Camarões é o favorito para ficar com a vaga. Mas poderia ter sido um bom momento para os países desenvolvidos refletirem sobre como seu descaso tem um sabor amargo – normalmente sentido por outros. Se todos os mortos dos dois conflitos fossem ao jogo, seria necessário um estádio 40 vezes maior do que o Antoinette Tubman. Um estádio assim não existe em Monróvia, nem em Kigali, nem em lugar nenhum. Novembro de 2006

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Divulgação

Capitais do futebol, por Tomaz R. Alves

Bem-vindo ao

inferno Poucas coisas intimidam tanto os times europeus quanto jogar em Istambul

antiago Bernabéu, Giuseppe Meazza, Old Trafford, Camp Nou. Todos são estádios míticos, lares de alguns dos maiores times do mundo. Nos sorteios das copas européias, no entanto, os nomes que mais assustam os adversários são Sükrü Saraçoglu, Atatürk e Inönü. Afinal, os estrangeiros sabem que, independentemente da força do time da casa, uma visita a Istambul nunca é tranqüila. Desde o momento em que a equipe visitante pisa na cidade, a torcida local faz de tudo para intimidá-la. Já no aeroporto, os jogadores são recebidos com gritos, ameaças e a tradicional faixa em que aparece escrito “bem-vindos ao inferno”. Dentro dos estádios, tambores, gritos, faixas de cunho nacionalista, bandeiras e sinalizadores criam um ambiente muito intimidador, até para os jogadores mais experientes. Esse jeito de torcer, buscando sempre formas de assustar o adversário, torna Istambul um lugar único no futebol. Causar temor nos oponentes é visto como

S

um sinal de força, de grandeza. Em uma cidade que tem um pé na Ásia e outro na Europa, capital de grandes impérios no passado, a paixão pelo esporte manifesta-se de maneira bem particular. Nos clássicos locais, o estádio costuma lotar duas, até três horas antes do início do jogo. Em todo esse período, não param os tambores, cantos e gritos de guerra das torcidas. Durante o aquecimento dos jogadores, é costume dos torcedores gritar em coro os nomes de alguns atletas. O jogador “chamado” deixa então o aquecimento e vai em direção ao setor da arquibancada que gritou seu nome, aplaudindo e cantando junto com os fãs. Quando a partida efetivamente começa, o ambiente é elétrico, depois das horas de festa e antecipação. Infelizmente, a paixão dos turcos e a vontade de mostrar a superioridade por meio da intimidação dos oponentes às vezes passam dos limites. Em Istambul, não costuma haver problemas com grupos organizados, como “hooligans”, mas não

clubes da cidade 1

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Galatasaray Spor Kulübü 1 Copa Uefa 16 Campeonatos Turcos 14 Campeonatos de Istambul 14 Copas da Turquia

2

Fenerbahçe Spor Kulübü 16 Campeonatos Turcos 16 Campeonatos de Istambul 4 Copas da Turquia

3

Besiktas Jimnastik Kulübü 10 Campeonatos Turcos 13 Campeonatos de Istambul 6 Copas da Turquia

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HOMENAGEM AOS HERÓIS As cores originais do Besiktas não são o preto e o branco, mas sim o vermelho e o branco. O clube decidiu trocar as cores do uniforme em 1913, como sinal de luto, em homenagem a seus associados que morreram na Guerra dos Bálcãs. A intenção da diretoria era que a mudança fosse apenas provisória: quando a Turquia (na época, Império Otomano) vencesse a guerra e retomasse o território, o clube retornaria às cores originais. No entanto, o país acabou derrotado, e o Besiktas permaneceu alvinegro.

Trio de ferro Istambul, como a maioria das grandes cidades européias, abriga dezenas de clubes de futebol. No entanto, há apenas três que dominam o futebol da cidade (e do país): Galatasaray, Fenerbahçe e Besiktas. Entre eles, ganharam 42 dos 48 Campeonatos Turcos já disputados (os outros seis foram vencidos pelo Trabzonspor, nas décadas de 70 e 80). Tradicionalmente, o Galatasaray é visto como o time da elite, o Fenerbahçe é o clube das massas, e o Besiktas aparece

como terceira força. No entanto, essa divisão não corresponde mais à realidade, já que os três têm grande torcida em todas as classes sociais. A maior rivalidade é entre Galatasaray e Fenerbahçe. Os dois times são os mais antigos da cidade e também os maiores vencedores do campeonato nacional: são 16 títulos para cada um. O Besiktas é um pouco menos vitorioso, mas nutre igual repulsa pelos adversários – a ponto de fazer uma loja do McDonald’s em frente a seu estádio trocar o tradicional vermelho e amarelo (cores do Galatasaray) pelo preto e branco. Há ainda, em Istambul, um quarto clube importante: o Istanbulspor. Embora hoje esteja na segunda divisão, a equipe, em alguns momentos, chegou a incomodar os três grandes. Em 1997, o clube ganhou projeção por ter sido comprado pela família Uzan – equivalente, aqui no Brasil, à família Marinho. No entanto, devido a problemas fiscais nas empresas dos Uzan, o governo do país tomou o controle da equipe.

Segunda divisão Istanbulspor Kulübü 1 Campeonato de Istambul

Istanbul Büyüksehir Belediyesi Spor Kulübü

Kasimpasa Spor Kulübü

Nenhum título

Nenhum título

O Sükrü Saraçoglu, estádio do Fenerbahçe, é um “alçapão” temido até pelos times mais fortes da Europa

Romênia

Bulgária Grécia

localização

são raros incidentes que resultam em machucados ou até na morte de torcedores. Em 2000, repercutiu internacionalmente o assassinato de dois fãs do Leeds, a facadas, antes de uma partida da Copa Uefa, contra o Galatasaray. Desde então, jogos entre ingleses e turcos são considerados de alto risco. Os clássicos locais, entre Fenerbahçe, Besiktas e Galatasaray, também são partidas tensas, que exigem policiamento intensivo.

Terceira divisão Güngören Belediyespor, Kartal, Maltepe, Sariyer, Pendik, Eyüp, Karagümrük, Küçükköy e Zeytinburnu

Turquia

Chipre

1 3

2

Istambul 10.000.000 habitantes

Quarta divisão Alibeykoy, Anadolu Üsküdar, Bakyrkoy, Beykoz, Beylerbeyi, Gaziosmansasa, Küçükçekmece, Tepecik e Yyldyrym Bosna

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Síria

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Ettore Ferrari/EFE

Entrevista, por Carlos Eduardo Freitas

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O curinga virou

ás

Taddei conta à Trivela como saltou de coadjuvante do Palmeiras para destaque no futebol italiano odrigo Taddei apareceu para o torcedor brasileiro no Palmeiras, em 1998. Naquela época, era visto como um jogador capaz de quebrar o galho dos treinadores atuando em qualquer posição. Jogou de lateral-direito, esquerdo, volante, meia e até como goleiro (na derrota por 3 a 1 para o Vasco, em novembro de 2001). Deixou o Parque Antarctica para jogar no Siena, sem que se sentisse sua falta. Quatro anos depois, o curinga virou ás em um dos maiores times da Itália. Estrela do modesto clube toscano, chegou a ser disputado por Juventus e Milan antes de aceitar a proposta da Roma, no meio do ano passado. Agora, Taddei não precisa mais quebrar galhos: joga sempre como externo pelo meio-campo ou pelo ataque, tanto pela esquerda quanto pela direita, faz gols e dá passes decisivos. Figura essencial do esquema do técnico Luciano Spalletti, foi elogiado por Marcello Lippi antes da Copa e chegou a ter sua convocação para a Azzurra cogitada. Se tivesse aceito, poderia estar no elenco campeão do mundo na Alemanha. Não o fez – e não o faria – porque tem um sonho: “Quero jogar pela Seleção Brasileira”.

