Amazonas Educação n.º 2

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Ano II • n.º 2 • fevereiro 2013

revista do professor

Valor

conquistado & reconhecido Escolas que atingem metas educacionais são premiadas

Governo triplicará o número de escolas de tempo integral no Estado p. 10

Secretaria de educação cria 9.637 novos cargos efetivos p. 20

Elementos culturais e sociais na educação indígena p. 22

Professora visita Centro Europeu de Pesquisas Nucleares p. 38



EDITORIAL

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rimeiro, apresentamos os nossos votos de um ano letivo construtivo e enriquecedor para todos. Entendemos que o desempenho da escola repercute na melhoria da qualidade de vida da sociedade. E nós acreditamos nos bons resultados, afinal estamos todos empenhados em conquistá-los o mais rápido possível. Da nossa parte, procuramos contribuir com uma edição que almeja informar e gerar conhecimento de modo compartilhado. Realizamos uma pauta com assuntos de interesse público, com ênfase na relação institucional e profissional dos professores e professoras com o Estado, no estímulo às iniciativas que valorizam a educação e que, também, possam ser utilizados como temas transversais em sala de aula. No âmbito institucional, destacamos o trabalho da comunidade escolar para melhorar o desempenho do Amazonas no “ranking” nacional da educação básica. O governo, por sua parte, premiou as escolas que alcançaram as metas do Ideb. Toda conquista merece reconhecimento e estímulo, porque é assim que se sustenta o círculo virtuoso das boas ações em benefício da coletividade. Por isso, agiremos para superar os desafios impostos à educação pelas mudanças tecnológicas e socioculturais tão rápidas e avassaladoras. Um dos nossos papéis, nesse contexto, é reunir, produzir e mediar ideias e experiências inovadoras, necessárias à garantia do desenvolvimento da educação. Assim, construiremos e reforçaremos projetos, realizações e novas perspectivas de desenvolvimento para Manaus, para o Amazonas e para o Brasil. Um país forte se assenta na Educação.


OMAR ABDEL AZIZ Governador do Estado do Amazonas ROSSIELI SOARES DA SILVA Secretário de Estado da Educação e Qualidade do Ensino CALINA MAFRA HAGGE Secretária-Executiva MARIA DE NAZARÉ SALES VICENTIM Secretária-Executiva-Adjunta da Capital MAGALY PORTELA RÉGIS Secretária-Executiva-Adjunta do Interior MARCELO HENRIQUE CAMPBELL Secretário-Executivo-Adjunto de Gestão EDSON SANTOS MELO Diretor do Departamento de Políticas e Programas Educacionais (Deppe) LÚCIA TIYO SAITO Assessora de Comunicação

End. Fun.: Rua Waldomiro Lustoza, 250 Japiim II – CEP: 69076-830 Fone. Func.: (92) 3613-6688/ 3614-2214 / 2260/ 2202 Fax Func.: (92) 3237-8737 Site: www.seduc.am.gov.br

Produção de conteúdo, design e projeto gráfico

INVC

Instituto Nacional Valer de Cultura Av. Joaquim Nabuco, 1.605 – Centro CEP 69020-03 – Manaus-AM Tel. 92.3234-9830

Editor responsável WILSON NOGUEIRA MTb/AM 365 Coordenação pedagógica NEIZA TEIXEIRA Editora executiva SUELEN REIS MTb/AM 235 Design e direção de arte HEITOR COSTA Revisão Núcleo de editoração INVC


SUMÁRIO 6

Melhores escolas recebem premiação

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Realidade e ficção em livro sobre o rio Xingu

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Mais escolas de tempo integral

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Seduc cria 9,6 mil cargos efetivos

Internet: aliada ou vilã no incentivo à leitura?

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Brasil do século 19 sob um olhar feminino

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Crônica do professor

58

Pesquisa atualiza conteúdo

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Além do plano de aula

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Professora visita centro de pesquisa nuclear

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34

Sólon de Lucena mantém pioneirismo

Tecnologia ajuda a corrigir equívoco

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Boi-bumbá na mediação pedagógica

52

Alimentação saudável para professores


Melhores recebem

Gestores escolares de 248 unidades educacionais e coordenadores distritais e regionais de educação de 46 municípios do Amazonas participaram da entrega do prêmio “Escola de Valor”

N

o Salão Rio Solimões do histórico Palácio Rio Negro, na avenida Sete de Setembro, centro de Manaus, o governador Omar Aziz fez a entrega do prêmio “Escola de Valor” a 248 unidades de ensino da rede estadual de educação que alcançaram as metas do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb/MEC) e do Índice de Desenvolvimento da Educação do Estado do Amazonas (Ideam/ Seduc), com desempenho de destaque em 2012. “É uma forma de valorizar e reconhecer os bons resultados. O comprometimento da comunidade escolar foi decisivo para isso e queremos

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incentivar outras escolas, a aumentarem seus índices para a gente ter uma educação cada vez melhor, com a qualidade que sonhamos”, afirmou na ocasião. A cerimônia de entrega do prêmio também contou com a presença da presidente do Fundo de Promoção Social (FPS), primeira-dama Nejmi Aziz, do secretário da Seduc,

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Rossieli Soares da Silva, e secretários e secretárias de Estado e representantes do Poder Legislativo. O “Escola de Valor” oferece uma gratificação financeira, que varia de R$ 20 mil a R$ 50 mil, às escolas de ensino regular que atingiram média de 5,2; escolas convencionais, com pontuação de 5,4; e os Centros de Educação


R$ 19,7 milhões

es escolas premiação

de Tempo Integral (Cetis) que alcançaram média de 5,7 nos dois indicadores que mensuram a qualidade da educação. Ano passado, a Seduc repassou um total de R$ 12,3 milhões para 112 escolas de Manaus e 136 do interior. O recurso é administrado pelas Associações de Pais, Mestres e Comunitários (APMCs) para investimentos em infraestrutura,

aquisição de materiais pedagógicos e qualificação.

14.º, 15.º e 16.º salários Outra parte da premiação é o pagamento do 14.º, 15.º e 16.º salários aos servidores das escolas que atingiram as metas. Em 2012, 3.484 servidores de 74 escolas estaduais receberam o

14.º e o 15.º salários, montante que chegará a R$ 7,4 milhões. “São ações para que todos se envolvam mais e possamos avançar na qualidade da educação. Nós criamos o 16.º salário para as escolas que alcançassem a média de 8,1 da Escola Dom Bosco de Eirunepé, mas até agora nenhuma conseguiu”, disse Omar.

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professora Francisca Cunha, como prêmio, participou recentemente de um intercâmbio internacional, conhecendo a realidade de escolas norte-americanas a convite da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil. A primeira-dama do Estado, Nejmi Aziz, também destacou a

política de estímulo à melhoria da educação. “Esses investimentos funcionam como incentivo para que, a cada dia, as pessoas se motivem cada vez mais para melhorar a educação no nosso Estado. É um prêmio merecido e que muito me orgulha entregar ao lado do governador Omar”, frisou.

Fotos: Eduardo Cavalcante

Na mesma oportunidade, o governador Omar Aziz premiou as escolas vencedoras das edições de 2011 e 2012 do Prêmio Estadual de Gestão Escolar, com destaque à Escola Estadual de Tempo Integral Roxana Pereira Bonessi (localizada na Colônia Oliveira Machado), cuja gestora,

Melhores resultados da rede

Durante a cerimônia, o secretário de Estado de Educação, Rossieli Soares da Silva, homenageou as escolas vencedoras pelos resultados obtidos e acrescentou que as medidas adotadas pelo governador Omar Aziz, em sua gestão, contribuíram para que melhores resultados fossem alcançados pela rede estadual de educação. “Dentre os avanços podemos destacar o aumento do prêmio às escolas, que passou de R$ 30 mil para R$ 50 mil e a definição do prêmio de R$ 20 mil às escolas com alto

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índice de crescimento em um único ano. Medidas como estas, somadas a tantas outras, posicionaram o Amazonas como o sendo o Estado brasileiro que registrou maior índice de crescimento no ensino médio e um dos maiores nos anos fundamentais. Hoje estamos entre os dez melhores Estados no Ideb e trabalharemos firme para ficarmos entre os oito melhores”, frisou o secretário. Durante a cerimônia, o gestor da escola estadual de Tempo Integral Marcantonio Vilaça 1 – escola estadual

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com o melhor Ideam, no ensino médio –, Raimundo Freitas, disse que o prêmio é um reconhecimento à dedicação dos educadores que têm como foco o sucesso e o desenvolvimento pleno dos estudantes. “O prêmio Escola de Valor evidencia o trabalho de qualidade desenvolvido por nossas equipes e nos motiva a aprimorar constantemente os serviços educacionais oferecidos à comunidade”, disse.


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Mais escolas de

tempo integral

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Investimento Em 2013, a rede estadual do Amazonas terá 31 Cetis e 36 Eetis Lúcia Saito

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m 2013, o Governo do Amazonas praticamente triplicará o número de escolas de tempo integral em todo o Estado. De 25 unidades educacionais que trabalham nesse regime de ensino, serão 42 novas escolas de tempo integral, o que chegará ao número de 67, no total.

Para conhecimento: a Secretaria de Estado de Educação do Amazonas (Seduc) trabalha hoje com dois modelos de escolas de tempo integral, que são o Centro Educacional de Tempo Integral (Ceti), cuja estrutura é específica para atender esse modelo de ensino e as Escolas Estaduais de Tempo Integral

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(Eeti), que são prédios escolares de ensino regular. Nestes últimos, as unidades escolares foram adaptadas para atender os estudantes na modalidade de tempo integral. Hoje, a Seduc conta com nove Cetis, sendo oito em Manaus e um em Parintins. Segundo o governador Omar Aziz, neste ano de 2013, a pasta da Educação vai ser reforçada com investimentos na construção e adaptação de 22 novos Cetis – dois em Manaus e 20 nos municípios de Autazes, Boca do Acre, Borba, Benjamin Constant, Carauari, Coari, Eirunepé, Humaitá, Itacoatiara, Iranduba, Lábrea, Manacapuru, Manicoré, Maués, Presidente Figueiredo, São Gabriel da Cachoeira, São Paulo de Olivença, Tabatinga, Tefé e Urucará. No total, a rede passará a ter 31 Cetis.

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Os Eetis são 16 e, neste ano, 20 escolas regulares já estão sendo adaptadas para atender os estudantes no regime de tempo integral, na capital e no interior, totalizando 36. Segundo o secretário da Seduc, Rossieli da Silva, as escolas de tempo integral adaptadas são frutos de um planejamento para a reorganização da rede escolar de ensino. “Temos áreas em bairros de Manaus com déficit de escolas, mas, por outro lado, tínhamos unidades educacionais em que as salas de aula apresentavam um número bastante reduzido de alunos, o que gerava um gasto desnecessário. Dessa forma, otimizamos a nossa rede e estamos conseguindo transformar escolas regulares em modelos de tempo integral”, destaca Rossieli.

