Trivela 18 (ago/07)

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www.trivela.com

E MAIS... ...Brasileiros na Premier League

Willian, 18 anos

...Estádios para Copa’14 ...Milan no Mineirão ...Macri: do Boca ao poder

Renato Augusto, 19 anos

Craques na

fogueira BECKHAM B Po Popstar tenta nos EUA o que Pelé não conseguiu

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FERNANDÃO “Até jogador do Heerenveen é convocado, e eu não”

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Pressão por resultados cada vez mais cedo queima q eima nossos talentos – e eles nem percebem

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ÍNDICE INGLATERRA

Pela primeira vez, grandes clubes ingleses apostam em jovens talentos brasileiros

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Editor Caio Maia

QUEIMANDO TALENTOS

Clubes, colegas, família, agentes... Todos colocam pressão em nossos jovens jogadores ESTADOS UNIDOS

Beckham será o responsável por fazer o futebol dos EUA dar um salto de qualidade

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UM TRAMPOLIM CHAMADO BOCA JUNIORS

Bons resultados da equipe levaram Mauricio Macri à prefeitura de Buenos Aires

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ENTREVISTA: FERNANDÃO Vipcomm

Ídolo do Internacional avisa: voltar ao futebol europeu é uma possibilidade

COPA’14

3x0

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JOGO DO MÊS

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CURTAS

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PENEIRA

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OPINIÃO

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TÁTICA: O Wunderteam

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HISTÓRIA: Copa Centenário

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CAPITAIS: Belgrado

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MÉXICO: Pachuca

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ALEMANHA: Bayer Leverkusen

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NEGÓCIOS: Emirates e TAM

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CULTURA: Cachecóis

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CADEIRA CATIVA

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E SE...

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A VÁRZEA

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Várzea Brasil já tem a lista de estádios Apré-selecionados para o Mundial. Agora, é hora de ver se o melhor é construir ou reformar

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EDITORIAL Nunca antes neste país... O bordão do presidente Lula, que virou piada para seus opositores, poderia muito bem ser aplicado ao que vem acontecendo com o futebol brasileiro – que, aliás, também vem virando piada. Já faz algum tempo que a maioria dos times estão quebrados e que, em muitos deles, quem tem de resolver as partidas são os jogadores criados nas categorias de base. Agora, em 2007, é difícil pedir a alguém que cite cinco craques que disputam o Brasileirão. Quatro. Três. Um? Com raríssimas exceções, estão aqui os que não têm mercado lá fora – os que não têm mais, os que não têm ainda e os que não têm, mesmo. Não é novidade, a não ser o fato de que as exceções, que já eram pouco numerosas, agora podem ser contadas nos dedos de uma mão. Não bastasse as diferenças fi nanceiras e de qualidade de vida entre o Brasil e as nações do mundo desenvolvido, ajuda também o fato de que a Seleção, que ainda contribuía para segurar alguns por aqui, não tem critérios claros para escolher seus integrantes. Nunca antes na história deste país tantos moleques foram responsáveis por fazer tanto em seus times. Por isso é que o Brasileirão é tão “equilibrado” e “imprevisível” — aliás, tão imprevisível quanto o futuro de nosso futebol.

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Reportagem Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Tomaz R. Alves Ubiratan Leal Colaboradores Antonio Vicente Serpa João Tiago Picoli Mauro Beting Mauro Cezar Pereira Agradecimentos Paulo Torres Foto da capa Fotomontagem sobre imagens Gazeta Press Destaque: Lucy Nicholson/Reuters Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold Diagramação e tratamento de imagem Bia Gomes

Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 3528-8610 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3528-8612 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Vanessa Marchetti vanessa@trivela.com (11) 3528-8612 Circulação DPA Cons. Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br (11) 3935-5524 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Prol Gráfica e Editora Tiragem 30.000 exemplares

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JOGO DO MÊS 3x0 por Ubiratan Leal

Juan Barreto/AFP

Dia do perdão Durante 90 minutos, Brasil e Argentina pareceram jogar em uma realidade alternativa, em que a lógica anterior não fazia o menor sentido riancinhas inocentes de lugares como África, Israel, Brasil e Palestina. Foi a elas que Dunga dedicou o título da Copa América que o Brasil acabara de conquistar, com uma contundente vitória por 3 a 0 sobre a Argentina. A dedicatória foi politicamente correta e frustrou quem esperava uma reedição do zagalliano “vocês vão ter de me engolir”. O Brasil x Argentina de Maracaibo mostrou como o futebol pode reverter, em questão de minutos, toda a lógica construída durante semanas. Até o apito inicial de Carlos Amarilla, a expectativa era de uma Argentina forte, que aliava beleza e competitividade, contra um Brasil titubeante. Nada disso se viu em campo. Desde o início, já se percebia os Albicelestes perdidos coletivamente. Em apenas três minutos, o Brasil conseguiu a vantagem no marcador, num bom lance de Elano e Júlio Baptista. Nos instantes seguintes, os platinos tiveram ânimo para buscar o empate e até acertaram o travessão, em bela jogada finalizada por Riquelme. Mas ficaram nisso. Depois, o meio-campo argentino foi um deserto de idéias. Riquelme perdeuse na marcação de Mineiro e Josué, Tevez isolou-se no ataque, Verón e Cambiasso

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sumiram, os laterais não marcavam nem apoiavam, a defesa estava esburacada, e Messi não conseguiu arcar com a responsabilidade de liderar a equipe. Era um time sem alma, que sentiu o peso do favoritismo diante de um adversário que lhe tem causado problemas nos últimos anos. Do lado brasileiro, foi o jogo da redenção de Dunga como técnico. Todas suas decisões foram bem sucedidas. O meiocampo marcador bloqueou o toque de bola argentino. As substituições também se mostraram acertadas: Elano, que entrou na vaga do suspenso Gilberto Silva, fez o lançamento do primeiro gol. Daniel Alves, improvisado como meia após a contusão de Elano, fez o cruzamento que resultou

no gol contra de Ayala e, concluindo um contra-ataque, marcou o terceiro. O título mudou o clima nas duas maiores potências das Américas. Na Argentina, fala-se em renovação e no fim de uma geração fracassada. No Brasil, os erros de Dunga durante a preparação – convocações estranhas, incapacidade de definir um time base antes da Copa América e mau gerenciamento das dispensas de Kaká e Ronaldinho – foram perdoados. Este jogo foi um marco. Se o que apresentou se confirmar, foi o ponto de partida de uma nova fase para brasileiros e argentinos. Se a lógica anterior voltar, a final da Copa América 2007 terá sido só mais um jogo incompreensível. Como é o futebol.

Brasil 3x0 Argentina Data: 15/julho/2007 Local: Estádio José Encarnación Pachencho Romero (Maracaibo) Árbitro: Carlos Amarilla (Paraguai) Gols: Júlio Baptista (4min), Ayala (contra, 40min) e Daniel Alves (68min) Cartões amarelos: Alex, Doni, Gilberto e Júlio Baptista (Brasil); Mascherano e Tevez (Argentina)

BRASIL Doni; Maicon, Alex, Juan e Gilberto; Mineiro, Josué, Elano (Daniel Alves) e Júlio Baptista; Robinho (Diego) e Vágner Love (Fernando). Técnico: Dunga

ARGENTINA Abbondanzieri; Zanetti, Ayala, Gabriel Milito e Heinze; Mascherano, Cambiasso (Aimar), Verón (Lucho González) e Riquelme; Messi e Tevez. Técnico: Alfio Basile

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CURTAS

Juli Fernández mostra-se estupefato por ter feito o gol que deu a vitória ao Don Pernil Santa Coloma sobre o Maccabi Tel-Aviv, a primeira de um clube andorrano em uma competição européia

“Eu nunca quis outro clube além da Internazionale” David Suazo, que chegou a ser apresentado como reforço do Milan no site oficial do clube, ainda tenta fazer uma média com a torcida “nerazzurra”.

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Valor que a Premier League distribuirá para os times da segunda, terceira e quarta divisões inglesas, nas próximas três temporadas. Cada equipe receberá entre € 100 mil e € 2 milhões

BOATOS E FATOS SOBRE A TRAGÉDIA Logo após o trágico acidente com o vôo JJ 3054 da TAM, circulou a notícia de que a delegação do Grêmio escapou por pouco da morte. Paulo Pelaipe, diretor de futebol do clube, deu entrevista dizendo que o elenco deveria ter embarcado no fatídico vôo, para descer em São Paulo e pegar outro avião para Goiânia, local da partida contra o Goiás. Entretanto, a história é falsa. A viagem estava marcada com uma semana de antecedência e nunca esteve programada para passar pelo aeroporto de Congonhas. Como planejado, a equipe viajou para Brasília em uma aeronave da Gol. Às 20:15, com uma hora de atraso, o Tricolor

embarcou para a capital goiana, onde chegou às 22:00. A equipe que passou mais perto de sofrer com a tragédia foi o Caxias, que realmente voaria de Porto Alegre para São Paulo no dia 17 de julho. Só que o time pegou outro vôo, 35 minutos depois daquele que se acidentou, e acabou sendo desviado para Curitiba. Outra relação do acidente com futebol é que no galpão da TAM Express destruído pelo avião estavam os ingressos da partida entre Juventude e Internacional. A BWA, empresa responsável pela confecção dos bilhetes, arrumou às pressas uma nova leva para garantir a realização do jogo.

Divulgação

“Não sabia nem como comemorar”

“Futebol é algo que nunca fiz por dinheiro” Se o que David Beckham diz é verdade, então por que o LA Galaxy vai ter que pagar US$ 250 milhões em salários para tirá-lo do Real Madrid?

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Idade de Aldair,

que defendeu o Murata na primeira fase preliminar da Liga dos Campeões. Também é a idade de René Higuita, que voltou aos gramados pelo Guaros de Lara, da Venezuela

Equipe do Grêmio: o susto não foi tão grande assim

Confira no site Trivela.com, neste mês 1º/agosto — Preview da Copa SulAmericana

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8/agosto — 3ª fase preliminar da LC Saiba quais as chances de Ajax, Sevilla, Arsenal, Werder Bremen e Lazio, entre outros, nos confrontos que decidem as últimas vagas da Liga dos Campeões

1º/setembro Fechando o mercado Quem trocou de clube na Europa, quais foram as pechinchas e quais foram as mudanças de camisa mais bombásticas do verão europeu

3/setembro — Preview da Liga dos Campeões Apresentamos como estão os 32 candidatos ao título do campeonato interclubes mais importante do mundo, além do regulamento, palco da final e curiosidades

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Congresso de olho na Copa de 2014

PENA DURA

CIAO, AZZURRA

O Nueva Chicago recebeu uma pesada punição do governo argentino. O estádio do clube, rebaixado para a segunda divisão, foi interditado por 20 partidas, devido aos incidentes ocorridos durante a partida contra o Tigre que definiu qual equipe disputaria a primeira divisão. Jogadores reservas da equipe visitante, que comemoravam o acesso, foram atingidos por diversos objetos atirados das arquibancadas. Marcelo Cejas, torcedor do Tigre, levou uma pedrada na cabeça e morreu. As brigas seguiram dentro do campo e nos arredores do estádio. A polícia deteve 78 pessoas.

Francesco Totti despediuse da seleção italiana. O atacante da Roma alegou “razões físicas, não técnicas” para tomar a decisão. Sua última partida com a camisa da Azzurra foi a final da Copa do Mundo de 2006. Após a conquista do título, o jogador preferiu não voltar a defender a Itália enquanto não se sentisse completamente recuperado de uma grave lesão no tornozelo que sofrera antes do Mundial. A novela estendeu-se por mais de um ano, fazendo com que o craque recebesse críticas por parte de Roberto Donadoni, atual treinador da seleção, que cobrava de Totti uma definição.

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O Internacional apresentou seu novo escudo oficial. Escolhido por uma votação via Internet, o símbolo conta com uma coroa, referente às conquistas da Libertadores, do Mundial de Clubes e da Recopa. Além disso, os dois ramos de louro, na cor cinza, “simbolizam as vitórias conquistadas ao longo da história do clube”, de acordo com um comunicado oficial do Colorado.

“Com o Muricy Ramalho, joguei na lateral só uma vez, na final da Recopa, contra o Boca Juniors” Alex Silva mostra que talvez o jornalista argentino estivesse mais bem-informado que Dunga...

2.665 km Distância que o Ceilândia-DF teve que viajar, de ônibus, para disputar suas duas primeiras partidas fora de casa, na Série C, contra Cáceres-MT e CRAC-GO

Dunga aterroriza a torcida brasileira ao sugerir que pode preferir usar Júlio Baptista e Elano em vez de Kaká e Ronaldinho Gaúcho, na Seleção.

t/AF

ESCUDO NOVO

Dunga esnoba um jornalista argentino que ousou questionar sua decisão de improvisar “Pirulito” na lateral

“Todo jogador que teve um bom rendimento aqui está na frente de quem não veio”

spor

RETORNO PROGRAMADO

Mex

Alexandre Cassiano /Agência O Globo/Gazeta Press

Sixto Vizuete, treinador da seleção equatoriana que disputou o Pan, já tinha reservado a viagem de volta a seu país para um dia depois de enfrentar o Brasil, na última rodada da primeira fase do torneio. Só que ele foi obrigado a mudar os planos com a vitória por 4 a 2 de sua equipe, que eliminou os donos da casa. Pouco depois do jogo, a esposa de Vizuete lhe telefonou para saber dos detalhes de seu retorno para casa – e ficou um pouco descontente ao saber que o marido passaria mais alguns dias no Brasil.

Foi instalada em 4 de julho e “subcomissão permanente para acompanhamento dos estudos e negociações para que o Brasil seja a sede da Copa do Mundo em 2014”. O nome é pomposo e longo, mas as propostas iniciais são pouco pretensiosas. Segundo o presidente da subcomissão, José Rocha (PR-BA), o Congresso não pretende fiscalizar as ações do Comitê de Organização, apenas facilitá-las. Instalada dentro da comissão de turismo e desporto, a subcomissão é formada pelos deputados Alex Canziani (PTBPR), Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), Carlos Eduardo Cadoca (PMDB-PE), Deley (PSCRJ), Eugênio Rabelo (PP-CE), Gilmar Machado (PT-MG), Jurandil Juarez (PMDBAP), Marcelo Teixeira (PR-CE), Sílvio Torres (PSDB-SP) e Valadares Filho (PSBSE) – além do presidente José Rocha, que, vale lembrar, recebeu doação de R$ 50 mil da CBF em sua campanha. Canziani é o primeiro vice-presidente da subcomissão, Juarez, o segundo, e Deley, ex-jogador do Fluminense na década de 1980, é o relator.

“É que você não é brasileiro e não sabe que no São Paulo o Alex Silva já jogou na lateral-direita”

€ 1,5 mi

Grana que o Corinthians-AL recebeu graças aos 5% a que tinha direito na venda do zagueiro Pepe do Porto para o Real Madrid

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times decadentes

NOVOS ESTÁDIOS EM LIVERPOOL Depois de mais de um século, Liverpool e Everton devem mudar de casa. Os Reds entregaram à prefeitura os planos de construção de seu novo estádio e esperam iniciar a obra no final do ano – o projeto deve custar € 400 milhões. Já o Everton realizará uma votação para decidir se deixará Goodison Park. Devido a um acordo com a prefeitura de Kirby e a Tesco, o estádio sairia quase de graça, mas a diretoria não sabe se os fãs aceitariam que o time jogasse fora do município de Liverpool.

CURIOSIDADES DA BOLA • Após empate com o Qatar na Copa da Ásia, o treinador Ivica Osim deu uma bronca em seus jogadores. E a repreensão surtiu efeito... no tradutor, que começou a chorar na hora de transmitir aos jogadores as palavras do técnico. • Lionel Messi quase sofreu um acidente inusitado. Quando saía do campo depois da partida contra o Peru, pela Copa América, ele quase foi atingido por uma fã, que despencou das arquibancadas. A garota, que por pouco não caiu em cima do argentino, apenas queria abraçar o ídolo.

A equipe três vezes campeã inglesa beirou a extinção. Em crise, caiu para a segunda divisão, em 2004. Neste ano, a situação piorou ainda mais: o time foi rebaixado para a Terceirona e entrou em concordata. Recentemente, foi comprado por Ken Bates, ex-dono do Chelsea.

Getty Images/AFP

Divulgação

1 Leeds

2 Bahia Campeão brasileiro em 1988, o Bahia entrou em decadência nesta década e caiu para a terceira divisão nacional, em 2006. Além de não conseguir subir, o clube viu o Vitória sagrar-se campeão estadual em 2007

3 Verona Em 1984/5, o clube ficou com o título italiano. Só que essa foi a última glória dos Gialloblù. Rebaixado para Série B em 2002, o Hellas caiu para a terceira divisão neste ano, ao ser superado pelo Spezia no “playout”

4 Guarani O Bugre, campeão brasileiro em 1978, amargou uma queda para a segunda divisão paulista, em 2006. Sim, a equipe conseguiu piorar: no mesmo ano, o time de Campinas acabou rebaixado para a Série C do Brasileiro

5 Nottingham Forest O time venceu duas vezes seguidas a Copa dos Campeões (1978/9 e 1979/80), honra que só o Liverpool conseguiu alcançar, entre os times ingleses. Em 2005, o clube bateu um recorde: foi o primeiro campeão da competição a cair para a terceira divisão de seu país, onde está até hoje

6 Ferro Carril Oeste Modelo no futebol argentino na década de 80, quando conquistou dois títulos nacionais, o clube quase caiu para a terceira divisão em 2006/7. Quando ainda estava na elite, estabeleceu um recorde negativo, ao ficar 875 minutos sem marcar gols

7 Grazer AK Getty Images/AFP

ERRAMOS

A equipe austríaca, campeã nacional em 2004, vive uma crise financeira sem precedentes. Em abril, foi punida com a perda de 28 pontos e caiu para a segunda divisão. No entanto, teve sua inscrição recusada no torneio e entrou em concordata

8 Dynamo Berlim Decacampeã da Alemanha Oriental, a equipe entrou em decadência após a reunificação alemã. Sem o apoio da Stasi (polícia secreta da RDA), o clube mudou de nome (agora se chama Berliner FC Dynamo) e vaga pelas divisões inferiores do país

9 Ferencvaros Maior campeão húngaro, o Ferencvaros era a única equipe a disputar todas as edições do torneio nacional. A situação mudou em 2006/7, quando foi rebaixado por problemas financeiros – um vexame para um clube que já contou com Kocsis e Czibor

10 Stade de Reims Na edição de julho da Trivela, a foto da capa saiu invertida. Confira acima a imagem correta

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Na década de 50, o time francês chegou duas vezes à final da Copa dos Campeões. Diversas crises financeiras provocaram o fechamento do clube, em 1992. Pouco depois, ele se reergueu e chegou à Ligue 2, mas sem o brilho de seus tempos áureos

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Lua Branca

A Lei Cidade Limpa já está em vigor. Informe-se, regularize seu estabelecimento e fique dentro da lei. São Paulo agradece. www.prefeitura.sp.gov.br

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PENEIRA

Drenthe:

ascensão laranja

Nome: Royston Drenthe Nascimento: 8/abril/1987, em Roterdã (Holanda) Altura: 1,82m Peso: 78kg Carreira: Excelsior Rotterdam (2003 a 2005), Feyenoord (desde 2005)

AFP

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no Excelsior. Após passar duas temporadas no clube, ele foi procurado por dirigentes do Feyenoord, para retornar. Logo, Erwin Koeman, então técnico da equipe, convidou-o para treinar entre os profissionais e, apesar da concorrência, tornouse titular indiscutível. Embora o Feyenoord tenha decepcionado na última temporada, sem nem se classificar para competições internacionais, Drenthe tornou-se um dos atletas mais queridos pela torcida. Na Holanda sub-21, ele atuou mais como meia, uma alternativa caso o Feyenoord resolva efetivar Tim de Cler, contratado para 2007/8, na lateral. [RE]

Fotos Getty Images/

a seleção holandesa que ficou com a taça do Europeu sub-21, Royston Drenthe chamou a atenção. Não foi apenas por seu cabelo: o lateral-esquerdo teve grande destaque na campanha do título da Jong Oranje e foi considerado pela Uefa o melhor atleta da competição. Não à toa, passou a ser cobiçado por Chelsea e Tottenham. No começo da carreira, pouco utilizado pelo Feyenoord, ele foi cedido ao Excelsior Rotterdam. A transferência o ajudou a aprimorar seu estilo de jogo. Até então, Drenthe atuava como pontaesquerda, mas o treinador Marco van Lochem o colocou na lateral. Ele acertou em cheio na mudança. Com um apoio ofensivo constante e de qualidade, Drenthe logo ganhou espaço

Jankovic:

um sérvio na Sicília ão há como contestar o fato de que a Sérvia chegou à final do Europeu sub-21 graças a seu sólido jogo defensivo. Ainda assim, o diferencial do time era um jogador de criação: Bosko Jankovic. Armador clássico, mas também capaz de atuar pelos flancos do campo, ele já vinha de uma ótima temporada no Mallorca, com nove gols em 28 jogos. Depois da competição na Holanda, acertou sua transferência para o Palermo, por € 5 milhões. Jankovic chegou às categorias de base do Estrela Vermelha, principal time sérvio, com apenas oito anos de idade. A identificação com o clube pode ser comprovada pelo escudo do “Crvena” que tem tatuado no ombro. O período de amadurecimento incluiu passagens por empréstimo pelo Jedinstvo Ub, da segunda divisão, antes da afirmação definitiva

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na equipe principal do Estrela Vermelha. O ponto alto em Belgrado foi a temporada 2005/6, quando o time fez a dobradinha copa-campeonato e o meia foi eleito o jogador do ano. Já com projeção internacional, ele deixou a Sérvia – onde tem invejável número de fãs do sexo feminino – para reforçar o Mallorca. A temporada na Espanha coincidiu com o início de sua carreira na seleção principal, em novembro de 2006. O primeiro gol veio em março, contra Portugal, e o segundo em junho, contra a Finlândia, dias antes de se juntar à equipe sub-21 para o campeonato europeu. [LB]

Nome: Bosko Jankovic Nascimento: 1º/março/1984, em Belgrado (Sérvia) Altura: 1,88m Peso: 83kg

Carreira: Estrela Vermelha (2002 a 2003, 2005 a 2006), Jedinstvo Ub (2003 a 2004), Mallorca (2006 a 2007), Palermo (desde 2007)

Julho de 2007

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PONTO DE BOLA por Mauro Beting

