Trivela 10 (dez/06)

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nº 10 | dez/06 | R$ 7,90

ÉLBER “Não troco minha vida pela do Ronaldo”

MUNDIAL Guia completo com fichas dos seis clubes

• Análise do Brasileirão • Séries B e C • Invasão Corintiana • Mundial de games • Mauro Cezar Pereira • Mauro Beting

editora

P O O L

nº 10 | dez/06 | R$ 7,90

E MAIS...

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Quinze anos depois, São Paulo reconquista o Brasil

De volta ao

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O TIGRE BRANCO CHEGOU AO ZOOLÓGICO. FIQUE ESPERTO.

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índice

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Entrevista: Élber fala à Trivela sobre a vida na Alemanha e sua volta ao Brasil São Paulo: Após 15 anos, Tricolor vence Brasileiro e consagra planejamento Balanço - Série A: Os fora-de-série passaram longe do campeonato Balanço - Séries B e C: Pernambucanos e Galo de volta; Ipatinga sobe Hackney Marshes: Na várzea londrina, basta montar um time no pub e jogar

Alexandre Schneider/Trivela

Mundial de Clubes: Análises, entrevistas e os seis times em detalhes Jogo do mês Curtas Opinião Peneira Tática História: Invasão Corintiana Capitais do futebol Entrevista: Adriano Embaixadas Negócios Cadeira cativa E se...

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Cultura A Várzea

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editorial Pacificamente, torcedor tem que se mexer No dia 25 de novembro, 50 mil torcedores do Bahia lotaram a praça Castro Alves, pacificamente, com uma exigência: “Devolva meu Bahia”. Enquanto isso, em Pelotas, a equipe se preparava para enfrentar o Brasil, na partida que acabou determinando sua permanência na Série C. Alguns dias antes, a torcida do Paysandu invadiu o clube e ameaçou de agressão jogadores de fora do estado. Não se sabe, porém, de nenhuma movimentação para, como fez a torcida do Bahia, exigir de maneira pacífica a saída dos verdadeiros culpados pela crise: os diretores do clube. É verdade que o próprio Bahia também tem sua cota de idiotas, os que invadiram o campo na Fonte Nova na partida contra o Ipatinga. A diferença é que a verdadeira torcida do clube baiano saiu às ruas e mostrou sua diferença, não só com relação à direção da equipe, como também à meia dúzia de arruaceiros que querem aparecer e se utilizam da imagem de torcedor para isso. Nos dias seguintes, outros clubes tradicionais, como Portuguesa, Palmeiras e Fluminense, disputaram partidas decisivas para seu futuro. E o Atlético-MG comemorou loucamente a volta à Série A – que não pôde ser comemorada pelo Coritiba. Algumas dessas torcidas mostraram ao Brasil seus grupos de idiotas violentos, mas nenhuma delas fez o que fez a do Bahia. A do Atlético, pelo contrário, se rende em homenagens à direção que afundou o clube e ainda o envolveu em um escândalo político de dimensões nacionais. Embora a violência não seja caminho de mudança, a passividade que nos esmaga também não é. O torcedor brasileiro tem que parar de esperar que outra pessoa faça alguma coisa para melhorar nosso futebol. A Bahia, que demorou mais que o resto do Brasil para se tornar independente, neste caso está na vanguarda.

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Editor Caio Maia Reportagem Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Ricardo Espina Tomaz Rodrigo Alves Ubiratan Leal Colaboradores Alexandre Schneider João Tiago Picoli Luis Augusto Símon Marcus Alves Mauro Beting Mauro Cezar Pereira Zeca Marques Agradecimentos Luiz Fernando Bindi Foto da capa Alexandre Schneider/Trivela Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold (looks@uol.com.br) Diagramação e tratamento de imagem s.t.a.r.t. (start.design@gmail.com)

Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 4208-8213 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 4208-8205 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Pool Editora pooleditora@lmx.com.br (11) 3865-4949 Circulação LM&X - Alessandra Machado (Lelê) lele@lmx.com.br (11) 3865-4949 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Prol Editora Gráfica Ltda. Tiragem 30.000 exemplares

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Jogo do mês, por Ubiratan Leal

O jogo em que

a ficha

caiu N

sendo obrigado a mandar seus jogos em Feira de Santana, depois que a Fonte Nova foi interditada 19 dias antes, após a torcida invadir o gramado durante a derrota tricolor para o Ipatinga. Depois de voltar a perder para o clube mineiro, o técnico Lula Pereira chegou a afirmar que não tinha como enganar as pessoas e que a classificação estava muito difícil, mas a vitória sobre o Grêmio Barueri tinha reacendido no torcedor uma tênue esperança. O 7 a 2 para o Ferroviário traduziu em campo a real situação do Bahia. Deixou claro, por exemplo, que a política de montagem do elenco foi equivocada – 31 dos 57 jogadores contratados foram dispensados posteriormente – e que as ações para arrecadar recursos com a torcida não surtiram o efeito desejado. Matematicamente, o time ainda tinha chances de promoção, mas a campanha já estava marcada definitivamente. No retorno a Salvador, a delegação tricolor deixou o aeroporto pela porta dos fundos. Além disso, o diretor de futebol Newton Motta taxou de “desqualificante” o resultado, deixou seu cargo à disposição e confirmou que jogadores e funcionários do clube estavam com salários atrasados. Como se viu, nem na Série C tal desorganização passa impune. Em 2007, o campeão brasileiro de 1988 vai ter que começar de novo. Ainda na terceira divisão.

FERROVIÁRIO 7 BAHIA 2 Data: 15/novembro/2006 Local: Estádio Presidente Vargas (Fortaleza) Público: 4.434 pagantes Árbitro: Wallace Nascimento Valente Gols: Éverton (14min), Sérgio Alves (19min, 51min e 54min), Fernando (47min), Luciano Baiano (55min), Sorato (70min), Júnior Cearense (77min) e Marcos Pimentel (80min) Cartões amarelos: Pereira, Leandro Leite e Laerte FERROVIÁRIO Jéferson; Marcos Pimentel, Carlinhos, Marcelo Mendes e Júnior Cearense; Glaydstone (Robinho), Dedé, Éverton (Diego) e Fernando; Sérgio Alves (Claudecir) e Stênio. Técnico: Arnaldo Lira

ficha

o feriado de 15 de novembro, o Bahia viveu um dos piores momentos de sua história. Jogando no acanhado Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, o Tricolor fez uma partida deprimente e foi goleado pelo Ferroviário como se fosse um time pequeno que luta contra o rebaixamento no Campeonato Cearense. Com cinco gols no segundo tempo, o Ferrim fez 7 a 2, placar constrangedor em qualquer circunstância. Liderado por Everton, o Coral dominou a partida desde o início. O meia abriu o marcador em cobrança de falta e puxou o contra-ataque para o primeiro gol do veterano Sérgio Alves, de 36 anos. No segundo tempo, os baianos continuaram com um futebol apático e logo sofreram mais três gols. Luciano Baiano e Sorato diminuíram a diferença, mas os cearenses marcaram mais dois antes do final. Nos acréscimos, Fernando desperdiçou a oportunidade de marcar o oitavo gol ao acertar a trave de Darci. O resultado teve forte impacto, devido a um início de recuperação do ânimo do Bahia nos dias anteriores. Depois da vitória sobre o Grêmio Barueri por 4 a 3, a torcida voltou a acreditar que era possível subir, esquecendo os maus resultados que o time vinha colecionando desde o início do octogonal final da terceira divisão. Naquela altura da competição, o Bahia estava

Haroldo Abrantes/Agência A Tarde

O Bahia tinha esperanças de subir para a Série B – até o Ferroviário expor, com muitos gols, a bagunça em que o campeão brasileiro de 1988 se transformou

BAHIA Darci; Luciano Baiano, Pereira, Laerte (Rodrigão) e Peris; Salvino (Charles), Leandro Leite, Rodriguinho e André Pastor; Ednei (Isac) e Sorato. Técnico: Lula Pereira

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Curtas MINUTOS DE SILÊNCIO Divulgação

Os torcedores do Schalke 04 encontraram uma forma diferente de protestar contra o clube. Na partida contra o Bayern de Munique, pela 10ª rodada da Bundesliga, eles ficaram em silêncio por 19 minutos e 4 segundos – alusão ao ano de fundação da equipe (1904). Os Azuis Reais marcaram um gol durante o período da “paralisação”, mas, mesmo assim, a torcida se manteve firme. A partida, jogada em casa, acabou 2 a 2, mas o protesto parece ter adiantado: três rodadas depois, o Schalke chegou à liderança do torneio.

CAMPEÕES MUNDIAIS ALTERNATIVOS

Para tirar Dadá Maravilha do sério, basta dizer que ele só foi para a Copa de 70 devido a uma imposição do presidente Médici. Foi o que fizemos em nossa edição número 5 – ainda como Copa’06. Dadá ficou tão bravo que ligou para a redação e reclamou. Como não poderia deixar de ser, abrimos espaço para que o ex-craque do Galo pudesse apresentar sua versão para o caso. Em entrevista à Trivela, o ex-jogador desabafou sobre o que considera ser “uma das maiores injustiças feitas com um jogador de futebol no Brasil”. Houve alguma influência do Médici em sua convocação para a Copa de 70? De forma alguma. Ele ia ao estádio para ver o Dadá jogar. Ele me tinha como maior ídolo. Naquela época, Dadá era o maior jogador do planeta. Todo o Brasil queria me ver em campo. Sou um dos jogadores mais injustiçados da história da Seleção. Fazia mais gols do que Pelé e Tostão. Você conhecia o Médici pessoalmente? Eu o vi pela primeira vez em um almoço dele com a Seleção. Enchi meu prato e pedi para uma mulher segurar. Os outros jogadores riram e fiquei sem entender nada. O Médici chegou e disse que era a esposa dele. Se eu soubesse, teria colocado o prato na minha cabeça (risos). Qual sua posição sobre o regime militar? Nunca me preocupei com política. Era desligado com relação a esse assunto. Na época, estava mais preocupado com futebol. Passava meu tempo vendo meus adversários jogarem. Anotava os defeitos de cada um. Por isso, ninguém me parava. Quando entrava em campo, Dadá registrava a área. Para parar Dadá, só com tiro.

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BENFICA NO GUINNESS O Benfica estará na próxima edição do Livro dos Recordes. Os Águias ganharam o “título” de clube com maior número de sócios no mundo, com pouco mais de 160 mil associados. A marca anterior pertencia ao Manchester United, com aproximadamente 152 mil.

Dan Chung/Reuters

DADÁ X MÉDICI

Chipre do Norte e Lapônia conquistaram títulos mundiais para não-filiados à Fifa. A Lapônia foi a melhor da Viva World Cup, organizada na Occitânia (sul da França). Rom e Papua Ocidental desistiram por falta de dinheiro para a viagem e Camarões Meridional, por problemas de visto. Os lapões massacraram Mônaco na final: 21 a 1. Na ELF Cup, o Chipre do Norte jogou em casa e venceu sem dificuldades. Depois de passar por Criméia, Tadjiquistão, Tibet e Zanzibar, os cipriotas bateram, novamente, a Criméia, na final, por 3 a 1.

BEST EM DINHEIRO A Irlanda do Norte preparou uma forma de homenagear George Best. O rosto do ex-jogador, morto em 2005, será estampado em 1 milhão de cédulas de 5 libras. Nelas, Best aparecerá com as camisas da seleção local e do Manchester United. As notas começaram a circular em 25 de novembro, data que marca o primeiro ano de sua morte – Best faleceu aos 59 anos, devido às complicações causadas pelo alcoolismo.

NADA DE APOSENTADORIA Paul Ince definitivamente não quer se aposentar. O ex-jogador do Manchester United e da seleção inglesa, com a qual disputou a Copa de 1998, irá se juntar em janeiro ao Macclesfield, da quarta divisão da Inglaterra. Além de jogar, ele será o técnico do time. Com 40 anos, Ince, o primeiro jogador negro a ser capitão do English Team, tentará ajudar a equipe a fugir da zona de rebaixamento do torneio. O contrato assinado com o Macclesfield é de 14 meses, prorrogáveis por mais seis, e a tarefa de Ince não será fácil: até a 18ª rodada, a equipe era lanterna do torneio, sem nenhuma vitória e com apenas seis pontos ganhos.

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“O Souza fala demais. Eu até acho que se ele fechar a boca será convocado para a Seleção, porque está jogando bem há um bom tempo” Aloísio, depois da vitória contra o Goiás, na 35ª rodada, ao saber que Souza havia dito que o São Paulo já era o campeão

“Aqui no Barcelona não tem filhos da p***” Samuel Eto’o revela qual é a diferença entre o time catalão e o Chelsea

“A única coisa que tenho a dizer é que não tenho palavras à torcida tricolor” Newton Motta, diretor de futebol do Bahia, após a derrota de seu time por 7 a 2 para o Ferroviário

DISQUE-JOGADOR Provavelmente inspirada no “Disque Marcelinho”, criado pela Federação Paulista de Futebol em 1997 para repatriar Marcelinho Carioca, a Federação Goiana decidiu montar um esquema semelhante para reforçar cada um dos participantes do campeonato estadual de 2007. A entidade vai “contratar” 12 jogadores e repassar um deles para cada equipe, como forma de atrair um público maior aos estádios e elevar o nível técnico da competição. Cada clube terá um número de telefone para que seus torcedores liguem. De acordo com o número de telefonemas, será definida a ordem em que as equipes escolherão os atletas. A federação espera gastar cerca de R$ 500 mil com as contratações e pagamento de salários desses jogadores.

erramos Na edição anterior, a entrevista com o jogador Amoroso foi creditada apenas a Carlos Eduardo Freitas, embora tenha sido feita também pelo jornalista Ubiratan Leal.

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Deixa que eu chuto (Fortaleza 2x1 São Caetano)

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Três chances para marcar (Ponte Preta 3x2 Goiás)

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Bolada no passarinho (São Caetano 3x1 Figueirense)

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Marcos Robinson (Paraná 4x2 Palmeiras)

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De trás do meio-campo (Goiás 1x2 Paraná)

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Cássio mão furada (Cruzeiro 2x1 Vasco)

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Christian perde gol inacreditável (Juventude 0x0 Corinthians)

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Aperta que ela... escapa (Internacional 1x1 Corinthians)

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Banheiro atômico (Internacional 0x0 Grêmio)

10 momentos estranhos do Brasileirão

frases

Falta para o Fortaleza. Bechara corre para a bola. Igor também. Nenhum dos dois pára. Resultado: uma trombada bisonha. Não bastasse o vexame, Igor fraturou a fíbula no lance e ficou mais de um mês parado.

Aos 49 minutos do segundo tempo, pênalti para a Ponte. Almir cobrou, Harlei defendeu, mas o árbitro mandou repetir. Novo pênalti, nova defesa e mais uma vez o juiz exige a repetição. Na terceira tentativa, agora com Vélber, a Ponte finalmente marcou. Mais incrível ainda é que a situação se repetiu na vitória por 3 a 0 da Macaca sobre o Flamengo: Preto errou as duas primeiras cobranças, e Jailton converteu a terceira tentativa.

Aos 42 minutos do primeiro tempo, o zagueiro Tiago Prado foi aliviar a bola da defesa. Imagine a surpresa do jogador ao ver que seu chute acertou um queroquero que passeava pelo gramado. Infelizmente, a ave morreu no dia seguinte.

A imagem do frango de Paul Robinson contra a Croácia rodou o mundo. Poucas semanas depois, o palmeirense Marcos imitou o inglês: furou bisonhamente um chute e deu um gol de graça para Cristiano.

Faltando três minutos para o fim, o goleiro Harlei deu um bicão para frente. Para surpresa geral, o zagueiro João Paulo, a 60 metros de distância, devolveu emendando um chutão de primeira e acabou fazendo o gol da vitória do Paraná.

Da entrada da área, Diego chutou fraco. Bola fácil para o goleiro Cássio encaixar, certo? Errado. O vascaíno falhou feio e acabou rebatendo a bola para dentro do próprio gol.

Esse foi o pior gol perdido do campeonato. Christian recebeu sozinho, dentro da área, sem goleiro e com apenas um zagueiro defendendo a meta corintiana. E o que fez? Chutou para fora.

Num chute de Wellington Monteiro, a bola ficou fácil para o goleiro Marcelo. Tão fácil que, na empolgação, o corintiano agarrou a bola com força - tanta força que a bola bateu no seu rosto, escapou e ficou de graça para Fernandão marcar.

Foi o pior momento do Brasileirão. Durante o clássico, torcedores gremistas atearam fogo em alguns banheiros químicos, que foram jogados no fosso do Beira-Rio. Imagina só o cheiro que ficou no estádio...

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Wagner perde outro gol incrível (Botafogo 0x1 Cruzeiro)

No mesmo dia do gol perdido de Christian, Wagner, do Cruzeiro, também falhou de maneira inacreditável: depois de driblar o goleiro Lopes, o meia, sem ninguém entre ele e o gol, conseguiu mandar a bola para fora.

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Opinião

Autocrítica

Mauro Beting

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– embora alguns adorem ser pagos para tanto. É crítico. É cricri. É chato. “Hay gobierno, soy contra” parece ser o lema da crítica. A de cinema parece odiar tudo que vê – a não ser aquele filme de 17 horas iraniano com legendas em esperanto que narra um dia na vida de um contador com a calculadora quebrada. Se for um crítico musical, você já sabe. Tudo que ouve é ruim. Menos aquele trio de pós-rock de Zanzibar, com uma flauta doce, um baixo sem cordas e um fanho que recita em mandarim, e que vendeu um single no Tibet e outro em Manchester. Crítico de futebol no Brasil (olha eu aqui!) está trilhando os mesmos passos e teclas. Detesta todo jogo que vê, das peladas de praia aos desfiles de craques e grifes nos tapetes europeus. Nós dormimos em partidas de Copas do Mundo - ou avisamos ao público que não daremos a menor pelota ao jogo. Nós detonamos campeonatos e jogos antes mesmo de eles começarem. Mandamos o torcedor ficar em casa, desligar a TV e o rádio e não dar bola “ao joguinho fuleiro, ao torneio que não leva a lugar algum, ao amistoso caça-ferro da Seleção”. Não que não tenhamos razão em alguns casos. Não é isso. Mas não pode ser só isso um jogo. Tem pelada que é indigna da várzea. Mas tem joguinho ruim que, ao menos, vale a emoção, a vontade dos jogadores, a história de grandes clubes. Aquela correria frenética que garante a diversão. Como um filme de ação que o crítico de cinema odeia. Como uma banda pop a que o crítico prefere a surdez. Fosse se valer e se pautar apenas pelo gosto, digamos, popular, jogaria Tom Jobim pela janela e consumiria Calypso até o último Chimbinha. Mas o crítico precisa manter o senso... crítico. Só não precisa perder o senso das coisas, ser um sonso a esbravejar contra tudo e contra todos. Um chato no deserto. Peguemos o clássico Corinthians 1x0 Palmeiras, por exemplo, no returno. Um futebolixo sem dó, e o treinador verde de plantão deu de dizer que aquela triste exibição do que há de pior em nossos campos “foi um jogo digno das tradições do clássico”. Quando um profissional do futebol se sente satisfeito com apenas isso, quando ele entende que aquilo foi digno da história de dois grandes, é que se entende como estamos jogando, pensando, vendo e cobrando pequeno. Por isso os grandes se apequenam. Por isso o crítico, muitas vezes, precisa ser mais cricri que os jogos chatos. Também para que possamos dizer que vimos um belíssimo jogo quando perdemos o fôlego e as contas com um espe-

amarcord

O TERMO JÁ DIZ TUDO: CRÍTICO. Não é “elogiador”

Leônidas da Silva foi o nosso primeiro craque-propaganda. O primeiro mito futebolístico brasileiro. O primeiro cracaço comentarista de rádio (tivemos outros antes, mas nenhum Leônidas). Em 1958, microfone da Pan-Americana na mão, Leônidas encasquetava com o camisa 10 do Brasil. “Fominha”. “Individualista”. Era a análise mais meiga do Diamante Negro para a nova jóia negra brasileira, Pelé. Não se sabe se era teima do crítico, se era cotovelo latejando, o que era. Mas foi o que ficou de Leônidas. É o que fica de muito ex-jogador que ama odiar as novas gerações. Alguns, por questão de gosto. Não poucos, para que o gosto popular não troque de ídolo. É do jogo. É do homem. Também tem crítico que sabe ser doce com o azedume. George Best, o quinto Beatle, o primeiro playboy da bola, também foi comentarista. E dos ótimos. Como a descrição dele a respeito do maior cracketing: Beckham – não por acaso, ídolo do mesmo Manchester United. “David não chuta de pé direito, não chuta de pé esquerdo, não é bom no cabeceio e não sabe dar carrinhos quando marca. Fora isso, é um bom jogador”. E Best estava sóbrio – apesar de adorar dizer, à época, que havia parado de beber. “Não bebo mais enquanto estou dormindo”. George Best não perdoava. A análise a respeito de Paul Gascoigne, que bebia como Best, mas jogava como Gazza, é definitiva: “Uma vez eu comentei que o QI do Gascoigne era menor que o número que ele usava na camisa e ele ficou muito bravo. Ele veio me perguntar o que era QI”.

tacular Atlético-PR 6x4 Vasco. Sem fazer média. Apenas elogiando quem está acima dela. E, quando preciso, não deixando pedra sobre bola quando alguém está abaixo da crítica. Ainda pior: quando assim se sente melhor. É dever crítico baixar o pau em quem deixa o pau comer em campo, em quem se rebaixa apenas para evitar o rebaixamento. O crítico futebolístico não pode fazer como muitos colegas de cinema: contar o enredo na crítica. Mas é preciso mudar essa história. Para que não tenhamos mais filmes com o final infeliz.

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Quando o dinheiro não é tudo HOJE CONSIDERADO O PARCEIRO PERFEITO de Ronal-

Mauro Cezar Pereira

dinho Gaúcho, Samuel Eto’o chegou ao Camp Nou há três temporadas, sem o status de grande reforço. Ele vinha de quatro anos atuando pelo Mallorca e tinha no currículo passagem quase que “secreta” (seis jogos) pelo Real Madrid – nada que se compare à badalação em torno de Michael Owen quando este trocou o Liverpool pelo clube merengue. O inglês disputou apenas um Campeonato Espanhol e voltou à Inglaterra para vestir (raras vezes) a camisa do Newcastle. Deco era, de fato, uma estrela no Porto. Mas o brasileiro naturalizado lusitano não figurava entre os mais badalados meias da Europa quando o Barcelona foi buscá-lo, em 2004. Antes disso, o Real Madrid despejou US$ 41 milhões nos cofres do Manchester United para ter David Beckham. Se, no marketing, o inglês leva ampla vantagem, em campo, o jogador da seleção de Luiz Felipe Scolari tem se mostrado mais útil, além de ter custado aproximadamente a metade. Woodgate (hoje no Middlesbrough), Sergio Ramos, Júlio Baptista (atualmente no Arsenal), Cicinho e Ronaldo são outras contratações caras do Real Madrid. São reforços muito mais badalados e que não proporcionaram resultados como os gerados por Rafa Márquez, Edmílson, Sylvinho, Belletti, Van Bronckhorst e Giuly. Foi com esses jogadores e apenas um supercraque, Ronaldinho Gaúcho, que o Barcelona chegou ao bicampeonato espanhol e ao título europeu. Quanto

ao rival, não ergue uma taça desde 2003. No Brasil, São Paulo e Internacional dominam o futebol nacional e sul-americano sem uma contratação “de impacto” sequer. Nem mesmo a dinheirama despejada no Corinthians pela obscura MSI impediu a hegemonia dos atuais campeão e vice da Libertadores. Planejamento e reforços escolhidos a dedo, sem milagres e engenharias financeiras, colocaram colorados e são-paulinos no topo. No Rio de Janeiro, mesmo asfixiados financeiramente há anos, Vasco, Botafogo e Flamengo fizeram campanhas dignas no Campeonato Brasileiro – isso depois de vascaínos e rubro-negros decidirem a Copa do Brasil. É verdade que a competição foi esvaziada pela ausência dos times que estiveram na Libertadores. Mas também é fato que clubes com orçamentos bem mais robustos que os dois cariocas participaram do torneio, mas não chegaram à decisão, casos de Santos e Cruzeiro. Sem falar no Fluminense, único carioca com apoio financeiro de um parceiro-patrocinador que jogou no ralo alguns milhões em 2006. Nesta virada de ano, em que palavras como “pré-temporada”, “reforços” e “reestruturação” entopem o noticiário esportivo, melhor para quem for lúcido o bastante e compreender que não basta ter dinheiro. E que é possível montar bons times sem zilhões. Os exemplos de Barcelona, São Paulo e Internacional estão aí para quem duvidar.

