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Opinião, Paulo Viegas
OPINIÃO PAULO VIEGAS
DIRETOR DE SUPORTE E COMPRAS DO GRUPO VENDAP
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Prevenção como forma de redução do risco
Éimprescindível, para o gestor de frota, conhecer bem a operação, as suas exigências e os seus limites. Só assim é possível escolher a viatura mais adequada e os acessórios que podem facilitar a sua utilização, visando um menor número de paragens entre revisões. Dessa forma consegue manter a frota com maior taxa de operacionalidade, procurando eliminar o risco de indisponibilidade e dos custos associados à mesma, bem como dos custos de utilização e sinistralidade. A disponibilidade de frota é o indicador maior para o gestor de uma frota com estas características. Para tal, é fundamental uma estratégia de prevenção, associada a ferramentas que permitam ao responsável de frota antever o que o condutor por vezes ignora ou “descura”, bem como a celebração de acordos com parceiros que partilhem parte deste risco, procurando diminuí-lo. É comum optar-se por viaturas de redundância, contudo, há que ter presente os custos associados a uma viatura que serve exclusivamente para substituir outra. A frota ideal é a que não avaria e só fica imobilizada nos momentos devidamente programados. Ou seja, a solução é que todas as paragens sejam programadas, prevenindo todas as avarias ou necessidades possíveis.
1.
a escolha da viaTura Quando a operação impossibilita a utilização de uma viatura pesada, a opção consequente será uma viatura de 3.500 kg. Nestas, a atenção deve dirigir-se para a carroçaria que melhor serve a operação, bem como o tipo de tração, o rodado duplo ou simples, a caixa manual ou automática, o tipo de cabine, consoante sejam os trajetos (mais ou menos urbanos e a dimensão das equipas a transportar) e, obviamente, o tipo e volume de carga.
A escolha é facilitada pela oferta do mercado, no que às características de carroçaria concerne. É certo que esta oferta estreita um pouco na opção de rodado duplo, e são flagrantes as fusões e partilha de projetos dos fabricantes de viaturas comerciais, que tornam as diferenças entre modelos praticamente inexistentes.
2.
a forma de aquisição Existindo uma forte componente de incerteza, a opção financeira de aquisição também deve refletir e proteger esse risco. A impossibilidade de responsabilizar os utilizadores nas viaturas partilhadas potencia os danos por utilização negligente, sendo certos os elevados custos de reparação no final de cada contrato. Também a utilização extrema destas viaturas potencia danos que se traduzem em custos de reparações. Se por um lado se passam alguns riscos de manutenção optando pelo AOV, há que prever uma fatura elevada em danos de terminação. Pior será o cenário se existirem muitas intervenções corretivas e o contrato de AOV não for negociado salvaguardando estas situações.
A opção de aquisição e gestão direta da viatura, através de uma boa rede de parceiros, devidamente comprometidos com SLA1 definidos, acaba por aportar maior valia quando comparados os TCO finais das viaturas nos diferentes modelos de “aquisição” – AOV vs aquisição direta. Existem também os modelos híbridos, ou seja, aquisição direta e contratos de manutenção com gestoras de frota. É certo, porém, que a influência na rede de assistência diminui e assim mantém-se o risco da indisponibilidade de viaturas. Contudo, eliminam-se os custos por “danos de terminação”.
Cada frota deve ser segmentada quanto à sua utilização e, por esse motivo, as opções de financiamento podem divergir. Também é certo que o mercado se adapta às necessidades da procura, portanto, a cada renovação, aquisição ou ciclo de frota, devem estudar-se todas as opções de financiamento possíveis, desenhando um quadro de vantagens/desvantagens e respetiva estimativa de custo de cada uma das soluções.
3.
a manuTenção Outro fator crítico é a rede de assistência. É desejável comprometer a marca com disponibilidade de consumíveis e peças de maior rotação. Estrategicamente, fidelizar números de viaturas a diversos centros de reparação com a cobertura geográfica necessária, minimiza tempos/custos de deslocação para intervenções programadas ou corretivas. Esta partilha de informação entre gestor de frota / consultor da marca é fundamental
1. SLA, Service Level Agreement ou Contrato/ Garantia de Nível de Serviço: compromisso estabelecido com o prestador de serviços, com cláusulas bem definidas, incluindo para situações de incumprimento.
para o sucesso da operação durante o ciclo de vida do veículo.
