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COPA 2014 PPara ser llegall para o Brasil, torcedor tem que fiscalizar desde já
EURO 20 2008 008 Com jogadores bons, e milionários, Inglaterra fracassa de novo
MURICY TTreinador i d ffala l ssobre obre São Paulo, futebol de hoje e patinhos
melhor Modelo de pontos corridos se consolida consolida, e país tem o melhor Brasileirão dos últimos tempos capa22final.indd 1
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ÍNDICE ENTREVISTA » MURICY RAMALHO
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O técnico bicampeão brasileiro deixa de lado a carranca, relaxa e até sorri! BRASILEIRÃO
Campeonato de 2007 não foi só o melhor dos últimos tempos: foi, sim, bom
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CHILE
O “louco bom” tenta fazer no Chile o que não conseguiu na Argentina
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MUNDIAL DE CLUBES
Milan quebra a escrita européia e admite: quer o título
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SELEÇÃO OLÍMPICA
Sem projeto, Brasil vai depender de novo do talento dos craques
Jorge Adorno/Reuters
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eu fiscalizo a
Copa 2014
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JOGO DO MÊS
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CURTAS
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PENEIRA
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OPINIÃO
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TÁTICA Bayern de Munique
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CAPITAIS Recife
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HISTÓRIA Liga Pirata
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JAPÃO Urawa
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NORUEGA Anti-Rosenborg
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INGLATERRA Euro-2008
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PERFIL Juande Ramos
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ESPANHA Villarreal
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CULTURA Fantasy
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NEGÓCIOS Preço das camisas
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CADEIRA CATIVA
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A VÁRZEA
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Agora é oficial: a Copa de 2014 será mesmo no Brasil. Desde já, estamos de olho em tudo que rola por trás disso
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EDITORIAL Cadê o patinho? “O cara vai antes do jogo e põe um vídeo com uns patinhos voando, aí fala que ganhou por causa da ‘estratégia motivacional’, do vídeo do pato. E quando perde? Cadê o patinho?” Foi mais ou menos o que disse Muricy Ramalho à Trivela, em crítica nada velada aos nossos “professores”. A menção ao terno e gravata, que também ocorreu, era até desnecessária. E o Campeonato Brasileiro de 2007 deu razão a Muricy. Além dele, bicampeão com inegáveis méritos próprios, o outro treinador que se destacou no torneio foi o “folclórico” Joel Santana. Pois o folclore, pelo jeito, funcionou, e o pato, não. O rei do pato, Vanderlei Luxemburgo, foi a grande baixa do panteão dos intocáveis brasileiros. Sempre houve quem tivesse restrições a seu caráter, mas sua capacidade de armar times era inquestionável. Até ter nas mãos um dos melhores elencos do Brasil, e não conseguir, em nenhum momento, levá-lo a uma disputa efetiva pelo título. Até seus discípulos mais famosos, PC Gusmão e Oswaldo Oliveira, sumiram de vista. Enquanto isso, Joel, que não finge que é sofisticado, e Muricy, que finge que é tosco, reinam. Ganha o Brasil, que tem vencedores menos maquiados e mais com a cara do país.
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www.trivela.com Edição Caio Maia Tomaz R. Alves Reportagem Carlos Eduardo Freitas Cassiano Ricardo Gobbet Leonardo Bertozzi Ricardo Espina Ubiratan Leal Consultoria editorial Martinez Bariani Mauro Cezar Pereira Colaboradores Antonio Vicente Serpa Dassler Marques Gustavo Hofman João Tiago Picoli Juca Kfouri Marcus Alves Mauro Beting Foto da capa Jorge R. Jorge/Trivela Projeto gráfico e direção de arte Luciano Arnold Diagramação e tratamento de imagem Bia Gomes
Assinaturas www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Diretor comercial Evandro de Lima evandro@trivela.com (11) 3528-8610 Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3528-8612 Atendimento ao jornaleiro e distribuidor Vanessa Marchetti vanessa@trivela.com (11) 3528-8612 Circulação DPA Cons. Editoriais Ltda. dpacon@uol.com.br (11) 3935-5524 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Prol Gráfica e Editora Tiragem 30.000 exemplares
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Juan Barreto/AFP
JOGO DO MÊS por Ubiratan Leal
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Vinho amadurecido
Bolivianos B olivianos que que atuam no Brasil, Brasil, V Venezuela enezuela n naa zzona ona ddee classifi classificação para para a C opa e aaté té zzagueiro agueiro Copa dando uma de goleiro. Venezuela x Bolívia foi o jogo mais inusitado do início de eliminatórias enezuela x Bolívia é o típico jogo que o torcedor brasileiro acha dispensável. Afinal, trata-se de duas das seleções menos tradicionais da América do Sul, em um confronto que dificilmente teria alguma relevância na definição de vagas do continente para a Copa de 2010. Duas horas depois, não havia como negar que fora uma das partidas mais animadas dos últimos meses. Não foi uma demonstração de brilhantismo técnico ou tático das duas equipes, mas elas apresentaram, a todo momento, muita vontade de atacar. Os alviverdes tinham mais velocidade e inspiração, sobretudo da dupla Arce-Marcelo Moreno, casos raros de bolivianos que atuam no futebol brasileiro. A Vinotinto contava com uma equipe mais experiente, maior organização coletiva e o apoio da torcida (que não lotou o estádio Pueblo Nuevo, chamado de “Templo do Futebol Venezuelano”). A superioridade foi quase sempre boliviana. Os comandados de “Platini” Sánchez aproveitavam-se da velocidade de seus atacantes para encontrar espaços na defesa venezuelana, cuja referência era o lento Rey. Pouco inspirado, o time da
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VENEZUELA 5x3 BOLÍVIA Data: 20/novembro/2007 Local: Estádio Pueblo Nuevo (San Cristóbal) Árbitro: Sálvio Spínola Fagundes Filho (Brasil) Gols: Marcelo Moreno (18 min e 77 min), Arismendi (19 min e 40 min), Arce (27 min), Guerra (81 min) e Maldonado (89 min e 92 min) Cartão amarelo: Vaca (Bolívia)
VENEZUELA Morales; Rosales, Rey, Cichero e Jorge Rojas; Seijas (Edder Pérez), Vera (Vitali), Ricardo Páez (Guerra) e Arango; Maldonado e Arismendi. Técnico: Richard Páez
casa dependia de jogadas esporádicas e do bom desempenho de Arismendi. Foi um jogo de gato e rato. A Bolívia abria vantagem, a Venezuela empatava: 1 a 0 para 1 a 1 e 2 a 1 para 2 a 2. A partida parecia ter se definido quando Marcelo Moreno fez seu segundo gol na partida, o terceiro dos alviverdes. Faltavam apenas 13 minutos para o fim do encontro, e os torcedores venezuelanos já temiam ver a primeira vitória da Bolívia fora de casa em eliminatórias desde julho de 1993. Poderia ter sido assim se, nos minutos finais, toda a lógica não tivesse se invertido. Guerra empatou pela terceira vez o placar, e o goleiro Arias contundiu-se no lance. O bo-
BOLÍVIA Arias; Ribeiro, Raldes, Méndez e Luis Gutiérrez; Ronald García, Alejandro Gómez, Mojica (Limberg Gutiérrez) e Vaca (Lima); Arce e Marcelo Moreno (Jaime Moreno). Técnico: Erwin Sánchez
liviano tentou permanecer em campo, mas não tinha condições de caminhar quando, em um lançamento despretensioso na área, pulou atabalhoadamente, socou o ar e permitiu que Maldonado virasse a partida. Sem poder fazer mais substituições, a Bolívia teve de improvisar Luis Gutiérrez no gol. Baixo e sem traquejo para a posição, o zagueiro foi alvo fácil para o chute de cobertura de Maldonado, que fechou o extravagante marcador em 5 a 3. Fechouse, assim, uma partida cheia de alternativas, fatos inusitados e gols, que colocou a Venezuela provisoriamente na zona de classificação para a Copa do Mundo e, principalmente, divertiu quem a assistiu. Dezembro de 2007
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CURTAS
“Já vi gente ficar cinco horas discutindo um resultado de jogo, mas não uma relação sexual. Conseqüentemente, acho que a emoção do futebol dura mais” Paulo Coelho arranca risos (genuínos ou constrangidos) da platéia, na cerimônia em que o Brasil foi oficialmente escolhido como sede da Copa de 2014. Quantidade de dias de antecedência com que ficou pronto o primeiro dos quatro estádios a serem usados na próxima Copa Africana de Nações. Até o fechamento desta edição, os outros três locais ainda não estavam prontos.
“Em países como os Estados Unidos, você vê garotos atirando e matando gente em escola. Pelo menos isso o Brasil não tem” Irritado ao ser questionado sobre os altos índices de violência no país, Ricardo Teixeira tenta se safar expondo as feridas dos outros – e nem isso consegue, já que violência nas escolas, infelizmente, também é muito comum por aqui.
US$ 3 bi Novo valor do orçamento da Copa de 2010, que sofreu um acréscimo de aproximadamente 20% devido à alta dos preços do cimento e do aço.
Welton Araújo/Agência A Tarde
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FESTA TRÁGICA Um empate por 0 a 0 com o Vila NovaGO garantiu o retorno do Bahia à Série B do Campeonato Brasileiro. A conquista, no entanto, foi ofuscada por uma tragédia, que resultou na morte de pelo menos sete pessoas. Logo após o apito final, o concreto de uma parte do anel superior da Fonte Nova cedeu, fazendo que vários torcedores despencassem de uma altura equivalente a um prédio de cinco andares. Além dos mortos, mais de 50 pessoas ficaram feridas. Por conta da euforia pela classificação, a maioria dos 60 mil torcedores presentes no estádio não se deu conta do acidente e chegou, inclusive, a invadir o gramado. A festa dentro e fora do estádio acabou dificultando ainda mais o atendimento às vítimas. A Fonte Nova foi inaugurada em 1951 e, desde então, só passou por uma grande reforma: a construção do anel superior, em
Confira no site Dia 3 Mundial de Clubes Como Milan e Boca chegam ao Japão e quais os trunfos dos azarões
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Dia 12 10 em forma Argentina Dez jogadores que estão em boa fase no Campeonato Argentino
1971. Depois, foram feitos apenas pequenas melhorias, que não resolveram os visíveis problemas estruturais do estádio, de posse do governo da Bahia. Um estudo elaborado pelo Sinaeco (Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva) apontou a Fonte Nova como o pior entre os 27 estádios avaliados em todo o Brasil, dada a falta de manutenção. Ciente dos problemas, o governo estadual havia limitado a capacidade do local, de 80 mil para 60 mil pessoas. Em 27 de novembro, dois dias depois do acidente, o governador Jaques Wagner anunciou que o estádio será demolido e substituído por uma nova arena. A medida já era prevista para o caso de Salvador ser escolhida como uma das sedes da Copa de 2014, pois a Fonte Nova e o Barradão não têm condições de abrigar um grande evento.
, em dezembro Dia 13 Volantes da Seleção
Dia 21 Nelson Rodrigues
Toda terça-feira Olheiro
Quem são os concorrentes à vaga de volante no time de Dunga
No aniversário da morte do escritor, uma homenagem da Trivela
Saiba mais sobre um novo – ou não tão novo – talento do futebol
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SEXO ARRISCADO
ADEUS, LIEDHOLM
AFP
O lendário ex-jogador sueco Nils Liedholm morreu aos 85 anos, em sua casa na cidade italiana de Cuccaro Monferrato. Liedholm marcou época no Milan, onde formou o famoso trio “Gre-No-Li”, ao lado de Gunnar Gren e Gunnar Nordahl. Pela equipe italiana, foi cinco vezes campeão nacional – quatro como jogador e uma como técnico. Pela seleção de seu país, Liedholm foi o capitão na campanha que levou a Suécia ao vice-campeonato mundial, em 1958, e ganhou a medalha de ouro na Olimpíada de Londres, dez anos antes.
“Foi a defesa mais importante da minha vida” O goleiro Felipe, do Corinthians, vibra depois de defender pênalti batido por Paulo Baier no decisivo jogo contra o Goiás, pela 36ª rodada do Brasileirão.
Fadi Al-Assaad/Reuters
A polícia de Berna ouviu 12 jogadores e ex-atletas do Thun. Eles foram interrogados sob a acusação de terem mantido relações sexuais com uma garota de 15 anos. De acordo com as autoridades, também foram realizadas buscas nas residências dos jogadores. Na Suíça, qualquer relação sexual com menor de 16 anos é considerada como “não-consentida”. A polícia afirmou que não há maiores evidências de que a jovem tenha sido forçada a fazer sexo com os atletas.
CULPA DE ISRAEL A Palestina foi excluída das eliminatórias para a Copa de 2010 após não comparecer à segunda partida contra Cingapura, pela fase preliminar. A federação disse que a ausência aconteceu por causa de restrições impostas por Israel. Dezoito jogadores e dirigentes palestinos moram na Faixa de Gaza, região que o governo israelense considera “território hostil” e, por isso, não permite a saída de seus habitantes.
Idade do atacante John Cofie, jogador pelo qual o Manchester United pagou € 1,4 milhão para seu ex-clube, o Burnley. Ele não poderá assinar contrato profissional até completar 17 anos.
“Foi um erro trágico” NOVO TIME NA MLS Seattle terá uma equipe na Major League Soccer a partir de 2009. O novo clube terá Paul Allen, um dos fundadores da Microsoft, como um de seus proprietários. Allen também é dono do Seattle Seahawks, da NFL, e do Portland Trail Blazers, da NBA. Com isso, a MLS passará a contar com 15 times em 2009. Antes da equipe de Seattle, o San Jose Earthquakes voltará a participar do campeonato, a partir de 2008.
BALANÇO IRREGULAR A Justiça italiana puniu a Roma por problemas em seu balanço financeiro. Os Giallorossi foram condenados a pagar multa de € 60 mil. A Lazio, também envolvida no caso, foi inocentada. Os dirigentes Franco Sensi e Sergio Cragnotti também corriam risco de punição, mas foram considerados inocentes.
Quadrilha desbaratada Onaireves Moura, ex-presidente da Federação Paranaense de Futebol (FPF), foi detido durante a Operação Cartão Vermelho, realizada pelo Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce), órgão da Polícia Civil do Paraná. Ele e mais oito pessoas foram presas sob a acusação de usar a FPF para cometer desvios de dinheiro, fraudes, estelionato e apropriação indébita. Sérgio Sirino, delegado-chefe do Nurce, afirmou que Onaireves seria o líder do grupo e teria a intenção de fundar uma igreja, chamada Rede de Deus, para lavar dinheiro
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desviado das arrecadações de partidas e de outras fontes. Sirino disse que a quadrilha teria acumulado mais de R$ 5 milhões com as irregularidades. “Onaireves, mesmo afastado da federação, continuava agindo e usando a instituição como antes”, explicou. Os nove acusados teriam utilizado, além da FPF, o Colégio Técnico de Futebol do Pinheirão, a FPFTV (rede de televisão pela Internet), a Comissão Fiscalizadora de Arrecadação (Comfiar) e a Federação das Associações dos Atletas para desviar recursos.
Vincenzo Giacobbe, chefe da polícia de Arezzo, lamenta a morte do torcedor da Lazio Gabriele Sandri, atingido pelo disparo de um policial.
“Não é que eu queira mudar de clube, mas se essa situação continuar se repetindo, é hora de pensar se vale a pena, se ainda é o que eu gosto de fazer” Kaká admite sua insatisfação pela violência que mais uma vez manchou o futebol italiano, após a morte do torcedor Gabriele Sandri.
Número de assinaturas que faltaram para a criação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito para investigar irregularidades em clubes de futebol do Brasil. O requerimento, que já havia sido aprovado no Senado, teve a assinatura de 168 deputados, mas precisava de 171 para seguir adiante.
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“Quero voltar a sorrir” Depois de mais de um ano sem jogar um bom futebol, Adriano chega ao Reffis do São Paulo para tentar recuperar a forma.
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A federação sul-coreana puniu o goleiro Woon Jae Lee com rigor. O capitão da seleção foi suspenso por um ano por seu envolvimento numa “noitada” após uma derrota na última edição da Copa da Ásia. Além da suspensão, Lee, de 34 anos, teve seu nome retirado da lista dos indicados ao prêmio de melhor jogador do continente e terá que cumprir 80 horas de trabalho comunitário. Dong Guk Lee, Sang Sik Kim e Sung Yong Woo, jogadores que aproveitaram a farra junto com o goleiro, também foram suspensos por um ano da equipe nacional.
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CLUBE DA GALERA O objetivo do site MyFootballClub tornou-se realidade. Ele reuniu pouco mais de € 1 milhão para adquirir o Ebbsfleet United, clube da quinta divisão inglesa. A idéia do site era juntar o maior número possível de pessoas dispostas a pagar € 50 cada uma para comprar um clube. Em alguns meses, o MyFootballClub reuniu 20 mil sócios. Cada um dos membros terá participação igualitária no comando do Ebbsfleet, com poder para decidir sobre transferências, escalações e outros assuntos.
CURIOSIDADES DA BOLA • Tentando fortalecer sua seleção para a disputa da Copa Africana de Nações, Benin está recebendo currículos de jogadores pela Internet. Os melhores candidatos serão chamados para um período de testes, em Paris. • O Feyenoord cancelou as comemorações de seu centenário. Motivo: o desinteresse da torcida. Segundo o site do clube, “a venda de bilhetes era tão fraca que haveria prejuízo se fossem realizados os shows programados”.
Stringer/Reuters
• Perder de 7 a 0 do Arsenal foi uma humilhação para o Slavia Praga. Tanto foi assim que, após o apito final, os atletas aproximaram-se de seus torcedores e abaixaram as cabeças para pedir perdão. Os fãs compreenderam e, com o mesmo gesto, aceitaram as desculpas.
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ERRAMOS Na página 8 da edição passada, publicamos uma foto errada do meia Ashkan Dejagah. O jogador que aparecia na imagem era, na verdade, David Odonkor.
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astros da Copa de 2014
1 Alexandre Pato (Brasil) Aos 23 anos, Alexandre Pato já é um jogador
Christinne Muschi/Reuters
CASTIGO SEVERO
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experiente no cenário internacional. Vai para seu segundo Mundial, mas o primeiro em que jogará de fato, já que, na África do Sul, foi inexplicavelmente preterido por Dunga.
2 Fàbregas (Espanha) “Agora vai”. A perene esperança dos espanhóis para a Copa nunca foi tão justificada. Capitão da Fúria aos 27 anos, o camisa 10 do Barcelona está com o prestígio em alta, depois de levar os Culés ao título da Liga dos Campeões em seu primeiro ano no clube.
3 Cristiano Ronaldo (Portugal) Quando tinha 23 anos, ele se consagrou. Na despedida de Felipão, levou Portugal ao título da Eurocopa em 2008 e foi eleito o melhor do mundo. Agora, aos 29, o habilidoso meia-atacante é o capitão da equipe dirigida por Luís Figo.
4 Kaká (Brasil) Aos 32 anos e com quatro títulos de melhor do mundo no currículo, Kaká ainda é perseguido no Brasil pelo fracasso de 2010. Ainda assim, o técnico Renato Gaúcho aposta alto no meia, agora no Real Madrid, como o armador da Seleção.
5 Agüero (Argentina) Em 2010, Agüero fez o gol que eliminou o Brasil na semifinal, mas perdeu um pênalti na derrota para a Holanda, na decisão. Encarar a torcida brasileira não será um fardo para quem saiu do Atlético para o rival Real Madrid, por € 100 milhões.
6 Rooney (Inglaterra) O atacante de 28 anos correu contra o tempo para se recuperar de uma fratura no quinto metatarso, mas conseguiu entrar na convocação do técnico Alan Shearer para o Mundial.
7 Ribéry (França) Aos 31 anos, Ribéry está no Olimpo dos craques franceses, ao lado de Kopa, Platini e Zidane. Atuando de forma mais cerebral que em outros tempos, quando abusava da velocidade, ele é a principal razão para acreditar no segundo título para os Bleus.
8 Walcott (Inglaterra) Ao contrário de 2006, quando ninguém conseguiu explicar sua convocação, Walcott, de 25 anos, chega à Copa de 2014 com todos os méritos. Foi o melhor jogador na campanha inglesa nas eliminatórias e caminha para quebrar os recordes de Thierry Henry no Arsenal.
9 Kroos (Alemanha) O meia de 24 anos viveu seu grande momento em 2012. Conquistou o título da Eurocopa e foi para a Internazionale como a contratação mais cara da história do clube, passando a formar um célebre trio alemão com os experientes Lahm e Podolski.
10 Sneijder (Holanda) Em 2010, Sneijder teve de se contentar com um papel de coadjuvante na conquista do título. No Brasil, chega como protagonista. Contratado pelo Milan junto com Huntelaar e Maduro, fez a torcida esquecer Kaká em um piscar de olhos.
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PENEIRA
Diogo:
Trombador talentoso
Press Gazeta ilatos/
Nome: Diogo Luís Santo Nascimento: 26/maio/1987, em São Paulo (SP) Altura: 1,76 m Peso: 71 kg Carreira: Portuguesa
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tuguesa ressurgir em 2007. Foi o treinador que fixou Diogo como referência ofensiva, atuando ao lado de Vaguinho e fazendo – muito bem – o papel de pivô. Antes, como meia ofensivo, o garoto ainda não havia “estourado”. Após fazer nove gols na Série A-2 do Campeonato Paulista, Diogo consolidou-se como jogador diferenciado durante a disputa da Série B. Com qualidade evidente e regularidade, já teve o contrato com a Portuguesa ampliado até 2010, o que deve render um dinheiro considerável para o clube caso seja vendido. Mesmo sem nunca ter atuado na primeira divisão, o camisa 9 luso merece, desde já, muita atenção. [DM]
(desde 2006)
Ferna
ormalmente se diz que não há um jogador que se destaque na primeira divisão do Campeonato Brasileiro. Surpreendentemente, na Série B, o panorama é outro. Com 13 gols marcados em 35 rodadas, Diogo, atacante da Portuguesa, é, com certeza, o melhor jogador da Segundona. Trata-se de um atacante técnico e razoavelmente forte, que não se intimida com as trombadas com zagueiros adversários. Aos 20 anos, tem mostrado maturidade e se impõe de maneira regular nos jogos mais complicados. Além disso, parece mais afeito ao jogo de choque, o que indica seu potencial para evoluir e ganhar mais recursos dentro da área. A parceria entre o técnico Vágner Benazzi e o atacante tem feito a Por-
Chermiti:
Atacante decisivo
O
promessas contratadas pelo presidente do Étoile, Moez Driss. Desde sua eleição, há cerca de um ano, ele vem apostando no potencial de alguns garotos, como Narry e Nafkha. E não se arrependeu. Desde já, Chermiti desponta como um dos possíveis nomes do ataque da seleção tunisiana para a Copa Africana de Nações de 2008. O contestado treinador Roger Lemerre está até mesmo preterindo jogadores mais experientes em favor de revelações como ele, Dhaouadi e Chickhaoui. Eis mais uma oportunidade para Chermiti mostrar que é decisivo. [MA]
Nome: Mohamed Amine Chermiti Nascimento: 26/dezembro/1987, em Sfax (Tunísia) Altura: 1,76 m Peso: 66 kg Carreira: JSK (2005), Étoile du Sahel (desde 2006)
Fethi Belaid/AFP
Étoile du Sahel surpreendeu todos ao derrotar o Al Ahly e conquistar a Liga dos Campeões da África. Entre os responsáveis por esse feito está o atacante Amine Chermiti, de 19 anos. Ele não só marcou um dos gols da decisão como também foi um dos melhores em campo. A vice-artilharia da LC africana despertou o interesse de clubes europeus, que deverão ser seu destino depois do Mundial de Clubes. Produto do excelente centro de formação do JSK, Chermiti chegou ao Étoile em 2006 e, desde então, encontrase em constante crescimento. Ele precisa, porém, adquirir maior força física para suportar a pressão dos adversários. Em contrapartida, o destaque do time tunisiano contorna essa deficiência com velocidade e bom senso de posicionamento. Chermiti é mais uma das boas
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Depende de nós
A confirmação do Brasil como sede da Copa de 2014 é, sem dúvida, uma alegria para todos os torcedores do país. É, por outro lado, motivo de preocupação para cada cidadão brasileiro. Vivemos, afinal, em uma nação em que se anuncia que as coisas serão feitas com dinheiro privado, mas no qual, depois, joga-se o problema no colo do estado para que este evite que a bomba exploda – assim como aconteceu no Pan-2007. O pior, porém, não é só que isso aconteça, mas que a apuração dos culpados, prometida para depois do evento, nunca tenha saído do terreno das declarações bonitas à imprensa. A partir desta edição, a Trivela inaugura uma seção destinada a ficar de olho nessa história. Uma iniciativa, aliás, que tem tudo para ser compartilhada com outros veículos da imprensa esportiva crítica do Brasil – as conversas para isso já começaram. Além do dinheiro que vai sair dos cofres públicos, é necessário olhar também o dinheiro que demora para sair, e por que
demora. O cronograma de obras e eventos, se estes estão acontecendo no prazo. Quem está sendo contratado para fazer o que, e por que motivo. Quem está pondo dinheiro privado no negócio, e que razões estão por trás disso, que tipo de benefício se espera obter, se é legal ou ilegal, legítimo ou não. Como não cansamos de insistir, esse é o nosso papel, mas há também um papel que só pode ser exercido pela sociedade civil, pelo torcedor. Isso, você. Não adianta agora se empolgar com aquele projeto de “arena multiuso”, reeleger o administrador público que a apresentou e, depois, descobrir que quem bancou tudo foi você – e, pior, a tal “arena” é um enorme elefante branco. Cidadania dá trabalho. Mas é só por meio dela que podemos melhorar o pedaço do mundo em que vivemos. Pode não parecer, mas a única maneira de melhorar o futebol, nossa grande paixão, é melhorando o país e o mundo no qual ele é jogado.
