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e "interpreta~Ges da natureza"

III. "fintecipaG6es da natureza" 1 2 ~ ~ 2 . e "interpretaG~es da natureza"

Conforme Bacon, ciencia e poder coincidem, no sentido de que se pode agir sobre fen6menos apenas quando se conhecem suas causas. Para remediar os de- feitos do saber de seu tempo, tecido de axiomas abstratos e de Iogica silogistica, Bacon prop6e a importante distinqao entre: a) as antecipagdes da natureza, que s%o noq6es tomadas de A impomnte poucos dados habituais e sobre as quais a opiniao comum facil- distinqzo entre mente dd seu prciprio consentimento; as antecipaqdes 6)asinterpretag6esdanatureza, quederivamaocontrario danature~ae de uma pesquisa que se desenvolve a partir das proprias coisas asinterpretaqdes conforme os modos adequados. da natureza

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Ora, s%o as interpretag6es da natureza, e n%o as antecipa- 4 § 1 gcjes, que constituem o verdadeiro saber, obtido com o verdadei- ro metodo, o qua1 e um novum organum, um instrumento novo e eficaz para alcan~ar a verdade. Trata-se, portanto, de seguir propriamente duas fases: 1) a primeira (a pars destruens) consiste em limpar a mente de falsas no@es (idola) que invadiram o intelecto humano; 2) a segunda (a pars construens) consiste na exposiqSo e justifica@o das re- gras do novo metodo.

1 O m&todo pov meio do q~al se alcampa o vevdadeiro sabeu.

Escreve Bacon no inicio do primeiro livro do Novum Organum: "Ministro e in- tirprete da natureza, o homem faz e enten- de o que observa da ordem da natureza, corn a observaqiio das coisas ou com a obra da mente - ele nao sabe nem pode nada mais que isso."

Em conseqiiikcia, prossegue Bacon, "a cicncia e a potencia humana coincidem, porque a ignorincia da causa impede o efei- to, e so se comanda a natureza obedecendo a ela: aquilo que C causa na teoria torna-se regra na operaqao pratica".

Assim, podemos agir sobre os fen6me- nos, ou seja, i possivel intervir eficazmente sobre eles, mas apenas com a condiqiio de conhecermos suas causas.

Ora, C bem verdade que "o mecinico, o matematico, o alquimista e o mago" se ocupam da natureza e procuram entender seus fen6menos, mas tambim i verdade, observa Bacon, que "todos eles, pelo me- nos ate agora", ocuparam-se da natureza "corn energia limitada e escasso sucesso". Por isso, i tolo e contraditorio pensar que aquilo que n5o se conseguiu fazer ati agora possa ser feito no futuro sem recorrer a me'todos novos e ainda n5o tentados. 0 fato t? que admiramos as forqas da mente huma-

W AntecipaqSea do naturera. E 0 process0 "temerario e prematuro" da raz80, de que o homem comumente faz uso em relac80 a natureza. Trata-se de um procedimento muito util para induzir ao consenso, porque suas no~ijes tipicas do tiradas de pou- cos exemplos muito familiares e "ime- diatamente agarram o intelecto e preenchem a fantasia"; porem, justa- mente por isso, suas noqijes s80 em primeiro lugar "falsas", e chegam a constituir os idolos, os preconceitos errados dos quais todo intelecto que queira ser cientifico deve absoluta- mente se libertar. Mediante as ante- cipaqdes, n3o se pode obter nenhum progress0 nas cihcias.

na, mas nio procuramos fornecer verdadei- ra ajuda ao engenho humano. E a mente necessita de tal ajuda, pois "a natureza su- pera infinitamente o sentido e o intelecto pela fineza de suas operaqdes".

Bacon via o saber de sua Cpoca como entretecido de axiomas que, sendo produzi- dos precipitadamente a partir de poucos e insuficientes exemplos, sequer arranham a realidade, servindo apenas para alimentar disputas estkreis. E a 16gica silogistica, pres- supondo tais axiomas tio pouco fundamen- tados, C "mais danosa que util", dado que serve somente "para estabelecer e fixar os erros que derivam da cognigio vulgar, do que servir a busca da verdade". mais

Pois bem, sendo assim, Bacon propde- se "reconduzir os homens aos proprios par- ticulares, respeitando sua sucesszo e sua ordem, de mod0 que eles se obriguem a re- negar por algum tempo as nogdes e come- cem a se habituar com as proprias coisas". E, com tal objetivo, ele logo distingue entre: a) antecipap5es da natureza e b) interpreta- @es da natureza. a) As antecipa~6es da natureza sio noq6es construidas e obtidas "de mod0 pre- maturo e temerario": sio nogdes que alcan- qam facil concordincia, "porque, extraidas de poucos dados, sobretudo daqueles que se repetem habitualmente, logo ocupam o intelecto e preenchem a fantasia; em suma, sio no~des produzidas vocado" . com mitodo equi- b) As interpreta~oes da natureza, ao contrario, sio resultado "daquele outro mod0 de indagar, que se desenvolve a partir das proprias coisas, segundo os modos de- vidos": "recolhidas de dados diversos e muito distantes entre si, elas nio podem logo atingir o intelecto; por isso, parecem difi- ceis e estranhas a opiniio comum, quase semelhantes aos mistCrios da fC".

Entretanto, szo as interpretap5es da natureza e nzo suas antecipa~ties que cons- tituem o verdadeiro saber: o saber obtido com o verdadeiro me'todo.

As antecipaqdes subjugam a concor- dincia, mas nio levam "a novos particula- res"; as interpretas6es subjugam a realida- de e, precisamente por isso, sio fecundas. E subjugam a realidade e sio fecundas exata- mente porque existe um mitodo - do qua1 falaremos adiante - que C um "nouum organum", um instrumento nouo e uerda- deiramente eficaz para alcan~ar a uerdade.

Se o que foi dito C verdadeiro, entio fica claro que, pondo junto o saber do pas- sado - saber feito de antecipaq6es -, nio se estaria contribuindo de mod0 algum para o progress0 das cihcias.

A primeira urghcia, portanto, C a da instauraqio do saber, "comeqando pelos proprios fundamentos da cihcia".

E essa premente e radical tarefa tem duas fases: a) a primeira (a pars destruens) consis- te em limpar a mente dos idolos (idola) ou falsas noqdes que invadiram o intelecto hu- mano; 6) a segunda (a pars construens) con- siste na exposiqio e na justificagio das re- gras do unico mCtodo que, sozinho, pode levar a mente humana ao contato com a re- alidade e que, sozinho, pode estabelecer um nouum commercium mentis et rei.

Examinemos estas duas fases em seus nucleos e em suas articulaq6e.s essenciais.

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