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Ações chinesas: uma história de quedas mas também de oportunidades
AÇÕES CHINESAS
UMA HISTÓRIA DE QUEDAS MAS TAMBÉM DE OPORTUNIDADES
As ações do gigante asiático estão há um ano e meio a sofrer um grande golpe. São várias as causas, entre elas a desaceleração imobiliária, a regulação de setores de crescimento ou a política de COVID zero. Mas também existem oportunidades.
Aimportância da República Popular da China para a economia mundial é colossal. Não só pelo seu tamanho, é a segunda maior do mundo com 17,5% do PIB global, mas também porque é uma economia muito aberta, tem o maior superavit comercial do planeta e é um parceiro comercial mais importante do que os EUA para 70% dos países (incluindo Espanha ou Alemanha). Mas, apesar desta relevância, as suas ações apenas representam 5% dos índices mundiais. As fortes correções dos títulos chineses e os baixos preços em que se encontram estão a passar inadvertidos para muitos investidores.
Desde meados de fevereiro de 2021, e de forma continuada durante ano e meio, os principais índices bolsistas do gigante asiático têm estado a cair. Em maio acumulavam quedas que superavam os -70% no índice Nasdaq Golden Dragon China (empresas chinesas cotadas no Nasdaq), -36% no Hang Seng (Hong Kong) e -32% nas bolsas de Xangai e Shenzhen.
A causa destas extraordinárias quedas tem sido a acumulação de vários
eventos que têm magnificado o efeito de cada uma delas em bolsa, gerando uma altíssima volatilidade, deixando oportunidades de valorização atrativas. Os cinco motivos da forte queda da bolsa chinesa têm sido os seguintes: a desaceleração imobiliária, a regulação de setores de crescimento, o risco de que termine a cotação das empresas chinesas nos EUA, a guerra da Ucrânia e a política de COVID zero com estritos confinamentos.
OS PROBLEMAS
O setor imobiliário, que representa mais de uma quarta parte do PIB e é essencial para a economia chinesa, está a viver uma forte desaceleração. Em 2021, o Governo endureceu as condições de crédito para controlar o endividamento com o qual tinham crescido as empresas do setor. A intenção de criar um deleveraging controlado para limitar o sobre-endividamento provocou um abrandamento do setor de construção e a sua queda em bolsa.
A suspensão de pagamentos e de cotação por parte de várias empresas, incluindo a maior delas, a Evergrande, também castigou os preços da banca e das obrigações do gigante asiático por medo de contágios a outras partes da economia.
Por outro lado, a benéfica política de common prosperity para duplicar a classe média de 350 milhões de pessoas para 700 milhões em 2030 (um incremento equivalente a toda a população da Europa), com importantes efeitos positivos no longo prazo, provocou a curto prazo a instauração de regulamentos sobre amplos setores da economia. Desde as grandes empresas tecnológicas, limitanMAIS DE UM ANO EM QUEDA LIVRE
O Índice Nasdaq Golden Dragon acumula uma queda de 70% desde fevereiro de 2021.
22.000 21.000 20.000 19.000 18.000 17.000 16.000 15.000 14.000 13.000 12.000 11.000 10.000 9.000 8.000 7.000 6.098,8 5.000 4.000
250M 200M 150M 100M 50M 74,93M 0 Último preço 6.098,80
Volume 74,93M
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez jan fev mar abr mai
2021 2022
Fonte: Bloomberg.
O IMPACTO DO SURGIMENTO DA ÓMICRON
AS VENDAS A RETALHO SOFREM UMA QUEDA DE DUPLO DÍGITO EM ABRIL A PRODUÇÃO INDUSTRIAL REDUZ-SE PELA PRIMERA VEZ DESDE MARÇO DE 2020
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FACE À DESACELERAÇÃO IMOBILIÁRIA E AO COVID, ESPERA-SE UM AVANÇO DO PIB CHINÊS EM 2022 DE 4,2%
do as suas práticas monopolísticas ou incentivando a colaboração com empresas pequenas, até às empresas de videojogos online, restringindo o número de horas de consumo aos jovens, passando pela proibição de lucros para empresas de educação extraescolar, as reduções do preço dos medicamentos, as melhorias laborais para os riders de comida rápida ou as limitações ao jogo, com o consequente impacto sobre os casinos de Macau.
