Trivela 40 (jun/09)

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ADRIANO X RONALDO Técnica, físico, profissionalismo, baladas: qual dos dois artilheiros vai fazer a diferença no final do Brasileirão

Exclusivo: o golpe e a de Maradona para na assumir a Argentina nº 40 | jun/09 | R$ 8,90

Floripa: dividida pelo elo mar Mourinho, Desailly, y, Arshavin ESPECIAL: GUIA DA A DERAÇÕES COPA DAS CONFEDERAÇÕES

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GRAFITE G “O Mu Muricy não chega aos ppés do Autuori”

INDISCUTÍVEL I NDISC Í Ninguém é segura o Barça de Messi

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DATENA E NETO FALAM DE FUTEB O

SEG A SEX | 14h

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EDITORIAL

Melhor que o Eto’o Obina, é evidentemente, não é melhor que o Eto’o. Ronaldo e Adriano, entretanto, em algum momento de suas carreiras, foram – no caso do corintiano, incomparavelmente melhor. E no do flamenguista, há ainda o potencial para voltar a ser superior ao ótimo – mas não excepcional – camaronês. Coincidência ou não, Ronaldo e Adriano estão em times que não são dominados pelo novo modelo de “parceria” que domina os sonhos de dirigentes e torcedores. E, nos times em que é este o modelo que manda, estão Obina e Roni. E mais uma geração inteira de moleques que podem ou não um dia vir a se tornar grandes jogadores. Henrique se tornou. Foi embora em três meses. Marquinhos, provavelmente não se tornará. E ficará no clube, consumindo seu peso em salários. Assim como Obina. Assim como o Fluminense precisou entregar para a parceira parte dos direitos econômicos de jovens promissores em troca do dinheiro para ter Conca, também o Palmeiras não tem dinheiro próprio para contratar. A diferença é que o Tricolor pelo menos tem trabalho de base, ou seja, tem o que entregar. Obina não tem culpa de ser Obina. Assim como Vanderlei Luxemburgo, com todos os muitos defeitos que possui, certamente deve ter pedido ao Palmeiras algo melhor que Obina. Sua (má) fama, porém, é já tão disseminada que é só a ele que se atribui a contratação. Como se ele não preferisse ter Adriano, ou mesmo algum jovem valor das categorias de base. Contra a direção dos clubes, ninguém protesta. O senhor cardiologista do presidente da CBF fez seu papel de bobo quando apresentou Fred, mas não apareceu para dar declarações após a goleada sofrida diante do Santos. Ao contrário, quem apanhou dos “torcedores” foram os jogadores. Até porque, se estes “torcedores” estavam dentro do clube, é porque alguém deixou eles entrarem. E se alguém deixou, é porque Horcades deixou deixar. E quem apanha é o Diguinho... Triste futebol brasileiro, em que dirigentes não sabem o que fazer, e torcedores não sabem de quem cobrar. O caminho escolhido é sempre o mais fácil: culpar quem não tem como se defender. E que, quase sempre, não tem culpa pelos problemas.

w w w. t r i v e l a . c o m Editor executivo Caio Maia Editor Ubiratan Leal Reportagem Gustavo Hofman, Leonardo Bertozzi, Felipe dos Santos Souza (trainee) e Mayra Siqueira (trainee) Consultoria editorial Mauro Cezar Pereira Colaboradores Antonio Vicente Serpa, Eduardo Camilli, Fábio Fujita, João Tiago Picoli, Luciana Zambuzi e Ricardo Espina Revisão e tradução Luciana Zambuzi Projeto gráfico / Direção de arte Luciano Arnold Design / Tratamento de imagem Bia Gomes Capa Paulo Whitaker/Reuters (Ronaldo) Jorge R. Jorge (Adriano) Divulgação (Messi) Agradecimento Mauro Beting

Central do assinante www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br

Fotos Divulgação

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MERCADO

EUROPEU A lista completa das principais transferências europeias para 2009/10

11/6 Guia da Copa das Confederações Tudo sobre o torneio na África do Sul: sedes, história, fichas dos jogadores e mais 19/6 Os nomes dos estádios: Argentina Quem foram José Amalfitani, Alberto José Armando, Pedro Bidegaín... 26/6 História Além de Owen e Beckham, outros ingleses tentaram a sorte fora do país - nem sempre com sucesso

Diretora Comercial Gabriela Beraldo (11) 3474-0127 gabriela@matracanet.com.br Circulação LM&X - (11) 3865-4949 lele@lmx.com.br Atendimento ao jornaleiro LM&X - (11) 3865-4949 atendimento@lmx.com.br Redação (11) 3474-0119 contato@trivela.com é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Vox Editora Tiragem 30.000 exemplares

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ÍNDICE 24

CAPA » BRASIL Vanderlei Almeida/AFP

Ronaldo foi a contratação do ano no Corinthians, para desgosto dos flamenguistas. A resposta do Flamengo foi Adriano. Quem é melhor? HISTÓRIA TÁTICA

ARGENTINA

FLORIANÓPOLIS

38

Por que Riquelme rompeu com Maradona

42

17

ENCHENDO O PÉ

35

52

Mourinho e suas presepadas

LIGA DOS CAMPEÕES

MARACANAZO

36

Corinthians invade mercado literário

CAPITAIS DO FUTEBOL »

OPINIÃO

32

Paulo Autuori e seus times vencedores

CULTURA

ITÁLIA

30

O maior Brasileirão de todos faz 30 anos

INGLATERRA

O russo que conquistou Londres

ENTREVISTA » NEGÓCIOS

A festa do Barça

54 58 60

DESAILLY

Curso de gestão do esporte

62

COPA DAS CONFEDERAÇÕES 2009 A Trivela apresenta as oito seleções da competição, seus destaques, os esquemas táticos e suas chances no torneio que inicia a contagem regressiva para a Copa do Mundo

44 18

ENTREVISTA » GRAFITE

1x0

JOGO DO MÊS

6

GERAL

8

PENEIRA

16

EXTRACAMPO

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A VÁRZEA

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eu fiscalizo a

Copa Co pa 2 201 014 01 4

Roland Magunia/AFP

Destaque da Bundesliga, atacante fala de técnicos, racismo e vida na Europa

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Com as cidades escolhidas, corrida por crédito para obras começa agora

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1x0 JOGO DO MÊS Daniel Garcia/AFP

por Ubiratan Leal

BOMBONERAZO Boca Juniors criou um mito em torno de si e de seu estádio, mas caiu na Libertadores por crer mais em tal lenda do que seus adversários espantalho foi criado para fazer as aves acreditarem que há humanos vigiando as plantações. Vendo a representação de seus temores em forma de roupas velhas, chapéu de palha e enchimento, os pássaros ficam intimidados e não botam o bico onde não devem. Funciona por um tempo, mas até os emplumados aprendem que se trata de um simulacro. Por isso, os agricultores sabem que precisam alimentar o mito renovando as ações contra os intrusos alados. O Boca Juniors parece ter ignorado essa máxima. Não há dúvidas a respeito do poder da equipe, mas Riquelme, Palermo, Battaglia, Abbondanzieri e

O

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jogo do mês.indd 2

Ibarra, tendo como fundo o paredão humano formado pelas arquibancadas de La Bombonera, já não têm o mesmo efeito entorpecente nos adversários. Assim, não basta apenas a mística do time, de sua camisa e do estádio. É preciso mais.

BOCA JUNIORS Abbondanzieri; Roncaglia, Cáceres, Forlín e Morel Rodríguez (Figueroa); Battaglia (Gracián), Vargas, Chávez (Gaitán) e Riquelme; Palacio e Palermo. Técnico Carlos Ischia

Quem ensinou a lição aos boquenses foi o Defensor Sporting, um time de tradição apenas mediana no Uruguai e que cresce devido a um bom trabalho nas categorias de base. Depois de um empate por 2 a 2 no estádio Centenario, os violetas já pareciam entregues à própria sorte em Buenos Aires. Mas não foi bem assim. Ao contrário do que imaginavam os argentinos, os Tuertos não se intimidaram. Fecharam-se muito bem, adiantando a marcação para não dar espaço às triangulações de Riquelme, Palacio e Palermo. Além disso, ficou sempre preparado para explorar algum contra-ataque. Em uma dessas oportunidades, Diego de Souza tabelou com Pintos e chutou no ângulo de Abbondanzieri. O mítico estádio de caixa de bombons se calava. No segundo tempo, o Boca até tentou pressionar, mas esbarrou na sua própria – e surpreendente – falta de recursos. Parou na aguerrida defesa charrua e no seguro goleiro Silva. Desde 1994 a equipe argentina não disputava uma Libertadores sem terminar entre os oito primeiros. E desde 2003 não perdia em casa pela competição, quando foi derrotada pelo Paysandu, também por 1 a 0. Os argentinos tombavam para a própria soberba, para a crença de que serão eternamente temidos pelos adversários. River Plate, Lanús e San Lorenzo já haviam caído na fase de grupos diante de concorrentes menos tradicionais. Mas a derrota xeneize bateu mais fundo, pois o clube era visto como quase intocável até para os padrões locais. Talvez continuasse sendo, se realimentasse os motivos que o transformaram em um mito no continente. Porque, tão ruim quanto temer um espantalho é achar que um boneco parado vai ser suficiente para afugentar os intrusos eternamente.

0x1

DEFENSOR SP.

Data 21/maio/2009 Local La Bombonera (Buenos Aires) Árbitro Sálvio Spínola Fagundes (Brasil) Gol Diego de Souza (27 min) Cartões amarelos Curbelo, Vargas, Gaglianone e Morel Rodríguez

Silva; Pintos, Curbelo, Rizzo e Cabrera; Marchant, Gaglianone, Amado e Ferreira; Diego de Souza e Vera. Técnico Jorge da Silva

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Estaduais pegando fogo orinthians de Ronaldo, o Flamengo se tornando o maior campeão do Rio, Cruzeiro mantendo o tabu em cima do Atlético Mineiro, Internacional atropelando o Caxias na decisão do segundo turno do Gauchão, Vitória ampliando a fila do Bahia, Sport conquistando o tetra pernambucano, Atlético Paranaense complicando o centenário do rival Coritiba... Os campeonatos estaduais não têm mais a importância do passado, mas muitos torcedores viram neles os motivos para comemorar algo em maio. E não foram apenas times da Série A que festejaram. Em todo o país, pipocaram vencedores e, claro, vencidos. Confira quem se deu bem e mal:

C

Estado

Campeão Juventus

Rio Branco

Não houve

AL

ASA

Corinthians

CSA e Capelense

BA

Vitória

Bahia

Poções

CE

Fortaleza

Ceará

Icasa

DF

Brasiliense

Brasília

Legião e Brazlândia

GO

Goiás

Atlético

Mineiros, Jataiense, Anápolis e Aparecidense

MT

Luverdense

Araguaia

Sinop, Tangará e Cacerense

MG

Cruzeiro

Atlético

Social e Guarani

PA

Paysandu

São Raimundo

Não houve

PB

Sousa

Treze

Internacional

PR

Atlético

Coritiba

Londrina, Foz do Iguaçu e Iguaçu

PE

Sport

Náutico

Serrano e Petrolina

RJ

Flamengo

Botafogo

Cabofriense* e Mesquita

RN

Assu

Potyguar (CN)

Real Independente e Macau

RS

Internacional

Grêmio

Sapucaiense e Brasil (Pelotas)

SC

Avaí

Chapecoense

Marcílio Dias e Atlético Tubarão

SP

Corinthians

Santos

Guaratinguetá, Marília, Guarani e Noroeste

SE

Confiança

Sergipe

São Cristóvão e Canindé

Cuca desabafa depois de, enfim, ganhar um título, o estadual com o Flamengo

milhões 8

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Rebaixados

AC

“Vou poder trabalhar mais tranquilo e sem esta pressão em cima de mim. Vocês [jornalistas] são muito chatos com isso e agora vão parar de encher o meu saco. Acabou essa coisa de ser vice”

€6

Vice

Valor pago pelo Manchester United pelo lateral-esquerdo Dodô, do Corinthians. O jogador de 17 anos foi campeão sulamericano sub-17 pelo Brasil, mas ainda não estreou na equipe principal alvinegra. Por ser menor de idade, Dodô ficará no Parque São Jorge até julho de 2010

*A Cabofriense entrou na Justiça exigindo um jogo extra contra o Volta Redonda. Obs.: os estaduais de AP, AM, ES, MA, MS, PI, RO e RR não haviam sido concluídos até o fechamento desta edição

Ricardo Saibun/AGIF

GERAL » BRASIL

E agora, Coxa? O Coritiba sofreu um duro golpe em suas pretensões de erguer um novo estádio. A prefeitura da capital paranaense vetou a construção de um shopping center, uma das partes do projeto de reformulação do Couto Pereira. Segundo o poder público, o bairro do Alto da Glória – majoritariamente residencial – não suporta uma edificação como a prevista pelo clube, pois ela causaria um grande impacto no trânsito da região. O estádio seria erguido na mesma área ocupada hoje pelo Couto Pereira. A WTorre, construtora responsável pela obra, afirmou que o projeto se tornou inviável com o veto, o que provocou decepção na diretoria alviverde. Dirigentes do clube devem viajar para a África do Sul para buscar inspiração nas arenas construídas para a Copa do Mundo, na esperança de arranjar uma solução para o impasse.

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RAPIDINHAS

RAPOSA NO GALINHEIRO A distribuição do dinheiro do payper-view do Brasileirão é feita a partir da média de duas pesquisas de tamanho de torcidas. Os resultados foram publicados na edição 39 da Trivela. Claro, houve uma pequena discrepância entre os números. No caso do Botafogo, porém, a diferença é considerável: na pesquisa do Ibope, o clube tem 30% a mais de torcedores do que na do Datafolha. O dono do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, é diretor do Alvinegro. A Trivela perguntou ao Ibope e ao C13: 1) não é antiético o Ibope fazer uma pesquisa cujo resultado interessa ao Botafogo?; e 2) o desvio não está fora do normal? A entidade não quis comentar, mas argumenta que o formato da pesquisa foi aprovado em sua assembléia. O Ibope diz que Montenegro está afastado do clube e que “não interfere nos estudos conduzidos pela empresa”. Então, é só coincidência.

“Uma equipe que quer ser campeã do Brasileiro e da Libertadores não pode jogar desta forma” Marcos, goleiro do Palmeiras, após a derrota por 2 a 0 para o time misto do Internacional no Brasileiro

Celso Ávila/Hoje em Dia/Futura Press

por Ricardo Espina

Vandalismo zero A Câmara dos Deputados aprovou o projeto de lei nº 451, elaborado pelo Ministério do Esporte. O pacote de medidas, chamado “Torcida Legal”, engloba, entre outros itens, a criminalização dos cambistas e vândalos, além de ampliar a segurança para quem for ao estádio. Torcedores que promoverem tumultos e atos violentos num raio de 5 km do local da partida podem ser condenados de um a dois anos de prisão, ou serem banidos das arquibancadas. A punição é a mesma para os vendedores ilegais de ingressos. Ações comprovadas de corrupção e/ou manipulação de resultados serão punidas com penas de até seis anos de prisão. O projeto também prevê a criação de uma central técnica de informações, para monitorar as imagens gravadas em arenas com capacidade superior a 10 mil pessoas. Um dos pontos mais polêmicos, porém, teve sua aprovação adiada. O cadastramento de torcedores, que seriam obrigados a usar uma carteirinha para frequentar os estádios, precisa de um tempo maior para ser debatido. A justificativa é do próprio governo.

Adriano Vizoni/Futura Press

Direto para o arquivo Toda a polêmica criada por um suposto caso de suborno no Campeonato Paulista acabou arquivada pelo Tribunal de Justiça Desportiva de São Paulo. Manuel da Lupa, presidente da Portuguesa, havia acusado Jean, zagueiro da Ponte Preta, de ter recebido R$ 20 mil para ajudar o Santos. A Lusa dependia de um tropeço do Peixe diante do clube de Campinas para se classificar para as semifinais. A partida estava 2 a 2 quando Jean cometeu pênalti nos acréscimos do segundo tempo. Kléber Pereira converteu a cobrança e classificou o time da Baixada Santista. Dias depois, Da Lupa afirmou ter provas do suposto suborno. Jean, que se disse inocente, afirmou ter até recebido ameaças de morte devido ao caso. De acordo com o TJD-SP, “a ausência de denúncia formal ou informal da Portuguesa” justificou o arquivamento do processo.

TROCA-TROCA Um fato inusitado marcou o Figueirense na partida contra o ABC, pela Série B. Lucas, inscrito com o número sete, vestia a camisa oito e Alê, o oito, pegou a sete. O erro só foi percebido pelo árbitro Mayron Novais pouco antes do começo da segunda etapa. O juiz deu cartão amarelo para os dois e, como Lucas já havia sido advertido, acabou expulso. O Figueirense venceu por 3 a 1. POSSESSO Amarildo, destaque da Seleção na Copa do Mundo de 1962, demonstrou sua irritação na abertura do Centro de Memória do Maracanã. O ex-botafoguense não aparece na imagem do time campeão. A foto foi tirada no jogo contra a Tchecoslováquia, partida em que Pelé se contundiu e deu lugar para o “Possesso”. “Eu não joguei? Só o Pelé?”, indignou-se. TAMBÉM QUERO BRINCAR O Náutico pleiteia sua entrada no Clube dos 13. Maurício Cardoso, presidente da equipe pernambucana, pretende cumprir a meta ainda nesta temporada. “É uma disparidade um clube como o Náutico fazer um campeonato com apenas R$ 7 milhões, enquanto outros times fazem com R$ 15 milhões, estando todos na mesma competição”, disse. QUALQUER SEMELHANÇA... Em sua estreia na Série B contra o Brasiliense, o Vasco iniciou a captação de imagens para um documentário. Os cruzmaltinos seguem a mesma linha do Corinthians, que lançou o longa “Fiel” sobre sua passagem pela Segundona. O filme vascaíno tem direção de José Henrique Fonseca, filho do escritor Rubem Fonseca. TRISTE FIM Envolta em grave crise financeira, a Universidade Luterana do Brasil (Ulbra) decidiu encerrar suas atividades em vários esportes. Com isso, a equipe de futebol, vice-campeã estadual de 2004 e sexta colocada no Gauchão 2009, deixou de existir, bem como o time de futsal. Apenas o vôlei masculino será mantido.

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Ronaldo Schemidt/AFP

GERAL » MUNDO

Campeão nômade s clubes mexicanos mais uma vez provaram sua hegemonia na Concacaf. Na “final caseira” da Liga dos Campeões, o Atlante levou a melhor sobre o Cruz Azul, após ganhar por 2 a 0 fora de casa no jogo de ida e segurar um empate sem gols na volta. A garantia da ida para Abu Dhabi, para a disputa do Mundial de Clubes, será apenas mais uma longa viagem de uma equipe que se acostumou a percorrer distâncias significativas para sobreviver. Fundado em 1916, o Atlante era o quinto time em importância na Cidade do México. Identificado com o povo indígena, o clube enfrentou sérias dificuldades financeiras e, com isso, perdeu torcida. Para não fechar as portas de vez, tentou buscar novos ares para conquistar seguidores. A ideia era criar raízes em algum lugar carente de futebol. A primeira

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parada do Atlante foi Querétaro, mas ela logo se revelou um fracasso. A resistência por um time “forasteiro” e o crescimento dos Gallos Blancos, clube da cidade, fizeram que os Potros de Hierro voltassem à capital. A segunda tentativa foi em Nezahualcóyotl, região metropolitana da Cidade do México, com novo fiasco. Em 2007, enfim, surgiu a proposta do governo do Estado de Iucatã, com o projeto de erguer um estádio para 20 mil pessoas em Cancun. O Atlante achou vantajoso fincar sua sede na cidade balneária: ali não havia um clube e os torcedores ainda não se identificavam fortemente com equipes de fora. Estava mais do que suficiente. Logo em seu primeiro ano na nova casa, os Potros de Hierro foram campeões do Apertura. Começava ali mais uma dura caminhada, desta vez rumo ao sucesso.

A TVE, canal estatal espanhol, mostrava a final da Copa do Rei entre Athletic Bilbao e Barcelona, mas cortou a transmissão no momento em que o hino da Espanha era executado. O motivo era evitar que o país visse as vaias de torcedores bascos e catalães, ambos bastante engajados no separatismo de suas regiões. Quando foi anunciada a presença do rei Juan Carlos no estádio Mestalla, palco da decisão, novas manifestações, também ignoradas pela TV. No intervalo, a emissora se desculpou pela falha, mas mostrou o hino com som ambiente abafado. O enquadramento das imagens foi feito bem próximo aos jogadores para evitar mostrar as torcidas. A atitude da TVE não foi bem vista. Para a maior parte da opinião pública, independentemente do mérito ou não do separatismo de bascos e catalães, houve censura. Como resposta, a emissora demitiu seu diretor de esportes.

RAPIDINHAS

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SEM HINO, SEM VAIAS, SEM EMPREGO

Gols de Grafite e Dzeko, ambos do Wolfsburg, no Campeonato Alemão. Jamais uma dupla de atacantes foi tantas vezes às redes em uma temporada da Bundesliga. O brasileiro fez 28 tentos e foi a principal figura do título dos Wölfe

OTIMISMO PARA 2010 Os sul-africanos pensam de forma positiva sobre o futuro após a realização da Copa do Mundo. Em pesquisa realizada em maio pela agência Sapa, 89% dos entrevistados acreditam que o Mundial trará impacto positivo ao país, um aumento de três pontos percentuais em relação ao início do ano.

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INDEPENDÊNCIA OU MORTE A federação italiana se disse contra os planos dos grandes clubes de criar uma liga independente na Serie A. No entanto, a cisão parece bem encaminhada. Dos 20 clubes da primeira divisão, apenas o Lecce – que foi rebaixado – se disse contrário à ideia. A nova associação prevê o rompimento com a Lega Calcio e segue os moldes da Premier League inglesa.

CONTROLE RÍGIDO A partir da próxima temporada, a Premier League pretende apertar a cobrança sobre os clubes. Pressionada pelo governo e pela federação inglesa, a entidade exigirá maior transparência financeira por parte dos times, vigiando de perto os donos das equipes e evitando o crescimento das dívidas.

