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nº 14 | abr/07 | R$ 7,90
RACISMO Brasil ainda ignora o tema, dois anos após caso Grafite
Torraram o dinheiro do
CULINÁRIA O que o torcedor brasileiro come nos estádios
• Entrevista: Alex • Vida dura no exterior • Forró patrocinador • Tanzânia no Rio • Carrossel Caipira
Como o Santos transformou os R$ 70 milhões da venda do craque em Luizão, Cláudio Pitbull, Eder Ceccon e um monte de cimento
editora
P O O L
nº 14 | abr/07 | R$ 7,90
E MAIS...
Robinho
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índice Entrevista: Alex deixa modéstia de lado e diz: “Ninguém é melhor que eu” Racismo no futebol: Xingamentos em campo são racistas, sim Crise no Santos: Dinheiro da venda de craques não cobriu rombo Não é mole, não: Brasileiros enchem o bolso pelo mundo, mas têm de ralar A Tanzânia é aqui: Africanos se assustam com os biquínis em Copacabana
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Marcos Brindicci/Reuters
Cultura: O que se come quando se vai ao estádio pelo Brasil Peneira Curtas Opinião Patrocínios alternativos Entrevista: Vágner Love História Tática Entrevista: Anderson Capitais do futebol Embaixadas Negócios Jogo do mês Cadeira cativa E se... A Várzea
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editorial Obrigação incômoda Ainda que receba influência cada vez maior do que acontece no futebol internacional, o Brasil segue fechado como uma ostra quando tem de olhar algumas feridas. Uma delas, certamente é a do preconceito. Ou melhor, “dos preconceitos”, no plural, já que não se trata de um único. Entre eles, está o preconceito racial – provavelmente o mais nocivo, disseminado e dissimulado de todos. A pretensão brasileira de que no nosso futebol não há racismo é tão frágil quanto o argumento dos que defendem que “o que acontece no campo tem de ser resolvido no campo”, imaginando que os gramados dentro dos estádios são locais com uma lei diferente do resto da sociedade. Só que não são. Em um país onde uma ministra que chefia a Secretaria Especial de Política da Promoção da Igualdade Racial vem a público dizer que “não é racismo quando um negro se insurge contra um branco”, tratar desse assunto é uma obrigação – mesmo que seja incômodo.
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www.trivela.com Editor executivo Caio Maia Editor Cassiano Ricardo Gobbet Reportagem Carlos Eduardo Freitas Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Tomaz Rodrigo Alves Ubiratan Leal Colaboradores Ivan Zimmermann João Tiago Picoli José Maurício Fittipaldi Mauro Beting Mauro Cezar Pereira Rafael França Zeca Marques Agradecimentos Luiz Sousa Paula de Carvalho Junior Foto da capa Pedro Armestre/AFP Destaque: Maurício Lima/AFP Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold (looks@uol.com.br) Diagramação e tratamento de imagem s.t.a.r.t. (start.design@gmail.com)
Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 4208-8213 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 4208-8205 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Pool Editora pooleditora@lmx.com.br (11) 3865-4949 Circulação LM&X - Alessandra Machado (Lelê) lele@lmx.com.br (11) 3865-4949 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Parma Gráfica Tiragem 30.000 exemplares
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Peneira
Arizmendi:
agora em definitivo
euters
Nome: Ángel Javier Arizmendi de Lucas Nascimento: 3/março/1984, em Madri (Espanha) Altura: 1,89m Peso: 76kg Carreira: Atlético de Madrid (2002 a 2004 e 2005), Racing Santander (2004 a 2005) e Deportivo La Coruña (desde 2006)
Vidal/R
sava para desenvolver seu jogo. Devido a sua técnica e visão de jogo, muitas vezes trabalha como suporte para um centroavante que jogue mais fixo na área, além de voltar para ajudar na marcação, no meio-campo. O bom desempenho lhe valeu a estréia pela seleção espanhola principal, em 7 de fevereiro, na vitória por 1 a 0 sobre a Inglaterra, em Manchester. E não só: seu desempenho parece finalmente ter convencido o Atlético de Madrid de que o atacante merece uma chance de verdade. O clube da capital espanhola avisou o Deportivo de que, ao final deste campeonato, quer Arizmendi de volta em Madri, sem novos empréstimos. [UL]
Miguel
A
diretoria do Atlético de Madrid nunca soube direito o que fazer com Javier Arizmendi. O atacante surgiu nas categorias de base do clube de Manzanares e, depois de uma passagem pelo time B dos Colchoneros, foi promovido à equipe principal, no início de 2004. Nessa época, o maior mérito dele era o fato de ter sido o melhor jogador espanhol no vice-campeonato do Mundial sub-20 de 2003. Depois de somente meia temporada no Atlético, Arizmendi foi emprestado ao Racing Santander, para ganhar experiência. Em 22 jogos pelo time da Cantábria, fez apenas três gols e não chegou a empolgar ninguém. Voltou ao Vicente Calderón em 2005, mas ainda não se consolidou no futebol de alto nível e, novamente, foi emprestado. Dessa vez, seu destino foi o Deportivo La Coruña. Na Galícia, Arizmendi finalmente deslanchou. Em um time que adotou a política de renovação do elenco, o atacante teve a confiança de que tanto preci-
Neuer:
completo, apesar da idade
(Alemanha)
Altura: 1,92m Peso: 85kg Carreira: Schalke 04 (desde 2003)
es Imag etty Bong arts/G
mais um entre os que dizem ver em seu estilo algo de semelhante ao de Jens Lehmann – com exceção da calma, claro. O bom início de carreira do goleiro impressionou tanta gente que até mesmo o titular anterior, Frank Rost, pediu para trocar de clube, com a ameaça de ter de amargar a reserva do garoto. Foi para o Hamburg, mesmo tendo mais dois anos de contrato. O técnico Slomka? É só alegria. Calou a boca dos críticos que o chamaram de louco e ainda comemora ter lançado um dos mais promissores goleiros da atualidade. [CEF]
fichas
A
o promover Manuel Neuer ao posto de titular do Schalke 04, o técnico Mirko Slomka foi chamado de louco pela imprensa alemã, que via no veterano Frank Rost o nome óbvio para a posição. Neuer, dizia a imprensa, era “jovem demais” – tanto que, com 20 anos, tornouse o terceiro goleiro mais novo a ter jogado uma partida da Bundesliga (atrás apenas de Oliver Kahn e Roman Weidenfeller). Apesar de toda a desconfiança, Neuer não só fez Rost acostumar-se com o banco, como é freqüentemente apontado como um dos grandes responsáveis pela chegada do Schalke à ponta da tabela. Mesmo tão jovem, Neuer já é considerado um goleiro completo. Ele é rápido, repõe bem a bola e é extremamente calmo. “A calma dele é rara em alguém tão jovem”, diz o ex-goleiro Oliver Reck,
Nome: Manuel Neuer Nascimento: 27/março/1986, em Gelsenkirchen
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O TRÂNSITO ESTÁ RUIM? CULPA DO ZAMORANO Em 2006, o governo chileno anunciou a criação de um novo sistema de transporte coletivo na capital do país: o Transantiago. Para divulgar a novidade, foi contratado Iván “Bam-Bam” Zamorano, que, durante meses, apareceu na TV explicando como funcionaria o sistema e convidava a população a conhecê-lo. O problema é que o Transantiago tem sido um fracasso desde que foi inaugurado, em 10 de fevereiro. Revoltados, os santiaguinos transformaram o ex-jogador em símbolo da confusão. Nas ruas da capital chilena, quando alguém pergunta algo sobre o Transantiago ou sobre o trânsito, a resposta mais freqüente é “pergunte ao Zamorano”. Em 18 de março, Alejandro Sanz foi vaiado por 50 mil pessoas durante um show na cidade, só porque dedicou uma música a “BamBam”, seu amigo pessoal. O ex-atacante de Real Madrid e Internazionale convocou uma entrevista coletiva para esclarecer o assunto. Disse que também estava insatisfeito com o Transantiago, que só fez as propagandas porque acreditou no projeto e que se sentia enganado pelos responsáveis pelo sistema.
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MUNDIAL SUB-20
FIM DO RODÍZIO À VISTA
A Fifa realizou o sorteio dos grupos para a disputa do Mundial sub-20, que será disputado no Canadá, entre os dias 30 de junho e 22 de julho. O Brasil, vencedor do Sul-Americano do Paraguai em janeiro, está no grupo D, ao lado das seleções de Polônia, Coréia do Sul e Estados Unidos. Atual campeã mundial, a Argentina encara República Tcheca, Coréia do Norte e Panamá, no grupo E. O anfitrião Canadá, cabeça-de-chave do grupo A, terá como adversários Chile, Congo e Áustria.
Após a Copa de 2014, que será disputada na América do Sul, o sistema de rodízio das sedes do Mundial pelos continentes corre o risco de sofrer mudanças. Joseph Blatter, presidente da Fifa, admitiu a hipótese de rever o funcionamento desse processo. Diversos dirigentes europeus – entre eles o presidente da Uefa, Michel Platini – acreditam que a Europa deva receber pelo menos uma de cada três edições do torneio.
Grupo A
Grupo B
Grupo C
(Toronto, Edmonton)
(Burnaby, Victoria)
(Toronto, Montreal, Edmonton)
Canadá Chile Congo Áustria
Espanha Uruguai Jordânia Zâmbia
Portugal Nova Zelândia Gâmbia México
Grupo D
Grupo E
Grupo F
(Montreal, Ottawa)
(Ottawa, Montreal)
(Victoria, Burnaby)
Polônia Brasil Coréia do Sul Estados Unidos
Argentina República Tcheca Coréia do Norte Panamá
Japão Escócia Nigéria Costa Rica
DINHEIRO NO CAIXA Os lucros do comitê organizador da Copa do Mundo de 2006 superaram as expectativas, segundo a federação alemã (DFB). O valor pré-impostos é de € 155 milhões, € 20 milhões a mais que a estimativa de setembro do ano passado. O comitê vai reembolsar a Fifa em € 49 milhões, e o dinheiro restante será dividido entre a DFB e a Bundesliga. O pagamento dos impostos está sendo negociado com as autoridades financeiras. A receita total do Mundial arrecadada pelo comitê foi de € 557 milhões, com € 402 milhões em gastos.
NAS ALTURAS O Brasil terá um adversário extra quando enfrentar o Peru, pelas eliminatórias da Copa-2010. A federação local anunciou que mandará suas partidas contra a Seleção em Cuzco, cidade localizada a 3,3 mil metros de altitude. Não só os brasileiros sentirão os efeitos de atuar no Estádio Inca Garcilaso de La Vega: Argentina, Uruguai e Paraguai também serão obrigados a jogar lá.
MUDANÇAS NA LC? Michel Platini estuda alterar o formato das fases preliminares da Liga dos Campeões. O novo presidente da Uefa pretende colocar em prática uma de suas promessas de campanha, a de equilibrar as forças no continente. As medidas afetariam clubes de Itália, Espanha e Inglaterra. Os quartos colocados desses campeonatos se enfrentariam numa etapa preliminar. Assim, sobrariam vagas para clubes de países sem tanta força no cenário europeu. Outra alternativa seria fazer essas três equipes enfrentarem times de menor expressão, em etapas anteriores das preliminares.
Jaime Razuri/AFP
AFP
Curtas
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frases
“Ele [Luxemburgo] mandou bater em mim, mas tudo bem. É assim que a gente conhece um mau-caráter” Leandro pega pesado e desce o pau no técnico do Santos.
“Ele vai ter que provar isso na Justiça” Luxemburgo responde à acusação do jogador do São Paulo e promete processá-lo.
AFP/Laura Tenenbaum/Diario Popular
“Depois de dois minutos, já o teremos massacrado tanto que Cristiano Ronaldo terá sido retirado do gramado”
BARRABRAVAS NA CADEIA Boa notícia na batalha contra a violência no futebol argentino. Um tribunal condenou os líderes da barra “La 12”, do Boca Juniors, a sentenças que variam de três a cinco anos de prisão. Eles foram punidos por “coação agravada” – em 1999, os barrabravas agrediram um torcedor do Chacarita, durante amistoso. Entre os condenados, está Rafa di Zeo (à direita, na foto), líder da barra, que é considerado foragido desde 9 de março. Seu irmão, Fernando di Zeo, e Gustavo “Oso” Pereyra, que formam a “segunda linha” de liderança, já se entregaram à Justiça. Outros três importantes líderes ainda são procurados pela polícia e mais seis aguardam julgamento.
ORDEM NA CASA Se depender de Joseph Blatter, os clubes em breve obedecerão a novas regras quanto à presença de estrangeiros em seus elencos. O presidente da Fifa estuda a possibilidade de adotar um esquema “seis mais cinco”, pelo qual seria permitido a cada equipe escalar cinco jogadores estrangeiros e outros seis nascidos no país. O assunto será discutido no próximo congresso da entidade, em 30 e 31 de maio, em Zurique.
UEFA FICA APREENSIVA POR LEI DE PORTUGAL A aprovação de uma lei em Portugal pode ter dado início a mais uma revolução no futebol europeu. Segundo a determinação da Justiça portuguesa, qualquer jogador do país poderá deixar seu clube se pagar à agremiação o montante que ainda resta no contrato. A notícia levou terror aos dirigentes do país, que temem uma reprise do ocorrido com a Lei Bosman, quando acabou a lei do passe. A Uefa também acompanha o caso com atenção. Por causa da União Européia, é possível que a nova lei encontre amparo para se ampliar para o resto do continente. E tome briga!
O goleiro Stijn Stijnen, dá Bélgica, dá uma de machão antes de enfrentar Portugal – o jogo acabou 4 a 0 para os Tugas.
“Eles [investidores] vão vir para o Brasil para pagar o que devem e fazer um time forte como o Chelsea. Tenha certeza de que a parceria terá continuidade” Alberto Dualib, presidente do Corinthians, espera a chegada de Papai Noel com suas renas à Marginal Tietê.
especial França “Penso que Henry tenha sido mal utilizado pela seleção francesa” Arsène Wenger, treinador do Arsenal, culpa a França pelas lesões do atacante, que não jogará mais nesta temporada.
“Alguém precisa resolver o problema do Wenger, pois ele está começando a me cansar. E não só a mim, mas a muitas pessoas. Ele não sabe de nada” Raymond Domenech, técnico da França, devolve, com “sutileza”, a bola a Wenger.
“Quando Domenech diz que não chamou Trezeguet por estar na Série B e não considera isso como um nível suficiente para jogar pela seleção, ofende tanto o atleta como o clube” Didier Deschamps também desce a bota em Domenech, por Trezeguet ter ficado de fora do combinado “Bleu”.
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Carlos Alberto Parreira pagou mais um mico no comando da África do Sul. Desta vez, o treinador convocou um jogador que estava suspenso para fazer parte da equipe que enfrentou o Chade, pelas eliminatórias da Copa Africana de Nações. Bradley Carnell levou um cartão amarelo nos dois últimos jogos dos Bafana Bafana na competição. Ele foi advertido contra Congo e Zâmbia, mas a comissão técnica parece ter se esquecido desse “detalhe” e o incluiu na lista. O mais curioso é que o jogador ficou de fora do amistoso contra o Egito, em novembro, exatamente porque estaria suspenso contra o Chade e, por isso, não faria sentido convocá-lo.
TECNOLOGIA A International Board aos poucos dá sinais de que enfim permitirá a adoção de recursos eletrônicos para auxiliar a arbitragem no futebol. No 121º congresso do órgão responsável pelas regras do futebol, houve consenso sobre a necessidade de auxílio em decisões sobre bolas duvidosas na linha do gol. A federação inglesa testará um sistema conhecido como “Hawk-Eye” (“Olho de Gavião”). As experiências serão feitas com jogadores jovens em academias de preparação. A Board fez quatro exigências: a tecnologia tem de servir apenas para lances na linha do gol; o sistema tem de assegurar 100% de precisão; a indicação sobre a bola ter cruzado ou não a linha tem de ser transmitida imediatamente ao árbitro; apenas a equipe de arbitragem pode receber o sinal.
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10 transferências mais doloridas para a torcida
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OPS...
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Ronaldo
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Figo
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Magrão
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Sol Campbell
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Tinga
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Bebeto
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Ricardinho
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Roberto Baggio
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Mo Johnston
Em 2002, depois de dois anos machucado na Inter de Milão, foi para a Espanha quando se recuperou. Lá, jogou pelo Real Madrid, inimigo mortal de outro ex-clube seu, o Barcelona. Nunca teve paz em Madri. Resolveu voltar para a Itália. Para agonia dos interistas, escolheu o Milan.
Era ídolo do Barcelona. Em 2001, Florentino Pérez, candidato à presidência do Real Madrid, prometeu que levaria o português ao Santiago Bernabeu se fosse eleito, causando risos na torcida catalã, certa de que isso era impossível. Os risos viraram ódio mortal quando descobriram que Figo tinha assinado um pré-contrato com o Real.
Fez sua moral no Palmeiras, na época das vacas magras da Série B. “Posso jogar em qualquer clube do mundo, menos no Corinthians”, dizia. Mudou de idéia quando recebeu uma boa proposta da MSI para jogar no antigo rival.
Tottenham e Arsenal, dois clubes da zona norte de Londres, sempre tiveram uma rivalidade ferrenha. Quando o zagueiro Sol Campbell disse ao Tottenham que não ia renovar seu contrato, em 2001, a torcida ficou brava. Quando disse que ia jogar no Arsenal, foi chamado de “Judas” para baixo.
Surgido nas divisões de base do Grêmio, Tinga, um volante marcador e voluntarioso, deixou o Olímpico para ir jogar em Portugal. A torcida entendeu. Quando ele voltou para Porto Alegre, mas foi para o Beira-Rio, virou o inimigo tricolor número 1.
Em 1988, Bebeto, uma das maiores estrelas do Flamengo, estava com o contrato vencido na Gávea e teve o preço do passe arbitrado na Federação Carioca. A diretoria vascaína deu um belíssimo chapéu no Mengão e depositou o valor do passe. Revoltados, os flamenguistas apelidaram Bebeto de “Chorão”.
O meia do Corinthians mal tinha voltado da Ásia, onde estava no grupo que venceu a Copa do Mundo de 2002, quando começou a exigir do Timão um contrato novo. O contrato não veio do Parque São Jorge, mas sim do São Paulo, por onde teve passagem apagada.
O “Codino” era a jóia da coroa da Fiorentina, antes da Copa de 1990. Quando a torcida de Florença descobriu que o maior craque italiano tinha sido vendido para a odiada Juventus, quase fez uma revolução – que não adiantou nada...
Em 1989, Maurice “Mo” Johnston foi o primeiro jogador escocês declaradamente católico a defender o Rangers, time protestante de Glasgow. Até a torcida dos Gers chiou. Mesmo tendo marcado 46 gols em 100 jogos e sido tricampeão, deixou Glasgow em 1991, para jogar no Everton.
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Menina dos olhos do Atlético de Madrid, Raúl Gonzalez chamava a atenção de todos na Espanha. Adivinhe quem foi roubá-lo do Vicente Calderón, quando ele tinha 17 anos? Ninguém menos que o Real Madrid. Será que os Colchoneros ficaram com raiva?
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Opinião
Poupar para lucrar PRÁTICA COMUM NO FUTEBOL EUROPEU, o recurso
hat trick
Mauro Cezar Pereira
dos treinadores de poupar alguns atletas quando envolvidos em competições simultâneas chegou forte ao Brasil. Veio com atraso, como a utilização de três zagueiros, e causando polêmica, a exemplo da velha opção tática que desembarcou no país como “novidade” quando já era deixada de lado no “Velho Mundo”. A maior dificuldade de quem resolve preservar os titulares, colocando reservas em campo, é a pressão da mídia e da torcida. O grupo que detém os direitos de transmissão pela TV não gosta, afinal, a atitude é encarada como uma desvalorização de um dos seus produtos, no caso do primeiro semestre, os campeonatos estaduais. Não pensa que, priorizando a Libertadores, esses mesmos times têm maiores chances de avançar na principal competição do continente. Como quem transmite tudo é o mesmo conglomerado, a estratégia dos treinadores tende a beneficiar quem hoje é contra a escalação dos “mistos”. Na visão dos que combatem tal estratégia, escalar reservas é algo como um pecado mortal, uma heresia. Esquecem que não restam opções aos técnicos, afinal, se os principais atletas se desgastarem em demasia no começo da temporada, os desfalques serão mais numerosos e freqüentes em momentos cruciais. Quando a disputa é de uma competição como o Estadual do Rio de Janeiro, tal postura é ainda mais razoável, principalmente se o time em questão vence o primeiro turno, caso específico do Flamengo. Para quem não sabe, a conquista da primeira parte do torneio, a Taça Guanabara, garantiu
Quando o Arsenal deixará de ser o time do futuro? A pergunta tornou-se freqüente, após as eliminações dos Gunners na Liga dos Campeões, Copa da Inglaterra e a derrota para o Chelsea na decisão da Copa da Liga. Não esqueçamos que, em pleno início desse processo de renovação, o time de Arsène Wenger chegou à final da Liga dos Campeões na temporada passada, algo inédito na história do clube. E mais: enquanto o Chelsea despeja caminhões de libras na aquisição de reforços, o Arsenal caça novatos bons de bola pelo mundo, estratégia mais demorada na formação de um esquadrão – e muito mais barata também.
antecipadamente a presença rubro-negra na decisão. Mesmo assim, o técnico Ney Franco sofre críticas por escalar suplentes. Com as mudanças no calendário e a adoção do longo campeonato por pontos corridos, uma autêntica prova de regularidade, que exige fôlego, resistência, esse tipo de planejamento torna-se cada vez mais importante – principalmente entre os que disputam a Libertadores, com suas viagens, jogos na altitude e adversários traiçoeiros. Para que os treinadores possam adotar a estratégia adequada, é preciso que os cartolas dêem proteção à comissão técnica. Quem se deixa influenciar pelas pressões externas corre o risco de jogar um trabalho promissor pela janela. Em tempo: Grêmio e Santos priorizaram os estaduais em 2006, foram campeões até. Mas os vice-campeões, Internacional e São Paulo, levantaram troféus mais importantes, ao final da temporada – os gaúchos, com as taças inéditas da Libertadores e do Mundial, e os paulistas, com o troféu do Brasileiro, então distante há 15 anos. Quem poupa hoje pode lucrar amanhã.
Eliminado da Liga dos Campeões pela Roma, o Lyon comprova, mais uma vez, que no cenário europeu é mero coadjuvante, apesar de dominar há seis temporadas o futebol francês. Talvez por estar repleto de jogadores brasileiros, o time conte com a simpatia de muitos no Brasil, apesar do futebol faltoso e às vezes violento apresentado na competição. Fato: o campeonato disputado na França é fraquíssimo, se comparado aos de outras ligas. Dominá-lo não é algo tão significativo assim. Só mesmo o fortalecimento de outros clubes do país pode elevar o nível da competição e, conseqüentemente, de seu campeão.
O Rio ganha um novo estádio pra 45 mil pessoas, o “João Havelange” (quanta imaginação e criatividade!), popularmente chamado de “Engenhão”, pois fica no bairro do Engenho de Dentro. Independentemente do nome, será um dos elefantes brancos construídos com dinheiro público para a aventura do Pan-2007, salvo acordo com times cariocas. A solução, óbvia, a ser adotada pela prefeitura será entregar o estádio para que Flamengo, Botafogo e Fluminense joguem lá. A única forma de convencê-los a trocar o Maracanã pelo Engenhão é acenar com preços módicos. Desnecessário dizer quem pagará (mais) essa conta.
