Trivela 41 (jul/09)

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RANKING Quais is são as melhores categorias de base do Brasil

REAL MADRID Kaká e Cristiano Ronaldo lideram os novos galácticos

Marcos fala nº 41 | jul/09 | R$ 8,90

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“Conheci jogador que ia com o pai na suruba” “Aceitaria ser reserva do Júlio César na Seleção” “Se um jogador não quer crítica, que jogue bem” 6/29/09 5:41:06 PM


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Muito além do futebol.

NESTE SEMESTRE: Eliminatórias da Copa do Mundo | Campeonato Alemão e Português de Futebol | NFL | Fórmula Indy Campeonato Europeu de Seleções de Vôlei | ATP | WTA | DTM | Nascar | Poker | Superbike

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EDITORIAL

Bases sólidas A entrevista já tinha terminado. Marcos estava conversando informalmente com a reportagem da Trivela e a assessoria de imprensa do Palmeiras quando um torcedor – com sua filha pequena no colo – insistia para presenciar o bate-papo, realizado em uma sala reservada. Era um hóspede do hotel em que o Alviverde se concentrava em Atibaia antes do jogo decisivo contra o Nacional pela Libertadores. Percebendo o possível atrito com o segurança, o goleiro se dispôs a tirar uma foto ou dar um autógrafo. Resposta: “Não, não. Eu não quero nada, só ficar aqui, parado, olhando, sem atrapalhar. Você é nosso ídolo, cara”. O camisa 12 não é apenas o jogador preferido dos palmeirenses. Não é apenas o sujeito que une arquibancada e “turma do amendoim”. Ele é o nome que conseguiu se tornar o maior ídolo recente de um clube sem deixar de ser adorado pelos mais fanáticos torcedores rivais. A receita para isso é de simplicidade franciscana: sinceridade, respeito aos adversários, desapego ao marketing pessoal e transparência. Mesmo que todo esse pacote o prejudique em alguns momentos. Segundo o próprio Marcos, esse tipo de comportamento foi aprendido em casa, com família e amigos. O que nem sempre acontece. “Conheci jogador que ia com o pai na suruba”, conta. Sim, a formação desde a adolescência ajuda o atleta a ter personalidade sólida e mais capacidade de lidar com as armadilhas do futebol. O que nos remete a outra reportagem desta edição. Muito se fala sobre quais clubes trabalham melhor na formação de jogadores, mas nunca foi feita uma pesquisa detalhada sobre o assunto. Assim, a Trivela publica seu ranking das categorias de base do futebol brasileiro. A lista não conta apenas resultados em juniores e juvenis, porque o objetivo das divisões inferiores não é ganhar títulos, mas revelar e vender talentos. Por isso, também são consideradas infraestrutura, quantidade de pratas-da-casa nos elencos atuais e quanto cada clube arrecadou com a venda de seus jovens nos últimos tempos. Não é um levantamento definitivo, nem se pretende como tal. Mas era preciso dar o primeiro passo.

w w w. t r i v e l a . c o m Editor executivo Caio Maia Editor Ubiratan Leal Reportagem Gustavo Hofman, Leonardo Bertozzi, Felipe dos Santos Souza (trainee) e Mayra Siqueira (trainee) Consultoria editorial Mauro Cezar Pereira Colaboradores Dassler Marques, Fábio Fujita, João Tiago Picoli e Ricardo Espina Revisão Luciana Zambuzi Projeto gráfico / Direção de arte Luciano Arnold Design / Tratamento de imagem Bia Gomes Capa Ayrton Vignola

Central do assinante www.trivela.com/revista (11) 3038-1406 trivela@teletarget.com.br

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EUROPEU A lista completa das principais transferências europeias para 2009/10

10/7 Guia da pré-temporada Conheça os principais torneios de preparação envolvendo grandes clubes 16/7 Entrevista: Guilherme O ex-atacante do Cruzeiro fala sobre sua adaptação ao futebol ucraniano Divulgação

Agora você pode seguir a Trivela em todos os momentos: twitter.com/ trivelafutebol

MERCADO

24/7 Os nomes dos estádios: França Quem foram Luís II, Léon Bollée, Geoffroy Guichard...

Diretora Comercial Gabriela Beraldo (11) 3474-0127 gabriela@matracanet.com.br Circulação LM&X - (11) 3865-4949 lele@lmx.com.br Atendimento ao jornaleiro LM&X - (11) 3865-4949 atendimento@lmx.com.br Redação (11) 3474-0119 contato@trivela.com é uma publicação mensal da Trivela Comunicações. Todos os artigos assinados são de responsabilidade dos autores, não representando necessariamente a opinião da revista. Todos os direitos reservados. Proibida a cópia ou reprodução (parcial ou integral) das matérias e fotos aqui publicadas Distribuição nacional Fernando Chinaglia Impressão Vox Editora Tiragem 30.000 exemplares

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6/29/09 5:46:41 PM


ÍNDICE 18

CAPA » ENTREVISTA » MARCOS

O goleiro do Palmeiras rejeita o rótulo de herói da Libertadores e fala sobre os problemas alviverdes, Seleção e relação dos jogadores com imprensa

As melhores categorias de base do Brasil

24

O adeus do maior jogador da história do Lyon

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RANKING FRANÇA

TÉCNICOS

ENTREVISTA »

Divulgação

A vida privada dos jogadores

ENCHENDO O PÉ

17

MARACANAZO

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TÁTICA

LOS ANGELES

Estados Unidos, terra de craques?

Fabio Capello reinventa o English Team

CULTURA

A febre do Twitter alcança o futebol

JOGO DO MÊS

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GERAL

8

PENEIRA

16

EXTRACAMPO

64

A VÁRZEA

66

40

A escolha do estádio de Cuiabá envolve mais dúvidas do que esclarecimentos

Com o retorno de Florentino Pérez, os Galácticos estão de volta ao Real Madrid. Cometerão os mesmos erros do passado?

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Fabrice Coffrini/AFP

eu fiscalizo a

Copa Co pa 2 201 014 01 4

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ESPANHA

0x2

52

Leonardo dará certo no comando do Milan?

HISTÓRIA

44 50

O futebol italiano enfrenta a decadência

CAPITAIS DO FUTEBOL » OPINIÃO

43

Já tem gente garantida na Copa

COMPORTAMENTO NEGÓCIOS

36

FÁBIO LUCIANO

ELIMINATÓRIAS

ITÁLIA

34

Como os treinadores usam as estatísticas

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0x2 JOGO DO MÊS

Gaspar Nóbrega/Vipcomm

por Caio Maia

Troca de guarda Cruzeiro elimina o São Paulo da Libertadores com autoridade e determina o fim da “Era Muricy” no Morumbi ão Paulo x Cruzeiro deveria ser o “jogo do ano”, pelo menos para os dois. E um dos jogos do ano para o futebol brasileiro: dois dos melhores elencos – e duas das camisas mais importantes – do Brasil se enfrentando por uma vaga na semifinal da Libertadores na casa de um e com leve vantagem do outro. Deveria, mas não foi. O que ficou claro desde antes do início da partida. Foi, sim, um baile técnico e tático da Raposa no Tricolor. Com direito a “olé” e demissão de técnico. Mesmo desacreditado em alguns momentos, o São Paulo dos últimos tempos acabou conquistando um título importante por ano desde 2005. Com esse retrospecto, mesmo a má fase vivida pela equipe poderia ser desconsiderada, e não

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jogo do mês.indd 2

foram poucos os que apontaram os comandados de Muricy Ramalho como favoritos para o confronto. O problema é que os comandados favoritos eram uns, e o técnico mandou a campo outros: Marlos e Eduardo Costa, que, juntos, não

SÃO PAULO Denis; Renato Silva, André Dias e Richarlyson; Zé Luis (André Lima), Eduardo Costa, Jean, Marlos e Júnior Cesar (Hernanes); Borges e Washington (Dagoberto) Técnico Muricy Ramalho

tinham dez partidas com a camisa tricolor, jogaram; Hernanes, melhor jogador do Brasileiro de 2008, e Jorge Wagner, o maior “assistente” do time – além de opção para a bola parada na ausência de Rogério –, ficaram no banco. Muricy começou o jogo com o time errado, claro sinal de que a turbulência das semanas anteriores influenciara a escalação. Eduardo Costa acabou sendo decisivo ao receber cartão vermelho depois de falta banal no final do primeiro tempo. O que já se configurava estava sacramentado: o São Paulo não marcaria o gol que precisava contra o Cruzeiro. A Raposa aproveitou para transformar o jogo em uma autêntica “troca de guarda”: dominou a partida quando ainda jogavam onze contra onze, e só não humilhou o São Paulo no segundo tempo por preguiça ou consideração. A bola só deixou os pés dos jogadores cruzeirenses para estufar as redes do Morumbi. E isto sem o principal nome da equipe, Ramires, ocupado em ganhar uma vaga de titular na Seleção. Se havia alguma dúvida de que Muricy perdera o controle, ela se desfez quando o treinador mandou a campo André Lima, que se notabilizou por perder gols em quantidade industrial. No banco até o apito final, Jorge Wagner assistiu à quarta queda consecutiva do São Paulo na Libertadores. Em todos os casos, o time que criou a maior hegemonia do Campeonato Brasileiro caiu para um adversário local. Fim de Libertadores para o São Paulo, de novo. Mas, dessa vez, foi suficiente para determinar o fim de São Paulo para Muricy. Não poderia ser diferente.

0x2 Data 18/junho/2009 Local estádio do Morumbi (São Paulo) Árbitro Sergio Pezzota (Argentina) Público 52.809 pagantes Cartões amarelos Eduardo Costa, André Dias, Borges, Fábio, Wagner, Kléber, Jonathan e Gérson Magrão

Cartões vermelhos Eduardo Costa e André Dias Gols Henrique (66min) e Kleber (81min)

CRUZEIRO Fábio; Jonathan (Thiago Heleno), Leonardo Silva, Leo Fortunato e Gérson Magrão; Elicarlos (Bernardo), Henrique, Marquinhos Paraná e Wagner (Jancarlos); Kléber e Wellington Paulista Técnico Adilson Batista

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GERAL » BRASIL

Mata-mata cruel elo quarto ano consecutivo, o São Paulo caiu nos mata-matas da Libertadores diante de um rival brasileiro. Atual tricampeão nacional, o Tricolor paulista parece ter esquecido a fórmula para superar seus compatriotas no torneio continental. Afinal, foram dez confrontos eliminatórios: os são-paulinos venceram os seis primeiros; depois, só derrotas. Os resultados negativos começaram em 2006, já sob a batuta de Muricy Ramalho, com a perda do título para o Internacional na decisão. Nos anos seguintes, os são-paulinos se despediram da Libertadores diante de Grêmio (2007), Fluminense (2008) e Cruzeiro (2009). Menos mal para os torcedores tricolores é que os três primeiros fiascos de primeiro semestre foram compensados com as conquistas do campeonato nacional. No entanto, Muricy não resistiu à eliminação para a Raposa, e não poderá tentar uma quarta volta por cima.

Ano Rival Fase

Resultados

1992

Quartas

1x0 (c), 1x1 (f)

1993

Quartas

1x1 (f), 2x0 (c)

1994

Oitavas

0x0 (f), 2x1 (c)

2005

Oitavas

1x0 (f), 2x0 (c)

2005

Final

1x1 (f), 4x0 (c)

2006

Oitavas

1x1 (f), 2x1 (c)

2006

Final

1x2 (c), 2x2 (f)

2007

Oitavas

1x0 (c), 2x0 (f)

2008

Quartas

1x0 (c), 3x1 (f)

2009

Quartas

2x1 (f), 0x2 (c)

Guilherme Dionízio/Futura Press

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“Para mim, tem um gosto especial vencer o São Paulo. Todos sabem o que aconteceu no passado. Essa vitória serve para amenizar um pouco a dor dos palmeirenses” Kléber, atacante do Cruzeiro, dedica a eliminação do Tricolor aos torcedores de seu ex-clube

O jogo termina quando acaba. Será? Djalma Beltrame acrescentou mais uma arbitragem polêmica a seu currículo. Depois de apitar a Batalha dos Aflitos entre Náutico e Grêmio na Série B de 2005, o carioca protagonizou cenas de comédia pastelão em Santos 2x3 Atlético Mineiro pela sétima rodada do Brasileirão deste ano. Apesar de indicar que daria quatro minutos de acréscimo no segundo tempo, o árbitro encerrou a partida aos 47 minutos. Alertado pelos santistas, Beltrame reiniciou o jogo. Nos dois minutos extras, o Santos fez um gol... anulado em decisão polêmica. Por mais inusitado que pareça, não foi a primeira vez que um jogo foi dado como encerrado antes do tempo por decisão do árbitro e recomeçou em seguida. Veja outros casos famosos:

Argentina 1x0 França

Santos 2x3 Peñarol

Copa do Mundo 1930

Final da Libertadores 1962

Libertadores 1981

A Argentina abriu o marcador com Monti aos 36 minutos do segundo tempo. Os franceses achavam que tinham nove minutos para reagir, mas o brasileiro Gilberto de Almeida Rego encerrou o jogo três minutos depois. Teve início uma grande confusão e, após meia hora, as equipes disputaram o resto da partida.

O Santos vencera a partida de ida, em Montevidéu, mas perdia por 3 a 2 na Vila Belmiro quando o árbitro chileno Carlos Robles encerrou o duelo no meio do segundo tempo por falta de segurança. O tumulto só aumentou e, para evitar mais problemas, o jogo foi completado. Pagão empatou o duelo, mas o placar oficial foi o do apito final “original”.

Induzido pelo relógio do placar eletrônico do Mineirão (que estava adiantado), José Roberto Wright encerrou o primeiro tempo aos 40 minutos. O equívoco só foi notado quando os times já estavam no vestiário. Todos voltaram a campo e disputaram os cinco minutos que realmente faltavam para o intervalo.

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Atlético Mineiro 2x2 Flamengo

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RAPIDINHAS por Ricardo Espina

reconheceu e disse “Ricardo, para mim você foi o maior zagueiro que passou no Real Madrid”. Isso mostra como fui querido lá.

Ricardo Rocha Havia muita pobreza no Fluminense por Gustavo Hofman

Você foi um dos remanescentes da Copa de 1990 em 94. Que lição o time aprendeu? Não era um grupo unido. Era um elenco complicado, que teve várias dificuldades com patrocínio, problemas entre os jogadores e comissão técnica. O Brasil não merecia ser campeão. O grupo de 94 era muito mais maduro. Como foi a passagem pelo Real Madrid? No jogo do Brasil contra o Paraguai, em Recife, encontrei um jornalista do Marca. Devia ter uns 25 anos. Ele me

Você defendeu o Fluminense em tempos difíceis. Eu estava bem, mas havia muita pobreza no Fluminense. Eu e o Renato Gaúcho ajudávamos muito. Teve um dia que o clube não tinha dinheiro para pagar hotel e concentração. Fomos jogar em Bacaxá pelo Carioca e tivemos que comer um lanche na casa da tia de um amigo nosso. A pobreza era tanta que, se não me engano, quem pagou o lanche foi o Renato. Aquilo foi o limite. Então veio a transferência para o Newell’s Old Boys. Quando cheguei lá, só falavam da rivalidade Brasil e Argentina. Comigo o povo argentino foi maravilhoso. Joguei com garotos muito bons, como o Samuel. Eles eram jovens e me escutavam. Sabiam que eu não tinha mais a capacidade física e diziam que iam correr por mim, não queriam que eu ficasse no mano-a-mano. Leia a entrevista completa em www.trivela.com/entrevista

TELETÚLIO

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Se você gosta de rever gols marcantes, tem no YouTube uma boa opção para encontrar seus lances preferidos. Agora, se a escolha for relembrar alguma jogada de Túlio, há um caminho mais direto. O atacante fanfarrão criou o TúlioTube, site de compartilhamento de vídeos dedicado a sua carreira. Além dos gols, estão disponíveis entrevistas e reportagens. O endereço é www.tuliotube.com.

Anos que o Corinthians não poderá disputar o Mundialito Sub-18 de San Sebastián de los Reyes, Espanha. É a punição devido à briga provocada por jogadores alvinegros na derrota por 3 a 0 para o Real Madrid na edição deste ano

PRECOCE O Vasco vendeu o atacante Bruno Schubach à Roma. Se você não o conhece, não tem problema: o garoto tem apenas nove anos. Ele participou de uma peneira realizada pelos gialorossi no Hotel Fazenda Arvoredo, em Barra do Piraí-RJ. Aprovado, ele fez um estágio de duas semanas na Itália e convenceu a equipe italiana a contratá-lo. GIGANTE Juninho Paulista está de volta ao Ituano, clube que o revelou. O ex-meia assumiu o cargo de gestor do Galo pelos próximos cinco anos. Com isso, a lista de ex-palmeirenses que se tornaram cartolas no interior paulista, que já tinha Rivaldo (Mogi Mirim), César Sampaio (Rio Claro) e Roque Júnior (Primeira Camisa), aumentou. SOLIDARIEDADE Pouco aproveitado na temporada, Alex Cruz acabara de ser dispensado pelo Flamengo. De repente, tudo mudou: alguns companheiros se sensibilizaram com a situação e resolveram bancar sua permanência até o fim do ano. Emerson, Ibson, Petkovic, Adriano e Bruno serão os responsáveis pelo salário, enquanto Leonardo Moura cuidará do aluguel do apartamento do colega. MAIORIA X MINORIA Atlético Mineiro e Cruzeiro, com o aval do Ministério Público, definiram que os clássicos pelo Campeonato Brasileiro não terão mais as arquibancas divididas igualmente. A partir de agora, o mandante terá 90% dos ingressos, contra 10% dos “visitantes” no Mineirão. HOMENAGEM Nilton Santos, um dos maiores jogadores da história do Botafogo, ganhou uma estátua em bronze. Para viabilizar a homenagem, um antigo sonho do clube, quinze personalidades doaram R$ 3,5 mil cada para a obra, feita pelo músico e escultor Edgar Duvivier. A peça, de 2,5 m de altura, ficará em um pedestal de 2 m, colocado no Engenhão.

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Pepino para a Fifa pós uma ausência de 44 anos, a Coreia do Norte voltará à Copa do Mundo. No entanto, as comemorações no país pelo retorno ao Mundial contrastam com as preocupações provocadas no resto do mundo. A vizinha Coreia do Sul também assegurou sua vaga no torneio, e a crescente tensão entre as duas nações exigirá esforços extras para garantir a segurança tanto na península coreana como na África do Sul. As animosidades entre as Coreias tiveram novos episódios durante a disputa das Eliminatórias-2010. As duas seleções caíram na mesma chave da fase final. No primeiro duelo, marcado para Pyongyang, os norte-coreanos se recusaram a hastear a bandeira e a tocar o hino na-

RAPIDINHAS

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LABORATÓRIO A Liga Europa (ex-Copa Uefa), servirá como teste para a Fifa. A entidade anunciou que os jogos da competição contarão com dois auxiliares extras, cuja função principal será analisar se a bola ultrapassou a linha do gol ou não.

cional dos rivais. Resultado: o jogo foi transferido para Xangai, China. No jogo de volta, em Seul, os norte-coreanos acusaram os donos da casa de contaminarem a comida de seus atletas antes da partida e pediram à Fifa que o duelo fosse adiado, mas não foram atendidos. As polêmicas refletem o clima pesado entre as duas nações, com o lado norte da península deixando o mundo em alerta ao fazer testes nucleares com lançamento de mísseis de longo alcance. O Conselho de Segurança da ONU reagiu e impôs sanções pesadas ao país, que ameaçou continuar com seus testes. Isso aumentou o atrito entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos, o que torna um eventual encontro entre eles na Copa particularmente tenso.

FIM DA HEGEMONIA Se alguém perguntasse no começo desta temporada quem seria o campeão francês, a resposta óbvia seria Lyon. Favorito para a conquista do octocampeonato na Ligue 1, o OL contrariou as expectativas e terminou o torneio em um decepcionante terceiro lugar. A disputa pelo título teve o Bordeaux como grande vencedor, ao superar o Olympique de Marselha. Sinal de novos tempos no futebol francês? Nos últimos anos, o Lyon deu pistas de que seu reinado estava por um fio. A política do clube de enfraquecer seus rivais ao contratar seus principais jogadores se revelou um desastre em 2008/09. A equipe pagou quantias exorbitantes por atletas que pouco renderam, como Keita, Makoun, Ederson e Mensah. Enquanto isso, seus concorrentes gastaram menos, mas com consciência. No caso do Bordeaux, a equipe enfrentava dificuldades para organizar seu setor ofensivo, pois não tinha um líder no meio-campo. Gourcuff, encostado no Milan, chegou por empréstimo e solucionou o problema. Para ajudá-lo, os girondinos ainda levaram Gouffran, meia-atacante de destaque no Caen e autor do gol do título. No Olympique, também faltavam opções para o ataque e, no meio da temporada, a diretoria contratou Brandão. Sem rasgar dinheiro para mostrar poder, Bordeaux e Olympique deixaram o Lyon para trás. Para provar que não está decadente, os lioneses precisam se renovar. Pierre Andrieu/AFP

Mido Ahmed/AFP

GERAL » MUNDO

LOGO ALI, DE VERDADE A Conmebol definiu que a Argentina será a sede da Copa América de 2011. A escolha mantém o rodízio de países iniciado em 1987 com os próprios argentinos. A AFA já anunciou que cidades receberão o torneio (surpresa!, Buenos Aires não está incluída): La Plata, Córdoba, Santa Fé, San Salvador de Jujuy e Salta.