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“Não me sinto frustrado. As grandes equipes da Europa nos superaram e não há nada mais o que dizer” Um resignado Juande Ramos comenta os 6 a 2 tomados pelo Real Madrid diante do Barcelona no Santiago Bernabéu

Divulgação

por Ricardo Espina

“Se este ano não ganhamos o scudetto, é só por culpa de Ancelotti” Silvio Berlusconi, dono do Milan, não hesitou em apontar um culpado pela perda do título italiano para a Internazionale

Terra estrangeira Pela primeira vez, a abertura da temporada francesa ocorrerá fora do país. A decisão da Supercopa, entre o vencedor da Ligue 1 e da Copa da França, será disputada em Montreal, Canadá, em 2 de julho. O objetivo dos dirigentes é usar a proximidade cultural com a cidade canadense (a maior da província de Quebec, de língua francesa) para projetar internacionalmente o futebol francês. “Chegou a hora de atingirmos novos mercados. E Montreal é a nossa melhor porta de entrada para a América do Norte”, diz Frédéric Thiriez, presidente da Liga de Futebol Profissional. A decisão de realizar a Supercopa de um país em outro não é inédita. Itália, Portugal e Turquia já fizeram isso, por questões comerciais ou para aproveitar a grande quantidade de imigrantes desses países no local da partida.

Anderson

Não sou marrento por Gustavo Hofman

*Jogos extra após empates nos jogos de ida e volta ** Juventus 5x3 Milan na disputa de pênaltis

Ano

Supercopa

Jogo

Local

1993

Milan

1 x0

Torino

Washington (EUA)

1994*

Porto

1 x0

Benfica

Paris (FRA)

1995*

Sporting

3 x0

Porto

Paris (FRA)

2002

Juventus

2 x1

Parma

Trípoli (LIB)

2003**

Juventus

1 x1

Milan

Nova York (EUA)

2006

Besiktas

1 x0

Galatasaray Frankfurt (ALE)

2007

Fenerbahçe

2 x1

Besiktas

Colônia (ALE)

2008

Galatasaray

2 x1

Kayserispor

Duisburg (ALE)

Não definido

2009 2009

Internazionale

DISCRIMINAÇÃO Um árbitro foi excluído do quadro da federação turca por ser homossexual. A entidade se baseia em um artigo de seu regulamento interno que prevê que “quem está isento do serviço militar por razões de saúde não pode trabalhar como árbitro de futebol”. Na Turquia, os homossexuais são impedidos de entrar nas Forças Armadas.

x

Montreal (CAN) Lazio

Pequim (CHI)

PARADA IMEDIATA Como forma de aumentar o combate ao racismo, a Uefa autorizou os árbitros a interromper partidas internacionais promovidas pela entidade nas quais torcedores fizerem este tipo de insulto. Os juízes também poderão retirar os jogadores de campo caso ocorram incidentes deste tipo.

Qual a importância de Alex Ferguson na sua carreira? É mais que um treinador, ele é um símbolo de vitórias do Manchester United. Ganhar a confiança dele foi muito importante. E, mesmo com tantos craques consagrados no elenco, ele arrumou um espaço para mim no time. Jogando como segundo volante, acha que tem mais chances na Seleção? Acredito que sim, afinal, venho sempre sendo convocado para a Seleção. Qual a importância da Copa das Confederações? A Copa das Confederações vai praticamente definir o grupo que irá para a Copa de 2010. Será a chance de nos entrosarmos ainda mais. E para mim é o principal objetivo deste ano. Quero conquistar de vez meu espaço na Seleção. Você é visto como um jogador marrento, difícil de dar entrevistas. Por que ganhou essa fama? Não sou marrento, apenas autêntico e mais reservado que os demais jogadores.

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GERAL » INSÓLITO

Getty Images/AFP

AJUDA VIRTUAL A

Perilima ganhou as manchetes por sua história singular. O clube de João Pessoa foi fundado por Pedro Ribeiro de Lima (daí o nome da equipe), que calçou as chuteiras e, aos 60 anos, é o jogador profissional em atividade mais velho do mundo. No entanto, com sérias dificuldades financeiras, o time corria o risco de ficar de fora da segunda divisão paraibana deste ano. A situação comoveu os participantes da “Futebol Alternativo”, comunidade do Orkut que celebra o lado folclórico do futebol. Para salvar a Perilima, eles organizaram uma campanha para arrecadar fundos para a equipe. Com a repercussão positiva da ideia, foi aberta uma conta bancária para receber as doações em dinheiro. Até 21 de maio, haviam sido arrecadados pouco mais de R$ 1,4 mil. Alguns membros da Futebol Alternativo entraram em contato com dirigentes da Perilima para formalizar a doação. Em troca, a equipe prometeu fornecer uniformes para sorteio e se dispôs até a marcar um amistoso. No ano passado, o time foi o lanterna da segunda divisão do Paraibano.

GIVE PEACE A CHANCE

ERRAMOS Na reportagem “Antes do Big Bang” (mai/09, pág.36), está escrito que houve uma edição isolada do Rio-São Paulo em 1942. O ano certo é 1940.

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John Thys/AFP

De acordo com a reportagem “A longa e fria estrada” (mai/09, pág. 39), o Vasco enfrentará oito equipes de São Paulo, quatro do Nordeste e um do Sul na Série B. O correto são cinco de São Paulo, seis do Nordeste e três do Sul. Ao contrário do publicado, o Clube dos 13 não forneceu oficialmente os dados das tabelas da reportagem “Como fatiar o bolo?” (mai/09, pág. 30).

Jeitinho neozelandês Primeira equipe classificada para o Mundial de Clubes, o Auckland City pretende contar com um treinador estrangeiro para a disputa do torneio. Para isso, porém, recorreu a uma manobra no mínimo questionável. Pelas leis da Nova Zelândia, um estrangeiro sem visto de trabalho só pode ser contratado se for para ocupar uma vaga de emprego anunciada em um jornal local. O Auckland não perdeu tempo e colocou o cargo de comandante nos classificados. “O atual treinador interino deixará o cargo no fim da temporada, conforme o previsto, e o clube procura um técnico que será responsável pelo time principal e pelas categorias de base. O candidato precisa ter a experiência apropriada para treinar neste nível ou em categoria mais alta, e deve possuir uma qualificação mínima da Licença Internacional para Treinadores”, diz o anúncio, que ainda deixa o endereço da caixa postal para o envio de currículos.

Pouco importou a derrota por 4 a 3 para o Molenbeek, clube da segunda divisão belga. A seleção da Palestina tinha muito o que comemorar. O amistoso foi a primeira partida da equipe em solo europeu. “Foram empregados esforços diplomáticos para permitir a saída de alguns jogadores de Gaza e da Cisjordânia para a realização desta partida”, disse Leila Chahid, delegadageral da Palestina em Bruxelas. O jogo, organizado por ONU e Comissão Européia, foi realizado na cidade de Molenbeek, próxima a Bruxelas e que conta com uma grande comunidade muçulmana. Três mil pessoas compareceram ao estádio Edmond Machtens para acompanhar o duelo, transmitido pela tevê para a própria Palestina e campos de refugiados em Líbano e Jordânia.

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por Ricardo Espina

Wendell Figueiredo, professor de física do Colégio Decisão, em Recife, quis deixar clara sua paixão pelo Sport e, de quebra, espezinhar o rival Santa Cruz. Ao aplicar uma prova, ele colocou a seguinte questão: “No último Clássico das Multidões (duelo entre o Leão e a Cobra Coral), o jovem atacante Ciro mostrou mais uma vez seu faro apurado de gol, balançando novamente as redes da ‘Sarna’ e iniciando a grande virada rubro-negra. No gol em questão, a bola, de massa 0,4 kg, atingiu uma aceleração de 10 m/s². Qual foi a força exercida pela mais nova revelação do futebol mundial sobre a bola?”. Pela brincadeira, Figueiredo foi demitido.

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NOTA ZERO

1

PIORES FILMES SOBRE FUTEBOL por Felipe dos Santos Souza

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Ela É o Cara Quer outro chavão? Está aqui: Amanda Bynes participa da história da garota que não tem time para jogar e acaba se passando por menino para jogar no time de homens da escola.

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Driblando o Destino A história de uma garota fã de Beckham, que precisa vencer o preconceito da família indiana para jogar, é tão fraca que nem Keira Knightley salva.

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Fuga para a Vitória

Uma Aventura do Zico

Estrela Solitária

Pisando na Bola

Um filme com um time de “prisioneiros de guerra” em que atuavam Pelé, Bobby Moore e Ardiles não tinha como naufragar, certo? Errado, pois Stallone também estava lá.

Zico e Zicópia, clone feito por cientistas, não deixaram saudades. Nem o elenco infantil, que contava com Felipe Adão, que depois virou profissional, se salvou.

Não dá para aceitar que a biografia de um personagem complexo como Garrincha tenha se transformando em uma pornochanchada.

Alguém ainda aguenta ver um filme com o clichê “time de escola formado por dez pernetas e um craque supera as dificuldades e vence o campeonato”?

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Os Trapalhões e o Rei do Futebol Mais uma vez, Pelé tentou emprestar seu prestígio. Até de goleiro ele ficou, para deixar Didi, Dedé, Mussum e Zacarias exibirem seu “talento”.

8 Gol!

Nem o apoio maciço da Fifa, que fez que o filme tivesse participações de Zidane, Beckham, Lampard e Gerrard, transformou a história de Santiago Muñez em sucesso da telona.

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O Casamento de Romeu e Julieta

A história de amor entre um corintiano e a filha de um palmeirense poderia ser mais engraçada. Ou melhor, poderia ser ao menos um pouco engraçada.

Onda Nova

O enredo de garotas que tentam montar um time de futebol teve até Casagrande, Wladimir e Osmar Santos. Virou apenas mais uma das “relíquias” exibidas de vez em quando no Canal Brasil.

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Jon Super/AP Photo

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QUEM TEM ORELHA VAI A ROMA Melhor que ver a taça da Liga dos Campeões, é vê-la em frente ao Coliseu romano. Mais sorte ainda tiveram os barcelonistas, que puderam levá-la para casa e chamá-la de “souvenir”

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PENEIRA

por Mayra Siqueira

MATA: ousadia deu certo Nome Juan Manuel N Mata García Nascimento 228/abril/1988 em Burgos-ESP Altura 1,70m Peso 63kg Carreira Real Madrid (2006/07) , Valencia

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eut e

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(desde 2007)

o Ka

xar seu clube de formação seria recompensada. Com a chegada de Ronald Koeman e a saída de alguns colegas, a vaga entre os titulares apareceu e o jovem conseguiu se firmar. O segundo maior goleador dos Ches na temporada ainda tem um dos salários mais baixos do time, mas espera renovar seu contrato com aumento.

Hein

lberto Bueno e Juan Mata eram parte da mesma geração no Real Madrid. Destaques da Espanha na seleção sub-19, em 2006, ambos levaram o país ao título europeu, com direito a holofotes e goleadas. Porém, os destinos não foram os mesmos para os dois promissores talentos. Enquanto ‘Juanito’ continuava a brilhar, Bueno, que optou por permanecer no Real, apagava. O meia-atacante logo viu que não teria espaço na equipe principal do Real Madrid e buscou algo mais no cenário espanhol. Transferido para o Valencia, teve um início ruim, não correspondeu às expectativas, e esquentou o banco por muito tempo durante a temporada passada, antes de ter uma chance real. No entanto, logo sua ousadia em dei-

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MACHEDA: nas horas decisivas

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marcar o gol do desempate contra o Sunderland, em seu primeiro toque na bola, garantindo o 2 a 1 que faria o United voltar à liderança. Apesar dos lamentos dos italianos, que deixaram o jogador das categorias de base da Lazio arrumar as malas para a Inglaterra antes de assinar seu primeiro contrato profissional, o talento de Macheda já era esperado pelos seus colegas de clube, que o enxergam como “marcador de gols nato”. Esta característica será imprescindível para uma carreira que tem tudo para crescer, especialmente em momentos decisivos.

Nome Federico Macheda Nascimento 22/agosto/1991 em Roma-ITA Altura 1,78m Peso 70kg Carreira Lazio (categorias de base, até 2007) , Manchester United (desde 2008)

Andrew Yates/AFP

ensão nos minutos finais de jogo. O Manchester United caminhava para mais um tropeço na Premier League, contra o Aston Villa, empatando por 2 a 2. Eis que, nos acréscimos, um jovem italiano, que entrara em campo aos 16 minutos da segunda etapa, neutraliza a defesa e marca o golaço que impediu outra decepção dos Red Devils, que se agarravam com unhas e dentes no topo da tabela. Se fosse uma cena isolada, o desempenho de Federico Macheda, 17 anos, teria sido rapidamente esquecido. Mas parece que às vezes o raio cai duas vezes no mesmo lugar e, apenas uma semana depois, Alex Ferguson optava por colocar em campo outra vez a promissa, que não fez por menos. Macheda tornou-se novo herói do clube de Manchester, ao

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por Mauro Cezar Pereira

MARACANAZO

Dos asquerosos tribunais... que a onda de julgamentos nos tribunais de justiça desportiva que cercam o futebol brasileiro. Cenário que rompe as raias do ridículo, com jogos sendo novamente “apitados” por homens engravatados. Decisões dos árbitros são jogadas para escanteio por advogados, muitas vezes ávidos por holofotes. A punição a Ronaldo por puxar os cabelos de Fahel em Botafogo 0x0 Corinthians pela segunda rodada do Brasileirão foi ridícula. O atacante apenas se envolveu em uma das incontáveis trocas de agarrões que caracterizam qualquer jogo de bola. Sempre foi assim, em alguns casos pior. A diferença é que, hoje, a televisão revela quase tudo o que ocorre em campo. E nos jogos sem milhares de câmeras? Simplesmente os tribunais não se manifestam, claro. E a punição a Juan? O ala do Flamengo ameaçou o então botafoguense Maicossuel e foi atacado por zilhões de discursos moralistas, especialmente da mídia. A falta feita pelo rubro-negro foi normal, de jogo. Pela atitude cretina, levou cartão amarelo, em perfeita avaliação do árbitro. Ponto final? Não, nada disso. Os engravatados deram um mês de “gancho” ao flamenguista. E atenção: Juan ameaçou, não consumou qualquer agressão. Já o palmeirense Diego Souza foi mais longe. Estranhou-se com o santista Domingos, foi expulso e, quando estava a metros do vestiário, voltou para dar uma “banda” no zagueiro rival. Se Juan ameaçou agredir, Diego foi às vias de fato, algo registrado pelas tão utilizadas câmeras nos tribunais. E daí? Pegou oito joguinhos a serem cumpridos no Campeonato Paulista do ano que vem, quando pode nem ser mais atleta do Palmeiras. O nojento politicamente correto que inunda o futebol brasileiro faz dos jogos que deveriam nos empolgar espetáculos (?) pautados pela hipocrisia. Critérios? Não existem. Decisões uniformes? Muito menos. Há, sim, jogadas políticas, articulações, jogos de conveniência. Deveria existir um órgão superior a todos os tribunais, algo capaz de suspendê-los. Para sempre.

...ao time que a mídia “elege”

POUCAS COISAS SÃO MAIS IRRITANTES do

HAT TRICK A mídia de São Paulo e do Rio de Janeiro se apaixonou pelo Internacional sem ver o campeão gaúcho jogar. Antes do duelo com o Flamengo, pela Copa do Brasil, o Colorado foi apontado como força avassaladora que amassaria os rubro-negros como um rolo compressor.

Em campo, nos 180 minutos de mata-mata, o time carioca teve maior domínio, e não eliminou os gaúchos graças à incompetência nas finalizações e ao gol de Andrezinho nos minutos finais. Escrevo antes das semifinais do torneio que o Inter pode até conquistar, talvez jogando o que não mostrou até agora.

Mas é incrível a facilidade com a qual tantos elegem um time melhor sem conhecê-lo. O Inter é organizado, tem um dos melhores elencos do país, mas daí a ser apontado como imbatível vai uma distância muito grande. Mas se você não vê jogos de futebol, talvez acredite nisso. Junho de 2009

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ENTREVISTA » GRAFITE

Escrito na

história

Grafite conta como superou a desconfiança dos alemães para se tornar um dos maiores goleadores da história da Bundesliga

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segunda temporada de Grafite na Alemanha tinha tudo para ser um desastre desastre. Durante a prétemporada do Wolfsburg em julho, na Suíça, virou motivo de piada ao desmaiar durante a escalada de uma montanha, num dos puxados exercícios físicos propostos pelo técnico Felix Magath. Em outubro, o atacante perdeu seu pai. Um mês depois, sofreu duas lesões – uma na cabeça e uma no joelho, que lhe obrigou a ser submetido a uma artroscopia. Mesmo com tantos reveses do lado pessoal e do profissional, Grafite se superou dentro de campo. Na volta da pausa de inverno, colocou todas essas questões para trás e foi a locomotiva que carregou o nanico Wolfsburg ao primeiro título de sua história. Muito mais que isso: o atacante escreveu seu nome nos anais do futebol alemão ao se tornar o artilheiro do campeonato, com 28 gols em 25 partidas, e superou marcas que pareciam imbatíveis. A dupla formada por ele e pelo bósnio Edin Dzeko superou em um gol a marca de 53 gols do duo Uli Hoeness e Gerd Müller (em 1971/72 e 1972/73), até então a mais prolífica da história da Bundesliga.

Você esperava conquistar um título tão cedo na Alemanha? Tenho que admitir que não esperava algo tão de imediato. Me lembro do dia em que cheguei. Perguntaram quais eram meus objetivos aqui. Respondi que queria jogar, jogar bem, fazer gols e levar o clube a alguma copa europeia. “Não importa se for a Uefa ou a Liga dos Campeões”, eu disse. E alguns repórteres deram risada: “No ano passado o time brigou pra não cair e você vem falar em Liga dos Campeões?”. Outro dia vieram falar comigo de novo, porque lembraram. E cumpri o que prometi, porque chegamos à

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Copa Uefa logo no meu primeiro ano. Agora veio o título. Antes de assinar você sabia algo sobre o Wolfsburg? Já tinha ouvido falar. Sabia que não era um grande clube e que era patrocinado pela Volkswagen. Quando fui conversar com o presidente do Le Mans para falar que tinha uma proposta deles ele riu: “O Wolfsburg não é nem um clube. É o time da Volkswagen”. Eu respondi que a proposta era boa e que ela me interessava. Me informei melhor quando me fizeram a oferta. Soube que o Marcelinho tinha assinado e que o projeto do Magath era sério e ambicioso, bem

diferente do passado recente, em que a equipe lutava só pra ficar na primeira divisão. Este foi o primeiro título do clube em 64 anos. Dá para apostar em outros no curto prazo? É difícil repetir essa conquista. Sobretudo porque o campeão é sempre mais caçado que os outros no ano seguinte. Por outro lado, esta temporada já serviu para mostrar como a Bundesliga é imprevisível. Acho que, se conseguirmos nos reforçar, dá pra falar em uma nova façanha como essa, sim.

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Ronny Hartmann/AFP

por Eduardo Camilli

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E dá para falar em dobradinha mesmo com a saída do Magath para o Schalke 04? Ele vai nos fazer muita falta. Infelizmente o futebol é assim: uns vão, outros vêm. Tenho certeza que faremos o máximo possível com o treinador que chegar para sairmos vitoriosos novamente. Ao Magath, tudo o que posso fazer é desejar a melhor sorte possível em seu novo trabalho. Ele fez muito por nós aqui e somos agradecidos.

na quebrou), porque nos treinos me chamam de “máquina” pela minha força. (risos)

Como foi para você trabalhar com ele? No começo foi difícil. Quando cheguei, ouvi muito sobre ele, que era um dos melhores treinadores da Alemanha, que tinha conquistado títulos com o Bayern de Munique, que foi campeão da Liga dos Campeões como jogador e que já tinha ganhado muita coisa. O que eu não sabia era desse lado dele de exigir muito da parte física.

Muito se diz que a preparação física no Brasil é de primeiro nível. Para você, que trabalhou com um técnico tão exigente nesse quesito quanto o Magath, é possível ver algum tipo de comparação entre o jeito dele trabalhar e o do que se faz aqui? A diferença é gritante. A preparação no Brasil é boa, sim, mas é outra história. Na minha penúltima temporada no São Paulo, em 2004, eu joguei 84 partidas. É domingo e quarta direto. É por isso que não tem jeito de um time ganhar a Libertadores e o Brasileiro no mesmo ano. É humanamente impossível. Na Alemanha você tem dois meses para se preparar antes do campeonato e depois ainda para um mês no começo do ano. Por conta dessa maratona, a diferença é que no Brasil não se treina tanto quanto aqui. Enquanto lá o técnico já tem uns 12, 13 jogadores em quem ele confia, aqui o time é escalado pelo que você faz no treino. Se você treina mal, sai do time. Ele é o melhor treinador com quem você já trabalhou? Não, o melhor treinador foi o Autuori, no São Paulo. Ele é o técnico mais inteligente que já tive. Se ele não está dando treino, está em casa vendo jogo.

Eu e o Dzeko nos entendemos muito bem. Um praticamente sabe o que o outro vai fazer e isso facilita muito a nossa vida 20

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Thomas Bohlen/Reuters

Você chegou até a passar mal num exercício... Foi durante um torneio que disputamos no início da temporada, na Suíça. Tínhamos jogado na sexta-feira contra o Vitória de Guimarães e treinamos no sábado normalmente. No domingo voltamos a treinar pela manhã e à tarde, quando pensávamos que íamos ter folga, ele chegou para a gente e disse: “Vamos sair para tomar um café”. Só que ele não falou que a cafeteria era em cima de uma montanha de 2.200 metros de altura. Quando faltavam uns 300 metros, comecei a ter tontura, fiquei para trás e desmaiei. Ficamos só eu e o treinador. Ele me socorreu, chegaram os médicos e logo melhorei. Quando cheguei ao topo estavam todos dando risada. E eu: “Maschine kaputt! Maschine kaputt!” (a máqui-

Tanto esforço vale a pena? No final das contas foi muito bom para nós, jogadores. Nessa reta final, éramos o time mais bem preparado da Bundesliga. Podíamos jogar os 90 minutos sem nem sentir. Enquanto alguns times caíram de produção no segundo turno, caso do Leverkusen e do Hoffenheim, nós subimos.

