cultura do No 24 – junho 2021
automóvel
automóveis e motocicletas
Especial Motocicletas curso de pilotagem
www. marazzi.com.br
lançamentos - impressões - história
A Bultaco que Emerson Fittipaldi ganhou duas vezes
famosos em motos motores 4 cilindros história da royal enfield
E DI TOR I
AL
Cada vez mais, a motocicleta vem conquistando as pessoas, pela emoção ou pela praticidade
A
ssim como com os carros, as motocicletas também têm uma imensa legião de fãs. Mas a paixão pelas duas rodas é ainda maior, historicamente. E só há pouco tempo a motocicleta e seus derivados passaram a ser vistos como um meio de transporte prático e barato.
várias formas, na história de uma marca, no cuidado no projeto de um motor ou mesmo no uso que se faz desse veículo. nnn
O que vemos é a motocicleta acompanhando a vida das pessoas, sejam elas celebridades ou mesmo pessoas comuns. nnn Mas ninguém se sente A paixão pela motocicle- comum em cima de uma ta pode ser verificada de motocicleta.
24 NESTA EDIÇÃO
sumário
No 24 - Junho 2021
04 Pelo Mundo
O que acontece no mundo das motocicletas
08 A história da Royal Enfield
A marca inglesa produziu sua primeira motocicleta há 120 anos
12 Os motores de quatro cilindros
É uma história de paixão, essa dos motores de quatro cilindros
18 A Bultaco do Emerson
O piloto campeão de Fórmula 1 ganhou a motocicleta por duas vezes
22 Os famosos em suas motocicletas
Para curtir ou passear, mas às vezes apenas para posar para a foto
28 Curso Marazzi de Pilotagem
Saiba como surgiu a primeira escola de pilotos do Brasil
pelo mundo
o multiplicador de cilindros Allen Millyard não se contenta com pouco, nem com o original. Ele quer mais Sabe aquele moleque que desmonta tudo o que vê pela frente, em sua casa? Allen Millyard devia ser assim quando pequeno. Só que com a diferença de que
ele remontava tudo, muitas vezes ficando até melhor que o original. Olha só o que ele faz com os motores de suas motocicletas. Mesmo aqueles que já tem muitos
Kawasaki 750: de três para quatro cilindros
cilindros, ele faz questão de enfiar mais uns dois ou três. Os resultados são essas belas motocicletas que estamos vendo nas fotografias. Como essa
A Kawa 900 4T tem dois cilindros a mais
Kawasaki KH 500 acima, originalmente com motor dois tempos de três cilindros mas que agora ostenta um “senhor” motor de cinco cilindros em linha.
Outra Kawa 2T de cinco cilindros
A pequena Honda SS 50 virou SS 100, com motor em “vê” Entre as doideiras do Allen, uma motociclta com motor Viper V10 4 Junho 2021 Cultura do Automóvel
pelo mundo
lambretta do brasil A Lambretta foi a primeira fábrica de veículos do Brasil, saindo na frente até mesmo da indústria automobilística. A implantação da fábrica Lambretta do Brasil S.A. Indústrias Mecânicas em 1955 , como uma licenciada da Inocentti, na Vila Anastácio, numa rua sem saída chamada de Travessa Bartolomeu Paes (atualmente Rua Jorge Nunes Kehdi) na região da
Lapa na zona oeste da cidade de São Paulo, coincidiu com a moda mundial da motoneta (scooter), na década de 50 e 60. De lá, os funcionários saíam em desfile com as motonetas, e teve até LP de música popular com a Lambretta na capa. A produção entre 1958 e 1960, o apogeu da marca, superou 50.000 unidades por ano.
