Trivela 33 (nov/08)

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nº 33A | nov/08 | R$ 8,90

nº 33A | nov/08 | R$ 8,90

w w w. t r i v e l a . c o m

Felipão “Não volto a trabalhar no futebol brasileiro” 100 ANOS Os inúmeros erros que estragam a festa de centenário dos clubes EM BAIXA Por que os brasileiros não atraem mais Real Madrid e Barcelona

Um ano em

PRETO E BRANCO Da formação do time à arrancada final final, William conta os bastidores da trajetória corintiana na Série B capa corinthians.indd 1

Entrevista: Luís Fabiano As camisas mais feias do Brasil Hamburgo, de Thiago Neves e Alex Silva O futebol do Rio se Vasco e Flu caírem

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ESPECIAL » CORINTHIANS

Com imagens inéditas e depoimento do capitão William, um retrato preto e branco do ano em que o Corinthians atingiu o ponto mais baixo de sua história, mas pode usar como marco para retomada de sua grandeza BRASIL

O futebol do Rio se Vasco e Flu são rebaixados

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BRASIL

Centenário, sinônimo de decepção

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BAHIA

Ano sem estádio custa caro para o Bahia

OPINIÃO ENCHENDO O PÉ

19

MARACANAZO

29

Brasileiros andam com filme queimado

ENTREVISTA » LUÍS FABIANO

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CAPITAIS DO FUTEBOL » HAMBURGO

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NEGÓCIOS

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HISTÓRIA CULTURA

O lado negativo da Liga dos Campeões

A geração perdida da Argentina Rivalidades poliesportivas

ENTREVISTA » LUIZ FELIPE SCOLARI Técnico do Chelsea admite que não esperava que chegaria tão longe na carreira, afirma não sofrer pressão para ganhar Liga dos Campeões e diz que dificilmente voltará a trabalhar no Brasil até pendurar o boné

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JOGO DO MÊS

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PENEIRA

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TÁTICA

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EXTRACAMPO

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CADEIRA CATIVA

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A VÁRZEA

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eu fiscalizo a

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58 60

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GERAL

Copa Copa Co p 2 201 014 01 4

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Glyn Kirk/AFP

Daniel Kfouri

ESPANHA

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Escolha do Brasil como sede da Copa completou um ano, e só houve politicagem desde então

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Novembro de 2008

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Alegria descolorida Duas cenas mostram bem como o Corinthians e sua torcida encararam esse ano na Série B. Logo na estréia, contra o CRB, um grupo de alvinegros localizados no tobogã (setor do Pacaembu em frente à área destinada à torcida visitante) estendeu uma faixa azul com a inscrição “CSA campeão alagoano 2008” para cutucar o inusitado adversário. Outro momento simbólico foi na segunda rodada do returno. Os corintianos viam seu time golear o Gama quando o alto-falante do estádio anunciou que o ABC fizera um gol no Avaí. O estádio comemorou como se os catarinenses – concorrentes pela liderança naquele momento – fossem rivais históricos do porte de Palmeiras ou São Paulo. Nesses dois momentos, o Corinthians misturou autoironia com melancolia para se redimensionar. Ainda que a campanha tenha sido fácil, com liderança isolada desde a segunda rodada e futebol convincente para o que se esperava de um time que investiu tanto para a Segundona, não dá para dizer que foi uma alegria completa. Subir era obrigação, como admitiu William, zagueiro e capitão do time, na entrevista que concedeu à Trivela. Como disse, também, Daniel Kfouri, brilhante fotógrafo que seguiu o Alvinegro em todas as partidas na Série B e responsável pelo ensaio especial desta edição: “não foi um ano alegre e colorido. Foi um ano negro, escuro, sofrido, intenso e angustiado, como é a essência do Corinthians”. Suas fotos refletem esse sentimento, como a própria conclusão de William a respeito da campanha do time do Parque São Jorge. E é isso que os corintianos – torcedores, dirigentes e jogadores – precisam ter em mente. Apesar de o clube ter, de fato, montado uma equipe com nível de Série A, não dá para ignorar que 2008 foi o ano em que o Alvinegro atingiu o ponto mais baixo de sua história. A alegria da promoção é justificada, mas não pode ser descolada da realidade. O capitão corintiano e seus companheiros sabem disso. Talvez uma festa sem cores, só preta e branca. Como o Corinthians.

w w w. t r i v e l a . c o m Editor executivo Caio Maia Editor Ubiratan Leal Reportagem Bruno Diniz, Fábio Fujita, Gustavo Hofman, Leonardo Bertozzi, Luciana Zambuzi, Pedro Teixeira (trainee) e Ricardo Espina Consultoria editorial Martinez Bariani e Mauro Cezar Pereira Colaboradores Cosme Rímoli, Daniel Kfouri, Dassler Marques, Eduardo Camilli, Fábio Kadow, Gustavo Villani, Henrique Nunes, João Tiago Picoli, Nair Horta e Rogério Centrone Revisão Luciana Zambuzi Projeto gráfico / Direção de arte Luciano Arnold Design / Tratamento de imagem Bia Gomes Capa Getty Images/AFP (Felipão) Daniel Kfouri (Corinthians) Agradecimentos Ângelo Marinati e Leonardo Mendes Jr.

Assinaturas

www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br Diretora de publicidade Paula Kenan

TABELAS PARA IMPRESSÃO

Ian Hodgson/Reuters

CONFIRA NESTE MÊS

Para quem gosta de seguir os campeonatos com papel e caneta TODA SEMANA Acompanhe colunas com análise e informações do futebol de todo o mundo

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10/11 História Liverpool O clube teve bons times nos anos 90, mas ficou em jejum 13/11 Entrevista Fred Atacante fala sobre Seleção Brasileira e a volta por cima no Lyon

17/11 Especial LCs do mundo Liga dos Campeões não tem só na Europa. Conheça as outras pelo planeta 20/11 Antes de Dunga Outros ex-jogadores sem experiência como técnicos dirigiram seleções. Deu certo?

Gerente de publicidade Luiz Fernando Martin Gerentes-executivos de negócios Edson Arsênio, Marlene Torres, Marielle Brust e Vanuza Batemarque E-mail comercial@cartacapital.com.br Tel. (11) 3474-0150 Gerente de marketing Gabriela Beraldo Gerente de circulação Alexandre Braga Atendimento ao leitor contato@trivela.com (11) 3474-0152 é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Ibep Gráfica Tiragem 30.000 exemplares

Novembro de 2008

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W/Brasil

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6x1 JOGO DO MÊS

Era Messi

Gustau Nacarino / Reuters

por Fábio Fujita

Barcelona ona humilha Atlético de Madrid e mostra que não R ldi h para aliar li ffantasia t i e competitividade titi id d precisa de Ronaldinho

o início desta temporada, as cornetas da parcela brasilianista da torcida do Barcelona estavam prontas para soar. Depois de o time estrear com derrota para o pouco temível Numancia e empatar com o Racing Santander na segunda rodada, os pessimistas de plantão já ruminavam os primeiros suspiros de saudades de Ronaldinho e Deco. Depois vieram algumas vitórias, mas o time ainda estava sob desconfiança. O Atlético de Madrid, por sua vez, começara a temporada com a bola cheia, acumulando três vitórias nos quatro primeiros compromissos (incluindo dois 4 a 0, contra Málaga e Recreativo Huelva). Nem mesmo o revés na quinta rodada para o Sevilla – resultado normal, levandose em conta a boa fase do time de Luís Fabiano – parecia capaz de inibir a euforia madrilena pela, até então, boa campanha. Essas duas trajetórias se cruzaram na sexta rodada do Espanhol. Era a oportunidade de o Barcelona do técnico Josep Guardiola provar que ainda era uma potência. E do Atlético de Madrid se consolidar como um grande que recupera seu espaço depois de uma década em baixa. A expectativa de jogo equilibrado e

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jogo do mês.indd 2

cheio de alternativas morreu rapidamente. Mas de modo brilhante, pelo menos do ponto de vista blaugrana. Comandados por Messi, o Barça não precisou de mais do que oito minutos para abrir 3 a 0, com Rafa Márquez, Eto’o e Messi. O time de Madri não oferecia resistência. O único com sangue nos olhos parecia ser Maxi Rodríguez, que, com raiva, acertou um tirombaço contra Valdés e descontou. Mas cinco minutos depois, Eto’o aproveitou um buraco na defesa adversária e, com a categoria que lhe é peculiar, ampliou. Gudjohnsen fez mais um antes do intervalo. Nunca os isotônicos do intervalo tiveram gosto tão amargo para os atordoados

BARCELONA Valdés; Puyol, Piqué, Rafa Márquez e Abidal; Busquets, Xavi (Keita) e Gudjohnsen; Messi (Bojan), Eto’o (Henry) e Iniesta Técnico Josep Guardiola

atletas do Atlético de Madrid: foi a primeira vez em sua história que os Colchoneros chegaram aos vestiários com um placar adverso de 5 a 1. Menos mal que os barcelonistas diminuíram o ritmo no segundo tempo. O que não impediu Henry de marcar o sexto gol dos anfitriões. O “vendaval azulgrana”, como classificou o periódico Marca, não passou impune pelos rojiblancos: o próprio presidente do clube, Enrique Cerezo, veio a público pedir perdão à torcida pela derrota acachapante. Do outro lado, o seguidor do Barcelona pôde ter certeza. O fim da era Ronaldinho não significava necessariamente que o time deixaria de lhe dar alegrias.

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ATL. MADRID

Data 4/outubro/2008 Local Camp Nou (Barcelona) Público 75.232 pagantes Árbitro Eduardo Iturralde González (ESP) Gols Rafa Márquez (3min), Eto’o (5 e 18min), Messi (8min), Maxi Rodriguez (13min), Gudjohnsen (28min) e Henry (73min) Cartões amarelos Heitinga, Ujfalusi, Antonio López, Agüero (A) e Henry (B)

Coupet; Perea, Heitinga, Ujfalusi e Antonio López; Maxi Rodríguez (Miguel), Raúl García, Paulo Assunção e Luís García (Pernía); Agüero (Banega) e Sinama-Pongolle Técnico Javier Aguirre

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André Mourão/AGIF

GERAL » BRASIL

TODOS QUEREM KEIRRISON

ZAGUEIRO ATRÁS DAS GRADES Váldson, ex-Flamengo, Botafogo e Corinthians, foi preso durante o treino do Confiança, seu atual clube. O defensor foi levado à delegacia para prestar esclarecimentos sobre um problema na Justiça por um carro que deu para sua ex-mulher na época em que defendia o Flamengo. Váldson deixou a cadeia após pagar fiança, cujo valor não foi divulgado.

QUEM FALA O QUE QUER...

“O Flamengo será campeão brasileiro e já estamos nos organizando para a festa do hexacampeonato” e falta, de direita, de esquerda, de cabeça, de dentro e de fora da área. O atacante Keirrison, do Coritiba, marcou (até o fechamento desta edição) 16 gols em 23 jogos no Brasileirão. Um desempenho que torna difícil sua permanência no Alto da Glória. O contrato do atacante com o Coxa vai até abril de 2009. O Alviverde já admite a possibilidade de capitalizar antes disso. “Se surgir alguma grande proposta, não vamos perder a oportunidade de ganhar um dinheiro, nem de atrapalhar a vida dele”, afirma Paulo Jamelli, coordenador de futebol do clube. No entanto, a possibilidade de transferência acabou expondo a intrincada situação legal do jogador. Keirrison foi revelado pelo Cene-MS e teve 60% de seu vínculo comprado pela Massa Sports. Em seguida, a empresa cedeu 20% do jogador ao Coritiba, que serviria de vitrine e teria prioridade para comprar os 40% que permaneceram no time sul-mato-grossense.

D

No entanto, o Alviverde estava na Série B não tinha recursos para comprar a cota do Cene. Gabriel Massa, sócio da Massa Sports e filho do apresentador de TV Ratinho, assinou um documento em que a empresa também abria mão dessa possibilidade. Em seguida, Gabriel deixou a Massa e fundou um outro clube, o Astral, para comprar 40% de Keirrison. Marcos Malaquias, sócio de Gabriel, não gostou. A Justiça acabou invalidando o documento em que sua empresa abria mão de Keirrison. Assim, a Mais Sports Brazil (nome da Massa após a saída dos filhos de Ratinho) se tornou dona do tais 40% quem eram do Cene, que se somaram aos outros 40% que já possuía. Agora, Malaquias fala como procurador do atleta. E também já pensa em uma transferência: “Temos certeza de que o colocaremos em um grande clube em breve”. Em 23 de outubro, a Mais Sports vendeu à Traffic seus 80% do vínculo de Keirrison. O Coritiba continua com 20%. [DM]

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...OUVE O QUE NÃO QUER

“Ele precisa ter mais respeito. Nem penta eles são e já falam no hexa” Leandro, lateral-esquerdo do Palmeiras

“É importante, assim como preparou a festa do título da Libertadores no Maracanã, na despedida do Joel Santana” André Krieger, diretor de futebol do Grêmio, se referindo à derrota por 3 a 0 para o América-MEX

Número de dissidentes ao atual comando do Clube dos 13. O grupo que era formado por São Paulo, Flamengo, Corinthians e Botafogo teve o acréscimo do Atlético-PR.

5 Divulgação

NOVO ESTÁDIO GREMISTA Yeda Crusius, governadora do Rio Grande do Sul, assinou projeto de lei que permite ao Grêmio construir sua nova arena em Humaitá, na zona norte de Porto Alegre. O terreno fica próximo ao aeroporto Salgado Filho e pertence a padres jesuítas. Em troca do espaço, a OAS, construtora responsável pelo estádio, erguerá uma faculdade. Após a entrega da arena, o Olímpico passará para a empresa.

Márcio Braga, presidente do Flamengo

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por Ricardo Espina

€ 6,4 mil

O negociador

Valor inicial para um leilão que a A1 Sporting Memorabilia organizou para quem quisesse conhecer Pelé pessoalmente. Após um mês, nenhuma oferta apareceu. MEDIDAS CONTRA CAMBISTAS A Caixa Econômica Federal e a BWA, empresa que administra produção e venda de ingressos, lançaram o “Cartão Ingresso Fácil”. Pelo sistema, o torcedor se cadastra, paga uma taxa de R$ 15 e recebe um cartão. Para comprar os bilhetes, basta carregar o valor (mais R$ 2,50 por entrada) em casas lotéricas. A medida visa inibir a ação de cambistas, mas as vendas em bilheterias será mantida.

Adriano Lima/Futura Press

Marco Aurélio Cunha, superintendente de futebol do São Paulo, passou por uma situação tensa. O dirigente foi a Santo André para acompanhar o rapto mais longo do Estado de São Paulo. Lindemberg Fernandes Alves, 22 anos, invadiu o apartamento de sua ex-namorada, de 15 anos, e a manteve como refém junto com uma amiga. Durante as negociações com a polícia, ele colocou uma camisa do São Paulo, time para o qual torce, em uma das janelas do apartamento. Isso motivou Juvenal Juvêncio, presidente tricolor, a pedir a Cunha para ir ao local. A PM dispensou a ajuda 30 minutos após a chegada do dirigente. O caso terminou de modo trágico: a polícia invadiu o apartamento, mas Alves atirou na exnamorada, que faleceu no dia seguinte, e em uma amiga dela, que passa bem.

Boleiros nas urnas Partido

Relação com futebol

Votos

Belém

Vandick Lima

PP

Ex-jogador do Paysandu

9.835

PV

Ex-jogador do Atlético-MG

6.445

* Carlos Alberto Torres foi candidato a vice-prefeito na chapa de Paulo Ramos ** Jairzinho teve a candidatura indeferida pelo TRE-RJ

Belo Horizonte Reinaldo Heleno

PHS

Ex-jogador do Atlético-MG

3.104

Róbson Ponta

DEM

Ex-jogador do Cruzeiro

206

Cantagalo-RJ

Roger

DEM

Ex-goleiro do São Paulo

599

Curitiba

Aladim

PV

Ex-jogador do Coritiba

6.351

Goiânia

Túlio Maravilha

PMDB

Atacante do Vila Nova

10.401

Porto Alegre

Tarciso Flecha Negra

PDT

Ex-jogador do Grêmio

6.323

Recife

Wilson Souza de Mendonça

DEM

Árbitro

631

Mauro Shampoo

DEM

Ex-jogador do Íbis

620

Rio de Janeiro

Carlos Alberto Torres

PDT

Ex-jogador da Seleção

59.147*

Maurício

PRTB

Ex-jogador do Botafogo

1.372

Jairzinho

PCdoB

Ex-jogador da Seleção

0**

Salvador

Beijoca

PSC

Ex-jogador de Bahia e Vitória

3.278

São Paulo

Marco Aurélio Cunha

DEM

Dirigente do São Paulo

30.421

Dinei

PCdoB

Ex-jogador do Corinthians

22.732

Ademir da Guia

PR

Ex-jogador do Palmeiras

17.009

Wladimir

PCdoB

Ex-jogador do Corinthians

5.975

Maurício Cafu

PR

Irmão de Cafu

2.355

Ataliba

PTN

Ex-jogador do Corinthians

442

Baltazar

PSOL

Ex-jogador do Corinthians

378

Fábio Braga/Futura Press

Candidato

Ricardo Matsukawa/Futura Press

Cidade

Guilherme Dionízio/Futura Press

Nas últimas eleições municipais, alguns personagens relacionados ao futebol tentaram repetir nas urnas o mesmo sucesso do gramado. Nem todos foram bem-sucedidos, mas houve quem deixasse sua marca com uma votação expressiva e conquistasse seu espaço. Veja alguns dos principais nomes, todos candidatos a vereador (em negrito, os eleitos):

Novembro de 2008

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Getty Images/AFP

Sakis Savvides/AFP

por Ricardo Espina

Cacá

RECOMEÇO,

NO CHIPRE ratamento de ídolo no Flamengo, dez anos de Europa, passagens por grandes clubes e muitos títulos, entre eles uma Liga dos Campões e um Mundial de Clubes. Quando Sávio fechou um contrato com a Desportiva Capixaba, no início deste ano, as coisas já pareciam caminhar para o encerramento de sua carreira. Até que, aos 36 anos, o meia-atacante recebeu uma proposta do Anorthosis Famagusta, que reforçava o elenco para passar das fases preliminares da LC. O desapontamento com a falta de perspectiva do futebol do Espírito Santo fez o jogador aceitar desafio que vinha do Chipre. Os resultados foram melhores que o esperado. O time conquistou a inédi-

US$

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5,2 bilhões

ta vaga na fase de grupos da principal competições de clubes do mundo. Na fase de grupos, as surpresas continuaram: o Anorthosis empatou com o Werder Bremen e deu trabalho à Internazionale fora de casa e venceu o rival grego Panathinaikos em casa nas três primeiras rodadas. O camisa 17 ainda orgulha-se, como se fosse a primeira vez, de disputar a LC. “Não importa o que você já tenha feito no futebol, disputar a Liga dos Campeões é especial. É um torneio que dá muita força e abre um espaço enorme ao jogador”. [LZ] Veja reportagem dos brasileiros que atuam em azarões da LC em www.trivela.com/revista

Seria a soma das dívidas de todos os clubes ingleses de acordo com David Triesman, presidente da federação local. Um terço deste valor refere-se a apenas quatro equipes: Manchester United, Liverpool, Chelsea e Arsenal.

Toda a Dinamarca valorizou o feito do Aalborg por Luciana Zambuzi

A Dinamarca não é um destino tradicional de jogadores brasileiros. Como você foi parar no Aalborg? O Erik Hamrén [treinador sueco que atualmente comanda o norueguês Rosenborg, mas esteve no AaB por quatro temporadas] me viu jogando e não desistiu até que conseguisse me levar. Nem foi difícil a adaptação, pois eu já havia jogado na Alemanha e estava um pouco acostumado com o frio. Como é participar da Liga dos Campeões? É uma sensação muito boa. Depois de uma Copa, é o torneio mais importante do mundo e a visibilidade para o atleta é enorme. Para o time, chegar ao torneio foi uma conquista valorizada por todos os torcedores do país, já que as equipes daqui nem sempre participam de competições tão importantes. Por que você não jogou muito pelo Atlético-MG? Não me deram muitas oportunidades, mas sou atleticano e quem sabe um dia voltarei.