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Edinaldo Batista Líbano (Grafite) Nascimento 2/abr/1979, em Campo Limpo Paulista (SP) Altura 1.89m Peso 79kg Carreira Matonense (1999 e 2000) , Ferroviária (2001) , Santa Cruz (2001 e 2002) , Grêmio (2002) , Anyang-COR (2003) , Goiás (2003) , São Paulo (2003 a 2006) , Le Mans-FRA (2006 a 2007) e Wolfsburg (desde 2007) Seleção 1J/1G Títulos Campeonato Paulista (2005) , Copa Libertadores da América (2005) , Mundial de Clubes Fifa (2005) e Campeonato Alemão (2008/09)

O Muricy também é assim... Nem se compara. Não chega aos pés do Autuori. Trabalhei com o Muricy no Santa Cruz e no São Paulo. O Autuori chega para o time e diz: “Se fizermos isso e isso, a gente ganha. Se fizermos isso outro, vamos perder”. Ele sempre estava certo. O melhor exemplo foi o jogo contra o Liverpool. Depois de duas temporadas na Alemanha, você já domina a língua? Ainda não consigo construir as frases inteiras, mas consigo entender bem. Temos duas aulas por semana, mas, às vezes, pela rotina dos treinos, faltamos. Acabo aprendendo mais no dia-a-dia, nos treinamentos, no contato com os jogadores. Quando cheguei, o Marcelinho Paraíba me ajudava muito e traduzia para a gente. Hoje tem o Diego (Benaglio, goleiro suíço que jogou em Portugal), que quebra um galho para a gente. Em geral, consigo me comunicar bem. Como falo um pouco de francês, isso me ajuda. Também aprendi inglês no Brasil. Se não sei a palavra em alemão, uso em inglês e no fim dá tudo certo. Quando saio, vou pra Berlim ou Hamburgo com minha esposa, me viro bem. O que você acha do futebol alemão? Aqui é perfeito para meu estilo de jogo. É um futebol pegado, mais de força. Bem melhor que na França, onde a bola não para, não sai do meio-de-campo e é muito difícil

de aparecer uma oportunidade de gol. Tirando o Lyon, e quem sabe o Bordeaux e o Olympique, o resto está num nível muito baixo. Estou feliz na Alemanha. Se for pra sair daqui, tem que ser para Inglaterra ou Espanha. Para a Itália eu não iria. Não gosto do futebol lá e, na minha opinião, aqui é melhor do que lá. A Bundesliga só perde para a Inglaterra e para a Espanha. E vou falar: acho que o espanhol tem caído um pouco. É só Barça e Real, Barça e Real. Aqui é mais competitivo. O Stuttgart ganhou recentemente, o Werder Bremen alguns anos atrás. Não se resume apenas ao Bayern. O frio costuma ser motivo de reclamação de muito brasileiro. Te incomoda jogar debaixo de neve? Aqui é pior que na França, mas já me acostumei. Claro que é sempre um choque voltar para cá depois das festas de fim de ano. Saí de Recife com 36ºC e cheguei em Wolfsburg com -20ºC. O que ajudou foi eu ter jogado na Coreia do Sul e lá o frio é como o da Alemanha. Mas vou falar: prefiro jogar no frio que no calor. No verão é bem pior. A gente perde muito líquido e cansa mais rápido. A gente usava isso muito a nosso favor quando eu estava no Goiás: no primeiro tempo a gente segurava e no segundo a gente matava. Fora de campo, você tem algum tipo de relacionamento com seus colegas? Uma vez por mês a gente se encontra. Ou vai jogar pôquer, Junho de 2009

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Além da artilharia, você terminou a temporada com uma marca impressionante de gols... (Grafite interrompe) Sim, foram 28 gols em 25 partidas pela Bundesliga, três em três jogos pela Copa Uefa e quatro gols em três partidas pela Copa da Alemanha. São 35 gols em 31 jogos. Nunca atingi uma média tão boa na minha carreira. Lembro de ter feito 27 gols em 2004 pelo São Paulo, mas em muito mais partidas. Tinha planejado fazer até mais gols. Não fosse pela necessidade de parar por algumas rodadas para fazer uma artroscopia, teria feito muito mais. Como eu disse antes, a diferença é que no Brasil a gente joga muito mais e tende a ser mais irregular. Além da artilharia, você e o Dzeko marcaram juntos 54 gols e se tornaram a maior dupla de ataque da história da Bundesliga. O que explica esse entrosamento? Eu e o Dzeko nos entendemoa muito bem. Um praticamente sabe o que o outro vai fazer e isso facilita muito a nossa vida. A gente conversava muito durante o treino e acabamos nos acertando bem. Eu gosto mais de ficar no primeiro pau, o Dzeko no segundo. Isso ajuda, porque muitas vezes eu nem olho e jogo a bola no segundo pau porque sei que ele vai estar lá. Ajuda também o entrosamento dele com o Misimovic, que eles já trazem da seleção bósnia. Ele é um 10 mais clássico, que põe a bola onde quer e deixa você na cara do gol.

ga da minha família num shopping. Ela é argentina, muito próxima do Quiroga e do Santana, que jogaram aqui até o ano passado. Ela me perguntou por que eu tinha sumido. Eu disse que não sumi, mas sim, que tinha que treinar mais que antes. E ela respondeu rindo: “Não, agora você é uma celebridade!”. Eu sei que o momento é favorável. Outro dia fui com minha mulher, que está grávida, e minha cunhada até Berlim para comprar roupa para minha filha que está por vir. O pessoal lá me reconheceu e pediu para tirar foto. E isso não é normal aqui na Alemanha. Quando você assumiu a artilharia da Bundesliga, toda a mídia alemã parece ter descoberto

O Autuori chegava e dizia: ‘Se fizermos isso, ganhamos. Se fizermos isso outro, perdemos’. E ele sempre estava certo.

você. Como foi se tornar o centro das atenções? Pra mim é uma coisa normal pela minha profissão. Vivi algo parecido no São Paulo entre 2004 e 2005. Lá era pior, porque eu não podia nem ir ao shopping, sair de casa e nem ir ao restaurante comer se tivesse muita gente. Eu sei que isso faz parte, porque sou uma pessoa pública. É óbvio que se eu não estivesse num bom momento, sem marcar gols, isso não aconteceria. É tudo reconhecimento do meu trabalho e me dou bem com isso. Eu sei que isso não vai durar para sempre e que se eu ficar um ou dois jogos sem marcar as críticas vão vir, as entrevistas vão diminuir... Esse tipo de coisa só atrapalha se o cara não tiver cabeça boa, não entender que é uma coisa passageira. Sou uma pessoa sossegada, tenho uma estrutura familiar muito boa e minha esposa, sempre que eu começo a me achar já me traz de volta. “Vamos baixar essa bolinha que você sabe muito bem o que já passou pra chegar aí”. No Brasil, além de suas conquistas como jogador, uma passagem sempre lembrada é aquela da ofensa racista do Desábato.

Toru Yamanaka/AFP

ou vai para o bar do Madlung em Braunschweig. Marcamos jantares com as famílias e procuramos fazer isso sempre. É natural, claro, que nós tenhamos mais contato com os brasileiros e eles entre si, pela questão da língua.

Essa sua excelente forma dentro de campo te deu fama por toda Alemanha. Você esperava isso tão rápido? Um dia desses encontrei uma ami-

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Paulo Whitaker/Reuters

No jogo na Argentina eu troquei a camisa com o Desábato. Até hoje minha sogra tem a camisa dele do bem e eu disse que sim. O que eu não sabia era do “auê” que o Galvão Bueno estava fazendo. Eu estava indo embora e me disseram que tinha de esperar até os 30 minutos do segundo tempo pelo sorteio do antidoping. Saiu e eu não estava. Esperei até os 35 minutos para ver o que acontecia e quando estava saindo do vestiário veio o Nico (Oswaldo Gonçalves, delegado da Polícia Federal) com mais dois homens. Ele me disse que ia prender o argentino e eu não entendi nada. Achei que tinha acontecido alguma coisa. Me despedi dele e ele disse: “Nada disso, você precisa ir até a delegacia”. Às 2 horas da manhã chegou o Desábato com o técnico e mais uns jogadores. Ficamos lá até 6 horas da manhã e fui embora. Não tinha a menor ideia de que ele seria preso.

Quatro anos depois, como você analisa aquele episódio? Vou ser sincero: se dependesse de mim, nada daquilo teria acontecido. Se eu saio do Morumbi 30 segundos antes, nada daquilo teria acontecido. No jogo de ida foi muito pior. Cara cuspia, xingava, metia dedo aqui e ali, torcedor dando tapa na cabeça... Xingaram de tudo que é nome lá. E o mais curioso é que no jogo na Argentina eu troquei a camisa com o próprio Desábato. Até hoje minha sogra tem a camisa dele. Na semana antes do jogo do Morumbi saíram muitas matérias dizendo que tinha que ser um jogo sem racismo, coisa e tal. Aí teve o lance com um jogador. Cheguei para dividir com

ele e joguei o corpo pra cima dele. A bola saiu e eu levantei a mão. O Desábato não tinha nada a ver com a história e chegou gritando. Foi quando ele soltou o: “Seu negro de merda!”. Eu empurrei a cara dele e nem dei atenção. Aí você fui expulso. Aí eu fui expulso. Quando eu cheguei no vestiário, o Juvenal (Juvêncio, atual presidente do São Paulo, na época diretor de futebol) me ligou e perguntou o que tinha acontecido. Ele me perguntou o que o Desábato tinha me dito e eu contei. “Então toma seu banho e esfria a cabeça”. Quando acabou o primeiro tempo o pessoal desceu, o Leão me perguntou se estava tu-

Por que você nunca disse isso antes? Depois de tudo o que aconteceu, eu não podia voltar atrás. O São Paulo me arrumou advogado e estava todo mundo do meu lado. O pessoal das causas dos negros todo me apoiando. Aí o tempo foi passando e, dois meses depois, ninguém mais estava do meu lado, ninguém mais queria dar a cara para bater e eu estava sozinho na história. Era mais lembrado por esse caso que pelo meu futebol. Foi por isso que, depois de seis meses, não prestei queixa-crime contra ele – e o pessoal que estava me apoiando começou a me criticar. Até hoje, todo 13 de abril é a mesma história: chove repórter me ligando pra perguntar disso. Foi um episódio negativo na minha carreira e que não foi nada bom para a minha vida pessoal. Junho de 2009

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CAPA » BRASIL

RONALDO OU

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ntes da Copa do Mundo de 2006, poucos apostariam que a dupla de ataque da Seleção estaria, três anos depois, disputando o Campeonato Brasileiro. Pois Ronaldo e Adriano, cada um por seus motivos, estão de volta e são duas das principais estrelas da competição. E mais: jogando pelos clubes de maior torcida do país. Os dois atacantes tiveram apresentações pomposas, e suas contratações foram vistas como sinal de uma recuperação do futebol brasileiro, habituado a ter candidatos a ídolos rumando ao aeroporto ano após ano. A chegada de Adriano ao Flamengo teve, inclusive, ares de “resposta” do clube à escolha de Ronaldo pelo Corinthians, quando muitos esperavam que o Fenômeno optasse pela Gávea pelo simples fato de ser rubro-negro declarado. Polêmicas à parte, o que o torcedor quer mesmo saber é o impacto que eles terão na disputa do Brasileirão 2009. Quem vai fazer mais diferença para seu time no campeonato? Elegemos alguns critérios que podem apontar com razoável objetividade qual das duas maiores torcidas do país tem mais motivos para se animar. Pelo menos nesse momento de expectativa, porque a resposta mesmo só sairá dentro das quatro linhas.

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Sergio Moraes/Reuters

Do ataque da Seleção na Copa de 2006 para os dois clubes mais populares do Brasil. Entre Ronaldo e Adriano, quem terá o maior impacto no Brasileirão 2009? Trivela analisou os pontos positivos e negativos e fez sua escolha

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por Gustavo Hofman e Leonardo Bertozzi

AMBIENTE NO CLUBE

Viés positivo

ADRIANO DESEMBARCOU em um Flamengo muito semelhante ao que deixou, em 2001, um clube que parece ter vocação para a autossabotagem em alguns momentos. Apesar do título estadual, a campanha no Brasileirão já começou com turbulência: os atrasos de salários colocam o clube em situações constrangedoras, como aceitar o retorno de um decadente Petkovic. Não são raros casos de elencos em que há mal estar por causa de regalias concedidas a uma estrela – e não há dúvidas de que Adriano as terá na Gávea. Se os resultados com o atacante não corresponderem, as cobranças podem começar até mesmo dentro do vestiário. O episódio em que Juan ameaçou deixar o treino dias antes de entregar a classificação na Copa do Brasil para o Internacional é um bom termômetro: se o lateral, que nunca teve status de grande jogador, se dá algumas liberdades, o que dizer de Adriano, “o Imperador”? Embora as perspectivas não apontem para boa coisa, nada impede que a chegada de uma estrela com carisma junto à torcida acabe amainando as vaidades. O que mudaria sensivelmente o quadro.

Mauricio Lima/AFP

OU ADRIANO?

RONALDO NÃO DEIXA de ressaltar a importância do técnico Mano Menezes em sua recuperação. Desde o início, o treinador gaúcho soube lidar com o Fenômeno e teve a paciência necessária para recuperá-lo. Para ajudar ainda mais, mudou o esquema tático do time, que passou a atuar quase em função do atacante. Saiu de um 4-4-2 conservador para uma variante do 4-3-3, com Dentinho e Jorge Henrique abertos, Douglas vindo de trás, todos municiando Ronaldo. Além disso, o Fenômeno encontrou um grupo propenso a tratá-lo como o ídolo que é, mas sem considerá-lo um “intocável”. Com isso, ganhou a confiança dos colegas, sobretudo de André Santos e Dentinho, com quem tem relacionamento mais próximo. Na diretoria, Andrés Sanchez o trata com todos os mimos, para não prejudicar a estada de Ronaldo no Parque São Jorge. O perigo é que tudo isso se vire contra o jogador. O Corinthians é um clube politicamente muito agitado e eventuais problemas (maus resultados ou dificuldades financeiras) podem mudar o cenário atual rapidamente.

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RONALDO DEMOROU, mas aprendeu que a cobrança em São Paulo é maior do que no Rio de Janeiro. Quando chegou ao Corinthians, abusou em algumas baladas – em janeiro foi flagrado em noitadas que iam até o sol raiar. No mês seguinte, durante a concentração do time, ele abusou em uma casa noturna de Presidente Prudente, que resultou na demissão do diretor Antônio Carlos. Na sequência, finalmente estreou pelo Corinthians, contra o Itumbiara pela Copa do Brasil, e depois marcou o gol de empate no clássico com o Palmeiras. Voltou a ser manchete das páginas esportivas, mas por motivos positivos. O futebol decisivo do Fenômeno serviu para ofuscar um pouco as notícias negativas. Tanto que os torcedores adversários até se divertiram com fotos do jogador que circularam pela internet, mas os alvinegros nem se importaram tanto.

MARKETING

Ganho dentro de campo, lucro fora dele 26 anuncios.indd 4

A VIDA NOTURNA é o principal ponto de interrogação sobre as chances de sucesso de Adriano no retorno ao Flamengo. Na Itália, sua presença era constante nas boates de Milão. A diferença estava na capacidade do clube em encobrir os fatos – algo que também acontecia com Ronaldo. “Na Itália também se fala muito de fofocas. Enquanto os clubes protegeram os dois, saía pouca coisa no jornal. Depois, começaram a se saber mais coisas, e isso foi um sinal de que os clubes os haviam largado”, argumenta Paolo Condó, repórter da Gazzetta dello Sport. Um problema maior, no caso de Adriano, é seu envolvimento com álcool, fato amplamente difundido também na Itália. Para piorar, no Rio, ele não tem apenas frequentado as boates cariocas, mas promovido festas que varam a madrugada em sua residência. A história do futebol é pródiga em jogadores “baladeiros”, e muitos deles tiveram carreiras bem sucedidas. O melhor exemplo disso é Romário, de quem se conta que teria um “acordo” com Johann Cruyff, seu técnico no Barcelona: enquanto jogasse bem, poderia fazer o que quisesse de sua vida. O acordo de Adriano tem esta cláusula não escrita. Resta saber o que acontecerá se ele não cumpri-la.

O futebol brasileiro não conta com atacantes talentosos como Ronaldo e Adriano. Ainda que existam “poréns” a respeito de ambos, Corinthians e Flamengo sabem que contrataram jogadores capazes de decidir qualquer partida. Isso não significa que a (alta) aposta seja apenas técnica. Os próprios clubes admitem que a chegada de ambos serve como ferramenta de marketing.

CONDIÇÃO FÍSICA

Difícil segurar

Calcanhar de Aquiles

NOITADAS

EM SABATINA REALIZADA pelo jornal Folha de S.Paulo em meados de maio, Ronaldo finalmente admitiu seu peso: 93 kg. Disse, inclusive, que está mais pesado do que na época da Copa de 2006, quando tinha 91 kg. A informação, verídica ou não (a comissão técnica da Seleção informou que o atacante estava acima dos 100 kg quando se apresentou para o Mundial), confirma que o jogador ainda está acima do peso. A evolução física de Ronaldo é visível. No entanto, também é verdade que ele estancou na faixa dos 90 kg. Teoricamente, ainda precisaria perder um

O impacto de Ronaldo não demorou para ser sentido. Sua apresentação no Corinthians não chegou a ser uma première de superprodução hollywoodiana, mas todos que foram ao Parque São Jorge sabiam que estavam diante de uma estrela pop. O clube colocou à venda vários produtos usando o nome e a imagem do Fenômeno e alavancou várias ações promocionais com

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ADRIANO DESFRUTA de um físico privilegiado, sua principal arma em campo. No entanto, o rubro-negro tem facilidade para ganhar peso. Prova disso é o fato de ter se apresentado ao Flamengo pesando 105 kg, 18 acima do ideal. Quando treina com disciplina, Adriano consegue se manter em forma sem grandes problemas. O maior desafio para o Rubro-Negro será garantir que ele supere os problemas pessoais e siga o programa de preparação física. Para isso, o clube até designou um psicólogo para cuidar exclusivamente do atacante. Como esperança para os torcedores flamenguistas, fica a experiência do Imperador no São Paulo, em 2008. O jogador não atuou como em seus melhores momentos, mas esteve em boa forma e provou fazer a diferença contra os zagueiros brasileiros.

pouco de peso para ficar adequado a sua altura (1,83 m), além de ter uma melhor distribuição da gordura pelo corpo. Ele mesmo já admitiu que essa tem sido a parte mais difícil do tratamento. A idade e a falta do antigo vigor físico se mostram presentes nessa hora. “Ronaldo é vítima de suas inúmeras cirurgias”, comenta o fisioterapeuta Nivaldo Baldo, que cuidou de diversos jogadores lesionados, entre eles Amoroso, Zé Maria e Juninho Paulista. “Hoje, o resultado não é o melhor. Ele supera as dificuldades físicas com sua grande experiência”.

isso. “Nenhum time no Brasil soube trabalhar tão bem no marketing com um jogador como o Corinthians nesse caso”, comenta Amir Somoggi, especialista em marketing esportivo. O Flamengo pretende fazer algo parecido com Adriano. Logo na apresentação do atacante, o Rubro-Negro lançou o slogan “Imperador do Rio – Voltei para Vencer” e divulgou uma campanha para os torcedores

PARTE TÉCNICA

Craque é craque EM CAMPO Ronaldo já provou que pode voltar a ser decisivo. No Campeonato Paulista, disputou 10 jogos e marcou oito gols. Foi fundamental nas finais e acabou eleito o melhor jogador da competição. O talento de Ronaldo é incontestável. Mesmo fora de forma, ele consegue se diferenciar dos demais, dar arrancadas e deixar zagueiros muito mais jovens para trás. “Ronaldo é um jogador completo. Não dá para comparar com o Adriano, que é um jogador de muita força física e que, dentro dessa característica, é muito bom”, opina Caio Ribeiro, comentarista da TV Globo. E a atenção desprendida pelos adversários em sua marcação também tem resultado em benesses táticas para Mano Menezes. Sempre com um ou dois defensores de olho em sua movimentação, Ronaldo abre espaços para os demais jogadores do sistema ofensivo corintiano.

DIFICILMENTE ADRIANO será capaz de marcar um gol como o que Ronaldo fez contra o Santos na semifinal do Campeonato Paulista. Ele fica devendo quando se trata de habilidade com a bola. Seu jogo é baseado na imposição física, que lhe permite se proteger de choques, e em um chute forte de pé esquerdo. Na Itália, havia a sensação de que seu futebol se desenvolveria com o passar dos anos, o que não se concretizou. “O problema é que ele nunca melhorou. Nunca joga com o pé direito, o defensor sempre sabe que ele tentará o drible para a esquerda”, lembra Paolo Condó, repórter da Gazzetta dello Sport. “Ele prometia ser, do ponto de vista técnico, um verdadeiro ‘brasileiro’, mas tornou-se um jogador apenas físico”. Ainda assim, a maneira como o atacante aprendeu a utilizar seu tamanho na Itália faz diferença, e seu período no São Paulo comprovou isto. Desde que tenha quem lhe entregue bolas em boas condições, Adriano, mesmo sem a habilidade de Ronaldo, também deve escrever seu nome diversas vezes nos placares eletrônicos.

escolherem o número do jogador. Um consultor esportivo ouvido pela Trivela, envolvido com o staff de Adriano, explicou, porém, que essa segunda iniciativa tem outras explicações. “A Olympikus, que está prestes a oficializar o acordo com o clube, não queria que a Nike lucrasse com as vendas das camisas do Adriano”, afirma. O fato de ter carreira internacional mais

rica torna Ronaldo um “produto” mais rentável. “Adriano representa 30% da força de marketing do Ronaldo. Os problemas do Ronaldo não afetam sua marca, já com o Adriano não é bem assim”, afirma Somoggi. No entanto, a relação do Imperador com o Flamengo é antiga, o que pode fazer, para o mercado nacional, a aposta rubro-negra ser tão válida quanto a corintiana.

