nº 12 | fev/07 | R$ 7,90
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LIBERTADORES Após duas finais brasileiras, já há uma hegemonia?
A vez do
MAGNATAS De onde vem o dinheiro que invade o futebol europeu
Lyon? Saiba o que esperar do time de Juninho e de seus 15 adversários na Liga dos Campeões
• Bebeto de Freitas • Arrigo Sacchi • Copa São Paulo • Guarani e Ponte • Moscou • DVDs do seu clube
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índice
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Entrevista: Para Bebeto de Freitas, Timemania é única salvação para o Botafogo Copa Libertadores: Dá para falar em supremacia brasileira? Liga dos Campeões: Análise de todos os confrontos e das 16 equipes Bilionários no futebol: O que querem Abramovich, Glazer e companhia
Daniel Hambury/EFE
Entrevista: Sacchi: “Trabalho de Luxemburgo no Real era impossível” Jogo do mês Curtas Opinião Peneira Tática Copa São Paulo Parceria em Campinas Estrelas nos escudos História Capitais do futebol Embaixadas Negócios Cadeira cativa E se...
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Cultura A Várzea
14 24 32 42 48 5 6 9 12 13 20 22 30 47 52 54 60 62 63 64 66
editorial A primeira quebra de paradigmas Da mesma forma como nós somos poupados de assistir ao Big Brother na maior parte do ano, as esposas do Brasil acreditam que em algum momento deveriam ser poupadas do futebol. Os torcedores discordam. Afinal, da novela a gente não se livra nunca. Queremos futebol o ano inteiro, se possível, todos os dias da semana. Isso, porém, não justifica fazer que nossos times joguem torneios como são os estaduais de hoje. Poucas coisas justificam a existência do Campeonato Paulista, ou o do Estado do Rio. A tradição? Se mandasse alguma coisa, a Copa da Escócia seria um torneio espetacular. A rivalidade local? Vale para a Paraíba, onde os clubes não têm chance de ganhar nada além do Paraibano. Não faz nenhum sentido valorizar um torneio que, embora seja idoso, não tem importância esportiva nenhuma e pode acabar prejudicando toda a temporada. Para clubes como Santos, São Paulo e Inter, por exemplo, ter a torcida exigindo bons resultados contra Sertãozinho ou Veranópolis não poderia ser mais contraproducente. A Libertadores está rolando, mas é claro que sempre há alguém que vai dizer que poupar o time é “desrespeitar o torcedor”. Desrespeitar o torcedor é fazê-lo assistir a partidas ruins, contra times ruins e fingir que isso vale alguma coisa. Se matar o estadual é ruim economicamente, que se transforme os dos principais estados oficialmente em prétemporada. Os clubes começam com a molecada, com quem teve folga, com quem se recupera de contusão. Nas fases finais, podem pôr o time titular para treinar – não em 23 ridículas rodadas, mas em, no máximo, dez. Mudar o futebol brasileiro passa por uma série de quebras de paradigmas. Este é um dos mais importantes.
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Editor Caio Maia Reportagem Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Ricardo Espina Tomaz Rodrigo Alves Ubiratan Leal Colaboradores Gustavo Hofman João Tiago Picoli Luis Eduardo Martines Luiz Fernando Bindi Mauro Beting Mauro Cezar Pereira Rafael Martins Zeca Marques Foto da capa Robert Pratta/Reuters Detalhe: Neco Varella/EFE Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold (looks@uol.com.br) Diagramação e tratamento de imagem s.t.a.r.t. (start.design@gmail.com)
Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 4208-8213 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 4208-8205 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Pool Editora pooleditora@lmx.com.br (11) 3865-4949 Circulação LM&X - Alessandra Machado (Lelê) lele@lmx.com.br (11) 3865-4949 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Prol Editora Gráfica Ltda. Tiragem 30.000 exemplares
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Phil Noble/Reuters
Jogo do mês, por Tomaz R. Alves
O
show da molecada
uando Arsenal e Liverpool entraram em campo na noite de 9 de janeiro, esperavam disputar uma partida comum. Aliás, menos do que isso. Era apenas um jogo da Copa da Liga Inglesa, competição tão desvalorizada que, mesmo num encontro entre dois candidatos ao título, nas quartas-de-final, os técnicos preferiram poupar a maioria de seus titulares. Quando o árbitro apitou o fim do jogo, tudo havia mudado. As mais de 42 mil pessoas presentes em Anfield sabiam que haviam assistido a algo histórico. Meio em protesto contra o próprio time, meio em reconhecimento ao adversário, os torcedores do Liverpool aplaudiam os jogadores do Arsenal, enquanto eles deixavam o campo. Afinal, não é todo dia que alguém bate os Reds por 6 a 3. Não só isso: uma olhada no almanaque mostra que essa foi a primeira vez desde 1930 que um time visitante marcou meia dúzia de gols em Anfield. Sim, é verdade que o Liverpool jogou com muitos reservas. É verdade que a defesa da equipe estava numa noite particularmente ruim. E também é verdade que a partida não foi o baile que o placar sugere. Isso, porém, não diminui o impacto do feito do Arsenal. Em campo, destacaram-se dois personagens. Do lado do Arsenal, o nome foi Júlio Baptista, autor de quatro gols (embora Aliadiere também mereça crédito pelo grande desempenho na noite). O brasileiro
Q
Julio Baptista fez quatro dos seis gols do Arsenal
poderia até ter marcado um quinto, se não tivesse perdido um pênalti. Trata-se de um feito incrível para um jogador que, até então, havia feito apenas um gol em 14 jogos pelos Gunners. Do lado dos Reds, o personagem foi o goleiro Jerzy Dudek. O polonês teve culpa em quatro gols do Arsenal e se queimou de vez. Na metade de 2005, Dudek havia sido o herói na dramática conquista da Liga dos Campeões. Agora, não jogará mais pelo Liverpool e deverá em breve deixar o clube. Após o jogo, o técnico Rafa Benítez, claramente irritado, pediu desculpas à torcida pelo vexame. Três dias antes, o Liverpool havia sido eliminado da outra copa inglesa, a FA Cup, pelo mesmo Arsenal, também em Anfield. Com as duas derrotas, acabaram-se as chances dos Reds de ganhar títulos nesta temporada – a não ser que se acredite em uma reação milagrosa na Premier League ou em uma surpresa na Liga dos Campeões. Enquanto o Liverpool lamenta, o Arsenal sai com uma certeza: tem um dos elencos mais promissores do mundo. Afinal de contas, a média de idade de seus 13 jogadores que participaram da goleada não chega aos 21 anos. Este 6 a 3 pode ter sido apenas um jogo atípico, de um grupo de garotos motivados contra um adversário em noite infeliz. Há, porém, a possibilidade de ter sido o primeiro grande feito de uma das maiores equipes da próxima década.
LIVERPOOL 3 ARSENAL 6 Data: 9/janeiro/2007 Local: Anfield (Liverpool) Público: 42.614 pagantes Árbitro: M. Atkinson Gols: Aliadiere (27min), Fowler (33min), Julio Baptista (40min, 45min, 60min, 84min), Song (45+1min), Gerrard (68min) e Hyypia (80min) Cartão amarelo: Song (Arsenal) LIVERPOOL Dudek; Peltier, Hyypia, Paletta e Warnock (Alonso); Guthrie, Gerrard, Fábio Aurélio e Gonzalez (García (Carragher)); Fowler e Bellamy. Técnico: Rafa Benítez
ficha
Reservas do Arsenal transformaram partida da Copa da Liga Inglesa num jogo histórico
ARSENAL Almunia; Hoyte, Touré, Djourou e Traoré (Connolly); Walcott (Diaby), Fabregas, Song e Denilson; Julio Baptista e Aliadiere. Técnico: Arsène Wenger
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Michael Dalder/Reuters
Curtas DE CRAQUE A PRESIDENTE Por 27 votos a 23, Michel Platini conseguiu o que parecia impossível: destronou o sueco Lennart Johansson do posto de presidente da Uefa, após mais de 17 anos de mandato. O francês não somente se tornou o primeiro ex-jogador profissional a assumir a presidência de uma entidade continental, como também é o primeiro a ter nascido após a fundação da Uefa, em 1954. O ex-craque dos Bleus ganhou força junto a federações menores, ao prometer tornar a Liga dos Campeões uma competição mais democrática. Leia-se: diminuir o número máximo de participantes por nação para três (e não mais quatro) e dar mais vagas a países menos tradicionais. Pode esperar a chiadeira dos clubes mais poderosos.
SACANAGEM TEM LIMITE
NOVO TORNEIO INTERCLUBES
Na Argentina, um adolescente portador de doença mental está processando seu tatuador. O garoto o procurou pedindo que desenhasse em suas costas o escudo do Boca Juniors. Só que o tatuador era torcedor do River Plate e preferiu presentear o jovem com a imagem de um enorme pênis. Como a tatuagem foi nas costas, o garoto só percebeu quando era tarde demais.
As federações mexicana e norte-americana entraram em acordo para a criação da Superliga, um torneio que reunirá os quatro melhores clubes de cada país e dará ao campeão um prêmio de US$ 1 milhão. Inspirada na Liga dos Campeões – mas em escala bem menor –, a competição terá uma fase de grupos e, em seguida, playoffs até definir o vencedor. A Superliga será disputada nos EUA, de 24 de julho a 29 de agosto. No grupo A, estão FC Dallas, LA Galaxy, Chivas e Pachuca. No B, figuram DC United, Houston Dynamo, América e Morelia.
A PRIMEIRA VEZ O dia 24 de março será histórico para Montenegro. Essa é a data da primeira partida da seleção do país, que se separou da Sérvia em 2006. A equipe enfrentará a Hungria, em um amistoso que será disputado em Podgorica, capital do novo país. Em outubro, a federação montenegrina foi admitida como membro provisório da Uefa. A entidade ainda não definiu o nome do treinador, mas já escolheu as cores do uniforme, inspiradas na bandeira nacional: camisas vermelhas com detalhes em amarelo.
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TIRA-TEIMA Em julho, o Campeonato Alemão conhecerá quem ficará com o título... de 1894. Isso mesmo: 113 anos depois, FC Hanau 1893 e Viktoria 1889 Berlim disputarão a “final que nunca aconteceu”. Na época, o Hanau não teve condições financeiras para viajar a Berlim, para a decisão. O Viktoria foi, então, considerado o campeão nacional daquela temporada. Hoje, o time pode ser considerado o favorito, pois está na quinta divisão; o adversário está na sétima.
frases “Ele [Mauricio Macri, presidente do Boca Juniors] não combateu as máfias do futebol argentino e ainda por cima colocou a camisa do Boca nas filhas do Bush” Maradona, amigo de Fidel Castro, faz críticas duras ao dirigente “xeneize”.
“O homem que comanda a MSI é quem está por trás de todos os problemas que surgiram ultimamente no Corinthians” Emerson Leão não poupa “elogios” a Kia Joorabchian pelos problemas com Nilmar e pela saída de Gustavo Nery do clube.
“Não existe um zagueiro que esteja como eu nessa idade, seja na técnica ou na vontade” Antônio Carlos, de 37 anos, deixa a modéstia de lado ao responder sobre uma possível desconfiança quanto a seu desempenho no Santos devido à idade.
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COPA DO BRASIL: CRITÉRIOS DUVIDOSOS
“TEJE” PRESO
À VENDA
A edição 2007 da Copa do Brasil começará sem que alguns se seus problemas tenham sido resolvidos. A CBF não cumpriu a promessa de permitir que os representantes brasileiros na Copa Libertadores pudessem disputar o principal torneio mata-mata nacional. Assim, Flamengo, que não poderá defender seu título, São Paulo, Internacional, Grêmio, Santos e Paraná desfalcarão a competição. Além disso, os métodos para definir os participantes continuam estranhos. O critério básico ainda é o desempenho nos estaduais, mas dez vagas são definidas pelo ranking da CBF. Assim, um clube que foi rebaixado duas vezes em 2006, como o Guarani, ganhou um lugar na Copa do Brasil. Outro caso curioso é o da Ferroviária, que está na Série A-3 do Paulistão, mas ganhou a Copa FPF. Vejam os confrontos da primeira fase da competição (com asterisco, os clubes classificados pelo ranking):
James Cotterill tornou-se o primeiro jogador a ser preso na Inglaterra após agredir um adversário durante uma partida. O zagueiro do Barrow foi condenado a quatro meses de cadeia por quebrar a mandíbula de Sean Rigg, atacante do Bristol Rovers, durante jogo da FA Cup, em novembro. Além da condenação, Cotterill terá que pagar uma multa de US$ 530.
Jack Kachkar, um empresário canadense, está disposto a comprar o Olympique de Marselha, por € 115 milhões. Robert Louis Dreyfus, atual dono do clube, manifestou seu desejo de vendê-lo após receber uma suspensão por três anos, devido a seu envolvimento em um esquema de irregularidades em transferências de jogadores durante a década de 90.
Operário-MT x Palmeiras
Olímpico x Corinthians* Pirambu-SE
Vitória-ES x Ipatinga
Vilavelhense-ES x Treze-PB
Campinense-PB x Sport Ananindeua-PA x São Raimundo-AM Chapadão-MS x Portuguesa* Ferroviária-SP x Juventude Barra do x Brasiliense Garças-MT Coxim-MS x Atlético-PR* Baraúnas-RN x Vitória-BA Atlético-GO x Guarani* Sampaio x Fortaleza Corrêa-MA Adesg-AC x Fluminense* Baré-RR x América-RN Moto Club-MA x Goiás
especial Real Madrid
Renato Gaúcho, técnico do Vasco, vai ter que mudar o discurso depois de a Fifa ter decidido que Romário não pode defender o clube carioca no primeiro semestre.
Fast-AM x Vasco* Araguaína-TO x Gama Madureira x Figueirense Adap/Galo x Noroeste Maringá-PR Colo Colo-BA x Atlético-MG* Coruripe-AL x América-RJ Villa Nova-MG x Ponte Preta* Rio Branco-PR x Avaí CSA x Botafogo Barras-PI x Ceará Caxias-RS x Coritiba Ulbra x Santa Cruz Ji-Paraná-RO
Itabaiana-SE x Bahia*
“Aqui continua a ser o Baixinho e mais dez”
São José-AP x Paysandu Christophe Karaba/EFE
Veranópolis-RS x Cruzeiro
Parnahyba-PI x Náutico*
FORA! O Feyenoord pagou caro pelo péssimo comportamento de seus torcedores na partida contra o Nancy, em 30 de novembro, pela Copa Uefa. A equipe francesa jogava em casa e vencia por 3 a 0, quando fãs dos visitantes começaram a atirar objetos no gramado. Os holandeses estavam classificados para a fase eliminatória do torneio, na qual enfrentariam o Tottenham, mas a entidade tomou a inédita decisão de excluir a equipe, anunciando a classificação do Spurs para as oitavasde-final. O Feyenoord apelou da decisão e espera que seu recurso seja arbitrado antes da data prevista para o reinício da competição.
“Não vou para o Los Angeles Galaxy por dinheiro” Parece meio difícil acreditar em David Beckham, quando se sabe que ele ganhará US$ 250 milhões pelos cinco anos de contrato com o clube norte-americano.
“Basta de soltar m**** por essa boca” Depois de criticar o time inteiro, o presidente do Real Madrid, Ramón Calderón, ouviu como resposta frases como essa – e ainda teve que pedir desculpas.
“Beckham será ator mediano em Hollywood”
“Desde o dia em cheguei aqui, há duas pessoas que ficam atrás do banco de reservas e me ofendem. Hoje, elas passaram dos limites”
Essa foi a maneira de Ramón Calderón desejar “boa sorte” ao inglês em seu novo clube.
O técnico Fabio Capello tenta justificar o gesto obsceno que fez para a torcida depois do jogo contra o Zaragoza, quando mostrou o dedo médio para os fãs.
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BONS RESULTADOS OU SEU DINHEIRO DE VOLTA Associe-se ao Racing: se o time não corresponder às expectativas dos torcedores, os sócios terão seu dinheiro de volta. Essa é a idéia da Blanquiceleste, empresa gerenciadora do clube de Avellaneda, para atrair a atenção dos futuros associados. Pelo plano, estão previstos reembolsos em quatro níveis: 25% (caso o clube termine entre sexto e 10º no Campeonato Argentino), 50% (entre 10º e 15º), 75% (16º a 19º) e 100% (se for o lanterna). Para aliviar a crise financeira da equipe, é melhor os jogadores se esforçarem.
erramos Na edição de janeiro, pisamos na bola mais do que de costume. Aí vão as correções: Pág. 15 Ao contrário do informado na entrevista com José Pekerman, a Argentina não ganhou nenhum título na categoria sub-17 entre 1995 e 2001. Pág. 25 Jorge Guagua é equatoriano, mas joga na Argentina – portanto, a bandeira de sua ficha está errada. Pág. 26 Roque Júnior foi campeão da Libertadores em 1999, não em 2001. Pág. 27 No texto está certo, mas o nome do volante Alexandre no alto da ficha aparece como “Alessandro”. Pág. 31 Alex Mineiro destacou-se pelo Atlético-PR no Campeonato Brasileiro de 2001, quando marcou 17 gols e foi campeão, não em 2002. Pág. 31 A ficha do atacante Bruno Moraes informa erradamente que ele jogou no Santos campeão Brasileiro em 2003, quando o título, na verdade, ficou com o Cruzeiro. Moraes era do Peixe campeão de 2002. Pág. 38 John Obi Mikel era do Lyn, da Noruega, e não do Lyon, antes de transferir-se para o Chelsea. Pág. 44 Acertamos na página 7, e erramos na 44: o Cruz Azul disputou a final da Libertadores em 2001, não em 2000.
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10 times bizarros que disputaram a Copa do Brasil
Marcelo Sayao/EFE
VOLTA POR CIMA A partida entre Universidad Católica e Unión Española, disputada na pré-temporada chilena, certamente despertaria poucas atenções. Para o goleiro José Maria Buljubasich, porém, ela foi especial. Esse foi a primeiro jogo disputado por ele após a retirada de um pequeno tumor no cérebro, em cirurgia realizada em setembro. Buljubasich, de 35 anos, está na Universidad Católica desde 2005, e tornou-se célebre por ficar 14 partidas consecutivas sem sofrer gols.
1
Cori-Sabba-PI (1996)
2
Cristal-AP (1995)
3
Ariquemes-RO (1994)
4
Lagartense-SE (1999)
5
Sorriso-MT (1993)
6
Sul-América-AM (1993)
7
Muniz Freire-ES (1992)
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Kaburé-TO (1994)
9
Caiçara-PI (1991)
O clube de Floriano, nasceu da união entre dois times: o Corinthians local e o Auto Posto Sabbá. Foi eliminado pelo Botafogo, mas ganhou o jogo de ida.
O clube, que não existe mais, foi um dos últimos colocados no estadual do ano anterior, mas, mesmo assim, acabou na Copa do Brasil. Foi eliminado pelo Nacional-AM.
Surgiu como possível força estadual, mas depois desapareceu. Após eliminar o Independência-AC, perdeu para o Vitória-BA.
O time com nome engraçado ganhou notoriedade por dar um calor no Fluminense, antes de ser eliminado.
A única coisa alegra na história da equipe parece ser o nome, mesmo. Foi eliminado pelo Grêmio, mas venceu em casa.
É uma espécie de Juventus de Manaus. Pequeno e com pouca torcida, viveu seus grandes momentos em 1992 e 1993, quando ganhou o título estadual. Parou na primeira fase, diante do Rio Branco-AC.
Nunca fez nada antes, nem depois de sua participação. Um ano após seu único título estadual, perdeu para o Inter em casa e em Porto Alegre.
Eliminou o América-MG, mas depois perdeu duas vezes para o Comercial-MS.
Caiu fora depois de perder de 11 a 0 do Atlético-MG, até hoje a maior goleada da história da competição.
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Hermann Aichinger-SC (2005)
O nome do clube é esse, mas todo mundo chama de Atlético Ibirama, cidade na qual se localiza. Por que será?
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Opinião
Atacantes em crise SE NO COMEÇO DESTA TEMPORADA européia você fos-
Caio Maia
se montar o seu time no videogame e quisesse “bombar” o ataque, dificilmente deixaria de escolher um dos seguintes nomes: Ibrahimovic, Adriano, Shevchenko, Rooney, Henry e Eto’o. Se quisesse apostar no passado, poderia ainda incluir Van Nistelrooy e, quem sabe, até Ronaldo. Um jovem talento? Gilardino, ou quem sabe Robinho. Bom, se o seu joguinho fosse atualizado em tempo real, seu time ia “bombar” – mas no mal sentido. Na primeira metade da temporada, nenhum dos nomes citados fez muitas coisas que valessem menções positivas. Uma olhada nas tabelas de artilheiros dos torneios onde atuam estes atacantes mostrava, até o meio de janeiro, que o único que aparecia em posição aceitável era Van Nistelrooy, quarto na lista espanhola. À frente dele? Nada menos, ou melhor, nada mais que Kanouté e Diego Milito. E Ronaldinho Gaúcho. Na lista inglesa, o ponteiro é Drogba, desacreditado até o início da temporada, perseguido por Cristiano Ronaldo e Robin van Persie. Na quarta colocação aparecem o irlandês Kevin Doyle, do Reading, McCarthy, do Blackburn, e Yakubu, do Middlesbrough. Na lista italiana, o primeiro é Francesco Totti. Ninguém discute que, assim como Ronaldinho, é um nome “top”. Só que não é, tradicionalmente, um “matador”, assim como o brasileiro. Atrás de Totti, vêm Spinesi, do Catania, Bianchi, da Reggina, Doni, da Atalanta, e Mutu, da Fiorentina, que tem a companhia de Luca Toni. Um analista apressado poderia concluir rapidamente com algo do tipo: “Ah, mas é que agora as melhores equipes do mundo estão atuando no 4-5-1”. Nomenclaturas à parte, é fácil perceber que nem sempre é assim. A Internazionale, por exemplo, tem tantos atacantes no elenco que raramente deixa de jogar com dois goleadores. No Milan, Gilardino quase sempre tem a companhia de Inzaghi ou Ricardo Oliveira. No Chelsea, a mudança foi justamente a passagem do 4-3-3 (que pode ser chamado de 4-5-1) para o 4-4-2, com a entrada de Shevchenko ao lado de Drogba. Outra explicação para a “seca” pode ser a própria Copa do Mundo. Em tendência que vem se acentuando desde o Mundial de 2002, nos anos em que há disputa do torneio, os melhores jogadores do mundo tendem a chegar muito perto de uma situação de estafa total. Suas equipes quase sempre jogam até as últimas fases das competições continentais e disputam os títulos nacionais até as últimas rodadas. Na hora de tirar férias, vão jogar o torneio no qual mais se espera que rendam. Não há organismo nem cérebro que agüente – e, neste caso, não são só os artilheiros que sofrem, como bem demonstra a fase ruim de Ronaldinho Gaúcho.
Como em relação a qualquer estatística de meio de temporada, não se deve tirar conclusões apressadas. Nas últimas rodadas do Italiano, por exemplo, tanto Adriano como Ibrahimovic voltaram a marcar. Henry, de fato, não vem distribuindo gols por aí, mas não se pode dizer que esteja em má forma. Eto’o, único da lista que não marca porque está contundido, começa a ensaiar a volta. Ainda assim, não é normal que um grupo tão grande de craques passe por uma má fase tão longa e, mais anormal, simultânea.
Gramado? É ampla a discussão sobre a conveniência e importância dos campeonatos estaduais, e quem quiser saber a posição da Trivela pode ler nosso editorial deste mês. O fato é que eles existem e são levados a sério por alguns apaixonados e por muitos que têm interesse em promovê-los. Que eles existam, até vai. Exigir, porém, que jogadores profissionais atuem em lamaçais cheios de buracos como o de Americana, onde o Palmeiras jogou em uma das primeiras rodadas do Paulistão, já não é uma questão futebolística, mas sim de direitos trabalhistas. Isso no torneio que é vendido pela federação como “o melhor do Brasil”, “coisa de primeiro mundo” e outras bobagens. Em entrevista concedida à Trivela no fim do ano passado, Élber não titubeou quando perguntado sobre qual era a maior dificuldade de voltar a jogar no Brasil, depois de tantos anos na Europa: lascou pesadas críticas aos gramados do interior de Minas. Imagine-se: se os do interior de Minas e São Paulo são assim, que dizer dos de regiões economicamente menos favorecidas? Enquanto isso, nossa mídia, servil e pouco atenta, discute se é possível jogar uma Copa do Mundo no Morumbi, por causa da falta de estacionamento. Fevereiro de 2007
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O mundo é (d)o Brasiiiiil!
