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7. Do cinema à tela da TV: a revelação de uma atriz multimídia

Aestreia de Prazeres Barbosa no cinema aconteceu em 1992, num curta metragem filmado em Pernambuco. As Videntes de Cimbres, dirigido pelo cineasta Alberto Sales, é um filme baseado num fato místico: a suposta aparição, em 1936, de Nossa Senhora das Graças a duas garotas, na vila de Cimbres, distante cerca de quinze quilômetros do centro de Pesqueira (PE). O elenco, formado por dezoito atores, viajou diversas vezes à vila, durante seis meses. Algumas cenas foram gravadas na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru (Fafica). No curta As Videntes de Cimbres, rodado e editado em super VHS, Prazeres Barbosa interpretou uma madre superiora. Além de atuar, ela foi convidada por Alberto Sales para fazer direção de elenco. O lançamento aconteceu no dia 5 de dezembro de 1992, no salão de convenções do Hotel São Vicente de Paula, em Caruaru. Pelo forte caráter religioso contido em seu roteiro, a produção acabou sendo exibida nas telas de cinema de vários lugares do Brasil e entidades religiosas na Alemanha demonstraram interesse em conhecer o filme. Em 1995, a atriz recebeu vários convites para participar de produções no cinema e na televisão. O primeiro foi para integrar o elenco de América au Poivre, um curta metragem de Sergio Oliveira e Nelson Caldas Filho. Gravado em Betacam, o vídeo de apenas vinte e sete minutos era bastante ousado para os padrões da época, se tratando de produções fora do eixo cinematográfico nacional. A produção durou cerca de um ano para ser concluída. Por ser um filme de ficção, cada detalhe foi trabalhado exaustivamente. O protagonista da história era o cantor Otto Maximiliano, vocalista de A Banda, que interpretava um expatriado do leste europeu, recém-chegado à terra brasilis, refazendo um percurso ancestral em meio a personagens e situações hilariantes, entre eles a “perua” vivida por Prazeres. O filme contava ainda com a participação do artista pernambucano Tavares da Gaita. As locações incluíram Vila Velha e o Parque das Esculturas, em Fazenda Nova (PE) e o filme teve sua pré-estreia no dia 9 de agosto de 1995, no Recife. Em América au Poivre, todos os atores falavam francês. Para compor sua personagem, Prazeres contou com a ajuda da professora Gley-

des Cardim, cuja colaboração foi fundamental para que a atriz aperfeiçoasse o sotaque. Gleydes era uma velha conhecida de Prazeres. Foi sua professora na época da graduação e, durante a adolescência da atriz, marcou época em Caruaru apresentando o programa Sociedade, na extinta Rádio Difusora local. O resultado agradou ao público e à crítica. América au Poivre foi exibido no XIX Guarnicê de Cine e Vídeo, realizado entre os dias 12 e 16 de junho de 1996, na cidade de São Luís (MA), um dos maiores festivais de cinema do Brasil. Embora fizesse “ponta” no filme, Prazeres recebeu prêmio de melhor atriz por sua atuação no curta metragem. O troféu Guarnicê é um dos mais cobiçados prêmios de cinema, somente superado pelo Festival de Gramado (RS). A atriz ficou sabendo da notícia através de um jornal. Lucivanda Leite, sua sobrinha, estava ao lado dela no momento. Surpresa com o resultado, Prazeres pediu que ela lesse para confirmar se era verdade. Em seguida, ligou imediatamente para Sergio Oliveira, diretor do filme, e marcou para pegar a homenagem. “É um troféu muito lindo, em formato de boi. O boi de São Luís do Maranhão; eu tenho o maior orgulho desse prêmio, porque é filho único no cinema”, explica Prazeres. O ano de 1995 reservou outras surpresas para a atriz caruaruense, que foi convidada para participar das filmagens de O Baile Perfumado, o primeiro longa metragem da carreira. O filme surgiu num momento em que o cinema pernambucano precisava dar uma guinada em suas produções. O Estado havia produzido o seu último longa metragem dezoito anos antes. A partir daí, o diretor Lírio Ferreira decidiu apostar na produção. A escolha de Prazeres Barbosa foi feita diretamente pelo diretor de casting, Rutílio Ferreira, depois de demorada pesquisa de campo, a partir de material publicado sobre ela pela imprensa. O Baile Perfumado é um filme de cangaço, que enfoca o bando de Lampião e tem em seu elenco atores como Tereza Seiblitz, Patrícia França, Claudio Mamberti, Jofre Soares, Aramis Trindade, Chico Accioly e Geninha da Rosa Borges. Prazeres recebeu o convite em dois de fevereiro de 1995 e, no dia seguinte, viajou a Recife para participar de uma entrevista com a

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direção. A única exigência foi para que levasse consigo uma foto, já que o seu currículo era por demais conhecido, como afirmaram os diretores. A atriz quase ficou fora da produção, mas o interesse da direção em tê-la no elenco prevaleceu. Nesse período, ela estava na fase final de montagem do espetáculo Valsa nº 6, que iria estrear em 1º de abril. As filmagens começariam em 15 de março e Prazeres não teria como conciliar a atuação nos palcos com as gravações. Os diretores, no entanto, informaram que ela teria toda liberdade para ausentar-se do set de filmagens sempre que suas apresentações exigissem. No Baile Perfumado, a atriz deu vida à camponesa Lurdinha. Ao todo, cerca de 400 pessoas estavam envolvidas na produção do longa, que teve a maioria de suas cenas rodadas em Pernambuco e trilha sonora de Chico Science e Fred Zero Quatro. A essa altura, Prazeres já era uma artista conhecida do público por seus trabalhos em teatro e pelos muitos comerciais veiculados na TV com a sua imagem. Os filmes exibidos em circuito comercial e com forte apoio de mídia, no entanto, contribuíram ainda mais para a divulgação de seu trabalho artístico em nível nacional. Ainda em 1995, Prazeres filmou o vídeo-documentário O Dia em que Roberto Faltou, escrito por Marinita Alves e Cacá Teixeira. Com o objetivo de educar e despertar o interesse de organizações nas comunidades rurais, o Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA), contratou a TV Viva (PE), sob a direção de Newton Pereira, para filmar na comunidade Pintada, a 12 quilômetros de Afogados da Ingazeira (PE), este vídeo especial. Enfocando a participação da mulher, Prazeres Barbosa interpretava Severina, uma liderança feminina que arregaça as mangas e parte para comercializar diretamente o tomate, na falta de Roberto, um líder jovem interpretado pelo ator Cláudio Ferrário. “Esse trabalho foi muito interessante porque ele veio em consequência de as pessoas me conhecerem no teatro. Isso é resquício de Sebastiana (personagem interpretada por ela no espetáculo A Promessa). Eu não tinha tanta experiência e acho que ficou meio forçado, mas é assim, as coisas vão acontecendo e vamos crescendo a cada trabalho”, analisa Prazeres.

O ano de 1995 foi encerrado com chave de ouro para a carreira da atriz caruaruense. Mais uma vez, Prazeres foi escalada para compor o elenco de um longa metragem. Dirigido por Aníbal Massaíne Neto, a nova versão do filme O Cangaceiro (um remake do clássico de 1953), tinha ares de super produção, por contar com a parceria da Paris Filmes, ter um orçamento alto e um elenco composto por atores como Luisa Tomé, Paulo Gorgulho e Ingra Liberato. Para participar do filme, Prazeres se submeteu a vários testes (realizados pela equipe também na cidade de Caruaru) e acabou sendo aprovada para viver a hilária Velha das Cabras. O set de gravações de O Cangaceiro foi a localidade de Venturosa, próxima ao município de Pesqueira (PE), cujo cenário natural é sempre disputado para filmagens do gênero. A produção contava ainda com a participação do ator, transformista e aderecista Waldemar Filho. Em março de 1996, os povoados de Couro Dantas e Beira-Mar, na zona rural de Pesqueira, Agreste Setentrional pernambucano, voltaram a ser cenário de gravações cinematográficas televisivas. O local foi escolhido por uma equipe da Rede Globo Nordeste, para as filmagens do especial Caminhos de Monte Santo, em alusão à Semana Santa. Escrito pelo diretor Valdir Oliveira, o vídeo foi dirigido por Jota Raposo, responsável pelo elenco e por cerca de 35 figurantes, escolhidos entre os moradores da cidade. A equipe passou oito dias no local e Prazeres Barbosa foi escolhida pela direção do especial para compor o elenco. Caminhos de Monte Santo foi exibido no dia cinco de abril de 1996 para todo o Nordeste brasileiro. “Valdir Oliveira é autor e diretor pernambucano e quando foi fazer esse especial, se lembrou de mim e me convidou. Ele conhecia o meu trabalho através da divulgação por parte da imprensa”, ressalta Prazeres. A atriz faz questão de destacar a importância que os veículos de comunicação impressos, televisivos e radiofônicos possuem na ascensão de sua trajetória artística. “Você tem obrigação moral de reconhecer as pessoas e entidades que lhe deram a mão. Nenhum órgão de imprensa de Caruaru e do Estado pode ficar fora desse meu registro de agradecimento. Como eu devo a essa imprensa maravilhosa! Eu sempre estive na mídia,

sem pagar um centavo”, afirma. Do diretor e artista plástico Marco Hanois, Chega de Cangaço, curta baseado na sátira aos filmes desse gênero, foi filmado em 1998. Após o êxito registrado com as filmagens de O Cangaceiro (1995), Prazeres foi convidada para participar desta produção. “O filme é, na verdade, uma comédia. Cangaceiros de mentira chegam à cidade e as pessoas pensam que são de verdade. Fiz uma participação ótima, com Aramis Trindade e Walmir Chagas. É muito gostoso, você morre de rir”, destaca a atriz. Em 2001, após um curto período afastada das produções cinematográficas, Prazeres Barbosa assinou contrato para participar de mais um filme cujo cenário era o Sertão pernambucano. A produção apresentava algumas particularidades que merecem destaque. Além de contar com atores de renome no elenco, As Três Marias foi o primeiro longa de projeção verdadeiramente nacional do qual a atriz participou (embora os trabalhos anteriores tenham sido exibidos em vários lugares do país). A produção marcou um novo momento em sua carreira artística. As Três Marias, de Aluízio Abranches, tinha um núcleo formado por grandes nomes da televisão brasileira, como: Marieta Severo, Carlos Vereza, Júlia Lemmertz, Maria Luísa Mendonça, Tuca Andrada, Wagner Moura e Lázaro Ramos. O filme teve cenas rodadas nas cidades de Pesqueira e Recife (PE). “Nessa época, eu ainda não tinha a visibilidade de alguém olhar para mim e dizer que me viu na TV, como acontece hoje. Eu caí de pára-quedas nessas produções”, acredita Prazeres. A contratação da atriz para a produção do longa foi motivada principalmente por sua atuação nos filmes O Cangaceiro, de Aníbal Massaíne e América au Poivre, de Sergio Oliveira. Na trama, ela viveu a governanta Adalgiza, que serve como contraponto na trágica narrativa da morte do pai, filhos e irmãos assassinados barbaramente por encomenda. As Três Marias foi exibido durante o VI Festival de Cinema do Recife, em maio de 2002, no Centro de Convenções, em Olinda (PE). A produção havia estreado um mês antes no 51º Festival Internacional de Cinema de Berlim, na Alemanha, um dos mais importantes eventos cinematográficos da Europa e do Mundo. Na ocasião, Prazeres teve a oportu-