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Ainda não é hora da tecnologia A INTERNATIONAL BOARD (entidade que formata as re-
Ubiratan Leal
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gras do futebol) anunciou que pretende avaliar a utilização de equipamentos eletrônicos para verificar se uma bola entrou no gol ou não. O sistema Hawk-Eye – já utilizado no tênis e no críquete – digitaliza imagens e calcula a trajetória da bola, com base na combinação de seis vídeos simultâneos. Por enquanto, foi liberado apenas o uso experimental da tecnologia, em jogos de categorias de base, na Inglaterra. Ainda é um passo muito pequeno para considerar isso como “a entrada da eletrônica no futebol” – até porque a tentativa anterior, de usar uma bola com chip que indicaria ao árbitro quando passasse entre as traves, não teve resultados conclusivos e foi temporariamente abandonada. De qualquer maneira, muitos saudaram a iniciativa da conservadora International Board como “um passo rumo à modernidade”. O que esses talvez não tenham percebido é outro anúncio que a entidade fez no mesmo dia. Ao mesmo tempo em que permitiu os testes do Hawk-Eye, a Board definiu as exigências para o uso de tecnologia para auxílio dos árbitros: tem de servir apenas para lances na linha do gol, tem de assegurar 100% de precisão, a indicação tem de ser transmitida imediatamente ao árbitro e apenas a equipe de arbitragem pode receber o sinal. Isso limita bastante o alcance de eventuais novos projetos. Por mais antipáticas e retrógradas que possam parecer essas restrições, elas são corretas. A tecnologia é algo importantíssimo na sociedade atual e ajuda o ser humano em vários aspectos. No entanto, ainda não é o momento de ser empregada largamente nas arbitragens de futebol. O argumento que a Fifa (leia-se João Havelange e Joseph Blatter) sempre utilizou foi que o futebol tem de ser um só no mundo inteiro. Assim, recursos eletrônicos como sistemas computadorizados ou circuito fechado de vídeo para análise de replays são viáveis em ligas de países como Inglaterra, Itália, Espanha, Brasil, Argentina, Alemanha, França, Japão, Coréia do Sul e mais alguns outros. Só. É um argumento válido. Em países – e campeonatos - mais pobres, seria criado um “futebol de segunda linha”, que não contaria com os benefícios da tecnologia. Se fosse apenas uma questão de marcação, até seria viável. No entanto, o uso de tecnologia muitas vezes só é possível em esportes que tenham paradas constantes, como tênis,
críquete e futebol americano. O futebol é muito dinâmico e, mesmo nas interrupções, os lances são contínuos. Paradas para análise da arbitragem “quebrariam” o ritmo da partida, e o jogo nos países “digitalizados” seria diferente dos demais. Daí a importância da indicação ser transmitida imediatamente ao árbitro, na decisão da International Board. Não se pode perder de vista, também, que a tecnologia jamais resolverá boa parte dos problemas de arbitragem. Para lances que envolvam as linhas do campo, a análise de agressões ou casos de indisciplina não vistos pelo árbitro e, talvez, o impedimento, a eletrônica pode ser útil. No entanto, muitas outras jogadas continuam puramente interpretativas. Por exemplo, nas mesas redondas que perdem tanto tempo debatendo arbitragem apenas porque dá audiência, muitas vezes não se chega a conclusões sobre falta X ou pênalti Y. Isso acontece simplesmente porque um vídeo não mede a intensidade de um puxão, a intenção de um toque com a mão, a imprudência de uma entrada ou se um carrinho pegou a bola ou a canela do atacante. As imagens podem dar indicações, mas a definição ainda é humana. Uma eventual rejeição à tecnologia não significa uma submissão à má qualidade da arbitragem. Pelo contrário. A principal necessidade é melhorar a formação dos árbitros, item delicado politicamente e que, por isso, é ignorado por quase todos. Muito mais que investir em chips e computadores, as federações deveriam pensar em dar melhor formação aos apitadores, fiscalizar periodicamente o preparo de cada um e, sobretudo, dar mais tranqüilidade para eles trabalharem. Uma possibilidade a ser avaliada é a profissionalização, questão polêmica com a qual nem todos os árbitros simpatizam. Outra, fundamental, é criar comissões de arbitragem mais independentes, de modo que tenham mais transparência em suas ações e menos influência de federações e clubes. Sem pressão externa, os árbitros podem se concentrar apenas no que vêem em campo. Basta pensar: quantos jogos apitados por árbitros reconhecidamente bons, como Pierluigi Collina ou Markus Merk, dão margem a polêmicas intermináveis? Poucos, independentemente de haver auxílio tecnológico. Assim, os problemas e as soluções ainda estão no ser humano. Dar tanta importância à tecnologia é aceitar que o gerenciamento dos árbitros é bom a ponto de não haver condições de melhorá-lo – o que não é verdade.
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Francos como o Franco (ANTES DE TUDO: TIRE AS CRIANÇAS DA SALA e des-
Mauro Beting
ta coluna. Ela não tem a pretensão, muito menos a competência, de ser hilária como A Várzea da nossa última página. Mas ela é tão imprópria para menores como as “orientações” dos treinadores brasileiros durante os jogos – e nem preciso citar as reclamações com a arbitragem.) Você que gosta de futebol alternativo já ouviu falar de um meia austríaco que jogou no Bayer Leverkusen, no Stuttgart, até na seleção nacional, na metade dos anos 90. Tem 40 anos e hoje treina o Sturm Graz, também da Áustria. É Foda. Franco Foda. O futebol tem uma seleção de nomes que dificultam a vida de narradores. Não pelas colisões consonantais polonesas dos Mlcwxwrtzicziwicz da vida. Mas pelos Maricas, Cassettis e Bochettis que saem da boca de nossos colegas. Para não falar dos nomes que não precisamos dizer, como o atacante francês do Bolton, convertido ao islamismo em 2004. Se Cassius Clay virou Muhammad Ali, Nicolas Anelka agora é Bilal. Abdul-Salam Bilal. O tal do Franco é f...erro. Não é fácil. Mas, virando o jogo, tem brasileiro que adoraria ser como o Franco alemão, um marco na história dos nomes impronunciáveis que todos adoram falar. Esses nossos boleiros bazucas são francos demais. Escancarados demais. Metidos demais. Fora engano, começou com o Neto, no primeiro jogo da decisão do Paulistão-88, Corinthians 1x1 Guarani. O futuro “Xodó da Fiel” fez um golaço de bicicleta pelo Bugre e saiu batendo no peito e gritando que ele era o sobrenome do Franco da Áustria. E foi. Como foi. Especialmente pelo Corinthians-90. Agora, na decisão da Taça Guanabara, o flamenguista Souza fez dois contra o Madureira. Câmera fechada no atacante, a velha frase de Neto. Minutos depois, mais um gol rubro-negro, marcado pelo promissor Renato Augusto. Mais outro grito entalado enquanto a mão aberta estatelava no peito: – Eu sou f... Outros tantos devem estar gritando pelos campos em todos os cantos (espero, meu filho Luca, que você não esteja lendo e não faça o mesmo quando catar seus pênaltis como ótimo goleiro que é). Teve gente que achou o máximo – da pretensão – os gritos rubro-negros. Outros tantos acham que é o máximo, mesmo, porque vale tudo para comemorar um gol campeão – só não vale o que o então cruzeirense Gil disse ano passado a uma rádio católica, na festa do título mineiro. Essa é outra história, de nível parelho ao deste texto. Mas eu acho que, no gol, vale tudo, mesmo. Vale se achar
tudo e mais um pouco. Vale o Souza se achar um João Danado do gol, até mesmo um Obina. Vale o Renato se imaginar Zico. Vale até um jogador comum se colocar acima do bem e do Eduardo Vianna. Porque o futebol tem muita gente aceitando tudo dos treinadores, patrocinadores, empresários, jornalistas. Tem muito cordeirinho e coroinha. É preciso, pelo menos algumas vezes, rasgar o roteiro, improvisar a fala, tentar fazer arte. Mesmo que não sejam todos artistas, sair do lugar comum é bom. É ótimo. Mesmo abusando do chavão – como este texto –, é necessário dar asas e pés à imaginação. É preciso ser Franco. Sem aspas. Abril de 2007
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Entrevista, por Carlos Eduardo Freitas
Esqueceram de mim
na Turquia! Em meio às comemorações do centenário do Fenerbahçe, Alex conta à Trivela o que deve fazer neste ano – e não é voltar ao Brasil – e não poupa a Seleção Brasileira de umas belas pauladas
A
temporada 2006/7 tem sido diferente para o meia Alex, maior astro do futebol turco na atualidade. Para começar, neste ano, o Fenerbahçe comemora seu centenário – e o clube foi eliminado na fase preliminar da mais importante competição que disputaria, a Liga dos Campeões da Europa, logo depois da chegada de Zico como técnico. “Ser treinado por um ídolo seu é estranho, mas você acaba se acostumando”. Nesta entrevista exclusiva, o jogador comentou um pouco sobre a situação atual da equipe, que vive sob a pressão de conquistar um título para que o centenário não passe em branco, como aconteceu com o rival Galatasaray. Não bastassem essas questões, seu contrato com o Fenerbahçe chega ao fim em junho, e são grandes as especulações sobre seu destino. Brasil? Alex diz que até chegou a pensar na possibilidade de voltar, mas a idéia está descartada. Por pelo menos mais três anos, seu futuro é europeu. “Na Turquia ou em outro país”, conta. Independentemente de qual for seu destino, Alex ainda se diz à disposição da Seleção Brasileira, mesmo magoado com o tratamento que tem recebido dos últimos treinadores, que não pensam nele para formar o grupo. “É assim que funciona. Vai me dizer que chega mais informação do Elano, que está na Ucrânia, do que da gente, que está na Turquia?”
Seu contrato com o Fenerbahçe termina em junho. Aqui no Brasil, há um murmurinho de que seria grande a possibilidade de você voltar ao país. Existe algo concreto nesse sentido? Alguns meses atrás, até pensei nisso, mas pensei bem e concluí que não valeria a pena fazer isso agora. Ainda tenho condições de atuar por mais algum tempo em alto nível, por aqui. Há também comentários na imprensa turca a respeito de uma possível transferência para o Besiktas. Conhecendo a rivalidade das torcidas aí, há alguma chance de você trocar de time dentro do país? Isso nem passa pela minha cabeça. Se for para sair daqui, será para trocar
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de clube dentro da Europa. Se ficar na Turquia, fico no Fenerbahçe. O que acontece é que aqui, na Turquia, eles têm uns 18, 19 jornais diários, tipo a Folha de S.Paulo, que têm umas três ou quatro páginas de esportes, uma para cada grande clube. Além disso, há quatro jornais só de esportes, tipo o Lance. Os caras têm de inventar coisa para encher tanta página – principalmente porque aqui, pelo menos no nosso clube, nós não damos tantas entrevistas. Aí, a quantidade de especulações é uma coisa absurda. Disseram que assinei précontrato com o Besiktas, sem nunca ter falado com ninguém do clube. Aí tem um diretor do Galatasaray que
falou que, se o Fenerbahçe não me quiser, as portas estão abertas para mim lá. Dizem que conversei com o cara e já acertei com eles. Algum clube de outro país chegou a te procurar? Há algumas propostas, de uns três ou quatro times, mas sempre vêm com aquele papo de ter passaporte, de ser comunitário. Aquela conversa de sempre, que aconteceu comigo antes. Agora é hora de esperar o final dos campeonatos, ver os clubes que mudam de treinador e de elenco. Existe, sim, a possibilidade de eu me mudar para outro país, da mesma maneira que existe a de eu continuar aqui. O interesse do Fenerbahçe existe e
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Acompanho muito futebol e digo: na minha posição, não sou inferior a ninguém
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tuais ou de contusão. Isso atrapalhou muito o início da temporada. Mas, na Copa Uefa, com o time montado, vocês não avançaram para as oitavas-de-final, depois de dois empates com o AZ... Caímos num grupo difícil, mas conseguimos nos classificar. Aí, no detalhe, fomos eliminados pelo AZ. Empatamos em casa e ficamos fora. Para mim, o que faz a diferença é o peso da camisa e a experiência dos jogadores. Hoje, o Fenerbahçe é um time mais rodado, que joga junto há dois anos, mas sempre faltou um pouco de malandragem, de experiência, de tradição. Clubes de países como França, Espanha, Inglaterra, Alemanha e Itália são mais fortes, mais experientes. Acredito que o futebol turco esteja melhorando e que, no futuro, não só o Fenerbahçe, como também os outros, conseguirão fazer um papel melhor no cenário internacional. Isso explica as bobeadas que o clube deu nas últimas competições européias que disputou? Não sei. Posso falar do tempo que estou aqui. No primeiro ano, em 2004/5, caímos num grupo difícil da Liga dos Campeões, com Lyon, Manchester United e Sparta Praga. Perdemos as duas para o Lyon, e as coisas ficaram difíceis. Ficamos em terceiro e fomos para a Copa Uefa, da qual fomos eliminados pelo Zaragoza por uma bobeira. Na Liga dos Campeões passada, pegamos de novo um grupo difícil, com Schalke 04, Milan e PSV. Jogamos contra o Milan bastante desfalcados. Eu, Fábio Luciano e outros jogadores não atuamos. Resultado: o Milan nos atropelou aqui. Como disse, o que pesa muito, pelo menos nesses dois anos que disputei, é a questão da força do time, no sentido de história, de tradição e de camisa no cenário internacional. Isso faz a diferença, na hora de decidir. Você falou sobre a vinda tardia da comissão técnica. No final das contas, chegou o Zico, que é uma lenda do futebol brasileiro. Como é ser treinado por ele?
Stringer/AFP
sempre foi claro. Até falamos sobre números e tempo de contrato. Minha idéia inicial é fazer mais um contrato na Europa e ficar aqui pelo menos mais uns dois ou três anos. Este ano, especificamente, é especial para o Fenerbahçe, pelas comemorações do centenário do clube. Como tem sido participar dessa festa? Sinceramente, este tem sido o ano mais difícil de todos. Há situações que não aconteceram nas duas primeiras temporadas – e credito isso ao centenário. É um ano importante, e é tudo meio novo. Estamos sob pressão, pois o Besiktas, no ano do centenário, ganhou o título nacional. Além disso, perdemos a liga do ano passado no último jogo. Em geral, tem sido um ano de festa, e o clube tem organizado coisas legais para comemorar o centenário. A cereja do bolo vai ser alguma conquista nossa, principalmente o Campeonato Turco. Vocês bobearam na Liga dos Campeões, quando caíram na fase preliminar. Isso foi um balde de água fria para vocês, por ser o ano do centenário? Este ano começou todo errado. É um ano importante, e todo mundo queria disputar a Liga dos Campeões. Começamos a temporada sem treinador, e a comissão técnica, com o Zico e o Moracy Sant’Anna, só chegou na metade da pré-temporada. Fomos para o jogo contra o Dynamo Kiev, na fase preliminar, e tivemos dificuldades para formar o time. Por isso, perdemos. Para você, a chegada da comissão técnica e dos reforços foi tardia? Sem dúvida. Todos os reforços chegaram após o jogo contra o Dynamo Kiev, que era a principal partida da temporada para a gente. Era nossa porta de entrada para a Liga dos Campeões, e não tínhamos nosso time completo. Não haviam chegado Kezman, Deivid, Lugano e Edu Dracena. Além disso, o Appiah não tinha voltado da Copa do Mundo. Os próprios turcos que hoje são titulares também não estavam em situação boa. Muitos tinham problemas contraAbril de 2007
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Nascimento: 14/setembro/1977, em Curitiba-PR Carreira: Coritiba (1995 a 1997), Palmeiras (1997 a 2000, 2001 e 2002), Flamengo (2000), Parma (2002), Cruzeiro (2001, 2002 a 2004) e Fenerbahçe (2004 a 2007) Títulos: Copa do Brasil 1998, Copa Mercosul 1998, Copa Libertadores 1999, Copa América 1999, Rio-São Paulo 2000, Pré-Olímpico 2000, Campeonato Mineiro 2003, Copa do Brasil 2003, Campeonato Brasileiro 2003, Copa América 2004, Campeonato Turco 2005 Pela seleção: 49J / 12G
que não pode jogar. O Zico chegou e pôs um menino que o Christoph Daum havia promovido dos juniores para jogar na lateral-direita. Por conta disso, sempre foi questionado, mas manteve o discurso de que seríamos campeões e que alcançaríamos nossos objetivos. O Daum é um treinador experiente, com mais de 15 anos de carreira, enquanto o Zico, como você mesmo disse, está no início da dele. Qual a diferença entre os métodos de cada um? Ah, a diferença é muito grande. Só pela nacionalidade de cada um dá para se perceber diferenças de comportamento. O Zico é brasileiro, mais aberto; o Daum é alemão, mais fechado. O Zico tem a preocupação de nos fazer jogar futebol, enquanto o Daum queria saber do resultado. O Daum treinava de uma maneira diferente, mais preocupado com bolas paradas, posicionamento, enquanto o Zico treina mais fundamentos. A diferença é da água para o vinho. Algum dos dois estilos te agrada mais? Não tenho preferência. Prefiro me enquadrar dentro daquilo que os caras pedem e, sempre que tenho alguma dificuldade, os procuro para a gen-
Ser treinado por um ídolo como o Zico foi bem estranho, no começo
Stringer Turkey/Reuters
Alexsandro de Souza
Vou confessar: no início era meio estranho, até meio confuso. Ele era meu ídolo de infância. Hoje, sete, oito meses depois, já me acostumei. Passou aquela fase de olhar para ele como o ex-jogador do Flamengo, e já o vejo como nosso treinador, como um amigo. Especificamente para mim, essa experiência tem sido bastante interessante, porque ele jogou na minha função e aprendo bastante com ele. O Zico jogador você conhecia bem. Como é ele como técnico? Ele é muito preocupado com a parte dos fundamentos, pede para treinarmos muito passes, jogadas pelos lados, de linha de fundo e finalização. Ele se preocupa muito em fazer que o time jogue para a frente. É um cara aberto, que procura sempre conversar com os jogadores. Para mim, é até melhor, porque temos a afinidade por conta da língua. Ele ainda está começando nessa carreira, mas, pela vontade que tem demonstrado, tenho certeza de que vai ser um treinador com condições de trabalhar em grandes equipes. Acho que essa passagem por aqui vai ajudar muito nessa nova empreitada, pois é a primeira vez que ele vivencia o diaa-dia de um treinador de clube, que é bem diferente do de uma seleção. A imprensa pegou muito no pé dele, no início do trabalho. Como foi ver essa situação de dentro? Ele sofreu muito, sobretudo por ter chegado depois, por não conhecer o futebol turco e não conhecer os jogadores. A imprensa sempre pegou no pé dele e sempre o questionou, mesmo quando ganhava, quando o time jogava de uma maneira legal e bonita. Como ele lidou com essa pressão? Por incrível que pareça, manteve-se da mesma maneira do primeiro dia até hoje: sempre sereno, tranqüilo, convicto das coisas que estava fazendo. Ele fez uma coisa que, aqui no futebol turco, é quase inédita: colocou os meninos mais novos, de 18, 19 anos, para jogar. O pessoal, aqui, olha um menino de 22, 23 anos, e diz que é muito novo,
Zico chega em Istambul: começo difícil na Turquia
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Vai me dizer que chega mais informação no Brasil sobre o Elano do que da gente daqui, da Turquia?
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te se acertar, para fazer o que é bom para mim e para o time. Em 1999, o Tostão comentou que achava que você deveria se movimentar mais para fugir da marcação adversária e, assim, tornar-se um jogador mais completo. Você acha que melhorou nesse sentido? Melhorei muito. Não exatamente nesse aspecto, mas sim em termos de posicionamento. Antigamente, acontecia muito de a bola estar na área e eu não estar. De repente, eu tinha de estar mais pelos lados do campo e estava preso pelo meio. Muito disso acontecia porque, em 1999, eu tinha só 22 anos. Com o passar do tempo, aprendi mais sobre movimentação, para onde ir e para onde não ir, onde a bola chega e onde não chega. Para comprovar, é só levantar o número de gols que eu fazia naquela época e o número de gols que faço hoje. Quem tem uma parcela muito grande nisso é o Vanderlei Luxemburgo, que me ajudou muito no Cruzeiro. A partir daquele momento, melhorei bastante. Tem muita gente aqui, no Brasil, que diz que “para o Alex jogar bem, o time tem que ser montado em função dele”. Você concorda com isso? Discordo. Joguei muito bem no Palmeiras, e o time não era armado em minha função. Estou no Fenerbahçe há três anos e nunca jogaram “para mim”. Outra coisa que dizem é que só jogo com o Vanderlei, mas tive bons momentos no Palmeiras, e o treinador não era ele. O que sempre digo é que, quando minhas características foram respeitadas, pude ajudar bastante. Quando elas foram feridas, aí, realmente, não pude jogar bem. Quando alguém “feriu suas características” a esse ponto? Com o Marco Aurélio, no Cruzeiro e no Palmeiras, foi assim. Ele me dizia: “Sou o treinador, você vai ter de jogar assim, e pronto”. Tentei jogar da maneira que ele queria, mas não deu certo – tanto que não fui bem com ele no Palmeiras e no Cruzeiro. Eu só
acatei a decisão, já que o Marco foi campeão no Cruzeiro e fez bons trabalhos em outros clubes. Acho até que o treinador não tem de gostar da minha maneira de jogar. O que sempre tento, com todos os técnicos, é conversar, para buscar uma coisa boa para mim. Afinal, sempre que as coisas estiverem bem para mim, estarão bem para o time. Quando as coisas não acontecem assim, respeito o treinador e procuro me encaixar na situação. Atuar numa posição que lhe agrada explica a fase boa que você vive aí, no Fenerbahçe? Acho que sim. Isso tem acontecido de 2003 até hoje. Quando cheguei ao Cruzeiro, em 2003, o Vanderlei conversou comigo e disse que queria montar o time de maneira que eu fizesse parte da espinha dorsal do esquema, apoiado em um volante que pudesse ajudar a defesa e subir para o ataque. Aí, ele foi atrás do Maldonado e conseguiu contratá-lo. Ele montou esse esquema para se aproveitar das minhas qualidades e das dos dois atacantes, que se movimentavam muito, dentro daquilo que ele desejava. No começo, tinha o Marcelo Ramos e o Motta, depois vieram o Aristizábal e o Deivid.
