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Elétricos são a solução?

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Ensaios

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—— O aumento dos custos de utilização dos veículos comerciais, nomeadamente devido à escalada do preço do gasóleo, pode ajudar muitas empresas a decidiremse pela utilização de viaturas elétricas. Mas se a autonomia continua a ser o principal obstáculo, é preciso prestar atenção a outros fatores

Ocrescimento da oferta de ligeiros de mercadorias 100% eléctricas está a facilitar a transição energética neste segmento. E há cada vez mais empresas que estão a aproveitar a renovação das unidades com motor a combustão para introduzir furgões elétricos, sempre que as autonomias previstas para determinado modelo permite manter a operacionalidade das rotas.

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Decisão que pode também fazer parte de diretrizes internacionais, com o objetivo de reduzir a pegada de carbono ou atingir a neutralidade carbónica e, com isso, robustecer os indicadores de sustentabilidade da empresa.

Exemplo desta vontade é a Nestlé que, depois de dar início à transição com as viaturas ligeiras de passageiros, alargou a eletrificação aos ligeiros de mercadorias. Atualmente várias unidades Mercedes eVito de chassis longo, com motor elétrico de 85 kW e bateria de 60 kWh, cumprem rotas de distribuição de algumas marcas do grupo junto do canal HORECA.

“O balanço é francamente positivo. Para além do menor impacte ambiental, os veículos mostram-se cómodos, silenciosos e com ótimo desempenho ao nível da condução”, diz Pedro

Sampaio, Iberia & Zona Europe Sustainability

Manager.

Não basta pensar em veículos elétricos

A transição energética nesta classe de veículo representa, contudo, um desafio maior do que a mera decisão de adquirir de veículos elétricos ou híbridos plug-in da categoria de passageiros. Antes de mais porque se tratam de viaturas operacionais, de cujo sucesso do trabalho depende, em grande medida, a atividade da empresa.

Depois porque requer um conhecimento aprofundado das rotas de serviço para um planeamento bastante afinado, com a instalação de infraestruturas de carregamento nos locais adequados e em número suficiente para continuar a garantir todas as operações.

Sem esquecer a necessidade de adequar os utilizadores a uma nova realidade de condução. Curiosamente, talvez a tarefa mais facilitada depois de vencida alguma resistência inicial.

“É verdade que existem algumas limitações e desafios que requerem adaptações, aprendizagem e investimento adicional. Em termos de autonomia, apenas possibilita o uso dos veículos em rotas mais curtas (em média rotas até 140 km) e implicou o investimento em pontos de carga em função das necessidades da equipa comercial”, refere o responsável da Nestlé.

Cuidados acrescidos com VCL elétricos

Ao contrário das facilidades de carregamento que a maioria dos veículos ligeiros de passageiros apresenta atualmente, a transição energética de uma frota de ligeiros de mercadorias implica um estudo aprofundado das capacidades de cada veículo.

Neste segmento coexistem viaturas similares com diferentes velocidades de carregamento, o que, na prática, pode significar que modelos iguais necessitem de períodos de tempo diferentes para restabelecer a mesma capacidade da bateria, ou seja, receberem energia suficiente para garantir autonomias equivalentes.

Há ainda que ter em atenção que o TCO de um comercial elétrico depende bastante das possibilidades de carregamento da viatura nas instalações da empresa. O investimento em infraestrutura necessária (trabalhos de instalação dos carregadores, cabos para transporte de energia até este equipamento e, no limite, a instalação de um posto de transformação) deve, contudo, ser encarado como um investimento futuro e, por conseguinte, antever potencial de ampliação.

Para reduzir custos e aproveitando benefícios fiscais para fazê-lo, algumas empresas optaram também pela instalação de fontes de energia renovável, como painéis fotovoltaicos.

Tudo isto concorre para que uma boa gestão de todos estes processos exija uma articulação bastante abrangente dentro da empresa, sem esquecer a atenção necessária com a formação (e consciencialização) dos utilizadores destes veículos.

Carregamentos públicos e transformações

Carregar alguns veículos elétricos na rede pública deve ser encarado apenas como uma solução de recurso. Em primeiro lugar devido ao fator preço, mas também porque, dependendo da tipologia de viatura, nem sempre é uma tarefa fácil de executar. Repare-se no espaço que ocupa um furgão de chassis longo, o impedimento em altura de uma caixa de carga elevada, ou a necessidade de manobra para aproximar a viatura do cabo de carregamento elétrico.

Nas transformações é preciso ter em conta que a execução de um trabalho numa viatura elétrica é, ou pode ser, dependendo da transformação que se pretende, mais exigente do que num comercial com motor de combustão. Não apenas devido ao perigo que advém da voltagem elevada da bateria, como de toda a complexidade elétrica e eletrónica envolvida ou até do risco de deterioração da bateria.

Por outro lado, a instalação de equipamento vai acrescentar peso e, por via disso, aumentar o consumo e reduzir a autonomia. O mesmo acontece com o débito de energia que pode ser necessária para o bom funcionamento de algum deste equipamento, como, por exemplo, para sistemas de refrigeração. Embora também existam soluções com fontes próprias de energia.

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