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Capítulo 4 Comunicação comunitária nas rádios

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Conclusão

Conclusão

Orádio é um dos mais antigos veículos de comunicação, e desde que surgiram novas formas de informação, ele foi se transformando, se adaptando aos meios de notícia. De acordo com a obra “O rádio e os novos meios de comunicação com os ouvintes na era digital”, o rádio vem se reinventado, e assim acontece também na forma de comunicação com os ouvintes, como na década de 1930, quando a comunicação era feita por meio de cartas, telefonemas, e hoje em dia isso ocorre através de e-mails e redes sociais.

Em Campo Grande, existem as rádios comerciais e as comunitárias. Ambas têm o intuito de informar os moradores da Capital sobre tudo o que acontece na cidade. Contudo, a rádio comunitária tem um alcance menor e, de acordo com a lei nº 9.612, de 19 de fevereiro de 1998, não deve ter fins lucrativos.

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Atualmente, na Capital sul-mato-grossense, a Comunicação Comunitária está envolvida nos dois tipos de rádio, principalmente naquelas voltadas a uma determinada comunidade ou região. Quem explica melhor é o radialista das Moreninhas FM, Cesar Brito. “A rádio Moreninhas FM é de muita importância para a região, pelo fato de a população ter à disposição uma rádio que transmita as informações sobre o bairro onde ela vive, além da divulgação

do comércio local. A rádio faz o trabalho de utilidade pública, como perda de documentos, animais perdidos e vagas de emprego”, disse.

Questionado sobre o que mudou na região sul de Campo Grande, após a criação da rádio comunitária “Moreninhas FM”, Cesar Brito responde: “Hoje, a rádio se tornou um ponto de referência do bairro. Desde a sua criação, acompanhamos o desenvolvimento do comércio, das instituições e sempre estamos lutando a favor dos direitos dos moradores da comunidade, buscando melhorias para a região”, destacou.

O jornalista e radialista Marcos Anelo, que também trabalha na rádio comunitária “Moreninhas FM”, afirma que se sentiu impressionado com a abrangência do veículo de comunicação local. “A rádio comunitária engloba apenas uma região da cidade, mas eu comecei a me impressionar com o alcance dela. A rádio é na região das Moreninhas, porém, abrange muitos bairros”, contou. Segundo Anelo, muitos moradores ouvem a rádio comunitária localizada nas Moreninhas. “A população estimada na região é de aproximadamente 180 mil pessoas. Aquela região é considerada uma minicidade. Os moradores ligam muito e se sentem representados por aquela rádio. Acredito que todo veículo de comunicação tem que se aproximar da comunidade, principalmente com a convergência de mídia. Campo Grande tem outras rádios comunitárias, mas de todas elas, eu vejo esta como a melhor estruturada”, disse.

De acordo com o jornalista, por ser uma rádio comunitária antiga e conhecida, a “Moreninhas FM” já reuniu milhares de pessoas em um só lugar. “Quando realizavam o aniversário da rádio, cerca de 10 mil pessoas já chegaram a ir ao evento. A rádio [Moreninhas FM] incomodava tanto que duas rádios comerciais passaram a fazer o mesmo que ela, como ouvir mais a população, dar brindes para tentar conquistar um pouco da audiência que a Moreninhas FM tem”, relatou Anelo.

Abrangência

Conforme a Associação da Integração e Difusão Comunitária das Moreninhas, a Rádio “Moreninhas FM” opera com 25 Watts de potência, correspondente à cobertura de 92 bairros da Capital, e possui a abrangência em uma área de 180 a 200 mil habitantes. Localizada na Rua Mucuri, 07, no bairro Moreninha II, a rádio comunitária “Moreninhas FM” é um meio de comunicação voltado à comunidade e aos problemas que lhe afligem, como prestadora de serviço, e procura estar ajudando todos que a procuram. O objetivo é desenvolver um trabalho filantrópico em prol da região.

O jornalista Marcos Anelo, que integra a equipe da rádio “Moreninhas FM” há cerca de um ano, revela a sua experiência de trabalhar na rádio comunitária. “O meu programa é sábado das 15 às 18 horas e chama-se ‘106 Na sua frequência’. A ideia é fazer um resgate da música raiz. O bacana é que os moradores da região sabem dessa programação e ligam para pedir as músicas de raiz. Mesmo com as músicas, também levamos entrevistas e informações. É um programa que mescla a música com o jornalismo”, afirmou.

Contudo, apesar da audiência da “Moreninhas FM”, por ela ser uma rádio comunitária e que por lei, não deve ter fins lucrativos, isso pode prejudicar o desempenho do veículo. Situação essa que, segundo Anelo, deveria ser revista. “A gente sabe que, sem fins lucrativos, independentemente do veículo, não funciona. Para ser sem fins lucrativos, é preciso apoio do poder público, entretanto, isso não existe. Ninguém vai tirar dinheiro do bolso para manter uma rádio por prazer, é difícil isso. Eu acho que deveriam liberar para fins lucrativos. É complicado manter um veículo sem recurso, a não ser que você tenha uma instituição mantenedora”, declarou.

- Acredito que a legislação deveria ser revista para proporcionar que haja uma publicidade paga, mas de forma transparente, para que ela possa ter uma conotação comercial como as outras, já que a rádio comunitária possui uma restrição de sinal – disse Anelo.

