Trivela 17 (jul/07)

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nº 17 | jul/07 | R$ 8,90

FLUMINENSE Renato Gaúcho: o bad boy vira comandante

GOLEIROS Bruno, Diego, Felipe... os craques agora vestem a “1”

nº 17 | jul/07 | R$ 8,90

E MAIS... • Final da Libertadores • Madri: a terra do Real • Entrevista: Careca • Bayern abre o cofre • Copa 2014

Maradona De Buenos Aires, a Trivela mostra com exclusividade que, apesar dos abusos, o craque ainda está em pé

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índice Entrevista: Careca conta como foi viver o auge do Napoli de Maradona Goleiros: Eles também viraram produto de exportação Maradona: A verdade sobre o estado de saúde do ex-craque

Carlos Eduardo Moura

Renato Gaúcho: De jogador polêmico a técnico respeitado 3x0

Jogo do mês Curtas Peneira Opinião Tática História Capitais do futebol Alemanha Itália Inglaterra Entrevista: João Pinto Negócios Cultura Cadeira cativa

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E se... A Várzea O Brasil precisa incrementar significativamente sua infraestrutura, mas, até agora, ainda há pouca gente se mexendo

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editorial Nem nossos goleiros ficam mais por aqui Infelizmente, não é novo o êxodo dos nossos melhores jogadores para ligas onde são mais bem pagos. Nem mesmo a ida de jovens talentos para países com ligas inexpressivas, como a Ucrânia, que já vem de alguns anos. Começamos a viver, de um tempo para cá, a situação curiosa onde o torcedor comemora quando seu time não tem estrelas, garantia de que o time não vai se desmontar no meio do ano. Bom, garantir, mesmo, não garante, né? O que é novo, porém, é que a última posição em que ainda conseguíamos segurar nossos craques agora também é fornecedora para os mercados endinheirados. Se hoje ainda temos um Rogério Ceni, um Marcos, em atividade no Brasil, o assédio a Bruno, do Flamengo, e a Diego, do Atlético, mostra que isso não deve durar muito. Cria-se um paradoxo: acabamos tendo de lamentar o fato de que, finalmente, temos bons goleiros. Pelo menos por enquanto, o destino dos arqueiros está nas melhores ligas, como Itália, Portugal e Holanda. Já descobriram que o bom e barato por aqui agora se estende às onze posições. Jogador bom ficando muito tempo no mesmo time é definitivamente coisa do passado.

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www.trivela.com Editor Caio Maia Reportagem Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Tomaz R. Alves Ubiratan Leal Colaboradores Antonio Vicente Serpa Dassler Marques Gustavo Hofman João Pequeno João Tiago Picoli Mauro Beting Mauro Cezar Pereira Sérgio Pires Agradecimentos Eduardo Neubern Foto da capa: Getty Images/AFP Destaque: Marcos Arcoverde/Fotocom.net Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold Diagramação e tratamento de imagem Bia Gomes

Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 3528-8610 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3528-8612 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Vanessa Marchetti vanessa@trivela.com (11) 3528-8612 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Oceano Gráfica e Editora Tiragem 30.000 exemplares

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3x0 Alejandro Pagni/AFP

Jogo do mês, por Ubiratan Leal al

dez A noite do

O Grêmio queria usar sua forte marcação para anular o Boca Juniors em La Bombonera e decidir a Libertadores em casa. Riquelme inviabilizou o plano De certo modo, até que os tricolores foram bem sucedidos, pelo menos na tentativa de anular o adversário. A partida desenrolou-se de modo arrastado, sem grandes oportunidades para os dois lados. É principalmente em momentos assim que o torcedor do Boca Juniors olha para seu número 10. Embora nem sempre isso signifique um alento, naquela noite de quarta-feira os Xeneizes viram, com a camisa que foi de Maradona, Juan Román Riquelme. Foi de seus pés que saiu o cruzamento do primeiro gol boquense – no qual, é verdade, Palermo estava claramente impedido quando tocou a bola para Palacio completar para o gol de Saja. A vantagem ainda era pequena, mas o jogo continuou nos pés do camisa 10. Ele passou a ditar o ritmo calmo e confiante imprimido pelo Boca Juniors. As oportunidades de gol não eram abundantes, mas o meio-campo do Grêmio era sufocado aos poucos, ainda mais depois do 12º minuto do segundo tempo, quando Sandro Goiano foi expulso por chutar o rosto de Banega. Aí, foi questão de tempo para Riquelme decidir a Libertadores. Aos 28 minutos, o meia chutou de longa distância, com força, no canto esquerdo de Saja. Indefensável. Aos 44 minutos, ele driblou três defensores brasileiros antes de finalizar. O goleiro gremista ainda defendeu, mas Palermo cruzou no rebote e, na confusão que se sucedeu na área, Patrício fez contra. Boca Juniors 3 a 0. A Libertadores estava definida.

BOCA JUNIORS 3 GRÊMIO 0 Data: 13/junho/2007 Local: Estádio La Bombonera (Buenos Aires) Público: 39.993 pagantes Árbitro: Jorge Larrionda (Uruguai) Gols: Palacio (18min), Riquelme (73min) e Patrício (contra, 89min) Cartões amarelos: Ibarra, Banega, Riquelme e Cardozo (Boca Juniors), Patrício e Sandro Goiano (Grêmio) Cartão vermelho: Sandro Goiano BOCA JUNIORS Caranta; Ibarra, Díaz, Morel Rodríguez e Clemente Rodríguez; Ledesma, Banega (Battaglia), Cardozo (Dátolo) e Riquelme; Palacio e Palermo. Técnico: Miguel Russo

ficha

V

ez ou outra, quando um jogador assume o número 10 do Boca Juniors, ele tem de receber a bênção de Diego Maradona. Nada oficial, apenas uma conversa “pro forma” para que “El Diez” dê o selo de aprovação a mais um herdeiro de sua camisa. Um pequeno sinal de como a devoção que o torcedor “xeneize” dedica a esse símbolo é rara. Por isso, não importa se o camisa 9 é oportunista ou o 1 é ágil. No Boca, o 10 é a referência, é sempre o sujeito que tem de pegar a bola e resolver as partidas importantes. Foi assim na final da Copa Libertadores 2007 contra o Grêmio – time cuja torcida inspira-se nas torcidas do país vizinho e se auto-intitula “castelhana”. A equipe limitada tecnicamente e que incorporou o espírito “argentino” para, na base da raça, chegar à decisão passando, sempre no sufoco, por São Paulo, Defensor Sporting e Santos. O Boca Juniors seria mais uma das tarefas inglórias que o Tricolor tinha pela frente. A parte mais difícil seria o jogo de ida, em La Bombonera. Para manter o placar apertado e ter possibilidade de definir o título no Olímpico, os gaúchos pretendiam amarrar a partida no meio-campo, com dois volantes (Gavilán e Sandro Goiano) marcando ferrenhamente para quebrar a criatividade boquense e tornar o ataque argentino estéril. Ofensivamente, a principal arma dos brasileiros eram os contra-ataques pela esquerda, com a combinação dos rápidos Lúcio e Carlos Eduardo.

GRÊMIO Saja; Patrício, William, Teco e Lúcio; Gavilán, Sandro Goiano, Tcheco (Douglas) e Diego Souza; Carlos Eduardo e Tuta (Lucas). Técnico: Mano Menezes

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Curtas SETE CLASSIFICADOS PARA PEQUIM

Getty Images/AFP

Já são sete as seleções classificadas para o torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de 2008. Além da anfitriã China, garantiram suas vagas Brasil e Argentina. As quatro vagas européias ficaram com Sérvia, Holanda, Bélgica e Itália. Apesar de não terem se classificado para as semifinais do Europeu sub-21, os italianos ficaram com a vaga que seria da Inglaterra, que na Olimpíada participa como Reino Unido, que não tem uma seleção unificada. Assim, a vaga foi decidida entre Itália e Portugal, terceiros colocados dos dois grupos. Os Azzurrini, nos pênaltis, levaram a melhor.

A CERVEJA TAMBÉM SALVA

NOVO RECORDE INTERNACIONAL A decisão por pênaltis entre Holanda e Inglaterra, pela semifinal do Europeu sub-21, foi de testar a paciência e o coração do torcedor. Foram nada menos que 32 cobranças, 16 de cada lado, para decretar a classificação holandesa com vitória por 13 a 12, após empate por 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação. O resultado superou o recorde anterior em competições internacionais, entre Costa do Marfim e Camarões. Confira as maiores séries já registradas, incluídas disputas nacionais: Argentinos Juniors 20x19 Racing Gençlerbirligi 17x16 Galatasaray KK Palace 17x16 Civics Tunbridge 16x15 Littlehampton Holanda 13x12 Inglaterra Camarões 11x12 Costa do Marfim

FURACÃO REBATIZADO? Circulou em junho a notícia de que o Atlético-PR estuda uma reformulação em algumas de suas principais características para diferenciar o clube. Para começar, a equipe passaria a se chamar apenas “Paranaense”. Além das cores vermelha e preta, a amarela também faria parte do uniforme. As modificações seriam colocadas em prática em agosto, quando o time iniciará sua participação na Copa Sul-Americana. Ao tomar conhecimento da história, o clube tratou de desmenti-la, qualificando-a de “boato”. No Paraná, porém, comenta-se que a direção do Furacão pensa há tempos na mudança de nome.

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Campeonato Argentino Copa da Turquia Copa da Namíbia Copa da Inglaterra Europeu sub-21 Copa Africana de Nações

UMA “FRAU” NO APITO A moda iniciada no Brasil pela árbitra Silvia Regina parece ter pegado também na Alemanha. A policial de Hannover Bibiana Steinhaus será a primeira mulher a apitar jogos profissionais no país. Steinhaus faz parte da lista de 22 árbitros que devem trabalhar na segunda divisão, na próxima temporada. Aos 28 anos, ela apita nas ligas amadoras desde 2001. Na temporada 2006/7, foi escalada para dez jogos da terceira divisão (Regionalliga), dois da quarta (Oberliga) e oito do Campeonato Alemão feminino.

Alex Grimm/Reuters

20/novembro/1988 28/novembro/1996 23/janeiro/2005 31/agosto/2005 20/junho/2007 4/fevereiro/2005

O Accrington Stanley, da quarta divisão da Inglaterra, encontrou uma maneira interessante para melhorar suas finanças. No final de junho, comprou o pub “The Crown” (a coroa), que fica ao lado do estádio Fraser Eagle. “Nossos torcedores agora sabem que ajudarão o clube a cada copo de cerveja que eles tomarem”, disse o presidente Rob Heys, à BBC. “Pelo menos, agora sabemos que teremos algo que nos dará dinheiro 52 semanas por ano e que o que entrar nos ajudará a montar um time mais competitivo”.

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Para fazer bonito na Série C do Brasileirão, o Fast, de Manaus, resolveu contratar um astro internacional. No caso, o meia-atacante colombiano Diego Serna, um dos primeiros estrangeiros a atuar na Major League Soccer. Serna é o maior artilheiro da história do extinto Miami Fusion e deixou os Estados Unidos com a fama de se jogar muito para tentar cavar faltas. O Fast está no grupo 1 da Série C, ao lado de JaruenseRO, Rio Branco-AC e São Raimundo-RR.

frases

REFORÇO ESTRANGEIRO NA TERCEIRONA

“O Boca Juniors é um Caxias com grife” Paulo Pelaipe, diretor de futebol do Grêmio, tenta diminuir o adversário logo depois de tomar 3 a 0 em La Bombonera, no primeiro jogo da final da Libertadores. Se pudesse prever o futuro, o cartola talvez pensasse duas vezes.

“O Campeonato Espanhol é um torneio bastante medíocre do ponto de vista técnico e, na mediocridade, quase sempre vence Capello” Arrigo Sacchi só não explicou por que na temporada passada, quando ele era diretor do clube, o Real Madrid não ganhou esse campeonato medíocre.

“O Santo André tem um projeto muito interessante. O clube tornou-se empresa e está se estruturando bastante” Aos 35 anos, Marcelinho continua sem vergonha de arrumar desculpas esfarrapadas para as coisas que faz - no caso, assinar com o Ramalhão.

especial Copa América “Roí o osso o ano todo e na hora do filé vou ficar fora? Quero ir sim à Copa América, mas também quero disputar a última rodada do Espanhol” Revoltado com a queda de braço entre Real Madrid e CBF, Robinho, desabafou ao Estadão sobre a falta de sensibilidade de Dunga.

Fatih Saribas/Reuters

“Não saio do Brasil por dinheiro. Estou em busca de tranqüilidade para a minha família”

DOS CAMPOS PARA AS PASSARELAS O atacante turco Ilhan Mansiz, que defendeu seu país na Copa do Mundo de 2002, decidiu encerrar sua carreira como jogador. Aos 31 anos, o atacante tomou a decisão por conta de seguidas lesões no joelho. Fora dos gramados, Mansiz seguirá por um caminho completamente diferente do da maioria dos atletas: ele pretende estudar moda. “Irei para Itália ou Alemanha, para aprender design de moda”, disse. O mais curioso é a área da moda esolhida por Mansiz: “Talvez trabalhe com lingerie”.

Zé Roberto justifica os motivos pelos quais deixou o Santos e se aposentou da Seleção. Dias antes, a imprensa alemã noticiavam que o Bayern só o contrataria se nunca mais vestisse a “amarelinha”. Uma semana depois, Zé foi apresentado na Alemanha.

“Os astros brasileiros se negam a jogar a Copa América, mas qualquer um de nós que for chamado virá correndo” Carlitos Tevez não perde a chance de cutucar astros da Seleção Brasileira que pediram dispensa a Dunga.

“A Copa América é mais difícil que Copa do Mundo, porque tem essa rivalidade sul-americana” Então tá, Dunga.

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Candidata à lanterna na Copa Ouro, Guadalupe tornou-se a sensação do torneio ao ir mais longe do que seleções de maior tradição na Concacaf, como Costa Rica e Trinidad e Tobago, que estiveram no último Mundial. O território francês, cuja equipe nem é filiada à Fifa, deu trabalho. Comandada por Jocelyn Angloma, jogador de 41 anos que já defendeu a França, venceu Canadá e Honduras e só caiu para o México, por 1 a 0, na semifinal.

FESTAS RECHEADAS DE CRAQUES Duas festividades reuniram grandes ídolos do futebol, em junho. Em Moscou, Rinat Dasaev, ex-goleiro da seleção da União Soviética – e um dos melhores do mundo nos anos 80 –, recebeu Abedi Pelé, George Weah, Toni Polster, Andoni Zubizarreta, Júnior e Éder para comemorar seus 50 anos. Em Lyon, Sonny Anderson recebeu Figo, Raí, Zidane, Thuram, Desailly e até Chico Buarque para sua partida de despedida do futebol. Chico, aliás, jogou ao lado de Zidane. Na Rússia, o placar terminou empatado por 5 a 5. Na França, o anfitrião marcou três gols para o “Lyon 2002” e venceu os “Amigos do Sonny” por 5 a 3.

DUPLA VITÓRIA Mais uma alegria para o presidente do Boca Juniors, Mauricio Macri. Dias depois de ver o time conquistar a Libertadores, ele foi eleito prefeito de Buenos Aires. Macri já havia sido candidato em 2003, mas perdeu a eleição para Aníbal Ibarra. Desta vez, com cerca de 61% dos votos, derrotou Daniel Filmus (apoiado pelo presidente Nestor Kirchner) no segundo turno. Considerado um político de centro-direita, o presidente “xeneize” é hoje um dos principais nomes de oposição a Kirchner e já é visto como presidenciável para 2011.

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10 técnicos sem o reconhecimento devido

Hans Deryk/Reuters

SURPRESA DO CARIBE

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Serse Cosmi (Brescia)

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Gustavo Alfaro (Arsenal de Sarandí)

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David Moyes (Everton)

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Américo Gallego (Tigres)

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Vágner Mancini (Al Nassr)

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Walter Mazzarri (Sampdoria)

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Élie Baup (Toulouse)

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Thomas Schaaf (Werder Bremen)

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Ramón Díaz (San Lorenzo)

Além de ser uma figuraça, que dirige o time de boné e terno, Cosmi tem uma carreira de resultados consistentes. Manteve o Perugia por quatro anos na Série A, de 2000 a 2004, com direito a uma classificação para Copa Uefa nesse período. Foi bem no Genoa, colocou a Udinese na fase de grupos da Liga dos Campeões e comandou o ressurgimento do Brescia na reta final da Série B, na última temporada.

Subiu para a primeira divisão argentina com o Olimpo de Bahía Blanca e com o Quilmes. Não satisfeito, levou este último à Libertadores – era o técnico do time no jogo do incidente entre Grafite e Desábato – e acaba de fazer o mesmo com o Arsenal de Sarandí.

Depois de deixar o Preston à beira do acesso, foi contratado pelo Everton, em 2002. Os Toffees, até então acostumados à metade inferior da tabela, passaram a fazer boas campanhas. Chegaram à Liga dos Campeões, em 2005, e vão para a Copa Uefa em 2007/8.

“El Tolo” de bobo não tem nada. Antes do Tigres, dirigiu quatro times na carreira – River Plate, Independiente, Newell’s Old Boys e Toluca – e foi campeão nacional em todos.

Logo em seu primeiro trabalho como treinador, Mancini manteve-se por três anos à frente do Paulista – uma eternidade, para os padrões brasileiros. Com o time de Jundiaí, foi campeão da Copa do Brasil, em 2005, e disputou a Libertadores no ano seguinte. Contratado para livrar o Al Nassr, dos Emirados Árabes, do rebaixamento, cumpriu o objetivo e ganhou mais dois anos de contrato.

Subiu para a Série A com o Livorno e nos últimos três anos manteve a Reggina na elite. O feito mais impressionante foi alcançado na temporada 2006/7, quando o time jogou com uma penalização de 11 pontos e ainda se salvou. Vai comandar a Sampdoria na próxima campanha.

Você já imaginou o Toulouse na Liga dos Campeões? Baup conseguiu tornar isso realidade. Antes, conquistou a Ligue 1 e dois títulos da Copa da Liga Francesa, com o Bordeaux.

Homem de um time só, tanto como jogador quanto como técnico, Schaaf classificou o Werder Bremen para a Liga dos Campeões nas últimas quatro temporadas. Em 2004, conquistou a dobradinha Bundesliga-Copa da Alemanha.

Depois de conquistar cinco títulos nacionais, uma Libertadores e uma Supercopa com o River Plate, o ex-jogador ganhou o Torneio Clausura pelo San Lorenzo, logo em sua primeira competição no cargo.

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Luís Oliveira Gonçalves (Angola)

O técnico que levou Angola à Copa do Mundo de 2006 já havia conquistado o título africano sub-20, em 2001, com a seleção júnior angolana.

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Lua Branca

A Lei Cidade Limpa já está em vigor. Informe-se, regularize seu estabelecimento e fique dentro da lei. São Paulo agradece. www.prefeitura.sp.gov.br

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Peneira

Ben Sahar:

ditando as regras Nome: Ben Sahar Nascimento: 10/agosto/1989, em Holon (Israel) Altura: 1,82m Peso: 75kg Carreira: Chelsea

de para avançar. No Chelsea, ainda não fez nenhum gol, mas já participou de cinco partidas, sempre entrando como substituto. Sua importância para o esporte é tão grande que o parlamento do país vem sendo pressionado a alterar a lei que obriga todo cidadão a cumprir o serviço militar – uma pausa seria prejudicial a sua carreira. “Nem penso nessa hipótese. Todos têm de servir seu país”, diz Sahar. Mas, em Israel, com certeza, não falta gente pensando nisso. [CRG]

(desde 2006)

Getty Images/AFP

A

s conexões israelenses do Chelsea podem ter ajudado Israel a projetar internacionalmente seu primeiro craque futebolístico. Com apenas 16 anos, o atacante Ben Sahar foi anexado pelo poderoso clube inglês, depois de um jogo da seleção israelense sub-16 contra a Irlanda. Roman Abramovich, aconselhado pelo agente de jogadores Pini Zahavi, não perdeu tempo e levou-o para Stamford Bridge. Mesmo que ainda não tenha se transformado em um astro na capital britânica, Sahar já se consagrou com a camisa da seleção principal de Israel. Entrando a 20 minutos do fim, ele marcou duas vezes contra a Estônia pelas eliminatórias para a Eurocopa – só não fez o terceiro graças a uma bela defesa do estoniano Mart Poom. Ágil e ainda ganhando força física, Sahar é um atacante que faz qualquer função na frente e pode até mesmo partir do meio-campo, se tiver liberda-

Dzuba:

pensando alto

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FP

Nome: Artem Dzuba Nascimento: 22/agosto/1988, em Moscou (Rússia) Altura: 1,94m Peso: 88kg Carreira: Spartak Moscou (desde 2006)

lesnikova/A

depois de ter atuado também pela sub-17, veio como conseqüência. Pelas eliminatórias do Europeu sub-19, Artem Dzuba foi fundamental na heróica classificação russa para as finais, que ocorrem em julho, na Áustria. Foram seis jogos e três gols, que ajudaram a equipe a eliminar Holanda, Inglaterra e República Tcheca na segunda fase e terminar na primeira colocação do grupo. Suas atuações renderam inúmeros elogios da imprensa de toda a Europa. Formado nas divisões de base do Spartak, Dzuba é muito forte fisicamente e procura o contato com os zagueiros. Nem por isso deixa de trabalhar bem a bola e fazer assistências quando é possível. Dadas suas ambições e qualidades, um papel de destaque na seleção russa parece inevitável. [GH]

Natalia Ko

L

ogo em fevereiro, quando os times russos começaram a se preparar para a temporada – o futebol no país segue o calendário solar, como o Brasil –, um jovem centroavante chamou a atenção de todos. O Spartak Moscou tinha problemas no ataque, já que seus principais jogadores de frente estavam machucados. Com isso, Artem Dzuba, de 19 anos, foi chamado do time B para ajudar a compor o elenco. Rapidamente se transformou no “próximo craque” russo. Dzuba, ainda nos primeiros amistosos do ano, deixou sua marca. Pela Copa da Rússia, marcou seu primeiro gol como profissional, na vitória por 3 a 1 contra o Sibir, ainda em fevereiro. Pouco tempo depois, fez outro, num jogo decisivo da mesma competição, contra o Zenit, em São Petersburgo. Pelo Campeonato Russo, também não demorou a marcar e salvou o Spartak da derrota num jogo contra o Tom Tomsk, em abril. A vaga na seleção sub-19, Julho de 2007

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Maracanazo

Chega! É Seleção demais

hat trick

Mauro Cezar Pereira

A SELEÇÃO DA CBF JOGA DEMAIS. Sim, joga demais. Para evitar uma interpretação equivocada, expliquemos de forma mais clara: ela atua com freqüência exagerada. São muitas “datas-Fifa”, competições em excesso, intermináveis jogos de ida e volta nas eliminatórias para a Copa do Mundo e por aí vai. Os que pagam fortunas pelos craques têm que liberar as estrelas gratuitamente para que a Confederação Brasileira de Futebol os leve no “Brasil World Tour”, em troca de milhões de dólares. Nem se fossem dirigidos por homens magnânimos, autênticos santos dotados de generosidade incomum, os clubes europeus aceitariam tal relação parasitária. A briga entre confederações como a brasileira e times ricos é inevitável, e me parece óbvio que a razão está do lado de quem desembolsa milhões pelos atletas. Motivos não faltam. De uma década para cá, a Seleção da CBF joga mais de uma vez por mês, chegando à média de dois compromissos a cada 30 dias, em 1997. Só neste ano, antes da Copa América, foram cinco amistosos, em pouco mais de cinco meses, além dos dias com os jogadores à disposição da CBF, treinando na Granja Comary. Em épocas diferentes, como nas décadas de 50 e 60, o time do Brasil chegou a ser convocado para fazer míseros quatro jogos em um ano inteiro, como em 1955. Mas chegaria a incríveis 25, no seguinte. Em 1960, foram 19 e apenas cinco, uma temporada depois. Já em 1966, quando houve a Copa na Inglaterra, a seleção atuou 22 vezes, dose que foi repetida dois anos mais tarde. No caminho, meras quatro partidas, em 1967. Era outro cenário, praticamente todos os jogadores eram de clubes daqui, o calendário não tinha o Campeonato Brasileiro, e a variação absurda de um ano para o outro refletia, muitas vezes, a realização, ou não, de torneios sul-americanos, excursões ou Mundiais. Hoje, os compromissos são fechados independentemente do calendário internacional prever competições oficiais ou não. Se depois da derrota para o Uruguai, em 1950, o torce-

Em meio à briga por Robinho entre CBF e Real Madrid, a entidade alegou que a temporada espanhola foi além do que deveria. De fato. Mas e o Campeonato Brasileiro, que seguiu em frente mesmo com a seleção na Copa América e times sendo desfalcados por ela?

dor ficou impressionantes 630 dias sem ver a Seleção em campo — o time perdeu em 16 de julho e só reapareceu em 6 de abril de 1952 —, em 1982 a Seleção também sumiu por algum tempo (297 dias), após sair da Copa com a derrota para a Itália. Na seguinte, em 1986, quando os brasileiros perderam nos pênaltis para os franceses, o sumiço após a desclassificação foi de aproximadamente 11 meses (333 dias). No ano passado, 45 dias depois da derrota para a França, o time da CBF estava novamente em campo para um insosso amistoso na Noruega. É que a entidade não desperdiça mais data-Fifa alguma. Se é possível reunir os atletas contratados a peso de ouro pelos clubes para arrecadar mais, então eles vão a campo. Isso explica a apressada nomeação do inexperiente Dunga para o cargo de técnico. Conhecimento e vivência na função nada importavam após a Copa de 2006. O negócio era colocar o time em campo, afinal, se há demanda, se alguém se dispõe a pagar caro para ver o time de amarelo, que sejam atendidos. O ex-capitão “canarinho” tem bom entendimento com dirigentes da CBF desde os tempos de atleta. Comprou de imediato o novo discurso encomendado para a Seleção, colocou como “exemplos” os inicialmente barrados Kaká e Ronaldinho Gaúcho e assumiu postura de porta-voz da entidade em meio ao imbróglio Real Madrid-RobinhoCBF, antes da Copa América. Mas o que realmente importa para seus comandantes é que, com suas convocações, ele manteve a Seleção jogando e faturando. Seleção Brasileira é algo cada vez mais chato e desinteressante.