Copa Uefa não é modelo

Carlos Eduardo Freitas

PRIMEIRO FOI A CONMEBOL, depois veio a Mercosul. Agora é a vez da Copa Sul-Americana. Todas foram criadas para a confederação e os clubes terem algo para vender para as TVs no segundo semestre. E, de diferentes maneiras, foram comparadas à Copa Uefa. Do jeito que foram estruturadas, porém, todas nasceram fadadas ao fracasso – principalmente por copiar de maneira tosca a competição B da Europa. Para começar, o próprio “modelo” está em baixa. Desde que a Liga dos Campeões inflou o número de participantes, os europeus questionam o valor de um torneio que, no formato atual, apontará “o 33º melhor clube da Europa”. Dessa forma, em algo que se repete por aqui, os clubes mais tradicionais não dão bola à disputa. Melhor exemplo é o Newcastle, que, precisando fugir da zona de rebaixamento da Premier League, enfrentou o Palermo com seu time reserva – e venceu, na Itália. A disputa acaba sendo valorizada por equipes que, mesmo sendo fortes, não têm

tradição em competições continentais, como CSKA Moscou e Sevilla, campeões das duas últimas edições da Copa Uefa. No caso sul-americano, um exemplo seria o Atlético-PR. Para valorizar sua segunda competição, a Conmebol deveria fazer com que o objetivo do torneio fosse dar experiência internacional aos clubes. Não ter participantes que jogam a Libertadores ajudaria muito, assim como ser disputada em paralelo à competição mais importante. Aqui, isso liberaria o segundo semestre para a disputa da Copa do Brasil. Pena que a vontade da Conmebol (e das televisões e dos clubes argentinos) seja manter os clubes tradicionais na Sul-Americana a qualquer custo. Assim, a entidade não cogita a possibilidade de estender as competições ao longo de todo o ano. Do jeito que está, com a Libertadores durando só um semestre, sempre haverá a brecha para alguma competição entre agosto e dezembro. Enquanto isso acontecer, esses torneios estarão sempre condenados ao fracasso. Dezembro de 2006

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Peneira

Taiwo:

uma bomba nos pés

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do Brasil, é um defensor: para começar, marcar não é seu ponto forte. Além disso, por se lançar em demasia ao ataque, deixa muitos espaços abertos para os rivais aproveitarem um contra-ataque. Para completar, o nigeriano ainda perde a cabeça com facilidade, o que o leva a receber cartões com certa freqüência – algo que precisa ser corrigido se pretende ver seu potencial plenamente desenvolvido. [RE]

(desde 2004)

Horacio Villalobos/EFE

e há uma falta perigosa para ser cobrada a favor do Olympique de Marselha, os adversários já sabem que vem uma bomba pela frente. O nigeriano Taye Taiwo, lateral-esquerdo do OM, faz de seus potentes chutes de perna esquerda uma grande arma – e uma ameaça para quem se aventurar a ficar na barreira. Destaque das Super Águias no Mundial sub-20 em 2005, Taiwo ajudou a equipe a alcançar a final do torneio contra a Argentina. Mesmo com a derrota por 2 a 1 na decisão, ele foi considerado um dos melhores atletas da competição. Por seu desempenho no torneio, o lateral ganhou a chance de defender a seleção principal na última Copa Africana de Nações. Na estréia contra Gana, Taiwo fez o gol da vitória por 1 a 0 com sua marca registrada: um forte chute em uma falta de longa distância. Apesar dessas qualidades, Taiwo carrega alguns defeitos graves para um defensor – e um lateral, fora

Nome: Taye Ismaila Taiwo Nascimento: 16/abril/1985, em Lagos (Nigéria) Altura: 1,83m Peso: 77kg Carreira: Lobi Star (2003 a 2004), Olympique de Marselha

Montiel:

Paraguai pensa no futuro

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Jorge Adorno/Reuters

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contra a Venezuela. Seu futebol chamou a atenção da Udinese, que o contratou no fim de 2005, mesmo sabendo que ele poderia se apresentar só depois da Copa do Mundo. Na Alemanha, o meia ficou no banco em todas as partidas e, em seu novo clube, ainda não se consolidou como titular. Muito jovem, o paraguaio ainda precisa ganhar experiência e força física – o que não impede que seja considerado a principal aposta de seu país para a próxima década. [UL]

fichas

mau desempenho do Paraguai na Copa da Alemanha expôs a necessidade de o país descobrir um novo modelo para seu futebol, diferente do que o levou ao relativo sucesso no final da década de 90. Algumas das soluções, aparentemente, já estavam no elenco levado ao Mundial por Aníbal Ruiz. É esse o caso do meia José Montiel. Descoberto por olheiros do Olimpia de Assunção no Olimpia de Itaguá – clube amador que defendia –, Montiel estreou como profissional em 2004, com apenas 16 anos. Com boa visão tática, o jogador atua como meia, ligando os volantes com o setor de armação. “Monti” rapidamente tornouse titular do Decano e ganhou espaço no cenário paraguaio. Em pouco mais de um ano como profissional, já havia conquistado o título sul-americano sub-17 pela seleção do Paraguai e estreara na equipe principal de seu país, em um amistoso

Nome: José Montiel Núñez Nascimento: 19/março/1988, em Itaguá (Paraguai) Altura: 1,73m Peso: 71kg Carreira: Olimpia (2004 a 2006), Udinese (desde 2006)

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Tática, por Ubiratan Leal

Como

anular o Barcelona forma exibida pelo Barcelona na temporada 2005/6, quando conquistou o Campeonato Espanhol e a Liga dos Campeões, criou em torno do clube uma aura de “imbatível”. Para sorte de América e Internacional, nesta temporada a equipe não tem sido a mesma, o que ficou evidente nas derrotas para Chelsea (0 a 1, pela Liga dos Campeões) e Real Madrid (0 a 2, no Espanhol) e também no empate, contra o mesmo Chelsea (2 a 2, pela LC), no Camp Nou. Tanto Chelsea como Real Madrid se aproveitaram da ausência de Samuel Eto’o para armar uma linha defensiva sólida, com forte marcação sobre Ronaldinho. O Chelsea, por só ter um volante fixo, deu um pouco mais de espaço para Messi. A principal arma dos ingleses foi o trio Essien-Lampard-Ballack, que alimentava o ataque ao mesmo tempo em que marcava com eficiência. Xavi, responsável por ligar defesa e ataque, ficou sem espaço, e Edmílson se viu sobrecarregado. Em Madri, o Barcelona foi vítima de um erro tático de Rijkaard. O holandês colocou em campo dois jogadores leves na marcação (Xavi e Iniesta). Assim, Robinho e Raúl tiveram muita liberdade e deram força a um ataque que só contava com Van Nistelrooy. Na defesa, Fabio Capello colocou quatro defensores fixos e dois volantes fortes. O Barça sumiu em campo. Para os adversários dos catalães no Mundial, entretanto, a lição mais importante deve vir da terceira partida, o empate com o Chelsea. Mesmo com Essien, Makélélé, Lampard e Ballack, os Blues tiveram dificuldades para parar o Barcelona. Tentaram fazê-lo “na pancada” – 29 faltas contra 14 –, mas, mesmo assim, os Blaugranas chegaram duas vezes ao gol. Se não atingiram seu objetivo, não foi devido a uma sacada técnica espetacular de Mourinho, mas sim por causa de um fator que os adversários têm que explorar: a insegurança da defesa catalã. Se, de um lado do campo, o setor ofensivo Blaugrana ainda tem em campo Ronaldinho e Giuly, na outra extremidade as perspectivas são bem mais agradáveis para os oponentes. A defesa, na qual pontificam Puyol e Rafa Márquez, falha mais do que devia e só não se compromete mais porque o ataque e o meio seguram a bola – e os jogadores adversários. Parar Ronaldinho, quando ele quer jogar, parece uma tarefa difícil para os oponentes do Barça. Menos complicado, portanto, pode ser apostar na fraqueza de sua defesa.

1. Chelsea 2x0 Barcelona 40

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40. Hilario 3. Cole 4. Makélélé 5. Essien 6. Ricardo Carvalho 7. Shevchenko 8. Lampard 9. Boulahrouz 11. Drogba 13. Ballack 26. Terry

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2. Real Madrid 2x0 Barcelona 1

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Real Madrid

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1. Casillas 3. Roberto Carlos 4. Sergio Ramos 5. Cannavaro 6. Diarra 7. Raul 8. Emerson 10. Robinho 14. Guti 17. Van Nistelrooy 21. Helguera

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Barcelona

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1. Valdes 4. Marquez 5. Puyol 6. Xavi 7. Gudjohnsen 10. Ronaldinho 11. Zambrotta 12. Van Bronckhorst 15. Edmílson 19. Messi 20. Deco

1. Valdes 5. Puyol 6. Xavi 7. Gudjohnsen 10. Ronaldinho 11. Zambrotta 16. Sylvinho 19. Messi 20. Deco 21. Thuram 24. Iniesta

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Entrevista, por Carlos Eduardo Freitas e Caio Maia m 2003, poucos meses depois de trocar o Bayern pelo Lyon, Giovane Élber teve de voltar a Munique para enfrentar sua antiga equipe, pela Liga dos Campeões. Quando desembarcou no aeroporto da cidade, uma legião de jornalistas o aguardava logo do lado de fora do avião. Juninho Pernambucano chegou a comentar: “Parece até que o presidente é que está chegando”. No dia seguinte, no Olympiastadion, a torcida do Bayern fez silêncio a cada jogada do antigo ídolo. Por ironia do destino, Élber marcou, aos 8 minutos do segundo tempo, o gol da vitória do Lyon. “Naquele momento, perdi completamente os sentidos. Não ouvia, não enxergava. Mal podia imaginar a reação dos torcedores”, conta. Quando os alto-falantes anunciaram o autor do gol, em vez de xingar ou vaiar o jogador, o estádio inteiro gritou seu nome. “Foi naquele momento que percebi o legado que construí”. Enquanto, na Alemanha, Élber nem precisa mostrar o passaporte para entrar no país, no Brasil, ele pendurou suas chuteiras em novembro, no Cruzeiro, num magro empate sem gols contra o Fortaleza – um jogo no estádio Independência, com as arquibancadas vazias. Na Alemanha, pouco depois da Copa do Mundo, a Allianz-Arena recebeu público de 70 mil pessoas para sua despedida. Nesta entrevista exclusiva concedida à Trivela, em São Paulo, Élber relembra a dificuldade de adaptação no exterior e conta os relacionamentos com craques alemães como Matthäus e Kahn, além de dar uma aula para os jovens jogadores brasileiros que sonham em um dia ir para a Europa. Aos 34 anos e começando a aproveitar a aposentadoria, até curte a idéia do anonimato em seu próprio país. “Não troco minha vida pela do Ronaldo.”

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O Kaiser brasileiro Herói na Alemanha, Élber pendura as chuteiras em 2006 sem grande alarde, menos de um ano após sua estréia no futebol brasileiro. Nesta entrevista à Trivela, ele conta que gostaria de ter voltado antes – mas curte o anonimato em seu país

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Matthias Schrader/EFE

Te incomoda ser mais reconhecido na Alemanha do que em seu próprio país? Não, não. Se sou reconhecido, acho legal, fico feliz por ter acompanhado minha carreira, saber o que eu fiz. Se não sabe, não tem problema, não. Se tivesse jogado mais tempo no Brasil, seria diferente. Aqui, quando me reconhecem, ficam sempre em dúvida se sou pagodeiro ou jogador. Uma vez, num vôo, a aeromoça veio me perguntar de que grupo de pagode eu era. Quando disse que eu era jogador, ela me pediu desculpas. Levo isso numa boa, pois meu lugar de trabalho é na Europa. Lá, dou autógrafo sempre. Na Alemanha, a coisa é extrema. Outro dia, estava em Hamburgo e fui fazer check-in no aeroporto. A atendente me deu três cartões de embarque: um para mim e outros dois para eu assinar. Quando chego ao país, nem me pedem passaporte. Aqui no Brasil, não, mas eu prefiro que ninguém me reconheça, mesmo. Vou para a praia e fico tranqüilo, não vem ninguém conversar sobre futebol. Não troco minha vida pela do Ronaldo, não. Você estreou profissionalmente no Brasil apenas aos 34 anos. O que mais te chamou a atenção nessa sua volta ao país? Tirando as brigas de torcida, o que mais me impressionou foi disputar a primeira rodada do Brasileiro depois da Copa do Mundo com 1,1 mil pessoas no estádio de São Caetano. Estava acostumado a sempre jogar com 30, 40, 60 mil pessoas. Aí, chego e vejo estádios com 5 mil – quando muito dá 15 mil pessoas. Se fossem estádios pequenos, como é lá fora, lotariam sempre. Além disso, esperava que tudo fosse mais desorganizado, mas não sei se a impressão de organização que fiquei é porque joguei no Cruzeiro. Agora, triste mesmo é jogar em alguns dos gramados daqui. Por isso, acho que é prematuro o Brasil querer fazer uma Copa do Mundo. Para isso, vai ter de se investir muito dinheiro, derrubar muitos estádios e construir novos. É só

ver os banheiros, a situação do torcedor, que não pode ir numa boa assistir a um jogo. À medida que o país for melhorando, porém, essas coisas mudam. Não vai ser do dia para a noite. O que acontece no futebol é só um reflexo da situação política do país. Quando você saiu do Brasil, não era tão normal um jogador tão jovem ir para o exterior. Como é, para um moleque, chegar em um lugar em que não conhece nada, ainda mais em um clube como o Milan? Naquela época, a única coisa que eu tinha na cabeça era que ficaria lá algum tempo e depois voltaria. Tinha cinco anos de contrato com o Milan. Queria cumprir até o final, pegar o dinheiro e voltar. Eu pensava que, quando voltasse, seria rei em Londrina. Nunca tinha visto tanto dinheiro na vida (US$ 500 mil). O pior período foi o começo. A adaptação à língua, aos costumes. Por exemplo, o Milan tinha uma fisioterapeuta e, para fazer massagem com ela, tinha de estar pelado. Eu, molecão, pensei: “Como vou fazer massagem pelado, com a mulher me olhando?” Eu ia de sunga, e ela mandava eu tirar. Achava aquela história estranha, mas depois percebi que era normal. Imagina só, fazer massagem pelado com uma mulher no Brasil. É complicado. O que foi bom foi a ajuda que eu tive de um argentino, que me auxiliou bastante quando eu estava na Suíça. Sozinho é muito difícil. Nessa hora, você se apega a alguém e espera que seja a pessoa certa. Você passou os três primeiros anos de Europa emprestado para o Grasshopper, da Suíça. Lamenta não ter jogado pelo Milan? Queria ter tido uma chance. Só joguei em amistosos de final de temporada, quando íamos viajar para jogos caçaníqueis do Milan. O problema, para mim, é que, naquela época, só podiam jogar três estrangeiros – e os três que estavam lá eram três holandeses. Fracos, eles... Um não sabia fazer gol, o outro não sabia passar... (rindo) Van

Prefiro ser anônimo no Brasil. Não troco minha vida pela do Ronaldo, não

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Carreira: Londrina (1990), Milan (1991), Grasshopper (1991 a 1994), Stuttgart (1994 a 1997), Bayern de Munique (1997 a 2003), Lyon (2003 a 2005), Borussia Mönchengladbach (2005), Cruzeiro (2006)

Basten, Gullit e Rijkaard. Como é que um Élber, de 17 anos, vai jogar num time desses? Para mim, ficou claro, mas, depois de dois anos indo e vindo para a Suíça, pedi para me emprestarem para um time da Itália. Era mais fácil jogar ali perto, ir aprendendo o idioma, e poderiam me acompanhar melhor, porque na Suíça eles nem me viam. No terceiro ano nesse esquema, eu cansei dessas idas e vindas e pedi para ser vendido. Ter começado num país com menos tradição no futebol, como a Suíça, ajudou sua adaptação? Foi a melhor coisa. Não tinha pressão, e eu sabia que podia jogar mais. Recomendo aos jogadores que deixam o Brasil irem para França, Suíça ou Holanda, e, principalmente, para um clube acostumado a trabalhar com brasileiros. Se você chega num lugar que tem competição forte, fica sempre mais difícil se adaptar. Precisa dar resultado logo. Se você joga algumas partidas e não vai bem, o pessoal já começa a te encostar. Tem clube que está mais acostumado a trabalhar com brasileiros? Tem sim. Eles sabem que precisa ter uma pessoa ali para dar atenção apenas para aquele jogador, porque o brasileiro é especial. Um exemplo é o Bayer Leverkusen. Se vai um brasileiro para lá, ele não vai sofrer. Eles têm um cara que vai fazer compra para os jogadores, ajudar no dia-a-dia, porque o jogador brasileiro quase nunca fala outro idioma. Quando você era moleque, o sonho de todo jogador era chegar à Seleção. Hoje, um garoto de 17 anos se apresenta num grande clube brasi-

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Títulos: Copa da Alemanha 1997, 1998, 2003; Campeonato Alemão 1999, 2000, 2001, 2003; Campeonato Francês 2004; Liga dos Campeões 2001; Copa Intercontinental 2001; Campeonato Mineiro 2006

leiro já dizendo que busca visibilidade para ir para a Europa. Como você vê essa mudança de valores? É um reflexo da situação do país. O jogador tem uma idéia de como é a vida lá fora, que é muito diferente daqui – estrutura dos clubes, tranqüilidade para trabalhar. Lá, torcedor não entra no clube para te bater. Por isso é que não pensam meia vez antes de ir embora. O problema é que muitas vezes o jogador vai bem no Brasileiro, ganha um certo nome aqui e vai para o exterior. Chega lá achando que todos têm obrigação de saber quem ele é, mas não é por aí. Você acha que o jogador brasileiro é muito mimado? Demais. Comprovei isso no Cruzeiro. Eu ficava puto com o que faziam com o roupeiro. Ele dava a roupa para a gente, os caras se trocavam e iam embora. Deixavam a roupa toda no chão. Toalha, sunga... Tomavam banho e deixavam a sunga lá no banheiro. O coitado do roupeiro passava e tinha que recolher tudo. O cara vai pegar a roupa toda molhada, fedida. Não é questão de nojo, mas de respeito. Falei para eles: tem dois cestos, tem de colocar a roupa no cesto. A minha eu não deixava pegar, não. A chuteira, pode levar, mas eu é que tenho de pôr a roupa no cesto. Você tem de dar exemplo para essa garotada. O roupeiro não está lá para ficar catando cueca suja. E se você não dá exemplo, essa molecada não cresce. Quais as perguntas que os jogadores mais jovens te faziam no Cruzeiro? Perguntavam sobre viver no frio. Isso assusta bastante. Quando o Hamburg

Feitos: Artilheiro do Campeonato Alemão 2003; Estrangeiro que mais gols marcou na história do Campeonato Alemão (133 gols) Na Seleção: 15J / 7G Fotocom/Divulgação

ficha

Nome: Giovane Élber de Souza Nascimento: 23/julho/1972, em Londrina (PR)

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é difícil porque você não conhece as pessoas, os jogadores, o jeito de trabalho e pensa que o trabalho aqui no Brasil é muito melhor. Por ter feito carreira no exterior, raramente você era defendido pela torcida em época de convocação para a Seleção Brasileira. Você acha que isso limou suas chances de ir a uma Copa? De maneira alguma. Não era para ser, mesmo. Em 1998, com o Zagallo, eu estava machucado na reta final. Em 2002, com o Felipão, o Bayern de Munique não me liberou para jogar a Copa América, e houve todo um tumulto com a CBF, comigo, com o Antônio Lopes [Lopes, então coordenador técnico, chamou Élber de desertor ao não se apresentar à Seleção para a Copa América]. No final, não fui. Não tenho mágoa de ninguém. Na Alemanha, você se tornou ídolo do Bayern, jogando ao lado de alguns dos maiores astros da história do país. Você era bem tratado ou era visto com ciúmes por ser estrangeiro? Eu era visto como um deles. Às ve-

zes, até melhor. Não me viam como um jogador brasileiro. Eu era um alemão, pela maneira de me expressar, de falar as coisas na cara, como os alemães. Quando fomos jogar contra o Real Madrid, na Liga dos Campeões 1999/2000, o treinador era o José Antonio Camacho, que foi da seleção espanhola. Antes do jogo, ele disse algo do tipo: “Vamos ganhar desses alemães, que só sabem levantar a bola na área, jogando no bum-bum-bum”. Eu ouvi aquilo e pensei comigo: deixa ele ver. Ganhamos por 4 a 2, em Madri. Na entrevista, depois do jogo, eu retruquei. “Esse é o time que o treinador Antonio ‘Carajo’ falou que só sabe jogar no bum-bum-bum. Quem disse que nós alemães só sabemos jogar desse jeito?” Falei tão espontaneamente que nem percebi que disse “nós alemães”. Rapaz, isso teve uma repercussão. O assessor de imprensa até comentou comigo: “Agora vão pôr uma estátua sua lá em Marienplatz, no centro de Munique”. Foi sem querer, mas pensei que já que pegou bem, melhor deixar quieto.

O jogador precisa entrar na cultura do país para o qual vai. Se não, não agüenta

Christian Charisius/Reuters

estava atrás do Alecsandro, ele veio me perguntar isso. Respondi que lá é frio, sim, mas que com o dinheiro que ele ia ganhar daria para ele comprar umas blusas e se aquecer bem (risos). Outra coisa que acham que vão sentir é saudade dos amigos. Aqui, eles levam quatro, cinco conhecidos para os treinos. Lá, só se for como fez o Marcelinho Paraíba, que levou todos os parentes para lá. Por falar no Marcelinho, ele e o Alex Alves cometeram algumas gafes que ficaram famosas na Alemanha. Como foi a história do Alex na festa de Natal? Os clubes fazem uma festa de Natal antes de sair de férias. Você vai de fraque, de gravata, às vezes com o terno do clube. Ele chegou com um casacão branco, de pele. Bonitão, até, mas inapropriado. E com uma camisetinha regata por baixo. Chegou à festa, tirou o casaco e ficou só de camiseta. Na hora que vi a foto no jornal, pensei: “Não é possível”. Só ele mesmo para fazer isso. Para evitar esse tipo de situação, alguma vez te ligaram para saber como eram as coisas por lá, para ouvir sua experiência? Nunca. Jogador brasileiro é muito desunido. É muita inveja. O cara sempre acha que você vai sacanear ele. E que dica você daria para essa molecada que está indo para a Europa? A primeira coisa é aprender o idioma. O resto é conseqüência. Você começa a entender a cultura, porque lá fazem certas coisas que não fazem aqui. Fica mais fácil a adaptação. Se você tenta bater cultura com cultura, dá um choque, e vai ser só briga. Ou seja, você entendeu que aquela sua idéia de ir para lá, juntar dinheiro por cinco anos e voltar é justamente o contrário do que se tem de pensar. Exato. Se você realmente não estiver bem, pode até voltar. Não precisa ficar 15 anos. Só que você precisa entrar na cultura do país, parar de pensar como se ainda estivesse no Brasil. Se não, nunca se adapta. O começo

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Na Alemanha, ou você torce para o Bayern ou torce contra ele

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No Brasil, Oliver Kahn não é uma figura muito querida. Como é o goleiro do Bayern no dia-a-dia? O Kahn é goleiro. E de goleiros você tem de aceitar tudo, porque são doidos. Quando a gente faz um gol, vem todo mundo em cima. O goleiro, não: você só vê ele correndo na área, sozinho. Mas ele é gente boa. Esse é o jeito dele, e ele já falou para mim que sofre por ser assim. Às vezes, o Kahn chegava chutando as garrafas de água no vestiário. Eu o acalmava, mas pensava que, se ele viesse para cima de mim, eu estava ferrado. E o Matthäus? Ele é uma excelente pessoa. Jogamos cinco anos juntos e como jogador, ele é indiscutível. É um excelente profissional, que sempre está presente para ajudar o time. Infelizmente, tem o outro lado. Pelo nome que tem, está sempre em evidência na mídia. Qualquer coisa que ele fala tem peso demais. Quando ainda éramos jogadores, certa vez escutamos uma história de que ele passava informações para o Bild (diário sensacionalista alemão), e isso não repercutiu bem. Por isso, algumas pessoas têm uma certa mágoa dele. Fiquei surpreso, como todo mundo ficou, quando soube que ele ia treinar o Atlético-PR. Tinha conversado com ele na Alemanha, e ele dizia que queria voltar para lá. Do nada, apareceu no Brasil. Por falar no Bayern, muitas pessoas na Alemanha têm uma certa aversão ao clube. O vocalista do Die Toten Hosen (banda de rock alemã), que fez uma música xingando o clube, disse recentemente que, se fosse jogador, jamais jogaria pelo Bayern. Como é esse clima? Não jogariam mesmo, porque são músicos (risos). Mas tem muita gente que fala isso, que nunca jogaria pelo Bayern de Munique. As pessoas têm que entender que o Bayern é o “crème de la crème” do futebol alemão. Se você fizer um bom campeonato, uma boa Liga dos Campeões, fica rapidamente conhecido. Quando eu estava

no Stuttgart, me pediam na Seleção, e o Zagallo disse que, para o Brasil, eu poderia comprar passagem para passar férias, porque atacante como eu tinha aos milhares. Não deu um mês que eu estava no Bayern e já estava nos Estados Unidos disputando a Copa Ouro com o próprio Zagallo como treinador. Outro dia, um taxista comentou comigo que até o Diego estava na Alemanha. “No Bayern de Munique, né?”, me disse. Quando disse que era no Werder Bremen, o cara não falou mais nada. Aqui no Brasil, você fala em Alemanha, pensam no Bayern, que foi o time do Franz Beckenbauer. Por que o Bayern é tão odiado assim? Na Alemanha, ou você torce para o Bayern ou torce contra. Até já conheci gente que torcia para outro time e dizia ter simpatia pelo Bayern, que gostava do jeito de o time sempre querer ganhar, ganhar. O problema é que a maioria das pessoas vê isso como arrogância, acha que você está desmerecendo os outros times ao dizer que queremos sempre ganhar. Não é arrogância, mas, por ter um time bom, com bons jogadores, sabe que tem de ganhar todos os jogos. Sem falar que, quando acontece alguma coisa na Alemanha, quem vai falar é o Beckenbauer, o Rummenigge e o Hoeness. Sempre o pessoal do Bayern. Isso cria uma antipatia. Alguma vez passou pela sua cabeça a possibilidade de se naturalizar alemão para jogar pela seleção? Falaram para jogar pela Suíça quando estava lá. Sugeriram que eu me casasse com uma suíça, mas sempre disse que queria jogar pelo Brasil e que não me naturalizaria para defender nenhuma seleção. Sou brasileiro. Acho sacanagem o cara se naturalizar. Mas a Alemanha te receberia de braços abertos. Na última Copa, por exemplo, quatro dos atacantes do Nationalelf eram nascidos fora: Klose, Podolski (ambos Polônia), Asamoah (Gana) e Neuville (Suíça). Como você vê isso? Acho que isso vai acontecer cada vez mais na seleção alemã. Não que seja

fácil se naturalizar alemão, mas vejo poucos talentos saindo das categorias de base. Por que você acha que isso acontece? Os jogadores lá obedecem o que o treinador fala à risca. Dentro de campo, não conseguem mudar nada, sozinhos, sem o treinador passar alguma coisa. Ficam sempre esperando. Eu mesmo falava para a garotada do Bayern que eles tinham de se impor mais. Um deles quis se impor tanto que, depois de fazer a estréia nos profissionais, levou a namorada para conhecer as dependências do clube depois do jogo. Foi ao vestiário, ligou a sauna e ficou com ela lá. Levou a maior bronca do Hitzfeld, mas ficou no time. E depois jogou a Copa

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Matthias Schrader/EPA

Se pudesse mudar algo em minha carreira, não teria ido para o Lyon

do Mundo de 2006. O outro problema é que tem muitos estrangeiros jogando lá. Na Alemanha, tinha de ser como é na Inglaterra, onde o sujeito tem de ter um mínimo de jogos pela seleção de seu país antes de ir para lá. Desse jeito, não vai qualquer um. Ou seja: hoje você entende por que o Milan não te aproveitou. Exato. Se você traz um cara de nível para jogar seu campeonato, é legal – até financeiramente, para os clubes. Se você enche de estrangeiros, a garotada sofre. No Brasil, como não tem muitos estrangeiros, os jovens aparecem mesmo. Se tivesse estrangeiro de nível, ficaria mais difícil, e não teríamos tantos talentos.