nidade de ser vista pela primeira vez no exterior. Ainda no ano 2001, a atriz foi escalada para outra grande produção de caráter nacional: Espelho D’água – uma viagem ao Rio São Francisco, filme de Marcus Vinicius Cezar, produzido por Carla Camurati. O filme foi realizado com recursos aportados através dos incentivos previstos na lei federal, pelas empresas Petrobras e Eletrobrás. Um elenco de peso ajudou a dar vida ao roteiro. Entre eles, Fábio Assunção, Carla Regina, Regina Dourado, Francisco Carvalho e Charles Paraventi. No filme, Prazeres interpretava a misteriosa Almerinda, uma mulher que naufraga durante uma viagem numa canoa. A personagem é salva por Henrique (Fábio Assunção), que em seguida desaparece. No desenrolar da trama, quem ajuda a encontrá-lo é a própria Almerinda. A atriz conta que manteve boa relação com o ator durante as gravações. “O cara é espetacular. Ele é de uma relação maravilhosa e se torna íntimo de você”, define Prazeres. Ela diz que Fábio estava no set de gravações e disse que queria conhecer “sua” Almerinda. “Quando disseram que era eu, estávamos numa distância enorme, ele veio ao meu encontro, me abraçou, colocou-me no braço e rodopiou”, relembra. Outra lembrança inesquecível foram os elogios recebidos do diretor de fotografia do filme, José Tadeu Ribeiro. Admirado com a desenvoltura de Prazeres Barbosa em cena, ele afirmou diante da equipe de gravações: “Essa mulher é uma medéia”. Para gravar as cenas de naufrágio, que ocorreram num trecho do São Francisco, na cidade de Penedo (AL), Prazeres fez aulas de natação em Caruaru. Os treinos aconteceram na casa de uma amiga dos tempos de escola, Salete Menezes. O espaço amplo, com piscina, serviu durante alguns anos como cenário para as festas de confraternização da Companhia Prazeres Barbosa. No período de preparação para o filme, a atriz passou um mês aprendendo a nadar com Salete. As cenas no rio foram longas e cansativas. A produção criou um clima de muita chuva e vento artificiais, transformando o lugar num ambiente de impetuosa tempestade. “Eu estava um pouco insegura, porque sempre tive medo de água. Aprendi o possível e depois gravamos. No

momento em que eu já estava cansada, disse que não aguentava mais. A produção pôs uma bóia em mim, para que eu ficasse na superfície, pois a correnteza estava agitada. Entramos no rio entre seis e sete horas da noite e saímos três horas da manhã”, lembra a atriz. O resultado agradou a Prazeres, que diz gostar de ver o filme. “Fiquei muito feliz na época, porque quando assisto eu gosto. Quando nós fazemos as coisas somente em Pernambuco, sabemos do dinamismo que acontece, mas também sabemos da restrição. O contrário ocorre quando você parte para uma produção com pessoas que estão na mídia”, relata. O final do século XX reservou ainda para a atriz uma homenagem marcante na cidade de Limoeiro (PE). No final do ano 2000, a Consultoria de Ações Culturais, que tem como superintendente o arte-educador Fábio André, com apoio do governo local, inaugurou o Galpão das Artes, espaço cultural com capacidade para 150 pessoas. Prazeres Barbosa, “imortalizada” nos idos de 1992, quando teve seu nome escolhido para identificar uma sala de aula na Escola Gianete Silva, e, em 1995, quando lhe foi conferida uma placa no Hotel Centenário, hoje Plazza, ambos em Caruaru, foi o nome apontado por unanimidade pelos poderes Executivo e Legislativo e também pela classe artística limoeirense para dar nome ao camarim existente no Galpão das Artes. A solenidade aconteceu em meio a muita emoção e um discurso eloquente da homenageada. A identificação da população limoeirense com a atriz é destacada pelo produtor cultural Fábio André. “Prazeres Barbosa apresentou vários espetáculos em Limoeiro; além disso, ela contribuiu para o processo de formação de atores na cidade. Se eu pudesse defini-la em uma palavra, seria generosidade. Ela tem o dom de envolver a todos e de ver o ser humano que está por trás do artista. A carreira dela serve como inspiração para aqueles que estão na mesma caminhada”, avalia. Em 2003, Lírio Ferreira, autor do filme O Baile Perfumado (1995), do qual Prazeres havia participado, convocou a atriz para o elenco de sua mais nova produção: Árido Movie, que tratava da falta d’água no Brasil. “É Árido Movie porque é um filme seco, de corte seco”, definiu o autor em entrevista ao jornal paulistano Folha Ilustrada, de 17 de novembro daquele

ano.

O diretor comemorou o fato de “estrelas” da dramaturgia brasileira apostarem em seu projeto – o que significa dizer que eles aceitaram receber bem menos do que estão acostumados a ganhar. Além de Prazeres Barbosa, o elenco era formado, entre outros, por Selton Mello, Giulia Gam, Matheus Nachtergaele, Renata Sorrah e Gustavo Falcão. Havia ainda a participação especial do grupo musical Renato e Seus Blue Caps. Prazeres gravou cenas na cidade de Cabaceiras (PB) e afirma gostar bastante de sua participação, embora tenha feito apenas uma breve “ponta”. “Parece mentira, mas aquele frio que você sente para entrar no palco – e até hoje eu sinto – é o mesmo quando vou assistir a algum filme de que participei e outras pessoas estão vendo. É incrível, mas não passa. E quando assisto, fico me cobrando. Sempre acho que poderia ter feito melhor”, destaca. Sua ligação com o teatro vai além do mero fato de atuar e ser reconhecida pelo talento do qual é detentora. Prazeres Barbosa acredita no fazer teatral que transforma, informa e revoluciona. Sua preocupação maior é fazer com que as pessoas saiam preenchidas do teatro após assistirem aos seus espetáculos. “Nunca quis que as pessoas saíssem do teatro e me esquecessem. Teatro tem que ir além da portaria”, acredita. No dia dois de maio de 2004, o longa Espelho D’água estreou no Centro de Convenções de Pernambuco. Toda a equipe do filme estava presente. O evento contou ainda com participação da imprensa e de cineastas brasileiros. Um deles, João Falcão, diretor do seriado de TV Sexo Frágil, ficou impressionado com a atuação de Prazeres Barbosa. A atriz sequer poderia imaginar, mas naquele dia a visibilidade alcançada através de seu trabalho iria alterar de vez os rumos de sua carreira artística. Dez dias após a exibição, uma equipe de produção entrou em contato com a atriz sondando o seu interesse em participar de um teste para o longa metragem A Máquina. Prazeres havia sido indicada pelo próprio diretor do filme, conforme atestou Cibele Santa Cruz, a produtora que entrou em contato com a atriz. Convite aceito, Prazeres recebeu um texto (o mesmo lido pelo ator Paulo Autran na abertura do longa) e, no dia 18 de maio, submeteu-se à seleção com mais de 120 pessoas.

Por questões financeiras, a atriz correu o risco de não participar dos testes. Na data da seleção, a produtora ligou para confirmar a sua ida ao Recife. Prazeres comunicou que estava sem dinheiro para custear a viagem. - Eu não acredito, respondeu Cibele. - É, eu não tenho como ir, disse. - Então daqui a pouco eu te ligo novamente. Poucos instantes depois, Cibele retornou a ligação. Mandou que Prazeres arranjasse o dinheiro emprestado e a produção lhe reembolsaria após os testes. “O diretor queria mesmo que eu fosse”, revela a atriz. Prazeres estudou minuciosamente o texto, fez suas próprias pontuações (como de costume) e compareceu à Rec Produções, no bairro da Madalena, no Recife, que estava lotada. Durante os testes, perguntaram se ela sabia cantar. De forma descontraída, Prazeres disse que era cantora de banheiro. “Cante pelo menos Atirei o Pau no Gato. João quer saber apenas se você tem entonação”, recomendou Cibele. A atriz então lembrou de sua música favorita, A Natureza das Coisas. Em frente à câmera, cantou os versos que tem na ponta da língua ao acordar todas as manhãs. “Nossa, que coisa linda. João vai ficar muito feliz”, afirmou a produtora. Em seguida, levaram-na até a rodoviária, para que voltasse a Caruaru. Também lhe entregaram o dinheiro, conforme haviam prometido. Quatorze dias após o teste, Prazeres recebeu a confirmação de sua aprovação e, por coincidência – ou não –, sua personagem iria se chamar Prazeres. A surpresa maior veio com a notícia de que a trilha sonora do filme seria exatamente a música cantada por ela durante a seleção e com um detalhe: a gravação foi feita na voz da própria atriz. Antes de embarcar para o Rio de Janeiro, Prazeres recebeu uma visita ilustre em sua casa. A atriz Mariana Ximenes, protagonista do filme A Máquina, viajou a Pernambuco para fazer laboratório visando à composição de sua personagem, que era nordestina. A cidade de Caruaru foi uma das escolhidas pela atriz, por sua riqueza cultural e, sobretudo, por abrigar uma das feiras mais conhecidas do mundo. Certa manhã, Mariana estava na Feira de Artesanato de Caruaru,