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Educação depende de toda a sociedade O governador do Amazonas, Omar Aziz, destaca que a melhoria da qualidade do ensino é um processo que envolve toda a comunidade escolar. Ao Estado, cabe não só valorizar os profissionais com bons salários, mas também oferecer oportunidades de qualificação e acesso a novas ferramentas didáticas que ajudem a melhorar as aulas. “Você tem que valorizar os professores, os funcionários públicos, e nosso Governo tem uma política salarial forte. Nos últimos três anos coube a mim, como governador, fazer os reajustes que ultrapassam em 20% em todas as áreas. Mas a valorização não é só salário, mas também na qualificação dos nossos profissionais

para que a gente possa conseguir cada vez mais êxito nos serviços prestados à população”, enfatiza Omar Aziz. “Na educação, você não faz mudanças do dia para a noite. São mudanças em longo prazo e nós estamos investindo bastante, construindo escolas de tempo integral, modernizando o sistema e dando cada vez mais acesso aos estudantes e professores a meios tecnológicos para que o ensino seja melhor”, pontua o governador, referindo-se ao programa Professor na Era Digital que distribuiu mais de 42 mil notebooks, com software educativo, a todos os educadores das redes estadual e municipal de ensino.

O secretário explica que o custo de uma escola de tempo integral é três vezes maior do que a de uma escola regular. “Em uma escola regular em que atenderíamos, por exemplo, três mil alunos, nos três turnos, na escola de tempo integral atendemos a um terço, ou seja, mil estudantes”, exemplifica.

Qualidade O grande ganho da escola de tempo integral, segundo Rossieli, é o lado qualitativo. “E isto está mais do que comprovado. As maiores médias nas avalições como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o prova Brasil, do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) são das escolas de tempo integral”, aponta.

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Sólon de Lucena mantém pioneirismo Escola se destaca em sistema de gestão. É a única instituição pública de ensino médio no Brasil como o ISO 9001

Fotos: Antonio Lima

Priscila Mesquita

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Referência

A

Escola Estadual Sólon de Lucena, que completou 103 anos de existência em novembro do ano passado, se mantém como referência em gestão para as demais escolas de educação básica do Brasil. Isso porque, no primeiro semestre de 2012, o “Sólon” renovou o seu “selo” de qualidade, permanecendo como a única escola pública de ensino médio a possuir esse diferencial no país. Este selo, que é chamado de ISO 9001, reúne uma série de normas sobre a gestão da qualidade, criada pela International Organization for Standardization (ISO) na década de oitenta, para mensurar e padronizar a qualidade dos produtos e serviços oferecidos à população.

Atualmente, a ISO é utilizada por mais de 800 mil organizações públicas e privadas em todo o mundo. A primeira vez que o Sólon de Lucena obteve a certificação da ISO 9001 foi em dezembro de 2010, mesma época em que a Escola Estadual Roxana Pereira Bonessi (ensino fundamental) recebeu o selo. No entanto, o sistema de gestão da ISO exige auditorias contínuas para que as escolas continuem oferecendo uma educação de qualidade. Foi por esse motivo que, em abril de 2012, elas passaram por uma avaliação de rotina e renovaram o seu título pelo período de seis meses. A atualização das certificações escolares foi concedida após auditoria técnica coordenada pela

empresa de consultoria Bureau Veritas Certification (BVC) nas duas escolas. De acordo com o diretor da Escola Sólon de Lucena, Adson Coelho, a instituição é a primeira e única do Brasil a ter a ISO 9001 dentre as escolas públicas de ensino médio. “A auditoria avalia todos os nossos processos. Entre eles estão o atendimento feito pela secretaria, a aplicação dos projetos pedagógicos por parte dos professores, a frequência dos alunos e o nível de satisfação deles com a merenda escolar”, explica o gestor. Uma das características desse modelo de gestão, segundo Adson, é que todos os procedimentos precisam estar organizados e arquivados, desde o planejamento até a execução. Isso contribui para

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que o auditor avalie se o conteúdo programado pelos professores foi mesmo ministrado em sala de aula, por exemplo. Outra atividade que pode ser acompanhada com maior facilidade é a alimentação dos estudantes. Há normas de armazenamento e organização para a merenda que chega à escola. Cada item recebido (perecível ou não) tem o seu lugar, conforme a data de validade. Mas não é apenas a merenda que possui padrões de funcionamento. Todos os setores e pessoas que participam da escola precisam seguir indicadores de qualidade, inclusive os próprios alunos, que são o principal público-alvo do Sólon. “A certificação é um acontecimento que aumenta a responsabilidade e traz a cobrança para todos”, define Coelho.

Certificação trouxe conquistas A obtenção da ISO 9001 pela Escola Sólon de Lucena gerou resultados importantes para a instituição e para os estudantes. Um dos principais foi a elevação da média de notas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

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Em 2009, a média da escola no exame foi de 517,54. Naquele ano, 389 discentes participaram da prova. Já em 2010, o número de participantes foi ainda maior (416) e a média de notas aumentou para 538,06, conforme dados divulgados em setembro de 2011 pelo Ministério da Educação (MEC). Tanto em 2009 como em 2010 a média alcançada pelos alunos do Sólon foi superior à média nacional.

Projeto prepara para o Enem Segundo Adson Coelho, um dos fatores determinantes para a melhoria de desempenho dos estudantes é o projeto pedagógico piloto que visa à preparação para o Enem. Implementado há três anos, o projeto é um diferencial da escola e oferece aulas complementares para aqueles que desejam aprimorar o aprendizado. Desse modo, quem estuda no período matutino e possui dificuldade para aprender matemática ou física, pode ficar na escola no período da tarde para participar de aulas de reforço. Da mesma forma, quem está matriculado no horário da tarde pode comparecer no

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período da manhã para assistir às aulas de sua preferência. “Reduzimos a carga horária dos professores em sala de aula para que possam planejar melhor suas atividades. E os resultados foram surpreendentes”, conta o diretor. Só em 2011, 101 alunos do Sólon de Lucena foram aprovados nos processos seletivos de instituições públicas de ensino superior. A maioria deles (39) passou no Processo Seletivo Contínuo (PSC) da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).


Salto no índice de aprovação

“A certificação é um acontecimento que aumenta a responsabilidade e traz a cobrança para todos”

Outros 34 obtiveram sucesso no Enem para ingressar na mesma universidade. Já a Universidade do Estado do Amazonas (UEA) recebeu 21 novos alunos do Sólon, enquanto o Instituto Federal de Educação (Ifam) recebeu sete novos universitários que concluíram o ensino médio nessa escola. O avanço na performance dos alunos também se deve às avaliações bimestrais que fazem parte da ISO e são realizadas pela instituição junto aos alunos e pais. Ao final de cada bimestre, eles respondem a questionários para expressar sua opinião quanto à qualidade do ensino e dos serviços realizados pela escola.

Outra conquista da escola foi verificada no índice de aprovação, que aumentou de 76% (2010) para 87% (2011), segundo estatística fornecida pela instituição. No mesmo período, o índice de abandono reduziu de 7,8% para 0,1%, ou seja, praticamente zerou. Já o indicador de satisfação relacionado à merenda escolar saiu de 50 para 80% de 2010 para 2011. Quem vai à secretaria da escola para solicitar um certificado de conclusão ou uma declaração de frequência também percebe a diferença. Até 2010, e entrega de um certificado demorava, em média, 30 dias, mas agora o prazo é de uma semana. Já as declarações, que eram expedidas em 24 horas, agora são liberadas imediatamente. “Um dos grandes desafios que temos é a manutenção desses indicadores. Para tanto, buscamos um envolvimento maior de toda a comunidade escolar, que abrange os alunos, pais, moradores do bairro, igrejas e instituições do entorno. A cada ano, realizamos uma mostra de gestão para prestar contas à sociedade e sensibilizá-la para colaborar conosco”, ressalta Adson Coelho.

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Mais 25 instituições Em abril de 2012, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) iniciou uma série de visitas técnicas de avaliação por meio das quais vai selecionar mais 20 escolas – dentre 34 inscritas voluntariamente – para obter a certificação ISO 9001. A perspectiva do órgão é que, além de 20 escolas da capital, outras cinco de municípios distintos do interior recebam o selo de qualidade.

Coleção de troféus exibe as inúmeras conquistas da escola

Projeto piloto garante aulas complementares para quem quer melhorar o conhecimento

No Sólon, há normas até para armazenamento e organização da merenda

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SAIBA MAIS Localizado na avenida Constantino Nery, no bairro São Geraldo (zona Centro-Sul), o Sólon de Lucena possui 2.700 alunos, com idade entre 15 e 18 anos. O quadro docente é formado por 102 professores. Além das 55 salas de aula, a instituição oferece espaços alternativos de aprendizado e lazer, como ginásio, biblioteca, dois laboratórios de informática e um laboratório de química.

Escola foi um marco institucional no período da borracha A história da Escola Estadual Sólon de Lucena teve início em 26 de novembro de 1909, por meio da Lei número 578, do Conselho Municipal de Manaus. Na época, a instituição recebeu o nome de “Escola Municipal de Comércio”, porque foi criada para qualificar profissionais para o pujante comércio do período áureo da borracha. Inicialmente, a escola ficou instalada na rua Barroso (Centro), no prédio que depois abrigaria a União dos Estudantes Secundaristas do Estado do Amazonas.

Anos depois, entre 1921 e 1922, a Escola de Comércio passou por uma grave crise financeira, precisando assim fazer apelos aos governantes de outros Estados. Em resposta às solicitações, a instituição recebeu recursos enviados pelo então governador da Paraíba, Dr. Sólon Barbosa de Lucena, homenageado com a mudança de nome da instituição, que passou a se chamar Escola Municipal de Comércio Sólon de Lucena.

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Seduc cria Criação de novas funções possibilitou a expansão de vagas do concurso realizado em 2011 Lúcia Saito

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o final de 2012, por meio da aprovação de mensagem do governador Omar Aziz à Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (Aleam), a Secretaria de Estado de Educação do Amazonas (Seduc) foi contemplada com 9.637 novos cargos efetivos. Com a aprovação do Projeto de Lei n.º 092/2012, foram criados 1,3 mil cargos de merendeiro, 6.786 cargos de professor de 20 horas e 1.551 cargos de professor de 40 horas. Além da criação dos novos cargos, no Diário Oficial do Estado de 14 de dezembro de 2012, a Seduc convocou 2.011 aprovados no concurso de 2011, para as escolas da capital e do interior, fechando em 100% as convocações deste certame realizado em 22 de maio de 2011, cujo resultado foi divulgado em 18 de novembro do mesmo ano. Os 2.011 novos servidores já estão em sala de aula neste ano letivo de 2013. Foram convocados 1.194 professores, 713 assistentes administrativos e os aprovados para os cargos de nível superior, compreendendo 39 bibliotecários, 611 assistentes sociais, três contadores, um estatístico, 14

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nutricionistas, 17 psicólogos e 19 pedagogos. As novas nomeações de professores só foram possíveis porque os 9,6 mil cargos efetivos foram criados, o que possibilitou a expansão de vagas do edital original do concurso realizado em 2011. Ou seja, no caso dos professores, a Seduc está convocando além dos nomes que foram aprovados no concurso. “Já havíamos feito cinco convocações anteriores a essa de dezembro. No caso dos professores e merendeiros, já havíamos convocado 100% das vagas do edital: 4.268 professores e 603 merendeiros”, destaca o diretor do Departamento de Gestão de Pessoas da Seduc, Newton Pedri.