Engenhão teve que ser “dado” ao Botafogo para não virar elefante branco
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por Juca Kfouri A COPA DO MUNDO DE 2014 é nossa e é muito bom que assim seja. Países que souberam aproveitar igual oportunidade se deram muito bem. A Espanha em 1982 começou a mostrar sua face de país moderno, pós-Franco. A Alemanha de 2006 mostrou-se ao mundo orgulhosamente unificada, sem nacionalismos exacerbados, coisa que aprenderam a evitar como ninguém, por motivos óbvios. Pois o Brasil também pode. Afinal, se a África do Sul pode, por que nós não poderíamos? Sempre haverá quem diga, numa visão simplória, que temos outras prioridades. Ora, é claro que as temos, porém é bobagem imaginar que, se não houvesse a Copa, elas seriam necessariamente atendidas.
Então está tudo bem, está tudo bom, mãos à obra e vamos lá? Sim, se fizermos uma Copa com a nossa cara, do tamanho das nossas pernas, sem receio de mostrar o que somos e sem a pretensão de mostrar o que não somos. Se aproveitarmos a ocasião, ao contrário do que houve no Pan-2007, para aparelhar nossas cidades que receberão a Copa com a infra-estrutura necessária, de modo a proporcionar melhor qualidade de vida aos seus habitantes depois que a festa acabar. E certamente não se tudo não for feito dentro da maior transparência. E é aí que mora o perigo. Porque, infelizmente, não temos nenhum motivo para dar um voto de confiança a quem está no comando da opera-
ção, os mesmos que sete anos atrás foram denunciados por duas CPIs no Congresso Nacional. Por isso, e não só por isso, precisaremos estar vigilantes nos próximos sete anos, e a imprensa terá papel essencial neste processo. É bom lembrar que os Estados Unidos organizaram uma Copa do Mundo, em 1994, sem construir nem sequer um novo estádio e exclusivamente com dinheiro privado. Impossível supor que possamos fazer o mesmo, dadas as carências de nossas cidades, mas nem por isso devemos sair erguendo novas arenas que, depois de abrigarem, no máximo, três ou quatro partidas durante o torneio, ficarão tão ociosas como as que já existem tão logo a competição, de apenas 30 dias, termine. Por isso, mesmo que palcos como o Maracanã e o Morumbi não sejam os ideais, é neles que devemos apostar. Bastará fazer as reformas necessárias, como aconteceu, por exemplo, na esmagadora maioria dos palcos da Copa de 1990, na Itália, e em 1998, na França. Basta dizer que, em Marselha, a Seleção Brasileira jogou, contra a Noruega, no mesmo estádio que havia jogado na Copa de 1938! Felizmente, há sinais de que muita gente se mobilizará para marcar sob pressão os organizadores da Copa brasileira. A ONG Transparência Brasil lançará o “Observatório da Copa”. Veículos como esta revista Trivela, o diário Lance! e a ESPN-Brasil estudam reunir forças para acompanhar o dia-a-dia do empreendimento. O presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, Benjamim Steinbruch, já propôs uma “Fiscopa-2014”. Corrupção em torno de grandes empreitadas faz parte da história da humanidade. Na Alemanha mesmo, não foram poucos os casos, devidamente apurados e punidos. Quem sabe se não seremos capazes de fazer o mesmo – uma Copa bem-sucedida e, ainda por cima, uma limpeza em setores que há muito precisam de bastante água e sabão? Nós, da imprensa, seremos fundamentais para tanto. Porque os de sempre, e alguns novos, já se adiantam para abocanhar a parte do leão – alguns legitimamente, outros provavelmente nem tanto – e contam com a complacência dos órgãos governamentais, até hoje incapazes de responder eficazmente aos esquemas de comissionamentos e coisas do gênero. Que venha a Copa, enfim, mas que não tiremos os olhos da cozinha. Dezembro de 2007
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PONTO DE BOLA por Mauro Beting
Mantendo o time MAIS DIFÍCIL que ser campeão brasileiro é ser bi. Apenas cinco clubes (por seis vezes) mantiveram o caneco: Palmeiras (foi bi-bi) 1972-73 e 1993-94, Inter 1975-76, Flamengo 1982-83, Corinthians 1998-99 e São Paulo 2006-07 são os mais que campeões brasileiros. Deles, apenas Flamengo e Corinthians trocaram de treinador durante as campanhas mais que vitoriosas. Até Ricardo Teixeira sabe que a permanência do elenco e da comissão técnica facilita a difícil tarefa. Isso era menos complicado no passado, quando ao menos os elencos eram mais facilmente montados e mantidos. O Palmeiras bi de 1972-73 é considerado pelo próprio Ademir da Guia como superior à primeira Academia dos anos 60, justamente por ter sido montado em 1971 e mantido até 1975. O maior campeão dos anos 70 também foi dos maiores quase-campeões do período. No BR-72, o Inter do técnico Dino Sani caiu na semifinal, em um empate no Pacaembu contra o campeão Palmeiras. Cláudio, Figueroa, Carpegiani e os reservas Pontes e Escurinho já estavam no elenco colorado. No BR-73, bicampeonato palmeirense, o Inter foi o último colocado no quadrangular final, apresentando Vacaria, o imenso Falcão e o técnico Rubens Minelli. No BR-74, nova eliminação no quadrangular final, morrendo à beira-mar, com os já rodados Manga na meta e Lula na ponta-esquerda. Em 1975, chegaram ao Beira-Rio apenas o júnior Caçapava e o artilheiro Flávio Minuano. O que só batia na trave deu certo: o Inter ganhou 1975, bisou 1976 e foi o melhor da década de 70 – também por ser quase o mesmo durante cinco anos. O mesmo vale para o imenso Flamengo dos anos 80, o melhor e maior de todos os times campeões do Brasil (especialmente o de 1982). São equipes que mantiveram
escalações em campo e no banco – algo impensável para os dias e jogos acelerados e celerados de hoje. O São Paulo conseguiu ser bicampeão. Mas apenas Muricy e 15 atletas jogaram nas duas conquistas. O restante do elenco foi trocado e despedaçado pelo mercado. Como o São Paulo ainda mantém notável eficiência, comprometimento e filosofia de trabalho e de jogo? Não é difícil responder: veja os pôsteres dos tantos títulos tricolores. Os que vestem as camisas podem mudar, mas preparadores físicos, de goleiros, auxiliares técnicos, o grosso da finíssima comissão técnica é o mesmo, desde os tempos em que o São Paulo (como o Inter pré-1975) chegava a todas as finais e perdia todas elas. Nessa época, a direção soube manter quem trabalhava certo, mesmo não ganhando canecos. Persistir no “erro”, na perda, pode ser uma vitória num futuro próximo. E pródigo.
AMARCORD O Corinthians bicampeão em 1999 foi obrigado a trocar de treinador. Vanderlei Luxemburgo teve de ficar só com a Seleção a partir de janeiro daquele ano, depois de conciliar o Brasil com o Corinthians no segundo semestre de 1998. Carlos Alberto Parreira, no segundo semestre de 1991, havia feito o mesmo, dividindo o Brasil com o Bragantino. Antes da looooooonga gestão Ricardo Teixeira, outros treinadores conciliaram empregos: Cláudio Coutinho assumiu a Seleção em 1977 e continuou dirigindo o Flamengo. Licenciou-se durante a Copa de 1978 e voltou ao clube onde ficaria até novembro de 1980. Saiu da Seleção no início daquele ano, substituído por Telê. O Flamengo foi bicampeão em 1983 com quatro treinadores no banco: o bicampeão Carpegiani, os interinos Carlinhos e Raul Carlesso, e Carlos Alberto Torres, que levantou o caneco contra o Santos.
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MARACANAZO por Mauro Cezar Pereira
Copa 2014? Ninguém tem que ser como Pacheco ou Zagallo VOCÊ SABIA que o Brasil é o 83º no Índice de Paz Global? Desenvolvido pela consultoria britânica Economist Intelligence Unit, o estudo classifica 121 países de acordo com seu “grau de paz”. No caso brasileiro, a constrangedora colocação reflete, em especial, o elevado grau de violência urbana. O GPI é liderado pela Noruega, seguido p por Nova Zelândia,, ericano como o Dinamarca, Irlanda e Japão. Sul-americano ente da CBF e Brasil, o Chile é o 16º. Para o presidente uíça, esses os políticos que o acompanharam na Suíça, números parecem não existir. ano No Índice de Desenvolvimento Humano es (IDH), o Brasil é 69º. Os noruegueses também são líderes desse ranking, que considera Produto Interno Bruto per capita, expectativa de vida e a taxa de alfabetização. Entre os países da América do Sul, a Argentina, mesmo depois de quebrada entre 2001 e 2002, é a mais bem colocada, com o 36º posto. Para a o turma que esteve em Zurique aplaudindo r. tudo e todos, isso nada parece significar. ue mede Já no Coeficiente de Gini, método que ebol” é 68º. a concentração de renda, o “país do futebol” niquim, só os Mais vergonhosos do que o índice tupiniquim, de nações como Guatemala, Suazilândiaa e Lesoto. Para a delegação brasileira que foi a Zurique,, “e daí”? rmos esperar Alguém pode argumentar que, se formos esses números mudarem radicalmente, jamais teremos uma Copa do Mundo no Brasil. É verdade. eu povo, Mas quem não consegue alimentar seu co, tem oferecer uma boa escola, saúde, o básico, o direito de sonhar com uma grande festa para os “amigos”? Radiantes, governantes estiveram a efestejar a oficialização do óbvio, ou seja, o Mundial de 2014 em nosso país.. Benefícios políticos, votos, poder de barganha com empresas que já estão de olho nas concorrências para obras que poderão ganhar... É, há muito em jogo, trata-se de um “banquete” à vista. Os otimistas que me desculpem, mas não existe nada que me faça ter esperança de que essa aventura dará certo. A forma desenfreada como “queimaram” dinheiro no Pan do Rio de Janeiro apenas reforça esse sentimento. E, quando me refiro a “dar certo”, quero dizer tudo funcionando sem desvios de verbas, obras desnecessárias, prejuízo para o povo, enfim. Chega de tolerân-
cia, de “rouba, mas faz” e outras sandices. Tudo isso é triste neste país repleto de problemas que jamais motivaram reuniões de tantos governadores ao lado do Presidente da República para resolvê-los. Mas esses homens de agendas sempre apertadas atravessaram o Atlântico só para p aplaudir op presidente da CBF, os caciques da Fifa e quem aparecess por lá. Sim, foi uma inédita coalimais aparecesse zão. O bo bolo está no forno, a festa vai começar. Prepar Prepare-se para pagar a conta.
Em época de Copa do Mundo, corruptos, larápios e facínoras de todos os gêneros são capazes de se reunir em torno de churrascos, banquetes, uísque ou cerveja. Vestem a camisa “canarinho”, torcem pelo “Brasil-il-il-il”. Nem por isso são mais patriotas do que o cidadão que trabalha e não rouba. Romário foi enfático após o anúncio c de que o Brasil vai mesmo receber oficial a Copa de 2014. Perguntado sobre como encacrítica à realização do Mundial no país, foi ra as críticas di correto ao dizer que as opiniões contrárias devem M derrapou ao garantir que “nós bramesmo existir. Mas m sileiros vamos mostrar que somos capazes de organizar C uma grande Copa”. “Nós” quem, cara-pálida? Que fique bem claro: quem eventualmente não se esgoela pela Seleção da CBF, tampouco solta rojões para comemorar o Mundial de 2014 não é menos brasileiro do que o sujeito que se traveste de Pacheco. Não temos a obrigação de ser uma nação de “Zagallos”. A cidadania deve ser medida pelo comportamento de cada um. Quem rouba e afunda o país, depois vibra com o time amarelinho, não é mais brasileiro do que aquele que não torce pelo time da CBF. Podemos criticar ou discordar da forma como a Copa será promovida por aqui sem receber o rótulo de apátrida. E, além disso, temos o direito de cobrar de Romário, Dunga, Paulo Coelho e outras personalidades se, no futuro, os políticos e dirigentes que deles receberam aval não cumprirem o prometido: uma competição bem organizada, sem roubalheira e picaretagem. Dezembro de 2007
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TÁTICA por Carlos Eduardo Freitas
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Quantidade ualidade Com um elenco caríssimo e de alto nível, o Bayern de Munique conseguiu, enfim, livrar-se do fantasma de Ballack uando investiu mais de € 70 milhões na contratação de reforços do nível de Franck Ribéry, Luca Toni, Zé Roberto e Miroslav Klose, o Bayern de Munique atraiu para si todos os holofotes da imprensa mundial. O alto valor foi ainda mais surpreendente por tratar-se de uma equipe que nem sequer disputa a Liga dos Campeões. Imediatamente, o clube bávaro tornou-se favorito absoluto ao título de tudo o que disputa: Bundesliga, Copa da Alemanha e Copa Uefa. Pouco a pouco, o clube vem fazendo jus a essa expectativa. O time ficou invicto até o começo de novembro. E não só: faz gols com incrível facilidade e raramente os sofre. Tudo isso é fruto de um trabalho pesadíssimo imposto por Ottmar Hitzfeld, que só aceitou permanecer no clube após o fim da temporada passada, quando lhe foi garantida aquela dinheirama para reformular o elenco, depois do fiasco de 2006/7. A desculpa-padrão pelo mau resultado na campanha anterior foi a saída de Michael Ballack. A verdade é que o Bayern não soube achar uma alternativa àquele 4-3-1-2, em que o camisa 13 da Alemanha fazia o papel do “1” (figura 1). Nem mesmo Hitzfeld, quando chegou ao clube em janeiro, conseguiu mudar isso. Com tanto dinheiro à disposição, en-
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tretanto, ficou fácil arrumar alternativas em quantidade e qualidade. Para montar o elenco que julgava ideal, Hitzfeld buscou peças que se encaixassem em seu esquema preferido: um 4-2-2-2, com dois volantes, dois meias que carregam a bola pelas laterais e chegam às pontas e dois atacantes. Para o ataque, chegaram Klose e Toni, além de Schlaudraff, que já estava contratado antecipadamente. Para a lateral-esquerda, veio o jovem e promissor Jansen, o que permitiu que Philip Lahm voltasse a jogar pela direita, sua posição de origem. Para atuar pelas laterais, um pouco mais à frente, chegaram Altintop, Ribéry e Zé Roberto. O que causou estranheza em muita gente foi a falta de volantes. O próprio Oliver Kahn revelou temer a falta de um marcador nato no elenco: “Falta a nosso time um Gattuso, alguém como era Jeremies no passado”. Hitzfeld, entretanto, já havia decidido que jogaria com Zé Roberto e Van Bommel nesse papel de contenção. Nenhum dos dois é marcador nato, mas o treinador apostou na dupla. “Zé provou na Copa que pode fazer esse papel muito bem. Van Bommel é incansável, tem tudo o que um bom marcador precisa para se destacar”, comentou o técnico, pouco antes do começo da temporada.
Ribéry (último à direita) é peça-chave no novo Bayern
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O Bayern com Ballack Esquema com um meia centralizado, usado entre 2002 e 2006, “viciou” o Bayern, que não soube adaptá-lo
A
A
Pizarro
Makaay
ME Ballack
ME Zé Roberto
MD Schweinsteiger
V Hargreaves
LE Lizarazu
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Ismael
Lúcio
Sagnol
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O Bayern sem a bola Quando está na defensiva, o Bayern recua todo seu meio-campo e prepara o contra-ataque para Ribéry
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Klose
Toni
ME Ribéry
MD Altintop
V Zé Roberto
V
Logo que a bola começou a rolar na Alemanha, o esquema do Bayern mostrou-se um sucesso. Toni e Klose não se cansam de fazer gols, e o mais impressionante é que a defesa tem se mostrado sólida. Em 17 partidas – entre Bundesliga, Copa Uefa e Copa da Alemanha –, o time sofreu apenas oito gols e dez vezes deixou o campo sem ser vazado. Muito disso é mérito da dupla de volantes “inventada” por Hitzfeld e da regularidade que a zaga formada por Lúcio e Demichelis tem apresentado – sobretudo depois que o técnico proibiu o brasileiro de se arriscar no ataque. “Com tamanho poderio ofensivo, não vejo necessidade de botarmos tudo a perder”, disse o treinador. No ataque, o segredo é o uso dos lados do campo. Jogadas criadas pelos laterais Lahm, Jansen e Lell, assim como por Ribéry, Schweinsteiger e Altintop, são responsáveis por 16 assistências diretas, assim como pela origem de muitos outros gols. Mais uma arma do Bayern são os contra-ataques. Quando não tem a posse de bola, o time se compacta
de maneira a deixar apenas os dois homens de frente no campo de ataque (figura 2). Assim que retomam a bola, qualquer meia pode avançar com ela dominada e, graças à qualidade do setor, sobram alternativas de alto nível para fazê-lo (figura 3). Até agora, Hitzfeld poucas vezes precisou alterar seu 4-2-2-2. As poucas vezes se deram quando não pôde contar com Klose ou Toni na frente. Nessas ocasiões, manteve a estrutura do meio-campo, mas jogou com apenas um atacante fixo – ou o alemão, ou o italiano –, com um meia ofensivo perto dele. Geralmente, Ribéry foi deslocado para o meio e Schweinsteiger entrou na esquerda. Recentemente, a gama de opções do time aumentou ainda mais, com a excelente fase do promissor Toni Kroos, que já surge como uma opção realista para o meio-campo, em qualquer uma das posições – seja pela esquerda, pela direita ou pelo meio, fazendo papel parecido com o que era de Ballack. Como dá para ver, não faltam opções. Tanto em quantidade como em qualidade.
LE
Z
Z
LD
Jansen
Lúcio
Demichelis
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G Kahn
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O Bayern no ataque Tão logo recupera a bola, o time inteiro avança, inclusive os laterais. Quando um sobe, o outro fica
ME
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Klose
Toni
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Van Bommel
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G: goleiro / LD: lateral-direito / LE: lateral-esquerdo / Z: zagueiro / V: volante / MD: meia-direito / ME: meia-esquerdo / MA: meia-atacante / A: atacante
Getty Images/AFP
Van Bommel
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Jorge R. Jorge/Trivela
ENTREVISTA RR MURICY RAMALHO por Caio Maia, Carlos Eduardo Freitas e Ubiratan Leal
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Contestado no começo do ano, Muricy Ramalho conseguiu, em alguns meses, virar unanimidade. Neste papo, o treinador mostra por quê, além de exibir uma face sorridente pouco conhecida ecida
Em 1996, você assumiu o São Paulo antes do que se planejava, e acabou demitido. Ganhar esse bicampeonato pelo clube é uma espécie de “vingança” do Muricy? Quando saí daqui na primeira vez, não aceitei muito bem, porque não gosto de sair perdendo. O projeto do São Paulo naquela época era o Telê Santana formar o próximo técnico, mas ele ficou doente ante antes de eu ficar pronto. Em seguida, o time se desmanchou, todo mundo saiu e eu ti tive de assumir um time de garotos. Eu disse que o time só ia render mais na fren frente, como rendeu, e que precisava ter pac paciência, só que não houve. Até por isso, qu queria voltar para o São Paulo, que é o tim time em que comecei como jogador e como técnico, tinha de ganhar aqui de qualquer jeito. Você trabalhou com dois ex-técnicos do São Paulo que são tidos como dois dos melhores em todos os tempos no Brasil: Parreira e Telê. Quais os principais pontos
uricy Ramalho é um baita cara simpático. É agradável, divertido e, principalmente, sabe muito de futebol. Ele disfarça. Insiste no jeito simplório e até finge uma rabugice que não prevalece no contato mais demorado. Não se preocupa em construir uma imagem, pelo contrário, faz até questão de ser antipático quando não precisa ser. Mas vence. E, nos últimos tempos, também convence. Até quem tinha restrições ao trabalho do treinador teve que admitir que, em 2007, o ex-jogador do próprio São Paulo acertou muito mais do que errou. No ano do pentacampeonato tricolor, Muricy mostrou mais do que o antigo modelo “mão na massa”, de união do grupo em torno de um objetivo. Exibiu, também, conhecimento tático para armar – e mudar – a equipe, e olho clínico para identificar dentro de seu elenco os jogadores que supririam as ausências dos jogadores que deixaram o clube. Na longa entrevista concedida à Trivela – só interrompida pelo fim das perguntas –, o treinador falou de tudo o que importava: seu passado no clube, o modelo que ajudou a implantar no São Paulo, a quantas anda o futebol mundial, e demonstrou com clareza que conhece bem os assuntos sobre os quais discorre. Mais: da leve carranca inicial, nada sobrava ao final do papo, substituída por um sorriso aberto e franco.