Mauro Beting
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deixou na cara do gol e da história o alagoano mais xingado pelos gaúchos colorados e ganhou do império intergaláctico e transnacional do Barcelona. Na saída de bola, um maranhense catou um chutaço na gaveta do paulista naturalizado português do time muito mais catalão que espanhol. Festa do carioca Abel Braga com o gaudério de gana e de garra Internacional, que só tinha no campo de RG natural do RS o guri Luiz Adriano. (Em campo, estava também o melhor dos gaúchos do futebol: Ronaldinho. O que dizem que amarela. Essa, porém, é história para outros papos e panos pra manga.) O Inter vestiu a camisa do Rio Grande com nomes de todo o Brasil, mais um colombiano e outro peruano. Entretanto, como o São Paulo multicampeão de 2005, foi um dos campeões menos brasileiros de futebol. Na outra decisão mundial, o Liverpool atacou como se fosse... sul-americano; o São Paulo se defendeu e foi letal no único contragolpe que acertou como se fosse... europeu! Em 2006, o Colorado jogou para não deixar jogar a “melhor equipe do mundo”, na definição de Abelão e da própria bola. Não, porém, do caneco na galeria do Beira-Rio, que recebe o troféu que tanto quis o Barça. Aquela legião estrangeira blaugrana desterra o orgulho do clã catalão, mas povoa de canecos e abarrota os cofres do clube. Um Barça armado com filosofia tática holandesa, gosto apurado da Catalunha e toques geniais da América do Sul e da África. Cada jogo tem sua história – sobretudo um jogo que virou história. No entanto, cada vez mais, cada partida tem sua geografia no mundo globalizado da bola. O futebol mais “brasileiro” era o do Barcelona. O futebol mais “europeu”, o do Internacional. As bolas estão trocadas. Com menos talentos técnicos, os times sul-americanos precisam abusar da tática, digamos, “européia”. Com mais soluções técnicas, os da Europa abusam do jogo mais, convenhamos, “sul-americano”. É o que nos resta. Pelos últimos anos, em que tanto detonamos a qualidade interna de nosso jogo, é para pensar na grama o que fizeram Inter e São Paulo no Japão e com o mundo. Desde que a Lei Bosman entrou em campo, em 1995, liberando aos clubes da Europa a contratação de europeus, limitando apenas os extracomunitários, os grandes puderam montar verdadeiras seleções multinacionais. Não por acaso, passaram a dominar as disputas interclubes. Apenas Boca Juniors, São Paulo e Internacional conseguiram vencer no Japão. Corinthians e Vasco eliminaram Real Madrid e Manchester United, no Mundial de 2000. Só que essa era uma outra história. E geografia.
amarcord
O INTER, DE FATO, FOI BRASIL NO JAPÃO: um cearense
Em um jogo só, a “injustiça” do futebol pode dar o ar da (des)graça. Em uma só partida, “é tudo igual”, como deixou claro Abel Braga, antes de ganhar o mundo em 90 minutos, em Yokohama. O Abelão que já havia sido carimbado como “campeão dos vice-campeonatos” – também por essa síndrome de 90 minutos finais e fatais. Num só jogo, o Brasil-50 perdeu a Copa mais ganha de todas, no Maracanazo uruguaio – a única partida “irrepetível” da história. Nos últimos minutos, também de virada, a fabulosa Hungria-54 perdeu o mundo para a modestíssima Alemanha pós-guerra. Nova virada a seleção alemã daria sobre a notável Laranja Mecânica holandesa, na Copa-74. Um time que ganhou o coração do planeta, mas não o mundo – perdido em 90 minutos de uma decisão para uma ótima equipe, a alemã, mas sem o encanto holandês. O Brasil-82 é outro que nem precisou de uma final para fazer história. Nem semifinal. Quinto colocado na Espanha, caiu diante de Paolo Rossi, por 3 a 2. “Se jogássemos 20 vezes, o Brasil nos venceria 19 – menos naquele 5 de julho”, disse o meio-campista azzurro Tardelli. Mais não preciso dizer. Em 90 minutos, o Grêmio conseguiu parar a máquina do Ajax, no Mundial-95. Minto, em 120 minutos. E com um a menos por 64 deles. Em 90 minutos, o São Paulo-05 criou um lance e marcou o gol mundial num Liverpool que não tomava havia 1.040 minutos e que criou e perdeu 10 chances de gol, negadas por Rogério. Em 90 minutos, o Barcelona dos sonhos viveu um pesadelo contra o Colorado de Ceará, Índio, Rubens Cardoso, Edinho, Wellington Monteiro, Alex e Iarley. Cito apenas os que ainda não foram convocados pela Seleção Brasileira, em uma época em que ser chamado não significa tudo aquilo, em anos em que a Seleção Brasileira já não é tão seletiva, por culpa dos compromissos nada seletos. Os 90 minutos aceitam tudo. Todo tipo de campeão. Que nem sempre merece admiração, mas requer respeito por toda a história.
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O tempo também passa para os ídolos HÁ QUEM DIGA QUE ROMÁRIO tem o direito de jogar até
hat trick
Mauro Cezar Pereira
filhos pequenos para convencê-los de que o ídolo foi grande. quando bem entender. De fato, a partir do momento em que Por ter atuado em dois times na segunda metade do ano alguém quer contar com ele em campo, não existe nenhupassado, Romário só deverá ser autorizado a jogar profissioma lei que impeça, desde que não ultrapasse os dois clubes nalmente em julho, pelo menos em compromissos oficiais, por temporada. Proibido pela Fifa de entrar em campo pelo já que a idéia da diretoria vascaína é marcar amistosos para Vasco no início de 2007 — jogou por Miami FC, nos Estados que possa chegar a sua meta. Unidos, e Adelaide United, na Austrália, no segundo semesA Fifa, porém, não é o único obstáculo para Romário altre do ano passado —, o veterano ainda acalenta o sonho dos cançar o sonho do milésimo gol no Campeonato Carioca. Mesmil gols. Evidentemente, tal feito, se alcançado, será efusimo em campo, o “Baixinho” encontraria uma barreira natuvamente festejado pela mídia brasileira. ral. Pelos próprios cálculos a 13 gols do Como se ele precisasse disso. milésimo, Romário tem 41 anos e vem Romário foi o maior centroavante de de um desempenho pífio no futebol aussua geração, ou mesmo das últimas getraliano: um gol em quatro partidas. rações. Bons e ótimos jogadores da poAlém disso, desde que o atual formato sição destacaram-se entre 1980 e 2000, de disputa foi adotado no Campeonato mas nenhum como o garoto que desdo Rio de Janeiro, ninguém balançou as pontou no time profissional do Vasco redes 13 vezes (veja quadro). há 22 anos. Existem controvérsias a resÉ verdade que os finalistas de turnos peito dos gols, como os quatro marcadisputarão pelo menos mais um jogo em dos no festivo amistoso América do Rio 2007, mas, ainda assim, é difícil crer 11x5 Amigos de Luisinho, em 1993, e o nesse Romário em fim de carreira bagol sobre o Brasiliense, no Campeonato lançando as redes tantas vezes. Hoje, Brasileiro de 2005, cancelado pela justiele é um jogador lento, sem a exploça desportiva. Todos estão presentes nas são e os reflexos apurados que exibia estatísticas do jogador. no passado. Se no Estadual o desafio é Evidentemente, ele não necessita checomplexo, imagine numa eventual pargar aos tais mil gols cercados de polêticipação do outrora genial atacante mica para deixar o nome gravado. Afino Brasileiro, comprovadamente mais nal, já está na história do futebol e das difícil... Isso com o camisa 11 vascaíno Artilheiros do Copas do Mundo. Sua peregrinação por alguns meses mais velho ainda. Campeonato Carioca* times obscuros em busca da tal marca Melancólico será Romário festejar 2003 Fábio Bala (Fluminense).. 10 só torna difícil, para as novas gerações, os tais mil gols em jogos contra equi2004 Valdir (Vasco) ......................12 entender que aquele veterano que se arpes semiprofissionais que se reúnem 2005 Túlio (Volta Redonda) ......12 rasta em campo foi um goleador como após o expediente. O tempo também 2006 Dodô (Botafogo) ...................9 poucos em todos os tempos. Os fãs do passa para os grandes ídolos, e eles * desde que foi adotada a atual fórmula de disputa Baixinho terão que mostrar DVDs aos precisam respeitar o próprio passado.
Livre de Romário, o Vasco amplia suas chances de apresentar um time competitivo. Se você duvida, compare os desempenhos vascaínos nos Brasileiros de 2005, período no qual lutou contra o rebaixamento mesmo com Romário artilheiro da competição, e 2006, quando ficou a uma posição da Libertadores.
Mal começaram os estaduais, e vieram as cobranças por atuações brilhantes de times como Santos e São Paulo, que estão na Libertadores. Os cartolas não têm coragem de estabelecer prioridades, o que gera uma valorização excessiva e perigosa dos torneios locais. Certo está o Internacional, que começou o Gaúchão com o time B.
O Cruzeiro tem jogadores na Seleção Brasileira sub-20 e exibiu jovens talentos no ótimo time que levou à Copa São Paulo deste ano. A questão é: por quanto tempo eles reforçarão o time profissional antes de entrar no eterno balcão de negócios no qual se transformou o campeão mineiro?
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Peneira
Richards:
inglês com tempero brasileiro uando fez sua estréia pela seleção inglesa, num amistoso contra a Holanda, em novembro, Micah Richards estabeleceu um recorde: tornou-se o defensor mais jovem a atuar pela Inglaterra. Na época, o lateral direito tinha apenas 18 anos e 28 jogos disputados como profissional. Além da precocidade, Richards chama a atenção por sua passagem por uma das “Brazilian Soccer Schools”. Trata-se de uma franquia de escolas que procuram ensinar o futebol usando a “filosofia brasileira”, ou seja, com ênfase na habilidade individual e muitos treinos com bola. Para desenvolver os atletas, elas usam o futebol de salão, modalidade que praticamente não existe na Inglaterra. Em 2004, Simon Clifford, dono da franquia, previu que a seleção inglesa um dia seria
composta só por jogadores formados nas BSS – e Micah Richards é o primeiro. Dentro de campo, o jogador destaca-se pela versatilidade. Geralmente, atua como lateral direito, mas também se sai bem como zagueiro, volante e até atacante. Forte e rápido, é muito bom no jogo aéreo e tem um controle de bola muito acima da média para um defensor. O Tottenham chegou a oferecer € 8 milhões para contar com Richards, proposta prontamente recusada pelo City. Rumores dizem que Chelsea e Arsenal também estariam preparando polpudas ofertas para poder contar com essa mistura de Caribe (seus pais são de São Cristóvão e Névis), Inglaterra e Brasil. [TRA]
(desde 2001)
Phil Noble/Reuters
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Nome: Micah Lincoln Richards Nascimento: 24/junho/1988, em Birmingham (Inglaterra) Altura: 1,80m Peso: 83kg Carreira: Oldham (2000 a 2001), Manchester City
Benzema:
ssim como Zinedine Zidane, Karim Benzema nasceu na França, mas tem origem argelina. É outro ídolo francês, porém, que aposta no jovem atacante como uma futura promessa do país: ao ser questionado recentemente sobre possíveis ganhadores da Bola de Ouro nos próximos anos, Thierry Henry não hesitou em apontar o jovem atacante do Lyon como um futuro premiado. Benzema passou a integrar as categorias de base do Lyon aos nove anos. Em 2004, fez parte da seleção francesa que conquistou o campeonato europeu sub-17. Sua primeira chance no time principal foi na temporada 2004/5. O atacante entrou no decorrer de uma partida contra o Metz e, logo no primeiro toque, deu um chapéu em um adversário e uma assistência para Bryan Bergougnoux. Nesta temporada, as contusões simultâneas de Fred, Carew e Wiltord abriram espaço para que o jovem ganhasse uma seqüência de jogos
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na equipe principal. A sorte, entretanto, não durou muito, e Benzema acabou sofrendo uma lesão muscular, no final de 2006. Antes disso, marcou sete gols, desempenho que lhe valeu uma convocação para a seleção principal – a lesão, porém, o impediu de defender os Bleus. Pouco depois, foi convocado para a seleção argelina, mas recusou o chamado. Tecnicamente, Benzema chama a atenção por sua capacidade de cadenciar o jogo, facilidade em bolas aéreas e precisão nos chutes. Como ponto fraco, precisa aprimorar sua força física, pois sente alguma dificuldade para enfrentar defensores mais fortes. [RE]
Benoit Tessier/Reuters
a surpresa do Lyon
Nome: Karim Benzema Nascimento: 19/dezembro/1987, em Lyon (França) Altura: 1,82m Peso: 74kg Carreira: Lyon (desde 2004)
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Tática, por Carlos Eduardo Freitas
Ah, como
faz falta ao Bayern inguém tinha dúvidas de que a saída de Michael Ballack obrigaria uma série de mudanças no Bayern de Munique. Poucos – entre os quais o próprio técnico Felix Magath – imaginavam, porém, que a transição de uma temporada para a outra seria tão sofrida como anda sendo a atual. Esse problema acontece devido à pouca maleabilidade que o esquema tático favorito do treinador tem. Em todas as equipes por onde passou, Magath armou seus times do mesmo jeito: com quatro zagueiros, um meia marcador, dois meias polivalentes, que jogam pelas alas e ajudam o volante na marcação sempre que necessário, um meia de chegada e dois atacantes. No Stuttgart, por exemplo, esse “meia de chegada” era Aliaksandr Hleb, hoje no Arsenal. No Bayern, era justamente Ballack. Sem jogadores no time com características semelhantes à do capitão da seleção alemã, a primeira tentativa do treinador foi mudar o esquema tático. Abriu mão de seu tradicional 4-1-2-1-2 para jogar no 4-2-2-2, com dois volantes polivalentes (isto é, que sabem criar), dois meias abertos e dois atacantes. Com esse esquema, porém, o time perdeu um jogo e empatou outro. As esperanças do treinador foram renovadas com a chegada de Marc van Bommel, que foi contratado com a incumbência de substituir o antigo camisa 13. Logo de cara, porém, ficou evidente que o holandês não era o homem para o serviço. Isso porque o antigo jogador de Barcelona e PSV rende melhor jogando mais atrás, entre os volantes e o “1” do 4-3-1-2 – tanto que em sua estréia com a camisa do Bayern, fazendo o papel de Ballack, o time perdeu. Foi então que Magath resolveu radicalizar de vez: pôs o Bayern para jogar no 4-3-3, com Makaay, Pizarro e Podolski na frente. Os resultados até que foram bons, mas, mesmo com tantos atacantes, o time não conseguiu fazer muitos gols – embora, com esse esquema, não tenha perdido. Além disso, a defesa ficou muito mais exposta. o que levou os próprios jogadores a reclamarem. O mais enfático foi Oliver Kahn: “Esse esquema é suicida”. E o goleiro tinha razão: apenas com o jovem e inexperiente Andreas Ottl como volante e a dupla Schweinsteiger-Van Bommel na criação, a retaguarda ficava muito mais exposta do que um ano atrás. Depois de testar dois esquemas diferentes, Magath voltou a seu tradicional 4-1-2-1-2, improvisando jogadores: Ottl ou Demichelis como volante, Van Bommel e Salihamidzic no meio e Schweinsteiger fazendo o papel de “1”, completamente fora de sua posição original. É por isso que, seis meses depois da saída de Michael Ballack, o Bayern continua à procura de um jogador para sua posição.
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Pizarro
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M Ballack
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MD Schweinsteiger
Zé Roberto
V Hargreaves
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2. O 4-3-3 “suicida” de 2006/7
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Pizarro
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Podolski
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ME Van Bommel
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Sagnol
G: goleiro / LE: lateral-esquerdo / LD: lateral-direito / Z: zagueiro / V: volante / ME: meia-esquerdo / MD: meia-direito / M: meia / A: atacante
Ballack
1. O 4-1-2-1-2 com Ballack
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Fernando Soutello/Profotto
Entrevista, por Ubiratan Leal e Caio Maia
Bebeto de Freitas não esconde os problemas do Botafogo, que preside, e afirma com ênfase que o clube não pode se recuperar enquanto tiver tantas dívidas m 2006, o Botafogo foi campeão estadual do Rio de Janeiro e, durante algumas rodadas do Brasileirão, animou-se com a possibilidade de disputar uma vaga na Libertadores. Então, pode-se considerar essa a melhor temporada em General Severiano desde que o time caiu para a segunda divisão em 2002, certo? Errado, pelo menos para o presidente do clube, Bebeto de Freitas. Apesar dos resultados em campo terem sido bons, os parâmetros para avaliar o ano do alvinegro são outros. Além da posição final no Campeonato Brasileiro, ele considera mais importante a situação financeira do clube – o estadual, diz, apesar da tradição, é um torneio de relevância secundária. Para o ex-técnico das seleções brasileiras e italiana de vôlei, a situação do clube agravou-se de tal forma em 2005 e 2006 que 2007 pode ser considerado um marco zero para o Botafogo. Isso se a Timemania, loteria a ser criada pelo governo para ajudar os clubes a pagarem suas dívidas tributárias, for implementada, como ele defende. “O Botafogo ficou de tal maneira ao relento que não adianta falar de nada quando se tem uma dívida do tamanho da nossa”, afirma. “Sem um alinhamento fiscal, é ilusão dizer que o clube vai a algum lugar”. O problema teria se agravado em setembro de 2005, com a cobrança de uma dívida de quase R$ 6 milhões. De acordo com Bebeto, a crise tem reflexo direto no time de futebol. Essa seria a razão, por exemplo, para os investimentos modestos em contratações. Além disso, o dirigente diz que as confusões da federação do Estado do Rio atrapalham o planejamento para o estadual. Confira a entrevista, concedida à Trivela na sede do clube, em General Severiano.
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À espera do
ano zero Em 1999, você era o técnico campeão mundial de vôlei (pela seleção da Itália, em 1998), quando foi trabalhar no Atlético-MG. Como se deu essa transição de técnico multivitorioso para dirigente e, depois, candidato a presidente do Botafogo? Com o Mundial da Itália, em 1998, eu consegui tudo o que eu queria no vôlei. Aí, a convite de um amigo meu, fui trabalhar no Atlético-MG. Em 1999, fomos campeões mineiros e vices brasileiros. Vim para o Rio de Janeiro em
2000, voltei ao Atlético em 2001, e chegamos em quarto no Brasileiro. Aí, surgiu a possibilidade de eu me candidatar à presidência do Botafogo, o que sempre foi um sonho meu. Houve uma repercussão boa, e muita gente deu força. O Botafogo estava todo arrebentado, tinha sido rebaixado para a segunda divisão, e eu achei que fosse a hora. Não foi nem forçado, mas chega uma hora... ...que não tem outros desafios? Até teria. Como ainda tenho, pois até hoje me ligam, me chamam, me fazem
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sondagens. Mas o chamado do Botafogo é muito forte. O clube sempre esteve na minha casa, na minha família. Não é uma coisa à qual eu possa ser indiferente. Sempre senti que teria de trabalhar pelo Botafogo, em troca de tudo o que ele fez por mim. Foi por meio dele que fiz minha carreira profissional. Surgiu o projeto, e a gente começou a trabalhar. Na época, não tínhamos idéia do tamanho da desgraça em que o clube estava. Entramos meio na cara e na coragem e assim tocamos o Botafogo até agora.
Quando haverá condições para tocar o clube não só “na cara e na coragem”? A única chance que o Botafogo tem de se reerguer é a Timemania. Se ela entrar em vigor no início de 2007, este será o ano zero do Botafogo. Se demorar muito mais, nem a Timemania vai adiantar. O clube cresceu em 2003, 2004 e 2005, até setembro. Desde então, está sendo empurrado pelos pulmões de uns malucos que nem eu. O que aconteceu em setembro de 2005 para que a situação piorasse?
Como sempre, as dívidas. Em outubro e novembro de 2005, tivemos uma penhora fiscal que nos tirou quase R$ 6 milhões, relativa a uma ação de 1993. Imagina como essa dívida veio se arrastando todos esses anos. É com esse tipo de coisa que temos de conviver. A dívida do Botafogo com o governo está em mais de R$ 100 milhões, mas ninguém consegue saber o valor exato. Por quê? Como muitas dessas dívidas estão com processos em andamento, não há como avaliar precisamente. O clube contratou auditoria da Trevisan, e chegou-se a esse valor aproximado. Por isso, a Timemania é tão importante. Ela vai permitir um alinhamento fiscal do clube. Sem isso, do ponto de vista prático, é ilusão dizer que o Botafogo vai a algum lugar. Você não acha que, da maneira como a Timemania está na legislação, há o risco de algum clube não utilizar o dinheiro como deveria? O dinheiro não entra em clube nenhum. Os valores são descontados da dívida, o que é a garantia absoluta que você vai pagar o que está devendo. Você hoje faz mais política do que esperava quando foi eleito? O que você entende por “fazer política”? Falar de Timemania, por exemplo. O Botafogo ficou de tal maneira ao relento que não adianta falar de nada quando se tem uma dívida do tamanho da do Botafogo. Hoje, o problema do clube não é o time de futebol, se ele ganha ou perde em campo. Não adianta ganhar e continuar com os problemas do Botafogo como empresa. A penhora que apareceu em 2005 é origem de uma dívida de 1993. Um ano antes, o Botafogo havia sido vicecampeão brasileiro e dois anos depois foi campeão nacional. É uma prova que os problemas vinham desde a época em que o Botafogo estava bem? O Botafogo foi campeão brasileiro em 1995 com quatro meses de salários atrasados. Isso vem de longe. Ninguém consegue contrair mais de R$ 100 milhões de dívida em tão pouco tempo.
A única chance que o Botafogo tem de se reerguer é a Timemania
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trabalhistas no Tribunal Regional do Trabalho) e, para as questões cíveis, buscaríamos uma forma de negociar com os credores e pagar mensalmente a dívida. O projeto da Companhia Botafogo S.A. está pronto desde 2003 e foi aprovado por 95% do conselho deliberativo. Estou há quatro anos com a companhia pronta, mas, em função da dívida fiscal, não adianta montá-la. Se fizéssemos isso, no momento em que um investidor aparecesse, a Justiça pegaria tudo. A empresa estaria fadada a falir antes de começar a operar. Nesse projeto, como a empresa Botafogo captaria recursos? Como qualquer outra empresa. No momento em que tivermos a certidão negativa, poderemos capitalizar a empresa com o que acharmos necessário. Entrariam aí todas as vendas, diretas e indiretas, do futebol como negócio esportivo: patrocínio, bilheteria, televisão, placas, merchandising, TV digital, celular. Além disso, os clubes têm de criar situações que gerem para o futebol brasileiro mais receitas. Por exemplo, os clubes brasileiros precisam fazer com que os eventos tenham melhores premiações. Um meio de conseguir isso seria nos aproximarmos mais dos outros sul-americanos e dos clubes da América Central e do Norte, que têm um crescimento fantástico nos investimentos. Vocês pensaram em ações na bolsa? Isso é precoce no Brasil, pois ainda vivemos em uma economia muito incipiente para pensar nesse assunto. Esse seria o caminho natural: quando uma empresa cresce, se capitaliza e se estrutura financeiramente, ela se torna interessante para o mercado. Vê-se no clube, nas arquibancadas, que o Botafogo é um dos times brasileiros que melhor trabalham o uso de seus ídolos do passado para reforçar a marca. Por que o clube investiu tanto nesse nicho? No momento mais agudo da crise, a história do Botafogo era a única coisa que havia para “vender”, apesar de eu não gostar dessa palavra, para esse
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Apesar dos problemas desde setembro de 2005, o Botafogo foi muito bem em campo em 2006. Você concorda? Acho que no ano anterior foi melhor. Mas o time foi campeão estadual. Isso não conta? O campeonato estadual está no meio de tudo, mas o que define a temporada é o Campeonato Brasileiro. Estadual é reminiscência do passado de todos nós, mas, na realidade, a temporada no Brasil começa com Copa do Brasil, e tem a Libertadores, o Brasileiro e a Sul-Americana. São os quatro campeonatos importantes. O Estadual do Rio é fundamental porque motiva os torcedores e, por ser no início do ano, permite que se façam investimentos e se prepare efetivamente para o resto da temporada. De qualquer forma, ter um ano bom em campo é importante, mas o que é decisivo para se crescer é ter um ano bom fora do campo. Sem o clube forte, não se pode investir no time. Suponhamos que a Timemania entre em vigor e, de acordo com seu plano, a dívida fiscal botafoguense seja equacionada. Como seria o futuro para o Botafogo a partir daí? Resolvendo o problema da dívida com o governo, há outras duas coisas importantes: as dívidas trabalhistas e as cíveis. Nenhuma delas é pequena para o Botafogo, pois estão em torno de R$ 40 milhões cada. Para solucionar tudo isso, é preciso fazer operações que permitam ao clube trazer novas receitas. Isso só é possível se criarmos uma empresa para administrar o futebol. A dívida permaneceria no Botafogo de Futebol e Regatas, que encontraria formas de pagá-las. Então, o futebol seria independente e haveria um projeto para o clube social cuidar das dívidas? Isso. Com o futebol se tornando uma empresa sem nenhum problema financeiro, dá para atrair investidores, parceiros ou receitas em outras ações. Para o clube, ficaria a Timemania, o TRT (15% de todas as receitas do Botafogo vão para resolver processos
caso. Era o único produto com o qual se poderia capitalizar para tocar o clube, para respirar com orgulho e dignidade, trazendo de volta os torcedores. Por mais sofridos que os botafoguenses sejam, o orgulho de seu passado é a arma mais forte para o futuro. Falando no futuro, o Cuca renovou para 2007, e o Botafogo terá o mesmo técnico do ano anterior, o que não vinha ocorrendo. Por que é difícil manter um treinador o ano inteiro? Depende muito de o técnico criar perspectiva, estrutura e uma plataforma com objetivos concretos. É claro, porém, que há incoerência nesse racio-
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cínio, pois sempre há a expectativa de montar um time para ganhar amanhã. Isso é um mal do clube, dos torcedores, da imprensa e dos dirigentes, que são torcedores normais, mas com poder para fazer algo diretamente. Como esse “torcedor normal, mas com poder para fazer algo” lida com as próprias emoções, para segurar o bolso mesmo com o time mal em campo? É muito difícil. Se alguém aparecesse com uma proposta de R$ 1 bilhão para o Botafogo levar o Ronaldinho logo depois de uma derrota, daria vontade de assinar o cheque e depois pensar em como pagar. Mas não posso fazer isso.
O Botafogo trabalha com teto salarial. Quanto isso atrapalha o clube na negociação com os jogadores? O termo “teto salarial” não é correto. O clube tem de andar para frente com suas receitas. Por exemplo, para não perder os benefícios da Timemania, tem de ficar em dia com seus encargos daqui em diante. Então, não adianta colocar os gastos lá no alto e pensar “acho que vai dar para pagar”. Não existe isso. Se o Botafogo não tentar equilibrar seu caixa, é o único que tem a perder. Já que o clube não pode estipular salários tão altos, o que pode fazer para não perder um o jogador que se valorize?
Isso está diretamente ligado à forma como o clube contrata e às possibilidades que tem na hora de contratar. Se o Botafogo tiver poder de investimento maior, terá mais condições de fazer um contrato que resguarde seus direitos e de deixar o jogador sair apenas quando o clube quiser. Não dá para achar que o maior jogador do Brasil vai ficar em um time com R$ 5 mil por mês se outra equipe oferecer R$ 150 mil. Antes de você assumir, o Botafogo foi campeão estadual em diversas categorias de base, mas ninguém daquela geração estourou. Como está o trabalho na base do clube? Fevereiro de 2007
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A legislação dá poder às federações e usa os clubes, que, mesmo assim, poderiam se mexer dentro da lei. Só que eles não fazem nada
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Ainda está muito aquém do que tem de ser feito. Quando entrei aqui, em 2003, o Botafogo tinha acabado de perder Marechal Hermes (bairro onde está o centro de treinamento das categorias de base botafoguenses). Ainda trabalhamos lá, mas o local não pertence mais ao Botafogo, e não foi possível realizar investimentos em estrutura. Não se pode achar que será criada alguma coisa sem estrutura adequada. O primeiro passo é recuperar Marechal Hermes, para, depois, investir em um CT moderno lá. Uma questão recorrente no Botafogo é a do estádio. Falou-se em reformar Caio Martins, em usar o estádio do Pan e em construir um estádio em parceria com o Fluminense. Ainda houve as experiências em Volta Redonda e na Ilha do Governador. Qual é o projeto do clube para o futuro? Sem estádio, nenhum clube vai para frente como negócio, mas a questão do estádio do Botafogo está diretamente ligada ao problema fiscal. Um investidor põe R$ 50 milhões no Botafogo, para construir um estádio, e o dinheiro pode sair para cobrir outros buracos.