SEM LIMITE Jogadores com dupla nacionalidade que defenderam uma seleção nas categorias de base não precisam ter pressa se quiserem atuar por outra. A Fifa acabou com o limite de 21 anos para o atleta tomar a decisão. Agora, quem possui mais de um passaporte e só defendeu um país em torneios de base pode mudar de seleção quando quiser.

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Divulgação

por Ricardo Espina

É campeão! Na Espanha, o Barcelona fechou a temporada com chave de ouro com a conquista da tríplice coroa. A Internazionale fez a festa pelo tricampeonato da Série A. Os ingleses viram o Manchester United levar mais uma taça da Premier League para casa. Na Alemanha e na França, surpresa: Wolfsburg e Bordeaux desbancaram os favoritos e foram campeões. Os principais campeonatos europeus terminaram, mas nem todas as torcidas festejaram. Newcastle e Middlesbrough foram rebaixados para a segunda divisão inglesa. O Betis também caiu na Liga Espanhola, e seus torcedores fizeram diversos protestos contra a diretoria. Favorito absoluto ao título da Ligue 1, o Lyon ficou com um frustrante terceiro lugar. Veja um resumo dos resultados finais dos mais importantes campeonatos nacionais da Europa:

Deco País

Campeão

Copa

Caíram

Subiram Burnley, Birmingham, Wolverhampton

Manchester United

Chelsea

Newcastle, Middlesbrough, West Brom

Barcelona

Barcelona

Betis, Numancia, Recreativo Tenerife, Xerez, Huelva Zaragoza

Internazionale

Lazio

Torino, Reggina, Lecce

Bari, Parma, Livorno

Wolfsburg

Werder Bremen

Karlsruhe, Arminia Bielefeld, Energie Cottbus

Freiburg, Mainz, Nuremberg

Bordeaux

Guingamp

Caen, Nantes, Le Havre

Lens, Montpellier, Boulogne

Porto

Porto

Belenenses, Trofense

Olhanense, União Leiria

AZ

Heerenveen

Volendam, De Graafschap

VVV, RKC Waalwijk

Reino (des)Unido Não adiantaram as investidas diplomáticas do Comitê Olímpico Britânico. No torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de 2012, o Reino Unido será representado por uma seleção de ingleses. A decisão foi oficializada em junho, com um acordo entre as federações de Inglaterra, Gales, Escócia e Irlanda do Norte e a aprovação da Fifa. A divergência estava no fato de que os quatro países competem com suas próprias seleções em torneios da Fifa, mas disputam as Olimpíadas sob a mesma bandeira. Escoceses, norte-irlandeses e galeses temiam que a composição de uma seleção unificada fosse o primeiro passo para uma eventual perda de independência na Fifa. Assim, preferiram deixar os ingleses representarem o Reino Unido do que misturar jogadores.

SAÚDE EM DIA A partir da temporada 2009/10, todos os clubes que participarem de competições europeias devem entregar um relatório médico de seus jogadores. Os relatos devem conter informações como pé que usa para chutar, exames cardiológicos e testes funcionais.

“Tive ofertas de seleções e clubes, mas elas iam me levar a uma mesma situação que tive recentemente. Escolhi um projeto novo” Luiz Felipe Scolari justifica sua escolha pelo Bunyodkor, do Uzbequistão

PEDIDO ESPECIAL O Mundial Sub-17, programado para outubro na Nigéria, corre riscos. O Movimento para a Emancipação do Delta do Níger (Mend) divulgou uma nota à imprensa, na qual “recomenda” à Fifa que repense a realização do torneio. O grupo guerrilheiro afirmou que não garante a segurança de jogadores e turistas.

Praticamente tudo deu errado por Gustavo Hofman

Vai mesmo deixar o Chelsea? Já disse para a diretoria que gostaria de ir para outro lugar, mas ainda tenho dois anos de contrato. Não consegui me sentir bem lá, tive muitos problemas de lesão. Foi um ano difícil, praticamente tudo deu errado. A Internazionale é uma das propostas que tenho. Trabalhar com José Mourinho sempre é muito bom, porque você tem a certeza que fará parte de um time que lutará por títulos. O que aconteceu com o Felipão no clube? Não dá para falar. Claro que houve alguns problemas, mas são questões internas e é difícil falar para fora. O Felipão começou bem, o problema do Chelsea não era ele. Alguns jogadores estavam vindo de lesão, juntou um pouco de tudo. Arrependeu-se de sair do Barcelona? Não, porque foi uma decisão pensada. Não posso me arrepender, porque é óbvio que um dia o Barça iria voltar a ganhar. Fui muito feliz nos quatro anos que passei lá e tenho amigos como Messi, Sylvinho, Xavi, Iniesta e Puyol. O que achou da conquista da Tríplice Coroa? Eles foram superiores no Campeonato Espanhol o tempo inteiro. Na Liga dos Campeões, tiveram sorte no jogo contra o Chelsea. Depois, na final, foram melhores e acho que mereceram ganhar.

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Shevchenko

DECEPÇÕES DA TEMPORADA EUROPEIA

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Felipão

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Voltou à Itália achando que recuperaria o bom futebol que nunca encontrou no Chelsea. No entanto, brigou com Borriello pelo posto de pior atacante do elenco milanista.

Era promessa de um brasileiro bem sucedido no comando de um time europeu, mas Big Phil foi demitido do Chelsea após sete meses no cargo.

Quaresma Getty Images/AFP

Conseguiu fracassar duas vezes. Chegou à Internazionale com recomendação de José Mourinho, mas saiu em meia temporada. No Chelsea por empréstimo, decepcionou de novo e já foi devolvido aos nerazzurri.

Van der Vaart

Foi contratado para resolver a falta de criatividade do Real Madrid. Não demorou a virar um esquentador de banco no Santiago Bernabéu.

GERAL » INSÓLITO

A tragédia com o voo 447 da Air France – que caiu no Oceano Atlântico quando ia do Rio de Janeiro a Paris – não será esquecida tão cedo por Asier Elorriaga. O jogador, que atua no Sestao River, da terceira divisão espanhola, deveria embarcar no Airbus, mas escapou de entrar no avião por um golpe de sorte. Ele estava no Brasil ao lado da mulher para tratar de assuntos familiares. O atleta comprou os bilhetes da companhia aérea francesa, mas lembrou-se de que obteria um desconto em um plano de fidelidade da Iberia. Para economizar, Elorriaga cancelou as passagens da Air France e decidiu viajar com a empresa espanhola. Foi esta mudança de planos que salvou sua vida. O jogador só soube da tragédia quando chegou à Espanha. “Não sabíamos de nada. Quando aterrissamos, ligamos nossos celulares e havia muitas chamadas. Falei com um colega de trabalho e ele me disse o que havia acontecido. Chamei meus pais, que sequer sabiam disso”, conta.

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‘Marvada’ Vida de treinador não é fácil no Brasil. Além da cobrança da torcida, ele precisa lidar com o imediatismo dos dirigentes, que exigem bons resultados a curto prazo. Só que, desta vez, um técnico exagerou na dose – literalmente. Arnaldo Lira foi demitido do comando do CRB por se envolver em uma confusão. O técnico foi detido após sair de uma boate em Maceió e dirigir embriagado pelas ruas da capital alagoana. A diretoria do CRB, que já estava descontente com o trabalho de Lira, nem pensou duas vezes e o mandou embora. Isso é o que se pode chamar de ressaca.

Parece, mas não é

Henry Romero/Reuters

POR UM TRIZ

Gabriel Pereyra quase pagou caro por uma semelhança nada agradável. O volante do Atlante – atual campeão da LC da Concacaf – voltava de carro para casa quando foi parado pela polícia de Cancun. As autoridades o confundiram com um narcotraficante, que estava foragido e dirigia um veículo parecido com o do jogador. “Eu me identifiquei e em seguida me reconheceram. Disseram que meu carro era parecido com os utilizados pelos traficantes. Agora eu penso na possibilidade de trocálo”, disse Pereyra, que afirmou ter sido bem tratado pelos policiais que o abordaram.

Junho de Julho

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Quem vê o meia hoje nem imagina que foi destaque da Roma por anos, começou a temporada como titular da Internazionale e até foi convocado para a Seleção.

Não deu certo na Alemanha e fez uma força danada para voltar ao Fluminense, mas deve terminar 2009 como destaque na... Arábia Saudita.

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Deco

Teve um início promissor no Chelsea, mas foi apontado como pivô nos atritos entre Felipão e Ballack, se contundiu e acabou parando no banco.

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Jürgen Klinsmann

Tinha a imagem do técnico que levou a Alemanha ao pódio na Copa 2006. Pelo que fez no Bayern de Munique, era melhor ter prolongado o período sabático.

Robbie Keane

Jorge

O melhor do mundo (pela Fifa) em dois anos seguidos não conseguiu se encaixar em um time em que até o veterano Beckham se destacou.

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Ronaldinho

Foi do Tottenham ao Liverpool por € 24,7 milhões. Voltou a Londres meses depois por € 17,2 milhões. Dá para chamar a diferença de “taxa de depreciação”.

R . Jo

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Mancini

Divulgação

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Thiago Neves

por Ricardo Espina

Procura-se

ESQUECERAM DE MIM Hernán Rengifo se sentiu mais ou menos como o personagem de Macaulay Culkin esquecido pela família em uma viagem de Natal. O atacante foi deixado de lado pela delegação do Peru após o jogo contra a Colômbia, pelas Eliminatórias da Copa 2010. Enquanto o jogador dormia no hotel em Medellín, demais atletas, dirigentes e membros da comissão técnica desembarcavam em Lima. A seleção voltaria em um avião da força aérea peruana na manhã seguinte à partida. No entanto, o presidente Alan García precisava da aeronave e o voo foi antecipado. Só que ninguém avisou a mudança para Rengifo, que dividia o quarto com Fano – que, por atuar no Once Caldas, ficaria na Colômbia. Para completar a lambança, os coordenadores da viagem ficaram com o passaporte do atacante. Um dirigente voltou a Medellín para lhe devolver o documento e, enfim, permitir ao atleta voltar a Lima. “No futebol peruano já ocorreram tantas coisas que não é difícil que situações como essa continuem”, afirmou Rengifo, referindo-se à crise na federação local, que tem sua autoridade colocada em dúvida pelo governo do país e pelo sindicato dos jogadores.

Os leitores interessados em encontrar um emprego se depararam com algo inusitado nas páginas do jornal uruguaio La Republica. O Rampla Juniors, clube da primeira divisão do país, publicou um anúncio na tentativa de achar interessados em se tornar jogador profissional e vestir a camisa da equipe. O time enfrenta uma grave crise financeira e, para se manter, chegou a negociar direitos de seus jogadores a investidores estrangeiros. O Rampla terminou na lanterna do Clausura, mas escapou da queda por ter feito boa campanha no Apertura.

ERRAMOS Na nota “ajuda virtual” (jun/09, pág. 12), foi publicado que o Perilima é um clube de João Pessoa. A sede da equipe é Campina Grande.

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Mike Hutchings/Reuters

GERAL » REPLAY

HEI, MACARENA Kaká, Lúcio, Luis Fabiano e Felipe Melo fizeram a (mi)coreografia para pedir ao árbitro inglês Howard Webb um toque em cima da linha do Egito em jogo pela Copa das Confederações. Pelo visto, Webb gostou da dança e, depois de relutar inicialmente, marcou o pênalti. Kaká fez 4 a 3 e a Seleção até ganhou motivos para dançar a Macarena

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PENEIRA

por Felipe dos Santos Souza

BERG: novo parceiro para Ibra

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Nome Marcus Berg Nascimento 17/agosto/1986, em Torsby (Suécia) Altura 1,83 m Peso 76 kg Carreira Torsby (2002/03) , Göteborg (2003/07) e Groningen (desde 2007)

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subiu para a equipe principal, mas demorou dois anos para estourar: com 14 gols em 17 jogos, dividiu o posto de principal goleador com o nigeriano Omotoyossi. O Groningen, da Holanda, escolheu o sueco como substituto do uruguaio Luis Suárez, contratado pelo Ajax. Em 2008/09, Berg entrou para a história alviverde: com 25 gols, bateu o recorde do clube em uma só temporada, antes pertencente ao argentino Bombarda. E AZ, Ajax e Lazio já se interessam pelo possível parceiro de Ibra no ataque da seleção.

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entando manter as chances remotas de ir para a Copa de 2010, a Suécia começou a procurar atacantes que diminuíssem a dependência das atuações de Ibrahimovic. Na goleada por 4 a 0 sobre Malta, pelas Eliminatórias da Copa, o técnico Lars Lagerback escalou como titular Marcus Berg, em quem os suecos tinham grandes esperanças. Pelo menos contra os malteses, a aposta foi paga: o jogador marcou um dos gols nos 4 a 0, e seguiu em alta para o Europeu Sub-21, onde é a estrela da equipe comandada por Tommy Söderberg. Berg iniciou a carreira em 2002, no Torsby. Um ano depois, o atacante ambidestro e de bom cabeceio já estava nas categorias de base do Göteborg, um dos maiores clubes da Suécia. Em 2005,

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TOSIC: Vidic deu certo. E ele?

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Nome Zoran Tosic Nascimento 28/abril/1987, em Zrenjanin (Sérvia) Altura 1,71 m Peso 69 kg Carreira Proleter Zrenjanin (2004 e 2005) , Banat Zrenjanin (2006 e 2007) , Partizan Belgrado (2007 e 2008) e Manchester United (desde 2008)

ages /AFP

ta. No Campeonato Sérvio, marcou seis gols – um deles, do meio de campo – em 17 jogos. Na fase preliminar da Liga dos Campeões, mais um. Na Copa Uefa, outro. Um desempenho que lhe valeu a convocação para os Jogos Olímpicos de Pequim, a estreia na seleção principal de seu país e a ida ao Manchester United. Na Inglaterra, Tosic ainda teve poucas oportunidades. Mas continua sendo preparado para estourar na hora certa, como ocorreu com Vidic.

Gett y Im

Manchester United tem muito a agradecer à Sérvia. De lá veio Nemanja Vidic, hoje soberano na zaga dos Red Devils. E logo pode ter a agradecer ainda mais ao país, porque Alex Ferguson já tratou de levar para Old Trafford o atacante Zoran Tosic, titular na seleção sub-21 do país. O nativo de Zrenjanin começou jogando pelo Proleter, em 2004, mas só despontou no ano seguinte. Após fundir-se com o Buducnost Banatski, o Proleter virou Banar. A nova equipe sofreu com a ameaça de rebaixamento, mas nem isso impediu que o futebol de Tosic aparecesse. Tanto que, em 2007, o meia foi chamado para o Europeu Sub-21 e para que o Partizan se interessou pelo avante. No clube de Belgrado, “Bambi” (apelido do jogador) manteve-se em al-

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por Caio Maia

ENCHENDO O PÉ

Muricy tinha que sair EMPRESA: AÇÃO ÁRDUA E DIFÍCIL que se comete com arrojo; ou empreendimento, cometimento, negócio. Na essência, um conjunto de pessoas que se juntam para chegar a um objetivo. Se esta empresa for a Tostines, vai querer vender mais biscoitos do que seus concorrentes. E se for o Arrozinho FC, seu objetivo é ganhar do Feijãozinho FC duas vezes por ano. É assim que funcionam as empresas: estabelece-se um objetivo (ganhar a Copa, comprar figurinhas do Batman, acampar na praia no verão) e persegue-se ele. Se, a meio caminho, percebe-se que há algo errado e que o objetivo não será alcançado, muda-se o que está errado. E é sob esta ótica que deve ser analisada a demissão de Muricy Ramalho pelo São Paulo. Assim como qualquer gerente, Muricy tinha no São Paulo seus objetivos. Como um gerente de vendas que atendesse a dois mercados, passou três anos batendo todas as suas metas em um deles, e quatro não batendo a meta no outro. Nem todo gerente que não bate parte de suas metas deve ser demitido, é verdade. É preciso ver o motivo pelo qual as metas não foram cumpridas, e se há possibilidade de cumpri-las no futuro. Nos três primeiros anos da nossa análise, Muricy deixou de cumprir sua meta Libertadores em intensidades variáveis. A conquista da meta Brasileirão, entretanto, deixava claro que o funcionário possuía a maior parte das qualidades necessárias para atingir outras metas. Para demiti-lo, portanto, seria necessário que algo mostrasse que as qualidades que lhe faltavam não viriam com o tempo. O que aconteceu na temporada 2009. Para 2009, o São Paulo contratou quem seu treinador pediu e, melhor, não vendeu ninguém. Este,

por sinal, era um dos principais atenuantes ao fracasso dos primeiros semestres anteriores, principalmente o de 2008: a necessidade de remontar o time a cada início de temporada para encaixar os que chegavam. Em 2009, porém, não havia esta necessidade e, mesmo assim, Muricy mexeu em tudo. As virtudes do agora ex-treinador do São Paulo são numerosas e conhecidas, e duas delas realmente fazem que ele se sobressaia: monta, no médio prazo, grupos completos, coesos e que têm condições de ultrapassar qualquer dificuldade. Tem, além disso, raro talento para identificar a melhor posição de cada jogador, e para fazer seus atletas renderem em mais de uma função. O que é virtude no longo prazo, porém, no curto é defeito, e no processo de adquirir coesão e padrão de jogo o São Paulo vinha perdendo meio ano por temporada, justamente o meio ano em que está seu objetivo maior, a Libertadores da América. Muricy demora para achar o time ideal; e Muricy hesita em usar jogadores da base. Os dois principais defeitos do treinador. Em 2009, além deles, Muricy pareceu ter perdido a célebre calma para trabalhar. E a maneira como escalou o São Paulo em sua última partida, com Eduardo Costa e Marlos, jogadores que, somados, não tinham dez partidas pelo São Paulo, e sem Hernanes e Jorge Wagner, principais “decididores” da equipe, deixou claro que, além dos defeitos já conhecidos, havia ainda um desgaste no processo, provavelmente irreversível. A substituição do treinador, portanto, era uma decisão técnica, que devia ser tomada o quanto antes, e foi. A análise da decisão, entretanto, não tem sido da decisão. Tem sido da direção do São Paulo. Até porque, os que a elogiaram incessantemente por manter o treinador agora não têm outra opção a não ser criticá-la. Manter um treinador, por si só, não torna uma direção moderna, assim como demiti-lo não a torna automaticamente arcaica. Muricy aprenderá com a experiência, e somará às virtudes que já tem outras que lhe fazem falta. Será, em breve, um treinador completo. Sem o choque da demissão, entretanto, se aferraria ao modelo que vinha funcionando. E que não servia mais nem para ele nem para o São Paulo. Julho de 2009

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ENTREVISTA » MARCOS

Paulo Whitaker/Reuters

Conhecido por falar o que pensa, Marcos conversa com a Trivela sobre Palmeiras, Seleção, a possibilidade de ser reserva de Julio Cesar, e, o melhor, sua saborosa visão do mundo do futebol

arcos é um dos maiores goleiros da história do Brasil. Seu nome está na história do Palmeiras e da Seleção, mesmo tendo jogado apenas 29 vezes com a camisa amarela – menos, por exemplo, do que Carlos, e apenas duas vezes mais do que Waldir Peres. Foi campeão

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do Mundo na Ásia em 2002 e campeão da América pelo Palmeiras em 1999. Por isso, para quem não o conhece, é surpreendente a naturalidade com que conversa com qualquer um, como se estivesse em uma roda de amigos. O goleiro do Palmeiras recebeu a Trivela em Atibaia, durante o período de treinos que

antecedeu a desclassificação do Palmeiras na Libertadores diante do Nacional. E, como de costume, não fugiu de nenhum assunto. Tampouco usou de evasivas para esconder problemas, seus, do clube ou do futebol em geral. Prato cheio para qualquer repórter que quer fugir do modorro das entrevistas coleti-

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por Caio Maia, Leonardo Bertozzi e Ubiratan Leal

vas cheias de “o grupo está unido” e “vamos respeitar o adversário”. O camisa 12 tem consciência de que se trata de uma exceção no meio do futebol, mas acha que falta um pouco de atitude dos colegas. “Acho errado não poder criticar. Se um jogador não quer receber crítica, que jogue bem.