O que pretende fazer agora que se aposentou? A experiência como comentarista durante a Copa foi gostosa. Quem sabe? Só acho que eu teria de falar melhor o alemão. O certo é que ficarei nessa ponte-aérea Brasil-Alemanha. Deixei muitos amigos em Stuttgart e principalmente em Munique. Tenho uma firma de nutrição animal aqui no Brasil e tenho minha fazenda, em Cuiabá. Nenhum plano de seguir no futebol? O Uli Hoeness (diretor do Bayern) me disse para não vender minha casa em Munique. Não sei por que ele me falou isso. Ele não fala as coisas, mas imagino que esteja pensando no futuro. Se for para trabalhar com fute-

bol, gostaria de ajudar jogadores brasileiros na Europa. Como treinador, nunca. Mas, no momento, tudo o que quero saber é de curtir minha família e tirar férias. Em sua carreira, há alguma coisa que você mudaria se tivesse a oportunidade de voltar no tempo? Minha ida para o Lyon. Não que tenha sido ruim, mas estava acostumado a outro ritmo de futebol e de vida. Minha família sofreu bastante. Seria melhor ter ficado no Bayern ou ir para outro clube, quem sabe até voltado para o Brasil. É uma pena que eu tenha voltado velho e bichado. Se tivesse retornado um ano antes, daria para fazer um trabalho legal. Dezembro de 2006

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Sテ」o Paulo, por Caio Maia e Carlos Eduardo Freitas

A consagraテァテ」o de um modelo

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Alexandre Schneider/Trivela

Planejamento e continuidade deram o Brasileirão-2006 ao São Paulo – e ainda poderão levar muitos outros títulos ao Morumbi

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m 31 de maio, o São Paulo bateu o Fluminense por 1 a 0 e assumiu pela primeira vez a liderança do Brasileirão. Três rodadas depois, na 12ª, pegou a ponta e não largou mais. A duas rodadas do final, após empatar com o Atlético-PR em casa, conquistou seu quarto título brasileiro, o primeiro em 15 anos. Assim, consagrou no plano nacional um modelo que, na Libertadores e no Mundial, já se mostrara vitorioso. Em termos matemáticos, o São Paulo foi campeão principalmente porque perdeu pouco. Quando deixou de ganhar, raramente saiu derrotado. Em casa, até garantir o título, só deixou o campo sem nenhum ponto em uma oportunidade – contra o Santos, jogando com o time reserva. Esses resultados evidenciam o forte esquema defensivo da equipe, que começou a ser lapidado em 2003 – quando Lugano chegou ao São Paulo – e se cristalizou nos anos seguintes. Uma comparação entre as duas últimas conquistas do clube, aliás, é curiosa e ilustrativa: embora contasse em 1991 com craques como Cafu, Muller, Leonardo e Raí, o Tricolor ganhou o título no sufoco, depois de empatar com o Bragantino por 0 a 0, em Bragança Paulista. Paradoxalmente, o grupo deste ano, no qual só Júnior, Rogério Ceni e Mineiro já vestiram a camisa da Seleção, sobrou: conquistou o título com antecedência e foi pouco ameaçado desde que assumiu a liderança. Isso é sinal de um futebol brasileiro diferente, no qual planejamento e continuidade têm de compensar a falta de craques. Planejamento e continuidade, mais do que a categoria individual de um ou dois jogadores, foram, sem dúvida, as principais marcas do título tricolor – como haviam sido, aliás, nas conquistas de 2005. No ano passado, porém, as

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Alexandre Schneider/Trivela

presenças de Amoroso e de Cicinho não deixavam tão evidente a força do coletivo tricolor, formado com tempo e sabedoria. Na estréia do Brasileiro, o São Paulo bateu o Flamengo em casa, por 1 a 0. A equipe que entrou em campo naquela partida sofreria poucas modificações na seqüência do torneio. À frente de Rogério Ceni, os zagueiros eram Lugano, que deixaria a equipe após a Libertadores, Fabão e André Dias. Nas alas, jogavam Souza e Junior, titulares até a conquista do título, mesmo após a mudança do esquema tático. No meio, Mineiro e Josué tinham a companhia de Danilo. O ataque já era Aloísio e mais um – naquele dia, Thiago. Dos 11, só os atacantes não estavam no elenco que disputou o Brasileiro de 2005. E a maior parte continuará lá em 2007. É verdade que o Tricolor, como os outros clubes, perdeu peças importantes durante a competição, mas, diferentemente da maior parte de seus adversários, soube se preparar para perdêlas. Lugano era o pilar da defesa são-paulina, e o time sofreu alguns contratempos após sua substituição por Edcarlos e, depois, por Miranda. Apesar disso, o sistema defensivo não desmoronou após a saída do uruguaio, e a adaptação do substituto foi relativamente rápida. A outra perda do São Paulo, a de Ricardo Oliveira, acabou

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sendo mais traumática. Na primeira partida no torneio sem ele, Rogério Ceni teve que fazer os dois gols da equipe. Na seguinte, diante do Paraná, Leandro e Aloísio marcaram. Foi então que os atacantes pararam de fazer gols. Nas nove partidas seguintes, o São Paulo venceu quatro, uma de goleada, empatou quatro e só perdeu para o Palmeiras. Os atacantes, porém, ficaram todo esse tempo sem marcar. Nada evidenciou mais a força do grupo são-paulino do que essa “seca” de gols de seus homens de frente. Na falta deles, nada menos que 16 jogadores anotaram pelo São Paulo, incluídos aí o goleiro Rogério Ceni, artilheiro da equipe, quatro zagueiros, dois laterais e um volante. Rogério, Fabão e Mineiro marcaram os gols mais importantes da campanha. Como é inevitável, o São Paulo de 2007 perderá algumas peças. Repetindo, porém, o que tem feito nos anos recentes, o clube já começou a substituir os jogadores que sairão. Quatro títulos brasileiros talvez não reflitam a estrutura e o profissionalismo do Tricolor. O final da temporada 2006, porém, deixa claros indícios de que, da maneira como é o futebol nacional hoje, o planejamento faz o clube se destacar do bolo. Se não se organizarem, os adversários têm tudo para ficar assistindo essa diferença crescer em velocidade muito maior do que gostariam.

Fabão e Danilo (esq.) ganharam tudo no São Paulo e vão para o futebol japonês

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Um longo

jejum á 15 anos o São Paulo não levantava a taça de campeão brasileiro. Embora dirigentes e torcedores se apóiem no espetacular retrospecto do período em outras competições, notadamente Libertadores e Mundial, para alegar desinteresse pelo torneio, é tempo demais para uma equipe que se orgulha de sua estrutura e de seu profissionalismo. Nesses 15 anos – nos quais o campeonato foi disputado em diversos formatos diferentes –, Palmeiras e Corinthians chegaram a quatro troféus cada, superando o Tricolor, enquanto o Santos conquistou o título duas vezes. Uma série de eventos, porém, explica o que aconteceu no Morumbi para que o clube passasse um tempo tão longo sem títulos nacionais. Entre eles, estão reformulações de elenco mal feitas,

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a reforma do Morumbi e a sombra de Telê Santana sobre qualquer um que assumisse o comando da equipe – o que fez com que 14 treinadores passassem pelo clube desde a aposentadoria forçada daquele que para sempre será conhecido por ali como “Mestre”. Durante esses 15 anos, o Tricolor passou por fases diferentes. A primeira delas foi a das históricas conquistas internacionais. Ao contrário do que pensam muitos torcedores mais jovens, na época áurea em que disputou três finais seguidas de Libertadores (1992 a 1994), o São Paulo manteve o ritmo forte também no Brasileiro e ficou sempre próximo das finais. Em 1992, com o campeonato disputado no primeiro semestre – em paralelo à competição continental –, o time ficou a uma vitória de fazer a final com o Botafogo. Perdeu para o Vasco, em São Januário, por 3 a 0, apesar dos gritos da torcida rival, que pedia para o time carioca entregar o jogo para evitar a classificação flamenguista. Situação semelhante foi vivida em 1993, quando a vaga na decisão não veio por um ponto. Como o time estava classificado para o Mundial, contra o Milan, ninguém deu muita bola. Do segundo título em Tóquio em diante, teve início um período de seca que durou quatro anos, no qual o São Paulo não obteve nenhuma conquista relevante. Nessa época, Telê Santana deu início a uma renovação do elenco, que não pôde concluir em função do problema de saúde que encerrou sua carreira, em 1996. Raí já havia saído em 1993. Depois foi a vez de Ronaldão, Cafu, Leonardo, Toninho Cerezo e Muller. Eles deram lugar a uma série de jogadores vindos das categorias de base, que se misturaram a reforços como Sandoval, Luís Alberto, Isasi, Matosas, Adriano e Uéslei. Também foi nessa mesma época que, em duas “fornadas” de juvenis que chegaram ao time principal, surgiram Bordon, Rogério Ceni, Denílson, Juninho, Caio, Edmílson, Fábio Aurélio, Marcelinho Paraíba e França. Exceção feita ao goleiro – e com o acréscimo de Serginho e Belletti, contratados em 1996 junto ao Cruzeiro –, esses jogadores renderam algumas centenas de milhões de reais aos cofres do São Paulo, que alegava precisar do dinheiro para reformar o Morumbi. “Aquela foi uma época de contenção de despesas.

desempenho em Brasileiros desde 1992 Posição Outros títulos O que aconteceu no Brasileiro

1992

1993

1994

1995

1996

6º Paulista, Libertadores, Mundial

4º Libertadores, Mundial

6º Copa Conmebol

12º -

11º -

Perde para o Vasco na partida decisiva do grupo 1 da fase semifinal, e vê o Flamengo, que ganharia o título, se classificar para a decisão com o Botafogo.

De novo é desclassificado pelo campeão, depois de ficar a um ponto do Palmeiras no grupo F – a fórmula de disputa das finais era a mesma do ano anterior.

Cai diante do Guarani de Djalminha, Amoroso e Luizão nas quartas-de-final, num campeonato que teve Júnior Baiano como maior goleador do time.

O time ainda passa perto de se classificar para a semifinal no primeiro turno, mas some no segundo. Foi a última vez em que Telê Santana disputou um Brasileirão.

Foi a estréia de Muricy em Brasileiros, substituindo Parreira. Por um ponto, não se classifica às quartas-de-final do campeonato.

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O discurso da diretoria na época era: vender e não comprar”, lembra Darío Pereyra, que treinou o Tricolor em 1997. Hoje no milionário Barcelona, Edmílson viveu de perto a secura entre 1993 e 1998. Deixou o clube em 2000, para o Lyon, por quase US$ 10 milhões e com apenas dois títulos paulistas. “Posso não ter feito parte da história futebolística, mas me sinto orgulhoso por ter ajudado o São Paulo a ter a estrutura que tem hoje. O clube perdeu de um lado, mas ganhou de outro com a minha saída”, avalia o jogador do Barcelona.

A ressurreição A volta por cima começou depois da Copa João Havelange, em 2000, com a geração que revelou Kaká, Fábio Simplício e Júlio Baptista. Esse time também não conquistou título nenhum, mas bateu na trave duas vezes e foi o embrião daquele que, em 2003, recolocaria o São Paulo em uma Libertadores. Sob o comando de Oswaldo de Oliveira e com o reforço de Ricardinho, após a Copa do Mundo de 2002, a equipe jogou bem durante todo o campeonato e terminou a primeira fase cinco pontos à frente do vice-líder São Caetano. Nas oitavas, apesar da vantagem de jogar por dois empates, sucumbiu diante do Santos de Diego e Robinho, que só se classificara para as finais depois de uma improvável combinação de resultados na última rodada. A contratação de Ricardinho, futebolisticamente, foi um péssimo negócio, mas trazia uma mensagem à torcida e ao mundo do futebol: o São Paulo quer voltar ganhar títulos, e não poderia haver melhor maneira de dizer isso do que tirar de seu maior rival um jogador que era tido naquele momento como um dos melhores em atividade no país. Oswaldo caiu no meio de 2003, logo no início do Brasileirão. Sob seu comando, o time havia perdido a final do Paulista para o Corinthians e via uma briga interna por conta da presença de Ricardinho no elenco. Para seu lugar, o São Paulo recorreu ao chileno Roberto Rojas, que desde os tempos de Telê trabalhava como preparador de goleiros. E foi pelas mãos dele que o time, já sem Kaká, mas com Luís Fabiano, conseguiu voltar à Libertadores, na primeira edição do Brasileiro disputada no sistema de pontos corridos. A classificação para a competição continental fez com que o

Posição Outros títulos O que aconteceu no Brasileiro

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clube se movimentasse para buscar reforços, e, em 2004, o São Paulo começou a formar o time que, em 2005, seria campeão continental: Lugano havia se firmado na equipe no fim de 2003 e ganhou a companhia de Júnior, Cicinho e da primeira parte da “legião goiana”, formada por Fabão, Danilo e Grafite. Depois da eliminação diante do Once Caldas, na semifinal da Libertadores, voltar a disputar a competição passou a ser questão de honra, e o clube repetiu a terceira colocação. Com isso, retornou em 2005 a sua competição favorita nos braços de Leão, que substituíra Cuca. Em 2005, sim, o são-paulino pode dizer que a equipe não ganhou o Brasileiro porque não se preocupou com ele. À boa base já existente, o clube adicionou Mineiro, Josué e Luizão – e, mais tarde, Amoroso. O tricampeonato da Libertadores, sob o comando de Paulo Autuori, fez com que o time relaxasse no Nacional, chegando até a ocupar a zona de rebaixamento por algumas rodadas. Classificado automaticamente para a edição 2006 do torneio continental, restou ao time se segurar para não cair para a Série B e se preparar para o Mundial. O ano de 2006 podia ter sido parecido com o anterior, apesar do discurso de Muricy Ramalho quando assumiu a direção da equipe em substituição a Autuori. Muricy, que já passara pelo Morumbi como jogador e técnico (veja ao lado), chegou falando no título brasileiro, valorizado justamente pelo longo período em que o São Paulo ficou sem ganhá-lo. É difícil imaginar, porém, que o Tricolor mantivesse o ritmo se tivesse conseguido passar pelo Internacional para chegar a seu quarto título da Libertadores. Mais difícil ainda é imaginar que o Inter não fosse aumentar a velocidade para superar a derrota e o vice de 2005. Nada disso, porém, aconteceu. Rafael Sobis surpreendeu o São Paulo no Morumbi e, a partir daí, passou a ser prioridade para a equipe a conquista do Brasileiro – título que veio com duas rodadas de antecedência, igualando o Cruzeiro de 2003. Tetra brasileiro garantido, o time volta à Libertadores com o mesmo objetivo de sempre: ampliar a hegemonia continental entre os rivais no país. Como mostra a história recente, o destino do clube no Brasileirão em 2007 será, mais uma vez, decidido pelo que acontecer na competição sul-americana. A diferença é que, desta vez, o Tricolor tem presente na memória o gostinho de ser o melhor do país.

1997

1998

1999

2000

2001

13º -

15º Paulista

4º -

12º Paulista

7º Rio-São Paulo

Depois de infernizar os adversários no Paulistão, a dupla Dodô-Aristizábal não repete o bom futebol no nacional, e o time passa longe da classificação.

Raí, o grande reforço para a temporada, fica fora o ano todo por contusão, e o time só se salva do rebaixamento na última rodada.

Quinto colocado na primeira fase, cai diante do Corinthians nas semifinais, numa partida em que Dida defendeu dois pênaltis de Raí.

Perde para o Palmeiras, nas oitavas-de-final da Copa João Havelange, após terminar em sexto lugar no Módulo Azul (primeira divisão).

Cai nas quartas-de-final diante do futuro campeão Atlético-PR, na partida que ficou marcada pela perseguição implacável de Cocito a Kaká.

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Alexandre Schneider/Trivela

Muricy, das categorias de base ao comando da equipe É antiga a história de amor entre Muricy Ramalho e o São Paulo. A carreira de jogador do atual técnico tricolor começou nas categorias de base do clube, no qual formou uma das maiores duplas de ataque da história do Morumbi, ao lado de Serginho – e com o qual foi campeão brasileiro em 1977, embora não tenha jogado a final por estar contundido. Irreverente e cabeludo, o Muricy jogador pouco se assemelha ao atual jeito “mal-humorado” do Muricy técnico. Do São Paulo, o jogador partiu para o México, onde encerrou a carreira nos campos e começou a de treinador. Ao voltar da América do Norte, Muricy foi o último assistentetécnico de Telê Santana. Quando o mestre ainda estava no clube, conquistou o título da Copa Conmebol de 1994 com o “Expressinho”, time de pratas da casa que eram vistos como grandes apostas. Assumiu o time profissional interinamente após a saída de Telê e voltou ao cargo após a demissão de Parreira – que entrara em seu lugar. Após deixar o Tricolor, rodou o Brasil e conquistou títulos estaduais em Pernambuco, São Paulo e Rio Grande do Sul. Com títulos regionais e um internacional no currículo, faltava um Brasileiro, que quase veio em 2005, pelo Inter – e finalmente aconteceu agora, pelo clube onde começou a carreira. Ao contrário do que vinha ocorrendo nos últimos anos no clube, Muricy renovou seu contrato com o Tricolor por mais duas temporadas. O são-paulino espera que ele fique até o fim e que reedite o período vivido pelo São Paulo quando Telê comandava.

2002

2003

2004

2005

2006

5º -

3º -

3º -

11º Paulista, Libertadores, Mundial

1º -

Líder absoluto na primeira fase, é eliminado nas oitavas-de-final em pleno Morumbi pelo Santos de Diego e Robinho, time que viria a ser campeão.

Nas mãos de Roberto Rojas, consegue a tão sonhada classificação para a Libertadores, no primeiro torneio da era dos pontos corridos.

Depois do baque da eliminação na semifinal da Libertadores, Leão substitui Cuca e conduz o time novamente à competição continental.

Após a conquista da Libertadores, o time relaxa e chega até a ocupar a zona de rebaixamento por algumas rodadas.

Investe pesado no Brasileirão, depois do vice-campeonato da Libertadores. O título vem com duas rodadas de antecedência.

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Balanço - Série A, por Ubiratan Leal

O Brasileirão

sem

craques Bons jogos e boas disputas não conseguiram mascarar: a edição deste ano do Nacional foi carente de jogadores fora-de-série Brasileirão de 2006 teve uma série de bons jogos. A briga pelo título, embora apontasse nas últimas rodadas um favoritismo destacado do São Paulo, também foi quase até o fim. As outras disputas, então, nem se fale. Até a última rodada ainda houve alguma disputa importante acontecendo. O que não se pode dizer, convenhamos, é que tenha sido um campeonato em que se destacaram os craques – ao contrário da tradição do torneio. Por mais que o êxodo dos nossos jogadores não seja uma novidade, nos dois últimos anos, o Brasileiro havia sido vencido por duas equipes com um bom número de talentos. No Santos de 2004, pontificavam Robinho e Diego. No Corinthians de 2005, o dinheiro da MSI juntou Carlos Alberto, Nilmar, Roger, Tevez e Mascherano.

O

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O ano do “antiherói”

VM Jorge

A falta de grandes jogadores não tirou o bom humor do torcedor, que transformou Obina em uma das figuras do Brasileirão. Quando lançou seu site oficial, o atacante Obina, do Flamengo, tratou de criar também uma loja virtual para venda de camisas oficiais de si próprio. O objetivo: combater a pirataria, já que pipocavam camisas com o nome do jogador – sobretudo com a inscrição “Obina é melhor do que Eto’o”, canto da torcida flamenguista –, nos camelôs do centro do Rio de Janeiro. Esse é um sinal inequívoco de como o centroavante revelado pelo Vitória se identificou com a torcida rubro-negra. É claro que nem o mais fanático flamenguista realmente acredita que Obina é melhor do que Eto’o. Tampouco leva a sério os “Obina facts”, série de frases que se espalharam pela Internet, em que o atacante é elevado à categoria de super-herói. O jogador, por mais carismático e voluntarioso que seja, tem dificuldades para manter a forma, é atrapalhado e perde muitos gols. A irônica obsessão por Obina mostra como, na falta de um craque que a torcida realmente pudesse saudar, a saída foi brincar com o que havia à disposição. O auge da “Obinamania” foi a partida contra o Grêmio, em 19 de agosto. O atacante entrou no início do segundo tempo e, 23 minutos depois, foi expulso. Ainda assim, saiu ovacionado pela torcida. A atitude dos rubro-negros foi reconhecida pelo Brasil. No Paraná, os atleticanos iniciaram uma brincadeira parecida com Dênis Marques, também atrapalhado e com tendência a desperdiçar oportunidades claras de gol. No Brasileirão sem craques, os “anticraques” acabaram se destacando. Dezembro de 2006

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Souza: “Os gols estão mais distribuídos” Para o brasileiro, “craque” é uma palavra que se aplica quase sempre a jogadores de ataque ou meias ofensivos. Nesse aspecto, a artilharia do campeonato nacional de 2006 também pode refletir a ausência de jogadores que a torcida identifique como “foras-de-série”. Um exemplo disso é Souza, que fez 18 gols em 2005 e ficou em sétimo na lista de artilheiros – atrás de Romário, Róbson, Tevez, Rafael Sobis, Borges e Alex Dias – e, em 2006, chegou à penúltima rodada como o artilheiro da competição, com apenas 16 gols. De acordo com o jogador, essa queda não tem relação com uma eventual diminuição na qualidade dos atacantes no Campeonato Brasileiro. A queda na produção dos goleadores seria causada por diversos fatores, como a parada para a Copa do Mundo e até os esquemas táticos. “Muitas equipes estão usando um atacante fixo apenas, o que obriga esse jogador a lutar por espaço contra toda a defesa adversária”, afirma. “Por isso, tem tantos meias fazendo vários gols”. Quando o Campeonato Brasileiro começou, qual era seu objetivo pessoal? Eu queria simplesmente fazer 18 gols, a minha marca do ano passado, ou mais. Era um jeito bom de medir uma evolução minha de uma temporada para a outra. Mas você, até agora, só tem 16. Pois é. É verdade. Mas, pelo menos, sou artilheiro da competição, o que certamente compensa. Na temporada passada, você fez 18 gols e foi sétimo na artilharia. Em 2006, com 16, você até agora é o artilheiro. Os atacantes estão fazendo menos gols neste ano? É uma soma de fatores que faz com que fique cada vez mais difícil jogar. A marcação fica mais forte ano a ano. Os atacantes têm menos espaço para jogar, ficam mais visados e sofrem mais faltas – tanto que o índice de gols de bola parada é muito alto. Também não se

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pode esquecer que o intervalo da Copa esfriou as equipes. Muitos times brasileiros estão usando esquemas táticos com apenas um atacante fixo. Isso não ajudaria os centroavantes a concentrarem mais os gols? Pelo contrário, fica mais complicado. Como o atacante fica sozinho na frente, tem de lutar por espaço contra toda a defesa adversária. Muitas vezes, ele acaba sendo importante não como finalizador, mas como pivô, para abrir espaço e preparar a bola para quem vem de trás. É só ver como tem muito meia e lateral entre os artilheiros de cada time: o Renato, do Flamengo, o Paulo Baier, do Palmeiras, o Wagner, do Cruzeiro, o Lenílson, do São Paulo... A diminuição de gols dos atacantes não significa necessariamente que o nível diminuiu. É que os gols, neste ano, estão mais distribuídos entre jogadores de diferentes posições.