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PODER DE DECISÃO

Na dúvida, passa para ele

RESISTÊNCIA A LESÕES

Adriano em vantagem

EM SUA CARREIRA, Ronaldo disputou 17 finais de campeonatos. Conquistou dez de 13 títulos e marcou 15 gols nessas partidas, nas quais passou em branco em apenas sete. Basta analisar esses números para ter a real noção de quão decisivo o jogador é. Ronaldo é daqueles atletas que lida muito bem com a pressão e a torna praticamente uma aliada. Ele só precisa fazer isso com um pouco de regularidade. Em uma competição de pontos corridos, a necessidade de ser decisivo é dividida em várias partidas. Principalmente contra os principais adversários pelo título, como Internacional, São Paulo, Cruzeiro, Flamengo... Se ele não tiver condições físicas de atuar em todas as partidas, pode fazer muita falta ao Corinthians. No entanto, não se pode menosprezar a capacidade de decisão de um jogador que fez dois gols em final de Copa do Mundo.

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NÃO DÁ PARA NEGAR que Adriano é um jogador decisivo. Basta lembrar as partidas importantes com a camisa do Brasil, como na Copa América de 2004 e na Copa das Confederações de 2005, para notar que ele não foge nos momentos mais agudos. Mesmo em seus períodos mais delicados, o atacante é capaz de resolver partidas. Foi assim, por exemplo, na vitória sobre o Milan na Serie A italiana, fundamental na arrancada para o tetracampeonato nerazzurro. Para o padrão brasileiro, tal capacidade é potencializada. Em 2008, salvou o São Paulo em várias partidas da Libertadores. Não há motivos para não fazer o mesmo na Gávea.

O JOELHO ESQUERDO já sofreu dois rompimentos de ligamentos, que deixaram sua carreira à prova e, no final, o tornaram uma fênix. Com o mesmo problema no joelho direito, há quase dois anos, Ronaldo foi jogado ao limbo. Deu a volta por cima, para felicidade de seu patrocinador cervejeiro. Até onde ele aguentará? Tantas contusões graves deixaram seu físico mais vulnerável. “Hoje o Ronaldo carrega um fardo. Possui limitações articulares, problemas com o peso corporal e dificuldades na movimentação. Ninguém aguenta tantas cirurgias, e ninguém recuperou o Ronaldo. Ele que se superou”, comenta Baldo. O risco não é apenas de nova contusão no joelho, onde há naturalmente mais cuidado. O fato de passar por longos processos de recuperação (O Fenômeno ficou quase um ano

parado devido à lesão sofrida no Milan) aumentam o risco de pequenas lesões musculares. A primeira de 2009 foi revelada logo após a partida contra o Fluminense, pelas quartas de final da Copa do Brasil. Segundo o jornalista Paolo Condó, do jornal La Gazzetta dello Sport, esse seria o motivo pelo qual o atacante tem pouco espaço na Europa hoje. “Em geral, o futebol brasileiro é muito menos violento e, portanto, menos traumático, que o europeu. Vi uma partida do Paulista em que Ronaldo não levou nenhum pontapé. Na Itália seria impensável”, afirma. “Ronaldo ainda poderia jogar bem na Europa, mas não em um clube de ponta. Ele precisa jogar uma vez por semana para manter a condição física perfeita, e isso seria difícil no Manchester United, no Real Madrid ou no Milan”.

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Na Seleção, a dupla não conseguiu emplacar

PROFISSIONALISMO

O passado te condena

Impacto p no Brasileirão

NÃO FORAM POUCAS as vezes em que Adriano desfalcou a Internazionale por falta de condições de jogo. No entanto, a origem dos problemas sempre foi a forma física ou estado psicológico, nunca uma lesão. Em sua carreira, não teve problemas significativos de lesões. Considerando que ainda é novo (27 anos) e terá acompanhamento especial do Flamengo, a chance de manter esse histórico é grande. Se atingir sua forma física ideal, o Imperador terá condições de atuar duas vezes por semana. O que certamente não acontecerá com Ronaldo.

ADRIANO E PROFISSIONALISMO são praticamente opostos. Os atrasos a treinos comprometeram seu futuro na Internazionale. Não foram poucas as vezes que foi punido por esse tipo de atitude e, em um dos casos, segundo a imprensa italiana, ele se apresentou embriagado e foi mandado de volta para casa. Sua permanência entre os nerazzurri só se prolongou por causa do paternalismo do presidente Massimo Moratti. “Ele tratava Adriano de forma diferente porque se orgulhava de tê-lo descoberto”, explica Condó, da Gazzetta dello Sport. “Ele nunca gostou de admitir seus erros”. A rescisão do contrato com a Inter partiu de um sumiço do atacante, que permaneceu no Brasil após um jogo pela Seleção e não deu satisfações ao clube. “Me incomoda um pouco como o Adriano saiu. Já trabalhei com o Moratti e sei que ele preza muito o lado pessoal do atleta. Por isso, o Adriano disse que queria deixar o futebol. Mas logo ele acertou com o Flamengo”, critica Caio Ribeiro, ex-atacante interista e atual comentarista da TV Globo. O acordo com o clube italiano foi rompido após declarações de Adriano em que se dizia pronto a se afastar do futebol por um tempo.

NOTAS

Michael Dalder/Reuters

RONALDO NÃO ESCONDE que gosta de sair à noite. Como defesa, pode dizer que os principais “escândalos” que o envolveram ocorreram quando estava lesionado. Tanto que, desde que estreou no Corinthians, sua atração pela noite não teve efeitos graves em campo. Mas nem tudo são flores. A confusão durante a concentração alvinegra em Presidente Prudente não fazia parte do programa de recuperação física pelo qual passava. Além disso, o comprometimento profissional certamente será mencionado em uma eventual má fase. Outro ponto negativo é o modo como deixou seus clubes. Em Barcelona, Internazionale e Real Madrid, sua saída foi envolta em polêmica. O fato de estar em fim de carreira, porém, torna pouco provável um atrito mais sério com o Corinthians.

Ambiente no clube Noitadas Condição física Parte técnica Poder de decisão Resistência a lesões Profissionalismo

MÉDIA

★★★ ★★★★ ★★ ★★★ ★★★ ★★★ ★★★★ ★★★★★ ★★★★★ ★★★★★ ★★★★★ ★ ★ ★★★

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HISTÓRIA

por Ubiratan Leal

Coração

de mãe Há 30 anos, Campeonato Brasileiro atingia o auge de seu inchaço, com quase uma centena de clubes – e sem São Paulo, Corinthians e Santos

uando Ríver e Moto Clube entraram no gramado do estádio Albertão, Teresina, em 16 de setembro de 1979, estavam dando início a uma maratona de 98 dias, envolvendo 94 equipes e muita confusão. Era o auge da politização do Campeonato Brasileiro, em que parecia não haver limite para a ânsia de acomodar os interesses de todos os lados e sempre cabia mais participantes na competição. O regulamento já dá uma boa noção de como foi aquele torneio. O desafio era espremer os 98 participantes em uma competição com três meses de duração e conciliar isso tudo com um ano particularmente complicado em São Paulo e Rio de Janeiro. Os paulistas estavam envolvidos em um estadual longuíssimo, em que os finalistas fizeram 48 jogos. Na outra ponta da Via Dutra, a Guanabara (cidade do Rio) estava se fundindo com o Estado do Rio de Janeiro e houve dois estaduais.

Q

Assim, a CBD decidiu dar regalias a paulistas e fluminenses. A entidade dividiu os 80 clubes em oito grupos (sendo que dois concentravam os times mais tradicionais) de dez equipes, que se enfrentavam apenas em jogos de ida. Os quatro primeiros das chaves mais fracas e os oito melhores das fortes passavam à segunda etapa, se juntando a 16 times pré-classificados (quatro grandes da Guanabara, dez paulistas, Americano e Goytacaz, os mais fortes do antigo Estado do Rio).

As 56 equipes formariam sete grupos de oito, que se enfrentaram em jogos de ida. Os dois melhores de cada chave foram para a terceira fase, na qual já estavam Guarani e Palmeiras, finalistas do Brasileirão no ano anterior. Na terceira fase, os 16 times se dividiram em quatro grupos, cujos vencedores passavam às semifinais. A partir daí, o torneio seria concluído em mata-mata tradicional, com jogos de ida e volta. Os problemas começaram antes de a bola rolar. Corinthians, Portuguesa, Santos e São Paulo, cujas entradas na competição ocorreriam na segunda fase, exigiram a mesma regalia dada a palmeirenses e bugrinos, entrando apenas nos grupos das quartas de final. Ao não serem atendidos, desistiram da disputa, obrigando a CBD a mudar o regulamento da primeira fase, prevendo a classificação de quatro equipes por índice técnico. Assim, fechou-se a lista de 94 participantes (veja lista), 20 a mais que no ano anterior. Jamais o Campeonato Brasileiro havia tido tantos integrantes e, depois, tal marca só foi superada em edições em que as finais misturaram as três divisões.

Quando a bola rolou

9.136 Média de público do Brasileirão de 1979. É a segunda pior marca da história

Apesar das confusões, do interesse político e de ausências ilustres, o Brasileirão de 1979 teve seus momentos marcantes. Do ponto de vista negativo, o fato de ter visto o jogo com mais expulsões da história do torneio. Em Goiás 3x1 Cruzeiro, pela primeira fase, o árbitro Aloísio Felisberto da Silva mostrou o cartão vermelho para 14 jogadores (sete

SEMPRE CABE MAIS UM De A a X, os 94 participantes do Brasileirão de 1979 ABC

América-MG

América-RJ

América-RN

Americano

Anapolina

ASA

Atlético-GO

Atlético-MG

Colorado-PR

Comercial-MS

Comercial-SP

Confiança

Coritiba

CRB

Criciúma

Cruzeiro

CSA

Grêmio Maringá

Guará

Guarani

InternacionalRS

InternacionalSP

Itabaiana

Itabuna-BA

Itumbiara

Joinville

Juventude

Leônico-BA

Londrina

Potiguar-RN

Remo

Rio Branco-ES

Rio Negro-AM

River

Sampaio Corrêa

Santa Cruz

São Bento

São Paulo-RS

Sergipe

Sport

Tiradentes-PI

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Atlético-PR

Avaí

Desportiva-ES Dom Bosco-MT

Bahia

Fast

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Telmo Cúrcio da Silva/Agência RBS

O inchaço do Brasileirão obrigou o Inter a enfrentar clubes que, hoje, estão sem espaço, como o Rio Branco-ES

de cada time) devido a uma briga generalizada. Claro, a partida acabou naquele momento. O torneio ficou marcado, porém, pelo título invicto do Inter. Comandado por Ênio Andrade, o time tinha apenas Falcão, Valdomiro, Batista e Jair como remanescentes do bicampeonato de 75 e 76. Até pelo baixo nível técnico das primeiras fases, foi a partir das semifinais, que o Internacional teve que mostrar serviço – e mostrou: enfrentou o Palmeiras de Telê Santana, time que fazia a melhor campanha do Paulistão e acabara de golear o Flamengo tricampeão carioca por 4 a 1 no Maracanã. Em um dos melhores jogos da história do Brasileirão, Falcão comandou o Colorado na vitória por 3 a 2 no Morumbi. No Beira-Rio, um em-

Botafogo-PB

Botafogo-RJ

Brasil de Pelotas

Ferroviário-CE

Figueirense

Flamengo

Maranhão

Mixto-MT

Treze

Tuna Luso

Brasília

A Aliança Renovadora Nacional (Arena) representava politicamente os interesses da ditadura militar. O partido era um dos símbolos do discurso nacionalista da época. O futebol não escapou. Na década de 1970, o Campeonato Brasileiro inchou desmedidamente, sempre pensando em ser o mais abrangente possível para agradar a todos. O ditado na época era “onde a Arena vai mal, mais um time no Nacional. Onde a Arena vai bem, também”. Em 1971, a competição teve 20 participantes. Dois anos depois, o número havia dobrado. A política só retrocedeu com a mudança da CBD para a CBF, uma semana após o início do Brasileirão de 1979. Giulite Coutinho assumiu a nova entidade em 1980 e, em seu primeiro ano, reduziu de 94 para 44 os participantes do torneio.

pate conduziu os vermelhos à decisão. Na final contra o Vasco, o Inter deixou clara sua superioridade ao vencer as duas partidas. O time de Ênio Andrade completou seus 22 jogos no torneio com 15 vitó-

Uberlândia

rias e sete empates. Até hoje, é o único campeão brasileiro invicto. Um sinal de que, mesmo diante de tanta desorganização, é possível surgir grandes times. O que não deixa de ser a história do futebol brasileiro.

Campinense

Campo Grande-RJ

Caxias

Ceará

Central

Chapecoense

Colatina-ES

Fortaleza

Francana

Gama

Goiânia

Goiás

Goytacaz-RJ

Grêmio

Náutico

Novo Hamburgo-RS

Operário-MS

Operário-MT

Operário-PR

Palmeiras

Paysandu

Piauí

Vasco

Vila Nova-GO

Villa Nova-MG

Vitória

XV de Jaú

XV de Piracicaba

Caldense

Fluminense-BA Fluminense-RJ

Moto Clube-MA Nacional-AM

Uberaba

ONDE A ARENA VAI MAL...

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TÁTICA

por Nnonono nononono

Epístolas

paulinas

Para conquistar um Mundial, duas Libertadores e um Brasileiro, Paulo Autuori mostrou que sabe explorar sistemas de jogo diferentes. É com isso que os gremistas contam na luta pelo tri

Quando Autuori chegou ao São Paulo, o time já estava acostumado a jogar no 3-5-2. Para não quebrar o ritmo da equipe, o técnico manteve o esquema. Um dos motivos era a vocação ofensiva dos laterais, sobretudo Cicinho

Aloísio Amoroso

Danilo

Júnior

Lugano não tinha muita velocidade, mas sabia se posicionar. Assim, usá-lo como líbero, atrás de outros dois zagueiros, deu mais segurança à defesa são-paulina e fez o futebol do uruguaio crescer

Cicinho Mineiro

Josué

Edcarlos

Fabão Fa Lugano

Rogério Ceni

São Paulo - Mundia Mundial 2005 Túlio

Uma das virtudes do Botafogo era o fato de contar com jogadores em grande forma física e técnica: Sérgio Manoel armava no meio-campo e caía pela ponta, Beto criava e voltava para marcar, e Donizete se movimentava no ataque. Tudo para permitir que o artilheiro Túlio brilhasse O primeiro grande time de Autuori no futebol brasileiro tinha uma base bastante convencional, com dois laterais, dois zagueiros, dois volantes, dois meias e dois atacantes

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Donizete D

Sérgio Manoel

Beto

Jamir

André Silva

Leandro Ávila

Gonçalves Gonç

Gottardo

Wilson Goiano

Wagner

Botafog go - Brasileirão Brasileirão 1995

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por Ubiratan Leal

e o Grêmio pensou no histórico de cada candidato antes de escolher o treinador que substituiria Celso Roth na busca pelo título da Libertadores, não poderia ter escolhido melhor. Paulo Autuori já conquistou duas vezes a principal competição das Américas, sempre assumindo o time no meio do caminho. Foi assim com o Cruzeiro em 1997. Foi assim com o São Paulo em 2005. Para construir esse currículo, que lhe

S

vale o status de um dos técnicos mais desejados pelos dirigentes brasileiros, o técnico sempre mostrou razoável capacidade de adaptar suas ideias de acordo com o elenco que tinha em mãos. “O Grêmio não tem de ter a minha cara, tem de ter a cara do Grêmio”, diz. Mesmo assim, Autuori não deixa de lado algumas crenças pessoais. Por exemplo, a preferência por uma defesa com quatro jogadores, ainda que tenha

Autuori montou o time com apenas um atacante fixo (Marcelo Ramos), algo raro na época. Elivélton e Palhinha se revezavam no papel de segundo atacante, podendo cair pelas pontas ou voltar para ajudar na armação

Nonato

Elivélton Donizete Oliveira

Gottardo

Marcelo Ramos

Fabinho

Dida

Gélson

Cruzeiro - Liberta adores 1997

O meio-campo tinha três jogadores na marcação. Donizete Oliveira e Ricardinho avançavam quando necessário, mas a dupla, junto com Fabinho, ajudava a dar solidez defensiva ao time

sido campeão mundial pelo São Paulo com três. Ele próprio explica o motivo: “o 3-5-2 não se adapta bem às características dos jogadores brasileiros e torna mais difícil obter comprometimento dos alas na marcação”. Por isso, é importante analisar as experiências passadas, de modo a saber como elas podem ajudar o técnico montar o Grêmio na busca do tri da Libertadores. Um tri do clube, mas também do técnico.

Ricardinho

Palhinha

Vítor

Gélson Baresi e Wilson Gottardo se conheciam dos tempos de Flamengo. A dupla não era tecnicamente excepcional, mas dava segurança para uma defesa que tinha atrás de si Dida em uma de suas melhores fases

Com um meio-campo marcador, os laterais Nonato e Vítor tinham liberdade para avançar

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LU PA Mas não era a Fifa? eu fiscalizo a

Copa 2014 Um dos motivos de tanto atraso na escolha das 12 cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 por parte da Fifa foi a precária infra estrutura de muitas delas. Passada essa fase, chegou a hora de parar de apontar os problemas e buscar soluções para eles. Para isso, é preciso investir. Algo que só é possível por meio de gigantescos financiamentos. O duro é falar de empréstimos justamente quando o mundo vive em uma grande escassez de crédito. A crise financeira teve origem no quebra-quebra generalizado em instituições financeiras e obter financiamentos se transformou em uma enorme dor de cabeça. Para a Copa, o Governo Federal já adiantou que o Ministério das Cidades e do Esporte, a Casa Civil e o BNDES serão os principais responsáveis por direcionar os investimentos. Porém, a União não anda esbanjando verba: por exemplo, por causa da crise, a pasta do esporte teve seu orçamento anual reduzido de R$ 1,37 bilhão para R$ 196 milhões, um contingenciamento de 85,8%. Mesmo assim, o discurso em Brasília é que haverá dinheiro. “Acredito que já passamos pelo auge da crise e a organização de um evento como a Copa tende a atrair investimentos”, comenta Márcio Fortes, ministro das

A loucura da Bovespa pode ser transferida para cidades em busca de crédito

por Gustavo Hofman cidades. “Já existem linhas de crédito disponíveis para investimentos em transporte público no BNDES. Na Caixa Econômica Federal, que opera recursos do FGTS, há uma linha de crédito de R$ 1 bilhão exclusiva para renovação de frota de ônibus”. No entanto, para Márcio Pochmann, economista da Unicamp e presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), a captação de recursos ainda pode ser problemática. “As obras que dependem de recursos privados terão dificuldades. A crise impõe um processo que não é pequeno. Quem depender dos recursos públicos terá melhores condições”, explica. “As cidades-sede, agora, passam a ser o principal foco de investimento. Isso dá garantias de um retorno no investimento a longo prazo muito maior do que em outras situações”. Ainda assim, o economista se mostra mais otimista em relação a estádios. “Existem muitas arenas em que o investidor teve grande retorno”, afirma. De qualquer modo, o tempo para as 12 cidades é curto. Em cinco anos é possível fazer muita coisa, mas é preciso começar a agir. E essa ação começa com a luta pelo pouco crédito disponível no mercado.

O Comitê de Organização da Copa 2014, presidido por Ricardo Teixeira, insiste que a escolha das 12 cidades-sede foi da Fifa. No entanto, em 21 de maio, o deputado federal José Rocha (PR-BA), convocou uma entrevista coletiva minutos antes de Vitória x Vasco pela Copa do Brasil e afirmou que, mesmo sem um anúncio oficial, ele já tinha informação de que Salvador seria sede do Mundial.

Final de feira Nos dias que antecederam a escolha das cidadessede da Copa, o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, teve a agenda repleta de encontros com políticos: prefeitos de diversas cidades, como Beto Richa (Curitiba), Eduardo Paes (Rio de Janeiro) e José Fogaça (Porto Alegre), além de governadores foram visitar o dirigente na sede da entidade.

Vontade de aparecer O deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) entrou no final de maio com pedido de realização de audiência pública com Márcio Fortes, ministro das cidades, para “conhecer o planejamento e os investimentos públicos previstos para a mobilidade urbana nos centros que sediarão jogos da Copa de 2014”.

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ENCHENDO O PÉ

por Caio Maia

O eixo

RECEBO EM MINHA CAIXA POSTAL um email de um torcedor. O escudo do time dele entrou na lista da nossa última edição com os dez escudos mais feios do Brasil, e ele está revoltado - detalhe: o escudo do time dele tem uma cobra enrolada em uma bola de futebol! Inevitavelmente, me vem à mente a aversão do jornalista José Trajano ao blog: de acordo com o diretor de jornalismo da ESPN, o blog, e a internet como um todo, permitem ao ser humano se utilizar do anonimato para tudo o que há de pior. Ninguém te manda um email anônimo te elogiando, nem inventa pseudônimos para fazer comentários brilhantes sobre o planeta, certo? O anonimato é um dos problemas que apareceram na relação entre jornalista e leitor com a internet. Mas não é o único. O leitor que me escreveu, por exemplo, tem nome, embora não diga o sobrenome. A diferença entre nós dois é que ele sabe quem eu sou, mas eu não sei quem ele é - e aqui estou com o Juca Kfouri. Antes da internet, para manifestar sua discordância ele teria que se dar ao trabalho de arrumar papel e caneta, escrever à mão – ou à máquina – o que acha, colocar num envelope, selar e ainda gastar uns centavos para colocar no correio. Agora, não. Pode, por email, angariar simpatizantes para uma tese e, juntos, todos podem encher minha caixa de entrada de lixo por dias – como já aconteceu numerosas vezes, sempre que “critico” algum time brasileiro. Os torcedores do Sport, por exemplo, se revoltaram porque afirmei no blog da Trivela que o time, ao contrário do “oba-oba” que se vinha fazendo, não era o melhor do Brasil na Libertadores. Pelo contrário, era o pior. Os fatos, no caso, se impuseram, e o Sport foi o brasileiro com a pior colocação no torneio. O que não quer dizer que o clube seja menor que qualquer outro, nem que seus torcedores não mereçam o mesmo respeito do que qualquer outro. Por outro lado, é muito mais fácil para o torcedor apontar uma conspiração da “mídia do Sul” do que cobrar de seus dirigentes que montem times decentes, que reflitam a importância de seus clubes. Aliás, a mídia do Sul, como todo mundo sabe, se reúne semanalmente em uma grande mesa em que estamos eu, um representante da família Marinho, outro da família Sirotsky, algum Mesquita, sempre um Frias e, claro, quem preside a tudo é o Silvio Santos. Nestes encontros, todos passamos a maior parte do

tempo pensando em como sacanear os times do Norte/Nordeste. O senso de humor empregado nesta brincadeira, aliás, é algo que parece só servir a alguns leitores quando são eles que estão utilizando. É difícil demais entender que um ranking de escudos feios é uma brincadeira? Que este tipo de coisa faz parte do futebol? E que o futebol não tem essa seriedade toda? O recurso dos idiotas, quase sempre, é o mesmo dos regimes autoritários: “Vou te processar!”, vociferam. A diferença é que, em um regime democrático, se alguém processar um jornalista porque ele ousou dizer que uma cobra enrolada em uma bola de futebol não é algo bonito, o máximo que conseguirá é fazer um juiz dar risada. Coisa que, aliás, estes leitores deveriam fazer um pouco mais.

do mal LEVA O LIBÂNIO!