Eu não ligo de receber crítica”, afirma. “Toda essa proteção atrapalha. Eles não podem ouvir nada, ficam muito mimadinhos”. E acrescenta: “Até a família atrapalha. Conheci jogador que ia com o pai na suruba!” Por isso, uma entrevista com o goleiro sempre é produtiva. Ele fala sem pudores de

problemas pelos quais passa o Palmeiras, erros do passado (inclusive os que levaram o Alviverde ao rebaixamento) e até conta as “encrencas” que arrumou nos dois dias que ficou em Londres durante a negociação para ir ao Arsenal. Tudo isso sem fazer questão de ser visto como herói ou santo. Julho de 2009

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Por isso a dificuldade de fazer bons resultados no Parque Antarctica? Um time jovem é aquilo: se está bem, fica todo mundo motivado e tudo vai bem. Por isso que o Vanderlei pedia que os mais experientes segurassem a bronca na hora difícil. O cara, quando é contratado pelo Palmeiras, precisa saber que é um time de colônia italiana. Não existe italiano paciente e tranquilo. Hoje, a pressão pode ser pesada para alguns, mas fortalece para o futuro. Porque, quando você chega a um time como Palmeiras ou São Paulo, já entrou em um ambiente de pressão. Se ele for à Europa, vai ser cobrado. Se for para outro clube no Brasil, também. Foi a falta de experiência que fez o time perder o ritmo do começo da temporada? Não, porque experiência só se pega jogando. Nunca vai aparecer alguém dos juniores com experiência. O problema é que ninguém consegue manter aquele ritmo o ano inteiro. É fisicamente impossível fazer isso por 80 jogos. Por exemplo, o Keirrison começou muito bem. Ele bateu recorde de gols em suas primeiras partidas pelo Palmeiras. Um jogo três, outro dois, outro um, depois dois de novo. Se mantivesse essa média, o apelido de “Fenômeno” tinha de ir para ele. O torcedor fica com essa esperança, mas não dá. E não é só jogo: é treino, é viagem... Vai

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para o Sul, para o Nordeste, para o Uruguai. O que está acontecendo com o Keirrison? Ele está bem. É um moleque centrado. Desde que estava tudo dando certo, ele treinava igual. É uma fase, como todo mundo tem. Você não começa e termina um ano igual. Ele tem 20 anos e toda aquela cobrança vai fazer que ele se torne um jogador melhor no decorrer da carreira. A partir do momento que fizer gol, fica tudo normal. Você foi treinado pelo Luxemburgo em diversos momentos da sua carreira e da dele. Você percebe uma diferença entre o Vanderlei de antes e o de hoje? É a mesma pessoa, só que aprendeu mais. Antes ele cobrava mais, hoje, é mais tranqüilo, orienta mais. Pelo que tenho visto, está bem mais completo que em 93. A diferença é que, naquela época, o Palmeiras tinha praticamente uma Seleção Brasileira. É muito diferente de hoje em dia. Falava-se que o Vanderlei não te queria tão bem quanto já te quis. Isso é verdade? Falaram isso? Que seria vaidade, que sua liderança atrapalharia ele. Eu não fiquei sabendo. Mas eu não acredito. Não é do perfil dele, até porque ele me trata muito bem. Me colocava sempre à frente para conversar com o grupo. Talvez esse conflito de vaidades seja mais de quem acompanhe de fora, do que de dentro. Ele me botou para jogar e, depois, pediu para eu renovar. Ele sempre me deu moral. Você vive no Palmeiras há anos. Quanto a turbulência política do clube atrapalha o time? Afetava há um tempo atrás. Hoje em dia, o Palmeiras aprendeu que a oposição não tem que atrapalhar a situação. O Palmeiras é um time de colônia. Tem conselheiro de todo lado, um queria contratar e o outro não deixava, ou mandavam

Paulo Whitaker/Reuters

Quando o Palmeiras começou o projeto com a Traffic, esperavase uma reedição da era Parmalat. Nesse sentido, você está decepcionado com o momento do time? Acho que é muito diferente da era Parmalat. Naquela época, se contratava os jogadores das outras equipes, mas eram atletas experimentados. De 23, 24, 25 anos. Hoje, para o clube e o parceiro se manterem, contratam jogadores mais jovens para poder vender. Como fazer um jovem ficar concentrado 330 dias por ano? É difícil cobrar que garotos de 19, 20 anos sejam os craques.

o treinador embora no meio do trabalho, acabava o planejamento. O Palmeiras foi rebaixado em 2002, um ano eleitoral no clube. Havia esse tipo de turbulência? Não no caso. O time caiu porque não jogou bola. Muitos jogadores estavam em fim de contrato e o comprometimento de alguns deles não era o mesmo. O pessoal que tinha contrato mais extenso estava se matando para não cair. Os outros, nem sempre. Faltou ao time acreditar que realmente poderia cair? Naquela época, tinha pouco jogo. Eram só 25. Quando a gente precisou reagir, não tinha mais tempo. E, no Brasileirão, não é difícil cair. Não só o Palmeiras, qualquer time.

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Herói foi o Galeano, que fez o gol da vitória, e os cinco caras que bateram pênalti no Dida e não perderam nenhum Quando fomos para a decisão, sabíamos que seríamos campeões. As pessoas acham que a final da Copa é o momento de maior pressão que um jogador pode ter, mas a estreia é pior. A gente estreou bem. Teve uns percalços aqui e ali, mas jogamos na média que gostaríamos de jogar. Contra a Alemanha, pela forma como eles jogavam, tínhamos convicção de que ganharíamos. Eles tinham poucas jogadas para fazer gol. A gente só não podia tomar o gol primeiro porque eles iam se fechar e ficaria difícil.

Não tem adversário que você sabe que são 6 pontos garantidos. O Júlio César está em uma grande fase e é visto como absoluto na Seleção. Você aceitaria ir para a Copa como reserva? Não teria problema. Tem que ver a fase dele também. Porque o Brasil tem um dos melhores goleiros do mundo, mas tem também uma das melhores duplas de zaga do mundo. A dupla de zaga é fantástica. Mas eu poderia ficar na reserva até de outro goleiro. Ninguém é mais que ninguém, como em 2002. Essa era a virtude daquele time? Sim, porque tinha muito jogador famoso, mas, tirando o Ronaldo, ninguém tinha sido campeão do mundo. Foi uma concentração

bastante diferente, principalmente em relação a 2006. Não dá para treinar com torcida, o trabalho não grava na sua cabeça. Vocês realmente acreditavam que o time seria campeão? Não, e eu até gostei de chegar como azarão porque o favoritismo gera acomodação. Todo mundo estava falando mal, a imprensa não confiava em mim porque o Dida e o Rogério viviam fases melhores. Eu estava muito preocupado em ser crucificado. Por isso, sempre falo para os meninos que a crítica da imprensa é boa se bem utilizada. Não dá para ficar sempre com gente passando a mão na cabeça. Quando vocês sentiram que dava para ganhar?

Você estava falando da concorrência com o Dida e o Rogério Ceni. Como era o relacionamento entre vocês? A concorrência entre os goleiros da Seleção era muito grande. Rogério ganhando título daqui, Dida jogando no Milan ali. Até o Júlio pegou um pouco disso. Mas o relacionamento sempre foi muito bom. Todos se respeitavam e, em campo, se matavam para ganhar a posição. O seu caso é incomum, de ser identificado por um clube e respeitado pelos rivais. Como é isso? Acho legal. É uma das coisas que conquistei na minha carreira que considero das mais importantes. Acho que é porque sou meio do povo. Não frequento lugar diferente dos torcedores do Palmeiras, do São Paulo, do Corinthians. Sempre procurei tratar todo mundo bem, respeitando o adversário quando ganhamos e quando perdemos. Ainda falam muito naqueles confrontos contra o Corinthians na Libertadores? Ah, o tempo todo. Aquele pênalti do Marcelinho, então... Parece que só fiz isso na vida. Fiquei coJulho de 2009

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Jim Bourg/Reuters

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O Henry disse que não sabia quem eu era. Ele não sabia porque a França não chegou à final da Copa mo o herói da noite, mas não é justo. Esquecem que naquele jogo nós tomamos dois gols. Herói foi o Galeano, que foi lá no ataque e fez o gol da vitória no tempo normal, e os cinco caras que bateram pênalti no Dida e não perderam nenhum. No início da década, você já estava consagrado no Palmeiras e era campeão do mundo com a Seleção. Por que não aceitou a proposta de jogar no Arsenal? Porque eu nunca tive planos ou sonhos de jogar na Europa. O Palmeiras estava em situação difí-

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cil, tinha caído para a Série B. Bem naquela época aparece a proposta? Então, conciliou o fato de eu não querer ir com o fato de o Palmeiras precisar de mim. Você chegou a ir a Londres. Como foi lá? Falei com o pessoal, com o Wenger, dei uma saída para a noite, tomei uns vinhos, arrumei duas encrencas lá e voltei (risos). Que encrencas? O Seaman ainda estava lá e o Henry disse que ele era o goleiro

do time, e que nem sabia quem era o Marcos. Respondi que não sabia quem eu era porque a França não tinha chegado na final da Copa, se não ele ia saber. Aí, outro cara disse que eu estava lento. Porque, no teste lá no Arsenal, eles acendiam umas luzes coloridas e eu tinha de ficar apontando. Mas eu tinha pegado umas 12 horas de voo e cheguei lá sem dormir. Falei: “É, rápido é o goleiro de vocês que levou um gol do Ronaldinho do meio de campo”. Quando eu cheguei lá, parecia o “Jamaica Abaixo de Zero” de tanto frio. Você acha que seria visto como traidor pelos palmeirenses? Acho que compreenderiam, mas ia ficar meio marcado, porque torcedor nem sempre pensa com a razão. Já tinha gente que falava que eu não queria jogar, que fingia contusão. Eu falava que não estava vendido, mas não acreditavam. Se você tivesse uma proposta hoje, aceitaria? Hoje em dia? Não sei se aceitaria. Já passei dessa fase. Para mim não é interessante. Eu prezo muito a moral que tenho com a torcida do Palmeiras. Quando faço uma burrada no Parque, continuam dizendo que sou o melhor do Brasil. Qual era seu ídolo? O Velloso, que depois se tornou meu colega e me ensinou muito. Tinha também o Carlos e o Zetti, que eu me lembro no Palmeiras ainda, quando eu era só torcedor. Mesmo no Corinthians, gostava do Ronaldo. E, claro, o Taffarel, um dos maiores goleiros que vestiu a camisa da Seleção. Você pegou alguma coisa de estilo com alguns deles? O Taffarel fazia grandes defesas, mas sem saltos espetaculares. Goleiro faz isso com experiência. Pega a bola aqui, já joga na frente para sair jogando. Mas, aí, vão dizer que o chute foi fraco. Por isso, goleiro hoje acha que, para ter moral, precisa pular. O futebol está cheio de pulador.

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Você tem aparecido muito. Tem alguma coisa errada no Palmeiras? Tem [risos]. Por isso que nós estamos aqui em Atibaia a semana inteira, treinando para descobrir o que está errado. Você tem fama de ser falador. O fato de os jogadores estarem cheio de assessores não tem feito eles desaprenderem a responder perguntas difíceis? Primeiro, o jogador perdeu a confiança na imprensa. Se fala um dia, vira um inferno no outro. Já dei muita entrevista em que falei merda pra caramba. Mas teve muita entrevista em que só disse que o time jogou mal. Daí, o cara vai até o Vanderlei e me joga contra ele. Assim, você começa a não falar, mesmo que tenha opinião formada. Tem repórter com quem a gente convive e sabe que trabalha em programa sensacionalista, que não dá para falar nada. O jogador fica na retranca. Por isso é difícil fazer entrevista exclusiva comigo. Prefiro não fazer, não estou ganhando nada com isso.

Isso sempre existiu. Depende da forma como ele foi criado, da estrutura familiar e dos amigos. Meus amigos são todos corneteiros. Tem muito “papagaio”, como a gente chama, que fala “tá certo, se eu fosse você, teria feito igual” mesmo quando o cara faz o maior absurdo do mundo. Às vezes é o empresário, que já quer levar para outro time se ele ficar no banco. Mas, aí, fica indo de time em time a cada seis meses e acaba esquecido no Cafundó do Judas. Até

Se um jogador não quer receber crítica, que jogue bem

a família atrapalha. Conheci jogador que ia com o pai na suruba. Imagina isso! Imagina como é a casa do sujeito! Você já tem contrato para depois da carreira. Já pensou o que fazer? Já penso nisso há um bom tempo. Não penso em parar porque tenho dois anos ainda. Agora, eu gostei do contrato de três anos porque gosto de estar no meio do futebol. E não é pela vaidade de ser reconhecido. Eu não ligo. Eu nunca usufruí disso para passar na frente dos outros. No cinema, sempre comprei ingresso. Até falei para minha mulher que fama é bom quando se é solteiro e quer pegar mulher. Você aponta para qualquer uma e pega. De resto, não serve para nada.

Otavio de Souza /AFP

O Taffarel disse que o goleiro não tem de ser a estrela. Você concorda? Ah, quando o goleiro está aparecendo muito é porque tem algo errado.

Mas você não muda. É que eu acho errado não poder criticar. Não posso falar “se o ataque faz aquele gol, a gente tinha ganhado”? Se um jogador não quer receber crítica, que jogue bem. Eu não ligo de receber crítica. Se eu tomo um frango, vou ser criticado e não vou reclamar. Se eu quiser que não falem, é questão de se preparar para jogar bem. Acho que essa proteção atrapalha o jogador. Eles ficam muito mimadinhos. Não podem ouvir nada. Jogador tem de estar preparado para ouvir crítica. Ele ganha bem para isso. Aí não seria o problema do “entorno”, aqueles puxa-sacos que convencem o jogador que ele nunca erra?

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por Dassler Mar

RANKING

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ernando Carvalho e Rodrigo Caetano são dois dos mais respeitados dirigentes do futebol brasileiro. Ambos estiveram ligados ao bom momento vivido por Internacional e Grêmio nos últimos anos. Além disso, sempre tiveram seus cordões umbilicais ligados às categorias de base: vieram do departamento amador para exercer papéis importantes

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nas equipes profissionais. Uma linha de trabalho que deixou seu legado: hoje, os dois grandes do Rio Grande do Sul são os clubes de melhor trabalho nas divisões inferiores no Brasil. É exatamente essa a constatação que pode ser feita com o ranking Trivela de categorias de base do futebol brasileiro. Grêmio e Internacional têm dominado as principais competições para jovens, revelado e negociado os frutos colhidos nas

divisões inferiores. Isso porque investem em estrutura física e profissionais, além de olharem com carinho para a forma mais barata para se encontrar craques como Alexandre Pato e Anderson. Claro que os gaúchos não são os únicos a se destacarem. Cruzeiro e São Paulo continuam como referência no Brasil pelo trabalho na base. Nos últimos anos, Fluminense, Coritiba, Atlético Paranaense

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s/Vipcomm Jefferson Bernarde

ENTENDA O RANKING Para determinar o ranking de categorias de base, foram somados quatro critérios. Cada um deles tinha pontuação de 0 a 10, para terem o mesmo peso. Só foram considerados os 20 clubes da Série A e os três da Série B que já conquistaram o Brasileirão

PRATAS-DA-CASA NO ELENCO ATUAL Os jogadores foram divididos entre titulares absolutos (mais de 70% dos jogos no ano, 1 ponto cada), os que entram e saem do time (entre 30 e 70%, 0,75 ponto) e os que apenas compõem elenco (até 30%, 0,35 ponto). Para ser considerado, um jogador precisou disputar cinco jogos entre os profissionais em 2009. Atletas negociados e que retornaram (como Adriano, do Flamengo, e Nilmar, do Inter) não contam, pois exigiram investimento do clube para contratá-los de volta. Atletas que saíram apenas por empréstimo, mas jamais perderam o vínculo com o clube formador (como Hernanes, do São Paulo e Éder Luís do Atlético Mineiro), foram contabilizados.

JOGADORES NEGOCIADOS Foram levadas em conta as vendas de jogadores formados em casa nos últimos 18 meses. A cada € 2 milhões, o clube ganhou um ponto. Foi contabilizado o valor da transferência como um todo, mesmo que a quantia tenha sido repartida entre clube e investidores. Em transferências que tiveram pagamento em dinheiro e complemento com outro jogador (como a saída de Guilherme do Cruzeiro, em troca de dinheiro e de Kleber), o valor do jogador de “contrapeso” foi computado.

Adílson (esq.) e Taiso n, dois exemplos do su cesso gaúcho em trabalh ar com as categorias de ba se

e Atlético Mineiro também deram importantes passos nessa área. O ranking reconhece essa evolução, como também aponta o trabalho deficiente de algumas forças, sobretudo Palmeiras e Botafogo. Não à toa, é difícil apontar grandes jogadores revelados por esses clubes nesta década. Colaboraram Maurício Vargas e equipe Olheiros.net

DESEMPENHO EM COMPETIÇÕES DE BASE Foram contabilizados semifinalistas (1 ponto), vice (2 pontos) e campeões (3 pontos) de Copa São Paulo, Brasileiro Sub-20 e Taça BH. Somaram pontos também os campeões (2 pontos) e vice (1 ponto) de Copa Santiago, Copa Londrina, Torneio de Votorantim, Copa Promissão, Spax Cup, Mundialito Sub-18, Torneio Cidade de Turim, Dallas Cup, Copa Nike e do principal Estadual de cada um dos estados. Sempre considerando edições disputadas em 2008 e 2009.

INFRA-ESTRUTURA Os clubes que têm centros de treinamento específicos para as divisões de base ganharam 3,5 pontos. O mesmo vale para comissão técnica especializada na formação de atletas. Para alojamento, foram 3 pontos. Se as divisões de base compartilham a infraestrutura com o time profissional, cada item valeu 1,5 ponto. Julho de 2009

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De Nilm ar a Tais on, nen tantos jo hum clu gadores be bras na déca Foi a pa ileiro re da de 2 rtir do q velou 0 00 quan uase reb que o c to o Int aixame lube pa ernacio nto par ssou a o nal. a a Série base, fa lhar com zendo q B , em 20 c a r u in e ho para 02, sua estr acompa utura p as divis nhasse ara a fo ões de o crescim política r mação ento do de vend de atlet clube c er ao m as foi esse o m o um to e n o ncial ve s um gr do. Para r a n s u d rgir mu e jogad só form a or por t ita gent a jogad empora e boa. H ores, m clubes, da, a oje, o C s també caso do olorado m prosp meia G n de 2008 e ã c o ta talen iuliano, . Com t tos de o destaqu anto pla utros e de quem d o n P e araná n jamento pode se a Série , o Inte r o próx A princ B r até já imo cra ipal apo tem pis que a s sta está t a s u r gir no B no atac eira-Rio ante Lu . cas Rog gia.

GGrêmio rê Grêmi êmm

28,50 5,5 4 9 10

ranking base.indd 4

Quando uando ven venceu u a mítica Batalha 2005, o Grêmio dos os Aflitos, em m 20 já dava sinais da política a ser seguida nos anos seguintes. Afinal, Galatto e Anderson, os grandes heróis da epopéia, eram formados no próprio clube, mesmo caso de Lucas. Desde então, os tricolores não param de formar, lançar e vender jogadores. Do time vicecampeão nacional no último ano, metade dos titulares era da mesma base que vence torneios importantes, como o Brasileiro Sub-20 de 2008.

10

C ruz Cruzeiro

O fato de realizar boas contratações e formar elencos numerosos não faz que o Cruzeiro descarte suas divisões de base, de onde retirou mais de € 12 milhões nos últimos 18 meses. Como tem uma série de parcerias com outros clubes, os cruzeirenses também se destacam por distribuir seus jogadores mais jovens, dando a eles a chance de se desenvolver em outra praça. É o caso do zagueiro Maicon, sob quem ainda mantém 50% do vínculo e acaba de render uma bolada por trocar o NacionalPOR pelo Porto.

26,00 2,5 8 4 10

O atleticano Éder Luís e o cruzeirense Thiago Heleno: pratasda-casa mantém mineiros no topo

6/29/09 5:19:22 PM


21,80

Atlético Mineiro

2,8

4 23,00

10 0 3

Uma das sensações no início do Brasileiro, o Atlético tem 17 jogadores do atual elenco formados em casa. Sem dispor fo de recursos para comprar, a administração de Alexandre Kalil Ka não esconde a necessidade de lançar garotos. A partir da Cidade do Galo, os atleticanos melhoraram sua estrutura, fazendo uso da Lei de Incentivo Fiscal. Não fosse o desempenho ruim nas principais competições de jovens, o Atlético estaria ainda mais bem posicionado no ranking.

9

10

São Paulo

A longa tradição são-paulina aulina nas categorias de base ficam evidenciadass pela infraestrutura – vitalizada via infraes Lei de Incentivo ao o Esporte – e títulos como o bi do Mundialito Sub-18 (2007 007 e 2008) na Espanha. O clube 00 só não está em melhor posição no ranking porque Muricy Ramalho deu pouco espaço a revelações da base nos últimos anos. Ainda assim, o clube revelou Breno, Jean, Hernanes e Alex Silva nesse tempo. Sinal de que continua produzindo talento.

Washington Alves /Vipc omm

10

Pa ul

0

21,05

F

Fluminense C, em 1999, Desde a Série ense voltou a que o Flumin no lançamento ser referência nciado v ns. O revere de jove se tornou ém p exo de Xer compl para muitos d qualidade selo de Roger, Diego nomes, como a e Marcelo. Em Souza, Arouc os ebrou três an 2008, o Flu qu na do Flamengo de hegemonia s do to do vencen base carioca, se ba de a des torneios os gran rada. A po m te do Estado na a imidade com histórica prox que o nd ze fa a, t mbém ajud CBF ta os jam convocad os tricolores se . ções menores de várias sele Julho de 2009

ranking base.indd 5

4,05 0 7 10

27

6/29/09 5:19:36 PM


Atlético tico Paranaense naense naens

go Flamen ser O fato de não

mais um dos clubes Brasil organizados do to prejudica mui das as promessas se ba de categorias r Po . do Flamengo a ic lít não ter uma po à do e nt ha semel roub R o Cruzeiro, a eu rd Negro pe ita ve r chance de apro ampeã a geração tric niores, estadual de ju o R ,55 vendo apenas enat ta on r Augusto desp – e render € 10 a pena milhões. É um gulha or para quem se ques a o mote “ccrraaq do s ” cassa m ca fazz em gente fa ro e possui quattrro de s is ei ve áv ná on l ciio sele r, r sa s Cé Dunga: Júlio o pe Mel e F lip an,, Fe Juan d iano. Adr

19,45 6,45

O Atlético tic Paranaense anaense naense sse v vale de sua estrutura utura e daa intermin ináv ável ve rede de olheiros espalhados espalhado e lhadoss p pelo o Brasil. sil. Assim, o Fu Furacão ur cão atra atrai bons garotos e bril rilha ha em com ccompetições etiçõess de base, como no v vice da última Copa São o Paulo. Paulo. lo. A p parceria com o PSTC, clu clube lond ndri rine nens nen n e responsáv ável porr d des escobrir sscobrir Kléberson, Fernandinho e muitos outros, acabo ac bou bo ou com a saíd saaída ída de Mário Celso Petraglia da diretoria rubro-negra -negrra, a, red redobran reedobra redo d ndo a obr brig gação de andar sozinho.