Cultura do Automóvel Junho 2021 5
pelo mundo
aos vencedores,
o pódium É o momento mais gratificante de uma competição, depois, é claro, da própria corrida. Para os melhores, ou mesmo para aqueles para quem a sorte sorriu naquele dia, é no pódium que se encontram os vencedores para comemorar a boa prova
Ramon Macaya, Antônio Bernardo, Tucano, Zezo e Luzia
Comemorando as 500 Milhas de Interlagos de 1973, Plínio Lima, Diego, Paulé, Titó, Zezo, Jacaré e Billy 6 Junho 2021 Cultura do Automóvel
Denísio Casarini e
pelo mundo
Eloy Gogliano, Paolo Tognochi e Gualtiero Tognochi
Billy e Sidão
Walter “Tucano” Barcchi
Denísio, Tucano, Edmar Ferreira, Eduardo Luzia, Adu Celso e Antôno Sequeira Cultura do Automóvel Junho 2021 7
história
Royal Enfield 1925, com motor V2
Do Reino Unido à Índia: a Criada em 1891, empresa começou no
Fábrica da Royal Enfield na Índia 8 Junho 2021 Cultura do Automóvel
A primeira Royal Enfield, de 1901
história
Lançamento da Royal Enfield Bullet 350
história da Royal Enfield Reino Unido e se mudou para a Índia
A
pesar de não tão conhecida por aqui, quando se instalou no Brasil, a Royal Enfield é uma das marcas de motos com a mais longa história. Criada em 1891, teve sua primeira moto produzida em 1901, no Reino Unido. Na metade do século passado acabou se “mudando” para a Índia, quando esse país ainda era uma colônia inglesa, e, em 2017, a empresa começou as atividades de sua subsidiária no mercado brasileiro. A história da Royal Enfield começou quando a Cycle Company Townsend, de Redditch, UK, começou a fornecer peças de máquinas de precisão para a Royal Enfield Small Armas Factory, de Enfield, Middlesex. Nessa ocasião, no ano de 1891, a empresa foi rebatizada de Enfield Manufacturing Company Limited.
Em 1893, a Enfield Manufacturing tornou-se Royal Enfield, com o nome nome “Royal” vindo da Royal Small Armas Company. Foi nessa ocasião que a empresa registrou a marca “Made like a gun” ou “Feita como uma arma”, em inglês, uma expressão utilizada até os dias de hoje. Em 1898, R. W. Smith construiu um protótipo de veículo motorizado, de quatro rodas, um quadriciclo, equipado com um motor De Dion. A primeira moto Royal Enfield é produzida em 1901. O projeto foi feito por R. W. Smith e o francês Jules Gotiet, com motor Minerva de 11,2 cv montado no garfo dianteiro. Em 1909, o primeiro motor V2 da Royal Enfiel é lançado na Stanley Cycle Show. Este motor é uma unidade de 21,4 cv produzido pela empresa suíça Motosacoche. Cultura do Automóvel Junho 2021 9
história
royal enfield
A primeira moto com motor dois tempos começa a ser produzida em 1914, mas os esforços da produção são destinados para a participação da Grã-Bretanha na 2ª Guerra Mundial. Isso faz a empresa interromper a fabricação de sua maior moto, a 770 cc, com motor V2 de 6 cv. Em 1924, a Royal Enfield tem oito modelos em linha, incluindo o lançamento da esportiva 351, sua primeira moto com motor OHV de 4 tempos e com troca de marchas no pé. Com foco no público feminino, a empresa cria uma moto com motor dois tempos e 225 cm3. Em 1928, a Royal Enfield adota novos tanques de combustível em todos os modelos, em substituição aos antiquados tanques rasos. E se torna uma das primeiras fabricantes de motocicletas a adotar a garfo telescópico de mola central. A lendária Bullet, motocicleta que é produzida até hoje, surgiu em novembro de 1932, com uma apresentação em Londres. Eram três versões, com motores de 250, 350 e 500 cm3, todos com cabeçotes de duas válvulas e câmbio no pé. Com a morte de Albert Eadie e de R. W. Smith, o Major Frank Smith assume o controle
Quadriciclo de 1898, com motor De Dion
Propaganda de época 10 Junho 2021 Cultura do Automóvel
da empresa, e, em 1936, a Bullet 500 é reformulada radicalmente com o lançamento da versão esportiva JF, com motor de quatro 4 válvulas. A partir de 1939, a empresa passa a produzir grandes quantidades de motos e bicicletas, para a 2ª Guerra Mundial. O modelo que ficou mais conhecido foi a Airbone 125, a Pulga Voadora (Flying Flea), que tinha esse nome por ser compacta e leve, para poder ser lançada de paraquedas dos aviões. Além de renovação das Bullet 350 e 500 no Reino Unido, que compartilham quadro, suspensões e câmbio, em 1949 surge, na ìndia, a empresa Madras Motors, que importava motocicletas britânicas, como Norton, Matchless e Royal Enfield. O crescimento da marca no outro continente se deu em 1952, com a encomenda de 800 Bullets 350, que começaram a chegar no ano seguinte. Com isso, a Royal Enfield faz parceria com a Madras Motors para formar a Enfield Índia, inclusive com a construção de uma fábrica em Tiruvottiyur, inaugurada em 1956 com a produção da Bullet. No sistema de produção adotado,
Em 1928 todos os modelos ganharam novos tanques de combustível
A primeira Royal Enfield Bullet, de 1932, e o logotipo “Made Like A Gun”
royal enfield as motos vinham desmontadas em kits. Foram montadas 163 unidades naquele ano. A Crusader 250, com motor de 13 cv, com alternador elétrico e bobina de ignição, foi lançada em 1957. Mas o lançamento mais importante ocorreu em 1964, a primeira Continental GT Café no Reino Unido. O modelo tinha tanque de gasolina de corrida, assento de competição curvado, conta-giros e escapamento especial. A fábrica de Redditch é fechada em 1967 e apenas dois modelos são mantidos em produção no Reino Unido, a Continental GT 250 e a Interceptor 736. A produção da Interceptor continua nas instalações subterrâneas da Enfield em Bradford, Avon. Em 1970 a Enfield Cycle Company encerra suas atividades no Reino Unido e os motores Interceptor remanescentes são vendidos e montados em cerca de 90 quadros Metisse. A produção na Índia continua. Em 1977 a Royal Enfield India começa a exportar a Bullet 350 para o Reino Unido e a Europa, e, em 1989, a marca apresenta a nova Bullet 500 de 24 cv, para exportação.
