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1.2.2 apresentação da obra
Dia de São Nunca à Tarde
Conforme a discussão, vocês podem ir acrescentando perguntas, ponderações, narrativas sobre essas situações.
não se trata apenas de obter respostas da turma: importa saber se há uma leitura diferente entre garotas e garotos, e se há algum sinal de más experiências com relação ao assunto, que eles não querem ver abordadas.
tudo isso vai ser um excelente gancho para a apresentação da obra, seu gênero e seu autor.
Comecem a falar da próxima sugestão de leitura: uma obra que traz uma história passada em um colégio, com muitas situações incomuns.
1.2.2 Apresentação da obra
• algumas personagens da história
Nesta apresentação, é importante que as informações criem curiosidade, não deem pistas essenciais.
a quarta capa dos livros costuma despertar a curiosidade dos possíveis leitores. Comecem a apresentação da obra lendo a quarta capa, que indica algumas personagens centrais da narrativa e o ambiente em que vai transcorrer a história. Pergunta inicial: no colégio interno, qual a importância da apresentação de uma menina?
Perguntem aos alunos se, pela quarta capa, eles imaginam quais serão as figuras principais e por quê.
Vejam que argumentos usam para opinar. Se julgarem que os gêmeos podem ser protagonistas, terão razão, dado que aparecem primeiro, com muitos pormenores. Podem achar que o diretor e o carrasco terão alguma importância. Ouçam as hipóteses, mas não adiantem nada da trama.
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Dia de São Nunca à Tarde
informem que esse colégio realmente existiu, assim como o seu diretor. o mais pode ser ou não pura imaginação do autor.
• observação da capa
Como todos sabem, a capa de qualquer livro tem a intenção de chamar ao máximo a atenção de leitores para a obra e seu conteúdo, esteja o livro numa biblioteca, sala de aula ou em uma livraria. Por isso, vale a pena falar a respeito dela com seus alunos, procurando aguçar a capacidade de análise desse item, em qualquer circunstância.
• o título: Dia de São Nunca à Tarde
Vejam se os alunos conhecem a expressão mais enxuta e mais comum bem como seu significado: “dia de são nunca”.
– Por acaso já a usaram? Ou conhecem quem a usa, ou já usou? – E o que acrescenta à expressão o complemento “à tarde”? – Por que tem especial sentido, pelos dados que a quarta capa apresenta?
Normalmente, por tratar-se de uma expressão popular, tem mais uso nas cidades menores e em situações de muita coloquialidade. Talvez os alunos nunca a tenham usado, e a tenham ouvido de pessoas mais idosas. A expressão acrescida – “à tarde” – é uma forma de reforçar a ideia do que é impossível, ou que não acontecerá, na perspectiva de quem a usa: é como se fosse um superlativo. Talvez “nunquinha” seja uma forma atual da expressão. De toda forma, tratando-se de um colégio religioso, pode significar mais alguma coisa, que não sabemos sem ler a obra.
• a imagem da primeira e da quarta capas
mostrem primeiro a capa principal e vejam se eles percebem um ar de mistério, com um vulto único, mal definido, a lua cheia, sobre a qual há várias crendices, e nuvens muitos escuras, sugerindo algum perigo e certo mistério.
na quarta capa, os alunos podem reforçar a ideia da importância dos gêmeos na história. e constatam: eles realmente são muito parecidos.
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Dia de São Nunca à Tarde
Às nossas perguntas ou sugestões, vocês poderão acrescentar outras, suscitadas pelos próprios alunos; ou as que, segundo sua experiência, motivarão seus alunos a mergulharem na leitura.
tratem, em seguida, do autor e da novela.
• apresentação do autor
talvez a turma ainda não conheça roberto drummond. o autor mineiro, já falecido, tem uma obra bastante invulgar, mais interessante e fácil de ler do que classificar e mais dirigida a adultos.
do belo depoimento sobre ele, escrito por outro escritor, luiz fernando emediato, procurem algumas informações que tragam curiosidade e interesse para a turma.
