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Capítulo 3 Comunicação comunitária no veículo impresso

CAPÍTULO 3 comunicAção comunitáriA no VEículo imPrEsso

AComunicação Comunitária de forma impressa também é muito usada pelas comunidades em Campo Grande. Entretanto, esse meio é pouco usado nos veículos de comunicação impressos tradicionais, que não tenham por finalidade informar a comunidade sobre o que está acontecendo em uma determinada região.

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De acordo com o radialista e professor do curso de Jornalismo da Universidade Universidade para o Desenvolvimento do Estado e Região do Pantanal (Uniderp), Clayton Sales, o jornalismo comunitário não precisa ser realizado dentro de um espaço destinado ao jornalismo comunitário. “A natureza da pauta é mais determinante que o jornalismo, é uma pauta que vem de um determinado lugar”, disse.

Na Capital, como dissemos anteriormente, existem dois exemplos de Comunicação Comunitária. Por exemplo, o jornalista Humberto Marques criou, no início de 2017, o jornal Comunidade.MS, destinado aos moradores da região do Anhanduizinho e Lagoa, em Campo Grande. Por meio do jornal impresso, Marques produz um noticiário diferenciado e que tem como prioridade os moradores dos locais citados acima. O jornalista comenta como funciona a edição. - Mensalmente são impressos pelo menos 6 mil exemplares de jornal

no formato tabloide, com o mínimo de oito páginas, o qual traz reportagens focadas em bairros dessas duas regiões urbanas, com o enfoque centralizado em um certo problema e na busca de uma solução com o agente responsável – contou o jornalista.

Humberto ainda lembrou alguns fatos. “Na nossa edição de julho [2017], trouxemos reportagem sobre a queda de uma passarela que liga o Parque do Lageado ao Manaíra, usada por centenas de pessoas diariamente, apontando que muitas pessoas não querem o reparo porque especificidades da estrutura acabam por favorecer a ação de criminosos na região”, relatou o editor do jornal Comunidade.MS.

Segundo o site do jornal Comunidade.MS, a missão da empresa é permitir que o empreendedor, seja ele grande ou pequeno, tenha a chance de aparecer para a sua potencial clientela. Além disso, devido à distribuição domiciliar das edições impressas nos bairros, o anúncio estará, a cada publicação, nas mãos de seus potenciais clientes. Com a proposta de contribuir com as comunidades do Anhanduizinho e do Lagoa, o jornalista Humberto Marques criou o jornal Comunidade.MS em Campo Grande.

jornal idE

Vale lembrar que os anúncios divulgados nos veículos de comunicação impressos tradicionais na Capital têm preços altos, e muitas vezes os microempresários não têm recurso financeiro suficiente para investir em publicidade. Contudo, quando o jornal é voltado a uma determinada região, os valores são mais acessíveis, já que os maiores interessados são os moradores da região. Isso contribui para a economia local e também para o desenvolvimento da região.

Com o mesmo intuito do jornalista Humberto Marques, o gestor social e idealizador do Instituto de Desenvolvimento Evangélico (IDE), Enéas de Andrade Barbosa, relata que resolveu criar o Jornal do IDE na região oeste de Campo Grande, abrangendo os bairros Portal Caiobá I e II, São Jorge da Lagoa, Celina Jallad e outros, em prol do crescimento local. Enéas não é formado em jornalismo. “O jornal surgiu em março de 2016, foi uma necessidade a colocação do informativo do Instituto IDE por motivos de captação de recursos, de mobilização e articulação com pessoas jurídicas e pessoas físicas”, contou. - Hoje a gente percebe que se tornou ainda mais importante a nossa forma de comunicação, primeiro porque além de captar recursos para projetos sociais através dos pacotes comerciais que a gente vende para os comerciantes, nós conseguimos também atingir o objetivo de articulação do comércio para ajudar eventos, tanto do IDE, como da comunidade. Queremos a valorização das pessoas para participarem das nossas promoções – disse Enéas.

Outra situação relatada por Enéas é que, a partir do jornal impresso local, os próprios moradores da região passaram a valorizar mais a comunidade onde vivem. “Eles [moradores] passaram a nos enxergar com um novo olhar, enxergaram o nosso jornal, e com isso as pessoas começaram a adquirir as publicações, a comprar os produtos divulgados no jornalzinho. Começaram a valorizar mais os profissionais daqui. Quem estivesse precisando de um pedreiro, marceneiro, sabiam que encontrariam no bairro”, afirmou.