Mas qual é o projeto? Há um projeto próprio adiantado, e até conversei com algumas pessoas, mas não adianta fazer o telhado se não existir a fundação. Por causa do problema contábil do clube, o que se pode fazer é uma empresa construir um estádio e chamar o Botafogo para jogar lá, mas seria a mesma coisa que existe com o Maracanã. Precisa haver participação do clube na sociedade do estádio. E o Caio Martins? O Botafogo jogou a Segundona lá, e a torcida gosta. Até foram vendidos camarotes lá, que o clube deixou de lado. Não é verdade que deixamos o estádio e os camarotes de lado. Jogamos lá em 2003 e 2004. Em 2005, jogamos na Portuguesa e, em 2006, no Maracanã, por causa de uma série de projetos que havia com os clubes e o estádio. O problema de Caio Martins é que o clube precisa de um local de treinamento. De que forma a indefinição sobre a tabela do estadual, o número de participantes e até a validação da seletiva atrapalhou o planejamento do Botafogo para o início do ano? Totalmente! Teria negociado um campeonato diferente, estaria trabalhando com possíveis patrocinadores e delinearia objetivos desde junho de 2006, para um campeonato que começaria em janeiro. Até dezembro, porém, estava tudo parado. Perdi seis meses que poderia usar para procurar recursos. Há alguns anos, Botafogo, Flamengo e Fluminense articularam a criação de uma liga de futebol do Rio, que acabou não vingando. O que aconteceu? O Fluminense deu para trás. A questão não era da liga em si, mas de ser contra o que acontecia na federação do Rio. O Fluminense, infelizmente, não veio conosco e apoiou o caos em que vivíamos no período. Vocês ainda falam nisso? Temos de encontrar as soluções para resolver os problemas, mas, quando tentamos, batemos em algo que nos impede de mudar. É tudo fragmentado. Aqui no Rio de Janeiro, por exemplo, temos
um problema seriíssimo de ingressos. Se todos os clubes brasileiros se juntassem, não fariam um contrato melhor de ingresso? Se todos os clubes se juntassem para fazer um contrato com empresa X ou empresa Y para qualquer coisa, não teriam mais condição de negociar? Só que um clube quer ganhar mais que o outro, e ninguém avança. Ainda estamos presos em cima de uma série de coisas que saem fora da lógica do esporte profissional. Isso acontece em todos os esportes no Brasil. Além de mudar a legislação, isso não seria questão de os clubes se unirem? Com certeza. A responsabilidade é toda dos clubes. Eles são os responsáveis. Há uma legislação esportiva madrasta, fracassada, que dá poder às federações e usa os clubes. Aqui, existe supostamente um esporte profissional, mas cujo “player” – o clube – não conta com 100% de seus direitos preservados. De qualquer forma, ainda é possível os clubes se mexerem dentro dos limites da lei, se quisessem. Só que eles não fazem nada. No Botafogo, seu grupo conseguiu superar o esquema que existia dentro do clube e foi eleito. Em vários outros lugares, chapas que pregam a modernização têm o apoio de torcedores, mas não conseguem superar o velho poder. O que teve de diferente no Botafogo? A diferença era a situação do Botafogo. O time tinha acabado de cair para a segunda divisão, e não tinha como manter o que estava. Quando você entrou, o Carlos Augusto Montenegro (ex-presidente do Botafogo) era seu opositor, mas, agora, vocês trabalham juntos. Como se deu essa reconciliação? Nunca houve briga. O Montenegro é tão maluco pelo Botafogo quanto eu. Eu sempre pensei em como resolver os problemas do Botafogo. Se eu pudesse ser campeão todo ano, obviamente que eu queria ser campeão todo ano, de todos os campeonatos que o Botafogo disputa. Só que, para que eu tenha a possibilidade de tentar isso, tenho de ter a casa arrumada.
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Copa São Paulo, por Ubiratan Leal
Encanto
perdido Inchada e com relevância cada vez mais contestada, a Copa São Paulo perde a aura de suposto “celeiro de craques” do futebol brasileiro e sobrevive pela tradição Flamengo dominou o futebol sub-20 no Rio de Janeiro em 2006. Venceu um estadual por semestre, sempre batendo o Fluminense na decisão. Apesar desse currículo, o único Flamengo entre os 88 participantes da Copa São Paulo 2007 é o de Guarulhos. O carioca preferiu ficar em casa treinando, dando espaço para Ecus, Força e Lençoense – que caíram na primeira fase do Paulista sub-20 da segunda divisão – disputarem a principal competição de categorias de base no Brasil. Ao que parece, a “Copinha” já não é tão importante para os grandes clubes de fora de São Paulo – tanto que a atitude flamenguista não é inédita. O clube da Gávea não havia disputado o tor-
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Dá para acompanhar? Veja os 88 participantes da Copa São Paulo de 2007. É possível avaliar as possíveis revelações de todas essas equipes?
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neio em 2006, ano no qual o Vasco, que já ficara de fora em 2005, também não participou. “Fiz uma avaliação técnica e considerei que não haveria muitos benefícios em disputar o torneio”, explica Rivellino Serpa, coordenador técnico das categorias de base do Flamengo. “Sempre segui a Copa São Paulo e sei da importância que ela teve, mas seu espírito perdeu-se há muito tempo”. Um dos fatores que minam a Copa São Paulo é a concorrência com outros torneios. Em 2007, como em todos os anos ímpares, os principais jogadores juniores do Brasil não participaram da Copinha, mas do Sul-Americano sub-20. Além disso, os clubes profissionais tratam de levar suas promessas ao público em seus elencos prin-
Acre (1) Rio Branco
Bahia (3) Bahia, Fluminense e Vitória
Alagoas (1)
Ceará (1)
CRB
Fortaleza
Goiás (2) Goiás e Vila Nova
Distrito Federal (2)
Trem
Brasiliense e Gama
Amazonas (1)
Espírito Santo (2)
Nacional
Serra e Vitória
Cene e Comercial
Maranhão (1) Comerciário
Amapá (1)
Mato Grosso do Sul (2)
Mato Grosso (3) Barra do Garça, Luverdense e União Rondonópolis
Minas Gerais (3) América, Atlético e Cruzeiro Pará (1) Paysandu
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Wander Roberto/Vipcomm
Apesar das críticas, final entre São Paulo e Cruzeiro ajuda a manter a aura da “Copinha”
Paraíba (1) Campinense
cipais. São os casos do gremista Lucas, do colorado Alexandre Pato e do madridista Marcelo, que nunca jogaram o torneio paulista. Outro problema é o inchaço da competição. Com 88 clubes (como na edição de 2007), os talentos que poderiam aparecer são diluídos pelas várias sedes e grupos, cheio de times irrelevantes e sem critério de classificação por estado (veja tabela). De acordo com Alcir Portela, supervisor das categorias de base do Vasco, esse foi o principal motivo para o clube ter preterido o torneio, em 2005 e 2006. “Os grandes vinham sendo desprestigiados, com muito espaço para empresários, os únicos que tiravam real proveito da Copa São Paulo”, comenta. Portela preferiu ser evasivo quando perguntado o que teria mudado em 2007 para os vascaínos retornarem à competição: “Como em tudo no clube, o presidente analisou a situação e viu que valia a pena voltar”. A federação paulista, porém, ironiza a reclamação dos clubes de outros estados. “Acho estranho quando vejo eles reclamarem do excesso de times da Copa São Paulo, pois toda federação estadual me pede cinco ou seis vagas”, comenta Marco Pólo del Nero, presidente da FPF. “Mantemos o número alto porque queremos fomentar o futebol, levando alegria a 22 cidades em todo o estado”, discursa, sem convencer.
Categoria inexistente De fato, houve mudanças para a “Copinha”, neste ano. A federação paulista exige que o jogador tenha contrato com o clube desde outubro do ano anterior. Com isso, reduz o risco de empresários montarem equipes provisórias, apenas para disputar o torneio. Para alguns clubes, a medida foi bem sucedida. “Era muito comum o empresário oferecer o jogador para times grandes e, quando não conseguia encaixar seu atleta, buscava em cima da hora alguma equipe menor”, conta Francesco Moretto Júnior, diretor da categoria júnior do São Paulo. Ainda assim, o são-paulino considera a presença dos agentes inevitável e vê como obrigação do clube adaptar-se a isso. “Temos de sair na frente do empresário, pegando as revelações antes deles”, comenta, sem esconder que o São Paulo também usa a “Copinha” para observar os talentos das equipes adversárias.
Piauí (1) Fluminense
Paraná (5)
Rio de Janeiro (4)
Atlético, Coritiba, Iraty, Londrina e Paraná
Botafogo, Fluminense, São Cristóvão e Vasco
“Sempre queremos captar as promessas que aparecerem”. Outra mudança, essa mais polêmica, foi a alteração da idade limite de 20 para 18 anos. A medida evita que as equipes estejam desfalcadas de atletas profissionalizados. O problema é que as categorias de base são divididas em sub-17 (antigo “juvenis”) e sub20 (antigo “juniores”). Ou seja, não existem competições sub-18. Esse é o motivo oficial para a desistência do Flamengo da Copa São Paulo. O time sub-20 (que tem jogadores de 18 a 20 anos) esteve em atividade até dezembro de 2006 e voltaria de férias cinco dias antes da estréia. “Não havia tempo hábil para montar um time sub-18, meio júnior, meio juvenil. Além disso, não valia a pena montar uma equipe que nunca esteve junta antes e nunca estaria junta depois apenas para jogar um torneio de 19 dias”, comenta Rivellino Serpa. O improviso de um time sub-18 só não é maior em alguns casos porque os atletas de 19 e 20 anos estão naturalmente saindo das categorias de base. É o caso do Cruzeiro. “Nosso time júnior é muito jovem, porque os jogadores de 19 e 20 anos estão no time profissional ou foram emprestados para equipes do interior”, conta Roger Galvão, supervisor das categorias de base cruzeirenses. Com esses problemas estruturais, a Copa São Paulo acaba fazendo muito pouco para cumprir seu lema informal de ser um “celeiro de craques” – sobretudo para os grandes clubes, que têm outras oportunidades durante o ano para testar seus jovens. Ainda assim, ela sobrevive. Um aspecto positivo da competição levantado pelos dirigentes entrevistados pela Trivela é que ela ainda oferece a melhor chance para as equipes das categorias de base de estados diferentes se enfrentarem, o que serve para dar experiência aos jovens. “O garoto tem de jogar contra o São José com o estádio cheio torcendo pelo adversário. É importante o jogador acostumar-se com esse tipo de pressão”, diz Portela, do Vasco. Ao que tudo indica, porém, o elemento mais forte para que a “Copinha” permaneça viva é sua tradição, que leva a uma maior exposição midiática. Como é o único torneio de categoria de base transmitido em rede nacional, muitos jogadores vêem na competição a possibilidade de chamar a atenção de um clube grande. Resta saber se isso de fato continua a ocorrer.
Rio Grande do Sul (4)
Santa Catarina (2)
Grêmio, Internacional, Juventude e São José (Porto Alegre)
Avaí e Figueirense
Sergipe (1) Rondônia (1)
Guarany
Genus Rondoniense
Pernambuco (1)
Rio Grande do Norte (1)
Roraima (1)
Porto
ABC
Náutico
Tocantins (2) Gurupi e Tocantinópolis
São Paulo (40) América, Amparo, Atlético Sorocaba, Barueri, Campinas, Comercial, Corinthians, Ecus, Ferroviária, Flamengo, Força, Guarani, Jacareí, Juventus, Lençoense, Marília, Mirassol, Nacional, Noroeste, Osasco, Palmeiras, Paulista, Ponte Preta, Portuguesa, Rio Branco, Rio Preto, Santo André, Santos, São Bento, São Bernardo, São Caetano, São Carlos, São José, São Paulo, Sertãozinho, Taboão da Serra, Taubaté, União São João, XV de Jaú e XV de Piracicaba
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Parceria em Campinas, por Gustavo Hofman
Campanha terá a mesma cara para as duas equipes
Rivalidade deixada
de lado Guarani e Ponte Preta firmam acordo histórico na área de marketing e tornam-se parceiros comerciais m dia de dérbi entre Guarani e Ponte Preta, Campinas pára. Apesar de ser uma das maiores cidades do Brasil, com 1 milhão de habitantes, o clássico entre os rivais ainda tem a capacidade de mobilizar as atenções da população. No entanto, a histórica rivalidade tem sido deixada de lado em função da crise que atinge os dois clubes. Recentemente, Guarani e Ponte anunciaram uma parceria no setor de marketing que resultou, de imediato, no lançamento conjunto da campanha Sócio Torcedor, com o mote “custa pouco apoiar seu time no estádio”. Além disso, os clubes agora buscam um patrocinador único, que possa expor sua marca em Campinas sem ter a resistência dos torcedores de um dos lados. Não por acaso, a medida coincidiu com o rebaixamento do Guarani para a terceira divisão do Campeonato Brasileiro e da Ponte para a Série B, ocorridos no mesmo fim de semana, em 2006. Para piorar a situação, os dois clubes carregam dívidas enormes e sofrem todo mês para pagar sa-
E
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lários de jogadores e funcionários. A situação do Guarani é mais caótica. Com dívidas que chegam a R$ 50 milhões, cotas de TV que foram recebidas antecipadamente e as rendas dos jogos penhoradas pela Justiça do Trabalho, a diretoria não via alternativas para conseguir verbas e manter o elenco profissional. Na Ponte, apesar do passivo ser muito inferior ao do rival, a dificuldade em sanar seus compromissos deixa o caixa no vermelho, invariavelmente. Com essa situação, diretores do Bugre e da Macaca iniciaram conversas há alguns meses para selar uma parceria de marketing. Sem revelar de quem partiu a iniciativa e com o discursos afinados, Mercival Piron e Uéselis Amaral, diretores de marketing de Guarani e Ponte Preta, respectivamente, assumiram o comando e unificaram parte da comunicação dos maiores rivais. “A exigência da profissionalização é muito grande. Reparamos que a aceitação da marca Guarani estava muito baixa e iniciamos algumas conversas com empresas da região, que sempre apontavam a necessi-
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Carlos Eduardo Moura
Historicamente, os dois clubes campineiros sempre foram reconhecidos como grandes reveladores de talentos, o que tem diminuído nos últimos anos. “A idéia é que Campinas volte a ser um celeiro de craques”, garante Piron, que assumiu o cargo no clube há cerca de sete meses, junto com a nova diretoria, encabeçada pelo presidente Leonel Martins, que sucedeu o desastre comandado por José Luiz Lourencetti – responsável por quatro rebaixamentos do clube, de 2001 a 2006. Entre os projetos futuros da parceria, está também um alvo fundamental quando o assunto é marketing esportivo: licenciamento de produtos. Tanto Guarani como Ponte ainda engatinham no assunto, mas, de acordo com os dois diretores de marketing, essa será uma das estratégias para o aumento da renda dos clubes.
Piron, do Guarani, é um dos idealizadores da parceria
dade de patrocinar um ‘produto Campinas’, e não somente um clube. Com isso, vimos que o melhor era os dois times se juntarem em alguns pontos”, afirma Piron. Na mesma linha, Amaral completa o discurso. “Durante 2006, prospectamos muitas empresas de Campinas, e sempre me incomodou muito perceber que nenhuma investia em marketing esportivo. O que eu mais escutava é que elas não podiam patrocinar somente uma equipe da cidade”. Acertada a parceria entre os rivais históricos, o Sócio Torcedor tornou-se seu projeto inicial, muito inspirado nos modelos de São Paulo e Internacional. Todo o visual de banners e outdoors das campanhas é o mesmo – uma única agência foi contratada para o serviço –, o que muda somente é a cor. O preço cobrado para associação – R$ 30 mensais – é o mesmo para bugrinos e pontepretanos, o que leva a uma certa disparidade. Apesar de estarem em competições diferentes, tanto em nível estadual (Ponte na A1 e Guarani na A2), como nacional, as duas diretorias de-
finiram o valor dos ingressos normais em R$ 20. É uma forma de valorizar o programa, mas que acaba por cobrar valores iguais por produtos diferentes. Ao adquirir a carteirinha, o torcedor terá direito a acompanhar os jogos de seu time na cidade sem ter que comprar ingresso, a descontos nas lojas oficiais, a entrada e assentos exclusivos no estádio e a participar em sorteios de brindes durante os jogos, além de receber boletins informativos dos clubes. Vale lembrar que a carteirinha do bugrino não vale no Estádio Moisés Lucarelli (da Ponte), assim como a do pontepretano não tem qualquer significado no Brinco de Ouro da Princesa (do Guarani). O direcionamento dos recursos obtido é de decisão de cada clube, e nisso eles diferem um pouco. Enquanto o Guarani, pelo menos inicialmente, precisa do dinheiro para pagar em dia o departamento profissional, a Ponte pretende investir boa parte dele nas categorias de base. Aliás, esse é outro ponto em que os rivais concordam: é preciso voltar a revelar jogadores.
Reação da torcida Por incrível que pareça, já que é senso comum afirmar que o torcedor é apenas passional, a recepção de bugrinos e pontepretanos ao projeto foi excelente. A enorme maioria apoiou a idéia, que tem como pano de fundo a competição entre as duas torcidas para ver quem conquista mais sócios. “Naturalmente, alguns torcedores ficaram assustados com a idéia inicial de parceria com o Guarani. Do ponto de vista profissional, temos uma boa relação com o Bugre, o que também não significa que vamos parar de torcer para eles perderem”, alfineta o diretor de futebol da Ponte, Sebastião Arcanjo. Para o vice-presidente do Guarani, José Carlos Meloni Sícoli, essa pequena reação também é normal. “É difícil analisar a reação da torcida, mas os mais racionais vão saber separar a paixão da parte comercial”, afirma o dirigente. Independentemente de qualquer posição, o projeto Sócio Torcedor e todas as outras iniciativas de marketing em conjunto de Guarani e Ponte Preta são um pequeno passo a caminho da profissionalização. São ótimas idéias, mas que na prática ainda precisam ser muito aperfeiçoadas para efetivamente darem resultados e dividendos aos clubes campineiros. Primeiro de tudo, precisam ser de fato implementadas. Fevereiro de 2007
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Copa Libertadores, por Ubiratan Leal
Somos tão bons assim? O Brasil monopolizou as duas últimas finais da Copa Libertadores, mas isso não significa que exista uma hegemonia na América do Sul esde que o regulamento passou a permitir uma final entre dois times do mesmo país, em 2000, a Copa Libertadores só teve duas decisões domésticas. Elas aconteceram justamente nas duas últimas edições, em ambas com clubes brasileiros. Com isso, começou a surgir uma idéia de que os times do país estariam um nível acima dos vizinhos de continente. Essa teoria será colocada à prova a partir deste mês, com o início da edição 2007 da principal competição das Américas. Os números nos duelos entre brasileiros e estrangeiros (veja tabela ao lado) dão uma boa medida dessa relação de forças. Desde 2000, quando a Libertadores passou a aceitar mais de três equipes por país, o melhor desempenho brasileiro contra estrangeiros foi em 2001, com 75% de aproveitamento de pontos. Naquele ano, o máximo que um time brasileiro conseguiu foi chegar às semifinais, com o Palmeiras. Em 2005 e 2006, quando houve finais nacionais, o desempenho brasileiro não foi nada espetacular, com 60,5% e 58,3%. Comparando os números ano a ano, evidencia-se o fato que o desempenho do Brasil contra o resto da América do Sul (e o México) não mudou muito ao longo do tempo – independentemente de os clubes brasileiros chegarem ou não à final. Salvo em 2001 e 2002,
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quando houve variação acentuada, o índice tem se aproximado de 60% (equivale a três vitórias e duas derrotas a cada cinco jogos). Esse número mostra que realmente há uma superioridade técnica dos clubes brasileiros em relação à maioria dos adversários. Isso é natural, pelo poder econômico, pela tradição e pela capacidade de gerar talentos do Brasil. Fica claro, porém, que a distância não é grande a ponto de se falar em uma supremacia consolidada – até porque as virtudes dos times brasileiros são compartilhadas com argentinos e mexicanos, também tradicionais, ricos (para os padrões latino-americanos) e com talento (os argentinos criam os seus, os mexicanos importam). Basta ver os números de Argentina e México. As marcas brasileiras são ligeiramente melhores, na média. Ainda assim, nem sempre essa tendência se confirma. Em 2005, quando a final foi brasileira, os mexicanos tiveram melhor aproveitamento. Em 2003, mesmo com o Gimnasia La Plata caindo na primeira fase, os argentinos alcançaram o que os europeus chamam de “média inglesa” (pontos equivalentes a vencer todas as partidas em casa e empatar todas fora). O que conta pontos a favor das equipes brasileiras é que,
A final entre São Paulo e Inter, por si só, não significa que haja uma supremacia brasileira na Libertadores
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Jeferson Bernardes/Vipcomm
por causa de critérios esdrúxulos de classificação, nem sempre os representantes argentinos e mexicanos na competição são os melhores times de seus países. Pelo acordo entre Conmebol, Concacaf e federação mexicana, os dois últimos campeões do México (no caso de 2007, Pachuca e Chivas Guadalajara) são obrigados a priorizar a Copa dos Campeões da Concacaf. Por isso, as vagas astecas são preenchidas pelo vencedor de um playoff entre os dois campeões de dois anos antes, além de uma repescagem (chamada Interliga) entre outras oito equipes que não conquistaram um lugar em competições internacionais. Na Argentina, o problema é a incompatibilidade de calendários, pois os platinos usam o europeu, com início em agosto. Assim, os representantes do país na Libertadores 2007, por exemplo, saíram na temporada 2005/6. De lá para cá, times como Gimnasia La Plata e Banfield entraram em decadência, enquanto o Estudiantes cresceu e tornou-se campeão do Apertura 2006. Ou seja, o atual campeão argentino, bem como o último vencedor do México, não vão à Libertadores.
Adversários para 2007 A tendência que indica Brasil, Argentina e México à frente dos demais não deve mudar muito em 2007. Internacional e São Paulo, pelos times e pelo histórico recente, partem como favoritos ao título. As duas equipes contam com uma base sólida e jogadores de comprovada eficiência em posições-chave, além de terem os líderes (Fernandão e Rogério Ceni) fundamentais para conduzir a equipes nos aguerridos jogos da Libertadores. No entanto, não se vê os demais representantes brasileiros tecnicamente muito acima de argentinos e mexicanos, que têm condição financeira de montar elencos fortes.
Quem manda na América? Confira o desempenho de brasileiros, argentinos e mexicanos contra equipes de outros países na Libertadores, desde 2000 BRASILEIROS
Ano V E D
% Clubes
ARGENTINOS V E D
% Clubes
MEXICANOS V E D
Finalistas
% Clubes
2000 20 4 10 63,7
Atlético-MG, Atlético-PR, Corinthians, Juventude e Palmeiras
15 12 7 55,8
Boca Juniors, River Plate, Rosario Central e San Lorenzo
14 8
8 55,5
Atlas e América
Boca Juniors (ARG) Palmeiras (BRA)
2001 22 6
Cruzeiro, Palmeiras, São Caetano e Vasco
23 8 13 58,3
Boca Juniors, River Plate, Rosario Central, San Lorenzo e Vélez Sársfield
11 3
8 54,5
Atlante e Cruz Azul
Boca Juniors (ARG) Cruz Azul (MEX)
2002 17 7 14 50,9
Atlético-PR, Flamengo, Grêmio e São Caetano
16 7 15 48,2
Boca Juniors, River Plate, San Lorenzo, Talleres e Vélez Sársfield
18 5
3 75,6
América e Morelia
Olimpia (PAR) São Caetano (BRA)
2003 22 9
Corinthians, Grêmio, Paysandu e Santos
22 10 6 66,6
Boca Juniors, Gimnasia La Plata, Racing e River Plate
12 5
9 52,6
Cruz Azul e Pumas
Boca Juniors (ARG) Santos (BRA)
2004 24 12 11 59,6
Coritiba, Cruzeiro, Santos, São Caetano e São Paulo
20 11 12
Boca Juniors, Independiente, River Plate, Rosario Central e Vélez Sársfield
8
5
3 60,4
América e Santos
Once Caldas (COL) Boca Juniors (ARG)
2005 20 9
Atlético-PR, Palmeiras, Santo André, Santos e São Paulo
17 13 12 50,8
Banfield, Boca Juniors, Quilmes, River Plate e San Lorenzo
14 9
5 60,7
Chivas, Pachuca e Tigres
São Paulo (BRA) Atlético-PR (BRA)
Corinthians, Goiás, Internacional, Palmeiras, Paulista e São Paulo
19 8 13 54,2
Estudiantes, Newell’s Old Boys, River Plate, Rosario Central e Vélez Sársfield
10 8 10 45,2
Chivas, Pumas e Tigres
Internacional (BRA) São Paulo (BRA)
4
75
9 62,5
9 60,5
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Armada hispânica
Veja como se classificaram as 32 equipes estrangeiras que disputam a Libertadores 2007, desde a fase preliminar
Santa Cruz 1946
Alianza Lima
América
Audax Italiano
Banfield
Blooming
Boca Juniors
Campeão do Apertura 2006
Vice-campeão da Interliga 2007
Vice-campeão do Clausura 2006
Quarta melhor campanha na temporada 2005/6
Campeão do Apertura 2005
Campeão do Apertura 2005 e do Clausura 2006
Bolívar
Caracas
Cerro Porteño
Cienciano
Cobreloa
Colo Colo
Campeão do Apertura 2006
Campeão do Clausura 2006
Campeão do Clausura 2006
Campeão do Clausura 2006
Melhor campanha na primeira fase do Clausura 2006
Campeão do Apertura e do Clausura 2006
Cúcuta
Danubio
Defensor Sporting
Deportivo Pasto
Deportivo Táchira
Campeão do Finalización 2006
Vice-campeão da Copa Artigas 2006
Campeão da Copa Artigas 2006
Campeão do Apertura 2006
Melhor campanha na temporada 2005/6, entre os que não conquistaram um título
El Nacional
Emelec
Gimnasia y Esgrima La Plata
LDU Quito
Libertad
Campeão equatoriano de 2006
Terceiro colocado no Campeonato Equatoriano 2006
Segunda melhor campanha na temporada 2005/6
Vice-campeão equatoriano de 2006
Campeão do Apertura 2006
Nacional
Necaxa
Real Potosí
River Plate
Sporting Cristal
Campeão do Clausura 2006
Campeão da Interliga 2007
Vice-campeão do Apertura 2006
Terceira melhor campanha na temporada 2005/6
Melhor campanha na temporada 2006, entre os que não conquistaram um título
Tolima
Toluca
UA Maracaibo
Vélez Sársfield
Melhor campanha na temporada 2006, entre os que não conquistaram um título
Vencedor do playoff entre campeões do Clausura e do Apertura 2005
Campeão do Apertura 2005
Quinta melhor campanha na temporada 2005/6
Melhor campanha na temporada 2006, entre os que não conquistaram um título Papel esperado Altitude do estádio
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Figurante Até 400m
Coadjuvante, mas pode complicar quando joga em casa De 401 a 1.000m
De 1.001m a 2.000m
Tem potencial para ser a surpresa do torneio
De 2.001m a 3.000m
Candidato ao título
Mais de 3.000m
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Jorge R. Jorge
Times mexicanos e argentinos não ficam atrás de brasileiros como o Flamengo
De fato, há equipes estrangeiras com capacidade para brigar pelo título ou, ao menos, complicar a vida em um confronto direto no mata-mata. O caso mais claro é do Boca Juniors, que mostrou seu potencial ao bater o São Paulo na Recopa Sul-Americana. Os Xeneizes perderam o técnico Alfio Basile e, com isso, caíram de rendimento no final do ano passado. O elenco, porém, ainda é forte, com laterais eficientes (Ibarra e Clemente Rodríguez) e quatro atacantes perigosos (Palacio, Palermo, Delgado e Marioni). O River Plate, apesar das participações melancólicas em 2005 e 2006, também merece atenção. O clube montou um elenco de respeito, com o zagueiro Ponzio, os meias Belluschi e Ortega e o atacante Farias, e tem crescido consistentemente nos últimos meses. O técnico é Daniel Passarella, que teve má passagem pelo Corinthians, mas é um símbolo em Núñez. Entre os mexicanos, Toluca e América também não devem muito aos brasileiros. Os Diablos perderam o artilheiro Marioni para o Boca Juniors, mas ainda têm o seguro goleiro Cristante, o armador Zinha, o técnico Américo Gallego e 2.667m de altitude, além de serem o clube mais consistente e organizado no México, nos últimos anos. Os americanistas precisam recuperar a confiança em nível internacional, após o vexame no Mundial de Clubes. Por isso, a diretoria trouxe o argentino Bilos e o equatoriano Saritama para equilibrar mais o time, reforçando o meio-campo e tirando peso do ataque. O problema do clube é apostar demais que o dinheiro resolverá tudo e deixar, muitas vezes, o planejamento de lado.
