A fabulosa morte do professor de Português

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A turma do deixa-disso teve que entrar em ação para evitar que o professor Severino Severo partisse para cima do poeta Arno Aldo Arnaldo.

Cutucando a onca com vara curta avia muita gente espalhada pelo subsolo, mas não se ouvia um ruído. Com gestos cuidadosos, as pessoas tiravam os livros das prateleiras e liam, ou fingiam ler, as orelhas e contracapas. De vez quando, temerosas, lançavam olhares por cima dos ombros. – Todos parecem assustados – comentei. – Estão com medo de Severino Severo – disse Tédio. – O velho gosta de armar barracos. Logo, logo ele vai bater boca com outras pessoas. De repente, demos de cara com o mais famoso professor de Português da cidade, sozinho diante das prateleiras que continham os livros de Machado de Assis. – Vamos entrevistar a fera? – sugeriu Tédio. – Você não prefere dizer “vamos cutucar a onça com vara curta”? – perguntei. Notei então que os olhos do professor estavam cravados em nós. Não podíamos mais recuar. Com o passo arrastado das pessoas que estão sendo conduzidas à força, caminhamos lentamente na direção dele. Severino Severo tinha nas mãos uma edição de luxo de O Alienista. Paramos a uma distância que nos pareceu segura e eu perguntei: – A gente pode entrevistá-lo, professor? 36


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