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10/24/08 3:00:56 PM


PÚBLICO LÁ...

...PÚBLICO CÁ

O site Futebol Finance divulgou um ranking com as maiores médias de público no futebol europeu na temporada 2007/8. Os dados se referem aos oito principais torneios nacionais do continente. O Flamengo, que apresentou a maior média de público do Brasileirão 2008 (37.850 até a 29ª rodada), não estaria entre os 30 primeiros. Veja os 10 mais.

A Conmebol divulgou, com quatro meses de atraso, as médias de público da Libertadores 2008. Segundo a entidade, o público total da Libertadores neste ano foi pouco superior a 2,9 milhões de pessoas, contra cerca de 2,2 milhões em 2007. A média de torcedores por partida foi de 21,4 espectadores por jogo – 5,5 mil a mais do que no ano passado.

Clube

Público

Clube

Público

Real Madrid

76.200

Fluminense

49.011

Manchester United

75.690

América-MEX

48.853

Borussia Dortmund

72.500

Cruzeiro

37.538

Bayern de Munique

69.000

Unión Maracaibo

37.514

Barcelona

67.560

Flamengo

37.066

Schalke 04

61.275

São Paulo

36.823

Arsenal

60.070

Atlas

35.866

Celtic

56.675

Boca Juniors

32.233

Milan

56.640

Estudiantes

28.621

Hamburg

55.365

River Plate

26.847

“Sinto-me italiano para todos os efeitos. Encontrei o racismo apenas nas categorias de base, nunca na primeira divisão” Santacroce, zagueiro do Napoli e chamado para a seleção italiana. Filho de pai italiano e mãe brasileira negra, ele nasceu em Camaçari, Bahia

Rumo ao recorde? David Beckham se tornou o terceiro jogador que mais vestiu a camisa da seleção inglesa em toda a história. Ao entrar em campo na partida contra a Bielorrússia, pelas Eliminatórias da Copa de 2010, o meia do Los Angeles Galaxy fez seu 107º jogo pelo English Team.

Tobyy Melville/Reuters

Jogadores com maior número de partidas pela seleção inglesa:

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Peter Shilton

125 jogos

Bobby Moore

108 jogos

David Beckham

107 jogos

Bobby Charlton

106 jogos

Mexsport

GERAL » MUNDO

“Espero que o ‘método Klinsmann’ funcione, pois uma coisa é certa: ele precisa de resultados” Franz Beckenbauer, presidente do conselho de supervisão do Bayern de Munique, não escondendo a pressão sobre o técnico do clube

60.000

Christian, ex-Grêmio e Inter fez o 60.000º gol da história do Campeonato Mexicano. O atacante do Pachuca recebeu 60 mil pesos mexicanos (cerca de R$ 8,8 mil) de prêmio pelo gol, marcado sobre o Santos Laguna

EM DUPLAS Duas candidaturas conjuntas ensaiam lutar para receber a Copa de 2018. Bélgica e Holanda pretendem reeditar a parceria da Eurocopa de 2000. Os belgas até prometeram erguer sete novos estádios, sendo cinco com capacidade superior a 40 mil pessoas. Outro concorrente que pode pintar é a dupla Portugal e Espanha. Outros países que já mostraram interesse no torneio foram Inglaterra, Rússia e Austrália.

DE VOLTA A WEMBLEY A camisa dez usada por Geoff Hurst na final da Copa do Mundo de 1966 retornou ao estádio de Wembley. O investidor Andrew Leslau, de 51 anos, comprou o uniforme por um valor não divulgado. Hurst marcou três gols em cima da Alemanha Ocidental naquela partida. “Esta é a camisa mais importante da história do futebol inglês, não apenas a mais valiosa e mais cara do mundo. Ela é a última lembrança do dia mais glorioso do English Team”, comentou Leslau. O uniforme ficou em exibição durante a partida da Inglaterra contra o Cazaquistão pelas Eliminatórias da Copa de 2010. Novembro de 2008

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Flamengo

CAMISAS FEIAS DO FUTEBOL BRASILEIRO

O rubro-negro de sempre misturado com o azul e amarelo da fundação. Pelo menos não foi usado em jogo.

Desportiva-PE Ah, anos 90... Desenhos psicodélicos... Padrões sem sentido... Experimentalismo exacerbado... E mau gosto acima de tudo

Cruzeiro

Palmeiras

Alguém no clube pensou: “sempre temos camisas bonitas. Vamos fazer uma feia para variar?”. Aí está a resposta

...E ainda tem gente que reclama da camisa marca-texto

GERAL » INSÓLITO

Perdedores? O blog do jornal inglês The Guardian elegeu times e/ou esportistas que, mesmo sem ganhar um título, ficaram marcados para a história. Nos seis eleitos, estão duas equipes de futebol: a Seleção Brasileira de 1982 e o Liverpool de 1994 a 1997. Perdedor

Esporte

Brasil 1982

Futebol

Jimmy White 1984-1994

Sinuca

Kent County 1992-1997

Críquete

Nova Zelândia 1995-2007

Rúgbi

Liverpool 1994-1997

Futebol

África do Sul 1999

Críquete

VAQUINHA PARA A GASOSA O

Olympique de Marselha enfrentou um problema extra para voltar para a França depois do jogo contra o Atlético de Madrid pela Liga dos Campeões. Devido a um problema administrativo, os jogadores e a comissão técnica do OM foram obrigados a fazer uma “vaquinha” para pagar o combustível do avião do clube. A Exxon, empresa do ramo petrolífero, se esqueceu de autorizar a CLH, sua representante, a liberar o fornecimento do combustível. Como a CLH se recusou a aceitar o pagamento em cartão de crédito, foi preciso arrecadar € 3 mil com o time para pagar à vista e fazer a aeronave voltar à França. “Queria comprar cigarros, mas tive que dar € 100. Isso quer dizer que não fumei hoje. Senti como se estivesse em um filme, mas daqueles ruins. Se tivéssemos vencido, não me importaria, mas como perdemos [2 a 1], fica mais difícil lidar com isso”, lamentou o treinador Eric Gerets. A Exxon pediu desculpas e afirmou que apurará o incidente.

ERRAMOS

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Na reportagem “O errado que deu certo” (set/08, pág 18), saíram trocadas as posições de Willian Magrão e Rafael Carioca e de Paulo Sérgio e Anderson Pico no desenho número 1. Na nota “Série C 2009” (out/08), está escrito que o Luverdense é do Mato Grosso do Sul. O clube, na verdade, é do Mato Grosso.

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Brasiliense

Atlético-MG

Vila Nova

Adap

Corinthians

Bragantino

O que é mais estranho: a quantidade de “OKs” ou a combinação carnavalesca de cores?

Camisa versátil: você escolhe se prefere vesti-la ou lê-la

Não precisava de um “V” gigante com jeitão de babador para lembrar a inicial de “Vila Nova”

Nem ciclista na Volta da França tem tanto patrocinador no uniforme

Nem é tão feia quanto as outras, mas... pagar um estilista francês para fazer isso?

Essa camisa de quadradinhos já virou um clássico. Mas, convenhamos, é bem feinha

por Ricardo Espina

A Palestina disputou pela primeira vez em sua história um jogo internacional em seu território. Foi um amistoso contra a Jordânia no estádio Ram, na Faixa de Gaza. A Fifa arcou com as despesas para colocar o estádio Ram de acordo com seus padrões. A seleção palestina mandou seus jogos nos últimos dez anos na Jordânia e no Qatar.

“O Rosario Central vai subir na tabela. Vai subir ou vou ter que matar estes filho da p... Jogadores, técnicos ou o que c... sejam” Horacio Usandizaga, presidente do Rosário Central, em forma nada ortodoxa de cobrar os jogadores de seu time, ameaçado de rebaixamento na Argentina

Divulgação

DE VOLTA PARA CASA

DO UZBEQUISTÃO AO SAPÃO O Mogi Mirim tem um novo presidente. Rivaldo, contratado em setembro pelo Bunyodkor, do Uzbequistão, ocupará o cargo no clube no qual apareceu para o futebol. César Sampaio e Cléber, ambos ex-companheiros do meia no Palmeiras, farão parte da equipe que cuidará do futebol do Sapão. A chegada de Rivaldo marca o fim do comando da família Fernandes de Barros após 27 anos.

Mudança de nome O estádio Rei Pelé, em Maceió, pode mudar de nome. O deputado estadual Temóteo Correia (DEM) encaminhou um projeto à Assembléia Legislativa de Alagoas para mudar o nome do estádio para “Rainha Marta”. Marta, ganhadora do prêmio de melhor jogadora do mundo nos últimos dois anos, é alagoana de Três Riachos.

CURIOSIDADES DA BOLA O Levante escapou de um grande prejuízo. Uma caldeira dos vestiários do CT do clube espanhol pegou fogo. Coincidentemente, um dos campos do local tinha sido alugado para uma partida entre times da guarda civil e... dos bombeiros. O combate ao fogo foi imediato.

O Rubio Ñú assegurou seu retorno à primeira divisão do Paraguai após 28 anos. Para isso, contou com ajudas ilustres (e conhecidas no Brasil): o presidente é o ex-goleiro Rubén Ruiz Díaz, o gerente de futebol é o ex-zagueiro Carlos Gamarra e o técnico é o ex-lateral Francisco Arce.

Após tomar de 9 a 0 do Hansa Rostock em jogo da Segundona alemã, os atletas do Koblenz não tiveram perdão. O vôo da equipe foi cancelado e o trajeto de 700 km foi feito de ônibus. Pior, os jogadores ainda foram obrigados a assistir o VT do jogo várias vezes durante a viagem.

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Getty Images/AFP

GERAL » REPLAY

MATEMÁTICA CRUEL No clássico entre Flamengo e Vasco no Maracanã, rubro-negros se divertem com a agonia do rival. A derrota por 1 a 0 consolidava a lanterna cruzmaltina, a apenas oito jogos para o fim do Brasileirão.

Satiro Sodre/AGIF

Fernando Pilatos/Gazeta Press

MURICY EM PERSPECTIVA Filtrado pela lente de uma câmera, o técnico do São Paulo atende a imprensa às vésperas do clássico contra o Palmeiras, com seu conhecido bom-humor.

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André Mourão/AGIF

TEMPESTADE AUSTRALIANA Chuvas torrenciais sobre Brisbane atrasaram o início do jogo entre a seleção local e a do Catar, pelas Eliminatórias Asiáticas. Mas serviram como prenúncio da tempestade de gols da Austrália: 4 a 0.

IMARCÁVEL? Uma vez fenômeno, sempre fenômeno. Mesmo fora de forma – ainda se recupera de lesão no joelho esquerdo – Ronaldo encara coletivo no Flamengo, cercado por Ronaldo Angelim, Ibson, Toró e Fábio Luciano.

Damien Meyer/AFP

DIVIDIDA DESIGUAL Entre a perna esquerda de Fabio Quagliarella, da Udinese, e a cabeça de Robert Kovac, do Borussia Dortmund, melhor para o ex-clube de Zico, que, nos pênaltis, ficou com a vaga na fase de grupos da Copa Uefa.

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PENEIRA

Francisco Leong/AFP

HULK: Super herói do Porto queixo acentuado, os ombros largos, um baita corpanzil e uma força descomunal. As descrições são de Hulk, não o das histórias em quadrinhos, mas de um paraibano de Campina Grande que é a mais nova sensação do futebol português. O centroavante trocou o Tokyo Verdy pelo Porto e tem agradado em sua estréia na Europa. Por € 5,5 milhões, valor correspondente à metade de seu vínculo, Hulk chegou às Antas. Logo impressionou pela força física, mobilidade, potência e precisão de sua perna esquerda. O Hulk portista, ao contrário do famoso personagem de HQs, não se chama Bruce Banner, mas sim Givanildo Vieira de Souza. Nas categorias de base do Vitória, teve parte de seus direitos

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cedidos por Paulo Carneiro, ex-presidente, ao empresário Teodoro Constantim, em troca de um empréstimo. Teodoro, com bom trânsito no Japão, levou o jogador antes mesmo de estrear, de fato, com a camisa rubro-negra. Hulk brilhou no Tokyo Verdy, com 37 gols em 42 jogos na última temporada, até surgir o interesse do Porto e do empresário Juan Figer, que dividem o vínculo do atacante. Agora, é mais um candidato a seguir os passos de Derlei, Deco e Pepe e conquistar os portugueses antes dos brasileiros. [DM]

Nome Givanildo Vieira de Souza Nascimento 25/julho/1986, em Campina Grande (PB) Altura 1,80 m Peso 75 kg Carreira Kawasaki Frontale (2005) , Consadole Sapporo (2006) , Tokyo Verdy (2007 a 2008) e Porto (desde 2008)

ÖZIL: cara nova na Bundesliga

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Nome Mesut Özil Nascimento 15/outubro/1988, em Gelsenkirchen (ALE)

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Altura 1,80 m Peso 70 kg Carreira Schalke 04 (2006 e 2007) e Werder Bremen (desde 2008)

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Na temporada 2008/9, ele marcou três gols nas primeiras nove partidas, sete pela Bundesliga e duas pela Liga dos Campeões. No primeiro semestre, o meia foi ofuscado por Diego, sendo o substituto do jogador com quem agora tem sido comparado. Özil é de origem turca e quase atuou pela seleção de seus pais não fosse a hesitação da federação nacional. Melhor para a Alemanha, que tem contado com o jogador no Mundial Sub-21 e pode, quem sabe, apostar em um substituto à altura de Michael Ballack. [PT]

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abilidade com os dois pés, passes precisos, boa movimentação e belos chutes de longa distância. São essas as características que têm feito de Mesut Özil o melhor jogador deste início de Campeonato Alemão. Exagero? O Bayern de Munique não diria. No passeio do Werder Bremen pela Allianz Arena, pela quinta rodada da Bundesliga, o armador acabou com o jogo: um gol e duas assistências na goleada por 5 a 2. As últimas atuações do camisa 11 também devem ter atormentado o Schalke 04. Não pelo jogo da segunda rodada, que empatou por 1 a 1, mas pelo fato de o time ter liberado o jogador para o rival em janeiro. Na época, o Schalke alegou que Özil não “estava correspondendo às expectativas do clube”. Depois de oito meses o arrependimento é inegável.

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por Leonardo Bertozzi

ENCHENDO O PÉ

Bandeiras se escolhem “VOU DIZER UMA COISA: eu sou mais brasileiro do que todos vocês. Sabe qual é a diferença entre nós? Vocês nasceram no Brasil, não tiveram escolha. Eu tive. Eu decidi ser brasileiro”. A frase foi proferida por Fernando Meligeni durante sua participação na Olimpíada de Atlanta, em 1996, e lembrada pelo ex-tenista em seu livro de memórias. O “Fininho” havia se irritado ao ser questionado por um repórter sobre como se sentia ao ser um argentino representando o Brasil. Copa do Mundo de Futsal no Brasil, 2008. A Itália se apresenta para a disputa com uma seleção inteiramente formada por brasileiros de nascimento. Para boa parte da imprensa e da opinião pública, é um absurdo. É uma seleção de aluguel, é o “Brasil B”, definem os engraçadinhos. Ninguém faz muita questão de comentar que são todos descendentes de italianos e, por lei, italianos por direito. “Jus sanguinis”, direito de sangue. Foglia, Farina, Nora, Zanetti, Bertoni... sobrenomes que não deixam margem a dúvida. Além disso, onze dos 14 convocados jogam em times italianos. Ainda assim, há quem fale como se os italianos trapacessem. Como se tivessem encontrado uma dúzia de bons jogadores e dado passaportes de presente para eles. Como se a presença de “oriundi” na Azzurra, inclusive no campo, não fosse um fato histórico, desde o título mundial de 1934, com o brasileiro “Filó” Guarisi, entre outros, até o de 2006, com Camoranesi. Diante da questão italiana, não faltou quem defendesse uma nova regra para acabar com a “farra”. Nasceu no país, pode jogar. Não nasceu, não pode. E as leis de cada nação que se danem. Na Alemanha, por exemplo, nascer no território nacional não quer dizer nada. Ser filho de alemão, em qualquer lugar do mundo, é o que importa. Assim, quando chamam Kuranyi de “naturalizado”, cometem um erro. É claro que ninguém quer ver as seleções funcionando como clubes, “contratando” jogadores. Esse risco existiu quando o Catar tentou naturalizar Aílton, mas a Fifa interveio, baixando um decreto que exigia um mínimo de dois anos (recentemente aumentado para cinco) de residência no país para jogadores sem ascendência nele. É importante que haja um mecanismo para que os países não atropelem as próprias regras, já que nem todos têm a consciência da Holanda, que barrou o marfinense Salomon Kalou às vésperas da Copa do Mundo. O patrulhamento da bandeira alheia, na prática, não fica muito distante da posição ultranacionalista do líder francês de extrema-direita Jean Marie Le Pen, que queria ver a seleção do país livre de jogadores de origem estrangeira. Quem vai dizer a Patrick Vieira, nascido no Senegal e de ascendência caboverdiana, que ele não é francês? Quem vai dizer o mesmo a Makélélé, nascido no antigo Zaire? Recentemente, o meia Hatem Ben Arfa, nascido na França, foi vaiado pela torcida tunisiana em um França x Tunísia em SaintDenis. Tudo porque preferiu representar os “Bleus” à seleção da terra de seus pais na Copa de 2006. Nascer aqui ou lá é apenas uma circunstância entre muitas, e não pode ser algo levado a ferro e fogo. Certamente, até os que discordam disso comemoraram as conquistas do cavaleiro Rodrigo Pessoa e do piloto Gil de Ferran, ambos nascidos em Paris, e de Chiaki Ishii, natural de Ashikaga, Japão. Atletas que já deram muito orgulho ao Brasil, como o “argentino” Meligeni. Portanto, deixem a Itália ser feliz com seus “oriundi”. Novembro de 2008

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TÁTICA

Nico Casamassima/AFP

por Leonardo Bertozzi

A vitória do Cluj sobre a Roma abriu os olhos do mundo para o time romeno

Penetras incômodos luj, Anorthosis Famagusta, BATE Borisov. Três estreantes na Liga dos Campeões que eram apontados como possíveis sacos de pancadas, mas surpreenderam e conquistaram resultados importantes diante de times de muito maior tradição, como Roma, Chelsea, Werder Bremen e Juventus. Em comum ao trio de azarões, muita aplicação tática para compensar a falta de jogadores de projeção. Apesar de o Cluj ser o atual campeão romeno e, por isso, ter garantido vaga direta na fase de grupos da LC, muito pouco se conhecia sobre o time, além do fato de ser da região da Transilvânia. E o início da temporada levava a crer que a participação no torneio

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europeu seria desastrosa, já que a equipe acumulou derrotas no campeonato nacional. A decisão da diretoria de demitir o técnico Ioan Andone às vésperas da LC pareceu exagerada a princípio, já que foi ele quem levou a equipe ao inédito título nacional. Especialmente porque quem assumiu foi o auxiliar de Andone, o italiano Maurizio Trombetta, que não tinha experiência prévia como técnico de times profissionais. Na última temporada, ele dirigiu o Sevegliano, da sexta divisão italiana (torneio de nível amador). Trombetta, no entanto, foi responsável por uma importante mudança no estilo de jogo da equipe, abandonando o 4-4-2 e adotando um 4-3-3, com a entrada do atacante argentino Juan Culio no lugar do meia Deac, que vinha jogando até então. O Cluj passou a jogar com Culio pela esquerda, seu compatriota Dubarbier pela direita, e o burquinense Yssouf Koné no comando do ataque.

