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O que esperar da safra de soja
from Cultivar 126
Dever de casa
Que desafios podem ser aguardados para a safra que está sendo plantada e como o produtor precisa realizar bem o trabalho de base para enfrentar pragas, doenças, nematoides e outros problemas que rondam as lavouras
Acada nova safra que se inicia, renovam-se as expectativas de sucesso e bons resultados, e o desejo comum entre os produtores é de um andamento tranquilo e sem problemas. Porém, o início desta safra já não se deu como o esperado, principalmente na Região Sul, onde a falta e a irregularidade de chuvas resultaram no atraso da semeadura das lavouras de soja. Por outro lado, nas regiões Centro-Oeste e Norte, a estabilidade na ocorrência das chuvas se deu mais cedo, de forma que a semeadura ocorreu em fluxo melhor e mais adiantado, em comparação com a Região Sul.
Além de afetar a semeadura, o clima exerce influência sobre as pragas e doenças que estão sendo encontradas a campo, e que vão ser problema ao longo da safra. Por exemplo, nas lavouras de soja que receberam maiores precipitações e nas que, devido à cobertura do solo, a umidade se manteve, as primeiras pragas a marcarem presença foram as lagartas Agrotis ipsilon e Spodoptera frugiperda. Ambas as pragas que atuam no corte das plântulas, comprometendo o estande inicial e interferindo nos compo-
Fotos Elevagro
Figura 1 - Primeiro instar de S. frugiperda
nentes de rendimento. Em contrapartida, nas regiões onde a estiagem prevaleceu, a primeira praga a causar danos foi a Elasmopalpus lignosellus, também provocando a redução do estande de plântulas. O dano dessas pragas é maior ou menor, principalmente em função da qualidade do tratamento de sementes realizado pelo sojicultor.
Mais adiante no ciclo, os desafios serão as desfolhadoras, como a Chrysodexis includes, a S. frugiperda (Figura 1), a S. eridania e a S. cosmioides, as quais formam um complexo de lagartas de difícil controle, que exigirá monitoramento por parte do produtor. Outra praga de importância na cultura da soja nesta safra serão os percevejos, dando origem a outro complexo com alto potencial de dano e de controle complicado. Na região do Cerrado, em locais de alta temperatura, é a mosca-branca que pode também se mostrar uma praga causadora de problemas.
A cada safra, observa-se que a dificuldade no controle das pragas advém do sistema de produção escolhido, pois esses insetos se adaptam cada vez mais a diversos hospedeiros de importância econômica, permanecendo na lavoura por muito mais tempo, de forma que é preciso manejar o sistema de produção de maneira integrada, considerando todas as culturas e igualmente a entressafra, realizando o monitoramento frequente para se ter eficiência no controle e danos menores. Ainda há as pragas secundárias, que se mostram mais danosas a cada safra, causando surtos problemáticos, como tripes e ácaro-rajado.
Também atrelado ao retardo na semeadura, há o nível de severidade das doenças a serem enfrentadas na safra. À medida que se atrasa a semeadura, se aumenta a pressão de inóculo nas fases mais sensíveis da soja, ou seja, do florescimento até 20% a 30% da formação de grãos. Portanto, nesta safra será importante realizar o controle precoce, já no início da safra, e de qualidade, reduzindo também os intervalos de aplicação, para que se tenha segurança e efetividade na proteção da planta de soja. O quanto o controle destas doenças será facilitado ou dificultado, depende do quanto o sojicultor faz sua lição de casa.
Tendo em vista os problemas já citados e que são esperados para a safra atual, percebe-se que é essencial que o produtor faça o trabalho de base. Para isso, é preciso que o produtor conheça intimamente sua lavoura, e antes mesmo de iniciar a semeadura, avalie quais são os problemas recorrentes e quais são as ações que impactam sobre esses problemas, que podem ser aplicadas tanto no início desta safra, ao decorrer dela e, do mesmo modo, na entressafra. Um exemplo consiste em conhecer qual a espécie de nematoide está causando prejuízos e quais são as principais pragas e
Figura 2 - É preciso conhecer o solo quando o objetivo é atingir altos patamares
Figura 3 - Sinais no sistema radicular da cultura da soja de compactação do solo
Elevagro
Figura 4 - Amarelecimento nas extremidades das folhas devido ao ataque do nematoide-das-galhas (Meloidogyne javanica) e formação das galhas em raízes de soja
doenças que ocorrem em toda safra de soja. Manter um histórico das lavouras é outro ponto fundamental e que permite, por exemplo, relacionar o ano agrícola com tais características de clima, com a concorrência de determinada doença ou praga. Fazer a lição de casa também é a adequação da genética da cultivar ao ambiente produtivo e à utilização de sementes de qualidade; assim como dar atenção à nutrição e à condição do solo, buscando os melhores níveis de pH, de macro e micronutrientes, em vistas, sempre, do equilíbrio nutricional.
PERFIL DO SOLO
Quando se pensa em fazer a lição de casa, é preciso pensar também no solo, que é a base produtiva da agricultura (Figura 2). E em termos de solo, há dois gargalos significativos: o manejo do solo e a construção de um perfil adequado. Esses dois aspectos permitem que a cultivar escolhida tenha as condições necessárias para expressar seu potencial produtivo e gerar a produtividade que o sojicultor almeja a cada início de safra. Todavia, esses gargalos não são resolvidos rapidamente em uma safra ou possuem uma solução pronta; é preciso conhecimento, planejamento e paciência.
A construção do perfil do solo é um desafio por si só. Essa construção objetiva dar as condições para o crescimento da raiz da planta, que poderá explorar um volume de solo maior, e assim aproveitar tanto a fertilidade como a maior disponibilidade de água. Entretanto, nessa construção, é preciso considerar as partes física, química e biológica do solo. Ou seja, não somente adubar com fertilizantes NPK, mas conhecer os níveis de nutrientes em cada camada do solo, trabalhar a correção da acidez, avaliar a resistência à penetração das raízes e a existência de camadas compactadas (Figura 3), observar e manter a fauna do solo, entre muitos outros aspectos que juntos resultam no perfil de solo adequado.
NEMATOIDES
Investir em condições para o melhor desenvolvimento radicular auxilia ainda na mitigação dos danos causados pelos nematoides, problema esse que vem se intensificando ao longo dos anos (Figura 4). Atualmente, o que se observa é uma mudança no padrão das espécies mais comuns, de forma que conhecer a espécie que está presente na lavoura é fundamental para definir as estratégias de manejo a serem adotadas. Estratégias essas que devem ir muito além do ciclo da soja, projetando as medidas que serão tomadas na entressafra e em todo o planejamento da propriedade. Ou seja, evidencia-se, mais uma vez, a importância do trabalho de base.
Por fim, fica claro que os desafios são muitos, alguns deles variáveis de região para região, outros são os mesmos para todo sojicultor. Porém, para enfrentar todos eles, é preciso aprender a enxergar o sistema como um todo e conhecer a lavoura, fazendo uso desse conhecimento para antever os problemas e evitá-los ou abordá-los em estágios iniciais, quando a taxa de sucesso é maior e a solução mais simplificada. C C
Caroline Maria Rabuscke, Ricardo Balardin, Tatiane Lobak, Paulo dos Santos e Larissa Tormen, Phytus Group