R

O Marcello Lippi te elogiou bastante antes da Copa. Chegou a haver algum convite oficial para você defender a seleção italiana? Oficial, mesmo, não. Ele deu uma entrevista depois do campeonato passado, e perguntaram se, por estar jogando bem, eu teria lugar na seleção. A resposta foi que tinha possibilidade, como aconteceu com o Camoranesi. Disse que se eu quisesse ir para a seleção e tivesse condições, não seria problema. Mas meu sonho é defender a Seleção Brasileira, sempre deixei isso bem claro. Até por respeito pelos companheiros daqui da Itália, prefiro jogar pelo Brasil. Chegou a passar pela sua cabeça que, se tivesse jogado pela Azzurra, você poderia hoje ser campeão do mundo? Não, não. Para falar a verdade, quero mesmo uma oportunidade na Seleção Brasileira. Tenho trabalhado muito por isso, e o Dunga tem dado chances

para jogadores que nunca foram convocados. Acredito que, da forma como tenho atuado aqui na Roma, isso vai acontecer. Estou jogando num time grande, entre os titulares, e graças a Deus tenho feito bem meu papel. Alguém da comissão técnica da Seleção chegou a entrar em contato com você? Não, até o momento não. Supondo que seja convocado, com quem você brigaria por uma vaga na equipe? Não sei te dizer, já que está havendo tanta renovação. Na Roma, jogo tanto pela direita quanto pela esquerda. Na Seleção, no caso de ser convocado, precisaria conversar com o treinador para saber como eu poderia ajudar melhor. Aqui no Brasil, você não jogava da mesma forma. Quem foi o responsável por essa mudança no seu estilo de jogo? No Brasil, pela necessidade do momento na época, era muito difícil eu

jogar na minha posição. Aqui, não: atuo sempre na minha, ainda que de acordo com a maneira que o treinador arma o time. Se ele monta no 44-2, posso atuar pela direita ou pela esquerda na linha de meio-campo; quando ele põe o time para jogar no 4-3-3, atuo por fora tanto no meio quanto no ataque. Essa é a posição à qual me adaptei melhor – como externo, pela lateral do campo. Quando estava no Palmeiras, você era uma espécie de curinga. Isso prejudicou seu desenvolvimento como jogador? É normal que tenha prejudicado. Para mim, que tenho objetivos na vida, ficava muito difícil. Pode ser que agora, jogando na minha posição de verdade na Roma, eu esteja reabrindo minhas oportunidades. Você não era um ídolo da torcida palmeirense. Como é essa mudança de status? Ah, é satisfatório. No Brasil, não era Novembro de 2006

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No Brasil, não era querido porque não fazia muitas jogadas, muitos dribles

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muito querido porque não era um jogador que fazia muitos lances, muitos dribles. Era um jogador simples. O brasileiro geralmente gosta de quem joga bonito, dribla, dá chapéu. Eu não era assim. Aqui, na Itália, meu jogo se encaixou muito bem. Graças a Deus, meus gols estão aparecendo. Você teve um começo de temporada muito bom: fez dois gols nos quatro primeiros jogos, marcou na Liga dos Campeões e tem feito passes decisivos. O que aconteceu desde que você trocou o Siena pela Roma? A principal diferença é o grupo de jogadores da Roma. Eu praticamente atuo da mesma forma. Meu primeiro ano na Roma foi muito parecido com o meu primeiro na Série A pelo Siena, quando marquei oito gols. A diferença é que agora estou num time grande, que está sempre na ponta da tabela, lutando pelos títulos. É um clube que tem grandes jogadores, dos quais três foram campeões mundiais na Alemanha, como titulares. Isso favoreceu meu modo de jogar. O treinador que chegou também ajudou bastante, pois ele gosta de jogar para a frente. Há uma grande diferença entre atuar por um clube pequeno ou por um grand,e na Itália? A diferença de estrutura, a pressão por estar sempre brigando pela ponta da tabela, é muito grande. Time pequeno não tem tanta cobrança aqui. Apesar de as normas internas serem rígidas, a torcida não cobra tanto. Já os grandes são como no Brasil, como Palmeiras, Corinthians, São Paulo. A Roma começou o campeonato muito bem, nesta temporada. A que você atribui isso? A razão vem do ano passado, com a chegada do nosso treinador, o Spalletti, um treinador que conseguiu dar equilíbrio, formar um grupo muito forte. Estamos conseguindo manter o que fizemos na temporada passada e começamos bem. Se a gente continuar assim, tem boas possibilidades de conseguir o título.

Neste ano, sem a concorrência da Juventus e, pelo menos a curto prazo, também do Milan, você acha que a Roma terá mais facilidade para conquistar o título? Não, aqui é muito difícil conquistar o título. Os times pequenos dão muito trabalho, brigam a cada partida. Se você erra num jogo, derruba todo o trabalho que se faz. O campeonato está no começo, até chegamos à liderança, mas a estrada é muito longa. Na temporada passada, a equipe começou mal, mas melhorou depois, chegando até ao recorde de 14 vitórias consecutivas. Por que isso aconteceu? Começamos mal porque dois anos atrás tivemos problemas, e a Roma quase foi rebaixada – se salvou só nas últimas partidas. As coisas estavam meio enroladas. Por isso falei do atual treinador: ele chegou e conseguiu formar o grupo de uma maneira em que todos se respeitam e se ajudam dentro de campo. Por isso aconteceu essa mudança do meio da temporada para a frente. O que você quis dizer quando disse que as coisas estavam enroladas? Havia algum problema interno com os jogadores? Havia muitas brigas internas. Não posso dizer exatamente o que acontecia, porque não estava aqui. Pelo que falam, havia problema de diretor com jogador, de jogador com jogador. Isso complicou um pouco o final da temporada 2004/5 e o início da seguinte. O treinador conseguiu equilibrar isso, e montamos um grupo legal. É coincidência o time ter melhorado justo quando o Cassano trocou a Roma pelo Real Madrid? Não dá para falar em coincidência. Foi o trabalho do treinador. Todo mundo sabe que, quando um novo técnico chega, muda toda a situação, e as coisas ficam complicadas até o elenco se adaptar. Quando o time começou a engrenar e a se adaptar, o Cassano saiu. Mesmo que ele tivesse continuado, seria do mesmo jeito. O treinador é mais ou menos como

o Felipão: linha dura, mas que sabe respeitar os limites do técnico. O Spalletti tem sido bastante elogiado na Itália pelos resultados que tem conquistado e é apontado como um dos bons nomes da nova geração. O que mais você pode falar sobre ele? Ele sabe dar o espaço para os jogadores, mas também o momento certo de puxar a orelha. É um treinador inteligente, que tem um tipo de jogo que poucos aqui na Itália empregam. Jogar diferente, no caso, é jogar ofensivamente? Exato. O futebol italiano tem muita correria e pancada o tempo todo, além de muita defesa. O Spalletti tem um quê defensivo, mas a equipe joga comi-

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Carlo Ferraro/EFE

O futebol italiano tem muita correria e pancada o tempo todo

go por um lado e o Mancini pelo outro, e tem ainda o Perrotta e o Totti, dois campeões do mundo. É um time que ataca com a mesma força que defende. O Totti é um ídolo na Itália. Como é ele no dia-a-dia? Perto do que representa para a Roma e para o futebol italiano, é uma pessoa muito simples. Gosta muito de brincar e é muito tranqüilo. No começo do ano, ele sofreu aquela grave contusão, que quase o tirou da Copa. Como ele está agora? Ele ainda não está 100%, mas está trabalhando bastante e está melhorando. Ele se esforça, não é um cara relaxado. Tem treinado sozinho para tentar voltar ao normal.

É verdade que antes de ir para a Roma você quase foi para o Milan? Tinha o Milan, tinha a Juventus, a Inter... Eu fiz um bom campeonato pelo Siena, e apareceram propostas, mas eu queria vir para a Roma. Muitos brasileiros passaram por aqui e fizeram bem, chegaram à Seleção. Sempre que jogava contra a Roma, eu via como estádio era cheio, e as condições que eles me ofereciam eram diferentes das dos outros times. Por isso vim para cá. Você deve conhecer os problemas que a torcida da Roma geralmente causa nos estádios, como aquele incidente na Liga dos Campeões em que o árbitro foi atingido por uma moeda; dérbis contra a Lazio são sempre ner-

vosos. Como são os romanistas? São torcedores muito fanáticos. Vão para todos os lados, sempre acompanham o time. Quando tem prétemporada, é engraçado. Eles tiram férias na época dos treinamentos e vão para a cidade onde o time está concentrado. Ficam lá o mês inteiro. Você diria que hoje vive o melhor momento de sua carreira? É o meu quinto ano na Itália, são três anos de Siena e dois muito bons na Série A. Saí do Brasil ainda não muito conhecido, não era o xodó da torcida. Este, de fato, é um dos melhores momentos, pois estou aparecendo e estou tendo a oportunidade de mostrar o que eu posso fazer e do que sou capaz. Novembro de 2006

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Embaixadas Matteo Bazzi/EFE

Itália, por Cassiano Ricardo Gobbet

Ex-jogador de Piacenza e Parma, Gilardino fez 62 gols nas últimas três temporadas. Por que razão agora ele está na seca?

