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nem "a velha distribmiCZIo ptolemaica" nem "a moderns inova~60 introdmzida pIo CJ rande CoP&rnico''

Entre Copernico e Kepler encontramos a figura do dinamarqu@s Tycho Brahe (1546-1601), a grande auctoritas da astronomia da segunda metade do sec. XVI. Protegido inicialmente por Frederico II da Dinamarca, na morte deste Brahe se transferiu para Praga a serviqo do imperador Rodolfo II. Sucessor de Brahe no cargo de matematico imperial foi, em 1601, Kepler.

AutGntico virtuoso da observaqio, Brahe, estudando o movimento dos come- tas, conseguiu demonstrar em 1577 que as esferas cristalinas da cosmologia tradi- cional nio existem: as esferas materiais - admitidas tambem por

T~C~O Brahe: Copernico - sio substituidas pelas orbitas, entendidas no sentido nern corn atual de trajetorias. Brahe sustenta alem disso a ideia de que o ~tolorneu cometa teria tido uma orbita "oval". nern corn Em todo caso, embora estivesse persuadido de que o siste-

Copernico + 5 1-2 ma ptolomaico "nao era suficientemente coerente", Brahe con- trariou tambem "a moderna inovaqao introduzida pelo grande Copernico". N%o e verdade que a terra se move: com efeito, ar- gumentava Brahe, se fosse verdade que a terra gira do Ocidente para o Oriente, entao o trajeto de uma bola, disparada para o poente por um canhao, deveria ser mais longo do que o de uma bola disparada pelo mesmo para o levante; porem, como estes diferentes trajetos previstos nio se verificam na pratica, a terra - assim concluia Brahe - esta parada.

Portanto, nern Ptolomeu nern Copernico. Tycho prop6e seu sistema do mun- do, em que a terra esta no centro do universo; so que ela esta no centro das orbitas do sol, da ha e das estrelas fixas; enquanto o sol esta no centro das orbitas dos cinco planetas. Em outros termos, eis o sistema tychbnico: a terra permanece no centro do universo; o sol e a ha giram ao redor da terra; os outros cinco plane- tas (Mercurio, Venus, Marte, Jupiter, Saturno) giram ao redor do sol. 0 sistema tychbnico n%o convenceu nern Kepler nern Galileu. Galileu, no Dia- logo sobre os dois maximos sistemas, confrontara o sistema aristotelico-ptolomaico com o copernicano e nZo levara em consideraqao o "terceiro sistema do mundo", proposto por Tycho Brahe.

os germes da revoluc&o

A grande obra de CopCrnico apareceu em 1543. Em 1609 Kepler publicou seu tra- balho sobre Marte, que desferia outro vio- lento golpe B cosmologia tradicional: nesta obra, com efeito, Kepler demonstrava que as orbitas dos planetas nZo sao circulares mas elipticas. Todavia, entre as obras de CopCrnico e Kepler situa-se o trabalho de outra personagem, que muito influenciaria a astronomia: trata-se do dinamarqucs Ty- cho Brahe.

Tycho (latinizagzo do nome dinamar- qucs Tyge) nasceu trts anos depois da morte de Copernico, isto 6, em 1546, vindo a fale- cer em 1601. Se Coptrnico foi o astr6nomo mais importante da primeira metade do sC- culo XVI, Tycho Brahe foi a auctoritas em astronomia da segunda metade do sCculo.

Frederico I1 da Dinamarca foi o gran- de protetor de Brahe, ao qual, alCm de uma

"oval". Em todo caso, persuadido de que o sistema ptolemaico "niio era suficientemen- te coerente", e que "era supCrfluo recorrer a tiio numerosos e t50 grandes epiciclos", Brahe tambtm rejeitou o sistema copernica- no e propGs, contra ele, urna argumentaqiio destinada a se tornar urna objeqiio cabal. Se fosse verdade que a terra roda do Ocidente para o Oriente, entiio - objeta Brahe - o trajeto de urna bala, disparada para o po- ente por um canhiio, deveria ser mais longo do que o de urna bala disparada pel0 mes- mo canhiio para o nascente. Todavia, urna vez que estes diversos trajetos previstos niio se verificam na pratica, a terra, concluia Brahe, esta parada.

Tycho Brahe, uqur ern unza rrzcrsiio do shculo XVI, fo~ o ustrdrzorno IN~IJ rm,twrtunte tlil seguntfa tnetude do shculo XVI.

remuneragiio, deu a ilha de Hven, no estrei- to de Copenhague. Nessa ilha, Brahe man- dou construir um castelo, um observatorio, laboratorios e urna griifica privada, ai tra- balhando de 1576 a 1597, ajudado por nu- merosos assistentes, recolhendo enorme quantidade de observap5es precisas.

Com a morte de Frederico 11, seu su- cessor niio continuou se comportando como mecenas em relagiio a Brahe, que, em 1599, transferiu-se para Praga a servigo do impe- rador Rodolfo 11. Aqui Brahe chamou o jo- vem Kepler, que, com a morte de Brahe (em 1601), sucedeu-lhe na funqiio de matemiti- co imperial.