Apenas nessa rápida passada pelos principais times estrangeiros, percebe-se que o Brasil não disputa sozinho o título. Isso não significa que qualquer equipe seja uma adversária perigosa. Por mais que Olimpia e Once Caldas tenham conquistado o torneio em 2002 e 2004, seria uma grande surpresa se o título escapasse de Brasil, Argentina ou México. Um bom exemplo disso é o Colo-Colo, que, em 2006, eliminou Gimnasia La Plata e Toluca (duas equipes que estão na Libertadores 2007) antes de ficar com o vice-campeonato da Copa Sul-Americana. Nem assim Cláudio Borghi, técnico do Cacique, coloca sua equipe entre as candidatas ao título (veja entrevista na pág. 28).
Questão de planejamento Outro motivo para ainda ser cedo para afirmar que há uma hegemonia brasileira é a lógica que pauta o dia-a-dia do futebol latino-americano. Em todos os países, salvo o México, os clubes não têm recursos para evitar o êxodo de seus principais jogadores. Isso faz com que muitos times sejam montados às vésperas da competição, e um bom ou mau rendimento depende de uma dose de sorte. A superioridade técnica no papel nem sempre resolve um duelo de Libertadores, como ocorreu com o Santos, em 2005 (contra o Atlético-PR), e o Corinthians, em 2006 (contra o River Plate). É nesse aspecto que alguns clubes brasileiros evoluíram nos dois últimos anos e, mesmo com a média de aproveitamento permanecendo em torno de 60%, conseguiram trazer o título Fevereiro de 2007
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Maurício de Souza/Divulgação
“Jogar na altitude é normal” Depois de passar por Gimnasia La Plata e Toluca, vencendo sempre fora de casa, e ficar com o vice da Copa Sul-Americana, o Colo Colo ganhou status de possível surpresa para a Copa Libertadores 2007. No entanto, o próprio técnico da equipe, o argentino Cláudio Borghi, reluta em aceitar essa condição. De acordo com ele, favoritos mesmo são os times brasileiros e argentinos, com os mexicanos correndo por fora. Para os demais, incluindo o Colo Colo, a competição serve para aprender. “No Chile, o Colo Colo é um grande clube e não pode começar uma competição sem pensar em ganhar”, comentou em entrevista exclusiva à Trivela. “Isso, porém, é no começo, pois, no decorrer da competição, passamos a ter uma noção maior da realidade e alinhamos nossos objetivos em cima disso”. Borghi conhece bem o futebol sul-americano. Como jogador, venceu a Libertadores em 1985, pelo Argentinos Juniors, fez parte da seleção argentina campeã mundial em 1986 e ainda passou por Flamengo, Independiente, River Plate, Colo Colo e Correcaminos (MEX). Em 2006, fez seu primeiro grande trabalho como técnico, conduzindo os colocolinos a dois títulos chilenos e ao vice da Sul-Americana. Em 2005 e 2006, a final da Libertadores teve dois clubes brasileiros. Foi coincidência ou os brasileiros estão realmente um nível acima dos demais? Claramente, Brasil e Argentina estão acima do resto na América do Sul. São ligas muito mais profissionais, com clubes mais ricos de maior tradição em competições internacionais. O que os clubes dos outros países podem fazer? Não há muito que fazer. Resta participar da melhor maneira possível, observar os times mais fortes, aprender com eles e crescer aos poucos para que consigamos igualá-los um dia. O Colo Colo foi muito bem na Sul-Americana, e isso foi um sinal de que, talvez, estejamos no caminho certo. No Brasil, um dos grandes temores dos clubes é jogar na altitude. No Chile, os times de Santiago têm de subir os Andes todo campeonato, quando visitam Cobreloa e Cobresal. Como vocês encaram a altitude?
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É uma condição natural com a qual temos de conviver. Já estamos até acostumados e acabamos conseguindo resultados melhores do que muitos imaginam. Agora, se para argentinos e brasileiros é tão complicado jogar na altitude, para os chilenos é particularmente desgastante jogar em ambiente muito úmido. Cada time tem dificuldades com climas muito diferentes do seu. Como jogador, você foi campeão da Libertadores pelo Argentinos Juniors, em 1985, e ainda teve passagens por México e Brasil. Essa experiência pode ajudar no comando de uma equipe? Ajuda muito pouco, pois, naquela época, o futebol latino-americano era muito diferente. Antigamente, era uma guerra, com o clube da casa mandando cortar a água da concentração do adversário, ar condicionado desligado no vestiário, barulho na frente do hotel. Isso não existe mais.
Planejamento ajuda mais que a “superioridade” brasileira para aumentar as chances de Santos e Paraná
de volta ao Brasil. Com um projeto mais bem definido para a disputa da Libertadores, alguns times – notadamente São Paulo, Internacional e Atlético-PR, que chegaram à final nos últimos anos – souberam crescer no mata-mata, etapa que realmente importa para levar um time longe no torneio. Nesse processo, houve casos em que o clube sacrificou uma campanha impecável na fase de grupos para poder se ajustar gradualmente. Por exemplo, Tricolor e Furacão só venceram metade de suas partidas na etapa de grupos em 2005, o que não impediu que decidissem o título naquele ano. O que mudou nas últimas temporadas foi a maneira de alguns clubes lidarem com o torneio. No atual cenário do futebol latinoamericano, o importante é organizar-se para impedir a perda dos melhores jogadores, fugir de armadilhas como excesso de confiança e evitar variação acentuada de rendimento. Esse tem de ser o horizonte de trabalho dos brasileiros. É nesse ponto que se pode construir uma eventual supremacia. Como clubes organizados por aqui ainda são exceções, é difícil falar em supremacia de um país sobre os demais – talvez, de alguns clubes, mas nem sempre brasileiros. O Boca Juniors, com três títulos nos últimos sete torneios, não pode de nenhuma maneira ser excluído da lista. Esse deve ser o parâmetro de análise das possibilidades brasileiras na Libertadores de 2007. Mais do que em reforços de peso, colorados, são-paulinos, gremistas, santistas, paranistas e flamenguistas têm de pensar se suas equipes contam com alguma estratégia para conduzir suas campanhas na competição. A hegemonia brasileira nas duas últimas finais saiu daí, e não de uma superioridade técnica irresistível. A média de 60% nos confrontos com estrangeiros, somada à análise de que times elevaram ou abaixaram esse índice, mostra isso.
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Estrelas nos escudos, por Carlos Eduardo Freitas e Luiz Fernando Bindi início do ano é a época em que os clubes do Brasil aproveitam para dar uma cara nova a seus uniformes. Os que não ganharam nada no ano anterior o fazem apenas para mudar o modelo para a temporada. Os que conquistaram algum título fazem questão de estampar, geralmente acima de seu escudo, algum símbolo dos recentes sucessos. Na maioria das vezes, porém, a falta de critério e de bom senso acaba por gerar algumas aberrações e, com freqüência, confunde o torcedor. Quem olha a camisa do Vasco, por exemplo, pode ficar com a impressão de que aquelas oito estrelas amarelas são referentes a conquistas semelhantes. O torcedor vascaíno deve saber de cor, mas o leigo não: quatro são referentes aos títulos brasileiros, e as outras, às
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Constelação sem padrão
Falta de critério de clubes na hora de colocar estrelas nas camisas confunde o torcedor
Internacional
Vasco
Bahia
A estrela dourada grande representa o título da Libertadores; as quatro menores, o tetracampeonato brasileiro. A prateada, acima das cinco douradas, representa o Mundial conquistado em dezembro.
Libertadores, Sul-Americano, Mercosul, quatro Brasileiros e campeonato de Terra e Mar invicto em 1945. Eis o que representam cada uma das estrelas acima da cruz de malta. Campeonato de remo? Com estrelas na mesma proporção?
Uma estrela faz referência à Taça Brasil de 1969. A outra, ao Brasileirão de 1988. É um bom exemplo para clubes que só têm conquistas em âmbito nacional. Não faria sentido representar 43 títulos baianos.
Paulista
Americano-RJ
ABC-RN
A estrela solitária está lá para celebrar a conquista do único título importante do clube, o da Copa do Brasil de 2005.
As nove estrelas vermelhas, dentro do escudo, são referentes ao eneacampeonato municipal, entre 1967 e 1975 – na época, o campeão de Campos disputava com o de Niterói o título fluminense. A dourada é pelo Brasileirão da Série C, em 1987.
As quatro estrelas menores fazem menção aos campeonatos potiguares conquistados em 1954, nas categorias profissional, aspirantes, juvenil e infantil. A grande homenageia o decacampeonato conquistado entre 1932 e 1941.
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conquistas da Libertadores, do Sul-Americano de 1949, da Copa Mercosul e do “Campeonato invicto de Terra e Mar de 1945” – título obtido no remo. Não faltam exemplos desse tipo de mistura no futebol brasileiro e internacional. O São Paulo coloca, lado a lado, embora com cores diferentes, suas três conquistas mundiais e os dois ouros olímpicos de Adhemar Ferreira da Silva. O Atlético-PR põe acima de seu distintivo duas estrelas: uma prateada e uma dourada, referentes aos títulos brasileiros da segunda e da primeira divisão. Pior ainda é o caso do Boca Juniors, que dentro de seu escudo tem 46 estrelas, representando cada uma de suas conquistas. Acima do CABJ, as nacionais; abaixo, as internacionais. Há também exemplos de critérios mais simples e claros. Aqui no Brasil, Coritiba e Atlético-MG
têm uma estrela solitária cada acima de seus brasões. O Galo chegou até a cogitar colocar em sua camisa alguma referência ao título da Segundona em 2006, mas os torcedores reclamaram e o clube voltou atrás. Internacionalmente, o grande exemplo de padrão é a Itália. Por lá, só têm estrelas os clubes que conquistaram dez vezes o Campeonato Italiano. Não há referências permanentes a outros títulos, como segunda divisão, Copa da Itália ou Supercopa Italiana. O que fazem por lá é colocar um brasão referente ao título nacional e ao da Copa na camisa do campeão, mas apenas durante a temporada seguinte ao título. Na Europa, os distintivos não fazem nenhuma referência a títulos europeus, como a Copa Uefa
ou a Liga dos Campeões. No caso da LC, o que a Uefa faz é colocar um brasão azul na manga dos clubes que já conquistaram o título. Dentro dessa insígnia, há um número que representa quantas vezes o clube venceu a competição. Durante torneios nacionais, porém, esses times não exibem o logo – o que incentiva o torcedor a comprar a camisa referente apenas à LC. É pouco provável, que, no curto prazo, os clubes brasileiros e sul-americanos consigam ter um padrão semelhante ao dos europeus para as estrelas em suas camisas. Até porque cada um tem sua justificativa para colocá-las onde bem entender. Só será curioso quando chegar o momento em que não haverá mais espaço nas camisas para mais estrelas.
alguns exemplos e explicações
Santa Cruz
Cruzeiro
São Paulo
A estrela preta é para o Supercampeonato Pernambucano de 1957. A branca, para o de 1976. A vermelha, para o de 1983. As cinco amarelas representam o pentacampeonato local, de 1969 a 1973. Destaque para o “SUPER”.
Acima do escudo, em vez de estrelas, duas imagens da taça da Copa Libertadores e, acima, uma coroa, referente à “tríplice coroa” de 2003. Acaba lembrando um tabuleiro de xadrez, com dois bispos e uma rainha.
Que o São Paulo queira homenagear as medalhas olímpicas de Adhemar Ferreira da Silva, compreende-se. Que elas estejam na camisa da equipe de futebol é que é um pouco mais difícil de explicar.
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Emelec (EQU)
Boca Juniors (ARG)
Milan (ITA)
São 20 estrelas, uma para cada um dos 20 esportes em que o clube já conquistou algum título nacional, de futebol a taekwondo.
Pode contar: são 46 estrelas, das quais 25 acima e 21 abaixo da sigla. Acima do CABJ são representadas as conquistas nacionais. Abaixo, as internacionais. As três estrelas superiores representam o tricampeonato mundial.
Na Itália, o time põe uma estrela a cada dez conquistas da Série A. Inter e Milan têm, respectivamente, 14 e 17 títulos. Ou seja: uma estrela para cada um. A Juventus, com 27 troféus, tem duas.
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Albert Olivé/EFE
Giorgio Benvenuti/EFE
Víctor Lerena/EFE
Liga dos Campeões
A Liga dos Campeões
começa agora É no matamata que a LC prova – ou deveria provar – que é a melhor competição de clubes do planeta
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hegou a hora da verdade. Depois de uma primeira fase “morna”, a Liga dos Campeões abre em fevereiro seu mata-mata. É agora que os clubes põem suas cartas na mesa e brigam com força máxima pelo que consideram o título mais importante da temporada. Hoje, não há dúvidas de que a Liga dos Campeões é o título que todo time na Europa quer ganhar. As copas nacionais há tempos perderam seu prestígio. Os campeonatos nacionais já não são suficientes para potências como Barcelona, Milan, Chelsea ou Bayern de Munique. O Mundial de Clubes, para os europeus, ainda não é mais que um rápido torneio no meio da temporada. Quem conquista a LC chega ao topo do Everest. Não tem como ir mais alto do que isso. Apesar dessa importância, é inegável que a primeira fase do torneio, em que as equipes são divididas em oito chaves, não é das mais emocionantes. A presença de times fracos, como Anderlecht, Levski Sófia e Olympiacos, desvaloriza um pouco essa etapa. Nesta temporada, o pequeno número de
C
zebras tornou a fase de grupos ainda mais sem graça. Na última rodada, com poucas coisas a decidir, houve estádios com muitos lugares vazios e times reservas em campo. No mata-mata, é certo que não veremos nada disso. Todo jogo é decisivo, quase não há mais times “pequenos”, e o interesse da torcida é total. Nas oitavas-de-final deste ano, diferentemente do que aconteceu nas últimas temporadas, não haverá nenhuma “final antecipada”. Em sete dos oito confrontos, é fácil apontar o favorito (a exceção é Bayern x Real Madrid). Se isso, por um lado, torna menos espetacular esta etapa, por outro, abre a possibilidade de termos quatro quartas-de-finais fantásticas – isso, é claro, se não aparecerem as zebras, outra constante no mata-mata da LC.
Fatores especiais Numa competição cheia de candidatos ao título, como a Liga dos Campeões, os fatores que determinam o ganhador
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Geoff Caddick/EFE
Oitavas-de-final 20/fevereiro
x
Milan
Celtic x
20/fevereiro
7/março
x
Arsenal
PSV x
20/fevereiro
7/março
x
Manchester
Lille x
20/fevereiro
7/março
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Bayern
Real Madrid x
21/fevereiro
7/março
x
Lyon
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x 21/fevereiro
6/março
x
Liverpool
Barcelona x
21/fevereiro
6/março
x
Chelsea
Porto x
21/fevereiro
6/março
x
Valencia
Internazionale x
6/março
Quartas-de-final
Semifinais Jogos de ida 24 e 25/abril Jogos de volta 1º e 2/maio
Final
mando de campo na partida
Jogos de ida 3 e 4/abril Jogos de volta 10 e 11/abril
tabela
vão além da qualidade dos elencos. No torneio deste ano, duas variáveis chamam a atenção. A primeira é o efeito da Copa do Mundo sobre o preparo físico. O desgaste do Mundial – e das férias mais curtas – teve impacto sobre jogadores importantes. Alguns clubes, como o Milan, decidiram sacrificar a primeira metade da temporada, para que seus astros estivessem bem fisicamente na hora da decisão. Em outros, o impacto só se fará sentir a partir de fevereiro ou março. Para times como Real Madrid e Chelsea, que tiveram mais de dez atletas no Mundial, será um desafio e tanto gerenciar o cansaço do elenco. A segunda variável “externa” importante é o desenrolar dos campeonatos nacionais. Alguns times podem se dar ao luxo de poupar seus jogadores no torneio doméstico, o que é de grande valia na disputa da LC. É esse o caso de Milan, Arsenal (sem chances de título nacional), Lyon e Celtic (com o título praticamente assegurado). Enquanto isso, clubes como Barcelona, Manchester United, Bayern de Munique e Real Madrid ainda deverão gastar energias preciosas no front local. Num torneio tão importante, com tantos grandes times e pequenos fatores que podem determinar o desfecho da competição, a Trivela não poderia deixar de publicar um guia da etapa decisiva. Em vez de falar individualmente de cada uma das 16 equipes, enriquecemos a análise ao juntá-las em pares, de acordo com os confrontos das oitavas-de-final. Dessa forma, o leitor fica conhecendo não só dos pontos fortes, fracos e perspectivas de cada time no torneio, mas também sabe o que esperar de cada partida e que fatores podem definir os classificados. Confira! [TRA]
Roma
23/maio, em Atenas
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Matteo Bazzi/EFE
A primeira das quatro finais
Milan
Para o Milan, a competição européia é a tábua de salvação para uma temporada frustrante; Celtic joga com a leveza do franco-atirador sorteio que colocou o Celtic a sua frente não foi o mais cruel possível com o Milan, e o clube agradece. Lutando para entrar em forma a tempo, um adversário de maior expressão poderia significar o fim de uma temporada que começou mal e tem poucas chances de se encerrar bem. Poucas chances – mas não nenhuma, observe-se. Com um elenco que se equipara aos melhores do continente, o técnico Carlo Ancelotti sabe que uma vitória na LC transformaria um ano cinzento em uma temporada memorável. Com a recuperação crescente de Gilardino e com Seedorf aproximando-se dos níveis de desempenho de Kaká, Ancelotti terá como mandar a campo contra os escoceses um time forte o suficiente para ser favorito para passar de fase. A chave do jogo milanista passa pela solidez da defesa. Com Seedorf jogando o que sabe e Kaká recuperando-se totalmente de uma lesão no pé direito, botar a bola na rede não deve ser um problema insolúvel. Voltar a ter a retaguarda de aço de três anos atrás é que vai determinar se o Milan terá um bom final de temporada. A chegada do lateral Oddo deve abrir um leque de opções ao treinador para não ter de
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Time-base Dida; Cafu, Nesta, Maldini e Jankulovski; Pirlo, Gattuso, Seedorf e Kaká; Inzaghi e Gilardino. Técnico: Carlo Ancelotti Campanha na primeira fase 1º colocado no grupo H improvisar. A provável saída do errático Kalac do gol também deve causar um certo alívio. Os oponentes de Glasgow não têm ilusões de uma partida igual contra um clube que faz parte da nata européia. Contudo, uma passagem de fase é possível graças aos bons destaques individuais em Celtic Park. O maior deles, Shunsuke Nakamura, tem talento suficiente para “abrir uma lata de feijão com o pé esquerdo”, segundo um comentarista inglês. O japonês é o nome que dá brilho a um meio-campo que ainda tem Petrov e Gravesen para servir o polonês Zurawski e o holandês Vennegoor of Hesselink. Como normalmente acontece, além da precisão de Nakamura, o Celtic depende muito de seu jogo aguerrido e de sua torcida fanática. Em longo prazo, o embate pode ter desdobramentos vitais para o time italiano. Uma desclassificação tornaria delicadíssima a situação de Ancelotti, assim como aumentaria a pressão de rivais europeus para ter Kaká. Por outro lado, duas vitórias poderiam ser um tônico para tentar salvar um ano fadado ao fracasso. Das oitavas-de-final em diante, toda vez que o Milan pisar no gramado pela LC, estará jogando a partida mais importante da temporada. [CRG]
Milan Lille Anderlecht Milan AEK Milan
3x0 0x0 0x1 4x1 1x0 0x2
AEK Milan Milan Anderlecht Milan Lille
Celtic Time-base Boruc; Telfer, Balde, McManus e Naylor; Nakamura, Gravesen, Petrov e Lennon; Vennegoor e Zurawski. Técnico: Gordon Strachan Campanha na primeira fase 2º colocado no grupo C Manchester Utd. Celtic Celtic Benfica Celtic Kobenhavn
3x2 Celtic 1x0 Kobenhavn 3x0 Benfica 3x0 Celtic 1 x 0 Manchester Utd. 3x1 Celtic
se fosse um filme, seria... “Coração Valente” Bando de escoceses se junta para lutar contra uma grande potência, mesmo imaginando que deve perder a batalha
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Confrontos anteriores na LC Milan (2V) / (2E) / (0V) Celtic Últimos encontros Milan 3x1 Celtic Celtic 0x0 Milan
29/setembro/2004 7/dezembro/2004
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Falsa promessa Arsenal e PSV têm fama de jogar bonito, mas vêm se destacando pelas sólidas defesas
Time-base Lehmann; Hoyte, Gallas, Eboué e Touré; Gilberto Silva, Fabregas, Hleb e Rosicky; Van Persie e Henry. Técnico: Arsène Wenger Campanha na primeira fase 1º colocado no grupo G Hamburg Arsenal CSKA Moscou Arsenal Arsenal Porto
1x2 2x0 1x0 0x0 3x1 0x0
Arsenal Porto Arsenal CSKA Moscou Hamburg Arsenal
PSV Time-base Gomes; Kromkamp, Alex, Reiziger e Salcido; Simons, Méndez, Vayrynen e Cocu; Farfán e Koné. Técnico: Ronald Koeman Campanha na primeira fase 2º colocado no grupo C PSV Bordeaux Galatasaray PSV Liverpool PSV
0x0 0x1 1x2 2x0 2x0 1x3
Liverpool PSV PSV Galatasaray PSV Bordeaux
uma primeira olhada, Arsenal x PSV parece o duelo dos sonhos de quem gosta de futebol ofensivo. De um lado, está o time de Arsène Wenger, que ganhou títulos na Inglaterra com seu belo jogo de passes rápidos. Do outro, aparece o PSV, representante da escola holandesa, famosa por sua ofensividade. Prenúncio de chuva de gols? Não. Na verdade, não será surpresa se um tento for suficiente para definir este duelo. Apesar da fama, os dois times devem seu sucesso recente muito mais à defesa que ao ataque. No primeiro turno do Campeonato Holandês, o PSV sofreu apenas seis gols, menos da metade do que a segunda melhor defesa do campeonato (Ajax, com 15). Já o Arsenal levou só dois gols em toda a fase de mata-mata da última Liga dos Campeões (ambos na final, contra o Barcelona), e ficou sete partidas sem ter sua meta vazada em casa, na mesma competição. Embora não estejam muito bem no Campeonato Inglês, os Gunners chegam ao confronto com certo favoritismo, em parte por terem sido vice-campeões da edição passada. Sua defesa é segura, o meio-campo consegue ser ao mesmo tempo eficiente na marcação e perigoso na armação, e o ataque é um dos mais mortais do mundo. O time ainda sofre quando enfrenta adversários que congestionam o meio-campo, o que acaba com seu jogo de passes rápidos. No entanto, Wenger tem resolvido bem esse problema na LC, empregando um esquema tático mais defensivo, que também anula as armas do adversário e permite que os confrontos sejam decididos com apenas um gol.