O paredão do pênalti O ÚNICO MOMENTO do futebol em que o goleiro não é vilão é a disputa de pênaltis. Melhor: qualquer bola recuada pelo batedor faz dele um herói épico. Um chute no meio do gol, fraco, no vão das pernas, não é “frango”; uma defesa, nas mesmas condições, beatifica o anjo-guardião. Num dia infeliz para o nosso futebol, 21 de junho de 1986, Sócrates e Zico perderam pênaltis contra a França, na Copa do México. Fomos eliminados. Se até Platini também perdeu naquela tarde, era sinal de que os deuses da bola não estavam de plantão. Eles não devem gostar muito desse tipo de decisão, desse discutível jeito de desempatar jogos. Pior: de decidir campeões. A diferença daquele Brasil para o tetracampeão em 1994 foi o acerto nos pênaltis. Ou, no caso, pelos erros maiores dos rivais. Enquanto as bolas de 1986 entravam de qualquer jeito (até a que bateu na trave e explodiu nas costas de Carlos), as italianas, nos EUA, voavam ou paravam nas mãos de Taffarel. Foi uma tarde escaldante, em que o maior batedor de pênaltis da história do “calcio” (Roberto Baggio), com a coxa “nas coxas”, depois de 120 minutos maçantes sob sol de maçarico, deu um bico na bola porque, segundo ele, se colocasse o pênalti como normalmente fazia, “a bola nem perto do gol chegaria”... É o caso de manter a decisão por pênaltis? Depois de um jogo (e de mais 30 minutos, muitas vezes), é justo exigir que estrelas se esfalfem e se ofereçam aos abutres

AMARCORD A primeira disputa de pênaltis de que lembro é inesquecível – para todos. Não é preciso ter memória privilegiada – exatamente pela matemática deficiente que notabilizou a decisão do Paulistão de 1973, Santos x Portuguesa. Nos 90 minutos, Armando Marques deixou de marcar um pênalti para a Lusa. Nos pênaltis, deixou de dar a provável vitória santista, ao encerrar antes da hora a disputa. Ainda havia como a Portuguesa empatar a série: se o Santos errasse os dois pênaltis que tinha a bater, e a Lusa convertesse os dois (isso, claro, se o imenso goleiro Cejas deixasse). Mas Armandinho encerrou o jogo. Tão ruim quanto ele, só grande parte da imprensa presente ao Morumbi. Raríssimos fizeram as contas certas e não se deixaram levar pelo erro colossal do árbitro. Quando a Federação Paulista percebeu a lambança, o treinador Oto Glória, da Lusa, já havia feito as contas. Botou o elenco todo no ônibus, sem banho, deixou o Morumbi e foi ser campeão na marginal Tietê, com a decisão salomônica da FPF.

num mísero chute, contra goleiros cada vez mais altos, ágeis, fortes e preparados? E com arbitragens cada vez mais liberais com os goleiros que se adiantam? Não vejo outro jeito de mudar o placar e as decisões. Talvez o “shoot-out” norte-americano fosse um modo. Não sei. Mas algo poderia mudar: por que não deixar os batedores próximos aos goleiros, que tanto gostam de se aproximar dos cobradores? Para que os expor à exasperante caminhada de quase 50 metros, do meiocampo até a marca de pênalti? Luzes e lentes em cima deles, calvário desnecessário. Deixem eles perto dos goleiros, perto dos gols. Sem os abraços dos companheiros, sem a volta sem volta ao meio-campo depois de um chute perdido. Esses passos a menos diminuiriam parte da pressão absurda e que ainda absurdamente zica craques como Zico. Um nome incontestável que é cobrado por um mísero chute mal dado, em um pênalti perdido nos 90 minutos – e jamais esquecendo que, na disputa de pênaltis, em 1986, ele bateu. E fez. Agosto de 2007

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ENCHENDO O PÉ por Caio Maia

Me engana que eu gosto DE UMA HORA PARA OUTRA, abundam os que “sempre foram contra” a parceria entre Corinthians e MSI. Os que sobram admitindo que a defenderam, dizem que, em tese, poderia ser boa, mas que foi “mal administrada”. O que é fato, e ninguém pode contestar, é que, hoje, o Corinthians tem uma dívida imensa – e que pode se tornar ainda maior –, problemas com a Justiça, um elenco fraco e um desempenho preocupante, para dizer o mínimo, no Brasileirão. Os culpados de sempre estão disponíveis, e não estamos falando do mordomo. Dirigentes gananciosos e picaretas, intermediários de pouca credibilidade, russos com fortunas de origem duvidosa e nenhuma fiscalização de quem quer que seja. Desta vez, porém, há um outro culpado: a complacência do torcedor, que tinha tudo para, com antecedência, saber como ia acabar essa história. Como tudo que se refere a esportes no Brasil, é claro que a imprensa “oba-obística” embarcou forte na onda do “Super Timão”. A contratação de Tevez foi só a primeira senha para a adesão incondicional. Houve, entretanto, quem mostrasse os podres do negócio – a Folha de S. Paulo, por exemplo, enviou um repórter a Londres para descobrir quem era Kia Joorabchian. Nada, porém, que um título ganho com futebol ruim e ajuda da arbitragem não pudesse apagar. Nas arquibancadas, Joorabchian era rei. Dava até autógrafos e acostumouse a ser tratado como astro. Não contava, é claro, com o fato de que seu parceiro era o homem do “um zero zero”, ou seja, no final, o enganado, por paradoxal e incrível que possa parecer, foi o Kia, e não o contrário. Mesmo vendendo e não entregando, porém, Alberto Dualib ainda trouxe para o Parque São Jorge uma bomba relógio. E quem se posicionou contra foi tachado de anticorintiano. Da mesma forma como, no fim da Copa de 1994, com a vitória brasileira, quem passou a competição dizendo que o time era ruim, como era, passou a ser tratado como “do contra”. Os torcedores preferiram os Galvões papagaiando sobre o quanto era maravilhosa a equipe, o quanto era

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competente Parreira do que os que alertavam para o fato de que o time jogava feio, dependia de Romário e podia muito bem não ter ganho, apesar de ter grandes talentos. Com o fim da Copa América, o fenômeno se repete. Até mesmo veículos sérios dedicam manchetes a louvar uma equipe que nunca se encontrou de fato a não ser na final, que nunca teve, como continuará não tendo, qualquer padrão e que não era formada pelos melhores jogadores disponíveis. Se Fernando foi convocado porque Dunga tem interesses nebulosos ou só porque o treinador quis agradar ao amigo Ricardo Gomes, só ele pode dizer, mas o que ninguém pode alegar é que o que contou foi a qualidade técnica. Só quem nunca viu Alex Silva jogar pode achar que o quinto melhor zagueiro do São Paulo – com Edcarlos logo à frente – tem condições de representar o Brasil em uma competição internacional. Mesmo assim, há quem consiga dizer que, com o título, os atletas que não foram à Venezuela “saem atrás” na briga por uma vaga na equipe. Isso mesmo. Kaká sai atrás de Júlio Baptista. O melhor jogador do mundo estaria depois, em uma suposta lista de convocados, de um atleta cuja posição ninguém sabe bem qual é e que, em suas melhroes atuações, poderia ser titular do Sevilla, mas nunca reserva do Brasil. Que a Seleção não é do Brasil, mas sim de um grupo de dirigentes de honestidade e caráter duvidosos, não é nenhuma novidade. Que o povo brasileiro se engane com esses caras de novo, isso sim gera profundo desânimo. Da mesma maneira como Alagoas reelege continuamente Renan Calheiros, como o Maranhão ainda venera Sarney, como os paulistas elegeram Antonio Palocci, torcedores de todo o país embarcam na ladainha “global” e já começam a comemorar o título de 2010. A referência aos políticos não é à toa, já que os citados personagens, em maior ou menor escala, são afinados com a CBF. No futebol, pelo menos, é muito pequena a possibilidade de que 200 pessoas explodam dentro de um avião por causa da nossa apatia.

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MARACANAZO por Mauro Cezar Pereira

A Seleção da CBF andou para trás PRA COMEÇAR, vamos deixar algo bem claro: não tenho a tal “visão romântica” do futebol, muito pelo contrário. Jamais fiz parte dos que clamavam, por exemplo, pelo tal “quinteto” (Adriano, Ronaldo, Ronaldinho, Kaká e Robinho juntos!!!), antes do Mundial do ano passado. Mas é impossível não perceber que, na Copa América, o Brasil abriu mão do talento para privilegiar a força, como se não existisse alternativa. Foi como se a Seleção Brasileira fosse pobre em técnica e habilidade, algo como a da Noruega, a da Escócia ou a da Islândia. Quando imagino uma boa Seleção, que me empolgue, me convença a torcer por ela, não espero ver jogadas mirabolantes ou a bola sendo equilibrada como que por malabaristas. Tais exibições podemos acompanhar em espetáculos como os do “Cirque du Soleil”. Refiro-me ao futebol bem jogado, com técnica, habilidade, marcação, velocidade, toque de bola, busca pelo gol, se possível com belas jogadas. Quando se dirige uma seleção como a do Brasil, é inaceitável um esquema repleto de volantes que roubam muitas bolas, mas pouco sabem o que fazer com elas, como quando foram reunidos Gilberto Silva, Josué, Mineiro, Júlio Baptista e, depois, Fernando. Não têm repertório, são previsíveis, carregadores de piano, não fazem a diferença. E não é culpa deles, mas de quem os reúne em grupos de três, quatro. A vitória sobre a Argentina na decisão camuflou momentos preocupantes, como quando o Brasil desceu ao nível do Uruguai. Não o da antiga “Celeste Olímpica”, mas desse time paupérrimo dos últimos anos, que fica atrás de paraguaios e equatorianos e sequer se classifica para a Copa. A bola não parava no chão. Viam-se chutões, rebatidas e divididas, o Brasil recuando para jogar como pequeno, no contra-ataque. Melancólico. Qual a razão para tudo isso? Falta de opções? Não, apenas o resultado das “convicções” de Dunga, o técnico inventado pela CBF, pouco preocupado em mesclar eficientes volantes (que são fundamentais) a gente talentosa no meio-campo, embora a vitória sobre os argentinos tenha sido construída com a troca de Gilberto Silva por Elano e depois Daniel Alves. O triunfo na decisão apenas irá maquiar defeitos como os que ficaram escondidos após as vitórias sobre o mesmo rival nas Copas América e das Confederações que antecederam o Mundial de 2006. O grande desafio para qualquer treinador que assuma a Seleção é reunir os melhores jogadores em suas diferentes funções e transformar tal grupo num time forte, moderno, competitivo. Um ano depois do fiasco capitaneado por Carlos Alberto Parreira na Copa da Alemanha,

o Brasil não caminha em tal direção. Pelo contrário. A seleção da CBF anda para trás. Estamos voltando a 1990. Vivemos, de novo, a era Dunga!

Campeã mundial pela quarta vez, em 2006, a Itália passou a ser destacada por várias pessoas – como os defensores de Dunga no papel de treinador – como o êxito do futebol retrancado. É óbvio que, na terra do “catenaccio”, defender é tão ou mais importante do que atacar, mas, nos gramados da Alemanha, Marcello Lippi ousou. O técnico da Azzurra levava a campo um time que estava sempre com pelo menos dois atacantes, às vezes três e até quatro. Confira: • 1º jogo (2 a 0 em Gana): ataque com 3 – Toni, Totti e Gilardino. Del Piero e Iaquinta entraram durante a partida. • 2º jogo (1 a 1 com os EUA): ataque com 3 – Toni, Totti e Gilardino. Del Piero e Iaquinta entraram durante a partida. • 3º jogo (2 a 0 na República Tcheca): ataque com 2 – Totti e Gilardino. Inzaghi entrou durante o jogo. • 4º jogo (1 a 0 na Austrália): ataque com 3 – Del Piero, Toni e Gilardino. Totti e Iaquinta entraram durante o jogo. • 5º jogo (3 a 0 na Ucrânia): ataque com 2 –Toni e Totti. • 6º jogo (2 a 0 na Alemanha): ataque com 2 – Toni e Totti. Del Piero, Gilardino e Iaquinta entraram durante o jogo. Na prorrogação, estavam em campo quatro atacantes. • 7º jogo (1 a 1 com a França): ataque com 2 – Toni e Totti. Del Piero e Iaquinta entraram durante a partida. Na prorrogação, eram três os jogadores mais ofensivos reunidos. Agosto de 2007

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TÁTICA por Cassiano Ricardo Gobbet

O primeiro a

encantar Hungria de Puskas foi o primeiro time a ficar mundialmente famoso por sua criatividade tática, que, combinada à técnica fantástica de atletas como Kocsis e Hidekguti, meteu medo em adversários pelo mundo todo. A gênese daquele time aconteceu quase 20 anos antes, quando outro jogador, hábil como Puskas, encantou a Europa, participando de um time igualmente magistral. O jogador em questão era Mathias Sindelar. Nascido no Império Austro-Húngaro, foi o eixo em torno do qual foi criado um time arrebatador, a seleção austríaca idealizada pelo técnico Hugo Meisl, que ficou conhecida como pelo nome de “Wunderteam” (“Time Maravilha”). Meisl tornou-se treinador da seleção antes da I Guerra Mundial (na qual combateu e foi condecorado), em 1912, mas o Wunderteam só surgiria no final da década de 1920, quando Sindelar, um atacante magrinho e ágil conhecido como “Der Papierene” (“Homem de Papel”), firmou-se na equipe. Em torno dele, Meisl criou o que viria a ser o modelo do futebol “danubiano”, ou seja, da região central da Europa: posse de bola valorizada, passes precisos e poucos chutões. Não existe uma data exata para o “nascimento” do Wunderteam, mas uma vitória em Viena sobre a Escócia, por 5 a 0, em maio de 1931,

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iniciou uma série inacreditável daquele time. Dali em diante, os comandados de Meisl, com a liderança do astro Sindelar, fizeram 52 gols em 13 jogos, vencendo 12 e empatando um. O “Homem de Papel”, sozinho, deixou 27 na gaveta. Curiosamente, a consagração veio com a derrota que encerrou essa série invicta. O jogo foi contra a Inglaterra, em Londres, e terminou 4 a 3 para o time da casa. Mesmo assim, os austríacos deixaram Stamford Bridge sob os aplausos da torcida. Sindelar fez o segundo gol da Áustria, suscitando o seguinte comentário do árbitro belga John Langenus: “Ninguém, jamais, repetirá um gol como o de Sindelar. Ninguém tinha feito antes nem ninguém o fará no futuro”.

Divulgação

O Wunderteam, seleção austríaca capitaneada pelo mítico Mathias Sindelar, fez história e criou a base para o surgimento de outros grandes times

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O Wunderteam Sindelar recuava para buscar jogo e tabelava com os meias — especialmente o “centre-half” Smistik

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Sindelar

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A tática O tradicional esquema 2-3-5 ganhou de Meisl a adição de uma filosofia que pregava um futebol com a bola no chão, toques rápidos no meio-campo e entradas dos pontas para a área, tabelando com o centroavante. Era o estilo “Mitteleuropean”. De certa maneira, Sindelar, o homem central no ataque de cinco jogadores austríaco (gráfico 1), foi um embrião tático do que faria Nandor Hidekguti na seleção húngara de Puskas, duas décadas depois (gráfico 2). Sim, era um centroavante goleador, mas também

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Wagner

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Hungria de 1954 Movimentação de Hidekguti, semelhante à de Sindelar, desmontava a marcação dos adversários

A Kocsis

A Puskas

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PD Budai

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Sindelar (de branco) marcou 27 gols em 13 jogos, na melhor fase do Wunderteam

voltava para buscar jogo e puxar os marcadores para fora da área. Meisl, que tinha contato constante com dois outros técnicos famosos da época – Vittorio Pozzo, da Itália, e Herbert Chapman, do Arsenal —, deu outra contribuição ao esquema. No Wunderteam austríaco, o jogador central do trio de meias, o “centre-half”, era o distribuidor do jogo. O diálogo entre esse armador (normalmente, Smistik ou Hofman) e Sindelar tornava o time mais preciso e eficiente na hora de trocar passes. Na década anterior, o inglês Herbert Chapman já tinha dado atenção ao posicionamento do “centre-half”. Em virtude de uma mudança na lei do impedimento, o técnico recuou o meia, para criar deixar um homem na sobra (gráfico 3). Chapman foi tricampeão inglês com o Arsenal na Inglaterra, enquanto Pozzo levaria a Itália a duas Copas do Mundo. Apesar de seu poder devastador, os austríacos conquistaram poucos troféus. Nas semifinais da Copa de

1934, a Itália bateu o Wunderteam em Milão, com um gol irregular e abusando da violência; na Olimpíada de 1936, houve novo encontro com a Itália na final – e nova derrota, em jogo igualmente violento. Alem da medalha de prata de 1936, o time mágico de Sindelar e Meisl só ganhou a Copa Dr. Gero, uma versão prévia da Eurocopa, em 1932. Com a Áustria anexada pela Alemanha nazista, o Wunderteam teve um crepúsculo amargo. Sindelar não queria jogar com a suástica do regime de Hitler – também nascido onde hoje é a Áustria – e implorou ao técnico alemão Sepp Herberger para deixá-lo de fora da Copa de 1938. Meses depois, dias antes de fazer 36 anos, Sindelar foi encontrado morto, ao lado de uma mulher, também desacordada, supostamente sua amante, que jamais sairia do estado de coma. O desfecho trágico de Sindelar deu um ar ainda mais mítico ao primeiro grande esquadrão nacional da Europa.

G Grosics

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Arsenal de Chapman O inglês recuou o meia central para garantir a sobra na marcação do ataque adversário – era o WM

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G: goleiro / LD: lateral-direito / LE: lateral-esquerdo / Z: zagueiro / V: volante / M: meia / MD: meia-direito / ME: meia-esquerdo / MA: meia-atacante / PD: ponta-direito / PE: ponta-esquerdo / A: atacante

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Momento de

reflexão

Stringer/Reuters

Fernandão fala sobre o péssimo início de ano do Colorado, Seleção Brasileira e admite: pode em breve retornar ao futebol europeu

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ENTREVISTA RR FERNANDÃO por Carlos Eduardo Freitas

Internacion de 2007 em nada Internacional lembra o dde 2006. A esta altura, no ano passado, o time estava próximo de levantar o troféu da Libertadores, ocup ocupava uma das primeiras colocações do Brasileirão e havia sido vice-campeã vice-campeão gaúcho. Desta vez, foi eliminado na pprimeira fase tanto do campeonato regio regional quanto do continental e chegou a encostar na zona de rebaixamento. O cclube é o mesmo, mas o técnico é outro outro, e o elenco mudou bbastante. EEntre os que sobraram, está Fernandão, ídolo colorado, responsável por levantar os principais troféus da história do Internacional. Nesta entrevista exclusiva, concedida no Beira-Rio, em Porto Alegre, o capitão do Inter fala sobre a má fase que o clube atravessa desde que bateu o Barcelona. “Atropelamos tudo e acabamos trocando os pés pelas mãos”, justifica o atacante. Fernandão também explica por que voltou ao Brasil depois de três anos no futebol francês, fala de sua decepção com a Seleção e não hesita em criticar a falta de conhecimento tático dos treinadores nacionais. “Estamos a anos-luz dos europeus”, afirma o atacante. O camisa 9 aponta também as armadilhas que existem para Alexandre Pato e, pela primeira vez, comenta sobre seus planos de retornar à Europa: P /AF des nar “Hoje, não descarBer n so fer Jef to mais essa possibilidade”.

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Em 2006, a festa pela conquista do título da Libertadores tirou os gremistas do sério. Como foi, para vocês, um ano depois, vê-los chegar à decisão? Não é para ficar contente, mas foi muito melhor o Grêmio não ter vencido. Se eles fossem campeões, apagaria muito do que fizemos no ano passado. Mas o próprio Inter tem contribuído para apagar a imagem de 2006. O que aconteceu com o time desde a conquista do Mundial? Este ano começou de maneira turbulenta. Nossa preparação teve início 15 dias depois da maioria dos clubes, e perdemos um pouco em relação ao Campeonato Gaúcho. Dentro do planejamento, iniciaríamos o Gaúcho com o time B, para preparar a equipe da melhor maneira possível para a Libertadores. Infelizmente, os resultados dos cinco primeiros jogos com a garotada não foram bons, e acabamos atropelando tudo, trocamos os pés pelas mãos. Tentamos abraçar tudo, e isso não tem como fazer. Atropelamos as etapas, numa ânsia de nos classificarmos no Gaúcho e na Libertadores. Você concorda que os jogos contra o Veranópolis, pelo Gaúcho, e contra o Vélez, em casa, pela Libertadores, foram os que derrubaram o time? Sempre disse isso, que nossa classificação na Libertadores não foi perdida contra o Nacional, quando tínhamos de vencer por três e só ganhamos por um, mas sim no jogo contra o Vélez. Tínhamos de ganhar e acabamos empatando. Eles ficaram com quatro pontos nossos, enquanto só conseguimos um deles. Esse foi o fator principal da nossa

desclassificação. No Gaúcho, pode ter sido aquele golzinho no final que o Veranópolis marcou... Mas antes, contra o Glória, poderíamos ter vencido e não o fizemos. São resultados em que bobeamos, por não jogar bem. Entrávamos em campo cansados, achando que íamos vencer, e as coisas não aconteceram. Em dezembro e janeiro, a torcida do Inter estava apaixonada pelo clube e por seus jogadores. Como está a relação com os torcedores, hoje? A pressão tem incomodado? O respeito do torcedor, a gente tem. Ele acredita na gente, mas obviamente não está feliz, pelo momento que a gente vive. A torcida se apaixonou por aquele grupo de 2006, foi primordial para a gente conquistar os títulos e fez com que o grupo crescesse muito. Infelizmente, com a saída de uns e outros jogadores, aquele time foi praticamente desfeito. É um grupo novo, e a torcida tem de ter paciência com isso. Por falar nessa debandada, você acha que o Inter pensou que seria fácil repor jogadores como Jorge Wagner, Rafael Sóbis e Tinga? É lógico que um grupo como o de 2006 a gente não vai ter mais. Não só em qualidade, mas também em relação a foco, amizade, companheirismo, doação... Não posso entrar nesse mérito, mas a diretoria entendeu que aquele grupo que foi campeão mundial era suficiente para esta temporada. A gente perdeu jogadores importantes desde a Libertadores. Chegamos ao Mundial com um grupo até certo ponto limitado, mas ali eram dois jogos – e duas partidas você joga com 11 jogadores. Você não precisa de um elenco maior, mas sim de um bom time – e isso nós tínhamos. Depois, as coisas se complicaram. Muita gente diz que o trabalho do Abel Braga aqui no Inter foi facilitado pela base montada pelo Muricy. Você concorda com isso? Sem dúvida nenhuma, o Muricy Agosto de 2007

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para um Mundial de Clubes. De uma hora para a outra, ele se viu com uma responsabilidade enorme. Neste ano, ele está mais maduro e já começou a perceber as armadilhas que aparecem pelo caminho. Que tipo de armadilhas? Sobretudo de querer compará-lo ao Ronaldo. Têm de ter calma. Ele tem uma qualidade imensa, é diferenciado pela força, pela velocidade, pelo raciocínio... Mas é um guri, ainda! Tem de deixar ele amadurecer para o mundo. Não adianta por pressão e sair comparando com o Ronaldo de 1994. O Ronaldo foi três vezes melhor do mundo. O Pato tem potencial para ser, mas ainda tem de crescer. O que você acha de um jogador tão jovem quanto ele estar próximo de deixar o Brasil? A partir do momento em que você tem qualidade, essa é uma realida-

