Trivela 21 (nov/07)

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SÃO PAULO

FÀBREGAS

Como se formou a defesa que ganhou o Brasileirão

O motor do novo Arsenal é espanhol e tem só 20 anos

E MAIS... ...Cruzeiro: um ano bom? ...Lingerie x futebol ...Os novos Pelés ...Os novos Maradonas ...Che Guevara fotógrafo

do mundo

Kaká exclusivo: “Depois de ganhar tudo, quero ganhar tudo duas vezes” capa_final.indd 1

nº 21 | nov/07 | R$ 8,90

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O melhor 10/23/07 6:33:29 PM


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ÍNDICE TÁTICA

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Em quatro anos, defesa do São Paulo passou de peneira a muralha CRUZEIRO

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Maneirando nas vendas de jogadores, Raposa faz uma boa temporada INGLATERRA

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Cesc Fàbregas, com apenas 20 anos, já é o novo ídolo do Arsenal ROMÊNIA

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Como Victor Piturca recuperou, como técnico, a coroa que lhe foi tirada por Hagi KAKÁ

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Jorge R. Jorge

Um perfil completo e uma entrevista exclusiva com o melhor jogador do mundo

COPA’14

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JOGO DO MÊS

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CURTAS

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Edição Caio Maia Tomaz R. Alves Reportagem Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Ubiratan Leal Consultoria editorial Martinez Bariani Mauro Cezar Pereira Colaboradores Ana Carolina Rodrigues Gustavo Hofman João Tiago Picoli Marcus Alves Mauro Beting Olavo Soares Rafael Martins

PENEIRA

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OPINIÃO

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TORCIDA NO DIVÃ

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GRAMA SINTÉTICA

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VIETNÃ Importador de brasileiros

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HISTÓRIA Che e o futebol

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EUROPA Nanicos do continente

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Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold

CAPITAIS Liverpool

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Diagramação e tratamento de imagem Bia Gomes

ITÁLIA Napoli

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Assinaturas

CULTURA Tatuagens

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NEGÓCIOS Lingerie x futebol

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CADEIRA CATIVA

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A VÁRZEA

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Fechamos nossa série de seis reportagens mostrando o que pode ficar de legado para o Brasil se o Mundial for bem planejado

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EDITORIAL O torcedor tem o poder Desde 2003, quando o Brasileiro passou a ser disputado em pontos corridos, há uma campanha da “emissora oficial” no sentido de que o torneio volte a ser disputado no modelo anterior, com uma fase de mata-mata. Independentemente de se escolher um ou outro modelo, tudo acontece “nas sombras”. O “narrador oficial” insinua que o atual modelo não é bom e, sutilmente, relembra as glórias do passado. Sutilmente e, quase sempre, com sofismas: como o Flamengo era campeão quando o torneio tinha mata-mata, se o Brasileiro voltar a ser assim, o Flamengo será campeão de novo. Em 2007, porém, este lobby sofreu um duro golpe. O Brasileirão bate recordes de público e de interesse — e não para oito times, e depois para quatro, mas para todas as 20 equipes envolvidas. O flamenguista, alvo maior da enganação, lota e lota de novo o Maracanã para ver um time que, até pouco tempo atrás, não brigava por nada concreto. É provável que, muito em breve, a “emissora oficial” torque de discurso – e, como de costume, adote o novo com se nunca tivesse dito nada em contrário. O torcedor impôs isso a ela. O torcedor tem o poder. Todo o poder.

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www.trivela.com

Agradecimentos André Pase Renato Freire Foto da capa Getty Images/AFP

www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 3528-8610 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3528-8612 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Vanessa Marchetti vanessa@trivela.com (11) 3528-8612 Circulação DPA Cons. Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br (11) 3935-5524 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Prol Gráfica e Editora Tiragem 30.000 exemplares

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Eduardo Martins/Agência A Tarde

JOGO DO MÊS por Marcus Alves

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Mais um drama tricolor Bahia precisou de muita superação – e ajuda do juiz – para chegar ao octogonal final da Série C lassificar-se para o octogonal final da terceira divisão não era mais do que obrigação para o Bahia. E ele a vinha cumprindo precisamente até a metade da terceira fase. Derrotas consecutivas para o Rio Branco e o ABC, entretanto, não só impediram a classificação antecipada como deixaram os baianos em situação delicada. Em menos de uma semana, o Bahia deixou a liderança para viver mais um drama. Além de vencer o Fast para seguir na competição, o Bahia precisava, também, que o Rio Branco não vencesse o já classificado ABC no Acre, onde, até então, o Estrelão mantinha um aproveitamento de 100%. Para piorar, o treinador do ABC, Ferdinando Teixeira, anunciou que pouparia os principais nomes de sua equipe. A fuga cinematográfica que a delega-

C

Nem a experiência de Nonato livrou o Bahia do sufoco

ção tricolor protagonizou no aeroporto, ao regressar de sua segunda derrota nessa fase, sugeria um clima perigoso para a partida decisiva contra o Fast. O reforço na segurança da Fonte Nova, comparável ao do clássico Ba-Vi, revelava o receio das autoridades de que as cenas proporcionadas pelos torcedores contra o Ipatinga, em 2006, se repetissem. Mesmo assim, cerca de 9 mil torcedores – menor público tricolor na Série C – foram à Fonte Nova e acompanharam um Bahia nervoso no primeiro tempo. Enquanto isso, a mais de 4 mil quilôme-

BAHIA 1x0 FAST Data: 7/outubro/2007 Local: Fonte Nova (Salvador) Árbitro: Rogério Pereira da Costa Gol: Charles (95 min) Cartões amarelos: Emerson e Nonato (Bahia); Lima, Michel Mineiro e Ricardo (Fast) Cartões vermelhos: Michel Mineiro e Leilson (Fast)

BAHIA Márcio Angonese; Carlos Alberto, Cléber Carioca, Emerson e Adilson; Marcone, Emerson Cris, Danilo Gomes (Charles) e Cléber (Inho Baiano); Moré e Nonato (Amauri). Técnico: Arturzinho

FAST Flávio Mendes; Leirson, Ney Júnior, Ricardo e Rodrigo Ítalo (Arlindo); Ronimar, Lima, Rondinelli e Michel Mineiro; Leandro Silva (Eraldo) e Marinelson (Diego Serna). Técnico: Donmarques Mendonça

tros de Salvador, o Rio Branco desperdiçava um pênalti, cobrado pelo meia Testinha – que, na partida anterior, marcara três gols. Após ser vaiado durante o intervalo, o Bahia retornou melhor, mas, ainda assim, precisou de uma boa ajuda do árbitro Rogério Pereira da Costa para alcançar a vitória. O juiz expulsou dois jogadores amazonenses de forma discutível e não marcou um pênalti escandaloso para o Fast nos acréscimos – que, aliás, duraram seis minutos, até que Charles finalmente marcasse o gol que decidiu a partida. No Acre, sem polêmicas, o Rio Branco ficou no 0 a 0 com o ABC. Alheios às falhas cometidas pela arbitragem, alguns torcedores não resistiram à classificação dramática e foram socorridos por ambulâncias. O técnico Arturzinho, por sua vez, pagou a promessa de, em caso de passagem para o octogonal final, caminhar da Fonte Nova até a Igreja do Bonfim para agradecer pela vaga. Outras “intervenções divinas” certamente serão necessárias para que o Bahia conquiste o acesso para a Série B. Novembro de 2007

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CURTAS

“Preciso de alguém com experiência em competição, não em amistosos. Não é só convocar quem está bem ou mal, é formar uma equipe” Dunga explica por que não convoca Rogério Ceni para a Seleção. Só faltou dizer, então, qual é a “experiência em competição” de Cássio, Carlinhos, Wagner, Jônatas...

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Número de derrotas seguidas de Luxemburgo em competições oficiais. A série, que durava 12 anos, foi interrompida com uma vitória por 1 a 0 sobre Belarus, no dia 13 de outubro.

“As mulheres no futebol são um flagelo. Elas não entendem que os homens precisam trabalhar, que eles têm um trabalho duro a fazer” József Szabó, técnico do Dynamo Kiev, desperta a ira das feministas ao tentar arranjar uma desculpa para o fraco desempenho do time no começo da temporada.

“Quero deixar o Chelsea. Algo está quebrado no clube” Didier Drogba mostra que a situação interna no Chelsea não ficou nada boa depois da saída de José Mourinho. Posteriormente, o jogador se disse arrependido pela declaração.

A FESTA FOI BONITA, MAS... Se Galvão Bueno cansou de dizer que a partida contra o Equador era o “jogo das famílias”, para a CBF era a grande chance de mostrar ao mundo – leia-se delegados da Fifa presentes – que o Brasil tem, sim, condições de organizar uma Copa do Mundo. A Trivela esteve lá, para ver qual a situação do Maracanã, hoje. Comparado com outros estádios brasileiros, o “Maraca” mostra-se perto de estar apto a receber partidas de um Mundial. Não dá para comparar com as luxuosas arenas alemãs da última Copa, mas, como disse o enviado do jornal espanhol Marca ao Rio de Janeiro, Javier Martin, “nem na Espanha há estádios como os da Alemanha”. A recente reforma para o Pan deixou o Maracanã com um ar mais moderno. “Nossa, isso aqui está inteiro”, exclamou um torcedor ao entrar num dos banheiros na área mais popular do estádio, onde antes ficava a Geral. Fora do estádio, entretanto, a bagunça foi a mesma de sempre. Entre os problemas visíveis aos torcedores, o de transporte foi o que

Confira no site

mais chamou a atenção (flanelinhas cobravam R$ 50 para cuidar dos carros). No que diz respeito à segurança, a revista no caminho às arquibancadas era, em muitos casos, feita na base do “olhômetro”: bastava levantar a camisa para mostrar que estava “limpo”. Para completar, falta sinalização para ajudar o torcedor a se locomover pelo estádio. Como boa parte dos mais de 80 mil presentes não eram freqüentadores assíduos do “Maraca”, foi um bom teste. Muitos tiveram de chegar até quatro horas antes do começo do jogo para garantir bons lugares. Em linhas gerais, houve falhas, mas nada que não possa ser solucionado nos próximos sete anos. Mais grave é a suspeita de superlotação, perceptível no excesso de torcedores nas escadas que dão acesso aos assentos. Com a festa protagonizada pela torcida e a goleada em campo, ficou a impressão, para quem estava lá, de que o palco da final da Copa de 2014 já está definido. Resta saber mais quanto dinheiro do contribuinte será gasto para deixar o Maracanã e os outros estádios nos trinques. [CEF]

, neste mês

6/7 e 27/28 de novembro – Liga dos Campeões ao vivo

14/novembro – Os laterais da Seleção

21/novembro – Os zagueiros da Seleção

23 e 30/novembro – As seleções da Euro-2008

26/novembro – Termômetro da Bola de Ouro

Cobertura Trivela ao vivo da quarta e da quinta rodadas da LC

Quem são os candidatos às posições de lateral na Seleção de Dunga

Quem são os candidatos às posições na zaga na Seleção de Dunga

Uma análise dos 16 times que irão à Áustria e à Suíça no ano que vem

Quais as chances de Kaká e de seus concorrentes na escolha da France Football

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Divulgação

Fifa x clubes A eterna briga entre a Fifa e os clubes de futebol por causa das seleções nacionais parece caminhar para uma solução. A entidade anunciou a formação de uma comissão para estudar a criação de um sistema de indenizações a times que ficam desfalcados de jogadores que se contundiram em partidas de seleções. Segundo a Fifa, a compensação virá dos prêmios recebidos pelas federações em torneios oficiais. A comissão será formada por Jerome Valcke (secretário-geral da Fifa), David Taylor (secretário-geral da Uefa), Joan Laporta (presidente do Barcelona) e Othman Jenayah (presidente do Étoile du Sahel, da Tunísia). Até o momento, o modelo mais provável é o do fundo de seguros criado para a Copa de 2006. Ainda haveria a possibilidade de a própria entidade e os organizadores das competições arcarem com parte do custo das apólices de seguros que os clubes fazem para os atletas. Para facilitar as negociações, a Fifa ainda prometeu criar um grupo de trabalho, comandado pelo presidente da CBF Ricardo Teixeira, para melhorar o calendário internacional, de modo a reduzir os conflitos de interesses entre clubes e seleções.

FALTA DE DISPUTA A situação no América-RN está ruim não só dentro de campo. Rebaixado para a Série B, o time passou por um momento constrangedor: a eleição para definir o novo presidente do clube foi cancelada. O motivo? Não havia nenhum candidato. Gustavo Carvalho, atual presidente, permanecerá à frente do clube até 15 de dezembro. Depois, José Rocha, presidente do conselho, assumirá o comando de forma interina. Ele terá 30 dias para convocar novas eleições – isso se houver algum interessado.

Kaká tenta não criticar seu companheiro de Milan, após o goleiro fingir que foi agredido por um torcedor na partida contra o Celtic, pela Liga dos Campeões.

VIOLÊNCIA NA ÁFRICA A partida entre Togo e Mali, pelas eliminatórias da Copa Africana de Nações, acabou mal. Os togoleses jogavam em casa, mas perderam por 2 a 0, resultado que os eliminou do torneio. A torcida, revoltada, invadiu o gramado e agrediu os visitantes: Frédéric Kanouté precisou levar pontos após sofrer um golpe de cinto nas costas; já Mamady Sidibé recebeu uma facada no braço. Com o fim das eliminatórias, foram sorteados os grupos da CAN. Veja como ficaram as chaves: Grupo A: Gana, Guiné, Namíbia e Marrocos Grupo B: Nigéria, Benin, Mali e Costa do Marfim Grupo C: Egito, Sudão, Zâmbia e Camarões Grupo D: Tunísia, Angola, África do Sul e Senegal

FIM DO RODÍZIO? A Fifa pensa em extinguir o sistema de “rodízio de confederações” para definir as sedes da Copa do Mundo. Joseph Blatter, presidente da entidade, admitiu a possibilidade, motivado principalmente pela candidatura única do Brasil para receber o torneio em 2014. “Defendo uma abertura do mercado. Não estamos em uma situação confortável na América do Sul. Temos apenas um candidato. É melhor ter três ou quatro confederações tentando receber a principal competição do mundo”, disse o dirigente, em entrevista à BBC.

AFONSO ALVES RECORDISTA

Luc Bosma/AFP

“Dida talvez não tenha se comportado bem, mas era um momento difícil”

Com os sete gols que marcou pelo Heerenveen na goleada de 9 a 0 sobre o Heracles, Afonso Alves entrou para a história do futebol holandês. O atacante fez o maior número de gols em uma única partida da Eredivisie, superando Van Basten, Cruyff, Kerkhofs e Lammers, que marcaram seis. Nos principais campeonatos europeus, fazia 55 anos que ninguém fazia sete gols em um jogo.

€ 10 mil Valor recebido pelo Trento, da quarta divisão italiana, para estampar em seu site a logomarca da Casa Bianca, um bordel austríaco.

“Não estou nem um quilo acima do peso e também não saio nem menos nem mais do que antes. Acontece que, quando o time perde, procuram algo para justificar” Ronaldinho Gaúcho nega que tenha encostado o burro na sombra, mas não explica por que, então, não está jogando bem nesta temporada.

Quantidade de árbitros que estarão presentes em cada partida do próximo Mundial de Clubes. Além do juiz principal, dos dois bandeirinhas e do quarto árbitro, haverá um juiz perto de cada um dos gols.

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“Não entendi por que não fui convocado. Domenech disse que convocaria os jogadores de acordo com seu desempenho nos clubes. Sete gols em seis jogos; não poderia fazer melhor” David Trezeguet reclama do técnico Raymond Domenech, com o qual já teve várias rusgas, por não ter sido chamado para os jogos da França contra Ilhas Faroe e Lituânia pelas eliminatórias da Euro-2008.

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VIAGEM POLÊMICA

CURIOSIDADES DA BOLA • A Justiça Desportiva anulou a partida Guanambi 10x0 Leônico, pela segunda divisão baiana. O tribunal considerou que o resultado foi armado, já que o Guanambi precisava vencer exatamente por dez gols para se classificar para a final da competição. • O que a Juventus e o Adap têm em comum? O escudo. Tanto é assim que, de acordo com o diário português Record, o time italiano pretende processar o clube paranaense por plágio. • O técnico Mario Jacquet foi demitido do Sportivo Luqueño, do Paraguai, sem disputar nenhuma partida no cargo. A diretoria ficou descontente quando o técnico exigiu a contratação de um preparador físico de sua confiança e mandou Jacquet embora.

ERRAMOS Na página 21 da última edição, incluímos o Campeonato Paulista de 2002 entre os títulos conquistados por Maldonado. Na verdade, o chileno ganhou o Supercampeonato Paulista nesse ano, já que o campeão estadual foi o Ituano. Na edição de setembro, publicamos a foto errada na nota ”Os bad boys”. O jogador eleito pelo The Times foi Andoni Goikoetxea Olaskoaga. Quem aparece na foto é Jon Andoni Goikoetxea Lasa.

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“Novos Maradonas” que não vingaram

1 Ariel Ortega Esse lembra Diego no começo e no final da carreira. Na década de 90, “El Burrito” chamava a atenção no River Plate pela habilidade e pela semelhança física com o astro. Agora, lembra Maradona pelos problemas com alcoolismo.

2 Marcelo Gallardo Mexsport

Surgiu no River Plate como substituto de Ortega e, muitos diziam, era mais habilidoso que o companheiro. Até teve algum destaque na França, onde levou o Monaco ao título nacional em 2000 e foi eleito o melhor jogador do ano. Daí a compará-lo a Don Diego... Peter M uhly/AFP

O meia Ashkan Dejagah, da seleção sub-21 da Alemanha, recusou-se a viajar com a equipe para Israel, onde enfrentaria a seleção do país pelas eliminatórias do Europeu da categoria. O jogador do Wolfsburg nasceu no Irã, que proíbe seus cidadãos de entrar em Israel. A decisão causou a revolta do Conselho Central dos Judeus na Alemanha, que exigiu a exclusão do atleta da equipe nacional. No entanto, após uma reunião entre Dejagah e o presidente da federação alemã, Theo Zwanziger, a entidade decidiu não puni-lo. “Ele nos garantiu que estava exclusivamente preocupado com o bem-estar de sua família. O jogador deixou claro que não havia razões anti-semitas”, disse o dirigente.

3 Diego Latorre Surgiu no Boca em 1987 e foi um dos primeiros a serem comparados ao craque. Recebia atenção da mídia por seu jeito de galã, e namorava a filha de Carlos Menem. Chegou a jogar com Maradona entre 1996 e 1997, quando a imprensa chamava um de “Diego bom” e o outro, o famoso, de mau. Terminou a carreira na Guatemala, em 2006.

4 Andrés D’Alessandro Os corintianos odeiam lembrar dele, mas D’Alessandro era o motor do River em 2003, ano em que os argentinos eliminaram o Timão. Quando estava em alta, preferiu ganhar mais e ir para o Wolfsburg, onde afundou. Hoje, é mais um argentino decadente no Zaragoza.

5 Pablo Aimar Nunca foi tão espetacular quanto seus contemporâneos, mas sempre foi eficiente. O estilo em nada lembra o de Maradona, mas, como o próprio disse que se tratava “de seu legítimo sucessor como melhor do mundo”, todos começaram a olhá-lo como tal.

6 Claudio Borghi Contemporâneo de Maradona, também estava na Copa de 1986. Era considerado um dos grandes talentos do país, mas, depois daquele Mundial, nunca mais voltou à seleção. Hoje, é respeitado como treinador no Colo Colo, onde ganhou três títulos seguidos.

7 Carlos Tevez Tem origem pobre, como Diego. Foi ídolo no Boca Juniors, como Diego. O estilo não lembra o do famoso camisa 10, mas a torcida e o próprio Maradona o adoram. Tem talento, mas é difícil imaginá-lo entre os maiores de todos os tempos.

8 Javier Saviola Começou no River Plate, onde esteve a oito dias de bater o recorde de mais jovem jogador a conquistar um Apertura – marca que pertence a Maradona. Foi para o Barça por uma fortuna (20 milhões de euros), mas virou refugo depois da saída de Van Gaal, em 2003. Desde então, nunca mais vestiu a mesma camisa em duas temporadas seguidas.

9 Juan Román Riquelme Com a camisa do Boca, fez mais que Maradona. Com a da seleção, entretanto, sempre amarelou – sobretudo diante do Brasil. Na Europa, aconteceu o mesmo, já que fracassou no Barça. Por pouco, não levou o Villarreal à final da Liga dos Campeões, mas... amarelou.

10 Hugo Maradona Esse carregava o sobrenome do irmão famoso e, muito por isso, tinha atenção da mídia e muito mais pressão. No embalo de Diego, foi jogar no Ascoli entre 1987 e 1988, mas foi um fracasso retumbante. Eis uma prova de que futebol não se transmite geneticamente.

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Canais ESPN. Fanáticos por futebol como você.