0 3 10

19,55 2

6 1

10

Divulgação

9

Vitória iitt Vit ViVVitóri 17 7 ó ,75 75

3,75 0 4 10 28

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Do Dono ono da me melh m melhor mel l r ccategoria de base d b e nas regiões Norte Vitória é a e Nordeste, ste, o V qualquer referência ia para qualq qual jovem dee eestados pr próximos que almeje o futeb futebol. O sergipano Willians, hoje no Palmeiras, é só mais um exemplo da estrutura que, impulsionada por uma grande rede de observadores, torna o Leão da Barra em referência para clubes com menos recursos financeiros.

16,85 S t Santos O sucesso do time “caseiro” de 2002 mudou a forma de o Santos enxergar o futebol. Investe-se muito para encontrar um novo Robinho. Os valores que envolvem Neymar dizem muito sobre isso. O problema é que o Peixe vem falhando demais na transição de seus talentos até o profissional – caso, por exemplo de Tiago Luís, encostado na Vila Belmiro – e perde a oportunidade de estar em posição ainda mais alta.

2,85 0 4 10

Julho de 2009

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QUEM MAIS USA Com folgas, Atlético Mineiro é clube que mais usa seus jovens no time principal

10 6,45

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1 0

a

10

4,95 4,2

Náutico

4,05 3,95 3,75 3,5 3,45 3,3 3,2 2,85 2,8

3

14,7 ,75

4,45

1 14,80

3,3 0 3

8,5

Na medida em ta que comple três anos na áutico Série A, o N c idar da volta a cu que base, ainda o disponha não nde ran de uma gra ce ão re nte. velação reev ta do i alista Semifin l iro mo Brasiile últim mbu im Sub-20, o T m foi ca peão no de pernambuca viu juniores, mas Levi o treinador para r ti Gomes par o Sport.

1,75 2 1

10

Vasco V

É difícil qualquer bom jovem chegar ao profissional e encontrar um clube esfacelado. É desse mal que padecem os vascaínos que ainda aguardam um melhor futebol do promissor Alex Teixeira. O diretor Rodrigo Caetano, figura-chave da mudança na base gremista, foi contratado para mudar esse cenário.

2,55

14,10

2,5

1,1

1,75 1,1 1,1

22 23

4,45

O Coxa não tem grandes ndes resultados em competições n nas as categorias de base, mas compensa ao realizar bem a promoção para o profissional. Virou rotina ver o Coxa com bons valores, como na marcante defesa composta por Rafinha, Miranda e Adriano Correia. O clube, porém, ainda falha valores e alha em proteger ot er seus eus va ganhou menos do que poderia com Henrique, Marlos, om a geração de Hen e rique, Marlos Keirrison e Rodrigo Mancha.

5,5

2,85

16 17 18 19 20

Co Coritiba

co

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14

15,45

1,05 1

Sport A situação do parecida o Sport é bastante ba parecid com o do rival Náutico. Vice-campeão no o Brasileiro Brasilei Sub-20, Sub-2 Sub b-20, o Leão da Ilha peca por ter poucos nomes o elenco, que só nom de sua base compondo ccompond pondo ndo efetivamente efeti tem dois nomes no total. Sorte é que um rte dos os torcedores torcedores rubro-negros r deles é Ciro, Ciro o, artilheiro eir do d time na temporada. Julho de 2009

0 3 10 29

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6 12,50

1

3,55

Corinthianspa

13,45 3,95 0 3 6,5

de Co LLeão d o, o, o Sã São Paullo nss Corinthiaan padece por falta urraa uttu de infraestru lo pe e específica an fato de o o na Série B ter exposto menos suas revelações para o mercado internacional (tirando muitos is pontos potencia ito es no qu ”). Como da en “v o Lulinha ainda nã o ic ún o explodiu, na o nome seguid ho. Europa é Dentin

0 1

to André d Santo 11,45

8

hia

Bahia

Estruturalmente afetado por anos de más administrações, o Bahia viu sua tradicional base “fabricar” menos jogadores nos últimos anos, pagando pela situação do clube como um todo. Um mal para quem já foi campeão brasileiro com um time feito em casa e procura encontrar a receita para subir à elite.

4,95 0 0

nt6

O Santo André não tem grande infraestrutura. No entanto, o Ramalhão desmanchou o time de 2008 e entregou uma série dee garotos g para p Sérgio o Guedes, Guedes que temporada. faz bo boaa te temp temporada porada.

,5

9 10,45

3,45 0

Goiás

O Goiás sempre produziu uma quantidade raz razo o oáv ável de jogadores. No atual elenco , há três bon ns zagueiros ns r na Serrinha (Ernando, Tolói e Valmir Lucas), mas o clu club cl ube be jjáá be teve melhores momentoss.

Avaí Semifinalista ta da Copa São Paulo ulo l deste ano, o Avaí tem uma promissora geração para os próximos anos e vive momento especial, lançando garotos como o bom lateral e meia Medina.

10,55 1,05

QUEM MAIS VENCEU Fluminense é único carioca entre os mais vitoriosos na base

1

9

9

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2 5

4

5

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1

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14 15

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3

3

3

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3

2

1

Obs.: Barueri, Botafogo, Coritiba, Guarani, Palmeiras e Santo André não ganharam títulos em 2008 e 2009

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QUEM MAIS EXPORTOU Com crise econômica, poucos clubes brasileiros conseguiram vender jovens para o exterior

1 2 3 4 5 6 7 8 9

8

6

4

2

2

1

1

Obs.: Atlético Mineiro, Atlético Paranaense, Avaí, Bahia, Botafogo, Corinthians, Fluminense, Goiás, Guarani, Náutico, Santo André, Santos, São Paulo, Sport e Vitória arrecadaram menos de € 2 milhões e não chegaram a fazer 1 ponto

Barueri

8,50

21 2

1 1

10,20 3,2 2 0

Daniel Garcia/AFP

4,5

Palmeiras Tradiç dição na base, o Palmeiras só ttem mesmo com goleiros. s. Ter Marcos e Bruno no elenco Te principal,, alé lém m da valiosa nego ne gociação de Diego Cavalieri, go valeu boa parte dos poucos pontos no ranking.

O Barueri arueri montou mo um timee barato, arato, o que não nã significa que use muito sua base. ase. Apesar sar de ter resultados razoáveis, os meninos treinam nam m em CTs espalhados pela cidade. Caio, vendido em parceria arceriia arce com o Palmeiras, rendeu pontos valiosos.

0

6,5

o7

,35 ,3

2,85

Botafogo se nos lação botafoguen A principal reve Renan, no os foi o goleiro últimos dois an . Menos edores confiam qual poucos torc esidente pr io Assumpção, mal que Mauríc e de o be da necessidad do Botafogo, sa m jovens. seu trabalho co clube melhorar

0 0

4,5

5,6 1,1

Guarani arani Para quem já revelou ou Careca e Amoroso, o Guarani Guarani está tá distante dista distan dos seus us melhores ores res dias na n base. Para piorar, ar, a turbulência bulênci – em campo e fora dele – dos últimos anos fez o ú clube perder peeerd a preços módicos muitos dos jogadores que revelou no período. Julho de 2009

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0 0 4,5 31

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FRANÇA

Le gr a chute saiu rasteiro, no canto direito do goleiro Plante. Foi assim, em um pênalti aos 35 minutos do primeiro tempo de um jogo contra o Caen, que a torcida do Lyon viu o último gol de Juninho Pernambucano com a camisa do clube. Após oito temporadas, sete títulos da Ligue 1, 344 jogos e exatos 100 gols, ele decidiu que era hora de mudar de ares. Deixou para trás os melhores momentos da vida do clube francês. Essa história começa e termina com Bernard Lacombe. O ex-atacante da seleção francesa foi o escolhido para ficar com a última camisa lionesa vestida por “Juni” em campo. Reconhecimento pelo fato de, no papel de diretor do OL, ter sido o responsável pela descoberta do brasileiro. Ele recomendou a contratação de Juninho em 2001, após acompanhar alguns vídeos com jogadas do meia pelo Vasco. Na época, não parecia que sua passagem pela França seria tão feliz. A chegada na Europa, aos 26 anos, foi tardia, na própria opinião de Juninho. O meia ainda vinha em um momento conturbado, após entrar na Justiça para ser liberado por Eurico Miranda. Tanto que ele não esconde que não se dava com o cartola. “Tinha uma relação de empregado e patrão. Eurico sempre foi um dirigente atuante, com seu jeito às vezes questionável”. Na França, Juninho recebeu a camisa 8 de um time que nunca vencera o Campeonato Francês e historicamente vivia na gangorra entre a primeira e a segunda divisão. Porém, com Jean-Michel Aulas na presidência, o Lyon vinha subindo gradativamente na tabela e havia se firmado como um concorrente ao título. Faltava o “algo mais” que tornasse a equipe temida pelos adversários. “Juninho é o homem e o jogador que tínhamos a esperança de encontrar um dia”, resume o dirigente. Foram sete títulos consecutivos na França, de 2002 a 2008, um recorde no país. É um equívoco achar que o Lyon teve uma mesma base durante todo esse período. Para se ter uma ideia, só de técnicos, o clube teve cinco (Jacques Santini, Paul Le Guen, Gerard Houllier, Alain Perrin e Claude Puel).

O

por Gustavo Hofman

Em oito anos no Lyon, Juninho Pernambucano venceu sete campeonatos franceses. Em 2009, deixou o clube como o maior jogador de sua história

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Ly Lyon, yon, porque não joguei em muitos outros lugares”. Bem, o meia poderá acrescentar mais um clube em seu currículo. Depois de deixar a França e ter seu retorno ao Vasco especulado, ele assinou com o Al-Gharafa, do Catar, por dois anos. Após esse período, quando pensar em encerrar a carreira, a possibilidade de retornar ao Lyon e ganhar um cargo diretivo é concreta. “Isso é só uma passagem em um livro que se segue”, afirma Aulas. Não é à toa que o dirigente deixa as portas abertas ao brasileiro. Ele sabe melhor do que ninguém o que o meia representou na história dos lioneses. “Todo o mundo é testemunho da grandeza dele no futebol em geral. É talento, paixão, profissionalismo, um símbolo das vitórias. Representa mais que qualquer jogador do Lyon”. Uma declaração que acaba com qualquer dúvida se “Juni” foi ou não o maior jogador da história do clube que dominou o futebol francês na década de 2000. Saiba mais sobre futebol francês em www.trivela.com/franca

John Macdougall/AFP

Assim, os símbolos dessa era foram mesmo Juninho e o goleiro Coupet, dois mitos na capital francesa da gastronomia, mesmo que o sucesso doméstico não tenha se repetido na Liga dos Campeões. Tamanha projeção lhe valeu convites para trocar o futebol francês por um centro mais rico na Europa, mas também o fez permanecer em Gerland. “Recebi algumas sondagens nesses anos, mas nada que chamasse a minha atenção e comprasse minha tranquilidade e prestígio na França”, conta. Isso significa que o Lyon foi o clube em que Juninho Pernambucano jogou seu melhor futebol e está mais enraizado? Não necessariamente. O meia jogou por poucas cores por isso, se vê muito vinculado a todos eles. “Cheguei cedo no Sport. Foram anos de dificuldade. O clube acolheu-me de uma maneira carinhosa e pude crescer muito lá, jogando entre os profissionais e sendo convocado para a seleção de novos muito cedo. No Vasco fui muito bem e no Lyon me estabeleci como profissional. Seria engraçado dizer que vivi grande fase no Vasco ou no

Martin Bureau/AFP

and JUNI

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TÉCNICOS por Mayra Siqueira

REALIDADE matemática tecnologia está presente no dia a dia das pessoas. Em qualquer setor da sociedade, cálculos matemáticos, perceptíveis ou não, tornam a vida mais prática e menos trabalhosa. E assim como qualquer grande mudança, também acarretam pontos positivos e negativos. No futebol, especificamente, há uma grande resistência em aderir a novas tecnologias. Inovação não é uma palavra de ordem no meio. Aos poucos, porém, uma grande barreira tem sido derrubada: cada vez mais se torna comum a análise de estatísticas para a compreensão e análise do jogo. Não como uma verdade absoluta, mas como uma ferramenta de trabalho. Diversos clubes, treinadores, empresas de mídia e até agentes Fifa têm recorrido aos números, desde os mais simples, como quantidade de passes certos e errados, até análises mais complexas do tempo de posse de bola e objetividade dos atacantes.

A

Segundo Romanini, esse é o tipo de informação que mostra as falhas ou forças de um time, e pontos a serem trabalhados. Os números são válidos também para ajudar a padronizar o perfil de uma equipe. “A Seleção Brasileira tem 90% da posse de bola pelas laterais, enquanto o Boca Juniors tem a maior posse de bola centralizada em um só jogador, no caso o Riquelme”, aponta. O Internacional e o Cruzeiro são clubes que costumam aplicar os números intensivamente, chegando, inclusive, a passar informações aos jogadores no intervalo, ou afixando os números do último confronto na porta do vestiário, para que cada um saiba onde estão suas principais falhas. Porém, o tipo de pesquisa feita pelos clubes e sua comissão técnica é bastante variado, e não há um padrão. Há também procura sobre um determinado jogador, visando não somente o conhecimento de suas fraquezas e forças, mas tam-

A Trivela levantou quatro exemplos de como os números revelam (ou

Imagens Footstas

OS NÚMEROS FALAM POR SI

“O time não enxerga só os números dele, e sim de todos os seus adversários no campeonato”, lembra José Eduardo Romanini, um dos responsáveis pela Footstats, empresa que levanta estatísticas de campeonatos nacionais e internacionais e tem cerca de 30 clubes brasileiros como assinantes. A importância dos números é defendida por técnicos. “Quando vou montar uma estratégia, observo onde o adversário falha mais e onde terei mais liberdade”, afirma Vágner Mancini, do Santos. Muricy Ramalho, atual tricampeão brasileiro, tem posição semelhante: “Aprendi muito de planejamento com o Parreira, que gostava de usar bastante os números”. Com esses dados, pode-se criar o perfil de um jogador, time ou até árbitro, por meio de seus números. Passes certos e errados, quantidade de faltas, lado que o time ataca mais, enfim, são inúmeras opções de habilidades e falhas que podem ser constatadas através da análise.

Porcentagens, dados, matemática, estatísticas... como os treinadores usam os números a seu favor

Ronaldo, em poucos jogos, foi fundamental na conquista do Campeonato Paulista pelo Corinthians. Seu aproveitamento nas finalizações - o mais alto do torneio - comprova isso

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Os números expõem a diferença de critérios entre os árbitros. Enquanto um tem média de 58 faltas por jogo, outro apresenta apenas 28. Em cartões amarelos, a variação é de 14 para 4,3

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Wander Roberto/Vipcomm

Números são importantes, mas técnicos precisam saber interpretá-los

bém por interesse em uma possível contratação. Ao analisar um candidato, os clubes podem comparar os dados dos jogadores com o próprio atleta de seu elenco, ou mesmo saber o que falta em seu time e procurar alguém que tenha as características adequadas para a posição.

Experiências próprias “Gosto de usar a estatística para constatar o que eu observei em

campo. Eu gosto de utilizar, mas não sou aficionado por ela, e nem acho imprescindível. A estatística não é uma certeza, é uma ferramenta. Não confio nela 100%, quem vence é o melhor em campo,” defende Mancini, do Santos. Oswaldo de Oliveira também acredita que, apesar da segurança que a matemática pode trazer, o treinador deve saber analisar os números. “O jogador sempre tem

que ser estudado de acordo com a interferência do adversário, o que pode variar bastante. Mas esta questão pode influenciar diretamente na avaliação dos jogadores. Os detalhes nos ajudam a chegar a estas conclusões, mesmo que parcialmente”, afirma. O atual comandante do Kashima Antlers utiliza um sistema de dados japonês, que já chega traduzido, através de sua comissão técnica. “As estatísticas me dão basicamente uma referência técnica em relação aos atletas”, explica Oliveira. “São dados sólidos, uma coisa elementar que serve para nos ajudar a conhecer melhor as características individuais dos jogadores que temos à disposição”. Há, porém, treinadores ainda reticentes às estatísticas. Zetti, que retornou ao Paraná depois de dois anos, tira o peso dos dados em seu trabalho. “Não é meu carro-chefe. Ficamos na idade da pedra, preferimos fazer uma coisa mais manual. Isso, pra gente, no dia-a-dia, facilita”, argumenta o ex-goleiro. O que os técnicos tentam deixar sempre claro é que ainda é fundamental haver alguém para lidar com o lado “humano” do futebol. Ainda que, cada vez mais, sua tradução para a matemática esteja ganhando espaço. Colaborou Gustavo Hofman

confirmam) o que se vê em campo

Lionel Messi vive uma fase espetacular. Isso ninguém duvida, tanto que os números de dribles corretamente aplicados nas Eliminatórias da Copa 2010 impressiona: é mais que o dobro de Robinho

Keirrison cai de rendimento em partidas difíceis. No Paulista finalizou abaixo da média nos clássicos. No Brasileiro, o melhor jogo foi contra o time misto do Cruzeiro. Na Libertadores, sumiu nos jogos decisivos Julho de 2009

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Jorge R. Jorge

ENTREVISTA » FÁBIO LUCIANO

Fábio Luciano fala dos problemas do Flamengo, de equívocos da postura dos dirigentes à falta de um líder nato para substituí-lo como capitão rubro-negro

“CONHEÇO OS por Gustavo Hofman

PROBLEMAS

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DO

FLAMENGO” Julho de 2009

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o início de 2009, o Flamengo enfrentou problemas internos por atrasos de salários. Chegou a ser eliminado da Taça Guanabara pelo Resende, mas se reencontrou e acabou campeão estadual. Semanas depois, novos problemas internos. Mas o grupo se aprofundou na confusão e acabou perdendo por 5 a 0 para o Coritiba. Havia uma diferença básica na Gávea entre um momento e outro: o capitão Fábio Luciano, que abandonou a carreira na final do Estadual do Rio. O zagueiro formado na Ponte Preta se transformou em símbolo rubro-negro por sua raça e, principalmente, poder de liderança. E tal status foi atingido não apenas por seu perfil, mas também pelo modo franco como tratava as mazelas flamenguistas. “Eu via o Márcio Braga como o presidente do clube, mas com sentimento de torcedor. Tínhamos que ganhar o jogo e ele provocava o adversário. Espero que ele tenha aprendido com isso”, afirma. Além dos problemas do Flamengo, o zagueiro fala sobre sua passagem no Corinthians, o fanatismo da torcida turca e sobre seu início de carreira, quando chegou a parar de jogar por dois anos. “Eu disse que não queria ser zagueiro, queria marcar gols. Hoje em dia, no rachão, só jogo na frente”.

N

Já se acostumou à ideia de não ir treinar todos os dias? A cabeça está preparada, eu me preparei para isso. Lógico que um dia vou acordar e achar que tenho que ir treinar, mas estou lidando muito bem. Preparei minha aposentadoria, não é uma decisão fácil. Há muitos jogadores que dizem que vão parar e retornam ao futebol um ou dois meses depois. Na minha cabeça, isso não passa. O que vai fazer daqui para frente? Tenho algumas coisas relacionadas à construção, algo que não veio agora. Tenho isso há cinco anos, então é uma coisa sólida. Vou me dedicar a isso e a outras coisas, como uma pizzaria que tenho. Mas penso em algo no futebol também, quero passar alguma coisa para os mais jovens. Devo abrir, não é certo, um escritório para cuidar da carreira de alguns jogadores. Quero ver se consigo mexer com pouca gente e dar 100% de atenção, mas é só um projeto ainda. Como foi lidar nos últimos meses com os problemas financeiros do Flamengo? Acho que, no jogo, isso não atrapalha. O pensamento do jogador muda totalmente. Mas atrapalhava o rendimento durante a semana, porque você vai para o treino e tem que pagar uma conta, a escola do filho... Você, como capitão, conversava com os outros jogadores e a diretoria sobre isso? Eu era totalmente envolvido. Era o porta voz da equipe. Dificilmente

havia uma conversa entre os jogadores e a diretoria, era só entre eu e os diretores. Falei para eles não se envolverem muito mesmo, deixar isso para mim, porque existe um desgaste. Conheço os problemas do Flamengo, sei que gestões anteriores atrapalharam muito.

provocava o adversário. Fazia festa antes, dizia que estava preparando o chope do título. Isso mexe com o outro time, mobiliza ainda mais e cria uma responsabilidade maior para o Flamengo. Espero que ele tenha aprendido com isso. Futebol é jogado, não falado.

Existe alguém preparado para lhe substituir nesse papel? Eu vi o Cuca falando que isso seria espalhado pelo grupo, e acho que vai ser mais ou menos assim. Tem jogadores que poderiam exercer essa liderança, mas sempre há um ponto positivo e um negativo. O Angelim tem experiência, o grupo respeita muito a opinião dele, mas é mais tímido, fechado. É o jeito dele. O Ibson fala muito, gosta de dar as opiniões dele, mas é jovem. O Bruno tem esse perfil também, só tem que corrigir algumas posturas.

No Corinthians você viveu um grande momento. Foi sua melhor fase? Dois times marcaram muito a minha vida: Corinthians e Flamengo. O Corinthians me marcou pela conquista de títulos, foi o melhor time da minha carreira. Quando você é campeão, é adorado pelos torcedores. Mas no Flamengo eu me senti mais importante. Não consegui títulos de muito prestígio, só que fui muito amado no clube. Tudo que acontecia no grupo os jogadores também sabiam que tinham que passar pra mim. Tenho dois filhos, Gianluca e Isabela, e amo os dois do mesmo jeito. Amo o Corinthians e o Flamengo.