O motor a diesel da Bullet
Motor da Continental
Royal Enfield 500 Twin, lançada em 1949
história
Em 1993, a Enfield India produz a primeira moto de produção em série a diesel do mundo, chamada de Enfield Diesel. O modelo utilizava motor de 325 cm3 montado no quadro da Bullet. O grupo Eicher compra a Enfield India Limited em 1994 e a marca passa a se chamar Royal Enfield Motors. Em 1999, uma nova fábrica começa a funcionar em Jaipur, no Rajastão. Em 2002, a empresa lança na Índia a estradeira Thunderbird, com câmbio de 5 marchas pela primeira vez desde 1965. E em 2008, começa a exportar a Classic, primeira motocicleta com motor EFi de 500 cm3. Uma nova fábrica começa a ser construída em Oragadam, próximo a Chennai, e, dois anos depois, em 2013, recomeça produção da Continental GT, 49 anos após a lançamento da primeira moto. Construída sobre um novo chassi, a Continental segue o estilo Café Racer. Foi em 2017 que a Royal Enfield criou sua subsidiária brasileira e começou a importar motos da Índia para o Brasil. Atualmente a Royal Enfield comercializa no Brasil a Classic, a Himalayan, a Interceptor e a Continental. l
Esta é a primeira Royal Enfield Continental GT, de 1964
Royal Enfield Bullet JF, com motor de 4 válvulas Cultura do Automóvel Junho 2021 11
motores
Assim como os amantes de bons automóveis idolatram o V8, entre os adeptos da tecnologia aplicada às motocicletas é o quatro em linha o preferido
12 Junho 2021 Cultura do Automóvel
motores
motores quatro cilindros E
m 1968, a Honda CB 750 Four foi apresentada no Salão de Tóquio. Era a primeira motocicleta de produção em massa da era moderna equipada com um motor de quatro cilindros em linha, uma inusitada joia tecnológica que serviu como verdadeiro divisor de águas da indústria motociclística mundial. Não foi apenas pelo motor que a “Four” impressionou: ela também foi a primeira motocicleta a ser equipada, de série, com freio a disco dianteiro e partida elétrica, e trazer ao mundo da alta cilindrada um grande equilíbrio entre beleza, desempenho e confiabilidade. Pensada para o mercado norteamericano, a CB 750 Four acabou fazendo muito sucesso no mundo todo, ajudada, inclusive, por um precinho camarada – cerca de 1.500 dólares (equivalentes a 11.000 dólares de hoje). Ela é considerada a primeira superbike da era moderna e, seguindo a sua trilha de sucesso, a marca deu início a uma nobre estirpe de motos Honda equipadas com motores de quatro cilindros em linha. Vamos ver a seguir algumas das mais conhecidas motocicletas Honda equipadas com motores quatro cilindros em linha. Cultura do Automóvel Junho 2021 13
motores
motores de quatro cilindros
1969 – Honda CB 750 Four
1973 – Honda CB 350 Four No primeiro ano da Honda CB 750 Four, as motocicletas tinham alguns detalhes que as Ainda mais compacta e leve, a CB 350 Four diferenciaram, posteriormente, do “resto” das marcou sua época pela brilhante performance e unidades que viriam depois. Foi, também potetambém por ser a motocicleta favorita do fundariormente, designada como “K0”, tornando-se dor da empresa, Soichiro Honda. a versão mais procurada, mais desejada e mais valorizada entre todas. Só que, entre as 45 mil unidades produzidas nesse primeiro ano, 7.414 tiveram os blocos de seus motores fundidos em areia, sendo citadas atualmente como “sandcast”. As restantes, conhecidas como “diecast”, são também muito valorizadas, mas as sandcast se tornaram ainda mais preciosas.