O que acontece com Gilardino? uando chegou ao Milan no ano passado, Alberto Gilardino era a maior esperança para o ataque da Azzurra na Copa do Mundo. Mesmo sem ser tecnicamente um craque, o artilheiro do Italiano na temporada anterior tinha demonstrado no Parma uma vocação para o gol que só os grandes artilheiros têm. Combinando força e velocidade, o atacante convenceu os dirigentes de Via Turati a desembolsarem € 25 milhões e sonharem com um ataque magistral, com o ucraniano Shevchenko a seu lado. Apesar dos 16 gols anotados na primeira temporada no clube, Gilardino ainda não conseguiu convencer nem torcida nem imprensa de que pode substituir o ucraniano – que também ainda não se encontrou em Londres. Gilardino não marcou nos 10 primeiros jogos desta temporada, tanto na Serie A como na Liga dos Campeões, desde sempre o objetivo primário do Milan. Mas o que acontece com o jogador? Vários fatores perturbam a adaptação do atacante. Primeiro, Gilardino não tem um parceiro ideal – um jogador que abra as jogadas em apoio a um companheiro mais centrado. Esse é exatamente o perfil do sueco Zlatan Ibrahimovic, que o Milan queria, mas acabou na Inter. Ricardo Oliveira também tem características similares, mas está ainda menos ambientado do que o italiano. Quando Gilardino joga com Inzaghi, acaba tendo de se des-

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locar porque “Super Pippo” sempre toma os espaços próximos da área. Tendo de partir com a bola dominada, o avante não usa sua melhor arma: o instinto de goleador e o arremate – o que tem contribuído para minar sua autoconfiança. Vê-se também que o jogador sentiu o baque pela chegada a um clube grande. Fazer gols no Milan é diferente de realizá-los no Ennio Tardini, onde as responsabilidades são bem menores. Gilardino visivelmente não encontrou seu eixo e precisa disso para ser produtivo. Um último elemento pesa muito no rendimento do atacante. Nos bastidores, diz-se que o elenco não confia nele tanto quanto confiava em Shevchenko ou mesmo em Crespo. Gilardino é tido dentro do grupo como um jogador que só faz gols depois que as partidas estão decididas e desaparece quando o Milan precisa dele. O técnico Carlo Ancelotti sabe que esta temporada do Milan depende muitíssimo de conseguir fazer com que o centroavante da seleção nacional corresponda às expectativas. Não é possível ir atrás de outro atacante antes de janeiro, quando a sorte do clube já estaria lançada no que se refere a chances de título. Os próximos meses serão decisivos na história que jogador e clube terão juntos.

Críticos dizem que Gilardino só marca quando partidas estão decididas

ANCELOTTI SABE QUE A TEMPORADA DO MILAN DEPENDE DE GILA

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Espanha, por Ubiratan Leal

Decadência basca a temporada passada, Athletic Bilbao e Real Sociedad ficaram muito próximos do rebaixamento. Os times bascos escaparam nas últimas rodadas, com uma série de bons resultados, mas nada indica que a trajetória será muito melhor no atual campeonato. Isso é conseqüência da postura política dos clubes, somada a erros administrativos recentes. O Athletic contrata apenas jogadores bascos, filosofia parecida com a da Real Sociedad, que tem estrangeiros em seu elenco, mas não aceita espanhóis não-bascos. Presas a esses princípios nacionalistas, as duas equipes sempre tiveram limitadíssimas possibilidades de reforços, e acabam dependendo muito das categorias de base e da capacidade de evitar o êxodo de seus principais nomes. Durante décadas, isso foi suficiente, e os dois clubes, juntos, levaram ao País Basco quatro títulos nacionais seguidos no início da década de 1980. O Athletic, inclusive, é o quarto maior campeão do país e nunca foi rebaixado, feito só igualado por Real Madrid e Barcelona. No entanto, as saídas recentes de Del Horno e Ezquerro (do Athletic) e Xabi Alonso (da Real Sociedad) mostram que o cenário mudou. Não chegaram substitutos à altura, e o nível técnico dos dois grandes do País Basco despencou. Se não bastasse a política de contratação restritiva, bilbaínos e donostiarras sofrem com equívocos dos dirigentes. Em San Mamés, o presidente Fernando Lamikiz abusou das escolhas equivocadas no início da temporada. A orgulhosa torcida do Athletic viu sua equipe cair para as últimas posições e acumular vexames em casa. Depois da derrota por 4 a 1 para o Atlético de Madrid, em Bilbao, as arquibancadas pediram em uníssono a demissão do dirigente. Lamikiz saiu, e Ana Urkijo – única mulher dirigente de clube na primeira divisão espanhola – assumiu provisoriamente. Para o ambiente não ficar ainda mais instável, as novas eleições foram marcadas apenas para o fim da temporada. Enquanto isso, o time segue sem norte. Em San Sebastián, a situação é ainda mais crítica. O clube tem dívidas de mais de € 30 milhões, boa parte gerada na década passada, com investimento alto em reforços e na construção do belo Estádio Anoeta. Para evitar a falência, o presidente Miguel Fuentes vendeu seus principais jogadores, como Mark González e Nihat, e lançou campanha para expansão do capital social. Diante do cenário, era o que se podia fazer. O preço a se pagar pelos erros é transitar pelas últimas posições no Campeonato Espanhol ao lado do rival basco – uma situação que não deve ser vista como coincidência ou acidente.

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Política “nacionalista” leva equipes do País Basco, que estão entre as mais tradicionais da Espanha, a brigar para não cair

No ano que vem, o clássico basco pode ocorrer na segunda divisão

Alfredo Aldai/EFE

PRESIDENTE DO ATHLETIC CAIU APÓS GOLEADA PARA O ATLÉTICO DE MADRID

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Geoff Caddick/EFE

Inglaterra, por Tomaz R. Alves

Duas vezes Macedônia Comparação da Inglaterra de hoje com a de 2002 diz muito sobre o trabalho de Eriksson e de McClaren

McClaren mal começou e já enfrenta problemas

uando a Inglaterra pagou o mico de empatar em casa com a Macedônia, em outubro, os ingleses viveram um desagradável déjà vu. Quatro anos antes, a equipe empatou com a mesma Macedônia, também em seus domínios, por 2 a 2. No entanto, a reação do English Team depois desses tropeços foi completamente diferente. Em 2002, a Inglaterra era comandada por um Sven Goran Eriksson com o moral alto. O empate com a Macedônia, claro, também foi muito criticado – e serviu para acabar, de vez, com a carreira de David Seaman na seleção. A Inglaterra ficou atrás da Turquia na disputa pelo primeiro lugar do grupo (só o campeão da chave se classificava diretamente para a Euro). Depois de uma vitória contra Liechtenstein, a seleção enfrentaria os turcos em casa, precisando de uma vitória. Eriksson tomou, então, uma decisão ousada e escalou como titular um certo Wayne Rooney, então um garoto com apenas 17 anos. Foi um grande acerto. Rooney jogou bem, a Inglaterra derrotou a Turquia por 2 a 0 e reassumiu a liderança. Em 2006, os ingleses são treinados pelo ex-auxiliar de Eriksson,

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MÁ FASE DO ENGLISH TEAM VALORIZA TRABALHO DO CRITICADO ERIKSSON 54

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Steve McClaren, que começa a construir sua carreira na seleção. O empate com a Macedônia foi o primeiro tropeço significativo do novo treinador e serviu para minar a confiança da torcida e da mídia no ex-técnico do Middlesbrough. Depois do tropeço contra a Macedônia, que embolou o grupo, aumentou a importância da partida seguinte, contra a Croácia, em Zagreb. McClaren manteve o time e o esquema tático, que vinha sendo muito criticado pela imprensa. Deu tudo errado. A Inglaterra jogou muito mal, Paul Robinson tomou um frango histórico, e o time perdeu por 2 a 0 – placar que poderia ter sido pior se os croatas tivessem mais pontaria. Essa comparação serve para valorizar um pouco mais os resultados que Eriksson conseguiu à frente da seleção. Com o sueco – e praticamente os mesmos jogadores –, a equipe se classificou com tranqüilidade para a Euro-2004 e para a Copa de 2006, mas o treinador foi muito criticado por levar a Inglaterra “só” às quartas-de-final dos torneios. McClaren tem a missão de levar o time ao “próximo nível” e ganhar títulos. Só que, neste momento, o técnico se encontra em situação pior do que Eriksson jamais esteve. A Inglaterra não tem mais margem de erro. Um novo tropeço pode significar ficar fora da Eurocopa pela primeira vez desde 1984 – e causar a demissão precoce de McClaren.