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PENEIRA

O Pellé italiano Nome: Graziano Pellé Nascimento: 15/junho/1985, em San Cesario de Lecce (Itália) Altura: 1,93 m Peso: 89 kg Carreira: Lecce (2002 a 2004), Catania (2005), Lecce (2005), Crotone (2006), Cesena (2007) e AZ (2007)

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gols em 38 jogos. Ainda sem marcar na Série A, o centroavante atraiu a atenção de vários clubes italianos, mas quem fez a melhor proposta foi o AZ, da Holanda, comandado por Louis van Gaal. Em 2007, foi premiado com o Troféu Piola, que homenageia o melhor atacante com até 21 anos. Graziano Pellé deve figurar na convocação italiana para a Olimpíada de Pequim, no ano que vem. Aliás, o atacante teve papel fundamental na classificação, convertendo um dos pênaltis contra Portugal, na repescagem disputada no último Europeu sub-21. [CRG]

Getty Images/AF

Itália, quem diria, também tem o seu “Pellé”. Quem carrega tão ilustre nome é um jovem nascido em San Cesario de Lecce. Não, o nome – grafado com dois “eles” mesmo – não é uma homenagem, nem ele se parece fisicamente com o ex-camisa 10 do Santos. Com 1,93 m de altura, Pellé é um atacante tipicamente de área, com uma boa colocação e frieza na hora do arremate. Mesmo alto, apresenta uma agilidade surpreendente. Nome freqüente na atual seleção sub-21 italiana, Pellé começou a carreira no Lecce, clube próximo a sua cidade natal, ao sul do país, profissionalizando-se em 2002. Empréstimos para Catania, Crotone e Cesena deram experiência ao jogador. Na última temporada, pela Série B, Pellé fez dez

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car espaço no Vitória de Guimarães. Com boas atuações na segunda divisão, Pelé chegou à seleção portuguesa sub-20, mas a troca de técnico no Vitória limitou seu espaço. ante Mesmo jogando pouco, o volan o teve lugar na seleção que foi ao oe Mundial, onde chamou a atenção cavou a transferência para a Itália, por € 2 milhões. Na Inter, Pelé poderá aprender com Patrick Vieira, a quem já foi comparado, apesar de diferenças no porte físico (o francês é 13 centímetros mais alto). A principal semelhança entre os dois é a eficiência nas jogadas de um-contra-um – e o Pelé português ainda leva vantagem nos chutes. [LB]

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pelidar de “Pelé” um jogador fisicamente semelhante ao craque brasileiro é prática antiga. Ostentar esse apelido, porém, é uma responsabilidade com a qual o português Vítor Hugo Gomes Passos parece não se importar. O volante, contratado recentemente pela Internazionale, tem uma personalidade forte, incomum para seus 20 anos de idade. Pelé começou a carreira no Salgueiros, clube que agonizava na terceira divisão. Em meio a graves dificuldades financeiras, o time disputou a temporada 2004/5 sem jogadores profissionais. Apesar do interesse do Boavista, Pelé acabou indo para o Benfica no fim da temporada, quando o Salgueiros fechou o futebol profissional. Em Lisboa, as coisas não saíram como esperado. Ele planejava jogar no time B, mas ficou confinado aos juniores. Em dezembro de 2005, foi bus-

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O Pelé português

Nome: Vítor Hugo Gomes Passos Nascimento: 14/setembro/1987, no Porto (Portugal) Altura: 1,80 m Peso: 74 kg Carreira: Salgueiros (2005), Benfica (2005), Vitória de Guimarães (2006 a 2007), Internazionale (desde 2007)

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Lua Branca

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PONTO DE BOLA por Mauro Beting

A Copa começou! E daí? O BRASIL só começou a encarar eliminatórias para Copas em 1954, quando a nossa Seleção já era amarelinha – depois da amarelada de 1950. Em 1958, o treinador que nos levou a ganhar o mundo não o conquistou: Oswaldo Brandão classificou a seleção, mas Vicente Feola trouxe o caneco. Em 1970, João Saldanha foi demitido quatro meses antes do tri, substituído por Zagallo. Em 1978, Brandão já caiu logo depois do primeiro jogo, decepcionante empate sem gols e sem futebol com a Colômbia (como em 2000, como em 2007). Cláudio Coutinho completou o serviço. Não houve nenhuma séria dificuldade para Telê, em 1982 e 1986. Notável mesmo, em 1990, só o foguete da Rosenery e a farsa de Rojas: por conta do pastelão para ficar rubro de mercúrio, o Brasil ganhou da Fifa um gol que não fez contra o Chile. Em campo, no Maracanã, foi só 1 a 0. Na estatística, o jogo acabou 2 a 0. E acabou com a carreira do goleiro chileno. A primeira derrota em eliminatórias veio em 1993, para a altitude boliviana e a covardia tática brasileira. A suada classificação só veio por obra divina, do encapetado Romário, no 2 a 0 sobre o Uruguai, no Maracanã: “Foi Deus quem chamou Romário”, disse o enviado Dele, o treinador Parreira. A lógica diria que a nossa primeira eliminatória em turno e returno (o “mais justo dos modos”, tralalá, “onde o melhor sempre vence”, blablablá) seria moleza... Tá legal: tivemos de vencer a Venezuela, em casa, no último jogo, para celebrar a classificação! Depois, o de sempre. Caneco nas mãos. Mas tivemos o dever de voltar a campo para garantir a passagem para a Alemanha. Não só chegamos lá sem sustos, como ganhamos o troféu Água de Salsicha de campeão das eliminatórias-2006.

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Agora, a mesma tabela das outras eliminatórias, as mesmas pressões, o mesmo favoritismo. Pelo visto, o mesmo treinador. A mesma base que Dunga usa desde agosto de 2006. E o mesmo longo bocejo do torcedor. Mas, claro: já começou a Copa do Mundo de 2010!!! Todos num só coração. Haja coração. E saco. Mas será mesmo que o time que começou contra a Colômbia será a equipe que estreará na África do Sul? Na estréia – para o Brasil – desse formato, em março de 2000, contra a mesma Colômbia, na mesma altitude de Bogotá, sete titulares não foram para a Copa de 2002. Nem o treinador foi. O sucessor de Luxemburgo também não. Desconvocados pela bola, pelas boladas alheias ou por novos nomes que pintaram, jogadores e treinadores mostraram que o Brasil pode fazer tudo errado. E dar tudo certo ao final. Nas eliminatórias-2002, quatro (!?) treinadores convocaram 80 (!?) jogadores para apenas 18 partidas! Tudo mal que 30 jogadores foram cortados por contusão em 20 meses de competição. Mas é muita chuteira chamada, muitos times diferentes em campo (nenhuma escalação foi repetida), 35 formações de ataque escaladas, e 61 jogadores que assinaram a súmula em apenas 18 jogos. Em 2006, só tivemos um treinador – Parreira. Ele já começou com a base penta mundial de Felipão e pouco mexeu nela. Foram apenas 49 convocados. Dos 11 titulares que estrearam brilhando em Barranquilla, na bela vitória por 2 a 1, em setembro de 2003, Dida, Cafu, Lúcio, Roberto Carlos, Gilberto Silva, Zé Roberto e Ronaldo continuaram os diletos de Parreira, na Alemanha. Kaká, que fez um golaço na Colômbia, entrando no segundo tempo, seria outro. Não ganhamos a Copa, como muito bem sabe Zidane. Mas parece que estamos aprendendo como formar uma Seleção.

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ENCHENDO O PÉ por Caio Maia

Não engulo, não TELÊ SANTANA foi o maior treinador da história do Brasil. Montou um time em 1982 que encantou o mundo e não ganhou a Copa só para provar que no futebol podem acontecer coisas inacreditáveis. Foi tachado de “pé-frio” após a Copa de 1986, rótulo que, curiosamente, não foi estendido pela mídia a Zico, que, inclusive, perdeu um pênalti decisivo na partida que eliminou o Brasil. Coisas da boa vontade da imprensa. Telê ficou com a pecha até 1992, mesmo depois de ter ganho um Brasileiro pelo São Paulo. Enquanto não levantou a taça do Mundial de Clubes, não foi “perdoado”. Alguém lembra de Telê Santana, depois de ser injustiçado durante dez anos, dizendo: “Vão ter que me engolir”? É claro que não: além de grande treinador, o mineiro era um grande homem, como poucos. Podia entender perfeitamente que suas vitórias eram também vitórias da torcida que o acompanhava. Calou os críticos só com suas conquistas. Mario Zagallo é o outro lado dessa questão. Figura lateral de vários sucessos da Seleção, nunca hesitou em chamar para si méritos que não teve. Quando venceu depois de criticado, considerou que aquele triunfo era seu, e não do país cuja Seleção comandava. Só foi engolido pelos puxa-sacos. E como são numerosos! Dunga começa sua carreira de treinador, infelizmente, seguindo o pior exemplo. Como jogador, ele foi um marcador eficiente, e só. Seria muito mais bem eternizado pela letra da música “Era Dunga”, da banda curitibana Beijo AA Força (“sou importante para o time / porque desarmo bem / um passe errado que mal tem?”), do que por levantar um troféu que nunca mereceu e que não deveria ter ganho. Jogador mediano e líder de mentirinha, diga-se, respeitado exclusivamente por ser “a voz do mestre”, a boca pela qual falava Carlos Alberto Parreira. A mesma “voz do mestre” agora guia sua carreira como treinador, que só começou pelo topo por causa disso: o “mestre” da vez sabia que, ali, tinha uma pessoa em quem podia mandar e que repetiria fielmente seu mantra. Repetiu tão fielmente que acreditou que a Seleção Brasileira não pertence ao Brasil, mas sim a um administrador mal-sucedido sobre o qual pesam diversas suspeitas de corrupção. Trata, assim, um patrimônio nacional da mesma maneira que seu patrão: como propriedade privada. Daí, é fácil entender por que acha que não precisa nem atender à imprensa com educação. O Brasil, como de costume, engole Ricardos Teixeiras e Renans Calheiros, que, diga-se, são amigos e dividem assessores. Se você quiser, engole aí. Eu não vou engolir, não.

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MARACANAZO por Mauro Cezar Pereira

A era dos “Aloísios” EM TESE, centroavantes entram em campo com uma missão primordial: fazer gols. Mas aos poucos, com novas atribuições, o antigo “camisa 9”, independentemente do número que exiba às costas, assume responsabilidades diferentes, ganha tarefas extras. Em alguns casos, colocar a bola nas redes virou algo secundário, o tal “detalhe”. Aloísio tornou-se o maior exemplo desse novo modelo. É o pivô, um cara grandão, dono de pouca técnica, que se especializa nas raras jogadas que é capaz de executar. Em geral, escora a bola para gente mais qualificada no arremate ao gol adversário. Ou, no caso específico, “cava” faltas para Rogério Ceni cobrar. Revelado pelo Flamengo e enviado como contrapeso para o Goiás quando da contratação de Lúcio “Bala” pelo time carioca, Aloísio virou estrela no organizado time do São Paulo. Há quem não consiga imaginar uma equipe sem alguém como ele. Nada contra o jogador que na Gávea ganhou o pejorativo apelido “Chulapa” – sim, o rótulo foi atribuído pelos que consideravam Serginho tosco. Mas depender de um atacante que exibe repertório tão limitado não é algo confortável. Após a goleada sobre o Náutico (5 a 0), no Morumbi, neste Campeonato Brasileiro, o atacante são-paulino quase pediu desculpas por ter arriscado um chute contra a meta adversária. Arriscou e fez um golaço. Depois disse aos repórteres, ao deixar o campo: “Resolvi chutar uminha”. Isso porque o jogo já estava decidido. “Aloísios” invertem a ordem natural das coisas, pisam o gramado imaginando que, se escorar em algumas bolas e cavar em suas faltinhas, terão cumprido seus papéis. Parecem desconhecer o óbvio, afinal, o jogador que atua nas imediações do gol adversário tem a obrigação de, pelo menos, sonhar em colocar a bola lá dentro. O mais incrível é que essa peça “fundamental” para os fãs do camisa 14 do São Paulo não é novidade alguma. Há quase um século e meio, britânicos já esticavam bolas com chutões, que eram absolutos mesmo depois de criada a regra do impedimento, em 1863. E continuaram sendo muito utilizados depois disso. Uma das alternativas ofensivas para os adeptos do velho “kick and rush” era o desvio de cabeça feito por um grandalhão, para o aproveitamento da jogada por outros atletas.

Evidentemente, esse tipo de lance tem utilidade e pode ser comprovadamente eficaz, como mostram o São Paulo e Aloísio. No entanto, o futebol registra vários times de sucesso que contavam com atacantes de estilos diferentes, fossem eles técnicos, letais nas finalizações, dribladores, velozes, cabeceadores ou tudo isso junto. O sucesso de Aloísio no melhor time do Campeonato Brasileiro nas duas últimas temporadas resume esse momento. Uma equipe bem estruturada e com jogo apoiado em sua sólida defesa é capaz de alcançar (e manter) a hegemonia sem grandes dificuldades. Mas nem por isso devemos achar que esse é o único formato eficiente, vencedor, sobretudo na terra que mais facilmente revela jogadores talentosos. E muito menos devemos fazer apologia de atacantes que têm lá suas qualidades, exceto a principal delas: talento e frieza para fazer gols.

HAT TRICK Souza foi artilheiro do Brasileiro de 2006 pelo Goiás. Contratado pelo Flamengo, cumpre bom campeonato, mas não faz gols – pelo contrário, desperdiça oportunidades, até pênalti. Suas virtudes têm sido a movimentação e boa presença nas ações ofensivas do time. É pouco.

Vágner Love tem incontáveis chances na Seleção treinada por Dunga. Os que viram algo de positivo no atacante do CSKA com a camisa amarela destacam a mobilidade, uma ou outra tabela com os talentosos jogadores que o cercam e eventuais assistências. Faltam gols.

Carentes de jovens centroavantes, Argentina e Brasil ainda dependem de Crespo e Ronaldo se quiserem alguém do ramo na área inimiga. A crise de goleadores é internacional, pelo jeito. Mas bons técnicos podem armar ataques eficientes em ambas as seleções.

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Fotos Vipcomm

TÁTICA por Ubiratan Leal

A construção de De Jean e Júlio Santos a Breno e Miranda, o São Paulo construiu, ano a ano, um esquema que oram nove jogos seguidos pelo Campeonato Brasileiro sem sofrer um golzinho sequer. Por pouco não foram mais, já que o gol que quebrou essa série, do santista Rodrigo Tabata, foi marcado no último minuto do San-São. Uma façanha que nem assusta tanto se considerado que a defesa são-paulina havia sido vazada apenas sete vezes em todo o primeiro turno. Um desempenho largamente superior a qualquer outra equipe que dispute a Série A. E que tem tudo para levar o Tricolor ao seu quinto título brasileiro. Embora o São Paulo tenha tido, nos últimos anos, competência e

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sorte para repor os principais jogadores de sua retaguarda, o que explica esse desempenho é a evolução gradual de seus padrões defensivos, desde 2003, quando a defesa era formada pelos temidos (pelos sãopaulinos) Jean e Júlio Santos. Em 2003, o São Paulo de Oswaldo de Oliveira tinha problemas crônicos na defesa. Seus defensores não inspiravam a confiança da torcida e o treinador não tinha pudor em experimentar: Gustavo Nery fez várias partidas improvisado como zagueiro, e Fábio Simplício e Júlio Baptista foram deslocados para a lateral direita em alguns momentos.

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São Paulo do Brasileirão Com três zagueiros e dois volantes versáteis, o São Paulo montou a melhor defesa do Brasil

V

V

Richarlyson

Hernanes

Z Miranda

L Breno

Z Alex Silva

G Rogério Ceni

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Miranda (esq.), Alex Silva (centro) e Breno: trio quase intransponível

uma muralha

MURALHA

permitiu que, mesmo com trocas de jogadores, sua defesa se firmasse como a melhor do Brasil A sangria defensiva só foi estancada quando Roberto Rojas assumiu a direção da equipe. Inicialmente, o chileno fez o básico: colocou três volantes, trancou o time e garantiu uma equipe mais estável, ainda que com ataque menos incisivo. Na época, surgiram os primeiros comentários a respeito de um São Paulo defensivista. De qualquer modo, o congestionamento da área assegurava um mínimo de segurança defensiva. O São Paulo, que se notabilizou por “jogar bonito”, aprendia assim que defender podia dar resultado. A própria contratação do gaúcho Cuca foi um sinal disso, e o trei-

nador aproveitou essa incipiente cultura. O São Paulo de 2004 tinha uma formação mais tradicional (4-4-2 com dois volantes), mas usou o entrosamento de figuras como Fábio Simplício, Alexandre, Fábio Santos e Lugano (reserva que atuou em várias partidas naquele ano, nas tentativas de usar 3-5-2). A defesa com três zagueiros, razoavelmente utilizada por Cuca após a queda na Libertadores, só se consolidou no Morumbi com a chegada de Leão. Lugano passou a jogar na sobra, e Fabão e Edcarlos completavam a defesa. À frente do trio, uma dupla de volantes que se

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Incertezas em 2003 Com Oswaldo de Oliveira, houve várias experiências na defesa, mas nenhuma deu certo

V

V

Adriano

Fábio Simplício

LD

LE Fabiano

Z

Z

Júlio Santos

Jean

(Gustavo Nery)

G Rogério Ceni

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Leonardo Moura

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Djalma Vassao/Gazeta Press

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Linha de 3 Com Rojas, o São Paulo começou a montar o sistema com três zagueiros que depois deu certo

AD

AE Gustavo Nery

Fábio Simplício

V

V

Carlos Alberto

Alexandre

Z

Z

L

Júlio Santos

Jean

Lugano

G Rogério Ceni

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Até a Libertadores Durante a Libertadores, Cuca usou mais o 4-4-2. Depois, se rendeu ao 3-5-2

V V

Fábio Simplício

Alexandre

LE

LD Cicinho

Gustavo Nery (Fábio Santos)

Z

Z

Rodrigo

Fabão

G Rogério Ceni

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Era Lugano Leão consolidou a linha defensiva com três zagueiros; Lugano tornou-se o pilar do setor

AE

V

V

Josué

Mineiro

AD Cicinho

Júnior

Z Rodrigo

L Lugano

Z Fabão

G Rogério Ceni G: goleiro / LD: lateral-direito / LE: lateral-esquerdo / Z: zagueiro / L: líbero / AD: ala-direito / AE: ala-esquerdo / V: volante

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tornou referência no clube e chegou à Seleção: Mineiro e Josué. Esse esquema permitiu que Cicinho e Júnior avançassem mais e se tornassem os responsáveis pela armação da equipe, que não tinha um armador. A partir do sucesso desta formação, surgida mais por falta de opção do que por escolha tática, o São Paulo teve a sabedoria de, ainda que houvesse troca de técnicos, não mudar o time-base bruscamente. Com isso, cada jogador que chegava tinha condição de entrar no esquema sem traumas, o que, num futebol como o brasileiro, em que os times se transformam da noite para o dia, fez diferença. Ajudou também o fato de que algumas das caras novas eram, na realidade, reservas da temporada anterior que ganharam vaga de titular. Há, ainda, uma diferença com relação a equipes que tradicionalmente são defensivas e não mudam muito seu esquema, como o Grêmio: com Rodrigo, e depois com Lugano, o Tricolor paulista aprendeu a valorizar zagueiros técnicos, que marcam com eficiência, mas sem violência, e sabem sair jogando. Quando chegou ao São Paulo, Muricy Ramalho manteve o sistema de jogo com três zagueiros. Durante o Brasileiro de 2006, o técnico ex-

perimentou o time no 4-4-2, deslocando Souza da ala direita para a posição de meia, com Ilsinho surgindo na lateral. André Dias assumiu a vaga de Lugano, vendido ao Fenerbahçe, vaga que acabou cedendo a Miranda por causa do imbróglio jurídico envolvendo sua contratação junto do Goiás. A mudança tática pode trazer mais fluidez ofensiva – embora, em alguns casos, principalmente pela falta de característica de lateral de Alex Silva, que herdou a vaga de Ilsinho, a equipe perca homogeneidade.

Versatilidade O grande trunfo da defesa montada por Muricy Ramalho é o modo como os sistemas possíveis variam com naturalidade. Em princípio, o São Paulo joga com uma linha de três zagueiros. Alex Silva fica à direita, Miranda à esquerda e Breno, talvez a grande surpresa desse time, no meio. À frente do trio, Richarlyson e Hernanes fazem a proteção e têm técnica suficiente para levar a bola ao setor de armação. Com essa formação, o São Paulo tem cinco jogadores dedicados ao bloqueio do ataque adversário. Como comparação, os times que atuam no 4-4-2 “à brasileira”, com dois volantes e dois meias de armação,

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Brasileiro 2007*

Libertadores 2007

Paulista 2007

Brasileiro 2006

Libertadores 2006

Paulista 2006

Brasileiro 2005

Libertadores 2005

Paulista 2005

Brasileiro 2004

Libertadores 2004

Paulista 2004

Brasileiro 2003

Paulista 2003

QUEDA CONSISTENTE

normalmente têm quatro defensores sempre atuando em uma linha. Isso porque o lateral brasileiro, tradicionalmente, não marca, ou seja, não é incomum os laterais avançarem e deixarem as costas livres. Se os volantes se deslocam para fazer a cobertura, a linha de quatro se recompõe, mas a marcação na cabeça de área está comprometida. Há também a opção citada do 4-4-2, utilizada em algumas partidas do Brasileirão 2007. Nesse caso, Alex Silva – e, antes dele, Reasco – fica na lateral-direita, Breno e Miranda formam a dupla de za-

Jean (esq.) e Júlio Santos (dir.) nunca passaram confiança para a torcida são-paulina

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Campeão brasileiro de 2006 No segundo turno do Brasileirão de 2006, Muricy experimentou usar o 4-4-2

V

V

Josué

Mineiro

LD

LE Júnior

Z

Z

André Dias

Fabão

G Rogério Ceni

Ilsinho

1,59 1,45 1,27 1,1 1,1

1 1 0,93

0,9 0,93 0,84 0,75

0,7

0,39

ga e Richarlyson – ou Júnior, ou Jadílson – recua para fazer o papel de lateral-esquerdo. Hernanes, por vezes, fica como único volante. Funciona porque os laterais do São Paulo são mais discretos no apoio. Ou seja, o São Paulo sempre tem mais da metade do time preparado para barrar o ataque oponente. Tudo é ajudado pelo fato de o Tricolor contar com um goleiro experiente, que passa confiança aos defensores, e, sobretudo, pela ajuda que todos os jogadores – incluindo atacantes e meias de armação – dão na marcação. Jorge Wagner é meia de formação, mas já teve experiência na lateral e sabe marcar. Leandro era atacante, mas tornou-se meia e é incansável no combate. Souza também manteve a característica de lutar pela bola, adquirida na fase em que foi ala. Até Dagoberto tem voltado ao meio-campo para marcar. Uma estratégia sufocante, que mina a confiança de qualquer adversário. Dificultando a saída de jogo, o setor de armação recebe a bola em más condições e se torna presa mais fácil para os defensores são-paulinos. À medida que o jogo passa, o oponente acaba baixando a guarda, momento em que o São Paulo dá o bote. Foi assim em vá-

rios jogos-chave da atual campanha, como as vitórias fora de casa sobre Botafogo, Vasco e Grêmio.