1975 – Honda CB 400 Four A pequena CB 400 Four foi a primeira da estirpe dotada de motores 4 cilindros em linha a trazer o sistema de escape 4 em 1, além de ser também a pioneira do câmbio de seis marchas.
1971 – Honda CB 500 Four Menor e mais leve do que a CB 750F, a Honda 500 Four chegou a ser menosprezada na época de seu lançamento, por ser menos potente que a irmã mais velha. Mas logo foram descobertas as suas vantagens, passando até a ser a preferida de muitos motociclistas em função de ter maior agilidade, por ser mais leve do que a Four pioneira de 750 cm3. A CB 500 Four era baseada na Honda CB 350 de dois cilindros, inclusive tinha muitos componentes dessa motocicleta de menor cilindrada, por isso ficou bem mais fácil de ser pilotada. A Honda CB 500 Four foi produzida apenas entre 1971 e 1973. 14 Junho 2021 Cultura do Automóvel
1979 – Honda CB 900F Para marcar os dez anos de lançamento da CB 750 Four, surgiu a versão de 900 cm3, primeira entre as quatro em linha Honda a ter cabeçote de duplo comando de válvulas – DOHC.
motores de quatro cilindros
motores
1996 – Honda CB 250F Hornet A Honda CB 250F pode ser considerada a “mãe” de todas as Hornet. Com o pequeno motor 250 de quatro cilindros em linha, exclusivo para o mercado japonês, esta motocicleta lançou a base das Hornet de 600 e 900 cm3 que viriam nos anos seguintes, modelos naked com motores de altíssimo rendimento em altas rotações.
1981 – Honda CB 1100R Vitoriosa nas pistas em corridas de longa duração, a CB 1100R era o que viria a ser chamado posteriormente de uma “Racing Replica”. Radical, com esta monoposto de ampla carenagem pilotos como Wayne Gardner e Ron Haslam venceram corridas.
1998 – Honda CB 1300
1992 – Honda CB 1000R
Também conhecida por Super Four, o maior quatro em linha jamais produzido até então equipou a imponente Super Four, onde “Super” não era apenas força de expressão. O estilo naked dessa motocicleta tem elementos retrô, como o farol redondo e os dois amortecedores traseiros convencionais.
Também conhecida por Big One, foi a pioneira da refrigeração a água entre os quatro cilindros em linha Honda e pode ser considerada a 1ª naked da marca na era moderna.
2001 – Honda CB 900F Hornet 1996 – Honda CB 250F Hornet
A Honda CB 900F foi a primeira da família Hornet a ser dotada de alimentação por injeção eletrônica, com motor de 918 cm3 herdado da superesportiva Fireblade. Cultura do Automóvel Junho 2021 15
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2006 – Honda CB 1300S Também conhecida por Super Bol D’Or, tem linhas levemente retrô e nome que remetia a conquistas esportivas dos anos 1980 que marcaram o modelo, que tinha freios com ABS.
2013 – Honda CB 1100 EX É a maior representante da marca dos modelos com visual retrô, com farol redondo, dois amortecedores traseiros e refrigeração a ar.
2019 – Honda CB 1000R Também chamada de Neo Sports Café, é a mais recente porta bandeira da família quatro cilindros em linha da Honda. 16 Junho 2021 Cultura do Automóvel
O legado da Honda CB 750 Four Naquele domingo, 26 de outubro de 1968, os amantes das motocicletas - que não eram tantos quanto hoje - que visitavam o estande da Honda no Salão de Tóquio, foram surpreendidos com aquela nova motocicleta da Honda, a empresa japonesa que estava desbancando as marcas européias de motocicletas em quese todas as cilindradas. Até aquele dia, quase. Depois, totalmente. No projeto da Honda CB 750 Four foram utilizados os conhecimentos obtidos com as competições, em especial as corridas de motocicletas, e até com a participação da empresa no campeonato mundial de Fórmula 1. A novo motocicleta foi sucesso total no mundo inteiro, atraindo pessoas para todos os salões de motocicleta em que era exposta. Com poucas alterações até sua última versão, em 1978 (da K0 até a K8, com algumas variantes, como a linha”F”), a “Sete Galo”, como é carinhosamente chamada pelos brasileiros, fez história. A primeira delas, a K0, tem umas pequenas diferenças em relação às posteriores, que a fazem ser muito procurada e desejada, como, por exemplo, as luzes indicadoras do painel dentro dos relógios. As outras ganharam um painel especial para elas, no centro do guidão.
