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Capítulo 8 Comunicação x política x comunidade

Quando se fala em veículo de comunicação, mídia, jornalismo comunitário ou mesmo a Comunicação Comunitária, muitos se lembram da influência de meio/imprensa para a efetivação de um mandato político. O assunto é delicado, já que são visões e análises diferentes de cada indivíduo. O intuito do trabalho é fazer o leitor refletir sobre a importância da comunicação e do jornalismo comunitário em Campo Grande. Contudo, como o tema tem a sua relevância, principalmente no desenvolvimento dos bairros e da cidade, não poderíamos deixar de citar a influência da política na imprensa.

Como explicamos no início, a Comunicação Social, o Jornalismo e principalmente o estilo “jornalismo comunitário” são importantes para a evolução de uma determinada região. Entretanto, nos dias atuais, devido ao alcance dos veículos de comunicação, alguns políticos utilizam esse meio para se eleger ou continuar exercendo o mandato parlamentar.

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Em Campo Grande, há exemplos de políticos que assumiram cargos públicos de vereador, prefeito ou deputado por conta da sua história e atuação na mídia. Neste capítulo, os entrevistados apresentarão seu ponto de vista sobre o tema. Mas antes de iniciar as análises, vale voltar ao passado e lembrar o que aconteceu na Alemanha entre 1934 e 1945.

Na época, o ditador Adolf Hitler estava à frente do governo alemão. Para convencer o “eleitorado” das suas “boas intenções”, ele utilizou-se da imprensa para alcançar seus objetivos e espalhar suas ideologias. As propagandas que idolatravam sua personalidade e faziam idealizações nos veículos de comunicação contribuíram para o aumento da sua popularidade. O resto da história, acreditamos que muitos já sabem. Todavia, não vamos nos aprofundar nesse assunto, pois ainda há muita coisa para ser discutida.

Outra situação que também permite analisar a influência da mídia em relação à política e a sociedade está presente no filme “Terra em transe”, lançado em maio de 1967 e dirigido por Glauber Rocha. A trama revela que o cenário de Eldorado passa por mudanças políticas, e um homem chamado Felipe Vieira candidata-se ao cargo de governador do Estado. Vieira conta com o apoio de um jornalista chamado Paulo Martins. No filme, é possível perceber o envolvimento da imprensa com o político e seu envolvimento com a população. Comparando a história fictícia com a vida real, percebe-se que, apesar de a obra ter sido lançada na década de 1960, pouca coisa mudou desde o seu lançamento. Alguns políticos ainda usam a influência da mídia a seu favor.

A imprensa, por sua vez, continua sendo o meio mais oportuno para eleger um determinado candidato ao cargo público, pois a mídia continua sendo a melhor forma de um político espalhar suas ideias e se aproximar da população. Querendo ou não, a imprensa tem o seu poder de influenciar a população, que em sua maioria não tem muito estudo, devido à falta de investimento na educação. A situação também pode servir como estratégia para deixar o cidadão ainda mais vulnerável à política e à politicagem.

A crise econômica também afeta diretamente os veículos de comunicação, que de certa forma permitem que a politicagem aconteça. Com a

população brasileira passando por dificuldades financeiras e muitas empresas tendo que fazer corte de gastos, apenas os políticos - que não enfrentam crise - conseguem pagar para divulgar algo de seu interesse.

É importante frisar que a educação, a economia e outros aspectos da sociedade dependem da política, e que a política precisa da imprensa para realizar a divulgação de seus atos. A mídia por sua vez, necessita da população, pois sem consumidor não há produto. É um ciclo vicioso que deve ser melhor cuidado e trabalhado.

Visão política e jornalística

Voltando ao assunto da mídia, política e a sua influência nas comunidades em Campo Grande, alguns profissionais do jornalismo e também políticos comentaram sobre o tema. O assunto mostra várias opiniões, que podem agradar ou desagradar o leitor. Iniciamos com o radialista e professor do curso de Jornalismo da Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp), Clayton Sales, que revela seu ponto de vista a respeito da influência da mídia em relação à política e ao mandato parlamentar. - Quando você se aproxima da população através da mídia, não sejamos ingênuos, muita gente acha que influencia, e isso acontece. Não apenas no jornalismo comunitário, como em todas as outras áreas da comunicação. Isso ocorre quando a pessoa trabalha em um espaço que permite um contato maior com a população. Um exemplo disso é o Bernal [Alcides Bernal, ex-prefeito de Campo Grande], que é radialista, tinha um programa no rádio, e apesar de não ser jornalístico, estava em contato com o povo. Com isso, foi angariando fãs, que se tornaram eleitores e mais tarde o elegeram prefeito da cidade - lembrou o radialista.