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Impacto Entre 2011 e 2012, com as convocações dos concursados, a Seduc nomeou 7.228 novos servidores efetivos. Newton Pedri explica que o impacto na folha de pagamento com os novos servidores é de R$ 52 milhões ao ano, mas como a grande maioria foi substituída por servidores temporários ou do Processo Seletivo Simplificado (PSS), que custavam o total de R$


Concurso

9,6 mil

cargos efetivos Fotos: Eduardo Cavalcante

41 milhões/ano, o real acréscimo foi de R$ 11 milhões. “Tínhamos cerca de 8 mil professores temporários e esse número já diminuiu com os docentes que nomeamos no ano passado”, explica.

Novo concurso em 2013 Com os 9.637 novos cargos efetivos, o secretário da Seduc, Rossieli da Silva, anuncia que um novo concurso será realizado entre o final deste ano e início de 2014. “Temos avançado

bastante nesse sentido. O governador Omar Aziz tem priorizado totalmente a educação em nosso Estado, atuando em várias frentes de ações”, destaca. Para o governador Omar Aziz, a melhoria da qualidade da educação no Estado não depende apenas dos investimentos em infraestrutura, mas também em recursos humanos e na valorização profissional e o concurso público é a melhor maneira de se formar quadro qualificado. “Nosso desafio é avançar nos índices de educação do Amazonas. Para isso, estamos aumentando a rede física, construindo escolas de tempo integral, contratando mais profissionais e buscando várias formas de incentivar os

profissionais para alcançarmos nossos objetivos”, diz. O secretário Rossieli da Silva enfatiza que o concurso de 2011 foi o maior já realizado pelo Governo do Estado para a área da educação, contando com 85 mil participantes em todos os 62 municípios do Amazonas. Mesmo sendo um concurso bem abrangente, com um número de inscritos que exigiu uma logística bastante complexa, o secretário da Seduc destaca que todo o processo foi realizado sem incidentes. “Cumprimos todos os prazos e etapas sem maiores atropelos e o melhor tudo é que conseguimos expandir as vagas previstas no edital e nomeamos pessoas além do que estava previsto”, aponta.

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Além do plano de aula

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Educação indígena

Na relação de ensino/aprendizagem os elementos culturais ou sociais que fazem parte do dia a dia dos alunos também são importantes

Marcus Stoyanovith

S

ão muitos os exemplos de soluções para uma melhor relação ensino/aprendizagem que surgem, quase que por um acaso, no dia a dia, numa sala de aula. Mesmo com todo planejamento e uma didática clara e objetiva, os ruídos de comunicação ocorrem no momento do professor explicar um assunto, do aluno explicar o que dele entendeu, ou vice-versa. Na educação

indígena esses exemplos chegam a fazer parte de uma práxis no planejamento escolar, tamanho o grau de dificuldade existente no encontro de diferentes tradições (línguas, crenças, mitos, ritos e cultura), principalmente, na fase inicial. No Amazonas, onde habitam 64 povos que falam 29 línguas, são poucas as etnias

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Fotos: Marcus Stoyanovith

“Sempre existem os falantes que ajudam a repassar o conhecimento para os não falantes e também ajudam o professor a explicar melhor a sua aula”

indígenas que não falam o idioma Português (brasileiro). Para muitas delas, o português é a língua de comunicação com outras etnias, além do contato com a própria sociedade nacional (branca ou estrangeira). A preferência não descarta a comunicação, por meio do Nheengatu (língua geral), entre etnias e destas com os brancos, mas isso só vale para alguns povos, pois ainda existem aqueles que não dominam nem um nem outro idioma. Esse problema é trabalhado com a participação de uma pessoa que fala a linha materna e o português. “Sempre existem os falantes que ajudam a repassar o conhecimento para os não falantes e também ajudam o professor a explicar melhor a sua aula”, diz a professora Tukana Alva Rosa, 38, há 18 anos na educação indígena e, atualmente, gerente do setor na Secretaria de Educação do Estado/ Seduc. Uma rede gigantesca que abrange 41 dos 62 municípios do Amazonas e conta com mais de 57 mil alunos indígenas.

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A professora Tukana Otacília Lemos Barreto, 51, há 27 anos na educação indígena, cita um exemplo da complexidade nessa comunicação: “No Purus, várias etnias como Apurinã, Banawa e Madi, só contam até cinco. Então para eles aprenderem nossa matemática e as operações básicas, sempre usamos frutas, verduras, peixes ou outros itens que fazem parte do seu consumo”, diz a professora. Um exemplo descontraído, dessa vez de como um ensinamento é interpretado pelo aluno, vem de uma aula de Linguística, lembrada pela professora Otacília. Foi solicitada a uma aluna a construção de uma frase em português, e ela escreveu: “Me dê um copo de água”. Um aluno levanta-se e corrige a aluna: “não é assim que se fala, é assim: ‘Por favor, me dê um copo de água’. Ou seja, para ele o erro estava na postura, na falta de etiqueta, e não na regra que diz para não começar frases com pronomes.

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Diferenças entre os povos Na relação de ensino/ aprendizagem os elementos culturais ou sociais que fazem parte do dia a dia dos alunos também são muito utilizados e servem para fazer analogias em diversas disciplinas. Muitos trabalhos são expostos na língua materna e outros a partir de desenhos. São momentos em que os professores percebem como se estabelece as diferenças entre os vários povos, mesmo quando se trata de comentários sobre o mesmo tema. Num desses temas, o casamento, item importante na vida social de todas as etnias, certa vez foi comentado por intermédio de desenhos. “Os Jamanada e Jarawara fizeram desenhos de casal na floresta e em beira de rios, por exemplo, enquanto os Yanomami fizeram desenho de relações sexuais”, lembra a professora Otacília, afirmando que essas percepções devem ser conhecidas e respeitadas para


A Gerência de Educação Indígena da Seduc-AM vai entrar com projetos atualizados, no calendário de 2013. Um deles é o de formação de professores indígenas, o Pirayawara. O projeto terá novos componentes curriculares, elaborados de acordo com a necessidade de cada povo indígena. E, além do material didático, em várias línguas maternas também haverá investimentos para dar acesso

que haja melhor assimilação do conteúdo como um todo. Ao lidar com educação indígena, o professor deve ter um programa flexível e muita sensibilidade na relação com os alunos, assegura a professora Tukana Maria Ângela, 53. A flexibilidade, segundo ela, significa entender que os indígenas têm a sua língua materna e o português é a segunda língua, portanto não se pode exigir que um aluno fale e o escreva tão bem quanto os brancos. E a sensibilidade estar em ajudá-los a manter a língua materna e as tradições, sem que

a ferramentas tecnológicas e de informação. A formação inicial e continuada estará garantida, até mesmo para fazer frente às necessidades de etnias ainda não assistidas pelo Governo como aquelas que moram no alto Juruá e Purus. Em 2012, foram atendidos, na fase inicial, 1.613 professores de 44 etnias, na fase continuada 677 professores e no estágio supervisionado, 538 estagiários.

ário

calend

2013

isso signifique trazer o passado de volta. O desenho é uma importante ferramenta de comunicação, nessa fase inicial, e nele nunca vem apenas uma informação, pois sempre há uma representação simbólica de uma historinha, diz o professor Baré, Alfredo Tadeu, 46, há 15 anos no segmento da educação indígena. Ele enfatiza as grandes diferenças entre as várias etnias e lembra que os trabalhos de aula acabam servindo para montar o planejamento, pois eles são feitos a partir da compreensão do próprio aluno.

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As questões cotidianas da vida, dos mitos, das cerimônias, sempre estão na pauta das aulas de todas as matérias. Mas quanto a língua portuguesa, as questões gramaticais e ortográficas, por exemplo, só são trabalhadas depois do 5.° ano, do 6.° ao 9.°. Daí que se exige muito do professor nessa fase que deve conhecer bem a cultura das etnias para uma boa interpretação e avaliação dos trabalhos dos alunos.

Matemática Com as exigências da sociedade dos brancos que vão do uso do cartão de crédito a compras a prazo, a matemática voltou a despertar o interesse dos alunos, já mesmo nessa fase inicial. Um interesse que havia desaparecido com o fim do comércio do regatão, onde o sistema de troca exigia noção de adição e subtração nas aldeias e comunidades indígenas, lembra o professor Alfredo Tadeu que também é mestre em Sociologia.

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Saiba mais A experiente professora Maria Ângela assegura que o maior desafio em sala de aula é o idioma, pois além de ser a ferramenta de comunicação, é também a garantia da manutenção das tradições. “Não se trata de defender uma volta ao passado, pois passarinho não nasce para viver no ninho, todos devem conhecer os dois mundos, mas sem esquecerem quem são”, diz a professora Tukana, do alto rio Tique, no rio Negro.

“Hoje a matemática já é usada largamente pela maioria das etnias e tudo que é ensinado em sala de aula é autoaplicado no cotidiano dos alunos, “até porque os exemplos usados têm esse objetivo”, diz a professora Jeana Medeiros, 35, há 13 anos

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atuando na área. Eles aprendem a conhecer o dinheiro, a fazer compras, receber ou passar troco, calcular juros e valores de produtos a prazo, tudo muito óbvio, não fosse o fato de esses ensinamentos já se darem na primeira fase do aprendizado. As quatro operações (somar, dividir, multiplicar e diminuir) são ensinadas numa aula que muitas vezes ocorre fora de uma sala, numa feira livre, ou na beira de um rio, onde se comercializa o peixe. “Essa é a maneira do aluno assimilar mais fácil. Tudo tem de ser mostrado em


nosso ensinamento”, diz Raul Cazuza, 40, há 15 anos no ramo da educação. “A sala de aula pode ser a própria comunidade”, complementa a professora Jeana Medeiros. Como boa parte do material produzido pelos alunos acaba se transformando em material didático, uma dinâmica proveitosa para o aperfeiçoamento de um ensino que não é convencional, um fato novo sempre ocorre em sala de aula, levando os professores ao máximo de atenção. Foi assim que a matemática entrou no campo da geografia, da territorialidade, que para os índios é muito mais que uma questão geográfica, e, sim, uma questão cósmica, sagrada. A matemática lhes deu mais técnica e segurança para medir

e mensurar a demarcação de suas terras, dando-lhes uma noção de valor que a sociedade nacional utiliza para valorizar e dimensionar as terras como lembra o professor Alfredo Tadeu. Outro fator relevante do interesse dessa disciplina pelos alunos é o da economia dos produtos naturais. A professora Jeana Medeiros disse que a noção de sustentabilidade para os alunos passa pela negociação de produtos como as plantas medicinais e os frutos, e a matemática ajuda nas negociações daquilo que é produzido por eles. “São nove as etapas da matemática até o ensino médio, e até o final do curso os alunos já estão raciocinando com a lógica dos números e outras funções da disciplina”, diz Jeane.