É uma armadilha comparar o Alexandre Pato ao Ronaldo de 1994. Ele tem uma qualidade imensa, mas é um guri, ainda!

de do Brasil hoje, infelizmente. Pela condição financeira que os clubes brasileiros atravessam, é muito difícil um jogador só sair daqui quando tem 26, 27 anos. Não tem como competir com o dinheiro da Europa. Por isso, os clubes brasileiros vão ter de trazer jogadores cada vez mais jovens para o profissional. Isso não é perigoso para um garoto de menos de 18 anos? Sim, muitas vezes eles ainda nem estão formados, e você os acaba expondo. Isso faz com que você tenha um Alexandre Pato, mas, ao mesmo tempo, com que muitos talentos se percam no meio do caminho. Você fez o caminho contrário de muitos brasileiros: estava na França e voltou para cá. Certa vez, você disse que o motivo era chegar à Seleção, mas, desde então, só fez uma partida pelo Brasil. Valeu a pena? Quando estava no Goiás, todo mundo sabia que tinha um tal de Fernandão lá. De repente, sumiu. Foi para onde? Para a França, para o Olympique de Marselha. Hoje, o Campeonato Francês passa na Sportv, mas antes não passava. Ninguém me conhecia, ninguém lembrava de mim. Naquela época, vi alguns jogadores se destacarem no Brasil e serem convocados para a Seleção. Voltei para cá e fui chamado: jo-

Toru Hanai/Reuters

tem os méritos por tudo o que fez em 2005. Foi ele que montou aquela base. O que quero ver é se qualquer treinador consegue pegar uma base já pronta e conquistar tudo o que o Abel ganhou aqui. O Muricy teve os méritos dele, pelo que montou em 2004 e 2005, mas o grande conquistador, sem dúvida, foi o Abel. Ele soube pegar essa base, colocou algumas peças que ainda faltavam e levou a equipe para disputar tudo. Você, o Iarley e o Clêmer são sempre citados como líderes e referência para outros jogadores dentro do vestiário. Como funciona essa liderança, na prática? Quem está de fora acaba imaginando mil e uma coisas. As pessoas pensam isso porque somos mais velhos, porque o Iarley, o Clêmer e eu alternamos o posto de capitão, mas não tem isso. Todos somos iguais, aqui dentro. A liderança, acima de tudo, não aparece na maneira de falar e de se expor, mas sim de dar exemplo para os mais jovens. O que muita gente não sabe é que no vestiário todo mundo tem liberdade de falar, de cobrar. O Edinho, o Ceará, o Rubens... São todos jogadores que têm influência dentro do grupo e que sabem se expressar, na nossa maneira de falar. É lógico que, para a imprensa, nós três vamos sempre ser os mais visados, por causa da idade. Quando você fala em dar exemplo aos mais jovens, fica difícil não pensar no Alexandre Pato. Os mais velhos têm buscado conversar com ele? No máximo, a gente alerta para uma situação ou outra que acontece, em relação a jogo. Às vezes, por ser guri, pelo ímpeto de ver 30, 50 mil torcedores esperando ele fazer um lance mágico, ele tenta fazer. Mas às vezes não dá. Muitas vezes, o mais simples é que é o mágico. Nesse ponto é que a experiência faz você entender certas coisas. Na sua opinião, a torcida e a imprensa estão colocando muita pressão sobre ele? No ano passado, criou-se toda aquela expectativa sobre o Alexandre, e tentamos blindá-lo. Para um garoto de 17 anos, é muito difícil assimilar tudo isso – ainda mais indo Agosto de 2007

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Ricardo Duarte/RBS/Gazeta Press

guei um amistoso (a despedida de Romário, no Pacaembu, em 2005). No final de 2004, eu também poderia ter jogado uma partida das eliminatórias, contra o Equador, quando o Ricardo Oliveira foi cortado de última hora. Houve uma consulta, mas me machuquei dois dias antes dessa possível convocação. Como não tinha condições, não fui. Até ali, estava certo no meu pensamento. E não está mais? Hoje, tenho um pensamento contrário ao que tinha um ano atrás. Agora, é diferente: você vê jogadores do Heerenveen sendo convocados. A partir do momento em que o Dunga entrou, ele mudou a maneira de pensar.

Você ainda tem esperança de jogar pela Seleção? Não. Acho muito difícil. Já tive esperanças, mas depois de ter vencido uma Libertadores e um Mundial e não ver nenhum jogador do Inter ser convocado, vendo atletas – sem entrar no mérito da qualidade – de clubes sem expressão e de países sem expressão serem chamados... Agora, essa questão está completamente descartada para mim. E de voltar para a Europa? Pode acontecer – e não descarto mais essa possibilidade. Como disse antes, pensava muito em voltar para lá em um clube grande, porque jogando por um time famoso eu poderia aparecer para a Seleção. Agora, para ser con-

A diretoria entendeu que o grupo que foi campeão mundial era suficiente para esta temporada. Mas o Mundial você joga com 11 jogadores, não precisa de um elenco maior

vocado, você não precisa mais disso. Você pode ir para onde a proposta for financeiramente boa, marcar 20 gols num campeonato mais fraco e ter a possibilidade de ir pra Seleção. A partir do momento em que as portas desses países estão abertas, vale a pena escolher a melhor proposta financeira para mim. Agosto de 2007

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Jean Paul Pelissier/Reuters

No período que você esteve no Olympique de Marselha, não apareceram propostas de clubes de outros países? Fiz uma segunda temporada extraordinária na França. Chegamos em terceiro no Campeonato Francês, a três pontos do Lyon. Tive um destaque muito grande, mesmo não fazendo muitos gols – até porque não jogava como atacante fixo, mas como meia. Na metade de 2002, eu tive algumas propostas, mas o Olympique não quis me liberar, pois esperava chegar à Liga dos Campeões. Depois, você foi para o Toulouse... No final daquela temporada, eu sofri uma fratura de crânio, fiquei dois meses parado, e as coisas mudaram. Para o campeonato seguinte, contrataram muitos jogadores e, mesmo atuando em todas as partidas, sendo titular, as coisas não estavam caminhando como eu imaginava. Sempre prezo pela felicidade, e a minha tinha acabado em Marselha. Não estava mais feliz e quis sair. Nesse momento, a primeira proposta que apareceu foi do Toulouse. Você saiu pouco depois da eliminação do Olympique de Marselha da

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Pode acontecer de eu voltar para a Europa. Para ser convocado para a Seleção, você não precisa mais jogar em um clube grande Liga dos Campeões, quando o clube foi para a Copa Uefa e acabou sendo finalista. Você se arrepende de ter ido embora naquele momento? De maneira alguma. Se tivessem trocado o treinador antes da minha saída, teria ficado mais tempo lá. O técnico era o Alain Pérrin, com quem aprendi muito de futebol. Era um cara extraordinário em relação a tática, leitura de jogo, armar esquemas. Por outro lado, era horrível para gerenciamento humano. Sei que ele fez uma temporada muito boa com o Sochaux, foi campeão da Copa da França e acabou contratado pelo Lyon. Se ele tiver aprendido a tratar bem seres humanos, com certeza levará o Lyon aos primeiros postos da Liga dos Campeões.

Sua primeira temporada na França foi a que o Lyon conquistou o primeiro título nacional. Desde então, só deu Lyon. Dava pra prever que ali começava uma história de grande sucesso? Não. Na primeira temporada, em 2001/2, no meio do campeonato – em dezembro – eles estavam 12 ou 13 pontos atrás do Lens, que era o líder. Foi no segundo turno que eles conseguiram tirar essa diferença. Você chegou a jogar com o Drogba, no Olympique de Marselha. Durante a Copa do Mundo, teve gente que disse que ele não seria capaz nem de ser titular em times médios do Brasil. Você concorda? A gente subestima muito a qualidade dos jogadores que atuam na Europa. Se pegarmos pela qualidade técnica, muitos, realmente, não iriam jogar aqui. Não pela questão da qualidade, mas sim pela bagunça que é uma equipe taticamente no Brasil. Você acha que os treinadores brasileiros não são bem preparados no que diz respeito à tática? Não. Nem um pouco. Por que você acha que o Luxemburgo ganha tudo? Porque é diferenciado em relação a isso. O Muricy, em relação a tática, sabe muito. Os treinadores brasileiros estão anos-luz atrás dos europeus. E não vou dizer em relação a treinadores de ponta da Europa, mas ao Alain Pérrin, que foi meu técnico durante um ano e meio. Você assiste aos jogos e não entende nada do que está acontecendo. Com o Pérrin, era uma aula de futebol todo dia. Um brasileiro não imagina um treinamento tático como o que ele dava. Era outro nível. Que tipo de diferença você ressaltaria entre os técnicos europeus e os brasileiros? Cultura. Já falei em outras oportunidades que o jogador brasileiro não tem cultura tática. Mas mudei minha opinião com relação a isso. Você acha que são os treinadores que não sabem ensinar? Sim. Na Europa, desde o começo, trabalha-se taticamente. Aqui, no Brasil, ninguém trabalha isso, por mais que se diga que sim. Nas categorias de base, os treinadores daqui estão mais preocupados com o resul-

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Lúcio Fernando da Costa Nascimento: 18/março/1978, em Goiânia-GO Altura: 1,90m Peso: 85kg Carreira: Goiás (1995 a 2001), Olympique de Marselha (2001 a 2004), Toulouse (2004), Internacional (desde 2004) Títulos: Campeonato Goiano 1996, 1997, 1998, 1999, 2000; Copa Centro-Oeste 2000, 2001; Campeonato Gaúcho 2005; Copa Libertadores 2006; Mundial de Clubes 2006

Jefferson Bernardes/Vipcomm

Pela Seleção: 1J/0G

tado, e não em ensinar tática para o jogador. O Pérrin dava treinamentos em que íamos para uma sala e tínhamos uma hora e meia de aula teórica. É diferente de você chegar e dizer que vai jogar no 3-5-2, porque assim vai ganhar a partida, como acontece no Brasil. O jogador entra em campo e joga no 3-5-2, sem saber o que está acontecendo. Não sabe quem ele está marcando, quem tem de marcar, onde tem de correr. É por isso que você vê jogadores chegarem no segundo tempo extenuados. Para você, o jogador brasileiro corre mais do que deveria? Muito mais. Jogador brasileiro corre o campo todo. Quando você está bem taticamente, não precisa correr tanto. O brasileiro improvisa muito. Até demais. Só que, quando vai para a Europa, acaba se adequando às normas táticas das equipes. Esse é o motivo por que não há tantos técnicos brasileiros na Europa? Com certeza. Por isso é que tem mais espaço para treinadores argentinos lá. O argentino trabalha mais a parte tática. Acho que temos, sim, treinadores de qualidade aqui no Brasil. Citei o Luxemburgo, o Autuori, o Muricy. Talvez outros três, quatro. Não muitos. O argentino chega à Europa e consegue entrar no esquema. O brasileiro não consegue implantar o que ele tem de cultura do Brasil lá, porque você não vai conseguir nunca deixar um jogador livre para fazer uma movimentação dentro de campo. O jogador europeu não tem a qualidade que o brasileiro tem. Ele tem de se apegar à parte tática, tem de ser quase como um robô para desenvolver a melhor função dele. Veja o Barcelona: o Ronaldinho fica estático do lado esquerdo, com o Giuly ou o Messi do lado direito. Por isso, a final do Mundial foi mais fácil para a gente do que teria sido se o adversário fosse o São Paulo, por exemplo. Isso, taticamente dizendo. A gente colou o Ceará em cima do Ronaldinho, nosso lateral-esquerdo em cima do Giuly, e sabíamos que ele tinha duas jogadas. Estávamos preparados para aquilo. Um Ronaldinho faz a diferença sempre, mas tivemos a sorte de ele não fazer naquele jogo. Agosto de 2007

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Carlos Roberto/Jornal Hoje Em Dia

HISTÓRIA por Leonardo Bertozzi

Weah no Mineirão: Milan empatou com o Atlético, na despedida de Toninho Cerezo

Centenário à

mineira

Nos 100 anos de Belo Horizonte, cidade recebeu o Milan de Weah e o Benfica de Gamarra para um torneio amistoso. Mas, com prêmios altos e baixo público, a competição deu prejuízo 24

iminho! Timinho!”, gritava a torcida do América-MG a plenos pulmões no Independência, em uma tarde de quarta-feira. O adversário do Coelho não era um time do interior em um jogo do Campeonato Mineiro. O alvo das provocações, na verdade, era o Milan de George Weah e Paolo Maldini. Dirigido por Fabio Capello, o time se arrastava em campo para proteger a vantagem de 1 a 0 obtida logo no início da partida. Não adiantou. No final, o atacante Celso recebeu de Rinaldo, cortou Bogarde e colocou no ângulo, encobrindo o goleiro Taibi e decretando a igualdade. A cena (verídica) aconteceu em agosto de 1997, durante a Copa Centenário de Belo Horizonte. O torneio foi organizado pela Federação Mineira de Futebol, como parte das festi-

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vidades pelos 100 anos da capital do Estado, e trouxe ao Brasil três convidados internacionais. Além do Milan, vieram o Benfica, de Portugal, e o Olimpia, do Paraguai. Os representantes brasileiros eram os anfitriões Atlético, Cruzeiro e América, além de Flamengo e Corinthians. As equipes foram divididas em dois grupos, cujos vencedores fariam a final. No papel, a Copa Centenário tinha os ingredientes para atrair grandes públicos e ser considerada um sucesso. No entanto, afetada por problemas de planejamento, como horário das partidas e a má escolha de datas, a competição teve a maioria dos jogos disputados em estádios semidesertos. A Federação Mineira, que havia investido alto em prêmios e cotas para os participantes, levou um prejuízo significativo,

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a ponto de fazer com que seu Gamarra e o Ovchinnikov”. presidente na época, Elmer Diante de pouco menos de Guilherme, fosse acusado de 5 mil pagantes, o Benfica saiu Atlético-MG x Cruzeiro Atlético-MG x Milan gestão temerária na CPI do na frente com Paulo Nunes, Futebol, em 2001. mas foi atropelado pelo exO Brasileirão estava em anpressinho azul: 4 a 1. Os granpagantes pagantes damento na época da disputa, des nomes da partida foram o o que obrigou os participanmeia Geovanni e o atacante tes a adiar partidas do nacional. Os orgaFábio Júnior, então conhecido apenas conizadores, aparentemente, não levaram em mo Fábio. “Todo mundo queria saber o que conta a possibilidade de o Cruzeiro chegar à tinha aquele time de garotos que goleou o final da Copa Libertadores. Com o primeiro Benfica”, afirma Wantuil. pagantes por partida jogo da decisão diante do Sporting Cristal O Benfica daria novo vexame contra marcado justamente para a semana da Copa o Flamengo, sendo goleado por 5 a 2. O Centenário, a Raposa, compreensivelmente, Rubro-Negro, que estreou empatando com o horas depois, para enfrentar o Corinthians Olimpia, foi para a última rodada precisando disputou o torneio com uma equipe B. na segunda-feira à tarde, por imposição da vencer o Cruzeiro, que contou com um gol Em tarde de Weah, brilhou Hernani televisão, que exibia os jogos para a Europa. de Geovanni para derrotar os paraguaios. Atlético e Milan fizeram o único jogo da Os dois times fizeram um 0 a 0 de baixo Na decisão do grupo, os reservas cruzeirenprimeira fase a atrair um público signifi- nível técnico e saíram debaixo de vaias. A ses venceram por 2 a 1, com Elivélton marcativo. Mais de 30 mil pessoas foram ao princípio, Milan x Corinthians faria parte de cando um dos gols, e fecharam a primeira Mineirão não só para ver o Galo medindo uma rodada dupla com América x Atlético, fase com 100% de aproveitamento. forças com o gigante italiano, mas também mas o segundo jogo ficou para as 20:30, Título alvinegro para acompanhar a despedida de Toninho dessa vez por causa da TV brasileira. A boa campanha animou o Cruzeiro, mas Cerezo dos gramados. Um emocionado CeCom o empate por 2 a 2 entre Atlético rezo jogou os primeiros minutos, antes de e América, todos os times ainda tinham era do Atlético, que jogava completo, a resser substituído por Almir e receber a acla- chance de classificação para a final. Na úl- ponsabilidade de vencer a final. O favoritismação da torcida em uma volta olímpica. tima rodada, o Galo venceu o Corinthians mo foi confirmado, mas não foi tarefa simNo primeiro tempo de jogo, Weah fez por 4 a 2 e ficou com o primeiro lugar, ples: Valdir marcou o gol da vitória apenas o que quis sobre uma defesa estática, e o enquanto América e Milan se despediram aos 34 minutos do segundo tempo. No Cruzeiro, não houve razão para laAtlético foi para o intervalo perdendo por com três empates cada. mentar a derrota, já que quatro dias depois 2 a 0. Na segunda etapa, o Galo se benefi“Expressinho azul” faz bonito o time se tornaria campeão da América. ciou da melhor condição física e chegou ao Com Autuori preparando o time para a Para o Galo, a conquista da Copa Centenário empate, graças a um gol do jovem Hernani, nos acréscimos. “Foi meu primeiro gol co- decisão da Libertadores, o Cruzeiro foi di- parece ter servido de impulso, já que namo profissional, justamente contra o Milan, rigido pelo assistente Wantuil Rodrigues, quele ano o time venceu a Copa Conmebol na despedida do Cerezo. A torcida foi à lou- atualmente no comando da Francana. “O e chegou à semifinal do Brasileiro. Além Benfica era um adversário forte, tinha aca- disso, o torcedor pode ter uma certeza: oucura”, lembra o jogador, hoje no Marília. O Milan já estava de volta a campo 48 bado de contratar Paulo Nunes, tinha o tro título como esse, só em 2097.

MAIORES PÚBLICOS

39.055

30.768

MÉDIA DE PÚBLICO

7.820

Grupo A América 1x1 Corinthians 1/8 – Independência

Atlético 2x2 Milan 2/8 – Mineirão

Grupo B

OS JOGOS DA COPA CENTENÁRIO DE BELO HORIZONTE

Flamengo 2x2 Olimpia 3/8 – Mineirão

Cruzeiro 4x1 Benfica 3/8 – Mineirão

Corinthians 0x0 Milan

Flamengo 5x2 Benfica

4/8 – Mineirão

5/8 – Mineirão

América 2x2 Atlético

Cruzeiro 1x0 Olimpia

4/8 – Mineirão

5/8 – Mineirão

América 1x1 Milan 6/8 – Independência

Atlético 4x2 Corinthians 6/8 – Mineirão

Finall Fi Atlético 2x1 Cruzeiro 9/8 – Mineirão

Benfica 0x0 Olimpia 7/8 – Mineirão

Flamengo 1x2 Cruzeiro 7/8 – Mineirão

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INGLATERRA por Tomaz R. Alves

A fronteira

FINAL Pela primeira vez, times grandes da Inglaterra apostam alto em jovens jogadores brasileiros s grandes clubes ingleses não gostam de jogadores brasileiros. Isso é um fato. Ou melhor, era um fato. Se, até a temporada passada, a Premier League era, de longe, a grande liga européia que contava com menos atletas de nosso país, na próxima, os três primeiros colocados do último campeonato apresentarão brasileiros como reforços. E não são quaisquer brasileiros. Estamos falando de atletas jovens e talentosos, com passagens pela Seleção e potencial para fazer história vestindo a camisa amarela: Anderson, Alex e Lucas. Para entender por que os “grandes” da Inglaterra estão se abrindo para os jogadores brasileiros, primeiro é preciso relembrar rapidamente a história dos atletas do país no futebol inglês. Essa história começou tarde, em 1987, quando Mirandinha trocou o Palmeiras pelo Newcastle. Para comparar,

O

nove anos antes, o Tottenham já contratava os argentinos Osvaldo Ardiles e Ricardo Villa, que fariam história no clube. No início da década de 90, com a Lei Bosman e a consolidação da União Européia, centenas de jogadores estrangeiros começaram a invadir o futebol inglês – mas não brasileiros. Um dos principais motivos para que isso tenha acontecido é o “work permit”, o visto de trabalho no Reino Unido. Para permitir que um jogador de fora da União Européia jogue futebol no país, o governo exige que ele tenha participado de pelo menos 75% das partidas de sua seleção nos dois anos anteriores (para países que estejam entre os 70 primeiros no ranking da Fifa). Para um norueguês, australiano ou norte-americano, isso é relativamente fácil. Para um brasileiro, é dificílimo. Só astros já firmados na Seleção poderiam jogar no fu-

O Liverpool gastou

€ 8 mi para tirar Lucas do Grêmio O Manchester United pagou ao Porto por volta de

€ 33 mi para contratar Anderson

OS BRASILEIROS NA PREMIER LEAGUE, NOS ÚLTIMOS 15 ANOS

Arsenal Denílson Edu Eduardo da Silva¹²

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Gilberto Silva Júlio Baptista Sylvinho

Bolton

Chelsea

Coventry

Everton

Leeds

Liverpool

Emerson Thomé Júlio César

Alex¹ ³ Emerson Thomé

Isaías

Anderson Silva Rodrigo

Roque Junior

Fábio Aurélio Lucas¹

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Divulgação

Estilo de jogo “europeu” de Lucas despertou interesse do Liverpool

Manchester City

Manchester United

Geovanni¹

Anderson¹ Kleberson

Middlesbrough

Newcastle

Doriva Emerson Costa Fábio Rochemback Juninho

José Fumaça

Sheffield Wednesday

tebol inglês — a não ser que tenham nacionalidade de algum país da União Européia, como é o caso de Lucas: “Meu passaporte italiano ajudou bastante, por causa das leis inglesas”, disse o volante à Trivela. Mas essa lei não explica tudo. O estilo de jogo brasileiro também não é o preferido dos ingleses. Tradicionalmente, nossos jogadores gostam de tocar a bola no chão, trocar passes, mantendo um ritmo cadenciado. O futebol tradicional na Inglaterra é bem diferente: muita velocidade, contato físico, jogo aéreo. Outro problema sério para os brasileiros é a vida fora de campo. O clima frio e chuvoso da Inglaterra é totalmente diferente do que estamos acostumados, a sociedade inglesa é mais formal e retraída que a nossa, e a culinária do país é mundialmente conhecida como ruim. Isso tudo complica a adaptação dos brasileiros, que acabam preferindo ir para países mais “amistosos”, como Portugal e Espanha. Para um brasileiro se dar bem na Inglaterra, é preciso chegar lá com grande disposição a se adaptar. Foi o que fez Gilberto Silva, sucesso no Arsenal, e é esse também o discurso de Lucas, no Liverpool: “Sei que os costumes são diferentes. O importante é se adaptar e estudar a cultura deles, porque ajuda a se integrar”. No entanto, não é isso que costuma acontecer com os jogadores brasileiros, o que criou um certo preconceito entre os ingleses. Com isso, só times de menor porte decidiam se arriscar com nossos jogadores. E foi numa dessas equipes que ocorreu o melhor desempenho de um brasileiro na Inglaterra, nos anos 90. Em 1995, o Middlesbrough, recém-promovido à primeira divisão, contratou Juninho, então no São Paulo. Embora seu tipo físico esteja longe do considerado ideal na Inglaterra, o meia fez duas

Sunderland

Tottenham

Wigan

Emerson Thomé

Rodrigo Defendi

Emerson Thomé

Emerson Thomé ¹ A partir da próxima temporada ² Naturalizado croata ³ Ainda não confirmado

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temporadas excelentes e mostrou que, se bem escolhidos, os brasileiros são bom negócio. Não à toa, até hoje, o Boro é um dos times que mais contrata atletas daqui. Junto com Juninho, começaram a aparecer mais alguns brasileiros no futebol inglês. A quantidade de jogadores passou a seguir um padrão, ao longo das temporadas. Primeiro, um brasileiro faz sucesso e dá início a uma onda de contratações. Nessa leva, chegam alguns nomes de qualidade duvidosa. Há, então, um enxugamento, que volta a reduzir bastante a quantidade de brasileiros – antes que um outro sucesso cause nova explosão. Foi mais ou menos isso o que aconteceu em 2003/4. Nessa temporada, cinco brasileiros podiam ser considerados titulares: Edu, Gilberto Silva (Arsenal), Juninho, Doriva (Middlesbrough) e Emerson Thomé (Bolton). No campeonato seguinte, só Doriva manteve a titularidade (embora Gilberto tenha sido prejudicado por uma contusão nas costas). Mesmo assim, ao longo dos últimos 12 anos, há uma clara tendência de crescimento (veja gráfico). Dentro desse padrão, a onda de contratações de 2007 parece ser só mais um ponto de pico. Só que há uma diferença crucial: a qualidade e a idade dos atletas. No passado, a Inglaterra já contou alguns brasileiros com nível de Seleção. Mas nun-

ca haviam sido contratados jovens com potencial para serem craques – muito menos em grandes times, como Liverpool e Manchester United. Além disso, Anderson e Lucas são duas apostas caras dos gigantes ingleses: juntos, custaram € 41 milhões.