A dupla de atacantes variava, sempre mantendo a espinha dorsal, com o Maldonado e comigo. Quando cheguei no Fenerbahçe, joguei as duas primeiras partidas de uma maneira que não agradou ninguém, nem a mim. O clube não gostou, a torcida não gostou, e começaram a fazer cara feia. Aí, chamei o Daum para uma conversa e falei para ele como eu gostaria de jogar e como poderia ser melhor para mim e para o time. Ele entendeu perfeitamente e, a partir do terceiro jogo, as coisas começaram a acontecer, e logo marquei um gol. Nessa conversa, acertei meu posicionamento e pude crescer, a ponto de, nestes últimos tempos, eu me manter jogando bem, ter feito gols e sempre ter uma participação boa. Tudo isso porque o treinador me entendeu. Por falar em estar jogando bem, nesses últimos cinco anos você tem comido a bola e não foi a nenhuma das duas Copas. Agora que está perto dos 30 anos e joga num país com pouca visibilidade, você ainda pensa em Seleção? Depois de 2002, quando não fui para a Copa achando que era uma coisa garantida, comecei a pensar na Seleção da seguinte forma: vou jogar no clube – seja ele Palmeiras, Cruzeiro
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Fotos CBFNews
Alex em três momentos: diante do Milan na LC (à esq.); na Seleção durante a Copa América; e contra a Costa Rica
e Fenerbahçe – e quero estar sempre entre os melhores. É claro que os melhores estão sempre na Seleção Brasileira, mas, para isso acontecer, o treinador e a comissão técnica têm de pensar em mim. O próprio Dunga raramente pensa em mim. Poderia estar na Espanha, que, se não pensarem no meu nome, não adianta, não vou para a Seleção. Isso já aconteceu com vários jogadores, em vários momentos de suas carreiras. O Djalminha era brilhante no La Coruña. Vão dizer que não foi para a Seleção porque não o viram? Não foi para a Seleção porque o treinador no momento não via no Djalminha um jogador para aquele grupo. A partir do momento em que o treinador achar que eu posso colaborar com o time de alguma maneira, não fará diferença onde eu estiver jogando. Veja, por exemplo, a questão do Elano: vai me dizer que chega mais informação do Elano no Brasil do que da gente, que está aqui na Turquia? O Elano vai para a Seleção porque o Dunga pensa nele, porque deve ter alguma importância para o treinador no plano tático, ou porque
faz isso ou aquilo outro. O mesmo vale para o Dudu Cearense, para o Vágner Love. Por isso, digo que quero jogar bem no meu clube. Se acharem que eu tenho de ser convocado, vou para a Seleção tranqüilo, pois me sinto no mesmo nível dos outros jogadores. Vejo futebol italiano, vejo futebol espanhol, brasileiro, futebol em geral e digo: não sou inferior a nenhum jogador que atue na minha posição. Mas quem analisa e convoca é o treinador da Seleção Brasileira. Depois que se tornou treinador, o Dunga chegou a lhe procurar para saber como você está? Não. Na verdade, nem o conheço. Só joguei contra ele uma vez, num Palmeiras x Internacional, mas nunca nos falamos. Conheço mais o pessoal das antigas, que ainda está na Seleção. Você lamenta não ter participado mais da Seleção nos últimos anos, sabendo que viveu alguns dos melhores momentos de sua carreira? Lamento por 2002, por ser um treinador que me conhecia e com quem já tinha trabalhado. Acreditava, realmente, que eu iria. Vejo 2006 como uma seqüência do que aconteceu em 2002. Em 2003, estava jogando muito bem pelo Cruzeiro, e isso era uma coisa inquestionável. Até o pessoal da imprensa que não vai com a minha cara dizia que eu tinha de ser chamado. O Parreira até convocava, mas jogava muito pouco. Quando isso acontecia, era por um tempo determinado. Mesmo estando bem na partida, era substituído. É o que acabei de dizer: o Parreira não via em mim o perfil e as características para estar no grupo dele – o que aceito. De repente, se eu tivesse ido para a Copa do Mundo e tivesse continuado jogando bem, minha carreira na Seleção teria sido diferente. Essa questão, para mim, está resolvida. Quando olho para o que fiz em toda minha carreira, acho que tive meus momentos de baixa, mas sempre me mantive num bom nível. Abril de 2007
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Marcos Brindicci/Reuters
Racismo no futebol brasileiro, por Carlos Eduardo Freitas
O jogo a Caso Grafite-Desábato completa dois anos, mas, por e jogadores adiam uma discussão aprofundada sobre
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Desábato (acima) e Grafite: personagens de um episódio que gerou polêmica
arecia apenas mais uma disputa de bola entre argentinos e brasileiros, em uma Copa Libertadores: Grafite invade a área pela direita, tromba com um zagueiro, e o juiz marca falta para o Quilmes. O são-paulino sai de cabeça baixa, com dois rivais gritando em seu ouvido. De repente, agride um deles, Leandro Desábato, que cai no chão. O brasileiro e o outro argentino acabam expulsos. Quem estava no estádio pode não ter entendido o que causou a expulsão, mas quem acompanhava a partida pela televisão pôde ver, com a câmera lenta, o movimento da boca do argentino: “negrito de mierda”. Ao final da partida, um delegado que acompanhava o jogo de sua casa estava à beira do gramado. Tão logo o árbitro apitou o fim do jogo, o policial localizou Desábato no gramado e, antes mesmo de o argentino descer as escadas para o vestiário, deu-lhe voz de prisão. Neste mês, esse episódio, significativo na história do racismo no futebol brasileiro, completa dois anos. Não vem ao caso discutir se o policial quis aparecer, se a cobertura da imprensa na época foi sensacionalista ou se foi justa a detenção de Desábato por 48 horas, numa delegacia da zona sul de São Paulo. Mais importante foi a atitude de Grafite, que, induzido ou não, prestou queixa-crime contra o agressor. Assim, abriu-se uma nova era na complicada história das questões raciais no esporte e na sociedade do Brasil. Dois anos depois do ocorrido, Grafite parece não ter noção da importância que seu gesto teve – a ponto de, por meio de sua assessoria de imprensa, dizer que não gostaria mais de falar no assunto. Querendo ou não, o ex-são-paulino tornou-se referência dentro do Brasil, que viu, desde aquele 13 de abril, uma série de denúncias de casos de racismo em gramados brasileiros. Entre os mais significativos, estão os protagonizados por Tinga e a torcida do Juventude e, mais recentemente, o que envolveu o zagueiro Antônio Carlos e o volante Jeovânio – ambos em Caxias do Sul (ver box na pág. 20).
Em campo pode tudo? Entre jogadores e técnicos de renome, é praticamente impossível ouvir alguém que confirme a existência de racismo no futebol brasileiro na atualidade. Costumam dizer que foi-se o tempo da discriminação, que forçava negros e mestiços a atitudes como
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penas começou racismo na lei brasileira
desconhecerem a legislação e fecharem os olhos para o racismo no futebol brasileiro, dirigentes um dos temas que mais preocupam a comunidade futebolística internacional
A legislação no Brasil prevê dois tipos de ofensa de caráter racial: o racismo e a injúria. Veja as diferenças:
Racismo Quem ataca fisica, moral ou psicologicamente alguém por causa da raça comete um ato de racismo. Por exemplo: impedir a entrada de alguém numa loja, por causa da sua cor. Quem deve tomar providência é o Ministério Público, e o crime é inafiançável e imprescritível.
Fernando Pilatos/Gazeta Press
Injúria com agravante racial
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Ocorre injúria a alguém quando a pessoa for atingida em sua dignidade ou decoro. A ação depende de representação do ofendido. A pena para a injúria comum é de detenção de um a seis meses, além de multa. No caso de uma ofensa ligada à raça, a pena prevista sobe para de um a três anos de reclusão – mais restritiva do que a detenção.
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passar pó-de-arroz na cara para freqüentar clubes que não os aceitavam em suas equipes, como conta o jornalista Mário Filho, em “O Negro no Futebol Brasileiro”. “A partir do momento em que alguém quer subjugar o outro por força da cor, há racismo”, explica o advogado Marco Antonio Zito Alvarenga, presidente da Comissão do Negro e Assuntos Antidiscriminatórios (Conad). Segundo o jurista, é muito comum ouvir, até mesmo de vítimas de racismo no futebol, a máxima de que “o que acontece dentro de campo fica dentro de campo”. É o que diz Tinga, vítima de uma provocação racista da torcida do Juventude, em outubro de 2005. “No calor do jogo, o cara pode até falar esse tipo de coisa para tentar tirar uma vantagem, mas não acredito que seja uma coisa séria”, afirma o jogador, hoje no Borussia Dortmund. Discurso semelhante tem Adauto, atacante do Santa Cruz que, em sua recente passagem pela República Tcheca, foi vítima de preconceito e acabou como garoto propaganda de uma campanha do governo contra o racismo no país (ver box na pág. 21). “Provocação durante o jogo é o que mais tem, principalmente no Brasil”, comenta o centro-avante. Até mesmo Luiz Felipe Scolari deu, na época do caso Grafite-Desábato, uma declaração nesse sentido, durante o programa Roda Viva, da TV Cultura. Felipão reprovou a atitude do são-paulino: “Achei uma palhaçada. Dentro de campo, é outra história”. Será? A sensação de impunidade que paira sobre o futebol prova-
velmente é reforçada pela legislação da Fifa, entidade máxima do esporte, que proíbe que questões de natureza esportiva sejam resolvidas em tribunais comuns. Mesmo quando se sentem ofendidos, os jogadores sentem-se pressionados a não tomar medidas legais. Só que essas ofensas são crimes, previstos no Código Penal brasileiro – queiram eles ou não. “O futebol não está acima da lei. Pode parecer, mas não está”, explica Leon Mann, da ONG inglesa Kick It Out, que luta contra o racismo no futebol. Segundo ele, muitos jogadores que sofriam casos de racismo no passado não reportavam os episódios porque não tinham apoio ou não sabiam como agir. “Felizmente, jogadores como Samuel Eto’o, Thierry Henry e Dwight Yorke quebraram esse padrão”, diz. É difícil não ver relação direta entre os três e Grafite, que na época do incidente do qual foi vítima acompanhava pelo noticiário os casos deles e de outros brasileiros que sofreram preconceito na Europa. A pesquisa acadêmica também se interessa muito pelo assunto. “A gente pode até questionar se isso já existia e ninguém denunciava, e se começaram a denunciar mais porque está se falando nisso fora do país. Normalmente, sente-se a influência de fora nessas questões”, afirma Yvone Maggie, professora-doutora em Antropologia Social pelo Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Segundo Ana Paula da Silva, orientada pela profes-
Carlos Silva/Agência O Globo/Gazeta Press
Paulo Whitaker/Reuters
Marcelo Ferrelli/Gazeta Press
casos recentes de racismo no futebol brasileiro
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27/abril/2005
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São Paulo 3x1 Quilmes, Estádio Morumbi, em São Paulo-SP
Brasil 3x0 Guatemala, Estádio Pacaembu, em São Paulo-SP
Paysandu 3x0 Juventude, Estádio Mangueirão, em Belém-PA
O atacante Grafite foi expulso após agredir o zagueiro Leandro Desábato, que teria lhe xingado de “macaco” e “negro de merda”. Na saída do gramado, o argentino foi autuado por um delegado e levado para uma delegacia, onde passou dois dias e só foi liberado ao pagar R$ 10 mil de fiança.
Menos de 15 dias após o “caso Desábato”, na despedida de Romário da Seleção Brasileira, Grafite mais uma vez foi vítima de preconceito. Dessa vez, por parte da torcida, que atirou uma banana em campo com seu nome escrito na fruta. O episódio não ganhou grande repercussão.
Robgol acusou Antônio Carlos de tê-lo ofendido por jogar em “terra de índios”. Ao marcar dois dos três gols do Papão, o atacante fez questão de retrucar para o zagueiro. “Estou muito feliz por jogar aqui em Belém, cidade que escolhi para morar”, disse o agora deputado estadual paraense.
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Adauto: garoto-propaganda contra o racismo na República Tcheca
Reprodução
Jefferson Bernardes/Vipcomm
Combatendo o preconceito no Leste Europeu
caminho que poucos jogadores percorrem: foi tentar entender o que estava acontecendo e estudar o assunto. “Poucos estrangeiros entravam no país naquela época, que foi logo depois do fim do Comunismo. Os que entravam não se preocupavam em aprender a língua nem se adaptar à cultura tcheca”, comenta. Em 2004, incentivado por alguns colegas, o brasileiro resolveu aceitar o convite do então primeiro-ministro, Stanislav Gross, para ser a estrela de uma campanha contra o racismo no país. “Em pouco tempo, deu para perceber o resultado: as torcidas me aplaudiam em todos os estádios”, conta, com a sensação de ter cumprido seu dever.
Marcelo Ferrelli/Gazeta Press
Getty Images
Casos de racismo na Europa têm acontecido com uma freqüência preocupante. Na República Tcheca, o brasileiro Adauto foi o protagonista de mais um deles. O atacante, que hoje defende o Santa Cruz, chegou ao país em 2002. Em seu primeiro jogo fora de casa, contra o Banik Ostrava, sentiu na pele o que é ser vítima de preconceito. Quando ele tocava na bola, os torcedores rivais imitavam ruídos de macaco. “Na primeira vez que peguei na bola, cheguei a achar que não era comigo, mas aos poucos percebi que era”, relembra. A triste passagem de Ostrava não foi a última que o jogador enfrentou. Para não descer ao nível de seus provocadores, Adauto tomou um
22/outubro/2005
3/novembro/2005
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Juventude 2x1 Internacional, Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul-RS
Palmeiras 0x1 Flamengo, Estádio Parque Antarctica, em São Paulo-SP
Juventude 1x2 Grêmio, Estádio Alfredo Jaconi, em Caxias do Sul-RS
Toda vez que o volante Tinga pegava na bola, a torcida do Juventude fazia sons imitando macacos. Por conta desses gestos de seus torcedores, relatados na súmula pelo árbitro Alício Pena Júnior, o clube foi multado em R$ 200 mil, além de perder os mandos de campo das partidas contra São Caetano e Goiás.
O Fla vencia o Palmeiras quando parte de uma organizada palmeirense xingou o ex-corintiano Renato de “macaco”. Ele relatou o ocorrido ao árbitro, que não o registrou na súmula por não ter ouvido as ofensas. O caso não foi adiante, mas em blogs na Internet é fácil encontrar torcedores que se vangloriam do que fizeram.
Antônio Carlos foi expulso de campo após cotovelada em Jeovânio. Enquanto deixava o gramado, esfregou os dedos no braço. O gesto foi interpretado como racismo, e o zagueiro foi indiciado pelo Ministério Público de Caxias. Foi punido com 120 dias de suspensão, da qual apenas a metade foi cumprida.
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sora Maggie numa tese sobre Pelé e as questões de raça, a própria discussão das cotas para negros nas universidades brasileiras, que vem de longa data, já colocava o tema do racismo em pauta no noticiário, em nosso país. “Era questão de tempo para isso respingar no futebol”, analisa.
nharem no noticiário o show da impunidade em nosso país, os jogadores evitam levar esse tipo de caso adiante. “Um monte de gente me falou para levar a questão adiante, mas preferia não fazer isso e envolver minha família à toa. Ainda mais no Brasil, onde não punem quem mata e quem rouba. Vão punir quem xinga?”, justifica o agora meia do Borussia Dortmund.
Crime, mesmo que o ofendido fique quieto Além do racismo O próprio Tinga aponta a distribuição de renda como um problema ainda maior no Brasil. Segundo ele, se você é negro e tem dinheiro, como Pelé, não sofre preconceito. “Ninguém vai barrá-lo em lugar nenhum”, diz. A antropóloga Ana Paula da Silva discorda. Segundo ela, na tese que desenvolve sobre a atuação do “Rei do Futebol” em questões raciais será discutida exatamente essa questão: “O pensamento, hoje em dia, é exatamente o mesmo do Pelé, de que se você tem dinheiro será bem aceito, o que é uma bobagem, pois negros com posição social alta e poder aquisitivo bom continuam sofrendo discriminação”. Jeovânio que o diga. Dias antes do episódio com Antônio Carlos, o então jogador do Grêmio foi a um shopping de Porto Alegre com sua família. Ao estacionar seu carro, da marca alemã Audi, ouviu de um cliente: “Com um carrão desses, só podia ser jogador de futebol”. A cor da pele não é o único fator no qual o preconceito se perpetua no Brasil. Atletas e técnicos nascidos nas regiões Norte e Nordeste também são freqüentemente vítimas de ofensas, no
Onde estão os técnicos negros? O volante Paul Ince, que passou pelo Manchester United, Liverpool e Internazionale, ficou famoso por ser o primeiro capitão negro da seleção inglesa. Recentemente, depois de assumir o cargo de treinador-jogador do Macclesfield, equipe da quarta divisão da Inglaterra, não se fez de rogado e desceu a lenha nos dirigentes da Inglaterra por não abrirem espaço para treinadores negros. “Acho que o problema vem do fato de que a maioria dos cartolas têm 65 anos ou mais – e isso é uma questão de geração, algo que espero mudar”, afirmou Ince, que, nada modesto, já definiu onde quer chegar como técnico: na própria seleção da Inglaterra. Na primeira divisão, poucos anos atrás, os dois únicos técnicos negros eram Jean Tigana (Fulham) e Ruud Gullit (Chelsea) – ambos estrangeiros. Hoje, não há nenhum. A crítica feita por Ince, entretanto, não se restringe ao futebol inglês. A situação no Brasil, por sinal, não é muito
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diferente da vivida na Premier League. Dos 40 técnicos que passaram pelos 20 clubes da Série A do Brasileirão em 2006, apenas cinco não eram brancos – a maioria, em clubes do nordeste. “A pouca quantidade de treinadores negros não é muito diferente do que se vê em outras áreas”, comenta Leon Mann, porta-voz da Kick It Out, ONG inglesa que combate o racismo e que tem Thierry Henry como garoto-propaganda. Fato: segundo pesquisa de 2006 do Instituto Ethos, apenas 3,4% dos cargos de gerência em empresas brasileiras são ocupados por negros. “Já fui rejeitado por alguns clubes por causa da minha cor”, diz Lula Pereira, um dos poucos técnicos negros no Brasil que chegaram ao comando de um grande clube recentemente – no caso, o Flamengo. “Ainda consegui alguma abertura, mas sei que preciso mostrar mais resultados que um técnico branco.” No momento, ele treina um clube na Arábia Saudita.
Ricardo Saibun/Gazeta Press
Se dependesse de Tinga, o incidente ocorrido no estádio Alfredo Jaconi, em que a torcida do Juventude imitava o som de macaco toda vez que o meia pegava na bola, teria morrido ali, naquele 22 de outubro de 2005. O árbitro Alício Pena Júnior, no entanto, foi decisivo para que o alviverde de Caxias pagasse – e caro – pelo crime cometido por sua torcida. O clube foi multado em R$ 200 mil, além de ter perdido o mando de campo em duas partidas do Brasileirão de 2005. Para efeito de comparação, em 2006, o Zaragoza foi punido em módicos € 9 mil pela Federação Espanhola, pelos incidentes provocados por sua torcida num jogo em seu estádio, contra o Barcelona, quando Eto’o ameaçou deixar o gramado após ouvir os torcedores imitarem macaco. “Teriam de fechar o La Romareda por um ano”, criticou o camaronês. Isso aconteceu porque, segundo o Código Penal brasileiro, as punições para casos que envolvem questões raciais são bastante duras. “Nossa legislação coloca o racismo junto com os crimes mais terríveis, como, por exemplo, o terrorismo”, compara Yvone. Tanto por não conhecerem as leis quanto por acompa-
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Lula Pereira: exceção à regra em um mercado fechado
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Emerson Souza/Agência RBS
Antônio Carlos: “Fui massacrado” Você teme ser lembrado como racista, por conta do episódio com o Jeovânio? As pessoas me massacram até hoje por causa daquilo, e fico chateado. Não me conhecem no dia-a-dia, em que sou completamente diferente do que dentro de campo. Acham que aquilo que você faz no gramado se reflete fora, mas a maioria dos meus companheiros e muitos dos meus amigos são negros. Teve aquele incidente, e me arrependo. Sempre. Talvez demore um pouco para as pessoas esquecerem, mas não acho que vou ficar marcado. Para mim, aquilo ali faz parte do passado. É lógico que, quando a gente começa a conversar, me bate um arrependimento, mas espero que as pessoas possam esquecer também. Além disso, é sempre mais fácil as pessoas verem o lado ruim e, por isso, não olham mais para a carreira que eu tive. Foi um período muito difícil na minha vida – não só no futebol, mas também fora de campo. Felizmente, já superei. Na sua opinião, há racismo no futebol brasileiro? Ah, não tem. Isso, no futebol brasileiro, não existe. Aconteceu isso comigo porque perdi a cabeça dentro de campo e acabei tomando uma atitude impensada. Às vezes, o torcedor pensa que porque você discutiu com um companheiro de profissão dentro de campo você vai sair na porrada com ele fora. Estava até falando com o Serginho (Chulapa) outro dia, de como antigamente a gente dava porrada um no outro dentro de campo e depois ia todo mundo tomar cerveja junto. Hoje em dia, parece que querem moralizar demais o futebol. É só você dar uma chegada mais dura, como foi meu caso com o Leandro (no clássico contra o São Paulo, pelo Campeonato Paulista), que a imprensa diz que sou violento. Você chegou a falar com o Jeovânio, após o episódio? Eu tentei. Liguei para ele, que não me atendeu. Pedi desculpas para ele ao vivo, numa rádio, com ele de um lado da linha e eu do outro. Disse que não aceitava as desculpas. Daí, nunca mais quis conversar com ele. Para você, foi exagerado o gesto dele? Foi exagerado, e senti que ele foi induzido a me processar pela própria diretoria do Grêmio, que fez um escândalo depois do jogo. Tenho amigos que conhecem o Jeovânio, que ligaram para ele, depois do jogo. Ele queria deixar quieto, mas tenho certeza de que alguém do Grêmio deve tê-lo incentivado a processar – como no caso do Grafite. Sinto que, se fosse por ele, não teria acontecido nada daquilo.
Jeovânio (esq.) e Antônio Carlos, durante o julgamento do zagueiro que hoje está no Santos
Sul e Sudeste. Nascido em Santo André, Adauto, que hoje joga em Recife, relembra alguns xingamentos dirigidos a seus companheiros que ouvia quando jogava no ABC paulista: “Os mais comuns eram ‘Vai, volta pro Nordeste! Seu negócio é comer farinha, seu baiano!’” O próprio Adauto cita o técnico Givanildo de Oliveira, rodado no Nordeste e responsável por levar o Paysandu à Libertadores, como um dos que mais sofrem por isso. “Ele só não é badalado porque é nordestino”, diz. Givanildo admite ter sentido esse tipo de preconceito recentemente, em sua passagem pelo Atlético-PR. “Antes mesmo de eu chegar, a imprensa curitibana já estava fazendo a cabeça do torcedor”, acusa o atual treinador do Vitória, na Bahia.