Riscos O amadurecimento do sistema defensivo tricolor pode ser mostrado em números. Desde que Muricy aportou no clube, em apenas um campeonato (o Paulista 2006, justamente o primeiro do técnico na atual passagem pelo Morumbi) a equipe sofreu uma média superior a um gol por jogo. Tais índices são sinais de como o Tricolor tem conseguido contornar suas vulnerabilidades, como o elenco enxuto. Desde a saída de Mineiro, o clube tem crônico problema de volantes e, com a saída do reserva Edcarlos, se a equipe atuar no 3-5-2, o garoto Danilo (20 anos) será a única opção para a zaga. A falta de muitas opções faz com que o sistema defensivo seja sacrificado, pois atua sob maior pressão. Isso pode até se fazer sentir no final desta temporada, mas dificilmente tirará do Tricolor a condição de ser o time com a melhor defesa do Brasil. Algo que só foi possível com um trabalho de longo prazo e bastante conhecimento das características técnicas e táticas dos jogadores que havia no elenco. Novembro de 2007

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* Até 31ª rodada

Desde 2003, a média de gols sofridos por partida do São Paulo cai gradualmente. Salvo oscilações naturais, apenas dois torneios fogem à regra: o Paulista de 2004, em que a defesa do Tricolor teve ótimo desempenho, e o Brasileirão de 2005, em que o time tinha o título da Libertadores e atuou parte do campeonato com reservas

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CAPA RR KAKÁ

Se, em 2006, a falta de opções imperou, em 2007, parece não haver dúvida de que Kaká ganhará todos os prêmios de melhor do mundo. É fácil entender por quê por Caio Maia, Cassiano R. Gobbet e Ubiratan Leal

esde 1998, quando Zinedine Zidane venceu o prêmio de melhor jogador em atividade na Europa concedido pela revista “France Football”, a lista de favoritos sempre deixava, no mínimo, uma pequena dúvida sobre quem levaria o prêmio – com a possível exceção de 2005, quando Ronaldinho ganhou a parada batendo o inglês Frank Lampard por mais de 70 votos. Neste ano, porém, embora até existam outros jogadores despontando, parece não haver dúvidas de que todos os prêmios disponíveis terão o mesmo ganhador: o brasileiro Kaká. Ricardo Izecson dos Santos Leite, 25 anos, meia-armador da Seleção Brasileira e do Milan, é o favorito em todas as pesquisas, conquistas e critérios para levar a homenagem da “France Football” e a da Fifa. Ou seja: Kaká é favoritíssimo para vencer tanto quando a escolha é feita pelos técnicos de seleções de todo o mundo, que tendem a votar em nomes “famosos”, quanto quando os votos vêm da imprensa especializada. E não é à toa.

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“Depois de mim, o Brasil teve cinco grandes jogadores: Zico, Romário, Ronaldo, Ronaldinho e Kaká”

Dylan Martinez/Reuters

Pelé

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Crescimentos

“Kaká é o protótipo do

Do garoto franzino que jogador moderno. É um dos quase perdeu os movimentos das pernas em decormaiores do mundo porque rência de um acidente até o é forte, tem muito preparo trator que arrastou o Milan físico, corre o campo ao titulo da última Liga dos Campeões, Kaká não aumentodo, marca o adversário, tou só de peso e massa mustem velocidade, é muito cular. Sim, seu crescimento dinâmico e ainda faz gols” físico foi fundamental, tenTostão do começado no São Paulo e terminado no Milan, mas passou por um longo movimento vertical de seu talento, que ainda Quando foi vendido ao Milan (“uma está em evolução. barganha”, segundo o presidente do clu“Kaká é um daqueles jogadores que be italiano, Silvio Berlusconi), o jogador aparecem a cada 20, 30 anos, como ainda era atormentado por lesões no torZico”, comparou o técnico Carlos Alberto nozelo típicas de atletas em processo de Parreira quando ainda era treinador do ganho de massa corporal. Mas, quando Corinthians, em 2002, antes da Copa estreou, o brasileiro já tinha o tamanho do Mundo. Fez-se alguma chacota de necessário para exprimir seu talento no Parreira (assim como aconteceu quando futebol italiano. Na quinta rodada, já ele, em 1998 – também antes da Copa - titular, o neomilanista talhou seu lugar cravou que Zidane era um fora-de-série). no coração da torcida no clássico com a Hoje, parece uma observação óbvia, mas Inter: peitou o argentino Kily González há cinco anos não era. O meia do São depois de uma falta dura e marcou seu Paulo ainda era magro, tinha menos ve- primeiro gol. Virou, ali, ídolo. locidade, menor noção de posicionamenNo Milan, Kaká se tornou um jogato e até dificuldade para se livrar de uma dor completo, que aprendeu a marcar, marcação individual. desmarcar-se e adquiriu uma velocidade

Stefano Rellandini/Reuters

Carlo Baroncini/AFP

TRÊS MOMENTOS DE MELHOR DO MUNDO

Milan 1x0 Celtic

Milan x Manchester United

7/março/2007

Semifinais da Liga dos Campeões 2006/7

Celtic e Milan faziam um sonolento 0 a 0 no San Siro. Os escoceses seguravam o jogo pensando na decisão por pênaltis e os milanistas, em noite claramente pouco inspirada, não conseguiam criar uma oportunidade real de gol. Até que, aos 3 minutos do primeiro tempo da prorrogação, Kaká sozinho acabou com o problema rossonero. Pegou a bola no meio-campo, driblou três adversários na corrida e tocou por baixo do goleiro Boruc. Milan classificado.

As duas partidas das semifinais da LC entre Milan e Manchester United eram vistas como o duelo final entre os candidatos a melhor do mundo: Kaká e Cristiano Ronaldo. Para azar do português – neutralizado por Gattuso - o brasileiro fez chover. Em Manchester, fez dois, um deles depois de provocar uma trombada de pastelão entre Brown e Heinze; em Milão, fez o primeiro e depois comandou seu time na destruição dos ingleses. Num lance, deixou seu marcador, o sérvio Nemanja Vidic, sentado depois de um drible humilhante.

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Daniel Kfouri

impressionante, decisiva para a sua vocação de goleador aflorar. “Num pique de 100 metros, Kaká chega ao final ainda em aceleração”, disse, há dois anos, o preparador físico do Milan Daniele Tognaccini. “Quando ele vem com a bola para cima de você, é impossível pará-lo”, confirma Paolo Maldini, defensor milanista que, entre companheiros e adversários, já teve de marcar gente como Marco van Basten, Maradona, Zidane e Weah. Taticamente, a evolução de Kaká é igualmente nítida. No São Paulo, o meia sentia-se desconfortável para jogar à frente, inclusive protestando quando o então técnico Roberto Rojas o avançava. No Milan, o mais difícil para os adversários é compreender onde Kaká joga, dada a sua mobilidade. No último campeonato, com Gilardino e Ricardo Oliveira em má fase, virou atacante e artilheiro.

Vencedor e decisivo Na decisão da Bola de Ouro da “France Football”, o currículo do atleta costuma pesar. Na história, os vencedores sempre foram jogadores que tinham conquistas importantes no passado. Mesmo Ronaldo, quando ganhou o prêmio em 1997, tinha um histórico de peso: havia sido campeão mundial (ainda que sem jogar) em 1994 e vencera a Recopa Européia daquele ano pelo Barcelona. Kaká preenche amplamente os requisitos também neste critério. Em seus quatro anos de Itália, já venceu uma Copa do Mundo (sem ser titular, como Ronaldo, em 1994) uma Liga dos Campeões (tendo disputado ainda uma semifinal e uma final, que não venceu), um Campeonato Italiano, uma Supercopa Européia, além dos títulos concedidos este ano pela Uefa (Melhor Jogador, Melhor Atacante e Artilheiro da LC) e pela Associação dos Jogadores Profissionais, a FIFPro, como Melhor Jogador do Mundo. Na temporada passada, em particular, o futebol de Kaká se destacou de forma absoluta. Seu clube, o Milan, sentia a ausência de Shevchenko (vendido ao Chelsea-ING), tinha sido desmoralizado pelas punições do escândalo do

Kaká já mostrava talento fora do comum no São Paulo, mas foi perseguido pela torcida

Brasil 5x0 Equador O jogo da consagração. Ao contrário de outros paulistas que acabaram vaiados no Maracanã, Kaká deixou o gramado ovacionado pelos 80 mil presentes, que gritaram “melhor do mundo” depois de assistir a uma atuação ímpar do meia. Dos três meia-atacantes do time (junto de Ronaldinho e Robinho), foi o que mais participou do jogo. No momento em que a Seleção começava a ser vaiada, foi dele o chute que, desviado em Ronaldinho, enganou o goleiro Viteri. Depois, marcou um golaço. No final, foi agraciado com um favor do goleiro equatoriano. Até Dunga teve que se curvar.

Sergio Moraes/Reuters

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“Cada vez que ele joga, no Brasil ou no Milan, paro para ver” Juan Román Riquelme

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Fim de ano, o torcedor assiste a várias premiações de melhor do mundo. Por isso, é importante entender a diferença entre elas. O prêmio mais respeitado na Europa é a Bola de Ouro, concedida pela revista ”France Football” depois de coletar votos de jornalistas de todo o mundo. O World Player of the Year é dado pela Fifa, que recebe votos de técnicos e capitães de todas as seleções nacionais. Entre os prêmios menos importantes, destaca-se o da FIFPro, federação internacional dos jogadores profissionais, em que jogadores de todo o mundo elegem o melhor colega do ano – o de 2007, inclusive, já é de Kaká.

”Calcio” e começou mal o Italiano e a sacou do time aos 42 minutos para que Liga dos Campeões. ganhasse os aplausos da torcida. Nesse momento difícil, a estrela do braAinda melhor sileiro brilhou o suficiente para que ele Com tudo isso, não é impossível que Kaká decidisse quase sozinho. Fez quatro dos oito gols do Milan na primeira fase (de- acabe não ganhando um dos dois prêmios cidiu dois dos jogos), resolveu uma parti- – ou até mesmo os dois. Principalmente o da duríssima contra o Celtic nas oitavas, da Fifa, cuja escolha é feita por gente que na prorrogação, foi fundamental contra não necessariamente entende de futebol. Em termos objetivos, contudo, não é dio Bayern de Munique nas quartas e teve duas atuações épicas contra o Manchester fícil cravar o brasileiro como o melhor do United nas semifinais, quando venceu o mundo na atualidade. Técnica, criatividaduelo com o português Cristiano Ronaldo, de, vigor físico, resultados, tudo o que se seu “rival” na luta pela Bola de Ouro. E, exige de um jogador no ápice pode ser enna final, contra o Liverpool, foi o respon- contrado no astro milanista e da Seleção. sável por uma assistência milimétrica que O frenesi que se faz em torno de sua posdeixou Filippo Inzaghi livre para marcar sível contratação por Real Madrid, Chelsea ou Barcelona é o maior indicador de que o segundo gol do Milan. é, sem sombras, o joFicar de fora dos gador do momento. jogos da Seleção Bra“Trata-se de um E lembremos: um josileira poderia ter arranhado suas chances jogador fenomenal. gador de só 25 anos, ainda tem tempo de vencer os prêmios. Tem personalidade, que para se lapidar. Será Contudo, novamente joga com e sem que há motivação? com a camisa amare“Se eu ganhar uma la, marcou seu espaa bola, sabe se vez, a motivação será ço com boas atuações movimentar. Não ganhar tudo de noe uma partida consatê-lo contratado vo, duas, três, quatro gradora no Maracanã, vezes”, disse o jogade onde saiu ovaciopelo Parma é um dor, em entrevista à nado no 5 a 0 sobre de meus maiores Trivela. Se for assim, o Equador, homenaarrependimentos” é difícil prever onde geado pelo próprio Arrigo Sacchi ele possa parar. técnico Dunga, que o

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ELES TAMBÉM QUEREM

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A temporada excepcional de Kaká hoje parece incontestável, mas no decorrer deste ano, outros nomes vinham sendo cotados para o trono de melhor do mundo. O português Cristiano Ronaldo era o favorito para a consagração de melhor do mundo até os dois jogos do Manchester United contra o Milan na LC. Ali, o português sofreu uma marcação sufocante e viu Kaká fazer chover. É bem verdade que o seu papel no titulo inglês dos Red Devils foi importante, mas o “confronto direto” foi vencido pelo milanista. Outro postulante à coroa desejada por Kaká é Lionel Messi, jovem astro do Barcelona. O futebol do argentino neste ano tem sido espetacular e, mais importante ainda, regular. Hoje, no time catalão, ele é mais imprescindível até do que Ronaldinho Gaúcho, eleito duas vezes o melhor do mundo. Que a hora da consagração de Messi vai chegar, não há dúvida – assim como não dá para questionar que ele ainda precisa comer arroz com feijão para se equiparar ao atual Kaká. Gustau Nacarino/Reuters

Valery Hache/AFP

PARA TODOS OS GOSTOS

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ENTREVISTA por Caio Maia, Cassiano R. Gobbet e Ubiratan Leal

Sem falsa

modéstia

Giampiero Sposito/Reuters

Kaká não diz que se acha o melhor do mundo, mas sabe que esse é quase um senso comum

Brasil vencia o Equador por 5 a 0 na segunda rodada das eliminatórias sul-americanas para p 2010. Aos 42 minutos do segundo a Copa teempo, Dunga substituiu s tempo, Kaká, autor de dois gols naa partida, por Diego. As mais de 80 mil pessoas M que lotaram o Maracanã aplaudiram o milanista, aclamado como “melhor do mundo”. Após a partida, pergun quando perguntado sobre o fato de o técnico da con rmado que o tirou de campo para Seleção ter confi ovaç Kaká se entregou discretamente. permitir a ovação, Sorriu em uma mistura de inibição com satisfação e disse: “Se foi mesmo esse o motivo, tenho muito po a agradecer, porque foi emocionante ouvir o Maracanã lotado gritar o meu nome e dizer que sou o melhor do mundo. Foi bem bacana”. À medida que o fim do ano se aproxima, o jogador do Milan é soterrado por elogios ou perguntas a respeito de ser o melhor jogador do mundo em 2007. Alguns prêmios secundários, como o da FIFPro (Federação Internacional de Jogadores de Futebol), já confirmaram a tendência de que o ex-sãopaulino seja mesmo o escolhido. Diante de tamanho bombardeio, fica difícil para Kaká ignorar o barulho, e ele já nem se esforça tanto. Admite que vive uma grande fase e que o prêmio de melhor do mundo tem de ir para alguém importante em uma grande conquista. O milanista cita Cristiano Ronaldo por causa do Campeonato Inglês, mas é óbvio que sua participação na conquista do título de um mediano Milan – que, sem ele, tem passado por maus bocados – na Liga dos Campeões o coloca em situação vantajosa em relação ao português. Ainda que o tema seja predominante em suas entrevistas recentes, Kaká não fala apenas sobre ser ou não melhor do mundo. O jogador reconhece que mudou seu modo de atuar por necessidades táticas do Milan. “O excesso de contusões do elenco na temporada passada fez com que o time se encaixasse de outra forma, na qual eu ficava mais no ataque do que antes”, explica. Essa nova característica pode ser vista, inclusive, na Seleção, a ponto de Dunga testá-lo como homem de referência no ataque no amistoso contra o México em setembro. O milanista ainda fala sobre seu relacionamento com Ancelotti, as diferenças do futebol praticado na Itália e no Brasil, cutuca a imprensa espanhola pelas especulações a respeito de sua suposta ida ao Real Madrid e explica o motivo de seu pedido de dispensa da Copa América: “Fiz testes físicos e fisiológicos que comprovaram que eu estava esgotado. Peguei toda essa documentação e mandei para a CBF”. Veja nas próximas páginas os principais momentos da entrevista concedida com exclusividade para a revista Trivela.

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Jorge R. Jorge

A FIFPro o escolheu como o melhor jogador do mundo em 2007. A maioria dos especialistas acredita que você será escolhido como melhor jogador do mundo. Você já conquistou uma Copa do Mundo e uma Liga dos Campeões. Para um jogador tão jovem, que estímulo ainda resta? É a conquista, minha motivação é sempre ganhar algo a mais. Hoje, tenho 25 anos, venci quase todos os títulos que tem para conquistar. Falta o Mundial de Clubes, no fim do ano, no Japão, que agora é o meu grande objetivo. Depois de ganhar tudo, eu quero ganhar tudo duas vezes. Eu quero ser campeão do mundo duas vezes, quero ganhar com a Seleção o Mundial duas vezes, ser campeão da Liga dos Campeões como o Paolo Maldini foi. O grande exemplo que eu tenho é de jogadores como Costacurta e Maldini. A motivação deles é a conquista de algo mais, sempre. Você é um protagonista no futebol mundial. Na Seleção, a nova filosofia é de que não há protagonistas. Como você vê essa sua importância dentro da Seleção, com um modelo no qual não há protagonistas? Eu respeito, essa é a linha que o Dunga adotou até agora. Não importa se eu estou bem no Milan ou não, preciso ser um jogador útil à Seleção. Se esse critério for igual para todo mundo, é válido e justo. Só não vale ter uma regra para um jogador e outra regra para outro jogador. Até agora, o critério tem sido o mesmo para todo mundo. Parte da imprensa brasileira tentou deixar você e o Ronaldinho de mal com a torcida por causa dos pedidos de dispensa da Copa América. Esse comportamento da imprensa o chateou? De forma nenhuma, até porque eu sabia que haveria críticas. Eu assumi essa responsabilidade porque achava que naquele momento eu precisava me tratar. Realmente descansei e acho que, agora, meu rendimento mostra que valeu a pena. Voltei à Seleção e reconquistei meu espaço. Naquele momento eu vinha de três anos seguidos de Novembro de 2007

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O Mundial de Clubes, no fim do ano, no Japão, é agora o meu grande objetivo. Depois de ganhar tudo, eu quero ganhar tudo duas vezes

Ricardo Izecson dos Santos Leite Nascimento: 22/abril/1982 Altura: 1,86 m Peso: 83 kg Carreira: São Paulo (2001 a 2003) e Milan (desde 2003) Títulos: Rio-São Paulo (2001), Copa do Mundo (2002), Campeonato Italiano (2003/4), Copa das Confederações (2005) e Liga dos Campeões (2006/7) Pela Seleção Brasileira: 55 J / 20 G

uma temporada entrando em cima da outra. Estava sentindo no meu corpo, mas queria uma prova com dados de que era isso o que estava acontecendo. Fiz testes físicos e fisiológicos no Milan, que comprovaram que eu estava esgotado. Me deram os dados e falaram: “Olha, realmente é isso que está acontecendo com você”. Peguei toda essa documentação e mandei à CBF como explicação para o pedido de dispensa da Copa América. Na sua opinião, hoje em dia, os jogadores de futebol estão atuando demais? Demais. Estava até conversando com o fisioterapeuta da Seleção outro dia. Ele disse que o Rogério Ceni fez mais de 70 jogos neste ano. É muita coisa. Mesmo ele sendo um goleiro, 70 partidas é muito para um jogador e é assim que começam as lesões. Para um goleiro, pode até ser suportável, mas um jogador de linha sente muito mais. Uma coisa que mudou no seu futebol de hoje em relação ao de temporadas anteriores foi o posicionamento tático. Nos últimos tempos, você tem sido um meia que chega ao ataque constantemente e algumas vezes conclui as jogadas mais do que prepara. Você costumava se sentir desconfortável quando jogava no ataque na época de São Paulo. O que mudou? O Milan teve vários problemas de contusões na temporada passada. O campeonato ia passando e havia poucos atacantes. O time foi se modificando e acabou se encaixando de uma forma diferente, em que eu fui empurrado mais para frente. E acabei me adaptando aos poucos. Antes, eu me sentia desconfortável porque estava acostumado a tocar na bola toda hora, pois o meia está sempre correndo atrás da bola para armar o jogo. O atacante, não, já que depende de os outros companheiros conse-

guirem fazer um lançamento ou enfiar uma bola. Mas já me acostumei, isso não é mais um problema. Essa mudança tem algo a ver com a saída do Shevchenko? O Milan perdeu muito com a saída do Shevchenko porque ele é um grande jogador. Mas não sentimos tanto em presença no ataque, até porque ganhamos a Liga dos Campeões. O que pesou mais para eu me deslocar para o ataque foram mesmo as contusões. Como é sua relação com o Ancelotti? Às vezes, há discussões e as pessoas no Brasil tendem a achar que vocês não se entendem. Meu relacionamento com ele é 100%. É muito bom mesmo. Ele é um tipo de treinador que consegue agradar ao grupo de forma geral, mesmo os que não estão jogando. Claro, esses ficam chateados por estarem na reserva, mas gostam do Ancelotti assim mesmo. Ele tem, realmente, o controle do time e eu gosto disso em um técnico. Agora, é claro que temos divergências. Tem hora que eu tenho minha opinião e ele tem a dele. Só que, atualmente, aonde um jogador vai, tem uma câmera atrás. Tudo aparece na TV. Na última vez em que isso apareceu na imprensa, estávamos a caminho do vestiário, havia uma câmera ali e acabou aparecendo uma discussão entre nós. Foi uma troca de opiniões: eu tinha a minha, ele tinha a dele, e a gente acabou discutindo ali porque tínhamos perdido uma partida. Mas não foi nada demais. Já houve várias dessas discussões em outras ocasiões, mas não apareceram, e nosso relacionamento continuou bom depois disso. No que o Ancelotti o ajudou no desenvolvimento como jogador? O mais importante foi ele ter confiado em mim. Passei por uma experiência no Milan que é muito difícil um jogador novo ter. É raro alguém chegar e ter a oportunidade de jo-

O Rogério Ceni fez mais de 70 jogos neste ano. Mesmo ele sendo um goleiro, 70 partidas é muito para um jogador e é assim que começam as lesões Novembro de 2007

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O Real Madrid fez uma proposta, levamos até o Milan e o Milan disse que não me vendia. Acabaram ali todas as negociações. Por enquanto

