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0 drama de Galileu e a fundaqiio da cihcia moderna
0 drama de Cialile~ e a f~nda~&o da &&cia cnoderna
Galileu Galilei (1564-1642) estuda em Pisa como aluno de Ostilio Ricci, disci- pulo do algebrista Nicolau Tartaglia. Chamado para ensinar em Padua, ai pronun- cia a lis%o inaugural dia 7 de dezembro de 1592. Em Padua Galileu permanece dezoito anos, ate 1610. A 1610 remonta o Sidereus Nuncius; e, sempre nesse ano, obtem da parte do grao-duque Cosme II o rendoso posto de "matematico extraordinario do estudio de Pisa". Entre 1613 e 161 5 Galileu escreve as famosas quatro cartas copernicanas so- OensinO ~~~~$,"~ bre as relasees entre ciencia e fe: uma a seu discipulo, o beneditino Benedetto Castelli, duas a dom Piero Dini; e uma a senhora , ,gundo Cristina de Lorena, gra-duquesa de Toscana. a solidao
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Denunciado ao Santo Oficio, Galileu e processado em Roma de Arcetri em 161 6 e e proibido de ensinar ou defender com ;, palavra ou + 5 I. I com os escritos a teoria copernicana. 0 Saggiatore 6 de 1623.0 Dialogo sobre os dois maximos sistemas do mundo aparece em 1632. Processado pela segunda vez em 1633, Galileu e condenado e forqado a abjuraqao. A prisao perpetua Ihe e logo comutada em confinamento, primeiro junto a seu amigo Ascdnio Piccolomini, arcebispo de Siena, o qua1 o tra- tou com grande e benevola atenqao; e depois em sua casa em Arcetri.
Na solid20 de Arcetri escreve os Discursos e demonstrag6es matemdticas so- bre duas novas ci&cias, que aparecerao em Leiden em 1638. Assistido por seus discipulos Vicente Viviani e Evangelista Torricelli, Galileu morre no dia 8 de janeiro de 1642.
Na primavera de 1609 Galileu vem a saber que "certo flamengo havia fabri- cad0 uma lente mediante a qua1 os objetos visiveis, por mais distantes que estives- sem dos olhos do observador, eram vistos distintamente como se estivessem proximos". A mesma noticia Ihe 6 confirmada por seu ~ ~ l i l ~ ~ ex-discipulo Jacques Badouere. Justamente com base nestas no- I,, a luneta ticias Galileu construiu a luneta. E a coisa realmente interessante para "dentro" e que ele a tenha levado para dentro da ciencia, como instru- da ciencia mento cientifico a ser utilizado como potencializa@o de nossos + § 11.1 sentidos.
Dia 12 de marqo de 1610 Galileu publica em Veneza o Sidereus Nuncius, obra que inicia com estas palavras: "Grandes na verdade sao as coisas que neste breve tratado proponho a visao e contemplaqiio dos estudiosos da natureza. Grandes, digo, tanto pela excelencia da materia em o "Sidereus si mesma, como pela novidade delas jamais ouvida em todos os Nuncius" tempos passados, como tambem pelo instrumento em virtude corrobora do qua1 as proprias coisas se tornaram manifestas a nosso senti- osistema do". Mediante a luneta, se podem ver, alem das estrelas fixas, copernicano
"outras inumeraveis estrelas jamais divisadas antes de agora"; o universe, em suma, torna-se maior; constata-se que a lua nlo e um corpo perfeitamente esferico, como ate entao se acreditava, e desmente , sistema ptolomaico , mas e escabrosa e desigual como a terra (este e um resultado
que destroi uma coluna da cosmologia aristotelico-ptolomaica, isto e, a ideia da clara distinqao entre a terra e os outros corpos celestes); v@-se que a Galaxia n%o e "nada mais que um monte de inumeraveis estrelas, disseminadas em amontoa- dos"; observa-se que as nebulosas sao "rebanhos de pequenas estrelas"; v@em-se os satelites de Jupiter (e esta descoberta oferecia a Galileu a inesperada visa0 no ceu de um modelo menor do que o modelo copernicano). Com tudo isso o Sidereus Nuncius corroborava o sistema copernicano e disparava decisivos golpes contra- rios ao sistema ptolomaico. Daqui as raizes do desencontro entre Galileu e a Igreja.