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Alemanha, por Carlos Eduardo Freitas

Aposta acertada Depois de anos contratando jogadores famosos e caros, Hertha Berlim confia nas categorias de base para vencer

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décadas são formados os jogadores da seleção. O trabalho encabeçado por Falko Götz mal saiu do papel, mas já traz resultados. O zagueiro Malik Fathi, por exemplo, chegou à seleção logo nas primeiras convocações do técnico Joachim Löw. Na Bundesliga, o Hertha fez, até a oitava rodada, o melhor início de temporada desde que voltou à primeira divisão, em 1997, e chegou à primeira colocação pela primeira vez em seis anos (193 rodadas). É pouco provável que tudo isso teria acontecido tão rápido se o treinador tivesse saído no momento da dificuldade.

Malik Fathi, de branco, já foi chamado para o Nationalelf

Thomas Bohlen/Reuters

o início deste ano, o Hertha Berlim chegou à marca de nove partidas sem vitórias na Bundesliga. Depois de ter passado boa parte do campeonato na briga por uma vaga em competições européias, por pouco não foi parar na zona do rebaixamento. A opinião geral era de que o técnico Falko Götz perderia seu emprego. Afinal, o principal motivo para a queda de rendimento do time, segundo noticiou-se na Alemanha, era uma briga pessoal com Marcelinho Paraíba – considerado o principal astro do Hertha. Contrariando todas as previsões, a diretoria do clube manteve o treinador mesmo depois que o próprio pediu demissão. Os cartolas alegaram que Götz, antigo coordenador das categorias de base, era peça fundamental na implantação de uma nova filosofia dentro do clube. Para convencê-lo a ficar, a diretoria acabou por sacrificar Marcelinho, despachado para a Turquia. Nos últimos cinco anos, o único time da capital na primeira divisão do país alemã tinha por estratégia contratar jogadores experientes, entre os quais sempre havia um brasileiro. O primeiro foi Alex Alves, ex- Vitória e Palmeiras, que pouco fez além de um gol do meio-de-campo. Depois foi a vez de Marcelinho, que fez uma temporada excelente em 2004/5, antes de se desentender com Götz. Aparentemente, a diretoria percebeu que essa política estava dando errado. Na verdade, o dinheiro acabou e, em vez de trazer reforços caros, o clube foi obrigado a apostar no investimento que vinha sendo feito nas categorias de base. Há alguns anos, o Hertha montou um centro de treinamento ao lado do Estádio Olímpico para desenvolver jovens jogadores – para se ter idéia da qualidade da infra-estrutura, a seleção alemã treinou lá durante a Copa do Mundo. Sem grande tradição no futebol do país, o clube tem a ambição de fazer de suas divisões inferiores um modelo nacional e ganhar, na Alemanha, a mesma importância que tem na Holanda o Ajax, no qual há

MESMO SOB PRESSÃO, CLUBE MANTEVE TREINADOR E DISPENSOU MARCELINHO Novembro de 2006

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Fábrica de craques N

as últimas duas décadas, enquanto Benfica e Porto têm adotado a política de adquirir jovens promessas no exterior ou em pequenos clubes do Portugal, o Sporting notabilizou-se por ser uma “escola de talentos”. Em 2002, o clube de Alvalade, que revelou ao mundo tanto Luís Figo como Cristiano Ronaldo, inaugurou a Academia do Sporting, moderno centro de treinamento localizado em Alcochete (20 km de Lisboa), que serviu de quartel-general à seleção portuguesa durante a Euro-2004, disputada no país. Essa vocação é histórica, já que os Leões foram o primeiro clube a conquistar o campeonato nacional de juniores, disputado em 1938/9. A tradição começou a ganhar mais consistência no Mundial de Juniores de 1991, disputado em Portugal. O título conquistado pelos Tugas foi o ponto de partida para a carreira vitoriosa de Luís Figo. Dez anos mais tarde, a base do Sporting apareceu novamente, revelando Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo. Em 2005, os Leões viram a afirmação do polivalente João Moutinho, volante habilidoso que destrói e apóia com elegância. Neste ano, a grande surpresa foi o aparecimento do meia-atacante Nani (foto), que com apenas 19 anos já começou a atuar na seleção comandada por Luiz Felipe Scolari. Quem será o próximo astro a ser gerado nessa incubadora?

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Srdjan Suki/EFE

França, por Ricardo Espina Inacio Rosa/EFE

Portugal, por Zeca Marques

Filme queimado V

ikash Dhorasoo (foto) mostrou nas últimas semanas como uma promissora carreira pode ir por água abaixo rapidamente. O volante foi dispensado do Paris Saint-Germain após irritar a diretoria do clube por não aparecer nos treinos e, ainda por cima, criticar publicamente o treinador Guy Lacombe. Tudo por considerar “ser humilhante” ficar no banco de reservas da equipe. Quando defendia o Lyon, Dhorasoo surgiu como uma excelente opção para concorrer com Patrick Vieira na seleção. A projeção o levou ao Milan, mas o jogador esquentou o banco na maior parte de sua passagem pela Itália. De volta à França, deixou de lado o bom futebol para entrar de cabeça no mundo das polêmicas. Durante a Copa do Mundo, preocupou-se mais em filmar os bastidores da equipe no torneio do que em se dedicar aos treinos. Após a competição, declarou que pretendia produzir um documentário a partir das imagens, o que desagradou imensamente a seus companheiros de vestiário. Por causa de atitudes como essa, Raymond Domenech nem faz menção de voltar a convocá-lo para a equipe nacional. Agora, o jogador pretende entrar na Justiça contra a decisão do PSG. É mais um capítulo negativo para sua história, com o qual mancha seu currículo de novo e ganha a pecha de encrenqueiro – uma fama que deve lhe fechar diversas portas daqui para frente.

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Turquia, por Marcio Kohara

Triunfar virou obrigação P

ode surpreender aos menos antenados no futebol russo, mas o sucesso recente do CSKA Moscou não é oobra do acaso, mas, sim, resultado de planejamento e muito dinheiro. O atual elenco foi montado há pelo menos três temporadas e tem como espinha dorsal o jovem e seguro goleiro Akinfeev, o zagueiro Ignashevich e o volante Aldonin, todos da seleção russa, e o meia brasileiro Daniel Carvalho (foto), novo “xodó” de Dunga. No entanto, o aspecto financeiro, tão importante para que a equipe se estabelecesse, agora pode ser um problema sério. Em 2003, o clube assinou um contrato de patrocínio de três anos com a petrolífera Sibneft, de Roman Abramovich, no valor de US$ 54 milhões. Em 2006, o contrato terminou, e a Sibneft foi vendida. O CSKA teve que correr atrás de um novo acordo e acabou assinando com o Vneshtorgbank, segundo maior banco do país, que pagará à equipe US$ 30 milhões por quatro anos – menos da metade do valor que recebia pelo acordo anterior. Como a folha de pagamento não diminuiu, o CSKA precisa ganhar títulos para encher o caixa e não ter que se desfazer de seus melhores jogadores. Se vencer a Liga dos Campeões é impossível, capacidade para ir pelo menos além da fase de grupos o time tem. No atual momento, o que seria um grande triunfo passou a ser obrigação.