Não fosse o inchaço (político) dos Estaduais, seria possível parar o Brasileiro para que a Copa América fosse disputada. Assim, São Paulo e Santos, por exemplo, não atuariam várias rodadas sem os titulares que Dunga levou para a Venezuela. Aí, contradição é pouco...

Sub-20, sub-17, sub-isso, sub-aquilo. É seleção demais. O time dos que têm menos de 20 anos levou jogadores como Alexandre Pato, Renato Augusto e William, entre outros. E o Brasileirão, que mexe com a emoção, atrai o interesse do torcedor, ficou em segundo plano.

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Enchendo o Pé

Para não perder a chance NÃO HÁ NINGUÉM QUE POSSA OBJETAR ao mereci-

Cassiano Ricardo Gobbet

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mento da conquista da Copa do Brasil pelo Fluminense. Bom, talvez um botafoguense mais exaltado possa espernear que teria ido à final se não fosse o erro de Ana Paula de Oliveira em Botafogo x Figueirense. Mas aí caberia lembrar a pataquada de Carlos Eugênio Símon, que tirou o Atlético-MG em favor do Botafogo. Daí em diante, bater boca é só conversa de bar. Se na festa tricolor houver espaço para um pouco de razão, no entanto, valeria a pena começar a pensar no que o clube quer fazer com a valiosa vaga na Copa Libertadores de 2008, garantida junto com a suada conquista. O alerta vem do histórico dos brasileiros que foram para a competição sul-americana saídos da Copa do Brasil. Se der uma olhada nas campanhas dos vencedores da copa brasileira depois de 2001 (ano no qual os participantes da Libertadores saíram da Copa do Brasil), a diretoria do Fluminense tem razão para ficar com a pulga atrás da orelha, pois ninguém deixou rastro. Em 2003, o Corinthians caiu nas oitavas-de-final, assim como o Cruzeiro no ano seguinte. Em 2005 e 2006, Paulista e Santo André foram ainda pior e nem passaram da primeira fase. Poucas semanas atrás, o Flamengo naufragou diante de um Defensor que não era exatamente o Manchester United. Há uma série de razões para explicar a seqüência de más campanhas. A primeira é a distância entre a final da Copa do Brasil e o início da Libertadores. O embalo que pode levar um time a uma conquista de copa dificilmente dura seis meses e, quando o clube enfrenta seus primeiros rivais sul-americanos, já tem um perfil bem diferente do que levantou a taça. Outro inegável obstáculo é o menor nível técnico do torneio doméstico brasileiro. Sem as cinco melhores equipes

do país, a Copa do Brasil pode ter mantido a emoção, mas perdeu em qualidade. O elogio fácil da imprensa ao time que levantou o troféu em junho freqüentemente induz a uma avaliação errada da real capacidade da equipe. Em duas edições passadas, ainda houve um problema extra: com dimensões bem menores em comparação a Corinthians, Cruzeiro ou Flamengo, Paulista e Santo André dificilmente poderiam fazer projetos ambiciosos para a Libertadores. A determinação que o Fluminense teve para chegar a sua conquista recente mais importante não bastará para a Libertadores. A motivação de Renato Gaúcho e sua capacidade de domar jogadores menos disciplinados não são suficientes para garantir sucesso num torneio longo e difícil. Para quebrar a escrita de que a Copa do Brasil manda à Libertadores um time mais fraco, o Flu precisa lembrar de como é grande. Com uma torcida grande, apelo publicitário e boas divisões de base, o clube pode usar o Campeonato Brasileiro para lapidar um time à altura do que espera o torcedor. O inimigo mais perigoso que Renato Gaúcho e o Fluminense enfrentarão daqui até o começo da próxima temporada sul-americana é a avaliação despropositada de seus próprios meios. Ou seja, acreditar que tem um time melhor do que tem – algo que, na Libertadores recém-encerrada, derrubou vários brasileiros. Vencer um torneio no formato de mata-mata não indica necessariamente que se tem o melhor time. Sorte e determinação podem ter um papel muito grande. A conquista do Flu é a melhor chance que o time tem para abrir uma fase de conquistas. Mas, para aproveitar a oportunidade, terá de fugir da babação de ovo e esquecer a Copa do Brasil. A Libertadores do Fluminense já começou.

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Ponto de Bola

Mauro Beting

SE O BRASIL TIVESSE MAIS DINHEIRO em caixa, se europeus e asiáticos não tivessem muito mais que nós, se o mercado europeu fosse fechado ou restrito como antigamente... Imagine o que seria o BR-07 virtual. Para facilitar o exercício, estrangeiros não contam, e os jogadores que estão lá fora disputariam o Brasileirão (im)possível pelo último clube em que atuaram no país. Sem estrangeiros em campo. O São Paulo teria Rogério Ceni; Cicinho, Edmílson, Rodrigo e Serginho; Josué e Mineiro; Júlio Baptista e Kaká; Dagoberto e Ricardo Oliveira. O Inter com Renan; Lúcio, Bolívar e Fabiano Eller; Tinga (improvisado como ala), Fábio Rochemback e Alex; Fernandão e Daniel Carvalho; Rafael Sobis e Pato. Um time ultraofensivo. Como o Cruzeiro de Gomes; Maicon, Luisão, Cris e Maxwell; Fábio Santos e Ricardinho; Alex; Fred, Ronaldo e Rivaldo. Ou o Santos de Fábio Costa; Paulo César, Alcides Eduardo, Alex e Kléber; Fabinho e Renato; Robinho, Diego e Zé Roberto; Deivid. O Grêmio de Cássio; Patrício, Adriano, Polga e Gilberto; Emerson e Lucas; Anderson, Ronaldinho e Carlos Eduardo; Tuta. O Botafogo com Júlio César; Renato Silva, Juninho e Luciano Almeida; César Prates, Túlio e Leandro Guerreiro; Lúcio Flávio; Zé Roberto, Dodô e Jorge Henrique. O Flamengo com Júlio César; Leo Moura, André Bahia, Juan e Renato; Marcos Assunção; Ibson e Jônatas; Renato Augusto; Adriano e Sávio. O Palmeiras de Marcos; Cafu, David, Roque Júnior e Roberto Carlos; Correa e Martinez; Taddei, Edmundo e Michael; Vágner Love. O Corinthians jogaria com Dida; Pedro, Fábio Luciano, Anderson e Sylvinho; Marcelo Mattos e Edu; Deco e Ricardinho; Liedson e Nilmar. O Vasco com Helton; Thiago Maciel, Henrique, Júlio Santos e Guilherme; Andrade; Juninho Pernambucano, Abedi e Morais; Leandro Amaral e Romário. O Fluminense com Fernando Henrique; Carlinhos, Thiago Silva, Luís Alberto e Marcelo; Fabinho; Arouca e Cícero; Felipe; Magno Alves e Soares. O Atlético-MG de Diego; Coelho, Nem, Caçapa e Dedê; Gilberto Silva e Rafael Miranda; Lincoln e Mancini; Afonso Alves e Marques. O Coritiba de Fernando; Rafinha, Nivaldo, Henrique e Adriano Correa; Roberto Brum e Caíco; Pedro Ken e Marlos; Anderson Gomes e Keirrison. O Atlético-PR com Guilherme; Jancarlos, Danilo, Paulo André e Nei; Erandir, Kleberson, Jadson e Fernandinho; Washington e Kleber. Resumo da ópera: temos talentos. Para dar e vender.

amarcord

Brasileirão (im)possível

Até 1980, a Itália não podia comprar estrangeiros. Não havia Comunidade Européia (1992), nem a Lei Bosman (1995). Não havia liga profissional no Japão (1993). Craques como Zico jogavam no Flamengo por 12 anos. Falcão foi do Inter por oito anos, até 1980. Hoje, não durariam seis partidas nos clubes brasileiros. Eram outros tempos e times. Vejamos o caso Figueroa, por exemplo. O zagueiro chileno foi um dos 100 maiores jogadores de todos os tempos na famosa lista de Pelé e da Fifa. Atuava pelo Peñarol, em 1971. Don Elias recebeu uma proposta do Real Madrid e uma do Internacional. Acredite: o dinheiro era praticamente o mesmo naquela época! Inveje: Figueroa preferiu Porto Alegre a Madri. Explica Figueroa: “Optei pelo Brasil por uma razão: queria jogar contra o Pelé, o Tostão, o Rivellino, o Gérson, o Ademir da Guia e o (uruguaio) Pedro Rocha. Queria atuar contra os melhores jogadores do mundo, no país tricampeão mundial no México, em 1970. Não precisei pensar muito: os melhores do planeta eram brasileiros. E jogavam no Brasil. Por isso vim para cá”.

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Tática, por Ubiratan Leal

Ciranda alvinegra Movimentação intensa dos jogadores é a arma do Botafogo, mas também abre espaços para os adversários

O

Botafogo foi a grata surpresa das primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro. Superficialmente falando, o motivo foi o futebol ofensivo e os resultados que deram a liderança ao time de General Severiano. Mas, analisando com mais profundidade, o que salta positivamente aos olhos é ver uma equipe brasileira com uma proposta tática nova. Méritos para o técnico Cuca, que soube fazer um trabalho de longo prazo para criar um time com personalidade coletiva. Limitando a análise tática a números, seria possível dizer que o Botafogo joga em um 3-4-3. O meio-campo tem formação em losango, com um volante, dois alas e um armador, e o ataque conta com dois jogadores abertos, quase como os antigos pontas (figura 1). Por si só, esse sistema já é raro em um futebol brasileiro dominado por 4-4-2 (com dois volantes e dois homens de armação no meio-campo) ou 3-5-2. No entanto, esses números são secundários diante da dinâmica da equipe quando a bola começa a rolar. A troca de posições é constante e permite que o time envolva as defesas adversárias. A figura-chave é Zé Roberto. Meia de origem, o camisa 10 deixa a ponta-direita e retorna para se juntar a Lúcio Flávio na armação. A partir daí, Zé Roberto pode avançar tabelando com Dodô pela direita e até trocando de posição com a atacante, fechando pelo meio. Dodô também faz essa troca de posição com Jorge Henrique, que é o ponta-esquerda, em teoria, mas se infiltra pelo meio e volta para ajudar a marcação. Com esse trio bem entrosado, a troca de passes é bastante veloz, e os deslocamentos funcionam de modo orgânico. Um pouco mais atrás, Lúcio Flávio trata de cadenciar o jogo, quando necessário. Além do quarteto, o ataque botafoguense ainda conta com apoio pelas laterais. Joílson pode avançar pela direita, e o zagueiro Luciano Almeida faz às vezes de lateral ofensivo. Neste segundo caso, Joílson recua para recompor o trio defensivo e não deixar a retaguarda desguarnecida (figura 2). Chegar a esse sistema de jogo foi uma conseqüência natural do que ocorrera com o Botafogo em 2006. Sem um armador

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1. Formação básica do Botafogo

A A

A

Dodô

Jorge Henrique

Zé Roberto

M Lúcio Flávio

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V

Joílson

V

Túlio

Leandro Guerreiro

Z Luciano Almeida

Z Z

Juninho

Alex

G Júlio César

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consistente (Lúcio Flávio não vivia boa fase e foi reserva na maior parte da temporada), Zé Roberto muitas vezes tinha de ser o responsável por criar as jogadas, levando a bola para Lima – Dodô saiu no meio do Brasileirão passado – e Reinaldo ou Wando (figura 3). Mesmo assim, Cuca chegou a experimentar formações com três dianteiros, algumas vezes com Zé Roberto avançando. Claro, nem tudo é perfeito. O técnico botafoguense ainda não descobriu como tornar o Alvinegro menos vulnerável a contraataques. Como vários jogadores trocam de posição durante as ações ofensivas, o time muitas vezes ainda está se reposicionando quando o ataque adversário chega à área alvinegra. Para piorar, o goleiro Júlio César é dado a precipitações, e o sistema defensivo como um todo torna-se inseguro. Sinais disso são os placares insólitos como 6 a 2 (Nova Iguaçu), 4 a 4 (Vasco) e 3 a 3 (Flamengo e Coritiba) que o clube protagonizou neste ano. Mesmo com seus problemas, esse sistema de jogo conseguiu tornar o Botafogo um time diferente no cenário nacional. É o resultado de um trabalho ousado e paciente, que compensou o orçamento limitado para contratações e a categoria de base pouco produtiva do clube carioca para torná-lo competitivo – pelo menos enquanto os jogadores mais importantes e a comissão técnica continuarem em General Severiano. O êxodo é uma fragilidade de qualquer clube brasileiro, e não há esquema tático para fugir dele.

3. O Alvinegro em 2006

A

A

A

A A

Dodô

Jorge Henrique

Reinaldo

Lima

(Wando)

(Dodô)

Zé Roberto

M Zé Roberto

M Lúcio Flávio

V

AE AE

V

V

Túlio

Leandro Guerreiro

Luciano Almeida

Z

Alex

Juninho

Joílson

Júnior César

V LD

Z

AD

Diguinho

Joílson

Z Asprilla

Claiton

Z Juninho

Z Scheidt

G

G

Júlio César

Lopes (Max)

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G: goleiro / LD: lateral-direito / Z: zagueiro / V: volante / AE: ala-esquerdo / AD: ala-direito / M: meia / A: atacante

Criatividade tática fez do Botafogo a grata surpresa deste início de Brasileirão

2. O time em movimento

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Stringer/Getty Images

Entrevista, por Gustavo Hofman

Careca (dir.), em 1990, ano em que foi campe達o italiano pelo Napoli

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Herói em qualquer lugar Careca atualmente divide seu tempo entre a Itália e o Brasil. Tornou-se empresário de jogadores, pretende virar comentarista num futuro próximo e fala à Trivela sobre Maradona, São Paulo, Seleção e até sobre arbitragens suspeitas na Itália

A

os 46 anos, Antonio de Oliveira Filho ainda está em melhor forma do que muitos jogadores que atuam no Campeonato Brasileiro. Dono de uma carreira invejável, Careca ainda é ídolo em Napoli, onde fez história ao lado de Diego Armando Maradona. Eloqüente, argumenta com facilidade. Durante a entrevista que o ex-jogador do São Paulo, Napoli e Seleção Brasileira concedeu à Trivela, seu telefone celular tocou várias vezes, para atender ligações de pessoas querendo indicações de jogadores. Os italianos ligam sempre: Milan, Roma, Juventus... Careca é referência para muitos dirigentes, mas é do Napoli que sente saudades. “Os momentos que vivi no Napoli, de 1987 a 1993, não têm igual. Chegava num lugar, tinha que chamar a polícia para fazer um cordão de isolamento e poder entrar no carro”. Centroavante matador, de muita habilidade, Careca foi artilheiro por onde passou. Na Seleção Brasileira, marcou 29 gols em 60 jogos e participou das Copas de 1986 e 1990, mas uma contusão o tirou de 1982, quando ele avalia que o futuro daquela equipe poderia ter sido outro, com ele em campo. No São Paulo deixou seu nome gravado na história, no Japão chegou a lavar a própria roupa, mesmo sendo um jogador experiente. Ao longo dos quase 20 anos de carreira, Careca afirma não guardar mágoas de ninguém e ter ganho muitos amigos. Mesmo assim, o ex-jogador envolveu-se em algumas polêmicas, como na sua decisão de se aposentar da Seleção. Confira nas páginas a seguir entrevista exclusiva do craque à Trivela.

Você apareceu para o mundo do futebol no Guarani campeão brasileiro de 1978, o primeiro (e até hoje único) time do interior a ganhar o título. Como foi aquela conquista? Cheguei em Campinas no dia 6 de janeiro de 1976. Quando cheguei era meia, ainda não tinha sido deslocado para o ataque. Dormia debaixo das arquibancadas do Brinco de Ouro, sentia saudades da minha família, que estava em Araraquara. Quando fui aprovado, assinei meu primeiro contrato profissional, tinha uns 500 anos de duração. Um ano e meio depois, fui aproveitado no time de cima. Foi uma ascensão muito rápida e bonita, porque, logo em 1978, quando a diretoria começou a buscar atacantes e não conseguia contratar, me deram a oportunidade. No começo do campeonato, as coisas foram dando certo, o time foi bem, fiz alguns gols e, depois de alguns meses, me firmei no time. Fomos campeões, e fui um dos responsáveis pela arrancada na fase final.

Veio 1982, a Copa do Mundo, você se machucou poucos dias antes e foi cortado. Aquilo foi uma das maiores decepções da sua carreira? Não digo muito decepção. Claro que eu fiquei triste, por ter trabalhado praticamente dois meses com o grupo. Seria meu primeiro Mundial, e quatro dias antes me machuco. É triste, eu lamento, mas acredito muito no destino, acho que não era para eu participar. Não é uma baita decepção, mas aquele time era excelente. É comum ouvir que “se o Careca tivesse jogado a Copa de 1982 no lugar do Serginho, o Brasil teria sido campeão”. Seria diferente mesmo? O Telê tinha duas opções bem diferentes no estilo de jogo. O Serginho era um cara de área, referência, a bola tinha que chegar nele. Por onde passou, sempre foi artilheiro. Eu era um jogador de mais movimentação, não ficava só como referência. Nunca atuei como pivô, sempre me movimentei muito, e nosso time era de grande movimentação. O Zico, Sócrates e o Julho de 2007

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Falcão chegavam de trás, o Éder nunca foi um ponteiro fixo. Poderia ser diferente, enfim... Eu acho que teria sido uma ótima opção para o Telê, mas só o homem lá de cima sabe. Com a Seleção Brasileira, você participou de duas Copas do Mundo. Em 1986, foi vice-artilheiro e caiu nas quartas-de-final diante da França, enquanto em 1990 foi a conturbada seleção do Lazaroni e a eliminação para a Argentina. O que falar dessas duas equipes? Em 1986, foi uma experiência maravilhosa. Joguei o tempo todo, e todos lembram do ótimo Mundial que fizemos. Perdemos para uma França que era uma seleção muito forte, mas nós éramos melhores. Faltou sorte, infelizmente aconteceu por... Sei lá, mas fomos superiores do início ao fim, criamos mais situações de gol, faltou atenção para finalizar, para fazer o 2 a 0 ou o 2 a 1. Em 1990, tivemos muitos problemas antes da viagem, com patrocinadores, dirigentes querendo enganar os jogadores. Existia uma desconfiança muito grande da nossa parte em relação aos dirigentes, tivemos polêmica de foto com a mão no patrocinador, algo totalmente antifutebol. O grupo estava rachado? Estava e não estava. Depois que começaram a aparecer as histórias dos patrocinadores, o Lazaroni quis se meter também, mas ele era patrocinado, tinha os contratos dele, não queria dividir conosco. Ele deu várias entrevistas falando mal do grupo, mas, na hora em que o patrocinador deu dinheiro, quis também participar. Aí não achamos justo. Era ele, o Américo Faria, essa turma que está aí ainda. O ambiente ficou pesado, teve algumas situações, como a do Romário, que não era para ter jogado porque estava em recuperação, e ele perdeu o controle. Contra a Argentina, não que eles não merecessem, porque tem aquela rivalidade, mas eu tenho o vídeo do jogo, e era para ter sido uns 500 a 0 para nós. A gente tinha dito que era impor-

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tante marcar o Maradona homem a homem, porque por mais que ele estivesse gordo, ele fazia a diferença. Mas o Lazaroni quis marcar por zona, e foi o que aconteceu. Mas nós tivemos chance, eu no início perdi um gol, se faz ali 1 a 0 é um saco. O Müller teve, todo mundo perdeu. Foi um absurdo. Nas eliminatórias para 1994, você deixou a Seleção. O que aconteceu? Eu não estava em grande forma, era início de preparação, vim da Itália, parei e depois voltei. Ficamos uma semana só treinando e viajamos. Era o Prima (Luis Carlos) e o Chirol (Marcelo) na preparação física, aí teve problema com o Chirol, que o Juca Kfouri falou que era funcionário fantasma... Eu, o Dunga, o Branco, essa turma toda estava sendo bastante criticada, e decidi ir embora. Reuni o pessoal, comissão técnica, presidente, e falei que estava indo e ia abrir espaço para os mais jovens. Podia ficar no banco, ganhando meu dinheiro, mas não quis fazer isso. Voltando um pouco no tempo, poucos meses depois da Copa de 1982, você foi para o São Paulo. Como foi? Eu levei quase três meses para me recuperar, foi uma contusão muito séria, estourou tudo no músculo da perna. Voltei para Campinas, no Guarani, e no final do ano começaram as negociações para eu me transferir para o São Paulo. Mas, na verdade, no final do ano, eu estava conversando com a Internazionale também e cheguei a assinar um précontrato com eles, na época em que o Massimo Beltrami era o diretor. O Juan Figer intermediou a negociação. Pensei bem e preferi adiar a transferência para o exterior e no começo de janeiro assinei com o São Paulo. Isso é algo que hoje é inimaginável de acontecer com os jovens talentos brasileiros, ansiosos por uma negociação com a Europa. Na verdade, mudou muito, porque um jogador não precisa nem passar por um grande clube. Antigamente, para

você sair, era preciso ter uma confirmação na Seleção Brasileira, não só no grande clube. Hoje, está muito mais fácil. Antigamente, eles buscavam bem mais qualidade, tanto é que me transferi para o Napoli com quase 26 anos, uma idade madura. Hoje, você vê meninos saindo com 16 anos e até mais jovens, meninos que não tiveram vínculo com ninguém. O Brasileiro de 1986 foi sua segunda grande experiência vitoriosa no futebol. Como foi aquela conquista, em que você foi artilheiro da competição, com 25 gols? O Brasileiro sempre foi emocionante. Fizemos a final com o Guarani, no Morumbi a primeira, e depois no Brinco, quando levei a partida para os pênaltis. Foi um jogo emocionante. Sempre os encontros entre São Paulo e Guarani eram emocionantes. Faltando um minuto, um minuto e meio para acabar a prorrogação, eu empatei. O engraçado é que o Guarani já tinha

O Lazaroni falou mal do grupo, mas, na hora do dinheiro, também quis participar

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Rudi Schrader/AFP

soltado o hino, todo mundo fazendo festa, então foi um castigo. Fiz o gol, e ficou um silêncio. Eram jogadores rápidos, velozes, todos do meio para frente sabiam marcar. Eu, o Müller, Bernardo, que chegava de cabeça, o Sidney, jogadores com capacidade técnica e uma frieza muito grande. Quando deixou o clube, você se desentendeu com a diretoria do São Paulo? Não saí brigado, saí triste pelo fato de a diretoria não ter cumprido o que estava combinado. A minha renovação de contrato foi feita para o Mundial de 1986, quando eu acertei bem abaixo do que eu queria e pelo que eles queriam, correndo o risco de fazer uma Copa horrível e ficar mais um ou dois anos ganhando o que não gostaria. Foi um risco. Fizeram uma carta estipulando o valor do meu passe em US$ 2 milhões, e eu aceitei. Acabou o Mundial, eu já tinha algumas propostas para sair, de clubes que iriam pagar os US$ 2 milhões, e eles falaram que

não, que não iam vender, que eu tinha sido uma revelação, vice-artilheiro da Copa e valia no mínimo US$ 5 milhões. Reclamei, porque não era o que tinha sido combinado. O presidente era o Carlos Miguel Aidar. Enfim, chegamos a um acordo, e eu fui para o Napoli, por cerca de US$ 2,6 milhões. Mas eu tinha uma proposta do Real Madrid também, muito maior, mas não quis ir. Eles cobriram a oferta do Napoli, e a diretoria do São Paulo quis me negociar com eles, era uns US$ 3 ou 4 milhões, e eu disse que não ia e que preferia o Napoli. Por que o Napoli? Pela vontade e desejo de jogar ao lado do Maradona. Eu queria jogar no Napoli para atuar do lado dele. Eu tinha essa meta na minha cabeça. Qual era sua expectativa quando deixou o São Paulo e se transferiu para um clube que, apesar de ter uma das maiores torcidas da Itália, tinha poucas conquistas até então?