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Cluj (4-3-3) Trombetta teve sucesso ao mudar esquema de Ioan Andone, seu antecessor

A Koné

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G: goleiro / LD: lateral-direito ral-direito / LE: lateral-esquerdo / Z: zagueiro / V: volante / a-direito / ME: meia-esquerdo / A: atacante M: meia / MD: meia-direito

Surpresas da Liga dos Campeões se organizam taticamente e arrancam pontos de favoritos

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Culio, conhecido em seu país como “El Zurdo” (O Canhoto), foi o grande nome da vitória por 2 a 1 sobre a Roma, de virada, em pleno estádio Olímpico. O argentino, que abandonou a profissão de pedreiro aos 19 anos para se dedicar ao futebol, marcou os dois gols da partida. Na Romênia, já há quem defenda sua convocação para a seleção quando ele tiver condições legais de pedir cidadania do país. O trabalho tático de Culio e Dubarbier é fundamental para o time de Trombetta, já que eles voltam para recompor a marcação quando o adversário tem a posse de bola, fazendo um meiocampo com cinco homens. Outro ponto forte é a dupla de zaga formada pelo português Cadu e o brasileiro André Galiassi. Galiassi diz que um dos méritos do técnico italiano foi controlar os avanços dos laterais (o português Tony e o uruguaio Pereira), que vinham comprometendo o trabalho defensivo no início da temporada com Andone. “Na época do Ioan, geralmente os dois desciam ao ataque e deixavam a defesa muito exposta”, comentou. “Agora, pelo menos três jogadores sempre ficam atrás. Em jogos mais complicados o treinador exige sempre quatro marcadores”. Foi com essa receita que o Cluj resistiu ao Chelsea, segurando o empate por 0 a 0 em casa na segunda rodada. Nos contra-ataques, o time romeno chegou até a ficar próximo da vitória, acertando a trave no segundo tempo. COntra o Bordeaux, o esquema não foi suficiente para evitar a derrota por 1 a 0.

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Anorthosis (4-5-1) Atuando à frente da defesa, Dellas se tornou referência

A Sosin

A

A

Sávio

Costa

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V Dellas

LE Leiwakabessy

Z

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BATE Borisov (4-2-3-1) Meias abertos deram muito trabalho à Juventus

A Rodionov

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M

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Nekhaychik

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Stasevich

Colosso de Rodes Quem assistiu aos jogos do Anorthosis Famagusta contra o Olympiacos, na fase preliminar da LC, já poderia imaginar que o time cipriota causaria problemas na competição. O principal achado do técnico georgiano Temuri Ketsbaia foi o grego Traianos Dellas, que se destacou na defesa da seleção grega campeã da Eurocopa em 2004.

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LE Kazantsev

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V

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Z

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Sosnovski

G Veremko

LD Yurevich

Na ocasião, ele ganhou o apelido de “Colosso de Rodes”. No 4-5-1 do Anorthosis, Dellas atua como volante, dando proteção à dupla de zaga formada por Katsavakis e pelo capitão Nikolaou. Muitas vezes, o grego vira o terceiro zagueiro da equipe. Mais à frente, os franceses Bardon e Laban são os responsáveis pelo início da manobra ofensiva. Não são homens de criatividade, mas erram poucos passes e ajudam o time a manter a posse de bola. Sávio, ex-Flamengo e Real Madrid, atua pelo lado esquerdo, enquanto o português Paulo Costa faz o flanco direito. Sávio tem uma participação importante, sobretudo quando corta para o meio e dá espaços para os avanços do lateral holandês Leiwakabessy – em especial quando o Anorthosis joga em casa. O brasileiro também se transformou no responsável pelas bolas paradas da equipe, que segurou um empate por 0 a 0 com o Werder Bremen na Alemanha e venceu o Panathinaikos por 3 a 1 em casa. Já o BATE Borisov não impressionou muito na derrota por 2 a 0 para o Real Madrid, na primeira rodada, o que pode ter deixado a Juventus relaxada demais para a visita a Belarus. O técnico Viktor Goncharenko, porém, complicou os italianos com um time ágil e veloz pelas pontas. Stasevich, pela direita, fez a festa em cima do fraco lateral De Ceglie, e dali surgiram as melhores oportunidades do BATE, que aos 25 minutos já vencia por 2 a 0. A Juve precisou correr atrás, mas não foi além do empate por 2 a 2. “Sabíamos que o BATE teria essa postura, mas eles nos surpreenderam com o ritmo forte, não há como negar”, admitiu o técnico juventino Cláudio Ranieri após a partida. “Os homens de ataque se mexiam constantemente, e acertavam os passes diagonais entre eles”. Sinal de que, até mesmo na LC, um time tecnicamente fraco e financeiramente discreto é capaz de causar problemas se estiver bem acertado. Novembro de 2008

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ENTREVISTA » LUIZ FELIPE SCOLARI

“ agasalho, GOSTO DE

Carl de Souza/AFP

FICO COM O

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agasalho E ACABOU

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por Cosme Rímoli

Felipão deixa claro que continua sendo, no Chelsea, o mesmo técnico que começou a carreira no CSA e sonhava apenas em um dia treinar o Grêmio

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em alarde, Felipão já é hoje o técnico de conquistas mais importantes de toda a história do futebol brasileiro. Seu currículo é impressionante: campeão mundial com a Seleção Brasileira, vice da Eurocopa com Portugal, campeão da Copa da Ásia com o Kuwait, vice mundial com Palmeiras e Grêmio, bicampeão da Libertadores com Grêmio e Palmeiras e tri da Copa do Brasil. Além disso, levou Portugal à quarta colocação na Copa de 2006. Uma trajetória que o conduziu ao Chelsea, um dos clubes mais ricos – e exigentes – do mundo. O gaúcho de Passo Fundo se tornou tão grande que nem ele imaginava tanto. “Tudo que eu sonhava na carreira era um dia dirigir o Grêmio, mas a vida me deu muito mais”, reconhece. O fato de não perder o contato com a própria origem explica muito de seu método de trabalho. Ele fala sobre uma conversa para motivar craques internacionais como Lampard e Drogba com a mesma naturalidade com a qual falava de Rivarola e Galeano, limitados tecnicamente, mas que se tornaram ídolos de, pela ordem, Grêmio e Palmeiras depois de atuarem sob o comando de Scolari. Foi com esse espírito que Felipão concedeu entrevista à revista Trivela. Na conversa, o técnico falou sobre como lidar com a imprensa inglesa, de não conseguir contratar Robinho e até do fato de ter montado, em Stamford Bridge, um time mais ofensivo que o normal.

Você imaginava que chegaria tão longe como técnico? Eu havia projetado uma carreira de técnico simples como foi a minha de jogador. Lutei muito, mas vejo hoje que é muito mais do que eu imaginei, do que eu previa. É motivo de orgulho ver que, aos 60 anos, me colocam entre os melhores da história do futebol brasileiro. Quando comecei, tudo o que desejava era treinar o Grêmio. Era o sonho de uma criança. Quando passei por Caxias, Juventude, CSA, fui percebendo que poderia chegar ao Grêmio. Mas nunca pensei que pudesse chegar a dirigir o Brasil ou outras seleções. Fui mais longe que meus sonhos.

Por que você não pediu para o Roman Abramovich investir milhões em reforços? Porque não precisou. Eu já tinha os melhores do mundo à minha disposição no Chelsea. Na minha avaliação, não precisava de muitos reforços. Até porque valorizei alguns jogadores que estavam aqui e não eram aproveitados. E também tentei mudar a filosofia de não só comprar, mas formar atletas na categoria de base. Por isso o gasto foi muito baixo. Desde que cheguei, contratamos apenas o Deco e o Mineiro. Isso para esse ano. Se precisar de jogadores no próximo ano, iremos buscar. Como é a relação com o Abramovich? Muito boa. Ele cuida do clube e eu do time. Nós dois queremos ganhar o que puder pelo Chelsea. É isso que interessa.

Ian Kington/AFP

Você gosta de se mostrar uma pessoa simples. Mas estuda tática, psicologia, fala inglês, italiano, espanhol... [interrompendo] Eu sou simples. Eu não falo inglês, italiano e espanhol. Eu chuto para todos os lados como fazia no meu tempo de zagueiro. Se o jogador quiser fazer o melhor para a equipe, ele vai se esforçar para entender seu treinador. O idioma não é desculpa. Eu aprendi inglês

na raça com o velho cassete quando estava no Oriente Médio. Ficávamos eu e o Murtosa [Flávio Murtosa, seu auxiliar técnico até hoje] com um gravador. Eu ouvia “how are you?” (“como vai?”) e perguntava para ele. O Murtosa respondia “fine, thank you” (“bem, obrigado”). E aí era a minha vez. A gente repetia até não poder mais.

Como foi convencer Drogba e Lampard a continuarem no Chelsea? Eu tinha votado no Drogba como um dos melhores do mundo há dois anos, mas ele estava com um problema no joelho. Fiz ele ver que, se ficasse no Chelsea voltaria a jogar tudo o que sabia. Ele entendeu, se sentiu valorizado e ficou. Com o Lampard a questão era um contato maior, uma boa conversa para ele sentir sua importância no Chelsea. Jogador como ele você pode garimpar em todo o lugar do mundo e não encontra. É um dos mais completos com quem trabalhei em toda a minha vida. É forte, goleador, trabalha a bola de área a área. É jogador de sete dias. Não tem um dia que ele queira descansar. Novembro de 2008

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Glyn Kirk/AFP

Quem perdeu mais: você por não ter o Robinho ou o Robinho por não ter ido ao Chelsea? O Robinho foi quase empurrado a essa situação por algumas razões que não vale a pena ficar falando. Ao não ir para o Chelsea, ele perdeu a oportunidade de jogar em um dos melhores clubes do mundo com atletas de grande qualidade que poderiam valorizá-lo ainda mais no futebol mundial. Quem sabe se no futuro ele possa trabalhar comigo e no próprio Chelsea. É verdade que ele lhe pediu desculpas por ter fechado como Manchester City? Não. Quando nos encontramos, só falei que queria contar com ele e que tinha ficado triste porque ele seria perfeito para a maneira que o Chelsea atua. Ele entendeu e disse que ainda quer trabalhar comigo. Como está sendo domar os egos dos milionários jogadores do Chelsea e formar uma família Scolari em Londres? Eu consegui da mesma maneira que fiz por onde passei. Os jogadores têm em mim o exemplo de como é pensar coletivamente. Quando tenho de tomar uma decisão, não penso em mim, mas no projeto e no grupo. Eles sentem isso. Também existe um dado muito importante: aqui no Chelsea os jogadores tomam café e almoçam no clube. Isso cria um laço afetivo maior. Além disso, na véspera dos jogos eu autorizo os jogadores a levar seus filhos para os treinos e depois para o almoço. Isso é ótimo para o ambiente. Fazer questão de usar agasalho, mesmo sendo raro na Inglaterra, tem a ver com essa proximidade com os jogadores? Para mim, é a roupa que eu tenho de usar. Quando assinei contrato, me perguntaram como iria trabalhar. Disse que iria continuar da maneira que sempre fui e não viram problemas. Eu também fiquei aliviado porque não iriam querer que eu mostrasse uma pessoa diferente da que eu sou. Gosto de agasalho, fico com o agasalho e acabou.

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Há uma grande vontade de ganhar a Champions League e o Campeonato Inglês, mas não tenho obrigação de nada Em 2006, você não aceitou treinar a seleção inglesa por causa do assédio exagerado da imprensa. No entanto, foi para o Chelsea agora. Mudou alguma coisa de lá para cá? Quando estava na Seleção Portuguesa e eu estive para assumir a Inglesa houve um exagero e eu fiquei assustado com a invasão da minha privacidade. Agora, não. Eu respeito, sou respeitado e a relação fica mais clara. Minha vida particular é minha vida particular. Minha família é minha família. Meu trabalho é meu trabalho. Estamos entendidos. Isso até permitiu uma aproximação. O Chelsea era

fechado demais em certos aspectos, com pouco tempo para a imprensa e um certo distanciamento do torcedor. Agora está mais aberto. Sob seu comando, o Chelsea tem jogado ofensivamente. Mudou seu modo de ver o jogo? Eu continuo achando que uma equipe se forma primeiro pelo setor de marcação. O que aconteceu aqui é que estou respeitando as características dos meus jogadores. Encontrei um grupo que se dedica e gosta de trabalhar ofensivamente. Está mais fácil do que eu imaginava. Existe uma obrigação para conquistar a Liga dos Campeões? Não tenho obrigação de nada. Há uma grande vontade do clube e minha para que o Chelsea conquiste a Champions League, o Campeonato Inglês, tudo o que puder. E vamos buscar isso.

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Caretas de Felipão se tornaram folclóricas para ingleses

ótimo por enquanto. Já tenho muita preocupação nessa função. Até hoje, as torcidas de Grêmio e Palmeiras o vêem como ídolo. Mas como você vê esses dois clubes? A campanha do Grêmio no Brasileiro é ótima. Sinto que o clube está em recuperação depois de algum período de dificuldade. Eu fico feliz de verdade porque o meu coração é do Grêmio. Esse sentimento de torcedor nunca vai mudar. Quanto ao Palmeiras, de que aprendi a gos-

Acervo/Gazeta Press

Você completa 60 anos em novembro. Pretende trabalhar até quando? Eu não posso dizer isso de uma maneira absoluta. Mas quero continuar em clubes ou seleções até os meus 65 anos. Depois, desejo uma função ligada ao futebol, mas fora dos gramados. Acho que manager, para contratar jogadores, administrar um clube. Apesar de estar na Europa eu sou apenas treinador. Não sou eu quem contrata no Chelsea. Eu só indico. Mas está

Dylan Martinez /Reuters

A cada derrota do Dunga se comenta que você deve assumir o Brasil na Copa. Em Portugal também aumenta a pressão para que retome o lugar de Carlos Queiroz. Você se sente uma sombra para eles? Eu não quero ser sombra para ninguém. Torço para o Dunga chegar bem na Copa. Estou mais preocupado com o Chelsea. Não existe na minha cabeça essa possibilidade de ir trabalhar em nenhuma seleção em 2010. Meu contrato é de dois anos, mas com a possibilidade de uma renovação automática de mais um. Tenho certeza de que vou querer continuar.

tar, eu também fico satisfeito com a força que o clube está mostrando de novo neste ano. Está ótimo. Você prometeu a algum dos dois que vai encerrar a carreira ou no Olímpico ou no Parque Antártica? Não prometi e acho muito difícil que isso aconteça. Como já disse, pretendo trabalhar como treinador por mais uns cinco anos. Mas na Europa e deu. Depois posso voltar para o Brasil e visitar os grandes amigos, só isso.

Luiz Felipe Scolari Nascimento 9/novembro/1948, em Passo Fundo-RS Carreira como jogador Aymoré-RS (1967 a 1973) , Caxias (1973 a 1979) , Juventude (1980) , Novo Hamburgo-RS (1980 a 1881) e CSA (1881 a 1982) Títulos como jogador Campeonato Alagoano (1980) Carreira como treinador CSA (1982) , Juventude (1982 a 1983 e 1986 a 1987) , Brasil-RS (1983 e 1986) , Al Shabab-ARS (1984 a 1985) , Juventude (1986 a 1987) , Grêmio (1987 e 1993 a 1996) , Goiás (1988) , Al Qadisiya-KUW (1988 a 1990 e 1992) , Seleção do Kuwait (1990) , Criciúma (1991) , Al Ahli-SAU (1991) , Júbilo Iwata-JAP (1997) , Palmeiras (1997 a 2000) , Cruzeiro (2000 a 2001) , Seleção Brasileira (2001 a 2002) , Seleção Portuguesa (2003 a 2008) e Chelsea (2008) Títulos como treinador Copa do Mundo (2002) , Libertadores (1995 e 1999) , Copa Mercosul (1998) , Copa da Ásia (1990) , Campeonato Brasileiro (1996) , Copa do Brasil (1991, 1994 e 1998) , Rio-São Paulo (2000) , Copa Sul-Minas (2001) , Campeonato Gaúcho (1987, 1995 e 1996) e Campeonato Alagoano (1982)

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BRASIL

O RIO QUE

agoniza Os rivais até torcem, mas o futebol carioca não quer ver Vasco e Fluminense caírem para a Série B

Conca lamenta: perda da Libertadores para a LDU iniciou a má fase do Fluminense

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rêmio, Fluminense, Fluminense de novo, Botafogo, Palmeiras, Grêmio de novo, Atlético-MG, Corinthians. A lista de clubes entre os mais tradicionais que foram rebaixados nas últimas duas décadas não é pequena. No entanto, sempre o rebaixamento foi isolado. No máximo, Palmeiras e Botafogo caindo juntos em 2002. Mesmo assim, eram equipes de estados diferentes, o que torna especialmente preocupante a possibilidade de Vasco e Fluminense seguirem lado a lado para a Série B. Flamenguistas e botafoguenses podem até ficarem com água na boca ao imaginar cruzmaltinos e tricolores na Segundona. No entanto, uma eventual queda dupla teria enorme impacto no futebol do Rio de Janeiro. O Brasileirão de 2009 contaria com apenas dois clássicos cariocas, dez a menos que neste ano. Além disso, duas grandes torcidas estariam desmotivadas, o que poderia arrefecer os ânimos em outros torneios. Por isso, o discurso dos rivais de tricolores e cruzmaltinos passa longe da desgraça do vizinho. “Não temos nenhum interesse em ver Fluminense ou Vasco na segunda divisão. Nem mesmo a rivalidade nos permite pensar assim. Para o torcedor poderia até ser interessante no início, mas isso traria muitos prejuízos ao futebol carioca e, conseqüentemente, ao Flamengo”, argumenta Márcio

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por Henrique Nunes

Braga, presidente rubro-negro. “O Campeonato Carioca, que é muito importante para nós, perderia também um pouco seu valor. A torcida ficaria desmotivada, o que seria horroroso”, completa. A avaliação tem razão de ser. No entanto, ver a queda de um rival também pode ser uma boa oportunidade econômica para quem ficar na Série A. “Seria uma ótima oportunidade para o Flamengo, que já é o clube com mais apelo de marketing do Rio, ampliar seu domínio. O Botafogo também seria beneficiado, já que o espaço em mídia e a quantidade de jogos transmitidos na TV aumentariam”, avalia Amir Somoggi, diretor da empresa de auditoria Casual. Braga, contudo, diz não pensar em capitalizar sobre o drama dos rivais. “O Flamengo não precisa disso. A queda de Vasco e Fluminense não traria mais torcida para gente. Temos 32 milhões de torcedores e a queda deles não mudaria isso”. Polêmico por suas declarações, o presidente rubronegro procura mostrar respeito à agonia dos outros. “Não é na desgraça dos outros que eu vou tentar me dar bem”, afirma. No Botafogo, o assunto é tratado com alheamento. No discurso, a única preocupação é formar um time competitivo para 2009. “Temos um bom elenco e vamos esperar a definição no Brasileiro para ver o quanto vamos investir no ano que vem”, esquiva-se Ricardo Rotenberg, diretor do clube. O Botafogo, que, como o Palmeiras, conheceu o inferno da queda em 2002, soube tirar proveito disso. O time se reestruturou e, hoje, com uma equipe equilibrada, faz campanhas razoáveis e não corre os mesmos riscos de seis anos atrás.