Campanhas e denúncias Enfrentar o problema do racismo como uma realidade distante ou periférica no futebol brasileiro é a solução dada pelo cego que não enxerga porque não quer. O tema exige cada vez mais discussão – tanto na sociedade quanto no governo – e certamente as páginas desta reportagem não são suficientes para esgotar o assunto. E a participação dos protagonistas também é indispensável. Campanhas como a encabeçada pelo francês Thierry Henry, na qual uma pulseirinha branca e preta era usada como um grito contra o racismo, pode soar ingênua, mas não é, como confirma Leon Mann, da Kick It Out. ”O número cada vez maior de pessoas denunciando casos de racismo indica que há avanços concretos”, comenta Mann. Em outras palavras, Grafite, querendo ou não, pegou o recado e deu o pontapé inicial – pontapé esse que talvez seja mais importante para o país do que qualquer um já dado. Abril de 2007
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Patrocínios alternativos, por Leonardo Bertozzi
Calcinha Preta em campo
Jorge Henrique/Agência O Globo/Gazeta Press
O Pirambu, que enfrentou o Corinthians na Copa do Brasil, mostrou ao país um tipo de patrocinador que tem se tornado cada vez mais comum no futebol: as bandas de forró
Betão, do Corinthians, enfrenta a ginga da Calcinha Preta, no Batistão; na pág. ao lado, Cavaleiros do Forró têm lugar de honra no calção do América-RN
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Divulgação
A
data é 21 de fevereiro de 2007. O Pirambu, de Sergipe, vive o dia mais importante de sua curta história, enfrentando o Corinthians, pela primeira fase da Copa do Brasil. Em cadeia nacional, a torcida brasileira entra em contato com o patrocinador do clube sergipano, a Calcinha Preta, uma das mais célebres bandas de forró da atualidade. O grupo de Sergipe tem no seu set-list sucessos como “Pensão Alimentícia”, “Furunfa” e “A Calcinha Preta É Nossa”. Conhecida por atirar calcinhas pretas para o público em seus shows, a Calcinha patrocina o Pirambu desde a fundação do clube, em 2005. A banda não esperava que seu investimento – que cobre 25% da folha salarial de R$ 50 mil – trouxesse retorno em cadeia nacional de televisão. “Ficamos surpresos com a repercussão positiva”, admite Gilton Andrade, empresário do grupo. “Estivemos recentemente na Suíça e em Portugal, e a nossa exposição contra o Corinthians foi motivo de comentários. Investir no esporte é algo que mais artistas deveriam fazer”. O fato de ser um clube novo levou o Pirambu a ter a preferência de Andrade, em detrimento de times mais tradicionais, como Sergipe e Confiança. “Um clube recém-fundado é enxuto, não tem dívidas. A chance de obter bons resultados é maior”, justifica. O empate por 1 a 1 no jogo de ida, em Aracaju, permitiu ao Pirambu viajar ao Pacaembu para a segunda partida, que terminou com derrota por 3 a 0 – nada mal, para um clube de menos de dois anos. O adversário seguinte do Corinthians, o Treze,
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não teve a mesma sorte e foi eliminado logo no primeiro jogo. Coincidentemente, o time da Paraíba também contava com o patrocínio de um grupo musical, a Banda Calypso. Será que um apoio tão incomum não deixa o torcedor meio assustado? Para o presidente do Pirambu, Guilherme Zacarias, não. Ele acha que o patrocínio da Calcinha Preta rende ao clube um ar folclórico que angaria simpatizantes. O dirigente confessa: “Nossa inspiração foi o patrocínio do Salgueiro”, time da cidade pernambucana de mesmo nome. O Salgueiro Atlético Clube, atualmente na segunda divisão estadual, ganhou projeção em 2005, quando conquistou o título da Copa Pernambuco. O clube é patrocinado pela banda local Limão com Mel, cujo investimento foi decisivo para a reativação do futebol profissional, depois de 25 anos. O empresário do grupo, Aílton Souza, jogou nos juniores do Salgueiro e chegou a ser gandula em partidas do time. “Sempre tive carinho pelo clube, e, como tínhamos condições de ajudar, decidimos nos unir com um grupo de empresários da cidade e colaborar para a volta do Salgueiro, que estava parado. Nosso investimento é de R$ 20 mil por mês”, conta. Souza diz ter um acordo com o presidente do clube, Clebel de Souza Cordeiro, para que ambos dividam as despesas não cobertas pelas receitas do Salgueiro. Além disso, a banda fez shows para angariar fundos, em jogos contra os grandes clubes do Estado – Náutico, Santa Cruz e Sport –, durante a passagem do clube pela primeira divisão, ano passado. Contudo, em 2007, dentre as bandas de forró patrocinadoras de clubes de futebol, ninguém deve ter mais exposição do que a Cavaleiros do Forró, que exibe sua marca na parte traseira dos calções do América-RN. O presidente do clube potiguar, Alex Padang, é o empresário do grupo e também participa da composição de algumas das músicas. Padang disse à Trivela que a Cavaleiros do Forró fez nada menos que 346 shows no ano passado e teve um significativo retorno de imagem pelo investimento no América. Com a presença do time na Série A, Padang tem planos para acompanhar suas duas paixões: “Durante o Brasileirão, vamos dar preferência a convites para shows em cidades que receberem, na mesma data, nossos jogos”, conta.
A relação entre música e futebol tem casos bizarros no exterior. Confira: A banda alemã de punk rock Die Toten Hosen foi patrocinadora do Fortuna Düsseldorf, time do coração de seus integrantes, entre 2001 e 2003. Infelizmente para o grupo, nesse período, o time foi rebaixado da terceira para a quarta divisão. O cantor Elton John foi dono e presidente do Watford, da Inglaterra, por dois períodos: de 1976 a 1987 e de 1997 a 2002. O ponto alto aconteceu em 1984, quando o time chegou à final da Copa da Inglaterra. Em junho de 2005, ele fez um show no estádio de Vicarage Road, com renda revertida para o clube. Em 2006, Noel Gallagher, líder da banda Oasis, ofereceu nada menos que € 11,5 milhões por temporada para que o italiano Paolo Maldini defendesse o Manchester City, time do coração do músico. Depois, Gallagher admitiu que estava embriagado quando fez a proposta. Você já ouviu falar do Exeter City, da Inglaterra? Pois saiba que se trata do primeiro adversário da história da Seleção Brasileira. Além disso, o clube já teve Michael Jackson – ele mesmo – em seu quadro de diretores. “Jacko” foi nomeado em 2002 pelo performático “paranormal” Uri Geller, então diretor executivo do clube. A condição lhe dava o direito de participar de decisões sobre jogadores, entrar de graça no estádio e viajar para partidas fora de casa no ônibus do clube.
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Crise no Santos, por Ubiratan Leal
Onde está o
dinheiro? Geração campeã brasileira de 2002 – Robinho incluso – rendeu dezenas de milhões de reais ao Santos, mas clube demonstra que não tem mais caixa para investir. Como o Peixe conseguiu gastar tanto em tão pouco tempo?
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gol de Léo, aos 46 minutos do segundo tempo da final do Brasileirão de 2002, simbolizava a salvação do Santos. Naquele momento, a estiagem de 18 anos sem títulos acabava. Mais que isso, o Peixe tinha em mãos uma geração jovem e talentosa que poderia tirar o clube do mar de dívidas em que estava. De fato, jogadores como Robinho, Elano, Diego e Alex trouxeram milhões de dólares para a Vila Belmiro. No entanto, o clube não aproveitou a oportunidade para se organizar e, um ano depois de receber mais de R$ 70 milhões apenas com a venda de Robinho, dá sinais de que a situação financeira é crítica. A forma como o clube desperdiçou todos esses recursos dá uma idéia de como a diretoria santista tem errado a mão: jogadores que chegam custando muito e vão embora sem acrescentar nada ao time, mudanças de planos no meio da temporada e dificuldade em revelar jogadores nas categorias de base. Esses problemas tornaram caríssima a tarefa do clube de se manter competitivo e podem comprometer seu futuro. Por isso, a Vila Belmiro esteve tão agitada em março. No final do mês, o balanço financeiro santista foi submetido à avaliação do Conselho. Todos estavam ansiosos pelos números, pois o cenário projetado era pessimista. Infelizmente para a torcida alvinegra, boa parte dos boatos confirmou-se, sobretudo o que previa R$ 21 milhões de prejuízo em 2006. Um dos itens que causou mais polêmica foi o valor da rescisão contratual dos atacantes Luizão e Cláudio Pitbull e do meia Giovanni. Juntos, os três receberam R$ 7,5 milhões para sair do Santos antes mesmo de completarem um ano como atletas san-
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tistas (no caso dos dois primeiros, nem cinco meses). A folha de pagamento do clube está na casa de R$ 5 milhões mensais, sendo que só a comissão técnica consome cerca de 20% desse valor. Com o mau gerenciamento de recursos e o fato de não ter vendido nenhum grande jogador no ano, o superávit de cerca de R$ 60 milhões, em 2005, transformou-se em déficit de R$ 21 milhões, no ano seguinte. Segundo conselheiros santistas que falaram com a reportagem com a condição de não serem identificados, a situação é ainda pior, porque parte das dívidas – trabalhistas, FGTS, INSS e imposto de renda – não foram quitadas.. A sensação na Vila Belmiro é que a administração de Marcelo Teixeira já consumiu todos os milhões arrecadados com as vendas de Robinho, Elano, Diego, Alex e Leonardo (veja tabela), sem se livrar de dívidas do passado e deixando uma interrogação sobre o futuro do clube.
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Albert Gea/Reuters
Quanto rendeu cada jogador Veja quanto o Santos recebeu por alguns jogadores da geração de 2002 e 2003. Os dados são do balanço oficial do clube. Jogador
Destino
Valor (R$)
Alex Diego William Ricardo Oliveira Leonardo Elano Robinho Léo
Chelsea* Porto Ulsan Valencia Shakhtar Donetsk Shakhtar Donetsk Real Madrid Benfica
13,26 milhões 14,84 milhões 984 mil 858 mil 4,18 milhões 18,35 milhões 70,74 milhões 300 mil
Obs.: Fábio Costa, Renato e Paulo Almeida saíram de graça ao fim de seus contratos * Emprestado ao PSV
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Ricardo Nogueira/Gazeta Press
Entra por um lado, sai pelo outro Confira o vaivém de jogadores do Santos desde 2000, quando Marcelo Teixeira assumiu a direção do clube
Cláudio Pitbull foi um dos 16 contratados pelo Santos em 2005
Ano
Técnicos
Quem chegou
Quem saiu
2000
Carlos Alberto Silva, Giba, Gersinho e Carlos Alberto Parreira
Ânderson Luís, Caíco, Caio, Carlos Germano, Edmundo, Elano, Fábio Costa, Galván, Júlio César, Léo, Pitarelli, Preto, Márcio Santos, Renato, Rincón, Robert, Rubens Cardoso e Valdo
Andrei, Aristizábal, Camanducaia, Fricson, Fumagalli, Gustavo Nery, Lúcio, Paulo Rink, Piá, Rodrigão, Sandro, Sugawara, Valdir e Zetti
2001
Geninho, Serginho Chulapa e Cabralzinho
Cléber, Marcelinho Carioca, Odvan, Orestes, Russo e Viola
Ânderson Luís, André Luiz, Caio, Claudiomiro, Deivid, Dodô, Edmundo, Márcio Santos, Rincón, Rubens Cardoso e Valdo
2002
Celso Roth e Leão
Alberto, Alex, André Luiz, Esquerdinha, Júlio Sérgio, Maurinho, Michel, Oséas e Wellington
Cléber, Esquerdinha, Galván, Marcelinho Carioca, Odvan, Oséas e Viola
2003
Leão
Fabiano Costa, Nenê, Reginaldo Araújo e Ricardo Oliveira
Alberto, Bruno Moraes, Fabiano Costa, Maurinho, Nenê, Robert, Rodrigo Costa e Ricardo Oliveira
2004
Leão, Márcio Fernandes e Vanderlei Luxemburgo
Antônio Carlos, Ávalos, Basílio, Bóvio, Deivid, Doni, Élton, Fabinho, Flávio, Geílson, Leandro Machado, Lopes, Mauro, Paulo César, Preto Casagrande, Ricardinho, Tápia, William e Zé Elias
Alcides, Alex, André Luís, Claiton, Diego, Doni, Fábio Costa, Júlio Sérgio, Leandro Machado, Lopes, Paulo Almeida, Pitarelli, Renato e Wellington
2005
Osvaldo de Oliveira, Gallo e Nelsinho Baptista
Cláudio Pitbull, Éder Ceccon, Evando, Fábio Baiano, Fernando Diniz, Frontini, Gavião, Giovanni, Heleno, Henao, Kléber, Léo Lima, Luiz Alberto, Luizão, Tcheco e Wendel
Antônio Carlos, Bóvio, Deivid, Domingos, Douglas, Éder Ceccon, Elano, Fábio Baiano, Fernando Diniz, Henao, Léo, Nenê, Paulo César, Pereira, Preto, Ricardinho, Robinho, Tcheco, William e Zé Elias
2006
Vanderlei Luxemburgo
Adaílton, André Luiz, Cléber Santana, De Nigris, Dênis, Domingos, Fábio Costa, Fabiano, Fabinho, Galvão, Gilmar, Jardel, Jonas, Leandro, Luciano Henrique, Magnum, Maldonado, Manzur, Neto, Reinaldo, Rodrigo Tabata, Rodrigo Tiuí, Roger, Ronaldo Guiaro, Wellington Paulista e Zé Roberto
André Oliveira, Basílio, Cláudio Pitbull, De Nigris, Élton, Fabinho, Frontini, Galvão, Gavião, Geílson, Gilmar, Giovanni, Jardel, Léo Lima, Luizão, Magnum, Neto, Preto Casagrande e Wendel
2007
Vanderlei Luxemburgo
Antônio Carlos, Adaílton, Leonardo, Neto, Pedrinho, Pedro, Rodrigo Souto e Vinícius
André Luiz, Geílson, Halisson, Heleno, Luiz Alberto, Manzur, Reinaldo, Ronaldo Guiaro e Wellington Paulista
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Ricardo Saibun/Gazeta Press
Hotel do Peixe facilita a concentração do time na Baixada
De acordo com os conselheiros ouvidos pela Trivela, além do prejuízo grande, os ativos do clube foram superestimados. Como já fizera em 2003, 2004 e 2005, o balanço computou os valores das multas de rescisão contratual dos jogadores santistas como patrimônio do clube. A Lei Pelé permite que isso seja feito, mas nem por isso o critério deixa de ser polêmico. Se o jogador quiser sair, o Santos teoricamente recebe essa quantia. No entanto, se o clube é que tenta se desfazer do atleta, como ocorreu com Giovanni, Luizão e Cláudio Pitbull, o custo da quebra de contrato é do clube. Como muitos jogadores estão em fim de contrato, a cláusula de rescisão é mera formalidade. “Ficou evidente como a diretoria procurou passar a impressão de que o clube aumentou seus ativos”, comentou Celso Leite, outro membro do Conselho do Santos. “Todo clube deve maquiar seu balanço, por isso, se foi apresentado oficialmente um prejuízo de R$ 21 milhões, eu imagino que a situação real do Santos é gravíssima”, acrescenta.
No início de 2007, foi inaugurado o Centro de Excelência em Prevenção e Recuperação de Atletas de Futebol, considerado a grande obra da atual administração santista. Gerenciado pelo fisioterapeuta Nilton Petrone, o Filé, o Cepraf conta com equipamentos modernos e equipe multidisciplinar para o tratamento de jogadores e tornou-se um concorrente à altura do incensado Reffis, centro de recuperação de atletas do São Paulo. Foi no Cepraf, por exemplo, que o Santos identificou um desvio de quadril do meia Pedrinho. Com tratamento preventivo, o clube pôde colocar o jogador em forma e o contratou para esta temporada. Essas obras foram tão certeiras que nem os opositores de Marcelo Teixeira as questionam. Ainda assim, eles consideram que, perto dos R$ 70 milhões arrecadados com a venda de Robinho (e mais os cerca de R$ 50 milhões com outros jogadores do time campeão brasileiro de 2002), não é suficiente. O balanço do clube mostra que, em 2005, foram gastos pouco menos de R$ 4 milhões em obras e metade no ano seguinte. “É muito pouco, mas o torcedor se impressiona, porque vai para a Vila Belmiro assistir a um jogo, passa por tudo o que foi construído e fica com a sensação de que o clube está bem administrado”, comenta Fábio Zinger Gonzalez, presidente da Associação Resgate Santista, movimento de torcedores que faz oposição à atual diretoria. Outro problema apontado por conselheiros em relação ao balanço é a falta de detalhamento. Isso vale para vários itens, como o valor pago pela contratação dos jogadores, mas é particularmente grave no caso das obras. Na prestação de contas, o Santos aponta apenas o custo total na construção e reforma de imóveis, mas não deixa claro como se chegou àquele número. Na reunião de apresentação do balanço de 2006, um engenheiro que faz parte do conselho chegou a pedir especificação do gasto em obras, só que seu pedido não foi atendido. As informações mais importantes são colocadas em anexos do balanço, que não são submetidos à votação e têm consulta limitada até para os conselheiros. Para Gonzalez, advogado de formação, a falta de detalhamento faz parte da estratégia de “maquiar” o balanço e forçar sua aprovação. Celso Leite confirma: “sem dados para basear a análise, a gente se vê obrigado a votar a favor do balanço, mesmo percebendo que há muita coisa esquisita lá”.
Conexão Iraty Sem detalhes Conforme o presidente do Santos, Marcelo Teixeira, a queda no poder de investimento tem uma explicação simples: o clube incrementou sua infra-estrutura (veja box com entrevista com o dirigente). De fato, houve melhorias significativas nessa área. Nos últimos dois anos, o Santos construiu o “Recanto dos Alvinegros”, hotel para os jogadores concentrarem-se antes dos jogos na Vila Belmiro, e seu Memorial das Conquistas, museu da história do Alvinegro que logo se transformou em uma das atrações turísticas mais visitadas da cidade. Também foram melhoradas as instalações dos centros de treinamento Rei Pelé (para time adulto) e Meninos da Vila (ainda em obras, para as categorias de base).
A política de contratações do clube também gera discussão. O balanço patrimonial não esclarece quanto se gastou com cada jogador, mas é fácil perceber que houve mau gerenciamento financeiro nessa área. Somando 2005 e 2006, o Alvinegro Praiano contratou 42 jogadores (veja tabela). Muitos chegaram por valores fora da realidade brasileira, por terem acertado às pressas quando o prazo de inscrição se encerrava. É claro que, de tanta quantidade, tirou-se qualidade. Kléber, Maldonado, Cléber Santana, Dênis e Zé Roberto, por exemplo, chegaram nesse período e deram certo. No entanto, a maioria passou pela Vila Belmiro sem deixar saudades, casos de Éder Ceccon, Frontini, Fernando Diniz, Henao e Tcheco. Abril de 2007
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O acúmulo de contratações precipitadas lembra muito o que ocorreu com o Santos, logo no início da era Marcelo Teixeira. Em 2000, logo que foi eleito, o dirigente investiu pesado em jogadores como Rincón, Edmundo, Márcio Santos, Caio, Valdo, Carlos Germano e Galván. O saldo dessa política foi um vice-campeonato paulista e um enorme prejuízo para o Santos. O próprio Marcelo Teixeira diz ter investido cerca de R$ 24 milhões de seu bolso, na época. Para quitar esse empréstimo, o dirigente convenceu o conselho a aprovar uma resolução pela qual 40% do que o Santos recebesse com a venda de jogadores se destinaria ao pagamento dessa dívida com Teixeira. “Até onde sabemos, esse empréstimo já foi pago, mas falta muita informação, pois nunca houve referência no balanço e não sabemos nem como foi formalizada essa transação”, conta Fábio Gonzalez. A contratação de vários medalhões afundou o clube em dívidas. A aposta em garotos em 2002 deu-se porque o clube estava sem dinheiro. O Santos poderia ter usado a receita vinda da venda da geração campeã para pagar dívidas, mas não foi o caso. Só para Rincón, por exemplo, o Peixe ainda deve cerca de R$ 10 milhões. Desde a chegada de Vanderlei Luxemburgo, em 2006, o clube passou a gastar menos em jogadores de nome. A exceção é Zé Roberto, que veio como forma de compensar o não cumprimento de uma promessa de Marcelo Teixeira para o técnico. Segundo a Trivela apurou, o dirigente havia prometido dois jogadores de nível internacional (falava-se em Alex, meia do Fenerbahçe, e Vágner Love), para a disputa do Brasileirão de 2006. Como não conseguiu nenhum deles, Teixeira pagou caro para ter Zé Roberto, que estava praticamente acertado com o São Paulo.
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Luxemburgo consegue resultados, mas seu custo é alto para o clube
“Investimos em patrimônio” Marcelo Teixeira defende-se das acusações e afirma que clube não precisa dar lucro, mas ganhar títulos. Qual é a real situação financeira do Santos? O Santos investiu muito em seu patrimônio, como na área de informática e no Cepraf. Além disso, compramos diversos direitos federativos e destinamos recursos às divisões de base. O que posso dizer é que hoje o clube possui ativos que trarão futuramente muitos recursos ao clube. O balanço indica que o Santos teria de vender o equivalente a um Robinho por ano para bancar seus custos atuais. O senhor concorda? Qualquer clube, por mais estruturado que esteja, necessita vender jogadores para aumentar suas receitas e reaplicar em novos investimentos. Não vendemos praticamente ninguém neste ano, para manter a base de 2006 e seguir em busca de nossos objetivos. O futebol é uma atividade sem fins lucrativos, em que visamos conquistar títulos e manter o clube financeiramente equilibrado. Temos conseguido, e isso é o que tem diferenciado o Santos, pois mantemos nossas obrigações em dia. Como investimentos em infra-estrutura, como o hotel e o centro de treinamento, podem trazer benefícios econômicos para o Santos? De muitas formas. Com o nosso hotel, economizamos na concentração e temos um local mais bem equipado para atender as necessidades dos atletas e da comissão técnica. O CT moderno e equipado vai pelo mesmo sentido. Antes, muitas atividades eram desenvolvidas em academias e na praia. Hoje, todas as atividades preparatórias acontecem no CT.
Em 2005, o Santos contratou jogadores de nome, como Luizão, Giovanni, Cláudio Pitbull, Kléber e Paulo César. Nem todos deram certo, e alguns saíram rapidamente do clube. Não houve desperdício de recursos nesses casos? Não, em hipótese nenhuma. São investimentos que mantiveram o Santos conquistando títulos. Alguns conselheiros do Santos se disseram desconfortáveis pelo excesso de autonomia que Luxemburgo tem no departamento de futebol. Com ele, o Santos não está contratando muitos jogadores? Por que esses conselheiros não usam a tribuna do conselho, em suas reuniões periódicas, para expressar sua opinião? Se chegam a fazer esses comentários, é porque desconhecem o dia-a-dia do clube. Quanto à autonomia de Luxemburgo, há um pouco de exagero. Temos uma diretoria de futebol competente, um excelente gerente com fortes ligações no clube e um experiente supervisor de mercado. Eles, junto com a presidência e a comissão técnica – da qual o Luxemburgo é o comandante –, dirigem o futebol. Por que tantos reforços do Santos têm ligação com o Iraty? É uma realidade do futebol brasileiro, da legislação esportiva vigente. Ela prejudicou demais os clubes e os próprios atletas, que deixaram de ser escravos dos clubes para serem dos empresários, que vinculam direitos federativos a clubes menores. O importante é que procuramos, no momento da contratação, não ter despesas e resguardar os direitos e interesses econômicos do Santos.
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Fernando Pilatos/Gazeta Press
Marcelo Teixeira e Zé Roberto, na apresentação do meia: valores europeus
O maior problema de contratações de Luxemburgo é a preferência do treinador por jogadores do Iraty. Nos últimos dois anos, o clube contratou dez atletas do clube paranaense: André Oliveira, Ávalos, Cléber Santana, Galvão, Gilmar, Jardel, Leandro, Magnum, Pedro e Vinícius. Com mais um goleiro, seria um time completo. O Santos nem pode alegar que o Iraty tem bom trabalho nas categorias de base. Jogadores vindos “do Iraty”, como Cléber Santana, Pedro e Vinícius, nunca jogaram pela equipe paranaense. O fato de Sérgio Malucelli, empresário próximo ao agente Juan Figer – eminência parda no Alvinegro praiano – e sócio de Vanderlei Luxemburgo, ser o presidente do Iraty apenas aumenta o descontentamento. “Ter de fechar os olhos para essas contratações esquisitas faz parte do ‘pacote’ quando se contrata o Luxemburgo”, comenta o conselheiro santista Celso Leite. A relação com o Iraty causa desconforto até entre os aliados de Marcelo Teixeira. Comenta-se que o próprio presidente estaria desconfortável com uma relação tão forte entre os dois clubes, mas aceitaria a situação para não entrar em atrito com o treinador.