motores de quatro cilindros
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Cultura do Automóvel Junho 2021 17
história
A bUltaco do
emerson
18 Junho 2021 Cultura do Automóvel
história
M
ais de 40 anos separam
essas duas fotografias. A primeira foi em 1975, logo após o nosso grande e querido piloto Emerson Fittipaldi ter conquistado seu segundo campeonato mundial de Fórmula 1.
A outra foi em 2018, na ocasião do aniversário do campeão. Em comum nas duas fotos, além do Emerson, logicamente, a mesma motocicleta Bultaco, que ele ganhou de presente por duas vezes. Conheça a história dessa Bultaco.
Paulo, Frota, Gabriel e Expedito Marazzi, admirando a Bultaco do Emerson em 1975
Por gabriel Marazzi
Emerson Fittipaldi ganhou essa Bultaco por duas vezes, na conquista de seu primeiro campeonato mundial e em seu aniversário, 45 anos depois Cultura do Automóvel Junho 2021 19
história Foi em 1974 que Emerson Fittipadi conquistou o segundo título mundial no campeonato de Fórmula 1, pilotando o McLaren M23. Mas foi por causa do primeiro título, em 1972, com o Lotus 72D, que ele recebeu como presente uma motocicleta Bultaco Pursang 250, com a pintura de seu capacete no tanque, das mãos do próprio Paco Bultó, o fundador da marca espanhola de motocicletas. E aí que começa esta história, Nos primeiros dias de 1975, pouco depois de conquistar o segundo título, Emerson veio ao Brasil de férias e trouxe a sua Bultaco, atiçando a curiosidade dos jornalistas que acompanhavam o mundo das motocicletas. Foi o que aconteceu com Expedito Marazzi, que trabalhava, na época, para a Editora Bloch, escrevendo sobre competições. E lá iria ele para o Guarujá, ver a motocicleta que estava na casa de Emerson no Jardim Acapulco. O que acontecia também era que Expedito estava com uma equipe montada para correr nas 24 Horas de Interlagos de 1975, com duas motocicletas e quatro pilotos. Esses pilotos estavam já hávia algum tempo juntos, treinando na pista e na academia, e aquele quente sábado de janeiro estava reser20 Junho 2021 Cultura do Automóvel
a bultaco do emerson
Emerson e Paco Bultó, no dia em que ganhou sua Bultaco
vado para a musculação dos pilotos. É claro que a sessão de treinos foi cancelada, por uma diversão maior, encontrar o nosso novo bicampeão e ver a sua nova motocicleta. A chegada ao local, a pose para a foto oficial e o almoço com o Emerson correram da melhor forma possível, mas foi a curta viagem de cerca de 100 km, de São Paulo ao Guarujá, no litoral norte paulista, que ficou marcada para sempre. Pelo menos para mim. O clima era de euforia na academia que meu pai mantinha em casa, para seus pilotos e alunos. A comitiva de quatro eram ele próprio, o Expedito, os pilotos Paulo e Frota, que participariam das 24 Horas com uma Suzuki GT 550, e eu.
Expedito não largava a sua Honda CB 750 Four 1972, a famosa “K”, o Frota estava com sua GT 550 ainda em situação “de rua” e Paulo seguiria com a sua Suzuki GT 250, com a qual ele participava da Taça Centauro. Bem, eu tinha que me contentar com a minha pequena Honda CB 125S, com a qual eu também participava da Taça Centauro. Guidão tomaseli, números nas laterais, mas era o que eu tinha. Com 15 anos de idade, não poderia querer mais do que isso. Mas a turma não estava gostando de ter que rodar na estrada no ritmo de uma 125, de forma que meu pai foi buscar sua velha Suzuki T500J e a emprestou ao Paulo. Assim, eu pude acompanhar o grupo com a
Suzuki GT 250 dele, também equipada com guidão de corrida. Para quem conhecia o Expedito, é fácil adivinhar qual era a estrada que usamos para descer a Serra do Mar: o antigo Caminho do Mar, com seu piso de pedras, curvas muito fechadas e mão dupla. E aquele sábado de manhã estava especialmente quente, em férias de verão, o que fez com que muitos motoristas também escolhessem essa forma de descer ao litoral. Com uma fila de carros do alto até o pé da serra, sem qualquer espaço entre eles, fomos nós na contra-mão vazia, já que poucos subiriam a serra por lá. Só que, de vez em quando, subia um, e era necessário frear forte e procurar um espacinho entre os carros. Frear? Isso era o que aquela Suzuki GT 250 não fazia. O freio dianteiro a tambor era o mesmo que quase nada. Muita força para pouco efeito. Mas cheguei vivo lá embaixo, sempre tentando acompanhar aqueles três pilotos audazes. Eu ainda tinha pouca experiência de estrada e estava com uma motocicleta desconhecida. Apesar dos pesares, tudo correu bem. Voltamos, treinamos, na pista e na musculação, e fizemos a inscrição naquela 24 Horas de Interlagos.
