Trivela 20 (out/07)

Page 1

w w w. t r i v e l a . c o m

extinção

Na era do marketing, todo mundo quer par parecer recer bonzinho, alam o que pensam são cada vez mais raros e os que falam nº 20 | out/07 | R$ 8,90

nº 20 | out/07 | R$ 8,90

Espécie em

capa.indd 1

GARIMPO DE TALENTOS

MORTES EM CAMPO

Os clubes europeus que produzem craques

Por que não se consegue evitá-las

E MAIS... ...Ponte Preta de 77 ...Grêmio: grande de novo ...Nordeste em baixa

9/27/07 2:58:45 PM


anuncios.indd 4

9/26/07 12:18:31 PM


anuncios.indd 5

9/26/07 12:19:06 PM


ÍNDICE BOM-MOCISMO

26

Para evitar polêmicas, jogadores de futebol só dizem o óbvio MORTES NO FUTEBOL

34

Por que não se consegue evitar tragédias como a de Puerta NORDESTE

38

Futebol da região vai de mal a pior – e já faz algum tempo CATEGORIAS DE BASE

50

Como os clubes europeus trabalham para ter os melhores talentos ENTREVISTA RR MALDONADO

Há oito anos no Brasil, o chileno fala sobre sua situação no Santos e na seleção

Pablo Porciuncula/AFP

1x1

COPA’14

20

JOGO DO MÊS

6

CURTAS

8

PENEIRA

11

OPINIÃO

14

TÁTICA Real Madrid

18

PARANÁ Só uma vitrine

24

GRÊMIO A volta por cima

32

HISTÓRIA Ponte Preta de 77

46

HOLANDA Ajax

49

CAPITAIS Oslo

54

ALEMANHA Hoffenheim

58

CULTURA Colecionadores

60

NEGÓCIOS Ao vivo na web

62

CADEIRA CATIVA

65

A VÁRZEA

66

Na penúltima reportagem da série, mostramos que é você quem vai pagar a conta para trazer o Mundial ao Brasil

42

EDITORIAL O craque é o outro Desde que foi agredido por Coelho, o atacante cruzeirense Kerlon passou a ser tratado como o representante maior do chamado “futebol arte”. Isso apesar de ter marcado, em toda sua carreira, de 37 jogos pela Raposa, a expressiva soma de um, isso mesmo, um gol. Seus detratores dizem que o “drible da foca” só serve para provocar. Até aí, provocar faz parte do futebol e gera efeitos quando os zagueiros têm o cérebro reduzido. Seus defensores dizem que a jogada é válida, porque é feita “em direção ao gol”. Mas, afi nal, que diferença faz em que direção um cara vai com a bola, se claramente não há a menor chance de a jogada virar nada que preste? Na improvável hipótese de que Kerlon conseguisse chegar com a bola perto do gol, seria desarmado com incrível facilidade pelo goleiro. Enquanto se perde tempo discutindo se o tal drible é futebol arte ou não, um outro moleque do Cruzeiro, que foi o melhor em campo naquele mesmo jogo e já marcou 12 vezes em menos partidas do que Kerlon marcou uma, ficou esquecido. Guilherme é o nome do craque do Cruzeiro. O outro, por enquanto, é só circo.

índice.indd 2

www.trivela.com Edição Caio Maia Tomaz R. Alves Reportagem Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Ubiratan Leal Colaboradores Celso Unzelte Dassler Marques Gustavo Hofman João Tiago Picoli Luciana Zambuzi Marcus Alves Mauro Beting Mauro Cezar Pereira Agradecimentos Régis Forti Fotos da capa Acervo Gazeta Press Antonio Scorza/AFP Marc Serota/Reuters Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold Diagramação e tratamento de imagem Bia Gomes

Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 3528-8610 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3528-8612 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Vanessa Marchetti vanessa@trivela.com (11) 3528-8612 Circulação DPA Cons. Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br (11) 3935-5524 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Prol Gráfica e Editora Tiragem 30.000 exemplares

9/28/07 2:15:08 AM


Lua Branca

A Lei Cidade Limpa já está em vigor. Informe-se, regularize seu estabelecimento e fique dentro da lei. São Paulo agradece. www.prefeitura.sp.gov.br

anuncios.indd 7 anu rev 227x277.indd 1

9/26/07 1:23:37 PM 25/6/2007 10:49:15


1 x1

JOGO DO MÊS por Leonardo Bertozzi

Getty Images/AFP

Bilhete azul

Empate em casa com o Rosenborg, na estréia na Liga dos Campeões, marcou o fim da linha para José Mourinho no Chelsea s problemas de relacionamento entre José Mourinho e o todo-poderoso Roman Abramovich já haviam deixado de ser novidade. Ainda assim, o empate por 1 a 1 com o Rosenborg, em Stamford Bridge, ficará para a história como o jogo que derrubou o treinador português. O resultado mais inesperado da rodada de abertura da Liga dos Campeões tornou insustentável a situação no Chelsea, que já vinha ruim devido ao fraco início dos Blues nesta temporada. Antes de estrear na LC, o time vinha de derrota para o Aston Villa (2 a 0) e empate com o Blackburn (0 a 0), pelo Campeonato Inglês. Na véspera da partida, abusando de sua costumeira ironia, Mourinho já havia dado sinais de insatisfação, ao falar dos desfalques. Drogba e Lampard, os dois principais artilheiros do time na temporada passada, estavam lesionados, a exemplo do zagueiro Ricardo Carvalho – isso sem falar em Ballack, que, ainda se recuperando de uma cirurgia no tornozelo, nem foi inscrito para a fase de grupos. Segundo suas próprias palavras, o técnico teria de fazer uma “omelete sem ovos”. As declarações soavam como um certo exagero, já que o Rosenborg entrava na LC como azarão e não vinha disputan-

O

6

jogo do mês.indd 2

CHELSEA 1x1 ROSENBORG Data: 18/setembro/2007 Local: Stamford Bridge (Londres) Árbitro: Laurent Duhamel (França) Gols: Koppinen (24min) e Shevchenko (53min) Cartões amarelos: Alex (Chelsea); Dorsin e Koné (Rosenborg)

CHELSEA Cech; Belletti, Alex, Terry e Ashley Cole (Ben Haim); Joe Cole (Wright-Phillips), Essien, Makélélé e Malouda; Kalou e Shevchenko. Técnico: José Mourinho

do as primeiras posições nem mesmo no Campeonato Norueguês, que se acostumou a dominar nos últimos anos. Por excesso de confiança ou desânimo pelo momento do time, apenas 24.973 torcedores compareceram ao estádio – pior público dos Blues desde 2003. Os fãs imaginavam uma vitória tranqüila. O que se viu nos primeiros minutos, no entanto, foi um Chelsea incapaz de se mostrar perigoso no ataque, apesar do controle da posse de bola – e, ainda assim, acreditando que decidiria o jogo a seu favor quando bem entendesse. O Rosenborg tratou de provar o contrário aos 24 minutos, quando Sapara cobrou falta perto da linha lateral pela esquerda e viu o zagueiro Koppinen antecipar-se a Terry e desviar para as redes: 1 a 0. O esperado gol de empate do Chelsea chegou aos 8 mi-

ROSENBORG Hirschfeld; Strand, Basma (Kvarme), Koppinen e Dorsin; Skjelbred (Iversen), Sapara (Ya), Riseth, Tettey e Traoré; Koné. Técnico: Knut Torum

nutos do segundo tempo, quando Malouda cruzou da intermediária e Shevchenko marcou de cabeça. Aliás, não deixa de ser irônico que o último gol da era Mourinho tenha sido marcado por aquele que se tornou um ponto fundamental de discordância entre o técnico e Abramovich. Dois dias depois, os torcedores que vaiaram o Chelsea após o apito final teriam mais motivos para lamentar: o maior técnico da história do clube não estava mais lá. Para seu lugar, foi efetivado o diretor de futebol dos Blues, Avram Grant, extécnico da seleção israelense. Com a troca, a equipe praticamente abandona a pretensão por títulos nesta temporada e vê seu futuro com grande dose de incerteza – e não bastam os milhões de Abramovich para resolver esse problema.

Outubro de 2007

9/28/07 2:15:57 AM


anuncios.indd 1

9/27/07 12:32:15 PM


Stringer/Getty Images

CURTAS

FRASES Especial sujeira no Corinthians Em setembro, vieram a público gravações de escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal de conversas incriminadoras envolvendo Alberto Dualib, presidente do Corinthians, Kia Joorabchian, presidente da MSI, e Renato Duprat, representante da empresa no Brasil, entre outras pessoas. Veja algumas das principais discussões:

“Lembra do comprovante da metade do seu salário que você recebe na Suíça. Tenho ele em mãos. É sonegação, você vai ser preso, é cadeia” Gisele, ex-noiva de Carlos Alberto, em conversa com o meia

“Primeiro, termina a situação de lavagem de dinheiro. Segundo, tira Carlos Alberto, [Marcelo] Mattos, [Eduardo] Ratinho, William, Lulinha. (...) E aí acabou! Faz uma parceria muito rápido com o Ituano. Coloca todos esses caras lá e acabou a co-administração” Kia Joorabchian

“Como é que ganhou no ano passado? Campeão de direito seria o Internacional. Nos últimos cinco jogos, nós tínhamos 14 pontos na frente e chegamos um ponto só, roubado” Carlos Alberto Dualib, em conversa com Renato Duprat

GOLEIRO ARTILHEIRO – COM AJUDA DO “FAIR PLAY” Paul Smith, do Nottingham Forest, entrou para o restrito grupo de goleiros que já marcaram gols. Só que o tento de Smith não foi de pênalti, nem de falta, nem muito menos de cabeça, no último minuto de uma partida. O momento de “glória” do goleiro aconteceu no jogo entre o Forest e o Leicester, pela Copa da Liga Inglesa. Após o pontapé inicial, os jogadores simplesmente permitiram que Smith carregasse a bola até o gol e abrisse o placar. A atitude tem explicação: as duas equipes estavam repetindo uma partida que fora suspensa no intervalo, quando o defensor Clive Clarke, do Leicester, sofreu um colapso cardíaco, no vestiário. Clarke precisou ser socorrido

Confira no site 8/outubro Quantas vagas cada país tem nas copas européias da próxima temporada

8

curtas.indd 2

De 11 a 25/outubro – Análise dos grupos da Copa Uefa Saiba quem tem mais chances no segundo torneio mais importante da Europa

com um desfibrilador e foi levado ao hospital – o jogador, hoje, passa bem. Quando foi interrompido, o jogo original estava 1 a 0 para o Nottingham Forest. De acordo com as regras da competição, uma nova partida foi realizada, com placar zerado. No espírito do “Fair Play”, o Leicester decidiu conceder um gol ao adversário, para restabelecer a vantagem original. Os capitães das equipes, então, combinaram que caberia ao goleiro Smith marcar, para evitar que algum apostador fosse beneficiado (na Inglaterra, é comum apostar em que jogador fará o primeiro gol de uma partida). No final, o lance não fez diferença, já que o Leicester virou o jogo para 3 a 2 e classificouse para a fase seguinte da Copa da Liga.

, neste mês 25/outubro – Início da cobertura da Copa Uefa

29/outubro – Reta final dos torneios do norte da Europa

31/outubro – Termômetro da Bola de Ouro

Um balanço dos Campeonatos Sueco, Norueguês, Finlandês...

Como estão as chances dos favoritos para o prêmio

Outubro de 2007

9/28/07 2:21:50 AM


Vigarista em campo O oceano de transferências de jogadores brasileiros para o exterior abriu caminho para a galera chegada num dinheiro fácil. Uma pessoa que se apresentava como jogador de futebol, que teria passado pelo Juventude, abordou diversos agentes brasileiros nos últimos meses, afirmando que estava na mira de “um grande clube europeu”. Para comprovar a autenticidade da proposta, mostrava até supostas cartas de interesse do “Schalck 04” (sic). Os agentes que caíam no truque acabavam tendo que depositar cerca de R$ 1,3 mil “para ajudar com as despesas de passaporte”. Depois, o “craque”, naturalmente, desaparecia. No Juventude, o suposto jogador nunca pisou, atesta o supervisor do clube, Renato Tomasini, que diz ainda que o malandro aplica o golpe há cerca de dois anos. “Já ligaram aqui de todo o Brasil, dizendo que foram enganados”, afirma.

O MAIOR “PROFESSOR” O diário inglês The Times elaborou uma lista com os 50 melhores técnicos de todos os tempos. O primeiro colocado é Rinus Michels, criador do “Carrossel Holandês” da Copa de 1974. Entre os escolhidos, aparecem quatro brasileiros: Zagallo (14º), Luiz Felipe Scolari (18º), Telê Santana (25º) e Parreira (43º). Veja a lista com os dez primeiros (entre parênteses, as equipes em que marcaram época):

Luiz Felipe Scolari, logo após o incidente com Dragutinovic que valeu ao técnico uma suspensão de quatro jogos. No dia seguinte, o brasileiro admitiu que errou e pediu desculpas.

/AFP

ages

y Im

Gett

741

milhões

Valor total gasto pelas equipes da Premier League em contratações de jogadores para esta temporada, segundo cálculo da consultoria Deloitte. O montante fica muito acima do recorde anterior, que era de € 445 milhões.

Central Press/Getty Images

PERNA CURTA Stephen Ireland, meia do Manchester City, foi flagrado ao contar uma “mentirinha”. Para voltar para casa e ficar com a namorada Jessica, que sofrera um aborto espontâneo, o jogador disse que sua avó havia falecido. A federação irlandesa fretou um vôo para que ele voltasse da Eslováquia e o dispensou da partida contra a República Tcheca, pelas eliminatórias da Euro-2008. No entanto, o jogador teve que confessar a mentira, depois que a federação entrou em contato com as duas avós do atleta e descobriu que ambas estavam vivas.

“É mentira. Não toquei nem me joguei contra o jogador. Apenas defendi Quaresma. É por isso que tive que abrir os braços. Tentei separar o sérvio do Quaresma”

1. Rinus Michels (Ajax e Holanda) 2. Matt Busby (Manchester United) 3. Ernst Happel (Feyenoord, Hamburg e Holanda)

4. Alex Ferguson (Manchester United) 5. Bill Shankly (Liverpool) 6. Bob Paisley (Liverpool) 7. Brian Clough (Nottingham Forest) 8. Bela Guttman (Benfica) 9. Miguel Muñoz (Real Madrid e Espanha) 10. Arsène Wenger (Arsenal)

FORA DA COPA

DESISTÊNCIAS

Embora seja o maior país da região, Papua Nova Guiné ficou de fora dos Jogos do Pacífico Sul, torneio que valeu como preliminar das eliminatórias da Oceania para a Copa de 2010. “O presidente do comitê olímpico é inimigo do presidente da federação de futebol. O comitê disse que só jogaríamos se o presidente da federação saísse. Como ele ficou, sobrou para nós”, explicou o técnico brasileiro Marcos Gusmão. “Estou muito decepcionado. Tínhamos um projeto, uma geração interessante. Fiquei tão chateado que pedi demissão. A seleção de Papua só vai voltar a jogar daqui a cinco anos”, lamentou.

Outras quatro seleções desistiram de participar da disputa das eliminatórias da Copa do Mundo de 2010 sem nem entrar em campo. Butão, Guam (na Ásia), São Tomé e Príncipe e República Centro-Africana (na África) retiraramse das competições qualificatórias. No caso asiático, Kuwait e Indonésia comemoraram, pois se classificaram automaticamente para a fase seguinte. Na África, os beneficiados foram Suazilândia e Ilhas Seychelles.

“Estou aposentado. Não pretendo voltar a ser treinador de clube ou seleção. Quase não estou vendo futebol” Após mais de um ano sem trabalho, Zagallo finalmente oficializa o fim de sua carreira.

981

Número de

jogadores que

trocaram times brasileiros por equipes estrangeiras, em 2007. É o maior êxodo de todos os tempos, superando o recorde anterior, 915, de 2006. Por outro lado, 444 atletas retornaram ao país, até o começo de setembro.

“Sei que o que eu vou falar pode me comprometer e posso ser até punido, mas, se eu estivesse no lugar do Coelho, eu arregaçaria o Kerlon” Luiz Alberto, do Fluminense, apimenta a polêmica causada pelo “drible da foca” do cruzeirense.

Outubro de 2007

curtas.indd 3

9

9/28/07 2:22:06 AM


10

times que podem estrear em Mundiais em 2010 Supri Supri/Reuters

Tony Gentile/Reuters

1 Uzbequistão Nas eliminatórias para a Copa de 2006, o Uzbequistão chegou até a repescagem da Ásia, quando foi eliminado pelo Bahrein de maneira polêmica. Na última Copa da Ásia, ficou entre os oito primeiros. É o melhor time do continente que nunca esteve num Mundial.

2 Finlândia

COMPRADO? O zagueiro Valentin Nastase, do Dinamo Bucareste, foi acusado pelo jornal esportivo romeno Fanatik de ter facilitado a vida da Lazio, na terceira fase preliminar da Liga dos Campeões. “Quanto dinheiro você recebeu?”, diz a capa do Fanatik, completando, em letras menores: “€ 500 mil”. Nastase cometeu o pênalti que permitiu à Lazio iniciar a virada no jogo de volta, em Bucareste. O Dinamo perdeu por 3 a 1, depois de empatar por 1 a 1 em Roma. Nastase rescindiu seu contrato com o Dinamo, o que aumentou os rumores. “Até minha família me faz perguntas e não confia em mim”, revelou.

PEDIDO INUSITADO Com medo de ver a Áustria, sede da próxima Eurocopa ao lado da Suíça, dar um vexame no torneio, um grupo de torcedores austríacos resolveu pedir que a seleção do país desista de participar da competição. O site da iniciativa (www.rueckgrat.cc) convida os internautas a aderir a um abaixo-assinado, com direito a camisa, pedindo à federação austríaca que “renuncie voluntariamente à participação na Eurocopa”.

Graças a jogadores como Jaaskelainen, Hyypia e Pasanen, os finlandeses seguem com boas chances de classificação para a Eurocopa, num grupo que tem Portugal, Polônia e Sérvia. Se mantiverem o nível nas eliminatórias para o Mundial, têm tudo para ir à África do Sul.

3 Bósnia É o país com melhor posição no ranking da Fifa, entre todos os que nunca estiveram em uma Copa (25º lugar). Chegou a ganhar de Noruega e Turquia eliminatórias para a Eurocopa e pode surpreender na disputa por um lugar no Mundial.

4 Guiné Dá para apostar que a África terá pelo menos um estreante na próxima Copa – e ele pode ser a Guiné, que eliminou a Argélia, para chegar à Copa Africana de Nações. Com jogadores como Balde, Thiam e Mansare, é o sétimo melhor africano no ranking da Fifa.

5 Panamá O quarto lugar da Concacaf não é muito difícil de ser alcançado. Nas eliminatórias para a Copa de 2006, o Panamá ficou em sexto. Nesta, comandado por Alexandre Guimarães e com jogadores como Blas Perez, tem plenas condições de subir duas posições.

6 Zâmbia A Zâmbia não é badalada, mas é perigosa – Parreira que o diga. Apesar de não ter jogadores em ligas importantes da Europa, os zambianos ficaram à frente da África do Sul nas eliminatórias da CAN e mostraram que podem brigar com os pesos-pesados.

7 Venezuela CURIOSIDADES DA BOLA • Luis Gorriarán, da equipe juvenil do Bella Vista, foi expulso em partida contra o Danubio por um motivo inusitado: foi pego urinando dentro de campo, enquanto era respeitado um minuto de silêncio. • Os italianos que quiserem ver Fiorentina x Groningen ou Zurich x Empoli, pela Copa Uefa, terão que recorrer a um canal pornô, a Conto TV. Ela foi a única que adquiriu os direitos de transmissão. Difícil é convencer a “patroa” de que a “pelada” que querem ver não é de outro tipo... • No jogo contra o Auxerre, pelo Francês, o Olympique de Marselha entrou em campo com uma camisa parecida com a do adversário. Como não levou outro uniforme, o OM teve que atuar com a camisa 2 do Auxerre, marrom. Resultado: o Olympique perdeu por 2 a 0.

10

curtas.indd 4

O país de Hugo Chávez é o único da América do Sul que nunca foi para a Copa. Não chega a ser favorito para a classificação, mas, com nomes como Arango (Mallorca) e Cichero (Litex Lovech), tem chances de surpreender.

8 Mali Nas eliminatórias passadas, o Mali era apontado como possível surpresa, mas decepcionou. Com jogadores do nível de Diarra (Real Madrid), Sissoko (Liverpool) e Kanouté (Sevilla), as Águias têm elenco para chegar a uma Copa – só precisam aprender a mostrar regularmente seu melhor futebol.

9 Eslováquia Os eslovacos nunca foram a uma Copa depois que se separaram da Rep. Tcheca. Mas sempre dão trabalho. O time não tem nenhum craque, mas é formado por jogadores que atuam em campeonatos importantes. Se o sorteio lhe for favorável, pode surpreender.

10 Omã Embora não tenha nenhum jogador famoso fora da Ásia, o Omã tem apresentado notável evolução, nos últimos anos. Foi vice-campeão das duas últimas Copas do Golfo e classificou-se para a Copa da Ásia de 2007, onde empatou com a Austrália e o Iraque.

Outubro de 2007

9/28/07 2:26:44 AM


PENEIRA

Bojan:

jeitão de sérvio

Ja

e-

Hw

an

/A

FP

Nome: Bojan Krkic Pérez Nascimento: 28/agosto/1990, em Linyola (Espanha) Altura: 1,70m Peso: 65kg Carreira: Barcelona (desde 2000)

m

D

Esse sistema permitiu que Bojan aprendesse a usar sua habilidade para compensar o porte físico discreto. A comparação imediata é com o argentino Messi. Assim, sua ascensão foi muito rápida e, com apenas 16 anos, Bojan já estava no Barcelona B. Na Catalunha, diz-se que o Barcelona tem um futuro craque em mãos – tanto que não há pudor em lançá-lo no time principal. Em 16 de setembro, fez sua estréia, numa partida contra o Osasuna, pelo Campeonato Espanhol. Tinha 17 anos e 19 dias, o que o tornou o terceiro jogador mais jovem a defender o Barça em um jogo oficial. [UL]

Ki

esde o início do Mundial sub-17 deste ano, um jogador sempre se destacou na Espanha: Bojan Krkic. A sorte do atacante do Barcelona é que o sobrenome eslavo não é seu único atributo que chama atenção. Em campo, o garoto de 17 anos fez merecer a menção como um dos jogadores mais promissores revelados pelo torneio, e sua ausência na final com a Nigéria – Bojan foi expulso na semifinal – foi bastante lamentada. Filho de um ex-jogador sérvio (também chamado Bojan Krkic) que casou com uma espanhola, o catalão chegou a Las Cortes com apenas 10 anos e, desde então, foi tratado como um atleta especial. O clube sempre o colocou uma categoria acima de sua idade, para ser testado contra garotos mais fortes e preparados.