Futuro nublado Até seria justificável a aposta em tantos jogadores, se alguns deles pudessem render alguns milhões de euros no futuro. Mas
não é o caso. “O Santos está em situação financeira tão ruim que não se arrisca a fazer contratos longos”, acusa Fábio Gonzalez, da Resgate Santista. Com isso, corre o risco de valorizar o atleta e vê-lo sair sem que o clube tenha retorno do investimento. Discretamente, o Santos mostra que sente os efeitos da gastança. Funcionários do clube dizem, reservadamente, que houve cortes de pessoal em serviços como segurança nos centros de treinamento e hotel. Até a estrutura do time de futebol deve ser afetada, ainda neste ano. A expectativa é que até Vanderlei Luxemburgo deixaria a Vila ao fim da Libertadores. Especula-se, no clube que o destino do treinador seria o Atlético de Madrid. O time espanhol ainda não renovou com o mexicano Javier Aguirre, seu atual comandante. Outra indicação de que Luxemburgo voltaria à Espanha é que Cléber Santana está praticamente acertado com os Colchoneros, a ponto de já ter realizado exames médicos. Do jeito que caminham as coisas, o Santos, tido por muitos como um exemplo de organização, pode chegar ao final do ano desfigurado e com futuro pouco otimista. É um cenário inimaginável para quem teve em mãos mais de R$ 100 milhões, com a venda de uma geração iluminada de jogadores. Aí está mais uma prova de como é fácil perder boas oportunidades. Abril de 2007
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Não é mole, não, por Ricardo Espina
Eldorado
inóspito A independência financeira até vem, mas, para chegar a ela, jogadores passam aperto em lugares cada vez mais estranhos
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Jiji Press/AFP
Magno Alves, do Gamba Osaka, em jogo da Liga dos Campeões da Ásia
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lberto trocou o Santos pelo Dynamo Moscou em 2003. De olho na possibilidade de fazer sua independência financeira, o atacante passou por maus bocados. Seu pior momento lá começou um ano depois de sua chegada, quando ele passou a se cansar com facilidade e tossir. Os sintomas agravaram-se. Ele não sentia mais o gosto da comida, estava com febre na maior parte do tempo, respirava com dificuldade e sentia-se mal. A equipe russa não deu quase nenhuma importância para o que o brasileiro passava e o mandava treinar normalmente. Foram 12 dias de sofrimento. O atleta, em uma viagem para a Espanha, consultou um outro médico e lhe relatou o caso. O especialista sentenciou: era pneumonia e estava em estágio avançado. O problema vivido por Alberto, que decidiu deixar a Rússia por causa disso, ilustra muito bem como uma transferência para o exterior nem sempre vem acompanhada de riqueza, tranqüilidade e segurança. Em países com clima, cultura, idioma e costumes completamente diferentes, às vezes o bicho pega. “Os russos me disseram para eu voltar para Moscou, e eu me recusei. Disse que retornaria ao Brasil e fui operado em meu país. A adaptação já é dura. Se aconteceram problemas desse tipo, é porque os russos não estavam nem aí”, desabafou Alberto. A saga do atacante, hoje no Ventforet Kofu, do Japão, ainda teve outras passagens marcantes – infelizmente, de modo negativo (leia box nesta página). A falta de informação certamente não ajuda a integração dos jogadores que vão para destinos exóticos. Por exemplo, diversos atletas que foram para a Arábia Saudita queixaram-se da retenção de seus passaportes pelos clubes locais, mas, na verdade, trata-se de uma lei do país, como explica o meia Iranildo, ex-Flamengo e Botafogo, hoje no clube saudita Al Hazm. “Quando você chega aqui, os clubes ficam com o passaporte dos jogadores. A norma do país é essa. Eles pegaram até mesmo o da minha esposa. Você fica meio como um ‘preso’, mas no dia-a-dia não há problema algum”, comentou. No entanto, nem todo jogador leva isso numa boa, e não falta quem comece a inventar problemas para voltar para casa. Iranildo diz que a “saudade” de alguns brasileiros deixa os dirigentes sauditas de pé atrás na hora de contratar. “Infelizmente, muitos jogadores vêm para cá e pouco depois vão embora, pegam o dinheiro, ficam com a fama. Alguns ficam três meses, dizem que estão machucados e que querem voltar para o Brasil. Os dirigentes ficam meio desconfiados, mas, no fim, ainda gostam muito do nosso futebol”, explica Iranildo. “Quem vem para cá precisa aprender a respeitar contrato”, diz.
Alberto: Rússia? Tô fora! Após passar pelo inferno em Moscou, Alberto parece ter conhecido uma versão do paraíso. O atacante defende hoje o Ventforet Kofu, clube da primeira divisão japonesa. Em entrevista à Trivela, ele conta como têm sido seus primeiros meses no Japão e compara o tratamento recebido na Rússia e no Brasil. Por que você decidiu ir para o Japão? O tratamento no Brasil é diferente, e o torcedor não respeita o jogador, em alguns clubes. Por exemplo, se você vai a um restaurante e bebe uma taça de vinho, te chamam de “cachaceiro” no outro dia. O Japão, pela educação e pela cultura, foi minha opção. Coloquei na cabeça que queria vir para cá e, quando apareceu a chance, vim. O que você notou de diferente assim que chegou? Em casa, coloco minhas roupas para secar e elas ficam expostas, viradas para a rua. Ninguém as pega. Tem uma bicicleta parada aqui na rua, vejo-a lá faz um mês, mais ou menos, todos os dias. Ninguém mexe. Aqui, depois de todos os treinamentos, as pessoas levam presentes. Pode ser uma garrafinha de refrigerante, um saquinho com chocolate, pedem autógrafos... Fizemos uma reunião de apresentação do elenco no clube, na qual havia uns 2 mil torcedores. Pensei comigo: “se fosse no Brasil, alguma torcida chegaria e diria ‘vamo jogar, se não o bicho vai pegá, hein, mano?’” Na Rússia, além da pneumonia, que problemas você teve que enfrentar? Além da dificuldade com o idioma, a recepção foi um pouco chocante. O pessoal não queria saber se eu estava bem ou não, e isso foi estranho para mim. Depois, não entendia uma série de coisas. Acredito que isso tenha acontecido porque eles estão mal acostumados. Por exemplo, se você pedir uma ajuda por ser estrangeiro e não dominar o idioma, eles ficam reticentes. Caso dê US$ 100 para a pessoa, nem precisava falar o que era necessário fazer que ele já fez e já voltou. O clima, muito frio, e os gramados muito duros foram outras dificuldades. No Japão, o que você come? Sempre que fazem espaguete carbonara, eles colocam o ovo quase cru por cima. É meio estranho, mas boto sal e mando bala. O arroz aqui é sem sal, e para comer coloco um pouco de shoyu. O difícil é pegar com o hashi (os pauzinhos). Abril de 2007
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Trocar de país muitas vezes significa mudar certos costumes. Iranildo conta sobre um hábito comum dos companheiros de time antes do início das partidas. “Eles [os muçulmanos] sempre rezam antes dos jogos, e precisamos respeitar. Esses detalhes você não pega logo, mas sim depois de um certo tempo”, afirmou. O jeito das casas em que se mora também pode ser uma novidade. “Moro em um apartamento com estilo típico japonês, e ele é bem baixo. Você chega com um calçado da rua e deve tirá-lo antes de entrar. Depois, coloca-se um chinelo, que fica na beirada da porta. Os móveis são pequenos. Também estranhei o banheiro no primeiro dia, de tão pequeno. Mas depois do que passei na Rússia, isso não assusta”, comentou Alberto. Ter um carro facilita as coisas? Para Magno Alves, artilheiro da última J-League pelo Gamba Osaka, a coisa não é bem assim. Ele viveu emoções fortes, ao se aventurar no volante no Japão, onde a mão é invertida – o motorista senta-se à direita no carro. “Tenho alguns problemas para guiar, ainda mais se for um carro grande. Não passei por muitos apuros, mas derrubei um senhor que estava em uma bicicleta. Felizmente, não foi sério”, diz. Alberto também aos poucos se acostumou. “Fui ajudar o tradutor a fazer uma mudança de apartamento, até para ocupar o tempo. Ele me disse para pegar o caminhão do clube. Trocar marchas com a mão esquerda foi complicado para mim”, relatou. E a temperatura? “Detesto frio. Neve é bonito de se ver, mas para agüentar... Quando neva, sinto doer até no osso”, queixa-se Magno Alves. Com Jádson, que está jogando na Ucrânia, o termômetro foi bem para baixo de zero. “Nunca tinha enfrentado uma
Divulgação
Mudando os hábitos
temperatura tão baixa. Quando cheguei aqui, passei por -15ºC, -20ºC”, contou.
Vida pessoal Como no Brasil, o assédio em excesso pode atrapalhar. Vágner Love, no entanto, diz que os russos sabem respeitar limites. “Por aqui, não existe tanto assédio feminino. A imprensa nos acompanha de perto às vésperas de um clássico, de um jogo importante. Durante a semana, eles dificilmente estão no centro de treinamento e não se compara ao comportamento no Brasil. Sinto-me um pouco mais livre para me divertir, mas isso deve ser feito na hora certa. Na nossa folga, temos todo o direito de sair e fazermos o que quisermos, desde que não prejudique a equipe depois”, afirmou. A alimentação deixou de ser um obstáculo. Já se foi o tempo no qual as opções de cardápio eram reduzidas e limitadas à culinária local, que muitas vezes não está de acordo com o paladar brasileiro. Pelo menos nesse aspecto, ficou mais fácil matar um pouco as saudades da terra natal. “A única coisa que não temos aqui é feijão, mas de resto tem de tudo. O que complicou para mim foram os cinco meses que passei sozinho, sem minha família. Não sei cozinhar”, diz Iranildo. “Aqui, em Kofu, que conta com uma colônia brasileira grande, é muito fácil encontrar coisas do Brasil. Acabei de vir de uma loja de produtos brasileiros e comprei até pão francês”, completou Alberto. Magno Alves destaca as facilidades para se divertir com tranqüilidade. “Costumo ir ao shopping e levo as crianças para se divertirem em parques de diversões e no fliperama”, diz. Quando não está em campo, Jádson também aproveita para se distrair com jogos. “Costumo ir a um boliche aqui perto, no shopping, e também ao fliperama, pois gosto muito de videogame”, conta.
Iranildo: Mostrar a cara é proibido Conservadorismo saudita não é mole, mas o ex-craque de Flamengo e Botafogo não se arrepende de ter ido para a Arábia
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O que você notou de diferente assim que chegou? Quando cheguei aqui, estava na época do Ramadã [período sagrado do Islamismo que ocorre no nono mês do calendário muçulmano]. São quase dois meses que eles ficam todo o dia em jejum e só vão treinar à noite e, por isso, não treinam direito. Como não estão bem alimenta-
Jádson sofre com a marcação e com as baixas temperaturas na Ucrânia
dos, só há uma hora de exercícios. Com relação aos costumes religiosos daqui, eu também fico um pouco perdido. Seu clube briga por títulos? Meu time está na primeira divisão há dois anos. É um clube pequeno, em crescimento, e tem um xeque que é o “dono” da cidade e que está investindo bastante na equipe. Ele deseja
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que o clube fique pelo menos em quarto lugar no campeonato nacional. No Oriente Médio, há um rigor muito grande com relação às mulheres. Sua esposa passou por algum tipo de problema? Ela e meus filhos chegaram em janeiro. Aqui, as mulheres são obrigadas a usar burqa [espécie de máscara que cobre o rosto],
mesmo as estrangeiras. Houve até um caso engraçado com ela. Minha esposa colocou a burqa, mas não fechou a parte que cobre o rosto. Aqui, na cidade onde estou, isso não pode. Um árabe que estava no supermercado disse a ela que ela estava infringindo a lei, pois deveria mostrar apenas os olhos e andar com o rosto coberto. Esse é o jeito deles.
Já te disseram que tomar bebida alcoólica pode ser um problema sério aí? O próprio intérprete do clube nos alertou sobre essa proibição e sobre o que poderia acontecer com quem fosse pego. Ele nos disse que aqui, na cidade, não há bebida. Se alguém for a Jedá e trouxer alguma bebida alcoólica de lá, vai preso.
Você vai ficar na Arábia ou voltará ao Brasil? Tenho contrato até o fim do campeonato. Minha intenção é continuar na equipe ou ir para outra na Arábia Saudita, Qatar ou Emirados Árabes. Por enquanto, estou sendo bem tratado pelo clube, as pessoas gostam de mim. Apesar de ter menos liberdade, me sinto bem aqui.
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Entrevista, por Ricardo Espina
Jogar no Brasil?
Só na Seleção
Glenn Campbell/AFP
Vágner Love é a vedete no enredo de nove entre dez especulações de transferência para clubes brasileiros, mas, para ele, voltar ao Brasil, só defendendo a Seleção
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em bem apareceu para o futebol brasileiro e já foi embora. Assim pode resumir-se o trajeto de Vágner Love no Palmeiras. Depois de ser artilheiro da Série B pela equipe paulista, em 2003, o atacante transferiu-se para o CSKA Moscou, na gelada e longínqua Rússia. Será tão dramático assim mesmo? O próprio Vágner diz que não. Em entrevista à Trivela, ele conta que leva uma vida legal na capital russa, teve uma adaptação tranqüila e quer cumprir seu contrato até o fim – coisa que não acontece sempre. Voltar para o Brasil? Está fora da agenda de Vágner, mesmo que seu nome sempre seja cotado para vir aos times do país. “É tudo conversa, ninguém nunca fez proposta para o CSKA”, diz o jogador.
A Rússia não é esse país horrível que as pessoas falam
Como você está em Moscou? Eu estou sossegado, muito bem e feliz por aqui. Estou com três anos de CSKA e ainda tenho mais um de contrato. Foi fácil chegar a um país tão diferente do Brasil e jogar o que você sabe? Olha, eu não tive nenhuma dificuldade, não – claro, tirando o frio, que não dá brecha. Mesmo o idioma foi tranqüilo, porque o tradutor está sempre nos treinos, até na concentração. Mas você sai com o cara a tira-colo? Não, não precisa. Quando saio para jantar ou ir ao shopping, já me viro. Então dá para dar umas aulas de russo para a galera? Também não é assim. Falo pouca coisa, não aprendi muito... Você tinha uma idéia do que ia encontrar na Rússia, quando assinou o contrato com o CSKA? Até então, havia ouvido falar apenas pela imprensa que era muito frio. A Rússia é um país tranqüilo, muito bom, bonito. Levo uma vida bacana em Moscou. O futebol russo é muito diferente? É. A bola aqui gira muito mais rápido do que no Brasil, e a marcação é muito mais em cima. Se você der mais do que dois toques, vem alguém e te desarma. São poucas as vezes nas quais você corre com a bola no pé. No Brasil, o futebol é mais cadenciado; você tem tempo para respirar, dominar e olhar para quem vai tocar, enfim, pensar no que vai fazer. Jogar no frio é mesmo muito difícil? No fim do ano, não é moleza. Em novembro, dezembro, estamos na disputa da Liga dos Campeões. Precisamos nos agasalhar bem, para encarar o frio. Coloco duas camisas por baixo da
camisa de jogo, luva... há até uma palmilha pequena que colocamos no pé, na ponta dos dedos, para esquentar. Se o aquecimento não for bem feito, não dá para jogar. No Brasil, sempre se fala em uma transferência sua. Você já foi contatado por alguém? Boataria. Nenhum time brasileiro chegou a fazer proposta para o CSKA. Acho legal que os clubes gostem do meu trabalho, mas é só. Nunca negociei nada com ninguém. Você esteve mesmo perto de ir para o Corinthians, em 2005? Numa entrevista que você deu, tinha até uma camisa com o seu nome... Naquela época, quando dei a entrevista, o Corinthians e a MSI tiveram o interesse de me contratar. Nunca vesti a camisa do clube. Todo mundo diz isso, mas havia várias câmeras na hora da entrevista, e alguém ia ter me filmado se eu realmente a tivesse colocado. Alguém comprou a camisa, pôs meu nome e tirou as fotos. Eu me arrependi de ter dado aquela entrevista. Isso para mim é passado. Ficou algum tipo de mágoa por causa desse episódio? Não. Você enfrentou algum tipo de preconceito por ser estrangeiro e negro, aí na Rússia? Nunca. Se tivesse passado, teria ido embora daqui. Sempre senti um respeito enorme. Todo mundo quer me ver marcando gols, e tenho feito a minha parte. Tudo o que eu precisava do clube, eu tenho. Já te perguntaram aí na Rússia por que você tem esse apelido? Perguntaram sim... (risos) A impren-
sa russa me perguntou, e eu respondi. Disse a verdade [quando defendia a equipe de juniores do Palmeiras, o atacante foi flagrado com uma mulher dentro da concentração]. Como é o assédio da mulherada? Elas gostam muito de estrangeiros, mas não há tanto assédio assim por aqui. Já se encantou com alguma russa? Não, imagina, estou casado! Mas se eu estivesse solteiro (risos)... A Rússia deixou de ser aquele lugar onde o jogador ficava “escondido”? Sim. Todo mundo passou a prestar mais atenção no CSKA, depois que vencemos a Copa Uefa. A Rússia não é esse país horrível que as pessoas falam, onde só faz frio e ninguém te vê. Dá para ficar muito bem aqui. É só querer se adaptar e ter força de vontade. Quem nunca veio aqui diz um monte de coisas que não existem. Você acha que tem espaço numa Seleção que tem tantos nomes para a vaga de atacante, como Ronaldo, Adriano e Fred? Se eu sou convocado, é porque o Dunga acha que eu tenho capacidade. Uma vez que eu estou lá, preciso mostrar serviço. A concorrência é grande, mas confio no que posso fazer. Na Copa América de 2004, o Adriano garantiu a vaga dele para a Copa do Mundo, e você acabou de fora. O que você acha que aconteceu? Vir para a Rússia teve influência nisso, tenho de admitir. Acho que, se eu estivesse num campeonato mais badalado, teria mais chances de ter ido para a Alemanha. Tem um clube favorito para o qual gostaria de se transferir? Gostaria de jogar em um clube grande europeu, que disputasse sempre a Liga dos Campeões, talvez na Espanha ou na Itália. Não tenho pressa. Uma hora isso vai acontecer. A vodca russa é boa mesmo, como diz a fama? Ainda não experimentei. Nunca tomei vodca pura. Já bebi caipirinha, mas, pura, ainda não. Abril de 2007
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Carnaval
A Tanzânia é aqui, por Rafael França
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A seleção da Tanzânia esteve no Rio de Janeiro para ganhar experiência no futebol, mas acabou ficando espantada é com o Carnaval – e com a falta de roupa
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raia de Copacabana, 2007, domingo ensolarado de Carnaval. Pela ciclovia da praia mais famosa do país, durante o momento mais festivo da Cidade Maravilhosa, duas dezenas de atletas negros de uniforme branco passeavam pelo calçadão e não deixavam de sentir um certo desconforto em ver tanta gente, digamos, descontraída. Era a seleção adulta da Tanzânia, “carnavalizada” por acidente, já que seu treinador, o carioca Márcio Máximo, 43, acertara um intercâmbio com o Fluminense e uma série de amistosos. Hospedada no centro de treinamento doTricolor carioca, que fica na Baixada Fluminense, a maioria dos jogadores teve a oportunidade de conhecer
um dos cartões-postais mais famosos do mundo, em um de seus raros momentos de folga. Eles aproveitavam seu tremendo anonimato. Curiosos, paravam diante das banquinhas de óculos falsificados dos camelôs, olhavam bijuterias, observavam os banhistas na praia. Mas, em vez da tradicional espiada em busca de atrativos femininos, muitos pareciam realmente surpresos com a quantidade de pele à mostra. Ao ver uma mulher de biquíni pedalando sua bicicleta, o goleiro Ivo Mapunda, de 28 anos, comentou com a reportagem: “No meu país, se víssemos uma mulher assim na rua, acharíamos que ela ficou louca ou que está vendendo seu corpo”.
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Pedro Carrilho
localização
A Tanzânia, que fica na costa leste da África, é um dos países mais plurais do continente, em termos de colonização. Colônia alemã em 1960, o país em 1919 virou parte do Império Britânico e existe desde 1964, quando as colônias de Tanganica e Zanzibar, que haviam obtido sua independência da Inglaterra, uniram-se em uma única administração. O nome atual vem da aglutinação das designações dos dois países originais. Estima-se que no país 35% da população seja muçulmana, ao lado de 30% de cristãos. Há ainda núcleos de hindus e religiões tribais. A língua oficial é o swahili, e a principal cidade é Dar Es Salaam, embora a capital seja Dodoma, desde 1996.
África
Tanzânia
O lateral-esquerdo Shadrack Nsajigwa, 27, confirma o estranhamento. “Mesmo tendo praias na Tanzânia, não estamos acostumados a tanta liberdade com o corpo”. Sim, havia um certo desconforto. Com 50% de jogadores muçulmanos e depois de anos de regime socialista, os tanzanianos estavam longe de puxar um batuque animado e cair na folia. “Realmente, nem na África somos vistos como um povo alegre”, diz o goleiro. “Somos mais tranqüilos por natureza”. Muitos deles nem sequer sabiam o que era o Carnaval no Rio. O atacante Said Maulid, 25, estava totalmente por fora de coisas como Sambódromo e samba. “Sei que é um momento de festa, mas não saberia o que visitar aqui. Não fiz muitas consultas na Internet antes de vir”, afirma, encabulado, o jogador, que é muçulmano e, como todos os colegas da delegação, atua no país. Tudo bem que eles não vieram mesmo a passeio. A seleção tanzaniana se preparava para continuar a ótima campanha no grupo 7 das eliminatórias da Copa Africana de Nações, do qual fazem parte Burkina Fasso, Moçambique e Senegal. No Rio, enfrentou equipes de pequena expressão. Só jogou contra um time da elite brasileira, o Fluminense, e perdeu por 3 a 0. “A maioria desses jogadores nunca saiu da Tanzânia, a não ser pra jogar”, afirma o técnico Máximo, pouco conhecido no Brasil, mas com currículo internacional na Arábia Saudita e no Qatar. “Isto aqui está sendo uma oportunidade única para eles. Primeiro, porque conhecer novos lugares os anima a continuar insistindo no futebol, que é muito difícil na Tanzânia. Segundo, porque eles estão enfrentando equipes do melhor futebol do mundo, e isso está ajudando na evolução que a gente está tentando implantar na Tanzânia”. Devido ao enorme contato que tem com o futebol inglês, cujas transmissões fazem sucesso por lá, o estilo de jogo tanzaniano levou tempo para adaptar-se ao brasileiro. “Quando eu cheguei, no meio de 2006, eles jogavam no 4-4-2 à européia, com os laterais presos à defesa. A gente teve que mudar isso. Hoje, nossos laterais avançam, eu jogo com dois volantes e dois meias”. Com essa tática, obteve a primeira vitória em dez anos na CAN, batendo Burkina Fasso na estréia, por 2 a 1. Desde 1980, a equipe não se classifica para o torneio, que, em 2008, terá Gana como sede. Segundo Máximo, ao chegar na Tanzânia acompanhado do preparador físico Itamar Amorim, a infra-estrutura da federação local estava longe Abril de 2007
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“Olha quanta mulher pelada tem por aqui...”