a bultaco do emerson
As duas motos do Expedito, a Honda 750 e a Suzuki 500, emprestada para o Paulo
Minha pequena Honda CB 125 ficou e embarquei nessa aventura na Suzuki 250 do Paulo
A Suzuki 550 do Frota ainda estava original, mas ficaria como no desenho, para as 24 Horas
No aniversário do Emerson, as lembranças daquele dia, mais de 40 anos antes
história Sim, todos menos eu. Nosso querido Eloy Gogliano barrou minha inscrição, dizendo que eu ainda não estava preparado para uma corrida como essa, mesmo eu alegando que já era “piloto” e que corria nas provas da Taça Centauro. Santo Eloy, pode ter me salvado de uma situação perigosa. Um moleque como eu não teria o discernimento de um adulto e, realmente, pilotar por 24 horas naquele Interlagos de outrora, com apenas dois pilotos, não era tarefa para qualquer um. E a Bultaco do Emerson? Nunca mais tive noticia, até que, mais de 40 anos depois, o Paulo Loco me procurou, dizendo que achou a moto e iria restaurá-la, para representear o Emerson em seu aniversário. Ele queria uma cópia boa da foto em que esse intrépido grupo posou com Emerson e sua Bultaco, no Guarujá. Essa foto da capa. A festa foi bacana e, atrás da moto, lá estava o enorme poster com a foto que lembrava meus 15 anos, ainda com os cabelos enrolados. E o Emerson lembrou perfeitamente daquele dia. Então, em comum nas duas situações separadas pelo tempo, não apenas Emerson e sua Bultaco, mas também eu, como testemunha dessa história.z Cultura do Automóvel Junho 2021 21
gente
Olha eu aqui, em cima Veja aqui alguns astros posando em suas motos. Ou na dos outros
N
ão são apenas os automóveis que encantam as celebridades. Principalmente depois da invasão japonesa, que, a partir dos anos 60 subjugou a indústria européia de motocicletas, muitos famosos adotaram esse veículo de duas rodas por diversão. Motos grandes ou pequenas,
mas, principalmente estas últimas, eram a companhia de estrelas de cinema, astros da música ou mesmo de pessoas famosas de outras áreas. E aparecer ao mundo, às vezes simplesmente sentado em uma motocicleta, era uma boa maneira de manter a sua popularidade.
Elvis Presley gostava mesmo de motos. Na foto maior, com uma Harley-Davidson Electra Glide. Até dava autógrafo de bicicleta 22 Junho 2021 Cultura do Automóvel
gente
a de uma motocicleta! Elvis Presley gostava de motocicletas, muitas vezes protagonizando filmes em cima delas. Como em Carrossel de Emoções, de 1964, em que ele pilota uma Honda CB 77 Super Hawk e é jogado para fora da estrada logo no início. Mas ele preferia as Harley-Davidson.
Muitos gostariam de saber que bólidos seriam as motocicletas do Batman e da Batgirl no seriado dos anos 60. Não eram grande coisa, duas Yamaha de 250 cm3, a do Batman uma YDS3 de 1966 e a da Batgirl uma YDS5, de 1967. É que a Batgirl entrou apenas no segundo ano da série.
Batman, Robin e Batgirl combatiam o crime em Gotham City usando suas batcicletas, cheias de adereços e truques
Outro fanático por motocicletas era Steve McQueen. Em especial as Triumph. Para fazer a cena do salto sobre a cerca em Fugindo do Inferno, ele pediu que disfarçassem sua Triumph inglesa para a proeza. É que no filme ele rouba uma motocicleta alemã do exército nazista. E no seriado Chip’s, os policiais Poncherello e Baker e pilotavam duas Kawasaki Z 1000.