Ambas as equipes precisaram de suas estrelas para prevalecer. Depois de começar mal o campeonato, sob o comando de Leão, o Santos de 2004 teve que dar uma forte arrancada para deixar os concorrentes para trás. No Corinthians do ano passado, a importância dos astros foi ainda maior. A equipe esteve muito perto de perder o título e, não fossem os pontos ganhos em partidas decididas por seus craques, teria sido vice-campeã. Além de terem muitas estrelas em seus elencos, ambos enfrentaram adversários que também as tinham – para lembrar, o Inter de 2005 contou com Tinga e Rafael Sobis durante todo o campeonato.

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Denis Pereira/Gazeta Press

A constatação é importante quando se analisa o Brasileirão de 2006, um torneio cuja marca maior é a ausência de craques. Se o campeão São Paulo ainda tem em Mineiro e Rogério Ceni destaques individuais, e o Internacional campeão da América ainda pode contar com Fernandão em suas fileiras, é pouco provável que um torcedor que acompanhe futebol à distância consiga citar algum jogador de qualquer um dos outros times que se destaque pela qualidade técnica. Entre os primeiros colocados, além de São Paulo e Inter, o Grêmio ainda pode apostar em Lucas como promessa de craque. O Santos, que investiu muito no ini-

SANTOS INVESTIU MUITO, MAS JOGADORES NÃO SE DESTACARAM

cio da temporada, se restringe a nomes como Cléber Santana, Jonas, Rodrigo Tabata, Fábio Costa e Wellington Paulista. No segundo turno, conseguiu trazer Zé Roberto, que, por enquanto, chegou à Vila Belmiro só com o nome. Um termômetro interessante é a análise das diferentes seleções do campeonato. Qualquer que seja a relação de melhores escolhida (veja box com as escolhas da Trivela na pág. 30), dificilmente despertará em alguém a sensação de “seria um timaço se jogasse junto”. Além

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disso, vai se verificar um fenômeno interessante: em algumas posições, a ausência de destaques é tão gritante que cada pessoa consultada vai apontar um nome diferente. Jogadores como Ilsinho e Miranda, do São Paulo, que não jogaram nem um turno inteiro, aparecem bem cotados – até pela falta de concorrência. A lista de artilheiros também não empolga. Souza assumiu a posição de goleador principal do torneio no segundo turno e chega ao final da disputa em primeiro, mas com menos gols do que tinha no ano passado, quando foi apenas o sétimo maior goleador. Teve como principais seguidores o trio ofensivo do Figueirense: Soares, Cícero e Schwenck – este último dispensado do Botafogo no ano passado. Aliás, o mesmo Botafogo, neste ano, pegou Lima, dispensado pelo São Paulo. O Tricolor, por sua vez, teve sérios problemas de falta de gols em seu ataque. Claramente, houve uma escassez de grandes jogadores no Brasileirão.

sários. Quando o time reserva é fundamental para a conquista de um título, é sinal de que realmente o conjunto e o planejamento é que decidiram – e não os craques.

Meio-tempo Além da ausência de craques, outra característica marcante do Brasileirão-2006 que reforça a importância do planejamento dos clubes é a diferença de desempenho das equipes após a parada da Copa do Mundo. Embora o São Paulo tenha conquistado o título, matematicamente, em 19 de novembro, as raízes dessa conquista – e da maneira como o Brasileirão caminhou – estão em junho, mês em que só houve uma rodada. A escassez de jogos nesse período foi justamente o fator determinante, e o modo como cada clube

Falta tudo Os motivos para o sumiço de talentos no Brasil são os conhecidos: calendário incompatível com o futebol internacional, falta de dinheiro e falta de condições de trabalho (principalmente incerteza a respeito do futuro e atraso nos salários). Somando tudo isso, configurase uma realidade pouco atraente para o jogador que tem oportunidade de sair do país e ganhar em dólares, euros, ienes, dinares ou wons, o que resulta na ida de muitos atletas ainda muito jovens para o exterior. Por isso, ter paciência para montar um conjunto homogêneo foi importante como nunca neste campeonato. Paraná e Vasco souberam trabalhar com orçamento baixo, contrataram jogadores sem muito nome e acabaram disputando um lugar na Libertadores, algo que nem seus torcedores imaginavam. Corinthians e Palmeiras também só tiveram bons momentos quando deixaram em segundo plano seus pseudo-craques e apostaram em um grupo mais discreto. Até para o campeão saber usar seus jogadores menos cotados foi importante. Pode-se dizer que parte do título são-paulino foi construído justamente pelo “time B”. Durante a fase final da Libertadores, são-paulinos e colorados usaram equipes reservas no Brasileirão. Enquanto os gaúchos tiveram alguma dificuldade e fizeram apenas cinco pontos em cinco jogos (vitória contra Fortaleza, empates com Botafogo e Grêmio e derrotas para Juventude e Santos), os paulistas ganharam confiança e sete pontos em quatro partidas (vitórias sobre Ponte Preta e Goiás, empate com Botafogo e derrota no clássico contra o Santos). Esses dois pontos a mais foram fundamentais para dar ao São Paulo a tranqüilidade para disputar o segundo turno apenas controlando a vantagem diante dos adver-

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Classificação após 10 rodadas

Classificação após 19 rodadas*

(parada para a Copa)

(final do 1º turno)

Cruzeiro .............................................. 21

São Paulo ......................................... 38

Internacional ............................... 21

Internacional ............................... 34

São Paulo..........................................20

Santos .................................................. 32

Fluminense .....................................19

Paraná .................................................. 31

Santos ..................................................18

Grêmio................................................. 29

Goiás ......................................................17

Fluminense ..................................... 29

Paraná ..................................................15

Vasco ..................................................... 29

Figueirense .....................................15

Cruzeiro .............................................. 27

Grêmio .................................................15

Figueirense ..................................... 27

10º

Flamengo ..........................................14

Palmeiras .......................................... 25

11º

Juventude ........................................14

São Caetano.................................. 25

12º

Ponte Preta.....................................14

Juventude ........................................ 23

13º

Atlético-PR .....................................13

Flamengo.......................................... 23

14º

Vasco .....................................................13

Ponte Preta .................................... 22

15º

São Caetano ...................................11

Atlético-PR..................................... 21

16º

Botafogo ........................................... 10

Goiás...................................................... 21

17º

Fortaleza............................................ 10

Botafogo ........................................... 21

18º

Corinthians ....................................... 9

Corinthians .................................... 20

19º

Palmeiras ............................................. 4

Fortaleza ........................................... 20

20º

Santa Cruz.......................................... 3

Santa Cruz ...................................... 18

* Considerando os pontos de Atlético-PR 0x0 São Paulo e Internacional 3x2 Paraná, que haviam sido adiados e foram disputados durante o segundo turno

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Ricardo Duarte/Gazeta Press

A surpresa que veio do Sul As pretensões do Grêmio eram modestas no início do Brasileirão. Precisando controlar os custos, o clube manteve o técnico Mano Menezes e a base que foi campeã da Série B de 2005 no sufoco – vencendo o jogo decisivo contra o Náutico com sete homens em campo –, mas perdeu o talento de Anderson, seu único jogador acima da média. Como reforços, vieram apenas jogadores pouco cotados em outras equipes, como o ex-corintiano Hugo e os ex-santistas Tcheco e Léo Lima. Contra todas as expectativas, deu certo. O início da campanha gremista foi de fato muito ruim. Na sexta rodada, o time era 17º, com apenas cinco pontos ganhos. Aos poucos, o Grêmio se encontrou, ganhou corpo e avançou na tabela. Mano Menezes montou um time sólido e competitivo. Léo Lima, Hugo e Tcheco compunham um meio-campo consistente. Um pouco atrás, Lucas (foto) ligava a defesa ao setor de armação e ganhava espaço como a grande promessa da equipe. A torcida reconheceu o bom momento e lotou o Olímpico, dando ao clube a melhor média de público do campeonato. O time só não levou mais longe a disputa pelo título porque pagou pela inexperiência. Depois de empatar em casa com o São Paulo, partida decisiva que poderia colocar os gaúchos na disputa pela liderança, o Grêmio caiu bruscamente de rendimento, perdeu dois jogos seguidos em casa – contra Figueirense e Internacional – e teve de se contentar com a Libertadores. “Contra o Figueirense, tivemos muitas chances, mas tomamos gols em momentos ruins. No Gre-Nal, realmente, jogamos muito abaixo de nossas possibilidades”, admite Lucas. “É difícil explicar o que aconteceu, mas nos reencontramos só quando o título saiu do nosso foco”. Mesmo com a queda de rendimento momentânea, o Grêmio se recuperou e assegurou uma vaga na Libertadores de 2007. Além disso, renovou o contrato com Mano Menezes, apontado por muitos como treinador-revelação do Brasileirão. A situação financeira ainda é delicada, e o grupo deve perder Lucas para o futebol europeu. Ainda assim, como demonstrou este Brasileiro, nunca é prudente duvidar do Grêmio. Dezembro de 2006

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Souza (Goiás)

Fernandão (Internacional)

Cícero

Souza

(Figueirense)

(São Paulo)

Mineiro

Lucas

(São Paulo)

(Grêmio)

Kleber

Paulo Baier

(Santos)

(Palmeiras)

Fabiano Eller (Internacional)

Fabão

(São Paulo)

Rogério Ceni (São Paulo)

Reservas Goleiro Defensores

Meias

Atacantes

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(Palmeiras)

Sub-23 Bruno

(Flamengo)

Vítor (Goiás) Luis Alberto (Santos) Marinho (Corinthians) Jadílson (Goiás)

Ilsinho (São Paulo) João Leonardo (Atlético-PR) Miranda (São Paulo) Marcelo (Fluminense)

Josué (São Paulo) Andrade (Vasco) Hugo (Grêmio) Renato (Flamengo)

Edinho (Internacional) Danilo Portugal (Goiás) Maicossuel (Paraná) Morais (Vasco)

Leandro (São Paulo) Reinaldo (Botafogo)

Wágner (Cruzeiro) Soares (Figueirense)

Participaram da escolha: Caio Maia (Trivela), Carlos Eduardo Freitas (Trivela), Luis Augusto Símon (Agora São Paulo), Maurício Noriega (Sportv), Mauro Beting (Trivela e Rede Bandeirantes), Mauro Cezar Pereira (Trivela e ESPN Brasil), Paulo Cesar Martin (TV Globo) e Ubiratan Leal (Trivela)

Seleção do campeonato

aproveitou essa paralisação deu o tom na competição. Quem soube se planejar teve um final de primeiro turno consistente e apontou para que direção rumaria no torneio. Outros iniciaram suas trajetórias incertas nesse momento – ou, no mínimo, perderam a oportunidade de reiniciar o trabalho para tentar reagir. O curioso é que, no inicio do Brasileirão, a parada para o Mundial era vista como um oásis. Quem estivesse mal poderia se reorganizar. Quem estivesse bem teria um tempo para recompor as energias e manter o ritmo forte. Não funcionou assim. À exceção do Palmeiras, que se recuperou e só caiu para a parte de baixo da tabela após a crise entre Tite e o diretor Salvador Hugo Palaia, os demais clubes que estavam na rabeira mantiveram o desempenho fraco. E alguns que vinham bem perderam o fio da meada e caíram para o meio da tabela. O Grêmio foi, talvez, a única exceção. O Tricolor gaúcho pulou de nono, na 10ª rodada, para quinto, no final do primeiro turno, e começou a mostrar o futebol que o tornaria um candidato ao título (veja box na pág. 29). No sentido inverso, o Cruzeiro perdeu força e enfileirou uma série de oito jogos sem vitória. O Goiás marcou apenas quatro pontos entre o reinício do campeonato e o final do turno, perdendo as chances de lutar por um lugar na Libertadores. Pior ainda fez o Fluminense, que venceu cinco partidas em dez antes da pausa para a Copa e depois levou 25 rodadas para conseguir o mesmo número de triunfos. O time das Laranjeiras, que pensava em ser campeão, teve de lutar contra o rebaixamento e manchou um campeonato que, para o futebol carioca, foi bom no geral. Entre os times que melhor se aproveitaram das rodadas imediatamente após a Copa do Mundo, estão São Paulo e Internacional, não à toa os times que disputaram o título brasileiro e sul-americano na temporada. Até o final do primeiro turno, ambos já haviam se desvencilhado de alguns concorrentes e iniciavam a corrida mais direta pelo campeonato – isso em um período em que as duas equipes tiveram de se dedicar também à Copa Libertadores e disputaram diversas partidas do Brasileirão com jogadores reservas. Aí fica evidente a solidez dos dois clubes. O São Paulo, mesmo perdendo jogadores importantes, conseguiu se recompor e manteve o ritmo forte na competição. O Internacional sofreu processo parecido: vacilou após vender Rafael Sobis, Tinga, Jorge Wagner e Bolívar, mas, no final da competição, recuperou a confiança e teve uma boa fase de vitórias. No fim das contas, a parada da Copa, que seria a salvação para todos os clubes, serviu apenas para acentuar as diferenças de planejamento entre o andar de cima e o de baixo do Brasileirão.

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A culpa

vem de cima

entre os favoritos a disputar as primeiras colocações do Brasileiro no início da temporada, os únicos que confirmaram as expectativas foram São Paulo e Internacional. O Santos, mesmo estando quase sempre abaixo do que dele se esperava – principalmente pelo dinheiro que investiu –, não chega a ser uma decepção total porque pelo menos chegou à Libertadores. O mesmo, porém, não pode ser dito de Corinthians, Cruzeiro, Fluminense e Palmeiras. Cotados para disputar o título ou, pelo menos, a classificação continental, os quatro estiveram longe disso, e, dentre eles, só o Cruzeiro pode dizer que nunca se preocupou com o rebaixamento. Apesar das particularidades de cada situação, uma explicação é comum na trajetória dos quatro: a má campanha foi reflexo de problemas criados por suas diretorias. O Fluminense foi o exemplo mais caricato. A briga entre atletas “do clube”, que jogavam bem e não recebiam, e “do patrocinador”, que pouco jogaram mas não tiveram

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Marcio Rodrigues/Fotocom

Desmandos da diretoria, falta de planejamento e desorganização ajudam a explicar o desempenho decepcionante de Corinthians, Fluminense, Cruzeiro e Palmeiras

atraso de salários, acabou rachando o grupo de maneira irremediável. Como se não bastasse isso, a direção trocou de técnico nada menos do que três vezes, só no Brasileiro. Processo parecido viveu o Corinthians, onde os jogadores “do patrocinador” (a MSI) mandavam no time, na direção e no técnico. A situação só mudou quando Emerson Leão conseguiu isolar a equipe das crises de diretoria. O time deu uma arrancada nas rodadas finais e assegurou a permanência na Série A com relativa folga. E foi só. Os casos de Palmeiras e Cruzeiro são um pouco diferentes. No Verdão, desde o princípio, havia o problema de que a equipe não era tão boa quanto a diretoria achava – ou fingia – que era. Porém, em vez de admitir que haviam superestimado seus reforços, os cartolas preferiram jogar para a torcida, substituindo várias vezes o treinador – assim como no Flu, foram quatro no torneio. As trocas, porém, não mudaram o fato de que o melhor atacante disponível no elenco com menos de 35

anos era Enílton, e o clube acabou tendo que enfrentar com freqüência o fantasma da Série B. O Cruzeiro pode até dizer que não pertence a esse grupo, já que, até o final do campeonato, esteve mais perto da Libertadores do que da zona da morte. Entretanto, a decepção de seus torcedores com a equipe, que chegou a liderar o Brasileiro em junho e julho, é proporcional à enorme expectativa criada. O que coloca o Cruzeiro em um grupo especial dentro dos quatro é o fato de que a ingerência da direção no clube se deu por meio da venda de jogadores importantes, com Edu Dracena, Alecsandro e Gil. Somadas às contusões de Élber, Araújo, Martinez e Fabio Santos, as saídas desestruturaram a equipe, que caiu bruscamente de produção depois da Copa. Em um ano em que o planejamento de São Paulo e Internacional saltou aos olhos, outra lição deve vir da falta de organização de Corinthians, Cruzeiro, Fluminense e Palmeiras. Dezembro de 2006

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CBFNews

Balanço - Série B, por Ubiratan Leal

Para

desespero do Santa Cruz

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volta de Sport e Náutico à Série A aconteceu justamente um ano após os dois clubes passarem por momentos de depressão e crise. No ano passado, o Timbu conseguiu desperdiçar a oportunidade de subir à elite nacional mesmo com um pênalti a favor e quatro jogadores a mais em campo contra o Grêmio. O Leão, por sua vez, só escapou do rebaixamento à Série C por ter ganho um jogo a mais que o Vitória. O maior mérito das duas equipes foi justamente esse: vencer os próprios complexos e se recuperar rapidamente para aumentar a participação pernambucana na primeira divisão. Pelo aspecto psicológico, a virada mais impressionante foi a do Náutico. O trauma após a chamada “Batalha dos Aflitos” foi forte e, no Campeonato Pernambucano, o clube chegou a ficar atrás de equipes como Serrano de Serra Talhada e Salgueiro. Na Segundona, a principal virtude do Alvirrubro foi nunca perder contato com as primeiras posições, evitando crises que pudessem recolocar na pauta a traumática derrota de 2005. A principal arma do time foi o setor ofensivo, comandado pelo experiente Kuki, xodó da torcida timbu. O Náutico teve um dos melhores ataques da segunda divisão e conseguiu vitórias contundentes – 3 a 0 no Atlético-MG, 4 a 1 no Guarani e 5 a 1 no São Raimundo –, que recuperaram o moral da equipe e a levaram à liderança do torneio no final do primeiro turno. A substituição de Paulo Campos por Hélio dos Anjos, na 33ª rodada, depois de duas derrotas seguidas, acabou não gerando instabilidade – a equipe emendou quatro vitórias em seis jogos e garantiu o acesso. A trajetória do Sport foi mais tranqüila ainda. Depois de começar o ano com o título estadual, conquistado em cima do Santa Cruz nos pênaltis, bastou ao Leão manter o ritmo na Série B. Sob a liderança de Fumagalli, que fez gols decisivos em várias partidas, o Rubro-negro venceu as quatro primeiras partidas na Segundona e logo se colocou na liderança. Como o Náutico, aliás, o Sport também trocou de treinador no único momento de instabilidade. Com a saída de Dorival Júnior, res-

Aldo Carneiro/Gazeta Press

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Depois de um 2005 catastrófico, Sport e Náutico juntam os cacos e retornam à Série A; Atlético-MG repete o Palmeiras e sobe com a força da torcida

ponsável pela conquista estadual, assumiu Givanildo, que repetiu o que havia feito no Santa Cruz em 2005 e levou o Sport de volta à Série A.

Atlético-MG repete Palmeiras, Botafogo e Grêmio Além dos pernambucanos, a outra atração da Série B foi o Atlético-MG. O Galo repetiu a receita de Palmeiras, Botafogo e Grêmio, outros fundadores do Clube dos 13 que caíram recentemente para a Segundona, e voltou em apenas uma temporada. E, como ocorrera com os colegas de entidade, também o fez com estádios lotados e o torcedor mostrando que sua paixão sobrevive, e às vezes até se amplifica, fora da elite do futebol brasileiro. Os mineiros tiveram a melhor média de público do Brasil em 2006. Até conquistar o título, o Galo perdeu apenas uma partida em casa (contra o Ituano) e, depois de sofrer longe de Belo Horizonte no primeiro turno, descobriu como jogar como visitante e disparou na liderança. Foi uma promoção conquistada com autoridade, com o time mostrando sua grandeza e se impondo diante dos concorrentes. Méritos para o técnico Levir Culpi, que assumiu no lugar de Lori Sandri na nona rodada e teve paciência para montar a equipe. Os principais jogadores durante a competição foram o meia Danilinho e os atacantes Roni e Marinho, o que valoriza ainda mais o papel da torcida na campanha. No entanto, os atleticanos não podem perder de vista que, para voltar à primeira divisão pensando em grandes campanhas, a equipe precisa melhorar. O clube não evoluiu em sua organização interna, e o elenco atual é fraco para a elite nacional. Além disso, a diretoria contratou mais de 30 jogadores durante a temporada, sendo que alguns, como Vagner e Jamelli, saíram sem entrar em campo uma vez sequer. Aliás, a mesma recomendação vale para Náutico, Sport e América-RN. As três equipes subiram com autoridade e méritos, mas precisam se readequar à primeira divisão. Se não, correm o risco de sonhar com a campanha do Grêmio e acabar com a do Santa Cruz. Dezembro de 2006

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Balanço - Série C, por Ubiratan Leal

Ulisses Job/Gazeta Press

Retorno imediato

Força do interior Ipatinga cresce, ganha vaga na Série B e aparece como emergente no cenário futebolístico nacional nquanto Bahia e Vitória patinavam para se livrar da Série C, o Ipatinga, um time do interior de Minas Gerais com apenas oito anos de vida, mostrava força e passava por cima das equipes mais tradicionais. O projeto do Tigre, como é conhecido o clube, para chegar à Série B vem de longe. O clube foi fundado em 1998 pelo empresário de jogadores Itair Machado, que comandava o Social de Coronel Fabriciano-MG. Até então, o futebol de Ipatinga, cidade a 217 km de Belo Horizonte rica por abrigar a siderúrgica Usiminas, limitava-se a partidas esporádicas de Cruzeiro e Atlético-MG no Ipatingão, estádio com 35 mil lugares construído pela prefeitura. Depois de disputar as divisões inferiores de Minas, o time chegou à terceira divisão nacional e esteve perto de subir para a Série B em 2002. Após firmar um convênio com o Cruzeiro para receber jogadores sem espaço no elenco celeste, acabou sendo campeão

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mineiro de 2005 – justamente em cima do Cruzeiro. No mesmo ano, voltou a passar perto da Série B. Em 2006, o Ipatinga voltou a ter bom desempenho no Mineiro e acabou como vice-campeão. Meses depois, chegou à semifinal da Copa do Brasil, quando acabou derrotado pelo Flamengo – que aproveitou e ficou com o técnico Ney Franco e com metade do time do Tigre. Nem todos, porém, se deram bem no clima carioca: o meia Walter Minhoca voltou e acabou se tornando uma peça importante para a promoção do Ipatinga. No octogonal final da Série C, a equipe mostrou confiança diante de equipes com mais torcida e soube aproveitar a pressão sobre os adversários para se distanciar na frente e subir com três rodadas de antecipação. No ano que vem, já sem o acordo com o Cruzeiro, o Tigre do Vale do Aço vai ter que mostrar se de fato veio para ficar no cenário do futebol do Brasil.

Além de boas campanhas de Ipatinga e Grêmio Barueri, equipes novas, enxutas e com apoio do poder público, a Série C de 2006 também viu a recuperação de Criciúma e Vitória, que voltaram à segunda divisão depois de apenas uma temporada no terceiro nível do futebol brasileiro. Com desempenho consistente dentro e fora de casa, os catarinenses praticamente asseguraram a classificação já no primeiro turno do octogonal final, quando venceram cinco de suas sete partidas. O Tigre, que não convenceu nas fases anteriores, se encontrou quando o técnico Guilherme Macuglia implantou o 3-5-2 e deu nova chance ao lateral Badé, que fez o gol da promoção contra o Treze, em Campina Grande. O Vitória não teve a mesma solidez, mas mostrou força nos momentos decisivos. O Leão cresceu após o triunfo no clássico contra o Bahia, no segundo turno do octogonal final, e conseguiu uma seqüência decisiva de cinco vitórias. O meia Leandro Domingues foi o principal destaque do time, ao fazer gols que garantiram a promoção e o colocaram entre os artilheiros da competição. No caso da equipe baiana, ficou claro que exorcizar alguns fantasmas – no caso, o ex-dirigente Paulo Carneiro – foi importante para sair rapidamente da terceira divisão. O rival Bahia não fez o mesmo com Petrônio Barradas e, depois de empolgar nas fases iniciais, caiu fragorosamente de rendimento e continuará na Série C em 2007 (veja a seção “Jogo do Mês” na página 5).