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fortes de cada um deles e o que você pegou disso para o seu estilo? Sempre cito três técnicos e três características que um técnico de ponta precisa ter. Primeiro, comando. Esse era a característica do Telê. Também cito planejamento e teoria, que é o Parreira. Uso muitos números, “scout”, coisas que ele usava bastante. Tem também a parte tática, na qual sou muito interessado: meu time muda a forma de jogar sem mudar de jogadores. E para mim, o melhor nessa parte foi o [Rubens] Minelli. Em 1975, os técnicos não faziam treinamentos táticos. Não tinha essa história de parar o treino, acertar posicionamento. Ele começou a inovar isso já naquela época. O São Paulo é um time que muda muito, mas sempre joga com a mesma intensidade. Como foi a montagem desse time com capacidade de atuar bem em diversos sistemas? No Brasil, não dá para ter preferência por um esquema. Você tem um esquema preferido, mas não pode chegar no presidente e dizer: “Quero que contrate este e este jogador”. Você pede um zagueiro e te trazem um volante. Portanto, você não pode ter um esquema, precisa respeitar a maneira de atuar de seus jogadores. Por isso, armo o time de
acordo com essas características, mas gosto de mexer com elas também. Em 2006, o São Paulo começou a ficar muito manjado. Por isso, durante os 40 dias que tivemos durante a Copa do Mundo, mudamos o esquema e também as características dos jogadores. E deu certo. Hoje, nós fazemos muito isso no jogo, de acordo com o movimento do adversário, e nosso time não sente a mudança. Vira uma bagunça organizada. Os jogadores mudam de vez em quando, de surpresa, senão ficam marcados. O São Paulo também acabou revelando bons jogadores, como o Breno. Comecei a fazer no São Paulo uma coisa que os outros treinadores não faziam: toda semana, eu trago os juvenis ou os juniores para treinar com o profissional. Num desses treinos, surgiu o Breno. Falei para ele ficar aqui. Ele ficou quase seis meses encostado. Não fazia nada, só treinava. Em janeiro, ele jogou a Taça São Paulo, porque é importante o menino jogar. Ele foi bem, mas ainda tinha algumas coisinhas para melhorar. Trouxemos de volta. Ganhou peso, ganhou força e, pouco a pouco, começou a treinar entre os titulares. Foi ganhando experiência, até que foi lançado. Não é fácil lançar um garoto assim e muitos ficaram no meio do caminho. E os culpados são, muitas vezes, os treinadores, os dirigentes, que apressam, lançam no momento errado. Dezembro de 2007
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Até que ponto isso não dificulta o trabalho de técnicos no Brasil? Dificulta porque a maioria quer agradar dirigente e acaba fazendo um monte de bobagem. Eu não estou aqui para agradar dirigente, nem ninguém. Estou aqui para fazer meu trabalho. Ao contrário: sou antipático para caramba com esses caras, não vou jantar com ninguém. Vivo do meu trabalho, porque sei que se eu não ganhar, me mandam embora. Não sou agradável – e não quero ser. Se não for desse jeito, não se consegue nada: revelar, ganhar título, nada. Você não dura. Os técnicos brasileiros acham que, agradando diretor, vão permanecer no clube. Não permanece. Esse mesmo cara é o que manda embora. Quando você ficou sem Mineiro e Josué e o clube não contratou ninguém, você foi criticado por jogar com a dupla Hernanes e Richarlysson, e por não testar, por exemplo, o Reasco. (risos) Esse é o grande problema. Eu sou treinador de futebol, meu. Eu ouvi isso aqui dentro, mas o Reasco não tem cacoete de volante. Ele não tem drible, não tem a mí-
nima chance de jogar ali. As pessoas têm de entender que o futebol está mudando. Quem joga hoje não são mais os laterais, mas os volantes. As pessoas no Brasil, infelizmente, vêem muito mal futebol. Hoje, a Europa está à nossa frente uns 200 anos. Os laterais, na Europa, não avançam mais, eles marcam. Quem sobe e faz a diferença são os volantes. Veja a seleção da Itália. Quem era o pensador do time? O Pirlo. O que ele é? Volante. Aí pediam Reasco, Júnior... O Hernanes jogou em diversas posições no São Paulo. Como ele acabou acertando como volante? Jogou de tudo e não jogava de nada. Tanto é que ele foi emprestado para o Santo André e ficou até no banco lá. Na volta, teve a excursão para a Índia. Antes dessa viagem, fiz três amistosos com o time que ia para lá. Chamei o Hernanes e disse: “A partir de agora, você vai jogar de volante”. Ele fez esses três jogos, treinou bem, e foi para a Índia. As circunstâncias ajudaram quando ele voltou, já que não tínhamos volantes. Se o time tem três zagueiros grandes e muito rápidos, é possível colocar dois caras que
Acervo/Gazeta Press
O Parreira é um mestre em planejamento e teoria. Aprendi com ele a usar muitos números, “scout”, como ele
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não são tão da posição como volantes. É por isso que o Hernanes toda hora vai ao ataque, chuta em gol muito bem. E ele acabou se destacando. Falando sobre o Richarlysson, o jogador cresceu muito durante o Brasileiro. Quando se imaginou que ele fosse passar por um momento de introspecção por causa de toda a polêmica vivida por ele, aconteceu o contrário. Essa é uma característica só do jogador ou o ambiente ajudou? Um monte de coisa ajudou. Primeiro, o pai e a mãe que ele tem. São sensacionais, se vê que existe um suporte. É uma família bem definida, bem realizada. O ambiente também é ótimo. Os caras adoram ele aqui dentro. Ele é alegre para caramba, está toda hora pronto pra tudo, nunca reclama de nada, é sempre o primeiro a chegar aos treinamentos. É um cara muito determinado e responsável: faz faculdade à noite e, nas vezes que tem concentração, eu libero ele para ir à aula. Ele sabe muito bem o que quer, por isso, saiu dessa situação. E ele brigou com coisa feia. Eu sei o que passou, e foi fodido. A palavra é essa. Foi um puta homem. Por isso é que ele superou essa situação. Como jogador, o Richarlysson é um puro-sangue. Não é tão habilidoso, mas tem muita força. É um cavalo. Ele é pequeno, mas tem uma impulsão impressionante. Não perde para ninguém no alto. No Brasileiro, impressionou a forma com que o São Paulo derrubou fora de casa os concorrentes diretos ao título. Ganhou do Grêmio no Olímpico, do Cruzeiro no Mineirão, do Santos na Vila, do Vasco no Rio de Janeiro, do Palmeiras... Acho que o São Paulo ganhou o campeonato nesses jogos decisivos. Alguém se animava, queria encostar, a gente ia lá e batia nos caras. Em jogos como esse, é preciso jogar tudo o que tem — esquema tático bom, preleção boa, viagem boa — e precisa passar isso para o jogador. Ele tem de acreditar que a gente vai ao Olímpico para ganhar. O Botafogo, por exemplo: depois daquele jogo no Maracanã, acabamos com eles. Se ganhassem aquela partida, iriam passar um ponto na nossa frente — e estavam jogando demais, dificilmente alguém pararia o Botafogo. Tenho certeza de que, lá, eles fizeram uma preleção para a guerra. Perderam. De tão animados que estavam, não se concentraram no jogo. O São Paulo não: se concentrou no jogo e ganhou. Nosso time foi inteligente, o deles foi no entusiasmo, na emoção. Tanto que teve jogador expulso, jogador
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Djalma Vassão/Gazeta Press
O Rogério é um líder positivo, um exemplo não só dentro de campo. É sempre o primeiro a chegar e o último a sair
que apelou. Se você só vai no negócio de emoção, põe uma fita lá, o jogador fica escravo daquilo. Muitas vezes, em vez de se motivar, fica tenso. Aí, perde. No Inter, você teve no grupo lideranças como Clêmer e Fernandão, enquanto aqui tem o Rogério Ceni. Como é, para o treinador, contar com um jogador tão influente no elenco? Você tem de ver, quando chega ao time, logo na primeira semana, quem é o líder. Identificar se ele é positivo ou negativo. E se for negativo, ou você tira ele ou você
sai. O Rogério é positivo. Por exemplo: um monte de jogadores, em outros clubes, tinham fama de aprontar, vieram para cá e aqui se comportaram. Por quê? É simples: ele chega aqui no São Paulo, quem é o primeiro a estar no campo? O Rogério. Quem é o último a sair? O Rogério. O cara bate 200 faltas por dia. Aí, o técnico chega e diz: “Nós vamos concentrar dois dias a mais”. O Rogério não fala nada. O cara chega aqui e pensa: “Esse é o líder do time e faz tudo isso, o que é que eu vou ter de fazer, então?”. É um exemplo para tudo, não
só dentro do campo, mas no dia-a-dia. Os caras só vêem exemplo positivo nele. Jogadores como Leandro e Aloísio passaram por fases ruins, mas você os manteve no time. Nessa questão de ambiente, o quanto é importante para o jogador saber que conta com a sua lealdade? Existe o mundo do futebol que todo mundo conhece – vocês da imprensa e o resto – e o mundo do futebol nosso. No nosso mundo, se sabe muita coisa: qual treinador é filho da puta, qual jogador é vagabundo. Um liga para o outro e diz. O meu estilo é o de lealdade ao jogador, porque é ele que faz a diferença. Tem gente que, quando perguntam como foi o jogo, responde: “É, foi mal. Também, o Antônio foi uma merda. Mandei ele correr por aqui e ele não foi”. Transfere a culpa para o jogador – e jogador odeia isso. Eu não discuto jogador publicamente. Nem para o bem nem para o mal. Não discuto. Uma das coisas que eu acredito no futebol é que o jogador tem de ficar satisfeito até no banco. Por isso, sou leal pra cacete com o cara. O Júnior, por exemplo, estava na reserva, às vezes nem no banco ficava. Só que eu estou ligado no Júnior e vi que ele treinava pra caramba, não fazia onda – e ele podia, porque é campeão mundial. Acabou sendo titular. O jogador sente quando o seu comportamento é esse, e corresponde. Essa relação com os jogadores também existe fora do campo? Converso com eles no dia-a-dia, converso dos filhos deles, só que eu não sou de ficar muito junto. Não sou de ir a aniversário, não faço churrasco com eles. Quando vamos para um hotel, concentrar, eu vou para o meu quarto. Não quero saber deles. Só que as responsabilidades são divididas: se eu sentir alguma coisa errada, está fora. Me meter na vida dos caras? Não mesmo. O modo como você lida com a imprensa no dia-a-dia faz com que você fique com uma imagem de falta de sofisticação? Tem muito engana-trouxa por aí, né? Os caras ganham o jogo e falam: “Porque eu fiz uma palestra ontem, pus um filme de uns patos, e os patos não sei o quê...”. Dezembro de 2007
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Já estou recebendo convites, mas, se essa coisa de “modernidade” for o problema, eu nunca vou para a Europa
Fotos Carlos Eduardo Freitas/Trivela
E quando perde? Ninguém pergunta pra eles: “E os patos? Cadê os patos?”. Põe o negocinho no ouvido, parece Sandy e Junior, e fica reclamando com o cara no microfone. Tenho dois auxiliares, o Tata e o Milton, que conhecem para caramba de futebol. A gente se fala muito antes do jogo, no intervalo, um sugere uma mudança aqui, outro ali. Mas, durante o jogo, o cara vai ficar aqui no meu ouvido? Vou mandar ele pra puta que o pariu um monte de vezes. É ridículo isso, cara. Se fosse igual ao futebol americano, ou ao basquete, que o técnico pode pedir tempo, tudo bem. Mas não pode! E tem também essa coisa de eu não me vestir legal. Gosto de usar jeans e, se pudesse, ia me vestir de bermuda. Infelizmente, no Brasil, o sujeito tem de impressionar, ir a grandes restaurantes. Eu não freqüento esses restaurantes porque não gosto. Sou convidado toda hora. Eu só pergunto: “Quer ir no meu? No meu vocês não vão, porque é arroz com polenta, é frango, é cerveja”. Você não acha que isso pode deixar de abrir portas, por exemplo, para ir à Europa? Aproveitando a pergunta: você gostaria de treinar na Europa? Já estou tendo convites. Não tinha. Tinha muito da Arábia. Mas não vou, mesmo. Não é problema de dinheiro. Agora, começou a surgir também da Europa, porque o meu trabalho começou a dar resultado aqui e foi para lá. Mas, se essa coisa de modernidade for o problema, eu nunca vou para a Europa. Sou viciado em futebol. Vou para a minha casa e assisto a futebol. Procuro me informar dos jogos. Vejo o Campeonato Italiano, Japonês... Tudo o que tiver eu vejo. Não posso ficar com frescura, entende? Ficar me preocupando com o meu sapatinho, não sei o quê. Mas tudo o que esses caras fazem eu faço. É que não mostro. Infelizmente, pago um preço por isso. No dia seguinte à conquista do título, você deu uma entrevista para um programa de TV comentando Flamengo x Corinthians, partida que foi simultânea ao jogo do título do São Paulo. Ou seja: em 12 horas, você já tinha visto o jogo. Nem na hora do título deu para relaxar, descansar? Afinal, o São Paulo não ia enfrentar mais Corinthians ou Flamengo...
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Eu vi porque gosto de assistir jogos. Depois, foi uma puta festa no Maracanã, e é gostoso ver o Maracanã cheio daquele jeito. Dois grandes times guerreando lá, um puta jogo, eu achei. Por isso é que eu disse, naquele dia, que achava que o Corinthians não ia cair. O time está jogando bem. Perdeu, mas jogou bem. Quantos jogos você vê por dia? Ah, meu, o que tiver eu vejo. Copa SulAmericana, outro dia vi Ferroviária com o Linense, vi todos da Série A3, vi Campinas e Penapolense... Vejo tudo quanto é jogo, porque cada partida é diferente, você sempre aprende alguma coisa. Tenho que ver futebol. É claro que eu vejo basquete, sou apaixonado por beisebol desde que morei no México. Mas vejo futebol o dia todo, porque sempre tem coisas interessantes num jogo. Ontem eu vi o Santos jogar. Por quê? Porque quero ver como o Luxemburgo mexe no time dele, como ele se porta no banco. Isso faz diferença. Sei mais ou menos o que ele pensa, qual esquema vai utilizar, como posso surpreender. Depois, eu chego para os jogadores e falo: você vai enfrentar o cara assim, tem que ir pelo lado esquerdo dele, porque o forte é pelo lado de dentro. Tem de tomar cuidado com o cara que bate duro na bola, saber quem cobra escanteio do lado do cara. Você mencionou que gosta de beisebol e basquete. Você aprende alguma coisa com esses esportes? Hoje, o que mais se parece com o futebol é o basquete, no qual a cesta começa a ser feita quando o time está defendendo. Você vê o time adversário com a bola e sua torcida gritando: “Defesa, defesa!”. É a cultura tática da torcida. Isso é porque eles sabem que a marcação do basquete já está ganhando o contra-ataque. E esse é o futebol de hoje. Um São Paulo que toma 15 gols em 36 jogos tem alguma coisa disso? Tem. Tem defesa forte. Nossa defesa é muito boa, mas a marcação começa lá na frente, com o Aloísio. O Dagoberto, mesmo, teve dificuldade no começo aqui, porque exigimos que os dois lá na frente marquem desde o começo. E, para marcar na frente, tem de correr atrás dos caras, atrás dos volantes. O Leandro é o cara que mais marca no nosso time. O Aloísio, sem a bola, é brincadeira. A gente joga dessa maneira. A
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papo, meu. Os caras não são mais jogadores de futebol, são atletas profissionais. Na Europa, também é assim: correria e marcação. Então, é muito do romântico, muito de não querer ver que hoje mudou o futebol. É um futebol que eu acho bonito. Você comentou que acompanha o futebol europeu. O que você tem percebido de mais interessante, com relação ao que tem surgido em termos de nomes e táticas? Na Europa, por um lado, estão jogando um estilo de futebol que se jogava em mil novecentos e nada. Quando o time lá está com a bola, são dois pontas e dois centroavantes. Por outro lado, sem a bola, fica só um enfiado, num 4-5-1. Quando se transforma, se você parar a imagem, é muito bonito: uma linha de quatro ou cinco. Hoje, poucas pessoas percebem que todos os times europeus têm um lateral e o outro, do outro lado, é defesa, não lateral. Isso acontece porque os dois volantes são jogadores, vão para o jogo. Aí, jogam com dois pontas e dois centroavantes. O Manchester United joga assim, pôs até o Ânderson de volante. Imagina o Ânderson, de volante? E jogou bem. Por quê? Quando eles pegam a bola, abrem dos lados e os dois atacantes se enfiam. Os dois volantes têm de jogar, senão fica um vazio. Está se mudando a forma de jogar no mundo e aqui a gente não aceita isso. Como implementar essas mudanças aqui?
Lá, é mais fácil porque o técnico chega e diz: “Quero o Ronaldinho”. Eles compram. Aí, senta no banco todo engomadinho, de terno, e vê quem está na reserva. “Ah, tem Ronaldinho, Kaká e Pelé”. Aqui, você olha para o banco e para fazer uma mudança é duro. O sistema tático deles também está mais avançado que o nosso, com algumas mudanças de proteção e de liberação dos laterais. Num dos nossos últimos jogos, nós fizemos duas linhas de quatro. E sempre que estávamos com a bola, vinham dois de ponta. Jogamos bem, mas precisamos de um pouco mais de treinamento e de pessoas específicas para isso. Aqui não tem mais ponta, mas lá estão fazendo pontas de novo. O Fernandão comentou que é difícil aqui, no Brasil, o jogador entender de tática. Ele comentou que quando jogou no Olympique de Marselha, o treinador dava aulas de tática para os jogadores, e que, no começo, se revoltava: “Pô, o cara vai querer me ensinar a jogar?”
Não está acabando o futebol brasileiro, está se mudando a maneira de jogar. Não tem mais aquela lentidão, hoje é correria
Gaspar Nóbrega/Vipcomm
bola chega muito pouco no Rogério, muito pouco. Sem a bola a gente ganha jogo. Nosso time é grande, nosso time é rápido. Se você tem zagueiros rápidos, pode arriscar uma marcação adiantada. Se falhar, na velocidade eles não ganham da gente. É por isso que o nosso time sofre muito pouco contra-ataque. O São Paulo é campeão com a melhor defesa, mas sem ter o melhor ataque. É a primeira vez, na era dos pontos corridos, que isso acontece, ao contrário da Itália, por exemplo, onde a defesa prevalece. Muita gente acha que isso está piorando o futebol brasileiro. Como você vê essa questão? Isso é uma coisa romântica. Eu também gosto de filé mignon, de um bom show, mas nosso futebol não é assim. As pessoas têm de analisar: você tem um time em janeiro, outro em março, depois de três meses é outro, e depois, no Brasileiro, outro. Se você tem um craque, vende. Então, é preciso se armar de alguma maneira. Não está acabando o futebol brasileiro, está se mudando a maneira de jogar. Não tem mais aquela lentidão, hoje é correria, é velocidade. Atlético-MG e Santos na Vila, puta correria, quatro gols. Atlético-PR e Corinthians no Pacaembu, quatro gols. No Cruzeiro x Flamengo, mais quatro. Pô, acabou aquela história de pegar a bola, pensar com ela duas horas no pé... Não tem mais esse
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Como se ensina a um jogador brasileiro essa questão tática? O que o técnico ensinava para o Fernandão não era tática, mas posicionamento. O que não gosto muito nas categorias de base é de moleques de 14, 15 anos sabendo muito de tática. Tem de desenvolver o futebol deles, deixar livre, senão bitola demais. Profissional não: precisa saber de tática. E eles não gostam. O jeito é parar treino, não dar muito coletivo. Se você dá coletivo, põe 11 lá, 11 cá, e sai apitando, o couro come. Não serve para porra nenhuma, você joga contra você mesmo e não adianta nada. Tem de parar treino, repetir. “Ô lateral-direito, vai para lá. E o esquerdo, tem de estar onde? Vem para dentro do campo, fazer cobertura”. Por exemplo: quando o Ilsinho chegou aqui, era uma brincadeira de jogador. Ficava no meiocampo parado, esperando os caras passarem a bola para ele sair correndo. Pô, isso não existe. Como você corrige isso? Parando. Posiciona o time. “Agora, você cobre o zagueiro pelo lado de dentro. Agora, apóia. Agora, você marca”. Eu vou repetindo, e o cara vai ter que aprender. E ele acabou vendido por € 11 milhões. Você começa a planejar 2008 agora. Quem participa desse trabalho e como ele é? Todos nós da comissão técnica e o Juvenal, que é o dono da grana. Aqui, temos que saber que é aquele esquema do bom e barato. Não adianta pedir caro, que não trazem. Não dá para errar. Por exemplo: nossa briga contra o Santos pelo Zé Roberto foi grande. Chegou uma hora na negociação em que o Santos tinha oferecido uma barbaridade e falei para largar, deixar o cara. Nosso planejamento é muito dentro da realidade do futebol brasileiro, jogadores que escolhemos a dedo. O que quer dizer isso: custo-benefício, que ele fique muito pouco ali no Reffis. Quando fica, a gente puxa a ficha e chama o cara: “Você está muito aqui”. Contratamos bem no que diz respeito a dinheiro e trazemos o cara para jogar. Mas houve casos de jogadores que chegaram aqui e não jogaram, ou jogaram muito pouco, como o Rodrigo Fabri... Nós erramos, mas erramos pouco. Não dá para acertar 100%. O Fabri não deu certo. Infelizmente, ficou três meses sem jogar. Ficava bom, machucava. Nunca teve seqüência. Apontar outro é difícil. Sem falar os que trouxemos quase de graça, que estavam por aí, sem ninguém imaginar, que deram um puta lucro. Um monte.
Muricy Ramalho Nascimento: 30/novembro/1955, em São Paulo Carreira como treinador: Puebla (1993), São Paulo (1994 a 1996 e desde 2006), Guarani (1997), Shanghai ShenhuaCHN (1998), Ituano (1998), Portuguesa Santista (1999), Botafogo-SP (1999), Santa Cruz (2000), Náutico (2001 e 2002), Figueirense (2002), Internacional (2003 e 2004 a 2005) e São Caetano (2004) Títulos: Copa Conmebol (1994), Copa da China (1998), Campeonato Pernambucano (2001 e 2002), Campeonato Gaúcho (2003 e 2005), Campeonato Paulista (2004) e Campeonato Brasileiro (2006 e 2007)
Se você pudesse escolher qualquer jogador no mundo para ter no seu time, quem você traria? E do Brasileirão? O Kaká. Ele é um jogador supermoderno, que não dá drible para o lado – só para a frente. Todas as bolas que ele pega, leva em direção ao gol adversário. É superprofissional, machuca pouco, o custo-benefício dele é enorme. Como eu gosto de cobrar os jogadores, ele é o tipo de cara que eu gostaria de ter, que nunca está no Reffis, está sempre no campo, joga muito. No campeonato, surgiram bons jogadores, mas é difícil falar porque as pessoas já acham que você quer. Um que está fora de cogitação para o São Paulo contratar, porque tem contrato longo com o Fluminense, é o Arouca, que fez um campeonato ótimo. É muito regular, joga bem e é importante para o esquema tático. No ano que vem, você será cobrado para ganhar a Libertadores e o Mundial. Você pretende contratar para ter um elenco mais completo ou prefere só trazer jogadores que seriam titulares? Tem de ser um elenco, não um time, de peso. No ano passado, a torcida amenizou
um pouco porque a gente estava havia 15 anos sem ganhar o Brasileiro. Neste ano, chegamos ao bicampeonato. Legal, mas no ano que vem, não vão querer o tri. Querem a Libertadores. E tenho de ser realista nisso, não me escondo atrás das coisas, com aquele discurso de “Ah, vamos fazer o nosso melhor, vamos somar”. Que somar, porra nenhuma. Vamos ganhar, meu filho! E se não ganhar, vou ser cobrado. Essa é a conversa com os dirigentes. Temos de fazer um elenco forte. O Juvenal deu uma entrevista após o título e disse que, para o ano que vem, o São Paulo deve contratar um grande craque. Essa perspectiva entrou no planejamento? Vai ver ele quer fazer uma surpresa, como fez com o Dagoberto. Era uma coisa já velha. Por causa daquela briga, não podíamos usar. Já tinham comprado, mas não podia jogar. Talvez ele traga um presente desses aí. É difícil, mas pode ser que traga. Não é o que eu pedi, mas, para mim, seria ótimo ter um fora de série. O nome que nós conversamos é pesado. Já ouvi ele falar isso também e é um grande fera. Tomara que ele traga mesmo.
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Recorde de público, bons jogos e disputas até o final ofuscaram a falta de grandes craques e fizeram do Brasileirão 2007 o melhor dos últimos tempos por Carlos Eduardo Freitas ais um ano sem craques no Brasileirão, e falar mal do torneio passou a ser quase obrigatório, algo como a malhação do Judas no Sábado de Aleluia. Entre os argumentos mais comuns estão o êxodo de jogadores para o futebol internacional, o baixo nível técnico dos que ficam e as constantes mudanças dos times, que chegam a trocar de elenco mais de uma vez durante a competição. Todos são argumentos verdadeiros, mas que não podem nos fazer fechar os olhos para outra realidade: a de que o Brasileirão 2007 foi bom, sim. Um dos melhores, aliás, dos últimos tempos. Por mais que nossos melhores jogadores não atuem mais nos gramados brasileiros, não dá para negar que o campeonato acabou tendo bons times, e que, sem dúvida,
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viu excelentes partidas. O nível técnico pode até ter deixado a desejar em muitas delas, mas é difícil ver tantos jogos excepcionais até mesmo nas principais competições européias, como a Liga dos Campeões ou os campeonatos Inglês e Espanhol. Salvo quando as principais e mais tradicionais equipes do continente se enfrentam – os dois Milan x Manchester United pela Liga dos Campeões passada, o Real Madrid 3x3 Barcelona no último Espanhol ou o empate por 2 a 2 entre Arsenal e Manchester United no atual Campeonato Inglês –, muitos dos jogos na Europa também são fracos ou sonolentos. Reading x Bolton, alguém? Catania x Empoli? Nunca é demais lembrar que jogadores de passagem na-
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da memorável pelo Brasileirão, como Fábio Simplício, Taddei e Amauri, são peças importantes de clubes que disputam os primeiros lugares mundo afora.