Steve McQuenn tinha predileção pelas inglesas Triumph, mesmo que a cena fosse com uma moto alemã. Acima, os Chip’s Cultura do Automóvel Junho 2021 23
gente
celebridades e suas motos
E por falar em Triumph, alguém se lembra da musa Rose Di Primo posando em uma delas? É, provavelmente ninguém prestou atenção à moto, também uma Triumph. E por falar em musa, aqui vão outras duas: Françoise Hardy e a Honda CB 750 Four. Bob Dylan prefere uma Triumph, enquanto Brigitte Bardot circula tanto com uma francesa Velosolex quanto posa com uma americana Harley-Davidson.
Rose de Primo e a Triumph Bonneville: esta foto ficou famosa
Duas francesas, Brigitte Bardot e sua Velosolex
O grupo Jackson Five e as pequenas motocicletas
Bob Dylan é outro que escolheu uma Triumph Bonneville
Por aqui, Tarcísio Meira encantava na televisão com sua Honda CB 750 Four, na novela Cavalo de Aço dos anos 70, com Betty Faria na garupa. Cena rara é ver Charles Chaplin pilotando em sua Indian 1914 e, de bicicleta, Fred MacMurray fantasiado de homem de lata. 24 Junho 2021 Cultura do Automóvel
The Jacksons e Fred MacMurray, fantasiado de homem de lata
celebridades e suas motos
gente
William Harley e Arthur Davidson posam com suas criações, em 1914, e Arnold Schwaznegger faz a Harley Fat Boy se tornar muito popular, no filme o Exterminador do Futuro, de 1984.
Desta vez, a francesa BB posa em uma americana Harley
Em duas situações, como Jackson Five e como The Jacksons, os ídolos pop da música posam com motocicletas Honda e com uma BMW. E uma cena inusitada: Jô Soares, sem capacete, de Yamaha DT 180, quando ele ainda gostava de motocicletas. Josh Brolin faz cara de galã com sua Triumph Bonneville, a motocicleta escolhida pela maioria para a aparecer. Na foto com a Lambretta, June Palmer e Eve Eden. E a cena que virou capa de disco: Led Zeppelin com três Suzukis. Na foto com Steve McQueen levando Jo Siffert na garupa, o que ele queria mesmo era mostrar seu novo relógio Tag Heuer. Paul McCartney também escolheu uma Triumph Bonneville e Salvador Dali uma Harley-Davidson. Pelo menos a Harley é uma Springer. Sean Connery, o eterno 007, pilota um triciclo Honda ATC no filme Os Diamantes São Eternos. Mas também posa com uma Guzzi do xerife. Sophia Loren vai de ciclomotor. E quem imaginaria John Wayne, o cowboy, com uma motocicleta? Trocou o cavalo por uma Honda.
William Harley e Arthur Davidson posam com suas criações
Sean Connery roubou a moto do xerife mas não matou o assistente
June Palmer e Eve Eden na Lambretta e Josh Brolin na Triumph Cultura do Automóvel Junho 2021 25
gente
celebridades e suas motos
De bicicleta, Albert Einstein e Adam West, com Yvonne Craig
Ann Margret, de Triumph Bonneville, e Arnold Schwarznegger com a motocicleta que ele popularizou, a Harley-Davidson Fat Boy
Salvador Dali de Harley, Paul McCartney de Triumph Bonneville
Tarcísio Meira e Françoise Hardy escolheram Honda CB 750 Four
Anthony Queen leva Ann Margret, Charles Chaplin pilota só com uma mão, Jô Soares não usa capacete e as Suzuki viraram capa 26 Junho 2021 Cultura do Automóvel
celebridades e suas motos
gente
Sophia Loren de ciclomotor, Sean Connery de ATV e, quem diria, John Wayne sem o seu cavalo, pilotando uma motocicleta
Larry Fine e Moe Howard, dois dos Três Patetas, em uma Harley-Davidson com side-car. O terceiro pateta Curly seguia a cavalo Cultura do Automóvel Junho 2021 27
história
curso marazzi de pilotagem
Como nasceu a primeira escola de pilotagem 28 Junho 2021 Cultura do Automóvel
história
A
história do Curso Marazzi de Pilotagem começou com um sonho, anos antes que a primeira turma se reunisse na sede da Federação Paulista de Automobilismo. Uma corrida em Interlagos, em 1953, e o retorno às
pistas, dez anos depois, fez com que o jornalista Expedito Marazzi se tornasse piloto e instrutor de pilotagem de competição. Como redator técnico da revista Quatro Rodas, ele convidou o piloto italiano Piero Taruffi
para ministrar um curso em São Paulo, com o objetivo de publicar uma reportagem sobre as técnicas da direção esportiva. Para isso, a FPA convidou alguns dos melhores pilotos da época, para participarem da-
quelas aulas, que mais seriam uma palestra técnica do que um curso. Afinal, eles já eram pilotos consagrados. E o resultado foi publicado como uma reportagem em fascículos nas páginas da revista Quatro Rodas.