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Hugo Philpott/EFE
Arsenal
Do lado do PSV, há um time de inegável qualidade, mas que está um degrau abaixo dos “pesos-pesados” do continente. Em sua primeira temporada na equipe, Ronald Koeman conseguiu montar uma defesa sólida, mesmo jogando com apenas um volante (Simons). O destaque do time é o armador Cocu, que alimenta os jovens e perigosos Koné e Farfán. Contra o PSV, pesa a excessiva juventude do elenco – média de apenas 23 anos. No caso do astro do time, o problema é o oposto: Cocu tem 36, e não se sabe até quando dará conta do recado. O elenco promissor faz do PSV uma boa aposta para o futuro. Hoje, no entanto, será uma surpresa se a equipe avançar muito nesta Liga dos Campeões. O mais provável é que perca nas oitavas-de-final para o Arsenal, que, embora não seja um dos principais favoritos, pode até repetir o feito de 2006 e chegar à final. [TRA]
se fosse um filme, seria... Confrontos anteriores na LC Arsenal (2V) / (2E) / (0V) PSV Últimos encontros Arsenal 1x0 PSV PSV 1x1 Arsenal
14/setembro/2004 24/novembro/2004
“Velozes e Furiosos” Promete super máquinas, muita ação, velocidade e emoção. Mas o resultado, na verdade, pode decepcionar bastante
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Andy Lambert/EFE
Sabor de
revanche Manchester United busca se vingar do Lille, que complicou sua vida na última LC a temporada passada, o Manchester United passou por uma enorme humilhação na Liga dos Campeões. A equipe ficou em último lugar em um grupo com Benfica, Villarreal e Lille. Apagado o vexame, os Red Devils terão pela frente mais uma vez a equipe francesa, em uma oportunidade de vingança. Favorito absoluto à vaga nas quartas-de-final, o Manchester United conhece muito bem as armadilhas preparadas pelo Lille. Na última LC, quando os dois se enfrentaram, os Red Devils empataram uma vez (0 a 0) e perderam o outro confronto (1 a 0). Para evitar um fiasco de proporções semelhantes, a equipe de Alex
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Ferguson aposta em sua excelente fase. Líder da Premier League, o United vem mostrando um futebol eficiente, de rápidos toques e com bolas bem trabalhadas desde a defesa. A grande forma de Cristiano Ronaldo tem sido o fator de desequilíbrio a favor dos Red Devils, que ainda contam com um poderoso setor ofensivo, formado por Wayne Rooney e Louis Saha. Por outro lado, o conjunto sente a falta de boas peças de reposição. Caso algum dos titulares se machuque, não terá um substituto à altura. Além disso, o clube conta com um retrospecto nada animador nos últimos mata-matas da LC. Desde a conquista do título do torneio, em 1999, o clube foi eliminado seis vezes, tendo sobrevivido a apenas um confronto. O Lille conquistou sua classificação para as oitavas com uma vitória sobre o Milan em pleno San Siro. É uma façanha de respeito, mas não se deve esquecer que o time concorria com Anderlecht e AEK por uma das vagas. Além disso, o LOSC voltou a apresentar os mesmos erros da LC anterior. Em campo, por muitas vezes a equipe recorreu a chutões para ligar a defesa ao ataque. O nervosismo de Odemwingie e Fauvergue os fez desperdiçar preciosas chances de gol. Além disso, o elenco reduzido deixa Claude Puel sem boas opções para mexer na equipe. Montado num 4-5-1, o Lille conta com um meio-campo bastante sólido, e dois jogadores desse setor merecem maior destaque. Mathieu Bodmer desempenha múltiplas funções em campo. Ele ajuda o ataque, faz o papel de volante e até quebra um galho na defesa. Por outro lado, Kader Keita faz uso de sua velocidade e habilidade tanto para armar como para se tornar um segundo atacante. Como na LC anterior, o Manchester parte como candidato natural para a próxima fase. No entanto, precisará confirmar tal condição diante de uma equipe sem estrelas, mas bem organizada. O Lille mostrou na temporada passada que essa receita pode dar resultado. [RE]
se fosse um filme, seria... “O Império Contra-Ataca” Depois de ser pega de surpresa, a superpotência volta com força total para se vingar
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Manchester United Time-base Van der Sar; Neville, Ferdinand, Vidic e Evra; Scholes, Carrick e Giggs; Cristiano Ronaldo, Saha e Rooney. Técnico: Alex Ferguson Campanha na primeira fase 1º colocado no grupo F Manchester Utd. 3 x 2 Celtic Benfica 0 x 1 Manchester Utd. Manchester Utd. 3 x 0 Kobenhavn Kobenhavn 1 x 0 Manchester Utd. Celtic 1 x 0 Manchester Utd. Manchester Utd. 3 x 1 Benfica
Lille Time-base Sylva; Chalmé, Plestan, Tavlaridis e Tafforeau; Bodmer, Cabaye, Debuchy, Makoun e Keita; Odemwingie. Técnico: Claude Puel Campanha na primeira fase 2º colocado no grupo H Anderlecht Lille Lille AEK Lille Milan
1x1 0x0 3x1 1x0 2x2 0x2
Lille Milan AEK Lille Anderlecht Lille
Confrontos anteriores na LC Manchester (1V) / (2E) / (1V) Lille Últimos encontros Manchester 0x0 Lille Lille 1x0 Manchester
18/outubro/2005 2/novembro/2005
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Matthias Schrader/EFE
Caminhos
cruzados Com 10 confrontos nos últimos oito anos, Bayern e Real se reencontram para decidir quem ganha fôlego em sua crise interna
Bayern de Munique Time-base Kahn; Sagnol, Lúcio, Van Buyten e Lahm; Ottl, Van Bommel, Salihamidzic, e Schweinsteiger; Makaay e Pizarro. Técnico: Felix Magath Campanha na primeira fase 1º colocado no grupo B Bayern Internazionale Sporting Bayern Spartak Moscou Bayern
4 x 0 Spartak Moscou 0x2 Bayern 0x1 Bayern 0x0 Sporting 2x2 Bayern 1 x 1 Internazionale
Real Madrid Time-base Casillas; Sergio Ramos, Cannavaro, Helguera e Roberto Carlos; Diarra, Gago, Raúl e Reyes; Robinho e Van Nistelrooy. Técnico: Fabio Capello Campanha na primeira fase 2º colocado no grupo E Lyon 2x0 Real Madrid Real Madrid 5x1 Dynamo Kiev Steaua Bucareste 1 x 4 Real Madrid Real Madrid 1 x 0 Steaua Bucareste Real Madrid 2x2 Lyon Dynamo Kiev 2x2 Real Madrid
e todos os confrontos das oitavas-definal da Liga dos Campeões, nenhum tem um histórico de tanta rivalidade quando Bayern de Munique x Real Madrid. São nove títulos de um lado (Real), cinco de outro (Bayern) e uma lista recente de partidas decisivas – dez dos 16 jogos entre os dois na LC foram realizados nos últimos oito anos. Tamanha rivalidade se mede pela maneira como representantes das duas equipes receberam a notícia de quem teriam pela frente na competição. O Real Madrid, que levou a melhor nos últimos dois encontros, mostrou certo ar de superioridade. “Fico feliz de termos evitado Manchester United e Chelsea”, comemorou Pedrag Mijatovic, diretor merengue. Já Felix Magath e alguns de seus comandados só tiveram a lamentar. “Estava com o pressentimento de que o teríamos pela frente”, disse o treinador. Roy Makaay foi a exceção. Relembrando o último confronto, em 2004, o holandês deu o tom de revanche: “Temos contas para acertar com eles. E, desta vez, levamos a vantagem de decidir em casa”. Levando em conta o retrospecto e as estatísticas, dá para cravar que esse é o confronto mais imprevisível da atual fase da competição – muito porque nenhuma das duas equipes vive um momento esplendoroso ou
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tem moral para cantar vitória antes da hora. Por mais que as casas de apostas indiquem um ligeiro favoritismo para os espanhóis, os Merengues têm problemas suficientes para deixar os bávaros esperançosos. O Real Madrid chega com diferenças significativas em relação ao time que disputou a primeira fase. Ronaldo, Cassano, Beckham e Emerson perderam espaço no time, enquanto os argentinos Gago e Higuaín foram contratados no final de 2006, como grandes apostas para o futuro – numa clara indicação de que os Merengues querem uma equipe jovem, como forma de decretar de vez o fim dos “galácticos” –, e rapidamente ganharam espaço entre os titulares. Um time em formação, no mata-mata da LC, não é das situações mais animadoras. Os Merengues, por outro lado, têm a seu favor a inconsistência tática do Bayern na atual temporada (veja a seção Tática, na pág. 13). Desde a saída de Ballack e Zé Roberto, o time ainda não se encontrou e, por isso, está longe de convencer na Bundesliga. Dizer que esse confronto é uma final antecipada é uma tremenda bobagem, principalmente pelo que vêm apresentando os dois clubes. Certo mesmo é que quem vencer ganhará algumas boas semanas de folga em uma temporada para lá de conturbada. [CEF]
se fosse um filme, seria... Confrontos anteriores na LC Bayern (9V) / (2E) / (5V) Real Últimos encontros Real 1x0 Bayern Bayern 1x1 Real
9/março/2004 25/fevereiro/2004
“Zoolander” Dois figurões em baixa batalham nas passarelas (da Liga dos Campeões) para recuperar o prestígio
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Robert Ghement/EFE
A hora da
verdade Contra a Roma, Lyon inicia caminho para provar que merece estar entre os grandes da Europa om a supremacia garantida na Ligue 1, o Lyon busca expandir suas fronteiras. Os lioneses procuram repetir o feito do Olympique de Marselha, em 1993, e mostrar que as equipes francesas merecem respeito. Para isso, o OL entra no mata-mata da Liga dos Campeões contra um desafiante de peso: a Roma. Os lioneses, que tiveram a melhor campanha da fase de grupos, bateram na trave nos últimos anos, mas chegam às oitavas-de-final com uma equipe tão poderosa como a de seus principais rivais. Disparado o melhor time da França, o OL deu mostras de que aprendeu como deve se comportar em jogos decisivos. Não está nem aí para quem aposta em espetáculo: preocupase primeiro em fazer o mínimo para assumir a vantagem e administrá-la. Só quando se sente seguro é que parte para o bote fatal. Tanta confiança foi adquirida com a experiência das seguidas eliminações nas quartas-definal. A lição foi ensinada com rigor pelo técnico Gérard Houllier, que confia em seu equilibrado 4-3-3. Embora Juninho mais uma vez faça a diferença e Toulalan tenha feito a torcida esquecer de Diarra, os lioneses se assustaram com as contusões de seus atacantes. Fred, Carew, Wiltord e Benzema voltaram a jogar recentemente ou ainda estão na enfermaria, o que pode diminuir o poder de fogo da equipe. Nesse caso, o OL recorre a um de seus principais recursos: as cobranças de falta de Juninho.
Lyon Time-base Coupet; Réveillère, Cris, Caçapa e Abidal; Juninho Pernambucano, Tiago e Toulalan; Malouda, Fred e Wiltord. Técnico: Gérard Houllier
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Campanha na primeira fase 1º colocado no grupo E
Problema semelhante vive a Roma. Durante a disputa da Série A, os Giallorossi foram obrigados a improvisar em seu setor ofensivo, devido ao grande número de lesões. A situação tranqüilizou-se com a evolução de Totti, que aos poucos recupera sua melhor forma, e a contratação de Tavano, que substituiu Montella. No período no qual ficou sem seus principais atacantes, a equipe se virou muito bem usando Mancini e Taddei como elementos-surpresa. Até mesmo o goleiro Doni, criticado por suas falhas constantes quando jogava no Brasil, ganhou confiança e tornou-se referência da melhor defesa do primeiro turno do Campeonato Italiano, ao lado da Internazionale. Na LC, o time apresentou algumas oscilações, principalmente quando atuou fora do estádio Olímpico. A Roma precisará como nunca do apoio de sua torcida – e da superação de seus melhores jogadores. Com a necessidade de ir além das campanhas passadas, o Lyon talvez sinta a pressão e se deixe contagiar pelo nervosismo. A tendência, porém, é de que, se mantiver os nervos no lugar, o OL vá longe. [RE]
Lyon 2x0 Real Madrid Steaua Bucareste 0 x 3 Lyon Dynamo Kiev 0x3 Lyon Lyon 1x0 Dynamo Kiev Real Madrid 2x2 Lyon Lyon 1 x 1 Steaua Bucareste
Roma Time-base Doni; Panucci, Méxès, Chivu e Tonetto; De Rossi, Pizarro, Taddei, Perrotta e Mancini; Totti. Técnico: Luciano Spaletti Campanha na primeira fase 2º colocado no grupo D Roma 4 x 0 Shakhtar Donetsk Valencia 2x1 Roma Olympiacos 0x1 Roma Roma 1x1 Olympiacos Shakhtar Donetsk 1 x 0 Roma Roma 1x0 Valencia
se fosse um filme, seria... “Karatê Kid” Jovem lutador precisa se afirmar entre os grandes, mas sem contar com os recursos destes
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Confrontos anteriores na LC Os clubes nunca se enfrentaram na Liga dos Campeões.
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Lembranças Time-base Reina; Finnan, Carragher, Hyyppia e Riise; Pennant, Gerrard, Luís García e Xabi Alonso; Crouch e Kuyt. Técnico: Rafa Benítez Campanha na primeira fase 1º colocado no grupo C PSV Liverpool Bordeaux Liverpool Liverpool Galatasaray
0x0 3x2 0x1 3x0 2x0 3x2
Liverpool Galatasaray Liverpool Bordeaux PSV Liverpool
Barcelona Time-base Valdés; Oleguer, Rafa Márquez, Puyol e Van Bronckhorst; Xavi, Iniesta, Deco, Messi e Ronaldinho; Eto’o. Técnico: Frank Rijkaard Campanha na primeira fase 2º colocado no grupo A Barcelona Werder Bremen Chelsea Barcelona Levski Sófia Barcelona
5x0 Levski Sófia 1x1 Barcelona 1x0 Barcelona 2x2 Chelsea 0x2 Barcelona 2 x 0 Werder Bremen
confronto entre Barcelona e Liverpool é um dos mais badalados das oitavasde-final da Liga dos Campeões, por colocar frente a frente os dois últimos ganhadores da competição. No entanto, apesar da tradição das duas equipes, há um claro favorito: o Barça, vencedor da edição de 2006. Apesar do favoritismo, o time catalão tem deficiências, que podem ser exploradas pelo Liverpool. Basta lembrar o que aconteceu no Mundial de Clubes passado. Se souber impor uma marcação forte, que tire Ronaldinho Gaúcho do jogo, e impedir que o Barcelona chegue perto de sua área, bastariam um ou dois contra-ataques certeiros para consumar a zebra. Defensivamente, o Liverpool tem material para montar uma retranca eficiente – não por acaso, levou só um gol em dez partidas disputadas pelo Campeonato Inglês, no final de 2006. No entanto, os Reds não contarão com um benefício que o Inter teve: as ausências de Messi e Eto’o, jogadores que estão voltando aos gramados em janeiro. Com o argentino em campo, o Barcelona ganha mais um nome de criação, evitando que a responsabilidade toda fique com Ronaldinho. No ataque, a diferença é ainda maior, já que há um abismo entre o camaronês e seus substitutos (Gudjohnsen, Saviola e Ezquerro). Se o Mundial-2006 expôs as vulnerabilidades do Barcelona, a edição de 2005 do torneio deixou ainda mais claras as limitações do Liverpool. Sim, o time inglês mudou desde aquela derrota para o São Paulo – mas os
problemas permanecem. Se defensivamente o time é muito bom, deixa a desejar na parte ofensiva. Gerrard e Luís García são bons armadores, mas muitas vezes somem quando sofrem marcação cerrada. No ataque, apesar da chegada do holandês Kuyt, o limitado Crouch continua sendo o principal nome. Se o Barcelona aproveitar a pressão do Camp Nou e sair na frente, dificilmente o Liverpool terá armas para tirar a diferença depois. Como atual campeão e time “da moda”, o Barcelona tem a obrigação de vencer e está entre os favoritos ao título. Para o Liverpool, também seria importante avançar, já que a Liga dos Campeões é o único troféu que a equipe ainda pode ganhar nesta temporada. No entanto, os fãs dos Reds sabem que o Barça é mais time e que uma vitória catalã não seria nada mais que o merecido. [TRA]
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Lavandeira Jr./EFE
Liverpool
dos Mundiais
Derrotas para brasileiros no Japão expõem os pontos fracos de Liverpool e Barcelona
se fosse um filme, seria... Confrontos anteriores na LC Liverpool (0V) / (1E) / (1V) Barcelona Últimos encontros 20/novembro/2001 Liverpool 1x3 Barcelona 13/março/2002 Barcelona 0x0 Liverpool
“Peixe Grande” Um homem (Benítez) tenta descobrir se as histórias fantásticas que lhe contam sobre os feitos de um rapaz (Ronaldinho) são verdadeiras
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O jogo de Mourinho Carmen Jaspersen/EFE
Criticado, o técnico precisa repetir com o Chelsea o feito que alcançou com o Porto: vencer a Liga dos Campeões
o duelo entre Chelsea e Porto, todos os holofotes estarão sobre José Mourinho. Afinal de contas, o técnico, de personalidade forte e controversa, ganhou fama internacional – e o próprio emprego nos Blues – graças ao grande feito que alcançou no comando do Porto: vencer a Liga dos Campeões. Hoje, o português atravessa seu pior momento desde que chegou ao Chelsea, em 2004. Nesta temporada, seu time ainda não conseguiu mostrar um bom futebol, e uma série de tropeços azedou sua relação com a diretoria e o elenco, disparando rumores de que Mourinho deixará o clube ao término da temporada. Para salvar o emprego – e a reputação –, o técnico precisa ganhar a Liga dos Campeões. Nesse ambiente de pressão, o Porto não
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é o adversário ideal para o Chelsea. Nos últimos anos, os encontros entre portugueses e ingleses têm sido tensos, com acusações e provocações de ambos os lados. O passado portista de Mourinho – e também de Hilário, Ricardo Carvalho e Paulo Ferreira – contribui para esquentar o duelo. Embora não conte com muitos jogadores famosos, o Porto é um bom time. A equipe não tem deficiências óbvias e mostra que superou bem a abrupta troca de técnico – saiu Co Adriaanse e entrou Jesualdo Ferreira – na prétemporada. Para avançar, os Dragões vão precisar de atuações muito sólidas de sua defesa, além de brilho de seus dois jogadores mais habilidosos – Ricardo Quaresma e Anderson. O problema é que são dois atletas muitos jovens, que podem não reagir bem à pressão. Ressalvas à parte, é indiscutível que o Chelsea é favorito. Apesar da má fase de nomes como Shevchenko e Lampard, os Blues têm um timaço. A defesa, com os volantes Essien e Makélélé à frente, é talvez a melhor do mundo. No ataque, Drogba faz excelente temporada, com 20 gols marcados em cinco meses. Se os outros astros jogarem o que sabem, o Chelsea não fica atrás de nenhum time no mundo. Com a supremacia doméstica ameaçada, os Blues precisam ganhar o título da Liga dos Campeões, para que sua temporada não seja um fracasso. Com o dinheiro gasto por Abramovich, não dá para aceitar menos. Do lado dos Dragões, apesar das ambições dos portugueses, o que vier é lucro – até porque, desde o título de 2004, a equipe não passou das oitavas-de-final da LC. [TRA]
Chelsea Time-base Cech; Boulahrouz, Ricardo Carvalho, Terry e A. Cole; Essien, Makélélé, Ballack e Lampard; Drogba e Shevchenko. Técnico: José Mourinho Campanha na primeira fase 1º colocado no grupo A Chelsea Levski Sófia Chelsea Barcelona Werder Bremen Chelsea
2 x 0 Werder Bremen 1x3 Chelsea 1x0 Barcelona 2x2 Chelsea 1x0 Chelsea 2x0 Levski Sófia
Porto Time-base Hélton; Bosingwa, Pepe, B. Alves e Cech; Lucho González, P. Assunção, Anderson e R. Quaresma; H. Postiga e L. López. Técnico: Jesualdo Ferreira Campanha na primeira fase 2º colocado no grupo G Porto Arsenal Porto Hamburg CSKA Moscou Porto
0x0 2x0 4x1 1x3 0x2 0x0
CSKA Moscou Porto Hamburg Porto Porto Arsenal
se fosse um filme, seria... “Jogos Mortais” Um homem tem que vencer um sangrento jogo e assim evitar a morte (ou a demissão) nas mãos de um psicopata (ou do dono do time)
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Confrontos anteriores na LC Chelsea (1V) / (0E) / (1V) Porto Últimos encontros Chelsea 3x1 Porto Porto 2x1 Chelsea
29/setembro/2004 7/dezembro/2004
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Valencia
Campanha na primeira fase 1º colocado no grupo D Olympiacos Valencia Valencia Shakhtar Donetsk Valencia Roma
2x4 Valencia 2x1 Roma 2 x 0 Shakhtar Donetsk 2x2 Valencia 2x0 Olympiacos 1x0 Valencia
Kai Försterling/EFE
Time-base Cañizares; Miguel, Albiol, Ayala e Curro Torres; Albelda, Baraja, Vicente e David Silva; Villa e Angulo. Técnico: Quique Sánchez Flores
Cuidado com a
soberba A Internazionale é tão favorita contra o Valencia que pode se deixar pegar pelas poucas vantagens do adversário s currículos falam por si só. De um lado, a Internazionale conta com dois campeões mundiais pela Itália e uma campanha imponente na Série A, com mais de dez vitórias em seqüência e boas chances de ficar com o bicampeonato. Do outro, o Valencia tem apenas dois atletas que foram titulares no Mundial da Alemanha e uma trajetória inconstante no Campeonato Espanhol. Fica claro que o favoritismo é “nerazzurro”, desde que as poucas possibilidades dos Ches sejam respeitadas. Os espanhóis fazem o perfil de clube médio que soube se planejar para ter um time competitivo em nível internacional sem grandes investimentos. Nominalmente, as principais figuras do Valencia nesta temporada têm sido
O Internazionale Time-base Júlio César; Zanetti, Materazzi, Burdisso e Grosso; Cambiasso, Vieira, Stankovic e Figo; Ibrahimovic e Crespo Técnico: Roberto Mancini. Campanha na primeira fase 2º colocado no grupo B Sporting Internazionale Internazionale Spartak Moscou Internazionale Bayern
1x0 0x2 2x1 0x1 1x0 1x1
Internazionale Bayern Spartak Moscou Internazionale Sporting Internazionale
David Silva e Morientes, que surpreende com boas apresentações na Liga dos Campeões. Villa, atacante oportunista e rápido, e Cañizares, melhor goleiro do Campeonato Espanhol 2005/6, não passam por boa fase e alternam grandes atuações com períodos apagados. Com dois de seus principais jogadores em momento instável, a força valencianista é o coletivo. O técnico Quique Sánchez Flores montou o time em um 4-4-2 tradicional espanhol, com meio-campo composto por dois volantes fixos e dois meias abertos, fechando pelo meio para armar jogadas ou fazendo o papel de pontas em alguns casos. A organização tática e o elenco homogêneo dão solidez ao conjunto, que cresce quando joga em casa. Aí a Internazionale corre algum risco, pois o Valencia é capaz de complicar a partida em Milão e levar a decisão para o Mestalla. De resto, é difícil argumentar contra a equipe italiana. Parece que o título nacional da temporada passada, mesmo que conquistado na Justiça, deu ao time de Appiano Gentile a tranqüilidade que lhe faltou nos últimos anos. As crises internas são resolvidas com mais facilidade – incluindo a depressão de Adriano após a Copa do Mundo –, e os jogadores entram em campo sem sentir a responsabilidade de acabar com a estiagem de conquistas do clube. Todos os jogadores cresceram nesta temporada. Júlio César já tem crédito para resistir à sombra de Toldo. Crespo voltou a ser letal na área. Cambiasso e Vieira formam uma dupla de volantes segura e técnica como poucas na Europa. Até Materazzi, depois do Mundial, parece ter se convencido de que pode dar menos pancadas para ser um bom zagueiro. Ainda falta à Inter um pouco mais de brilho para chegar ao título da Liga dos Campeões. No entanto, pode perfeitamente passar pelo Valencia – desde que saiba trabalhar suas vantagens e impeça os espanhóis de tomarem as rédeas do confronto no jogo de volta. [UL]
se fosse um filme, seria... Confrontos anteriores na LC Valencia (1V) / (1E) / (2V) Inter Últimos encontros Valencia 1x5 Inter Inter 0x0 Valencia
20/outubro/2004 02/novembro/2004
“As Torres Gêmeas” Deve passar despercebido do grande público, até porque poucos esperam surpresas no final
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Bilionários no futebol, por Cassiano Ricardo Gobbet
Abramovich e Joorabchian são os nomes que abriram os olhos dos brasileiros para os “megainvestidores” que surgem do nada para comprar clubes de futebol. A pergunta do momento é: eles são positivos para os times ou uma ameaça para o esporte?
Tios Patinhas ou
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andaric; Patarkatsishvili, Gaydamak, Romanov e Berezovsky; Abramovich, Shinawatra e Glazer; Fedorychev, Gaddafi e Mateschitz. Não, esta não é a escalação titular do Vojvodina Novi Sad, embora os nomes sugiram que se trate de um espetacular produto do trabalho de atentos olheiros em países de menor porte econômico. Mesmo assim, os “craques” acima são alguns dos novos protagonistas do futebol internacional, mesmo não sabendo nem se a bola é redonda, em alguns casos. Eles estão entre os novos “donos” de clubes europeus responsáveis pela recente enxurrada de grana boleira – a qual, com muita gente faturando, poucos se perguntam de onde vem. É também graças a esses novos nomes que hoje o seu clube perde jogadores para times que você dificilmente conhece, em países distantes, que até outro dia você só conhecia da aula de geografia e olhe lá, como Bulgária e Ucrânia. De uma certa maneira, o time acima – que tem dezenas de outros “atletas” – é o responsável pela nova geografia da bola no âmbito clubístico. Países que nem existiam há 20 anos hoje não só têm campeonatos, como também são capazes de tirar os grandes clubes brasileiros da briga por jogadores, mesmo que estes últimos ainda não tenham disputado um número suficiente de partidas pelo Campeonato Brasileiro para que o torcedor possa conhecê-los direito.