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Boi-bumbá na mediação p

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Inovação

pedagógica Professores e arte-educadores utilizam as toadas de Garantido e Caprichoso para ensinar disciplinas como Língua Portuguesa, História, Geografia e Meio Ambiente Rosário Nogueira

E

m Parintins, não é só na arena do bumbódromo e nas ruas que se ouvem as toadas dos bois-bumbás Garantido e Caprichoso. Elas estão presentes, também, no dia a dia de professores e arteeducadores que as utilizam como recurso pedagógico no ensino de disciplinas como Língua Portuguesa, História, Geografia, Meio Ambiente e em atividades transdisciplinares. O gênero musical também é tema de monografias e dissertações no ensino superior. O compositor de toada e acadêmico de Serviço Social Marcos Lima explica que a música expressa sensações, sentimentos, pensamentos e, assim, amplia

os conhecimentos dos alunos. “A toada tem particularidades filosóficas, estrutura poética e mensagem que tratam de temas locais e globais”, acentua. “Os alunos do Pró-Jovem, onde desenvolvo o projeto Resgate da identidade cabocla, interpretam e retiram elementos da Língua Portuguesa que valorizam os saberes locais. Descobrimos palavras que só existem no nosso dicionário amazônico. Tacacá e tucupi, por exemplo, fazem parte de um vocabulário muito nosso”, disse. O professor de História do Brasil e da Amazônia na Universidade Estadual do Amazonas (UEA) João Marinho usa a toada como recurso

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facilitador de aprendizagem há algum tempo. Esse projeto começou quando ele trabalhava com a educação básica, nas escolas São José Operário, Thomazinho Meireles e GM 3. “Temos uma festa cultural local, mundialmente conhecida, que encanta a todos. Percebemos que falta uma melhor compreensão dessa festa”, acentua Marinho. Primeiro, Marinho usou a toada no ensino médio e agora transmite essa experiência para futuros professores. “Os

livros sobre a cultura nordestina trazem as poesias de Patativa do Assaré, a literatura de cordel etc. Pensando assim, surgiu a ideia de usar a cultura local para auxiliar o professor na sala de aula a ensinar História, Língua Portuguesa, Matemática, Geografia ou nas discussões transversais”, explica Marinho. Ele aponta que a toada “A Conquista” (1998) tem um diálogo muito forte com o processo histórico, mesmo sem ser documentos históricos. “Trata-se

Foto: Andreas Valentin

(...) surgiu a ideia de usar a cultura local para auxiliar o professor na sala de aula a ensinar História, Língua Portuguesa, Matemática, Geografia ou nas discussões transversais”

Foto: Neudson Corrêa

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Destaque Lei que determina a obrigatoriedade do ensino de música nas escolas. O ano de 2012 é o limite para que todas as escolas públicas e privadas do Brasil incluam o ensino de música em suas grades curriculares. A exigência surgiu com a Lei n.º 11.769, sancionada em 18 de agosto de 2008, que determina que a música deve ser conteúdo obrigatório em toda a Educação Básica. “O objetivo não é formar músicos, mas desenvolver a criatividade, a sensibilidade e a integração dos alunos”, diz a professora Clélia Craveiro, conselheira da Câmara de Educação Básica do CNE (Conselho Nacional de Educação).

de literatura com fundamento histórico que pode ser usada, com acompanhamento pedagógico, no ensino fundamental e no ensino médio”, afirma. Assim, a toada “A conquista” serve para mostrar contato conflituoso que houve entre os indígenas e colonizadores. “Tempos de Cabanagem” pode ser usada no estudo do confronto dos interesses sociais, econômicos e políticos das classes que disputavam poder político na região, na época da regência. Já com a “Senhora vazante” podemos compreender a geografia e a ecologia regionais. “Como professor, tenho que saber disso. O papel do professor é esse: organizar todo o processo de ensino em articulação com a realidade”, salienta o professor.

Valorização Marinho entende que esse tipo de iniciativa destaca também os poetas locais, assim como os nordestinos valorizam os seus. Os próprios artistas participam das aulas, como palestrantes, oportunidade em que falam do processo de criação, da inspiração, da pesquisa e das parcerias. Os alunos podem conversar com o poeta que eles não têm a oportunidade de conhecer no bumbódromo. “Ele (o poeta) é marginalizado na grande festa [no festival

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A Conquista Autores: Tony Medeiros, Inaldo Medeiros e Edvaldo Machado Um dia chegou nessa terra um conquistador Manchando de sangue o solo que ele pisou Não respeitou a cultura do lugar Nem a história desse povo milenar Queria ouro riqueza e tesouro Depois a terra e também escravidão Tibiriçá, Arariboia, Ajuricaba disseram não Um dia o índio lutou contra o branco invasor E a guerra de bravos guerreiros então começou Arcos e flechas contra a força do canhão Guerra dos índios dizimou minha nação Trouxeram cruz mais usavam arcabuz E o ameríndio resistia à invasão Chamaram a morte e o massacre do meu povo Civilização Chegou o branco, pra conquistar Chegou o negro, pra trabalhar Unindo raças e crenças de povos Vindos de além-mar

folclórico]”, explica o professor. A historiadora e arte-educadora Irian Butel também atesta que experiência com música nas atividades de ensinoaprendizagem é muito importante. No trabalho pedagógico entende-se a música como um processo contínuo de construção que envolve perceber, sentir, experimentar, imitar, criar e refletir. O uso da música torna o ensino mais leve e descontraído, criando um ambiente ideal para um bom aproveitamento no aprendizado. Ela lembra que o educador Paulo Freire ensina que o professor deve criar o melhor ambiente possível para que educador e educando compartilhem conhecimentos. As mudanças conceituais e metodológicas – reconhece Irian – desafiam as práticas docentes e a compreensão dos papéis da arte, da estética, da cultura na escola e na sociedade. “A música, em Parintins, entra pela porta da frente nas escolas porque achamos que ela serve como ponto de partida de aprendizagem e reflexão intelectual. Para as salas de aula, escolhemos letras que proporcionam crítica e reflexão”, afirma.

Pesquisa A toada de boi-bumbá também desperta o interesse dos acadêmicos dos cursos do ensino superior ministrados em Parintins. A estudante de Pedagogia da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) Cláudia Duarte faz monografia com o tema A toada de boi-bumbá nas aulas de Língua Portuguesa:

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processo de aprendizado da língua materna em sala de aula. “A toada é interdisciplinar, ela pode ser trabalhada, pedagogicamente, em várias situações. É também um recurso potencial de valorização da nossa cultura”, disse. Cláudia assegura que, na UEA, os professores têm a compreensão de que a cultura local deve ser pesquisada, para ser, também, valorizada como fonte de saber. A estudante Josy Magno, por sua vez, pesquisa o tema Inventário semântico de lexemas da Língua Satere-Mawé em toadas de boi-bumbá da cidade de Parintins. “Trabalho com o significado das palavras, vou pesquisar nas aldeias ou com os índios urbanos. Vou conferir a pronúncia, seu significado e vê se eles são coerentes com o tema, e se está sendo utilizado corretamente naquela toada”, explica Josy. A professora de Língua Portuguesa na UEA Celeste Cardoso revela que a maior dificuldade na sala de aula, com a abordagem do tema boi-bumbá é administrar o fanatismo dos alunos. “Temos que ter muita habilidade, porque o tema mexe com o sentimento das pessoas. Então, nas aulas, sempre separo uma toada de cada boi”, explica. Celeste disse que discute com os alunos os temas, as classes gramaticais e os erros de concordância de cada uma das toadas escolhidas. Depois, recriam as letras em forma de paródias e as cantam, para aguçar o sentimento da necessidade valorização da cultural local. Os professores também citaram a toada “Amazônia, catedral verde” como importante para discutir aspectos das culturas amazônica e universal.

Amazônia, catedral verde Autora: Helen Veras, Jacinto Rebelo, Carlos Taveira e Paulo Alecrim Amazônia, solitária catedral (bis) Onde estão os teus templários? Teus guardiões imaginários? Cadê as cuias, teus cálices? E o rio, teu santo-daime? Vivas folhas, teus sudários Teus castiçais, teus galhos? Amazônia, solitária catedral (bis) Onde está o teu encanto? Teu mistério, batistério? Teu verde sagrado manto Pra onde foram os cristais? Tuas riquezas, teus vitrais Teus sonhos de imortais? Amazônia... Templários da Amazônia (bis) O curupira fugiu Jurupari desistiu Surucucu se escondeu Cobra-grande, cobra-grande Na enchente encolheu Avé... Avé... (bis) Restou o nosso Caprichoso A cor morena do caboclo O cheiro insenso da cabocla A partitura da toada O coro forte da galera E a oração da Marujada Amém... Catedral

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Fotos: Antonio Lima

Tecnologia ajuda a corrigir equívoco 34

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Educação à distância

N Os gestores da educação estão aproveitando as oportunidades tecnológicas para promover a integração de todos os habitantes do Amazonas ao sistema educacional Marcus Stoyanovith

os confins do Amazonas, o maior pedaço territorial do gigante Brasil, o quarto maior país do planeta, sempre viveram povos que até o final do século passado sequer faziam parte das estatísticas demográficas, porque estavam encobertos pela compreensão de que a Amazônia era um imenso vazio demográfico. Uma visão quantitativa que relegou esses povos por muitos anos a uma completa exclusão social, cultural, econômica e, numa conta maior, educacional. Índios, caboclos e mestiços, que ainda vivem em lugares de difícil acesso, só agora são beneficiados, por meio das tecnologias de comunicação, com programas públicos de educação a distância. Trata-se, além do mais, de uma educação que

possibilita a interação das mais diversas culturas. Muitas comunidades ribeirinhas, localizadas nos mais de mil rios da região, estão distantes até três dias de viagem das sedes municipais e essas até a uma semana de Manaus, centro do poder político e econômico do Amazonas. Logo, distantes também do local onde há decisões sobre todos os serviços prestados pelo governo. E entre o deserto e a superpopulação demográfica há desafios que precisam ser vencidos pelos gestores de educação. O mais complicado ainda é que cada lugar tem a sua demanda e suas peculiaridades. Mas entre as muitas facetas das tecnologias, uma delas é proporcionar inclusão social. Os gestores da educação estão aproveitando as

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“Oitenta e cinco por cento da população rural entre 15 e 17 anos serão atendidos. Isso elevará a escolaridade média dos joves do campo”

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oportunidades tecnológicas para promover a integração de todos os habitantes do Amazonas ao sistema educacional. Isso ocorre por meio do projeto Educação a Distância que, além de resolver um problema de espaço e tempo na relação ensino/aprendizagem, já se consolidou como uma ferramenta de interatividade. O coordenador do Departamento de Educação a Distância da Seduc, professor José Augusto de Melo Neto, disse que experiências em áreas remotas na Austrália e Canadá contribuíram para consolidar o Ensino Superior Presencial com mediação tecnológica. Desde 2001 a Seduc vem ampliando a sua cobertura no Estado. Todos os 62 municípios estão atendidos: 2.121 comunidades, 707 escolas, 1.675 salas de aula e 31.695 estudantes, todos a milhares de quilômetros do professor, sem perder nenhum

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conteúdo, com todas as dúvidas reparadas. Mesmo com timidez da legislação nacional para o setor, inclusive a do Plano Nacional de Educação (PNE/ 2011-2020), segundo o professor José Augusto, há o compromisso de se cumprir a meta demandada pelo projeto Década da educação, abrindo habilitação para a educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental. “Oitenta e cinco por cento da população rural entre 15 e 17 anos serão atendidos. Isso elevará a escolaridade média dos jovens do campo”, registra o professor Augusto. Em 2013, o calendário já está definido: no dia 4 de fevereiro será dado início às atividades de planejamento e formação continuada do professor. O ano letivo começará no dia 25 do mesmo mês, com transmissão ao vivo das aulas. “Mas é


importante lembrar que o Brasil continua com problemas na área de formação de professores, principalmente, para a zona rural e ainda está muito longe da universalização do ensino médio”, diz o coordenador, numa constatação que pode ser interpretada como uma oportunidade para muitos estudantes um fértil campo de trabalho.