Brasileiros ao gosto inglês É inevitável não se perguntar por que, de repente, os grandes clubes ingleses decidiram apostar em jogadores brasileiros. O que mudou? Primeiro, deve-se notar que a mudança não aconteceu de repente. No Arsenal, Arsène Wenger conta com brasileiros desde 1999. No Manchester United, Alex Ferguson tentou contratar Ronaldinho Gaúcho em 2002, mas perdeu para o Barcelona. No ano seguinte, apostou em Kleberson. Alex, provável reforço do Chelsea, já está nos planos da equipe desde 2004, quando trocou o Santos pelo PSV (diz-se que, desde então, o time inglês seria o verdadeiro “dono” do jogador). Matt O’Casey, jornalista da BBC, destaca outro fator importante: “Tanto Chel sea

OS SUCESSOS

OS FRACASSOS Branco

Fez duas grandes temporadas no Middlesbrough, entre 1995 e 1997, e “abriu as portas” para os brasileiros na Inglaterra

Emerson Thomé Desconhecido aqui no Brasil, chegou à Inglaterra vindo do Benfica. Estabeleceu-se como um zagueiro forte e seguro, disputando 181 partidas em cinco equipes diferentes

Gilberto Silva Substituiu o “insubstituível” Patrick Vieira à altura, tornou-se um dos pilares do Arsenal e deve assumir a faixa de capitão do time na próxima temporada. Seu sucesso contribuiu para o aumento de brasileiros na Premier League

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es/AFP Getty Imag

Juninho

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quanto Manchester United têm portugueses em posições importantes (Mourinho, nos Blues, e Queiroz, assistente nos Red Devils). No Arsenal, Wenger tem histórico de trabalhar com várias nacionalidades. Pode-se dizer até que o fato de Benítez ser espanhol ajudou”. Ou seja, contribuiu para as contratações o fato de os quatro grandes terem treinadores com afinidade com brasileiros. A mudança de mentalidade e estilo de jogo dos brasileiros também está abrindo portas. “O futebol do Brasil tem crescido muito na parte tática. Os treinadores gostam que os jogadores sejam obedientes. Os atletas têm aprendido bastante, e acredito que seja também por isso, além da qualidade dos jogadores, que se abra esse maior mercado na Inglaterra”, opina Lucas. Não é coincidência, portanto, que quatro dos brasileiros que jogarão na Inglaterra na próxima temporada são volantes: Denilson, Gilberto Silva, Anderson Silva (ex-Málaga) e o próprio Lucas. Isso para não falar do lateral Fábio Aurélio e do zagueiro Alex. Ou seja, a maioria são jogadores defensivos. Segundo O’Casey, da BBC, o sucesso de Gilberto Silva ajuda a explicar essa predileção: “A eficiência do Gilberto no desarme e no trabalho defensivo são qualidades necessárias ao futebol inglês. Só que, além disso, ele tem capacidade

Campeão mundial pelo Brasil em 1994, foi para o Middlesbrough cheio de moral, mas é hoje considerado uma das piores contratações da história da equipe. Claramente acima do peso, jogou apenas quatro vezes pelo Boro

Roque Junior Campeão europeu pelo Milan, foi emprestado ao Leeds. Em sete partidas que disputou, o Leeds sofreu 25 gols. Não à toa, recebeu da torcida o apelido de “Roque Horror Show”

Kleberson Foi contratado pelo Manchester United em 2003, por € 8,5 milhões. Chegou a disputar 30 partidas, mas sem nenhuma regularidade. É apontado como um dos maiores erros da carreira de Alex Ferguson

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NÚMERO DE BRASILEIROS TITULARES, POR TEMPORADA 5

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3

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2 2

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de fazer a ligação com o ataque e até de marcar gols. Esse talvez seja o novo componente essencial para um jogador na Premier League: o defensor durão que se transforma numa força criativa para o ataque”. Anderson, Lucas e Alex também contam com outra característica em comum: terem saído do Brasil muito jovens. O ex-gremista foi para o Porto com 17 anos. Lucas deixa o país com 20. Alex foi mandado para o PSV um pouco mais velho, aos 22. Esse êxodo precoce, hoje, é comum entre jogadores brasileiros talentosos. Tal característica atrai os técnicos ingleses porque torna mais fácil moldar os atletas a seu estilo, sem que tenham pego “vícios” do futebol brasileiro. No caso de Alex e Anderson, ainda há a vantagem de já terem experiência em clubes importantes de Europa.

Perspectivas A chegada desse trio talentoso deve empolgar os brasileiros que acompanham a Premier League. Mas convém ir com calma. Pela idade e pela dura concorrência por vagas entre os titulares nos três clubes, é natural que eles não passem muito tempo em campo, na próxima temporada. Quando anunciou a contratação do jogador, Rafa Benítez indicou o que espera do brasileiro: “Ele é um jogador fantástico para o presente e para o futuro. Pode demorar um pouco para se adaptar, mas ele tem qualidade para colocar pressão em Gerrard, Mascherano, Xabi Alonso e Sissoko”. Em outras palavras, Lucas tem potencial para ser titular, mas começa como reserva. No Manchester United, Alex Ferguson tem planos parecidos para Anderson. “Ele terá tempo para se adaptar ao clube. Na

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próxima temporada, não vai jogar em todas as partidas, mas vai estar presente em uma boa quantidade. Ele é importante para nosso futuro”. A situação de Alex, no Chelsea, não deverá ser muito diferente. Embora chegue com moral alto, dificilmente desbancará, de cara, a dupla titular formada por John Terry e Ricardo Carvalho. Vale a pena, também, olhar rapidamente a situação dos outros jogadores do nosso país na Premier League. No Arsenal, Gilberto Silva é um dos pilares da equipe. Ele terá a companhia do jovem Denílson, que deverá seguir atuando esporadicamente, e, talvez, de Júlio Baptista. Não esqueçamos, também, do atacante brasileiro naturalizado croata Eduardo da Silva, que chega aos Gunners com a gigantesca responsabilidade de substituir Thierry Henry. No Liverpool, Fábio Aurélio deve continuar atuando regularmente, mas sem ser titular. O mesmo pode ser dito de Fábio Rochemback, no Middlesbrough. No Everton, Anderson Silva deverá ficar no banco. Mais difícil é prever qual será o papel do ex-cruzeirense Geovanni, no Manchester City. A história mostra que, desses 11 brasileiros, metade deve deixar a Premier League em breve. Mas, mesmo assim, a semente está plantada. Lucas, Anderson e Alex têm potencial para tornarem-se referência em seus times por um longo tempo – isso para não falar do consagrado Gilberto Silva. Pode ter demorado, mas tudo indica que, de uma maneira diferente da que aconteceu nos outros grandes centros europeus, os brasileiros estão conquistando a Inglaterra. Saiba mais sobre futebol inglês em www.trivela.com/inglaterra

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Alex: na mira do Chelsea desde 2004, “amadureceu” seu futebol no PSV

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Jerry Lampen/Reuters

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Queimando

TALENTO Com os jogadores indo para o exterior cada vez mais jovens, cria-se uma pressão desmedida sobre eles. Pouco se pensa como em que é tarde iisso afeta f t suas carreiras i até té a hora h t d demais d i por Cassiano Ricardo Gobbet e Leonardo Bertozzi

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Shaun Best/Reuters

Renato Augusto: no fio da navalha pelo fracasso no Mundial sub-20

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primeiro jogo profissional de Lenny pelo Fluminense foi em outubro de 2005. Contusões e suspensões deixaram o então treinador, Abel Braga, sem alternativas para pegar o líder Corinthians, em Volta Redonda. “Me ligaram do clube dois dias antes do jogo e me disseram que eu ia jogar”, explica o atacante, hoje com 19 anos. Com apenas 17 anos, Lenny não teve nenhuma cerimônia para estrear no Fluminense. “O Abel me disse que era para eu fazer o que eu sabia e para ficar sossegado. Perdemos por 2 a 0, com dois gols do Gustavo Nery, mas eu fui bem”, afirmou. No final de 2006, Lenny já era um veterano marginalizado no Fluminense. Tinha conhecido todas as fases da carreira de um jogador de futebol, passando por uma ascensão meteórica seguida por uma decadência vertiginosa. Rotulado como a resposta carioca a Ronaldinho Gaúcho e comparado a Robinho por Milton Neves, o atacante acabou passando o começo de 2007 praticamente sem pisar no gramado e foi emprestado ao Braga, de Portugal, um destino comum para jovens revelações do Flu. “No começo, era tudo lindo. Você errava um passe no treino, e os jogadores do profissional vinham, davam tapinha nas costas, faziam piada, diziam ‘deixa pra lá’; quando as coisas começaram a dar errado, já viravam gritando e xingando”. No exato dia em que foi despachado para o Braga, Lenny falava com um tom bastante amargo para um “velho” de 19 anos. “Acho que tudo isso aconteceu porque eu era muito novo. Hoje, eu me sinto bem mais experiente”, explica. Faltou ajuda do clube? “Acho que sim. Tudo que dava errado era jogado nas minhas costas, e ninguém falava nada”. No caso de Lenny, como em 99,9% dos casos similares, que se repetem sem parar no Brasil, ele não teve acompanhamento

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ADRIANO Surgiu no Guarani, na década de 1990, como sucessor de Neto. Meia de armação habilidoso e técnico, era especialista em cobranças de falta. Foi campeão mundial sub-20, em 1993, e passou por Botafogo, São Paulo e Atlético-MG, entre outros clubes, como futura estrela do futebol brasileiro. Com dificuldade em controlar o peso, nunca atendeu às expectativas e acabou sumindo. Hoje, é jogador e dono do Oeste Paulista, que disputa a quarta divisão de São Paulo

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FÁBIO JÚNIOR Atacante rápido, habilidoso e bastante oportunista surgido no Cruzeiro na década de 1990. As comparações de Fábio Júnior com Ronaldo eram quase inevitáveis e, depois de belas atuações em 1998, foi vendido à Roma. Decepcionou e ficou quase todo o tempo no banco de reservas. De volta ao Brasil, teve alguns bons momentos no Palmeiras, mas nunca confirmou seu potencial. Está no Apoel Nicósia, do Chipre.

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psicológico nem nada similar. “Mas de psicólogo eu não preciso”, argumenta, seguro de si. Será? O caso da (ex?) promessa do Fluminense é um estereótipo do menino jogado aos leões pela conveniência de um conjunto de interesses. Clubes, agentes, técnicos, veteranos, familiares, jornalistas, todo mundo olha o seu, e o garoto que se dane. Na esperança de virar o novo Kaká, centenas entram nessa máquina de moer carne, e poucos saem ilesos para seguir os passos do astro milanista. Lenny também mostrou outra característica quase unânime nos depoimentos dos jovens craques que hoje são considerados os “grandes jogadores” de clubes grandes brasileiros: a negação ao fato de que a superexposição e a expectativa são caminhos para o abismo. “Esses meninos, guindados à condições de ‘deuses’ da noite para o dia, são cortejados sistematicamente para acreditarem que jamais fracassarão”, explica a psicóloga Rosa Della Manna, cuja experiência clínica envolve vários casos de adolescentes aflitos por pressões externas. “Além do mais, o adolescente, naturalmente, acha que é onipotente e que jamais vai cair do cavalo”, explica. Mas eles caem. E se machucam feio. De vez em quando, a cobrança é ainda mais implacável, impossível de controlar. O atacante do Cruzeiro

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Guilherme, de 18 anos, impressiona pela rigidez consigo mesmo. “A maior cobrança de todas vem de mim mesmo. Se eu fizer cinco gols num jogo, penso: ‘Por que não fiz o sexto?’”, diz. “Essa frase revela a sensação desmedida de poder que tem o jovem e que ninguém faz nada para controlar”, diz Rosa Della Manna. “O risco que ele corre de ter uma frustração traumática é imenso”.

Mercado

Lúcio: “me cobravam como veterano” Destaque do Goiás semifinalista do Brasileirão de 1996, Lúcio logo chegou ao Flamengo como estrela. Já veterano, o meia confirma que as pressões exageradas prejudicaram sua carreira Você estreou com que idade no profissional? Com 18 anos, em 1994. Você explodiu mesmo em 1996, não? Sim. O Cabralzinho era o técnico e pediu para eu voltar de empréstimo. Comecei a jogar, fazer gols. Percebi que as coisas estavam acontecendo. Depois foi logo para o Flamengo? Sempre torci para o Flamengo e queria me firmar lá, mas a pressão era demais. Me tratavam como se eu fosse um veterano. Eu era garoto. Tudo caía nas minhas costas. Você acha que um jogador de 17 ou 18 anos está pronto para segurar uma responsabilidade dessas? Os jogadores passam por seleções de base e vão crescendo, mas mesmo assim ainda são garotos. Só que a imprensa e a torcida não entendem. Você se sentiu deslumbrado? Felizmente, nunca me deslumbrei, sempre fui próximo à família. Mas não tinha a mesma cabeça de hoje. Cheguei a ter pré-contrato com o Real Madrid, proposta do Milan... o Flamengo não me liberou. Eu não tinha noção do tamanho daquilo tudo. O que você tem a dizer para os mais novos? Que é preciso tomar cuidado, que a profissão não vai durar para sempre.

Uma combinação circunstancial cruel levou o fenômeno da “exploração adolescente” no futebol ao descontrole. Quebrados e drenados por agentes, os clubes vendem quem conseguem antes que o atleta arrume uma desculpa para sair de graça e ir jogar onde o salário valha a pena: Itália, Holanda, Ucrânia, Tunísia ou Vietnã. A saída é buscar alguém mais jovem, se possível no próprio clube – leia-se “de graça”. Esse roteiro vem sendo adotado recentemente pelo Palmeiras. Fervendo por causa de uma crise financeira crônica e com uma torcida que se viciou no ritmo de conquistas da era Parmalat, a diretoria agora adotou novamente o discurso de “aposta nas divisões de base” – quando, na verdade, não se trata de aposta, e sim de uma opção forçada. A promoção de garotos das divisões menores acontece para apagar incêndios. “Hoje, esses garotos não estão mais nem menos preparados para assumir responsabilidades do que estavam no passado”, diz Marcos Paquetá, campeão mundial com as Seleções Brasileiras sub17 e sub-20, agora treinando o Al Hilal, da Arábia Saudita. “Hoje, a realidade dos clubes faz com que seja promovido o jogador que o time precisa e não aquele que já esteja pronto”, afirma. “No passado, raramente um garoto subia para o time de cima e não era ‘protegido’ pelos veteranos, que eram mais cobrados”. Quem despeja tanta responsabilidade nas costas desses adolescentes? “Todo mundo”, diz a psicóloga Rosa. “Sim, o clube aproveita-se de uma maneira cruel da situação, mas não é o único. Em grande parte dos casos, também a família vê o menino como a tábua de salvação para os problemas financeiros, há a imprensa que quer capitalizar com o ‘novo herói’, tem o agente que quer garantir um lucro maior, etc.”, explica. Muitas vezes, quem tem de pensar no bem-estar do jovem atleta é ele mesmo. “Na categoria de base, certos clubes já implantam essa conduta de exigir responsabilidades, cobrar, querer títulos. É claro que a proporção é outra, mas a gente já convive de certa forma com essa pressão”, adiciona Lucas, que está deixando o Grêmio rumo ao Liverpool. Ele concorda com a psicóloga Rosa. “A pressão vem de todos os lados”. Fernando Sontello/Gazeta Press

Era uma das estrelas da Portuguesa campeã da Taça São Paulo de Juniores de 1991. Atacante oportunista, acabou ofuscado pelo colega Dener e jamais estourou. Passou por uma infinidade de times: Portuguesa, Grêmio, Paysandu, Novorizontino, Botafogo, Lugano-SUI, Coritiba, Internacional-SP, Al Nassr-ARS, Vitória, Santa Cruz, São Caetano, Fortaleza, Guarani, América-MG, Marília, Brasiliense, Ulbra, Paraná, Cianorte e Grêmio Barueri

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Quando o Corinthians entrou em má fase no Campeonato Brasileiro, o diagnóstico de muitos foi imediato: Willian deixara o clube para defender o Brasil no Mundial sub-20. Isso dá uma boa medida da pressão sobre os ombros do meia, visto como peça fundamental no clube do ponto de vista técnico, com seu futebol, e financeiro, com os milhões de euros que sua venda renderia — tanto que seu nome já foi ligado a vários clubes, como Lyon, Fiorentina e Benfica.

Pato

Nome Alexandre Rodriggues da Silva Nasc Na scim imen ento to 2/setembro/1989, em PPat atoo Br Bran anco co-PR PR Posiição ã Atacante Clube Internacional

Alexandre Pato estreou contra o Palmeiras marcando um gol. Foi o suficiente para se tornar titular e ir para o Mundial. Com habilidade, visão e chute forte, é tratado como o jogador mais promissor dessa geração — tanto que foi crucificado por parte da torcida, que o acusava de “amarelar”, quando o Inter passou por má fase.

Guilherme

Nome Gu Guililhe herm rmee Milh Mi lhom omem em G Gus usmã mãoo Nasc Na scim imen ento to 22/o 22 /out /o utub ut ubro ub ro/1 ro /198 /1 988, 98 8 eem m Impe Im pera pe ratr ra triz tr iz-MA MA Po osi s çã ção o At Atac acan ante te Clube Cr Cruz uzei eiro ro

Grande nome do Cruzeiro na Copa São Paulo de 2007, Guilherme não demorou a cair nas graças da torcida. Habilidoso e com faro de gol, cresce em jogos importantes. Apesar de a comissão técnica tratá-lo com cautela, a torcida quer vê-lo como titular.

Tchô

Nome Va Vald ldec ecir ir de Sou Souza za JJún únio iorr Nasc Na scim imen ento to 21/a 21 /abr /a brililil/1 br /198 /1 987, 98 7 em B Bel eloo Ho el Hori rizo ri zont zo ntee nt Posi Po siçã ç o Me çã Meia ia Clube At Atlé léti tico co-MG MG

Uma das certezas deixadas pelo rebaixamento atleticano foi a necessidade de recorrer aos jogadores da base. Tchô tornouse um dos símbolos do time que conquistou a Série B em 2006. No início do ano, fez parte da Seleção Brasileira que venceu o Sul-Americano sub20, jogando bem e marcando gols importantes.

Carlos Eduardo

Nome Ca Carl rlos os Edua Ed uard rdoo Ma Marq rqque uess Nasc Na scim imen ento to 18/j/j/jul 18 ulho ul ho/1 ho /198 /1 987, 98 7 7, em A Aju juri ju rica ri caba ca ba-RS RS Posi Po siçã ç o Me çã Meia ia-a -ata taca cant ntee Clube Gr Grêm êmio io

Carlos Eduardo é visto pelos gremistas como um sinal de como sucessor de Ronaldinho e Anderson. Isso dá a medida da responsabilidade jogada nas costas do jovem, que rivaliza com Alexandre Pato pelo posto de maior revelação gaúcha dos últimos dois anos. É a figura mais técnica e talentosa do Tricolor.

Lenny

Nome Le Lenn nnyy Fern Fe rnan ande dess Co Coel elho ho Nasc Na scim imen ento to 23/m 23 /mar /m arço ar ço/1 ço /198 /1 988, 98 8 no R Rio io ddee Ja Jane neir ne iroo ir Posi Po siçã ç o At çã Atac acan ante te Clube Br Brag agaa-PO POR R

Apareceu no time profissional do Fluminense com grandes atuações. Driblador e rápido, foi prematuramente elevado à categoria de craque. Com a natural queda de rendimento, perdeu a posição de titular. A pressão cresceu, a ponto de muitos o virem como “farsa” ou jogador que se perdeu. O empréstimo ao Braga serviu justamente para mudar de ares e recomeçar a carreira.

Nome Lu Luiz iz M Mar arce celo lo Mora Mo raes es ddos os R Rei es ei Nasc Na scim imen ento to 10/a 10 /abr /a brililil/1 br /199 /1 990, 99 0 0, em M Mau auáá-SP au SP Posi Po siçã ç o Me çã Meia ia-a -ata taca cant ntee Clube Co Cori rint nthi hian anss

O meia-atacante não tem nem uma dezena de jogos como profissional, mas seu desempenho nas categorias de base impressionou tanto que a torcida corintiana e a imprensa, sobretudo a paulista, o tratam como craque do time. Sabe se aproximar dos atacantes e finalizar com precisão, tanto que foi artilheiro do Sul-Americano sub-17.