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Acervo/Gazeta Press

História, por Ubiratan Leal

O Rio em

preto e branco A “Invasão Corintiana” que tomou metade do Maracanã deu ao time uma vitória psicológica em um jogo decisivo

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presidente tricolor Francisco Horta desafiou os corintianos e ofereceu 40 mil ingressos. Vicente Matheus aceitou a oferta. Horta não contava com a capacidade de mobilização da “fila” corintiana – fazia 22 anos que o clube não comemorava um título. Não apenas os corintianos compraram seus ingressos, como também se articularam para comprar muitos mais no Rio de Janeiro, contando com a ajuda logística de flamenguistas, botafoguenses e vascaínos. Assim, cerca de 70 mil corintianos entraram no Maracanã, metade dos 146.043 torcedores – terceiro maior público da história do Campeonato Brasileiro – que compraram ingressos para ver aquela partida. Foi uma clara vitória psicológica dos paulistas, suficiente para equilibrar uma partida que, tecnicamente, era toda do Fluminense, que jogava em casa e contava com nada menos que Carlos Alberto Torres, Rivellino e Dirceu. O resto da história é o que todo corintiano lembra: empate no tempo normal, com gols de Carlos Alberto Pintinho, para o Flu, e Ruço, para o Timão, e vitória nos pênaltis – cobrados no gol ao lado da torcida alvinegra. Os 15 mil corintianos que foram a Porto Alegre no fim de semana seguinte não foram suficientes para brecar o Internacional de Falcão e Figueroa, na final da competição. Ainda assim, a campanha do vice-campeonato já tinha sua marca.

FLUMINENSE 1 CORINTHIANS 1 Data: 5/dezembro/1976 Local: Estádio do Maracanã (Rio de Janeiro) Público: 146.043 pagantes Árbitro: Saul Mendes Gols: Carlos Alberto Pintinho (18min) e Ruço (29min) Nos pênaltis: Doval (F), Neca, Ruço, Moisés e Zé Maria (C) FLUMINENSE Renato; Rubens Galaxe, Carlos Alberto Torres, Edinho e Rodrigues Neto; Carlos Alberto Pintinho, Cléber (Erivelto) e Rivellino; Gil, Doval e Dirceu. Técnico: Paulo Emílio

ficha

uando entrou no gramado do Maracanã em 5 de dezembro de 1976, para a semifinal do Brasileiro, o Fluminense esperava ser recebido por sua torcida, que se acostumara a encher o estádio para ver a “Máquina Tricolor”, talvez a melhor equipe já montada nas Laranjeiras. No entanto, o que os jogadores ouviram foi o barulho dos corintianos. Pior foi o que viram: metade dos torcedores estava de preto e branco. Naquele momento, se materializava a “Invasão Corintiana”, que começara a ganhar forma no dia anterior, com a chegada de milhares de alvinegros ao Rio de Janeiro. “Ninguém sabia, ninguém desconfiava. Na véspera, a Fiel explodiu na cidade, aos borbotões. Durante toda a madrugada, os fanáticos do Timão faziam uma festa no Leme, em Copacabana, Leblon, Ipanema. E as bandeiras do Corinthians ventavam em procela. Ônibus, aviação, carros particulares, táxis, a pé, a bicicleta. A coisa era terrível. Houve um momento em que me senti estrangeiro na doce terra carioca”, escreveu o tricolor Nélson Rodrigues, no jornal O Globo de 6 de dezembro de 1976. A história da invasão começara dias antes, quando Fluminense e Corinthians se classificaram para a semifinal – em jogo único, no Rio, já que o Flu tinha melhor campanha na fase anterior. Na hora de negociar a cota de ingressos que cada torcida teria para a partida, o

CORINTHIANS Tobias; Zé Maria, Moisés, Zé Eduardo e Wladimir; Givanildo (Basílio) e Ruço; Vaguinho, Geraldão (Lance), Neca e Romeu. Técnico: Duque

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Hackney Marshes, texto e fotos por Cassiano Ricardo Gobbet

Vamos passear no

parque? Para se jogar bola em Londres, 茅 s贸 juntar o pessoal do boteco e ir para Hackney

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maior concentração de campos de futebol do mundo fica na zona norte de Londres. Descendo a Ruckholt Highway, no bairro de Hackney, chega-se ao setor Leste dos “Hackney Marshes” – a Várzea de Hackney, em tradução literal –, que reúne hoje 75 campos em atividade e oito desativados (já chegaram a ser 120). Na área, de mais de 1 milhão de metros quadrados, dividida em três setores (além do Leste, há o Sul e o Victoria Park), o inglês prova, domingo após domingo, que o futebol no país vai muito além da primeira divisão. O complexo de campos é o nascedouro de muitos craques famosos. Sabe o Beckham? Pois é, começou ali (ele é de Londres). Já ouviu falar em Bobby Moore (capitão da Inglaterra no título de 1966) e Geoff Hurst (marcou um gol na final)? Ian Wright (maior artilheiro do Arsenal antes de Thierry Henry)? São alguns dos incontáveis nomes que saíram dali. O lugar é incrivelmente agradável. Ao lado do rio Lea, o “East Marsh” (ou “Várzea Leste”) se parece com uma pintura feita por um apaixonado por futebol, em que os campos não acabam jamais. Todos os três “complexos” têm vestiários para os times que estiverem jogando no dia, bem como para os árbitros. Um pequeno bosque, onde pode-se ver esquilos e raposas, deixa o lugar com cara de sítio. Dá para esquecer que se está em Londres. A origem dos campos de Hackney remonta à Segunda Guerra. A várzea local do bairro sempre existiu, com um ou outro campinho. Durante a guerra, Londres ficou sob bombardeio nazista durante 53 dias. A destruição era tamanha que um problema insólito surgiu: onde colocar os escombros dos bombardeios? A saída foi empilhar tudo em Hackney, onde não havia nada. Terminada a guerra, a Londres devastada não tinha áreas de lazer. Foi quando veio a idéia de transformar o imenso depósito de lixo em campos de futebol. Muitos. O povo estava desesperado para voltar a sua vida normal, e o futebol colaborou. Até mesmo a destruição foi capitalizada de alguma maneira. Os escombros deixados por Hitler acabaram sendo os responsáveis pelo sistema de escoamento de água que funciona até hoje: os campos foram construídos por cima do entulho, que forma uma camada semelhante, mas mais eficaz, às de pedregulhos utilizados nos sistemas de drenagem.

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A subprefeitura local administra – e organiza – os mais de 70 campos de futebol de Hackney

Sem apoio Para jogar bola em Hackney, basta juntar 22 caras e marcar hora em um dos campos. O complexo é administrado pela sub-prefeitura de Hackney, para quem vai o dinheiro do aluguel dos campos (£45, mais ou menos R$ 180). Há também a possibilidade de inscrever seu time na Liga de Hackney, que existe desde 1947 e tem hoje 40 equipes, divididas em quatro divisões. Ao contrário do elitista futebol sul-americano, onde o esporte se estrutura nos clubes, em Londres, se você tem um time com o pessoal do bar, entra na liga e está valendo. A maioria esmagadora dos times da Hackney League é formada Dezembro de 2006

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Lapton, Ibby, Rasheed Na borda do campo 11, Rasheed Teniola observa seus companheiros de time aquecerem, mas sabe que não vai sair jogando. “É a primeira vez nesta temporada que eu não começo o jogo”, diz o menino de 18 anos, torcedor do Arsenal. Fã do Thierry Henry? “Hmmm... Também, mas eu prefiro o Ronaldinho e o Eto’o”, em parte “por causa de suas raízes africanas”. Rasheed não está muito contente com a decisão de começar de fora, mas se conforma. “Sou o mais novo, e é a minha primeira temporada aqui”, diz o ponta-direita. A trajetória do Lapton, equipe de Rasheed, é invejável. Em 2003, o time nasceu e entrou na quarta divisão da Hackney League. Desde então, venceu seu nível todos os anos, até aportar na divisão máxima. Até o início da quinta rodada, era vice-líder e tinha o artilheiro da competição, Ibby Ranks – um centroavante baixinho

e troncudo. Será que vem por aí um fantástico tetra? “Não sei. Esta divisão é muito difícil”, desconversa Gergis, o treinador – que age mais como um administrador, já que o time é patrão de si mesmo. A equipe, pelo menos, transpira confiança. O adversário do Lapton hoje é o London Aprilia, que não parece ser o time mais atlético da liga. Dois dos jogadores têm uma cara de ressaca brava e, antes da partida, jazem no gramado com uma garrafa d’água – apesar disso, se aquecem por 20 minutos. Diferentemente do Lapton, onde somente um jogador é branco, o Aprilia tem só um negro, mas não há nenhum sinal de tensão racial entre as equipes. O jogo em si tem características bem diferentes do brasileiro. Os dois times fazem linha de impedimento com perfeição e de forma natural. A marcação é por zona, e a noção tática

Rasheed Teniola (de cinza) observa seus companheiros do Lapton antes de partida pela Hackney League

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é clara, mesmo nos jogadores mais novos. No começo da partida, o Lapton parece muito melhor, mas, em uma cobrança de falta, o Aprilia abre o marcador. Na busca do empate, o meio-campo do Lapton acaba avançando demais. O resultado é o segundo gol do adversário. Com 2 a 0 contra, o Lapton perde a cabeça. Um dos jogadores, que assiste à partida com a perna engessada, xinga violentamente o juiz que, a certa altura, se cansa e simplesmente anuncia o fim do jogo. A balbúrdia se instala, e todos invadem o campo. Depois de uma conversa, os dois capitães conseguem convencer o árbitro a apitar o fim do primeiro tempo, dar dois amarelos e esperar mais calma na etapa final (os períodos têm 40 minutos cada). O Lapton volta nervoso para o segundo tempo. O Aprilia, por outro lado, vai bem. Ibby Ranks, hoje, está domesticado. Não só sofre marcação justa como também não recebe a bola. A essa altura, bate boca com seu time. Às tantas, Antonio, um meia-esquerda que ostenta um rastafari digno de Bob Marley, faz um gol que causa muitos gritos entre os “laptonianos”. Inútil, porém: o centroavante do Aprilia, Harry, que lembra o tcheco Koller, mostra habilidade até então escondida e faz o terceiro. Final de jogo, e o Lapton faz uma auto-análise à beira do gramado. “Tem gente que não pensa no time”, acusa o capitão da equipe. Ibby, astro do time, explode. “Se eu não fizer gol, ninguém faz, mas eu não posso fazer toda semana, porra! Não recebi uma bola”. O Aprilia comemora se jogando no gramado sob o olhar atento e frustrado de Rasheed – depois de se aquecer por quase meia hora, o ponta acabou entrando nos dez minutos finais. Mesmo estando tão perto do Emirates Stadium, estádio de seu time de coração, a inspiração de Henry não foi suficiente. Ele sai vagarosamente para os vestiários carregando a chuteira, sem falar com ninguém. Domingo que vem, quem sabe, ele sai jogando.

Entre as facilidades do complexo estão vestiários para jogadores e juízes

por conhecidos de uma rua, uma vizinhança ou do boteco onde vão tomar cerveja no pós-jogo. “Tem acontecido muito de os times acabarem porque o bar local tirou o patrocínio da equipe”, explica, com olhar frustrado, Ted Gore, secretário-geral da liga. “A situação não está fácil”, diz. Desde que surgiu, a liga jamais pagou um salário. “Todo mundo trabalha aqui porque gosta”, diz Gore, que começou sua história em Hackney em 1964, jogando pelo Midfield FC (Meio-Campo FC, time que ainda está na liga, na terceira divisão). Acabada a carreira de jogador, virou dirigente. “Isto aqui ocupa um grande espaço na nossa vida”, afirma, orgulhoso. A organização é complexa: além de montar as tabelas, cuidar de cancelamentos, suspensões e registros dos campos, há quase 50 árbitros, que ganham £30 por jogo e recebem direto dos times que jogam. “Mais ou menos 1,5 mil jogadores disputam a liga hoje”, afirma Ted Gore. “Aqui tem jogo de setembro a maio, mas não é sempre que dá para jogar”, diz. Dá para imaginar a que ele se refere. Embora os campos tenham uma drenagem excelente – melhor do que muitos estádios da primeira divisão brasileira –, em dezembro e janeiro, as temperaturas abaixo de zero congelam o gramado. “Daí, jogar futebol é tentar se matar”, explica David, um dos jogadores.

Pergunto a Tom “Maca” McEvoy, o assessor de imprensa da Hackney League, se alguém os ajuda. “Olha, a gente consegue uma divulgação na Hackney Gazette e no Evening Standard (jornais locais)”, explica. E a federação? “Nem um centavo”, explicam Gore e “Maca”. Olheiros de times profissionais estão sempre andando pelos “marshes” em busca de descobertas. “Semana passada mesmo tinha dois olheiros aqui, de um time da quarta divisão”, explica McEvoy. Mas o apoio é zero – mesmo por parte desses clubes. Os times que não têm um “pub” como patrocinador dividem as despesas entre os atletas. A equipe “mandante” é sempre a encarregada de pagar o aluguel do campo e o juiz. Mas a inadimplência rola solta. “Fazer eles jogarem é bem mais fácil do que cobrar”, explica Steve Gergis, técnico do Lapton (veja ao lado), segundo colocado da Premier Division – a “elite” do terrão. Idade? De 17 anos até enquanto parar em pé. A idade mínima tem explicação. “Não podemos nos responsabilizar por menores de idade”, diz Ted. “Hoje, nosso jogador mais velho tem 46 anos”, conta Vic Redford, outro veterano da liga, participante desde o fim dos anos 50. “Até alguns anos atrás, nós tínhamos um jogador que tinha 76 anos”, conta Vic, exibindo um sorriso sincero com somente um dente na boca – que ele chama, carinhosamente, de o “centroavante”. Dezembro de 2006

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Capitais do futebol, por Cassiano Ricardo Gobbet

Em Turim, nem tudo é

Bardou/Infoosic

bianconero

clubes da cidade Primeira Divisão

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1 Torino

Football Club 7 Campeonatos Italianos 5 Copas da Itália 3 Campeonatos da segunda divisão

Segunda Divisão

2 Juventus Football Club

2 Ligas dos Campeões 2 Copas Intercontinentais 1 Recopa 3 Copas Uefa

Quinta divisão 27 Campeonatos Italianos 9 Copas da Itália 2 Supercopas Européias

• FC Canavese • USD Rivarolese • USD Orbassano • FCD Giaveno

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Divulgação

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voltava de um amistoso em Portugal. O avião no qual a equipe viajava se chocou contra a Basílica de Superga, na região noroeste da cidade (veja ao lado). A equipe nunca se recuperou plenamente da tragédia. Apesar de alguns bons resultados até o início dos anos 80, no período seguinte o time oscilou entre as Séries A e B, até que, em 2005, a equipe teve sua falência decretada por causa de dívidas. Refundada como Torino Football Club – em substituição ao Torino Calcio – e vendida, voltou à primeira divisão na atual temporada. Do outro lado da cidade, desde a introdução do profissionalismo no futebol italiano, não há nenhuma década em que a Juventus não tenho sido campeã pelo menos uma vez.

PALCO DE ACIDENTE TEM QUASE TRÊS SÉCULOS A leste de Turim, as montanhas de Superga abrigam a basílica de mesmo nome. Famosa desde o acidente que matou quase todo o time do Torino, em 1949, a igreja foi construída por determinação do duque Vittorio Amedeo II, no início do século XVIII, depois que as tropas comandadas pelo príncipe Eugenio di Carignano venceram os franceses na Batalha de Turim (1706). As obras começaram em 1717, e a inauguração aconteceu em 1731 – embora só tenha sido consagrada 19 anos mais tarde. Além do interesse gerado pelo acidente – a aeronave caiu no terreno da igreja –, a Basílica de Superga atrai atenção por suas características arquitetônicas. Projetada pelo abade Filippo Juvarra, conta com oito pilastras de mármore, que sustentam a cúpula principal, e é considerada uma das obrasprimas da arquitetura barroca do século XVIII.

Mesma casa Apesar da rivalidade, Torino e Juventus dividem a mesma casa desde 1960, quando o Toro deixou o estádio Filadelfia e se mudou para o Communale. Inaugurado em 1933, o estádio foi a casa dos dois times até a inauguração do Delle Alpi, em 1990. Reformado para a Olimpíada de Inverno de 2006, o Communale passou a ser chamado de Olímpico. Com capacidade para 27 mil pessoas, o estádio continuará a ser a casa do Torino após a reforma do Delle Alpi – que voltará a hospedar os jogos da Juve. Construído para a Copa de 1990, o Delle Alpi tem capacidade para 71 mil espectadores e, desde sua inauguração, serviu como casa tanto para a Juventus como para o Torino. Em 2006, está sendo submetido a reformas que eliminarão a pista de atletismo que deixa a torcida longe do campo (ela só foi adicionada ao projeto para conseguir uma ajuda financeira do Comitê Olímpico Italiano). As obras devem acabar no fim de 2007, mas não vão resolver um problema crônico do estádio: como o próprio nome diz, o Delle Alpi fica próximo aos Alpes. Além de estar distante do centro da cidade, a proximidade da montanha faz com que a temperatura em seu interior seja muito baixa, tornando-o desconfortável.

Itália Roma

localização

ara o mundo futebolístico, Turim é a casa da titânica Juventus. Uma cidade exclusivamente “bianconera”, porém, só existe no imaginário de forasteiros. No dia-a-dia da capital da província do Piemonte, uma imensa legião de torcedores do rival Torino vive num estranho masoquismo – o de torcer para um clube que costumeiramente é o “sparring” de uma megapotência. É uma dessas coisas que só dá para explicar no futebol. Apesar de um passado glorioso e da boa quantidade de torcedores na cidade, não dá para comparar o Toro com o vizinho mais rico. Contra os sete títulos nacionais do Torino, o último deles conquistado em 1976, a Juventus ostenta nada menos que 27. Em toda a Itália, a Juve tem cerca de 10 milhões de torcedores, contra cerca de 650 mil do rival. O rebaixamento da Juventus à Série B italiana por causa do “Calciocaos” e a promoção do Toro à Série A dentro de campo levou a uma situação inédita: hoje, o Torino joga uma divisão acima da Juventus. A troca de divisões prolongou o período sem confrontos diretos entre os rivais locais por, pelo menos, mais um ano. Das dez temporadas anteriores à atual, o Torino passou só três na Série A, a última delas em 2002/3. Isso contribuiu para aprofundar o fosso existente entre a equipe mais poderosa da Itália e seu “primo pobre”. A última vitória do Torino sobre a Juve aconteceu em 1995, ano no qual o Toro ganhou as duas partidas entre os dois. Tristeza para os torcedores da Juve? Nem assim: a Vecchia Signora perdeu para o rival, mas ficou com o título. Se o domínio da Juventus sobre o futebol italiano se estende pela maior parte da própria história do “calcio”, houve um período em que o Torino mandou na península. Entre 1945/6, a primeira temporada do pós-guerra, e 1948/9, o Toro dominou a primeira divisão italiana. Esse domínio só foi interrompido por uma tragédia: em 4 de maio de 1949, um acidente aéreo acabou com a vida de quase todo o elenco profissional do clube, que

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Turim 902.000 habitantes

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Mundial de Clubes

Vale título (e dinheiro) Trivela apresenta um guia do Mundial de Clubes. Nas próximas páginas, você conhecerá os seis participantes e um pouco da história do torneio m 11 de dezembro de 2005, Al Ahly e Al Ittihad entraram em campo no Estádio Nacional de Tóquio para inaugurar uma nova fase nas competições internacionais de clubes. Pela primeira vez, a disputa no Japão incluía clubes de outros continentes que não a América do Sul e a Europa. Também pela primeira vez, contava com a chancela da Fifa, que, depois do fracasso da tentativa de produzir seu próprio Mundial Interclubes, acabou decidindo apoiar o que já existia. Embora o campeão europeu tenha participado de todas as edições desde que a competição passou a ser disputada em um jogo só no Japão, um dos mitos que cercam o Mundial é o suposto “desinteresse” dos clubes europeus pelo torneio. Quem viu, entretanto, o desespero dos jogadores do Liverpool no segundo tempo da decisão contra o São Paulo, em 2005, desconfiou que se tratava de “choro de perdedor”. Em entrevista à Trivela (pg. 46), Edmílson, ex-São Paulo e hoje no Barcelona, confirma: “Se algum jogador do Barcelona não se preocupar com o título, que fique na Espanha”. Além da rivalidade local – o Real Madrid, maior adversário do Barcelona, por exemplo, tem três títulos intercontinentais –, a própria questão financeira faz com que o título não seja descartável. Na edição de 2006, a Fifa distribuirá US$ 15 milhões em prêmios, sendo que US$ 4,5 milhões só para o campeão. Até para um Barcelona, é uma

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quantidade de dinheiro que não pode ser desprezada. Os europeus podem alegar que, mesmo perdendo dos sulamericanos, seus times são melhores. O que fica cada vez mais difícil dizer é que, quando eles perdem, é porque não faziam questão de ganhar.

Mundial da Fifa x Copa Intercontinental Em 2000, na primeira tentativa da Fifa de organizar uma “Copa do Mundo de Clubes”, o Corinthians venceu um torneio esvaziado pela pouca importância a ele dada pelas equipes européias. Manchester United e Real Madrid vieram ao Brasil praticamente em férias, e a participação de alguns times é contestada até hoje – Real Madrid e Vasco foram campeões continentais dois anos antes, e o Corinthians ganhou uma vaga mesmo sem vencer nenhum torneio internacional. Ainda assim, o Mundial aconteceu, contou com a participação de grandes equipes e teve um campeão reconhecido pela Fifa. Pior ainda ocorreu em 2001: com a competição agendada, sede (Espanha) e participantes escolhidos, a entidade acabou por adiar (para 2003) e depois cancelar o que seria seu segundo Mundial Interclubes. A falta de interesse dos europeus e a falência da ISL (parceira da Fifa na organização do evento) enterraram definitivamente o formato. Paralelamente a isso, a Copa Intercontinental ia muito bem, obrigado. Criada em 1960, quando o Real Madrid bateu o Peñarol e foi o campeão, a competição passou por momentos gloriosos até os anos 70. Em 1971, o Ajax se tornou o primeiro clube europeu a se recusar a disputá-la, alegando “falta de segurança” para seus atletas na América do Sul, e foi substituído pelo Panathinaikos. Nos anos seguintes, foram freqüentes as recusas de participação por parte dos campeões europeus e, em 1975 e 1978, a copa nem foi disputada.

