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I. Galileu Galilei: a vida e as obras

pesquisa qualitativa e suplantada pela quantitativa, e sso eliminadas as causas finais em favor total das mecEinicas. 0 universo de Galileu e um universo determi- nista e mecanicista; ngo e mais o universo antropoc@ntrico de Aristoteles e da tradisiio, n%o C mais hierarquizado, ordenado e finalizado em fun@o do homem. E perdem todo valor os discursos vazios e os ensinamentos de certa tradi@o filo- s6fica privada de contato com a experiencia. Enquanto sobre o mundo nos dao informac;6es as teorias construidas sobre "sensatas experiencias" e "necessarias demonstrac;6es". A experiencia cientifica de Galileu e o experimento, que se faz para ver se uma suposi$lo corresponde ou nso a realidade.

a vida e

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As eta pas wais iwpo~tantes

na vida de Galile~

Galileu Galilei nasceu em Pisa, em 15 de fevereiro de 1564, filho de Vincenzo, musico e comerciante, e de Giulia Amman- nati de Pescia. Em 1581, ja estava inscrito entre os "alunos artistas" do Estudio de Pisa. Deveria tornar-se mCdico, mas dedicou-se aos estudos de matemitica, sob a oriental50 de Ostilio Ricci, discipulo do algebrista Nicolau Tartaglia, a quem devemos a f6r- mula de resolus50 das equag6es de terceiro grau. Em 1585, Galileu escreve os Teore- mas sobre o centro de grauidade dos soli- dos, em latim. Em 1586, publica a Bilan- cetta, onde se mostra evidente a influcncia do "divino Arquimedes" e onde - e esse C o dado importante - mais do que inda- gar sobre a natureza dos corpos, procura- se determinar seu peso especifico. Para Galileu, a Bilancetta constitui "sua estrkia na produs50 cientifica". Entrementes, po- rCm, ele tambCm cuidava de seus interesses humanisticos, como mostram as duas au- las que ministrou na Academia Florentina, em 1588, Sobre a figura, o local e a grande- za do inferno de Dante e as Considera~Ges sobre Tasso, que remontam aproximada- mente ao ano de 1590. Nomeado profes- sor de matematica em Pisa em 1589, com o apoio do cardeal Francisco del Monte, em 1590 Galileu escreveu o De Motu, cuja te- oria central, embora modificada, ainda C a teoria do impetus.

Convidado a ensinar em Pidua, Galileu da sua aula inaugural em 7 de dezembro de 1592. Ele permanecerii durante dezoito anos (at6 1610) em Pidua, os anos mais belos de sua vida. Professor de matemiitica, comen- ta o Almagesto de Ptolomeu e os Elementos de Euclides. Entre 1592 e 1593 elabora sua Breve instru@o de arquitetura militar, o Tratado das fortifica~6es e as Mecdnicas. 0 Tratado da esfera ou Cosmografia C de 1597, obra em que Galileu ainda exp6e o sistema geomttrico de Ptolomeu. Entretan- to, duas cartas dessa Cpoca (a primeira para Jacopo Mazzoni, em 30 de maio de 1597; a segunda para Kepler, de 4 de agosto do mes- mo ano) indicam que ele ji abragara a teo- ria copernicana. Freqiienta os ambientes culturais paduanos e venezianos, tendo es- treitado amizade com Giovanfrancesco Sa- gredo (nobre veneziano e estudioso de 6ti- ca), com frei Paulo Sarpi e com frei Fulgincio Micincio.

Ainda em Veneza, relaciona-se com Marina Gamba, da qua1 teri trCs filhos: Virginia, Livia e Vincenzo. Em Padua, esta- belece amizade com o aristotilico CCsar Cremonini. Em 1606, publica As opera~Ges do compasso geome'trico militar.

Em 1609, tendo recebido a noticia so- bre a luneta, a reconstrbi por sua conta e a aperfeigoa. Depois, ousa a~onta-la in supe- rioribus e faz as rumorosas descobertas as- tron6micas expostas no Sidereus Nuncius, de 1610. Ainda em 1610, jii famoso, C agra- ciado pel0 gr5o-duque Cosme 11, dos MCdici, com o cargo (muito rentivel) de "matemfi-

tic0 extraordinario do Estudio de Pisa", sem ter obrigagiio de residincia local nem de ministrar ligoes, bem como o posto de "fi- losofo do Serenissimo Duque".

Em Florenga, prossegue suas pesquisas astron6micas, mas sua ades5o ao coperni- canismo comega a criar-lhe as primeiras di- ficuldades. Entre 1613 e 1615, escreve as famosas quatro cartas copernicanas sobre as relaq6es entre ciincia e fi: urna ao seu discipulo, o beneditino Benedetto Castelli; duas a dom Piero Dini e urna ii senhora Cristina de Lorena, grii-duquesa da Toscana. Acusado de heresia devido ao seu coper- nicanismo, e depois denunciado ao Santo Oficio, foi processado em Roma em 1616, sendo-lhe impost0 niio ensinar nem defen- der com a palavra e com escritos as teorias incriminadas. Da polcmica com o jesuita Horacio Grassi sobre a natureza dos come- tas nasceu o Saggiatore, publicado em 1623. Essa obra defende urna teoria dos cometas que depois se revelaria equivocada (Galileu sustentava que os cometas seriam aparin- cias produzidas pela luz refletida sobre os vapores de origem terrestre). Entretanto, como veremos adiante, nela ja siio propos- tos alguns dos elementos basicos da concep- giio filosofica e metodologica de Galileu.