Tudo que eu sabia era que existia um fanatismo muito grande, e a média de público era de 70 mil pessoas. O Maradona tinha chegado algum tempo antes, vindo do Barcelona, e eles tinham acabado de conquistar um título depois de 63 anos. Foi realmente uma loucura. No ano em que cheguei, pegamos logo o Real Madrid na primeira rodada da Copa dos Campeões – demos o azar de cruzar com a experiência deles nesse torneio. No final, tivemos muitas dificuldades para vencer o que vencemos. Talvez tivéssemos ganho muito mais se fôssemos do norte. Tinha que jogar contra árbitro, imprensa, um monte de coisas. Poderíamos ter conquistado algo a mais, mas o que conseguimos foi no sufoco, por causa da nossa qualidade. Copa Uefa, scudetto, Copa Itália... Ganhar um título com o Napoli vale muito mais. E os rivais da época, principalmente o Milan, com os holandeses (Rijkaard, Gullit e Van Basten), e a Internazionale, com os alemães (Brehme, Matthäus e Klinsmann)? Jogar com o Milan era complicado, uma potência. Por estar no norte, a torcida, seu presidente e a estrutura eram muito diferentes, assim como da Inter, Juventus, a própria Roma, que era um dérbi nosso. Aquele Milan, treinado pelo Arrigo Sacchi, tinha jogadores que faziam muita diferença, e não só os holandeses. Tinha o Ancelotti, que hoje treina o Milan, Donadoni, Costacurta – que para mim é uma piada estar jogando até hoje porque, em nível técnico, ele era só botinada. Tinha também o Baresi e o próprio Maldini, que é um espetáculo como jogador e homem, uma grande figura. Esse período em que você jogou pelo Napoli, pelo jeito, deixou saudades. Com certeza, porque o futebol italiano era muito diferente, muito mais competitivo e nivelado do que os outros países. Joguei numa época, entre 1987 e 1993, que tinha no máximo três estrangeiros por time e não tinha esse negócio de comunitário. Primeiro, es-

Em 1990, tínhamos de ter marcado o Maradona, mas fizemos marcação por zona

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Diretoria do São Paulo não cumpriu o que tinha combinado comigo

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tava o Maradona, depois eu cheguei e um ano, um ano e pouco depois veio o Alemão. Enfim, ficamos praticamente quatro anos junto com o Maradona, marcamos muitos gols, e isso marcou muito mundialmente, eu e o Maradona. Eu me sinto realizado, porque eu fui para o Napoli realmente para formar essa dupla e fazer história. Eu queria jogar no Napoli para atuar do lado dele. Como era essa dupla em campo? Quando ele pegava a bola, você já sabia o que fazer? Apesar de nunca termos jogado juntos, logo no primeiro ano, em 1987, eu fiz 19 gols na temporada, e ele também marcou muitos. Fizemos vários gols juntos logo no começo. A habilidade dele, a inteligência, a técnica, a rapidez com a bola nos pés, eu rapidinho percebi tudo isso, conheci ele, e tanto dentro quanto fora de campo, nos demos muito bem. Era um entendimento praticamente perfeito. Você lembra do dia em que foi anunciado o primeiro doping do Maradona? Qual foi a sua reação e a dos outros jogadores do Napoli? Para mim, foi uma surpresa, porque nunca tinha visto ele alterado, sempre uma pessoa normal, com muita determinação, como os argentinos, que são sempre guerreiros, entram para ganhar até nos treinos. Estávamos sempre juntos, almoçando, nos treinamentos, jogos, viagens. Então, para mim, foi uma grande surpresa quando deu positivo o exame. Foi uma tristeza, porque ele era fundamental para nós. Quando o time jogava com o Maradona, jogava de um modo. Sem ele, era completamente diferente. Foi uma perda muito grande. Depois, ele

ficou suspenso, foi embora da Itália, voltou para a Espanha, mas foi uma perda muito grande mesmo. Como você vê a situação do Maradona, hoje em dia? Não é de hoje, mas já há alguns anos ele está com dificuldade para sair dessa dependência. Teve uma recuperação maravilhosa, saindo do problema com as drogas. Ficou bem por muito tempo, praticamente salvo, e depois infelizmente entrou no alcoolismo. Lamentável, porque é uma pessoa que é uma referência no futebol e, infelizmente, na vida não está conseguindo se controlar. A gente torce para que ele melhore, ele sabe quem são seus amigos, e esperamos que amanhã ou depois ele possa se recuperar e ter, na velhice, pelo menos um pouco mais de tranqüilidade. Vocês ainda se falam? Já tem um tempo que não falo com ele, uns quatro ou cinco meses. Há um mês eu falei com a ex-esposa dele, a Claudia, soube que ele tinha tido uma melhora e depois outra recaída, mas é com a Claudia que eu falo mais, mesmo. No ano passado, ele esteve aqui, no Brasil, para participarmos do showbol. Ele tinha emagrecido, estava bem, até fisicamente, aguentou todos os jogos quase o tempo todo. É um esporte que exige bastante a parte física, e pelo menos no tempo que ficamos juntos ali, ele estava muito bem. Você comentou sobre o fato de os jogadores brasileiros saírem daqui cada vez mais cedo. Você considera isso prejudicial ou ajuda a desenvolver o futebol brasileiro? Como você não vai deixar o menino sair? Quantos desses meninos que estão aí ficam no clube e depois não viram nada? O moleque às vezes sai daqui, dá certo lá fora, desenvolve uma maneira diferente de trabalho e vai para frente! O próprio Afonso Alves é um exemplo. Saiu cedo, deu certo lá e está tendo sua chance. Acho que isso ajuda em várias situações, não tem como segurar o cara aqui. O Santos,

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Carlos Eduardo Moura

por exemplo, como vai manter o salário do Zé Roberto aqui? Não tem como pagar o que se paga lá fora. Como você vê a atuação dos empresários, hoje em dia? É business, fazer dinheiro. Os caras mandam o jogador para o interior da Rússia, e que se dane o moleque. Não importa se vai estar -20ºC, vai lá para ganhar US$ 2 mil. Hoje você também agencia jogadores? Você lidou muito com isso? Às vezes, eu indico alguns jogadores, passo uns relatórios para fora. Aqui, no Campinas (clube da cidade do interior de São Paulo que ajudou a fundar), estamos tentando descobrir novos talentos. Mas como eu já vivi, vim do interior, sei das dificuldades que eles podem passar. Uma vez, mandei um menino para Israel e expliquei bem a situação para ele: a proposta é assim, eu vou ganhar isso, você vai ganhar isso, tem bomba caindo lá. Ele me pediu para mandar ele no mesmo dia, disse que tinha uma filha para criar, estava num clube que não recebia o salário de R$ 300 há três meses e que queria ir. Ele foi, ficou dois anos lá, fez um dinheirinho e voltou. Hoje, tenho alguns jogadores que eu agencio, mas é um mundo meio de cão. Por mais que você pegue o menino, veja ele crescendo, às vezes por uma ilusão com dinheiro, um celular, um carro, uma casa, eles acabam esquecendo tudo que você fez desde os 14 anos. Como você analisa a situação do futebol brasileiro, hoje? Acho que, de maneira geral, não só no futebol, a gente vive um momento muito particular, com muita falsidade. A gente acredita no Brasil, um enorme potencial, e vêm os corruptos e envolvem todo mundo, infelizmente. E a corrupção no futebol? Aqui tem, mas você viu na Itália o problema também! De forma geral mesmo, a gente lamenta, porque o torcedor vai pro campo, em vez de comprar um pão para casa, vai naquela expectativa, leva a criança para

ver um verdadeiro espetáculo e tem essas decepções de juiz que roubou, vendeu o jogo, ou o jogador que deixou de fazer para facilitar para o outro. Falo de maneira geral mesmo, não só Brasil. A própria Itália teve esse escândalo recente, mostruoso, e olha que é primeiro mundo lá, imagina se fosse terceiro. Você teve alguma contato com esse tipo de caso no futebol? Em alguns lugares por que passei, eu ouvia aquele “zum zum zum”, mas já dizia que comigo não tem acordo, não tem nada. Mais para o grupo, e eu já dizia para não contar comigo. Na Itália, surgiu. Aqui, no Brasil, é mais aquele negócio de amigo, que pede alguma coisa, deixa para lá, não é algo sério. Os interesses no futebol são muito sérios financeiramente, e

acaba gerando um desespero nos dirigentes ou jogadores. Infelizmente, tivemos um caso até com um jogador nosso, o caso do Tuta, na época no Venezia, foi pressionado, porque tinha um acordo, queriam bater nele depois, teve as imagens, enfim, é um absurdo. Mas eu nunca me envolvi, nunca gostei, e ninguém nunca me facilitou em nada – zagueiro algum, sempre porrada. Mas isso existe, tanto é que ficou provado. Esse escândalo na Itália foi um absurdo, uma vergonha. É o que a gente fala de vez em quando, que a camisa pesa, mas tem jogo aí que é escandaloso. O cara pode errar como ser humano, mas dessa forma não. Era pênalti toda hora para a Juventus! A gente tinha medo de falar por causa das punições, mas era um absurdo na minha época já.

[Sobre empresários]

É só dinheiro. Os caras mandam o jogador pro interior da Rússia e que se dane

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Goleiros, por Dassler Marques

De volta para o

futuro Ótimos tecnicamente, jovens e promissores, goleiros dos grandes clubes do país têm se estabelecido com méritos

S

e, em 2006, o Brasileirão chamou a atenção pela falta de goleadores, em 2007 quem tem aparecido são os goleiros. Em especial, os jovens. Num dia, é Felipe, do Corinthians, festejado por uma seqüência de invencibilidade. No outro, o atleticano Diego é personagem da rodada por defesas maravilhosas. Diego Cavalieri, do Palmeiras, muito bem há algum tempo, é cogitado para a Seleção. Em metade dos chamados 12 grandes do país, jovens e competentes arqueiros (Bruno, Júlio César, Felipe, Diego, Diego Cavalieri e Renan) têm roubado a cena.

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Paralelamente, alguns goleiros brasileiros têm sido protagonistas na Europa. Vivendo grandes momentos, Doni, Gomes, Hélton e Júlio César, preferidos de Dunga até aqui, fazem com que os jovens citados ainda não tenham recebido a chance de vestir a camisa da Seleção principal. “Antes, diziam que os arqueiros precisavam ter pelo menos 25 anos pra serem titulares. Hoje, garotos brasileiros são os melhores no futebol europeu”, opina Valdir Joaquim de Moraes, precursor da preparação de goleiros no país e com histórico profissional brilhante no Palmeiras

e na Seleção Brasileira. Se são os melhores da Europa ou não é uma questão de opinião, mas o fato é que, se for mesmo confirmada a ida de Diego para a Lazio, os quatro primeiros colocados da Série A italiana em 2007 terão um brasileiro no gol na próxima temporada. Essa tranqüilidade na posição de goleiro praticamente inexistiu em toda a história do país. Para entender a fase atual, é preciso verificar que não se trata somente de obra do acaso. A evolução da preparação dos goleiros no Brasil é evidente, paralela à das comissões técnicas e comanda uma

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Escola de Vander Batistella: a primeira especializada em formar goleiros

série de fatores que explicam essa grande “safra” de camisas 1 no futebol brasileiro. “É conseqüência de muito trabalho na base, especialmente nos clubes maiores. Atualmente, em cada categoria há um profissional específico da área e, todos trabalhando em conjunto, têm feito surgir essa turma excelente de novos goleiros”, afirma Ney Franco, treinador do Flamengo e admirador em particular de Felipe, do Corinthians, e Júlio César, do Botafogo. A atenção para a preparação dos goleiros ainda na base tem feito com que os jovens cheguem com cada vez menos

perfis

defeitos aos profissionais, o que explica a excelência precoce. “Trazer os preparadores para a base foi uma das minhas lutas. Quando o Carlos Pracidelli chegou aqui, no Palmeiras, desenvolvemos um trabalho de muita propriedade para que, quando cheguem aos profissionais, seja necessário só burilar”, explica Valdir Joaquim de Moraes. Ele se refere ao preparador responsável por grandes momentos de Marcos, Sérgio e Diego Cavalieri, que é e quem atualmente melhor personifica a evolução profissional da classe. “Melhorou demais essa atenção. Na minha época, tínhamos no time profissional a presença do preparador só uma vez por semana. E era maravilhoso. Hoje, cada categoria tem um treinador de goleiros específico, e a tendência é corrigir e aprimorar, sempre respeitando a idade correta de cada etapa”, lembra Zetti, hoje treinador do Atlético-MG, mas titular da posição com êxito por muitos anos em São Paulo, Santos e Palmeiras. Como exemplo do trabalho específico, pode ser apontada a quase unânime qualidade dessa nova safra na hora de usar os pés. Nomes consagrados, como Dida, Marcos e Fábio Costa, têm noções primárias de domínio e reposição de bola. “Hoje, há todo um cuidado ao inserir os goleiros em treinos de dois toques, na recreação, além de outros trabalhos específicos”, lembra Ney Franco. Outro ponto importante é o tamanho dos goleiros. Se nos acostumamos ao longo dos anos com nomes de baixa estatura e envergadura, como Taffarel e Valdir Joaquim de Moraes, hoje em dia é quase impossível encontrar baixinhos. “Entre um grande e um pequeno, mesmo que os dois sejam bons, a preferência é do mais alto. Em quase todos os clubes brasileiros há essa preocupação”, lembra Ney Franco. No Atlético-MG, por exemplo, goleiros com menos de 1,85m de altura não são aproveitados. Zetti, porém, faz uma ponderação interessante. “Geralmente, falta apurar o histórico familiar dos atletas. É fundamental saber a altura dos pais e familiares mais próximos. Eu mesmo tinha pais baixos,

Bruno Clube: Flamengo Idade: 22 anos Altura: 1,90m Peso: 80kg Estreou nos profissionais aos 20 anos

Diego Clube: Atlético-MG Idade: 22 anos Altura: 1,85m Peso: 84kg Estreou nos profissionais aos 20 anos

Diego Cavalieri Clube: Palmeiras Idade: 24 anos Altura: 1,90m Peso: 86kg Estreou nos profissionais aos 22 anos

Felipe Clube: Corinthians Idade: 23 anos Altura: 1,91m Peso: 85kg Estreou nos profissionais aos 19 anos

Júlio César Clube: Botafogo Idade: 20 anos Altura: 1,90m Peso: 85kg Estreou nos profissionais aos 18 anos

Renan Clube: Internacional Idade: 22 anos Altura: 1,87m Peso: 82kg Estreou nos profissionais aos 19 anos Julho de 2007

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Pantera verde-amarela Botafogo de Ribeirão Preto destaca-se na formação de goleiros No dia em que Dunga divulgou a pré-lista de convocados para a Copa América, poucos clubes ficaram tão felizes quanto o Botafogo de Ribeirão Preto. Não que Roberto, Marco Aurélio ou Felipe, destaques da Pantera, estivessem entre os nomes lembrados. É que Diego (Atlético-MG) e Doni (Roma, da Itália), dois da relação de três goleiros, começaram justamente na base do Bota. “A gente fica muito feliz. Eles começaram aqui, se jogando lá no terrão, e hoje estão com esse sucesso todo”, destaca Rogério Spinelli, há praticamente 17 anos o treinador de goleiros do clube ribeirão-pretano e com participação direta na formação da dupla. Na lista final, entretanto, só Doni acabou sendo incluído. Do romanista, Rogério lembra de maneira muito carinhosa. “Fico feliz em poder ter ajudado e trazido ele aos profissionais. Ele tinha muita qualidade desde cedo e uma família fantástica também”, constata o mestre. Segundo ele, quando Doni estava na base do clube, não havia alojamento suficiente e, por pouco, não foi dispensado. Rogério Spinelli e um diretor conseguiram, com muito custo, manter o garoto no clube e inclusive lançá-lo prematuramente ao time de cima, para que mostrasse qualidades. Sobre Diego, Rogério exalta a parte técnica do atleticano. Ele lembra que, desde garoto, o atual camisa 1 do Galo era trabalhador e tinha clara vocação para ser goleiro. “Sempre ficou aqui treinando sozinho após os outros jogadores. Era interessado, já chegou mostrando várias qualidades. Ele vai longe, com certeza”. “Rogério é uma pessoa muito especial, fez um trabalho fantástico comigo no Botafogo. Tenho muito carinho e amizade por ele até hoje. Tudo o que eu puder fazer para ajudar as pessoas que estiveram comigo nesta época, eu vou fazer”, retribui Diego, que, no próprio Clube Atlético Mineiro, tem a companhia de Ramon, titular da seleção sub-17 e oriundo da Pantera.

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Do Botafogo-SP saíram os selecionáveis Doni e Diego

mas um tio, irmão da minha mãe, era alto. E acabei seguindo ele. Tem que mapear tudo isso, pois não sabemos com quantos anos o atleta vai parar de crescer”. O fato de o Brasil notabilizar-se como um mercado exportador resulta em maiores investimentos – seja na triagem de garotos, infra-estrutura de espaço físico ou de comissão médica e técnica – para um desenvolvimento sustentável. Ou seja, repondo iminentes perdas. Até mesmo em equipes menores, mas com aspirações financeiras, é clara a busca por jovens jogadores e o investimento na formação. “Esses olheiros que têm descoberto os garotos fazem diferença. Encontram goleiros altos e com muita qualidade, como o Diego”, lembra Zetti, apontando o camisa 1 atleticano, descoberto no Botafogo de Ribeirão Preto e exemplo nítido de boa triagem. Também é possível aferir um interesse maior dos garotos pela posição de goleiro, nos últimos anos. Além dos estabelecidos na Europa, como Gomes e Júlio César, nomes como os do palmeirense Marcos e do são-paulino Rogério Ceni provocam

adoração. Antes deles, Ronaldo e Taffarel provocaram furor considerável. Vander Batistella, preparador de goleiros do Rio Branco e idealizador da primeira escola específica da posição para jovens, concorda com a tese. “Antes, todos brigavam para jogar no ataque. Hoje, com tantos ídolos recentes da posição, o interesse é enorme”, atesta quem lida com cerca de 150 meninos semanalmente. A soma de uma evolução dos preparadores de goleiros, do trabalho de base, da parte física dos atletas e de um interesse maior por jogar no gol, basicamente, explica o que pode até ser encarado como um quase fenômeno. Ver tantos garotos bons em clubes tradicionais, definitivamente, não é mero acaso. “Podem ser encarados como realidade. Eu, particularmente, não vejo só as defesas. Observo saídas de gol, tranqüilidade, reposição e, principalmente, a segurança. O adversário olha e vê um goleiro desses. Isso impõe respeito e faz a defesa também confiar”, lembra Valdir Joaquim de Moraes. As torcidas, até aqui, também não têm motivos para discordar.

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Entrevista, por Leonardo Bertozzi

A hora do

reconhecimento Antes de ser destaque do Atlético-MG, o goleiro Diego quase foi queimado por uma atuação desastrosa. Hoje, graças a um bom início de Brasileiro, desfruta de projeção nacional. Em entrevista à Trivela, ele fala de como deu a volta por cima e virou ídolo no Galo Este início de Brasileiro chamou muito a atenção da mídia e te alavancou a uma condição de fama nacional. Como você encara essa nova condição? É um momento que o jogador sempre quer viver – o reconhecimento da mídia nacional. Eu já vinha fazendo um grande trabalho aqui no Atlético-MG, desde o ano passado, na Série B. O Brasileiro é importante para a minha carreira, não só pela mídia, mas porque quero chegar à Seleção. Para isso, é importante fazer um bom campeonato. Em 2005, você ficou marcado pela má atuação na derrota para o Fortaleza, que deixou o Atlético-MG muito próximo do rebaixamento. Naquela ocasião, aos 20 anos, você se sentiu jogado na fogueira? Não acredito que tenha sido jogado na fogueira. É questão do momento que o clube vive. O time não passava por uma boa fase, e veio aquele fatídico jogo em que deu tudo errado. Para mim, foi um grande aprendizado sobre como dar a volta por cima, como lidar com a torcida, com as críticas. São coisas que nem todo jogador vive durante a carreira. Eu vivi uma fase ruim no começo e felizmente consegui dar a volta por cima. Hoje em dia, não faltam exemplos de jogadores jovens que aparecem com a responsabilidade de comandar um time – Pato, no Inter, Lucas, no Grêmio, William, no Corinthians. Você acha que é uma responsabilida-

de excessiva para garotos de tão pouca idade? Em especial para o goleiro, é muita responsabilidade. Hoje, temos goleiros jogando com 21 anos, estreando como titulares aos 19, como o goleiro do Botafogo. É uma responsabilidade grande. Antigamente, havia preconceito quando à idade dos goleiros, por causa da experiência. Hoje, está mudando um pouco a cabeça das pessoas quanto a isso, e cada vez mais goleiros jovens estão aparecendo. Considero isso importante. Do mesmo jeito que os meninos estão estourando jovens nos times, também passa a acontecer com os goleiros. O Brasil parece viver sua melhor fase na formação de goleiros em algum tempo. Você vê algum motivo especial para isso? A coragem de colocar essa safra para jogar. Antigamente, era difícil ver goleiros jovens atuando. O Atlético-MG tem se destacado nos últimos tempos por revelar bons goleiros. O que há de especial no clube para que isso aconteça? Hoje, o Atlético é um dos clubes com mais goleiros revelados pela base no elenco profissional – são quatro. É importante para o clube, para os profissionais, para o preparador de goleiros. É um trabalho bem feito desde as categorias de base. Curiosamente, até o ano passado, eu era um dos mais novos e agora sou o mais velho do grupo de goleiros no profissional. Julho de 2007

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Maradona, por Antonio Vicente Serpa

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aradona ficou sabendo de sua morte duas horas depois, por telefone. Acordou de sua soneca assustado, ante uma sucessão de ligações familiares, que quase fizeram entrar em colapso as linhas da clínica psiquiátrica Avril. Às 19:38 do dia 25 de abril, ele foi “ressuscitado” por um comunicado dos diretores, José Tejada e Carlos Nassef. Em seguida, as faixas negras que os canais sensacionalistas exibiam em suas telas, em um tipo de luto simbólico que nunca foi explicado no ar, foram substituídas por uma enxurrada de desmentidos, que incluíram desde seu médico pessoal da vida toda, Alfredo Cahe, até sua ex-mulher, Claudia Villafañe. E só a seriedade da clínica impediu que a torrente de insultos de Diego inundasse os meios de comunicação. Houve silêncio de rádio, só silêncio. Isso, conhecendo a verborragia incontrolável de outros tempos, marca uma mudança significativa na vida de “El Diez”. Nunca se soube ao certo quem espalhou o rumor, mas naquele mesmo momento o ministro mais poderoso do governo argentino dava explicações no Congresso sobre um caso de corrupção que alcançava os homens de maior confiança do presidente. Só Maradona poderia desviar a atenção, e foi isso que aconteceu, graças a uma hábil operação de imprensa. Diego ficou perto da morte, sim, mas não nesse momento, e sim quase um mês antes, em 28 de março, quando foi internado às pressas à beira de uma pancreatite que poderia ter sido fatal (80% dos casos terminam com a morte do paciente). Foi uma das noites mais dramáticas de sua vida, porque Cahe fazia intensas negociações por telefone, e a ambulância com o ex-jogador dava voltas por Buenos Aires, enquanto todos lhe negavam a internação. Ninguém o queria, um paradoxo incrível para a pessoa mais amada pelos argentinos, o maior ídolo de todos os tempos. Alguns dos que estiveram a seu redor naqueles dias contam que “El Diez” sofria alucinações, estava violento, convulsivo, retorcia-se com dores desumanas e xingava seu próprio médico: síndrome de abstinência de álcool, com o qual foi substituindo gradualmente seu outro vício, a cocaína. “Estava tão intoxicado que, se esperassem mais uma semana para interná-lo, hoje talvez estivesse morto”, confirma um empregado da clínica que prefere manter-se nas sombras. Os típicos exageros que rodeiam Diego dão conta de 15 garrafas de champagne (sua bebida favorita) consumidas nas 48 horas anteriores à internação no sanatório. Cahe desmente a informação: “Não entraria no seu estômago, que está reduzido por um bypass”, explica, apesar de que... quantas vezes se disse que Maradona pode tudo?