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tabela

Diferentemente da edição passada, quando o Liverpool enfrentou o fraco Saprissa na semifinal, em 2006 há uma real possibilidade de que a decisão do Mundial não tenha uma equipe européia. É claro que o Barcelona é favorito diante do América, mas, em um dia bom, as Águilas podem muito bem desbancar o time de Ronaldinho. Veja abaixo a tabela completa do Mundial de Clubes:

DISPUTA DE 5º LUGAR 15/dezembro - 8h20 Estádio Nacional de Tóquio

x

Campeão 4.500.000

US$

3.500.000

US$

2.500.000

US$

2.000.000

US$

1.500.000

US$

1.000.000

3º lugar 4º lugar

Lavandeira Jr./EFE

Vice-campeão

Estádio Toyota

Estádio Nac. de Tóquio

Auckland

Jeonbuk

Al Ahly

América

ganhador

US$

11/dezembro 8h20

perdedor

Premiação do Mundial Interclubes

10/dezembro 8h20

ganhador

perdedor

1ª FASE

SEMIFINAIS 13/dezembro 8h20

14/dezembro 8h20

Estádio Nac. de Tóquio

Est. Intern. de Yokohama

Internacional

Barcelona

5º lugar

A partir de 1980, entretanto, a situação mudou. Em vez de um jogo na Europa e outro na América do Sul, a competição passou a acontecer em apenas uma partida, no Japão. A partir daí, não houve mais recusas, e, durante 25 anos – inclusive na temporada do torneio da Fifa –, o campeão da Europa enfrentou o da América do Sul pela supremacia mundial. Com a edição de 2005, a Fifa abraçou oficialmente o torneio e passou a reconhecer os vencedores de todas as competições anteriores como campeões mundiais. Se o ganhador deste ano poderá ser considerado o melhor time do mundo, é algo que se pode discutir. O que não se discute, porém, é que ele será, incontestavelmente, campeão mundial. [CM]

17/dezembro - 5h20 Estádio Internacional de Yokohama

x

FINAL 17/dezembro - 8h20 Estádio Internacional de Yokohama

x * horário de Brasília

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ganhador

DISPUTA DE 3º LUGAR

perdedor

perdedor

ganhador

6º lugar

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Sport Club Internacional Cidade: Porto Alegre (BRA) Como chegou lá: campeão da Libertadores, após bater o São Paulo (BRA) na final Técnico: Abel Braga

Ainda um timaço A arrancada dada pelo Internacional nas últimas rodadas do Brasileiro deu uma animada na torcida para o Mundial. Se é verdade que o Colorado nunca chegou ficar em baixa depois da conquista da Libertadores, a seqüência de oitos jogos sem derrota mostrou que a equipe, mesmo sem alguns dos jogadores da conquista continental, mantém o padrão de jogo e a qualidade. Ou seja, após a Libertadores, o Inter perdeu jogadores importantes, mas não perdeu o rumo. A defesa colorada é basicamente a mesma, embora Bolívar tenha deixado o clube. Se Renan é melhor do que o às vezes inseguro Clemer, não se pode esquecer a importância do ex-flamenguista como liderança do time. A sua frente, a firmeza de Fabiano Eller parece “contagiar” os parceiros de zaga. Além disso, embora Jorge Wagner tenha mais categoria do que seus sucessores, defender não era seu forte – ou seja, sua saída tornou o setor mais seguro. No meio, embora Adriano e Pinga estejam

muito longe de representar opções à altura de Tinga, a subida de produção de Alex compensou em alguma medida a perda de qualidade. Uma alternativa utilizada por Abel é a presença de três volantes na equipe. Para que isso funcione, entretanto, é necessário que os três consigam movimentar a bola, fazendo-a chegar ao ataque. O ataque é o setor em que o Inter menos perdeu. Embora menos habilidoso que Sobis, Iarley faz boa dupla com Fernandão. Na série de sete vitórias em oito jogos, o atacante marcou cinco gols. Fernandão, além de ser o craque do time, é o jogador que inspira o grupo. Além da habilidade, é inteligente como poucos e muito versátil. Isso tudo posto, dá para sonhar com o inédito título mundial? A resposta é um claríssimo “sim”. O Inter não conseguiu substituir as peças que saíram com outras da mesma qualidade, mas manteve a confiança de que pode bater qualquer adversário. Com aplicação e um pouco de sorte, dá para trazer a taça para o Brasil. [CM]

O Internacional se parece com... Picanha no espeto Se estiver no ponto certo, é difícil superar

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Time-base Clemer Ceará Índio Fabiano Eller Hidalgo (PER) Wellington Monteiro Perdigão Edinho Alex Fernandão Iarley

G LD Z Z LE V V V M A A

20/10/1968 18/6/1980 14/12/1975 19/11/1977 15/6/1976 7/9/1978 28/6/1977 15/1/1983 25/3/1982 18/3/1978 29/3/1974

G G Z Z Z V V M A A A A

24/1/1985 28/11/1984 2/7/1982 13/5/1978 6/9/1976 16/10/1976 17/4/1980 11/8/1977 13/07/1980 04/07/1985 02/09/1989 12/04/1987

Outros jogadores Renan Marcelo Elder Granja Ediglê Rubens Cardoso Fabinho Vargas (COL) Adriano Michel Renteria (COL) Alexandre Luiz Adriano

A mídia vai cansar de dizer que... ...o Inter é o Brasil no Mundial ...o Colorado quer o título que o Grêmio já tem ...uma vitória do Inter colocará a América do Sul na frente da Europa em títulos do Mundial disputados no Japão

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“Não importa contra quem, o troféu é o que mais vale”

Fotos Jefferson Bernardes/Vipcomm

Para Fernandão, temporada 2006 foi a melhor da história do Internacional, mas pode melhorar ainda mais O grande sonho da torcida do Inter é que vocês peguem o Barcelona na final do Mundial e vençam o time do Ronaldinho. Se chegarem à decisão contra outra equipe, vocês vão ficar decepcionados? (Risos) A torcida quer ser campeã, posso te garantir isso. Não importa se for em cima de América, Barcelona, Al Ahly ou Auckland. É claro que o grande sonho é que seja em cima do Barça, mas o troféu é o que mais vale. O Barcelona está cheio de desfalques. Caso cheguem a se enfrentar, até que ponto isso pode beneficiar vocês? É claro que o Barcelona perde. Não vai mudar nada para os adversários, mas sim para o próprio Barcelona. Mesmo sem Eto’o, que para mim é um dos melhores atacantes do mundo, Messi e Saviola, eles têm peças de reposição muito boas, como o Giuly. Têm uma infinidade de bons jogadores. Do lado do Inter, o quanto a equipe perde sem os jogadores que saíram depois da Libertadores? O problema de termos perdido Tinga, Rafael Sobis, Jorge Wagner e Bolívar é que todos jogávamos juntos já fazia dois anos. Esses jogadores ainda estão fazendo muita falta, mas te-

mos grandes substitutos que, para o Mundial, vão dar conta do recado. O que vocês conhecem dos possíveis adversários nas semifinais, Al Ahly e Auckland? O Auckland é uma equipe que está junta há um ano, está trabalhando bastante. Tem um jogador canhoto, forte – o Jordan – que é muito bom. O Al Ahly é uma potência na África, fez uma partida muito dura na final da Liga dos Campeões deles. Já temos algumas fitas desses dois times. Ao contrário dos últimos brasileiros que conquistaram a Libertadores, o Inter se manteve na briga pelo Brasileirão até o final. Por que isso? Depois que conquistamos a Libertadores, estávamos bem no Brasileirão e decidimos dar continuidade àquilo que vínhamos fazendo no campeonato. Dá para dizer até que, pelo segundo ano consecutivo, o Brasileiro só teve graça porque o Inter levou a sério até o final. Você acha que isso pode, de alguma maneira, ter aumentado o cansaço e ter alguma influência no desempenho do time? Não, foi bom para a gente manter o ritmo e chegar forte no Japão. A parada no meio do ano foi importante para ganharmos o fôlego que precisávamos para arrancar na Libertadores – sem falar que nos permitiu agüentar o Brasileiro até o final. Dá para considerar a temporada 2006 um sucesso, independentemente do que acontecer no Japão? A partir do momento em que você conquista uma Libertadores, cria-se uma expectativa muito grande em relação ao Mundial. Acho que foi uma temporada muito boa. Conquistamos o título mais importante dos 97 anos de história do clube. É lógico que foi uma temporada que vai ficar para sempre na memória dos torcedores, mas pode ser ainda melhor se conquistarmos esse título. [CEF]

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“Quem não quiser ganhar que fique em Barcelona” Segundo Edmílson, catalães querem, sim, conquistar o inédito título mundial. Após a perda da Supercopa, o time está sob pressão Albert Olive/EFE

O que o Barcelona espera deste Mundial? A gente tem o objetivo de ganhar esse título, já que o clube nunca o conquistou. Estamos nos preparando desde já, porque sabemos que a competição acontecerá no momento em que estaremos no auge da temporada. Vamos para ganhar. Se tiver algum jogador do Barça que não pensa assim, que fique aqui em Barcelona. No Brasil, algumas pessoas dizem que os europeus não dão valor a esse título. Como é isso no Barcelona? Pode-se pensar que alguns não dão valor, mas trata-se de um título mundial de clubes. A diferença entre a maneira como o torneio é visto na Europa e no Brasil é que esse campeonato acontece num momento em que estamos disputando a Liga dos Campeões e o Espanhol. Por isso, só pensamos no Mundial quando a hora chega. A equipe não tem encantado como nas últimas duas temporadas. Por que você acha que isso acontece? Hoje em dia, é muito difícil se manter tão bem por dois anos seguidos. Ainda mais como fazia o Barcelona, que ganhava e dava espetáculo. Neste ano, demos uma caída, mas os re-

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sultados têm sido bons. Em dez rodadas, temos seis pontos a mais do que tínhamos no mesmo período no ano passado. Acontece que as outras equipes se reforçaram, perdemos jogadores-chave e nossos adversários têm se preocupado cada vez mais em anular nossas jogadas mais fortes. Quanto dessa queda se deve à contusão do Eto’o? A ausência dele foi um choque para nós. Já estávamos habituados à maneira dele jogar. Ele fazia os gols quando a gente precisava e, ao mesmo tempo, segurava a pressão lá na frente. O que acontece com o Ronaldinho, que também não parece ser o mesmo? Faz quatro, cinco anos que ele vem jogando 50, 60 partidas por temporada. É normal o cara dar uma caída. Mesmo assim, ele tem feito gols. Em 10 rodadas, marcou oito vezes e tem ajudado o Barcelona. Fora de campo, não sei o que acontece, porque não me meto na vida pessoal dele. O que importa é que ele é nossa referência. Bem ou não, é o jogador-chave do time, e todos têm ajudado ele a se motivar. O primeiro adversário de vocês vai sair do confronto entre Jeonbuk e América. Dá para cravar que vocês chegam à final com certeza? É difícil falar. Nosso objetivo é ir para a final contra o Inter. O Mundial deste ano está mais difícil do que o do ano passado, quando o Liverpool teve mais facilidade para chegar à decisão (enfrentou o Saprissa, da Costa Rica). Enfrentamos o América na pré-temporada e empatamos por 4 a 4, ou seja, precisaremos jogar forte para pensar em disputar o título. Pelo elenco que tem o Barcelona, dá para não considerar vocês favoritos? Temos um leve favoritismo, mas, hoje em dia, o futebol está tão evoluído, e as competições tão iguais, que, quando se entra em campo, tudo fica igual pela qualidade e pela força de vontade dos clubes de jogar contra a gente. [CEF]

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Cidade: Barcelona (ESP) Como chegou lá: campeão da Liga dos Campeões da Uefa, após bater o Arsenal (ING) na final Técnico: Frank Rijkaard (HOL)

Time-base* Victor Valdés G Gianluca Zambrotta (ITA) LD Carles Puyol Z Rafa Márquez (MEX) Z G. van Bronckhorst (HOL) LE Edmílson Moraes (BRA) V Xavi Hernández V Deco (POR) M Ronaldinho (BRA) MA Ludovic Giuly (FRA) A Eidur Gudjohnsen (ISL) A

14/1/1982 19/2/1977 13/4/1978 13/2/1979 5/2/1975 10/7/1976 25/1/1980 27/9/1977 21/3/1980 10/7/1976 15/9/1978

Outros jogadores Albert Jorquera Rubén Martínez Oleguer Presas Juliano Belletti (BRA) Lilian Thuram (FRA) Sylvinho (BRA) Thiago Motta (BRA) Andrés Iniesta Marc Crosas Javier Saviola (ARG) Santiago Ezquerro Giovani dos Santos

G G LD LD Z LE V M M A A A

3/3/1979 22/6/1984 2/2/1980 20/6/1976 1º/1/1972 12/4/1976 28/8/1982 11/5/1984 9/1/1988 11/12/1981 14/12/1976 1º/5/1989

* lista não-oficial

Oliver Weiken/EFE

Fútbol Club Barcelona

O time a ser batido O Barcelona garantiu o título espanhol na temporada passada com duas rodadas de antecipação e ainda conquistou a Liga dos Campeões, após passar por Chelsea, Milan e Arsenal. Independentemente do que Internacional e América possam ter feito na temporada, não tem jeito: o time catalão é favorito ao título do Mundial. A principal virtude da equipe é o entrosamento. O 4-2-3-1 de Frank Rijkaard permite que o time tenha um meio-campo forte e conte com uma grande gama de opções para o ataque. Deco é o ponto de equilíbrio tático, por distribuir o jogo e ligar os setores, mas é Ronaldinho que dá brilho aos catalães. Suas jogadas imprevisíveis muitas vezes desestabilizam uma partida em favor dos Blaugranas. Outro ponto positivo para o time espanhol é a experiência em decisões. Entre Liga dos Campeões e Campeonato Espanhol, o Barcelona está acostumado a jogar sob pressão e sabe como lidar com o próprio favoritismo em competições internacionais.

A mídia vai cansar de dizer que... ...o Barcelona só aceitou colocar patrocínio na camisa porque é da Unicef ...Ronaldinho joga mais no Barcelona do que na Seleção ...sem Messi e Eto’o, o Barcelona é um time comum ...a defesa do Barcelona é frágil

Isso não significa, porém, que o título do torneio tenha destino certo. Na temporada 2006/7, o Barcelona ainda não convenceu em partidas importantes, sente a instabilidade de Ronaldinho e, principalmente, tem de conviver com as contusões de Eto’o, Messi e Saviola. Os desfalques têm efeito significativo, já que o clube não possui reservas à altura dos titulares. O miolo de zaga também merece atenção especial dos adversários. Puyol e Márquez não formam um setor defensivo dos mais seguros. Se os titulares não convencem, que dizer dos reservas Thuram (tecnicamente, um dos melhores do mundo, mas sentindo o peso dos 34 anos), Oleguer e Sylvinho. Em um dia bom de Ronaldinho e Deco, o Barcelona tem tudo para justificar o favoritismo e levar para casa o título que não ganhou em 1992, quando foi derrotado pelo São Paulo. Se, por outro lado, os dois não mostrarem todo seu futebol no Japão, os catalães podem, mais uma vez, ficar sem o troféu. [UL]

O Barcelona se parece com... Trufa branca É uma iguaria que gera muita expectativa e, na prática, pode acabar decepcionando

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Youssef Badawi/EFE

Jeonbuk Hyundai Motors Football Club

Maldito sorteio! Primeiro clube do leste asiático a conquistar o título do continente desde 2002, o Jeonbuk vai ao Japão com pretensões modestas. O time deu azar ao cair na pior chave do Mundial: de cara, jogará contra o América. Caso passe pelo rival, enfrentará o Barcelona. Com essa tarefa nada simples pela frente, o clube deve mesmo se contentar em brigar pelo quinto lugar. A equipe costuma atuar num 4-4-2 clássico, com dois volantes e dois meias mais ofensivos. No entanto, de acordo com o adversário, o treinador pode adotar uma postura mais cautelosa, com três zagueiros e apenas um atacante. No Mundial, o time não contará com o meia Ki Hoon Yeom, que preferiu defender a seleção sub23 nos Jogos Asiáticos. Ele costuma ser uma das boas opções ofensivas pelo lado esquerdo. Assim, o brasileiro Botti e Hyeung Beom Kim, considerado pela imprensa como o “Riquelme sul-coreano”, cuidam da armação, mas nem sempre conseguem entregar a bola ao ataque. Por isso,

os atacantes Soo Jong Jung e Zé Carlo acabam obrigados a recuar para buscar o jogo. Na defesa, há um contraste entre juventude e experiência. Os laterais Chul Soon Choi e In Ho Kim, de 19 e 23 anos, dividem o setor com Jin Cheul Choi, que disputou duas Copas, e Yeong Seon Kim. Os dois zagueiros passaram dos 30 anos, o que torna-se um problema caso enfrentem atacantes velozes. No gol, Sun Tae Kwon, de 22 anos, surpreendeu com suas boas atuações em sua primeira temporada como profissional, o que lhe valeu uma vaga na seleção sul-coreana. Por trás do sucesso do Jeonbuk, clube tido como mediano no país, está o treinador Kang Hee Choi. O ex-zagueiro e membro da comissão técnica da seleção transformou a equipe em uma especialista em mata-mata. Embora no campeonato sul-coreano o Jeonbuk tenha cumprido campanha modesta, ele se saiu bem no torneio continental. É aí que reside a esperança de uma surpresa no Mundial. [RE]

O Jeonbuk se parece com... Farofa Vai muito bem com comidas simples, mas é um desastre junto de pratos mais sofisticados

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Cidade: Jeonbuk (COR) Como chegou lá: campeão da Liga dos Campeões da AFC, após bater o Al Karama (SIR) na final Técnico: Kang Hee Choi

Time-base Sun Tae Kwon G Jim Cheul Choi LD Chul Soon Choi Z In Ho Kim Z Yeong Son Kim LE Jung Kwan Chung M Hyeung Beom Kim M Raphael Botti Seno (BRA) M Sang Hoon Shin M Soo Jong Jung A Zé Carlo (BRA) A

11/9/1984 26/3/1971 8/2/1987 9/6/1983 3/4/1975 9/9/1981 1º/1/1984 23/2/1981 20/6/1983 1º/5/1987 24/4/1983

Outros jogadores Kwang Suk Lee Kyung Il Sung Hyun Su Kim You Hwan Lim Hoon Goo Heo Jung Hyun Wang Kwang Hwan Jeon Young Shin Kim Jip Kwon Ji Hyun Jang Je Kwang Han Hyun Seung Lee

G 5/3/1975 G 1º/3/1983 Z 14/2/1973 Z 2/12/1983 Z 25/6/1983 Z 30/8/1976 M 29/7/1982 M 28/2/1986 M 13/2/1984 M 11/4/1975 M 18/3/1985 M 14/12/1988

A mídia vai cansar de dizer que... ...como toda equipe sul-coreana, o Jeonbuk jogará na base da correria ...os brasileiros Botti e Zé Carlo dão o “toque de qualidade” ao time ...o clube conta com o “sustento” da Hyundai

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Marcos Delgado/EFE

Club América Cidade: Cidade do México (MEX) Como chegou lá: campeão da Copa dos Campeões da Concacaf, após bater o Toluca (MEX) na final Técnico: Luis Fernando Tena

Time-base Guillermo Ochoa José Antonio Castro Ricardo Rojas (CHI) Duílio Davino Óscar Rojas Alejandro Argüello Germán Villa Juan Carlos Mosqueda Cuauhtémoc Blanco Salvador Cabañas (PAR) Claudio López (ARG)

G LD Z Z LE V V M A A A

13/7/1985 11/8/1980 7/5/1974 21/3/1976 2/8/1981 25/1/1982 2/4/1973 17/4/1985 17/1/1973 5/8/1980 17/7/1974

G G LD Z Z LE V V M M A A

31/1/1979 22/11/1980 14/2/1982 10/1/1981 30/8/1984 16/10/1978 16/6/1973 27/7/1984 6/4/1978 25/9/1983 10/1/1980 3/11/1981

Outros jogadores Alberto Becerra Armando Navarrete Carlos Infante Ismael Rodríguez Diego Cervantes Raúl Salinas Fabián Pena Raúl Álvin Mendoza Fabiano Pereira (BRA) Ignacio Torres Nelson Cuevas (PAR) Matías Vuoso (ARG)

Terceira via Pela primeira vez, o Mundial de Clubes tem reais possibilidades de ver uma equipe fora do eixo Europa-América do Sul brilhar. O América do México chega à competição como azarão diante do Barcelona, mas não seria exagero dizer que está em igualdade de condições com o Internacional. A equipe joga junta há um bom tempo e tem talentos para complicar os favoritos ao título. As Águilas são impulsionadas pelo dinheiro da Televisa, principal grupo de comunicações do México, e ainda aproveitam a boa organização do Campeonato Mexicano, que facilita a execução de projetos de longo prazo. Com situação financeira invejável, os americanistas mantêm suas principais figuras e ainda contratam jogadores estrangeiros de relativo destaque, como Claudio Lópes e Cuevas. Não é coincidência o fato de os casos citados serem de homens de frente. Como no Real Madrid, a diretoria prioriza contratações para o ataque. O elenco conta com quatro jogadores

A mídia vai cansar de dizer que... ...o América é o time mais popular do México ...o América jogará como nunca e perderá como sempre ...Blanco e Claudio López, os maiores craques do time, são veteranos ...o América pertence à Televisa, que é a “Rede Globo” do México

– Blanco, López, Cuevas e Cabanas – com condições de serem titulares no setor. Muitas vezes, a saída do técnico é escalar a equipe em 4-3-3. Para o meio-campo não ficar sobrecarregado, Blanco – o mais técnico e experiente do trio de frente – volta para ajudar Mosqueda na armação, enquanto a dupla Villa e Argüello fica mais atrás, na marcação. No entanto, Tena sabe que não pode confiar na forma física do atacante, reserva até outubro por não conseguir atuar os 90 minutos. Uma alternativa para dar mais consistência ao meio-campo é o brasileiro Fabiano, ex-Santos e São Paulo, contratado do Necaxa em novembro, para o Mundial. A prudência é necessária, pois um time que joga no 4-3-3 não pode se dar ao luxo de ter uma defesa como a do América. Ricardo Rojas e Davino são zagueiros experientes, mas fracos fisicamente. Para proteger um pouco mais o gol do bom Ochoa, os laterais avançam pouco, preferindo a marcação. [UL]

O América se parece com... Burrito Só o cozinheiro sabe direito o que tem dentro, mas mesmo assim parece que é bom

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Jeff Brass/Getty Images

Auckland City Football Club

Momento Cinderela Em dezembro, o Auckland viverá por dois jogos a sensação de ver seu nome ao lado de grandes clubes do planeta. O time neozelandês chega ao Mundial de Clubes sem grandes sonhos, mais preocupado em aproveitar cada minuto de sua participação. Para o “primo pobre”, ir além do último lugar no Japão já será uma grande recompensa. O Auckland foi fundado há dois anos, assim como a atual liga neozelandesa, e venceu as duas primeiras edições da competição. Fora de campo, a equipe vive um momento de transição. Há algumas semanas, o técnico Roger Wilkinson deixou o comando do time. Ele havia assumido o lugar de Allan Jones, que levou o Auckland à conquista da Copa dos Campeões. Paul Marshall ficará no banco, na estréia contra o Al Ahly. Para a disputa do Mundial, o clube contratou o meia japonês Teruo Iwamoto, especialista nas cobranças de falta. Com passagem pela seleção nacional, ele chega com uma tarefa extra: fazer a torcida nipônica incentivar o time. O principal

destaque do Auckland, porém, é o atacante Keryn Jordan. O sul-africano foi o autor dos três gols da decisão da Copa dos Campeões da Oceania, na qual o Auckland derrotou o AS Pirae, do Taiti. Na competição continental, o clube venceu seus cinco jogos, com direito a uma goleada por 9 a 1 sobre o Nokia Eagles, de Fiji, na semifinal. No entanto, deve-se levar em consideração que a equipe neozelandesa enfrentou adversários de países sem qualquer tradição no futebol – e que o torneio foi disputado na cidade de Auckland. Além disso, a passagem da Austrália para a confederação asiática tirou as equipes do país da disputa, o que deixou o caminho ainda mais livre. Assim, o Auckland é candidato natural ao último lugar. Para o clube, isso pouco importa. Ficar na vitrine será seu maior troféu. Um desempenho pífio, entretanto, pode convencer a Fifa de que a Oceania não pode ter vaga automática no Mundial. É esse o maior desafio que a equipe vai enfrentar. [RE]

O Auckland se parece com... Brócolis em bufê de rodízio Você só presta atenção nele se não tiver absolutamente nenhuma outra opção

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Cidade: Auckland (NZL) Como chegou lá: campeão da Copa dos Campeões da OFC, após bater o AS Pirae (TAT) na final Técnico: Paul Marshall

Time-base Ross Nicholson James Pritchett (ING) Riki van Steeden Jonathan Perry Ben Sigmund Jonathan Smith Paul Seaman (GAL) Neil Sykes (ING) Bryan Little (ESC) Keryn Jordan (AFS) Grant Young (AFS)

G LD Z Z LE V V M M A A

8/8/1975 1º/7/1982 24/12/1976 22/11/1976 3/2/1981 2/9/1978 21/5/1975 17/12/1974 18/5/1978 1/11/1975 3/3/1971

Outros jogadores Richard Gillespie Mark Fulcher (ESC) Paul Vodanovich Cole Tinkler Greg Uhlmann Dean Gordon (ING) Jason Hayne Liam Mulrooney (ING) Teruo Iwamoto (JAP) Chad Coombes Paul Urlovic Luiz del Monte (BRA)

G 14/9/1981 G 29/3/1976 Z 25/2/1984 Z 5/5/1986 Z 11/4/1977 Z 10/2/1973 M 8/7/1986 M 28/3/1978 M 2/5/1972 M 9/9/1983 A 21/11/1978 A 9/3/1980

A mídia vai cansar de dizer que... ...o Auckland não tem tradição no futebol ...o time é candidato a tomar duas goleadas ...o Auckland só se classificou porque os australianos não estão mais na Confederação da Oceania

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Cidade: Cairo (EGI) Como se classificou: campeão da Liga dos Campeões da CAF, após bater o Sfaxien (TUN) na final Técnico: Manuel José (POR)

Time-base Essam El Hadari Islam El Shater Wael Gomaa Shady Mohamed Mohamed Sedik Ahmed Shedid Mohamed Shawky Hossam Ashour Mohamed Aboutrika Flavio Amado (ANG) Emad Moateb

G L Z Z Z L M M M A A

15/1/1973 16/11/1976 3/8/1975 29/11/1977 25/11/1978 1º/1/1986 5/10/1981 9/3/1986 7/11/1978 30/12/1979 20/2/1983

Outros jogadores Nader El Sayed Amir Abdelhamid Ahmed El Sayed Emad El Nahhas Abdellah Galal Ahmed Sedic Mohamed Abdullah Tarek El Said Akwetey Mensah (GAN) Ahmed Hassam Hassan Mostapha Wael Reyad Osma Hosny