Jefferson Bernardes/Vipcomm

Willian

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Lulinha

JOVENS REVELAÇÕES SOB PRESSÃO

Fotos AFP / Gazeta Press / Reuters

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O equivalente paulista do caso rubro-negro ocorreu no Corinthians. Depois da convocação do meia Willian, de somente 18 anos, para jogar o Mundial no Canadá, o Timão caiu de produção, perdendo a invencibilidade e passando por uma série de derrotas. “O Corinthians está sentindo a falta de Willian” era um bordão freqüente nas transmissões de rádio e TV. Mais surreal ainda é a situação de Lulinha, meia de 17 anos que tem seu nome gritado pela torcida quando as coisas vão mal. E a pressão tende a piorar, dado o bom desempenho dele na Seleção sub-17, nos Jogos Pan-Americanos.

RODRIGO FABRI Foi o grande nome da campanha da Portuguesa vice-campeã do Brasileirão de 1996. Sua cotação ficou tão alta que a Lazio quis acertar um sistema de co-gestão com a Lusa só para levar o meia-atacante. No entanto, o jogador já havia assinado com o Real Madrid. Desde então, Rodrigo só teve flashes do futebol que mostrou no início da carreira. Foi artilheiro do Brasileirão de 2002 pelo Grêmio, mas hoje está no Paulista de Jundiaí

Veteranos

a Pre

ss

Pressão intensa

Perguntados pelo apoio dado pelos jogadores mais velhos, os garotos têm opiniões diferentes. “Os jogadores experientes diziam justamente o contrário, que a pressão estava em cima deles e não de mim”, conta o meia Tchô, do Atlético-MG, que, em sua primeira temporada, já teve o batismo de fogo, com o rebaixamento do Galo. Já Guilherme, do rival Cruzeiro, vê de outro modo. “Não acho que tem essa de ‘os mais velhos têm de segurar a bronca’. Eu sempre fiz questão de responder por mim mesmo”, responde, com uma segurança surpreendente. “Hoje, é muito difícil chegar em um menino que está vindo do juvenil e dar conselhos”, diz o experiente Euller, hoje em final de carreira no América-MG. “O atleta jovem não entende que precisa aprender, sobe para o time principal achando que já está pronto”, critica. “Não se tem mais cuidado nenhum com as divisões de base”. A questão, agora, é refletir se alguém está tendo cuidado com alguma coisa que não seja o dinheiro ganho na venda dos garotos.

Acer

vo G

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Ricardo Drubscky, coordenador das categorias de base do Cruzeiro, lembra que a promoção para o time profissional em um grande clube tem ainda um fator a mais para pressionar. “Imediatamente, o atleta sabe que estará sendo observado no âmbito da Seleção Brasileira. Além disso, ele sabe que não há espaço para erro. Tem de ganhar todas ou não está bom. E a torcida vai pegar no pé”, conta. Torcida? Mas ela não é condescendente com os pratasda-casa, com os jogadores formados no clube? “Ah, não tem isso não! Quando o time perde, a torcida não está nem aí se o menino é de casa ou não. A atitude do torcedor é muito passional”, adiciona Marcos Paquetá, que, além da Seleção, trabalhou nas divisões de base de um clube que é uma panela de pressão por definição: o Flamengo. “Lá, a pressão da torcida é muito grande. Até o jogador mais experiente que vem jogar aqui sente um pouco”, conta Renato Augusto, a prata-da-casa mais valorizada na Gávea desde o meia Sávio. “Na hora de apoiar, nunca vi torcida igual. Mas, quando perde, a pressão é dobrada. É oito ou oitenta. Quando você vai bem, é idolatrado, mas quando vai mal, é um nada”, explica o jogador, recentemente colocado no fio da navalha por causa da derrota da Seleção no Mundial sub-20, no Canadá, sobre a qual ele não aceita falar. “Claro que teve problema lá, mas não é meu papel ficar comentando”. Um indício de como grandes clubes jogam a responsabilidade em cima de jogadores que ainda estão se formando ocorreu justamente por causa do Mundial sub-20 que terminou mal para Renato. Durante sua ausência, imprensa e torcida do Flamengo não hesitavam em apontar eventuais passos em falso do Fla por não ter o jogador.

Djalma Vassao/Gazeta Press

IRANILDO Saiu das categorias de base do Madureira para se profissionalizar no Botafogo em 1995, justamente o ano em que o Alvinegro conquistou o título brasileiro. Iranildo ganhou espaço como grande revelação e foi para o Flamengo em uma polêmica transação. Perdeu-se na panela de pressão da Gávea e só voltou a mostrar um futebol consistente em 2002, quando levou o Brasiliense à final da Copa do Brasil. Mas, aí, já tinha 26 anos e era considerado “velho”

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CAPITAIS DO FUTEBOL por Cassiano Ricardo Gobbet

GUERRA CIVIL

de torcidas

Torcidas organizadas de Belgrado tiveram papel importante na guerra civil da Iugoslávia. Mas, apesar das tensões, futebol local produz muitos craques e tem até um estádio chamado “Marakana”

O

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UMA CAPITAL COM NOMES EM TODAS AS LÍNGUAS Singindun Nome celta baseado na tribo Scordisci, significando “fortaleza” Singindunon Adaptação romana do mesmo nome

Beograd Nome eslavo, cuja tradução é “fortaleza branca”

Alba Bulgarica Latim

Dar Ul Jihad Nome otomano da cidade, significando “Casa da Guerra”

Weißenburg Alemão

seis nações – passa fortemente pelo futebol do país. As torcidas organizadas de Belgrado (que são chamadas pelos próprios sérvios de “torcida”, outra referência ao futebol brasileiro) tiveram papel preponderante na guerra civil do país, formando milícias paramilitares que tomaram parte no conflito. A mais famosa delas foi a Delije, uma torcida do Crvena Zvezda – clube chamado aqui no Brasil de Estrela Vermelha. Sob o comando de Zeljko Raznatovic, conhecido por Arkan (posteriormente, dono do Obilic, também de Belgrado), a Delije participou dos massacres sérvios na Bósnia, promovidos pelo líder ultranacionalista Slobodan Milosevic. Na arquibancada norte dos jogos do Estrela Vermelha no “Marakana”, a Delije ainda hoje marca sua presença e, se não é mais uma unidade paramilitar, não di-

Fehérvár Húngaro

Castelbianco Italiano Veligrad Versão bizantina

Marko Djurica/Reuters

Maracanã fica no coração da Europa. Não estranhe a frase. Mesmo que você creia que somente os brasileiros têm o direito de apresentar futebol vistoso, a afirmação pode ser dita sem que haja um escândalo em defesa do maior estádio do mundo ou da estirpe de Pelé. A confirmação é simples, com uma ida a Belgrado, capital da atual Sérvia. “Atual” Sérvia porque a cidade, fundada por celtas, colonizada por romanos e localizada numa região depois povoada por grande variedade de etnias e religiões (seu nome mudou inúmeras vezes, conforme quem a dominava) assistiu a diversas desintegrações nos últimos anos, deixando de ser a capital da Iugoslávia e da República da Sérvia e Montenegro antes de passar a ser “somente” a cidade sérvia mais importante. No processo, a humanidade assistiu a um genocídio – mais um –, tão tenebroso como qualquer outro. O que o Maracanã tem a ver com isso? Bom, é que ele fica em Belgrado mesmo. O Stadion Crvena Zvezda, o maior da cidade, com mais de 50 mil lugares, é conhecido como “Marakana”, em homenagem ao estádio carioca. Não é à toa que os iugoslavos são conhecidos como os “brasileiros da Europa”, no que diz respeito ao futebol. A tensão étnica e religiosa que despedaçou a Iugoslávia – hoje dividida em

minuiu sua agressividade. Na cidade, a rivalidade mais intensa do clube que revelou Jugovic, Mihajlovic (ex-Lazio e Inter) e Prosinecki (ex-Barcelona) é com o Partizan. Não menos prolífico em craques (de lá saiu o “Gênio” Dejan Savicevic, entre outros), o Partizan também tem uma torcida chegada em violência: a Grobari (cuja tradução é “Cavadores de Túmulos”). Não é à toa que 25 das 36 partidas internacionais que o Partizan disputou nos últimos cinco anos tiveram incidentes que resultaram em punições — incluindo a exclusão da Copa Uefa deste ano. Naturalmente, você pode imaginar que, quando Estrela Vermelha e Partizan se encontram na liga sérvia, a polícia fica de cabelos em pé. Apesar de formar craques em profusão, o futebol do país sofreu uma

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Fudbalski Klub Crvena Zvezda (Estrela Vermelha) 1 Copa dos Campeões 1 Mundial Interclubes 25 Campeonatos Nacionais 22 Copas Nacionais

Fudbalski Klub Zemun

Fudbalski Klub Partizan 19 Campeonatos Nacionais 9 Copas Nacionais

Fudbalski Klub Rad Belgrade

Fudbalski Klub Bezanija Nenhum título

Fudbalski Klub Vozdovac

Terceira divisão

Primeira divisão Segunda divisão

CLUBES DE BELGRADO

Sempre que Estrela Vermelha (esq.) e Partizan (dir.) jogam, há tensão dentro e fora de campo

Omladinski Fudbalski Klub Beograd Nenhum título

Fudbalski Klub Obilic 1 Campeonato Nacional

Fudbalski Klub Cukaricki Stankom Nenhum título

Fudbalski Klub Bask

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dramática queda de qualidade. Além da desintegração da Iugoslávia (que diminuiu sua área de 250 mil para cerca de 80 mil km2), as novas nações não fazem parte da União Européia, e a economia local se ressente. Com uma média de cerca de 2,5 mil pagantes por jogo, o primeiro Campeonato Sérvio da história está longe de ter como manter clubes de passado glorioso como o Estrela Vermelha e o Partizan. A elite do novo futebol sérvio ainda tem mais três clubes em Belgrado. O OFK, o mais antigo deles, acaba de aparecer no cenário internacional pela venda de dois jogadores: o meia Kolarov, para a Lazio, e o zagueiro Rajkovic, para o milionário Chelsea. Outro, o Bezanija, conta com um gramado excelente, em um confortável estádio para 10 mil pessoas. O último a chegar na festa foi o

Cukaricki, impulsionado pelo novo dono, uma empresa imobiliária – mesmo com uma média de público de menos de 300 pessoas, a menor da liga! Em Belgrado, um outro clube teve sua história manchada pelo passado de vergonha que afligiu a região. Historicamente obscuro, o Obilic chegou a ganhar o Campeonato Iugoslavo em 1998, depois de ter sido comprado por Arkan, o paramilitar da Delije que enriqueceu graças a suas atividades paralelas, corrupção e terror. Convertido a um clube com mentalidade de ultradireita, o Obilic de Arkan chegou ao título iugoslavo com o aporte de dinheiro de origem duvidosa, mas não só. O dirigente freqüentemente ameaçava seus rivais de morte, de acordo com o livro “Como o Futebol Explica o Mundo”, do jornalista Franklin Foer.

Sérvia

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Belgrado 1,576 milhão de habitantes

ESTÁDIOS

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Stadion Crvena Zvezda

Fotos Divulgação

Andrej Isakovic/AFP

O “Marakana” — onde joga o Estrela Vermelha — é o maior e mais importante estádio sérvio . Com quase 60 mil lugares, recebe os jogos da seleção nacional e sediou duas finais de copas européias: a da Copa dos Campeões de 1973 e a da Eurocopa de 1976. Só que foi em uma semifinal de Recopa, contra o Ferencvaros, em 1975, que o público recorde foi registrado: 96 mil pessoas. Mas quem estava lá jura que ele estava com a lotação esgotada – e, naquela época, a capacidade era de 110 mil pessoas.

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Stadion Partizana

Inaugurado numa partida contra a França, em 1949, “encolheu” de 55 mil para 32 mil lugares por causa das exigência da Uefa. Será demolido e reerguido a partir de agosto de 2007. Dará lugar a um complexo de entretenimento que terá hotel 5 estrelas, shopping e cinema – além do campo.

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Stadion Bezanije

Um dos estádios mais simpáticos de Belgrado, por conta de suas dimensões modestas. Só comporta 10 mil pessoas - dá e sobra para o modesto clube da capital –, mas tem um gramado excelente.

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Milos Obilic Stadium

Enquanto Estrela Vermelha e Partizan se modernizam, o Obilic, símbolo de uma era de terror comandada pelo nacionalista Arkan, afunda-se na terceira divisão junto com seu pequeno estádio — é o segundo menor estádio da cidade, com capacidade de pouco mais de 4 mil lugares. Seu nome vem de um herói medieval sérvio.

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Tensa por causa de seu passado recente, Belgrado, que tem cerca de 1,5 milhão de habitantes, é uma cidade conhecida por ter uma vida noturna muito vibrante. A atmosfera não é hostil como há alguns anos, e visitantes vêm dos países que até outro dia estavam em guerra com os sérvios, como Bósnia, Croácia e Macedônia. Restaurantes de comida tradicional, os “kafanas”, são muito procurados por turistas, assim como o Centro de Cultura Estudantil, localizado na Beogradanka, um dos edifícios mais altos da cidade. A capital sérvia oferece ampla variedade de museus. Pela efervescência étnica da região, o Museu Etnográfico, com mais de 100 anos, atrai turistas e ajuda a compreender o cenário da antiga Iugoslávia. O Museu Nacional, com mais de 400 mil peças, e o Museu Militar de Belgrado também valem uma visita. A cidade recebe diversos festivais, conhecidos em toda a Europa e que certamente são um excelente passeio para fazer entre um jogo e outro. Entre eles, estão o Festival de Música, o Festival de Teatro e o Festival da Cerveja, além da Feira de Livros. Em 2008, o Eurovision, um concurso musical europeu super kitsch e popular, ocorrerá em Belgrado. Com uma população razoavelmente grande, a rede de transporte é bastante extensa e oferece muitas facilidades para o turista e o habitante da cidade. Belgrado não tem metrô, mas conta com mais de 300 linhas de ônibus, 12 linhas de “tram” (uma espécie de bonde) e uma vasta rede ferroviária, tornando fácil a vida de quem visita a capital sérvia.

Localizado no encontro das ruas Kralja Milana e Dragoslava Jovanovica, era a residência da dinastia Obrenovic, que comandou a Sérvia no começo do século XIX. Seu imponente jardim e suas linhas clássicas foram projetadas por um arquiteto inglês, com a missão de sobrepujar qualquer residência real de qualquer outro monarca sérvio até então. Grande parte da decoração interna veio de Viena.

Cathedral

O QUE VISITAR ENTRE UM JOGO E OUTRO

Além do futebol

Palácio Real

O Templo de São Sava é a maior igreja dedicada a um dos nomes mais importantes da Igreja Ortodoxa Sérvia, que é independente da comunidade ortodoxa internacional. Erguido no final do século XIX, no local em que se imaginam ter sido queimados os restos mortais de São Sava por um imperador otomano, o templo foi completado só 90 anos depois, em 1985.

Museu Nacional É um dos pontos prediletos dos turistas que vão à capital sérvia. Reunindo peças da arte local e também de toda a Europa Central e da região dos Bálcãs, o Museu Nacional tem cerca de 400 mil peças, divididas em coleções de valor arqueológico, numismático, artístico e histórico. Passou por uma profunda reforma na virada do milênio e foi reinaugurado em 2003.

Museu de Arte Moderna Próximo ao rio Sava, que cruza a cidade, está o Museu de Arte Moderna de Belgrado. Com linhas arrojadas para a época de sua construção, a década de 1950, foi desenhado pelos arquitetos Ivan Antic e Ivanka Raspopovic. Bombardeado pelas tropas da OTAN durante a guerra civil, o museu abriga cerca de 35 mil obras em seu acervo, que abrange a arte iugoslava de praticamente todo o século XX.

Beer Fest

Fotos Divulgação

O clube acabou punido pela Uefa pelas atividades extra-campo de Arkan, que seria assassinado dois anos depois do título. Hoje dirigido por sua viúva, uma cantora pop de gosto extravagante chamada Ceca, o Obilic se arrasta, tendo sido rebaixado para a terceira divisão. Se, felizmente, os massacres em massa na região cessaram e Belgrado deixou de aparecer no noticiário em função disso, a Sérvia – e seu futebol – ainda convive com a tensão. Em 2004, o então secretário-geral da federação sérvio-montenegrina, Branko Bulatovic, foi assassinado à luz do dia. A morte teve conexões políticas – e isso não era segredo nenhum.

A festa recebe cerca de 650 mil pessoas durante os quatro dias de duração (neste ano, acontece entre 15 e 19 de agosto). No molde de outras festas da cerveja européias, a graça da coisa é experimentar todas as variedades de cerveja à disposição, em meio aos shows de música. Para melhorar, você entra de graça e só gasta com a cerveja — ou com mais de uma. Agosto de 2007

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COPA

PARTE 3: Estádios

Projetos em

gestação O Comitê de Candidatura da Copa de 2014 já pré-selecionou os estádios. Assim, todos engatilham projetos de modernização ou construção, à espera da confirmação da Fifa por Ubiratan Leal

A

Allianz Arena foi um belo cartão de visitas para a Copa do Mundo de 2006. O estilo da arquitetura fez alguns bávaros torcerem o nariz, apelidando o estádio de “zepelim” e “bote inflável”. Mas sua fachada grande e imponente, que muda de cor de acordo com o time mandante, impressiona, assim como o conforto do interior. Pois bem, esqueça tudo isso se a idéia é imaginar como seria o Mundial de 2014 no Brasil. A realidade brasileira é outra, e uma Copa no país tem de refletir isso, sobretudo nos estádios. Soluções arquitetônicas inusitadas e alta tecnologia serão bem-vindas, mas toda extravagância deverá ser evitada. Projetos para os locais que receberiam o evento estão em andamento. A regra tem sido buscar o limite

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entre a modernidade primeiro-mundista e a necessidade de fazer o possível. O grande desafio é atender ao caderno de encargos da Fifa, que detalha como deve ser cada cubículo de um estádio que receberá partidas de Copa do Mundo: lanchonetes, banheiros, gramado, sala de imprensa, área VIP, acessos, assentos... nada escapa. Por isso, alguns chegam a tratar a lista de exigências da entidade como um Santo Graal, algo quase inatingível que apenas privilegiados – ou quem investisse uma quantia estratosférica de dinheiro – alcançariam. Não é bem assim. A Fifa passa apenas recomendações. Se um local oferecer condições, pode ser escolhido mesmo que não atenda a um ou outro item. É com isso que contam os proprietários

de estádios indicados ao Comitê de Candidatura. Nenhum fala abertamente que vai deixar de respeitar algum requisito, mas muitos salientam que se não se tratam de obrigações quando falam no que precisa ser feito para que seus estádios recebam a Copa. Como conseqüência direta, as expectativas mudaram em relação a quais seriam os estádios para um eventual Mundial no Brasil. Em vez de imaginar instalações 100% novas, com demolição das existentes, a preferência tem sido por modernizações. O exemplo mais claro é o Maracanã. O maior estádio do país, reformado recentemente para receber os Jogos PanAmericanos, foi considerado inviável por Ricardo Teixeira durante muitos anos pela

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Estádios Buffduck/Panoramio

falta de estacionamento. Bastou Rosinha Mateus deixar o poder do Estado e dar lugar a Sérgio Cabral para o discurso mudar. “Sempre vi com dificuldades o Maracanã, mas o governador me apresentou um projeto para tornar o estádio factível”, afirma o presidente da CBF. O governo estadual apenas informou que seria possível usar a Quinta da Boa Vista, parque a menos de 1 quilômetro do Maracanã, como estacionamento, solução nada mirabolante. De fato, o Maracanã foi o estádio indicado para o Rio. O próprio Eduardo Paes, secretário estadual de esportes do Rio, admite que não houve nenhuma revolução no projeto para mudar a opinião de Teixeira. “Não temos nenhuma informação nova para o Comitê de Candidatura, apenas mostramos disposição para cooperar”.

Com esses novos parâmetros, a quantidade de projetos de estádios novos baixou bastante. Dos 23 candidatos a receber jogos da Copa, apenas seis (Campinas, Florianópolis, Jundiaí, Natal, Olinda e Salvador) teriam de ser construídos. Os demais sofreriam reformas e ampliações — profundas em alguns casos, mas sempre em uma estrutura já existente. O caso de Curitiba é exemplar. O AtléticoPR construiu sua Arena da Baixada – depois rebatizada Kyocera Arena – sempre pensando em ter o estádio mais moderno do país, “em nível de Copa do Mundo”. Mas há problemas, como a falta de estacionamentos nas dimensões previstas pela Fifa e baixa capacidade de público. O clube já tinha o plano para construir o último lance de arquibancada, mas a fe-

deração paranaense apresentou o projeto de um estádio novo em área próxima ao atual Pinheirão. O Rubro-Negro conseguiu convencer o governo que seu estádio tinha melhores condições para ser o indicado do Estado. “Eles tinham gostado do projeto da federação, mas mostramos como já temos uma estrutura pronta e conseguiremos fazer as vagas de estacionamentos recomendadas, por meio de bolsões nos arredores”, conta Mauro Holzman, diretor de marketing do Atlético-PR.

Estimativa de custos A preferência por reformas leva à questão: vale a pena reformar ou é mais barato reconstruir? Luís Roberto Martins, representante no Brasil da Amsterdam Agosto de 2007

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Bastou uma troca no governo do Rio para o Maracanã voltar a figurar nos planos da CBF para a Copa de 2014

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Estádios

O que a Fifa recomenda A Fifa entregou um caderno de 34 páginas com todos os detalhes – inclusive técnicos e arquitetônicos – de como deve ser um estádio que receberá jogos de Copa do Mundo. Os pontos levantados não são necessariamente exigências, mas sim recomendações. Assim, até é possível um estádio ser escolhido para o Mundial sem atender a alguns itens. Veja no infográfico os principais pontos recomendados pela Fifa.