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Deus As atribulações e excessos da vida de Maradona dão tanto destaque a ele quanto seu tempo nos campos. Ainda assim, nem tudo parece estar perdido para “El Diez”

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Getty Images

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Todo Poderoso

Maradona e seu pai, também Diego, na tribuna da Bombonera

Marcos Brindicci/Reuters

Vê-lo hoje, desinchado, mais magro e saudável, com aparência normal, parece outro dos milagres que o fizeram tirar San Gennaro do altar napolitano. Atualmente, exibe uma barba cheia, parecida com a que usava no fim dos anos 80. Os pelos brancos no queixo, claro, marcam que os anos passam para todos, inclusive para os deuses do futebol. Mas em seu semblante não se notam os excessos de seus 46 anos. Agora não, mas sim em outros momentos, nos quais estava tão gordo que parecia sua mãe, ou com as bochechas caídas como seu pai. Mas... está curado? Não, de maneira alguma. Está, sim, limpo: não ingere álcool desde o dia anterior a sua internação e está há anos sem consumir drogas, mas a luta continua. Nessa briga diária, ele tem ajuda dos psicofármacos receitados pelos mesmos psiquiatras da equipe de Cahe, que o receberam na clínica Avril. Esses tranqüilizantes e antidepressivos são extremamente necessários, porque há outras coisas que não funcionam. “A medicação deveria ser acompanhada por uma terapia, mas Diego não aceita nada. De fato, jamais voltou a pisar na clínica para os controles periódicos aos quais deveria submeter-se. Qualquer um que tenha convivido com um alcoólatra sabe que isso não se cura em um mês ou dois e é uma batalha atrás da outra”, confia alguém muito próximo.

Fotos: AFP, Getty Images e Reuters

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Ganha com o Napoli seu primeiro scudetto, fechando os 12 meses mais brilhantes de sua carreira. Nasce sua primeira filha, Dalma (o nome de sua mãe)

Consagra-se artilheiro do “calcio”, com 15 gols. O Napoli fica em segundo, e começam a relacionar Diego com a camorra (a máfia napolitana)

Consegue para o Napoli o primeiro título internacional de sua história: a Copa Uefa. Casa-se em um estádio fechado com sua esposa da vida toda, Claudia Villafañe. Nasce Gianinna, sua segunda filha

Ganha o segundo scudetto com o Napoli, vencendo no mano a mano o poderoso Milan. Elimina Brasil e Itália do Mundial, mesmo machucado. Perde a final contra a Alemanha e chora durante a premiação. Nega-se a cumprimentar os dirigentes da Fifa

Em março, um exame antidoping realizado na Itália dá positivo para cocaína, e Maradona é suspenso por 15 meses. No mês seguinte, é detido em um apartamento de Buenos Aires. Tinha drogas em seu poder

Volta ao futebol no Sevilla dirigido por Bilardo. Não o faz da melhor maneira, com excesso de peso

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Héctor Pezzella, o médico que o atendeu na fase aguda de sua hepatite, dá seu ponto de vista: “Maradona acha que é Deus, e essa pode ser a causa de seus males”. Uma pequena prova de seu poder: se Maradona não vai até a clínica, a clínica se aproxima dele. Tejada e Nassef, dois profissionais confiáveis e discretíssimos que resistiram a tentações milionárias para dar entrevistas, o visitam de vez em quando na casa de campo em Ezeiza, na qual “El Diez” já estava morando desde antes de sua internação. Apesar das pressões da imprensa, sempre limitaram-se a dizer secamente que Diego “segue com seu tratamento”. O problema, segundo dizem em sua família, “é tê-lo sob controle. Porque Diego pode ter deixado esse vício hoje e começar com outro amanhã”. Os profissionais que trataram dele ao longo de sua vida o definem como um viciado crônico. O que fez foi trocar uma substância por outra, e ninguém tem certeza de que não vá fazer a mesma coisa novamente. Na realidade, aqueles que o conhecem melhor não esperam uma recaída neste momento. Para começar, está bem controlado por sua namorada, Verónica, 21 anos mais moça que ele, uma garota que conheceu em um casamento, graças a um primo, e que, com firmeza, foi afastando de seu entorno as influências negativas. “Maradona não pifa de um dia para o outro. Veja, ele funciona assim: se quiser retomar algum de seus velhos costu-

mes, primeiro briga com os mais chegados por qualquer coisa; depois, você o ouvirá no rádio atirando para todos os lados, já com todo mundo contra, e cria um karma inexistente: o mundo inteiro torna minha vida impossível. E, então, é esse mundo que não o compreende o responsável pela sua recaída”. A definição é dada por uma pessoa que o conhece há mais de 20 anos. Mas, por enquanto, as águas estão calmas.

Mais um Diego mora numa casa de campo dos anos 70 localizada em El Trébol, uma espécie de bairro semifechado que viu seus melhores dias passarem há décadas. A casa é cômoda, mas não luxuosa, tem um belo parque e fica a uns 300 metros da estrada de acesso. Para chegar, é preciso cruzar uma estradinha movimentada, uma vila de operários de classe baixa e média-baixa e uma rodovia que se afunda permanentemente na neblina, com a qual se enchem de tragédias as páginas policiais. Com exceção de seu ilustre morador, a única coisa que destoa no ambiente de classe média é a tela gigante instalada na edícula dos fundos. Graças a ela e a um projetor, Diego vive uma contínua overdose de futebol. Também assiste a tênis e um pouco de golfe, embora esses esportes ele prefira jogar. Quando joga o Tristán Suárez, o time da região que atua

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Maradona acha que é Deus, e essa pode ser a causa de seus males Hector Pezzella, médico

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Briga com Bilardo, o xinga em pleno gramado e retorna à Argentina. Com um regime mágico, volta a sua melhor forma e joga algumas partidas com o Newell’s Old Boys. No fim do ano, é convocado para a seleção e ajuda a classificar a equipe para a Copa dos Estados Unidos

Joga em um nível brilhante as duas primeiras partidas do Mundial. Após a segunda, o antidoping dá positivo. Agride jornalistas que faziam plantão em frente a sua casa, com um rifle de ar comprimido

Volta ao Boca, clube para o qual torce, mas não consegue abandonar seu vício. O time perde o torneio, no final do ano. Dá uma palestra na Universidade de Oxford e recebe o título de Mestre Inspirador de Sonhos

Briga com Macri, o novo presidente (recentemente eleito prefeito de Buenos Aires) e se opõe à contratação de Bilardo como técnico. Segue sem conseguir ganhar nada com o Boca

Joga sua última partida, em 25 de outubro. É uma vitória de 2 a 1 sobre o River. No intervalo, é substituído por um jovem talento: Riquelme, que vira o 0 a 1. Poucos dias depois, em meio a rumores de um novo doping, Diego anuncia a aposentadoria Julho de 2007

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na terceira divisão do futebol argentino, não tem dúvidas em aproximar-se do estádio. Ali, tem alguns amigos. Por exemplo, Gastón Granados, presidente do clube e filho de Alejandro, o prefeito de Estaban Echevarría (o município ao qual pertence a casa de campo). Também fala com Daniel Bazán Vera, o “Índio”, um goleador moreno e robusto que já está na reta final de sua carreira e com quem Diego comparte a origem humilde. Ambos nasceam e cresceram no ambiente pobre das favelas da metrópole e travaram nos últimos tempos uma relação fraterna. Fora essas escapadas, Diego sai pouco de dia e nada de noite. Há alguns dias, comprou dois quadriciclos para passear pelo bairro quando é tomado pela vontade de respirar os ares da rua. Para a cidade de Buenos Aires, distante não mais que 35 minutos – muito provavelmente menos, nos carros que costuma dirigir ou que dirigem para ele algum de seus secretários particulares –, vai muito raramente. Às vezes, para visitar a família (suas filhas, seus pais) ou para ir ao estádio para ver seu Boca, necessariamente acompanhado por Gianinna, a melhor das “meninas”. Ali, recebe em seu camarote/altar do segundo andar da Bombonera as oferendas dos jogadores. Ali, delira com seu sucessor, Juan Román Riquelme, que sempre tem alguma mágica à mão para honrar a camisa 10 que herdou. Não lhe é proibida nenhuma atividade social, mas ele as

Todos somos únicos, mas ele é o mais único em 6 bilhões de pessoas Alfredo Cahe, médico pessoal

evita. A distância que o separa dos principais centros de diversão que costumava visitar (a discoteca Sunset, na zona norte, e o Cocodrilo, um dos mais exclusivos bares com mulheres) funciona como uma barreira. Saindo da capital, chegava em 20 minutos a qualquer lugar. Agora, tem que percorrer um bom trecho, e ele mesmo busca evitar as situações de pecado, para alívio de seu médico. Exatamente Cahe é um dos centros que geram maiores controvérsias. Alguns dizem que o médico é uma “marionete sem autoridade” e que na verdade é “mais um rosto para a mídia do que efetivo, ou alguém viu ele em algum congresso de medicina nos últimos anos?” Cahe responde: “Eu atendo o Maradona há 30 anos e acho que isso me dá certa autoridade que não sei de onde os outros tiram. É verdade que Diego às vezes resiste aos conselhos e que é difícil convencê-lo em só um dia, mas nunca podemos perder de vista que ele é um caso único. Todos somos, na verdade, mas ele é o mais único em 6 bilhões de pessoas”. E, mesmo que muitos não gostem, Cahe é o único em quem Diego confia. Dos outros, não aceita nem uma aspirina. Sem energia para responder às críticas, mas seguro de suas ações, Cahe mostra como o maior feito dos últimos tempos o fato de que “El Diez” tenha aceitado a reabilitação em g nunca ggostou das internações. ç uma clínica psiquiátrica: “Diego

Fotos: AFP e Reuters

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Claudia inicia o processo de divórcio. Apesar das pressões da imprensa, Passarella não o convoca para a Copa da França, que Diego acaba comentando para a TV

É eleito o atleta argentino mais importante do século. “É a honraria mais importante da minha vida”, declara

Em janeiro, é internado às pressas em Punta del Este, com graves problemas cardíacos, conseqüência do consumo de cocaína. Tenta se recuperar em Cuba de seu vício. Seu amigo Fidel Castro coloca os melhores especialistas e uma clínica a sua disposição. Em uma de suas saídas, bate o carro e fica levemente ferido

Em 11 de novembro, é realizada uma partida em sua homenagem, na Bombonera. De um lado, a seleção argentina, do outro, amigos e ex-companheiros. Imortaliza outra frase com seu selo: “A bola não se mancha”. Um grupo de torcedores funda a Igreja Maradoniana

Maradona queixa-se porque Macri não o escolhe para suceder Bianchi como técnico do Boca. Refugia-se em sua nova paixão: o golfe. No meio do ano, vai ao Japão para comentar o Mundial. Escolhe Ronaldo como o melhor do torneio

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Enrique Marcarian/Reuters

Distância dos gramados não diminuiu a adoração ao craque

Contamos tudo para ele, para que tivesse plena consciência sobre sua realidade. Ele não estava totalmente lúcido quando sofreu a síncope, os vômitos, quando ficou em estado de choque. Logo depois de tudo isso, concordou. Costuma recuperarse rapidamente, mas precisava de paz e relaxamento. Essa foi a chave”. Essa e que lhe permitiram internar-se com Verónica, sua namorada. A clínica não admite publicamente e a registrou como “visita”, mas a realidade é que foi a pequena grande concessão que os médicos tiveram que fazer para que aceitasse ficar. Uma das provas que se exibem da falta de controle de Cahe sobre o paciente é o fato de que o médico queria tirá-lo da Argentina e levá-lo para a Suíça, “para afastá-lo do ambiente e dos amigos”. Mas aí a luta não é só contra o Maradona Diego, mas sim contra a família inteira. Vejamos: seus irmãos não entram em acordo entre eles, nem com suas filhas. Suas filhas não aceitam totalmente que fique sob os cuidados de Verónica. Verónica não quer tirá-lo do país... “Todos opinam, todos têm voz e voto, embora quem decida, no fim, é ele”, comenta uma das pessoas que presenciaram as encarniçadas discussões familiares a poucos metros da cama de um Diego dopado farmacologicamente. A única vez que ele não pôde decidir foi quando os parentes interpuseram um recurso, e aí a própria Justiça determinou sua internação para tratar o vício em cocaína.

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Exilado em Cuba, festeja a nova Libertadores do Boca, conquistada nada menos que contra o Santos. É colocado em contato com Tevez, pelo rádio: “Carlitos, estou aqui, festejando, mais sozinho que o Kung Fu. Vocês são meu orgulho”

Em abril, é internado à beira da morte, no pior momento de seu vício. Os médicos anunciam que tem o coração muito danificado, mas assim mesmo sai e é submetido a um severo tratamento de desintoxicação. A relação com a cocaína chega ao fim

O ano da ressurreição. Depois de haver chegado à beira da morte e após uma prolongada internação, deixa a cocaína, faz um bypass gástrico, emagrece quase 40 quilos e tem seu próprio programa de TV: “La Noche del 10”. Escolhe o técnico do Boca: Alfio Basile, que ganha todos os títulos

Apóia a seleção argentina na Alemanha. Volta decepcionado: “Com Riquelme em melhor estado, seríamos campeões mundiais”, sentencia. Briga com Julio Grondona, presidente da AFA, que tira Basile do Boca

Outra vez internado em mau estado, dessa vez por excesso de álcool. Ainda está em reabilitação. Os médicos dizem que evolui muito bem

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Marcos Brindicci/Reuters

quem é quem Verónica Ojeda Atual namorada de Diego, de 25 anos. Professora de ginástica, mora em Villa Fiorito, bairro onde nasceram tanto ela quanto Diego. O irmão de Verónica, graças ao vínculo com Maradona, está montando uma empresa de agenciamento de jogadores.

Claudia Villafañe A ex-mulher de Diego segue ligada a ele. Sempre o ajudou e o apoiou nos momentos difíceis e agora é uma espécie de empresária e filtro, que faz chegar a ele as propostas de matérias e eventos. Juntos, administram a economia familiar.

O craque na Bombonera: presença constante Ali

F afi/A Bu r

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Dalma Maradona A mais vvelha das filhas (dir.) é a que mais sofre com o namoro Diego, porque sempre sonhou com uma reconciliação de Die dos pais. p Nem foi visitá-lo na clínica, para não encontrar-se com Verónica. Tem uma carreira incipiente como atriz.

Gianinna Maradona Gia A filha mais nova (esq.), embora esteja chateada, nunca se afastou de seu pai e é a que o acompanha permanentemente camarote da Bombonera para ver o Boca. em seu ca

Gabriel G b i l Buono B Conhece Maradona há dez anos, durante os quais manteve-se fiel: o espera, o ajuda com tudo, faz as vezes de motorista, de secretário, de amigo.

Alejo Clérici Amigo e “secretário” de Maradona, é um “simdieguista” (sim, Diego, sim, Diego). Foi tomado pela soberba e não cuidava bem dele. Foi afastado do convívio por Verónica.

Alejandro Granados Prefeito de Ezeiza, conhece Diego desde os anos 70. Colocou toda a logística da cidade à disposição de “El Diez”. Por exemplo, a ambulância que não demorou um minuto para chegar à casa de campo e o levou ao hospital, no dia em que se sentiu mal.

Daniel Bazán Vera

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Jogador do Tristán Suárez, nunca atuou na primeira divisão e está no final de sua carreira. Diego g tem com ele uma relação de amizade, pelo passado humilde. s ter eu

Alfredo Cahe Alf Méd pessoal de Maradona há 30 anos. Também atende outros Médico famosos. Alguns o acusam de aparecer demais na mídia e dizem que famo não ttem autoridade, mas é o único a quem Diego confia sua saúde.

Alejandro Man Mancuso Ex jogador companheir Ex-jogador, companheiro de Diego na seleção argentina, hoje é agente de jogadores. É amigo de “El Diez” e organiza treinamentos, jogos e excursões do showbol.

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Maradona Produções Qual é a realidade atual de Diego? Pode seguir em frente com sua vida? “Com certeza, Diego está muito bem. Felizmente ele tem um físico excepcional”, responde Cahe, que se defende na privacidade da relação para não dar mais detalhes. Mesmo assim, é possível saber que aquele coração dilatado que funcionava com metade de sua capacidade, hoje, bate quase normalmente. E que já são parte do passado aquelas assustadoras notícias de mapeamentos cerebrais, nos quais os neurônios estavam mortos. “Diego está lúcido e não apresenta complicações clínicas ou mentais. É uma pessoa em pleno uso de suas faculdades”, aceita estender-se Cahe. A luta contra o álcool foi dura, porque no início tomava remédios (“em dose cavalar”, contam fontes da clínica Avril) e não respondia, mas logo começou a evoluir até sua situação atual. Hoje, Diego joga tênis quase todo dia e retomou os treinamentos para voltar às exibições de showbol com seu amigo Alejandro Mancuso (ex-jogador de Vélez, Boca e Flamengo), com uma adição de prestígio: Fernando Redondo. Em alguns meses, talvez voltemos a vê-lo fazendo maravilhas com a bola. Não por precisar de dinheiro, mas pelo prazer de continuar ligado ao futebol de alguma forma. Já ficaram para trás os maus momentos nos quais se separou de Guillermo Coppola, empresário e amigo da vida toda, acusando-o de ter ficado “com o dinheiro das minhas filhas”. Entre 2005 e 2006, seu melhor momento nos últimos dez anos, Diego movimentou essa máquina de gerar recursos que é desde que surgiu para o mundo e recompôs suas finanças. Conduziu (junto com Goycochea, ex-goleiro da seleção argentina) seu próprio programa de TV, com convidados famosos, fez uma rodada de entrevistas que lhe rendiam de US$ 150 mil até US$ 1 milhão, participou de um concurso de dança para famosos na Itália, assinou contratos de imagem... Em segundo plano, Claudia foi artífice desse saneamento das finanças. Entre os dois, conseguiram que voltasse a ser verdadeira aquela frase que Maradona repetia quando queria mostrar aonde havia chegado, apesar da origem humilde: “Minhas filhas vão poder comer caviar a vida inteira”. E se Diego diz...

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Maurício Val/Fotocom.net

Renato Gaúcho, por Carlos Eduardo Freitas e João Pequeno

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Conquista da Copa do Brasil abriu a galeria de troféus de Renato Gaúcho, que começou sua carreira ao acaso e sonha em chegar à Seleção Brasileira

O estilo

Portaluppi R

enato Gaúcho não se conteve. Tão logo o árbitro apitou o fim da partida contra o Figueirense, caiu no choro. Tentou esconder as lágrimas com as mãos e correr para o vestiário. Escoltado por alguns seguranças, foi rapidamente assediado pro uma série de repórteres, que queriam ouvir o técnico do Fluminense, que acabara de vencer o Figueirense por 1 a 0 e conquistar a Copa do Brasil. A metralhadora que tem na boca, acostumada a atirar para qualquer lado quando provocada, engasgou. Visivelmente, Renato estava sem palavras. “É difícil achar as palavras certas para descrever minha felicidade”, disse, mais calmo, na saída do vestiário do estádio Orlando Scarpelli, em Florianópolis. No dia-a-dia, tal qual nos tempos de jogador, as palavras não costumam lhe faltar. Tanto que, não raramente, profere, com sinceridade, frases que ficam marcadas. De vez em quando, fala até além da conta. Pouco antes de deixar o comando do Vasco, quando sua relação já estava desgastada com – em suas palavras – “seu amigo” Romário e com a diretoria, sobrou até para a mãe do “Baixinho”, que, dias antes, havia pedido a escalação do filho. “Vamos trazê-la para treinar o time”, retrucou. Assim é Renato Portaluppi. É com esse mesmo estilo sem papas na língua que já tinha nos tempos de jogador que Renato tem conquistado respeito entre

profissionais da área – como Luiz Felipe Scolari, para quem o técnico do Flu é uma das revelações no país –, da opinião pública, dos torcedores e, principalmente, dos dirigentes de grandes clubes do Brasil. Antes de retornar ao Fluminense, por exemplo, o técnico era dado como novo nome do Corinthians para o Brasileirão e pedido por alguns gremistas, mas não pestanejou ao decidir ficar no Rio de Janeiro. “Pintou a oportunidade de vir para cá, onde sempre tive a confiança da torcida, da diretoria e do presidente”, diz, sem se importar com o boato de que a direção tricolor queria Waldemar Lemos no cargo que acabou com ele. O ex-atacante, porém, era a primeira opção de Celso Barros, presidente da Unimed, a principal patrocinadora do clube, que, informalmente, é quem controla o departamento de futebol do Flu. Isso porque é a empresa a responsável por fazer as principais contratações, bancando boa parte de salários geralmente acima da média do futebol brasileiro.

Domador de baladeiros Quando chegou às Laranjeiras, no final de abril, encontrou, em suas próprias palavras, um time sem moral, cabisbaixo e sem confiança. “Já haviam passado dois técnicos por aqui. Os jogadores

os resultados como treinador Fluminense (1996) Ainda jogador do clube, foi promovido a interino em duas oportunidades. Era ele o treinador na reta final do Campeonato Brasileiro, quando o Fluminense acabou na zona de rebaixamento – mas foi alçado de volta à primeira divisão no “tapetão”.

Madureira (2000-2001) Em sua primeira experiência oficial como técnico, Renato chegou em sexto na Taça Guanabara e em último na Taça Rio. No geral, ficou em décimo, sem vencer nenhum dos grandes. Na Série C, levou o clube à segunda fase, na qual terminou em penúltimo em seu grupo. Em 2001, chegou à semifinal da Taça Guanabara, mas perdeu para o Flamengo nos pênaltis.

Fluminense (2002-2003) Pegou o Tricolor com apenas oito pontos em sete partidas. Estreou perdendo um Fla-Flu, mas, graças a um Romário inspirado, classificou o Flu à segunda fase e levou o time às semifinais. Acabou demitido em julho de 2003, depois de deixar a equipe perto da zona de rebaixamento. Foi chamado de volta em outubro para salvar o Tricolor – o que aconteceu.

Vasco (2005-2007) Pegou o time na 13ª rodada do Brasileiro de 2005, com nove pontos, e levou à Sul-Americana. Em 2006, com um elenco limitado e tido como favorito ao rebaixamento na Série A, chegou à final da Copa do Brasil e por pouco não se classificou à Libertadores. Em atrito com Romário e a diretoria, deixou São Januário por não chegar à decisão no Estadual de 2007.

Fluminense (2007) Com apenas 45 dias de clube, conquistou a inédita Copa do Brasil, primeiro troféu nacional desde o título do Brasileiro de 1984. Recolocou o Tricolor em uma competição internacional e disse que seu objetivo, agora, é conquistar o Brasileirão.