Contudo, em frotas numerosas e de maior dispersão geográfica, os acordos de assistência têm de ir “além-marca”. Salvaguardando as intervenções que possam interferir nas garantias do fabricante, existem manutenções que podem ser suportadas em redes de oficinas genéricas ou mesmo locais. Regra geral, os acordos locais garantem maior sucesso, uma vez que a disponibilidade e flexibilidade do negócio podem permitir serviços personalizados, com SLA definidos, inclusive de prioridade no atendimento. Existem soluções de oficinas móveis que podem efetuar pequenas manutenções após o horário das rotas, nas instalações da própria empresa, permitindo que a viatura esteja disponível no dia seguinte, ao invés de ter de parar durante o dia para substituir travões (por exemplo).
O cenário ideal seria o gestor de frota ter conhecimento de todos os alertas do quadrante da viatura e outros sinais de aviso “pré-avaria”, de forma remota, podendo assim antecipar paragens de curta duração que, a não serem detetadas a tempo, podem tornar-se paragens longas e com custos associados significativamente superiores.
Hoje em dia é possível obter este tipo de informação, com alguma fiabilidade, através de software de telemetria que a maioria das empresas utiliza para fins logísticos (gestão de rotas). Estes sistemas já fazem alguma leitura do quadrante. Nalguns casos, será necessário desenvolvimento, tudo depende da informação que se pretende utilizar. Não havendo oportunidade deste tipo de solução, o controlo das manutenções preventivas e alertas em software mais simples, fundamentados na monitorização dos quilómetros percorridos (através do registo dos quilómetros a cada abastecimento), pode ser uma ajuda essencial na prevenção, agindo o gestor de frota antecipadamente, promovendo paragens mais curtas, ainda que ligeiramente mais cedo do que seria suposto.
Um bom exemplo são as trocas de pastilhas de travão, que, regra geral, têm períodos de vida mais curtos do que os anunciados pelos fabricantes, tendo em conta a utilização incomum e intensa a que o sistema de travagem é sujeito. Prevenindo, trocando pastilhas de travão mais cedo, cerca de 5.000 km, elimina-se o risco de substituição de conjuntos de pastilhas, discos e bombas. A diferença de custo entre estas reparações é enorme, bem como os tempos de paragem: até 3 horas para trocar pastilhas, ao contrário dos dois ou três dias (tendo em conta a disponibilidade de peças) para substituir o conjunto de peças.
Além do custo direto da reparação, há que somar os custos indiretos pela indisponibilidade da viatura, comummente substituída por outra de aluguer de curta duração, ou pelo incremento de rotas noutras viaturas para sua substituição.
O uso intensivo verifica-se, entre outros fatores, pela elevada distância percorrida diariamente, pelo peso da carga transportada, pelas características dos trajetos/rotas ou pela rotatividade de condutores por viatura. Estes fatores, em conjunto, obrigam a um maior cuidado na aquisição/renovação e gestão da frota
4.
o impacTo dos conduTores Dependendo da especificidade de cada operação, estes condutores estão sob influência de stress fomentado pela própria operação, pelas janelas horárias dos clientes, pelos objetivos do cumprimento de rotas, pelo trânsito, pelas condicionantes de lugar para parar/estacionar, entre outras. Ainda que experientes, podem ser afetados por estas condicionantes, descarregando, ainda que inconscientemente, na mecânica – ou na noção errada de que quanto mais acelerarem, mais rápido despacham o serviço, ou descurando a própria mecânica, desde que a viatura os leve até ao próximo ponto de paragem.
Escusado será dizer que em condutores menos experientes, o risco de avaria aumenta exponencialmente. Mais não seja, pela falta de maturidade para gerir os fatores de stress a que estão sujeitos.
Perante estes fatores, o índice de sinistralidade/danos acompanha esta tendência de igual forma. O gestor de frota tem um papel fundamental na melhoria destes indicadores.
Porque nem sempre existem oportunidades para contacto direto com os condutores, ou mesmo para ações de formação ou breves workshops – estamos a tratar de frotas com uma utilização intensiva –, contudo, a escolha de alguns extras de auxílio à condução promovem a redução do stress e do cansaço dos utilizadores. Ainda que possam parecer apenas servir para elevar os custos na fase de aquisição, se numa análise à sinistralidade for identificado que uma boa parte dos sinistros são provocados em manobras (as quais o condutor nem se apercebe em grande parte das vezes), talvez faça sentido dotar as viaturas com câmaras de marcha atrás, por exemplo.
Decisões que podem até ajudar a negociar os prémios de seguro.