Cobertura e iluminação A Fifa recomenda a cobertura de todo o estádio, mas reconhece que isso pode criar problemas para manutenção do gramado. Assim, cobertura apenas das arquibancadas é aceita O fornecimento de energia devem ter sistemas reservas para serem utilizados se houver problema no principal. Geradores ficam de prontidão para casos de evacuação de emergência

Condições gerais Qual a capacidade de o estádio ser viável economicamente? Deve-se considerar não apenas o custo das obras, mas sua posterior utilização. Prever espaço para eventos empresariais ou sociais é alternativa bem-vinda

Divulgação

O projeto deve dar condições para que o local se modernize com o passar do tempo, seguindo a evolução tecnológica. A existência de terreno livre em torno do estádio agrada pela capacidade de ampliação futura

Estacionamentos Equipes, árbitros e delegados devem ter estacionamento próprio, com vagas para dois ônibus e 10 carros (mínimo) perto dos vestiários

Área de imprensa e outros espaços

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Convidados VIP devem ter, preferencialmente, vagas dentro do estádio

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A imprensa deve ter estacionamentos separados dos torcedores, com área entre 3 mil m2 e 5 mil m2 Para os torcedores, os bolsões de estacionamentos não devem estar a mais de 1,5 km do estádio. Para 60 mil torcedores, o estacionamento deve comportar 10 mil carros e 500 ônibus

Vestiários Os vestiários devem ser construídos no mesmo setor do estádio da platéia VIP, com ligação entre si. Além disso, devem estar isolados de torcedores e imprensa. Recomenda-se a construção de quatro vestiários com mínimo de 150m2 cada

A zona mista deve ter mínimo de 100m2. As salas de imprensa devem ter 100 lugares para jornalistas e espaços para dez equipes de televisão com câmeras e tripés. Os fotógrafos devem ter sala própria, inclusive com câmara escura de 80m2 Também é preciso haver sala para exames médicos, para o delegado da partida, para o controle antidoping, área de aquecimento e salas adicionais para usos diversos A tribuna de imprensa deve ficar no centro da arquibancada principal e ter todos os lugares cobertos

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Todos os torcedores devem estar sentados em assentos com encosto de, no mínimo, 30cm de altura. O estádio deverá ter mínimo de quatro setores, com bilheteria, catracas e instalações (banheiros, bares e restaurantes) próprios

Campo O gramado tem de ser natural, apesar de a própria Fifa admitir que o uso de grama sintética em Copas do Mundo é questão de tempo A área verde (gramado mais margens) tem de ter 120 x 80m e o campo de jogo, 105 x 68m O uso de pistas de atletismo é fortemente desencorajado, por afastar o torcedor do gramado (piora a visão e esfria o ambiente da partida). Segundo a Fifa, os eventos de atletismo de grande porte são raros demais para justificar esse desconforto Fossos e alambrados devem ter distância a partir de 6m das linhas laterais e 7,5m das linhas de fundo. Ainda assim, a Fifa recomenda que não existam elementos arquitetônicos para separar o público do campo Os bancos de reserva devem estar a 5m, no mínimo, da linha de campo e ter capacidade para 20 pessoas

Instalações O sistema de som deve ser potente, confiável e capaz de enviar mensagens para cada setor específico sem incomodar os outros A instalação de monitores mostrando o jogo nos bares e restaurantes ajuda a diminuir o tumulto nessas áreas perto do início de cada tempo de partida Todo o estádio deve ter circuito interno de televisão para uso dos responsáveis pela segurança. Esse sistema deve ter alimentação de energia independente

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Estádios

A sinalização interna terá de ser padronizada e com fácil compreensão para torcedores de qualquer parte do mundo. Os ingressos devem seguir essa linguagem visual. Ainda assim, é recomendável a colocação de mapas em pontos estratégicos do estádio

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Arquibancadas

ArenA, empresa que gerencia o estádio do Ajax e tem um projeto para construir a nova casa do Grêmio, defende instalações novas. “Reformar sai de 30 a 40% mais caro e não fica tão bom”, afirma. “Só vale a pena manter o estádio antigo se for mítico, como o Maracanã. E, mesmo assim, tenho dúvidas depois da demolição de Wembley”. Em princípio, o futuro estádio do Grêmio está fora dos planos para a Copa. Martins, porém, aposta que a construção de uma arena moderna pode mudar o cenário. “Tenho certeza de que, se sair do chão, esse projeto tomará o lugar do Beira-Rio como sede gaúcha do Mundial”. Segundo ele, as chances seriam grandes, pois 70% do projeto estaria encaminhado, e as obras começariam em um ano. Do outro lado dessa disputa, está o Internacional, justamente um clube que prefere a reforma. “A opção foi puramente financeira. Um estádio novo custaria cerca de R$ 200 milhões, e nosso projeto de modernização do Beira-Rio sairá por algo em torno de R$ 55 milhões”, compara Pedro Affatato, vice-presidente colorado. No Beira-Rio, estão previstas intervenções como cobertura de todo o anel superior e melhoria de acessos e instalações. O São Paulo acompanha o Inter. A reforma do Morumbi ainda não tem projeto definitivo, e o custo não foi estimado, mas o Tricolor nem considerou a construção de uma nova casa. “Sairia por uns € 120 milhões. Não temos esse dinheiro e seríamos obrigados a arrumar um parceiro, perdendo autonomia sobre um de nossos maiores patrimônios”, comenta João Paulo de Jesus Lopes, assessor especial da presidência do clube paulista. As posições são desencontradas, mas o fato concreto é que não se pode determinar uma verdade única sem considerar as particularidades de cada projeto. Os valores apresentados por Internacional e São Paulo são fortes, mas, na Copa de 2006, houve casos inversos. Por exemplo, o Zentralstadion, de Leipzig, foi erguido do zero a um custo de € 90,6 milhões. O Estádio Olímpico de Berlim exigiu € 150 milhões para ser reformado. Para uma estimativa mais precisa, é preciso considerar a profundidade das intervenções. Obras relativamente simples, como reforma das instalações sanitárias e construção de salas extras, são menos custosas. Modificação da inclinação das arquibancadas ou do tamanho de seus

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O que temos por enquanto

Muitas reformas são necessárias nos estádios do Brasil para receber a Copa. Dentre os apresentados abaixo, apenas o Arruda não será indicado para a Fifa. Outras cidades candidatas são

Arena da Baixada

Arruda

Beira-Rio

Castelão

Cidade: Curitiba-PR

Cidade: Recife-PE

Cidade: Porto Alegre-RS

Cidade: Fortaleza-CE

Capacidade atual: 23 mil

Capacidade atual: 60 mil

Capacidade atual: 51 mil

Capacidade atual: 58,3 mil

O que precisa fazer: concluir o anel para ter 40 mil lugares e construir os bolsões de estacionamento na região são os principais desafios

O que precisa fazer: está em péssimas condições e nem foi indicado para a Copa. O Santa Cruz planeja reformá-lo para vencer a concorrência com Olinda

O que precisa fazer: a área de imprensa é pobre, e falta cobertura para o anel superior. Seria recomendável aumentar a área de estacionamento

O que precisa fazer: passou por reforma recentemente, mas ainda precisa de muitas melhorias. Instalações em geral estão defasadas

Mineirão

Morumbi

Orlando Scarpelli

Serra Dourada

Cidade: Belo Horizonte-MG

Cidade: São Paulo-SP

Cidade: Florianópolis-SC

Cidade: Goiânia-GO

Capacidade atual: 75,7 mil

Capacidade atual: 72 mil

Capacidade atual: 21 mil

Capacidade atual: 55 mil

O que precisa fazer: o Mineirão é um dos melhores estádios do país, mas tem problemas na área de imprensa e transportes. Há planos para uma grande reforma

O que precisa fazer: construção de estacionamento e cobertura, troca dos assentos e reforma na área de imprensa são os problemas mais sérios

O que precisa fazer: o Figueirense tem um plano de construir um estádio completamente novo. Só corre atrás da viabilização financeira

O que precisa fazer: instalações para oficiais e imprensa precisam de melhorias. As arquibancadas não têm assentos, tampouco cobertura adequada

degraus, mudança na direção do gramado e construção de novos setores ou cobertura são especialmente dispendiosos. É mais ou menos essa a linha de raciocínio do Figueirense para pensar em um estádio novo. “Queremos fazer mudanças mais radicais e não seria possível simplesmente adaptar o Orlando Scarpelli”, explica Norton Boppré, presidente do clube catarinense. Outra questão importante são as pistas de atletismo, presentes em muitos estádios brasileiros. A Fifa recomenda com certa veemência que sejam eliminadas, pois afastam o torcedor do campo e tornam o am-

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biente do jogo menos atraente. Resolver esse problema exige soluções complexas, como mudar os anéis inferiores dos estádios, com eventual rebaixamento do gramado (como ocorreu com o Maracanã). No Stade de France, o anel inferior é móvel, recuando para competições de atletismo e avançando para futebol e rúgbi. Eduardo de Castro Mello, arquiteto especializado em praças esportivas, não recomenda o uso de pistas em estádios de futebol. “Nossos estádios precisam ter entre 40 mil e 70 mil lugares, mas o público do atletismo é de 20 mil, no máximo”.

Comparação impossível Como muitos estádios provavelmente receberão dinheiro público, e a sociedade tem necessidades mais urgentes que praças esportivas de última geração, é importante buscar soluções compatíveis com a situação econômica do Brasil. Além disso, a comparação pura e simples com Alemanha e Japão, sedes das últimas Copas, pode levar a distorções. O custo de uma obra é a soma de mãode-obra, material de construção, equipamentos e custos indiretos (administrativos). Cada item tem valor e peso muito

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Fonte Nova

Mané Garrincha

Mangueirão

Maracanã

Cidade: Salvador-BA

Cidade: Brasília-DF

Cidade: Belém-PA

Cidade: Rio de Janeiro-RJ

Capacidade atual: 62 mil

Capacidade atual: 42,7 mil

Capacidade atual: 54,6 mil

Capacidade atual: 96 mil

O que precisa fazer: quase tudo — tanto que o plano do governo da Bahia é demoli-lo e construir outro estádio em Salvador

O que precisa fazer: as instalações – inclusive as mais básicas, como banheiros – precisam ser refeitas, e o anel superior deve ser completado

O que precisa fazer: o estádio tem bom nível para o padrão brasileiro, mas precisa modernizar instalações para oficiais e de imprensa

O que precisa fazer: as “cadeiras azuis” estão em boa condição, mas o resto precisa se equiparar. Camarotes, áreas de imprensa e estacionamento são inadequados

Estádios

Fotos Google Earth

Barueri (Arena de Barueri), Campinas (estádio novo), Campo Grande (Morenão), Cuiabá (Verdão), João Pessoa (Almeidão), Jundiaí (estádio novo), Natal (estádio novo), Rio Branco (Arena da Floresta) e Teresina (Albertão)

Correndo por fora

Cidade: Manaus-AM

Capacidade atual: 26 mil

Capacidade atual: 43 mil

O que precisa fazer: a última grande reforma é de 1993. O estádio precisaria modernizar as instalações e ampliar sua capacidade

O que precisa fazer: foi reformado, mas ainda precisa melhorar, principalmente banheiros, lanchonetes e assentos, todos inadequados

diferentes de um país para outro. “Um trabalhador de construção que realiza tarefas básicas recebe cerca de R$ 10 por hora no Brasil, enquanto que, nos Estados Unidos, receberia mais que o triplo”, compara Ubiraci Espinelli Lemes de Souza, professor da USP especializado em tecnologia e gestão da produção na construção civil. Em geral, o custo dos materiais – segundo Castro Mello, os mais significativos em estádios seriam concreto, aço, painéis para cobertura e instalações hidráulicas e elétricas – seguem a mesma tendência, com os valores no Brasil menores que na

Europa. O único item em que costuma haver relativa equiparação são os equipamentos, elementos significativos em obras de grande porte como a de um estádio. Somando esses itens, uma construção no Brasil tende a ser mais barata que uma igual feita na Europa. É uma consideração teórica, porque particularidades técnicas e até o preço do terreno podem mudar essa relação. Ainda assim, usar o custo de uma construção européia como parâmetro não é recomendável, pois pode dar a sensação de que um estádio brasileiro se enquadra em valores inter-

nacionais, quando, na verdade, estaria mais caro do que deve. Por isso, aliás, são incompreensíveis e preocupantes números como os das várias reformas do Maracanã. O estádio carioca consumiu mais de R$ 250 milhões, desde 1999. Ou seja, o governo fluminense já gastou mais com o Maracanã do que o alemão com o Zentralstadion, que é novo e tem tecnologias como cobertura móvel. Pior, o estádio carioca ainda não está pronto para receber a Copa. Esperemos que os projetos novos façam melhor uso do dinheiro. Agosto de 2007

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COPA’14

Vivaldão

Cidade: Maceió-AL

Fotos Divulgação

Trapichão (Rei Pelé)

A indicação de um estádio para a Fifa não significa que esteja tudo definido. Se algum projeto melhor aparecer, é possível trocar durante o processo. É com isso que conta o Grêmio, que fez parceria com a Amsterdam ArenA para a construção de um novo estádio (abaixo, à esq.). Entre os que existem apenas no papel, o que tem mais chances é o de Olinda (abaixo, à dir.), indicado como sede pernambucana, vencendo a concorrência com o Arruda.

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ESTADOS UNIDOS por Ubiratan Leal

A GALÁXIA recebe sua primeira

ESTRELA oram apenas 16 minutos em campo. Nesse tempo, deu para fazer dois lançamentos mal sucedidos, receber uma entrada violenta e ver o Los Angeles Galaxy perder um amistoso por 1 a 0 para o Chelsea. Desse jeito meio torto, sem jogadas de efeito e convivendo com a dor de uma contusão no tornozelo esquerdo, o meia inglês David Beckham começou a mudar o futebol no país mais rico do mundo. Ou melhor, começou a tentar mudar. Sua estréia nos Estados Unidos foi discreta do ponto

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de vista técnico, mas teve o glamour de uma première de Hollywood. Para perceber isso, bastava olhar para o público – não para os 27 mil torcedores que lotaram as arquibancadas do Home Depot Center, na região metropolitana de Los Angeles, mas sim para a área VIP. Lá, pôde-se ver Kevin Garnett, Michael Jordan (respectivamente, atual astro e ex-astro da NBA) e várias estrelas da TV e do cinema norte-americano, como Katie Holmes, Drew Carey, Eva Longoria, Jennifer Love Hewitt e até o governador da Califórnia, Arnold Schwarzenegger.

Toby Melville/Reuters

Contratação de David Beckham pelo Los Angeles Galaxy é uma inteligente jogada de marketing que pode permitir que os Estados Unidos dêem o salto que falta para virarem uma força internacional

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US$

250 mi

Valor do acordo de cinco anos entre David Beckham e o Los Angeles Galaxy, contando salários, patrocinadores e participação nos lucros do clube

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É exatamente essa a idéia da Major League Soccer ao trazer Beckham para seu universo. Misturando futebol com Hollywood, a entidade pode dar o tão esperado “salto”. Trata-se de um processo que a consolidaria definitivamente como uma das grandes ligas norte-americanas, ganhando reconhecimento da mídia e deixando de viver na dúvida se essa aventura futebolística vai acabar em breve. A chegada de Beckham é considerada tão importante que o Los Angeles Galaxy, em conjunto com a MLS, teve de fazer uma complexa engenharia financeira para trazê-lo. Um dos motivos para a liga norte-americana ser escassa em talentos internacionais é o teto salarial imposto aos clubes. Essa medida permitiu que os times mantivessem suas contas equilibradas, mas limitava o crescimento técnico do campeonato. “Precisávamos de um mecanismo que atraísse jogadores de altíssimo nível, sem destruir nossa estratégia de estabilidade financeira”, comenta Don Garber, presidente da MLS. Em 2006, a liga criou a regra do “jogador designado”. A partir de 2007, cada equipe poderia ter um atleta com salário livre, sendo que US$ 400 mil entrariam na conta do teto e o restante ficaria de fora. O nome informal que esse novo item no regulamento recebeu é sintomático: “Lei Beckham”. Isso porque, na época, nem se falava em uma eventual ida do astro do Real Madrid para a América do Norte. Era apenas uma referência ao sonho de consumo dos norte-americanos. Após o desejo realizado, a expectativa torna-se grande. Para muitos, o inglês é capaz de dar ao “soccer” um destaque que nunca teve na mídia norteamericana. Com ele em campo, a MLS pode se impor, sem sentir-se diminuída perto de MLB (beisebol), NFL (futebol americano) e NBA (basquete). Além disso, o meia é uma figura reconhecida o suficiente para manter o público hispânico e também atrair mais norteamericanos, construindo uma cultura de futebol própria a partir dessa união. No entanto, o mais importante é que Beckham tem um nome forte em todo o planeta. Ele pode dar legitimidade técnica à MLS na Europa, o que facilitaria a contratação de outras estrelas mundiais, em um futuro próximo. Além disso, os times dos Estados Unidos podem entrar no circuito internacional de grandes eventos. Por exemplo, já se imagina uma milionária pré-temporada do Los Angeles Galaxy no Extremo Oriente.

Processo de consolidação Talvez a chegada de Beckham seja o fato novo que faltava para a Major League Soccer. Desde que foi criada, em 1996 (a fundação oficial é de 1994, mas houve dois anos só de estruturação, sem futebol), a MLS deu pequenos passos. Começou com dez clubes, passou para 12, voltou a dez depois de grave crise financeira e, em 2008, estará com 14. Do ponto de vista econômico, sempre houve grande controle da direção da liga sobre times e jogadores, para reduzir o risco de a concorrência aberta entre eles levar a desequilíbrio técnico exagerado ou, pior, falências em massa.

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O Columbus Crew foi o primeiro time da MLS a construir um estádio específico para futebol

Esse momento, felizmente para os norte-americanos, passou. A liga ainda não dá lucro, mas tem curva de crescimento que indica que isso ocorrerá em breve. Isso é fácil de perceber pelo aumento em investimentos de longo prazo, como a construção dos “SSS” (soccer specific stadiums). Inicialmente, todos os times dos Estados Unidos jogavam em estádios de futebol americano adaptados. O primeiro estádio específico para futebol foi o do Columbus Crew, construído em 1999. Depois, com o apoio de patrocinadores, começaram a pintar vários outros SSS pelo país. Na MLS, já foram erguidos mais cinco – The Home Depot Center (Los Angeles), Pizza Hut Park Proporção de norte-americanos (Dallas), Toyota Park (Chicaque têm interesse em go), Dick’s Sporting Goods futebol — número próximo ao dos (Colorado) e BMO Field (Toque se interessam por basquete ronto) – e há dois em obras:

22,5%

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Red Bull Park (Nova York) e Sandy Stadium (Salt Lake City). Outro projeto é criar categorias de base para os times. Com a esMédia de público da trutura de apenas uma entidade MLS, na temporada 2006. controlando tudo, não é viável para as franquias manter equipes O recorde é do ano de estréia, sub-17 ou sub-20. Afinal, os joga1996, com 17.406 pagantes dores revelados seriam obrigados a ir ao draft (seleção) anual e assinariam com outros clubes sem custo. Com as categorias de base, eles ficariam longe do futebol universiMédia de público do tário, que tem nível técnico muito Los Angeles Galaxy, baixo e atrasa a profissionalização em 2006, a maior da MLS do atleta, em comparação com sulamericanos, europeus e africanos. O objetivo desses planos é que surjam mais jogadores nativos a cada ano. Com essa estrutura cada vez mais sólida, o futebol dos Estados Unidos tem vida própria. Pesquisas de mercado concluíram que 22,5% dos norte-americanos demonstram ter algum interesse em futebol (o que não significa que o ele seja o esporte preferido dessa parcela dos norte-americanos). É pouco, se comparado com futebol americano e beisebol, mas não faz feio diante do basquete e já ultrapassa o hóquei no gelo. Os jogos dos EUA na Copa do Mundo de 2006, inclusive, tiveram mais audiência do que a World Series (final da liga de beisebol) de 2005. Nada mal, mas uma boa parte da massa de torcedores continua sendo formada por imigrantes, sobretudo hispânicos. Por isso, a liga nunca deixou de ter um pé na América Latina, cultivando ídolos do México, América Central e América do Sul. No Brasil, deu-se pouca importância ao fato, mas não passou despercebido nos

15.504

Getty Images/AFP

20.814

Estados Unidos que o segundo “jogador designado” contratado para a MLS foi Cuahtémoc Blanco, que foi para o Chicago Fire. O comentário de Don Garber, presidente da entidade, sobre o atacante deixa evidente a importância dele para o campeonato. “É uma das maiores contratações da história da liga. Espero que ele faça muitos gols e atenda nossas expectativas de nos dar mais credibilidade junto ao público latino”. A apresentação de Blanco levou mais de 7 mil torcedores ao estádio do Chicago. O mexicano receberá US$ 8,1 milhões por três anos de contrato, o segundo maior salário da MLS. O site da Sports Illustrated, revista esportiva mais importante dos Estados Unidos, até colocou a chamada “The Other Star” para tratar da estréia do mexicano contra o Celtic – apenas um dia depois do primeiro jogo de Beckham.

Acenando para o mundo A contratação de jogadores conhecidos internacionalmente não é a única medida da MLS para ampliar suas fronteiras. Pelo contrário. Não faltam atitudes que evidenciam as pretensões globais dos norte-americanos. São ações em várias áreas, como troca de informações, ampliação de mercado e intercâmbio. Um exemplo é a criação do Toronto FC, que pretende engatilhar o futebol no Canadá. Ao contrário do que ocorre com o Toronto Blue Jays (beisebol) e com o Toronto Raptors (basquete), que também disputam ligas profissionais dos Estados Unidos, o representante canadense da MLS tem uma proposta um pouco mais “nacionalista”. Os vizinhos de MLB e NBA invariavelmente montam equipes como se fossem

BOLHA QUE ESTOUROU

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rivalidade) no país. O dinheiro minguou, e não se formou uma geração de jogadores nativos para manter o nível técnico da liga. O “efeito bolha” ficou evidente. Por isso, a NASL tornou-se uma grande referência para a MLS, que tenta evitar os mesmos erros estratégicos. Não é à toa que o primeiro presidente da MLS, Alan Rothenberg, começou no “soccer” como investidor no Los Angeles Aztecs, da NASL.

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Tantos craques atraíram as atenções da mídia. O principal time tinha, como o Galaxy, referência astronômica no nome. No caso, era o New York Cosmos, que, com Pelé, Carlos Alberto e Beckenbauer, chegou a ter média de público de 40 mil pagantes e virou uma coqueluche esportiva de Nova York. O problema é que tal cenário não era sustentável. Apesar do Cosmos, a média de público da NASL nunca passou de 14.201 pagantes – sinal de como os demais clubes tinham estádios vazios. Além disso, não se criou uma real cultura do futebol nos Estados Unidos. As partidas eram espetáculos, mas sem que se criasse vínculo esportivo (torcida,

Ge

O futebol dos Estados Unidos sempre viveu em soluços. De tempos em tempos, surgem campeonatos que tentam se consolidar como referência do “soccer”. A quantidade de ligas é enorme e parece sopa de letrinhas: A-League, APSL, ASL, ISL, LSSA, NAFL, NASFL, NASL, USA, USL e, claro, MLS. Dentre todas essas tentativas, a que obteve maior sucesso foi a NASL (North American Soccer League). Criada em 1967, ela teve seu auge na década de 1970, quando chegou a contar com nomes como Pelé, Carlos Alberto, Beckenbauer, Gerd Müller, Cruyff, Bobby Moore e Eusébio.