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Fala, Renato! “O Romário me chamou de bissexual? Então manda a mulher dele lá em casa” “O Romário não tem mais a velocidade dos 20 anos. Se não quer que as pessoas o vejam como um jogador ridículo, precisa treinar” “Vamos trazer a mãe dele para treinar o Vasco” Respondendo à mãe de Romário, que pediu a escalação do “Baixinho” num jogo

“Se o Fluminense jogar na Segundona, eu juro que saio pelado pelas ruas do Rio de Janeiro” Quando o time foi rebaixado pela primeira vez, em 1996

“Quando tem agito aqui em casa, até o Cristo Redentor tapa os olhos” “Até mulher grávida faria gol nesse time hoje” Após a derrota do Vasco, por 7 a 2, para o Atlético-PR, pelo Brasileirão de 2005

“Quem se acha celebridade vai para a TV. Quem usa salto alto vai para o sapateiro. Quem quer trabalhar fica no Vasco” Após a derrota do time para o Santos, pelo Brasileiro de 2006

“Falta tesão para muito jogador. Eu não sou um acomodado. O dia em que eu encostar o corpo, eu me aposento” Cobrando um lugar no time titular do Brasil, na Copa de 1990

“O futebol italiano é ridículo” Depois de sua apagada passagem pela Roma

“Todos os dias, eu aprendo alguma coisa. Mas também não é que eu não saiba nada” “Minha filha não vai namorar. Vai ser freira e andar algemada com o pai” “Deixamos de lado muitas festas, muitas coisas da juventude, para dar a essa torcida uma prova de que temos amor à camisa” Ainda em campo, após a conquista da Libertadores de 1983 pelo Grêmio

“Com as chinesas é que não ia ser!” Explicando por que saiu com japonesas quando disputou a final do Mundial, em Tóquio

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estavam desacreditados”, conta à Trivela. Isso sem mencionar os outros sete treinadores que passaram pelo clube em 2006, quando por muito pouco o Flu não foi rebaixado mais uma vez. Talvez o simples fato de ter assinado um contrato até o fim de 2008 tenha sido um diferencial, se considerar-se a duração de seus tantos antecessores no cargo. Em 45 dias, conseguiu chegar novamente à final da Copa do Brasil (em 2006, com o Vasco, perdeu a decisão para o Flamengo). “Conversei bastante com os jogadores, passei bastante confiança, dei carinho para eles”, explica Renato, numa demonstração de como gosta de trabalhar – e de qual é seu estilo. Se diante da imprensa ele profere frases de efeito, com seus comandados o estilo é mais motivador. Por ainda ser jovem na carreira – tem 44 anos –, não pode ser chamado de “paizão” pela maior parte de seus jogadores. É um irmão mais velho, talvez. Sempre que necessário, dá conselhos, conversa muito. “Sempre que tem um jogador meio afastado, ele conversa, procura trazer de volta para não perder ninguém. O legal é que ele já jogou e sabe do que jogador gosta”, diz Morais, um dos destaques da campanha vascaína no Brasileirão de 2006. Para chegar a esse estilo, Renato diz que os técnicos que mais

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Maurício Val/Fotocom.net

o influenciaram foram aqueles com quem trabalhou. “Estive por dez anos na Seleção, onde treinei com os melhores do Brasil”, conta, dizendo inspirar-se, principalmente, em Valdir Espinosa, Telê Santana, Parreira e Evaristo de Macedo. Em pelo menos um aspecto, porém, dá para compará-lo a Felipão – que não o dirigiu. Tal qual faz seu conterrâneo, também herói do Grêmio na conquista de uma Libertadores, Renato atrai para si todos os holofotes, o que dá tranqüilidade a seus comandados. Na final da Copa do Brasil do ano passado, por exemplo, empurrou o atacante Valdir Papel para o vestiário depois de ele ter sido expulso. “Só tirei ele dali porque os jornalistas foram fazer entrevistas e, numa hora dessas, achei que ele poderia falar uma besteira”, defende-se. Seu passado de jogador festeiro, que não abria mão de uma vida social agitada, tem lhe ajudado a trabalhar em equipes com “baladeiros”, como Romário, Edmundo e, mais recentemente, Carlos Alberto. Nesse aspecto, não há nenhuma semelhança com Scolari. Em vez de repreender esses jogadores que gostam da noite, Renato avisa: “Só cobro do jogador no treinamento e dentro do campo. Não me meto com o que eles fazem lá fora, não. Na minha época, também não gostava que tomassem conta da minha vida

particular”. Às vésperas da Copa do Mundo de 1986, Telê Santana o tirou do time depois de ficar sabendo que havia pulado o muro para uma noitada. “Sempre aprendi e admirei bastante o Telê, mas ali faltou um pouquinho de habilidade para ele”. Mas qual seria sua reação, agora como treinador, se algum jogador seu fizesse o mesmo? “Vou sentar, conversar com ele, trocar uma idéia. Procurar saber por que é que ele fez aquilo, se é a primeira vez, se não é, qual jogo vai ter... Não vou tomar nenhuma decisão de cabeça quente, mas pode ter certeza que eu não vou mandar ninguém embora do clube, não. Vou dar uma segunda chance.” Como todo treinador com ambição, Renato diz querer chegar à Seleção Brasileira. Antes disso, porém, é provável que tenha que superar a desconfiança dos que dizem que precisa aparecer também fora do Rio. Há quem duvide que ele consiga – da mesma forma que havia quem duvidasse que o Grêmio pudesse vencer o Brasileiro, a Libertadores e o Mundial, em 1983. E que o Vasco pudesse não cair em 2007 – e ainda mais que pudesse brigar para ir à Libertadores. Como jogador, Renato fez o suficiente para merecer a faixa no Olímpico comparando a um dos maiores de todos os tempos. Como treinador, falta bastante. Nada que pareça desanimá-lo.

Curta carreira de Renato como treinador já rendeu elogios de Felipão

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História, por Carlos Eduardo Freitas

O

sobrenome

do futebol paulistano

Irmãos, Cícero e Brício Pompeu de Toledo presidiram São Paulo e Palmeiras, dois dos maiores rivais de São Paulo. E foi o são-paulino que, sem querer, levou o irmão a torcer pelo Palestra Itália

D

epois de almoçar, Diderot chamou seu motorista e pediu para tomar o rumo de seu clube, que havia tempos não visitava, apesar da proximidade de sua casa. “Queria só ver como estavam as coisas por lá”, explica. Ao chegar à porta da diretoria, onde esperava encontrar velhos amigos, um segurança informou ao senhor de 95 anos que não estava autorizado a deixar ninguém entrar. “Os 12 que estão reunidos lá em cima pediram que eu trancasse a porta para não serem incomodados”, disse. Em vez de forçar a entrada, tirou do bolso de sua camisa um cartão – “que por coincidência levei comigo” – e pediu ao homem que informasse aos dirigentes que aquela pessoa estava ali embaixo. Em alguns instantes, os 12 desceram as escadas para cumprimentá-lo.

Diderot, o senhor em questão, é um dos dois (de nove) irmãos ainda vivos de Cícero Pompeu de Toledo, presidente do São Paulo Futebol Clube entre 1947 e 1957, quando teve de se afastar por motivos de saúde morreu em 1959. Não por acaso, o estádio que idealizou, mas não viu pronto, leva seu nome. “Construí-lo era sua obsessão”, conta Regina, filha de Cícero, que relembra também o quanto seu pai sofreu quando teve a idéia de trocar o Canindé pela então inabitada região do Morumbi, à época um matagal, longe de tudo. “Chamavam ele de louco. Diziam coisas como: ’Quem virá assistir a um jogo de futebol, à noite, numa região longe de tudo, no meio do mato?’. Sem falar que o estádio foi construído num vale, sobre um córrego”, diz a caçula, irmã de Gilberto (hoje conselheiro do clube), sobre o pai. Na sede social do São Paulo, os Pompeu de Toledo são tratados como uma espécie de nobreza. Prova disso foi a recepção que Diderot recebeu por parte da mais alta cúpula do clube, que o acompanhou pelo estádio e pelas instalações por algumas horas e deixou para mais tarde aquela reunião importante, a portas fechadas. Médico de formação, Diderot era homem de confiança de seu irmão durante o período da presidência. Sempre que um jogador apresentava algum problema ou tinha alguma dorzinha antes de algum jogo, era para ele que Cícero levava antes de tomar uma decisão. “Fazia isso por amor ao clube. Nunca cobrei um centavo”, relembra, saudoso.

Ovelhas alviverdes e alvinegras da família

Cícero Pompeu de Toledo ★

Piracicaba, 7/janeiro/1910 † São Paulo, 8/setembro/1959

Presidente do São Paulo entre 1947 e 1957 Títulos conquistados Campeonato Paulista (1949, 1953 e 1957)

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Se os filhos e netos de Diderot (pai de Caio Pompeu de Toledo, ex-secretário de esportes do Estado de São Paulo) e Clicie, os irmãos ainda vivos de Cícero, gozam de tanto prestígio no Morumbi, o mesmo não se aplica aos descendentes de Brício e Simas, os dois caçulas da família. O primeiro era palmeirense, e o segundo – pai do jornalista Roberto Pompeu de Toledo – santista. Muito influenciado pelo irmão mais velho, Brício tomou tanto gosto pelo futebol que tornou-se dirigente e chegou

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Fotos Acervo/Gazeta Press

a assumir a presidência do Palmeiras em duas oportunidades, ambas no início do jejum de 17 anos sem conquistas. A primeira passagem foi em 1978. Depois, foi eleito para o biênio 1981-1982. O curioso é que foi o irmão são-paulino o responsável por fazer com que os gêmeos torcessem por outras equipes que não o tricolor paulista. Depois de muitos anos morando no interior paulista, onde seu pai Virgílio trabalhava como tabelião, Cícero mudou-se para São Paulo, no início da década de 1920. Os dois caçulas, então brigados com os pais, vieram morar com o irmão. No primeiro fim de semana, a única partida disputada na capital era um clássico entre Palestra Itália e Santos, no Parque Antarctica. E lá foram os irmãos para o estádio. Como não tinham preferência por nenhum clube, os gêmeos decidiram ali, nas arquibancadas, para quem torcer. “’Eu fico com o de verde’, disse Brício; ‘Eu com o de branco’, disse o Simas. E o que eles decidiram ali ficou para o resto da vida”, conta o advogado Antônio Augusto Pompeu de Toledo, filho do ex-presidente do Palmeiras. Aquela relação com a equipe da colônia italiana, que começou por acaso, virou paixão, e Brício, com 23 anos, ingressou no quadro social do Palestra. Aos poucos, foi trilhando um caminho semelhante ao do irmão mais velho no São Paulo. Se não tinha nenhum ancestral italiano, casou-se com uma filha de “oriundi”, para se sentir parte da “famiglia” palestrina. Segundo seu filho, que recentemente voltou a ser conselheiro do clube, o então futuro presidente palmeirense aprendeu muito com Cícero, que não chegou a ver o caçula chegar ao cargo máximo do clube, já que faleceu em 1959 – quando Brício ainda estava no início de sua carreira política no Parque Antarctica. O fato de ser irmão de quem era nunca o atrapalhou na escalada rumo ao poder no clube, mas por toda sua vida teve de ouvir provocações. “Nada o irritava mais do que ser chamado de presidente sãopaulino pela imprensa ou pela oposição”, lembra Antônio Augusto. Apesar das divergências clubísticas, a família Pompeu de Toledo nunca teve

problemas por causa do futebol. Muito pelo contrário, orgulha-se de seus dois filhos mais ilustres. “Ver o nome da família, de meu tio, no Estádio do Morumbi me deixa muito contente”, diz Antônio Augusto, talvez sem saber que sua prima, Regina, sai do sério quando ouve narradores que não citam o nome de seu pai junto do nome do estádio. “É Cícero Pompeu de Toledo. Não se chama do Estádio do Morumbi”.

Brício Pompeu de Toledo ★

Dois Córregos, 14/maio/1919 † São Paulo, 3/junho/1999

Presidente do Palmeiras em 1978 e entre 1981 e 1982 Títulos conquistados nenhum

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Jamil Bittar/Reuters

COPA

PARTE 2: Infra-estrutura

Na estaca

zero Governo ainda não tem projeto específico para a Copa de 2014, contando em primeiro momento com as obras previstas pelo PAC por Ubiratan Leal

O

Tráfego aéreo é uma das preocupações para a Copa de 2014

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lançamento do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento – foi o início, na prática, do segundo mandato de Lula. Era 22 de janeiro de 2007, e o governo reeleito apresentava um pacote de medidas econômicas e investimentos em infra-estrutura para catalisar o desenvolvimento do país até 2010. O projeto pretende “destravar” a economia brasileira, mas, por enquanto, tem também outro papel: o de preparar o país para um Mundial de futebol. Pelo menos na teoria. O Brasil é candidato único a organizar a Copa do Mundo de 2014, e a decisão da Fifa será anunciada em novembro deste ano. Apesar disso, o país ainda não tem um projeto voltado ao evento para as diversas áreas que podem ser definidas como “infra-estrutura”. Pior, em muitos setores procurados pela Trivela, sequer há uma movimentação para que se inicie um projeto. Nesses casos, o álibi é usar o PAC e

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Preocupação no ar Independentemente dos problemas que tenha o setor de transportes terrestres, nenhum caso é tão delicado quanto o do transporte aéreo. Com pontos cegos na cobertura de radares, pistas com problemas e atrasos crônicos nas decolagens, fica evidente como o sistema aéreo brasileiro está em crise aberta e, desde já, desponta como setor preocupante para uma eventual Copa do Mundo. Até porque as distâncias a serem percorridas por torcedores, jornalistas e seleções entre uma cidade brasileira e outra são muito maiores que as enfrentadas nas últimas três edições do torneio, realizadas em países relativamente pequenos. Procurada pela reportagem da revista Trivela, a Infraero (Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária) comentou, via assessoria de imprensa, que não tem nenhum plano de melhorias específicas para o Mundial de 2014. A empresa trabalha, por enquanto, com base nos projetos já acertados de reforma ou construção de aeroportos até 2010. Nos próximos três anos, o setor aeroportuário precisaria de investimentos de cerca de R$ 5,07 bilhões, de acordo com estimativa da Infraero. A empresa tem receita

de R$ 3,04 bilhões e conta com mais R$ 2 bilhões de complementação do PAC para 20 aeroportos. Aparentemente, falta pouco para a conta fechar, mas não é bem assim. Em estudo realizado pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) e apresentado à CPI do Apagão Aéreo na Câmara, os investimentos necessários seriam de R$ 6,8 bilhões. Para a agência, a demanda por transporte aéreo tem crescido em quase 20% ao ano, e as obras programadas pela Infraero não seriam capazes de absorver esse aumento (veja tabela). A situação mais dramática, ainda segundo a Anac, seria em São Paulo, com dois aeroportos próximos da saturação e a necessidade de construção de um terceiro (ou incremento da infra-estrutura de Viracopos, em Campinas). O ritmo de crescimento dessa demanda poderia acelerar bastante em um ano de Mundial.

O problemático Pan como modelo Enquanto o transporte mostra pouca preocupação com a Copa, o setor de segurança quer se adiantar e acabar com as especulações de que poderia ser um dos pontos fracos da candidatura brasileira à competição. A Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública) já respondeu sua parte no caderno de encargos e se diz disposta a fazer o que for preciso em segurança pública e imigração. A secretaria pretende usar a infra-estrutura dos Jogos Pan-Americanos como

Como estarão os aeroportos do país Aeroportos

Terminal de passageiros 2010

2015

Sistema de pistas 2010

2015

Pátio de aeronaves 2010

2015

São Paulo (Congonhas) São Paulo (Guarulhos) Rio de Janeiro (Galeão) Rio de Janeiro (Santos Dumont) Belo Horizonte (Confins) Belo Horizonte (Pampulha) Brasília Salvador Fortaleza Porto Alegre Curitiba Florianópolis Manaus Goiânia Vitória Atende à demanda

Saturado

Fonte: Anac

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Infra-estrutura

será destinado R$ 1,5 bilhão para a conclusão de obras de metrôs em São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Recife e Fortaleza – o que poderia interessar à competição.

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dizer que haveria, em 2010, uma reavaliação depois da implementação das melhorias previstas no programa, para saber o que seria necessário fazer para a Copa. Esse é um sinal de que o processo começa equivocado. A participação do poder público nas obras para o Mundial é inequívoca. “Competirá ao governo federal, ao lado de prefeituras e governos estaduais, sobretudo investimentos na área de infra-estrutura e serviços urbanos”, diz o ministro do Esporte, Orlando Silva Júnior, referindo-se a transporte, comunicação, portos, aeroportos e segurança pública. De acordo com ele, o Ministério do Esporte comandaria o projeto da Copa 2014 no Planalto, recorrendo às demais pastas para articular as medidas necessárias à candidatura e à organização do evento. Em bom português, o Ministério do Esporte repassou as perguntas do caderno de encargos da Fifa para cada ministério responder às questões de sua área antes de devolver ao Comitê de Candidatura. Assim, o governo não pode argumentar que não conhece as exigências de uma Copa do Mundo (veja box na pág. 42). De qualquer maneira, parece que ainda há pouca compreensão sobre isso. Por exemplo, a Trivela enviou ao Ministério dos Transportes perguntas relativas à existência de projetos para criar linhas férreas para passageiros e de melhoria em estradas federais que ligariam as cidades-sede do Mundial. A resposta: “essas perguntas se referem a área de atuação do Ministério das Cidades ou do Ministério do Esporte”. O Ministério das Cidades só trabalha com transporte público em regiões metropolitanas, e o Ministério do Esporte cuida de políticas e ações esportivas. Quando pressionado para rever a resposta inicial, o Ministério dos Transportes não retornou o contato da reportagem. O Ministério dos Transportes não fala sobre a Copa, mas o PAC dá uma luz em relação aos investimentos na área para os próximos três anos. Em rodovias, está prevista a construção, recuperação ou adequação de 45.337 km de estradas, em investimento total de R$ 33,4 bilhões. Para as ferrovias, serão apenas 2.518 km e R$ 7,9 bilhões. Portos e hidrovias receberão, respectivamente, R$ 2,7 bilhões e R$ 700 milhões para melhorias. Detalhe: esses investimentos visam facilitar atividades econômicas importantes ao país, e muitos podem ser inócuos para a Copa. Em transporte público,

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coordena as ações, que envolvem ainda polícia federal, rodoviária e militar. O mesmo modelo seria seguido na Copa. Isso não quer dizer que, no Pan, tenha funcionado. Em abril, o general Sérgio Rosário foi afastado da chefia de segurança do evento, cargo que ocupava desde 2003. Motivo: ele revelou à imprensa informações confidenciais, como o veto do Exército à idéia da Senasp de recrutar garotos em favelas para trabalhar como guias. Em 11 de abril, alguns desses jovens envolveram-se em briga, em evento que teve a presença do presidente Lula. O Exército já alertara para a possibilidade de conflito, pois alguns dos garotos vêm de favelas dominadas por facções criminosas inimigas. Depois de demitido, Rosário ainda revelou que os Ministérios da Defesa e da Justiça estariam em atrito pelo comando da segurança do Pan e da verba de R$ 562 milhões que a área receberá apenas para o evento.

David Moir/Reuters

Infra-estrutura

modelo. No evento que será realizado no Rio de Janeiro, foram investidos R$ 562 milhões, entre treinamento de agentes, construção de centro de inteligência da polícia e implantação de controle em estádios e áreas turísticas. “Até levamos ao Rio responsáveis na área de segurança de outros estados para conhecerem o sistema e facilitar a eventual réplica nas outras cidades que receberem a Copa”, afirma Luiz Fernando Corrêa, secretário nacional de segurança pública. Por enquanto, Corrêa não tem estimativa da verba necessária para a segurança do Mundial, porque isso dependeria das cidades escolhidas e da capacidade já instalada nesses lugares. De acordo com o secretário, o plano da Senasp ainda inclui maior contato com a população das cidades que receberem o evento, para melhorar a relação da polícia com as comunidades, e conversas com autoridades de outros países, para trocar experiências e informar o que estaria sendo feito no Brasil. Passar a imagem de país seguro no exterior é importante, mas Corrêa não considera fundamental. “O que decide a sede de uma Copa são estádios, transportes e hotéis. Em relação à segurança, o governo local se compromete a combater de acordo com parâmetros já estabelecidos. Se essa fosse uma questão tão decisiva, o Pan não seria no Rio, pela fama da cidade”. Para que o esquema de segurança dê certo no evento poliesportivo, a Senasp

Setores menos delicados Se transporte e segurança, área em que o estado tem que cuidar de tudo, inspiram cuidados, dois setores devem dar menos dor de cabeça para os organizadores e, principalmente, o governo: comunicação e saúde. Nos dois casos, o motivo é a forte presença do capital privado e a definição do modelo de negócio nesses setores, o que facilita a entrada rápida de investimentos, caso necessário.

Investimentos na infra-estrutura de

O que a Fifa quer saber

A Fifa enviou uma série de perguntas para as cidades que se candidatam a receber partidas da Copa do Mundo de 2014. É com base nas respostas que o Comitê de Candidatura definirá as cidades-

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Aspectos gerais

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Principais atributos e características do Estado e município Tradição esportiva e no futebol Experiência na organização de eventos Atrações turísticas e resumo da história Número de quartos de hotéis, de leitos de hospital, de instalações culturais e de universidades e faculdades

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Natureza e patrimônio histórico Qualidade do ar e evolução dela nos últimos anos Sujeição à mudança de qualidade do ar durante a Copa Qualidade (potabilidade) da água na rede pública Áreas ambientais e históricas que poderiam ser afetadas pelos jogos ou transporte da população

Proteção ao meio ambiente Quais os objetivos e prioridade em relação ao meio ambiente Avaliação de impacto ambiental e programas de conscientização na área Esquemas de reciclagem e de redução da poluição do ar e sonora Gerenciamento de rejeitos sólidos e esgoto e medidas de limpeza após os jogos Diálogo entre níveis de governo para questões ambientais

Meteorologia Temperatura e umidade máxima, média e mínima na cidade entre meio a agosto de 2002 a 2006 às 12:00, 14:00, 18:00, 20:00 e 22:00 Número médio de dias com mais de 0,1 ml de chuva entre maio e agosto de 2002 a 2006 Direção média e velocidade do vento entre maio e agosto de 2002 a 2006 Altitude

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Infra-estrutura segurança (como essa central de monitoramento na Escócia) são altos e passam despercebidos pela população

sede do evento. Veja abaixo um resumo dos principais questionamentos da entidade para os municípios brasileiros, sem considerar as questões envolvendo estádios, porque serão tema de outra reportagem desta série

Estrutura e confiabilidade do transporte público e privado Aeroportos que servem a cidade e condições de serviço Serviços ferroviários, duração e custo das viagens Metrô ou monotrilho, ônibus urbanos e intermunicipais Malha rodoviária existente e projetada, com tempo de viagem entre as cidades-sede Transporte público entre o centro e o estádio Estacionamento público em raio de 2 km do estádio

Plano de transporte Coordenação entre Comitê de Organização e autoridades na área de transportes Sistema de gerenciamento de tráfego em torno do estádio e do centro da cidade Plano de transporte para times, árbitros, delegados da Fifa, convidados VIP Obras programadas Planos de emergência e contingência

Serviços médicos Hospitais em raio de 20 km do estádio Hospitais em raio de 50 km para tratamento especializado em ferimentos relativos ao esporte Serviços de emergência Recomendações de vacinação e saúde pública para estrangeiros Epidemias registradas no município e Estado Métodos para visitantes estrangeiros pagarem despesas médicas

Segurança Riscos de distúrbios, criminalidade, terrorismo e catástrofes naturais Autoridades de segurança, com especificação de atuação para emergências Proposta de proibição de vôos sobre o estádio em dia de jogo Escolta policial para times, árbitros, presidente da Fifa e convidados VIP Incidentes de segurança em larga escala, em eventos esportivos desde 1996, e melhorias adotadas Julho de 2007

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Transporte

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Stefan Zaklin/Reuters

Infra-estrutura COPA’14 copa 2014.indd 6

Carta branca para negociar Setor da economia que depende prioritariamente de investimentos privados, os hotéis e outros meios de hospedagem já se articulam para aumentarem sua capacidade e atenderem à enorme demanda gerada por uma eventual Copa do Mundo. Por isso, já houve contatos com o comitê de candidatura e a Fifa para começar a elaboração de um projeto para a hotelaria brasileira. Hoje, o Brasil tem 25,7 mil meios de hospedagem e 1,1 milhão de apartamentos. Mas a questão é mais complexa do que simplesmente construir mais hotéis, resorts, pousadas e albergues. É preciso capacitar esses novos estabelecimentos de acordo com as exigências da Fifa. Até 31 de julho, o comitê de candidatura tem de assinar um contrato assegurando à entidade padrões mínimos de preço, qualidade e quantidade de quartos de hotéis – isso sem sequer saber quais são as cidades que receberão os jogos (e que, conseqüentemente, precisariam de investimentos em hospedagem). Nesse setor, o estudo está a cargo da ABIH (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), que recebeu o aval do comitê de candidatura brasileiro para liderar o processo e já recebeu orientações iniciais da Fifa. O governo também pretende participar das análises. “Encomendamos um estudo à Fundação Getúlio Vargas, pois não podemos chegar na véspera da Copa e descobrir que não comportamos o volume de turistas”, comenta a ministra do Turismo, Marta Suplicy. Eraldo Alves da Cruz, presidente da ABIH, admite que o processo ainda é incipiente, mas já imagina a organização de convenções para que os estabelecimentos troquem experiências e organizem cursos de especialização de seus profissionais. Além disso, diz que um trabalho conjunto pode manter as diárias em preços justos. “Claro que os preços subirão um pouco, mas os gregos exageraram nos Jogos Olímpicos de Atenas e encareceram a viagem para o turista, que preferiu ver as competições de casa”, argumenta Cruz.