Os custos com transmissões, embraiagens e outras reparações nestes conjuntos, originados por uma utilização em terrenos menos uniformes ou quando necessária maior força de propulsão ou reboque, têm uma percentagem significativa nos custos de manutenção. Por isso, talvez seja de considerar algum sistema eletrónico de bloqueio de diferencial, ou outro que permita ao utilizador socorrer-se deste em vez de exagerar na utilização da caixa e embraiagem. Noutros casos, a aquisição de viaturas com caixa automática pode revelar-se benéfica, não permitindo ao utilizador sobrecarregar o conjunto motor-transmissão.
5.
a formação dos conduTores
A preocupação da operação é focada na eficácia da tarefa ou rotina do core empresarial. A condução é um meio para esse fim e, na realidade, ações de formação de condução obrigam a alguma indisponibilidade da operação ou parte dela, ainda que seja possível recorrer a algum escalonamento. Ainda assim, a serem eficazes, as formações obrigam a constantes reforços, pois o stress das operações diárias rapidamente pode sobrepor-se à memória das boas práticas lecionadas.
O compromisso dos condutores nos bons resultados de TCO destas viaturas é fundamental. Neste sentido, é relevante a partilha de indicadores de performance de condução, como por exemplo médias de consumo, índices de sinistralidade e custos de manutenção, devidamente segmentados por características de percursos e cargas. Esta partilha origina maior consciência nos condutores, nem que seja por comparação. Estas iniciativas podem aumentar o compromisso dos condutores, que, no limite, são quem influencia diretamente os custos nesta tipologia de viaturas.
conclusão
Resumindo, as viaturas comerciais de utilização intensiva aportam maior risco que qualquer outra tipologia de frota, sendo a sua gestão um desafio.
Pela intensidade da utilização, pela incerteza dos custos que daí podem advir, não é suficiente uma análise clássica ao TCO de cada modelo no momento da compra.
Assim, há que ter em conta: 1. O fator assistência/rede de assistência vai influenciar o custo de utilização, não só pelo custo dos materiais, mas pela maior/menor disponibilidade de frota; 2. Qualquer solução de redundância, seja com viatura própria ou alugada, aporta custos elevados; 3. A elevada sinistralidade penaliza gravemente os prémios de seguro; 4. A ineficácia dos condutores tem impacto direto no custo de combustível, no custo de manutenção, na pegada ecológica das operações e na rentabilidade das organizações.
Tendo estes fatores em conta, a especificidade de cada negócio, as condicionantes de cada operação, são igualmente proporcionais às soluções de mercado.
É nesta tipologia de viaturas que o gestor de frota tem de existir, ser criativo, colocando ao serviço das organizações e condutores conhecimento e experiência, na tentativa de diminuir custos, prevenir indisponibilidade, reduzir sinistralidade e aumentar a certeza no que à partida parece tão incerto.
Oaumento da atividade comercial urbana devido ao aumento das compras pela internet, cujo ritmo se tem mantido após os períodos de confinamento, fez crescer a procura de determinado tipo de veículos: furgões de maior volumetria para transporte de mobílias ou eletrodomésticos e viaturas refrigeradas para entrega de bens de consumo adquiridos online são apenas dois exemplos de necessidades com que as empresas de logística urbana se viram confrontadas. Por vezes sem terem em parque veículos em número suficiente para acorrer ao aumento do negócio.
Uma das vias de consegui-lo no imediato foi fazer uso de alugueres temporário através de empresas de rent-a-car. Na Sadorent isso traduziu- se “em mais 21% no número de contratos de aluguer emitidos e 11% na faturação”, confirma Jorge Pires, gestor de desenvolvimento empresarial desta rent-a-car, fazendo a empresa apostar mais nesta área do negócio.
“Aumentámos o foco no serviço Corporate expandindo a Sadorent a Car & Cargo, efetuámos melhorias operacionais e tecnológicas no centro de reservas e de apoio ao cliente, agilizámos o processo de entrega e de recolha (gratuitas num determinado raio), com a possibilidade de checkin online, para maior rapidez no levantamento de viaturas e minimização de contactos presenciais devido à pandemia”, explica Jorge Pires.
“Além, naturalmente, da obtenção da certificação
‘Clean&Safe’, com presença desse selo e material de proteção sanitária nas viaturas a entregar”.
Tendência de crescimenTo
Se a pandemia veio dar impulso ao negócio de aluguer de veículos comerciais, equilibrando as quebras sentidas com a redução do turismo em Portugal, contudo, a procura destes veículos
Aluguer: um negócio em expansão
Para as empresas que atuam nas áreas do transporte de bens, construção civil e assistência técnica é primordial o estado de prontidão das suas próprias viaturas. Afinal, delas depende a continuidade do negócio. Por isso, quando carências operacionais requerem uma resposta rápida, a solução mais imediata é o aluguer temporário de um veículo comercial
já vinha a crescer antes de 2020. Daí que muitas empresas de aluguer de viatura sem condutor já promovessem a oferta de produtos para satisfazer necessidades de aluguer temporário, caso de festivais e outros eventos, mas também soluções flexíveis com prazos mais alargados e ajustáveis à execução de uma obra, por exemplo.
