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Cultivar
Cultivar Máquinas • Edição Nº 217 • Ano XIX - Junho 2021 • ISSN - 1676-0158
Índice
Destaques
04 Rodando por aí 05 Mundo Máquinas 08 Irrigação
Importância de um projeto de irrigação em períodos de escassez hídrica
11 Motores turbinados Quais os tipos de turbo para motores a diesel
14 Colhedoras
Qual o limite de velocidade de colheita para evitar perdas
17 Colhedoras
Identificação de pontos de perdas em 20 colhedoras na colheita do arroz
20 Capa
Adubadora Evo CS da Horsch, faz três operações numa única passada
29 Pulverizadores
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Qual a melhor ponta e o volume de calda para aplicação de fungicidas em soja
Quais as principais características e os diferenciais das semeadoras de precisão
Maik Penner
Nossa capa
32 Semeadoras
36 Pulverizadores
Ferramentas para evitar deriva e volatilidade de herbicidas
40 Tratores
Como garantir que o trator esteja sempre disponível para o trabalho
Grupo Cultivar de Publicações Ltda. Direção Newton Peter
• Editor Gilvan Quevedo • Redação Rocheli Wachholz Cassiane Fonseca • Revisão Aline Partzsch de Almeida • Design Gráfico Cristiano Ceia
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Por falta de espaço, não publicamos as referências bibliográficas citadas pelos autores dos artigos que integram esta edição. Os interessados podem solicitá-las à redação pelo e-mail: contatos@revistacultivar.com.br Os artigos em Cultivar não representam nenhum consenso. Não esperamos que todos os leitores simpatizem ou concordem com o que encontrarem aqui. Muitos irão, fatalmente, discordar. Mas todos os colaboradores serão mantidos. Eles foram selecionados entre os melhores do país em cada área. Acreditamos que podemos fazer mais pelo entendimento dos assuntos quando expomos diferentes opiniões, para que o leitor julgue. Não aceitamos a responsabilidade por conceitos emitidos nos artigos. Aceitamos, apenas, a responsabilidade por ter dado aos autores a oportunidade de divulgar seus conhecimentos e expressar suas opiniões.
RODANDO POR AÍ Experiências compartilhadas
A AGCO está promovendo a aproximação de sua liderança junto a universidades e instituições de ensino do Brasil para compartilhar experiências profissionais e desenvolvimento de carreira. A iniciativa conta com a participação de uma rede de estagiários de todas as oito unidades da AGCO no Brasil, com planos de crescimento para abranger também as unidades da AGCO na Argentina. Os estudantes fazem a ponte com as instituições para que a liderança da empresa,
em formato de palestra on-line, divida sua expertise com alunos de diferentes cursos, sejam eles ligados ou não ao agronegócio.
Bioceres no Brasil
Julio Bravo
A Bioceres Brasil chega com a proposta de fornecer tecnologias de produtividade agrícola desenhadas para possibilitar a transição da agricultura para a neutralidade de carbono. O objetivo é criar incentivos econômicos que permitam a adoção de práticas de produção ambientalmente corretas. Uma das tecnologias que a empresa tem como foco nos próximos anos é a HB4, a primeira tecnologia de tolerância à seca para trigo e soja. No Brasil, a empresa tem a aprovação da CTNBio - Comissão Técnica Nacional de Biossegurança - para a soja HB4 desde 2019 e aguarda a aprovação do órgão para a tecnologia do trigo. "Nossa missão é transformar o País - um dos principais players no mercado global do agronegócio - em referência de práticas de agricultura sustentável, assumindo a vanguarda mundial da produção de alimentos”, garante o líder de desenvolvimento de negócios da Bioceres Brasil, Julio Bravo.
Renovação de máquinas agrícolas
O diretor de Operações da Mahindra, Jak Torretta, se posicionou recentemente sobre a importância de pequenos e médios produtores modernizarem a frota de tratores. “Nas últimas semanas ouvi gente da indústria de tratores dizendo para o agricultor não comprar máquinas agrícolas neste momento. O aconselhamento para o grande produtor é bem diferente da orientação que deve ser dada para o médio e pequeno produtor. Não se pode retardar o investimento de produtores que estão se organizando para comprar ou renovar suas máquinas. De forma alguma um país que tem mais de 60% de sua frota circulante de tratores com mais de dez anos de uso pode se dar ao luxo de não renovar, atualizar a tecnologia de suas máquinas, melhorar o custo operacional das mesmas e o próprio custo de produção de suas lavouras”, destacou.
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Perfect Flight nos EUA
A Perfect Flight alça voos internacionais em 2021 com a abertura de um escritório em Iowa, nos Estados Unidos. A concretização do novo espaço contou com o envolvimento do advisor Dan Burdett, experiente e renomado profissional do agronegócio norte-americano, ex-head global de Agricultura Digital da Syngenta. As novas instalações da Perfect Flight estão localizadas no complexo Iowa State University Research Park.
MUNDO MÁQUINAS
Nova série de trator plataformado Massey
A Massey Ferguson apresentou em maio seu novo trator para pequenas propriedades e agricultura familiar, o MF 4400 Plataformado. O modelo é ideal para quem busca simplicidade operacional para trabalhos pesados, como preparo de solo e plantio, ou até mesmo transporte e tratos culturais. A chegada do modelo ao mercado dá continuidade aos lançamentos da linha MF 4400, cuja versão cabinada foi lançada em 2020. “A nova Série MF 4400 Plataformado amplia a gama de soluções agrícolas da Massey Ferguson. Foi pensada para clientes que buscam a melhor adequação ao custo de produção com baixo número de horas por ano e fácil manutenção”, destacou o coordenador de Marketing Estratégico Tratores da AGCO, empresa que detém a marca, Eder Pinheiro.
O modelo possui potências de 80cv, 89cv, 99cv e 105cv, é equipado com o motor AGCO Power de três cilindros Turbo-intercooler Common Rail, que trabalha em rotações mais baixas e com injeção eletrônica, economizando até 10% de combustível. O motor, que tem 20% mais durabilidade, possui um sistema inteligente com sensores de monitoramento em tempo real que evita falhas. A nova série possui quatro opções de transmissão (8Fx4R, 12Fx8R, 16Fx8R e 12Fx12R) que garantem que a performance da máquina seja adequada ao trabalho, aumentando seu rendimento e tornando o trator versátil para melhor atender às exigências do cliente. Robusta, plana, ampla e espaçosa, a plataforma da Série MF 4400 proporciona o conforto necessário para o dia a dia.
Novos T8 e T9 PLM Intelligence A New Holland Agriculture lançou no dia 20 de maio a linha de tratores de alta potência: T8 e T9 PLM Intelligence. As máquinas contam com uma arquitetura eletrônica embarcada de fábrica remodelada e voltada para a agricultura digital, conectada e de alta performance. O PLM (Precison Land Management) Intelligence traz um conjunto de alta tecnologia e capacidade para atender a demanda por agricultura de precisão do campo. A conectividade possibilita uma melhor gestão da frota, seu controle e suporte nas operações agrícolas, conectadas com os novos portais da marca, o Mynewholland, de suporte e treinamento, e o Myplmconnect, de telemetria. “Com essa tecnologia 100% conectada, o produtor rural vai economizar em sementes, defensivos químicos, combustível e, ao mesmo tempo, aprimorar a gestão da frota de máquinas, tendo em mãos informações que vão ajudá-lo a fazer a tomada de decisão em tempo real e gerir da melhor forma possível a propriedade”, afirmou o vice-presidente da New Holland Agriculture para a América do Sul, Rafael Miotto.
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Trator 1160 Turbo da Agritech A Agritech oferece ao mercado o Trator 1160 Turbo, que tem otimizado o tempo do trabalho na lavoura de uvas. Por ser o mais compacto do mercado em sua categoria e peso, o modelo também tem obtido melhores performances no meio das estreitas parreiras. O trator 1160 Turbo facilita o dia a dia da lavoura em diversas situações de aplicação, desde o preparo do solo ao transporte da colheita. Uma série de benefícios de fábrica equipa o trator 1160 Turbo com reversor de velocidade, tomada de força e câmbio principal sincronizado. O equipamento ainda possui tração 4 x 4, capacidade do levante hidráulico de 2.200kg e câmbios principal e secundário sincronizados. “O 1160 Turbo é multifuncional e versátil. É um trator que oferece soluções que antes somente modelos de maior porte e potência poderiam oferecer. Moderno e completo, esse equipamento oferece segurança ocupacional, conforto e bem-estar ao operador”, destacou o Coordenador de Vendas/Marketing da Agritech, Cesar Roberto Guimarães de Oliveira.
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Jacto Next, serviços com soluções para a Agricultura 4.0 A Jacto apresentou em junho a Jacto Next, área de negócios da empresa, responsável pela comercialização e entrega de serviços especializados dentro da porteira. A nova área funciona como um provedor de serviços integrados que permite usar conectividade e IoT para atingir mais resultados nas propriedades rurais. "Assim como a Indústria 4.0, a quarta revolução da agricultura precisa da digitalização no campo para ter maior agilidade, autonomia, conectividade e integração nos processos produtivos e de gestão. Neste cenário, somos solicitados cada vez mais a oferecer para as propriedades agrícolas soluções digitais integradas e completas que viabilizem isso", explica o diretor-presidente da Jacto, Fernando Gonçalves. Há um ano, a Jacto lançou o seu Ecossistema Digital que, por
meio do aplicativo Jacto Connect, tem permitido unir quatro importantes participantes do ambiente agrícola: o agricultor, o ecossistema de negócios, os sistemas de informações e todas as "coisas" presentes na propriedade. Nesse contexto, o ecossistema de negócios compreende as revendas, os parceiros e as comunidades dentro e fora da porteira. Agora, com a Jacto Next, a empresa dá um novo salto em sua oferta de serviços para a Agricultura 4.0. Nesse sentido, disponibiliza serviços que permitem fazer a digitalização completa da fazenda, com soluções para cobertura de sinal de internet, instrumentação, conexão de máquinas multimarcas, sensores, estações meteorológicas, drones, imagens de satélites e softwares para monitoramento e gestão das operações.
LS customiza tratores para atender demandas específicas Com a diversidade na produção agrícola brasileira, a LS está customizando seus tratores para atender demandas de produtores de culturas específicas, como café, cana, hortifruticultura, entre outras. Cada uma destas atividades mais específicas vem demandando “ferramentas” de trabalho adequadas para um bom desempenho, a fim de obter o máximo de produtividade. Em busca de aumento de produtividade por hectare, muitos citricultores começaram a trabalhar o adensamento das suas lavouras, ou seja, diminuindo o espaço entre plantas. Pomares com alta densidade podem, segundo pesquisadores, atingir aumento de até 50% no rendimento por planta. Se, por um lado, há um ganho expressivo no final das contas, para o produtor ele aumenta também o risco de perda de frutas se não trabalhar com máquinas adequadas. Neste nicho a LS está atuando com propostas específicas de acordo com as necessidades de cada produtor, como é o caso dos tratores da série Plus, de 80cv, 90cv e 100cv, que foram customizados para trabalhar num pomar na re-
gião no estado de São Paulo e ficaram com as dimensões aproximadas de um U60. Outro caso é a versão Viti do R50, criada por sugestão da equipe comercial da revenda da região de Caxias do Sul (RS) e aceita pela fábrica justamente para atender às especificações da viticultura latada. A equipe de campo percebeu a necessidade de diminuir a altura da plataforma do trator, ficando em 90cm entre o acento e o solo, e uso de rodagem radial traseira aro 20, na especificação 320/70/20 e dianteira 200/70/16. “Com a plataforma mais baixa o centro de gravidade também baixa, dando maior estabilidade para trabalhos em áreas com inclinação acentuada”, explica o gerente comercial da concessionária LS na Serra, Julio Carniel. Atender às demandas específicas dos clientes setorizados é parte do DNA da LS Tractor, conforme diz o gerente de Marketing e Vendas, Astor Kilpp. “E quando elas são recomendadas por quem usa nossos tratores, nossa tendência é de estudar e ver que outras melhorias podemos oferecer, para que o trator fique mais completo ainda”, finaliza ele.
BAUER investe R$ 100 milhões no Brasil Há cerca de cinco anos, o Brasil vem chamando a atenção da Bauer mundial e o investimento de R$ 100 milhões até o momento comprova o bom cenário. A previsão é dobrar o valor investido no País nos próximos anos. Presente em mais de 80 países, a Bauer é uma empresa global, há 90 anos, em inovação na construção e fabricação de sistemas de irrigação mecanizada. No Brasil, com sede em São João da Boa Vista (SP), possui mais de 25 revendas que atendem todo o território nacional, com venda de carretéis autopropelidos e pivôs centrais. No dia 8 de junho, a empresa inaugurou mais uma revenda, desta vez em Goiânia, no estado de Goiás, referência no cenário da irrigação nacional. A meta é obter de 30% a 40% desse mercado em dois anos. O objetivo é uma aproximação do produtor por meio de parcerias, como as revendas IrriPro. “A Bauer mundial entende que o Brasil é uma região-chave para o futuro do agronegócio. Nosso país é o único onde o investimento em irrigação flui com o melhor custo/benefício. Nos últimos três anos, todas as boas previsões de crescimento para a fábrica brasileira extrapolaram”, ressalta o CEO da Bauer Brasil, Cristiano Del Nero.