Em 1623 subiu ao trono pontificio, com o nome de Urbano VIII, o cardeal Maf- feo Barberini, amigo de Galileu, que ja lhe havia sido favorivel e que chegara a prote- ger o proprio Campanella. Retomando co- ragem e esperanga, Galileu escreve o Dialo- go sobre os dois maximos sistemas do mundo (1632). Apesar das precaug6es to- madas, niio foi dificil compreender que a nova obra representava a mais firme defesa do copernicanismo. Novamente processa- do em 1633, Galileu foi condenado e obri- gado a abjurar. Logo a prisiio perpitua foi comutada com a pena de confinamento, pri- meiro junto ao seu amigo Ascsnio Piccolo- mini, arcebispo de Siena, que o tratou com muita atengiio, e depois em sua casa de Arcetri, onde niio podia encontrar ninguim nem podia escrever nada sem autorizagiio privia.

Foi precisamente na solid50 de Arcetri que Galileu escreveu sua obra mais original e de maior relevo: os Discursos e demons- tra~oes matematicas sobre duas novas ci8n- cias, que foram publicados em Leiden, em 1638. Mais tarde, escreveria Lagrange: "A diniimica C urna ciincia devida inteiramen- te aos cientistas da ipoca moderna. Mas foi Galileu quem a batizou [...I. Ele deu o pri- meiro passo importante, abrindo desse mod0 o caminho, novo e imenso, que leva- ria a mecBnica a progredir enquanto ciin- cia". Em Arcetri, Galileu teve o consolo de, por algum tempo, ser assistido pela irm5 Maria Celeste (sua filha Virginia), que, no entanto, morreu em 2 de abril de 1643, aos trinta e trEs anos. Para Galileu, essa morte foi "matiria de inconsoliivel pranto". Pou- cos dias depois, em urna carta ao irmiio de sua nora, Geri Bocchineri, que era empre- gado nos escritorios do govern0 griio-ducal, Galileu escreverii estas palavras: " [Sinto] tris- teza e melancolia imensas, inapetencia ex- trema, tornei-me odioso para mim mesmo. E sinto que sou continuamente chamado pela minha querida filhinha."

Para compreender as relag6es entre Galileu e sua filha predileta, que foi mulher de finissimos sentimentos e de "elevado in- telecto", basta acenar a algumas cartas por ela enviadas ao pai, em Roma, depois da condenagiio de 1633. Galileu n5o queria que a noticia de sua condenagiio chegasse aos ouvidos de sua filha, freira e pessoa de gran- de sensibilidade religiosa. Mas tratava-se de um fato que n5o podia ficar oculto. Tiio lo- go a irmii Maria Celeste soube da condena- $50 do pai, enviou-lhe urna carta (em 30 de abril): "Carissimo senhor pai, quis escre- ver-lhe agora, de mod0 que saiba que estou a par de suas vicissitudes, o que Ihe deve servir como lenitivo. E deixei de escrever qualquer outra carta, desejando que essas coisas desgostosas sejam so minhas [...I." Nos primeiros dias de julho, escreve-lhe no- vamente: "Carissimo senhor pai: agora i o momento de, mais do que nunca, langar miio daquela prudincia que Deus nosso Senhor lhe concedeu, suportando esses golpes com a fortaleza de espirito que a profissiio, reli- giiio e idade exigem. E corno, pela muita experiincia, o senhor pode ter plena cons- ciincia da falicia e instabilidade de todas as coisas deste pobre mundo, niio devera fazer muito caso dessas borrascas; alias, pode ati esperar que logo se aquietem, trans- formando-se em satisfagiio para o senhor." E em 16 de julho: "Quando V. Sa. estava em Roma, dizia-me em meus pensamentos: se eu tiver a graqa que ele parta de la e venha para Siena, isso me bastara, pois poderei quase dizer que estara em sua casa. E agora n5o me contento, pois morro de vontade de ti-lo aqui mais proximo". Tendo, por- tanto, a irmii Maria Celeste morrido em

1634, Galileu ficou inconsolavel. Depois, portm, pouco a pouco se recuperou, re- tornou B cihcia e escreveu seus grandes Discursos. No ultimo periodo de sua vida, Galileu perdeu a visiio e foi acometido de muitos e graves sofrimentos. Na noite de 8 de janeiro de 1642, assistido por seus dis- cipulos Vincenzo Viviani e Evangelista Tor- ricelli, como podemos ler no Relato histori- co de Viviani, Galileu "com filosofica e cris- tii consciencia entregou a alma a seu Cria- dor, saindo desta vida - e nos alegramos em crer nisso - para desfrutar e ver mais de perto aquelas maravilhas eternas e imu- tiveis que, por meio de fragil artificio, mas com tanta avidez e impaciincia, ele ha- via procurado aproximar de nossos olhos mortais".

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