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Setor de telecomunicações se apóia fortemente no capital privado

Em telefonia, Internet e comunicação social, quase todos os investimentos ficariam a cargo das empresas dessas áreas. Há exemplos claros de defasagem tecnológica, como a não-implementação do sistema de TV digital no Brasil até hoje. Ainda assim, o governo trabalha com a possibilidade de a Copa justificar investimentos repentinos, e dificilmente esse se tornaria um gargalo na infra-estrutura do evento. A infra-estrutura de saúde também tem margem de manobra. Atletas e delegados da Fifa seriam atendidos pelo sistema privado de saúde, área em que o Brasil está em boas condições e os investimentos seriam proporcionalmente pequenos. Hospitais e centro de saúde públicos têm de estar preparados para receber os torcedores. Dado o estado da saúde pública no Brasil, esse seria um problema sério. No entanto, seria possível concentrar os investimentos em instalações pontuais, o suficiente para atender às exigências mínimas da Fifa.

Risco de gastos extras Ainda assim, o fato de o Pan ser exemplo e de a elaboração do projeto da Copa do Mundo ficar para as vésperas do torneio são notícias sombrias para o Brasil. Demorar para iniciar o planejamento pode levar a estimativas equivocadas de custos,

inviabilizar algumas melhorias previstas e, pior, fazer com que as obras sejam feitas em regime de urgência e, conseqüentemente, sem licitação. Isso é meio caminho para o governo pagar muito mais que o necessário – e para pessoas com interesses escusos ganharem dinheiro com isso. O Pan-Americano deixou o problema muito claro. Os governos carioca e fluminense previam transformar o Rio de Janeiro, mas deixaram de lado quase todos os projetos urbanísticos e ainda reduziram as promessas em instalações esportivas. Mesmo com essa diminuição nas ambições, o custo do evento ficou 684% maior que o previsto inicialmente. O que seriam R$ 409 milhões se transformaram em R$ 3,2 bilhões. O governo federal, que arcaria com 33,8% do total, acabou bancando 46,8%. A Copa do Mundo é incomparavelmente maior que o Pan-Americano. São mais turistas, mais dinheiro, mais atenção da mídia internacional e, principalmente, mais cidades. Ao contrário do evento carioca, não dá para deixar de fazer parte do projeto de infra-estrutura porque se gastou mais que o imaginado. Sem infra-estrutura adequada nas cidades e no país, o Mundial pode se tornar um caos. Para evitar isso, só se o Brasil começar a fazer o que não fez ainda: planejar com a devida antecedência.

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A burocracia mata a natureza. A luta pela aprovação da Lei da Mata Atlântica durou 14 anos. E acredite: o trabalho está apenas começando. Exija que a Lei não fique só no papel. Participe. Acesse www.sosma.org.br

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Capitais do futebol, por Ubiratan Leal

Mais que a Casa Real Autoproclamado maior clube da Europa, o Real Madrid dá o tom da ambição e grandiosidade do futebol da capital espanhola, apesar da sombra de um vizinho adormecido nos últimos tempos

A

cabou a agonia. Ficar quatro anos sem um título nacional é normal para quase todo clube do mundo, mas isso não é aceito no Real Madrid. Faz parte da cultura do clube – o “madridismo” – querer sempre mais e mais, como se pudesse abraçar o mundo com sua grandiosidade. Por isso, o título espanhol desta temporada, conquistado a fórceps por um grupo desacreditado por torcedores e imprensa, foi tão importante para a alma “merengue”. Trata-se de um espírito muito ligado a sua origem, a sua Madri de onde tirou o nome e à família real de onde veio o título nobre e a coroa do distintivo. De fato, o Real Madrid dificilmente seria

como é se tivesse nascido em outra cidade, sobretudo em relação a seu caráter institucional. Os Merengues são quase como uma representação futebolística da capital espanhola. Por exemplo, seu maior rival é um clube de outra região, o Barcelona, justamente por se opor às relações de poder de Madri com o resto do país. A sensação de poder que um torcedor madridista tem também se compara à de um Estado. Isso se vê pelo Estádio Santiago Bernabéu, que se ergue imponente no Paseo de la Castellana, avenida que abriga modernos edifícios comerciais e corporativos e liga bairros novos e elegantes ao centro antigo da cidade. Aliás, a casa madridis-

ta integra-se facilmente aos pontos mais nobres na cidade. Indo do estádio em direção ao sul, o Paseo de la Castellana começa justamente na Plaza de Cibeles – local de comemoração dos títulos “merengues” –, ao lado da Puerta de Alcalá – portão de entrada da cidade no século XVIII – e do final do Paseo del Prado, agradável avenida arborizada onde está o Museo del Prado, o mais importante da Espanha. O turista que se embrenhar pelas ruas apertadas e recém-restauradas do centro antigo também topará com o Real Madrid. Lojas de esportes têm seções dedicadas a artigos do clube, e lembrancinhas com motivos madridistas são fa-

Primeira divisão

clubes da cidade

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1 Real Madrid Club de Fútbol

3 Mundiais de Clubes 9 Copas dos Campeões 2 Copas Uefa 30 Campeonatos Espanhóis 17 Copas do Rei

2 Club Atlético de Madrid

1 Mundial de Clubes 1 Recopa Européia 9 Campeonatos Espanhóis 9 Copas do Rei

3 Getafe Club

de Fútbol Nenhum título

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ESTÁDIOS

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O impulso inicial do torcedor/turista que está em Madri é ir ao Santiago Bernabéu para ver ao vivo o Real Madrid e alguns dos melhores jogadores do mundo. É algo nada complicado, pois a casa madridista é bastante acessível. O estádio fica no Paseo de la Castellana, avenida fácil de encontrar para o turista que alugar carro e está bem servida por linhas de ônibus. A melhor pedida, porém, é pegar o metrô e descer na estação Santiago Bernabéu. A maior dificuldade será encontrar ingressos, se o jogo for importante. Nesse caso, a opção é tentar assistir a uma partida do Atlético de Madrid. O Estádio Vicente Calderón fica na região sudoeste da cidade, às margens do rio Manzanares (bom ponto de referência). De metrô, a estação mais próxima é Pirámides. Para quem preferir um programa mais alternativo, o Estádio Teresa Rivero, do Rayo Vallecano, fica próximo à estação Portazgo do metrô. O Coliseu Alfonso Pérez, casa do Getafe, está ao lado da estação Los Espartales.

4 Rayo Vallecano

Leganés Fuenlabrada San Sebastián de los Reyes

perdão do eufemismo, “distorção da verdade” são encaradas como verdade pelos “aficionados” do clube. Na cabeça do torcedor “blanco”, tudo é possível quando o clube quer. Afinal, o que seu presidente (eleito pelos sócios) diz tem aura de discurso de chefe de Estado. Para a torcida “merengue”, seu dirigente máximo – no momento, Ramón Calderón – tem de agir quase como um diplomata que representa uma nação em eventos oficiais, sempre com o recato exigido para esse tipo de situação. Sua figura é referência para tudo o que envolve o clube, incluindo suas declarações e até seu modo discreto de torcer no estádio.

Quarta divisão

Terceira divisão

cilmente encontradas. Se houver alguma loja de eletrônicos com televisão ou rádio ligados em programa esportivo, é grande a chance de o assunto ser o Real. Isso tudo é fortemente alimentado pela mídia madrilena, sobretudo a esportiva. Jornais como Marca e As encarnam o papel de porta-vozes de tudo o que ocorre no Santiago Bernabéu. O noticiário é claramente parcial, com fatos interpretados a partir do ponto de vista “merengue”, para despertar o interesse da torcida – o que, diga-se, é uma característica da mídia local também para outros esportes, vide o tratamento dado a Nadal e Alonso. Mesmo manchetes em que há, com o

Soto de Alcobendas, Alcalá, Las Rozas, Parla, Collado Villalba, Móstoles, Majadahonda, Ciempozuelos, Coslada, Colonia Ofigevi, Atlético de Pinto, Tres Cantos Pegaso e Colmenar Viejo

ALÉM DOS JOGOS O Atlético de Madrid é o único clube madrileno a ter um museu propriamente dito. Recém-inaugurado, o “Museo Atlético de Madrid & Colección Ornaque” tem sala de projeção que mostra grandes momentos dos Colchoneros, recriação do vestiário do antigo Estádio Metropolitano, cartazes de jogos históricos, exposições temporárias, coleção de artigos como chuteiras, bolas e camisetas desde a fundação do clube e, claro, troféus. Tudo espalhado em 600 m². O turista/torcedor ainda pode aproveitar para visitar o Estádio Vicente Calderón. Para conhecer o museu e o estádio do Atlético, basta ir ao restaurante “1903 Atlético de Madrid Sport Arena”, no portão 23 do Vicente Calderón. A entrada é paga, e o museu fica aberto de terça a domingo, das 11:00 às 19:00 (ou, em dias de jogos, até o apito inicial). O torcedor do Real Madrid tem menos opções. O novo museu do clube faz parte da segunda fase do projeto da Ciudad del Real Madrid, que ainda está em obras. Assim, o clube oferece uma solução temporária: visita ao Estádio Santiago Bernabéu e à sala de troféus. O passeio é bem interessante pela beleza interna do estádio madridista e pela quantidade de troféus importantes apresentados. Para visitar, basta ir ao estádio em dia que não houver jogos e pagar o ingresso pelo passeio. No caso dos dois estádios, o torcedor encontrará também as lojas oficiais de Atlético e Real, onde há uma enorme gama de produtos relacionados aos clubes. Outros pontos bastante ligados aos times são as praças de Netuno e das Cibeles. A primeira é o ponto de comemoração dos (poucos) títulos do Atlético. A segunda é palco das celebrações (mais freqüentes) da torcida “merengue”. Julho de 2007

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Essa confusão entre Real Madrid e um Es– tado nacional é um traço histórico do clube. Fundado como Madrid Football Club por três catalães, um madrileno e um inglês, o time recebeu o título de “Real” pelo rei Alfonso XIII, em 1920. Quatro anos depois, os Merengues inauguraram seu estádio em Chamartín, cidade com residências de alto padrão que foi anexada pela capital na década de 1940. Clube preferido do general Francisco Franco, que comandou o país entre 1939 e 1975, o Real Madrid é acusado de crescer devido a favorecimentos do ditador – o que a torcida, é claro, rejeita. O fim do franquismo, porém, coincidiu com um período de vacas magras pra o clube, principalmente nas competições européias. Com dívidas, o Real vendeu a Ciudad Deportiva, seu centro de treinamento localizado em uma região valorizada de Madri, para pagar credores – em operação que contou com uma ajuda da prefeitura local. Ainda sobrou um dinheiro para construir um novo CT e contratar grandes jogadores. Foi a época dos “galácticos”, no início desta década. Aí, o Real Madrid reencontrouse com sua vocação de conquistar tudo, indo além das fronteiras espanholas.

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Enquanto isso, fora do centro

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Quem for a Madri e ficar apenas nos pontos mais conhecidos pode achar que é uma cidade de apenas um time importante. Mas, com um olhar mais atento, verá que há uma discreta, mas constante, presença de camisas listradas alvirrubras em lojas e ruas. Para descobrir do que se trata, é preciso sair dos locais mais óbvios da capital espanhola e embrenhar-se em zonas ligeiramente mais afastadas. O bairro Imperial, apesar do nome imponente, é apenas uma região residencial de classe média-baixa na região sudeste de Madri. Próximo ao centro, não guarda nenhum glamour. Ali, às margens do rio Manzanares, está o Atlético de Madrid e o Estádio Vicente Calderón, com fachadas de granito e uma interessante arquibancada que avança sobre uma avenida, lembrando o túnel do circuito de Mônaco na Fórmula 1. Fundado em 1903 por estudantes bascos que queriam formar uma filial do Athletic de Bilbao na capital espanhola, o Atlético tornou-se independente anos depois e encontrou espaço entre trabalhadores de classes mais baixas, fora da área de atuação mais intensa do Real Madrid. Assim,

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Nos últimos anos, a capital espanhola passou por um grande processo de reurbanização e remodelação de vários edifícios e vias públicas. Assim, consegue fazer frente a Barcelona – um dos destinos mais conhecidos do mundo – e ajudar a manter a Espanha como segundo país mais visitado por turistas estrangeiros no planeta (atrás apenas da França). Essa nova fase de Madri pode ser bem vista na Gran Vía, avenida que concentra teatros e comércio, atravessando o centro e juntandose à Calle de Alcalá até chegar à Puerta de Alcalá, ao Parque del Retiro A e à Plaza de Cibeles B . A partir do local de comemoração das vitórias madridistas, pode-se pegar outro corredor importante: o Paseo del Prado. Arborizado e agradável de caminhar, o Paseo del Prado abriga a Fuente de Neptuno C , os museus do Prado D (com acervo que inclui obras de Goya, Velázquez, Rubens e Caravaggio) e Thyssen-Bornemisza (onde pode-se ver obras de Picasso, Goya, Ticiano e Van Gogh). No final dessa avenida, encontra-se a estação de trens de Atocha (alvo de atentado terrorista em 2003) e o Centro de Arte Reina Sofia, dentro do qual destaca-se o quadro Guernica, uma das mais importantes obras de Picasso. Outras atrações que não devem passar batidas pelos turistas/torcedores são Palácio Real E , Plaza Mayor F , Puerta del Sol e a Plaza de Toros de Las Ventas G . Esta última fica aberta à visitação mesmo quando não há tourada e permite entender – e não necessariamente aceitar – a relação dos espanhóis com a tourada.

COMES E BEBES A cozinha espanhola é uma das mais valorizadas na atualidade pela diversidade, sabores e criatividade nos pratos. Assim, comer paella ou cocido madrileño acompanhado por um vinho riojano pode ser uma experiência diferente a cada dia. Por exemplo, há até versões da paella sem carne, para os vegetarianos. Em um bar, é obrigatório experimentar vários tipos de “tapas”, petiscos que acompanham as bebidas e podem ser extremamente elaborados. Também não volte ao Brasil sem provar churros, jamones (tipos de presuntos) e um copo de sangria local.

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quem leva para Madri Iberia (www.iberia.com), BRA (www.voebra.com.br), Air Europa (www.air-europa.com), Air China (www.airchina.com.cn/index.jsp) e Pluna (www.pluna.aero) têm vôos diretos a Madri, partindo de Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador ou Recife. Também é possível chegar à capital espanhola por meio de outras companhias aéreas européias ou latino-americanas, mas aí é necessária uma conexão no país de origem da empresa, como Argentina, Uruguai, França, Alemanha, Itália ou Portugal. Para quem prefere comprar um pacote que inclui alguns dias em Madri, não faltam opções de operadoras que fazem essa viagem. Veja a relação de algumas: CVC (www.cvc.com.br), New Age (www.newage.tur.br), PNX Travel (www.pnxtravel.com.br), ADV (www.advtour.com.br), Venice (www.veniceturismo.com.br), Transiberica (www.transiberica.com.br), Salt Lake (www.saltlake.com.br), Flot (www.flot.com.br) e JVS (www.jvstour.com.br).

os Rojiblancos conseguiram cultivar uma quantidade grande de torcedores e crescer, sobretudo após a Guerra Civil Espanhola (1936-1939). Em várias oportunidades, o Atlético passou o Barcelona e foi o principal adversário do Real Madrid na luta pela hegemonia no país. Até hoje, o time de Manzanares é o único espanhol, além do Real, que conquistou o título mundial de clubes (o fez em 1974). O choque entre ambos era inevitável e há uma grande rivalidade – ainda que menor que a existente entre Real Madrid e Barcelona. Nos últimos anos, a crise financeira em que se meteu o Atlético aumentou a diferença técnica entre os dois clubes, e os clássicos locais perderam um pouco da força. A torcida “colchonera” ganhou fama de ser amarga e exigente, além de ter momentos de particular infelicidade, com violência e manifestações racistas. Apesar disso, é fácil perceber como o Atlético é grande. Os torcedores “rojiblancos” são encontrados em toda a Espanha, vêem como obrigação do time disputar um lugar na Liga dos Campeões e têm o rótulo de fanáticos por resistirem ao massacre madridista da mídia. Por isso, terminar o Espanhol em sétimo – abaixo da zona de classificação para a Copa Uefa –, como nesta temporada, catalisou uma nova crise no clube. A instabilidade do Atlético tem sido tão grande na última década que outros times têm se estabelecido esporadicamente como segunda força da capital espanhola. O Rayo Vallecano, pequeno clube do bairro periférico de Vallecas ligado à extrema esquerda, por exemplo, foi o único conterrâneo do Real Madrid na primeira divisão em 2000/1 e 2001/2, quando os Rojiblancos passaram na Segundona. Na temporada 2005/6, o Getafe – criado em 1983, a partir de uma torcida organizada do Real Madrid na cidade-satélite de Getafe – superou os Colchoneros por dois pontos. Apesar desses rápidos sucessos, os clubes pequenos têm pouco espaço em Madri. À exceção do Rayo Vallecano, nenhum outro tem sede realmente na capital. Getafe, Leganés e Fuenlabrada só conseguem sobreviver porque jogam em cidades vizinhas e reúnem alguns poucos torcedores. De resto, seria realmente muito difícil concorrer com dois clubes bastante tradicionais que abraçam toda a cidade, de seu lado mais nobre, tradicional e institucional ao operariado dos bairros residenciais. Julho de 2007

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Alemanha, por Carlos Eduardo Freitas

Quero

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ser grande Para apagar o fiasco que foi a temporada 2006/7 e reconquistar espaço e respeito na Europa, Bayern de Munique age rápido e, antes da concorrência, investe cerca de € 70 milhões em reforços de peso, como Toni, Ribéry e Klose

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I

magine um clube acostumado a ganhar tudo o que é possível dentro de seu país. Com l t ã no cenário á i iinternacional t i le alguma reputação títulos continentais, fica difícil não acreditar que aumentar essa marca não seja uma obsessão, a ponto de deixar seus torcedores, dirigentes e jogadores com um ar arrogante. Não, não se trata do São Paulo, mas sim do Bayern de Munique. Desde que conquistou seu quarto título da Liga dos Campeões, em 2001, o clube está obstinado por vencê-la novamente. Nos seis anos seguintes, foram investidos € 133 milhões em contratações (veja tabela) para, em três oportunidades, chegar às quartas-de-final – como na recém-encerrada edição, quando caiu diante do campeão Milan. Agora, pela primeira vez desde 1996/7, o Bayern não disputará a principal competição de clubes da Europa. Em outras palavras, a temporada 2006/7 foi um desastre para o clube mais rico da Alemanha, que não cansa de ostentar sua superioridade pelos quatro cantos do país. “Do jeito que está, não dá para ficar. Está na hora de uma grande reformulação. Precisamos começar do zero e montar uma nova equipe”, esbravejou o presidente do clube, Franz Beckenbauer, após a derrota para o

campeão Stuttgart, que acabou com as chances de os bávaros irem à LC. Não ir à Liga dos Campeões significa que o Bayern deixará de faturar uma fortuna na próxima temporada. Afinal, é um dos clubes europeus que mais ganham dinheiro com a competição, independentemente da posição em que terminar. Por ter a maior torcida da Alemanha (a favor e contra), o interesse para vê-los na televisão os coloca numa situação privilegiada na hora de negociar os direitos de transmissão com a Liga Alemã e, conseqüentemente, com a Uefa. Da parte que cabe às equipes alemãs que disputam a LC, os bávaros ficam com metade. Isso, geralmente, responde por mais de € 20 milhões. Dentro da Bundesliga, a situação não é muito diferente: sozinho, o clube de Beckenbauer fica com quase um terço de todo o dinheiro distribuído aos participantes da primeira divisão. Se somarmos aos valores de direitos de transmissão todas as outras receitas que o clube tem ao longo de uma temporada, dá para chegar facilmente à casa dos € 100 milhões. Com tanto dinheiro entrando, a pergunta que fica é: por que raios o Bayern não investiu mais em contratações de jogadores de melhor nível?

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só para a próxima temporada Falsa superioridade Praticamente sem concorrência na Alemanha nos últimos anos, os bávaros se acomodaram com sua superioridade interna e, com os títulos nacionais que levantaram, acharam que pouco precisariam para fazer frente às mais fortes equipes do continente – tanto que, das últimas nove temporadas, o Bayern só foi o clube, entre os alemães, que mais investiu em novos nomes em duas oportunidades: 2003/4 e 2004/5. Nos outros anos, foi sempre superado por seus rivais. Essas contratações eram pontuais, dentro da tradicional estratégia do clube de reforçar-se en-

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Saiba mais sobre futebol alemão em www.trivela.com/alemanha

Franck Ribéry (25) Luca Toni (12) Miroslav Klose (12) Marcell Jansen (10) José Sosa (9) Jan Schlaudraff (1) Hamit Altintop (0) Zé Roberto (0)

2006/7 ____ € 26 milhões Lukas Podolski (10) Daniel van Buyten (10) Mark van Bommel (6)

2005/6 ____ € 10 milhões Valérien Ismaël (8) Julio dos Santos (2) Ali Karimi (0) Philip Lahm (0)

2004/5 ____ € 25,5 milhões Lúcio (12) Torsten Frings (9) Andreas Görlitz (2,5) Vahid Hashemian (2) Bixente Lizarazu (0)

2003/4 ____ € 25,75 milhões Roy Makaay (18,75) Martín Demichelis (4,5) Tobias Rau (2,5)

2002/3 ____ € 24,7 milhões Zé Roberto (9,5) Sebastian Deisler (9,2) Michael Ballack (6)

2001/2 ____ € 21,85 milhões Robert Kovac (8,35) Claudio Pizarro (8) Nico Kovac (5,5) Pablo Thiam (0)

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foi o que o Bayern gastou nos últimos sete anos, dos quais

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Quanto gastou o Bayern desde sua última conquista da LC, em 2001

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Uli Hoenness (dir.), se antecipou a gigantes europeus e contratou Toni e Ribery

fraquecendo os rivais. Como nesse período a equipe levantou seis das nove Bundesligas que disputou, a impressão era de que tudo corria bem. O resultado da temporada 2006/7, porém, fez o Bayern perceber, desde o início deste ano, que a estratégia expirou. Os rivais conseguiram se armar bem, a proposta de renovação do elenco sugerida por Felix Magath não deu certo e, no último dia de janeiro, o treinador havia sido demitido – algo raro no histórico do clube. Há dois anos sem treinar, Ottmar Hitzfeld largou a carreira de comentarista para apagar o incêndio até o fim de maio – já avisando que não queria ir além disso. No meio do caminho, foi seduzido a renovar seu contrato até 2008. Como? A diretoria garantiu que teria € 50 milhões para investir em contratações – além das três que já haviam sido acertadas – e a autonomia para fazer do Bayern uma nova potência. Aí, ficou difícil recusar. Antes mesmo do fim da temporada, o técnico já dava dicas do tamanho da reformulação. “Faremos um balanço de cada jogador de nosso elenco, mas é certo que seis ou sete reforços virão, talvez oito. É mais de meio time, o que representa uma mudança radical”, avisou. O que surpreendeu foi a rapidez com que o Bayern acertou suas contratações. Sem dar tempo aos rivais internacionais, definiu as vindas de Toni, Jansen e Ribéry – o mais caro reforço da história do clube. Somando-se outras aquisições, junho nem bem havia chegado à metade e os bávaros já somavam € 57 milhões em investimento. Para fechar o mês, o clube finalmente acertou com o atacante Klose, por € 12 milhões, e ainda assegurou o retorno de Zé Roberto. Os números impressionam, e a mensagem está clara: depois de segurar as pontas por alguns anos, o Bayern abriu o cofre para tentar voltar a ser grande no cenário europeu, sem pensar em dar chances a acidentes em casa. A manchete de capa da revista alemã Kicker de 14 de junho dava o recado: “...E quem será vice?”, dada a alta expectativa sobre o milionário elenco bávaro. Hitzfeld reconheceu que terá problemas para administrar um elenco cheio de estrelas, mas a mensagem de Beckenbauer foi clara: vencer a Copa Uefa é questão de honra. A mesma Copa Uefa que, tempos atrás, foi apelidada pelo Kaiser de “Liga dos Perdedores”. Sinal de que, para voltar a ser grande, é bom começar pelas beiradas.