Kroos:

camisa 10 legítimo

ag

es/ A

FP

Nome: Toni Kroos Nascimento: 4/janeiro/1990, em Greifswald (Alemanha) Altura: 1,82m Peso: 71kg Carreira: Greifswalder (1997 a 2002), Hansa Rostock (2002 a 2006) e Bayern de Munique (desde 2006)

Im

A

tem grande mobilidade para livrarse de seus marcadores. Tais qualidades enchem de esperanças a torcida do clube bávaro, à espera de um sucessor para Michael Ballack, um dos maiores ídolos de sua história recente. Se depender de elogios, Kroos logo alcançará esse status. Uli Hoeness, diretor do Bayern, afirmou que, “quando ganhar um pouco mais de experiência, usará a camisa 10” da equipe. Já Werner Kern, olheiro do time há 35 anos, assegurou que o jogador “é o mais talentoso” já visto por ele. Em campo, o meia prepara-se para corresponder a tamanha expectativa. [RE]

Ge tty

Alemanha não ganhou o título do Mundial sub-17, mas pelo menos teve o consolo de contar com o melhor jogador do torneio. Toni Kroos também recebeu a Chuteira de Bronze, por ser o terceiro maior goleador da competição, com cinco gols. Além disso, deu quatro assistências. Nada mal para o meia, promovido nesta temporada ao elenco profissional do Bayern de Munique. O jogador já havia se destacado no Europeu da categoria, quando foi o artilheiro ao lado de Victor Moses. Com talento para organizar o jogo e habilidade nas finalizações, Kroos despertou as atenções de Chelsea e Manchester United. Ele preferiu continuar na Alemanha: trocou o Hansa Rostock pelo Bayern, em 2006. Capitão da seleção alemã, o meia faz jus à camisa 10 que usa. Kroos joga com a cabeça erguida, é eficiente nos passes e

Outubro de 2007

peneira.indd 3

11

9/28/07 2:28:06 AM


anuncios.indd 8

9/27/07 3:58:02 PM


anuncios.indd 9

9/27/07 3:58:31 PM


ENCHENDO O PÉ por Cassiano Ricardo Gobbet

Não existem 20 grandes NA 27A RODADA DO BRASILEIRÃO, parece que o torneio já acabou. Ou quase. Beirando os 75% de aproveitamento, o líder São Paulo (que, se mantiver o ritmo por mais 11 rodadas, será o melhor da história do campeonato por pontos corridos) só não garantiu o título por um capricho da matemática. Outro desfecho dado como favas contadas é o rebaixamento do América-RN. Os risíveis 12 pontos acumulados em 27 jogos fazem da equipe potiguar a pior da história dos pontos corridos. A conclusão não exige muito esforço: esse time do América não tem calibre para a Série A, embora tenha conseguido sua vaga com mérito na segunda divisão. Assim sendo, cabe perguntar: essa fragilidade do lanterna é um indício claro do excesso de clubes na primeira divisão? A resposta é sim. Mesmo considerando que os 12 “grandes” ainda mereçam o rótulo (que está sendo questionado pela lógica dos pontos corridos), não há outros oito clubes com condições de disputar a mesma divisão – pelo menos não ao mesmo tempo. Explico: quando alguns estão bem, outros estão em crise. Uma passada de olho na tabela da Série

14

opinião.indd 2

B também não indica nenhum gigante adormecido que esteja momentaneamente numa divisão inferior, como foram os casos de Palmeiras e Grêmio, em anos recentes. O único clube da segunda divisão que já foi campeão brasileiro é o Coritiba, equipe que, mostra a história, não é a cliente mais estável da elite. A geografia da nossa Série A ainda tem um desagradável odor de tempos em que o governo traficava favores políticos, colocando clubes falidos na primeira divisão. A prática gerou uma distorção na percepção popular de que muito clube modesto mereceria o selo de “grande”. Mesmo que seja incômodo, aceitar essa nova ordem do poder da bola no Brasil é inevitável. Entre outras exigências, a trilha da modernização do futebol brasileiro passa pelo ajuste do tamanho da primeira divisão à quantidade de clubes com nível técnico para disputá-la, uma condição indispensável para garantir que a qualidade média do torneio atinja um patamar aceitável. É verdade: já se avançou muito. Da centena de clubes da triste Copa João Havelange para nossas atuais 20 agre-

miações, deixamos de ter uma palhaçada vergonhosa para um campeonato de nível técnico fraco, mas com um semblante sério. Soa amargo, mas é a realidade. Uma primeira divisão com 18 clubes talvez não fosse a ideal, mas nos aproximaria de um quadro mais verossímil da estrutura que está se desenhando em nosso futebol. O rebaixamento de quatro clubes também é exagerado. O único país com tradição futebolística que adotava a queda de quatro times era a Itália, que não o faz mais. O excesso de acessos e descensos tende a promover, em decorrência de casualidades, clubes incapazes de competir na divisão superior, além de consolidar a instabilidade nos times que brigam para fugir do rebaixamento. O inchaço da primeira divisão é uma conseqüência do acordo político que sustenta e sempre sustentou o poder estabelecido do futebol. Combatê-lo isoladamente não levará a nada, já que se trata de um sintoma, e não uma causa. Entretanto, fingir que ele não existe porque isso desagrada as torcidas dos clubes em risco é seguir a nossa velha tradição de escolher o que é fácil em vez do que é certo.

Outubro de 2007

9/28/07 2:29:26 AM


MARACANAZO por Mauro Cezar Pereira

Futebol tipo importação A PRESENÇA ESTRANGEIRA em times brasileiros vem se tornando comum. Mas ainda há resistências de setores da mídia, de parte da torcida, de quem prefere esnobar os que nascem além destas fronteiras. É uma mescla de preconceito e desinformação, mas, pelo menos entre os cartolas, essa postura parece, aos poucos, mudar. Quem nasce no Brasil tem mais mercado. Carrega consigo o DNA de pentacampeão do mundo. Gente que mal consegue emprego no Cori-Sabbá ou no Palmital pode, com auxílio de algum empresário, desembarcar em Tashkent como reforço “de peso” para o Pakhtakor, do Uzbequistão – ou ser apresentado como “craque” no Daryda Menski Rayon, em Belarus. Jogar lá fora deixou de ser uma quase exclusividade dos bons de bola faz tempo. Ficou mais difícil encontrar gente capaz de reforçar equipes daqui, e o mercado sul-americano apresenta-se como alternativa, desde que exista capacidade de observação. Argentinos, paraguaios, colombianos e uruguaios mais talentosos saem de seus países tão rapidamente quanto os nascidos por aqui. Para empresários, é mais fácil “empurrar” um brasileiro aos mercados periféricos. Até o fim de agosto, eram 981 transferências para o exterior; no ano passado, foram 915 e, em 2005, 804. Como explicar a contratação de um jogador do Vilhena,

de Rondônia, pelo Banants, da Armênia? Tivesse ele um passaporte boliviano, o negócio seria fechado? Improvável. Assim, alguns razoáveis nomes ficam por perto ou querem voltar ao continente. Assim, cá estão, entre outros, os uruguaios Sorondo (Inter) e Acosta (Náutico), os chilenos Valdívia (Palmeiras) e Maldonado (Santos), os argentinos Guiñazu (Inter), Saja (Grêmio), Dudar (Vasco), Conca (Vasco), Maxi (Flamengo) e Colace (Flamengo), o paraguaio Gavilán (Grêmio), os colombianos Ferreira (Atlético-PR), Valencia (Atlético-PR), Viafara (Atlético-PR), Orozco (Inter) e Bustos (Grêmio), o peruano Hidalgo (Grêmio), o equatoriano Reasco (São Paulo) e os bolivianos Arce (Corinthians) e Marcelo Moreno (Cruzeiro). O melhor exemplo de tal política é o Boca Juniors, que faturou a Libertadores com gente que começou em outras equipes argentinas, foram repatriados ou vieram de países vizinhos (veja box). A formação que encerrou uma série invicta do São Paulo no primeiro duelo pela Copa SulAmericana apresentou atletas revelados por Instituto, Colón, Los Andes, Banfield, Cañuelas, Vélez, Bella Vista, Estudiantes e Huracán. Dos 11 titulares no 2 a 1 em Buenos Aires, só Battaglia e Ledesma começaram nas divisões de base “xeneizes”. Se o Boca é capaz de “peneirar” reforços dessa forma, o que impede os times brasileiros de fazerem o mesmo?

DE ONDE VÊM OS TITULARES DO BOCA CARANTA Estava no Santos (México). Foi revelado pelo Instituto. IBARRA Retornou após defender o Espanyol. Surgiu no Cólon. MAIDANA Revelado pelo Los Andes, hoje na terceira divisão. PALETTA Estava no Liverpool, mas foi revelado pelo Banfield, que o negociou com os ingleses. MOREL RODRÍGUEZ Paraguaio, antes defendeu por seis anos o San Lorenzo. LEDESMA Nascido em Córdoba, é das divisões de base.

BATTAGLIA Contratado ao Villarreal, após uma temporada voltou ao Boca, onde começou. DÁTOLO Começou no Cañuelas, hoje na quinta divisão, e foi contratado ao Banfield. GRACIÁN Defendia o Monterrey, do México. Revelado pelo Vélez. PALACIO Começou no Bella Vista, de onde foi para o Huracán e o Banfield, que trocou pelo Boca. PALERMO Voltou ao Boca, após defender Villarreal, Betis e Alavés. Mas começou no Estudiantes.

MIGLIORE Começou no Huracán, de onde saiu em 2006. KRUPOVIESA Contratado junto ao Estudiantes, há três anos. GONZÁLEZ Uruguaio, defendia o Defensor antes de chegar à Argentina. VARGAS Colombiano, começou no América, esteve no Internacional e retornou ao Boca. NERI CARDOZO Revelado pelo Boca. BOSELLI Veio das divisões de base. CARLOS BUENO Uruguaio, surgiu no Peñarol. Antes, defendeu Sporting e PSG.

Outubro de 2007

opinião.indd 3

15

9/28/07 2:29:32 AM


PONTO DE BOLA por Mauro Beting

Carta do presidente COM A AJUDA DO PAI GIOINO, médium midiático formado em telepatia no telecurso das Faculdades Integradas Vicente Matheus, leia o rascunho da carta ao povo brasileiro de Ricardo Teixeira, logo depois da Copa no Brasil, em 2014: “Apesar da derrota na final para a Federação Bolivariana do nosso amigo Hugo Chávez, o certame foi um sucesso. Mesmo não tendo dinheiro para pagar o ingresso, o brasileiro lotou as cercanias dos estádios e não fez os arrastões e arruaças que os órgãos de imprensa chapa-preta insistem em mostrar. Diferentemente do que imaginavam esses traidores da pátria da mídia, não tivemos problemas de transporte. Nossos portos supriram a ausência dos aeroportos. As delegações estrangeiras adoraram a volta aos tempos românticos do futebol, quando os elencos treinavam no convés dos navios. Mais de 24% de nossos 171 novos estádios foram entregues a tempo. Não tirou o brilho da festa o fato de 78 deles não terem arquibancadas. A crítica de que bastavam 12 sedes é imprópria. A acusação de que 348 sub-sedes receberam recursos indevidos também não procede. Todo evento de tal magnitude necessita planos de contingência. O Comitê Organizador da Copa (CoCopa) preparou cinco estádios na eventualidade de problemas com as catracas eletrônicas, conforme cronograma do nosso diretor financeiro, Delúbio Soares. Dizem que o povo brasileiro não tem memória. É uma inverdade. Não podemos esquecer a ajuda substancial do nosso querido presidente Roberto Jefferson e do vice-presidente Fernando Collor de Mello, além dos esforços do incorruptível presidente do Senado, Renan Calheiros. A maravilhosa festa de abertura ocorreu no mesmo dia em que estava programada, com atraso dentro dos parâmetros internacionais considerados como aceitáveis pela Agência de Consultórios Médicos. O ponto alto da cerimônia foi o entusiasmante Hino Oficial do Mundial. Em apenas 23 minutos de canção, Arnaldo Antunes, acompanhado por um berimbau e um bongô, mostrou a dicotomia entre o niilismo pontual do aipim com a metafísica pró-ativa do x-salada, dentro da uma perspectiva holística que coteja as parlendas pré-cambrianas e

16

opinião.indd 4

os folguedos pós-cabralinos. Aqueles que diziam que nossa Copa seria um castelo de areia quebraram a cara. Vejam o exemplo da Sérgio Naya Entreprise, picareta e instrumento da construção de 171 estádios. Foi uma parceria sólida firmada pelo Co-Copa. Apesar da queda da arquibancada retrátil da Arena Severino Cavalcanti, em João Alfredo (PE), e do vazamento de petróleo durante Iraque x Vanuatu, no gramado do Maluf Park, em São Paulo, não tivemos nenhum incidente significativo. Os seqüestros de 17 atletas, dois deles durante a cobrança de escanteios, e a morte de dois treinadores vítimas de balas perdidas estão dentro do tolerável, de acordo com as diretrizes da Convenção de Cabul. Eternamente agradeço o apoio de Alberto Dualib, injustamente criticado presidente da Fifa. Muito se falou a respeito dele. Mas, como sempre, nada de errado ficou provado. Ele é apenas um homem que tem um sonho de construir um grande Brasil. Ou grandes estádios no Brasil. Para finalizar, digo que, apesar do meu mandato na CBF terminar em 2348, devo passar o bastão para novas lideranças. Como João Havelange está atarefado como vice-presidente do Comitê Jovem da Fifa, entendo que é a hora de gente identificada com o país e com nosso jeito de administrar assumir. Gostaria que o mundo do futebol desse todo apoio que tive na CBF ao novo presidente, Kia Joorabchian”.

Outubro de 2007

9/28/07 2:29:38 AM


Ele voltou: Guia Trivela da Liga dos Campeões A principal competição européia do jeito que você gosta Esquemas táticos Curiosidades Tabela Análises dos 32 times (de Milan e Barcelona até Slavia e Rosenborg), e tudo o que você precisa saber sobre o mais importante torneio de clubes do planeta

Já nas bancas! guia lc.indd 1

9/28/07 12:33:51 AM


TÁTICA por Ubiratan Leal

Soluções para a

superpopulação Schuster chegou ao Real Madrid com a promessa de montar um time ofensivo. Pelo elenco que tem em mãos, não faltam alternativas para isso – especialmente no meio-campo obinho é um meia ofensivo, mas pode jogar como segundo atacante. Não há muito que discutir. Quer dizer, não havia. No jogo Real Madrid 3x1 Almería, pela terceira rodada do Campeonato Espanhol, o técnico Bernd Schuster colocou o brasileiro como primeiro homem no meio-campo, como um volante. Trata-se de mais uma das ousadias que marcam a carreira do alemão, que também mostra como ele conta com uma rica gama de opções de jogadores de frente no Real. O time não recebe mais o apelido de “galáctico”, mas continuou com a filosofia de contratar muito mais reforços para o setor ofensivo do que para o defensivo. Foi assim no último verão, em que chegaram Robben, Sneijder, Júlio Baptista (voltando de empréstimo) e Saviola, para se unirem a Van Nistelrooy, Raúl, Robinho e Higuaín. Usar esses jogadores tornou-se um quebra-cabeça, em que Schuster pode variar o esquema tático de acordo com as características dos escolhidos. Em qualquer formação da defesa, Casillas, Sergio Ramos e Cannavaro são titulares indiscutíveis. Pepe começou a temporada como favorito a fazer dupla de zaga com o italiano, mas contundiu-se, e Metzelder entrou bem em seu lugar. Na lateral-esquerda, Heinze é uma opção

R

18

tática.indd 2

mais defensiva, enquanto Drenthe pode ser um ala. Onde também parece haver pouca discussão é na escolha do atacante de referência. Único centroavante goleador do elenco madridista, Van Nistelrooy é fundamental em qualquer sistema de jogo que Schuster queira implementar. Raúl, pelo valor simbólico para a torcida e pela liderança, também sai na frente pela briga pelo posto de segundo atacante. Desse modo, a grande dúvida é a formação do meio-campo. Guti e Diarra fazem uma dupla de volantes interessante, em que o primeiro tem mais habilidade para conduzir a bola e o segundo fica mais fixo na proteção à defesa. Caso o time precise de mais contundência na marcação, Gago pode ocupar o posto de Guti e dar força, sem alterar o nível técnico. O espanhol só tem preferência por ter mais identificação com a torcida, experiência e por viver melhor fase.

Mais uma vez, o Real Madrid contratou muita gente para o ataque

1

4-4-2 tradicional O Real pode jogar com quatro holandeses entre os titulares, no esquema tipicamente espanhol

A

Van Nistelrooy

Raúl

M

M

Robben

Sneijder

(Robinho)

Variações Caso Schuster prefira um 4-4-2 tradicional espanhol (figura 1), em que os dois meias externos ficam um pouco mais avançados que os internos e atuam quase como pontas, Robben passa a ser uma escolha imediata para a esquerda. Sneijder ficaria à direita, um pouco fora de suas características. Sua saída até seria pos-

A

V

V

Guti

Diarra

LD

LE Drenthe (Heinze)

Z

Z

Metzelder

Cannavaro

Sergio Ramos

(Pepe)

G Casillas

Outubro de 2007

9/28/07 2:34:43 AM


Heino Kalis/Reuters

2

4-4-2 “diamante” Neste esquema, pode faltar marcação no meio-campo. Com isso, Robinho perderia o lugar para Higuaín

A

A

Van Nistelrooy

Raúl

M Sneijder

ME Robben

Robinho

(Drenthe)

(Higuaín)

V Diarra

LE

LD

Heinze

Z

Z

Metzelder

Cannavaro

Sergio Ramos

(Pepe)

G Casillas

sível taticamente, mas tecnicamente não há como deixar o holandês de fora, no momento. Outra formação possível é um 4-4-2 com meio-campo em “diamante” (um volante, dois alas e um meia de armação). Nesse sistema (figura 2), seria necessário um volante mais fixo, como Diarra. Como o meia externo teria função um pouco mais defensiva, Robben e Robinho poderiam perder lugar para Higuaín e Drenthe (que abriria vaga para Heinze na lateral). Esse sistema permite algumas formações interessantes. Para uma equipe defensiva, Diarra e Gago poderiam ficar como meias abertos. Eles fariam o primeiro combate e deixariam Guti mais atrás, usando a visão privilegiada do campo para lançar. Foi essa a função de Robinho quando o brasileiro ficou como primeiro homem do meio-campo contra o Almería, por mais estranha que seja a solução. No entanto, essa tática pode perder força caso se mostre mais defensiva do que o desejado pelos madridistas. Caso Schuster considere Raúl pres-

cindível, é possível apostar em um 4-2-3-1 (figura 3), sistema parecido com o usado pelo Chelsea na temporada 2005/6 e pelo Barcelona. Nesse caso, Sneijder ficaria ao centro, como responsável por distribuir o jogo. Robinho e Robben atuariam abertos, caindo pelas pontas e ajudando Sneijder na armação. Van Nistelrooy ficaria como referência única no ataque, e os laterais teriam um pouco mais de liberdade para avançar. O 4-5-1 poderia se transformar facilmente em um 3-5-2. Para isso, Drenthe sairia para dar lugar a Raúl. O espanhol entraria como segundo atacante, e Sergio Ramos deixaria a lateral direita para compor uma linha de três zagueiros com Cannavaro e Metzelder (ou Pepe). O meio-campo poderia manter a mesma formação. Fica evidente que não faltam opções ao técnico alemão. Ousadia e criatividade, ele tem, para tentar diferentes formações. A torcida fica na esperança de que a melhor seja rapidamente encontrada. Caso contrário, o tempo perdido em testes pode custar caro, no final da temporada.

3

4-2-3-1 Sem Raúl, o técnico Schuster pode tentar usar um esquema parecido com o do Barcelona

A Van Nistelrooy

MD

ME M

Robben

Robinho (Higuaín)

Sneijder (Raúl)

V

V

Guti

Diarra

(Gago)

LD

LE Drenthe

Z

Z

Metzelder

Cannavaro

(Pepe)

G Casillas

Outubro de 2007

tática.indd 3

Sergio Ramos

G: goleiro / LD: lateral-direito / LE: lateral-esquerdo / Z: zagueiro / V: volante / M: meia / MD: meia-direito / ME: meia-esquerdo / MA: meia-atacante / PD: ponta-direito / PE: ponta-esquerdo / A: atacante

MD

19

9/28/07 2:34:59 AM


ENTREVISTA RR MALDONADO por Dassler Marques

Cabeça

da área ito anos de Campeonato Brasileiro. A marca impressiona, ainda mais nos dias de hoje, em que o futebol nacional convive com um eterno êxodo de jogadores. Em todo esse tempo, defendendo São Paulo, Cruzeiro e Santos, o chileno Maldonado consolidou-se como um dos melhores jogadores em atividade no país. Como um atleta desse nível ficou no Brasil todo esse tempo? “Não tem sentido sair para ficar no meio da tabela ou brigar para não cair. Prefiro ficar por aqui, então”, explica Maldonado, que credita a Vanderlei Luxemburgo muito do mérito pela evolução de seu futebol. Jogador importante também na seleção chilena, o volante mostra-se otimista com as perspectivas para o futebol de seu país. “Temos muita gente habilidosa e muitos jogadores jovens”, avalia, confiante no trabalho do novo técnico da seleção, Marcelo Bielsa. Mesmo assim, Maldonado deixa transparecer uma certa mágoa pelo que seus companheiros chilenos fizeram na Copa América. “Aquilo não deveria ter acontecido. Ficou complicado para a gente, agora, perder cinco ou seis jogadores”.

O

Como é jogar em um clube de bons resultados, mas de torcida pouco presente, como o Santos? Jogar em São Paulo seria melhor? A gente gostaria de jogar sempre com a Vila lotada. Sabemos que, em São Paulo, há muitos torcedores santistas, e isso é legal. No Paulistão de 2006, lotaram o estádio lá, contra o Juventus. Mas gostaríamos de jogar na Vila Belmiro. O Santos é um time grande, todo mundo está comprometido, e temos conseguido seqüências boas em todos os campeonatos. A gente espera que compareçam mais, os torcedores são uma parte muito importante do futebol. O que faltou para o Santos brigar com o São Paulo pelo título? Lá atrás, estávamos com chances de ir para a final da Libertadores, que era nosso objetivo. Depois, o Vanderlei mexeu no time, e perdemos muitos pontos. Em casa, contra

20

Náutico e América, desperdiçamos pontos. Agora, temos que correr atrás disso. Nos clássicos, em 2007, o Santos acumula três derrotas, quatro empates e uma vitória. O que acontece nessas partidas? Falta mais vontade de ganhar os jogos. Clássicos são fundamentais e eram confrontos para nos mantermos no G-4. Temos que ter vontade de jogar, querer vencer a partida. Nossa qualidade é a mesma dos outros, e em clássicos são os detalhes que decidem, fazem diferença. Qual a diferença de trabalhar com o Vanderlei Luxemburgo, em relação aos outros treinadores? O Vanderlei é um dos caras que consegue dar conta de tudo. Sempre quer saber se você está bem em casa, se está dormindo e se alimentando bem. Isso faz uma diferença muito grande. Posso chegar nele e falar que não estou bem para treinar, existe confian-

Disputando seu oitavo Brasileirão, o chileno Maldonado fala de seu trabalho com Vanderlei Luxemburgo, dos defeitos do Santos e da nova fase da seleção chilena, sob o comando de Marcelo Bielsa ça. Ele passa muita informação antes dos jogos, e sempre acontece o que ele falou. O poder que ele tem de ter o grupo comprometido também é muito importante, como também é a parte tática. E ele cobra muito, exige que não tenha nenhum erro. Você tem visto ele apático, como dizem algumas pessoas da imprensa? Acho que ele voltou da Espanha com outra visão de trabalho. Ele tem o mesmo jeito desde que trabalhávamos no Cruzeiro: sempre dando esporro (risos), cobrando ao máximo. Ele está mais tranqüilo, sem brigar com os árbitros. O time do Cruzeiro que ele montou em 2003 é o melhor em que você já jogou? Foi o melhor. Por tudo. O grupo, o time, os resultados foram muito bons. Esse ano de 2003 foi todo bom, sem tristeza nenhuma. Foi impressionante. Como é jogar ao lado do Alex? Ele é diferenciado, não tem comparação. Marca bem os tempos do time, sabe a hora que tem que atacar e a hora de segurar. A qualidade dele, de bater na bola, de passar, é impressionante. Ele é o camisa 10 que todo time precisa. No Cruzeiro, era o cara que comandava o jogo todo o tempo.