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IRRIGAÇÃO
Água escassa
A irrigação é uma alternativa importante para os produtores rurais. No entanto, em períodos de escassez hídrica vai muito além de incrementar a produção, podendo significar, literalmente, a salvação da lavoura e dos lucros
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Alerta de Emergência Hídrica, divulgado recentemente em conjunto pela Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico e pelo Sistema Nacional de Meteorologia, sobre a previsão de escassez hídrica, no período de junho a setembro, nos cinco estados localizados no entorno da Bacia Hidrográfica do Rio Paraná, certamente deverá motivar os agricultores-irrigantes a adotar práticas efetivas de convivência com essa situação desfavorável que, em casos extremos, poderá obrigar a restrição parcial ou total da irrigação na agricultura para priorizar o essencial abastecimento domiciliar urbano. Caso o agricultor necessite manter a atividade produtiva por razões de sobrevivência, é fundamental que disponha da outorga para utilização de recursos hídricos, procurando, assim, evitar uma interrupção compulsória da irrigação. O problema é agravado pela indissociável relação com a escassez energética, com um inevitável au-
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mento no custo operacional dos sistemas operados por energia elétrica. Incidentalmente, a irrigação praticada em regiões sistematicamente afetadas por escassez hídrica tem proporcionado inúmeras alternativas capazes de assegurar a viabilidade da agricultura irrigada nessas condições desfavoráveis. Deve-se considerar que à medida que se reduz a dotação hídrica às culturas, ocorre também a redução no consumo energético nas unidades de bombeamento. Esse fato sugere que as práticas para redução hídrica poderiam também ser adotadas em condições de energia pouco disponível, em geral com custo mais elevado. A seguir, estão sugeridas algumas alternativas para a redução da dotação hídrica e do consumo energético em períodos de escassez hídrica, assumindo que soluções simples, como a eliminação de vazamentos na rede hidráulica, sejam prioritariamente providenciadas.
SUSCETIBILIDADE DA PRODUÇÃO À DEFICIÊNCIA HÍDRICA
Tem sido extensivamente demonstrado que as plantas cultivadas exibem diferentes graus de suscetibilidade à deficiência hídrica durante o ciclo fenológico. Esse comportamento pode ser observado na experiência do agricultor com a cultura irrigada ou quantificado em ensaios de pesquisa, com o objetivo de se determinar as funções de produção da água em determinada cultura. Assim, a simples avaliação observada em inúmeros locais permite identificar períodos críticos de exigência hídrica durante o florescimento ou formação dos produtos de diferenciação na maioria das culturas, como cereais, leguminosas, raízes tuberosas, tubérculos, bulbos, colmos, frutíferas etc. Essa constatação permite concluir que nos demais estádios fenológicos a exigência hídrica pode ser mais flexível, tolerando-se diferentes graus de deficiência hídrica,
sem causar prejuízos significativos à produção. (veja box ao lado)
CULTURAS TOLERANTES À DEFICIÊNCIA HÍDRICA
Havendo a previsão de escassez hídrica, é providencial a escolha de culturas mais tolerantes à restrição hídrica. Atualmente, podem ser obtidas cultivares geneticamente modificadas, ou não transgênicas, de diversas culturas, com expressiva tolerância à deficiência hídrica.
AUMENTAR O TURNO DE IRRIGAÇÃO
A maior frequência de irrigação promove um maior período de molhamento da superfície do dossel vegetativo e do solo, aumentando as inevitáveis perdas por evaporação. Ao explorar a capacidade máxima de retenção de água disponível no solo, o turno de irrigação será ampliado, reduzindo a frequência de molhamento superficial e as perdas de água.
IRRIGAÇÕES NOTURNAS POR ASPERSÃO
Algumas vantagens podem ser prontamente reconhecidas nas irrigações noturnas: redução no custo da energia elétrica, aproveitando a tarifa verde, e redução na evaporação da água lançada no ar e precipitada sobre a vegetação e o solo. A operação do sistema de irrigação entre 21h30min até às 6h pode resultar em significativa redução no custo de energia elétrica. Em algumas concessionárias, a redução pode atingir 90% da tarifa normal aplicada no horário de ponta ou pico no consumo de energia elétrica.
IRRIGAÇÃO POR ASPERSÃO EM PERÍODOS VENTOSOS
A ocorrência de ventos intensos ou moderados prejudica a uniformidade de distribuição de água, em sistemas de irrigação por aspersão, agravando a condição de escassez hídrica. A reco-
DEFICIÊNCIA HÍDRICA
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s observações sobre deficiência hídrica podem ser vantajosamente quantificadas, na determinação de funções de produção obtidas em ensaios experimentais, cujas equações apresentam a seguinte forma: Y/Yo = π (E/Eo)λ Y – produção com dotação hídrica deficitária E, Yo – produção com dotação hídrica irrestrita Eo, π – multiplicador, λ – sensibilidade à deficiência hídrica em diferentes estádios fenológicos. Para exemplificar a aplicação desta equação, será utilizada a função de produção de uma cultura de sorgo granífero, publicada por Howell & Hiller (1975) com os seguintes resultados experimentais, acompanhados de uma dotação hídrica ilustrativa: Supondo E = 252mm e Eo = 360mm (E/Eo = 0,7): Estádio Germ. Cresc. Flores. Frutif. Matur. Ciclo Eo-mm 40 80 120 80 40 360 E-mm 20 50 120 62 0 252 λ sorgo* 0 0,12 0,6 0,18 0 (E/Eo)λ 1 0,95 1 0,96 1 0,91 Redução de 30% de água e 9% na produção de grãos de sorgo *(Howell & Hiller,1975).
Uma vez conhecida a função de produção, várias estratégias de manejo das irrigações podem ser avaliadas para se obter o melhor resultado econômico. Wenderson Araujo
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Como reduzir o consumo de energia na irrigação
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lgumas recomendações podem ser oportunas para a redução no consumo de energia, em planejamentos de irrigação, conforme anotadas a seguir: • Escolher sistemas de irrigação que requerem pouca energia em suas características operacionais, como a irrigação por superfície (faixas, sulcos e inundação, quando aplicável) ou aspersão convencional, com aspersores pequenos, bocal único e reduzida pressão operacional. • Localizar as áreas irrigadas próximas aos mananciais que deverão abastecer os sistemas de irrigação. • Priorizar áreas com topografia relativamente plana e uniforme. • Considerar a operação noturna como alternativa para melhorar o desempenho das irrigações e reduzir o custo do consumo energético em instalações acionadas por energia elétrica. • Dimensionar tubulações e acessórios com características favoráveis à redução das perdas de carga hidráulica por atrito. • Introduzir na rede hidráulica apenas os componentes essencialmente necessários à operação segura do sistema de irrigação.
mendação seria aguardar por períodos com menor intensidade dos ventos para executar a irrigação, quando houver a possibilidade de alterar o período operacional do projeto.
POSSIBILIDADE DE OCORRÊNCIA DE CHUVAS
Previsões de chuvas generalizadas, com elevada probabilidade de ocorrência em datas próximas, podem justificar um atraso na irrigação, principalmente se a cultura não estiver atravessando o período crítico de exigência hídrica. Além disso, chuvas moderadas podem corrigir uma eventual distribuição desuniforme de água associada ao sistema de irrigação. Caso a chuva não ocorra, reiniciar a irrigação procurando reajustar os períodos operacionais, mesmo sendo preciso aplicar lâminas inferiores às requeridas, até restabelecer a normalidade operacional.
CULTIVAR NA SEÇÃO TRANSVERSAL DOS SULCOS
Havendo a formação de sulcos durante o processo de semeadura, é aconselhável semear na própria seção transversal dos sulcos. Essa prática favorece o acúmulo de água de chuva ou irrigação em condições de escassez hídrica. Caso a irrigação seja por sulcos, as sementes podem ser localizadas nas laterais da seção transversal dos sulcos, evitando sua remoção por ocasião das irrigações ou chuvas intensas.
DÉFICITS HÍDRICOS INTENCIONAIS NA IRRIGAÇÃO
Em condições críticas de disponibilidade hídrica é recomendável admitir déficits hídricos em partes da área irrigada. Deve-se destacar que a economia aplicada aos projetos de irrigação raramente recomenda a incorporação da quantidade de água requerida na área total irrigada. Assim, a existência de algum grau de deWenderson Araujo
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ficiência hídrica é frequente na maioria dos projetos de irrigação, dependendo do rigor observado no dimensionamento e nas condições operacionais dos sistemas de irrigação. Atualmente, existem informações técnicas sobre estratégias de aplicação de déficits hídricos intencionais em, praticamente, todas as culturas de interesse. Esta prática, generalizada na agricultura irrigada mundial com a denominação de “regulated deficit irrigation”, tem por objetivo aumentar a eficiência de uso de água nas culturas irrigadas e o consequente acréscimo na receita líquida do projeto. Os interessados devem procurar por essas estratégias na literatura especializada e, assim, usufruir os benefícios de sua utilização em seus projetos.
AUMENTAR A DENSIDADE DE PLANTIO
A maior densidade de plantio pode compensar uma quantidade insuficiente de água pela redução de espaços vazios na área irrigada. O agricultor não deve ignorar que os sistemas de irrigação por aspersão aplicam a água em área total. Portanto, é sempre recomendável que toda água aplicada encontre uma planta cultivada pronta para absorvê-la.
GEL ABSORVENTE DE ÁGUA
Quando possível, utilizar o gel absorvente de água no plantio, notadamente em espécies arbóreas e arbustivas. Este produto aumenta a capacidade de retenção de água no solo, aproveitando melhor a água de chuva e possibilitando um aumento significativo no intervalo entre irrigações. Como sempre ocorre em situações desfavoráveis, algumas iniciativas adotadas temporariamente podem se revelar promissoras para serem definitivamente incorporadas nas atividades rotineiras do projeto de irrigação, com o objetivo de melhorar seu desempe.M nho econômico. Edmar José Scaloppi, Unesp
MOTORES
Turbinados
FPT Industrial
Motores a Diesel podem ser otimizados com diferentes tipos de sistemas, como turbo geometria fixa, biturbo e de geometria variável
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otimização e o aumento da eficiência dos motores de máquinas agrícolas vêm se tornando cada vez mais atrativos ao mercado e ao produtor rural. Essas máquinas são as principais forças motrizes no campo, seja em trabalhos únicos ou acompanhados de um implemento, e nesse conjunto se exige uma maior potência, o que acarreta ao produtor procurar o desempenho que se encaixe à operação destinada. Como a reserva de torque, o rendimento da barra de tração e a toma-
da de potência influenciam no adequado funcionamento do trator agrícola, estas características relacionadas ao torque são as primeiras a serem analisadas. Seja na hora de aprimorar o maquinário da propriedade ou na aquisição de novos, o produtor deve considerar as necessidades do seu trabalho e observar atentamente as especificações técnicas das máquinas, pois a escolha do equipamento corretamente dimensionado é crucial para o sucesso das operações.
Atualmente, o motor de combustão interna a Diesel é o principal utilizado na agricultura, devido às suas características únicas, em virtude de seu funcionamento baseado na explosão proveniente da mistura de ar e combustível em alta temperatura. A explosão constante gera um maior período de trabalho e capacidade de torque superior, característica fundamental em uma máquina cuja finalidade é fornecer potência. Em catálogos de fabricantes de tratores agrícolas é comum entre as classificações de motores estarem os valores de reserva de torque, sendo uma característica que define sua versatilidade de uso, ou seja, a capacidade de aumentar o torque à medida que ocorre a diminuição na rotação do motor devido a um esforço adicional. Quanto maior essa reserva, melhor é a adequação do motor ao seu uso nas operações agrícolas. Em um motor aspirado convencional, o ar chega aos cilindros pela pressão atmosférica e, no caso dos motores turbo, uma turbina é usada para fornecer o ar pressurizado aproveitando os gases de escape. Desta forma, o motor Diesel com turbocompressor pode apresentar reserva de torque superior a 15%, o que gera ganhos operacionais e energéticos.
Reserva de torque
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reserva de torque é a diferença entre o torque máximo do motor e o torque da potência máxima que pode ser calculada pela seguinte equação: RT (%) = ((TM - TPM) / (TPM)) x 100 Onde: RT - Reserva de torque; TM - Torque máximo; TPM - Torque na potência
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O conceito a que se atribui o turbocompressor é o aproveitamento dos gases que seriam eliminados no escape para direcionamento ao motor, isso aumenta a pressão dentro dos cilindros, que otimiza a combustão e, consequentemente, gera mais torque. Os turbocompressores mais conhecidos são de geometria fixa (popularmente conhecido como simples), biturbo e de geometria variável. Todos partem do mesmo princípio de funcionamento, porém cada um possui suas particularidades. Os motores sobrealimentados podem gerar temperaturas elevadas que não são vantajosas ao sistema, pois quanto maior a temperatura do ar, menor sua massa específica e consequentemente há uma diminuição da quantidade de comburente, que prejudica a explosão. Em consequência disso, o sistema alimentador necessita de um permutador intermediário de calor, conhecido como Intercooler, sua função é diminuir a temperatura do ar comprimido para que sua densidade e a eficiência do turbocompressor sejam maiores.