*até 26 de junho de 2007

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Daniele la Monaca/Reuters

Itália, por Cassiano Ricardo Gobbet

Mostrando as

garras Prevendo uma das edições mais disputadas da Série A, os gigantes - e a Azzurra - italianos preparam-se para mostrar suas armas

O campeão europeu Inzaghi (à esq.) e o campeão italiano Crespo: briga pelo próximo Italiano será muito dura

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Briga de cachorro grande O retorno da Juventus à Série A seria, por si só, suficiente para o Italiano retomar seu lugar junto às melhores ligas do mundo. Mas tem mais: junto com a Juve, outros dois ex-campeões italianos – Napoli e Genoa – foram promovidos, elevando o número de títulos já conquistados pelos participantes da Série A de 47 para 86. Além de Turim, sede da Juventus, também Roma, Gênova e Milão terão clássicos locais. São indícios de um campeonato ainda mais disputado. Isso sem falar na perspectiva de aumento de público: se simplesmente tirarmos da média da Série A da última temporada os números dos clubes que caíram e incluirmos os dos que subiram, a média sobe 12%. Se considerarmos as últimas médias de Juve, Napoli e Genoa na Série A, o aumento é de 18%. São números próximos aos 15% de queda nas bilhete-

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rias que o torneio teve em 2006/7. Milão começará a temporada como a rainha do futebol italiano. Campeã nacional e européia, a capital da Lombardia será palco do duelo mais acirrado entre as pretendentes ao scudetto. Os dois encontros pelo campeonato em San Siro serão os jogos mais esperados do ano. Para tanto, os planos dos times vão além do gramado. O bicampeonato italiano nem de longe bastou para diminuir a sede da Internazionale. A última conquista não teve a Juventus e teve Milan e Fiorentina de “mãos amarradas” por punições, sugerindo um menor valor no título interista. É a senha para o clube de Appiano Gentile não diminuir o investimento – tradicionalmente grande. Com dois títulos nacionais consecutivos na bagagem, a Inter precisa conquistar a Europa para manter o embalo. A um time que dominou a última Série A, o milionário Massimo Moratti deve agregar pelo menos dois reforços de peso. Além do hondurenho Suazo, já comprado ao Cagliari por cerca de € 12 milhões, o romeno Christian Chivu, da Roma, é o primeiro objetivo interista para a defesa. Além disso, de olho no futuro, nomes como o brasileiro Alexandre Pato e o francês Nasri ajudariam a manutenção do nível do grupo em temporadas futuras. No lado “rossonero” de Milão, a atividade não será menor. O sucesso na Liga dos Campeões depois de um ano tão atribulado só aumentou a determinação do clube em reaver o comando na Itália. O sucesso esportivo obtido nos últimos 12 meses reverteu em número recorde de contratos de patrocínio.Não à toa, para fortalecer a marca, uma das prioridades é vencer o Mundial de Clubes, no Japão. Todo o dinheiro ganho na LC – cerca de € 60 milhões – deverá ser gasto em contratações. Um meia e um atacante de fama global devem desembarcar em Milanello. Os brasileiros Emerson, do Real Madrid, e Ronaldinho Gaúcho, do Barcelona, são os preferidos.

Sergio Perez/Reuters

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epois de um longo e tenebroso inverno – que também englobou verão, outono e primavera –, o “calcio” italiano prepara-se para deixar para trás um dos períodos mais vergonhosos de sua história. Atingidos pelo escândalo em maior ou menor intensidade, quase todos os grandes clubes italianos agora olham para o horizonte com o sangue na garganta, ávidos por uma desforra. Juventus, alvo da maior punição do escândalo, Milan, Fiorentina e Lazio não querem simplesmente alcançar a melhor posição possível na tabela do próximo Italiano ou chegar ao maior número de títulos. Esses clubes se preparam para recuperar o terreno perdido nos últimos 12 meses. Mesmo Internazionale e Roma, que escaparam impunes à tempestade, encaram a temporada 2007/8 como a chance de fincarem o pé na ponta da tabela. A ebulição que marcará o “calcio” neste verão não se limitará às estratégias dos clubes em busca da hegemonia no país. Também a seleção italiana de Roberto Donadoni viverá um ano de definições, no qual será traçado o destino da Azzurra na próxima Eurocopa.

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Fiorentina Objetivo Vaga na Liga dos Campeões Estratégia Amadurecer o atual time para disputar o título em duas ou três temporadas Trunfos Várias promessas no elenco; poder econômico do dono do clube Possíveis pontos fracos Menor porte da cidade; baixa idade média do elenco

Juventus Objetivo Vaga na Liga dos Campeões Estratégia Construção de estádio; volta à Liga dos Campeões Trunfos Entusiasmo do grupo após a Série B; contratação de nomes importantes Possíveis pontos fracos Pressão da torcida; idade avançada de nomeschave, como Del Piero e Nedved

Internazionale Objetivo Liga dos Campeões e Italiano Estratégia Reforçar o elenco com craques e jovens para abrir uma era de dominância Trunfos Entrosamento e elenco grande Possíveis pontos fracos Dificuldade na LC; concorrência de Milan e Juventus

Ainda que Milão saia aparentemente na frente, as maiores expectativas recaem sobre Turim. A pergunta é: qual é a Juventus que voltou à divisão máxima? A resposta da equipe é muito decidida. Se foi o único “grande” que trocou de treinador, com a chegada do ex-Chelsea Claudio Ranieri, a Vecchia Signora também foi quem mais se reforçou no começo do mercado. Ciente de quão delicada é a situação de quem acaba de voltar da Série B, o objetivo da Juventus não é lutar imediatamente pelo título. A meta primária é o retorno à

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Liga dos Campeões, que traria o dinheiro necessário para poder voltar a peitar Inter e Milan em igualdade de condições. Além disso, a maior campeã italiana pretende consolidar sua recuperação com a construção de um estádio próprio. A idéia ficou na geladeira durante a estada na Série B, mas agora voltou a ser prioridade. O projeto poderia trazer receitas formidáveis em publicidade e na venda dos direitos do nome do estádio. Arrumar o financiamento para a nova casa é vital no planejamento da Juve a médio e longo prazo.

Lazio Objetivo Vaga na Liga dos Campeões Estratégia Saneamento financeiro; campanha de reforços a baixo custo; planejamento de novo estádio Trunfos Dinheiro vindo da Liga dos Campeões; entrosamento do time Possíveis pontos fracos Controle da dívida do clube; ausência de astros

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Roma Objetivo Lutar pelo Italiano ou vaga na LC Estratégia Renegociação de contratos aproveitando exposição na LC; ampliação do elenco para suportar vários frontes Trunfos Entrosamento do time; Francesco Totti Possíveis pontos fracos dependência de Totti; menor poder econômico

Milan Objetivo Mundial de Clubes e LC Estratégia Aposta na exposição global da marca; contratação de pelo menos um craque de renome internacional Trunfos Coesão do grupo; Kaká e Ronaldo Possíveis pontos fracos Alta idade do grupo; excesso de competições

Salvando a pele “azzurra”

Filippo Monteforte/AFP

Enquanto os clubes despejam milhões de euros em contratações e planos de marketing, a Azzura também entrará em uma fase decisiva para seu futuro. Sem ter convencido totalmente até agora, o técnico Roberto Donadoni tem uma parada dura logo no começo da temporada: no dia 8 de setembro, hospeda a França em Milão, precisando vencer para assumir a ponta do grupo B das eliminatórias para a Euro-08. As tarefas hercúleas de Donadoni começam bem antes – e fora do campo. Ele sabe que precisa da ajuda de Alessandro Nesta e Francesco Totti - fora da seleção desde a Copa - para chegar à Euro. Totti, ídolo em Roma, impõe condições para aceitar a Azzurra, preferindo uma seleção que jogue num esquema favorável a ele. O retorno de Nesta é mais delicado. O milanista, que sofreu com lesões no ombro e no tornozelo nos últimos tempos, não sabe se quer manter a agenda tão ocupada. A aposentadoria da seleção lhe daria mais tempo para se dedicar ao Milan, sem exigir tanto de sua condição física. A situação de Donadoni divide imprensa, torcida e a própria federação. Uma parte acha que o técnico é vítima da falta de empenho de alguns jogadores – Totti em primeiro lugar. Outra parte entende que a Itália de Donadoni ainda é opaca. Há ainda quem veja falhas da própria federação, que poderia iniciar a Série A mais cedo – a data de início atual é 26 de agosto – para dar mais ritmo aos jogadores da Donadoni: lutando Azzurra. Nos próximos meses, Donadoni terá de para obter apoio dentro se inspirar em outro italiano para driblar tantos e fora de campo problemas: o cientista político Maquiavel.

Quero ser grande Não são somente os membros do “Trio de Ferro” que olham o campeonato com ambições maiores. A Roma, atual detentora da Copa da Itália, esfrega as mãos com o dinheiro da LC, que serviu para sanear suas finanças. Com o cofre reforçado, o clube planeja dar ao treinador Luciano Spalletti um banco de reservas grande o suficiente para disputar suas competições com chances de vitória. Para viabilizar a ida de nomes como o do brasileiro Juan para Trigoria, a Roma também tem trunfos no plano comercial. O time “giallorosso” tem a última camisa da primeira divisão sem patrocínio. Certamente, não faltam propostas. Nos últimos dois anos, o clube recusou pelo menos cinco ofertas, avaliando o espaço como sendo mais caro. Agora, jogando novamente a Liga dos Campeões, analistas acham que o clube deve fechar um acordo para o reinício dos patrocínios. A outra agremiação romana, a Lazio, não tem as mesmas pretensões da Roma, mas segue ambiciosa. Com as contas voltando ao normal depois da falência da Cirio (empresa de alimentos que bancava o clube), em 2002, o atual presidente, Claudio Lotito, acredita que uma nova classificação para a competição européia pode recolocar o clube entre as potências do país. Embora não pretenda menosprezar a LC, a Lazio deve se reforçar com jogadores que cheguem a custo zero. Até junho, o sérvio Kolarov (OFK Belgrado) foi a única aquisição – e assim mesmo de baixo custo – na qual a Lazio colocou dinheiro. Del Nero, atacante do Brescia, não custou nada, e Foggia (Reggina) e Quadri (Spezia) retornaram de empréstimo. A longo prazo, a Lazio quer seguir os passos da Juve: construir um estádio particular. Sem as preocupações financeiras da Lazio – mas com uma vaga somente na Copa Uefa –, a Fiorentina é a última “grande” que quer colocar as mangas de fora. “Vencer um scudetto numa cidade menor requer tempo, como fez a Sampdoria em 1991. Nosso trabalho visa isso”, disse o técnico “viola”, Cesare Prandelli, esclarecendo os planos do clube. Ninguém em Florença espera um título para esta temporada, e a idéia é amadurecer um time cheio de promessas, como o lateral Pasqual, o meia Montolivo e o atacante Pazzini. Apesar disso, a determinação da “Fiore” deve deixá-la ainda mais difícil de bater. Saiba mais sobre futebol italiano em www.trivela.com/italia

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Inglaterra, por Tomaz R. Alves

O ídolo

dos pequenos diz

adeus Dario Gradi deixa o comando do Crewe Alexandra, clube que dirigia desde junho de 1983

A

técnicos cniicos

pergunta ppe erg rgunnta ddee tr trívia ríívviiaa jjáá ficou ccoou manm nma njjada: ja ada da: quem da: quem qu m é o ttécnico écni éc nicco co hháá m ma ais is mais te empo mpo no mp no ccomando oman om ndoo ddee uum m ttim im me na na tempo time Inglaterra? A maioria das pessoas responde “Alex Ferguson”. Então, quem quer mostrar que é entendido diz que não – o técnico que está há mais tempo num clube inglês é Dario Gradi, do pequeno Crewe Alexandra. Ele assumiu o time, que hoje disputa a terceira divisão, há nada menos que 24 anos (Ferguson está no Manchester “só” há 20). Pois bem, dia 1º de julho, depois de 1.235 partidas, a “era Gradi” finalmente chega ao fim. Em abril, o técnico anunciou que deixaria o comando da equipe nessa data. O motivo não tem nada a ver com resultados: “Eu não quero virar um

Número de treinadores diferentes, desde junho/1983 (inclui interinos) Crewe Manchester United Liverpool Arsenal Milan Barcelona Bayern de Munique Chelsea Real Madrid Internazionale São Paulo Palmeiras

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1 2 7 8 8 10 10 11 18 20 27 42

daqueles técnicos velhos e seguir trabalhando sete dias por semana, 52 semanas por ano. Isso não é bom para o futuro do clube. É melhor iniciar uma transição gradual, diminuindo aos pouco minha carga de trabalho”, explicou o treinador, que faz 66 anos em julho. No entanto, Gradi não abandonará o Crewe: ele assumirá o cargo de diretor de futebol, além de participar do conselho administrativo.

Brigando contra maiores Para entender como Gradi chegou a ficar tanto tempo à frente do Crewe, primeiro é preciso explicar que esse é um clube muito pequeno, que sempre foi um dos times mais pobres dentre as quatro divisões profissionais inglesas. No ano anterior à chegada do técnico, o Alexandra ficou em penúltimo lugar na quarta divisão e quase perdeu seu lugar na Football League. O público médio da equipe em pouco superava mil pessoas. Comparado a esse panorama inicial, os resultados alcançados por Gradi foram impressionantes. Sua melhor temporada foi a de 1997/8, quando conseguiu levar o time até o 11º lugar na segunda divisão. Em 2005/6, última temporada do Crewe na Segundona, a média de público foi de 6,7 mil pessoas. Trata-se de um número cinco vezes maior do que quando Gradi assumiu – mas, mesmo assim, equivale a apenas um terço da média do “Championship” naquela temporada. O segredo de Gradi para, com um orça-

mento de quarta divisão, manter seu time oscilando entre a segunda e a terceira foi o cuidado com as categorias de base. O técnico é um verdadeiro “workaholic” e não exagerou quando disse que trabalhava sete dias por semana. Além de cuidar da equipe principal, ele tomava conta dos treinos dos times sub-16, sub-18 e dos aspirantes. Ao longo dos anos, Gradi montou para as categorias de base uma estrutura de nível internacional, que é exemplo de excelência não só na Inglaterra, mas em toda a Europa. Passaram pelas mãos do técnico jogadores como David Platt, Neil Lennon, Danny Murphy, Geoff Thomas, Rob Jones, Seth Johnson e Robbie Savage. Entre os jovens, o técnico procura privilegiar jogadores com qualidade técnica e sempre impôs um estilo de jogo bonito, em vez de chutões e chuveirinhos. Gradi costuma dizer que dirige o time para os atletas – tanto que, segundo o treinador, só um jogador pediu para ser vendido, em 24 anos (Mark Rivers, que foi para o Norwich, em 2001). Além disso, para manter-se tanto tempo no clube, o técnico contou com um excelente relacionamento com a diretoria. Desde 1983, o conselho administrativo do Crewe mudou pouco – e a sinergia pôde se manter durante todo esse tempo. Daí, treinador e dirigentes puderam observar os resultados do trabalho que construíram juntos. A capacidade do Crewe de se manter num nível acima do que suas receitas permitiriam – e sem a ajuda de nenhum milionário – o tornou um dos times mais bem quistos da Inglaterra. Em pesquisa conduzida pela Football League e pela revista FourFourTwo, em 2006, o Alexandra foi eleito o time mais admirado da liga inglesa. Sob o comando de Dario Gradi, o Crewe nunca deixou de ser um clube pequeno. Mas passou de apenas mais um nanico a exemplo de como fazer um bom trabalho e criar um legado forte, mesmo sem grandes recursos financeiros. E é esse legado, mais que o recorde de 24 anos no cargo, que fará Gradi ser lembrado no futuro. Saiba mais sobre futebol inglês em www.trivela.com/inglaterra

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Em 1983, na época em que Dario Gradi chegava ao Crewe... ...... O Ab Aberdeen A beerrde d en n ddee Alex A exx FFer Al Ferguson e ggu er uso son on acab aacabara ac cabbar a a de de vven vencer ence ncer o R Re Real eal al Madrid, Madr M Ma adr drid id,, na final id nal a da da Recopa. Reco Re copa pa.. Naa Copa pa Cop opaa dos doos Campeões, C m Ca mppeõ e es es,, o Hamburg cou Hamb Ha mbbur m bur u g fi fico c u com co com o título. títu tí títu tulo tulo lo..

...... A Roma Romaa eera Ro raa ccampeã am mpeeã na n IItália; tálililia; tá a; o A a; Athletic thleti th t c de B Bilbao, ilba bao, o na Hamburg, EEspanha; Es spa panha; nnhha; a o Liverpool, Livver erpo pool po o , naa IInglaterra; ol nngglaate t rr r a; a oH a bu am burg rg,, na na Alemanha; A Al lem lem man anha h ; o Nantes, ha Nant Na ant ntes eess, na n FFrança. ranç ra nça. nç a a.

...... NNoo BBrasil, rraasi asiil,, o FFla Flamengo lame la ame meng nnggo de dderrotava err rrrot otav a a o Sa av SSantos, ant nttoss, pa ppara raa gganhar a ha an harr se sseu u terceiro Campeonato Brasileiro. terc te terc r ei eiro ro título títul íttulo ulo doo C ul aam mpe peon onat on nat a o Br Bra asili ei as eiro r . ro

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Stringer/Getty Images

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“Era Gradi” foi a única que permanecia maior do que a do técnico do Manchester United Julho de 2007

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Entrevista, por Sérgio Pires

“Merecia

mais respeito

de Scolari”

Chegada do técnico brasileiro coincidiu com o fim da carreira de João Pinto na seleção lusa. E ele não perdoa o gaúcho

E

m Portugal, João Pinto ainda é o cara. O camisa 10 do Braga continua a ser figura importante do futebol português, após fazer sucesso nos dois rivais de Lisboa. Certa vez, até seu ídolo Diego Maradona lhe reservou um elogio especial. “Ele tem classe até andando”, disse o astro argentino. Na seleção é que tudo podia ter sido bem melhor. Apesar da conquista de dois Mundiais sub-20 e de jogar em duas Eurocopas e em uma Copa do Mundo, deu adeus à equipe nacional na Copa de 2002, de maneira que não podia ser pior. Ficou gravado na memória não só pela eliminação de Portugal pela anfitriã Coréia do Sul, como também pelo episódio da agressão ao juiz da partida, Ángel Sanchez.

Oleg Popov/Reuters

Contra a Coréia, a última partida na seleção

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Na Copa de 2002, sua participação se destacou pela agressão ao árbitro Ángel Sánchez. Qual sua versão para o acontecido? Pensávamos naquele momento que tínhamos de vencer, porque não soubemos a tempo que os poloneses estavam goleando por 3 a 0. Reconheço que a forma como eu protestei foi bastante exagerada. Se eu soubesse que bastava um empate com a Coréia do Sul, minha reação não teria sido essa. Aquele “chega para lá” foi fruto de meu nervosismo. Acha que dois jogadores como você e Vítor Baía, que disputaram mais de 80 partidas pela seleção, mereciam mais respeito de Luiz Felipe Scolari? No meu ponto de vista, merecíamos mais respeito. Eu e o Vítor pedimos explicações [sobre não sermos mais convocados] e só não fomos apresentar queixa porque, dois dias depois, alguém da federação veio pedir desculpa e dizer que havia um equívoco. No fundo, parece que até os principais intervenientes da federação não sabem por que deixamos de ser convocados. Eles criaram esse problema por não quererem se pronunciar. Deu sempre a sensação de que estavam escondendo alguma

coisa. Scolari podia dizer: “Não os convoco por opção técnica e ponto final!” Mas nunca ninguém nos deu uma justificativa, e ainda hoje se fala disso... Os grandes sucessos internacionais da seleção portuguesa vieram pelas mãos de estrangeiros: o terceiro lugar em 1966, sob comando de Otto Glória, o quarto lugar em 2006 e o vice na Eurocopa em 2004, ambos por Scolari. O que você acha de técnicos estrangeiros no comando de Portugal? Scolari apanhou Portugal numa boa fase, quando a seleção estava num patamar mais elevado, depois de um período de crise esportiva. É muito mais fácil comandar uma seleção quando a federação está organizada. O carisma dele foi ajudado pelo fato de todo país ter acreditado que era possível vencer a Eurocopa. E podia! Mas a verdade é que não ganhamos nada. Até hoje lutamos por conquistar um título internacional. Tanto o Scolari quanto o Deco foram criticados quando se juntaram à seleção. Você aprovou a naturalização do Deco? Hoje, o que você acha da participação dele no time? Para mim, cada um deve jogar por sua seleção. Acho que no Brasil devem jogar brasileiros, e em Portugal devem jogar portugueses. Estou me referindo a técnicos também. Imagine que eu fosse técnico da seleção do Brasil e jogasse contra Portugal... Como ficaria meu coração, sentindo que tinha como adversário meu próprio país? Mas em termos meramente esportivos, é óbvio que a seleção ganhou com a inclusão de um jogador com o valor do Deco. Reconheço também que é mais fácil aceitar na seleção um brasileiro, que fala nosso idioma, do

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Mexsport

que, por exemplo, um argentino. Maradona disse um dia: “João Pinto tem classe até andando”. Um craque com as suas qualidades podia ter maior destaque se tivesse jogado num grande clube europeu? Cheguei a ler isso! Fiquei com o ego lá em cima, ainda por cima vindo daquele que eu considero como o melhor jogador de todos os tempos – com todo o respeito ao Eusébio e ao Pelé, que nunca vi jogar. Sem dúvida que, se tivesse jogado fora de meu país, tinha tido outra projeção. Mas cada um escolhe sua vida… Para você, que o conhece tão bem, o que aconteceu para Jardel nunca mais ter sido o mesmo e, desde que deixou a Europa, ter entrado em decadência? Jardel foi um fenômeno que apareceu no futebol português e podia ter um final de carreira bem melhor. Eu e outros companheiros alertamos para algumas situações em que ele se envolveu, mas cada um sabe o que fazer de sua vida, e nós não tínhamos qualquer poder sobre Jardel. Sei que, neste momento, ele quer recuperar, mas a idade já não deixa muito tempo para ele voltar a ter aquela grandeza. É com alguma tristeza que vejo a forma como eventualmente ele vai terminar. Felipão já avisou que deixará Portugal após a Euro-2008. Quem você acha que deveria substituí-lo? O Mourinho seria o nome ideal? Se Mourinho disser que quer ser técnico de Portugal, ninguém vai levantar a voz dizendo o contrário. Carlos Queiroz também tem muito prestígio internacional. E há também o Manuel José, do Al Ahly (Egito), que está sempre ganhando títulos por lá. A diferença é que ele está na África, e não na Europa...