Além do desconforto de ver tanta gente seminua na praia, Said Maulid teve outros contratempos no Rio de Janeiro. “Lá na concentração, em Xerém, serviram uma feijoada, e eu tive que ter uma conversa com o treinador. Não posso comer carne de porco, é contra minha religião”, diz ele, seguidor fiel do islã. O incidente foi pequeno, mas a fé muçulmana, seguida por metade do time, também cria desafios para a prática do jogo. “Durante o Ramadã, que é o mês sagrado dos muçulmanos, metade do time entrou em campo em jejum, porque eles só podem comer quando o sol se põe”, relembra Márcio Máximo. Antes de viajar para o Rio, Maulid (que, apesar de atuar na Tanzânia, nasceu no vizinho Congo) conversou com seus líderes religiosos a respeito das provações que teria. “Eles me alertaram para como as coisas eram fora da Tanzânia, que os costumes eram diferentes, então tem sido um desafio”, conta o atacante, que, embora tenha um semblante alegre, escolhe as palavras com cuidado. Maulid foi um dos jogadores que mais chamaram a atenção entre os olheiros que assistiram à “turnê” da Tanzânia pelo Rio, segundo o treinador. “No nosso jogo contra o Olaria, houve empresários querendo saber mais dele”, afirmou Máximo, que chama Maulid de “Romário”. “Ele tem potencial para jogar no exterior”. Maulid é um bom exemplo da complexidade do trabalho no país. Sua idade de 25 anos é presumida, assim como acontece na maioria dos países africanos, conhecidos por problemas de registros do nascimento de seus jogadores. Ele atua no principal clube do país, o Young Africans, de cidade de Dar Es Salaam, em que os salários médios são de US$ 500.
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Pedro Carrilho
“Romário” Maulid dribla feijoada
do ideal, tanto em material esportivo quanto em planejamento de médio e longo prazo. A formação de jogadores era deficiente, já que a maioria dos clubes do país não tem categorias de base. “Os jogadores são revelados por escolinhas privadas, mas eu não tenho que tratar com elas. Eu tenho que falar é com os clubes”, disse Máximo, que conseguiu que a federação se movimentasse no sentido de organizar campeonatos e seleções de juvenis. Hoje, com o patrocínio de uma cervejaria local e resultados heróicos, como um empate por 0 a 0 com Moçambique, Máximo acredita que os jogadores, que se equilibram com salários em
média de US$ 300, poderão começar a sonhar com transferências, principalmente se obtiverem a vaga para a CAN-2008. “Eu tento colocar na cabeça deles que eles podem jogar na Europa, exatamente como seus ídolos. Pode demorar, mas eles precisam ter essa ambição”. A preparação carnavalesca ainda não rendeu os frutos esperados, já que o time levou fora de casa 4 a 0 de Senegal, líder do grupo 7, no dia 24 de março, no primeiro jogo após o retorno da seleção ao continente africano. A próxima rodada fica para junho, mas, apesar da goleada, os tanzanianos ainda são os vice-líderes da chave. Copacabana, prepare-se.
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O melhor da América
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64 páginas, com o perfil dos 32 clubes participantes, entrevistas e tudo o que você precisa saber sobre a competição
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Já nas bancas! 3/30/07 7:12:12 AM
História, por Cassiano Ricardo Gobbet
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Futebol Total de
Mogi
Ricardo Saibun/Gazeta Press
Há 15 anos, o Mogi Mirim surpreendeu a todos com um time super-ofensivo com três zagueiros. De quebra, ainda apresentou Rivaldo ao mundo
No Mogi, Oswaldo Alvarez começou bem a carreira de técnico
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bril de 1993. Bola no meio-campo. O meia Rivaldo, hoje no Olympiacos, vê o goleiro adversário adiantado e bate direto para o gol. A bola entra próxima do ângulo direito. O meia sai para comemorar com os colegas. Se você acha que foi um golaço do brasileiro no La Coruña, Barcelona ou outro esquadrão, veja novamente a data. Rivaldo ainda não tinha nem chegado ao Corinthians. Era mesmo um esquadrão, só que de Mogi Mirim. Neste ano, a torcida do Sapão comemora 15 anos daquele que provavelmente foi o mais memorável time de interior na história do futebol brasileiro. Vários outros clubes de fora das capitais chamaram a atenção, mas sempre pela presença de um jogador ou outro que depois fez história. O “Carrossel Caipira” do Mogi não era um time de um jogador só, mas uma equipe que primava pelo coletivo. “Aquele time, mesmo tendo um jogador que depois se consagrou na Seleção, como o Rivaldo, não ficou conhecido como ‘o time do Rivaldo’. Era o ‘Carrossel Caipira’”, lembra o jornalista Paulo Vinícius Coelho, da ESPN Brasil. Aliás, tanto não era o time de Rivaldo que o “craque” era outro, o meia Válber, depois com passagens por Palmeiras e Corinthians. “O Válber era um jogador diferenciado e era até mais falado do que o Rivaldo”, conta Oswaldo Alvarez, o idealizador daquele time. “Ele chegava de surpresa na área, mais ou menos como o Kaká faz no Milan”. Do banco, o técnico fazia um sinal para o time, indicando quando deveria virar o jogo de uma lateral à outra. Além disso, os jogadores podiam trocar de posição, para confundir a marcação. Alvarez, hoje comandando o Atlético-PR, conta que resolveu tentar o esquema com três zagueiros – então maldito no Brasil, por causa do fiasco da Copa de 1990 – admirado com o sucesso alemão naquele Mundial. “A Alemanha jogou a Copa muito bem, e eu desde sempre sou fã da Holanda de 1974”, explica Vadão. “A maioria dos jogadores que o Mogi tinha atuava em mais de uma posição, e resolvi tentar”. A tentativa de Vadão era deixar um homem na sobra atrás da zaga, podendo voltar a um sistema mais convencional. “Começávamos jogando com três zagueiros. Como o Capone (um dos defensores do time) sabia jogar de volante, se a coisa não andasse, podíamos atuar normalmente com o 4-4-2 tradicional”. Aproveitando uma “folga” de seis meses antes do Paulista (que naquela época ocorria no segundo semestre), o time treinou bastante. Não faltou quem criticasse, como Vadão lembra, especialmente na imprensa, mas a coisa andou. E como. Durante mais ou menos um ano e meio, o Mogi foi
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Acervo/Gazeta Press
Os que mais brilharam depois do “Carrossel” Rivaldo Foi estrela do Barcelona e campeão mundial na Seleção
Válber A estrela do “Carrossel” passou por Palmeiras, Corinthians, Inter-RS e pelo futebol japonês
Capone Campeão da Copa Uefa com o Galatasaray, da Turquia
Leto Longa carreira em vários grandes brasileiros, como Corinthians e Grêmio
Fernando Em atividade no Marília, passou por outros dez clubes
Antes da fama, Válber (à esq.) e Rivaldo (à dir.) preparam-se para pegar o Marília
páreo duro em todas as competições que disputou até ser desmontado. “As pessoas falam do Paulista de 1992, mas nós ganhamos títulos: Copa Ricardo Teixeira e a primeira fase do Paulista de 1992, além de perder a Copa João Havelange, em 1993, para o Vasco, nos pênaltis”, diz Vadão. Na primeira fase do Paulista, o jogo decisivo foi contra a Ponte Preta, vice-campeã, cujo treinador iria para o Palmeiras no ano seguinte: Vanderlei Luxemburgo. Apesar de não ser um esquema inovador em termos de módulo, era um choque para um Brasil monotemático em tática. Seguros por um líbero que cobria os dois zagueiros e por dois volantes que corriam muito – Fernando e Chiquinho –, os laterais podiam avançar livremente. Na frente, os dois atacantes se mexiam, tirando a referência dos marcadores. Quem chegava para arrematar era um meia, Válber, que foi artilheiro do Paulista de 1992. “Teve um jogo contra o XV de Piracicaba, que o Mogi ganhou por 3 a 0, no qual fomos taticamente perfeitos. Poderíamos ter vencido por sete, oito, não deixamos o XV jogar. Teve várias partidas em que o time jogou bem, mas esse ficou na memória e na história do clube”, diz Alvarez. “Hoje, 15 anos depois, as pessoas ainda falam de um time do inte-
rior. Isso dá uma dimensão daquele time”. José Wellington da Silva, o Leto, era o único atacante “puro” do time, que jogava mais fixo na frente. “O Leto merecia ter tido uma carreira mais brilhante, mesmo tendo jogado em times grandes, como Corinthians e Grêmio. Ele tinha um talento excepcional”, conta o treinador. O próprio Leto lembra-se com nostalgia do time do Mogi. “Cheguei do Santa Cruz com o Rivaldo e o Válber, levado por um empresário. Estranhei o esquema no começo, mas rapidamente nos habituamos. Todos os marcadores ficavam perdidos, porque o Vadão dava liberdade para a gente trocar de posição”, lembra Leto, que destaca o trabalho de Fernando e Chiquinho no meio-campo como sendo muito importante, mesmo sem levar aplausos. A viga-mestra do time, formada pelo meia Válber, pelos atacantes Rivaldo e Leto e pelo ala Admílson, foi para o Corinthians, em 1993. “Eles não renderam o que podiam, prejudicados pelo esquema do Mário Sérgio, que exigia muita marcação”, lembra o jornalista Celso Unzelte, autor do Almanaque do Corinthians. “No fim, o empréstimo do Rivaldo acabou, a diretoria corintiana tentou abaixar o preço e ele foi para o Palmeiras”, diz Celso. Abril de 2007
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Tática, por Cassiano Ricardo Gobbet
O Carrossel
1. O Carrossel do Mogi sem a bola...
sem Cruyff
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Leto
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Chiquinho
Fernando
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Polaco
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Ildo
L. Carlos
Z Capone
G Mauri
G: goleiro / Z: zagueiro / V: volante / ME: meia-esquerdo / MD: meia-direito / M: meia / A: atacante
s três zagueiros foram amaldiçoados no Brasil por causa do fracasso estrondoso da Seleção Brasileira na Copa de 1990. A imprensa, inclemente, não aceitava nem ouvir falar no módulo, que já caía matando. Nesse cenário, em 1992, é que apareceu no interior de São Paulo um time que jogava – e bem – usando os laterais avançados e um terceiro zagueiro que sobrava para assegurar a solidez da retaguarda. Oswaldo Alvarez, por incrível que pareça, tirou a inspiração exatamente da malfadada Copa na Itália. O técnico ficou impressionado com o futebol da Alemanha campeã mundial. O selecionado comandado pelo técnico Franz Beckenbauer e a Holanda de 1974 foram os modelos que Vadão usou quando experimentou uma tática diferente na equipe do Mogi Mirim. À frente do arqueiro Mauri, Vadão postava dois zagueiros para marcar os atacantes adversários, Capone e Luís Carlos. A segurança dos dois vinha de dois pontos: a sobra coberta pelo líbero Ildo e uma pressão constante dos dois volantes no meio-campo, Chiquinho e Fernando. Com instrução para marcar de perto e passar bolas curtas, a dupla fazia com que os ataques adversários se complicassem para ficar em superioridade numérica. Pelas laterais, o treinador pedia basicamente muito pulmão, para cobrir as faixas de ponta a ponta. Polaco (pela direita) e Admílson (pela esquerda) recuavam sem a bola, mas tornavam-se quase dois pontas na hora de apoiar, sempre garantindo que o rival não ficasse com mais homens no setor. Os dois alas davam a esse time a jogada principal do “Carrossel”. Com um sinal do banco de reservas, o treinador ditava aos jogadores quando eles deviam virar o jogo para a lateral oposta. Cobertos pelo terceiro zagueiro, Admilson e Polaco providenciavam a aceleração necessária para pegar o rival no contrapé e deixar os atacantes mogianos com a faca e o queijo na mão. Aliás, os jogadores ofensivos desse time eram os elementos-surpresa do “Carrossel Caipira”. Válber, tido então como o craque do time, era um meia de grande habilidade que descia para o ataque com freqüência, aproveitando-se dos espaços criados por dois atacantes de grande mobilidade: Leto e Rivaldo. O perigo oferecido por Válber era tamanho que ele se sagrou artilheiro do Paulista daquele ano, com 17 gols. Sem um centroavante fixo, os três confundiam muito a defesa adversária. Leto era o jogador que recuava menos quando o Mogi perdia a bola, mas ainda assim nunca ficava parado pelo meio; Rivaldo, que despontava como uma promessa, já era o misto de atacante e meia que hoje é tão comum no futebol.
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Entrevista, por Leonardo Bertozzi
Em Portugal,
a Fiel é do Benfica
Para Anderson, trocar São Paulo por Lisboa nem fez tanta diferença: a torcida do Benfica não deve nada à do Timão
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iferentemente de jogadores que vêem Portugal como um trampolim para uma liga maior da Europa, o zagueiro Anderson se diz satisfeito no Benfica, pensa em ficar no clube por muito tempo e compara os torcedores aos do Corinthians, time que o revelou. Aos 26 anos, tem esperanças de voltar à Seleção Brasileira – para isso, espera que o companheiro de zaga Luisão mude de equipe antes da próxima temporada. Em entrevista à Trivela, o defensor falou sobre o ano do time encarnado, seu início no Corinthians e suas perspectivas para o futuro.
O Benfica chegou às quartas-de-final da Liga dos Campeões, no ano passado. Por que a campanha não se repetiu na atual temporada (o time não conseguiu passar do grupo, ficando atrás de Manchester United e Celtic)? Nós vacilamos. Dava para passarmos, mas vacilamos nos jogos fora de casa. Fomos muito bem em Lisboa, só que, na LC, bobeou, um abraço. No final, não dependíamos só de nós, tínhamos de torcer contra o Celtic, mas terminamos em terceiro no grupo e fomos para a Copa Uefa. Há muita diferença entre o estilo de trabalho do Fernando Santos, técnico do time na atual temporada, e o do Ronald Koeman? São sistemas diferentes. Um (Koeman) jogava mais no 4-3-3, o outro (Santos) prefere o 4-4-2. Eles têm posturas distintas sobre tática, mas não só: pessoalmente também. Nosso técnico atual tem as suas preferências, mas estamos acostumados. O tempo vai passando, e
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vamos aprendendo a conhecer o treinador e seus métodos de trabalho. Você terminou a temporada passada como titular com o Koeman, mas, na primeira parte do atual campeonato, com o Fernando Santos, a zaga foi formada por Luisão e Ricardo Rocha, hoje no Tottenham. O que houve? O Benfica não começou bem a temporada, e o treinador decidiu mudar a equipe. Tive um primeiro ano fantástico aqui, mas nunca joguei na minha verdadeira posição, que é pela direita. Mesmo assim, na temporada passada, tivemos uma defesa que era considerada uma das melhores da Europa, só com brasileiros: Moretto no gol, Alcides e Léo nas laterais, Luisão e eu na zaga. Financeiramente, o Benfica hoje vive uma situação confortável, mas dentro de campo ainda está atrás do Porto. O que acontece? O Porto é muito forte, conta com um investimento grande em jogadores. É complicado. Aqui, os três grandes são
muito fortes. A vantagem do Porto é que ele raramente perde pontos contra os clubes pequenos. Os clássicos não fazem tanta diferença. Na última temporada, ganhamos os dois jogos contra o Porto, e eles foram campeões com 12 pontos de vantagem. Você está sossegado em Portugal ou pensa em trocar de país de novo? Meu plano é continuar aqui. Pode haver campeonatos superiores, como Inglaterra, Espanha e Itália, mas aqui é muito bom. Falamos a mesma língua, não faz tanto frio e é como se estivéssemos no Brasil. A única diferença é a distância da família. Sair do Benfica nem passa pela minha cabeça. É um time grande, que perde poucos jogos por ano, está sempre brigando por títulos e disputando a Liga dos Campeões. Tenho mais três anos de contrato e, se depender de mim, cumpro-o até o fim. Você marcou em seu primeiro jogo pela Seleção: a vitória por 3 a 0 sobre a Guatemala, em 2005. Acredita que
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poderia ter voltado a ser chamado? Quando saí do Corinthians, estava em situação privilegiada, era o capitão do time. No Benfica, fiquei alguns jogos de fora, estava me adaptando à Europa, além do problema de não atuar na minha posição. Tenho 26 anos, continuo com esperanças de ser chamado, se o Benfica continuar bem e eu seguir jogando. Logo o Luisão deve ser vendido. Acho que seria bom para ele, mas também me ajudaria, pois eu poderia jogar numa posição onde rendo mais. Eu poderia render 30 a 40 por cento a mais do que atualmente. Você jogava no Corinthians quando foi assinado o contrato com a MSI. Como foi aquela época, para os jogadores? Peguei os primeiros seis meses de MSI, uma fase mais interessante, mais calma. Era uma contratação atrás da outra. O clima era diferente, tinha mais entusiasmo. Hoje, eu acompanho a situação do Corinthians e fico triste. Saí de lá numa boa e tenho carinho
pelo clube e pela torcida. Fico torcendo para que as coisas se acertem. Você considera seu melhor momento no Corinthians o primeiro semestre de 2002, quando o time ganhou RioSão Paulo e Copa do Brasil? Sem dúvida. Dá para dizer que foi um período de um ano e meio fantástico. Conquistamos títulos, fomos vice-campeões brasileiros. Foi uma fase excelente, que vai ficar marcada para sempre. Tive uma ótima parceria com o Fábio Luciano, com quem aprendi muito. Até hoje, todo mundo lembra daquela dupla. O que me levou à Seleção foram os seis anos de Corinthians. Não é fácil jogar em um clube como o Corinthians e manter a regularidade. Fiz mais de 200 partidas pelo time, sempre em alto nível. Tudo o que eu sonhei, consegui pelo Corinthians. Só tenho a agradecer. Qual foi o jogador mais difícil que você enfrentou no Brasil? E na Europa? No Brasil, eu sempre achava complicado marcar o Grafite. Quando enfrentá-
vamos o São Paulo, o bicho pegava. Aqui, na Europa, foram vários. Já marquei Cristiano Ronaldo, Van Nistelrooy, Rooney, Eto’o, Ronaldinho, vários jogadores de alto nível. No Brasil, não era tão simples. Quando jogávamos contra times pequenos, sempre havia dificuldades. Ou o atacante era um baixinho veloz ou um grandalhão trombador (risos). Qual é a sua expectativa para os próximos meses, no Benfica? Quero me manter como titular e voltar a atuar na minha posição. Quando tiver oportunidade de jogar na minha posição favorita, as coisas vão ser diferentes, vou lutar para voltar à Seleção. Quero ser campeão. Quando cheguei aqui, vi a festa pelo título português de 2005. O estádio está sempre cheio, os menores públicos são de 35, 40 mil. Quero ser campeão e dar alegria à torcida, que é muito fanática. Os torcedores do Benfica e o do Corinthians têm muito a ver uns com os outros.
No Brasil, eu sempre tinha de marcar um baixinho habilidoso ou um grandão trombador
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Capitais do futebol, por Tomaz R. Alves
Intolerância não,
rivalidade Ao contrário do que acontece em Glasgow, antagonismo entre clubes de Edimburgo é esportivo, não religioso
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e um lado, um time fundado numa igreja católica. Do outro, uma equipe cuja maioria dos torcedores é protestante. O país é a Escócia, que sofre com problemas ligados à intolerância religiosa. A cidade é a capital nacional, onde duas torcidas apaixonadas torcem para seu time se impor sobre seu arqui-rival. Estamos falando de Rangers e Celtic, certo? Errado. Diferentemente do que a maioria das pessoas acredita, a capital da Escócia é Edimburgo – e os dois times citados no parágrafo anterior, na verdade, são Hibernian e Hearts. O Hibernian tem suas origens diretamente ligadas à comunidade irlandesa católica. O clube foi fundado na igreja de St. Patrick de Edimburgo, e seu nome pode ser traduzido do latim como “Irlandês” (“Hibernia” era o nome latino da Irlanda). Foi o Hibs que inspirou a criação de outros clubes católicos/irlandeses na Escócia, dentre os quais o Celtic e o Dundee United. Num país de maioria protestante, a origem do Hibernian tinha tudo para criar em Edimburgo uma rivalidade de cunho religioso como a que existe em Glasgow, entre o católico Celtic e o protestante Rangers. No entanto, não foi isso o que aconteceu. Para começar, o arqui-rival do Hibs, o Hearts, não tem nenhuma ligação com religião. O clube foi criado por um grupo
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de amigos interessados por futebol, nada mais. O caráter de puro lazer, quando da fundação do clube, pode ser notado em seu nome, Heart of Midlothian, que é como se chamava o salão de dança que os amigos freqüentavam. O Hibernian também fez sua parte para evitar maiores tensões sectárias. No final do século XIX, o Celtic, em Glasgow, despontava como um dos gigantes do país, carregando a bandeira da comunidade irlandesa católica da Escócia. O Hibs começou a perder popularidade e, para sobreviver, abriu-se a todas as comunidades de Edimburgo e nunca adotou uma política de discriminar católicos ou protestantes, nem dentro nem fora de campo. Hoje, a separação entre as torcidas de Hearts e Hibernian não é religiosa, mas sim geográfica: os fãs do primeiro concentram-se na zona oeste de Edimburgo, e a torcida do segundo está mais na zona leste. Como a questão da religião na Escócia é delicada, existem pequenos grupos que tentam provocar adversários com ofensas de cunho religioso, tanto em clássicos locais quanto em jogos contra os gigantes de Glasgow. No entanto, essas pessoas em geral são vaiadas pelo resto da torcida e desencorajadas pelas diretorias. Em termos de títulos do campeonato nacional, os dois times de Edimburgo es-
clubes da cidade 1 Hibernian Football Club
4 Campeonatos Escoceses 2 Copas da Escócia 3 Copas da Liga Escocesa
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Jeff J. Mitchell/Getty Images
tão empatados, com quatro conquistas para cada lado. No entanto, dá para dizer que o Hearts é mais bem sucedido que o rival. Os Jambos (apelido que faz referência à cor da camisa) foram vice-campeões nacionais nada menos que 13 vezes. Além disso, a equipe supera o Hibernian em títulos da Copa da Escócia (7x2) e da Copa da Liga (4x3). Nos confrontos diretos, a vantagem também é claramente do Hearts: foram 121 vitórias da equipe, contra 73 do rival (e 82 empates).
UMA HISTÓRIA DE EX-CLUBES Pode parecer estranho que, num país apaixonado por futebol, Edimburgo tenha apenas dois clubes profissionais. Na verdade, ao longo da história, a capital já teve outros times. O que conseguiu mais destaque foi o St. Bernard’s. No fim do século XIX, o clube era o terceiro mais importante da cidade e chegou a ganhar a Copa da Escócia, em 1895. Depois, entrou em decadência e acabou fechando as portas, em 1943. O quarto time de Edimburgo seria o Leith Athletic, que chegou a jogar na primeira divisão, mas também fechou na época da II Guerra Mundial. Outro ex-time de Edimburgo é o Meadowbank Thistle. Com torcida minúscula, a equipe nunca alcançou projeção. Em 1995, a diretoria transferiu o clube para Livingston e rebatizou-o com o nome da nova cidade. Lá, o time chegou à primeira divisão do Campeonato Escocês. Em 2004, até ganhou a Copa da Liga Escocesa – algo que teria sido impossível à sombra de Hearts e Hibernian.