DISPUTAS EMOCIONANTES Tão memoráveis como algumas das partidas do Brasileirão foram as brigas isoladas ao longo da tabela. Mesmo quando o São Paulo já dava mostras de que seria campeão, em meados de setembro, havia brigas em todos os cantos da classificação, seja por vagas na Libertadores, na Copa Sul-Americana ou para fugir da desesperada luta contra o rebaixamento. A última vaga na principal competição do continente foi definida a favor do Cruzeiro apenas na última rodada, a exemplo do que aconteceu com a briga para não cair, em que o Goiás só se garantiu no jogo derradeiro. Todas essas disputas proporcionaram cenas inusitadas nas arquibancadas de todos os estádios do país, sobretudo ao longo da reta final. Enquanto o jogo corria nos gramados, o torcedor se dividia entre a bola e o placar e vibrava a cada gol sofrido pelo rival local. Cenas inimagináveis foram vistas, como o Morumbi lotado gritando “Mengo, Mengo” enquanto o Flamengo vencia o Corinthians no Maracanã. Melhor ainda, cruzeirenses torcendo pelo Atlético Mineiro na última rodada para conseguir chegar à Libertadores. E os adeptos do próprio Galo e do Colorado torcendo
número de rodadas que o Flamengo efetivamente passou na zona da degola
contra os próprios times para ver sofrer os rivais – locais ou não. Com tanto em jogo rodada após rodada, o torcedor resolveu deixar de lado o sofá e a televisão e lotou os estádios. Não à toa, a média de público do Brasileirão foi a melhor desde 1987, quando realizou-se a Copa União. Desta vez, a média ficou acima dos 17 mil torcedores por jogo, pouco acima da registrada em 1999, mas menor que os 20.877 do polêmico campeonato de 1987. Tanto lá como cá, o principal motor foi a torcida do Flamengo, que lotou o Maracanã e aumentou sensivelmente as médias de público.
CAPÍTULO À PARTE Dos dez jogos com mais torcedores na atual edição, oito são do Fla, que levou nada menos que 39.221 torcedores em média a seus jogos em casa. Muito disso se deveu à espetacular recuperação do time — embora, na verdade, se for feita a
conta de como ficaria a tabela se os jogos tivessem acontecido nas datas certas, o rubro-negro só teria entrado na zona de rebaixamento uma vez. Depois do Pan, o time melhorou a olhos vistos, com a chegada novos jogadores – mais notadamente Ibson e Fábio Luciano – e, principalmente, com uma nova atitude. A partir do encerramento do Pan, o Flamengo, que teve uma série de jogos em casa em seguida, decolou e tornou-se a grande sensação do campeonato, chegando à Libertadores pelo segundo ano consecutivo, algo que não acontecia desde o biênio 1983/4. Se antes da competição o Fla não havia vencido em seus domínios, terminada a competição, foram 13 vitórias em 17 partidas, além de três empates. A única derrota foi para o rival Fluminense.
ORGANIZAÇÃO E PLANEJAMENTO Outra marca do Brasileirão 2007 foi a consolidação do modelo de planejamento e seqüência de trabalho, marca do São Paulo nestes dois anos. Mesmo com um elenco curto e sem nenhum craque de encher os olhos, Muricy Ramalho conseguiu compensar a ausência de talentos e montar um time sólido defensivamente, que soube vencer seus rivais diretos pelo título sempre que eles ameaçavam crescer na competição. Além disso, o Tricolor paulista conseguiu se destacar em momentos de crise, como o vivido após a eliminação da Libertadores, ainda no início do Brasileirão, quando o
MÉDIA DE PÚBLICO
20 mil 15 mil 10 mil
1971 1972 1973 1974 1975 1976 1977 1978 1979 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
5 mil
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próprio Muricy teve seu trabalho questionado e sua demissão sugerida por torcedores, setores da imprensa e parte dos dirigentes do clube. Outro que cresceu muito quando viveu um momento delicado foi o volante Richarlyson, ao ter sua sexualidade questionada publicamente. Desde então, passou a jogar muito mais do que havia feito em toda sua carreira e formou com Hernanes uma dupla de volantes que acabou com a saudade dos são-paulinos que lamentavam as saídas de Mineiro e Josué, pilares do time nos anos anteriores. O próprio sucesso da defesa tricolor introduziu no futebol brasileiro uma novidade. Pela primeira vez desde 2003, o campeão brasileiro não é a equipe que teve o melhor ataque, mas, sim, a que sofreu menos gols. Ao contrário do que costumava acontecer, “sobrou” zagueiro na seleção do campeonato, enquanto faltou atacante – Acosta foi quase unanimidade, mesmo sem ser exatamente um craque, e não teve um companheiro
Para definir a seleção do Campeonato Brasileiro, a Trivela convidou jornalistas do Brasil inteiro para escolher o time ideal. No total, 47 jogadores foram lembrados. A lista completa dos votos você encontrará em 10 de dezembro, no blog da Trivela. Eis os selecionados: DE PÉ: Richarlyson (São Paulo), Felipe (Corinthians), Kléber (Santos), Miranda (São Paulo), Breno (São Paulo) e Léo Moura (Flamengo) AGACHADOS: Ibson (Flamengo), Acosta (Náutico), Hernanes (São Paulo), Thiago Neves (Fluminense) e Valdívia (Palmeiras) Outros jogadores que receberam votações significativas: Rogério Ceni (São Paulo), Tiago Silva (Fluminense), Leandro Amaral (Vasco) QUEM VOTOU: Alfredo Borges (Rede Globo), André Coutinho (Agora São Paulo), Andrei Kampff (Rede Globo), Bruno Freitas (UOL Esporte), Caio Maia (Trivela), Carlos Eduardo Freitas (Trivela), Cassiano Gobbet (Trivela), Celso Unzelte (ESPN Brasil), Dassler Marques (Trivela/Olheiros), Diogo Olivier (Zero Hora), Eduardo Arruda (Folha de S.Paulo), Eduardo Tironi (Lance), Eduardo Vieira da Costa (Folha Online), Erich Beting (Máquina do Esporte), Evandro Lopes (Uol Esporte), Ewaldo Willerding (Diário Catarinense), Gian Oddi (iG Esportes), João Carlos Assumpção (Sportv), João Henrique Médice (Uol Esporte), João Palomino (ESPN Brasil), José Geraldo Couto (Folha de S.Paulo), Juca Kfouri (CBN/Folha de S.Paulo), Léo Morelli (iG Esportes), Leonardo Bertozzi (Trivela), Leonardo Mendes Júnior (Gazeta do Povo), Luis Augusto Simon (Agora São Paulo), Márcio Ogata (MBPress), Marília Ruiz (Lance), Maurício Teixeira (OléOlé), Mauro Beting (Trivela/Lance/Bandeirantes), Mauro Cezar Pereira (Trivela/ ESPN Brasil), Miguel Rios (Jornal do Commercio), Paulo César Martin (Rede Globo), Paulo Massini (CBN), Reinaldo Moreira (CBN), Ricardo Espina (Trivela), Sérgio Patrick (Rádio Bandeirantes), Ubiratan Leal (Trivela), Vitor Birner (CBN), Wagner Villaron (Diário de São Paulo)
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GRANDES JOGOS DO BRASILEIRÃO 2007 Pa alm lmei eira ras 3x2 Vasco 25///jjul 25 u ho h , Pa Parq r ue Antártica ca a Aos os 21 21 min i ut u oss dee jogo go,, o Vas Vasc Va sco surp rpreendia o PPaalm l ei eira iraas e jáá ven enciia po p r 2 a 0 fo f ra de casa. Oss paauulliistas dim O minnuí uírra ram mass ccheega ram, garam aos minutoos fi fina nnaaiss ain inda nda em de desv svan sv a ta an tageem e co com m um m jog o aaddor a men enos os. s Me M sm mo neess ssas cciirc rcun rc cuunnst stân âncci ân cias as, o Al Alvi vive vi veerrdde encoonnttrou roou ffoorçças par araa vi vira raar a pa rar parttidda e en ntrrar a nnaa luta por lu luta or umaa vvag aga ag ga naa LLib ibber erta tado ta addoorees.
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Botafogo B t f 0x2 x2 Sã São ã P Paulo l 8/ag 8/ agos osto to,, Ma Mara raca canã nã O Sãão Pa Paullo ti tinh nhaa doois i pon onto toss e um to m jjog ogoo di d sp sput utaddo a ma maiss que o tim imee cari ca cari r oc oca. a O Bot o affoggo,, ner ervo vooso s , ac acab aabbou u der erro rota tado ta do, e jooga gado dore do ress co re como mo Tú úlil o, o, qque ue chu ue h toou a ca cabe beeça beç ça de Le Leaannddrro qu quan ando an d est do s e est essta tava va caí aído do,, do der de erraam ve vexa xaame xam me. “D me. Duran uran ur ntee o joogggoo, o, fique ueii la lame ame m nt ntan ando an doo ter ind ndiiccad a o o Jo Josu osu suéé ao ao Sãoo Pauulo”, loo””,, dis isse see Cuucca, uum m di diaa de depo pois po ois is da ppaarrttiidda. a.
E OS CAMPEÕES ESTADUAIS? Embora já tenham tido tradição e glórias, os estaduais são hoje uma espécie de relíquia do passado, uma pré-temporada na qual se pode, às vezes, gozar os rivais diretos. Freqüentemente, porém, os torneios servem para disfarçar as situações de alguns clubes, que se cobrem de glórias nos primeiros meses do ano só para passar o resto da temporada fugindo da degola. Veja, abaixo, como foram no Brasileirão os campeões estaduais de 2007. Goiano
Atlético-GO
Chegou à última fase da Série C, mas não subiu
Mineiro
Atlético-MG
Brigou pra não cair, e acabou atrás do Cruzeiro
Paranaense
Paranavaí
Jogou a Série C sem se destacar
Pernambucano
Sport
Ficou à frente do Náutico, mas só
Carioca
Flamengo
Melhor carioca na Série A
Gaúcho
Grêmio
Ficou à frente do Inter, mas fora da Libertadores
Catarinense
Chapecoense
Jogou a Série C sem se destacar
Paulista
Santos
Terminou atrás do São Paulo
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de ataque pela simples falta de opção. Significa, só, que o nível técnico foi baixo? Não, demonstra, principalmente, que o futebol brasileiro está se adaptando ao que há de melhor no futebol mundial, em que a preparação física e a tática são fundamentais para disputar uma competição longa como um campeonato nacional. Graças também ao planejamento e à paciência da diretoria, o Palmeiras chegou muito perto da vaga na Libertadores. A direção, que resistiu à folclórica “turma do amendoim” do Parque Antártica e manteve Caio Júnior mesmo nos momentos mais difíceis, agora tem de mostrar o que acontece diante do fracasso do projeto inicial. Ainda que não mantenha o técnico, suas
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Gazeta Press
Vasco 1x2 Flamengo 10/outub ubro ro,, Ma Mara racanã
Náutico 4x1 Botafogo N 9/setembro, Aflito os O Ti T mbu ocupava a vice-lantern na e seguia firme no retorno à Segund se ndona. ndon a. Para Pa r piorar, saiu atrás no placar. Naqu Na N q ela tarde, porém, Acosta fez nad ada ada meno me m n s que os quatro gols de seu ti tim me, me dois i no primeiro tempo e outros doiss noo sseegu g ndo, dando início, alili, à re reaç ação ãoo ddo Náut N utico contra ra o rebbai aixa x ment nto. o.
Bom público (depois desse Brasileirão, não se pode mais falar que 50 mil torcedores lotam o Maracanã) e muuit ita emoção no clássico do primeiro turno n realizado no mei eioo do d segundo. Em 15 minutos de partti tidaa, o placar já eraa de 1 a 1. Colac aacce, que havia acabado de en enttrar, foi expu puls llsso so lo logo g dep go e ois, mas, mesmo com um um a men enos, o rubr ru broo-neegr groo co conseg egui u u fazer o segunddo go goll e se s guir a arrancada para a LLib ar ibberrta taddores.
Flam Fl amen engo go 1 1x0 x0 S São ão P Pau aulo lo
16 6/s / eteembr embro, o, Min ineiirã rão o Provaavelme mentte fo foii “oo” g annde gr de jjog ogoo do d Bra rasi sile si leirrãoo. Dee um la lado ado do,, es esta t va o ta Att Atlético prreoc reocup upad adoo em nnão cair,, do ou em outr tro, o, o Cr Cruz uzei e ro de ol ei olhhoo na olho L berttad Li ador dor ores eess. s. Oss vissitan ittan ante t s abri ab rira ri ram ra m 2 a 0, mas a oG Gal aloo al empa em p toou no ppri pa rime ri meir me iroo ir temp te mpoo e viro viiro rouu noo iní níci ciio do sseg egun undo do. O Cr Cruz uzei eiro ro empa em pato touu de nov ovoo e vi viro rou. u. F i ne Fo nest s e joogo st g que u o lat a er eral a al Coel Co e hoo agr gred ediu iu Ker erlo lonn poor ca c us usa do do ffam amig am iger erad erad adoo “ddri riibl blle daa foc oca” a. a”
Há 1166 pa part rtid rt iddas sem m per e de der,r, o líd íder íder er isoola lado doo do Brras asilililei leiirã rão fo foii ao Rioo aco como moda d ddoo, e teevvee ppel da ela ela el fren fr ente en ent te um ttiime me aniima mado do ppor o nad or a a me meno noss qu ue 599.0 098 98 ttor orrcedo ceedo dore ress ru re ubrobrobr o-nnneegr g os os,, at atéé entã então en tãão o maio ma ioor públic icco do d caaam mpe peon onat atto. o. Foi nes esse se jog ogoo que que qu o Fl Flaa em e ba balo lou na lo lou na reaaçã çãoo qu q e cu culminnar aria iaa com a clas cl assi sifi si ifi fica caaçãoo paara caçã r a Copa oppa Li L be bert rttad rtad a orres es. s.
contratações para 2008 mostrarão se pretende se manter no caminho do bom planejamento ou se vai voltar ao populismo das contratações “engana-trouxa”.
CONSOLIDAÇÃO DO MODELO Os saudosistas dos campeonatos decididos em eliminatórias, o popular “matamata”, chegam ao final do Brasileirão 2007 torcendo o nariz para o que viram. Se antes diziam que torcedor só enche estádio em final, tiveram de se calar diante do Maracanã, do Morumbi, da Ilha do Retiro e do Pacaembu lotados quase todo final e meio de semana. Para piorar, devem ter ficado sem entender a emoção vivida na maioria das
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Fotocom.net
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Gazeta Press
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partidas disputadas ao longo do campeonato, como Goiás x Corinthians, ou Flamengo x Santos, ou então Botafogo x São Paulo, ainda no primeiro turno. Todas com estádio lotado. O bicampeonato são-paulino deve ser comemorado não só pela torcida tricolor, mas também por quem defende um futebol brasileiro organizado. Mesmo longe de ser um modelo de pureza e eficiência, a equipe do Morumbi mostrou, de novo, que sendo minimamente organizada destoa de todo o resto. Se, entretanto, em 2006 era a única do grupo, em 2007, passou a ter a companhia de outros clubes que, embora ainda engatinhem, já abraçaram o modelo e agora precisam desenvolvê-lo.
Para quem tinha dúvidas de que os pontos corridos cairiam no gosto do brasileiro, a edição 2007 do Brasileirão está aí para provar o contrário. Questão que fica para 2008 é saber se o modelo vai de fato se consolidar, independentemente da situação dos clubes de maior torcida. Em 2007, o brasileiro, pela primeira vez, teve um campeonato com tudo de melhor que a fórmula proporciona. E entendeu, finalmente, o “espírito da coisa”. As perspectivas para o futuro do torneio são as melhores, ainda que nada indique que nossos craques voltarão em breve a vestir nossas camisas preferidas. Colaborou Dassler Marques
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Série B vai levar o Corinthians hians para gramados horríveis, jogos duros e arbitragem de má qualidade. Fora a quilometragem que será percorrida... por Gustavo Hofman
emorou, mas aconteceu. O Corinthians caiu. aiu. Em o Brasil 2008, o segundo clube mais popular do o Paulo não jogará no Morumbi contra o rival São nem terá pela frente as dificuldades de um Estádio ar pelo Olímpico lotado de gremistas. Terá que rodar interior paulista, viajar mais de uma vez paraa Natal estinos e fazer a festa de milhares de torcedores nordestinos pre que que, certamente, lotarão as arquibancadas sempre o Corinthians estiver em campo. rimeiro Na Série B, o Corinthians terá pela frente, em primeiro bes que lugar, um minicampeonato paulista. Dos 20 clubes tado de disputarão o torneio em 2008, cinco são do Estado São Paulo: Grêmio Barueri, São Caetano, Santo André, Ponte Preta e Bragantino. Contra essas equipes, o time ém não não vai encontrar situações bizarras, mas também ueda de terá moleza. Com a subida da Portuguesa e a queda vais loPaulista e Ituano, porém, o Timão perde três rivais cais – o Bragantino subindo compensa isso em parte. No entanto, a região onde o Corinthians mais jogará nho do será o Nordeste. Seis times de lá estão no caminho ca-RN, alvinegro para sua reconquista da honra: América-RN, çam os Fortaleza, CRB, Ceará, Bahia e ABC. Aqui começam gramados em péssimo estado de conservação, vestiários pobres, apertados e, muitas vezes, pintadoss antes petidas. de o jogo começar, e ainda viagens longas e repetidas. go ali... Natal, Maceió, Salvador e Fortaleza não são logo mas veAo Centro-Oeste o Timão também vai algumas
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zes, visitar Vila Nova, que subiu, Gama e Brasiliense. Ao menos a região Sul, mais próxima de São Paulo, também estará bem representada, com Paraná e Juventude, ex-companheiros de primeira divisão, e com os catarinenses Avaí e Criciúma. Tudo vai acontecer num clima muito diferente do da Série A. Agora, o Corinthians será o time a ser batido na competição. Se, nos últimos dois anos, os adversários entravam em campo com um sentimento de que aquele time já não era mais o mesmo, na Série B, todas equipes darão o máximo de si contra o time do Parque São Jorge. Lá estará toda a exposição e a atenção da mídia e dos torcedores. Ele é o grande time do campeonato.
AGORA OS PONTOS POSITIVOS Por incrível que pareça, o rebaixamento também traz alguns pontos positivos para o Corinthians. Em termos práticos, certamente será um ano muito lucrativo. A verba do Clube dos 13 sofre apenas uma pequena diminuição no primeiro ano para uma equipe integrante da entidade na segunda divisão. Além disso, dificilmente o alvinegro jogará uma partida com estádio vazio. Assim como aconteceu com outros grandes na Série
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B, casos de Palmeiras, Fluminense (na Série C) e Botafogo, a torcida deverá se inflamar e resgatar o orgulho abalado pela queda. Claro que tudo depende, também, de uma boa campanha. Mas a diferença é que não só os jogos no Pacaembu terão um grande público. Toda cidade que receber o Corinthians tratará essa partida como um evento, afinal, não é todo ano que Criciúma e Maceió recebem jogos do mais a s popu a ttimee de São Paulo. au Com isso, as vendas popular de camisas aumentam, o faturame faturamento com licenciamento também e os cofres do clube terão um pouco mais de dinheiro para abater alguns milhões da dívida corintiana. Outro fator interessante será a te televisão. Notoriamente, a Rede Globo, que detém os direitos de transmissão da Série A, sempre passou mais jogos do Corinthians Cor porque é o time que mais dá audiência. Agora, os direitos de transmitir as partidas da Série B permanecem em poder das Organizações Globo, por meio do canal pago Sportv, Sp que já transmite a Segundona há alguns anos. Po Porém, não é interessante para o canal aberto deixar de lucrar com as rtidas do Corinthians, Co Corin partidas logo, uma estrainédiita transmissão de um jogo nha e inédita se daa segunda divisão brasileira m canal aberto, num sábaem d ou domingo, não é algo do tot totalmente inimaginável. E o impacto negativo da qu q queda nos cofres pode, c com isso, ser menor.
BOLA B OLLA ROLANDO
16.874 1 6.87 74 km Distância p percorrida Co pelo Corinthians no Brasileirão 2007
23.192 23 192 km Distância que percorrerá na série B, em 2008
O nív nível vel técnico da Série B não a é dos maiss altos. Isso, no entanto, é co garra e aplicação tácompensado com adveers tica dos adversários. Se o Corinthians h impuser sua história e tradição, terá algum ma vantagem, mas camisa sempre alguma gan nh jogos faz tempo. Hoje deixou de ganhar ttim não estiver muito bem em dia, se o time siica preparado fisicamente e com um elenco bo número, dificilmente regular e em bom seegu vai bem na segunda divisão. l O torneio é longo e muitas mudanaconteceem durante a competição. ças acontecem ocorreeu nas últimas edições do Como ocorreu Br Campeonato Brasileiro em pontos corcom mum times dispararem no ridos, é comum turn no e decaírem vertiginosaprimeiro turno jo ogo de volta. mente nos jogos p Nas últimass partidas da triste campaBrasileirãão de 2007, a torcida mosnha Brasileirão forçaa, lotou lo trou sua força, os estádios e apoiou incessantemeent o time. Torcedor, no incessantemente e entanto, não entra em campo. Os jos os responsáveis por gadores, sim,, são bola dentro d colocar a bola do gol. p O corintiano pode esperar um ano difícil, mas esperançoso. esperan Qual será seu final, Ma nem Vicente Matheus saberia prever.
O CLUBE DO MEIO Embora não estejam entre os chamados “grandes” brasileiros, Goiás, Paraná e Juventude vinham construindo uma trajetória de estabilidade na principal divisão nacional, na qual estavam desde 2000 – o Paraná jogou naquele ano o Módulo Amarelo da João Havelange, mas acabou disputando o mata-mata final. Nos últimos anos, as três equipes vinham se instalando no meio da tabela e, no caso de Paraná e Goiás, até beliscando uma Libertadores. Em 2007, porém, dois deles acabaram rebaixados no Campeonato Brasileiro, e o terceiro se safou por muito pouco. No Paraná, o maior problema foram as trocas – involuntárias – de treinador. Houve uma preparação adequada, e o time começou muito bem sob o comando de Zetti, após uma campanha honrosa na Libertadores. O técnico, porém, foi seduzido por uma proposta do Atlético-MG e abandonou o barco logo na segunda rodada. Para seu lugar veio Pintado, que, passados 11 jogos e com um pouco de dinheiro dos Emirados Árabes, também foi embora. Ainda passaram pelo clube Gilson Kleina, Lori Sandri e Saulo de Freitas. Com isso, o time foi de mal a pior e, embora só tenha caído de fato na última rodada, nunca inspirou confiança – teve, por exemplo, a capacidade de perder duas vezes para o América-RN. O Juventude nunca chegou a atingir o nível dos dois confrades, mas também decepcionou. Nos últimos anos, a equipe já tinha perdido muito da força e garra que sempre mostrou. Neste ano, após as primeiras rodadas, poucos duvidavam que o time gaúcho seria rebaixado. Foi um ano de mudanças de técnicos, dispensas de jogadores, público pífio nos jogos em casa e um triste rebaixamento. O Goiás era de quem mais se esperava alguma coisa. A pior colocação da equipe desde que voltou à elite havia sido o 12º posto em 2002. O clube sempre foi bem organizado, montou bons times e revelou – ou trouxe de volta à luz – jogadores que acabaram se destacando nos últimos anos, como boa parte do multicampeão São Paulo. Nesta temporada, porém, foi vítima do mau planejamento e de contratações equivocadas. A diretoria até deu tempo ao técnico Paulo Bonamigo, mas, na 26ª rodada, a paciência acabou, e Márcio Araújo foi contratado. No fim, percebeu-se que, na verdade, o problema era o time, que só se safou no apagar das luzes, porque o Corinthians foi ainda pior. São três lições para quem pretende se estabelecer na elite do futebol brasileiro. [GH] Dezembro de 2007
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CAPITAIS DO FUTEBOL por Dassler Marques
Drama e festa na
“Veneza
Brasileira” A bela Recife vê Sport e Náutico fazerem bom papel na primeira divisão brasileira, enquanto o Santa Cruz cai para a Terceirona s mais jovens, que acompanham o futebol brasileiro há pouco tempo, provavelmente nunca tinham visto os clubes pernambucanos na primeira divisão nacional. Em 2007, subiram Náutico e Sport, que fizeram campanhas mais que dignas para dois times recém-promovidos. O bom momento da dupla contrasta com o desespero do terceiro grande da cidade, o Santa Cruz, rebaixado para a terceira divisão do Brasileirão. Esse é o panorama atual do futebol recifense. Origem de craques como Manga, Vavá, Nunes, Rivaldo e Juninho Pernambucano, a capital de Pernambuco é importante fornecedora de mão-deobra para o futebol mundial. A cultura clubística forte e a assiduidade dos torcedores dão tempero a um cenário onde o trio formado por Náutico, Sport e Santa Cruz domina as atenções. Recife, a mais antiga capital brasileira (fundada em 1537), domina o futebol pernambucano. Economicamente forte e com enorme potencial turístico, ainda abriga a segunda melhor medicina do Brasil.