Perfil do coordenador

José Augusto Melo Neto – mestre em Educação pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam); Especializado em MBA pela Fundação Getulio Vargas, com módulos na Universidade de Ohio-EUA; curso de Informática na Educação; coordenador da Área de Educação Ambiental da Secretaria de Estado de Educação do Amazonas (Seduc) desde 2000 e criador do Centro de Mídias da Seduc, com sete prêmios nacionais e três internacionais de inclusão social.

Saiba mais

A Educação a Distância é feita por meio de aulas transmitidas pela televisão. No Amazonas foi escolhido o software IP.TV, e o sistema está conectado a uma rede com 203 antenas USATS bidirecionais, o que permite a interatividade em sala de aula.

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Professora visita centro de pesquisa nuclear Heleyne Lima, da escola estadual Ângelo Ramazzotti, compôs seleto grupo de 30 docentes do Brasil que visitou o renomado Centro Europeu de Pesquisas Nucleares Afonso Jr.

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ivenciar uma experiência individual útil à carreira acadêmica e absorver novos conteúdos e práticas para utilizar em sala de aula junto aos alunos da rede pública de ensino. Estes foram os objetivos da professora Heleyne Karen Barbosa Lima, 30, que leciona a disciplina “Física” na escola estadual Ângelo Ramazzotti (Manaus) ao visitar o Centro Europeu de Pesquisas Nucleares (Cern), na região noroeste de Genebra, na fronteira franco-

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suíça, no segundo semestre de 2012. A professora, formada no curso de licenciatura em Física pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA) compôs, entre os dias 23 de agosto e 1.º de setembro de 2012 o seleto grupo de 30 docentes brasileiros que viajaram à Genebra, na Suíça, para conhecer e participar de atividades formativas no Cern, o mais renomado centro de pesquisa nuclear do mundo e que ganhou grande visibilidade no último ano por seus cientistas terem descoberto a

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“Partícula de Deus” ou “bóson de Higgs”: partícula que teria dado origem à massa de todas as demais partículas, sendo sua descoberta um passo importante da ciência na compreensão da origem do universo. Para Karen, conhecer por dentro o funcionamento do Cern e observar a execução de pesquisas ultramodernas no campo da aceleração de partículas, foi um sonho realizado e uma experiência que será guardada por toda a vida. “Foi uma oportunidade fantástica conhecer o que, hoje, há de mais avançado no segmento da física nuclear. A experiência foi válida tanto pela aquisição de novos conhecimentos quanto pela oportunidade de interagir no período de uma semana com pesquisadores, doutores e cientistas conceituados”, conta a professora. Segundo ela, o intercâmbio foi financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal em Nível Superior (Capes/MEC) que selecionou professores de todo o Brasil. “Por ser supervisora local do Programa Institucional de


Intercâmbio

Fotos: Divulgação

Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid/Ufam) pude participar da seleção nacional, sendo escolhida em um processo que reuniu mais de 250 concorrentes”, informa.

Experiência De sua experiência na Europa, que contou também com uma passagem pelo Laboratório de Instrumentação e Física Experimental de Partículas (LIP), em Lisboa, Portugal, Karen conta que a emoção ao compor a comitiva de brasileiros foi grande: “No Cern, me senti orgulhosa em poder conhecer os quatro mais importantes aceleradores de partícula em atividade no mundo e em conviver com pessoas de grande inteligência e competência na área científica. Durante o período de dez dias em que lá estive, me senti limitada comparada com grandes cientistas que lá estavam, mas muito orgulhosa por saber que uma professora da rede pública do Amazonas estava naquele lugar, absorvendo experiências para si e para compartilhar com meus alunos”, revela Karen.

Uma nova forma de ensinar Karen leciona para um público que, segundo ela, exige atenção especial e uma dose de criatividade dos educadores: o público escolar noturno. Para potencializar a aprendizagem desse público e sanar problemas como a notável evasão escolar, Karen desenvolve há quatro anos, no Ângelo Ramazzotti, o projeto “Mostra de Experimentos Físicos”, por meio do qual leva jovens e adultos a compreender os fenômenos da física com maior entusiasmo. “O projeto tem resgatado o interesse dos alunos do período escolar noturno e desmistificado as ciências exatas por meio de uma estratégia muito simples: o uso do laboratório escolar, fazendo com que os alunos realizem experiências práticas e reconheçam a aplicação

da Física em seu dia a dia”, aponta. Ao relatar uma experiência por ela vivenciada anos atrás, Karen justifica seu entusiasmo em ensinar Física de forma diferenciada: “Quando eu estudava no ensino médio, em Santarém no Pará, um professor de Física, ao ver minha limitação em compreender sua disciplina, disse que eu era incapaz de passar num vestibular. Me esforcei, provei que era capaz e passei no mesmo ano em três faculdades públicas. Essa experiência me faz acreditar no potencial de cada estudante a qual eu leciono e me motiva a ser um diferencial na vida dele, pois procuro ver sempre ali um grande vencedor”, comenta.

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Realidade e ficção nas curvas do Xingu O que vi na Volta Grande do Xingu tenta conscientizar o leitor de que ele pode mudar para melhor o destino da Amazônia e do planeta Suelen Reis

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Literatura

A

polêmica construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte no rio Xingu, nas proximidades de Altamira (PA), cidade natal de Francimar Mendes dos Santos e Patrícia Mara Martins, despertou nas educadoras o desejo de contribuir para uma consciência maior sobre a preservação do meio ambiente. Assim surgiu O que vi na Volta Grande do Xingu, literatura infanto-juvenil que chama a atenção para a dor do mundo diante da irresponsabilidade e inconsequência do homem. “Presenciamos todo o processo da construção da usina. A cidade se mobilizou, a população foi para as ruas protestar e esse momento histórico, de luta, nos inspirou. Queríamos participar de alguma forma e resolvemos contribuir na educação, área em que atuamos”, diz Francimar, que atualmente faz parte da rede estadual de educação do Amazonas. No universo descrito pelas autoras, os animais lutam para que uma catástrofe não se abata sobre eles. Com o entendimento da catástrofe da Volta Grande do Xingu relatada pelos animais, é possível ver a destruição do homem e, consequentemente, do planeta. “Na história, mostramos o ponto de vista dos animais sobre

a atual relação do homem com a natureza. Sobre a insistente e degradante busca pelo desenvolvimento econômico que transforma o hábitat de várias espécies”, comenta a autora.

Conscientização A obra é, também, um instrumento político que conscientiza o leitor de que ele pode mudar para melhor o destino da Amazônia e do planeta. “O livro é um convite para uma reflexão sobre o verdadeiro sentido da vida e também uma homenagem ao Xingu que não está morto. Tem muita fauna, muita flora vivas ali. Temos que modificar ou melhorar essa relação do homem com a natureza”, afirma. O desejo das autoras é que O que vi na Volta Grande do Xingu chegue até as salas de aula. “É um paradidático ideal. Antigamente a história demorava muito para ganhar as páginas de um livro e chegar até as escolas. O que vi na Volta Grande do Xingu nasce no momento em que o fato acontece. Se for adotado, os alunos terão a oportunidade de estudar, utilizando um texto leve, questões importantes e atualíssimas”, pontua Francimar.

Perfil das autoras Francimar Mendes dos Santos é paraense de Altamira. Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Pará, especialista em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Estrangeira. Patrícia Mara Martins nasceu em Altamira, no Pará. Licenciada em Letras pela Universidade Federal do Pará, especialista em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Estrangeira.

FICHA TÉCNICA Título: O que vi na Volta Grande do Xingu Autoras: Francimar Mendes dos Santos e Patrícia Mara Martins Gênero: Literatura infanto-juvenil Editora: Valer Páginas: 79

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Internet: aliad incentivo à le Pedagoga e escritor debatem sobre o assunto e expõem suas opiniões. Conclusão é de que a rede pode ser um ótimo caminho Leandro Cury

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Debate

da ou vilã no eitura? “M

eus filhos terão computadores, sim, mas antes terão livros. Sem livros, sem leitura, os nossos filhos serão incapazes de escrever – inclusive a sua própria história”. Ninguém melhor do que o norte-americano Bill Gates, fundador da Microsoft, gigante empresa de tecnologia, para passar uma mensagem como essa. Ainda mais em uma época em que a internet é utilizada muito mais como forma de entretenimento do que ferramenta de educação e cultura. Engana-se, no entanto, quem acha que a internet seja inimiga da educação. Pelo contrário. Ela pode ser uma forte aliada, desde que usada da maneira correta. Não é impedindo que seu filho utilize as redes sociais, como Twitter e Facebook, que você vai incentivá-lo à leitura. Mas, de repente, é utilizando outras ferramentas da rede que esse despertar pode ocorrer. Caminhos não faltam, como explica Joyce Segala, pedagoga especialista em educação infantil. “Não devemos ir contra o ‘boom’ tecnológico, já que é um instrumento facilitador, se utilizado com coerência e objetivos bem determinados. A internet fascina os jovens. Nossa conduta é a orientação. Quando solicitamos alguma pesquisa, não proibimos o uso da internet. Porém, após coletarem os dados, os alunos têm de desenvolver uma resenha, escrita à mão”, fala Joyce, que atualmente é coordenadora

Perfil dos entrevistados João Wady Cury é escritor e jornalista. Trabalhou na Folha de S. Paulo e em O Globo, e em várias revistas como Veja São Paulo, Quatro Rodas e Viagem e Turismo. Há 15 anos cria conteúdo jornalístico e de entretenimento para portais e sites de internet e empresas de comunicação. Joyce Segala é pedagoga, especialista em Educação Infantil. Ela cursa Gestão Escolar. Atualmente é coordenadora, pedagógica do Instituto de Ensino Lorrê (rede privada de ensino), onde leciona há cinco anos nos níveis de educação infantil e ensino fundamental I.

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antigamente eu não tinha. Por isso acho muito relativo afirmar que a internet não estimula o interesse na leitura. Ela, bem usada, só potencializa isso. Acho covarde falar que o computador rivaliza com a educação, porque ajuda. Não é o único ponto de apoio, claro. As novas gerações têm de aprender a ler no computador, e não somente utilizá-lo para ver fotos e vídeos”, fala Cury.