João Manuel Vieira Pinto Nascimento: 19/agosto/1971, no Porto, Portugal Seleção: 81 partidas, 23 gols Carreira: Boavista (1988 a 1990, 1991 a 1992 e 2004 a 2006), Atlético de Madrid (1990 a 1991), Benfica (1992 a 2000), Sporting (2000 a 2006) e Braga (desde 2006) Julho de 2007

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Grandes bandeiras de cartão de crédito investem no futebol: Libertadores e Copa do Mundo

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Cartão Futebol Clube Briga pelos direitos de patrocínio da Copa entre Visa e Mastercard mostra que o futebol interessa, e muito, aos grandes do mercado de cartões 60

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m abril de 2006, pouco antes da Copa do Mundo da Alemanha, Fifa e Visa surpreenderam o mundo dos negócios do futebol ao anunciar que a operadora de cartões de crédito substituiria a rival Mastercard como patrocinadora da entidade a partir de 2007. Pelo acordo anunciado, a Visa pagaria à Fifa cerca de US$ 100 milhões por ano pelo direito de ter sua marca associada às competições organizadas pela entidade até 2014 – incluindo as próximas duas Copas. Poucos dias após o anúncio, porém, a Mastercard recorreu à Justiça nova-iorquina para impedir a troca de patrocinador. De acordo com a empresa, seu contrato previa o direito a igualar qualquer oferta de outros interessados. A Justiça, então, determinou a volta à situação anterior, e iniciou-se uma disputa nos tribunais em torno do assunto. Tal disputa resolveu-se há poucas semanas, com a Fifa concordando em indenizar

Kai Pfaffenbach/Reuters

Marcos Brindicci/Reuters

Negócios, por Caio Maia

a Mastercard em US$ 90 milhões. Embora o anúncio oficial ainda não tivesse acontecido até o fechamento desta edição, o fim da briga deixou o caminho livre para a Visa, que deve agora finalmente assinar o que foi anunciado em 2006. Os milhões envolvidos deixam claro que o interesse no patrocínio de eventos relacionados ao futebol atingiu enormes proporções, num negócio que só cresce desde 1970, quando a Adidas começou a associar sua marca à Copa do Mundo. A Mastercard, porém, dá a entender que o futebol já cumpriu seu papel na estratégia da empresa, que passaria a se dedicar a outros eventos esportivos. A “troca da guarda” se faz sentir também por aqui. Se, em 2005, a campanha “Não tem preço”, da Mastercard, com temas futebolísticos, esteve em todo lugar e, em 2006, o mesmo ocorreu com o mote da Copa do Mundo, desde o fim da competição na Alemanha a empresa não vol-

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PRÊMIOS NA SÉRIE B A fabricante de cosméticos Muriel lançou uma campanha publicitária voltada à Série B do Campeonato Brasileiro. A empresa dará um kit com seus produtos para o autor de cada gol na competição, assim como para cada goleiro que defender um pênalti. O maior prêmio ficará com o artilheiro, que levará um carro novo. A empresa deve se preparar para distribuir muitos kits. Em 2006, foram marcados 1.088 gols, em toda a Série B. Apesar de trabalhar com produtos para o público feminino, a Muriel tem apostado no futebol para divulgar sua imagem. No momento, a empresa patrocina Atlético-MG e Paraná, mas já estampou sua marca em clubes como Santos, Vitória, Bahia e Fortaleza.

PATROCÍNIO NOVO

não só comprar ingressos para os jogos do Figueira usando o cartão, como também utilizá-lo para entrar no estádio. As entradas serão vendidas pela Internet, e o comprador só terá que passar seu cartão por uma catraca especial para entrar. Paralelamente a isso, a empresa lançou a segunda etapa da campanha Visa Futebol Clube, na qual os usuários de cartões podem ganhar camisetas personalizadas dependendo de quanto consumirem. “A idéia da Visa é fortalecer a marca e também aumentar o uso dos cartões”, explica Andréa Cordeiro. A disputa pelos corações dos amantes de futebol está apenas esquentando. Por mais que tenha adotado um silêncio estratégico, é difícil imaginar que uma empresa como a Mastercard deixando a rival sozinha na arena. Quando falamos de empresas que movimentam anualmente bilhões de dólares, é razoável esperar que a briga seja de cachorro grande.

FATURAMENTO DE € 12,6 BILHÕES

notas

tou ao tema. Enquanto isso, a Visa entrou pesado na arena. Desde 2006, quando lançou a campanha “Visa Futebol Clube”, a empresa tem feito o possível para afirmar sua marca relacionada ao esporte. A Visa, na realidade, investe no futebol brasileiro há uma década. “O lançamento do Visa Electron no Brasil, em 1997, deuse com o futebol”, afirma Andréa Cordeiro, vice-presidente de marketing da empresa no Brasil. De acordo com ela, o envolvimento com o futebol aconteceu em “fases”. “A cada nova fase, o envolvimento ia crescendo, até recentemente, quando criamos o Visa Futebol Clube, um conceito guarda-chuva que engloba todas nossas ações na área”. Hoje, a Visa patrocina a Copa do Brasil, a Sul-Americana e a Libertadores. Há algumas semanas, anunciou uma parceria ousada com o Figueirense. Pelo acordo com o time de Florianópolis, os usuários de cartões com a bandeira Visa poderão

O Real Madrid terá uma nova marca estampada em seu uniforme a partir da próxima temporada. O clube assinou um contrato com a Bwin, site de apostas austríaco, para substituir a BenQ Mobile, que faliu. Os Merengues buscavam um patrocinador desde janeiro. Os valores da negociação não foram divulgados, embora a imprensa espanhola estime que o acordo tenha ficado entre € 15 milhões e € 20 milhões. A Bwin, que também patrocina o Milan, teve problemas na Alemanha. A Justiça local proibiu o nome da casa de apostas de aparecer nas camisas do Werder Bremen, em jogos realizados em território alemão.

A empresa de consultoria Deloitte divulgou estudo em que calculou todo o faturamento do futebol europeu na temporada 2005/6. De acordo com a pesquisa, foram arrecadados € 12,6 bilhões em todo o continente, sendo que 53% (€ 6,7 bilhões) representam apenas as cinco principais ligas européias (Inglaterra, Itália, Espanha, Alemanha e França). O campeonato nacional mais rico foi a Premier League, com faturamento de € 2 bilhões, € 600 milhões a mais que a Lega Calcio italiana. Bundesliga e LFP espanhola faturaram € 1,2 bilhão, e a Ligue 1 francesa movimentou em € 883 milhões. A Liga dos Campeões aproximou-se desse grupo, com arrecadação de € 610 milhões. Julho de 2007

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Cultura, por Carlos Eduardo Freitas

quem é melhor? Janco Tianno

Vai de

?

Janco Allejo ou de

Atacantes da Seleção Brasileira nos games Fifa Soccer e International Superstar Soccer, os dois são reverenciados por fãs saudosistas

T

oda época tem sua discussão filosófica sobre futebol. Quem foi melhor, Zico ou Maradona? Raí jogava mais ou o bom da família era o Sócrates? Dinamite foi o maior no Vasco recente ou Romário pesou mais? No meio da década de 90, porém, o que pesava nas discussões da garotada, mais que nacionalidade ou paixão clubística, era a marca do seu videogame. Nem Romário, nem Bebeto, nem Careca; a grande dúvida do futebol, era, naquele momento, saber quem jogava mais: Janco Tianno ou Allejo? A rivalidade entre o camisa 11 do Brasil no Fifa International Soccer, da Electronic Arts, e o 7 da Seleção do International Superstar Soccer, da Konami, por incrível que pareça, sobreviveu ao tempo. Pois é: até hoje tem quem lembre de Janco Tianno e seu companheiro de ataque, Rico Salamar. E de Allejo. Naquela época – idos de 1994, 1995 –, os precursores do Fifa Football e do Winning Eleven não usavam os nomes reais dos jogadores, como acon-

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tece hoje em dia. Assim, os programadores tinham que inventar os nomes dos craques. No caso de Janco, o culpado foi Jan Tian, um dos programadores do jogo, que não se preocupou muito em fazer um nome que parecesse “brasileiro”. O curioso, porém, é que toda uma geração que cresceu com um joystick nas mãos não se esquece dos grandes ídolos do videogame. Até hoje, há malucos que, quando jogam Winning Eleven ou Fifa Football, mudam os nomes de jogadores reais para o deles. Assim como nas discussões “sérias” sobre futebol, há, até hoje, quem discuta qual dos dois craques virtuais era melhor. Em princípio, é claro, quem tinha o Mega Drive prefere Janco, e quem tinha Super Nintendo, Allejo – o que transforma a discussão em um “Fifa Football x Winning Eleven”. No quadro acima, você pode comparar as estatísticas de cada um. Ou pode confiar em um membro de uma das comunidades dedicadas ao astro do ISS em um site de relacionamentos:

(0 a 100) Experiência Velocidade Reflexos Domínio Força do chute Precisão do chute Agilidade Resistência Passe Determinação

94 87 86 90 86 91 88 85 88 87

Allejo (0 a 10) Velocidade Arrancada Força do chute Efeito na bola Equilíbrio Inteligência Pulo Drible Resistência

10 10 8 8 10 10 9 10 9

“Allejo faz lances mais bonitos do que Janco Tianno, mas nunca vi o Allejo fazer gol da sua própria área, nem dar aquelas arrancadas fenomenais que o Janco dava”, comenta. Comunidade para festejar caras que nem existem? Pois é. Para se ter uma idéia, a maior das 56 comunidades no Orkut para Allejo (“Allejo Melhor que Pelé”) tem mais de 18,5 mil membros. Janco Tianno, por sua vez, tem números mais modestos. Registra apenas cinco comunidades em sua homenagem – a maior, que leva apenas o nome do craque, com pouco mais de 3,8 mil membros. Nas comunidades, inspirados pelo gol mil de Romário, os membros se esforçam para fazer as contas de quantos tentos já marcaram cada um dos dois goleadores. “Lançamos a campanha ‘Janco um zilhão’”, conta Manoel Guimarães, fundador da principal comunidade dedicada ao atacante do Fifa Soccer: “São mais de 3,5 mil membros. Se cada um fizer 5 mil gols, já são 17,5 milhões de gols”.

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a seleção brasileira...

FÃS DE FUTEBOL GANHAM NOVA COMUNIDADE ONLINE

...no Fifa International Soccer

Já está no ar o Ole!Ole!. Trata-se de uma comunidade virtual para fãs de futebol, servindo como ponto de encontro de torcedores do mundo todo. Os usuários podem discutir, trocar informações e experiências sobre seus clubes e criar blogs personalizados. O site ainda está em sua versão beta, mas, em três meses de atividade já contabiliza 100 blogueiros. “A comunidade de boleiros no mundo todo já está perto de dois mil usuários”, conta Maurício Teixeira, ex-coordenador de esportes do portal iG, e editor da versão brasileira. A grande diferença do Ole!Ole! para outros sites de futebol é que são os próprios leitores que mandam as notícias.

Ricardo Santana; Enrico Moeser, Luis Silva, Marco Pitzos e Julios Barbetto; Tomas Gabriel, Manuel Fernando, Tito Mancuso e Peter Mueller; Janco Tianno e Rico Salamar

...no International Superstar Soccer Da Silva; Ferreira, Vincento, Paco e Cícero;

Ole!Ole!

Roca, Santos, Pardilla e Beranco;

http://br.oleole.com

Gómez e Allejo

Onde joga Tó Madeira? Para os fãs da série Championship Manager/Football Manager, Janco Tianno e Allejo precisariam comer muito feijão com arroz para chegar perto do português Tó Madeira. Personagem da versão 2001/2 do CM, era muito fácil tirá-lo de Portugal para brilhar nos grandes times do planeta. Muitos devotos da série se desesperaram para descobrir onde ele jogava na vida real. Tempos depois, um fórum de fãs do jogo desvendou o mistério: Tó Madeira, na verdade, era um dos pesquisadores do game em Portugal. Como de costume, ganhou uma homenagem dos criadores e, no imaginário dos fãs, ficou famoso.

A devoção, porém, vai ainda mais longe, ultrapassando os malucos por futebol: em 1996, surgiu em Belo Horizonte uma banda de rock com o nome de Janco Tianno. “Jogávamos o Fifa durante a gravação de nosso CD”, conta Alexandre Xavier, um dos fundadores do grupo, que chegou a ter até videoclipe na MTV. Mais recentemente, o publicitário carioca Felipe Venetiglio adotou o nome do artilheiro para tocar como DJ em casas noturnas no Rio de Janeiro. “Muita gente me pergunta se tirei o nome do jogador. Quando digo que sim, o papo sobre videogame vai longe”, conta o DJ Janco Tianno. Depois do videogame e da música, as fronteiras da cultura pop parecem ser elásticas para os craques. Como alguns fãs chegam até a produzir vídeos – com edição e tudo – e colocá-los no YouTube para compartilhar com outros saudosistas, quem sabe, em breve, você possa assistir em DVD a um “Allejo Eterno”, ou um “Isto é Janco Tianno”.

lançamentos

ROGÉRIO CENI GANHA LINHA EXCLUSIVA Chega às lojas neste mês a X-Ceni, linha de produtos que leva o nome de Rogério Ceni. Além de luvas como as que o goleiro-artilheiro são-paulino usa em campo, a Umbro criou também chuteira de futsal, minibolas, bonés, blusão e, claro, camisas de goleiro. O objetivo da empresa inglesa é agradar principalmente ao público infanto-juvenil. “O Rogério é um atleta de grande projeção nacional e internacional, e exerce um fascínio não só entre os são-paulinos por sua atuação em campo”, aposta Paulo César Verardi, diretor de operações da Umbro. Linha X-Ceni Fornecedor: Umbro Preços sugeridos: Luva: R$ 44,90 Minibolas: R$ 39,90 Camisa de goleiro: R$ 79,90

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Fotos Maurício Val/Vipcomm

Cadeira cativa, por Eduardo Neubern

Dia da

mentira Q

uatro amigos: um “romarista” que nunca tinha ido a um jogo do “Baixinho” (ficou no “quase” diversas vezes, incluindo a Copa de 1998), um vascaíno que foi a três jogos na vida, um argentino que jamais pisara no Maracanã e um são-paulino que se via empolgado com a idéia de conhecer a Cidade Maravilhosa. Induzidos pelo “oba-oba” da mídia “oba-obística” e seduzidos pelo sol de 32 graus, acordaram às 6:30 no domingo, 1º de abril, e decidiram dirigir cinco horas para assistir ao dérbi Botafogo x Vasco, no Mário Filho. Detalhe: o quinto amigo, justamente o carioca, vascaíno, romarista e assíduo freqüentador do Maracanã, desistiu na última hora. Dois gigantescos pontos de interrogação rondavam a cabeça dos empolgados amigos na estrada: conseguiriam ingresso para um embate cercado de tamanha expectativa? Iria o atacante quarentão retribuir o sacrifício dos peregrinos com o pseudo gol mil? Depois de 450 quilômetros, os amigos chegaram ao templo do futebol. A estátua de Bellini fez lacrimejar os olhos dos mais fanáticos do grupo. Sedentos, foram à bilheteria do estádio, ansiosos por responder ao primeiro ponto de interrogação do parágrafo anterior. Para surpresa geral, depararam-se com uma fila tímida. Orientando os quatro companheiros, um “funcionário” à paisana gritava: “ali ó, vai direto no guichê, brasileiro não gosta de fila”. O primeiro desafio tinha sido resolvido a contento e por R$ 30 as entradas estavam garantidas. Hora de curtir Ipanema e mostrar parte da cidade ao amigo são-paulino. Cinco horas depois, após enfrentar um engarrafamento, retornaram ao Mário Filho. Nova surpresa: o caos tomara conta do local, e a única alternativa para entrar no estádio foi imitar a massa e pular as catracas. Estavam muito perto para desistir. Acomodaram-se onde as circuns-

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tâncias permitiram e surpreenderam-se com a venda de cerveja dentro do estádio. Declarados 59.829 pagantes, cruzmaltinos em sua vasta maioria, aguardavam com apreensão pelo “gol mil”. O jogo? Nem o time do Vasco parecia se preocupar com o placar. Um amontoado de nove jogadores gravitava em torno de um peso morto que buscava o canto do cisne. Organizado taticamente, com dois ou três destaques individuais e mais perigoso, o Botafogo buscava vingança contra seu algoz (Romário venceu a defesa alvinegra 31 vezes, o que faz do Fogão o time mais vazado pelo “Baixinho”). A partida pareceu disputada em câmera lenta, talvez pelo calor, talvez pelo Vasco ter atuado no ritmo atual de Romário. O Botafogo dominou amplamente o primeiro tempo, anotando com Lúcio Flávio, aos 14 minutos. Na segunda etapa, o Vasco teve o zagueiro Dudar expulso e ainda sofreu o segundo gol, em jogada de contra-ataque (Túlio, após bela combinação coletiva). O 2 a 0 frustrou os vascaínos (mais pelo zero que pela derrota) e deixou os botafoguenses próximos da semifinal da Taça Rio. O artilheiro dos 901 gols oficiais passou em branco, decepcionando os quatro amigos e o quinto companheiro (o vascaíno) que ficara em São Paulo. Romário teve quatro oportunidades de marcar, uma clara, mas talvez o nervosismo tenha falado mais alto. Tentou marcar com a mão, o que lhe custou um cartão amarelo. Aos amigos, restou dirigir seis horas de volta a São Paulo e aguardar pelo próximo capítulo da conta de pescador do “Peixe”. Considerando a experiência, o balanço final foi positivo.

Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

ficha

Tudo estava preparado para a festa de Romário; só se esqueceram de combinar o enredo com a bola

BOTAFOGO 2 VASCO 0 Competição: Estadual do Rio Data: 1º/abril/2007 Local: Maracanã (Rio de Janeiro)

Julho de 2007

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E se..., por Caio Maia

E se George Best

fosse inglês ickie Best gostava de Belfast, mas a mudança para Londres representava uma oportunidade profissional boa demais para recusar. Por isso, George, primeiro filho de Dickie e Anne, nasceu no norte de Londres, em maio de 1946. Talvez, se tivesse nascido na Irlanda do Norte, a carreira de George tivesse sido diferente – é pouco provável, por exemplo, que tivesse jogado uma Copa do Mundo. No lugar onde Dickie Best foi morar, em cima de um pub na alameda White Hart, em frente ao campo do Tottenham, seu filho só poderia jogar em uma equipe. Ainda mais em 1961, quando começou a carreira, ano que viu os Spurs ganharem a primeira “dobradinha” do século na Inglaterra. Com apenas 17 anos, George estreou nos profissionais do Tottenham, e, naquela temporada, a equipe retomou o título nacional e o manteve por mais dois anos. A conquista da Copa dos Campeões da Europa, em 1965 e 1966, distraiu o time, que deixou escapar o título nacional, mas a liga doméstica voltou para o norte londrino em 1967 e lá se manteve até 1970. Se em 1964 o norte de Londres já reverenciava Best, dois anos depois toda a Inglaterra também o faria. Na primeira Copa disputada no país que inventou o futebol, o filho de irlandeses virou símbolo nacional inglês. Até

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A cada edição, um convidado imagina como seria o mundo do futebol, se alguma coisa fosse diferente. Você tem sugestões de temas para esta seção? Mande um e-mail para contato@trivela.com

a final, Best jogara bem, mas não fora o principal nome da equipe. No último jogo, porém, com a contusão de Geoff Hurst, sua estrela brilhou. A Alemanha abriu o placar ainda no primeiro tempo, com Haller, mas Best empatou minutos depois. Martin Peters fez o segundo da Inglaterra, mas, quase no fim da partida, Weber empatou novamente. Na prorrogação, Alf Ramsey resolveu colocar em campo o baleado Hurst. Best seria o substituído, mas, pouco antes da troca, Hunt sentiu o tornozelo e teve que sair. Pouco depois de entrar, Hurst quase protagonizou a infâmia maior: o atacante chutou em direção à meta, a bola bateu no travessão, mas não entrou. Apesar de muito pressionado, o árbitro não deu o gol. No lance seguinte, a Alemanha marcou de novo, novamente com Weber. Wembley emudeceu e assim permaneceu até o reinício da prorrogação. Best marcou seu segundo gol na partida a 20 segundos do segundo tempo. Quase 15 minutos depois, finalmente desempatou, dando à Inglaterra seu primeiro título mundial. A festa nas ruas de Londres foi inimaginável. Nem o capitão Bobby Charlton foi tão comemorado quanto Best. A consagração definitiva, porém, viria quatro anos depois, quando enfrentaria aquele que, em 1970, ainda

era considerado o maior futebolista de todos os tempos, o brasileiro Pelé. A primeira partida entre Inglaterra, então campeã, e Brasil, favorito ao título, ocorreu na fase de grupos. O Brasil venceu por 1 a 0, mas apenas porque Gordon Banks fez aquela que foi considerada depois “a maior defesa de todos os tempos”. Best não atuou bem – o alcoolismo que acabaria com sua carreira pouco depois já começava a se manifestar, e, reza a lenda, o atacante conhecera a temível tequila no dia anterior. Ambas as equipes, porém, progrediram até a final, e, um dia antes da partida, Alf Ramsey passou a tarde e noite junto com George Best. O resultado foi visto no histórico 21 de junho de 1970. O 6 a 4 a favor da Inglaterra é até hoje o maior placar de uma final de Mundial. Os dois gols de Pelé e sua atuação soberba não foram suficientes. Do outro lado, com quatro gols e duas assistências, Best levou a Jules Rimet de volta à Inglaterra. A final da Copa foi também o fim da carreira do craque. “Nada mais tenho a conquistar”, declarou à imprensa, na época. O gosto pelo álcool e pela vida social agitada acabaram levando o craque à morte prematura, em 2005. O nome de George Best, porém, permanece imortal em sua Inglaterra e na história do futebol mundial. Julho de 2007

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A Várzea

Jônatas eterno

A lorota do mês “Devolvemos a alegria a Robinho.” Dunga disse isso logo depois de arrumar uma baita treta e quase azedar a vida do moleque justo quando ele consegue se dar bem em Madrid. Tem algum anão chamado “Brincalhão”?

A charge do mês

Tolete, o intrépido repórter d’A Várzea, esteve perto da demissão esses dias. Por incrível que pareça, voluntária. Tudo aconteceu quando passou pela redação da Trivela a pedido do Editor e viu na parede que a capa da revista ia ser um argh!entino. Pior: O Argh!entino. Em um momento tão especial do Brasileirão, em que os craques brigam para ficar nos bancos de reserva das grandes equipes, a falta de assunto da revista é patente. Denílson, estagiário com potencial d’A Várzea, também não entendeu nada: “Num tem u Janco i u Allejo na edissãum? Paquê pagapáu pa gringu?”, disse. Para convencer o pessoal da Trivela a trocar a capa, Tolete fez de tudo. Imaginou o seguinte: a Trivela, como revista séria que é, trocaria a capa caso Tolete provasse que algum brasileiro foi melhor que o argh!entino. O repórter, é claro, foi correndo para a lista de artilheiros do Brasileirão. “Josiel, este é craque”, pensou, enquanto tentava lembrar se o cara era branco, preto ou azul, e se jogava na Portuguesa ou no Bragantino. Como não conseguiu lembrar da última passagem do artilheiro pela Europa, abriu mão: “Maradona não jogou o Brasileiraço, não dá para comparar”. Tolete pensou, então, em compará-lo com Iarley, mas seria covardia. Lembrou-se, então, que o trapaceiro argh!entino jogou na Espanha. E que, em sua passagem por lá, nem chegou a disputar uma competição européia. E isso porque jogou no Barcelona! Por outro lado, um jogador do Bra-sil-sil-sil, chegou no Espanyol, que é o segundo time da cidade, e já conseguiu o almejado posto de vice-campeão da Copa Uefa, que já foi de potências como o Middlesbrough. Quem se não o grande Jônatas poderia ser a capa da Trivela? O quê? Reserva? Ãh?

Em alta Sandro Goiano

Percebeu a tempo que o negócio não ia acabar bem... e saiu de fininho.

A manchete do mês “Clássico de Recife terá promoção” (Globo Esporte.com) Considerando que a partida seria entre Sport e Náutico, não seria mais exato dizer “clássico de Recife terá rebaixamento”?

Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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Libertadores da América Todo mundo sabe que, se o campeão não é o Bra-sil-sil-sil, é porque o campeonato é meia-boca.

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