Reestruturação Edmundo é o símbolo da revolta com o atual momento de desespero vascaíno

O exemplo alvinegro – que também vale para outros grandes clubes que aproveitaram a passagem pela Segundona para se reestruturar – pode servir para Fluminense e Vasco renascerem. Somoggi, contudo, lembra que cada equipe Novembro de 2008

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tem suas peculiaridades, e Fluminense e Vasco teriam de trabalhar com inteligência para encontrarem suas melhores soluções. Por isso, quem já está na segunda divisão argumenta que cair nem sempre seria uma idéia tão ruim. José Neves, presidente da FBA (Futebol Brasil Associados), entidade que gerencia comercialmente a Série B, tem muito interesse em ver os times mais importantes na Segundona, pela natural visibilidade que o torneio passa a atrair. “Cair nunca é bom, mas quando

grandes clubes passam por isso, percebem que não é um bicho de sete cabeças. Eles até podem sair lucrando com isso depois, como fez o Corinthians nesse ano”, afirma. “É como a UTI de um hospital, onde o clube grande passa por um processo de recuperação para voltar à Série A, que é o lugar deles”. O Tricolor já passou por isso. Quando chegou à Série C, em 1999, o clube contratou Carlos Alberto Parreira e reorganizou o departamento de futebol. Ainda que parte desse trabalho tenha se perdido

SEM COMPANHIA NA SÉRIE B Não é só dos outros grandes que Vasco e Fluminense têm torcida para não cair. O Duque de Caxias, que disputa o octogonal final da Série C, poderia se interessar pelo rebaixamento da dupla e sonhar com possíveis encontros na Segundona de 2009. No entanto, o clube da Baixada Fluminense prefere estar sozinho caso consiga a promoção. “Se a gente sobe e eles ficam na primeira divisão, seremos os únicos do estado na Série B. Teríamos muita mídia espontânea. Se eles caírem, vai ser tudo em cima deles”, comenta Luís Carlos Arêas, presidente do único time fluminense no octogonal final da Série C. A expectativa do dirigente é ganhar mais torcida, já que o estado do Rio não tem times na Segundona. “Se nos destacamos, seremos o segundo time de todo carioca”, projeta.

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Na Série C, a média de público do time duquecaxiense é de 1.641 pagantes por jogo. Para piorar, o estádio Romário de Souza Faria, o Marrentão, não foi liberado pela CBF para receber os jogos do octogonal final. O time manda seus jogos em Volta Redonda e o público nas duas partidas em casa nesta fase não chegou a 100 pagantes. “Tenho certeza que, se fôssemos o Rio na Série B, receberíamos muito mais apoio. Hoje a gente depende de patrocínios de empresários da cidade e subindo, poderíamos tentar apoio de fora da cidade também”, conclui Arêas. Uma opinião que não tem eco nos torcedores da Série C. Basta ver a foto acima, com a torcida do Rio Branco-AC ansiosa pela possibilidade de encontrar o Vasco na Segundona.

nos anos seguintes, é dessa época as primeiras revelações do centro de treinamento das categorias de base, em Xerém. Mesmo assim, a direção tricolor reconhece a dificuldade que o clube passaria na segunda divisão. “Para o Fluminense, seria terrível. Na Série B você perde metade da cota do Clube dos 13”, lembra Tote Meneses, vice-presidente de futebol do Tricolor. O temor não mora apenas na queda do faturamento com direitos de transmissão. A situação econômica do clube é frágil, só contornada pelo fato de a Unimed (patrocinador das camisas tricolores) bancar contratações para o time. Se a empresa não mantiver a parceria na segunda divisão ou resolver reduzir os investimentos em reforços devido à redução na exposição da marca, as dificuldades financeiras e institucionais seriam expostas nas Laranjeiras. No caso do Vasco, um rebaixamento poderia minar a tentativa de reorganização do clube. Uma péssima campanha na Série A tiraria a credibilidade da nova diretoria, comandada por Roberto Dinamite. Isso já se vê apenas com a ameaça de queda. Na derrota para o Figueirense, vários vascaínos xingaram o atual presidente, dando espaço para Eurico Miranda se oferecer para dirigir o departamento de futebol ainda em 2008. Por isso, em São Januário, nem se fala numa eventual passagem pela Segundona. “O Vasco não estará na Série B em 2009”, diz, cortante, Roberto Dinamite. Sinal de que a crise de Vasco e Fluminense já pode motivar projeções por parte de rivais e de dirigentes da Série B, mas os clubes preferem fugir disso e pensar em como sobreviver na reta final do Brasileirão. Resta saber se Renê Simões, com seu discurso motivacional no Flu, e Renato Gaúcho, de volta a São Januário, têm a resposta correta para as dúvidas tricolores e cruzmaltinas... e rubro-negras e botafoguenses. Saiba mais sobre futebol brasileiro em www.trivela.com/brasil

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MARACANAZO

por Mauro Cezar Pereira

Não basta seguir o que acontece em nosso quintal O CAMPEONATO BRASILEIRO TEM SIDO BEM LEGAL.

HAT TRICK

Disputado, equilibrado, a ponto de cinco equipes reunirem chances bem razoáveis de título, pelo menos quando estávamos a nove rodadas do final. É bom para o fortalecimento da fórmula, bom para o futebol por aqui. Mas tenhamos calma, o equilíbrio não significa que os times nacionais tenham se tornado potências mundiais. E o alerta se faz necessário diante da real possibilidade de “pachecos”, “brasileirinhos”, desmiolados ou desinformados saírem às ruas proclamando a “superioridade” das equipes brasileiras. A valorização do torneio muitas vezes estimula equívocos desse tipo. Esse não é um campeonato “nivelado por baixo”. Claro que tecnicamente não existem no Brasil grandes talentos em quantidade como nos torneios europeus. Questão econômica, óbvio. Mas o campeonato é bacana, tem bons jogadores, times bem montados, há virtudes. Por isso, um tresloucado verde-e-amarelo pode bradar que o Milan não chegaria à Libertadores se disputasse o Brasileirão. Talvez considere Gattuso – melhor desarme da última Copa, da qual foi campeão – inferior ao palmeirense Pierre. Provavelmente diria esse “especialista” que Maldini não é nada perto de Fábio Luciano. Ou que Seedorf é um Jorge Wagner mais velho e piorado. No momento em que o campeonato disputado aqui ganha destaque e empolga, ter os pés

Marcelinho Paraíba veio do pequeno Wolfsburg para o Flamengo e virou, de imediato, destaque rubro-negro no Brasileirão. Na Alemanha seu futebol se encaixava apenas num pequeno clube, mas no Brasil ainda rende status de ídolo da maior torcida do país.

no chão é obrigação da imprensa. Jornalista esportivo que não acompanha a bola que rola pelo planeta com a devida atenção restringe o próprio mercado de trabalho. E se revela incapaz de atender à crescente demanda pelo futebol internacional. Não dá mais para “entender” apenas do que acontece em nosso quintal, exceto para quem já planeja a aposentadoria. O propósito dessa coluna é claro, específico, direto: contrapor aqueles que defendem essa idéia de superioridade dos times brasileiros sobre os mais ricos do mundo. Um dos argumentos são as conquistas dos mundiais de 2005 e 2006 por São Paulo e Internacional. Esquecem que ambos fizeram os “jogos de suas vidas”, recuados, entrincheirados, retrancados para segurar vitórias arrancadas a fórceps. Justa e heroicamente levantaram a taça. Mas a inferioridade técnica era evidente, tanto no duelo dos sãopaulinos com o Liverpool como no confronto dos colorados ante o Barcelona. No ano passado, o Boca Juniors, que aniquilara seus adversários na Libertadores, imaginou ser possível encarar o Milan de forma mais franca, aberta. Deveria ter seguido a receita brasileira dos torneios anteriores. O Milan não tomou conhecimento do time argentino. Não existe mágica. Por isso, que tal ver alguns jogos (jogos, no plural, inteiros, não alguns lances) internacionais com um pouquinho de atenção?

Ibrahimovic e Adriano. Que estrago faria a dupla de ataque da Internazionale no campeonato daqui? Mesmo recuperando a forma física e técnica, o brasileiro se destacou no São Paulo durante o primeiro semestre. Imagine agora e com o sueco ao lado...

Essien ou Toró? David Villa ou Perea? Totti ou Wagner? Cannavaro ou André Dias? Gago ou Martinez? Gerrard ou Diego Souza? Lampard ou Lúcio Flávio? Scholes ou Tcheco? Fernando Torres ou Guilherme? Fábregas ou Íbson? John Terry ou Pereira? Tevez ou Vandinho? Precisa perguntar mais?

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por Dassler Marques e Luciana Zambuzi

Rejane Araújo/O Tempo/Futura Press

BRASIL

ÁGUA NO

chope Ambições exageradas levam clubes a decepcionar seus torcedores nos momentos que deveriam ser de maior alegria: a comemoração do centenário parte alvinegra do Mineirão calou-se com os gols de Jonathan e Guilherme. Era a quarta derrota consecutiva do Atlético-MG para o Cruzeiro. O resultado deu a viceliderança do Brasileiro aos celestes e manteve o Galo no meio da tabela, visto pelos próprios atleticanos como algo positivo pela realidade do clube. Muito pouco para quem, no começo da temporada, pensou em conquistar em campo alguma glória digna de quem completou seu 100º aniversário. O centenário foi a senha para um dos momentos mais turbulentos da história do Atlético. No início do ano, o clube soube aproveitar a data para aumentar as negociações com os patrocinadores. Em pouco tempo, porém, algumas promessas não cumpridas

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pela diretoria já indicavam que não existia motivo para euforia. Ao contrário do argentino Marcelo Gallardo ou de Ricardinho, foram contratados os veteranos Petkovic e Marques, o ídolo em fim de carreira. A partir daí, foi uma seqüência de erros. O time não se encontrou e jamais criou uma empatia com seu torcedor. Na tentativa de mudar o rumo, o clube contratou jogadores de valor duvidoso, como o zagueiro paraguaio Martinez, o lateral uruguaio Viana e o atacante boliviano Castillo. Não demorou para a falta de planejamento mostrar sua face em campo. O Atlético perdeu o título mineiro para o Cruzeiro, com uma derrota por 5 a 0 no jogo de ida. Na Copa do Brasil e na Copa Sul-Americana, o Galo não resistiu ao Botafogo.

Politicamente, a situação não foi melhor. O presidente Ziza Valadares acabou com os privilégios às torcidas organizadas, que não gostaram e passaram a boicotar o clube. Depois de ameaças de morte, o dirigente renunciou ao cargo, deixando um vácuo de poder. O próprio Atlético reconhece que sobraram equívocos no modo de transformar o 100º aniversário em resultados. “É normal querer festa e realmente o centenário é uma data importante que deve ser comemorada. Mas os clubes brasileiros ainda sofrem com a falta de estrutura financeira e, principalmente, de planejamento”, comenta Alexandre Faria, diretor de futebol do Galo. Dias depois de conversar com a Trivela, ele próprio seria tragado pela crise. Depois de desentendimento com Afonso Paulino,

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Atleticanos lamentam outro ano terrível, desta vez no centenário

ex-presidente e também diretor de futebol atleticano, foi demitido sob acusação de agenciar a compra e venda de jogadores das categorias de base.

Velha história

Ano Título Série A Presidente

1995

2002

2003

2004

2008

Nenhum

Estadual do Rio

Nenhum

Nenhum

Nenhum

21º

20º

20º

12º*

Kleber Leite

David Fishel

Flávio Obino

Bebeto de Freitas

Ziza Valadares

Romário, Beto, Roni e Carlos Alberto

Christian, Gilberto, Cláudio Pitbull, Caio, Tinga, Anderson Lima e Rodrigo Fabri

Valdo, Luizão, Fernando, Caio, Sandro e Scheidt

Petkovic, Marques e Lenílson

Romário, Sávio, Principais Edmundo, Branco, Djair, jogadores Ronaldão, Válber, Luis Carlos Winck

Erros

Apostou na manutenção Caiu nas semifinais da Mesmo sem encantar, Muitas contratações Libertadores e azedou o de veteranos e não evoluiu o time surpreendeu estelares, ambiente em relação à Série B. com uma boa geração ambiente com Tite. Já vinha tumultuado e de euforia e com os cofres detonados Escapou do rebaixamento supervalorização da derrota de garotos e chegou às no Brasileirão na última pela ISL e perdeu a mão semifinais do Brasileirão na final do estadual. rodada, com um empate na fórmula de fazer pelo segundo ano seguido. O clube terminou a com o vice-campeão boas campanhas com Ainda venceu um temporada com o radialista Atlético-PR em Curitiba elencos médios. Quase foi estadual esvaziado, Washington Rodrigues, o rebaixado no Brasileirão apelidado de “Caixão” Apolinho, de técnico

Escolheu Geninho, técnico odiado pelos torcedores, apostou em veteranos de valor duvidoso, foi goleado pelo rival na final do estadual, brigou com as organizadas e entrou em caos político que deixou o clube sem comando

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*Até o fechamento da edição

O enredo atleticano não é inédito no Brasil. Pelo contrário, é quase uma regra: time faz 100 anos, promete mundos e fundos e acaba decepcionando seu torcedor. Uma tendência que ficou escancarada logo no primeiro clube a comemorar seu centenário com pompa. Em 1995, o Flamengo lançou mão de elaborada engenharia financeira para fazer Romário trocar Barcelona pela Gávea, se juntando a Sávio e Edmundo no que seria, segundo dirigentes rubro-negros, o melhor ataque do mundo. Para quem participou do processo, ficou evidente qual foi o erro. “O centenário é importante e motivo para festa, mas, no Brasil, se cultiva a cultura de que é preciso ganhar tudo. E futebol é mais que um monte de craques. Faltou amizade naquela época. Não era um grupo”, recorda-se Sávio, hoje no Anorthosis Famagusta, do Chipre.

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Roberto Vinícius/Futura Press

Coxa e Inter se preparam para evitar tradicionais fiascos dos 100 anos

O máximo que o Rubro-Negro conquistou foi a Taça Guanabara, em um ano que teve como marco a derrota para o Fluminense na final do Estadual do Rio com um gol de barriga de Renato Gaúcho. Essas mesmas políticas se repetiram com outros grandes clubes. O Grêmio começou o ano sonhando com o título mundial, mas caiu nas semifinais da Libertadores, entrou em crise e, depois de trocar várias vezes de técnico – apostando em nomes como Darío Pereyra e Nestor Simionatto –, só escapou do rebaixamento nas rodadas finais, quando Adílson Batista assumiu a equipe. O Botafogo não tinha grandes pretensões quando fez 100 anos. Consciente das limitações financeiras, se contentou apenas em evitar um retorno à Série B. Ainda

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assim, a campanha teve requintes de crueldade com o torcedor. O time venceu depois de 12 jogos, ficou quase todo o torneio na zona de rebaixamento e escapou apenas na última rodada, com um inesperado empate por 1 a 1 com o vice-campeão Atlético-PR na Arena da Baixada. Um caso raro de centenário com resultados aceitáveis foi o Fluminense. O título do “Caixão” (apelido do Estadual do Rio em um ano de regulamento esdrúxulo e falta de interesse dos grandes devido ao Rio-São Paulo) veio com polêmica na semifinal contra o Bangu. Ainda assim, chegar às semifinais do Brasileirão serviu para dar alguma alegria aos tricolores. Com tantos exemplos de fracassos, o caso isolado de centenário realmente festivo foi o do Vasco. Os

OS PRÓXIMOS DA FILA Em 2009, Internacional e Coritiba irão comemorar três dígitos de vida pela primeira vez. Enquanto o Coxa mantém os pés no chão, pretende renovar com Dorival Júnior e boa parte do elenco que faz uma boa temporada, o Inter tem metas ambiciosas. Já montou um elenco recheado de bons jogadores e sonha alto, ainda que deva completar o centenário fora da Libertadores. “Mais uma vez, pensaremos em buscar todos os títulos possíveis, fazer uma pré-temporada forte e disputar algum torneio no exterior, como foi a Dubai Cup. É claro que a pressão neste ano será maior, mas estamos acostumados com isso, pois somos grandes”, aponta Giovanni Luigi, vice-presidente de futebol do clube. Andrés D’Alessandro, contratado por quantia astronômica para os padrões brasileiros, chegou ao Beira Rio com pinta de astro e presente do centenário para os torcedores. Em troca, o Inter pretende chegar à marca de 100 mil sócio-torcedores em 2009. No Paraná, o discurso é mais tímido. “É preciso tomar cuidado com a euforia, porque não existe a obrigação de ser campeão. É um ano como qualquer outro, não pode mudar o projeto do clube”, alerta Paulo Jamelli, ex-jogador de São Paulo, hoje dirigente do Coritiba. Resta saber se, na virada do ano, a ambição do Internacional ou o comedimento do Coritiba não perderão espaço para a tentação de fazer populismo. Exemplos positivos e negativos para pautar as atitudes dos dois clubes do sul não faltam. [DM]

milhões da parceria com o Nations Bank permitiram ao clube investir pesado para montar um time forte em 1998. Com isso, os cruzmaltinos chegaram a um inédito título da Libertadores. “Tivemos também um pouco de sorte, mas nos preparamos bem para aquele ano”, lembra Antônio Soares Calçada, então presidente cruzmaltino. É verdade que, em longo prazo, as extravagâncias realizadas no período de bonança levaram o clube de São Januário ao endividamento atual. De qualquer modo, o Vasco permanece como o único grande do Brasil a escapar de um centenário de caos. Um grupo ao qual o Atlético-MG se uniu em 2008. Saiba mais sobre futebol brasileiro em www.trivela.com/brasil

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BAHIA

Eduardo Martins/A Tarde/Futura Press

por Dassler Marques

Sem a Fonte Nova e com o atraso das obras em Pituaçu, Bahia tem dificuldades caseiras para lutar pelo retorno à elite nacional

Minha casa,, sua casa Bahia retornou à Série B com números impressionantes. A média de público na terceira divisão foi de 40.410 pagantes, a maior do Brasil em 2007. Sinal de que a Segundona teria multidões no estádio, não fosse por uma tragédia: a morte de sete pessoas após o desabamento de parte da arquibancada da Fonte Nova ao final do jogo da promoção, contra o Vila Nova. Um desastre que até hoje não foi contornado pelo Tricolor. Desde aquele 25 de novembro, o Bahia ainda não tem uma casa. A solução tem sido mandar os jogos em Feira de Santana, a 115 km de Salvador. A delegação tricolor sofre o desgaste de percorrer essa distância horas antes das partidas. Além disso, vê seu público minguar: a média caiu para 4.122 (até a 32ª rodada), cerca de 10% do ano passado. Os reflexos podem ser vistos em campo: o time só venceu seis de 16 jogos como mandante até a 32º rodada. “Por não jogar realmente em casa, tínhamos arrecadações mais baixas e mais dificuldades para invetir em no elenco. As coisas estão difíceis”, comenta Arturzinho, ex-técnico do Tricolor baiano.