Como foi terminar a carreira sendo expulso? Isso não me atingiu. Se tivesse sido no primeiro tempo eu ia carregar um peso nas costas. Mas, como foi no último lance, não incomodou. Durante a semana, não fui bem nos treinos de pênaltis e estava muito envolvido com o sentimento de encerrar a carreira. Era muita coisa passando pela cabeça. As provocações do Márcio Braga, antes do jogo, atrapalhavam? Eu via ele como o presidente do clube, mas com sentimento de torcedor. Claro que atrapalhava. Tínhamos que ganhar o jogo e ele

Você chegou ao Corinthians e, logo de cara, teve de jogar o Mundial. Eu cheguei da Ponte Preta no começo do ano, tive só duas semanas de trabalho. O Corinthians tinha uma zaga feita, com Adílson e João Carlos. Fui contratado para jogar o Rio-São Paulo, e fazer parte do grupo no Mundial, mas, como eu estava mais solto, treinei muito bem. O João Carlos teve um problema muscular e teve que sair. Acabamos eu e o Adílson. Só fiquei sabendo que ia jogar na véspera do jogo. Eu estava na concentraJulho de 2009

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Paulo Whitaker/Reuters

“O Corinthians me marcou pela conquista de títulos, foi o melhor time da minha carreira”

Fábio Luciano ção e o Osvaldo me ligou, pedindo para ir ao quarto dele. Achei que era para levar bronca. Depois veio a transferência para o Fenerbahçe. Como foi sua passagem pela Turquia? No meu último jogo pelo Corinthians teve uma briga com o Santos e eu dei uma voadora no Fabiano. Aí saiu estampado na primeira página do jornal lá da Turquia essa foto. Antes de me apresentar, fui ao hotel onde estava o presidente. Quando entrei na sala, ele virou o jornal com a foto para mim e me perguntou: “É com esse espírito que você está vindo para cá?”. Falei que eu era assim. Ele respondeu: “Então teremos muitas alegrias juntos”. A torcida turca é realmente mais fanática que a brasileira? Não tem comparação. É muito maior. No Brasil sabem torcer, mas lá o jogador é como um herói de guerra. Teve um jogo do Galatasaray pela Copa Uefa, em que a torcida do Fenerbahçe comprou 10 mil ingressos só para deixar uma lacuna no estádio. Em um clássico contra o Besiktas, a torcida só teve à disposição mil ingressos. Mesmo assim, eles compraram 5 mil, se vestiram com roupas normais e ficaram no meio da torcida do Besiktas. Quando entramos em campo, eles arrancaram a camisa e todos estavam com o uniforme do Fenerbahçe por baixo. Foi uma loucura, uma confusão. Mas aí a polícia tirou todos os torcedores do Fenerbahçe do estádio. Por que deixou a Turquia? Eu tinha um problema no púbis, e queria fazer a cirurgia no Brasil. Tinha mais seis meses de contrato,

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Nascimento 29/abril/1975, em Vinhedo-SP Carreira Ponte Preta (1996 a 99) , Corinthians (2000 a 2001 e 2002 a 2003) , Internacional (2001) , Fenerbahçe-TUR (2003 a 2006) , Köln-ALE (2007) e Flamengo (2007 a 2009) Seleção 2J/0G Títulos Mundial de Clubes (2000) , Copa do Brasil (2002) , Campeonato Turco (2003/04 e 2004/05) , Rio-São Paulo (2002) , Campeonato Paulista (2003) e Campeonato Estadual do Rio (2008 e 2009)

e, entre a cirurgia e a recuperação ,levaria cinco para me voltar. Sei o valor que eles dão para jogador estrangeiro, e na minha época só eram liberados seis. Ia ocupar uma vaga, então falei com o Zico e eles me liberaram. Essa minha atitude me ajudou muito, porque fiquei no Brasil e o Fenerbahçe, mesmo já sem contrato assinado, pagou meu salário até o final. Ainda nas categorias de base, você chegou a largar o futebol. O que aconteceu? Comecei aos 12 anos, na Ponte Preta. Fiz toda trajetória na base, quando decidi parar de jogar aos 17. Precisava de dinheiro, queria ter minhas coisas. Fiquei dois anos sem jogar. Fui trabalhar com meu pai na loja de material de construção dele. Dirigia caminhões, ia em obras, descarregava sacos de cimento. Estava

feliz. Nos últimos seis meses em que eu estava apto a jogar pelo juniores, recebi um convite para voltar à Ponte. Não queria, mas meu pai incentivou. Logo no primeiro jogo, contra o Palmeiras, marquei dois gols, ganhamos de 2 a 1 e o Cilinho resolveu me levar para os profissionais. Eu ainda era meia. Como você virou zagueiro? Fui profissionalizado para jogar na frente. Em um amistoso contra a Inter de Limeira, em 1997, dois zagueiros da Ponte estavam machucados e um não podia jogar. Aí o Vanderlei Paiva [técnico do clube na época] me disse que a Inter tinha um atacante alto e eu era quem melhor podia marcá-lo. Fui o melhor do jogo. Aí, resolveram insistir comigo na defesa. Eu não queria ser zagueiro, queria marcar gols. Hoje, no rachão, só jogo na frente.

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por Mauro Cezar Pereira

MARACANAZO

Com ou sem diploma, é preciso estudar para entender A MENSAGEM CHEGOU AO MEU BLOG no site da ESPN. Era um comentário de internauta sobre um post no qual critiquei a diretoria do São Paulo pela maneira como demitiu Muricy Ramalho, técnico que é – repito: é – o tricampeão brasileiro. Sim, atual. São os dirigentes “diferenciados” do badalado tricolor paulista. Mas voltemos ao tema da coluna. O internauta questionava o fato de eu criticar a cartolagem do Morumbi. Motivo? O autor do texto nunca foi dirigente de um clube de futebol, portanto, pelo raciocínio apresentado, jamais poderia escrever ou falar algo contra a conduta de quem executa tal papel. Se fosse assim... Bem, meus caros, se fosse assim, não poderíamos criticar os senadores de nossa mal-cheirosa república, afinal, nós nunca fomos eleitos para o Senado, né? Em consequência, os atos secretos nem precisariam ser secretos, ninguém os poderia criticar, ou mesmo se indignar, com eles. É que, pela lógica apresentada, só senadores entendem do trabalho de... senadores. O tema é interessante pouco depois de o Supremo Tribunal Federal derrubar a exigência do diploma para exercício da profissão de jornalista. Não vamos aqui discutir a questão, complexa, que caberia numa publicação sobre mídia, o que não é o caso da 100% futebolística Trivela. Mas é um bom “gancho”. Pela decisão do STF, qualquer um pode ser jornalista, mesmo que não saiba apurar, escrever uma matéria (o que é muito diferente de redigir uma carta, memorando ou relatório), checar informações, editar etc. As faculdades de jornalismo deixam a desejar, sem dúvida. Mas os profissionais da imprensa que se qualificam para abordar este ou aquele tema, o fazem com correção. E isso não se conquista com o diploma. Fato é que, para desenvolver determinado papel na vida profissional, é preciso estudar, se envolver, se aprimorar. Há quem defenda a (para mim tosca) tese na qual só quem jogou futebol pode comentar o esporte. Se fosse assim, apenas ex-políticos escreveriam sobre política, chefs de cozinha analisariam temas gastronômicos, somente exministros e secretários de Fazenda poderiam avaliar um cenário econômico, etc. Quem joga, ou jogou, bola, nem sempre é capaz de analisar o que acontece nas chamadas quatro linhas. E fora delas. O discurso de boleiros e ingênuos que defendem uma espécie de monopólio da opinião para aqueles que chutaram a pelota profissionalmente só serve para avacalhar ainda mais o nível da mídia esportiva. Com ou sem diploma.

HAT TRICK Comentaristas de arbitragem apelam para uma muleta a cada jogada polêmica. “É um lance difícil”, alegam. É corporativismo demais. Mas há quem sofra com os microfones abertos para ex-apitadores, entre os quais há colecionadores de erros quando na ativa. Difícil mesmo é um árbitro apitar, no Brasil, o verdadeiro futebol, não esse joguinho no qual todo esbarrão vira falta.

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Copa 201 14

Demorou apenas dois dias para a primeira alteração significativa de planos da Copa de 2014. Foi o tempo que levou entre o anúncio das cidades-sede do torneio, em 31 de maio, e a troca do projeto do estádio de Cuiabá. Uma atitude repentina, que colocou a Fifa na curiosa situação de ter aprovado uma

arena e ver outra sair do papel. Para a entidade, a capital mato-grossense apresentou um projeto do escritório Castro Mello para a reformulação do estádio Verdão. O escritório teria até ajudado a preencher o caderno de encargos exigido pela federação. No entanto, os responsáveis pela candidatura

TROCA TAMBÉM EM RECIFE O que aconteceu em Cuiabá quase passou na candidatura de Recife também. Estava tudo definido para a apresentação de dois projetos à Fifa em janeiro: um de um grupo português e outro do arquiteto Múcio Jucá, que levantaria uma arena multiuso em Olinda. No entanto, às vésperas da decisão do Comitê, uma terceira proposta, da construtora Odebrecht, foi oficializada, mesmo sem o apoio dos clubes. “Tudo já estava estranho, ninguém tinha informações sobre esse terceiro projeto e não deixavam vazar para a imprensa. Ficamos surpresos com a decisão, assim como a prefeitura de Olinda, que em forma de protesto, enviou o projeto para a Fifa mesmo sem chances”, afirma Jucá. A reportagem da Trivela apurou que as duas equipes que tinham os projetos vigentes ficaram sabendo da desistência do Comitê apenas em 13 de janeiro, durante uma reunião com representantes do governo estadual. No final das contas, o estádio pernambucano na Copa ficará em São Lourenço da Mata, distante 22 km do centro de Recife. “Nenhum dos três clubes de Recife tem interesse nesse estádio”, comenta Jucá.

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de Cuiabá decidiram mudar o projeto. Avisaram os antigos projetistas e, dez dias depois, apresentaram um novo modelo, criado por Sérgio Coelho, do escritório GCP. A mudança de planos foi inesperada. “No dia seguinte ao anúncio de Cuiabá como cidade-sede, tentei o contato com o Yuri Bastos, que coordena a campanha da cidade, e não consegui. Falei com ele no dia 2 e fui informado que não continuariam com o projeto. Ele me disse que foi uma decisão interna, por ordem do governador. Fiquei surpreso, porque conseguimos o resultado esperado. Entre a apresentação do projeto e o anúncio da Fifa, nunca fomos procurados”, comenta Eduardo de Castro Mello. “Mudaram as regras do jogo. Acho que cidades que ficaram de fora, como Campo Grande e Goiânia, têm o direito de reclamar”. De acordo com Bastos, o motivo da alteração seria o custo alto do projeto descartado, cerca de R$ 600 milhões. O novo sairia inicialmente por R$ 430 milhões. “Não queremos um elefante bran-

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LU PA A Fifa anunciou Cuiabá como cidade-sede da Copa baseada em informações de um projeto para o Verdão. Dois dias por Gustavo Hofman depois, aquilo já não valia nada

De olho A ONG Contas Abertas fiscalizará o investimento gasto com a Copa de 2014. A entidade firmou uma parceria com o deputado federal Sílvio Torres (PSDB), presidente da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara. “Será uma colaboração para dar transparência aos trabalhos. Somente assim teremos condições de evitar o descontrole de gastos que aconteceu com o Pan do Rio de Janeiro”, afirmou o deputado.

Audiências públicas A Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados aprovou um bloco de 14 requerimentos

co na cidade, a área vai se transformar em um grande parque. Queríamos uma obra somente com insumos nacionais e consultamos a Fifa sobre a possibilidade de troca”, afirma o presidente do Comitê Pró-Copa no Pantanal. Perguntado se o escritório GCP escolhido teria ligações com o Mato Grosso, ele nega. “O Sérgio Coelho não tem ligações com Cuiabá. Seu escritório fica em São Paulo. Ele me disse que só uma vez atendeu um grande grupo da cidade”. Em seu site oficial, o GCP informa que realizou três projetos na capital mato-grossense: todos para a rede de varejo de eletrodomésticos Citylar (um centro de distribuição, uma loja e uma megastore). Procurado pela reportagem da Trivela, o arquiteto Sérgio Coelho não retornou aos pedidos de entrevista. Sua secretária informou que ele não estava autorizado pelo governo mato-grossense a falar com a imprensa. Cuiabá sempre teve um apelo político muito grande. Seu governador é Blairo Maggi (PR), grande produtor de soja, defensor da causa ruralista e um dos

Da esquerda para a direita, o atual estádio Verdão, o projeto descartado do arquiteto Eduardo de Castro Mello e a proposta final, criada pelo arquiteto Sergio Coelho

para a realização de audiências públicas com ministros de Estado, governadores e prefeitos das cidadessede da Copa. Também foi aprovado requerimento solicitando à Casa Civil e aos ministérios do Planejamento e do Esporte informações sobre o

maiores inimigos dos ambientalistas. Tem, no entanto, ótimas relações com o governo federal. Tanto que a capital mato-grossense já garantiu cerca de R$ 1 bilhão em investimentos do Ministério das Cidades, visando a Copa do Mundo e obras de mobilidade urbana, saúde, segurança e turismo. O Estado já afirmou que bancará 100% da obra do estádio. No entanto, a agilidade na apresentação de um novo projeto não é proporcional à força do futebol local. O Mato Grosso não tem um representante na primeira divisão nacional desde 1986. No momento, os melhores clubes mato-grossenses na pirâmide do futebol brasileiro são Luverdense (de Lucas do Rio Verde) e Mixto (este sim, cuiabano), ambos na Série C.

programa orçamentário do Mundial.

Cinco de 12 Um estudo analisou mais de 800 cidades no mundo e listou os centros de comércio mais importantes das economias emergentes. No ranking final entraram apenas 65 cidades, sendo que destas, cinco são brasileiras e serão sede de jogos na Copa de 2014: São Paulo (12º), Rio de Janeiro (36°), Brasília (42°), Recife (47°) e Curitiba (49°). Xangai, na China, lidera.

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apresenta

Eliminatórias da Copa do Mundo 2010

Primeiros

Divulgação

ELIMINATÓRIAS

por Gustavo Hofman

CLASSIFICADOS Austrália, Coreia do Norte, Coreia do Sul, Holanda e Japão são as cinco primeiras nações garantidas no Mundial de 2010 Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, começa a ganhar as primeiras caras. Australianos, norte-coreanos, sul-coreanos, holandeses e japoneses foram os primeiros a assegurar, pelas Eliminatórias, um lugar no torneio. Dentre as nações classificadas, somente a Coreia do Norte gerou grande surpresa. O país disputou apenas um Mundial, em 1966. A vaga veio com um dramático empate por 0 a 0 com a Arábia Saudita, fora de casa. Assim, garantiu o segundo lugar do Grupo B das Eliminatórias Asiáticas. A primeira posição da chave ficou com os rivais do Sul, que garantiram a classificação com uma vitória sobre os Emirados Árabes. Enquanto isso, no Grupo A, Austrália e Japão tiveram bem menos trabalho para ficar com os dois primeiros lugares. Ambos dispararam na ponta e se tornaram as duas primeiras seleções a se classificar matematicamente. Terceiros colocados nos grupos,

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Bahrein e Arábia Saudita disputarão uma vaga na repescagem contra a Nova Zelândia – vencedora das eliminatórias da Oceania. Na Europa, também há seleção comemorando. Com sete vitórias em sete jogos e nenhum concorrente no encalço, a Holanda garantiu antecipadamente a liderança do Grupo 9, muito à frente de Escócia, Macedônia, Islândia e Noruega. Assim, a Oranje vai para seu sétimo Mundial, o segundo seguido. Apesar de apenas seis seleções terem vaga assegurada na Copa (além das cinco via Eliminatórias, a África do Sul como país-sede), todos os demais 26 participantes serão definidos no segundo semestre de 2009. O Brasil pode ser um dos próximos. Após as vitórias sobre Uruguai e Paraguai, a Seleção praticamente assegurou seu lugar. Com 27 pontos, sete a mais que o quarto colocado Equador, a equipe de Dunga pode carimbar seu passaporte para o Mundial já na próxima rodada.

PINTOU, TÁ NOVO A expectativa em Recife para o jogo entre Brasil e Paraguai pelas Eliminatórias da Copa 2010 era enorme. O Arruda, palco da partida, foi bem “arrumado”. Cadeiras novas, tinta recémaplicada por todos os cantos e gramado em excelentes condições. Pela televisão, tudo parecia perfeito, mas o torcedor que foi ao estádio viu uma outra realidade. O córrego ao lado do estádio exalava um odor terrível, para infelicidade dos milhares de torcedores espremidos em longas e bagunçadas filas. Por dentro, sua estrutura desgastada evidencia falta de manutenção: infiltração, armadura de aço contorcida, vigas fissuradas e concreto apodrecido. Alguns assentos ficaram vazios porque estavam em baixo de goteiras da marquise. A casa do Santa Cruz pede ajuda. O repórter Gustavo Hofman viajou a Recife a convite da Mastercard

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A exposição da privacidade de atletas estimula o debate sobre excessos

por Fábio Fujita

COMPORTAMENTO

INTERESSE

atacante Ronaldo foi o único atleta da delegação corintiana que, a três dias do confronto contra o Marília pelo Paulistão, não cumpriu o horário de retorno ao hotel da concentração, em Presidente Prudente. Ao relacioná-lo para a viagem ao interior, o técnico Mano Menezes imaginava que o maior artilheiro das Copas do Mundo começasse a sentir “o cheiro do jogo”. O problema é que, longe dos holofotes da capital, Ronaldo acabou seduzido pela perdição interiorana. As quase seis horas de atraso na reapresentação fizeram que o atleta fosse poupado do treino matinal da equipe, no dia seguinte. A situação contradizia o discurso adotado pelo

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atacante em sua chegada à Fazendinha, no final de 2008: a de que Ronaldo seria apenas “mais um” no grupo. O clube tentou vender a ideia de que se tratava de um problema interno. O próprio atacante insistia em não falar sobre questões que considerasse pessoais. Mas discutir os limites da cobertura jornalística em relação à vida privada dos atletas é tão antigo quanto ficar em impedimento. Por isso mesmo, soa como inocência um jogador com a experiência de Ronaldo imaginar que a não-exposição de sua vida pessoal será igual à de uma pessoa comum. “Qualquer pessoa pública tem seus momentos pessoais, mas sinto que, com o jogador de futebol, o comportamento da

imprensa é diferente”, constata o técnico Renato Gaúcho, famoso em sua época de jogador pela intimidade com a noite. É a mesma premissa que torna incerto o sucesso de Adriano nesse retorno ao Flamengo. Seus antecedentes etílicos são tão conhecidos quanto seu talento. Seu atraso a dois treinos na Gávea reforçaram a preocupação dos torcedores – e o interesse da imprensa – com seu comportamento extracampo. Tanto que uma série de especulações foi levantada para explicar a súbita quebra de contrato com a Internazionale e os atrasos na Gávea, já que o jogador foi pouco convincente nas justificativas. “Faltou uma investida mais firme da imprensa no

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(DO) PÚBLICO da imprensa e até sobre o atual papel da concentração no futebol

episódio. Especulou-se sobre alcoolismo e depressão, mas especulação não é informação”, pondera Paulo Vinicius Coelho, chefe de reportagem da ESPN Brasil. Para ele, o interesse na vida pessoal do atleta só se justifica se ela tiver relação com seu desempenho esportivo, como é o caso. A divisão entre “interesse público” e “interesse do público” existe, mas o próprio torcedor nem sempre compreende isso. Assim, ele demanda informações quando o personagem é mais “atraente”. Repórter do jornal Diário de São Paulo, onde atua como setorista do Corinthians, Jorge Nicola estava em Presidente Prudente durante a escapada de Ronaldo e afirma que o amplo espaço dedicado ao assunto

só se justificou por se tratar de um jogador especial. “Fosse o (goleiro) Felipe, por exemplo, até teríamos noticiado, porque o atraso de seis horas na reapresentação é notícia sempre. Mas o caso ganha muito mais importância quando é o Ronaldo”. Os pesos e medidas puderam ser conferidos quando Nicola retornou à cidade uma semana depois do incidente, para descobrir os efeitos da passagem do atleta pela boate Pop’s Drinks, onde tudo aconteceu. “A noitada ainda estava em pauta. Se fosse outro jogador, o caso estaria esquecido”, acredita Nicola. Ronaldo já trazia um antecedente ao se envolver num episódio com travestis.

passagens por grandes clubes e Seleção Brasileira. Até mesmo a sugestão de abstinência sexual às vésperas dos jogos já seria anacrônica. “O que vem junto com a relação sexual - a noite mal-dormida, o excesso, o álcool - que é o problema”. Ela acredita que as atividades pouco sedutoras para o jogador na concentração é que precisam ser repensadas. “Tenho atletas na Seleção que têm sangue nos dedos de tanto jogar videogame”. Em seus trabalhos em clubes, a psicóloga já tentou experiências de montar pequenas bibliotecas e de promover cursos de idiomas. “Temos uma cultura que os empurra para aquela rotina já estabelecida”, lamenta.

Estímulo à transgressão?

