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Pequenos insetos em milho

Fotos Maurício Pasini (2019)

Pequenos vilões

Insetos de tamanho menor, como cigarrinha, pulgão e tripes, crescem em importância e protagonismo nas lavouras de milho do Brasil. Esse cenário tem instigado um novo modo de olhar para a cultura, o manejo, a escolha de híbridos e as biotecnologias

Há uma tendência nos problemas fitossanitários de ordem entomológica vinculados às culturas. A interação inseto-planta e a seleção de indivíduos estão fazendo com que espécies de insetos de tamanho maior percam seu protagonismo para insetos pequenos.

Diferentemente dos insetos que são, habitualmente, constituídos como foco – entre eles, lagartas como Spodoptera frugiperda e percevejos como Diceraeus melacanthus e D. furcatus – cujo estabelecimento é visível a partir da implantação da cultura por meio da identificação de perda de área foliar ou de anomalias decorrentes da alimentação, insetos com tamanho pequeno tornam-se visíveis quando suas populações já estão estabelecidas e em elevadas densidades populacionais.

Dentre os insetos pequenos, algumas espécies são vetores (organismos que servem de veículo para a transmissão de algum causador de doença), o que torna ainda mais impactante sua interação com as plantas cultivadas.

Neste contexto, a cultura do milho vem enfrentando desafios relacionados a insetos de tamanho pequeno, os quais têm instigado um novo modo de olhar para a cultura, o manejo, a escolha de híbridos e biotecnologias, além de regiões e épocas de implantação.

Na esteira dessa nova perspectiva é possível perceber que o estabelecimento gradativo da cultura, a não eliminação de plantas de milho voluntárias e outras ações de manejo tardias só têm prejudicado a cultura, fazendo com que insetos com elevado potencial de dano econômico tenham constante fonte de alimento e abrigo para a reprodução, permitindo que suas populações se avultem, e que a presença de inóculo seja constante.

CIGARRINHA-DO-MILHO

Nesse cenário, destaca-se a cigarrinha-do-milho, da qual é conhecido o potencial biótico, a persistência, o fitness, a interação com plantas hospedeiras e a distribuição homogênea

Adulto de Dichelops melacanthus e Dichelops furcatus

em ambientes produtivos, seu elevado potencial de dano indireto, devido à sua relação com Maize rayado fino vírus, com Spiroplasma kunkelii e com o fitoplasma Maize bushy stunt (Classe Molicutes), no que se insere a necessidade da escolha de híbridos de milho com tolerância, ou mesmo que com a presença de sintomas, a produtividade não seja afetada. Ou seja, em áreas com histórico de ocorrência da cigarrinha-do-milho – o que dificilmente ocorre no Brasil e no Paraguai –, um dos primeiros pressupostos na escolha dos híbridos será sua interação com fitoplasma e com spiroplasma. Apesar disso, embora esse impacto indireto seja primário na preocupação com a cigarrinha, há também os impactos decorrentes da sua alimentação, atuando como drenos, o que ainda afeta a produtividade.

Para a cigarrinha-do-milho não há receita de manejo, não existem ativos isolados que possam erradicá-la com apenas uma aplicação ou eliminar toda a população em um ambiente com a cultura do milho. O que se dispõe para o manejo são ferramentas, as quais, de maneira integrada, irão afetar na redução gradativa das populações.

A constatação da cigarrinha-do-milho em plantas de milho é fácil. Sua quantificação é que muitas vezes torna-se difícil, influenciando até na geração de informações vinculadas a ensaios de eficiência. Contudo, cabe destacar que a quantificação pode se dar por população aparente (indivíduos visíveis) e por população real (total de indivíduos presentes na unidade experimental). Em uma simples estimativa, para cada cigarrinha adulta visível em plantas de milho, ou seja, para cada indivíduo aparente, multiplica-se por quatro para se obter em média a população real. Para ninfas, essa multiplicação é mais elevada, devendo-se multiplicar por dez cada ninfa aparente. Embora essa estimativa não apresente vínculo direto com o manejo fitossanitário relacionado à cigarrinha, deve-se tomar cuidado quando a ação de supressão populacional quantificar apenas a população aparente, o que pode criar uma falsa impressão de controle imediato, e em poucos minutos ou horas após a aplicação, a população aparente já estará estabelecida aos níveis anteriores. Na cultura do milho, em situações em que a cigarrinha-do-milho se encontra elevada, com mais de uma cigarrinha aparente por planta, é praticamente impossível eliminar a população.

PULGÃO-DO-MILHO

Vinculado ao Ropalosiphum maidis como vetor do mosaico comum do milho (maize dwarf mosaic virus), o grupo potyvírus também tem se estabelecido como um inseto de importância, principalmente quanto ao seu potencial vetor, neste caso, destacando a frequência de plantas com sintomas do mosaico, muitas vezes confundido com os enfezamentos.