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O estádio do Los Angeles Galaxy recebeu 5 mil pessoas no dia da apresentação de Beckham

dos Estados Unidos, selecionando jogadores norteamericanos sem restrição. O Toronto FC também poderia para fazer isso, mas anunciou que trabalhará na disseminação do futebol pelo Canadá e, por isso, sempre terá entre oito e 11 canadenses no elenco. O México também está nos planos dos norte-americanos. No final de julho, teve início a SuperLiga, torneio organizado pela MLS em conjunto com a federação mexicana. A competição é realizada nos Estados Unidos e reúne quatro equipes do país (Los Angeles Galaxy, Carnês de temporada FC Dallas, DC United e Houston do Los Angeles Galaxy foram Dynamo) e quatro mexicanas (Chivas, vendidos no dia do anúncio da Pachuca, América e Morelia). O objetivo é aproveitar o enorme contratação de Beckham

1.000

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potencial econômico da comunidade hispânica nos Estados Unidos. Em dezembro de 2006, a Univisión (emissora em língua espanhola) teve a maior audiência de um jogo de clubes de futebol na TV norteamericana, com a transmissão de Chivas x América, nas semifinais do Apertura mexicano. O número de telespectadores bateu, inclusive, o de partidas da tradicional NHL, liga de hóquei no gelo. Outra parceria é com a Bundesliga, a liga da Alemanha. Nesse caso, trata-se de uma troca de informações na área de marketing. Os alemães vão passar, por exemplo, know how em transmissões de TV para futebol, de posicionamento de câmeras no estádio à elaboração de um programa semanal com melhores momentos da rodada. Em troca, receberão informações sobre construção de marcas e organização de

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Lucy Nicholson/Reuters

eventos. “Como pretendemos construir uma identidade internacional para o futebol alemão, encaramos a parceria como um marco para mudanças”, comenta Christian Seifert, diretor-executivo da Bundesliga. Essas parcerias evidenciam o processo de internacionalização pelo qual passa o futebol dos Estados Unidos. Ao contrário do que ocorrera com a NASL, que se isolou e criou até regras próprias para tornar o futebol mais digerível para o público local, a MLS tenta inserir o “soccer” no contexto mundial. As regras próprias, como cronômetro regressivo e desempate em shoot-outs, foram extintas. Outra ousadia foi permitir patrocínio de empresas nas camisas, medida raríssima nas ligas profissionais de outros esportes nos Estados Unidos, mas lugar-comum no resto do mundo. A compreensão do norte-americano a respeito do futebol internacional é razoável. Nos últimos anos, vários grandes clubes europeus (como Manchester United, Milan, Barcelona, Chelsea, Celtic e Porto) fizeram amistosos de pré-temporada na América do Norte – quase sempre, com estádios lotados. Em suma, há público para o futebol nos Estados Unidos, e esse público tem senso crítico para identificar jogos de alto nível.

Daqui para frente Claro que a chegada de Beckham não é a resposta para tudo. O inglês é um fato novo interessantíssimo para a MLS e deve acelerar o ritmo de investimento no “soccer”. O problema é que a direção da liga precisa se conter para não cair na tentação de trazer “outros Beckhams”. Em pouco tempo, é possível que o sistema se torne insustentável economicamente, como ocorreu com a galáctica e extinta North American Soccer League. O Los Angeles Galaxy precisa também conter a empolgação – e desconhecimento – dos torcedores. Os norte-americanos têm mania de grandeza e logo podem cair na armadilha de comparar a contratação de Beckham pelo Los Angeles Galaxy com a de Pelé pelo New York Cosmos, em 1975. Paul Smith, diretor de negócios do Chelsea, alertou para isso logo após a estréia do meia: “ele é ótimo nos Número de times passes e nas bolas paradas, mas não será o que a MLS pretende equivalente futebolístico a Michael Jordan. ter até 2010. Desses, Se os torcedores imaginarem que ele resolpelo menos dez teriam verá tudo sozinho, poderão achar que ele é estádios específicos uma fraude, o que seria injusto”. para futebol Outro problema é o eventual surgimento de “castas” dentro dos elencos. Os “jogadores designados” podem despertar ciúme dos colegas. Aliás, é bem provável que isso ocorra. Beckham, por exemplo, passou por isso antes mesmo de estrear. O meia Paul Vagenas revelou que há jogadores do Los Angeles Galaxy que estão ressentidos com a diretoria pelo esforço financeiro dedicado ao novo colega. De qualquer maneira, o momento é positivo para o inglês. Ele receberá salários no padrão europeu, não terá de agüentar a pressão da mídia inglesa e madrilena e ainda poderá promover as franquias de suas escolinhas

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OS PODEROSOS CHEFÕES Veja quem são os homens que comandam o futebol nos Estados Unidos

Don Garber Presidente da MLS desde 1999, quando deixou a chefia da divisão internacional da NFL (liga de futebol americano). Elaborou um plano de ação que ficou conhecido como “Garber League Building Plan”, no qual modernizou o marketing da liga, que ganhou novo fôlego.

Phil Anschutz Dono da AEG, apostou pesado na MLS e é um dos grandes responsáveis por ela ter sobrevivido 11 anos. Chegou a controlar 60% dos times da liga, mas, hoje, tem apenas três – Los Angeles Galaxy, Houston Dynamo e Chicago Fire. Ainda assim, sua influência é muito grande na MLS. A AEG é parceira do Botafogo no plano de construção de um estádio para o clube carioca.

Sunil Gulati Nascido na Índia, é o atual presidente da US Soccer (federação norte-americana de futebol). Economista de formação, tenta trazer uma visão mais moderna à entidade. Tem bom relacionamento com a MLS, onde trabalhou por cinco anos.

Richard Motzkin Principal agente de jogadores dos Estados Unidos. Para se ter uma idéia, 13 dos 23 integrantes da seleção norte-americana que disputou a Copa de 2006 têm contrato com ele. Entre seus clientes, estão Landon Donovan, Freddy Adu, Tim Howard, o técnico Bruce Arena e o guatemalteco Carlos Ruiz

de futebol nos Estados Unidos (cada uma cobra cerca de US$ 1 mil por cinco dias de estadia com aula – e as vagas estão sempre ocupadas). Em Los Angeles, Beckham está perto de amigos de Hollywood, como Tom Cruise e Katie Holmes, e sua mulher, Victoria Adams, pode ter novo fôlego na carreira artística. Além disso, ele próprio terá mais facilidade para atender aos convites de participação em filmes e programas da TV norte-americana. De fato, essa contratação mudará o panorama futebolístico nos Estados Unidos, tanto pelo ponto de vista técnico quanto pelo midiático e econômico. Beckham e Los Angeles Galaxy sabem disso muito bem. Os famosos “bobos” do futebol, com certeza, não são eles. Saiba mais sobre futebol norte-americano em www.trivela.com/estadosunidos

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A festa não é por um título do Boca, mas sim pela eleição de Mauricio Macri para a prefeitura de Buenos Aires

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Um

TRAMPOLIM chamado Boca Juniors Bons resultados dentro e fora de campo levaram Mauricio Macri da presidência do Boca à prefeitura de Buenos Aires por Antonio Vicente Serpa auricio Macri nunca se dá por vencido. Se tem um mérito, é sua perseverança para vencer os preconceitos que pesam sobre ele, garoto rico que aspira a ostentar algum dia o máximo poder que se pode conceder a um cidadão: ser o presidente de seu país. Ele já sabe como é tomar decisões à vista de todos, dando satisfações dia a dia. Afinal, desde dezembro de 1995, é o presidente do Boca Juniors, o clube mais popular da Argentina. Isso significa que 15 milhões de torcedores o avaliam com atenção há 12 anos. E o dirigente foi aprovado com folga. Para Macri, o Boca era uma plataforma de lançamento, que poderia catapultá-lo ao lugar privilegiado que ocupa hoje ou levá-lo sem escalas até

M

TÍTULOS GANHOS Copas Intercontinentais Copas Libertadores Copas Sul-Americanas Supercopas

NA/AFP

Recopas Sul-Americanas Campeonatos Argentinos

o fundo do inferno. E, com base em seus resultados à frente do clube, os cidadãos de Buenos Aires o escolheram para que seja, a partir de dezembro, o chefe de governo da maior cidade do país — embora ele também tenha sido favorecido pelos crescentes problemas que a cidade enfrentou nos últimos anos e por sua imagem de renovação em relação aos políticos tradicionais. A combinação desses fatores foi tão poderosa que conseguiu sobrepujar a imagem negativa que boa parte da sociedade tem de sua família. Os Macri eram amigos de Menem, e suas empresas foram favorecidas por algumas concessões da época das privatizações (pedágios, estradas, correio). O grupo Macri também chegou a ser

12 anos da Era Macri

90 anos antes de Macri

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SER CAMPEÃO É UM BOM NEGÓCIO

Fotos Reuters

As 10 maiores vendas do Boca na era Macri

Jogador Valor (US$ milhões)

Quem comprou

Gago

Samuel

Tevez

Riquelme

Palermo Daniel Díaz Coloccini

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20

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12

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Real Madrid

Roma

Corinthians

Villarreal

Villarreal

Getafe

Milan*

Burdisso

Insúa

Ibarra

5,5

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Borussia Internazionale M’gladbach

Porto

*valor repassado ao Boca como indenização por ter formado o jogador

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Macri arrasou com 46% dos votos. Na segunda votação, bateu o candidato do presidente Néstor Kirchner, Daniel Filmus, por 61% a 39%.

Polêmicas no Boca Quando criou sua estratégia de fazer Macri falar o mínimo possível, Durán Barbosa talvez tenha lembrado dos primeiros tempos do dirigente no Boca, quando chamava publicamente de “empregados” aos jogadores do time, provocando a ira de seu superastro, Diego Maradona. Sua recusa em pagar prêmios por vitórias lhe valeu o célebre apelido de “Cartonero” (“Catador de Papel”), por parte de “El Diez”. Em vez de pagar por cada triunfo, Macri preferia oferecer uma soma grande por título conquistado. Não sabia que estava criando um monstro insaciável que o levaria a pronunciar outra de suas frases infelizes, das que não caíram bem entre os torcedores: “Ser campeão não é bom negócio”, concluiu, depois de pagar, ao longo de duas temporadas bemsucedidas, US$ 15 milhões em prêmios. A realidade lhe mostraria, no final, que, além da glória esportiva, ser campeão também é um excelente negócio. Macri nasceu no dia 8 de fevereiro de 1959, em Tandil, cidade localizada a 500 quilômetros de Buenos Aires. O destino quis que a refundação do Boca, o nascimento deste presente brilhante, se dessa nessa mesma localidade, na manhã fria de 2 de julho de 1998. Nesse dia, o próprio Macri levou até ali,

em seu avião particular, Carlos Bianchi e o apresentou como técnico do time. O dirigente vinha de duas experiências fracassadas (Carlos Bilardo, em 1996, e Héctor Veira, em 1997 e parte de 1998) e sabia que o tempo se esgotava: sem títulos, dificilmente os torcedores e os sócios reconheceriam, nas eleições do ano seguinte, as coisas boas que Mauricio vinha fazendo em sua gestão. Entre as principais medidas de Macri – antes da contratação de Bianchi – estavam a remodelação da mítica Bombonera e a revolução nas divisões de base, com a contratação de Jorge Griffa, um dos olheiros mais prestigiados da Argentina. Outra medida decisiva, que marcou um “antes” e um “depois” entre os dirigentes, foi a cláusula que obrigava o presidente a apresentar uma soma de dinheiro, de seu patrimônio pessoal, para avalizar os atos do clube. Dessa forma, seriam evitadas negligências. Essa medida, julgada como discriminatória no início (afinal, só pessoas ricas poderiam presidir o clube), foi chave na vida econômica de um Boca que viu seu patrimônio crescer quase dez vezes, enquanto o River, que vendeu jogadores por tanto ou mais dinheiro, afunda-se à beira da concordata (tem um déficit mensal da ordem de US$ 2 milhões).

Hora de colher os louros Foi Bianchi, escolhido pessoalmente por Macri (nos outros casos, cedeu às pesquisas feitas entre torcedores), o arquiteto do multicampeão. Com ele, en-

Enrique Marcarian/Reuters

acusado de contrabando de autopeças do Uruguai, embora nada nunca tenha sido provado. Tão ruim é o conceito que pesa sobre o sobrenome que a desesperada campanha do presidente Kirchner para derrotá-lo baseouse nisso: “Não se esqueça: Mauricio é Macri”, era o slogan, por entender que o “Macri” era desabonador a ponto de dispensar adjetivos. A ascensão política do presidente do Boca não foi fácil. Nem bem chegou ao futebol, seu ar de reformador transformou-se em um bumerangue. Teve que lidar com um establishment que o acusava de querer privatizar o esporte e levou um par de pancadas como boas-vindas – a tal ponto que nunca mais recompôs sua relação com o “Poderoso Chefão”, Julio Grondona (presidente da AFA desde 1979). No final das contas, Mauricio não privatizou o Boca, mas o transformou em uma máquina de gerar recursos. Além disso, cumpriu com folga sua promessa de hegemonia em nível local e de colocar o clube entre os grandes do mundo – como comprovam os dois títulos mundiais que ganhou, em 2000 e 2003. Diferentemente de políticos que cimentaram sua carreira na oratória, Macri não dispõe do dom da sedução pela palavra: seu êxito baseia-se nos feitos concretos que pode mostrar. De fato, o equatoriano Jaime Durán Barbosa, arquiteto do marketing de sua campanha, evitou expor esse lado fraco. E a estratégia deu certo: no primeiro turno, Agosto de 2007

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Macri sonha em chegar à presidência da Argentina

tre 1998 e 2003, o Boca ganhou quatro Campeonatos Argentinos, três Libertadores e duas Copas Intercontinentais. Depois, sem Bianchi, somaram-se duas Sul-Americanas (2004 e 2005), duas Recopas (2005 e 2006), outros dois Campeonatos Argentinos e mais uma Libertadores (2007). A demanda da Europa por talentos não demorou. E o Boca exportou campeões feitos em casa (Tevez, Gago, Burdisso, Battaglia, Arruabarrena, Coloccini, Marinelli, Moreno, Christian Giménez), outros comprados muito pequenos e que estrearam na primeira divisão no clube (como Riquelme e La Paglia) e quantidade incontável de profissionais que conheceram a glória máxima no Boca: os colombianos Córdoba, Serna e Bermúdez, o brasileiro Iarley, Samuel, Insúa, Bilos, Palermo, Ibarra, os gêmeos Barros Schelotto... Macri, então, mudou de idéia sobre aquela história de que ser campeão não é bom negócio. Prestes a deixar a presidência do Boca para dedicar-se em tempo integral à política, Mauricio também já não dirige o império de 60 empresas montado por seu pai, Franco. Foi, aliás, em seus tempos de empresário (agosto de 1991) que o seqüestraram. Esteve privado de sua liberdade durante duas semanas, por um grupo de ex-policiais, até que seu pai pagou um resgate estimado em US$ 6 milhões. Hoje, conseqüência daquilo, tem proteção permanente. Em seu apartamento, é possível encontrar livros de arte e várias biografias de personagens históricos. Na sala de estar, há uma maquete da Plaza de Mayo transformada em um campo de futebol. Em uma das pontas, a Casa Rosada (sede do governo nacional) é um gol. O gol no qual Macri sonha comemorar os lances mais importantes de sua vida.

EVOLUÇÃO PATRIMONIAL DO BOCA (valor do patrimônio líquido do clube)

1997 2007

US$ 4,3 milhões US$ 39,3 milhões

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Daniel Aguilar/Reuters

MÉXICO por Ubiratan Leal

Pachuca constrói uma hegemonia no México com méritos esportivos, mas a origem desse ressurgimento desperta desconfiança das autoridades

Estranho

Pachuca: da segunda divisão mexicana ao topo da Concacaf

crescimento lausura 2006, Copa Sul-Americana 2006, Copa dos Campeões da Concacaf 2007 e Clausura 2007. A lista de títulos do Pachuca nos últimos 13 meses impressiona e dá a sensação de que pode se transformar em hegemonia. É um desempenho notável para o time mais antigo do México ainda na ativa, sobretudo porque o clube foi apenas um coadjuvante no cenário local por mais de 90 anos, com raras temporadas na primeira divisão em toda sua história. Em campo, a arma principal foi manter a base por vários anos, graças a planejamento e estrutura empresarial invejáveis para um clube de terceiro mundo. O pequeno time é, hoje, uma potência econômica, com um dos estádios mais modernos do México, empresa de venda de jogadores, faculdade para formação de profissionais na área esportiva, restaurantes, shopping center e hotel de US$ 12 milhões. O problema é como isso foi construído. O crescimento do clube começou em 1995, quando o time ainda estava na segunda divisão e foi comprado por Jesús Martínez Patiño, empresário conhecido por sua ligação com o PRI (Partido Revolucionário Institucional, que dominou a política mexicana por mais de 70 anos). A compra do Pachuca foi suspeita. O Estado de Hidalgo ofereceu a franquia a Martínez, que pagou uma quantia módica (o equivalente a aproximadamente US$ 50 mil) para ficar com 50% do clube. O governo hidalguense ficou com 20%, e parceiros de Martínez repartiram os 30% restantes. Pela lei mexicana, o Estado não pode constituir uma sociedade anônima. Em 1997, o governo de Hidalgo

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8 Títulos nacionais e internacionais foram vencidos pelo Pachuca desde 1995, quando o clube foi comprado por Jesús Martinez Patiño

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cedeu sua participação a Martínez por apenas US$ 30 mil. Detalhe: por essas negociações, supõe-se que o valor do Pachuca continuou o mesmo em dois anos, desconsiderando a valorização pela promoção à primeira divisão. Estima-se que, a essa altura, os 20% do Estado valiam algo em torno de US$ 1 milhão. No final de 2006, as autoridades mexicanas resolveram investigar e perceberam que a “mãozinha” estatal a Martínez não se limitou à venda do Pachuca. O governo hidalguense ajudou as categorias de base dos Tuzos com cerca de US$ 600 mil e cedeu terrenos em área nobre de Pachuca de Soto para o clube construir faculdade e hotel de luxo. A Procuradoria Geral da República mexicana entrou com processo contra Jesús Martínez, Jesús Murillo Karam e Miguel Ángel Núñez Soto – os dois últimos, ex-governadores de Hidalgo, sendo que Karam também é secretário-geral do PRI. O trio é acusado de enriquecimento ilícito em cerca de US$ 200 milhões, valor que inclui operações não ligadas ao Pachuca. Esse não é só um caso criminal, mas também político. Uma eventual condenação dos responsáveis teria impacto na política mexicana. Assim, o processo deve passar por muitas instâncias antes de ser concluído. Enquanto isso, o Pachuca fica à margem e vai construindo sua grandeza — tudo isso com organização e planejamento no time e na comissão técnica, mas também uma história nebulosa em sua administração. Saiba mais sobre futebol latino-americano em www.trivela.com/americalatina

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ALEMANHA por Carlos Eduardo Freitas

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sem verde e amarelo

Pela primeira vez em 14 anos, o Bayer Leverkusen, responsável por abrir o mercado alemão para nossos jogadores, não terá um brasileiro no elenco temporada 2007/8 da Bundesliga começará, como sempre, com equipes alemãs recheadas de jogadores brasileiros. Dos 18 times que participam da primeira divisão, apenas quatro não contarão com nenhum de nossos conterrâneos em seus quadros: Hamburg, Bochum, Karlsruhe e Bayer Leverkusen. Nessa lista, chama a atenção o Bayer. Afinal, foi o clube da empresa farmacêutica que abriu o mercado alemão para os jogadores brasileiros, nos anos 80. As saídas simultâneas de Juan, Roque Júnior e Athirson põem fim a uma seqüência de 14 temporadas sempre com brasileiros na equipe. Nos últimos 20 anos, as únicas vezes em que isso aconteceu foram nas temporadas 1988/9 e 1992/3. Os três casos são bastante diferentes. O contrato de Ro-

CBFNews

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Juan (esq.) e Roque Júnior (dir.): últimos brasileiros a deixar o Bayer

OS 16 BRASILEIROS DO BAYER LEVERKUSEN Paulo Sérgio Rodrigo Ramon

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que Júnior terminou e, depois de dois anos passados mais no departamento médico que dentro de campo, o clube decidiu não renovar o vínculo. Athirson tinha contrato até 2008, mas chegou a um acordo e foi liberado sem pagar multa. Juan foi negociado com a Roma, gerando € 7 milhões para os cofres da equipe alemã. “Jogadores brasileiros têm uma grande tradição no Bayer. Posso dizer com toda certeza que essa é uma situação temporária”, afirmou Rudi Völler, diretor esportivo do clube, sobre a ausência de brasileiros.

Boa impressão logo de cara A história dos brasileiros no Bayer começou há 20 anos. Em viagem a passeio pelo Rio de Janeiro, o então diretor de futebol do clube, Rainer Calmund, assistiu a uma partida do Vasco, no Maracanã, e encantou-se com o atacante Tita. “Fui consultar os dirigentes, e ele custava o equivalente, hoje, a € 250 mil. Comprei-o na hora”, lembra o cartola, hoje à frente do Colônia. A primeira impressão foi a melhor possível: na temporada 1987/8, a única de Tita na Alemanha, o Bayer sagrou-se campeão da Copa Uefa. Desde então, a lista de brasileiros com a camisa rubro-negra aumentou consideravelmente. Primeiro foi o lateral-direito Jorginho, hoje assistente de Dunga, que trocou o Flamengo pela Alemanha, em 1989. Depois, foram Paulo Sérgio, Rodrigo, Ramon, Zé Elias... O motivo para investir cada vez mais em brasileiros era simples: a facilidade de contratá-los a baixo custo e de revendê-los por muito mais. Para se ter uma idéia, somados, os 16 custaram ao Em 20 anos, o Bayer € 44 milhões e rendeBayer Leverkusen investiu... ram, quando negociados, € 68,6 milhões. Desse valor, só o volante Emerson rendeu quase um ...em 16 brasileiros, terço, quando trocou o Bayer que renderam... pela Roma, em 2000, por €

€ 44 mi

20 milhões. Quando deixou o Grêmio, três anos antes, havia custado apenas € 3,1 milhões. Zé Roberto foi outro que rendeu um bom dinheiro: chegou por € 4 milhões, do Real Madrid, e saiu por € 9,5 milhões, para o Bayern de Munique. O que mais impressiona é que muitos desses jogadores destacaram-se internacionalmente depois de passarem pelo clube, caso de Jorginho e Paulo Sérgio, campeões mundiais em 1994, e de Lúcio, campeão em 2002. Além deles, Emerson, Juan e Zé Roberto ganharam destaque na Seleção Brasileira e disputaram a última Copa do Mundo. Lúcio, aliás, fez o gol do time na final da Liga dos Campeões de 2001/2, quando os alemães foram derrotados pelo Real Madrid, por 2 a 1. Naquela temporada, o clube, que também tinha Zé Roberto, ainda foi vicecampeão alemão e da Copa da Alemanha.