Novos tempos
Football Club 4 Campeonatos Escoceses 7 Copas da Escócia 4 Copas da Liga Escocesa
Escócia Irlanda do Norte Irlanda
localização
2 Heart of Midlothian
Desde o último título escocês do Hearts, em 1960, os clubes de Edimburgo não conseguiram mais trazer para si os holofotes do futebol nacional. Mesmo nos raros escorregões da dupla Rangers e Celtic, quem se aproveitou foram os clubes mais ao norte, como Aberdeen, Dundee e Dundee United. No início do século XXI, a situação dos times de Edimburgo complicou-se, com problemas financeiros advindos do estouro da “bolha do futebol”. O Hearts foi o mais afetado. Em 2004, o clube esteve a um passo de vender seu estádio, Tynecastle, para jogar em Murrayfield, local que é usado para partidas de rúgbi. O negócio só não foi adiante devido à chegada de Vladimir Romanov. O lituano assumiu o controle do clube, em 2005, com a pose de um “mini-Abramovich”. Investiu pesado em contratações e, na temporada 2005/6, fez o Hearts brigar de igual para igual com os gigantes de Glasgow – tanto que terminou o campeonato em segundo lugar. No entanto, não tardou para o ricaço Romanov mostrar seu lado ruim. Em 18 meses, o dono do clube já demitiu seis treinadores. Sua política de contratações é no mínimo nebulosa: o Hearts, hoje, tem nada menos que 16 jogadores emprestados pelo FBK Kaunas, clube lituano do qual Romanov também é dono. No campeonato, o time encontra-se distante dos líderes, poucos pontos à frente do rival Hibernian, que não tem um dono rico. Parece que, mesmo com toda a paixão, o destino de Hearts e Hibernian é mesmo lutar só pela supremacia em Edimburgo.
País de Gales
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Edimburgo 453.000 habitantes Abril de 2007
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Inglaterra
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Paco Serinelli/AFP
Embaixadas Itália, por Cassiano Ricardo Gobbet
Rebelde sem causa Talento de Adriano começa a ser ofuscado por um mau comportamento que faz a Internazionale pensar se vale a pena mantê-lo em Milão
O
primeiro jogo de Adriano vestindo a camisa da Inter foi em Madri. Trocado por metade do passe de Vampeta com o Flamengo, o centroavante entrou a oito minutos do fim. A Inter empatava por 1 a 1. Na cobrança de uma falta, segundos antes do apito final, o ex-flamenguista disparou uma bomba no ângulo do goleiro Casillas. A torcida interista estava conquistada. De lá para cá, Adriano fez mais de 60 gols, em menos de 150 partidas oficiais (modo pelo qual estatísticas sérias de gols são computadas), e seu apelido de “Imperador” não foi dado por marketing, mas sim por verdadeira veneração. Seu lugar no coração do torcedor estava garantido. Estava? Talvez não. O comportamento de Adriano nas últimas duas temporadas tem sido digno de um boleiro de praia. Excessos em festas, brigas, expulsões, falta de empenho em
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Adriano deixa o campo cabisbaixo: cena comum nos últimos tempos
treinamentos, discussões com o treinador e outros incontáveis deslizes fizeram com que ele deixasse de ser a maior aposta do clube para o futuro para se transformar quase em um “mico”. É mais do que sabido que Adriano e seu empresário, Gilmar Rinaldi, não achariam ruim uma transferência para outro clube. Esgotar a paciência dos dirigentes interistas pode ter aproximado o atacante de uma eventual saída de Milão, mas também diminuiu o valor do jogador para uma possível negociação – e reduziu também o número de interessados. Os endereços mais prováveis para Adriano nos últimos dois anos eram Chelsea e Real Madrid, provavelmente os dois únicos clubes capazes de preencher um cheque com a quantidade de zeros que convenceria a Inter. Acontece que, agora, os dois clubes têm um excesso de artilheiros e não são mais compradores tão ávidos.
Desiludida com o retorno dado por Adriano e estimulada pelo do sueco Zlatan Ibrahimovic, a Inter não esconde que ficaria feliz em trocá-lo por Luca Toni, campeão mundial que atualmente está na Fiorentina, clube em que Adriano já jogou. Quem torce o nariz para a possibilidade é a própria Fiorentina, incerta de qual Adriano iria para Florença – o baladeiro ou o artilheiro. O atrativo que Florença ofereceria para Adriano seria o de recolocar sua carreira nos trilhos. Cesare Prandelli, atual técnico “viola”, foi o responsável pelo deslanche do atacante na Itália, quando os dois trabalharam no Parma. No Artemio Franchi, o brasileiro teria a seu lado um outro protagonista daquele Parma, o romeno Adrian Mutu, seu melhor companheiro de ataque até hoje. Em Milão ou em Florença, o vital é que Adriano se recupere. Essa é, pelo menos, a necessidade de outro ex-jogador famoso da Fiorentina: o técnico da Seleção, Dunga.
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Espanha, por Ubiratan Leal
Um time só está bom Antes usadas para dar rodagem aos jogadores, as equipes B perdem espaço na Espanha Getty Images
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Miguel Torres só conseguiu espaço no Real Castilla
Queda nos últimos 10 anos De 1997 para cá, houve uma queda de mais de 25% na quantidade de equipes filiais nos três primeiros níveis do futebol espanhol. Além disso, hoje, só o Real Madrid tem uma equipe B na segunda divisão. Divisão
1997
2007
Segunda
3 (Atlético de Madrid, Barcelona e Real Madrid)
1 (Real Madrid)
Terceira
16 (Athletic Bilbao, Betis, Celta, Deportivo La Coruña, Espanyol, Logroñés, Mallorca, Osasuna, Oviedo, Real Madrid*, Real Sociedad, Sevilla, Sporting Gijón, Valencia, Valladolid e Zaragoza)
13 (Atlético de Madrid, Athletic Bilbao, Barcelona, Celta, Espanyol, Levante, Málaga, Osasuna, Racing Santander, Real Sociedad, Sevilla, Valencia e Valladolid)
m 26 de junho de 2005, cerca de 45 mil pessoas foram ao Estádio Santiago Bernabéu para ver o Real Madrid conquistar mais um título. Não era o Campeonato Espanhol ou a Copa do Rei. Também não era a Liga dos Campeões. Na verdade, não era nem bem o Real Madrid, mas sim, o Real Madrid Castilla, a equipe B dos Merengues, que enfrentava o Conquense, na decisão do grupo D da Segunda División B espanhola, que equivale à terceira divisão. O placar final foi de 1 a 0 para o Conquense, mas o Real Madrid Castilla conseguiu a promoção, por ter vencido o jogo em Cuenca por 2 a 0. Num primeiro olhar, o resultado pode ser interpretado como um sinal do sucesso de uma das “filiais” dos grandes times espanhóis. Só que o buraco é mais embaixo. A Espanha vem se questionando se é benéfico permitir que os clubes tenham times reservas jogando em suas divisões inferiores. Os gols do 2 a 0 em Cuenca foram marcados por Soldado e Jurado, jogadores que, hoje, tentam lançar tardiamente suas carreiras em Osasuna e Atlético de Madrid. Tudo porque perderam tempo esperando uma oportunidade que todos sabiam que nunca apareceria de verdade, em um Real Madrid cheio de estrelas internacionais. O exemplo da equipe madrilena é o mais evidente, mas está longe de ser único. Teoricamente, os jovens são colocados no time B para ganhar experiência. No entanto, o nível dos adversários é muito baixo e não ajuda o desenvolvimento do atleta. Enquanto isso, a equipe principal recebe investimentos pesados em reforços, e fica difícil uma promessa ter chance de aparecer. Em clubes como Sevilla e Deportivo La Coruña, que dão mais espaço a seus jovens, muitas vezes a “promoção” ocorre após uma ou, no máximo, duas temporadas. Nos últimos anos, os clubes até tentaram motivar suas filiais ao batizá-las com novos nomes, como Atlético Aviación (Atlético de Madrid B), Real Madrid Castilla (Real Madrid B), Sevilla Atlético (Sevilla B) e Valencia Mestalla (Valencia B). Só que a jogada motivacional não escondeu a diminuição da empolgação dos times B, cujos investimentos e resultados estão cada vez mais escassos. Prova disso é que nenhum time B está na segunda divisão, à exceção do Real Madrid Castilla. Menos de dez anos atrás, as equipes reservas eram tão fortes que o Atlético de Madrid B chegou a ser vice-campeão do torneio, tendo seu acesso vetado porque o regulamento do campeonato proíbe que dois times do mesmo clube possam se enfrentar em uma competição. Abril de 2007
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Getty Images
Inglaterra, por Tomaz R. Alves Rowan Vine, do Birmingham, no jogo contra o Derby County
A volta do
Império do Meio
Escócia Irlanda do Norte Irlanda
Futebol da região das Midlands, considerado decadente há um ano, está em alta nesta temporada
País de Gales
Midlands
E
mbora não se divulgue muito, existe uma forte rivalidade regional no futebol inglês. As regiões historicamente mais poderosas são Londres, com Arsenal, Tottenham e Chelsea, e o Noroeste, que tem Liverpool, Manchester United e Everton. Em terceiro lugar está o Norte do país, onde estão os tradicionais Newcastle e Sunderland. Existe também uma quarta região muito forte, mas que é pouco conhecida fora da Inglaterra: as Midlands. Essa parte do país abarca uma faixa horizontal, no centro da Inglaterra, ao norte de Londres e um pouco ao sul de Manchester. Entre as equipes mais famosas das Midlands estão Aston Villa, Nottingham Forest, Wolverhampton e Birmingham. Ao todo, os clubes da região ganharam 14 Campeonatos Ingleses e três Copas dos Campeões. Nos anos 90, a Premier League chegou a contar com nada menos que nove times das Midlands. Na temporada passada, o futebol do centro do país sofreu um duro baque. Enquanto o Aston Villa fazia campanha pífia, Birmingham e West Bromwich Albion eram rebaixados para a segunda divisão, deixando o Villa como única equipe da região na Premier League. Parecia mais uma prova da “concentração de poder” nas mãos de alguns poucos times – principalmente os de Londres e do Noroeste.
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Em 2006/7, porém, as Midlands vêm para o contra-ataque. Ao que tudo indica, três times de Londres serão rebaixados para a segunda divisão. Ao mesmo tempo, parece que veremos dois ou três clubes do centro da Inglaterra promovidos: a oito rodadas do fim, Birmingham e Derby ocupavam as duas primeiras posições da Segundona, e Wolverhampton e West Brom estariam entre as quatro equipes que brigarão pela última vaga nos “playoffs” de acesso. É bem provável que, na próxima temporada, haja igual número de equipes das Midlands e de Londres na primeira divisão (quatro de cada região). Nas divisões inferiores, o cenário também é bom para os clubes das Midlands. Nottingham Forest, Scunthorpe (terceira divisão), Walsall e Lincoln (quarta) têm boas chances de subir. Enquanto até sete clubes podem ser promovidos, só dois (Chesterfield e Boston United) correm risco de cair. Essa volta por cima da região não é difícil de explicar. Pela força econômica e tradição no futebol, as Midlands estão sub-representadas nas principais divisões inglesas. Os resultados desta temporada seriam apenas uma forma de reequilibrar as forças. Birmingham e West Brom, por exemplo, têm porte para se manter na Premier League, e o Nottingham Forest, bicampeão europeu, merece muito mais do que a terceira divisão, onde joga atualmente.
Midlands nas principais divisões do futebol inglês
Londres
Premier League Aston Villa The Championship Birmingham Coventry Derby Leicester Stoke West Bromwich Albion Wolverhampton League One Chesterfield Northampton Nottingham Forest Port Vale Scunthorpe League Two Boston United Grimsby Hereford Lincoln Mansfield Notts County Peterborough Shrewsbury Walsall
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Alemanha, por Carlos Eduardo Freitas
Alemanha engata a Terceira Divisões menores do futebol alemão ganham força com pacotão de mudanças para 2008/9 disputada por 20 equipes. Para os clubes, mais interessante do que a mudança de status será o fato de que vai entrar mais grana. Cada participante da Terceirona, que hoje ganha € 375 mil por ano, passará a receber € 800 mil anuais. Uma divisão abaixo, o torneio será “enxugado”, caindo de 159 para 54 clubes. O dinheiro, naturalmente, aumenta para os times desse nível também. Restam apenas duas pendências para serem resolvidas em futuras reuniões entre DFB e DFL, que devem acontecer ainda no primeiro semestre deste ano. A primeira delas diz respeito ao formato da quinta divisão. Ainda não há consenso quanto à quantidade de setores – cinco, seis ou sete – e como funcionará promoção e rebaixamento entre a quarta e a quinta divisão. Além disso, não se sabe quais serão os critérios para decidir quem disputará a nova Terceirona “turbinada”. A idéia por trás do pacote de medidas é ajudar financeiramente clubes tradicionais que caíram para as profundezas das divisões inferiores. Além disso, o plano visa dificultar a vida de times que não passam de “franco-
atiradores” em busca de aventura, deixando mais simples o caminho que um jovem alemão tem de trilhar para conseguir se profissionalizar em clubes sérios. Com mais jogadores alemães se profissionalizando, espera-se, todo o futebol do país sairá ganhando.
David Hecker/AFP
A
Bundesliga 2006/7 ainda não acabou. Mais: a tabela mostra uma interessante briga pelos primeiros lugares, na qual o Bayern não é o líder isolado. Mesmo assim, parte das atenções já está voltada para 2008. Tem algo errado acontecendo? Pelo contrário: o que existe é uma grande expectativa. Dentro de pouco mais de um ano, entrará em vigor uma série de mudanças que vai ter impacto considerável nas divisões inferiores, depois de um acordo entre a Liga Alemã de Futebol (DFL) – responsável pela Bundesliga – e a Federação Alemã (DFB) – que cuida da terceira divisão para baixo. Na elite, pouca coisa muda. As primeiras duas divisões terão o retorno da repescagem entre o terceiro colocado da segunda e o antepenúltimo da primeira. A realização dessa partida foi abolida em 1991, na última grande mudança na estrutura do futebol no país, na ocasião da reunificação das Alemanhas. Nos níveis inferiores, as alterações não são pequenas. A terceira divisão – a Regionalliga –, hoje com 37 clubes e dividida em Norte e Sul, deixará a condição de amadora e será
Torcida do St. Pauli espera dias melhores na nova Terceirona
Estrutura do futebol alemão Como é hoje
Como será a partir de 2008/9
1ª divisão
1. Bundesliga
1. Bundesliga* (18 clubes)
2ª divisão
2. Bundesliga
2. Bundesliga* (18 clubes)
Süd
(18 clubes)
Mitte
(18 clubes)
Nord
Regionalliga
Bayern
BadenWüttemberg
Südwest
(18 clubes)
3. Bundesliga* (20 clubes)
Regionalliga Süd
Westfalen
Nordrhein
NOFV-Süd
NOFV-Nord
Nord
Oberliga
4ª divisão
Regionalliga Nord
Hessen
3ª divisão
* o antepenúltimo da divisão superior disputa com o terceiro da inferior a promoção ou o rebaixamento
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Tempos difíceis para o goleador da Juventus
O calvário de Trezeguet D
avid Trezeguet tornou-se alvo de mais uma polêmica entre Raymond Domenech e um treinador de clube. O comandante dos “Bleus” desentendeu-se com Didier Deschamps, da Juventus, que o criticou por deixar o atacante de fora da lista de convocados para enfrentar Lituânia, pelas eliminatórias da Euro-08, e Áustria, em amistoso. Embora seja um jogador de renome, Trezeguet ficou marcado de forma negativa desde a final da última Copa. Na reserva na maior parte do torneio, ele entrou em campo na decisão contra a Itália e perdeu um pênalti. Contudo, aquela bola na trave não foi decisiva para definir seu futuro na seleção. Com o rebaixamento da Juventus para a Série B, Trezeguet passou a viver uma fase ruim. Em 19 partidas na segunda divisão, marcou nove gols. Na temporada anterior, em 32 jogos, ele fez 23. Além dos gols terem rareado, suas atuações pouco convincentes motivaram uma série de críticas. Dos nove jogos feitos pelos franceses depois da Copa, ele foi titular em apenas dois. Marcou dois gols, ambos contra as Ilhas Faroe, mas a fragilidade do adversário diminui a importância da marca. Outra coisa que se diz a respeito da dificuldade de Trezeguet na seleção é que Thierry Henry, jogador francês mais importante hoje, não gosta de fazer dupla de ataque com o juventino. Domenech preferiu chamar o novato Frédéric Piquionne para enfrentar lituanos e austríacos, um sinal de que os problemas do treinador com Trezeguet persistem.
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Holanda, por Leonardo Bertozzi Franck Fife/AFP
França, por Ricardo Espina
O brasileiro do PSV, desta vez, não é atacante
O Tanque de Eindhoven R
omário, Ronaldo e... Alex. O atual representante verde-e-amarelo do PSV, clube que abriu as portas da Europa a dois dos maiores atacantes de todos os tempos, não joga no ataque. Até faz seus gols, mas só por causa do bom jogo aéreo. Alex Rodrigo Dias da Costa, ex-zagueiro do Santos, conhecido na Holanda como “De Tank” (“O Tanque”), por causa de sua força física, foi protagonista, no bem e no mal, da partida entre o PSV e o Arsenal, pelas oitavas-de-final da Liga dos Campeões. A história do jogo de volta, em Londres, foi um clichê de roteiro de cinema: uma repentina viagem do inferno ao céu. Primeiro, Alex marcou contra e permitiu ao time inglês igualar o confronto, depois da vitória do PSV por 1 a 0 em Eindhoven, uma semana antes. A seis minutos do final, ele se redimiu em grande estilo, acertando uma cabeçada precisa e selando a classificação. Seria injusto, no entanto, resumir sua influência apenas ao gol. Segundo palavras de Arsène Wenger, treinador do Arsenal, Alex ‘’venceu o confronto sozinho’’, impondo-se com autoridade sobre os atacantes locais, especialmente no jogo aéreo. Alex transferiu-se do Santos para o PSV em 2004, com a intenção de fazer uma ponte para o Chelsea. O clube de Abramovich deu o dinheiro, mas não pôde inscrevê-lo por causa da dificuldade de obter o visto de trabalho. Depois do jogo em Londres, o brasileiro machucou-se. Coincidência ou não, o PSV foi humilhado em casa pelo rival Ajax na rodada seguinte: 5 a 1.
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Portugal, por Zeca Marques
Estádios, pra que vos quero? Miguel Riopa/AFP
Portugal construiu ou reformou dez estádios para a Euro-2004, mas, depois disso, somente três deles – os de Benfica, Porto e Sporting – conseguem manter boa afluência de público
Nani, do Sporting, enfrenta o Boavista, e quase ninguém vê
Relação completa de estádios da Euro-2004 Estádio
Proprietário
Localidade
Capacidade
Luz Dragão Alvalade Século XXI Bessa Século XXI Algarve Cidade de Coimbra D. Afonso Henriques Dr. Magalhães Pessoa Municipal de Aveiro Municipal de Braga
Benfica FC Porto Sporting Boavista Municipalidade Municipalidade Municipalidade Municipalidade Municipalidade Municipalidade
Lisboa Porto Lisboa Porto Faro-Loulé Coimbra Guimarães Leiria Aveiro Braga
65 mil 52 mil 50 mil 30 mil 30 mil 30 mil 30 mil 30 mil 30 mil 30 mil
P
ara fazer bonito nos bastidores da Eurocopa-2004, Portugal teve que aperfeiçoar diversos itens relacionados à infra-estrutura do país, como transportes, comunicações, hotelaria, segurança, acessos, etc. Obviamente, a maior atenção da Uefa – entidade que administra o futebol no continente europeu – recaiu sobre os 10 estádios utilizados no torneio, cujas obras de construção e/ou ampliação custaram cerca de € 620 milhões. Mais de três anos após a inauguração desses dez recintos, chega-se a uma triste constatação, que ilustra as limitações do futebol português em comparação com vizinhos mais ricos. À exceção dos estádios dos três grandes (Benfica, Porto e Sporting), o público nos jogos é pequeno. A população local parece não estar aproveitando o que Portugal “herdou” da competição européia. Seis estádios utilizados na Euro-2004 foram construídos do zero. Três deles são particulares (Estádio da Luz, do Dragão e Alvalade Século XXI) e pertencem aos grandes clubes lusos. Nesses, não há grandes problemas de público, uma vez que seus clubes sempre brigam pelos títulos domésticos. Os três recintos juntos respondem por 70% das receitas de bilheteria no Campeonato Português, que conta com uma média de público em torno de 10 mil espectadores por jogo, nas últimas temporadas – número bem abaixo dos 37 mil torcedores do Campeonato Alemão e dos 34 mil do Inglês. Os outros três estádios novos são os municipais de Braga, Aveiro e Faro-Loulé, no Algarve. O do Braga, numa construção arrojada em meio a uma pedreira, costuma ter o quarto melhor público do país. O de Aveiro sofre com as constantes descidas e subidas do Beira Mar, que caiu em 2005 e depois voltou à Primeirona, em 2006. Já o Estádio do Algarve nunca fez sentido, pois o Farense não joga na primeira divisão desde 2002. Para piorar, os Leões de Faro encerraram suas atividades no futebol profissional. Hoje, o estádio divide sua utilização entre algumas poucas partidas de futebol e os shows, eventos e espetáculos que costumam predominar no verão algarvio. Dos quatro estádios que apenas ganharam “cara” nova para a Eurocopa, o do Bessa (propriedade do Boavista) e o Municipal de Guimarães ainda recebem algum público. Só que, em Guimarães, o Vitória foi rebaixado na temporada passada, o que afastou os aportes de dinheiro que apareciam nos jogos com os grandes. Os outros dois, apesar de situados na região central do país, também decepcionam: estamos falando dos municipais de Leiria e Coimbra. No primeiro caso, a União de Leiria é responsável pelas menores afluências de público da Superliga; no segundo, a Acadêmica tem lutado, nas últimas temporadas, para fugir da Segundona, e o público rareou. Os € 620 milhões gastos em Portugal na remodelação e construção de novos recintos mostram que não basta investir em concreto para conquistar público. Os estádios da Copa do Mundo de 2002 já tinham sido grandes exemplos de “elefantes brancos”. O Brasil, que quer receber um Mundial na próxima década, poderia tirar algumas lições do problema português. Abril de 2007
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Negócios, por Ubiratan Leal
Futebol na TV: canais a cabo oferecem jogos para todos os gostos
Cabo de
guerra Canais esportivos por assinatura mexem-se para adquirir novas atrações, explorar novas mídias e, claro, aumentar seus mercados
Canais
Sportv
Principais operadoras Net e Sky
M
ovimentação no mercado dos canais de TV por assinatura não é uma coisa comum. Depois de vários anos em marcha lenta, com poucas novidades e relativa estagnação das empresas envolvidas, decisões governamentais, mudanças de táticas das emissoras e disputas pela transmissão de eventos esportivos criam a esperança de dias melhores. No ano passado, o Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) determinou que a Sportv estivesse disponível para assinantes fora do sistema Net/Sky, ou seja, a TVA ganhou o direito de comercializar os canais Sportv nos pacotes que oferece a seus assinantes. Além disso, o Cade obrigou a empresa a abrir mão da exclusividade de alguns campeonatos de futebol. A mudança fará que, entre 2009 e 2011, o braço esportivo da Rede Globo na TV a cabo não seja mais a única emissora a exibir três dos cinco maiores campeonatos envolvendo clubes brasileiros (Copa Libertadores, Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, Paulista e Estadual do Rio). A reação do mercado às alterações foi
ESPN Brasil
BandSports
ESPN
Sky
Net, TVA e Sky
TVA e Sky
Net, TVA e Sky
Sky
Atrações
Campeonatos Brasileiro (Séries A e B), Argentino, Francês, Paulista, Estadual do Rio, Mineiro, Gaúcho, Copa do Brasil, Libertadores e Sul-Americana
Liga dos Campeões, Copa Uefa e Campeonatos Inglês, Espanhol, Italiano, Alemão e Paulista da Série A2
Campeonatos Italiano e Português
Liga dos Campeões e Campeonatos Inglês, Espanhol, Italiano e Holandês
Campeonato Espanhol
Novidades previstas
Rádio online e negociação para entrar no sistema TVA
Parceria com rádio Eldorado
Investir em mais eventos de peso
Aumentar ligação com ESPN Brasil
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notas saudável, com as empresas criando alternativas. A Sportv, personagem principal neste primeiro momento, já se mexeu e começou a explorar novas mídias. O primeiro passo foi a criação de uma estação de rádio online. Por enquanto, o público-alvo é o praticante de esportes radicais e de aventura. Contatada para se posicionar quanto a sua estratégia, a Sportv não respondeu até o fechamento desta edição. A ESPN Brasil também planeja trabalhar no rádio, mas indo direto ao futebol. A emissora fez um acordo com a Eldorado, de São Paulo, para produzir a programação esportiva da rádio, aproveitando a equipe da televisão na transmissão dos jogos. “É uma forma de nos aproximar do torcedor de futebol, que nem sempre tem acesso à TV paga”, comenta Robert Mills, gerente de marketing do canal. Na Internet, a emissora quer consolidar sua cobertura de esportes radicais. Além disso, a ESPN Brasil passou a ter mais influência do canal ESPN (antiga ESPN Internacional), com a produção de programas para o público brasileiro. O motivo para a aproximação entre os dois canais é atingir mais assinantes. Pela distribuição das duas ESPNs nos pacotes das operadoras, a antiga Internacional tem cerca de 2,9 milhões de assinantes, 500 mil a mais que a Brasil. “O problema é que a antiga ESPN Internacional não tinha uma identidade, porque era só narração sobre o conteúdo que vinha dos Estados Unidos. Colocando a ‘nossa cara’ na programação, o assinante tem contato com a equipe que faz a ESPN Brasil, e os dois produtos se valorizam”, explica Mills.
