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CONCLUSÕES DO SEGUNDO PROCESSO PRÁTICO
Este segundo processo prático mostrou-se imprescindível para a continuidade na experimentação desta técnica ainda pouco explorada: o RCD-R como agregado em novas misturas de concreto. A partir da pesquisa anterior, foi possível compreender como esta tecnologia se comporta ao receber esforços de compressão e tração, sendo então viável – neste trabalho atual – o projeto de peças pré-moldadas que respeitem as limitações e potencialidades deste novo material. Visando suas limitações, a resposta dada no inicio deste processo prático foi a de desenho de peças que funcionam majoritariamente a esforços de compressão, sendo mais pesadas e espessas. Já sobre as potencialidades, a resposta veio por meio do estudo e emprego de diferentes materiais reciclados dentro do traço 1:2:3 experimentado.
Tratando-se primeiramente do design, ao se desenhar mobiliários que funcionam principalmente a compressão e sem armação metálica, o projeto de peças delgadas e mais leves se tornou inviável. O projeto gerou peças de no mínimo 15kg, o que inviabiliza em parte a apropriação variada dos elementos pela população de diferentes faixas etárias. Pensava-se que crianças e idosos poderiam também experimentar a função de paisagistas ao reposicionar as peças, coisa que não se é possível com peças tão pesadas.
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Sobre a tecnologia desenvolvida e a potencialidade das diferentes materialidades absorvidas, conclui-se que este é um oceano vasto de opções. Neste trabalho coletou-se apenas resíduos da classe A de RCD – para além dos restos de gesso – e os acabamentos foram os mais diversos possíveis, claro que de acordo com a granulometria e tipo de material eleito para compor a mistura. Sente-se então uma profunda ansiedade em empregar cada vez materiais mais diversos e em proporções e traços mais diversos ainda, gerando uma multiplicidade de materiais finais e acabamentos que, dependendo de sua composição, devem ser testados novamente em laboratório para assegurar-se que sua resistência não foi comprometida. O apelo estético final da tecnologia é inegável, e limitar-se ao emprego somente de RCD – e não de outros materiais reciclados de outras origens como plásticos, vidros e materiais não provenientes da construção civil – parece algo a ser repensado para futuras experimentações.
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Imagem 83:
Acabamento das misturas criadas. Da esquerda para a direita: primeira fundição, segunda e as três misturas da terceira.
Ao se tratar do processo experimental em si, acredita-se que a produção das fôrmas e manejo das mesmas durante a fundição e desforma foram os momentos que despenderam mais trabalho e dinheiro. O maior gasto monetário no processo experimental foi a de materiais para a confecção das fôrmas – barras roscadas, porcas borboletas, perfis de PVC e laminado plástico autoadesivo – sendo viável uma revisão no desenho das peças e das fôrmas, visando um barateamento dos custos de execução. Todavia, por serem moldes feitos em madeira compensada, a fundição e cura do concreto é extremamente nociva aos materiais se não manejadas com cuidado redobrado. No “final de contas”, é válido pesar quais são os princípios mais importantes para confecção das fôrmas: o design da peça, sua reprodução, a simplicidade no manejo dos moldes ou o seu custo final. Ao se propor peças prémoldadas com visão para produções em maior escala, uma fôrma metálica é um ótimo investimento uma vez que é projetada para facilitar estes processos e tem durabilidade muito maior que as feitas de madeira.
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Em segundo lugar, empatados, os dois principais custos encarados no processo experimental – depois dos gastos com as fôrmas – foram o de materiais para acabamento das peças. O disco de desbaste e a lata de verniz acrílico juntos igualaram o valor gasto nos materiais comprados para as fôrmas. Obviamente, não se considerado os valores que poderiam ser gastos em mão de obra, um moinho adequado para o entulho, lixadeira e as madeiras para as fôrmas, o preço do disco e do verniz sobressaem. Assim, talvez seja interessante estudar em outro momento possíveis acabamentos para as peças, analisando novas estéticas de material e produtos de acabamento e impermeabilizantes (considerando até, no caso deste último, produtos naturais ou artesanais).
No mais, o objetivo deste trabalho – experimentação prática e confecção de peças pré-fabricadas em concreto reciclado – foi
Imagem 84:
Fôrma da peça quarto de cubo degradada por microorganismos que cresceram durante a fundição.
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alcançado. Infelizmente, a potencialidade inicial do trabalho não pode ser alcançada uma vez que não foi possível encontrar um moedor de entulho na escala desejada e a preços acessíveis, sendo este trabalho de moagem feito manualmente pelo autor. Ainda, o emprego de fôrmas metálicas ampliaria infinitamente os frutos da produção, visto que o molde não se degradaria durante os processos de fundição e desforma.
Sobre o processo, as peças alcançaram o acabamento esperado, além de aguentarem os esforços demandados pelo uso planejado dos mobiliários (sentar, apoiar, subir etc.). A seguir é apresentado o ensaio fotográfico das peças finalizadas, feito pelo artista plástico Gabriel Ussami na FAEH na data de 28/01/2020. Como os mobiliários não foram implantados e, portanto, não cumpriram com a sua finalidade – que é ativar espaços públicos subutilizados – pode-se concluir que o trabalho se encerra incompleto, porém dentro do esperado.