Grafite é campeão alemão. Artilheiro do Alemão. Ao lado de seu parceiro de ataque Dzeko, quebrou um recorde histórico de gols da Bundesliga. Ainda assim, Grafite não é suficientemente bom para Dunga. Nem ao menos para um teste, para uma competição que não vale nada como é a Copa das Confederações. Pior: poucas vozes se levantam para protestar contra isso. É verdade que, mesmo sendo um jogador excelente, em um momento bom do nosso futebol talvez Edinaldo Libânio não tivesse mesmo lugar na Seleção. Não vivemos, entretanto, um momento bom, e nosso único goleador é Luis Fabiano. Houve quem pudesse comparar o goleador do Wolfsburg a Afonso Alves, que jogava em uma liga menor, em um time que era menos importante, e que nunca teve história anterior a isso - ao contrário de Grafite. Ninguém porém, se deu ao trabalho de compará-lo a Nilmar. Que fracassou na França, de onde Grafite saiu para brilhar em um campeonato muito maior. Mas Nilmar faz gols bonitos contra a defesa reserva do Corinthians - e contra São José-RS, 15 de Campo Bom enfim, essas potências. Assim como Robinho, que sempre joga bem contra o Equador no final do segundo tempo. Mas que, em Manchester, pega o ônibus tranquilamente. Grafite nem sai na rua porque não consegue parar de dar autógrafos. Grafite faz gol de tudo quanto é jeito: com o pé, de cabeça, gol bonito, gol feio. Mas não tem lobby. E Dunga não leva Grafite. E a maioria das pessoas deixa isso pra lá para reclamar do Josué... Junho de 2009

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Beletrismo ALVINEGRO Em meio ao crescimento do nicho futebol no mercado editorial, o Corinthians é o clube que mais inspira lançamentos por parte das editoras o “time da moda”. A campanha irrepreensível na volta à elite, a contratação bombástica do atacante Ronaldo, a invencibilidade na conquista do Campeonato Paulista. São muitos os rótulos de visibilidade que cercam a “marca Corinthians”. E se o time do Parque São Jorge nunca deixou de ser um fenômeno esportivo, agora também parece ser um fenômeno cultural. Além do quase ineditismo de poder ver um filme oficial do clube na tela do cinema, a partir da estreia do documentário “Fiel” em abril, o torcedor corintiano entrou na alça de mira do mercado editorial, já que muitos livros sobre o Timão vêm dominando as estantes das livrarias. Se é real uma constatação até mais abrangente – a de um interesse revisitado por uma literatura futebolística em geral – o boom editorial corintiano é ainda mais evidente: nenhum outro clube de futebol tem merecido tantos lançamentos na área. Utilizar editorialmente as sensações épicas detonadas pelo retorno à primeira divisão é, sem dúvida, um dos aspectos por trás desse movimento. Pelo menos foi assim no caso da editora Publisher Brasil, responsável pelo lançamento de “A Saga Corintiana”, de Luís Augusto Simon, que reconta a trajetória de ocaso e ressurreição alvinegra em perspectiva tragicômica. “É um livro que tem vida curta, o que se convencionou chamar de instant book”, explica o editor Renato Rovai. “Se você não vende nesse período, acaba perdendo espaço”, reforça. Rovai também lembra que investir no trabalho de Símon serviu como laboratório para se conhecer o potencial dessa seara editorial futebolística. “A Saga Corintiana” teve tiragem de 1,5 mil exemplares e vendeu cerca de 800 unidades. Números tímidos, exatamente pela falta de uma maior experiência em trabalhar esse tipo de produto – o próprio Rovai reconhece. Outro representante desta mesma vertente, “Corinthians – Amor Sem Divisão”, de Claudio Varela e Denise Tavares, saiu pelo selo Jardim dos Livros. Foi mais bem-sucedido porque teve o passo a passo de seu lançamento devidamente planejado. Segundo Varela – também editor da obra – o projeto nasceu de uma percepção de demanda, de quando o Corinthians ainda labutava na Série B – momento propício para se

por Fábio Fujita

CULTURA

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falar de um clube conhecido por fazer seus torcedores se gabarem de ser, acima de tudo, sofredores. “Foi uma correria porque o livro só teria apelo comercial se saísse logo após o término do último jogo do Corinthians, em Natal (contra o América)”, explica Varela. Assim, o livro chegou nas livrarias em 22 de dezembro de 2008. A estratégia funcionou: já está na terceira edição, com um volume de vendas na ordem de 10 mil unidades. “Qualquer livro, hoje, que ultrapasse os 3 mil exemplares da tiragem-padrão (do mercado), já é um sucesso”, festeja. Já a ideia de uma suposta concorrência entre os tantos títulos envolvendo Corinthians é contraditória. “Os livros têm histórias distintas, pegadas distintas”, minimiza Rovai, acreditando num ecletismo do próprio “público leitor corintiano”. “Quando há várias editoras publicando, a livraria acaba abrindo espaço para essa temática. Se eu estivesse sozinho, talvez o caminho fosse um pouco mais difícil”, concorda Varela. Celso Unzelte, autor de “O Grande Jogo” e “Os Dez Mais do Corinthians”, porém, considera que, em vista do baixo poder aquisitivo do brasileiro, os livros acabam concorrendo, sim, uns com os outros. “Esse aqui é um país onde best-seller vende muito menos do que best-seller estrangeiro”, constata.

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Divulgação

PARA ANGARIAR INDECISOS

Mas ele se entusiasma com a melhoria na qualidade editorial dessa literatura futebolística contemporânea, sequela de um novo olhar das editoras para o tema futebol. A demanda existe. A primeira edição de seu “Almanaque do Timão”, de 2000, chegou a vender 30 mil exemplares, ajudado pela visibilidade de banca – saiu pela editora Abril, em “esquema de revista”, ao preço popular de R$ 12,90. Unzelte,

A expectativa era que Fiel – O Filme conseguisse alcançar os números de Pelé Eterno – que fez cerca de 200 mil espectadores. Os números iniciais foram promissores, lotando as seções nas (poucas) salas que exibiram a produção. Mas, o ânimo inicial foi esfriando aos poucos. De acordo com a diretora Andrea Pasquini, a própria ansiedade das pessoas pelo lançamento de Fiel em DVD comprometeu o desempenho nos cinemas. “A pré-venda do DVD começou antes de o filme ir para as telas”, recorda. A sobrevida em home video pode ser um alento. Andrea aposta na relação de fidelidade do torcedor com o time para minimizar perdas com a pirataria. “Tenho certeza que as pessoas só vão comprar o DVD pirata porque não têm condição nenhuma de comprar o original, ou porque o torcedor adversário quer ver escondido, do tipo ‘deixa eu ver o que esses caras fizeram’”, acredita. Outro aspecto é apostar no DVD como presente. “Muita gente vai comprá-lo para o sobrinho de cinco anos, que está naquele momento de indecisão (sobre torcer para qual time). Acaba virando um produto de defesa da causa corintiana”, espera.

aliás, tornou-se uma espécie de avalista de quase todo projeto editorial corintiano. Trabalho não lhe falta: atualmente, presta consultoria para Ziraldo e Washington Olivetto, envolvidos em novos livros sobre o Alvinegro, além de preparar, ele próprio, uma obra sobre o centenário corintiano a ser comemorado em 2010. “Tenho tido um feed back muito positivo. (Os leitores) são fiéis, na acepção do termo”.

ALGUNS DESTAQUES DA NOVA LITERATURA CORINTIANA

A Saga Corintiana Luís Augusto Simon (“Menon”) Publisher Brasil / 136 pgs. / R$ 27

O Grande Jogo O Maior Duelo Alvinegro do Futebol Celso Unzelte e Odir Cunha Novo Século / 164 pgs. / R$ 29,90

Eu Voltei! Daniel Augusto Jr. Gutenberg / 128 pgs. / R$ 57

Meu Pequeno Corintiano Serginho Groissman e Carlinhos Müller

Corinthians – Amor Sem Divisão Claudio Varela e Denise Tavares Jardim dos Livros / 264 pgs. / R$ 30

Belas Letras / 24 pgs. / R$ 20

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SEPARADOS por um

estreito

Antonio C. Mafalda/Mafalda Press/Futura Press

CAPITAIS DO FUTEBOL » FLORIANÓPOLIS (BRA)

O futebol de Santa Catarina sempre viveu a rivalidade entre Florianópolis e o interior, mas, dentro da capital, as questões geográficas também são motivos de cisão urante anos, os brasileiros tinham poucos motivos para olharem para Florianópolis quando o assunto era futebol. A capital catarinense era coadjuvante mesmo em seu estado. Entre 1976 e 2001, as equipes do interior conquistaram 22 dos 26 estaduais disputados, sendo que o Joinville ficou com 12 títulos e o Criciúma, sete (e mais uma Copa do Brasil). Foi o suficiente para que ambos entrassem no grupo de potências de Santa Catarina, mas não para tirar a grandeza de Avaí e Figueirense, os responsáveis

OS TIMES DA CASA

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por carregar a honra da capital. Seria preciso muito mais que um período de hegemonia para tirar a força de avaianos e alvinegros. Ambos não são símbolos de Florianópolis, mas sim, de suas regiões. O Leão é o clube da Ilha de Santa Catarina, enquanto que o Figueira – apesar de ter sido fundado no centro e ter nome homenageando uma árvore localizada na Praça XV de Novembro (veja box) – se estabeleceu no bairro do Estreito e, desde então, é o representante da parte continental da cidade.

Série A (primeira

Série B (segunda

divisão nacional)

divisão nacional)

Avaí Futebol Clube 14 Campeonatos Catarinenses

Figueirense Futebol Clube 15 Campeonatos Catarinenses

Divisão de Acesso (terceira divisão estadual)

Sociedade Esportiva, Recreativa e Cultural Guarani Obs: A lista inclui a região metropolitana de Florianópolis

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A rivalidade se construiu pela divisão geográfica, algo sólido a ponto de sobreviver às oscilações do futebol de Florianópolis, que historicamente vê suas glórias serem intercaladas por períodos de estiagem. Nesse aspecto, a má fase das décadas de 1980 e 90 nem foi tão dura. Ainda que o domínio tenha ficado no interior, as duas forças da capital conquistaram quatro títulos no período. Pior foi entre 1945 e 71, quando o título estadual da cidade foi do Paula Ramos. Nessa época, times locais, como

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por Ubiratan Leal

Figueirense e Avaí promovem uma disputa territorial em Floripa

Atlético Catarinense, Externato e o próprio Paula Ramos perderam força até serem extintos. Se, na década de 1970, a má fase foi espantada com uma série de quatro títulos estaduais seguidos, no século 21, o bom momento ficou marcado pela projeção nacional de Avaí e Figueirense, algo até então inédito. Um marco desse processo foi a Série B de 2001. As duas equipes chegaram ao quadrangular final, que apontaria os dois times que subiriam para a elite. Houve enorme equilíbrio e to-

dos chegaram empatados na última rodada. Os avaianos não resistiram e caíram diante do Paysandu, em Belém, dando a vaga aos paraenses. No estádio Orlando Scarpelli, o Alvinegro vencia o Caxias por 1 a 0 quando a torcida invadiu o gramado aos 45 minutos do segundo tempo para comemorar. O árbitro Alfredo dos Santos Loebiling declarou, na hora, que o jogo havia sido suspenso antes de seu final por falta de segurança. Posteriormente foi obrigado por

Armando Marques, presidente da comissão de arbitragem à época, a escrever no relatório que já havia encerrado o encontro, evitando uma longa briga jurídica e garantindo a promoção do Figueira.

Rei morto, rei posto A partir daí, as duas equipes de Florianópolis tiveram trajetórias diferentes. Os alvinegros se tornaram os grandes vencedores do Campeonato Catarinense da década. Além disso, contra a maior parte dos prognósticos, não Junho de 2009

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se transformaram em um saco de pancadas na Série A. Em sua primeira aparição na elite desde 1979, o clube do Estreito escapou do rebaixamento na última rodada. Depois disso, se consolidou no meio da tabela e, em 2006, chegou até a sonhar com a classificação para a Libertadores – terminou com uma vaga na Copa Sul-Americana. No ano seguinte, alcançou a final da Copa do Brasil. Nesse período, o Figueirense não se notabilizou por grandes investimentos ou revelação de inúmeros craques. No entanto, soube montar elencos competitivos com orçamentos enxutos e transformou o Orlando Scarpelli em um dos estádios mais duros para os visitantes. Para isso, foi um dos clubes que melhor trabalhou a relação com sócio-torcedores, dando a sua casa uma das melhores médias de ocupação do Brasil.

Enquanto isso, o Avaí penava. O clube via crescer seu jejum de títulos catarinenses e, pior, não conseguia sair da Segundona. E não faltaram oportunidades para isso. Em 2002, o Leão caiu nas quartas de final. Dois anos depois, voltou ao quadrangular decisivo e, novamente, perdeu a promoção na última rodada. Os anos de 2006 e 2007, os melhores do Figueirense, mostraram o clube da Ressacada em queda. Os avaianos não conseguiram mais se manter entre as forças da Série B e ficaram cada vez mais marcados apenas por serem a equipe do coração do tenista Gustavo Kuerten. Tudo mudou em 2008. O Figueirense até conquistou o título estadual, contra o Criciúma na casa do adversário, mas perdeu o foco no Brasileirão. Começou bem na competição, mas não soube co-

SANTA CATARINA

Florianópolis 402.346 habitantes

AS CASAS DOS TIMES

1 Orlando

3 Renato

Scarpelli

Silveira

Localizado no bairro de Estreito, na parte continental da capital catarinense, o estádio se tornou uma das principais armas do Figueirense entre 2002 e 2008, anos que o Alvinegro passou na Série A. Conta com 20 mil lugares, mas o clube já tem um projeto de reformulação completa, elaborado para a Copa o Mundo de 2014, que aumentaria a capacidade para 41,7 mil torcedores.

Estádio do Guarani, em Palhoça, tem capacidade para apenas 5 mil torcedores. Foi inaugurado em 1972, 24 anos antes de o clube se profissionalizar.

Fotos Divulgação

4 Adolfo

2 Ressacada Inaugurado em 1983, o estádio do Avaí chegou a receber até 25 mil torcedores. Hoje, a capacidade está limitada a 13.533 pessoas. Tinha como principal problema a dificuldade de acesso devido ao trânsito. Com a construção da Via Expressa Sul, a situação não é mais tão grave. Há um projeto para ampliar o estádio para 30 mil lugares.

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Konder Pertencia ao Avaí, mas também recebia partidas do Figueirense. Foi o principal estádio da cidade até a construção do Orlando Scarpelli e da Ressacada. Sem uso, foi desativado e, no terreno em que ficava, hoje há um shopping center.

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ALÉM DO JOGO

u Praia dos Ingleses

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Entre as 100 praias florianopolitanas, as do norte da ilha são as mais estruturadas para receber turistas. Nestas, se destacam a Praia dos Ingleses e a de Canasvieiras, ambas com grande oferta de hotéis e imóveis para alugar. Quem prefere praias mais tranquilas pode ir ao sul da ilha, com locais pouco explorados e alguns de acesso apenas por trilhas.

e Ponte Hercílio Luz A ponte pênsil de 819m de comprimento e torres de 75m de altura foi a principal ligação da Ilha de Santa Catarina com o continente por décadas. Hoje, está fechada para o tráfego, mas continua sendo um dos principais pontos turísticos de Florianópolis.

r Praça XV de Novembro É o centro nervoso da cidade. Nela está uma figueira de 1871 que se transformou em símbolo florianopolitano (e inspirou o nome do Figueirense). Além disso, ao seu redor estão a catedral Nossa Senhora do Desterro e o Museu Histórico de Santa Catarina. Alguns quarteirões e se chega a dois outros importantes edifícios históricos: a Alfândega e o Mercado Público.

i Lagoa da Conceição O bairro, localizado às margens da lagoa de mesmo nome, cresceu com a chegada de imigrantes açorianos à Florianópolis. Nas últimas décadas, se transformou em um dos pontos mais procurados por turistas devido à vida noturna, belezas naturais e proximidade da praia da Joaquina, uma das preferidas dos surfistas.

t Fortaleza São José Para proteger Florianópolis de invasões, foram erguidas 11 fortalezas na cidade. Uma das mais importantes é a de São José da Ponta Grossa, construída em 1740 em um morro entre Jurerê e a Praia do Forte. Outros fortes importantes são o de Santa Cruz de Anhatomirim e o Santo Antônio.

mo reagir após uma má fase. A estabilidade, que vinha sendo uma das virtudes dos alvinegros, deu lugar a um incessante troca-troca de técnicos. Esse processo acabou com o rebaixamento do Figueira. Enquanto isso, o Avaí se reencontrou. Ao fazer um convênio com um grupo de empresários – o mesmo que havia trabalhado com o Paraná em 2006 e 07 – e contratar o técnico Silas (ex-meia do São Paulo e da Seleção), o Leão montou uma equipe competitiva e ficou sempre nas primeiras posições.

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o Ilha do Campeche Em um país que pouco valoriza seus sítios arqueológicos, Florianópolis é um oásis. Na ilha do Campeche, é possível ver uma grande quantidade de inscrições rupestres. Além disso, há cerca de 50 sambaquis (montes de conchas e moluscos feitos por nativos há até 5 mil anos) em praias da cidade.

Aliás, durante quase toda a Série B de 2008, foi o melhor time depois do Corinthians. A promoção foi assegurada com tranquilidade, colocando os avaianos entre os grandes do país pela primeira vez em três décadas. No início de 2009, o clube ainda acabou com os 12 anos de jejum no Campeonato Catarinense. Atualmente, o desafio dos times florianopolitanos é modesto: o Figueirense tenta retornar à elite e o Avaí luta para nela ficar. Mesmo assim, o torcedor brasileiro não pode mais ignorar o que ocorre em

Florianópolis. Evidência clara que a capital de Santa Catarina se estabeleceu como um centro relevante no futebol nacional.

QUEM QU EM LEVA L LEV EVA EV A Existem algumas opções de voos diretos de vários lugares do país para Florianópolis. As companhias aéreas que vão à capital catarinense são Ocean Air (www.oceanair.com.br), Gol (www.voegol.com.br) e TAM (www. tam.com.br). Há ainda a possibilidade de ir de ônibus, informe-se no Terminal Rodoviário de sua cidade.

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ARGENTINA

As razões de

Román Fotos Reuters

Riquelme insinuou ter deixado seleção argentina devido a críticas que sofreu de Maradona, mas, não se enganem, seus reais motivos vão muito além de declarações do técnico

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uem quer que seja o responsável por esse universo, uma explosão ou um Deus, goza definitivamente de uma imensa sabedoria. Por isso as estrelas convivem no céu, só lá, em nenhum outro lugar. Que o digam Fabio Capello e David Beckham, que viveram às turras no Real Madrid, ou Felipão e seu elenco no Chelsea, que não perdoavam o perfil midiático do técnico, ou que conte Carlos Bianchi quanto lhe custou a briga com Totti na Roma. Por isso, era tão imprevisível a briga entre Diego Maradona e Juan Román Riquelme? Não, claro. E muito menos em um lugar como a Argentina, o país das antinomias. O que realmente aconteceu? É pouco crível que um jogador com o espírito competitivo de Riquelme, que esperava sua redenção no Mundial 2010, tenha desistido desse sonho (“me dói a alma”, admitiu) só por uma declaração de Maradona, ainda mais considerando a verborragia incontrolável do personagem em questão. Diego disse que o meia não seria útil se continuasse em má fase e, nos dias seguintes, o jogador renunciou à seleção. A Argentina entrou em convulsão, sobretudo porque o 10 do Boca Juniors não revelou os motivos de sua decisão. Resumiu-se a falar em uma “diferença de gênios com o técnico da seleção”, a quem nem sequer citou em uma entrevista ao noticiário mais visto pelos argentinos. O meia do Boca pode ter achado que Maradona saiu da linha quando criticou na TV sua fase sem ter falado previamente com ele. Mas esta é a ponta do iceberg: o bloco de gelo que esfria a relação entre ambos surgiu muito antes, no Mar da China, quando o ouro das medalhas conquistas em Pequim era suficientemente brilhante para ofuscar os problemas que ocorreram. “Houve motivos muito fortes para que Román re-

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por Antonio Vicente Serpa

nunciasse”, afirma Jorge Ribolzi, um dos assistentes de campo de Alfio Basile, técnico da seleção antes de Diego. E, se não quer aprofundar em considerações, ele assegura que “isso vinha amadurecendo”. Ou, ao menos, já amadurecia para ele, que foi o enviado de Basile aos Jogos Olímpicos com o objetivo de supervisionar uma seleção que era treinada por Sergio Batista, mas tinha muitos pontos em comum com a equipe principal. É preciso voltar àqueles dias de 2008, quando Maradona havia se transformado no torcedor número 1 da equipe e tinha passe livre aos treinos e à concentração. Depois de vários anos de divergências, Diego havia recomposto a relação com Julio Grondona graças à mediação de Humberto Grondona, filho do presidente da AFA. Por isso, não era raro vê-los juntos nas tribunas durante os Jogos. Maradona aproveitou para travar uma relação forte com vários dos mais jovens, entre eles, Sergio Agüero, seu genro, Fernando Gago e Lionel Messi. Nem tanto com Riquelme, de personalidade mais retraída e a quem se atribuíam diferenças com Messi na luta pela liderança na seleção. Os que estiveram perto daquele grupo contam que esse foi o início do fim da era Basile.