Falta [ao Santos] mais vontade de ganhar os jogos. Temos que ter vontade de jogar, querer vencer

Outubro de 2007

entrevista_MALDONADO.indd 2

9/28/07 2:37:40 AM


Claudio Andrés del Tránsito Maldonado Rivera Nascimento: 3/janeiro/1980, em Curicó-CHI Altura: 1,74m Peso: 74kg

Ricardo Saibun/Gazeta Press

Carreira: Colo-Colo (1997 a 1999), São Paulo (2000 a 2003), Cruzeiro (2003 a 2005), Santos (desde 2006)

entrevista_MALDONADO.indd 3

Títulos: Campeonato Chileno (1998), Campeonato Paulista (2000, 2002, 2006 e 2007), Medalha de bronze nos Jogos Olímpicos (2000), Rio-São Paulo (2001), Campeonato Brasileiro (2003), Campeonato Mineiro (2004) Pela seleção chilena: 36J / 1G

9/28/07 2:37:44 AM


tada para o Cruzeiro. Não aconteceu de poder sair, sempre fiquei na minha. Você é um jogador muito respeitado no Brasil e nunca jogou na Europa. Isso, de certa forma, te decepciona? Você só pensa em sair no caso de receber proposta de um clube de ponta ou toparia jogar em um time menor, caso fosse financeiramente vantajoso? Às vezes, você tem propostas, mas não muito legais, de times que lutam para não cair. Preferia ganhar o mesmo que ganho no Brasil, mas estar em um time que brigue por títulos, que ganhe alguma coisa. Não tem sentido ir para ficar no meio da tabela, brigar para não cair. Prefiro ficar por aqui, então. Atualmente, você disputa o oitavo Campeonato Brasileiro seguido. Você acha que o nível técnico tem decaído? Acho que está mais equilibrado. Não se vê um jogador que apareça com qualidade muito diferente. Está mais tático, e o time que estiver melhor leva. Não tem mais aquela jogada do cara passar por dois, três, e fazer o gol. Falando agora sobre a seleção chilena,

como está o ambiente, após os conturbados episódios da Copa América? Conversei com o Valdivia após a Copa América. Aquilo não deveria ter acontecido, até porque ele era o capitão naquele momento, não era para fazer algo desse tipo. Ficou complicado para a gente, agora, perder cinco ou seis jogadores. Tem que procurar gente nova, e ainda bem que estamos achando. Aquele não era o momento certo, porque a Copa América era importante para o Chile. Por isso, ficou um clima meio ruim, como já tinha acontecido outras vezes. O ambiente está melhor, com a chegada do Marcelo Bielsa? Está muito melhor, melhorou tudo. O complexo que tínhamos vai mudar completamente. Estamos no caminho certo. Temos uma imagem boa dele, de cara que quer ganhar, que luta pelo que quer. Com certeza, vamos melhorar muito com a chegada dele. Quais diferenças você pôde notar entre o Bielsa e o Nelson Acosta? São muito diferentes. Estive com o Acosta muito tempo na seleção, e ele é um cara

Em Minas, tem muito mais torcedore cruzeirenses, mas só vão quando o time está bem. E o Santos é a mesma coisa Djalma Vassão/Gazeta Press

Como foi a reação ao título nacional do Cruzeiro, depois de tantos anos de chacota dos torcedores atleticanos? Lá, era tudo diferente, esse ano foi uma loucura. Saímos pela cidade em caminhão dos bombeiros, foram uns dois dias de festa. E ainda tinha jogo! O Vanderlei liberava no domingo para voltar na quarta. Não fazíamos nada e já íamos jogar. Lá em Minas, tem muito mais torcedores cruzeirenses, mas são dos que só vão quando o time está bem. Os atleticanos sempre vão, mesmo com o time mal, sofrendo. E o Santos é que nem o Cruzeiro: quando o time está bem, o torcedor vai. No momento da classificação, precisamos da torcida, é muito importante. Você lamenta a conturbada saída da Toca da Raposa? Foi no último ano, houve uma mudança radical de jogadores, passaram vários técnicos. O time não estava legal. Eu tinha mais tempo no clube e levei um pouco do peso. Eram muitos jovens, eu era o capitão e fiz tudo o que podia. No fim do ano, estava mal, segurando tanta coisa. Corria atrás, e o resultado não vinha. Não adiantava. Você esperava ir para o Real Madrid junto com o Luxemburgo? Isso te decepcionou? Minha cabeça sempre esteve tranqüila. Sempre conversava com o Vanderlei, mas ele nunca falou que iam me buscar. Nada disso. Fiquei tranqüilo, com a cabeça vol-

entrevista_MALDONADO.indd 4

9/28/07 2:37:57 AM


Jorge Sanchez/Reuters

Acho que dá para [o Chile] jogar com Argentina, Paraguai, e equilibrar o jogo. Temos qualidade para isso mais tranqüilo para trabalhar, mais na dele. Ele é bom de grupo, tem amizade com os jogadores e te deixa à vontade. Ele teve dificuldades nas últimas duas eliminatórias, porque a seleção de 1998 estava parando, era um período de entressafra. Ele estava tentando encaixar o melhor time, mas ficou difícil. O Bielsa é um treinador ofensivo, que mexe muito no time. Na última partida, contra a Áustria, vocês jogaram em um esquema 3-3-3-1. Qual é a expectativa sobre esse desenho tático? Isso deu uma cara nova para a gente, pois antigamente só jogávamos em 4-3-2-1 ou 4-4-2, com o time muito defensivo. Mesmo tendo jogadores ofensivos, não conseguíamos jogar. Agora, temos muita gente habilidosa e muitos nomes jovens. O esquema desse jogo deu muito certo. Estivemos bem, marcamos na frente e fomos muito velozes. Você apóia a volta do Marcelo Salas para a seleção chilena? Ele deu uma levantada no grupo, pela qualidade dele, pela vontade de querer estar e lutar com a gente. Deu uma arejada muito boa no elenco. É bom ter um cara que conhece eliminatórias, jogou a Copa, já viveu tudo isso. No meio-campo, o Chile conta com González, você, Jiménez, Tello, Valdivia, Sánchez, além do Pizarro, que está momentaneamente fora. Ter tantas opções pode atrapalhar? A qualidade é impressionante, todos estão em clubes fortes da Europa. São jogadores jovens, mas com experiência. Tem mesmo muita gente para o mesmo lugar, mas nosso pensamento é esse: quanto mais tiver, melhor. Não importa quem jogue. Você vem de uma safra de jovens muito boa, semifinalista da Olimpíada de 2000. Como foi aquele time e como foi perder para Camarões, naquele jogo decisivo? Não gosto de lembrar (dá risadas). Tivemos tudo para ir à final da Olimpíada. Às vezes, fico pensando no que deu errado, por que não fiz isso ou aquilo. Essa seleção foi bem legal, e a ajuda do Zamorano, do

Tapia e do Reyes foi importante para formar um grupo muito bom, muito unido. Foi uma fase muito boa. O que você espera dessa jovem safra que fez sucesso no Mundial sub-20? Essa seleção foi muito boa, é uma grande geração que apareceu agora. Vidal e Sánchez são os dois principais, Isla também é muito bom. É uma geração nova, com fome de mostrar o trabalho deles, de jogar. E a maioria já foi vendida, então isso quer dizer que temos os jogadores certos para fazer as eliminatórias.

Acho que dá para jogar com Argentina, Paraguai, e equilibrar o jogo. Temos qualidade para isso. O furor nacional provocado pela campanha dos garotos te surpreendeu? Existe um lobby pela promoção dos meninos para a seleção principal? O resultado é o mais importante. Os meninos foram muito bem no Mundial. Fazia tempo que o Chile não conseguia algo assim. As pessoas querem ver caras novas e ficam imaginando eles no time principal. Isso faz parte. Outubro de 2007

entrevista_MALDONADO.indd 5

23

9/28/07 2:38:07 AM


PARANÁ por Carlos Eduardo Freitas

Pouco mais

que uma

ano de 2006 foi histórico na Vila Capanema. Comandado por Caio Júnior, o Paraná surpreendeu a todos ao fazer a melhor campanha de sua história e ficar em quinto lugar no Campeonato Brasileiro, conseguindo uma vaga para disputar sua primeira Copa Libertadores. Em 2007, as coisas até que começaram bem. De técnico novo (Zetti), o Paraná fez campanha digna na Libertadores e chegou até as oitavas-de-final do torneio. No Brasileirão, teve bom início, perdendo apenas uma de suas nove primeiras partidas. Depois, o caldo desandou, e o Tricolor foi derrotado em 11 de seus 18 compromissos seguintes. Agora, briga para não cair para a segunda divisão. Como é possível uma mudança tão grande? A explicação começa na virada do ano, quando o clube perdeu Caio Júnior para o Palmeiras e vendeu praticamente todo o time titular. Para piorar, em 2007, o time trocou de treinador três vezes. Depois de Zetti, passou para Pintado, por Gilson Kleina, para, finalmente, chegar em Lori Sandri. Exceção feita a Kleina, todos os técnicos saíram por terem recebido propostas melhores. Zetti foi para o Atlético-MG, para ganhar oito vezes mais que no Paraná. O mesmo aconteceu com Pintado, que foi para o Emirates Sport Club, dos Emirados Árabes.

O

24

paraná2.indd 2

Vitrine e “pés no chão” A rotatividade dos técnicos expõe a difícil situação do Paraná. Para atrair jogadores e treinadores, o clube apresenta-se como uma vitrine, para profissionais sem mercado. “Somos hoje a melhor vitrine que tem

O PARANÁ NOS ÚLTIMOS CINCO ANOS 5º 7º 10º

*até a 27ª rodada

Em 2006, o Paraná conseguiu uma vaga na Libertadores. Neste ano, briga para não cair. A oscilação dos resultados reflete um time que revela e negocia jogadores aos montes

Orlando kissner/AFP

vitrine

15º 18º* 2003

2004

2005

2006

2007

Outubro de 2007

9/28/07 2:41:16 AM


Veja alguns dos jogadores que os olheiros do Paraná pinçaram no interior de São Paulo (nos parênteses, seus clubes atuais) Fotos Gazeta Press

DO INTERIOR PAULISTA PARA CURITIBA

Xaves pouco jogou pelo Paraná, e já foi vendido para o Atlético-MG

Maicossuel (Cruzeiro) Destaque no Atlético Sorocaba, disputou os Brasileiros de 2005 e 2006 pelo Paraná, antes de ser vendido para o Cruzeiro.

Pierre (Palmeiras) Ficou indo e voltando entre Itu e Curitiba de 2004 a 2006, quando, enfim ficou no Paraná. Foi para o Verdão junto com Caio Júnior.

Neguete (Paraná) Chamou a atenção pelo Ituano em 2005 e foi para o Paraná. Deixou o time em 2006, mas voltou neste ano.

Borges (São Paulo) Chamou a atenção do Paraná depois de uma boa campanha pelo União São João, em 2005. Foi contratado e marcou 19 gols no Brasileirão daquele ano. Foi para o Japão em 2006.

no Brasil. Com essa perspectiva, o jogador vem para cá com toda vontade do mundo”, diz o presidente do clube, José Carlos Miranda. Só que essa arma vira-se contra o time, quando outros clubes mostram interesse pelos nomes que começam a brilhar na Vila Capanema. “O Paraná traz muitos jogadores jovens, com perfil para serem negociados”, explica Caio Júnior, responsável pela boa campanha de 2006. Essa é uma realidade que o próprio presidente diz não ter como mudar. “Temos de manter os pés no chão. Não posso dizer para ninguém que cubro a proposta, pago R$ 50 mil. Não temos esse dinheiro”, afirma Miranda. Se o Paraná diz não ter condições de competir com clubes como São Paulo e Cruzeiro, barganhar com Ituano, Bragantino ou Noroeste é muito mais fácil. Por isso, é no interior paulista que o Tricolor paranaense vai buscar reforços. “Podemos dobrar o salário que os jogadores desses clubes recebem. Oferecemos a eles a chance de disputar a primeira divisão, garantimos o pagamento em dia e damos a oportunidade de eles aparecerem”, explica Miranda. É assim que o clube consegue montar alguns bons elencos, como o de 2006. O problema é que, com a

mesma velocidade em que chegam jogadores promissores, outros saem. Uma das grandes dificuldades que o Paraná enfrenta é exatamente manter o elenco de um ano para o outro. “Até tem uma base, com o Flávio, o Neguete e o Beto, que estão lá há algum tempo, mas não adianta: tem de vender jogadores”, diz Caio Júnior. O atual técnico do Palmeiras não esconde que o desmanche do elenco que chegou à vaga na Libertadores em 2006 foi um dos motivos que o motivaram a sair em 2007. “Tenho vontade de disputar a Libertadores, mas acho que tomei a decisão certa”. Para azar da torcida paranista, essa alta rotatividade derruba as chances de o time dar um salto mais alto no cenário “Nem os loucos nacional e brigar por títulos. A sorte, explica o presidente, é que aqui do Brasil o futebol brasileiro está nivelado cobririam a por baixo, o que permite que o Paraná, vez por outra, tenha seu proposta que o lugar ao sol: “Se você tiver um bom ambiente e conseguir mosEmirates fez trar aos jogadores que eles estão pelo Pintado” defendendo não só o clube, mas também os próprios interesses, o José Carlos Miranda presidente do Paraná resultado aparece”. Outubro de 2007

paraná2.indd 3

25

9/28/07 2:41:23 AM


BOM-MOCISMO

A PRAGA DO

discurso p a

Ronaldo não chega a ser um bom moço, mas não é encrenqueiro, o que o torna um bom garoto-propaganda

bundões.indd 2

9/28/07 2:43:30 AM


Martin Bureau/AFP

por Caio Maia, Gustavo Hofman e Leonardo Bertozzi

ngasguei com o bacalhau, mas depois comi o lambari. Agora, por que não degustar um porco?”, provocava o meia Vampeta, do Corinthians, dias antes do clássico contra o Brasi Palmeiras, pelo Brasileirão deste ano. Além do d adversário daquele domingo, brincava com os opon apelidos de dois oponentes anteriores: o Vasco, que acabou derrotando os paulistas (assim como o Santos que foi batido. Nas véspePalmeiras), e o Santos, Vam ras das partidas, Vampeta fizera comentários pa“api recidos, tentando “apimentar” os encontros. delas as brincadeiras geraram Em nenhuma delas, violência, até porque não havia nada importante confro em jogo nesses confrontos. No entanto, se tivesse p acontecido qualquer pequena confusão no final, co os comentários do corintiano certamente teriam sido tratados na mídia como “provocação desnecessária”, “falta de profissionalismo” ou até mesmo “falta de ética com os companheiros de trabalho”. Esse é um dos reflexos negativos do futebol atual, que passou a ser um espetáculo midiático. O que era comum e fazia parte das rivalidades há alguns anos hoje é considerado “perigoso”. Jogadores como Vampeta, que fazem brincadeiras e se arriscam a dar declarações mais espirituosas e polêmicas, hoje são muito raros. Os que sobram, quase sempre são atletas de outra época, como Marcos, Edmundo, Romário ou Túlio. E mesmo estes, que não costumam pensar muito antes de dar declarações polêmicas, hoje evitam falar. Jogadores jovens, por outro lado, costumam ser bem mais acessíveis. O conteúdo das respostas, entretanto, é mais que previsível: raríssimas sairão do padrão “bom-moço” que se disseminou no futebol. Assim, as célebres apostas entre adversários, envolvendo bigodes, cabeleiras e fantasias são coisas do passado. Da mesma maneira, rareiam as brincadeiras com os rivais. Mesmo comentários pontuais às vezes são condenados. Em 2002, por exemplo, o atacante Gil, hoje no Internacional, era destaque do Corinthians e afirmou, antes de um clássico: “A defesa do São Paulo é lenta”. Embora a zaga são-paulina realmente não tivesse velocidade – e tenha levado um baile do atacante, em campo –, a frase teve grande repercussão.

E

p adrão

Numa época em que a imagem dos jogadores vale muito, atletas fogem de polêmicas e se mantêm fiéis ao “bom-mocismo” em suas declarações. Postura dos jornalistas e trabalho dos assessores também contribuem para a falta de personalidade dos astros atuais

€ 14

milhões

Valor anual que Ronaldinho Gaúcho recebe em contratos de publicidade

Outubro de 2007

bundões.indd 3

27

9/28/07 2:43:50 AM


“O jogador funciona como uma empresa, tem de gerar dinheiro. E alguém já ouviu falar em empresa ‘bad-boy’?” Diogo Kotscho, assessor de Kaká

bundões.indd 4

Adversários reclamaram, e a diretoria corintiana “pediu” ao jogador para não conceder entrevistas por duas semanas. Nelsinho Baptista, que era técnico do São Paulo na época daquele jogo, lembra que no passado o clima era bem diferente: “Na década de 70, antes de uma partida entre Corinthians e Palmeiras, o radialista Geraldo Bretas lançou um desafio. Ele disse que rasparia a cabeça se o Mirandinha conseguisse fazer um gol contra o Luis Pereira. No final, o Mirandinha marcou, e a torcida cercou a cabine do Bretas no Morumbi, que acabou raspando o cabelo, mas tudo num clima de brincadeira. Se fosse hoje em dia, os caras teriam linchado ele”. Mas a questão é mais complexa do que apenas culpar o “clima de tensão” pela falta de personalidade dos atletas, em suas declarações públicas. Para começar, muitos jogadores não têm mesmo condições de sair do padrão: “Alguns conseguem enxergar mais

longe a parte tática, mas outros só sabem repetir o que a comissão técnica falou”, diz Nelsinho. Como afirma Marco Aurélio Klein, professor de marketing esportivo da Fundação Getúlio Vargas: “Muitos jogadores não têm condição de falar, enquanto outros têm dificuldade de verbalizar os esquemas táticos, por exemplo”. Ou, como admite Betão, do Corinthians: “Muitos têm medo de falar alguma coisa errada porque a maioria não conseguiu completar nem o segundo grau”. O ex-atacante Careca vê a questão de maneira diferente: “Em relação à minha época, o nível do pessoal melhorou muito. Os jogadores procuram dar entrevistas melhores, fazer colocações inteligentes. Mas é claro que depende muito de cada um”. Por outro lado, como o próprio Careca observa, no passado eram poucos os atletas com menos de 23 anos a se destacar nas equipes. Hoje, com essa idade, o jogador já foi para a Europa há tempos. Com menos

9/28/07 2:43:59 AM


Nelsinho Baptista (dir.)

Rabih Moghrabi/AFP

Ronaldinho e Kaká: você lembra de alguma declaração polêmica deles?

experiência, as chances de alguém falar algo interessante são ainda menores.

Fernando Pilatos/Gazeta Press

“Antigamente, tudo era mais folclórico no futebol, incluindo as entrevistas. Hoje, a rivalidade é muito grande. Tem também o lado da torcida, que é muito violenta”

A mesma pergunta Os próprios jogadores não hesitam, entretanto, em apontar outros responsáveis pelas respostas sempre iguais. “O discurso dos jogadores de futebol sempre é o mesmo porque as perguntas feitas pelos jornalistas costumam ser sempre as mesmas”, diz o corintiano Betão. E, se há repórteres dispostos a perguntar o óbvio, sempre haverá entrevistados disponíveis para responder o óbvio – e dirigentes interessados nisso. Paulo Vinícius Coelho, chefe de reportagem da ESPN Brasil, concorda e cita como exemplo a cobertura da Seleção Brasileira: “O jogador acostumou-se com o tipo de cobertura oficial. Ele se incomoda sempre que há uma cobertura mais dura. Ele pode ser abordado por alguém da Globo e bater papo, porque sabe que dali não vem nada. Mas se você encosta nele, ele te diz que só vai falar na coletiva”. Não é só com a pergunta óbvia, entretanto, que o jornalista torna a situação pior. “Os jogadores evitam falar algo diferente para não cair nas armadilhas da imprensa, como perguntas com duplo sentido, que são feitas para fazer sensacionalismo, vender jornais ou aumentar a audiência de um programa”, diz o ex-jogador Zenon, hoje comentarista de TV. “Sabemos que algumas perguntas são perigosas, e é bom ter sempre a cabeça no lugar para responder corretamente”, explica Kleber, lateral do Santos. Betão completa: “A questão de ser mal-interpretado depende muito do jornalista. Alguns valorizam demais as polêmicas. Se o entrevistador conhece o caráter do entrevistado, ele vai saber entender o que o jogador disse. Mas a imprensa algumas vezes é um pouco hipócrita e inconseqüente”. Outro fator apontado pela quase unanimidade dos jogadores, técnicos e especialistas ouvidos é a violência. “Antigamente, tudo era mais folclórico no futebol, incluindo as entrevistas, declarações. Hoje, a rivalidade é muito grande, não se resume mais ao jogo. Tem também o lado da torcida, que é muito violenta. Hoje, se algum jogador der uma entrevista polêmica pode gerar muita violência”, diz Nelsinho Baptista. Paulo Vinícius Coelho concorda que todos esses

fatores existem, mas acredita que não se pode sobrevalorizá-los. “O jogador que fala sempre foi exceção. O que pode estar acontecendo é o assessor estar freando essa exceção. Mas não adianta você forçar a barra para um cara que não é esse personagem. Vai ficar artificial, falso, não vai funcionar”, diz. “Os bad-boys sempre foram criticados. Mas isso não freava o jogador. O trabalho do assessor de imprensa é um pouco esse mesmo: frear a aparição do cara em reportagens negativas. Só que é ruim quando ele tenta colocar um muro entre o jogador e a imprensa. O que os assessores talvez não saibam fazer é explorar a capacidade de cada personagem ser ele mesmo”, completa PVC.

Imagem é tudo Na opinião de Diogo Kotscho, assessor de Kaká, entre outros jogadores, há mais uma questão por trás: “Não é que estejamos em uma era do bom-mocismo. Esta é, não só no futebol, a era do marketing. Ninguém quer aparecer criando polêmica. Isso não acontece só no futebol. A imagem vale dinheiro. O jogador funciona como uma empresa, tem de gerar dinheiro. E alguém já ouviu falar em empresa ‘bad-boy’?”, pergunta. De fato, o uso da imagem do futebol e dos futebolistas, bastante limitado até o início dos anos 80, hoje é parte integrante do esporte – a ponto de os videogames trazerem os uniformes dos clubes com patrocínio. Em termos de números, os mais significativos são Outubro de 2007

bundões.indd 5

29

9/28/07 2:44:12 AM


Considerado “folclórico”, Vampeta pode dizer o que quiser – e acaba ganhando muito destaque com isso

“O jogador acostumouse com o tipo de cobertura oficial. Ele se incomoda sempre que há uma cobertura mais dura” Paulo Vinícius Coelho, da ESPN

30

bundões.indd 6

sempre os da inglesa Premier League, que fatura, anualmente, € 2,5 bilhões. A evolução dos números também impressiona. Se, em 1992/3, a liga inglesa recebeu da Sky o equivalente a cerca de € 54 milhões para ter suas partidas transmitidas, na temporada 2006/7 o valor chega a € 487 milhões. Não é de se estranhar que se queira proteger o investimento. “O anunciante quer valores positivos, quer um porta-voz para o resto da vida. As empresas querem um jogador bom dentro de campo e bom cidadão fora dele. É o melhor dos produtos. Com isso, o jogador polêmico tende a ficar marginalizado no mercado”, diz o consultor de marketing esportivo Amir Somoggi. E ele acrescenta: “Ronaldo pode não ser exatamente um ‘bom moço’, mas é ótimo garoto-propaganda. Respeita os contratos, vai aos compromissos, é um ídolo global”. Ronaldo não é exatamente o tipo do jogador que se imagine passando a manhã de domingo na igreja.