quando Giselly Amorim, integrante da Companhia de Produções Artísticas Prazeres Barbosa, muito levada, abordou-a: “só por que é atriz não vai tomar o meu caldinho?”, perguntou a menina. Mariana Ximenes achou aquela situação engraçada e ao mesmo tempo interessante. Naquele momento, ela pensou estar diante da pessoa ideal em quem poderia se espelhar. Enquanto Mariana tomava o caldinho, Giselly aproveitou para dizer que também era atriz e que uma amiga sua iria participar de um filme no Rio de Janeiro. Curiosa, Mariana quis saber de quem se tratava. Ao ouvir que a amiga se chamava Prazeres Barbosa e que ambas iriam gravar o mesmo filme, a atriz não se conteve e pediu para que a levassem ao seu encontro. Giselly ligou imediatamente para Prazeres, a quem chama carinhosamente de “mãe” e disse que tinha alguém na linha querendo falar com ela. - Alô. É Mariana Ximenes. - Sim, respondeu Prazeres (que havia entendido Cláudia Gimenez). - Você é Prazeres Barbosa? - Sou. - Olha, eu vou fazer um filme com você e estou aqui em Caruaru, na Feira. Eu posso ir até aí? - Claro que pode. Cerca de dez minutos depois, Mariana Ximenes chegou à casa de Prazeres Barbosa, no bairro Caiucá, acompanhada pelos atores Gustavo Falcão (com quem fez par romântico no filme) e Milena (uma atriz do Recife que acompanhou o casal). Giselly foi junto. Ao passo em que os atores ficaram impressionados com todo o acervo que viram no espaço, Prazeres ficou encantada por ver em sua casa a atriz Mariana Ximenes, de quem era fã desde a época da novela Chocolate com Pimenta. “A gente se gostou logo de cara”, conta Prazeres, que estava à beira do fogão, vestida com traje de dona-de-casa. Após um longo bate papo, Mariana pediu a Prazeres uma sugestão de hotel onde eles pudessem ficar hospedados. Adiantou que poderia ser algo simples, uma vez que estavam ali por conta própria. Prazeres explicou que em Caruaru havia bons hotéis, uns mais baratos e outros mais caros. Mas, se eles não fizessem questão, poderiam ficar em sua própria casa.

“Mas não é muito incômodo?”, perguntou Mariana. “De jeito nenhum, é um prazer”, respondeu a atriz. O quarto de Vergílio estava desocupado e, quando eles viram a cama de casal “fizeram a festa”, diz Prazeres. Os atores ficaram três dias no lugar. Era junho e a cidade de Caruaru estava em clima de São João. Prazeres levou Mariana Ximenes para a Festa da Pamonha Gigante e também para o Pátio de Eventos Luiz Gonzaga, o principal pólo da festa junina na cidade. “Foi o São João de Mariana”, define a atriz. No dia cinco de julho de 2004, Prazeres viajou para o Rio de Janeiro, onde ocorreram as gravações do filme. A Máquina é uma história que tem como pano de fundo a pequena cidade interiorana de Nordestina, onde nada acontece de extraordinário, exceto a história de Antônio, personagem de Paulo Autran, que é remetida ao ano de 2050. O longa questiona a ação de Deus na criação do mundo, especificamente do tempo (que é a grande máquina), ironizando sutilmente as invenções do criador, e foi rodado no Polo de Cinema do Rio. “Deus inventou o tempo para então ter tempo de inventar o resto... inventou o céu que era para ter onde morar... e como o céu tinha que ficar em cima de alguma coisa, criou a terra... aí Ele foi e colocou o inferno debaixo da terra... oxente, agora que tem terra, eu tenho que inventar gente para morar lá...”, dizia um fragmento do texto de abertura, o mesmo lido por Prazeres em seu teste. A atriz ficou perplexa com sua personagem, que, segundo ela, tinha tudo a ver consigo mesma. Como se estivesse se materializando em sua vida a Teoria das Coincidências Felizes, do psiquiatra suíço Carl Gustav Jung, ela interpretou Prazeres, uma senhora que mora na rua principal de Nordestina e tem atividades diversificadas. É uma mulher ativa, alegre e serelepe. Uma profissional em costura, mas faz de tudo um pouco, até confeita bolo e canta para animar as festas da cidade. A sua casa é um atelier de roupas antigas, fantasias, máscaras e adereços para festas. Prazeres é uma senhora prestativa e confidente dos apaixonados, capaz de guardar segredos a sete chaves, para não separar, e revelar para juntar. Numa de suas cenas, a Festa dos Mascarados, ela can-

tou A Natureza das Coisas, a mesma canção que escolheu durante os testes ocorridos no Recife. “Em determinada passagem do texto mencionam até o nome de Caruaru. Fiquei muito feliz com tantas coincidências”, revela. As gravações marcaram profundamente a vida da atriz. Ela conta que apesar de ter participado de diversos filmes, nunca foi tão requisitada e tão bem tratada como fora pela produção de A Máquina (o sétimo longa da carreira e o filme que lhe garantiu maior tempo em cena até aqui). “Recebi tratamento VIP, em todos os sentidos”, afirma. Prazeres ouviu do diretor que o seu trabalho havia ido além de todas as suas expectativas e que ele não a iria perder de vista. Alguns acontecimentos inesquecíveis ocorreram na fase das gravações. Quando chegou ao set de filmagens, Prazeres já estava mais ou menos familiarizada com a equipe, sobretudo pela iniciativa da atriz Mariana Ximenes, que espalhou para todos a calorosa receptividade que recebera da atriz quando esteve em Caruaru. A Máquina tinha em seu elenco atores nordestinos e de renome no cenário nacional, como Vladimir Brichta, Lázaro Ramos, Wagner Moura, Aramis Trindade, Fabiana Karla e Paulo Autran, um dos ídolos da atriz. Trabalhar com Paulo Autran e conviver com ele durante os dias em que passou no Rio de Janeiro foi um dos melhores acontecimentos proporcionados pela produção a Prazeres Barbosa. A emoção foi completada quando, certo dia, no horário de almoço, enquanto a equipe levava o ator para um local reservado, onde iria fazer sua refeição, foi interrompida por um pedido do próprio Autran. “Onde está a Prazeres Barbosa? Eu quero almoçar com ela”. Em seguida, foram chamá-la. “Eu me belisquei para ver se estava sonhando”, confessa Prazeres. Outro momento marcante foi a gravação da música tema do filme, que aconteceu no estúdio de Robertinho do Recife. Prazeres dividiu os vocais com o conjunto JPG. “Foi uma emoção ímpar. Além do mais, no momento da Festa dos Mascarados, houve a participação de 250 figurantes, com figurinos da cidade de Bezerros (PE). O melhor de tudo foi saber que no CD com a trilha sonora do filme constaria a música A Natureza das Coisas, com a minha voz”, resume Prazeres.

A Máquina foi produzido pela Globo Filmes. A maioria dos profissionais envolvidos na produção estava ligada à emissora. Em 22 de julho, na reta final das gravações, um dos diretores de elenco da emissora sugeriu que Prazeres Barbosa fizesse um cadastro no sistema de atores da empresa. O convite foi feito através de Cibele Santa Cruz, a mesma produtora que manteve contato com a atriz desde o início dos testes. As emoções haviam chegado ao ponto máximo. Fazer um cadastro na TV Globo era o maior sonho de Prazeres, que já havia gravado um texto anos antes, em 1991, na cidade de São José do Rio Preto (SP), mas que não lhe trouxera nenhum resultado. Assim, ela enxergou naquele convite a oportunidade de finalmente ver o seu projeto se concretizar. “Era tudo o que eu queria, porque as pessoas pensam que é fácil fazer um cadastro na emissora, mas não é tanto assim. Eles precisam avaliar se valerá à pena. Além disso, você precisa ter DRT, o que implica ser profissional”, destaca. Nessa época, estava no ar a novela Celebridade, de Gilberto Braga, e a produtora Juliana Silveira entregou a Prazeres um texto retirado do roteiro da trama das oito, protagonizada por Malu Mader e Cláudia Abreu. A atriz teve todos os seus dados anotados, respondeu várias questões sobre vida pessoal e profissional, por fim, gravou o texto. Para efetuar o cadastro, Prazeres contou com o apoio do diretor João Falcão, que a liberou das gravações. Estava plantada a semente. Restava à atriz aguardar as consequências e foi isso que ela fez. Prazeres foi para o Rio de Janeiro no intuito de passar apenas seis dias, mas terminou ficando por lá 12 dias. Ao retornar a seu Estado, a atriz recebeu mais uma grande homenagem. A Federação de Teatro de Pernambuco (Feteape), indicou o seu nome como a grande homenageada do evento Todos Verão Teatro 2004, que aconteceu de 06 a 20 de agosto, no Recife. No hall de entrada do Teatro do Parque, foi montado um painel com o acervo particular da atriz, onde o público pôde constatar a razão da homenagem. No ano seguinte, a atriz foi escalada para o filme, Canta Maria, baseado no romance Os Desvalidos, de Francisco Dantas. O título é uma

referência à letra de uma canção composta por Daniela Mercury e Gabriel Povoas. Do diretor Francisco Ramalho Jr, Canta Maria foi rodado na cidade de Cabaceiras (PB), cujas ruas asfaltadas foram cobertas com terra, pela produção, seguindo a temática definida para o filme, que tinha em seu elenco José Wilker, Vanessa Giácomo, Marco Ricca, Tião D’Ávila e Neusa Maria Faro. Prazeres fez uma rápida participação, como a “mulher 1”. “Até hoje não vi o filme. Nem lembro bem o que fiz”, conta.

O INÍCIO NA GLOBO

Fazer um cadastro no sistema de atores da Rede Globo de Televisão não representa nenhuma garantia imediata para o artista. As coisas, na maioria das vezes, acontecem de forma vagarosa. Para alguns, sequer acontecem. Quando gravou um texto, em 2004, Prazeres ficou entusiasmada, porém, conteve a expectativa de que algo iria acontecer. “Pensei que fosse mais uma, até porque já havia feito outro que não surtiu nenhum resultado”, diz. Em setembro de 2005, um ano após as gravações de A Máquina, Prazeres Barbosa recebeu uma importante ligação. Era a Rede Globo sondando o interesse da atriz em fazer uma participação no seriado A Diarista, que ia ao ar todas as terças-feiras, às 22h30min, após o humorístico Casseta e Planeta. O seu corpo estremeceu. As emoções tornaram-se incontroláveis naquele momento. Aos 55 anos (sendo 23 deles dedicados ao teatro), finalmente, Prazeres Barbosa teria a oportunidade de ter o seu trabalho visto nas telas do Brasil inteiro e, acima de tudo, na emissora considerada a maior e mais importante cadeia televisiva do País. Imediatamente, a produção reservou a passagem aérea, enviou o texto por e-mail e marcou a data da gravação. Prazeres embarcou no dia seis de setembro de 2005 para o Rio de Janeiro. Assim que chegou ao aeroporto, um motorista estava a sua espera, segurando uma placa com seu nome, para facilitar a identificação. Em seguida, foi levada até o Projac (localizado em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro e considerado o maior núcleo televisivo da América Latina).

