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5 Toyota GT 86 Coração de corrida Quando me sentei ao volante do Toyota GT 86, a sensação foi muito estranha. Uma sensação repentina de regresso ao passado. Não foi a típica sensação de Déjà vu, a percepção de já ter vivido o momento e que a maioria do cientistas dizem que é causado por um erro de memória, não, não foi essa a sensação. Quando me sentei ao volante do GT 86, o jacto da memória levou-me num ápice até aos anos “70”. Uma situação vivida realmente e em pleno, à “pendura” no Datsun 240 Z, do meu tio Olivier. O “Z” (era assim que o ele o tratava) era um “bichinho” 2.4 de 6 cilindros em linha, com 150 cv; um motorzinho bastante rotativo que chegava facilmente às 6000 rpm, ou mais. O meu tio diziame que em termos de performances

igualava o Porsche 911 T de 1970, com uma velocidade de ponta de 205 km/h. Foram poucas as vezes que não chegamos aos limites. O design do 240 Z, agressivo e descarado, pedia emprestado vários elementos aos modelos míticos. O capô comprido evocava explicitamente o Jaguar Type E, e a linha geral de perfil lembrava o 911. Fosse como fosse, foi o carro que permitiu ao japoneses entrar no circulo dos construtores capazes de produzir em série um modelo com vocação desportiva.

O passado, mal ou bem, já foi escrito. Não sou saudosista e bato com relativa facilidade a porta ao passado. “A vida é uma sinfonia de Mahler, nunca volta atrás, nunca endireita o que nasce torto”, escreveu Mathias Enard. Mas, quer queira, quer não, o GT 86 devolveu-me por instantes as recordações desses “bons velhos tempos” e, sobretudo, as saudades do meu tio Olivier. Como? É esse o desafio! Espero estar à altura de escrever de forma a que seja o próprio leitor a responder à pergunta. Aceita o desafio?

Mais de quatro décadas depois, o GT 86 mexe e remexe, sem apelo nem agravo no baú das minhas memórias e, sinceramente, sou pouco dado a isso.

Mas, quer queira, quer não, o GT 86 devolveu-me por instantes as recordações desses “bons velhos tempos”...


Toyota GT 86. Coração de corrida Venham donde venham as noticias não são boas: o carro do amanhã será autónomo (com vontade própria?), pesado e macio. O século XXI, é o primeiro a conhecer esta inflexão na história da humanidade: uma

diminuição da velocidade média das movimentações na Terra. Em compensação, regozijem-se boa gente, vão poder trabalhar na internet, navegar nas redes sociais e fazer pedidos online em pleno trânsito ou numa autoestrada...no máximo a 120 km/h. Mas temos que ser honestos: para aqueles que ainda apanharam outra era do setor automóvel esta inflexão, não vai ser nada fácil. Para quem não se lembra, em 2012, os japoneses lançaram o Toyota GT 86 que

...o carro do amanhã será autónomo (com vontade própria?), pesado e macio...


7 é o descendente espiritual do lendário AE 86. O GT 86 oferece o verdadeiro prazer de conduzir a um preço razoável: um motor atmosférico à frente, duas rodas motrizes atrás, repartição eficiente e uma caixa de velocidades manual, que dá gosto. Para o seu desenvolvimento, a Toyota encontrou um parceiro no seu próprio país: a Subaru. A marca também especializada em motores boxer e é precisamente o que encontramos sob o capô do GT 86: um boxer de 4 cilindros de 2 litros, com 200 cavalos de

potencia: o irmão gémeo da Subaru dá pelo nome BRZ. Desde 2012, A Toyota ganhou experiencia com o seu GT86! Particularmente, no lendário circuito de Nürburgring onde o GT 86 suou as estopinhas. Toda essa experiencia adquirida em várias corridas resultou na renovação deste vintage, que temos em mão. Assim, a Toyota alterou completamente a suspensão do GT86. Os engenheiros optaram por uma optimização do

comportamento e estabilidade do carro, bem como uma melhor resposta em termos de direção. Para além disso, a rigidez dos amortecedores também foi alterada. Na verdade, mexeu-se em mais umas coisinhas: a aerodinâmica foi refinada. Os para-choques traseiros e dianteiros saíram diferentes, as ópticas foram redesenhadas, bem como as novas rodas de 17 polegadas. O carro ficou a ganhar!