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Notória também por João Cabral de Melo Neto, um dos maiores poetas brasileiros (e também fã de futebol), a metrópole é chamada de “Veneza Brasileira”. O apelido tem origem nas águas da cidade, envolta por rios e repleta de pontes — Recife é formada por “ilhas” envoltas por braços de rios, dos quais os mais famosos são o Beberibe e o Capibaribe. Famosa por sua beleza, a cidade recebe, ao longo do ano, milhões de turistas de todas as partes do mundo. Seja para a Praia de Boa Viagem, seja para o frevo do Galo da Madrugada ou para pontos históricos relevantes, a capital pernambucana é referência no Nordeste e também em todo o Brasil.
Protagonistas locais E foi basicamente às margens do rio Capibaribe que o futebol recifense – e conseqüentemente de Pernambuco – começou a ganhar vida. Fundado em 1901, o Náutico foi o primeiro a nascer entre os três grandes da capital. Como sugere o nome, as atividades iniciais eram focadas
Sport x Náutico: Recife invade a Série A do Brasileirão
na prática do remo, como acontecia em muitos dos clubes brasileiros da época. Talvez por ser o mais antigo de Recife, o Náutico é rotulado como um clube elitista – apesar de essa característica ter se diluído ao longo dos anos. O estereótipo firmou-se porque os alvirrubros, no início de sua história, não aceitavam jogadores mestiços ou negros. Único time campeão pernambucano seis vezes seguidas, o Timbu também foi o primeiro clube que Pernambuco viu no exterior — na Europa e na Libertadores. Apesar dos feitos, o Náutico tem menos torcida que os outros dois grandes da cidade. Historicamente, o principal rival do Náutico é o Sport. O duelo entre os dois é chamado de “Clássico dos Clássicos”, sendo o terceiro mais antigo do país, atrás apenas do “Gre-Nal” e do “Vovô”, que en-
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Aldo Carneiro/Gazeta Press
CLUBES DA CIDADE Primeira divisão estadual
Clube Náutico Capibaribe 4 Copas Norte-Nordeste 21 Campeonatos Pernambucanos
Sport Club do Recife 1 Campeonato Brasileiro 4 Copas do Nordeste 2 Copas Norte-Nordeste 36 Campeonatos Pernambucanos
Santa Cruz Futebol Clube 24 Campeonatos Pernambucanos
Segunda divisão estadual volve Botafogo e Fluminense. Dominante em número de torcedores, o Leão da Ilha é hegemônico no cenário estadual e detém, ainda, o único título nacional de primeira divisão pertencente ao Estado: a até hoje contestada conquista do Campeonato Brasileiro de 1987. Fundado em 1905, o Sport jamais impôs restrições étnicas para aceitar atletas, algo que lhe fez ganhar a simpatia dos pernambucanos. Conduzido nos últimos anos pelos irmãos Mílton e Luciano Bivar, o Sport muitas vezes funciona como plataforma política para os membros dessa família. Apesar da prática condenável, os dirigentes têm conseguido manter o Leão da Ilha em uma posição honrosa no cenário nacional. O quadro futebolístico do Recife praticamente se fecha com o Santa Cruz. Nascido em 1914, o clube surgiu da ini-
ciativa de 11 jovens que brincavam em frente à igreja homônima. Vivendo hoje um dos períodos mais conturbados de sua história, o tricolor pernambucano tem páginas de muita glória, sobretudo na década de 70. Foi nessa época que nasceu um apelido que atravessaria gerações: o Terror do Nordeste. Além de inaugurar o Estádio do Arruda, os tricolores chegaram até as semifinais do Campeonato Brasileiro de 1975 e ficaram em quinto lugar no ano seguinte. Alheio àquela que é a principal rivalidade de Recife, o Mais Querido (outro apelido do Santa Cruz) divide com o Náutico as atenções do “Clássico das Emoções”. O duelo diante do Sport, por sua vez, é apelidado de “Clássico das Multidões”. Outro clube recifense que tem notoriedade nacional, mas por situações pito-
Sociedade Esportiva Decisão Esporte Clube Íbis Sport Club
Divisões inferiores América Futebol Clube 6 Campeonatos Pernambucanos Auto Esporte Clube Clube Ferroviário do Recife Intercontinental Futebol Clube do Recife Manchete Futebol Clube do Recife Unibol Pernambuco Futebol Clube Dezembro de 2007
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rescas, é o Íbis. Fundado em 1938, o modestíssimo clube acabou famoso pelo rótulo de “pior time do mundo”. Famosa também por tornar popular o atacante Mauro Shampoo, a equipe, no momento, está na segunda divisão estadual. Entre seus “feitos”, estão os números não-oficiais de mais de 3,7 mil gols sofridos, com apenas cerca de 120 marcados.
Pernambuco
Brasil
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Presente e futuro Desde 1993, os três grandes pernambucanos não se reúnem na primeira divisão brasileira. E isso não deve acontecer tão cedo, já que o Santa Cruz repetiu um fenômeno freqüente nos últimos anos: foi, em duas temporadas, da primeira para a terceira divisão, vivendo, possivelmente, o pior período de sua história. Mesmo superadas as criticadas presidências de Zé Neves e Romerito Jatobá, o Santa Cruz,
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Recife
C
1,5 milhão de habitantes
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ESTÁDIOS
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Ilha do Retiro
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Como o nome indica, o estádio foi erguido sobre uma ilha e aterrado em volta dela. Atualmente, abriga aproximadamente 35 mil torcedores. No Campeonato Brasileiro de 2007, o estádio do Sport teve a terceira melhor média de público do torneio.
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Arruda
De propriedade do Santa Cruz, é o maior estádio do Nordeste. Com capacidade atual para 60 mil torcedores, já recebeu muito mais, como em Brasil x Bolívia, pelas eliminatórias-94, quando foram 96 mil presentes. Sua construção, nos anos 70, foi bastante criticada pelo apoio direto do governo.
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Aflitos
Localizado em nobre área recifense, é o local onde o Náutico, desde 1939, manda seus jogos. Eládio de Barros Carvalho, presidente dos alvirrubros por 14 mandatos, é quem batiza a construção, cuja capacidade atual é estimada em 23 mil lugares.
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Fotos divulgação
O QUE VISITAR ENTRE UM JOGO E OUTRO
B
Olinda
Uma das praias mais famosas do Brasil, tem 7 quilômetros de extensão e é margeada pela Avenida Boa Viagem. Na maré baixa, deixa seus recifes à mostra. Apesar de aparecer freqüentemente no noticiário pelos ataques de tubarões a banhistas, não deixa de ser um ponto turístico importante.
A cidade, vizinha a Recife, já foi sede da capitania de Pernambuco, anos após o descobrimento do Brasil. Lindíssima, ostenta o título de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade, concedido pela Unesco.
Bloco do Galo da Madrugada
Instituto Ricardo Brennand
A
Praia de Boa Viagem
Casa da Cultura
C
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É o maior bloco carnavalesco do mundo. Nos últimos anos, seu número de foliões foi superior ao de toda a população do Recife, garantindo diversão em todos os sábados de Carnaval.
É o melhor lugar em Recife para a compra de lembrancinhas e artesanato local. Antiga Casa de Detenção da capital pernambucana, foi tombada em 1980. Com um cenário ainda conservado, é de fácil acesso, permitindo um passeio de baixo custo.
em 2007, não se encontrou com o novo eleito, Edinho, que terminou por enterrar aquele que, um dia, já foi tido como o Terror do Nordeste. Parece nítido, porém, que os atuais períodos são transitórios. Não se pensa que o Santa Cruz caminha para a extinção, tampouco que Náutico e Sport se estabilizaram entre os principais times do país. “Estruturalmente, eles vêm melhorando. Mas não basta apenas ter um grande estádio e uma grande torcida. É preciso planejamento, filosofia de trabalho, metas a se-
rem cumpridas, critérios na contratação dos jogadores e respeito aos profissionais que trabalham no clube”, analisa José Neves Cabral, jornalista esportivo pernambucano, referindo-se ao longo caminho que Náutico e Sport ainda têm que percorrer. É importante para o futebol da cidade que os dois times – mais o Santa Cruz – consigam se firmar como clubes relevantes nacionalmente também no século XXI. A capital pernambucana, do alto de sua beleza e importância histórica e econômica, merece esse destaque.
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Museu onde se encontra a maior coleção privada do pintor holandês Frans Post. O acervo do local ainda inclui vários objetos de armaria, tapeçaria e escultura, entre outros.
Quem leva É possível voar para Recife de todas as principais cidades do Brasil, como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Porto Alegre e Belo Horizonte. Varig (4003-7000), Gol (0300-1152121), Ocean Air (4004-4040) e Tam (40025700) são as companhias que voam para a cidade. Além disso, Recife está entre os maiores destinos turísticos do país. Entre as operadoras que oferecem pacotes para a cidade estão PNX (www.pnxtravel.com.br), CVC (www.cvc.com.br) e STW (www.stw.tur.br).
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SELEÇÃO OLÍMPICA por Dassler Marques
OURO
na gaveta A menos de um ano dos Jogos de Pequim, seleção olímpica não é nada além de um rabisco. Mesmo com treinador definido, ainda não há qualquer preparação planejada inguém se preocupava com a gente. Após a eliminação, todos trataram a derrota como se tivesse sido a Copa do Mundo”. A reclamação vem de Lucho Nizzo, treinador da seleção sub17 eliminada prematuramente, nas oitavas-de-final, do Mundial da categoria disputado em agosto e setembro na Coréia do Sul. A afirmação, por mais geral que possa parecer, mostra com exatidão um momento semelhante na preparação do Brasil para os Jogos Olímpicos de Pequim. Ao contrário do que chegou a ser cogitado, o anúncio de quem seria o treinador brasileiro para a seleção sub-23 não ocorreu após a Copa América, adiando assim o início de uma preparação que, até hoje, simplesmente não existe. Por mais que se pondere a respeito da dificuldade em poder reunir os atletas, quase todos já relevantes em seus clubes, a seleção olímpica merecia muito mais atenção. Merecia, ao menos, ter um treinador definido desde cedo, fazendo as observações necessárias e materializando a preocupação com os Jogos de Pequim. Além desse atraso, há ainda uma série de outros obstáculos para a preparação do Brasil: senso de equipe inexistente, pouco tempo para preparação, fracassos recentes nas competições de base e adversários fortíssimos. Situações que, somadas, compõem um cenário hostil para que Alexandre Pato, Lucas e todos os talentos brasileiros possam sair de Pequim com um ouro no peito.
N
“
Embora a CBF tenha sua larguísima parcela de responsabilidade, uma decisão da Conmebol, tomada no início deste ano, também tem parte da responsabilidade pelo panorama atual. Ao contrário de anos anteriores, a realização de um torneio classificatório pré-olímpico, envolvendo as nações da América do Sul, foi cancelada. Dessa maneira, o Sul-Americano Sub-20, jogado no Paraguai, tratou de definir quais seriam os dois qualificados para Pequim. Brasil e Argentina ficaram com essas vagas.
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Miguel Rojo/AFP
Pré-olímpico
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Brasil olímpico terá craques como Alexandre Pato e Lucas. Mas, sem planejamento, pode voltar de Pequim de mãos vazias
A decisão, teoricamente, é amparada no formato de qualificação adotado na Europa, onde são os torneios sub-21, disputados normalmente a cada biênio, que definem os classificados. Como são realizados ao longo de dois anos, aproxidamente, o atleta deve ter a idade sub-21 em relação à data de início do torneio. Ou seja: quando se chega à reta final, boa parte dos jogadores já é sub-23, equiparando assim os elencos com o que deverá ser utilizado a cada Olimpíada. O que, claramente, não acontecerá no caso sul-americano. Os elencos do sub-20 são completamente diferentes dos sub-23 que irão a campo em Pequim. Da pré-lista elaborada pela Trivela com 40 nomes (veja box na pág. 40), apenas seis estiveram no Paraguai. O que mostra que, muito provavelmente, serão duas convocações totalmente distintas. Com isso, ao contrário da preparação para 2004, quando Ricardo Gomes foi escolhido como técnico após um razoável trabalho com o Juventude, os jogadores que deverão ir a Pequim nem sequer fizeram um treinamento juntos, o que prejudica a formação do grupo. Àquele momento, os atletas já se conheciam em virtude da disputa da Copa Ouro e do Torneio do Catar, competições onde Robinho, Kaká e Diego foram personagens relevantes. “O jeito vai ser aproveitar o tempo pequeno ao máximo. Para quem joga na Europa, em virtude do fim da temporada, haverá um período maior para dar entrosamento”, ressalta Lucas, do Liverpool, cotado para o time sub-23 do Brasil. Ele conta com o período entre junho e agosto, que é o que sobrará para a formação do time propriamente dito.
O elenco que ganhou o Sul-Americano sub-20 e classificou o Brasil para a Olimpíada é muito diferente do que irá para Pequim Prioridades O capítulo da indicação do técnico merece também atenção. Quando anunciou Dunga como treinador da Seleção principal, a CBF informou que o comandante da seleção olímpica seria anunciado após a Copa América. Sem outro nome citado ou mesmo especulado para o cargo, parecia claro que Dunga teria, ali, uma situação propícia para mostrar suas qualidades – ou eventuais fraquezas — e dar evidências suficientes para a CBF definir o comandante para Pequim. Especulou-se, ainda, que a direção da confederação temia queimar Dunga ao colocá-lo em duas frentes distintas. Por isso, aguardaria o desenrolar das Eliminatórias para a Copa e o conseqüente desempenho do técnico. Mesmo campeão do torneio continental, porém, a confirmação do nome de Dunga ocorreu apenas depois do anúncio oficial da vinda da Copa de 2014 para o Brasil, deixando clara a escala de prioridades no cotidiano da direção da CBF. Ainda que seja possível questionar o que teria feito o treinador se tivesse sido admitido com mais antecedência, não há como relevar a importância da indicação dentro de um planejamento detalhado. Observações, conversas com atletas e comissões técnicas de clubes, além de acordos para eventuais liberações de jogadores para treinos, são apenas algumas das atitudes que ajudariam a já difícil preparação brasileira. Dezembro de 2007
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Jorge R. Jorge
AS POSSIBILIDADES PARA PEQUIM
Goleiros Diego (Almería) Cássio (PSV Eindhoven)* Renan (Internacional)
Divulgaão
Trivela deu uma mão a Dunga e preparou uma lista com 40 nomes que poderiam ser chamados para a seleção sub-23
Laterais
Gladstone (Sporting)* David Luiz (Benfica) Alcides (PSV Eindhoven) Léo (Grêmio) Deivid (Palmeiras) Alex Silva (São Paulo)* Breno (São Paulo) Henrique (Coritiba)
Volantes Hernanes (São Paulo) Elicarlos (Náutico) Charles (Cruzeiro) Denílson (Arsenal)* Lucas (Liverpool)* Ramires (Cruzeiro) Arouca (Fluminense)
Oficializado como técnico olímpico só em novembro, Dunga pode se desgastar em caso de fracasso em Pequim
Fotos Getty Images/AFP
Zagueiros
Daniel Kfouri
Rafinha (Schalke) Ilsinho (Shakhtar)* Apodi (Vitória) Eduardo Ratinho (CSKA Moscou) Marcelo (Real Madrid)* Guilherme (Vasco) Carlinhos (Santos)* Ronny (Sporting)
A inexperiência de Dunga como treinador, mesmo após um ano no comando da Seleção Brasileira, também pode atrapalhar. Se nomes com larga rodagem - como Vanderlei Luxemburgo e Zagallo - não tiveram força suficiente para conciliar dois trabalhos e conquistar o ouro olímpico, é normal se preocupar com o que poderá fazer o ex-jogador do Internacional.
Maus presságios Diego (Werder Bremen)* Anderson (Manchester United)* Willian (Shakhtar) Wagner (Cruzeiro)* Renato Augusto (Flamengo) Thiago Neves (Fluminense) Fernandinho (Shakhtar)
Atacantes Carlos Eduardo (Hoffenheim) Alexandre Pato (Milan) André Lima (Hertha Berlim) Jô (CSKA Moscou)* Rafael Sóbis (Betis)* Guilherme (Cruzeiro) Renatinho (Santos)
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Marcelo Del Pozo/Reuters
* Já convocados por Dunga para a Seleção principal
Meias
Para piorar a situação, o Brasil vive um mau momento em suas seleções de base, apesar de contar com uma geração excelente. É difícil aferir se as eliminações precoces nos Mundiais sub-20 e sub-17 deste ano podem atrapalhar a caminhada brasileira em Pequim, mas, indiscutivelmente, retratam um período de resultados horrorosos com as seleções de base. A disputa dos Jogos Olímpicos de Pequim, em agosto de 2008, fecha um ciclo que, até aqui, tem sido infeliz para o Brasil. Recheadas, nas duas categorias, por jogadores de bom nível técnico, as Seleções Brasileiras não ultrapassaram as oitavasde-final em nenhum dos torneios que disputaram. Para muitos especialistas, talvez as melhores “safras” da história do Brasil nos Mundiais sub-17 e sub-20 tenham ficado pelo caminho. “Tinham, sim, potencial para brigar pelos títulos e eram, até mesmo em comparação com outras gerações campeãs, melhores”, analisa o jornalista Mauro Beting, que comentou os dois torneios pela TV Bandeirantes.
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Eliminado por Gana no Mundial sub-17, Se o ouro olímpico é eliminação nos ajude de alguma forma, até o Brasil, que depositava suas esperanças porque a campanha não foi boa mesmo. em Lulinha, do Corinthians, e Rafael, do mesmo tão importante, Espero que todos estejam mais maduros”. Fluminense, viu evaporar as chances de Em comum com a futura campanha é preciso arregaçar conquista, pavimentadas pelo título Sulolímpica, além da idade de parte dos jogaAmericano e goleadas iniciais contundendores, está a maneira como foram escolhias mangas e sacar o tes sobre Nova Zelândia e Coréia do Norte. dos os treinadores das equipes. De Nélson projeto da gaveta “Depois do fracasso da sub-20, jogaram Rodrigues, pouco se sabe, a não ser que não todas as expectativas em cima da sub-17. tem qualquer experiência que justificasse No futebol, tudo é imediatismo”, comenta Lucho Nizzo, que, al- ser chamado para treinar uma Seleção Brasileira de qualquer idaguns dias antes, viu seu time vaiado por boa parte do Maracanã de. Já Lucho Nizzo construiu uma carreira nas categorias de base, em virtude da também precoce eliminação nos Pan-Americano, mas chama a atenção em seu currículo a passagem por um “reality outro fracasso recente das seleções de base brasileiras. show” da patrocinadora da CBF. Portanto, ainda que ambos possam A tensão sobre a seleção sub-17 aumentou após a eliminação ter competência, suas indicações, assim como a de Dunga, trazem da equipe sub-20. Ambos os torneios foram realizados em um um forte cheiro da velha “camaradagem” entre os amigos da CBF. curto intervalo, de cerca de um mês, e a atenção geral da mídia, Nada impede que, mesmo com esse quadro de despreparo toque residia sobre o time de Alexandre Pato, foi transferida para tal, o Brasil volte da China com a tão sonhada medalha de ouro. a equipe de Lulinha. Campanhas como a da Copa América de 2007, em que o Brasil Contudo, ao contrário do que ocorreu com os mais garotos, jogou bem uma vez só e, mesmo assim, voltou campeão, não a geração mais velha em nenhum momento do Mundial no são a regra no futebol, mas costumam acontecer com mais freCanadá conseguiu mostrar um futebol satisfatório, o que, sim, qüência com a Seleção do que a outras equipes. A situação do pode ser considerado até mais preocupante. Alguns dos jogado- time olímpico neste momento, entretanto, é clara: não existe, e res da equipe treinada por Nélson Rodrigues, fatalmente, irão começou a ser formada tarde demais. Sentirá falta de muitos dos a Pequim. A própria desculpa apresentada para os resultados ingredientes que formam as equipes vencedoras. pífios mostra o quanto nada foi planejado: sabia-se muito antes Se o ouro olímpico é, como repetidamente decantado, a medo torneio que grande parte das partidas seriam disputadas em nina dos olhos da CBF, não pode ter tanta atenção a menos do gramado sintético, mas, nem por isso, a equipe se preparou. que a Copa de 2014, que já era nossa por WO, e as Eliminatórias Lucas, capitão no Sul-Americano, mas cortado por lesão às vés- para a África do Sul, na qual o Brasil precisará de muito esforço peras do Mundial, admite não encontrar pontos positivos após para não se classificar. Com o ouro olímpico, a história é outra: é o que aconteceu nos gramados canadenses. “Será difícil que a necessário arregaçar as mangas e sacar o projeto da gaveta.
Vanderlei Almeida/AFP
“O DUNGA É UMA BOA OPÇÃO” Ricardo Gomes avalia as dificuldades na preparação para a Olimpíada de Pequim Ricardo Gomes viveu na pele os dissabores de uma preparação para Olimpíada. Após o bronze em Atlanta-96 e a decepcionante eliminação diante de Camarões em Sidney-2000, foi ele o treinador que comandou a Seleção sub-23 eliminada no Pré-Olímpico de 2004. A geração da época — que tinha Robinho, Diego, Dagoberto, Gomes e Maxwell, além de Kaká e Adriano, não liberados para o Pré-Olímpico — era considerada excelente, mas acabou ficando marcada como descompromissada, frustrando, mais uma vez, os anseios pelo ouro olímpico. Aqui, o atual treinador do Monaco fala sobre a complexidade de realizar um planejamento correto para a Olimpíada.
Para os Jogos de 2004, o Brasil teve, além do Pré-Olímpico, a Copa Ouro e o Torneio do Qatar como parte da preparação. Atualmente, não há nenhuma partida oficial envolvendo o time que vai para a próxima Olimpíada. Isso prejudica muito? Em qualquer situação você tem que se preparar, do jeito que for possível. Agora, se acontece ou não com atraso, facilita ou dificulta o trabalho do treinador. Mas ainda acho que dá tempo de fazer alguma coisa boa. De qualquer forma, tem sido cada vez mais difícil reunir os atletas. Já existem as Eliminatórias,
a Copa América e os amistosos, não há como fazer muito. As pessoas sabem como deveria ser feito, mas não é possível. Qual seria o seu treinador para o projeto de Pequim? Essa eu passo (risos). A CBF definiu um bom nome. O Dunga, que parece estar a fim, é uma boa opção. O que você achou da decisão de utilizar o Sul-Americano Sub-20 como um Pré-Olímpico? Existe uma grande dificuldade em reunir os jogadores e, eu mesmo, já enfrentei isso em 2004. O PréOlímpico não era reconhecido como competição oficial e, assim, os
clubes de fora não eram obrigados a liberar os atletas, diferentemente do Sul-Americano. Por isso, acabou sendo bom. Aqui, com o Europeu sub-21, é diferente, porque é reconhecido. Eu sempre tenho que liberar jogadores do Monaco para essa competição. Sem poder se impor, fica complicado. Ter ficado de fora dos Jogos Olímpicos é algo que se lamenta muito na França? Não, de jeito nenhum. Pouco se fala sobre isso. O treinador é o mesmo (Raymond Domenech), eleito pela direção, e o trabalho dele segue normalmente.