Ao adentrar o camarim, Prazeres foi recebida com estusiasmo pelas atrizes Cláudia Rodrigues, Dira Paes, Helena Fernandes e Cláudia Mello, protagonistas do seriado. A boa receptividade deixou-a super descontraída. Prazeres, que nessa época usava cabelos longos e cacheados, brincou com a cabeleireira no momento de arrumar as madeixas de acordo com o figurino. O ator Sérgio Loroza também foi muito gentil com a atriz, chamando-a de “sogra de Marinete”. Prazeres viajou com o texto inteiramente decorado. Quando começaram a gravar as primeiras cenas, o diretor José Alvarenga Júnior gritou: “corta, corta, esquece texto e vamos improvisar que ela tem o tempo da comédia”. Prazeres estava totalmente desinibida e procurou dar o melhor de si. As gravações fluíram naturalmente, de forma que as seis tomadas de cenas foram gravadas no mesmo dia. “Foi a maior alegria da minha vida, um momento ímpar”, disse à imprensa, na época. Em agosto do mesmo ano, a atriz havia sido sondada para participar do seriado Carga Pesada, mas ao ver seu desempenho no texto cômico, o diretor José Alvarenga decidiu que ela merecia uma participação mais significativa. No episódio, Prazeres interpretou Neucete, mãe de Ozinaldo, namorado de Marinete. O casal está em clima de amor quando chega a sogra, uma senhora mandona, chata, implicante e inconveniente, para acabar com a paz entre eles. No final, ela muda completamente quando conhece Figueirinha, por quem se apaixona. O episódio Trago a Diarista Amada em Três Dias foi exibido pela Globo no dia 27 de setembro de 2005. A TV Asa Branca, afiliada da emissora em Caruaru, esteve na casa da atriz, no dia em que as gravações foram ao ar, e mostrou a ansiedade e a alegria de Prazeres, ao lado dos integrantes de sua Companhia Teatral. “A repercussão foi extraordinária. Sinto que todos vibraram comigo”, afirma a atriz. Prazeres teve todas as despesas pagas pela emissora e recebeu um modesto cachê. Em entrevista ao Jornal Vanguarda de Caruaru, de 17 de setembro daquele ano, a atriz disse estar satisfeitíssima com a experiência e que se nada mais viesse a lhe acontecer, já estaria muitíssimo grata e feliz, e completou: “só vou acreditar que é mesmo verdade quando vir na telinha”.

Durante a estada no Rio, ela foi acolhida pela amiga Fabiana Karla, do seriado Zorra Total, e aproveitou para conhecer alguns pontos turísticos da cidade, antes de retornar a Caruaru. O ano de 2005 foi marcado também pela estreia do espetáculo Whisk pra Guiomar, interrompido antes do previsto pelos trabalhos que foram se sucedendo após a participação no seriado A Diarista. A trajetória na televisão começaria a ganhar novos rumos no ano seguinte. Antes disso, todavia, Prazeres Barbosa aceitou um convite para participar de um curta metragem produzido em Pernambuco. Em 2006, o jovem Eduardo Morotó, natural de Frei Miguelinho (PE), foi selecionado para participar de um projeto do Ministério da Cultura intitulado Revelando os Brasis. O concurso tem como meta possibilitar a gravação de histórias, com até 15 minutos de duração, em municípios brasileiros que possuam no máximo 20 mil habitantes. Eduardo foi ao Rio de Janeiro, onde participou de oficinas e desenvolveu o roteiro do filme. Quando voltou a Pernambuco, ele tinha apenas dois meses para produzir e rodar as imagens. O jovem diretor já conhecia o trabalho de Prazeres no cinema e também em teatro. Ao escrever o roteiro, Eduardo pensou na atriz para criar uma das personagens da trama. Ele entrou em contato com Prazeres e, em seguida, foi até a sua casa para apresentar a proposta. A atriz recebeu o material e algum tempo depois ligou para o diretor confirmando sua participação. “A partir daí ela foi super amorosa e atenciosa. Aprendi muita coisa com ela”, diz Eduardo, que é estudante de cinema da Universidade Estácio de Sá (RJ). As ideias de Eduardo Morotó foram transformadas no curta metragem Agreste Adentro. O filme conta a história de um garoto que vai todos os dias à mesma estrada esperar pelo pai que já morreu. Ele acredita que o pai foi embora, esqueceu de levá-lo e voltará para buscá-lo. Prazeres interpretava Maria, a avó do garoto que sai em busca do pai. “Quando eu visualizava essa personagem, já pensava nela fazendo, porque eu gostei muito do trabalho dela em A Máquina. Foi o meu primeiro contato com cinema”, ressalta Eduardo Morotó. As gravações aconteceram em julho de 2006, na cidade de Frei

Miguelinho. O projeto do Ministério da Cultura custeou a produção e os equipamentos. Nenhum dos atores recebeu cachê, inclusive Prazeres. “Quando eu fui até a casa dela, disse que não tinha remuneração e que a verba era para custos de produção e equipamentos. Prazeres me falou que não costumava mais trabalhar dessa forma e eu até achei que ela não fosse fazer. Depois ela leu o roteiro e topou”, revela o diretor. Agreste Adentro estreou em outubro de 2006 na Cinelândia (RJ). O filme foi exibido também no CinePE; no Festival de Cinema de Belém (PA); no Curta Canoa Quebrada, que acontece no estado do Ceará e outros lugares do Brasil. No mesmo ano, Prazeres Barbosa foi aprovada nos testes de mais uma produção exibida pela TV Globo, a microssérie A Pedra do Reino. Baseada na obra O Romance d’A Pedra do Reino e o Príncipe do Sangue do Vai-e-Volta, de Ariano Suassuna, a série de quatro capítulos foi dirigida por Luiz Fernando Carvalho e exibida pela Globo entre os dias 12 e 16 de junho de 2007. A complexidade do texto e o elenco composto apenas por atores nordestinos contribuíram para o fracasso de audiência registrado pela emissora no horário em que A Pedra do Reino foi exibida. Embora tenha sido submetida a alguns testes para integrar o elenco da microssérie, Prazeres Barbosa foi previamente indicada pela diretora de elenco Márcia Andrade, admiradora do trabalho da atriz. Quando a equipe chegou ao Recife, onde realizou uma etapa da seleção, ligou para Prazeres informando acerca dos testes e pedindo indicação de outros atores que pudessem ser encaixados na produção. Terminaram fazendo mais uma seleção em Caruaru. As gravações da série ocorreram na cidade de Taperoá (PB) e duraram cerca de três meses. O elenco ficou hospedado em casas alugadas e trabalhava o dia inteiro. Paravam apenas para comer e dormir. Os horários vagos eram ocupados com atividades afins, como oficinas, exibição de filmes e até aulas de dança do ventre. Poucos atores chegaram a Taperoá com um personagem definido. A Pedra do Reino é um texto essencialmente masculino, com poucas personagens femininas em sua história original, o que dificultava ainda

mais a definição de personagens. No dia em que se apresentou ao diretor Luiz Fernando Carvalho, Prazeres ouviu um comentário desanimador. Com a mão sob a cabeça da atriz, ele afirmou: “eu não tenho um personagem para você, quer ficar?”. - Olha, eu fiz o teste, fui aprovada, você reaprovou, mandou me chamar e eu estou aqui. Então, vou ficar. - Mesmo sem personagem?, insistiu o diretor. - Mesmo sem personagem. À medida que os dias iam se sucedendo, os atores foram recebendo seus personagens e trabalhando para enriquecê-los. Prazeres participava das oficinas preparatórias e estava envolvida em todas as atividades paralelas, mesmo sem haver recebido qualquer promessa de trabalho. Os colegas de profissão ficavam impressionados com a determinação da atriz. Um deles, o ator pernambucano Walmir Chagas, o “véio mangaba”, ficava contrariado com a paciência da colega. Walmir estava escalado para interpretar dois importantes personagens da história, os irmãos gêmeos Basílio Monteiro e Eusébio Monturo. Aborrecido com a falta de precisão na definição dos trabalhos e também na marcação correta dos horários de gravação, Walmir deixou inclusive de frequentar com assiduidade as oficinas. Depois de desmarcarem três vezes seguidas as filmagens de suas cenas, ele escreveu um bilhete para o diretor dizendo que não tinha tempo a perder e que estava indo embora. A produção ficou desesperada, pois iria rodar as cenas no dia seguinte e não havia quem o substituísse. A persistência de Prazeres Barbosa já durava mais de dois meses. Todos comentavam a sua disposição em permanecer na cidade sem ao menos saber se iria participar daquele trabalho. No dia em que Walmir Chagas foi embora de Taperoá, às 23h a atriz estava na casa em que ficara hospedada, assistindo a um filme, quando alguém bateu à porta, dizendo que Maria Clara mandara chamá-la. Maria Clara era uma das produtoras da microssérie e, geralmente, quando um ator era chamado à sua sala, recebia alguma bronca. Prazeres ficou amedrontada e perguntou para si própria o que havia feito de errado.