...a Toyota confessa que é o volante mais pequeno montado num carro da marca...

Sentarmo-nos no GT 86, parece que não, mas é ligeiramente diferente dos coupé modernos. É uma sensação, diria, de pureza desportiva. A sensação é agradavelmente “espartana”: temos o volante à nossa frente, a curtinha manete (punho) das mudanças está situado no túnel central, enquanto que o travão de mão, está ao seu lado; rudimentar. O volante mais pequeno - a Toyota confessa que é o volante mais pequeno montado num carro da marca – transmite ao tacto uma sensação de estarmos sentados num desportivo dos anos 70. E, é aqui que começa o turbilhão de emoções: se entrasse no GT86 com os olhos

vendados diria que estava no habitáculo de um desportivo dos anos 70, a viver todo o glamour da época. Os Martini Dry, nos desconfortáveis bancos da frente, ao som de J’taime moi non plus” do Serge Gainsbourg e de Jane Birkin. Ou a ouvir Roxy Music na “Ad Lib”, Barry White na “Stones”, onde era bem ter uma garrafa, ou Lou reed, Peter Frampton, Rolling Stones e companhia, no must da época, a discoteca “2001”, no Autódromo do Estoril, onde toda a gente vinha parar

ao fim da noite. Talvez, o primeiro local verdadeiramente democrático da noite de Lisboa...e fumava-se erva. A crueza da suspensão, o prazer de dar à chave e ouvir a melodia uníssona do “relinchar” dos cavalos, o perfume das octanas (a 5$00 o litro) à saída da “bomba” da Sacor... que sensação boa! Não fosse o sistema multimédia, o computador de bordo, os comandos no volante e o Engine Start Stop “ estragar”


o prazer desta nossa volúpia percepção, só parava nos “bons velhos tempos”. O habitáculo é o de um coupé. É escusado contar com o bancos traseiros para levar seja quem for. A mala tem cerca de 240 litros, irrelevante num coupé mas, ao baixar os bancos traseiros ganha volume. De acordo com os engenheiros da Toyota, pode transportar quatro rodas. A atmosfera interior é inegavelmente orientada para o sport, com assentos tipo baquet, um painel que imita o carbono, pespontos a vermelho em diverso lugares, bem como botões de comando tipo cockpit. A nível de apresentação não é brilhante, e a qualidade dos materiais vai na linha da tradição Toyota, mas inferiores aos dos desportivos com outra filosofia.

Na estrada. Que prazer Quem já pilotou um GT 86, sabe como lidar com este motor. Sempre em rotação alta! Aliás, o comunicado de imprensa dá-nos o mote: indica-nos que é às 7000 rpm que alcançamos a potencia máxima. Está tudo nos detalhes... Não há que enganar, é necessário manter as rotações lá em cima. Abaixo das 5000 rpm revela-se um pouco oco. Noutras palavras, não devemos hesitar em subir os regimes para beneficiar das acelerações e avivamentos mais incisivos. O resultado é um tiro de 0 a 100 Km/h em 7,6 segundos e uma velocidade máxima de 226 km. (Batemos nos 210km/h velocidade GPS),

Não há que enganar, é necessário manter as rotações lá em cima...