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Dinheiro móvel A entrada de ricaços desconhecidos no esporte não é uma mania nova. “Já no começo da década de 90, uma tentativa de compra do Manchester United foi encabeçada por um milionário chamado Michael Knighton”, explica o jornalista Ben Lyttleton, do jornal britânico Mail on Sunday. “Ninguém sabia de onde ele vinha e o que queria com futebol”, diz. Knighton era um empresário inglês realmente obscuro e que, sem sucesso nos Red Devils, acabou contentando-se com o menos platinado Carlisle, atualmente na terceira divisão inglesa. De uma maneira ou de outra, a presença de Knighton cha-
mava menos a atenção na Inglaterra pelo fato de ele ser britânico. Como explicar, porém, a multiplicação de russos, iranianos, líbios ou de cidadãos multinacionais, como o franco-russo-israelense Arkady Gaydamak? E o fato de que, agora, eles realmente compram os grandes times? Um dos motivos para isso é a facilidade com que o dinheiro movimenta-se pelo planeta, hoje. Transferir uma fortuna de bilhões de dólares para um paraíso fiscal ou para um país com uma liga poderosa pode ser muito rápido. Tanto investidores agressivos e audaciosos quanto gângsteres corruptos beneficiam-se da moleza, tirando o dinheiro de seus países porque vêem oportunidades melhores em outros lugares ou porque não querem ser pegos pela Justiça ou por rivais. A facilidade para a movimentação do dinheiro explica o fato, mas não explicita seus motivos. Afinal, é fácil transferir fortunas para qualquer negócio, não só para o futebol. O fenômeno tem, portanto, outras explicações. Uma delas, sem dúvida, é a vaidade. Na Europa e em qualquer outro lugar, milionários que se metem no futebol em busca dos holofotes e da afeição popular são comuns há tempos. Gigantes como a Juventus, o Real Madrid, o Milan e o Manchester United tiveram – ou têm – mecenas com participação importante na gestão do clube. Só que com as ligas sendo transmitidas para todo o globo, o Manchester United deixou de ter relevância só para a Inglaterra. Comprar um clube famoso (como Abramovich fez com o Chelsea) passou a ser um modo de ganhar exposição mundial imediata – e eventualmente, com uma megarrepercussão. Além de milionários em busca de atenção, como o russo, o desenvolvimento do negócio futebol também passou a atrair interessados em lucrar, segundo Lyttleton. “Hoje, um clube da Premier League pode gerar centenas de milhões de euros por ano. Empresários como Malcolm Glazer (proprietário americano do Manchester United) vêem as possibilidades de capitalizar quando compram um clube”, afirma. Embora a popularidade do futebol seja antiga,
Abramovich e futebol russo Roman Abramovich (foto), que fez sua fortuna em pouco mais de uma década especialmente com petróleo, tem um longo histórico de envolvimento político com o premiê russo Vladimir Putin – inclusive com uma passagem pelo governo da província de Chukotka. Seu “padrinho”, Boris Berezovsky, foi chamado de “poderoso chefão” russo pela revista de negócios Forbes, o que valeu um processo à publicação. Posteriormente, Berezovsky saiu das graças de Putin e se auto-exilou na Inglaterra com uma poupança bem fornida. Abramovich tem um papel importante no futebol da Rússia. Depois que comprou o Chelsea, não faltaram críticos dizendo que ele deveria investir o dinheiro russo no próprio país, mas o milionário soube fazer bem o trabalho de relações-públicas. Passou a financiar diretamente um dos maiores clubes do país, o CSKA Moscou – que não patrocina mais desde que vendeu sua empresa petrolífera –, injetou dinheiro na federação, e até o salário do técnico Guus Hiddink vem dos cofres que guardam sua fortuna. O comentarista Vasily Konov, do canal de TV russo Channel 1, defende o papel de Abramovich no futebol local e diz que as críticas iniciais sumiram. “Ele paga o salário de Hiddink, patrocina clubes e banca programas infantis de incentivo ao futebol”, afirma Konov. Questionado sobre a origem do dinheiro que entra no futebol russo, o jornalista é direto. “Os mecanismos de controle do dinheiro aplicado no futebol russo são muito rígidos. Não existe dinheiro sujo aqui”, afirma, convicto. Nem todo mundo tem tanta certeza. O Campeonato Russo cresceu muito, passando da 21ª posição no ranking da Uefa, em 2003, para a nona colocação, em 2006. Hoje, segundo Konov, somente os gigantes da Europa, como Barcelona, Manchester United e Milan, podem pagar salários maiores do que os grandes clubes russos. A suspeita sobre a origem do dinheiro, porém, não se dissipa. Fevereiro de 2007
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Ida de Tevez para o West Ham foi uma cartada de Kia para comprar o clube
foi só recentemente que os clubes começaram a gerar as quantidades espetaculares de dinheiro que produzem hoje. Só a vaidade e a busca de bons negócios, porém, não explicam tudo. Assim, vale a pena também debruçar-se sobre outro aspecto que chama a atenção para os neobilionários: a origem de suas fortunas. Lucros cósmicos originados em circunstâncias nebulosas são a comuns à maioria dos impérios que acabam impulsionando os clubes. Na hora em que o dinheiro cai no bolso de todos os envolvidos – jogadores inclusos –, pouca gente se pergunta a sério de onde vem. A resposta para essa pergunta é, em muitos casos, assustadora, muito mais do que os tradicionais problemas de desvio de dinheiro no esporte ou de cartolagem corrupta. Ainda que o futebol possa ser um caminho rápido para a fama e a popularidade para alguns, ou um negócio rentável para empresários como Glazer, sobre o qual não pesa nenhuma suspeita de desonestidade, ele também atrai outro tipo de “profissional”: os “lavadores de dinheiro”, que querem transformar dinheiro de origens obscuras em dinheiro legal.
Os ricaços do futebol Milan Mandaric
Arkady Gaydamak
Pini Zahavi
Empresário que nasceu na Croácia, tem nacionalidade norte-americana, mas é sérvio. Um dos pioneiros do Vale do Silício (região de desenvolvimento de informática nos Estados Unidos), era o dono do Portsmouth, que vendeu para Alexandre Gaydamak. Comprou um clube na Eslovênia, o Koper, e está negociando para adquirir o Leicester, da Inglaterra.
Franco-russo-canadenseisraelense-angolano, Gaydamak nasceu na verdade na Ucrânia. No início dos anos 70, imigrou para Israel e mais tarde para a França, de onde teve que fugir por causa de acusações de envolvimento com a venda ilegal de armas para Angola, entre outros crimes. É dono do Beitar Jerusalém, de Israel.
É o empresário mais poderoso do futebol europeu, hoje. Nascido em Israel, esteve por trás de algumas das transferências mais caras da história, como a ida de Rio Ferdinand e Juan Sebástian Verón para o Manchester United. Foi investigado no caso em que o Chelsea tentou aliciar Ashley Cole, então jogador do Arsenal. Tem relações estreitas com a maioria dos milionários russos no futebol, como Abramovich, Berezovsky e Gaydamak.
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Alexandre Gaydamak Filho de Arkady, comprou de Mandaric o Portsmouth em 2005, levando o notório Pini Zahavi para ser seu diretor de futebol.
Badri Patarkatsishvili
Boris Berezovsky
Vladimir Romanov
Presidente do Dínamo Tbilisi e do Comitê Olímpico Georgiano, tentou comprar, junto com Kia Joorabchian, o West Ham, clube para o qual foram Tevez e Mascherano. Adivinhe de quem ele é chegado? De Boris Berezovsky, suposto sócio de Joorabchian na MSI.
Para quem não sabe, Boris Abramovich Berezovsky. Ricaço russo da pesada, era amigão de Vladimir Putin, com quem brigou e preferiu deixar a Rússia. Doutor em matemática, estaria por trás da possível proposta de Patarkasishvili pelo West Ham.
Lituano de origem russa, é dono de um banco na Lituânia, com o qual financia as contratações do Hearts, da Escócia, que comprou e livrou das dívidas. Brigou com a torcida ao demitir o técnico George Burley quando o clube era líder da Premier League escocesa. Motivo? Queria escalar o time.
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Negócios que giram muito dinheiro vivo, como restaurantes, ou bares, são ideais para “lavar” grana de origem duvidosa, porque o controle externo da contabilidade é muito difícil. Não existem muitos negócios desse tipo que movimentem mais dinheiro do que um clube de futebol, principalmente um europeu. São bilheterias, lojas e bares, eventualmente recebendo centenas de milhares de pessoas numa única semana. Não se engane. Muito (mas muito mesmo!) do dinheiro que é investido no futebol de hoje vem dos mesmos ralos de onde saem traficantes, terroristas, políticos corruptos, ditadores e sonegadores.
Só os russos? Sempre que se fala em algum milionário desconhecido entrando no futebol, pensa-se em um russo. Isso acontece por causa do mais famoso deles, Roman Abramovich (leia box na pág. 43), que comprou o Chelsea quatro anos atrás. Não é só isso. O número de magnatas daquele país que vão para o exterior atrás de negócios incomuns é maior do que a média. A razão? Depois da queda
Roman Abramovich É o modelo dos milionários que entram no futebol. Em menos de duas décadas, passou de um negócio de pneus em Moscou para uma das maiores fortunas do mundo. Diz-se que estava tentando comprar o Tottenham, mas, quando deixava o estádio de White Hart Lane de helicóptero após um dia de negociações fracassadas, viu Stamford Bridge. Pousou e comprou o Chelsea, então em estado financeiro delicado, rapidamente.
Thaksin Shinawatra Bilionário tailandês que fez sua fortuna no ramo das telecomunicações, era premiê da Tailândia quando tentou comprar o Liverpool. Em meio a inúmeras acusações de corrupção, foi tirado do poder por um golpe militar que teve o apoio do rei do país.
Malcolm Glazer Dono do Tampa Bay Bucaneers (time de futebol americano do estado da Flórida), virou o norte-americano mais odiado entre os torcedores do Manchester United, ao comprar o clube. Parte da torcida ficou tão revoltada com a chegada da família Glazer que fundou outro time, o FC United of Manchester, atualmente na nona divisão inglesa.
Alexei Fedorychev É o dono da Fedcom, empresa de mídia que detinha os direitos de transmissão do Campeonato Russo até 2006. Comprou o Dynamo Moscou, por ter jogado nas divisões de base do clube. Sua companhia também patrocinou o Monaco, time da primeira divisão francesa.
Al Saad Gaddafi Se você não tiver talento, ainda pode ser jogador de futebol. É só o seu pai ser o ditador eterno de um país rico em petróleo, como a Líbia. “Gaddafinho” investiu no Perugia e na Juventus e acabou até jogando na Série A. Ou melhor: treinando com a Juventus e ficando no banco do Perugia, graças às ações compradas pela Tamoil, empresa de petróleo da família.
Dietrich Mateschitz Marqueteiro que ficou rico com o “energético” Red Bull, e depois milionário com suas sacadas de marketing. Já tem brinquedos como uma equipe de Fórmula 1 e um hangar de aviões históricos. Comprou um clube austríaco, o Casino Salzburg, e não teve vergonha de ser marketeiro e mudar o nome do time para a marca de sua bebida energética.
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Um dos argumentos dos “puristas” contra a proliferação dos ricaços da bola – ou, pelo menos, contra aqueles que investem pensando no retorno financeiro – é o de que os clubes, sob a gerência deles, se descaracterizaram, vendendo seus craques simplesmente pela melhor oferta, subindo preços de ingressos e afastando torcedores fiéis em favor de fãs com mais dinheiro. Quem assistia a partidas do Chelsea antes de Ken Bates, o ricaço que comprou o clube para depois vendê-lo a Abramovich, era principalmente a classe trabalhadora londrina, que compunha majoritariamente as base de torcedores dos Blues – algo muito diferente do que se vê hoje, com ingressos caros e camarotes nos quais se toma espumante francês. Falar em “purismo”, nesse caso, é até bondade. A época em que os clubes gerenciavam seus negócios tendo a torcida como prioridade já vai longe. Ainda que algumas agremiações tenham mais ou menos consideração com as torcidas, nenhuma deixa de priorizar o cofre. Leva quem pagar mais. Seja o dono inglês, russo, ou anglo-somali-norte-coreano, o torcedor só conta se for consumidor. Apesar disso, os donos “negociantes” não são os únicos responsáveis pela situação. As mudanças nas regras para a “importação” de jogadores também contribuíram para a maior mobilidade dos craques – e para a “descaracterização” dos times. O dinheiro que o futebol passou a gerar, idem. “Na década de 60, o time do Celtic campeão europeu só tinha jogadores nascidos nos arredores do estádio. Hoje, a Premier League tem centenas de estrangeiros. É um fenômeno sem volta”, afirma Ben Lyttleton, do Mail on Sunday. Uma rápida comparação entre o Liverpool campeão europeu de 1984 e o de 2005 também é reveladora. Enquanto no primeiro apenas o goleiro Grobbelaar, do Zimbábue, não era britânico, no segundo só Carragher e Gerrard eram. Culpa não só da sede de lucros dos capitalistas, mas também da possibilidade de os próprios jogadores – e seus agentes – colocarem uma polpuda parte desses lucros no próprio bolso.
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Stephen Pond/EPA
Vendendo a alma?
Chegada de Glazer ao Manchester United irrritou torcedores
da União Soviética, no início da década de 90, o imenso mercado russo tornouse uma “terra de ninguém”, que deixou espaço para a construção – honesta ou não – de imensas fortunas. Há vários russos dispostos a apostar dinheiro em setores incertos como o futebol, mas investidores desse tipo vêm de todo o mundo. Há norte-americanos, irlandeses, ingleses, chineses, coreanos, árabes, iranianos e até um pessoal que tem vários passaportes. A inundação de dinheiro parte de todo lugar. Normalmente, também se conecta o dinheiro sujo aos milionários russos, mas o problema não é só em Moscou. Verdade: muita lavagem de dinheiro rolou lá depois da queda do comunismo, porque a estrutura de poder antiga sumiu e o que se seguiu foi um verdadeiro carnaval, com amigos do poder comprando barato o que havia para comprar. Entretanto, é bom lembrar que os ex-donos italianos de Parma e Lazio foram em cana por falcatruas financeiras, assim como o folclórico Jesús Gil y Gil, do tradicional Atlético de Madrid. Se você parar para pensar no Brasil, não é difícil imaginar quem é quem na gatunagem. A diferença é que, por aqui,
ninguém se interessou ainda em levantar o tapete para ver o que há por baixo dele. Escândalos envolvendo dirigentes são freqüentes, o que não faz com que a torcida deixe de apoiá-los. Em 2005, com o Corinthians campeão brasileiro, torcedores e a maioria esmagadora da mídia preferiam discutir as possibilidades da equipe na Libertadores e suas novas contratações do que conjecturar sobre a origem do dinheiro da MSI. Em 2006, sem os atletas da empresa, até os mais venais falaram no assunto. Só esquecem de mencionar um detalhe: com dinheiro honesto ou não, Kia Joorabchian comprou o Corinthians – só que não entregaram para ele. Ou seja, se for de fato desonesto, o iraniano não é o único. Isso, para a torcida, parece não fazer diferença nenhuma. Como, aliás, não fazia para a do São Paulo, multicampeão no início dos anos 90, sob o patrocínio de uma empresa cujo dono se envolveu em escândalos de desvio de dinheiro público, fato que respingou sobre a administração do clube. A reação da torcida tricolor? A criação de um novo grito de guerra: “Presidente ladrão / São Paulo campeão”.
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Divulgação
História, por Rafael Martins
O Pelé
russo Mundial de 1958 será, para sempre, a Copa de Pelé. Com apenas 17 anos e desconhecido fora do Brasil, o jovem craque santista levou a Seleção ao título daquele torneio, começando, ali, a trajetória que o levaria a ser considerado o melhor jogador da história. Antes do início do torneio, entretanto, eram três os jogadores muito jovens, que tinham tudo para se tornar lendas do futebol. Para melhorar o roteiro do espetáculo, as seleções que eles defendiam – Brasil, Inglaterra e União Soviética – se enfrentariam logo na primeira fase do torneio. Pelé, Duncan Edwards e Eduard Streltsov fariam coisas geniais, era o que dizia o script. Desgraçadamente, entretanto, alguém rasgou o texto, e apenas o papel de Pelé ficou intacto. Um desastre aéreo em fevereiro de 1958 abreviou a vida de Edwards e de quase todo time do Manchester United. Três meses depois, Streltsov, do Torpedo Moscou, seria acusado da autoria de um nebuloso crime, o que o privou de disputar a Copa e ceifou sete anos de sua carreira. Sem ele, a União Soviética acabou eliminada da Copa pela anfitriã Suécia, nas quartas-de-final – a mesma Suécia que, com o ídolo do Torpedo em campo, havia sido batida por 6 a 0, naquele mesmo ano. Em 1957, Streltsov fora artilheiro do Campeonato Soviético. Antes, em 1954, tornara-se o jogador mais novo a fazer um gol na competição. Seu clube, entretanto, não era o predileto das autoridades. O emergente Torpedo era o time do proletariado, enquanto o CSKA pertencia ao exército e o Dynamo Moscou era vinculado à KGB. O artilheiro teria, então, sido “intimado” a transferir-se para um clube ligado ao “establishment” soviético, mas recusou o “convite”. Uma simples recusa a obedecer um desejo do poder central poderia até não ser tão grave, não fosse a personalidade de Streltsov, conhecido por seu carisma, atrevimento e charme – que contrastavam com a tirania do regime político de seu país. O visual “rebelde” e a atitude independente do jogador, aliados a sua popularidade,
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Streltsov (ao centro) foi a grande ausência da Copa de 1958
causavam preocupação no governo. Somase a isso outro incidente, numa recepção aos heróis olímpicos, no Kremlin. O craque do Torpedo teria dito à Ministra da Cultura, Yekaterina Furtseva, que jamais se casaria com sua filha. Não era exatamente o tipo de herói que o país procurava. Poucos meses antes da Copa, em maio de 1958, foi realizada, em Tarasovka, ao norte de Moscou, a primeira etapa de preparação da seleção soviética para o Mundial. No dia 25, os treinamentos terminaram, e na manhã seguinte todos retornariam para casa – menos Streltsov. À noite, ele decidira ir, com os companheiros Tatushin e Ogonkov, a uma festa na casa de um oficial do exército. No caminho, os rapazes foram apresentados a Marina Lebedeva, de 20 anos. O que se passou naquela noite, ninguém sabe. Pela manhã, porém, Lebedeva escreveu uma carta ao promotor público de Moscou, afirmando ter sido estuprada por Streltsov, que foi imediatamente preso. Os trabalhadores da ZIL, fábrica de automóveis ligada ao Torpedo Moscou, tencionavam fazer uma passeata de protesto, ímpeto freado pela confissão do ídolo. Crê-se que Streltsov admitiu sua culpa devido à falsa promessa de que, agindo assim, garantiria um posto no grupo que iria à Suécia. O julgamento, como muitos na antiga União Soviética, não foi transparente. Nos depoimentos, há contradições, imprecisões (as testemunhas estavam bêbadas) e, cogita-se, adulterações. A suspeita de que Streltsov foi alvo de uma conspiração não é infundada, já que sua popularidade incomodava muita gente. Depois da detenção, os jornais e as estatísticas esportivas da URSS simplesmente passaram a fingir que jamais havia existido um Eduard Streltsov – outra prática usual do regime. Livre da prisão em 1963, ele só pôde retomar sua carreira no fim de 1964, após grande pressão popular. Seu desempenho após o longo e sombrio intervalo foi, para quem pretendia condená-lo ao ostracismo, um grande revés. A velocidade, compreensivelmente, não era a mesma, mas a habilidade, a audácia e a clarividência haviam se conservado. Na temporada de 1965, ele foi campeão nacional pelo Torpedo. Em 1967 e 1968, elegeram-no – por merecimento, e não como consolação – jogador do ano na URSS. Embora oscilasse entre mártir e mito, o “Pelé Russo” era, sobretudo, um craque. Mestre no toque de calcanhar (na Rússia, essa jogada até hoje carrega o seu nome), Streltsov nunca quis falar sobre o que ficou para trás. Morreu em 1990, e hoje o antigo estádio do Torpedo leva seu nome. Em 2001, o político Yury Luzhkov e o enxadrista Anatoly Karpov criaram o Comitê Streltsov, dedicado a restaurar a reputação do jogador perante a justiça – para o público, ela foi restaurada há tempos. Para o mundo, fica a pergunta: o que poderia ter acontecido se Eduard Streltsov tivesse jogado a Copa de 1958? Fevereiro de 2007
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Exceção
Entrevista, por Carlos Eduardo Freitas
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à regra
Diferentemente de outros treinadores italianos, Arrigo Sacchi tornou-se conhecido por conseguir implementar um estilo de jogo bonito e eficiente, no Milan dos anos 90. Nesta estrevista à Trivela, o ex-técnico dos Rossoneri e da Itália fala do clube italiano e de sua recente passagem pelo Real Madrid
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etranca, jogo feio e chato. Eis apenas algumas das maneiras como se costuma descrever o futebol italiano. Há até mesmo uma palavra para descrever seu esquema de jogo mais comum: o “catenaccio”, ou cadeado. Como em quase tudo na vida, há exceções. No caso do “calcio”, ela responde pelo nome de Arrigo Sacchi. Jogador profissional inexpressivo, Sacchi tornou-se um dos mais respeitados treinadores na Itália depois de revolucionar o jogo no país com o Milan, entre 1987 e 1991. Naquele time, implantou um sistema de jogo que seguia os ideais do “futebol total”, da Laranja Mecânica de Rinus Michels: ocupar todos os espaços e atacar com força máxima. “Jogávamos por prazer”, define. E admite que teve sorte: “Quando cheguei, já tinha à disposição Van Basten e Gullit”. Seu estilo é tão marcante que, hoje, não são poucos os jogadores daquele Milan fantástico – que conquistou duas Copas dos Campeões e outros quatro títulos internacionais – que treinam equipes tradicionais: Rijkaard dirige o Barcelona campeão europeu, Van Basten, a Holanda, Ancelotti, o próprio Milan, e Donadoni, a Itália. De todos, porém, o único em cujo time o italiano vê alguma semelhança com aquele Milan do final dos anos 80 é Rijkaard. “Sinceramente, não acho que tenha influenciado tanto assim”, diz. Sacchi esteve no Brasil no início de dezembro, para participar do III Footecon, fórum organizado por Carlos Alberto Parreira. Em sua palestra, contou um pouco do processo de formação daquela equipe do Milan e também falou sobre sua rápida passagem como diretor técnico do Real Madrid. Foi o italiano, aliás, o responsável por levar Vanderlei Luxemburgo para o clube. Nesta entrevista exclusiva concedida à Trivela no Rio de Janeiro, Sacchi mostra o quão difícil foi trabalhar na equipe madrilena. Além disso, comenta que considera Kaká o melhor jogador do mundo e também explica por que o futebol italiano não é tão vistoso quando o de outros países.
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Depois de sua passagem como diretor técnico do Parma, quais os principais desafios que você enfrentou como diretor no Real Madrid? Foi uma experiência nova para mim e algo bastante diferente do que havia feito como treinador ou mesmo como diretor. Digo que sempre tive muita sorte em todos os clubes por onde passei. Por que, então, você saiu? O problema é que estava acostumado a ter condições de trabalhar da maneira que eu queria. Se não posso trabalhar assim, peço desculpas, agradeço e vou embora. Preciso dizer que o Real Madrid é um clube fantástico, histórico e foi um prazer e um orgulho ter passado por lá. Agradeço ao clube por ter me chamado. O que me dói foi não ter podido fazer tudo o que eu planejava. O que houve, exatamente? Era muita pressão da diretoria. Havia também a posição “filosófica” do clube, que pensava que o jogador é
a coisa mais importante do mundo. Saí de lá exatamente por isso, pois não aceito que se dê privilégio a alguns poucos atletas. Costumo dizer que é importante ter um grupo compenetrado. É preciso tomar cuidado na hora de contratar jogadores, para virem apenas aqueles que pensam da mesma maneira, que têm o mesmo amor pelo que fazem. Todos têm de trabalhar na mesma intensidade, e não uns muito e outros pouco. Costuma-se dizer que no Real Madrid o marketing é mais importante do que o futebol propriamente dito. Você, que trabalhou lá, concorda com isso? Agora não mais, mas as coisas mudaram bastante por lá desde que saí. Se estivermos falando de um passado recente, sim, dá para dizer isso. Como você avalia a passagem de Vanderlei Luxemburgo pelo Real Madrid? Ele é um grande treinador e tem muita experiência e capacidade. O que posso falar? Se para mim o trabalho era complicado, para ele era impossível.
Você acha que o fato de ele ter levado tantos brasileiros para a Espanha prejudicou a situação dele lá? Não, não foi esse o problema. Trabalhar em um clube que não tem clareza de idéias é que é o problema. São tantas coisas que nem gosto de falar a respeito. Mudemos, então, de assunto. Alguns jogadores com quem você trabalhou naquele Milan fantástico do início dos anos 90 são hoje técnicos de clubes e seleções renomadas, como Rijkaard, Donadoni, Ancelotti e Van Basten. Você acha que, de alguma maneira, serviu de inspiração para eles? Sinceramente, não acho que os tenha influenciado tanto assim. Seria mais fácil perguntar para eles. Digo isso, que não fiz escola, porque cada um deles tem um estilo diferente, que pouco lembra o do Milan em que trabalhamos juntos. Todos eram jogadores excepcionais e muito inteligentes. Isso, sim, foi definitivo para terem chegado onde chegaram. São os velhos Fevereiro de 2007
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Angel Díaz/EFE
Se para mim o trabalho no Real era complicado, para Luxemburgo era impossível
jogadores do Milan que viraram treinadores, não os de Sacchi. Por exemplo: Donadoni é conhecido por sua adaptabilidade tática, enquanto eu diria que sou mais rígido (risos). Ancelotti não tem no Milan o mesmo tipo de jogadores que eu tinha. Por isso, não dá para dizer que seu time tenha algo de parecido com o meu. Van Basten é da escola holandesa, principalmente por jogar com alas. O Rijkaard, talvez, é aquele cujo estilo tem um pouco mais de semelhança com o meu. Seu Barcelona tem qualquer coisa daquele Milan, principalmente na busca sistemática da superioridade numérica e na busca ostensiva pela bola. O Milan está muito mal na atual temporada. Há quem diga que uma das razões para isso foi a saída de Shevchenko, que seria um jogador “insubstituível”. Você concorda?
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É complicado dizer que a saída de um jogador possa ser o motivo principal pelo desempenho ruim de qualquer equipe – ainda mais quando o time tem em seu elenco o melhor do mundo. Que seria? O Kaká, claro. Para mim, trata-se de um jogador fenomenal. Ele tem personalidade, joga com e sem a bola, sabe se movimentar. Não tê-lo contratado pelo Parma é uma das coisas das quais mais me arrependo. Naquela fase, em que não sabíamos até onde poderíamos contar com a ajuda da Parmalat, nos desfizemos de todos os jogadores com valor que tínhamos e fomos atrás apenas de jovens, com 20, 21 anos. Foi aí que trouxemos Adriano, Mutu, Gilardino, Bonera, Ferrari e Barone. Naquela mesma época, meu amigo Francisco Maturana sugeriu que desse uma olhada nele: “Você vai ficar encantado”, me disse, à época. Infelizmente, não tive tempo de vir ao Brasil para observá-lo. Quando o Milan o contratou – e por um valor normal, cerca de € 8 milhões –, fui ver sua estréia, um amistoso contra o Cesena. Ao fim do jogo, fui ao vestiário conversar com Ancelotti e Tassotti, dois amigos e ex-jogadores meus. Fui parabenizá-los, pois tinham contratado um jogador de altíssimo nível. Por falar no Gilardino, o que acontece com ele, que era destaque no Parma e, desde que foi para o Milan, ainda não se mostrou um jogador tão decisivo como naquela época? Costumo dizer que a equipe melhora a pessoa. Ele é jovem e ainda não tem uma personalidade muito bem definida. Está sofrendo muito com a situação atual do Milan, mas tem tudo para tornar-se um grande jogador, se o clube se reencontrar. Comparado com outros países, como Brasil e Argentina, você acha que a Itália, com a tradição que tem, revela tantos jogadores quanto deveria? A Itália, assim como Brasil, Argentina e Inglaterra, tem uma história futebolística importante. Portanto, sempre
revelaremos jogadores de qualidade. Só acho que devemos pensar cada vez mais nas categorias de base e tentar melhorá-las, além de investirmos mais do que nos últimos anos. Se fizermos isso, tenho certeza de que sairão cada vez mais bons jogadores italianos. No período em que você era treinador, por que você nunca dirigiu jogadores brasileiros? Como técnico, de fato, nunca trabalhei com brasileiros – só como diretor técnico –, mas posso dizer que são jogadores de alto nível. No Parma, trabalhei com Adriano, Júnior e Taffarel. No Real Madrid, tive um monte deles, de nível extraordinário. Em alguns casos, Deus deu muito, mas eles não sabem aproveitar inteiramente seus talentos – muitos deles, fenomenais. O que posso dizer é que sempre gostei de jogadores talentosos, que jogam com a equipe, para a equipe, o tempo inteiro. Não interessa se são brasileiros, argentinos, italianos ou holandeses. Tem outra coisa: até a época em que treinei o Milan, só podíamos ter dois estrangeiros. Depois, passaram para três. Só quando estava na seleção italiana é que aumentaram o limite. A respeito de sua passagem pela seleção italiana, você sempre foi considerado um técnico que se preocupou com a beleza do futebol. Por esse motivo, se decepciona por ser lembrado como o técnico de uma das equipes que jogou a final mais feia de uma Copa do Mundo, a de 1994? Disputamos uma partida na costa leste dos Estados Unidos, que é uma das piores regiões para se jogar futebol no verão. As temperaturas variam entre 30 e 45 graus. Até mesmo à noite, mesmo com o ar condicionado, o calor era insuportável. Chegamos a Los Angeles na quinta-feira e não treinamos uma vez sequer até a partida, porque os médicos nos disseram que isso prejudicaria ainda mais um grupo que estava com os índices de fadiga elevadíssimos. Falando do jogo, é claro que pensei que poderia ser
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melhor. Foi aí que descobri o quão profissionais eram aqueles jogadores que chegaram até onde a força não lhes permitia mais. Naquele jogo, lembro-me que fomos para o vestiário, e Donadoni me disse: “Estamos mortos”. Outros chegaram a dizer que não tínhamos condições de continuar atacando com três jogadores. Todos estavam com câimbra. Por isso, preferimos defender com muitos e atacar com poucos. À Itália é famosa por ser um país privilegiado quanto a expressões artísticas. Por que o futebol italiano é sempre considerado um dos mais feios? Pelo medo do fracasso. O italiano é um povo diferente nesse sentido: se
não nos pedem nada, não o fazemos. O futebol italiano, esteticamente falando, não é mesmo dos mais bonitos, mas isso acontece porque nunca cobraram beleza – cobram vitórias. Não interessa se ganhamos com uma jogada estranha, num erro do rival ou de qualquer outra maneira, mas sim que ganhemos. As Copas de 1982 e 2006 são provas disso. Os jogadores sabiam que estariam mortos se voltassem para casa sem o título. Isso, sem dúvida, deu uma forcinha. Espero que com esse título melhoremos nossa cultura geral. Você acha, então, que o título conquistado na Alemanha trará benefícios para o futebol italiano?