MOTOR TURBO GEOMETRIA FIXA
turbina, que captura o ar da atmosfera e pressuriza, elevando a densidade do ar e direcionando para a entrada do cilindro do motor. O tamanho dessa turbina pode variar com o torque desejado, e a potência gerada será de acordo com o seu tamanho (turbinas grandes geram potências superiores), porém deve se observar no momento da aquisição as características dimensionais, por exemplo, turbinas maiores resultam em períodos mais longos para atingir o torque máximo.
MOTORES BITURBO
O motor biturbo possui maior eficiência em comparação a um único
turbo de geometria fixa, visto que oferece um torque alto em baixas rotações. Como o próprio nome já sugere, tem por finalidade a utilização de duas turbinas, e pode ser uma boa opção em casos que não se deseja, ou não é viável, a utilização de uma turbina grande. O funcionamento se baseia em duas turbinas de igual ou diferentes tamanhos, que proporcionam força mais rapidamente, pois o pico do torque é atingido em baixas rotações. As configurações podem ser do tipo paralelo ou sequencial. O biturbo paralelo possui as duas turbinas do mesmo tamanho, que não estão conectadas entre si, as-
Fotos FPT Industrial
O turbocompressor de geometria fixa é constituído de apenas uma
Motor aspirado (esquerda) e motor turboalimentado (direita)
Turbocompressor de geometria fixa constituído de apenas uma turbina (esquerda) e motor com alimentação biturbo paralelo (direita)
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Motor com biturbo sequencial (esquerda) e motor com turbina de geometria variável (direita)
sim os fluxos de ar são unidos apenas no intercooler, caso o motor possua, ou na tubulação de admissão. A vantagem desse sistema é que atingirá a mesma quantidade de torque de uma turbina de grande porte, porém em baixas rotações. Uma alternativa disponível no mercado é o biturbo sequencial, que dispõe de duas turbinas de dimensões diferentes, onde a pequena vai oferecer alto torque em baixas e médias rotações, visto que, devido ao seu tamanho, alcança o ponto de eficiência mais rapidamente, e a maior vai atingir seu pico em rotações médias e altas, mantendo a eficiência do motor. Esse sistema possui outro diferencial que são as válvulas by pass, presentes na admissão e escape. A vantagem desse processo é que o motor vai manter um torque plano, atingindo o pico rapidamente em baixas rotações e permanecendo estável.
GEOMETRIA VARIÁVEL
O turbo de geometria variável possui a maior eficiência em relação ao de geometria fixa, pois minimiza o turbo lag, também conheci-
do como atraso do turbo, compreendendo o período que a turbina desenvolve para alcançar o seu ponto de eficiência. Esse sistema permite suportar um alto fluxo de gases, mediante as aletas móveis serem orientadas a abrir e fechar. Quando o motor está em baixas rotações o fluxo de ar é menor, consequentemente as aletas se fecham para aumentar a pressão dos gases e o motor atingir sua eficiência rapidamente. Com a alta pressão dos gases, estas aletas se abrem para o alívio do motor, mantendo o torque constante. A equipe do Laboratório de Adequação de Tratores Agrícolas (Lata-UFPR) conduziu pesquisas com turbinas em diferentes condições de campo. A fim de demonstrar a eficiência de sistemas variados, possibilitando o correto dimensionamento dos conjuntos mecanizados. Oiole et al. (2019), com o objetivo de avaliar o desempenho energético de um trator agrícola em operação de gradagem intermediária em duas inclinações e três configurações de bitola, utilizaram o modelo T6050 série Plus, da New Holland, com potência nominal (ISO TR 14396) de 93 kW, equipado com turbina de geo-
metria fixa. Observaram que a maior pressão do turbo foi atingida com a configuração de bitola fechada em área plana, resultando no aumento do rendimento termodinâmico. Strapasson Neto et al. (2020), ao avaliarem a interferência do número de válvulas de controle remoto em uso no sistema operacional e desempenho energético de um trator, utilizaram o modelo Magnum 340, da Case IH, com potência nominal (ISO TR 14396) de 250kW e potência extra de 275kW, equipado com turbina de geometria variável e rodados duplos na dianteira e traseira. Observaram que a turbina de geometria variável com uma válvula de controle remoto apresentou resultados superiores, devido ao aumento da eficiência energética, consequência da maior pressão da turbina e diminuição do consumo específi.M co de combustível. Gabriel Ganancini Zimmermann, Thais Alves dos Santos, Filipe Afonso Ingles, William Santiago de Mendonça, Daniel Savi e Samir Paulo Jasper, Lata - UFPR
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COLHEDORAS
No limite
O que pode ocorrer quando se trabalha no limite da máquina? Teste de campo com dois modelos de colhedoras mostra o que pode acontecer em cada sistema trabalhando em diferentes velocidades de colheita
P
ara se manter competitivo no mercado da soja, o produtor deve estar preocupado com a sua produtividade e com seus custos de produção. Em se tratando de operações mecanizadas, uma maior capacidade operacional é obtida aumentando-se a largura de trabalho ou a velocidade de operação. Obviamente que na maior parte das máquinas não é possível aumentar a largura de trabalho, restando como opção aumentar a velocidade de deslocamento para trabalhar uma área maior durante a jornada de trabalho. A colheita mecanizada da soja é uma operação de extrema importância e, em
muitos casos, realizada em meio a ciclos de intempéries e imprevistos, o que leva aos produtores a decidir por alterar o ritmo da colheita, passando a exigir maior capacidade operacional de suas máquinas. Contudo, a ausência de um acompanhamento rigoroso no processo de colheita pode resultar em perdas de grãos no campo e perda de qualidade do produto colhido. Além disso, um eventual aumento na velocidade de deslocamento da colhedora requer maior atenção do operador durante a operação. Não bastasse isto, cada colhedora poderá responder de modo diferente quando submetida ao seu limite de desempenho operacional.
Com base nestas informações, pesquisadores da Universidade do Estado de Mato Grosso, Campus de Nova Xavantina, realizaram um estudo em campo para avaliar as perdas na colheita mecanizada utilizando duas colhedoras levadas aos seus limites de velocidade na operação. Este estudo foi conduzido na Fazenda Santa Maria, no município de Paranatinga (MT). Para o trabalho foram utilizadas duas colhedoras automotrizes da marca John Deere, uma do modelo STS 9770, com plataforma Draper de 40 pés e a outra do modelo S550, com plataforma convencional de 30 pés. A colhedora John Deere
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Fotos Vandoir Holtz
STS 9770 foi submetida às velocidades 6km/h, 7km/h e 8km/h, e a colhedora S550 a 4km/h, 4,5km/h e 5km/h. As velocidades foram selecionadas em campo, submetendo-se a colhedora a velocidade máxima em que o sistema de trilha conseguia processar a massa colhida. As perdas de grãos na plataforma de corte e recolhimento e nos mecanismos internos da colhedora foram avaliadas utilizando-se o método desenvolvido por Costa et al., (1997), com o aumento da área delimitada pela armação para 4m². Na área da avaliação foi semeada a cultivar de soja NS 6906 IPRO, com população de plantas recomendada entre 340 mil e 420 mil plantas por hectare para a região Leste do Mato Grosso. O ciclo da cultivar é de 90 a 100 dias. Foram avaliadas as características da cultivar e as informações de interesse para a colheita mecanizada constam na Tabela 1. Na análise destes resultados pode-se observar que a população de plantas é superior à indicada pela empresa produtora das sementes, resultando em um maior adensamento das plantas, o que tem sido praticado por alguns produtores da região. Este adensamento pode ter sido responsável pelo acentuado valor nas perdas de grãos que ocorrerem naturalmente antes da colheita. O adensamento submeteu as plantas a maior a competição intraespecífica por luz, induzindo ao estiolamento e modificando a estrutura da planta. Como resultado disso, alguns galhos ficaram mais frágeis, principalmente aqueles localizados na parte inferior da planta, e não suportaram o peso das vagens, caindo ao solo antes mesmo do período da colhei-
Os modelos utilizados no teste foram as colhedoras John Deere, modelo STS 9770, com plataforma Draper de 40 pés e outra modelo S550, com plataforma convencional de 30 pés
ta. Cabe destacar que mesmo com essas perdas naturais elevadas, a produtividade da lavoura atendeu plenamente às expectativas do produtor, com mais de 70 sacas por hectare. As perdas de grãos ocorridas na plataforma de corte são apresentadas na Tabela 2. Nesta tabela é possível verificar que a colheita utilizando a plataforma convencional resultou em maior perda de grãos quando a colhedora se deslocava a 5km/h, porém não foi encontrada uma relação de causa e efeito do aumento da velocidade com o aumento das perdas de grãos. Por sua vez, quando realizada com a plataforma com sistema Draper, houve um aumento de mais de 25kg/ha para cada 1km/h aumentado na velocidade, com evidente relação de causa e efeito. De acordo com os pesquisadores, resultados como este são comuns e vários autores já indicaram que velocidades acima de 6km/h resultam em aumento considerável na perda de grãos na plataforma de corte e recolhimento. Na colheita mecanizada, o aumento da velocidade de deslocamento da colhedora requer o aumento na rotação do molinete de forma proporcional, geralmente a velocidade radial do molinete deve ser de 10% a 20% superior à velocidade de deslocamento da colhedora. Assim, em velocidades maiores, o molinete atinge a planta a ser colhida com mais energia, o impacto é maior, o que tende a abrir um maior número de vagens e grãos perdidos no campo. Além disso, o aden-
samento que resultou em plantas mais frágeis também pode ter contribuído para o aumento das perdas na plataforma corte com o aumento da velocidade. As perdas de grãos nos mecanismos internos da colhedora (Tabela 3) foram de pequena magnitude. Deve-se destacar que as colhedoras avaliadas foram submetidas até o limite máximo de velocidade de deslocamento em operação, que resultou no volume máximo de massa colhida (palha e grãos) para ser processado e mesmo assim o sistema de trilha fluxo axial presente nas colhedoras apresentou desempenho satisfatório. Durante a condução deste estudo, a umidade da palha e a umidade dos grãos eram adequadas, sendo resultado de um processo de dessecação bem conduzido, seguido de condições climá-
Pesquisadores da Universidade Estadual do Mato Grosso conduziram os ensaios de campo
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Tabela 1 - Características da cultivar NS 6906 IPRO: altura de plantas (m), inserção da primeira vagem (m), MP – massas secas da palha colhida (kg/ha), POP – população de plantas, PROD – produtividade (kg/ha), PN – perdas naturais (kg/ha), UG – umidade dos grãos (%) e UP – umidade da palha (%)
Cultivar
Altura
Inserção
MP
POP
PROD
PN
UG (%)
UP (%)
NS 6906 IPRO
1,10
0,15
2.901,9
480.000
4.221,2
17,0
14,42
13,43
sistema de trilha de fluxo axial são mais eficientes. Além disso, as perdas que porventura poderiam ocorrer por deficiência nos mecanismos internos da colhedora (unidade de trilha, separação e limpeza) são facilmente controladas a partir do posto de operação da colhedora, com ajustes na rotação do rotor, na abertura do côncavo e na rotação do ventilador ao simples toque na tela touch screen. Mas os pesquisadores alertam que a ação do operador somente será efetiva se acompanhada de rigoroso monitoramento das perdas. Ainda com base nos resultados apresentados no estudo, foi possível concluir que dentre os vários fatores que podem interferir na qualidade da colheita, a velocidade de deslocamento merece destaque: é a velocidade de deslocamento que determinará a quantidade de material que será cortado, recolhido e processado pela colhedora. Em razão disso, a colheita mecanizada será bem-sucedida quando a colhedora estiver perfeitamente ajustada à condição da cultura no campo, com sincronismo perfeito entre velocidade de deslocamento, rotação do molinete, altura do molinete em relação à planta, rotação do rotor, abertura entre o rotor e o côncavo e velocidade do vento no sistema de limpeza dos grãos. Por fim, os pesquisadores ressaltam a importância de um bom planejamento para a colheita e rigoroso monitoramento das perdas no campo para se adotar o melhor ajuste na colhedora em cada momento da colheita. .M
Tabela 2 - Médias das perdas na plataforma de corte e recolhimento na colheita mecanizada na cultura da soja (kg/ha), em função do modelo da plataforma e velocidade de deslocamento da colhedora
Tratamentos
Perdas (kg/ha)
Plataforma convencional - 4,0 km/h
46,18
Plataforma convencional - 4,5 km/h
35,83
Plataforma convencional - 5,0 km/h
52,57
Plataforma draper - 6,0 km/h
39,74
Plataforma draper - 7,0 km/h
66,43
Plataforma draper - 8,0 km/h
92,11
CV (%)
78,38
Coeficiente de variação (CV) e Diferença mínima significativa (DMS).