Competição O legado que a Sportv teve de deixar por causa da decisão do Cade promete ser disputado palmo a palmo pela ESPN e pela Bandsports, que teve um aumento sensível em sua base de assinantes. Até o começo do ano, a Bandsports estava limitada aos sistemas Directv e TVA. Com a fusão da Directv com a Sky, o canal entrou no pacote desta última. Segundo o Grupo Bandeirantes, o número de assinantes da emissora esportiva, que era de cerca de 1 milhão, teve aumento de 40%. Para Alexandre Bortolai, diretor de marketing da Bandsports, os eventos que deixarão de ter exclusividade da Sportv não são os únicos alvos. “O melhor do futebol internacional está mais distribuído entre vários países, não há mais concentração dos craques em Itália e Espanha”, comenta. “Por isso, há vários campeonatos interessantes que não são bem explorados no Brasil”, completa, citando como exemplo o Campeonato Argentino (atualmente transmitido pela Sportv). A briga das TVs promete ser agitada. O telespectador tem boas chances de sair ganhando. As duas ESPNs têm como principais atrações os campeonatos europeus. A Sportv está para perder participação nos torneios domésticos e deve reagir. No ano passado, a Sky surpreendeu ao adquirir os direitos das principais partidas de cada rodada do Campeonato Espanhol. Foi um caso raro de uma operadora de TV paga que comprou um evento diretamente. A ação da empresa visou colocar o torneio como um produto exclusivo para a TV por assinatura.
PAY PER VIEW BATE RECORDE O canal Premiere Futebol Clube anunciou que a venda de pay per view dos campeonatos estaduais de 2007 foi a maior já registrada. Até fevereiro, haviam sido vendidas 270 mil assinaturas, 80 mil a mais que em 2006. Esses números consideram apenas os pacotes para os Campeonatos Paulista, Estadual do Rio, Mineiro e Gaúcho. O Estado com maior venda foi o Rio de Janeiro, com 111 mil assinaturas, contra 107 mil de São Paulo, 30 mil do Rio Grande do Sul e 21 mil de Minas Gerais. De acordo com a Premiere FC, um dos motivos desse crescimento foi o aumento da cobertura do PPV e a facilidade na contratação do serviço. “Exibimos mais jogos neste ano, oferecendo mais horários e permitindo a renovação automática da assinatura, ao final de cada competição”, comenta Elton Simões, diretor dos canais premium da Globosat.
JUVENTUDE BOMBANDO A Serra Gaúcha pode ter novidades em breve para o futebol da região. O Juventude está a um passo de acertar uma acordo pelo qual a fabricante de energéticos Red Bull vai administrar seu departamento de futebol. O vínculo está programado para durar oito anos e implicaria em um investimento de dezenas de milhões de dólares no clube.
SEMINÁRIO SOBRE LEI DE INCENTIVO Abordando a nova lei de incentivo ao esporte, o escritório Cesnik, Quintino e Salinas Advogados promoverá, junto com a Cultcorp, um seminário sobre investimentos em esportes. O evento terá a participação do ministro dos Esportes, Orlando Silva. Você pode ter mais informações pelo telefone 11-3812-8636 ou pelo e-mail – contato@cultcorp.com.br Abril de 2007
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Análise, por José Maurício Fittipaldi
Dinheiro novo
para o esporte
á tempos que a sociedade aguardava iniciativas efetivas de fomento ao esporte em nosso país. A percepção de que o desporto no Brasil é lembrado apenas de dois em dois anos (por ocasião de Copas do Mundo de futebol ou Jogos Olímpicos), ou de que apenas modalidades de grande popularidade, como o futebol ou o vôlei, dispõem de acesso a recursos e financiamento, acabou por minar uma noção mais completa do conceito de esporte – instrumento de educação, formação e lazer. Além disso tudo, a prática desportiva também é um direito social, garantido pela Constituição, segundo a qual, o estímulo a essas atividades, formais ou não, é uma obrigação do Estado. Apesar da clareza da lei, pouco tem sido feito pelo Estado para colocá-la em prática, no que se refere à prática desportiva amadora, educacional ou mesmo em categorias de base, nas diversas modalidades. O final do ano de 2006, contudo, trouxe consigo uma luz no fim do túnel, com a promulgação da lei nº 11.438, de 29 de dezembro de 2006, a partir da qual se prevêem incentivos fiscais para o fomento da atividade esportiva, até o ano de 2015. Num país onde o investimento público nesse setor é bastante limitado, a iniciativa merece aplausos. De acordo com a lei, os recursos canalizados para o segmento esportivo
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poderão ser destinados para projetos de desporto educacional, de participação ou de rendimento, além de projetos que promovam a inclusão social por meio do esporte em regiões de vulnerabilidade social. À semelhança de outros sistemas de incentivo fiscal existentes (em especial, o incentivo à cultura trazido pela Lei Rouanet), a utilização dos incentivos fiscais assenta-se em tripé composto por proponentes (sempre pessoas jurídicas sem fins lucrativos, responsáveis pela execução dos projetos), doadores/patrocinadores (contribuintes do imposto de renda, responsáveis pelo investimento) e Estado (que estabelece a renúncia fiscal). A Concessão dos incentivos dá-se da seguinte maneira: os projetos devem ser apresentados ao Ministério dos Esportes e serão analisados por uma comissão técnica composta por integrantes do próprio Ministério e por membros indicados pelo Conselho Nacional de Esporte (CNE). Uma vez aprovado, o projeto estará apto a receber recursos, que serão captados junto a empresas – contribuintes do imposto de renda apurado pelo regime de lucro real – ou pessoas físicas. Feito o investimento no esporte, as empresas poderão deduzir até o limite de 1% do imposto devido em cada período de apuração. No caso das pessoas físicas, esse limite sobe para 6%.
A medida abre oportunidades interessantes para empresas que queiram reverter parte de seu imposto devido em investimento no esporte. Elas poderão aportar recursos aos projetos por meio de duas modalidades, patrocínio ou doação. O patrocínio representa a transferência de recursos com finalidade publicitária ou promocional, e a doação não permite a utilização dos recursos para finalidade publicitária. Em ambos os casos, o benefício fiscal para as empresas é de 100% dos valores investidos, o que torna o mecanismo especialmente atrativo. Para que a lei passe a vigorar na prática, é necessário que seja regulamentada e que o Ministério dos Esportes esteja preparado para receber e analisar os projetos. Uma vez que esteja vigente, as estimativas são de que cerca de R$ 300 milhões passem a ser injetados no setor esportivo.
José Maurício Fittipaldi é sócio da Cesnik, Quintino e Salinas Advogados, com atuação nas áreas de investimento social privado e incentivos fiscais, consultor de empresas e entidades do terceiro setor.
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Jogo do mês, por Ubiratan Leal
Maiores do que a crise
Mesmo depois do empate, a partida pendia para o Barça, que seguia pressionando. Casillas fez uma série de boas defesas, para impedir a virada no placar. Um detalhe, porém, foi suficiente para mudar a relação de forças do jogo. No último minuto do primeiro tempo, Oleguer fez uma falta violenta e desnecessária no meio-campo e recebeu seu segundo cartão amarelo. O Real Madrid soube se aproveitar desse novo cenário. Frank Rijkaard tirou Eto’o para recompor a defesa com Sylvinho, e o Barça perdeu força ofensiva e poder de marcação no meio-campo. Comandados por Guti e Higuaín, os madridistas passaram a dominar as ações e fizeram o terceiro gol, com uma cabeçada de Sergio Ramos. O gol levou desespero total ao Barcelona. Gudjohnsen entrou, e o time abriu-se em busca do empate, mais com emoção do que com a razão. Nos acréscimos, quando a vitória madridista parecia inevitável, Messi recebeu de Ronaldinho, driblou dois defensores merengues e chutou cruzado para o empate. O placar de 3 a 3 refletiu o que foi um grande jogo: uma partida em que as duas equipes se seguraram na rivalidade para encontrar motivação e superar suas crises internas. No final, todos saíram de campo com sensação de vitória – os barcelonistas, por buscar um empate improvável no último minuto, e o Real Madrid, por perceber que podia jogar em alto nível mesmo sem os “galácticos”.
BARCELONA 3 REAL MADRID 3 Data: 10/março/2007 Local: Camp Nou (Barcelona) Público: 97.823 pagantes Árbitro: Alberto Undiano Mallenco Gols: Van Nistelrooy (5min, 13min), Messi (10min, 28min, 91min) e Sergio Ramos (72min) Cartões amarelos: Oleguer, Rafa Márquez, Xavi e Deco (Barcelona); Sergio Ramos, Van Nistelrooy, Diarra, Míchel Salgado e Gago (Real Madrid) Cartão vermelho: Oleguer (Barcelona) BARCELONA Valdés; Puyol, Thuram e Rafa Márquez (Gudjohnsen); Oleguer, Xavi, Iniesta e Deco (Belletti); Messi, Ronaldinho e Eto’o (Sylvinho). Técnico: Frank Rijkaard
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A
s semanas que antecederam ao primeiro Barcelona x Real Madrid de 2007 não foram nada boas para as duas equipes. Os catalães tiveram de superar uma crise entre seu técnico e um de seus melhores jogadores e, para piorar, foram desclassificados pelo Liverpool, na Liga dos Campeões. Em Madri, a situação não era muito diferente, com estrelas em crise e queda para o Bayern de Munique, na competição continental. No entanto, assim que Undiano Mallenca apitou o início do jogo no Camp Nou, tudo isso ficou de lado. O começo da partida foi alucinante. Van Nistelrooy abriu o marcador, ao chutar de primeira após um rebote da defesa barcelonista; Messi empatou, depois de lançamento de Eto’o; e Van Nistelrooy, cobrando pênalti de Oleguer sobre Guti, recolocou o Real Madrid na frente. Tudo isso aconteceu em apenas 13 minutos, evidenciando o fato de que os dois times colocavam o coração e o orgulho acima dos problemas internos. Os Merengues estavam concentrados e determinados como há muito tempo não se via. No entanto, os Blaugranas tinham melhor arrumação tática e chegavam com facilidade ao gol de Casillas. Ronaldinho e Eto’o trocavam de posição constantemente e, com tabelinhas, confundiam a defesa madridista. Em uma dessas jogadas, o goleiro do Real espalmou, e Messi pegou a sobra, para empatar novamente o marcador.
Getty Images
Barcelona e Real Madrid deixam problemas de lado e fazem um jogaço
REAL MADRID Casillas; Míchel Salgado, Sergio Ramos, Helguera e Miguel Torres; Gago, Diarra, Guti (De la Red) e Raúl (Robinho); Higuaín e Van Nistelrooy. Técnico: Fabio Capello
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Cadeira cativa, por Luiz Sousa Paula de Carvalho Junior
Série C
também é Brasil
N
ão é muito comum um grande time do Brasil vir jogar no Maranhão. No ano passado, o Atlético-PR tinha tirado o Moto Clube da Copa do Brasil, e ficou nisso. Na final da Copa Cidade de São Luís, o torneio estadual mais importante, Imperatriz e Maranhão tinham se enfrentado, na frente de só 1,2 mil testemunhas. Então, para o torcedor fanático, o jeito é se virar com uma Série C mesmo. O Maranhão chegou à partida contra o Ananindeua invicto em casa, o que dava uma certa esperança para uma torcida que merece o título de fiel (se essa não for, quem é?). Público? Cerca de 1,6 mil pessoas, segundo a súmula. Na hora de entrar, como não tinha troco nas bilheterias para estudante (o ingresso custava R$ 2,50), era preciso esperar alguém com dinheiro contado para a fila andar. Uma certa preocupação estava no ar, porque o Macão estava sem o seu melhor jogador – Paulo César. Só que, mesmo sem ele, o time tinha arrancado um empate do Ananindeua pouco antes, e a equipe paraense estreava técnico. Era a chance de o mandante conseguir mais três pontinhos e seguir orgulhoso na Série C, especialmente vindo de um sonoro 4 a 0 no Tuna Luso, duas semanas antes. A partida era decisiva. Batendo o Ananindeua, chegaria a sete pontos no grupo 17 da Série C e ficaria com a faca e o queijo na mão para se classificar. Então a torcida estava entusiasmada, certo?
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Errado. O Estádio Nhozinho Santos estava parado. Todo mundo sentado. Não tinha torcida organizada, ninguém pulando, ninguém batucando. Nada. O jogo começou com o Ananindeua botando pressão na marcação, e o Macão já dava sinais do que viria. Os visitantes abriram o placar, e essa foi a maior emoção no primeiro tempo, só perdendo para a ida ao banheiro ou o churrasquinho no intervalo. Na segunda etapa, o Maranhão deu motivos para a torcida não ficar empolgada. O Ananindeua meteu mais três gols, diante de um Macão morto, parado – igual à torcida, que, a essa altura, já estava encontrando forças, mas só para começar a deixar do estádio. Nem com um 0 a 4 em casa alguém encontrou forças para um xingamento, um berrinho ou uma vaia. O estádio estava mais calmo do que cidade do interior em tarde quente. No fim, o Macão estava com a campanha condenada. O Ananindeua chegou a sete pontos e com mais dois jogos venceria o grupo, seguindo no campeonato. Nessa partida, os paraenses mostraram que tradição não ganha jogo e que patrocínio também conta (eles tinham três na camisa, contra um do Maranhão). Mas o que decide mesmo é vontade. Nesse quesito, no Ananindeua sobrou o que faltou – e muito - no Macão. Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!
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Nem só de Fla-Flu vive o futebol brasileiro. A paixão do torcedor também resiste a estádios vazios e decepções
MARANHÃO 0 ANANINDEUA 4 Competição: Campeonato Brasileiro - Série C Data: 27/agosto/2006 Local: Estádio Nhozinho Santos (São Luís-MA)
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E se..., por Ivan Zimmermann
E se o futebol fosse popular nos
Estados Unidos? e o futebol fosse popular nos Estados Unidos, as cervejarias e as fábricas que produzem as famosas batatas fritas não estariam tão ricas como são. O norte-americano está condicionado às paradas de “tempo” nos esportes tradicionais americanos, nos quais a corrida à geladeira é inevitável. Faz parte da cultura. É fácil entender por que o povo “yankee” é o mais fora de forma do planeta. Não seria. Para planejar o 11 de Setembro, Osama bin Laden não teria treinado seus rebeldes no Afeganistão, mas sim na Amazônia – só para proteger o futebol alegre do imperialismo norte-americano. Em conseqüência, a operação “Enduring Freedom”, usada para “libertar” o Afeganistão, teria acontecido no Brasil. Uma vez aqui,
S
A cada edição, um convidado imagina como seria o mundo do futebol, se alguma coisa fosse diferente. Você tem sugestões de temas para esta seção? Mande um e-mail para contato@trivela.com
George W. Bush decidiria investir no país e compraria o Corinthians. Mister Bush foi dono do time de beisebol Texas Rangers. Comprou por US$ 150 milhões e três anos depois vendeu pelo dobro. Para reforçar o time de Parque São Jorge, Bush contrataria dois torpedos para as alas e um míssil Exocet para o ataque. O Corinthians sairia do Parque São Jorge, rumo ao Morumbi. Te cuida, São Paulo... Paixão? Um momento. Nos EUA, a mentalidade é a do clube-empresa, nos quais os milionários divertem-se com a grana que têm. Eleição para presidente de clube? Jamais. Quem tem grana compra e pronto. O NY Yankees vale US$ 1 bilhão. Qual seria o preço do Timão? Para o futebol ser popular nos Estados Unidos, eles teriam de ter venci-
do várias Copas. A cada três edições, exigiriam que uma fosse lá. Não teriam a polêmica sobre a própria capacidade de organizar um evento desse porte, como acontece no Brasil. Mas o Brasil não é o País do Futebol? Pode ser a Terra do Futebol, mas, como diria o americano, também é a terra da “picaretation”. Calma, gente, é tudo ficção. Nossos dirigentes jamais repetirão as lambanças dos executivos do esporte americano. Erros como, por exemplo, colocar uma partida de beisebol às 22:00, no Yankee Stadium, para não atrapalhar a novela das oito, que também é da CBS, a detentora dos direitos de transmissão do jogo – e quem manda. “Picaretation”. Será que o futebol, o “soccer”, pode ser popular nos Estados Unidos, um dia? Não acredito que a nossa geração verá esse momento. Os norteamericanos só promovem aquilo que é bom para eles. E, para eles, colocar um jipe na lua vale muito mais do que ver 11 jogando bola da Terra. Ivan Zimmermann é narrador da Bandsports e morou nos Estados Unidos por 20 anos.
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Cultura, por Ubiratan Leal
Restaurante
Estádios do Brasil Você já pode achar que os estádios do país são muito diferentes entre si, mas ainda não se deu conta de quantas opções o torcedor tem para matar a fome
C
achorro-quente, sanduíche de pernil, espetinho, pipoca, amendoim, refrigerante, água, cerveja e sorvete de chocolate, coco ou limão. O torcedor acostumado a freqüentar estádios no Brasil sabe que dificilmente esses itens deixam de fazer parte do cardápio básico da culinária futebolística – seja em bares e lanchonetes dentro do estádio, seja nas barraquinhas do lado de fora. Vendo assim, rapidamente, o cardápio dos estádios de futebol parece padronizado e pobre, como o mais simples dos fast-food. Mas não é bem assim. Uma análise mais cuidadosa por todo o país revela que há várias particularidades regionais entre as opções do torcedor que quer matar a fome enquanto vê seu time jogar. O caso mais famoso, que já se tornou ícone “cult”, é o feijão tropeiro servido no Mineirão (na verdade, em quase
todos os estádios de Minas Gerais). Mas há exemplos muito mais obscuros. No Mato Grosso do Sul, dá para perceber a influência causada pela proximidade do Paraguai. No Rio Grande do Sul, o torcedor tem a sua disposição bebidas quentes para combater o rigoroso inverno. Em São Paulo, a influência dos imigrantes portugueses e italianos é forte. No Norte e no Nordeste, predominam pratos tradicionais de cada Estado e misturas com frutas típicas das regiões. Para mostrar como há diversidade nos bares e barraquinhas de estádios de todo o Brasil, a Trivela procurou as particularidades e comidas desconhecidas de todas as regiões do país. O resultado dessa pesquisa é o cardápio que você vê nas próximas páginas, com explicação de cada “prato” e dica de onde encontrar. Desejamos a você um ótimo jogo e bom apetite.
Agradecimentos: André Pase (Porto Alegre), André Vieira de Lima (Manaus), Henrique Arantes (Goiânia), Karlos Felipe (Recife), Marcos Xavier Vicente (Curitiba), Marcus Alves (Salvador), Paulo Torres (Belo Horizonte), Rafael Martins (Rio de Janeiro), Rauber Soares (Campo Grande), Sales Coimbra (Belém) e Waldinei Braga (Fortaleza)
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A Várzea
Tolete é 1000, 1º diabriu
A lorota do mês
“Dei um chapéu, escorreguei, meu pé levantou demais e acabei acertando ele” Amoroso, atacante corintiano, explica por que sua chuteira malévola resolveu se vingar do santista Adriano, no clássico pelo Campeonato Paulista.
A manchete do mês
A charge do mês
O quartinho das vassouras do Sambódromo, onde fica a redação d’A Várzea, acordou em festa neste 1º de abril. Tudo porque Tolete recebeu um telegrama com a mensagem: “Para-beins pelus miu!” Tolete é formado pela Unilodo, mas tem o faro apurado e vê de longe um bilhete de Denílson. Sabe também que o estagiário com potencial d’A Várzea não vai sair cumprimentando os outros à toa e, portanto, começou a fazer a festa, imediatamente ligando para o bar do Chico Lingüiça e encomendando ovo colorido e jurubeba para todo mundo na redação – isso mesmo, só ele. O desconfiado Chico, porém, quis saber antes o motivo da comemoração. “É pelos meus mil gols”, respondeu o intrépido repórter. Chico Lingüiça é merceeiro dos mais espertos e não ia cair fácil assim nessa – afinal, ele não é a imprensa do Brasil. Ocorre que o esperto botequeiro tem toda uma contagem dos gols de Tolete e, é claro, de todos os atletas do bairro. Somando as partidas de botão, pimbolim, totó, Winning Eleven e Fifa 98, Tolete não estava perto nem dos 300 gols. Mesmo somando as de Pelébol e Telejogo, não ia dar. Com os pontos dele no NBA 95 chegava perto, mas Chico não é que nem a impr... [já deu pra entender – o editor]. Mesmo decepcionado, o repórter teve de reconhecer: não era por isso que Denílson o cumprimentava. E já começava a achar que era mais um engano do estagiário, quando alguém sugeriu: “Não seria pela sua milésima reportagem?” Tolete até se animou, mas fez as contas e, mesmo somando o jornal mural do clube e o Relatório do Toalete, não dava 100. O intrépido jornalista já começava a perder as esperanças quando tudo se esclareceu na forma de um bilhete deixado no balcão do bar – por um emissário de Denílson, é claro – que dizia simplesmente: “Tolete sel trôcha é primeru diabriu!”
Em alta
Irlanda do Norte
Suécia, Espanha e Dinamarca festejaram ao pegar os norte-irlandeses na eliminatória da Euro. Só que, depois de seis jogos, os britânicos lideram a chave.
“Até Pai Nilson joga a toalha no Timão” (Globoesporte.com) Consultor espiritual da Fazendinha confessa em entrevista exclusivíssima: esse time não dá para a ajudar nem com reza braba.
Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto
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América-MG O Campeonato Mineiro não é exatamente a Premier League, e nem assim o Coelho conseguiu escapar de ser rebaixado antes mesmo do fim do torneio.
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É possível gravar das entradas de antena (RF), Áudio e Vídeo, e Vídeo Componente, com qualidade de até 480i. Para obter máxima qualidade de imagem sem distorção é necessário sinal digital de alta qualidade em formato widescreen e uso de conversor/decodificador de sinal. Imagens estáticas podem prejudicar a qualidade da tela. Proteja sua audição, ouça com consciência. Fotos Ilustrativas. SAC: 4004 5400 (capitais e regiões metropolitanas) e 0800 707 5454 (demais localidades).
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