Ressalta-se a presença constante de populações de pulgões em ambientes produtivos, distribuindo-se de maneira aleatória no início do desenvolvimento da cultura, e a partir do reprodutivo, concentrando-se em reboleiras com altas densidades populacionais, gerando impacto econômico. Embora sua ocorrência seja muito aleatória, híbridos de milho, pela interação inseto-planta, influenciam suas densidades populacionais. Assim, trata-se de um inseto que gradativamente tem aumentado sua frequência, sendo fácil encontrar pulgões em ambientes produtivos com a cultura do milho.

TRIPES

Ainda que tenham se destacado nas últimas duas safras com a cultura da soja, as populações de tripes, gradativamente, foram se estabelecendo, utilizando atualmente uma grande gama de plantas hospedeiras alternativas, tendo na cultura do milho,

Dalbulus maidis: cigarrinha-do-milho

Maurício Pasini (2019)

Tripes, Caliothrips brasiliensis, adulto e respectivos danos em planta de milho

também, um ambiente ideal para o seu desenvolvimento e reprodução. Não obstante, em algumas situações, os impactos decorrentes da perda de área foliar são significativos, podendo ser comparados ao impacto de lagartas desfolhadoras. Embora ainda sejam tendência na cultura, populações de tripes dos gêneros Frankliniella e Caliothrips estão presentes com frequências consideráveis.

Com destaque para Frankliniella quanto à posição na planta, que permanece nos tecidos em diferenciação no interior do cartucho, gerando lesões que se confundem com sintomas de vírus da risca. Além disso, quando intenso, o dano pode causar deformações e perda da atividade fotossintética. Há uma hipótese vinculada à Frankliniella, que atribui a essa praga o papel de vetor de viroses e molicutes para a cultura do milho.

Já Caliothrips distribui-se na planta de maneira distinta à da Frankliniella, permanecendo nas primeiras folhas emitidas, concentrando-se da parte mediana em direção à base da planta, na superfície abaxial das folhas. Seus impactos estão relacionados à perda de área fotossinteticamente ativa, em algumas situações, afetando grande parte das folhas concentradas no baixeiro. Seu maior impacto está no início do desenvolvimento, o que pode afetar a diferenciação de estruturas vinculadas aos componentes de rendimento.

Embora na cultura do milho haja uma forte preocupação com a cigarrinha-do-milho, ressalta-se que pulgões e tripes estão gradativamente aumentando suas frequências e densidades nos ambientes produtivos, podendo, em um curto espaço de tempo, tornar-se tão importantes quanto a cigarrinha.

Além disso, não se pode duvidar da capacidade de adaptação dos insetos, principalmente daqueles de tamanho menor, pois quando vemos, já é tarde. C C

Mauricio Paulo Batistella Pasini Eduardo Engel Parceiros Elevagro/ Phytus Group

Ferramentas contra a cigarrinha-do-milho

● Escolha de híbridos – A cigarrinha-do-milho apresenta preferência alimentar, ou seja, em função da escolha do híbrido, teremos diferentes densidades populacionais; em função do híbrido, teremos diferentes respostas quanto à expressão dos enfezamentos e dos vírus; ● Eliminação de plantas voluntárias de milho; ● Nutrição de plantas – Em função do nutriente e do híbrido, há diferentes respostas quanto à densidade populacional da cigarrinha-do-milho; ● Época de implantação – Regiões com sucessivas implantações com a cultura do milho estão mais sujeitas aos impactos relacionados à cigarrinha-do-milho; ● Manejo regional – Um pouco utópico, mas necessário para se eliminar um problema comum que pode inviabilizar híbridos e a cultura do milho. Nesse aspecto, pode-se evoluir para o conceito de “janela de implantação”, restringindo o período com a presença da cultura em uma região, dificultando a propagação e o aumento populacional; ● Ferramentas químicas – Explorando ao máximo os ativos com registro ao alvo e à cultura; ressaltando que é mais efetivo reduzir o intervalo de aplicação e rotacionar grupos químicos, do que aumentar doses de produtos; ● Ferramentas biológicas – Entram para agregar ao manejo, aumentando a eficiência e a viabilidade do manejo químico; ● Tecnologia de aplicação – Atentar ao comportamento da Cigarrinha-do-milho no dossel vegetativo da cultura, concentrando-se no cartucho no amanhecer e entardecer ou em dias com radiação solar difusa. Já em dias com radiação solar direta, apresentam comportamento vinculado à dispersão ou à busca por abrigo (sombra) e, durante a noite, tendem a concentrar movimentos alimentares e reprodutivos, estabelecendo-se grande parte do período na superfície abaxial das folhas. Nosso alvo é a Cigarrinha-do-milho, para acertá-lo é fundamental conhecer seu comportamento. ● Monitoramento – Deve ser regional e constante. É a melhor ferramenta para prever a ocorrência e auxiliar no manejo da cigarrinha-do-milho quando suas populações ainda estão em baixas densidades.

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