Quando foi ao encontro da produtora, a atriz foi recebida com um abraço, o que aliviou a péssima sensação de que iria receber alguma punição. - Olha, aconteceu um fato ruim, o ator Walmir foi embora, a gente precisa gravar amanhã e Luiz Fernando está “louco”. Eu disse para ele que havia uma pessoa que daria conta dos personagens e essa pessoa era Prazeres Barbosa. Ele receou por você ser mulher, mas disse que eu aprontasse. Prazeres não conteve as lágrimas. “Eu acredito em você, tenho lhe observado todo esse tempo e você tem um potencial incrível”, completou a produtora. Poucos instantes depois, a atriz estava vestida com o figurino do primeiro personagem. “Ele (Basílio Monteiro) usa bengala, fuma charuto e usa chapéu”, disse Prazeres para o diretor Luiz Fernando Carvalho, com roupas folgadas e calçando botas tamanho 42 (oito números a mais que o seu normal). A cena provocou muitos risos. Depois, o diretor mandou que ela trocasse o outro personagem. “Ele usa óculos, tem sempre um jornal à mão e é revolucionário”, descreveu, acerca do irmão Euzébio Monturo, antes de apresentar sua performance. Após as apresentações, Luiz Fernando determinou que Prazeres Barbosa iria interpretar os dois personagens. A atriz não havia recebido nenhum texto e no dia seguinte gravaria a primeira cena. Prazeres deixou o camarim perplexa, não apenas com a boa notícia que havia recebido, mas por outra decisão tomada por Luiz Fernando. O diretor enchera as mãos com os longos cachos da atriz e ordenara a Vavá (um dos mais requisitados maquiadores da Globo): “corta”. Dois minutos depois, Prazeres Barbosa estava praticamente sem cabelos. Mas a felicidade de interpretar dois personagens masculinos ocultou o impacto sentido ao perder a cabeleira que ela havia preservado durante muitos anos. “Eu adorava meus cachinhos e liguei na madrugada para Francisco contando que estava sem eles”, lembra Prazeres. Hoje, a atriz mantém cabelos curtos e sempre escovados. “Meu cabelo era macio e sedoso, mas eu não percebia o quanto envelhecia com ele. Meu filho sempre me dizia isso, mas não me conformava. Sempre que ia fazer alguma coisa na Globo eles escovavam e eu me sentia ridícula. Fabiana Karla dizia que se um dia eu fosse morar no Rio teria que tirar o cabelo

de pobre (risos). Dito e feito. Hoje estou completamente adaptada a isso e adoro passar a mão no meu cabelo lisinho”, confessa. No dia seguinte, todo o elenco estava reunido na praça principal da cidade cenográfica para gravar a cena da chegada do Comendador Basílio, acompanhado por uma banda musical. Prazeres espelhou-se na fanfarra dos grandes homens e entrou dando fortes baforadas em seu charuto. A cena desconcentrou toda a equipe, que caiu na risada, afinal, todos esperavam a entrada de Walmir Chagas. “Pronto, pronto, é Prazeres Barbosa. Volta tudo novamente e concentração”, determinou o diretor. Em seguida, Prazeres recebeu mais duas personagens, uma velha senhora fanática do Sebastianismo e uma engraçada prostituta. “A partir dali, os olhares para mim eram outros”, revela a atriz. “Eu fui perseverante até o fim, ligava para Francisco dizendo que estava desesperada, mas que iria permanecer”, completa. Para dar vida aos irmãos gêmeos, a atriz fez apenas um pedido ao diretor. Prazeres explicou que não iria mudar radicalmente a sua voz, mas prometia ter a alma masculina ao interpretá-los. Quando terminaram as gravações, Luiz Fernando, que é uma pessoa bastante reservada, colocou a mão sobre o ombro da atriz e saíram caminhando pela cidade. “Olha, eu estou muito satisfeito com você e lhe digo: você é um macho dos colhões roxos”, afirmou ele, na ocasião, justificando a perfeição com que ela compôs os personagens e a forma natural como agiu numa cena em que um dos irmãos seduzia uma mulher. O ano seguinte foi decisivo para a mudança de foco na trajetória artística de Prazeres. Após 25 anos de carreira nos palcos caruaruenses e com uma história marcante no cinema, a atriz foi convidada para compor o elenco fixo de uma telenovela na Globo e acabou trocando sua cidade natal pelo Rio de Janeiro. Em 2007, Prazeres teve ainda a oportunidade de gravar mais uma participação no seriado A Diarista. Quando filmou a primeira participação no programa, em 2005, Prazeres Barbosa agradeceu o convite ao diretor José Alvarenga Júnior e ouviu dele que aquela não seria a última, mas a primeira de outras participações. “Você é ótima! Acho que não vai demorar para a gente se ver

de novo”, disse, ao se despedir da atriz. O reencontro ocorreu dois anos depois, quando ela foi convidada para interpretar mais uma sogra da personagem Marinete. O episódio Aquele do Engarrafamento foi rodado nos dias 20 e 21 de junho, em externa, com locação no Parque de Diversões Terra Encantada (RJ). Prazeres deu vida à Cleumira, uma mulher com sotaque nordestino, um pouco mais refinada que a primeira sogra interpretada por ela e com visual conservador. Aproveitando a temática dos Jogos Panamericanos que aconteciam na cidade, os autores resolveram recriar várias situações em meio ao trânsito caótico. Num determinado momento, Marinete e Cleumira se encontram, batem boca e nas cenas seguintes acabam se dando conta de quem é quem. A confusão está armada. Prazeres já estava familiarizada com a equipe do programa e, nos bastidores, recebeu um incentivo importante da atriz Dira Paes (que interpretava a engraçada Solineuza). “Prazeres, esquece que tem tua idade, imagina que tem 16 anos e vem embora para o Rio de Janeiro”, orientou Dira, que é natural de Abaetetuba (PA). O episódio foi transmitido em julho de 2007 e, no dia 24 do mês seguinte, a atriz recebeu uma ligação definitiva da emissora. Já passava da meia-noite quando a diretora de elenco, Márcia Andrade, ligou para Prazeres, em Caruaru. A ligação veio acompanhada com um convite muito especial. Dois anos após colocar os pés pela primeira vez no Projac, Prazeres Barbosa retornaria ao centro de produções, mas com uma pequena diferença: desta vez seria para ficar. A diretora pediu que a atriz enviasse à emissora um DVD contendo trechos de suas participações no cinema. Prazeres passou horas selecionando o material e enviou no dia seguinte à Globo. As cenas foram vistas pelo diretor Wolf Maya, que gostou do resultado e ligou para o autor Aguinaldo Silva informando que havia encontrado a pessoa certa para dar vida à Shirley, uma das empregadas do elenco da novela Duas Caras, exibida no horário das 21h. Em seguida, as equipes de figurino e contrato colheram todos os dados e informações pessoais sobre a atriz, que viajou para o Rio de Janeiro no dia 15 de setembro

daquele ano. A primeira pousada de Prazeres na Cidade Maravilhosa foi o apartamento de Eduardo Morotó, com quem havia trabalhado no curta-metragem Agreste Adentro. “Isso eu não esqueço, porque ele deu a cama para eu dormir e dormia no chão, ao meu lado”, lembra Prazeres, que ficou cerca de duas semanas dividindo moradia com o amigo, até que a emissora colocou à sua disposição um apartamento na Avenida General Guedes da Fontoura, na Barra de Tijuca, de frente para o mar. O primeiro dos 210 capítulos da novela Duas Caras foi exibido no dia 1º de outubro de 2007. Prazeres Barbosa apareceu na trama pela primeira vez no segundo capítulo, veiculado no dia dois. A data deixou marcas profundas de eternas lembranças em sua vida, decorrentes dos momentos antagônicos experimentados naquele dia. Ao passo em que estreava sua primeira novela, em cena com a atriz Letícia Spiller, Prazeres completava naquele dia 58 anos de vida e precisou voltar às pressas a Caruaru. Em dois de outubro de 2007, a atriz perdia uma das pessoas mais importantes de sua vida, não apenas por havê-la criado e educado, mas por ter desempenhado um papel importantíssimo ao longo dos anos que viveram juntas. Aos 90 anos, Antonina Barbosa deixava o mundo dos viventes e tornava órfã a filha que a tinha como mãe, amiga e confidente. Morreu adepta da religião evangélica, que nunca abandonou mesmo com a pressão do esposo, ao ameaçar deixá-la caso se convertesse ao protestantismo. Da Paz e Neves estavam com a mãe no momento de seu falecimento. Prazeres soube da notícia através do sobrinho, Júlio Filho, que telefonou para ela no Rio. “Fiquei imensamente triste e desnorteada. A produção da novela soube e me mandou imediatamente para Caruaru. Senti o esteio da nossa casa desmoronar, mas sei que mamãe não morreu, ela foi ao encontro de Deus”, afirma Prazeres. “Mamãe morreu louvando ao Senhor. Pedia perdão a Deus. Ela se preparou para partir”, externa Neves, que cuidou da mãe nos últimos três anos de vida. Dona Antonina foi apaziguadora, em todas as situações. Morreu tentando unir a família. Queria ver a paz entre todas as filhas, mas não conseguiu. Apesar das dificuldades de relacionamento com o marido, ela

sempre zelou por ele, do primeiro ao último dia, mesmo separados. “Minha mãe era muito crítica. Ela tinha todas as qualidades, sempre falou com o olhar”, resume Mercês. “Era uma abençoada que morreu sem nenhuma doença. Balbuciou o hino Segura na Mão de Deus e Vai até os últimos instantes de vida. Morreu sorrindo. Não gemeu e nem chorou. Morreu como um anjo”, descreve Maria da Paz. Seu Antonio Inácio fumou praticamente a vida inteira. Nos últimos meses de vida ele adoeceu. Como havia dito anos atrás, quando o marido abandonou a família, dona Antonina cumpriu sua palavra. Antonio Inácio tinha um casal de filhos extraconjugais, Antonio e Maria Luiza, e estava vivendo na casa da Rua Martin Afonso com o rapaz, após separar-se da segunda mulher. Ela então mandou que Bernardo o trouxesse de volta para casa. Maria da Paz, Neves, Mercês e Socorro cuidaram do pai. No dia de sua morte, Antonio Inácio, aos 93 anos, porém, sem doenças aparentes, acordou, tomou banho, café, almoçou e jantou. Sentou-se numa cadeira de balanço e, por volta das 20h, foi, aos poucos, perdendo a respiração. Socorro Barbosa pôs a mão em seu coração e percebeu que os batimentos do pai foram parando até que ele expirou. Retiraram o corpo e o encaminharam ao Instituto de Medicina Legal. Dona Antonina o viu apenas no dia seguinte, já no velório. A casa em que a família morou, na Praça Coronel Porto, era espaçosa, mas desgastada. Havia muitas goteiras e Bernardo prometeu à mãe que, quando melhorasse de vida, compraria um espaço melhor para ela viver. À medida que foi se firmando, iniciou a construção de um imóvel na Rua Imperatriz Leopoldina, bairro Indianópolis, em Caruaru. Na época, ele estava noivo e as irmãs pensavam que a casa seria para seu uso. Porém, quando a construção foi concluída, ele cedeu para a mãe viver. Lá, faleceram seu Antonio Inácio e dona Antonina. Bernardo manteve os pais até os últimos instantes de vida. A maioria dos irmãos é enfática ao reconhecer sua contribuição. Além dele, Socorro Barbosa também é lembrada quando o assunto é solidariedade. “O esteio da nossa família foi Socorro, que se doou financeira e intelectualmente a todos os irmãos, para que eles vivessem bem, inclusive ajudando a

educar os sobrinhos e, Bernardo, por ter o melhor poder aquisitivo. Num período em que enfrentei dificuldades, já casada, fui morar em Feira de Santana (BA). Minha filha, Lucivanda, ficou com mamãe e as minhas irmãs. Socorro foi uma mãe para ela”, externa Maria da Paz.