• Conversa sobre a novela
É bom saber que ideia os alunos têm acerca de novela, se acham que tem a mesma característica da novela de televisão, o que seria um equívoco, conforme explicamos no estudo da obra. (Como metáfora, no cotidiano, a palavra nos remete à ideia que tem nas produções televisivas: “ih! ele ficou bravo com o cachorro da vizinha. a briga virou uma novela!”) Vejam se dão exemplos de novelas lidas. Possivelmente, várias delas foram consideradas romances, ou o inverso, o que é perfeitamente compreensível, pela proximidade entre as duas narrativas, o que traz dúvidas ou polêmicas mesmo entre os estudiosos da área.
se acharem necessário, retomem as características do gênero narrativo, também tratado no texto de apoio à leitura do aluno, abordando sobretudo o conto, a novela e o romance. no referido estudo, abordamos cada um de seus ingredientes. (não vimos necessidade lá, nem vemos aqui, de focalizar outros textos literários que usam estrutura narrativa, como a fábula, ou às vezes a crônica, dado que são muito diferentes, em vários pontos, da novela.)
acreditamos que os dados lá apresentados são suficientes para os alunos perceberem esta narrativa como novela. o estudo que fizemos das personagens, por exemplo, mostra claramente que o número delas, com alguma importância, é muito pequeno, embora os “figurantes” sejam muitos; que todas elas constituem um único eixo, ao contrário do romance, que apresenta vários núcleos que se entrelaçam. Por outro lado, temos uma ação muito concentrada, num mesmo lugar, num tempo curto e um único acontecimento dominando toda a narrativa, ao contrário do romance, que se desdobra e se arrasta, até dar um sentido e mesmo consequência a vários núcleos.
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Dia de São Nunca à Tarde
o que gostaríamos de discutir especialmente com vocês é uma questão relativa à novela, mas também a várias criações artísticas — literárias ou não –, marcadas por certo desprestígio injustificável por parte de teóricos e críticos. são rotuladas de gêneros “menores”, a partir de critérios bastante discutíveis. Por exemplo, por sua extensão, ou sua veiculação mais ampla atingir as camadas ditas “populares”, ou por sua construção estar mais próxima da de outras criações. exemplo claro disso é o da crônica: em princípio veiculada em periódicos, frequentemente por esse critério tem sua qualidade ou sua constituição literária posta em dúvida. da mesma forma, a comédia, independentemente do veículo (cinema, televisão, literatura, teatro) é considerada muito menos importante do que o drama ou a tragédia, por agradar a um amplo público, como se todo riso fosse pouco nobre. Basta ver, nas grandes premiações, que não estabelecem categorias (como o oscar, no cinema), a quase inexistência de comédias com grandes prêmios. acreditem: há críticos e teóricos que diminuem o valor de um gênero tão antigo e clássico como o conto: sua concisão, em vez de ser considerada uma dificuldade e uma qualidade, é vista como uma facilidade. do mesmo tipo de julgamento ressente-se a novela, por apresentar traços semelhantes e próximos do romance.
obviamente, a imprecisão de classificação ou a proximidade entre os gêneros não pode, definitivamente, ser critério para análise e motivo de certo descrédito de gênero algum.
Como acontece mesmo na crítica mundial, no Brasil há poucos trabalhos específicos sobre novela; e não é rara até a classificação questionável de algumas criações. massaud moisés, um dos nossos grandes estudiosos, por exemplo, considera novelas alguns romances clássicos e consagrados, como O tempo e o vento, de Érico Veríssimo; e Memórias de um sargento de milícias, de manuel antônio de almeida.
segundo entendemos, o valor da criação literária não pode estar atrelado a critérios poucos claros e até preconceituosos. o que nos parece definir a qualidade estética de uma obra é a pertinência e adequação dos recursos de que o artista lança mão para criar sua obra — em qualquer gênero que ele tenha escolhido criar. assim, em todos os gêneros, há criações com resultados bons e com resultados ruins. Há romances “maiores” e “menores”, assim como há novelas “maiores” e “menores”.
É com esse critério que pensamos classificar cada obra de arte, cada obra literária; e podemos opinar que Dia de São Nunca à Tarde é uma grande novela, pela alta qualidade dos recursos narrativos e estilísticos que a caracterizam.
nesta apresentação do livro aos alunos, mostrem o que há nele além da novela: uma biografia muito especial — praticamente, um depoimento e declaração de amor a roberto