Mal necessário

A atuação da imprensa incomoda os jogadores, mas os clubes contribuem ao tentar criar uma aura de clausura total nas concentrações. Alguns atletas se sentem tentados a sair da linha e qualquer escapulida ganha contornos de contravenção. O ex-meia e atual comentarista esportivo Neto diz que, na época em que jogava, não conseguia resistir às iguarias servidas na concentração. O ex-corintiano, que sempre lutou contra a balança, costumava comer pouco nas refeições “oficiais”, para mostrar sua disciplina à comissão técnica. Mas, depois, bolava um “tráfico de comida” com garçons dos hotéis. Para o jornalista Juca Kfouri, o eventual fim desse modelo de concentração estimularia o jogador a ter mais responsabilidade. “São criadas situações para que sejam transgredidas”, entende. “Nossos jogadores são infantilizados pelo paternalismo vigente. Não ter concentração é coisa para homem e temos poucos hoje em dia”. No fim das contas, o cenário acaba se voltando contra seu objetivo. A premissa da concentração não é privar o jogador de uma vida social, mas discipliná-lo. “É um modelo com um objetivo específico: colocar os atletas numa rotina de sono, alimentação e atividades físicas controladas”, comenta Suzy Fleury, psicóloga com

Apesar dos argumentos contra o modelo atual, a tendência é que a concentração seja mantida. Mesmo a tese de que jogadores casados poderiam ficar em casa antes dos jogos – por terem “vigilância” da família – é combatida. “O cara casado tem uma rotina em casa dura, de acompanhar esposa, filho pequeno. Isso conspira contra o descanso”, defende Marco Aurélio Cunha, superintendente do São Paulo. Para Renato Gaúcho, que foi cortado da Copa de 1986 por fugir da concentração, o jogador brasileiro ainda não está preparado para ficar em casa. Além disso, a clausura estimularia a irmandade. “Antes de um jogo importante, o grupo tem de estar junto, no mínimo, dois dias antes”. Verdade parcial: em 2008, na concentração do São Paulo, Fábio Santos alvejou o companheiro Carlos Alberto porque o atual meia do Vasco atrasara-se na chegada a um treino pela manhã. O fato teria motivado Muricy Ramalho a antecipar uma concentração de todo o elenco. Desse modo, a noitada continuará atraindo os jogadores, cada escapada será vista como desrespeito às regras chamará a atenção da imprensa. Um sistema que desagrada a quase todos, e no qual todos sabem que têm parcela de culpa, mas não há expectativa de mudança. Julho de 2009

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ESPANHA

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as eleições presidenciais do Real Madrid em 2000, Lorenzo Sanz tinha tudo para ser reeleito. Afinal, poucas semanas antes, ele acabara de conquistar a segunda Liga dos Campeões sob sua gestão. O madridismo, porém, funciona com uma lógica diferente. Para os quase 90 mil sócios do clube que decidem seu futuro, não basta apenas vencer. É preciso impressionar. A chegada ao poder de Florentino Pérez marcou, de uma vez por todas, essa teoria. O bem sucedido empresário espanhol assumiu pela primeira vez o Real com o discurso que seus torcedores queriam, e uma simples

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promessa: contratar Luis Figo, o jogador mais espetacular do rival Barcelona. Para quem estava de fora, parecia apenas uma bravata, destinada a morrer no dia seguinte à derrota eleitoral. Pérez, entretanto, se elegeu – e contratou Figo. Conseguiu, nos primeiros anos, zerar a dívida do clube e levar os mais caros jogadores do mundo a Madrid. Foram os primeiros Galácticos. Agora, nove anos depois, ele está de volta, após ter renunciado em 2006, sucumbindo à inglória missão de não apenas dar espetáculo, mas vencer também. Retorna ao cargo como salvador, sob a esperança de que os tempos blancos gloriosos voltarão. E que a décima Liga dos Campeões será levada para a sala de troféus do Santiago Bernabéu.

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por Gustavo Hofman

novos Galácticos

Pierre-Philippe Marcou/AFP

Após anunciar sua candidatura para as eleições de junho, Florentino Pérez sabia, desde o início, que não teria adversários. Ramón Calderón teve que deixar a presidência do Real acusado de manipulação na aprovação de contas do clube na última temporada. Sua gestão estava totalmente comprometida, e poucas pessoas seriam capazes de assumir o cargo com total apoio dos sócios e diretores. Logo de cara, Florentino protagonizou as duas maiores contratações da temporada. Tirou Kaká do Milan por € 65 milhões e convenceu o Manchester United a liberar Cristiano Ronaldo por exorbitantes € 94 milhões. Os valores astronômicos, em tempos de crise financeira mundial, renderam críticas. “Não me parece correto, por mais que eu entenda a transcendência social do futebol”, admite o PrimeiroMinistro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero. O que deixou muita gente com a pulga atrás da orelha foi o fato de o Real Madrid ter dívidas que beiram a casa dos

€ 200 milhões, e mesmo assim seguir gastando. Florentino, formado em engenharia civil, é um homem de negócios. Ele assumiu a ACS (Actividades de Construcción e Servicios) quase falida nos anos 80 e transformou a empresa na maior do ramo de engenharia e construção da Espanha. Oriundo do meio político (teve cargos na prefeitura), o empresário sempre teve boas relações com pessoas influentes. Na sua primeira gestão no Real, fez o negócio do século para o clube. A dívida em 2000 era de € 270 milhões. Para saná-la e ainda ter verbas para contratações, Florentino conseguiu a aprovação do uso do terreno onde estava instalada La Ciudad Deportiva, o CT da equipe, para uso comercial. Fez que o valor do terreno disparasse e fosse vendido para a iniciativa privada por € 480 milhões. Até hoje a prefeitura de Madrid é acusada de favorecer o Real nessa história. Foi com esse dinheiro que tirou Luís Figo do Barcelona por € 60 milhões. Agora, Florentino não tem mais terrenos para vender, mas tem que trabalhar com uma enorme dívida

pR pRinciPaiS ConTrataÇõeS de fLoReNTino enTRe 2000 e 2006 fL Jogador Jo

Origem

Ano

Luis Figo Lu

Barcelona

2000

60

Flávio Conceição Flá

Deportivo

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25

Claude Makélélé Cla

Celta

2000

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Pedro Munitis Pe

Racing

2000

10,5

César Cé

Valladolid

2000

6,5

Santiago Solari Sa

Atlético de Madrid

2000

3,5

Zinedine Zidane Zin

Juventus

2001

73,5

Ronaldo Ro

Internazionale 2002

David Beckham Da

Manchester United

2003

37,5

Walter Samuel Wa

Roma

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23

Jonathan Woodgate Jo

Newcastle

2004

18,3

Michael Owen Mi

Liverpool

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Thomas Gravesen Th

Everton

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3,4

Sergio Ramos Se

Sevilla

2005

27,5

Robinho Ro

Santos

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Júlio Baptista Jú

Sevilla

2005

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Carlos Diogo Ca

River Plate

2005

5

Pablo García Pa

Osasuna

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Antonio Cassano An

Roma

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Cicinho Cic

São Paulo

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Valor

(€ milhões)

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novamente. A solução encontrada foi apelar a seus tre os jogadores, tanto que o presidente optou peótimos contatos. Para concorrer nas eleições madridisla renúncia por não ver condições de reorganizar tas, conseguiu uma carta de fiança bancária de € 60 tudo aquilo. milhões de La Caixa – curiosamente, um banco cata“Está claro que a intenção do Florentino é reeditar lão. Já eleito, bateu na porta de outras duas instituia equipe galáctica. Ele acredita que seu método funções financeiras do país: Caja Madrid e Santander. ciona e dá rentabilidade. O que os torcedores do Real Do primeiro voltou com um empréstimo na forma Madrid esperam é que ele tenha aprendido a lição do de linha de crédito de até € 76,6 milhões, aprovada passado. Tenho a impressão que alguns erros serão pelo conselho do banco e garantida pelos direitos de repetidos”, diz Aldunate. “Gostei muito da contraTV do Real – aproximadamente € 140 milhões por tação do Kaká, pela sua personalidade e por ser um ano. Da segunda instituição financeira retornou com jogador que tem uma vida extradesportiva que não a liberação imediata de € 75 milhões e uma linha de afeta seu rendimento dentro de campo. Já Cristiano crédito aberta e já aprovada de outros € 75 milhões. Ronaldo pode pôr tudo a perder”, completa. Elena Salgado, ministra da Economia e da Na época dos primeiros Galácticos, ficou famosa Fazenda da Espanha, se disse surpreendida com os uma expressão, dita por Florentino em uma entreempréstimos, mas não escandalizada. Lembrou, no vista, que definia bem a política de contratações: entanto, que muitas famílias espanholas também “Zidanes y Pavones”. Em 2001, quando o francês precisam de ajuda. “Pediria chegou ao clube, foram prosimplesmente aos bancos que movidos alguns jogadores da fizessem um esforço por elas cantera madridista. Entre eles também”, criticou. um esforçado zagueiro, chaO ciclo de contratações, ao mado Francisco Pavón. Ele se Não são apenas os rios de dinheiro gastos por que parece, não deve parar tornou o símbolo dos defenFlorentino Pérez que atraem os principais jogadores em Kaká e Cristiano Ronaldo, sores do clube, já que nunca do mundo ao Real Madrid. E sim a possibilidade deles mas Jorge Valdano, novo dialguém de peso era contratafaturarem muito mais no país do que em outras nações. retor de futebol do clube, vido para o setor. Um estudo da consultoria Ernst & Young comparou os custos tributários da Alemanha, Espanha, França, nha, até o fechamento desta Alguns brasileiros que fizeHolanda, Itália e Reino Unido e apontou os espanhóis edição enfrentando probleram parte da primeira admicom as menores taxas. mas nas negociações. David nistração de Florentino conVilla, do Valencia, já era dado tam como ele é próximo a Existe um regime especial no país, desde 2004, como certo, mas os Ches retodos. “Quando o Florentino que ficou conhecido como “Lei Beckham”, porque sua cuaram nos valores acertados saiu, foi mais por ser muito criação coincidiu com a chegada do jogador inglês. Ele permite abonos a pessoas que se mudem para território e subiram a pedida. O Bayern amigo dos jogadores. Nós não espanhol por motivos de trabalho, não tenham qualquer de Munique não conversa soqueríamos que ele saísse, mas rendimento no país nos dez anos anteriores bre Franck Ribéry por valores ele achou que tinha que deie que seu emprego seja realizado na Espanha. baixos. E assim segue. xar o cargo porque não con“Florentino é uma pessoa seguia mais cobrar de nós. Assim, os tributos sobre os rendimentos dos jogadores que levanta muitas paixões e Achava que isso estava atraficam em apenas 24%, taxa que pode ser cobrada por estou certo que aqui mesmo palhando o grupo, mas não no máximo seis anos. Como base de comparação, um cidadão espanhol comum paga impostos que chegam na redação vai encontrar pesestava. Foi uma decisão erraa até 43% de seu rendimento, valor similar ao dos soas que pensam diferente de da na minha opinião”, conta outros países pesquisados pela Ernst & Young. mim. Ele é capaz de revitaCicinho, hoje na Roma. Isso implica, também, em maiores gastos para os clubes, lizar o clube economicamen“Aquele time só tinha granque são obrigados a arcar muito mais com os te e esportivamente, além de des jogadores, todos excelencontratos dos atletas, normalmente acostumados encantar o torcedor madridistes. Pode ter certeza: todos a receberem o valor acertado livre de impostos. ta”, afirma Ramiro Aldunate, jogavam com prazer, sabiam jornalista do diário Marca. que estavam participando de uma grande história no Real Valor gasto por um clube de cada país CoN fLiT o de eGos Madrid. Não era nada compara pagar um salário líquido anual de € 2 milhões a um jogador estrangeiro Tantas estrelas juntas geram, plicado, pelo contrário. Era invariavelmente, uma dispucomplicado para os adversáEspanha € 2,68 milhões ta de egos. Esse foi, abertarios (risos)”, lembra Roberto Holanda € 3,13 milhões mente falando, o maior proCarlos, que atualmente deblema dos primeiros Galácfende o Fenerbahçe. Alemanha € 3,6 milhões ticos do Real Madrid. Nos O lateral-esquerdo, incluInglaterra € 3,8 milhões últimos três anos da gestão sive, teve seu retorno ao cluItália € 3,97 milhões Florentino Pérez, quando be cogitado pelo presidente. França € 5,43 milhões nenhum título foi conquis“Minha relação com ele era Fonte Ernst & Young tado, o clima era terrível enexcelente e ainda continua.

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Nacho Doce/Reuters

€ 13 miLhõeS

Tenho certeza que o Florentino é Em outra passagem, Carlin o melhor para o Real Madrid. Ele conta sobre o primeiro enconvai reconstruir o time, vai colocar tro de Florentino Pérez com de novo em seu lugar de destaRoman Abramovich, ocorrido em Valor do salário que Cristiano Ronaldo que no futebol mundial”, afirma Munique, em 2003, às vésperas receberá por ano: o maior do mundo, o brasileiro. “Gostaria de encerrar do embate entre Real e Bayern, a carreira no Real Madrid. Mas se pelas oitavas de final da LC de superando os € 12 milhões recebidos isso não acontecer, até porque o 2003/04. “Foi um encontro estrapor Ibrahimovic na Internazionale clube pode ter outras prioridades, nho. Pérez e o homem que queria e o dobro de Raúl no Real não vou ficar frustrado. Minha ser Pérez. (...) Todas as vezes que história no clube já está escrita surgia um boato de que algum jocom muitas conquistas”. gador do Real estaria deixando o Já Cicinho é mais comedido nas palavras. “Primeiro time, o primeiro pensamento de todo mundo no futeele tem que cuidar do vestiário, e tenho certeza que bol era Abramovich. o Florentino sabe como lá é difícil. Há muito ciúme Carlin vai além. “Pérez guardava para si seus penentre os jogadores. Com certeza isso vai acontecer samentos sobre Abramovich, embora fosse difícil fude novo com as chegadas do Kaká e do Cristiano gir à conclusão de que deve tê-lo considerado um feRonaldo. No meu tempo, tudo que conversávamos delho bastante incômodo. Primeiro, porque cobiçava nas reuniões internas saía para a imprensa. Era os jogadores de Pérez e tinha a presunção – como muito complicado”, se lembra o lateral-direito. presidente de um clube cujo primeiro e último título de campeonato inglês tinha sido em 1955 – de nos ba StidoReS se considerar um sério rival. Segundo, porque, em Uma das pessoas que melhor conheceu Florentino termos financeiros de fato era um sério rival, uma Pérez nos seis anos de sua primeira gestão no Real ameaça potencial ao projeto de Pérez. Finalmente, Madrid foi o jornalista John Carlin. Ele é autor do porque parecia absurdamente inexperiente para uma livro “Anjos Brancos”, que conta os bastidores do pessoa com seu poder e sua riqueza”. clube nesse tempo. O inglês esteve próximo ao máFlorentino Pérez está de volta ao Real Madrid. A ximo mandatário blanco em diversas oportunidades. ilusão, o sonho, retornou às mentes dos torcedores Procurado pela Trivela, ele afirmou que tudo que pomadridistas. A antipatia dos outros dirigentes tamde dizer sobre Florentino está escrito em seu livro. bém. Resta saber se os erros do passado serão re“Viajei com ele para jogos do Real Madrid fora petidos. Florentino, sem dúvida alguma, como bem de casa, fui com ele a cerimônias oficiais, sentei-me descreveu o jornalista do Marca, é uma figura que com ele em bares e restaurantes. Ele exsudava poder desperta paixões – para o bem ou para o mal. daquela forma que fazem as pessoas que realmente o Uma nova versão dos Galácticos está em formação. têm”, conta o jornalista, em trecho retirado da obra. O sucesso dela, porém, será a grande interrogação a “Fora de casa, ele sempre veste terno cinza e camisa ser respondida nos próximos meses – e anos. azul. Provavelmente também veste terno cinza e caSaiba mais sobre futebol espanhol em www.trivela.com/espanha misa azul dentro de casa”. Julho de 2009

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NEGÓCIOS

por Leonardo Bertozzi

Venda de Kaká para equilibrar contas no Milan evidencia necessidade do futebol italiano de se modernizar e gerar receitas para competir com outras ligas de ponta stádios obsoletos, pequena variedade de fontes de receita, dívidas a quitar, necessidade de vender jogadores para fechar a conta no fim do ano. Como consequência, fuga de talentos e queda no nível técnico do campeonato. A história, bem conhecida do público brasileiro, agora também faz parte da realidade italiana. O argumento de que o Milan vendeu Kaká ao Real Madrid por € 68 milhões para equilibrar suas finanças pode parecer surpreendente, mas é compreensível diante do estado atual do futebol na Itália. Em tempos de crise global, os clubes bancados por empresas e empresários deixam de ser investimento prioritário, e neste momento se faz evidente a dificuldade deles em andar com as próprias pernas. Um dos estudos mais respeitados sobre o faturamento dos clubes, elaborado anualmente pela empresa de consultoria Deloitte, mostra que a principal defasagem entre clubes italianos e ingleses e espanhóis está na capacidade de transformar o dia de jogo em dinheiro. O último levantamento, publicado em fevereiro de 2009 e relativo à temporada 2007/08, mostra os quatro clubes de maior receita da Itália (Milan, Roma, Internazionale e Juventus, nesta ordem) atrás de outras sete equipes européias – duas da Espanha (Barcelona e Real Madrid), quatro

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Fuga de capital...

e de craques da Inglaterra (Manchester United, Chelsea, Arsenal e Liverpool) e o alemão Bayern de Munique. Para evitar distorções, a pesquisa não considera o faturamento proveniente das vendas de jogadores. Uma temporada de ausência na Liga dos Campeões, assim, tem efeito devastador, como aconteceu com o Milan em 2008/09. A diferença nas receitas de dia de jogo é escandalosa. Somando os valores arrecadados pelos quatro italianos em seus estádios, o total é de € 91 milhões – quase o número arrecadado pelo Barcelona, e bem distante do arrecadado pelo Manchester United, líder neste quesito, com € 128,2 milhões (ver quadro). Na Itália, são poucos os clubes com estádios próprios, limitando a

margem de manobra para exploração do espaço ou mesmo de venda do nome da arena. Para piorar, as instalações são obsoletas, e os problemas com a violência afastam vários torcedores. A Juventus, que tem um faturamento irrisório no Olímpico de Turim, deu o primeiro passo com o início da construção do novo estádio no local do antigo Delle Alpi, mas é necessário que outros sigam o exemplo. A maior parte da receita dos clubes italianos acaba por se resumir a acordos comerciais, como patrocínios de camisa, e a contratos de televisão. Por isso, muitas esperanças se depositam na criação de uma nova liga, apenas com os clubes da Serie A, e da comercialização conjunta dos direitos de transmissão, a partir de 2010.

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Onde está o dinheiro? Maicon pode deixar a Inter

Faturamento dos clubes na temporada 2007/08

Alessandro Garofalo/Reuters

(em milhões de euros)

Reformas necessárias O governo italiano se mobiliza para encontrar soluções. No fim deste ano, será publicado um estudo chamado “A competitividade do futebol italiano na Europa”, idealizado por Enrico Letta, secretáriogeral da Arel (Agência de Pesquisas e Legislação, na sigla em italiano). A ideia é identificar os pontos que podem ser explorados para oferecer novas fontes de receita aos clubes. “Não é possível que o faturamento da Premier League inglesa seja o dobro da Serie A”, argumenta Letta. “Vamos tentar aplicar metodologias econômicas ao futebol, como se estivéssemos discutindo indústria aeroespacial ou turismo”. O responsável pelo projeto considera possível dobrar o faturamento total dos clubes da primeira divi-

são italiana em um espaço de cinco anos, caso se crie um ambiente favorável. “É preciso envolver as prefeituras, derrubar os estádios no centro das cidades e construi-los fora dele com a propriedade atribuída aos clubes. Não há setor industrial que resista com uma diversificação tão pequena das receitas”. Nem toda mudança, no entanto, depende apenas dos times de futebol. A carga tributária na Itália pesa na concorrência com clubes estrangeiros, especialmente da Espanha, onde o peso dos impostos é consideravelmente menor. “Com o esquema fiscal da Espanha, o Milan teria € 42 milhões a mais em recursos”, reclama o vice-presidente rossonero Adriano Galliani. Para pagar um salário anual líquido de € 2 milhões a um atle-

Dia de jogo

TV

Marketing*

TOTAL

101

135,8

129

365,8

128,2

115,7

80,9

324,8

91,5

116,2

101,1

308,8

69,4

49,4

176,5

295,3

94,1

97,8

77

268,9

119,5

88,8

56,1

264,4

49,5

96,4

65

210,9

26,7

122,5

60,3

209,5

23,4

105,7

46,3

175,4

28,4

107,7

36,8

172,9

12,5

106,6

48,4

167,5 Fonte Deloitte

ta, um clube italiano desembolsa cerca de € 1,3 milhão a mais que um espanhol. “A alíquota de 24% para jogadores na Espanha é inferior até à brasileira, de 27,5%”, compara o advogado tributarista Francisco Cassano, professor da Universidade Mackenzie. (ver matéria na pág. 46). Letta considera necessária uma intervenção do poder público para buscar cargas uniformes na Europa: “A Itália deve promover uma harmonização das alíquotas. A Espanha hoje é um paraíso fiscal para os jogadores”. Difícil acontecer: “A carga tributária é soberana, independe de blocos como a União Europeia”, afirma Cassano. O cenário atual, se mantido, fará que cada vez mais jogadores busquem o aeroporto mais próximo, seja Malpensa ou Fiumicino. Julho de 2009

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ITÁLIA

por Leonardo Bertozzi

O homem do

chefe Bom moço, identificado com o clube, ciente dos objetivos de Berlusconi. Leonardo aceita o desafio de iniciar sua carreira de técnico no Milan, mas terá autonomia?

anúncio de que Leonardo assumiria o cargo de treinador do Milan na próxima temporada pegou muita gente de surpresa. O brasileiro não passava ao público a impressão de que pretendia se tornar técnico de futebol. Tanto que, desde que encerrou a carreira, em 2003, vinha trabalhando em funções administrativas no clube italiano. É possível que treinar um time não fosse mesmo a meta de Leonardo – mas ele, como funcionário do clube, aceitou. O nome do ex-lateral para substituir Carlo Ancelotti não era o preferido da diretoria, mas do dono do clube, Silvio Berlusconi. E não é segredo como as coisas funcionam no Milan: a última palavra é de quem paga a conta. Berlusconi está, oficialmente, afastado da presidência milanista por incompatibilidade com seu cargo de primeiro-