Estas regulações plasmaram-se rapidamente e de forma surpreendente para os investidores internacionais, que venderam em massa estes setores arrastando os seus preços em queda.
Às regulações internas soma-se, para as empresas cotadas em ADR nos Estados Unidos, o medo de delisting pelo regulador americano (SEC). O alinhamento diplomático com a Rússia, perante a invasão da Ucrânia, provocou uma nova queda por causa da incerteza dos investidores perante possíveis sanções.
E, finalmente, a aparição de variante ómicron na China com o confinamento das regiões de Shenzhen, Xangai e de outras grandes cidades, provocou a suspensão da produção e uma forte redução da atividade económica.
OS MOTORES
Recentemente, as coisas começaram a piorar. O comunicado oficial, em março, do vice-primeiro ministro, Liu He, indicou o apoio para o cumprimento dos requisitos de negociação nos EUA, juntamente com a videoconferência entre os presidentes Xi Jinping e Joe Biden com a declaração a favor da resolução do conflito armado na Ucrânia, têm mitigado o risco de delisting e eliminado o de sanções.
As regulações internas, apesar de terem efeitos negativos sobre setores concretos, mantêm os incentivos ao crescimento e são positivas para o conjunto da economia no médio e longo prazo.
A nível económico, o governo chinês tem importantes ferramentas fiscais, monetárias e de investimento para manter o crescimento da economia, como as possíveis quedas de taxas de juro. Para além disso, a inflação é muito baixa, 2,1% em abril face a mais de 8% anual nos EUA ou na zona euro.
Por outro lado, mais tarde ou mais cedo, como aconteceu no passado, os confinamentos acabarão e a atividade económica recuperará.
Por último, seguindo o bom crescimento económico de 8,1% em 2021, e apesar da desaceleração imobiliária e do COVID, espera-se também um importante avanço do PIB de 4,2% em 2022.
Por tudo isso, e sem estar isentos de volatilidade, os preços atuais parecem atrativos para investir a longo prazo e podem ser uma boa oportunidade de compra.
A OPINIÃO DE
ÁLVARO ANTÓN Responsável de negócio na Península Ibérica, abrdn
Tradicionalmente, as obrigações de mercados de fronteira têm sido a parte mais rentável da classe de ativos de dívida de mercados emergentes. Claro que uma elevada rentabilidade por si só não é motivo suficiente para investir e é importante ter em conta os fatores subjacentes, juntamente com um amplo leque de outras métricas financeiras. Existem fatores de mercado desfavoráveis, como o aumento da inflação em todo o mundo, o endurecimento das condições monetárias e o conflito na Ucrânia, que exacerbou ainda mais as pressões inflacionistas mundiais. Contudo, é de assinalar que, neste contexto geral, é importante a diversidade dentro dos mercados de fronteira, o que permite uma exposição variada a esses fatores de risco. Neste momento, as obrigações dos mercados de fronteira oferecem uma rentabilidade que supera claramente a maioria dos restantes segmentos do mercado obrigacionista. Historicamente, estes períodos revelaram-se oportunos para investir no mercado, com a possibilidade da obtenção de receitas elevadas e um crescimento do capital graças à futura normalização das rentabilidades. Contudo, é importante perceber que, tal como no passado, as rentabilidades elevadas refletem sobretudo um ambiente de riscos elevados. É por isso que uma seleção eficaz é fundamental para os investidores que pretendam aproveitar as oportunidades atuais em obrigações de mercados de fronteira.