Para Clayton Sales, não há problema em atuar na mídia e posteriormente se eleger para um cargo público. “É problema quando o político usa o veículo de comunicação para se promover. Muita gente aproveita desse meio. Sou contra político, no mandato, ter programa na mídia. Penso que essas pessoas deveriam estar fora de qualquer meio de comunicação, mas o TRE [Tribunal Regional Eleitoral] não enxerga dessa forma. Acredito que uma eleição justa é feita pelo equilíbrio, porque o político vai ter a oportunidade de aparecer na mídia no período de campanha”, afirmou.

Em contrapartida, o atual vereador da Capital, Cazuza, declara que a Comunicação Social, através do rádio, é importante para a sua atuação na Câmara Municipal. “É essencial. A Comunicação Social é de suma importância para o meu mandato parlamentar, pois o papel do vereador não é apenas cobrar melhorias para a população e sim, as necessidades, muitas vezes, de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade. As pessoas são a prioridade do nosso trabalho. Além disso, acredito que com a Comunicação Social o mandato se torna transparente, porque a comunicação é uma via de mão dupla, e isso é fundamental para o cumprimento de um mandato, para a participação na política”, relatou.

Cazuza está em seu segundo mandato parlamentar na Casa de Leis de Campo Grande. O vereador descreveu seu programa na rádio: “Classifico como uma mistura do informativo com o comunitário, o entretenimento, a música e prêmios aos ouvintes. Meu programa tem esse formato para que haja uma maior interação com a população”, contou.

Conforme o parlamentar, os ouvintes ligam para o programa e solicitam melhorias. “Isso é o elo entre as partes informativa e comunitária do programa. Um leque onde, além de ouvir, de ser uma linha direta, há uma integração, uma proximidade com o mandato e vice-versa. As redes sociais também contribuem com essa interação”, afirmou.

Questionado sobre o funcionamento do programa em época de campanha eleitoral, ele informou que fica fora do ar, já que pela legislação vigente é necessário o afastamento do programa nesse período. Sobre a relação do veículo de comunicação com o seu mandato na Câmara Municipal, Cazuza afirma que é essencial. “Pelo fato de termos contato direto com o ouvinte e por meio deste, o conhecimento das necessidades dos bairros, da população”, disse.

Quem rebate esse argumento é o mestre em Ciências da Informação e doutor em Educação, Oswaldo Ribeiro. Ele afirma que, quando o jornalista/comunicador contribui para melhorar as relações políticas e ajudar de maneira efetiva a comunidade, não há problema. “O problema é utilizar da sua condição provisória de apresentador, repórter, comentarista, entre outros, apenas com interesses políticos, para ser eleito. O jornalismo/comunicação feito na comunidade, em alguns casos, infelizmente é utilizado com este fim”, declarou.

Já o deputado estadual Maurício Picarelli, citado no capítulo 5, defende que o veículo de comunicação contribui para o seu trabalho na Assembleia Legislativa. Vale lembrar que Picarelli vem da televisão, onde continua atuando como apresentador desde a década de 1980, antes de se tornar político. “Tentamos resolver o problema da população através do programa de televisão. Buscamos levar a demanda até as autoridades para resolver os problemas dos moradores”, afirmou.

mídia e a influência da comunicação comunitária

O jornalista Marcos Anelo, que apresenta um programa jornalístico no canal de TV SBT MS, acredita que a mídia contribui, mas não influencia a

comunidade a votar no candidato político que atua em determinado veículo de comunicação. Segundo ele, se não há nenhum impedimento na Legislação, não há problema em um político trabalhar na mídia. “Acredito que independentemente de ser político ou não, se não tem impedimento, a pessoa tem o direito de exercer o que ela quiser. Não sei dizer se ele consegue manter o seu cargo político por conta do veículo de comunicação, e se fosse assim, muitos políticos que estão na mídia há décadas continuariam em cargos públicos, mas não é bem assim que funciona”, disse.

Anelo ainda lembrou fatos que aconteceram nas últimas eleições na Capital. “Alguns candidatos se elegeram com o mínimo de votos, e parte deles tinha programas na mídia. Não creio que o veículo de comunicação vai sustentar o cargo de um político. Muita gente questiona se, por conta de eu estar no rádio comunitário, vou me candidatar à política. Isso nem passou pela minha cabeça, estou na área porque gosto e também por ser uma experiência nova. Não tenho intenção em usar esse fato como um fator político”, declarou Anelo.

Com base nas informações dos entrevistados, é possível notar as possibilidades da influência da mídia e do comportamento da comunidade perante as campanhas eleitorais. Como havíamos explicado anteriormente, a proposta da obra é fazer com que os leitores reflitam sobre a importância da Comunicação Comunitária em Campo Grande por meio dos veículos de comunicação.

As opiniões acima são de pessoas diretamente ligadas à Comunicação Comunitária, ao jornalismo e à política na Capital. O fato é que Campo Grande precisa da Comunicação Comunitária para continuar se desenvolvendo, e a mídia pode contribuir para que isso aconteça.

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