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Getty Images/AFP

gar da forma como aconteceu comigo. E isso é fundamental, porque a maior experiência que se pode ter é adquirida em campo, jogando. Além disso, ele me deu muitas dicas de marcação, de como me movimentar e de como fazer várias coisas técnicas e táticas. Mas o grande empurrão foi me ver chegar à Itália e me colocar logo para jogar, ignorando eventuais problemas de pressão, de achar que eu era novo demais e devia esperar mais um pouco. O fato de haver muitos brasileiros no clube também o ajudou a não sentir tanto a mudança? Ajudou muito. Se eu precisava de alguma coisa, ligava para eles e pedia: “Preciso de um restaurante, preciso de um supermercado”. O que deve ajudar também o Pato, que vai ter uma adaptação muito mais fácil do que uma pessoa que chega ao clube e não tem ninguém de seu país. Aliás, qual é a expectativa da torcida, e do próprio grupo, em relação ao Alexandre Pato? Todo mundo sabe que ele ainda é um garoto de 18 anos e é preciso ter paciência. Só que ele já foi contratado como um nome de peso, com uma responsabilidade. Mas ele tem um talento incrível, tem tudo para dar certo na Europa. Pessoalmente, você acha que ele está sentindo a chegada? Acho que não. Até porque o jogador brasileiro é diferente, até na formação. Um jogador de personalidade chega lá e quer saber quem é quem. Vai para cima, sem medo. Essa característica do jogador brasileiro é importante. Do ponto de vista tático, quais as principais diferenças entre jogar no Brasil e na Itália? A principal diferença é o tamanho dos campos em que se joga na Europa e no Brasil. No Brasil, as defesas ficam muito longe uma da

outra. Então, o jogador tem um campo muito maior de jogo. Na Europa, isso é muito reduzido. Com um campo menor, o jogador precisa passar a bola mais rápido. Tem jogo em que eu domino a bola e já vêm três ou quatro jogadores em cima para o desarme. Aos poucos, com o desenrolar da partida, o espaço vai aparecendo. Nesse sentido, você acha que se daria melhor na Espanha, onde a marcação é menos rígida que na Itália? Muita gente fala isso, mas eu estou superadaptado à Itália. Para dizer que eu me daria bem na Espanha, só se eu jogasse lá. Hoje, na Itália, eu estou adaptado a jogar da maneira italiana, com um futebol mais duro e aguerrido. Em 2006, o Ramon Calderón era candidato à presidência do Real Madrid e uma das promessas de campanha era sua contratação. Ele

foi eleito e você não saiu do Milan. Depois, a imprensa espanhola insistiu no tema, chegando a mencionar valores para sua eventual ida ao Real. Houve mesmo alguma sondagem dos espanhóis, algo de concreto para levá-lo? Houve. O Real Madrid fez uma proposta, levamos até o Milan e falamos: “Olha, tem essa proposta do Real Madrid”. O Milan disse que não me vendia, que naquele momento eu não estava à venda. E desse modo, a diretoria conversou com o Real Madrid, e acabaram ali todas as negociações. Por enquanto. O jornal espanhol “As” publicou várias declarações suas supostamente dizendo que queria ir para o Real. O Milan rebateu, colocando no site oficial que o jornal mentia. Houve exagero da imprensa espanhola? Sim. Durante minhas férias, não

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Logo em seu primeiro clássico na Itália, Kaká peitou o experiente Kily González

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falei nada com ninguém. Me desliguei de tudo, porque nas minhas férias eu acho que tenho esse direito de descansar. O que escreviam, escreviam deles e entre eles. Não sei se houve contato do Real Madrid com o Milan nesse período. Eu sei que não falei com ninguém, não dei declarações para o “As” nem para nenhum jornal italiano para desmentir ou falar sobre o que estava acontecendo. Até pensei: “Não, quando voltar, eu falo. Quero que todo mundo veja as minhas declarações, aquilo que estou falando. Agora é meu direito de férias e eu quero que respeitem”. Você acabou de citar Maldini e Costacurta como dois exemplos para sua carreira. Você tem proximidade pessoal com esses jogadores? No Milan, todo mundo tem um relacionamento muito bom no elenco. No entanto, a proximidade maior é com os brasileiros, o Serginho, o Ronaldo, o Dida, o Emerson, que chegou agora, e o Cafu. Esse pessoal tem uma proximidade muito maior, porque fala a mesma língua, conversa sobre coisas do Brasil. Quando se fala em sua trajetória no Milan, muita gente se lembra daquela discussão com o Kily González no seu primeiro clássico contra a Internazionale [Kaká e o argentino discutiram e o brasileiro chegou a colocar a mão no rosto do adversário para afastá-lo]. Você sente que aquele foi um ponto de virada na sua carreira, de um menino para um craque? Acho que sim. Foi o momento em que eu comecei a demonstrar que não era mais um garoto. Ainda era jovem, mas estava demonstrando que defendia um clube grande da Europa e queria conquistar o meu espaço lá. Aquela discussão foi só

geral. Acho que todo mundo tinha que se movimentar, porque isso cria espaço para todos. Em nenhum momento, eu citei o nome do Ronaldo ou o do Adriano. Colocaram que eu estava pedindo para o ataque se movimentar, mas, na verdade, não foi essa a minha colocação. Por isso, não tive nenhum tipo de problema com o Ronaldo. Para terminar, se você tivesse de indicar o melhor jogador do mundo em 2007 e não pudesse votar em si mesmo, quem você escolheria? Eu acho que o melhor jogador do mundo precisa passar por uma grande conquista, e o Cristiano Ronaldo foi o grande nome da conquista do Campeonato Inglês pelo Manchester United. Se eu não concorresse e tivesse de escolher alguém, seria ele.

Paolo Cocco/AFP

No Brasil, as defesas ficam muito longe uma da outra, então, o jogador tem um campo muito maior de jogo. Na Europa, com menos espaço, o jogador precisa ser mais rápido

uma questão de me impor, de exigir respeito. Normalmente, não sou de brigar em campo. Você acabou de citar o Ronaldo como um de seus amigos. Recentemente, defendeu que ele ainda tinha espaço na Seleção. Mas, depois do jogo contra a Croácia, na estréia pela Copa do Mundo, você deu uma declaração reclamando um pouco da falta de movimentação do ataque, do Ronaldo, principalmente. Não ficou algum resquício disso depois? Eu acredito que o Ronaldo é um grandíssimo jogador, e o talento que ele tem poucos jogadores tiveram em toda a história. Naquela ocasião, acho que fui mal interpretado, porque em nenhum momento eu falei do Ronaldo ou do Adriano. Falei da movimentação do time em

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TORCIDA NO DIVÃ por Gustavo Hofman

Síndrome do REBAIXAMENTO Sessões no divã, terapia ocupacional, terapia em grupo, macumba e muita reza. Torcedor de time na luta contra o descenso sofre... omo tem acontecido quase todo ano, algumas das maiores torcidas do país vivem no final deste Brasileirão situações desconfortáveis. Na luta contra o rebaixamento, o desespero do torcedor se faz presente, e das maneiras mais engraçadas. Como, aliás, se ele próprio, torcedor, tivesse alguma grave doença. Que se manifesta em fases:

C

Negação Geralmente, é o primeiro mecanismo emocional utilizado quando o paciente recebe o diagnóstico. “Não, não é, não pode ser!”. Segundo os especialistas, trata-se de “uma defesa contra a tomada de consciência da enfermidade que consiste na recusa parcial ou total da percepção do fato”. O “paciente” adota uma atitude negativa, não acredita nos resultados dos exames, colabora pouco, nega-se a receber ajuda médica e espera até o último momento para procurar ajuda. “A gente é grande! Não vai cair! O time é bom!”, ouve-se ainda neste momento.

Revolta “Por que eu?” Nesta fase, aparecem sentimentos de raiva, ressentimento, inconformismo e sadismo. O paciente pode se mostrar agressivo e desafiador, atacando tudo e todos (parentes, médicos, árbitros, torcedores, ex-dirigentes...).

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Barganha Esta fase tem por característica a negociação. O paciente parece ter aceitado a doença, mas tenta efetuar “acordos” que lhe possibilitem manter uma visão não realística dos fatos. É a fase de promessas efetuadas a Deus ou a outros entes sobrenaturais, de mudanças de vida, de desejos de adiamento da morte até que determinados fatos ocorram. É aqui que entram em cena São Jorge, pais de santo, bênçãos de padres, Santo Expedito... O fim do ano se aproxima e nada de o time subir na tabela.

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Aceitação Estado psicológico em que há a compreensão real dos li limites e possibilidades impostas pela situação, com permanen permanente tentativa de buscar uma “convivência razoável” para lidar com a crise que se instalou. Nesse caso, a ansiedade encontra-se em nível suportável para o paciente, família, médicos e torcedores. O jeito é mesmo concentrar as forças na luta contra o rebaixamento, convocar a torcida para apoiar e jogar que nem time pequeno. Para alguns, porém, pode ser tarde demais.

Regressão e ganhos secundários

Depressão Neste estágio, o paciente elaborará lutos. A grave situação traz uma série de perdas para o clube, como a da própria saúde, da capacidade física, da autonomia, da liberdade, além de limitações na vida profissional e social. E, claro, da perda das receitas de TV, do prestígio junto a possíveis contratados, e por aí vai. Estas perdas são sentidas como mortes simbólicas. O paciente apresenta-se triste, sofrendo intensamente e evita o contato com as pessoas que não respeitem seu momento. Procura, assim, um novo treinador, o elenco apresenta-se triste, sofrendo intensamente e passa a evitar o contato com torcedores. Muitos times param nesta fase.

Na regressão, o paciente adota frente ao acontecimento uma conduta infantil e utiliza mecanismos regressivos. Normalmente, mostrase dependente, exige muita atenção e manifesta uma necessidade de ser atendido pela torcida. Os ganhos secundários são o conjunto de benefícios, conscientes ou inconscientes, que o paciente recebe em função da doença: justamente mais atenção, afastamento do trabalho mais duro, etc. Atlético-MG, Grêmio, Botafogo e Palmeiras podem dar dicas sobre o assunto.

* Colaborou a psicóloga Daniele Merlin Gaino

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Antonio Carneiro/Gazeta Press

CRUZEIRO por Carlos Eduardo Freitas

Diferentemente do que fez em 2005 e 2006, a diretoria do Cruzeiro segurou alguns jogadores e apostou no time

Um ano

BOM Pela primeira vez desde 2003, Cruzeiro chega ao final do ano com alguma perspectiva

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torcedor cruzeirense tem arrepios quando se lembra do último 29 de abril. Naquele dia, o Cruzeiro reencontrou o rival Atlético pelo primeiro jogo da final do Campeonato Mineiro. E levou uma goleada histórica: 4 a 0, com direito a um gol sofrido pelo goleiro Fábio sem que ele visse a bola – estava de costas para o centro do campo. O resultado daquela partida trouxe ecos que foram muito além daqueles 90 minutos, a ponto de influenciar muito do que aconteceria no clube a partir de então. Ao contrário do que ocorrera nos últimos três anos, em que, muito graças ao título de 2003, o Cruzeiro iniciou o Brasileirão com status de favorito, a Raposa começou o campeonato nacional sem grandes perspectivas. Afinal, depois daquela goleada para o grande rival, recém-promovido da segunda divisão, o time não inspirava confiança e havia ficado sem técnico, já que Paulo Autuori pediu demissão ainda no vestiário do Mineirão. O jeito foi começar do zero, em pleno mês de maio.

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A primeira mudança foi a chegada de Dorival Júnior, técnico ainda em início de carreira, mas que já tem em seu currículo um título catarinense com o Figueirense (2004) e um pernambucano (2006) com o Sport. Foi graças à excelente campanha com o São Caetano no Paulistão deste ano, porém, que o ex-volante do Palmeiras (então conhecido apenas como Júnior) chegou à Toca da Raposa. Dorival levou o Azulão à decisão do principal campeonato estadual do país, depois de eliminar o São Paulo na semifinal. Na final, ainda conseguiu segurar o Santos por mais de 135 minutos. “Quando ele chegou, disse que gostaria de trabalhar com um time jovem”, conta Eduardo Maluf, diretor de futebol do Cruzeiro. É claro que, se tivesse condições, o técnico preferiria contar com grandes astros, mas se já havia conseguido um bom resultado com jovens desconhecidos no São Caetano, não havia por que rejeitar a proposta de dirigir uma equipe desse porte e não topar o desafio de renovar o elenco. Pouco a pouco, num processo quase imperceptível, os jogadores que ocupavam o topo da lista de pagamento do clube foram dando adeus à Toca da Raposa e cedendo lugar a atletas das categorias de base ou então investimentos de ocasião feitos pela diretoria. Para se ter uma idéia, apenas quatro dos 11 titulares naquela final contra o Galo seguem na Toca da Raposa – Fábio, Jonathan, Léo Silva e Nenê (veja ao lado). Entre eles, apenas o goleiro Fábio, o mais crucificado então, tem jogado sempre. Geovanni e Ricardinho, titulares de Autuori, tiveram seus contratos rescindidos; Gabriel foi devolvido ao Málaga e Fellype Gabriel ao Flamengo; além dos bons negócios, aqui e ali, que o Cruzeiro sempre consegue arranjar para encher seus cofres.

Andre Fossati/O Tempo

Voltou ao time na 11ª rodada (Goiás), após recuperar-se de contusão

Gabriel Devolvido ao Málaga, disputou o Brasileirão emprestado ao Fluminense

Luizão Vendido para o Locarno/SUI

Gladstone Emprestado para o Sporting/POR

Apesar da falha grotesca, Fábio voltou a ser titular

Jonathan Continua no elenco. Foi titular em 18 partidas até a 31ª rodada

Ricardinho Teve seu contrato rescindido e assinou com o Corinthians

Léo Silva Segue no elenco. Esteve em campo em 13 das 31 rodadas, 9 como titular

Fellype Gabriel

A lojinha dos irmãos Perrella

Foi devolvido ao Flamengo, que o emprestou ao Nacional/POR Fernando Soutello/Agif Press/Gazeta Press

Negociar jogadores, aliás, é uma das especialidades dos irmãos Zezé e Alvimar. Desde que a família assumiu o comando do clube, em 1995, com Zezé, o Cruzeiro conseguiu fechar alguns dos negócios mais volumosos do futebol brasileiro. Quem não se lembra, por exemplo, da venda de Fábio Júnior para a Roma, em 1999, por US$ 15 milhões? Ou então da ida de Alex Alves para o Hertha Berlim, pela mesma cifra? E da polêmica saída de Evanílson para o Borussia Dortmund por US$ 7 milhões? Nenhuma transação, porém, supera a venda de Geovanni para o Barcelona, em 2001, por US$ 18 milhões, que, no câmbio da época, dava cerca de R$ 45 milhões.

Fábio

Luiz Costa/Hoje Em Dia/Gazeta Press

Eduardo Maluf, diretor do Cruzeiro

ONDE FORAM PARAR OS 11 TITULARES DA FINAL DO MINEIRO

“A realidade é que o nível do campeonato está muito baixo. Quem tem um ou outro jogador um pouquinho acima da média consegue se destacar”

Geovanni Rompeu seu contrato e acertou com o Manchester City/ING

Nenê Segue no elenco. Titular em 3, entrou em 10 das 31 partidas. Fez 2 gols.

Araújo Foi para o Al Gharafa/QAT Novembro de 2007

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As maiores vendas do Cruzeiro em cada ano, desde o título de 2003

2004 (R$ 43,92 milhões)* Alex (M) Cris (Z) Maicon (L)

Fenerbahçe (TUR) Lyon (FRA) Monaco (FRA)

R$ 12 mi R$ 11,34 mi R$ 7,45 mi

2005 (R$ 56,7 milhões) Fred (A) Jussiê (A) Leandro (L)

Lyon (FRA) Lens (FRA) Porto (POR)

R$ 35 mi R$ 10,4 mi R$ 6 mi

2006 (R$ 22,74 milhões) Edu Dracena (Z) Fenerbahçe (TUR) Gil (A) Gimnástic (ESP) Adriano (A) Porto (POR)

R$ 7,8 mi R$ 2,2 mi R$ 2 mi

2007 (R$ 28,81 milhões) Fábio Santos (V) Lyon (FRA) Araújo (A) Al Gharafa (QAT) Luizão (Z) Locarno (SUI)

R$ 11,5 mi R$ 6,43 mi R$ 5,1 mi

* Entre parênteses, o total arrecadado pelo Cruzeiro no ano com vendas para o exterior

Depois de 2003, quando o Cruzeiro ganhou tudo, a torcida comemorou apenas dois títulos estaduais

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Djalma Vassao/Gazeta Press

FÁBRICA DE DINHEIRO

Foi nesse período de bonança que o clube começou a investir pesado no desenvolvimento de sua infraestrutura. Modernizou a Toca da Raposa e construiu um segundo centro de treinamento, a Toca da Raposa II, além de começar a levantar um prédio de altíssimo luxo, localizado na rua Timbiras, 2.903, no bairro do Barro Preto, região central de Belo Horizonte. “É uma sede administrativa sem igual no Brasil”, conta Eduardo Maluf. De fato: o edifício de oito andares inaugurado em 5 de agosto de 2003 e batizado de “Sede Administrativa Presidente Zezé Perrella” abriga, em 4,3 mil metros quadrados revestidos em vidro azul e porcelanato branco, toda a estrutura do clube. E os custos para manter isso, Eduardo não nega, “são bem altos”. Com esse aumento de patrimônio e de custos, tornouse praticamente uma obrigação vender jogadores para ajudar a pagar os quase R$ 30 milhões anuais que consome o departamento de futebol do clube. Essa necessidade, na maioria das vezes, tem um preço caro a ser pago: a escassez de títulos. Salvo em 2003, quando o time de Alex, Maldonado e Deivid conquistou tudo o que podia, e levou o título nacional com o pé nas costas, o time tem tropeçado no Brasileirão. Começa com status de favorito, vende meio time para o exterior e cai de produção no segundo turno (veja box na página ao lado). Foi assim em 2004, quando o time naufragou na Libertadores e negociou boa parte do time campeão do ano anterior – entre os quais Alex, Cris, Maicon e Sorín –; em 2005, com a saída de Fred e Jussiê; e em 2006, com as vendas de Edu Dracena e Gil, além

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Daniel Feliciano/Gazeta Press

O CRUZEIRO NO BRASILEIRÃO, DESDE 2003 Final

% de pontos

2003

72,4%

2004

13°

40,5%

2005

47,6%

2006

10°

46,5%

2007*

-

56,9%

*até a 31ª rodada

1° turno

reclama dos maus resultados, temendo sempre que o time perca o status que vinha ganhando desde os anos 90. “Se viramos para o torcedor e dizemos que o time acabou e não terá condições de disputar nada em dois anos para ser reformulado, estamos liquidados”, diz Maluf, que comemora: “Estamos começando a colher os frutos dessa fase de baixa agora”. Nada, porém, que impeça o clube de continuar declarando em público que terá que vender “um ou dois jogadores” até o fim do ano, como fez recentemente.

A hora de segurar O Cruzeiro recebeu várias propostas por Guilherme, mas segurou o atacante, para valorizá-lo

do empréstimo de Alecsandro. “Quando eles saíram, chegaram jogadores mais novos. Com a garotada, você só vai até um certo ponto. Para ganhar o campeonato, tem de ser um elenco experiente”, opina o atacante Élber, que estava no time no ano passado. Edu Dracena, o melhor negócio do Cruzeiro em 2006, lembra-se bem da conversa que teve com Alvimar Perrella, quando começaram a definir sua ida para o Fenerbahçe: “Ele chegou para Clube diminuiu mim e disse: ‘Edu, prefiro que a torcida xingue, que o time não faça um cama folha, mas me peonato bom, mas que eu possa honrar continua meus compromissos e depois contratar mais baratos’”. É exatamente isso dependendo outros que o time tem feito. da venda de No ano passado, a diretoria diz ter percebido que não teria um grande craque jogadores para para encher os cofres do clube. Com isso, pagar os altos deu início a uma política de redução de e rejuvenescimento do elenco. Para custos, que custos tanto, o time começou a limpar da folha incluem uma de pagamento jogadores com salários ale apostar mais nos tantos jovens que luxuosa sede tos revela anualmente. administrativa A torcida, enquanto isso, protesta e

O time atual do Cruzeiro tem uma média de idade na casa dos 21 anos. Entre tantos jovens, destacam-se justamente os veteranos: o goleiro Fábio e os atacantes Alecsandro e Roni, principais figuras do time no Brasileirão deste ano. Os dois primeiros despertaram interesse internacional e estiveram muito próximos de deixar o clube em agosto, no final da janela de transferências internacionais. O mesmo aconteceu com o jovem atacante Guilherme, grande revelação do time em 2007. Ao contrário, porém, do que aconteceu em outros anos, Zezé Perrella, agora vice-presidente de futebol, classificou o garoto como ‘inegociável’. Como o torcedor bem sabe, não é bem assim. “Se aparecer uma coisa muito maluca, a gente pode até vender, mas se vierem falar em € 10 milhões, € 12 milhões, não levam”, diz o ex-presidente, pelo menos até que se prove o contrário. A idéia, acrescenta Maluf, é segurar esses jogadores “por quem este ano ofereceram cinco e vendê-los por dez no ano que vem”. Outro dos motivos para neste ano o desmanche não ter sido tão pesado foi o bom desempenho do time no primeiro turno. A equipe de Dorival Júnior terminou a primeira metade do campeonato na terceira colocação e com chances reais de conquistar o título. “A realidade é que o nível do campeonato está muito baixo. Quem tem um ou outro jogador um pouquinho acima da média, como nós temos o Fábio, o Roni e o Alecsandro, consegue se destacar”, diz Maluf. Perto do fim do Brasileirão, o troféu pode até ter ficado mais longe, mas o time fez uma boa campanha e foi dono do melhor ataque do país, o que dá alguma esperança para a torcida em 2008 — quando o time pode voltar a disputar a Libertadores depois de três anos de ausência. Pelo menos até o caixa apertar. Novembro de 2007

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GRAMA ARTIFICIAL por Olavo Soares

Futebol sinté t Usada no Mundial sub-20, grama artificial aparece para o mundo e consolida-se como opção viável para a prática do futebol

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o Mundial di l sub-20 b d deste ano, di disputado em junho e julho no Canadá, uma coisa chamou a atenção: a grama sintética usada em três dos seis estádios da competição. Entre eles, estava o de Toronto, que recebeu a decisão do torneio, entre Argentina e República Tcheca. Essa não foi a primeira competição oficial da Fifa disputada em piso artificial. Em 2003, o Mundial sub-17, na Finlândia, teve parte de seus jogos na grama sintética. Se naquele ano o piso era usado em caráter experimental, no Canadá ele já tinha a aprovação definitiva da Fifa. O Mundial pode ter sido o impulso que faltava para que o crescimento do uso de grama sintética seja um processo irreversível. Claro que não se trata de achar que, no futuro, não mais veremos a grama natural

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nos estádios. Ocorre que o sintético aparece como uma alternativa importante, por duas vantagens: o baixo custo de manutenção e a resistência ao frio.