Equipe do Curso Marazzi de Pilotagem posando em Interlagos, no ano de 1981 Cultura do Automóvel Junho 2021 29
história Só isso bastou para que ele tivesse a ideia de criar um curso de pilotagem de competição, aproveitando o crescente interesse dos jovens pelas corridas e o fortalecimento da indústria automobilística nacional. A primeira turma do novo Curso Marazzi de Pilotagem, então, se reuniu na seda da FPA, no bairro paulistano de Pinheiros, em dezembro de 1966. Durante os dois anos de reforma do autódromo de Interlagos, entre 1968 e 1969, as aulas práticas eram ministradas em um trecho ainda não aberto ao tráfego da av. marginal do rio Pinheiros, e as aulas, voltadas à direção defensiva, eram patrocinadas pela Ford, que deu o nome da iniciativa de Cursos Ford de Automobilismo. Mais de dois mil alunos passaram por essa fase do curso. De volta a Interlagos, em 1970, a escola passaria a contar com uma frota de carros de instrução, VW Fusca que eram carinhosamente
curso marazzi de pilotagem
Em 1966, a primeira turma do Curso Marazzi de Pilotagem
Comunicação interna da Ford sobre o curso de pilotagem
chamados de 60, 70, 80 e 90, por causa dos números pintados nas laterais. Nesse período, as aulas teóricas eram dadas na nova sede, à rua Iperoig. Esse também foi o período no qual os primeiros Fórmula Vê de produção própria começaram a ser montados. Assim, a frota de carros de instrução aumentou bastante. Em 1976, a sede da escola mudou para um galpão na rua Aurélia, onde ficou até 1983. Nesse local, no bairro da Lapa, ficavam os carros, que eram transportados todas as quarta-feiras para as aulas em Interlagos. Devido à logística de transporte, foi providenciado um local em frente ao autódromo para guarda e manutenção dos carros. As aulas teóricas continuaram a ser ministradas na sede da Lapa, as terças à noite, em uma sala de aula montada no subsolo da oficina dos carros. A sede definitiva, em frente ao Autódromo de Interlagos, foi inaugurada em 1983. Aí
Os primeiros veículos de instrução foram quatro Volkswagen, que eram carinhosamente chamados de 60, 70, 80 e 90 30 Junho 2021 Cultura do Automóvel
curso marazzi de pilotagem tudo ficou mais fácil, aulas teóricas e práticas bem próximas, nas terças e quartas-feiras, e grande facilidade de transporte de todos os carros e equipamentos para a pista. Tudo mudou em dezembro de 1988, com o falecimento do mentor de tudo, Expedito Marazzi. Seu filho Gabriel assumiu a turma que se preparava para as Mil Milhas de 1989 e acabou dirigindo os cursos por dez anos. Nesse período, foram incorporados à frota da escola dois dos carros de apoio da Fórmula 1, um Chevrolet Kadett e uma perua Ipanema, e mais um VW Passat do Grupo N, um Passat do Grupo A e um Opala Classe C. Os dois primeiros eram utilizados para instrução e os outros três eram pilotados pelos alunos. Em 1998, o instrutor da escola concorrente, Roberto Manzini, fez uma proposta de compra do Curso Marazzi de Pilotagem e continuou o legado iniciado pelo Expedito, 32 anos antes. l
história
A nova sede da escola, em Interlagos, aos poucos foi se adaptando às necessidades do curso
O Fórmula Vê, de produção própria, utilizado para instrução dos alunos do curso de pilotagem
Esse Passat do Campeonato Brassileiro de Marcas, Grupo A, era utilizado pelos alunos
Equipe do Curso Marazzi de Pilotagem posando em Interlagos, no ano de 1998 Cultura do Automóvel Junho 2021 31
história
curso marazzi de pilotagem
As primeiras instruções, como segurar o volante
A sede da escola na Lapa
O Opala, que já havia participado da Stock Car, para instrução de alunos
Os dois Pace Car oficiais da Fórmula 1 eram usados pelos instrutores
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