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O cenário não é dos melhores, elhores, mas é o osição. No camque o Bahia tem à disposição. ube mandou alpeonato estadual, o clube gumas partidas em Camaçari, a 42 km da capital baiana. O estádio Armando Oliveira, porém, não tem a capacidade mínima exigida para a Série B. Para o torneio nacional, a idéia era usar o Pituaçu, segundo estádio de

CADÊ A TORCIDA? Sem estádio, a média de público do Bahia no Brasileirão chega a patamar mais baixo nos últimos cinco anos 40.410*

32.673

23.615* 15.713 4.122** 2004

2005

2006

2007

* Em 2006 e 2007, o Bahia disputou a Série C ** Até a 32ª rodada

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Salvador, que, como a Fonte Nova, pertence ao governo estadual e estava em péssimo estado de conservação. No entanto, a reforma e a ampliação do Pituaçu não ficaram prontas em julho, prazo prometido. Depois de vários adiamentos, a última previsão de entrega das obras era novembro, mas especulase que nem ocorra a tempo de o estádio ser usado nesta temporada. Outra possibilidade seria atuar no Barradão, casa do Vitória, com quem não houve acordo. Imaginando que as obras no Pituaçu terminariam no meio do ano, a direção tricolor deu pouca atenção aos rubro-negros, que ofereceram seu estádio ao rival no auge da tragédia na Fonte Nova. Hoje, é o Vitória que não aceita conversar, ainda que o governo tenha tentado estabelecer uma negociação. Em uma mistura de descuido do poder público com seu patrimônio, não cumprimento de promessas e falta de diálogo entre dirigentes, o Bahia sofre na Série B. A campanha nem é das piores, mas o torcedor tricolor teria condições de ver seu time em melhor situação na tabela. E ver isso de perto. Outubro de 2008

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ESPECIAL » CORINTHIANS

Da escuridão,

FEZ-SE A LUZ Imagens inéditas e depoimento exclusivo retratam o ano em que o Corinthians redescobriu sua identidade para sair do ponto mais baixo de sua história fotos Daniel Kfouri entrevista e edição Gustavo Hofman

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ez de maio de 2008, estréia do Corinthians na Série B. Desde a última rodada do Brasileirão do ano anterior se esperava por esse dia. E, como em qualquer grande momento da história do clube alvinegro, ele veio com sofrimento. Com um minuto de jogo, o CRB fez 1 a 0 no Pacaembu. Torcida perplexa, jogadores assustados. Lance seguinte. Cobrança de escanteio para o Corinthians, a bola é rebatida e sobra para William. Com um leve toque, ele levanta para o centro da área, onde a bola encontra a cabeça de Herrera. Em apenas dois minutos de jogo, muito de 2008 pôde ser resumido para o Corinthians. Desde os tempos de Gamarra e Rincón, o Timão não tinha um capitão com o respeito da torcida e dos atletas como William. Alguém que, mesmo longe do holofotes, servisse de referência nos momentos complicados. Por isso, ninguém melhor que esse mineiro de 32 anos e fala mansa e serena, para expor como o time do Corinthians viu sua própria passagem pela segunda divisão. Um ano que pode até parecer festivo pela facilidade com que veio a promoção, mas que os próprios jogadores sabem: foi apenas o alívio de cumprir com a obrigação. Novembro de 2008

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MANO MENEZES Meu primeiro contato com o Mano Menezes não foi pessoal. Eu estava assistindo ao jogo entre Grêmio e Náutico, a famosa Batalha dos Aflitos. Eu era um simples telespectador e passei a admirá-lo quando começou toda aquela confusão, com ele mantendo a serenidade diante de seus jogadores indo para cima do árbitro, indignados. Sinceramente, nunca tinha ouvido falar nele. Isso era o final de 2005, eu jogava no Ipatinga. Meses depois, me transferi para o Grêmio. Tive muita sorte de tê-lo encontrado no meu caminho. Tanto que ele foi fundamental para que eu viesse para o Corinthians. O Mano sugeriu minha contratação, a diretoria concordou, havia a dívida do Grêmio com o Corinthians, era a chance de jogar em uma segunda equipe grande... Além disso, eu sabia que, aqui, seria reconhecido nacionalmente, mesmo estando na segunda divisão. No Grêmio, por mais que tenha sido vice da Libertadores, não houve a exposição que o Corinthians teve na Série B. Isso é fato.

TIME Outra coisa que pesou na minha vinda para cá, foi a contratação do Herrera. Lógico que eu estava analisando o que acontecia com o Grêmio, que estava desmontando a equipe e não tinha uma perspectiva muito boa. Felizmente conseguiu reunir um grupo forte e está bem no campeonato, mas, naquele momento, não era o que se esperava. Já no Corinthians, via chegar cada vez um novo reforço. E apareceu o Herrera. Eu sou suspeito para falar dele, porque é meu amigo. Mas já imaginei: “bom, vão montar um grupo forte mesmo, porque ele vai cair nas graças da torcida”. No Grêmio não foi diferente, principalmente pela forma que ele se entrega em campo. Os outros reforços, como o Morais, o Douglas e tantos outros, também entraram bem e foram cruciais para o sucesso do time. Esse pessoal se juntou aos bons jogadores que o Corinthians já tinha no elenco. O Dentinho, por exemplo, conseguiu se firmar na equipe. O mesmo vale para o Lulinha. Até acho que parte da torcida exagerou um pouco. Por tudo o que já fez nas categorias de base e em seleção, ele foi lançado como o salvador da pátria, como alguém que iria arrebentar logo de cara. Isso não aconteceu, mas ele tem ajudado demais a equipe taticamente. O importante é que o grupo não se desestabilizou, mesmo quando o Felipe perdeu a posição para o Júlio César. Nenhum jogador gosta de sair do time. Por isso, o Felipe ficou chateado quando perdeu o lugar e o Julio também ficou quando voltou à reserva. Mas não surgiu nenhum problema maior. Um jogador saiu, outro entrou.

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Herrera, nas palavras do próprio capitão, foi decisivo para a vinda dele para o Corinthians. Já Douglas trouxe qualidade ao meiocampo e rapidamente se adaptou ao grupo. Ao atacante Dentinho, William reserva apenas elogios, assim como para o goleiro Felipe, que soube superar o momento da reserva para Julio César. Tudo sob o comando estratégico de Mano Menezes

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MOMENTOS CRÍTICOS

Torcida do Corinthians esteve presente ao lado do time em todos os momentos, desde os mais decisivos, como no empate com o Avaí, como nas derrotas para Vila Nova e Bahia. Para 2009, William já projeta o mesmo empenho e dedicação desse grupo, que ele mesmo sabe que sofrerá mudanças

A compreensão do momento que o Corinthians viveu nessa temporada fez que os torcedores nos apoiassem o tempo todo. Logo na estréia já foi assim. E tomamos um gol logo no primeiro minuto de Série B. O pior é que a gente sabia que o CRB tinha várias jogadas de bola parada. Realmente foi ruim, mas a gente ainda estava vivendo um bom momento na Copa do Brasil e estávamos muito confiantes. Conseguimos empatar dois minutos depois e nem deu tempo de sentir o baque, ou ficar pensando... Foi assim também com outro momento difícil, que foi a derrota na Copa do Brasil. Foi uma perda dolorosa, mas a gente deu “sorte”, porque foi em uma quarta-feira e já tivemos um jogo no sábado com bom público. Então, não ficamos ruminando muito a derrota. É claro que nós jogadores vamos levar essa dor para o resto da vida, porque sempre lembramos aquele título de que estivemos perto e não conquistamos. De qualquer modo, tivemos essa partida contra o Brasiliense pouco depois de perder do Sport e o Pacaembu já tinha bom público. O torcedor nos incentivou, aplaudiu a equipe e a gente conseguiu vencer. A perda acabou não sendo tão dolorida, pelo menos naquele instante. As vitórias na Série B fizeram com que fôssemos deixando de lado e virando essa página o mais rápido possível. Depois disso, teve outro momento chato que foi a perda da invencibilidade em casa para o Bahia. Foi ruim pela forma como aconteceu. Em nenhum momento nos colocamos como imbatíveis. Sabíamos que em um dia não jogaríamos bem e acabaríamos perdendo. Mas esse foi um dos jogos em que mais criamos oportunidades. Ficava a sensação de “ah, vamos empatar” e a bola passava perto, batia na trave.

VOLTA À ELITE Mesmo com a perda da Copa do Brasil e essa derrota para o Bahia, o momento mais crítico foi o jogo contra o Avaí no primeiro turno. Vínhamos de derrota para o Vila Nova, estávamos somente dois pontos à frente deles e o jogo era em Florianópolis. Internamente, o time sabia tudo que iriam falar se perdêssemos a liderança, mesmo estando ainda entre os quatro primeiros. Por isso, aquele empate foi o início da recuperação. Dali em diante, conseguimos novamente a seqüência de seis vitórias e disparamos na frente. Uma das dificuldades, aí, passou a ser conviver com a pressão da imprensa. Procuramos não dar muito espaço para o oba-oba, porque sabemos que uma parte da mídia vive de notícias bombásticas ou de algum fato que dê ibope. Quando saiu uma coisinha ou outra, foi filtrado tudo que chegava para nós para que isso não interferisse dentro de campo. Com a promoção assegurada, não dá para falar que foi uma grande alegria. Todos os jogadores que vieram para cá, desde a apresentação, sabiam que tinham a obrigação de subir. Então, ficou mais a sensação de ter cumprido um dever. Novembro de 2008

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Blatter, ao escolher o Brasil, já devia saber de tudo que estava por vir

eu fiscalizo a

Copa 2014

por Gustavo Hofman Aos poucos, o maior temor dos opositores a uma Copa do Mundo no Brasil vai ganhando forma e nomes. Após um ano da escolha do país como sede do torneio, o esporte não foi o centro das atenções nesse período. A política ficou em primeiro plano, com Ricardo Teixeira usando seu papel de “Poderoso Chefão” do futebol brasileiro para deixar o Mundial de 2014 à sua imagem e semelhança. A escolha oficial do Brasil, candidato único após a desistência da Colômbia, como país-sede da Copa do Mundo de 2014, aconteceu em 30 de outubro de 2007. O anúncio completa seu primeiro aniversário sem que o comitê de organização apresentassem algum plano concreto para o evento. Para piorar, esse atraso já fez o país perder o momento mais favorável a captar recursos. O primeiro sinal de atraso é que nem o número de cidades-sede é conhecido. Há um ano, a promessa era de ter essa definição no final de 2008, mas o prazo foi mudado para março de 2009. Um dos motivos é que o comitê de organização tem pressionado a Fifa para aceitar que o torneio seja realizado em 12 cidades, duas a mais que o exigido pela entidade. Enquanto não se chega a uma conclusão, Teixeira ganha tempo para barganhar politicamente. A “bola da vez” é Curitiba. A capital paranaense seria, naturalmente, uma das mais fortes candidatas a cidade-sede, dado seu potencial econômico e desenvolvimento social. No entanto, Roberto Requião, governador do Paraná, e Álvaro Dias, senador do Estado, possuem algumas rusgas com o presidente da CBF. Assim, Curitiba corre o risco de ser preterida da escolha para dar lugar a Cuiabá, capital do Mato Grosso do

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governador Blairo Maggi, forte aliado de Teixeira. Até os amistosos da Seleção têm sido usados. Em 19 de novembro, Brasil e Portugal inaugurarão o novo estádio do Gama. Com isso, a CBF atende a pedido do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda – ex-senador, cassado pela violação do painel eletrônico do Senado. Além disso, estar no centro do poder político nacional facilita as negociações.

Precariedade na infra-estrutura Enquanto não se perde tempo para marcar um amistoso, o cronograma de obras para a Copa não saiu do lugar. Faltam seis anos, o que pode ser pouco

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Getty Images/AFP

LU PA

tempo se considerado o prazo normal para a entrega de grandes obras. “Estamos atrasados, muitas decisões já poderiam ter sido tomadas. Pelo jeito, tudo vai ficar para o final a toque de caixa. Três anos é o limite”, alerta Eduardo de Castro Mello, arquiteto especializado em arenas esportiva e responsável pelo projeto de modernização do estádio Mané Garrincha, em Brasília, para o Mundial. Castro Mello deixa claro por que é importante definir logo as cidades-sede e quais receberão jogo de abertura e final. Seu projeto prevê um estádio com capacidade para 76 mil torcedores, o que colocaria a capital federal na briga pela abertura do torneio. Se isso não acontecer, muita coisa terá de ser refeita. “Se Brasília for preterida por São Paulo, não tem sentido fazer um estádio para 70 mil pessoas. A arena teria de ser redimensionada, de acordo com a realidade local”. O arquiteto evita entrar em polêmica sobre o uso político do Mundial, mas não nega a existência dele. “Todas as cidades querem levar a Copa e o Ricardo Teixeira não pode assumir nada, porque quem define é a Fifa, e teoricamente não há um critério político na escolha, embora achemos que deve haver. Imagino que a Fifa vai definir dez sedes mesmo, 12 é para agradar um ou outro estado. Tecnicamente, poderiam ser até oito”, comenta. Enquanto o país não sabe quantas cidades terão jogos do Mundial, o melhor momento para iniciar novos projetos foi perdido. Com a crise econômica internacional, o crédito escasseou e obter recursos para investimentos de longo prazo (como os de infraestrutura e arenas esportivas) se tornou uma tarefa hercúlea. “Questões que eram só políticas, agora são econômicas. Os investidores privados estão priorizando investimentos e o esporte não é um bom setor para investir. A crise também vai ter reflexo nos investimentos públicos”, argumenta o deputado federal Sílvio Torres (PSDB-SP), integrante da oposição à CBF no Congresso e membro da subcomissão da Copa 2014 na Câmara. Com tudo o que (não) foi feito, o Brasil não tem motivo para fazer festa pelo primeiro ano da escolha da sede da Copa do Mundo.

Nova secretaria

Neta de peixe

Mais um patrocinador

O Poder Executivo encaminhou um projeto de lei (3620/08) que pede a criação da Secretaria Nacional de Futebol e da Defesa dos Direitos do Torcedor. A nova secretaria teria como principais tarefas planejar, desenvolver, acompanhar e monitorar as atividades no âmbito do futebol, apoiando ações ligadas a eventos de grande porte.

A secretária administrativa do comitê de organização da Copa 2014 é Joana Havelange. Como o nome indica, é filha de Ricardo Teixeira e neta de João Havelange. Segundo a CBF, ela foi escolhida pela proximidade (óbvia) com o presidente da entidade, por falar quatro línguas e ser a diretora que mais conhece os representantes da Fifa.

Mesmo em época de crise mundial, a CBF anunciou o Banco Itaú como novo patrocinador da Seleção. O acordo terá duração de seis anos, ou seja, visa a Copa de 2014, e abrange a equipe principal e as categorias de base. O valor, não declarado oficialmente, gira em torno de US$ 90 milhões. Os demais patrocinadores da Seleção são Nike, Ambev, Vivo e TAM.

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TRIVEL A ES

NA CARA

Pita:

“Quando vejo o Arnaldo, desligo a TV”

O ex-meia de São Paulo e Santos critica duramente o “moderno” 3-5-2 e não poupa o ex-árbitro Arnaldo Cezar Coelho pela final de 1983 por Ednílson Valia O meia-armador está em extinção. Quem afirma é um dos ícones da camisa 10 na década de 80, campeão no Santos e São Paulo, e que agora, aos 50 anos, virou um crítico do moderno 3-5-2. Edivaldo Oliveira Chaves, mais conhecido como Pita, foi ídolo por onde passou. O ex-meia, hoje, não pode nem ver os alas, que se lembra do fim dos meias-armadores, assim como em um rápido bate-papo, não pode nem ouvir o nome do ex-árbitro Arnaldo César Coelho. Você pensava no jogo, era o antigo meia-armador. Por que esta posição se tornou tão rara nos gramados mundiais? Viajo muito pelo Brasil e trabalho com categorias de base há 12 anos. Noto que cada vez mais que os treina-

dores estão utilizando o 3-5-2 e isso está acabando com as posições de ofício, como os meia-armadores e os laterais. Invertemos os valores. Na Europa a maioria das seleções e clubes utiliza o 4-4-2, e aqui no Brasil grande parte opta pelo 3-5-2. Dos novos valores, destaco o Sérgio Motta, do São Paulo. Por que você é um crítico do 3-5-2? O 3-5-2 no Brasil é complicado, porque aqui temos grandes meias. O Muricy é um grande técnico, mas o São Paulo tem condições de jogar no 4-4-2, pela sua qualidade técnica. O futebol fica feio quando é jogado no 3-5-2. Ele fica truncado e sem os jogadores que pensam no jogo. As ações ficam robotizadas. Quem mais te agrada como meia-armador? O Ricardinho (ex-Corinthians, São Paulo e Santos).

OS SÓCIOS-FUNDADORES

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R. República do Iraque, 1.326 – Campo Belo – SP 3ª a 6ª das 17h às 24h; sáb. das 12h30 às 22h; dom e feriados das 12h30 às 22h Tel. (11) 5054-0719

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Memorial

Anhanguera

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der jogar hoje. É um absurdo, no momento atual do futebol jogaríamos com mais facilidade e com a mesma excelência.

José Luz Bittar/Gazeta Press

Qual time você acha que será campeão brasileiro neste ano? O Campeonato Brasileiro está muito equilibrado. Entre os cinco primeiros colocados todos têm chance de alcançar o título. Hoje, a equipe que mais me agrada é o Palmeiras. Tem um futebol mais alegre e vistoso. O Luxemburgo trabalha bem o elenco de jogadores.

Ele é um falso lento, pensa no jogo. Eu acho que eu era mais rápido que o Ricardinho. Jogadores deste porte não levam a bola até o pé, fazem a bola correr. É uma categoria em extinção. Você ficava magoado com as críticas da imprensa que o denominavam como um meia lento? Falso lento. Não conseguiam me marcar! O Ricardinho, por exemplo, é mais lento do que eu. Falavam isso também do Ademir da Guia e de outros jogadores. Isso me lembra aquela história de que os jogadores do passado não iam po-

Algum outro time? O São Paulo joga bonito, mas utiliza o 3-5-2, que eu não gosto muito. Como eu disse antes, o Muricy Ramalho é um grande técnico, mas esse esquema praticamente anula os meias-armadores. No entanto tenho que ressaltar que o São Paulo é uma equipe que cresce muito na reta final e pode chegar ao título.

O ex-técnico do Santos, Chico Formiga, diz que toda vez que vê na televisão os comentários do ex-árbitro Arnaldo César Coelho desliga a TV. Tudo por causa da péssima arbitragem entre Flamengo e Santos, na final do Campeonato Brasileiro de 1983. Você, que fez parte daquele time santista, concorda? É só assistir o teipe da partida. O Marinho fez um pênalti em mim e ele (Arnaldo Cezar Coelho) não deu absolutamente nada. Claro que o Flamengo tinha uma grande equipe e poderia ser campeã contra o Santos, mas a arbitragem foi péssima e até parecia ser mal-intencionada. Penso igual ao Formiga. Quando vejo o Arnaldo Cezar Coelho fazendo comentários na televisão, desligo a TV. Não consigo ser hipócrita.

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ESPANHA

PORTA

entreaberta Decepções recentes levaram Barcelona e Real Madrid a se desfazer de jogadores brasileiros e a pensar duas vezes antes de contratar outro

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á três anos, Barcelona e Real Madrid pareciam clubes brasileiros. Os catalães foram bicampeões espanhóis e campeões europeus com Ronaldinho, Belletti, Sylvinho, Edmílson e Thiago Motta, além de Deco, paulista naturalizado português. Os ma-

DE SAÍDA

drilenos tentavam concorrer com Roberto Carlos, Ronaldo, Julio Baptista, Robinho e Cicinho. Dava quase para formar uma equipe com os brasileiros. Hoje, os dois maiores times da Espanha, juntos, contam com apenas três verde-amarelos, mais um alagoano naturalizado português. Não se trata apenas de coincidência. O interesse de merengues e blaugranas por jogadores do Brasil realmente diminuiu.

Veja os motivos que levaram a legião brasileira de Barcelona e Real Madrid a se desfazer

Cicinho

Julio Baptista

Roberto Carlos

Robinho

Ronaldo

Preferiu trocar o Real Madrid pela Roma ao saber que, depois da chegada do técnico Bernd Schuster, seria reserva de Sergio Ramos na lateral direita

Cansado de disputar posição com Guti, queridinho da imprensa de Madri, foi para a Roma em busca de mais oportunidades.

Deixou Chamartín em alta. Foi um dos maiores jogadores da história do clube e saiu porque sentiu que já era hora de trocar de ares. Está no Fenerbahçe.

Ficou conhecido como o “rei das camisinhas”, em alusão à festa depois do Brasil 5x0 Equador pelas Eliminatórias, quando pediu mais de 40 preservativos. Forçou sua saída para ir ao Chelsea, mas foi parar no Manchester City.

Noitadas e falta de comprometimento nos treinamentos fizeram o jogador perder espaço ser e vendido ao Milan. Hoje, está sem clube e tenta recuperar a forma no Flamengo.