Por outro lado, embora tenha uma imagem de gostar da “noite”, não é tido como encrenqueiro – e, principalmente, como disse Somoggi, “respeita seus contratos”. Em suma: passar a noite na balada, casar e separar-se logo depois, ter carros e roupas caríssimos, tudo isso pode, desde que o jogador não tenha fama de encrenqueiro. “As empresas procuram atletas com imagem de vencedores. Não adianta falar bem, se não tiver bons resultados – assim como não adianta ser um excepcional atleta e falar muito mal”, diz o consultor Fernando Teixeira, que tem em sua carteira clientes como Alex (Fenerbahçe), Carlos Alberto (Werder Bremen) e Vanderlei Luxemburgo. Um bom exemplo pode ser visto na Inglaterra, terra que já teve como ídolos “bad-boys” do naipe de George Best, Paul Gascoigne e Eric Cantona. Hoje, Wayne Rooney está longe de ser um modelo de bom comportamento, com seu jeito mais parecido com o do operariado britânico do que com o príncipe Charles. Cristiano Ronaldo, vez por outra envolvido em polêmicas, também brilha. Nas entrevistas e aparições públicas, no entanto, os dois são rigorosamente controlados e não saem do padrão do “bom-mocismo” insosso.

Dois pesos

Por outro lado, se é verdade que, na era do marketing, a imagem é importante não só para jogadores de futebol, profissionais de outras áreas parecem ter mais margem de manobra. Personalidades como Daniela Cicarelli e Kate Moss, por exemplo, estiveram no centro de polêmicas ao serem flagrada em situações “impróprias” (respectivamente, trocando carícias íntimas com o namorado na praia e cheirando cocaína). No começo, enfrentaram problemas, mas pode-se dizer que, depois, seu valor de mercado até aumentou. Por que, então, existe essa quase obsessão para que o jogador de futebol não saia da linha? E porque isso acaba gerando um discurso sempre igual? Uma explicação poderia ser o menor grau de instrução dos atletas em geral, que tenderiam a depender mais dos assessores de imprensa. “O jogador que fica famoso não se preparou para a cobertura da mídia”, diz o consultor Somoggi. “Falta informação e formação aos jogadores de futebol”, concorda Marco Aurélio Klein. “Por outro lado, no marketing, o que interessa é o papel que

Outubro de 2007

9/28/07 2:44:24 AM


que não dá, porque eu estou tremendo”, lascou o meia. Debaixo dos risos da equipe da rádio, o comentarista ainda tentou consertar: “É, a diarréia debilita, mesmo”. “Debilita o repórter, né!”, respondeu, rindo, o responsável pela entrevista. Um ano mais tarde, na comemoração do título estadual do Cruzeiro, foi Gil, hoje no Internacional, quem atropelou o repórter. “E aí, Gil, vale tudo?”, foi a pergunta. “Só não vale dar o cu, o resto vale tudo”, respondeu o jogador. “É brincadeira, né? Um jogador profissional, em uma rádio católica, falar uma besteira dessas”, reagiu o indignado – e surpreso – repórter.

Frederico Haikal/Hoje Em Dia/Gazeta Press

INCONTINÊNCIA VERBAL

Se, antigamente, os jogadores apimentavam as partidas com provocações e polêmicas, na era da comunicação em tempo real o que chama a atenção dos torcedores são as gafes, principalmente as cometidas diante de microfones de rádios. Em 2005, durante jogo do Grêmio contra o Bahia, pela Copa do Brasil, Marcinho, da equipe gaúcha, foi substituído no meio da partida. “Você sentiu alguma coisa, Marcinho?”, perguntou o repórter. A resposta ficou famosa e ainda é popular em sites como o YouTube: “É, estou debilitado. A tarde toda eu tive caganeira, cagando pura água. Falei pro professor

o jogador vai representar. Se você contrata ele apenas para usar sua chuteira, não tem problema ele falar mal. Ele é usado apenas como mídia, pura exposição. Mas quando você escolhe um jogador para ser um garotopropaganda, a postura é fundamental. Nesses casos, a própria empresa pode dar apoio e ajuda ao atleta”. “Toda pessoa tem que ser treinada para lidar com a imprensa. Já trabalhei com executivos de bancos, pósgraduados. Até os mais letrados têm de ser treinados, saber o que falar, quando falar. Ninguém nasceu pronto para lidar com a imprensa. É preciso dar toques, fazer um treinamento específico”, diz Diogo Kotscho. Esse é o retrato do futebol de hoje: assessores cada vez mais eficientes, atletas pouco instruídos e pressionados por patrocinadores, e jornalistas que pouco fogem ao discurso oficial ou são adeptos do sensacionalismo barato. Com tudo isso, apagase a personalidade dos atletas, que apenas tentam seguir a cartilha do bom-mocismo politicamente correto. Fora de campo, parece que não há mais diferença entre os jogadores – pelo menos no que eles dizem. Com isso, vai morrendo uma parte importante da diversão do futebol, que alimenta paixões e rivalidades. É claro que existem exceções, mas elas são cada vez mais raras. Se nada mudar, “respeitamos o adversário”, “estamos à disposição do professor” e “sempre quis jogar neste time” serão as declarações mais bombásticas que você vai ouvir de um jogador de futebol. Colaborou Dassler Marques

Outubro de 2007

bundões.indd 7

31

9/28/07 2:44:31 AM


GRÊMIO por Carlos Eduardo Freitas

ra difícil para os gremistas não sentir uma sensação de déjà vu. A torcida chacoalhava bandeiras do Boca Juniors. Das arquibancadas, onde estavam pouco mais de 33 mil torcedores, ouvia-se gritos exaltando os Xeneizes. O estádio, no caso, não era a Bombonera, mas sim o Beira-Rio; o adversário, o Internacional. Toda essa festa em azul e amarelo tinha um motivo: a derrota do Tricolor gaúcho para o clube argentino, na decisão da Libertadores, quatro dias antes. Mesmo com a pressão de uma má fase no Brasileiro e sem contar com cinco titulares, o Grêmio venceu o rival por 2 a 0, feito que repetiria em setembro, no Olímpico (1 a 0). Foi um triunfo conseguido graças a disciplina, vontade e um espírito guerreiro tipicamente gremista – o mesmo que foi um dos responsáveis pela escalada do Grêmio da segunda divisão brasileira para a final da Libertadores, em menos de dois anos.

E

Valdir Friolin/RBS

Aflição benéfica

Com o

Grêmio Grêmio estiver onde o

Apoiado pela torcida e com um empurrãozinho do maior rival, o Grêmio conseguiu, em menos de dois anos, sair da Segundona, montar um time sólido e decidir a Libertadores 32

gremio new 2.indd 2

Por mais dramático que tenha sido o rebaixamento para a Segundona, a experiência de 2005 foi o ponto de inflexão do clube. “Quando o time se apresentou, havia apenas oito jogadores no elenco. Não tínhamos crédito, não tínhamos nada”, relembra Paulo Pelaipe, diretor de futebol do clube desde o início daquele ano. Quando assumiu a presidência – cargo que já havia ocupado entre 1987 e 1989 –, Paulo Odone encontrou um cenário assustador. O clube tinha cerca de R$ 100 milhões em dívidas, herdadas da fracassada parceria com a ISL e de exageros cometidos pela administração de Flávio Obino. “Voltei por pura indignação de ver o Grêmio se conformar com aquela situação”, conta Odone, que, anos antes, havia apoiado Obino, o único que aceitou assumir o clube nas eleições de 2003. A primeira medida crucial para a “virada” gremista foi a profissionalização da diretoria. “Trouxeram profissionais de mercado, contratados, pois entenderam que isso propiciaria uma gestão mais eficiente”, explica Flávio Paiva, diretor de marketing. A partir daí, todos os diretores e gerentes passaram a dedicar 100% de seu tempo ao clube. Além disso, o presidente procurou reaproximar o torcedor do Grêmio, para fazer com que ele voltasse às arquibancadas do Olímpico. E isso aconteceu: os tricolores gaúchos marcaram presença no estádio, ao longo da arrancada rumo à Série A.

Outubro de 2007

9/28/07 2:45:39 AM


MÉDIA DE PÚBLICO NO OLÍMPICO, EM BRASILEIROS 23.000 *até a 27ª rodada

25.630 19.877 7.432 2004

2005

2006

2007*

Muito desse retorno às arquibancadas deveu-se ao resgate do estilo guerreiro de jogar, uma das marcas registradas do Grêmio. Isso aconteceu principalmente a partir da chegada de Mano Menezes, que em 2004 havia eliminado o próprio Grêmio na segunda fase da Copa do Brasil, com o modesto 15 de Campo Bom. “Conseguimos recuperar um sentimento que o torcedor do Grêmio gosta de ver em suas equipes, de lutar muito pelo resultado, mesmo não tendo capacidade técnica superior aos adversários. Fomos buscar jogadores que realmente se empenhassem muito, mesmo que alguns não fossem unanimidade”, explica Mano. Foi aí que renasceu o conceito de “imortalidade”, tão usado desde que o Tricolor começou a arrancar rumo à final da Libertadores. Esse sentimento ganhou maiores proporções na cinematográfica “Batalha dos Aflitos”, quando o Grêmio, com quatro jogadores expulsos, viu o Náutico perder dois pênaltis e, num contra-ataque de Ânderson, ainda conseguiu fazer um gol e vencer a partida. “Quando tivemos o pênalti contra, o desespero bateu. Foi mesmo um milagre – e soubemos aproveitá-lo”, lembra o meia Lucas.

peão da Libertadores realmente despertou a necessidade de dar uma resposta forte”, conta Mano Menezes, sobre como o clube conseguiu se superar em 2006. Depois que o Inter venceu a competição sul-americana, o Grêmio entrou de cabeça na briga pelo título brasileiro. Até a 30ª rodada, quando empatou com o São Paulo no Olímpico, por 1 a 1, estava na disputa pela liderança. Depois desse tropeço, caiu de rendimento e acabou o campeonato em terceiro, logo atrás do Inter – só ficou atrás do rival porque não venceu o rebaixado Fortaleza, na última rodada. Se, em 2006, foi difícil para os gremistas agüentar os rivais, em 2007 os tricolores deram o troco. No Estadual, o Grêmio foi campeão, enquanto o Inter sequer passou da primeira fase. Na Libertadores, foram novamente superiores, mas tiveram que se contentar com o vice. O próprio Mano, num gesto raro entre seus colegas de profissão, reconheceu a superioridade do Boca Juniors: “Foi o que a gente sentiu, que era impossível ganhar deles”. Surpreendentemente, esse discurso honesto agradou aos torcedores gremistas, que concordaram que o time tinha feito mais do que poderia.

Futuro ousado Os bons resultados dentro de campo ajudaram a direção do clube a reencontrar o trilho do crescimento. Se as dívidas ainda estão longe de serem sanadas (o clube não

divulga valores, mas calcula-se que estejam na casa dos R$ 70 milhões), a diretoria conseguiu renegociá-las, ganhando mais prazo para fazer os pagamentos e permitindo que o Grêmio respirasse. Muito disso aconteceu graças à reconquista da confiança pelos torcedores, que trouxe resultados financeiros significativos. Dos 4 mil sócios pagantes que tinha em 2005, o Grêmio saltou para 32 mil, no final de 2006, com a ajuda do impulso de disputar a Libertadores. “Isso é o que significa para um clube chegar à Libertadores, sob o ponto de vista financeiro”, explica Paulo Odone. O segredo, segundo Flávio Paiva, “é estar sempre atento ao que quer o torcedor”. Agora que reconquistou o respeito, o Tricolor faz planos ousados. Acaba de inaugurar no Olímpico o primeiro estúdio profissional de televisão de um clube brasileiro, cujo objetivo é estreitar ainda mais o relacionamento com o torcedor. Mais importante ainda é o projeto de construção de um novo estádio, mais moderno e que permita maiores possibilidades de arrecadação para o clube. As conversas com a empresa que construiu a Amsterdam Arena estão avançadas. Esse plano pode parecer ambicioso demais para um clube que ainda tem uma fortuna em dívidas. Mas deve-se lembrar que há dois anos o Grêmio estava na Segundona e, há dois meses, jogava uma final de Libertadores da América.

MOMENTOS-CHAVE DA RETOMADA TRICOLOR Gaúcho de 2006 O Tricolor bateu seu maior rival – que viria a ser campeão continental – na decisão estadual. Apesar de ainda não estar em ponto de bala, o time já mostrava que era competitivo.

Além da tranqüilidade garantida pela diretoria aos jogadores e à comissão técnica, que foi mantida desde a passagem pela Série B até a final da Libertadores, outro fator que incentivou – e muito – a ascensão gremista foi a boa fase vivida pelo Internacional, em 2006. A conquista dos títulos da Libertadores e do Mundial, até então motivo de orgulho exclusivamente por parte dos tricolores, mexeu com o brio do Grêmio. “Isso influenciou nosso rendimento. O fato de o principal adversário ser cam-

Ricardo Duarte/RBS

Empuxo colorado

A vitória nos Aflitos Um marco na história gremista. Vencer o Náutico com apenas sete homens, depois de ter dois pênaltis contra (acima), não só devolveu o clube à Série A, mas também confirmou o espírito lutador da equipe e deu confiança à torcida.

Classificação para a Libertadores Contra o que esperava a maioria dos analistas, que dizia que o Grêmio brigaria para não cair, o clube terminou o Brasileirão na terceira colocação e arrancou uma vaga na principal competição sul-americana. Outubro de 2007

gremio new 2.indd 3

33

9/28/07 2:45:45 AM


MORTES NO FUTEBOL por Dassler Marques, Marcus Alves e Ubiratan Leal

Cenas que poderiam ser

Cada vez mais, é comum a divulgação de casos de jogadores que sofrem problemas cardíacos em campo. É uma situação assustadora, que deve servir de alerta para um risco muito real

morte o de Antonio i Puerta t três d dias depois p de desmaiar a em m pleno jogo e de ter nove paradas cardiorrespiratórias o r assustaa e surpreende. r e O lateral t do Sevilla chegou a sair de campo andando, dando a falsa sensação de que tudo não passara de susto. Mesmo assim, não dá para dizer que casos como esse são novidade no mundo do futebol. Por exemplo, apenas entre 20 de agosto e 1º de setembro deste ano, quatro jogadores morreram – incluindo Puerta. É um sinal de como, nos últimos anos, as ocorrências envolvendo problemas cardíacos no futebol vêm se tornando mais numerosas. Por isso, cada vez mais, médicos, clubes e os próprios jogadores têm se esforçado para aumentar o controle da condição cardíaca dos atletas. Segundo os profissionais de saúde, é discutível até que ponto pode-se afirmar que esse problema realmente tem crescido nos últimos anos. “A quantidade de ocorn u a na mesma e o em m que u rências aumenta proporção u q d s o esforço esfor forço físubiu a quantidade de atletas, c sobre r eles e a capacidade p d dee um u caso o sico p r rapidamente a mu m undo”,, avaliaa repercutir pelo mundo”, a Ghorayeb, o ex-president e te da Sociedade c Nabil ex-presidente Br il i a de d Cardiologia Ca di l gi g e especialista s i list em Brasileira a g do esporte. eesportee. O que ele diz d faz cardiologia n s for considerado consid iderado r u na semana e sentido, se que, m que morreu m Pu P m casos s foem Puerta, os demais m obscuros: u Reid (terceira r i i ram Reid divisão ingle-

34

coração 2.indd 2

Nedzad Botonjic (ESQ) Ljubljana

Morreu durante partida festiva

Hugo Cunha (POR) União de Leiria

Sofreu infarto após cabecear a bola

Alin Paicu (ROM) Minerul Matarasi

Esperava resultados de exames após desmaio

2005 Alessandro (BRA) Ferroviário

Tinha apenas 17 anos

Víctor Guerrero (COL) Envigado

Foi encontrado morto em seu apartamento

Matt Gadsby (ING) Hinckley United

Morreu no flat em que morava

Hélder (BRA) América-RN

Teve infarto enquanto dormia

David di Tommaso (FRA) Utrecht (HOL)

Estava sem contrato e morreu durante jogo amador. Sua tia faleceu quando recebeu a notícia

2006 Alex Sandro (BRA) Matonense

Sentiu dores no peito durante partida e foi para um hospital, onde morreu

Jairo Nazareno (EQU) Chimborazo

Chaswe Nsofwa (ZAM) Hapoel Beer Sheva (ISR)

Desmaiou durante partida, foi retirado de campo com vida e morreu três dias depois

Antonio Puerta (ESP) Sevilla

Teve infarto durante treino

2007 Anton Reid (ING) Walsall

Háá registros g de de, peloo menos menos, o 56 mortes o no o futebol o desdee a década a de 1970. V Veja j qquem foram m as vítimas

Rogério Oliveira (BRA) Skendija Tetovo (MAC)

TRISTES E HISTÓR S ÓRIA AS

Mohamed Abdelwahab (EGI) Al Ahly

A

Outubro de 2007

9/28/07 2:46:27 AM


Outubro de 2007

coração 2.indd 3

Mike North (ING) (árbitro)

2001 Charles Esheku (NIG) East Bengal (IND)

Stefan Toleski (MAC) Napredok

Tinha 18 anos

Sergio Sánchez (ESP) Berrón

Passou mal ao socorrer outro jogador contundido. Morreu no hospital

2002 Michalis Michael (CHP) Onisilos Sotiras

Max (BRA) Botafogo-SP

Morreu enquanto defendia Camarões na Copa das Confederações

Teve infarto durante um amistoso

2003 José Roberto Rodás (PAR) (árbitro)

Sabia do risco que corria e assumiu a responsabilidade para jogar

Serginho (BRA) São Caetano

Miklos Fehér (HUN) Benfica (POR)

Teve parada cardíaca enquanto dormia

Lucas Molina (ARG) Independiente

Edicam Gabriel da Rosa (BRA) Criciúma

A camada externa do coração foi lesionada em colisão com adversário

Danny Ortíz (GUA) Municipal

Recebeu um soco do goleiro adversário e desmaiou. A causa da morte foi indicada como infarto

Cristiano Júnior (BRA) Dempo (IND)

Teve ataque cardíaco ao receber a notícia que assinaria um contrato profissional

2004 Bruno Baião (POR) Benfica

Após desmaiar, Puerta saiu andando de campo, mas morreu três dias depois

Marc-Vivien Foé (CAM) Manchester City (ING)

Marcelo Del Pozo/Reuters

sa), Nsofwa (jogo-treino em Israel) e Nazareno (terceira divisão equatoriana). A maior exigência física do futebol e de outros esportes também não pode ser ignorada. Se, no passado, um jogador corria quatro quilômetros durante os 90 minutos, hoje, esse número pode ser até três vezes maior. “Antes, tudo se resolvia na habilidade. Hoje, o atleta tem de ser muito forte e resistente para agüentar a competição”, comenta Carlos Braga, médico do Santos. Isso é algo que se vê em todo o mundo, em todas as modalidades. De acordo com a Sociedade Americana de Medicina do Esporte, morrem em média 29 atletas por ano em competições, considerando todos os esportes. O número alto não significa que o esporte mate. O meio científico é quase unânime em dizer que a atividade física não mata, e sim, a doença. O exercício, no máximo, serve como gatilho para que um problema cardíaco não tratado se manifeste. Uma pessoa pode viver normalmente com uma arritmia ou sopro cardíaco, se tiver uma atividade compatível com a capacidade de seu coração. Desse modo, ganha importância a capacidade de se antecipar a eventuais sustos. Exames cuidadosos poderiam identificar doenças na maioria dos casos de jogadores que morreram em campo. “Os problemas não identificados representam menos de 5% dos casos”, comenta Raimundo Hespanha, presidente da comissão científica da Sociedade Baiana de Medicina Desportiva. Os médicos recomendam que os atletas façam uma checagem por ano. A bateria de exames mínima consiste em consulta clínica, eletrocardiograma em repouso, exames laboratoriais (verificando até doença de Chagas, no Brasil), ecocardiograma, teste ergométrico e teste ergoespirométrico. “Os atletas têm condicionamento anaeróbio brutal, e é importante investigar para saber se uma alteração é decorrente de falha ou adaptação fisiológica”, comenta Marco Aurélio Cunha, superintendente de futebol do São Paulo e médico. rt foi o passada a paraa os grandes a clubes c Essa cartilha o seguida i por muitoss deles.. Os médicos é e tem sido ê e mesmo m paraa uma equipe e p a não crêem que, pequena, a m c é algo foraa da reaalidade, pois o custo médico calculado d é de R$ 1 mil m por atleta, com a possibilidade p l de negociar g ci umaa ttroca d de exames a por o exposição oi ã de o laboratório a n mídia i (algo o que já é feito). t O do na desfibrilador b r custa cerca de d US$ 4 mil, desfi brilador com mais US$ U 1 mil m para treinamento m de u uma equipe u para a operá-lo. r

35

9/28/07 2:46:50 AM


Clubes querem evitar punições

CAUSA MORTIS

As duas coronárias levam sangue para as células cardíacas, e cada uma origina-se de um lado da aorta. No entanto, um pproblema ggenético ppode levar a uma formação ç anômala. atividade Quando d o indivíduo pratica r ati tividade comprimem-se, física, suas coronárias r comprim mem-se,, aumentando n o risco dee morte súbita súbita

36

coração 2.indd 4

Tinha 40 anos e era jogador-técnico

Robbie James (GAL) Llanelli

1998 Axel Jüptner (ALE) Carl Zeiss Jena

Morreu quando fazia testes no Al Wahda (EAU) sem autorização de seu clube

John Ikoroma (NIG) Enugu Rangers

Durante um jogo, respirava com dificuldade. Morreu no hospital

2000 Eri Irianto (INA) Persebaya

Sofreu infarto durante o clássico contra o Raja Casablanca

Youssef Benkhouja (MAR) Wydad Casablanca

O zagueiro Vidic, do Manchester United, dedica seus gols ao ex-colega de clube

Vladimir Dimitrijevic (SER) Estrela Vermelha

Algunss vírus, pprincipalmente l o da gripe, p gravidade podem m causar arritmias. a A grav avidade depende d do caso a e do tempo de de vezes, exposição ao vvírus. Muitas u veze zes, o exclusão, diagnóstico ó é ffeito por exclusã ão, o que torna m mais difícil f

Autópsia revelou que usara anabolizantes, mas em quantidade insuficiente para causar o infarto

Miocardites c t p pós-vira pós-virais ó rais

1999 Stefan Vrabioru (ROM) Astra Ploiesti

Agradecimento: Nabil Ghorayeb, especialista em cardiologia do esporte

Desmaiou em um treino e morreu em seguida. Três anos antes, defendera a Romênia na Copa

Origem anômala das coronárias

1993 Michael Klein (ROM) Bayer Uerdingen (ALE)

A doença que matou Puerta também tem origem genética. As células do coração transformam-se em gordura, diminuindo a espessura das paredes e dilatando o ventrículo direito. Causa instabilidade elétrica, e seus sintomas iniciais são tonturas e desmaios

Rompeu a aorta após chocar-se com um adversário

Displasia arritmogênica do ventrículo direito

Augusto (BRA) Boom (BEL)

Doença genética que consiste no engrossamento do miocárdio (músculo cardíaco) devido a um desarranjo miofibrilar, causando diminuição da cavidade ventricular. Esse desarranjo provoca arritmia e é responsável por 56% das mortes de atletas (incluindo Serginho, Foé e Fehér)

Desmaiou durante o jogo, saiu de campo consciente e teve infarto em seguida

Miocardiopatia hipertrófica assimétrica

1995 Almir Angwe (NIG) Julius Berger

Ventrículo direito

Conquistara o bronze olímpico em 1992

Artérias coronárias

Shamo Quaye (GAN) Umea (SUE)