Copernico afirmara que "todas as esferas giram em torno do sol como seu ponto central e portanto o centro do universo esta dentro do sol". E ele pensava que sua propria teoria fosse uma representaqao verdadeira do pressuposto do desencontro universo. Deste parecer era tambem Galileu: a teoria copernicana descreve 0 sistema do mundo. entre Galileu Tal tese realista devia necessariamente aparecer perigosa a e a lgreja todos - catolicos e protestantes - pois pensavam que a Biblia em 4 3 IV: 7-2 sua verdo literal nao podia errar. No Eclesiastes (1,4-5) lemos que "a terra permanece sempre em seu lugar" e que "o sol surge e se pde voltando ao lugar de onde surgiu"; e por Josue (10,13) somos informados de que Josue ordena ao sol que pare. Com base nestas passagens da Escritura Lutero, Calvino e Melanchton se opuseram ferrenhamente a teoria copernicana. Lutero dira que Copernico e "um astrologo de quatro vintens". De sua parte, o cardeal Roberto Belarmino apresenta uma interpretaqao instrumentalista da teo- ria copernicana, no sentido de que ela seria um instrumento capaz de fazer predi- ~;des, mas n%o e propriamente uma descriq%o verdadeira do mundo: esta e en- contravel na Biblia, que nao pode errar. Galileu teoriza a incomensurabilidade entre saber cientifico e fe religiosa: os conhecimentos cientificos sao aut6nomos em relaqao a fe, pois pretendem des- crever o mundo; os dogmas da fe, as proposiqdes religiosas, de ~ ; 6 ~ ~ ; ~ fe: sua parte, nao sao e nao querem ser um tratado de astronomia, e-e, mas uma mensagem de salvaqao. e nso ou-ou Galileu fixa o principio da distinqao entre ciencia e fe nas + 3 ~7-3 palavras que ele diz ter ouvido do cardeal BarBnio, segundo o qua1 "a intenqao do Espirito Santo seria ensinar-nos como se vai ao ceu e nao como vai o ceu". Para Galileu, portanto, ci@ncia e fe silo compativeis porque incomensuraveis: nao se trata de um ou-ou, e sim de um e-e; o discurso cientifico e um discurso factualmente controlavel, destinado a fazer-nos ver como funciona o mundo; o discurso religioso e um discurso de "salva@o" que n%o se ocupa de descrever o mundo, e sim do "sentido" do universo, da vida dos indivi- duos e de toda a humanidade.
Dia 19 de fevereiro de 1616 o Santo Oficio passou a seus teologos as duas proposiqdes que resumiam o nucleo da questao: a) "Que o sol esteja no centro do mundo, e por conseguinte 0 primeiro imovel de movimento local". process0 + 3 VI. 1 b) "Que a terra nao esta no centro do mundo nem 4 imovel, mas se move segundo si mesma inteira, tambem com movimento diurno".
Cinco dias depois, dia 24 de fevereiro, todos os teologos do Santo Oficio con- denaram as duas proposiq6es. A sentenqa do Santo Oficio e transmitida a Congre- gaqao do index, que no dia 3 de marqo de 1616 emana a condenaqao do Coperni- canismo. Entrementes, dia 26 de fevereiro, Belarmino, sob ordem do papa, tinha admoestado Galileu a abandonar a ideia copernicana e Ihe ordenava, sob pena de prido, "nao ensina-la e nao defend@-la de nenhum modo, nem com as palavras nem com os escritos". Galileu concordou e prometeu obedecer.
