– Ele faz parte dos vanguardistas, que escrevem poemas que ninguém consegue compreender.
Surge o professor de português certo é que o recital funcionou. A gritaria poética espantou muita gente. Era realmente difícil beber e mastigar com aqueles sujeitos berrando ao microfone um palavrório pesado. Às seis horas metade dos convidados havia sumido. – Vamos dar um passeio pela livraria? – convidei. – Boa ideia! – disse Tédio. – Se ficar parado, eu chego logo ao vigésimo quibe. Concordei com um gesto de cabeça. Eu estava impressionada com a grandeza do apetite dele. Bem, a livraria funcionava em três andares. No térreo ficavam expostos os livros de cultura geral; no subsolo eram exibidas as obras de ficção; e na sobreloja ficavam os livros usados. Quando chegamos ao centro do salão principal, no térreo, vimos pela primeira vez Severino Severo, o mais conhecido professor de Português da nossa escola e da cidade. Cercado por diversas pessoas, ele falava em voz alta e era escutado com atenção. Com quase oitenta anos, magro como uma bicicleta, ele estava vestido, como sempre, de preto da cabeça aos pés: terno, camisa e sapatos pretos. Apenas sua gravata, do tipo borboleta, era branca. No alto da cabeça, exibia uma cerrada cabeleira branca, espetada, que lembrava as cerdas de um pincel gigantesco. Na pontinha do queixo, ele mantinha uma centena de fiapos brancos igualmente eriçados. 23