Tabela 3 - Médias das perdas de grãos no mecanismos internos da colhedora na colheita mecanizada na cultura da soja (kg/ha), em função do modelo da plataforma e velocidade de deslocamento da colhedora
Perdas (kg/ha)
Plataforma convencional - 4,0 km/h
11,72
Plataforma convencional - 4,5 km/h
14,59
Plataforma convencional - 5,0 km/h
0,00
Plataforma draper - 6,0 km/h
20,44
Plataforma draper - 7,0 km/h
24,75
Plataforma draper - 8,0 km/h
19,44
CV (%)
142,90
Vandoir Holtz, José Rodolfo Carvalho Netto e João Marcos Guedes da Silva, Universidade do Estado de Mato Grosso John Deere
Tratamentos
Coeficiente de variação (CV) e Diferença mínima significativa (DMS).
ticas favoráveis. Estes dois fatores favorecem muito o sucesso no processo de colheita. Os resultados encontrados para as perdas de grãos no sistema de trilha foram similares aos já descritos na literatura especializada. Em se tratando de qualidade dos grãos e perdas por falhas no sistema de trilha, existem estudos suficientes para comprovar que as colhedoras equipadas com
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Todas as perdas se mantiveram dentro dos limites aceitáveis
COLHEDORAS
Onde ocorrem Avaliação de 20 colhedoras traça um perfil das principais perdas que ocorrem na colheita do arroz irrigado no Rio Grande do Sul
O
Brasil destaca-se como o maior produtor de arroz fora do continente asiático, sendo que o sistema de cultivo irrigado é tradicionalmente praticado na Região Sul do país, devido às questões de clima e solo, contribuindo, em média, com 54% da produção nacional do grão. A produção nacional do arroz na safra de 2018/2019 atingiu 10,6 milhões de toneladas, cultivado basicamente em cinco estados do Brasil: Rio Grande do Sul, onde é produzida a maior parte, cerca de 70,5% da produção, seguido de Santa Catarina com 10,2%, Tocantins com 6%, Mato Grosso com cerca de 3,6% e por último Paraná com cerca de 1,5% da produção nacional (Mapa, 2019). No processo produtivo de qualquer cultura, a colheita é uma etapa muito importante, pois é a última tarefa do ciclo da cultura dentro da propriedade. Deste modo, tornam-se indispensáveis o planejamento e a adoção de técnicas e procedimentos corretos e eficazes no momento da colheita (Bisognin, 2015). Colher na época certa é, portanto, fundamental para se obter um produto de qualidade e com maior rendimento. O arroz atinge o ponto de maturação adequado quando dois terços dos grãos da panícula estão maduros. Embora essa fase seja fácil de ser identificada visu-
almente, pode-se tomar como base, também, o teor de umidade dos grãos (SNA, 2017). As perdas quantitativas dos grãos na colheita mecanizada de arroz irrigado ocorrem basicamente por três motivos: antes da colheita (perdas pré-colheita), na plataforma de corte e recolhimento (perdas na plataforma) e nos mecanismos internos da colhedora (perdas pelos mecanismos internos. As principais causas das perdas de grãos estão relacionadas às regulagens incorretas dos sistemas da máquina, à velocidade de trabalho incompatível, a qual eleva a taxa de alimentação e sobrecarrega a colhedora e, finalmente, à falta de qualificação dos operadores, principalmente no que se refere aos dois tópicos citados anteriormente. Na colheita do arroz irrigado na safra 2019/2020 foi conduzido um experimento para avaliar 20 exemplares de colhedoras em diferentes lavouras comerciais no município de Alegrete (RS). As regulagens dos mecanismos foram previamente realizadas pelos operadores, mantendo-as constantes durante as determinações de perdas na colheita. As velocidades de deslocamento da colhedora foram aferidas através do monitor a bordo ou de equipamento GPS, no posto de operação. As áreas foram colhidas com os grãos contendo umidade em média
de 21,2% base úmida (b.u). De posse dos dados coletados, para as variáveis quantitativas, fez-se utilização de ferramentas de controle estatístico do processo (CEP) para representar os resultados de perdas na colheita. Os gráficos apresentam três linhas horizontais, sendo a linha central a média das observações e as linhas inferior (Limite inferior de Controle – LIC) e superior (Limite Superior de Controle – LSC) obtidas pela média ± o desvio padrão amostral. Neste caso, cabe ressaltar que valores abaixo do LIC não são considerados ruins, mas indicativos de baixo nível de perdas de grãos.
PRÉ-COLHEITA
Nas perdas em pré-colheita, também chamadas de perdas naturais, observou-se uma média de 23,06kg/ha (Figura 1). Cinco das 20 áreas amostradas (25%) apresentaram valores de perdas em pré-colheita acima do limite máximo estabelecido, de 35,14kg/ha. A umidade média dos grãos nestas cinco lavouras ficou em 21,7%, dentro do limite recomendado para colheita do grão. As elevadas perdas naturais observadas podem estar ligadas a fatores intrínsecos de cada material genético utilizado, condições climáticas adversas ou ainda à presença de animais silvestres, dependendo da localização geográfica da lavoura. Um ponto positivo foi que em seis das 20 propriedades (30%) não fo-
Case IH
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Figura 1 - Carta controle das perdas de pré-colheita em 20 propriedades observadas
Figura 2 - Carta controle das perdas na plataforma em 20 propriedades observadas
Figura 3 - Carta controle das perdas nos mecanismos internos nas propriedades observadas
ram observadas perdas naturais e outras quatro apresentaram valores próximos a 20kg/ha. Vale ressaltar que nos gráficos deste trabalho, valores abaixo do LIC são considerados bons para a operação de colheita e não significam que o processo está fora do controle.
New Holland
PLATAFORMA
O levantamento foi feito com 20 modelos de colhedoras de diferentes marcas
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No que diz respeito às perdas na plataforma, observou-se uma média de 48,19kg/ha, sendo que duas lavouras se destacaram negativamente com valores muito acima dos relatados na literatura e considerados aceitáveis pelas instituições técnico-científicas. Uma das causas de perdas na plataforma é a incorreta velocidade periférica do molinete, podendo ocorrer perdas devido a baixa ou excessiva velocidade. Se a velocidade do molinete for muito baixa, pode ocorrer duplo corte, pois o molinete retardará a entrada das panículas na plataforma, deixando-as cair sobre o solo. Enquanto se a velocidade for muito alta, ocorrerá muito impacto entre o molinete e as panículas, ocasionando a debulha dos grãos e derrubando-os no solo (Bisognin, 2015). Também é notório que alguns materiais genéticos possuem maior suscetibilidade à debulha natural e, neste caso, maior atenção deve ser dada aos parâmetros da plataforma. Regulagens incorretas da posição do molinete (em altura e avanço) também podem contribuir para a elevação das perdas de grãos. Outro fator extremamente importante é a velocidade de colheita. Nas propriedades amostradas, não houve correlação direta das perdas na plataforma em função da velocidade, mas todas as quatro amostras que apresentaram valores mais elevados de perdas estavam colhendo em velocidades acima de 2,75km/h.
Massey Ferguson
PERDAS TOTAIS
MECANISMOS INTERNOS
Na Figura 3, pode-se observar a variação das perdas nos mecanismos internos. Verifica-se que praticamente todas as observações ficaram fora dos limites de controle superior e inferior, sendo que oito observações apresentaram resultados positivos, ficando abaixo do LIC. Obteve-se uma média de 32,46kg/ ha e um desvio padrão de 20,85, resultando em LIC de 22,03kg/ha e LSC de 42,88kg/ha. Quando comparado com outros trabalhos, pode-se dizer que houve uma média baixa de perdas nos mecanismos internos, em valores gerais as perdas nos mecanismos internos foram menores quando comparadas com as
perdas na plataforma. Quando comparadas as perdas nos mecanismos internos com a velocidade de colheita, verificou-se que a velocidade de colheita não apresentou relação direta nas perdas de grãos ocasionadas pelos mecanismos internos, conforme ilustrado na Figura 4. Isto pode ser explicado pelo fato de que a variação de velocidades utilizadas pelos produtores na região foi baixa, ressaltando a importância de monitorar as perdas a fim de ajustar a velocidade de colheita e as regulagens da colhedora. Ainda assim, alguns exemplares que colheram em velocidades menores apresentaram perdas superiores àqueles em velocidades maiores.
Figura 4 - Perdas pelos mecanismos internos em função da velocidade de colheita
Em relação às perdas totais, observou-se que a maioria das observações ficou dentro dos limites de controle superior e inferior, inclusive com 30% das colhedoras com perdas totais abaixo do limite inferior. A média de perdas totais foi de 84,38kg/ha. Em 15% do total de 20 máquinas, houve maior perda do que o aceitável, em duas delas a perda maior foi na plataforma e na terceira, a perda foi maior nos mecanismos internos. No geral, as perdas na plataforma são menores quando os grãos possuem maior teor de umidade, dificultando o desprendimento dos grãos das panículas de arroz. À exceção de algumas observações, as perdas quantitativas de grãos aferidas estão dentro do recomendado para a cultura do arroz irrigado. Foram observadas alterações pontuais nas perdas de grãos pelas colhedoras que podem ser atribuídas a maiores velocidades de colheita, no entanto não houve ajuste linear das perdas em função da velocidade para as amostras coletadas. As perdas quantitativas na plataforma de corte foram maiores que as perdas nos mecanismos internos da colhedora, denotando a atenção necessária do operador a este importante componente das .M perdas totais. Bibiana Bueno de Souza Cadore e Vilnei de Oliveira Dias, Lamap/Unipampa Alegrete Lucas Rodrigues Bastos, Campo e Lavoura Consultoria Agrícola
Figura 5 - Perdas totais nas 20 propriedades observadas
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CAPA
Adubadora Evo CS A Adubadora Evo CS, da Horsch, é um equipamento multitarefa, que possibilita a realização de três operações em uma só passada: aplicação de fertilizantes, descompactação e semeadura de plantas de cobertura
A
adubadora Evo CS é um equipamento destinado à aplicação de fertilizante granulado na linha, em profundidade. A prática recente de fertilização, em operação separada da semeadura, tornou-se bastante comum na agricultura mecanizada. São vários os efeitos benéficos da separação destas operações. As duas principais vantagens são relativas ao efeito positivo da antecipação da adubação, em relação ao momento da semeadura e também pelo fato de que com as operações em separado se conseguem melhores eficiências operacionais, principalmente
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da semeadura, que podem compensar o maior custo de desenvolvimento de duas operações. Com esta antecipação da operação consegue-se aproveitar melhor a janela de plantio, realizando-se a operação em um período de menor umidade do solo (entressafra), adequado ao trabalho de descompactação do solo. Uma das grandes vantagens deste tipo de equipamento é o melhor desempenho na distribuição, em comparação com os distribuidores centrí-
fugos, que além de apresentarem deficiências de distribuição uniforme ao longo da faixa de aplicação, colocam o fertilizante apenas sobre a superfície. Sabe-se que alguns elementos nutricionais de fertilização se decompõem sob a luz solar e outros possuem baixíssima mobilidade, como é o caso do fósforo. Além disso, a adubadora Evo CS faz também a descompactação de forma antecipada, dentro do perfil de solo, em profundidades maiores que aquelas praticadas
Fotos Maik Penner
no momento da semeadura. Portanto, é um equipamento que se pode integrar perfeitamente em um sistema de plantio direto, promovendo uma ação de recomposição física e nutricional. Por tudo isto é que se reconhece este equipamento como uma máquina multitarefa, que faz três operações em uma só passada, fertilizando, descompactando e, se estiver equipada com um opcional, pode introduzir sementes de plantas recuperadoras de solo. Esta máquina é um projeto desenCom tanque de 12 mil litros, a Evo possui autonomia de trabalho de aproximadamente 60ha em uma aplicação de 200kg/ha
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Fotos Maik Penner
A estrutura da máquina é suportada por pneus do tipo radial, que podem ser rodado simples ou duplo
volvido na matriz alemã para clientes brasileiros e configurada para as condições particulares da nossa agricultura. São dois modelos oferecidos no mercado brasileiro. O primeiro, na configuração 24.45, tem seções fixas sobre o suporte, com largura de 10,8m, com 24 hastes e 0,45m de espaçamento entre hastes. O segundo, 16.76/23.50, tem a possibilidade de variação de 16 hastes com espaçamento de 76cm e largura de trabalho de 12,16m para 23 hastes com espaçamento de 50 centímetros e largura de trabalho de 11,50m.
CHASSI E DEPÓSITO
Sobre um chassi estrutural bastante resistente é montado um depósito em polietileno, bipartido (uma metade para cada dosador), com capacidade
para 12 mil litros de fertilizante, equipado com um agitador que se aciona nas manobras, sempre que a máquina for levantada ou baixada, independe se é na manobra de cabeceira ou no meio do talhão. A estrutura da máquina é suportada por pneus do tipo radial, que podem ser rodado simples, na especificação 520/85 R42, ou duplo, especificados como 900/60 R32. A autonomia de trabalho é uma importante característica de uma máquina de grande porte, direcionada para grandes explorações e com alta tecnologia. Esta máquina tem capacidade de distribuir os produtos em uma área de 60 hectares, com uma dose de 200kg/ha, sem necessitar abastecimento. É um equipamen-
to que apresenta alta eficiência operacional, devido à sua grande capacidade do depósito, o que significa menos paradas, maior rapidez no abastecimento e facilidade em realizar manobras e transporte.
DOSADORES
Um sistema fundamental e que garante a qualidade da distribuição é o conjunto de mecanismos de condução, dosagem e entrega do fertilizante, composto por uma turbina, os dosadores, tubos condutores, as torres de distribuição e as hastes sulcadoras, por onde o material chega ao solo, no ponto onde se deseja. O sistema começa com uma turbina, acionada por motor hidráulico, colocada sob a parte dianteira do depósito.