A partir de então, os profissionais da comunidade passaram a anunciar os serviços no jornal por um preço mais acessível. “E para todos contribuírem com o projeto IDE, criamos o cartão desconto, no qual a pessoa jurídica pode anunciar. E as pessoas físicas que tiverem o cartão, podem

comprar os produtos dos anunciantes com descontos na loja. Isso faz a economia do bairro circular, mas sem sair da região. Fazendo assim, o recurso não sai da região. Queremos mover o recurso da própria comunidade, e por meio do jornal, ficou muito fácil. Sabemos que as pessoas leem o material impresso. Antes, os moradores iam para o centro da cidade comprar roupas, sem saber que na comunidade que ela vive tinha loja com produtos mais baratos”, contou.

De acordo com Enéas, quando os moradores saíam da região para comprar produtos em outros locais de Campo Grande, além do tempo, gastavam com passe de ônibus, gasolina e com o produto. Todavia, com a criação do meio de comunicação os moradores da região Noroeste passaram a ter mais informações do local onde moram. - Como jornal, a gente aqueceu a economia local. Foi isso que realizamos, nosso foco sempre foi contribuir com a comunidade. Hoje em dia, usamos isso com a proposta de outros anunciantes também aderirem à ideia do jornalzinho. Essa é a importância do nosso jornal para a comunidade”, destacou o gestor social do Jornal IDE.

Adaptação do jornalismo e sua contribuição

Conforme o jornalista e atual editor-geral do jornal O Estado de Mato Grosso do Sul, Gabriel Neris, a Comunicação Comunitária vai se adaptando com as mudanças do jornalismo. “Com a correria imposta no dia a dia das pessoas, cada vez mais é difícil encontrar personagens, e também pessoas que estão disponíveis, nas ruas dos bairros. A insegurança também contribui. Não se veem mais os vizinhos conversando tranquilamente nos bairros, são casas fechadas, com pouco contato com quem está do lado de fora. Claro que não é desculpa, o jornalismo comunitário também

vai ao encontro da linha editorial do veículo. Atualmente, existem outras prioridades”, explicou o editor sobre o uso do jornalismo comunitário no jornal impresso da empresa.

Para Neris, o jornalismo comunitário aproxima as pessoas da sociedade. “Esse estilo mostra a realidade de uma comunidade, muitas vezes diferente do que pessoas de outros pontos da cidade estão acostumadas”, contou. Referente ao uso da Comunicação Comunitária no jornal impresso, o jornalista afirma que o recurso já foi usado algumas vezes. “Uma das marcas do jornal O Estado foi a série intitulada: ‘O Estado nos Bairros’. O objetivo era contar um pouco da história do bairro, como nasceu, e apresentar a população os seus personagens. Aqueles que participaram da fundação do bairro, aqueles que de alguma maneira criaram sua história no bairro, e aqueles que até hoje fazem algo que contribua para o crescimento do local”, disse.

Questionado sobre a contribuição do jornalismo comunitário na Capital sul-mato-grossense, Gabriel Neris diz: “O jornalismo comunitário pode até acrescentar no Plano Diretor de uma cidade”. De acordo com ele, é neste momento que as pessoas são ouvidas, as histórias contadas, os problemas relatados. Por isso, jornalismo comunitário pode ajudar o desenvolvimento da cidade. - Por exemplo, Campo Grande conta com um bairro chamado Parati. A Rua da Divisão, nele localizada, se tornou um corredor comercial. Matérias positivas sobre o desenvolvimento da região podem contribuir para que as pessoas vão até lá e consumam os produtos sem precisar se deslocar para outras regiões da cidade - explicou Neris.

Analisando as respostas dos entrevistados, nota-se que, apesar de um veículo de comunicação tradicional de Campo Grande não usar tanto o jornalismo comunitário, há outras maneiras de produzir as notícias e in-

formações referentes à Comunicação Comunitária nos bairros da cidade. Ou seja, as duas formas de comunicação contribuem com o crescimento das comunidades e da própria Capital. Contudo, não é sempre que um veículo de comunicação impresso, que não tem por objetivo produzir matérias voltadas a uma determinada comunidade, vai reproduzir informações daquela região. A não ser que essa notícia tenha uma repercussão maior que a esperada na cidade.

Jornal IDE, produzido para os moradores do bairro Portal Caiobá, em Campo Grande. Crédito: Reprodução/Jornal IDE

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