A França é um dos países que mais dá atenção ao trabalho de base e à formação de atletas. Você, que acompanha de perto, como avalia tudo isso, fazendo um contraponto com o Brasil? Comparar é difícil, mas o trabalho é muito bom e as dificuldades em segurar os grandes jogadores são parecidas com as do Brasil. O futebol francês não consegue competir com os outros campeonatos e, por isso, tem que dar atenção à base. A Inglaterra e a Itália, por exemplo, não estão tão preocupadas com isso por ter um orçamento maior. Dezembro de 2007
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HISTÓRIA por Ubiratan Leal
A lenda do
El Dorado Desrespeitando as regras da Fifa, a Colômbia viveu um sonho futebolístico no meio de um dos períodos mais conturbados de sua história ntre 1948 e 1960, a Colômbia sários ou políticos locais. Os camviveu um período de caos ins- peonatos regionais não eram mais titucional generalizado, que suficientes, e a Adefútbol (associaficou conhecido simplesmente co- ção de ligas de futebol) tinha difimo “La Violencia”. Nessa época, um culdade de controlar as equipes. governo cada vez mais autoritário Em 26 de junho de 1948, os combatia uma oposição que se trans- clubes decidiram romper com a formara em guerrilha. Ao mesmo associação e criaram a Dimayor tempo, o futebol colombiano virara o (División Mayor), liga que organiEl Dorado: havia progresso, dinheiro, zaria o recém-criado Campeonato estrelas mundiais, clubes florescendo Colombiano profissional. Só que e torcida empolgada, num campe- a Adefútbol e a Federação Colomonato que se tornara um dos mais biana não ratificaram a liga. Como importantes do mundo. Paradoxal? conseqüência, a Fifa também ignoNada disso: as duas coisas estavam rava o campeonato, e quem fizesse intimamente ligadas. parte dele (jogadores e clubes) não Um bom ponto de partida para seria reconhecido pelo universo do entender essa relação é o Municipal, futebol internacional. principal clube de Bogotá na década Os clubes resolveram seguir adiande 1930. Intimamente ligado ao po- te, mesmo sem apoio institucional. der, o clube era atraente para quem Naquele mesmo período, os jogativesse pretensões políticas. Assim, dores argentinos estavam em greve no final da década de 40, o empresá- porque, entre outros problemas, os rio Alberto Lega começou a pôr di- clubes pequenos paravam de pagar nheiro no time, que se reforçou com os salários quando não tinham mais jogadores argentinos. A imprensa chances de título e sua arrecadação apelidou a equipe de “millonarios”, caía. Diante do impasse, dirigentes denominação que colombianos viram se tornaria a oficial a brecha e passaEntre 1948 e em 1946. ram a contratar 1953, futebol Não era só o os principais craMillonarios que platinos – cocolombiano teve ques começava a se esmo Pedernera e Di truturar. Forças um campeonato Stéfano, estrelas do regionais também Plate –, pronão reconhecido River despontavam com metendo salários pela Fifa dinheiro de emprefora da realidade
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sul-americana, mas sem comprar o “passe”. Os clubes argentinos reclamaram à Fifa, mas a entidade pouco podia fazer, já que a Dimayor estava fora de sua jurisdição. A possibilidade de contratar impunemente qualquer jogador do mundo valeu ao Campeonato Colombiano o apelido de “Liga Pirata”. Não demorou para que o governo local percebesse o potencial político da liga. Além de passar uma imagem positiva do país aos próprios colombianos, era um modo de tirar o foco da sociedade da disputa entre liberais e conservadores. Assim, o dinheiro começou a jorrar, e jogadores importantes largaram seus clubes para faturar na Colômbia. O principal alvo eram os sul-ameri-
Sem o aval da Fifa, clubes da Colômbia podiam contratar quem quisessem, sem pagar pelo passe
canos (muitos uruguaios campeões de 1950 foram contratados), mas até jogadores ingleses, escoceses, italianos, iugoslavos e húngaros participaram da Dimayor. Havia uma grande e repentina efervescência no país, que fez o período ser conhecido em todo o mundo como El Dorado. Nesse cenário, o grande destaque era o Millonarios, que mantinha a relação mais estreita com o poder e acabava tendo mais dinheiro. Os bogotanos tornaram-se uma referência mundial, e seu futebol envolvente fez o time ser chamado de “Ballet Azul” e “Embajadores”, devido às constantes excursões pelo exterior. Em uma delas, o clube foi convidado pelo Real Madrid para a partida que comemoraria o 50º aniversário dos Merengues, em 1952. Os colombianos venceram por 4 a 2 e fizeram os madridistas conhecerem Di Stéfano.
Naquela época, no entanto, o poder dos clubes colombianos já estava em decadência. Em 1951, sem força econômica e política para manter o El Dorado, aceitaram a paz com a Adefútbol. Desse modo, até 1954, todos os jogadores contratados sem a compra do passe retornariam a seus clubes anteriores, em troca da regularização institucional dos clubes colombianos. Em 1953, justamente na época em que o governo foi deposto por um golpe militar, muitas das estrelas da Dimayor já haviam deixado a Colômbia. Di Stéfano foi para o Real Madrid, junto com Rial. Villaverde aportou no Barcelona. Os campeões de 1950 voltaram ao Uruguai. Menos de cinco anos depois de seu surgimento, o El Dorado colombiano desapareceu. E ficou para a história como se fosse uma lenda, inventada para alegrar um povo sofrido.
Millonarios
Getty Images
AFP
OS MITOS DO EL DORADO Independiente Santa Fe
Alfredo di Stéfano
Charlie Mitten
O argentino – posteriormente naturalizado espanhol – foi a estrela de duas das maiores equipes do futebol mundial: o River Plate da década de 40 e o Real Madrid do final da década de 50.
Ponta de talento, foi apelidado de “Bogotá Bandit” quando abandonou o Manchester United para ir à Colômbia. Depois de retornar à Inglaterra, foi suspenso por seis meses e vendido ao Fulham.
Adolfo Pedernera Ex-atacante do River Plate, era uma das principais figuras do futebol argentino nas décadas de 30 e 40.
Héctor Scarone Foi campeão mundial em 1930 pela seleção uruguaia e é o maior artilheiro da história da Celeste. Participou do El Dorado como técnico do Millonarios.
Schubert Gambetta Um dos protagonistas do Maracanazo de 1950, é considerado, no Uruguai, um dos precursores da tendência de laterais que avançam. Foi nove vezes campeão de seu país pelo Nacional.
Ramón Villaverde Quando o Barcelona viu que não conseguiria ficar com Di Stéfano, foi atrás do uruguaio Villaverde, que se tornaria titular absoluto do Barça na década de 1950.
Héctor Rial Atacante que podia jogar pelo meio, o argentino acompanhou Di Stéfano no Real Madrid e também fez parte do time que deu o pentacampeonato da Copa dos Campeões para os Merengues.
Atlético Junior Heleno de Freitas Maior ídolo do Botafogo até o surgimento de Garrincha, Heleno marcou época pelo futebol refinado, pela boa aparência e pelas confusões que arrumava fora de campo.
Cúcuta Eusébio Tejera Era um dos defensores do Uruguai na decisão da Copa de 1950. Ainda jogou o Mundial de 1954, no qual os uruguaios foram semifinalistas.
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David Lillo/AFP
CHILE por Antonio Vicente Serpa
Louco
não é
apelido Obsessivo por seu trabalho, teimoso, mas muito inteligente, “El Loco” Marcelo Bielsa assume a seleção do Chile, após três anos afastado do futebol
“
e os jogadores não fossem seres hu- Copa de 2006 (nunca teria suportado demimanos, eu não perderia nenhuma par- tir-se como perdedor), entre 2004 e 2007 se tida”. Assim pensa o novo técnico do autoimpôs uma penitência de três anos sem Chile. Hiperativo, vertiginoso em seu andar trabalhar em nenhum time. Nesse período, cabisbaixo, permanentemente com a testa esteve fechado num local isolado de Santa franzida, o homem em questão é Marcelo Fé, recebendo pouca gente e sem se deixar Bielsa. O técnico recebeu merecidamente o tentar por propostas de todo tipo: Boca apelido de “El Loco” por esquisitices como Juniors, clubes europeus, outras seleções... ter sempre à mão uma lousa, em um quarto A frase que abre esta matéria poderia rede sua casa (às vezes, acorda com um dese- tratar alguém arrogante, e, de fato, não lhe nho tático na cabeça, levanta-se e o escre- falta uma boa dose desse pecado (também ve), ou por ter levado 7 mil fitas de vídeo ao lhe são conhecidos outros, como a gula, Japão, na época da Copa de 2002. que combate correndo incansavelmente ou Para alguém com seu ego, a prematura internando-se em alguma clínica). Porém, eliminação naquele Mundial foi um duro aqueles que o conhecem mais de perto o golpe. “Eu morro depois de cada derrota. destacam como um homem honesto a toNão posso brincar com minha filha nem sair da prova e sustentam que pode ser teimoso, com meus amigos. Não acho que mereça obstinado, estudioso, obsessivo, exigente, desfrutar dessas coisas”, explica, sem mo- rude ou impenetrável, mas nunca arrogante. ver um músculo do ros“É louco, simplesmente to. Apesar de ter seguido conta um ex-joga“O futebol é tudo isso”, como técnico da seleção dor treinado por ele. argentina até conseguir o que você quiser, Bielsa nasceu há 52 a medalha de ouro na anos, em Rosário, e é a mas, para mim, Olimpíada de Atenas (o ovelha negra de uma faé uma questão único título que faltava mília aristocrática que se para o país no futebol) dedicou às leis e à pode atitude, e ter deixado a equipe lítica. O nome de seu pai, acima de tudo” quase classificada para a Rafael Pedro, batiza uma
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Depois de três anos fora do futebol, Marcelo Bielsa retorna à frente do Chile
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“Um bom treinador deve aproximar seus jogadores de seu máximo potencial ou descobri-lo. Essa é sua principal função, que deve ocupá-lo todos os dias em seu trabalho” das salas da Faculdade de Direito. O irmão de Marcelo, Rafael, acompanha há algum tempo o atual presidente argentino, Néstor Kirchner, em diferentes cargos (foi chanceler, deputado e candidato a governador de Santa Fé). Tal foi a heresia de Marcelo ao não seguir o caminho da família que seu pai jamais foi vê-lo jogar (ele atuou por Newell’s e Instituto) ou treinar. Mesmo assim, ele não escapou ao legado de excelência de seu sangue e, por isso, percebeu que era um zagueiro medíocre e aposentou-se jovem, para dedicar-se a ser técnico. Começou como pupilo de Jorge Griffa, um dos maiores descobridores e formadores de jogadores na Argentina (lançou Batistuta, Balbo, Samuel, Pochettino), percorrendo o país em um pequeno Fiat 147. Em setembro, assumiu o comando da seleção chilena, com a qual está na sétima posição após quatro rodadas das eliminatórias para a Copa de 2010 (ironicamente, sua estréia na competição foi justamente contra a Argentina em Buenos Aires). No entanto, sua trajetória é extensa e inclui equipes da Argentina (Newell’s e Vélez, campeão em ambos), do México (Atlas e América, demitido por maus resultados) e da Espanha (Espanyol), além, claro, da seleção argentina que passou um dos maiores papelões de sua história ao ser eliminada na primeira fase da Copa de 2002.
Humanos demais Bielsa, um verdadeiro workaholic, acredita que pode ter tudo sob controle — ou, pelo menos, que pode limitar ao máximo as decisões que seus comandados tomam. Para ele, as conversas técnicas que antecedem os jogos são pouco importantes. “O jogador não aceita mais de cinco mensagens”, afirma. Ele duvida da inteligência dos jogadores a tal ponto que, na hora de treinar, divide o campo com faixas até deixá-lo quadriculado, como um tabuleiro de xadrez. E já indica em que posição devem ficar os Dezembro de 2007
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“Jogar bem é criar situações, mas também convertê-las. Sobre o aproveitamento, pouco se pode trabalhar, porque é característica inata do jogador” ainda tem todos os dedos, claro; é louco, mas não come vidro). Para explicar como seu irmão tenta melhorar as deficiências dos jogadores, o próprio Rafael lembra que um dia o encontrou sozinho, pensativo, no meio de seu campo e perguntou por que estava tão preocupado. “Estou pensando em como fazer o Ortega entender, em cinco minutos, um conceito futebolístico que leva mais de meia hora para explicar”. Muitas vezes, errava nos
David Mercado/Reuters
atletas em cada situação. “Se tivesse que escolher, diria que me sinto mais cômodo com a ordem do que com a espontaneidade. A ordem tem regras, e a espontaneidade tende à ausência de regras”, confessa Bielsa. Testemunhas contam que, no Vélez, chegou a gastar três horas para analisar um vídeo de um primeiro tempo. E outros garantem que, no Newell’s, antes de uma partida contra o Rosario Central (o clássico da cidade), ensaiaram 32 variações para um arremesso lateral. Para esse mesmo jogo, Marcelo confiou a Rafael, seu irmão, que seria capaz de cortar um dedo da mão se vencesse no dia seguinte. O clássico foi dramático, espetacular, e finalmente o Newell’s se impôs, por 4 a 3. Mas Rafael, que estava em Buenos Aires, não pôde festejar: nas horas seguintes, percorreu de carro os 300 quilômetros até Rosário para ter certeza de que Marcelo não cumpriria aquilo que ele havia entendido como uma promessa (Marcelo
Bielsa tem obsessão por controlar seu time nos mínimos detalhes
métodos. Um dia, no meio de um jogo, saiu do banco para gritar com Tevez, que esperava um lateral a dois metros da faixa: “A oferta de recepção precisa ser vertical, não perpendicular à faixa!” Carlitos até hoje está tentando entender o que ele quis dizer.
Inteligência aplicada É curioso que um estudioso como Bielsa tenha sido vítima de suas próprias idéias. Há algumas questões de sua filosofia das quais não abre mão. “El Loco” não se adapta ao que tem, ele adapta o que tem a suas idéias. Por isso, enfrentou muitos problemas quando chegou ao Vélez multicampeão. Alguns jogadores, como Christian Bassedas, diziam que ficavam entediados nos treinamentos. Outros diziam que não o entendiam. E quase saiu no tapa com José Luis Chilavert, em um vestiário. Aquela equipe estava acostumada à simplicidade e ao pragmatismo de Carlos Bianchi, o técnico mais bem-sucedido do clube, e o elenco não entendia que Bielsa quisesse mudar aquilo que tão bons resultados havia trazido. Uma vez, conversando em particular com jornalistas, o técnico explicou: “Eu quero impor minhas idéias. Quero que meus times ganhem da forma que eu lhes mando. Senão, se as coisas não derem certo, será um duplo fracasso – pelo resultado e por ter usado métodos que não são os que me satisfazem”. Parece lógico. Apesar disso, se no Vélez conseguiu mudar o rumo da história e tornar campeã a equipe com seus próprios métodos, na seleção argentina, fracassou por seguir ao pé da letra uma de suas máximas: “Conceitualmente, para mim, todos os jogos são iguais. É preciso dominar tudo que seja possível. Outra
A CARREIRA DE MARCELO BIELSA Como jogador
Títulos
1976 a 1978 Newell’s Old Boys 1978 a 1979 Instituto 1979 a 1980 Argentino de Rosario
Campeão argentino em 1992 (Newell’s) e 1998 (Vélez)
Como técnico
Com a seleção argentina • Vice-campeão da Copa América de 2004 • Medalha de ouro na Olimpíada de 2004 • Eliminado na primeira fase da Copa do Mundo de 2002 • Primeiro colocado nas eliminatórias sul-americanas para a Copa de 2002 • Eliminado nas quartas-de-final da Copa América de 1999
1990 a 1992 1992 a 1994 1995 a 1996 1997 a 1998 1998 1998 a 2004 2007
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Newell’s Old Boys Atlas América Vélez Sársfield Espanyol Seleção argentina Seleção chilena
Medalha de ouro em 2004 (Argentina)
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Daniel Garcia/AFP
Bielsa ficou inconsolável após a eliminação da Argentina na Copa de 2002
coisa não entra na minha concepção. A única maneira como entendo o futebol é a da pressão constante, jogar no campo adversário e com o domínio da bola”. Depois de a Argentina ter ganho o jogo inaugural contra a Nigéria e do empate entre ingleses e suecos, a Inglaterra precisava vencer seu jogo com os argentinos. O English Team ganhou... no contra-ataque. O afã de protagonismo de Bielsa fez que o time, desequilibrado, se expusesse à velocidade rival. Trata-se de um erro imperdoável para alguém que, no discurso, mostra-se razoável: “A capacidade de pensar é a única que um treinador não pode perder”. Dias mais tarde, contra a Suécia, Bielsa foi vítima de outra de suas convicções inegociáveis. Admirador de Louis van Gaal, o argentino prefere o 3-3-1-3 (sistema que já vem implantando no Chile) ao 4-4-2 ou 4-3-1-2, usado em quase todos os times da
Argentina. No ataque, sempre posiciona dois pontas e um atacante central. Essa rigidez impediu, por exemplo, que Batistuta e Crespo dividissem o ataque durante um dos pontos mais altos da carreira de ambos. Nem sequer quando estava sendo eliminado, nesse dia contra a Suécia, tentou juntá-los. Há fundamentalistas que se transformam num barril de pólvora humano e se explo-
“Nós, treinadores, podemos cometer dois pecados: fazer andar jogadores que voam ou pretender que voem os que só podem caminhar”
dem dentro de um ônibus. Outros são capazes de transformar um avião em míssil e espatifá-lo contra o mais alto símbolo do capitalismo. Nesse sentido, Marcelo Bielsa é um fanático inofensivo. Um louco bom. Mas sabe-se que os fanatismos raramente terminam bem. “Dizer que no dia da eliminação chorava igual que no velório de sua mãe é pouco: era como se estivesse à frente do caixão de um filho”, diz um dos poucos que tiveram acesso ao vestiário do estádio de Miyagi, onde Bielsa sofreu o golpe mais duro de sua carreira. “O que fiz mal, onde estava o erro? Eu me preparei quatro anos para isto!”, gritava “El Loco”, entre lágrimas. Assim terminou o sonho argentino no Japão, há mais de cinco anos. Como terminará o do Chile? Saiba mais sobre futebol sul-americano em www.trivela.com/americalatina
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JAPÃO por Ubiratan Leal
Diamante lapidado Depois de anos de instabilidade e uma passagem pela Segundona, Urawa Red Diamonds se estrutura para tentar tornar-se hegemônico no futebol japonês
estádio de Saitama é o maior especificamente construído para o futebol do Japão. São 63,7 mil lugares, projetados para receber apenas quatro jogos da Copa do Mundo de 2002. Um elefante branco, certo? Errado! Cinco anos depois do Mundial, Saitama testemunha o surgimento de uma potência no futebol japonês, um time capaz de dominar o cenário doméstico, conquistar o continente e levar uma média de mais de 45 mil pessoas às arquibancadas quando joga em casa. Esse time é o Urawa Red Diamonds, melhor exemplo de como o futebol está realmente se consolidando no Japão. O clube fez grande campanha na J-League e vai disputar o Mundial de Clubes, após devolver aos japoneses o título da Liga dos Campeões da Ásia, depois de oito anos. Para chegar a esse patamar, os Reds desenvolveram um cuidadoso trabalho de estruturação no campo, nas arquibancadas e nos cofres do clube. Apesar de ser mantido por uma multinacional – a Mitsubishi, cujo símbolo de três losangos (diamantes) vermelhos inspirou o nome do time –, o Urawa não conseguia competir com as forças dos primeiros anos do Campeonato Japonês profissional. Kashima Antlers, Verdy Kawasaki (atual Tokyo Verdy), Yokohama Marinos e Jubilo
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Urawa começa a construir supremacia não só no Japão, mas em todo o continente
Getty Images/AFP
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Ken Shimizu/AFP
Média de público do Urawa Red Diamonds em 2006. Trata-se de um número maior que o de qualquer time brasileiro, além de ser melhor que importantes clubes europeus como Juventus, Roma, Benfica, Atlético de Madrid, Porto, Feyenoord, Sporting e Valencia
Iwata tinham mais dinheiro e contavam com elencos mais consistentes. Os vermelhos eram figurantes. Aliás, menos que isso, pois se limitavam a brigar pelas últimas posições e só escaparam do rebaixamento em 1993 e 1994 porque, na época, não havia segunda divisão. A queda acabou acontecendo em 1999. O time voltou à elite na temporada seguinte e conseguiu se manter no meio da tabela por alguns anos. O cenário só mudou sensivelmente em 2004, quando Guido Buchwald retornou ao clube. Na década de 90, o alemão – campeão da Copa do Mundo da Itália – foi lateral-esquerdo dos Reds. Dessa vez, o ex-defensor retornou como treinador do time. A chegada de Buchwald coincidiu com um momento de investimento pesado em reforços. Foram contratados jogadores da seleção japonesa como Okano, Sakai e o brasileiro naturalizado Alex Santos, além do turco Alpay Ozalan e de Nenê (exCorinthians e Grêmio). Logo em 2004, o
time foi vice-campeão da J-League e da Copa Nabisco (Copa da Liga). Na temporada seguinte, foram contratados Róbson Ponte e o croata Maric. O time voltou a ser vice-campeão japonês e venceu a Copa do Imperador (Copa do Japão). O principal mérito do Urawa Red Diamonds não é ter conseguido dinheiro para investir em reforços. Quase todos os clubes da J-League contam com o apoio de uma grande empresa e tiveram, em algum momento de sua história, verba de sobra para reforçar o elenco. A diferença é que os Vermelhos montaram um esquema para aproveitar o período de bonança financeira, criando uma estrutura eficaz e auto-sustentável, em um curto espaço de tempo. Primeiro, os Reds souberam capitalizar com seus torcedores, considerados os mais fanáticos e fiéis do Japão desde a época em que o time freqüentava a parte de baixo da tabela. Com isso, o Urawa tornou-se o clube mais rentável do país
NO LUCRO Apesar dos gastos crescentes com elenco e estrutura, o Urawa registrou lucro nos últimos cinco anos. Isso acontece porque o faturamento também aumentou, como indicam os números abaixo:
Faturamento Custos Lucro
2002
2003
2004
2005
2006
30,8
38,4
49,9
52,2
63,6
30,1
37,8
49,6
49,0
61,7
0,7
0,6
0,3
3,2
1,9
Obs.: valores em US$ milhões, no câmbio de novembro de 2007
e pôde aprofundar o projeto. Trocou experiências com o Bayern de Munique e montou o elenco mais forte da J-League. Para o público brasileiro, o que mais chama a atenção no atual campeão asiático são as presenças do atacante Washington e do meia Róbson Ponte. Mas o que marca a diferença é a base nipônica: 12 jogadores já defenderam a seleção japonesa. E podem ser mais em breve, pois o hispano-japonês Sérgio Escudero já faz parte da seleção sub-20 do Japão. Quando Buchwald saiu, no final de 2006, para retornar à Alemanha, a diretoria não hesitou em buscar alguém de perfil parecido. Assim, contratou Holger Osieck, ex-membro do comitê técnico da Fifa, assistente de Beckenbauer na Copa de 1990 e treinador do próprio Urawa naquela década. O importante era manter a linha de trabalho. O crescimento permitiu que os Red Diamonds assumissem seu lado ambicioso. O clube tomou conta do futebol japonês. Em 2006, conquistou os títulos do campeonato e da copa nacional e declarou interesse em conquistar a Liga dos Campeões da Ásia – objetivo alcançado neste ano. Esse é um sinal claro de que o Urawa acha pouco a hegemonia que ensaia estabelecer na J-League. Talvez só se contente quando dominar também o futebol de todo o continente — o que pode já estar acontecendo. Saiba mais sobre futebol japonês e asiático em www.trivela.com/asia
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Alessandro Garofalo/Reuters
MUNDIAL DE CLUBES por Leonardo Bertozzi
Milan encara o Mundial de Clubes como um dos principais objetivos da temporada
NÃO É
da boca para fora
“
gora quero o Mundial” gora, Mundial”. A citação não é de mais um cam campeão da Libertadores já pensando na viagem para o Japão no fim do ano. O responsável pela frase é Paolo Maldini, capitão do Milan, após a vitória sobre o Liverpool, na decisão da Liga dos Campeões, em maio. Neste ano, os Rossoneri vão ao Mundial de Clubes da Fifa com um desejo de vencer incomum entre os times que representam a Europa na competição. O nível de interesse dos europeus pelo Mundial provoca acaloradas discussões por aqui, especialmente quando há um brasileiro na disputa. Há quem diga que a ida ao Oriente, para eles, não significa nada mais que um amistoso de luxo, enquanto outros vêem a postura apenas como uma forma de minimizar eventuais derrotas. A verdade, provavelmente, está num meio-termo. O Mundial, no Velho Continente, é considerado um torneio secundário, mas que
A
tem sim tem, sim, certo valor valor. Tratá Tratá-lo lo como um dos principais objetivos do ano, como faz o Milan, é algo praticamente inédito.
Marketing internacional Para a estratégia de expansão global do Milan, o mercado japonês é importantíssimo. Assim, sagrar-se campeão mundial em solo nipônico é uma excelente maneira de firmar a marca do clube. Daí se explica o grande interesse que a diretoria milanista mostra no torneio. Ainda no campo do marketing, o fato de o Boca ser o provável adversário na final também é importante. Quatro anos atrás, os argentinos bateram o Milan no Japão, e a imprensa local “coroou” o time Xeneize como “Rei de Copas”, por ter mais títulos internacionais. Neste momento, a disputa está empatada, com 17 troféus para cada lado, ou seja, quem vencer o Mundial ficaria com a “coroa”.