9 o que é muito razoável, embora nada de excepcional. Todavia, o prazer de condução à maneira dos “bons velhos tempos” suplanta tudo. Nada a reclamar sobre o consumo. No nosso ensaio, a média passou pouco dos 10,5 l/100 Km, o que é muito bom considerando o ritmo deste ensaio (sem qualquer preocupação de poupança). Se a mecânica nos agradou, ficamos realmente entusiasmados foi com o comportamento do GT 86 com destaque para o excelente chassis. Mas, não foi fácil fazer este ensaio: de facto pisamos a linha na A6 (Alentejo), numa fugaz estirada. Às cinco da manhã, percorremos a Marginal de Cascais, em seguida convergimos para o Guincho e abusamos um bocadinho da tração traseira, nas curvas para Sintra mas, confesso, que era muito difícil manter um ritmo dinâmico. Tivemos que ter em atenção que os radares não têm vida própria mas existem, ali especados à nossa espera e a nossa Brigada de Transito, não brinca em serviço. E ainda bem. Tecnicamente falando, o facto da Toyota ter optado por motor boxer não traz consequências de maior porque o GT 86 beneficia de centro de gravidade particularmente baixo, apenas de 460mm. Para se ter uma ideia o coupé Porsche Cayman sobe para 482 mm, e o Impreza apesar do seu boxer ultrapassa os 530 mm. Se juntarmos a isto um peso de 1239 kg é fácil de entender o temperamento do GT 86. Logo, as partir das primeira voltas, sente-se imediatamente o equilíbrio devido a

Se a mecânica nos agradou, ficamos realmente entusiasmados foi com o comportamento do GT 86 com destaque para o excelente chassis.



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uma distribuição de massas 47/53 muito perto do ideal. Pode-se aumentar o ritmo, o GT 86 mantém-se sempre são. Não existem fugas não planeadas do eixo traseiro,

vivacidade nas passagens de caixa, apoiada por uma excelente motricidade. Convém dizer, que já há muito tempo que não tínhamos o prazer de conduzir uma carro assim. Adoramos. Normalmente, tais capacidades são sinónimo de conforto degradado, o que não é o caso do GT 86. Os movimentos de caixa estão praticamente ausentes e os ocupantes (2) são muito bem tratados, o que permite vislumbrar um certa versatilidade. Em face de tantas qualidade dinâmicas, não podemos ignorar a escolha de pneus: realmente os pneus Bridgestone Turanza parecem ter nascido para o GT 86. Nada que nos surpreendesse.

ou deslizamento não controlado. Isto é verdade quando o VSC (o ESP da Toyota) está ligado, mas também no modo Sport. O último é menos intrusivo mas, a nuance com o modo normal

não é relevante. Os puristas preferem desconectar tudo. A direção é muito precisa, a travagem é poderosa e globalmente duradoura. Sentimos também uma grande


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Conclusão Este Toyota GT 86 continua a ser uma máquina de condução fantástica, com um chassis brilhante. É verdade, que este japonês não é o mais eficiente e até não oferece uma sonoridade muito sexy (como antigamente). Não é perfeito: a tampa da mala é um folhinha de chapa (não como antigamente), o assento traseiro é inútil para adultos (como antigamente), mas cabe na perfeitamente na minha garagem. Não sei se o Toyota GT 86 é o “último dos moicanos” mas é, seguramente, um dos últimos representantes deste género fabuloso: desportivo temperamental. Um coupé desportivos com rodas motrizes atrás e motor atmosférico...à frente! Uma das poucas oportunidades de redescobrir o prazer da condução que a maioria dos carros desportivos, embora mais eficientes, dificilmente conseguem.

Ficha Técnica Toyota GT86 2.0 200cv MOTOR: CILINDRADA: DISTRIBUIÇÃO: BINÁRIO: TRANSMISSÃO:

4 cilindros (motor boxer) 1998 cm3 16 Válvulas 205 Nm às 6600 rpm tração traseira, caixa manual de 6 velocidades

COMBUSTÍVEL: CONSUMO COMBINADO: EMISSÕES DE CO2: PREÇO: CARROÇARIA:

gasolina 7,8 L /100 Km 180g/km a partir de 44.000,00 Euros coupé

Dimensões e pesos COMPRIMENTO: LARGURA: ALTURA: DISTÂNCIA ENTRE EIXOS: DEPÓSITO: ALTURA AO SOLO: COEFICIENTE AERODINÂMICO:

4,24m 1,78m 1,32m 2,57m 50 litros 120 mm 0,270


Texto e fotos: Manolo; Produção: Glória; Design/paginação: Patricia Machado


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