Autintico virtuoso da observagiio as- tronbmica, em 1577, estudando o movimen- to dos cometas, Brahe conseguiu demons- trar que as esferas cristalinas da cosmologia tradicional, concebidas como fisicamente reais e destinadas a transportar os planetas, na realidade niio existiam. Desapareciam assim do mundo as esferas materiais das quais nem CopCrnico se desligara. E em seu lugar entravam as drbitas, entendidas em nosso sentido de trajetorias.

AlCm dessa inovagiio muito significa- tiva, Brahe abriu outra brecha dentro da cosmologia tradicional, ventilando a opiniiio de que o cometa teria tido urna orbita

Portanto, nem Ptolomeu nem CopCr- nico. Entiio, sempre nas palavras de Brahe, "havendo compreendido muito bem que ambas essas hipoteses admitiam niio pou- cos absurdos, comecei a meditar profunda- mente comigo mesmo se era possivel encon- trar alguma hipotese que niio estivesse em contraste com a matemiitica nem com a fi- sica, que niio tivesse que se esconder das cen- suras teologicas e que, ao mesmo tempo, satisfizesse completamente as aparincias celestes". E prossegue Brahe: "Por fim, qua- se inesperadamente, veio-me a mente o mod0 pelo qua1 deve ser disposta adequa- damente a ordem das revoluqdes celestes, de forma a fechar o caminho a todas essas incongruincias." E, dessa forma, chegamos ao sistema tych6nico.

Nesse sistema do mundo, a terra en- contra-se no centro do universo. Entretan- to, ela est4 no centro das orbitas do sol, da lua e das estrelas fixas, ao passo que o sol esta no centro das orbitas dos cinco plane- tas. Para se ter urna idCia do sistema de Brahe, basta olhar a fig. 1, onde, entre ou- tras coisas, pode-se observar que, como as orbitas apresentam intersecqiio em virios pontos, era necessario que as esferas per- dessem seu cariter material. Na fig. 2, te- mos a representaqiio do sistema coperni- cano, de mod0 que se possam observar suas diferengas em relagiio ao sistema tych6- nico.

A terra permanece no centro do uni- verso, como argumenta o proprio Brahe: "Pa-

ra alCm de qualquer duvida, penso que se deve estabelecer, com os antigos astr6nomos e com os pareceres ja aceitos pelos fisicos, com a autenticaqiio posterior das sagradas Escrituras, que a terra que nos habitamos ocupa o centro do universo e niio se move em circulos por efeito de nenhum movimen- to anual, como quer Copirnico [...I." 0 sol e a lua giram em torno da terra: "Conside- ro que os circuitos celestes siio governados de tal mod0 que somente ambas as lumina- rias do mundo [o sol e a lua], que presi- dem ii discriminaqiio do tempo, e com elas a distante e oitava esfera [das estrelas fi- xas] que contim todas as outras, olham para a terra como o centro de suas revolu- q6es." 0s outros cinco planetas giram em torno do sol: "Assevero ademais que os cinco planetas restantes [Mercurio, Venus, Marte, Jupiter e Saturno] desenvolvem seus proprios giros em torno do sol, como seu guia e rei, sempre o observando quando se situa no espaqo intermediirio de suas revo- luq6es. " 0 sistema tychBnico niio convenceu Kepler nem Galileu. Em seu leito de morte, Brahe confiou seu sistema ao jovem assis- tente Kepler, mas este estava muito atraido pela grande simetria de Copernico, ao pas- so que o sistema de Brahe niio era estrutu- rado simetricamente (assim, por exemplo, o centro geomktrico do universo niio C mais o centro da maior parte dos movimentos celestes).

Por seu turno, no Dialogo sobre os dois sistemas maximos, Galileu confrontara o sistema aristotClico-ptolomaico com o sis- tema copernicano, sem considerar em ab- soluto o "terceiro sistema do mundo", de Tycho Brahe.

No entanto, o sistema de Brahe conquis- tou relativo sucesso, sendo abra~ado pela maior parte dos astr6nomos, nio coperni- canos, insatisfeitos com o sistema ptolomai- co. Na realidade, seu sistema foi engenho- samente concebido: mantinha as vantagens matematicas do sistema de CopCrnico e, alCm disso, evitava as criticas de natureza fisica e as acusaq6es de ordem teologica.

Mas o sucesso do sistema tychbnico e' o sucesso de um compromisso. E embora esse compromisso tivesse o aspect0 de uma "restauraqiio", ele niio p6de ignorar a revo- luqiio que ocorrera; Tycho Brahe tambtm negou o sistema ptolomaico, afirmando que a terra niio era o centro das revoluq6es de todos os planetas.

Duas observaq6es ainda. Em Urani- borg, na ilha de Hven, alCm do observato- rio, Brahe possuia tambCm um laboratorio quimico. E, embora criticasse as praticas astrologicas, estava convencido de que exis- tia uma afinidade essencial entre os fen6 menos celestes e os acontecimentos terres- tres. Essa crenqa, de origem estoica, na existencia de uma relaqio entre todas as coisas, constituiu fonte de inspiraqiio para muitos grandes cientistas. 7,'

Sistcrrza tvchfirzic-o (de Th. S. Ktihn, A rcvoluqrio copernicana, Einaudi). st stem^ coprrmc-mo (tic 1'. Kossi, A revolu<,io cicntifica de (:op&nico a Newton, I.orsc/~cv).

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