G 31/12/1972 G 24/4/1979 Z 30/10/1980 Z 15/2/1976 Z 20/1/1986 Z 16/8/1983 L 23/5/1981 L 7/4/1978 M 15/4/1983 M 12/4/1979 M 20/11/1979 M 2/8/1982 A 18/6/1982

Salah Habib/EFE

Al Nady Al Ahly Lel Tarbeya Albadaneya

De volta ao Japão No ano passado, o Al Ahly decepcionou no Mundial de Clubes ao perder as duas partidas que disputou. A pressão desmedida da torcida e da imprensa africana atrapalharam o rendimento da equipe naquela oportunidade – se não era candidata ao título, pelo menos a quinta colocação poderia ter alcançado. A maior parte dos atletas que participou daquele fracasso deve disputar o torneio mais uma vez. As contusões têm assombrado o Al Ahly, que superou uma série de ausências em seu elenco para manter a supremacia africana. A equipe tentará evitar outro vexame no Japão, sem contar com nomes importantes, como o volante Gilberto e o armador Mohamed Barakat, eleito o melhor jogador africano da temporada passada. O treinador Manuel José ainda tem que administrar a morte do excelente ala esquerdo Mohamed Abdelwahab, durante um treinamento. Normalmente, os Vermelhos atuam no 3-5-2. Seus alas se caracterizam pelo ímpeto ofensivo

A mídia vai cansar de dizer que... ...o Al Ahly é conhecido como o clube do povo ...o Al Ahly foi apontado o maior clube africano do século XX pela CAF ...é a primeira equipe a participar de dois Mundiais da Fifa ...o Al Ahly ficou sem perder por mais de dois anos em solo africano

e são, por vezes, ineficientes na defesa, faixa do campo onde reside o maior temor do time. Gomaa, Shady e Sedik compõem um trio defensivo que dá pouca tranqüilidade a seus companheiros. Não bastasse isso, o bom arqueiro El Hadari às vezes falha quando menos se espera. É no meio-campo que está a maior força do Al Ahly. Embora atuem mais recuados, atentos à cobertura dos alas, os volantes Shawky e Ashour movimentam-se muito, o que contribui para a troca de passes envolventes, que, quase sempre, encontram os pés de Aboutrika, o craque da equipe. O meia exibe uma passada vistosa, uma habilidade incomum e um chute certeiro. Essas virtudes o tornam o principal responsável pelas assistências e, ainda, por finalizar os lances. Em par com a defesa, os atacantes Flavio e Moateb pouco produzem – até porque lhes falta qualidade. A menos de um ano de seu centenário, porém, o Al Ahly precisará do empenho deles para surpreender os favoritos no Japão. [MA]

O Al Ahly se parece com... Feijão No dia-a-dia, em casa, faz um belo papel, mas, em dia de festa, só serve como acompanhamento

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Entrevista, por Carlos Eduardo Freitas

“Pela Seleção, posso ser ”

lateral Pouco lembrado no Brasil, onde se destacou jogando pelo Coritiba, Adriano admite preferir atuar como meia e comemora a boa fase do Sevilla driano Corrêa tem pouco do que reclamar de 2006. Conquistou seus dois primeiros títulos europeus com o Sevilla – a Copa Uefa e a Supercopa européia, sobre o Barcelona – e, pelas mãos de Dunga, voltou à Seleção Brasileira. Agora, tem pela frente o desafio de se tornar mais conhecido no Brasil, onde não são poucos os que se perguntam: “Quem é esse com a camisa 6 da Seleção?” Como tantos outros laterais brasileiros que foram para a Europa, Adriano joga hoje como meia, no Sevilla. É assim, atuando com mais liberdade, que se destacou a ponto de voltar à equipe nacional pela primeira vez desde a conquista da Copa América de 2004. “Me sinto melhor assim, mas, pela Seleção, posso jogar na lateral”, afirma, nesta entrevista exclusiva à Trivela. O jogador comenta também sobre as perspectivas que voltar a vestir a camisa amarela podem lhe trazer para uma futura transferência – ainda mais por jogar num clube acostumado a fazer grandes negócios, como arrecadar mais de € 60 milhões por Reyes, Júlio Baptista e Sergio Ramos. Melhor do que estar no topo da tabela pela primeira vez em muitos anos e sonhar com a Liga dos Campeões – “batemos na trave nas últimas duas vezes” –, é viver a euforia da torcida do Sevilla, que vê o clube no topo e o principal rival, o Betis, flertando com o rebaixamento desde a temporada passada. “Para os sevillistas, está tudo maravilhoso”.

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Chema Moya/EFE

Quando vê você com a camisa da Seleção Brasileira, muita gente se pergunta quem é você, de onde surgiu. Isso incomoda? (Risos) É que joguei apenas três Brasileiros, pelo Coritiba – o primeiro, quando tinha ainda 17 anos. Com 19, vim para a Espanha e não passei por nenhum clube do eixo RioSão Paulo. Por isso, não sou tão conhecido. No Sevilla, você tem jogado mais como meia, mas tem sido chamado para a Seleção para atuar na lateral. Isso faz alguma diferença para você? Não. Nas categorias de base, sempre joguei como lateral. Aqui no Sevilla é que jogo como meia. Eu tinha perdido o costume, mas, com os treinamentos, dá para se habituar. Preciso sempre lembrar que tenho antes de defender para depois atacar. Mas onde você se sente mais à vontade? Me sinto melhor jogando na frente. Você recebe mais a bola, se destaca mais e tem mais facilidade de chegar ao gol, finalizar. Para jogar pela Seleção, porém, pode ser pela lateral mesmo. O Sevilla alcançou a liderança do Campeonato Espanhol pela primeira vez em muito tempo. Vocês esperavam chegar à ponta tão cedo? Sempre buscamos isso, mas não esperávamos – principalmente pela competitividade de equipes como Barcelona, Real Madrid, Valencia e Atlético de Madrid. Vocês se consideram na briga pelo título? Aposto todas as minhas fichas no Sevilla. Está entre os quatro principais clubes espanhóis. Dois anos atrás, não se ouvia falar do clube, que agora se tornou um grande europeu. Neste ano, conquistamos dois títulos importantes, e por isso digo que temos condições de competir. Mas dá para encarar Barcelona e Real Madrid? Dá, sem dúvida. Temos um elenco muito bom e peças de reposição. O motivo desses bons resultados é a qualidade do nosso elenco. Ao mesmo tempo em que vocês estão no topo da tabela, o Betis tem brigado para não ficar na zona de rebaixamento. Como está o clima em Sevilha? Para os sevillistas, está tudo maravilhoso. Para eles, a gente não precisa fazer nada além de vencer o clássico. Pelo que os brasileiros que estão no Betis dizem, a pressão lá

está grande, a ponto de o presidente renunciar ao cargo. Na temporada passada, eles fizeram uma campanha ruim e, nesta, não começaram bem. Ficou ainda pior depois de ganharmos dois títulos. O Sevilla é um clube que tem se notabilizado por fazer excelentes vendas. Com tantos jogadores negociados por valores tão altos, dá para dizer que, se chegarem com uma proposta boa, negocia-se qualquer um? O Sevilla é uma vitrine. Se chegar proposta, eles estão preparados para negociar, sim. O clube está acostumado a esse assédio. Toda semana tem diretores de fora, olheiros e gente querendo jogadores nossos. E quem são os jovens do clube que, em breve, estarão na mira de outras equipes? Tem o Jesús Navas, ponta-direita que está na seleção espanhola. Ele tem 20 anos e é tratado como a grande promessa deles aqui. Ainda nesta temporada, ou na próxima, ele deve estourar. Tem também o Alejandro Alfaro, que ainda está no Cantera (o time B do Sevilla) e joga pela meia direita. No começo da temporada, o Daniel Alves ia ser trocado pelo Cicinho, que não aceitou ir do Real Madrid para um clube “menor”. Para você, que está aí e conquistou títulos, o que dá para dizer a respeito do clube? Cada um tem sua maneira de pensar, né? Cada um sabe o que é bom para si. O Cicinho deve ter visto oportunidade de jogar no Real Madrid. Fica até ruim, para mim, falar sobre isso. Trata-se de dois grandes jogadores. Da mesma maneira que o Cicinho está no Real, o Daniel também poderia estar. O Real Madrid é um dos maiores clubes da Espanha. O Sevilla também é grande, mas não tem a estrutura deles. Acho que, por isso, às vezes, dizem essas coisas. O que falta para o Sevilla chegar à Liga dos Campeões? Já são duas temporadas que batemos na porta e deixamos escapar a vaga. Sempre fomos bem e, na reta final, tropeçamos. Acho que agora aprendemos a lição. É uma decepção para a gente e para o torcedor porque, depois da Copa do Mundo, a Liga dos Campeões é a competição mais importante. Temos apenas de tentar fazer tudo diferente do que fizemos nas últimas oportunidades, para sermos felizes.

O Sevilla é uma vitrine. Se chegar proposta, estão preparados para negociar qualquer jogador

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Embaixadas Itália, por Cassiano Ricardo Gobbet um ano em que a Juventus conhece a Série B pela primeira vez e que o Milan parece fora de combate antes mesmo de se encerrar o primeiro turno, é pertinente perguntar: quem é o time de camisa pink que arranha as costas da líder Internazionale com tanta ousadia? Originário da cidade de mesmo nome, o Palermo tem muita história, uma torcida fanática e poucos títulos. Com mais de 25 mil pagantes de média neste campeonato, a equipe começou a competição levando a sério uma frase de seu treinador, Francesco Guidolin: “Podemos sonhar”. O clube “rosanero” renasceu há alguns anos, quando o empresário Maurizio Zamparini se desfez do Venezia (que sumiu na bancarrota em 2004) para comprá-lo. Com uma boa injeção de dinheiro e mais alguns jogadores vindos do próprio Venezia (adivinhe por que o time quebrou?), não demorou a subir de divisão e se estabelecer como candidato a nova potência do futebol peninsular. O time montado por Guidolin joga fácil e tem um espírito bem italiano: prefere o contragolpe a ir para cima do adversário. O Palermo joga num esquema parecido com o do Bologna (de Guidolin) de três temporadas atrás: uma defesa sólida (com os campeões do mundo Zaccardo e Barzagli), um volante que dita o ritmo do jogo (Corini, que recebe ajuda do ex-são-paulino Fábio Simplício) e um ou dois armadores, que jogam em função de um atacante só – o brasileiro Amauri. Corini e Amauri, aliás, são boas “invenções” de Guidolin. O primeiro, de 36 anos, foi muito questionado no ano passado, mas realiza uma temporada esplêndida. Já o brasileiro está sendo descoberto até por seus compatriotas. Com nove vitórias nas 12 primeiras rodadas, o sucesso do Palermo é sólido, e não uma coincidência. Guidolin é um excelente intérprete da escola italiana de treinadores e tem a seu dispor um ótimo elenco, no qual jogadores experientes se misturam a promessas como Caracciolo (atacante) e Bovo (zagueiro). Contudo, mesmo com esta boa partida no campeonato, ainda é cedo para saber se o time siciliano poderá enfrentar a Inter de peito aberto no decorrer do torneio. Nomes-chave como Corini e Amauri não têm um substituto certo e, ao longo dos meses, o banco de reservas terá de se equiparar ao banco de suplentes interista, que conta, entre outros, com Cambiasso, Solari e Adriano. Há espaço para imaginarmos um Palermo campeão italiano? Sim, não resta dúvida. O treinador é inteligente, o elenco é bom, e a torcida certamente empurra a equipe quando o jogo é no Estádio Renzo Barbera. O problema é que a Itália raramente perdoa times sem um banco de reservas de qualidade. Se superar essa limitação, o duro de imaginar é o tamanho da festa que a cidade vai fazer com o scudetto.

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É a zebra cor-de-rosa? Mike Palazzotto/EFE

Sucesso do Palermo na Serie A não é sorte, mas sim resultado de um bom elenco comandado por um bom técnico

O brasileiro Amauri, abraçado pelos companheiros, é o artilheiro do Palermo

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Víctor Lerena/EFE

Espanha, por Ubiratan Leal

O homem por trás do Sevilla Maiores clubes da Europa estão de olho no modelo de trabalho rojiblanco – e em seu mentor urante as eleições do Real Madrid, os cinco candidatos prometeram reforços e contratações para a torcida. Nomes como Kaká, Boulahrouz, Fabio Capello, Rooney, Adriano, Ibrahimovic e Monchi. Monchi? Isso mesmo, Ramón “Monchi” Rodríguez Verdejo, diretor técnico do Sevilla e considerado peça fundamental na evolução do clube andaluz nas últimas temporadas. Ex-goleiro mediano, para ser gentil, Monchi chegou a Nervión em 2000, quando o time acabara de cair para a segunda divisão. O clube tinha pesadas dívidas, e o diretor tratou de estruturar o departamento técnico e criar um sistema em que o Sevilla pudesse montar elencos baratos e eficientes, vendendo os jogadores valorizados para recuperar o caixa do clube. O dirigente montou um grupo de trabalho com dez membros, cada um com funções definidas: Victor Orta é o secretário técnico, Pablo Blanco (outro ex-jogador do Sevilla) trabalha nas categorias de base, Marcos Gallego, Ramón Vázquez e José Luís Ruda são os olheiros do futebol internacional, e Pepe Alfaro e Rosendo Cabezas observam os clubes pequenos da Espanha. Monchi coordena o trabalho e não esconde que o modelo foi inspirado nos clubes franceses, conhecidos pela capacidade de descobrir jovens talentos.

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Ex-goleiro mediano, “Monchi” Rodríguez se deu bem como dirigente

Assim, o Sevilla tornou-se referência na descoberta e desenvolvimento de jovens talentos. No clube, surgiram Reyes, Sergio Ramos e Jesús Navas. A venda dos dois primeiros ajudou a reequilibrar a conta do Sevilla. Outras descobertas sevillistas foram Javi Navarro, do pequeno Elche, Daniel Alves, do Bahia, Escudé, do Ajax, Adriano, do Coritiba, e Kepa, do júnior do Marbella. Isso sem falar em Júlio Baptista, que o São Paulo comemorou quando vendeu, mas que depois rendeu mais um bom dinheiro. O técnico Joaquín Caparrós, que acompanhou o crescimento do clube de 2000, na segunda divisão, a 2005, com o título da Copa Uefa, também foi importante. O treinador deu respaldo em campo às apostas da diretoria e ajudou no surgimento desses jogadores. Com sua ida ao Deportivo La Coruña, o Sevilla contratou Juande Ramos, que tem instruções claras de seguir com esse trabalho. O projeto do clube andaluz não passou despercebido pelo resto da Europa. Outros clubes espanhóis estudam a estrutura de trabalho sevillista para copiá-la ou adaptá-la a suas realidades – ou, como no caso do candidato Lorenzo Sanz nas eleições do Real Madrid, contratar o responsável direto por levar o Sevilla da segunda divisão ao título da Copa Uefa e à disputa pelas primeiras posições no Campeonato Espanhol. Dezembro de 2006

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Inglaterra, por Tomaz R. Alves

Ganha quem sabe gastar Howard Walker/EFE

Investimentos em contratações nas últimas décadas comprovam que nem sempre gastar muito é sinônimo de sucesso

Ferguson gastou muito, mas entregou resultados

Gastos em contratações e títulos nos últimos 20 anos Time Arsenal Manchester United Liverpool Tottenham Chelsea Newcastle

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Valor gasto € 92 milhões € 240 milhões € 225 milhões € 125 milhões € 470 milhões € 182 milhões

Títulos ganhos 13 17 9 2 7 0

Gastos por título € 7,1 milhões € 14,1 milhões € 25 milhões € 62,3 milhões € 67,1 milhões ---

o mês de novembro, Alex Ferguson completou 20 anos à frente do Manchester United. No período, ganhou nada menos que 17 títulos, contando apenas as competições mais importantes. Pode-se pensar que, pelo fato de o Manchester ser o clube mais rico do mundo, Ferguson não fez mais que a obrigação, mas convém não esquecer de dois fatos importantes: 1. os Red Devils não eram o clube mais rico do mundo quando Ferguson assumiu; 2. outros times gastaram quantias igualmente astronômicas e não tiveram o mesmo retorno. Para avaliar o desempenho de Ferguson, a Trivela levantou quanto o técnico gastou em contratações (menos os valores arrecadados com vendas de atletas) durante seus 20 anos de Manchester United e comparou com os valores despendidos por outros times importantes (Arsenal, Chelsea, Tottenham, Newcastle e Liverpool), no mesmo período. Em números absolutos, o valor gasto pelo escocês impressiona: o equivalente a € 240 milhões, ao longo de 20 anos. Nesse período, só o Chelsea gastou mais – € 470 milhões, a maioria na era Abramovich. O curioso é que o gasto de dinheiro oscila inversamente ao número de títulos conquistados: nos primeiros anos da era Ferguson, a equipe alternava-se com o Liverpool como a maior gastadora da Inglaterra, mas foi o time da terra dos Beatles que ganhou mais. Nos anos 90, quando passou a torrar menos dinheiro que os rivais, o United ganhou cinco Campeonatos Ingleses. Depois da Tríplice Coroa de 1999, Ferguson voltou a gastar muito – mas a quantidade de títulos foi gradualmente diminuindo. Fazendo as contas (sem incluir salários), vemos que cada um dos 17 troféus custou aproximadamente € 14 milhões ao Manchester United. É um valor inferior aos que Liverpool, Tottenham e Chelsea tiveram que torrar por cada conquista – isso para não falar do Newcastle, que gastou € 182 milhões e não ganhou nada. Ferguson perde, porém, para um rival – o Arsenal. Os Gunners desembolsaram só € 92 milhões e comemoraram títulos 13 vezes. Ainda assim, pode-se dizer que, nestes 20 anos, Ferguson mostrou que sabe como construir um time vencedor. E que, mesmo com dinheiro sobrando, ser campeão não é tarefa para qualquer um.

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Kay Nietfeld/EFE

Alemanha, por Carlos Eduardo Freitas

Venda de jogadoreschave em ano de disputa européia mais uma vez derruba o Hamburg na Bundesliga

Vai pagar quanto? uando um time chega a uma competição como a Liga dos Campeões, o que se espera dele: reforçar-se para tentar o título e encher os cofres de dinheiro a cada fase que avança ou negociar seus jogadores para fazer caixa? A resposta lógica, dada por qualquer clube com um pingo de ambição, seria a primeira. No Hamburg, que se gaba de ser o único participante da primeira edição da Bundesliga a nunca ter sido rebaixado, a alternativa escolhida tem sido a segunda. Depois de cinco temporadas, o HSV conseguiu, em 2005/6, montar uma equipe competitiva e voltar à Liga dos Campeões. Durante boa parte da temporada passada, ostentou o rótulo de ter a melhor defesa da Europa, responsável por sofrer apenas nove gols em todo o primeiro turno da Bundesliga (17 jogos), um a menos que a Juventus no mesmo número de partidas. Doze meses depois, o mesmo clube deu adeus à LC com duas rodadas de antecedência e tem aparecido entre os candidatos ao rebaixamento. Pode parecer estranho para quem não conhece o Hamburg, mas que o que vive o clube neste início de temporada tem sido um padrão na história recente da equipe. Nos últimos 20 anos, sempre que o HSV terminou bem na Bundesliga, foi mal na competição européia que disputou no ano seguinte. Coincidência

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ou não, em todas as vezes que isso aconteceu, o clube havia negociado seus jogadores-chave. Foi assim, por exemplo, com o próprio Thomas Doll, quando o agora treinador da equipe acabara de estourar vestindo a camisa do clube, em 1991. O Hamburg o vendeu para a Lazio por 18 milhões de marcos logo após conseguir uma vaga na Copa Uefa. Mais recentemente, em 2000, o time cedeu Thomas Gravesen para o Everton, logo após um heróico terceiro lugar na Bundesliga. Depois, os cartolas toparam vender o goleiro Jörg Butt para o Leverkusen e o volante Nico Kovac para o Bayern. Agora, por € 20 milhões, a diretoria aceitou perder seu miolo de zaga titular: Daniel van Buyten foi para o Bayern, e Khalid Boulahrouz para o Chelsea. Se, no início da década, a reconstrução de seu estádio era uma justificativa para a necessidade de entrada de alguns tostões, agora, com a AOL-Arena pronta e rendendo rios de dinheiro para o Hamburg e seus patrocinadores, fica difícil entender essa política. Não por acaso, por mais que a imprensa alemã tenha cogitado quase que diariamente a queda de Thomas Doll do cargo de treinador, o mais provável é que as mudanças comecem por alguns dirigentes, os reais responsáveis pela situação. Dezembro de 2006

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Situação do Hamburg, de Sanogo, é ruim em casa e na Europa

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O ocaso do fantasista D

epois de Luís Figo, Rui Costa consagrou-se como a segunda estrela do futebol português dos últimos 15 anos. Revelado pelo Benfica, o jogador brilhou em seguida na Fiorentina. Ao contrário de Figo, porém, Rui Costa aproxima-se do fim da carreira de forma melancólica. Introvertido e avesso a badalações, o português lembra em muitos aspectos a figura de Ademir da Guia. Participou apenas de uma Copa (2002), na qual não conseguiu se firmar como titular. Na Euro-2004, mais uma vez não conseguiu manter-se na equipe principal e ainda surpreendeu ao anunciar sua aposentadoria da seleção, na véspera da final contra a Grécia. De volta ao Benfica no início desta temporada (depois de amargar o banco do Milan, para onde se transferiu em 2001), o antigo ídolo foi recebido pela torcida encarnada de forma calorosa. Só que, perto de completar 35 anos, o jogador ainda não conseguiu retribuir à altura, por causa das dores musculares infindáveis. No Campeonato Português, em 10 rodadas, Rui Costa atuou em apenas duas partidas – e só em uma foi titular. Pela Liga dos Campeões, esteve afastado, até novembro, de todas as partidas da fase de grupos. Só atuou em dois jogos da fase preliminar, contra o Austria Viena, quando marcou um gol no jogo de volta. Ainda é cedo, mas o tempo parece anunciar que é chegada a hora do “Divino” português.

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Alex Klein/EFE

França, por Ricardo Espina Paulo Carrico/EFE

Portugal, por Zeca Marques

Renovação azul E

m um momento em que as seleções brasileira e francesa passam por um período de transição, vale a pena prestar atenção à maneira como Raymond Domenech conduz esse processo de renovação do grupo. Nas últimas partidas, da mesma maneira que o treinador brasileiro, o francês incluiu em sua lista alguns jovens jogadores que não tinham passagens anteriores pela equipe nacional. Entretanto, enquanto Dunga dá poucas oportunidades efetivas para nomes como Carlinhos, Denílson e Lucas, Domenech tem procurado inserir os novatos no time, ainda que aos poucos. Toulalan, Escudé e Clerc, por exemplo, foram observados dentro de um grupo competitivo. Gonzalo Higuaín e Karim Benzema, que não puderam jogar contra a Grécia, passariam pelo mesmo processo. No Mundial, Domenech comandou uma equipe com uma das mais altas médias de idade do torneio. Conhecido por suas polêmicas e esquisitices, o treinador mostra, desde então, um trabalho consciente de renovação do elenco azul, no qual busca aproveitar melhor sua experiência como comandante das seleções de base para fazer a torcida se esquecer logo da geração de Zidane e companhia. Com isso, Domenech lapida com cuidado suas apostas, mas já as coloca em situações reais, sem deixá-las de lado como meras observadoras – uma diferença crucial com relação ao trabalho de seu par brasileiro.