‘Show de umbigo’

“(...) as pessoas utilizam mais a rede para falarem de si mesma do que para pesquisar/estudar um novo mundo, seja na área da educação ou da cultura”

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pedagógica do Instituto de Ensino Lorrê, em São Paulo. Não há realmente como afirmar que a internet anda na contramão da boa educação. Se as crianças não utilizam (ainda) a ferramenta de maneira correta, não é culpa delas. Mas sim da falta de orientação. O jornalista e escritor João Wady Cury acredita que a rede tem um potencial enorme para incentivar a leitura. Seja em crianças, adolescentes ou adultos. “Muitos dos livros que leio atualmente estão na internet. Hoje, tenho acesso a livros que

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As redes sociais dominam atualmente as atenções da população na internet. Mensagens no microblog, fotos e vídeos em sites de relacionamentos estão entre as principais ações, em especial por parte dos jovens. De certa forma, as pessoas utilizam mais a rede para falarem de si mesma do que para pesquisar/ estudar um novo mundo, seja na área da educação ou da cultura. João Cury não se considera um especialista no assunto, muito embora há 15 anos crie conteúdo jornalístico e de entretenimento para portais e sites. Mas sua opinião em relação ao uso da internet hoje em dia é forte. Segundo ele, o egoísmo dos internautas impede uma utilização mais adequada das ferramentas. Tal expediente, então, atrapalha o despertar de um interesse por literatura, por exemplo. “A internet hoje em dia é um show de umbigo. As pessoas adoram falar de si próprias. Por isso não vejo as pessoas com vontade de sair do mundo delas para ter interesse na literatura. Enquanto a internet não potencializa isso, nós temos de pensar na popularização do livro. Tornar as obras mais acessíveis a todas as classes sociais pode ser um caminho”, explica João Cury.


Joyce Segala, por sua vez, acredita que o interesse da leitura nas crianças e nos adolescentes parte do próprio educador. Se o professor demonstrar seu apreço pela leitura, consequentemente os alunos vão procurar os livros. “O principal incentivo é demonstrar ou transparecer seu interesse e prazer pela leitura. Quando um aluno percebe que o professor lê com entusiasmo e empolgação, nasce a vontade de experimentar tal prática. Ninguém dá o que não tem. Se o educador não gosta de ler, jamais vai incentivar o hábito da leitura dos educandos”, acrescenta a coordenadora pedagógica. A escola onde trabalha Joyce tem um projeto interessante para o incentivo da leitura em seus alunos. Durante todo o ano letivo, quinzenalmente, às sextas-feiras, aos alunos têm de escolher um livro em uma lista previamente indicada pelos professores. Na segunda-feira seguinte, cada aluno conta sua experiência com a história lida e compartilha com os colegas. “Tratando-se das crianças menores, hoje contamos com inúmeros livros interativos, personalizados, musicais, consumíveis etc. E por que não nos apropriarmos dos livros virtuais também?”, questiona Joyce Segala.

Ficha técnica

Título: Ziiim Autores: Ilka Freitas e João Wady Cury Páginas: 40 Preço: R$ 39,90

Dicas de Joyce Segala

Título: A casa sonolenta Coleção: Abracadabra Autor: Wood, Audrey E Don Editora: Ática Faixa etária: a partir de 6 anos.

Título: Menina bonita do laço de fita Autora: Ana Maria Machado Ilustrador: Claudius Editora: Ática

Pé atrás Apesar de concordar com a procura de livros na internet, João Cury tem um pé atrás com as escolas que se preocupam mais em informatizar suas instalações antes de montar uma biblioteca mais extensa e apropriada. “O computador é a última coisa a colocar. Não é o computador que vai incentivar a leitura. Ainda mais em um mundo que a imagem é que

interage mais”, finalizou. Recentemente, João Cury lançou um livro infantil, baseado nas histórias que ele contava para os filhos na infância (Ali tem 10 anos agora e Téo, 18). Ziiim, título da publicação, conta a viagem de uma criança a partir do seu próprio coração até outras galáxias do universo. A obra é uma parceria com Ilka Mourão.

“Ziiim é baseado nas histórias que eu contava para os meus filhos quando eram pequenos. Como eu não conseguia contar Chapeuzinho Vermelho de uma maneira diferente todos os dias, resolvi inventar algumas histórias. E elas deviam ser muito ruins, porque eles dormiam rapidamente”, brinca Cury.

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Diário de bordo

Brasil do sécu Elizabeth Agassiz, cronista da expedição do naturalista Luiz Agassiz, realizada nos anos de 1865 e 1866, imergiu no cotidiano de um país surpreendente

Fotos: Reprodução

Suzan Monteverde

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ulo 19 sob um olhar feminino

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U

m olhar feminino aguçado sobre o Brasil no final do século 19. É o mínimo que se pode dizer da participação de Elizabeth Cary Agassiz Cabot (1822-?) no livro Viagem ao Brasil: 1865-1866, escrito em parceria com o seu marido, o naturalista suíço Luiz Agassiz, e publicado no Brasil em 1975, pela USP/Itatiaia. A obra é marcada pelo jeito feminino de observar o mundo – um fato relevante para uma época em que as lutas das mulheres por espaço social mal se desabrochava. Elizabeth Cary Agassiz Cabot nasceu na cidade de Boston, Massachusetts, e desde cedo se envolveu na luta por uma nova educação das mulheres. Ela foi uma das primeiras mulheres eleitas para Associação Filosófica Americana, organização internacional que promovia pesquisas,

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encontros profissionais, reuniões comunitárias e publicações, para divulgar o conhecimento. A autora é a responsável pelo diário de bordo da expedição norte-americana, cujo objetivo é colher amostras de peixes da Bacia Amazônica para verificação da polêmica teoria evolucionista de Charles Darwin. Além das anotações do cotidiano brasileiro, ela apresentou, didaticamente, as teorias naturalistas, transcreveu cartas e trechos de conferências de Luiz Agassiz. Para o cientista, a viagem ao Brasil era a realização de um sonho, porque havia perdido a oportunidade de trabalhar com Von Martius, biólogo e escritor do Livro Flora Brasiliensis, após a morte de Spix, seu companheiro de expedição. A expedição chefiada por Luiz Agassiz, transportada pelo navio Colorado, chega ao Brasil pelo

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porto do Rio de Janeiro, onde foi recebida pelo imperador dom Pedro II. Os cientistas sentiram-se lisonjeados com essa deferência, principalmente, porque, naquele momento, o imperador, também tido como amante das ciências, dirigia suas atenções para o front da Guerra do Paraguai (18641870). Luiz e Elizabeth Agassiz deixam parte da exposição no Rio de Janeiro e partem, com outros companheiros, para o litoral da Bahia e do Pará, depois entram no rio Amazonas e sobem até a fronteira do Brasil com o Peru. No regresso a Belém, fazem expedições nos seus arredores e depois seguem para o Ceará e Rio de Janeiro. Os cientistas que ficaram no Rio de Janeiro também pesquisaram no interior de Minas Gerais. Destacamos trechos que tratam do jeito de viver dos lugares visitados.


Procissão de São Jorge Rio, 11 de junho – Hoje é dia de grande festa, uma festa de que custamos a compreender a significação tanto nela o elemento religioso se acha singularmente misturado ao grotesco e ao bizarro. É o dia do Corpo de Deus. Mas como cai na mesma data de uma antiga celebração a São Jorge, celebrada aqui com toda sorte de solenidades dos bons tempos antigos, as duas se confundem [...] Vem primeiro a parte religiosa do cortejo: uma longa fila de padres e membros de irmandades conduzindo tochas acesas, pirâmides de flores, estandartes etc., depois, o santíssimo sacramento, sob um pálio de cetim branco bordado de ouro e sustentado por varas maciças; seguram essas varas os mais altos dignatários do país, o imperador e o seu genro, o duque de Saxe. Segue-se a cavalo, no mais estranho contraste, um manequim de tamanho natural

representando São Jorge. A imagem rígida, tosca e grosseira é acompanhada por escudeiros a cavalo, quase tão grotescos e ridículos. Enfim, fecha a marcha um certo número de confrarias legais, análogas aos francomaçons ou aos Companheiros do Dever. As classes esclarecidas da sociedade brasileira falam dessa procissão bizarra como um velho legado dos portugueses, cuja significação se perdeu mesmo para estes e que veriam de bom grado desaparecer dos seus costumes; como de coisa, enfim, que não é mais deste tempo.

Grande baile em Manaus, no Palácio 8 de setembro – Desacostumada animação reina desde alguns dias em Manaus. Trata-se de organizar um grande baile em homenagem ao Sr. Tavares Bastos [...] A noite do

dia 5 foi tão favorável como se desejava; estava muito escura, e, como o luxo de carruagem é totalmente desconhecido, os grupos, na hora marcada, corriam pelas ruas, iluminadas por lanternas de mão. Aqui e ali, pelo caminho, via-se, num canto de rua, surgir no escuro uma toalete branca de baile saltando com cuidado por cima de poças de lama. Entretanto, quando todas haviam chegado, observei que nenhum dos vestidos sofrera seriamente com a caminhada. Era grande a variedade das toaletes; seda e cetim misturavam-se à lã e às gazes, e os rostos mostravam todas as tonalidades do negro ao branco, sem esquecer as cores acobreadas dos índios e dos mestiços. Não há aqui, com efeito, o menor preconceito de raça. Uma mulher preta –

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admitindo-se, já se vê que seja livre – é tratada com a mesma consideração e obtém a mesma atenção que teria se fosse branca. Todavia, é raro encontrar-se na sociedade uma pessoa que seja absolutamente de pura raça negra, mas veem-se numerosos 94 mulatos e mamelucos, como chamam aos mestiços de índio e negro [...] Estavam as danças muito animadas quando, entrando no porto, o paquete vindo do Pará ficou todo iluminado e soltou girândolas de foguetes em sinal de felizes notícias da guerra. A satisfação chegou ao auge; as quadrilhas, interrompidas, sucederam ruidosas explosões de júbilo. A maioria dos assistentes passou a noite em claro e dirigiu-se para bordo do navio para receber os jornais; não tardamos saber que uma vitória decisiva fora ganha sobre os paraguaios em Uruguaiana, onde o imperador comandava em pessoa. Dizem que foram feitos aí mil prisioneiros.