Riquelme sofria com o afastamento do técnico que até chegou a convocá-lo para a seleção quando estava encostado no Villarreal. O meia engoliu o rancor em silêncio e viu como o novo comandante viajava por toda Europa para juntar-se a jogadores argentinos, mas não lhe dava o mesmo tratamento, mesmo com ambos vivendo em Buenos Aires. E observou enfastiado como sua faixa de capitão viajava ao braço de Mascherano. As palavras pela TV foram a gota d’água que entornou o copo. No domingo seguinte, La Bombonera se colocou a favor de Riquelme (salvo os barras bravas, que guardaram um silêncio político). Em alguns “trapos” estava escrito “Maradona traidor”. Neste dia, Diego não foi ao estádio. E não voltou desde então. “Algum dia farei isso, segue sendo meu palco e das minhas filhas”, disse. E tem razão. O palco é seu. Mas é o templo de Román. Saiba mais sobre futebol argentino em www.trivela.com/argentina

Diego havia criado um bom ambiente com vários garotos daquele elenco. A vocês foi estranho que ele tenha assumido o comando da seleção justamente depois que vocês se foram? Cada um sabe o que ocorreu nessa viagem e como se chega a um determinado lugar. Alguns chegam por seus méritos, por trabalhar bem, por uma trajetória. E também há os que chegam por outros meios… Aí terminam as explicações de Ribolzi, um chute por cobertura nos frágeis antecedentes do atual técnico da Argentina. Outros, porém, vão mais fundo desde que não tenham a identidade revelada. “Nessa viagem, Maradona lhes disse que, quando Basile caísse, ele assumiria”, assegura alguém que viveu perto daquele processo na China. “Basile já vinha mal porque Grondona não gostou que ele não tivesse ido a Pequim pelo fato de o time ser sub-23”, acrescenta uma pessoa de peso na AFA. Era um cenário perfeito para Maradona. El Diez desejava o cargo por capricho pessoal. Ele queria ser técnico da seleção argentina e considerava ter direito automático ao cargo por ser quem é. Grondona lhe prometera o emprego (veja reportagem na edição 34 da Trivela) e o que ocorreu depois é conhecido: o time parece não entender o comando de um técnico considerado “muito distante”, se arrasta na partida contra o Chile e começa a cair nas Eliminatórias; Basile é demitido, Maradona é anunciado e… todos felizes? Não, claro que não.

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COPA DAS CONFEDERAÇÕES 2009

Fotos Divulgação

África sob exame Com atrações como Brasil, Itália e Espanha, Copa das Confederações será oportunidade para África do Sul testar estrutura do Mundial de 2010 e identificar a tempo os problemas a corrigir

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dos 23 jogadores que disputaram a Copa das Confederações de 2005 pelo Brasil fizeram parte do elenco no Mundial de 2006. Ficaram de fora Maicon, Roque Júnior, Marcos, Léo, Renato, Júlio Baptista, Ricardo Oliveira, Edu e Gomes

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esde que a Copa das Con fe de rações passou a ser realizada no mesmo país que receberia a Copa do Mundo no ano seguinte, ficou clara a intenção da Fifa de transformar o torneio em uma espécie de evento-teste para os organizadores. Nunca isso foi tão importante quanto agora, em meio às dificuldades na preparação da África do Sul para o maior acontecimento do futebol. Entre os dias 14 e 28 de junho, os sulafricanos terão de provar que o atraso nas obras de infraestrutura de transportes e a alta taxa de criminalidade no país (que tem média de 50 assassinatos por dia), apenas para citar dois pontos mais críticos, não serão impedimento para um torneio bem sucedido. Os planos iniciais para a Copa das Confederações, no entanto, já tiveram de ser alterados por problemas na preparação. Em vez dos cinco estádios previstos, serão apenas quatro: o de Port Elizabeth saiu da lista no ano passado porque não ficaria pronto a tempo. A arena que receberá a final da Copa do Mundo, o Soccer City de Joanesburgo, também está com obras em andamento. A cidade sediará a Copa das Confederações com seu outro estádio, o Ellis Park, que também está na lista do Mundial, mas é mais conhecido por receber partidas de rugby. Atrair o público sul-africano para a Copa das Confederações será outro desafio para os organizadores. A dois meses do início do torneio, a procura de ingressos ainda era baixa – um fato que os responsáveis pelas vendas procuraram atribuir ao costume da população de deixar tudo para a última hora. A Fifa foi mais crítica e chegou a apontar publicamente falhas na divulgação por parte dos anfitriões. Estejam lotados ou não, os estádios sul-africanos receberão durante duas semanas três dos principais favoritos ao título de 2010: o Brasil, atual cam-

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pessoas morreram esmagadas em um tumulto no estádio Ellis Park em 2001, na maior tragédia do esporte sul-africano em todos os tempos. O campo será palco da final da Copa das Confederações

peão do torneio e bicampeão da Copa América, a campeã europeia Espanha e a campeã mundial Itália. Correndo por fora, a África do Sul tentará convencer seus torcedores

que pode não ser a primeira seleção da casa a cair na primeira fase de um Mundial. Joel Santana assumiu o cargo sob certa desconfiança e começou com maus resultados, mas se recuperou e parece ter tranquilidade para trabalhar. Uma boa campanha na Copa das Confederações seria sua confirmação definitiva no comando da equipe. Os Bafana Bafana foram ajudados pelo sorteio, que colocou apenas a Espanha como adversária forte no grupo A. Nova Zelândia e Iraque têm seleções fracas e não devem ser ameaça. O grupo B, por outro lado, terá não apenas um choque de gigantes entre Brasil e Itália, como também contará com dois candidatos a surpresa: os Estados Unidos, com uma boa geração de jovens, e o Egito, bicampeão africano e disposto a, enfim, impressionar no cenário intercontinental. Nas páginas a seguir, apresentamos um perfil dos oito participantes do torneio. Que seja um bom aperitivo! [LB]

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BRASIL

Apesar de Dunga conteça o que acontecer na Copa das Confederações, nada vai mudar na Seleção Brasileira. Quer dizer, a não ser que Dunga se meta em um escândalo de grandes proporções, o técnico do Brasil não será substituído nem que o time seja eliminado pelo Egito na primeira fase. Ricardo Teixeira não parece convencido de que o ex-volante é incompetente, ou, ao menos, não tem argumentos para tirá-lo do cargo – e a Copa das Confederações, com sua pouca relevância, não os trará. Assim, se não vale a pena imaginar o futuro distante, podemos pensar no enfadonho futuro próximo: prováveis vitórias contra Egito e Estados Unidos, e a classificação para a segunda fase. A julgar pelo “esquema tático” da equipe nos últimos jogos, podemos esperar um time no tradicional 4-2-2-2. E é na retaguarda que estão as maiores certezas: Júlio César, Maicon, Lúcio e Juan serão titulares, e a lateral-esquerda será um problema. Não só em termos de nomes, como também de segurança, é na defesa que Dunga mais acertou – e a aposta em Júlio César é algo que mesmo seus mais ácidos críticos não podem desmerecer. Além disso, a manutenção da base, essencial para qualquer defesa, tem acontecido, o que leva o time a ter que se preocupar pouco atrás. As certezas acabam aí. No meio e na frente, nem o esquema, nem os jogadores, funcionam sempre. A equipe pode passar com folgas pela Itália, como fez em Londres em fevereiro, e, com um time igual, empatar com o Equador levando sufoco. O meio-campo é um mistério. Sem imaginação, se sai melhor quando pode contar com Kaká. Por isso, a grande preocupação é o setor ofensivo. De todos os atacantes que foram convocados por Dunga, o único que vive boa fase é Luís Fabiano. Ainda não se sabe em que forma física Adriano está. Robinho não se achou em Manchester, embora pela Seleção faça boas partidas. E Pato, ao contrário, joga bem no clube, mas não no time nacional. No final das contas, nada disso tem feito diferença. O Brasil parece ganhar quando os jogadores querem, apesar do técnico. E é provável que eles queiram bater a campeã do mundo e a campeã da Europa. Como tem sido desde que Dunga assumiu o time, o Brasil tem plenas condições de ser campeão. [CM]

Lucas Uebel/AFP

Ex-capitão não convenceu ainda, mas talento dos jogadores tem garantido vitórias em momentos decisivos

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Mesmo bagunçado taticamente e sem uma formação definida no meio-campo, Brasil tem reais chances de título

Luís Fabiano Robinho

MELHOR PARTICIPAÇÃO Campeão (1997 e 2005)

Kaká Elano

RANKING DA FIFA* 4º Gilberto Silva G

Kléber

Maicon Lucio

Juan

TIME-BASE Júlio César; Maicon, Lucio, Juan e Kléber; Gilberto Silva, Felipe Melo, Elano e Kaká; Robinho e Luís Fabiano TÉCNICO Dunga

* Em maio/09

Felipe Melo

Júlio César

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TÍTULOS 5 Copas do Mundo 8 Copas América 2 Copas das Confederações

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ITÁLIA

Renovar é preciso? Azzurra ainda tem base da Copa 2006, e Copa das Confederações dá a Marcello Lippi a chance de observar novas opções rês anos atrás, a Itália chegava ao título mundial com uma equipe pragmática, disciplinada, e, sobretudo, motivada a superar o caos que tomava conta do futebol do país naquele período. A um ano de defender seu título na África do Sul, a Azzurra tem uma cara muito semelhante àquela que levantou o troféu na Alemanha. O técnico é o mesmo, Marcello Lippi, e a equipe tem entre os titulares boa parte dos jogadores que fizeram parte do grupo em 2006. A caminhada da seleção neste período, no entanto, esteve longe de ser tranquila. Lippi pediu demissão logo após o Mundial. Em seu lugar entrou Roberto Donadoni, que nunca foi unanimidade entre imprensa e torcida – e ainda precisou conviver com a sombra de seu antecessor. Sob seu comando, a Itália teve uma participação fraca na Eurocopa, caindo nos pênaltis para a Espanha. Foi o suficiente para que se concretizasse o retorno de Lippi. Para reerguer a equipe, o técnico de Viareggio fez uma opção pela lealdade aos jogadores que haviam conquistado o Mundial. A espinha dorsal, com Buffon, Cannavaro, Pirlo e Toni, se mantém. E Lippi não esconde o desejo de voltar a contar com Totti, que se afastou voluntariamente da seleção. O problema é que estes jogadores já não eram jovens em 2006, e há mais casos de fracassos do que sucessos em equipes que chegam envelhecidas à busca de um segundo Mundial. As atuações pouco convincentes e a maneira como a Itália foi derrotada pelo Brasil no amistoso de fevereiro ligaram um sinal de alerta, apesar da eterna sensação de que a Azzurra cresce na hora certa. Por isso, a Copa das Confederações é vista com uma oportunidade para dar espaço a nomes mo que Lippi tem receio em lançar na disputa das Eliminatórias, onde a margem de erro é pequena. A idéia do treinador é sair do torneio com um grupo de 30 atletas, dos quais devem sair os convocados para o Mundial no ano que vem. Um Mundial para o qual a Itália ainda precisa se classificar, já que segue envolvida em uma luta equilibrada com a Irlanda pela primeira posição no grupo. Nesse contexto, o título da Copa das Confederações pode ser apontado como um objetivo secundário. Mas uma participação positiva daria uma boa indicação a Lippi sobre o caminho a seguir. [LB]

Alberto Pizzoli/AFP

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Cannavaro ainda é o cérebro da forte defesa italiana, sinal claro que o time não se renovou desde a Copa de 2006

TÍTULOS 4 Copas do Mundo 1 Eurocopa 1 Olimpíada MELHOR PARTICIPAÇÃO nunca disputou

Toni Di Natale

RANKING DA FIFA* 5º TIME-BASE Buffon; Zambrotta, Cannavaro, Chiellini, Grosso; Pirlo, Gattuso, De Rossi; Pepe, Toni, Di Natale

Pepe

De Rossi Gattuso

Pirlo Grosso

Zambrotta Cannavaro

Chiellini C hiellin ni

TÉCNICO Marcello Lippi Buffon

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EGITO

Finbarr O’Reilly/Reuters

Aos olhos do mundo s Faraós chegam à África do Sul tendo uma boa chance de provar que podem ser uma equipe de ponta fora de seu continente. Os egípcios são bicampeões da Copa Africana, mas não conseguem repetir esse sucesso em torneios intercontinentais. Há motivos para otimismo. A experiência internacional dos jogadores aumenta a olhos vistos. Alguns nomes já atuam em centros mais avançados e todos integram uma base que já vem se entrosando há quase cinco anos pelo técnico Hassan Shehata, comandante nas duas conquistas continentais. A despeito de problemas no trato com alguns jogadores, o treinador tem um esquema bem fixo, num 3-4-1-2. O centro de tudo é o meio-campo: Fathi e Shawky são bons na saída de bola, ajudando o capitão Ahmed Hassan e Aboutrika (ou Zidan) a armarem as jogadas para a dupla Zaki-Moteab. Pode não ser suficiente para evitar a passagem de Brasil e Itália às semifinais, mas uma surpresa é possível. [FSS]

O

TÍTULOS 6 Copas Africanas MELHOR PARTICIPAÇÃO 1ª fase (1999) RANKING DA FIFA* 37º TIME-BASE El-Hadary; Gomaa, Al-Muhammadi e Said; Barakat, Fathi, Ahmed Hassan e Shawky; Zidan (Aboutrika); Amr Zaki (Mido) e Moteab TÉCNICO Hassan Shehata

ESTADOS UNIDOS

Bom teste equipe norte-americana começou o hexagonal decisivo das Eliminatórias da Concacaf para o Mundial de modo relativamente tranquilo, com duas vitórias e um empate. Mais que entrosar o elenco para a reta final da qualificação, a Copa das Confederações pode ajudar o treinador Bob Bradley a dar chance a vários nomes. Tal política influi para que cada vez mais jogadores do país ganhem experiência na Europa, casos de Dempsey e Altidore). No entanto, também pode prejudicar um entrosamento maior no onze titular. O esquema, pelo menos, não se altera muito: é um 4-4-2, que pode variar para 4-4-1-1 e 4-2-2-2. Bradley tem apostado na experiência, com Howard, Hejduk, Beasley e Donovan. Isso até ajuda para que os mais novatos, como Kljestan, Torres e Michael Bradley (filho do técnico), tenham mais segurança. O desafio de enfrentar brasileiros, egípcios e italianos será um bom teste. Sobretudo para ver qual o cacife norte-americano para o Mundial de 2010. [FSS]

A

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TÍTULOS 4 Copas Ouro MELHOR PARTICIPAÇÃO 3º lugar (1992 e 1999)

TIME-BASE Howard (Guzan); Hejduk, Bocanegra, Onyewu e Pearce; Dempsey, Michael Bradley, Kljestan e Beasley; Donovan e Ching TÉCNICO Bob Bradley

* Em maio/09

Doug Benc/AFP

RANKING DA FIFA* 15º

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ESPANHA

Acabou o estigma Título da Eurocopa coloca a Espanha entre os favoritos ao título, sem o antigo temor de tremer nos jogos decisivos ceitem os brasileiros ou não, a Espanha é a favorita ao título da Copa das Confederações. Atual campeã europeia e há quase um ano na liderança do ranking da Fifa, a Fúria está invicta há 31 jogos e tem jogado o futebol mais bonito e ofensivo da Europa. Além disso, seus principais jogadores vivem grande momento e o velho estigma de tremer nas partidas decisivas acabou. Mesmo com a saída do treinador Luis Aragonés, a Espanha manteve o embalo. Méritos também de Vicente del Bosque, que não provocou mudanças estruturais no time – resistindo inclusive a pressões pelo retorno de Raúl. Atualmente, La Roja pode se gabar de ter destaques individuais em todos os setores do campo. A começar pelo gol, onde Casillas passa tranquilidade para toda a defesa. O goleiro de 28 anos já é o terceiro jogador com mais partidas pela seleção (91) e, se nada de anormal ocorrer nos próximos anos, superará o recordista Zubizarreta (126). O meio-campo, porém, é onde Del Bosque mais tem opções. A atual safra de meias espanhóis impressiona, tanto pela diversidade ofensiva, como pela capacidade em marcar e distribuir o jogo – todos normalmente armados em uma linha de quatro, com dois extremos. Para cuidar da marcação, Marcos Senna e Xabi Alonso são os preferidos. Xavi, Iniesta e Fàbregas são as opções de melhor passe, enquanto David Silva e Cazorla se destacam ofensivamente. Se o meio-campo tem consistência, o ataque conta com brilhos individuais. Após muito tempo sendo considerado apenas uma promessa, Fernando Torres deslanchou desde que se transferiu para o Liverpool. El Niño se tornou um dos principais atacantes do mundo ao fazer gols importantes pelo Reds. A seu lado está um dos maiores sonhos dos grandes c clubes europeus nesta janela de transferência. Até pela crise financeira que atravessa o Valencia, David Silva dificilmente seguirá no clube. E certamente está motivado para fazer uma grande Copa das Confederações e qualificar, ainda mais, seu currículo. No final das contas, tem-se uma seleção muito fort no papel e que, de um ano para cá, provou que te p pode ser vencedora. Aquela velha história de que a “ “Espanha jogou como nunca e perdeu como sempre”, aos poucos, está sendo reescrita. [GH]

Getty Images/AFP

A

Após a excelente participação na última Eurocopa, a Espanha de Fernando Torres entra como favorita

TÍTULOS 2 Eurocopas 1 Olimpíada MELHOR PARTICIPAÇÃO Nunca disputou RANKING DA FIFA* 1º TIME-BASE Casillas, Sergio Ramos, Puyol, Albiol (Piqué) e Capdevilla; Silva, Marcos Senna, Xavi e Iniesta (Xabi Alonso); Villa e Torres

Torres

Villa

Iniesta

Sil Silva

Xavi

Marcos Senna M

Capdevilla Puyol

Albiol Albio ol

TÉCNICO Vicente del Bosque

S i Sergio Ramos

Casillas

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IRAQUE

Saudades de 2007 experiência mágica de 2007, quando venceu a Copa da Ásia, já é passado. O presente do Iraque voltou a ser tortuoso. A seleção não manteve o trabalho vencedor e não é mais comandada pelo brasileiro Jorvan Vieira. Além disso, a federação foi brevemente suspensa pela Fifa, em 2008. É bem certo que o substituto de Vieira tem larga experiência: Bora Milutinovic é o único técnico a comandar cinco equipes diferentes em cinco Copas do Mundo consecutivas. Mas não será com o Iraque que Bora poderá voltar ao Mundial, já que o time caiu precocemente nas Eliminatórias asiáticas. Os resultados mais recentes também são desencorajadores. Nos três últimos amistosos, foram dois empates, contra Kuwait e Arábia Saudita, e uma derrota, para a Coreia do Sul. Além disso, o destaque da equipe vencedora dois anos atrás, Younis Mahmoud, há muito não repete as atuações da Copa da Ásia. De qualquer modo, Bora tentará repetir o milagre alcançado pelos iraquianos dois anos atrás. [FSS]

A

TÍTULOS 1 Copa da Ásia MELHOR PARTICIPAÇÃO nunca participou RANKING DA FIFA* 86º

Stringer/AFP

TIME-BASE Kassid; Ghadhban, Khalid, Yassin e Mushir; Ibrahim, Mohammed, Ayad e Karim; Abdullah e Khashan TÉCNICO Bora Milutinovic (SER)

NOVA ZELÂNDIA

De passagem s All Whites encaram a Copa das Confederações como uma etapa antes do real desafio. A preocupação dos neozelandeses no ano é a repescagem que dá direito a uma vaga no Mundial, a ser disputada contra o quinto colocado da Ásia, em novembro. A vaga foi ganha justamente na mesma ocasião que deu ao time o direito de jogar a Copa das Confederações: a Copa das Nações da Oceania de 2007. Na busca pelo retorno ao principal torneio futebolístico do mundo após 28 anos, os Kiwis mostram leve evolução. O técnico Ricki Herbert faz o feijãocom-arroz: consolidou uma base e apostou em um 4-4-2 clássico. O destaque é o atacante Smeltz, jogador do ano na Oceania em 2007. Há apenas duas dúvidas. No gol, Moss, começou a ser ameaçado pelo veterano Paston. Além disso, o zagueiro e capitão Nelsen, do Blackburn, está fora do torneio por contusão. O time não dá sinais que causará dificuldades aos adversários. Mas seu nível cresce, ainda que lentamente. [FSS]

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TÍTULOS 4 Copas das Nações da Oceania MELHOR PARTICIPAÇÃO 1ª fase (1999 e 2003)

TIME-BASE Moss; Mulligan, Boyens, Old (Sigmund) e Lochhead; Elliott, Brown, Christie e Brockie; James e Smeltz TÉCNICO Ricki Herbert

* Em maio/09

Paulo Whitaker/Reuters

RANKING DA FIFA* 78º

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ÁFRICA DO SUL

Siphiwe Sibeko/Reuters

Prova para Joel TÍTULOS 1 Copa Africana de Nações MELHOR PARTICIPAÇÃO 1ª fase (1997) RANKING DA FIFA* 77º TIME-BASE Khune; Gaxa, Mokoena, Morris e Thwala; Sibaya, Davids, Pienaar e Modise; Tshabalala e Parker TÉCNICO Joel Santana (BRA)

África do Sul não vê a Copa das Confederações como ensaio apenas na questão logística. É a oportunidade de ver como estão os Bafana Bafana. Afinal, os confrontos servirão para dar mais confiança ou enterrar o trabalho de Joel Santana. Tudo para afastar o medo de ser o primeiro anfitrião de uma Copa a ser eliminado na fase de grupos. Os torcedores ainda não esqueceram o fiasco da desclassificação nas Eliminatórias para a Copa Africana do próximo ano. E as insistentes desavenças com a federação fizeram que Benni McCarthy fosse deixado de fora. Por outro lado, estrelas como o capitão Mokoena e Pienaar estarão no time. Justiça seja feita, o treinador brasileiro começa a colher alguns frutos no trabalho iniciado em 2008. Vitórias em cinco amistosos seguidos ajudaram a trazer mais confiança ao time, ainda que derrotas para Chile e Portugal tenham mantido o clima de incógnita. Por isso, a Copa das Confederações não tem ares de ensaio geral, mas de apresentação principal. [FSS]

A

SEMIFINAIS

GRUPO A

GRUPO B

24/6 - 15h30

ÁFRICA DO SUL

BRASIL

x

1º A

ESPANHA

EGITO 2º B 25/6 - 15h30

IRAQUE

x

1º B

NOVA ZELÂNDIA

x

ITÁLIA

2º A

FINAL

14/6 - 11h

África do Sul

ESTADOS UNIDOS

Iraque

15/6 - 11h

Brasil

28/6 - 15h30

14/6 - 15h30

N. Zelândia

x

Espanha

x

17/6 - 11h

Espanha

x

Iraque

EUA

x x

N. Zelândia N. Zelândia

EUA

x

Egito

x

DISPUTA DE 3º LUGAR

África do Sul

x

x

Itália

Brasil Itália

x

Brasil

21/6 - 15h30

Egito

x

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Itália

21/6 - 15h30

28/6 - 10h

20/6 - 15h30

Espanha

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18/6 - 15h30

20/6 - 15h30

Iraque

Egito

18/6 - 11h

17/6 - 15h30

África do Sul

x 15/6 - 15h30

EUA

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ITÁLIA

PIACERE, José

Mourinho Beretta, Barnetta...