Detalhe da turbina responsável pelo fluxo de ar, acionada por motor hidráulico, com rotação que pode ser alterada da cabine do trator
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Essa turbina pressuriza o tanque, conduzindo o material até os dosadores, e gera uma corrente de ar, que transporta o material até as duas torres de distribuição, por dois condutos individuais. Para o sistema de pressão positiva do tanque de fertilizantes, pode-se chegar a trabalhar em 150mBar conforme a necessidade. Quanto maior a taxa de aplicação desejada e a velocidade, maior a pressão de ar para poder deslocar o material. Estas torres comportam-se como um divisor de fluxo, recebendo o material e o encaminhando até os condutos que se ligam às hastes. A rotação da turbina pode ser alterada do posto de operação do trator, no monitor, por meio do controle do fluxo de óleo contínuo pela válvula VCR correspondente. Desta forma, com maior rotação, maior será a pressão positiva e, por conseguinte, maior é a quantidade de produto que chega sobre o rotor dosador de fertilizante. Um sensor mede a rotação e informa ao operador, que usa este parâmetro para a regulagem da dose. Os dosadores (rotores) estão colocados na parte inferior do depósito e acionados por um motor elétrico variável, fazendo a dosagem da quantidade de produto que deve ser aplicado. Para a calibração da dose a ser aplicada pode-se também combinar o tipo de rotor, se o de cor prata (inox) ou o da cor amarela, para variar desde os 100kg/ ha até os 1.000kg/ha. Depois de esco-
Para o transporte dentro da lavoura, a largura total se reduz de 10,8 metros para 5,35 metros
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Fotos Maik Penner
Os dosadores (rotores) estão colocados na parte inferior do depósito e acionados por um motor elétrico variável
lher o dosador se faz uma calibração da dosagem de produto, para comprovação. O projeto contemplou a máquina com um sensor de fluxo, que proporciona que sejam detectadas possíveis falhas no fluxo. Qualquer falha por obstrução é rapidamente detectada. A acurácia do sistema de dosagem é alta, pois é possível chegar a taxas de até 1.000kg/ha, a uma velocidade de 5km/h com uma variação
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Duas torres de distribuição possuem sensores que garantem o funcionamento perfeito de cada umas das linhas
de 5% em relação à quantidade pretendida. Um depósito auxiliar de 400 litros pode ser utilizado para a distribuição na linha de sementes miúdas, junto com o adubo. Este dispositivo, denominado MiniDrill, insere sementes finas no fluxo da corrente de ar até duas minitorres de distribuição e de lá até as linhas das hastes sulcadoras. Podendo ser distribuído na linha ou espalhado com a ajuda de um de-
fletor. Com este dispositivo é possível alcançar uma taxa de aplicação de até 160kg/ha de sementes.
HASTES SULCADORAS
O mecanismo de introdução do material no solo utiliza hastes sulcadoras, que trabalham um sulco com até 35cm de profundidade, colocadas de modo intercalado, uma linha à frente e outra atrás, para melhorar o fluxo de palha e a diminuição do esfor-
Um divisor no canal do fertilizante, posicionado atrás da haste sulcadora, possibilita a distribuição do produto em três posições diferentes entre a superfície e o interior do sulco
ço de tração e o revolvimento do solo. O material utilizado para a construção das hastes foi especialmente desenvolvido e selecionado com vistas à durabilidade. Há um sistema denominado TerraGrip, colocado em cada haste que dá flexibilidade a elas e evita que sejam submetidas a esforços excessivos. Duas molas (uma externa e uma interna), fazem a proteção da haste, absorvendo as forças excessivas decorrentes de obstáculos, servindo tan-
to para o desarme como para armar novamente a haste em sua posição de trabalho. São aproximadamente 550kgf de força que podem ser absorvidos e a haste pode deslocar-se em um curso aproximado de 30cm a partir da sua posição original. O fertilizante entra pela parte de trás das hastes. Um diferencial no posicionamento do produto é feito com um divisor que encaminha o produto em três posições: na superfície, meta-
de do produto na superfície e metade na profundidade de trabalho ou o total do produto na profundidade estabelecida pelo usuário. À frente das hastes sulcadoras a máquina apresenta discos de corte, cada um com 22 polegadas de diâmetro, destinadas ao corte de palha. No suporte, há um dispositivo de regulagem hidráulica do ângulo de ataque, que pode ser feita desde a cabine do trator.
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Fotos Maik Penner
Feitas em material especial e durável, as hastes sulcadoras abrem um sulco com até 35cm de profundidade
O nivelamento dos componentes é feito de forma hidráulica
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Logo atrás da linha de hastes sulcadoras há um conjunto de rolos destorroadores para nivelamento do solo e acomodamento da palhada. Estas duas fileiras de rolos devem trabalhar de preferência niveladas horizontalmente, mas com a profundidade dada pela linha dianteira de rolos. Esta regulagem é manual, por meio da escolha da posição de parafusos em orifícios. As regulagens necessárias para o bom funcionamento da máquina compreendem o nivelamento da estrutura do depósito através de um pistão hidráulico e do ajuste da posição do engate ao trator. Com a estrutura nivelada se faz o ajuste mais fino, regulando a profundidade de trabalho das hastes, através dos pneus de apoio, de forma hidráulica. Por último, na parte posterior da máquina há uma estrutura de controle e ajuste da profundidade de trabalho, suportada por pneus, que pode ser acionada hidraulicamente diretamente do posto do operador. Neste ponto, recomenda-se a colocação de calços de fixação para o transporte, que é a outra função deste componente. Esta máquina já teve muito desenvolvimento, testes e utilização em uma quantidade enorme de hectares, principalmente nos estados que representam a nova fronteira agrícola brasileira. Durante este uso foram experimentadas as mais diferentes condições e é evidente que para a aplicação das maiores doses, próximas aos 1.000kg/ha, são reco-
Molas de proteção em cada linha absorvem até 550kgf para evitar danos aos componentes
mendadas as velocidades em torno de 5km/h e para as quantidades menores, limitadas a 100kg/ha, pode-se deslocar a velocidades próximas a 12km/h. Quanto à potência demandada, ela é proporcional a profundidade de tra-
balho, tipo e resistência do solo e velocidade de deslocamento. Como a potência em tração é proporcional à força de tração (que depende da profundidade e do solo) e à velocidade, para que se alcancem profundi-
dades extremas, próximas a 35cm necessita-se em um solo seco e duro, aproximadamente, 520cv de potência do motor do trator. Evidentemente que, se a profundidade for menor, próxima a 10cm, 370cv de potência
HORSCH Evo CS
24.45
16.76/23.50
Largura em deslocamento (metros)
5,35
5,40
Altura em deslocamento (metros)
5,00
5,70 / 5,40
Largura em transporte - rodado simples (sem rodas) (m)
3,20
3,20
Largura em transporte - rodado duplo (sem rodas) (m)
3,55
3,55
Comprimento em transporte (metros)
11,64
11,64
Largura em trabalho (metros)
10,96
12,37/11,68
Altura em trabalho (metros)
3,44
3,44
Peso incluindo tanque (kgf)
15.000
15.000
Capacidade do tanque central bipartido (litros)
12.000
12.000
Abertura do tanque de sementes (mm)
2 x 990 x 720
2 x 990 x 720
Número de hastes
24
16 / 23
Espaçamento entre linhas (cm)
45
76 / 50
Profundidade de adubação (cm)
Até 35
Até 35
Especificação dos pneus do depósito
2 x 900/60 R 32 ou
2 x 900/60 R 32 ou
4 x 520/85 R 42
4 x 520/85 R 42
Número de discos de corte
24
16 - 23
Disco de corte padrão Ø (polegadas)
22
22
Disco de corte em ângulo Ø (polegadas)
20
20
Velocidade de trabalho (km/h)
5 a 12
5 a 12
Vazão total de óleo (litros/min)
70 - 90
70 - 90
Potência requerida a partir de (kW/cv)
385/520
250/340/355/485
Conheça as outras versões e mais detalhes
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Fotos Maik Penner Fotos Charles Echer
Ângulo de ataque dos discos de corte de 22 polegadas de diâmetro é definido da cabine do trator
de motor serão suficientes para as velocidades operacionais praticadas nesta operação.
TRANSPORTE
Como esta máquina tem grandes dimensões, é importante que tenha mecanismos de redução da largura para o transporte autônomo, conseguindo-se que, com o recolhimento das seções, a largura total se reduza de 10,8m para 5,35m e a altura do equipamento fique em aproximadamente 5m, de modo que seja perfeitamente compatível para o deslocamento em estradas, vias de deslocamento interno e inclusive acesso em ambientes de armazenamento. O sistema adotado neste projeto permite o deslocamento da máquina em velocidades consideradas altas para o transporte, desde que haja condições de segurança. Para o início e o final da operação, quando é necessário realizar a abertura e o fechamento de seções, as duas laterais se recolhem sobre uma fixa no centro. Quando desmontada em duas partes
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MiniDrill 400 litros pode ser utilizado para a distribuição na linha de sementes miúdas, junto com o adubo
(vagão e asas), para o transporte em caminhão prancha, a largura máxima fica em 3,35m para a versão com rodado duplo e 3,20m com rodado simples, sendo que nesta segunda opção é possível o deslocamento do caminhão sem necessidade de batedores.
TECNOLOGIA ELETRÔNICA
Em termos de tecnologia embarcada em uma máquina adubadora pode-se considerar que a Evo CS tem um nível bastante superior. Se o usuário fizer a ativação do software, poderá liberar o monitor e usar este recurso de agricultura de precisão, sendo possível controlar em sítio-específico a quantidade de fertilizante colocada no solo, utilizando recursos de taxa variada e controle de seção. Este dispositivo é de série e necessita apenas a liberação da ativação do monitor. Assim é possível usar mapas de prescrição e
quando ativada, pode aplicar precisamente a prescrição de fertilizante do mapa. Nos testes realizados e no uso do equipamento surgiu a recomendação de que a amplitude da variação da dose em aplicação variada não seja exagerada, para não provocar muita diferença de velocidade de deslocamento, necessária para que, na combinação da ação do dosador, se consiga realizar o prescrito. O controle de seção proporciona uma economia de fertilizante e evita a sobredosificação, pois se a máquina passar aplicando sobre um local que já havia sido aplicado, ela corta o fluxo de produto, evitando a sobreposição das passadas. Todo o comportamento da máquina, como o mapa de aplicação, o direcionamento, o corte de seções etc., pode ser visualizado pelo monitor Horsch Touch 800 que é totalmente compatível com o padrão Isobus e, por isso, pode ser intercambiado com os monitores das marcas de tratores .M que sejam do mesmo padrão.