Divulgação

O

ministro da Itália. Um distanciamento apenas figurativo, já que sua participação no cotidiano do clube se mantém a mesma. Mais do que isso, ele gosta de dar palpites no trabalho do treinador, algo que acelerou a saída de Ancelotti, que tinha contrato até 2010. Um dos principais motivos de críticas do dirigente ao técnico foi a (pouca) utilização de Ronaldinho, apresentado como principal reforço da equipe na temporada passada. O brasileiro foi colocado na reserva durante toda a segunda parte do Campeonato Italiano, o que levou o “capo” a dizer para quem quisesse ouvir que o técnico estava abrindo mão de jogadores habilidosos no time. O nome de Ronaldinho voltou a ser colocado em pauta na época do anúncio da venda de Kaká para o Real Madrid. Berlusconi foi a público afirmar que o ex-barcelonista teria um papel funda-

mental na equipe a partir da próxima temporada, assumindo o vazio deixado pelo compatriota. É inevitável, diante deste cenário, questionar qual será o grau de autonomia de Leonardo no comando da equipe. Vale lembrar que praticamente toda a comissão técnica dos tempos de Ancelotti foi mantida, incluindo o auxiliar Mauro Tassotti, braço-direito do antigo treinador. Ancelotti era frequentemente descrito na imprensa italiana como “aziendalista”, termo usado para descrever um funcionário disposto a “dançar conforme a música” na empresa em que trabalha, evitando polêmicas e repetindo o discurso dos chefes. Sua postura não se alterava mesmo quando Berlusconi o criticava publicamente. De Leonardo, cuja imagem é a de uma pessoa avessa ao confronto, é possível esperar algo semelhante. Nos bastidores do Milan, o brasileiro conquistou respeito pela facilidade com que se inseriu no clube e, principalmente, por ter intermediado contratações importantes como a de Kaká, em 2003, e, mais recentemente, a de Pato, quatro anos depois. A opção pelo brasileiro se apoia, de certa forma, no passado rossonero. Em seus primeiros anos após assumir o controle do Milan, em 1986, Berlusconi apostou em Arrigo Sacchi e Fabio Capello, ambos sem experiência prévia como técnicos na Serie A e os resultados apareceram, com títulos italianos e europeus. Além disso, o sucesso de Josep Guardiola no Barcelona em uma situação semelhante ajudou a criar uma tendên-

1969

1987

1990

1991

1993

Nasce em Niterói-RJ

Estreia no Flamengo. Faz parte da equipe campeã da Copa União

Após conquistar a Copa do Brasil pelo RubroNegro, é negociado com o São Paulo

Transferese para o Valencia, onde fica por duas temporadas

De volta ao São Paulo, ajuda o time a conquistar a Supercopa e o Mundial Interclubes contra o Milan

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2009 Nomeado novo técnico do Milan, em substituição a Carlo Ancelotti

2007 Passa a trabalhar como diretor-técnico do Milan

2006 Comenta a Copa do Mundo da Alemanha para a BBC inglesa

Giuseppe Cacace/AFP

2003 Depois de disputar apenas uma partida na temporada, encerra a carreira de jogador e passa a fazer parte da diretoria do Milan, inicialmente como responsável pela Fundação gerida pelo clube. Tem papel importante na contratação de Kaká

Leonardo é cumprimentado por Adriano Galliani em sua apresentação no Milan

2002 cia de ex-jogadores lançados em grandes clubes como treinadores. Na Itália, o Milan não foi o único – a Juventus escolheu Ciro Ferrara para substituir Claudio Ranieri. Outra teoria para a escolha de Leonardo é a da economia: se a necessidade de equilibrar o balanço do clube foi usada como justificativa para a venda de Kaká, é plausível acreditar que o brasileiro foi escolhido por ser “barato” em comparação a técnicos de mais nome. A recepção do elenco a Leonardo não deve ser hostil, apesar de muitos terem declarado apoio a Ancelotti. Fontes ligadas ao clube afirmam que ele sempre te-

Volta ao Flamengo, mas a experiência dura poucos meses. No mesmo ano, decide aceitar um convite do Milan para voltar ao clube

ve bom trânsito no vestiário rossonero. O principal ponto de interrogação sobre o novo técnico milanista é sua capacidade tática. Na entrevista coletiva de apresentação, ele se disse adepto do futebol vistoso e se referiu à Seleção Brasileira de 1982 como exemplo, mas admitiu que é impossível jogar daquela forma nos dias de hoje. Somente a partir de agosto será possível descobrir se o Milan de Leonardo conseguirá satisfazer os anseios de Berlusconi e ainda conquistar títulos.

2001 Após duas temporadas marcadas por lesões no Milan, retorna ao São Paulo. Faz sua última partida pela Seleção, contra o Paraguai, pelas Eliminatórias da Copa

Saiba mais sobre futebol italiano em www.trivela.com/italia

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o f an St e

Faz parte da Seleção vice-campeã mundial na França, participando dos sete jogos

eut

1998

Acerta sua transferência para o Milan. Com o Brasil, vence a Copa América e a Copa das Confederações

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1997

Volta à Europa para defender o Paris SaintGermain, que chega à final da Recopa e perde para o Barcelona de Ronaldo

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1996

Chega à Copa do Mundo como titular da Seleção, mas é suspenso por quatro jogos após uma cotovelada no norteamericano Tab Ramos. Logo depois do Mundial, transfere-se para o Kashima Antlers, do Japão

lan R el

1994

er s

1999 É um dos protagonistas do título italiano do Milan, terminando o campeonato com 12 gols em 27 jogos, atuando como segundo atacante. No Brasil, inaugura, em parceria com Raí, a Fundação Gol de Letra

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MAGIK

SOCCER O mundo do futebol olhou para o sul da Califórnia quando Beckham assinou com o LA Galaxy. Mas, acredite, havia muito mais coisa acontecendo do que apenas a chegada do craque inglês

por Ubiratan Leal

CAPITAIS DO FUTEBOL » LOS ANGELES (EUA)

BLOOD

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s críticos de Beckham estavam de barriga cheia. Ao se transferir ao Los Angeles Galaxy, o jogador, visto por muitos apenas como um marketeiro boa-pinta tecnicamente mediano, encontrava sua casa. Na Califórnia, ele não precisaria ser um craque para se destacar dentro de campo. Fora dele, teria todo o ambiente de Hollywood, Beverly Hills, Disneylândia, Malibu e afins para exercer sua vocação de popstar. Exagero, claro. O meia inglês está longe de ser um jogador comum

O

(tanto que teve boas atuações depois de chegar ao Milan) e a segunda maior cidade dos Estados Unidos não chega a ser completamente irrelevante futebolisticamente. Claro que, em termos de glamour, o lado boleiro dos angelinos não se compara ao cinematográfico. Mas dá para afirmar, com boa margem de convicção, que LA é a cidade norte-americana que viveu o futebol mais intensamente desde a criação da Major League Soccer, em 1996. Tanto que é a única a ter duas equipes (além do Galaxy, há o

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Galaxy e Chivas USA protagonizam o primeiro dérbi da MLS

OS TIMES DA CASA

Victor Decolongon/Getty Images/AFP

SUGAR Chivas USA, versão estadunidense das Chivas de Guadalajara), servindo de palco para a primeira rivalidade citadina da liga. Precisa de mais provas? Das oito maiores médias de público da história da liga, sete são do LA Galaxy (o Seattle Sounders deve se enfiar na lista neste ano, sua temporada de estreia). Os números são bons até para os padrões brasileiros. Em 2008, o clube californiano levou 26.009 torcedores em média. Apenas Flamengo e Grêmio tiveram melhor índice na última Série A.

Enquanto isso, o Chivas USA levou 15.114 seguidores (mais que Vasco, Botafogo e Santos), patamar razoável para um time com nicho muito específico: mais que uma equipe para mexicanos, é uma equipe para mexicanos que torcem ou têm simpatia pela versão original do clube. A vocação futebolística de Los Angeles se viu desde o início da MLS. Com uma população hispânica quase tão grande quanto a anglo-saxã, não foi difícil os angelinos entenderem o espírito do esporte. Em seus primeiros anos, os torcedores do Galaxy já criaram uma rivalidade com o San Jose Clash (atual San Jose Earthquakes), aproveitando as disputas históricas entre LA e San Francisco. Nos dois anos em que o Earthquakes esteve fora da liga, surgiu o Chivas USA e criou-se, de fato, o primeiro grande dérbi local do Campeonato Norte-Americano. O encontro foi batizado de “El Clásico Angelino”. Para tirar proveito comercial dessa rivalidade, a Honda passou a patrocinar o duelo, hoje chamado oficialmente de “Honda SuperClásico”. O ódio mútuo cresceu rapidamente. Comercialmente, o Galaxy é “vendido” como se fosse um clube para os anglo-saxões, enquanto que o Chivas USA seria a equipe dos hispânicos. Tanto que o símbo-

lo do LA é o meia-atacante Landon Donovan, conhecido por falar espanhol fluente – e utilizá-lo principalmente para provocar times e jogadores mexicanos. Essa divisão étnica faz parte do estereótipo de como seria a relação entre os times angelinos, mas não pode ser tomada como definitiva. Cerca de metade do público dos Galaxians é de latinos, muitos deles não-mexicanos ou mexicanos que torcem para Cruz Azul, América, Pumas ou Atlas em seu país. Com mais seguidores, tradição e estrutura, o Galaxy domina o SuperClásico: nove vitórias, cinco empates e três derrotas.

É tetra! É tetra! Por mais que a ligação de Los Angeles com a MLS seja grande, o futebol da cidade está muito longe de se limitar a isso. Na década de 1970, a cidade também entrou na onda da NASL (veja reportagem na página 58) e teve um time com algumas estrelas. Não chegava ao nível do New York Cosmos, que teve Pelé, Beckenbauer e Carlos Alberto. Mas o Los Angeles Aztecs não tinha muito do que reclamar. A equipe laranja foi campeã logo em seu primeiro ano, 1974. Depois, viu seu crescimento de marketing contrastar com a queda de rendimento em campo. Os Aztecs

Major League Soccer (primeira divisão)

Los Angeles Galaxy 1 Copa dos Campeões da Concacaf 2 Campeonatos Norte-Americanos 2 US Open Cup

Club Deportivo Chivas USA

Premier Development League (quarta divisão) Lancaster Rattlers

Orange County Blue Stars

Los Angeles Legends Football Club

Southern California Seahorses

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chegaram a ter Elton John como acionista, o técnico Rinus Michels e jogadores como Johann Cruyff e George Best. Os californianos foram apelidados de “O Cosmos do Oeste”, mas não conseguiram nada melhor que uma final de conferência (equivalente às semifinais) entre 1975 e 1981. A torcida não se empolgava e a melhor média de público foi 14.334, em 1979. Foi um raro momento de coadjuvação de LA no cenário futebolístico norte-americano. Em 1994, a maior cidade da Califórnia foi escolhida para receber a final da Copa do Mundo. Com isso, entrou na história do esporte brasileiro ao ser o palco do quarto título mundial, conquistado nos pênaltis sobre a Itália diante de 94.194 torcedores. No futebol feminino, a cidade ca-

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ESTADOS UNIDOS

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Cidade o

3.849.378 habitantes (12.923.547 na região metropolitana)

AS CASAS D DOS TIMES Fotos Divulgação

3 The Home Depot Center Foi inaugurado em 2002 como o pprimeiro estádio específico para futebol em Los Angeles. Hoje, é a grande casa do esporte nos Estados Unidos. Nem tanto ppelo tamanho (tem 27.000 arena da cidade de Carson é lugares), mas pela importância. A ar Sol, time de futebol feminino casa do Galaxy e do Los Angeles Sol Chivas USA e a seleção norteonde atua Marta. Além disso, o Chiv jogos no local, que recebeu o americana também mandam jog Mundial feminino de 2003.

1 Rose Bowl O estádio da prefeitura de Pasadena tem capacidade para 92.542 torcedores e é usado principalmente pelo futebol americano universitário. No futebol, o Rose Bowl foi casa do finado Los Angeles Aztecs e do Galaxy em seus primeiros anos. Além disso, o local recebeu a final dos Jogos Olímpicos de 1984 e da Copa uma década depois. Como também abrigou a decisão da Copa do Mundo feminina, em 1999, o Rose Bowl é um dos únicos estádios do planeta a abrigar a final do Mundial masculino e feminino.

2 Los Angeles Memorial Coliseum Com capacidade para 93.607 pessoas, é o maior estádio da Califórnia. Ficou conhecido por receber os Jogos Olímpicos em 1932 e 84, além de ser a casa de times de futebol americano. Mesmo assim, ainda é usado em partidas de futebol com grande expectativa de público, como a final da Copa Ouro de 1991.

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4 Murdock Localizado em Torrance, conta com apenas 12.127 lugares e está quase esquecido. No futebol, foi a casa da seleção norte-americana e do Los Angeles Aztecs nos períodos de baixa da NASL. Hoje, é usado principalmente pelo time de futebol americano da faculdade El Camino.

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Fotos Divulgação

ALÉM DO JOGO

r Disneyland Park Mickey e sua turma já estiveram mais em alta no Brasil, mas ainda têm grande apelo entre a garotada. O destino mais procurado é a Disney World, na Flórida, mas o parque original está em Anaheim, na Grande Los Angeles. Quem estiver no Sul da Califórnia e gostar de parques temáticos também deve procurar o Universal Studios, em Hollywood.

u Santa Mônica t Beverly Hills

e Hollywood Boulevard Por sua ligação com o cinema, o distrito de Hollywood é obrigatório para qualquer turista em Los Angeles. O centro desse passeio é o Hollywood Boulevard, avenida que concentra ícones como o Teatro Chinês, o Ripley’s Believe It or Not Museum (museu do “Acredite Se Quiser”), o Teatro Kodak (onde é realizada a entrega do Oscar), a Calçada da Fama e o museu de cera. Nos arredores, é possível visitar os bairros armênio e tailandês, o Pinky’s (um dos cachorros quentes mais famosos dos Estados Unidos) e, claro, alguns dos principais estúdios de cinema.

liforniana é ainda mais relevante. Pode-se dizer que é uma Meca da modalidade. LA recebeu duas finais da Copa do Mundo para mulheres, um recorde. Em 1999, os Estados Unidos conquistaram o seu segundo título ao vencer a China por 5 a 4 nos pênaltis depois de 0 a 0 em 120 minutos. Quatro anos depois, a Alemanha levou seu primeiro Mundial ao fazer 2 a 1 na Suécia. Somando essas duas partidas com a Copa de 1994 masculina, LA é a única cidade do mundo a receber a final de três Mundiais de seleções adultas. Além disso, é, ao lado de Estocolmo, uma das únicas a ter sido sede de decisões de Copas para homens e mulheres.

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Apesar de estar no meio de Los Angeles, Beverly Hills é um município independente. Famoso por sua sofisticação, é muito procurado por quem quer dar uma olhada nas lojas de grife da Rodeo Drive e, principalmente, ver – do lado de fora do portão, claro – casas de diversas estrelas do cinema norte-americano.

Atualmente, a força do futebol feminino da metrópole está representada pelo Los Angeles Sol. O time conta com a brasileira Marta – a melhor jogadora do mundo nos últimos três anos – e, até o fechamento desta edição, liderava com folga a fase de classificação da WPS, liga profissional de futebol feminino criada neste ano. Para um país que, em geral, ainda trata o futebol com desconfiança diante de seus esportes mais tradicionais, estar ligado a tantos eventos e craques é um claro sinal de que os angelinos encontraram espaço para o futebol no seu dia-a-dia. O crescimento de uma rivalidade local é a maior prova

Na Baía de Santa Mônica, os angelinos mostram sua íntima relação com a praia. Na cidade de Santa Mônica, a Third Street Promenade virou ícone entre locais e turistas devido à grande quantidade de lojas. Um pouco mais ao sul, Venice Beach se notabiliza pela prática de esportes na orla e por abrigar a casa de diversas celebridades (algo comum também em Malibu, ao norte da baía).

i Downtown Centro histórico e econômico de Los Angeles, é facilmente identificável pelos arranha-céus (raros na cidade). Vale visitar os bairros de comunidades importantes como chinesa, japonesa e mexicana, casas de espetáculos (como o Walt Disney Concert Hall), arenas esportivas (Staples Center e Dodger Stadium) e o Moca (Museu de Arte Contemporânea).

disso. Assim, não é de se estranhar que, se um time dos Estados Unidos teve dinheiro e coragem para apostar na contratação de David Beckham, ele seria de Los Angeles. Independentemente de a cidade também ter Hollywood, Beverly Hills, Disney e Malibu.

QUEM QU EM LEVA L LEV EVA EV A Há várias opções de voos para Los Angeles, por companhias aéreas brasileiras, norte-americanas, ou latino-americanas. Dentre elas, TAM (www.tam.com.br), Continental (www. continental.com), Delta (www.delta.com) e American Airlines (www.aa.com), United Airlines (www.united.com) e Copa Airlines (www.copaair.com). Também é possível pegar voos para outras cidades dos Estados Unidos e fazer conexão com alguma uma companhia regional.

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HISTÓRIA

por Ubiratan Leal

REIS

Quando éramos

Alguns dos maiores craques do futebol mundial já estiveram em ação nos Estados Unidos, em uma liga que cresceu tanto e tão rápido que ruiu

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Action Imges

O sucesso do Cosmos motivou outros empresários a colocar suas economias na NASL. Times como Seattle Sounders, Los Angeles Aztecs, Washington Diplomats e Fort Launderdale Strikers contrataram craques de nível mundial, como Cruyff, Cubillas, Hurst, Best, Gerd Müller, Figueroa e Banks. Seria a NBA do futebol? Uma Copa do Mundo disputada por clubes? Nada disso. Era o início do fim. O NY Cosmos (que se chamou

COSMOLOGIA

A comparação das médias de público do New York Cosmos com a de toda a NASL mostra como o time nova-iorquino era uma exceção de popularidade em uma liga esvaziada 50.000

40.000

30.000

20.000

10.000 5.000 1984

1983

1982

1981

1980

1979

1978

1977

1976

1975

1974

1973

1972

1971

1970

0 1969

J

nas cinco ainda sobreviviam. Aos poucos, novos times se juntaram ao torneio. Na década de 1970, o dinheiro começou a jorrar na liga. O carrochefe era o New York Cosmos, time criado por dois irmãos turcos que convenceram o grupo Warner a bancar o time. Chegaram ícones como Carlos Alberto Torres, Beckenbauer, Neeskens e Pelé. Com mídia garantida, a média de público dos nova-iorquinos foi às alturas.

1968

amais se pode acusar os norte-americanos de não saberem fazer dinheiro. Tampouco de não terem coragem de apostar em novos negócios. Apesar de grandes ícones, como o cinema, o rock, alguns apetrechos tecnológicos e as comidas gordurosas, a vocação comercial talvez seja a maior marca estadunidense no mundo. O que não significa que não seja possível ter prejuízo nos Estados Unidos, mesmo tendo a mídia e alguns milhões de dólares ao seu lado. A dificuldade em conseguir transformar o futebol em algo lucrativo no país é um sinal disso, sobretudo porque já houve um momento em que se investiu muito nessa ideia. Foi a North American Soccer League, liga que cresceu tão rápido quanto franquias de lanchonete e ruiu tão repentinamente quanto a Bolsa de Nova York em outubro de 1929. Analisando friamente, décadas depois, percebe-se como o futebol foi uma bolha econômica como tantas outras. Havia muita gente com esperança de fazer dinheiro e, por isso, não faltava investimento. Mas a base de tudo, o consumo real, não existiu. A NASL foi criada em 1968 com a fusão da United Soccer Association com a National Professional Soccer League, duas ligas profissionais de pequeno porte. Na primeira temporada, o campeonato contou com 17 equipes. No ano seguinte, apeJulho de 2009

6/29/09 11:36:14 AM


Ano Campeão

Em 1978, Pelé acabara de se aposentar, mas NASL teve sua melhor média de público e o Cosmos foi campeão

apenas Cosmos em 1977 e 78) era um caso isolado. Na Grande Maçã, o futebol era um sucesso e atraía multidões. No resto do país, nem a presença de grandes nomes era capaz de levar pessoas aos estádios. Em seu melhor ano, a média de público foi 14.201, insuficiente para financiar clubes que contavam com jogadores tão caros no elenco. O mercado internacional também não ajudou. Adotando regras próprias, como o desempate em shootouts, impedimento válido a partir da intermediária e seis pontos por vitória (mais um a cada gol marcado em vitórias a partir de três), a liga gerou desconfiança em países mais tradicionais. Não demorou para os clubes fecharem as portas. Em 1984, a última edição da NASL teve apenas nove participantes.