Tolga Bozoglu/EFE

Paulo Novais/EFE

Rússia, por Gustavo Hofman

O futuro de Alex A

possibilidade de que Alex (foto) deixe o Fenerbahçe no final desta temporada, quando termina seu contrato, atormenta os torcedores dos Canários Amarelos. Pelas regras da Fifa, o meia estará liberado para assinar pré-contrato com qualquer outro time a partir de janeiro. Não bastasse a má fase técnica por que o Fenerbahçe passa, a notícia de que sua principal estrela poderia estar deixando o clube contribui para o clima ruim justamente na temporada em que o Fener comemora seu centenário. Desde que saiu do Cruzeiro, nunca foi segredo que o projeto do meia, melhor jogador das últimas duas Süper Lig, era alavancar em Istambul uma carreira de sucesso em algum outro mercado mais glamouroso do continente europeu. Pelo que pode fazer em campo, Alex seria uma ótima opção para times que procuram um jogador capaz de organizar seu meio-campo. No entanto, há dois fatores que podem impedi-lo de “subir de nível”. O primeiro é sua passagem fracassada pelo Parma, no início da década. O segundo é a precoce saída do Fenerbahçe da Liga dos Campeões. Uma boa atuação na principal competição do continente certamente valorizaria o jogador, o que certamente não acontecerá, na mesma escala, na Copa Uefa. Paradoxalmente, um dos piores momentos da equipe sob o comando de Zico pode levar o Fener a manter seu melhor jogador. Novembro de 2006

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Brasil, por Caio Maia

O sobe e desce dos times do NE esde que foi criado, em 1970, o Campeonato Brasileiro sempre teve entre seus participantes pelo menos um clube do nordeste do país. Além disso, os clubes tradicionais da região conseguiam manter uma certa continuidade na primeira divisão. Em 2001, com a queda do Sport – único pernambucano que ainda estava na Série A –, e, em 2004, quando caiu o Vitória – Bahia e Fortaleza haviam sido rebaixados no ano anterior –, começou a ficar claro que as equipes da região deixaram de ter condições de manter uma vaga na divisão principal a médio prazo. O Vitória, ao cair, era o único nordestino no Brasileiro, que só não ficou sem equipes da região em 2005 porque o Fortaleza subiu. Em 2006, a equipe cearense se manteve na Série A, e ganhou a companhia do Santa Cruz. Neste ano, entretanto, ambos são fortíssimos candidatos a cair. Só que, da Série B, podem subir até três nordestinos (até a 31ª rodada, subiriam Náutico, Sport e América-RN). Por um lado, isso demonstra que dificilmente o Brasileiro deixará algum dia de ter uma equipe nordestina. Por outro, deixa claro também que, se não fizerem alguma coisa, essas equipes estão condenadas à “gangorra”: sobem em um ano, caem no outro, ou no seguinte, sem nunca conseguir manter uma série de temporadas na divisão principal. As diferenças de desenvolvimento regional do país sempre serão evocadas, mas acho complicado alguém defender que uma equipe de Caxias, no interior do RS, possa ter poder econômico maior do que um Bahia ou um Sport. Tudo indica que o problema dos clubes do nordeste, muito mais do que econômico, é político. Enquanto continuarem sendo tratados como máquinas eleitorais, é pouco provável que voltemos a ver um deles disputando títulos em nível nacional.

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Eduardo Oliveira/Vipcomm

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A partir deste mês, o leitor encontrará neste espaço estatísticas do Campeonato Brasileiro. Na primeira parte, você verá listas dos cinco melhores em alguns dos fundamentos do jogo; na segunda, números que chamem a atenção para detalhes “escondidos” do campeonato.

TOP 5 Cartões amarelos

Impedimentos

Escanteios a favor

(por equipe)

(por equipe)

(por equipe)

Goiás ............................ 111 Corinthians ........106 Ponte Preta ........104 São Caetano .....102 São Paulo .................95

(3,70/jogo) (3,53) (3,47) (3,40) (3,17)

Fortaleza ................ 101 Juventude ................95 Cruzeiro ......................92 Santa Cruz .............. 91 Ponte Preta ............90

(3,37/jogo) (3,17) (3,07) (3,03) (3,00)

Atlético-PR ......... 210 Santos ...................... 203 Santa Cruz ..........201 Corinthians ....... 200 Palmeiras ............. 200

(7,00/jogo) (6,77) (6,70) (6,67) (6,67)

estatísticas

OS NÚMEROS REVELAM Durante quase todo o mês de setembro, o São Paulo ficou sem Aloísio (foto). No período, a equipe teve sérias dificuldades para fazer gols. Poucos apostavam que a volta do atacante mudaria o quadro, já que seus números não impressionavam. As estatísticas dos quatro últimos jogos do Tricolor, entretanto, mostram que Aloísio voltou bem melhor do que estava. Suas médias de passes certos, finalizações e gols nas últimas partidas estão bem acima de seu desempenho não só na parte anterior do campeonato como também na Libertadores. Por outro lado, o jogador tem sofrido menos faltas. Ou seja, atendendo a apelos da torcida, Aloísio resolveu começar a jogar em pé. O São Paulo agradece.

Brasileirão Nos por jogo

Assistências Dribles certos Faltas recebidas Finalizações Gols Passes certos

Brasileirão

(até a 22ª rodada)

Libertadores

(últimas quatro rodadas)

0,1 0,6 2,7 1,6 0,2 76,5%

0,15 0,92 3,62 1,4 0,38 78,6%

0,50 3,75 1,5 3 0,5 87%

Fonte: Footstats (até a 30ª rodada do Brasileiro 2006)

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Fotos Divulgação

Arsenal de Sabará, por Ubiratan Leal

Campanha na Terceirona de Minas Gerais Arsenal 0x4 Minas Fabril 2x0 Arsenal Arsenal 0x3 Figueirense (São João Del Rey)

Formiga 6x0 Arsenal Alfenense 5x0 Arsenal Arsenal 0x4 Alfenense Arsenal 0x4 Formiga Figueirense 1x0 Arsenal (São João Del Rey)

Arsenal 0x4 Fabril Minas 3x0 Arsenal (0 V, 0 E, 10 D, 0 GP, 36 GC)

O Íbis que se cuide Improvisos e inexperiência marcam a campanha do Arsenal de Sabará, que perdeu todos seus jogos na terceira divisão mineira relação de jogadores do Arsenal de Sabará para a partida contra o Minas, pela terceira divisão mineira, foi escrita à mão, em uma folha de agenda. Essa foi a maior das bizarrices na campanha da equipe, mas não a única, nem a primeira: em partidas anteriores, folhas sulfite ou de caderno já haviam sido utilizadas para esse fim. Esse exemplo dá conta dos improvisos que marcaram a trajetória do Arsenal, que terminou a chamada Segunda Divisão (que na verdade é a terceira) na última posição, com dez derrotas em dez jogos, nenhum gol a favor e 36 contra. Trata-se de uma das piores campanhas de um clube brasileiro em 2006 – e, provavelmente, na história. A própria participação do Arsenal na competição foi algo fora dos planos. O clube foi fundado em Belo Horizonte no início do ano e montou um time para a disputa da Copa Integração – competição amadora sub-20 criada por um jornal mineiro. De acordo com Osias Campos Figueiredo, presidente do Arsenal, o nome não é homenagem ao xará londrino, e foi escolhido apenas porque “era bonito e soava melhor que Belorizontino, a outra opção”.