Em 1623 sobe ao trono pontificio, com o nome de Urbano VIII, o cardeal Maffeo Barberini, amigo e admirador de Galileu. Encorajado por este evento, Galileu retoma sua batalha cultural; e em 1632 publica o Dialogo de Galileu Galilei Linceu, onde nos congresses de quatro jornadas se discorre sobre os dois maximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano. 0s interlocutores do Dialogo s%o tr&: Simplicio, que representa o filosofo aristo- 0 n~;a~ogo telico, defensor do saber tradicional; Salviati, o cientista coper- sobre nicano paciente e resoluto; Sagredo, que representa o pljblico osdoismaximos aberto a novidade e que deseja conhecer as razdes de uma e de sistemas"; outra parte. 0 Dialogo se abre com uma declara@o favoravel a eose9undo validez da condenaqao do Copernicanismo; obviamente, trata- va-se de um truque n%o dificil de descobrir: o Dialogo e uma proceS0 + 3 VII. 1-3 defesa cerrada do sistema copernicano.
Urbano Vlll foi convencido pelos adversarios de Galileu de que o Dialogo constituia um descredito da autoridade e talvez tambem do prestigio do papa, o qua1 estaria sendo ridicularizado na figura de Simplicio. Foi assim que iniciou o segundo processo contra Galileu. Dia 12 de abril de 1633 Galileu esta diante do Santo Oficio; dia 22 de junho os inquisidores emitem a sentenqa de condenaqao e, no mesmo dia, Galileu pronuncia a abjuraqso.
Depois do segundo processo e da abjuraqao Galileu escre- ve os Discursos e demonstraq6es matematicas a respeito de duas novas ciencias, que silo a estatica e a din2mica. Tais discursos s%o contribute de para a histdria propostos em forma de dialogo: discute-se sobre a resisthcia das id@jas dos materiais, sobre sistemas de alavanca, e esta presente a cele- cientifjcas bre experihcia sobre pianos inclinados. Nesta obra apresenta-se -+ 3 VIII. 1-2 o contributo mais original de Galileu a historia das ideias cienti- f icas.
Querendo agora explicitar mais detalhadamente a imagem galileana da ciencia e preciso salientar que, para Galileu, a ci6ncia n%o e mais um saber a servi- $0 da fe, n%o depende da fe, tem um escopo diferente do da fe, aceita-se e encon- tra fundamentos diferentes dos da fe. Aut6noma em relaqao a fe, a ciGncia est6 desvinculada tambem do autoritarismo da tradiqao aristotelica que bloqueia a pesquisa cientifica. E contra os aristotelicos Galileu: dogmaticos e livrescos, Galileu recorre justamente a Aristoteles, o qua1 "antepde [...I as experiencias sensatas a todos os discur- platbnico em filosofia, sos"; de mod0 que "n%o duvido nada de que se Aristoteles vives- se em nosso tempo, mudaria de opiniio". Com isso Galileu faz arisfot@lico ::$-$' "o funeral [...I da pseudofilosofia", mas n%o o funeral da tradi- $30 enquanto tal.
Com as devidas cautelas se pode dizer que Galileu e platdnico em filosofia ("0 livro da natureza esta escrito em linguagem matematica") e aristotelico no mCtodo (Aristoteles "teria [...I anteposto, como convem, a sensata experiencia ao discurso natural").
A ciencia de Galileu e a cihcia de um realista, ou seja, a ci@ncia de um cientista convict0 de que as teorias cientificas alcancem e descrevam a realidade; a cihcia e descriq%o verdadeira da realidade, e nos diz "como vai o ceu"; e e obje- tiva porque descreve as qualidades objetivas e mensuraveis (qualidades primarias) e n%o as qualidades subjetivas (qualidades secundarias) dos cor- pos. E esta ciCncia, descritiva de realidades objetivas e mensuraveis, ''0 mundO e possivel porque e o proprio livro da natureza que "esta escrito estd escrito
em linguagem matematica". A ciencia, portanto, e objetiva por- que n%o se embrenha nas qualidades subjetivas e secundarias nem se propde a busca das "essencias". Do que foi dito segue-se que a em linguagem matemdtica,, , x,