Vantagens e polêmicas A grama sintética entrou oficialmente nas leis do futebol em 2004. A Fifa homologou o uso do piso em suas regras com base na boa experiência do Mundial sub-17 do ano anterior. Um dado decisivo para a aprovação foi o índice de contusões registrado no torneio, similar aos das competições jogadas na grama natural. Na ocasião, o presidente Joseph Blatter declarou que “milhões de pessoas se beneficiariam com essa situação”. Essas pessoas a quem Blatter se refere são os moradores de países frios. Nesses locais,

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Spartak Moscou Sporting

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27/setembro/2006, em Moscou Primeiro jogo da Liga dos Campeões em grama sintética

é tico a prática do futebol é restrita a alguns meses do ano. Não há grama natural que resista a temperaturas inferiores a dez graus negativos e nevascas intensas – já a grama sintética não sofre com essas intempéries. A Uefa deu o sinal verde para a grama sintética ainda em 2003, com um projeto piloto em países como Rússia, Escócia e Áustria. Atualmente, a Fifa padroniza o uso de grama sintética por meio de um manual de normas publicado em 2005, que estabelece um selo como atestado de qualidade. A aprovação por parte das entidades só foi possível graças a avanços na tecnologia do piso sintético. Grãos de borracha, filamentos de silicone e piso amaciado trazem aos jogadores uma sensação de conforto que pouco se via nos primeiros tipos do piso. Mesmo assim, os atletas ainda têm opini-

ões divididas quanto ao uso da grama artificial. Javier Zanetti, da Internazionale, às vésperas de enfrentar o Spartak em Moscou, pela Liga dos Campeões, qualificou a grama de “armadilha” e disse que os jogadores tinham dúvida sobre qual tipo de chuteira usar para esse tipo de gramado. Durante o último Mundial sub-20, a maior parte dos jogadores, em especial os sul-americanos, queixaram-se do piso. “É muito diferente. A bola corre muito mais, a gente precisa pensar na hora de dar um passe”, avalia Ji-Paraná, jogador do Internacional que participou do Mundial sub-20. O volante chega a dizer até que a falta de uma preparação mais adequada na grama sintética prejudicou o desempenho da Seleção Brasileira.

No Brasil Apesar do avanço da grama sintética na Europa, aqui, no Brasil, ela ainda é rara. Nenhum clube das Séries A e B do Brasileirão a usa em seu estádio. Em 1998, o Baetão, em São Bernardo do Campo (Grande São Paulo), tornou-se o primeiro estádio com campo de grama sintética em dimensões oficiais do Brasil – e até hoje é um dos únicos. O intenso uso do local, que recebe jogos dos campeonatos de base da Federação Paulista e competições amadoras promovidas pelo município, é apontado pela prefeitura como motivo para a escolha. “Das 8 da manhã às 10 da noite, todos os dias, o estádio é usado. Não poderíamos ter esse ritmo

Lehtikuva/Reuters

Anton Denisov/Reuters

Shaun Best/Reuters

Funcionários instalam grama sintética no Estádio Olímpico de Montreal, que recebeu partidas do Mundial sub-20 deste ano

MOMENTOS HISTÓRICOS

Brasil Espanha

30/agosto/2003, em Helsinque Primeira final de um torneio da Fifa (Mundial sub-17) em grama sintética

se a grama fosse natural”, explica João Luiz da Costa Neto, assessor da secretaria de esportes do município. Costa Neto cita os baixos valores de manutenção como vantagem. “A grama sintética é três vezes mais cara que a natural para ser colocada, mas a manutenção é muito menor. No primeiro ano, em comparação com a natural, ela dá prejuízo. No segundo, as contas ficam iguais. E no terceiro já está registrando lucro”, diz. Apesar dos bons resultados, Fifa e Uefa ainda não apontam a grama sintética como primeira opção. Por exemplo, o Estádio Luzhniki, de Moscou, tem grama sintética e recebe jogos oficiais no piso, mas quando for palco da decisão da Liga dos Campeões, em maio de 2008, seu gramado será natural. E as Eurocopas de 2008 e 2012 serão jogadas, até segunda ordem, todas na grama “de verdade”. Mas é inegável que o piso artificial ganha cada vez mais espaço. Por isso, não se espante se, em breve, começar a ver jogos de Estaduais – ou até do Brasileirão – na grama sintética.

O piso sintético tem duas vantagens em relação ao natural: o baixo custo de manutenção e a resistência ao frio Novembro de 2007

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PARTE 6: Legado

Os benefícios de receber uma Copa do Mundo não se limitam às obras de estádios e infra-estrutura. O retorno do investimento também se dá na economia e até em fatores sociais – isso, claro, desde que o anfitrião saiba o que quer do Mundial por Ubiratan Leal

Mundial pode

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que deixariam algum legado ao Rio de Janeiro — como despoluição da Baía de Guanabara e criação de uma nova linha de metrô — e a construção de grandes arenas esportivas de necessidade duvidosa, a organização do evento e o governo ficaram com a segunda opção. Tal erro estratégico não passou despercebido pela população. De acordo com um estudo sobre a segurança pública e os Jogos Pan-Americanos, 83% dos 2.410 entrevistados achavam que tudo voltaria ao normal após a cerimônia de encerramento. “Isso mostra uma total descrença da população nas autoridades. E ela tinha razão, porque as medidas não tiveram continuidade”, comenta o sociólogo Maurício Murad, professor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e da Universo e autor da pesquisa. Outro dado importante do estudo é a percepção da população de que o Pan poderia ser um catalisador para investimentos em segurança pública, transporte, iluminação das ruas, uso das instalações esportivas pela rede escolar e outros benefícios sociais. O problema é que, dos secretários estaduais de esportes entrevistados pela Trivela, poucos pareciam entender que organizar a Copa é mais do que

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Ubiratan Leal/Trivela

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Eurocopa não é uma Copa do Mundo. Ainda que seja um torneio dos mais interessantes do ponto de vista técnico, a atenção da mídia, o valor dos patrocínios e o número de participantes são menores. Mesmo assim, a Euro foi responsável por quase um sexto do crescimento de 1,3% do PIB de Portugal em 2004. Em 2006, o Mundial, sozinho, fez o PIB da Alemanha aumentar em torno de 0,25%. Aí já se vê como receber grandes eventos pode ser muito bom para o país. É nesse tipo de recompensa que o Brasil tem de ficar de olho em seu projeto para organizar a Copa do Mundo de 2014. Se o torneio for avaliado como oportunidade econômica e social – e não apenas mais um evento a ser organizado –, há uma real chance de reduzir carências nacionais e inserir o país na rota dos grandes destinos turísticos do mundo (veja box). Esses benefícios são tão importantes quanto a melhoria da infra-estrutura e muito mais necessários que a modernização de estádios. Infelizmente, há motivos para acreditar que isso pode se perder. Basta ver o que ocorreu no último grande evento esportivo organizado no Brasil, os Jogos PanAmericanos. Ao escolher entre as obras

Estádios modernos, como a Arena da Baixada, são apenas o aspecto mais visível do legado que poderá ser deixado pela Copa

“Die Welt zu Gast beim Freunden”, algo como “recebemos o mundo entre amigos”. Eis o lema da última Copa do Mundo, na Alemanha. O país é uma das maiores economias do planeta, mas o mês do Mundial trouxe mudanças que décadas de reuniões políticas não resolveram. Graças ao bom desempenho do Nationalelf, o alemão voltou a sentir orgulho de seu país sem se sentir culpado. Tão importante quanto essa mudança social foi ter mostrado para o mundo um país que poucos conheciam e viam com ressalvas na hora de incluir em seu roteiro turístico. Segundo a Central Alemã de Turismo (DZT), mais de 52 milhões de estrangeiros entraram na Alemanha em 2006, dos quais 11 milhões (21,15%) apenas entre junho e julho. “Tenha sido pela televisão ou ao vivo na Alemanha, milhões de pessoas olharam para nosso país”, comemora Petra Hedorfer, diretora-presidente da DZT. Quem mais saiu ganhando, por motivos óbvios, foi o futebol. Os clubes receberam dinheiro com a Copa (os lucros obtidos pelo Comitê Organizador foram repassados a times das três primeiras divisões), a média de público na Bundesliga aumentou na temporada 2006/7 e foram criadas mais de mil novas escolinhas de futebol. Por outro lado, a overdose de futebol trouxe uma pequena ressaca no início da temporada 2007/8. Alguns produtos ligados ao esporte lançados antes da Copa saíram do mercado – o melhor exemplo é a revista “Rund” –, e o público do Campeonato Alemão diminuiu. Muito disso, é preciso deixar claro, aconteceu por conta do aumento no preço dos ingressos das modernas arenas alemãs. [CEF] Novembro de 2007

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O que ficou para a Alemanha

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Legado

construir estádios e infra-estrutura. Um deles foi Carlão, secretário de esportes de Santa Catarina e ex-capitão da seleção de vôlei masculino: “Já participei de grandes eventos e sei que tudo tem de ser feito com antecedência, com envolvimento de sociedade e governo. Reunimos todos os órgãos e secretarias, incluindo a de educação, para trabalhar no projeto da Copa”.

Bons e maus exemplos Pode-se argumentar que os Jogos Pan-Americanos têm características diferentes das de uma Copa. Mas também existem exemplos bons e ruins em Mundiais recentes de futebol para o Comitê de Organização Brasil 2014 se espelhar. Em 1998, a França queria vender ao mundo (e aos próprios franceses) a imagem de um país aberto e multicultural. Houve sucesso, até porque os Bleus foram campeões com jogadores de origem africana, caribenha, armênia, argelina e polinésia. Além da imagem do país, a Copa consolidou a infra-estrutura turística francesa e criou um “boom” do futebol no país, com média de público e índices de audiência da Ligue 1 subindo nos anos seguintes. Quatro anos depois, ocorreu o oposto. Japão e Coréia do Sul estavam mais preocupados em superar um ao outro e gastaram muito mais que o normal em estádios faraônicos. O futebol cresceu nos dois países, mas não o suficiente para compensar o investimento feito. No final das contas, essa disputa ofuscou qualquer tentativa de realizar um projeto

adequado para as necessidades das nações, incluindo turismo e outros fatores não futebolísticos. O Brasil precisa aprender com os dois casos. Assim, identificará quais setores seriam mais beneficiados pela Copa do Mundo e poderá trabalhar para que o evento se volte a eles. Além do próprio Mundial, políticas nacionais podem, a partir de agora, ser elaboradas de modo a ajudar nesse processo. Por exemplo, pessoas envolvidas na organização da candidatura brasileira a 2014 comentam que há uma grande chance de o “tema” central ser a ecologia ou o desenvolvimento sustentável. Um caminho simplista é apenas fazer estádios ecologicamente corretos e criar parques. Outra possibilidade, muito mais complexa, é criar toda uma política ambiental e usar o torneio como ponto central de um processo maior. “O Brasil é cheio de carências. Ninguém que comande a organização de um evento desse tamanho tem o direito de desperdiçar a oportunidade de melhorar o país desse jeito”, afirma Maurício Murad. Até agora, só se fala em estádios e transportes. E nem se usa a Copa como um eventual indutor para a reformulação da malha ferroviária (para passageiros) do país. Política ambiental é algo ainda mais abstrato. É possível mudar o rumo, mas falta pouco tempo. Para um projeto tão profundo como o do Mundial, sete anos não é muito. Seria uma pena, pois um evento capaz de mudar o país pode ser nada mais que um campeonato de futebol.

A Olimpíada de 1992 transformou a

No que o Brasil pode sair ganhando

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Empregos

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Obras por todo lado, serviços turísticos (hotelaria, atrações, restaurantes, bares, vida noturna em geral), produtos ligados ao futebol ou à Copa e aquecimento da economia geram empregos diretos e indiretos. Para alguns casos, é preciso mão-de-obra especializada, e os setores devem se movimentar para dar treinamento adequado.

Incremento do turismo A chegada de torcedores no mês da Copa do Mundo tem grande efeito no setor do turismo, mas o grande benefício pode aparecer nos anos seguintes. O evento dá uma enorme exposição ao país, e várias pessoas tomam conhecimento da diversidade cultural brasileira. O melhor exemplo é Barcelona, que se tornou um dos destinos mais procurados do mundo depois dos Jogos Olímpicos de 1992.

Infraestrutura das cidades O Brasil é um país em desenvolvimento com várias carências sociais e de infra-estrutura. Assim, um evento que motive investimentos em transporte, saúde e segurança é sempre bem-vindo, desde que os projetos não sejam provisórios e sigam funcionando depois da Copa do Mundo.

Atratividade para investidores Receber com sucesso um evento como a Copa passa ao mundo inteiro uma imagem de seriedade, organização e capacidade de cumprir metas. Até empresas sem ligação com o esporte sentem-se mais seguras para investir no país, seja no mercado financeiro, na construção de novas fábricas ou no setor de serviços.

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Autoestima do país Ver seu país como centro das atenções do mundo por um mês faz qualquer população se sentir mais confiante e disposta a melhorar. A produtividade no trabalho, a confiança nas instituições e até a vontade de participar de organizações sociais tendem a aumentar, ainda que seja um benefício difícil de medir.

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Melhoria de políticas de esporte

Aumento do mercado de futebol

Copas do Mundo e Jogos Olímpicos fazem com que muita gente, sobretudo crianças, se sinta disposta a praticar esportes. Essa “febre” pode ser aproveitada para alavancar um grande projeto de esporte voltado à educação e inclusão social. Os resultados são de longuíssimo prazo, mas bastante sólidos.

O setor de futebol sempre tem grande aquecimento na época de uma Copa do Mundo. Mais pessoas consomem o futebol, de ingressos para jogos a objetos com marcas de clubes, passando por publicações editoriais e artigos esportivos. Depois do torneio, parte desse interesse no esporte se mantém.

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Legado

Esta reportagem encerra a série Copa’14. Foram seis capítulos, em que abordamos formação do comitê de organização, infra-estrutura necessária, estádios que podem ser utilizados, escolha das cidades-sede, financiamento das obras e custos de organização e, agora, legado. Dissecando cada um desses temas com profundidade, dando a eles a importância devida, a Trivela entrevistou dirigentes de futebol, ministros, secretários de Estado, parlamentares, representantes do mercado, ONGs e acadêmicos com estudos nessas áreas, para dar um panorama realista do que está diante do torcedor quando o assunto é a Copa do Mundo de 2014. Nessas seis reportagens, ficou evidente que o Brasil tem, em teoria, condições de realizar uma Copa do Mundo. Mas precisa respeitar sempre uma diretriz: realizar um projeto adequado à realidade e às necessidades brasileiras. Assim, o orçamento ficaria dentro das possibilidades de um país em desenvolvimento e ainda poderia trazer retorno, como benefícios diretos e indiretos. O problema é que, até agora, não se vê isso. Elaborar um projeto para a Copa do Mundo exige esforços conjuntos de todos os setores da sociedade, que teriam à disposição diversos fóruns para realizar o debate. No entanto, a regra tem sido a centralização de tudo no Comitê de Candidatura, representado por Ricardo Teixeira. O resto do país não se mexe, como se sobrasse tempo para fazer tudo com calma. Nada disso: já estamos em cima da hora e, para fazer um projeto sério, é preciso começar logo. Não se pode deixar que o atraso seja apenas um pretexto para justificar soluções improvisadas ou contratar obras e serviços públicos sem licitação – como aconteceu nos Jogos Pan-Americanos. [UL]

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Divulgação

cidade de Barcelona em um dos maiores pontos turísticos do mundo

Falta pouco tempo

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Arquivo pessoal

VIETNÃ por Gustavo Hofman

Mandado foi

ao Vietnã O país asiático, de pouca expressão no futebol, é um dos maiores importadores de atletas brasileiros nos últimos anos – e quem fornece essa mão-de-obra é um pequeno clube do Paraná os versos da música, um garoto que amava os cá, tornou-se o clube brasileiro que mais exporta joBeatles e os Rolling Stones era mandado da gadores para a região – responde por mais da metade América ao Vietnã para lutar. Passados mais das transferências. Um dos motivos para isso é o ótimo de 30 anos do fim do conflito, muitos jovens ainda relacionamento que Onizuka mantém com empresários seguem o caminho descrito na canção. A origem e o e dirigentes do futebol daquele país. propósito deles, no entanto, é bem diferente. “Negocio diretamente com os clubes. Claro que exisNos últimos anos, o Vietnã tornou-se um dos países tem muitos empresários também, mas fomos para lá e que mais importam jogadores brasileiros. Em 2005, por eles gostaram do que viram”, diz Onizuka. “As negoexemplo, foram 30, tornando o país o quarto na lista ciações não geram dinheiro para o Matsubara, somente dos que mais levaram nossos jogadores, à frente de des- um lucro muito pequeno”, completa. Mas, então, por tinos tradicionais, como Alemanha e Espanha. que o clube negocia tantos jogadores com o Vietnã? A economia vietnamita, totalmente devastada com Onizuka esquiva-se e diz que o Matsubara faz isso paa guerra nos anos 60 e 70, dá fortes sinais de recupe- ra ajudar os atletas. No entanto, muitas comissões, nas ração e é apontada como uma das mais promissoras negociações, certamente sobram para algum lado – e o para investimentos. Com isso, apesar do fraco nível Matsubara acaba servindo apenas como “laranja”. técnico do futebol, o Vietnã é um mercado atraente Apesar de toda a fama, os jogadores brasileiros ainpara jogadores de segundo nível. “No Brasil, muitas da são minoria no Vietnã. Segundo Onizuka, para cada vezes, o jogador enfrenta uma realidade muito dura, atleta nascido no Brasil, há cinco oriundos da África atucom salários atrasados, sem gaando em campos vietnamitas. “Os rantia de recebimento. No Vietnã, caras oferecem US$ 500 dólares por “Muitos jogadores ele tem a certeza de que vai remês, e os africanos vão sem pensar ceber. Muitos ganham menos que duas vezes”. No caso dos brasileiros, que chegam no Brasil, mas recebem o salário”. o salário médio é de US$ 3 mil. não agüentam e Quem diz isso é Mauro Onizuka, Experiências no Vietnã diretor de futebol do Matsubara, querem voltar. Em 2002, após uma temporaequipe da segunda divisão do Sentem saudade da no Rio Branco-ES, o zagueiCampeonato Paranaense. ro Rocha foi levado ao Vietnã. E o que o Matsubara tem a ver da família, Seu empresário mantinha concom o Vietnã? O clube passou a da comida” tatos com o treinador português ter ligações com o país em 2004, Henrique Calisto, do Dong Tam. quando foi convidado a participar Bruno, ex-jogador do Grêmio Inhumense e atualmente no vietnamita Binh Dinh Logo em seu primeiro ano no país, de um torneio amistoso. De lá para

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Bruno Barbosa (camisa 4) teve dificuldades de adaptação, mas hoje está feliz no Binh Dinh

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conquistou o título da segunda divisão e o respeito dos dirigentes e torcedores. “Foi um grande aprendizado para mim. No Vietnã, é tudo muito profissional. Se os resultados não aparecem, o presidente do clube convoca uma reunião com os estrangeiros para saber o que está acontecendo”, conta o agora ex-jogador, de apenas 33 anos, que hoje estuda educação física. Rocha reafirma o principal fator que leva os brasileiros para o sudeste asiático. “O salário não vai resolver toda sua vida, mas pagam em dia, e eu soube fazer minhas economias. Valia muito a pena ir para lá, porque eu jogava em clubes de médio e pequeno porte no Brasil, não tinha muita perspectiva”. Hoje, quem está por lá aponta as mesmas vantagens e desvantagens do futebol no Vietnã. “O principal é que pagam em dia. Se possível, pagam até antes”, relata Bruno de Souza Barbosa, ex-jogador do Grêmio Inhumense e atualmente no Binh Dinh. “Só que muitos jogadores não agüentam e querem voltar. Sentem saudade da família, comida... Tem que querer lidar com outra cultura, não apenas gostar de futebol”, completa Bruno. A comida, por sinal, é sempre lembrada por todo brasileiro que passa pelo Vietnã. “No começo, foi muito difícil, tanto que perdi sete quilos”, conta Rodrigo Toledo, atacante, há dois anos e meio no Vietnã. Como muitos outros, foi levado ao país por Mauro Onizuka. “Conversei com o Mauro, e ele me disse que uma equipe de lá precisava de um atacante. Treinei por duas semanas no Matsubara e me transferi”.

Evolução e contratempos

Transferências de brasileiros para o Vietnã

30 22 16

6

1

7

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2004

2005

2006

35º

16º

11º

Vindos do Matsubara

Posição no ranking de transferências

20

17

Total

10 2007* 7º * até agosto

Na prática, o aumento de estrangeiros tem melhorado o nível do futebol no país e contribuído para uma evolução da seleção vietnamita. “Os estrangeiros ajudaram a melhorar bastante o nível da competição, mas alguns jogadores daqui são muito bons. É um campeonato corrido, rápido e forte”, afirma Bruno. Apesar de tudo isso, o futebol vietnamita ainda sofre com problemas de corrupção, envolvendo dirigentes e até mesmo jogadores. Em 2005, por exemplo, quatro membros da seleção sub-23 foram presos, acusados de manipulação de resultados. Rocha também lembra que, quando defendeu o TT Hue, perdeu a chance de conquistar um título por causa de casos de corrupção. Outro fator que ainda assombra o país é a Guerra do Vietnã, conflito que durou de 1959 a 1975. “A guerra devastou essa nação. No interior do país, principalmente, ainda se encontram muitas seqüelas. Por exemplo, Hue, onde joguei, foi arrasada”, lembra Rocha. De qualquer modo, o Vietnã é e continuará sendo um destino para brasileiros no exterior. “Atualmente, estou negociando com três clubes do Vietnã. Eu prefiro voltar, me adaptei muito bem ao país e lá sou reconhecido”, diz Toledo. “Tenho contrato até o fim de 2009 e espero cumpri-lo”, afirma Bruno. “Penso em voltar para o Vietnã como treinador. Se me convidarem hoje, amanhã já estou de malas prontas no avião”, afirma Rocha, sem deixar dúvidas. Novembro de 2007

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HISTÓRIA por Gustavo Hofman

Como fotógrafo, Che cobriu o Pan-Americano de 1955, no México

De Rosario, de Rosario Central.

Yo soy rosarino No aniversário de 40 anos da morte de Ernesto “Che” Guevara, Trivela relembra a relação do revolucionário argentino com o futebol

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o dia 9 de outubro de 1967, no pequeno e inóspito vilarejo de La Higuera, 150 km a sudoeste de Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia, Ernesto “Che” Guevara, após ser capturado pelo governo da Bolívia com a ajuda da CIA (Central de Inteligência Norte-Americana), foi assassinado por oficiais do exército boliviano. Seis tiros no tórax encerraram a trajetória revolucionária de Guevara, que começara com sucesso em Cuba, fracassara no Congo e terminara, novamente em fracasso, em solo latino-americano. Semanas após sua morte, o jornalista italiano Giangiacomo Feltrinelli publicou um pôster com a famosa foto capturada por Alberto Korda e conseguida por ele dias antes, com o próprio fotógrafo. Um Che altivo, de olhar ao infinito, iconográfico. Primeiro

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foram os jovens de Milão a saír às ruas carrecom a maioria. Quando soube da existência Revolucionário gando a imagem de Che. Depois Paris, Praga, do Rosario Central, uma equipe menor e de argentino foi São Paulo. Menos de um ano após sua morte, sua cidade natal, não pensou duas vezes em Che Guevara ressuscitara como mito. se tornar torcedor. Como relata o escritor e técnico de futebol, Bom, mas e daí? A Trivela agora é revista biógrafo de Che, Hugo Gambini, o jovem além de ter de política? Ou quer só se contrapor à Veja? Guevara adorava que o perguntassem “¿De Nenhuma das duas, pelo menos por enquanque cuadro sos?”. Rapidamente, ele enchia o praticado diversos to. O que a maioria dos jovens idealistas que peito e respondia com orgulho: “De Rosario, outros esportes carregam cartazes com o rosto do herói rede Rosario Central. Yo soy rosarino” – mesvolucionário não sabe é que, até na história mo sem conhecer a cidade e muito pouco de Che Guevara, o futebol se faz presente. Ele mesmo, o futebol, sobre o clube. Gostava também, como seu segundo clube, do peesse “esporte burguês”, parte integrante do “ópio do povo”. queno Sportivo Alta Gracia.