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por Gustavo Villani

Pierre-Philippe Marcou/AFP

Apesar de bons momentos, Robinho e Ronaldo deixaram o Real Madrid em baixa

Nesta temporada, o único brasileiro que aportou em uma das potências espanholas foi Daniel Alves, que custou € 30 milhões ao Barcelona. Um gasto desse porte só se justificou porque o lateral baiano já estava consolidado na Europa. De resto, atletas verde-amarelos são vistos como investimentos de risco. Isso levou a diretoria do Real Madrid a trocar a legião de brasileiros pelos atletas holandeses. Hoje, são cinco: Van Nistelrooy, Robben, Sneijder, Van der Vaart e Drenthe, todos considerados jogadores bons e bem comportados. De brasileiros, apenas Marcelo e o naturalizado português Pepe. Na Catalunha, o Barcelona recorre à geração caseira e tem dez espanhóis, além de outros quatro europeus e apenas dois verde-amarelos, Daniel Alves e Sylvinho. A queda do número de brasileiros no principal eixo do futebol espanhol não apaga a importância dos que lá estiveram. Robinho, Ronaldo e Ronaldinho tiveram importância na história de Real Madrid e Barcelona. Por exemplo, só em 2003, 800 mil camisas do Fenômeno foram vendidas no mundo, gerando um faturamento de US$ 65 milhões de dólares aos merengues, US$ 21 milhões a

mais do que o clube gastou para tirálo da Internazionale. No entanto, os três deixaram a Espanha de modo polêmico, depois de vários problemas com seus clubes e acusações de exagerar na vida noturna. Não há uma resposta única para esse êxodo. De acordo com quem acompanha de perto a vida de Real e Barça, um dos problemas com os brasileiros seria a falta de integração com o resto do elenco. “À exceção de Roberto Carlos, que é uma grande figura e um mito da história do Real Madrid, os brasileiros costumam formar grupos, só andam entre eles”, diz Alberto Garcia Caridad, repórter da rádio “Marca”. O jornalista não é o único a apontar os brasileiros como criadores de “panelinhas”. Marco Ruiz, do diário “As”, conta que o técnico Vanderlei Luxemburgo “levava os jogadores brasileiros do Real Madrid para jantar, e isso pegava mal entre os atletas de outras nacionalidades”. Outro motivo para inibir a contratação de brasileiros seria a distância da terra natal. Nem tanto pela saudade de casa, mas sim, pelas longas e desgastantes viagens mensais para defender a Seleção. Jogadores europeus, por motivo óbvios, não passam por isso.

Belletti

Deco

Edmílson

Ronaldinho

Thiago Motta

Nunca foi um ídolo no Barcelona, apesar de ter feito o gol do título da Liga dos Campeões 2005/6. Sem tanto espaço, aceitou um convite do Chelsea e deixou a Catalunha sem muitos problemas.

Integrante da turma dos brasileiros no Barcelona, perdeu espaço depois da chegada de Yayá Touré na temporada passada. Teve um ano de brigas internas e contusões constantes. Ficou desvalorizado e transferiu-se para o Chelsea.

Criou polêmica ao criticar colegas durante o auge do racha do elenco barcelonista. Depois de uma temporada apagada e cheia de contusões, foi ao Villarreal.

Noitadas e festas em sua casa mancharam sua vitoriosa passagem pelo Barça. Para piorar, estava ligado a Sandro Rossell, opositor do presidente Joan Laporta, e foi queimado pela diretoria. Tenta recuperar o estrelato no Milan.

Era um dos reservas menos utilizados do elenco. Assim, acabou aceitando convite do Atlético de Madrid (onde também não teve oportunidades). Está no Genoa.

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Já adaptado ao futebol espanhol, Daniel Alves foi o único brasileiro contratado pelo Barcelona nesta temporada

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dores brasileiros que chegam com características defensivas são menos pomposos, e por isso não criam problemas. Pelo contrário, acrescentam bastante à equipe”, diz José Maria Rodriguez, chefe de redação do jornal “Marca”. A idéia não se aplica ao caso italiano de Kaká, que, em cinco anos de Milan, já fez história. Desde que chegou à Itália, o meia deixou evidente que pretendia assimilar os costumes locais o mais rápido possível. Outro ponto positivo para o melhor jogador do mundo em 2007 (segundo a Fifa) é seu comportamento fora de cam-

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Reserva na lateral, Marcelo é o único brasileiro do Real Madrid

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Número de brasileiros somando Real Madrid e Barcelona na temporada 2005/6

Getty Images/AFP

Adaptação Luis Fabiano, que joga a quarta temporada pelo Sevilla, é mais direto e diz que a baixa de brasileiros nos grandes clubes se deve ao fato do “Brasil não formar tantos bons jogadores como antes”. Além disso, ele usa seu próprio exemplo (veja entrevista na página 48) para ilustrar como os brasileiros demoram para se adaptar à Europa e esse tempo pode inviabilizar o investimento. É o caso de Robinho. Contratado por US$ 30 milhões, chegou à Espanha sob grande expectativa e não rendeu o esperado. “Os brasileiros são tão latinos quanto a gente, adoram festa, música e tempo bom. A diferença é que não precisamos atravessar o oceano para estarmos com nossa gente”, explica Ruiz, do “As”. Marcos Senna é exceção em meio à perda de credibilidade do jogador brasileiro na Espanha. Chegou ao Villareal há seis anos e logo procurou se adaptar às condições impostas pela cultura local. Naturalizado espanhol, o veterano é capitão do Villareal, titular da seleção e foi eleito o melhor volante da última Eurocopa. “Todos os joga-

po. Justamente o ponto fraco de Ronaldo, Ronaldinho e Robinho. Não à toa, o exsão-paulino segue como prioridade na lista de desejos da diretoria do Real Madrid. Não há uma regra de comportamento para explicar o sucesso de uns e o fracasso de outros. Afinal de contas Romário e Djalminha, jogadores problemáticos, jogaram na Espanha e fizeram bonito. Por outro lado, Rodrigo Fabri e Giovanni, bons profissionais, não encantaram o público. “De maneira geral os brasileiros são menos profissionais, porém, são mais técnicos. E a verdade é que gols e títulos se ganham com esse diferencial técnico dentro de campo”, diz Rodríguez. Somando todos os fatores, é difícil justificar a contratação de brasileiros por parte de Real Madrid e Barcelona. A quantidade de craques verde-amarelos não é das maiores, alguns terão problemas de adaptação e as experiências recentes tiveram momentos brilhantes, mas terminaram de modo traumático. Esse último fator não foi vivido por ingleses e italianos, que continuam apostando em brasileiros. Na Espanha, o mercado não está fechado, mas a porta não está escancarada como antes.

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MERCADO

O que a

? Rodrigo Coca/Futura Press

Europa quer

Clubes europeus têm necessidades e perspectivas diferentes para avaliar que jogadores merecem ou não um investimento pesado onaldinho, Ronaldo, Deco e Robinho são craques, ou, para os mais exigentes, candidatos a craques. Mesmo assim, Real Madrid e Barcelona não tiveram pudor em liberá-los. Sinal de que nem sempre o jogador que o brasileiro vê como fora-de-série é indispensável para um clube europeu. Uma realidade que se percebe no modo como alguns nomes que aparecem bem no Brasil não despertam interesse no Velho Mundo. Um exemplo recente é o meia Valdívia. O chileno era idolatrado pela torcida do Palmeiras e tido como esperança de o clube fazer um bom dinheiro com uma transferência milionária à Europa. O meia até foi sondado por equipes alemãs como o Hertha Berlim, mas o único clube que se dispôs a pagar o que a diretoria alviverde achava que ele valia foi do Al Ain, dos Emirados Árabes. Essa falta de interesse não à toa. “El Mago” já havia passado por Servette, da Suíça, e Rayo Vallecano, da Espanha. Era jovem e inexperiente, mas também não foi brilhante a ponto de deixar saudade. “O Valdivia cai muito, reclama muito e decide pouco”, avalia Vitor Birner, comentarista da rádio CBN. Com perfil parecido está o meia Roger, que acrescenta a seu currículo uma passagem inglória pelo Benfica. Lançado no Fluminense como um talentoso meia, jamais teve solidez. Quase sem mercado no Brasil, chegou ao Grêmio em 2008, jogou algumas boas partidas,

por Rogério Centrone

R

mas logo se transferiu para o exterior. Europa? Nada disso. Foi buscar petrodólares no Catar. O Oriente Médio também foi o paradeiro de Rafael Sóbis, decisivo para o Internacional desde a final da Libertadores de 2006 e um dos atacantes mais chamados para a Seleção desde que Dunga assumiu. O jogador passou duas temporadas no Betis. Teve alguns bons momentos, mas não o suficiente para se consolidar como titular em um time que lutou para fugir do rebaixamento. Sem muito mercado no Velho Continente, transferiu-se para o Al Jazira, dos Emirados Árabes. Um claro retrocesso. Apesar de haver um hiato técnico entre esses jogadores e os que deixaram Real Madrid e Barcelona, em comum há o fato de que a qualidade técnica não é tudo. Até por isso, só recentemente a Inglaterra – país que reconhecidamente admira o futebol brasileiro – perdeu o medo de contratar jogadores do Brasil. “Na Inglaterra tudo é mais difícil, chove muito e as pessoas são mais frias, além disso o jogo é muito rápido e físico”, ressalta o jornalista Pedro Pinto, português radicado na Inglaterra que cobre futebol europeu para a CNN. A realidade é que o mercado europeu é implacável diante de alguns erros. Não há um manual de sobrevivência, mas é preciso ter consciência que o craque do Brasil pode ser um jogador dispensável e desinteressante no Velho Mundo. Novembro de 2008

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Orlando Kissner/AFP

Luís Fabiano recuperou seu espaço na Seleção, correspondeu e, agora, comemora o reconhecimento da torcida e o fim das nuvens negras

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por Bruno Diniz

ENTREVISTA » LUÍS FABIANO

e jogador irregular e temperamental, ele se tornou o dono da camisa nove da Seleção Brasileira. Luís Fabiano, atacante do Sevilla, passou por dificuldades de adaptação na Europa e deu a volta por cima. Na última temporada, foi o vice-artilheiro da Liga Espanhola e despertou a cobiça dos grandes clubes europeus. Com um jeito despojado, fala o que pensa. O autor de gols em Uruguai e Chile, pelas Eliminatórias da Copa de 2010, não tem medo de perder a vaga no selecionado de Dunga. Tampouco esquece as dificuldades que passou há três anos, em uma fase que teve a ver com sua saída da Seleção. “Eu me machuquei e não conseguia voltar a jogar. Depois, minha sogra teve uma doença muito grave e minha mãe foi seqüestrada”, conta. Luís Fabiano recebeu a Trivela e falou sobre os altos e baixos da carreira, as brigas dentro de campo e como é ser ídolo do São Paulo, mesmo sem ter conquistado títulos importantes. Ele só se negou a falar sobre a passagem fracassada pelo Rennes. “A França eu nem conto, porque, logo que cheguei, já queria ir embora”.

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Você se considera titular absoluto da Seleção? É bom ter o reconhecimento da torcida, mas eu não sou o salvador da pátria, não jogo sozinho. É lógico que vou tentar de tudo para fazer o meu trabalho bem feito, que são os gols. Hoje, eu venho jogando bem e espero continuar assim. Eu assumo a responsabilidade do ataque, mas não sou nenhum salvador da pátria. Com a sua lesão e a convocação do Adriano, teme perder a posição? Quanto a isso, estou bem tranqüilo. Sei que futebol é momento e, infelizmente, essa lesão me deixou fora de uma convocação importante. Assim como eu entrei por causa da lesão de um companheiro, outro jogador tem agora a oportunidade de mostrar que também quer estar na Seleção. Sei que minha parte eu fiz, por isso, espero que nas próximas vezes eu seja convocado de novo. Qual o motivo de sua inconstância na Seleção? Se a gente soubesse, procuraria acertar para não acontecer mais [risos]. Eu acho que o futebol, hoje, está muito nivelado. As equipes se fecham atrás e, se você não conseguir fazer um gol rápido, o jogo acaba se tornando complicado, a ansiedade cresce e, em vez de

“Com contusão que não acaba e problemas na família, a cabeça fica sem espaço para pensar em jogar” Sobre os dois meses em que esteve em Portugal, enquanto a mãe estava seqüestrada no Brasil

fazer a jogada com tranqüilidade, o jogador se precipita. Apesar disso, o Brasil vem tendo bons resultados. Tanto é que a gente está em segundo lugar nas Eliminatórias. Mas o povo brasileiro é exigente, quer sempre espetáculo. O que você acha das críticas feitas ao Dunga? São injustas, porque somos um grupo. Não é o treinador que entra em campo, são os jogadores. A pressão é muito grande em cima desse grupo e do Dunga. É uma coisa injusta até porque ele vem tendo resultados, está fazendo um bom trabalho. Não dá para entender essa pressão toda. Mas a Seleção não engrena. O torcedor já está acostumado com as eliminatórias e sabe que o Brasil sempre encontra dificuldades nesse campeonato. É difícil vir da Europa para o Brasil, treinar quatro ou cinco dias e ter o entrosamento ideal para jogar. Mas, em termos de pontuação, a gente está bem. Depois da boa fase entre 2003 2004, seu futebol caiu muito. Por quê? É fase. Acho que nunca existiu um jogador de futebol que nunca tenha tido uma fase ruim. Depois de sair do São Paulo, fui para o Porto, uma equipe em transição, com treinador novo. Acabei não conseguindo fazer um bom campeonato. Quando eu tenho uma seqüência [de jogos], em qualquer clube que eu estiver, sempre vou bem, sempre consigo manter uma regularidade. Durante sua passagem pelo Porto, você viveu um drama pessoal, com o seqüestro da sua mãe aqui no Brasil. Lá passei as maiores dificuldades da minha carreira. Eu me machuquei. Era uma lesão de dois Novembro de 2008

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Profissionaliza-se na Ponte Preta

2000 É contratado pelo Rennes, da França (julho)

2001 Retorna ao Brasil para jogar no São Paulo

2002 Artilheiro do Campeonato Brasileiro com 19 gols

2003

LINHA DO TEMPO

1997

meses, mas eu não conseguia voltar a jogar. Tive de retornar com dor. Depois, minha sogra foi para Portugal e teve uma doença muito grave. Em seguida, minha mãe foi seqüestrada e ficou dois meses no cativeiro. Passei por tudo de ruim que um jogador poderia passar. A polícia achou melhor eu ficar de fora das negociações com os seqüestradores. Assim, participei só de longe, sem voltar para o Brasil, porque seria pior. Longe do Brasil, longe da família, só sabendo das notícias pelo telefone, minha cabeça ficou sem espaço para pensar em futebol.

Faz um gol em sua estréia pela Seleção (junho) Briga na semifinal da Copa Sul-Americana contra o River Plate e é expulso. O São Paulo acaba eliminado nos pênaltis (dezembro)

Quando chegou ao Sevilla, sabia que poderia ser sua última chance de se firmar na Europa? Eu estava tranqüilo quanto a isso, porque sabia que, tendo continuidade, iria jogar. O futebol é futebol em qualquer país do mundo. A questão é você querer, se acostumar e se adaptar ao clube. E mes-

Rickey Rogers/Reuters

Artilheiro do Campeonato Paulista com 8 gols

Antes de Portugal, você também não foi bem no Rennes, da França. Por quê? A França eu nem conto, porque, logo que cheguei, já queria ir embora. Só pensando em voltar para o Brasil, não tinha nem como eu me adaptar.

2004 Artilheiro da Libertadores com 8 gols É vendido ao Porto por cerca de US$ 8 milhões (agosto)

2005 Tem a mãe seqüestrada e os problemas pessoais refletem em campo, com atuações abaixo do esperado É negociado com o Sevilla, da Espanha (maio)

2006 Marca um dos gols da vitória do Sevilla sobre o Middlesbrough, na final da Copa Uefa

2007 Briga com o lateral Carlos Diogo, do Zaragoza (janeiro) Volta à Seleção depois de quase três anos e marca os dois gols da vitória do Brasil sobre o Uruguai pelas Eliminatórias (novembro)

2008 Faz dois gols no Chile e firma-se como o principal atacante da Seleção de Dunga (setembro)

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Andrea Comas/Reuters

Luís Fabiano Clemente Nascimento 8/11/1980 Altura 1,83 m Peso 81 kg Carreira Ponte Preta (1997 a 2000) , Rennes (2000) , São Paulo (2001 a 2004) , Porto (2004 e 2005) e Sevilla (desde 2005) Títulos Mundial Interclubes (2004) , Copa América (2004) , Copa Uefa (2006 e 2007) , Copa do Rey (2007) e Rio-São Paulo (2001)

mo se não desse certo no Sevilla, eu ia voltar para o Brasil de cabeça erguida. No Sevilla, logo no primeiro ano, você fez um dos gols do título sobre o Middlesbrough na Copa Uefa e, na última temporada, terminou como vice-artilheiro do Campeonato Espanhol. Eles falam que esse foi o gol mais importante da história, porque o clube nunca tinha sido campeão da Copa Uefa. Era o ano do centenário e eles queriam ganhar um título. Eu tive a felicidade de jogar na final e fazer o gol que abriu o caminho. E ter sido o vice-artilheiro na última temporada foi uma marca para mim e para eles. Fazia tempo que um jogador do Sevilla não passava de 20 gols na Liga Espanhola. Como foi trabalhar com o Juande Ramos, que foi contratado a peso de ouro pelo Tottenham? O começo foi muito difícil. Na verdade, parecia que ele não contava comigo, parecia que queria

A partir do momento que você toma um soco, tem que se defender

me sacanear. A partir do segundo ano, ele começou a ter mais confiança e nunca me deixou ir embora, mesmo quando não me usava. Na pré-temporada, falei para ele que ia ser titular, e ele achou que eu estava brincando. Até fiz aposta com o pessoal do time. Ninguém acreditava. Depois que ele foi para o Tottenham, até me ligou e fez proposta para eu ir para a Inglaterra. Mas não havia motivo para sair do Sevilla se estou bem lá. No Sevilla, aquela briga com o Diogo, do Zaragoza, também repercutiu muito. De algum modo, isso prejudicou sua imagem no futebol espanhol? Na Espanha a cabeça é outra, eles não ligam para esse tipo de coisa. Mas foi desagradável. O cara pisou na minha mão e ainda me pegou desprevenido. Eu não estava com intenção de brigar, mas, a partir do momento que você toma um soco, tem que se defender. Essa não foi a primeira briga de sua carreira. Contra o River Plate, na Copa Sul-Americana, ainda pelo São Paulo, vocé disse que preferia ajudar na briga a cobrar pênaltis. Se arrepende? Não me arrependo de nada. Pode ter sido uma maneira errada, mas

não me arrependo. Sempre vou ajudar meus companheiros. Você é um dos maiores ídolos do São Paulo nos últimos anos. O fato de não ter conquistado títulos importantes lá o incomoda? Não, porque se você não ganha em um lugar, ganha em outro. Infelizmente, o time que o São Paulo tinha naqueles anos não era time para ser campeão. Quando não tem aquela “coisa” de campeão, não adianta. Classificamos para a Libertadores com um time bem limitado. Os torcedores até chamaram vocês de pipoqueiros... Antes de chegar no São Paulo, eles já faziam isso, jogavam pipoca e tudo. Até hoje continuam com essa “modinha” (de chamá-lo de pipoqueiro). É uma parte negativa da minha carreira, porque isso é uma coisa que eu não sou. Sempre fiz gols nos jogos importantes. Só que não posso fazer gol e defender também. Voltar ao São Paulo é algo que você considera para a sua carreira? Penso nisso. O São Paulo é um clube que eu tenho uma identificação grande, mas o Brasil é cheio de bons times. Sou um profissional, não posso fechar as portas. Novembro de 2008

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Viva a

CAPITAIS DO FUTEBOL » HAMBURGO (ALE)

DIFERENÇA

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Hamburgo tem um dos maiores e mais tradicionais clubes da Alemanha. E outro que se orgulha de ser pequeno e diferente

amburgo é uma cidade de contrastes. Tudo bem, quase todo lugar do mundo usa esse mote. Mas os hamburgueses têm bons argumentos. De um lado, uma beleza freqüentemente comparada a Veneza e a Amsterdã por seus canais afluentes do rio Elba e a grandeza da segunda maior metrópole alemã. Do outro, os prós e contras de qualquer cidade portuária do mundo – dinamismo, multiculturalismo e hedonismo. Esse cenário serve

H

também de paralelo para a tradição do futebol local, que opõe o tradicional Hamburg e o libertino St. Pauli, numa rivalidade que extrapola o campo de jogo. Potência alemã e européia, o HSV ganhou mais destaque no Brasil depois das contratações de Thiago Neves e Alex Silva, mas figura entre os mais vitoriosos e ricos clubes do país. Os famosos calções vermelhos – que servem de apelido ao time – já foram vestidos por nomes célebres. Caso de Uwe Seeler, destaque

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Christian Charisius/Reuters

na década de 1960, posteriormente presidente do clube; Felix Magath, autor do gol do título europeu em 1983, na vitória por 1 a 0 sobre a Juventus de Michel Platini; e o excêntrico inglês Kevin Keegan, responsável por levar o HSV à primeira final européia de sua história, em 1980, perdida para o Nottingham Forest. Antes de se aposentar, Franz Beckenbauer também defendeu o Hamburg por duas temporadas. Ele voltava à Alemanha depois de sua aventura no New York Cosmos e tentava convencer o técnico Jupp Derwall de que tinha condições de ir à Copa de 1982. Não conseguiu, mas deixou o clube e o futebol com a quinta Bundesliga de sua carreira. Desde a criação da liga alemã, em 1964, o Hamburg se gaba de ser o único time que disputou todas as edições – uma diferença bem grande de dizer que é o único a nunca ter sido rebaixado, algo que também nunca aconteceu com o Bayern de Munique. O orgulho por esse feito é tamanho que em seu site oficial há um relógio contando, dos anos aos segundos, o tempo de permanência na elite da Alemanha.