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África, por Marcus Alves o contrário da temporada passada, quando os maiores times do continente não deram chances às zebras, a Liga dos Campeões da África de 2006 começou propensa ao sucesso delas. O primeiro indício disso foram os triunfos dos desconhecidos Renacimiento, de Guiné Equatorial, e do Uscafoot, de Madagascar, sobre oponentes de respeito – como o sul-africano Mamelodi Sundowns –, na primeira fase. A maior surpresa do torneio, entretanto, foi, sem dúvida, a boa campanha do CS Sfaxien, da Tunísia, que acabou chegando à final da competição. O Sfaxien não está entre os clubes mais tradicionais do continente. Mesmo na Tunísia, há times mais famosos: o Esperance e o Club Africain já foram campeões continentais, e o Étoile du Sahel chegou à final da LC nas duas temporadas anteriores. Em virtude disso, a imprensa africana não destacou as vitórias do CSS nas fases iniciais do campeonato. Assim, sem muito alarde, o clube superou adversários fortes para ficar entre as oito melhores equipes da África. A partir daí, sem outros compatriotas na disputa, os holofotes, aos poucos, recaíram sobre o Sfaxien, o único clube entre os oito melhores da LC a nunca ter conquistado o torneio. A equipe justificou o frisson ao pôr fim à invencibilidade de mais de dois anos em solo africano que o Al Ahly ostentava. Com uma campanha de três vitórias em casa e uma fora, os tunisianos encerraram sua chave como primeiros colocados, à frente dos então campeões. Com a primeira colocação, o Sfaxien “fugiu” do ASEC Mimosas, campeão de 1998 e freqüentador assíduo das primeiras colocações continentais, mas teve que passar pelo sul-africano Orlando Pirates, campeão de 1995. No jogo de ida, em Marshalltown, a equipe conseguiu segurar o empate. Na volta, em Sfax, Ziadi marcou o único gol da partida, levando o clube a sua primeira final de LC. Para sacramentar, porém, o “ano das surpresas”, os tunisianos teriam que superar mais uma vez o Al Ahly. Após o empate por 1 a 1 conquistado fora de casa na primeira partida da final, os torcedores tunisianos se empolgaram. O embate decisivo aconteceu no estádio 7 de Setembro, em Rades, com capacidade maior do que o do Sfaxien. Depois de jogar melhor e de ver duas jogadas de gol mal anuladas por impedimentos inexistentes, o Sfaxien acabou vacilando nos derradeiros minutos. Nos acréscimos, enquanto tentava administrar o empate que lhe daria o título, a equipe viu um chute do astro dos Vermelhos, Mohamed Aboutrika, encerrar o passeio das zebras pela Liga dos Campeões. O resultado foi ruim para o Sfaxien, mas bom para o continente. Embora a equipe tunisiana tenha se mostrado melhor durante a competição, a África certamente estará mais bem representada no Mundial de Clubes pelo Al Ahly. A experiência adquirida no ano passado e o bom elenco que possui são diferenciais que contarão pontos a favor na disputa no Japão.

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Desfecho ordinário Salah Habib/EFE

A temporada 2006 da LC africana foi cheia de surpresas, como o Sfaxien, mas o título acabou nas mãos de um velho campeão

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Negócios, por Caio Maia

Emoção profissional

Executivos bem-sucedidos na área de marketing oferecem seus serviços para ajudar Palmeiras e São Paulo Divulgação

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Derrota para o Flamengo (no alto) levou publicitários, como Angelo Franzão (acima), a formar o Avanti Palestra

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magine uma empresa cujo departamento de marketing conta com a consultoria de um dos vice-presidentes da McCann Erickson, junto com o diretor-geral da DPZ e outros publicitários renomados. Melhor ainda: todos eles trabalham de graça. Pois é exatamente isso o que acontece hoje no Palmeiras, com o movimento Avanti Palestra. O Avanti é um grupo de publicitários palmeirenses fundado por Flávio Conti, diretor-geral de uma das maiores agências do país, a DPZ. Após ver o Verdão perder para o Flamengo, no final de maio, e na esteira de derrotas como o 4 a 1 para o São Paulo e o 6 a 1 para o Figueirense, Conti resolveu dar personalidade jurídica ao grupo de palmeirenses que já se reunia para discutir o futuro do clube. Assim, criou a entidade. Outro membro importante do movimento é Angelo Franzão, vice-presidente e diretor de mídia da McCann Erickson, maior agência de publicidade do Brasil. É também presidente do Grupo de Mídia, entidade que reúne os principais profissionais do mercado nessa área. “O Palmeiras tem um passado

glorioso, mas o que vemos hoje é que, entre as novas gerações, torcer para o Palmeiras às vezes é só a quarta opção”, diz Franzão. De acordo com ele, o objetivo do Avanti Palestra não é político, mas sim assessorar a diretoria alviverde, seja ela qual for. “Não tenho, nem ninguém no grupo tem, vocação para ser dirigente. O que queremos é ajudar o clube na área em que somos especialistas”, diz. Para Franzão, o que o grupo pode dar ao Palestra é justamente o que oferece a seus clientes na vida profissional: “Tudo aquilo que, quando chega um cliente na minha agência, a gente faz para a marca dele, ou seja, monitorar a concorrência, olhar os canais de distribuição, a rentabilidade do produto”. Mas por que um profissional renomado, cujo tempo é valioso, se empenha tanto num grupo como esse? “Me pergunto todo dia por que faço isso. Minha família me pergunta, meu presidente me pergunta. A única explicação que me ocorre é que, se você tem um amigo ou parente precisando de ajuda, não vai se sentir feliz enquanto não socorrê-lo. O Palmeiras está doente,

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“Globo não tem autoridade moral para cobrar ética de ninguém”

Marcelo Sayao/EFE

Julio Cesar Casares é diretor do São Paulo. E da Rede Record. Coincidência ou não, o clube é o único grande que ainda não assinou o contrato com a Globo para a transmissão do Paulistão de 2008. A emissora acusa Casares de atrasar as negociações, o que o dirigente nega.

e, como palmeirense, sinto que é quase uma obrigação ajudar em sua cura”, explica.

São Paulo tem o Gesp O São Paulo conta com a ajuda de um grupo parecido com o Avanti Palestra. Trata-se do Gesp, entidade criada em 2002 e que tem entre seus fundadores Julio Casares, atual diretor de planejamento estratégico da Rede Record. “Quando o Marcelo Portugal Gouvêa era candidato a presidente do São Paulo, expus para ele minha idéia de que tivéssemos no clube um grupo de executivos, um órgão consultivo para, sem se meter na política, ajudar a presidência a trabalhar melhor seu marketing”, conta Casares, que também é diretor de marketing do Tricolor. “Quando ele ganhou, implantou o Gesp e me convidou para coordená-lo”. Como seus pares palmeirenses, o são-paulino não consegue explicar o que o leva a se dedicar tanto ao clube. “Sem dúvida, é a paixão pelo São Paulo, mas aqui nós temos um lema, que é

‘Emoção Profissional’. Se não for profissional, a emoção atropela tudo, e aí não dá certo”. O executivo ressalta ainda a importância para o clube de poder contar com os serviços de pessoas de diversas áreas profissionais, sem custo nenhum. “Quando chegamos aqui, dois grandes contratos estavam para vencer, o de patrocínio da camisa e o de fornecimento de material esportivo. Com gente da área negociando, conseguimos mais que dobrar os valores que o São Paulo recebia”, relata. “Hoje, quando há algum contrato que tem que ser assinado por todos os clubes, muitos esperam o São Paulo assinar, porque sabem que aqui as questões são analisadas por profissionais da área”, revela. Casares avalia que a principal contribuição do Gesp ao São Paulo foi a elaboração de um plano estratégico de marketing. “Se, depois de 1992, tivéssemos um plano como esse, poderíamos ter decolado mais, mas houve um vazio. É isso que queremos evitar. Com o Plano Diretor, passam as pessoas, mas fica a estratégia”, diz.

Só o São Paulo, entre os grandes, ainda não assinou o contrato com a Globo para o Paulistão-08. Você tem alguma relação com isso? A Globo quer fazer parecer que o São Paulo não quer assinar o contrato por minha causa, o que não é verdade. Eu nem participo desse tipo de discussão. O São Paulo não assinou porque não assina, nunca, nenhum contrato a toque de caixa. Com relação a ética, para alguém cobrar ética precisa ter autoridade moral para isso e, se a gente olhar algumas coisas que aconteceram no passado, vai ver que a Globo não tem essa autoridade. Como diretor de marketing do clube, não acha que ver sua marca na Globo é mais interessante do que na Record? Para o clube, era melhor que acontecesse como em outros países: uma emissora tem um pacote, outra tem outro, com horários diferenciados – e não às 22 horas. Para o clube, é importante que o torcedor não tenha que esperar a novela terminar para o jogo começar. Com relação à audiência, não me preocupo. A audiência que a Globo atinge com o futebol, a Record também pode atingir. Futebol com exclusividade dá a mesma audiência, até em emissoras menores. Se não der, é o caso de questionar o Ibope. Dezembro de 2006

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Cadeira cativa, por Luiz Fernando Bindi

Rua Javari:

ainda há poesia no futebol

ra um sábado, 7 de abril de 2001. O programa escolhido seria classificado por muitos como “programa de índio”: assistir a uma partida entre Juventus e Olímpia pela segunda divisão do Campeonato Paulista. Para entrar no clima saudosista, o carro foi deixado em frente à pizzaria São Pedro, com mais de 50 anos no tradicional bairro paulistano da Mooca. O ingresso nas antigas e também tradicionais arquibancadas do Estádio Conde Rodolfo Crespi, a famosa Rua Javari, custava R$ 5. Como não há refletores, as partidas na Javari começam às 3h da tarde, já que têm que terminar antes de escurecer. Com um pouco de tempo sobrando, vale a pena observar as pessoas que começavam a se aglomerar em frente ao acanhado portão de madeira que praticamente separa a rua do gramado. Primeira constatação: a média etária da torcida juventina era bastante alta – certamente ultrapassava os 50 anos. De pessoas mais jovens, havia apenas um menino de 10, 12 anos, acompanhando um visivelmente emocionado avô, e mais umas 15 pessoas entre 20 e 30 anos. Quando faltavam 20 minutos para a 3h, por volta de 70 torcedores se aglomeravam à espera da abertura do portão. E ele se abriu, com os guardas chamando os torcedores pelo nome e os orientando a passar pela catraca eletrônica (algo deslocada naquele ambiente anos 60).

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Do lado de dentro, havia um cheiro de poesia, de grama seca sob o sol forte, de saudade e de absoluta paixão pelo futebol. Uma placa preta com letras amarelas informava: a arquibancada branca e grená tem capacidade para 196 torcedores. Quando chegou, a organizada do Juventus – que, brinca-se, cabe numa Kombi – apareceu barulhenta: uma romântica charanga entoava nomes de jogadores desconhecidos com uma paixão há tempos esquecida. Surpreendentemente, era formada por jovens, que não ultrapassavam os 20 anos. Será que, nas brincadeiras de segunda-feira, eles têm coragem de admitir que torcem pelo Juventus da Mooca? Quando começou, a partida foi bastante disputada. Mesmo para um observador “imparcial”, a figura de Seu Irineu, um senhor italiano de seus 70 anos, que gritava palavrões em sua língua natal e dizia que não xinga “jogadô do Juventos”, emocionava. No fim do jogo, quando o Juventus fez o gol da vitória aos 47 do segundo tempo, dava mesmo vontade de pular e abraçar Seu Irineu. Na saída, esperando em frente à porta de madeira cor de vinho, estava o menino de uns 12 anos que acompanhava o avô. Boné na mão direita e caneta na mão esquerda, ostentava um brilho que só o puro amor pode trazer aos olhos de uma pessoa. Como o futebol é lindo... Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

ficha

Assistir a uma partida no campo do Juventus da Mooca remete a um tempo em que o esporte era diferente

JUVENTUS 1 OLÍMPIA 0 Competição: Campeonato Paulista Série A-2 Data: 7/abril/2001 Local: Estádio Conde Rodolfo Crespi Rua Javari (São Paulo)

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E se..., por Luís Augusto Simon

...o Brasil tivesse ganho a Copa de 1982 ão 28 minutos do segundo tempo, e Júnior sofre como nunca. Ele, experiente jogador do Flamengo, campeão mundial interclubes um ano antes, um dos destaques da Seleção Brasileira que, comandada por Telê Santana, encanta o Mundo na Copa de 1982, só pensa na noite anterior. No meio da madrugada, acordara assustadíssimo, depois de um pesadelo terrível: com três gols de Paolo Rossi, o último deles justamente aos 29 do segundo tempo, a Itália vencia o Brasil. Apenas um sonho, convencera-se, desperto na madrugada, tomando um copo d’água para acalmar-se. A calma dura só até os 5 minutos de jogo, quando Rossi faz o primeiro gol da partida, do jeitinho que o sonho havia mostrado. Coincidência, pensa. Então, Sócrates empata, e Toninho Cerezo erra o passe que termina no segundo gol da Itália. De verdade, o medo começa aí. Ao acordar durante a noite, Júnior chegara a rir da história de que Cerezo, o grande Cerezo, havia, em seu sonho, errado um passe lateral. Agora, Júnior tem, na cabeça, como um filme, o terceiro gol da Itália em seu

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A cada edição, um convidado imagina como seria o mundo do futebol se alguma coisa fosse diferente. Você tem sugestões de temas para esta seção? Mande e-mail para contato@trivela.com

sonho: escanteio para a Itália, a zaga rebate, um italiano joga a bola novamente na área do Brasil, Paolo Rossi entra e faz o terceiro gol, que elimina o Brasil. Os jogadores pedem impedimento, mas o árbitro aponta para Júnior, na esquerda. Ele, justamente ele, não saiu e deu condições de jogo para Paolo Rossi eliminar o Brasil. Quando o bendito escanteio é marcado, Júnior faz o sinal da cruz. Limpa o suor, bate uma mão na outra e pede a Deus para ser tão rápido como o mais rápido velocista da Terra. Quando a zaga rebate, é o primeiro a sair. Corre como nunca correu, nem em sua infância no Piauí. É o primeiro a sair. E o gol de Rossi, impedido, é anulado. Júnior então sorri, mas, depois de tanto sofrimento, quer mais. Agora o escanteio é a favor do Brasil. Ele se coloca perto de Zoff. A bola chega na área, e ele passa pelo goleiro, atrapalhando sua visão. Oscar, de cabeça, faz o quarto gol. Brasil classificado. Na semifinal, a Seleção vence a Polônia e, na final, contra a Alemanha Ocidental, ganha por 5 a 0. O Brasil é tetracampeão mundial, consagrando um esquema que não tinha volantes fixos.

Falcão e Cerezo sabem jogar como ninguém. Desarmam, tocam e saem para o jogo. Fizeram vários gols no Mundial. O mundo se rende à novidade, e todos os times começam a jogar assim. Quem não se adapta é deixado para trás. Uma das primeiras vítimas é Dunga, um promissor volante do Inter de Porto Alegre. Foi o último cortado da Seleção Brasileira que ganharia o Mundial de juniores de 1983. Na equipe, acabam entrando os laterais Jorginho e Leandro, deslocados para o meio. Dunga não se conforma. Tenta fazer valer o seu estilo de volante-volante, mas não consegue. O Brasil é pentacampeão em 1986, novamente com volantes habilidosos, e ele não se firma no Inter. Em 1990, quando o Brasil vence a Argentina de Maradona e conquista o hexacampeonato, Dunga está no São Luiz de Ijuí, interior do Rio Grande do Sul. Impõe seu estilo, vira ídolo, ganha muitos jogos, e o São Luiz consegue, por cinco anos seguidos, o título de “Campeão do Interior”. Uma época que o Correio de Ijuí chamou de “Era Dunga”. Luís Augusto Simon é jornalista esportivo desde 1988. Atualmente, é repórter do jornal Agora São Paulo.

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Divulgação

Cultura, por Carlos Eduardo Freitas

Profissionais do

joystick Antes apenas uma diversão entre amigos, campeonatos de futebol virtual se popularizam, e a categoria caminha para profissionalização

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inda é difícil imaginar alguma mãe que não se desespere ao ver seus filhos a tarde toda na frente da TV, jogando partidas de futebol no videogame. Para desgosto delas, porém, o que era um hobby ganha cada vez mais importância e respeitabilidade e já é chamado por muita gente de trabalho. Campeonatos de futebol em consoles ou no computador são organizados até mesmo pela entidade máxima do futebol e dão premiações capazes de conquistar a simpatia de qualquer pai e mãe. Os pais de Eduardo Witsmiszyn, por exemplo, provavelmente não gostariam de saber que seu filho andava cabulando aula nas escadarias de um cursinho na avenida Paulista – mesmo depois de descobrir que, por causa disso, ele ganhou uma viagem para a Europa. Diante da falta de participantes para preencher as chaves de um torneio organizado pela Fifa

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em São Paulo, Witsmiszyn foi convidado a participar e, mesmo sem conhecer o jogo, topou. Foi vice-campeão e ganhou uma viagem para a Holanda. “Cabulei a aula e vou para Amsterdã”, diz, rindo – embora não saiba bem como vai contar a história para os pais. A competição na qual o estudante alcançou a final chega em 2006 a sua terceira edição e teve como primeiro campeão Thiago Carriço, de Niterói. Em 2004, ele recebeu das mãos de Lothar Matthäus o prêmio de melhor do mundo na mesma cerimônia que coroou Ronaldinho. Além da honra de estar ao lado dos craques, recebeu um cheque de US$ 20 mil. No ano seguinte, Bruno, seu irmão, foi vice-campeão no World Cyber Games (WCG), na categoria FIFA06. Os irmãos Carriço servem de exemplo para uma legião de jogadores de videogame que sonham poder viver daquilo que mais gostam de fazer. É

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o caso de André Casagrande Buffo, de 15 anos, vencedor da seletiva da Fifa em novembro e que, frente a outros 127 jogadores de todo o planeta, espera repetir o feito de Thiago. Sua mãe, Adriana, confessa que no início chegou a se preocupar com um eventual descuido do filho nos estudos. “Ele conseguiu me mostrar que o videogame não atrapalhava a escola”, conta. É claro que as viagens ganhas para disputar o Mundial da WCG, na Itália – onde André foi quinto –, e o Pan-Americano, no México – onde se sagrou campeão –, ajudaram a convencê-la a aceitar a iminente profissionalização do filho. Tanto barulho, é claro, não passa despercebido à Fifa – entre outros motivos, porque a entidade ganha um bom dinheiro para ceder sua marca ao jogo comercializado pela Electronic Arts. “A Fifa está atenta a essa popularização e tem grande interesse que cresça cada vez mais o número de praticantes, pois trata-se de um novo aspecto de se ver e jogar futebol”, contou à Trivela o representante da federação que acompanhou a seletiva brasileira da Fifa Interactive World Cup – e, sabese lá por que, pediu para não ser identificado.

Winning Eleven x FIFA Football Apesar de ser o jogo oficial da Fifa e, por isso mesmo, contar com apoio promocional da entidade, o FIFA Football, da Electronic Arts, sofre, por aqui, dura concorrência do Winning Eleven,

jogo que também é muito popular no Japão. O WE, da Konami, é o jogo oficial dos campeonatos organizados pela Confederação Brasileira de Futebol Digital e Virtual (CBFDV). A entidade, com sede em Brasília, tem oito federações estaduais filiadas e sete em processo de registro. Ela organiza campeonatos em âmbito nacional, classifica jogadores para a WCG e ainda distribui prêmios como viagens, acessórios e até carros aos melhores colocados. Se o FIFA Football é o formato reconhecido pela entidade máxima do futebol, por que então a CBFDV não o utiliza em suas competições? “Nós até temos competições de FIFA, mas o número de interessados em WE é muito maior. De cara, perderíamos muitos participantes”, explica Edwaldo Júnior, presidente da confederação. Segundo ele, há o interesse de se aproximar tanto da Fifa quanto da CBF, para tentar popularizar e, quem sabe, profissionalizar a prática – algo que tenta também a Electronic Arts no Brasil. Tanto a empresa quanto a CBFDV já negociaram, mas ainda não chegaram a um acordo – algo que, esperam, deve acontecer em breve. Enquanto isso não acontece, os jogadores curtem o momento de celebridade em campeonatos. “O bacana de participar desses torneios é que você se sente jogador de verdade: dá entrevista, tem torcida...”, comenta André Buffo. O que, você nunca ouviu falar nele? Aguarde.

MELHOR QUE O ETO’O Para que nunca esqueçam do grito que tomou conta das arquibancadas do Maracanã no Brasileirão-2006, Obina resolveu faturar em cima da fama de ser melhor que o camaronês Samuel Eto’o. Ele lançou sua camiseta oficial, com a inscrição: “Obina, melhor que o Eto’o”. Até onde se sabe, é a primeira vez na história que um jogador se aproveita de uma piada a seu respeito para faturar. Camiseta Obina melhor que Eto’o Onde encontrar: www.obina.com.br; www.flaboutique.com.br Preço sugerido: R$ 29,90

COPAS DESDE AS ELIMINATÓRIAS Chega às livrarias uma ótima publicação, que tem tudo para se tornar referência sobre o tema. “Copas do Mundo – das Eliminatórias ao Título” vai além do básico, trazendo uma ampla pesquisa a respeito das eliminatórias – o que a torna única no mercado brasileiro. Como foi lançada após o Mundial, estará atual até a Copa de 2010. “Copas do Mundo – das Eliminatórias ao Título” Autores: José Renato Santiago Jr. e Gustavo Longhi de Carvalho Ano: 2006 Editora: Novera Preço sugerido: R$ 79

Além da disseminação das competições virtuais “oficiais”, não faltam ligas de jogos como Winning Eleven e Fifa Football por todo o Brasil. Em São Paulo, por exemplo, quase toda empresa com um número razoável de funcionários tem seu campeonato interno do tipo – muitas vezes, até, em substituição ao tradicional campeonato de futebol society. Alguns jogadores, entretanto, se superam na criatividade. Para dar um quê de realismo a suas disputas de Winning Eleven, um grupo de amigos de Barroso, no sul de Minas Gerais, resolveu aplicar as regras do mercado de transferências real para as competições que organizam, religiosamente, nos fins de semana. Fundaram uma federação – a Federação Barrosense de WE – e gastam dinheiro de verdade para reforçar seus times. “Se eu quiser comprar um jogador de algum outro time, preciso fazer uma oferta. Se o dono do time aceitar, fica com a grana. Se for uma equipe sem dono, a grana fica com a FBWE, que compra acessórios”, explica Michel Costa, um dos fundadores. Em sua Inter de Milão, jogam Toldo, Thuram, Ferdinand, Materazzi, Terry, Essien, Robinho, Van der Meyde, Lampard, Ronaldo e Adriano. “Para jogar com a Inter, tem que investir, porque os jogadores são bem ruinzinhos”, comenta. As regras da federação incluem ainda uma série de normas para valorização, utilização e até modificação de características dos jogadores. Até hoje, a maior oferta já feita foi de R$ 70, por Shevchenko – não aceita pelo “dono” do Milan. Por outro lado, por R$ 30, levaram Ronaldinho.

lançamentos

Futebol virtual com transferências em Real

RETRÔS COMEMORATIVAS No aniversário de dois momentos históricos de Corinthians e Flamengo, a Nike lança uma linha de camisetas retrô. As alvinegras comemoram os 30 anos da famosa invasão corintiana ao Maracanã. Já as rubro-negras festejam os 25 anos do título mundial. Camisas retrô de Flamengo e Corinthians Fornecedor: Nike Preço sugerido: R$ 149

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A Várzea

Os melhores do ano

A lorota do mês “Não sei nada sobre sair do West Ham” Carlitos Tevez tem toda razão. Depois que o clube foi vendido para um islandês, é mais do que provável que titio Kia mantenha ele no leste de Londres esquentando o banco – já que não conseguiu esquentar seu dinhei...[vetado pelo departamento jurídico].

A manchete do mês

A charge do mês

A Várzea nunca foi de muito trabalho, ainda mais com o Brasileiraço se aproximando do fim, e o Natal chegando. Além disso, está sempre atenta aos manuais de administração e nunca se furta de aplicar na prática as novas manias do mundo dos negócios. Assim, depois de tomar um pouco de Jurubeba a mais do que devia no almoço, e com o fechamento se aproximando, resolveu delegar a Tolete, o repórter, e Denílson, o estagiário com potencial, a função de, no espírito desta edição, escolher a seleção do campeonato. Afinal, dizem os manuais, o bom chefe é aquele que sabe delegar. No guardanapo do Bar do Chico Lingüiça mesmo, o estagiário tascou: “Xéfi, aí vãum us nómi: Edcarlos, Jancarlos, Ilsinho, Maicossuel, Alecsandro, Ediglê, Nádson, Richarlysson, Rosembrick, Welliton e Jeovânio. Xéfi, essi útimo nãum é u du voley, tá?” A Várzea fez questão de inquirir o esforçado petit sobre as razões para o seu voto – afinal, que nos lembrássemos, Rensenbrink se aposentou na década de 80 e nunca jogou no Brasil. “Xéfi”, escreveu Denílson, “é qui finaumenti augém escrivel us nómi do mesmu geitu qui eu”. Já Tolete, que, além de preguiçoso, é democrático, resolveu pesquisar. Nosso repórter, entretanto, é intrépido, mas não é de todo destemido. Ao perceber que a relação que encontrou trazia nomes como Gladstone e Marcelo Mattos, e que o ataque tinha Obina e Aloísio, nem pensou duas vezes: se escondeu no banheiro do Chico e queimou a lista. Imagina se ele ia entregar uma coisa dessas para A Várzea. Ainda mais em papel timbrado da CBF.

Em alta

Hélio dos Anjos

Conseguiu participar de duas campanhas que acabaram em rebaixamentos para a Série B. Mesmo assim, em 2007, estará na Série A com o Náutico, clube que dirigiu em apenas sete partidas.

“Dirigente do Flu não confirma, mas não nega, interesse em Branco” (Jornal dos Sports) Rede Globo não confirma, mas não nega, proposta milionária por Tolete. Enquanto isso, A Várzea não confirma, mas não nega, que tomou uma ou 37 jurubebas no almoço.

Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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Silvio Luiz No meio da temporada, você deixa um clube pequeno para jogar no time com a segunda maior torcida do país. No fim dela, é devolvido ao ex-clube, já rebaixado, depois de perder a vaga para o Marcelo.

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