Quando escapa

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A águia Bruna Scorsi

Era uma águia, mas nunca pôde voar. Cresceu em um lar de pequenos pássaros, dos mais diversos, sequer chegou a conhecer sua verdadeira família. Nesse zoológico, no qual vivia, sempre ouvira de seus cuidadores frases como: “Onde já se viu um pássaro como você, querer sair voando por aí?”, “Você é apenas uma atração”, e, com o tempo, fora acreditando... Outrora ouvira “Ela é tão feia! Desengonçada, com uma cara tão infeliz” porque, de fato, estava. Nascer para ser tocada, arrumada, exibida, comparada, e ainda ter de ser sempre tão amigável e educada, não é para qualquer ave. Caso estivesse muito amuada ou desanimada, seus cuidadores deixavam-na sem comida, para que aprendesse a se portar como uma respeitável e admirável rapina. Cortavam suas garras - que serviam de equilíbrio durante sua estadia em solo -, claro, tudo em prol da beleza... afinal, a ave deveria parecer frágil. “Você deve acasalar, uma fêmea deve seguir seu instinto selvagem”, diziam os machos de sua espécie. No zoológico havia um horário no qual as crianças podiam interagir com os pássaros. Era seu papel entreter, surpreender, espalhar graciosidade por onde passava. Ver aquelas crianças felizes a fazia se sentir útil e amada, bom, pelo menos por um curto momento de seu dia. Durante os momentos em que ficava liberta de sua gaiola para entreter seu público, notou, vindo ao norte, uma grande águia. Era como ela, mas, ao mesmo tempo, completamente diferente. Ela era 17


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