Rosario Central

Goleiro por instinto (e necessidade) Dentro de campo, Che optou ser goleiro muito mais pelas dificuldades causadas pela asma do que por qualquer outro motivo: se cansava menos e tinha o inalador ao seu alcance sempre. No entanto, relatos de amigos da época contam que o já apelidado “Pelado” – devido ao corte rente de cabelo – foi um exímio guarda-metas. Muitos anos mais tarde, em 1963, já como ministro de Cuba, atuou nessa posição em uma partida contra universitários, em Santiago de Cuba – e chamou a atenção pela disposição com que jogou. Outra história curiosa liga Che ao futebol. “Durante a sua viagem de motocicleta pela América Latina com o amigo Alberto Granado, os dois chegaram a se transformar em técnicos de futebol em Letícia, na Colômbia. Por um breve período, os dirigentes do Independiente Sporting de Letícia os contrataram para treinar o time local que enfrentava uma série de partidas eliminatórias. Conhecedores das últimas táticas do futebol argentino, conseguiram melhorar o desempenho do time, que ficou em segundo lugar no campeonato”, conta Roniwálter Jatobá, biógrafo brasileiro de Che. Guevara jogou também rúgbi. Fez parte de muitas equipes em Buenos Aires e Córdoba e por meio dele conheceu o companheiro Granado. Praticou muitos esportes, como golfe (foi caddie inclusive), natação, montanhismo, xadrez (era um exímio jogador) e tênis de mesa. Outros com menor intensidade e mais por diversão, tais como saltos ornamentais, caminhadas, boxe, hipismo, beisebol, basquete e tiro. Chegou, também, a cobrir como fotógrafo os Jogos Pan-Americanos da Cidade do México, em 1955. Em setembro de 1954, Guevara chegou ao México fugido da Guatemala. Comprou uma máquina fotográfica e passou a procurar emprego. Conseguiu um na recém-criada Agencia Latina, pela qual cobriu os jogos como fotógrafo e redator. Desse período, porém, a história reserva poucos relatos. Ele mesmo escreveu muito pouco em seus diários. Relatou, apenas, as duras jornadas e o baixo salário que recebia como jornalista. De maneira bem clara, foi entusiasta do esporte. Ainda que esta seja uma faceta pouco conhecida do mitológico “Comandante”. Fotos AFP

Ernesto Guevara de La Serna nasceu no dia 14 de junho de 1928, na cidade de Rosário, Argentina. Antes mesmo de completar um ano, sua família se mudou para Buenos Aires, onde, aos dois anos, teve seu primeiro ataque de asma. Mesmo com muitos tratamentos, os médicos aconselharam os Guevara de la Serna a se mudarem para uma cidade mais tranqüila e menos poluída. Alta Gracia, perto de Córdoba, foi o local escolhido. Já criança, Ernesto Guevara começou a tomar gosto pelos esportes, principalmente para testar seus limites – muito a contragosto dos pais, preocupados com sua problemática asma. E o futebol foi logo o primeiro a aparecer. A enorme maioria dos jovens locais tinha certo apreço pelos dois clubes mais tradicionais do país, Boca Juniors e River Plate. Ernesto, desde pequeno, já não queria ir

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EUROPA por Rafael Martins

Futebol microscópico egue um mapa-múndi. Procure por Ilhas Faroe, San Marino, Andorra, Liechtenstein e Luxemburgo. Está difícil? Arranje uma lupa. Encontrou? Agora veja a tabela das eliminatórias para a Euro-2008. Tente achar os mesmos países. Você vai perceber que suas posições (são os lanternas de seus grupos) combinam com seus minúsculos territórios. Somadas as campanhas, até o fim de outubro essas seleções fizeram 54 jogos, tendo vencido três, empatado um e perdido 50. Marcaram 17 gols e sofreram 181. Os números são mas compreensíveis. Com populações exíguas e clubes amadores, os nanicos da Europa não poderiam estar em outra situação. Muitos acham que tais seleções nem deveriam existir e que é um desperdício fazê-las jogar contra Itália ou Alemanha. A Uefa não pensa assim. A entidade considera que os duelos com as potências são fundamentais para o desenvolvimento do futebol nos países menores. As pequenas federações também não ficam nada incomodadas com as gordas fatias de direitos televisivos que recebem com tais confrontos. A postura da Uefa é igual no que diz respeito aos clubes. Michel Platini, alçado à presidência com o apoio dos “excluídos”, introduziu os campeões de San Marino e Andorra na Liga dos Campeões. Tomaram pau, é claro, mas a simples presença em uma copa conti-

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Nem tudo nos campos da Europa é espetáculo, negócio e competitividade. Também há espaço para ingressos gratuitos, carpinteiros goleadores e países sem campeonato

nental já é algo inesquecível para equipes tão provincianas. “A diferença técnica era abismal, mas fica para sempre o sentimento de ter atuado na Copa Uefa, algo que para muitos profissionais nunca passará de sonho”, conta Massimo Barbieri, presidente do Pennarossa, clube de San Marino que participou da Copa Uefa de 2004/5. “Nossos jogadores são parentes ou amigos dos torcedores”, diz Barbieri. Nos jogos “importantes”, o time atrai ao estádio entre 80 e 100 pessoas, que não pagam nada pelo ingresso. Nenhum clube de San Marino possui estádio próprio, portanto, os 15 times que disputam o campeonato local têm de se revezar no uso dos cinco campos disponíveis. A liga samarinesa não é das mais empolgantes, mas, pelo menos, existe, luxo a que Liechtenstein não pode se dar. O Vaduz, único clube profissional do país, divide seu tempo entre a segunda divisão suíça e a Copa de Liechtenstein, na qual não encontra adversários à altura. Na final da última edição, esmagou o Ruggel por 8 a 0.

Hora do recreio Termina o primeiro tempo. Um movimento na torcida indica que a garotada está pegando a bola trazida de casa e se preparando para descer ao campo. Os reservas das equipes vão para o aquecimento e

Andorra

Ilhas Faroe

Luxemburgo

San Marino

A população inteira caberia no... ...Morumbi Seu território é... ...um pouco maior que o de Curitiba e um pouco menor que o de Porto Alegre Filiação à Fifa 1996 Posição no ranking da Fifa 173º Curiosidade O meia Albert Celades, ex-Barcelona e Real Madrid, é o mais famoso jogador nascido em Andorra. Ele preferiu, contudo, defender a seleção espanhola.

A população inteira caberia no... ...Olímpico Seu território é... ...um pouco menor que o da cidade de São Paulo Filiação à Fifa 1988 Posição no ranking da Fifa 194º Curiosidade O B71, da cidade de Sandur, conta com nada menos que quatro jogadores brasileiros em seu elenco.

A população inteira caberia em... ...cinco Maracanãs Seu território é... ...duas vezes maior que o da cidade do Rio de Janeiro Filiação à Fifa 1910 Posição no ranking da Fifa 150º Curiosidade O Red Boys Differdange levou, na temporada 1984/5, a maior goleada da história da Copa Uefa (0x14 frente ao Ajax).

A população inteira caberia no... ...Parque Antarctica Seu território é... ...equivalente ao de Águas de Lindóia, estância hidromineral de São Paulo Filiação à Fifa 1988 Posição no ranking da Fifa 196º Curiosidade Davide Gualtieri fez o gol mais rápido da história das Copas do Mundo, incluídas as eliminatórias. Foi contra a Inglaterra, em 1993, aos 8,3 segundos de jogo.

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Christian Hartmann/Reuters

Liechtenstein echtenstei

Jogadores de Liechtenstein comemoram uma rara vitória, em jogo contra a Letônia

misturam-se às crianças. A brincadeira só acaba quando é hora de dar início à segunda etapa. Todos retornam a seus lugares, e o juiz apita. Dá para imaginar a cena em um campeonato de ponta? Nas Ilhas Faroe, isso acontece. E ninguém fica preocupado com possíveis tumultos. “Nunca tivemos um caso de violência por aqui. Nem há policiamento nas partidas”, revela Marni Mortensen, ex-jogador do HB Tórshavn, time da capital feroesa. Indagado a respeito da rivalidade com o B36 Tórshavn, Mortensen garante que ela existe, mas se restringe a saudáveis gozações. Ponto para as Ilhas Faroe – em Luxemburgo, a rixa entre clubes da mesma cidade é um ingrediente que praticamente sumiu, dada a grande onda de fusões das últimas décadas. O fenômeno não ajudou os times luxemburgueses nas copas européias: eles continuam sendo presas fáceis. Nesse ponto, são iguais aos feroeses.

Ganha-pão Os jogadores feroeses asseguram seu sustento por meio de uma profissão fora dos gramados. “São pessoas comuns”, define Marni Mortensen. Rógvi Jacobsen, atacante do HB e carpinteiro nos dias de semana, é um desses cidadãos. Sua melhor peça ficou guardada no gol protegido por ninguém menos que Buffon. Foi em junho, quan-

A população inteira caberia no... ...Couto Pereira Seu território é... ...equivalente ao de Arraial do Cabo, município litorâneo do Rio de Janeiro Filiação à Fifa 1974 Posição no ranking da Fifa 119º Curiosidade Liechtenstein, única monarquia absoluta da Europa, fez seu primeiro ponto em eliminatórias para Copas em grande estilo: em 2005, empatou com Portugal por 2 a 2.

do as Ilhas Faroe perderam por 2 a 1 para a Itália. Os feroeses, aliás, dão sorte com madeira: em seu primeiro jogo oficial, em 1990, a seleção do país chocou o mundo ao derrotar a Áustria por 1 a 0, gol de Torkil Nielsen, comerciante madeireiro – e campeão de xadrez, nas horas vagas. A seleção de Andorra também é composta por trabalhadores das mais diversas áreas, como turismo, vendas e fisioterapia. No interesse pelo futebol, porém, a realidade andorrana distancia-se da feroesa. Enquanto, no arquipélago, o povo gosta do esporte e fica de olho em ligas estrangeiras, em Andorra nota-se certa indiferença. Não por acaso, a única vitória da seleção andorrana em competições oficiais, ocorrida contra a Macedônia, nas eliminatórias da Copa de 2006, foi testemunhada por 116 pessoas, menor platéia registrada em um jogo de eliminatórias, em todos os tempos. A partida foi realizada no acanhado Estádio Comunal, cercado por belas montanhas. Tudo muito isolado e reduzido. Tudo muito longe das atenções da mídia. Só enxerga quem gosta muito de futebol e conta com uma boa lupa. Novembro de 2007

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INGLATERRA por Tomaz R. Alves

Mais do que o Aos 20 anos, Fàbregas já substituiu Henry como ídolo do Arsenal

Kieran Doherty/Reuters

“novo Vieira” Fàbregas começou a brilhar no Arsenal como substituto de Vieira. Hoje, é o astro do time e mostra potencial para ser o melhor do mundo a última pré-temporada, o Arsenal sofreu um duro golpe com a saída de Thierry Henry. As previsões eram pessimistas, e muitos apostavam que o time teria dificuldade até para ficar entre os quatro primeiros colocados do Campeonato Inglês. Na hora em que a bola rolou, os Gunners surpreenderam, assumindo a liderança da Premier League com um bom futebol. Curiosamente, não é a primeira vez que isso acontece com o Arsenal. Em 2005, o time perdeu um de seus pilares, o volante Patrick Vieira. Na temporada seguinte, os Gunners chegaram à final da Liga dos Campeões pela primeira vez em sua história. Nos dois casos, um nome aparece quando se tenta explicar como o Arsenal conseguiu superar perdas tão importantes: Cesc Fàbregas. Foi ele quem, em 2005, substituiu – com ganhos – Vieira e que, agora, ocupa o posto de astro deixado vago por Henry.

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Posição-chave No esquema tático do Arsenal – e de um número cada vez maior de equipes –, uma figura muito importante é a que podemos chamar de “armador recuado”. Esse é um jogador que se posiciona à frente da defesa, como um volante, mas cuja função primordial é criar lances de ataque, não defender. No Milan, Pirlo joga assim. No Arsenal, Cesc faz essa função. Não por acaso, o milanista é um dos ídolos de Fàbregas: “Como jogado-

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Getty Images/AFP

Arsène Wenger (dir.) foi fundamental para lapidar o futebol de Fàbregas

Francesc Fàbregas Nascimento: 4/maio/1987, em Arenys de Mar-ESP Altura: 1,80 m Peso: 70 kg Carreira: Arsenal (desde 2003) Títulos: Copa da Inglaterra (2005) Pela seleção espanhola: 20 J / 0 G

res, admiro Kaká e especialmente Pirlo, que é um dos melhores jogadores do mundo”. Essa função tática, atribuída a Cesc por Arsène Wenger, foi um dos segredos para que o time não sentisse falta de Vieira. O francês era um excelente marcador e não era ruim com a bola no pé. Cesc não desarma tão bem, mas seu repertório de passes é infinitamente superior. Como Gilberto Silva pode perfeitamente fazer a função de desarme que era de Vieira – por isso o brasileiro é tão importante para os Gunners, hoje –, não há problema em ter um jogador “de criação” à frente da defesa. A complementaridade entre Gilberto Silva e Cesc foi um dos segredos do Arsenal na campanha rumo à final da Liga dos Campeões. Nas quartas-de-final, inclusive, os Gunners enfrentaram a Juventus, de Vieira – e eliminaram de forma merecida a Vecchia Signora. Ao levar a melhor sobre seu respeitado antecessor, Fàbregas mostrou que não era simples arrogância uma

de suas mais famosas frases: “Não gosto que digam que eu sou o novo Vieira. Eu sou Cesc Fàbregas”. Aliás, Cesc vem tendo um desempenho tão bom, e com tamanha personalidade, que é fácil esquecer que ele tem apenas 20 anos de idade. No começo da temporada, ele já declarava: “Amadureci muito nos últimos dois anos e estou preparado para ser o líder da equipe”. E foi o que aconteceu – a tal ponto de essa ser uma preocupação do técnico Wenger. Afinal, de nada adianta o Arsenal trocar a “Henrydependência” das últimas temporadas por uma “Cescdependência”. Tanto o time tem dependido de Fàbregas que ele chegou à metade de outubro como artilheiro dos Gunners, ao lado de Adebayor, com oito gols. Embora se espere, sim, que Cesc faça gols – esse é o aspecto em que mais evoluiu nesta temporada –, não se pode contar com a manutenção de sua média atual (mais de 0,6 por jogo).

O mentor O papel de Arsène Wenger no caminho de

“Não gosto que digam que eu sou o novo Vieira. Eu sou Cesc Fàbregas”

Cesc rumo ao estrelato vai além da definição da função tática que o espanhol teria no time. Foi Wenger quem levou Fàbregas para o Arsenal. Mais que isso: Cesc só aceitou ir para os Gunners por causa do técnico francês. Em 2003, com apenas 16 anos, Fàbregas era um jovem promissor nas categorias de base do Barcelona. Foi, inclusive, o melhor jogador do Mundial sub-17 de 2003 (marcou seis gols na campanha que levou a Espanha ao vice-campeonato). A essa altura, no entanto, o volante já percebia que, apesar do talento, teria poucas chances no time titular do Barça – o que é comum, dada a pressão por resultados nos gigantes europeus. Nesse ponto, entra Arsène Wenger. O técnico, que já acompanhava o desenvolvimento de Cesc havia algum tempo, abordou o jogador e apresentou seu projeto para o futuro do Arsenal. O espanhol ficou impressionado e viu ali uma oportunidade de brilhar num grande clube. Desde que chegou ao Arsenal, Fàbregas teve Wenger como mentor. Em pouco tempo, tornou-se o jogador mais jovem na história a atuar pela equipe (com 16 anos e 177 dias) e o mais jovem a marcar um gol. Em 2004/5, já era considerado titular; na temporada seguinte, levou o time à final da LC; em 2006/7, fez grande campanha, com 15 assistências, tendo sido eleito pela torcida o melhor jogador do time. Com apenas 20 anos, já fez mais de 150 partidas com a camisa do Arsenal. O jogador sabe que essas marcas – e o reconhecimento internacional pelo bom futebol – só foram possíveis graças à tutela do técnico. Em 2006, quando renovou seu contrato com o Arsenal por incríveis oito anos, ele reconheceu essa importância: “Queria retribuir ao clube, especialmente a Arsène Wenger, pelo apoio e fé que mostrou em mim”. Em julho de 2007, frente ao assédio de clubes como Real Madrid e Barcelona, o jogador confirmou a lealdade e não deu corda às especulações. Wenger, claramente, tem grandes planos para Fàbregas: “Sua visão é comparável à de Platini. Ele ainda está no começo da carreira, e vai se desenvolver ainda mais”. Se continuar com a trajetória ascendente, é questão de tempo até Cesc figurar ao lado de Kaká, Cristiano Ronaldo, Messi e companhia como candidato a melhor jogador do mundo. Como dizem os torcedores do Arsenal, “Arsène sabe”. Saiba mais sobre futebol inglês em www.trivela.com/inglaterra

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CAPITAIS DO FUTEBOL por Cassiano Ricardo Gobbet

Uma

cidade de duas cores Liverpool fica às margens do rio Mersey, mas é dividida por um oceano quando se trata das diferenças entre Toffees e Reds m rio divide Liverpool. Não, não estamos falando do rio Mersey, que, na verdade, apenas passa pela divisa da cidade onde nasceram os Beatles – tanto que os habitantes da cidade são chamados de “Merseysiders”, ou seja, “aqueles que moram às margens do rio Mersey”. Muito mais profundo do que o rio em cujo estuário a cidade se encontra é o oceano que separa Reds e Toffees, respectivamente os torcedores do Liverpool e do Everton. Trata-se de dois dos clubes mais antigos do mundo e que protagonizam um dos clássicos mais intensos do futebol inglês e mundial. Intensos – mas sem ódio. Liverpool não teve sempre a fama de hoje, mesmo tendo sido fundada há oito séculos. Quatrocentos anos depois de sua fundação, a cidade ainda não tinha nem 600 habitantes, sendo eventualmente disputa-

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da por reis ou nobres em guerras. Somente no final do século XVII é que a economia local começou a andar, quando o porto da cidade passou a ser um importante centro de tráfico de escravos trazidos da África. O aporte de dinheiro na economia fez florescer o comércio, especialmente com as Antilhas, e logo Liverpool tornou-se responsável por metade da venda de escravos na Europa. No fim do século XIX, quase 50% do comércio mundial passava por lá.

A formação das almas Nessa mesma época, em 1878, começava a formar-se o embrião de uma associação ao redor de uma igreja, na zona noroeste da cidade. Na paróquia de São Domingo, ao lado da qual a comunidade jogava críquete, foi fundado o St. Domingo FC, que rapidamente ganhou a adesão da população local, entusias-

CLUBES DE LIVERPOOL Liverpool Football Club 5 Ligas dos Campeões 3 Copas Uefa 18 Campeonatos Ingleses 7 Copas da Inglaterra 7 Copas da Liga Inglesa

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Phil Noble/Reuters

Liverpool e Everton: rivalidade intensa, mas com respeito mútuo

Everton Football Club 9 Campeonatos Ingleses 5 Copas da Inglaterra 1 Recopa Européia

mada a participar do esporte que Um clássico como nenhum outro Não há na Inglaterra – e, garanapreciava. O apoio popular valeria ao clube – que mudou seu nome tem os moradores de Liverpool, em para Everton, um ano depois – o nenhum lugar do mundo – um outro jogo com rivalidade tão entraapelido de “Clube do Povo”. Originalmente instalados em nhada quanto a desse dérbi. Reds e Toffees não Stanley Park aceitam se mis(onde será consturar uns com truído o novo O estádio de os outros, e os estádio do LiverAnfield, hoje bairros da cidapool), os Toffees de dividem-se mudaram-se pao mítico templo em comunidara Anfield em des de cada clu1882. Não, não do Liverpool, be. Ao contrário é confusão. Anjá foi a casa do de times como field, hoje o míManchester Unitico templo onde Everton, maior ted e Arsenal, joga o Liverpool, rival dos Reds por exemplo, Lijá foi a casa do verpool e Evermaior rival. E a ton têm a base mudança de sede do Everton só ocorreu porque o do- de sua torcida na própria cidade. O no do estádio, um certo John Houl- jogo mobiliza a comunidade, e isso ding, resolveu quintuplicar o preço rende uma atmosfera totalmente do aluguel. O Everton não aceitou o diferente ao clássico. O bonito e particular do conaumento e foi para Goodison Park, que fica a poucas quadras dali. A fronto é que os rivais respeitam-se distância entre os dois estádios é bastante. Por exemplo, em 1989, tão pequena que se diz na cidade depois da tragédia de Hillsborough, que Liverpool e Everton são os ri- quando morreram 96 torcedores do vais cujas sedes são mais próximas Liverpool, fãs de ambos os clubes – ambas ficam perto de Stanley uniram-se em homenagens aos mortos. O clima cordial rende ao joPark – em todo o mundo. Esse tal Houlding não foi só res- go o nome “O Clássico Amistoso”. Goodison Park e Anfield têm ponsável pela ida do Everton para Goodison Park. Sem ter o que também uma aura mítica sobre fazer com o estádio de An- si. O campo do Everton é o estáfield, Houlding resolveu fun- dio inglês com maior número de dar um clube para jogar no jogos disputados pela primeira dilocal. Estava fundado o Ever- visão inglesa (o Everton só esteve ton Athletic. Estava? Não. A na Segundona por dois anos). Foi Football League (que tinha também o primeiro a adotar um o Everton original como sistema para descongelar o gramaum de seus membros do e é o único a abrigar uma igreja fundadores) recusou (de São Lucas Evangelista). Em Anfield, há dezenas de tradio registro do nome. Assim, o novo clube ções. Sempre que a Inglaterra jopassou a se chamar Liverpool FC. ga lá, o técnico inglês deve passar a mão no distintivo do Liverpool Estavam fundados os Reds. De novo: não, não estavam. A que existe a caminho do vestiáobsessão de Houlding com o Ever- rio – para dar sorte. Lá, também ton era tamanha que o clube ado- nasceu a tradição de o clube de usar tou o mesmo branco e azul do time o uniforme todo vermelho, numa de Goodison Park. Somente dois partida com o belga Anderlecht, anos depois é que o vermelho e o nos anos 60. Anfield também branco passaram a vestir a nova abriga o “Kop” original, que é equipe, que viria a ser o clube he- a arquibancada onde ficam os torgemônico na cidade – e no país – a cedores mais fiéis do clube, conhecidos como “kopistas” (ou “kopartir da década de 60. Novembro de 2007

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pites”, em inglês). O termo, em outros estádios, virou sinônimo do lugar em que está a torcida mais apaixonada, como no Gerland (Lyon), Parque dos Príncipes (Paris Saint-Germain) e Maksimir (Dinamo Zagreb).