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Noites em Arancho (CE) Às seis horas chegávamos a Arancho, onde deveríamos passar a noite. Como estava quase escuro, pareceu-me que a povoação se compunha apenas de algumas casas de barro; mas, no dia seguinte, ao sol, vi que possuía uns dois edifícios de aparência mais respeitável. Atravessamo-la de ponta a ponta, seguindo a rua principal e paramos em frente à venda (lojas de víveres e botequim). Na porta, cortada em duas, sendo que só a parte de baixo dava passagem, estava o dono da casa, muito longe de esperar viajantes naquela noite sombria e chuvosa. Era homem gordo, já velho, de cabeça redonda como uma bola, coberta de cabelos brancos e crespos, como cara de bom humor, embora um tanto avermelhada pela bebida. Vestia calça de algodão, com a camisa solta por cima, os pés inteiramente nus dentro de tamancos de pau, sem guardas, cujo clique-clique se houve em

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todas as cidades em tempo de chuva. Abriu a parte superior da porta e nos introduziu numa pequena sala mobiliada com uma rede, um sofá e três ou quatro cadeiras. Nas paredes de barro ostentavam algumas grosseiras estampas de que o bom velho parecia muito orgulhoso. Dissenos que teria prazer em nos receber se nos contentássemos com as instalações que nos podia oferecer: esta própria sala para os homens e ele, e o quarto em que dormiam sua mulher e filhos para a “senhora”. Confesso que a perspectiva me agradou mediocremente, mas estava disposta a tudo e sabia as atribuições a que se expõe quem viaja pelo interior. [...] Acabada a ceia, pedi para me levarem ao quarto de dormir, preferindo tomar a dianteira dos meus companheiros da noite; era um aposento pequenino duma dezena de pés quadrados, por trás daquele em que fôramos recebidos e sem a menor janela [...] A chuva torrencial que batia nas telhas atravessava o teto mal


cerrado e por mais que me virasse na rede as gotas caíam sempre sobre o meu rosto; as pulgas estavam furiosas, e de tempo em tempo o silêncio era interrompido pelo choro das crianças ou pelo grunhido do porco deitado ao pé da porta. Não é preciso dizer quanto me senti feliz quando o bater das cinco horas pôs todos de pé, sendo nossa intenção partir às seis horas e fazer três léguas antes de almoçar.

Arredores do Pará 12 de agosto – Levantamonos bem cedo e fomos correr a cidade. Os arrabaldes têm merecido cuidado muito especial, e a Rua de Nazaré, larga avenida que leva do subúrbio ao Centro, está plantada, numa extensão de duas ou três milhas de belas árvores entre as quais predominam as mangueiras. No caminho, notamos uma palmeira de caule esguio que se tornou presa de enorme parasita que a sufoca em implacável abraço. Tão luxuriante é o desenvolvimento da planta assassina que os seus galhos distensos e a sua espessa folhagem não nos deixam ver, a princípio, o tronco inteiramente escondido do qual suga a seiva. Com efeito, só no alto da palmeira é que algumas folhas em leque escapam ao inimigo e se lançam para o ar e para a luz, como a fugir-lhe. A infeliz planta, contudo, não poderá viver muito tempo: mais alguns dias e sua morte fará soar para o assassino a hora do castigo.

Os mercados – Canoas de índios Belém – Chegando à cidade, fomos direto ao mercado; está situado perto da margem do rio e foi com vivo prazer que vimos

atracarem as canoas dos índios. A montaria (é o nome que dão à sua embarcação) é longa e estreita, e tem numa de suas extremidades um teto de folhas secas, debaixo da qual mora a família; é aí que o índio está verdadeiramente em sua casa. Aí vem sua mulher e seus filhos; aí estão suas redes, utensílios domésticos, vasos de barro, todos os seus pertences, em suma. Em algumas dessas montarias, as mulheres ocupadas em preparar o almoço, ferviam o café ou cozinhavam a tapioca ao fogo; em outras, expunham à venda essa cerâmica grosseira de que são

feitos todos os seus utensílios e cujas formas não deixam de ter certa graça e elegância. Depois de nos termos saciado com esse espetáculo, demos umas voltas pelos mostruários, que são amplos e bem tratados; os mercados brasileiros, porém, só são bonitos em comparação uns com os outros. O abastecimento é abaixo de medíocre em variedade; há pouca coisa a ver, só tendo os brasileiros muito poucos legumes, embora lhes fosse fácil cultivar grande variedade deles. O mercado de frutas, mesmo, não era absolutamente o que supúnhamos encontrar.

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Alimentação Nutricionista dá dicas de como manter uma alimentação saudável e diz que lanches são os vilões da dieta dos professores Suelen Reis

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uito se fala na importância de uma alimentação saudável. Mas como os professores podem manter uma dieta equilibrada enfrentando uma rotina puxada, muitas vezes de até três turnos de trabalho? Pensando nesse problema, e a convite da REVISTA DO PROFESSOR, o nutricionista José Carlos de Sales Ferreira preparou algumas dicas para esses profissionais manterem uma alimentação adequada. Para isso, ele diz que é preciso eliminar os lanches que, normalmente, são combinações muito calóricas.

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Fotos: A ntonio Lima

Saúde

“Os professores alegam ter pouco tempo para fazer uma refeição completa no almoço ou jantar e, por isso, optam por comer pastéis e salgados fritos com refrigerante vendidos próximos às escolas. As frituras prejudicam a saúde, ainda mais se ingeridas diariamente. Eles têm que tirar esse tipo de lanche da dieta”, afirma. Sales diz que é comum os professores desenvolverem problemas como gastrite e úlcera por conta da rotina alimentar. “Substituir almoço e jantar não é recomendável e deveria ser uma exceção. Eles (os professores) reclamam de queimação no estômago, mas não sabem a causa... Nada mais é que o excesso de frituras e condimentos como molho de pimenta, maionese e ketchup nos salgados que ingerem”, comenta e alerta:

É comum professores desenvolverem problemas como gastrite e úlcera por conta da rotina alimentar

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Cardápio

Café da manhã Fazer o desjejum em casa Uma xícara de café com leite; Um pão com margarina; Uma fatia de queijo branco (se tiver); Uma fruta (de sua preferência); Lanche da manhã Uma fruta de sua preferência ou 1 pacote de biscoito cream-cracker (embalagem lanche) Almoço Salada (tomate, alface, pepino, cenoura) 2 colheres (sopa) de arroz 1 concha de feijão 1 porção de proteína (frango, peixe ou carne) Lanche da tarde 1 fatia de pão de forma (se for integral, melhor) com uma fatia de queijo; 1 copo de suco 1 fruta

Jantar Salada (tomate, alface, pepino, cenoura) 2 colheres de arroz 1 porção de proteína (frango, peixe ou carne) Ceia (ao chegar em casa) Um copo de leite (pode ser batido com uma fruta ou uma colher de aveia)

Saiba mais

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“Muitas vezes esses problemas se agravam e acabam afastando o professor das escolas, dos alunos, prejudicando, também, o processo educacional”.

Esforço Segundo o especialista, para manter uma alimentação equilibrada é preciso fazer um esforço. Preparar todo o cardápio diário em casa seria o ideal. “Deve-se fazer seis refeições diárias. Para começar, é preciso tomar um café da manhã em casa, mesmo que seja o básico café com leite e pão. O importante é não sair em jejum”. Os lanches da manhã/tarde devem ser feitos entre duas ou três horas após a refeição principal: “Não tem desculpa para pular. O professor pode levar uma fruta ou um pacotinho de bolacha integral ou creamcracker. Eles já vêm em embalagem no tamanho ideal, com até quatro unidades”. Ele aconselha a escolher para os lanches frutas que não estraguem rápido e, preferencialmente, as que possam ser ingeridas com casca: “É preciso ter praticidade. Pode ser uma maçã, ou tangerina e banana que são fáceis de descascar. Se optar por abacaxi ou mamão, por exemplo, o ideal é levar a fruta cortada e acondicionar em embalagens bem fechadas, guardar na geladeira e só abrir quando for consumir”, comenta. Almoço e jantar devem ser completos. Nunca substituídos. E merecem um tempo especial e exclusivo. “As pessoas devem dar mais importância e devem dispensar um tempo mínimo de 15 minutos para alimentar-se. No almoço tem que ter as fibras que você encontra nas saladas, o carboidrato que dá energia e que está no arroz e no feijão, e as proteínas presentes no frango, nos peixes e nas carnes”, ensina. No jantar, as fibras e proteínas são suficientes. E os professores que trabalham à noite devem jantar antes do início do turno”, diz.

Hidratação

Mais qualidade de vida

Um ponto fundamental para manter o organismo funcionando adequadamente é a hidratação. O simples ato de tomar água ajuda – e muito – a manter uma vida mais saudável. “As pessoas dizem que esquecem de beber água. Mas o refrigerante não esquecem. Tomar, no mínimo, dois litros de água por dia faz toda a diferença, além de prevenir doenças como os cálculos biliar e renal”, ensina José Carlos.

Segundo José Carlos, o segredo é não desistir diante das dificuldades iniciais e pensar no resultado, que é mais qualidade de vida e saúde. “E tudo é uma questão de hábito. No início realmente é difícil, mas depois vira rotina e as pessoas acostumam. Quando começarem a sentir as mudanças, que vão de mais disposição até uma melhor forma física, fica mais fácil”.

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Perfil

“Muitas vezes esses problemas se agravam a acabam afastando o professor das escolas, dos alunos, prejudicando, também, o processo educacional”

José Carlos de Sales Ferreira é nutricionista, pós-graduando em Gestão da Segurança de Alimentos e pós-graduando em Nutrição Clínica – Metabolismo, Prática e Terapia Nutricional. É professor de ensino técnico profissionalizante, inspetor de alimentos e auditor do Programa de Auditoria em Segurança Alimentar (Pasa) do Exército Brasileiro e presta atendimento nutricional em domicílio. Contato: (92) 9184-6414 jcarlosales@hotmail.com

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Puka

a nossa cadela de jeito moleque João Pinto

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a noite seguinte da morte de minha cadela, fui dormir de rede na sala, apenas cochilei um pouco e pulei fora. Sobre a mesma janela aberta fiquei de cócoras, com a mão na carabina, esperando o ladrão para quando arrombasse o portão da frente e, ao penetrar um pouco no quintal, talvez com um pé-de-cabra para derrubar a porta e querer nos render, dali mesmo eu daria um tiro bem no peito dele para vingar o coquetel de veneno de ratos misturado a calabresa, salsicha e a farofa. Fiquei como ela, atrás de qualquer ruído, mesmo de um gato intruso. Porém não foi isso o que aconteceu, de luz apagada na sala e também na área da frente que dava ao portão, dali de uma brecha da janela, com a mão na arma, vi para o meu espanto a silhueta da minha cadela, que azunhava desesperada o portão. Acho que queria uma recepção de algum membro da família para abrir, e assim

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passou um bom tempo tentando e resmungando. Depois como ninguém lhe viesse abrir o portão, saiu do portão pequeno e, por debaixo do outro maior, por onde alguém havia empurrado a quentinha, entrou. Balançava o rabo de contente, cheirava o seu território e dava umas cambalhotas no ar. Ah, quase não aguentava em ver a minha Puka tão contente, depois de morta, voltar ao aconchego ali na frente. Aí a silhueta dela ficou de quatro e veio vindo para o rumo da porta. Baixei a guarda da carabina e, em sacudidelas violentas, as lágrimas desciam. Só que não a vi mais ficar na porta como era seu jeito, as duas patas deitadas no chão e a bunda tocando a porta. Quando dormia ali na sala, ela sabia que estava ali e respeitava meu sono, às vezes tocava de leve a porta para se comunicar comigo, para dizer que era o meu escudo. E estando nesse devaneio, de repente a cadela já se encontrava de novo bem próximo do portão,