Miocárdio

Tinha 16 anos

Aorta

Ezequiel Zapatosky (ARG) Aldosivi

Veja quais são as doenças cardíacas mais comuns em homens com menos de 35 anos e que, por conseqüência, mais atingem atletas

1997 Emmanuel Nwanegbo (NIG) Reutlingen (ALE)

No papel, o custo não parece alto – ainda mais se for considerado que é a vida de pessoas que está em questão. Mas as mortes súbitas não cessaram, o que deixa uma dúvida a respeito da eficiência dos meios de evitá-las. O problema é que o cenário é mais complexo do que parece. “Até a morte do Serginho, era comum que o jogador não quisesse fazer um exame cardiológico. Empresários, dirigentes e até a família também eram contra”, conta Ghorayeb. “Já pensou se um exame descobre alguma coisa, e o cara deixa de ganhar R$ 50 mil por mês?”, indaga, deixando evidente como os interesses financeiros muitas vezes se colocavam acima da saúde do atleta. Assim, muitos preferem o conforto da ignorância: melhor não saber nada e correr o risco a ter de lidar com o fim da carreira. Isso já ocorreu. Antes de morrer, Antonio Puerta havia desmaiado duas vezes durante treinos e, ainda assim, continuou jogando sem que se investigasse a fundo se tinha algum problema. Há também quem resolva enfrentar o risco. Serginho, zagueiro do São Caetano que morreu em um jogo contra o São Paulo, em 2004, sabia de seu problema (miocardiopatia hipertrófica assimétrica) e preferiu assinar um termo de responsabilidade e continuar jogando. O clube do ABC aceitou e manteve o zagueiro no elenco. Deu-se mal. A morte do jogador causou um clamor por punição, e o STJD julgou que, pelo fato de o São Caetano ter conhecimento da condição de Serginho, o jogador teria entrado em campo irregularmente. O time perdeu 24 pontos e caiu das primeiras posições para a luta contra o rebaixamento. Além disso, seu presidente e médico tiveram de responder a um processo civil. A decisão foi polêmica, pois não havia uma previsão clara na legislação esportiva brasileira a respeito de punições para o clube cujo jogador morre em campo. No caso Serginho, interpretou-se que a integridade física fazia parte da condição de jogo do atleta. “É um entendimento complicado, pois, em última análise, alguém pode argumentar u a que um m jogador d contundido t o não o tem e plenas n condições n físicas, e o clube u pode derria ser d e poderia punido. n No o entanto, t éoú único exempl x plo o concre-exemplo to que q temos, m e nos n pautamos t por por ele ainda”,, comenta m G Gustavo Vieira d de Oliv veira, advogado v Oliveira, especializado e i li ad em d di direito it eesp portivo. tiv esportivo. O caso criou c um m traum ma no futebol f brasitrauma leiro o e fez os clubes e m mudarem mu udarem a dee atitude d para fugirem i dee puniçõe ões. Poucas u semanas m depois d punições. do caso c de Sergi ginh nho, h o Paysandu a u fez uma m baSerginho,

Outubro de 2007

9/28/07 2:48:12 AM


Marcelo Ferrelli/Gazeta Press

Serginho sabia que tinha problemas cardíacos, mas decidiu correr o risco – e pagou o preço

ta. Além disso, seu clube atual, o Goiás, tem uma equipe médica preparada para atender ao atacante. Felizmente, o Goiás ainda não precisou acionar sua equipe para atender Fabrício Carvalho. Mas um procedimento de emergência já salvou a vida de Diogo, ex-Cruzeiro. Ele treinava v na Toca T da Raposaa II quando sofreu f um m infarto infarto. o Um desfi s brilador d que estava à beira do gramado m evitou v sua u morte. O volante n tevee de encerrar c a carreira, r mas continua u vivo. Trata-se T de um caso exemplar, x , pois, acima c do o futebol, o está a vida das a pessoas. o Seria r bom m se os casos de d tantos o outros t atletas tl t ttambém bém tivessem ti s terminado t mi d assim. i

Outubro de 2007

coração 2.indd 5

Sua mulher estava grávida, e o filho virou jogador profissional

Pedro Berruezo (ESP) Sevilla

Teve parada cardiorrespiratória ainda no primeiro tempo de uma partida

1973 Pavão (POR) Porto

Sua figurinha no álbum do Campeonato Peruano triplicou de valor

1975 Ángel Avilés (PER) Deportivo Junín

O estádio do Perugia recebeu seu nome em homenagem ao atacante

1977 Renato Curi (ITA) Perugia

Não participou da Copa de 1978 por problema cardíaco, mas continuou jogando e teve infarto durante treino

1980 Omar Sahnoun (FRA) Bordeaux

Sport

(BRA)

Visite o site www.trivela.com para ler uma entrevista com Pedro Berruezo, que tornou-se jogador profissional, mesmo com seu pai tendo morrido em campo antes de ele nascer.

1982 Carlos Alberto Barbosa

1985 Beto (BRA) Moto Clube

1987 Navalho (POR) Atlético

Morreu enquanto defendia a Nigéria pelas eliminatórias da Copa de 1990

1989 Samuel Okwaraji (NIG) Ulm (ALE)

João Pedro (BRA) Sport

Sofria de doença cardíaca rara

1990 Dave Longhurst (ING) York

Teve infarto após defender pênalti com o peito

1992 Vicente Vásquez (ARG) Chacarita Garuhapé

Stefano Gessa (ITA) Carbonia Mineraria

teria de exames em seus jogadores, e foi identificada uma miocardiopatia em Bebeto Campos. O clube imediatamente afastou o volante, que foi obrigado a encerrar a carreira por não encontrar trabalho. O próprio atleta admite que, se tivesse a opção, assinaria um termo de responsabilidade paraa seguir jogando. jogando d “Eu Eu fi fiquei o ee, se pudesse u as quei arrasado pudesse, assumiria i o risco”, i revela. e “Infelizmente, I m n não dependia mais m de m mim isso, o porque u nenhum u clube b estava v disposto o a aceic tar u um jogador a com m problema l cardíaco”. a ”. i p a viveu Fabrício F o Carvalho. l a e teHistória parecida O atacante ve uma m arritmia itt i constatada t t d quando d estava t v no Sã ã C ta São Caetano e parou r de jjogar. U Um ano d depois, novos eexames identifi ficaram uma melhora, m a o o gramados a m e o jogador voltou aos – mas segue u com ccuidados o especiais. c “Tenho Te acompanhamento c n t a cadaa três meses e e tive i contato t com m um psicólogo”, o comenm

37

9/28/07 2:47:43 AM


Fernando Pilatos/Gazeta Press

NORDESTE por Dassler Marques

O goleiro Renê, do América-RN, repete um gesto freqüente: pegar a bola no fundo das redes

O problema não é só

dinheiro norte_nordeste.indd 2

Clubes do Nordeste aalegam dificuldades financeiras, mas h há uma série de ooutros fatores que eexplicam a constante ppresença nas últimas posições da Série A

9/28/07 2:51:39 AM


situação ficou comum nos últimos anos. Desesperados, clubes do Nordeste do país mudam várias vezes de estratégia no meio do Campeonato Brasileiro, tentando evitar o pior. Mas o resultado, no final, tem sido quase sempre o mesmo: rebaixamento. Desde o início da disputa do Brasileirão por pontos corridos, cinco das sete participações de equipes dessa região terminaram com queda. Na atual temporada, Náutico e América-RN têm se mantido sempre entre os últimos. O Sport aparece um pouco melhor, mas também já freqüentou a zona da degola. Até aqui, Náutico e América-RN repetem os mesmos erros vistos em outros clubes. Ambos trocaram de técnico antes mesmo de completar metade do primeiro turno no Brasileirão, montam e desmontam seus elencos e apostam em jogadores de qualidade duvidosa. Só para exemplificar: até o fim do primeiro turno, o Timbu havia utilizado 36 jogadores diferentes, enquanto o Mecão contabilizava 37. São números alarmantes, se considerarmos que o Atlético-MG, por exemplo, escalou apenas 31.

A

Elenco, base e estrutura Uma das causas cruciais para o recorrente fracasso dos clubes do Nordeste na primeira divisão é a formação dos elencos. Se, na Série B, é possível concorrer com outros times pelos melhores atletas, na primeira divisão isso é quase impensável. “O grande problema é que se insiste em pegar jogadores de qualquer maneira aqui do Sul. E, geralmente, contratam os que já vêm no bagaço. Quando chegam ao Nordeste, são tratados como grandes ídolos, como esperança”, aponta Estevam Soares, técnico que esteve no América-RN em 2007, antes do Campeonato Brasileiro.

Sem estrutura, resultados, nem condições para bancar grandes salários, a saída natural seria apostar no trabalho de base. Foi formando jogadores que Bahia e Vitória chegaram a finais de Brasileirão, em 1988 e 1993, respectivamente. No entanto, hoje, dentre os 36 jogadores utilizados pelo Náutico no primeiro turno, só três reservas – Odilon, Breno e Rodolpho – foram revelados pelo clube. No AméricaRN, de 37 atletas, apenas Souza e Joelan começaram a carreira lá. No Sport, só o meia Everton, entre as escolhas habituais de Geninho, “brotou” na Ilha do Retiro. “As estruturas de base são muito fracas, sem dúvida”, constata Homero Lacerda, diretor de futebol do Sport, que aponta o Vitória como uma exceção na região. Giba, ex-treinador do clube pernambucano, e com passagem pelo Santa Cruz em 2006, enxerga o problema de maneira parecida. “Um time forte começa desde as categorias de base. É lá onde você seleciona jogadores para poder ter sustentação. Eu não tive esse respaldo”. Outra evidência do descuido com a base pode ser encontrada na Seleção Brasileira. Entre os 50 jogadores convocados no primeiro ano da era Dunga, só dois foram formados no Nordeste: o lateral Daniel Alves (Bahia) e o volante Dudu Cearense (Vitória). Na Copa de 1998, eram três os jogadores da região, entre os 22 que compunham o elenco: Rivaldo (Santa Cruz), Dida (Vitória) e Bebeto (Vitória). Homero Lacerda, aliás, admite que falta competência por partes dos dirigentes. Além disso, acredita que o Sport esteja um pouco à frente dos demais, opinião compartilhada por Estevam Soares. Ainda assim, o Leão da Ilha esteve seis temporadas longe da primeira divisão.

No Brasileirão dos pontos corridos, cinco das sete participações de clubes nordestinos acabaram em rebaixamento Politicagem Outro problema importante é a instabilidade política de times como Bahia e Santa Cruz, o que causa problemas que afetam diretamente as equipes. Pode-se apontar, por exemplo, os atrasos de salários no Tricolor baiano, às vésperas da infeliz campanha na reta final da Série C de 2006. “São duas equipes pessimamente organizadas”, opina Homero, que afirma que, se um rival local não vai bem, todos saem perdendo. Usar os clubes para alcançar objetivos políticos pessoais é outra prática habitual na região. Ainda que seja uma situação que também ocorre em outras partes do país, ela é mais freqüente no Nordeste. No Ceará, por exemplo, o presidente Eugênio Rabelo e o presidente do conselho, André Figueiredo, travaram uma ferrenha batalha pelos votos dos torcedores do clube, nas últimas eleições para deputado – e Eugênio foi eleito. Muita gente queixa-se de que o cartola não tem como conciliar as duas funções, e o clube está à deriva. A fraca campanha do time na Série B dá sustentação às críticas. O ex-presidente do Santa Cruz, Zé Neves, tem em Pernambuco um currículo grande na política. Foi vereador mais de uma

O NORDESTE NAS COMPETIÇÕES NACIONAIS Desempenho dos times da região nos últimos seis anos Ano

Quem caiu

Quem ficou

Quem subiu na Série B

Melhor campanha na Copa do Brasil

2001

Sport e Santa Cruz

Vitória e Bahia

-

Fortaleza (quartas)

2002

-

Bahia e Vitória

Fortaleza

Bahia (quartas)

2003

Fortaleza e Bahia

Vitória

-

Sport (semifinalista)

2004

Vitória

-

Fortaleza

Vitória (semifinalista)

2005

-

Fortaleza

Santa Cruz

Ceará (semifinalista)

2006

Fortaleza e Santa Cruz

-

América-RN, Sport e Náutico

Vitória, Náutico e Fortaleza (oitavas)

Outubro de 2007

norte_nordeste.indd 3

39

9/28/07 2:50:58 AM


EXEMPLOS DE ÊXODO

Revelado por

Onde joga hoje

Abuda

São Luís-MA

Corinthians

Vasco

Aloísio

Atalaia-AL

Flamengo

São Paulo

Carlinhos

Vitória da Conquista-BA

Santos

Santos

Édson

Itaquitinga-PE

Caxias

Figueirense

Guilherme

Imperatriz-MA

Cruzeiro

Cruzeiro

Marcelo Oliveira

Salvador-BA

Corinthians

Corinthians

Morais

Maceió-AL

Vasco

Vasco

Pinga

Aracati-CE

Brasília

Internacional

Romeu

Itamaraju-BA

Fluminense

Fluminense

Xaves

Balsas-MA

Paraná

Atlético-MG

com

Nascido em

vez e tem a imagem ligada ao clube. O rival Sport também tem ligações políticas: Luciano Bivar, ex-presidente do clube e irmão de Mílton, atual mandatário, foi candidato à presidência do Brasil, em 2006.

Estaduais e regionais Os resultados dos Estaduais também ajudam a confundir os times da região. É importante discernir títulos e “tragédias” do que realmente pode significar um bem ou mal. O América-RN, por exemplo, fazia uma campanha razoável até o fim do Potiguar. Estevam Soares construía uma base regular, composta por jogadores experientes trazidos no início do ano. A receita era parecida com a proposta por Gallo no Sport, campeão pernambucano. Mesmo indo bem – o clube teve o segundo melhor aproveitamento do país em competições estaduais –, Estevam foi demitido do América-RN, após uma trágica goleada na final, contra o ABC. O elenco foi quase

40

norte_nordeste.indd 4

arde Bern Jeffe

Daniel Felicia

rson

no/Gazeta Pre

s/Vip

ss

Jogador

m

Jogadores nascidos no Nordeste revelados por clubes de outras regiões

que todo desfeito, dando início a uma revolução às vésperas da competição nacional, na qual o Mecão não atuava desde 1998. “Quando cheguei ao América, era necessário fazer uma série de reformas, como no Centro de Treinamento. A própria comissão era deficiente, não tínhamos muito profissionais, como fisiologista, por exemplo. Até a alimentação era difícil”, admitiu Soares, dando mostras do quão são deficientes em estrutura boa parte dos clubes da região. Segundo os dirigentes, o fim do Nordestão (torneio regional que reunia representantes de seis Estados, extinto em 2003 – mas que pode retornar ano que vem) prejudicou muito os clubes, financeiramente, porque os Estaduais não são rentáveis. No entanto, culpar apenas o fim do torneio pela decadência dos times nordestinos – argumentação bastante comum – é simplista. Equipes como Goiás, Paraná e Figueirense disputam Estaduais deficitários e têm torcidas menores que as dos grandes de Recife e Salvador.

Mesmo assim, têm mostrado mais condições para consolidarem-se na elite nacional. Em resumo: a falta de um torneio rentável nos primeiros meses do ano atrapalha bastante, mas não justifica tudo. Até porque surgiram equipes fortes no Nordeste quando não existia o campeonato regional, e a decadência atual começou a se manifestar em 2001, quando Santa Cruz e Sport foram rebaixados, com o Nordestão no auge. É necessário criar, com urgência, novas ferramentas de trabalho e uma mentalidade mais profissional, para que os clubes do Nordeste voltem a apresentar times competitivos e a revelar talentos. Se a situação atual se mantiver, não é difícil imaginar que, em poucos anos, tenhamos uma Série A sem nenhum time dessa região. Visite o site www.trivela.com para ler uma entrevista com Bobô, ex-astro do Bahia e atual diretor da Sudesb (Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia), sobre a fase ruim dos clubes do Nordeste.

Outubro de 2007

9/28/07 2:51:49 AM


anuncios.indd 3

9/26/07 1:24:31 PM


COPA

’14

PARTE 5: Financiamento

Na dúvida, o governo

paga a

conta

O orçamento da Copa de 2014 ainda não foi divulgado, mas já se imagina que boa parte da conta vá para o governo – até por falta de opções por Ubiratan Leal

A

árida província sul-africana de Cabo Setentrional é conhecida por seus vinhos e minas de diamantes. Ainda assim, está entre as regiões mais pobres da África do Sul, com poucos habitantes e sem acesso a serviços de grandes centros urbanos. Para melhorar a condição de vida da população local, o governo do país criou um programa para a construção de dois hospitais na província. Mas os habitantes de Cabo Setentrional terão de esperar. As obras foram adiadas porque a verba necessária teve outro destino: os estádios que receberão a Copa do Mundo de 2010. A história – verdadeira – sintetiza o medo de parte da opinião pública brasileira em relação à possibilidade de o Brasil receber o Mundial de futebol em

42

copa 2014.indd 2

2014. Como a África do Sul, o Brasil é um país com muitas desigualdades sócio-econômicas e defasagem em infraestrutura e políticas sociais. Assim, há necessidades muito mais prementes que organizar um evento esportivo. O uso do dinheiro público na competição é visto como algo errado, mas é bom o brasileiro preparar-se para chiar. Tudo leva a crer que o governo terá de botar a mão no bolso para bancar a Copa do Mundo. Oficialmente, o Comitê de Candidatura afirma que boa parte dos investimentos do Mundial viria da iniciativa privada. De fato, alguns setores têm características que facilitam a participação de empresas. As telecomunicações poderiam ficar com companhias que já trabalham no setor. Edifícios que fossem construídos

R$ 3,7 bilhões Custo de organização dos Jogos Pan-Americanos de 2007, no Rio de Janeiro. O valor final foi quase nove vezes maior que os R$ 414 milhões divulgados pelo Co-Rio durante a candidatura da capital fluminense – como centros de imprensa – poderiam ser repassados a incorporadores que explorariam o espaço após a Copa. O Estado participaria apenas como indutor e facilitador das ações. O governo faz coro com essa possibilidade. “O projeto de candidatura está todo sustentado

Outubro de 2007

9/28/07 2:52:57 AM


Financiamento ciente para pagar o custo de suas cidades na Copa. Belo Horizonte e Porto Alegre ficam atrás, mas pode-se admitir essa possibilidade. Todas as outras cidades ainda contam com economias calcadas demais no Estado e não têm como viabilizar tantos investimentos privados”, analisa Roy Martelanc, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP especializado em gestão de recursos públicos. Para ele, o dinheiro investido para a Copa nessas cidades viria da União, pois os governos estaduais também vivem com dificuldades.

Pan, um exemplo negativo O histórico recente confirma a hipótese de gastos bancados pelo governo. O melhor parâmetro para projetar a organiza-

ção de uma eventual Copa do Mundo é o Pan-Americano de 2007, disputado no Rio de Janeiro. No caso, a promessa inicial era de gastos de R$ 414 milhões, com apenas R$ 140 milhões (33,8%) saindo dos cofres da União e a possibilidade de parte dos investimentos seres feitos pela iniciativa privada. No final, o custo foi de R$ 3,7 bilhões e, para o evento ser viabilizado, a participação federal subiu para 48,7% - os outros gastos vieram dos cofres da prefeitura e do governo do Rio de Janeiro. Aliás, o Pan foi uma aula de tudo o que o Brasil não deve fazer no gerenciamento de recursos para a organização de grandes eventos. A previsão inicial foi irreal, melhorias na infra-estrutura que proporcionariam benefícios permanentes à população foram deixadas de lado, e os Outubro de 2007

copa 2014.indd 3

43

COPA’14

pela iniciativa privada, algo em que aposto pela visibilidade que tem o futebol”, afirma Orlando Silva Júnior, ministro do esporte. Ainda assim, ele reconhece que o poder público terá de gastar uma parte, “em infra-estrutura e serviços urbanos”. Em teoria, parece ter lógica. Mas uma avaliação mais cuidadosa indica um caminho bastante diferente. Das 18 cidades candidatas a receber jogos, apenas uma, São Paulo, afirmou que não usará dinheiro público especificamente para a Copa. No caso, o Estádio do Morumbi é privado, e as obras de infra-estrutura urbana já estão previstas no orçamento, com ou sem Copa. Essa realidade não surpreende. “Apenas São Paulo e, em menor grau, Rio de Janeiro têm setores privados fortes o sufi-

9/28/07 2:53:03 AM


Vanderlei Almeida/AFP

Financiamento

modelos que atrairiam investidores privados não foram definidos com a antecedência necessária. Um cenário como esse faz com que os custos caiam nas costas do poder público, que, na emergência, faz as contratações sem licitação (o que também abre a possibilidade de irregularidades). Para evitar constrangimentos ou pressão da opinião pública, o Comitê de Candidatura ainda não anunciou uma previsão de custos para a Copa do Mundo de 2014. O governo também diz que não tem noção do quanto deve gastar no Mundial, mas chama a atenção o fato de dizer que espera despesas maiores que as dos Jogos Pan-Americanos. “Se nós gastamos isso para fazer o Pan, imaginem em uma Copa, que vai utilizar vários estádios”, afirmou o presidente Luis Inácio Lula da Silva, em junho, pouco antes do Pan. A sensação que fica é que o governo não tem completa noção dos custos diretos e indiretos da organização de um Mundial (veja quadro) ou, então, dispõe-se a encará-los sem restrições. Outra possibilidade aventada é buscar ajuda da iniciativa privada. “Seguramente, alguns ítens de infra-estrutura da Copa serão objetos de PPPs (parcerias público-privadas), em que o setor privado pode explorar alguns serviços”, afirma Orlando Silva Júnior. No entanto, as PPPs já foram criadas, e poucas foram as obras realizadas com esse modelo. O problema seria a falta de segurança de quem coloca o dinheiro nesses projetos, devido à falta de garantias governamentais. “O investidor não confia no Estado para pagar algo que vai durar 30 anos, até porque pode mudar o

Delegação da Fifa, durante apresentação da candidatura brasileira para

Custos ocultos O cálculo dos gastos de uma Copa do Mundo é mais complexa do que parece. Não basta bancar obras em estádios e estrutura das

COPA’14

Estádios

copa 2014.indd 4

Para 2014, muitas cidades prometem buscar investidores privados para os estádios, mas quase todos os que estão no páreo são públicos e devem ter modernização custeada por governos estaduais.