Liverpool 470 mil habitantes

Além do clássico 2 1 2 5 1 4

Inglaterra

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Fotos Divulgação

ESTÁDIOS

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Anfield

Originalmente casa do rival Everton, Anfield deve deixar de ser a primeira e única sede do Liverpool em 2010, quando o campo de Stanley Park ficará pronto. Famoso, entre outras coisas, pelo portão com os dizeres “You’ll never walk alone”, Anfield é um dos estádios com a atmosfera mais intensa do futebol mundial.

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Goodison Park

Com 40.569 lugares para torcedores sentados, é um dos estádios mais antigos da Inglaterra e a casa do Everton desde 1892. Fica em uma área densamente populada, o que torna sua expansão difícil. Por causa disso, os Toffees deverão construir um outro estádio, no município de Knowsley, vizinho a Liverpool.

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Liverpool não é uma cidade turística. Sua economia originalmente portuária não a deixou com um visual muito agradável nem com um ar cosmopolita como o de Londres, por exemplo. Ainda assim, visitá-la está longe de ser um programa ruim. Aliás, pode ser até uma visita à Meca, caso você seja fã de Beatles. O quarteto britânico nasceu ali, e lá está o bar onde eles costumavam se apresentar, o Cavern Club. Com mais de 50 anos, o Cavern recebe legiões de fãs que buscam conhecer a atmosfera na qual o grupo de rock mais famoso do mundo se formou. Anualmente, lá acontecem encontros de bandas “cover” do grupo, com músicos vindos de todo o planeta. Os Beatles, aliás, estão no ar da cidade. Uma simples ida a Penny Lane, título de uma das músicas mais famosas do grupo, já é legal. No entanto, quem vai para lá pensando em roubar uma placa com o nome da rua acaba frustrado. De tanto sumirem com a sinalização, a prefeitura adotou sinais impressos nas paredes. Outro ponto de visita obrigatório também é título de um sucesso dos Beatles. Strawberry Fields é um orfanato que ficava nas imediações da casa de John Lennon, onde o músico gostava de ir brincar com seus amigos. Aliás, o próprio lugar onde morou John Lennon é visitado com uma adoração quase religiosa. Na frente da casa da Menlove Avenue, a peregrinação era tão grande que a família que morava lá deixava uma placa dizendo: “Esta é uma residência particular. Por favor, não entre”. Hoje, o endereço foi comprado pelo National Trust britânico, que transformou a casa em um local de visitação. Há Liverpool além de Beatles e futebol? Sim. A região das docas da

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Fotos Divulgação

O QUE VISITAR ENTRE UM JOGO E OUTRO

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Albert Dock

Área turística criada onde ficava um entreposto de carga e descarga do porto. O projeto do Puerto Madero, em Buenos Aires, foi inspirado em Albert Dock.

Strawberry Fields 3

2

Kop

Um símbolo da devoção da torcida dos Reds. A pressão é tamanha que, quando o Liverpool ataca para o gol na frente do Kop, tem mais chances de marcar.

4

Fisicamente, o lugar não tem nada demais, mas a visita vale a pena. O local é dotado de uma aura visível nas centenas de declarações deixadas em seus muros.

5 Cavern Club/Mathew Street

Penny Lane

Assim como Abbey Road, a rua foi mitificada em uma música dos Beatles. A via é cheia de referências às infâncias dos membros do grupo.

cidade é considerada patrimônio da humanidade. Construído no século XIX, quando a cidade era o ponto nevrálgico do comércio mundial, Albert Dock era um complexo para carregamento e armazenagem de cargas que foi transformado em um centro turístico, onde se encontram bares, restaurantes e hotéis. O antigo centro escravagista também deixou marcas que podem ser visitadas. Para comemorar os 200 anos da proibição da escravatura no país, foi fundado,

neste ano, o Museu da Escravidão Internacional, com peças, exposições e eventos sobre o tráfico de escravos no Atlântico. No ano de 2008, vai haver mais um motivo para se visitar Liverpool. Junto com as norueguesas Stavanger e Sandner, a cidade será a Capital Européia da Cultura (substituindo a atual, Luxemburgo). A escolha garante verbas da União Européia para a região exibir sua cultura e realizar uma grande quantidade de eventos.

Clube onde os Beatles fizeram seu “primeiro” show e onde tocariam quase 300 vezes nos dois anos seguintes.

Quem leva Nenhuma companhia aérea opera uma linha direta para Liverpool saindo do Brasil. O modo mais simples de chegar à cidade é pegar um avião para Londres, que tem vôos diretos (TAM, 0800 570 5700, e British Airways, 11 4004-4440), e depois se deslocar para Liverpool de trem ou avião (o acesso é fácil de qualquer um dos aeroportos). Contudo, se você topar fazer uma conexão em outra capital européia (Paris, Lisboa ou Amsterdã, por exemplo, com Air France, TAP e KLM), os preços podem ser até melhores.

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ITÁLIA por Cassiano Ricardo Gobbet

De volta do inferno,

mais forte Napoli amargou dois anos na segunda divisão e até um na terceira, mas voltou pela porta da frente com uma mensagem: quer fazer parte da elite européia Napoli é grande. Não, não é. Pelo menos, não no século XXI. Depois do ano 2000, o time no qual Maradona transformou-se num mito do futebol afundou. A causa foi uma crise técnico-administrativa que se arrastou desde o início dos anos 90. Em 2004, nomes como Cannavaro, Zola e Maradona eram quadros na parede. O clube estava falido, dirigentes foram presos por falcatruas e até o lendário Estádio San Paolo teve de ser interditado, depois de uma enchente que o encheu de lama, na virada do milênio. Desgraça mais simbólica não poderia haver. Quando o Napoli estava no meio de um enredo de ópera, veio a luz. Depois de anos de incertezas, com a torcida sem saber quem mandava no clube, o produtor cinematográfico Aurelio de Laurentiis meteu a mão no bolso e tirou mais de € 30 milhões para garantir que desse pelo menos para disputar a Série C1 (terceira divisão). O velho Napoli foi fundado novamente, com o nome de “Napoli Soccer”, já que o tradicional “Societá Sportiva Calcio Napoli” fazia parte da massa falida do antigo clube e só viria a ser readquirido pela agremiação em 2006. Dali em diante, o Napoli mudou de rumo. Mesmo que enrascado, começou um projeto de recuperação de médio prazo, deixando

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Fotos Mario Laporta/AFP

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Transformando desconhecidos como Hamsik (esq.) em destaques, Napoli fez sua torcida voltar a se empolgar com o time

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30.150 de lado as exigências imediatistas dos torcedores que batiam na tecla do “meu time é grande e não pode ficar assim”. O tempo no purgatório serviu para o saneamento administrativo e para a montagem de um elenco sólido. Quando voltou à Série A, em maio, graças a um empate com o Genoa, a torcida napolitana soltou a voz sem medo: finalmente, o time voltava à elite pela porta da frente – e para dar trabalho.

O salvador Os torcedores do Napoli, ainda enviuvados de Maradona, têm mais motivos para esperar tempos melhores agora do que da última vez que o time ganhou o acesso, em 2000. Sete anos atrás, o clube era uma bagunça, com um monte de gente mandando e ninguém segurando a bronca de colocar dinheiro. Como diz um ditado napolitano, “é melhor que seja só um a comandar”. É aí que entra De Laurentiis, atual dono do clube. Embora não seja um homem do futebol, é um empresário experiente – e nada burro. Para organizar o departamento de futebol, foi atrás de Pierpaolo Marino, ex-diretor da Udinese e sabidamente uma raposa que conhece todos os truques – oficiais ou não – do mundo do “calcio”. Apesar de estar vindo da Série B, o clube não se faz de rogado: quer seu lugar no G14, a associação dos maiores clubes da Uefa. A chegada de Marino ao futebol do Napoli foi fundamental para dar estabilidade ao projeto. Para se ter uma idéia,

o clube teve 18 treinadores entre 1996 e 2004, quando a coisa foi para o brejo. De lá para cá, só houve uma troca, ainda na primeira temporada. Mesmo quando não conseguiu a promoção da Série C1, em 2005, o técnico Edoardo Reja foi mantido – e comanda o time até hoje. O jogador mais importante do Napoli é a torcida. Para dimensionar sua força, basta lembrar que, em média, mais de 30 mil pessoas foram aos jogos do Napoli na última temporada da Série B, uma média só inferior às de Inter, Milan e Roma – que estavam na primeira divisão. E não bastam os números: nenhuma torcida na Itália é tão fanática quanto a napolitana.

Bom dentro de campo Os méritos desse novo Napoli não ficam só no fortalecimento financeiro. A equipe é boa mesmo. Nas últimas três temporadas, o time vem lapidando o esquema e já joga há bastante tempo com um 3-5-2 bem sólido. O técnico Reja cobra de seu elenco que se aplique taticamente, e a determinação rende frutos a todos. Um exemplo: o zagueiro Paolo Cannavaro não se firmava no Parma e era tido como caso perdido, nada além do “irmão do Fabio Cannavaro”. No Napoli, é nome importante e conseguiu até mesmo uma vaga na seleção italiana. Hamsik, um desconhecido meia eslovaco contratado do Brescia, é uma das revelações deste início de campeonato. Na frente, o argentino Lavezzi caiu tão no gosto da torcida que há quem o compare a

Média de público do Napoli, na Série B, em 2006/7. Na Itália, só Inter, Milan e Roma tiveram média maior Maradona. Exageros à parte, a comparação com o “Pibe” mostra como os fãs voltaram a se empolgar com o time, algo que não acontecia há muitos anos. A evolução do time não caiu do céu. O Napoli tem, desde 2006, um centro de treinamento com três campos oficiais, sala de musculação e instalações para o time. Além disso, o clube estuda a possibilidade de arrendar o Estádio San Paolo, que pertence à prefeitura, viabilizando a realização de reformas para que os 73 mil lugares voltem a ser liberados (hoje, pouco mais de 60 mil são usados, por motivos de segurança). Não dá para falar em título napolitano para os próximos anos e mesmo objetivos ambiciosos, como uma vaga na Liga dos Campeões, ainda estão distantes. O que ficou, aparentemente, para trás é o fantasma da bancarrota, e o panorama em médio prazo tem base firme para ser brilhante. No caso de um clube de massa em crise crônica, passar um ano ou dois fora da elite pode ser um bom caminho para pôr a casa em ordem. A saga napolitana merece atenção. Num futuro bem próximo, alguns grandes clubes brasileiros podem mergulhar num enredo parecido. Saiba mais sobre futebol italiano em www.trivela.com/italia

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ROMÊNIA por Gustavo Hofman

Novela romena Ciúme, traição e paixão. Não, não é roteiro de novela mexicana, e sim uma história do futebol romeno

oucas são as seleções que encantam gerações. Menor ainda é o número de craques que ficam eternizados na memória do torcedor de futebol. E craque é aquele jogador que não precisa estar no seu time para ser lembrado, basta tê-lo visto atuar alguma vez, pela televisão mesmo, para nunca mais esquecer seus dribles, passes e jogadas geniais. Gheorge Hagi foi um desses gênios da bola. A seleção romena da década de 90 encantou o mundo com partidas sensacionais e boas campanhas em Copas do Mundo e Eurocopas. No entanto, a década seguinte vinha sendo terrível para o futebol romeno. Eliminações seguidas nas principais competições colocaram em xeque o status que a Romênia havia ganho no futebol — no mínimo, o de uma potência emergente. A redenção veio neste ano, com a classificação para a Euro-2008, na Áustria e na Suíça, com duas rodadas de antecipação nas eliminatórias européias. Toda essa história, no entanto, possui situações pitorescas, brigas entre grandes jogadores e futuros treinadores e muito mais. Hagi, polêmico como sempre foi, está no centro das atenções. Do outro lado, o último ídolo do futebol romeno antes dele: o atacante Victor Piturca, justamente o atual treinador da seleção do país. A transição da “coroa” do futebol romeno de um para o outro – e de volta para o “um” – não foi das mais pacíficas. Pelo contrário, gera rusgas até os dias atuais.

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Era uma vez...

Fatih Saribas/Reuters

Piturca começou a carreira em clubes menores da Romênia, no final dos anos 70. Ganhou destaque pela primeira vez quando defendeu o Olt Scornicesti, marcou muitos gols e se transferiu para o maior time do país, o Steaua Bucareste, em 1983. Dois anos depois, estrearia pela seleção, onde teve poucas chances – fez 13 jogos e marcou seis gols. Hagi teve um começo de carreira mais fulminante. Começou a jogar profissionalmente em 1982 e, cinco anos mais tarde, após uma infinidade de gols e boas apresentações no Campeonato Romeno, além de uma estréia na seleção com apenas 18 anos, em 1983, seguiu o caminho natural na época: o Steaua Bucareste. A segunda metade da década de 80 foi especial para a história do Steaua. Liderado por Piturca, já um veterano de 30

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anos, o clube sagrou-se campeão da Copa dos Campeões da Europa em 1986, tornando-se a primeira equipe do leste europeu a atingir o posto máximo do futebol no continente. Poucos meses depois, Gheorge Hagi, então um jovem de apenas 21 anos recém-completos, chegou ao clube. A chegada da jovem estrela causou desconforto no clube, principalmente em relação a Piturca. Conta-se que houve a sensação de que o “Steaua Bucareste do Piturca” se transformou no “Steaua Bucareste do Hagi”. Nos anos seguintes, o relacionamento entre os dois só piorou, até porque a briga pela artilharia do Campeonato Romeno também era entre eles – e, nessa, o veterano atacante se dava melhor. A “parceria” entre os dois durou somente até a temporada 1988/89, ano do último momento de glória do Steaua Bucareste, quando o time perdeu a final da Copa dos Campeões da Europa para o Milan. No cenário caseiro, o time faturou o Campeonato e a Copa da Romênia. Foi o último ano de Victor Piturca com a camisa vermelha e azul do Steaua. Aos 33 anos, seguiu para o Lens, da França, onde encerrou a carreira em 1990. A essa altura, Hagi já era um ídolo internacional. Também em 1990, o meia foi comprado pelo Real Madrid por US$ 4,3 milhões. Conduziu a Romênia para sua primeira Copa do Mundo desde 1970 e passou a ter status de craque. Jogou pelo Brescia, da Itália, na seqüência, e depois retornou à Espanha, onde defendeu o Barcelona. Nesse meio tempo, entrou para a história dos Mundiais com a brilhante campanha romena na Copa de 1994, nos Estados Unidos. A Romênia alcançou sua melhor colocação, avançando até as quartas-de-final, e apresentou ao mundo um futebol ofensivo, com muita técnica e a genialidade do “Maradona dos Cárpatos”, como ficou conhecido Hagi. Já Piturca começava a carreira de treinador no Universitatea Craiova, após ter sido assistente no Steaua. O futuro dos dois logo se cruzaria novamente.

Depois do Barcelona, Hagi transferiu-se para o Galatasaray. Na Turquia, o jogador conquistou a maioria dos troféus de sua carreira. Conduziu o time de Istambul aos títulos da Copa Uefa (derrotou o Arsenal na final) e Supercopa Européia (contra o Real Madrid) na memorável temporada 1999/2000 e entrou para a galeria de heróis do clube. O craque ainda conseguiu levar a Romênia para outra Copa do Mundo (França, 1998) e duas Eurocopas (1996, Inglaterra, e 2000, Bélgica e Holanda) – sendo que, na última, mais uma vez conseguiu outro recorde para o país: as quartas-de-final. E foi justamente antes de uma competição começar que o destino voltou a juntar os dois antigos companheiros e heróis romenos.

Jerry Lampen/Reuters

Encontro fatídico

Piturca (dir.) e Hagi (esq.) não se bicam desde a década de 90

DESEMPENHO DA ROMÊNIA NAS COMPETIÇÕES DESDE 1994 Euro 2008

Copa 2006

Euro 2004

Copa 2002

Euro 2000

Copa 1998

Euro 1996

Copa 1994

Classificada

Não se classificou (3ª no grupo, atrás de Holanda e Rep. Tcheca)

Não se classificou (3ª no grupo, atrás de Dinamarca e Noruega)

Não se classificou (Derrotada pela Eslovênia na repescagem)

Eliminada nas quartasde-final (Itália)

Eliminada nas oitavas-de-final (Croácia)

Eliminada na primeira fase

Eliminada nas quartasde-final (Suécia)

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Daniel Mihailescu/AFP

Victor Piturca assumiu a seleção romena sub-21 em 1996. Ficou dois anos no cargo e foi alçado ao cargo de treinador principal da seleção após o Mundial de 1998, em substituição a Anghel Iordanescu. Hagi era a estrela principal. Nas eliminatórias para a Euro 2000, a Romênia fez uma campanha excelente, brigando até o final com Portugal pela vaga. No final os romenos terminaram com 24 pontos em dez jogos, um a mais que os portugueses. Após a classificação, Piturca, então, tomou uma polêmica decisão: pediu que os jogadores que atuaram na vitória da Romênia por 1 a 0 contra Portugal, no Porto, um ano antes, recebessem um prêmio maior que os outros. Entre os atletas que não participaram daquela partida estava Gheorge Hagi, maior artilheiro da história da seleção romena, com 35 gols. Hagi protestou, Piturca não voltou atrás e ainda criticou o craque da seleção. Resultado: o meia permaneceu na equipe e o treinador não. Piturca foi demitido e Emerich Jenei assumiu o comando do time na Euro.

Torcida contra

GIGI BECALI, por Gigi Becali George Becali, apelidado Gigi, nasceu em Zagna, na Romênia, em 1958. Adquiriu sua bilionária fortuna em negócios escusos com o exército romeno, principalmente na negociação de terras com preços superfaturados. Está na diretoria do Steaua Bucareste desde o final dos anos 90, mas foi a partir de 2003 que passou a exercer seu domínio pleno no clube. Polêmico, preconceituoso, fanfarrão, corrupto. São muitos os adjetivos impostos a ele. Confira alguns fatos e frases de Gigi Becali e escolha o adjetivo que lhe convier. • “As mulheres, após darem à luz uma criança, já não têm mais utilidade” • “Queria fazer de Hagi um grande treinador e meu maior arrependimento foi não ter conseguido isso” • Proibiu músicas da banda Queen no Stadionul Ghencea, casa do Steaua, pelo fato de Freddie Mercury ter sido gay • “Por que tantos homossexuais? Darei US$ 2 milhões ou US$ 5 milhões para um referendo, então poderemos dar um fim em todos os homossexuais no país” • No começo do ano, anunciou que venderia todos os jogadores estrangeiros do time por não “merecerem” o dinheiro investido neles • “Não sou uma pessoa civilizada” • Na fase de grupos da última Liga dos Campeões, o Real Madrid fez 4 a 1 no Steaua, em Bucareste. Becali culpou o goleiro português Carlos Fernandes pela derrota e anunciou que pagaria US$ 100 mil a quem o levasse para bem longe

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Ao deixar o posto de técnico da seleção romena, Victor Piturca retornou para o Steaua Bucareste, agora como treinador. Ficou no cargo entre 1999 e 2004 (com uma pequena interrupção em 2002), mas conquistou poucos títulos — somente o Campeonato Romeno em 2000/1 e a Supercopa Romena, na mesma temporada. Foi o período de ascensão na diretoria do clube do terceiro personagem desta história: o polêmico e fanfarrão atual presidente do Steaua, Gigi Becali. Enquanto isso, Gheorge Hagi encerrava sua brilhante carreira de jogador profissional, aos 36 anos, em 2001, defendendo as cores do Galatasaray. A época coincidiu com a saída de Ladislau Boloni, que sucedera Jenei, do comando da seleção romena. Logo veio o convite para Hagi assumir o posto. Aceito de imediato. Porém, a história mostra que não basta ter sido um grande jogador de futebol para se tornar um grande técnico. Mais ainda: é preciso adquirir experiência em alguns clubes, no mínimo, para se ter sucesso na carreira com a seleção nacional. Salvo poucas exceções, essa é a regra, e Hagi, infelizmente, não a seguiu. Sua vida como treinador da seleção romena durou apenas seis meses. Hagi não conseguiu classificar a equipe para a Copa de 2002 e foi demitido. Seu maior feito no cargo foi a vitória sobre a Hungria, em Budapeste, pelas eliminatórias do Mundial – a primeira na história do país sobre os tradicionais rivais. Foi acusado de querer ser o centro das atenções, sempre. Hagi então passou a seguir o caminho das pedras e treinou Bursaspor-TUR, Galatasaray e seu primeiro time romeno, o Politehnica Timisoara. Em 2004, Gigi Becali entra de vez na novela Hagi/Piturca. O polêmico dirigente, que já afirmou, por exemplo, que “as mulheres depois de darem à luz não têm mais utilidade”, quis interferir na escalação da equipe. Piturca, assim, foi demitido sumariamente do cargo. No final das contas, a história mostraria que, para ele, foi o melhor que poderia ter acontecido.

Irônico presente Ao deixar o Steaua, o ex-jogador ficou pouco tempo desempregado. Para sanar um possível “erro” cometido em sua demissão da seleção romena em 1999, a federação do país o convidou novamente para o cargo. Com isso, em dezembro de 2004, Victor Piturca tornou-se novamente o treinador da Romênia.