DUAS CARAS: A PRIMEIRA NOVELA

Em Duas Caras, novela de Aguinaldo Silva, com direção geral de Wolf Maya, Prazeres foi escalada para o núcleo cômico da trama, formado ainda pelos atores Letícia Spiller (Maria Eva), Oscar Magrine (Gabriel), Sérgio Vieira (Petrus) e Marcela Barroso (Ramona). Apesar da boa sintonia entre eles em cena e da personagem vivida por Prazeres ter popularizado o bordão “arrasou meu bem”, Shirley não deslanchou. A atriz acredita que o principal motivo da não ascensão foi o fato de ela não ter vida própria dentro da história. “Naquele momento em que ela foi morar na Favela da Portelinha eu pensei que Shirley fosse crescer na trama, mas não aconteceu. Então, acho que fui incompetente, porque se eu tivesse sido competente o autor teria escrito para mim. Eu me mantive o tempo todo quieta no meu lugar, talvez essa inibição tenha atrapalhado um pouco. Mas Wolf Maya me disse que a primeira novela era sempre assim e que eu ficasse tranquila”, explica. Prazeres teve oportunidade de contracenar com grandes artistas em sua primeira novela, a exemplo de Renata Sorrah, Débora Falabella, Bárbara Borges, Lázaro Ramos, Fafy Siqueira e Antonio Fagundes. Duas Caras foi exibida pela última vez em 31 de maio de 2008. O encerramento aconteceu no Shopping Downtown, na Barra da Tijuca. “Quando eu assistia em casa, sempre sonhava em participar de uma festa como aquela. Parecia mentira. Tudo o que eu via na televisão, porque eu adoro o Vídeo Show, aconteceu naquele dia”, resume a atriz. Prazeres, aliás, teve oportunidade de ser entrevistada pelo seu programa favorito na época da novela. A atriz foi destaque no quadro Caras Novas, que a apresentou como “Prazeres Barbosa, de Caruaru para o Rio de Janeiro e do Rio de Janeiro para o Mundo”. À medida que a atriz fala-

va, a reportagem transmitia cenas de seus trabalhos e destacava a atuação nos palcos e no cinema. Fizeram questão de dizer que ela “veio para ficar”. “Uma coisa que eu gosto de registrar é que sou uma atriz brasileira, pernambucana e caruaruense, porque tenho um orgulho e um carinho muito grande pela minha cidade. Eu não desconhecerei isso nunca, porque esse foi o meu berço de formação”, destaca. Assim que terminaram as gravações da novela, Prazeres foi convidada para mais uma produção global, o seriado Por Toda Minha Vida, que presta homenagens póstumas a artistas que marcaram época no Brasil. A atriz viveu dona Aurélia, mãe do apresentador Chacrinha (homenageado da série), na fase de seus 19 anos. O programa, dirigido pelo jovem Pedro Vasconcelos, foi exibido em agosto de 2008. Na reta final da novela A Favorita, de João Emanuel Carneiro (um dos grandes sucessos da emissora no horário nobre, protagonizado por Cláudia Raia e Patrícia Pillar), Prazeres foi convidada para interpretar a Tia Raimunda, uma mulher nordestina que precisa fazer o parto de sua parente mais próxima, a personagem Céu (Déborah Secco). As gravações aconteceram em janeiro de 2009. Além de reencontrar o ator pernambucano Zé Ramos, com quem atuou no espetáculo NegroRei (1997), Prazeres Barbosa foi recebida com festa pela atriz Mariana Ximenes, que interpretava a rebelde e radical Lara. “Quando ela me viu, foi logo me chamando de ‘mainha’. Disse a todos os atores que ela foi à minha casa e ficou três dias por lá”, relembra Prazeres, que teve ainda a oportunidade de conhecer a atriz Glória Menezes. Dias antes, Prazeres Barbosa havia ido até o Teatro Leblon, acompanhada pelo ator pernambucano Lucas Neves, para assistir ao espetáculo Ensina-me a Viver, estrelado por Glória Menezes. O ingresso custava R$ 80,00 e como não aceitaram meia-entrada, acabaram voltando sem assistir. Quando almoçava com a equipe da novela no Projac, Prazeres recebeu da própria atriz um convite para assistir à peça. “O par romântico dela era um rapaz de 16 anos e eu queria muito ver esse espetáculo”, conta Prazeres, que na época estava namorando o jovem Chrystian e se identificou com a história.

A atriz ressalta que nunca sofreu qualquer tipo de discriminação na emissora pelo fato de ser nordestina. “Eu costumo dizer que não gosto de me espelhar naqueles que não chegaram lá, mas naqueles que chegaram, como Fabiana Karla, Wagner Moura, Lázaro Ramos, Arlete Salles, porque são pessoas que saíram do Nordeste e estão provando que o artista nordestino também brilha. Eu sempre quero focar a minha vida, minhas ilusões e meus sonhos em pessoas que venceram”, confessa. O contrário não se pode afirmar dos profissionais de sua própria região. Prazeres sempre quis participar do espetáculo da Paixão de Cristo, em Fazenda Nova (PE), onde existe o maior teatro ao ar livre do mundo, mas foi literalmente barrada por um dos diretores do evento. “Ouvi ele dizer para mim que precisavam de mulheres altas, bonitas e jovens. Nunca mais disse sequer que tinha vontade”, afirma, em tom de desânimo. Do relacionamento mantido com os colegas de profissão, na Globo, Prazeres garante que tem apenas boas situações para comentar. “Deborah Secco, Cauã Reymond e Iran Malfitano, são meninos carinhosos, amigos. Por exemplo, Wolf Maya quando me viu, disse: ‘poxa, você é uma atriz da porra, pena que está fazendo esse papel sem vida, mas você é arretada menina’. Ouvir isso de um Wolf Maya? Também vi Renata Sorrah dizer ao diretor: ‘você não imagina o monstro que é essa menina’. Eu começo a ter consciência de que não sou uma atriz medíocre, mas sei que ainda não estou no patamar das grandes estrelas”, diz. Apesar de ter realizado o sonho de trabalhar na televisão somente aos 55 anos, em plena maturidade, Prazeres acredita que o reconhecimento não tardou. “Acho que as coisas acontecem no seu tempo. Nada é tarde, nada é cedo, apenas acontece no momento em que tem que acontecer”, justifica. “O tempo chegou e tenho feito várias coisas para a Globo. Na TV o artista começa a ser mais valorizado. Hoje, as pessoas me abraçam como se eu fosse diferente, mas na verdade somos todos iguais. Artistas são pessoas comuns, que choram, têm problemas de saúde e de família”, completa. A felicidade de estar onde sempre quis ainda a torna um pouco cética, diante dos acontecimentos que vêm se sucedendo. “Quando me vejo dentro do Projac, aquela monstruosidade de lugar, agradeço a Deus e muitas vezes

duvido de que realmente estou lá. A cada trabalho sinto que vou adquirindo um milésimo de experiência, porque estou num ambiente completamente desconhecido. Era tudo o que eu sempre quis”, afirma Prazeres. Sobre o fato de interpretar personagens nordestinos e serviçais nas novelas e seriados até aqui, a atriz diz não enxergar as oportunidades como estigma, mas algo natural e decorrente da natureza específica de cada trabalho. “Televisão e cinema trabalham com perfil. No teatro eu posso interpretar uma menina de 15 anos, na TV não. Quando eles procuram o perfil de uma mulher nordestina, a partir de 50 anos, aparecem na tela uma infinidade de atrizes. E eu tenho tido muita sorte, porque o meu rosto e o meu jeito são de nordestinos e casa bem com o que eles querem. Fico muito vaidosa em relação a isso, pois não fui indicada por ninguém”, ressalta. Outro fato importante nesse novo momento da carreira artística de Prazeres Barbosa é que os trabalhos vão surgindo sem que ela corra atrás de nenhuma oportunidade. “Alguns colegas sempre dizem para eu telefonar para diretores e produtores, mas nunca liguei. A única vez que entrei em contato foi quando mudei definitivamente para o Rio e enviei e-mail para todos eles informando”, revela. Alguns meses após o término da novela Duas Caras, Prazeres foi submetida a um processo cirúrgico que mudou radicalmente o seu visual. O face lifiting (cirurgia de face e do pescoço), foi feito na Clínica Ivo Pitanguy, no bairro de Botafogo (RJ), pela Dra. Natale Ferreira Gontijo de Amorim. A médica conheceu Prazeres de uma forma inusitada e deixou a atriz intrigada ao lhe oferecer a cirurgia plástica. Em 2007, quando foi ao Rio gravar sua participação no seriado A Diarista, Prazeres aguardava o vôo para retornar a Caruaru, quando foi abordada pela fiscalização do Aeroporto do Galeão para que pagasse a quantia de R$ 15,00 a fim de garantir a segurança de sua bagagem. Irritada, ela reagiu. “Como garantir a minha bagagem? Eu estou viajando, pagando a passagem e ainda preciso de segurança para a minha bagagem. Não meu bem, isso é um assalto”, disse, naquele momento. Em seguida, a atriz sentou-se ao lado de uma jovem senhora e perguntou para ela se também havia sido abordada. Ela respondeu que não.