Crônica do professor

cheirou o portão e lançou as patas dianteiras ficando de pé, depois usou alguma brecha do portão e saiu do quintal. Azunhou novamente o portão, deu um grande uivo e dobrou à esquerda, no beco onde havíamos feito a sua cova. Já sabia que aquele aparecimento nunca mais iria se repetir porque a minha comoção ficara no limite de suportar uma presença tão cheia de dor. Na noite em que envenenaram a bichinha, o sacripanta malvado havia parado um automóvel na frente de casa, além da minha casa, jogou o produto na casa da dona Maria e da Lukésia, e assim fazia a limpeza dos nossos bichinhos. Um homem que mata um cachorro é a pior espécie de gente, a alma dele vive na nojeira e nunca teve o amor de um cão. A Puka passou por um processo lento de morte, lembro que, ao acordar pela manhã, estava toda encolhida na sua casinha. Quando me viu, veio quase cambaleando, de expressão triste, com o tremor por todo corpo. Fizemos o que podemos para salvá-la, de manhã, o Bruno deu ainda leite numa mamadeira improvisada, ia lambendo tão devagar e depois apanhei a comida envenenada que havia vomitado. E ficamos esperando algum desfecho. Por volta de duas horas da tarde, a cachorra deu um latido enorme e indescritível, varou pela casa adentro e buscou um canto da casa, toda já com as órbitas tão demonstradas de despedida que

logo foi cercada de mais carinho. Levamo-la para sua casinha. Lá a tremedeira se acentuou com os rompantes dolorosos. Aí teve uma hora que se aquietou ao fundo da casinha, fez um ruído estranho entre os dentes, foi estirando as patas, os olhos ficaram de uma cor amortecida e a língua ficou totalmente roxa do veneno. Cavamos um buraco aqui perto de casa. Pegamos pelas patas e acomodamos aquele projeto de carinho no buraco. De noite, reunida a família, de olhos marejados, a gente ia se lembrando dela. Do gesto do Bruno quando a tomava pelas quatro patas e ia rodopiando ela numa curtição; do Lucas quando dizia, “Cadê a minha Negona”; da Gina, ao entrar pelo portão, com a bolsa na mão, tocando nela de leve, “Não, não!”

Do Ruan que, quando ia levando um petisco, dizia com expressão de comando, “Sente, sente!” E deste gari que fazia a limpeza pela manhã, colocava-a na corrente. A sua primeira merenda matinal era um pão integral que colocava entre as patinhas. Depois bebia água, ou leite em dias especiais. E assim roncava a manhã toda, talvez sonhando já com o céu. Mas o que ficou dela, talvez, não foi a cadela com seu lado hipotálamo; foi o amor que tinha no coração, o gesto de os meninos colocarem a mão na cavidade da boca, as cambalhotas, trepar ali na janela, e fazer do seu lado moleque o registro de dois anos incompletos dentro da nossa memória. * O escritor é contista, autor de Contos de uma aula no vermelho

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Pesquisa atualiza conteúdo Livro oferece um suplemento pedagógico de educação ambiental com sugestões de atividades educativas para serem incluídas em aulas do ensino fundamental e médio

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Educação ambiental

Marcus Stoyanoith

A

educação ambiental ganha, cada vez mais, nutrientes para vingar nas escolas em todos os níveis de ensino, da creche à universidade. Continua valendo dizer às pessoas que não jogarem lixo nos igarapés, mas a educação ambiental propõe uma mudança bem mais profunda no comportamento da sociedade. Uma mudança que se tornará realidade, caso ocorra o seu enraizamento na escola. Sem pretender ser completo nem prescritivo, como entendem os próprios editores, o livro A floresta amazônica e suas múltiplas dimensões é uma dessas sementinhas que podem ser plantadas na escola. Os editores do livro, a doutora em Antropologia Social, Maria Inês Gasparetto Higuchi, e o doutor em Manejo Florestal, Niro Higuchi, afirmam que o livro foi feito para ser usado pelo professor em sala de aula. E como a atitude é o elemento propulsor da educação ambiental, os editores, ao lado de vários pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), realizaram trabalhos para compartilhar conhecimentos com o maior número

possíveis de pessoas. Entre as atividades estão a do curso Floresta amazônica e suas múltiplas dimensões, voltadas aos professores do ensino médio da rede pública. Professores da Seduc e Semed participaram das três edições do curso, realizadas entre 2003 e 2006. Em 2007, o curso foi alterado em sua forma e carga horária. A floresta, que era apenas um ambiente para visitas, acabou se transformando em sala de aula. “O curso passou a ser executado de domingo a sábado, na ZF2, Estação Experimental do Inpa, localizada no distrito agropecuário da Suframa [...] o conteúdo foi mantido, mas a abordagem foi completamente alterada”, revelam os editores. Toda a essência das aulas práticas foi captada para temperar o conteúdo do livro, que mantém abordagens da primeira edição, como as da complexidade da

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páginas, uma visão aberta para uma compreensão ampla da relação homem/natureza.

Valor dos povos amazônicos

“Uma vez difundida na escola, a educação ambiental terá sua amplitude movimentada, compartilhada”

floresta amazônica e mais cinco capítulos inéditos. Ao todo, o livro fechou com 14 capítulos. Seus temas centrais são estes: As relações floresta solo, água, fauna e clima; O fenômeno das mudanças climáticas e o papel da floresta; A floresta e seus recursos madeireiros; Os aspectos socioculturais na relação sociedade/floresta; e há um capítulo dedicado à formação dos professores com ênfase na floresta. O livro ainda oferece um suplemento pedagógico com sugestões de atividades

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educativas para serem incluídos em aulas do ensino fundamental e médio. É possível observar que A floresta amazônica e suas múltiplas dimensões que abre trilhas, por meio de informações estratégicas, para que alunos e professores caminhem rumo a uma Amazônia sustentável e um planeta mais saudável. Nem por isso, como lembra os editores, dos equívocos históricos, como os clichês produzidos pelas expedições científicas dos séculos 18 e 19, que viam a floresta amazônica como um imenso tapete verde uniforme de vegetação impenetrável. Outros 30 pesquisadores do Inpa participaram da elaboração do livro. Um trabalho realizado por muitas mãos e cabeças, de áreas distintas do conhecimento, para desaguar nas salas de aulas das escolas amazônicas. Em suas

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Num dos capítulos que trata da Floresta e sociedade: tradição e cultura, há uma informação que reaviva o valor dos povos amazônicos: “Os povos tradicionais humanizam e politizam a natureza, tanto pela participação ativa na proteção das florestas como no protagonismo da gestão do patrimônio cultural e natural”, escrevem as colaboradoras Ana Carla Bruno e Thereza Menezes. Afirmações como essas nos levam a refletir que podemos ter hábitos mais saudáveis com os povos tradicionais, em vez de desprezá-los ou até aniquilá-los. Reflexões como essas, no passado, poderiam até ser entendidas como utopia, mas, atualmente, estão bem mais próximas da realidade. E o caminho é este: pesquisadores -> professores - > alunos -> comunidades - > mundo. Iniciativas como essas germina nas escolas mais provocações, como: “Você já parou para pensar qual a imagem que você tem da Amazônia?”. A sua resposta é que vai dar a dimensão de qual relação você pode ter como a floresta. O livro diz que


há diversas dinâmicas de manejo. “[...] conhecimentos e práticas de manejo indígenas indicam que paisagens até então consideradas naturais constituiriam artefatos humanos”. O livro destaca que evidências arqueológicas e etno-históricas apontam a Bacia Amazônica como uma área de permanente ocupação humana, a qual, possivelmente, teve influência na composição da atual vegetação. São algumas demonstrações de como é possível uma relação saudável com a natureza. Outro capítulo reforça essa afirmação, mostrando os significados de se morar na floresta ou na cidade. Qual o valor que as pessoas consideram para construir seus espaços? O doutor Niro Higuchi observou vários relatos impressionantes, pois eles levam algumas pessoas do interior a terem aversão ao verde por serem hábitats que os “incriminam”. Assim, tentam negar que são ou foram ruralistas. Outra pergunta surge com comportamentos como este: Até que ponto esse não é um problema ecológico? Com a educação ambiental na escola é muito provável que esses preconceitos ou negação da própria identidade não vingassem.

Viagem ao antropocentrismo O livro faz uma viagem ao antropocentrismo: o homem no comando da natureza, dotado de um espírito não físico, superior em relação aos demais elementos do mundo. Esse foi um conceito judaico-cristão que causou controvérsias depois do século 15, com dissidências dentro do próprio judaísmo. Numa reafirmação desse conceito foi acrescentado: se os humanos têm o status superior entre todas as criaturas da Terra, eles também têm a responsabilidade de tomar

conta desse jardim do Éden, em seu próprio benefício e das demais criaturas. E como esse mundo tão diverso entra no mundo da escola, que também tem sua complexidade, limites e possibilidades? A essa pergunta o livro dá algumas pistas como resposta. O compartilhamento, semelhante a este que fez o próprio livro nascer, é a chave para todas as respostas. “Os professores sabem das dificuldades do ofício de ensinar, mas também são testemunhas dos sucessos alcançados. O modo como a escola está organizada pedagogicamente indica o que é valorizado social e historicamente”. Como tornar essa realidade recursiva conhecida por todos? O diálogo mais evidente para tal reconhecimento já se dá por meio dos conteúdos de Química, Matemática, Física, Geografia, História, Artes, Línguas etc. Mas então por que da necessidade de essas disciplinas serem introduzidas em conteúdos como o mundo da floresta amazônica? O livro trata dessa questão, observando um aspecto que é fundamental para quaisquer trocas de conhecimento: a cultura de cada ambiente. E um dos seus capítulos vai até o mundo da formação de professores para identificar tais situações. Uma vez difundida na escola, a educação ambiental terá a sua amplitude movimentada, compartilhada. Uma amplitude que envolve questões de etiqueta como não jogar latinhas ou sofá velhos nos rios, mas que não para por aí, envolvendo também uma nova mentalidade, considerando novas atitudes das pessoas que busquem o benefício para si, sem prejudicar os próximos. E o professor, de um jeito ou de outro, é celular nesse desafio.

A floresta amazônica e suas múltiplas dimensões: uma proposta de Educação Ambiental. 2.ª edição revisada e ampliada Editores: Maria Inês Gasparetto Higuchi, Niro Higuchi Edição do Autor Projetos: Pronex-Manejo Florestal-Fapeam/CNPq, INCTMadeiras da Amazônia.

Perfil dos editores Maria Inês Gasparetto Higuchi: pesquisadora titular do Inpa; doutora em Antropologia Social; professora dos PPÇ-Casa/Ufam. Área de atuação: Comportamento socioambiental nos enfoques da Psicologia e Antropologia Social; Percepção e Cognição Ambiental; Educação Ambiental; Psicologia Ambiental. Contato: higuchi.mig@gmail.com Niro Higuchi: Pesquisador titular do Inpa; doutor e Pós-Doutorado em Manejo Florestal. Área de Atuação: Manejo Florestal; Dinâmica de estoque de carbono nas florestas; Biomassa florestal. Contato: higuchi.niro@gmail.com

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