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Jean-Christophe Verhaegen/AFP

Euro-2008 será a primeira competição importante da Romênia desde 2000

“Estava cheio. A tensão era inacreditável. Sentia-me torturado no Steaua”

Quis o destino que as vidas de Hagi e Piturca se cruzassem outra vez, de maneira no, Becali escolheu Hagi, maior ídolo da indireta. Piturca falhou nas eliminatórias da história do clube, para conduzir o time Copa do Mundo de 2006, ao cair no playona LC. A experiência do ex-jogador, poff final contra a Eslovênia. A Federação rém, durou só dois meses, três semanas Romena, porém, decidiu mantê-lo no cargo, e quatro dias. Gheorge Hagi, sobre sua passagem apostando no trabalho que vinha sendo feiAntes da estréia do Steaua, contra o como técnico pelo time de Gigi Becali to. Hagi, enquanto isso, ainda perambulava Slavia Praga, o dirigente declarou: “quepor clubes como treinador. ro que o atacante Surdu e o meia Badoi O ano de 2007 reservou, no entanto, histórias para contar. comecem a partida em Praga. Se Hagi não os colocar em campo, Mais uma vez, com ironia e para satisfação de Victor Piturca. deixará o clube”. O Steaua perdeu por 2 a 1. Badoi começou A Romênia, como já foi dito, conquistou a vaga na Euro-2008 jogando e Surdu entrou em campo aos 17 minutos do segundo com duas rodadas de antecipação, de maneira invicta, deixando tempo. Hagi, no dia seguinte, pediu demissão. “Estava cheio. A para trás a poderosa Holanda e com uma geração de jogadores tensão era inacreditável. Sentia-me torturado no Steaua. Tomei promissora: Chivu, Lobont, Contra, Mutu, entre outros. a decisão antes do jogo em Praga, mas não podia deixar os joApesar de pesarem sobre o Campeonato Romeno diversas acu- gadores sozinhos antes de um jogo tão importante”. sações de suborno, investigações contra dirigentes, sonegação Desempregado, o “Maradona dos Cárpatos” deve ter assistido de impostos e violência entre torcidas, a seleção voltou a empol- pela TV à classificação de sua seleção para um torneio imporgar. Isso passa muito pelas mãos de Victor Piturca, elogiado pela tante pela primeira vez desde que era jogador. Na tela, provaimprensa romena. E onde entra Gheorge Hagi nesta história? velmente viu no rosto de Victor Piturca um irônico e enorme O Steaua conquistou nesta temporada, pela segunda vez se- sorriso. Pelo menos até o próximo capítulo. guida, o direito de participar da fase de grupos da Liga dos Campeões. Becali injetou muito dinheiro no clube e o colocou, Saiba mais sobre futebol romeno e do leste europeu em novamente, em condições de brigar nas competições européias. www.trivela.com/leste_europeu Com um discurso nacionalista, de valorização ao jogador romeNovembro de 2007

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CULTURA por Carlos Eduardo Freitas

Paixão à flor da

pele

Bruna Manetta (Cruzeiro), Samuel Neto (São Paulo), Raquel Marcon (Santos), Denise de Morais (Inter) e Eduardo Pigatti (mosqueteiro) mostram na pele o amor por seus times

ncontrar lógica no comportamento de torcedores de futebol não é das tarefas mais fáceis. Muita gente se surpreende quando escuta histórias de fãs que fazem loucuras para acompanhar seu time de coração ou então para ver um determinado craque em ação. Que dirão, então, daqueles que chegam a fazer tatuagens alusivas a seus clubes no corpo? Quem é fanático a esse ponto está cansado de responder à mesma pergunta: não há o risco de se arrepender no futuro? “De namorado, a gente troca, mas não de time”, justifica a santista Raquel Marcon, que tem dois escudos de seu clube em sua pele – um na barriga, outro nas costas. No que está perto da nuca, segue a inscrição: “Santos, meu primeiro amor”. A decisão de fazer a tatuagem vem, geralmente, em função de alguma conquista importante do clube. Esse é o caso de Raquel, como também do são-paulino Samuel Almeida Neto e dos colorados Cássio Lunardi e Denise de Morais. O torcedor do Tricolor paulista fez o distintivo do clube no braço esquerdo após o título da Libertadores, enquanto a gaúcha tatuou o do Inter nas costas no início deste ano, pa-

Fotos Arquivo pessoal

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Torcedores fanáticos tatuam escudos de seus clubes nos corpos. Será que é uma boa idéia levar a paixão pelo time tão longe? ra marcar a conquista do Mundial. “Tinha prometido que faria alguma coisa se o time fosse campeão do mundo”, explica Denise. Há, também, torcedores famosos que têm na pele o escudo do clube de coração. Cristiano Lucarelli é um exemplo. Formado nas categorias de base do Livorno, ele tatuou no antebraço o distintivo da equipe italiana. Hoje, o atacante veste a camisa do Shakhtar Donetsk, na Ucrânia, mas o escudo da equipe toscana continua lá. Quando ainda jogava pelo Atlético de Madrid, o espanhol Fernando Torres esteve perto de fazer o mesmo, mas desistiu: “Eu e um grupo de amigos que também torcem para o Liverpool fomos fazer uma tatuagem com o escudo dos Reds, mas desisti na última hora, por jogar profissionalmente”, conta o atacante, que, por ironia do destino, hoje defende as cores do clube inglês.

Problemas com rivais Via de regra, quem faz uma tatuagem relacionada a algum clube de futebol corre o risco de ter problemas com torcedores de equipes rivais – sobretudo se freqüenta estádios em dias de dérbi. “Por isso, fiz a

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minha nas costas, numa região onde posso esconder com o cabelo”, diz Bruna Manetta, que tatuou um Cruzeiro do Sul, alusivo ao símbolo do Cruzeiro, nas costas. Mesmo tendo feito um mosqueteiro corintiano na altura das costelas e sem tirar a camisa quando vai ao estádio, Eduardo Pigatti teve problemas. “Uma vez, passei sem camiseta perto de um bar onde um grupo de torcedores via um jogo do São Paulo. Quando me viram, vieram tirar satisfações comigo e com meus amigos, também corintianos”, lembra-se Eduardo, que conta a preocupação de seus pais com a “arte” feita no corpo: “Depois da tatuagem, eles me esperam acordados quando vou ao estádio”. Já houve, também, outros problemas envolvendo fãs tatuados. Um caso recente famoso foi o de um torcedor do Boca Juniors, na cidade de Concepción de Uruguay, na Argentina. No início do ano, ele foi fazer o distintivo do clube nas costas, mas o tatuador, fã do River Plate, desenhou um pênis gigante no lugar. O garoto só descobriu que foi sacaneado quando mostrou a tatuagem para seus pais. Como resultado, o estúdio foi fechado, e o “artista” processado. Para corrigir a brincadeira de mau gosto, uma imagem bíblica foi tatuada no local.

Nada de jogadores Se fazer escudos de clubes pode ser considerado comum – até mesmo popular entre muitas garotas que se dizem tão apaixonadas por seus clubes quanto os homens são pelos deles –, marcar na pele algum ídolo é raro, quase um tabu. A explicação é simples: “O jogador vai, o clube fica”, justifica Cássio Lunardi, que tem o escudo do Internacional tatuado na panturrilha. O torcedor lembra de Christian: “Gostava muito dele quando começou a carreira no Inter, mas, depois, o vi beijando o escudo do Grêmio num Gre-Nal”. Robert Nesbitt, inglês fanático pelo Newcastle, não foi tão precavido quanto Cássio e acabou se arrependendo de uma tatuagem que fez. No início de 1996, ele tatuou na coxa direita o atacante Andy Cole com a camisa alvinegra. Dois dias depois de terminada a obra, o jogador foi negociado com o Manchester United. A foto de Nesbitt, resignado, com a imagem de Cole na coxa ganhou o noticiário mundial. Pouco tempo depois, o torcedor gastou o equivalente a cerca de € 600 para apagar o atleta da perna. “É por isso que fiz o escudo do Inter: sei que nunca vou trocar de clube”, explica Lunardi.

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Tatuagens no futebol europeu 5

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Nas fotos, tatuagens feitas por torcedores de Liverpool (1), Ajax (2), seleção inglesa (3), Spartak Moscou (4), Valencia (5), Leeds (6) e Marítimo (7)

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LANÇAMENTOS

A evolução do game Os fanáticos por futebol e videogame já podem se preparar. Em 26 de outubro chega às lojas européias o Pro Evolution Soccer 2008. Um dos mais populares jogos do gênero, ele estará disponível para Playstation 2 e 3, Xbox 360, Wii, PSP, Nintendo DS e PC. As novidades desta versão já aparecem na capa. Agora, unificou-se o nome do jogo: antes, na Europa, usava-se a denominação “Pro Evolution”, enquanto no Japão o game era chamado de “Winning Eleven”. “Pro Evolution Soccer já estabeleceu sua marca como um dos mais reconhecidos jogos de videogame na Europa e entre os maiores fãs de futebol pelo mundo. Introduzir a mesma marca na América do Norte é o primeiro passo de nossa estratégia global”, explicou Anthony Crouts, vice-presidente de marketing da Konami. Um dos principais atrativos da nova versão está na inteligência artificial, com a introdução de um sistema chamado Teamvision. A fabricante promete que o game será capaz de reagir ao estilo de cada usuário, mantendo o jogo sempre desafiador e impedindo que se criem “manhas” para sempre fazer gols. Além disso, para dar maior realismo às partidas, foram incorporados detalhes mais próximos dos traços físicos dos jogadores, uniformes que se distorcem no decorrer dos jogos e mais opções nos modos de edição. O game também deverá aumentar bastante a quantidade de times reais licenciados, incluindo São Paulo, Internacional e a Seleção Brasileira, além de dezenas de clubes e seleções estrangeiros. Cristiano Ronaldo, meia do Manchester United, será o “garoto-propaganda” e terá seu rosto estampado na capa do game.

7 Pro Evolution Soccer 2008 Fabricante: Konami Data de lançamento: 26/outubro/2007

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Wayne Camargo/Rede TV

Divulgação/Vipcomm

NEGÓCIOS Rodrigues por Ana Carolina

Com desfiles de lingerie e reviravoltas nas novelas, Rede TV! e Record brigam contra as transmissões de futebol nas noites de quarta-feira

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ara cada drible do Danilinho, uma reviravolta na trama da novela. Para competir com bonitos gols, belas mulheres de lingerie. De olho na importante fatia do mercado que não gosta de futebol, canais como a Record e a Rede TV! “turbinam” suas programações nas noites de quarta-feira – e conseguem até tirar uma casquinha do público das transmissões esportivas. A Record, cuja estratégia é norteada pelo slogan “a caminho da liderança”, tem nas novelas seu porto seguro. “Caminhos do Coração”, que entra no ar por volta das 22 horas, é concorrente direta do futebol. A trama de Tiago Santiago, pontuada por histórias envolvendo mutantes, costuma ficar na casa dos 12 pontos de audiência durante toda a semana, mas passa facilmente dos 13 nos capítulos que vão ao ar às quartas-feiras. Em 5 de setembro, por exemplo, o folhetim chegou aos 15 pontos no Ibope, marca repetida nas demais quartas-feiras de se-

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tembro, e que representa média de audiência de um a dois pontos maior do que nos outros dias da semana. Para a noite em que a Globo mostra os jogos de futebol, a Record tem reservado principalmente os momentos de maior ação ou romance. Não foi coincidência a cena em que o mulherengo Rodrigo dá uns amassos em Célia, a empregada da família, ter acontecido justamente em uma quarta-feira. “O telespectador achou uma alternativa que não existia. Há público para novela às 22 horas, mas essa parcela da audiência não tinha opção”, diz Hiran Silveira, diretor-geral de teledramaturgia da Record. Em relação às quartas-feiras, Silveira explica que os capítulos têm, sim, algumas diferenças, se comparados aos demais dias. “Quando se sabe que há mais audiência em determinada data, nossos autores programam momentos interessantes das tramas para ir ao ar especialmente nesses dias”.

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Cibele Rossi/Record

de mais popular entre o público para garantir a audiência em dias de partidas do Campeonato Brasileiro. O “SuperPop”, comandado por Luciana Gimenez, entra no ar meia hora mais cedo toda quarta-feira. Com um conteúdo diferente, o programa tenta chamar a atenção do público feminino e do masculino de maneiras e horários diferentes. “Por pura estratégia, o programa tem um conteúdo mais feminino às quartas. Apresentamos o Ronaldo Ésper e seus comentários divertidos sobre a moda dos famosos. Os convidados são descolados. É uma atração mais light e alto-astral”, AU UDIÊNCIA DE afirma Marcelo Nascimento, di“CAM MINHOS DO CORAÇÃO O” retor do “SuperPop”. Segundo ele, o aumento da audiência 15 14,8 14,5 às quartas acontece porque “as 13,4 mulheres ficaram sem opção para o horário”. Geralmente, logo no início, o “SuperPop” apresenta um desfile de roupas jovens que atrai a atenção das mulheres. Na hora do intervalo do jogo de futebol, o programa exibe modelos desfilando de lingerie, com a óbvia Fonte: Ibope intenção de chamar a atenção do público masculino. “Muito se fala do desfile de lingerie, mas isso não passa de uma brincadeira. Colocamos o desfiDurante os capítulos de fim de semana, le no ar bem na hora do intervalo do jogo a audiência de “Caminhos” dificilmente re- exibido na concorrência e mostramos mugistra números tão bons. No último sábado lheres lindas. São nossas ‘cheerleaders’. O de setembro, por exemplo, a novela alcan- cidadão zapeia e assiste ao ‘SuperPop’ duçou 8,5 pontos no Ibope, quase a metade rante esse período. É entretenimento puro, dos números de quarta-feira. “Isso acon- uma brincadeira com o público masculino tece porque às sextas-feiras, por exemplo, flutuante”, diz Nascimento. A “brincadeias pessoas voltam para casa mais tarde. Se ra”, no caso, inclui closes de itens como estiver frio ou chovendo, temos mais gente soutiens que fazem barulho quando chacocom o televisor ligado”, explica Silveira. alhados – é claro, com o devido “chacoaEssas diferenças de um ou dois pontos lhar” dos seios, que ocupam a tela toda. podem parecer pouco frente às audiências A audiência de programas como “Superda Globo, que ultrapassam a marca de 40 Pop” e “Caminhos do Coração” não chega nos números do Ibope. Mas é bom lembrar a ameaçar a liderança do futebol nas noites que cada ponto na audiência de qualquer de quarta-feira. Por outro lado, representa programa significa algo em torno de 54,4 uma parcela nada desprezível dos telesmil televisores ligados na Grande São Paulo. pectadores, num horário em que a Globo E, com mais telespectadores, aumenta o fa- costumava monopolizar a audiência. Os teturamento com publicidade. lespectadores agradecem pela alternativa – mesmo que, às vezes, os canais apelem um Desfiles de lingerie pouco para chamar a atenção. Os números A Rede TV! também joga com o que tem estão aí para provar.

NOTAS Nike compra a Umbro A Nike deu um passo importante em direção a seu objetivo de se tornar a maior fabricante de material esportivo para futebol. Em outubro, a empresa norte-americana fechou uma importante transação, comprando a inglesa Umbro. O valor da negociação chegou a US$ 582 milhões, o equivalente a US$ 4 por ação. Esse preço representa uma valorização de 61% da Umbro em relação à cotação do dia em que o negócio foi acertado. Em 2006, a empresa faturou US$ 755 milhões, incluindo as vendas por meio de licenças. A empresa inglesa anunciara que não conseguiria atingir os objetivos traçados para 2008 em razão da baixa venda de camisas da seleção inglesa em 2007. Apesar da venda, a Umbro não deixará o mercado. Ela trabalhará como uma marca independente dentro da empresa norte-americana e terá estratégia própria para reforçar sua participação no mercado. É a mesma situação da Converse, que foi comprada pela Nike em 2003 e cresceu uma média de 22% ao ano desde então. Com a compra da Umbro, a Nike reage à Adidas, que adquiriu a Reebok em 2006, por US$ 3,8 bilhões, num negócio que chegou a ameaçar a liderança da Nike no mercado norte-americano. Agora, a empresa dá o troco e ganha força na Europa, principalmente no setor de equipamentos para futebol. Hoje, a Umbro fornece o material esportivo das seleções inglesa, sueca, irlandesa e norueguesa, além de vários clubes. Na Série A brasileira, é fornecedora de Atlético-PR, Figueirense e Santos.

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CADEIRA CATIVA por Renato Freire

Um dia na

“cancha” Uma visita ao José Amalfitani, estádio do Vélez, mostra que Buenos Aires tem mais a oferecer ao fã de futebol do que a Bombonera ou o Monumental de Núñez

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que acontecia. Aquela era a homenagem do clube a mais uma jóia não lapidada: o atacante Mauro Zárate, 20 anos, vendido em junho a um clube do Qatar, por cerca de US$ 20 milhões. A sorte é que havia outro talento em campo. Já era noite, e os refletores estavam acesos. Habilidoso, o meia Damián Escudero, também de 20 anos, logo levantou os 14 mil torcedores presentes. Foi da perna esquerda do camisa 10 do Vélez que partiu um chute certeiro e colocado, de fora da área, aos 7 minutos do primeiro tempo. O time da casa abria o

placar, e todos aqueles pulmões e gargantas intensificaram o ritmo e o volume dos cânticos, que não cessariam durante um momento sequer. Victor Zapata, de falta, fez o segundo. Na segunda etapa, final de jogo, Sergio Sena, também de fora da área, assinalou o gol derradeiro. Vélez e Olimpo não tinham mais o que fazer – apenas aguardar o apito final. Terminada a partida, restava buscar, satisfeito, um daqueles típicos táxis pretos e amarelos de Buenos Aires. Ainda dava tempo de ver o jogo do Racing na televisão.

Fotos Renato Freire

em os gritos incessantes da mítica Bombonera, que tanto fascina e assusta os brasileiros, nem a grandeza do Monumental de Núñez, palco da conquista da Copa do Mundo de 1978. O destino futebolístico, aqui, é outro: o Estádio José Amalfitani, do Vélez Sársfield, clube de menor cotação entre os turistas, mas, certamente, um dos protagonistas do futebol argentino na década de 90, quando foi campeão da América e do mundo. O time do Vélez enfrentaria o pequeno Olimpo, pela segunda rodada do Torneo Apertura. Para quem chegou com uma hora de antecedência, o ambiente era tranqüilo. A pouca movimentação e a presença de muitas famílias em torno do bonito estádio encorajava a comprar a entrada mais barata, sem medo de barrabravas. Bastava atravessar a roleta, andar um pouco e acomodar-se nas arquibancadas ainda vazias. Não foram precisos mais do que alguns minutos para sentir-se em casa. Pouco antes do início da partida, o placar eletrônico começou a exibir imagens de belíssimos gols. A voz no alto-falante agradecia ao autor da obra, todos aplaudiam de pé. Um melancólico torcedor explicou o

VÉLEZ SÁRSFIELD 3 OLIMPO 0 Competição: Campeonato Argentino Data: 11/agosto/2007 Local: Estádio José Amalfitani (Buenos Aires)

Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com, e seu texto pode ser publicado neste espaço!

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Ele voltou: Guia Trivela da Liga dos Campeões A principal competição européia do jeito que você gosta Esquemas táticos Curiosidades Tabela Análises dos 32 times (de Milan e Barcelona até Slavia e Rosenborg), e tudo o que você precisa saber sobre o mais importante torneio de clubes do planeta

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A Várzea

O melhor do mundo A Várzea sempre foi fã de Kaká e até se casaria com ele, se pudesse, mas chegou tarde e só se lamenta pelo fim de sua carreira promissora como newsletter-chuteira. Agora, a gente tem que se contentar apenas com os assovios de Zé Ganso, o craque do Chico Lingüiça’s Globetrotters. Tudo por culpa daqueles são-paulinos que adoravam ir ao Morumbi para vaiar o meia e pedir sua cabeça em uma bandeja. Cansado de tanto ser ofendido, ele achou melhor ir para a Europa e deixar para trás suas kakazetes. Por que raios Kaká achou que levaria uma vida melhor no Milan? Só pelo simples fato de ganhar milhões de euros e jogar ao lado de Pirlo, Seedorf, Inzaghi e Ronaldo? Ele seria muito mais feliz se ficasse para dar assistências para Rondón, Rico e Ricardinho. A torcida são-paulina deve estar muito feliz hoje por gritar os nomes de craques como Souza, Alex Silva e Hugo. Agora, Kaká virou ídolo da torcida “rossonera” e, com todos os méritos e todas as justiças, concorre ao prêmio da Fifa dado ao melhor jogador do ano, à Bola de Ouro, à Chuteira do Universo e a Craque da Galáxia. O nome do brasileiro é uma barbada em todas essas premiações. Uma pena que um certo anão da Branca de Neve tenha se recusado a admitir essa constatação e prefira apostar no Afonso como seu principal jogador. Gosto é gosto e não se discute, como diria o chef de cuisine do bistrô d’A Várzea. Se Kaká merece toda essa pompa, há alguém injustiçado nessa história. Quando era apenas um garotinho que sonhava em jogar bola no São Paulo e seu apelido ainda era escrito com “C”, o meia tinha que engraxar as chuteiras de um monstro sagrado. Sim, houve uma época longínqua na qual o ídolo milanista era obrigado a ficar no banco de reservas e observar o talento de Harrison,

A charge do mês titular da equipe de juniores do Tricolor. Acontece que, ao contrário de seu suplente, Harrison deixou-se levar pelas más companhias. Ele se juntou a outros três moleques (Paulo, João e Ringo) para viver da música. Como foi difícil encontrar campos de morango e uma rua chamada Penny por aqui, ficou meio complicado alavancar a carreira do quarteto – ainda mais quando Kaká acabou com uma turma lá de Liverpool na última edição da Liga dos Campeões.

A frase do mês Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou, então, mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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“Treinamento, para mim, é jogo. E jogo, entre vírgulas, para não ser mal-interpretado, para mim, é guerra” Dunga, técnico da Seleção, mostra que é tão habilidoso com a língua portuguesa quanto era dentro de campo.

A manchete do mês “Fifa define grupos da Copa da Uefa” (Gazeta Esportiva)

Em alta Amareladas Os britânicos pipocaram. A Inglaterra vai ficar fora da Euro, e a Escócia perdeu para a Geórgia. E ainda teve Lewis Hamilton e a seleção de rúgbi...

Brasil Com a goleada de 5 a 0 sobre o Equador, agora teremos que engolir o Dunga até a Copa

Em baixa

Pelo visto, Joseph Blatter também participará dos sorteios da Copa do Brasil, dos Jogos Abertos do Interior e do amigo secreto d’A Várzea.

Novembro de 2007

10/25/07 3:27:08 PM


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