Acostumada à correria da ponte aérea Rio - São Paulo - Minas Gerais, a Dra. Natale jamais havia conversado com alguém num aeroporto, mas logo se identificou com a comunicativa senhora, aparentemente irritada. As duas iniciaram uma conversa e Prazeres explicou que esteve no Rio gravando um trabalho para a Globo e agora estava voltando a Caruaru. A médica observava atentamente cada detalhe da atriz. Assim que chegou a hora de embarcar, as duas se despediram. - Gostei muito de você. Você é uma pessoa muito boa, disse a médica. - Ah, a gente nem se conhece, mas é que eu gosto de fazer amizades, respondeu Prazeres. - Eu gostaria de lhe dar um presente, afirmou a Dra. Natale - Como assim, você nem me conhece?, resistiu. - Eu vejo que você é uma boa atriz, mas acho que quando a gente lida com a imagem, precisa sempre melhorar e eu gostaria de lhe oferecer um rejuvenescimento. Naquela hora, Prazeres imaginou que a jovem mulher estivesse lhe oferecendo algum tipo de produto de beleza e respondeu que sempre usava cremes para não envelhecer a pele. A médica perguntou se ela aceitava o presente. Um pouco desconfiada, respondeu que sim. Antes de partir, ela entregou um cartão a Prazeres. “Quando eu olhei, estava escrito que ela trabalhava na Clínica Ivo Pitanguy. Fiquei surpresa e ela me disse que era cirurgiã plástica. Eu disse que nunca pensei em fazer uma cirurgia e quase não acreditei. No final, trocamos telefone e e-mail e ela foi embora”, lembra. Quando chegou a Caruaru, Prazeres contou às pessoas o que havia acontecido. A atriz achou aquela situação cômica e pensou que fosse “um conto de fadas”. Dois meses depois, quando recebeu o convite para a novela Duas Caras, ela resolveu escrever um e-mail para a médica, informando que estava indo para o Rio de Janeiro. Para sua surpresa, a Dra. Natale lhe respondeu, dizendo que queria encontrá-la. As duas passaram um dia juntas em Ipanema. “Ela me levou ao Gula Gula, que é o local onde existe a melhor comida do lugar. Passeamos à beira-mar, tomamos água de coco e trocamos ideias. Outra vez ela al-

moçou comigo e eu fiz a comida do Nordeste. Nos tornamos amigas e ela me levou para conhecer o seu esposo, o Dr. Charles Sá. Eles me levaram para o cinema, para a pizzaria e eu me sentindo uma criança nas mãos deles. Depois, combinamos para fazer a cirurgia quando acabasse a novela”, conta Prazeres. Assim que terminaram as gravações, em maio de 2008, a atriz enfrentava aquele período conturbado em sua relação com Francisco Torres e a médica incentivou-a a resolver os problemas para ficar calma. A atriz fez todos os exames no Rio e, em seguida, foi para Caruaru comunicar ao marido a separação. De lá, escreveu um novo e-mail para a médica informando a data que retornaria. A resposta foi imediata e continha o dia da cirurgia: seis de julho. Já no Rio, a atriz passou por uma perícia e teve os seus exames avaliados. A médica perguntou o que a incomodava e ela respondeu que o seu pescoço a deixava com a aparência envelhecida. Dra. Natale sugeriu uma “levantada” geral. Prazeres concordou, afinal, estava recebendo um presente. Marcada a cirurgia, a atriz chegou à clínica acompanhada pelo filho, Vergílio Barbosa. Toda a equipe já estava preparada para recebê-la. O médico cardiologista a cumprimentou e mandou que ela tomasse um comprimido. Demorou alguns instantes e ela disse para o filho que não estava sentindo nenhuma reação. Em seguida, “apagou”. Prazeres entrou na sala de cirurgia às oito horas da manhã e acordou às nove da noite, com a cabeça totalmente enfaixada. Quando abriu os olhos, ela perguntou a Vergílio se os médicos haviam terminado a cirurgia. “Já mamãe, a senhora está toda cirurgiada”, respondeu o filho. Quando ele informou a hora, ela demorou a acreditar. Prazeres ficou internada na clínica durante dois dias, ingerindo apenas líquidos e depois recebeu alta. A médica afirmou que o período de recuperação iria durar seis meses. A atriz não sentiu nenhuma dor no pós-operatório e se recuperou rapidamente. “Dormi um mês com a cabeça mais alta que o corpo, para que nada ficasse deformado. Dra. Natale achou incrível, pois com um mês eu já estava praticamente sem inchaço. Depois eu agradeci, dizendo que tinha apenas a minha amizade para oferecer e ela

respondeu que aquilo lhe bastava”, relembra. Prazeres continuou indo ao consultório até ser liberada definitivamente. “Quando fui tirar as fotos para vermos o antes e o depois, as pessoas não acreditavam que era eu mesma. Estava completamente diferente. Acho que rejuvenesci mais de 10 anos. Isso é um conto de fadas e eu disse à Dra. Natale que ficava constrangida, afinal não se costuma oferecer vaidade de presente para ninguém”, confessa a atriz, que decidiu emagrecer nesse período, fazendo dieta e caminhada. “Ela ficou muito feliz com essa cirurgia. O cansaço físico dela estava marcado na face”, analisa a irmã, Maria da Glória. No Rio de Janeiro, Prazeres retomou as origens e tem feito várias oficinas de teatro no Sesc Copacabana, com renomados professores. Numa delas, a atriz participou da leitura dramatizada do clássico Édipo Rei, ministrada pelos professores Eduardo Wotzik e Gustavo Gasparini, com participação de um elenco de peso composto por Renata Sorrah, Amir Haddad, Pedro Paulo Rangel e Nelson Xavier. Nessas oficinas, a atriz recebeu um convite para integrar o elenco do espetáculo O Ruído das Teresas. Johnny Luz, um dos diretores que estava no Sesc, explicou para ela que havia iniciado a montagem de um espetáculo e uma das atrizes abandonara o projeto para fazer um trabalho para o Governo de Pernambuco. “Ele disse que me achou interessante e perguntou se eu aceitaria participar da peça. Tudo o que eu queria era fazer teatro no Rio, pois é complicado para mim, que estou iniciando agora, estrear um espetáculo na cidade”, afirma. A autora do texto, a atriz Mary Ellen Aquino, conferiu o material de Prazeres disponível na internet e aprovou a indicação. “Nós passamos o texto e eu adorei”, destaca. O Ruído das Teresas é um musical de humor mórbido sobre a desordem entre fantasia e realidade. A peça diverte ao passo que leva o espectador a sonhar, trazendo várias reflexões sobre o universo feminino, remetendo a temas como amor, sexualidade, fama, inveja, esquizofrenia e loucura. O espetáculo seria encenado por Prazeres Barbosa e pela atriz Ângela Valério. Os ensaios ocorreram no apartamento de Ângela, pela dificuldade que existe em encontrar espaço disponível nos teatros do Rio de

Janeiro. “A ideia era que a peça viajasse o Brasil inteiro e eu queria que minha cidade fosse presenteada, pois seria uma forma de matar a saudade dos palcos caruaruenses e de as pessoas verem o meu trabalho”, diz Prazeres. Por falta de patrocínio, o espetáculo não chegou a acontecer. Esse novo momento vivido por Prazeres, entretanto, tem lhe permitido a rara oportunidade de, aos 60 anos, conseguir sobreviver da própria arte. Atualmente, ela é contratada pela Rede Globo de Televisão e tem trabalhado para se firmar no mundo das produções televisivas no Brasil. “Prazeres acredita no seu potencial, por isso, aos 60 anos, enquanto muitas se aposentam, ela encontra seu lugar num mundo de estrelas. Prazeres conquista mais que sucesso: amor dos seus, respeito dos colegas e admiração de quem só pode vê-la nas telas pequenas e grandes da vida”, comenta Lucivanda Leite, sobrinha da atriz. Para o diretor José Manoel Sobrinho, Prazeres é uma atriz de projeto e uma referência por suas habilidades criativas, mas também por sua capacidade de dirigir a própria carreira. “Estive com ela no Rio de Janeiro e vi como tem sido difícil, como a luta é perene. Impressiona-me a capacidade de continuar decidindo sobre a sua trajetória, disputando num mercado insalubre e saturado. Acredito que Prazeres Barbosa está a procura de mais uma infinidade de grandes personagens para continuar construindo uma das histórias mais bonitas do teatro pernambucano”, expressa José Manoel.

UM ESPAÇO PARA VIVER ARTE

Geralmente, o artista que trabalha em produções cinematográficas recebe um cachê determinado no momento em que assina o contrato. Quando gravou A Máquina, Prazeres Barbosa recebia por dias trabalhados. A atriz gravou cenas durante doze dias e o dinheiro conquistado possibilitou o início de um antigo projeto. Do valor recebido, ela destinou sete mil reais para a construção do seu próprio teatro. A ideia da atriz, ao criar o Teatro Prazeres Barbosa, além de manter a sua Companhia num local fixo (eles nunca tiveram uma sede oficial e sempre utilizaram o prédio da Casa de Cultura José Condé), era trabalhar

os diversos segmentos artísticos com as comunidades de bairros periféricos em Caruaru. “A arte leva a tudo”, defende Prazeres. O espaço seria uma forma de superar outra grande dificuldade enfrentada pelos artistas de Caruaru: a ausência de um Teatro Municipal. Na cidade, existem apenas quatro teatros, o João Lyra Filho, o Teatro do Sesc (privado), Teatro Lícius Neves (criado pelo Tea), além do Teatro Difusora, que é, na verdade, um grande auditório. “Isso é lamentável, algo deplorável. Caruaru tem mais de 150 anos e o que a cidade tem oferecido a esse berço de artistas? Todos os que passaram pela administração têm uma parcela de culpa. Eu não sou ninguém e fiz um teatro que comporta entre 130 e 150 pessoas”, critica Prazeres. Desde os tempos da Escola Elisete Lopes, quando desenvolvia atividades artísticas nos finais de semana, ela mantinha o desejo de permanecer contribuindo para o desenvolvimento pessoal de pessoas que necessitam de oportunidades. “Queria desenvolver teatro, música, artes plásticas, dança, reunião para a terceira idade, enfim, trabalhos que promovessem o crescimento pessoal e intelectual do indivíduo. Esse foi o meu grande objetivo ao construir o meu teatro, não pela vaidade de tê-lo, mas pela necessidade de formar e ajudar pessoas”, analisa. Na mesma rua onde viveu, no bairro Caiucá, a atriz possuía um terreno e começou a traçar o projeto por conta própria. Adiante, chamou um pedreiro, fez o orçamento, mandou limpar o espaço e, no outro dia começaram a construção. Era 25 de julho de 2006, quando Prazeres e seu Expedito, o pedreiro contratado, iniciaram o alicerce do prédio. Exatamente como ocorrera no período em que estava construindo a sua casa, ela começou as obras com poucos recursos. A conclusão foi possível graças à ajuda que recebeu de amigos decididos a compartilhar do seu sonho. “Contei com o apoio de muitas pessoas queridas, por isso prefiro não citar nomes para não correr o risco de esquecer ninguém”, afirma. Um presente recebido por ela, na concepção do teatro, porém, merece ser registrado. No período em que iniciou a construção, Prazeres estava gravando o curta Agreste Adentro, onde contracenava com o artista plástico Caxiado, um ícone das artes no Estado de Pernambuco.