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A estrutura era modesta: o time usava o campo do Santa Cruz, clube amador de Belo Horizonte, para treinar e jogava no estádio da Siderúrgica de Sabará – a prefeitura da cidade histórica, a 17 km da capital, oferecia estádio e transporte à equipe. Para os treinos, nem sempre havia todos os equipamentos necessários. “Muitas vezes, eu tinha de levar cones e bola de casa. Numa hora dessas, a gente meio que vira o clube também”, comenta Vinícius Braccini, técnico do Arsenal na Copa Integração e atualmente no comando do mirim do América-MG. O plano inicial era entrar no profissionalismo apenas em 2007, mas a quinta posição no torneio juvenil incentivou a diretoria a inscrever o clube na Segunda Divisão. “Colocamos o mesmo time da Copa Integração apenas para ver qual era o nível do campeonato antes de montar um time adulto. Considerando a falta de experiência da equipe, até que o resultado foi melhor que o esperado”, conta Figueiredo. Ainda assim, o presidente mantém a esperança para a próxima temporada. “Pretendemos fazer uma parceria com a prefeitura de Betim e mudar o time para lá, com mais dinheiro e infra-estrutura para trabalhar”.

No alto, a relação dos jogadores do Arsenal para a partida contra o Minas, em folha de agenda; acima, a da partida contra o Formiga, em folha de caderno Novembro de 2006

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Negócios, por Ubiratan Leal

Aqui,

pirata não entra Clubes brasileiros começam a investir em lojas próprias para alavancar consumo de produtos oficiais, lançar novos artigos e até facilitar a venda de ingressos futebol brasileiro ainda engatinha na cultura de licenciamento de marcas. À exceção do material de treino e jogo, é até difícil o torcedor encontrar outros tipos de produtos oficiais das equipes. Aos poucos, entretanto, o Brasil descobre os benefícios de abrir lojas dos clubes, em que tudo que é colocado à venda tem como tema um único time e há garantia de que pirataria não tem espaço. Vários clubes brasileiros descobriram esse e outros benefícios de abrir um estabelecimento comercial específico para seus produtos – estratégia que se populariza e ganha até variações, de acordo com a realidade de cada equipe. Por exemplo, a loja não precisa necessariamente se localizar na sede do clube, prática muito comum há alguns anos. Um exemplo disso é o Internacional, que criou a marca Inter Sport para suas lojas e passou a licenciar a operação delas. O clube oferece apenas o nome, enquanto o parceiro arca com locação do espaço, mobiliário, salário de funcionários e outras despesas administrativas – além, claro, do pagamento pelo uso da marca do Colorado. Esse modelo é se-

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Fotos Divulgação

Inter, Corinthians e Galo são alguns dos times que já têm loja própria; à dir., Coxa Mania, ao lado do estádio do Coritiba

melhante ao adotado por muitos clubes, que passam o gerenciamento do estabelecimento para empresas com experiência no varejo. Pode parecer pouco interessante ao licenciado, que tem que fazer quase tudo, mas o fato de o clube da Beira-Rio ter 12 filiais mostra que o modelo é atrativo. “A procura é tão grande que, hoje, temos oito unidades em Porto Alegre e não abriremos mais porque esse mercado está saturado”, conta Janice Penadez, que cuida do assunto no Internacional. O atual campeão da Libertadores tem lojas em Alegrete, Canoas, Novo Hamburgo e Santa Maria, além da capital gaúcha. Um dado que mostra o potencial de retorno das lojas oficiais para o clube é o valor mensal cobrado pelo Colorado para quem licenciar a Inter Sport: apenas R$ 400 por estabelecimento, independentemente do tamanho. A idéia é facilitar a abertura de unidades, mesmo que isso não represente uma receita considerável. O ganho é indireto: ao facilitar o acesso a artigos oficiais, o clube valoriza sua marca na negociação de contratos com os fabricantes desses produtos. De acordo com Penadez,

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com o crescimento da rede de lojas oficiais, o Internacional chegou a fechar uma média de três licenciamentos novos por semana.

BRASILEIRÃO PARA EXPORTAÇÃO A Globo anunciou a criação da versão internacional do Premiere Futebol Clube. O canal transmitirá mais de 300 jogos por ano e terá ainda a programação completa do Sportv. Assim, o PFC Internacional se tornará uma opção para quem quiser acompanhar o futebol brasileiro no exterior. De acordo com a Globo, há uma parceria com uma operadora de TV via satélite para o mercado norte-americano, com mensalidade entre US$ 10 e US$ 15. A previsão da empresa é ter, até o final de 2007, cerca de 40 mil assinantes e chegar a Ásia, África e Europa. Como o público-alvo são brasileiros que moram no exterior, a programação será em português.

A aposta em estabelecimentos próprios para alavancar as vendas de artigos oficiais vai ao encontro do comportamento do torcedor/ consumidor. É por isso que a Roxos & Doentes, que começou na venda de produtos ligados a futebol em geral, entrou no mercado de lojas de clubes. Hoje, a empresa administra unidades da Poderoso Timão (Corinthians), Coxa Mania (Coritiba), Inter Sport (Internacional), Cruzeiro Mania (Cruzeiro), Loja do Galo (Atlético-MG) e Loja do Goiás (Goiás). Segundo Eduardo Rosemberg, diretor da empresa, o apelo de lojas oficiais é muito maior do que de estabelecimentos convencionais. “Quando o torcedor vê um local só com artigos do clube dele, com atendentes que torcem para o mesmo time e no qual o dinheiro é revertido ao clube, ele acaba consumindo mais. Há até os que comemoram a possibilidade de levar as compras em uma sacola com o distintivo do clube”, afirma. Basicamente, as lojas são divididas em três setores: artigos de treino e jogo, produtos licenciados diversos e equipamentos do fornecedor de material esportivo oficial, como tênis, agasalhos, meias e camisas (não só do clube). A área de maior procura é a de artigos de jogo, sobretudo camisas oficiais. Hoje, porém, o modelo evoluiu a ponto de ser mais do que um ponto de referência para a compra de todos os produtos licenciados por um time. As unidades mais importantes de cada clube também são utilizadas para o lançamento de novos produtos. Esses estabelecimentos também oferecem serviços exclusivos, como a colocação de nomes e números nos uniformes. Em Minas Gerais, a Loja do Galo e a Cruzeiro Mania vendem ingressos de jogos. Uma das coisas em que as lojas oficiais não diferem muito das convencionais é o fato de que o movimento de vendas está condicionado ao desempenho do time em campo. Em outubro, as lojas que tiveram desempenho mais destacado entre as parceiras da Roxos & Doentes foram, de acordo com Rosemberg, as de Internacional e Atlético-MG – justamente duas equipes que viveram boa fase nesse mês.

AÇÕES EM ALTA Pelo menos nas bolsas de valores européias, o futebol cresceu em 2006. Um estudo do Bloomberg European Football Club Index verificou que os títulos dos 28 principais clubes de futebol da Europa tiveram alta de 14%. O número é significativo, se for levado em conta que o DowJones Stoxx-600 (que indica o desempenho das principais ações do continente) teve crescimento de apenas 8%. De acordo com a análise da revista italiana Panorama Economy, o motivo desse crescimento foi o aumento das cotas de direito de televisão das principais equipes.

PARCERIA CRUZEIRENSE

notas

Ubiratan Leal/Trivela

Apelo maior

No final de outubro, o Cruzeiro anunciou um acordo com a Xerox. A multinacional exibirá sua marca na frente e nas costas do uniforme cruzeirense até o final de 2007, com prioridade de renovação. O valor não foi anunciado, mas o clube admite que é menor que o contrato anterior, com a Siemens, que acabou no final de 2005. A diferença é que, agora, não há exclusividade, e o Cruzeiro tem possibilidade de negociar patrocínio para manga e calção. Com esse acordo, o Vasco passa a ser o único clube da Série A brasileira sem patrocínio na camisa. Novembro de 2006

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Cadeira cativa, por Ary Rocco Jr. e Zeca Marques

Lições de semiótica

do Lyon

m julho a bola pára na França. Dá lugar para as bicicletas do “Tour de France”. Pessoas se aglomeram nas calçadas, em frente a vitrines, onde possam ver as transmissões ao vivo da mais famosa competição de ciclismo do planeta. Na TV local, as vitórias de Lance Armstrong em 2004 dividiam espaço com lutas de sumô narradas em alemão. De repente, surge o anúncio de um amistoso entre Lyon e Chateauroux. Único senão: a partida aconteceria em Villefranche sur Saône, pequeno povoado que fica a uma hora de trem do centro de Lyon. Era a oportunidade perfeita para quem estava no país para um congresso de semiótica manter a tradição de sempre assistir a jogos de futebol em viagens desse tipo. O encontro tinha lá seus atrativos. O Lyon conquistara o tricampeonato francês e contava com os brasileiros Juninho Pernambucano, Edmilson (de saída para o Barcelona), Caçapa e Élber, recém-chegado do Bayern de Munique. Já o Chateauroux (da segunda divisão) havia surpreendido ao chegar à final da Copa da França semanas antes (perdeu por 1 a 0 para o Paris Saint-Germain). Ao chegar ao estádio de Villefranche, uma surpresa: o ambiente parecia o de um evento futebolístico do início do século XX. As instala-