Prostituição intelectual

Lo Monaco quem?

Mourinho não apareceu para uma entrevista coletiva antes do jogo contra o Lecce, pela quarta rodada, preferindo mandar o auxiliar Giuseppe Bergomi. Mario Beretta, técnico do Lecce, criticou a atitude do português, que considerou uma “falta de respeito”. Ao saber da polêmica criada, Mourinho, de propósito ou não, errou o nome do colega e ainda alfinetou: “Barnetta (sic) falou comigo no estádio e não comentou nada. Por que ele não me disse pessoalmente? Se ele não sabe falar com os colegas e precisa mandar recados pela imprensa” Talvez precise trabalhar um pouco mais sua personalidade. O bate-boca à distância terminou sem ressentimentos. Depois de ser demitido pelo Lecce no decorrer da temporada, Beretta revelou ter recebido uma mensagem de texto de Mourinho manifestando apoio.

A mais surpreendente das entrevistas de Mourinho veio após um empate por 3 a 3 com a Roma, cercado de polêmicas por causa de um pênalti marcado sobre Mario Balotelli. Entrevista é modo de dizer, já que o técnico fez um monólogo de sete minutos antes de se levantar e deixar a sala. O português criticou a repercussão do lance, acusando a imprensa de “prostituição intelectual”, em um discurso que não poupou os rivais. “Não gosto de prostituição intelectual. Gosto de honestidade intelectual. Houve um grandíssimo trabalho para manipular a opinião pública. Um trabalho fantástico de um mundo que não é o meu”, disse. “Nos últimos dois dias, não se falou da Roma, que tem grandes jogadores, muitos dos quais eu gostaria de ter comigo, mas terminará a temporada com zero título. Não se falou do Milan, que está onze pontos atrás de nós e terminará a temporada com zero título. Não se falou da Juventus, que conquistou muitos pontos com erros de arbitragem. Se Ranieri se diz solidário a Luciano Spalletti (técnico da Roma), eu estou com todos os técnicos que perderam pontos para a Juventus por causa da arbitragem”.

Depois de uma vitória por 2 a 1 sobre o Catania, Mourinho disse que a Inter merecia vencer por 5 a 0 por seu volume de jogo. O comentário tirou do sério Pietro Lo Monaco, dirigente do clube siciliano, que não usou meias palavras ao dizer que o português mereceria umas “pauladas nos dentes”. Questionado sobre a declaração, Mourinho foi sarcástico: “Tenho um patrocinador que me paga, não dou publicidade de graça para ninguém. Não sei quem é Lo Monaco. Conheço o Bayern de Munique (Monaco, em italiano), o Grande Prêmio de Mônaco, o monge (monaco, em italiano) tibetano e o Principado de Mônaco. Não sei de nenhum outro”.

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Nigel Roddis/Reuters

por Leonardo Bertozzi

Famoso por suas polêmicas nos tempos de Chelsea, o técnico português foi um espetáculo à parte em seu primeiro ano no futebol italiano

J

osé Mourinho apresentou-se para sua primeira entrevista coletiva como técnico da Internazionale com um italiano cheio de sotaque português, mas surpreendentemente fluente. Pode-se argumentar que ele teve bastante tempo livre para aprender a língua de Dante depois de deixar o Chelsea, mas há bem mais por trás disso. Mourinho, que na Inglaterra já havia tirado do sério “macacos velhos” como Alex Ferguson e Arsène Wenger, estava se preparando para entrar de cabeça em um ambiente midiático cheio de peculiaridades. O talento do treinador de Setúbal para ganhar as manchetes ficou claro desde as primeiras semanas da temporada. Entre provocações e ironias, ele mexeu com técnicos e jogadores adversários, com a imprensa, tocou em feridas que muitos têm medo de abrir. Seu estilo pode ser admirado ou contestado, mas uma coisa é inegável: impossível é ficar indiferente quando Mourinho se manifesta.

O velho Ranieri

Quem escala?

“Time de...”

No Chelsea, Mourinho foi o sucessor de Claudio Ranieri e levou o time ao bicampeonato inglês, quebrando um tabu de meio século. Na Itália, eles se encontrariam como adversários, com Ranieri à frente da Juventus. Em agosto, ainda antes do início do campeonato, Ranieri afirmou em entrevista que “não precisava vencer para se sentir seguro, como Mourinho”. A réplica do português foi dura: “Ele tem razão. Por isso conquistei tantos títulos na minha carreira. Ele tem a mentalidade de quem não precisa vencer, e por isso, com quase setenta anos ,conquistou apenas uma Supercopa e uma pequena copa. Está velho demais para mudar de mentalidade”. Já com a temporada em andamento, Mourinho ironizou as dificuldades do técnico juventino com a língua inglesa: “Estudei italiano cinco horas por dia, durante muitos meses, para me comunicar com os jogadores, a imprensa e a torcida. Ranieri passou cinco anos na Inglaterra e tinha problemas para dizer ‘bom dia’ e ‘boa tarde’”.

Em março, Mourinho criticou a “falta de dignidade” dos técnicos que permitem que os presidentes interfiram na escalação das equipes: “Enquanto eu escolho o time para entrar em campo, há muitos treinadores que não o fazem. Se alguém me dissesse como escalar o time, no dia seguinte meu escritório estaria vazio e as malas prontas”. A declaração não mencionava nomes, mas vários técnicos se manifestaram contra Mourinho. Entre eles, Carlo Ancelotti, do Milan, Roberto Donadoni, do Napoli, e Massimiliano Allegri, do Cagliari – três clubes com presidentes que gostam de dar palpites sobre o time. A carapuça serviu?

“O primeiro título vocês ganharam no tapetão, o segundo porque jogaram contra ninguém. O terceiro, no último minuto. Vocês são um time de merda.” Mourinho teria feito este discurso aos jogadores no intervalo de uma partida contra a Atalanta, com a Inter perdendo por 3 a 0. A versão foi publicada pela jornalista Laura Alari e ganhou grande repercussão. Não é segredo que as comparações com seu antecessor, Roberto Mancini, incomodam o português. Por meio de seus advogados, Mourinho conseguiu com que Alari publicasse um desmentido na mesma semana, mas a jornalista deixou claro que mantinha sua história, segundo ela contada por fontes de dentro do clube. Até que, em abril, durante participação em um programa de televisão, o técnico não negou as palavras quando questionado a respeito. Apenas tentou minimizar, alegando que “às vezes é preciso dizer umas mentiras para acordar o time”. Saiba mais sobre futebol italiano em www.trivela.com/italia

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Christophe Simon/AFP

TARDIA

por Gustavo Hofman

LIGA DOS CAMPEÕES

JUSTIÇA

Com o título da Ligaa dos Campeões, Barcelona completaa um ma temporadda perfeita e leva a Tríplicce Coroa pela primeeira veez para a Espanhaa. Tudo isso, logo na estreia de Pep Guardiola coomo treinador om Romário e Stoichkov, o Barcelona de 1994 encantou a Europa com seu futebol ofensivo. No meio, o jovem Josep Guardiola, de 23 anos, demonstrava um toque de bola fino, mas sem se esquecer da marcação. A equipe alcançou a decisão da Liga dos Campeões, no estádio Olímpico, de Atenas, com status de favorita diante do Milan. Acabou goleada por 4 a 0. Passados 15 anos dessa decisão, outro time do Barça chegou à grande final europeia, em condições parecidas: a força concentrada no ataque, com um

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trio ofensivo avassalador formado por Lionel Messi, Thierry Henry e Samuel Eto’o. No meio, dois dos meio-campistas mais completos a surgirem nos últimos tempos, Xavi e Iniesta, perfeitos no passe e seguros no controle do setor. No banco, aquele jovem de 15 anos atrás cresceu, e apareceu: Guardiola, em seu primeiro ano, pegou um time desorganizado e com autoestima em baixa, e ganhou simplesmente tudo o que disputou – com direito a um 6 a 2 no Real Madrid em pleno Santiago Berbabéu. Por mais que, em 2006, os culés tenham vencido a

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mesma Liga dos Campeões, a fragilidade do adversário na decisão não permitiu o gosto de vingança. Neste ano, porém, o Barça corrigiu a história. Com a conquista do título europeu, além do Campeonato Espanhol e da Copa do Rei, consagra uma temporada histórica, com a primeira Tríplice Coroa do futebol espanhol.

Trajetória suada

1x1

F

0x0

C

1x1

F

zero não saiu do placar. No Stamford Bridge, saiu atrás logo aos nove minutos com um gol de Essien. A eliminação estava prestes a acontecer. Poucos acreditavam no contrário. Até que aos 48 minutos, Iniesta acertou um chute espetacular e garantiu a vaga na decisão. Um gol que não vai faltar em nenhum clipe de melhores momentos da história da LC.

4x0

C

Duelo de gigantes

CAMPANHA Final 2 x 0

Semi

Quartas

Mustafa Ozer/AFP

Vice-campeão espanhol no ano passado, o Barcelona promoveu uma série de mudanças no time para esta temporada. Com o clima no elenco conturbado por desavenças pesOitavas soais dos jogadores, a diretoria trocou o técnico Frank Rijkaard pelo ídolo Guardiola e mandou Ronaldinho Gaúcho para o Milan e Deco para o Chelsea. Sob o comando do ex-jogador, o Barça demonstrou desde o início um futebol ofenFase sivo. Guardiola teve os méritos também de de unir novamente o elenco e convencer Eto’o grupos a seguir no clube. Conseguiu reerguer o futebol de Henry e deu total liberdade ao talento de Messi. Passou tranquilidade à defesa e manteve Xavi e Iniesta. Sem falar nas apostas seguras em jovens da cantera barcelonista, como Sergi Busquets e Bojan. 3ª fase Para chegar ao triplete, a equipe precisou eliminatória passar pela fase eliminatória da LC e eliminar o Wisla Cracóvia – o que aconteceu sem muitas dificuldades. Na fase de grupos, passou fácil por Sporting, Shakhtar e Basel. Humilhou Lyon e Bayern de Munique nas oitavas e quartas de final, com goleadas históricas, para então alcançar a dramática semifinal com o Chelsea. No primeiro jogo, em casa, o Barcelona não conseguiu furar a defesa bem armada pelo técnico Guus Hiddink e o

5x2 1x1 2x3 5x2 1x1 5x0 2x1 3x1 1x0 4x0

Há 15 anos uma final da Liga dos Campeões não era tão aguardada. Há 15 anos não havia dois times tão fortes disputando o prinF cipal título da Europa. E há 15 anos, o favorito de quase todos foi surpreendido. Ainda C que não se possa chamar a vitória culé de “zebra” absoluta, o adversário era o podeF roso e temido Manchester United, um time mais maduro e consolidado. O Barcelona, C porém, foi impecável. O Barça atacou o United sem medo, o que F a equipe de Alex Ferguson não teve coragem de fazer. Eto’o marcou o primeiro com pouF co mais de dez minutos, e Messi, do alto de seus 1,69m, acabou de cabeça com as pouC cas dúvidas que poderia haver sobre quem venceria o jogo. Em dez partidas, talvez o F Manchester United vencesse nove, mas, em uma, quem levou a melhor foi o time recémC formado por Guardiola. As ruas de Barcelona, assim que o árbitro Massimo Busacca apitou o final do jogo em Roma, foram tomadas por eufóricos torcedores. Barcelonistas que, nas semanas anteriores, já haviam comemorado demais os títulos espanhol e da Copa. Comemoraram, também, o prazer de ter visto aquele que já pode ser considerado um dos maiores times da história blaugrana. C

QUE VENHA A LIGA EUROPA E lá se foi a última Copa Uefa para a Ucrânia. Em 20 de maio, o Shakhtar Donetsk bateu na final, em Istambul, o Werder Bremen, desfalcado de Diego, por 2 a 1 e levou a inédita taça para o antigo país soviético. Nada mais emblemático: a conquista do Shakhtar foi mais uma mostra de como a competição se tornou muito importante para clubes de países ascendentes e decadente para os grandes europeus. Alheia a tudo isso, a legião de cinco brasileiros do time – Jádson, Fernandinho, Ilsinho, Willian e Luiz Adriano – foi fundamental na conquista. “Trabalhamos muito em busca desse título. Eu particularmente sofri muito no meu início aqui na Europa, mas agora vejo que valeu a pena ter paciência”, afirmou Willian. “Estamos realizando um sonho. Há muito tempo a diretoria do Shakhtar investe para buscar um título dessa expressão”, completou Ilsinho. A partir da próxima temporada, o torneio passa a se chamar Liga Europa e contará com 48 equipes, divididas em 12 grupos de quatro na primeira fase, com jogos em turno e returno, classificando-se os dois primeiros de cada. Daí em diante, mata-mata, como na Liga dos Campeões. A primeira final acontecerá na HSH Nordbank Arena, em Hamburgo.

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Por que a LC 2008/09 será lembrada Enttre zebras, decepções, gran ndes apresentações e curiosidades,, dez motivos para guaardar a maais reccente ediçção da Ligga doss Campeões na memória porr Fe po Felililipe pe dos San anto t s So Souz ouza uza uz

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Na fase de grupos, o CFR Cluj era tido como o mais destacado candidato a saco de pancadas da LC. Todavia, no primeiro jogo da primeira participação do clube na LC, os romenos venceram fora de casa a Roma, por 2 a 1. Depois, o Cluj acabou terminando mesmo como lanterna da chave. Mas a surpresa já estava aprontada.

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Outra “quasezebra” foi o Anorthosis Famagusta. O primeiro clube do Chipre a chegar na fase de grupos da LC disputou a classificação até a última rodada, perdendo a vaga para o Panathinaikos. No caminho, bons resultados contra adversários muito mais tradicionais: um empate com a Internazionale e dois contra o Werder Bremen.

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Uma das principais (talvez, a principal) atuação de um jogador nesta Liga dos Campeões foi testemunhada no Santiago Bernabéu, em 5 de novembro de 2008. Alessandro Del Piero mostrou por que é idolatrado pela torcida da Juventus: marcou os dois gols – um deles, em cobrança de falta magistral – da vitória por 2 a 0 sobre o Real Madrid no Santiago Bernabéu.

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Havia grandes expectativas a respeito de Luiz Felipe Scolari na LC. Afinal, o técnico brasileiro se notabilizou por fazer seus times crescerem em torneios eliminatórios. Mas a passagem no Chelsea não foi tão boa. Venceu três jogos, empatou dois e perdeu um, deixando os Blues na segunda posição do Grupo A (atrás da Roma). Devido aos maus resultados na Premier League, Big Phil nem chegou ao matamata da competição continental.

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Nas oitavas de final da LC, o Bayern de Munique teria, a princípio, um desafio respeitável. Afinal, o adversário seria o Sporting, que terminara a fase de grupos apenas um ponto atrás do Barcelona. Foi um massacre: os alemães fizeram 5 a 0 em Lisboa e completaram o banho com 7 a 1 em Munique. O placar agregado (12 a 1) foi o maior de um mata-mata da Liga dos Campeões desde que o formato atual foi adotado, em 1992.

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A ofensividade quase irresistível contra uma impressionante solidez coletiva. O surpreendente Pep Guardiola diante do experiente Alex Ferguson. Messi versus Cristiano Ronaldo. Barcelona e Manchester United transformaram a decisão da Liga dos Campeões em um tira-teima do que houve de mais espetacular na temporada 2008/09 no futebol mundial.

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A vitória catalã será lembrada por muitos anos, mas o torneio não se limitou a isso. Houve oportunidade para novas versões de duelos que já se tornaram tradicionais e criaram rivalidade, como Chelsea x Liverpool e Chelsea x Barcelona. Além disso, a competição foi palco de grandes surpresas, como o romeno CFR Cluj e o cipriota Anorthosis Famagusta.

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Na vitória por 2 a 0 sobre a Internazionale, em Old Trafford, o Manchester United estabeleceu o novo recorde de invencibilidade em casa da competição: 21 jogos. A última derrota da equipe foi no jogo de volta das semifinais de 2006/07 (3 a 0 para o Milan, em San Siro). O recorde anterior pertencia ao Ajax, que ficou 20 jogos sem perder entre 1985 e 1996.

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O retorno do Atlético de Madrid, após 12 anos, à LC não foi dos piores, apesar da eliminação nas oitavas de final. Os Colchoneros só não venceram o Liverpool em Anfield devido a um pênalti bastante duvidoso no último minuto e terminaram a competição como única equipe invicta.

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O sorteio para as quartas de final colocou, pela quinta vez em cinco anos, Liverpool e Chelsea frente a frente em uma LC. Na ida, o 3 a 1 em Anfield fez que o Chelsea fosse colocado como favorito. Mas, em Londres, Reds fizeram 2 a 0 no início do jogo. Na segunda etapa, os donos da casa conseguiram virar para 3 a 2. Tudo definido? Nada disso: os visitantes fizeram 4 a 3 e ficaram a um gol da vaga. Até Lampard estabelecer o empate – um histórico 4 a 4 – e classificar os Blues.

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O desempenho da defesa do Chelsea nas duas partidas das semifinais, contra o Barcelona, era próximo do perfeito. A equipe de Guus Hiddink conseguira segurar um 0 a 0 no Camp Nou e, em Stamford Bridge, vencia por 1 a 0 sem que o Barça criasse grandes oportunidades. Bastou uma única jogada de Messi, Eto’o e Iniesta, nos acréscimos do segundo tempo, para punir severamente o único lapso defensivo dos Blues. Barcelona na final.

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Após a eliminação para o Barcelona, o Chelsea deixou a fleuma britânica de lado. Drogba foi tirar satisfações com o árbitro e Bosingwa chamou o apitador de ladrão. O técnico Guus Hiddink falou até em complô da Uefa para evitar uma segunda final seguida apenas com clubes ingleses.

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INGLATERRA por Dan Brennan, da FourFourTwo

Depois de se apaixonar pelo Barcelona e flertar com o Tottenham, Arshavin chegou como a esperança de salvação do Arsenal. Mas por que o russo demorou tanto para acertar com um grande time?

Descobrimento tardio m 21 de junho de 2008, a torcida holandesa encheu o estádio St. Jakob, na Basiléia, esperando assistir outra partida inesquecível de sua seleção. Eram as quartas de final da Euro 2008 e, de fato, se viu uma exibição de encher os olhos. Mas não de quem esperava. Quase sozinho, o capitão da Rússia, Andrey Arshavin, aproveitou a apresentação decepcionante da Oranje para comandar a vitória por 3 a 1 de sua equipe. Foi a melhor atuação individual do torneio, rendendo comparações com o desempenho de Maradona contra a Inglaterra na Copa de 1986. Um mês antes, ele havia sido responsável outro espetáculo, na vitória por 2 a 0 do Zenit contra o Rangers na final da Copa Uefa em Manchester. Com Arshavin no coman-

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do, o time de São Petersburgo também havia colocado fim a uma hegemonia que já durava 15 anos dos clubes moscovitas na Premier Liga russa. Entre os muitos admiradores que Arshavin ganhou naquelas partidas estava Arsène Wenger. Assistindo à Eurocopa como comentarista da TV francesa, o técnico do Arsenal o descreveu como a “revelação do torneio”. Sete meses depois, o russo se transformou na contratação mais cara da história do clube londrino – aproximadamente € 18 milhões. Nascido em maio de 1981, Arshavin se apaixonou, na infância, pelo Barcelona de Cruyff. Tanto que o jogador nunca escondeu o sonho de defender os blaugranas. Criado em uma kommunalka – apartamento compartilhado por diversas famílias – na região de

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Fotos Arquivo Four Four Two

Vasilievsky, São Petersburgo, Arshavin deu seus primeiros passos no futebol com sete anos, quando seu pai o matriculou na escolinha do Zenit. Aos 17, foi chamado para defender o time B dos Brancos. Sua primeira aparição como profissional aconteceu no norte da Inglaterra, em agosto de 2000. Aos 18 anos, saiu do banco de reservas para uma estreia sem muito brilho no jogo entre Zenit e Bradford City pela extinta Copa Intertoto. Articulado e com opiniões fortes, acabou se desgastando com a diretoria do Zenit quando quis sair. O clube, ancorado no dinheiro da gigante de energia Gazprom e no fato de Arshavin ter assinado um novo contrato, o maior da Rússia, avisou que “só uma bomba nuclear” tiraria o meia de São Petersburgo. “Se eu ficar”, respondeu, “será só no papel. Não quero jogar aqui na próxima temporada, e não vou”. No último dia da janela de transferências, os deuses pareciam ter outros planos para ele. Ao acertar os termos pessoais com o Arsenal, foi para Londres fazer exames médicos sabendo que o Zenit poderia segurá-lo. O impasse final ocorreu quando os russos insistiram em receber um bônus pela negociação. Arshavin concordou em ele mesmo pagar a quantia para que a transação fosse concretizada. “Foi um dia duro, física e mentalmente”, conta ao lembrar o drama. “Saí às 8h e só parei para comer algo às 22h. Só acreditei que o negócio estava fechado no momento em que assinei o contrato. Eram 16h57 ou 16h58 no horário de Londres, e faltavam minutos para o fechamento da janela”. Arsène Wenger, que tem como religião não assinar contratos com jogadores acima dos 24 anos, também fez de tudo para contar com o russo, de 27. Versátil, Arshavin é extremamente rápido nos arranques cur-

tos, tem bom controle de bola com os dois pés e a inteligência de enxergar passes onde outros não veriam. Some a isso a audácia de tentar o inesperado e surge, nas palavras de Dick Advocaat, seu técnico no Zenit, um jogador que “tem o raro dom de criar oportunidades a partir do nada.” O russo também se caracteriza pela versatilidade, outra característica que seu novo técnico preza. Começou a atuar no Arsenal pelo lado direito do meio-campo, como no início de carreira. Sob o comando de Advocaat, que armou um 4-3-3 ao estilo holandês, atuava pelos dois lados do campo como um terceiro atacante. Antes disso, já havia jogado como um meia ofensivo no 4-4-2. Seu primeiro teste na Premier League aconteceu em fevereiro, quando foi relacionado para o banco de reservas no dérbi do norte de Londres, entre Arsenal e Tottenham. E se o Zenit tivesse concordado em reduzir o preço do jogador, ele poderia ter reforçado o rival – os Spurs haviam oferecido cerca de € 17 milhões após a Euro 2008, mas a oferta foi retirada. Um assunto que lhe causa embaraço. “Não quero fazer comparações entre as duas equipes, mas claramente eu deveria terminar no Arsenal”. Após seus primeiros jogos, o novo camisa 23 do Arsenal deixou claro que pode dar à sua nova equipe o impulso que precisava – o empate com o Liverpool por 4 a 4, quando marcou quatro gols, foi uma mostra. Advocaat certamente acredita que Arshavin pode fazer isso. “Eu disse-lhe que, se escutasse direito meus conselhos, poderia se transformar em um jogador de projeção mundial. Lembre-se das minhas palavras”, finaliza o holandês. Saiba mais sobre futebol inglês em www.trivela.com/inglaterra

Na Eurocopa, finalmente o mundo descobriu Arshavin

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ENTREVISTA » DESAILLY

“Capello não me

Desailly revela surpresa geral - e dele própria - em sua chegada ao Milan e fala como se tornou um dos maiores zagueiros da Europa ma rápida passagem por seu currículo e o número de títulos impressiona. Marcel Desailly, nascido em Gana e naturalizado francês, foi um dos defensores mais vitoriosos dos últimos tempos. A carreira foi marcada por grandes passagens por Olympique de Marselha, Milan e Chelsea. Mas não ficou restrita aos clubes. Com a seleção francesa, Desailly foi figura importante do time campeão do mundo em 1998 e duas vezes da Copa das Confederações. Foram 116 jogos com os Bleus. Aos 40 anos, ainda não se desligou do futebol: hoje é comentarista do Canal Plus, da França.