Interessada em ter uma obra sua no hall de entrada do teatro, a atriz contou para Caxiado sobre a iniciativa. “Disse para ele que não poderia pagar o preço que uma obra sua merecia”, diz Prazeres. Quando terminaram as gravações, Caxiado foi até a casa da amiga e pegou algumas fotografias dela. Alguns dias depois, ele iniciou a criação de sua obra. Um grandioso painel de cimento em alto relevo, com a imagem de Prazeres Barbosa ao lado de elementos da cultura pernambucana e de alguns de seus personagens. Abaixo da imagem, está escrita uma frase sugerida pela própria atriz e que descreve sua real intenção ao pensar na criação do espaço: “Aqui plantarei esperanças e serei feliz”. O resultado deixou-a muito contente. “Eu quase não acreditei. Só existe outro trabalho daquele no Museu do Barro, no Espaço Cultural de Caruaru. A obra de Caxiado é o que existe de maior valor em meu teatro, vale mais do que o próprio prédio. Ele fez com o maior amor e quando o procurei para acertar as contas, ele me disse que era um presente”, recorda. A parte superior do teatro, construída em formato de moradia, para abrigar camarins, figurinos e parte de seu acervo, foi pensada propositalmente pela atriz. “Como não sei o que a velhice maior me espera, se algum dia tiver que voltar a Caruaru, vou morar lá. Viverei em cima e farei teatro embaixo”, explica. Quando as obras completaram um ano e já estavam quase prontas, Prazeres fez um bolo para comemorar junto com os pedreiros. “Em 2008, eu terminei definitivamente”, destaca. No Rio de Janeiro, a atriz comprou 150 cadeiras para instalar no espaço. Em junho de 2009, quando esteve em sua terra, viabilizou o fornecimento de energia elétrica e água para o espaço. Prazeres pretendia inaugurar o teatro assim que ficasse pronto, mas sua ida para o Rio de Janeiro a impediu de concretizar o projeto. Junto com Francisco Torres, ela chegou a confeccionar os troféus que iria distribuir a cada um dos parceiros que a ajudaram. “Mas ‘amanhã pode acontecer tudo, inclusive nada’ e houve esse desvio. Eu não me arrependo de nada, amanhã posso voltar e começar tudo novamente. Se não voltar, outros farão”, afirma. A Fundação de Cultura e Turismo de Caruaru demonstrou interesse em ocupar o prédio para desenvolver atividades culturais com a ju-

ventude. O contrato está em fase de andamento. “Não tenho pensamentos imediatos, mas espero algum dia inaugurá-lo com meu nome. Ainda preciso regularizá-lo. Quero envelhecer fazendo teatro e gostaria inclusive de construir um túmulo lá, mas fiquei sabendo que não é possível”, revela. “Esse teatro não é apenas do interesse da Companhia de Produções Artísticas Prazeres Barbosa ou de uma atriz, é a possibilidade de um espaço para formação, fruição e circulação da produção de teatro em Pernambuco e Caruaru. Sem dúvidas, vai representar para a comunidade uma transformação real de pensamento, principalmente de crianças e adolescentes. É um teatro de Caruaru”, analisa Romualdo Freitas. A mudança da atriz para o Rio também contribuiu para que os trabalhos da Companhia de Produções Artísticas Prazeres Barbosa parassem definitivamente. Nesse período, o grupo teve dois espetáculos aprovados pelo Prêmio Miriam Muniz, promovido pela Funarte, com patrocínio da Petrobrás. Com A Feira, fizeram 10 apresentações no Teatro João Lyra Filho. Como Prazeres já estava no Rio, acabou sendo substituída por outra atriz, selecionada para interpretar a velha Filó. Os Brincantes do Boi Estrelado, texto de Benício Júnior, foi apresentado em comunidades de Caruaru. A ida definitiva de Francisco para o Rio de Janeiro, no início de 2009, representou o fim dos trabalhos realizados pela Companhia Prazeres Barbosa ao longo de 17 anos. “Hoje ela está parada. O nosso último trabalho foi no São João de 2008, com a parte de dança. Já que estamos definitivamente no Rio, decidimos parar”, explica Francisco.

PROJETOS E DESAFIOS

Diferente do teatro, quando o ator tem liberdade para montar os seus próprios espetáculos, na televisão os convites vão surgindo de forma inesperada. “A Globo é uma caixa de surpresas. Por exemplo, todos me perguntam sempre qual a próxima novela, o que vou fazer em seguida e, verdadeiramente, eu não sei. Quando estou gravando, eles vão me buscar em casa, me levam para o estúdio, produzem, separam figurino e fico esperando a hora de gravar. O Projac é um lugar muito silencioso e de um

profissionalismo tremendo”, comenta Prazeres. Em 2009, a atriz recebeu outros importantes convites para emplacar trabalhos na televisão e no cinema. Em abril, gravou uma participação especial no longa americano The Expendables (Os Mercenários), ao lado de Sylvester Stalonne. No mês seguinte, foi convocada pela Globo para gravar cenas de dois capítulos do seriado Malhação, exibido diariamente às 17h. Prazeres interpretou dona Lourdes, empregada de confiança do Dr. Lemgruber, que morreu de enfarto e deixou o filho, Caio, órfão de pai. A mãe do menino só pensava em dinheiro e abriu mão da guarda do filho pela módica quantia de três milhões de reais. Nas gravações, Prazeres reencontrou a atriz Helena Fernandes, com que atuara nos dois episódios de A Diarista. Ela interpretou a mãe do personagem Caio, vivido pelo jovem ator Humberto Carrão. Ao constatar o novo visual da atriz, após a cirurgia plástica, os produtores trataram logo de renovar o seu cadastro na emissora. Enviaram um texto por e-mail para que Prazeres decorasse e, alguns dias depois, marcaram a gravação. “Eles acharam que eu fiquei ótima e me disseram que com esse perfil eu teria mais chances de conseguir outros trabalhos”, lembra. A experiência rendeu bons resultados. Em agosto do ano passado, Prazeres foi convidada para fazer uma participação na novela das seis, Cama de Gato, escrita por Thelma Guedes e Duca Rachid, com direção de Ricardo Waddington. A atriz gravou cenas no Portal da Chapada das Mesas, na cidade de Imperatriz (MA) e interpretou Maria, uma mulher da roça que acolhe Gustavo Brandão (Marcos Palmeira) em sua humilde casa. As imagens foram ao ar no capítulo seis. Quando retornou ao Rio de Janeiro, no dia 4, após as gravações no Maranhão, Prazeres recebeu mais um convite, desta vez para participar de uma produção cinematográfica: Chico Xavier, dirigido por Daniel Filho. O filme, lançado este ano, marcou o centenário de nascimento do mais famoso médium brasileiro. O convite partiu da co-diretora do longa, Cris D’Amato, que conheceu Prazeres durante as gravações de A Máquina, em 2004. A notícia surpreendeu a atriz. “Logo que cheguei de Imperatriz, no

Maranhão, quando fui gravar cenas de Cama de Gato, recebi telefonema da estagiária de direção Natália Soutto convidando-me para participar do filme. Ela informou que fui indicada por Cris D’Amato e Cibele Santa Cruz, que também trabalharam no filme A Máquina, de João Falcão. Fiquei impressionada por elas não terem me esquecido, apesar de tanto tempo que nos encontramos”, afirma Prazeres. No filme (adaptado da biografia As Vidas de Chico Xavier, escrita por Marcel Souto Maior), Prazeres interpreta Glaucia Macedo, uma senhora que vai pedir ajuda ao médium, no entendimento de uma carta psicografada pelo Dr. Bezerra de Menezes. “É uma cena recheada de emoção”, garante a atriz. O longa foi rodado nos estúdios da Herbert Richers, em Usina (RJ). A produção é de Lebery Produções, com co-produção da Globo Filmes. O ator Nelson Xavier foi o escolhido para interpretar Chico, pela notável semelhança com o homenageado, a começar pelo sobrenome. A produção foi lançada no dia dois de abril de 2010, dia do nascimento do mineiro Francisco Cândido Xavier, o Chico Xavier. No elenco, estão ainda Rosy Campos, Cininha de Paula, Christiane Torloni, Tony Ramos e Cássia Kiss. Prazeres Barbosa se define uma pessoa feliz e explica que tem vivido intensamente esse novo momento. A atriz garante que não alimenta a ilusão de que as coisas devam acontecer exatamente como esperamos, mas tem trabalhado em prol de suas realizações. Seu último trabalho na televisão foi a personagem Rondônia, do elenco de apoio da novela Tempos Modernos, que acabou em julho desse ano. Em março, a atriz gravou cenas para outro importante filme de projeção nacional que será lançado ainda este ano: Tropa de Elite 2. O longa, produzido pela Zazen Produções Audiovisuais, tem um roteiro de Braulio Montovane com direção de José Padilha. O elenco é praticamente composto por homens; além de Prazeres, apenas três outras atrizes participam da segunda versão do filme. As gravações aconteceram entre os dias 18 de janeiro e 31 de março de 2010. Para interpretar a Dona Olga, uma senhora que se envolve com a

máfia do morro e termina assassinada, Prazeres Barbosa participou de uma trajetória de testes, além de fazer preparação com a produtora Fátima Toledo. Sonhando e juntando pacientemente e de forma criativa as peças do quebra-cabeça de sua própria vida, ela prossegue com a mesma pertinácia com a qual iniciou a carreira vitoriosa nos palcos pernambucanos. Prazeres tem a alma de uma artista nata. Há artistas que são construídos e há pessoas que nascem artistas. Nascem para brilhar. Como esta mulher. Uma mulher chamada Prazeres. Prazeres de Caruaru. Prazeres de Pernambuco. Prazeres do Brasil e do Mundo. Simplesmente Prazeres. Estrela do teatro brasileiro. Uma mulher cujo futuro é sempre uma incógnita. Mas com uma certeza já revelada ao longo do tempo: uma estrela que nasceu para brilhar no imenso e surpreendente palco da vida.

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