PULVERIZADORES
Combinação eficiente A aplicação de fungicidas exige uma combinação de diversos fatores para garantir melhor cobertura da área foliar. Por isso, a combinação de pontas, volume e adjuvantes corretos é fundamental para atingir o alvo sem desperdiçar produtos
A
qualidade de aplicação de fungicidas influencia diretamente no controle de doenças na cultura da soja, por este motivo apenas investir em ótima adubação, sementes de qualidade, plantio na hora certa ou, até mesmo, em fungicidas caros, não será sinônimo de altas produtividades. Por isso mesmo, nos dias atuais tem-se pensando mais sobre qualidade e eficiência na tecnologia de aplicação de defensivos, buscando atingir o alvo (cultura). Inúmeros fatores podem afetar a qualidade de aplicação, dentre eles temos os fatores ambientais, como a velocidade do vento, a temperatura e a umidade relativa do ar, bem como temos os fatores que envolvem os equipamentos de aplicação, como escolha do bico certo, vazão e pressão corretas, altura da barra de pulverização do alvo, manutenção dos bicos e do pulverizador/autropropelido (regulagens em dia), além da mistura e/ou ordem certa dos produtos no tanque. Na aplicação de fungicidas na soja, recomenda-se utilizar pontas que produzam gotas finas, com o intui-
to de “chegar” ao alvo, em busca de uma boa cobertura e espectro de gotas, com máxima eficiência, atingindo de fato todo o dossel da cultura, já que as doenças costumam aparecer no terço inferior (baixeiro). Aqui fizemos um paralelo com uma situação: quando você está numa chuva com um guarda-chuva, você fica mais molhado quando a chuva é com gotas “finas” ou grossas? A resposta é chuva fina, pois gotículas pequenas ficam suspensas no ar, acarretando molhamento de todo o corpo. Em busca de maior autonomia e capacidade operacional dos pulverizadores, e de redução de custos operacionais na pulverização, alguns agricultores optam pelo menor volume de calda. Entretanto, pode haver algumas restrições, como dificuldades com as misturas no tanque (mais complexas), maior dependência das condições climáticas, pois gotas mais finas tornam-se mais vulneráveis à deriva e/ou evaporação, além desta redução exigir qualidade e eficiência na tecnologia de aplicação. Porém, existe carência de estudos que viabilizem e otimizem a redução de volume de pulverização nas aplicações
Jacto
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Figura 1 - Incidência e severidade da ferrugem-asiática na parte inferior da cultura aos 73 e 102 DAS (dias após a semeadura) em função das diferentes pontas de pulverização, diferentes volumes e presença ou não de adjuvante
Jacto
* Incidência (% de folhas com ferrugem), severidade (pústulas. cm-2)
A ponta ATR 3.0 possibilitou menor índice de incidência e severidade de doenças
de fungicidas. De modo geral, a quantidade do volume de calda pode influenciar na deposição e uniformidade de gotas. Por exemplo, maiores volumes de calda tendem a aumentar o molhamento foliar, a uniformidade e a cobertura de gotas. Por outro lado, facilita o escorrimento das gotas (abaixo solução), e utilizando menor volume de calda, pode-se ter maiores riscos à evaporação, menor deposição e de-
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suniformidade de gotas. Mas, ainda assim, mantêm-se as vantagens operacionais citadas anteriormente. Para maximizar a eficiência de fungicidas, utilizamos os adjuvantes, que auxiliam na qualidade de pulverização e, principalmente, na efetividade, por proporcionar inúmeras vantagens, tais como maior espalhamento, aderência, penetração, quebra da tensão superficial e viscosidade, redução do escorrimento da gota, redutor deriva
etc. Utilizar maiores volumes de calda até pode acarretar maior escorrimento superficial foliar, entretanto tem-se a solução de minimizar isto através de adjuvantes adesivos. Por estes motivos, cada vez mais se tem utilizado adjuvantes nas aplicações, em razão dos benefícios ofertados por este produto serem positivamente rentáveis e aumentarem a eficiência da tecnologia de aplicação. Em um trabalho realizado no Núcleo de estudos de solos e máquinas agrícolas (Nesma) do IFRS Campus Sertão, foi avaliada a eficiência de três diferentes pontas de pulverização (jato plano, cônico e plano de indução de ar) em diferentes volumes de aplicação (50L/ha, 120L/ha e 200L/ha), combinados com e sem ação de adjuvante, sobre o controle químico da ferrugem-asiática na cultura da soja, em estádios fenológicos R1 (início do florescimento) e R4 (vagem completamente desenvolvida). Este estudo mostrou no terço in-
Tabela 1 - Número de gotas, diâmetros, volume de calda, densidade de gotas e cobertura, nas diferentes pontas, volumes de aplicação com e sem presença de adjuvantes no terço inferior
Tratamentos
Número de Gotas
Número de Diâmetros
AVI 11001
249,25 a
37,00 b
4,44 b
0,37 a
0,47 B
AXI 11001
270,66 a
55,50 ab
6,18 ab
0,40 a
0,68 Ab
ATR 3.0
483,91 a
81,33 a
11,90 a
0,70 a
2,32 A
50L/ha
127,75 b
31,95 b
2,70 b
0,18 b
0,28 B
120L/ha
257,70 b
52,41 b
6,40 b
0,37 b
0,90 Ab
200L/ha
618,37 a
89,45 a
13,42 a
0,93 a
2,29 A
Sem adjuvante
383,97 a
54,75 a
7,04 a
0,57 a
0,87 A
Com adjuvante
285,25 a
61,13 a
7,97 a
0,41 a
1,44 A
CV (%)
54,95
36,39
58,75
55,03
72,22
ferior os melhores resultados e a melhor qualidade de aplicação com a ponta ATR 3.0 (jato cônico), devido à arquitetura interna da ponta resultar
Volume (L/ha) Densidade (gotas cm²)
em gotas muito finas, proporcionando uniformidade e maior cobertura foliar. Já nos volumes de calda utilizando o volume de 200L/ha, foi deKuhn
Cobertura (%)
monstrada maior eficiência em todos os parâmetros, em razão do maior molhamento foliar, proporcionando maior número de gotas, volume e cobertura, além da menor probabilidade de evaporação da gota. E ainda no terço inferior, a adição de adjuvantes não influenciou na qualidade de aplicação. Pensando em incidência e severidade da ferrugem-asiática aos 73 e 102 dias após a semeadura (Figura 1), a ponta ATR 3.0 possibilitou menor índice de incidência e severidade de doenças aos 102 dias após a semeadura, sendo que o volume de 200L/ ha permaneceu com maior eficaz de controle. Por fim, houve uma controvérsia na utilização de adjuvantes, em virtude de a exclusão de adjuvantes possibilitar menor incidência de folhas com ferrugem, e com adição de adjuvante ter menor severidade de pústulas, nas condições em teste. .M David Peres da Rosa e Junior Santana Girardi, Nesma/IFRS Campus Sertão Roger Toscan Spagnolo, CEng/UFPel Lucas Pagnussat, Eng. Agronomo
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SEMEADORAS
Semeadura de pre Independentemente do tipo de terreno, a semeadora precisa preparar o local ideal e depositar a semente no lugar certo, adubar na quantidade necessária e finalizar o estande deixando-o pronto para a cultura desenvolver o máximo potencial produtivo
A
implantação de uma cultura agrícola depende da inserção do órgão vegetativo de propagação, biologicamente viável, no interior do solo para posterior germinação, emergência e desenvolvimento. No caso dos grãos, a fonte biológica propagativa são as sementes, que hospedam todo o material genético da cultura, responsável pelo potencial produtivo da cultivar em questão. Dessa forma, a sua distribuição espacial é um dos fatores mais importantes no contexto da agricultura atual, pois visa um arranjo correto que viabilize um aumento de produtividade das culturas. Em suma, tem-se como objetivo um arranjo espacial que minimize a competição por luminosidade solar e espaço físico, que proporcione ao sistema radicular a exploração de áreas distintas do solo em busca de água e nutrientes, além de ser um importante aliado no manejo de pragas e doenças que ocorrem durante o ciclo produtivo. É importante destacar que o estabelecimento de uma população de plantas em uma lavoura é dependente da quantidade de sementes distribuídas na área e da qualidade destas, representadas pelos atributos: genético (pureza varietal), físico (material inerte, dano mecânico e impureza), fisioló-
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gico (germinação e vigor) e sanitário (patógenos, espécies daninhas, pragas). Além de fatores do ambiente de solo e agentes externos que podem inviabilizá-las. Para viabilizar a agricultura de larga escala, o processo de semeadura, que definimos como o ato de inserir sementes no solo, deve ser mecanizado, sendo as máquinas semeadoras de linhas individuais (semeadoras de precisão) as mais utilizadas, popularmente chamadas de plantadeiras. Estas realizam um elevado número de atividades que visam à realização das funções básicas e das complementares. As primeiras atividades dizem respeito às relacionadas à semente e ao fertilizante, no que se refere à dosagem e ao escoamento controlado destes insumos até o leito de semeadura. Já as complementares, visam propiciar as condições para a formação do leito de semeadura, cobrimento das sementes e adensamento do solo.
ESCOAMENTO CONTROLADO DE SEMENTES
Diversos fatores podem comprometer a distribuição de sementes por uma semeadora, dentre os quais se destacam o tipo de mecanismo e a rotação do disco dosa-
dor. Em semeadoras que possuem acionamento dos mecanismos via rodas motrizes de terra, a razão dessa proporcionalidade poderá ser ajustada pela alteração das engrenagens de transmissão. Já para as demais, este acionamento é realizado através de comando hidráulico, não existindo, em alguns casos, proporcionalidade. Dessa forma, para o primeiro caso se houver um acréscimo na velocidade da operação, consequentemente ocorrerá um aumento na rotação do disco dosador para que se alcance a densidade de semeadura preestabelecida, sendo que isso poderá levar à redução na qualidade da distribuição. A uniformidade de distribuição de sementes também está aliada a fatores intrínsecos dos mecanismos dosadores e é verificada através da aferição dos espaçamentos entre as sementes dosadas, obedecendo aos critérios de classificação, sendo eles: aceitáveis (0,5 a 1,5 o espaçamento referência), falhos (> 1,5) e múltiplos (< 0,5)
Fendt
ecisão (Figura 1). Estas avaliações podem ser realizadas em laboratório, mesmo que apresentem um desempenho superior aos obtidos em campo, em função de simular condições de trabalho com melhor isolamento dos fatores causadores de erro, como condições de solo, inclinações do relevo, vibrações da semeadora e em especial a ação dos componentes de abertura e fechamento de sulco. Em campo, pode ser realizada por meio da avaliação da distribuição longitudinal de sementes ou plantas, mediante a remoção do solo para a primeira e análise da emergência para a segunda. Depois de dosadas, as sementes são liberadas para os tubos condutores e, em queda livre, são conduzidas até o sulco. Deste modo, a queda da semente, o formato e o comprimento do tubo condutor podem alterar o intervalo entre as sementes dosadas (espaçamento) por meio da modificação da sua trajetória e, com isso, interferir na distribuição efetuada pelo mecanismo dosador. Os efeitos são observados em maior ocorrência quando utilizadas sementes de soja, o formato do condutor poderá causar uma descida em espiral ou o repique nas paredes internas, ocasionando o atraso das sementes e, consequente-
As semeadoras mais modernas possuem sistema mais preciso de deposição de sementes e fertilizantes
mente, a desuniformidade de distribuição longitudinal. Afirmativas confirmadas por alguns pesquisadores, que avaliando diferentes tubos condutores, observaram que os com formato parabólico e ângulo de curvatura de aproximadamente 30°, direcionados para a parte traseira da semeadora, contribuem significativamente para a manutenção da precisão na distribuição de sementes pelo dosador.
ESCOAMENTO CONTROLADO DE FERTILIZANTES
Com o advento da agricultura de precisão, a necessidade de aplicar a quantidade exata de fertilizante, no momento certo, ganhou mais ênfase. Este processo desencadeou uma série de trabalhos científicos com o objetivo de desenvol-
ver ou melhorar dosadores de fertilizantes e controladores eletrônicos de vazão, para utilização em semeadoras-adubadoras com condições de realizar a fertilização de uma forma eficiente. Assim, variam de acordo com o fabricante, propósito e tecnologia da semeadora-adubadora. Para que seja considerado eficiente, um dosador deve passar por algumas avaliações das variáveis de desempenho, tais como uniformidade de vazão (ensaio estático) e razão de distribuição longitudinal (ensaio dinâmico). As mesmas poderão ser influenciadas por fatores como disposição construtiva do dosador, inclinação do conjunto, nível do reservatório, densidade, granulometria, ângulo de repouso e teor de água do fertilizante a ser aplicado, tipo de helicoide (para dosadores com dosagem por roscas transportadoras helicoidais), velocidade de deslocamento e rotação de acionamento. As correlações dos fatores de influência poderão fazer com que a amplitude de distribuição assuma valores elevados, prejudicando a qualida-
Charles Echer
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Fonte: Adaptado de Väderstad (2020)
mente/solo, além do fechamento total do mesmo (cobertura das sementes). Os elementos mais utilizados são um par de rodas estreitas, dispostas em um eixo inclinado, onde a pressão da mola acoplada (sistemas hidráulicos ou pneumáticos também podem ser utilizados) ao mecanismo e a inclinação das rodas definem suas regulagens.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Figura 1 - Exemplo de espaçamento múltiplo, aceitável e falho, com base em um espaçamento de referência de 10cm entre sementes
RELAÇÃO ENTRE MÁQUINA E SOLO
A qualidade das atividades realizadas durante a operação de semeadura pelos mecanismos de relação solo-máquina está intimamente relacionada com a geometria das ferramentas, das condições do solo e das regulagens da operação, tais como a velocidade de deslocamento e a profundidade de trabalho. A adoção do sistema plantio direto, que em um de seus princípios preconiza a utilização de palha sobre a superfície do solo, trouxe desafios ao processo, sendo os discos de corte os mais usuais para cisalhamento dos resíduos e abertura de uma pequena fissura no solo. A escolha correta do disco depende da finalidade da operação, sendo o liso adequado para corte de palha com reduzido consumo energético; o ondulado para maior mobilização de solo e sulcos mais largos, o turbo com satisfatória mobilização e eficiente consumo energético, e ainda existem outras disposições construtivas, como o corrugado, que visa reduzir o espelhamento lateral da superfície do sulco. Ainda, para uso eficiente de discos é necessário um manejo correto de dessecação pré-semeadura, manter a borda do mesmo afiada e regular adequadamente a pressão da mola. Após cortar a palha e iniciar uma fissura no solo, faz-se o uso de elementos sulcadores para abertura de sulco, preparo do leito de semeadura e deposição do fertilizante. Para isso, podem ser utilizados dis-
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cos duplos desencontrados ou hastes sulcadoras, estas últimas proporcionam um maior rompimento de camadas superficiais compactadas e incorporação de fertilizantes em maiores profundidades. Como desvantagens, demandam maior esforço de tração e tendem a ocasionar variabilidade da profundidade de alocação das sementes. Já os discos duplos operam em menor profundidade de trabalho, auxiliam no processo de corte de palha e demandam menor consumo energético, estes ainda são os mais utilizados para a deposição das sementes no sulco de semeadura. Outro mecanismo são as rodas controladoras de profundidade. Essas, quando alocadas mais próximas ao disco de deposição de sementes, tendem a serem mais precisas por acompanharem as irregularidades do solo, em contrapartida reduzem o fluxo de palhada, podendo favorecer o embuchamento. Por fim, deve-se realizar um breve adensamento das laterais do sulco de semeadura, para um adequado contato se-
Tiago Rodrigo Francetto, Rafael Sobroza Becker, Airton dos Santos Alonço e Henrique Eguilhor Rodrigues, Laserg/UFSM
John Deere
de de deposição.