Na Europcar “durante a pandemia não existiu crescimento, mas sim uma alteração de segmentos de negócio, nomeadamente o negócio da distribuição cresceu”, com “maior procura da parte de PME e ENI”, revela Paulo Moura, diretor-geral da Europcar Portugal. O aumento da logística urbana durante os períodos de confinamento fez com que fosse um segmento de negócio em forte expansão no último ano e meio. Porém, a Europcar admite que “antes disso já registávamos um grande crescimento em todas as atividades ligadas ao turismo, como restauração, hotelaria ou eventos, por exemplo”, diz Paulo Moura.
No momento, a procura por veículos de mercadorias continua a apresentar sinais de crescimento e, com o aliviar das restrições e regresso em força de algumas atividades, nomeadamente as ligadas ao Turismo, as RaC perspetivam também o aumento da procura de comerciais de transporte de passageiros.
“Com o fim do período de confinamento e o retomar gradual da atividade económica, observámos um forte aumento na procura por viaturas comerciais, com um crescimento na ordem dos 50% face ao ano de 2020”, afirma António Silva, diretor-geral da Hertz Portugal.
“A procura aumentou de forma global, abrangendo todos os segmentos de empresas. Esta situação surge como consequência da diminuição da oferta de viaturas comerciais para aquisição ou AOV/leasing no mercado, o que motivou os empresários a procurarem outras alternativas dentro deste segmento”, adianta o responsável da Hertz.
Esta é outra razão apontada para o aumento da procura de viaturas, reconhecem mais empresas de rent-a-car ouvidas pela FLEET MAGAZINE: a dificuldade de disponibilidade imediata de unidades novas (uma das RaC inquiridas refere seis meses de espera), quer para as empresas fazerem face ao arranque da atividade económica, quer para se ajustarem às alterações dos hábitos de consumo de muitos portugueses.
Estas dificuldades, partilhadas por empresas de aluguer de veículos e por alguns dos seus clientes, estão a sentir-se principalmente em determinadas tipologias de viaturas. Furgões de maior volumetria e pick-up são os géneros mais citados nas respostas, agravado pelo facto de alguns destes modelos terem de sofrer adaptações e transformações para satisfazem necessidades específicas – transporte de bens refrigerados ou reforços para uso em estaleiros de obras, por exemplo –, o que impede a sua imediata disponibilidade.
evolução da aTividade de aluGuer de comerciais
A generalidade dos clientes, não apenas grandes empresas mas também PME com alguma dimensão, dispõem de contas empresariais que têm na génese acordos de preço pré-negociados. O tipo de contrato e de viatura e mesmo a duração do aluguer variam bastante de acordo com o tipo de atividade.
Ao mercado do aluguer de comerciais ocorreram também muitos pequenos empresários das áreas da restauração e do pequeno comércio, que optaram por fazer entregas de refeições portaa-porta ou transferiram parte da atividade do retalho para plataformas em redes sociais, por exemplo. E a incerteza quanto à continuidade do negócio, ou as dificuldades na aquisição direta justificam que continuem a recorrer ao aluguer temporário de uma viatura, explica Ricardo Ramos, diretor-geral da Valpirent.
Os pequenos empresários procuram sobretudo furgões mais compactos. A tarefa de fazê-lo tornou-se mais fácil porque algumas das companhias de rent-a-car — e não só — desenvolveram soluções digitais para permitir, no imediato e sem pressão de terceiros, através do smartphone ou computador, encontrar uma viatura comercial disponível para um determinado período, que pode ser até de apenas algumas horas, simular o custo e, de uma forma bastante rápida, agilizar a contratação do serviço de aluguer.
Soluções digitais desta natureza são igualmente úteis para clientes particulares, que podem proceder à operação de aluguer da viatura pela mesma via sem grande esforço (quase como se fosse um car-sharing, com a diferença de que estas viaturas têm de ser levantadas e entregues em locais específicos), ou por via indireta, caso das parcerias estabelecidas entre empresas de rent-a-car e lojas retalhistas, como a Makro, Leroy Merlin ou IKEA.
Independentemente da pandemia, esta fatia do negócio das empresas de renta-car está a crescer e a conhecer novos clientes
PuB