Sabedoria indígena Os índios navajo, que vivem no sudoeste norte-americano, têm co-

mo uma das bases de sua cultura a valorização da memória, tanto de fatos quanto de seus antepassados. Para expressar a crença, dizem que “algo vive tanto tempo quanto a última pessoa que se lembre dele”. Desse ponto de vista, a NASL está viva. Uma das grandes críticas em cima da primeira grande liga profissional dos Estados Unidos foi a falta de um projeto para realmente implementar o futebol no país. Os jogos eram vendidos como espetáculos, sem que se pensasse em longo prazo, como montar uma estrutura de categorias de base para criar ídolos locais. No entanto, a NASL deixou fortes marcas no norte-americano. Mas o principal fenômeno ocorre com os clubes. O San Jose Clash, fundador da Major League Soccer, se transformou no Earthquakes (nome do time de San Jose na NASL) por pressão da torcida. O mes-

1968

Atlanta Chiefs

1969

Kansas City Spurs

1970

Rochester Lancers

1971

Dallas Tornado

1972

New York Cosmos

1973

Philadelphia Atoms

1974

Los Angeles Aztecs

1975

Tampa Bay Rowdies

1976

Toronto Metros-Croatia

1977

Cosmos

1978

Cosmos

1979

Vancouver Whitecaps

1980

New York Cosmos

1981

Chicago Sting

1982

New York Cosmos

1983

Tulsa Roughnecks

1984

Chicago Sting

mo ocorreu com o recém-fundado Seattle Sounders e deve ocorrer com Vancouver Whitecaps e Portland Timbers, com entrada pevista na MLS em 2011. Em todos esses casos, a torcida ainda têm os times da década de 1970 em seu imaginário e acham que revivê-los pode ajudar a dar força para a liga atual. Fica só a expectativa do retorno do New York Cosmos, até hoje o maior ícone do futebol nos Estados Unidos. O ítalo-americano Giuseppe Pinton, atual dono da marca, utiliza o nome do time para organizar academias de férias para crianças e vender produtos retrô. Ele já declarou interesse em cedê-la para um eventual retorno aos gramados, mas as negociações são duras, até porque a MLS tem receio do tamanho do Cosmos. Uma marca tão forte poderia tirar espaço dos concorrentes e, em longo prazo, implodir a liga. Sinal de que a NASL não está viva. Está vivíssima. Julho de 2009

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6/29/09 11:36:23 AM


Inglaterra estava no chão. Perder em casa para uma já classificada Croácia e não ir à Eurocopa 2008 era humilhação demais. O técnico Steve McClaren caiu e, para seu lugar, a federação inglesa precisava de um nome forte e que passasse a imagem de infalível. A resposta foi Fabio Capello, que andava sem trabalho havia seis meses depois de levar o Real Madrid ao título espanhol. O resultado foi imediato. O italiano usou de seu prestígio para montar o time. Ele tirou espaço de jogadores vistos como intocáveis por muito tempo (como Beckham e Owen), fez Rooney crescer ao ajudar na armação e conseguiu o que muitos consideravam impossível: fazer Gerrard e Lampard jogarem juntos. Uma equipe que não encanta, o que já faz parte da biografia de Capello, mas merece respeito pela solidez tática e os resultados que vem obtendo. O melhor exemplo foi no reencontro contra a Croácia. Menos de um ano depois de perder em casa para os balcânicos, a Inglaterra venceu por 4 a 1 em Zagreb. Em sete jogos pelas Eliminatórias da Copa 2010, foram sete vitórias e a vaga praticamente assegurada com três rodadas de antecedência. Se o trabalho continuar nesse ritmo, os ingleses irão à África do Sul como candidatos ao título. Sem exagero.

TÁTICA

A

Sir

DUQUE DE WEMBLEY Com seu jeitão sisudo e objetivo, Fabio Capello solucionou antigos mistérios na seleção inglesa e monta uma equipe com cara de candidata ao título na Copa 2010

por Ubiratan Leal

Fabio I,

Com Owen machucado, o treinador Sven-Göran Eriksson colocou Rooney como único atacante. Isolado, o jogador do Manchester United pouco pôde fazer

Rooney

Joe Cole

Beckham Gerrard Gerra

Lampard

Hargreaves Ashley Cole

G. Neville Terry

Ferdinand Fer

Robinson

Os ingleses tinham muita esperança no meio-campo com Beckham-LampardGerrard-Joe Cole. Na primeira fase, o setor teve problemas em conciliar marcação e criação. Com a entrada de Hargreaves, o quarteto teve mais liberdade. Funcionou parcialmente: Hargreaves foi o melhor jogador em campo, mas o quarteto continuou pálido

Inglaterra 0x0 Portugal Portugal (Copa 2006) 60

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Julho de 2009

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Ao colocar um jogador fixo na frente, como pivô, Capello liberou Rooney para se deslocar pelo ataque e tabelar com os meias, se tornando o principal jogador da equipe

Ashley Cole Gerrard Barry

Terry

Crouch

James

Eliminatórias da Copa 2010

Gerrard ficou mais solto, caindo pela esquerda e com liberdade para ajudar o ataque. Essa função se assemelha à que ele tem exercido no Liverpool e o afasta de Lampard, facilitando o trabalho de ambos

(Heskey)

Lampard

Ferdinand

Rooney

Walcott

Glenn Johnson

(Lennon)

Na falta de algum goleiro confiável, Capello recolocou o veterano David James, 39 anos, como titular. Ainda assim, não esconde que procura opções para assumir o posto até 2010. O candidato mais forte é Ben Foster, do Manchester United

Capello tem usado muito o meia-direita como elemento surpresa. Aaron Lennon ou Theo Walcott usam a velocidade para chegar bem ao ataque. Quando é preciso cadenciar mais o jogo e ganhar força na marcação, entra Beckham

Crouch

Joe Cole

Wright- Phillips

Lampard

O técnico Steve McClaren tentou colocar a Inglaterra para frente, em um 4-3-3 que se transformava em 4-5-1. Gerrard e Lampard seriam responsáveis pela armação, mas um atrapalhou o outro e o meio-campo ficou sem consistência

Gerrard

Barry

Bridge

Richards Lescott Lesc

Campbell

Carson

Inglaterra 2x3 Croácia Croácia (Elim (Elim. Euro 2008)

Com a má fase de Robinson, a aposta foi em Carson, reserva do Aston Villa. Sem ritmo de jogo, o goleiro falhou e foi decisivo – negativamente – para a derrota inglesa Julho de 2009

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6/29/09 12:30:10 PM


CULTURA

Hey there! Football Twitter também vira moda entre jogadores, treinadores e clubes e cria

L

ogo após o confronto entre Corinthians e São Paulo, pela sétima rodada do Campeonato Brasileiro, Cristian e Marcelo Oliveira deixaram o gramado machucados. Os torcedores corintianos ficaram apreensivos, já que alguns dias depois os dois teriam que entrar em campo no segundo jogo da final da Copa do Brasil, contra o Internacional.

Poucas horas depois, a notícia, em primeira mão, confirmando que as lesões não eram graves e que os dois estavam garantidos contra o Inter, foi publicada na internet. No entanto, o “furo” não foi dado por um grande jornal, e sim pelo próprio técnico Mano Menezes em seu Twitter. A nova moda da web começou a cair nas graças dos brasileiros recentemente, mas já conquistou muitos adeptos interessados em dividir informações relevantes, irrelevantes, curiosidades, piadas ou, simplesmente, levar ao pé da letra a pergunta-base do site: “what are you doing?” (o que você está fazendo?). O treinador corintiano mantém sua página atualizadíssima e já conta com mais de 330 mil seguidores. Foi eleito pelo jornal britânico Telegraph como um dos dez melhores “tuiteiros” do mundo. O fato de ele divulgar notícias exclusivas em seu Twitter gerou, na

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prática, uma nova forma de se buscar informações.

Mídia difusora O miniblog, como têm sido chamadas as páginas do Twitter, é usado como um “RSS” - ferramenta usada para acompanhar a atualização dos sites preferidos - pela imprensa, que percebeu o filão de informar muitos ao mesmo tempo. “Redes sociais como o Twitter pressupõem uma reconfiguração no conceito de notícia”, afirma Luciana Moherdaui, doutoranda na PUC-SP em Processos de Criação nas Mídias. O boom do Twitter nos Estados Unidos tem gerado diversos estudos. De acordo com pesquisa da Harvard Business School, o site – que pulou de menos de 10 milhões de visitantes em março de 2008 para 19 milhões em 12 meses – é usado como uma espécie de mídia difusora. As pessoas buscam obter informações, e não alimentar. “Eu, pessoalmente, só sigo pessoas. Acho que, se seguir esses veículos, aquilo lá vai entupir”, diz Maurício Stycer, jornalista do IG e que também tem seu Twitter. Já Lédio Carmona, comentarista do Sportv, defende exatamente o contrário. “O que mais faço no Twitter é o RSS de todos os veículos que me interessam. É melhor isso do que saber que fulano está indo escovar os dentes”, ironiza.

Esporte na rede Nos Estados Unidos, os esportistas já são antigos usuários do Twitter. Dois jogadores da NBA, Shaquille O’Neal, do Cleveland Cavaliers, e Charlie Villanueva, do Milwaukee Bucks, costumam atualizar suas páginas no intervalo das partidas, escrevendo sobre as orientações dos treinadores. O primeiro foi incentivado pelo técnico. O segundo, punido, sob a desculpa que isso atrapalhava a concentração. Já no Brasil, são poucos os que se aventuram. O goleiro reserva do Palmeiras, Bruno, foi um dos solitários futebolistas a entrar na rede tuitera. Ele alterna mensagens do time com detalhes pessoais, como suas bandas preferidas. O departamento de comunicação do São Paulo também não ficou atrás, e criou um perfil que visa manter os torcedores do Tricolor antenados. Outros times ainda não aderiram, mas muitos têm páginas criadas pelos próprios torcedores. “Não adianta ter o perfil no Twitter. O importante é saber usar a ferramenta. E a maioria dos personagens do esporte ainda não entendeu isso”, diz Carmona. “Acho que no caso de jogadores e técnicos, o meio alcança dois públicos: o fã e o interessado em informar, ou seja, o jornalista. O cara pode fazer o perfil só para o fã, mas serve co-

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por Mayra Siqueira

is using Twitter situações inusitadas, como “furos” dados pelos protagonistas do esporte

mo fonte de informação e de pauta para nós”, defende Stycer. Perfis falsos, porém, não faltam. Há desde os que pretendem ser verdadeiros, como os que têm a aberta intenção de apenas divertir ou denegrir, como as contas “piratas” de Rogério Ceni, Richarlyson e Muricy Ramalho. O Twitter prometeu resolver o problema em breve, com a criação de um selo de autenticidade para os usuários.

O que é o Twitter? É um serviço de troca de mensagens via internet, em que se pode utilizar, no máximo, 140 caracteres. A ideia é trocar informações pessoais ou notícias, que podem até ser publicadas pelo celular. Para tanto, o “tuiteiro” acompanha os perfis de seu interesse, recebendo em sua página cada publicação dos outros usuários. Ao mesmo tempo, é seguido por quem quiser receber suas “tuitadas”.

O futebol na “tuitosfera”

Twitter ao vivo? Cada lampejo de ideia pode ser rapidamente dividido com centenas de pessoas em segundos, seja ele em campo, em casa ou qualquer lugar com acesso à internet. O que abriria a possibilidade de se fazer uma transmissão ao vivo, por exemplo. O site, porém, não a sustentaria. Há um número limite de atualizações diárias e a transmissão viraria uma bagunça misturada com os comentários alheios. “Claro que o Twitter não tem fôlego para coberturas ao vivo. Mas é possível fazer coberturas em rede como, por exemplo, com várias pessoas em um evento postando notas”, sustenta Luciana. No momento, o Twitter pode ser considerado uma grande bolha da internet. Ainda não dá para saber se será duradoura. Enquanto isso, os tuiteiros de plantão espalhamse pelo mundo.

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@brunoccardoso

@fredgol9

@manomenezes

@vluxemburgo

@comunicacaospfc

@sigabahia (não oficial)

Siga a Trivela

@trivelafutebol

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EXTRACAMPO

Andrew Yates/AFP

West Ham e Manchester United terão novos patrocinadores, mesmo com a crise

Boas novas (por enquanto) estouro da crise econômica mundial se aproxima de seu primeiro aniversário e os efeitos ainda são sentidos. No entanto, o futebol inglês tem motivos para otimismo. Ainda que sejam acontecimentos isolados, algumas boas notícias de mercado ocuparam o noticiário futebolístico do país ao fim da temporada 2008/09. O fato mais chamativo foi o anúncio do novo contrato de patrocínio do Manchester United, o maior do mundo. O grupo financeiro norte-americano AON fechou um acordo por quatro anos com a equipe, e estampará sua marca no uniforme dos Red Devils por € 23,25 milhões por temporada. A seguradora AIG, que entrou em grave dificuldade financeira devido à crise econômica mundial, pagava € 14 milhões pelo mesmo período. Com isso, os ingleses deixam para trás o Bayern de Munique, que tinha o maior patrocínio do futebol mundial (€ 19,82 milhões por temporada da empresa de telefonia T-Home). Outro clube que comemora os movimentos de mercado é o West Ham. Os londrinos foram comprados pelo banco de investimentos CB Holding. A empresa pagou € 115 milhões a Bjogolfur Gudmundsson, banqueiro islandês que pagou € 95 milhões pelo clube em 2006, mas perdeu cerca de € 260 milhões com a nacionalização do Ladisbank, do qual detinha 41% das ações. Quem tem motivo para preocupação é o torcedor do Liverpool. O clube anunciou prejuízo de € 49 milhões na temporada. De qualquer modo, há um lado positivo. Os Reds tiveram lucro bruto de € 11 milhões e o resultado negativo se deve apenas ao pagamento de juros de empréstimos contraídos por Tom Hicks e George Gillett ao comprar o time. Apesar de alguns sinais para otimismo, ainda levará um tempo para se saber qual o impacto da crise no futebol inglês. Em junho, a consultoria Deloitte divulgou relatório sobre a temporada 2007/08. A Premier League teve aumento de 26% nas receitas, mas o período estudado é anterior ao aprofundamento da crise.

O

ATIVOS COFRE RECHEADO Os títulos de Liga dos Campeões, Campeonato Espanhol e Copa do Rei renderam ao Barcelona mais que premiação e a festa de sua torcida. O clube recebe € 30 milhões anuais com a Nike, mas, por contrato, o valor pode aumentar de acordo com os resultados em campo. No caso da vitoriosa temporada 2008/09, o bônus chegou a € 10 milhões. NEGÓCIO DA CHINA A Companhia Vale apelou para o futebol para ampliar seus laços comerciais com a China. A mineradora recorreu a Ronaldo para ser seu garoto-propaganda em um comercial veiculado exclusivamente no país asiático. Hoje, cerca de 60% das exportações da empresa são destinadas à China.

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RECORDE A Globosat comemora o aumento das vendas de pacotes de payper-view do Campeonato Brasileiro 2009. Em um balanço parcial, foram registradas 560 mil assinaturas (25% a mais que no mesmo período do ano passado). A alta vale também para a Série B: 110 mil pacotes, 20% a mais do que em 2008. Até o fim do ano, a empresa espera atingir as marcas de 635 mil na primeira divisão e 130 mil na segunda. MI CASA ES SU CASA O Botafogo encontrou mais uma maneira de explorar o Engenhão. Agora, os sócios do clube podem conhecer melhor a arena. Quem se cadastrar participa de um sorteio, cujos contemplados têm a chance de entrar nos vestiários, andar pelas arquibancadas, tribunas e gramados.

Roupa nova Depois de sofrer com atraso no recebimento de uniformes e problemas no pagamento com a Champs, o Vasco já está com novo fornecedor de material esportivo. O clube fechou com a Penalty um contrato de R$ 64 milhões por cinco anos. Parte do acordo, o clube quitará uma antiga dívida com a empresa. “Não foi em função disso que acertamos com a Penalty, mas é claro que pesou”, diz Fábio Fernandes, vice-presidente de marketing cruzmaltino. Além do fornecimento de material, a Penalty deve ajudar o Vasco a criar uma rede de lojas para a venda de produtos do clube. A primeira delas, com cerca de mil metros quadrados, ficará em São Januário. A empresa investirá R$ 1,3 milhão nas obras. Também estão em estudo a abertura de lojas na sede náutica do clube e em shoppings.

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Fotos Divulgação

por Ricardo Espina

Na medida

A Adidas lançou o novo modelo da chuteira F50i. O calçado apresenta algumas inovações, como uma camada de material sintético na parte superior que se adapta ao formato do pé do jogador e deixa a chuteira mais leve. Além disso, os atletas podem personalizar suas peças de acordo com sua preferência ou condições climáticas, com a escolha de materiais (couro ou sintético), das travas e da parte onde elas serão fixadas e a palmilha. A F50i está disponível nas cores azul, preta e branca (esta, só a partir de agosto). Fabricante Adidas

Preço sugerido R$ 599,90

Azzurra Celeste Quem acompanhou a seleção italiana na ões Copa das Confederações certamente estranhou o uniforme usado pela equipe. A Puma, fornecedora de material esportivo da Squadra Azzurra, lançou uma camisa especial para o torneio, com um tom de azul bem mais claro do que o de costume. Os calções e meias são marrons. Segundo o fabricante, a mudança é uma homenagem à equipe campeã mundial em 1934 e 38. Fabricante Puma

RENDER-SE JAMAIS Em 148 páginas, “Por que não desisto – Futebol, dinheiro e política” reúne alguns dos principais artigos escritos pelo jornalista Juca Kfouri em sua carreira. A obra, publicada pela editora Disal, inclui textos sobre o futebol dentro e fora do campo, com temas atuais como os interesses de um país como o Brasil ao pleitear a organização de megaeventos como a Copa do Mundo e os Jogos Olímpicos.

Colorado juvenil O Internacional criou uma linha de roupas voltadas exclusivamente para o público jovem. A Inter-Red apresenta uma coleção com 130 itens entre roupas e acessórios. A linha apresenta peças nas quais se destaca o escudo do clube e as cores vermelha e branca. Fabricante Internacional (marca própria) Preço sugerido R$ R$ 39,90 a 250 (roupas) e R$ 7 a 150 (acessórios)

Editora Disal Preço sugerido R$ 38

ESPORTE SOCIOLÓGICO A Editora FGV lançou o livro “Sociologia e Educação Física: diálogos, linguagens do corpo, esportes”. Escrita por Maurício Murad, sociólogo e doutor em Ciências do Desporto pela Universidade do Porto, a obra mostra como o esporte serviu de instrumento ideológico e de dominação política ao longo das décadas. Além das influências do nazismo e fascismo nos Jogos Olímpicos de 1936, Murad também conta como esses regimes se aproveitaram das Copas do Mundo de 1934 e 1938 para se fortalecerem.

A Umbro se inspirou nos Beatles para apresentar o quarto uniforme do Santos. A cerimônia foi realizada em um heliponto com vista para a Vila Belmiro e com uma banda cover dos ingleses. Houve semelhanças até mesmo no desenho da camisa: a peça conta com listras em preto e grafite – o que, segundo o clube, lembraria os ternos riscados usados pelos músicos ingleses.

Editora FGV Preço sugerido R$ 37

Fabricante Umbro Preço sugerido R$ 169,90

Here comes the Santos

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A VÁRZEA

Os números não mentem Chico Lingüiça estava preocupado. Afinal, o CEO da CL Food & Drinks Entertainment não conseguia entender como o Chico Linguiça’s Globetrotters só levava sacolada no campeonato d’A Várzea. Após ver seu time sofrer mais uma derrota vergonhosa, o mecenas jogou a toalha. Disse que aceitaria qualquer sugestão para fazer o time jogar bola. Foi aí que Denílson, o estagiário com potencial, pediu a palavra. “Eu cunhessu uns cára da faculdadi qi méchi con ums baguio di ixtatística i podi dá huma mão”, disse. Chico Linguiça nem quis ouvir o resto. Pediu para Denílson trazer seus amigos da Unilodo para o treino do escrete chicolinguicense. O manager nunca manjou muito de matemática e resolveu confiar na palavra dos universitários. Logo chegou um pessoal meio estranho no CT do time. Calculadoras na mão, réguas, compassos e lápis com tabuada passaram a dividir espaço com bolas e chuteiras. Bastou pouco tempo de conversa e uns goles de jurupinga para os jogadores sacarem as novidades. Chico Linguiça estava radiante e mal podia conter a expectativa para o próximo jogo. Enfim, chegou o grande dia. O mecenas se refestelou em seu caixote na tribuna de honra da Arena Várzea para acompanhar a peleja. Nem se passaram dez minutos e o Chico Linguiça’s Globetrotters já tomava de 12 a 0. O empresário correu atrás dos amigos do Denílson para cobrar explicações. - Ué, vimos que o time estava errando muitos passes. Daí, pedimos para que os jogadores deixassem de tocar na bola, assim diminuíram

A charge do mês esse número para zero. A mesma coisa foi feita para zerar as finalizações erradas: se ninguém chuta, ninguém erra, certo? Verificamos também que havia um elevado número de faltas. Orientamos os atletas a deixarem o adversário passar sem problemas – explicou o universitário. Chico Linguiça agora só se preocupava com um número: a velocidade necessária para escapar da fúria dos torcedores, que queriam a cabeça do quituteiro para servir como prato principal de seu restaurante.

A frase do mês “I don’t bidedu” Joel Santana gastando seu inglês shakespeariano com os sul-africanos

A manchete do mês “Seleção Brasileira hipnotiza sul-africanos em treino” (Terra) Só assim para o Brasil convencer a torcida de que joga bem

Em alta Flamengo Adriano, Petkovic, Cuca, goleadas... O time carioca sabe mesmo como se manter na mídia.

Real Madrid Inflacionou tanto o mercado que agora qualquer Sandro Goiano acha que vale uma fortuna.

Em baixa

Você pode receber A Várzea na sua caixa postal. Basta entrar no site www.trivela.com e inserir seu endereço de e-mail no campo de cadastro. Ou então mande uma mensagem para varzea@trivela.com, com a palavra Cadastrar no campo de assunto

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www.sustentanet.com.br

Quer saber tudo sobre a energia gerada pela força dos ventos? E sobre o movimento Slow Food? Confira essas e outras reportagens na nova edição de Sustenta! e atualize sua consciência ambiental

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