A escolha e a regulagem de uma semeadora-adubadora são dependentes de muitos fatores, sendo influenciadas pelo tipo de solo, condição de umidade, inclinação e irregularidade do terreno, volume e tipo de palha, entre outros, fazendo com que a variabilidade ocorra mesmo dentro de um talhão. Por isso, a regulagem e a verificação dos componentes devem ser de forma intermitente, para se alcançar índices satisfatórios de plantabilidade. Além disso, os mecanismos hoje existentes para dosagem e escoamento controlado de sementes e fertilizantes, se bem regulados, realmente proporcionam alta precisão de desempenho mesmo em altas velocidades de deslocamento da semeadora-adubadora. Porém, como visto, as operações complementares como cortar a palha, abrir o sulco, depositar fertilizante, depositar semente, cobrir o sulco e adensá-lo, exigem velocidades de trabalho adequadas, a fim de promover distribuição dos insumos na profundidade, quantidade e espaçamento corretos, além de promover o contato ade.M quado entre a semente e o solo.
A regulagem e verificação dos componentes deve ser de forma intermitente
PULVERIZADORES
Volatilidade
Ferramentas auxiliam a diminuição da volatilidade de herbicidas altamente de amplo espectro para evitar deriva e danos em áreas e culturas onde não foram aplicados
A
proximidade da introdução de cultivares comerciais de soja geneticamente modificadas tolerantes ao dicamba coloca em debate a possível exposição de plantas suscetíveis à deriva do herbicida em áreas adjacentes às aplicações. Tida como uma das grandes evoluções tecnológicas do agronegócio nas últimas décadas, a incorporação da tolerância a herbicidas através da biotecnologia em plantas cultivadas oferece novas alternativas para o controle de plantas daninhas, representando um passo importante dentro do cenário de aumento do número de plantas daninhas tolerantes ou resistentes aos herbicidas tradicionais. Em especial, a introdução do gene de tolerância ao dicamba na cultura da soja aumenta o número de opções de herbicidas para o manejo de plantas daninhas de difícil controle, principalmente aquelas que são tolerantes ou resistentes ao glifosato.
DERIVA E VOLATILIDADE
O movimento de um ingrediente ativo para fora das áreas aplicadas pela ação de vários fatores é um fenômeno conhecido como deriva. Este movimento pode ser representado pela deriva física (transporte de partículas) e a deriva de vapor, a qual depende do perfil de volatilidade da formulação aplicada. No que se refere ao dicamba, novas formulações e adjuvantes foram desenvolvidos para minimizar os riscos para as
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áreas adjacentes com plantas sensíveis a esse herbicida, através da menor geração de partículas transportáveis e diminuição do potencial de volatilidade. O dicamba na forma ácida é caracterizado como um composto moderadamente volátil, e o grau de volatilidade depende de vários fatores, incluindo quantidade aplicada, temperatura atmosférica, umidade atmosférica, formulação química (tipo de sal) e superfície sobre a qual foi aplicada.
TECNOLOGIAS UNIFICADAS
Pesquisas realizadas na Unesp de Botucatu/SP pelos professores Caio Carbonari e Edivaldo Velini mostraram que a utilização do sal diglicolamina de dicamba (DGA) reduz a volatilidade do ingrediente ativo em cerca de 90%, se comparado ao uso do sal de dimetilamina (DMA). Além disso, a técnica para a aplicação segura do dicamba conta também com um composto que atua como redutor de volatilização, o qual está presente no adjuvante Xtend Protect (adjuvante redutor de deriva e volatilidade). O Xtend Protect foi desenvolvido especificamente para diminuir ainda mais o perfil de volatilidade do herbicida, conferindo maior segurança quanto ao risco da deriva por vapor. A volatilidade da formulação de dicamba baseada no sal DGA é muito menor do que a da for-
AgroEfetiva
mulação produzida com o sal DMA, e a utilização do adjuvante que contém o redutor de volatilidade diminui ainda mais a volatilidade quando presente na formulação com o sal DGA. Estas pesquisas mostraram, ainda, que a adição do redutor de volatilidade às caldas pulverizadas diminuiu a quantidade de dicamba volatilizado em até 98% e 88%, respectivamente, para as caldas com dicamba DGA isolado ou associado com o glifosato sal potássico.
VOLATILIDADE E SUPERFÍCIE APLICADA
Com a maior adoção do sistema de plantio direto em soja, milho e algodão, e do sistema de dupla safra no Cerrado brasileiro (soja/milho), uma parte significativa do dicamba aplicado poderá ser depositada sobre a palha, e a interação do herbicida com a superfície da palha é diferente de quando se trata de solo ou superfície foliar. Este fato se torna ainda mais importante, pois nas áreas de Intacta 2 Xtend a recomendação do uso do dicamba é no pré-plantio ou até o dia do plantio da soja. Neste sentido, os resultados das pesquisas realizadas pelos professores Carbonari e Velini mostraram também que a superfície tratada exerceu influência direta sobre a quantida-
Os pulverizadores autopropelidos foram calibrados para operar em velocidades entre 18km/h e 20km/h
de de dicamba volatilizado, mas a palha, principal alvo no Brasil em função do plantio direto, foi a superfície a partir da qual foram observados menores níveis de volatilidade, especialmente na presença do redutor de volatilidade. É importante ressaltar, neste sentido, que o adjuvante redutor de volatilidade quando utilizado na mistura em tanque foi eficaz na redução da volatilização do dicamba sal DGA, independentemente da superfície pulverizada e da mistura com o glifosato, tornando a aplicação de dicamba ainda mais segura do ponto de vista da volatilização.
VOLATILIDADE A CAMPO
Outro projeto de pesquisa relacionado à volatilidade de dicamba foi re-
alizado pela empresa AgroEfetiva (Botucatu/SP), em parceria com o Laboratório de Máquinas para Pulverização da Unesp-Botucatu/SP e a Universidade de Nebraska-Lincoln/EUA, cujo objetivo geral foi oferecer um melhor entendimento do processo de volatilidade de dicamba em situação de larga escala. Este trabalho possibilitou a geração de dados para a modelagem matemática da volatilidade de dicamba em condições reais de aplicação a campo. Os modelos que descrevem volatilidade a campo foram introduzidos nas décadas de 1980 e 1990, seguindo demandas regulatórias impostas pelos órgãos ambientais dos diferentes países ao redor do mundo. A linha de pesquisa utilizada pela AgroEfetiva no Brasil segue os mesmos padrões regulatórios dos Es-
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Figura 1 - Fluxo de emissão de dicamba por volatilidade em função do tempo decorrido após Figura 2 - Valor total de dicamba volatilizado, acumulado ao longo do tempo, no ensaio de 2018. a aplicação, no ensaio de 2018: o fluxo é maior nas primeiras horas, mas decai rapidamente Durante todo o tempo de coleta o valor total volatilizado se manteve abaixo da média obtida nos Estados antes de se completar 24 horas desde a aplicação. Fonte: AgroEfetiva/Bayer Unidos, representando um valor total de apenas 0,15% da dose aplicada. Fonte: AgroEfetiva/Bayer
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ra 2) que foram calibrados para operar em velocidades normais de campo (18 a 20 km/h). As pontas utilizadas foram do modelo TTI 11004 (Teejet), operando na pressão de 2,8bar (40psi), com volume de calda de 100L/ha. A barra do pulverizador foi mantida na altura máxima de 0,5m acima da cultura. Para a modelagem matemática da volatilidade, os dados meteorológicos foram coletados ao longo do tempo após as aplicações, em diferentes alturas e posições no talhão aplicado, assim como amostras de ar foram coletadas utilizando-se dispositivos desenvolvidos especificamente para este trabalho, dentro e fora da área aplicada, igualmente considerando as diferentes alturas (Figura 3). Todo o entorno da área aplicada foi monitorado continuamente considerando-se oito pontos de coleta em volta da área (cobrindo todas as direções possíveis, em 360 graus), de
forma que qualquer movimento de vapor de dicamba que pudesse ocorrer fosse monitorado e quantificado ao longo do tempo, durante toda a duração do ensaio, independentemente da direção do vento ou das demais condições meteorológicas. Após as aplicações, as amostras de ar contendo o dicamba que eventualmente se volatilizou foram coletadas continuamente, no intervalo de 30 minutos após o término das aplicações até mais de 70 horas depois, de acordo com o protocolo de cada área. Imagem aérea de uma área de 4ha que recebeu a aplicação do dicamba mostra que 36 dias após a aplicação do herbicida não houve dano visível significativo na soja fora da área que recebeu o herbicida. As amostras coletadas foram armazenadas, congeladas e transportadas de acordo com um rigoroso protocolo para sua preservação. Já em laboratório, após o processo de preparação e extração, as
Fotos AgroEfetiva
tados Unidos, com premissas propostas pela Bayer e aceitas pela agência regulatória daquele país. A base metodológica deste trabalho foi apresentada em artigos científicos publicados por Riter et al. (2020) e Sall et al. (2020). De acordo com o método, modelos como o IHF (do inglês Integrated Horizontal Flux, ou Fluxo Horizontal Integrado) e o AD (Aerodinamic, ou Aerodinâmico) foram utilizados para estimar a perda de massa cumulativa de dicamba ao longo do tempo após as aplicações. Esses dados das perdas serão posteriormente utilizados para uma outra modelagem, que avalia o padrão de dispersão do ativo na atmosfera, o que permite avaliar o risco de intoxicação de plantas sensíveis. A geração de dados para estas modelagens depende de uma logística coordenada de coleta de amostras e de métodos analíticos robustos. Por esta razão, a pesquisa vem sendo realizada de maneira sequencial desde 2018, com ensaios em todas as safras. Em cada ensaio, um talhão de 4ha que havia sido semeado com soja não tolerante ao dicamba (Figura 1) recebeu a aplicação de dicamba sal DGA em mistura com glifosato sal potássico. O adjuvante redutor de volatilidade e de deriva também foi incluído na mistura, seguindo o protocolo experimental de cada área. As aplicações foram realizadas sempre de acordo com as recomendações de bula do dicamba, utilizando-se pulverizadores autopropelidos (Figu-
Coletores de ar e estação meteorológica utilizados na pesquisa a campo para avaliação da volatilização do dicamba
Figura 3 - Fluxo de emissão de dicamba por volatilidade em função do tempo decorrido após Figura 4 - Valor total de dicamba volatilizado, acumulado ao longo do tempo no ensaio de a aplicação em talhão do ensaio de 2019. Fonte: AgroEfetiva/Bayer 2019. Fonte: AgroEfetiva/Bayer
quantidades de dicamba coletado foram determinadas através da cromatografia líquida e espectrometria de massas (LCMS-MS), em processo analítico coordenado pelo professor Caio Carbonari, utilizando as estruturas laboratoriais do Nupam (FCA/Unesp, Botucatu/SP) e da SGS Brasil. Os resultados obtidos nas diferentes safras mostraram que o fluxo de dicamba emitido por volatilidade foi igual ou menor quando comparados aos resultados obtidos em ensaios similares realizados nos Estados Unidos. Segundo o artigo publicado por Riter et al. (2020), a emissão média encontrada nos Estados Unidos foi de 0,2% ± 0,05% da dose aplicada do produto. A Figura 1 apresenta um exemplo baseado nos dados obtidos no ensaio da safra de 2018. Observa-se que o fluxo de emissão de dicamba por volatilidade é maior nas primeiras horas após a aplicação, mas esse fluxo decai rapidamente antes de se completar 24 horas desde a aplicação, seguindo com um valor de fluxo bastante reduzido até o final do ensaio. A Figura 2 mostra o valor total de dicamba volatilizado, acumulado ao longo do tempo, considerando-se este talhão de 2018 (% da dose aplicada). Observa-se que em todo o tempo de coleta o valor total volatilizado se manteve abaixo da média obtida nos Estados Unidos, representando um valor total de apenas 0,15% da dose aplicada para este talhão. A Figura 3 apresenta dados obtidos no ensaio da safra de 2019, onde se observa novamente que o fluxo de emissão de dicamba por volatilidade é maior nas primeiras horas, decaindo rapidamente ao longo do primeiro dia após a aplicação. A emissão de dicamba segue com um fluxo bastante reduzido após esse período, até desaparecer próximo ao final do ensaio. No caso desse talhão de 2019 (Figura 4), o valor total de dicamba volatilizado acumulado ao longo do tempo permaneceu abaixo de 0,1% da dose aplicada no talhão, representando menos da metade do valor obtido nos estudos publicados nos Estados Unidos. Os dados coletados nestas pesquisas estão sendo modelados para a análise de comportamento da massa de dicam-
ba perdida por volatilização, mas os resultados já são conclusivos ao mostrarem cenários seguros quanto aos riscos relativos a esta volatilidade, visto que o valor das emissões é reduzido e menor do que aqueles obtidos nos Estados Unidos. A pesquisa segue atualmente com a modelagem dos dados na descrição de sua dispersão na atmosfera. Todas as informações geradas neste projeto estão sendo usadas para fundamentar os parâmetros técnicos de utilização do herbicida (bula do produto) e foram consideradas para definir os critérios de recomendação da Bayer quanto aos "10 Passos do Ma.M nejo Inteligente de Dicamba".