Para Anelo, a rádio comunitária pode contribuir com o desenvolvimento de um determinado bairro ou região de Campo Grande. “A rádio comunitária pode ser usada de modo a impulsionar o comércio local. Isso pode fazer com que o dinheiro gire mais na região, e ainda traga desenvolvimento. Porque o comerciante das Moreninhas, às vezes, não tem condições de anunciar em uma grande rádio, mas em uma rádio comunitária, ele pode divulgar o seu negócio”, explicou o jornalista sobre as dificuldades que podem ser encontradas pelos moradores das comunidades ao tentar investir em propaganda.

Marcos Anelo também apresenta um programa jornalístico na emissora de TV SBT MS. Sobre a importância da rádio comunitária na região sul de Campo Grande, o jornalista e radialista diz: “Penso que a relevância da rádio é porque a população se vê representada pelo veículo. Isso é legal, pois, se uma pessoa perder o cachorro, ela nem liga na rádio, contudo, ela vai até a gente na rádio para pedir ajuda. É um contato direto que temos com os moradores, e também realizamos muito sorteios, brindes. Hoje, a gente sabe que, se uma rádio no centro da cidade sortear um brinde, dependendo que for, a pessoa às vezes nem vai buscar. Mas quando isso acontece no bairro onde ela mora, cerca de cinco minutos depois do sorteio, ela estará na porta da rádio”, revelou Anelo.

interação

Assim como o jornalista e radialista Marcos Anelo e como o radialista

Cesar Brito, ambos da rádio comunitária “Moreninhas FM”, para o radialista Osvaldo de Souza, popularmente conhecido como “Pimentinha do Povo”, que trabalha na rádio comunitária “Segredos FM”, localizado na região norte de Campo Grande, a rádio comunitária permite uma interação maior com a informação e com a população. “Acho que a rádio comunitária é importante porque o jornalismo é informação, e o rádio também é informação. Penso que o rádio é um dos veículos de comunicação mais rápidos e possibilita uma interatividade maior com os ouvintes, mesmo a gente tendo a Internet”, disse.

A rádio comunitária “Segredos FM” está situada na rua São Lucas, 823, no bairro Vila Nasser em Campo Grande. Além do rádio, as programações podem ser acompanhadas pela Internet, através do rádio web “Segredos FM”.

Blink comunidade

Com a mesma estratégia de dar voz às comunidades de Campo Grande, a rádio comercial “Blink 102” realiza um programa no período matutino de segunda a sexta-feira, chamado “Café com Blink”. No programa, os apresentadores informam o que o está acontecendo no período, em toda a cidade, e ainda realizam o quadro “Blink Comunidades”, no qual os ouvintes mandam mensagens de voz aos radialistas.

Nas mensagens, os moradores da Capital falam sobre as situações incômodas da região onde vivem, avisam sobre o trânsito e, às vezes, agradecem os apresentadores do quadro por contribuírem com a prestação de serviço, já que em boa parte dos casos, os problemas anunciados pela rádio são resolvidos.

Quem comenta a respeito do assunto é o jornalista e radialista Wagner Jean, que trabalha na rádio desde 2013. No período das manhãs, o

radialista integra o grupo que apresenta o “Café com Blink”. Ele fala sobre a importância de dar voz à população campo-grandense. “Primeiro, estamos vivendo a era da informática. Os fãs da rádio são ativos na programação. Eles não apenas escutam os programas, eles participam de forma mais ativa e imediata por meio de aplicativos de mensagens e das mídias sociais. Segundo, a função do jornalismo é ouvir as pessoas, então não podemos simplesmente ignorar o que elas têm a dizer. No jornalismo comunitário acabamos por desenvolver essa ponte entre a população e o poder público”, explicou o radialista sobre a funcionalidade do quadro.

Referente à contribuição do programa, sobre os problemas apresentados pelas comunidades da Capital, Wagner conta: “Como jornalista, temos o princípio de buscar esse relacionamento com o poder público. Quando se estabelece uma relação de confiança pelo bem da população, e não apenas comercial, as demandas são atendidas. Lógico que não há como atender 100% das solicitações, a máquina pública não possui estrutura para isso, mas na medida do possível nos atende, e em alguns casos até nos enviam fotos mostrando que a solicitação está sendo ou foi atendida”.

Sobre o horário nobre de programação, Wagner Jean explicou que a televisão e o rádio são bem diferentes. “O termômetro disso, além da grande participação dos fãs, é a ‘bela’ escolha feita pelos parlamentares para a execução das propagandas eleitorais obrigatórias. Na televisão, o horário nobre é no período da noite. Já no rádio, é o oposto, ligamos os aparelhos, sintonizamos o celular pelo período da manhã, quando estamos em casa, no caminho do trabalho, levando os filhos para a escola”, relatou.

Questionado referente às razões para o quadro “Blink Comunidade” contribuir na solução dos problemas das comunidades de Campo Grande, o jornalista explica: “A pressão popular ajuda bastante para que o poder

público ou privado veja que determinado assunto ou problema merece uma atenção maior. Algumas vezes, é questão de boa vontade para execução. Em outras, esbarra em questões legais para a solução”, revelou.

Equipe da rádio Blink 102, durante o programa Café com Blink. Crédito: Angelo Tonon

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