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ções, modestas para uma equipe acostumada a jogar a Liga dos Campeões, como o Lyon, lembravam as de um clube interiorano. Não havia alambrado nem torcida organizada. Crianças e mulheres misturavam-se aos habitantes locais, e todos pareciam à espera de um “casados x solteiros” após o churrasco no quintal. O único brasileiro de destaque em campo era o artilheiro Élber, cujo nome era gritado a todo instante pela garotada. Mas Élber não marcou nenhum gol naquele “esquenta” para a temporada 2004/5. Idangar e Viale, dois jogadores que raramente foram escalados para partidas oficiais, foram os responsáveis pelo resultado de 2 a 0 a favor do Lyon. Por aí se percebe que, de fato, estávamos apenas no início da pré-temporada européia. Para dizer a verdade, era difícil manter as atenções focadas no jogo. Afinal, não daria para imaginar um ambiente tão caseiro para receber uma equipe do porte do Lyon. Em meio ao bucolismo de Villefranche, a bola deixou de ser o mais importante naquela tarde de sábado. Por mais insignificante que a partida possa ter sido, foi mais rica culturalmente do que certas sessões do tal congresso de semiótica. Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

ficha

Em um mês sem futebol na França, vale até viajar uma hora para ver uma partida da pré-temporada do então tricampeão francês Lyon

LYON 2 CHATEAUROUX 0 Competição: Amistoso Data: 10/julho/2004 Local: Villefranche sur Saône (França)

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E se..., por Mauricio Noriega

...o Brasil fosse um país rico

Brasil comemora 15 anos de crescimento aceleradoo e a entrada no clube das cinco maiores economias do mundo, atrás de EUA, Alemanha e China, e à frente do Japão. A bonança chega ao futebol. Com a injeção de capital dos grandes conglomerados industriais do país, os clubes brasileiros estão entre os mais poderosos do mundo, embalados pela crescente valorização da moeda, que compra 4 euros ou 5 dólares.

O A cada edição, um convidado imagina como seria o mundo do futebol se alguma coisa fosse diferente. Você tem sugestões de temas para esta seção? Mande e-mail para contato@trivela.com

O Clube dos 13 é substituído pelo G-20, que administra a Liga Brasil. Os fundadores do G-20 são os 12 maiores clubes de futebol do país. Os outros oito times são potências econômicas regionais. Como jorra dinheiro, decidiu-se pela criação de uma liga com 40 times. Na verdade, são 40 integrantes oficiais da liga e mais dez times convidados, totalizando 50 equipes. Jogam no Brasil os maiores astros do esporte – principalmente argentinos, que formam 40% da massa trabalhadora. Estádios velhos e inseguros foram substituídos por arenas modernas. A capacidade mínima exigida pelo G-20 é de 60 mil pessoas sentadas e mais 3 mil vagas em camarotes, o que cria aberrações, como estádios para 60 mil pessoas em cidades com 150 mil habitantes. No Rio e em São Paulo, surgiram arenas monumentais. O Maraca-Barra, erguido num velho e decadente bairro carioca, recebe 230 mil pessoas. Parte de suas arquibancadas avança mar adentro, podendo-se chegar ao estádio de barco. Em São Paulo, o “trio de ferro” rivaliza até nas arenas. Uma recebe 200 mil pessoas e tem estação de trem e metrô; outra acomoda 180 mil (com mais conforto e 15 mil vagas em camarotes); a terceira, para 190 mil lugares, é a única com cobertura retrátil. Apesar da fartura de recursos, 70% dos times estão endividados. Pegaram dinheiro emprestado dos bancos brasileiros, os maiores do mundo, e fizeram desastradas parcerias com empresas russas e chinesas para erguer as arenas. Importantes politicamente, são presididos por pessoas influentes no poder e não por administradores esportivos – exceto cinco dos 50 clubes, que, geridos

por multinacionais (duas brasileiras), gozam de boa saúde financeira. Esses números preocupantes, entretanto, não são nada perto do escândalo gerado pela descoberta de alguns dos negócios do G-20, cuja sede suntuosa fica próxima à Esplanada dos Novos Ministérios, em New Brasília (como se sabe, a velha virou cidade turística). Em troca do direito de receber um dos shows da megaturnê do grupo de dinossauros do rock Stone´s Grandsons, um dos dez clubes convidados aceitou vender os resultados de seus cinco jogos da temporada regular para um dos endividados fundadores do G-20. Com os cinco resultados garantidos, o time fundador saldaria a dívida com um grupo de megaapostadores, que tinha emprestado ao G-20 dinheiro para pagar os salários atrasados da nova vice-presidente de marketing do grupo, uma famosa ex-modelo e ex-mulher de um ex-jogador e ex-amante do filho do presidente da liga. Em entrevista ao Celebrity Channel, ela disse que o esquema envolve metade dos 50 times da liga. A crise respingou no presidente da liga, um ex-jogador de basquete, integrante do time pentacampeão olímpico e mundial, posteriormente técnico da seleção de vôlei, que foi convidado a administrar o futebol. Comenta-se que suas pretensões de organizar a segunda Olimpíada no Brasil, na metrópole de Palmas, que serviria para apagar o retumbante fracasso da primeira tentativa – único caso na história em que os Jogos não chegaram ao fim –, naufragaram nesse mar de lama. Rica, mas velha, lama. Mauricio Noriega é jornalista e comentarista do canal Sportv.

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Adam Brown/stock.xchng

Cultura, por Tomaz R. Alves

Futebol de mesa levado a sério

Pebolim tem Copa do Mundo, regras oficiais e até um circuito de torneios que distribui US$ 1 milhão ao ano o mundo todo, o futebol de mesa está entre os passatempos favoritos nos Centros Acadêmicos das faculdades. É presença constante em salões de jogos de edifícios e em botecos. Mesmo com o advento dos videogames, diverte pessoas de todas as idades há décadas, sem perder a popularidade. O jogo, chamado pelos paulistas de “pebolim”, na maior parte do Brasil é conhecido como “totó” – além de São Paulo, o termo “pebolim” é usado em partes de

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Minas Gerais e da região Sul. Os termos “fla-flu” e “pacau” também se ouvem em alguns estados. No exterior, cada país tem um termo específico - por exemplo, “foosball” nos Estados Unidos, “metegol” na Argentina ou “matraquilhos” em Portugal. Por isso, a federação internacional prefere chamar o jogo simplesmente de “futebol de mesa”. Pois é, desde 2002, existe uma federação internacional de pebolim: a International Table Soccer Federation

(ITSF). Uma das primeiras tarefas da entidade foi uniformizar as regras do jogo. Para quem pensa que futebol de mesa é coisa simples, sem polêmicas, basta dizer que o regulamento oficial tem 17 páginas. Antes que você pergunte: não, não é permitido rodar os jogadores. O que ninguém sabe ao certo é quem criou o futebol de mesa. O espanhol Alejandro Campos Ramirez alega ter inventado o jogo em 1936, durante a Guerra Civil Espanhola, enquanto estava

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Quanto você pagaria por uma mesa de pebolim? Nas lojas brasileiras, uma mesa convencional não chega a R$ 1 mil. Na Inglaterra, no entanto, existe um modelo que não sai por menos de R$ 160 mil. Trata-se da Opus, fabricada pela empresa Eleven Forty, considerada a melhor e mais luxuosa mesa de pebolim do mundo. O preço incrível se justifica. A Opus é feita à mão. A estrutura é de madeiras nobres, as maçanetas são de aço inox. A superfície de jogo é de vidro reforçado, e por baixo dela há luzes coloridas, que podem mudar de acordo com o gosto do jogador, para criar “atmosferas” diferentes. As linhas do “campo” (círculo central, áreas, etc.) são marcadas no vidro por meio de ultravioleta. O melhor: todos os 22 jogadores são personalizados, de acordo com o gosto do cliente. Os rostos são reproduzidos com base em fotografias, que podem ser de atletas reais ou então de amigos e parentes do próprio cliente. Os uniformes são pintados à mão, imitando detalhadamente os uniformes escolhidos pelo comprador. Se você ficou interessado – e tem R$ 160 mil para “queimar” –, pode encontrar mais detalhes no site www.elevenforty.com.