44

Infraestrutura das cidades Há uma quase unanimidade na avaliação de que as melhorias viárias, de transporte público e infraestrutura de turismo, entre outras, serão pagas pelo governo. Como a população se beneficia diretamente, não há muita contestação sobre este item

Infraestrutura de comunicação A iniciativa privada poderia investir em instalações de mídia, telecomunicações e transmissão de dados, pensando em aproveitamento no futuro. Para isso, é preciso criar um modelo para viabilizar a participação de investidores

Organização Cerimônias oficiais (como sorteio dos grupos), Copa das Confederações, divulgação (no Brasil e no exterior) e participação de convidados VIP, entre outros gastos, são parte importante do orçamento, ainda que menos representativa do que as obras. Se o acordo para receber a Copa não for cumprido, o país tem de indenizar a Fifa

Outubro de 2007

9/28/07 2:53:07 AM


Nível de governo Federal Estadual Municipal

receber a Copa, no Maracanã: a conta deverá ficar com o governo

cidades-sede. Várias medidas representam custos, mesmo que difíceis de medir

Renúncia fiscal A Fifa exige que o governo do país da Copa aceite uma série de condições, como isenção de taxas de importação e exportação de mercadorias ligadas à realização da competição e da entidade em si

Perda de autonomia O país-sede tem de permitir a livre entrada e saída de moeda estrangeira e aceitar que qualquer disputa judicial seja levada para a Europa. É um item difícil de medir financeiramente, mas que pode ter considerável impacto indireto

Oferecer garantias Ao comprometerse a cobrir qualquer buraco financeiro da organização da Copa, o governo do país-sede fica com o risco de ter de pagar uma conta enorme em cima da hora – e um gasto não planejado sempre tem custo mais alto que um planejado

Valor (R$ bilhões)

1,8 0,5 1,4

governo e aquele projeto ser deixado de lado”, comenta Martelanc, da FEA/USP. Mesmo em estádios de futebol, em que o modelo de exploração privada seria mais claro, o governo admite que terá de desembolsar alguns milhões. A reforma do Mineirão, por exemplo, foi inicialmente apresentada como um projeto com base em investimento privado. Hoje, o governo mineiro diz que realiza um estudo para apresentar a potenciais sócios, seja na forma de PPP, concessão ou sociedade para fins específicos. Se não der certo, terá que bancar do próprio bolso a obra. Tudo isso poderia, porém, ser feito sem que o Estado precisasse gastar. Bastaria que os clubes dessem suporte aos projetos – algo em que nem o governo acredita. No caso do Mineirão, fica a dúvida sobre uma eventual participação do Cruzeiro, que tem pretensão de construir um estádio próprio. “O Mineirão é viável com o Atlético-MG sozinho, como outros estádios no Brasil, que vivem com apenas um usuário. Só acho difícil que um time seja sócio de um investidor, porque, em geral, há pouca confiança na administração dos clubes no Brasil”, explica Gustavo Corrêa, secretário de esportes de Minas Gerais. Fica evidente que, mesmo em estádios, o governo terá de bancar a Copa do Mundo de 2014, caso ela venha ao Brasil. Em teoria, não é algo tão alarmante. A Copa de 2006 teve forte participação do governo alemão. A questão não é nem a situação social do país, mas a convicção de que houve um mínimo de cuidado e pudor para controlar os custos. Nesse aspecto, os brasileiros precisam se preocupar. Se é quase certo que a União e os Estados vão gastar fortunas, que se criem, pelo menos, mecanismos de transparência para que tais despesas sejam feitas adequadamente. Outubro de 2007

copa 2014.indd 5

% 48,7 13,5 37,8

45

Financiamento

O Comitê de Candidatura do Rio 2007 prometeu que os Jogos Pan-Americanos seriam quase todos pagos pela iniciativa privada. A previsão não se confirmou, e o poder público teve de bancar todos os custos do evento

COPA’14

Quem pagou pelo Pan

9/28/07 2:53:29 AM


Oscar recebe a bola, observado por Polozi e Geraldão: a estiagem de títulos valia para os dois lados

HISTÓRIA por Gustavo Hofman

O jejum que

não acabou Em 1977, enfrentaramse na final do Paulista o Corinthians, sem títulos há quase 23 anos, e a Ponte Preta, que nunca ganhara um troféu. O time de Campinas era melhor, mas acabou como coadjuvante

46

história.indd 2

o dia 13 de outubro de 1977, há 30 anos, o Corinthians venceu a Ponte Preta por 1 a 0, no terceiro jogo das finais do Campeonato Paulista, e acabou com um jejum de 22 anos, oito meses e seis dias sem títulos. Nessa história, naturalmente, o protagonista é o time paulistano. Mas a coadjuvante de Campinas merece menção honrosa. Com jogadores como o goleiro Carlos e o zagueiro Oscar – além de Dicá, maior ídolo da história pontepretana –, a Macaca tinha, sem dúvida, um elenco superior ao corintiano. Entre ex-jogadores, dirigentes e torcedores pontepretanos, há muita contestação em relação aos árbitros daquelas três partidas – Dulcídio Vanderlei Boschillia, no primeiro e último jogo, e Romualdo Arppi Filho, no segundo. Os entrevistados são praticamente unânimes ao afir-

N

mar que, no mínimo, os juízes cederam à enorme pressão que existia na época. “A pressão naquelas finais era muito grande. O Dulcídio já estava marcado para o terceiro jogo e foi induzido por muita gente. Ele não foi comprado, mas foi vítima de um complô para fazer o Corinthians campeão”, afirma Peri Chaib, diretor de futebol da Ponte Preta em 1977 e um dos responsáveis pela montagem daquele time. Entre os jogadores, as reclamações, passados 30 anos, ainda carregam muita mágoa. Dicá, por exemplo, viu parcialidade na famosa expulsão de Rui Rei. “Antes de darmos a saída de bola, o Dulcídio foi até o Rui e disse ‘olha aqui, neguinho, se você começar com frescura vou te botar para fora’. Aí, no lance da expulsão, ele só aproveitou o momento, porque o Rui mandou ele à merda. Faltou autocontrole

Outubro de 2007

9/28/07 2:57:01 AM


para o Rui. Todos estavam cientes de que a arbitragem podia prejudicar”.

Fatores que atrapalharam A final do Paulista de 1977 é mais lembrada pelo terceiro e decisivo jogo. Mas alguns fatos que aconteceram nas partidas anteriores foram importantes. No primeiro encontro, o time da capital venceu por 1 a 0, com um gol de Palhinha. Quatro dias depois, o Morumbi recebeu seu maior público da história. Quase 137 mil pessoas lotaram as arquibancadas, esperando comemorar o fim do jejum corintiano. Mas a vitória foi da Ponte, por 2 a 1, gols de Dicá e Rui Rei. Só que ainda nessa partida as coisas começaram a se complicar para os campineiros. No finalzinho, o lateral-esquerdo da Macaca, Odirlei, tocou a bola para a lateral, e o árbitro Romualdo Arppi Filho interpretou aquilo como catimba. O jogador estava pendurado e levou o terceiro cartão amarelo, que o deixou fora do último jogo. “O Odirlei era nosso melhor jogador, aquilo foi fundamental para perdermos o título”, lembra Dicá. “A bola saiu para a lateral, e eu dei um toquinho nela. O Romualdo saiu correndo do meio-campo e gritou: ‘já era, agora vai ficar de fora’. Ele sabia que eu não podia levar o amarelo”, lamenta Odirlei. A segunda partida ainda reservou outro momento que aumentou a pressão sobre o time do interior. Acabado o jogo, a Ponte só conseguiu deixar o Morumbi às 2:30 da madrugada, por causa da torcida corintiana. Para tumultuar mais a situação, em programas de TV naquela noite, o então presidente do Corinthians, Vicente Matheus, reclamou muito da arbitragem e disse que os jogadores pontepretanos provocaram a torcida. Pimenta nos olhos dos outros é refresco.

campo, onde os policiais tentariam proteger a integridade física deles. “Em todos os três jogos, não houve agressões à torcida da Ponte. Mesmo assim, eu estava com medo. Depois da partida, ficou tudo muito triste em Campinas, mas aquele time mostrou para o Brasil inteiro quem era a Ponte Preta”, recorda, com saudades daquele tempo, Dona Conceição, 70 anos, torcedora símbolo da Macaca que esteve presente naquela final. A questão da escolha dos estádios ainda é levantada por alguns como um fator decisivo no título. Ainda é forte a suposição de que, se houvesse sido realizado um jogo

“A pressão naquelas finais era muito grande. O Dulcídio já estava marcado para o terceiro jogo e foi induzido por muita gente” Peri Chaib, diretor da Ponte Preta em 1977

em Campinas, a história poderia ter sido diferente. “A diretoria não brigou para mandar uma partida em Campinas. O mando de campo era da federação, mas nossa diretoria concordou com o Morumbi, que daria uma renda muito maior do que o Moisés Lucarelli”, conta Dicá. “Não podíamos nem cogitar a mudança de local das finais”, afirma Peri Chaib, em defesa da diretoria. Outra curiosidade é a participação naqueles jogos de dois irmãos: o centroavante Tuta, pela Ponte Preta, e o lateral Zé Maria, pelo Corinthians. “Falam que eu amoleci quando enfrentei o Zé, mas não é isso, não. Fizemos um campeonato melhor e demos azar no final”, conta Tuta. “Depois do segundo jogo, fui pegar um documento na casa do Zé. Quando cheguei lá, ele estava trancado no quarto por causa da derrota. O Zé é muito corintiano. Mas foi engraçado, porque na sala tinha uns cinco barris de chope. A festa já estava preparada”.

A vida segue O gol de Basílio, aos 36 minutos do segundo tempo, deu o título ao Corinthians e acabou com o sonho da Ponte Preta de ficar com o inédito troféu – a equipe voltou a disputar a final em 1979 e 1981,

Carlos e Oscar, da Ponte de 77 para as Copas de 82 e 86: os campineiros tinham mais time

Passada toda confusão, chegaria o terceiro jogo. A diretoria da Ponte resolveu agir para tentar reduzir a pressão sobre os jogadores. “Ficamos numa colônia de férias perto de Itatiba, escondidos de todos. A imprensa só nos descobriu quando estávamos a caminho do Morumbi”, relembra Chaib. “Levamos cozinheiros e comida de Campinas, para não corrermos riscos em São Paulo”. Mas, ao chegar no estádio, a pressão voltou aos patamares gigantescos daquela decisão. Segundo Chaib, antes de a partida começar, o comandante da Polícia Militar foi até o vestiário da Ponte e tentou avisar os jogadores de que, caso vencessem a partida, deveriam correr para o centro do

história.indd 3

Fotos Acervo Gazeta Press

Até a polícia...

9/28/07 2:55:51 AM


mas perdeu ambas. “Alguém conhece ele com o Corinthians, por 150 mil. O Vicente Até hoje, passados 107 a Inter de Matheus queria limpar anos de sua fundação, a Macaca nunca foi camLimeira? Até hoje a barra do Rui, porque sabia que ele não tinha peã de um torneio de nos conhecem culpa alguma”, conta primeira divisão. Peri Chaib. De qualquer modo, a por causa do Passado todo esse temprópria diretoria recoCorinthians” po, os jogadores, antes nheceu o esforço e pagou rivais, hoje são amigos uma parte do bicho acerOdirlei, lateral da Ponte em 1977 e costumam encontrartado para a conquista da se freqüentemente. Até taça. “A Ponte nunca tinha chegado numa final, aquilo tudo era mesmo pela importância que teve aquela novidade. Depois, torcida e imprensa nos decisão, são comuns os encontros promovalorizaram muito. Eu não tiro o mérito do vidos pelo Corinthians. Entre os pontepreCorinthians, mas time por time a Ponte era tanos, ficou, ao menos, a satisfação de ter melhor. Só no último jogo que não fomos entrado para a história. “Lógico que ninguém quer perder, mas bem”, afirma, convicto, Dicá. Após a perda, a diretoria manteve a para a história do futebol foi muito bom base do elenco e trouxe alguns reforços tudo o que aconteceu. Talvez, se o jogo tipara a disputa do Campeonato Brasileiro. vesse sido contra Palmeiras, ou São Paulo, Entre eles, o de maior destaque foi o cen- não teria toda essa repercussão”, avalia troavante Dadá Maravilha, que chegou Dicá. Odirlei vai além. “Alguém conhece a para substituir Rui Rei, negociado com o Inter de Limeira? Até hoje nos conhecem Corinthians – fato que alimentou ainda por causa do Corinthians”. Por fim, Peri Chaib conta que, com aquela mais a polêmica sobre sua expulsão. “Depois de tudo aquilo, eu resolvi vender derrota, ganhou experiência importante pao Rui Rei. O clima para ele estava muito ra o futuro do clube campineiro. “Em 1988, pesado. Havia um empresário que sempre voltei ao futebol da Ponte. No ano seguinte, me procurava, querendo levar jogadores contratei o João Avellino para ajudar na separa o México. Acertei com ele vender gunda divisão. Resultado: ele trabalhou nos o Rui por 1 milhão de cruzeiros, mas o bastidores de todos nossos jogos, e conseRui não quis saber. Depois, negociamos guimos o acesso. Aprendemos a lição”.

OS 11 JOGADORES DA PONTE NO TERCEIRO JOGO Carlos Foi goleiro do Brasil nas Copas de 1978, 1982 e 1986. Atualmente, trabalha nas categorias de base da Ponte.

Jair Adicionou o sobrenome Picerni. Passou por muitos clubes como treinador e atualmente está no São Caetano.

Oscar Zagueiro do Brasil nas Copas de 1978, 1982 e 1986. Possui um centro de treinamentos, em Monte Sião (MG).

Polozzi Mais um que virou treinador de futebol. Atualmente, está desempregado.

Ângelo

Acervo Gazeta Press

Outro treinador. Trabalha com times de Minas Gerais.

Marco Aurélio Começou como treinador nas categorias de base da Ponte. Foi demitido recentemente do Vitória.

Dicá Apelidado de “Mestre” pela torcida pontepretana, é comentarista da TV e Rádio Bandeirantes, de Campinas.

Lúcio Hoje em dia, é motorista da Receita Federal, em Campo Grande (MS).

Rui Rei Possui uma escolinha de futebol no Rio de Janeiro, onde mora.

Wanderlei Mais um que “ganhou” sobrenome: Paiva. Treinou a Ponte pela última vez em 2006 e atualmente está no comando do Brasiliense.

Tuta Odirlei, Jair, Wanderlei, Oscar, o goleiro Carlos e Polozi; agachados: Lúcio, Dicá, Rui Rei, Marco Aurélio e Tuta. Com esse time, a Ponte Preta venceu o Corinthians por 2 a 1, na segunda partida da final do Paulista de 77

48

história.indd 4

Trabalha em Campinas, em escolinhas para crianças.

Outubro de 2007

9/28/07 2:55:58 AM


Michal Cizek/AFP

HOLANDA por Ricardo Espina

A derrocada do

guerreiro Vendas de jogadores, contratações erradas e trocas de técnicos explicam por que o Ajax não disputará a fase de grupos da Liga dos Campeões pela segunda vez seguida

o dia 29 de agosto, o Ajax passou por um dos piores vexames de sua história recente. A equipe perdeu duas vezes para o fraco Slavia Praga – atual vice-campeão tcheco – e, por isso, não disputará a fase de grupos da Liga dos Campeões. O pior é que o fiasco teve gosto de déjà vu: um ano antes, a equipe perdera para o Kobenhavn, da Dinamarca, ficando também alijada dos milhões da LC. Dois tropeços sérios como esses não podem ser classificados como simples azar. O fato é que a lembrança do título da LC em 1995 passa longe da realidade atual do Ajax. Hoje, o clube de Amsterdã assemelha-se a times brasileiros, que não conseguem segurar seus principais jogadores. Foi assim com Rosenberg, Babel, De Mul, Grygera, Perez e Sneijder, todos vendidos nos últimos dois anos. Alguns bons nomes, como Huntelaar, Maduro e Heitinga permanecem, mas, com as constantes ofertas que o clube recebe, a torcida sabe que a despedida deles também está próxima. Além de perder seus talentos com velocidade cada vez maior, a estratégia do Ajax na busca de reforços não tem sido bem-sucedida. Nesta temporada, a equipe confia em atletas na fase final da carreira, como Urzaiz, Davids e Stam – os dois últimos, retornando ao clube. Além dos veteranos, o time aposta em nomes pouco conhecidos. Embora tenha acertado em cheio com Huntelaar e Suárez, outros Títulos holandeses se revelaram um desastre, como Gabri, Rosales e Leonardo. conquistados, Nesse ponto, o PSV apresenta vantagens respectivamente, em relação ao Ajax. Embora também sopor Ajax e PSV, nos fra o assédio de equipes com maior poder últimos nove anos econômico, o time prepara-se com mais

N

2x6

O AJAX NAS ÚLTIMAS LIGAS DOS CAMPEÕES 2006/7

3ª fase preliminar Kobenhavn 1x2 Ajax Ajax 0x2 Kobenhavn

2007/8

3ª fase preliminar Ajax 0x1 Slavia Praga Slavia Praga 2x1 Ajax

inteligência para compensar suas perdas. Contratações como Koevermans, Perez (ex-Ajax), Kromkamp e Salcido, por exemplo, vêm tendo desempenho superior ao dos reforços do clube de Amsterdã. No comando das duas equipes, também se nota a diferença de estilos. O Ajax aposta em Henk Ten Cate, no cargo desde 2006. Apesar de ter trabalhado ao lado de Frank Rijkaard, no Barcelona, seu currículo como técnico principal resume-se a passagens por Go Ahead Eagles, Heracles e Vitesse. Desde a saída de Louis van Gaal, em 1997, o Ajax contou com oito treinadores. No mesmo período, o PSV teve apenas quatro. Sem a força de outras épocas, o Ajax parece fadado a ver o rival de Eindhoven abrir distância e firmar-se como o principal representante holandês na LC. Domesticamente, sofre cada vez mais pressão de equipes como o Feyenoord e o emergente AZ. Caso não volte a “acertar a mão”, o clube corre o risco de viver apenas de goleadas sobre De Graafschap, VVV ou NAC Breda. Saiba mais sobre futebol holandês em www.trivela.com/holanda

Outubro de 2007

ajax.indd 3

49

9/28/07 2:58:20 AM


CATEGORIAS DE BASE por Leonardo Bertozzi

Aprendendo

a pescar Com diferentes modelos, clubes europeus mostram que há várias maneiras eficientes de garimpar jogadores promissores hain Davis, de 9 anos, viajou mais de 17 mil quilômetros da Austrália até a Inglaterra para ingressar na academia de formação de jogadores do Manchester United. Tudo começou quando o avô do garoto, residente em Cheshire, ao sul de Manchester, enviou ao clube um DVD com jogadas de Rhain pelo Redlands United, de Brisbane. Os lances, já assistidos por cerca de 4 milhões de pessoas no YouTube, são de fato impressionantes. Chamam a atenção a facilidade com que ele se livra dos adversários e a perfeição dos passes que colocam companheiros na cara do gol. Pelo que se vê no vídeo, o convite não surpreende. Apesar de ser um caso que chama a atenção da mídia, não há nada que garanta o futuro como jogador profissional de um menino de 9 anos – por mais habilidoso que seja. Algumas dezenas deles chegam ao clube todo ano, e a maioria não sobrevive ao corte dos 12 anos, quando a equipe passa a oferecer bolsas de estudo integrais aos atletas. De qualquer forma, a história de Rhain Davis é apenas mais um exemplo de como a estrutura das categorias de base dos clubes europeus tem se tornado cada vez mais complexa. Não se trata mais de apenas treinar jovens da comunidade e adjacências, normalmente com o sonho de defender o clube do coração. Para algumas equipes, um bom trabalho de base significa reposição garantida no time profissional. Em outros, representa a oportunidade de formar jogadores que serão vendidos para assegurar a saúde financeira do clube. Os gigantes europeus que têm políticas de formação revelam vários talentos, mas o espaço é tão limitado na equipe de cima que apenas os realmente especiais chegam lá. Os demais acabam fazendo carreira em clubes de menor porte. Para você conhecer os clubes que melhor fazem esse trabalho junto à garotada e entender as diferenças entre as políticas de cada um, apresentamos a seguir oito times europeus famosos por suas categorias de base.

R

50

categoria de base.indd 2

Arsenal Raramente o Arsenal tem um garoto que começou em suas categorias de base chegando ao time principal (embora isso aconteça, como com Ashley Cole). Na maioria dos casos, o time “surrupia” jovens atletas de outros clubes. No atual elenco, mais da metade é de jogadores que chegaram com menos de 20 anos e com poucas partidas (ou nenhuma) como profissionais no currículo. Alguns, como Fabregas, vão diretamente para a equipe principal. O CT de Hertfordshire tem 10 campos de grama (usados também pelo time principal) e um sintético coberto, com um centro de imprensa, mantidos por uma equipe de 12 pessoas. Liam Brady Pennant, Bentley, Sidwell, Lupoli, Ashley Cole Bendtner, Hoyte, Gibbs, Randall Vela, Rui Fonte, Mannone, Ogogo, Dunne

Outubro de 2007

9/28/07 3:00:43 AM


O Arsenal, de Barazite, garimpa jovens talentos no mundo inteiro

Ajax Uma competente rede de olheiros espalhada pela Holanda ajuda o Ajax a atrair alguns dos melhores jovens talentos do país. Os observadores são recompensados com prêmios por negociações futuras dos jogadores que tiverem levado ao clube. Não adianta o garoto se inscrever – só integram as categorias de base jogadores convidados pelos olheiros. Entre os inscritos, há filhos de exjogadores do clube, como Daley Blind, filho de Danny Blind, e Danilo, filho do brasileiro Wamberto. Uma característica marcante é o fato de todos os times de base do Ajax seguirem a mesma estrutura tática, jogando no 4-3-3, mesma formação da equipe principal. Normalmente, o atleta identificado com um potencial fora do comum é promovido à categoria de idade superior, para enfrentar um grau de dificuldade maior. O clube oferece assistência estudantil, e os garotos com mau desempenho escolar são afastados. De Toekomst (“O Futuro”). Assim é conhecido o complexo que abriga os jovens do Ajax, a cerca de 600 metros da Amsterdam Arena. Lá fica o estádio que recebe os jogos das categorias de base. São três campos oficiais de jogo e quatro de treinamento, incluindo um com gramado artificial. Gerard Holsheimer Cruyff, Van Basten, Bergkamp, Van der Sar, Frank e Ronald de Boer, Seedorf, Kluivert Stekelenburg, Emanuelson, Heitinga, Anita, Davids, Donald, Maduro, Sarpong Vermeer, Schilder, Padt, Jongebloet, Daley Blind, Danilo

Getty Images/AFP

Atalanta

LEGENDA Designação Descobridor

Formador

Vendedor

É o time que mais formou jogadores da Série A italiana e o quinto maior da Europa, de acordo com um estudo do Centro de Formação de Jogadores de Coverciano, que levou em consideração o número de atletas revelados pelos clubes na primeira divisão de cada país. Apesar de eventualmente reforçar a base com estrangeiros, a Atalanta gaba-se por “pescar” a maioria de seus jovens na região de Bérgamo. O Centro Bortolotti, que fica em Zingonia, no caminho entre Bérgamo e Treviglio, é mundialmente famoso. Conta com seis campos e uma estrutura de cerca de 10 mil m² e custa cerca de US$ 5 milhões por ano. Mino Favini

Informações do clube Estrutura

Do elenco atual, quem é formado no clube

Scirea, Donadoni, Tacchinardi, Morfeo, Locatelli, Pelizzoli, Cristian e Damiano Zenoni, Zanchi, Zauri, Natali, Canini, Donati, Pinardi, Montolivo, Motta, Dalla Bona, Bianchi, Rossini, Pazzini, Mutarelli

Quem cuida das categorias de base

Garotos da base que vão estourar logo

Ivan, Bellini, Rivalta, Capelli, Tissone, Defendi, Doni

Formados ilustres no passado

Zanon, Moussa Koné, Tissone, Gueye, Bonaventura, Coulibaly

Outubro de 2007

categoria de base.indd 3

51

9/28/07 3:00:56 AM


David Moir/Reuters

Sobre o mexicano Giovani pesa a responsabilidade de ser o próximo Messi

Barcelona O estereótipo dá conta de que o Barcelona só é um grande clube por causa dos estrangeiros que contrata. Há um fundo de verdade, mas é inegável que o time investe bastante em categorias de base. Os Blaugranas consideram isso importante, pela identificação com a causa catalã que representam. Assim, os jogadores têm boas oportunidades no time principal, ainda que raramente sejam as estrelas. Isso atrapalha o passo final do desenvolvimento do atleta, pois os talentos acabam ofuscados e têm dificuldade para consolidarem-se em nível internacional. Nos últimos anos, vem investindo na contratação de adolescentes de outros países, como o argentino Messi e o mexicano Giovani dos Santos. Tem um estádio com capacidade para 15 mil torcedores e, na Ciudad Deportiva (também usada pela equipe principal), são cinco campos gramados, quatro de grama artificial, um ginásio, um edifício de vestiários e um para outros serviços (enfermaria, recuperação física e salas da comissão técnica) José Ramón Alexanko Guardiola, De la Peña, Ferrer, Sergi Messi, Valdés, Puyol, Iniesta, Xavi, Jorquera, Bojan, Giovani Crosas, Assalin, Falqué

52

categoria de base.indd 4

Roma A Roma investe pesado na formação de jovens, especialmente italianos. Ter talento não é sinônimo de aproveitamento garantido no time principal, mas os jogadores com potencial são emprestados pelo tempo que o clube considerar necessário para que ganhem experiência. A torcida dá grande valor aos jogadores vindos do “vivaio”, como o capitão Francesco Totti e o meia Daniele de Rossi, ambos campeões mundiais com a Itália, em 2006. O CT Fulvio Bernardini tem cinco campos que também são usados pelas divisões inferiores. Há no local, inclusive, um edifício para a concentração dos atletas. Alberto de Rossi, pai de Daniele, jogador da Roma, é o técnico do time “Primavera”. Bruno Conti Bernardini, Conti, Giannini, Peruzzi, De Sisti Totti, Curci, Zotti, Aquilani, De Rossi Freddi, Lorini, Rosi, Okaka, Corvia

EMPURRÃO DA UEFA O regulamento da Liga dos Campeões obriga, até certo ponto, os clubes a formarem jogadores. Na atual temporada, têm de constar da lista de 25 inscritos pelo menos seis atletas formados no país de cada equipe. Destes, três devem ter começado a carreira no próprio time. Esses números subirão para oito e quatro, respectivamente, na temporada 2008/9. O objetivo inicial da regra criada pela Uefa era dar maior identidade nacional aos times, diante do empecilho imposto pela União Européia sobre as limitações a estrangeiros comunitários. No entanto, essa meta só é cumprida em parte, já que por “jogador formado”, legalmente, entende-se aquele que passou três anos no clube, entre os 15 e 21 anos de idade.