Sem dúvida. A Itália está vivendo um momento difícil e complicado. O Mundial foi apenas um alívio por alguns dias. A situação, em geral, ainda não é nada boa. Com isso em vista, torço para que recuperemos o amor pelo futebol e a alegria de jogar. Devemos apenas mudar um pouco o rumo e traçar uma trajetória diferente, com clubes sérios, balanços econômicos sérios e com equipes que possam dar mais tranqüilidade de trabalho para seus treinadores. Isso, por si só, tornaria o jogo mais harmonioso, bonito, divertido e emocionante. Profissionalmente, o futebol na Itália já melhorou muito. Agora, precisamos só acertar o lado ético. Fevereiro de 2007
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O futebol italiano não é mesmo dos mais bonitos, já que ninguém nos cobra beleza
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Rivalidade é o que não falta Em Moscou, pelo menos cinco times dividem os títulos e a torcida da cidade maior parte das grandes cidades do mundo ocidental reúne pelo menos dois times que centralizam a atenção dos torcedores locais e geram uma deliciosa rivalidade no futebol. Muitas possuem três ou quatro grandes equipes, que dividem os títulos e a torcida da cidade. Porém, como Moscou, são poucas no mundo. A capital russa reúne cinco dos maiores e mais populares times do país – CSKA, Dynamo, Lokomotiv, Spartak e Torpedo. O único dos “grandes” da Rússia que não está na cidade é o Zenit, de São Petersburgo, antiga capital nacional. A rivalidade entre os clubes é histórica e vem dos tempos da União Soviética. Praticamente todos os times do país tinham ou ainda têm alguma ligação com o governo ou com sindicatos. O CSKA, por exemplo, sempre foi o time do exército, enquanto o Lokomotiv era a equipe dos ferroviários. Isso fez com que cada um criasse uma identidade própria, fortalecendo ainda mais a rivalidade regional, que já seria normal. Os trabalhadores das empresas automobilísticas, por exemplo, tendiam a torcer para o Torpedo, pela ligação do clube com a empresa automobilística ZIL, enquanto o Dynamo era sempre visto com
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suspeitas por suas ligações com o Ministério de Relações Internas da União Soviética. O Torpedo, por sinal, foi rebaixado pela primeira vez em sua história em 2006, o que deixou o Dynamo como a única equipe que nunca caiu na Rússia. De todos, o Spartak é o clube com mais história e torcida de Moscou e mantém com o Dynamo a maior rivalidade da cidade. Seu próprio nome e origem, vinculada aos sindicatos e não ao governo, fizeram dele o “time do povo”, como é conhecido. Além do mais, em termos de títulos, só fica atrás do Dynamo Kiev (da Ucrânia) nas conquistas soviéticas, com 12 títulos – além de ser o maior vencedor da Premier Liga, criada em 1992, com nove títulos conquistados. A cidade também tem outras equipes menores, que disputam a terceira divisão, dividida em cinco regiões. Porém, um caçula tem ganho espaço. Fundado em 1993 pela ZIL, antiga dona do Torpedo, o FC Moscou está há alguns anos na primeira divisão. Após muitas trocas em seu comando, atualmente pertence ao governo de Moscou. Com tantos times, é natural que exista um grande número de estádios. Os principais são o Dynamo – onde mandam os jogos o próprio Dynamo e o CSKA –; o Lokomotiv, da equipe de mesmo nome; o Luzhniki, que recebe as partidas de Torpedo e Spartak; e o Torpedo (Eduard Streltsov) – que, curiosamente, é a sede do FC Moscou, já que sua proprietária vendeu o clube, mas não o estádio. O Luzhniki é o maior e melhor do país, está nas lista dos “cinco estrelas” da Uefa e foi escolhido pela entidade para sediar a final da Liga dos Campeões de 2008. O estádio tem histórias de sobra para contar. Inaugurado em 31 de julho de 1956, com uma
Spare Spare/Reuters
Capitais do futebol, por Gustavo Hofman
vitória da União Soviética sobre a China por 1 a 0, o Luzhniki passou por várias reformas, recebeu uma Olimpíada, uma final de mundial de hóquei no gelo, um imenso festival de música e, hoje, é o único dos grandes estádios da Europa a usar grama artificial, o que incomoda muito as grandes equipes européias que são obrigadas a jogar lá. O estádio tem hoje capacidade para 84.745 torcedores, mas nos Jogos Olímpicos de Moscou, em 1980, quando recebeu os eventos de abertura e encerramento (com o famoso choro da ursa Mischa),
clubes da cidade 1 Football Club
Premier Liga
Spartak Moskva 9 Campeonatos Russos 12 Campeonatos Soviéticos 3 Copas da Rússia 9 Copas da URSS
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2 Central Sports Club
of Army Moskva 1 Copa Uefa 3 Campeonatos Russos 7 Campeonatos Soviéticos 3 Copas da Rússia 5 Copas da URSS
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Dinamo Moskva 11 Campeonatos Soviéticos 1 Copa da Rússia 6 Copas da URSS
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MARCADO PELA TRAGÉDIA O Estádio Luzhniki tem sua história manchada de sangue e vergonha. Em 20 de outubro de 1982, Spartak Moscou e Haarlem (HOL) se enfrentavam pela Copa Uefa. No final do jogo, com o placar em 1 a 0 para os donos da casa, a torcida começou a ir embora pela única saída liberada pelas autoridades. Nos acréscimos, o Spartak marcou o segundo gol, e milhares de torcedores correram de volta para o estádio, espremendo-se contra os que saíam. Na confusão, a polícia impediu que os torcedores voltassem, e 66 pessoas morreram na tragédia. No dia seguinte, apenas uma nota no jornal Vechernyaya Moskva foi divulgada sobre o incidente, ocultando as mortes. Algumas famílias só puderam enterrar seus parentes 13 dias após o ocorrido. Somente um oficial foi punido. A população russa só ficou sabendo da verdade em 1989, com o fim da URSS, quando o Sovetskiy Sport publicou uma longa reportagem sobre a tragédia. Hoje, há um monumento para as vítimas no Luzhniki.
Lokomotiv Moskva 2 Campeonatos Russos 4 Copas da Rússia 2 Copas da URSS
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Moscou 10.400.000 habitantes (2005)
Presnya
6 Football Club
5 Football
Club Moskva Nenhum título
Rússia
Torpedo Moskva 3 Campeonatos Soviéticos 1 Copa da Rússia 6 Copas da URSS
Second Division
4 Football Club
Equipes como o Dynamo e o Spartak contam com orçamentos assombrosos, normalmente bancados por empresários que se tornaram bilionários com o desastrado sistema de privatizações do país após o fim da URSS. Se antigamente, no período socialista, os vínculos dos torcedores com os clubes tinham um caráter mais comunitário, atualmente as novas gerações estão mais preocupadas com as novas contratações do time para a temporada – mudança que reflete as transformações por que passou o país.
First Division
chegou a abrigar 103 mil pessoas. Porém, sua história ficou marcada com o desastre de 1982, quando morreram 66 torcedores num jogo do Spartak (veja box ao lado). Moscou, hoje em dia, é uma cidade cosmopolita como qualquer grande capital européia. Com o aumento dos investimentos privados nos clubes da cidade, cada vez mais jogadores estrangeiros aterrisam no aeroporto Sheremetyevo, um dos cincos da cidade. O CSKA é a prova disso, já que tem sido o maior campeão dos últimos tempos no país e possui um elenco global.
localização
Grama sintética do Luzhniki vai receber a final da Liga dos Campeões de 2008
Torpedo-RG Sportacademclub Nika
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Kai Försterling/EFE
Embaixadas Itália, por Cassiano Ricardo Gobbet Segundo uma publicação italiana especializada em negócios no futebol, a insistência da Roma para tirar o ala-esquerdo sulcoreano Lee Young-Pyo do Tottenham não passa só pelas necessidades do clube de Trigoria em achar um substituto para Mancini, provavelmente de saída em julho. O clube da capital tem contatos em andamento com diversas empresas da Coréia do Sul, com vistas a conseguir um patrocinador de peso para sua camisa (o clube está há mais de 18 meses sem um anunciante). Nesse contexto, Lee seria o nome que falta para convencer os industriais sul-coreanos, que usariam o jogador como garoto-propaganda.
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“Animal” Cassano, assim como Edmundo, viu carreira degringolar por causa da atitude uando Antonio Cassano apareceu no Bari, lançado por Eugenio Fascetti, em 1999, instantaneamente chamou a atenção. O camisa 10 dos Biancorossi era visivelmente um jogador com um talento de um outro nível, aquele que consegue decidir sozinho uma partida difícil ou fazer um time medíocre parecer um adversário temível. Tanto chamou a atenção que a Roma veio no começo da temporada 2000/1 e fez um cheque de € 35 milhões para pegar o menino na temporada seguinte. Seu sonho era jogar com Totti, e ele conseguiu. Daí em diante, tudo o que Cassano fez foi seguir a mesma trilha de Edmundo e tantos outros gênios incompletos, que, antes do lançamento, lembram um foguete, mas jamais saem do chão. Sua ida para o Real Madrid era a crônica de uma morte anunciada: a morte de seu futebol. Seduzido pela tentação da capital espanhola, Cassano fez tudo. Caiu na noite, foi acusado de aproveitar demais a “movida” madrilena, comeu tudo o que estava disponível entre o sul da França e o Estreito de Gibraltar, foi confundido com a bola em diversos jogos e arrumou brigas. A única coisa que nunca fez com a camisa “blanca” foi jogar bola. O temperamento irascível e a falta de profissiona-
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Ex-grande promessa, Cassano agora é mico em Madrid
lismo do atacante de Bari Vecchia esgotaram a paciência do Merchandising FC, que já avisou que o jogador está disponível para quem quiser pegar. Nem assim, valendo tanto quanto um atacante do Iraty (ou menos), o mercadológico Real encontra compradores. Cassano é o jogador tecnicamente mais refinado de sua geração, mas é a prova viva de que técnica e habilidade são apenas uma fração do que é preciso para fazer um grande jogador. Seu comportamento, com expulsões, afastamentos, brigas e intrigas, prejudicou seus clubes em diversas vezes. Entretanto, causou infinitamente mais males a ele mesmo, que não só deixou de estar na Azzurra campeã do mundo, como se transformou em um “mico”. A comparação com craques do estilo de Edmundo – aqueles que prometiam um Pelé e acabavam suas carreiras com inconstantes espasmos de glória – é obrigatória. A vantagem que Cassano tem é a idade. Com menos de 25 anos, o atacante ainda tem todo o tempo do mundo para escrever seu nome na história do futebol. Sua única chance é receber um tratamento de choque, se for para um clube com um treinador de estilo paternalista e paciente. Ou seja: é bem mais provável que assistamos à autodestruição de mais um sonho.
pallonetto
da vez
Logo depois da 13ª vitória consecutiva da Internazionale na monótona Série A desta temporada, a Snai, a maior casa de apostas da Itália, suspendeu a possibilidade de se apostar no clube de Roberto Mancini para levantar o “scudetto”. Diante da chance de ver a líder conseguir o 14º sucesso consecutivo, a cotação para quem quiser colocar dinheiro na Inter é praticamente sem lucro. A Roma é o clube, segundo a cotação Snai, que mais “ameaça” os milaneses: em caso de título romanista, a banca paga 12 euros por cada um apostado.
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Espanha, por Ubiratan Leal
Autônomas,
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mas nem tanto
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dores que rejeitam as convocações para defender as cores de sua terra natal. Há, porém, muitas nuances que merecem ser analisadas nessa questão. Na Espanha, além da RFEF, existem as federações das comunidades autônomas. Essas são responsáveis por organizar algumas competições de categorias de base, copas regionais e grupos regionais a partir da quarta divisão espanhola. Com fontes de recursos tão exíguas, elas só sobrevivem devido à ajuda de custo enviada pela própria entidade nacional – além, agora, do dinheiro arrecadado com os amistosos da seleção local. Desse modo, pode-se considerar que há a anuência da federação espanhola para o surgimento dessas seleções, até para ajudar seu próprio caixa. No entanto, a natureza das seleções
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Seleções como a de Múrcia são “toleradas” pela federação espanhola
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Seleções regionais da Espanha são menos independentes do que parecem om um gol de Javi Suárez, Aragão venceu o Chile por 1 a 0, em amistoso disputado em 28 de dezembro. O jogo marcou a estréia internacional da seleção aragonesa, que se juntou às de Galícia, Andaluzia, Catalunha, País Basco, Navarra, Valência e Múrcia (regiões mais escuras no mapa) como times de futebol que representam comunidades autônomas espanholas. Assim, cada vez mais, o país vê suas regiões ganharem corpo e independência esportiva. A tendência imediata é considerar os amistosos de fim de ano (período em que essas equipes têm permissão da RFEF, a federação espanhola, para marcarem jogos) como demonstração de orgulho regional de povos que foram oprimidos durante o governo do general Franco. Não deixa de ser verdade, e são raros os casos de joga-
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Comunidades Autônomas da Espanha
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autônomas muitas vezes é contraditória. Para os bascos, a região de Navarra faz parte de sua área de influência histórica. De fato, é fácil encontrar bandeiras do País Basco na torcida do Osasuna. Hoje, as duas regiões são separadas politicamente e têm seleções de futebol próprias, o que dá margem a confusão. Em 2005, Raúl García, Cruchaga, Orbaiz e Gurpegi jogaram pela seleção navarra contra a China e, cinco dias depois, estavam com a camisa do País Basco no amistoso contra Camarões. Fica a pergunta: qual a importância de os navarros demonstrarem seu orgulho por meio do futebol se os próprios jogadores se consideram bascos? Outra contradição está na tentativa – sobretudo dos catalães – de fazer sua equipe disputar competições oficiais, como a Eurocopa, mas sem dividir o Campeonato Espanhol. O motivo é simples: catalães e bascos até podem achar que tecnicamente suas seleções têm força internacional, mas é evidente que os campeonatos dessas comunidades seriam financeiramente fracos. O Barcelona, por exemplo, seria um grande time de uma liga fraquíssima e sem projeção, correndo o risco de se transformar em um Celtic ou Olympiacos. Percebe-se, portanto, que, embora se pretenda usar o futebol para valorizar a cultura das diversas regiões espanholas, essa boa intenção vai só até o ponto em que não afeta outros interesses – principalmente econômicos.
1. Galícia 2. Astúrias 3. Cantábria 4. País Basco 5. La Rioja 6. Navarra 7. Castela-León 8. Aragão 9. Catalunha 10. Madrid 11. Extremadura 12. CastelaLa Mancha 13. Valência 14. Andaluzia 15. Múrcia 16. Ilhas Baleares 17. Ilhas Canárias
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Inglaterra, por Tomaz R. Alves
Jogos no Boxing Day e no 1º de janeiro são tradição há anos
Stress de fim de ano Ingleses disputam quatro rodadas em dez dias, na virada do ano. Por quê? o final do ano, praticamente todos os campeonatos europeus fazem uma pausa. Alguns, como o Alemão, motivados pelo forte inverno, fazem uma parada longa, que dura um mês. A maioria prefere um descanso mais curto, de uma ou duas semanas, cobrindo apenas as festas de fim de ano. Enquanto toda a Europa deixa o futebol de lado, os ingleses (e também os escoceses) continuam jogando – e muito. Durante as festas, a Inglaterra faz uma insana série de quatro rodadas em apenas dez dias (em alguns anos, chega a ser até pior). Essas rodadas muitas vezes são decisivas para o desenrolar do campeonato. No futebol, hoje, é praticamente impossível fazer um jogador atuar tantas vezes em tão pouco tempo. Assim, as equipes são forçadas a colocar em campo muitos reservas. Isso é um grande teste, principalmente para os clubes com pretensões de ganhar o título. Ao longo dos anos, é comum ver arrancadas que começaram nessa época e derrocadas que tiveram origem numa série de maus resultados no fim do ano. É o caso de perguntar: por que os ingleses se submetem a essa seqüência louca de partidas? O calendário está tão apertado assim? Apesar da grande quantidade de jogos que os clubes ingleses disputam, o calendário não é o principal culpado por essa série de partidas. Ela acontece, principalmente, devido à tradição.
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Na Inglaterra, há relativamente poucos feriados: são apenas oito (no Brasil, temos 14). Um dos mais importantes é o “Boxing Day” (nome que vem da tradição das igrejas de abrirem suas caixas de doação – “donation boxes” – nessa data), que cai no primeiro dia útil depois do Natal. Tradicionalmente, é um dia de ficar com a família e assistir a eventos esportivos. Assim, desde o início do século XX, o Campeonato Inglês tem uma rodada disputada no “Boxing Day” (geralmente, 26 de dezembro). Desde a década de 70, incorporou-se também o costume de fazer uma rodada em outro feriado importante, o do dia 1º de janeiro. Como o futebol no fim de semana também é sagrado, encaixam-se mais duas rodadas, no sábado anterior ao Natal e no anterior ao Ano Novo. Pronto: está feita a avalanche de jogos. Para completar, há ainda uma quinta rodada, no primeiro fim de semana do ano, que é reservado para a estréia dos times das duas primeiras divisões na Copa da Inglaterra. Não seria correto simplesmente condenar ou aprovar essa tradição. Daqui do Brasil, não dá para julgar a importância cultural que as rodadas festivas têm para os ingleses. Sim, elas causam um enorme desgaste físico para os atletas. No entanto, é raro ver ingleses reclamando dessa série de jogos. Se a tradição é valorizada a ponto de fazer valer a pena o sacrifício, que assim seja!
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Alemanha, por Carlos Eduardo Freitas
Vítima do próprio joelho penas 11 dias após completar 27 anos, o meia Sebastian Deisler anunciou sua aposentadoria do futebol. O motivo é conhecido: as freqüentes lesões no joelho, que o afastaram dos gramados na maior parte dos quase cinco anos em que esteve contratado pelo Bayern de Munique, desde julho de 2002. Nesse período, o meia sofreu nada menos que três cirurgias no joelho (das cinco no total na carreira) e passou pelo menos duas temporadas num centro de tratamento para doentes psiquiátricos, para tratar de uma depressão. “Simplesmente, não confio mais no meu joelho”, afirmou o meia na coletiva em que anunciou sua decisão. “Estes últimos tempos têm sido bastante sofridos, e tomar esta decisão não foi nada fácil, nem algo que tenha feito da noite para o dia”. Para os brasileiros, a aposentadoria de Deisler pode não significar muita coisa. Para os alemães, porém, é um choque e uma grande lástima para o futebol do país. Mal comparando, seria como se Robinho anunciasse, aos 27 anos, que sua carreira chegou ao fim precocemente. Com o número 26 nas costas, Deisler estreou profissionalmente no Borussia Mönchengladbach e logo despontou como um dos mais promissores talentos do futebol alemão. Dono de um estilo de jogo refinado, capaz de dribles curtos e jogadas inteligentes, o meia-direito era freqüentemente descrito como um brasileiro em pele de alemão. Os tablóides rapidamente o apelidaram de “Basti Fantasti”, e não raramente era citado como “a resposta alemã para Zidane”. É difícil não dizer que toda essa expectativa gerada em cima de um jogador tratado como “a salvação do futebol alemão” não tenha pesado em sua decisão de pendurar as chuteiras. Desde que trocou o Hertha Berlim pelo Bayern de Munique, a pressão aumentou ainda mais, e as duas vezes em que teve de se internar por causa da depressão indicam o quão difícil era para ele lidar com as expectativas. Ter ficado de fora das duas últimas Copas do Mundo aumentou ainda mais a desilusão do jogador. Na coletiva em que Deisler anunciou sua aposentadoria, Uli Hoeness, manda-chuva-mor do Bayern, estava a seu lado. Parecia desolado, como se tivesse perdido um parente próximo. Pelo menos naquela terça-feira de janeiro, Hoeness era o reflexo de todos os fãs de futebol na Alemanha.
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Oliver Berg/EFE
Dono de um triste histórico de contusões, Deisler abandona o futebol com apenas 27 anos
Deisler sofreu cinco cirurgias no joelho direito
Histórico de contusões graves Set/98 Rompimento do ligamento cruzado e do menisco do joelho direito (1ª cirurgia)
Nov/98 Lesão no menisco do joelho direito Ago/99 Lesão no tendão de Aquiles Dez/99 Rompimento do ligamento cruzado e do menisco do joelho direito (2ª cirurgia)
Mar/00 Intervenção corretiva no púbis Out/01 Nova lesão generalizada no joelho direito: luxação, deslocamento patelar (3ª cirurgia)
Sebastian Deisler Nascimento: 5/janeiro/1980, em Lörrasch (Alemanha) Carreira: Borussia Mönchengladbach (1998 a 1999), Hertha Berlim (1999 a 2002), Bayern de Munique (2002 a 2006) Títulos: 3 Campeonatos Alemães (2003, 2005, 2006), 3 Copas da Alemanha (2003, 2005, 2006), 2 Copas da Liga Alemã (2001, 2004) Pela Bundesliga: 135J / 18G Pela seleção: 36J / 3G
Mai/02 Lesão na cartilagem e na rótula (4ª cirurgia)
Nov/03 Internação em clínica psiquiátrica para tratar-se de depressão
Out/04 Nova internação em clínica psiquiátrica Mar/06 Deslocamento da cartilagem do joelho direito (5ª cirurgia)
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Poucos jogadores podem alcançar recorde de Figo
Os Tugas sem Figo A
pós 127 jogos por Portugal, Luís Figo resolveu deixar de vez a equipe dos Tugas no Mundial-2006, após a decisão do terceiro lugar. Encerrava-se ali uma história iniciada em 1991, numa partida contra Luxemburgo. A serviço da seleção principal, Figo disputou três Eurocopas e dois Mundiais – só faltou um título para premiar sua carreira. Dos atletas que permanecem servindo a seleção, o que mais chega próximo é o atacante Nuno Gomes (60 presenças). Cristiano Ronaldo deverá ultrapassar a marca, mas, por ora, contabiliza 43 partidas. Se atuasse pelo Brasil, Figo só estaria atrás de Cafu (150 jogos) e Roberto Carlos (132). Mas a marca que demorará a ser alcançada diz respeito ao espírito de liderança exercido em campo. Sem ele, os Tugas ainda não convenceram nas eliminatórias da Euro-2008 (apenas ocupam a quarta colocação do grupo A). Figo não é um virtuoso do futebol, mas mostra uma entrega coletiva e um voluntarismo mal compreendidos pela crítica. Sua presença em qualquer time sempre equilibrou o conjunto – não é à toa que, após sua saída de Madrid, o Real não conquistou mais títulos. Pouco afeito aos agrados com a imprensa, Figo é menos habilidoso e midiático que Cristiano Ronaldo. No entanto, ainda falta muito para que o ex-capitão de Portugal tenha seu lugar ocupado pelo jovem prodígio. Há um vácuo de liderança entre os Tugas. Está aí o preço a ser pago numa transição entre duas gerações de craques.
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Chema Moya/EFE
França, por Ricardo Espina Daniel dal Zennaro/EFE
Portugal, por Zeca Marques
Puel (dir.) equilibrou o Lille sem alarde
O exército de Puel Q
uem olha a tabela do Campeonato Francês nos últimos tempos percebe de cara duas coisas. A primeira, óbvia, é a supremacia absoluta do Lyon. A outra fica por conta da presença constante do Lille entre os primeiros colocados, que dá ao LOSC a condição de equipe mais regular do país (atrás, claro, dos lioneses). A equipe desbancou os populares Paris Saint-Germain e Olympique de Marselha, considerados clubes grandes, mas cujos resultados dentro de campo decepcionam. O pequeno clube do norte da França conseguiu ultrapassar os adversários mais poderosos com uma palavra: organização. Sem alarde, o Lille aos poucos formou um elenco equilibrado. Mesmo sem grandes nomes, os jogadores da equipe se encaixam no perfil traçado pelo treinador Claude Puel, no qual destacam-se mais o espírito de grupo do que qualidades individuais. O meia Mathieu Bodmer concentra em si esses atributos. Ele tornou-se o principal jogador do LOSC ao se desdobrar em campo e fazer as vezes de atacante, volante e até mesmo de zagueiro. Enquanto isso, clubes mais tradicionais se vêem mergulhados em um período de vacas magras. Tanto Olympique de Marselha como Paris SaintGermain tornaram-se notícia mais pelos problemas extra-campo do que por seus desempenhos dentro das quatro linhas. O Lille aproveitou a deixa, ultrapassou os dois e, se confirmar a tendência, abrirá uma boa diferença para eles nos próximos anos. Alcançar o Lyon? Bom, aí já é uma outra história.