Subbuteo Se, para os brasileiros, “futebol de mesa” é sinônimo de futebol de botão, na Inglaterra essa expressão muitas vezes se refere a um jogo chamado Subbuteo. A dinâmica do Subbuteo é muito parecida com a do botão. O time que ataca avança com a bola até que ela toque num adversário ou até que o time não consiga encostar na bola. Cada jogador tem um número limitado de toques até passar ou chutar a gol. A diferença básica entre os dois é que, em vez de um botão impulsionado por uma palheta, o Subbuteo usa jogadores de cartolina sobre uma base redonda de plástico, que são empurrados por “petelecos” do dedo indicador. Na década de 90, o Subbuteo chegou a ter sua produção suspensa. Nos últimos anos, porém, com a moda de “revival” do passado, o jogo voltou às prateleiras e conta com um grupo de fãs fiéis.

NOVO FOOTBALL MANAGER TRAZ NOVIDADES Chegou às lojas (mas só as do hemisfério norte) a versão 2007 do jogo mais popular de administração de clubes de futebol, o Football Manager. A nova versão traz maior interação com os jogadores e a possibilidade de criar vínculos com outras equipes e um melhor sistema de prospecção. Isto é, se você é um time pequeno, pega emprestado jogadores de uma equipe mais tradicional, e vice-versa. Para desespero dos fãs que não querem recorrer a mercados ilegais, nem Sega, nem SI Games, responsáveis pelo desenvolvimento do jogo, prevêem lançamento no Brasil.

Circuito internacional Hoje, a Federação Internacional de Futebol de Mesa conta com 39 países filiados. Desses, apenas um é sul-americano: a Argentina. Ou seja, o Brasil não faz parte da entidade. Acontece que, embora o pebolim seja muito popular por aqui, os adeptos ainda não conseguiram se mobilizar o suficiente para criar uma federação nacional. Enquanto o jogo se organiza internacionalmente, aqui no Brasil não existe nem uma padronização de mesas, muito menos uma federação que o organize em todo o território nacional. O circuito internacional de torneios de pebolim é dominado por jogadores europeus e norte-americanos. Aliás, os Estados Unidos têm um circuito nacional que distribui, anualmente, mais de US$ 1 milhão em prêmios. Ou seja, existem jogadores profissionais, que se sustentam com o que ganham jogando totó. Em 2006, o futebol de mesa viu a realização do maior evento de sua história: a primeira Copa do Mundo, disputada entre 25 e 28 de maio, em Hamburgo, na Alemanha. A competição foi disputada por seleções nacionais, com 20 times de 10 jogadores. Cada confronto entre dois países envolveu oito partidas: três simples masculinas, três duplas masculinas, uma simples feminina e uma dupla feminina. As partidas foram disputadas em cinco modelos de mesas diferentes – cada equipe tinha seu modelo preferido e disputava metade das partidas na sua mesa e metade na do adversário. No final, a equipe campeã foi a Áustria, com a Alemanha em segundo lugar e a Bélgica em terceiro.

“Football Manager 2007” Fabricante: SI Games/Sega Plataformas: PC e Mac Preço sugerido: US$ 29,99 (Amazon) Lançamento: 20/outubro

VIDA DE GOLEIRO

lançamentos

A mesa de R$ 160 mil

internado em um hospital. A inspiração, diz, foi o tênis de mesa. Na Alemanha, quem é reconhecido como criador é Broto Wachter. Em 1930, ele criou um jogo de mecânica igual ao atual, mas com jogadores triangulares, em vez das figuras humanas. Além disso, existem, na França e na própria Alemanha, registros de patentes de mesas similares à do pebolim que datam do final do século XIX.

Em uma análise rápida, “O Ano em que Meus País Saíram de Férias” parece só mais um filme sobre o Brasil nos tempos da ditadura: para fugir da perseguição dos militares, um casal deixa seu filho de 12 anos com o avô, que morre e leva um vizinho para cuidar do garoto. No entanto, não se pode ignorar que a produção dirigida por Cao Hamburger fala de futebol. O garoto é goleiro e compara sua solidão pessoal com a de seus colegas de posição. Seu ponto de referência é a Copa do Mundo de 1970, e o filme mostra os dilemas de quem torcia pela Seleção em um período de repressão no país. “O Ano...” foi exibido na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e tem lançamento programado para novembro. “O Ano em que Meus Pais Sairam de Férias” Dir.: Cao Hamburger Duração: 110 min. Site: www.oano.com.br Estréia: 4/novembro

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A Várzea

Problemas técnicos

As manchetes do mês “Muricy aproveita folga para acertar pontaria dos atacantes” (O Estado de S.Paulo, 9/outubro) “São Paulo aproveita folga para arrumar a defesa” (Folha de S.Paulo, 9/outubro) Pelo jeito, a entrevista coletiva do técnico do São Paulo foi meio confusa nesse dia...

A lorota do mês “Nos últimos jogos, nem tenho conseguido dormir. Fico em casa refletindo, tentando encontrar uma solução” Antes de tudo, seria bom Tuta parar de tentar dormir nos jogos. Fora isso, A Várzea fica imaginando o cara em casa, em posição de ioga, refletindo sobre a situação.

Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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A charge do mês

A Várzea passou por apertos neste mês. Com o fechamento se aproximando e nenhum furo para noticiar, o Editor se espelhou nos clubes brasileiros e radicalizou: demitiu Tolete, o repórter. Interinamente, Denílson, o estagiário com potencial, assumiu o cargo de chefe de reportagem. Por pouco tempo, é claro. A Várzea logo saiu atrás de repórteres “de peso” e contratou Paulo Correntinha, consagrado comentarista do futebol de botão. Infelizmente, depois de elogiar o futebol da Latívia, o escriba perdeu o posto. Denílson, é claro, assumiu de novo e, quando estava prestes a produzir a primeira linha, foi surpreendido pela contratação de outro prestigiado profissional da imprensa: Eustáquio Praxedes, do jornal Praxedes Nils. Infelizmente, como no futebol, uma coisa é trabalhar em um jornal menor, outra é receber a pressão de nossos milhares (milhões?) de leitores. Praxedes não agüentou e acabou demitido. Em seu lugar, Denílson recebeu a promessa de que, dessa vez, teria tempo para mostrar seu trabalho. O texto sobre as “casas germinadas” que apresentou, no entanto, acabou com a confiança da diretoria. Como última tentativa, A Várzea recorreu ao experiente e badalado Gobelário Morógenes, ao qual tivemos que oferecer, além de uma televisão nova para seu cunhado, autonomia total. Depois de demitir Denílson e vetar a concentração no bar do Chico Lingüiça, Gobelário tentou enquadrar o Editor. Como A Várzea não é o Corinth... ou melhor, como o Editor se esquentou, Gobelário acabou no olho da rua. Com o prazo apertando, A Várzea prontamente readmitiu Denílson, mas, antes de promovê-lo a interino de novo, fez o mais sábio: recontratou Tolete, com aumento substancial de salário (agora ganha Mandiopan, em vez de Miojo). Agora A Várzea entende como sofrem os dirigentes brasileiros.

Em alta Didier Drogba

No ano passado, teve quem dissesse que o problema do Chelsea era a falta de atacantes. Desde que começou a temporada, porém, o marfinense marcou nove gols em 11 jogos pelo Inglês e pela LC. Shev quem?

Hélio dos Anjos O cara deixou o Fortaleza na zona de rebaixamento para dirigir o São Caetano. No ABC, conseguiu a façanha de perder sete jogos em seqüência. Pelo jeito, está fazendo campanha para comandar o Íbis.

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