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Fotos Arquivo Four Four Two

conhecia” Quando você foi para o Milan, dividia os vestiários com Maldini, Gullit, Baresi, Van Basten, Rijkaard... Como o receberam? Muito bem, embora acredite que eles quisessem saber o que eu estava fazendo lá - e eu também queria! Mas não estou certo se sabiam quem eu era. Capello não me conhecia, ou pelo menos não me conhecia muito bem. Quanto a Baresi... Eu não sei nem se ele sabia mesmo pronunciar meu nome! Mas eram profissionais muito bons e me trataram de modo profissional. Eu tive a sorte de encontrar o (também francês) Papin por lá.

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por Darren Tulett, da FourFourTwo

Sobre a final da Liga dos Campeões entre Milan e Barcelona, em 1994, houve algum sabor especial? Afinal, eles eram os grandes favoritos. Aquele foi o melhor desempenho de uma equipe de que você participou? Vamos contextualizar: nós não éramos tão fortes, mas tínhamos um esquema sólido, mesmo que a maioria dos torcedores não apreciasse. Estávamos muito bem armados e cientes de nossa capacidade de segurar um time como o Barcelona, mágico e criativo, um pouco como o Barcelona de hoje. Então, era fácil imaginar uma vitória deles. Nós realmente fizemos aquilo por causa do Cruyff e da maioria das pessoas, que disseram que nós não tínhamos nenhuma possibilidade de vencer. Capello ficou louco da vida por tudo o que diziam sobre ele e o clube e conseguiu nos inspirar com este sentimento. Queríamos mostrar que poderíamos ser criativos também e fizemos isso. O Savicevic estava incrível naquele dia. Qual o melhor treinador com quem você já trabalhou? Don Fabio! Adoro o Capello. Mesmo quando estávamos em atividades paralelas, ele prestava atenção no nosso treino. Ele colocava você sob pressão. Era extremamente exigente, organizava sessões de vídeo que poderiam durar horas, detalhava o jogo e os diferentes erros que havíamos cometido. Capello ia à exaustão como treinador. Mas eu achava isso necessário. Ele é magnífico.

estava em uma fase diferente também. Eu sempre consegui me posicionar bem no meio campo. Na Inglaterra eu entrei em uma fase em que era necessário voltar para a minha posição original, zagueiro central. O futebol é mais rápido na Inglaterra, não há tempo para voltar e você sofre muito mais faltas. Eu já me encaminhava para o final da carreira e era preciso jogar em uma posição onde me sentisse mais confortável. O que passou pela sua cabeça quando foi expulso de campo na final da Copa do Mundo de 98? Você pensou que isso poderia comprometer o título? Eu estava no ataque. Então, não é que cometi uma falta dentro da área. Fui pe-

Marcel Desailly Nascimento 7/set/1968, em Accra (Gana) Carreira Nantes (1986 a 92), Olympique de Marselha (1992 a 93) , Milan (1993 a 98) , Chelsea (1998 a 2004) , Al-Gharafa (2004 a 2005) e Qatar SC (2005 a 2006) Títulos Campeonato Francês (1992/93) , Campeonato Italiano (1993/94 e 95/96) , Campeonato Catarense (2004/05), FA Cup (1999/2000) , Liga dos Campeões (1993/94) , Eurocopa (2000) , Copa das Confederações (2001 e 2003) e Copa do Mundo (1998)

go em meu ímpeto, esperando ser parte da história! Só havia mais um jogador de defesa, Cafu, e apesar de saber que ele chegaria primeiro, continuei correndo e esperando pelo golpe de sorte que me deixaria em posição de marcar um gol e ficar com um pouco da glória da Copa do Mundo. No vestiário, esperando o jogo terminar, não estava contente, posso dizer isso. Percebi que, se a França perdesse, eu seria responsabilizado e não seria perdoado nunca! Na concentração para a final da Copa do Mundo de 98, você e seus companheiros sabiam o que estava acontecendo com Ronaldo? Durante o jogo ele estava diferente de alguma maneira? Não, de modo nenhum. Ele vomitou, mas provavelmente de nervoso. A menos que tenha saído pela cidade na noite anterior. (risos) Zidane, Van Basten, Papin, Zola, Maldini, Baresi, Gullit, Rijkaard, Weah, Henry. Você jogou com grandes jogadores, mas se pudesse ter apenas um deles em seu time, quem seria e por que? Van Basten, o jogador completo. Quando eu estava no Olympique de Marselha, sonhava em atuar ao lado dele. Era sensacional. Com alguns outros, joguei quando já estava estava estabelecido, era diferente. Zola e Zidane eram tremendos jogadores também.

Por que você trocou o Milan pelo Chelsea, que à época não era uma equipe da elite européia? O desafio no Chelsea era interessante. O clube estava se construindo, olhando para novos rumos e precisava de grandes nomes. Manchester United e Liverpool também haviam me procurado, mas eu achava necessário ter uma escola francesa próxima para os meus filhos. Então optei por Londres. Em Stamford Bridge, você passou de volante para zagueiro central. Por quê? Qual posição você prefere? O futebol é muito tático na Itália e eu Junho de 2009

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NEGÓCIOS

Fotos Divulgação

por Mayra Siqueira

Aumento rápido na oferta de cursos faz que muitos não contem com professores especializados

ESPECIALIDADE:

esporte Percebendo mercado promissor, faculdades investem em cursos de pós-graduação e MBA em gestão e marketing esportivo

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e uns anos para cá, com o crescimento geral dos cursos universitários, uma série de carreiras que antes nem existiam formalmente passaram a ser objeto de estudo. Seja pela realização já confirmada da Copa de 2014 no Brasil – e a possibilidade de também hospedar os Jogos Olímpicos de 2016 – ou não, o fato é que os cursos de pós-graduação, MBA e especializações em gestão esportiva vêm pipocando por aqui.

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“Hoje, o esporte gera negócios e envolve muito dinheiro. Tem que ter gente capacitada para se ter maior rentabilidade em cima disso”, diz Deborah Palma, coordenadora do curso de Gestão e Marketing de Entidades Esportivas da Universidade Anhembi Morumbi. O que, hoje em dia, não acontece. A maior parte dos profissionais que atuam na área esportiva tem formação em outras áreas, e aprendeu com a prática. “Percebemos ainda hoje que, à medida que o esporte se torna mais que um espetáculo, quanto mais profissionalizada a gestão, melhor para ele próprio,” completa Olavo Furtado, coordenador da Faculdade Trevisan. A indústria do esporte atualmente representa cerca de 2% a 3% do PIB em nações desenvolvidas, número não muito diferente do Brasil, onde o setor emprega mais de 300 mil pessoas. E a for-

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mação dos indivíduos que atuam na área esportiva, e que buscam os cursos é diversa: desde formados na área de gestão e administração, até jornalistas, profissionais de educação física, advogados, publicitários e executivos de fabricantes de materiais esportivos. “Falta gente qualificada e com experiência na área esportiva, e descobri isso conversando com pessoas do mercado. É um nicho em crescimento”, afirma Marcelo Claro, estudante da Anhembi Morumbi, formado em ciências da computação. André Stepan é jornalista, e buscou se profissionalizar em esportes por acreditar que isso melhoraria suas opções de atuação no mercado. “Com a formação de jornalista, eu não tinha noção de contabilidade e gerência do esporte. O curso ajudou muito nisso”. Como são muitos, cada curso busca um diferencial. A Anhembi Morumbi, por exemplo, estabeleceu parceria com o Real Madrid e com a Universidade Europeia de Madrid. A instituição espanhola fundou uma escola especializada em esporte e sua gestão, envolvendo o gerenciamento do clube como um todo, abrangendo questões como saúde, comunicação e entretenimento. Já o curso da ESPM tem uma parceria com o São Paulo, o que os possibilita realizar estudos de casos práticos na gestão do clube, além de visitas e trabalhos de campo que permitem aos alunos viverem a rotina em uma grande instituição esportiva. “A Faculdade Trevisan, por sua vez, se apoia na experiência em marketing esportivo de Luis Carlos Brunoro.

Teoria e prática Apesar de todos os cursos terem o discurso comum de que a união entre o teórico e o prático é seu forte, o fato é que ainda falta um número maior de professores especializados e capacitados para o ensino. Com isso, os cursos acabam recorrendo a esportistas – como Ricardo Prado ou Paula – ou jornalistas – como

Juca Kfouri ou José Trajano – que passam suas experiências práticas no mundo do esporte. A formação acadêmica, porém, pode não ser completa. Tentando amenizar essa dificuldade, as faculdades buscam o máximo de especialistas nos assuntos diversificados que seus cursos tentam cobrir. “Me preocupei muito em checar os professores, e todos são especialistas em suas áreas: psicólogos esportivos, advogados, pessoas da área financeira, marketing. Tem muita gente do próprio universo esportivo, não só acadêmicos”, aponta Marcelo Claro.

André Stepan, porém, não vê da mesma maneira: “Não saímos preparados para o mercado”, afirma. Ele lamenta ainda o grande número de cursos, e acha que a base teórica ainda é incompleta. O que se percebe é que, embora haja a consciência da necessidade de se formar profissionais adequados a um novo modelo de gestão, ainda estamos longe do ideal. Mesmo assim, uma formação incompleta sempre é melhor do que nenhuma formação. Resta saber se o tempo e a experiência transformarão quantidade em qualidade. O mercado tem mostrado que assim o exigirá.

CONHEÇA ALGUMAS DAS OPÇÕES

Anhembi Morumbi (SP)

Unicuritiba (PR)

Gestão e Marketing de Entidades Esportivas Carga horária 18 meses, 600 h/aula http://portal.anhembi.br

MBA em Gestão Profissional do Futebol Carga horária 423h/aula www.unicuritiba.edu.br

ESPM (SP)

Universidade Castelo Branco (SP)

Administração do Marketing do Esporte Carga horária 360h/aula www.espm.br

Administração e Marketing Esportivo Carga horária 360h/aula www.castelobranco.br

FGV (SP) MBA em Administração Esportiva Carga horária 360h/aula www.fgv.br/fgvportal

Universidade Gama Filho (RJ)

Trevisan (SP)

Universidade São Marcos (SP)

Gestão e Marketing Esportivo Carga horária 460 h/aula www.trevisan.edu.br

Tecnologia em Gestão do Esporte Carga horária 1633 h/aula http://vestibular.smarcos.br

MBA em Gestão e Marketing Esportivo Carga horária 360h/aula www.ugf.br

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Jorge R. Jorge

EXTRACAMPO

ATIVOS BEM NA FITA Cristiano Ronaldo está com moral. Em pesquisa da Universidade de Navarra, o meia-atacante do Manchester United lidera o ranking de impacto de jogadores na mídia de alguns países. O português foi o primeiro em Portugal, Estados Unidos, Austrália, Índia e Brasil. Messi, do Barcelona, foi melhor em Argentina, Espanha, Suíça e México. Duas curiosidades: Berbatov ganhou na Inglaterra e Güiza, na Turquia.

Efeito dominó Champs quis dar um passo maior do que as pernas ao fornecer material esportivo para diversos clubes. A consequência disso é que continua a colecionar problemas com seus clientes. A dificuldade na distribuição dos uniformes do Vitória, por exemplo, colocou o clube em uma situação inusitada. Na partida contra o Atlético Paranaense pelo Brasileiro, o goleiro Viáfara usou um meião do Vasco. Como a Champs também é fornecedora dos cruzmaltinos, uma remessa das peças acabou indo por engano para o Rubro-Negro. Já a Ponte Preta não demorou mais que quatro meses para romper com a marca, após mal-estar provocado pelo lançamento da camiseta do Guarani, também cliente Champs. A frase “maior torcida do interior”, presente na camisa bugrina, irritou os pon-

SEM CRISE

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tepretanos – razão alegada pela marca pelo rompimento. A Ponte nega e aponta a falta das peças como causa do atrito. Em algumas partidas pelo Paulista, os atletas não tinham roupa para passar mais que um dia nas concentrações. O Vasco aproveitou o embalo e rompeu em maio. O cúmulo aconteceu nas partidas contra Santa Cruz e Icasa, pela Copa do Brasil, quando o uniforme de jogo foi entregue duas horas antes dos confrontos. Quem também teve problemas parecidos foi o Brasiliense. Na estreia na Série B, o Jacaré só conseguiu o uniforme graças a um funcionário que foi a São Paulo buscar pessoalmente o material. Procurada pela reportagem da Trivela, a Champs não havia se manifestado até o fechamento desta edição.

O ano passado foi altamente rentável para a CBF. De acordo com seu balanço, a entidade registrou um lucro de R$ 32 milhões – quase o triplo do ano anterior, quando este número chegou a R$ 10,4 milhões. Os valores elevados se devem principalmente a patrocínios, setor no qual as receitas passaram de R$ 65 milhões para R$ 104 milhões. Além da manutenção de parceiros tradicionais, como Nike, Ambev, TAM e Globo, a CBF renovou com a Vivo e assinou acordos com Itaú e Hugo Boss. E a tendência é que a situação fique ainda melhor em 2009, pois a entidade fechou um contrato com a Gillette até a Copa de 2010. Em 2006, a CBF apresentou um prejuízo de R$ 22 milhões.

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ENFRENTANDO A TORCIDA Todo torcedor já gritou alguma vez que faria muito mais em campo do que algum jogador de sua equipe. O Sport colocou a ideia em prática: 25 torcedores poderão, por R$ 170, disputar um amistoso contra o time sub-20. O valor arrecadado com a ação, além da bilheteria da partida, será destinado ao desenvolvimento das categorias de base do Leão. VAGA COM PREJUÍZO A classificação direta para as quartas de final da Libertadores causou problemas a o São Paulo. O clube estimou em R$ 2 milhões a perda com o cancelamento dos duelos contra o Chivas, que desistiu do torneio depois da polêmica com relação à gripe suína. ROUPA NOVA A Diadora se tornou a nova fornecedora de material esportivo para a Conmebol. Pelo acordo, os trios de arbitragem nos torneios organizados pela entidade usarão os uniformes da empresa italiana. O acordo, com duração de dois anos, já entrou em vigor.

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por Ricardo Espina

De volta ao passado D O Fluminense recorreu à nostalgia para criar seus novos u uniformes. As peças lembram importantes conquistas do Tricolo A camisa um manteve as cores grená, verde e branca, Tricolor. referê com referência ao título do Brasileiro em 1984. Já a reserva listr em diagonal em verde e grená, como o modelo usado apresenta listras tetracampe no tetracampeonato estadual entre 1906 e 09. Os dois uniformes ainda Ta Olímpica de 1949. ostentam a Taça Fabricante Adida Adidas Preço sugerido R R$ 159,90

Futebol leve A Nike desenvolveu a nova edição da chuteira Mercurial Vapor. O modelo V conta com uma novidade: a tecnologia Flywire, que visa dar maior leveza ao calçado sem comprometer a resistência e a flexibilidade. A parte superior da chuteira tem um revestimento especial para proporcionar maior controle da bola e facilitar seu domínio.

Logo após conquistar o título estadual, adual, o contra o Cianorte, os jogadores do Atlético Paranaense mostraram o novo amisa segundo uniforme da equipe. A camisa homenageia Ziquita, que marcou quatro gols no empate por 4 a 4 que acão. deu o Paranaense de 1978 ao Furacão. A peça, branca com faixas horizontais em vermelho e preto na altura do peito, será usada em alguns jogos do Campeonato Brasileiro.

Fotos Divulgação

Homenagem

Fabricante Umbro Preço sugerido R$ 159,90

Fabricante Nike Preço sugerido R$ 599,90

Uniforme especial No ano de seu centenário, o os Coritiba colocou detalhes dourados em seu uniforme 1. A camisa reserva é completamente verde, s. sem as tradicionais listras brancas. Os torcedores que esperavam umaa peça especial devem aguardar mais um pouco. A linha comemorativa sairá apenas no segundo semestre, quando será completado o 100º aniversário do Coxa.

ESPECIAL PARA MULHERES Há tempos o futebol deixou de ser jogado apenas pelos homens. De olho no aumento do interesse do público feminino pela prática do esporte, a Kappa lançou uma linha especial de chuteiras para as mulheres. Os três modelos são adaptados aos tamanhos femininos e apresentam cores delicadas, como rosa e lilás.

FOGO NA ROUPA A torcida corintiana pode comemorar a conquista do título paulista com uma camiseta especial. O modelo, com edição limitada e exclusiva para o Estado de São Paulo, está disponível nas cores preta e branca. Na região central da peça, há um desenho com 26 estrelas, o número total de taças estaduais da equipe.

Fabricante Lotto Preço sugerido R$ 149,90

Fabricante Kappa Preço sugerido R$ 109,90

Fabricante Nike Preço sugerido R$ 69,90

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A VÁRZEA

A roupa nova do Imperador Era uma vez um reino muito, mas muito distante mesmo, chamado Gávea. Lá, as pessoas andavam meio entediadas. O melhor passatempo era fazer a turma do reino vizinho, comandada pelo General Severiano, chorar durante todo o primeiro semestre. Era engraçado no começo, mas tudo que se torna corriqueiro enjoa. Faltava alguma coisa que voltasse a mexer com os brios dos habitantes de lá; algo que mobilizasse o povo desde quando um valente galo apareceu e se tornou símbolo desta nação. Tudo caminhava para o completo marasmo, ainda mais quando o reino soube que seu antigo filho havia assumido o trono de outra freguesia. O povo estava inconsolável depois de Rei Ronaldo prometer mundos e fundos, e escafeder-se para as terras de São Jorge. Era preciso tapar esta ferida. Foi quando, em um belo dia, soaram as trombetas. Ao longe, vinha um cavaleiro azul e negro. A curiosidade da população logo se desfez quando o forasteiro se aproximou e se apresentou. Boquiabertos, os súditos se curvaram diante de seu senhor. Sim, Imperador Adriano estava de volta para reassumir o trono que havia deixado quando ainda fazia das suas como príncipe herdeiro. Ele estava um pouco diferente, é verdade: mais forte, robusto e um pouco barrigudinho. Deve ter sido a tradição italiana de ser um povo festeiro e que não dispensa uma boa comida. Logo lhe trouxeram um manto em vermelho e preto. Ficou meio justo, mas não importava. Era chegada a hora de chamar o traidor para um duelo. A missão era simples. Foram convocados os melho-

A charge do mês res cozinheiros para preparar suas especialidades mais saborosas. Fofômeno e o Imperador ajeitaram os guardanapos e começaram a se esbaldar. A notícia do duelo se espalhou com o vento e tem gente interessada em aparecer nestas bandas só para desafiar o vencedor. Dizem até que outro herdeiro de um Rei estaria com muita vontade de reencontrar seus súditos da Vila Belmiro. Estaria ele pronto para o desafio fenomenal?

A lorota do mês “Yes, we can. Essa frase é do Obama, o nosso ídolo” Será que o Parreira se inspirou no presidente norte-americano para retirar as tropas do Fluminense da Copa do Brasil?

A manchete do mês “Radar se apresenta ao Cruzeiro, mas deverá ser emprestado” (Uol Esporte) O pessoal da Toca da Raposa respirou aliviado, pois não terá mais que se preocupar com multas de trânsito.

Em alta São Paulo O clube mais diferenciado do Brasil mostrou estar mesmo à frente de seus rivais. Ninguém tem mais jogadores machucados do que o Tricolor.

Shakhtar Donetsk Ganhar do Werder Bremen em uma final é tão fácil que até o Chico Linguiça’s Globetrotters seria campeão da Copa Uefa

Em baixa

Você pode receber A Várzea na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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www.sustentanet.com.br

Quer saber tudo sobre a energia gerada pela força dos ventos? E sobre o movimento Slow Food? Confira essas e outras reportagens na nova edição de Sustenta! e atualize sua consciência ambiental

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