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Claudio Onorati/EFE
Estados Unidos, por Luis Eduardo Martines
Todo mundo
ganha Com fama de astro superior à de futebolista, ida de Beckham à MLS é um passo na direção certa o mesmo dia em que a mídia nos Estados Unidos repercutia os baixos níveis de apoio popular e político à decisão tomada por George W. Bush de mandar mais tropas ao Iraque, outro assunto insistia em pulular no noticiário: David Beckham acertara sua transferência para um time da Major League Soccer, por uma cifra astronômica. Nada mais normal que Beckham aportar em Los Angeles, onde valores como os que envolvem tal negócio – US$ 250 milhões, incluindo patrocínios e contratos de publicidade futuros – são corriqueiramente citados como orçamento de alguma superprodução de Hollywood ou bilheteria de algum filme cuja campanha de marketing foi bem executada. O marketing, aliás, já estava por trás da transferência do mesmo Beckham para o Real Madrid, em 2003. Lembram da história de que só ele vendia mais camisas ao redor do mundo que todos os outros jogadores do Real juntos? Ou das excursões do Real a mercados emergentes? É verdade que então, aos 28 anos, seu alto quilate de estrela estava num nível não tão díspar ao seu de futebolista. Três anos mais tarde, a distância entre estas variáveis é o que explica sua ida para a MLS. Beckham é caro não pelo que joga, mas por sua imagem, como bem sabem a AEG (Anschultz Entertainment Group, conglomerado proprietário do LA Galaxy), a MLS
N
Nos EUA, Beckham vai faturar US$ 250 mi em 5 anos
e o Real Madrid. Os madrilenos pagaram caro por ele e fizeram excelente uso de sua imagem. Como conseqüência, ambos cresceram em popularidade mundial. Futebolisticamente falando, porém, mesmo nos tempos de Manchester United, no final dos anos 90, Beckham nunca foi um jogador capaz de “carregar um time nas costas”. Seu status de superestrela e seu alto preço nunca justificariam sua contratação como “jogador para resolver”. Com o final de sua carreira marcado por seu não aproveitamento na seleção inglesa e pelos maus resultados do clube que o preteriu, restavam poucas opções para Beckham evitar críticas a seu futebol ainda decente – mas inferior ao que já foi –, sem retroceder profissionalmente. Ciente de que o panorama descrito levaria à conseqüente redução de seu estrelato – “star power”, no dialeto de Hollywood –
também fora do campo, Beckham fez uma escolha inteligente: optou por uma liga emergente, de crescimento lento, mas contínuo, onde sua presença e visibilidade podem ser fatores positivos dentro e fora das quatro linhas – sem falar que, a partir de agora, o meia receberá integralmente os cachês de seus contratos publicitários. No Real Madrid, recebia apenas metade. Se Beckham ajudar a elevar o status da MLS, outros jogadores estrangeiros de bom quilate e ainda com bola para mostrar aportarão nos EUA. “Star power” à parte, se Beckham não jogar bola, ele perderá mais que a MLS. A beleza desse negócio para a liga americana é que, independentemente de dar certo ou não, a MLS seguirá em frente, pois está estruturada, tem seu nicho, continua atraindo investidores e ainda está aberta a novos erros e acertos. O tempo mostrará quem acertou mais. Fevereiro de 2007
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Negócios, por Carlos Eduardo Freitas
Ainda em
alta Lançamento de linha própria de roupas e acessórios mostra que, comercialmente, Ronaldinho está no nível de outros gênios, como Michael Jordan e Tiger Woods
participação de Ronaldinho na Copa do Mundo foi uma decepção, ele perdeu a disputa para Fabio Cannavaro no prêmio de melhor jogador do mundo da Fifa e começou a temporada 2006/7 muito abaixo do nível que encantou os fãs de futebol por todo o planeta. Nada disso, porém, parece ter afetado sua imagem e o quanto ela pode valer para o mercado – sobretudo para uma de suas principais patrocinadoras, a Nike. Prova disso é o lançamento da linha de produtos que leva sua assinatura, a 10R, que chega às lojas de todo o planeta no final de fevereiro. Em outras palavras, Ronaldinho chegou, para a empresa, no mesmo nível de gênios de outros esportes, como Michael Jordan, para o basquete, e Tiger Woods, para o golfe. “Ronaldinho é um dos raros atletas que se destacam globalmente em seu esporte. Ele é um jogador excepcional: tem habilidade, é criativo, tem um espírito competitivo e claramente gosta do que faz – o que acaba por inspirar outras pessoas que também gostam do jogo. Por isso, decidimos lançar uma linha completa com a assinatura dele”, justifica Joaquin Hidalgo, vice-presidente mundial de futebol da Nike. Quem acompanha o relacionamento da patrocinadora da Seleção Brasileira com outros atletas nacionais pode até
A
contestar a informação de que Ronaldinho será o primeiro jogador a ganhar esse status. A Nike diz que há uma diferença entre a coleção R9, de Ronaldo, com a 10R, do xará gaúcho do “Fenômeno”: “Além da chuteira, a R9 tinha apenas um boné e uma camiseta de algodão, enquanto a linha 10R é completa, com uma série de outros produtos. Isso, só Michael Jordan e Tiger Woods já tiveram”, explica Kátia Gianone, gerente de comunicação da empresa no Brasil. Além da chuteira desenvolvida a partir das orientações do próprio jogador do Barcelona (veja box abaixo), há também uma linha de material esportivo – com shorts, camiseta regata e de jogo – e uma de roupa de passeio. “O estilo dessas peças reflete o que ele gosta de vestir fora de campo, com calças largas, camisas maiores que o tamanho e chapéus”, conta Tetsuya Minami, designer da Nike. Hidalgo diz não poder revelar detalhes da estratégia de divulgação e de vendas, mas o brasileiro deve ganhar destaque ainda maior do que já tem nas lojas da marca espalhadas ao redor do mundo. Como aconteceu com as coleções assinadas por Michael Jordan e Tiger Woods, a linha 10R deve aumentar ainda mais a exposição de Ronaldinho internacionalmente e incrementar seus vencimentos vindos da empresa, que
A chuteira Como faz com seus principais garotos-propaganda, a Nike envolveu o próprrio Ronaldinho no desenho da chuteira que leva a marca do craque do Barcelona, a Tiempo Ronaldinho. “O pedido dele era que queria um calçado que fosse a extensão de seus pés e que tivesse uma área mais sensível para a região do pé com a qual ele toca a bola”, diz Tetsuya Minami, designer do novo modelo a ser vestido pelo jogador. De acordo com o próprio criador, a chuteira beneficia quem tem estilo semelhante ao do camisa 10 do Barcelona, com mais foco no passe e nos dribles. “Por isso, a lateral é reforçada, para evitar o estiramento”, explica. Segundo Minami, quem não joga nada comparado ao craque (a grande maioria) também tem a ganhar com seu novo invento – mas é claro que ele não iria dizer o contrário.
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CHELSEA PARA UM BILHÃO O Chelsea lançou em janeiro uma versão em chinês de seu novo website – segundo o clube, o primeiro em mandarim hospedado fora do território chinês. A idéia do time, claro, é ganhar mercado junto ao país com a maior população do planeta. Por isso, os Blues fizeram acordo com a maior empresa de Internet chinesa, a Sina, cuja página de esportes recebe, diariamente, cerca de 40 milhões de visitantes – o triplo do que consegue seu maior competidor. “Trata-se de um mercado chave para a gente”, confirma Peter Kenyon, executivo dos Blues. O raciocínio não requer nenhum conhecimento de cálculo avançado: se cada chinês gastar US$ 1 com o clube, Abramovich faturará mais de US$ 1 bilhão.
RÁDIO PATROCINADO
Fotos Divulgação
A Motorola fechou com a federação paulista uma parceria para o fornecimento dos intercomunicadores do quarteto de arbitragem, nas competições organizadas pela entidade. Segundo a empresa, cada rádio digital custa em torno de R$ 3 mil e possui codificadores abertos apenas com senha eletrônica, o que impossibilitaria o monitoramento externo da conversa, mesmo que alguém descobrisse a freqüência. A Motorola, que terá sua marca estampada na manga das camisas do quarteto, deixará disponível um técnico nas partidas em que o equipamento for utilizado (todas da Série A-1 e os jogos mais importantes das divisões inferiores e da Copa FPF). Os valores não foram divulgados, e o contrato vale até o fim de 2007.
Ronaldinho veste uniforme de treino que leva sua assinatura
1. Ronaldinho 2. Beckham 3. Rooney 4. Eto’o 5. Messi * em milhões de dólares, de acordo com a consultoria alemã BBDO
56,4 44,4 43,7 33,0 30,0
antes do lançamento da marca estavam estimados em US$ 4 milhões. Se a marca Ronaldinho é hoje considerada a mais valiosa no mercado publicitário dentre os jogadores de futebol, superando até David Beckham – de acordo com a consultoria alemã BBDO, a imagem do brasileiro vale US$ 12 milhões a mais que a do inglês –, com essa aposta da Nike não é exagero dizer que o camisa 10 está no panteão de grandes gênios do esporte – pelo menos do ponto de vista dos negócios.
notas
Cinco grifes mais valiosas do futebol *
POR UMA NOITE APENAS Patrocinar camisas de clubes na Itália não é mais um luxo restrito apenas a megacorporações internacionais. A partir deste ano, os clubes podem acertar contratos de exposição por uma única partida – e não mais por, no mínimo, uma temporada. Quem inaugurou a novidade foi a empresa Sport Economy, que estampou sua marca na camisa do Messina, na partida contra a Udinese. Por isso, foram desembolsados cerca de € 20 mil. É difícil acreditar que o valor contra uma Inter ou um Milan seria o mesmo. Em casos como esses, porém, o retorno seria garantido, graças à certeza de que haverá imagens dessa partida em destaque na imprensa.
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Fotos Gustavo Hofman
Cadeira cativa, por Gustavo Hofman
Centenário em todos os sentidos etade de Madrid estava em festa. Talvez não exatamente a metade, mas para a torcida do Atlético de Madrid isso não importava. No dia 26 de abril de 2003, o “Atleti” , como é chamado por seus torcedores, comemorava 100 anos de muita história, títulos e fanatismo. A cidade amanheceu com uma imensa bandeira (1.500m x 8,4m, recorde registrado no Guinness) sendo carregada por milhares de aficionados pelas ruas, até chegar ao Estádio Vicente Calderón. Para um estudante que estava há alguns meses na Espanha, aquele sábado seria mais um dia festivo. Indo do centro ao Calderón a pé, era possível acompanhar de perto toda aquela comemoração. A falta de ingressos disponíveis para a festa era conhecida havia meses. Não era nada que impedisse, porém, que se fosse ao estádio, só para constatar que realmente não havia mais qualquer tipo de billete. Prova disso era a ausência de cambistas. Algumas horas antes do jogo, ao lado de uma das catracas, um funcionário do clube chama e pergunta: “Querem entrar no estádio?” Diante da óbvia resposta positiva, € 100 (nada mais emblemático para um jogo de centenário) abrem um pequeno portão ao lado da catraca. Dentro do estádio, a história da falta de ingressos mostrou-se mais verdadeira do que nunca.
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Não havia uma cadeira vazia sequer, e muita gente acabou sentando nas escadas, mesmo. Todos que entraram no Calderón (com ingresso, claro) ganharam uma papeleta, para formar um enorme mural com as cores e o símbolo do Atlético de Madrid. Dos céus, desciam pára-quedistas com a bandeira do clube. Em campo, dezenas de ex-jogadores foram homenageados, para êxtase dos torcedores. O jogo, em si, valeu pouco para a torcida, que estava mais preocupada em comemorar. Em 2003, o Atleti havia retornado à primeira divisão, após dois anos relegado ao que a torcida chamou de “infierno”, e fazia uma campanha apenas regular. De qualquer modo, ninguém esperava que os Colchoneros fossem perder por 1 a 0 para o Osasuna, gol de Iván Rosado, aos 44 minutos do primeiro tempo. No final, pouca gente ligou para o resultado. Já era noite em Madrid, quando todas as luzes do Vicente Calderón apagaram-se, e uma enorme queima de fogos iluminou o céu madrileno. Mesmo perdendo, quem acompanhou a partida voltou para casa feliz, satisfeito com o momento que presenciara, assim como os milhares de fanáticos torcedores do Atleti. Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!
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Ingressos para a festa do Atlético de Madrid tinham acabado há tempos, mas sempre dá-se um jeito
ATLÉTICO DE MADRID 0 OSASUNA 1 Competição: Campeonato Espanhol Data: 26/abril/2003 Local: Estádio Vicente Calderón (Madrid)
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E se..., por Caio Maia
E se o Uruguai fosse um
estado brasileiro? sabido por todos os mais aplicados em história da América do Sul: em 1811, depois de uma rebelião argentina na região da Cisplatina, o Brasil, então sob a administração portuguesa, enviou tropas em auxílio à Espanha. Em 1817, o país aproveita a turbulência na região – a Argentina acabara de se tornar independente, em 1816 – e ocupa Montevidéu, acabando com a incipiente revolta independentista. Em 1826, tratado assinado pelo Marquês de Queluz e pelo presidente argentino Bernardino Rivadavia admite os direitos brasileiros sobre o território, o que acabou determinando a conformação do sul do Brasil tal como é hoje, com os estados do Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Uruguai – à época, a província Cisplatina. O que poucos comentam é a importância desse momento histórico para o futebol brasileiro. O exemplo mais próximo de como as coisas poderiam ser diferentes é o capitão Diego Lugano, que não brilharia com a “amarelinha” hoje se o Uruguai fosse um país independente – em seu lugar, a equipe poderia ter, por exemplo, Lúcio, que dificilmente deixaria de levar não só um como dois dribles de um jogadorzinho do nível de Harry Kewell. Lugano não é o único que não seria brasileiro se os acontecimentos no século XIX tivessem sido diferentes. Para começar, é muito provável que o Brasil jamais tivesse vencido o torneio de futebol das Olimpíadas de 1924 e 1928, sem o que dificilmente teria organizado – e vencido – a primeira Copa do Mundo, em 1930. Embora o Rio de Janeiro fosse a capital federal e dominasse a vida nacional, a maior parte dos jogadores da equipe que con-
É
A cada edição, um convidado imagina como seria o mundo do futebol, se alguma coisa fosse diferente. Você tem sugestões de temas para esta seção? Mande um e-mail para contato@trivela.com
quistou os três títulos vinha do estado sulista, já que a CBF fora fundada em 1900, justamente em Montevidéu. Craques como Andrade, presente nos três títulos e tio do outro Andrade, do vice-campeonato de 1950, e Scarone poderiam ter defendido a Argentina ou até mesmo um país independente, mas não seriam brasileiros. É verdade que isso não impediu o fato mais triste da história esportiva do país, o famoso Maracanazo, no qual fomos derrotados pela Argentina em pleno Maracanã, estádio construído no coração de Montevidéu. O gol de Ghiggia, contra, que deu o título à equipe rival, não teria acontecido, e o Brasil poderia ter ganho ali seu terceiro Mundial. Além disso, se não fosse necessário dar a titularidade a Hohberg, em 1958, Pelé poderia ter jogado aquela Copa. Em nenhum momento, porém, os jogadores do Uruguai fariam tanta falta ao Brasil quanto na década de 80. Se Darío Pereyra não fosse brasileiro, a Seleção de 1982 provavelmente teria contado com Luizinho na defesa. Como Reinaldo e Careca estavam quebrados, não teríamos Francescoli ao lado de Serginho Chulapa, e o ataque brasileiro teria contado com Éder, voluntarioso mas longe de ser um craque. É difícil imaginar que essa equipe pudesse superar a Itália, naquele clássico do Sarriá, sem os três gols de Enzo. Ou que Valdir Peres, reserva de Rodolfo Rodríguez, pudesse ter segurado o ímpeto de Paolo Rossi. É também verdade que Maradona poderia ter tido um papel mais importante no futebol mundial se não tivesse sido caçado em campo por Bossio, em 1986, e por De León, em 1990. Sem De León, aliás, Dieguito poderia ter jogado contra Alemão, seu colega de
Napoli, que poderia muito bem ter tido “pena” de bater no argentino tanto quanto nossos jogadores bateram. Isso para não falar nos títulos continentais. Sem as cinco Libertadores do Penharol e as três do Nacional (que fazem o famoso clássico Penha-Nal, como se sabe, o de maior rivalidade do Brasil), teríamos apenas 13, e não 21, contra 20 dos argentinos. O primeiro título brasileiro só teria vindo em 1962, com o Santos, e o brasileiro com mais conquistas continentais seria o São Paulo. O gol perdido por Recoba na partida contra a França, na Copa da Alemanha fez ressurgir na mídia paulista e carioca o velho preconceito contra os uruguaios, acusando-os de separatistas e bairristas. É bom lembrar, porém, que, se o Brasil ganhou oito Copas do Mundo (30, 38, 62, 70, 82, 86, 90 e 2002) até hoje, muito disso se deve a nosso estado mais meridional. Caio de Camargo Maia, 33 anos, é jornalista, colunista e editor da revista Trivela.
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Cultura, por Carlos Eduardo Freitas
Para lembrar e
guardar
os DVDs
Alexandre Schneider/Trivela
A exemplo do que fazem europeus e argentinos, clubes brasileiros começam a lançar DVDs sobre suas conquistas
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A Batalha dos Aflitos – Os Bastidores de um Dia Inesquecível Iniciativa Produções
Inacreditável – A Batalha dos Aflitos
16 de Agosto de 2006 – Um Dia Sem Fim
G7Cinema/tgd filmes
Assessoria de Comunicação do Internacional SC
uem teve a oportunidade de visitar países na Europa ou na América do Sul costuma fazer a mesma pergunta ao adentrar lojas especializadas e encontrar uma quantidade impressionante de títulos de filmes relacionados a clubes de futebol: “por que meu time não faz o mesmo?” Não fazia. O ano de 2006 tornou-se um divisor de águas no que diz respeito a investidas de clubes brasileiros no mercado de produções cinematográficas. Quatro dos mais tradicionais clubes do país (Grêmio, Internacional, São Paulo e AtléticoMG) registraram seus feitos recentes em vídeo e lançaram DVDs em lojas e bancas de jornal. O Tricolor gaúcho foi o primeiro a entrar nessa aventura – e da forma mais arriscada: com a dramática classificação do clube para a Série A, em 2005. A aventura foi registrada, de forma oficial, em “Batalha dos Aflitos”, referência ao dramático jogo contra o Náutico que devolveu o time à elite. A história dessa partida foi também tema de “Inacreditável”, produção independente que conta, em tom mais documental e bastante literário, as emoções dessa partida. Intercalados com imagens do jogo, depoimentos de jogadores, ex-jogadores e ex-treinadores, como Felipão, dão o tom do sofrimento que foi acompanhar aqueles 90 minutos vividos em Recife. Como num bom Gre-Nal, a resposta do Internacional não demorou a sair. Dois meses depois da inédita conquista da Libertadores, os torcedores colorados ganharam de presente o filme “16 de Agosto de 2006 – Um Dia Sem Fim”, que mostra, em imagens inéditas, o dia em que o Inter chegou ao topo da América. Mesmo sem divulgarem números oficiais – estima-se que os filmes do Grêmio vende-
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Tetra
Uma Vez Até Morrer
Bossa Nova Films
Anchor Filmes
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Inspiração espanhola
Por mais louvável que sejam as iniciativas dos clubes, o Brasil ainda está num estágio fetal de produções do tipo. O fato de termos tão poucos títulos no mercado explica por que boa parte desses filmes decepciona quem os compra. Títulos como “Tetra” e “Uma Vez Até Morrer”, por exemplo, têm a proposta de retratar a “paixão das torcidas”. No entanto, o torcedor que compra esse tipo de produto costuma gostar de ver bola rolando e momentos memoráveis de seus clubes, e não manifestações de seus semelhantes nas ruas ou nas arquibancadas. Isso torna diferentes “Inacreditável”, do Grêmio, e “Saudações Tricolores”, documentário sobre o centenário do Fluminense, lançado em 2002. Ambos foram concebidos por tricolores gaúchos (Beto Souza e Eduardo Bueno) e cariocas (André Barcinski e Heitor D’Alincourt), exatamente com aquilo que o torcedor quer ver: gols memoráveis e entrevistas de seus ídolos. Para a sorte dos torcedores brasileiros, a tendência é que mais títulos cheguem às prateleiras. O Inter, por exemplo, prepara um filme sobre a conquista do Mundial de 2006. O rival Grêmio produz desde o ano passado um filme sobre a conquista do título de 1983. “A idéia é, a princípio, focarmos em nossas grandes conquistas, porque nossos torcedores querem ter esses registros em casa”, explica Flávio Paiva, diretor de marketing do Tricolor gaúcho. O São Paulo vai além: quer produzir um longa dramático, como fez o Real Madrid. “A idéia é contar a história do Morumbi”, revela Júlio Casares, diretor do clube paulista. Os torcedores de outros times podem ter certeza que, com o sucesso dessas iniciativas, suas equipes também ganharão as prateleiras.
Fotos Divulgação
Também em 2006, chegaram ao mercado brasileiro dois títulos internacionais: “Para Sempre Real Madrid” e “Barcelona, Mais Que um Clube”, inspirações mais do que claras para os clubes brasileiros que iniciaram-se nesse mercado. Em ambos, a idéia é contar as histórias dos clubes. O do Barça relembra como um catalão fundou o clube a partir de um anúncio num jornal. Com material de mais de 100 anos de história, mostra imagens de ídolos como Cruyff, Koeman e Ronaldinho, entre outros. O DVD dos Merengues tem a mesma intenção, mas a história é contada por Florentino Pérez, que recentemente deixou o cargo de presidente. Pérez relembra a história de Santiago Bernabéu, jogador, técnico e presidente do Real Madrid, seu “guru espiritual” e “responsável por fazer do clube a potência que é hoje”. É com base na imagem de Bernabéu que o cartola justifica sua política pouco modesta dos “galácticos”.
Um longo caminho a percorrer
Saudações Tricolores – O Filme da Torcida do Fluminense André Barcinski/Heitor D’Alincourt
Para Sempre Real Madrid
Barcelona, Mais Que um Clube
JFK Productions/Real Madrid TV
Universal
lançamentos
ram em torno de 10 mil cópias –, a iniciativa dos gaúchos foi vista com bons olhos por São Paulo e Atlético-MG, campeões das Séries A e B do Campeonato Brasileiro, em 2006. Ambos correram para lançar seus filmes oficiais ainda em dezembro, para aproveitar o Natal. O Tricolor paulista lançou “Tetra”, enquanto o Galo chegou às lojas com dois títulos: “Galo Campeão” e “Uma Vez Até Morrer”. O primeiro foi lançado pela Rede Globo, com material da emissora; o segundo é um documentário. Além da importância dos lançamentos em si, vale observar que é a primeira vez que a Globo, detentora dos direitos de imagem da maior parte das competições do país, aventura-se nesse mercado.
FALTA IMAGINAÇÃO NO FILME DA COPA Em 14 de fevereiro, será lançado no Brasil o filme oficial da Copa do Mundo de 2006. A produção, dirigida por Micheal Apted (o mesmo de “007 – O Mundo Não É o Bastante”) e narrada por Pierce Brosnan, limita-se basicamente a mostrar boas imagens de seis partidas e algumas cenas do resto da competição. Tudo solto, sem contextualização e a emoção da torcida. Menos mal que foge um pouco do discurso oficialesco da entidade. De qualquer forma, é sempre uma boa opção de presente ou de coleção para fanáticos.
“Copa do Mundo Fifa 2006” Dir.: Michael Apted Preço sugerido: R$ 34,90
COMO SURGE A PAIXÃO Torcedor gosta de dizer que já nasceu amando seu clube. Claro, é uma brincadeira. Todo amante de futebol passou por alguma experiência que o fez preferir um time a outro. Essas histórias são contadas na série “O Dia em Que Me Tornei...”, editada pela Panda Books. São quatro livros, mostrando como o ator Selton Mello tornou-se são-paulino e como os jornalistas Marcelo Duarte, Mauro Beting e Vladir Lemos viraram, pela ordem, corintiano, palmeirense e santista. Os livros ainda trazem informações históricas sobre cada clube, como títulos, grandes jogos e ídolos do passado.
Coleção “O Dia em Que Me Tornei...” Autores: Marcelo Duarte (Corinthians), Mauro Beting (Palmeiras), Vladir Lemos (Santos) e Selton Mello (São Paulo) Preço sugerido: R$ 19,90
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A Várzea
Celeiro de craques
A lorota do mês “Passei o ‘Gladiador’ porque era um momento propício. Agora, temos que criar hábitos vencedores” PC Gusmão deve ter dormido no filme e por isso não sabe que o tal gladiador morre no final.
A manchete do mês
A charge do mês
O Editor não é muito chegado a oba-oba. Quando pensou na cobertura que A Várzea faria da principal competição do mundo no início do ano (Liga dos Campeões? Fala sério, claro que é a Copa São Paulo), imaginou uma matéria investigativa. Depois de avaliar temas como “O Emburguesamento dos Juniores do São Paulo”, ele optou por um que viu na TV: “A Festa dos Empresários na Copinha”. Boa pauta para o estagiário Denílson ganhar experiência. Ele foi ao treino de várias equipes e notou que os torcedores eram senhores em torno de 40 anos que tinham uma sacola cheia de RGs sem fotos e anotavam o nome dos atletas. Denílson tomou coragem e foi falar com um desses torcedores: “Oi, çou Denílson. Goztaria de phalar con vossê çobri a Copa Ção Paulo”. O sujeito disse: “Garoto, você é bom?”. Denílson: “O Tolete dis qe eu tenhu potenssiau”. O torcedor: “Ótimo! Vem aqui depois de amanhã e a gente acerta tudo”. Assim que chegou ao encontro, o sujeito perguntou se o Denílson não ia se trocar. O estagiário não sabia que precisava de uniforme para fazer entrevista, mas foi aos vestiários. Quando saiu, ouviu do tal torcedor: “joga aí, e depois nos falamos”. Depois da partida, a conversa: “Garoto, você fez o gol contra que desclassificou o time, mas te arrumei um clube na Itália. Só preciso que me dê R$ 5 mil para a passagem aérea. Já tem contrato com alguém?” Denílson, que tem contrato no CIEE, arrumou a grana e entregou ao engravatado. A última notícia do estagiário vem de Congonhas, onde, sem passaporte, tenta encontrar o vôo para Milão. As funcionárias da BRA insistem que a empresa não voa para lá, mas o estagiário não se deixa enganar por qualquer um.
Em alta Beckham
Livrou-se do abacaxi que se tornou o Real Madrid, vai ganhar US$ 50 milhões por ano e ainda vai perder menos tempo quando quiser ir a Hollywood participar de sitcoms. Futebol? Esse é só um hobby do inglês.
“Romário, com desconforto muscular, não participa de coletivo do Vasco” (Agência Placar) Quando era atleta do Vasco, Romário não era chegado em treinar. Então, por que alguém achou que ele apareceria para o treino quando ele não é jogador do Vasco?
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Juventus O atual segundo time de Turim perdeu a invencibilidade na Série B para o poderoso Mantova. A moral dos Bianconeri está tão baixa que até teve gente que acreditou que eles poderiam se interessar pelo Obina.
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