OS PARTICIPANTES DO MUNDIAL
Associazione Calcio Milan
Club Atlético Boca Juniors
Club de Fútbol Pachuca
Urawa Red Diamonds
Cidade: Milão (ITA) Campeão da Liga dos Campeões de 2006/7 Técnico: Carlo Ancelotti Principais jogadores: Ronaldo (A), Kaká (M) e Pirlo (M)
Cidade: Buenos Aires (ARG) Campeão da Copa Libertadores de 2007 Técnico: Miguel Ángel Russo Principais jogadores: Banega (M), Palermo (A) e Palacio (A)
Cidade: Pachuca de Soto (MEX) Campeão da Copa dos Campeões da Concacaf de 2007 Técnico: Enrique Meza Principais jogadores: Cacho (A), Chitiva (M) e Calero (G)
Cidade: Saitama (JAP) Campeão da Liga dos Campeões da Ásia de 2007 Técnico: Holger Osieck (ALE) Principais jogadores: Shinji Ono (M), Washington (A) e Yuki Abe (Z)
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TABELA DO MUNDIAL
Sepahan
Fase Preliminar 7/dezembro – 8:45 Tóquio
GANHADOR
«
Waitakere United
1ª Fase 9/dezembro – 3:45 Tóquio
«
10/dezembro – 8:30 Toyota
Etoile du Sahel Urawa Red Diamonds «
Semifinais
Boca Juniors
Milan
PERDEDOR
«
x
«
«
GANHADOR
«
16/dezembro – 5:00 Yokohama
GANHADOR
«
Decisão do 3º Lugar
«
PERDEDOR
«
13/dezembro – 8:30 Yokohama
«
12/dezembro – 8:30 Tóquio
«
GANHADOR
«
Pachuca
Roendo o osso Enquanto espera por Ronaldo – e por Alexandre Pato, que só poderá jogar em janeiro –, o Milan rói o osso revezando Inzaghi e Gilardino no ataque. Na Liga dos Campeões, o time tem se imposto sem sustos, mas no Campeonato Italiano, o começo foi para lá de preocupante: basta dizer que o time não conseguiu vencer nenhuma das seis primeiras partidas em casa. A julgar pelo ritmo dos primeiros colocados, a briga pelo título nacional já parece fora de alcance. O Mundial será, portanto, um ponto crucial na temporada “rossonera”. Se perder, a crise estará instalada, e ganhará força a idéia de que Carlo Ancelotti deve ser demitido. Por outro lado, o título garantiria uma virada de ano feliz e ânimo renovado para os desafios de 2008, como manter a taça da LC em Via Turati. Para manter o controle da Europa, o Milan quer o mundo.
Horários de Brasília
Confira abaixo os cruzamentos do Mundial deste ano. Como o Urawa venceu a LC asiática, o segundo colocado do torneio ganhou vaga na preliminar, no lugar no campeão japonês
GANHADOR
Mas não é só a diretoria milanista que quer muito o título do Mundial. Entre os jogadores, também há grande interesse. Maldini, por exemplo, encerra a carreira no fim da temporada e terá uma chance derradeira de conquistar o mundo como capitão. Além disso, o fato de o Milan ter em seu elenco vários jogadores brasileiros — que crescem tendo o Mundial como um dos grandes objetivos de suas carreiras — aumenta a “febre” milanista pelo título. Kaká, em entrevista à Trivela de novembro, manifestou seu desejo de levar o Milan à conquista no Japão. Ele esteve na derrota de 2003 contra o Boca, mas, na época, era apenas um recém-chegado. Agora, ele pode ser campeão do mundo no dia 16 de dezembro, e provavelmente receberá o reconhecimento da Fifa como melhor jogador do mundo no dia seguinte. Ronaldo é outro personagem central do torneio. Depois de atuações alentadoras em seus primeiros meses de Milan, voltou a sofrer com problemas físicos. Uma lesão na coxa sofrida em agosto, e mal diagnosticada a princípio, vem adiando a volta do “Fenômeno”. O presidente Silvio Berlusconi, quando perguntado sobre o retorno de Ronaldo, sempre tem a resposta na ponta da língua: “Vocês verão o melhor Ronaldo no Japão”, afirma o dirigente. A promessa de Berlusconi contrasta com o ceticismo de parte da imprensa, que chega a levantar dúvidas sobre a motivação de Ronaldo. Verdade ou não, o camisa 99 tem a carreira pontuada pela capacidade de desmentir os críticos. Brilhar em Yokohama, como fez em 2002 pela Seleção, seria seu enésimo “não estou morto”.
«
Interesse dentro de campo
Final 16/dezembro – 8:30 Yokohama
x
Saiba mais sobre o Mundial de Clubes em www.trivela.com/mundial
Étoile Sportive du Sahel
Foolad Mobarekeh Sepahan Football Club
Waitakere United
Cidade: Sousse (TUN) Campeão da Liga dos Campeões da África de 2007 Técnico: Bertrand Marchand (FRA) Principais jogadores: Mohamed Chermiti (A), Afouène Gharbi (M) e Mohamed Ali Nafkha (M)
Cidade: Isfahan (IRA) Vice-Campeão da Liga dos Campeões da Ásia de 2007 Técnico: Luka Bonacic (CRO) Principais jogadores: Morraham Navidkia (M), Hadi Aghily (Z) e Mohsen Bengar (Z)
Cidade: Waitakere (NZL) Campeão da Liga dos Campeões da Oceania de 2007 Técnico: Chris Milicich Principais jogadores: Danny Hay (Z), Commins Menapi (A) e Benjamin Totori (A) Dezembro de 2007
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Fotos Helge Lauvsnes
NORUEGA por Leonardo Bertozzi
Arco-íris
norueguês orcer contra t um rival i l é prática áti tã tão antiga ti quanto t apoiar o próprio time do coração. Há quem diga que as duas formas de torcida são indissociáveis e igualmente satisfatórias, apesar de nem todo torcedor admitir que o faz. Daí surgem denominações irônicas como “torcida arco-íris”, em alusão às diversas cores dos adversários. Difícil é alguém atirar a primeira pedra dizendo que nunca se pegou agourando. E o que acontece quando o ato de “secar” se torna a prioridade, e não a conseqüência? Em Trondheim, na Noruega, eles se juntam e formam uma torcida organizada. O Fan-klubben Heia Bortelaget (Av Lerkendal) – FãClube Força Time Visitante (no Lerkendal) – tem gente mais fiel que muitos torcedores do Rosenborg, e comparece a todas as partidas no estádio Lerkendal só para torcer pelo adversário do hegemônico clube norueguês. O Heia Bortelaget foi fundado em 1992 por um grupo de estudantes da Universidade de Trondheim, em maioria vindos de outras cidades – portanto, sem identificação com o Rosenborg. A cor escolhida foi o rosa, por não ser a cor de nenhum dos clubes da primeira divisão norueguesa. A filiação, vitalícia, custa 20 coroas (pouco menos de R$ 7). A atividade do grupo não se limita a torcer contra. O capitão do time visitante que sai vencedor do Lerkendal é premiado com um troféu. O árbitro que marca um pênalti contra o Rosenborg também. O site da torcida (http://org.ntnu.no/fkhbal/) é engraçadíssi-
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Grupo de Trondheim Tron se dedica a ir aos jogos ddo Rosenborg – para torcer co contra
mo – logo de cara, vê-se a figura da Morte batendo à porta do Rosenborg, carregando uma faixa com a sigla FKHBAL. É possível ainda ver um mapa do estádio, indicando onde a torcida se reúne. O Heia Bortelaget relembra com orgulho alguns momentos gloriosos, como a goleada de 6 a 1 sofrida pelo Rosenborg diante do modesto Stabaek, em outubro de 2003. Na maioria do tempo, no entanto, eles têm de conviver com a frustração de ver um adversário hegemônico no futebol norueguês. Desde a fundação do FKHBAL, o Rosenborg conquistou todos os títulos nacionais até 2004. Entre setembro de 1994 e julho de 1998, nenhum capitão visitante saiu com a taça oferecida pelos secadores. O Valerenga quebrou o domínio do Rosenborg em 2005. O time de Trondheim recuperou o troféu no ano passado, mas em 2007 se viu novamente distante da briga pelo título, conquistado pelo Brann. O Heia Bortelaget já vive a perspectiva de dias mais felizes no futuro, e, paradoxalmente, de uma existência mais sem graça.
Helge Lauvsnes, presidente da torcida, com o troféu oferecido aos visitantes que vencem em Trondheim
Colaborou Luciana Zambuzi Saiba mais sobre futebol norueguês em www.trivela.com/escandinavia
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Lua Branca
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Eddie Keogh/Reuters
INGLATERRA por Tomaz R. Alves
TRAGÉDIA
anunciada
Apesar de a Inglaterra ter bons jogadores, não foi uma total surpresa ela ter ficado de fora da Eurocopa
or um curto período de tempo, parecia que seriam eliminatórias bem previsíveis. Bastava que desse a lógica na última rodada para que, apesar de alguns sustos, todas as principais seleções européias garantissem a classificação para a Euro-2008. Na hora da decisão, entretanto, um resultado fugiu ao “script”: a Inglaterra perdeu para a Croácia e ficou fora de um torneio importante pela primeira vez desde 1994. A derrota foi um verdadeiro vexame para os ingleses, mas não deixou de ter um
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certo ar de fatalidade. É bom lembrar que, se não fosse uma grande zebra na rodada anterior – a Rússia perder para Israel –, a Inglaterra já estaria eliminada por antecipação. Pelo que jogou durante todas as eliminatórias, o English Team não merecia mesmo ir para a Eurocopa. A derrota para a Croácia foi só a coroação de uma série de erros da federação e da comissão técnica.
Um Eriksson piorado A história da eliminação inglesa começou em 2006. Antes mesmo do Mundial, o
então técnico Sven Goran Eriksson anunciou que não permaneceria na seleção. Para reduzir incertezas e facilitar a transição, a Football Association decidiu escolher o sucessor do sueco antes mesmo da Copa. Esse foi o primeiro erro. A princípio, a FA foi atrás de um bom nome para a seleção: o brasileiro Luiz Felipe Scolari. Mas Scolari não queria fechar com a Inglaterra antes da Copa do Mundo, para não prejudicar seu trabalho com Portugal. A federação fez questão de fechar negócio imediatamente e perdeu
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Felipão – aliás, não só perdeu o brasileiro como também qualquer bom técnico que estivesse envolvido com o Mundial. Isso levou ao segundo erro. A Football Association escolheu a solução mais cômoda e efetivou Steve McClaren, então assistente de Eriksson. A decisão tinha uma vantagem: facilitar a transição, pois o futuro treinador já conhecia bem o elenco. Só que o modo como McClaren foi escolhido deixou patente que ele chegou ao comando por falta de opção. Para alguém sem grande experiência (seu único trabalho como técnico havia sido à frente do pequeno Middlesbrough), assumir o comando sem moral seria um problema sério. Esse contexto talvez explique o erro seguinte: McClaren quis “impor sua marca” e começou a mexer no time deixado por Eriksson. Não que a seleção inglesa não precisasse de mudanças; o problema é que McClaren mexeu no lugar errado. A primeira coisa que o técnico fez foi parar de convocar David Beckham. Embora essa medida não tenha sido criticada de imediato pela imprensa inglesa (com Lampard e Gerrard, o meio-campo inglês não precisaria de mais um jogador de criação – e Beckham já estaria “velho”), ela mostrou-se equivocada. Bem ou mal, o “Spice Boy” é disparado o jogador que decidiu mais partidas para a Inglaterra nos últimos seis anos. E isso fez uma falta tremenda, tanto que McClaren teve que voltar a chamá-lo a partir de junho. Claro que não faltaram, também, erros táticos por parte de McClaren. Para começar, o técnico simplesmente não conseguiu resolver o problema do meio-campo in-
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Jogos de Steve McClaren no comando da Inglaterra, o menor número de partidas de um técnico na história da seleção. Foram 9 vitórias, 4 empates e 5 derrotas
glês. O melhor desempenho do setor acabou acontecendo quando alguns titulares estavam machucados e acabaram jogando Wright-Phillips, Barry, Gerrard e Joe Cole, nas vitórias por 3 a 0 contra Rússia e Israel. Quando os titulares retornaram, McClaren seguiu perdido. No primeiro jogo contra a Croácia, fora de casa, outra mancada tática: McClaren decidiu experimentar um 3-5-2 que nunca havia usado antes. O resultado foi uma derrota por 2 a 0, da qual a equipe nunca se recuperou completamente. Outro erro tático recorrente foi o que se viu no segundo jogo contra a Rússia: depois de assumir a liderança, a Inglaterra recuou completamente. Acabou sufocada pelo adversário e permitiu a virada. Mesmo em partidas fáceis, os ingleses passaram sustos à toa por conta do defensivismo do treinador. No final, em 15 meses de trabalho, McClaren não conseguiu resolver os problemas que a seleção inglesa tinha com Sven Goran Eriksson: principalmente, a falta de brilho dos astros do meio-campo e a baixa produtividade do ataque. O pior é que criou outros, especialmente na defesa, que deixou
de funcionar bem – não por acaso, levou a virada da Rússia e não conseguiu segurar um empate no jogo final contra a Croácia.
Luz no fim do túnel O fracasso retumbante da Inglaterra pelo menos teve um lado bom: permitiu uma ruptura clara, para que se comece a reconstruir a seleção direito. No dia seguinte à derrota para a Croácia, a Football Association demitiu McClaren e o assistente Terry Venables, para enfatizar o desejo de mudança. Desta vez, pode-se apostar que o técnico não será um mero “tampão”. Nem será inglês. Aliás, a questão da nacionalidade foi um dos fatores que levaram à contratação de McClaren. Com as confusões extracampo de Eriksson, parte da opinião pública exigia que o sueco fosse sucedido por um inglês. E, entre os ingleses, de fato, não havia nenhuma opção muito melhor que McClaren. Atualmente, os nomes cogitados para a seleção são todos estrangeiros. Os nomes preferidos seriam José Mourinho, Fabio Capello, Guus Hiddink, Felipão e Martin O’Neill. Entre os ingleses, o mais cotado nas casas de apostas é Alan Shearer – opção que seria um desastre completo para o English Team. Entre os técnicos em ação na Premier League, não há nenhum inglês com resultados que justifiquem uma chance na seleção. Tanto melhor. Se escolher um treinador de alto nível, a Inglaterra conta com jogadores bons o suficiente para brilhar na próxima Copa do Mundo. Basta que a sucessão de erros da era McClaren sirva de lição. Saiba mais sobre futebol inglês em www.trivela.com/inglaterra
O LEGADO DE MCCLAREN Goleiro
Defesa
Meio-campo
Ataque
Na época de Eriksson, Paul Robinson passava razoável segurança. Mas o goleiro do Tottenham começou a falhar muito – e os reservas não se saíram melhor. É, hoje, a pior posição da Inglaterra.
Quando joga a formação titular, com Ferdinand e Terry no miolo, é razoavelmente sólida. Só que o setor foi afetado por um grande número de contusões, mudanças táticas e falhas dos goleiros e, por isso, perdeu a regularidade.
A falta de criatividade é um problema, com David Beckham sendo praticamente o único que cria lances de perigo. Gerrard e Lampard raramente brilham, e, para muitos, não podem jogar juntos. Dependendo da formação, também falta pegada ao setor.
Owen e Rooney são grandes jogadores, mas passam muito tempo machucados. Sob o comando de McClaren, o artilheiro da Inglaterra foi o “reserva” Peter Crouch, com o dobro de gols do segundo colocado, e não há outras opções de peso – Defoe, por exemplo, é reserva de luxo no mediano Tottenham.
Kieran Doherty/Reuters
Em que situação o técnico deixa cada setor da seleção inglesa
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PERFIL por Ubiratan Leal
Marketing de
resultados Títulos do Sevilla e plano de projeção da própria imagem fizeram de Juande Ramos um dos técnicos mais bem pagos da Europa futebol inglês perdeu um de seus personagens mais midiáticos com a saída de José Mourinho do Chelsea. A imprensa britânica, porém, já pode se preparar para a chegada do espanhol Juande Ramos, novo comandante do Tottenham. O ex-técnico do Sevilla não tem o jeitão folclórico do lusitano, nem é tão teimoso. No entanto, é inegável que se trata de um profissional que soube trabalhar sua imagem até cavar um lugar na Premiership. E que tem outra característica em comum com Mourinho: um salário milionário. Segundo a imprensa inglesa, Ramos receberá em torno de € 6,5 milhões ao ano, tornando-se, possivelmente, o técnico mais bem remunerado da Europa. Esse cenário não apareceu repentinamente, ainda que a direção do Tottenham seja propensa a atitudes impulsivas. Juan de la Cruz Ramos soube construir a imagem de técnico competente, moderno e inteligente, ideal para comandar um projeto vencedor de médio prazo, como tanto precisam os Spurs. Além disso, o espanhol não foi nada discreto no flerte com a Premier League. “Os ingleses não só inventaram o futebol como também estão fazendo mais do que qualquer um para desenvolvê-lo e levá-lo adiante. Nesse aspecto, minha forma de trabalhar o futebol é bastante inglesa, e não escondo o fato de pelo menos meia dúzia de clubes do país servirem de exemplo para o modo como vejo o Sevilla. O método como monto meu time é muito britânico”, declarou Ramos à imprensa do Reino Unido. Para deixar mais clara a intenção de trabalhar na Inglaterra, só faltou anexar o currículo e um modelo de contrato. Não é à toa que seu nome apareceu com força quando o Manchester City estava à procura de um treinador (acabou acertando com Sven-Goran Eriksson). Nem sempre Ramos foi tão direto, mas a intenção de fazer uma imagem de treinador diferente dos demais é uma constante. Na época de Sevilla, não se furtava a falar do esquema azeitado de descobrimento e desenvolvimento de jovens talentos. Afinal, planejamento é
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a alma do futebol moderno. O sistema de jogo ofensivo e bonito praticado pelo time andaluz também é lembrado sempre pelo técnico, que sempre mostrava ambição ao dizer que, por maior que fosse o sucesso sevillista, sempre havia algo melhor por vir. Tudo o que o público – e a imprensa – quer ouvir.
Sevilla é a referência Essa obsessão em se projetar não significa que o técnico não seja competente. Na realidade, todo esse marketing só teve eficiência porque o trabalho em campo foi eficaz. Desde o início de sua carreira, na década passada, Ramos tem muita proximidade com jovens e categorias de base. Ele começou no Ilicitano, time filial do Elche, teve uma temporada no Barcelona B e várias passagens por clubes de orçamento limitado. Com isso, aprendeu a montar times competitivos e de baixo custo. O melhor exemplo foi o Rayo Vallecano na virada da década passada para a atual. Em três temporadas, Ramos levou o time madrileno à liderança do campeonato por algumas rodadas (feito inédito), e a equipe terminou a primeira divisão em nono lugar, a melhor colocação de sua história. Foi por causa da imagem deixada em Vallecas que o Sevilla foi buscar Ramos após um ano sabático. Sob o comando de Joaquín Caparrós e do diretor técnico Monchi Rodríguez, o clube andaluz conseguira estruturar as categorias de base e montar uma equipe competitiva, mas faltava alguém que pudesse montar times mais ofensivos e insinuantes. Ramos não foi criativo taticamente. Distribuiu o time em um 4-4-2 tradicional espanhol, em que os meias externos se transformam em pontas com constância. A
€
diferença é que o técnico foi eficientíssimo em montar um sistema de troca de posições entre laterais e meias abertos, movimentação que confunde muito a marcação adversária. Além disso, preferiu o uso de atacantes rápidos para dificultar ainSalário anual de Ramos no da mais a defesa oponente. Tottenham, de acordo com a O esquema foi possível também imprensa inglesa. Esse seria pelo constante rodízio entre titulares o valor mais alto pago a um e reservas. Assim, o time podia perder um jogador sem que a qualidatécnico no futebol europeu de do futebol apresentado mudasse muito. “Ele sabe encaixar direitinho as peças dentro da equipe e está fazendo um rodízio de jogadores que vem dando certo. É um sistema preparado desde o treino, misturando todo mundo com todo mundo, sem separação de titulares e reservas. Ajuda muito porque, independentemente de quem joga, o time sempre mantém o padrão”, comenta o atacante Luís Fabiano. De fato, não há o que contestar no trabalho de Juande Ramos no Sevilla. Em duas temporadas completas, o time conquistou duas Copas Uefa, uma Supercopa da Europa, uma Copa do Rei, uma Supercopa da Espanha e ainda disputou o título da liga espanhola até a última rodada. Dá para dizer que é a melhor fase da história do tradicional clube. Considerando o perfil do Tottenham (clube tradicional, com dinheiro para investir e carente de auto-estima), a escolha do técnico espanhol faz sentido, desde que se permita que seja desenvolvido um trabalho semelhante ao do Sevilla. Caso contrário, o time londrino pode ter, mais uma vez, apostado alto demais no alvo errado.