Ulisses R. Antuniassi, Caio A. Carbonari e Edivaldo D. Velini, Unesp/Botucatu Alisson A. B. Mota, Rodolfo G. Chechetto e Fernando K. Carvalho, AgroEfetiva Ramiro F. L. Ovejero, Matheus G. Palhano e Henrique N. Barbosa, Bayer
Vista aérea de uma das áreas de quatro hectares que receberam a aplicação do dicamba, 36 dias após a aplicação do herbicida
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Charles Echer
TRATORES
O básico bem feito
Para conseguir um bom aproveitamento do trator e do conjunto com implementos, algumas ações básicas são necessárias e devem garantir o funcionamento adequado e seguro
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m 2019, levantamento realizado pela equipe do Centro de Excelência em Máquinas e Mecanização - Cema, da Universidade Federal de Uberlândia, constatou 249 modelos de tratores agrícolas de pneus de diferentes marcas comercializados no Brasil, enquadrando-se nas faixas de potência abaixo de 59cv (27 modelos); 60cv a 99cv (99 modelos); 100cv a 199cv (69 modelos) e mais de 200cv (54 modelos), com tração 4x2, 4x2 tração dianteira auxiliar (TDA) e 4x4. Observa-se, no campo, certa confusão em relação às nomenclaturas para a tração dos tratores agrícola, devendo ser denominado trator 4x2 aquele que apresentar tração apenas nos rodados traseiros de maior diâmetro que os dianteiros, que têm função direcional; os 4x2 TDA possuem pneus traseiros motrizes, com capacidade de realizar tração, porém os dianteiros, apesar de serem de menor diâmetro, também são motrizes, podendo o operador optar ou não pelo seu acionamento em função das condições de trabalho. Já os tratores com tração 4x4 possuem os pneus de mesmo
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diâmetro e todos eles, obrigatoriamente, realizam tração. O trator agrícola é uma máquina autopropelida, multiusuária e tem flexibilidade para realizar diferentes tarefas na propriedade, que vão desde o preparo do solo, implantação, condução e tratos culturais até a colheita; e esta talvez seja sua principal vantagem. Há em funcionamento no Brasil desde tratores muito antigos até equipamentos modernos, e sua participação em todas as fases do processo produtivo é possível devido à sua capacidade de transmitir potência pelos componentes da transmissão como embreagem, caixa de marchas, diferencial, redução final até chegar aos rodados, sejam eles de esteiras ou pneumáticos. Para que a energia mecânica seja convertida em trabalho, os implementos agrícolas necessitam ser acoplados nos meios de aproveitamento de potência dos tratores, barra de tração, sistema de levante de três pontos, controle remoto e tomada de potência (TDP). Os implementos acoplados na barra de tração são denominados
de arrasto e aqueles acoplados ao levante de três pontos, popularmente chamado de sistema hidráulico, são conhecidos como implementos montados. Além disso, temos implementos que demandam rotação da TDP para serem acionados, como roçadoras, pulverizadores e enxadas rotativas. O conjunto trator e implemento montados forma um conjunto mecanizado que necessita, após o acoplamento, dos nivelamentos longitudinal e transversal, para permitir que os órgãos ativos do implemento sejam ajustados em relação à linha de tração do trator, evitando o esterçamento involuntário (nivelamento transversal) e também manter todos os órgãos ativos atuando na mesma profundidade (nivelamento longitudinal) para implementos que trabalham em subsuperfície, como arado, sulcador e subsolador. Lembrando que essas regulagens se restringem a implementos montados. Todos os cuidados com relação à maquinaria agrícola iniciam-se com a entrega técnica, devendo estar presente neste momento quem irá operar e conduzir o con-
MANUTENÇÕES
No decorrer da vida útil das máquinas agrícolas alguns cuidados são implementados, a fim de se manter a disponibilidade mecânica e o grau de utilização dos equipamentos utilizados no processo de produção. Eles podem ser realizados em periodicidade diária, semanal, mensal, semestral e anual. Esses cuidados, chamados de manutenção, podem ser preventivo, corretivo e preditivo. A manutenção preventiva, ou cuidados periódicos, é realizada em função do desgaste natural de peças e componentes e é guiada por informações contidas no manual do operador, como verificação de nível/troca de óleo do motor, aferição do nível de água do radiador, tensão da folga da correia do alternador, pressão de insuflagem dos pneus, ajustes da folga do acelerador, freios e embreagem. A manutenção corretiva objetiva reparar problemas apresentados pelo equipamento durante o seu funcionamento, mas alguns itens são obrigatoriamente realizados de forma corretiva, como, por exemplo, troca das lâmpadas do farol e luz de ré. A manutenção preditiva é, de certo modo, preventiva, no entanto, está relacionada às práticas com a prevenção de danos e previsibilidade de falhas. Nesse sentido, se utiliza de um monitoramento periódico por análise de vibração, ultrassom, inspeção visual e técnicas não destrutivas, a fim de integrar um programa de gerenciamento da vida útil das máquinas por um rígido e preciso cronograma de intervenções. A principal diferença entre a manutenção preventiva e a preditiva é que a preventiva ocorre em datas programadas no manual do operador, enquanto a preditiva ocorre continuamente e instante a instante durante a jornada de trabalho e a vida útil da máquina.
O operador deve, antes de iniciar a jornada de trabalho, verificar o nível de óleo presente no cárter, pois nesse momento o motor está em temperatura abaixo das condições de trabalho e possibilitará a aferição correta. Caso esqueça de realizar o procedimento e já tenha iniciado suas atividades, o mesmo deverá aguardar 15 minutos com o motor desligado para que o óleo escoe completamente para o cárter e, assim, possa ser verificado corretamente o nível na vareta. Caso encontre-se abaixo do nível e não esteja na época de troca do óleo, é necessário fazer a complementação utilizando o mesmo óleo presente no reservatório com relação à viscosidade (classificação SAE) e à qualidade (classificação API), pois mistura de diferentes tipos de óleo pode ocasionar reações químicas prejudiciais ao motor, podendo o mesmo até perder seu “poder” de lubrificação. No caso da complementação, o operador deve analisar a condição do óleo, pois a mistura de um óleo em boas condições com um já contaminado e com propriedades lubrificantes reduzidas não é justificável. O mau funcionamento dos componentes do sistema de arrefecimento do motor, como nível de água do radiador, funcionamento da hélice do ventilador, sujeiras na estrutura do radiador, avarias/ vazamento nas conexões e mangueiras, funcionamento da válvula termostática e bomba d’água, pode ocasionar superaquecimento do motor. Ao observar superaquecimento é importante ter cuidado ao abrir a tampa do radiador para evitar queimaduras e colocar água no radia-
dor com o motor a baixas rotações para evitar trincas no bloco do motor. O sistema de alimentação de ar seco dos tratores possui filtro com dois elementos filtrantes. O elemento externo pode ser limpo toda vez que o trator apresentar queda de rendimento, por observação da prática ou indicar restrição à entrada de ar. Essa limpeza deve ser realizada preferencialmente com jatos de ar comprimido de dentro para fora na estrutura do filtro, com pressões que não ultrapassem 5bar a 6bar. De qualquer forma, é importante consultar o manual do equipamento para verificar se este tipo de limpeza é permitido para o modelo de trator. O elemento interno, geralmente, não aceita limpeza e deve ser substituído com a periodicidade estabelecida no manual do operador, com intervalos que geralmente variam de cinco a sete limpezas do elemento externo. Se durante a limpeza o elemento externo for danificado, é necessário proceder sua substituição, a fim de evitar que partículas abrasivas passem pelo elemento e danifique componentes do motor. A verificação de dano pode ser realizada em um ambiente escuro com uma fonte de luz colocada no interior do filtro, ao passar feixe de luz significa que o elemento externo foi danificado no processo de limpeza.
SEGURANÇA
Os tratores agrícolas são máquinas que, quando operadas em condições adequadas, tornam-se seguras com relação à estabilidade. Porém, há quem não respeite os limites de declividade operacional das máquinas, realizando atos e condições inseguras. A estrutura de proteção na capotagem
Massey Ferguson
junto mecanizado durante a vida útil econômica. No momento da entrega são repassadas informações básicas com relação a cuidados, operação e manutenção para que se execute de forma eficaz, segura, econômica e proporcione rendimento operacional com bem-estar para o operador e meio ambiente.
Estrutura de proteção na capotagem é um item que deve sempre ser mantido, para evitar acidentes fatais
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Charles Echer
(EPCC) previne acidentes graves ou fatais em casos de tombamento ou capotamento, mantendo o operador em segurança. Porém, o operador deve estar com o cinto de segurança devidamente ajustado e afivelado. Muitos tratores antigos, ainda em operação, não possuem essa estrutura de proteção, que em alguns casos é confundida com a estrutura de sustentação do toldo solar. Para ser considerada estrutura de proteção deve ser fixada ao chassi, original de fábrica, e receber um selo de certificação. Reparos e adaptações não realizados por empresas autorizadas podem desproteger o operador e ser um agravador do acidente.
TECNOLOGIA
A tecnologia proporciona ao agricultor acesso a maiores informações da operação, e estas impactarão na tomada de decisão e qualidade das atividades no campo. Um exemplo é a telemetria, que permite ao gestor conhecer a dinâmica de trabalho sob o ponto de vista da máquina e do operador, conhecer como a operação ocorreu e inferir sobre sua qualidade. No trator, a telemetria permite ao usuário monitorar em tempo real as respostas da máquina às diferentes condições de trabalho ocorridas em função do terreno, da cultura, do operador etc. Entre as muitas variáveis obtidas, a velocidade de trabalho é uma das que mais afetam a qualidade do trabalho a ser realizado. A forma de apresentação para o usuário também é fundamental para uma boa compreensão e visualização da variável no espaço (local do talhão onde houve alteração). Nesse sentido, não basta a tecnologia permitir o monitoramento do comportamento da máquina, as informações devem ser disponibilizadas de maneira simples e intuitiva para o usuário. A elaboração de mapas de velocidade de trabalho, por exemplo, representa bem essa vantagem. A velocidade é fundamental para permitir uma avaliação sobre as diferentes operações mecanizadas. O mapa, além de ser uma representação prática e de fácil compreensão, permite ao agricultor avaliar, posteriormente, o resultado da variação da velocidade na germinação e emergência de plântulas na semeadura,
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A principal atividade a ser realizada pelo trator vai ajudar a definir o modelo a ser adquirido pelo produtor
mantendo a uniformidade do estande. O mapa de velocidade permite ainda observar o comportamento de uma determinada praga em uma região do talhão onde houve variação na taxa de aplicação. Um avanço construtivo nos tratores agrícolas tem sido a possibilidade de instalação dos meios de aproveitamento da potência na frente do trator, o que permite operações conjugadas e, consequentemente, contribuir com aspectos da capacidade operacional dos conjuntos mecanizados. Esse avanço pode contribuir com o conflito enfrentado no campo diariamente por agricultores e técnicos. Dar prioridade ao operacional ou a qualidade técnica? Por um lado, em alguns casos, o técnico é cobrado para terminar mais rápido, no entanto, mais rápido em grande parte das vezes não é melhor. A conjugação das operações pode contribuir nesse sentido, por exemplo, uma aplicação de herbicidas com pulverizador montado na frente do trator e uma semeadura simultânea, com acionamento pelos meios de aproveitamento na traseira da máquina.
APLICAÇÃO DE DEFENSIVOS
Esses avanços tecnológicos têm impacto na forma como o produtor maneja a cultura nos talhões. Os tratos culturais são operações de extrema relevância na condução das lavouras. Além disso, estão relacionados à segurança ambiental e das pessoas, estando elas próximas ou não dos locais de produção. Neste contexto, por exemplo, a tecnologia de aplicação precisa ser empregada, de forma a preservar a sanidade das culturas e reduzir os danos ao ambiente. É importante que a aplicação de agroquímicos seja realizada de forma racional, dentro
do contexto mais amplo do manejo integrado. Quando há possibilidade, deve-se favorecer a utilização de produtos biológicos. Mas onde não é possível, é necessário garantir que os agroquímicos sejam utilizados com critério e responsabilidade. Neste sentido, os mapas da área e os sistemas de informação geográfica têm contribuído expressivamente. A correta regulagem e a calibração dos pulverizadores são exemplos de ações importantes que maximizam a chegada dos produtos nos alvos, garantindo a manutenção do potencial produtivo das culturas e a redução dos custos de produção. A inspeção periódica dos equipamentos é outra prática que deve ser adotada. É importante que se tenha um checklist definido de procedimentos, de forma a verificar o funcionamento dos componentes e, mais do que isto, a adequação deles aos objetivos desejados. É notória a importância dos tratores, implementos e equipamentos no processo produtivo conferindo aumento da produtividade, qualidade das operações, segurança e ergonomia para o operador. Para que o sistema homem-máquina seja eficiente, é crucial o recebimento de informações por meio de treinamento e reciclagem aliado à prática das atividades. Outros cuidados periódicos de simples realização e fundamentais são descritos no manual do operador para o funcionamento do conjunto mecanizado de forma se.M gura, econômica e correta. Paula Cristina Natalino Rinaldi, Cleyton Batista de Alvarenga, João Paulo Arantes Rodrigues da Cunha, Renan Zampiroli e Darlisson Medeiros Santos, Universidade Federal de Uberlândia Haroldo Carlos Fernandes, Universidade Federal de Viçosa