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V. 0 escopo da ciincia: a descoberta das "formas"

V. 8 escopo da cizncia: a descoberta das "formas"

L4m ponto cardeal do pensamento de Bacon

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Descongestionada a mente dos "ido- los", isto 6, libertado o espirito das apressa- das "antecipag6es da natureza", na opini5o de Bacon, o homem pode entiio encaminhar- se para o estudo da natureza. Pois bem, "a obra e o fim da for~a humana esth em gerar e introduzir em um dado corpo uma nova natureza ou mais naturezas diversas. A obra e o fim da ciBncia humana est5o na desco- berta da forma de uma natureza dada, isto 6, de sua verdadeira diferenqa, natureza naturante ou fonte de emanaqiio".

0poder do homem esth em produzir em um corpo novas naturezas

Esse elemento central do pensamento de Bacon necessita de alguns esclarecimen- tos. Antes do mais, o que pretendia dizer Bacon com a express50 "gerar e introduzir em um corpo dado uma nova natureza"?

Eis alguns "projetos" que exemplificam a idCia de Bacon: um projeto para fazer li- gas de metais para fins diversos; outro pro- jet0 para tornar o vidro mais transparente ou inquebrivel; um projeto para conservar os lim6es, as laranjas e as cidras durante o veriio; um projeto para fazer amadurecer mais rapidamente as ervilhas, os morangos ou as cerejas. Outro projeto seu consistia em procurar obter - usando o ferro unido h silica ou a qualquer outra pedra - um metal mais leve que o ferro e imune h ferru- gem. Para esse composto (o nosso aqo), Ba- con via os seguintes usos: "Em primeiro lu- gar, para os utensilios de cozinha, como espetos, fornos, assadores, panelas etc.; em segundo lugar, para os instrumentos bdicos, como peqas de artilharia, comportas, gri- IhGes, correntes etc."

Esses exemplos nos permitem com- preender o que significa "introduzir em um corpo dado uma nova natureza". E tambCm nos permitem compreender o que Bacon quer dizer quando afirma que "a obra e o firn da for~a humana est5o em gerar e introduzir em um corpo dado uma nova natureza ou mais naturezas diversas". Isso esclarece a primei- ra parte do trecho citado de Bacon.

cigncia est6 na descoberta das "formas"

Vejamos entiio a segunda parte, onde ele escreve que "a obra e o fim da ciBncia humana est5o na descoberta da forma de

uma natureza dada, isto 6, de sua verdadei- ra diferenga, natureza naturante ou fonte de emanaqiio".

Bacon encontra em Arist6teles a dou- trina das auatro causas necessarias i com- preens50 de uma coisa qualquer. Siio elas: a causa material; a causa eficiente; a causa formal; a causa final. Assim, por exemplo, se considerarmos uma estatua, n6s a com- preenderemos se entendermos de que C fei- ;a (causa material: por exemplo, o-mirmo- re); quem a fez (causa eficiente: por exemplo, o escultor): sua forma (causa formal: a idCia . , que o escultor impri;ne nd marmore); o motivo pel0 qua1 foi feita (causa final: por exemplo, a raziio que impeliu o escultor a faze-la).

Pois bem. Bacon esta de acordo com Arist6teles sobre o fato de aue "o verdadei- ro saber i saber por causas". Mas, entre es- sas causas, acrescenta ele, a causa final so pode valer para o estudo das ag6es huma- nas. Por outro lado, a causa eficiente e a ma- terial siio de pouca importiincia para a cih- cia verdadeira e ativa. 0 que resta, portanto, C a causa for- mal. E esta que n6s devemos conhecer se quisermos introduzir "novas naturezas" em determinado corpo: "Um homem que co- nhega as formas pode descobrir e obter efei- tos nunca antes obtidos, efeitos que nem as mudangas naturais, nem o acaso, nem a ex- periincia, nem a industriosidade humana jamais produziram, efeitos que, de outra forma, a mente humana jamais teria podi- do prever."

Em suma, conhecer as formas das va- rias coisas ou "naturezas" significa pe- netrar nos segredos profundos da natureza e tornar o homem poderoso em relagiio a ela. E Bacon era de opini5o que esses se- gredos da natureza niio deviam ser muitos em comparagiio com a grande variedade e riqueza dos fenGmenos, aparentemente tiio d' iversos.

No fundo, Bacon pretendia assenho- rear-se daquele alfabeto da natureza que po- deria permitir compreender as express6es da linguagem, isto 6, seus fen8menos variados.

Em outros termos: as palavras da lin- guagem da natureza seriam os fedmenos, e as letras do alfabeto seriam as poucas e simples formas.

f\ idkia baconiana de "fo~wm", o llrv~~e~~~ Iatente" e o "esquematismo Iatente"

Mas o que siio essas formas? De que mod0 Bacon as concebe?

Pois bem, para compreender a idCia de forma, t necessirio falar de dois novos con- ceitos introduzidos por Bacon: o de "proces- SO latente" e o de "esquematismo latente". a) 0 processo latente niio C o processo que se ve atravis da observagiio dos fen& menos: "Com efeito, niio pretendemos fa- lar de medidas, sinais ou escalas do processo visivel nos corpos, mas de processo conti- nuado, que em sua maior parte escapa aos sentidos." b) Quanto ao esquematismo latente, Bacon escreve que "nenhum corpo pode ser dotado de nova natureza, nem se pode trans- form6-lo oportunamente e com sucesso em novo corpo, se niio se conhece com perfei- giio a natureza do corpo a alterar ou a trans- formar".

Na opiniiio da Bacon, a anatomia dos corpos orgiinicos, ainda que insuficiente- mente, dii de alguma forma a idiia de es- quematismo latente. Brevemente, pode-se dizer que o esquematismo latente C a estru- tura de uma natureza, a essencia de um fe- n8meno natural, ao passo que o processo latente pode ser visto como a lei que regula a geraqiio e a produqiio do fen8meno.

Assim, compreender a forma significa compreender a estrutura de um fen6meno e a lei que regula o seu processo. 0s eventos se produzem segundo uma lei. E "nas cien- cias i essa propria lei e a pesquisa, desco- berta e explicagiio da mesma, que constitu- em o fundamento do saber e do operar. Sob o nome de forma, n6s entendemos essa lei e seus artigos [...In. E "quem conhece a for- ma, abrange a unidade da natureza, att nas matirias mais dessemelhantes [. ..I. Por isso, da descoberta das formas derivam a veraci- dade na especulaqiio e a liberdade na ope- ragiio".

Poder-se-ia quase dizer que, com essas especulaqoes, Bacon, de certa forma, sonhou a realidade do bioquimico ou ati a aventu- ra dos fisicos at6micos contemporiineos.

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