Trata-se de um clube rico, tradicional, que freqüentemente entra nas competições nacionais e internacionais respeitado por seus adversários, mesmo que a fase não seja das melhores. E sua presença na cidade se faz notar pelas diversas lojas oficiais do time, que espalham pelas ruas de Hamburgo as cores vermelha e branca da bandeira hanseática e o azul do Germania, uma das equipes que deram origem ao atual HSV.

Orgulho de ser Pirata Enquanto o rival poderoso se orgulha dos feitos e dos craques que vestiram sua camisa, o St. Pauli prefere gabar-se por outros motivos. Na maior parte das vezes, aliás, prefere mesmo é rir de si próprio. A começar pela localização de sua sede. O estádio Millerntor fica no bairro que dá nome ao clube, a algumas centenas de metros da igreja que ilustra o distintivo, mas a região se destaca por ser uma das mais conhecidas zonas vermelhas do mundo, a Reeperbahn. Isso mesmo: o estádio fica no meio da região boêmia hamburguesa,

A riqueza e tradição do Hamburg (acima) contrasta com a atitude alternativa do St. Pauli (ao lado)

OS TIMES DA CASA

por Eduardo Camilli

Bundesliga (primeira divisão)

Hamburger Sport-Verein e. V. 1 Liga dos Campeões 1 Recopa 6 Campeonatos Alemães 3 Copas da Alemanha 2 Copas da Liga da Alemanha

2. Bundesliga (segunda divisão)

Fussball Club St. Pauli von 1910 e. V. Nenhum título

Regionalliga Nord (quarta divisão)

Altona 93

Oberliga Hamburg

Fabrizio Bensch/Reuters

(quinta divisão)

93 Hamburg, Barmbeck-Uhlenhorst, Bergedorf 85, Buchholz, Concordia, Condor, Egenbüttel, Eintracht Norderstedt, Halstenbek-Rellingen, Lurup, Meiendorfer, Niendorf, Paloma, Voran Ohe, Victoria e Vorwärts-Wacker

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perto de botecos, discotecas, casas de strip-tease e outras atividades que fariam corar muita gente que pensa já ter visto de tudo. O St. Pauli conhece bem o universo que o rodeia e não tem pudor em incorporá-lo à cultura do time. Na década de 1980, em ação inédita na Alemanha, o clube baniu de suas arquibancadas todos os torcedores que tinham qualquer ligação com grupos de extrema direita ou comportamento violento. Isso numa época em que o fascismo e o hooliganismo cresciam em toda a Europa. Até hoje, seguidores do St. Pauli acusam os rivais do Hamburg de fascistas e preconceituosos. A medida parecia impopular, mas surtiu efeito: a média de 1.600 torcedores por partida saltou para casa cheia (22 mil) no final dos anos 90. Em meio a esse turbilhão, a torcida adotou a caveira típica de navios piratas como símbolo. Nada mais

apropriado para uma equipe de uma cidade portuária. O posicionamento esquerdista, a favor de causas humanitárias, trouxe muitos inimigos, sobretudo da ex-Alemanha Oriental, onde são famosos os casos de gangues de torcedores neonazistas. Desde a queda do muro de Berlim, partidas entre Hansa Rostock e St. Pauli ganharam um clima de tensão comparável ao de uma guerra. Por outro lado, a popularidade dos Piratas cresceu bastante depois dessa mudança de postura e, mundo afora, ganha simpatizantes. Segundo uma pesquisa realizada pela Uefa, são 11 milhões de simpatizantes do clube na Europa. Muito disso graças à propaganda feita por bandas como Asian Dub Foundation, Turbonegro e Sisters of Mercy, cujo vocalista, Andrew Eldritch, investe no time. A cereja no bolo para tornar o St. Pauli um caso único no futebol é o atual presidente Corny Litmann.

ALEMANHA A

Rio E

lba

Hamburgo 1.773.218 habitantes

AS CASAS DOS TIMES

Fotos Divulgação

1 HSH Nordbank Arena O antigo Volksparkstadion nunca agradou aos torcedores do Hamburg. Bastante impopular, a principal crítica era com relação à distância da arquibancada para o campo. A questão foi resolvida em 2000, quando o clube botou abaixo o palco do célebre encontro entre Alemanha Oriental e Alemanha Ocidental na Copa de 1974. Em seu lugar foi erguida uma arena moderníssima, inaugurada já com 57.274 lugares e selo de 5 estrelas dado pela Uefa. A nova casa do Hamburg deu também início a uma tendência hoje quase obrigatória na Alemanha – a da venda do nome para um patrocinador. O primeiro a pagar cerca de € 15 milhões ao clube foi a AOL, que batizou o estádio até o ano passado, quando foi substituída por um banco. Ainda assim, os torcedores ainda se referem à arena com o nome original, “parque do povo” em alemão.

2 Millerntor-Stadion Por fora, chega a ser difícil acreditar que atrás daqueles muros pichados e deteriorados está a casa de um clube profissional de futebol. O estádio acanhado, com ares de Rua Javari – mas com 22.650 lugares –, foi o último entre equipes das três primeiras divisões alemãs a receber um placar eletrônico. Isto é, desde 2007, o funcionário que trocava as plaquinhas numéricas a cada gol perdeu seu emprego. O Millerntor é conhecido por ter um dos piores gramados da Alemanha. Em 2006, enquanto o campo do Hamburg recebia a Copa do Mundo, a arena do St. Pauli foi palco da VIVA World Cup, a Copa do Mundo dos países não reconhecidos pela Fifa.

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QUEM LEVA LEV A

Fotos Divulgação

ALÉM DO JOGO

Ator de teatro famoso em toda a Alemanha, sempre se destacou por suas apresentações vestido de mulher. Não esconde sua homossexualidade. Litmann assumiu a equipe em meio à pior crise de sua história, em 2003. À beira da falência, não teve vergonha de pedir ajuda aos colegas mais ricos, como o Bayern de Munique, e a lançar uma camiseta cuja venda seria totalmente revertida em fundos para salvar o clube do buraco. Deu certo: o time – que também é famoso por ser um dos poucos do mundo de cor marrom – está vivo e, após passar quatro difíceis temporadas na terceira divisão, tem motivos para acreditar que, em médio prazo, a volta à Bundesliga pela quinta vez na história é uma meta atingível. A longa ausência do St. Pauli da primeira divisão tem dificultado muito o encontro com o rival Hamburg. A última partida oficial entre as duas equipes data de 19 de abril de 2002, uma sonora goleada por 4 a 0 do HSV em pleno Millerntor. No primeiro turno daquela temporada, a 2001/2, o placar foi mais apertado. Em casa, o time dos calções vermelhos sofreu para arrancar um 4 a 3 na então batizada AOL-Arena, depois de voltarem do intervalo com 3 a 0 de vantagem sobre os visitantes. Desde então, apenas alguns amistosos e os freqüentes confrontos entre o St. Pauli e o time amador do Hamburg na finada Liga Regional Norte puseram os dois tradicionais rivais frente a frente. Mesmo contra o time juvenil, entretanto, os estádios se enchiam e as provocações de ambos os lados obrigaram o policiamento a ser reforçado na cidade. Retrato de uma rivalidade que permanece viva nas ruas e canais de Hamburgo, mesmo sem encontros freqüentes em um campo de futebol.

e Reeperbahn e St. Pauli Imagine uma mistura do que há de melhor e pior na Rua Augusta, em São Paulo, na Lapa, no Rio de Janeiro, e na Cidade Baixa, em Porto Alegre, com um ar de Amsterdã. Eis a Reeperbahn, região da cidade que estão os melhores clubes noturnos, boates, bares e clubes de strip-tease. O destaque é o Kaiserkeller, bar em que os Beatles começaram sua carreira. O lugar está lá até hoje, com música ao vivo de segunda a segunda.

r Hamburg Kunsthalle Um dos principais museus da cidade. A ala mais antiga conta com pinturas que vão da Idade Média a clássicos do século 20, como Paul Klee e Edvard Munch. A ampliação, em um edifício moderno, concentra obras de artistas alemães. Os dois prédios são ligados por uma passagem subterrânea.

t Elbmeile Às margens do rio Elba, a região de Altona a Övelgönne, é considerada uma das melhores áreas gastronômicas da Alemanha. Um bom passeio começa com uma caminhada à margem do rio e termina com um jantar em algum dos diversos restaurantes ali instalados.

u Porto Responsável por uma das principais atividades econômicas da cidade, o porto ocupa de 12% da superfície de Hamburgo e recebe cerca de 12 mil navios por ano. Duas embarcações – uma de 1896, o Rickmer Rickmers, e o Cap San Diego – servem hoje de museu e restaurante.

i Fischmarkt Uma verdadeira instituição hamburguesa desde o século 18. Trata-se do principal ponto de venda de alimentos frescos de Hamburgo e, claro, um centro gastronômico. Ali, é possível comer iguarias típicas da cidade e do país, sempre acompanhadas por uma bela caneca de cerveja. Por abrir cedo, é o ponto de encontro favorito dos boêmios.

Não há vôos diretos do Brasil para Hamburgo. No entanto, muitas companhias que voam para a Europa levam a locais onde é possível fazer conexão à cidade alemã. Algumas opções são a Air France (4003-9955 ou 0800-888-9955), TAP (0300-210-6060), British Airways (11 4004-4440), Lufthansa (11 3048-5800), KLM (4003-1888 ou 0800-888-1888) e TAM (4002-5700 ou 0800-570-5700). Em relação às agências de turismo, o ideal é conferir se a cidade está inclusa nos pacotes com roteiros que cobrem o norte da Alemanha.

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O lado negro da

Sergio Perez/Reuters

NEGÓCIOS

força Liga dos Campeões se tornou tão rica que criou uma dependência por parte dos clubes europeus. Um vício que tem síndrome de abstinência ano era 2001. O surpreendente Leeds United chegava à semifinal da Liga dos Campeões e comemorava uma das melhores temporadas de sua história. Menos de uma década depois, porém, o clube, afundado em dívidas, amarga a terceira divisão inglesa e atribui a situação crítica ao mesmo torneio que quase lhe levou às glórias no passado. O relato pode parecer contraditório, mas representa uma tendência dos clubes europeus: a dependência cada dia maior da Liga dos Campeões. A competição divide, anualmente, cerca de € 600 milhões entre seus 32 participantes. Montante suficientemente tentador para mudar o perfil do futebol no Velho Continente. O caso do Leeds é um dos mais emblemáticos do primeiro grupo. Na temporada seguinte à derrota para o Valencia nas semifinais do torneio, a diretoria, de olho numa eventual fatia desse bolo, fez um empréstimo milionário para bancar um time que fosse capaz de repetir a façanha. Montou um elenco que reunia Paul Robinson, Woodgate, Rio Ferdinand, Danny Mills, Dacourt, Bowyer, Robbie Fowler, Robbie Keane, Viduka, Kewell e Alan Smith. A idéia era saldar a dívida e pagar o salário dos jogadores com patrocinadores, direitos de televisão e bilheteria da LC de 2002/3. Só que a classificação não veio e o sonho de voltar ao principal torneio do continente virou pesadelo fiscal. O clube teve de se desfazer dos atletas sem nenhum poder de barganha e entrou num ciclo vicioso de péssimo desempenho em campo e fluxo de caixa ainda pior. Os rebaixamentos foram conseqüências naturais do processo. O Borussia Dortmund é outro exemplo de planejamento fracassado para a LC. Após conseguir a va-

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ga para o torneio em 2003, o clube gastou alto para se reforçar, mas caiu para o Club Brugge ainda na fase preliminar. A derrota inesperada acentuou os problemas financeiros e culminou com a venda do Westfalenstadion a investidores locais. À primeira vista, esse fenômeno pode parecer fruto da irresponsabilidade administrativa dos dirigentes ou ambição desmedida. Os números, no entanto, dão a exata dimensão da importância de uma temporada na LC. Há dois anos, CSKA e Olympiacos, cujos faturamentos por temporada rondam a casa dos € 50 milhões, ganharam de € 8 milhões a 11 milhões por disputar a primeira fase do torneio. Com esses números, fica evidente como uma temporada na Liga faz uma diferença brutal para os pequenos.

Leeds United: primeiro o sonho com a LC, depois o pesadelo da falta dela

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por Nair Horta

No entanto, para clubes como Manchester United, Real Madrid e Barcelona, que chegam a faturar € 300 milhões ou mais por ano, a quantia parece irrisória. De fato, a verba proveniente do rateio da Uefa não é a menina dos olhos para esses times. O que não tira a importância de disputar a competição. “Participar da Liga dos Campeões é cada vez mais uma exigência para estar entre os dez clubes que mais faturam na Europa”, diz o texto do relatório Deloitte Money League 2008. A empresa de consultoria se refere à capacidade dos “grandes” de fazer dinheiro em dias de jogos. Contabilizando apenas os ganhos dentro dos estádios (ingresso e consumo “per capita”), cada partida pode render entre € 3 milhões e 6 milhões, já que os carnês vendidos aos sócios não incluem a Liga dos Campeões. Ou seja, chegar à final adiciona seis jogos em casa na temporada e de € 18 milhões a € 36 milhões na conta. Por isso, o Milan, longe da nata européia neste ano, estima que irá perder entre € 20 milhões e € 30 milhões, segundo o presidente Adriano Galliani. A participação na Copa Uefa não ameniza o impacto negativo no setor financeiro. Só para se ter uma idéia do abismo que separa as duas principais competições do continente, o Sevilla, campeão em 2006/7, recebeu € 6,5 milhões pelo título. Na última temporada, o Manchester levou cerca de € 43 milhões ao erguer a taça da LC. O vice Chelsea ficou com € 37 milhões.

Ligas à parte

Os freqüentadores assíduos da LC, como o Lyon, acumulam mais dinheiro e tornam desigual a disputa nas ligas nacionais, mesmo contra times que disputam o torneio internacional às vezes, como o Lille

Fase Fase de grupos Oitavas Quartas Semifinais Final

Premiação (€) 3 milhões por time 2,2 milhões pela classificação 2,5 milhões pela classificação 3 milhões pela classificação 7 milhões pelo título, 4 milhões pelo vice

Obs.: além disso, cada clube recebe € 400 mil por partida disputada, € 600 mil por vitória e € 300 mil por empate, independentemente da fase do torneio

dentro de cada país. A briga pelo título nacional fica concentrada nas mãos de poucos, o que também restringe a presença de caras novas na LC. Esse cenário é mais evidente no eixo Inglaterra-Itália-EspanhaFrança-Alemanha, que formam o grupo dos cinco maiores pólos da Europa e, claro, ficam com a maior parte do rateio de recursos de TV do torneio. Preocupada com a situação, a Uefa anunciou que está estudando uma forma de reduzir a desigualdade de remuneração entre os clubes europeus. Além da paridade econômica e esportiva, o objetivo é devolver o lado “lúdico” à Liga dos Campeões. “Ninguém quer mais o título, mas sim, ganhar dinheiro para sanar as dívidas. Temos de encontrar um modo de ajudar os times a resolverem seus problemas. A competição não deve se transformar em dramas financeiros”, criticou Michel Platini, presidente da entidade, em entrevista ao jornal francês L’Équipe. A posição da Uefa mostra como não dá mais para esconder. A despeito de sua qualidade técnica e rentabilidade, a LC tem um lado de vilã tão forte quanto o de heroína para clubes e torcedores. E ajustes podem mudar essa relação entre essas duas faces do torneio.

Robert Pratta/Reuters

A enxurrada de euros despejada pela Uefa na Liga dos Campeões também tem conseqüências para os campeonatos nacionais. A cada ano, os “freqüentadores assíduos” acumulam mais e mais dinheiro. Com mais fluxo de caixa, esses clubes acabam dominando também dentro de campo, criando ligas à parte

QUANTO VALE?

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que ninguém viu Segunda Guerra Mundial privou o planeta de conhecer de perto a maior geração da história do futebol argentino

Reprodução

HISTÓRIA por Bruno DIniz

A ARGENTINA

década de 1940 é quase como um vácuo na história do futebol. A Segunda Guerra Mundial provocou o cancelamento de duas Copas do Mundo – 1942 e 1946 – e de várias competições continentais e nacionais. Uma realidade que se mostrou cruel a toda uma geração de jogadores, privada de oportunidades de chegar a alguma glória, e que atingiu em cheio a Argentina. Poucas vezes os argentinos contaram com uma geração tão talentosa. A Albiceleste dominou o cenário sul-americano nos anos 40: das seis Copas Américas dis-

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putadas no período, a Argentina conquistou quatro (1941, 1945, 1946 e 1947) e foi vice em uma (1942). Nos confrontos diretos com a Seleção Brasileira, a superioridade platina foi clara, com 7 vitórias celestes e apenas 3 verdeamarelas (ver tabela). O River Plate foi a equipe que mais contribuiu para a seleção, principalmente no ataque. Muñoz, Moreno, Pedernera, Labruna e Peucelle, depois substituído por Loustau, formaram uma primeira linha ofensiva onde os jogadores variavam entre as posições. Era o pesadelo dos adversários. Não à toa, o River ficou conhecido co-

mo “La Máquina”, pela forma de jogar engrenada, compassada, parecendo um motor ou uma linha de montagem. A principal característica dos Millonarios era o modo como pressionava o adversário. “Essa geração aliava técnica e habilidade com um futebol de força e marcação. Todos atacavam e todos defendiam, coisa incomum na época”, conta o jornalista Carlos Rodrigues Duval, especialista em história do futebol do Diário Olé. Boa parte do encantamento criado por aquela geração de jogadores servia para alimentar a sensação de que a Argentina era prota-

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gonista no cenário político e econômico mundial. Naquele período, os argentinos tiveram rápida industrialização e logo se tornaram o país mais rico da América do Sul. A sociedade refletia essa pujança, com movimentos sindicais e vida cultural crescente, sobretudo em torno dos tradicionais cafés e as casas de tango. Nesses lugares, era muito fácil encontrar José Manuel Moreno, craque do River. Para muitos, Moreno está situado no mesmo patamar de Maradona ou Di Stéfano. Era um atacante que armava e concluía com competência, cabeceava bem e tinha habilidade acima da média. O mesmo

FREGUESIA

AFP

Na página ao lado, a linha mágica do River Plate nos anos 40: Muñoz, Moreno, Pedernera, Labruna e Cousteau; acima, Moreno com a camisa da Argentina

gosto que tinha pelos espetáculos dentro de campo, tinha fora deles. “Moreno era um grande conquistador e gostava muito de dançar um tango”, conta Duval. De fato, o atacante era um boêmio inveterado, amante da noite de Buenos Aires. Sua primeira mulher foi Póla Alonso, famosa atriz da época. Seu segundo casamento foi com uma filha do cantor Alberto Echagüe. Na edição de 1939 da Copa Roca – competição realizada em três jogos entre Brasil e Argentina –, Moreno pegou a bola na lateral do gramado do estádio de São Januário e, com o intuito de se aquecer para a partida que ia começar, fez seu show. Depois de uma série de embaixadas, deu um chutão para o alto e, antes que a bola pingasse, a dominou com o peito do pé sem perder o controle. Foi aplaudido pelos brasileiros. No fim do jogo, 5 a 1 para os argentinos, com dois gols de Moreno. Em 1945, o River Plate lançou em seu time principal o jovem Alfredo di Stéfano, então com 19 anos. A “Flecha Loira”, como ficou conhecido, venceu os campeonatos argentinos de 1945 e 1947, mas jogou pouco pela seleção do país. Pela Albiceleste, conquistou apenas o Sul-Americano de 1947. Sua passagem poderia ser mais longa se o crescimento das lutas trabalhistas não chegasse ao futebol. Em 1948 e 1949, os jogadores argentinos organizaram uma greve.