6,5
milhões
Ascensão recente Juande Ramos demorou para ganhar status de técnico de primeiro nível. Aos 53 anos, o treinador passou por diversos clubes pequenos da Espanha e houve variações entre bons resultados e campanhas fracas. Apenas no Sevilla é que conseguiu consolidar um projeto de longo prazo
Clube
1991/2 1992/3 1993/4 1994/5 1995/6 1996/7 1997/8 1998/9 1999/2000 2000/1 2001/2 2002/3 2003/4 2004/5 2005/6 2006/7 2007/8
Ilicitano Alcoyano Alcoyano Levante Logroñés Barcelona B Lleida Rayo Vallecano Rayo Vallecano Rayo Vallecano Betis Espanyol Málaga Sem clube Sevilla Sevilla Sevilla/Tottenham
Observação Era auxiliar técnico Campeão da chave na primeira fase da terceira divisão, perdeu a promoção no mata-mata Promoção à primeira divisão Rebaixado à terceira divisão Ficou a uma posição de se classificar para a repescagem de promoção à elite Promoção à primeira divisão Nono lugar, melhor classificação da história do Rayo Liderou o campeonato nas primeiras rodadas Classificação para a Copa Uefa Demitido após cinco rodadas Campeão da Copa Uefa Campeão da Copa Uefa e da Copa do Rei Estréia na Liga dos Campeões com os Rojiblancos
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Felix Ausin Ordonez/Reuters
Temporada
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Heino Kalis/Reuters
ESPANHA por Ubiratan Leal
Desenvolvimento
sustentável Villarreal mostra que é possível um clube pequeno aliar lucro e sucesso dentro de campo em uma liga grande
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ila-real é uma cidade espanhola de cerca de 51 mil habitantes na província de Castellón, no norte da Comunidade Valenciana. Ela só tinha destaque no noticiário nacional durante a Fiesta de San Pascual Baylón, quando pára por 10 dias para diversas celebrações, incluindo corridas de touros. Mas isso começou a mudar em 1997, quando o Villarreal, pequeno clube que militava na segunda divisão, foi comprado por Fernando Roig. Dono da Pamesa, uma das principais produtoras de revestimentos cerâmicos
V
da Espanha, Fernando tinha o esporte bastante enraizado em sua família. Ele mesmo havia sido acionista do Valencia. Seu irmão Francisco era acionista majoritário dos Chés – deixou o clube em 1998 – e outro irmão, Juan controlava o Pamesa Valencia, principal time de basquete da região. A chegada de Fernando tem relação direta com o crescimento do Submarino Amarillo, até então uma equipe que perambulava pelas divisões inferiores da Espanha sem muitas perspectivas. A idéia
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Jose Jordan/AFP
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jogadores latino-americanos foram contratados pelo Villarreal nos últimos nove anos
51 mil População da cidade de Vila-real de Roig era criar uma estrutura sustentável para que o Villarreal pudesse sobreviver sem a necessidade de um mecenas. Era tarefa difícil, se considerado o mercado que tinha à disposição: a população de Vila-real caberia inteira no Mestalla, estádio do Valencia. Logo de cara, Roig reforçou o time para conseguir um acesso imediato à primeira divisão. Teve sucesso, mas a equipe ainda era frágil e retornou à Segundona logo na p primeira temporada. Apesar da queda, já eexistia o embrião da estratégia que levari ria o clube ao sucesso. Em 1998, o Villarreal levou Walter Gaitá án; um aano depois, foi a vez de Diego tán; Cagna. Ma C Mais uma temporada passou, e já eestava no elenco Rodolfo Arruabarrena. A contrata contratação dos três argentinos deixava evident evidente a política de trazer sul-americanos men menos famosos, que se juntavam a jovens esp espanhóis de algum talento. d Muitas dessas apostas não se confirmaram, mas algumas – casos de Riquelme, Marcos Se Senna e Forlán – formaram a espinha dor dorsal do time nos últimos anos. Além disso, o clube teve a sacada de contratar para técnico outro sul-americano, o chileno Manuel Pellegrini. Com ele o Submarino Amarillo criou um clima propício para os atletas da região, com estilo de jogo e ambiente que facilitavam a adaptação ao futebol europeu. Desse modo, o Villarreal consolidou-se na elite espanhola, fez boas campanhas na Copa Uefa e chegou até as semifinais da Liga dos Campeões, em 2005/6. Na atual temporada, conquistou vitórias importantes, como o 3 a 1 sobre o Barcelona,
SEGREDO LATINO Os latino-americanos contratados pelo Villarreal desde a chegada de Fernando Roig
Argentina Walter Gaitán Diego Cagna Rodolfo Arruabarrena Martín Palermo Guilherme Schelotto Iván Fabianesi Sebastián Battaglia Juan Román Riquelme Fabricio Coloccini Luciano Figueroa Juan Pablo Sorín Mariano Barbosa Gonzalo Rodríguez Leandro Somoza Fabricio Fuentes
Bolívia
Equador
Juan Manuel Peña
Luis Antonio Valencia
Brasil
México
Belletti Marcos Senna (posteriormente
Antonio de Nigris Guillermo Franco
naturalizado espanhol)
Sonny Anderson
Uruguai
Chile Manuel Pellegrini (técnico) Matías Fernández Mathias Vidangossy
o 4 a 3 no Atlético de Madrid e o 3 a 0 sobre o Valencia. Os bons resultados em campo permitiram a estruturação fora dele. O estádio El Madrigal foi ampliado para 22 mil torcedores, quase metade da população de Vila-real. Pode parecer exagero, mas a média de público na última temporada foi de 18.632 pessoas. Para isso, ajudou muito o fato de o time tomar do Castellón o posto de equipe mais forte da província, conquistando torcedores na região. O sucesso do trabalho foi tamanho que
Diego Forlán Sebastián Viera Diego Godín
Fernando Roig colocou a Pamesa à venda e disse que pretende se dedicar apenas ao Villarreal. Não é questão de fazer o que gosta: é um bom negócio. Afinal, o Submarino Amarillo, hoje, já se sustenta financeiramente. Trata-se de um grande feito para um time de uma cidade com 51 mil habitantes que concorre com forças como Barcelona, Real Madrid, Valencia e Atlético de Madrid. Saiba mais sobre futebol espanhol em www.trivela.com/espanha
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Philippe Merle/AFP
CULTURA por Leonardo Bertozzi
“Fantasy game” da Liga dos Campeões no site da Uefa reúne milhares de brasileiros. Para alguns deles, montar o time é mais que um mero passatempo
àbregas não joga”. A frase cai como uma bomba no meio da tarde de terça-feira. O jogador em que você depositava suas esperanças não foi nem relacionado para a viagem do Arsenal a Praga. Seu nome não é Arsène Wenger, e você nem mesmo é um torcedor dos Gunners. Agora, você precisa entrar no site da Uefa e mexer em seu time do “fantasy” da Liga dos Campeões, antes que a rodada comece e pontos valiosos sejam jogados no lixo. O primeiro lugar na liga com os colegas de trabalho pode estar seriamente comprometido. A cena é perfeitamente possível, já que o “fantasy” da LC tem se tornado cada vez mais popular no Brasil. Na atual edição, mais de 5 mil inscritos (num universo de quase 300 mil) eram registrados como brasileiros, número considerável para uma competição estrangeira. O conceito do jogo é bem simples: o participante monta um time com jogadores que disputam a Liga dos Campeões e pontua de acordo com o desempenho de cada um em campo. Para dificultar um
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Equipe dos
sonhos pouco as coisas, cada jogador tem um preço, e o orçamento raramente é suficiente para criar o esquadrão que se gostaria. Para evitar distorções, os preços variam à medida em que há mais ou menos interesse por cada jogador. A idéia de se divertir apostando em que jogadores teriam as melhores estatísticas vem dos anos 60, nos Estados Unidos, quando foram criadas as primeiras ligas com fãs de beisebol e futebol americano. Nos anos 90, com a massificação da Internet, o “fantasy”, como conhecemos, popularizou-se e ganhou versões em outros esportes, entre eles, o futebol. No Brasil, houve tentativas de alcance limitado até o lançamento, no ano passado, do “Cartola FC” pelo portal Globo.com. A vantagem do “fantasy” oficial da Liga dos Campeões sobre os demais jogos do gênero é a simplicidade de suas regras de pontuação – além de basear-se em um dos torneios mais importantes do mundo. Para melhorar, o site atualiza automaticamente o rendimento do time ao longo das partidas. É diversão garantida.
Monte seu time!
http://pt.uclfantasy.uefa.com “Fantasy” da Liga dos Campeões no site oficial da Uefa. É, provavelmente, o jogo desse gênero mais popular do mundo. Tem variações para outras competições, como a Copa Uefa.
http://champions.fantasyleague.com É possível escolher seis jogadores para somar pontos extras nos campeonatos nacionais. Em inglês.
http://fantasy.mlsnet.com Para apostar nos jogadores da liga norte-americana. Em inglês.
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Jogadores mais selecionados no fantasy da Uefa*
140.408 Fàbregas (Arsenal) 118.276 Cristiano Ronaldo (Manchester United)
107.355 Van Nistelrooy (Real Madrid)
101.394 Kaká (Milan) 92.687 Pirlo (Milan) 87.296 Messi (Barcelona) 60.589 Kanouté (Sevilla) 59.519 Abidal (Barcelona) 56.839 Miguel (Valencia) 55.490 Ferdinand (Manchester United) * Até a quarta rodada
http://www.cartolafc.com.br O jogo do portal Globo.com é o mais popular do Campeonato Brasileiro.
http://playthegame.timesonline.co.uk “Fantasy” do Campeonato Inglês. Cada jogador só pode pertencer a um time por liga. Em inglês.
http://fantasy.premierleague.com/ “Fantasy” oficial do Campeonato Inglês. Em inglês.
http://es.superliga.fantasysports.yahoo.com Jogo do Campeonato Espanhol no Yahoo! Em espanhol.
Disputa levada a sério Diversão? Para alguns competidores, não há diversão sem vitória. É o caso de Sylvio Campos, o melhor brasileiro no “fantasy” oficial da Liga dos Campeões por oito anos consecutivos. Ele passa horas estudando a tabela da competição para montar seu time. “Assim que sai a tabela, dou uma olhada nos grupos e escolho meus favoritos. Vejo quem é aquele que vai ter o caminho mais fácil e pego jogadores desse time”, conta. “A esses jogadores, mesclo aqueles em quem confio. O Juninho Pernambucano, por exemplo, costuma ser aposta certa. Ele cobra faltas, pênaltis e dá assistências. É o Senhor Fantasy”. Na atual temporada, Juninho ainda não deu o retorno esperado – mesmo porque seu time, o Lyon, teve um começo claudicante, marcando poucos gols. A maior decepção para os apostadores, no entanto, tem sido Kaká. Não que o milanista tenha jogado mal, muito pelo contrário, mas sua pontuação está abaixo do esperado. Apesar de ser o quarto jogador mais selecionado, ele não aparecia entre os dez de melhor rendimento, até o fim da quarta rodada da fase de grupos. Campos revela que já “iniciou” muitos amigos no jogo e que até dava dicas para aumentar a competitividade. “Levei pelo menos uns 50 jogadores para o ‘fantasy’ da LC. Eu passava as manhas para eles, já que gosto de competição, mas chegava um momento em que eles me superavam e jogavam na minha cara. Então parei com as dicas”, brinca. Além da honra de ficar à frente de milhares de outros competidores, o “fantasy” da Liga dos Campeões oferece bons prêmios como atrativos. Em 2007/8, o dono do melhor time do mundo em cada rodada ganha um PlayStation2. O prêmio para o vencedor geral é um kit encabeçado por um PlayStation3. “É uma pena não ter prêmio previsto para o melhor brasileiro, mas uma vez a Uefa reconheceu meu esforço”, lembra Campos. “Enviei um e-mail para eles me apresentando como o melhor do Brasil por vários anos, e eles me mandaram um kit com camiseta, DVD, livro... Tudo bem, foi um prêmio pequeno, mas ainda assim eu parecia uma criança no Natal quando chegou o pacote. Só acho uma pena eles não manterem uma classificação histórica. Admito, eu sou doente”. E não é o único.
LANÇAMENTOS Inspiração em 1958 O Brasil estreou contra o Uruguai o novo modelo de seu uniforme. O destaque é a camiseta, inspirada no modelo usado em 1958. A mudança se vê apenas em alguns detalhes, como no desenho de gola e nos punhos. O corte da peça também está diferente, mais colado ao corpo do jogador. O calção continua em tom azul royal, e a meia ganhou cinco estrelas, com uma (representando 1958) em destaque. É uma homenagem ao cinqüentenário do primeiro título mundial do Brasil. Camisa da Seleção Brasileira Divulgação/ZDL
Os preferidos
Fabricante: Nike Onde encontrar: principais lojas esportivas Preço sugerido: R$ 160 a R$ 250
Dois campeões e um sucesso de marketing Três lançamentos aquecem o mercado no final de ano. Em “Donos da Terra”, Odir Cunha conta como foi o título mundial do Santos de 1962. O autor entrevistou jogadores que participaram da decisão, descobrindo histórias pouco conhecidas. Em “Uma Bela Jogada – 20 Anos de Marketing Esportivo”, de João Henrique Areias, o público pode conhecer a história da formação do Clube dos 13 e da Copa União de 1987. O terceiro lançamento é “O Colorado Internacional”, em que Thiago Dias e Ricardo Besetti apresentam as participações do Inter em competições internacionais. O capítulo principal, claro, é dedicado ao Mundial de Clubes.
Donos da Terra Autor: Odir Cunha; páginas: 184; R$ 35
Uma Bela Jogada – 20 Anos de Marketing Esportivo Autor: João H. Areias; páginas: 209; R$ 39,90
O Colorado Internacional Autores: R. Besetti e T. Dias; páginas: 96; R$ 20
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NEGÓCIOS por Carlos Eduardo Freitas
Capitalismo
selvagem Impostos, tecnologia, royalties e lucro. Entenda por que a camisa oficial do seu clube de coração custa tão caro omprar camisas do time de seu coração está entre os hábitos preferidos dos torcedores de futebol em todo o mundo. De uns anos para cá, porém, ter no guarda-roupa o uniforme atual de seu clube anda cada vez mais complicado — tanto pela freqüência com que algumas equipes mudam pequenos detalhes como, principalmente, pelo custo de uma camisa oficial. Os preços costumam variar entre R$ 120 e R$ 200, dependendo do clube, do fabricante e da procedência da camisa. Valores
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salgados, mais ainda em um país cujo salário mínimo é de R$ 380. Em tempos de popularidade do futebol internacional, a vontade de ter também uma camisa do Barcelona, do Chelsea ou do Milan acaba tornando o simples ato de torcer para um clube uma brincadeira cara. Em alguns casos, mais cara até do que comprar uma roupa de grife, dessas da moda. O que leva, então, uma réplica da camisa que os jogadores do seu time usam por 90 minutos a custar mais caro que uma camisa social importada? Os fornecedores de material esportivo têm a resposta na ponta da língua. “Há todo o investimento que você faz nos clubes, os impostos que são colocados nas peças e a tecnologia empregada para melhorar o conforto e a performance do atleta”, justifica Diego Pimenta Bueno, gerente de produtos de confecção da Umbro no Brasil.
A partir dessa resposta, surge um ciclo de reclamações. Primeiro, o fornecedor reclama do governo, que cobra impostos astronômicos. “Sem dúvida, os tributos aqui, no Brasil, são altíssimos em relação a outros países”, diz a Adidas, por meio de sua assessoria. No meio do caminho, o lojista reclama do fornecedor, que lhe entrega um produto a um preço elevado e com valor de venda tabelado, o que impede que haja qualquer tipo de concorrência ou de manipulação na margem de lucro. “Para chegar a esse valor de R$ 150, a camisa já vem com um valor alto. O lojista adiciona o suficiente para pagar sua operação e ter algum lucro”, diz Marcelo Rosemberg, sócio-diretor da Roxos e Doentes. No final desse ciclo, quem reclama é o torcedor, que tem de pagar uma fortuna por uma camisa que, fatalmente, estará desatualizada em menos de um ano.
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A outra metade dos R$ 180 fica por conta do preço sugerido pelo fornecedor, em que o lojista tem de pagar seus custos e tirar algum lucro. Parece muito, mas poderia ser maior. “Em relação ao mercado em geral de moda, que põe três, quatro vezes o valor da produção, nossa margem é bem menor”, comenta Rosemberg. “Quem ganha mais dinheiro, mesmo, é a marca”, concorda Felipe Baretta, um dos donos da loja online Só Futebol Brasil, que completa: “Se os preços fossem menores, daria até para diminuir a margem de lucro e ganhar na quantidade”. E, quem sabe, diminuir a pirataria, uma das alternativas a que o torcedor mais recorre para driblar o preço que não cabe em seu orçamento. “Nós gostaríamos de proporcionar a todos os torcedores o acesso à camisa de seus times. É um interesse nosso, mas isso entra numa conjuntura macroeconômica. Não dá para comparar a situação do Brasil com a de países europeus. São economias diferentes, são mercados diferentes”, justifica Dipa di Pietro, diretor de vestuário da Nike.
Linha torcedor
R$
250
É o preço da nova camisa oficial da Seleção Brasileira, com a tecnologia usada em campo. A versão mais “popular” sai por R$ 160
Ciclo vicioso As marcas e as lojas não gostam de comentar os valores envolvidos, mas uma fonte consultada pela Trivela, que aceitou falar sob sigilo, revelou que, para produzir uma camisa que custa R$ 180 ao consumidor final, o fabricante gasta “entre R$ 20 e R$ 30”. Isto é, transformar o tecido com as devidas tecnologias numa vestimenta que siga seus padrões de qualidade. Ela chega ao lojista custando cerca de R$ 90, o que significa que R$ 60 são impostos, royalties e lucro da empresa.
Dentro da realidade brasileira, a melhor alternativa para impedir que produtos piratas sejam a única saída são as camisas licenciadas. Elas geralmente têm preços mais acessíveis – por volta de R$ 80 – e são bastante semelhantes às de jogo. “A peça não tem toda tecnologia empregada no material, mas você consegue passar uma imagem do clube. Assim, você consegue trabalhar com preços diferenciados”, explica Pimenta Bueno, da Umbro. A Roxos e Doentes, em parceria com a Nike e o Corinthians, tomou a iniciativa de tentar combater a presença de produtos falsificados nas arquibancadas. Durante o mês de outubro, o torcedor que levasse uma camisa pirata às lojas móveis presentes no estádio do Pacaembu ou às lojas da rede em São Paulo tinha R$ 20 de desconto na compra de uma camisa dessa linha voltada ao torcedor. “Já tínhamos testado essa iniciativa em 2006, com o Atlético-MG e foi um sucesso”, conta Rosemberg. A versão paulista da promoção teve resultado ainda mais positivo: durante os 30 dias que durou a promoção, nada menos do que 300 camisas foram trocadas. Com isso, a ação foi prorrogada até o final do ano. Uma prova de que, com preços acessíveis, fica mais fácil estampar sua marca no peito
NOTAS
Milan lança portal para público brasileiro O Milan lançou em 26 de novembro a versão brasileira de sua página na Internet (www.acmilan.com.br), a primeira a ser produzida fora da Itália. A partir de agora, o torcedor brasileiro do atual campeão europeu terá notícias, entrevistas com jogadores e outros personagens e acompanhamento de todos os jogos ao vivo, além de diversos conteúdos exclusivos. A produção desse material todo ficará por conta da Trivela, que terá um correspondente em Milão especialmente para isso. “A escolha da Trivela para cuidar do site garante que não só os brasileiros serão mencionados. Afinal, por mais que a gente queira ouvir falar do Serginho, Pirlo e Gattuso são mais importantes para o Milan hoje, e o torcedor brasileiro também tem interesse em saber sobre eles”, afirma Caio Maia, editor-executivo da Trivela. Além dos oito brasileiros do elenco (Alexandre Pato, Cafu, Dida, Digão, Emerson, Kaká, Ronaldo e Serginho), a escolha do Brasil como primeiro país a sediar um site do clube tem outro motivo. “Dos nossos 39 milhões de page views por mês, quase 20% são de brasileiros”, diz Francesca Scarpa, gerente de Marketing e Comunicação do Milan. Além da parceria com a Trivela, o Milan tem acordos com a Tam, para organização de pacotes de viagens para torcedores, e com a loja Roxos e Doentes, para venda de produtos oficiais no Brasil.
Homepage do site em português do Milan
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Ian Hodgson/Reuters
CADEIRA CATIVA por Cassiano Ricardo Gobbet
Em 1998/9, só o pequeno Middlesbrough conseguiu vencer em Old Trafford
Todas menos
uma No ano da “Tríplice Coroa”, o Manchester United parecia imbatível em casa. Mas, antes do Natal, o Middlesbrough conseguiu um pequeno milagre em Old Trafford
temporada 1998/9 ficará na memória dos torcedores do Manchester United como a mais gloriosa de todos os tempos. Na ocasião, o time de Alex Ferguson conseguiu uma inédita “Tríplice Coroa”, vencendo o campeonato, a copa nacional e a Liga dos Campeões. Como prova de força, os Red Devils mantiveram-se invictos em todas as 29 partidas que disputaram em casa. Exceto uma. Depois de perder o campeonato anterior para o Arsenal por um ponto, o Manchester estava sob pressão, com o Aston Villa surpreendendo na liderança, sem sentir falta do goleador Dwight Yorke, que tinha ido para Old Trafford. Outro reforço caro do United tinha sido o zagueiro holandês Jaap Stam, substituto do veterano Gary Pallister, que voltara ao Middlesbrough. Em dezembro, a visita do Boro a Old Trafford parecia fadada a uma sova. Não faltavam motivos para o descrédito: o último sucesso lá remontava a 1930. “Se o Middlesbrough vencer em Old Trafford, eu mostro a minha bunda na janela da Binn’s”, apostou o ex-jogador local e comentarista de TV Bernie Slaven, quando fez seu prognóstico da partida. Torcedores que se manifestavam em programas de rádio vaticinavam: “Um 0 a 0 estará ótimo”. No campo, além de Beckham e Giggs, o Boro sofreria com a ausência de Gascoigne, suspenso. Apesar de já veterano, “Gazza” ainda mantinha a classe intacta. O único alento era a ausência de Alex Ferguson, que não comandaria o time por causa de uma morte na família. No banco de reservas, quem dava as ordens era seu assistente, Steve McClaren. No “Teatro dos Sonhos”, 3 mil torcedores visitantes esperavam um milagre. E, num contra-ataque, ele começou a acontecer, com Mustoe passando a bola entre a marcação para o colombiano Ricard abrir o placar. Delírio “riversider”: 1 a 0. Quem esperava uma reação imediata do Manchester viu um time meio atarantado com o atrevimento do recém-promovido
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MANCHESTER UNITED MIDDLESBROUGH
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Competição: Campeonato Inglês Data: 19/dezembro/1998 Local: Old Trafford (Manchester)
adversário. Oito minutos depois, uma bola alçada na área encontrou Dean Gordon – o marcador implacável de Beckham –, e a vantagem aumentou. O delírio dos visitantes passou a ser estupefação: “O Middlesbrough está vencendo o United em Old Trafford por 2 a 0? Impossível!”. Não, era isso mesmo. Na segunda etapa, o Manchester recobrou a consciência e retomou os destinos do jogo, com um Roy Keane impecável. Mesmo assim, melhor na partida, os Red Devils assistiram a outro contra-ataque desmontar sua defesa e Brian Deane fazer um inacreditável 3 a 0. O ritmo do jogo ainda ficou com os donos da casa, que diminuíram com Butt e Scholes. Só que era pouco. Findada a partida, a torcida do Boro ficou 15 minutos celebrando o sucesso nas arquibancadas, dançando e cantando. Aliás, cantando um lembrete: “Bernie, mostre a bunda, Bernie, Bernie, mostre a bunda”. E, diante do apelo popular, Slaven manteve a palavra. No dia seguinte, foi à loja de departamentos Binn’s e exibiu suas nádegas nuas embaixo de um kilt irlandês, diante de 5 mil pessoas e cobertura ao vivo da TV.
Você foi a algum jogo que tem uma boa história para ser contada? Escreva para contato@trivela.com que seu texto pode ser publicado neste espaço!
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A Várzea
Mãe Várzea A Várzea pretende apostar em seus dons premonitórios para reforçar o caixa em 2008. Valeu a pena gastar algumas horas para ver o futuro nas manchas de óleo de fritura do pastel do bar do Chico Lingüiça. Vai ver os agradáveis odores de soda cáustica com água oxigenada usados para turbinar o pingado da clientela também tiveram sua influência, mas ninguém pode negar o que só esta seção de última página viu. Sim, só A Várzea previu que o São Paulo seria campeão do Brasileiraço nem que o América-RN era sério candidato ao rebaixamento. E mais: fomos os únicos a afirmar com todas as letras que haveria uma briga intensa pela disputa de vagas na Libertadores e que vários times ainda lutariam para evitar o rebaixamento. Incrível nosso nível de acerto. E não digam que não avisamos sobre o artilheiro do campeonato ser algum atacante de um time ameaçado de cair. Estávamos tão espantados com essa imprevisibilidade do Brasileraço que até ousamos dizer que uma torcida de um grande clube sofreria até a rodada final. Ooooohhhhh! O sábio oráculo varzeano nunca se engana, mesmo quando jura não ter provado algumas doses extras de jurubeba. Vimos também um futuro cheio de névoa para o Juventude. Não dava para saber direito se era 18:10 de um sábado no Alfredo Jaconi tomado pela neblina, mas tinha algo a ver com o número 14. Sabíamos de antemão que o Palmeiras teria dificuldades no Parque Antarctica, que as estrelas de Cruzeiro e Botafogo deixariam de brilhar logo, e Souza seria o craque do campeonato. O quê? Erramos ao dizer que o Flamengo não tinha elenco para brigar pela Libertadores? Bom,
A charge do mês isso não foi uma previsão d’A Várzea, mas uma constatação do Tolete, que se deixou cegar pelo seu fanatismo pelo Bonsucesso. Por isso, mantemos nosso placar em 100%. Agora, precisamos nos concentrar para ver o que significa aquela barata andando no cantinho da cozinha. Seria um indício de que 2008 está marcado como o ano do “bom, bonito e barato”?
Em alta Inglaterra Ficou fora da Eurocopa, mas, pelo menos, deve ter um técnico decente no lugar de Steve McClaren
A lorota do mês Você pode receber A Várzea todo dia na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou, então, mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto
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“Nossa meta é conquistar uma vaga na Libertadores de 2009” Um dia depois de subir para a Série A, Itair Machado e Manuel da Lupa, presidentes de Ipatinga e Portuguesa, respectivamente, já projetam grandes cotejos contra Boca Juniors, River Plate e Pachuca.
A manchete do mês “Inter exclui o brasileiro Adriano da Liga dos Campeões” (Terra)
Vágner Love Viu Luís Fabiano fazer em 90 minutos mais do que o ex-palmeirense fez nas 1.453 chances que teve na Seleção do Dunga
Em baixa
A informação não é incorreta e o título não tem nenhum trocadilho. Mas até A Várzea já sabia dessa notícia em setembro, dois meses antes de ela ser publicada pelo Terra.
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Todas as camisas,
Brasil
Argentina
México
Peru
Colômbia
Chile
Equador
Bolívia
R$ 99,90
R$ 149,90
R$ 159,90
R$ 169,90
R$ 269,90
R$ 299,90
R$ 269,90
R$ 269,90
América-RN
Atlético-MG
Botafogo
Cruzeiro
Goiás
Grêmio
Juventude
Palmeiras
R$ 119,90
R$ 169,90
R$ 139,90
R$ 169,90
R$ 169,90
R$ 169,90
R$ 109,90
R$ 139,90
Roma
Napoli
Hannover I
Hannover II
Romário Mil I
Romário Mil II
T-Shirt Mil Gols
Vasco da Gama
R$ 169,90
R$ 169,90
R$ 169,90
R$ 169,90
R$ 169,90
R$ 169,90
R$ 79,90
R$ 139,90
Parma
Bari
Lorient
Modena
Guiné
Islândia
Luxemburgo
Derby County
R$ 229,90
R$ 229,90
R$ 229,90
R$ 229,90
R$ 229,90
R$ 229,90
R$ 229,90
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Contato através de nossa Central de Atendimento pelo telefone 0800-771-0044.
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