Outubro de 2007

9/28/07 3:01:11 AM


Sevilla

West Ham

O brilho sevillista na base é recente. Em 2000, o clube caiu para a Segundona espanhola e estava cheio de dívidas. A solução foi investir em jovens formados em casa e em boa rede de olheiros para ter um time talentoso e com bom valor para futura venda. Assim, o Sevilla não apenas formou muitos jogadores, mas também conseguiu encontrar talentos perdidos em outros clubes e transformá-los em nomes de destaque internacional. Atualmente, a capacidade do time andaluz de descobrir bons jogadores e vendê-los por valores astronômicos é invejada em toda a Europa.

Quando você fala em “Academy of Football” na Inglaterra, está se referindo ao West Ham. Mesmo formando jogadores aos cântaros e tendo sido o que revelou a maior quantidade de jogadores da atual seleção inglesa, o West Ham só tem dois “pratasda-casa” em seu elenco. A receita gerada pelas vendas ajudou o clube a sobreviver a uma crise financeira na ocasião de seu rebaixamento, em 2003.

Na Ciudad Deportiva, que também é usada pela equipe principal, são três campos gramados, três de terra, um de grama artificial, dez vestiários, ginásio, centro médico e sala de recuperação

As categorias dividem o centro de treinamento de Saville Road com o time principal. Além dos campos oficiais, as instalações contam com um ginásio coberto com gramado sintético de 60x40m e equipamentos médicos de última geração Tony Carr Bobby Moore, Peters, Hurst, Brooking, Martin, Ince, Campbell, Rio Ferdinand, Lampard, Carrick, Defoe, Joe Cole, Johnson, Richardson Anton Ferdinand, Noble Stokes, Stech, Cohen, Reid

Pablo Blanco Sergio Ramos, Reyes, Salva, Marchena

João Moutinho é a mais recente descoberta dos Leões

Jesús Navas, Capel Alfaro, Toribio

Sporting O Sporting impressiona pela quantidade de jogadores de alto nível que saem de suas categorias de base a cada ano. Não por acaso, a Academia dos Leões é reconhecida por técnicos de ponta como uma das mais valiosas do mundo. O time consegue fazer dinheiro com seus jovens talentos, como Cristiano Ronaldo e Nani, e ainda fortalecer a equipe profissional com nomes do calibre de João Moutinho, capitão aos 21 anos, e Miguel Veloso. Escolinhas abertas no país com a franquia do clube ajudam na prospecção de jogadores. A Academia do Sporting fica em Alcochete, nos arredores de Lisboa, em um terreno de 250 mil m². São cinco campos de grama natural, com dimensões de 110x70m, e um campo sintético coberto de 60x40m. O local ainda inclui hotel-concentração e um bem aparelhado ginásio de preparação física. A estrutura costuma receber clubes profissionais em pré ou intertemporada. Hugo Cruz

Rui Patrício, Adrien Silva, Miguel Veloso, Tiago, Djaló, Bruno Pereirinha, João Moutinho, Paulo Renato Rabiu Ibrahim, Marco Matias, Diogo Rosado

categoria de base.indd 5

Jose Manuel Ribeiro/Reuters

Paulo Futre, Figo, Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma, Cristiano Ronaldo

9/28/07 3:01:26 AM


CAPITAIS DO FUTEBOL por Luciana Zambuzi

Um dérbi e um

fantasma

A bela e fria Oslo abriga o único clássico da Noruega, entre Lyn e Valerenga. Mas quem manda no futebol do país é um time de outra cidade uma primeira olhada, o clássico de Oslo, entre Lyn e Valerenga, não é muito diferente dos grandes jogos que acontecem em outras cidades. Torcedores reúnem-se, vibram, cantam e lotam estádios, para incentivar o time do coração. Apesar do perfil reservado, típico dos nórdicos, o futebol norueguês também é movido a paixão. E até permite espaço para uma superstição: um fantasma pairaria sobre o Estádio Ullevaal nos

N

dias de clássico, para garantir que o jejum do Valerenga não acabe. Esse jejum diz respeito ao clássico local. Faz 26 anos que o Valerenga não consegue vencer o Lyn, em partidas válidas pelo Campeonato Norueguês. Ele teve início no dia 29 de julho de 1981, quando o Valerenga, time de maior torcida na capital, comemorou seu aniversário com um triunfo sobre o rival, por 2 a 1. Mal sabiam os Enga-faos que ali começava um

CLUBES DE OSLO Tippenligaen (primeiro nível)

Valerenga Idrettsforening Fotball 5 Campeonatos Noruegueses 4 Copas da Noruega

Football Club Lyn Oslo 2 Campeonatos Noruegueses 8 Copas da Noruega

Adeccoligaen (segundo nível)

Skeid Fotball 1 Campeonato Norueguês 8 Copas da Noruega

Grigoris Siamidis/Reuters

Terceiro nível

oslo.indd 2

O aristocrático Lyn, de Sigurdsson, não ganha o título norueguês desde 1968

Groruddalen Ballklub Kjelsas Fotball Manglerud Star

9/28/07 3:32:10 AM


Fotos Luciana Zambuzi

O fantasma do Ullevaal: há 26 anos, o Valerenga não bate o Lyn

pesadelo que dura até hoje. Desde então, foram 11 confrontos, com cinco vitórias do Lyn e seis empates. Com esse tabu, uma expressão popular norueguesa, “det spoker” (que significa algo como “coisas feitas por fantasmas”), virou “derbyspokelset” (“fantasma do derby”). No último confronto entre os clubes, em 20 de junho, a escrita manteve-se, e 19,4 mil fanáticos acompanharam um empate sem gols. E lá estava o fantasminha, representado por uma grande bandeira levada pelos torcedores do Lyn.

Crise e alguns títulos Lyn e Valerenga realizam o único dérbi da Noruega, na primeira divisão. O Lyn é

um dos clubes mais antigos do país. Ele foi fundado em 1892, no lado leste da cidade, mais tradicional e conservador. Com equipes competitivas também no esqui, tem um caráter aristocrata, tanto que no princípio de sua história só aceitava como sócios “convidados”, e até mesmo Olav V, rei da Noruega de 1967 a 1991,

Lyn e Valerenga realizam o único dérbi da primeira divisão norueguesa

foi membro do clube. O Valerenga surgiu em 1913 e, diferentemente do rival, apareceu em uma região operária da cidade. O clube foi fundado atrás da casa de um carpinteiro, na rua Valerengagata, que fica do lado oeste, menos poderoso economicamente e com a presença de muitos imigrantes. Com o fim da II Guerra Mundial e o crescimento econômico do país, no entanto, a diferença social entre os dois clubes deixou de ser tão clara. Em termos esportivos, a superioridade do Valerenga é indiscutível. Enquanto o Lyn só foi campeão nacional duas vezes (a última em 1968), os Enga-faos ganharam cinco títulos – em 2005, tornaramOutubro de 2007

oslo.indd 3

55

9/28/07 3:33:29 AM


se o único clube a quebrar o monopólio do Rosenborg, em 15 anos. Historicamente, os times de Oslo, no entanto, ficam bem atrás de clubes de outras cidades norueguesas. Além do Rosenborg, de Trondheim, que já foi 20 vezes campeão, Frederikstad (da cidade de mesmo nome, com nove conquistas) e Viking (de Stavanger, oito vezes campeão) têm mais títulos que a dupla da capital. As magras conquistas refletem momentos de crise econômica e pouco futebol. O time do Lyn disputou apenas sete temporadas na Tippenligaen, entre 1974 e 1999. Nesse ano, Atle Brynestad, um poderoso empresário dono da rede Smart Club, comprou o clube pelo valor simbólico de 1 coroa e começou a reconstruí-lo. Se não chegou a ganhar nenhum título, a equipe pelo menos se firmou na metade de cima da tabela do campeonato. O Valerenga também viveu tempos de crise e chegou a disputar a terceira divisão. Em 1995, o clube tinha o

equivalente a € 700 mil em dívidas e só conseguiu se reerguer graças à ajuda dos torcedores e à reestruturação das finanças do clube. Além disso, em meio à crise dos anos 90, as equipes de Oslo revezaram-se na primeira divisão e só voltaram a encontrar-se na Tippenligaen em 2002, após 21 anos.

Além do clássico Oslo carrega mais de mil anos de história e, no século XIII, já era a principal cidade da Noruega. Hoje, são 783 mil habitantes, em uma das capitais mais caras e organizadas do mundo. Moderna, planejada, rodeada por bosques e pequenas ilhas, Oslo é o retrato de uma nação que tem um partido social-democrata com maioria no Parlamento e uma política que valoriza uma sociedade igualitária, assim como um sistema efetivo de seguridade social. É nesse cenário que o futebol disputa a preferência no coração das pessoas, lado a lado com esportes de inverno, como o esqui e as corridas de patins.

Oslo 783 mil habitantes

1

Noruega

5 1

2

4

52 4 3

3

Getty Images/AFP

Getty Images/AFP

ESTÁDIOS

2 1

Ullevaal

É o estádio mais importante de Oslo, abrigando os jogos dos dois principais times da cidade e os da seleção nacional. Comporta 25.572 torcedores, é moderno e auto-sustentável financeiramente. Nele, funcionam escritórios, cafés, lojas e até um supermercado. Fora, em dias de jogos, a curiosidade fica por conta das barracas que vendem salada de frutas.

3

Vallhall

Totalmente fechado, é o maior estádio “de inverno” da Europa. Nele acontece de tudo: concertos, atividades comerciais e outros esportes, como o rúgbi. O futebol fica em segundo plano.

56

oslo.indd 4

4

Nye Bislett

Fundado em 1922, é o estádio mais antigo da cidade. Foi a casa do Valerenga por 55 temporadas. Foi reconstruído em apenas 10 meses e reinaugurado em 2005. Hoje, tem capacidade para 15,4 mil espectadores. Em 2007, tem recebido partidas do Skeid, time da segunda divisão. Num jogo dessa equipe contra o Dynamo Moscou, em 1947, 32 mil pessoas estiveram presentes, no recorde do estádio.

Voldslokka

Antiga casa do Skeid, tem capacidade para apenas 1,5 mil torcedores sentados. As cadeiras retiradas do Ullevaal durante sua ampliação foram reutilizadas neste estádio. Não está qualificado para receber jogos das duas primeiras divisões.

5

Grefsenstadion

Estádio do Kjelsas, teve seu recorde de público em 1998, quando 3.295 pessoas acompanharam a partida entre o time da casa e o Kongsvinger.

Outubro de 2007

9/28/07 3:33:41 AM


Luciana Zambuzi

O QUE VISITAR ENTRE UM JOGO E OUTRO

1

Holmenkollen

Inaugurado em 1892, com 60 metros de altura, é a segunda pista de esqui mais antiga do mundo. Em 1952, quando a Noruega recebeu as Olimpíadas de inverno, cerca 120 mil pessoas acompanharam lá a disputa de saltos. Em dias mais claros, a vista da cidade e dos fiordes de Oslo impressiona.

Fotos Divulgação

Luciana Zambuzi

Os representantes de Oslo na Tippenligaen – a primeira divisão norueguesa – são apenas Lyn e Valerenga. Na Adeccoligaen, equivalente à Série B do Brasil, o Skeid é o único time da capital norueguesa. O clube, do bairro de Torshov, surgiu após a Primeira Guerra Mundial, da junção de várias equipes de futebol amador. No terceiro nível, há três equipes de Oslo – mais o Valerenga B – e, no quarto, são pelo menos 50 times da cidade. A fidelidade dos torcedores permitiu uma média de público que, apesar de não ser alta, sempre se manteve estável, até 2003. A partir desse ano, a média aumentou consideravelmente. O principal motivo foi a queda de produção do Rosenborg. A equipe, situada 500 quilômetros ao norte de Oslo, passou a ter sua hegemonia ameaçada. Assim, a liga ficou mais nivelada e viu a ascensão de novas equipes, incluindo as da capital. Além disso, a ampliação e renovação de boa parte dos estádios também foi determinante. Em 2007, a média geral está em torno de 10,5 mil torcedores. O Valerenga fica acima desse número, com mais de 14 mil pagantes em cada partida sua. Já o Lyn tem que se contentar com apenas 7 mil fãs por jogo. Esses números não chegam a impressionar. Mas, considerando-se a falta de craques no campeonato nacional e o papel de coadjuvante que o torneio ocupa, um time como o Valerenga atrair 14 mil pessoas a seu estádio (média superior à do Campeonato Brasileiro, diga-se de passagem) é um feito considerável. Mostra de que a paixão resiste ao frio e à neve.

2

Vigelands Park

O belo parque conta com 192 esculturas do artista Gustav Vigeland. Destaque para a coluna de 14 metros com figuras humanas esculpidas em um único bloco de pedra . No inverno, a neve, sem dúvida, dá um charme ao lugar.

3

Akker Brigge

O porto é um dos pontos mais bonitos da cidade. De um lado, há a Akershus Festning, uma fortaleza construída há mais de 700 anos. De outro, bares e restaurantes especializados em frutos do mar, onde, claro, encontra-se o legítimo bacalhau.

Quem leva Muitas companhias aéreas têm vôos do Brasil para Oslo, mas com conexões. As mais usadas são a KLM (tel.: 0800-231818) e a Air France (tel.: 0800-8889955). Não há pacotes turísticos específicos para Oslo, mas empresas como a ADV (www.advtour.com.br) e a Intravel (www.intravel.com.br) oferecem pacotes para a Noruega. Outras operadoras, como Em Tempo (www.emtempoturismo. com.br), Flot (www.flot.com.br) e Designer Tours (www.designertours.com.br), têm pacotes que passam por Oslo, além de visitar outras cidades da Europa.

4

Munchmuseet

Entre as 1,1 mil pinturas do acervo do museu, estão as principais obras de Edvard Munch, precursor do movimento expressionista alemão, com destaque para os originais de “O Grito” e “Madonna”.

5

Det Konglige Slott

Sede da monarquia nacional, o castelo permite visitas guiadas e tem a troca de guarda como atração. Localiza-se no início da principal rua da cidade, a Karl Johans, com muitas lojas e cafés. Outubro de 2007

oslo.indd 5

57

9/28/07 3:33:58 AM


Getty Images/AFP

ALEMANHA por Carlos Eduardo Freitas

?

Hoffen...

quem

O Hoffenheim (de branco) é bancado pelo bilionário Dietmar Hopp, que já jogou no clube

Carlos Eduardo, do Grêmio, é apenas a cere cereja eja no bolo do Hoffenheim, clube da segunda divisão que tem t ambicios planos ambiciosos lguns dias antes do fechamento da janela de transferências, chamou a atenção a venda do jovem atacante Carlos Eduardo, de 18 anos, revelado pelo Grêmio. Ele vai jogar na Alemanha – mas não por Bayern de Munique, Borussia Dortmund ou Schalke 04. Ele foi para o Hoffenheim, clube que atualmente disputa a segunda divisão do país. Indignação pela saída de mais um talento à parte, chamou a atenção o fato de uma equipe da Segundona desembolsar nada menos que € 8 milhões para tirar o destaque da Seleção sub-20 de Porto Alegre. Afinal, como pode um clube obscuro ser capaz de torrar tanto dinheiro num jogador que era cobiçado por times importantes da Europa?

A

58

hoffenheim.indd 2

A resposta atende pelo nome de Dietmar Hopp, um senhor de 67 anos que, depois de aposentado, resolveu investir no clube em que jogou, em sua juventude. Hopp é um dos cinco fundadores da SAP, uma das maiores empresas do mundo na área de software para empresas. Segundo a revista Forbes, trata-se de um dos 700 homens mais ricos do planeta, com uma fortuna avaliada em € 2,5 bilhões, em 2006.

Berlim ALEMANHA

Frankfurt

Plano de negócios Hopp sempre foi um apaixonado por esportes. Além de fazer generosas doações para universidades e centros de pesquisa, ele investe em times de hóquei no gelo, handebol e em clubes de golfe. No Hoffenheim, já fazia tempo que Hopp pu-

Hoffenheim Munique

Outubro de 2007

9/28/07 3:02:21 AM


A ESCALADA DO HOFFENHEIM

?

2ª Divisão

2º 4º

3ª Divisão

7º 13º 1º

4ª Divisão

3º 2º 5ª Divisão

nha dinheiro. Nos últimos 17 anos, o clube subiu da sétima para a segunda divisão. Nesse meio tempo, o time causou frisson na Copa da Alemanha de 2003/4, quando chegou às quartas-de-final, depois de eliminar Karlsruhe e Bayer Leverkusen. Mais recentemente, quando se aposentou, em 2006, Hopp resolveu dedicar-se ainda mais ao futebol profissional. Antes de despejar uma fortuna no time, tentou fundir os maiores clubes da região de sua cidade natal, Heidelberg, para fundar um time que se chamaria Heidelberg 06. A proposta não foi aceita pelos dirigentes de três equipes e, por isso, o investimento acabou

2007/8

2006/7

2005/6

2004/5

2003/4

2002/3

todo no Hoffenheim. Para levar o clube até a Bundesliga, o bilionário contratou o técnico Ralf Rangnick, que acabara de ser demitido do Schalke 04, e ofereceu-lhe um contrato de cinco anos. Para auxiliá-lo, trouxe Philipp Laux, treinador de goleiros da seleção feminina e campeão alemão em 2002 pelo Borussia

8 milhões

Valor alor que o Hoffenheim Hoffenhei gastou para contratar Carlos Eduardo (foto). Ao todo o clube investiu € 18,1 milhões em contratações

Mauro Vieira/RBS/Gazeta Press

2001/2

2000/1

1999/2000

1998/9

1997/8

1996/7

Dortmund, e Achim Sarstedt, que por 16 anos havia trabalhado no Freiburg como assistente técnico. Para completar, contratou Bernhard Peters, nome pedido por Jürgen Klinsmann para o cargo de coordenador técnico do Nationalelf às vésperas da Copa do Mundo. Peters chega para desenvolver as categorias de base do clube. “Por conta de sua experiência no meio financeiro e de suas qualidades como administrador e investidor, muitos especialistas aqui na Alemanha acreditam que Hopp tem totais condições de fazer seu plano vingar”, conta Thomas Roth, jornalista da revista alemã Kicker que acompanha o Hoffenheim. Ainda em 2006, o clube iniciou os planos para construir um novo estádio. Afinal, para uma equipe com tamanhas pretensões, jogar no Dietmar-Hopp-Stadion, com capacidade para 6.350 espectadores, é pouco. Até 2009, o novo Hopp-Stadion estará pronto, com 30 mil lugares.

Compras de última hora Na pré-temporada, o Hoffenheim investiu cerca de € 3,1 milhões em reforços, o maior valor da história do clube. No entanto, os primeiros resultados na segunda divisão não foram animadores: o time perdeu por 3 a 2 para o Wehen, na estréia, empatou sem gols com o Borussia Mönchengladbach e perdeu por 3 a 0 para o 1860 Munique, na terceira rodada. A situação incomodou Hopp, que correu para assegurar reforços capazes de reverter o estado do time. Em dois dias, acertou a contratação de três jogadores, gastando um total de € 15 milhões: o atacante nigeriano Chinedu Ogbuke, o brasileiro Edu (que estava no Lyn, da Noruega), o atacante senegalês Demba Ba, do Excelsior Mouscron, e, finalmente, Carlos Eduardo, do Grêmio, o mais caro de todos. A opinião geral, na Alemanha, é de que o clube deu um salto significativo de qualidade, a ponto de mudar o panorama do time na temporada. Se o Hoffenheim subirá ou não, só o tempo dirá. O certo é que há um plano para chegar à Bundesliga, e dinheiro não é o problema. O do dono do time e da grana disse que quer ver o clube na primeira divisão em dois anos e levantando o título alemão em cinco. Alguém se arrisca a duvidar? Saiba mais sobre futebol alemão em www.trivela.com/alemanha

Outubro de 2007

hoffenheim.indd 3

59

9/28/07 3:02:30 AM


Depois de um título, o torcedor também pode levar faixa de campeão para casa

CULTURA por Celso Unzelte

Colecionadores

de futebol Na Europa, os clubes faturam milhões com novos produtos para colecionadores. Por aqui, os fãs têm que correr atrás de raros artigos originais de época Boné do Ypiranga-SP: time extinto também vale

Chaveiros: clichê até na Argentina

az tempo que futebol não se limita ao “bola na rede”. Ele também pode ser camisa, flâmula, autógrafo, canhoto de ingresso, álbum de figurinhas, jogo de botão, DVD, livro, revista, filme, música, fotografia. Como comprova esta seção, futebol também é cultura – e, por extensão, parte da indústria cultural. Essa indústria, se bem administrada, pode se tornar bastante lucrativa, ainda mais quando esses itens, todos colecionáveis, são raros ou antigos. A boa notícia para os loucos por futebol – ou melhor, loucos por adquirir essa memorabilia da cultura futebolística – é que os clubes, cada vez mais, enxergam nisso uma excelente fonte de renda. A má notícia é que, por enquanto,

F

No mundo das relíquias, o vídeocassete ainda vive

60

cultura.indd 2

A emoção do rádio, em vinil isso só acontece com maior freqüência na Europa. Por lá, os clubes faturam milhões criando novos produtos para colecionadores, a partir de sua própria história. O Milan e a Adidas, por exemplo, acabam de colocar à venda a réplica da camisa do timaço de 1992/3 (aquele de Gullit, Van Basten e companhia), que pode ser encontrada até no Brasil. Do Dínamo Bucareste, da Romênia, ao Besiktas, da Turquia, não há site de time de futebol internacional que não ofereça de tudo em sua lojinha virtual. Quando o assunto são artigos originais de época, eles também não ficam atrás. Tornaram-se famosos leilões como um realizado em 2006, de um cardápio do Hotel Majestic, de Belgrado. A peça continha os autógrafos do time do Manchester

United que, no dia seguinte às assinaturas (5 de fevereiro de 1958), perderia oito de seus jogadores em um desastre aéreo. Por conta disso, acabou arrematada por £ 12 mil, o equivalente a cerca de R$ 48 mil. Mesmo na vizinha Argentina, artigos como o DVD com os gols da campanha do time campeão nacional chegam às lojas no dia seguinte à conquista. Mas, no Brasil, esse mercado de “novas relíquias” é ainda incipiente. Entre as poucas iniciativas recentes, destaca-se a venda de 433 punhados de grama do Morumbi pelo São Paulo, ao preço de R$ 100 cada, logo depois da conquista do Brasileiro do ano passado. Quanto à febre das camisas retrô, essa iniciativa muitas vezes nem parte dos clubes. Foi o que aconteceu com a Nike, idealizadora das réplicas das camisas do Flamengo campeão do mundo de 1981 e do Corinthians campeão paulista de 1977.