Os atletas reivindicavam a extinção do passe, para que cada atleta pudesse escolher livremente onde exercer sua profissão. Além disso, queriam assistência médica para familiares e um salário mínimo para a categoria. Os dirigentes não cederam, o campeonato parou e começou assim a debandada dos craques para outros países. Moreno foi jogar no México, Di Stéfano e Pedernera – um dos líderes da greve – foram para a Colômbia. Sastre veio ao Brasil jogar no São Paulo. O êxodo dos maiores craques enfraqueceu não somente os times, mas também a seleção nacional. Alguns jogadores, descontentes, chegaram a representar outros países. Caso de Di Stéfano, que defendeu a Colômbia e, depois de se transferir para o Real Madrid, a Espanha. Enfraquecida pela greve e descontente por ter perdido para o Brasil a sede da Copa de 1950, a Argentina boicotou os Mundiais de 1950 e 1954. Só retornaram em 1958, quando já eram uma caricatura da década anterior. Foram eliminados na primeira fase. O futebol argentino só se recuperou dessa crise nos anos 70. O que fica no sentimento do povo argentino é a frustração por aquela geração não ter conseguido disputar um Mundial, onde teria entrado como uma das favoritas. “Com os jogadores que tínhamos, dava para fazer até três seleções”, lamenta Duval.

Local

2 3 6 2 5 2 3 4 2 1 2

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São Paulo São Paulo Buenos Aires Buenos Aires Buenos Aires Montevidéu Santiago São Paulo Rio de Janeiro

Na década de 1940, o Brasil foi freguês da Argentina. Nos confrontos diretos neste período, foram 3 vitórias do Brasil, 1 empate e 7 vitórias da Argentina, com 21 gols do Brasil e 32 gols da Argentina.

Rio de Janeiro Buenos Aires Novembro de 2008

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CULTURA

Seja no gramado, seja

NA QUADRA Fotos Divulgação

Pierre-Philippe Marcou/AFP

Rivalidades surgidas no futebol migraram para outras modalidades. Em alguns casos, as batalhas são ainda mais cinematográficas

e r oucas coisas movimentam tanto o futebol quanto os grandes clássicos. É quando as paixões se exacerbam e o motivo de existência de muito clubes é posto à prova. Derrotar seu arquiinimigo vale, muitas vezes, mais do que um título. Em alguns casos essa rivalidade é tão grande, que deixou de lado o futebol e se transferiu para o basquete, vôlei, rúgbi e até mesmo hóquei sobre patins. Era um panorama comum no Brasil, com clássicos como Corinthians x Palmeiras em basquete e futsal ou entre os quatro grandes do Rio de Janeiro em basquete e remo. Alguns duelos ainda existem, mas sem muita repercussão. Na Europa, a realidade é diferente. E, muitas vezes, os clássicos do futebol acabam ajudando na popularização das outras modalidades. O melhor exemplo é o basquete gre-

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go, que não tinha tanto destaque quando era dominado por Aris e PAOK, clubes apenas medianos no futebol. “A partir de 1992, Sokratis Kokkalis assumiu o controle do basquete do Olympiacos e reforçou muito o time”, afirma o jornalista Ilias Karagianis, do site grego Sport24. O crescimento dos alvirrubros impulsionou o Panathinaikos, até ambos se tornarem potências no basquete europeu. Às vezes, os investimentos chegam a superar os do futebol. Foi o caso do ala norte-americano Josh Childress, que trocou o Atlanta Hawks, da NBA, pelo Olympiacos com um contrato de US$ 20 milhões em três anos. Tudo para bater o Pana, atual hexacampeão nacional de basquete. Os grandes gregos também lutam no vôlei, como bem sabem o levantador Marcelinho e o ponta Dante, ambos da se-

t leção brasileira e ex-Panathinaikos. “Passei lá os melhores anos da minha vida. A torcida que ia ao ginásio era a mesma dos estádios, e tinha uma em especial, a Gate 13, que era a mais fanática. Fazia um barulho absurdo nas arquibancadas”, lembra Dante. “É diferente jogar para um clube de futebol. Parece que sua responsabilidade é maior, já que estamos mexendo com uma paixão de décadas. Quem torce pelo Panathinaikos, não está ali para ver sua equipe jogar vôlei, está ali para ver seu time arrasar o adversário”, conta o levantador. Quando as equipes se enfrentavam, os jogadores brasileiros se recordam da enorme pressão que existia. “A semana antes dos clássicos parecia guerra mundial, principalmente contra o Olympiacos. Nos jogos, somente uma torcida fica na arquibancada”, comenta o ponta.

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por Gustavo Hofman

Os gregos não têm exclusividade na rivalidade poliesportiva. No basquete, Anderson Varejão, atualmente no Cleveland Cavaliers, da NBA, já viveu de perto um Barcelona x Real Madrid. “É o tipo de jogo que precisava ter dois vencedores, porque a pressão e a paixão das torcidas são tão grandes, que a frustração da derrota é algo impressionante”, afirma o ala-pivô, que defendeu o Barcelona entre 2002 e 2004. O basquete é uma das modalidades que mais vê clubes com raízes no futebol em seus torneios, até por se tratar de um dos

como em outros países do Leste Europeu, a estrutura esportiva da época comunista fez que os clubes tivessem equipes em várias modalidades. No Brasil, a mistura do fanatismo pelo futebol com outros esportes acabou gerando desorganização das competições e brigas de torcidas. Nos demais países, essa relação é um motor para as modalidades de menor popularidade. E serve ainda para dar mais motivos para os torcedores debaterem o resultado do clássico do fimde-semana, seja 2 gols a 1, 87 pontos a 79 ou 3 sets a 1.

Getty Images/AFP

esportes mais populares do mundo e ser bastante difundido em países que o futebol está consolidado. O mesmo ocorre com o futsal, até porque o parentesco com o futebol induz os clubes a manterem departamentos das duas modalidades. No entanto, até esportes pouco disseminados no Brasil despertam paixões – e ódios – poliesportivos. “Entre os grandes há rivalidade em quase todos os esportes”, relata Iulian Haba, jornalista do City News, da Romênia, referindo-se aos duelos de Dínamo de Bucareste e Steaua em futebol, rúgbi e handebol. Na Romênia,

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o

RIVALIDADES POLIESPORTIVAS Real Madrid x Barcelona (ESP)

Boca Juniors x River Plate (ARG)

A lista abaixo considera apenas esportes coletivos, ainda que muitos clubes tenham departamentos de esportes individuais

e

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Olympiacos x Panathinaikos (GRE)

r

Maccabi Tel-Aviv x Hapoel Tel-Aviv (ISR)

Benfica x Sporting (POR)

Benfica x Porto (POR)

Estrela Vermelha x Partizan (SER) CSKA Moscou x Dínamo Moscou (RUS)

t

Fenerbahçe x Galatasaray x Besiktas (TUR)

Steaua x Dínamo Bucareste (ROM)

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CSKA Sofia x Levski Sofia (BUL)

u Basquete

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Vôlei

Futsal

Handebol

Rúgbi

Hóquei sobre gelo

Hóquei sobre patins

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EXTRACAMPO

Tempos

de

crise Quebra do sistema financeiro já tem reflexos no futebol inglês

Banho de loja

crise financeira mundial não vai deixar o futebol imune. Já se sentem os primeiros efeitos em patrocínios, direitos de transmissão e, conseqüentemente, nas contratações de jogadores. Até o momento, as piores notícias vêm do campeonato nacional mais rico do mundo: a Premier League inglesa. Apesar da aparente chuva de dinheiro no Reino Unido, os clubes estão com dívidas, que somadas, chegam a € 3,8 bilhões. Para piorar, a Uefa anunciou recentemente que pode excluir de suas competições todas as equipes devedoras. O público vem diminuindo, já que os ingleses, com medo da crise, começaram a economizar as £ 106 (cerca de € 137) que cada torcedor gasta, em média, por partida. O clube que corre mais risco é o Manchester United, administrado pelo empresário norte-americano Malcolm Glazer, pois tem um contrato com a seguradora AIG no valor de € 20 milhões anuais durante os próximos cinco anos. Após a ajuda do governo dos Estados Unidos, que salvou temporariamente a empresa, os executivos já pensam em cortes de gastos e discutem se vão continuar patrocinando os Red Devils. Por enquanto, Glazer comemora os números mais recentes: o contrato com a Nike no valor de € 380 milhões a distribuir pelos próximos 13 anos, o aumento de 28% nas receitas de bilheteira (€ 122 milhões anuais) e o dinheiro proveniente de transmissões televisivas no valor de € 78 milhões. É esperar para ver até quando isso dura...

Em busca de mais dinheiro e público, a Uefa resolveu rejuvenescer sua segunda competição de clubes, a Copa Uefa. A partir da próxima temporada, o torneio terá uma nova fórmula de disputa, para se tornar mais atraente para clubes, torcedores e, por conseqüência, patrocinadores. Para reforçar a nova cara da competição, a Uefa também anunciou que a Copa Uefa mudará de nome a partir da temporada 2009/10. O torneio se chamará Liga Europa, que terá nova marca e contratos de marketing e televisão centralizados. A decisão da Uefa, no entanto, desagradou à Fifa. Joseph Blatter, presidente da entidade, não esconde o receio de a estruturação dos torneios continentais enfraquecerem as ligas nacionais. “Há alguns anos, vários dos grandes clubes tinham o objetivo de uma liga européia, o que permanece na cabeça de alguns deles, e isso abre a porta novamente para uma superliga, em detrimento do futebol”, comenta o dirigente.

ATIVOS

DIVÓRCIO? Um dos casamentos entre clube e empresa patrocinadora mais tradicionais do mundo corre o risco de chegar ao fim. Depois de mais de duas décadas de contrato, a Phillips sinalizou que pode deixar de estampar a sua marca na camisa do PSV. Mesmo assim, a empresa de eletrônicos não vai abandonar o clube e continuará investindo em outras ações e manterá o contrato de naming rights para o estádio.

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Get ty Im

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PÉ QUENTE A fabricante de meias e cuecas Lupo fechou um contrato de licenciamento com a Fifa e passará a estampar a logomarca da federação e seus mascotes nos produtos até a Copa de 2014. A empresa espera faturar com a nova licença, no mínimo, US$ 1 milhão nos próximos 15 meses.

MOBILE MARKETING Pouco difundida no Brasil, a tecnologia Bluetooth pode ganhar fôlego com uma ação da empresa Yes!, que instalou pontos de distribuição de conteúdo para os torcedores do Corinthians, Coritiba e Internacional. Basta ativar a função no celular ao entrar nos estádios e o torcedor vai receber informações sobre o jogo, ringtones e wallpapers.

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por Fábio Kadow

Dança de salão O fut futsal nunca foi a praia da Nike, mas, na esteira da Cop Copa do Mundo da Fifa e do título da seleção brasileira, a empresa lançou o torneio Batalha das Quadras, um d desafio que reunirá 512 times, e uma linha específica p de tênis para o fustal. O modelo Super Skill tem solado antiderrapante, acabamento em cabedal emborrachado e está disponível nas core cores amarela, cinza e preta. Fabricante Nike

Preço sugerid sugerido R$ 199

Futemóvel Chega de ficar pensando na vida enquanto espera pelo ônibus, pela fila do caixa ou fica parado no trânsito. O Real Football 2009 é um jogo para celular que dá a oportunidade de comandar mais de 200 equipes de todo o mundo em seis ligas diferentes. Cada jogador poderá montar suas próprias equipes, definir táticas e escolher os jogadores preferidos. O fabricante do simulador é a Gameloft e, por enquanto, apenas os usuários da Claro tem acesso ao download do jogo.

Autora Paola Gentile Editora Callis Preço sugerido R$ 15 cada volume

O FUTEBOL ARTE Além do belo Museu do Futebol, inaugurado recentemente em São Paulo, outra opção para corintianos e amantes do futebol de outros estados é o Memorial do Corinthians, localizado no próprio Parque São Jorge. O local agora abriu para exposição o quadro “Futebol”, do artista e ex-jogador Francisco Rebolo (1902-1980), responsável também pelo desenho do escudo do time. A obra, de 1936, foi a primeira a retratar um atleta negro numa partida de futebol.

Quase centenário Torcedores do Coritiba e do Fortaleza foram presenteados com novos modelos de camisa to. pela fornecedora de material esportivo Lotto. Enquanto o time do nordeste teve toda a linha de uniformes remodelada, o Coxa ganhou uma orme bela camisa preta, que será o terceiro uniforme da equipe e faz parte das comemorações pelos lube. 99 anos de fundação do clube. Fabricante Lotto

Fotos Divulgação

DESDE CRIANÇA Indicada para os pais que queiram presentear seus filhos, sobrinhos ou netos com grandes histórias, a coleção “Pequenos Craques” reúne uma série de livros infantis sobre grandes astros brasileiros do esporte, como Garrincha, Paula, Leônidas da Silva, João do Pulo e Rivellino. Destaque para o volume de Garrincha, que narra a infância e adolescência do jovem que adorava pescar, caçar passarinhos e jogar bola descalço com seus amigos.

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CADEIRA CATIVA

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TRI

Tudo conspirou contra, mas persistência permitiu que se visse ao vivo o gol histórico de Petkovic empre fui aos jogos do Flamengo no Maracanã. Mas, no dia da decisão do Estadual do Rio de 2001, acordei convencido de que não devia ir. Depois que viramos pai, pensamos duas vezes antes de freqüentar determinados lugares. Caso de um estádio de futebol com mais de 60 mil pessoas, numa decisão de campeonato entre Flamengo e Vasco. Após passar pela tradicional rotina da manhã, parei para ver TV. Foi o que mudou o meu domingo. Após assistir a uma matéria emocionante sobre Flamengo e Vasco, cheguei à conclusão de que não poderia ficar de fora daquela festa. Liguei para uns amigos e fomos ao jogo. Chegando ao Maracanã, não encontramos ingressos nas bilheterias. Quase desistimos, mas, num momento de insanidade total, decidimos comprar com um cambista. Os ingressos de arquibancada que custavam R$ 10, estavam R$ 20. O que tínhamos não dava para comprar, barganhamos um pouco (éramos cinco, aquela coisa...) e conseguimos comprar cada entrada por R$ 18. Não tínhamos mais nenhum tostão no bolso, mas, pelo menos, o carro estava com tanque cheio e nosso retorno para casa, garantido. Os dois estaduais anteriores também tinham sido decididos entre Flamengo e Vasco, e nas duas oportunidades o Vasco tinha

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a vantagem e o Flamengo ficou com o título. Apesar disso, a torcida cruzmaltina tinha quase certeza da conquista desta vez, pois o Flamengo teria que vencer por dois gols de vantagem. Com dois tentos de Edílson e um de Juninho, o jogo chegou à metade do segundo tempo com o Fla vencendo por 2 a 1. O domingo, que tinha começado tranqüilo, passava por um momento de desespero. O Flamengo atacava buscando o gol do título, enquanto o Vasco levava muito perigo no contra-ataque. Juninho cobrou falta no travessão. Depois, Jorginho Paulista puxou contraataque. Júlio César se preparava para sair do gol quando o lateral do Vasco desabou sem ter nenhum outro atleta perto dele. Naquele momento passei a acreditar no título: em casa, vi o lance várias vezes e Jorginho apenas caiu de maneira sobrenatural. Quando a torcida do Vasco já comemorava, aos 43 minutos Edílson

sofreu falta na intermediária de ataque. Petkovic cobrou com perfeição, como se tivesse colocado com a mão no ângulo esquerdo de Hélton. Sem chances, indefensável, indescritível, emocionante. Uma explosão de alegria em vermelho e preto no Maracanã. Depois que a bola entrou, não vi mais nada. Toda a torcida rubro-negra se abraçava em êxtase total. O Flamengo ganhou vários títulos depois, mas não acredito que nenhum tenha chegado àquele nível de emoção para os torcedores rubro-negros. Ângelo Marinati, 33 anos, é professor de educação física

VASCO 1 FLAMENGO 3

Hipolito Pereira/Agência O Globo

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por Ângelo Marinati

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A VÁRZEA

Oráculo vascaíno Por muitos anos, Roberto Dinamite tentou, tentou e tentou tirar Euvírus Miranda da presidência do Vaischco. A Guerra Fria acabou, Elvis morreu (ou não), o século virou e Tolete enfim conseguiu se formar em jornalismo após passar 32765 semestres na Unilodo. Só a Ponte Preta não foi campeã neste período, mas isso é uma outra história. Para conseguir derrubar o dirigente-vitalício, Dinamite mergulhou em intensa preparação para conhecer os meandros de fora das quatro linhas. Afinal, ele tinha que acumular conhecimentos para não repetir os mesmos erros do eterno presidente. Enquanto não derrotava Euvírus, Dinamite dedicou grande parte de seu tempo para esmiuçar cada detalhe de uma nova ferramenta de gestão de clubes. Sim, ele deixava seus afazeres de lado para se deliciar com as maravilhas do moderno Elifoot. A missão era simples: fazer o time do Vaischo ser campeão mundial de 1998. Dinamite manteve a perseverança até ter a completa certeza de dominar com total habilidade os controles do tal joguinho. Demorou um pouco, é verdade, mas chegou o dia no qual se sentiu pronto para desafiar Euvírus. Nem deu para o cheiro, pois o eterno presidente mal conseguiu ligar seu computador e Dinamite já dava a volta olímpica com a taça do Mundial. Sinal de novos tempos. Assim que sentou na cadeira presidencial, o ex-jogador abriu seu laptop e pôs para rodar seu ajudante cibernético. O Vaischco estava mal no Brasileiraço, mas ainda havia uma esperança de se levar o time ao título nacional. Dinamite estava pronto para seguir os ensinamentos do oráculo elifootiano-98 e começou a dar as cartas. “Como o

A charge do mês Pedrinho não está no time? Ele está no auge de sua forma física! Também preciso do Odvan, um zagueiro forte, rápido e hábil”, ordenou o novo chefe. Não tinha como dar errado. Um de seus assessores o interrompeu para falar o que fazer com Mádson, Philippe Coutinho e Victor, mas era óbvio que não dava para escalar gente com oito anos de idade. O Vaischanic embicou para o fundo do mar e Euvírus está louco para voltar a dar as caras no clube. Isso até mesmo o Elifoot-98 seria capaz de prever.

A lorota do mês “A gente não pode dizer que essa derrota é uma catástrofe só porque perdemos o jogo. Deus está sendo tão bom para gente que manteve o time na mesma posição” Odvan, zagueiro do Vasco, não mentiu: o time carioca estava na lanterna do Brasileiraço e lá ficou depois da derrota para o Figueirense.

A manchete do mês “Grazi Massafera comenta jogo da Seleção” (Revista Quem) Pelo menos o jogo contra a Colômbia tinha que ter algo de bom, não?

Em alta Argentina Está sofrendo nas eliminatórias, mas pode encher a boca para dizer que não tem o Dunga como técnico

França Arrancou um empate com a Romênia, ganhou da Tunísia e terá que agüentar Domenech um pouco mais

Em baixa

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