Rede de olheiros Para conseguir levar tantos brasileiros de sucesso para a Alemanha, o clube conta com uma experiente rede de olheiros aqui no Brasil. Detectado algum talento, o Bayer raramente hesitava em contratá-lo. Segundo Rudi Völler, o que vem atrapalhando muito o Leverkusen nesse processo de prospecção de jogadores em nossos campeonatos é a entrada de empresas como a MSI no mercado de contratações. “Fica difícil competir. Não dá mais para fazermos achados como antigamente”, conta o campeão mundial de 1990. Tanto que a principal aposta da equipe para 2007/8 é o chileno Arturo Vidal, destaque da seleção sub-20 de seu país no Mundial da categoria, no Canadá. Não é por isso que as portas do clube estão fechadas para nossos jogadores. “O Brasil está sempre em nossa mira e, para 2008/9, devemos voltar a trazer jogadores brasileiros”, afirma Völler. Saiba mais sobre futebol alemão em www.trivela.com/alemanha

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* a partir de 1998, tornou-se cidadão alemão

Roque Júnior Athirson 2000

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NEGÓCIOS por Ubiratan Leal

Estratégia

global

Companhias aéreas investem no futebol como forma de ganhar visibilidade no mercado internacional pesar de toda a ttradição, o Arsenal não estava satisf satisfeito com Highburry. O estádio do dos Gunners não tinha espaço para ampliação, e era preciso construir uma nova casa para aumentar a receita em bilheteria. Não é de se estranhar que o clube tenha conseguido um investidor para ajudar a bancar uma obra desse porte. O que pode ter causado surpresa foi o fato de que tal empresa é a Emirates, uma companhia aérea dos Emirados Árabes. Não é uma ação isolada. Pagar para colocar o nome de Emirates Stadium na nova “casa” do Arsenal é o exemplo mais visível, mas o projeto que liga futebol e a empresa é mais amplo. Tanto que a empresa já patrocinou a camisa do Chelsea e hoje tem sua marca associada a Arsenal, Paris Saint-Germain, Hamburg, Premier League, árbitros ingleses e, principalmente, todos os eventos oficiais da Fifa, incluindo a Copa do Mundo. É um sinal de como as ambições dos árabes são grandes e o futebol é um bom veículo para concretizá-las. O plano é simples: associar a empresa a grandes eventos de futebol proporciona exposição mundial e faz a marca ser conhecida por milhões de pessoas. O que surpreende é a agressividade, ainda mais para uma companhia aérea pequena. “Isso permite que nossa marca chegue a mercados que não conseguimos cobrir ainda”, explica Mike Simon, vice-presidente de comunicação da Emirates. O slogan “Fly Emirates” (“Voe Emirates”) teve tanto espaço em mídia que muita gente achou que esse fosse o nome da companhia aérea. O fato de buscar meios para entrar em novos mercados não é injustificado. A empresa foi fundada em 1985 e, de início, não teve grande destaque no cená-

Toby Melville/Reuters

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NOTAS

Marcelo Ferrelli/Gazeta Press

Boca made in USA

Parceria entre Clube dos 13 e TAM: transporte dos atletas em troca de divulgação rio internacional. Nos últimos 10 anos, a Varig foi patrocinadora oficial da Seleção empresa iniciou um intenso processo de Brasileira e das Séries A e B. No momenexpansão, ampliando o leque de destinos, to, a principal investidora é a TAM. apostando em um mercado classe A e Em abril de 2007, a companhia aérea – passando a concorrer com as companhias que já patrocinou São Paulo e Atlético-MG mais tradicionais do setor. e foi dona do XV de Piracicaba – assinou Por isso, investiu na promoção não ape- um contrato com o Clube dos 13 e tornounas de sua marca, mas também na de Du- se patrocinadora do Campeonato Brasileiro. bai como destino turístico ou como ponto A empresa faz as viagens dos clubes durande conexão para quem deseja ir do ociden- te o campeonato, em troca de exposição da te para o oriente. Deu certo, pois a Emi- marca. Além disso, a TAM pretende criar rates é uma das cinco companhias aéreas ações envolvendo seus clientes e os times mais rentáveis do mundo e está inaugu- de futebol que usam seus vôos. Nesse novo rando até vôos diretos plano de marketing, o partindo de São Paulo, patrocínio a clubes esfato que agitou ligeiratá descartado. mente o mercado esNo mês seguinte, portivo brasileiro. foi a vez de a Seleção Valor pago pela Pela cultura de marreceber o patrocínio Emirates ao Arsenal keting da empresa, da empresa. Desde para batizar o muitos imaginaram o amistoso contra a estádio por 15 anos que ela usaria o futebol Inglaterra, em 1º de para tornar-se conhejunho, a TAM tornoue patrocinar a camisa cida do público, por se transportadora ofido clube por oito aqui. Falou-se em uma cial do Brasil. Isso parceria com o São deve promover a imaPaulo, o que a empresa nega. “Não temos gem da empresa como uma companhia planos imediatos de patrocinar uma equi- aérea brasileira no exterior e aproximar a pe brasileira”, comenta Simon. No entan- marca do torcedor – tanto que foi lançada to, a história é diferente no Morumbi. “Há uma campanha publicitária apenas para um relacionamento entre o São Paulo e a celebrar o acordo com a CBF. Emirates. Não há nada certo, só um conAs estratégias de TAM e Emirates comtato que pode se transformar em negócio”, provam como o futebol é um veículo poafirma João Paulo de Jesus Lopes, assessor deroso para divulgação de marcas. Com especial da presidência são-paulina. partidas transmitidas pela TV nos quatro cantos do mundo, o patrocínio de times Enquanto isso, no Brasil e competições torna possível para as emUm investimento da Emirates no fute- presas tornarem seus nomes conhecidos bol brasileiro não seria inédito entre com- em todo o planeta, de uma vez. Cada vez panhias aéreas. A Vasp chegou a estampar mais, marcas globais de diversas áreas sua marca na camisa do Bragantino, e a deverão adotar estratégias similares.

O Boca Juniors estuda abrir uma franquia da equipe na Major League Soccer, dos Estados Unidos. Os Xeneizes esperam aproveitar o aumento de interesse na liga com a chegada de David Beckham para ampliar a divulgação de seu nome nos EUA. Só falta encontrar um investidor norte-americano interessado no projeto. “Isso surgiu a partir de uma análise de mercado que estamos fazendo para fortalecer nossa marca no mundo. Os lugares a serem explorados são a América Central, do Sul e os Estados Unidos, mais precisamente Nova York, Miami, Los Angeles e Arizona”, afirmou Orlando Salvestrini, responsável pela área de marketing do Boca. Outra idéia do clube para divulgar seu nome é o “Boca Toons”, desenho animado que deverá ser lançado em outubro. Os protagonistas serão uma família formada pelo pai, Pepe Della Boca, e seus três filhos, Guillermina, Martín e Carlitos (referência a Barros Schelotto, Palermo e Tevez).

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Patrocínio renovado A Nissan renovou o contrato de patrocínio da Copa Sul-Americana. A montadora japonesa entrou em acordo com a Fox Sports para estampar sua marca no torneio por mais quatro anos. “Essa parceria nos possibilita expor nossos produtos em todo o continente e demonstra o comprometimento da Nissan com o desenvolvimento do futebol na região”, afirmou Gilles Normand, vice-presidente corporativo da Nissan. A empresa patrocina a competição desde 2003.

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CULTURA por Carlos Eduardo Freitas

Mais calor

para as arquibancadas Sucesso em toda a Europa, cachecóis começam a fazer parte do uniforme do torcedor brasileiro imagem é freqüente em jogos de futebol na Europa: no início da partida, ou em momentos específicos, os torcedores levantam, estendidos, cachecóis com o nome de seu clube ou da seleção de seu país. É um espetáculo bonito, que chama a atenção de quem está no campo e do telespectador. Até pouco tempo atrás, esse tipo de imagem era praticamente exclusiva dos estádios estrangeiros, mas, ao que tudo indica, deve começar a fazer parte também dos hábitos de consumo dos torcedores brasileiros. Cada vez mais atentos às tendências que tomam conta do mercado europeu, os clubes brasileiros resolveram apostar também na produção de cachecóis estilizados. Por ser uma peça tradicionalmente ligada a climas mais frios, é natural que as primeiras agremiações brasileiras a se atentarem para essa possibilidade tenham sido as gaúchas. Atendendo a uma vontade dos torcedores, o Grêmio lançou seu cachecol oficial no

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início deste ano. Na cola, o Internacional, que, à época, disputava a Libertadores, seguiu a tendência e colocou o seu na loja oficial do Beira-Rio. Pouco a pouco, os cachecóis começam a ganhar também as cores e distintivos de equipes da região Sudeste e até mesmo do Nordeste.

Quebra de paradigma Pode até parecer estranho, mas a receptividade dos cachecóis por torcedores de clubes de regiões quentes do Brasil tem sido muito boa. Quem diz isso é Horley Cordeiro, fundador da Cachecol Mania, empresa que tem a licença de produção e comercialização de nada menos que 17 times brasileiros, além das seleções de Portugal, Alemanha, Inglaterra, Itália e, claro, Brasil. “A empresa existe há apenas um ano, mas o retorno tem sido bem satisfatório”, conta ele, que revela que São Paulo e Flamengo são os líderes de vendas. “Na Europa, é uma febre. Foi por isso que resolvi tentar. Quando levei a idéia

aos clubes, fui recebido de portas abertas e logo acertamos os acordos”. Para fazer o negócio dar certo, Cordeiro trabalha para mudar a imagem de que o cachecol é um ornamento para ser utilizado exclusivamente em baixas temperaturas. “Esses cachecóis que eu vendo são muito usados no verão, pois os fios são mais finos”, afirma. De fato, na Europa, os torcedores têm no cachecol um ornamento tão importante quanto a camisa oficial. Ano a ano, as equipes lançam novas peças e modelos comemorativos, que não raramente são adquiridos pelos fãs mais fervorosos. Além disso, os cachecóis, dentro do estádio, permitem coreografias diferentes, maneiras inusitadas de se vestir ou de provocar equipes rivais. Isso porque não são apenas as peças oficiais que os fãs levam às arquibancadas, mas também algumas alternativas, fazendo brincadeiras com os adversários mais tradicionais.

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Torcida usa cachecóis para mostrar seu amor ao Liverpool

LANÇAMENTOS Os bastidores das gigantes alemãs

CLUBES BRASILEIROS QUE TÊM CACHECÓIS Atlético-MG Atlético-PR

Avaí Bahia Botafogo Corinthians

Coritiba Cruzeiro Franck Fife/AFP

Flamengo

Grêmio Internacional Juventude Palmeiras Paraná Santos

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Miniaturas de craques mundiais Desde que a Coca-Cola lançou a coleção dos minicraques na Copa de 1998, nunca mais o fã de futebol brasileiro teve a seu alcance miniaturas de seus jogadores favoritos. A loja Roxos e Doentes, porém, mata essa saudade e traz em sua lista de produtos versões reduzidas (7,5cm, 15cm e 30cm) de jogadores como Kaká, Eto’o, Ronaldinho Gaúcho e Henry. Em vez do formato de minicraques cabeçudos, os jogadores vêm com proporções reais e em poses iguais às que fazem em campo.

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Figueirense Um exemplo foi uma coleção de artigos lançados pelo zagueiro Christoph Metzelder em seu site oficial, que tirava uma onda do Schalke 04 depois da vitória por 2 a 0 do Borussia Dortmund, que tirou do rival o título alemão. Entre as peças, estava um cachecol com as inscrições “Zweizunull” (dois a zero) ou “Meisterderherzenbrecher” (campeão de arrasar corações), com o qual os torcedores do clube aurinegro foram ao Westfalenstadion na partida seguinte. Para popularizar seus cachecóis, Cordeiro anuncia que iniciou conversas com algumas torcidas uniformizadas dos principais clubes do Brasil. “A idéia é fazer com que eles sigam a moda européia e façam coreografias nos estádios”, diz. Se os gorros já fazem, há tempos, a cabeça do fã de futebol no país, não há por que duvidar que mais essa moda pegue por aqui.

Chega ao mercado brasileiro o livro que conta os bastidores de duas das maiores marcas esportivas do planeta, Adidas e Puma, fundadas pelos irmãos Adolf e Rudolf Dassler, respectivamente. Em “Invasão de Campo: Adidas, Puma e os Bastidores do Esporte Moderno”, a jornalista holandesa Barbara Smit revela as brigas dos dois irmãos em pleno III Reich, além de bastidores da influência da Adidas dentro da Fifa — incluindo a suspeita de que o filho de Adi, Horst, teria comprado votos para eleger João Havelange, em troca da exclusividade da marca junto à entidade.

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CADEIRA CATIVA por Paulo Torres

Quem precisa de Copa, se tem a

Intertoto? De ressaca pela eliminação do Brasil na Alemanha, surge a idéia: deixar o Mundial de lado, pegar um trem para a Suíça e assistir a um jogo da Intertoto o final de Brasil 0x1 França, pela Copa do Mundo de 2006, os torcedores brasileiros que deixavam o Waldstadion, em Frankfurt, dividiam-se entre os que choravam e os que buscavam culpados (havia também o grupo que esperou a saída do ônibus do Brasil para gritar “Joel Santana Seleção!”). Mas havia uma alternativa, para os fanáticos por futebol: correr para a estação ferroviária e ir para Zurique, assistir a um jogo da segunda fase da Copa Intertoto, no dia seguinte. Na ensolarada Zurique, nada indicava que haveria uma partida válida por um torneio continental. No jornal local, constava apenas uma pequena nota em uma página interna do caderno de esportes, ofuscada por noticias da Copa e da Volta da França. O jogo seria no Letzigrund, estádio do FC Zurich, rival do Grasshoppers. Só no bonde que levava ao estádio, cerca de uma hora

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antes do jogo, podia-se ver pela primeira vez alguns poucos torcedores uniformizados. O ingresso, que podia ser comprado sem fila, custava 10 francos suíços (cerca de R$ 20). Apenas a Tribuna Leste estava aberta, devido à baixa expectativa de público – foram apenas 1.000 pagantes. Entrando no estádio, era possível ver uma grande obra em andamento, em um terreno ao lado. Eram as fundações do novo Estádio Letzigrund, que será uma das sedes da Euro-2008 e deve ser inaugurado em setembro de 2007. O estádio antigo seria demolido dentro de poucas semanas, após o tradicional Meeting de Atletismo de Zurique, e aquele seria o último jogo de futebol a ser realizado lá. Na entrada da arquibancada, os torcedores recebiam uma folha com a escalação das equipes. Chamava a atenção o técnico do Grasshoppers: Kassimir Balakov, atacante búlgaro que disputou a Copa

de 1994. Havia dois brasileiros no time da casa – o meia Antônio dos Santos e o atacante Eduardo, que, contundido, via o jogo em meio à torcida. Os dois grandes ídolos dos torcedores eram o goleiro Fabio Coltorti, capitão da equipe – e que menos de uma semana antes estava com a seleção da Suíça na Copa do Mundo – e o atacante senegalês Demba Touré, que tinha seu rosto estampado em uma bandeira no meio da torcida organizada. Touré estava no banco, mas na metade do primeiro tempo substituiu o português Roberto Pinto. Com arrancadas rápidas, acendeu um jogo até então tedioso e passou a ter seu nome cantado pela torcida. “Demba Touré, Demba Touré, Demba, Demba Touré!”, no mesmo ritmo do clássico “Dá-lhe (nome do time), olê, olê, olê”. E foi o senegalês quem marcou o primeiro gol da partida, no início do segundo tempo. O congolês Biscotte fez o segundo do Grasshoppers, já no final do jogo. Mesmo com a desvantagem no placar, os três torcedores do Teplice presentes fizeram mais barulho que a torcida da casa, durante boa parte do jogo. Sempre cantavam a mesma música: “Olê, FK Tê-pli-tchê, olê, FK Tê-pli-tchê”, em ritmo de “Go West”. Não dá para dizer que o passeio se compare a assistir a uma partida de Copa do Mundo. Mas o que perde em glamour ganha em alternatividade. Afinal, quantos fãs podem dizer que deixaram o Mundial de lado para assistir a um jogo da Intertoto?

Grasshoppers Teplice

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Competição: Copa Intertoto Data: 2/julho/2006 Local: Letzigrund (Zurique)

Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

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E SE... por Carlos Eduardo Freitas

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E se Florentino Pérez

não tivesse sido eleito presidente do

Real Madrid imagem do candidato Florentino Pérez ao lado de Luís Figo ficou famosa na imprensa espanhola. No caso, foi considerada a maior gafe na história eleitoral de um clube de futebol. A promessa de tirar do rival seu principal jogador não caiu nada bem entre os eleitores madridistas – e menos ainda a proposta de reformar o Santiago Bernabéu e montar uma equipe cheia de estrelas, retomando a antiga filosofia de ter sempre os melhores jogadores do planeta defendendo a camisa branca. A resposta veio nas urnas. Lorenzo Sanz ganhou o eleitorado com uma proposta arriscada, mas que valorizava bastante o espírito do “madridismo”. Em vez de torrar os tubos em reforços, a idéia era aproveitar cada vez mais os jovens revelados pelas categorias de base e fazer dinheiro com eles. Em suas palavras, era a política dos “Pavones e Portillos”, referência a dois dos mais promissores garotos nascidos em casa.

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A conquista do título da Liga dos Campeões de 2000, de certa maneira, diminuíra a pressão, mas a conquista do Espanhol, algo que não acontecia havia três temporadas, era questão de honra. Sanz deixou claro que, apesar da vontade geral de voltar a levantar o troféu doméstico, a prioridade era se manter na principal competição européia e valorizar seus jovens, para, no futuro fazer caixa. Vicente del Bosque, mantido no cargo de técnico – e com prestígio –, teve a tarefa de montar um time que seguisse a filosofia de valorizar a molecada. Para começar, livrou-se de Anelka e Seedorf, que, somados, renderam € 60 milhões. Sem falar na proeza de arrancar quase € 9 milhões do Middlesbrough por... Karembeu. Com Hierro, Santis, Salgado, Redondo, Roberto Carlos e McManaman, além da dupla RaúlMorientes, a base para um time forte estava montada. A idéia era encaixar Portillo, Navas, Miñambres, Raul Bravo e Pavón, além

de um promissor camaronês proveniente do Mallorca, Samuel Eto’o, e do filho do presidente, Fernando Sanz, que vira e mexe ganhava uma chance entre os titulares. A temporada 2000/1, como era de se esperar, acabou não sendo tão boa para o “novo” Real Madrid, que perdeu o título nacional para o La Coruña e caiu nas quartas-de-final da LC. Em 2001/2, porém, a situação começou a melhorar. Com a venda de Miñambres e Navas para o Arsenal por € 50 milhões, o time pôde investir na contratação, entre outros, de Dimba, que despontava como um destaque do futebol brasileiro, mas voltou para o Brasil rapidinho por não se adaptar à Espanha. O Real Madrid chegou forte e conseguiu, enfim, encerrar o jejum de títulos e abrir caminho para o bicampeonato nacional, que viria com a conquista da Liga em 2002/3. O sucesso dentro de casa se contrapunha a três fracassos seguidos na Liga dos Campeões. Com a situação financeira bem menos apertada depois de três anos de contenção nos gastos, Sanz resolveu apostar pesado para levantar seu terceiro título europeu como presidente. Contratou Ronaldinho Gaúcho, um dos destaques do Brasil na Copa de 2002, depois de uma disputa pessoal com o Barcelona, que preferiu levar David Beckham. A aposta de Sanz, mais uma vez, deu certo e, já no primeiro ano de “Ronnie” com a camisa 10 do Real Madrid, o time bateu o Porto na decisão da Liga dos Campeões, depois de superar o Barça nas quartas-de-final. Na festa do título, Eto’o provocou os rivais catalães com palavras bastante ofensivas. Com dois títulos consecutivos da LC, o sucesso do trio Ronaldinho-Eto’o-Portillo pôs fim à era Raúl no Real Madrid. Depois de duas temporadas amargando a reserva, o atacante espera se firmar no Tottenham, onde, diz, vai pendurar as chuteiras. Até hoje, em entrevistas, o presidente Sanz, que já prepara o filho para sucedê-lo, lembra-se com um sorriso no canto da boca daquela famosa foto de Florentino Pérez ao lado de Figo.

A cada edição, um convidado imagina como seria o mundo do futebol, se alguma coisa fosse diferente. Você tem sugestões de temas para esta seção? Mande um e-mail para contato@trivela.com

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A Várzea

Concorrensa

pezada Oi, eu çou o Denílson o estajiário d’A Várzea. Comessei fais pocutenpo mais o peçoal diz que eu tenho talemto e potenssial. Num divia sê eu iscrevendo issuaqui mais só sobrou eu, pruque o Tolete o repórter d’A Várzea, foi countratado por um giornau na cegunda divizaun espanhola, i o Editor tá agora nu Reau Mardi, eu acho. Tou um poço prelcupado, mas o professo converçou comigo preu fica trancuilo, pruque um que inporta é eu misforçá e fase o que eu cei. Qui é iscrevê. Num sô aindacim um Tolete mais xegu lá. Lem dissu é fáciu issuaki. Cempre vegio o Tolete e o Editor iscrevenu, i us cara fica um teimpãum na intrenet veindu umas mina isquisita i depôs iscrevi rapidim uns negóçu que eles cupia la da intrenet mezmu. Uinca coiza quiatra paia, é qui eu num goçto di Giurubeba intãum num concigo dá as rizada qui eles da cum as coiza qui eles iscreve. Intãum, aí uns manu vieru trocanu idéia qui eu ia tremê i taus, qui era uma reisponça mucho grandi, mais eu num mi prelcupo qui eu migaramtu. Dicerum preu converça com a piscóloga mais eu num vô. O maió poblema mesmu é a councorrenssia. Aqu pertinhu mezmu sainu do Çambódomo, tem uns cara na maginal cem numero

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A charge do mês que é fougo. Pa comessá, xamaram um iraquiano pra mandá neles. Aí, us cara era tudo a favô. Pocu tempo despois, agora é todumunu countra. E a cupa dis eles é de um véinho que também tem nome di iraquiano. Elis, mezmo, dis que não tem cupa. I lá na Velensuela, intãum! O Brasil foi campeão i ganho da Argh!entina com o Giulio Batiçta no time. Qué mais A Várzea que iço? Acim eu num concigo! É muita preção! Açim minia carrêra vai cabá qinen a do Adrianu.

A lorota do mês “Não é a lanterna que incomoda. O mais frustrante é que, pelo elenco, daria para disputar a Libertadores” Tudo bem que Kleber Leite é publicitário, mas essa nem Denílson, nosso estagiário com potencial, compraria

A manchete do mês “Ana Paula se espelha em Vampeta” (Globo Esporte.com)

Em alta Atlético de Madrid Sai Fernando Torres, o Júlio Baptista branco, e entram € 36 milhões. Até o Sevilla está com inveja...

Adriano Depois que o Vágner Love também foi titular e campeão de uma Copa América, o que ele fez em 2004 até perdeu a graça

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Se você soubesse, não tinha comprado a revista, hein?

Agosto de 2007

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