Cobiça por camisas Com essa falta de material novo, os colecionadores daqui voltam-se para artigos originais de

Futebol cards, febre nos anos 70

Outubro de 2007

9/28/07 3:08:08 AM


época – o que é algo muito mais caro e difícil de conseguir. Entre esses itens, os mais cobiçados são as camisas. “Esse tipo de coisa não tem preço”, define o empresário Paulo Gini, 30 anos, seguramente o maior colecionador brasileiro de camisas de times de futebol. “Paixão não tem preço. Elas valem o que a pessoa pedir”. Atualmente, Gini possui cerca de 3,1 mil camisas de mais de 500 clubes e 50 seleções diferentes. Só

ONDE EU ENCONTRO? Ingressos: “eu estava lá”

Sua tática para conseguir camisas é a mesma de qualquer colecionador de itens futebolísticos: muito garimpo e perseverança. Para encontrar produtos colecionáveis relativos a futebol, é preciso fuçar leilões na Internet (de sites como o Mercado Livre), ir a sebos, feiras de antigüidades em geral ou formar uma rede de contatos com outros colecionadores. Mas o ideal, mesmo, é dar a sorte de encontrar o material na fonte Para todos os gostos: livros alternativos – alguém, geralagradam até os mais fanáticos mente mais velho, querendo se desdo Corinthians, seu time do cora- fazer de seu acervo – antes que um ção, elas passam de 500, incluin- comerciante com o objetivo de obter do uma com o número 5 às costas, lucro na hora da revenda o faça. usada provavelmente pelo zagueiro Goiano, durante a campanha do histórico título de 1954, ano do IV Centenário de São Paulo. Sim, porque a coleção de Gini tem mais esse diferencial: são todas camisas que foram usadas algum dia por algum jogador. A mais rara, aquela que Pelé vestiu no amistoso do Brasil contra a Áustria, em sua despedida da Seleção no Morumbi, em 11 de julho de 1971, Gini doou para um leilão beneficente da Fifa, em 2004. Um felizardo que jamais se identificou acabou arrematando-a por nada menos que US$ 100 mil. Gini freqüenta jogos, tenta entrar nos vestiários, trocar as camisas usadas por outras novas, compradas em lojas. Em casos extremos, apela Publicações antigas, até para os roufontes importantes de consulta peiros dos clubes.

Se cada louco tem sua mania, cada loucura tem seu endereço – que passamos a seguir, para facilitar um pouco a vida do sofrido colecionador brasileiro de itens de futebol

Camisas A Liga Retrô, do Rio de Janeiro (Rua Visconde de Pirajá, 303, Loja 201; tel.: 21-3202-1057; www.ligaretro.com), vende réplicas de camisas inspiradas em times, jogadores e partidas inesquecíveis, como o Ajax de Cruyff ou a Itália de Paolo Rossi.

Jogos de botão Também no Rio, existe um lugar em que é possível encontrar aquele botão que falta no time que você guarda desde a infância. É a Botão e Palheta (Rua Barão de Mesquita, 526, Loja 2; tel.: 212288-2929; www.botaoepalheta.com.br). Lá, eles também compram e trocam jogos de botão novos e usados.

Livros Atualmente, a maior referência em termos de livros sobre futebol no país é a Livraria Pontes, que fica em Campinas (Rua Doutor Quirino, 1223; tel.: 19-3236-0943; www. livrariapontes.com.br). Seu proprietário, Reinaldo Pontes, viaja atrás de sebos onde encontra livros como “Os Campeões Amadores de Botucatu”. No Rio, seu equivalente é a livraria Folha Seca (Rua do Ouvidor, 37; tel.: 21-2507-7175; www. livrariafolhaseca.com.br), especializada também em música.

Jornais e revistas Quando o assunto são jornais, revistas e outros tipos de publicações antigas sobre futebol, não tem jeito: só recorrendo às bancas especializadas. Uma delas, em São Paulo, é a Banca Raridades (Av. São João, altura do nº 628). A outra, no Rio, é A Cena Muda (Rua Visconde de Pirajá, em frente ao nº 54; tel.: 21-2287-8072), que só trabalha com revistas antigas, publicadas entre 1900 e 1980.

Outubro de 2007

cultura.indd 3

61

9/28/07 3:08:26 AM


NEGÓCIOS por Carlos Eduardo Freitas

Transmissões ansm nsssm missssõe mis õeess piratas ppir pira iraat ir ata ttas as as de de jogos naa Int IInternet nte nt tern te errn er net n ne et e ganham ganh ganh ga anh an nham am cada vez ma mais m ais is ppopularidade. op ppu ula laridad ridad dade da aad dee Mas clubes ess e ligas lig lig iga gass ppreparam prepa epp o contra-ataque ccontra-ataqu co ont on ntra-at tra--aataq aqqu u o sábado, ver ao vivo Milan x Fiorentina. No domingo, pegar um Tottenham x Newcastle. Depois, no meio da semana, assistir a Alemanha x País de Gales. Se preferir jogos alternativos, pode ver Cagliari x Catania, Derby x Fulham ou Estônia x Andorra. E tudo isso totalmente de graça. Não é difícil entender por que serviços como o Sopcast ganham cada vez mais adeptos entre os fãs de futebol – apesar de serem ilegais. Esses serviços funcionam no sistema P2P (peer-to-peer), em que o usuário precisa instalar um software que permite a troca de arquivos entre internautas conectados à rede. Nas transmissões ao vivo, alguém

N

liga sua televisão e compartilha o sinal com outras pessoas em todo o planeta. Isso acontece com canais abertos, de TV por assinatura e até pay-per-view. Milhares de internautas brasileiros têm se aproveitado desses avanços tecnológicos e acompanham cada vez mais jogos no computador. A maior parte dos usuários aponta o alto custo dos pacotes de televisão a cabo e as fracas escolhas dos jogos transmitidos pelas emissoras como justificativa para usarem os “webgatos”. “É um recurso bem interessante para ver jogos que não passam na TV a cabo, seja pelo campeonato não ser transmitido aqui ou simplesmente porque quem transmite não tem interesse em mostrar uma partida em particular”, justifica o estudante Renan Falcão, que costuma assistir não só futebol, mas também Fórmula 1, basquete e hóquei na tela do computador. “Além disso, é uma maneira de economizar”, diz William Marques, que, ao contrário de Falcão, não tem TV a cabo em casa. Há ainda os casos de

espectadores que usam esses programas para assistir a futebol onde não há uma televisão disponível e não gostam de acompanhar os jogos em narrações “lance-a-lance” de outros sites. “A TV Tuga sempre salvava minhas tardes no trabalho”, brinca o cearense Lucas Oliveira. A festa é ainda maior graças à criação de canais que retransmitem jogos que passam pelo pay-per-view do Brasileirão. Alguns dos internautas que reproduzem o sinal especializam-se no compartilhamento de jogos de seus times do coração. É o caso da “TV Palestra”, que só passa jogos do Palmeiras, da “Fla SopCast”, especializada em jogos do Flamengo, e da “AJ TV”, que só mostra o São Paulo, com narração e comentários do sujeito que retransmite o sinal. O problema é que, além da ilegalidade, freqüentemente o sinal trava e, às vezes, chega a atrasos superiores a quatro minutos. Para evitar esse tipo de incômodo para seus seguidores, alguns desses canais oferecem serviços premium, em que o internauta paga uma assinatura mensal para conseguir uma melhor transmissão.

Contra-ataque Esse tipo de serviço abre um monte de portas e facilita a vida de muita gente, sem dúvida. O problema é que essas transmissões ferem diversas leis. Hoje em dia, o dinheiro proveniente da venda de direitos de transmissão corresponde a boa parte da receita dos clubes. Ou seja: se você retransmite um jogo de seu time, está tirando uma possibilidade de fazer com que ele tenha mais recursos e, quem sabe, impeça joga-

negocios.indd 2

9/28/07 3:09:55 AM


P2P TV

www.sopcast.org

www.p2ptv.rg3.net

TV Tuga

Minha TV

www.tvtuga.com (não transmite mais futebol)

www.minhatv.net

“Como detentor dos direitos de exibição de um evento no Brasil, sou lesado por serviços como o Sopcast” Carlos Maluf, advogado da ESPN Brasil

Fluxxy www.fluxxy.com (temporariamente fora do ar)

Serviços que não respeitam direitos de transmissão

Sopcast

dores de irem embora para a Ucrânia. “Como detentor dos direitos de exibição de um evento no Brasil, estou sendo lesado”, explica Carlos Maluf, advogado da ESPN Brasil. Maluf relembra que, entre outros problemas, o canal já foi notificado de que suas imagens estavam sendo retransmitidas pela TV Tuga. “Teria de entrar com uma ação de perdas e danos”, explica. O problema, como o próprio advogado diz, é que a maioria desses serviços é prestada por sites situados em países pquenos, com legislação permissiva, o que dificulta muito o rastreamento e punição da fonte. Para complicar ainda mais a vida dos canais brasileiros, a legislação por aqui ainda está atrasadíssima em relação aos avanços tecnológicos. “Até estão discutindo conteúdo de outras mídias, mas gastam muito tempo com radiodifusão, não com telefone celular, banda larga”, afirma Maluf. No exterior, além dos canais de TV, ligas importantes vêm brigando com unhas e dentes para que seus direitos sejam respeitados. É o caso da Premier League inglesa, que negocia os direitos de transmissão do Campeonato Inglês, e da alemã Deutscher Fussball-Liga. As duas têm se esforçado ao máximo para impedir que sites exibam imagens ilegais de seus campeonatos – a ponto de entrar com uma ação contra o YouTube. Lá, era possível ver lances e compactos das partidas, geralmente publicados por internautas e compartilhados por milhares de outros websites. Hoje, quem tentar assistir a algum lance dos Campeonatos Inglês ou Alemão no YouTube vai se deparar com a seguinte mensagem, em inglês: “Este vídeo foi removido por ferir os direitos de transmissão”. Essa briga lembra muito a das gravadoras contra o programa Napster, pioneiro no compartilhamento de músicas, no início dos anos 2000. A empresa, na virada do século, foi alvo de processos da indústria fonográfica, mas mesmo assim pavimentou o caminho para a popularização da troca de Outubro de 2007

negocios.indd 3

63

9/28/07 3:10:34 AM


arquivos ao redor do mundo, que, hoje, com a popularização da banda larga, assusta também a indústria cinematográfica.

Se não pode vencê-los... Tal qual fizeram algumas gravadoras, que se associaram a serviços de troca de arquivos online e hoje ganham dinheiro juntos, alguns clubes vêem nesse mercado de transmissão pela Internet uma possibilidade de angariar mais seguidores. Alguns dos mais ricos times do planeta – como Barcelona, Chelsea, Real Madrid e Bayern de Munique – associaram-se ao YouTube e têm a programação de seus canais exclusivos retransmitidas no portal. A idéia é mostrar o tipo de conteúdo que oferecem para seus assinantes e, quem sabe, atrair torcedores para o serviço completo, oferecido mediante

pagamento ou, em alguns casos, apenas um cadastro detalhado. No Brasil, nenhum clube parece próximo de fazer algum tipo de parceria como essa, mas o Grêmio já tem um projeto online. Desde julho, está no ar, em sua própria página na Internet (www.gremio.net), a Grêmio TV. “É uma iniciativa inédita, que tem por objetivo aproximar cada vez mais o clube do torcedor gremista”, explica Flávio Paiva, diretor de marketing do clube gaúcho. Projetos desse tipo devem surgir cada vez mais aqui, no Brasil. O crescente interesse em serviços ilegais, como o SopCast, mostra que há mercado. Cabe aos clubes descobrir que existe, na rede mundial de computadores, uma mina de ouro a ser explorada. Maneira melhor de acabar com a ilegalidade, não há.

NOTAS Invasão da construção civil Atlético-MG/MRV, Cruzeiro/Tenda e Juventude/Abyara. Três dos 20 clubes do Brasileirão contam com patrocínio de empresas do setor imobiliário. O fato é incomum, até porque construtoras normalmente não investem na divulgação de suas marcas, mas sim de empreendimentos. O motivo da mudança é o grande crescimento do setor. “Com o aumento do crédito imobiliário, as empresas abriram seu capital, e expor as marcas passou a ser importante para atrair investidores”, explica Eduardo Barreto, diretor comercial da MRV. Nesse cenário, o futebol ganhou importância, por permitir divulgação das empresas para todo o país.

Quem passa futebol legalmente

Globo Esporte www.globoesporte.com Lances e melhores momentos do Brasileirão

TV Terra tv.terra.com.br Transmissão ao vivo de partidas dos Campeonatos Alemão e Português, além dos melhores momentos de todos os jogos dos dois campeonatos

Uefa www.uefa.com Transmissão de jogos das competições organizadas pela entidade

64

negocios.indd 4

Faturamento recorde O Arsenal divulgou em setembro seu balanço referente à temporada 2006/7. Com faturamento de € 286,5 milhões, os Gunners assumem a condição de maior clube britânico. No mundo, ficam atrás apenas do Real Madrid. O salto nas receitas – 46% a mais que no ano anterior – deve-se principalmente à mudança para o Emirates Stadium. Em cada partida disputada lá, o Arsenal fatura em média € 4,4 milhões. No total, o time inglês teve lucro de € 73 milhões, sem contar transferências de jogadores.

Fusão Três dos quatro times profissionais de Gotemburgo – GAIS, Örgryte e Häcken – planejam uma fusão, nos mesmos moldes da feita pelo Kobenhavn, da Dinamarca. A baixa média de público no Campeonato Sueco e o aumento de custos motivaram as equipes a pensar na solução. O IFK, maior clube da cidade, rejeitou a idéia. Caso a proposta seja levada adiante, o novo clube de Gotemburgo se chamaria FC Gothia.

Outubro de 2007

9/28/07 3:10:56 AM


CADEIRA CATIVA por Régis Forti

Show da torcida

do River

Cem torcedores do Paulista foram a Buenos Aires ver sua equipe enfrentar o River Plate. Foi uma noite inesquecível, pelo espetáculo proporcionado pelos torcedores argentinos torcida do Paulista estava pensando nesse confronto desde o dia em que o clube classificou-se para a Libertadores. A possibilidade de enfrentar um dos grandes times da América do Sul era fascinante. Durante a semana que antecedeu ao encontro, pelas ruas de Buenos Aires, os argentinos mostravam-se simpáticos com os torcedores do clube brasileiro. Os fãs de times rivais, principalmente do Boca, não cansavam apoiavam e incentivavam. “O River treme com brasileiros”, diziam. A aventura começou fora do estádio. No meio de milhares de “hinchas”, como descobrir a entrada para visitantes? Apesar dos inúmeros problemas com a violência, a torcida do Paulista chegou ao local do jogo sem ameaças. O Estádio Monumental de Núñez recebia um bom público, para uma noite de quinta-feira. Apenas um clarão no meio da torcida chamava a atenção. Quando o Paulista entrou em campo, a festa foi geral, para os cerca de 100 torcedores que encararam o desafio de assistir a uma partida em Buenos Aires. Antes do jogo, a torcida do River não parava de cantar. Mas o clarão continuava lá no meio. Quando a bola rolou, os cantos ficaram ainda mais fortes e intensos. O Paulista não se intimidou. Logo no primeiro ataque, conseguiu um escanteio, dando a impressão de que o jogo seria de igual pra igual. Ledo engano. No ataque seguinte, o River Plate ameaçou, e a torcida assanhou-se. Foi quando aconteceu um momento marcante. Um som semelhante a um exército marchando ecoou pelo estádio. Dezenas de bandeiras começaram a ser tremuladas.

A

Era a torcida organizada do River chegando. Eram centenas, talvez milhares. Todos em fila indiana, com bandeiras e instrumentos, entoando seus cantos. Para onde eles se dirigiram? Exatamente para aquele clarão, seu lugar cativo, sob o olhar hipnotizado de todos no estádio, dando a impressão de que o jogo havia parado. Aquilo teve um grau de intimidação elevado, para os forasteiros. A própria torcida do River empolgouse, como se tivesse presenciado a chegada de um grande líder. Dentro de campo os argentinos tomavam conta de tudo. Num belo chute de fora da área, Santana abriu o placar. O grito de gol parecia vir de todas as partes, como num filme de terror. Pouco depois, num belo chute, Montenegro fez 2 a 0. A torcida já se esquecia do adversário. Seus cantos agora eram direcionados ao Boca Juniors, como se o maior rival estivesse presente no estádio. O Paulista, timidamente, aventurou-se no ataque. Após jogada pela esquerda, Muñoz foi derrubado na área. O próprio Muñoz dirigiu-se para a bola e, apesar das vaias ensurdecedoras, bateu firme, no canto, para explosão da pequena torcida de Jundiaí. O intervalo foi uma experiência diferente. No Brasil, a maioria da torcida aproveita o tempo para comer alguma coisa. Não na Argentina. Eles usaram o tempo para ensaiar seus cantos, sejam eles de apoio ao River Plate ou de insultos ao Boca Juniors. Aos gritos de “el que no salta es un bostero” (“aquele que não pula é um bosteiro”, nome pejorativo da torcida do Boca), o estádio inteiro pulava, numa coreografia que parecia treinada.

RIVER PLATE PAULISTA

4 1

Competição: Copa Libertadores Data: 16/março/2006 Local: Estádio Monumental de Núñez (Buenos Aires)

Voltando à partida, o segundo tempo foi morno, com o River Plate apenas administrando o resultado. Em dois contra-ataques letais, o time argentino conseguiu matar o jogo, novamente com Montenegro e, depois, Abán. A festa, que já era grande, ficou completa. A fanática torcida argentina, após o show dentro de campo, assumiu o controle da situação. Um enorme bandeirão foi aberto, desde a arquibancada superior até o nível do campo. Os cerca de 20 mil torcedores cantavam e pulavam num ritmo frenético, capaz de deixar qualquer torcida brasileira boquiaberta. O apito final encerrou a festa dentro de campo, mas o espetáculo continuava nas arquibancadas. Mesmo o resultado adverso, num jogo de sonho, não tirou o brilho de uma partida inesquecível. Em todos os aspectos.

Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!

Outubro de 2007

cativa.indd 3

65

9/28/07 3:11:36 AM


A Várzea

O bom menino Como diria o antropólogo, o bom menino não faz xixi na cama. Mas A Várzea sempre foi rebelde. Papai e Mamãe Várzea que o digam, pois sofreram com as nossas traquinagens. Vai ver por isso a gente carrega o trauma de ter participado de tão poucas festinhas de nossos colegas de classe. Também, não dava para ficar com a boca fechada ao ver um bando de pirralhos mimados com o cabelo penteado pela mãe, vestidos com terninho de marinheiro e que recusavam aqueles brigadeiros gigantescos que pediam para ser devorados. A Várzea não estava nem aí e comia uns três de uma só vez – ou então atirava alguns para sujar os pimpolhos engomadinhos. Nem adiantava querer chamar alguém para brincar. “Vou me sujar, e minha mãe vai brigar comigo”, repetiam, em um irritante mantra. Não quer refrigerante? “Minha mãe vai brigar comigo”. Que horas são? “Minha mãe vai...” Ao longo de sua longeva existência, A Várzea logo percebeu que seus instintos de “Curtindo a Vida Adoidado” pareciam um sacrilégio. Era só soltar um palavrão para alguém gritar: “Isso é feio!” Contestar alguma ordem, então, era uma heresia para um adolescente com hormônios em alta. Vamos àquele show de rock pauleira? “Não, minha mãe não deixa”. Aluguei um filme bem bacana... “Não, só depois de casar”. Parecia que o mundo de repente foi invadido por uma legião de Sandys, todas com um discurso pronto calcado nos preceitos do bom-mocismo. Parecia que elas carregavam debaixo do braço um best-seller com frases prontas para qualquer situação embaraçosa. Claro que tudo isso se reflete no futebol também. Por isso, A Várzea nem dá muita bola para aquelas entrevistas pós-jogo. E aí, o que achou do time? “O professor nos orientou bem para conquistarmos mais três pontos”. A defesa não falhou? “Foi uma boa partida, que foi decidida nos detalhes”. A torcida se revoltou com a

A charge do mês 34ª derrota seguida da equipe e ateou fogo no seu carro! “Foi um bom jogo e...” Dê sua opinião sobre a realidade política do país. “O professor...”. É, já não se fazem mais jogadores como antigamente. Pelo jeito, estão se esforçando ao máximo para colocar em prática aquilo que o professor treinou durante a semana, pois se trata de um adversário difícil e que merece nosso respeito e... Epa, isso é contagioso!

Em alta José Mourinho Vai receber € 30 milhões para ficar em casa sem fazer nada e, melhor de tudo, livrou-se de treinar o Belletti

A lorota do mês Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

66

várzea.indd 2

“Tem que ter tranqüilidade. Não podemos chamar um jogador que não tem continuidade, sendo que tem outros que brigam pela posição há mais tempo. É preciso ter critério” Dunga mostra toda sua coerência, ao explicar por que chamou Carlinhos, Cássio, Jônatas e Afonso Alves, todos com mais de 100 jogos pela Seleção e titulares absolutos em suas equipes nos últimos tempos.

A manchete do mês “Botafoguense vira ‘Xoílson’ na Argentina” (Terra)

Ronaldinho Ficou parecendo um grosso, depois do show que a Marta e a Seleção feminina deram na Copa do Mundo

Em baixa

Bomba! Os argentinos agora não sabem pronunciar a letra “J” direito! O quê? Sempre foi assim? Então, qual vai ser a próxima manchete? “Vasco vira ‘Basco’ na Argentina”?

Outubro de 2007

9/28/07 3:12:45 AM


Todas as camisas,

Brasil

Argentina

México

Peru

Colômbia

Chile

Equador

Bolívia

R$ 99,90

R$ 149,90

R$ 159,90

R$ 169,90

R$ 269,90

R$ 299,90

R$ 269,90

R$ 269,90

América-RN

Atlético-MG

Botafogo

Cruzeiro

Goiás

Grêmio

Juventude

Palmeiras

R$ 119,90

R$ 169,90

R$ 139,90

R$ 169,90

R$ 169,90

R$ 169,90

R$ 109,90

R$ 139,90

Roma

Napoli

Hannover I

Hannover II

Romário Mil I

Romário Mil II

T-Shirt Mil Gols

Vasco da Gama

R$ 169,90

R$ 169,90

R$ 169,90

R$ 169,90

R$ 169,90

R$ 169,90

R$ 79,90

R$ 139,90

Parma

Bari

Lorient

Modena

Guiné

Islândia

Luxemburgo

Derby County

R$ 229,90

R$ 229,90

R$ 229,90

R$ 229,90

R$ 229,90

R$ 229,90

R$ 229,90

R$ 229,90

Contato através de nossa Central de Atendimento pelo telefone 0800-771-0044.

anuncios.indd 2

WWW.SOFUTEBOLBRASIL.COM

DR EAMPIX.CO M.B R

todas as paixões.

9/26/07 1:25:45 PM


anuncios.indd 6

9/26/07 12:19:32 PM


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.